terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Até um dia destes

Olá malta. Voltou a acontecer algo impensável. Não, não peguei em mais nada do Gonçalo M. Tavares e adorei, duvido que isso algum dia venha a acontecer. E não, também não comecei a escrever poesia, outra coisa que duvido que algum dia venha a acontecer. A realidade é muito mais simples, embora a certa altura eu tenha achado muito mais impossível do que as outras duas coisas: decidi fazer uma pausa aqui no blog.

É verdade. Não é algo de que me orgulhe particularmente, mas conjugaram-se vários factores que me levaram a tomar essa decisão de forma quase natural.

Para começar, tenho simplesmente demasiadas coisas para fazer. Tenho um trabalho, tenho uma tese para fazer, escrevo para outros sítios, tento escrever ficção com regularidade, para acompanhar a malta da Oficina, faço parte de um grupo de apoio à Ciência que organiza vários tipos de actividades e iniciativas e ainda tenho que manter a minha sanidade mental.

Esse último ponto é desprezado por muita gente, mas é da maior importância possível. E no meu caso implica coisas tão simples como ter tempo para dormir, ter tempo para ir passear com a minha namorada, ter tempo para ler, tempo para brincar com as minhas coisas de electrónica (arduinos são a melhor coisa de sempre), enfim... Tempo para descansar, cá à minha maneira.

O que tem vindo a acontecer é que tenho ficado cada vez mais desiludido com o blog. Eu bem tentei melhorar as coisas, recentemente, com um novo visual e página do Facebook e tudo, mas não dá. Simplesmente já não estou satisfeito. Não só não acho que ande a escrever coisas com qualidade digna de se ver, como já não o faço com gosto. Isto tornou-se um emprego, e um que ainda por cima dá muito trabalho e não é remunerado.

Além disso, continuo a sentir que não tenho retorno suficiente. Pouca interacção com outros bloggers e leitores. Eu sei que muita gente apoia a vertente "escrever para mim", mas eu não. Se eu tiver algo para escrever que seja por mim e para mim, escrevo-o em privado, não tenho necessidade de mostrar a ninguém. Se escrevo, e como faço neste blog há anos, é para alguém. Até porque desde o início que o Que a Estante nos Caia em Cima tem um objectivo muito bem definido: espalhar o gosto pela leitura e incentivar a malta a conhecer e a ler.

Se eu acho que isso está a falhar, então todo o blog está a falhar. E estar a fazer isto quase por obrigação, para não ter resultados positivos... Não obrigado.

Como tal, meus caros, está na altura de parar. Por tempo indefinido. Podem continuar a acompanhar as barbaridades que escrevo todos os meses na Nonata (embora também pareça ter entrado de férias...), de duas em duas semanas no Whoniverso, e de vez em quando no blog do Polícia Bom, Polícia Mau (embora tenha uma regularidade peculiar).

Qualquer coisa também podem enviar mail para [email protected], que eu respondo. Eventualmente.

E pronto, é tudo. Até um dia destes.

sábado, 30 de janeiro de 2016

Uma Nova Era (Marvel Salvat #3)


Argumento: John Ney Rieber
Arte: John Cassaday
Tradução: Paulo Moreira


Opinião: Capitão América. Outra vez. Parece espantoso que com todos os problemas que tenho com a personagem, me cheguem às mãos tantos livros dele. Aparentemente, é um dos favoritos por esse mundo fora, provavelmente por causa do enorme favoritismo que tem nos EUA, quase exclusivamente derivado do seu valor patriótico.

Esse ausência de valor enquanto personagem sempre me chateou. Para além de ser um símbolo e uma personagem basicamente perfeita, há ali pouco sumo, digamos assim. Só que tem sorte, pois com tanta visibilidade acaba por ter uma quantidade de histórias e de equipas criativas enorme, o que significa que só com muito azar e/ou incompetência é que não se arranjavam algumas coisas decentes!

