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O MONUMENTO DE MAFRA de A a Z - volume 1

Mafra, Palácio Nacional de Mafra, Enciclopédia

Manuel J. Gandra O MONUMENTO DE MAFRA de A a Z 1.º volume colecção de bolso INTRODUÇÃO Monumento de Mafra é a designação adoptada pelo subscritor para aludir ao complexo formado pelo Palácio-Convento de Mafra, Jardim do Cerco e Tapada. De resto, à imagem do que sucedeu até à implantação da República, de cuja acção e negligência resultou o actual estado de coisas: o desmembramento de um todo coerente, delineado e concretizado sob a direcção do Magnânimo, Fidelíssimo e Luso Rei Sol, Dom João V. Julgo ser este o momento oportuno para expor informações, ideias, reflexões e sugestões que o meu conhecimento documentado das diversas facetas do seu quotidiano desde as origens parece autorizar. E, deste modo, dar o meu contributo para uma célere candidatura do Monumento de Mafra à classificação como Património Mundial. O acervo actualmente patente no Palácio Nacional de Mafra foi organizado pela iniciativa, proficiência e depurado sentido estético do seu primeiro Director, Ayres de Carvalho, há mais de cinquenta anos. As opções museológicas então adoptadas, e são anacrónicas todas as discussões hodiernas acerca da sua legitimidade ou adequação, deveram-se a um conjunto de circunstâncias conjunturais em que avultaram: 1. a imperiosa necessidade de rapidamente tornar condigno um monumento, autêntico ex-libris do 5 barroco português, praticamente abandonado à sua sorte desde a implantação da República, em 1910; 2. a circunstância de não existir no edifício mobiliário e adereços em quantidade e qualidade para povoar de forma adequada o tão avultado número de salas e divisões por onde os visitantes eram encaminhados para a Biblioteca, a única pérola verdadeiramente genuína do diadema. Confrontado com a contingência de não lograr cumprir a incumbência para que havia sido nomeado, Ayres de Carvalho viu-se, assim, compelido a angariar todos os “trastes que jaziam em depósitos e armazéns estatais”, valorizando-os tanto quanto possível, e dispondo-os mais consoante as suas próprias características do que tendo em consideração o quotidiano palaciano de Mafra, de resto, até então, só muito incipientemente investigado. Inúmeras salas vazias passaram a dispor de acervos alheios e, com a chegada e arrumação destes, adquiriram designações e funções que nunca tinham tido, tornando-se, quiçá, agradáveis aos sentidos, mas, igualmente, palco para cenografias e reconstituições de fantasia. Talvez o exemplo que melhor retrata a situação descrita tenha sido a mudança dos aposentos da Rainha, primitivamente no torreão Sul, para o torreão Norte, onde se haviam situado os aposentos do Rei, e vice-versa, prejudicando doravante a adequada leitura e compreensão da mensagem panegírica dos frescos parietais de Cirilo Volkmar Machado… Não será difícil invocar mais casos, existindo salas onde todos os objectos expostos são oriundos de 6 outros edifícios, nomeadamente dos Palácios da Ajuda, das Necessidades e de Sintra, ou ainda algumas onde só uns quantos ali se acham originários de Mafra, caso da Sala da Audiência, à qual apenas o trono pertence. Em suma, quem após visitar o Palácio Nacional de Mafra se julgue, e não serão poucos os visitantes equivocados, ciente da forma como aí se desenrolava a vida cortesã, mais não fez do que passear-se por ambientes recriados segundo critérios estéticos e museológicos, senão já obsoletos, pelo menos destituídos da autenticidade histórica exigida pela maioria dos actuais utentes, para já não referir a sua mais completa incompatibilidade com a vertente didáctica que um monumento da envergadura física e ideológica deste, obrigatoriamente, tem de assumir, sob pena de um divórcio completo com a comunidade. Nesta conformidade, o Palácio Nacional de Mafra terá, a breve trecho e inexoravelmente, de reformular-se museograficamente, integrando quer a imensa panóplia de dados históricos, culturais e científicos já disponíveis, quer as especificidades locais e regionais, inclusivé ao nível da sua gestão, porquanto este particular Palácio é, em primeira instância, património mafrense… Ao disponibilizar o primeiro volume (letra A) do presente Catálogo-guia, sob a forma de uma enciclopédia organizada alfabeticamente, proponho um périplo compreensivo que, creio, abrange todo o espectro das vivências e actividades representativas no Monumento de Mafra, a saber: a Intimidade; a Corte e a Governação; a Religiosidade; a Cultura e a Instrução; as Artes; o Lazer e as Diversões. 7 Normas seguidas na elaboração do Monumento de Mafra de A a Z 1. O Monumento de Mafra de A a Z organiza-se por ordem alfabética; 2. Os nomes de personagens históricas e autores devem ser procurados sempre pelo seu primeiro nome; 3. Os eventos, sucessos históricos, bem como locais (chafarizes, fontes, minas, poços, etc.) e dependências monásticas, quando expressos por um substantivo e um determinativo ou qualificativo, devem ser procurados nestes últimos: Abrantes, Marquês de; Actos Escolares, Sala dos; etc.; 4. O asterisco (*) indica a remissão da palavra assinalada para outra entrada ou para artigo específico do Catálogo-guia; 5. Com o objectivo de facilitar a leitura e tornar acessíveis os documentos e fontes incluídas, procedeu-se à actualização da sua grafia e pontuação. Quando não for esse o caso e se tratar de inéditos, serão referenciadas as cotas e os respectivos Arquivos ou Bibliotecas. 8 A AARÃO DE LACERDA (1890-1947) Formou-se com distinção em Direito e, depois, em Ciências Históricas e Geográficas, na Universidade de Coimbra. Discípulo de Joaquim de Vasconcelos, suceder-lhe-ia na regência da cátedra de História de Arte na Academia de Belas-Artes do Porto, tendo, posteriormente, aceite o convite para leccionar a cadeira de Estética e História de Arte na Faculdade de Letras do Porto. Foi ainda: professor de História da Música no Conservatório do Porto e director da Escola de Belas Artes da mesma cidade, tendo sido provido como catedrático da cadeira de Estética e História de Arte na Faculdade de Letras de Coimbra, vaga, por morte do professor Virgílio Correia; vogal da Academia Nacional de Belas Artes, membro da Academia Portuguesa de História e comendador da Ordem de Santiago de Espada. Autor de vasta e erudita obra, a sua consagração definitiva chegaria com a edição de O Fenómeno Religioso e a Simbólica (1924). Para enfatizar a importância cultural do reinado de Dom João V, abona-se no programa escultórico de Mafra, referindo-se às estátuas encomendadas pelo Magnânimo em Itália em termos encomiásticos: “O italianismo barroco movimenta-se em Mafra na estatuária solene, declamatória, exultante, profusa em efeitos de claro-escuro, dramática nas expressões ou decorativa nos panejamentos, esculpidos pelos artistas educados naquela linguagem de alma plasmada por Bernini numa teoria estupenda de figuras, bem grifadas pelo seu génio que soube, como raros, dominar a 9 pedra, volatilizá-la, podíamos quase dizer, tão maleável e dúctil se tornou nas suas mãos demiúrgicas”. Sublinharia também o carácter excepcional da obra de *Alexandre Giusti, bem como o seu ascendente compositivo sobre os discípulos, caso, designadamente, de *Machado de Castro (cf. Arte: escultura, pintura e artes decorativas, in História de Portugal, Barcelos, 1934, p. 608-609). ABADE, Chafariz e Fonte do Designação partilhada por um chafariz e por uma fonte (n. 30) da *Segunda Tapada ou *Tapada do Meio, também denominados do *Casal do Abade. A fonte fica situada um pouco abaixo das ruínas do dito casal e mesmo à beira do caminho que conduz à *ponte da Cuba e ao *vale da Guarda. A nascente é pouco abundante, porém a água é de excelente qualidade. *Dom Pedro V era grande apreciador do chá feito com a água desta fonte. O chafariz do Abade acha-se à beira da Rua da Boa Vista, um pouco adiante da *ponte da Enxóvia, na encosta onde se implantava o antigo casal; dis10 põe de tanque e possui manancial abundante de boa água que serve para dessedentar o gado bovino e a caça grossa. ABADE, Dom Do aramaico, abba, latinizado em abbas, abbatis, com o significado de pai espiritual. As três ocorrências no Novo Testamento (Marcos, XIV, 36; Romanos, VIII, 15; Gálatas, IV, 6) reportam-se a Deus, mas na Igreja a designação aplica-se a varões “fazendo as vezes de Cristo”, cujo magistério, carisma, virtude e ancianidade, atraindo as almas, tenha originado comunidades sob a sua direcção. A denominação, primitivamente apanágio dos Padres do Deserto, foi aclimatada ao Ocidente por São Bento e adoptada por Santo Isidoro e São Frutuoso cujas Regras, conjugadas com a Regula Communis, moldaram o monaquismo visigótico hispânico até à invasão muçulmana. A instituição ressurgiria com Cluny durante a reconquista. Até meados de quinhentos, exceptuando o primeiro, geralmente nomeado pelo fundador do mosteiro, os Abades seriam escolhidos vitaliciamente pelos monges pertencentes a cada comunidade. O Concílio de Trento obrigaria os mosteiros a reunirem-se em congregações presididas por um Abade Geral ou *Dom Prior, eleito trienalmente em *Capítulo. Uma vez extintos os abades Regulares, no ano de 1834, subsistiram apenas os Abades seculares (párocos), em resultado da transformação dos mosteiros em igrejas paroquiais. O *báculo foi desde sempre o símbolo da sua autoridade pastoral. ABADE BENEDITINO Abade do mosteiro beneditino de Tibães, alegado autor de uma carta dirigida a outro, a propósito do convite endereçado por este para que assistisse à sagração da Basílica de Mafra, em 22 de Outubro de 1730. Nessa carta, transcrita em primeira mão por Camilo Castelo Branco e da qual se 11 guarda uma versão com algumas variantes na BPÉvora [CIX/1-5], escusa-se a assistir ao evento em virtude da sua oposição ao que considerava ser uma pelunca latrorum (covil de ladrões) e obra digna de infiéis. Bibliografia: CASTELO BRANCO, Camilo, Mosaico e Silva de Curiosidades Históricas, Literárias e Biográficas, Porto, s. d. [1868], p. 68-74 e também in Gazeta Litteraria do Porto, n. 6 (1868), p. 51-53; PIMENTEL, António Filipe, Arquitectura e Poder: o Real Edifício de Mafra, Coimbra, 1992, p. 338-341 [transcreve versão da BPÉvora]. Meu amigo e senhor, Vossa Reverência me convida para esta galhofa de Mafra, e eu tenho por galhofa rogar-me vossemecê para esta função; por que, podendo caber nas cláusulas da razão o apetite de ver novidades, não se compadece com a profissão de católicos poder achar gosto no que tem sido assunto de tantos pesares, nem ter olhos para ver o que tem sido cegueira de todo este reino, nem menos que haja riso onde se vê tanto chorar. Se Vossa Reverência está de ânimo para ver misérias, lástimas e estragos, pode fazer a sua jornada, que eu, segundo a lei que professo, me não posso capacitar que seja lícito o ver nem aplaudir as obras de Mafra; e, por que a proposição não pareça a vossemecê absoluta, recorra aos meios que se tomaram para a edificação deste edifício, e os achará totalmente contrários à disposição da lei natural e divina; de cuja consideração sai legítima a minha consequência. Em primeiro lugar, foi errado o meio de constranger os homens nesta apetitosa obra, por ser voluntária e não útil e necessária ao reino, por que o príncipe, ainda que soberano, não tem domínio na liberdade dos seus vassalos aos constranger involuntários nas coisas que privativamente pertencem ao gosto do mesmo príncipe, e quando obra absoluta, fica transgressora do direito natu12 ral como qualquer outro particular. Testemunhas da coacção e da violência não sómente somos nós que com nossos olhos vimos a tantos homens arrastados pelas estradas e ruas com cordas e cadeias, conduzidos por beleguins como delinquentes justificados, como também são as mesmas pedras a quem feriam os gemidos famintos em que desafogavam aqueles corações aflitos, ou já por que se consideravam reduzidos a estado de escravidão imerecida, ou por que na tirania dos condutores experimentavam inumanidades. Foi errado também o meio de se fabricar o magnífico edifício à custa das fazendas alheias, porque o príncipe não é senhor das fazendas dos seus vassalos para as converter e distribuir a seu alvedrio; e é absolutamente contra a lei divina tomar o alheio contra a vontade do seu dono. E note bem, meu amigo, se é que pode caber na compreensão o que pode ser abismo, as perdas e danos em que se tem arruinado este reino com as obras de Mafra, passe a discorrer particularmente por elas, e achará que nem uma só pessoa deste reino poderá dizer com verdade que se acha eximida delas; e, como pelos efeitos chegamos ao conhecimento das causas, recorra vossemecê às lágrimas que se têm chorado e se vão chorando para delas inferir as perdas e danos que são as lágrimas com que se explicam os vassalos oprimidos. Choram os homens as perdas dos seus bens convertidos contra vontade sua em vaidades; choram a perda da saúde em um contínuo giro de trabalho; choram a miséria da fome sem pagamento; choram a perda das vidas e das almas na falta dos sacramentos em artigo de morte, com evidente perigo de salvação. Grande miséria! Choram as mulheres a falta de seus maridos, por lhes faltar o socorro dos jornais com que as amparavam. Choram os filhos porque não têm pais que lhe adminis13 trem um bocadinho de pão. Choram os eclesiásticos as imunidades da igreja, por que lhes faltam ao respeito, tomando-lhes as bestas, bois e carros. Choram as comunidades dos religiosos, porque fora de horas se lhes rompem as suas clausuras, e nelas entram os beleguins, esbirros e lacaios que com el-rei na barriga os não exceptuam das vulgares insolências que costumam praticar. Choram os grandes da corte o seu abatimento; que lhes não guardam aqueles fóros que grangearam à custa das proezas que seus antepassados obraram expondo as vidas e fazendas para em todas as quatro partes do mundo estabelecerem domínio aos reis desta monarquia, e por lhe sustentarem na cabeça a coroa que logra; achando-se reduzidos ao foro de plebeus, sem aquela distinção com que foram condecorados ainda pelas mesmas leis. Chora a corte o seu universal estrago porque se arruinam os seus edifícios sem remédio por falta de artífices e materiais para se acudir aos seus reparos. Na mesma corte choram os templos porque se acham as santas imagens sem veneração e sem limpeza. Choram as aldeias e os campos a falta de cultura por que não há agricultores que os fabriquem. Choram os montes porque lhes falta a sociedade dos pastores e dos gados. Choram os animais sobpostos a excessivo trabalho sem alimento. Tudo quanto há no reino chora, porque tudo é escravidão sem esperança de resgate, pois se fazem irreparáveis as perdas e danos que se experimentaram e vão experimentando. No excesso da sua dor dizia David que lhe serviam de pão as lágrimas de dia e de noite; e com diferente motivo estamos vendo que servem de pão as lágrimas, noite e dia, aos moradores de Portugal. Do céu ainda se ouvem e eternamente ouvirão os brados do sangue de Abel injustamente derramado às mãos da tirania de seu irmão 14 Caim. E porque não se ouvirão no céu os brados de sangue de tantos Abéis derramado à instância de maior tirania e nunca vista crueldade? Se são estes os meios, meu amigo, diga-me Vossa Reverência falando como homem e como católico, como pode ser o seu fim do agrado de Deus? Por mais que se me diga que esta obra se encaminha ao serviço de Deus e seu louvor, por força de fé estou obrigado a crer que não pode ser do agrado de Deus. As obras de que Deus se agrada são as de misericórdia e justiça exercitadas como virtude. Obras feitas contra a virtude da justiça e misericórdia são obras do diabo, que não de Deus. Furtar para dar esmolas é proposição condenada. Fazer templos dedicados a Deus com prejuízo de terceiro à custa da sangue dos pobres, não se ajusta com a lei que professamos. E, se não pode ser do agrado de Deus, que quer o meu amigo que vamos ver a Mafra? Que podemos ver que não seja incentivo para mágoa? Que faz que sejam mármores delicadamente lavrados, se a consideração e piedade de católico me convida a discorrer que todo este reino tem sido cordeiro de cujas veias correu o sangue para amolecer as durezas do mármore? Que importa a inexplicável perfeição daquele edifício se a razão me obriga a pensar que os seus materiais foram amassados com lágrimas e suor do rosto dos pobres? Que monta a magnificência do templo, se não há pedra em cuja frente não estejam gravadas com letras de sangue as efígies da maior violência e tirania? Meu amigo, que somos nós, católicos, ou bárbaros? Se católicos, não devemos com a nossa curiosidade aprovar efeitos da soberba e desumanidade. De que serve a composição dos signos para a solfa dos minuetes, se a letra que entoam são os gemidos e lamentos com que desafoga o coração de um reino aflito? No 15 templo de Deus, a melhor solfa para entoar seus louvores é aquela que se compõe do tempo perfeito que é o da graça, e a que tem por propriedade as boas consciências, por vozes as orações, por figuras as virtudes, por pausas a observância dos preceitos, por pontos os da perfeição nos costumes, e por mestre da capela o amor de Deus. Nas mesquitas dos herejes é que sómente podem fazer boa consonância os minuetes, bons incentivos para vícios. Trocamos os templos em mesquitas; pois vemos que para Mafra, que havia de ser templo de Deus, se compuseram os minuetes das mesquitas de Inglaterra. Seja Deus sempre louvado, pois permite que aos capuchinhos da Arrábida passassem do estado de humildes ao da grandeza, da estreiteza dos cubículos à amplitude dum palácio, da pobreza das esmolas pedidas, à ração palaciana com tanta fartura administrativa, da modéstia de frades a bailarinos de minuetes, que vale o mesmo que de virtuosos franciscanos a uns relaxadores Luteros. E outras tantas mil vezes seja Deus louvado pois permitiu que ressurgisse a soberba de Babel, e que esta torre se continue sem nos confundir as línguas para falarmos na nossa confusão! Finalmente, meu amigo, para ver Mafra não é necessário ir a Mafra; porque ela por nossos pecados está em toda a parte do reino; pois não haverá nele pessoa que não tenha tomado entre dentes a Mafra, e a não traga atravessada na garganta e coração… No nome de Mafra temos descoberto o enigma. Vamos tirando a máscara. Repare bem que se compõe Mafra de cinco letras que todas denotam a nossa perdição. Denota o M que seremos mortos ; o A – assados, o F – fundidos ; o R – roubados ; e o último A – arrastados. E, se assolados, roubados, fundidos, arrastados e mortos são os termos a que nos achamos reduzidos, por prática e experiência de justiça, 16 estamos obrigados a dizer mal de Mafra e desterrá-la; pois desde o dilúvio universal estava reservada no calcanhar do mundo para ser o dilúvio universal deste reino. [Em outro tempo foram misteriosos os cincos para nosso bem e neste tempo são misteriosos os cincos para nosso mal. Cinco foram as chagas de que a piedade de nosso Redentor nos mandou fabricar as armas debaixo de cujas bandeiras se seguiram aos portugueses gloriosos triunfos e sempre debaixo da protecção das cinco chagas teve a nação portuguesa o seu amparo. Trocaram-se os tempos e a Portugal as fortunas na fé viva de el Rei Dom Afonso Henriques se estabeleceu a nossa dita e em que a fé das cinco chagas se continuou nos sucessos da coroa deste reino. Não nos faltaram as felicidades. Cinco foram as chagas que mereceu a pobreza do Seráfico São Francisco e agora vemos que seus filhos renunciam a pobreza e se aproveitam dos regalos da mesa real. Cinco foram as pedras que escolheu el Rei David para derribar ao gigante e vemos agora que outro Rei escolheu para destruir um reino que foi o gigante da fé. Das mesas e das honras do mundo serão foros os metais de que se compôs a estátua de Nabuco e porque a soberba desafia a paciência de Deus, do deserto fez descer a pedra que a consumiu e agora vemos que uma estátua animada composta de cinco dotes a desbarata. Uma pedra de escândalo de cinco sentidos ornou a Divina sabedoria aos homens. A malícia e crueldade das cinco letras de Mafra fabricou cinco lanços para tirar os sentidos aos homens de Portugal (BPÉvora: CIX/1-5)]. Não posso, meu amigo, alcançar o ódio que tem o rei aos seus vassalos, nem que degenerassem para ser deserdados daquele agasalho que mereceram aos reis seus predecessores; porque na constância do sofrimento e 17 lealdade dos afectos não há mais dedicados. O certo é que este abatimento é disposição para nos fazer apostatar da lei, para o que é já princípio esta afectada quebra com a séde apostólica e serão os fins a mesquita de Mafra, onde por pecados nossos veremos as cerimónias da lei escrita. Deus nos dê da sua graça e tenha de sua mão para que não desesperemos da salvação e a Vossa Reverência dê luz para se retirar de ver Mafra à qual eu não chamarei templo de Deus, mas sim espelunca de ladrões. E por não aprovar o que não pode ser do agrado de Deus, não quero ir a Mafra, etc. ABADE DE TIBÃES *Abade beneditino. ABALO TELÚRICO *Padre Alberto da Fonseca Rebelo, *terramoto, *tremor de terra. ABEGOARIAS, poço da nora das Sito na *Primeira Tapada, próximo às arribanas de gado. O manancial deste poço (n. 4) é extremamente abundante, sendo conduzido por meio de uma nora a um tanque que lhe está contiguo. ABELHEIRA Sítio da *Terceira Tapada onde existiram 23 terras cultivadas. ABÍLIO FERREIRA DE BRITO (f. 4.3.1885) Natural de Aveiro. Trabalhou como jardineiro chefe, sob as ordens do francês *Bonard, que *Dom Fernando de Sax contratara para traçar os Parques das Necessidades, da Pena e de Mafra (jardim da *Cerca e um outro junto às lagoas da 18 *Tapada). *Tomás de Melo Breyner confidenciou ter ouvido dizer ao Conde de Ficalho e a Jules Daveau “que sem o prático de Mafra se não podiam ter feito colheitas capazes para os herbários, porque tinha ele o instinto do classificador” (Memórias, v. 1, Lisboa, 1930, p. 181-182). ABLUÇÃO Purificação de qualquer substância ou pessoa, antecedendo atitude ou cerimónia religiosa. As pias de *água benta existentes à entrada dos templos católicos respondem a tal necessidade, existindo similares em quase todas as formas cultuais. A água benta obtém-se benzendo a fonte ou canalização por onde corre, no Sábado de *Aleluia. *Lavatório de Sacristia, *Pia de água benta. ABRANTES, Marquês de Ao primeiro marquês de Abrantes, Dom Rodrigo Anes de Sá Almeida e Meneses (1676-1733), coube a catalogação do acervo da *Biblioteca de Mafra relativo à história (ver Silvestre Ribeiro, História dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos em Portugal, v. 1, p. 177-179). ABRUNHEIRA Antiga porta da *Terceira Tapada ou *Tapada de Dentro, sita nas proximidades da localidade homónima. ÁBSIDE Cabeceira do templo cristão onde se situam o altar e o presbitério. Na *Basílica de Mafra, a *capela mor e o *coro. Simboliza a cabeça e a coroa de espinhos ou diadema que ensanguentou a cabeça do Salvador. As plantas absidais começaram por ser quadradas, depois redondas e, posteriormente, poligonais. Regra geral, voltada a oriente, quando, em igrejas anteriores ao Vaticano II, se observem 19 orientações diferentes da ábside, é conveniente ponderar a possibilidade de existirem motivos simbólicos subjacentes à aparente anomalia. Em igrejas românicas (mas não exclusivamente) de planta cruciforme é comum observar-se que o eixo da nave faz um ângulo com o eixo da ábside que se inclina para o lado do Evangelho (esquerda), traduzindo as palavras do discípulo amado: “et inclinato capite, tradidit spiritum”. Em suma, a planta do templo é a expressão de uma linguagem mística que supõe o corpo de Cristo ligado à cruz, os braços estendidos no transepto e a cabeça apoiada no altar. ABSOLUTISMO Em quatrocentos e quinhentos o tema teve expressão por intermédio da obra Governo da República pelo Rei (1496) de Diogo Lopes Rebelo. O providencialismo das correntes sebastianistas (e, nomeadamente, o do *padre António Vieira) não deixaria de favorecer a ideia de que no rei e nas dinastias depôs Deus uma função escatológica, revelável pelo estudo de sinais encobertos. Durante o século XVII, a influência do pensamento absolutista francês em Portugal parece ter sido diminuta, reduzindo-se praticamente a Manuel Fernandes Vila Real (El Político cristiano, Pamplona, 1641 e Paris, 1642) e António Fleneques Gomes (Política Angelica, Ruão, 1647), a quem Dom Francisco Manuel de Melo crisma, significativamente, de “portugueses enxertados em galos”. Assim, o primeiro – num passo que a lnquisição condenaria – considera os desacatos à pessoa do rei mais necessitados de castigo do que os desacatos à religião. No século seguinte, um providencialismo de tipo escatológico continuava a vicejar. Logo no início de setecentos, Sebastião Pacheco Varela aproveita alguns conceitos musicais e aritméticos para propor ao príncipe (*Dom João V) ensinamentos de política (Número vocal, exemplar, católico, e 20 político no maior entre os santos o glorioso S. João Baptista, Lisboa, 1702). O providencialismo que repassa toda a obra e que informa uma teoria esotérica dos números, descobrindo nas datas, por manipulações aritméticas, significações ocultas, reforça a dignidade do rei, escolhido por Deus. Posteriormente, a literatura providencialista do absolutismo francês ganharia um número crescente de adeptos. Seguiriam como cartilha a Bossuet, o qual escreve que “Deus governa todos os povos, dando-lhes a todos os seus reis. Os Príncipes são ministros de Deus para o bem: são sagrados pelo seu ofício como representantes da Majestade divina, deputados pela sua providência para a execução dos seus desígnios” (Politique tirée de I’Écriture Sainte, 1709). Ganha deste modo corpo a ideia da origem divina imediata do Poder, desvalorizando quer a mediação popular (mediante consilio aut electione humana, consoante o cardeal Belarmino), quer a mediação papal. O atentado contra *Dom José I (1758) havia de propiciar o exacerbamento do *Regalismo, considerando sacrílegos quaisquer críticas ou atentados que lhe fossem dirigidos. As obras que adoptam o providencialismo fundado na ideia da razão natural, mais abrangente e menos sujeito a contestação haviam de aparecer durante o consulado pombalino. *Rei-Máquina, *Rei-Sol. ABSOLVIÇÃO Acto pelo qual um pecador fica reconciliado com Deus e ilibado das respectivas culpas. A faculdade de absolver é transmitida pela Igreja Católica aos seus sacerdotes canonicamente ordenados, por intermédio do sacramento da Ordem sacerdotal. *Indulgência. ABSTINÊNCIA A ingestão de alimentação simples e pobre é penitência obrigatória imposta pela Igreja Católica a todos os fiéis saudá21 veis e maiores de 14 anos durante a *Quaresma (nomeadamente na quarta-feira de Cinzas e em todas as sextas-feiras), a *Semana Santa (especialmente na sexta-feira Santa), bem como no decurso do ano, em todas as sextas-feiras que não coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades costumadas em cada bispado. Os *Arrábidos do Convento de *Santo António junto à Vila de Mafra só não se achavam obrigados a abstinência nos dias ordinários, isto é, naqueles em que não havia qualquer solenidade ou *jejum específico. *Ementas fradescas. ACADEMIA Termo derivado do grego, Ekademos ou Akademos, nome do personagem mítico que revelou aos Dióscuros, perseguidores de Helena e Teseu, o esconderijo deles, um jardim dos arredores de Atenas, o qual o mesmo Akademos havia de legar ao povo e que, murado e consagrado a Atena, se transformaria na Academia platónica. Designação de largo espectro semântico: reunião esporádica, celebrando algum evento histórico ou relativo à família real; cursilho de intenção didáctica; associação literária, científica ou cultural; sociedade de livre discussão. Até à centúria de quinhentos o termo manteve o significado de leccionação, deambulação didáctica, fraternidade iniciática e discipulado. O humanismo, suposta reabilitação do academismo clássico, denunciaria tal sentido, adoptando o conceito para designar qualquer associação selecta de indivíduos devotados ao estudo, à scientia e à sapientia. Este o espírito que presidiria ao nascimento das Academias renascentistas de Itália. Posteriormente, no decurso do séc. XVII, assistir-se-ia à especialização temática de tais associações, concomitantemente com a sua institucionalização estatutária. Em Portugal aponta-se o início do academismo cerca de 1628, com a criação da Academia dos Singulares, e o seu apogeu no segundo 22 quartel de setecentos, para declinar já no séc. XIX, cedendo o lugar aos salões e tertúlias, cafés e clubes, associações secretas e organizações políticas e cívicas. Porém, já durante o séc. XVI terão existido autênticas Academias, tais como os círculos de Sá de Miranda (Quinta da Taipa), de Francisco Rodrigues Lobo (Corte na Aldeia), ou da Infanta Dona Maria (Paço de Enxobregas), podendo ainda ser incluída no rol a denominada Cavalaria do Amor. *Aulas literárias de Mafra. Bibliografia: CASTELO BRANCO, Fernando, O Significado Cultural das Academias de Lisboa no século XVIII, in Bracara Augusta, v. 28, n. 65-66 (77-78) (1974), p. 45-68; PALMA-FERREIRA, João, Academias literárias dos séculos XVII e XVIII, Lisboa, 1982 ACADEMIA DOS OCULTOS A Colleçam das obras que na Academia dos Occultos se recitárão na morte do Fidelissimo, e Augustissimo Rey D. João V Na conferencia do primeiro de Setembro de MDCCL (Lisboa, Manoel Soares Vivas, 1750 [BN: HG 4747 P]) inclui obras de *Joaquim Simpliciano do Canto, com referência ao Monumento de Mafra (p. 10-11): “Para maior argumento da sua magnificência, ainda que não para termo da sua generosidade, querendo Sua Majestade cumprir e juntamente desempenhar um voto que fizera pela sua desejada sucessão, traçou e construiu a preciosa, dilatada, perfeita e custosíssima obra da Igreja e Convento de Mafra de Religiosos Franciscanos reformados da Província da Arrábida, dedicando-a com grande solenidade a Nossa Senhora e a Santo António. Que excessos não veríamos nesta obra se fora lícito compará-la com as profanas? Que vantagens não faz ela às Pirâmides do Egipto, aos muros de Babilónia, ao Colosso de Rodes, à estátua de Júpiter Olímpico, ao Capitólio de Roma e ao Templo de Diana? Nem eu posso descobrir outro que lhe seja igual se não for o de Jerusalém edificado por Salomão, Príncipe mui semelhante ao nosso, mas com esta desigual23 dade, que Salomão manchou a pureza dos seus sacrifícios com os fumos da sua idolatria e Sua Majestade purificou a culpa de seus defeitos com a continuação dos seus sacrifícios. À soberba obra de Mafra bem se pode seguir a erecção da Santa Igreja Patriarcal, primeiro de Capela Real a Colegiada, depois a Metrópole Patriarcal […]”. A p. 16 reporta-se à *Biblioteca. ACADEMIA DE SÃO LUCAS Academia romana à qual pertenceram muitos dos artistas a quem foram feitas encomendas para Mafra, designadamente os pintores *Agostinho Masucci e *Trevisani, bem como os escultores *Pietro Bracci, *Filippo della Valle, *Girolamo Ticciati, para só citar os mais influentes. Entre os portugueses filiados, contou-se *Francisco Vieira Lusitano, académico emérito, reiteradamente apontado por Camillo Preciado como um dos maiores pintores de Roma. *Arcádia Romana. Bibliografia: QUIETO, Pier Paolo, Dom João V de Portugal, Mafra, 1989 AÇAFATA Dignidade feminina do paço a quem competia, de acordo com cerimonial preciso e segundo a respectiva hierarquia, apresentar as roupas e todos os objectos de uso pessoal à rainha, bem como ajudar as aias a vesti-la e a despi-la. Cerca de 1828, foi destinado às açafatas um dormitório no *Quarto Andar do convento, do lado Sul, simétrico ao *Dormitório das Damas (n. 54), situado a Norte, conforme o Real Edifício Mafrense visto por fora e por dentro (fl. 411) de *frei João de Santa Ana. A. C. INCHBOLD Em 1907, publicou Lisbon and Cintra with some account of other cities and historical sites in Portugal (Londres, Chatto & 24 Windus), opinando que “vale a pena visitar Mafra, quanto mais não seja para ver apenas a sua magnífica igreja”. Alude ao “curioso eco” da *sala Elíptica, ao *Refeitório, ao *Claustro do buxo, à *Biblioteca, “a sala mais nobre do edifício”, à *Tapada e aos *Carrilhões (p. 180-181). ACÓLITO O acolitado constitui a maior das quatro ordens menores da hierarquia eclesiástica católica (sendo as restantes três: exorcista, leitor e ostiário), tendo surgido pela primeira vez em Roma, no ano de 251. Compete-lhe coadjuvar o celebrante durante a missa, bem assim como na prática dos sacramentos. ACONTECE Programa cultural da RTP 2 da autoria de Carlos Pinto Coelho. Foi teledifundido em directo da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, nos dias 18 e 19 de Abril de 1996. 25 AÇOUGUE *Sala dos Actos Escolares, *Sebastião Conca. ACTOS ESCOLARES Também denominados Actos Literários, quiçá as *Aulas Literárias de Mafra referenciadas por *Machado de Castro. Discursos de abertura dos anos escolares e *Actos finais ou *Conclusões das aulas de Teologia, Moral, Lógica, Física, Metafísica e Gramática dos *Reais Estudos de Mafra. Decorriam na *sala dos Actos Literários, também designada *sala dos Actos Escolares. ACTOS ESCOLARES, Sala dos Serviu de *açougue durante a primeira invasão francesa. *Sala dos Actos Literários, *Sebastião Conca. ACTOS FINAIS *Conclusões. ACTOS LITERÁRIOS *Actos Escolares. ACTOS LITERÁRIOS, Sala dos Dependência conventual, situada no extremo Sul do *Corredor das Aulas, destinada à apresentação e defesa dos *Actos finais ou *Conclusões das aulas de Teologia, Moral, Lógica, Física, Metafísica e Gramática dos *Reais Estudos de Mafra. Descrita no Real Edifício visto por fora e por dentro (fl. 121-123) por *frei João de Santa Ana: “Esta famosa casa, designada na planta pelo n. 119 tem a sua entrada pelo corredor das Aulas, dada por um portal, que com todo o seu ornato tem de alto 25 palmos [5,50 m] e de largo 13 [1,86 m] e fica defronte do corredor, que do claustro vem ter ao corredor das Aulas. A casa, que se entende de Norte a Sul, tem 26 de comprido 117 palmos de largo 43 e de alto 60. Defronte do portal da entrada está outro fingido, que lhe corresponde e ao lado de cada um destes estão cinco degraus designados pelos n. 120 por onde se sobe para os Doutorais, que estão elevados nos dois lados da casa. Cada um deles tem de com27 prido com os degraus 80 palmos, e forma uma varanda de seis palmos de largo, acompanhada toda com parapeitos formados de pedras brancas e encarnadas e gradeamento de maravilhoso lavor e artifício. Junto à parede são acompanhados de assentos, que descansam sobre cachorros de pedra e de famosos espaldares de pau preto e amarelo que formam almofadas de pau preto, cercadas de molduras, e de outro ornato de pau amarelo. Nestes Doutorais se assentam, quando na casa se fazem actos públicos de conclusões, os Padres mestres arguentes, que customam vir de Lisboa sendo por todos 24 de doze diversos Conventos e religiões. Estes assentam-se no Doutoral que está no lado do Norte. E no mesmo se assenta o Provincial e Mesa da Definição, nos lugares mais próximos à cadeira do Presidente; no do lado do Sul assenta-se junto à mesma cadeira o Regente dos Estudos; depois os Doutores Seculares; depois os Lentes, os Substitutos da Província e em último lugar os Passantes. No topo da casa, entre os Doutorais, há um patim para o qual se sobe por três degraus, e nos lados dele há de cada parte dois degraus, e por aí se entra também para os Doutorais; e entre os assentos destes junto à parede está a Cadeira Magistral, designada na planta pelo n. 121 em que se assenta o Presidente do Acto. Esta é mais elevada que os espaldares dos Doutorais, mas das mesmas qualidades de pau, e nas costas tem um espaldar mais elevado, sendo tudo lavrado e apainelado com o melhor gosto. Por baixo da cadeira há um assento corrediço, que se puxa fora quando é só um o Defendente, quando porém são mais os Defendentes, põe-se aí um banco para eles se assentarem. Por cima do espaldar da dita cadeira está na parede uma grande e preciosa pedra branca cercada e guarnecida de muito lavor em pedra branca, amarela, encarnada, azul, e outra mesclada de branco e amarelo. Na dita grande pedra se vê insculpida com letras maiúsculas a inscrição seguinte: Joannes V. 28 Mafrensem Academiam erigens Domum hanc Sapientiae dicavit. Sapientia grata hanc sibi Sedem eligens, ex ea Academiam rexit. Josephus I. utranque nimium diligens sapientiae legibus Academiam firmavit. Academia grata pespetuum monumentum seligens hunc eis lapidem in titulum erexit. Anno 1752. Sobre a 29 pedra em que está esta inscrição, se acha uma coroa de flores amarelas com laços de fita da mesma cor, que as prendem, a qual está entre os pés de duas palmas, que estão cruzados, se estendem para os lados. As palmas são de pedra branca, a fita e a Coroa de pedra amarela. Aos lados de todo este ornato há um friso de pedra branca, que principiando a elevar-se vai acabar em pontiagudo por cima da Coroa e onde ele acaba, há um ornato de pedra amarela, que se estende algum tanto para os lados sobre o friso e no meio está um vaso de pedra azul, do qual sai um grande florão de pedra amarela. Por cima de tudo isto passa a cimalha real da casa e sobre ela está uma grande e formosa janela ornada, e cercada de muito ornato, da qual não se pôde medir o tamanho por ficar em grande altura. Aos lados do espaldar da cadeira há de cada parte uma janela, que tem de alto 19 palmos, e de largo 10. Do mesmo tamanho há outras duas aos lados, e por detrás dos espaldares dos Doutorais. Há mais oito janelas em toda a casa, que lhe comunicam luz das quais umas deitam para o corredor das Aulas, outras para o terraço do mesmo corredor; e além destas tem quinze janelas fingidas, e quatro portais fingidos, contando o que está fronteiro ao portal da entrada. Todo o pavimento da casa é de pedras brancas e encarnadas, que formam um admirável xadrez. No espaço que há entre os Doutorais se põe a bancada em que se assentam todas as pessoas que assistem aos Actos, além dos já mencionados. No meio da casa por cima dos Doutorais, há de cada lado uma tribuna elevada do pavimento 21 palmos, e saída fora da parede, a qual está firmada sobre quatro grandes cachorros de pedra branca de primoroso artifício, e igualmente a pedra da Tribuna que sai fora da parede. Tem de largo o peitoril 18 palmos e meio. Estas duas Tribunas são os lugares onde Sua Majestade e mais Pessoas Reais assistem aos Actos Literários. Para a Tribuna do lado do poente se entra por uma escada, que desce de uma das casas do 30 Tesouro da Sacristia […]. Para a do nascente se entra por um portal, que está no ladrilho do Sul do dormitório grande do 2.º andar […]. Na parede do topo do Norte, fronteiro à pedra da inscrição está um famoso painel, que representa Nossa Senhora da Conceição pisando a serpente, com o Menino Jesus nos braços, cercada de Anjos, e sobre eles o Eterno Pai, e o Espírito Santo. Deste quadro, que todos admiram, é autor [Sebastião] Conca, pintor italiano. É cercado de moldura de pedra preta cristalina, e acaba formando um arco. Tem de alto 28 palmos, e de longo 15 com a moldura. Ao lado esquerdo do portal da entrada está um grande painel, que representa a Sagrada Família, e de fronte deste está outro que representa a Coroação de Maria Santíssima, ambos com grandes molduras de pau fingindo pedra. Este é muito louvado pelos Mestres da pintura mas ignoro quem fosse o autor. Masucci é o autor do da Sacra Família, e o outro dizem ser Vieira“. As colunas de madeira encimadas por candeeiros, sobre a balaustrada, foram ali colocadas quando a dependência passou a ser tutelada pelo Ministério da Justiça (Tribunal da Comarca). *Açougue. AÇÚCAR Não existe localidade outrora detentora de convento ou mosteiro que não possua tradição doceira. Mafra não foge à regra. Com efeito, a dieta conventual dos *Arrábidos e, depois, dos cónegos regrantes incluia invariavelmente doces, possuindo os frades uma dependência especificamente destinada à sua confecção, denominada *Pastelaria. Porém, a gulodice fradesca não é por si só explicação para a sobrevivência dos verdadeiros tesouros gastronómicos saídos das claustras conventuais. Os excedentes de açúcar, cujo comércio constituía monopólio da coroa, deixavam de estar sujeitos a qualquer restrição se transformados, o que terá contribuído para a difusão de tal prática. 