terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Crítica - Adeus, Tsugumi


Título: Adeus, Tsugumi
Autor: Banana Yoshimoto
Tradutor: António Barrento
Editora: Cavalo de Ferro
Nº de Páginas: 160
Preço Editor: 12,80€

Sinopse: «Desde a sua nascença Tsugumi possuía um corpo frágil e vulnerável. Os médicos anunciaram que ela iria morrer jovem e a família preparou-se para o pior. Sob essa ameaça, aqueles que a rodeavam estragaram-na com mimos. Tsugumi desenvolveu uma personalidade resoluta e insolente. Era maldosa e rude, tinha uma língua retorcida, era egoísta, mimada e de uma sabedoria maliciosa... Era tal qual um demónio.»


Transportado para uma praia japonesa de uma pacata vila pescatória. E depois, a partir daqui, tanto faz que seja manhã, tarde, ou noite, que a magia já está toda lá. A partir do momento que Yoshimoto consegue fazer-me isto com a sua obra «Adeus, Tsugumi», tem um leitor conquistado. Porque esta questão dos transportes às vezes basta por si só: se consegue criar uma relação emocional entre o cenário da história e quem a está a ler, pode ser um trunfo precioso. Pode dar-se o caso de as personagens não nos cativarem particularmente - não senti especial proximidade com nenhuma ao ler este livro - ou de a história também não ser tão especial como à partida prometeria - a minha relação com o enredo é pouco entusiasmada - mas como a autora realiza com sucesso a missão de transporte, gostei do tempo que passei com estas páginas.

Depois de uma primeira fase da história ligeiramente mortiça, em que demoramos um pouco a habituarmo-nos ao estilo de Yoshimoto (é verdade que já tinha lido um livro dela há alguns meses, mas tinha ficado com uma opinião muito indefinida). Mas rapidamente esta sensação de que somos levados para lá nos vai invadindo. A humidade e o ar salgado de que a protagonista sente tanta falta. As imagens que tem da vila de onde vai partir, e da qual sente já saudades. Poderia destacar a expressão de «perda eminente» como a que possivelmente caracterizará melhor a obra: a vila, a casa do passado, a própria Tsugumi que é doente desde pequenina.

Tentando encontrar elementos a que me agarrar, descortino os momentos em que as personagens deambulam pelas suas vidas naquele Verão. Os ambientes descritos, destacando principalmente o meu capítulo preferido - "Festival". É daqueles extractos de um romance que davam um conto por si só, que captam um determinada energia e a fazem resplandecer de forma especial. Os longos passeios pela noite fora, e a ameaça de Tsugumi poder adoecer. As manhãs de sol luminosas, e a ameaça de Tsugumi poder escapulir-se como tantas vezes faz. À noite, na praia, juntos à fogueira, numa cena a fazer lembrar quase um daqueles livros de aventuras juvenis da Enyd Blyton, e a ameaça do cão voltar a desaparecer. Os momentos são efémeros e vão passar-se todos com uma rapidez impressionante; ao mesmo tempo que são gravados na cabeça de Maria com uma lentidão igualmente intrigante.

Não posso evitar fazer uma referência ao trabalho de tradução, ainda que não saiba exactamente se hei de opinar positiva ou negativamente. Ou o estilo de Yoshimoto é assim mesmo, meio desiquilibrado em alguns momentos, ou então talvez seja consequência do trabalho do tradutor. Nem sempre achei que as passagens estavam escritas da melhor forma, mas talvez esteja a ser injustiça da minha parte. Tendo sido traduzido do japonês, tem um mérito próprio, uma aproximação valiosa. O trabalho de edição pecava por algumas gralhas em termos de parágrafos e travessões, mas justifica-se por ser uma primeira edição.

Em suma, um livro que nem sempre consegue manter em cima um grau de entusiasmo elevado para quem o está a ler. Mas com momentos poderosos, e uma capacidade de transporte para o cenário que achei das mais dolorosas que já li - dolorosas neste sentido positivo que é colocarmo-nos lado a lado com a personagem principal, já antevendo o momento em que vamos ser separados daquele mundo. Adeus, Tsugumi, e a vila que é a tua casa.

Nota (0/10): 7 - Bom

Tiago
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