O senhor de botas velhas dizia sempre para Clarice:
- Cuidado! Antes de entrar coloque as pontas dos pés primeiro, porque se estiver muito gelado ainda dará tempo de sair.
E no outro dia lá ia a menina se afogando antes mesmo de entrar com o corpo inteiro. Bolhas gigantes se formavam quando Clarice buscava o ar que não existia. A água pulava acompanhando o seu desespero. E se alguém passasse pra olhar veria apenas olhos doces vagando em vão. Daria vontade até de lamber.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
sexta-feira, 27 de junho de 2008
do lado de fora
Quem? Heesung, 24 anos. De Gangneung Ci - Córeia do Sul.
Em 2005 ele estudou química, por um ano. Entrou no exército em 2006. Na Coréia todos os homens são obrigados a ir para o exército, com exceção dos deficientes físicos ou mentais. Durante os dois anos que ficou no quartel ele tirou férias três vezes, de nove dias cada. A estrutura física do exército é muito grande, três mil militares vivem lá. Ele dormia com cerca de 10 pessoas no quarto. Todos os dias acordava às 6h da manhã. Antes do café todos os militares se reuniam para cantar o hino do país, depois falavam em voz alta as normas morais do exército e em seguida corriam cerca de três quilômetros.
Heesung era responsável pela compra da comida para 1.060 militares. Ele saia três vezes por semana e demorava cerca de 40 minutos para chegar até o supermercado. Eram esses os poucos minutos que ele tinha fora do quartel. Aproveitava para comprar bebidas, que eram proibidas, pra ele e para os outros soldados. Ele também organizava a comida nos regrigeradores e coordenava os militares que cozinhavam.
Nos treinamentos ele aprendeu como jogar uma granada, a atirar, etc. Eu perguntei mais detalhes sobre as atividades e ele respondeu: “Eu não quero me lembrar, eu simplesmente esqueço. É assim que eu lido com as coisas.” Ele já escutou histórias de pessoas que tinham se matado, por não suportarem a pressão. Eis o grande poder da mente.
Heesung tinha que obedecer pessoas mais novas que ele, pelo fato de terem mais tempo no exército. Isso era complicado pra ele, porque na sociedade se respeita as pessoas pela idade, e não pela posição. “Era difícil ter que lidar com regras diferentes”, diz. O exército era composto por superiores bons e ruins. Havia aqueles que passavam muitas tarefas e checavam constantemente o que tinha sido feito, tentando achar algum defeito. Ele contou que após a limpeza alguns chefes passavam o dedo sobre a mesa e diziam: “Limpe tudo de novo.” Isso acontecia mesmo quando o trabalho havia sido bem feito. “Eles me mandavam fazer algo e me batiam se eu não fizesse. Isso não era uma democracia.” Mas os postos eram rotativos: quando ele chegava no posto mais alto ele fazia o mesmo com seus subordinados. O homem é um ser realmente contraditório. Não sabe lidar com o poder.
Eu queria saber mais. Queria saber mais sobre coisas que a gente não pode ver. Perguntei se já havia chorado e ele com as mãos afoitas disse: “Eu nunca chorei no exército. Aliás, chorava as vezes. Não me pergunte isso de novo”.
Nenhuma resposta foi completa. Foi necessário sugar algo naquela parte da nossa mente que guardamos as memórias abandonadas. O menino com cara de lua e roupas apertadas agora estava livre e não sabia o que fazer com as portas abertas. Ele veio para a IICD fazer o programa de trabalho voluntário, mas após duas semanas desistiu. É que o mundo é muito infinito... e ele ainda não consegue parar para olhar.
Em 2005 ele estudou química, por um ano. Entrou no exército em 2006. Na Coréia todos os homens são obrigados a ir para o exército, com exceção dos deficientes físicos ou mentais. Durante os dois anos que ficou no quartel ele tirou férias três vezes, de nove dias cada. A estrutura física do exército é muito grande, três mil militares vivem lá. Ele dormia com cerca de 10 pessoas no quarto. Todos os dias acordava às 6h da manhã. Antes do café todos os militares se reuniam para cantar o hino do país, depois falavam em voz alta as normas morais do exército e em seguida corriam cerca de três quilômetros.
Heesung era responsável pela compra da comida para 1.060 militares. Ele saia três vezes por semana e demorava cerca de 40 minutos para chegar até o supermercado. Eram esses os poucos minutos que ele tinha fora do quartel. Aproveitava para comprar bebidas, que eram proibidas, pra ele e para os outros soldados. Ele também organizava a comida nos regrigeradores e coordenava os militares que cozinhavam.
Nos treinamentos ele aprendeu como jogar uma granada, a atirar, etc. Eu perguntei mais detalhes sobre as atividades e ele respondeu: “Eu não quero me lembrar, eu simplesmente esqueço. É assim que eu lido com as coisas.” Ele já escutou histórias de pessoas que tinham se matado, por não suportarem a pressão. Eis o grande poder da mente.