31 ADAM NEALE Em 1809, deu à estampa as Letters from Portugal and Spain, comprising an account of the operations of the armies under their excellencies Sir Arthur Wellesley and Sir John Moore, from the landing troops in Mondego Bay to the battle at Corunna (Londres). Além de um mapa com o itinerário das tropas (junto ao rosto), a obra inclui doze gravuras abertas em folha de metal, segundo desenhos feitos à vista, uma das quais intitulada Distant view of Mafra. ADAMASTOR Um dos gigantes ou Titãs, filhos da terra, que se rebelaram contra Zeus. Referido por Homero, na Odisseia (XXII, 212), e por Virgílio, na Eneida (III, 614), chamando-lhe Damastor aquele e este Adamasto. Também por Claudiano, na Gigantomachia, e Ravísio Textor, na Oficina (1522). Em Camões é a personificação do Cabo da Boa Esperança, antes 32 chamado das Tormentas. Dá aos portugueses o conhecimento “dos segredos escondidos / da natureza e do húmido elemento”. José Benoliel crê na possibilidade de a palavra Adamah (hebraico, terra) ter sugerido ao épico a denominação deste titã, “a quem está confiada a guarda dos mares austrais”, à semelhança de Boreas que a detém no que respeita aos mares do Norte. Costa Ramalho desdenha do alvitre, preferindo exclusivamente antecedentes etimológicos greco-latinos, sem contudo precisar quais. Voltaire cita com admiração esta criação camoneana, no Essai sur la Poésie Épique. Acha-se figurado na abóbada da *sala das Descobertas, junto de *Bartolomeu Dias. Bibliografia: BENOLIEL, José, Episódio do Gigante Adamastor (Lusíadas, canto V, est. 37-70): Estudo crítico, Lisboa, 1898; CASTRO, Aníbal Pinto de, O episódio do Adamastor: seu lugar e significado na estrutura de Os Lusíadas, in XLVIII Curso de Férias da Fac. de Letras da Univ. de Coimbra (Ciclo de Lições comemorativas do IV centenário da publicação de Os Lusíadas), Lisboa, 1972, p. 61-78; FARIA, António Portugal de, O Episódio do Adamastor nos Lusíadas de Luís de Camões, Livorno, 1897; FRANCISCO DE S. LUÍS, Frei, Apologia de 33 Camões contra as reflexões criticas do P. J. Agostinho de Macedo sobre o Episodio de Adamastor no Canto V. dos Luziadas, Lisboa, 1840; GANDRA, Manuel J., Iconografia mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 144, n. 18; LETZRING, Monica, The Adamastor Episode and the eighteenth century Aesthetic Theory of the Sublime in England, in Actas da I Reunião Internacional de Camonistas (Lisboa, 15 a 18 de Nov. de 1972), Lisboa, 1973; MACEDO, José Agostinho de, Reflexões criticas sobre o Episódio de Adamastor nas Lusíadas, Canto V, oit. 39: em forma de carta, Lisboa, 1811; MACHADO, Cirilo Volkmar, Aditamento a As Honras da Pintura, Escultura e Arquitectura de João Pedro Bellori, Lisboa, 1815, p. 119; idem, Descrição das Pinturas do Real Palácio de Mafra (edição de J. M. Cordeiro de Sousa), in Revista de Arqueologia, t. 3 (1936-38), p. 110; OLIVEIRA, Joaquim de, A primeira sugestão do mito de Adamastor (Gil Vicente e Luís de Camões: breve estudo comparativo), in Revista Ocidente, v. 62 (1962), p. 6-26; OSÓRIO, Balthasar, Origens do episodio dos Lusíadas “O Gigante Adamastor”, in Bol. da 2.ª Classe da Acad. das Sciências de Lisboa, v. IV (1911); RAMALHO, Américo da Costa, Sobre o nome de “Adamastor”, in Garcia de Orta (n. especial comemorativo do IV Centenário da publicação de Os Lusíadas), (1972), p. 433-437; SANTOS, Custódio Lopes dos, A denominação Adamastor em Os Lusíadas, in Actas da IV Reunião Internacional de Camonistas, Ponta Delgada, 1984, p. 623-642. ADEGA, poço da Sito na *Primeira Tapada, dista apenas 5 m do poço da nora das *Abegoarias com o qual parece não ter comunicação. Aproveitado para abastecimento da adega e do lagar de azeite do Centro Militar. ADMINISTRAÇÃO DA FAZENDA DA CASA REAL *Alberto Monteiro, *árvore. ADMINISTRADOR DOS REAIS ÓRGÃOS DE MAFRA Em Agosto de 1792 iniciaram-se os trabalhos de reconstrução dos órgãos da Basílica, tendo sido encarregado da tarefa 34 o organeiro *António Xavier Machado, irmão de *Joaquim Machado de Castro e administrador dos Reais Órgãos de Mafra. AD QUADRATUM Proporção 1:2, utilizada na arquitectura desde a antiguidade clássica. Vitrúvio expõe a regra da sua adopção na arquitectura sagrada, esclarecendo que “a largura de um templo deve igualar metade do seu comprimento” (De Architectura, V, I, 4). Parece terem sido os beneditinos os primeiros promotores da aplicação de tal módulo construtivo à arquitectura medieval, achando-se vestígios dele um pouco por toda a Europa, mesmo após o declínio da influência daquela ordem religiosa. A planta de uma igreja edificada pelo método do ad quadratum é definida por um rectângulo constituído por dois quadrados de igual dimensão, sucedendo rigorosamente o mesmo com os alçados, quer transversais, quer longitudinais. A diagonal de semelhante rectângulo gera um ângulo de 63º 26’ ou, mais exactamente, de 63º 25.982’, o qual intervém na construção da secção áurea e do 35 pentágono. Os exemplos portugueses prolongam-se até ao século XVIII, constituindo o Monumento de Mafra talvez o mais significativo compêndio do método nessa centúria. 36 Bibliografia: LUND, Frederick Macody, Ad Quadratum: a study of the geometrical bases of classic and medieval religious architecture, Londres, 1921; GANDRA, Manuel J., A Basílica de Mafra: compêndio de Salomonismo e pólo da Nova Jerusalém, in Boletim Cultural ’97, Mafra, 1998, p. 9-78 ADORAÇÃO Reverência ante ser ou coisa a quem se reconhece um estatuto transcendente. Assume diferentes expressões. A igreja católica admite três formas distintas: latria (religião ou culto devido e prestado a Deus), dulia (reverência e honra devidas 37 às criaturas notáveis, anjos, santos e sacerdotes) e hiperdulia (reverência à humanidade de Cristo ou à Virgem Maria). De entre as *alfaias litúrgicas, as cruzes, os relicários e os portapaz são os compreendidos no grupo dos objectos de adoração. ADRIANO AUGUSTO DE FIGUEIREDO DORES Tenente de Metralhadoras da *Escola Prática Infantaria e vereador nas Comissões Municipais Administrativas da Câmara Municipal de Mafra, empossadas em 16 de Agosto (1928) e 3 de Novembro de 1928 (pediria a exoneração desta última em 1930). Presidiu à *Comissão de Iniciativa de Turismo de Mafra que promoveu as comemorações do *Bicentenário da Inauguração do Monumento Nacional de Mafra e Sagração da Real Basílica (22 de Outubro de 1930). ADRIANO GAVILA, Don Ajudante de infantaria e engenheiro espanhol, filho de *Don Filipe Antonio Gavila. Promovido no posto de capitão engenheiro por decreto de de *Dom João V, de 11 de Agosto de 1732, mercê que lhe seria concedida em virtude de ter procedido ao “descobrimento das águas da real obra de Mafra e condução delas, assim para o convento, frontaria e demais partes, com o maior zelo e cuidado” (cf. Sousa Viterbo, Dicionário dos Arquitectos, v. 1, p. 415, n. 310). ADRO Lugar a partir do qual se avista o céu aberto, ou pórtico do templo, por onde se acede ao corpus mysticum. A proximidade dele originou que o adro se tivesse transformado em cemitério. Os trovadores galaico-portugueses chamavam sagrado a este local que lhes serviu de cenário para darem louvores a Deus, de resto, como preconizava o Salmo CL, 3: “[…] louvai-O com a harpa e a cítara, louvai-O com tambo38 res e com danças”. *Frei João de Santa Ana descreve o adro do Monumento de Mafra nos seguintes termos: “No meio da grande praça, que fica ao poente do edifício, e para onde olha o principal frontispício dele, principia a formar-se o Adro por uma rampa cercada de 24 pilares de mármore branco formando um semicírculo, cuja principal entrada se acha designada na planta pelo n. 1. O xadrez de toda a rampa é formando de seixos brancos, e pretos com várias cintas de pedra entre eles também em semicírculos. Desde a entrada principal até ao primeiro patim tem de cada lado uma ordem de pedra mais larga cortada com cavidades para que não escorregue quem passar por elas, porque se vão elevando à proporção que a rampa se eleva. Tem esta de comprimento no meio até à entrada do patim, que se lhe segue 85 palmos e de largo de Norte a Sul junto ao patim 125. O n. 2 na planta designa o primeiro patim do Adro o qual está cercado até aos pilares da rampa com dois lanços de degraus, de sete cada lanço e um patamar entre os dois lanços, os quais também cercam o segundo patim, como logo se dirá. Tem o primeiro patim de Norte a Sul 125 palmos; e contando também o espaço ocupado pelos degraus, que estão de um e outro lado, tem 180 palmos. Todo o seu pavimento é um xadrez de seixos brancos e pretos. Tem de largo de nascente a poente 70 palmos. Deste se sobem sete degraus para o segundo patim designado na planta pelo n. 3 no qual estão as colunas entre os cinco pórticos do Átrio. Tem este patim de comprimento de Norte a Sul 25 palmos e de largo desde os degraus até à parede dos pórticos 39. O seu pavimento é de mármores brancos, azuis e encarnados e como fica mais alto que o primeiro patim, por isso é cercado de 21 degraus em três lanços de sete cada um. Por baixo dele há uma casa do mesmo tamanho, que recebe luz por várias frestas, que há nos degraus, que o cercam. Entra-se para a dita casa pela casa que fica por baixo do Átrio e para esta se entra 39 pelos dois portais que ficam entre os cancelos de ferro, que estão por baixo das duas torres. Nestas duas casas é que se enterravam antigamente os corpos dos religiosos falecidos. Presentemente, enterram-se junto à capela do Campo Santo, como se dirá no lugar competente. Segue-se do que fica dito, que todo o adro tem de comprimento desde o princípio da rampa até à parede dos pórticos, que dão entrada para o átrio, 200 palmos e de largo 180 contando os degraus, que o cercam de um e outro lado” (fl. 49-50). O sol que ocupa o centro virtual do adro configurou (em 1730!) o modelo heliocêntrico condenado pela Igreja Romana, a qual só noventa anos mais tarde (1820) acabaria por adoptá-lo justamente em substituição do sistema geocêntrico. As quatro faces do quadrângulo “olham em linha recta para os quatro ventos prini40 cipais e os quatro ângulos dele olham para os quatro intermédios” (*frei João de Santa Ana). O grupo de sete degraus implica a semana. A rampa semicircular contém as esferas ou órbitas (coroas circulares brancas) dos seis restantes astros então considerados (sete, contando com o sol), separadas por coroas circulares pretas, indicadoras do vazio existente entre aquelas. Os vinte e quatro penitentes que se erguem na coroa circular branca periférica, simetricamente divididos por um caminho sem sombra, a estrada meridiana do sol (físico e da monarquia), em dois grupos de doze, na razão das vinte e quatro horas do dia. O quadrado, cujo lado corresponde à distância entre o ponto central do Astro Rei e a linha externa da coroa circular periférica, é o módulo regulador de todo o Monumento de Mafra. Quanto à Avenida ou *Estrada do Sol que se tem admitido haver sido planeada por *Dom João V para unir em linha recta o seu Monumento ao Atlântico, não passa de uma presunção de *Paulo Freire, por ele divulgada em 1924 (Guia de Portugal, v. 1, p. 567). Em 1888 deu-se início ao restauro da calçada da rampa do adro e da parte superior do próprio adro da *Basílica de Mafra, “que era feita em xadrez e em lajedo branco e preto”, porquanto “tinha as pedras desta última cor meio desfeitas pela acção do tempo” (cf. O Mafrense, 30 Dez. 1888). A substituição do empedrado degradado pelo novo, preparado numa serração de Lisboa, foi dada por concluída em Fevereiro de 1889 (cf. O Mafrense, 10 Fev.). *Ad quadratum, *Árvore dos Sephirot, *Carneiro dos frades. ADVENTO Na liturgia cristã corresponde ao período de preparação para a natividade de Cristo. Abrange os quatro domingos anteriores ao Natal, caracterizando-se pela penitência. O primeiro domingo do Advento assinala o início do ano litúrgico. Paramentos roxos e rosa. 41 AFONSO, Dom Conde de Barcelos e 1.º duque de Bragança. Acha-se retratado na abóbada da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel, à direita de *Afonso Henriques, conversando com *Dom Nuno Álvares Pereira, seu sogro. A pintura foi realizada por *Cirilo Volkmar Machado, entre finais de 1798 e Agosto de 1800. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural ’95, Mafra, 1996, p. 320-323; MACHADO, Cirilo Volkmar, Aditamento a As Honras da Pintura, Esculptura, e Architectura de João Pedro Bellori, Lisboa, 1815, p. 118; idem, Descrição das Pinturas do Real Palácio de Mafra, in Rev. de Arqueologia, t. 3 (1936-38), p. 105-112; SOARES, Ernesto, Dicionário de Iconografia Portuguesa, Suplemento 1, Lisboa, 1954, n. XXXVI, p. 22-25. AFONSO HENRIQUES, Dom (1111? -1185) Fundador da monarquia portuguesa, aclamado no Campo de Ourique, antes de travada a batalha. A cristofânia de Ourique trouxe-lhe, concomitantemente, a legitimação da 42 realeza de direito divino. Como se sabe, Afonso Henriques exprimiu constantemente, e desde o início da sua governação, a referência a Portugal como determinativo do grau hierárquico que encarnava. O título de príncipe ou de infante de Portugal ou dos portugueses só excepcionalmente se encontra ausente dos diplomas afonsinos anteriores a 1139. Paulo Merea encontrou e publicou um diploma a favor do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (carta testamenti et firmitudinis), feito em Março de 1139 (mense martio era MCLXXVII, i. e., quatro meses antes de Ourique), no qual Afonso Henriques por duas vezes se intitula rei dos portugueses: “Ego Alfonsus portugalensium rex comitis Henrici et regine Tharasie filius magniquoque regis Alfonsi nepos” (Ver Quando começou D. Afonso Henriques a intitular-se Rei?, in Revista de Estudos Históricos, v. 3, 1926, p. 62-67. Cf. Felipe Mateu y Llopis, Rex Portugaliae: notas sobre la intitulación diplomática de los reyes de Portugal, in Arqueologia e História, s. 8, v. 8, 1958, p. 51-66). A partir de 10 de Abril de 1140 a chancelaria (cf. Liber Fidei) passaria a chamar-lhe Rei em definitivo: “Ego egregius rex Alfonsus gloriosissimi Yspanie imperatoris nepos et consuli domini Henrici et Tarasie regine filius”. Rui de Azevedo inclui o referido diploma crúzio no grupo dos vários falsos forjados no scriptorium de Santa Cruz, cerca de 1155, por mestre Pedro Alfarde. A ser assim, os primeiros diplomas em que Afonso Henriques se designa a si próprio como rei tornar-se-iam duas Cartas de Couto (Fevereiro de 1140-1141): dos mosteiros de Muías e de Santa Marinha de Vilarinho (DMP, DR I, n. 176. Ver Rui de Azevedo, in DMP, DR I, t. 2, p. 663-665 e Erdmann, 1940, p. 61-63). Contudo, a realeza de Afonso Henriques fora reconhecida pelos seus súbditos antes de o próprio ter adoptado o título de rei, conforme se comprova por duas inscrições lapidares, ambas de 1138: uma de Soure, desaparecida, comemorativa da edificação da igreja de Nossa Senhora a 43 Finisterra, erguida junto ao castelo da localidade (“regnante comitis Henrici filio Adefonso, X anno sui regni”); outra de Santa Luzia de Campos, em Vila Nova de Cerveira (“regnante Rex Alfonsus”) (Mário Jorge Barroca, Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422), Lisboa, 2000, n. 73 e 74, respectivamente). Pelos anos de 1150-60 o nome do primeiro Afonso separar-se-ia do do reino, desaparecendo este, o que segundo José Mattoso se ficou a dever à circunstância de a personalidade do monarca se ter tornado cada vez mais absorvente e carismática (Identificação de um país, v. 2, p. 199. Em 1142 surge a expressão “rex Portugal[ensis]”, mas ainda sem o nome de Afonso. Apenas um diploma de 1132 ostenta um sinal com “infans Alfonsus”. Alfredo Pimenta (O nome de D. Afonso Henriques nos documentos medievais, in Bazar, a 3, n. 48, 17 de Março 1939) sublinha que só nos finais do Século XIII se começou a chamar a Afonso I, Afonso Henriques (filho de Henrique). Dozy (Recherches sur l´histoire et la litérature de l’ Espagne pendant le moyen âge, v. l, p. 107, nota 4) recorda que “Os Árabes davam este nome [ibn Errik] a todos os reis de Portugal, porque eles descendiam de Henrique de Borgonha”. O carisma de Afonso Henriques, tão cabalmente expresso nos selos rodados de 1183, não esmoreceu após o seu passamento. Pelo contrário, ver-se-ia fortalecido sem detrimento, ao ponto de a sua beatificação haver sido reiteradamente solicitada à Santa Sé, com especial enfâse durante o reinado de *Dom João V. António José Saraiva vem corroborar o afirmado, ao revelar ter identificado nas 3.ª e 4.ª Crónicas Breves de Santa Cruz de Coimbra “rasto de uma poesia épica de jongleur sobre Afonso Henriques”, na qual se canta a liberdade dos portugueses e que, presume o investigador, terá sido elaborada o mais tardar durante o reinado de *Dom Sancho I (História da Cultura em Portugal, Lisboa, 1950, p. 153165. A 4.ª Crónica Breve de Santa Cuz de Coimbra faculta a versão mais antiga do texto em língua portuguesa [PMH, v. l, 44 p. 29-32], ao passo que a 3.ª inclui outras tradições lendárias). O autor de uma tal gesta, acrescentou em estudo publicado posteriormente o mesmo António José Saraiva, ter-se-ia identificado com o sentimento popular ou, quando muito, não o teria engeitado, o que, necessariamente, força a concluir como, aliás, concluiu Saraiva, em face do ponto de vista nitidamente português do jogral, que esse poema épico tradicional foi forjado dentro dos limites do reino de Portugal (Sur le texte de la tradition épique d’Afonso Henriques, in Bull. des Études Portugaises de l’ Institut Français au Portugal, nova série, v. 30, 1969, p. 11-37). Por seu turno, a relação de Afonso Henriques com os crúzios foi igualmente sempre muito próxima, tendo sido recebido na Ordem Terceira dos cónegos regrantes de Santa Cruz, a 14 de Setembro de 1136. A cerimónia teve lugar na casa do Capítulo, perante 72 cónegos, tendo pregado Dom João Peculiar, o qual comparou o novo irmão ao Imperador Heráclio que, revestido com hábitos sacerdotais, transporta o Santo Lenho até Jerusalém em procissão. Bibliografia: AGUIAR, António de, As mais antigas espécies icónicas Afonsinas, in Ocidente, v. 52 (1957), p. 23-31; ANÓNIMO, A Canonização de D. Afonso Henriques, in Diário de Notícias Ilustrado (Natal, 1922); ANTUNES, José, Um Livro sempre aberto sobre Afonso I, Rei de Portugal, in Revista de História das Ideias, v. 20 (1999), p. 7-29; BASTO, Artur de Magalhães, Crónica de Cinco Reis de Portugal (ed. crítica), Porto, 1945, p. 222-226; idem, Estudos: Cronistas e Crónicas Antigas. Fernão Lopes e a Crónica de 1419, Coimbra, 1960, p. 283-284 e 289-292; BRITO, da Rocha, D. Afonso Henriques e S. Teotónio na lenda e na arte de Santa Cruz de Coimbra, in Biblos, v. 27 (1951), p. 305-320; idem, idem, Imagens de Portugal: Afonso Henriques em Santa Cruz de Coimbra, in Museu, v. 5, n. 13-14 (Jul.-Dez. 1949), p. 223-232; BROCHADO, Costa, A beatificação de D. Afonso Henriques no tempo de Pombal, in Brotéria, v. 41, n. 4 (1945), p. 289-293; idem, Tentativas de canonização de El-Rei D. Afonso Henriques, in Anais da Academia Portuguesa de História, s. 2, v. 8 (1958), p. 305-337; CASTELLOBRANCO, Fernando, O Lendário de Afonso Henriques, Lisboa, 1965; CASTRO, Augusto Mendes Simões de, Os Túmulos de D. Afonso 45 Henriques e de D. Sancho I, Coimbra, 1885; CEREJEIRA, Manuel Gonçalves Cerejeira, D. Afonso Henriques poderá ser beatificado?, in Revista dos Centenários, a. 1, n. 8 (31 Ago. 1939); ERDMANN, Carl, De como D. Afonso Henriques assumiu o título de Rei, Coimbra, 1940; GANDRA, Manuel J., A Cristofania de Ourique: mito e profecia, Lisboa, 2002; GONÇALVES, A. Nogueira, O narthex românico da igreja de Santa Cruz de Coimbra, in Petrus Nonius, v. 4, n. 1-2 (1942); idem, O Mestre dos Túmulos dos Reis, in Estudos de História da Arte da Renascença, Coimbra, 1979, p. 27-53; JOÃO DE SANTA MARIA DE JESUS, Dom, Fama Posthuma do Gloriosissimo Senhor Rey D. Affonso Henriques, primeiro Monarcha do Imperio Lusitano, com a noticia do estado da sua canonização, Quesitos sobre as acções do Senhor Rey D. Affonso Henriques em ordem á sua canonização e Interrogatorios, e Artigos para a causa da Canonização do Veneravel Rey D. Affonso Henriques (manuscritos de 1752); MAGALHÃES, Dom Francisco do Santíssimo Coração de Maria Cardoso e Castro de, Sermão pregado nas solemnes exequias do senhor Rei D. Affonso Henriques, as quais mandou celebrar, e a que assistiu com as serenissimas senhoras Infantas o muito alto e muito poderoso senhor D. Miguel I, na real basilica do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 25 de Outubro de 1832, na occasião em que fez abrir o regio tumulo d’aquele valoroso monarcha, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1832; PEREIRA, José Pinto, Apparatus historicus decem continens argumenta, sive non obscura Sanctitatis indicia, religiosissimi Principis D. Alfonsi Henrici, primi Portugalliae Regis: quem velut Phaenicis cineres, duplici Sole fovendum Sanctissimo Domino Nostro Benedicto Papae XIII et Majestati Joannis V Portugalliae, Indiae, Angolae, et Brasiliae Regis, Roma, 1728; SOARES, D. João, Inquirições tiradas pelo Bispo de Coimbra […] no reinado de D. João III sobre a santidade de D. Afonso Henriques, in Antiquário Conimbricense, n. 6 (Dez. 1841), p. 47, nota 2; TIMÓTEO DOS MÁRTIRES, Dom frei, Crónica de Santa Cruz, v. 1, Coimbra, 1955, p. 82-87 Do acervo do Palácio Nacional de Mafra constam dois retratos de Afonso Henriques: 1. Afonso Henriques e o Conde D. Henrique consultam o Livro do Destino (pormenor da abóbada da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel), pintura a fresco de *Cirilo Volkmar Machado (com *Bernardo António de Oliveira Góis), reali46 zada entre finais de 1798 e Agosto de 1800. Segundo o próprio Cirilo, esta dependência “contém a genealogia da casa Real”: o *Conde Dom Henrique mostra-se à sinistra de Afonso Henriques, envergando armadura e apoiando-se em escudo com uma cruz lavrada. À dextra do rei fundador, o *Destino (trajando de azul claro) segura o seu Livro com a mão esquerda, apontando, com a direita, para a *Providência, perante a atitude de reverência aos Céus de *Hugo Capeto. À esquerda do Conde Dom Henrique, sobre uma balaustrada, os retratos de *Dom Sancho I, *Dom Afonso II e *Dom Sancho II; à direita da personificação do Destino, os retratos dos restantes monarcas da primeira dinastia. Próximo de Afonso Henriques observa-se *Dom João I. A cena denuncia reminiscências do Milagre de Ourique. Os esbocetos preparatórios de Cirilo para este fresco guardam-se no *Museu Nacional de Arte Antiga. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural 47 ’95, Mafra, 1996, p. 320-323; idem, Iconografia mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 139, n. 1; MACHADO, Cirilo Volkmar, Aditamento, in As Honras da Pintura, Esculptura, e Architectura de João Pedro Bellori, Lisboa, 1815, p. 118; idem, Descrição das Pinturas do Real Palácio de Mafra, in Rev. de Arqueologia, t. 3 (1936-38), p. 108-111; SOARES, Ernesto Soares, Dicionário de Iconografia Portuguesa, Supl. 1, Lisboa, 1954, n. XXXVI, p. 22-25. 2. Lenda do Baptismo de Afonso Henriques [inv. 1763], estudo ou esboceto (c. 1803-1806) a óleo (sobre madeira de carvalho; 0,194 x 0,297 m) de Domingos Sequeira para a Lenda do Baptismo de D. Afonso Henriques, série temática destinada a uma das salas da Ajuda, cujas telas seguiram, em 1807, para o Brasil com a família real, desconhecendo-se o seu actual paradeiro. Iconografa um episódio supostamente ocorrido durante o baptizado do futuro monarca fundador da nacionalidade: um nobre cavaleiro excomungado e, por conseguinte, interditado de entrar em solo consagrado, tendo violado a proibição, é acometido de convulsões que o pros48 traram, sendo assistido pelo bispo São Geraldo, que pronuncia o exorcismo conveniente. Proveniente da Galeria de Pintura do *Palácio Nacional da Ajuda. No *Museu Nacional de Arte Antiga existe, além de outro estudo para a mesma composição [inv. 1648 P], um desenho a traço e aguarela nankim sobre papel [inv. 2406 Des], apresentando algumas variantes relativamente a ambos, designadamente em termos de acabamento, o que pode indiciar a circunstância de ter sido realizado a partir da pintura definitiva. Bibliografia: BEAUMONT, Maria Alice, Domingos António de Sequeira: Desenhos, Lisboa, 1972-1975; CARVALHO, Ayres de, Discurso de Abertura das Comemorações do 150.º aniversário da Fundação da Antiga Academia Real de Belas-Artes (1836-1986) proferido pelo Presidente da ANBA, Prof. Pintor […] em 26 de Novembro de 1986, Lisboa, 1991, p. 16; Sequeira, um Português na mudança dos tempos (1768-1837), Lisboa, 1997, n. 163, p. 218-219, n. 169, p. 222 e n. 170, p. 223; GANDRA, Manuel J., Iconografia mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 139-140, n. 2; VITORINO, Pedro, Notas artísticas e arqueológicas: as máquias do pintor Sequeira, in Lusa, v. 3, n. 48 (1919-1920). AFONSO HENRIQUES, Infante Dom (31.7.1865-21.2.1920) Irmão do rei *Dom Carlos. Duque do Porto e vice-Rei da Índia. Visitou Mafra na companhia do monarca, em 1891. Cf. anedota a seu respeito no Boletim Cultural ‘94 (p. 376). 49 AFONSO II, Dom (1186-1223) Rei de Portugal (1211-1223), cognominado o Gordo. As leis que fez promulgar nas Cortes de Coimbra (1211) inauguraram uma tradição de autonomia do poder civil que podem justificar os reiterados conflitos com a autoridade eclesiástica, que se prolongariam até ao reinado de Dom Dinis. A dita legislação revela substancial novidade no que concerne à definição e distinção entre os poderes espiritual e temporal, suscitando em José Mattoso (cf. As concepções de Afonso II, in Identificação de um país: ensaio sobre as origens de Portugal – 1096-1325, v. 2, Lisboa, 1985, p. 87-92) a tentação de comparar a actuação política deste monarca à de Frederico II, porém vinte anos antes dele. Com efeito, Afonso II, sublinha o mesmo autor, “transpôs para o domínio político não poucas ideias de Inocêncio II, reivindicando em seu favor o princípio da autonomia do príncipe. Foi ele que proclamou aquilo que os glosadores do Liber Augustalis ou Constituições de Amalfi (1231) chamam o novo direito. Aí, de facto, apresenta-se a si próprio como uma fonte de onde brota a Justiça, como o defensor dos fracos injustamente oprimidos, o novo César que só presta contas ao julgamento da razão, que é a mãe do direito”. Presume-se que tenha bebido a concepção de poder (supremo, independente e universal) que adoptou, e que daria uma coerência nova à sua governação, nos legistas da corte de seu pai e, designadamente, em mestre Julião, a quem recompensaria generosamente logo após o início do seu reinado, bem como em mestre Vicente. Este afirmava, na esteira de Hoguccio, que o Imperador recebe directamente de Deus o poder sobre as coisas temporais, dependendo da Igreja apenas naquilo que depende do espiritual, sublinhando ainda que, na Hispânia, o rei se assemelhava a um Imperador, porquanto não recebia o gládio do Papa. Tal doutrina de *mestre Vicente é exposta no prólogo das leis de 1211, no passo onde é estabelecido um paralelismo entre as leis régias e os decretos 50 de Roma, declarando nulas quaisquer futuras leis e acções que adversarem umas ou outras. Torna-se óbvio por que razão Afonso II, reage contra os decretos laicales de frei Soeiro Gomes, segundo os quais a pena de confiscação dos bens dos hereges caía sob a alçada da lei eclesiástica, uma vez que na perspectiva dos legistas régios tal pena não passaria de uma questão temporal. No seu testamento (27 de Junho de 1214) ordenou que a terça dos seus bens fosse partida “igualmente em cinco partes”, uma das quais destinada a Alcobaça, onde mandava deitar o seu corpo, a outra ao mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, a terceira aos templários, a quarta aos hospitalários e a quinta ao bispo de Braga e ao arcebispo de Santiago de Compostela [ANTT: Mitra de Braga, caixa 1, n. 48]. Acha-se retratado, à esquerda de *Dom Sancho I, na abóbada da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel, numa pintura a fresco realizada por *Cirilo Volkmar Machado (com *Bernardo António de Oliveira Góis), entre finais de 1798 e Agosto de 1800. Bibliografia: CINTRA, Luís Filipe Lindley, A Prosa Medieval Portuguesa, Lisboa, 1996, p. 43-48; GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural ’95, Mafra, 1996, p. 320-323; idem, Iconografia mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 140, n. 4 AFONSO III, Dom (1210-1279) Rei de Portugal (1248-1279), cognominado o Bolonhês. Retratado, à direita da personificação do Destino, na abóbada da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel, numa pintura a fresco realizada por *Cirilo Volkmar Machado (com *Bernardo António de Oliveira Góis), entre finais de 1798 e Agosto de 1800. No escudo ostenta, consoante a descrição de Cirilo, “as quinas de Portugal sobre os Castelos do Algarve”. 51 Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural ’95, Mafra, 1996, p. 320-323; idem, Iconografia mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 141, n. 6 AFONSO IV, Dom (1291-1357) Rei de Portugal (1325-1357), cognominado o Bravo. Correspondendo ao apelo do genro, participou na Batalha 52 do Salado (30 de Outubro de 1340), frustrando a derradeira tentativa muçulmana de recuperação do domínio sobre a Península Ibérica e originando um poema épico (Poema da Batalha do Salado de Afonso Geraldes de Montemor) onde encarna o papel do monarca predestinado para a preparação da Parúsia, sob o título de Leão dormente, prefiguração do *Encoberto. Por ter decidido eliminar fisicamente Dona Inês de Castro originou graves confrontos com seu filho, o futuro *Dom Pedro I (1355-1356). António Ribeiro dos Santos (cf. Memórias históricas sobre alguns Mathematicos Portuguezes, e Estrangeiros Domiciliários em Portugal, ou suas conquistas, in Memórias da Litteratura Portugueza da Academia Real das Sciencias de Lisboa, v. 8, p. 151) afirma que durante o reinado de Dom Afonso IV “é que o estudo das Matemáticas começou de se introduzir neste Reino [Portugal]: consta que […] era muito dado às especulações desta Ciência [*Astrologia] e, particularmente, às de Astronomia; e que por esta causa não só alguns nacionais, mas também estrangeiros, assim mouros, como judeus, que viviam em Portugal, cuidavam desveladamente desta Ciência, como coisas de que tão grande Príncipe levava contentamento. Contudo, parece que a maior parte dos cuidados dos estudiosos se encaminhava à Astrologia judiciária […], em que se fazia aplicação dos conhecimentos das Esferas, para se formarem conjecturas e prognósticos sobre os tempos e as pessoas pela observação do aspecto dos planetas e conjunção dos astros predominantes e influência das estrelas”. O seu retrato incluído nos Elogios dos Reis de Portugal (Lisboa, 1603) de frei Bernardo de Brito, foi tirado a partir de uma representação deste soberano personificando um dos reis Magos de um retábulo do mosteiro de Odivelas. Em Mafra acha-se figurado, à esquerda de *Dom Dinis, na abóbada da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel do Palácio Nacional de Mafra, numa pintura a fresco realizada por *Cirilo Volkmar 53 Machado (com *Bernardo António de Oliveira Góis), entre finais de 1798 e Agosto de 1800. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol Cultural ’95, Mafra, 1996, p. 320-323; idem, Iconografia mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 143, n. 14 AFONSO VI, Dom (1643-1683) Rei de Portugal (1656-1668), cognominado o Vitorioso. Hemiplégico e débil mental, herdou o trono aos dez anos por morte do irmão, Dom Teodósio, tendo sido aclamado aos treze anos incompletos. O controlo efectivo do poder coube a Dom Luís de Vasconcelos e Sousa, 3.º conde de Castelo Melhor, que foi provido no cargo de escrivão da puridade. *António Vieira comunica por carta a Dom Rodrigo de Meneses (Carta, 3 de Março de 1664) que o jesuíta Francisco Guedes, tomando “por problema dos futuros contingentes se havia de vir ou não el-rei Dom Sebastião”, afirmara ser este monarca “o verdadeiro Encoberto profetizado”. Noutra ocasião o próprio António Vieira o apresentaria como *Encoberto (Defesa do Livro intitulado Quinto Império), tal como *Cosme Ferreira de Brum (Catálogo dos Reis de Portugal, obra apenas conhecida por intermédio da Biblioteca Histórica de José Pinto de Sousa, que afirma: “Na Dedicatória ao Senhor Afonso VI enuncia ser este Monarca o Príncipe de Portugal, encoberto na conformidade de uns inculcados vaticínios”). Em 1669 os sebastianistas sustentavam que o monarca deposto “não descansa, de dia e noite, de clamar por el Rei Dom Sebastião, seu tio, que acabe de chegar a dar-lhe a sua liberdade e seu Reino” (cf. Monstruosidades do Tempo e da Fortuna, v. 2, Barcelos, 1939, p. 61). O freire professo da Ordem de Cristo, doutor João Correia Peixoto, aplica a este monarca duas estâncias do 54 Primeiro Corpo das Trovas de *Bandarra e, designadamente a estância 100: “O Rei novo é elegido, / E escolhido, / Já alevanta a bandeira / Contra a Grifa parideira / Que tais pastos tem comido; Porque haveis de notar, / E assentar / Aprazendo ao Rei dos Céus / Trará por ambas as Leis, / E nestes seis / Vereis coisas de espantar” (cf. Oração fúnebre nas Exéquias reais […] del Rei Dom João IV na insigne colegiada de Ourém em Dezembro de 1656, Coimbra, 1657, p. 12). Também o teólogo, filósofo e astrólogo António Pais Ferraz prognostica o *Quinto Império para Afonso VI no seu Discurso Astrológico das influências da Maior conjunção de Júpiter e Marte, que sucederá neste ano de 1660, a 8 de Agosto, observada e calculada para o Meridiano desta Corte, cabeça de Portugal, nele se trata da exaltação de Portugal, dos princípios de seu Império e de suas felicidades (Lisboa, Domingos Carneiro, 1661 [BA: 55-IV-27 (4.º)]). Por seu turno, Suassuna, em A Pedra do Reino, atribui-lhe um papel escatológico no advento do *Império Universal. Dom Afonso VI acha-se retratado num medalhão da parede poente da *sala dos Destinos ou *sala segunda do Dossel do Palácio Nacional de Mafra, entre as estátuas da *Tristeza e da *Infelicidade. O Busto foi pintado a fresco, durante a década de 1950, por *Ayres de Carvalho, conforme projecto de *Cirilo Volkmar Machado. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia mafrense: Regália Portuguesa (Roteiro de uma Exposição virtual), in Boletim Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 144, n. 18; MACHADO, Cirilo Volkmar, Aditamento a As Honras da Pintura, Escultura e Arquitectura de João Pedro Bellori, Lisboa, 1815, p. 119; idem, Descrição das Pinturas do Real Palácio de Mafra (edição de J. M. Cordeiro de Sousa), in Revista de Arqueologia, t. 3 (1936-38), p. 110 AFONSO DA CONCEIÇÃO, Frei (f. 1741) Religioso da Província da Arrábida, seu Pro-Ministro no Capítulo Geral de Roma. Autor do Sermão Panegyrico, e 55 Gratulatorio, Prégado no dia oitavo do Solemnissimo Oitavario da Dedicação do Real Templo de Mafra na Presença Del Rey D. Joam V. seo Fundador, e dos Serenissimos Senhores Infantes D. Francisco, e D. Antonio (Lisboa, Francisco Luís Ameno, 1751 [PNMafra: BVolante 2-11-7-17 (1.º) e 2-11-6-3 (10.º)]), oferecido a *Matias Aires Ramos e impresso postumamente. *Dom António. AFONSO TEXEDOR, Don Colegial do Colégio maior de Santo Ildefonso da Universidade de Alcalá, Opositor consultado nas Cadeiras dela, Cónego Magistral da Catedral de Placência, Examinador Sinodal do mesmo Bispado e Cónego Magistral da Igreja Patriarcal de Sevilha. No dia 10 de Novembro de 1750 pregou o Discurso Sagrado, Politico Moral, nas sumptuosas Exequias que a muito nobre, e muy leal cidade de Sevilha consagrou ao Fidelisssimo Senhor D. João V Rey de Portugal, e dos Algarves, no magnifico Templo da Santa Metropolitana, e Patriarcal Igreja da mesma Cidade, na presença dos Illustrissimos Cabidos Ecclesiastico, e Secular, e dos gravissimos Tribunaes do Real Senado, e da Santa Inquisição, acompanhados de todos os Seus Dependentes, e Ministros, com a ostentação que se costuma na dita Santa Igreja (traduzido da lingua castelhana e dedicado ao Colégio dos Excellentíssimos e Reverendíssimos Senhores Príncipes da Santa Igreja de Lisboa; Lisboa, Francisco Luís Ameno, 1751 [BN: L 1308 A]). Dedica algumas reflexões ao Monumento de Mafra (a p. 19, n. 24): “[…] que direi se aplico a atenção ao Convento de Nossa Senhora e Santo António, junto à Vila de Mafra? Este Santuário não só no material é um riquíssimo agregado de portentos: as estátuas parecem animadas; os jaspes transparentes espelhos; as pinturas (que mágoa!) ainda que maltratadas dos ventos salitrosos do Oceano, são primoroso desempenho de seus célebres Autores; a copiosa multidão de sinos, o relógio 56 de uma música perene, os seis órgãos do Templo e outros realces do poder, em que quase exauriu a arte a sua valentia e os seus primores, tudo servia de estímulo à minha tibieza, de tudo podia muito bem aproveitar-se o espírito. Até a finíssima calçada de sete léguas de distância, que vai de Lisboa a este sítio, foi um rasgo da sua propensão piedosa, para fazer mais comunicável a seus vassalos aquela portentosa maravilha. O culto, que ali se dá à Majestade suprema é um perpétuo milagre: trezentos e sessenta Religiosos Franciscanos da Reforma de S. Pedro de Alcântara (que vi juntos no Coro e Refeitório) são os cuidadosos e vigilantes obreiros desta mística herdade. E como os seus alimentos saem do Tesouro Real, alternam sem distinção os louvores Divinos, com os desvelos do estudo: nas suas Aulas e nos seus claustros vivem, como em sua própria morada, aquelas Artes e Ciências que fomentam a erudição mais sólida e mais firme […]”. A. FONTOURA DA COSTA Em A Marinharia dos Descobrimentos (1960) referencia obras da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra. A. FULLARTON Subscritor de uma gravura em aço (0,13 x 0,15 m), estampada em Londres (1832?), iconografando a Real Obra de Mafra. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra (desenho, pintura e gravura, até 1900), in Boletim Cultural ’97, Mafra, 1998, n. 37, p. 243 A. GERMOND DE LAVIGNE Em 1866, este francês, membro da Academia Espanhola, reeditou o Itinéraire descriptif, historique et artistique de l’ Espagne et du Portugal (Paris). Opina que Mafra, além de ter arrui57 nado Portugal, é uma “confusão de construções sem pensamento e sem estilo” (p. 661-662). AGNUS DEI Amuleto cristão, talvez originado nos discos de cera que os Romanos ofereciam durante as Saturnálias. Pequeno medalhão feito da cera de um círio pascal (cujo resto era desfeito na festa da *Ascensão, para ser distribuído aos fiéis em pequenos pedaços), em que se gravava um cordeiro. Queimava-se em casa, nos campos ou nas vinhas, sendo considerado poderoso preservativo contra o demónio, as trovoadas e as tempestades. Em Roma, o arcedíago tomava outra cera (que não a de um círio pascal), benzia-a, ungindo-a com bálsamo e santos óleos, fazendo dela pequenas figuras de cordeiros que distribuia pelos fiéis. Posteriormente, passaria a ser benzido na capela Sistina pelo Papa no primeiro ano do seu pontificado e, depois, de sete em sete anos, durante o tempo pascal: o próprio pontífice distribui o Agnus-Dei solenemente, no Sábado in albis, aos cardeais, bispos e outros assistentes admitidos às cerimónias. Usado ao pescoço protege contra feitiços. Os juízes de processos de feitiçaria eram aconselhados a usá-lo pelos autores do Malleus Malleficarum. Jerónimo Cortez assevera que “quem o levar consigo, será livre de temporais, tormentos, de saraiva, coriscos e raios” (Fisiognomia e vários segredos da natureza, Coimbra, 1706, p. 162), acrescentando que “será também [o portador] preservado de peste, de gota coral, e de morte súbita, como o Sumo Pontífice pede a Deus em uma das orações que recita quando os sagra”. Os navegadores portugueses a ele recorriam em momentos de aflição, como se constata pela passagem seguinte da História Trágico-marítima (Relação do naufragio da nao Santiago, no ano de 1585, tomo 2, 1736): “[…] Mas quis Nosso Senhor, que amainou logo o vento pela virtude dos Agnus Dei, e relíquias que deitaram 58 ao mar”. Em algumas regiões do país usa-se como amuleto contra as sezões, porém é no domínio da obstetrícia que obtém maior aplicação: “Também tem virtude muito grande para livrar as mulheres, que estão de parto, de todo o perigo dando-lhes esforço, e ânimo naquele aperto” (Lunário e prognóstico perpétuo geral, Lisboa, 1757, p. 262) ou como sugere Jerónimo Cortez: “Notai uma grande excelência, e virtude do Agnus Dei e é que a mulher, que andar de parto, e estiver em perigo de não poder parir, lhe dareis três pedacinhos pequeninos a beber em uma pouca de água, e tendo fé parirá sem lesão nem perigo, como muitas vezes eu vi: E tendo devoção de dizer “Agnus Dei, miserere mei, qui passus es pro nobis, miserere nobis”. Em 17 de Novembro de 1717, foram depositados no *alicerce da capela mor da *Basílica de Mafra, da parte do Evangelho, dentro de duas caixas de ouro redondas, outros tantos Agnus Dei: um de Inocêncio XI e outro do Pontífice reinante. AGOSTINHO, Frei Sentença régia, datada de 1 de Outubro de 1791 e dada no mosteiro de Mafra, mandou despir o hábito e expulsar este *corista da Ordem dos *Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, “por seus enormes crimes”, partilhados por outros dois, *frei Eusébio e *frei Francisco, igualmente expulsos. AGOSTINHO, Santo (354-430) Aurélio Agostinho. Maniqueísta, convertido pela cataquese de *Santo Ambrósio, baptizado em 387, e, posteriormente (ano 395), sagrado Bispo de Hipona. Após a sua fase milenarista, observou uma atitude reservada face a todas as questões respeitantes ao futuro. Adopta a divisão da história em seis idades (aetates) em correspondência com os seis dias da criação, de Hipólito de Roma (séc. III), mas, ao invés dele, opta pela contagem das gerações em vez de atribuir mil anos 59 a cada idade: 1. Infantia = de Adão ao dilúvio (10 gerações); 2. Pueritia = do dilúvio a Abraão (10 gerações); 3. Adolescentia = de Abraão a David (14 gerações); 4. Iuventus = de David ao cativeiro babilónico (14 gerações); 5. Gravitas = do cativeiro à Encarnação (14 gerações); 6. Senectus = da Encarnação ao fim do Mundo (em oposição aos quiliastas, deixa indeterminada a duração desta idade entre as duas vindas de Cristo); 7. Quies = um Sábado sem fim, fora do tempo (cf. De Civitate Dei, XXII, 30, 5). Fernão Lopes adopta este esquema da história nas suas Crónicas, nomeadamente na de Dom João I, a cuja missão escatológica confere legitimidade. Santo Agostinho foi o fundador do conceito cristão de Estado, o qual é uma inclinação natural outorgada por Deus, uma criação mediata deste, que deve contribuir para que o homem logre preparar-se para a vida futura (a Cidade de Deus). Santo Agostinho protagoniza no Auto da Alma de Gil Vicente uma extraordinária dissertação teológica: a Igreja põe a mesa para reconfortar a alma que o diabo tentara e Santo Agostinho é o primeiro dos doutores chamados a apresentar ao pecador os manjares da salvação. Referências negativas à astrologia nas Confissões e na Cidade de Deus, porquanto a submissão de todos os actos da vida humana às revoluções dos astros, tem por consequência a negação do livre arbítrio humano: “O bom cristão deve guardar-se dos matemáticos e de todos os que se entregam às adivinhações ímpias, sobretudo quando as suas predições são verdadeiras, de modo que essas pessoas, de acordo com os demónios não enganem o seu espírito e não enlacem a sua pessoa nas redes de um pacto de sociedade diabólica”. A sua obra, quer a autêntica, quer a apócrifa teve enorme difusão nas bibliotecas medievais portuguesas. É um dos Doutores da Igreja, padroeiro dos teólogos e dos impressores. A iconografia figura-o ora revestido das vestes próprias da sua dignidade episcopal, com um livro (atributo dos doutores), ora osten60 tando um coração inflamado na mão direita, alusão ao amor ao próximo que o abrasou (cf. Confissões, IX, 2, 3). Na *capela de Jesus Cristo Crucificado (altar 10) da *Basílica de Mafra observa-se uma escultura de vulto (mármore; h=2,45 m) de Santo Agostinho de autor italiano, não identificado. Obra na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra Confessionum libri tredecim (Antuérpia, João Gymnicus, 1546 [2-82-1-4]); Las Confessiones de S. Augustin (Colónia, Herdeiros de Arnaldo Birckman, 1556 [2-82-1-5]); Operum, Tomus decimus (Veneza, Juntas, 1584 [2-82-513]); Principia rhetorices (Paris, Adriano Périer, 1599 [220-8-9]); De Grammatica Liber (Hanau, Cláudio Marnius e herdeiros de João Aubriug., 1605 [2-19-5-15]); De Rhetorica Ecclesiastica, Liber, qui est IV de Doctrina Christiana (Veneza, Nella Salicata, 1643, 7 vols. [2-20-77/13]); Principia Rhetorices (Veneza, Nella Salicata, 1643, 7 vols. [2-20-7-7/13]); Confessionum (Lião, Simão Rigaud, 1647 [2-82-1-3]); De Doctrina Christiana libri quatuor (Paris, Frederico Léonard, 1661-1664, 5 vols. [2-82-67/11]); La Ciudad de Dios (Antuérpia, Jerónimo Verdussen, 1676 [1-51-11-7]); Meditationes, Soliloquia et Manuale (Colónia, Cornélio d’Egmond e sócios, 1702 [282-1-2]); Operum, tomus primus (Veneza, Giovanni Battista Albrizzi, 1729-1735, 8 vols. [1-51-2-16/23]); Las Confessiones (Antuérpia, João Baptista Verdussen, 1747 [2-82-1-6]); Meditaciones, soliloquios, y manual [...], traducidas por el Padre Pedro de Ribadeneyra [...] (Lião, Jaime Certa, 1747 [2-82-1-25]) Bibliografia: CALADO, Adelino de Almeida, Uma versão quatrocentista de sermões pseudo-augustinianos, in Arquivo de Bibliografia 61 Portuguesa, a. 2 (1956), p. 81-97; COURCELLE, P. e J., Iconographie de Saint Augustin: les Cycles du XIV siècle, in Études Augustiniennes (1965); idem, Iconographie de Saint Augustin: les Cycles du XV siècle, in Études Augustiniennes (1969); FERNANDES, Álvaro Ferrand de Almeida, Catálogo das obras de Santo Agostinho existentes na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Revista Portuguesa de Filosofia, t. 11,, v. 1, n. 2 (Abr.-Jun. 1955), p. 193-196 [catálogo concluído em Março de 1954]; MARTINS, Mário, Os Solilóquios e Meditações do PseudoAgostinho, em medievo-português, in Brotéria, v. 55 (1952), p. 168-177 e in Estudos de Literatura Medieval, Braga, 1956. p. 191-200; idem, Santo Agostinho nas Bibliotecas Portuguesas da Idade Média, in Rev. Portuguesa de Filosofia, t. 11, v. 1, n. 2 (Abr.-Jun. 1955), p. 166-176; MARTINS, Noémia Mendes, Santo Agostinho – As Confissões: exposição bibliográfica e iconográfica, Lisboa, 2000; PEREIRA, Isaías da Rosa, No XVI Centenário do Baptismo de Santo Agostinho: as obras de Santo Agostinho nas bibliotecas medievais portuguesas, in Anais da Academia Portuguesa de História, s. 2, v. 34 (1993), p. 109-115 AGOSTINHO CORSINI (1688-1772) Bolonhês, autor das estátuas de *Santo Inácio de Loiola (1733) e de *São João de Deus, colocadas na *galilé ou *átrio da *Basílica de Mafra. AGOSTINHO MASUCCI (1692-1758) Discípulo de Carlo Maratta e académico da *Academia de São Lucas (Roma). Pintou uma *Sagrada Família (1729) para a *Basílica de Mafra e uma *Coroação de Nossa Senhora pela Santíssima Trindade (1732) para a *capela do Santíssimo Sacramento (também denominada da *Assunção de Nossa Senhora), considerada por Paolo Quieto (p. 100) inspirada no esquema compositivo de A Glória de São Carlos e Santo Ambrósio (igreja de S. Carlo al Corso) de Maratta. Numa carta, remetida para Roma, em 10 de Janeiro de 1731, *José Correia de Abreu confessava que “Sua Majestade se não satisfaz cada vez mais, de ver o painel da Sagra [sic] Família 62 que fez o Agostinho Massucci, e assim me ordenou dissesse a Vossa Reverendíssima que lhe desse mil louvores e que o não manda regalar logo (como faz tenção) por esperar ver o quadro da Santíssima Trindade coroando Nossa Senhora que ele está fazendo da mesma grandeza; que permita Deus tenha igual aplauso […].” (Ayres de Carvalho, Dom João V e a Arte do seu tempo, v. 2, Lisboa, 1962, p. 413). *Anunciação. Bibliografia: QUIETO, Pier Paolo, Agostino Masucci (1692-1758), in Joanni V Magnifico, Lisboa, 1994, p. 349-353 AGOSTINHO DA NATIVIDADE, Frei Substituto de Metafísica (1743), Lógica (1744) e Leitor de Física (1746). Presidiu à Certamina Theologica De Visione Beatifica […] (Lisboa, 1752), defendida por *frei João de São Boaventura. AGOSTINHO PEREIRA Presbítero secular e ministro da igreja de São Nicolau, de Lisboa. Autor da Oração funeral, historica, e panegyrica, que para as reaes exequias, e solemnissimas honras celebradas pela Congregaçaõ da Senhora da Caridade, na Prioral Igreja de S. Nicoláo desta Corte em o dia 29 de Agosto de 1750, dedicada a *Dom João V “e por certo motivo, que houve, a não recitou” (Lisboa, Francisco da Silva, 1750 [BN: R 8839 P]). Acerca do Monumento de Mafra escreve (p. 10): “Aquele Rei que, como outro Jacob, não só para completa satisfação de um voto, que fizera a Maria Santíssima, e ao Taumaturgo Português Santo António, lhes edificou na Real Vila de Mafra um Templo com tal arquitectura, e primor, que sem hipérbole se lhe pode chamar o mais célebre do mundo todo”. ÁGUA BENTA A igreja sacraliza a água pela benção litúrgica, por cuja intervenção é obtida a água benta, a qual encarna uma virtude 63 transmitida. A água benta purifica e clarifica todas as coisas, afugenta os demónios, protege das doenças, garantindo a salubridade e a paz de Deus. Usa-se nos exorcismos (para afugentar os espíritos malignos), no *baptismo, etc. Na missa simboliza o suor que se misturou ao sangue de Cristo no horto, bem como àquele que saíu do seu flanco ferido pela lança do centurião Longinus. O sal, alimento primeiro e remédio fundamental, vem completar o simbolismo da água benta e contrariar as influências maléficas que poderiam impedir esta de expressar todas as suas virtualidades. Da água benta misturada com sal a Igreja espera a “saúde da alma” e também a do corpo, na medida em que a acção corruptora do pecado é contrariada por este profilático. No exorcismo do sal, que abre a benção da água, a liturgia recorda um episódio pouco conhecido da vida da Igreja (2 Reis, II, 19-22). A primeira menção à água benta lê-se nas Actas de Pedro, escrito gnóstico composto por volta do ano 200: como Simão Mago habitara em casa do Senador Marcellus antes de haver sido convertido por S. Pedro, Marcellus tomou água e invocando o Santo Nome de Jesus Cristo aspergiu toda a sua casa dizendo uma oração. Na Igreja oriental são conhecidas fórmulas de benção da água remontando ao séc. III, destinadas a aliviar os doentes e proteger do demónio. No Ocidente a água benta somente no início do séc. VI aparece, indubitavelmente. O Liber Pontificalis, redigido nessa época, menciona a benção da água misturada com sal para aspergir as casas. Segundo o compilador dessa obra a iniciativa da introdução da prática ter-se-ia ficado a dever ao Papa Alexandre I (107-116?), apesar de não constar que tivesse sido conhecida quer por *Santo Agostinho quer por Cesário de Arles. As fórmulas actualmente prescritas para a benção da água datam do séc. VII, inspirando-se num ritual romano-galicano e constando do Sacramentário gelasiano. *Pia de água benta. 64 ÁGUA FÉRREA, Chafariz da Chafariz n. 26 da *Segunda Tapada ou *Tapada do Meio: as suas águas servem para o gado se dessentar, numa pia que está junto ao tanque. ÁGUA FÉRREA E PURGATIVA, Fonte da Fonte n. 25 da *Segunda Tapada ou *Tapada do Meio. Fica perto e ao poente do chafariz denominado da *Água Férrea (n. 26), a pequena distância do *Barracão e a 50 metros do muro que divide a Primeira da Segunda Tapada. As suas águas correm em duas bicas, numa casa abobadada e em plano inferior ao terreno natural, para a qual se desce por uma escada de 8 degraus. A análise realizada pelo cirurgião F. d’ A. Baleizão, em 1845, concluiu que tinha à data “muito gás carbónico livre e combinado com bases de cal e outras, etc.”, porém nada adiantava quanto às virtudes terapêuticas (contra complicações gastro-intestinais), apontadas por 65 alguns (Analyse chimica da agua chamada ferrea da Real Tapada de Mafra, in Gazeta Médica do Porto, t. 2, 1844, p. 156). Em 1921, a água purgativa foi considerada única no género, “por não haver no país nenhuma que se lhe assemelhe em composição química”. A análise realizada na Escola Industrial Marquês de Pombal, no ano de 1898, revelou a existência nela de sais de magnésia, potássio, sódio, cálcio e ferro (O Liberal, 13 Fev. 1921). A sua água acha-se hoje misturada com outras no mesmo aqueduto. ÁGUA NO CONVENTO Por ter descoberto e conduzido para a *Real Obra, “com o maior zelo e cuidado”, diversos mananciais de água, foi *Don Adriano Gavila promovido no posto de capitão engenheiro por *Dom João V. *Valério Martins de Oliveira (Advertências aos modernos, que que aprendem os Ofícios de Pedreiro e Carpinteiro, Lisboa, 1748, p. 153-157) escreve: “Neste sumptuoso Convento há várias, e magníficas fontes de preclaríssimas águas nascediças, de várias, e muitas qualidades, todas doces, mas com diferentes nascimentos, umas mais temperadas no calor, que outras; porque na fundação do Convento à superfície da terra nascia água em abundância; de sorte, que para poderem fundar a grandeza deste edifício sangraram a terra com admiráveis canos por baixo da superfície em vários lados de todo deste edifício, para formarem este majestoso, e nunca visto Convento; porque toda esta singular maravilha tem um zimbório, que fecha o cruzeiro da igreja violentável na sua perspectiva, revestido de muitas, e variadas cores de pedras, que lhe faz uma gala, como a Primavera no Verão, com ricas, e admiráveis serventias no grosso de suas paredes, que dá luz ao cruzeiro, como o Sol ao meio dia. Todo o mais Convento é gravemente fechado de muitas, e singulares abóbadas de várias direcções, e circunstâncias nunca imaginadas, porque toda a gran66 deza deste Convento não se pode explicar. Não há em parte nenhuma madeiras, tudo abóbadas magníficas, e reverentes; só as portas, que fecham esta Clausura, é madeira, tudo o mais é majestoso. Suposto as suas águas, como todas geralmente saem do mar, por virtude da comunicação da terra se faz doce, segundo a parte da terra, porque passa, e tem diferente qualidade; porque a água, que todo o ano nasce em fonte, que ferve ao pé deste Convento, boa, muito salutífera a sua qualidade; a sua origem do nascimento é meia, e quarta, e oitava manilha de água mui bastante, que enche dois tanques, um ao longo do outro vistosos; e a razão desta água ser deste modo, segundo a experiência, é, porque a sua passagem, e veias, por onde corre para os canos, não deixa de ter coisa de enxofre: há um maravilhoso lago de água nascediça dentro da cerca gravemente grande, murado com os seus assentos em redondo, para recreação do Convento, com suas majestosas Arcas de água com chaves de bronze, donde desfecham quando querem, que correm sem violência alguma para o necessário deste edifício. Nascia outra qualidade de água atrás do Convento quando se fundava, a quem chamavam a Fonte das Almas: era frigidíssima de Verão, e de Inverno. Esta água nasce sempre fria, por razão de seus canos passarem pela segunda região, e princípio da terceira, a qual por ser sumamente fria, […], faz que a água por ela venha tão fria que, metendo a mão nela e por sua muita friura, se não pode sofrer. Esta qualidade de água é prejudicial a beber-se. Esta fonte logo se perdeu com a feitura do Convento, e beber-se em todo o tempo, porque decepa entranhas, causa ar, recolhimento de membros, como a experiência o mostra”. ÁGUA NO JARDIM DO CERCO No Real Edificio Mafrense visto por fora e por dentro (fl. 195197 e 205-210), *frei João de Santa Ana descreve minuciosa67 mente a localização das canalizações, bem como a origem e o destino das águas que circulam na antiga *Cerca conventual. Ruas por onde passam os canos No fundo do pátio que está junto à portaria do Norte, está um portão designado na planta pelo n. 181 e é aqui a principal entrada para a Cerca e o princípio de uma rua muito comprida designada na planta pelo n. 184, a qual vai em linha recta de Poente a Nascente e no fim tem um portão por onde se entra para a Tapada, cujo portão fica defronte do da entrada principal para a Cerca […]. Ao lado esquerdo dela e junto ao portão da entrada indicado pelo n. 181 começa outra rua que vai de Sul para Norte e encostada ao muro que olha para o Poente até chegar à parede das Reais Barracas, onde volta para o Nascente e indo encostada ao muro do Norte, passa junto à mãe de água onde vem ter o cano da Tapada [proveniente do Sonível], como já se disse. O princípio desta rua está designado na planta pelo n. 183 e ainda que ela circula toda a Cerca, contudo os outros lados nenhuma relação têm com os canos da água. Entre a rua n. 184 e a rua n. 183, no lado do Norte, há outra, que principiando no meio da rua n. 183, no lado Poente, caminha em linha recta para o Nascente e está bem no meio das duas colaterais. Entre esta rua média e a rua n. 184 está uma grande nora um pouco mais ao Nascente do sitio indicado na planta pelo n. 185 que designa a parte do bosque. Ao Norte da dita nora está o grande tanque no meio da rua intermédia e à roda dele há um largo cercado de assentos e de bosque, ao qual vem ter outra rua que atravessa da rua n. 184 e passando pela nora e pelo largo do tanque, vai acabar junto às Barracas 68 Reais, isto é, na parte da rua n. 183 que fica voltada para o Norte. Do largo do tanque continua a mesma rua intermédia em linha recta e vai acabar no fundo da Cerca ao lado do Nascente e entre ela e a rua n. 184 está um jardim que tem o seu princípio junto à nora e vai acabar onde as ditas ruas são cortadas por outra, que se estende de Norte a Sul e passa ao Nascente do sitio indicado na planta pela letra K. Próximo ao muro do Norte onde começa a dita rua tem princípio outra que indo de Noroeste para Sueste passa junto ao fundo do jogo da bola dos leigos, cuja posição é entre esta rua e a rua 184 e a que atravessa esta junto ao dito jardim, isto é, a que vem de Norte para o Sul. Junto à rua do tanque grande e a que passa encostada ao muro do Norte perto da casa da água está uma casa subterrada, na qual se entra descendo-se alguns degraus. Esta casa está cheia de água que não tem serventia alguma e dizem ser o depósito da água de que se serviam para a construção do edifício. Junto a esta casa está um fosso que recebe a água que vem da dita casa e a encaminha para uma regueira que a espalha pela Cerca e algumas vezes por uma calha de pau o encaminham para o chamado Jardim Botânico que está ao Sul da rua 184. […]. Direcção dos canos até entrarem no Convento Voltando outra vez à casa da água que está junta à rua que passa encostada ao muro e divide a Cerca da Tapada e que olha para o Norte achamos nela dois canos que daí se encaminham para diversas partes: um que desce encostado à mesma rua na direcção do Poente; e outro que por entre o bosque se dirige para o Sudoeste. É este último o que leva a água ao Convento e cuja direcção vou já explicar. Em pouca distância da casa da água onde o cano principia a encaminhar-se para o interior da 69 Cerca está o depósito da água na casa subterrada de que há pouco se fez menção, a qual fica junto à rua direita que vai do tanque grande para o Nascente. Junto e ao lado do Poente desta casa subterrada passa o cano [proveniente da Tapada], atravessa a rua direita do tanque e no lado dela da parte do Sul tem uma pia, sobre a qual está um marco de pedra tosca, aí colocado por diligência minha. Desta pia para diante começa ele a encaminharse verdadeiramente para o Sudoeste e atravessando um pequeno espaço do bosque que há entre a rua do tanque e a que vai de Noroeste a Sueste, isto é, a que passa encostada ao fundo do jogo da bola dos leigos atravessa também esta rua, desce ao dito jogo, vem pelo meio dele desde o fim até ao princípio e aí, no meio de umas árvores que estão entre o jogo, a rua do portão indicado pelo n. 184 e a que passa de Norte a Sul, se acha à superfície da terra uma pia quadrada coberta com uma pedra onde vem ter o cano, o qual atravessando logo a rua que se dirige de Norte a Sul, vem entrar na rua do portão indicada pelo n. 184 no sítio designado na Planta pela letra K, isto é, junto ao princípio do jogo da bola dos leigos. Daqui para diante desce o cano em linha recta pela rua abaixo, não pelo meio dela, mas algum tanto mais para o lado do Norte, até que chega ao portão indicado pelo n. 181 que é o que dá entrada principal para a Cerca. Na parede do portão e junto à ombreira dele do lado do Norte se acha perto do chão uma pedra quadrada em que está insculpida a letra C, sinal de que por baixo passa o cano e na mesma pedra se vê também a inscrição seguinte: Água limpa, que vem da Tapada. Aqui o cano atravessa o muro e vem ter à pia designada na Planta pela letra L, a qual está no pátio e junta ao portão. Deste lugar volta o cano para o Sul e passando por diante do portão e próximo do muro da Cerca e em pouca distân70 cia do portão, se acha um marco de pedra (aí colocado por diligência minha) no qual se acha a seguinte inscrição: Água limpa da Tapada. Daqui continua em linha recta na mesma direcção do Sul e sempre na mesma distância do muro e passando por diante do portão indicado pelo n. 182, chega à parede do edifício e atravessando-a por baixo da janela conventual do dormitório grande que está ao Nascente da Quadra, entra no ladrilho do Norte do mesmo dormitório e vai ter a uma pia, que está no mesmo ladrilho e se acha designada na planta pela letra M. Aqui, tomando a direcção do Poente passa por baixo de outro cano (que entrando também a par dele por baixo da janela conventual e acompanhando-o até aqui, segue a direcção do Sul e conduz água para os repuxos do jardim da Quadra) […]. Direcção e distribuição da água pela Cerca – Pomar do limão Voltando outra vez à mãe de água que está na Cerca encostada à rua que passa encostada ao muro que olha para o Norte, vemos que dela se encaminha outro cano para o Poente, o qual desce pelo bosque, sempre encostado à rua e algum tanto elevado da superfície da terra, ora mais, ora menos, e chegando ao sítio onde tem princípio a rua que vai de Norte a Sul, que depois passa encostada ao jardim, por entre este e o jogo da bola dos leigos, aí mesmo no ângulo do bosque onde começa a dita rua e do lado Nascente está uma pia coberta com uma laje, na qual se divide a água para três partes, que vêm a ser, para o Norte, para o Poente e para o Sudoeste. O cano que se dirige para o Norte atravessa a rua do Norte que passa encostada ao muro e se vai encostar à parede das Barracas Reais, que aí principia e serve de muro à Cerca. Vindo sempre encostado à dita parede e 71 em direcção do Poente quando chega ao canto da Cerca junto à Barraca, atravessa o muro e entra em um pomar de limão que fica por detrás das casas que estão ao Norte do pátio, designadas na planta pelos n. 180 e está contíguo ao muro da Cerca e à frente da Barraca que olha para o Sudoeste. Junto a esta frente está um tanque em que o dito cano lança água, com o qual se rega o mencionado pomar. Água que vai para o Jardim da Cerca O cano que da sobredita pia se dirige para o Sudoeste entra logo na rua próxima que começa junto à pia e continuando a ir por ela até ao sítio onde ela se encontra com a rua que vem do tanque grande atravessa esta, e declinando algum tanto mais para o Sudoeste, entra no Jardim por debaixo do canto do muro que o cerca e que está próximo à mesma rua do tanque e leva água ao repuxo do tanque mais próximo à rua que passa ao Nascente do mesmo Jardim. A água que sobeja deste tanque do tabuleiro mais elevado vai correr na cascata que está ao lado Norte na parede que divide o tabuleiro inferior do superior e onde estão as escadas para subir ou descer de um para o outro. A água desta cascata sumindo-se no buraco que está no fundo da bacia que a recebe vai correr pelo repuxo do tanque que está no meio do tabuleiro inferior do mesmo Jardim e igualmente aí vai correr a que se some na bacia da cascata do Sul. Porém, a água que corre nesta cascata vem da nora, como depois se dirá. Água que vai para o Jardim pequeno e para o tanque grande O cano que da sobredita pia se dirige para Oeste ou Ocidente continua em linha recta na mesma direcção e, 72 atravessando a rua que começa junto à pia, vem encostado à do Norte até chegar a uma pia da qual se aparta para o Sul um cano por onde vai uma pequena porção de água para um pequeno jardim que está junto à rua do tanque grande. Este jardim é vulgarmente chamado o Jardim do padre Mestre Santa Ana, porque o mesmo padre tratou dele em outro tempo. O cano principal continua para diante na mesma direcção e, chegando ao ângulo da rua que vem da nora e do tanque grande, volta para o Sul e vindo sobre um muro até chegar ao largo do mesmo tanque aí acaba o muro tendo no cume e fim dele uma pia com um ralo no fundo, por onde a água desce e atravessando o largo por debaixo da terra se eleva quando chega à grande bacia do tanque e vai correr dentro dele pela boca de um leão de pedra que está na borda do tanque. Água que vai da nora para o jardim próximo A Sul do tanque grande, entre o jardim, o pomar das limas e a rua indicada na planta pelo n. 184, está um[a] grande nora coberta com tecto de cantaria firmado sobre grandes pegões de pedra e junto a ela um magnífico poço feito todo de cantaria e igualmente o parapeito de que é circundado o bocal dele. Próximo e ao Nascente da nora está o dito jardim composto de dois grandes tabuleiros, dos quais o mais chegado à nora fica inferior ao mais remoto. Todo o jardim é cercado de muro com quatro portais, por onde se entra nele: um no meio do topo do Nascente, no fundo do tabuleiro superior; um no meio do tabuleiro inferior no lado do Norte; outro fronteiro a este no lado do Sul; e outro no meio do fundo do tabuleiro inferior no lado do Poente, o qual fica próximo ao poço da nora. Tirando-se, pois, a água do dito poço, os alcatruzes a lançam em uma pia que está sobre um dos 73 pegões da nora e daí, por cano de pau, é conduzida para o cume do muro do jardim próximo, por cima do qual vai um cano que vindo até ao canto do jardim junto à rua 184 aí volta para o Nascente e indo sempre sobre o muro vai lançar a água em um tanque que no tabuleiro superior está encostado ao mesmo muro que passa junto à rua n. 184. Este tanque tem no fundo uma grande torneira de bronze por onde a água dele corre em uma pia e desta por cano subtérreo vai correr em outra pia que está encostada à parede por detrás da cascata do Sul. Esta pia tem também outra torneira de bronze, aberta a qual e a do tanque, corre água na dita cascata e a que se some na bacia dela vai ter ao repuxo do tanque que está no meio do tabuleiro inferior. Toda a água que corre neste tanque depois dele estar cheio aí mesmo se some e por cano subtérreo vem em linha recta por meio da rua do Poente, passa por baixo do portal do jardim, encostado ao poço da nora e por baixo do portal do pomar das limas que está próximo e ao Poente da nora, e vem correr no tanque que está no meio do mesmo pomar. Água que vai da nora para o grande tanque que lhe fica ao Norte Está o engenho da nora firmado sobre seis grandes pegões de pedra e a cada lado do poço está outro grande pegão de cantaria sobre que está formado um grande arco de pedra que passa sobre o poço e nele descansa a roda dos alcatruzes. Destes dois pegões, o que está ao lado do Nascente e mais próximo ao jardim tem no cume uma pia com um ralo no fundo, na qual os alcatruzes lançam a água e esta sumindo-se desce pelo interior do pegão e por um cano subtérreo se encaminha para o tanque e atravessando o largo da nora e o do tanque vai por debaixo deste até ao meio e aí ele74 vando-se a água pelo interior do pilar de pedra que está no meio do tanque a lança nele saindo pelo buraco que está no cume do mesmo pilar. Quando este tanque está cheio, toda a água que para ele corre some-se por um ralo que está na borda do mesmo tanque e por cano subtérreo se encaminha para o Sul. Passa por baixo dos degraus que há entre o tanque e o poço, corre junto à nora e atravesando a rua n. 184 e o muro do Sul entra no chamado Jardim Botânico, passa subterrado pelo meio dele e, por fim, por um grande buraco vem sair no largo que fica ao Nascente do edifício e correndo depois por uma regueira vai entrar no cano real perto do ângulo que está ao Nordeste na frente do edifício. Além disto há mais alguns poços de que não faço menção porque dão água para os pomares ou quintas em que se acham. Direcção da água que vem do grande tanque da Cerca para os repuxos dos cinco tanques que estão no jardim no meio da Quadra do Convento O grande tanque da Cerca que está ao Norte e perto da nora é o depósito da água que vem para os repuxos do grande jardim que está no meio da Quadra do Convento [*Claustro do buxo]. para que ela pois venha correr nos ditos repuxos há dois registos e cada um deles tem uma grande torneira [de] bronze. O primeiro está no pomar das limas dentro de uma pequena casa que aí há no canto próximo ao dito tanque. O outro há no primeiro quarto do dormitório do Norte, o qual tem janela para o jardim no canto do Nordeste e se acha indicado na planta pelo n. 176. Por tanto para que a água venha aos repuxos do jardim é preciso abrir primeiro ambos os ditos registos ou torneiras, sem o que não pode vir água alguma a eles. Tem o dito tanque no fundo para o lado 75 do Sudoeste um grande ralo de bronze por onde a água sai e, conduzida por cano subtérreo, atravessa o largo do tanque e vai ter à casinha do registo que está no pomar das limas ao canto mais perto do tanque. Daí continua a descer em linha recta na direcção do Oeste, atravessa todo o comprimento do pomar e a rua contígua designada na planta pelo n. 183 e na mesma direcção passa para o pomar que está próximo e ao Ocidente da mesma rua e vai ter ao lugar designado na planta pela letra O […]. Entra, pois, o cano no pomar e depois de chegar a ele na mesma direcção que trazia e ao lugar que fica no pomar em linha recta e ao Norte do que na planta se acha indicado pela letra O, aí volta para o Sul, vem passar pelo lugar indicado pela dita letra e por defronte do portão indicado pelo n. 181 e continuando daí para diante em linha recta para o Sul e ao lado do Poente do outro cano que passa mais próximo ao muro da Cerca e leva água às Oficinas do Convento, vai entrar juntamente com ele por baixo da janela conventual no ladrilho do dormitório grande que está ao Nascente da Quadra […]. ÁGUA NA TAPADA Sob esta designação compreendem-se as bicas, chafarizes, fontes, minas, nascentes e poços, apenas elencadas no presente verbete, de acordo com o Relatório acerca das nascentes, acqueductos, poços, chafarizes, etc., pertencentes ao almoxarifado das Reaes Propriedades de Mafra (Livro de registo da correspondência expedida, fl. 82r-85v), remetido à Fazenda da Casa Real, em 30 de Novembro de 1885, por *José António Jorge da Costa, almoxarife das Reais Propriedades de Mafra. A localização e caracterização dos aquíferos achar-se-á neste dicionário pela ordem alfabética da denominação particular de cada um. 76 Primeira Tapada *Chafariz dos coelhos; *Fonte da Horta; Fonte das Aulas (também denominada *Fonte das Almas); *Fonte da Gondrinha; *Fonte da Murgeira; *Mina da Horta Nova; *Mina da Cerca; *Minas do Almarjão; *Mina da Vermelha; *Mina da Murteira; *Nascente das Terras da Vela; *Nascente da Terra da Casa; *Nascente da Vinha da Velha; *Nascentes da Valada ou do Juncal; *Poço da Nora da Cerca; *Poço Pequeno do Jardim; *Poço do Portão da Tapada; *Poço da Nora das Abegoarias; *Poço da Adega; *Poço da Vela; *Poço da Vermelha; *Poço do Telheiro da Cal; *Tanque Grande; *Tanque da Murteira. Segunda Tapada ou Tapada do Meio *Bica do Guardião; *Chafariz da água férrea; *Chafariz da Murgeira ou do Muro Seco; *Chafariz da Mijaseca; *Chafariz do Abade; *Chafariz da Macieira; *Chafariz do Celebredo; *Fonte da Água Férrea e Purgativa; *Fonte do Abade; *Minas do Sonível. Terceira Tapada ou Tapada de Dentro *Biquinha, *Chafariz das Taipas; *Chafariz dos Álamos; *Chafariz da Chanquinha; *Chafariz do Telhadouro; *Fonte de João Martins; *Fonte da Tojeira; *Fonte da Fórnea; *Fonte das Grades; *Nascente dos Currais da Chanquinha; *Nascente da Mijadavelha; *Nascente do Alto dos Barros; *Nascente do Alto dos Palheiros; *Nascente do Charco; *Nascente do Vale da Barrela; *Poço do Vale da Guarda. AGUARELA Do acervo do Palácio Nacional de Mafra constam as seguintes aguarelas (expostas): Dama, anónima (finais de oitocen77 tos); Dona Maria II por *Beaulieu (Lisboa, 1841); Dom Carlos I por *Roque Gameiro (1902), com moldura em casquinha dourada; uma embarcação, um barco de guerra (1888) [inv. n. 1595] e um iate (1887) [inv. n. 1596) por *Dom Carlos; um barco por *Dom Fernando II; Sé do Funchal por *Hans Nowvack (1892); Hortênsias por *H. de Calmels (oitocentos). Retocadas com gouache: militar (oitocentos); corneteiro; soldado tocando tambor; dama por *Dupennuant (oitocentos); Dona Amélia de Orléans (?) por *E. Casanova (1885); espanhola com leque vermelho por E. Casanova (oitocentos). ÁGUAS DESTILADAS Um Auto do Inventário do Mosteiro de Mafra, do séc. XVIII, arrola as águas destiladas existentes na *Botica conventual: “De hortelã quatro libras. Safírica quatro libras. De hortelã pimenta duas libras. De canela três libras. De poejos duas libras. De meliça quatro libras. De flor de laranja quatro libras. De flor de rosa duas libras. De cerejas pretas quatro libras” (in O Carrilhão, 15 Mar. 1984). AIRES DE SÁ Historiador e genealogista. Aires Augusto Braga de Sá Nogueira e Vasconcelos foi nomeado bibliotecário do Palácio Nacional de Mafra por Portaria da Administração da Fazenda da Casa Real, de 6 de Novembro de 1900, sucedendo ao Almoxarife do Palácio que ocupara o cargo desde 1882. O seu desempenho seria louvado por O Correio de Mafra (artigo intitulado Real Bibliotheca de Mafra, 7 Jul. 1901), anotando que a biblioteca tem “recebido dia a dia grande quantidade de obras dignas de menção”. Aires de Sá demitir-se-ia do cargo de bibliotecário no próprio dia da implantação da República (5 de Outubro de 1910), permanecendo a biblioteca a cargo do Administrador do Palácio, todavia, na prática, a tarefa seria desempenhada pelos fiéis do edifício, 78 situação que se manteria até 1937. Anotou uma série de episódios ocorridos durante uma visita de *Dom Carlos à biblioteca do Paço, em 1902: “O rei, no convívio entre amigos, era muito jovial. Uma vez, estava ele sentado no meu gabinete da biblioteca do paço de Mafra, a uma mesa, em frente de uma janela; conversámos de livros; ele estava folheando um Elzevir. Nisto, uma nuvem de pombos correios, da Escola Prática de Infantaria, levanta voo do jardim e, o rei, interrompendo a leitura e a conversa, exclama: – Olha! tanto pombo. E ficou a segui-los com a vista. Erudito: uma vez, também no meu gabinete, para onde, às vezes, ia, depois do almoço, com o ajudante de campo e o oficial às ordens, e quando coincidia a ida do rei a Mafra com a estada dele lá, ou quando o acompanhava de Lisboa, com o meu velho amigo Tomás de Mello Breyner, mostrei-lhe, em consulta, um livro do século XVI, onde se via um brazão, que fora posto no frontispício, com tinta já apagada e destruídora do papel. Era a primeira vez que eu o abria, e sem detido exame: – Quer el rei ver isto? O que será o que se veria ao alto deste escudo? Já não se percebe, ou mal se percebe. O rei, lembro-me muito bem, vestido do seu pequeno uniforme de generalíssimo, com que costumava quase sempre andar, pegou no livrinho, esteve a examinar o ponto para que eu chamara a sua atenção e, passado algum tempo: – Isto são armas de qualquer infante ou infanta. O que mal se vê aqui, em cima, é o banco de pinchar, com as armas maternas, por diferença. Outras vezes, em dúvidas, que eu tinha, ele ficava de mas resolver, logo que regressasse a Lisboa; e, daí a dias, eu recebia um grande subscrito, timbrado a oiro, com cópias de livros raros sobre bibliografia, explicativas da minha dúvida. Ainda tenho essas cópias, que eram acompanhadas de cartas de Arnoso. Um valet de pied, que estava, então, ao serviço da biblioteca, era muito zeloso na limpeza dos mármores de Pero Pinheiro que a pavimentavam. Lembrou-se, 79 um dia, de encerar a meia laranja central da biblioteca, um primor de combinação de mármores, rosa, azul e amarelo; pediu-me licença para o fazer, dei-lha. Se o leitor quiser ver o efeito desse enceramento, abra o volume da Enciclopédia Espasa, na palavra Mafra, e lá verá a fotogravura, representando a biblioteca, onde brilha, pelo enceramento, a meia laranja central. A primeira vez que, depois deste enceramento que deixava livres as passagens laterais, o rei foi a Mafra, não deixou de ir, conforme o seu costume, à biblioteca. Ficou encantado. A meia laranja está sob a luz de seis grandes janelas que iluminam, a meio, a biblioteca. Nada mais escorregadio que o mármore assim polido e encerado a valer, para dar o brilho rutilante que se obteve. Achou magnífica a ideia e, enquanto fazia os comentários que o caso lhe sugeriu, começou a efectuar a travessia, muito sossegada e imponentemente, com o charuto na boca e as mãos nas algibeira do dolman. Hermenegildo Capelo, que conversava comigo, vendo o rei em terreno tão perigoso, disse-lhe: – El rei acautele-se!… El-rei acautele-se!… Mas, o rei não se importou nada com o alarme do herói, e continuou, majestoso, o seu caminho. E eu disse ao almirante Capelo: – Também el rei quer ter a glória de fazer uma travessia” (Principe Real D. Luís Filipe, 1930, cap. II: D. Carlos e a sua época). Da vasta bibliografia que publicou, aquela que mais directamente interessa a Mafra é o artigo homónimo inserto no v. 4 de A Arte e a Natureza em Portugal (1904) e Rainha Dona Amélia (1928), obra na qual, além da manifestação da sua própria visão dos acontecimentos que precederam o *Embarque da família Real na Ericeira e culminaram na proclamação da *República, logrou reunir os depoimentos decisivos para a elucidação do tema. Na revista A Caça (a. 6, n. 1, Ago. 1904, p. 2-4; n. 2, Set. 1904, p. 22-23 e a. 7, n. 1, Ago-Set. 1905, p. 7-9 e n. 2, p. 19-21) deixou transcritos excertos de dois opúsculos da *Biblioteca Volante acerca de uma visita 80 de *Dom José I a Mafra, respectivamente: Relação em que se dá conta da jornada que fizeram suas magestades e altezas e a maior parte da nobreza da corte a ganhar o santo jubileu á Real Basilica de Mafra, e copia do breve por onde elle foi concedido, para cujo fim concorreu grande concurso de pessoas de todos os sexos d’ este Reino. Dá-se noticia do numero das pessoas que se confessaram e comungaram, e das que crismou o excellentissimo bispo de Macau e da caçada real que suas magestades fizeram, e do numero de rezes que mataram (Lisboa, 1752 [2-55-7-22]); Relação da plausivel jornada que Suas Magestades Fidelissimas com toda a familia Real fizeram ao seu magnifico Convento da Villa de Mafra pela festividade do grande patriarcha S. Francisco n’ este anno de 1750 […] (s. l., s. d. [2-24-8-9]). AJARDINAMENTO DOS CLAUSTROS O ajardinamento dos claustros Norte e Sul do Monumento de Mafra foi encetado no ano de 1951, tendo-se prolongado pelo de 1952, sob a direcção do engenheiro *Segismundo da Câmara Saldanha, então director da *Tapada Nacional de Mafra (cf. O Concelho de Mafra, 22 Dez. 1951). AJUDANTE DE CARRILHANOR *José Joaquim Machado. ALA DOS ORGANISTAS Aposentos reservados aos músicos que tocavam os órgãos da *Basílica. Ficavam anexos à *capela do Santíssimo Sacramento, no mesmo pavimento dos instrumentos. ALAMEDA Também denominada *Alameda do Real Edifício (ofício da Câmara Municipal de Mafra de 5.3.1883), *Alameda Dom Manuel II (O Clamor de Mafra, 10 Nov. 1908) e *Alameda Miguel Bombarda (hipoteca do terreno de António Cândido 81 Duarte, solicitada pelo mesmo em 16.3.1920). Principia junto ao torreão, acompanhando toda a frente Sul do Real Edifício. O nome derivou de um frondoso renque de árvores (não as actuais!) que se estendia ao longo de toda a citada fachada do monumento de *Dom João V. Aqui teve lugar (25 de Janeiro de 1808) o fuzilamento de *Jacinto Correia, camponês assaltado por uns quantos soldados franceses nas imediações dos Gorcinhos, o qual actuando em legítima defesa os matou com uma foice roçadoira. Preso e conduzido a Mafra foi sujeito a julgamento em conselho de guerra e condenado à pena capital por ter afirmado em tribunal, perante o general Loison, que se todos os portugueses fossem como ele não ficaria um único francês vivo. Em 1940, face a ofício da Direcção Geral da Fazenda Pública, a Autarquia considera-se proprietária dos terrenos da Alameda e dos que se lhe seguem (conhecidos pelo nome de Bico do Pato), no que é 82 contestada pelo Segundo Conservador do Palácio de Mafra, Carlos Manuel da Silva Lopes. Chamados a pronunciarem-se, *Júlio Ivo encetaria investigações no arquivo da Câmara (interrompidas por doença), corroborando o *doutor Carlos Galrão a pretensão da edilidade. Na sua alegação, composta por seis folhas manuscritas (26.4.1940), afirma o celebrado clínico: “[…] Vim para Mafra na idade de 15 anos, em 1872, frequentar o Colégio Militar, como aluno externo. O Colégio nunca tomou posse da Alameda. Lá passeavam os alunos, faziam exercícios militares, mas a limpeza das árvores e dos arruamentos era feita pela Câmara. Retirei de Mafra com o Colégio Militar em 1873 e voltei para esta vila em 1888, como médico municipal. Dois anos antes tinha a Câmara Municipal arborizado o Largo em frente do Convento. Quando começaram os trabalhos de arborização veio opôrse a eles o Almoxarife do Palácio Nacional, Joaquim Manuel de Carvalho, alegando ser o largo propriedade da Casa Real. Levou a Câmara por diante o seu intento e completou a arborização vindo a conseguir por intermédio do Governo Civil, a indicação governamental de que os ‘largos adjacentes são pertença da Câmara Municipal’. Em 1896 o capitão de Infantaria Francisco Rodrigues da Silva […] estando em Serviço na Escola Prática de Infantaria, solicitou da Câmara a permissão de ajardinar a Alameda. Houve relutância em satisfazer o pedido mas por fim a Câmara cedeu, por compreender que o ajardinamento da Alameda redundava em benefício público. Impôs porém várias condições: posse temporária, a não destruição do arvoredo, permissão de entrada às pessoas da classe civil, etc. Esta concessão, puramente verbal, foi legalizada em 1927 por um auto, assinado pelo Comandante da Escola e pelo Presidente da Câmara, impondo a Câmara as condições já estipuladas na concessão verbal […]”. Este processo ficaria considerado concluído, a 4.6.1941, com a cedência pela Fazenda Pública, a título pre83 cário, à Câmara Municipal, do Jardim da Alameda “para logradouro público”. Houve um coreto no jardim, construído pela *Escola Prática de Infantaria (EPI) e depois demolido por se ter arruinado. Outrora corria numa gruta que, embora entulhada, ainda hoje existe, um fio de água férrea proveniente da Vela, à qual recorriam anémicos e cloróticos nos finais do século transacto. Já estava inutilizada em 1921 (O Liberal, 13 Fev.) em consequência da construção da cascata que ainda hoje é observável. *Fonte das Almas. Mestre Soares Branco é o autor das estátuas que comemoram o Primeiro centenário da EPI e o Soldado Infante aqui colocadas. No dia 10 de Junho de 1993 foi descerrada, defronte da Porta de Armas da EPI, uma lápide memorando a execução de Jacinto Correia. ALAMEDA DO REAL EDIFÍCIO Denominação da *Alameda em ofício da Câmara Municipal de Mafra, de 5.3.1883. ALAMEDA DOM MANUEL II Denominação da *Alameda que ocorre em O Clamor de Mafra (10 Nov. 1908). ALAMEDA MIGUEL BOMBARDA Denominação da *Alameda numa hipoteca do terreno de António Cândido Duarte, solicitada pelo mesmo em 16.3.1920. ÁLAMOS, Chafariz dos Chafariz n. 37 da *Terceira Tapada ou *Tapada de Dentro. Fica à esquerda do caminho que vai da *Cuba para a *porta do Vale da Guarda. Possui as nascentes mais volumosas que se conhecem na Tapada, apesar da sua água ser pouco fina. 84 ALBERTO DA FONSECA REBELO, Padre Sacerdote natural de Lisboa e graduado na Faculdade dos Sagrados Cânones pela Universidade de Coimbra. Autor do poema Catalysis ou assolação da cidade de Lisboa pelo terramoto do primeiro de Novembro de 1755 com a preservação do Real Convento junto à Villa de Mafra. Esta obra, da qual apenas é conhecida a cópia manuscrita integrada na *Biblioteca Volante do arrábido *frei Matias da Conceição [2-9-6-13 (17.