ENSINAR E APRENDER NA EJA: aproximações e
distanciamentos no processo educativo
TEACHING AND LEARNING AT EJA: approaches and distances in the
educational process
Sandra Regina Santana Costa1
Norma Lúcia Neris de Queiroz2
Sidelmar Alves da Silva Kunz3
Resumo: O presente artigo busca refletir sobre o modo de ensinar e aprender dos jovens e adultos no
processo de escolarização formal, com vistas à análise de conteúdo de seis trabalhos publicados em periódicos
científicos e comunicações orais apresentados em eventos científicos nacionais que discutem a temática deste
artigo. As concepções de aprender e ensinar de professores (as) e educandos (as) são investigadas, tomando
como base os seis estudos, objeto deste estudo. Foram estabelecidos os seguintes objetivos específicos: (i)
identificar a conceituação de educação e escolarização; (ii) analisar as concepções de ensinar e aprender dos
professores (as) e educandos (as) jovens e adultos da EJA que necessitam se inserir na sociedade; e (iii)
analisar as aproximações e os distanciamentos das concepções de ensinar e aprender, preconizadas por Freire
e Vigotski nos estudos analisados. Utilizou-se a metodologia de pesquisa qualitativa com a abordagem
exploratória, com base no levantamento dos estudos que tratavam da Educação de jovens e adultos,
disponíveis no banco de dados do SciELO – Scientific Electronic Library. A análise das informações apoiou-se
nas orientações de Bardin (2006). Os resultados apontaram que a educação é reconhecida como um direito
subjetivo de todos os brasileiros, inclusive daqueles que não tiveram acesso à educação básica na idade entre
os 4 e 17 anos. Esse direito é assegurado pela Constituição Federal (1988) e reafirmado pela LDB (1996).
Constatou-se que as concepções de ensinar e aprender são interessantes, mas poderiam ser ainda mais
efetivas pelo menos em quatro dos estudos analisados. Percebe-se que há avanços na formação dos docentes
para atuar na EJA, mas é preciso, ainda, ampliar essa formação e as pesquisas acerca dessa temática; percebese, ainda, a ausência dos sujeitos idosos nos processos educativos, considerando que em nenhum desses
estudos analisados se encontram menções a esses sujeitos. Recomenda-se que sejam dadas, ainda, mais vozes
aos jovens e adultos nos estudos como participantes de pesquisa.
Palavras-chave: Concepção de ensinar e aprender, Educação de jovens e adultos, Processos educativos.
Abstract: This article seeks to reflect on the way young people and adults teach and learn in the formal schooling
process, with a view to analyzing the content of six articles published in journals and oral communications
presented at national scientific events, which discuss the theme of this article. The conceptions of learning and
teaching of teachers and students are investigated, based on six studies, the object of study of this work. The
following specific objectives were established: (i) identify the concept of education and schooling; (ii) analyze the
conceptions of teaching and learning of EJA teachers and students who need to be part of society; and (iii) to
analyze the approximations and distances from the conceptions of teaching and learning, advocated by Freire
and Vigotski in the analyzed studies. A qualitative research methodology was used with an exploratory approach,
based on a survey of studies dealing with youth and adult education, available in the SciELO – Scientific Electronic
Library database. The analysis of the information was based on the guidelines of Bardin (2006). The results
showed that education is recognized as a subjective right of all Brazilians, including those who did not have
access to basic education between the ages of 4 and 17 years old. This right is guaranteed by the Federal
Constitution (1988) and reaffirmed by the LDB (1996). It was found that the concepts of teaching and learning
are interesting, but could be even more effective in at least four of the analyzed studies. It is noticed that there are
advances in the training of teachers to work in EJA, but it is still necessary to expand this training and research on
this theme; it is also noticed the absence of elderly subjects from the educational processes, considering that none
of these studies mentions these subjects. It is recommended that more voices be given to young people and adults
in studies as research participants.
Keyword: Conception of teaching and learning, Education for young people and adults, Educational processes.
1
Doutora em Psicologia pelo Programa de Desenvolvimento Humano e Saúde (PG-PDS) do Instituto de
Psicologia da Universidade de Brasília (UnB/2016). Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0489-6006
2
Doutora em Psicologia (Instituto de Psicologia/Universidade de Brasília - UnB). Orcid:
https://orcid.org/0000-0002-7794-454X
3 Doutor em Educação pela Universidade de Brasília - UnB e Pesquisador do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP. Orcid: https://orcid.org/0000-0002-0793-1946
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Rev. Nova Paideia - Revista Interdisciplinar em Educação e Pesquisa Brasília/DF, v. 3, n. 3. p. 49 - 69 – ANO 2021
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Introdução
Refletir sobre o modo de ensinar e aprender dos jovens e adultos, no
processo de escolarização formal, é de fundamental importância para que o Estado
não só reconheça a dívida social que possui com esses sujeitos, os quais “[...] não
tiveram acesso ou continuidade de seus estudos na educação básica na idade
própria (Art. 37 da Lei 9394/1996)”, mas assegure a eles o direito à educação,
garantido desde a promulgação da Carta Magna (05/10/1988) e reafirmado com a
aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (20/12/1996).
Nessa esteira, Freire (2001, p. 42) afirma que “[...] não existe ensinar sem
aprender e com isto quer dizer que o ato de ensinar exige um compromisso
rigoroso de quem ensina e de quem aprende” para se tornarem “sujeitos sociais
visíveis e resistentes e não apenas destinatários dos programas educacionais
compensatórios” (ARROYO, 2012, p. 26). Concordando com os educadores Freire e
Arroyo, neste artigo, defende-se a formação emancipadora para os docentes que
assumem o processo educativo junto aos jovens e adultos já excluídos do sistema
educacional em algum momento de suas vidas. Ou seja, a de um(a) profissional
docente comprometido(a) ávido(a) e curioso(a) para indagar a realidade e
fundamentar o processo educativo que desenvolverá junto e com os jovens,
adultos e idosos e ao mesmo tempo rigoroso consigo mesmo para participar de seu
processo de aprendizagem.
Interessa, no presente artigo, investigar as concepções de ensinar e
aprender de professores (as) e educandos (as) jovens e adultos da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) com base em seis estudos, publicados em periódicos e
comunicações orais e aqui analisados. Ressalta-se que as comunicações orais
foram apresentadas em eventos científicos nacionais. Como objetivos específicos,
definiu-se: (i) identificar a conceituação de educação e escolarização; (ii) analisar
as concepções de ensinar e aprender dos professores (as) e educandos (as) jovens
e adultos da EJA que necessitam se inserir na sociedade; e (iii) analisar as
aproximações e os distanciamentos das concepções de ensinar e aprender,
preconizadas por Freire e Vigotski nos artigos analisados.
