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Vakya Sudha A Essência do Ensinamento

Atribuída a Adi Shankara.

Vakya Sudha A Essência do Ensinamento De Adi Shankara Tradução em inglês de Charles Johnston - 1897 Tradução em português de Eleonora Meier - 2019 O Observador e o Observado 1. A forma é observada, a visão é observadora; a mente é observada e observadora. As mudanças de humor da mente são observadas, mas o Eu testemunhante, o observador, nunca é observado. 2. A visão, permanecendo uma, contempla formas variadas; como azul e amarelo, grosso e fino, curto e longo; e diferenças como essas. 3. A mente, permanecendo uma, concebe intenções definidas, mesmo quando a qualidade da visão varia, como na cegueira, embotamento ou visão aguçada; e isso também vale para audição e tato. 4. O Eu consciente, permanecendo um, brilha sobre todos os modos da mente: sobre o desejo, determinação, dúvida, fé, descrença, firmeza e a falta dela, vergonha, discernimento, medo e similares. 5. Esse Eu consciente não nasce, nem tem seu ocaso, nem aumenta nem diminui; independente, ele brilha por si só, e ilumina outros também. A Ideia Pessoal 6. Essa iluminação vem quando o raio de consciência entra na mente pensante; e a própria mente pensante é de natureza dupla. Uma parte dela é a ideia pessoal; a outra parte é a ação mental. 7. O raio de consciência e a ideia pessoal estão misturados, como o calor e a bola de ferro quente. Quando a ideia pessoal se identifica com o corpo, ela também leva a ele um senso de consciência. 8. A ideia pessoal se mistura com o raio de consciência, o corpo e o Eutestemunha, respectivamente, através da ação da necessidade inata, das obras e da ilusão. 9. Visto que os dois estão vinculados entre si, a mistura inata da ideia pessoal com o raio de consciência nunca cessa; mas a sua mistura com o corpo cessa quando as obras se esgotam, e com o Eu testemunhante através da iluminação. 10. Quando a ideia pessoal se dissolve no sono profundo, o corpo também perde o seu senso de consciência. A ideia pessoal é apenas metade expandida em sonho, enquanto que na vigília ela está completa. 11. O poder de ação mental, quando o raio de consciência entrou em união com ela, constrói imagens mentais no estado de sonho e objetos externos no estado de vigília. 12. A forma pessoal, assim criada pela ideia pessoal e pela ação mental, é em si mesma totalmente inerte. Ela aparece nos três modos de consciência; ela nasce, e também morre. O Poder do Glamour 13. Pois o glamour do mundo tem dois poderes – extensão e limitação, ou envolvimento. O poder de extensão traz à manifestação o mundo inteiro, da forma pessoal ao cosmos universal. 14. Essa manifestação é uma atribuição de nome e forma à Realidade – que é Ser, Consciência, Bem-aventurança, o Eterno; ela é como a espuma na água. 15. A divisão interna entre o observador e o observado, e a divisão externa entre o Eterno e o mundo são ocultadas pelo outro poder, limitação; e essa também é a causa do ciclo de nascimentos e mortes. 16. A luz do Eu-testemunha é unida à forma pessoal; a partir dessa entrada do raio de consciência surge a vida habitual – o eu comum. 17. A existência isolada do eu comum é atribuída ao Eu testemunhante e parece pertencer a ele; mas quando o poder de limitação é destruído, e a diferença aparece, o senso de isolamento do Eu desaparece. 18. Ele é o mesmo poder que oculta a diferença entre o Eterno e o mundo visível e, por seu poder, o Eterno parece estar sujeito a mudanças. 19. Mas quando esse poder de limitação é destruído a diferença entre o Eterno e o mundo visível fica clara: a mudança pertence ao mundo visível, e de modo algum ao Eterno. 20. Os cinco elementos da existência são estes: ser, brilhar, desfrutar, forma e nome; os três primeiros pertencem à natureza do Eterno; os dois últimos, à natureza do mundo visível. 21. Nos elementos: éter, ar, fogo, água, terra; e nas criaturas: deuses, animais e homens; Ser, Consciência e Bem-aventurança são indivisíveis; a divisão é apenas de nome e forma. Os Seis Passos da Visão da Alma 22. Portanto, deixando de lado essa divisão por nome e forma, e se concentrando em Ser, Consciência e Bem-aventurança, que são indivisos, que ele siga a visão da alma perpetuamente, primeiro internamente no coração, e depois em coisas externas também. 