º)] é composta por cinco cantos divididos em estrofes de oitava rima e versos decassílabos. Ao Monumento de Mafra apenas interessam os cantos IV e V. Bibliografia: GANDRA, Manuel J. (org.), Poética barroca do Monumento de Mafra, Mafra, 2002; SOARES, Ernesto, O Terramoto de 1755 em Mafra, in O Concelho de Mafra (4 Jun. 1933). ALBERTO MONTEIRO Engenheiro que apresentou, a 20 de Dezembro de 1897, ao Ministério das Obras Públicas, um projecto destinado ao máximo aproveitamento das *minas do Sonível, do qual existiu cópia no arquivo da Administração da Fazenda da Casa Real. ALBERTO PIMENTEL (14.4.1849-19.7.1925) Alberto Augusto de Almeida. Expoente de intensa actividade literária, foi sócio da Academia das Ciências de Lisboa, bem como de outras instituições culturais de Portugal e do Brasil. Em As amantes de Dom João V (1892) faz-se eco de uma razão bem mais plausível, que a obtenção de descendência, para legitimar o *voto de *Dom João V na origem da edificação do convento de Santo António junto à vila de Mafra. Deriva ela do consenso expresso por numerosos memorialistas da época: o estado de saúde do rei, afectado pelo menos desde 1708 e seriamente agravado precisamente no ano de 1711. A dar-se crédito ao botânico *Merveilleux (1726), o móbil do 85 voto fora “uma [essa] grande aflição” (Memoires Instrutifs, Amesterdão, 1738), à qual Francisco Xavier da Silva chamará “flatos hipocondríacos” (Elogio Fúnebre e Histórico), e hoje podemos identificar com a sífilis. De resto, sabe-se pelas Memórias do capitão John Creichton (editadas por Jonathan Swift) que este teve um primo médico, expressamente enviado a Lisboa para tratar o monarca português dessa doença venérea. O facultativo de nacionalidade escocesa e predilecto da rainha Ana, apesar de haver permanecido na capital portuguesa durante seis semanas, nunca chegou a ocupar-se da saúde do Magnânimo. Antes de partir foi recebido por Dom João V que lhe deu “grandes provas de consideração” e o brindou com uma jóia. (Alberto Pimentel, Ob. cit., Porto, 1946, p. 57, nota 1). Passou um mês em Mafra durante o “estio de 1899”, período certamente aproveitado para coligir dados para a redacção da primeira parte do VII capítulo de A Extremadura Portugueza (Lisboa, 1908, p. 91-99) dedicado à vila e ao seu Real Edifício. ALBERTO TELES Uma ilustração publicada por Alberto Teles em O Occidente (Os Paços Monásticos de Mafra, 1893) inspirar-se-ia num desenho de *A. Rouargue publicado no Magasin Pittoresque (v. 29, 1861, p. 133) com a legenda Le Palais de Mafra prés de Cintra, en Portugal (150 x 108 mm). ALÇADO Plano vertical de uma edificação. Segundo Fernandes Pereira (Arquitectura e Escultura de Mafra: retórica da Perfeição, Lisboa, 1994, p. 167-170), o programa dos alçados da obra mafrense adequou-se à tradição nacional, promovendo a reunião de certo pendor militar com a simbólica católica, concluindo o mesmo professor: “globalmente, os alçados de Mafra sintetizam duas ideias complementares: a omnipre86 sença dos muros concebidos como panos sobre os quais, em pontos nodais, se aplicam prestigiados módulos retirados da tratadística italiana [Pietro Cataneo, I Quattro Primi Libri di Architettura, livro 3]”. Não dispomos dos desenhos de arquitectura originais (plantas, alçados, detalhes de capitéis e colunas, balaustres, etc., de cerca de 1730). Em 1868 (Ofício do Director Geral das obras Públicas, de 16 de Abril), foi incorporada no Museu dos Arqueólogos Portugueses “uma colecção de esbocetos de ornatos e de outros objectos do edifício de Mafra”. Porém, inúmeros outros desenhos arquitectónicos permaneceram em Mafra, porquanto o 4.º conde de Mafra, *Tomás de Mello Breyner garantiu tê-los visto nuns gavetões de uma arrecadação do Palácio Real, instalada na outrora *casa da Convalescença dos frades: “Até ornatos lá estavam. Haviam uns serafins feitos a lápis que eram um primor. Mostrei aquele achado a el Rei Dom Carlos, que passou umas duas horas vendo tudo com atenção e resolveu que se expusesse numa das galerias. Poucas meses depois veio o regicídio. Em Setembro de 1910 levei el Rei D. Manuel à arrecadação para ver os desenhos e Sua Majestade lembrou que fossem cedidos à Academia das Belas-Artes ou então à Associação dos Arquitectos, que nesse tempo estava reunida à dos Arqueólogos” (Memórias…, 1880-1833, Lisboa, 1934, p. 126-127). O local foi posteriormente adaptado a caserna e dos desenhos ninguém mais soube dar notícia. ALCATIFAS DE MAFRA *Pedro Tavares de Brito, *Tapetes de Mafra e *Teotónio Pedro Heitor. ALEGRETE, Marquês de Ao terceiro marquês de Alegrete, Manuel Teles da Silva (1682-1739), coube a catalogação do acervo da *Biblioteca de Mafra relativo à *Filosofia (ver Silvestre Ribeiro, História dos 87 Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos em Portugal, v. 1, p. 177-179). ALEIXO RIBEIRO Autor de um par sonetos intitulado Dois monumentos, publicado numa folha volante, e alusivo ao Monumento de Mafra e ao Hospital da mesma vila: “Avulta n’esta vila a mole imensa / do maior monumento nacional; / e quem o visitou, decerto pensa / que maravilha assim… não tem rival. / Da fé, – que se radica e se condensa / no peito d’um rei de Portugal, – / brotou, a comprovar a sua crença, / esta jóia de fama universal. / Se é certo que do solo português / uma pedra sómente, muita vez / constitui um famoso monumento; / e, se os povos das várias regiões / apontam com vaidade esses padrões… / – é orgulho de Mafra o seu convento. – / Quem teve, por ser nobre e ser valente, / entre os povos d’então… lugar marcado, / não poderá viver unicamente / à sombra das grandezas do passado. / Embora as contingências do presente / a nossa vida tenham alterado, / mostremos que também a nova gente / não foge a praticar um feito ousado. / Erijamos um novo monumento / que seja, no tamanho, outro convento, / de beleza, porém, toda moral. / Sejamos, como outr’ora, bons e nobres! / Fundemos um abrigo para os pobres / ajudando a manter um hospital”. ALELUIA O ofício de sábado de Aleluia (anterior ao domingo de Páscoa) serve de transição do luto para a alegria da Ressurreição. Antes da missa cantam-se as ladainhas de todos os santos, retiram-se os véus que cobriam as cruzes e as imagens desde o quinto domingo da *Quaresma (de Lázaro ou da Paixão). Podem propor-se à veneração dos fiéis uma imagem de Cristo crucificado, depositado no sepulcro, 88 89 ou descendo ao limbo, ou ainda uma imagem de *Nossa Senhora das Dores. O jejum da *Quaresma acaba ao meio-dia, porém a ementa dos *Arrábidos de Mafra consistia no mesmo que nos dias de jejum, mais meio arrátel de peixe frito, e jejum à noite. *Água benta, *ementas fradescas. ALEMANHA A *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra possui perto de centena e meia de obras quinhentistas, além de três incunábulos (Aeneas Sylvius, Joannes Beckenhaub e Hartmann Schedel), de tipografia alemã. Além de outras germânicas, de autoria perfeitamente esclarecida, existe uma estampa anónima, intitulada Das Kloster zu Mafra, in Portugal (1843?). Bibliografia: ASSUNÇÃO, Guilherme de, Obras de Tipografia alemã na Biblioteca de Mafra (séculos XV e XVI), in Boletim Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira, v. 7, n. 1 (Jan.-Mai. 1966), p. 71-89; GAN- 90 DRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra (desenho, pintura e gravura, até 1900), in Bol. Cultural ’97, Mafra, 1998, p. 246, n. 43 ALEXANDRE ANTÓNIO DUARTE, Padre No artigo Um problema de cerâmica (Bol. da Junta de Província da Estremadura, s. 2, n. 12, Mai.-Ago. 1946), Carlos Galrão, reportando-se à herança do Padre Alexandre António Duarte (sobrinho do cónego regrante Mariano António Duarte) e, designadamente à sua biblioteca, informa que “muitos volumes eram da Livraria do Convento, de que tinham a marca” (p. 211). ALEXANDRE ANTÓNIO DE LIMA Sócio da Academia dos Ocultos e dos Aplicados. Compôs diversas óperas, representadas no séc. XVIII, e o poema satírico Benteida. Também autor do Romance Heróico: A El Rei Nosso Senhor mandando fabricar el templo magnifico de Mafra, que se acha manuscrito na *Biblioteca Pública de Évora, sendo citado no Catalogo razonado de los autores portuguezes que escribieron en castillano (Madrid, 1890), sob o título Romance de Mafra e editado in Semana de Mafra (6 Ago. 1905). Bibliografia: GANDRA, Manuel J. (selecção, apresentação e notas), Poética barroca do Monumento de Mafra, Mafra 2002 ALEXANDRE BOUTROUE Em 1893, editou, no tomo segundo dos Nouvelles Archives des missions scientifiques et littéraires, o Rapport à Monsieur le Ministre de l’instruction publique et des Beaux-Arts sur une mission archéologique en Portugal et dans le Sud de l’Espagne (Paris), no qual alude a Mafra. ALEXANDRE FREIRE Capitão general do Maranhão (Brasil) e autor de um soneto cujo tema é a construção de uma estrada para Mafra no séc. XVIII. 91 ALEXANDRE GIUSTI (1712-1799) Cidadão romano, naturalizado português por decreto de *Dom José I, de 27 de Agosto de 1760 (ANTT: Chancelaria de Dom José, liv. 69, fl. 232). Até aos 16 ou 17 anos estudou desenho e pintura com *Sebastião Conca e escultura com João Baptista Maine. Em 1747, veio para Portugal, contratado por *Dom João V para assentar a capela de São João Baptista (igreja de São Roque, em Lisboa), dedicando-se também à modelagem das estátuas do Magnânimo para a Livraria do Palácio das Necessidades (actualmente na *sala da Benção, em Mafra), bem como as de São Filipe Neri, São Pedro e São Francisco de Sales para a capela do mesmo palácio. No ano de 1753, encarregado por *Dom José I de substituir os óleos das capelas da *Basílica por retábulos de mármore (pelo ordenado de 60 mil réis mensais, mais uma gratificação pela 92 conclusão de cada retábulo), fixou-se em Mafra com a família. Acompanhado por dois ajudantes desbastadores, *Francisco Alves Canada e *Pedro António Luquez, assumiria a direcção da Escola de Escultura de Mafra. O primeiro retábulo terminado destinou-se à *capela dos Santos Bispos, tendo sido inaugurado em 1755, pouco antes do terramoto de 1 de Novembro. Seguir-se-iam, de dois em dois anos outros retábulos: *Santo Cristo, *Nossa Senhora do Rosário, *Santas Virgens, *Santos Mártires, *Confessores e *Sagrada Família. Para o secundar em tarefa tão avultada foi admitindo aprendizes. Assim, no período entre 1753 e 1756 passou a contar com a colaboração de *António Pecoraro (seu cunhado), *José Joaquim Leitão, *Alexandre Gomes, *Roberto Luís Silva, *Salvador Franco e *Lourenço Lopes. O acréscimo de trabalho que representava o ensino dos seus alunos, porquanto continuava a chamar a si a modelação e os acabamentos, não obstante, a partir de 1756, *Machado de Castro se tivesse tornado seu ajudante, obrigou Giusti a admitir novos aprendizes: *João José Elveni, *Francisco Leal Garcia e *Brás Toscano de Melo, em 1756; *Joaquim António de Macedo, em 1765; *João da Silva Pevides, em 1766; *José Patrício, em 1767; *Silvério Martins e *Gaspar Fróis Machado, em 1767. Foi sindico da *Ordem Terceira de São Francisco de Mafra nos anos de 1758 e 1759, subscrevendo nessa qualidade o Livro de despesa do Irmão Sindico da Ordem Terceira de São Francisco (fl. 26-27 e 28-31). Porém, seria expulso, em 20 de Outubro de 1759, alegadamente “por se conhecer não ser útil à Irmandade (Livro 1.º das Eleiçoens). Em 21 de Dezembro de 1765 seria eleito tesoureiro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (Livro de Despesa, fl. 32r), cargo que desempenhou novamente a partir de 6 de Dezembro de 1766 (Livro de Receitas, fl. 52r), sendo reinvestido nos anos de 1767 (idem, fl. 60v), 1768 (idem, fl. 62v), 1769 (idem, fl. 65r) e 1772 (idem, fl. 66v). Cego desde 1773, 93 deixando incompleto o retábulo da *Coroação da Virgem, conta-se que durante mais de 26 anos “[…] com os seus dedos trémulos e a sua imaginação prodigiosa […]” modelava em cera baixos-relevos, que os seus discípulos depois transpunham para a pedra. *Cirilo Volkmar Machado atribui-lhe as duas *Virtudes Teologais (*Fé e *Caridade) que encimam o interior do pórtico da *Basílica de Mafra, dizendo-as, contudo, plagiadas do escultor italiano *Caetano Paggi. Por morte de Giusti suceder-lhe-ia *Barros Laborão na direcção da Escola de Escultura. O supracitado Livro da despesa do Irmão Sindico (fl. 125) regista a realização de uma missa por sua alma em 1799. Bibliografia: PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura e Escultura de Mafra: retórica da Perfeição, Lisboa, 1984, p. 259-262 e 350, doc. 25 ALEXANDRE GOMES (f. 10.1781) Natural da Picanceira (Santo Isidoro, Mafra). Admitido como aprendiz de *Alexandre Giusti, entre 1753 e 1756, per94 maneceu na *Escola de Escultura de Mafra, até 1770, ano em que seguiria para Lisboa com *Machado de Castro. Colaborou na realização das esculturas em pedra da estátua equestre de *Dom José, realizando alguns trabalhos para a Basílica da Estrela e São Vicente de Fora. ALEXANDRE HERCULANO (28.3.1810-13.9.1877) Historiador, poeta e romancista. A posição que assumiu a respeito da Real Obra de Mafra é mais uma prova da inequívoca parcialidade subjacente à sua concepção de história. São suas as expressões que fizeram escola para definir o Monumento de Mafra: “bagatela maravilhosa” e “sensaboria de mármore”. A agricultura científica é, no seu entendimento, o único garante da regeneração nacional que vislumbra encarnada na *Granja modelo de Mafra, consoante o excerto do ensaio Duas épocas e dois Monumentos, originalmente publicado in O Panorama (s. 2, v. 2, n. 27, 7 Jun. 1843, p. 189-192) e, posteriormente, também nos Opúsculos (tomo 7). Duas épocas e dois Monumentos, ou a Granja Real de Mafra Houve entre nós um rei nascido com uma índole generosa e magnífica: foi Dom João V. Favoreceu a fortuna a grandiosidade do seu ânimo. Durante o reinado deste príncipe as entranhas da América pareciam converter-se em ouro, e a terra brotar diamantes para enriquecerem o tesouro português, e o nosso primeiro rei do século XVIII pôde emular Luís XIV em fasto e magnificência. Há, porém, diferenças entre os dois monarcas: Luís XIV, mais guerreador que guerreiro, malbaratou o sangue de seus súbditos em conquistas estéreis; Dom João V, mais pacífico que tímido, comprou sempre, sem olhar ao preço, a 95 paz externa dos seus naturais. Luís XIV levou a altíssimo grau de esplendor as letras a as ciências: Dom João V tentou-o; mas ficou muito aquém do príncipe francês. Devemos todavia lembrar-nos de que Luís XIV era senhor de uma vasta monarquia, e Dom João V rei de uma nação pequena. Uma literatura extensa e ao mesmo tempo vigorosa só aparece onde há muitos homens. É como a grande cultura, que só pode fazer-se em opulentas propriedades e dilatados terrenos. Dom João V teve como Luís XIV o seu Louvre; mas um Louvre em harmonia com o carácter, não tanto religioso como beato e hipócrita, do seu país naquela época. Mafra ficou duvidosa no desenho, entre o mosteiro e o palácio. As duas entidades arquitectónicas compenetram-se aí dum modo inextricável. A púrpura está lá remendada de burel; o burel alindado com púrpura, e o ceptro de rei enlaça-se com a corda de esparto, ao passo que a alpargata franciscana ousa pisar os degraus do trono. Os que sabem quão corrompidos foram os costumes em Portugal no princípio do século passado, e quão esplêndido e ostentoso foi o culto divino; quão brilhante foi a corte portuguesa nesse tempo, e por quão frouxas mãos andou o leme do estado, não precisam ver Mafra. Mafra é a imagem de tudo isso. Um grande edifício, fosse qual fosse o destino que seu fundador lhe quisesse dar, é sempre e de muitos modos um livro de história. Os que nele buscam só um tipo por onde aferir o progresso ou decadência das artes na época da sua edificação, lêem apenas um capítulo desse livro. Os castelos, os templos, e os palácios, tríplice género de monumentos que encerra em si toda a arquitectura da Europa moderna, formam uma crónica imensa, em que há mais história que nos escritos dos historiadores. Os arquitectos não suspeitavam que viria tempo em que os 96 homens soubessem decifrar nas moles de pedras afeiçoadas e acumuladas a vida da sociedade que as ajuntou, e deixavam-se ir ao som das suas inspirações, que eram determinadas pelo viver e crer e sentir da geração que passava. Eles não sabiam, como os historiadores, que no seu livro de pedra, também como nos daqueles, se podia mentir à posteridade. Por tal motivo foi a arquitectura sincera. Mafra é um monumento rico, mas sem poesia, e por isso sem verdadeira grandeza: é um monumento de uma nação que dormita após um banquete como os de Lúculo: é o toucador de uma Lais ou Frine assentado dentro do templo do Deus dos cristãos, e sob outro aspecto, é a beataria duma velha tonta, afectando a linguagem de fé ardente e profunda de Origines ou de Tertuliano. Sem contestação, Mafra é uma bagatela maravilhosa, o dixe de um rei liberal, abastado e magnífico; é pouco mais ou menos o que foi Portugal na primeira metade do século XVIII. Colocai pela imaginação Mafra ao pé da Batalha, e podereis entender quanto é clara e precisa a linguagem destas crónicas, lidas de poucos, em que as gerações escrevem misteriosamente a história do seu viver. A Batalha é grave como o vulto homérico de Dom João I, poética a altiva como os cavaleiros da ala de Mem Rodrigues, religiosa, tranquila, santa como Dona Filipa rodeada dos seus cinco filhos. As mãos que edificaram S[anta] Maria da Vitória, meneando as armas em Aljubarrota, deviam ser vencedoras. A Batalha representa uma geração enérgica, moral, crente: Mafra uma geração afeminada, que se finge forte e grande. A Batalha é um poema de pedra: Mafra é uma sensaboria de mármore. Ambas, ecos perenes que repercutem nos séculos que vão passando a 97 expressão complexa, e todavia clara e exacta, de duas épocas históricas do mesmo povo, sua juventude viçosa e robusta, e sua velhice caquética. O carácter de um monumento do tempo presente não pode ser por certo um edifício gigante, um templo, ou um palácio. Onde as crenças religiosas vacilam como a luz que se apaga, o templo seria uma página de história fabulosa: onde a pobreza extrema substitui a riqueza, um tanto estúpida e fastosa com mau gosto, o palácio esplêndido seria um capítulo anacrónico. O monumento deve resumir a sociedade, e em nenhum desses géneros de memorandum se acharia representado o actual existir. Que somos nós hoje? Uma nação que tende a regenerarse: diremos mais: que se regenera. Regenera-se, porque se repreende a si própria; porque se revolve no lodaçal onde dormia tranquila; porque se irrita da sua decadência, e já não sorri sem vergonha ao insultar de estranhos; porque principia, enfim, a reconhecer que o trabalho não desonra, e vai esquecendo as visagens senhoris de fidalga. Deixai passar essas paixões pequenas e más que combatem esses corações cancerosos que aí vedes; deixai erguerem-se, tombar, despedaçarem-se essas vagas encontradas e confusas das opiniões! Tudo isto acontece quando se agita o oceano; e o mar do povo agita-se debaixo da sua superfície. O sargaço imundo, a escuma fétida e turva hão-de desaparecer. Um dia o oceano popular será grandioso, puro e sereno como saiu das mãos de Deus. A tempestade é a precursora da bonança. O lago asfaltite, o Mar Morto, esse é que não tem procelas. O nosso estrebuchar, muitas vezes colérico, muitas mais mentecapto e ridículo, prova que a Europa se enganava quando cria que esta nobre terra do último ocidente era o cemitério de uma nação cadáver. Vivemos: e ainda que semelhante viver seja o delírio febril de moribundo, esta 98 situação violenta, aos olhos dos que sabem ver, é uma crise de salvação, posto que dolorosa, e lenta. Confiemos e esperemos: o nome português não foi riscado do livro dos eternos destinos. Um dos sinais evidentes da restauração social do país, e ao mesmo tempo o carácter mais notável que distingue esta época é o seu movimento industrial, industrial na mais extensa significação da palavra. Primeira entre as diferentes indústrias é a agricultura, e a agricultura tem incontestavelmente sido o nosso principal progresso. Qual será portanto o monumento que melhor resuma este período de regeneração? Será o aspecto do solo, o viço dos campos, a abundância substituída à escassez na morada do homem laborioso. Arroteai algumas jeiras de terra: em um marco esculpi a data dessa transformação: cobri a superfície de Portugal destes marcos. Eis aí, não um, porém mil monumentos que significarão o espírito do presente. Plantai o bosque na serrania escalvada: que ele braceje virente para o céu, e enrede as suas raízes nas rachas da penedia. Agitada pelo vento, a selva com o seu rugir irá contando a cada século que nascer as tendências laboriosas do nosso, que já começam a aparecer. Os cimos das montanhas são as verdadeiras aras de Deus: é lá que oravam as nações virgens. Santificai a vossa religião de patriotismo pelo culto universal e primitivo: o bosque murmurando com o espirar da aragem é um hino ao Ancião dos Dias: que este hino nos consagre a memória ao amor e gratidão de nossos filhos! Ao lado dos paços monásticos de Mafra, monumento de uma era de vãs grandezas, vai-se hoje alevantando sem ruído o monumento modesto, mas eloquente e santo, da ideia progressiva da actualidade. Ao lado dessas pedras amontoadas, desses torreões gigantes, maciços, e pesa99 damente estúpidos, serpeiam já os prados virentes por veigas e vales, cobertos ainda há pouco de abrolhos e urzes. Contrastando com os lanços de muralhas caiadas da ocre, que amareleja bestialmente, como um cordão de ouropel enfiado em diamantes, por entre a cor severa dos mármores tisnados pelo tempo, vêem-se ao longe verdejar os pinheirinhos, que coroam as alturas ao Norte e oriente daquele edifício monstruoso, híbrido, e extravagante como uma composição pseudo-poética da Fénix Renascida. As folhas de terra cultivada dilatam-se pelas chapadas e encostas, várias na cor segundo a altura das searas, ou conforme a qualidade do solo, nos sítios onde ainda as sementeiras não surgem no começo do germinar. É como um xadrez enorme, cujas casas se houvessem repartido ao acaso num tabuleiro irregular e imenso. A vontade real fez aparecer o edifício: outras Vontades Reais fizeram nascer a granja-modelo. Para a primeira requeria-se ouro e força; para a segunda inteligência e amor do país. O ceptro foi robusto e potente quando amontoou aquela penedia lavrada e esculpida: o ceptro é o símbolo da paz e da beneficência quando em vez de converter pão em pedras, converte gandra bravia e estéril em um nobre exemplo que mostre ao povo onde está a sua derradeira esperança, o progresso da indústria e o amor do trabalho. Para a maravilhosa inutilidade de Dom João V gastaramse por largos anos milhões que de contínuo nos entregava a América: o lidar acumulado de cinquenta mil homens consumiu-se em desbastar e pulir essas pedras hoje esquecidas, que apenas servem para alimentar por algumas horas a curiosidade dos que passam. É uma verdade cem vezes repetida, que o preço de Mafra teria coberto Portugal das melhores estradas da Europa; mas nem por ser trivial essa verdade deixa de ser dolorosa. E 100 todavia tal preço era o menos! As maldições submissas dos que foram arrastados de todos os ângulos da monarquia, para esta grande anúduva nacional, e as lágrimas das suas famílias, não as pode sufocar a adulação cortesã; transudaram até nós nas páginas da história, e caindo sobre o ataúde dourado do príncipe que as fez verter, deixaram a inscrição do seu nome manchada de uma nódoa que o tempo não gastará. A vasta e risonha granja que viceja ao lado do negro e carrancudo edifício não custou uma só mealha dos dinheiros públicos; não arrancou uma lágrima. Não são maldições o seu fruto: são bênçãos dos que vivem: serão no futuro bênçãos da posteridade. O convento-palácio, nascido sob o manto de púrpura, alegre na sua juventude e habituado a pompas de longos anos, aí está, ilustre mendigo, assentado hoje num como ermo, onde a vida robusta de séculos que lhe fadara o fundador, se vai convertendo em antecipada decrepidez. Inutilmente com a sua grande voz de bronze ele pede que o abriguem das injúrias das estações. As águas do céu, filtrando-lhe por entre os membros, lá os vão lentamente desconjuntando, o sol cresta-lha a fronte e faz prosperar os musgos, que lhe arrugam a rija epiderme: o vento redemoinha através das suas janelas mal seguras, e bramindo naquelas solidões do seu recinto, atira ao rosto das estátuas, aos acantos dos capitéis, à face polida das paredes de mármore, o pó que tomou nas asas passando pelas serranias. No meio do estrepitar do mundo ninguém escuta o gemer do gigante de pedra; ninguém se lembra de tirar do pecúlio do estado a mais pequena soma para ele. E porquê? Porque a sua miséria não fala aos corações nem aos entendimentos. Memórias gloriosas? Não as há lá. Utilidade? para que serve essa pedreira imensa? 101 A granja, porém, de Mafra nem teme as águas do céu, nem os raios criadores do sol: povoa os seus agros outeiros de pinhais, e cujo abrigo zombará em breve da fúria dos ventos. Não vai pedir socorros à munificência pública: útil já aos pequenos e humildes, sê-lo-á também algum dia a quem a fez nascer, útil em proveitos materiais, e, o que mais vale, em frutos de verdadeira glória. Há quatro anos apenas, que os muros da cerca ou tapada de Mafra, estirando-se como serpe monstruosa por três léguas, através de vales e outeiros, encerravam um vasto maninho coberto de sarças rasteiras, onde raro se via alevantar uma árvore solitária, curva e pendida pelo açoutar contínuo das ventanias, ou algum pequeno e enfezado pinhal perdido no meio daqueles matos inúteis. Era um símbolo de barbaria ao pé dum símbolo de opulência. O edifício e o parque pareciam significar no seu conjunto – o orgulho tendo por fundamento o nada. Há três anos ordenaram Suas Majestades se começassem a desbravar esses terrenos incultos. O actual intendente das cavalariças reais, o senhor A. Severino Alves, foi encarregado de administrar as coudelarias ali estabelecidas, e da direcção daquele arroteamento. Obra de uma sexta parte da tapada mais próxima do edifício destinouse imediatamente para a cultura, e os trabalhos principiaram. O estado em que estes se acham, comparado com as despesas, proporcionalmente diminutas, que se têm feito, provam que talvez houvesse quem fosse tão digno de ser encarregado de realizar o pensamento generoso, nobre, e civilizador dos nossos Príncipes, mas que ninguém por certo o seria mais que o senhor A. Severino Alves. O que vamos dizer não é completo; não é a história particularizada de tudo o que examinámos com os próprios olhos; porque não queremos ser prolixos. O nosso 102 intento é ver se contribuímos para o verdadeiro progresso da terra em que nascemos. Se os grandes ou pequenos proprietários que abandonam os seus campos e herdades, ou que desprezam os meios de os tornar mais produtivos, se mostram surdos ao bradar da imprensa e de todos os homens sisudos, revocando esta mal-aventurada nação à actividade e ao trabalho, que se envergonhem ao menos com o exemplo que lhes dá o trono. Enquanto os governos e os parlamentares ponderam a conveniência, a necessidade do estabelecimento das quintas de estudo, em Mafra, sem ruído, sem verbosos relatórios e discursos, se vai estabelecer e aperfeiçoando uma granja modelo, que esperamos faça sentir dentro de pouco à agricultura portuguesa o seu benéfico influxo. Certos de que Suas Majestades se colocarão à frente do movimento agrícola do país, porque o aumento da agricultura deve trazer a prosperidade aos seus súbditos, neste jornal, que se derrama por todos os ângulos de Portugal, daremos notícia das experiências que se forem fazendo, dos melhoramentos que se forem introduzindo nas propriedades do apanágio da Coroa. A nossa situação especial nos habilita para obter a este respeito exactas informações. A utilidade que daí possa resultar aos agricultores, retribuem-na eles em gratidão aos Príncipes que souberam ser dignos do amor dos portugueses, e entenderem plenamente o grave e progressivo pensamento deste século. Escolhida a porção de terreno na tapada de Mafra, que se devia destinar à cultura, dividiu-se aquela parte em oito grandes tractos ou folhas, cujo arroteamento se tem seguido sucessivamente e sem interrupção até hoje. O sistema adoptado para este fim foi o melhor que era possível imaginar. Além da cultura feita à custa da Casa Real, vão-se distribuindo aos habitantes da vila de Mafra 103 os terrenos que eles querem desbravar. O inteiro usufruto destes terrenos fica pertencendo por três anos a quem os converte de maninhos que eram em terras aráveis, e ainda que o solo da tapada me pareça de inferior qualidade, e se achasse muito deteriorado pelas plantas ruins de que estava coberto, todavia essa cultura tem dado excelentes resultados. A produção da batata, planta tão conveniente para terrenos arroteados de novo, há sido tal, que no ano passado, se alevantaram na tapada 1800 carradas deste útil solano, cuja introdução na Europa tornou impossível as fomes espantosas, que de anos a anos lhe desbastavam a povoação. Nessas encostas e veigas onde, tão pouco tempo há, os olhos esmoreciam alongando-se pelos sarçais, vêem-se estendidas as searas, os campos de milho e os batatais, e nos rostos dos habitantes da vila e dos distritos povoados circumvizinhos, e nos seus trajos e porte, vê-se que se o amor da taberna tem diminuído, os hábitos do trabalho, e por isso a abastança, tem aumentado. Mais de vinte éguas, mães e filhas, e de quarenta poldros, constituem já uma courela que vai adquirindo rápido crescimento. Cinquenta vacas entre as de casta vulgar, turinas e de uma excelente raça asiática, aí são tratadas com esmero talvez não inferior ao que se emprega na começada coudelaria. Os estábulos e currais, ordenados pelos melhores métodos modernos, e com atenção a importantes considerações higiénicas, seriam um bom modelo para aqueles que pensam reduzir-se o tratamento dos gados unicamente a dar-lhes muito de comer, não importa se bom ou mau. Ainda que na granja de Mafra os animais sejam alimentados, por via de regra, à manjedoura, sistema hoje aconselhado nos países mais adiantados como preferível por graves motivos, nem por isso deixa de haver neste esta104 belecimento agrícola muitos prados pastáveis, compostos, além de azevém, de uma mistura de certo número daquelas plantas de que separadamente se compõem os artificiais. Estes, porém, merecem com razão os especiais cuidados do senhor Severino Alves. As plantas que constituem estes prados, tanto regados como secos, são a luzerna, os trevos, branco e encarnado, o onobrychis (sainfoin), a anafa, a cenoura, e a ervilhaca. A cultura de algumas destas forragens ainda se limita a diminutas experiências, mas a de outras já tem adquirido bastante extensão. Admirámos sobretudo um luzernal, onde o método da transplantação produziu magníficos resultados. Cada pé de luzerna lançando em roda ao seus muitos rebentões ou filhos, forma uma espécie de mouta robusta, que produz em cada corte muito maior porção de pasto do que produzia uma superfície igual à que ocupa, semeada de luzerna que não fosse transplantada. O incremento que estes prados podem ter naqueles, dantes tão pobres e tristes, hoje tão ricos e risonhos terrenos, é de extrema importância. Duas enormes lagoas, uma das quais é constantemente refrescada e suprida por uma pequena veia de água perene, foram limpas e vedadas construindo-se canos subterrâneos por onde se hajam de sangrar convenientemente. Estas lagoas, colocadas em certa altura, podem regar um vale extensíssimo, óptimo para o aumento de prados. A silvicultura, essa parte tão interessante e tão bela da ciência de agriculturar, tem em Mafra um terrível inimigo – o noroeste. Este vento sopra aí com violência extraordinária. Alguma árvore silvestre, que vivia solitária no meio daqueles matos rasteiros, vergada para sueste na altura das arrancas, estende raquítica os seus ramos açoutados pelas ventanias quase paralelos com a 105 terra. Estabeleceu-se porém um sistema de abrigos, que deve dentro de alguns anos tornar não só possível, mas até fácil, a propagação de árvores de floresta e de fruto. Os pinheirinhos bravos (pinus maritima) cobrem já os cabeços escalvados que se alevantam por meio das chapadas, encostas, e vales, e os castanheiros, carvalhos, e azinheiros bordam os caminhos: estes bosques, quando crescidos, anularão em grande parte a violência dos ventos, e então será possível o plantio de outras árvores silvestres e frutíferas, principalmente das oliveiras, de que já se vão preparando extensos e bem ordenados viveiros. Uma consideração que ocorre naturalmente ao imaginar semelhante extensão de cultura, é a dos adubos, e a do modo de os fazer progressivamente aumentar. Acerca deste ponto capitalíssimo, daremos brevemente curiosas e interessantes notícias, em um artigo especial. Então teremos ocasião de falar dos diferentes métodos de amanhar as terras, que progressivamente se vão introduzindo na granja de Mafra. Os instrumentos aratórios e mais máquinas do serviço agrícola são construídos no mesmo estabelecimento em oficina para isso principalmente deputada. Aí se encontra a charrua inglesa, a araveça grande de uma aiveca, a pequena de duas, o semeador, as grades triangulares e de diversos feitios, o trilho de debulhar, o engenho de traçar cevada, carros ingleses, etc., além dos instrumentos próprios do país construídos com perfeição. Tal é o rápido quadro da transformação que apresenta uma parte desses maninhos inúteis da tapada de Mafra. Importante em si, semelhante transformação muito mais o tem sido pela influência que o exemplo produz naqueles arredores: o agricultor, que por assim dizer palpa as vantagens que resultam de um sistema ilustrado de agri106 cultar, vai abandonando as suas grosseiras usanças, que todos os discursos dos livros não alcançariam estirpar. Mafra está sendo um foco de luz, uma fonte de progresso agrícola. Entre os benefícios que tem produzido este é porventura o maior. Aquela vasta granja, se proporciona a muitos abastança, o alimento para o corpo, oferece e muitos mais as revelações da ciência – o alimento para o espírito. O edifício aí está mendigo, abandonado, canceroso já, e inútil, ao lado da granja cheia de viço, rica, generosa, e abençoada de esperanças. São dois monumentos de dois séculos diversos, ambos obras de Reis. Que a filosofia julgue um e outro, e julgue também as vontades e as inteligências que fizeram surgir um e outro. ALEXANDRE JEAN NOËL (1753-1834) Pintor francês que visitou Mafra, em 1780, e desenhou à vista a Real Obra. No seu Álbum de Desenhos [MNAA: inv. 2544] acham-se quatro apontamentos sobre papel: Portail de 107 Mafra (fl. 18; sanguínea; 169 x 108 mm); Mafra (idem; lápis e sanguínea; 220 x 169 mm); [Torre Sul da Basílica] (fl. 26; sanguínea; 218 x 109 mm); [Zimbório e entrada da Basílica] (fl. 18; sanguínea com anotações de cor; 168 x 218 mm), todos subscritos “Noël 1780”. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra (desenho, pintura e gravura, até 1900), in Bol. Cultural ’97, Mafra, 1998, p. 231-232, n. 14 a 17; MENDONÇA, Maria José, Um Album de desenhos de A. J. Noël na Colecção do Museu das Janelas Verdes, in Boletim dos Museus Nacionais de Arte Antiga, v. 1, n. 3 (1940), p. 121, n. 44 a 47 ALEXANDRE MAGNO (356-323 a. C.) Filho de Filipe da Macedónia, a quem sucedeu em 336 a. C. Discípulo de Aristóteles. Conquistador de um vasto império até à Índia (334-328 a. C.), governou-o como um déspota oriental, tendo fundado numerosas cidades, de entre as quais se destaca Alexandria (331 a. C.). Após a sua morte (323 a. C.) o império, que adoptara grande número das instituições persas (fiscais, divisão em satrapias, etc.), foi partilhado entre os seus generais (diádocos). As lendas baseadas na biografia sobrehumana de Alexandre Magno, conhecidas desde a antiguidade, haviam de adquirir, durante o século V, contornos apocalípticos, inspirados na História de Alexandre do Pseudo-Calístenes (perdida no original grego, mas preservada em siríaco), designadamente mercê do episódio que descreve a construção por Alexandre de uma muralha em pleno Cáucaso para isolar do mundo civilizado as tribos bárbaras que ali encontrara. A transposição pelos Hunos, em 395, daquela barreira propiciaria a divulgação desse incidente mítico, contribuindo para a identificação de tais tribos com os Gog e Magog de Ezequiel e do Apocalipse, consoante a versão consignada numa homília métrica creditada a Jacob de Serugh (c. 451-521), sendo retomada pelo Pseudo108 Metódio. A vida e a lenda de Alexandre constituíram um dos temas recorrentes das artes desde a antiguidade até ao séc. XVIII, período do apogeu dos repertórios iconográficos, inspirados em Plutarco e em Quinto Cúrcio, e destinados a glorificar por analogia os soberanos absolutos reinantes, os quais procuravam na emulação de Alexandre a respectiva legitimação. Em Portugal, foram os casos, entre outros, de Dom Manuel, Dom Sebastião, Dom João IV, etc. Nessa óptica se explica o significativo número de armações (tapeçarias) da História de Alexandre conhecidas em Portugal. No Palácio Nacional de Mafra existem dois tapetes setecentistas iconografando passos da sua vida: 1. Triunfo de Alexandre (Aubusson; 2,60 x 3,92 m; lã e seda; nove e oito fios de urdidura/cm) [inv. n. 2]: o debuxo de Charles le Brun figura a entrada triunfal de Alexandre em Babilónia, em pé, num carro de guerra puxado por dois elefantes. O pano foi encontrado no convento sob uma esteira, devendo o seu arranjo actual a *Dom Carlos. 