quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O Perfume - Crítica

Nome: O Perfume
Autor: Patrick Süskind
Editora: Círculo de Leitores
Tradução: Maria Emília Ferros Moura
Páginas: 265
Sinopse: "Paris, 1738. Nenhuma cidade do mundo é tão dependente dos mil e um cheiros de uma grande metrópole como Paris. Cheiram as ruas e os corpos, cheiram os lugares e os materiais, cheiram os animais e as casas. É aqui, no recanto obscuro de uma rua comercial que nasce, sobre um montão de restos de peixe, Jean-Baptiste Grenouille. Um zé-ninguém, sobretudo porque, num tempo em que se define pelos odores, Grenouille não cheira a nada - nem sequer a esse cheiro característico dos recém-nascidos.
A partir de então, começa a extraordinária odisseia de Jean-Baptiste Grenouille: ignorado pelas pessoas, rejeitado pelo mundo, Grenouille vai desenvolver espantosamente a sua capacidade olfactiva, habituando-se a reconhecer tudo pelo odor e a imaginar, como um jogador de xadrez cego, todas as possíveis combinações de essências, capaz de produzir os mais extraordinários perfumes.
É no auge das suas capacidades, após sete anos de reclusão voluntária numa caverna, que Grenouille vai conceber o projecto impossível, uma vez pressentido no pátio de uma casa particular: o que ele pretende é criar o Perfume, um perfume único e sublime, perfume que em si contenha todos os odores, toda a vida e toda a morte. E é pela violência, pelo assassínio sistemático de uma, duas, cinco, mais de duas dezenas de raparigas, que Jean-Baptiste Grenouille vai avançar rumo ao seu inevitável destino: a morte.
O Perfume, um livro inesquecível, uma obra verdadeiramente nova no panorama literário mundial."

Não sei muito bem porque é que o meu livro é da Círculo de Leitores e, o da imagem, é da Editorial Presença, mas talvez a data da minha edição seja uma possível explicação: 1990. Encontrei-o por entre as estantes recheadas da minha avó e rapidamente criei uma espécie de fascínio por ele. É, sem pensar duas vezes, muito mais espectacular, muito mais íntimo, que o filme que fizeram desta história.

Quando o comecei a ler, tive a sensação de que já tinha passado os olhos por aquelas palavras. A certa altura apercebi-me que não era a primeira vez que estava a ler este livro mas, estranhamente, não me lembro de quando é que a outra aconteceu - e eu não me costumo esquecer destas coisas. Ou seja, foi com uma sensação de déja-vu que li este livro, mas sem nunca o pôr de lado.

Esta é uma obra horrivelmente bela e espectacular. Compreendo que hajam pessoas que não a consigam ler, pois é algo cru e despido de misericórdia. No entanto, não compreendo que hajam pessoas que tenham desistido da sua leitura por causa disso. Uma vez intrincada no livro, não o conseguia fechar. O mundo de odores de Grenouille é belo, cheio de mistérios e coisas novas. Quase que sentia o perfume da rapariga ruiva a pairar ao meu lado quando ele o começou a descrever.

Não se deixem enganar pelo filme, pela história que é apresentada. O livro conta uma história de um assassino, é verdade; mas também conta a história de alguém que não conhecia o Amor e que, alienado nos seus sonhos, o descobriu de uma maneira terrível. As razões que o levam a assassinar aquelas vinte e sete mulheres (a contar com a do início) quase que me fizeram esquecer o quão é horrível assassinar alguém, tirar a vida a alguém. E a maneira apaixonada como ele o fazia era tão bela... E é por isto e por outras coisas que vou dar um 10 a esta obra. Não julguem o livro pela capa.

Espero que tenham tido um Bom Natal, nós aqui do Lydo e Opinado temos andado um bocado ausentes, infelizmente. Brevemente voltaremos para fazer um balanço deste ano. Até lá, um Bom Ano 2011!

Personagens favoritas: Baldini, Grenouille, Laure Richi.

Nota: 10/10 - Perfeito

Sara

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Crónica do Pássaro de Corda - Crítica

Nome: Crónica do Pássaro de Corda
Autor: Haruki Murakami
Editora: Casa das Letras
Tradutora: Maria João Lourenço
Páginas: 632
Sinopse: "Toru Okada, um jovem japonês que vive na mais completa normalidade, vê a sua vida transformada após o telefonema anónimo de uma mulher. Começaram a aparecer personagens cada vez mais estranhas em seu redor e o real vai degradando-se até se transformar em algo fantasmagórico. A percepção do mundo torna-se mágica, os sonhos invadem a realidade e, pouco a pouco, Toru sente-se impelido a resolver os conflitos que carregou durante toda a sua vida. Este livro conta com uma galeria de personagens tão surpreendente como profundamente autênticas e, quase por magia, o mundo quotidiano do Japão moderno aparece-nos como algo estranhamente familiar. Crónica do Pássaro de Corda, ao qual foi atribuído o Prémio Yamiuri, é considerado, por muitos, a obra-prima de Murakami."