É relevante compreender o modo como tem sido viabilizada a educação de
pessoas jovens, adultas e idosos nos Cursos de EJA, seus avanços e limites no
sistema educacional brasileiro contemporâneo, com vistas a subsidiar políticas
públicas de ensino para os educandos e a formação inicial e continuada dos
educadores que buscam qualificar o ensino e a aprendizagem dos educandos.
2 Revisão de literatura
Do ponto de vista etimológico, o termo educação vem do latim educare,
educere, que significa literalmente “conduzir de dentro para fora” ou “direcionar
para fora” (Dicionário Etimológico - Etimologia e Origem das Palavras). Daí a
necessidade de explicitar as multifacetas de uma palavra polissêmica de sentidos e
significados como educação. Vasconcelos (2002) afirma que:
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[...] a educação escolar ou não é um processo plural, por meio do qual, a
raça humana vai construindo seu conhecimento e pode-se inferir que
toda educação transforma. Não há ato educativo que não a transforme,
quer seja de maneira libertadora, quer seja de maneira a retroceder a
uma conduta ou concepção (VASCONCELOS, 2002, p. 47).
Já para Brandão (2006, p. 12) “[...] a educação transforma sujeitos e mundos
em alguma coisa melhor, de acordo com as imagens que se tem de uns e outros: e
deles faremos homens". O autor acrescenta ainda, que a educação ocorre entre as
pessoas em qualquer lugar, seja nas ruas e igrejas, seja nas famílias e escolas ou
entre outros, uma vez que nesses espaços são constituídas de relações sociais e
essas relações são carregadas, portanto, de aprendizagens. Sendo assim, a
construção do ensino e da aprendizagem se aproximam com base no que defende o
pesquisador russo Vigotski (1989), quando afirma que a constituição da
aprendizagem só acontece nas relações com o outro. Considera, ainda, que há dois
tipos de elementos mediadores: os instrumentos e os signos - representações
mentais que substituem objetos do mundo real. Portanto, o desenvolvimento
dessas representações se dá sobretudo pelas interações, que levam ao aprendizado
(OLIVEIRA, 1993).
Nessa direção, Freire (2002, p. 61), inspirado em Vigotski, ressalta que “como
experiência especificamente humana, a educação é uma forma de intervenção no
mundo”. Partindo dessa premissa, pode-se dizer que as formas de se educar uma
pessoa influenciam e são influenciadas por sua percepção e leitura de mundo.
Sendo assim, há que se perguntar, educa-se para quê? Para quem? E com quem?
Em seus estudos e reflexões sobre a educação, Freire (2002) destaca a
existência de dois modos de educação: a dominadora e a libertadora. A primeira
estaria a serviço das classes dominantes, por isso a chamou de educação
dominadora. Já a segunda, a educação libertadora, estaria a serviço das classes
dominadas em favor de sua libertação. Para o autor, a educação deve ser um ato de
ação, compreensão e reflexão da realidade, buscando a transformação desta mesma
realidade por meio do pensamento crítico e transformador que só pode ser
constituído pela educação.
Nessa perspectiva, é que as formas de se educar em nossas escolas, na
atualidade, precisam urgente de mudanças paradigmáticas. Isto é, que a educação
seja de fato inclusiva, sustentável e de qualidade para o desenvolvimento de
todos(as) os educandos(as), como sujeitos de direito.
A Educação de Jovens e Adultos, na visão de Brandão (2006), representa uma
tentativa de superar historicamente a negação de direitos. Para ele ao lidar,
[...] com um menos social, a educação de adultos termina por converter-se
em um sinal negativo daquilo que, por oposição a ela, é a educação.
Excluídos da escola e defasados do saber escolar, na verdade que a
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retórica dos discursos oficiais oculta com cuidado, sujeitos das classes
populares são para não serem educados regularmente (BRANDÃO, 2006,
p. 43).
Em uma sociedade desigual, à margem da educação seriada (formal, escolar,
regular), há diferenças na formação daqueles que têm condições de estudar e dos
que não tiveram a escolaridade na idade própria, como acontece na Educação de
Jovens e Adultos. Nesse sentido, torna-se fundamental uma prática educativa
problematizadora, bem como emancipadora como, apontam os princípios da
educação crítica e de qualidade.
No que diz respeito às concepções de ensinar e aprender, objeto mais
específico deste artigo, vamos encontrar no texto “Carta de Paulo Freire aos
professores” (2001), que cabe aos ensinantes - profissionais docentes desenvolver ações pedagógicas que busquem trabalhar os “complexos e tensos
processos em que os sujeitos jovens, adultos e idosos estão imersos em sua
sobrevivência e afirmação como humanos, como coletivos, entre eles os sem teto,
sem terra, sem saúde, sem trabalho, sem espaço de um viver digno e justo
(ARROYO, 2012, p. 28) e concomitantemente o domínio dos conteúdos
culturalmente sistematizados, buscando instalar juntos aos sujeitos um processo
educativo emancipador. O ensinar e o aprender desses sujeitos jovens, adultos e
idosos estão “em comunhão nesse processo de refletir sobre a condição humana,
suas dimensões e virtualidades formadoras” (ARROYO, 2012, p. 28).
3 Percurso metodológico do estudo
Para construir as informações deste artigo, utilizou-se a metodologia de
pesquisa qualitativa com a abordagem exploratória, com base no levantamento de
estudos que tratavam da Educação de Jovens e Adultos, disponíveis no banco de
dados do SciELO – Scientific Electronic Library, considerando que essa
metodologia é mais adequada para responder aos objetivos propostos neste
artigo.
A pesquisa qualitativa é, de acordo com Alami, Desjeux e GarabuauMoussaoui (2010, p. 20), “[...] exatamente a de fazer aparecer, juntando miúdas
pinceladas à totalidade do quadro social do sistema de ação ou da dinâmica
social”. Para Oliveira (2014, p. 37), a pesquisa qualitativa pode ser compreendida
como “[...] um processo de reflexão e de análise da realidade por meio da
utilização de métodos e técnicas para a compreensão detalhada do objeto de
estudo ou fenômeno em seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação”.
Neste sentido, esse modo de pesquisar pode facilitar o entendimento dos
fenômenos levantados e subsidiar a construção de novas concepções, atitudes e
comportamentos coletivos e individuais de sujeitos.