2. Alexandre recebe Thalestris, Rainha das Amazonas: (Bruxelas: Brabante Jan Leyniers; 4,12 x 4,84 m, lã e seda; dez e nove fios de urdidura/cm) [inv. n. 1]: Alexandre, coroado e sentado no trono, cercado pela sua corte, recebe a rainha das Amazonas, Talestrie, ajoelhada a seus pés e acompanhada por quatro damas, duas das quais trazem presentes. Numa cartela, ao centro da cabeceira superior, lê-se a legenda: ALEXANDER / THALESTRIM.AMA/SONVN.REGI/NAM.RECEPIT” e na orla inferior a marca B (escudo) B. I. LEYNIERS. Em 31 de Agosto de 1882, este pano seguiu para o Palácio da Ajuda para figurar na Exposição Retospectiva de Arte Ornamental (sala P, n. 77), tendo regressado a Mafra em Maio de 1911. Bibliografia: Alexander the Great: History and Legend in Art (cat. Exposição), Atenas, 1980; Catálogo da Exposição de Arte ornamental, Lisboa, 1882, p. 336-337; CHAVES, Luís, in O Arqueólogo Português (1916), p. 323; Guia de Portugal, v. 1, Lisboa, 1924, p. 565; MENDONÇA, Maria José de, Relação dos panos de raz existentes nas colec- 109 ções do Estado, in Bol. da Academia Nacional de Belas Artes, v. 7 (1940), p. 36, n. 25 e p. 40, n. 51; idem, Tapeçarias existentes em Museus e Palácios Nacionais, Lisboa, 1983, p. 176, n. 1 e 178, n. 2; S. B., Os Panos de Arraz da Relação de Lisboa, in Illustração Portuguesa (17 Set. 1906); TABORDA, João, Ócios de um Bacharel, in Diário de Notícias (23 Mar. 1910) ALFAIAS RELIGIOSAS Para o convento de Mafra, *Dom João V caprichou nas encomendas de alfaias religiosas, que existem em profusão notável, expostas no núcleo de Arte Sacra do Palácio Nacional de Mafra e, principalmente, depositadas na *casa da Fazenda, sete compartimentos repletos de armários e gavetões que guardam *paramentos e utensílios de culto. *Adoração, *cálice, *campainha, *naveta, *porta-paz, *píxide, *relicário, *sacra. ALFRED CHARLES SMITH Em 1870, este sacerdote anglicano publicou Narrative of a spring tour in Portugal (Londres). Avistou o Monumento de Mafra desde Sintra, considerando-o “de dimensão colossal” mesmo à distância a que se achava (cap. 53, p. 53). A p. 93, nova referência ao convento, ora aproximado dos seus “irmãos” de Belém e Alcobaça. ALFRED LYALL Em 1927, publicou anonimamente, em Londres, Rambles in Madeira and in Portugal in the early part of 1826. O *voto de *Dom João V, na origem da Real Obra de Mafra, é apresentado como uma lenda (2.ª parte, p. 214). ALFRED VON BERGH Em 1841 (?) publicou as Letzte Reisebriefe von […] über Portugal und Spanien (Berlim), com referências a Mafra. 110 ALFREDO PINHÃO ALEGRIA Conservador dos carrilhões e relógios do Real Edifício, no período compreendido entre 1908 e Abril de 1914. ALICERCE Documentos remontando à época da edificação, dos quais Camilo Castelo Branco se fez eco, afirmam que os alicerces da Real Obra de Mafra se cavaram no sítio da *Vela, a “tiros de pólvora”, a “20 palmos de profundidade”, isto é, a cerca de 4,40 m (visto que cada palmo equivalia a 22 cm), valor que quase coincide com o avançado pelo arquitecto Lino de Carvalho, que aceita que essa cota “pouco excede a cinco metros”. No dia 17 de Novembro de 1717 foram lançadas nos alicerces da Basílica doze medalhas (4 de ouro, 4 de prata e 4 de cobre) expressamente cunhadas para comemorar a colocação da *Primeira pedra do edifício. Depois de bentas, foram introduzidas em duas caixas de ouro redondas acompanhadas por duas lâminas do mesmo metal, uma com o *Agnus Dei de Inocêncio XI e outra com o Agnus Dei do Pontífice reinante. Essas duas caixas foram, por sua vez, depositadas nos alicerces da capela mor, da parte do Evangelho, juntamente com uma arca de ouro contendo a escritura real e dois vidrinhos de óleo santo. A derradeira alteração do projecto, em 1728, obrigou à abertura de novos alicerces com a consequente destruição de parte dos jardins já plantados da *Cerca. *António Soares de Faria, *Medalha de fundação. ALMARJÃO, Minas do Mina n. 16 da *Primeira Tapada. Assim denominadas por se situarem nas terras da Tapada, homónimas; são cinco as nascentes destas minas, distribuídas da seguinte forma: uma, no pinhal da Vela, próximo do forno da telha; outra um pouco mais abaixo próximo da carreira do tiro; e três a pequena distância umas das outras, nas terras do Almarjão; 111 as suas águas são conduzidas por um encanamento de manilhas desde a boca da mina até ao aqueduto principal, que vem do Sonível, dando entrada na casa da água da Rua dos Arcos. ALMAS, Fonte das Também denominada *Fonte das Aulas. No dizer de *Valério Martins de Oliveira (1748), a sua água “era frigidíssima de Verão e de Inverno […] que, metendo a mão nela, e por sua muita friura, se não pode sofrer. Esta qualidade de água é prejudicial a beber-se em todo o tempo, porque decepa entranhas, causa ar, recolhimento de membros, como a experiência mostra”. A nascente desta fonte situa-se sob uma rocha da *Alameda, ao Sul do Real Edifício, e distante deste cerca de 60 m, abastecendo a fonte homónima para a qual é 112 canalizada por um encanamento de ferro; o seu débito (partilhado pela *cozinha Real do *torreão Sul) era suficiente para os gastos usuais do palácio “e mesmo para os extraordinários das jornadas de Suas Majestades a Mafra”. *Frei João de Santa Ana (fl. 182-183) descreve-a como a observou, em 1828: “Junto […] ao dito rochedo, e bem defronte do canto que o Edifício forma ao lado da casa dos Actos, se acha um bocado de muro e entre este e a rocha há uma grande pedra, que posta sobre o muro, e inclinada para o rochedo vai unir-se a ele e serve de tecto às duas nascentes de água que aí se acham. Este tecto está rebocado por cima com cal e areia e unido à rocha com betume. Tirado ele, acha-se um vão em que por duas partes está correndo água da rocha, cujas duas nascentes se vêm juntar no meio em uma pia formada na mesma rocha, sobre a qual está um marco de pedra unido ao muro e na frente dele se acha insculpida a letra P que quer dizer Pia. O mesmo rochedo se estende para o lado do poente e de todo ele está nascendo água até ao lugar, onde próximo à rocha, e perto de uma pequena fonte, está um marco de pedra e nele insculpidas estas letras NTE, que quer dizer Nascente. Toda a água que corre do rochedo desde a principal nascente onde está a dita pia até ao marco em que se acham as letras NTE é recebida em um cano feito na mesma rocha, sobre o qual, para designá-lo, estão postas algumas pedras mais altas que outras, que ali se encontram soltas, e pelo mesmo cano é conduzida à pia que está junta ao muro da principal nascente e é indicada pela letra P. Entre os ditos dois marcos e em mais alguma distância da rocha estão outros dois marcos mais pequenos e em cada um deles insculpidas as letras NTE que designam haver uma nascente por baixo de um e outro marco. A água destas duas nascentes conduzida por um cano que recebe mais água de outras pequenas nascentes, que forma um semi-círculo, e sobre o qual estão colocados algumas pedras, vai ajuntar-se na 113 mesma pia do muro junto à rocha em que está o marco com a letra P. Todos os sobreditos marcos e pedras foram ali colocados por diligências minhas no ano de 1826 em que por faltar inteiramente a água se concertaram os canos, cuja direcção até esse tempo se ignorava e apenas se sabia que dali vinha a água para a fonte das Almas, mas ignorava ao mesmo tempo as diversas nascentes e direcção dos canos e os lugares das pias onde ela se junta”. Num ofício, datado de 5 de Março de 1883 [AHMafra], o almoxarife do Real Palácio de Mafra, Joaquim Manuel de Carvalho, mostrava-se apreensivo quanto às consequências nefastas que poderia acarretar para a nascente a exploração de pedra e extracção de terras da *Alameda, solicitando à Câmara que ordenasse a imediata suspensão dos trabalhos. *Água no convento. ALMOFADA DE MISSAL Almofadas de Missal (Milão) existem na *casa da Fazenda, pertencentes ao acervo da paramentaria conventual. Um Auto do Inventário do Mosteiro de Mafra, do séc. XVIII, arrola-as: “seis almofadas de gorgorão branco bordadas a seda cor de ouro. Doze de cetim dito meias bordadas a seda dito. Doze de damasco dito com galões de seda. Uma de veludo encarnado com galões de ouro. Doze de gorgorão dito meias bordadas a seda cor de ouro. Duas de cetim dito meias bordadas a seda dito. Doze de damasco dito liso com galões de ouro. Oito almofadas de damasco encarnado liso com galões de seda. Duas ditas de veludo roxo com galões de seda. Duas de cetim dito meias bordadas a seda cor de ouro. Vinte [e] duas ditas de damasco roxo com galões de seda. Duas de cetim verde meias bordadas a seda cor de ouro. Vinte [e] três de damasco dito liso com galões de seda. Duas de seda preta tecida a ouro com galões de ouro. Duas de cetim dito liso meias bordadas a seda cor de ouro. Vinte [e] duas de damasco, dito com galões de seda” (O Carrilhão, 5 Set. 1983). 114 ALMOXARIFADO DAS REAIS PROPRIEDADES DE MAFRA O escritório do almoxarifado esteve instalado na sala de entrada do andar térreo do Real Edifício, no espaço actualmente ocupado pelo *Museu de Escultura Comparada. Oriundo do Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, guarda-se no Arquivo Nacional da Torre do Tombo diversa documentação produzida por esta secretaria, designadamente: os Tombos 1 e 2 do Almoxarifado de Mafra [Casa Real: livros 2413, fl. 3-72 e 2414, fl. 3-69]; um Livro de Registo dos Tombos das Reais Propriedades de Mafra [Casa Real: livro 2408]; Recibos e despesas do Almoxarifado da Tapada de Mafra de 1835 a 1840 [Casa Real: livro 1820]; uma Caixa relativa ao Almoxarifado de Mafra [caixa 6469]. *Água na Tapada, *José António Jorge da Costa. ALQUIMIA Também denominada Crisopeia ou Química Hermética. Definida por um adepto português inspirado no Lexicon Alchimiae de Martinus Rolandus como “[…] a arte de resolver os corpos naturais compostos, ou os concretos naqueles princípios de que se compõem, para com a resolução ficarem mais puros e com maiores e mais eficazes virtudes […]”. A Alquimia foi de todas as disciplinas “ingénuas”, i.e., herméticas, a única que em circunstância alguma deixou, desde os seus primórdios, de reivindicar para si a qualificação de divina e revelada, remetendo invariavelmente para o Corpus Hermeticum. Como é sabido a sua penetração na Europa teve lugar por intermédio das traduções latinas de originais árabes, realizadas por eruditos peninsulares, de que sobressaem Domingos Gundissalvo e Gerardo de Cremona (séc XII). Personalidades de nomeada (Daniel de Morley, Rogério Bacon e Alberto Magno) revelam por ela um respeito considerável. De facto, gozou de enorme reputação, ao ponto de o 115 Doutor Angélico, Tomás de Aquino, a considerar lícita desde que se abstivesse de penetrar no campo da magia, concluindo na Suma Teológica poder ser considerado autêntico o ouro fabricado pelos alquimistas. É, de resto, essa a atitude que, de uma forma geral, a Igreja reproduz, desconhecendose qualquer medida eclesiástica, anterior à segunda metade do séc. XIII, dirigida expressamente contra a Alquimia. Só então começaria a ser alvo de ataques virulentos, sendo acusada de servir à manipulação da moeda e declarada falsa pela Bula Spondent quas non exhibent de João XXII (1317). Entre nós, o Leal Conselheiro de Dom Duarte seria o precursor da galeria de opiniões depreciativas até agora documentadas acerca da Crisopeia. Aquele monarca (em cuja biblioteca existia o De Quinta Essentia, apócrifo atribuído a Raimundo Lúlio) trata-a de burla e aos alquimistas de burlões e embusteiros. Tal opinião será revalidada nas centúrias seguintes por Dom Duarte da Gama e Dom João Manuel (colaboradores do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende), Francisco Sá de Miranda, João de Barros, Jorge Ferreira de Vasconcelos, Eloi de Sá Sotto Maior, etc., introdutores de neologismos como Alquime (= ouro falsificado) ou Alquimiar (= fingir, adulterar). Assopradores ou alquimiadores, i. e., falsos alquimistas é inegável que sempre existiram. São conhecidos os nomes de uns quantos nacionais (frei Roque de Almeida, Diogo Mendes, conde de Castelo Melhor) e estrangeiros em trânsito (Giraldo Paris, Torres Villarroel, Cagliostro), merecedores desse epíteto que, todavia, não é lícito generalizar indiscriminadamente. Cultores sérios e abnegados houve da Crisopeia: Afonso V (?), António de Gouveia, *Anselmo Caetano de Abreu Gusmão Castelo Branco, Matias Aires, etc. Ainda uns quantos dos apologistas da Alquimia sob a óptica hermetista, como Manuel Bocarro Francês, Rafael Bluteau, visconde de Figanière, Fernando Pessoa, etc., merecem ser mencionados, para que conste. Aliás, só a notoriedade e o 116 prestígio assinaláveis atingidos pela Crisopeia podem justificar a representação de um artífice dessa Obra Real no túmulo do Rei Dom Fernando (Museu do Carmo e *Museu de Escultura Comparada, de Mafra), para já não referir os inúmeros exemplos conhecidos em Portugal de telas seiscentistas e setecentistas iconografando laboratórios e Filósofos do Fogo em plena actividade. Uma tal notoriedade e prestígio podem igualmente ser deduzidos da tratadística em circulação, constante das livrarias conventuais, de que a de Mafra é, justamente, o caso paradigmático. Alguns alquimistas de quem existem obras na Biblioteca de Mafra (por ordem alfabética) Aeyrenaeo Philaletha, Álvaro Alonso Barba, André Cnoffelli, André Libávio, Anselmo Caetano Munhós de Abreu Gusmão e Castelo Branco, Arnaldo de Vilanova, Arthephius, Averróis, Avicena, Basílio Valentino, Becher, Bernardo Trevisano, Boerhaave, Bracesco, Cláudio Germain, Cortalanei, Cristiano Adolfo Balduíno, Daniel Senerti, Daniel Stolcius, Dinis Zacarias, Dom Espagnet, 117 Emanuel Swendenborg (proibido), Filipe Jacob Sachs, Francisco Tertii Lanis, Frederico Hoffmann, Geber, Gerardo van Swieten, Glauber, Guido Montanor, Helvetius (pseudónimo de Johann Frederich Schweitzer), Henrique Segusio, Hermes Trismegisto, Hortulanus, João Adriano Helvetius, João Aurélio Augurelo, João Baptista della Porta, João Baptista van Helmont, João Crisipo Faniano, João Dausteni, João Fernando Hertodt, João Fernélio, João Gerhardi, João Gernandi, João Grassei, João Hartmann, João Ruélio, João de Rupescissa, João Segerus Weidenfeld, Joel Langelottum, Jorge Agricola, Kalid, Knorr von Rosenroth, Luís de Aldrete y Soto, Luís de Comitibus, Maria a Profetisa, Marsilio Ficino, Melchior Frobénio, Merlim, Miguel Sendivogius, Morienus, Nathanis Albinei, Nicolau Bernaudi, Nicolau Flamel, Nicolau Lémery, Orthelli, Osvaldo Borrichio, Pantaleonis, Paracelso, Pedro de Abano, Pedro Bonus, Pedro João Fabri, Pico della Mirandula, Pseudo-Aristóteles, Raimundo Lúlio, Ripley, Robert Fludd, Rogério Bacon, Salomão Blavenstein, Teobaldo de Hoghland, Teófilo, Tomás Norton, Venceslau Lavinius de Morávia, William Johnson, Zadith. Antologias: Balneis omni quae extent (s. l., s. d.); Bibliotheca Chemica Curiosa (1702, 2 vols.) de João Jacob Manget; Bibliotèque des Philosophes [Chymiques] (Paris, 1672-1678, 2 vols.); Opus Aureum ornatum omni Lapidem Pretioso singulare (Lião, 1532). Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Filosofia Hermética em Portugal e no acervo da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Boletim Cultural ’93, Mafra, 1994, p. 11-74; idem, Subsídios para a bibliografia crítica das fontes e estudos respeitando ao Hermetismo em Portugal. I. Alquimia, 118 Mafra, 1994; idem, Alquimia em Portugal, in Discursos e Práticas Alquímicas 1., Lisboa, 2001, p. 175-229 ALTAR Termo derivado do latim altus, correlato do hebraico mizbe’ah, e do grego thusiathérion. Os romanos designavam por altar uma edícula sobre a qual ofereciam aos deuses sacrifícios, os quais consubstanciavam o reconhecimento e a submissão ao seu poder. Na Aliança Antiga era o altar que santificava a vítima pelo facto de ser depositada sobre ele e, por essa via, cair sob a esfera do sagrado (Genesis, VIII, 20; XII, 7; XIII, 4; XXII, 9; XXVI, 25; XXXIII, 20; XXXV, 1 e 3; Exodo, XVII, 15; XXX, 28; XXXIX, 39; Ezequiel, VI, 3; 2 Reis, XXIII, 12; XVI, 4; XXIII, 8; etc.). Já na Nova Aliança o valor residiria na própria oferenda depositada sobre o altar, porquanto ela figurava o corpo verdadeiro e o sangue autêntico do Salvador. Inicialmente (do século II ao século IV), a celebração eucarística realizava-se sobre o túmulo de um mártir, o qual continha uma cavidade selada com tampo de pedra (pedra de ara), denominada sepulcrum, na qual eram encerradas as respectivas relíquias. Com *São Paulo tornarse-ia altare et mensa, i. e., a mesa do Senhor (mensa Domini), destinada ao consumo da refeição sacrificial ou Eucaristia. Com efeito, foi o autor da Epístola aos Hebreus o primeiro a assimilar a cruz de Cristo ao altar da Lei Antiga (Hebreus, XIII, 10), identificação que seria consagrada ao ponto de numerosos altares antigos apresentarem uma cruz gravada ou incrustrada na face posterior da base. Padres da Igreja, como São João Crisóstomo (Homília sobre a 1.ª Epístola aos Corínteos, XXXVI, 5) veriam no altar o Trono de Cristo. Posteriormente, de Trono de Cristo o altar transformar-se-ia em imagem do próprio Cristo (cf. Pontifical Romano), sinal da Sua presença permanente. Nessa conformidade, a cerimónia de consagração de um altar foi decalcada dos eventos 119 chave da vida de Cristo: baptiza-se o altar, unge-se, marca-se com cinco cruzes de consagração que são as cinco chagas do crucificado, e, enfim, orna-se solenemente com paramentos que constituem o prolongamento e a extensão do Corpo de Cristo. Ao amplificar o tema de Yavé como rochedo de Israel, de molde a integrar a ideia de Cristo como pedra angular, rejeitada pelos construtores e tornada fundamento da Igreja espiritual (Isaías, XXVIII, 26; Actos, IV, 11; 1 Pedro, II, 4 e 6-7; Efésios, II, 20), o cristianismo passaria a adoptar, a partir do século IV, altares de pedra em substituição dos de madeira. Diz Santo António que o altar para o Senhor possui cinco côvados de comprimento, outros tantos de largura e três de altura: “O comprimento designa a perseverança, a largura o amor do próximo, a altura a contemplação de Deus […]” (Obras Completas, v. 2, p. 115-116). Numa igreja o local onde se situa o altar é central, dominante e único, o edifício inteiro converge para o altar, tal como a liturgia converge para o mistério pascal. No entanto, não é conveniente a proximidade do altar e dos fiéis, uma vez que aquilo que melhor define o altar é o seu carácter de lugar santo, arredado do domínio profano, donde a delimitação do seu espaço próprio com grades e cancelos. Na liturgia católica são indispensáveis os seguintes pertences de altar para a missa poder ser dita: três toalhas de linho (das quais a superior tem de pender até ao chão de ambos os lados); o *crucifixo bem visível ao meio da banqueta; pelos menos dois castiçais com velas de cera; as sacras (sendo a do meio a mais necessária); *estante ou *almofada de Missal. *Pedra de ara. ALTAR MOR DA BASÍLICA *Capela mor. ALTARES DA BASÍLICA *Capelas colaterais, *capelas laterais, *capela mor. 120 ALTO DO ASSOBIO Terreno da *Terceira Tapada (24.580 m2). ALTO DOS BARROS, Nascente do Situa-se próximo do caminho que vai do *vale da Guarda para a porta do *Telhadouro, adiante do antigo casal dos Barros e quase na origem do *vale das Éguas. ALTO DAS CALÇAS Sítio da *Tapada. ALTO DOS PALHEIROS, Nascente do Sita na *Terceira Tapada (n. 46), na encosta sobranceira ao *Celebredo, dentro de um olival, em magnífica posição para abastecer o chalet e um bebedoiro para o gado. Em 14 de Novembro de 1900 averiguou-se que a sua produção era superior a 100 litros por dia. ALTO DA TOJEIRA Terra da *Tapada (3.830 m2). ALTO DO URZAL Sítio da Tapada com dez terras. ALTO DA VELA No *pinhal da *Vela, próximo do forno da telha e tijolo, em cuja fabricação a sua água era aproveitada, existe o poço homónimo. ALVA Do latim, alba. Veste litúrgica, de linho branco, em forma de túnica, com mangas estreitas, que desce até aos pés, sendo arregaçada por um *cíngulo. Nos Ordines romanos era denominada linea (por ser de linho), só no século XII passando a 121 ser designada por alba. Trata-se de uma das mais antigas vestes litúrgicas, originada na túnica quotidiana envergada por gregos e romanos. Inicialmente, era usada por todos os clérigos sem distinção, tendo sido substituída cerca do início do séc. XIII pelo *sobrepeliz (alva curta) e reservada aos clérigos de ordens maiores e sacerdotes a partir de finais de quatrocentos. As aplicações de peças sobrecosidas, quadradas ou rectangulares, de seda ou de estofos de ouro e prata, comuns até ao século XVI, deram, posteriormente, lugar a rendas mais ou menos largas, em toda a volta da barra e das mangas. A alva figura a “vida miraculosa e puríssima conversação de Cristo Senhor Nosso enquanto andou entre os homens sem a mínima imperfeição ou mácula”, significando a pureza de coração com que o sacerdote há-de celebrar os ofícios divinos (Mateus, XXXVIII, 3; Apocalipse, VII, 14 e XIX, 8). Ao envergá-la, o sacerdote pronuncia as palavras: “Dealba me, Domine, et munda cor meum; ut in sanguine Agni dealbatus, gaudiis perfruar sempiternis”. Na *casa da Fazenda existiam para serviço da *Basílica, de acordo com um rol setecentista (Auto do Inventário do Mosteiro de Mafra), vinte e cinco alvas em linho encrespado com renda, cinquenta alvas de “esguião finas para encrespar” e vinte nove alvas lisas (cf. O Carrilhão, 15 Set. 1983). Segundo Viterbo: “El Rei Dom João V mandou usar destes regaços e maniquetes em alvas de Mafra e da Patriarcal”. ALVARÁ Diferentes alvarás firmados por *Dom João V, *Dom José I, *Dona Maria I e *Dom João VI, contêm matéria aplicável ao Monumento de Mafra ou a instituições nele sedeadas. Arrolam-se alguns dos mais relevantes: 1. Alvará de fundação do convento de Santo António junto à vila de Mafra (21 de Novembro de 1711): “Eu El Rei faço saber, que por justos motivos, e por especial devoção que tenho ao 122 glorioso Santo António, e por honra Sua. Hei por bem conceder licença por esmola que no distrito da Vila de Mafra se funde um convento dedicado ao mesmo Santo. Lotado para assistirem nele treze Religiosos sómente; com declaração que o dito convento há-de ficar pertencendo à província de Religiosos Capuchos Arrábidos; e este Alvará se cumprirá como nele se contém, que valerá posto que seu efeito haja de durar mais de um ano sem embargo da ordenação do Livro 2, fólio 40 em contrário […].” [ANTT: Chancelaria de Dom João V, livro 35, fl. 355v]. 2. Alvará de nomeação de António Soares de Faria como tesoureiro do dinheiro aplicado a um Convento que Sua Majestade manda fazer e com assistência de seu escrivão Máximo de Carvalho (26 de Outubro de 1714): o convento será na “Comarca de Mafra, dedicado ao Glorioso Santo António para nele assistirem treze Religiosos da Provìncia da Arrábida […]” [ANTT: Chancelaria de Dom João V, livro 42, fl. 157]. 3. Alvará de nomeação de um juiz destinado à cobrança das rendas dos mosteiros extintos dos cónegos regrantes de Santo Agostinho (27 de Maio de 1772): pelo qual Dom José I determinou que um Ministro da Relação e Casa do Porto fosse Juiz Executor e privativo para a cobrança das rendas dos mosteiros extintos dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho que se achavam unidos ao Mosteiro de Mafra. 4. Alvará de fundação do Real Colégio de Mafra (Palácio da Ajuda, 18 de Agosto de 1772): pelo qual Dom José I “há por bem roborar em forma específica o Colégio fundado no Real Mosteiro de Mafra; para nele se educar a Mocidade da Nobreza Civil, e das Famílias honestas, que vivem com decência; e os Estatutos estabelecidos para o bom governo dele”. 5. Alvará de aprovação dos estatutos do Real Colégio de Mafra (Palácio da Ajuda, 30 de Setembro de 1780): pelo qual, Dona Maria I, tomando o Colégio de Estudos do Real Mosteiro de 123 Mafra debaixo da sua Real Protecção, há por bem aprovar, confirmar, e declarar em forma específica os Estatutos do mesmo Colégio, com as declarações, modificações, e alterações, que se acharam ser necessárias para o governo dele. 6. Alvará de depósito legal (5 de Dezembro 1825): ao publicar este alvará, Dom João VI, tornou extensivas à livraria de Mafra as disposições constantes no de 30 Dezembro do ano anterior, que determinava fosse remetida à Biblioteca Pública de Lisboa um exemplar de todas as obras impressas no Reino: “Eu o Imperador e Rei: Faço saber que merecendo a Minha particular Consideração a Real Livraria de Mafra, e Querendo concorrer para o seu aumento, em benefício da Pública Instrução, Hei por bem que as disposições do Alvará de trinta de Dezembro do ano passado para ser remetido à Biblioteca Pública de Lisboa um Exemplar de toda, e qualquer Obra, que se imprimir nas Oficinas Tipográficas do Reino, sejam extensivas à sobredita Real livraria para o mesmo fim, e debaixo das mesmas clausulas, e penas; devendo porém a entrega dos Exemplares ser feita no Convento de São Pedro de Alcântara desta Cidade à pessoa, que para os receber for designada pelo Guardião do Real Convento de Mafra [à data o *padre Mestre frei Manuel da Epifânia]”. ÁLVARO FERRAND DE ALMEIDA FERNANDES Director da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, nomeado a 1 de Outubro de 1951. Abandonaria definitivamente o cargo em 31 de Dezembro de 1960 (com um breve interregno, iniciado a 20 de Maio de 1957, porém interrompido no mesmo ano, durante o qual seria substituído interinamente por *Francisco Xavier Martins). Organizou diversas exposições bibliográficas, de que se salientam: Livros militares e relativos à História de Inglaterra (1952); História da Imprensa (1955) e Obras ostentando marcas de posse (1956). Publicou variados estudos e catálogos bibliográficos, a saber: Obras de 124 Santo Agostinho existentes na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (concluído em Março de 1954 e impresso in Revista Portuguesa de Filosofia, t. 9, v. 1, n. 2, Abr. – Jun. 1955, p. 193196); A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (in Arquivo de Bibliografia Portuguesa, a. 1, n. 3, Jul.– Set. 1955, p. 225-229; n. 4, Out.– Dez. 1955; a. 2, n. 5, Jan.- Mar. 1956, p. 39-49 e, parcialmente, in ICALP, n. 16-17, 1989, p. 170-175); Notícia sobre o exemplar da Copilaçam de todalas obras de Gil Vicente, da impressão de 1562, existente na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra (in Arquivo de Bibliografia Portuguesa, a. 3, n. 9-10, Jan.Jun. 1957, p. 10-15), descreve esta raridade bibliográfica e anota as censuras e advertências manuscritas do censor inquisitorial a quem fora confiado o seu expurgo. Dos inéditos merecem destaque os seguintes inventários bibliográficos: Obras de Medicina e Farmácia (1952); Obras de Joaquim Machado de Castro (Março de 1953); Obras contendo gravuras das cidades fundadas e conquistadas pelos portugueses fora da Europa (Julho de 1953); Obras relativas à Casa de Bragança (Setembro de 1953); Obras sobre o Beato Nuno Álvares Pereira (Abril de 1956); Obras sobre História de Portugal; Obras de Manuel Almeida e Sousa; Obras de Anatomia, etc. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra: cosmologia e mnemotecnia, in Bol. Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 9-70 ÁLVARO GUERRA (1936-4.2002) Diplomata e escritor, autor de Razões do Coração, (1991) romance de paixões acontecidas em Mafra ocupada pelos franceses, no ano de 1808, da autoria de Álvaro Guerra. Dedica diversos parágrafos às tarefas conventuais atinentes à gastronomia: “[…] Mas em tudo há uma ordem natural, as tarefas distribuídas por especialidades, sem atropelos. Frei Inácio de Belém tem a seu cargo a preparação dos presuntos. Frei Francisco do Rosário, o boticário, dedica-se com 125 rigores alquímicos, usando mesmo a balança da sua farmácia, ao tempêro dos enchidos, manipulando doses de louro, de segurelha, de beldroegas, de colorau, de pimenta verde e preta, em três alguidares distintos, um para o chouriço vermelho, outro para o sangue, um terceiro para a farinheira, enquanto frei Policarpo das Chagas lava as tripas a enchumaçar com aqueles sábios recheios, tendo a seu lado seringas para as encher. Frei Paulo de Santa Maria colecciona o material para o cozido – o prezunto, a beiça, a orelheira, o toucinho entremeado, o entrecosto, comentando para Raimundo: Bicho santo, tudo se lhe aproveita! Três outros monges, sentados em banquinhos, diante de alguidares de cobre, descascam as batatas, lavam as coves, raspam os nabos, que hão-de compor a obra de Frei Paulo.” (p. 97). “A sineta anuncia a hora da ceia e os frades passam pela casa do lavatório, antes de formarem em coluna de dois a procissão que pára na casa de profundis, onde rezam aos finados, passando depois pelo refeitório. Ali abancam a duas mesas de pau-brasil cobertas por toalhas brancas de linho, sob as vistas de Cristo e dos Apóstolos na última ceia, única decoração daquelas imensas paredes que dantes albergavam à larga os seus trezentos convivas, espaço agora demasiado vasto para os dezoito frades e dois convidados. Cada um tem diante de si um jarro de vinho e outro de água, os talheres de cabos de chifre, os pratos e as canecas de barro. Logo desembocam da porta da cozinha Frei José dos Mártires e Frei Lúcio do Menino Jesus com duas travessas de cozido fumegante. Seguem-se o entrecosto, as febras, as papas de sarrabulho, a sopa do cozido e o remate angelical do arroz doce acompanhado de copinhos de aguardente de pêra” (p. 98). AMÂNCIO JOSÉ HENRIQUES Segundo Tenente da Marinha, Ajudante Arquitecto da Casa do Risco das Obras Públicas e Director das do Régio Palácio 126 e Convento de Mafra. Em 1827 ofereceu à *Biblioteca as plantas do Monumento de Mafra, por si levantadas, explicadas no Real Edifício visto por fora e por dentro de *frei João de Santa Ana. AMBRÓSIO, Santo (340-397) Filho de um Prefeito das Gálias, estudou em Roma, sendo nomeado governador de Milão e Génova. Quando tentava mediar um conflito entre católicos e arianos a propósito da nomeação do bispo de Milão seria ele próprio eleito para desempenhar o cargo. Produziu vasta obra literária, tendo sido responsável pela introdução do canto alternativo de hinos e salmos. Terá contribuído para a conversão de *Santo Agostinho, sendo-lhe atribuídos diversos milagres. Na imagem de vulto (mármore; h= 2,45 m) da *capela de Jesus Cristo Crucificado (altar 10 e *baptistério) da *Basílica de Mafra, atribuída ao escultor florentino *Giuseppe Broccetti (1732), é figurado com o livro, a mitra e o báculo, atributos alusivos à sua obra literária e à sua dignidade episcopal. AMBRÓSIO DA CONCEIÇÃO, Frei Presidiu a diversas *Conclusões de Teologia (impressas entre 1755 e 1761, em Lisboa). AMÉLIA, Dona (28.9.1865-25.10.1951) Maria Amélia Luísa Helena de Orléans. Filha de Luís Filipe Alberto, conde de Paris e duque de Orléans e de sua esposa, Maria Isabel Francisca de Assis, Infanta de Espanha. Casou, a 22 de Maio de 1886, com *Dom Carlos I. Partiu para o exílio, da Ericeira, dia 5 de Outubro de 1910. Do acervo do *Palácio Nacional de Mafra consta um retrato a *aguarela (1885), retocada com gouache, subscrita por *E. Casanova. Dona Amélia foi ainda retratada em Mafra nas duas fotografias seguintes: 127 1. Dona Amélia regressa de passeio equestre pela Tapada (6 ou 7 de Fevereiro de 1910 ?): é possível que o acompanhante da Rainha seja o Conde de Galveias. 2. Dona Amélia visita Mafra (20 de Janeiro de 1945): a monarca deslocou-se a Mafra acompanhada pelo visconde de Asseca. Distinguem-se, além do então Presidente da Câmara, capitão João Lopes, outros notáveis locais, como, por exemplo, o doutor Carlos Galrão. 128 Bibliografia: BREYNER, Tomás de Mello, Diário de um Monárquico (1908-1910), Lisboa, 1992, p. 240; O Concelho de Mafra, n. 559 (26 Nov. 1951) AMÉLIA LEUCHTENBERG, Dona (31.7.1812-26.1.1873) Amélia Augusta Eugénia Napoleão de Beauharnais. Terceira filha do Príncipe Eugénio de Beauharnais, duque de Leuchtenberg e de Augusta Amélia da Baviera. Segunda esposa do Imperador do Brasil, Dom Pedro I (*Dom Pedro IV de Portugal), com quem casou em 2.8.1829, tornando-se Imperatriz Douairière do Brasil. Do acervo do *Palácio Nacional de Mafra constam os seguintes retratos seus: 1. Retrato, acompanhada pela filha: óleo s/ tela (1335 x 1090 mm) [inv. 2031], s. a. [*T. Durck]: a Imperatriz sentada, traja vestido de veludo escuro de que se veem no forro da manga esquerda arminhos. Tem junto a si *Dona Maria Amélia de Bragança, ainda menina, de pé, com um leve vestido branco e uma echarpe lilás. A pintura foi restaurada em 1985 pela Arterestauro e a moldura (em casquinha dourada) tratada. 2. S. M. I. D. Amélie Imperatrice Douariere du Brésil […]: litografia (437 x 348 mm) de *J. Fertig., cópia do óleo de Durck. Bibliografia: SOARES, Ernesto / LIMA, Henrique de Campos Ferreira, Dicionário de Iconografia Portuguesa, v. 2, Lisboa, 1948, n. 1839 H, p. 351 e v. 5, Lisboa, 1960, n. 5133, p. 402 AMIGOS DE LISBOA Para assinalar uma visita cultural dos Amigos de Lisboa à *Biblioteca de Mafra, no ano de 1967, foram expostas obras sobre esta cidade. ANA, Santa Pode ser identificada com a Ana ou Anat aramaica que os fenícios tinham por parceira do Deus Baal de Tiro. A exaltação de Santa Ana foi uma das formas usadas para explicar o 129 privilégio da Imaculada. No Ocidente remonta ao século VII, tendo-se desenvolvido a partir do XIV (26 de Julho), por ocasião das discussões a propósito da definição do dogma da Conceição de Maria. O desconhecimento absoluto sobre quem foram os pais da Virgem inspirou a adopção dos caracteres de Hanna, mãe de Samuel (Reis), difundidos pelos apócrifos (Protoevangelho de Tiago, etc.). Na *capela de Nossa Senhora da Conceição (altar 3) da *Basílica de Mafra observa-se uma imagem de vulto figurando a mãe da Virgem, em mármore (h= 2,45 m), de escultor italiano não identificado. ANA DE JESUS MARIA, Dona Nono filho de *Dom João VI, então Príncipe-Regente, e de *Dona Carlota Joaquina. Nasceu nos *aposentos régios situados no *torreão Norte do Palácio de Mafra, aos 23 dias do mês de Dezembro de 1806, razão por que a apelidaram de *Infanta Saloia. Segundo as crónicas coevas, as preces começaram na Basílica do Monumento em 3 de Dezembro, tendo o parto sido anunciado, com foguetes, em 23, às sete e meia da manhã, tangeram os sinos maiores das torres e ouviram-se os carrilhões. Na *Basílica celebrou-se missa Pontifical com Te Deum e bênção. Em 28 houve o costumado beija-mão no Paço, onde a corte se encontrava desde os princípios de 1806. O *baptismo da Infanta teve lugar na *capela das Santíssimas Virgens e Viúvas da Ordem Seráfica (altar 11), da Basílica, em 18 de Janeiro de 1807, sendo cantado o Te Deum para cinco órgãos de Marcos de Portugal, com a duração de 48 minutos (*Eusébio Gomes). A cerimónia seria relatada por um religioso anónimo do convento de Mafra. A festa em acção de graças realizar-se-ia na mesma Basílica em 25 de Janeiro de 1807, sendo cantada a Missa Breve [PNMafra: R. Mms. 1.4] para quatro vozes e seis órgãos de *Baldi (Eusébio Gomes), orando o padre-mestre Santa Ana 130 do cenóbio mafrense e concluindo a cerimónia com a procissão do Sacramento. Relato anónimo do baptizado da Infanta Dona Ana de Jesus Maria No dia 18 de Janeiro de 1807 baptisou-se a Senhora Infanta Dona Ana de Jesus Maria, 9.ª filha do Príncipe Regente Nosso Senhor no Real Convento de Mafra. Prelado baptizante foi o Principal Deão da Santa Igreja Patriarcal, Padrinhos o Senhor Infante Dom Pedro Carlos e a Senhora Princesa Dona Maria Benedita, Assistentes ao Prelado Monsenhores Rebelo e Valadares, 4 mestres de cerimónias da Patriarcal, 8 Acólitos da mesma, 2 Altareiros e 2 Tesoureiros, etc. 131 Ornato da Igreja, do dia referido: o Altar-mor tinha todo relicário e banquetas ricas, frontal, e cortinado da primeira ordem nas tribunas, cortinas e docel branco, alcatifa encarnada, e todas as mais tribunas da Igreja ornadas. À porta da Igreja, do lado da Epístola, no Altar das Virgens, estava a Pia do Baptistério. Sua factura é semelhante a uma maquineta de madeira; é coberta nas ilhargas e costas; estava toda forrada de damasco encarnado e branco dourado de lama, na frente formava um portal com arco em cima e as cortinas do mesmo portal apanhadas. Na frente em cima ao fechar tinha as armas do Reino. No meio ficava a pia que era de pau, todo bornido e pintado, sobre o estrado da mesma factura da maquineta. Tinha dentro, na tal pia, uma toalha finíssima, toda ornada de renda branca, e por cima a tampa que cobria tinha um pano de damasco branco bordado de oiro que cobria a mesma pia. Aos lados estavam duas credências, cobertas de seda encarnada, uma tinha o vaso de Lavanda e pratos de Gremial e limão; e a outra servia para se pôr coberta da pia quando se tirava da parte direita da mesma capela, estavam também cadeiras para os Senhores se sentarem e almofadas de veludo roxo, etc. No altar do crucifixo, fronteiro ao da pia do Baptistério, estava o leito para a Menina, todo coberto por cima, e em roda, ornado de damasco de oiro, de seda encarnada, figurando leito imperial; na capela de S. Pedro de Alcântara da parte de dentro do cancelo, estava também outro semelhante para o mesmo destino. Na manhã do mesmo referido dia 18 às 6 horas tocou-se a Prima, e como também Tercia, Missa conventual, e Sexta, e Noa; e pelas 10 e meia tocaram solenemente os sinos, e cantou Missa votiva solene o Guardião, que foi a do SS. Nome de Jesus, uma só oração, Glória, Credo e Prefácio da Natividade. 