23. A visão da alma é instável ou firme; essa é a sua dupla divisão no coração. A visão instável da alma também é dupla; ela pode consistir em coisas vistas ou ouvidas. 24. Esta é a visão instável da alma que consiste em coisas vistas: uma meditação na consciência como sendo meramente a testemunha dos desejos e paixões que enchem a mente. 25. Esta é a visão instável da alma que consiste em coisas ouvidas: o pensamento constante de que "eu sou o Eu, que é desapegado, Ser, Consciência, Bem-aventurança, autorresplandecente, sem segundo." 26. O esquecimento de todas as imagens e palavras, por entrar na Bemaventurança da experiência direta – essa é a visão firme da alma, como uma lâmpada colocada em um lugar sem vento. 27. Então, correspondente à primeira, há a visão da alma que retira o nome e a forma do elemento do Eu puro, em tudo, o que quer que seja; agora realizado externamente, como era antes, no coração. 28. E, correspondente à segunda é a visão da alma que consiste no pensamento ininterrupto de que o Real é uma única Essência indivisa, cujo caráter é Ser, Consciência e Bem-aventurança. 29. Correspondente à terceira anterior é aquele ser estável, é provar essa Essência por si mesmo. Que ele ocupe o tempo seguindo esses seis estágios da visão da alma. 30. Quando a ideia falsa de que o corpo é o Eu desaparece; quando o Eu Supremo é conhecido; então, aonde quer que a mente seja direcionada, lá os poderes de visão da alma surgirão. 31. Quando Aquilo, que é o primeiro e o último, é conhecido, o nó do coração é solto, todas as dúvidas são eliminadas e toda escravidão às obras desaparece. Os Três Eus 32. O eu individual aparece em três graus: como uma limitação do Eu; como um raio do Eu consciente; e, em terceiro lugar, como o eu imaginado em sonhos. Só o primeiro é real. 33. Pois a limitação do eu individual é uma mera imaginação; e aquilo que se supõe ser limitado é a Realidade. A ideia de isolamento do eu individual é apenas um erro; mas a sua identidade com o Eterno é a sua natureza real. 34. E aquela canção "Aquilo tu és" que eles cantam é apenas para o primeiro desses três eus; só ele é uno com o Eterno perfeito, não os outros eus. 35. O poder de glamour do mundo, existente no Eterno, tem duas potências: extensão e limitação. Através do poder de limitação, o glamour oculta a natureza indivisa do Eterno, e assim constrói as imagens do eu individual e do mundo. 36. O eu individual que surge quando o raio de consciência entra na mente pensante é o eu que ganha experiência e realiza obras. O mundo inteiro, com todos os seus elementos e seres, é o objeto de sua experiência. 37. Estes dois, o eu individual e seu mundo, existiam antes do início do tempo; eles duram até que a Liberdade venha, compondo a nossa vida habitual. Por isso eles são chamados de eu habitual e mundo. 38. Nesse raio de consciência existe o poder onírico, com as suas duas potências de extensão e limitação. Através do poder de limitação ele oculta o primeiro eu e o mundo, e assim constrói um novo eu e um novo mundo. 39. Como esse novo eu e novo mundo são reais apenas enquanto dura a aparência deles, eles são chamados de eu imaginário e mundo imaginário. Pois, quando alguém acorda do sonho, a existência de sonho nunca mais volta. 40. O eu imaginário acredita que o seu mundo imaginário é real; mas o eu habitual sabe que aquele mundo é apenas mítico, assim como é o eu imaginário. 41. O eu habitual considera o seu mundo habitual como real; mas o Eu real sabe que o mundo habitual é apenas mítico, assim como é o eu habitual. 42. O Eu real conhece a sua real unidade com o Eterno; ele não vê nada além do Eterno, mas vê que o que parecia o irreal também é o Eu. Liberdade e Paz Final 43. Como a doçura, a fluidez e a frieza, que são as características da água, reaparecem na onda, e também na espuma que coroa a onda; 44. Assim, realmente, o Ser, a Consciência e a Bem-aventurança do Eu testemunhante entram no eu habitual que está ligado a ele; e, pela porta do eu habitual, entram no eu imaginário também. 45. Mas quando a espuma se dissolve, a sua fluidez, doçura, frieza se fundem de novo na onda; e quando a própria onda cessa, elas imergem de volta no mar. 46. Quando o eu imaginário se dissolve, o seu Ser, Consciência, e Bemaventurança imergem novamente no eu habitual e, quando o eu habitual cessa, eles retornam ao Eu Supremo, a Testemunha de tudo. * * *