González Rey (2005, p. 29) ressalta que para conhecer o objeto de estudo é
exigido a “criação teórica acerca da realidade plurideterminada, diferenciada,
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irregular, interativa e histórica representa a subjetividade humana, ou seja,
complexa”. Nota-se que o autor, nessa citação, tem uma preocupação de não fazer
um enquadramento limitador do objeto de investigação, restringindo suas
possibilidades. Com base nessa diversidade de enfoques e no marxismo, González
Rey (2011), apoiado em Vigotski, elaborou sua epistemologia qualitativa e
destacou que a pesquisa qualitativa é, na verdade, um esforço que busca produzir
de diferentes modos, o conhecimento científico.
Sobre a temática da pesquisa qualitativa, ainda, Valsiner (2012, p. 301)
afirma que para esse tipo de pesquisa, o pesquisador precisa estabelecer
“estratégias gerais e ao mesmo tempo auxiliar o pesquisador escolher a direção
de seu olhar; orientar acerca de que comparações devem ser feitas; que atitudes
devem assumir em relação aos fenômenos e quais as técnicas analíticas devem
ser postas em prática”. Além do paradigma qualitativo. Optou-se pela abordagem
exploratória, a qual pode ser realizada com base no levantamento bibliográfico e
compreender melhor o fenômeno estudado. Em nosso caso, a opção foi pelo
levantamento de estudos científicos que discutem a temática investigada e suas
aproximações.
Marconi e Lakatos (2009) afirmam que a pesquisa bibliográfica propicia ao
pesquisador o contato direto com diversos estudos realizados sobre determinada
temática, possibilitando a ele(a) construir conhecimentos, bem como estratégias
para analisar as informações e compreender o fenômeno estudado.
Para realizar este estudo, metodologicamente, desenvolveu-se quatro
etapas. A primeira delas consistiu na definição do tema, do problema e dos
objetivos da pesquisa, motivando-nos, assim, a procurar informações acerca da
temática em bases bibliográficas, como orientam Lüdke e André (2013). Em nosso
caso, decidiu-se realizar o levantamento de estudos publicados tanto em
periódicos científicos quanto em Anais de eventos formativos. Na segunda etapa,
passou-se a explorar ao máximo as potencialidades do banco de dados do SciELO,
a partir das ferramentas da tecnologia de informação para capturar esses estudos.
As palavras-chave utilizadas como descritores no campo do assunto para a
seleção desses estudos foram: (i) Educação de Jovens, Adultos e Idosos, (ii)
Concepções de ensinar e aprender de professores(as) e de educandos(as) Jovens,
Adultos e Idosos que tivessem fundamentado suas discussões em autores como
Freire e Vigotski; (iii) Necessidades dos Jovens, Adultos e Idosos se apropriarem
dos conhecimentos sistematizados culturalmente para se inserirem na sociedade
brasileira; e (iv) O que Freire e Vigotski comunicaram acerca dos professores e
educandos de EJA?
Desse levantamento, surgiram quinze artigos científicos, publicados em
periódicos e quatro estudos completos submetidos e aprovados em eventos
científicos nacionais, totalizando dezenove estudos realizados no período entre
2015 e 2020. Na terceira etapa, lemos todos os resumos que apresentavam algum
dos descritores acima, destacando, também, o ano de publicação/apresentação
para que as informações fossem distribuídas de forma equilibrada. A partir da
combinação - temática investigada e ano de publicação/apresentação -, decidiu-se
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selecionar quatro artigos e duas comunicações orais, totalizando seis estudos que
se aproximam da temática deste artigo, distribuindo um estudo por ano no
período indicado. Vale frisar que uma das comunicações foi apresentada na 37ª
Reunião da Anped (2015) e a outra no VI Seminário Nacional e II Seminário
Internacional de Política Públicas, Gestão e Práxis Educacional da Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) (2017).
Dos 19 resumos lidos na terceira etapa, apenas seis deles foram
selecionados para análise na quarta etapa e última etapa, considerando os
critérios estabelecidos inicialmente para este artigo: (i) estudos que
privilegiassem jovens, adultos e idosos, inseridos na Educação de Jovens e Adultos
(EJA) como sujeitos da pesquisa; e (ii) estudos que trouxessem concepções de
ensinar e aprender dos professores e educandos, foco principal do artigo em
questão. Os estudos analisados estão explicitados no Quadro 1 a seguir:
Quadro 1: Artigos sobre Educação de Jovens, Adultos e Idosos analisados
Ano
Título
Autores
Rev/Congresso
Ensinar e Aprender sob o
Olhar de Alunos da EJA I:
2015
Mediações da Educação
Popular
Keila
Mourana
Marques Silva e Valéria
Oliveira de Vasconcelos
Formação de Educadores
na Educação de jovens e
2016
adultos (EJA): alinhavando
contextos
e
tecendo
possibilidades
Leoncio José Gomes
Soares e Ana Paula
Ferreira Pedroso
Reflexões sobre Educação
de Jovens e Adultos, a
2017
BNCC e a necessidade de
uma Construção Curricular
Gilvan
dos
Sousa e outros
A educação de Jovens e
Adultos
no
Sistema
2018
Prisional Brasileiro: o que
dizem os planos estaduais
de educação em prisões?
Anais da 37ª
Reunião
Nacional da
Anped – 04 a 08
de outubro de
2015, UFSC
Florianópolis
Antônio Pereira
Qualitativa
Qualitativa
Educação
Revista
Santos
Metodolo
gia
em
VI Seminário
Nacional e II
Seminário
Internacional de
Política Públicas,
Gestão e Práxis
Educacional Universidade
Estadual do
Sudoeste da
Bahia-UESB
Revista Tempos
e Espaços em
Educação, São
Cristóvão,
Sergipe, Brasil
Qualitativa
Qualitativa
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Formação docente em EJA:
o
que
dizem
os/as
2019
autores/as de artigos
Tânia Regina Dantas
Educação de jovens e
adultos e o uso das
2020
tecnologias digitais:
ressignificando a práxis
docente
Fabrícia dos Santos
Dantas e Gésus de
Almeida Trindade
Educação Revista
quadrimestral
Porto Alegre
Qualitativa
Ensino em
Perspectivas –
EnPe Fortaleza
Qualitativa
Fonte: As autoras, 2021.