Heesung tinha que obedecer pessoas mais novas que ele, pelo fato de terem mais tempo no exército. Isso era complicado pra ele, porque na sociedade se respeita as pessoas pela idade, e não pela posição. “Era difícil ter que lidar com regras diferentes”, diz. O exército era composto por superiores bons e ruins. Havia aqueles que passavam muitas tarefas e checavam constantemente o que tinha sido feito, tentando achar algum defeito. Ele contou que após a limpeza alguns chefes passavam o dedo sobre a mesa e diziam: “Limpe tudo de novo.” Isso acontecia mesmo quando o trabalho havia sido bem feito. “Eles me mandavam fazer algo e me batiam se eu não fizesse. Isso não era uma democracia.” Mas os postos eram rotativos: quando ele chegava no posto mais alto ele fazia o mesmo com seus subordinados. O homem é um ser realmente contraditório. Não sabe lidar com o poder.
Eu queria saber mais. Queria saber mais sobre coisas que a gente não pode ver. Perguntei se já havia chorado e ele com as mãos afoitas disse: “Eu nunca chorei no exército. Aliás, chorava as vezes. Não me pergunte isso de novo”.
Nenhuma resposta foi completa. Foi necessário sugar algo naquela parte da nossa mente que guardamos as memórias abandonadas. O menino com cara de lua e roupas apertadas agora estava livre e não sabia o que fazer com as portas abertas. Ele veio para a IICD fazer o programa de trabalho voluntário, mas após duas semanas desistiu. É que o mundo é muito infinito... e ele ainda não consegue parar para olhar.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
sim
- você me ligou hoje?
- não, não fui eu.
- estou brincando... nem tinha como você me ligar... foi modo de dizer... quis dizer: você pensou em mim?
- todo dia...
- eu quis falar com você esses dias, mas nunca coincidia de você estar
- ah você não quer falar comigo todo dia não? O que você queria falar?
- não é nada... só queria falar, sem nada a dizer
- como sempre
- é que sinto vontade de marcar o nosso casamento
- tenho que te confessar uma coisa também... depois que você me procurou só ficou pior... penso em você todo dia, tô com tanta saudade...
- amo você e todas as suas reações
- aqui, preciso ir... tudo de bom aí... sucesso
- nao me deseje tudo de bom... pq sempre falta um pedaço meu. você.
- olha, não fica brava não, eu ainda vou conseguir conversar com você tudo que você quer, mas não agora
- a gente precisa entender o momento de cada um
- então porque você não entende o meu?
- porque você acha que não entendo?
- porque você fica atrás de mim. sempre
- porque sinto necessidade. não por não entender o seu momento. mas por precisar extravazar o meu.
- como sempre egoísta
- extravazar amor nunca será egoísmo
- e porque você tem que extravasar comigo?? você nao acabou de falar que está vivendo seu momento? e no seu momento hoje eu não estou incluido
- "porque você esta em todas as coisas. até no vazio que me dá"
- e eu não quero saber se você me inclui em pensamento... já falei, nao quero ser só sonho
- isso é simples
- quer namorar comigo?
- quero
- não, não fui eu.
- estou brincando... nem tinha como você me ligar... foi modo de dizer... quis dizer: você pensou em mim?
- todo dia...
- eu quis falar com você esses dias, mas nunca coincidia de você estar
- ah você não quer falar comigo todo dia não? O que você queria falar?
- não é nada... só queria falar, sem nada a dizer
- como sempre
- é que sinto vontade de marcar o nosso casamento
- tenho que te confessar uma coisa também... depois que você me procurou só ficou pior... penso em você todo dia, tô com tanta saudade...
- amo você e todas as suas reações
- aqui, preciso ir... tudo de bom aí... sucesso
- nao me deseje tudo de bom... pq sempre falta um pedaço meu. você.
- olha, não fica brava não, eu ainda vou conseguir conversar com você tudo que você quer, mas não agora
- a gente precisa entender o momento de cada um
- então porque você não entende o meu?
- porque você acha que não entendo?
- porque você fica atrás de mim. sempre
- porque sinto necessidade. não por não entender o seu momento. mas por precisar extravazar o meu.
- como sempre egoísta
- extravazar amor nunca será egoísmo
- e porque você tem que extravasar comigo?? você nao acabou de falar que está vivendo seu momento? e no seu momento hoje eu não estou incluido
- "porque você esta em todas as coisas. até no vazio que me dá"
- e eu não quero saber se você me inclui em pensamento... já falei, nao quero ser só sonho
- isso é simples
- quer namorar comigo?
- quero
quarta-feira, 25 de junho de 2008
washington dc
As cidades nunca são iguais. Dá pra sentir que o vento toca a gente de uma forma diferente em cada uma delas. Domingo eu fui para Washington DC, a capital dos Estados Unidos. A maioria dos turistas que vão até esta cidade conhecem a Casa Branca. Nós também escolhemos este ponto turístico como o primeiro da nossa lista. Acontece que no caminho eu não tive vontade nenhuma de ir até lá. Não tive curiosidade em saber onde o presidente do país mora. Queria mesmo era saber dos olhos que cruzavam com os meus na rua. Mas lá fomos nós.