Felizmente este livro consegue ser um desses casos felizes. Calma, continua a não ser nada de extraordinário, mas tendo em conta que é um livro do Capitão América... Estou impressionado.

Ah, e melhor ainda. Este podia muito perfeitamente ser o pior livro do Capitão América de sempre, já que começa com a personagem a lidar com as consequências do atentado de 11 de Setembro de 2001. Sim, a personagem mais patriótica de sempre num dos momentos mais emocionais de sempre da nação que representa. Sabem que cheiro é este? É patriotismo. Este livro exala disso.

Mas John Ney Rieber, o argumentista, consegue fugir, em grande parte, a essa faceta, e escreve uma história que serve de homenagem às vítimas e mensagem de esperança para toda a gente. Não é uma história perfeita, longe disso, mas mostra o Capitão América a ser uma pessoa real, como apenas raramente acontece. E só por isso, até vale a pena espreitar.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Orlando - O caracol apaixonado


Texto: Sérgio Mendes
Arte: Elias Gato


Opinião: Não sou a pessoa mais imparcial para falar deste livro. Os desenhos foram feitos por um amigo, o grande Elias Gato, um tipo versátil e com talento para dar e vender, tanto no desenho, como na escrita.

O desgraçado tenta, e tenta e tenta, e raramente desiste. A sua capacidade acaba por ganhar, e acaba a ganhar prémios milionários (sim, tu és rico, paga-me lá o jantar) e a ver o seu trabalho publicado e à venda por todo o país. É merecido, sem sombra de dúvida, e era preciso terem estado no lançamento lisboeta para ouvirem o discurso dele e perceberem o quão importante isto é para ele.

Eu compreendo-o. É ver o trabalho recompensado. Poderá haver algo melhor para alguém? Especialmente para alguém que se dedica a um meio e a uma actividade com relativa pouca expressividade nacional? Melhor que isto, agora, só publicar mais!

Pela minha parte, li o livro, e tenho coisas a dizer. A começar pelo texto e pela história, ambos para lá de fracos. O autor, o Sérgio Mendes, que me desculpe, até é quase meu conterrâneo (é de Guimarães) e pareceu-me uma pessoa simpática e agradável, mas a história tem falhas imperdoáveis. E a quantidade de texto por página? Terrível!

Essa parte, imagino, não será inteiramente culpa do autor, mas também da editora, só que... Pronto, é uma quantidade ridícula.

Depois há o caracol que usa o Facebook para conhecer a namorada, e que tanto é surdo que nem uma porta como ouve perfeitamente pessoas do outro lado da janela a darem instruções sobre a internet, e temos ainda a velhinha que se transforma numa osga, depois de ver que alguém lhe entrou em casa e lhe deixou um recado no computador que a faz ir atrás dessa pessoa até ao Algarve, sem fazer a mínima ideia de quem tenha sido.

Enfim, há coisas muito estranhas a acontecer na história, e se o livro se torna minimamente agradável é graças aos desenhos do Elias, que são muito bons e bastante adequados e apelativos para crianças. Só tenho dois pequenos problemas, dos quais já falei com ele: os narizes das personagens dele são sempre... peculiares; o caracol tem os olhos no sítio errado.

Tirando isso, Orlando - O caracol apaixonado acaba por ser um livro que vale a pena comprar. E mesmo que não valesse, eu ia-vos dizer a mesma coisa, que o Elias merece que o trabalho dele seja visto e tenha divulgação. Parabéns Elias!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Wolverine: Origem #2



Argumento: Kieron Gillen
Arte: Adam Kubert
Tradução: Paulo Moreira


Opinião: Não é péssimo... mas anda lá perto. Já estava de pé atrás, graças ao primeiro volume, mas ainda tinha alguma esperança. O principal problema tinha sido um Wolverine completamento desprovido dos traços característicos da personagem. Aqui já não era suposto existir esse problema, portanto havia a possibilidade de as coisas correrem bem.