Apresenta-se no Quadro 1, os seis estudos selecionados que discute a
temática Educação de Jovens e Adultos, publicados no período entre 2015 e 2020,
considerando que o presente artigo tem como objetivo geral: investigar concepções
de ensinar e aprender de professores(as) e educandos(as) da Educação de jovens e
adultos (EJA). Salienta-se que dos seis estudos selecionados, dois deles foram
publicados em eventos acadêmicos, indicados no quadro 1, um intitulado “Ensinar e
Aprender sob o olhar de alunos da EJA I: mediações da educação popular” (2015) e o
outro, “Reflexões sobre Educação de Jovens e Adultos, a BNCC e a necessidade de
uma Construção Curricular” (2017). Já os demais foram publicados em periódicos
científicos com os seguintes títulos: “Formação de Educadores na Educação de jovens
e adultos (EJA): alinhavando contextos e tecendo possibilidades” (2016); “A
Educação de jovens e adultos no Sistema Prisional Brasileiro: o que dizem os planos
estaduais de educação em prisões?” (2018); “Formação Docente em EJA: o que dizem
os/as autores/as de artigos” (2019); e “Educação de jovens e adultos e o uso das
tecnologias digitais: ressignificando a práxis docente” (2020).
É interessante destacar que todos os estudos selecionados, antes de nossa
análise, foram avaliados por pesquisadores de comitês científicos para serem
integrados aos anais dos eventos e periódicos científicos. O diálogo sobre as
concepções de ensinar e aprender dos professores e educandos pode ser ancorado,
nos dizeres de Fiorentini (1995), na prática escolar, por meio de condicionamentos
sociopolíticos e ideológicos. Sendo assim, na opinião do autor, a escola cumpre
funções que lhe são dadas pela sociedade e se apresentam, constituídas por
classes sociais com interesses antagônicos. Portanto, “[...] o modo como os
professores realizam seu trabalho, selecionam e organizam os conteúdos escolares
ou escolhem, ainda, as técnicas de ensino e a avaliação tem a ver com pressupostos
teórico-metodológicos, explícito ou implicitamente" (FIORENTINI, 1995, p. 19).
4 Análise de dados e discussão dos resultados
A presente investigação se inscreve nos princípios da pesquisa qualitativa
em uma abordagem exploratória e bibliográfica, desenvolvida em duas fases
interdependentes. Na primeira fase, foi realizada a pesquisa bibliográfica, guiada
pelo problema de pesquisa, mais especificamente, o levantamento dos estudos
sobre a temática escolhida. Já a segunda, constituiu-se na seleção dos estudos a
serem analisados propriamente dita. Inicialmente fez-se a leitura do resumo de
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dezenove estudos encontrados. Em seguida, selecionou-se seis deles, os quais se
configuram como corpus deste artigo.
Para a análise dos dados, optou-se pelas orientações da Análise de
Conteúdo de Bardin (2006), a partir dos resultados evidenciados nos estudos
mencionados no Quadro 1 que tratam da Educação de Jovens e Adultos. A autora
propõe que a análise de dados seja organizada em três fases: 1) pré-análise, 2)
exploração do material, e 3) tratamento dos resultados, inferência e
interpretação. Em nosso caso, na fase da pré-análise, realizou-se a leitura
flutuante de todos os estudos (seis estudos) para conhecê-los na íntegra. Na
exploração desse material, escolheu-se os trechos dos estudos que deveriam ser
analisados e o reconhecimento dos objetivos presentes nos estudos para analisar
as proximidades, avanços e limites. Na terceira fase, ou seja, no tratamento dos
resultados, inferência e interpretação, destacou-se os resultados evidenciados
pelos estudos em análise.
É possível constatar que os estudos analisados são oriundos de pesquisas
e eventos científicos realizados, predominantemente, de instituições
universitárias públicas no período entre 2015 e 2020. Destaca-se em seguida, a
síntese de cada um dos trabalhos, apresentando-os e estabelecendo sua
categorização, em especial, a abordagem de pesquisa, os instrumentos de
construção das informações e os principais resultados para facilitar a
compreensão do objeto estudado, a seguir:
A Comunicação oral “Ensinar e Aprender sob o olhar de alunos da EJA I:
mediações da Educação Popular” (2015) analisa as concepções de ensinar e
aprender de 76 educandos integrados aos Programas de EJA I, desenvolvidos pela
FUMEC, no município de Campinas - Estado de São Paulo. A metodologia de
pesquisa escolhida pelas autoras é participativa, configurada como Roda de
Conversa (FIGUEIREDO; QUEIROZ, 2013). Essa metodologia privilegia o diálogo e
as discussões em pequenos grupos, “o que favorece o pensar compartilhado pelo
grupo” (SILVA; VASCONCELOS, 2015, p. 4).
O grupo educandos e a professora participam de uma Roda de Conversa
mensalmente. Nos meses de setembro e outubro do ano de 2014 foram discutidas
as concepções de ensinar e aprender pelo grupo, a partir de oito perguntas, mas
aqui trazemos apenas duas delas por uma questão de tempo e espaço de
discussão. São elas, “1) O que você acha que tem de fazer, como educando, para
aprender melhor? e 3) Como o professor deve trabalhar em sala de aula, na sua
opinião?” (SILVA; VASCONCELOS, 2015, pp. 4-5).
Os resultados apresentados, pelas autoras, permitem constatar que os
educandos, majoritariamente, desejam uma escola em que seus saberes sejam
respeitados. E a maioria desses educandos preconiza que eles devem trabalhar
junto com os professores na construção do conhecimento, aproximando-se, assim,
da concepção de ensinar da orientação sociocultural. Quando os educandos foram
questionados acerca da primeira questão, uma das respostas consideradas pelas
autoras como representativas foi a de que a escola deve ser: “Um lugar onde
respeite nóis, queremo isso.” (Educando).
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Em relação à questão: Como você acha que o professor deve ensinar? As
autoras tiveram como respostas:
Queremo uma fessora alegre, paciente e trabalhe junto com nóis prá
gente aprendê mais e mais. (Educanda)
Se a professora for brava, ficamo com medo dela. (Educando)
De acordo com Silva e Vasconcelos (2015, p. 5), “a alegria não chega
apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo educativo desses
educandos”. E tanto “o ensinar quanto o aprender não podem se dar fora da
procura, fora da boniteza e da alegria” (SILVA; VASCONCELOS, 2015, p. 5). Esses
depoimentos estão presentes no texto analisado e representam o que pensam os
educandos da EJA, segundo as autoras. E por fim, a construção do conhecimento
pode se dar com alegria e esperança em um futuro melhor, no qual todos tenham
direito a um aprendizado de qualidade.