Em seguida fomos ao National Museum of History Geografic. Me senti feito formiga num mundo tão cheio de histórias, explicações, pesquisas, descobertas, evolução. Quis entender todos os porquês em uma hora. Passava a mão nas minhas pernas pra acalmar os fios enlouquecidos com tantos arrepios. Este é um museu de verdade, onde os sentimentos são despertados e você quase pode pegar as sensações na palma das mãos. Gruta com som artificial. Elefante em tamanho natural, que de tão real você enxerga barro na pele. O diamante do filme Titanic, o Heart Diamond Ring, e seus reflexos cintilantes. A evolução do homem, os fósseis, a formação da terra, o sistema solar... e a terra continuando a girar. As fases de uma borboleta. Quanta metamorfose! A lagarta comendo a planta... a vida acontecendo ali, no momento exato. As melhores fotos do mundo do oceano e as pessoas se afogando dentro delas. O homem das cavernas. A nossa origem nas escrituras do Egito. Andando ali é fácil perceber que sabemos tão pouco. Talvez apenas onde estamos, sem termos idéia de quem somos, do que já fizemos, sem saber das nossas próprias pegadas esquecidas no chão.
A tarde pegamos um ônibus e fomos para George Town, um bairro de Washington DC. Mais lojas... e lojas! Em uma delas cadeiras que fazem massagem. Que ninguém que eu conheça compre uma dessas. Não podemos aposentar nossas mãos dessa forma. É tão estranho pagar para relaxar o corpo. Acho que isso tem mais a ver com o estilo de vida do que com máquinas. Caso alguém precise eu ainda tenho mãos e posso fazer uma massagem, simplesmente pelo toque e troca de peles.
Em seguida fomos ao National Museum of History Geografic. Me senti feito formiga num mundo tão cheio de histórias, explicações, pesquisas, descobertas, evolução. Quis entender todos os porquês em uma hora. Passava a mão nas minhas pernas pra acalmar os fios enlouquecidos com tantos arrepios. Este é um museu de verdade, onde os sentimentos são despertados e você quase pode pegar as sensações na palma das mãos. Gruta com som artificial. Elefante em tamanho natural, que de tão real você enxerga barro na pele. O diamante do filme Titanic, o Heart Diamond Ring, e seus reflexos cintilantes. A evolução do homem, os fósseis, a formação da terra, o sistema solar... e a terra continuando a girar. As fases de uma borboleta. Quanta metamorfose! A lagarta comendo a planta... a vida acontecendo ali, no momento exato. As melhores fotos do mundo do oceano e as pessoas se afogando dentro delas. O homem das cavernas. A nossa origem nas escrituras do Egito. Andando ali é fácil perceber que sabemos tão pouco. Talvez apenas onde estamos, sem termos idéia de quem somos, do que já fizemos, sem saber das nossas próprias pegadas esquecidas no chão.
A tarde pegamos um ônibus e fomos para George Town, um bairro de Washington DC. Mais lojas... e lojas! Em uma delas cadeiras que fazem massagem. Que ninguém que eu conheça compre uma dessas. Não podemos aposentar nossas mãos dessa forma. É tão estranho pagar para relaxar o corpo. Acho que isso tem mais a ver com o estilo de vida do que com máquinas. Caso alguém precise eu ainda tenho mãos e posso fazer uma massagem, simplesmente pelo toque e troca de peles.
terça-feira, 24 de junho de 2008
filadélfia
Viajar faz bem para a alma. Nesse sábado eu conheci um pouco da Filadélfia. Cidade incrivelmente linda. Passamos de carro na China Town. É como se dentro de Filadélfia houvesse um pedacinho da China. As pessoas saem do país de origem, mas continuam buscando os mesmos laços.
Andamos bastante pela manhã. Entramos em várias lojas, pra confirmar nosso instinto capitalista. Um conselho: quando for viajar não se venda para as vitrines. Fique na rua, canse seuas pernas e mantenha os olhos bem abertos.
Fui comprar uma boina numa loja e comecei a conversar com a vendedora. O nome dela é Lula e ela é da Etiópia. Eu disse que era do Brasil e que estava estudando pra fazer trabalho voluntário na África. Ela ficou super emocionada e a saudade transbordou pelos olhos dela. Ela está há dez anos nos EUA. Eu pedi a ela pra buscar apenas uma coisa na vida: a felicidade. Tenho falado muito sobre isso nos últimos tempos. Acho que me encontrei de tal forma que carrego dentro de mim uma vontade imensa de fazer aflorar nos outros esse sentimento...
A tarde fomos na South Street, uma rua com lojas alternativas. A dona de uma delas nos sugeriu que fossemos conhecer o Magic Garden. Coincidentemente entrou um homem que estava indo pra lá. O irmão dele iria tocar no local e nós fomos o seguindo. O lugar é uma espécie de labirinto com mosaicos de vidro e azulejo colados em todas as paredes. Em cada espaço havia uma interferência artística, com alguém tocando música e algumas atrizes fazendo performances. Valeu a pena.
A noite fomos ao musical Cor Púrpura, baseado no filme de mesmo nome. O teatro é maravilhoso, com arquitetura nos moldes de antigamente. É o maior que já fui, tem cinco andares. A apresentação foi super sensível, apesar de eu não entender o que os personagens falavam eu podia sentir todo o resto: os olhos, os movimentos, os risos, as palmas, as luzes, o foco, a minha pele e a dos outros.