132 Antes de se dar o princípio à referida Missa votiva 2 moços de Câmara, acompanhados de 2 Archeiros, tinham ido buscar água em duas quartas de prata, à fonte mais próxima desta vila, e apenas chegaram, foi lançada na dita pia por um dos Mestres das cerimónias que estava junto ao Baptistério. Concluída a referida Missa a que assistiu S.A.R. e alguns fidalgos: os Ministros e o Celebrante vieram todos 3 ao lado da Epístola, e aí tiraram os seus manípulos, o do Celebrante, estola e casula: e vestiram-lhe a estola roxa e pluvial; o Estandarte tinha a este tempo entrado pela porta do Evangelho conduzido por um Acólito; os Ministros Diácono e Sub diácono retiraram-se à Sacristia, o Celebrante sentou-se; entretanto os Acólitos ceroferários, pegando nos castiçais, juntaram-se à Cruz, e principiaram a caminhar até ao Altar das Virgens e seguindo a nossa Comunidade. A Cruz ficou junto ao cancelo de fora do Altar, e a Comunidade situou-se em 2 alas até defronte do altar do Crucifixo. O Príncipe Regente e a sua Família Pequena todos entraram para dentro da Capela do Baptistério, e assistiram a todo o Acto. O Celebrante Guardião ficou de fora fechando a Comunidade; tendo aos lados 2 Mestres de Cerimónias, e atrás o Acólito do Livro. Deu-se princípio às Ladainhas pelos 2 cantores de sobrepelizes e prosseguiu a cantar a nossa Comunidade. (Ora já antes disso se tinha descoberto a pia por um dos Mestres de Cerimónias). Antes do verso – ui nos exaudire digneris – o Celebrante Guardião levantando-se em pé, disse por 2 vezes cantando o verso- ut Tentum istum = como está no ritual = formando as Cruzes às palavras benedicere+et consecrare+digneris = tornando a ajoelhar até ao último Kirie elison = disse depois o Pater noster, e Credo em voz alta, em tom ferial e os versículos seguintes como tem o 133 ritual. A primeira oração disse-a em pé; daí caminhou para o Baptistério, ao Exorcismo da água virando-se para o Altar, dizendo ao mesmo tempo as palavras – Exerciso te criatura aquae = e tudo mais como está no ritual romano – cap. 7 da Benção da Fonte Baptismal, que se costuma fazer fora dos dias Sábado Santo e do Pentecostes. Concluído todo o acto da Bênção que o CelebranteGuardião cantou em voz alta, e deitados os óleos pelas galhetas de Catecúmenos e Crisma, misturou-se outra parte de água na pia do Baptistério que estava em dois frascos de cristal, que tinha vindo do Jordão. O Celebrante-Guardião depois de lançada a referida água, metendo a mão direita dentro, girou em roda toda a pia, revolvendo uma com a outra água. Cobriu-se a pia e retiraram todos ao corredor da sacristia, lavando antes o celebrante as mãos em limão e jarro de água que tudo estava numa credencia ao lado do Evangelho do mesmo altar da Capela das Virgens. A todo este acto assistiram o Príncipe Regente N. Senhor, seus filhos, Camareira-mor e dois camaristas, Conde de Caparica, Marquês de Dagos, Conde de Valadares e Guarda-roupas Lobatos. [Preparação para o acto do baptismo na capela-mor e Igreja] Na capela-mor estava o paramento branco para principal, como é costume no meio do altar; mitra preciosa; faldistório vestido de branco e alcatifa; ao lado da epístola três credências, duas ao lado da Epístola e uma, a do Evangelho que estava deste lado chama-se credência das ofertas, em que tinha os Santos Óleos cobertos de véu branco bordado, e dois castiçais aos lados com luzes. As duas credeências da Epístola uma era da Lavanda, outra da pia do Baptismo. A da lavanda tinha vasos de prata e bacias, e a outra da pia tinha também dois grandes jarros 134 de prata dourados, um prato pequeno também de dourado com a concha dentro, e a pia baptismal em que se lançou e trouxe água do Baptistério. Ambas estas credências estavam cobertas de seus véus de volante e com franja prateada em roda. Esta credência também tinha aos lados dois castiçais com luzes. No corpo da Igreja, defronte do Altar dos Mártires, estava o faldistório coberto de roxo com a face virada para o mesmo altar e alcatifa por baixo. Junto à grade do mesmo altar da parte de fora entre os confessionários estava também uma credência coberta com um pano de seda roxo, e em cima, tinha um prato com um vaso dentro do sal para a Menina. À entrada da Igreja, junto do altar do crucifixo, na frente do leito imperial, estava também uma credência ornada de damasco encarnado, destinada para os fidalgos reporem e descansarem as insígnias. [Ornato das salas do Palácio] A sala da antecâmara estava ornada de damasco e leito imperial. A sala dos veadores estava também ornada de cortinas de damasco encarnado. Tinha a um lado o docel e uma mesa por baixo coberta de veludo encarnado onde estavam as insígnias, veste cândida, vela com quatro ducatões cada um de 20 mil réis. Estava também o sendal para o mordomo mor e que serviu o Visconde de Barbacena, por impedimento do Conde de cavaleiros. Enfim, a um lado da mesma sala dos veadores estava também o pálio branco, todo bordado em ouro que serviu para conduzir a menina. Da ordem e disposição dos indivíduos que pertenciam a este acto, como guardas reais, archeiros e trombeteiros que vieram assistir para a alas do corpo da Igreja, e para a instrumental: 135 Archeiros estavam em duas alas perto do corpo da Igreja, e os instrumentistas trombeteiros estavam uns no altar da pia do baptistério e outros, pela galilé até à escada onde havia de sair os personagens pertencentes ao baptismo. Na Igreja também não entravam homens de capote, meramente pessoas de casaca e asseadas. Dispostas assim as coisas, o principal deão, preparado no seu quarto de capa magna com peles, encaminhou-se à Sacristia, acompanhado dos Mestres de Cerimónias Patriarcais e do seu Caudatário. Aí achou já preparados no altar o paramento roxo, amicto, alva, cíngulo, cruz, estola e pluvial e mitra aurifrígia. Estavam também já prontos de sobrepelizes sobre o roquete os monsenhores Rebelo e Valadares assistindo ao referido prelado e também outros mais acólitos patriarcas. Os referidos assistentes encaminhando-se ao prelado, já sentado no faldistório, tirando-lhe o solidéu encarnado e a capa magna. Prepararam-no de roxo conduzindo do altar os paramentos os acólitos. Já a este tempo estava também disposta em duas alas a nossa comunidade no corredor da sacristia, esperando que o dito prelado se paramentasse. O que tudo feito caminhou a Cruz processional Patriarcal, que a nossa comunidade seguiu a dois e dois. Atrás, os acólitos do pontifical e mestres de cerimónia patriarcais e ultimamente sua Exa. com os dois assistentes aos lados pegando nas fímbrias do pluvial. A Cruz ficou logo junta aos cancelos de Santa Bárbara com os acólitos aos lados e a Comunidade ficando logo aí junto da Cruz os mais novos, os mais velhos foram-se espalhando em duas alas até quase junto à capela onde estava a pia do baptistério à entrada da Igreja. O prelado sentando-se no faldistório que estava na Igreja defronte da capela dos Mártires aí esperou que chegasse perante si toda a comparsa do Paço. 136 [Entrada na Igreja para o baptismo da menina] Disposta em comparsa toda a fidalguia do Paço, todos saíam da antecâmara da Menina para a sala dos Veadores, onde estavam as insígnias e o pálio na sala do docel. Vinham adiante da comparsa seis porteiros da câmara com seis maças de prata, e outros tantos sem elas, vestidos todos de suas vestes pretas, com mantelões e cabelos caídos. Atrás destes os arnaltos ou reis de armas vestidos de sendais bordados a ouro. Seguia-se a estes o Juiz do Povo e seu escrivão ambos de vara e vestidos de mantelões e cabelos caídos. Atrás deste a Corte toda e fidalguia. Em último lugar todos os fidalgos de título. Em seguida a estes as insígnias. Em primeiro lugar o Marquês de Pombal que levava o prato dos massapães. Depois deste o Marquês de Penalva que levava uma salva de prata a Veste Cândida. Imediatamente logo a seguir a este o Duque de Cadaval com a vela com os ducatões numa salva. Aos lados de cada um dos fidalgos que levavam as insígnias iam dois moços fidalgos acompanhando-os. Depois de todos os fidalgos das insígnias seguiu-se o Príncipe Regente Nosso Senhor e os seus Meninos Filhos. Atrás destes, chegado ao pálio adiante iam os Padrinhos Infante de Espanha e a Princesa Viúva. Nas hastes do pálio pegavam os Marqueses mais antigos, indo adiante os mais antigos pelas nobreza e títulos de suas casas e família. Debaixo do pálio pegava na Menina o mordomo mor Visconde de Barbacena, levando ao seu lado de uma e outra parte dois moços fidalgos para o ajudarem a pegar na Menina. Atrás do pálio iam todas as Snras. Pessoas Reais, excepto a Mãe. Iam também todas as Damas do Paço com seus donatários e Camareira-mor com sua irmã. Toda esta comparsa veio pela galilé, a entrar pela porta principal da Igreja, onde a nossa comunidade a espe137 rava, e juntamente o Prelado Deão junto ao seu faldistório, com os dois monsenhores e os mais senhores patriarcais. Apenas todos entraram tomando e seguindo os seus respectivos lugares, a Menina conduzida pelo mordomo mor foi, entretanto tomar posse do seu leito que estava no altar do crucifixo. Concluída esta pequena demora trataram todos se encaminharem pela Igreja acima e o mordomo mor, levando perante do Prelado Deão a Menina, ele a esperou em pé. Chegou e sentou-se logo, dando princípio às perguntas e exorcismos, tendo aos lados os Monsenhores e mestres de cerimónias Acólitos do Livro, e Candela e os padrinhos da Menina. Prosseguiu todo o acto de exorcismos, ora sentando-se e levantando-se no tempo que tirava a Mitra e cantava as orações. Como expressa claramente o Pontifical para o baptismo dos meninos. [Conclusão do acto de exorcismos e comparsa para a Capela mor] Completo todo o acto de exorcismos encaminharam-se à Capela mor. Os nossos maceiros principiaram a caminhar, atrás destes a Cruz Patriarcal e nossa comunidade. Atrás seis porteiros da Câmara com as maças de prata, outros tantos sem elas. Logo os arnaltos, passavantes, reis de armas, juiz do povo e seu escrivão, moços de câmara, depois Corregedor do Crime, Corte e Casa. Todos estes ficaram em alas à porta dos cancelos da Capela mor da parte de fora. Logo imediato a estes, os fidalgos de título estes todos entraram para a Capela mor. Atrás logo os fidalgos que traziam as insígnias, que foram tomando os seus lugares no presbitério, e depositando-as na credência as suas insígnias. Os mais fidalgos da comparsa, esses foram tomando os seus lugares 138 no coro onde é costume dentro das cadeiras. Seguiu-se a estes o principal, com os seus assistentes que se encaminharam ao faldistório no lado da Epístola. Em conclusão, o Príncipe Regente Nosso Senhor, a Menina nos braços do mordomo-mor, o padrinho e madrinhas aos lados, e atrás do pálio a Camareira-mor e as Damas com os seus donários. 139 O Príncipe Regente e seu filho, depois de estar já no presbitério, tomou o lugar do costume e seu filho na cadeira do coro. Os fidalgos que pegaram nas hastes do pálio, depois que todos entraram para a Capela mor, tomaram o lugar das cadeiras unidos aos outros. Tendo todos tomado os seus respectivos lugares, o Principal sentou-se no faldistório e despindo o paramento roxo ajudado dos assistentes e acólitos, tomou o branco e mitra preciosa. E conduzindo o faldistório para o supedâneo no meio do altar, aí se sentou virado para o povo, com os assistentes aos lados. Entretanto, o mordomo-mor conduziu a menina para o leito da capela de S. Pedro de Alcântara e as damas todas e padrinhos da mesma menina acompanharam. Feita a breve demora e cerimónia, caminharam outra vez para a Capela mor pela porta do lado do Evangelho o mordomo mor e todo o acompanhamento que dantes tinha ido. As damas todas fizeram alas no plano do presbitério de um a outro lado à frente do altar e o mordomo mor e padrinhos da Menina, ficaram no ínfimo degrau. O prelado deão prosseguiu o acto das perguntas segunda vez, como expressa o Pontifical. E para a acção de baptizado fez mesmo sentado com a mitra na cabeça. Pegando o padrinho na criança e administrando da credência os dois acólitos que traziam a pia e a concha para água. Para a unção dos óleos um acólito trouxe da credência a âmbula, igualmente também a veste cândida e a vela, a que ajudaram os padrinhos como é costume nos baptismos e expressa o pontifical. Também serviu de submilher de cortina, para limpar com algodão os óleos à Menina, o Principal Furtado, que também era convidado para este fim antes pelo mestre de cerimónias. O seu lugar no coro, era na primeira cadeira, junto ao arcebispo de Braga e ao bispo de São 140 Tomé, ao lado da Epístola. Completa toda a acção do baptismo, retiraram-se para o leito imperial a Menina nos braços do mordomo mor e todas as mais damas que acompanharam este acto. O principal deão, tirando-se-lhe a mitra e o faldistório de baixo, virou-se para o altar com os assistentes e levantou o Te Deum a que o coro prosseguiu de música. No fim concluíu com os v. v. e orações progratiarum actione e recebendo depois a mitra deitou a bênção como é costume nos pontificais. No fim de tudo veio sentar-se e caminharam a Cruz e a comunidade e todo o mais acompanhamento de fidalgos até à porta da Igreja a recolherem-se no Paço e daí para o corredor da sacristia em que se deu fim a todo este acto. Em diversa da correspondência que Dona Ana de Jesus Maria endereçou ao pai existem alusões a Mafra (cf. Ângelo Pereira, As Senhoras Infantas filhas de El-Rei D. João VI, carta VIII, IX, X, XI, XV, p. 171, 172 e 174 e Bol. Cultural ’98, Mafra, 1999, p. 658-659). Bibliografia: IVO, Júlio, A Infanta D. Ana de Jesus Maria, in Revista de Arqueologia, t. 3 (1936-38); PEREIRA, Ângelo, As Senhoras Infantas filhas d’el-rei D. João VI, Lisboa, 1938, p. 151-175; idem, As filhas d’elrei D. João VI, Lisboa, 1946, p. 569-580 ANACLETO VENTURA DE CASTRO Superintendente da *Obra de Mafra durante o reinado de *Dom José I. Os papéis, “pertencentes ao ajuntamento das contas dos Mestres Empreiteiros da Real Obra de Mafra” foram os únicos de todo o cartório da dita superintência que escaparam ao incêndio “que precedeu o terramoto de primeiro de Novembro de 1755”, por então se acharem em seu 141 poder [ANTT: Núcleos extraídos do Erário Real Régio, Casa das Obras Reais: Obras de Mafra, livro 81]. ANAGRAMA Do grego, anagramma. Palavra ou frase elaborada a partir da transposição ou da reordenação das letras de uma outra 142 palavra ou frase com sentido distinto. Exemplos: Amor = Roma; Quid est veritas? = Est vir qui adest; Natércia = Catarina (Camões); Bimnarder = Bernardim; Aónia = Joana; Elmano = Manuel (pseudónimo de Bocage), etc. Este artifício, sumamente enfatizado no período barroco, foi codificado por Alonso de Alcalá y Herrera e Bento Rodrigo Pereira (Compêndio Rhetorico ou Arte Completa da Rhetorica, Lisboa, 1794, p. 256-257) e violentamente atacado por Vernei, que o considera prova do mau engenho dos “poetas tolos dos séculos XVI e XVII” (Verdadeiro Método de Estudar, Lisboa, 1950, v. 2, p. 223-225). O Monumento de Mafra suscitou diversas composições anagramáticas, sendo de assinalar sobretudo as seis produzidas pelo engenho de *frei José de Nossa Senhora (Lisboa, 1731), bem como uma outra, anónima, constante do códice 425 da Biblioteca Nacional de Lisboa. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Ideia do Monumento de Mafra: arquitectura e hermetismo, in Bol. Cultural ’94, Mafra, 1995, p. 33; idem, Poética barroca do Monumento de Mafra, Mafra, 2002 ANASTÁCIO DOS SANTOS, Frei Substituto de Teologia (1743), de Escritura (1744 e 1745) e Leitor de Teologia (1747). Qualificador do Santo Officio, e Penitenciário Geral da Ordem Seráfica (Convento Real de Nossa Senhora, e Santo António junto a Mafra em 31 de Janeiro de 1749). Presidiu a umas Conclusiones Theologicas de Actibus Humanis (Lisboa, 1752), defendidas por *frei Nicolau de Santa Ana. Em 27 de Fevereiro de 1761, na sua qualidade de Ministro provincial dos franciscanos, transmitiria ao Guardião do convento de Mafra, uma ordem de *Dom José I, pela qual o monarca determina se não introduza nas lamentações da *Semana Santa “solfa alguma de novo e que só se cante com órgão flautado o Miserere que compôs Manuel Soares”, vulgarmente conhecido pela alcunha do *Carne de 143 Vaca (cf. O Concelho de Mafra, 24 Set. 1933). Subscreve a Approvação dos Sermoens varios, Panegyricos, e Moraes (tomo 6, Lisboa, 1750), de *frei António de Santa Ana. ANATOMIA Ao abandonar definitivamente o cargo de director, em 31 de Dezembro de 1960, *Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes deixou inédito, entre outros trabalhos, um catálogo das Obras de Anatomia do acervo da *Biblioteca de Mafra. ANDAR NOBRE *Palácio. ANDAR SUPERIOR *Mezaninos. ANDAR TÉRREO Frei João de Santa Ana adverte os seus leitores (fl. 103-104) para as características gerais deste piso: “1.ª Todas as casas deste andar, excepto aquelas que se fizer especial menção têm de alto 29 palmos [29 x 0,22 = 4, 28m]; 2.ª Todas as janelas das frentes, dos claustros, pátios, excepto os de que se fizer especial menção têm grades de ferro de 14 palmos de alto e 7 de largo e tal é o tamanho das janelas nas frentes exteriores, nas por dentro com o vão têm cada uma de alto 19 palmos. Todas têm ombreiras de pedra tanto na face exterior, como na interior, excepto as das Celas dos Religiosos e poucas mais, que as têm só na face exterior; 3.ª Todos os portões, excepto os de que se fizer especial menção, têm de alto 14 palmos e de largo 7; 4.ª Entendo por janelas interiores aquelas, que estão nas paredes interiores e que recebendo luz das janelas das frentes e outras que deitam para os claustros, pátios e […] a comunicam para as casas, corredores e escadas interiores; 5.ª Todos os portões e janelas de todo o 144 edifício são ornados de cantaria não só na face exterior das janelas, mas também na interior, à excepção das que pertencem a algumas pequenas casas, como celas, que têm cantaria só na face exterior; 6.ª Em todas as escadas do Edifício ou elas sejam grandes ou pequenas, largas ou estreitas, não há um só degrau delas que não seja de uma só pedra”. Mais nota o arrábido que, no que concerne à planta deste piso, há uma discrepância que convém assinalar (fl. 49): “Ainda que a igreja verdadeiramente não deve ser desenhada na planta 145 térrea, por estar o seu pavimento 19 palmos [4,28 m] mais elevado que o da praça e casas térreas de todo o Edifício, contudo, como o Autor das Plantas, quando fez a térrea, não tencionava fazer mais alguma, julgou necessário designá-la na planta térrea, para que nesta se fizesse menção de um templo tão magnífico e majestoso e que além disto é a parte principal do edifício. Porém como o autor depois de feita a planta térrea, se resolveu a fazer a do segundo andar, desenhou nela novamente a igreja com a sacristia e mais casas que ficam no mesmo andar. Eu pois havendo de fazer a explicação de ambas as plantas e a descrição de tudo o que nelas se contém para proceder com clareza e seguir a ordem da numeração, que se acha em ambas as plantas na explicação térrea só descreverei o átrio, porque pertence mais à planta térrea do que a outra. Do átrio e da igreja, que estão no pavimento do 2.º andar, só darei uma breve notícia do que designam os números, que se acham na planta térrea, guardando fazer uma exacta descrição deste majestoso templo e de tudo o que lhe diz respeito quando fizer a explicação da segunda planta”. ANDRÉ, Santo O apóstolo Santo André (do grego: an, andrós, homem, i. e., Adão), situa-se entre João Baptista e a *Jerusalém Celeste, encarnando a passagem da Aliança do Sinai à de Cristo, encerrando, por conseguinte, o ciclo da profecia na posteridade de Jacob. O seu papel inscreve-se entre dois mundos (este e o vindouro), duas cidades santas (a terrestre e a celeste), duas portas (da Fé e do Conhecimento Perfeito ou Caridade) dois santos (o Baptista e o Evangelista). Juntamente com Pedro, Tiago e João, foi um dos que colocaram a Jesus a questão primordial quanto à destruição do Templo e ao Fim do Mundo: “Quando hão-de suceder estas coisas? E que sinal haverá de quando todas elas se começa146 rem a cumprir?” (Marcos, XIII, 3-5). Na Jerusalém Celeste toda a Natureza humana dispersa se reúne no Adão Primordial, reparador e divino, símbolo da Vida Eterna, expresso na cruz aspada (X) que identifica Santo André com o Sol de Justiça e a *Cidade Solar que desce do Alto (X = 10 = Tétractys = número perfeito por excelência). Na *capela de Nossa Senhora do Rosário, São Francisco e São Domingos (altar 6) da *Basílica de Mafra observa-se uma imagem de vulto deste protoapóstolo (mármore; h= 2,45 m), subscrita por *Jerónimo Ticciati. ANDRÉ GONÇALVES (f. 15.6.1762) Pintor, discípulo do genovês Júlio César de Fernine e muito influenciado por *Sebastião Conca, *Agostinho Masucci e Carlo Maratta. Além dos óleos que pintou para a *capela dos Sete Altares e para a sacristia da capela de Nossa Senhora do Livramento (*Assunção de Nossa Senhora), andam-lhe atribuídas mais duas telas constantes do acervo do *Palácio Nacional de Mafra: uma figurando uma alegoria à *Santíssima Trindade e outra um *São Pedro de Alcântara em Adoração à Virgem (cf. Pier Paolo Quieto, p. 119-122). ANDRÉ DE JESUS MARIA, Frei Leitor de Lógica e Física, no ano de 1737 e Metafísica no de 1738, findo o qual se retirou para a sua Província. Presidiu a diversas *Conclusões de Filosofia, salientando-se, entre outras: Aurorae Philosophicae Diluenda Logicalia Subtilissimus Scotisticae mentis roribus Aristotelicum viridarium foecundantia, Philosophiaeque naturam, Terminos, et Logices Proaemialis illustrantia (Lisboa, 1737) [BN: TRUNC 628 A]; Conclusiones Philosophicas-Logicam, Physicam, Generationem, et Corruptionem, Animasticam, ac Metaphysicam amplectentes (Lisboa, 1739) [BN: L 113 A]; Theoremata Metaphysica de natura entis ut sic principiis, et passionibus ejus […] (Lisboa, 1739) [BN: TRUNC 614 A]. 147 ANDRÉ LEHR Por carta dactilografada em inglês, datada de Asten (Holanda), em 3 de Fevereiro de 1981 [AHMafra], comunicava à Comissão Municipal de Turismo de Mafra que, estando de posse da credencial, por si solicitada na Embaixada de Portugal em Haia, que o autorizava a examinar os carrilhões durante três dias, tencionava cumprir a sua missão de 4.ª feira, 18 de Março, a 6.ª feira, 20 do mesmo mês. Avisava ainda que necessitaria de dispor de corrente eléctrica e pedia para ser informado sobre a existência de tomada e respectiva voltagem. Realizada a peritagem, elaborou um projecto com vista ao restauro do carrilhão da *Torre Sul da *Basílica de Mafra, apresentado e aprovado em 1984. Em suma, era o seguinte o teor da sua proposta: “1. Reparação do vigamento de sustentação dos sinos em 148 madeira: em primeiro lugar para dar a um certo número de sinos uma posição mais favorável relativamente ao teclado e, em segundo lugar, para que as ligações quebradas entre os martelos dos sinos e os cilindros ponteados pudessem ser reparados de forma ideal, […], num futuro próximo; 2. Substituição dos quatros sinos de Van Aerschodt, extremamente desafinados, inteiramente no estilo de Witlockwx […]; 3. Ampliação do carrilhão por meio de seis pequenas sinetas, designadas por sinetas de discanto, para que o carrilhão não continue a acabar no tom transposto fá-quebrado, mas sim no, evidentemente mais musical, tom dó […]; 4. Reparação dos bordos e das cabeças danificadas de um certo número de sinos Witlockwx, bem como a afinação, se realmente inevitável, dos sinos de origem; 5. Instalação de uma engrenagem totalmente nova em conformidade com o chamado sistema de Malines, o que implica a remodelação de todas as ligações mecânicas entre os badalos e o teclado; 6. Um teclado manual totalmente novo, segundo os padrõesestandardizados europeus actuais”. À excepção das reparações no vigamento de sustentação dos sinos, todos os trabalhos foram realizados pela Fundição Real de Sinos de Eijsbouts, de Asten, iniciando-se, em 11 de Novembro de 1986, a montagem final do maquinismo. Bibliografia: LEHR, André, De Twee KloKKenspelen op het Nationaal Paleis te Mafra, Asten, Athanasius Kircher-Stichting, 1984 [minucioso relatório técnico sobre os carrilhões de Mafra, parcialmente reeditado in Os Carrilhões de Mafra, Mafra, 1989, p. 42-62) ANDREW HALLIDAY Em 1812, o médico e inspector dos hospitais das forças anglo-lusas, Andrew Halliday, publica em Edimburgo, The present state of Portugal and of the Portuguese Army: with an epitome of the ancient history of that kingdom, a sketch of the compaigns of the Marquis of Wellington for the last four years: and 149 observations on the manners and costums of the people, agriculture, commerce, arts, sciences, and litterature. Contém alusões a Mafra (p. 246 e 439). ÂNFORA No Palácio Nacional existem dois pares de ânforas. Um em porcelana italiana, decorado com motivos mitológicos (Juízo de Páris e Sileno embriagado) em ambas as faces e com asas em forma de bode (*Toucador da Rainha). Outro par, do período Império, em metal dourado e cinzelado, apresentando duas figuras femininas segurando grinaldas de flores, com as respectivas tampas. ANGELELI *Eusébio Gomes (Memórias) reporta a realização em Mafra, nos inícios de Novembro do ano de 1801, de uma Festa em Acção de Graças pela *Paz Geral. Nas noites dos três dias que durou a função “houve serenata na casa imediata à livraria”, tendo actuado diversos artistas e músicos italianos, entre os quais *Crescentini, *Percegil, *Catalani e Angeleli. ANIVERSÁRIO *Bicentenário, *Segundo centenário. ANJO Designação para a nona hierarquia de seres espirituais incorpóreos, associados à esfera da *Lua e encarregados de guiar a humanidade de uma incarnação a outra. *São Gregório associa os anjos à esmeralda e à cor verde. A hierarquia celeste organiza-se em nove Coros de Anjos, de acordo com a seguinte ordem crescente da sua importância: 3.ª hierarquia: Anjos = Anjos da nona ordem (esfera da Lua); Arcanjos, Principados; 2.ª hierarquia: Potestades; Virtudes; Dominações; 1.ª hierarquia: Tronos; Querubins; Serafins. 150 Bibliografia: CASTRO, Joaquim Machado de, Analyse Grafic’ Orthodoxa, e Demonstrativa, de que sem escrupulo do menor erro Theologico, a Escultura, e Pintura podem, ao representar o sagrado Mysterio da Encarnação, figurar varios Anjos, Lisboa, 1805; OLIVEIRA, Custódio José de, Jerarchia celestial, Lisboa, 1812 ANJO CUSTÓDIO DE PORTUGAL Alguns autores estribados numa tradição segundo a qual *Afonso Henriques, após ter desbaratado Albaraque nos campos de Santarém, teria designado como tutelar do Reino a *São Miguel, creem poder identificar este *arcanjo com o Anjo Custódio de Portugal. As aparições de Fátima têm, igualmente, servido para fundamentar a assunção, por151 quanto, alegam os proponentes dela, o Anjo da Paz é, na liturgia eclesial, o próprio São Miguel (Angelus pacis Michael). Trata-se de opinião de difícil, quiçá mesmo impossível, comprovação, porquanto não é essa a lição de Fátima (convém distinguir as três entidades angélicas que se manifestaram em Fátima: 1.º o Anjo da Paz; 2.º o Anjo de Portugal; 3.º o Anjo da Eucaristia), nem dos Breviários, nem dispomos dos documentos indispensáveis para tal desiderato, designadamente o pedido manuelino e a resposta ou Breve da concessão pontifícia. A devoção pode muito bem ser anterior a quinhentos, contudo sómente no séc. XVI ela foi oficialmente reconhecida pelo Papa Leão X, mediante solicitação de Dom Manuel, tornando-se na mais sumptuosa e liturgicamente solene de Portugal, logo depois da do Corpo de Deus. Não é mais esclarecedor aquele que se presume constituir o primeiro documento conhecido sobre a questão, a carta do Venturoso ao Senado de Coimbra (6 de Junho de 1504), muito embora o monarca denote conhecer perfeitamente a doutrina dos génios, a qual expõe num preâmbulo à recomendação sobre quando e como se há-de celebrar tão faustoso evento: “[…] Fazemos-vos saber que havendo nós respeito em como nosso Senhor Deus por salvação de nossas almas e conservação e prolongamento de nossas vidas quiz ordenar em cada Reino, cidade e lugar e assim a cada um de nós outros, anjos que nos guardassem de todo o mal e nos provocassem a fazer bem […] ordenamos […] que em cada um ano em o terceiro domingo de Julho se faça solene memória deste anjo nosso guardador […] mandando fazer uma bandeira grande em que irá pintado o anjo de maneira que está em cada um dos ofícios que são imprimidos para se rezar em este dia e ao pé da pintura será escrito em letras grandes e bem vistosas CUSTOS REGNY ET CIVYTATES CULIBRIESES. E toda esta bandeira irá em a procissão detrás de todas as cruzes e a levará o alferes da cidade […]”. Nas 152 Visitações da Ericeira, a 14 de Junho de 1735, é referida a realização da procissão do Anjo Custódio, onde “costumam irem danças e sanfoninas o que está proibido por determinação de sua Ilustríssima e Reverendíssima pelo que mando com pena de excomunhão que nas ditas Procissões não vão mais danças nem sanfoninas”. Na *capela das Santíssimas Virgens e Viúvas da Ordem Seráfica (altar 11 da *Basílica) observa-se uma imagem de vulto (mármore; h = 2,459 m), cuja autoria foi atribuída por Marques da Gama e Pier Paolo Quieto ao escultor *Filippo della Valle e, hipoteticamente, ao belga Laurent Delvaux por José Fernandes Pereira (Arquitectura e Escultura de Mafra, Lisboa, 1994, p. 88). Algumas obras existentes na BPNMafra relacionadas com o Anjo Custódio do Reino ANDRADE E MORAIS, José de, Sermaõ de Acçam de Graças, que pela continuaçam das Melhoras da Saude D’ ElRey D. João V Nosso Senhor e pela exaltação da Villa do Carmo das Minas em Cidade Mariana pregou […] na Festa do Anjo Custodio do Reyno com O Santissimo exposto a dezoito de Julho de 1745 a qual celebrou o Senado da mesma Cidade, Lisboa, 1746 [BVol. 2-11-7-1(11.º)]; ANÓNIMO, Novena do Santo Anjo Custodio do Reyno, que póde fazer-se nos nove dias antecedentes ao que se dedica á sua Festa que se celebra na Terceira Dominga de Julho, Lisboa, 1756 [BVol. 2-15-12-21(1.º) e 2-15-12-21]; JOSÉ DO ESPÍRITO SANTO, Frei, Sermão do Anjo Custódio, Lisboa, 1673 [211-5-16] Bibliografia: BRÁSIO, António, Será S. Miguel o Anjo Tutelar de Portugal?, in Novidades (Suplemento Letras e Artes) (18 Nov. 1951); COIMBRA, José da Costa, Novena do Anjo Custódio, Lisboa, 1756; 153 Enciclopédia Verbo, v. 2, p. 455; GANDRA, Manuel J., Anjo Custódio de Portugal, in Da Vida, da Morte e do Além, Mafra, 1996, p. 167-168; LANDEIRO, José Manuel, As corporações através dos tempos XXIV. As Corporações em Portugal – Festas – As Festas do Anjo Custódio, in Mensário das Casas do Povo, a. 8, n. 91 (Jan. 1954), p. 18 e n. 92 (Fev. 1954), p. 18; LOURO, Henrique da Silva, O Culto do Anjo da Guarda de Portugal, na arquidiocese de Évora, Évora, 1974; Ordenações Manuelinas (1513), liv. I, tit. 78; Ordenações Filipinas, liv. I, tit. 66, § 48; REIS, Oliveiros de Jesus, Quem é o Anjo Custódio de Portugal?, Covilhã, 1969; REIS, Sebastião Martins dos, O Anjo de Fátima e o Anjo de Portugal : diverso ou idêntico ao arcanjo S. Miguel?, in Na Órbita de Fátima: Rectificações e achegas, Lisboa, 1958, p. 119-157; VASCONCELOS, António Garcia Ribeiro de, in Anuário da Universidade de Coimbra (1907-1908), p. CXXV; VITERBO, Sousa, Fastos Religiosos (Festas e Procissões), Porto, 1898. ANSELMO CAETANO MUNHÓS DE ABREU GUSMÃO E CASTELLO BRANCO O mais notável químico hermético (i. e., alquimista) português de todos os tempos. Natural de Soure, filho do doutor António Munhós de Abreu, formado na Faculdade dos Cânones, e de Simoa Godinha da Rosa. Doutor em Medicina pela Universidade de Coimbra, Familiar do Santo Ofício, Médico do duque de Aveiro, etc. Barbosa Machado (Biblioteca Lusitana, v. 1, p. 178) di-lo “ornado de feliz memória, notícia das línguas mais polidas da Europa e não menos versado na lição dos Santos Padres, Sagrada Bíblia, disciplinas Matemáticas e mistérios ocultos da Química […]”. Em três das suas obras (Ennoea, Oráculo Profético e Systema Medico) apresenta a Real Obra de Mafra como a concretização do pólo espiritual do *Quinto Império. A título de exemplo, cita-se uma passagem do Oráculo Profético: “[…] Este principado secular, e juntamente eclesiástico da igreja não está na Itália, mas existe separado, e fora de Roma estabelecido em uns mosteiros, e varões religiosos, consagrados de 154 todo a Deus como declara o mesmo Alapide […]. Muitos conventos há hoje fora de Roma, em que está edificada a igreja de Cristo, que é a Nova, e Santa Cidade de Jerusalém, descida do céu à terra, segundo entendeu o Padre Alapide, explicando com as palavras de S. João o referido texto de S. Paulo […]; mas nenhum mosteiro de religiosos se acha na cristandade, que esteja edificado sete léguas fora, ou por cima da cidade marítima, chamada oriental, e ocidental, fundado sobre aguas subterrâneas, e tão adornado como esposa para seu esposo […], senão esta nova, e única maravilha do mundo, que ao mundo mostraremos estabelecida em 155 Portugal, edificada em Cristo, sobreedificada em Mafra, e sobre o fundamento, que lhe pôs São Paulo, pelo Real, e invicto braço do sábio, e Augusto Apolo Lusitano, e pelas mãos dos portugueses, para Corte do Quinto Império de Cristo, conforme a inteligência, que às palavras do Apóstolo deu o seu melhor expositor Cornelio Alapide […]”. Obra com referência ao Real Edifício de Mafra Ennaea [sic], ou applicaçaõ do entendimento sobre a Pedra Philosophal, provada e defendida Com os mesmos argumentos com que os Reverendissimos Padres Athanasio Kircker no seu Mundo Subterraneo, e Fr. Bento Hieronymo Feyjoo no seu Theatro Critico, concedendo a possibilidade, negaõ, e impugnaõ a existencia deste raro, e grande mysterio da Arte Magna. Parte primeira. Offerecida ao Illustrissimo Senhor D. Francisco de Menezes, Conego da Santa Igreja Patriarchal, e do Conselho de Sua Magestade, etc., Lisboa Ocidental, Maurício Vicente de Almeida morador ao Arco das Pedras Negras, 1732-1733 [PNMafra: 2-33-9-19; BN: SA 5060 P e SA 1595 A (em mau estado)]; Refere-se ao seu mestre coimbrão na Parte III, p. 73. Reedições anastáticas: Lisboa, F. C. Gulbenkian, 1987 (nota de apresentação de Y. K. Centeno) e Mafra, 1987 (nota preambular de Manuel J. Gandra), incluindo outras obras do autor; Oraculo Prophetico, Prolegomeno da Teratologia, ou Historia Prodigiosa, em que se dà completa noticia de todos os Monstros, composto, para confuzao de pessoas ignorantes, satisfaçaõ de homens sabios, exterminio de prophecias falsas, e explicaçaõ de verdadeiras prophecias. Parte primeira. Em que se exterminaõ as prophecias falsas. Consagrada a Marte, como quinto entre os planetas, Lisboa Ocidental, Maurício Vicente de Almeida, morador nos Sete Cotovelos junto a São Mamede, 1733 [BN: SA 3112 P]; Systema Medico 156 galeno-chymico do Morbo Hungárico, ou do summo grao das Febres agudas, cholericas, ardentes, atrabiliarias, intermittentes, perniciosas, continuas, malignas, e pestillentas, complicadas com todos os sympthomas funestos, e mortaes, especialmente com vomitos pretos, e dejeccoens atrabiliarias, como forão as que na quadra do outono do Anno de 1723 infestarão esta corte de Lisboa oriental, e occidental; chamadas vulgarmente: vomitos pretos. Segunda parte. Consagrada ao misterioso, e Real numero quinario do Augustissimo, Potentissimo, e Invictissimo Senhor Dom João V Rey de Portugal, Lisboa, 1729 [BN: cod. 10553] Obra manuscrita, incompleta, não mencionada por Barbosa ou Inocêncio; na dedicatória, Dom João V é apresentado como o inaugurador do Quinto Império (fl. 1v-7r). A fl. 7v e 277r declara-se que “por moléstia do seu autor” não se incluem nem o Prólogo nem os dois derradeiros capítulos do original “que está aprovado” e se destinava a ser impresso. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Nota preambular […], Mafra, 1987; PEREIRA, Moutinho, Ennoea encerra polémica – Portugal foi terra de Alquimia, in Diário de Notícias (10 Mar. 1988). ANTECÂMARA DO TORREÃO NORTE Também denominada *Vestíbulo do torreão Norte. ANTECÂMARA DO TORREÃO SUL Também denominada *Vestíbulo do torreão Sul. ANTERO DE QUENTAL (1842-1891) Em 1871, as teses decadentistas de *Alexandre Herculano seriam retomadas por outro paladino delas, Antero de Quental, na conferência Causas da decadência dos Povos 157 Peninsulares (Obras, Lisboa, 1943). Nela exporia a avaliação mais severa do Monumento de Mafra de quantas foram proferidas, não deixando de associá-lo ao Escorial. Ambos os monumentos seriam classificados como “lúgubres moles de pedra […] massas compactas e friamente correctas na sua falta de expressão […]. Que triste contraste entre essas montanhas de mármore, com que se julgou atingir o grande, simplesmente porque se fez o monstruoso e a construção delicada, aérea, proporcional, por assim dizer, espiritual dos Jerónimos, da Batalha, da Catedral de Burgos”. ANTICRISTO Um dos temas que maior fortuna iconográfica gozou na arte ocidental foi o da Besta, designadamente na imaginária mediévica (possuída pelo terror produzido pela invasão mongol) e na franco-alemã do renascimento (o que se comprova pelas gravuras de Dürer, datadas de 1495 a 1500 (Apocalipsus cum figuris, Nuremberga, 1511). Comparável teratologicamente ao dragão e à hidra (por sua natureza ferozes, selvagens, bestiais e desprovidos de alma ou anima e, portanto, alheios ao reino animal), a sua perfeita caracterização é difícil face às ambiguidades do texto do discípulo amado. As três citações que lhe são dedicadas (Apocalipse, XIII, 1, 11 e 18 e XVII, 3) parecem indiciar a existência de duas Bestas e não apenas de uma: a terrestre (da 1.ª e 3.ª visões) e a marinha (da 2.ª visão), da qual se não conhece a aparência mas se diz que possuía dois cornos e rugia como um dragão, encontrando-se ao serviço da outra. Os mais conhecidos textos, evocando o combate anticrístico, encontram-se em Mateus e S. Paulo (II Epístola aos Tessalonicenses, II, 4). O comentário do Beatus de Liebana, monje do mosteiro de Valcavado no tempo do rei asturiano Fruela (756-768), trata dos nomes do Anticristo (livro VI, cap. XIII), incluindo em quinto lugar o de Genserico (fl. 477), rei dos Vândalos. 158 O Cavaleiro de Oliveira afirmava no séc. XVIII que “não há país cristão onde se fale mais do Anticristo do que em Portugal”, acrescentando que às crianças se dizia “que o Anticristo será nado de freira, fecundada por frade”. Narra ainda um episódio, demonstrativo do crédito da doutrina: “A 15 de Janeiro de 1735, o Padre Diogo, capuchinho, Guardião do Convento de São Pedro de Alcântara, fugiu de Lisboa com Dona Floriana, religiosa do mosteiro de Santa Ana, da Ordem de São Francisco. Estava eu presente quando recebeu o conde de Tarouca, em Viena de Áustria, a notícia do rapto. – Consumaram-se os tempos!, exclamou ele. Sem dúvida que do concubinato do frade e da freira vai nascer o Anticristo” (O Galante século XVIII, p. 215-218). Em Portugal é raríssima a iconografia do Anticristo. *Quinto Império. Algumas obras do acervo da BPNMafra com referência ao Anticristo BENTO FEIJÓ, Jerónimo, Venida de el Ante-Christo y fin del Mundo, in Theatro Critico Universal, disc. 5, VII, Madrid, 1781, p. 146-185 [2-25-6-8]; LOPES, José Pedro, Os precursores do Anti-Christo, história prophetica dos mais famosos Impios que tem havido desde o estabelecimento da Igreja até aos nossos dias, ou a Revolução Franceza Profetizada. Traduzida da sexta edição do original francez, Lisboa, 1825 [2-68-2-1]; MENDONÇA, Furtado, Bruno de (1599-1662), Verdades sobre a Vinda Do Anti-Christo. Relaçam em a qual se dà noticia em breves, e compendiosos Capitulos, de donde ha de nascer, e vir o Anti-Christo, que Pays ha de ter, que vida fará, que victorias ha de haver, que fim terá, e ultimamente, que sinaes lhe hão de preceder, e devem acompanhar (Lisboa, 1748 e 1756) [BVolante, 2-55-721 (1.º) e 2-66-4-6 (30.º)]; TOMÁS DE MALVENDA, De Antichristo, Lyon, 1647 (2 vols.) [1-54-3-4 / 5]; WENDEL159 WURTZ, Abade Jean, Os precursores do Anti-Christo. História prophetica dos mais famosos Impios que tem havido desde o estabelecimento da Igreja até aos nossos dias, ou a Revolução Franceza Profetizada por S. João Evangelista; com huma dissertação sobre a vinda e futuro reinado do AntiChristo, Lisboa, 1825, 2.ª edição [2-68-2-1] Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Anticristo, in Da Vida, da Morte e do Além, Mafra, 1996, p. 168-169 ANTIGUIDADES ROMANAS Partilham com a *História de Itália a estante inferior n. 39 e com a *História Grega e Peregrina a estante superior n. 60 da *Biblioteca de Mafra. ANTOINE SIBERTIN-BLANC Organista e professor de música. Realizou diversos concertos na *Basílica de Mafra, o primeiro dos quais em 27 de Julho de 1997, no âmbito do 5.º Ciclo de Órgão. ANTÓNIO, Dom (1.10.1704-14.8.1800) Filho natural de *Dom João V. Assistiu em Mafra, juntamente com seu pai e seu irmão, o *Infante Dom Francisco, ao Sermão Panegyrico, e Gratulatorio, Prégado no dia oitavo do Solemnissimo Oitavario da Dedicação do Real Templo de Mafra (Lisboa, Francisco Luís Ameno, 1751 [PNMafra: BVolante 211-7-17 (1.º) e 2-11-6-3 (10.º)]), pregado por *frei Afonso da Conceição. ANTÓNIO, Santo (c. 1190-13.6.1231) Apóstolo, teólogo, escritor, pregador, taumaturgo, santo (canonizado por Gregório IX, a 30 de Maio de 1232) e doutor da Igreja (proclamado em 16 de Janeiro de 1946, por Pio XII 160 no breve Exulta Lusitania felix). Frequentou até aos 15 anos os estudos de Artes Liberais na escola catedralícia anexa à Sé de Lisboa. Cerca dos 20 anos juntou-se aos *Cónegos Regrantes, no mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Dois anos depois, transferir-se-ia para o mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde aprofundou a sua formação, usufruindo da excepcional livraria monástica. Pelos anos de 1218 ou 1219, foi ordenado sacerdote, pelos Cónegos Regrantes, junto dos quais permaneceria até à sua adesão ao ideário dos frades menores, entre Abril e Agosto de 1220. No Outono desse ano dirige-se para Marrocos em missão apostólica. Daí passa à Sicília (1221) e, depois, à Itália, sendo, em breve, convocado por *São Francisco com a finalidade de ensinar Teologia aos frades da Ordem. No essencial, Santo António, “o mais importante autor da Pré-Escolástica franciscana” expressará tanto as directrizes do saber universitário, como as posições da mística especulativa coevas. A devoção a Santo António assumiu na vila de Mafra, onde era festejado com fogueiras, enorme expressão. No altar de Nossa Senhora do Rosário da antiga paroquial de *Santo André havia uma imagem, com confraria do seu nome, também tendo sido padroeiro de um dos oratórios da Quinta da Cerca. O convento de Santo António, outrora situado “junto à vila de Mafra” é o maior ex-voto existente em todo o mundo, sabendo-se que *Dona Maria I pretendeu emular 161 *Dom João V, projectando construir outro cenóbio no sítio da Roussada, para cujo efeito chegou a lançar a pedra fundamental. É virtualmente impossível não reparar nas efígies de Santo António, por antonomásia denominado *Arca do Testamento, dispersas por pontos estratégicos da Real Obra de Mafra, para ostensivamente propalar a sua tutela: 1. Santo António em adoração à Virgem com o Menino Medalhão ovado em alto-relevo (mármore; 3,16 x 2,24 m), no centro do frontão da Basílica, é obra atribuída a *Giuseppe Lironi. Antes da sua chegada, uma réplica em madeira ocupou o lugar dele. 2. Santo António em adoração à Virgem com o Menino Medalhão em meio relevo, sobre o pórtico principal pelo qual se acede do *átrio ou *galilé à Basílica (mármore; 1,7 x 1,35 m), subscrito por Carlo Monaldi, Romano. Por carta de 11 de Agosto de 1729, remetida por *José Correia de Abreu a *José Maria da Fonseca de Évora, o conselheiro artístico de *Dom João V solicita o envio de um baixo-relevo iconografando Santo António em adoração à Virgem com o Menino “para se colocar sobre a porta” da Basílica. Para o efeito, 162 envia o molde e as instruções escritas com vista à sua realização, salientando que a “obra deve ser feita pelo mais insigne mestre, com toda a perfeição, com a brevidade possível […]”. A 27 de Setembro de 1730 comunica para Roma que o baixo relevo chegou no dia 3 de Janeiro de 1731 e que “teve boa aprovação”. Porém, cerca de uma semana depois, desgostoso, escreve que o bom efeito que a escultura fazia em baixo se desvaneceu quando foi observada no seu lugar, “reconhecendo-se notavelmente os veios azuis que tinha a pedra, quando se tinha recomendado que nenhum dos ditos baixos relevos, nem as estátuas tivessem veio algum” (Carta de 10 de Janeiro). Posteriormente, sublinhará “o dissabor” sentido pelo Magnânimo quando viu o baixo relevo posto sobre a porta (Cartas de 14 e 28 de Fevereiro). 