Ressaltamos que as autoras tomam como referência para a análise das
concepções de ensinar e aprender dos educandos neste estudo, as tendências
pedagógicas (LIBÂNEO, 2008). Isto é, ensinar e aprender podem ser entendidos
como: a) transferência e retenção do conhecimento (Pedagogia Liberal); b)
disposição interna, interesse do aluno e descoberta pessoal (Pedagogia Renovada
Progressista); c) ensinar e aprender são formas de modificar as percepções dos
educandos que buscam a auto realização (Pedagogia Renovada não-diretiva); d)
aprender é a modificação de desempenho e condicionamento (Pedagogia
Tecnicista); e) força motivadora da aprendizagem: educação problematizadora
(Pedagogia Progressista Libertadora); ênfase na aprendizagem informal,
desenvolvimento de pessoas mais livres; e f) desenvolver capacidade de
processar informações e lidar com o ambiente, organizando dados disponíveis da
experiência (Pedagogia Progressista Crítico-social dos conteúdos).
As concepções de ensinar e aprender dos educandos, em sua maioria
aproximam-se, de acordo com as autoras, tanto da Pedagogia Libertadora quanto
da Pedagogia Progressista Crítico-social dos Conteúdos, como se constata nos
depoimentos dos educandos a seguir:
Que desaforo fessora! Só o fessor sabe tudo? Aqui, nóis sabe um pouco.
Queremo mais! (Educanda)
E nóis como ficamo? Tem que respeitá o sabê do aluno. (Educanda)
Com essa questão, os educandos ficaram divididos. Um grupo interpreta o
papel do professor de forma mais equilibrada, vendo-o não mais como aquele ser
superior e que domina todos os conhecimentos trabalhados em sala de aula. Já
outros educandos se posicionam mais próximo à Pedagogia Liberal como, pode se
constatar no depoimento a seguir, o qual representa essa concepção, quando
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afirmam que o professor deve planejar e reforçar a transmissão de conteúdos em
sala de aula:
É bom planejá e reforçá tudo que ele deu [conteúdos] sempre é bom, noís
não somos igual, uns aprende mais fácil, outros não. Fica ali leno, leno e
demora de aprendê. (Educando)
O posicionamento dos educandos acima destaca que eles “[...] atribuem
grande importância ao professor, o qual tem como uma de suas atividades, a
responsabilidade de transmitir conteúdos e reforçá-los para garantir a
aprendizagem dos educandos” (SILVA; VASCONCELOS, 2015, p. 10). Tal
posicionamento traz elementos que caracterizam a pedagogia tradicional, em
especial, a função do professor como ser detentor do conhecimento sistematizado
culturalmente e tem como responsabilidade repassá-los aos educandos que
aguardam passivamente para aprendê-los (educação bancária), já difundida por
Freire.
Já o artigo “Formação de Educadores na Educação de Jovens e Adultos
(EJA): alinhavando contextos e tecendo possibilidades” (2016) tem como objetivo
refletir sobre “algumas questões que emergiram nas pesquisas [...] tais como: a
necessidade de se ter ou não um profissional preparado para atuar na EJA, os
impasses que dificultam essa preparação e as bases teórico-metodológicas para
essa formação” (SOARES; PEDROSO, 2016, p.251).
Os autores evidenciam a importância da EJA para Jovens e Adultos em todo
o país, bem como para os participantes do estudo. Destacam, também, que os
conteúdos escolares trabalhados de forma crítica na EJA são relevantes, mas para
qualificar, ainda, mais o processo educativo oferecido nessa modalidade de
ensino, os docentes precisam ultrapassar o repasse dos conteúdos no processo de
escolarização,
[...] sobretudo nessa modalidade de ensino, deve extrapolar a simples
concepção conteudista e incorporar aspectos relacionados à cultura e à
realidade vivencial dos educandos. Nessa perspectiva, conhecer qual a
natureza e quais seriam os saberes necessários à formação e à
profissionalização de educadores de jovens e adultos tem-se mostrado
extremamente significativo no processo de consolidação da EJA como
campo específico de atuação docente (SOARES; PEDROSO, 2016, p.
264).
Para os autores, os Programas de ensino e os docentes que atuam com
educandos jovens e adultos devem “incorporar aspectos relacionados à cultura e à
realidade vivencial dos educandos nas aulas” (SOARES; PEDROSO, 2016, p. 264).
Isto posto, torna-se imprescindível explicitar, na proposta educativa, “os saberes
necessários à formação e à profissionalização de educadores de jovens e adultos
como campo específico de atuação docente” (SOARES; PEDROSO, 2016, p. 264).
Este artigo trabalha com a metodologia qualitativa e os dados foram
construídos, a partir da análise documental das legislações educacionais e a
entrevista semiestruturada com um grupo de quatro professores(as) com vistas
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compreender a formação docente alinhada aos objetivos da pesquisa, os quais
guiaram também a discussão teórica do estudo.
Observa-se que os autores trabalham mais especificamente com a
concepção de ensinar, quando se dirigem à orientação da formação docente, e não
com a concepção de aprender dos educandos. Entretanto, pelas orientações
expressadas para a formação dos docentes, deixam transparecer que a concepção
de aprendizagem defendida seria a da educação emancipatória, uma vez que
privilegiam elementos relacionados à cultura e à realidade dos educandos no
processo educativo.
Os resultados apontam que se faz necessário investir na formação dos
educadores que atuam na EJA, em especial, com a apropriação das
[...] bases teóricas que fundamentam os processos educativos,
possibilitando-os a assumir o trabalho educacional em toda a sua
complexidade, atuando de maneira reflexiva e com a
flexibilidade e o rigor necessários. (SOARES; PEDROSO, 2016, pp.
261-262).
Já a Comunicação oral intitulada “Reflexões sobre Educação de Jovens e
Adultos, a BNCC e a necessidade de uma Construção Curricular” (2017) analisa a
proposta da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) e suas implicações para a
Educação de Jovens e Adultos - EJA e a coerência estabelecida pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/1996). Os autores destacam
questões pertinentes à reflexão sobre o currículo de EJA. São elas: Do que se
constitui o currículo? De que ele é formado? Quais elementos estão presentes e
contribuem para a estruturação do currículo?