Andamos bastante pela manhã. Entramos em várias lojas, pra confirmar nosso instinto capitalista. Um conselho: quando for viajar não se venda para as vitrines. Fique na rua, canse seuas pernas e mantenha os olhos bem abertos.
Fui comprar uma boina numa loja e comecei a conversar com a vendedora. O nome dela é Lula e ela é da Etiópia. Eu disse que era do Brasil e que estava estudando pra fazer trabalho voluntário na África. Ela ficou super emocionada e a saudade transbordou pelos olhos dela. Ela está há dez anos nos EUA. Eu pedi a ela pra buscar apenas uma coisa na vida: a felicidade. Tenho falado muito sobre isso nos últimos tempos. Acho que me encontrei de tal forma que carrego dentro de mim uma vontade imensa de fazer aflorar nos outros esse sentimento...
A tarde fomos na South Street, uma rua com lojas alternativas. A dona de uma delas nos sugeriu que fossemos conhecer o Magic Garden. Coincidentemente entrou um homem que estava indo pra lá. O irmão dele iria tocar no local e nós fomos o seguindo. O lugar é uma espécie de labirinto com mosaicos de vidro e azulejo colados em todas as paredes. Em cada espaço havia uma interferência artística, com alguém tocando música e algumas atrizes fazendo performances. Valeu a pena.
A noite fomos ao musical Cor Púrpura, baseado no filme de mesmo nome. O teatro é maravilhoso, com arquitetura nos moldes de antigamente. É o maior que já fui, tem cinco andares. A apresentação foi super sensível, apesar de eu não entender o que os personagens falavam eu podia sentir todo o resto: os olhos, os movimentos, os risos, as palmas, as luzes, o foco, a minha pele e a dos outros.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
tire suas roupas
Li uma matéria no site da Globo que me chamou muito a atenção. Era sobre o trabalho do artista Spencer Tunick. Ele fotografa pessoas nuas e já reuniu 18 mil indíviduos para uma sessão de fotos na Cidade do México. Fiquei curiosa pra saber o que estava por trás dessas imagens e encontrei o motivo numa entrevista concedida por ele:
“G1 - Por que fotografar pelados?
Tunick - É por causa do espírito da reação humana ao se mostrar o escondido.”
Isso me intriga. O medo de tirar as roupas, de simplesmente ser. Ser apenas pele, sem peito nem bunda. Vamos esquecer o corpo? Parar de carregar conceitos nas curvas. Sentir atração pelos olhos. Enlouquecer os fios ao sentir as mãos fazendo ondas. Queria mesmo é ser Eva.
Isso me intriga. O medo de tirar as roupas, de simplesmente ser. Ser apenas pele, sem peito nem bunda. Vamos esquecer o corpo? Parar de carregar conceitos nas curvas. Sentir atração pelos olhos. Enlouquecer os fios ao sentir as mãos fazendo ondas. Queria mesmo é ser Eva.
faça um pedido
11h11. Hora de fazer pedido. Clarice desejou as batidas do menino.
- Se eu desejar muito algo, meu desejo se realiza?
- Se você viver seu desejo é como se já tivesse realizado. Você pode sentir o gosto do morango sem comê-lo. Você nunca andou sobre o arco-íris antes?
- Se eu desejar muito algo, meu desejo se realiza?
- Se você viver seu desejo é como se já tivesse realizado. Você pode sentir o gosto do morango sem comê-lo. Você nunca andou sobre o arco-íris antes?
terça-feira, 17 de junho de 2008
bolinha de sabão
Ser criança é como manter o balanço na parte mais alta e acreditar que o céu fica no final da amarelinha. Eu nunca achei crianças infantis. Aliás, sou apaixonada pelas conversas delas. A gente tem mania de criar etapas, como se crianças, adolescentes, adultos e idosos não pudessem fazer as mesmas coisas. Na verdade a idade não existe, é apenas uma forma de contar o tempo. Não sei como alguém pode se prender a uma simples contagem. Tenho 23 anos mas amo brincadeiras, risadas de madrugada, meias coloridas, tênis de bolinha, lacinhos no cabelo, vestido rodado, blusa cor-de-rosa, gritos estridentes, bonecas com cabelos compridos, parque de diversão, pulos de manhã, caretas, bolo de chocolate com confetes, cartas de amor recortadas, caneta roxa, arrepios ao andar na floresta, coração acelerado e sempre apaixonado, música no último volume, estrelas na parede, lápis de cor… gosto de viver minha imaginação.
Ontem brincamos de Máfia e Adedanha aqui na montanha. Como eu me diverti… e o sorriso ainda está aqui, guardado no canto dos lábios meus, na pureza das mãos lisas…
Ontem brincamos de Máfia e Adedanha aqui na montanha. Como eu me diverti… e o sorriso ainda está aqui, guardado no canto dos lábios meus, na pureza das mãos lisas…
segunda-feira, 16 de junho de 2008
melhor estar fora do áquario
Pessoas não são tão livres assim. Carregam tradições, crenças, cultura. Daqui é simples ver o quanto o meio influencia o ser humano.