Não posso afirmar que já li muitas obras de Murakami, até porque só li três, a contar com esta. No entanto, das três obras, esta foi a que me cativou mais. Não foi só a grossura do livro que me cativou, mas toda a sua história. À medida que fui lendo, nem sequer reparava na quantidade de páginas que deixava para trás. Demorei mais de dois meses a ler este livro - o que não é habitual, mas a escola faz destas - mas, quando pegava nele, a minha realidade e o tempo desvaneciam-se. Murakami transportou-me para o seu mundo de uma forma subtil, mas agradável.

Quando começamos a ler algo de Murakami, nunca sabemos o que podemos esperar. E, realmente, este livro tomou caminhos que eu nunca imaginara e terminou de uma forma espectacular. Sinto que a criação deste livro merecia um estudo profundo, para se poderem criar todas as ligações que Murakami originou. E, mesmo por isso, posso considerá-lo um génio.

Um grande problema meu, ao longo da história, foi a maneira como imaginava as personagens. Para mim, as únicas possíveis personagens orientais eram Toru, Creta, Canela e Kumiko. De resto, imaginei todas as personagens à moda ocidental, o que, na minha opinião, estragou alguma da magia do livro.

Confesso que, lá mais para o fim, chegou a uma parte em que fiquei sem vontade de ler. Não sei se terá sido da história em si, naquela fase, ou de mim mesma, mas aconteceu. Felizmente, não desisti. Aliás, não fazia sentido fazê-lo. Por isso, continuei e, no fim, deliciei-me com tudo o que li. É impressionante a maneira como todos os caminhos vão dar a Noboru Wataya e mais não digo! Leiam que vale muito a pena; não se assustem com o número de páginas porque são (quase) todas imprescindíveis.

Personagens favoritas: Toru Okada, May Kasahara, Kumiko, Creta Kano, Canela.

Nota: 9/10 - Muito Bom

Sara

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Crítica - Underground (O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa)

Título: Underground (O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa)
Autor: Haruki Murakami
Tradutora: Susana Serras Pereira
Editora: Edições Tinta-da-China
Páginas: 461
Preço Editor: 22,31€ (15,6€ pelo site da editora)

Sinopse: «A data é 20 de Março de 1995. Está uma bela e límpida manhã de Primavera. Ainda se faz sentir uma brisa fria e as pessoas andam agasalhadas, de casaco. Ontem foi domingo, amanhã celebra-se o Equinócio da Primavera, é feriado nacional. Ensanduichado no meio do que deveria ter sido um fim-de-semana longo, está provavelmente a pensar “Quem me dera não ter de ir trabalhar hoje”. Mas não tem tal sorte. Levanta-se à hora do costume, lava-se, veste-se, toma o pequeno-almoço e dirige-se à estação de metro mais próxima. Entra para a carruagem, apinhada como de costume. Nada de anormal. O dia promete ser perfeitamente igual a todos os outros dias. Até ao momento em que cinco homens disfarçados direccionam os seus guarda-chuvas de pontas afiadas para o chão da carruagem, perfurando uns sacos de plástico cheios de um líquido estranho…». Um dos mais famosos episódios do terrorismo contemporâneo, o atentado de Tóquio não só traumatizou as vítimas directas como abalou toda a sociedade japonesa. O que sentiram os sobreviventes do ataque? Como reagiram? Como explicar a obediência dos fiéis seguidores do líder da seita Verdade Suprema? Em «Underground», Murakami compõe as entrevistas que realizou a dezenas de vítimas do gás sarin e a vários membros da Aum Shinrikyo (Verdade Suprema), tecendo uma narrativa em que procura compreender a relação entre o atentado e a mentalidade japonesa.