No que diz respeito às discussões e às contradições, incorporadas à BNCC
da educação brasileira, os autores destacam que não são novas, considerando que
desde 2002, as determinações das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação
Básica (DCN/2013), pensadas para os níveis e modalidades de ensino, mais
especificamente, a educação infantil e ensino fundamental e médio foram
aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE). No intuito de reforçar essa
afirmativa, os autores citam Peroni e Caetano (2015) que argumentam assim:
A BNCC tornou-se brasileira em que diferentes sujeitos individuais e/ou
coletivos vêm se articulando para buscar espaço em uma área
fundamental da educação e da escola: o currículo. A disputa pelo
currículo em um campo de disputas na educação torna-se importante,
pois nele pode ser impresso o conteúdo e a direção a ser dada à educação
e à escola. Com esse objetivo, sujeitos individuais e coletivos organizados
em instituições públicas e privadas vêm se articulando por meio de
seminários, debates e relatos de experiências internacionais (PERONI;
CAETANO, 2015, p. 341, apud SOUSA et al, 2017).
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Os autores mostram questões suscitadas pelas discussões, contradições e
determinações aprovadas pelas DCN no ano 2002 pelo CNE, bem como o descaso
com o currículo de EJA, mesmo com o lançamento das versões da BNCC para os
ensinos fundamental em 2016 e médio em 2017. Com isso, o problema continua a
existir nos espaços escolares que oferece a escolarização para jovens e adultos
como seres humanos historicamente esquecidos, pois perpetua uma barreira ao
que se refere às garantias de uma educação que respeite suas experiências,
particularidades e subjetividades individuais.
Outro artigo analisado tem por denominação “A Educação de Jovens e
Adultos no Sistema Prisional Brasileiro: o que dizem os Planos Estaduais de
Educação em prisões?” (2018) tem como objetivo central compreender a Educação
de Jovens e Adultos (EJA) no sistema prisional brasileiro. Definiu as seguintes
questões iniciais: Como a EJA está sendo planejada nos Planos Estaduais de
Educação em Prisões (PEEP)? Que contradições, equívocos e possibilidades
educativas encontram nos Planos Estaduais de Educação referentes à
alfabetização, à escolarização e à profissionalização da pessoa presa? Qual é a
percepção que os Planos Estaduais de Educação trazem sobre o atendimento, a
diversidade e a formação dos profissionais do sistema prisional?
A metodologia de pesquisa escolhida foi a qualitativa e a análise de
conteúdo, tomando como ponto de partida as orientações de Bardin (2006), foi
realizada nos 14 PEEP: Paraná (PR), Santa Catarina (SC), São Paulo (SP), Rio de
Janeiro (RJ), Mato Grosso (MT), Goiás (GO), Alagoas (AL), Bahia (BA), Ceará (CE),
Maranhão (MA), Amazonas (AM), Amapá (AP), Rondônia (RO) e Roraima (RR) para
responder às questões elencadas. Os resultados apresentados demonstram que a
concepção pedagógica e psicológica presente nos PEEP estão fundamentadas nos
pensamentos de Freire e Vigotski, embora não inseridas nas metas e nas ações
planejadas na organização curricular dos processos de alfabetização, de
profissionalização e no atendimento à diversidade. O autor concluiu que a EJA, no
sistema prisional, é um direito, mas esbarra na ausência de escolas e salas de aulas
adequadas, de acervo bibliográfico e de bibliotecas, de pessoal e de professores
qualificados, de financiamento, de projetos culturais e artísticos e de leitura para a
remição da pena. Por fim, a pesquisa mostra, segundo o autor, que há um longo
caminho a ser percorrido na EJA nas prisões de todos os estados analisados.
Já o artigo “Formação docente em EJA: o que dizem os/as autores/as de
artigos” (2019) tem como objetivo analisar a formação docente na EJA com base
em diversos artigos publicados, buscando compreender a formação docente e o
processo de alfabetização com educandos jovens e adultos, bem como esses
alfabetizandos se constituíram em outros sujeitos (ARROYO, 2012). Isto é, os
alfabetizandos, além de aprender a ler, escrever e contar, vão constituindo sua
cidadania, juntamente com o processo educativo. Para subsidiar o estudo das
categorias do Projeto do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação de Jovens e
Adultos (EPEJA) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a
participação de diversas instituições públicas e privadas foram incluídas nesse
processo artigos que discutem as tecnologias digitais contemporâneos.
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Metodologicamente, este artigo configura-se em um estudo com base na
abordagem do estado de conhecimento a respeito da formação docente no campo
da Educação de Jovens e Adultos, a partir da leitura de 95 artigos do Portal de
Periódicos da CAPES. Para a autora, a formação docente é um investimento para a
construção da identidade profissional e “[...] deve estimular uma perspectiva
crítico-reflexiva, que forneça aos futuros professores os meios para um
pensamento autônomo e facilite as dinâmicas de autoformação participada”
(NÓVOA, 1995, p. 25).
Dantas (2019) afirma em seu artigo que a EJA se articula a outras temáticas
como, por exemplo, às tecnologias da informação e da comunicação (TICs), à
gestão, à leitura, ao ensino e à formação inicial. Apesar dessas articulações, essa
autora salienta que a pesquisa acerca da formação docente em EJA apresenta certa
precariedade e explicita que poucos estudantes da pós-graduação têm
demonstrado interesse em pesquisar sobre formação inicial e continuada na
educação de jovens e adultos (EJA).
E por último, o artigo “Educação de Jovens e Adultos e o uso das
Tecnologias Digitais: ressignificando a práxis docente” (2020) definiu como
objetivo analisar os limites e as potencialidades do curso de formação de
professores para o uso de Tecnologias Digitais. A questão de pesquisa elaborada
concerne a: Como um curso de formação continuada sobre o uso de Tecnologias
Digitais pode contribuir na melhoria da prática de ensino dos professores do EJA?
Enquanto a hipótese levantada se refere à possibilidade de ressignificar a práxis
docente, com base em novos conhecimentos adquiridos na formação continuada e
de novas estratégias de ensino que vêm sendo reconstruídas, a partir do uso de
recursos tecnológicos na escola, mais especificamente no segmento da EJA.
Este último artigo analisado, utilizou como metodologia a pesquisa ação e a
abordagem qualitativa. E para a construção dos dados foram usados: a observação,
o diário de campo e a análise das intervenções realizadas pelos professores
participantes da pesquisa em suas respectivas turmas dos segmentos da EJA I e II.
Participaram deste estudo, 21 professores da EJA de um município do Sul da Bahia.