Japoneses são tímidos e muito educados. Jamais irão interromper você durante um discurso. E pedirão desculpas caso você faça algo por eles. Não dormem enquanto não acabam o trabalho. São persistentes e extremamente responsáveis. As vezes tenho a sensação de que eles acabaram de sair do exército. O corpo não se movimenta ao caminhar e eles vivem a obedecer as regras. Mas eles são tão doces. Dá vontade de colocar no colo e fazer dormir.
Brasileiros nasceram no verão. Abraçam você, olham pra você. As gargalhadas, aquelas gostosas de ouvir, são sempre deles. A comida tem mais tempero. As conversas são mais profundas. Brasileiro tem preguiça, deixa tudo pra amanhã. Mas sempre dá aquele jeitinho. Eles falam alto. Você percebe a presença deles. É inevitável amar o Brasil e todas as suas exclamações!!
Essas são apenas impressões, porque seria impossível definir pessoas. Cada cultura tem sim características próprias, mas não se pode engessar pessoas. Tem sempre aquelas que buscam ar fora do rio, fora do padrão. E são essas que me encantam...
Japoneses são tímidos e muito educados. Jamais irão interromper você durante um discurso. E pedirão desculpas caso você faça algo por eles. Não dormem enquanto não acabam o trabalho. São persistentes e extremamente responsáveis. As vezes tenho a sensação de que eles acabaram de sair do exército. O corpo não se movimenta ao caminhar e eles vivem a obedecer as regras. Mas eles são tão doces. Dá vontade de colocar no colo e fazer dormir.
Brasileiros nasceram no verão. Abraçam você, olham pra você. As gargalhadas, aquelas gostosas de ouvir, são sempre deles. A comida tem mais tempero. As conversas são mais profundas. Brasileiro tem preguiça, deixa tudo pra amanhã. Mas sempre dá aquele jeitinho. Eles falam alto. Você percebe a presença deles. É inevitável amar o Brasil e todas as suas exclamações!!
Essas são apenas impressões, porque seria impossível definir pessoas. Cada cultura tem sim características próprias, mas não se pode engessar pessoas. Tem sempre aquelas que buscam ar fora do rio, fora do padrão. E são essas que me encantam...
sem versos nessa noite
tem horas que a poesia me cansa. que fico cavando respostas de versos perdidos na noite. frases sem pontuação. sem despedida. tenho me sentido metade. ora aqui, ora lá. preciso ajustar meu foco. vejo muito embaçado e escuro. ainda bem que salvei a cor. é que tem horas que as palavras me cansam. elas me escondem. são feito roupas de frio, não dá pra ver a pele. e brigam comigo. são mais fortes que eu mesma. mas tem horas que eu quero ficar nua. ser apenas música sem letra. pra deixar escutar o som… me deixa ouvir o seu som agora?
sábado, 14 de junho de 2008
onde tudo começa?
Pra começar, aqui as casas não têm muros. É proibido fechar o carro. Não há alarmes. Melhor seria jogar as chaves fora. Nos quartos apenas um retângulo de madeira nos separa. Mas é tão fácil juntar… nas noites de estrelas e planetas. E ali onde ninguém nos vê me vejo fazendo as mesmas coisas que faço do outro lado.
Longe de casa, sem ninguém que me conheça, que me descreva… eu poderia ser personagem de mim mesma. Aqui se faz várias estréias. Não temos pai nem mãe. Somente várias pessoas sem referência. São elas aqui, nuas de todo o passado.
Resta a dúvida se somos simplesmente o agora… ou se nos fazemos da soma das nossas éstorias. Sera que eu poderia me desvincular dos meus amores e laços com nós? Cada segundo me parece um novo parto. Acho que nos multiplicamos sempre, pois nos dividirmos seria como manter falsas grades. Talvez sejamos o instante e todas as nossas reações. Acho que temos medo de ser. De recriarmos o nosso ser. A gente tem mania de carregar nossas pegadas, ainda que elas já tenham sido deixadas no chão. Somos retrovisores do futuro.
Mas eu sei… que não quero apenas estar, eu quero ser! E ser tudo aquilo que eu desejar ser.
Longe de casa, sem ninguém que me conheça, que me descreva… eu poderia ser personagem de mim mesma. Aqui se faz várias estréias. Não temos pai nem mãe. Somente várias pessoas sem referência. São elas aqui, nuas de todo o passado.
Resta a dúvida se somos simplesmente o agora… ou se nos fazemos da soma das nossas éstorias. Sera que eu poderia me desvincular dos meus amores e laços com nós? Cada segundo me parece um novo parto. Acho que nos multiplicamos sempre, pois nos dividirmos seria como manter falsas grades. Talvez sejamos o instante e todas as nossas reações. Acho que temos medo de ser. De recriarmos o nosso ser. A gente tem mania de carregar nossas pegadas, ainda que elas já tenham sido deixadas no chão. Somos retrovisores do futuro.