Um dos motivos que fazem de Haruki Murakami o meu autor preferido é o facto de partir para um livro seu sempre com a certeza de que uma maneira ou de outra me vai surpreender. Isso aconteceu com os sete trabalhos de ficção que li até agora dele, e também com o de não-ficção “Auto-Retrato do Escritor enquanto corredor de fundo”. Mesmo o seu primeiro, “Hear The Wind Sing”, que após ter terminado fiquei com uma sensação de que faltaria qualquer coisa, me tinha surpreendido pela atmosfera para onde me tinha puxado. Acontece que “Underground – O Atentado de Tóquio e a Mentalidade Japonesa” é uma obra composta de entrevistas feitas pelo autor às vítimas de um ataque de gás sarin no metropolitano da capital japonesa, e na segunda metade aos membros/ex-membros da seita que provocou o atentado.

Primeiro que tudo, e antes de iniciar a minha opinião, quero deixar uma nota muito positiva à editora Tinta-da-China, que edita este livro em Portugal. É a primeira obra de Murakami que leio fora do domínio da Casa das Letras, e adorei o conceito gráfico desta edição.

A primeira metade ainda nos envolve por algum tempo. Não digo que a segunda não deixe de ser agradável de ler, mas a primeira tem ainda um toque muito particular de Murakami, nomeadamente em dois capítulos seguidos que se encontram entre as páginas 121 à 140. Estas dezanove páginas são de todo o livro as mais marcantes; atingem um elevado nível de escrita e conferem-lhe uma grande emotividade. O segundo desses dois capítulos, particularmente, e apesar de não-ficção, está carregado das palavras e do génio do escritor japonês. São páginas de arrepiar e, no fim, aplaudir, ainda que só vamos a um terço do livro e falte ainda muito para terminar. Mas o que senti é que, se o livro terminasse ali, já não ficávamos mal servidos de todo. Foram talvez 20 das melhores páginas que li neste ano de 2010.

Que pena é, no entanto, que esse expoente não se tenha esticado mais. O livro é um retrato de pessoas, que falam de si próprias e das suas vidas. E sim, é espantoso o trabalho jornalístico feito por Murakami, é espantoso o painel de vidas a que de repente temos acesso, é interessante ver as dezenas de perspectivas diferentes acerca de um único acontecimento. E em relação à segunda metade, o interesse e a curiosidade mantém-se em descobrir que, afinal, os membros da seita Aum são afinal pessoas normais, que podiam ser qualquer um de nós. Sem qualquer ligação ao atentado, muitos não queriam acreditar sequer que tinha sido a sua religião a provocar tal monstruosidade.

É, pois, ponto assente: o livro está original e muito bem concebido. Para um ensaio de não-ficção, composto por dezenas de entrevistas, e um retrato dos acontecimentos passados no dia 20 de Março de 1995 em Tóquio, está aqui uma obra de grande valor – e à qual tenho a certeza que o autor dispensou todos os seus esforços e profissionalismo.

Não posso, no entanto, dizer que fiquei totalmente satisfeito com esta leitura. Porque não fiquei. Com os autores muito bons, há sempre o risco de haver um livro que esteja um pouco abaixo daquilo que nos habituou, e depois desilude-nos. Acho muito boa a capacidade que ele tem de se dividir entre os estilos narrativos e os de investigação e ensaio, mas a verdade é que “Underground” não me deixou agarrado, por exemplo. Enquanto um todo, é interessante, mas ao longo da leitura foram poucos os momentos em que senti “não posso parar, vamos lá ver como é que isto continua”. É um estudo, eu diria quase um retrato social. Fica-se a aprender muito sobre o Japão e o modo de vida das pessoas. E sim, isso foi muito bom e saio mais rico desta leitura. Mas faltou um qualquer tempero que esperaria vindo de Murakami. Excepto naquelas vinte páginas. Aquelas vinte páginas…

Nota (0/10): 7 - Bom

Tiago

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

BANG! Aqui vai mais uma opinião!

Lembro-me de ter iniciado a minha estadia no Lydo e Opinado com uma informação acerca da revista Os Meus Livros. De seguida, falei na BANG! Naquela altura, andava apenas a ocupar espaço com as coisas que escrevia, apenas para não parecer mal. Sentia-me uma novata e procurava a vossa apreciação, quando nunca sequer tinha pensado em ler alguma destas revistas. Agora, fico feliz em ter feito aqueles artigos, em ter ficado a conhecer a BANG! Finalmente, ela está na FNAC, pronta para a levarmos para casa, imprimida e com uma qualidade fantástica. Pelos vistos, o stock deste número já esgotou e estão a pensar fazer mais na próxima tiragem. Fico feliz por ser uma das pessoas que possui esta revista, pois achei-a fabulosa. Não me faz lembrar aquelas revistas que falam de cuscovilhices e que só têm artigos de moda. Finalmente, encontrei uma revista que vai de encontro com os meus interesses e que me dá vontade de ler quando vou no Metro de Superfície, sozinha. Vou fazer por pontos, como o Tiago, pois estas 64 páginas têm muito que se lhe diga.