Mas pelo menos em termos de história. não correu. As personagens até são interessantes, assim como a luta de Logan com o seu eu bestial não tão interior quanto isso, mas o enredo é demasiado óbvio e a introdução dos Creed é feita a martelo e força o engano dos olhos dos leitores, de forma tão óbvia que dói (embora já me tenham dito que isso é só problema de eu já conhecer relativamente o Wolverine enquanto personagem).

Enfim. Safa-se a arte, que é verdadeiramente espectacular, principalmente nos momentos iniciais, quando ainda temos um Logan/Wolverine selvagem, a viver com lobos e a matar ursos. Mas de resto, digamos que não me fica na memória...

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Matar é Fácil


Autora: Agatha Christie
Tradutor: Carlos Afonso Lobo


Opinião: Livro interessante, embora sem Poirot nem Miss Marple. Prefiro, de longe, as histórias que envolvam essas personagens, mas tenho confiança suficiente nesta autora para ler o que quer que seja que tenha o nome dela por baixo.

O investigador principal desta história é que deixa um pouco a deixar. Luke Fitzwilliam, reformado, parece-me apenas relativamente competente, mais interessado em enamorar-se da rapariga de quem está a fingir ser primo (pormenores) do que outra coisa. De resto, todas as pessoas da localidade onde os crimes acontecem são super estranhas e potenciais assassinos, o que é peculiar. Normalmente Agatha Christie consegue fazer cair suspeitas sobre praticamente todas as personagens existentes, mas não me lembro de lhe ler uma história com tantas personagens esquisitóides.

Desde um vendedor de antiguidades que se mete em rituais de magia negra, a um militar reformado que gosta mais dos seus três cães do que de outra coisa coisa/pessoa qualquer, passando por toda uma série de personagens inacreditavelmente, e citando a malta da Rádio Comercial, chalupas!

O principal suspeito, tão suspeito que até convence o investigadorzeco, é uma pessoa execrável, tão cheia de si mesma que dói. E depois, plot twist... Digamos que é óbvio, o que acontece.

Essa reviravolta topou-se um bocadinho antes do fim, é certo, mas a coisa até está bem construída. Só tenho pena que o amor entre Bridget e Luke seja tão forte e tão repentino, e que não haja um verdadeiro seguimento do resto das personagens, todas elas estranhas, mas interessante. Estão em foco enquanto são suspeitos, ou enquanto é preciso fazer-lhes perguntas, mas depois desaparecem de cena e nunca mais voltam nem se sabe nada deles.

No fim fica uma história que entretém, com uma resolução satisfatória, mas que tem pouco de história de detectives. A personagem principal, que está a investigar o caso, não descobre lá muita coisa. Limita-se a andar ao sabor das descobertas que vão sendo feitas de uma forma geral, e nem sequer faz nada de particularmente relevante, para além de roubar uma noiva e de chamar as autoridades a sério, quando o caso se complica.

Mas Agatha Christie é sempre agradável de ler, e nesse ponto o livro não fica muito atrás do que seria de esperar.

sábado, 23 de janeiro de 2016

Porquê Ciências?

"Para perceber como funcionam as coisas!"

Maricas. Essa é a resposta bonita que se dá para a malta não nos achar esquisitos. A realidade é que "fazer ciência" está para "perceber como funcionam as coisas" da mesma forma que "correr a maratona" está para "cortar a meta": até pode ser o objectivo final, mas ninguém tem o título de cortador de metas; são corredores.

Portanto deixem-se disso. É uma visão redutora, e que embora não negue completamente, também não apoio activamente. Até porque existem mais campos do conhecimento que permitem perceber o funcionamento de alguma coisa. Psicologias e afins para perceber o ser humano, Economias e afins para perceber o sistema criminal, por exemplo.