Mas eu sei… que não quero apenas estar, eu quero ser! E ser tudo aquilo que eu desejar ser.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
corpo sem mente
cansaço me descansa. o gosto salgado do suor escorrendo desfaz qualquer lei da física. a boca implorando água, as batidas do tambor na pele, a perna sustentando tudo. o corpo pedindo mais. e as mãos, incansáveis, fazendo mais. certas vezes o corpo parece se soltar da mente. ganha forças que a mente não reconhece. e a gente fica sem saber se somos nós quem estamos ali dentro daquele corpo.
terça-feira, 10 de junho de 2008
babadoeconfusão
Não dava pra ver o rosto todo. Apesar da nuca vísivel o cabelo ainda fazia-se moldura. Quis passar meus dedos entre os fios e jogá-los numa tempestade, pra embolar tudo. Mas você se escondeu atrás do copo, com pontos coloridos no cabelo mascarando a mulher que berrava por dentro. E o vento ali fazendo seu vestido dançar, feito bailarina. A declaração afoita, com palavras saindo antes de apertar o gatilho, e você sem saber lidar com o que falava e sentia. Você escreveu mensagens que me alcançaram naquela terra distante de onde não sei se vim… e quando parei pra olhar você já estava afogada.
E assim eu guardei seu cheiro dentro da mala, numa despedida de sentidos.
E assim eu guardei seu cheiro dentro da mala, numa despedida de sentidos.
domingo, 8 de junho de 2008
pegadas na floresta
É invasivo entrar sem bater. Acontece que na floresta não há portas e eu queria ir lá. Quis criar meu caminho, mas meus olhos se arregalavam a cada mudança das folhas no chão. O trovão da música que ouvia se misturou com a minha imaginação e meu pescoço girou. No desenho das árvores eu vi ursos de vários tamanhos e cores. Um deles descansava com o filho na sombra. Outro dava gargalhadas relembrando o dia em que se perdeu na floresta. Um casal tomava café e a última cena que vi foi o abraço. Eu achei melhor não dar boa tarde dessa vez.
Aqui você vê pedaços do céu, recortado entre os galhos e as folhas. O rio não quis parar pra eu passar. Eu sentei pra falar com ele e ele continuou a molhar com águas tão diferentes aquela mesma pedra verde. Só agora eu entendo a altura de algumas árvores. As mais baixas não gostam de ver apenas o céu. É que aqui em baixo tem raízes. O vento daqui fez carícias em mim. Eu não fiz restrições e ele entrou debaixo da minha roupa, rasgando o peito. Ele ainda está aqui. Acho que não sai mais. É a primeira vez que guardo um pedaço do vento.
Eu posso ver as migalhas de pão que João e Maria deixaram pelo caminho. São eternas nesse lugar. Continuei a andar e meus cds eu deixei na mochila e a minha cabeça eu abandonei no balanço.
Aqui você vê pedaços do céu, recortado entre os galhos e as folhas. O rio não quis parar pra eu passar. Eu sentei pra falar com ele e ele continuou a molhar com águas tão diferentes aquela mesma pedra verde. Só agora eu entendo a altura de algumas árvores. As mais baixas não gostam de ver apenas o céu. É que aqui em baixo tem raízes. O vento daqui fez carícias em mim. Eu não fiz restrições e ele entrou debaixo da minha roupa, rasgando o peito. Ele ainda está aqui. Acho que não sai mais. É a primeira vez que guardo um pedaço do vento.
Eu posso ver as migalhas de pão que João e Maria deixaram pelo caminho. São eternas nesse lugar. Continuei a andar e meus cds eu deixei na mochila e a minha cabeça eu abandonei no balanço.
metamorfoseando
não dá mais pra aliviar a tensão roendo as unhas. já não há mais unhas nos dedos. em um mês três menstruações. sensibilidade atravessando a porta. o corpo a frente dos pés, tropeçando nos conceitos defendidos por toda uma vida. a ânsia de saber os porquês que se calam. de querer algo meu, algo feito gente, de carne e osso, e perceber que aquilo que respira jamais poderá ser possuido. então se descobre que ter o momento é mais importante do que ter o amanhã. e que você pode selar o encontro dos lábios hoje sem dar passos. pode deitar na grama a noite, enxergar estrelas que piscam e ter o desfecho. não se precisa do dia seguinte, não precisa ser planeta a brilhar sempre. basta que illumine…
laços com nós
depois de muitos dias deitados na grama surgiu o sol… e nessa noite eles deitaram na varanda do Bela Vista. ela e ele, eles e o mundo, os desejos deles e o do resto do mundo. a conversa atravessava o chão. Clarice falava vermelho e ele coração, ela pensava música e ele já cantava o refrão. juntos a risada fazia perder o folêgo. eles respiravam apenas pra buscar a próxima inspiração.
- sua meia listrada combinou com seu sapato de bolinha – disse ele
os diálogos instigantes mudavam sempre o rumo. Clarice desabafando o amor que pediu pra passar e ele, que não gosta de música, analisando as cifras. comentários sobre o avião que sempre passa no céu, como se o menino morasse em algum pedaço daquele azul. as frases repetidas no ritmo lento dos pensamentos da menina. e ele ali respondendo todos os porquês. e no meio de tudo isso as letras minúsculas pedindo licença.