A Capa: Simplesmente espectacular. Adoro o grafismo e a página dedicada ao autor dos desenhos. Achei os temas que o autor trata super interessantes e fiquei com vontade de ver mais ou até de construir histórias a partir dos seus desenhos.

Colecção BANG!: É aqui que sabemos as novidades e ficamos com as expectativas altas. Eu, pelo menos, fiquei com vontade de comprar mais livros, o que não é muito saudável para a carteira.

M., de malária de José Eduardo Agualusa: Não me vou pôr a fazer sínteses de cada conto, mas este foi interessante. Um pouco estranho e, na minha opinião, ficou com um final que deixou muito a desejar. Penso que o autor podia ter desenvolvido mais um pouco, apesar de ser um conto. Dei-lhe um 7 em 10.

A (minha) história de Duna: Jorge Candeias criou uma crónica com uma escrita bastante acessível e que faz uma pessoa querer ler mais; parece que ele está à nossa frente a conversar connosco. No entanto, penso que o tema não foi assim tão apelativo. Confesso que fiquei com vontade de ler o Duna, mas também sei que, muito provavelmente, ia gostar mais da crónica se fosse acerca de outra coisa. Sinto que o assunto é muito cinzento, não sei explicar. Ou então é por causa das cores da página, que me deixam aborrecida.

Com a manhã chega a neblina de George R. R. Martin: Simplesmente espectacular, o melhor conto da revista! Já tinha saudades de ler algo dele, visto que ando a adiar o resto das Crónicas para 2011. Mas este conto deu para enganar a fome ou, se calhar, me esfomear ainda mais. Fabuloso. E o final… Nada típico de Martin! Dei-lhe um 9 em 10.

Os livros das minhas vidas: Nada de especial. Não me chamou a atenção.

Távola Redonda: Muito bom, especialmente para pessoas que sempre quiseram que um livro seu fosse editado e publicado. A junção dos autores e as várias opiniões estão perfeitas.

A boa gente de Sodoma por Matthew Rossi: Não me cativou. Mas a ideia já contou para alguma coisa, visto que nunca pensei ver as coisas da perspectiva do autor. Dei-lhe um 6 em 10.

Os mundos imaginários do fantástico português (1.ª parte) por António Macedo: Fico ansiosamente à espera da outra parte, pois quero mais absorção de conhecimento! Não fazia a mínima ideia de como era a história de Portugal em relação à literatura fantástica, o que me deixou muito curiosa.

Os cascos e o casebre de Abdel Jameela por Saladin Ahmed: Um conto interessante, digno de se ler. No entanto, na minha opinião, não devia ser finalista do Prémio Nébula, se calhar pela incoerência de algumas ideias. Dei-lhe um 8 em 10.

Légolas: rói-te de inveja por R. A. Salvatore: Confesso que fiquei com vontade de ler o livro, mas tenho receio de estar a criar demasiadas expectativas.

Felicidade por Inês Botelho: Ainda não tinha lido nada desta autora, mas gostei. No entanto, acho que desenvolveu pouco a ideia do conto; parece que, quando começa a ter algum interesse, o conto acaba abruptamente. Dei-lhe um 7 em 10.

Nova vaga, novas capas: Nunca me interessei muito por FC, mas achei esta evolução muito curiosa e interessante.

Fantasia urbana ou romance paranormal? Por Safaa Dib: Um artigo muito curioso que gostei muito de ler. Fez-me chegar à conclusão que continuo a preferir a fantasia épica.

As cidades do segundo esquerdo por Afonso Cruz: Conteúdo estranho, mas um final arrebatador. Dei-lhe um 8 em 10.

• A página das críticas… Bem, confesso que algumas delas foram muito boas, mas outras eram apenas resumos dos livros, coisa que um leitor não quer ver, porque depois, quando vai ler o livro, perde a piada toda, não é?

The Walking Dead por João Miguel Lameiras: Fiquei com vontade de ler a BD e de ver a série que estreou há pouco tempo na FOX.

• E a última página não li porque o Tiago disse que era um grande spoiler acerca da Filha do Sangue, livro que eu vou ler lá mais para a frente.


Posso concluir, assim, que quero ler já o próximo número! O pior é mesmo o tempo de espera, visto que a revista só sai de três em três meses, o que compreendo perfeitamente, devido à qualidade do conteúdo. Penso que é preciso reflexão para criar uma revista como esta!



Sara

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