3. Santo António em adoração à Virgem com o Menino Medalhão em meio relevo, sobre o pórtico da *Portaria conventual (mármore; 1,7 x 1,35 m), talvez do mesmo escultor romano, Carlo Monaldi. 163 4. Santo António em adoração à Virgem com o Menino Óleo s/ tela de Trevisani, na *capela mor da Basílica. Restaurado em 1826 pelo pintor italiano Viale (2 Fev.). Foi nessa ocasião medido com o objectivo de ser substituído pelo retábulo em mármore que *Dom João VI ordenou se fizesse em Lisboa, o qual nunca chegaria a ser realizado. Já *Don José Cornide falara de futura substituição da tela por um retábulo em mármore (Estado de Portugal, 1800, t. 27, p. 117). A propósito de pintura, Abreu escreve: “[…] ainda que a mim me não desagrade, cá se esperava coisa melhor (Carta de 10 de Janeiro de 1731). *Frei João de Santa Ana confidencia que “um pintor inteligente” lhe dissera que este painel valeria “de 50 a 60 mil cruzados”. 164 5. Santo António em adoração à Virgem com o Menino Óleo s/tela (c. 1730) de *Inácio de Oliveira Bernardes, na *Portaria do convento de Mafra. Inspirada, “senão mesmo copiada”, segundo Nuno Saldanha, da tela atribuída a Carlo Maratta da igreja de Santo André do Quirinal (Roma). Santo António na Música Sacra composta para a Real Basílica de Mafra na BPNMafra MARCOS DE PORTUGAL (1762-1830), Mattutini S. Antonio A Tenori e Bassi con cinque organi obligati Da esequirsi in occasione del Felice Ristabilimento di S. M. F. (1807) [R. Mms. 10.11]; JOÃO DA SOLEDADE, frei (?-1832), Hymnos da Festa de Santo António para a Real Basilica de Mafra. Original de…, Mestre Capela da mesma Real Basilica (1822) [R. Mms. 15.3] Parenética mafrense impressa de Santo António MADRE DE DEUS, Francisco da, Sermaõ de Santo Antonio, Glorioso Titular da Sagrada Basilica de Mafra, ocorrendo no presente anno de 1751 o dia da sua festividade em a dominga infra-octava do Corpo de Deos, que tambem se celebrava na mesma Real Basilica. Prégado, e offerecido ao muito alto, Poderoso, Fidelissimo Rey e Senhor Nosso D. Joseph I. pelo R. P. Fr. […], Filho da Santa Provincia da Arrabida, substituto da Cadeira de Sagrada Escritura nos Reais Estudos de Mafra, e Penitenciario Geral da Ordem Seraphica. Lisboa, 1751 [2-11-7-17(3.º)]; SANTA ANA, António de, Sermoens Varios, Panegyricos, e Moraes, que no Real Convento de N. Senhora, e S. Antonio junto a Mafra, e em varios Pulpitos da Corte de Lisboa, e fóra della prégou o P. M. Fr. […], Religioso da Provincia da Arrábida, Ex-Leitor de Prima de Theologia, e Sagrada 165 Escritura, Lente actual de Artes no mesmo Real Convento, e Consultor do Santo Officio. ; Tomo segundo: Offerecidos á Gloriosissima Senhora S. Anna Mãy da Mãy de Deos, e Avó de Jesu Christo, no Altar da Sagrada Familia do Real Convento de Nossa Senhora, e Santo Antonio junto á Villa de Mafra. Dados à impresa por hum devoto da Provincia da Arrabida. Lisboa Occidental, 1738 [BN: Trunc 739 P] [Inclui: Sermaõ do Glorioso Santo António prégado na Santa Casa da Misericordia da Villa da Ericeira em a terceira Dominga post Epiphaniam, ano 1727, p. 198-219). Santo António na Biblioteca Volante de frei Matias da Conceição RIBEIRO, Lourenço, Sermam de S. Antonio, Lisboa, 1693 [2-11-7-14(13.º)]; A. J. C. A., Verdadeira Relaçam do Admiravel Prodigio que obrou na Villa de Merthola, o Glorioso S. Antonio, na Igreja dos Religiosos Franciscanos da Provincia dos Algarves, sita na dita Villa, Lisboa, 1753 [266-4-4(14.º)]; ANÓNIMO, Publicaçam de Hum Novo Prodigio do Milagroso Santo o Grande S.to Antonio de Lisboa. Traduzida de varias Relaçoens Impressas, vindas de Hespanha. Lisboa, 1729 [2-55-7-13(36.º)]; ANÓNIMO, Relaçam das Missas que se mandaram dizer, e se disserão na Real Casa do Glorioso Santo Antonio nesta Corte, e Cidade de Lisboa Oriental, e despezas que nella se fizerão o anno que começou em 13 de Junho de 1726 e acabou neste de 1727. Lisboa, 1727 [2-29-4-11(58.º)]; ANÓNIMO, Humilde Rogativa ao Glorioso S.to Antonio de Padua, com o Responsorio que aproveita muito rezallo, e levallo consigo para qualquer parte. Traduzida do idioma Castelhano para o Portuguez; e tambem reimpresso pela devoção de Alberto Pereira Rey, Presbytero do Habito de S. Pedro, Confessor geral neste Patriarcado. Lisboa, 1753 166 [2-15-12-20(3.º)]; AZEVEDO, José Pegado da Silva e, Sermam de S. Antonio na festa, que os Estudantes Conclusionistas da Universidade da Universidade de Coimbra lhe costumão fazer na Ermida de Nossa Senhora da Esperança da mesma Cidade. Prégado em 8 de Maio de 1750 […], Lisboa, 1752 [2-11-7-17(4.º) e 2-11-8-7(11.º)]; GODINHO, Manuel, Sermam do Glorioso S. Antonio de Lisboa. Que Pregov na Igreja de Santa Marinha […] Anno de 1688. Coimbra, 1692 [2-11-5-22(15.º)]; MADRE DE DEUS, Fr. Francisco da, Sermaõ de S.to Antonio, Glorioso Titular da sagrada Basilica de Mafra, occorrendo no presente anno de 1751 o dia da sua festividade em a dominga infra-octava do Corpo de Deos, que também se celebrava na mesma Real Basilica, Lisboa, 1751 [2-11-7-17(3.º)]; JABOATÃO, Antonio de Santa Maria, Sermam de S.to Antonio. Prégado no seu Convento da Villa do Reciffe de Pernambuco em dia do Corpo de Deos no anno 1743, Lisboa, 1751 [2-11-6-5(9.º)]; PEREIRA, Manuel, Sermam de S. Antonio. Que prégou O P. […], na Festa que se lhe fes na Igreja de S. Paulo desta Cidade de Lisboa, aos 13 de Iunho de 1668. Lisboa, 1669 [2-11-5-13(35.º)]; PIEDADE, Fr. André da, Sermam do Mimo de Lisboa, delicia de Portugal, lustre de Padua, credito de Italia, e admiraçaõ do Mundo, o Senhor S. Antonio que na Festival, Plausivel, e sempre memoravel mudança, e trasladaçaõ da sua prodigiosa Imagem da Igreja antigua para a de seu novo Convento, de que he titular, lhe fizeraõ seus reformadissimos alumnos os Seraficos filhos da Veneravel, e observãtissima Custodia do Graõ Pará em a Cidade de Bellem no dia 13 de Junho de 1743, pela manhã, exposto o SSmo. […]. Dado a Estampa, e oferecido à Mãy de Deos, que com o Titulo, e Invocaçam da Piedade se venera em a rica, e magestosa Capella da Caza de Capitulo do Convento do Carmo da Cidade de S. Luiz do Maranhaõ, Por seu mais Cordeal devoto, e 167 Venerador Manoel Antonio Pereira, Lisbonense. Lisboa, 1748 [2-11-7-14(5.º)] Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Achegas para o recenseamento da tradição e património antonianos no Concelho de Mafra, in Santo António na Ericeira, Ericeira, 1997, p. 89-97 ANTÓNIO DE ANDRADE REBELO Em 1943, substituiu *José Dias dos Santos Coelho como responsável pela *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra. Em Abril de 1947 compôs um elenco das Obras relativas à Cidade de Lisboa (inédito). ANTÓNIO ABREU DA SILVA Desembargador. A 18 de Janeiro de 1771, chegou ao Real Convento de Mafra, acompanhado pelo escrivão José Ferreira Batalha, para fazerem o inventário de “tudo quanto o convento tinha, em o qual gastaram oito dias”. Meses volvidos, os *Arrábidos seriam enviados para diferentes conventos da sua Província, para permitirem aos padres Vicentes instalarem-se, o que ocorreria a partir de 30 de Abril de 1771. *Frei António das Chagas. ANTÓNIO DA ARRÁBIDA, Frei (1771-1850) Religioso franciscano da Província da Arrábida, teólogo e pregador. Lente de Teologia nos *Reais Estudos de Mafra. Em 1808, seguiu para o Brasil com a família Real, na qualidade de preceptor dos príncipes *Dom Pedro e *Dom Miguel. Foi director da *Biblioteca Pública do Rio de Janeiro, primeiro Reitor do Colégio Dom Pedro II e bispo titular de Anemúria. Pregou a Oração funebre […] nas exequias do Ilustrissimo e Excelentissimo Dom Diogo de Noronha, conde de Vila Verde, Grão Cruz da Ordem de Santiago […], mandadas fazer por sua Alteza Real, o Príncipe RegenteNosso Senhor, em a 168 Real Basilica de Mafra, no dia 25 de Novembro e presente o mesmo Senhor (Lisboa, 1807). ANTÓNIO DA ASSUNÇÃO, Frei Autor do Sermaõ das Solemnissimas Exequias do Serenissimo Senhor Rey D. João V. Que celebrou na sua Cathedral o Excellentissimo e Reverendissimo Senhor D. João de N. S. da Porta, Bispo da Cidade de Leyria, do Conselho de Sua Magestade, etc. Prégou-o o P. Fr. […], Da Sagrada Ordem dos Prégadores, Prégador Geral, e Vigario das Religiosas do Mosteiro de Santa Anna da mesma Cidade, Aos 11 de Agosto de 1750 (Lisboa, Ignacio Rodrigues, 1751 [BN: L 941 V]). A p. 16-17 e a respeito da obra mafrense do Magnânimo afirma: “[…] o Real Convento de Mafra, cujas pedras sem dúvida tinham a virtude do magnete, por atraírem de distantes Reinos aos mais peritos artífices, os quais, vendo e admirando o polido e o magnífico daquele sumptuoso Templo, aumentavam, por extáticos, o número de suas estátuas. Pois parecia que a arte tinha já levantado o interdito que a natureza pusera no insensível, porque aos primores do buril se viam as pedras eloquentes e as estátuas, como as de Dédalo, deixavam em dúvida aos que as viam, se eram, ou não, animadas. Nos finos jaspes pois deste famoso Templo e nos seus perduráveis mármores, que fazem emulação à eternidade, se gravou o Soberano Nome do nosso Augusto Monarcha para a posteridade […] Não há pedra neste sumptuoso Templo onde não se esteja lendo, pelo magnífico, o Soberano Nome de nosso Sereníssimo Monarca, o qual, apesar do mesmo tempo, há-de durar para sempre na posteridade. Esta e outras obras magníficas fez o nosso Soberano, que são os Padrões da sua grandeza, desempenhando o seu Régio e Católico ânimo e inata inclinação que teve sempre para conservar e aumentar o culto da Casa do Senhor, como declara a letra da Estátua da Religião que adorna aquele majestoso Templo, toda inclinada 169 a um Templo, representando a inclinação que o nosso Soberano tivera à Casa de Deus […] imitando ao Santo Rei Ezequias, de quem foi fidelíssimo retrato, o qual não só fez obras magníficas na Cidade de Jerusalém, para seu ornato e grandeza, introduzindo por aquedutos Régios cristalinas águas, ampliando banhos para remédio dos enfermos, mas também fez admiráveis obras no Templo do Senhor”. ANTÓNIO BAPTISTA GARVO Estudou na *Casa do Risco de Mafra e no Colégio de Santo Antão. Sucederia a seu pai, *Carlos Baptista Garvo (f. 1724), como mestre de pedraria nas obras de Mafra, revelando-se igualmente muito hábil canteiro no período compreendido entre 1718 e 1750. Em 20 de Dezembro de 1731, *Dom João V ordenou ao seu Secretário de Estado, *Diogo de Mendonça Corte Real, que ajustasse a obra por concluir em Mafra com este Mestre pedreiro e também com *Manuel Antunes Feio, a qual deviam fazer “por medição e pela consignação e forma que se tem concordado […]” (ANTT: Cartórios Notariais, livro 505, fl. 65-68). Pertenceu à *Ordem Terceira de São Francisco de Mafra, cujo Livro da despesa do Irmão Síndico subscreveu: fl. 8 (1750), fl. 9 (1751), fl. 37 (1761) e fl. 41 (1762). ANTÓNIO BERNARDO DA SILVA O Mafrense (23 Jun. 1889) dá notícia da conclusão do restauro do *Órgão de Santa Bárbara por António Bernardo da Silva e afinação por *Estevão António Jorge Júnior dos de Santa Bárbara, Conceição e Sacramento. O restauro do 5.º órgão (do Sacramento) encontrava-se, então, em vias de conclusão. O da Conceição, que deixara de tocar desde a extinção das Ordens (tal como o dos Santos Mártires), era à data o melhor conservado e afinado de todos. No ano seguinte ainda prosseguia a tarefa de renovação de toda a madeira e metal dos seis órgãos (O Mafrense, 1 Dez. 1890). 170 ANTÓNIO CANEVARI Natural de Roma. Fez alguns desenhos para a Mafra que a historiografia sustenta, talvez sem razão, jamais terem sido usados, supostamente por ter sido suplantado por Ludovici. Morreu em Nápoles. ANTÓNIO DA CERA, Frei Religioso arrábido transferido, em 26 de Maio de 1825, do mosteiro de Mafra para o convento de Santa Catarina porque, conforme relata *Eusébio Gomes (Memórias), “costumava cavalgar os tonéis e chupar-lhe o sangue por um canudo, e não sei se por mais alguma coisa”. ANTÓNIO DA CHARNECA, Frei Autor do Sermão nas Exequias do muito Alto e Poderoso Senhor D. Joaõ V, que em a Igreja de Santiago da Villa de Pena-Macor fizeraõ os seus Senadores (Dado à luz por Joseph António das Neves. Lisboa, Manuel da Silva, 1751 [BN: L 941 V]). Ocupa-se de Mafra a p. 14. ANTÓNIO DA CONCEIÇÃO, Frei Presidiu a diversas *Conclusões de Teologia do *Real Colégio de Mafra (impressas entre 1760 e 1769, em Lisboa). ANTÓNIO DAS CHAGAS, Frei Chegou ao Real Convento de Mafra, em Abril de 1771, com ordens expressas de *Dom José I para remeter os frades *Arrábidos ali residentes (durante 40 anos, 6 meses e 11 dias) para os diferentes conventos da sua Província, o que aconteceria de imediato. Os religiosos egressos nada levaram consigo, excepto “duas carradas de alguns [livros] de que havia maior cópia”. Quando, a 30 do mesmo mês e ano, chegaram os Vicentes, só ali acharam dez religiosos, a saber: 171 frei António das Chagas, o padre Provincial, o Guardião, o Presidente e seis padres Mestres. No dia primeiro de Maio, estes dez religiosos dirigiram-se à porta da *Basílica com o pálio a receber o *cardeal Cunha o qual foi conduzido para a *casa do Capítulo onde lhe leram o “Breve de Sua Santidade onde era servido extinguir sete conventos dos […] padres Vicentes, da Província do Minho, e aplicar as suas rendas para sustentar os mesmos, em o Real Convento de Mafra”. ANTÓNIO DE CRISTO, Frei Em 1755, dava início à organização do catálogo das duas livrarias então existentes no Real Edifício de Mafra, regidas cada uma por seu bibliotecário: a de *frei António de Cristo, situada nas duas casas posteriormente chamadas *Secretaria, para as quais se entra por um grande pórtico existente na escada da *Fonte das Almas, e a de *frei Matias da Conceição, nas dependências do terceiro pavimento por cima da *Despensa e *Porta do Carro. Três anos volvidos, no de 1758, daria por concluída a tarefa. ANTÓNIO DUARTE Músico. Participou em diversos concertos patrocinados pelo Palácio Nacional de Mafra, designadamente: em 7 de Dezembro de 1985, com Nelson Rocha (trompete), no âmbito do Ano Europeu da Música; em 4 de Junho de 1988; em 26 de Novembro 1995; e em 10 de Agosto de 1997. ANTÓNIO DA ENCARNAÇÃO, Frei Defendeu em parceria com *frei Manuel do Rosário e *frei José de Nossa Senhora do Monte Carmelo umas *Conclusões de Filosofia intituladas Controversias Ex Universa Philosophia selectas […] (Lisboa, 1752), presididas por *frei António do Rosário. 172 ANTÓNIO DO ESPÍRITO SANTO, Frei Em 4 de Maio de 1802, segundo *Eusébio Gomes (Memórias), foi este substituto “dizer a culpa” no *Refeitório e foi por ordem de “Sua Alteza mudado do convento de Mafra, e riscado do nome e honras de Mestre sem jamais ter acesso às cadeiras, por ter atacado o guardião no Sermão que pregou quarta-feira de Cinzas”. ANTÓNIO ESTÁCIO DOS REIS Publicou Um astrolábio diferente de todos os outros (in Oceanos, n. 11, Jul. 1992, p. 35-42), onde alude ao volume do Tesouro de Prudentes (Lisboa, 1712) pertencente ao acervo da *Biblioteca de Mafra. ANTÓNIO FRANCISCO RAPOSO Médico adjunto do Real Convento de Mafra, em 1765, com o vencimento de 50$000 réis por ano e 2$500 réis anuais pelo cargo de cirurgião adjunto. Residia na Ericeira (cf. A Medicina no Convento de Mafra, in O Concelho de Mafra, 18 Jan. 1951). ANTÓNIO FRANCISCO DA SILVA Pintou de azul seis jarras de “barro branco” vidrado feitas por José Correia, conforme consta do Livro da despesa da *Irmandade de Nossa Senhora do Rosário (fl. 8v [5 de Maio de 1743] fl. 18v [4 de Maio de 1749]). ANTÓNIO GOUVEIA Luís de Matos referenciou as obras de António de Gouveia (Comédias de Terêncio, Paris, 1552 e Opera Iuris Civilis, Lyon, 1562) pertencentes ao acervo da *Biblioteca do Palácio Nacional (cf. Sobre António de Gouveia e a sua obra, in Bol. Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira, n. 4, Out.- Dez. 1966, p. 557-583). 173 ANTÓNIO DA GRAÇA, Frei Autor da Oraçaõ funebre, que nas exequias do muito alto, poderoso e fidelissimo Rey de Portugal D. João V celebradas pela venerável Ordem Terceira da Penitencia, na Igreja do Real Convento de Saõ Francisco da Cidade de Lisboa em 2 de Setembro do anno de 1750. […] (Lisboa, Herdeiros de António Pedrozo Galram, 1750 [BN: R6627 P]). Alude a Mafra a p. 32-33. ANTÓNIO IBOT Em 1942, publicou, em Madrid, Fuentes Historicas Españolas en la Biblioteca del Palacio Nacional de Mafra (Portugal). ANTÓNIO DA ÍNDIA, Frei *Frei António de São José. ANTÓNIO ISIDORO DA NOBREGA Médico, cavaleiro professo na Ordem de Nosso Senhor Jesus Cristo, Familiar do Santo Ofício e Secretário perpétuo da Sociedade Médico-Lusitana. Autor do Elogio Funebre na sentida morte do Fidelissimo, e Augustisimo [sic] Rey o Senhor D. Joaõ V (Lisboa, Domingos Gonsalves, 1750 [BN: HG 4747 P]), onde, a respeito do Monumento de Mafra, escreve (p. 6): “Diga-o o Famoso Templo da Vila de Mafra, que fez esquecer o Escorial de Espanha, e os mais notáveis Templos da Europa”. ANTÓNIO JOAQUIM ANSELMO Em 1926, publicou Bibliografia das Obras impressas em Portugal no século XVI, com inúmeras referências a obras alegadamente pertencentes à *Biblioteca de Mafra. O equívoco seria desfeito por *Guilherme de Assunção no Boletim Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira (v. 8, n. 1, 1967), onde, numa nota sem título, indica algumas das obras erradamente dadas como existentes no acervo daquela livraria, corrigindo também as descrições de outras (p. 104). 174 ANTÓNIO JOSÉ DE ALMEIDA Médico que começou, em 1820, a praticar a vacinação antivariólica, conforme atestam os Anais da Academia das Ciências. Gozava da simpatia dos frades de Mafra que costumavam convidá-lo para jantares no *Vale da Guarda. De um, ocorrido em 5 de Maio de 1825, dá notícia *Eusébio Gomes: “Neste dia pôs o Guardião o hábito de Cristo no Amâncio e houve jantar no Vale da Guarda, debaixo das faias que lá havia, onde se armou uma barraca com mesa alta e bancos, onde se juntaram os convidados que eram: o Deslandes, o médico Almeida, o Amâncio e os frades da panelinha, ao todo 24”. No ano seguinte houve outro destes banquetes, assistindo nele o médico (cf. A Medicina no Convento, in O Concelho de Mafra, 16 Jul. 1944). ANTÓNIO JOSÉ NOGUEIRA Mestre cerieiro estabelecido em Mafra e fornecedor da cera ao real Convento da localidade. A 18 de Julho de 1764, alguns anos após a sua morte, o genro, *José da Silva Costa, solicitaria o privilégio para si. A petição havia de ser despachada favoravelmente por *Dom José I, a 30 de Julho, consoante documentos divulgados por Dom Fernando Pais de Almeida (cf. Um caso de administração do Convento de Mafra). O Senado da Câmara tomou conhecimento oficial do despacho quatro dias depois de emitido (3 de Agosto), vendo-se compelido, contra a sua vontade, a cumpri-lo, uma vez que o suplicante não fora examinado para o desempenho do ofício, conforme estipulavam os regimentos aprovados. ANTÓNIO JOSÉ SOARES Músico e compositor. Compôs expressamente para Mafra: Hino: Te Deum Laudamus [PNMafra: R. Mms. 14. 5] para três vozes, coro e seis órgãos (1807); Matinas de Natal [PNMafra: R. Mms. 14.2] para voz, coro e quatro órgãos (1812); Matinas 175 de Defuntos [PNMafra: R. Mms. 14.1] para voz, coro e dois órgãos (1813); Te Deum [PNMafra: R. Mms. 14.6] para quatro vozes e dois órgãos (1814); Dixit Dominus [PNMafra: R. Mms. 14.3] para quatro vozes, coro e cinco órgãos (1825). ANTÓNIO LEAL MOREIRA Músico e compositor. Compôs expressamente para Mafra, em 1807: Missa pequena [PNMafra: R. Mms. 9.1] para quatro órgãos; Missa [PNMafra: R. Mms. 9.2] para quatro vozes, coro e seis órgãos; Credo [PNMafra: R. Mms. 9.3] para quatro vozes e seis órgãos; Vésperas alternadas de Nossa Senhora [PNMafra: R. Mms. 9.5] para duas vozes, coro e quatro órgãos. ANTÓNIO LUÍS GOMES Mercê dos seus esforços, enquanto Director Geral da Fazenda Pública, e dos do Inspector Superior das Bibliotecas, Júlio Dantas, seria publicado, em 23 de Outubro de 1937, o Decreto-Lei n. 28107, que determinava a abertura da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra à leitura pública, definindo também o quadro do seu pessoal: 1 segundo bibliotecário director, 1 aspirante, 1 contínuo de primeira classe e 1 contínuo de segunda classe (Crónica: Abre-se ao público a Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Anais das Bibliotecas e Arquivos, v. 12, n. 49-50, p. 161-162). Doravante e até à década de 1970, a referida biblioteca ficaria administrativamente dependente da Direcção-Geral da Fazenda Pública e, tecnicamente, da Inspecção Superior das Bibliotecas e Arquivos. ANTÓNIO LUÍS DE OLIVEIRA Fiel do Real Paço, ainda em Dezembro de 1798. Em sua substituição seria nomeado *Pedro Tavares de Brito, responsável pela instalação em Mafra de uma oficina de tecelagem de alcatifas. *Tapetes de Mafra. 176 ANTÓNIO MACHADO Filho de Remígio, um dos que estudaram arquitectura na *Casa do Risco de Mafra. Fez muitas obras, “tanto de escultura, como de relevo” (cf. Cirilo, Memórias, p. 204). ANTÓNIO DA MADRE DE DEUS, Frei Leitor de Física (1737). Renunciou devido a doença, tendo sido substituído por *frei Pedro de São Bernardino (29 de Março de 1737). Presidiu a umas *Conclusões Ex Universa Philosophia selectas (Lisboa, 1766 [BN: R 5878 V]). Coube-lhe ser o expositor da Conclusão intitulada Hominem Symbolicum sub variis expressionibus Theologicis, Exegeticis, Polemicis, Moralibus, Asceticis, Criticis, ac Historicis Theologicè adumbratum, atque scoticè inspectum, de *frei António de Santa Maria dos Anjos Melgaço (Lisboa, 1752 [BN: R 5878 (11.º) A]). ANTÓNIO DA MADRE DE DEUS GALRÃO, Frei Bispo de São Paulo (Brasil) nomeado, em 24 de Novembro de 1749, por *Dom João V. Tomou posse do cargo por procuração dada ao arcedíago doutor Mateus Lourenço de Carvalho, tendo entrado solenemente na sua diocese a 28 de Junho de 1751. Pregou o Sermaõ da Dedicaçaõ da Igreja de Mafra, prégado no Anno de 1740 […] (Lisboa, Francisco Borges de Sousa, 1758 [BN: R 8527 P; PNMafra: BVolante 2-11-8-7 (10.º) e 2-11-6-2 (1.º)]). ANTÓNIO MANUEL FONSECA (27.9.1796-4.10.1890) Pintor, filho do também pintor João Tomás da Fonseca. Foi professor de pintura histórica, nomeado em 29 de Agosto de 1837, e, posteriormente, director da Escola e do Museu da Real Academia de Belas Artes de Lisboa. Sócio do De Virtuosi al Pantheon (2 de Janeiro de 1840), do Instituto Imperial de França (20 de Dezembro de 1862) e da Real Academia de las Tres Nobles Artes de São Fernando, de Madrid (3 de Janeiro 177 de 1872). Do acervo do Palácio Nacional de Mafra [inv. 1772] consta o incensado óleo (3,04 x 2,14 m) Eneias salvando o pai, Anquises, do incêndio de Tróia (1843), exibido nas Exposições Universal de Paris (1855) e Internacional de Madrid (1871). Este quadro suscitou viva polémica que originou diversos artigos de opinião (Almeida Garrett) e opúsculos (Henrique Ernesto de Almeida Coutinho, Joaquim António Marques), um dos quais da autoria do próprio pintor, em defesa das 178 suas opções estéticas (O quadro Eneas: carta dirigida aos redactores da Imprensa Portugueza, Lisboa, 1855). Não obstante, na opinião de diversos críticos, de entre os quais sobressai o nome de Sousa Viterbo, os frescos do palácio Quintela constituem o seu “trabalho mais valioso e de mais amplas dimensões”. O Eneias seria adquirido por *Dom Fernando de Saxe para o Palácio da Ajuda, de onde foi transferido para Mafra. Bibliografia: AGAPITO, Carta do cidadão Agapito da Baixa ao Barbeiro, in O Braz Tisana, n. 60 (20 Mar. 1855); CARVALHO, Ayres de, A tela Eneias salvando seu pai Anquises do incêndio de Tróia do pintor António Manuel da Fonseca, in Obra Mafrense, Mafra, 1992, p. 187189; CHICÓ, Mário Tavares / SANTOS, Armando Vieira; / FRANÇA, José Augusto, António Manuel da Fonseca, in Dicionário da Pintura Portuguesa, Lisboa, Editores Estúdios Cor, 1973, v. 3, p. 141142; COUTINHO, Henrique Ernesto de Almeida, Algumas reflexões sobre o Eneas salvando a Anchises: quadro histórico do senhor A. M. da Fonseca, Porto, 1845; FRANÇA, José Augusto, As Artes em 1843: O Eneias de A. M. da Fonseca, in A Arte em Portugal no Século XIX, Lisboa, Bertrand Editora, 1990, v. 1, p. 246 – 259; idem, António Manuel da Fonseca, in Soleil et Ombres: l’art Portugais du XIX eme siècle, Paris, 1987, p. 125, n. 80; GARRETT, Almeida, Obras do Professor de pintura histórica senhor António Amnuel Fonseca: Eneas salvando a Anchises, in Jornal de Belas-Artes, v. 1 (1843-44), p. 58-62; MACEDO, Diogo de, Académicos e Românticos, in Museum, s. 1, n. 7 (1950), p. 12-14; MARQUES, Joaquim António, Algumas reflexões sobre o quadro histórico de Eneas salvando Anchises […], 1845; idem, O quadro Eneas: analyse, Lisboa, s. d.; RACZYNSKI, Atanásio, Dictionaire HistoricoArtistique du Portugal, Paris, 1847, p. 99-100; idem, Les Arts en Portugal: lettres adressées a la Société Artistique et Scientifique de Berlin et Accompagnées de Documents, Paris, 1847, p. 94, 104 e 114; A Revolução de Setembro, n. 838 (21 Nov. 1843), p. 2-3; SERRA, Francisco Pereira, Comunicado: Exposição em Lisboa, in O Portuguez. n. 666 (27 Abr. 1855); idem, Comunicado: Ainda a Exposição., in O Portuguez. (6 Jun. 1855) p. 2-3; SOARES, Elisa / CARNEIRO, Paula Dias; / SANTOS, Paula Mesquita dos, As Belas Artes do Romantismo em Portugal, Lisboa, 1999, p. 29-50; TABORDA, J. Cunha, Regras da Arte da Pintura, Lisboa, Imprensa Régia, 1815, p. 1-28; Variedades, in 179 O Progresso (25 Mar. 1855), p. 5; VITERBO, Sousa, Notícia de alguns pintores e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal (série I), Lisboa, 1903, p. 68-77; idem, Notícia de alguns pintores e de outros que, sendo estrangeiros, exerceram a sua arte em Portugal (série III), Lisboa, 1911, p. 77-81 ANTÓNIO MARIA MARAGLIANO (1664-1741) *Ayres de Carvalho presume que tenha sido o escultor da imagem de Cristo, em madeira (com sete palmos de comprido), trazido de Génova por *Domingos Massa, quando em 19 de Março de 1739 se achava ao serviço de *Dom João V como carpinteiro da acomodação dos sinos das torres da *Basílica de Mafra. Massa doá-la-ia à *Ordem Terceira de São Francisco no dia da sua recepção, tendo sido adoptada por *João Pedro Ludovice como modelo das imagens dos dez andores da *Procissão da Penitência. No ano de 1761, *Vieira Lusitano, *Alexandre Giusti e *Machado de Castro mostravam-se preocupados com o seu estado de conservação, propondo medidas concretas: “[…] tinha observado […] que a nossa Imagem do Santo Cristo que vai no andor do Monte Alverne [São Francisco] na nossa procissão da Penitência, estava falta de algum ornato na toalha que lhe cinge a cintura do mesmo Senhor e que para isto se mandasse acrescentar e compor com madeira seguindo-se a mesma forma da que tem sem descrepar em coisa alguma; que sendo assim ficaria a Sacro Santa Imagem com mais decência, e veneração […]” (cf. Livro 1.º das Eleiçoens, capítulos, fl. 140). Ayres de Carvalho atribuíria o restauro a Machado de Castro (cf. Mensário das Casas do Povo). ANTÓNIO MONTANTE Escultor e arquitecto de origem florentina. A *Basílica de Mafra possui duas obras deste artista: as estátuas de *São Pedro e de *São Paulo (1732). 180 ANTÓNIO MOURÃO TOSCANO Autor de Lenitivo a Portugal, na morte do Augustissimo, e Fidelissimo Senhor Rey Dom Joaõ V. [Lisboa], (s. l., [1750 ?] [BN: HG 4747 P]), onde se lê: “[…] ó Portugal […] aquele é o Real Mosteiro de Mafra, onde viverá sempre o teu Monarca [i. e., Dom João V]”. ANTÓNIO DO NASCIMENTO MOCAMBO, Frei Barbosa Machado chama-lhe *António da Natividade Mocambo. Professou a 15 de Dezembro de 1697 no convento de Alferrara (Setúbal), nele se tornando lente de Prima de Teologia. Ex-Leitor de Teologia e Definidor da Província da Arrábida no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo António de Mafra em 30 de Outubro de 1732. Pregador de renome. Subscreve a Aprovação dos Sermoens Varios, Panegyricos, e Moraes, tomo I. (Lisboa, 1735 [BN: Trunc 738 P]) de *frei António de Santa Ana. ANTÓNIO DA NATIVIDADE MOCAMBO, Frei O mesmo que *frei António do Nascimento Mocambo. ANTÓNIO DE OLIVEIRA, Padre Sacerdote do hábito de São Pedro, Mestre em Artes, e Teólogo dos Estudos Gerais da Companhia de Jesus da Cidade da Baía, e neles muitas vezes Examinador de Filosofia, Missionário Apostólico por Sua Santidade, Visitador Geral do Sertão de baixo e da cidade de Sergipe de el Rei, com poder de crismar por indulto do Papa Benedito XIV. Autor de Estatua de Ouro, que o muito Alto, e muito Poderoso Rey, e Senhor Nosso D. João V o Fidelissimo, de eterna, e saudosa memoria, erigio nas immortaes, e gloriosas acçoens da sua heroica vida, e para indelevel monumento de tão Augusto, e incomprehensivel Monarca expoem neste Sermaõ […] Prégado nas sumptuosas, e Reaes Exequias, que em 15 de Dezembro de 181 1750 celebràrão as Religiosas de Santa Clara do Desterro, no seu Mosteiro da mesma Cidade da Bahia (in Relação Panegyrica das honras funeraes, que às memorias do muito Alto, e muito Poderoso Senhor Rey Fidelissimo D. João V. Consagrou a Cidade da Bahia Corte da America Portugueza: escrita, e dedicada ao Excellentisssimo, e Reverendissimo Senhor D. Joseph Botelho de Mattos, Arcebispo da Bahia, Primaz dos Estados do Brasil, do Conselho de Sua Magestade, Lisboa, Régia Oficina Silviana e da Academia Real, 1753, p. 213-247 [BN: L 1136 A]). A p. 222, escreve: “Publique-o também a sumptuosa Basílica de Mafra […] a cuja vista, na matéria e obra, desaparece da vista, e estimação o Templo de Diana em Éfeso”. ANTÓNIO OLIVEIRA FREIRE Autor da Descripçam Corografica do Reyno de Portugal, que contem huma exacta relaçam de suas Provincias, Comarcas, Cidades, Villas, Freguezias, montes, rios, portos com a sua situaçaõ, extensaõ e limites, a qualidade de cada paiz, as fortalezas, o numero, costumes, e commercio dos seus habitantes, as principaes dignidades Ecclesiasticas, os titulos honorificos de sua Nobreza, a serie, e acçoens mais famosas de seus Reys, e tudo o mais memoravel desta antiga, e illustre Monarchia. Dedicada ao Illustrissimo e Excellentissimo Senhor Dom Manoel de Lancastro, Duque de Banhos etc. (Lisboa Ocidental, Miguel Rodrigues, Impressor do Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca, 1739). Afirma acerca do Convento de Santo António: “[…] é a maior oferta que se podia dedicar a Deus na Terra” (p. 113-114). ANTÓNIO DAS ONZE MIL VIRGENS, Frei Autor da Oraçaõ funebre, histórica e panegyrica, que nas solemnes Exequias do Rey Fidelissimo o Senhor D. Joaõ V de Portugal, celebradas no Convento dos Religiosos da Terceira Ordem de N. Serafico Patriarca S. Francisco da Villa de Viana do Alentejo no dia 30 de Agosto de 1750, pela illustre, e nobre Camera da mesma 182 Villa […] (Lisboa, Oficina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno, 1754 [BN: R 21716 P]). A Real Obra de Mafra é referida a p. 20. ANTÓNIO DE PÁDUA PUZZI Músico e compositor. Compôs expressamente para Mafra: Responsórios para a festa de S. Pedro de Alcântara [PNMafra: R. Mms. 11.3] para solo, coro e seis órgãos (1805) e Missa de Canto Figurado [PNMafra: R. Mms. 11.2] para dois coros e quatro órgãos (1818). ANTÓNIO PEREIRA DE FIGUEIREDO Faz referência ao *Real Colégio de Mafra a p. 24 do opúsculo intitulado Paralelo de Augusto Cesar e de Dom José o Magnanimo Rey de Portugal (Lisboa, Régia Officina Tipográfica, 1775). Também interessam a Mafra os Elogios dos Reis de Portugal, em latim, e em portuguez, illustrados de notas historicas, e criticas (Lisboa, 1785). ANTÓNIO PECORARO Cunhado de *Alexandre Giusti, admitido como aprendiz da *Escola de Escultura de Mafra, entre 1753 e 1756. Permaneceu a seu lado cerca de nove anos, tendo seguido, posteriormente, para Nápoles estudar música. ANTÓNIO PIO, Dom (21.3.1795-11.6.1801) Príncipe da Beira, segundo filho de *Dom João VI e *Dona Carlota Joaquina. Iconografado num fresco alegórico pintado por *Cirilo Volkmar Machado (1799?) na abóbada do *Oratório Norte ou de São José. O Infante, “nos braços do seu Anjo da Guarda, beija o estandarte da santa Religião, pendente da cruz Pontifícia”. A composição é alusiva à escolha do Papa Pio VI para padrinho do Infante. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A obra de Cirilo Volkmar Machado 183 no Palácio Nacional de Mafra, apresentada pelo próprio, in Bol. Cultural ‘95, Mafra, 1996, p. 314-315; MACHADO, Cirilo Volkmar, Aditamento a As Honras da Pintura, Escultura e Arquitectura de João Pedro Bellori, Lisboa, 1815, p. 116 ANTÓNIO DOS PRAZERES, Frei Nas suas Memórias, *Eusébio Gomes regista que, no dia 18 de Abril de 1804, foi este religioso arrábido “repreendido no Refeitório sem dizer a culpa” e “nele todos os hebdomadários por não lavarem a loiça”. ANTÓNIO DA PURIFICAÇÃO, Frei Uma das cinco testemunhas idóneas, inquiridas, em 7 de Março de 1834, quando se procedeu ao inventário da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, a fim de confirmar a sua integridade. As restantes foram: *Gaspar Carlos da Silva (durante mais de 41 anos habitante do mosteiro, onde foi Guardião), *frei Joaquim de Nossa Senhora das Dores e *frei Brás do Sacramento (religioso converso) e *Lourenço Justiniano Torcato (durante 42 anos aparelhador de carpinteiro no mosteiro). ANTÓNIO DA PURIFICAÇÃO MORAIS CARDOSO, Padre (f. 11.1882) Por morte do anterior bibliotecário do Paço Real de Mafra, foi nomeado responsável pela livraria (Diário do Governo), em 2 de Maio de 1855, cargo que exerceria até Novembro de 1882, data do seu próprio óbito. A Gazeta do Campo, de 26 de Agosto de 1866, incluiu missiva subscrita por Um estudante, intitulada Frei Tomé das Chagas e o bibliotecário d’ esta villa, da qual saía manifestamente prejudicada a imagem do padre António da Purificação Morais Cardoso, acusado de não facultar aos investigadores “nem a vista do catálogo, nem a proximidade da galeria”, alegando até a inexistência no 184 acervo de certos autores, supostamente para impedir a sua consulta. Por ofício, datado de 7 de Novembro de 1876, a Administração da Fazenda da Casa Real mandava entregar ao padre António da Purificação Morais Cardoso, então Provedor do Hospital de Nossa Senhora das Dores da vila de Mafra, quatro quadros a óleo, originários de capelas secundárias do Real Convento, figurando: São Pedro Regalado, Santa Luísa Albertoni, Santos Mártires de Marrocos, um santo não identificado, vestido de frade, tendo na mão direita um coração inflamado (Santo António?). *Ayres de Carvalho observou os quadros cedidos com a anuência do rei *Dom Luís, na capela da dita instituição, achando-os “bastante estragados pela humidade e com alguns rasgões” [AHM: ofício de 13 de Novembro de 1948 (fotocópia)]. No mês de Março do ano seguinte comunicava à Repartição do Património da Direcção Geral da Fazenda Pública a restituição das telas emprestadas, desde 21 de Novembro de 1876, ao seu legítimo proprietário. ANTÓNIO RAINHA SANTA, Frei Substituto de Moral (1740 a 1741), Leitor de Moral (1743 a 1745). Retirar-se-ia para a sua Província em 1745. Presidiu às Conclusiones Canonico-Morales de jejunio Ecclesiastico (Lisboa, 1746 [BN: TRUNC 631 A]). ANTÓNIO REBELO DA FONSECA (f. 5.3.1728) Colaborador e conselheiro artístico do Magnânimo, e primeiro responsável pelas encomendas de obras de arte importadas para o Real Convento de Mafra. Por sua morte, o cargo passaria a ser desempenhado por *José Correia de Abreu e pelo *padre Carbone. Em 28 de Janeiro de 1718, *António Soares de Faria, tesoureiro da Real Obra de Mafra, recebe ordens subscritas pelo próprio *Dom João V para “que mande logo abrir os alicerces da Cerca e plantar árvo185 res silvestres e fazer o tombo das terras compradas”. Na sequência dessas instruções, António Rebelo da Fonseca daria início à construção dos jardins da *Cerca conventual. ANTÓNIO DO ROSÁRIO, Frei Presidente de, entre outras, as seguintes *Conclusões de Filosofia: Controversias Metaphysicas juxta Mentem Subtilis Doctoris Joannis Duns Scoti (Lisboa, 1752), defendida por *frei José de Jesus Maria, *frei Fabiano de Santa Rita, *frei Joaquim de Santa Ana e *frei José de Santa Ana e Controversias Ex Universa Philosophia selectas […] (Lisboa, 1752), defendida por *frei António da Encarnação, *frei Manuel do Rosário e *frei José de Nossa Senhora do Monte Carmelo. ANTÓNIO DE SANTA ANA, Frei Religioso da Provincia da Arrábida e Consultor do Santo Ofício. Leitor de Artes (1735), Escritura (1737-1738) e de Teologia na cadeira de Prima nos *Reais Estudos de Mafra no período compreendido entre 1737-1739. Presidente, entre outras das seguintes *Conclusões de Teologia e Filosofia: Conclusiones Theologicas de Virtute Poenitentiae […] (Lisboa, 1737) [BN: TRUNC 614 A]; Conclusiones Theologicas de Poenitentia Sacramento […] (Lisboa, 1738) [BN: idem]; Conclusiones Theologicas de Restauratione justitiae commutativae Laesae, seu de Restitutione […] (Lisboa, 1739) [BN: idem]; Logicales conclusiones [BN: R 5878 A]; Conclusiones theologice de Angelis [BN: R 5871 A]; Conclusiones biblico-historicas [BN: idem]. Pregador de nomeada, imprimiu significativo número de Orações e Sermões, cujo inventário provisório se apresenta: Oraçaõ funebre, nas Reaes Exequias, que celebraraõ os Religiosos da Santa Provincia da Arrabida do Real Convento de Nossa Senhora, e Santo António junto à Villa de Mafra, á saudosa memoria do Serenissimo, e Fidelissimo Senhor Rey D. Joaõ V fun186 dador do mesmo Real Convento. […]. Em 8 e Agosto de 1750 (Lisboa, Régia Oficina Silviana, e da Academia Real, 1750 [BN: L 941 V]: a p. 22 lê-se: “[…] o Sereníssimo Senhor Rei Dom João o V, assistindo a estes pobres clausurados no seu Real Palácio, enquanto vivo e expressando repetidas vezes a vontade de o seu Real corpo os acompanhar depois de morto. Os homens tiveram a ventura de lograr uma e outra assistência: estes pobres Menores não conseguiram o total complemento daquele Real desejo, porque ocorreram justíssimas causas, que obviaram a sua execução […]”); Sermoens Varios, Panegyricos, e Moraes, que no Real Convento de N. Senhora, e S. Antonio junto a Mafra, e em varios Pulpitos da Corte de Lisboa, e fóra della […]. Tomo primeiro: Offerecidos à Soberana Imperatriz da Gloria Maria Santissima no Mysterio de sua Immaculada Conceição na sua Real Capella do mesmo Convento junto a Mafra. Dados ao Prèlo por hum Escravo da mesma Senhora (Lisboa Ocidental, Nova Officina de Maurício Vicente de Almeida, 1735 [BN: Trunc 738 P: inclui Sermão na Eleiçam do Primeiro Capitulo Provincial, que se celebrou no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo António junto a Mafra, ano 1731, em 7 de Abril (p. 29-47); Sermão do Corpo de Deos, prégado na Dominga infra Octavam Corporis Christi no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo Antonio junto a Mafra, dia de S. João Sahagun, ano 1732 (p. 178-197); Sermão no segundo dia do Triduo de Quarenta Horas, prégado no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo Antonio, junto a Mafra, ano 1731 (p. 198-224). Teve 2.