Para a construção da análise dos dados foram criadas três categorias. A
primeira refere-se a “Resistências” e trata das primeiras percepções da
pesquisadora acerca da aceitação da proposta dos professores e das professoras de
EJA em suas turmas. A segunda categoria, denominada de “Desafios e
Possibilidades na EJA”, foi realizada uma análise a respeito das intervenções
educativas propostas pelos(a) professores(a) que evidenciaram o quão
significantes se tornaram os encontros de formação e como estes de fato estavam
se tornando satisfatórios para atuarem na sala de aula e interferindo na mudança
dos resultados juntos aos educandos que se surpreenderam com a eficácia das
tecnologias digitais no processo de ensino aprendizagem.
E a terceira categoria, “Ressignificação da práxis pedagógica”, trata da
aquisição e do desenvolvimento dos saberes apresentados. Segundo os autores,
Dantas e Trindade (2020), esta categoria se evidencia nos últimos encontros da
formação continuada, os quais foram avaliados pelos professores como
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satisfatórios, em especial, a relação de sentidos e significados do projeto em suas
vidas pessoais e profissionais.
Os resultados evidenciaram que um curso de formação continuada sobre o
uso de Tecnologias Digitais contribuiu para a reflexão e a formulação de políticas
de formação de professores que se preocupem em abranger não só a qualidade de
ensino na EJA, mas também o resgate da valorização social desse grupo
profissional, principalmente, para encorajá-lo e renovar a esperança de uma
práxis que liberta a partir de transformações provocadas pelas tecnologias digitais
aplicadas à educação.
Em relação aos referenciais teóricos, esses artigos se pautaram em
legislações educacionais, especialmente, leis, diretrizes curriculares nacionais e
textos dos autores que vem se dedicando seus estudos a essa temática de forma
crítica como, por exemplo, Freire (1996, 2006, 2011); Romanowski e Ens (2006);
Vigotski (1989); Nóvoa (1995); Arroyo (2007- 2012); Libâneo (2008); Soares
(2015, 2016); Haddad e Di Pierro (1994); Paiva (1987, 2007); Peroni e Caetano
(2015); Jannuzzi (2012); Kuenzer (2007); (Barreto (2006); Peroni (2015) e
Camargo (2017) entre outros.
Dos estudos analisados, é possível destacar que todos elegeram como objeto
de investigação, a educação de jovens e adultos e discutiram a importância dela
para os jovens e adultos que não tiveram oportunidade de concluir a educação
básica até o fim de sua adolescência como prevê a LDB, ou seja, até os 17 anos de
idade. Entre as concepções de ensinar e aprender abordadas, a concepção de
ensino mais significativa é compreendida como uma forma metodológica adequada
em cada nível/fase escolar e a aprendizagem como resultado apreendido e
aplicável entre docentes e educandos da EJA. Nesse sentido, ressalta-se que não há
docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças
que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro [...] (FREIRE,
1996, p. 12).
Analisando os objetivos construídos nos estudos trabalhados, foi possível
constatar que eles estão próximos ao objeto de nosso artigo, considerando que se
quer compreender as concepções de ensinar e aprender dos professores e
educandos jovens e adultos em processo educativo sistematizado.
Em relação à abordagem de pesquisa, os pesquisadores optaram pela
pesquisa qualitativa e utilizaram diversos instrumentos para a construção das
informações. Barroso (2012, p. 2) salienta que é essencial a “escolha do
instrumento de pesquisa, o qual deve encaixar da maneira apropriada em relação
ao estudo a ser executado, fazendo com que o pesquisador possa realizar a opção
correta para o desenvolvimento da pesquisa”, inclusive identificar desde o início da
pesquisa, o planejamento dos instrumentos e avaliar as vantagens e os limites de
cada um deles, incluindo a decisão de combiná-los para potencializar a efetividade
da pesquisa. No Quadro 2, apresenta-se o quantitativo de instrumentos de
construção das informações presentes nos estudos analisados.
Quadro 2: Instrumentos utilizados na construção das informações
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Instrumentos
utilizados
Quantitativo
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Instrumentos
utilizados
Quantitativo
Análise documental
06
Questionário
01
Entrevista
semiestruturada
02
Observação
participante
01
Roda de conversa
01
Diário de campo
01
Fonte: As autoras, 2021.
É possível verificar no Quadro 2 que os pesquisadores trabalharam com
uma diversidade de instrumentos para construir as informações, com vistas a
responder aos objetivos propostos em suas pesquisas. De um modo geral, todos
os estudos utilizaram a análise documental e mais um instrumento de pesquisa.
Portanto, a somatória do quantitativo de instrumentos apresentados no quadro 2
é superior a seis.
Do quantitativo de instrumentos utilizados, todos os estudos utilizaram a
análise documental. Dois estudos acrescentaram a entrevista semiestruturada.
Outro estudo compôs sua metodologia com a análise documental e o questionário.
O estudo seguinte configurou sua metodologia com a análise documental e a
observação participante e os dois últimos estudos compuseram suas
metodologias um com a análise documental e a roda de conversa e o outro com a
análise documental e o diário de campo. Lüdke e Menga (2013), que vêm se
dedicando ao estudo da pesquisa qualitativa, ressaltam que a qualidade dos
resultados de pesquisa na maioria das vezes está vinculada aos instrumentos de
construção das informações usados.
No tocante aos resultados dos estudos analisados, destacam-se as
concepções de ensinar e aprender mencionadas no artigo de Silva e Vasconcelos
(2015), uma vez que as autoras conseguiram demonstrar de forma mais explicita
que a maioria dos jovens e adultos concebe o ensino e a aprendizagem
aproximados à Pedagogia progressista libertadora e à Pedagogia Progressista
Crítico-social dos conteúdos. Entretanto, elas anunciam ainda que embora em
número mais reduzido há experiências educativas em que essas concepções estão
mais alinhadas à Pedagogia liberal, na qual o docente assume o posicionamento
de detentor do saber e para ele, os educandos precisam dominar esse saber para
se inserirem na sociedade e cabe aos educandos, memorizar os conteúdos
ensinados na escola.
O artigo sobre “Formação de Educadores na Educação de Jovens e Adultos
(EJA): Alinhavando Contextos e Tecendo Possibilidades” (2016) traz como tônica
fundamental, a formação do(a) professor(a) de EJA. Nesse sentido, os autores(as)
consideram o fato de iniciarem a sistematização das contribuições de várias áreas
do conhecimento que nutrem o campo da educação com vistas à preparação do(a)
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professor(a) de EJA como um resultado positivo, bem como o avanço das
discussões sobre a problemática da formação docente.