é essa amizade… que não nasceu em berço, pode ser por isso que seja um pouco sem lar, sem cá ou acolá, com palavras soltas na ponta da língua.
- sua meia listrada combinou com seu sapato de bolinha – disse ele
os diálogos instigantes mudavam sempre o rumo. Clarice desabafando o amor que pediu pra passar e ele, que não gosta de música, analisando as cifras. comentários sobre o avião que sempre passa no céu, como se o menino morasse em algum pedaço daquele azul. as frases repetidas no ritmo lento dos pensamentos da menina. e ele ali respondendo todos os porquês. e no meio de tudo isso as letras minúsculas pedindo licença.
é essa amizade… que não nasceu em berço, pode ser por isso que seja um pouco sem lar, sem cá ou acolá, com palavras soltas na ponta da língua.
sábado, 7 de junho de 2008
Clarice
na verdade Clarice não é de um lugar específico deste mundo. isso de dizer que é de alguma cidade limita a pessoa. ela não pertence a um espaço determinado. ela apenas nasceu em uma cidade determinada, em Belo Horizonte pra ser mais exata. talvez Clarice seja um pouco eu mesma, mas sei que não a sou por completo. Clarice é poesia… e eu não sou apenas versos. as rimas nem sempre são suficientes.
nasceram lisos os cabelos dessa menina… mas de tanto ela ficar no mar ele acabou por absorver as ondas. o comprimento varia de acordo com o humor. as bochechas são rosas… e isso encanta. o rosto sempre rosado de emoções a flor da pele. na pele os fios vivem em pé. as vezes se cansam, mas por pouco tempo. os olhos são reflexos da alma. basta olhá-los para ler Clarice, mas isto não quer dizer que ela seja um livro explicado em páginas. ela não se traduz de nenhuma forma… as mãos sempre saem borradas na fotos. os pés se atropelam com as trilhas sonoras. o corpo não é violão. ela nem gosta de corpo. prefere o olhar que deixa rosada a pele, sempre tão rosa por natureza. Clarice é assim… mas de tempos em tempos ela se refaz. ela não tem bem um conceito, por assim se dizer borboleta…
nasceram lisos os cabelos dessa menina… mas de tanto ela ficar no mar ele acabou por absorver as ondas. o comprimento varia de acordo com o humor. as bochechas são rosas… e isso encanta. o rosto sempre rosado de emoções a flor da pele. na pele os fios vivem em pé. as vezes se cansam, mas por pouco tempo. os olhos são reflexos da alma. basta olhá-los para ler Clarice, mas isto não quer dizer que ela seja um livro explicado em páginas. ela não se traduz de nenhuma forma… as mãos sempre saem borradas na fotos. os pés se atropelam com as trilhas sonoras. o corpo não é violão. ela nem gosta de corpo. prefere o olhar que deixa rosada a pele, sempre tão rosa por natureza. Clarice é assim… mas de tempos em tempos ela se refaz. ela não tem bem um conceito, por assim se dizer borboleta…
sexta-feira, 6 de junho de 2008
perfis
voluntário não tem cara. é sem resumo, sem ficha. não é padrão. é Japão, Brasil, Córeia, Venezuela, Estados Unidos… um país dentro do outro, num mix cultural. voluntário não é sempre voluntário. também é egoísta, tem preguiça, acorda de mau humor, tem dentes e unhas, é humano. em comum existe o desejo, mas nem o que move o desejo é comum.
há quem entre nesse programa pra viajar, conhecer novos lugares, encontrar pessoas. outros embarcam porque querem mudar a rotina. tem aqueles que querem melhorar o inglês. alguns acham que isso pode incrementar o currículo. tem também quem queira conhecer a si mesmo. e no meio disso tudo é estranho afirmar que não há voluntários que participam do programa para serem simplesmente voluntários.
o que conforta é que no final todos se encontrarão na terra vermelha. e é isso que une atravessando a água e o fogo, o preto e o branco, a asa e a grade. num mix de igualdade desigual.
resistir?
é porque homens têm a mania de querer dar fim às éstórias. pensam que o desfecho termina ali, no ápice do prazer... e assim... eles nos roubam fantasias, as mais coloridas... mas a gente ama todo o resto e segue não resistindo. e pra que resistir???
"estamos fadadas a morrer de amor. que bonito isso né? porque homens são tão assim? gostam de dar fim na estória só pra não perder a razão?"