Mas quando alguém se mete nisto, rapidamente percebe que "perceber como funcionam as coisas" é só mesmo um chavão para explicar rapidamente o que andamos a fazer. Um investigador pode passar a vida inteira a estudar uma única bactéria, ou proteína, ou animal, ou processo metabólico, ou o que for, e morrer sem nunca perceber como é que funciona.

Não é perceber que interessa, é aprender. Aquele investigador que esteve cinquenta ou sessenta anos a olhar para a mesma coisa de vários ângulos diferentes pode nunca cortar a meta, mas a sua contribuição para a Ciência pode ser digna de Nobel. Novas técnicas, descobertas secundárias, e até eliminação de hipóteses. A próxima pessoa a pegar no mesmo objecto de estudo pode olhar para trás e dizer "bem, não é assim que funciona" ou "olha, não vai ser assim que vou descobrir".

Sim, a Ciência deve ser o único campo em que um tiro ao lado pode ser tão (ou mais) importante do que um tiro certeiro.

Claro que interessa ter objectivos, metas a cortar, e é preciso tentar atingi-las o melhor possível... Todos temos algum objectivo, em todos os trabalhos em que pegarmos,

(a não ser que ainda estejamos a tirar o curso, aí é só trabalho inútil)

e só ficamos mesmo mesmo satisfeitos se o atingirmos. Mas também é legítimo que, não conseguindo, se aprenda bastante, e isso é importante por si só! Pelo menos para mim é, ou não tivesse sido isso a convencer-me. Sim, descobrir coisas, ajudar pessoas, isso tudo... Mas sabem do que é que eu sempre gostei, desde que era uma criatura minorca de olhos esbugalhados? De aprender. E ainda é disso que gosto hoje, e só isso é que me permite manter o mínimo de sanidade mental!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

The Faust Act (The Wicked + The Divine #1)



Argumento: Kieron Gillen
Arte: Jamie McKelvie, Matt Wilson, Clayton Cowles


Opinião: É fácil esquecermo-nos que existem editoras americanas de BD para lá da Marvel e da DC. Quais colossos açambarcadores, ficam com tudo, inundam o meio de publicidade, e torna-se complicado divulgar outras coisas, por muita qualidade que tenham.

E no entanto é exactamente duma terceira editora (que tem um tamanho considerável, tendo em conta o sufoco da BD por aqueles lados), a Image, que surgem alguns dos títulos que mais me atraem. De Saga a Tony Chu, passando por Fatale e Walking Dead, bem como alguns dos títulos que mais curiosidade me despertam, como The Mice Templar, The Manhattan Projects, Spawn e mais uns poucos.

De tal forma que basta o selo de qualidade desta editora para eu dar uma hipótese. Este livro não foi excepção e, pouco depois de me vir parar às mãos, devorei-o, como se deve fazer com BD. Fiquei impressionado, mas tenho algumas coisa a apontar.

Para começar a arte é boa. Faz lembrar Saga, embora vários degraus abaixo (todos a fazer vénias à Fiona Staples, se faz favor), e a história é certamente interessante e conta com personagens fascinantes, mas falta qualquer coisa. A premissa é, sem ponta de dúvida, o tipo de coisa bizarra que gosto de ler: a cada noventa anos há doze deuses (de um enorme panteão) que surgem no mundo, no corpo de adolescentes, e que graças aos seus poderes rapidamente se tornam autênticas celebridades. A contra partida é que morrem após dois anos.

Fixe? Fixe. Depois claro que há intrigas e porrada entre deuses, para isto ser interessante, e o ritmo é completamente alucinante... Mas no meio de tanta coisa é fácil perder o rumo da leitura. As coisas acontecem em catadupa, e há sempre tanta coisa diferente a acontecer que é mesmo difícil de acompanhar. Fica a sensação de que mesmo com atenção, não se apanha tudo, e que apanhar tudo é essencial para apreciar verdadeiramente o livro.

Mas fiquei impressionado o suficiente para que esse pormenor não me assuste. Vou sem dúvida acompanhar!