Já o artigo “A educação de jovens e adultos no sistema prisional brasileiro:
o que dizem os planos estaduais de educação em prisões?” (2017) assinala que os
resultados da pesquisa revelaram que a concepção pedagógica e psicológica
registrada nos Planos de Ensino está fundamentada nos ensinamentos de Freire e
Vigotski, mas não são demonstradas nas metas e ações planejadas, a organização
curricular. O autor argumenta, ainda, que a EJA, no sistema prisional, é um direito,
mas esbarra na ausência de escolas estruturadas com professores qualificados e
projetos culturais, artísticos e de leitura para a remição da pena.
No artigo “Reflexões sobre Educação de Jovens e Adultos, a BNCC e a
necessidade de uma Construção Curricular” (2018), os autores apresentam o
resultado de sua investigação de forma sucinta, salientando os aspectos trazidos
pelo Plano Nacional de Educação – PNE sobre a constituição das diretrizes
educativas, relacionando-o com a BNCC. Dessa forma, consideram que há
evidências das especificidades da EJA e a necessidade de construção de um
currículo.
O artigo que trata sobre a “Formação docente em EJA: o que dizem os/as
autores/as de artigos” (2019) apresenta resultados parciais constatados pela
pesquisadora, com apoio teórico em Camargo (2017) e
expressa-se
argumentando que as representações sociais dos professores se objetivam na
prática cotidiana por meio do compromisso assumido com os alunos e se
ancoram na perspectiva afetiva, posto que o amor e a responsabilidade são mais
significativos do que a competência técnica e a formação didático-pedagógica.
Afirma, ainda, com base em Cunha; Delizoicov (2016), que a análise investigativa
indicou a formação permanente possibilitou ao grupo de professores a
incorporação de práticas freirianas no fazer docente. Os dados da pesquisa
revelaram, ainda, os limites e as dificuldades enfrentados na implementação do
processo de formação, tais como: a resistência a mudanças por parte de alguns
professores, a avaliação e a forma como a proposta foi implantada pelos gestores.
E, finaliza ressaltando que a compreensão final do trabalho de investigação
apresenta que os textos pesquisados permitem traçar um panorama atual sobre
os estudos e produções científicas relativas ao campo da formação de professores
para a Educação de Jovens e Adultos. A pesquisadora conclui que tal temática
carece, ainda, de maior atenção nas propostas de formação dos professores nos
artigos investigados.
Para os autores do artigo “Educação de Jovens e Adultos e o Uso das
Tecnologias Digitais: ressignificando a práxis docente” (2020), as concepções de
aprender e ensinar estão evidenciadas no procedimento didático-metodológico da
formação continuada que intenciona contribuir para encorajar e renovar a
esperança de uma práxis que liberta sobre as grandes transformações provocadas
pelas novas tecnologias digitais aplicadas à educação.
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Considerações finais
Com base na análise dos estudos que compõem o corpus deste artigo,
constatou-se que a educação é reconhecida como um direito subjetivo de todos
os brasileiros, inclusive aqueles que não tiveram acesso à educação básica na
idade entre os 4 e 17 anos. Esse direito é assegurado pela Constituição Federal
(1988) e reafirmado pela LDB (1996). Entretanto, observa-se que historicamente
os jovens e adultos têm conseguido alguma atenção das políticas públicas
educacionais brasileiras para atender a interesses específicos, como fins
eleitoreiros e preparação para o mercado de trabalho até o momento. A partir da
luta dos Movimentos Sociais ao longo das últimas décadas foram criadas diversas
legislações educativas, destinadas à escolarização dos jovens e adultos
brasileiros, que se centralizaram na perspectiva da integração social.
Observa-se, por outro lado que estudos propuseram diferentes
concepções de ensinar e aprender para os jovens e adultos brasileiros, ou seja,
desde aquela que reafirma o papel do professor como o sujeito que detém o
conhecimento e deve repassá-lo aos educandos que vão à escola para
“encherem-se de saberes”, como caracteriza a Pedagogia Liberal até aquela que
concebe a educação numa perspectiva crítica e deve ser compartilhada com
homens e mulheres que buscam se apropriarem dos saberes culturalmente
sistematizados como um direito e ao mesmo tempo incluírem-se na sociedade,
ultrapassando a visão ingênua de sua realidade, como nos orienta a Pedagogia
Progressista Crítico-social dos conteúdos.
Em relação aos objetivos estabelecidos, neste artigo, é possível constatar
que se conseguiu atendê-los, especialmente, no que diz respeito à identificação
das concepções de ensinar e aprender dos jovens e adultos. Além disso, os
estudos possibilitaram compreender melhor uma das afirmativas impactantes de
Freire (200, p. 34), quando ele nos ensina que “[...] há sempre algo diferente a
fazer na nossa cotidianidade educativa, quer dela participemos como aprendizes,
e, portanto, educandos, ou como ensinantes e, por isso, aprendizes também [...]”.
Isto é, constatou-se que as concepções de ensinar e aprender são interessantes,
mas poderiam ser ainda mais efetivas pelo menos em quatro dos artigos
analisados.
No tocante aos avanços, limites e recomendações evidenciados nos
estudos analisados, percebe-se como um dos limites a ausência da inclusão dos
sujeitos idosos nos processos educativos. Em nenhum desses estudos foram
encontradas menções a esses sujeitos. Fato como esse corrobora, ainda, mais
para a invisibilidade desses sujeitos, os quais legalmente têm direito à educação
escolar. Portanto, pesquisadores atentos às reivindicações desses outros sujeitos
como, apresentados por Arroyo (2012), não podem desconsiderá-las para
resistir aos desmandos da sociedade capitalista, apesar da divulgação de dados
de que os idosos têm conseguido participar intensamente como cidadãos da
sociedade brasileira. Será que uma das formas de resistir à exclusão não é
propiciar a esses idosos a possibilidade de aprender os conteúdos escolares,
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participar dos eventos culturais e intervir para a construção de uma sociedade
mais justa nos processos educativos da educação de jovens e adultos?
Recomenda-se, ainda, que o bom ensino é aquele que se adianta ao
desenvolvimento como orienta Vigotski (1989). Este autor considera que o
trabalho educativo, ou seja, o processo de ensinar e aprender vincula-se
necessariamente aos aspectos social, cultural e vital, objetivando o crescimento
afetivo, cognitivo e cidadão dos sujeitos: educando (a) e professor (a),
especialmente, no caso do processo educativo, quando se trata da Educação de
Jovens e Adultos.
Referências
ALAMI, S.; DESJEUX, D.; GARABUAU-MOUSSAOUI, I. Os métodos qualitativos. Tradução
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