"estamos fadadas a morrer de amor. que bonito isso né? porque homens são tão assim? gostam de dar fim na estória só pra não perder a razão?"
noite escura
as noites já não são de sono. Clarice fica na escada esperando… sem pijama, com o copo de coca-cola sobre a mesa. a sala decorada de fantasias de princesa parece apagar as luzes lentamente. nenhuma sombra, nenhum som de passos… só a música dos desejos tão intensos. ela até tenta ouvir a voz, talvez recriá-la… o passado se faz futuro. os planos solitários da menina que ainda dá bom dia ao sol…
bem… ele não vem… e os sonhos também não…
deveria ser proibido soltar as mãos. criar laços sem nós. porque a menina sempre fica a esperar algo depois do primeiro beijo…
bem… ele não vem… e os sonhos também não…
deveria ser proibido soltar as mãos. criar laços sem nós. porque a menina sempre fica a esperar algo depois do primeiro beijo…
quinta-feira, 5 de junho de 2008
esconderijos
é fácil se esconder atrás de uma maquiagem
colocar roupas coloridas
um tênis vermelho com bolinhas brancas
e dizer que é isso aí…
pra não precisar se explicar, pra não depender do tempo, pra desisitir de se fazer compreensível…
colocar roupas coloridas
um tênis vermelho com bolinhas brancas
e dizer que é isso aí…
pra não precisar se explicar, pra não depender do tempo, pra desisitir de se fazer compreensível…
segunda-feira, 2 de junho de 2008
noite clara
Já era quase noite. Lá o céu demorava a brilhar. Dizem que alguém roubou a metade da noite. Clarice estava sentada na cama em frente ao seu computador. As luzes já estavam apagadas. Ela havia deixado a porta aberta, porque sabia que ele viria. Era só o sol se transformar em lua pro menino subir até seu quarto.
Primeiro o barulho da porta se abrindo, depois os passos na escada. Ele chegando devagar pra ver se ela ainda estava acordada.
- Clarice?
- Oi.
- Posso entrar?
- Pode…
O menino deixou os chinelos no chão e deitou na cama, bem no colo de Clarice. Ela ficava dura, sem reação. É que quartos para Clarice sempre tiveram chaves. Não era qualquer pessoa que entrava. Por isso já não se tratava mais de um quarto…
- Faz carinho? – pediu o menino.
- Por que? - Clarice não sabia fazer isso após um pedido. Pra ela isso não era algo que se pedisse.
Na ânsia de atravessar a pele as perguntas dispararam. Clarice gostava de conhecer os porquês de cada um. Ele já se sentia a vontade. Seu rosto não ficava vermelho, suas mãos não suavam e ele não ficava desconcertado com as perguntas. Parecia que nem estava ali de verdade. E a menina perguntava tanto…
Clarice procurava príncipes em corpos humanos. A magia já começava com o encontro dos dedos, amarrando as mãos. Detalhes que os homens já não percebiam e ela vivia quase que solitariamente.
- Vamos ver um filme? – perguntou o menino.
Clarice deu apenas um sorriso sem som. Ela não queria ver um filme e fazer tudo aquilo que acontece quando um casal está num cinema. Antes ela precisava olhar pra ele, saber da história dele. Ele nem tanto… talvez ele apenas quisesse viver aquele instante, sem deitar na grama e fazer planos para os próximos dias.
- Boa noite Clarice. Até amanhã. – assim o menino saiu… sem insistir, sem querer.
Primeiro o barulho da porta se abrindo, depois os passos na escada. Ele chegando devagar pra ver se ela ainda estava acordada.
- Clarice?
- Oi.
- Posso entrar?
- Pode…
O menino deixou os chinelos no chão e deitou na cama, bem no colo de Clarice. Ela ficava dura, sem reação. É que quartos para Clarice sempre tiveram chaves. Não era qualquer pessoa que entrava. Por isso já não se tratava mais de um quarto…
- Faz carinho? – pediu o menino.
- Por que? - Clarice não sabia fazer isso após um pedido. Pra ela isso não era algo que se pedisse.
Na ânsia de atravessar a pele as perguntas dispararam. Clarice gostava de conhecer os porquês de cada um. Ele já se sentia a vontade. Seu rosto não ficava vermelho, suas mãos não suavam e ele não ficava desconcertado com as perguntas. Parecia que nem estava ali de verdade. E a menina perguntava tanto…
Clarice procurava príncipes em corpos humanos. A magia já começava com o encontro dos dedos, amarrando as mãos. Detalhes que os homens já não percebiam e ela vivia quase que solitariamente.
- Vamos ver um filme? – perguntou o menino.
Clarice deu apenas um sorriso sem som. Ela não queria ver um filme e fazer tudo aquilo que acontece quando um casal está num cinema. Antes ela precisava olhar pra ele, saber da história dele. Ele nem tanto… talvez ele apenas quisesse viver aquele instante, sem deitar na grama e fazer planos para os próximos dias.
- Boa noite Clarice. Até amanhã. – assim o menino saiu… sem insistir, sem querer.
domingo, 1 de junho de 2008
amor de pai e de mãe
Esse amor a gente não conquista.
Pouco importa se você é alegre ou triste. Uma mãe não ama adjetivos. Ama simplesmente aquele ser que existe. Não se transforma esse amor que já nasce com forma e cor.
É assim. Sem balança. Sem embrulho ou estampa. Ao ponto de ser sem personalidade. É coisa de sangue. De nove meses a espera. De ver crescer a mão que um dia coube dentro da sua. É ver você sem precisar de espelho. Seus traços ali, refletidos naquele sorriso.
Um amor no meio da bagunça do quarto, entre as esperas pela volta na madrugada, com o tapete do banheiro enrolado, à eterna procura do pente pelas manhãs…
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