ª impressão em 1748]); Tomo segundo: Offerecidos á Gloriosissima Senhora S. Anna Mãy da Mãy de Deos, e Avó de Jesu Christo, no Altar da Sagrada Familia do Real Convento de Nossa Senhora, e Santo Antonio junto á Villa de Mafra. Dados à impresa por hum devoto da Provincia da Arrabida (Lisboa Ocidental Oficina de Miguel Rodrigues, Impressor do Eminentíssimo Senhor Cardeal Patriarca, 1738 [BN: Trunc 739 P: inclui Sermaõ da Dedicação Anniversaria do Real Templo 187 de Nossa Senhora, e Santo Antonio junto a Mafra, aos 22 de Outubro ano 1732 (p. 20-45); Sermaõ da Incarnação do Divino Verbo no Thalamo do Purissimo Ventre de Maria Santissima, prégado no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo António junto a Mafra, aos 25 do mês de Março ano 1735 (p. 46-69); Sermaõ em Acção de Graças pelo Capitulo Provincial, que se celebrou no no [sic] Real Convento de Nossa Senhora, e Santo António junto a Mafra, aos 12 de Junho de 1734, prégado no Convento de Nossa Senhora da Serra da Arrábida da mesma Provincia aos 15 de Julho do mesmo ano (p. 70-89); Sermaõ de Nossa Senhora, que com o mesmo titulo se applaude como titular, e patrona do real Convento junto á Villa de Mafra, prégado no mesmo Real Convento aos 8 de Setembro ano 1735 (p. 112-139)]). Tomo sexto: Offerecidos aos Gloriosos S. João Bautista, e S. João Evangelista, no Altar da Sagrada Familia do Real Convento de N. Senhora, e Santo Antonio junto à villa de Mafra. Dados ao Prélo por João da Costa Araujo (Lisboa, Régia Oficina Silviana e da Academia Real, 1750 [BN: R 5024 P: inclui Sermão do Corpo de deos, prègado com o Santissimo exposto na Dominga infra octavam Corporis Christi, no Real Convento de Nossa Senhora, e Santo Antonio junto à villa de Mafra, em 12 de Junho de 1746 (p. 1-32) = compara a Basílica de Mafra ao monte Horeb; Sermão II da Gloriosa Virgem, Martyr, e Doutora S. Catherina, prègado no Real Convento de N. Senhora, e Santo Antonio, junto à villa de Mafra, ano 1732 (p. 463-488)]). Bibliografia: GANDRA, Manuel J. Bibliografia Mafrense: impressos até 1800, in Bol. Cultural ’98, Mafra, 1999, p. 840-842; MACHADO, Barbosa, Biblioteca Lusitana, v. 1, p. 206 e v. 4, p. 23. ANTÓNIO DE SANTA CLARA, Frei Substituto de Teologia de Prima (1743 e 1744). Presidiu a umas Conclusionis Theologico-speculativas et Morales de Justitia distributiva (Lisboa, 1752), defendidas por *frei Caetano de Jesus Maria. 188 ANTÓNIO DE SANTA HELENA, Frei Substituto de Moral e, posteriormente, de Metafísica (1737), de Lógica (1738) e de Física (1739), Leitor de Lógica (1740), de Física (1741), de Metafísica (1741) e de Escritura (1743 a 1745). Presidiu, entre outras, às Conclusiones BiblicoChronologicas de Statu, Progressu, variaque Fortunae gentis Hebraicae, comprehendentes sacros libros Josue, Judicum, ac Ruth ab ingressu terrae promissae usque ad navitatem Obed avi Davidis […] (Lisboa, 1745 [BN: R 5138 A]). ANTÓNIO DE SANTA MARIA DOS ANJOS, Frei O mesmo que *frei António de Santa Maria dos Anjos Melgaço. 189 ANTÓNIO DE SANTA MARIA DOS ANJOS MELGAÇO, Frei (17.6.1708-14.8.1780) Também chamado simplesmente *frei António de Santa Maria dos Anjos. Aluno do colégio jesuítico de São Paulo (Braga), cursou Teologia no colégio dos Eremitas da mesma cidade. Ingressou no convento de São Francisco de Lisboa, a 20 de Janeiro de 1730, tendo professado em 22 de Janeiro de 1731. Foi um dos primeiros padres Mestres a ser chamado por *Dom João V para os *Reais Estudos de Mafra (“Real Universidade de Mafra”), onde se manteve, desde 1737, durante 16 anos consecutivos. Substituíu Filosofia (Lógica e Física) durante dois anos, tendo lido a mesma faculdade (Lógica, Física e Metafísica) durante três anos e Teologia onze anos: dois na cadeira de Véspera e nove na de Prima. Custódio da sua Província desde 1749, tornou-se Provincial dela em 5 de Junho de 1751, tendo-se retirado no final desse ano lectivo, depois de haver jubilado na cadeira de Prima, e ter presidido à Conclusão de Filosofia Hominem Symbolicum sub variis expressionibus Theologicis, Exegeticis, Polemicis, Moralibus, Asceticis, Criticis, ac Historicis Theologicè adumbratum, atque scoticè inspectum (exposta por *frei António da Madre de Deus), onde são citados autores como Pico della Mirandola, Robert Fludd, Paulo Ricci, etc. (Lisboa, 1752 [BN: R 5878 (11.º) A]). A sua docência em Mafra pode ser seguida a partir dos Cursos filosóficos (1739-1742) e teológicos (17421746, 1746-1750 e 1750-1754) impressos. Deles se conclui que não elegeu o método “rígido escolástico”, nem o “rígido eclético”, mas sim o intermédio, que sobrepunha a verdade a qualquer Mestre. Era conhecedor da Filosofia e da Física modernas, razão por que estava convicto que o filósofo cristão devia adoptar o sistema peripatético, de preferência ao estóico, platónico, epicureu, cartesiano, gassendista ou newtoniano. Algumas outras *Conclusões a que presidiu: Organum Scoto-Aristotelicum juxta mirabilem Doctoris Subtilis 190 aciem fideliter, ac methodicè […] (Lisboa, 1739 [BN: TRUNC 614 A; TRUNC 629 A]); Palestra Philosophica Ad Mentem Doctoris Subtilis, venerabilisque Magistri Joannis Duns Scoti [… (Lisboa, 1739 [BN: TRUNC 614 A; L 113 A]); Systemata Philosophica universitas difficultates per diffusum Scibilium pelagus dispersas ad Mentem Doct. Subt. Joannis Duns Scoti (Lisboa, 1741 [BN: R 5139 A]); Conclusiones Theologico-Dogmaticas De Perfectionis acquirendae statu, juxta veridicam Sacrae Scripturae, Conciliorum, Juris Pontifici, Sanctorum Patrum, Doctorisque Subtilis intelligentiam contextas (Lisboa, 1745 [BN: R 5138 A]); Conclusiones Theologico-Dogmaticas, Canoniscasque de Ecclesiastica Hierarchia […] (Lisboa, 1746 [BN: R 5138 A]); Conclusiones Theologico-Dogmaticas De Ecclesiae Militante juxta veridicam, inconcussamque Sacrae Scripturae, Conciliorum, Sanctorum Patrum, Catholicorumque Doctorum, praecipuè Joannis Duns Scoti […] (Lisboa, 1747 [BN: R 5138 A]); Conclusiones AEnigmaticae, Canonicae […] super quem Scotus ibidem (Lisboa, 1747 [BN: R 5139 A]); Scotus Aristotelicus seu Philosophia peripatetica ad commodiorem Regalis Academiae Mafrensis usum, juxta mentem […] Duns Scoti (Lisboa, 17471759, 2 vols.); Oratio encomiastica in Laudem eminentissimi Domini Cardinalis Ordi, Lusitani Imperii Nuntii Apostolici, extémporé hábita in Regáli Mafrénsi Didascálio, ipso Eminentissimo Príncipe assisténte, Académiamque illustránte [PNMafra: BVolante]); Oratio Consolatoria pro sublevanda ingenti Regalis Mafrensis Academiae afflictione, ibidem recitata: Cum illius studia die 22 Octobris de more aperiebantur [BMMafra: 37RC-MF-ORA]). Foi autor, entre outras, das seguintes Orações: Oratio in laudem Exmi. Domini D. Josephi Maria Fonseca ab Ebora, habita in Regali Mafrense Atheneo (Lisboa, 1742); Oratio encomiastica in Laudem eminentissimi Domini Cardinalis Ordi, Lusitani Imperii Nuntii Apostolici, extémporé hábita in Regáli Mafrénsi Didascálio, ipso Eminentissimo Príncipe assisténte, Académiamque illustránte, in 191 Sacra Theologia Conimbricensis Doctor, ac in eadem facultate Primarius Cathedraticus Mafrensis [PNMafra: BVolante]; Oratio Consolatoria pro sublevanda ingenti Regalis Mafrensis Academiae afflictione, ibidem recitata: Cum illius studia die 22 Octobris de more aperiebantur [no ano de 1750] (in Sacra Theologia Conimbricenci Doctore, ejusdem facultatis Primario Moderatore, ac Provinciae Portugaliae actuali Custode [BMMafra: 37RC-MFORA]). Bibliografia: ANDRADE, A. A., A orientação do estudo da Filosofia dos Franciscanos, in Brotéria, v. 43 (1946), p. 43-45; Memória da forma com que Dom João o Quinto mandou para Mafra religiosos para Lentes de Faculdade [Arquivo Casa Cadaval (Muge): ms. 801, fl. 682 e ss.] ANTÓNIO DE SANTA MARTA LOBO Refere-se ao Monumento de Mafra, a p. 35-36 da Oraçaõ funebre, historica, e panegyrica recitada nas solemnissimas exequias, que na morte do Fidelissimo Rey e Senhor D. Joaõ V de Portugal, de Saudoza, e Eterna Recordaçam, celebrou o Excellentissimo, e Reverendissimo Senhor D. Fr. Joseph Maria da Fonseca e Evora, do Conselho de S. Magestade, Ex-Geral dos Menores, Assistente do Sólio de S. Santidade, Bispo do Porto, etc. etc. Na Santa Igreja Cathedral em 5 de Setembro de 1750. (in Relação das Solemnissimas Exequias, e Funeraes honras do rey Fidelissimo D, João V o Magnanimo que se fizerão na Cidade do Porto, e que na Igreja Cathedral da mesma cidade celebrou o Excellentissimo e Reverendissimo Senhor D. Fr. Joseph Maria da Fonseca e Evora […] Composta e Ordenada por Rafael de Sá Bayesca, e Montarroyo. Porto, Oficina Episcopal do Capitão Manuel Pedroso Coimbra, 1751, p. 19-39 [BN: R 19121 (7.º) P]). ANTÓNIO DE SANTA TERESA DE JESUS, Frei Professor de Artes nos *Reais Estudos de Mafra, onde presidiu a umas *Conclusões de Filosofia que versaram a Lógica 192 do Doutor Subtil, Duns Escoto (Lisboa, 1742). Conserva-se manuscrito na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra o seu Cursus Philosophicus Scoto-Aristotelicus [ms. 2332] (cf. Catálogo dos manuscritos da BGUC: cod. 2310-2376, Coimbra, 1963, p. 78-81). ANTÓNIO DE SÃO JOÃO, Frei Presidente, entre outras, das *Conclusões de Teologia e Moral defendidas por *frei José de Nossa Senhora da Luz (Lisboa, 1758), *frei Miguel de Santa Rita (idem), *frei José de Nossa Senhora da Luz (Lisboa, 1759) e de *frei Caetano de Nossa Senhora do Pópulo (Lisboa, 1760 [BN: R 5871 A]). ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ, Frei (1648-1710?) Natural do Carvalhal de Cheleiros e baptizado António Gaspar (cf. Frei Cláudio da Conceição, Gabinete Histórico, v. 8, Lisboa, 1820, p. 68-72 e Francisco Duarte Resina, Cartas da Aldeia. LVII, in O Concelho de Mafra, 15 Ago. 1943). Também conhecido como *frei António da Índia por ter seguido para Malaca com o respectivo bispo e haver permanecido em Goa enquanto durou o governo do conde de Vila Verde. Ficou a dever-se a um cronista arrábido, *frei José de Jesus Maria, na sua Crónica da Província de Santa Maria da Arrábida da regular e mais estreita observancia da Ordem do Seráfico Patriarca S. Francisco (Lisboa, 1736) a divulgação da lenda que credita a este arrábido, “muito piegas”, a paternidade do alvitre que teria originado o *voto de *Dom João V de construir um cenóbio junto à Vila de Mafra, no intuito de ver garantida a sucessão dinástica. ANTÓNIO DE SÃO JOSÉ LINHARES, Frei Presidente das Conclusiones Theologico-Morales de incruento missae sacrificio ex Sanctorum Patrum Auctoritatibus […] (Lisboa, 1745 [BN: R 5138 A]). 193 ANTÓNIO SIMÕES Organeiro. Em 1985, com o patrocínio da Fundação Calouste Gulbenkian, deu início ao restauro do *Órgão da Epístola da *Basílica, dado por concluído em Outubro de 1990. Colocou manípulos junto ao teclado, os quais possibilitam comandar todos os registos a partir da consola. O restauro dos restantes órgãos da *Basílica de Mafra, prossegue ainda, confiado pelo IPPAR ao organeiro *Dinarte Machado. ANTÓNIO SOARES DE FARIA Nomeado tesoureiro do dinheiro aplicado à Real Obra de Mafra por *alvará de *Dom João V, de 26 de Outubro de 1714 [ANTT: Chancelaria de Dom João V, livro 42, fl. 157]. Em 28 de Janeiro 1718, recebia ordens subscritas pelo próprio monarca para que mandasse “logo abrir os alicerces da Cerca e plantar árvores silvestres e fazer o tombo das terras compradas”. Na sequência dessas instruções, *António Rebelo da Fonseca daria início à construção dos jardins da *Cerca conventual. ANTÓNIO TEIXEIRA Em Fevereiro de 1730, António Teixeira, compositor e examinador de *cantochão de todo o Patriarcado deslocou-se a Mafra, talvez com o objectivo de preparar a componente musical da cerimónia de sagração da *Basílica, em 22 de Outubro [BPÉvora: cod. CIV / I]. ANTÓNIO TRIGO Cirurgião aposentado do Real Convento de Mafra, com o vencimento de 5$000 réis anuais (cf. A Medicina no Convento de Mafra, in O Concelho de Mafra, 18 Jan. 1951). ANTÓNIO XAVIER MACHADO Irmão de *Joaquim Machado de Castro. Organeiro e administrador dos Reais Órgãos de Mafra, a quem foram cometi194 dos, em Agosto de 1792, os trabalhos de reconstrução dos órgãos da *Basílica. O primeiro órgão a ser dado por concluído foi o do Evangelho, da *capela do Santíssimo Sacramento, o melhor de todos os do cruzeiro, o qual ostenta numa cartela metálica a inscrição: Sacramento / António Xavier Machado o fez / em 4 d’ Outubro de 1806. Em Junho do ano seguinte, terminou o órgão do Evangelho da *capela da Sagrada Família que ostenta a inscrição numa cartela metálica de formato elíptico: Conceição / António Xavier Machado o fez / em 13 de Junho de 1807, bem como o da Epístola da mesma capela que ostenta numa cartela metálica: S. Barbara / Joaquim António Peres Fontana / o fez em 13 de Junho d’ 1807. Os dois órgãos da capela-mor, reconstruídos segundo o sistema Lichtenthal modificado (de 4 oitavas e meia com 16 registos), só em Outubro haviam de ficar prontos: o da Epístola ostenta a inscrição: Epistola / Joaquim António Peres Fontanes / o fes em 4 d’ Outubro d’ 1807 e um medalhão em metal cinzelado, atribuído a *Carlo Amatucci, representando *Dom João VI olhando para a Virgem do retábulo do altar mor; o órgão do Evangelho, que termina superiormente num painel de bronze com vários emblemas de Santo António, apresenta numa lâmina metálica: Evangelho / António Xavier Machado o fez / em 4 de Outubro de 1807. 195 Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Organaria mafrense, in Bol. Cultural ‘96, Mafra, 1997, p. Mafra, 1998, p. 399-417 ANTUÉRPIA Os carrilhões das torres do Real Edifício de Mafra, foram construídos, em Antuérpia e *Liège, por *Guilherme Withlockx e *Nicolau Levache, respectivamente. Um ofício do consul de França em Portugal afirma que custaram 50 mil moedas de ouro (28 de Fevereiro de 1730). Antes de conduzidos para Mafra os sinos dos carrilhões foram sagrados pelo *Patriarca de Lisboa, junto à igreja de Santo Antão do Tojal (Loures). O seu transporte desde esse local foi realizado sob a direcção de *Máximo de Carvalho, superintendente das Obras: os primeiros 10 sinos chegaram a 21 de Setembro, 28 outros a 18 de Outubro e mais 2 no dia seguinte, em carros puxados por muitas juntas de bois, conduzidos por abegãos e escoltados por dois destacamentos de Infantaria da Corte com 400 soldados. Finalizada a Missa de Pontifical da *Sagração da *Basílica (22 de Outubro de 1730) e retirado o Patriarca para a casa dos Paramentos (*casa da Fazenda), tocaram os órgãos e o *carrilhão da *Torre Norte, ainda só parcialmente instalado. ANUNCIAÇÃO Episódio narrado no evangelho de *São Lucas (I, 26-38). *São Gabriel visita Maria, ajoelhando diante dela. Traz na mão um lírio branco, alusão à pureza da Virgem, dirigindo-se-lhe com a saudação Ave Maria […] e informando-a que havia sido escolhida para conceber e dar à luz o Messias. Respondendo aos temores da Virgem, o *arcanjo diz-lhe que o *Espírito Santo, para o qual aponta, descerá sobre ela. Maria responde-lhe, Ecce Ancilla Domini. A iconografia do episódio, comemorado no dia 25 de Março (alegadamente o mesmo da criação do Mundo), figura a Virgem lendo prova196 velmente o profeta Isaías. Proveniente do Museu Nacional de Arte Antiga e integrado no acervo do Palácio Nacional de Mafra, existe um óleo sobre tela (2610 x 1800 mm) de *Agostinho Masucci [inv. n. 139] que se crê tenha sido realizado, em 1742, como modelo a submeter a *Dom João V, no âmbito da encomenda régia destinada à capela do Espírito Santo da igreja de São Roque. Uma primeira versão desta pintura acha-se em Monte Leone di Spoleto. Na *capela de Nossa Senhora da Conceição (colateral do lado direito, ou da Epístola da *Basílica) observa-se um retábulo em mármore (3,3 x 2,25 m), figurando o mesmo tema iconográfico, concluído entre 1771 e 1791 pela *Escola de Escultura de Mafra. O Archivo Pittoresco (v. 4, 1861, p. 153) reproduziu o desenho de Bordalo, cuja gravura (de Coelho) foi, posteriormente (na década de 1930), editada em formato de bilhete postal pela *Comissão de Turismo de Mafra. 197 Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra (desenho, pintura e gravura, até 1900), in Boletim Cultural ’97, Mafra, 1998, n. 53, p. 250 APAGADOR Na *casa da Fazenda acham-se depositados diversos apagadores de latão lavrado em relevo. A sua avantajada dimensão provocou em Castilho que, em consequência da sua cegueira, não podia vê-los e só os apalpou, a exclamação: “Oh! São estes certamente os apagadores do sol!” (D. C. Sanches de Frias, Notas a lápis, Lisboa, 1886, p. 455). APARADOR No *Corredor do Limpa Facas, existem dois aparadores, em casquinha, folheados a mogno polido e com tampo em mármore rosa (finais de oitocentos). 198 APOCALIPSE A literatura apocalíptica hebraica conta com mais de uma dúzia de exemplos, apesar de só o Livro de Daniel ter chegado a ser considerado canónico pela igreja. O único texto do género aceite no Novo Testamento foi o Apocalipse ou Livro da Revelação, atribuído sob reserva ao evangelista João durante o seu exílio em Patmos, no tempo de Domiciano (8196 d. C.). Aí são relatados de forma enigmática os acontecimentos concernentes ao fim do mundo e ao advento do outro (*Jerusalém Celeste), sob um novo céu ou ordem cósmica diversa. O seu carácter visionário e misterioso favoreceu o florescimento de uma tradição iconográfica multifacetada, cuja origem é possível rastrear já na arte paleocristã. A liturgia moçárabe prescrevia a leitura do Apocalipse no período entre a Páscoa e o Pentecostes (Concílio de Toledo de 633: cânone XVII). Certamente é essa a razão porque existe grande número de comentários e glosas, de que a famosa série do Beatus, na qual se integra o não menos famoso Apocalipse de Lorvão, merece um realce muito especial. A iconografia do também chamado Livro místico dos Anjos irá reflectir na península, como de resto fora dela, as opções dos exegetas face à ordem prescrita nos textos sagrados, não obstante a Bula Supernae majestatis de Leão X, a qual proibia os pregadores de anunciarem o advento do *Anticristo ou do Juízo Final. Um dos temas mais difundidos foi o da Maiestas Domini, o Cristo em majestade ou Pantocrator dominando os Juízos Finais, acompanhado ou não (fresco da sala de audiência do tribunal de Monsaraz, túmulo de Dom Rodrigo Sanches, no Mosteiro de Grijó, etc.) pelo tetramorfo. Só a partir do séc. IV surge a representação dos animais místicos, posteriormente identificados com os evangelistas e considerados como figuração dos momentos cruciais da missão de Cristo. Relativamente à sua ordenação espacial, os quatro animais da esfinge, questão debatida por 199 diversos Padres e Doutores da Igreja, caso de *São Jerónimo (que relaciona o Anjo com a Encarnação, o Boi com a Paixão, o Leão com a Ressurreição e a Águia com a Ascensão), nem sempre será seguida a visão de Ezequiel (I, 10), segundo a qual a Águia e o Anjo devem sobrepôr-se ao Boi e ao Leão, à direita e à esquerda de Cristo, respectivamente (tal como no portal principal do Mosteiro da Batalha, mas não como no túmulo do Bispo de Évora, Dom Pedro III, no Livro das Aves, e num Breviário que pertenceu ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, copiado por Pedro Ramires, hoje na Biblioteca Municipal do Porto). Algumas obras de hermeneutica do Apocalipse no acervo da Biblioteca do PNMafra LUIS DE ALCAZAR (1554 ?-1613), Vestigatio arcani sensu in Apocalypsi, Lyon, 1618 [2-3-5-21]; VIEGAS, Brás, Commentarii Exegetici in Apocalypsim, Évora, 1601 [2-5-617] (Desde a sua 1.ª edição em 1601 até 1617 contou 11 reedições. A p. 196-197 acode em defesa do Abade Joaquim e é da opinião que a sua profecia relativa ao Anjo de Filadélfia do Apocalipse, pode muito bem ajustar-se à Companhia de Jesus). Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Apocalipse, in Da Vida, da Morte e do Além, Mafra, 1996, p. 171 APOSENTOS RÉGIOS Em Mafra, os aposentos régios situavam-se no *andar nobre dos dois torreões. Primitivamente, no do Norte acomodava-se o Rei e no do Sul a Rainha. Após o falecimento (1835) de *Dona Maria II, *Dom Pedro V e *Dona Estefânia passaram a residir no *torreão Sul, sendo o outro reservado para o 200 Príncipe Real *Dom Fernando II. Doravante e até 1910, quando se deslocava a Mafra, a família real ficava alojada apenas no torreão Sul. Em 1866, receberam beneficiações tendo “ficado muito mais cómodos e agradáveis” (Gazeta do Campo, n. 18, de 29 Abr. 1866). O *Infante Dom Afonso deslocar-se-ia expressamente a Mafra com *Dona Maria Pia, em 5 de Julho de 1888, com o objectivo de observar “com os seus próprios olhos, o estado dos aposentos reais, a fim de conhecer se estariam em condições de el Rei [Dom Luís] vir aqui passar algum tempo, sem prejuízo da sua saúde e das suas progressivas melhoras” (O Mafrense, 8 Jul. 1888). Com efeito, não seriam completamente aceitáveis as condições, porquanto, a 24 de Julho, estavam a ser pintados (Jornal de Mafra, 24 Jul. 1888). No que concerne ao recheio, muito pouco restou do mobiliário e adornos originais. Aponta-se, geralmente, o Rio de Janeiro como o destino de parte dele, em 1808. APÓSTOLO Do grego, enviado. É o nome atribuído aos discípulos eleitos por Cristo para que o acompanhassem, enquanto pregava, e corressem mundo divulgando a boa-nova após a sua morte (*São Marcos): *Santo André, *São Bartolomeu, *São Tiago Maior, *São Judas Tadeu, *São Filipe, *São Tiago Menor, *São 201 Tomé, *São Pedro, *São Simão e *São Matias. São doze, contando com os apóstolos da gentilidade: *São Barnabé e *São Paulo. APRENDIZ DE VIDRACEIRO Cerca de 15 de Julho de 1888, um rapazinho, aprendiz de vidraceiro, caíu de uma das janelas do Palácio Nacional, tendo-se salvo dos ferimentos quase milagrosamente (cf. O Mafrense, 29 Jul. 1888). APRESENTAÇÃO DE MARIA NO TEMPLO Em cumprimento da promessa feita por sua mãe, *Santa Ana (cf. Proto-Evangelho de Santiago, IV), quando Maria completou três anos foi levada para o Templo onde viveria alimentada por um *anjo até aos doze, idade em que foi entregue a José (cf. Pseudo-Mateus, VI, 2). A dedicação de Maria a Deus desde tenra idade é sublinhada pela circunstância de, ao chegar à escadaria do Templo, ter subido rapidamente os quinze degraus que a compunham sem olhar para trás, para os progenitores. Na *capela colateral de Nossa Senhora da Conceição (altar 3) da *Basílica observa-se este episódio da vida de Maria, iconografado numa luneta em mármore (3,10 x 1,54 m). 202 AQUECEDOR DE CAMA No acervo do Palácio Nacional existe um aquecedor de cama em prata, com tampa lavrada e as armas reais portuguesas gravadas. AR Emanação impura e, portanto, causadora de mal (peste e doenças diversas), atribuída à respiração de pessoa perversa, excomungado, defunto, alma penada, cemitério, certos fenómenos atmosféricos, etc. Aos ares nocivos chamavam os latinos sideratio (sideratus = tolhido do ar, paralisado). A figa é amuleto contra o mau ar. Uma criança pode apanhá-lo de diversos modos: se a mãe grávida vir um defunto; de uma vassoura verde com que se varre a casa; ao esvoaçar de uma galinha choca; de um excomungado. Após apanhar ar a criança fica magra, amarela e com a pele arrepiada. São duas as fórmulas mais comuns para cortar o ar: 1. Dá-se a beber à criança nove dias seguidos um punhado de terra da sepultura do defunto que provocou o mal depois de fervida; 2. Leva-se a criança a um local onde exista relva verde, estendendo-se sobre ela com os braços abertos, marcando-se o seu contorno no chão. Corta-se a relva e coloca-se em água de um poço, dizendo: “Assim como reverdeia a cana verde na mão de Nosso Senhor, assim reverdie o mal desta criança nesta relva deste chão. Em louvor da Sagrada Morte e Paixão”. Repete-se o processo nove vezes, rezando-se de cada uma nove padre-nossos, nove ave-marias, nove glórias, nove salve-rainhas, nove credos. Se se preferir fazer uma única vez, deverá ser na primeira Sexta-feira do mês, antes de nascer o sol ou depois de ele se pôr. Diz-se que para talhar o ar é de bom emprego fermento cru e palhas alhas (folhas de alhos). Também podem ser prescritos: pachos de água quente ou de água quente com sal e escalda-pés de água com sal. Ainda outra receita para cortar o ar: coloca-se uma púcara 203 nova de barro, de boca para baixo, dentro de um alguidar de barro com água quente; põe-se o pé ou a mão sobre a púcara e, depois, benze-se a água e o pé ou a mão (3 vezes) – Eu te benzo Em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Algumas obras do acervo da Biblioteca Volante sobre o Ar ANÓNIMO, Explicação do que significão os Caracteres das Cruzes, e Letras de S. Zacharias, vertidas no nosso idioma Portuguez, as quaes andão escritas nas Medidas, de que agora novamente usa a devoção dos Fieis contra o grande Mal da Péste, Lisboa, 1756 [2-25-8-24 (11.º)]; ANÓNIMO, Preservativo Espiritual, Remedio util, e conveniente para pessoas vexadas; singular, e experimentado para se conhecerem feitiços, vexações, e maleficios de qualquer sorte feitos a grandes, e pequenos. Contra o Mal de Peste, Rayos, Torvões, Tempestades, e Fogo, Lisboa, 1746 [2-15-3-33]; ANÓNIMO, Verba Sanctissima adversus aêris tempestates, Lisboa, s.d. [1-29-4-11 (29.º)] Bibliografia: ANÓNIMO, Escudo Impenetravel aos Trovoens, Rayos, Peste, e Ar corrupto. Administrado por S. Barbora Virgem, e martir. Accrescentado com a Cruz de S. Be[n]to, Estação do Ss. Sacramento, Breve, e Oração de S. Roberto cõtra maleficios, e Cabeça de S. Anastasio, Coimbra, 1730; CÂNDIDO Lusitano, Santos patronos contra tempestades de raios em devotos hinos, 1767; GANDRA, Manuel J., Ar, in Da Vida, da Morte e do Além, Mafra, 1996, p. 171-172; SANTÍSSIMA TRINDADE, Frei Tomás da, Escudo carmelitano ou o Sagrado Escapulário do Carmo […], Porto, 1747 ARCA Também denominada *burra. Existem várias arcas em ferro, chapeadas, nas escadarias de acesso ao piso nobre do Palácio Nacional. 204 ARCA PARA CERA Em carvalho, setecentistas, existem diversas arcas para cera no *salão grande dos frades. ARCA DO TESTAMENTO O mesmo que *Arca da Aliança. Também Arca da Casa de Abinadab (I Samuel, VII, 1). No Exodo (XXV, 10) Yavé explica a Moisés a forma de proceder com vista à sua construção. Segundo o Deuteronómio tratava-se de um cofre de madeira de acácia, exteriormente forrado de ouro, destinado a guardar as tábuas da Lei recebidas no monte Sinai. A última menção à Arca da Aliança ocorre em II Crónicas (XXXV, 3). De acordo com os judeus ortodoxos, está há 25 séculos escondida numa câmara sob o Monte do Templo, em Jerusalém, porém, segundo algumas investigações recentes, terá sido transferida para a Etiópia, onde se achará. Por extensão, o armário onde, na sinagoga, se guarda a Torah e o sacrário dos templos cristãos. A igreja católica interpreta-a ora como símbolo de Cristo, ora da Trindade, uma vez que contém o Maná (Verbo eterno), a Vara (poder) e as Tábuas da Lei (Espírito divino). Epíteto atribuído por antonomásia a *Santo António pelo Papa Gregório IX. ARCÁDIA ROMANA Academia fundada em Roma no ano de 1690. Foi, à semelhança da sua congénere, a *Academia de São Lucas, muito influente no panorama artístico nacional, mormente no que à Real Obra de Mafra concerne, consoante a documentação revelada por Aurora Scotti e Pier Paolo Quieto. Bibliografia: SCOTTI, Aurora, L’Accademia degli Arcadi in Roma e i suoi Rapporti con la cultura Portoghese nel primo ventennio del 1700, in Actas do Congresso André Soares – A Arte em Portugal no séc. XVIII – tomo 1 (in Bracara Augusta, v. 27, n. 63 (75) (1973), p. 115-130) 205 ARCANGELO FOSCHINI Natural de Lisboa. No ano de 1788 foi para Roma, tornandose discípulo de Labruzzi. Regressado à pátria, pintaria o óleo Vasco da Gama desembarcando em Calecute, tela levada para o Brasil pela família Real em 1808 e nunca mais devolvida à parede Nascente da *sala das Descobertas para onde tinha sido encomendada por *Cirilo Volkmar Machado. ARCANJO Do latim, archangelus, acima de anjo. Anjos da oitava ordem (esfera de Mercúrio), aos quais se atribui a condução do destino de grupos e nações. Sobre o Anjo da Guarda de Israel, ver Êxodo, XIV, 19 e XXIII, 20. Representados com armadura. Dos sete arcanjos que “estão diante da face de Deus” (Apocalipse, VIII, 2), os três principais são *São Miguel [= “grande príncipe” (Daniel, XII, 1)], *São Gabriel [= “Anjo intérprete” (Lucas, I)] e *São Rafael [anjo curador (Tobias, XII)]. Os restantes denominam-se Uriel, Sealtiel, Iehudiel e Barachiel. Bibliografia: ANÓNIMO, Devoção dos Sete Arcanjos que cercam o trono de Deos, com a explicação dos seus nomes, Lisboa, 1823 ARCANJO ANTÓNIO DOS REIS Servente contratado pela igreja de Mafra, em 1839, para “constantemente” ajudar às missas e cuidar da limpeza da *Basílica (varrer e “aspanar”), consoante documentos do AHMafra. ARCAZ No Palácio Nacional de Mafra existem alguns arcazes setecentistas, em vinhático e carvalho. ARCHEIROS, Casa dos Dependência do Palácio destinada ao corpo da Guarda Real, sita no corpo Norte da Real Obra de Mafra (frei João de 206 Santa Ana, Real Edifício Mafrense […], fl. 100). Designação também aplicada à *sala de Faetonte (ver descrição da pintura parietal por Cirilo Volkmar Machado). ARCIPRESTE DA SANTA BASÍLICA PATRIARCAL Autor do Discurso breve sobre o Real Mosteiro de Mafra, e principais pontos da regra da reforma da Província de Santa Maria da Arrábida, para quem se diz que sua Majestade o destina (19 de Setembro de 1730) [BN: Res cod. pomb. 99]. Bibliografia: PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura e Escultura de Mafra: retórica da perfeição, Lisboa, 1994, doc. 4, p. 336-338 AREAÇÃO, Casa da Dependência conventual contígua à *capela das Graças (anexa à *casa do Lavatório da Sacristia). Nela há a registar uma “arrojada escadaria” que finda junto à abóbada, dando acesso a diversas arrecadações (cf. D. C. Sanches de Frias, Notas a lápis, Lisboa, 1886, p. 454). AREAÇÃO DE BRONZES Em 1839, a Câmara Municipal de Mafra gastou na areação dos bronzes da*Basílica a quantia de 24 mil réis (incluindo-se nela também a limpeza das madeiras). No ano seguinte dispenderia 50 mil réis. Muito onerosa para o erário autárquico, só em 1892 se repetiu a iniciativa, conforme noticia a imprensa local: “Já há anos não eram limpos e areados [os bronzes da Basílica], estão-no sendo agora” (O Mafrense, 15 Mai. 1892). ARMANDO BOAVENTURA Autor do artigo Alviçaras dão-se… – Onde pára um valioso manuscrito referente á vida de El-Rei D. Sebastião, e que pertencia á Biblioteca do Convento de Mafra ? – Uma visita ao grandioso mosteiro de D. João V – Portugal paiz de… Turismo… – De 207 Lisboa a Mafra… – O Museu instalado no antigo Palácio Real – A Biblioteca – Depois da Republica… – Á procura de uma chave… – Uma entrevista com o director das bibliotecas municipaes de Coimbra – E o mais que se lerá… (A Época, 15 Abr. 1926). O manuscrito em causa fora consultado por *Raúl Brandão, quando cumpria o serviço militar em Mafra e, constava ter desaparecido da *Biblioteca do Palácio. ARMANDO DE LUCENA (1886-25.4.1975) Professor, artista e ensaísta. O seu tio, o pintor Simões de Almeida, matriculou-o com treze anos (1899) na Escola de Belas Artes de Lisboa, da qual se tornaria professor, em 1952. Conquistou diversos galardões em concursos e exposições de arte, nacionais e internacionais. Foi Presidente da Sociedade Nacional de Belas-Artes e colaborador da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. A sua ligação à Malveira, desde 1923, proporcionou-lhe uma maior proximidade com o Monumento de Mafra, ao qual dedicou muito do seu saber e sensibilidade. Integram a colecção de Arte Municipal um desenho a grafite e um óleo, ambos intitulados Trecho do Jardim do Cerco, de 21 de Fevereiro e 16 de Outubro de 1953, respectivamente [inv. n. 5746 e 5754]. Inúmeros outros trabalhos plásticos existem dispersos por museus e colecções privadas. Da sua obra impressa merecem realce os seguintes estudos e artigos relativos ao tema em apreço: Mafra e a sua Arte, in Estudos Artísticos: apontamentos para o Ensino Técnico Profissional (Lisboa, 1939, p. 95-97); Os Sinos do Monumento Sacro, in O Concelho de Mafra (6 Set. 1942); A poesia dos Sinos, in Arte Popular: usos e costumes portugueses, v. 1, Lisboa, 1942, p. 43-48; Uma reparação artística devida à Basílica de Mafra, in Diário de Notícias, 10 Ago. 1943); Existiu em Mafra uma Academia literária?, in Diário de Notícias (20 Ago. 1945); Abriu ontem em Mafra uma notável Galeria de Arte Sacra, in Diário de Notícias (30 Jun. 1946); O Convento de Mafra, in Arte 208 Sacra em Portugal, v. 2, Lisboa, 1946, p. 147-178; Na Tapada de Mafra: um Jardim que renasce, in Diário de Notícias (13 Out. 1948); O valor turístico de Mafra e Arredores, in Diário de Notícias (27 Fev. 1954); Monografia de Mafra (195?); Vieira Lusitano: o insigne pintor e leal esposo, in Colóquio: Revista de Artes e Letras, n. 25 (Out. 1963), p. 9-13; etc. Bibliografia: QUINTO, Amândio, Vida e obra de Mestre Armando de Lucena, in Bol. Cultural 2000, Mafra, 2001, p. 349-359 ARMÁRIO CONVENTUAL Em carvalho encerado, setecentistas, restam muito poucos armários conventuais, quase todos no *salão grande dos frades. ARMÁRIO HOLANDÊS Existe um armário holandês na *sala de Diana. 209 ARMAS DE COLEGIO Revista valenciana, cujo n. 150 (a. 14, 1930, p. 276) inclui artigo sobre Mafra, no qual sublinha que “um das peças mais dignas de ser visitada é a dilatada biblioteca com formosa abóbada e ricas estantes”. ARMAZÉM DO AZEITE Dependência conventual do Monumento de Mafra. Frei João de Santa Ana afirma que “[…] a sua principal entrada é pelo portal que está no corredor da portaria do Norte. No meio pois deste corredor […] na parede do nascente está um grande portal que tem dez palmos de largo e sobre ele uma janela que chega ao tecto do corredor. Por este portal aos lados do qual estão pilastras quase juntas às ombreiras dele, se entra para o grande armazém do azeite, que tem de comprido 94 palmos e de largo 32. Na parede fronteira à do portal da entrada estão três janelas com grades de ferro que deitam para o pátio n. 150. Entre a 1.ª e 2.ª janela está uma famosa chaminé e outra perfeitamente semelhante se acha entre a 3.ª janela e o portal por onde se entra para a casa n. 157. Este portal tem outro que lhe corresponde e dentro dele estão armários. Entre os ditos portais e os cantos do lado do Norte e encostados à parede do mesmo lado estão dez tanques de pedra divididos interiormente entre si, mas vistos por fora parecem só dois grandes tanques de cantaria divididos pelo portal da entrada. Têm os tanques de alto seis palmos, mas com a cantaria em que descansam têm nove. Os quatro que desde o portal da entrada até ao canto de cada um dos lados têm 40 palmos de comprido e os dois que estão nos cantos entre estes eos portais próximos têm cada um de comprido 40 palmos e meio. Na face exterior têm todos torneiras de bronze umas próximas aos fundos e outras mais acima para se tirar deles o azeite. São todos cobertos com grossas tampas de pau do Brasil que têm 210 fechaduras. Cada uma das ditas chaminés que são sacadas fora da parede […] têm de largo dezanove palmos e meio e de fundo sete e meio e isto o que tem fora da parede. Nos lados têm colunas redondas cercadas de várias pilastras e tanto estas como as colunas têm suas competentes bases e de muito lavor. A verga que passa de uma para outra coluna é do mesmo gosto e todo o corpo de cada uma delas é de pedra ricamente lavrada e guarnecida de grandes e delicadas molduras e muito ornato até ao tecto da casa. Estas duas chaminés elevam-se até aos terraços. Na casa que no 2.º andar fica sobre esta estão outras duas chaminés, mas juntas à parede oposta; e na casa que no 3.º andar fica sobre ambas, estão outras duas chaminés perfeitamente semelhantes e na mesma posição que as do armazém do azeite neste andar térreo, e de 211 tal modo estão formadas estas quatro chaminés que as deste andar comunicam interiormente com as do 3.º andar e só duas chaminés aparecem nos terraços e aí deitam fora o fumo de todas as quatro (Real Edifício Mafrense, fl. 156-157). 212 ARMAZÉM DO BACALHAU Dependência conventual, descrita no Real Edifício Mafrense: “Ao Sul do armazém do azeite está uma casa designada pelo n. 154 para a qual se entra pelo portal que está na casa designada com duas estrelinhas ou dos semicirculos no fim do corredor da portaria designado pelo n. 160. Tem esta casa de comprido 41 palmos e de largo 24. Junto aos cantos do lado direito tem dois portais fingidos. Defronte destes no outro lado tem um portal fingido e uma janela que deita para o pátio n. 150. Esta casa é chamada o armazém do bacalhau, porque antigamente servia para nele se recolher o que se gastava quando a comunidade era grande. Presentemente [1828] serve não só para guardar o bacalhau, mas também legumes, arroz, etc. e nela está também uma grande pia para o azeite e uma grande balança para se pesar o que for preciso pesar-se. Em todos os andares superiores há casas que correspondem a esta e lhe são perfeitamente semelhantes.” (Frei João de Santa Ana, fl. 157). ARMAZÉNS JUNTO À SACRISTIA Segundo o Auto do Inventário do Mosteiro de Mafra (século XVIII) os dois armazéns contíguos à *Sacristia da *Basílica achavam-se “cheios de madeiras pertencentes à armação da igreja”. Além delas, também são aí arrolados: “Um lampião de bronze, um candeeiro de parede dito. Sete retábulos ou similar de retábulos cobertos de folha de arame. Uma lâmpada muito grande de bronze. Cinco ditas desmanchadas mais pequenas. Uma dita inteira pequena. Duas varas de latão maciço de nove palmos cada uma. Uma caixa grande cheia de cadeias de prisões para as lâmpadas de metal com ferro pelo meio. Quatro colunas de ferro em forma quadrada, ocas no meio, guarnecidas de metal amarelo, que terão vinte palmos de altura. Quatro cancelos de serviço da igreja de 213 trinta palmos de altura e sete de largo. Um[a] Chaleira de cobre. Seis ferros de encrespar os linhos da igreja. Dois foles. Uma pá das brasas. Uma trempe de pôr os ferros. Onze castiçais grandes de folha de latão” (cf. O Carrilhão, 15 Nov. 1983). ARMEIRO Destinado a espingardas, mas podendo servir como bengaleiro. Na *sala de Caça do Palácio Nacional existe um armeiro em casquinha, forrado com pano verde e ornamentado com hastes de veado. A. ROUARGUE Desenho de A. Rouargue publicado no Magasin Pittoresque (v. 29, 1861, p. 133) com a legenda Le Palais de Mafra prés de Cintra, en Portugal (150 x 108 mm). Uma ilustração publicada por *Alberto Teles em O Occidente (Os Paços Monásticos de Mafra, v. 16, n. 506, 11 Jan. 1893, p. 12) inspirar-se-ia nesta. A Comissão de Turismo de Mafra reproduziu-a em formato de 214 bilhete postal, na década de trinta, constituindo o n. 47 da Colecção de gravuras Portuguesas. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra (desenho, pintura e gravura, até 1900), in Boletim Cultural ’97, Mafra, 1998, n. 54 e 63, p. 250-251 e 264 ARQUITECTURA Na *Biblioteca do Palácio Nacional acham-se as obras mais relevantes dos mais conceituados tratadistas desta disciplina, a saber: Léon Bautista Alberti; Carolo de Aquino; Charles Augustin d’Aviler; Martino Bassi; Georgius Andreas Bocklerus; Colen Campbell; Alessandro Capra; Jacques Androuet du Cerceau; Frémin; Guarino Guarini; J. Charles Krafft; Pierre Le Muet; Antoine Le Pautre; Neralco; Charles Normand; Andrea Palladio; Claude Perrault; Andrea Pozzo; Quatremere de Quincy; Domenico de Rossi; frei Lorenzo de San Nicolas; padre Inácio da Piedade e Vasconcelos; Blaise de Vigenere; Vignola; Juan Arphe de Villafañe; Juan Bautista Villalpando; Vitrúvio; Giuseppe Viola Zanini, etc. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Icones Symbolicae: contributo para o conhecimento da recepção e difusão da Cultura Simbólica em Portugal e sua presença na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural ’95, Mafra, 1996, p. 9-52 ARQUIVO HISTÓRICO DE MAFRA Um Livro de Registos do Senado da Câmara de Mafra (17001728), consigna quatro documentos sobre os primórdios do Monumento de Mafra (fl. 69v-70r; 70r-70v; 70v-71r e 71r-71v) (cf. Manuel J. Gandra, A Ideia do Monumento de Mafra, in Bol. Cultural ’94, Mafra, 1995, p. 77-78). Muita outra documentação relevante subsiste no AHMafra, nomeadamente relacionada com obras de manutenção do edifício, com os órgãos e os carrilhões e com a história e o quotidiano, conventual e palaciano. 215 ARQUIVO HISTÓRICO ULTRAMARINO Em 20 de Dezembro de 1956, ofereceu 149 espécies bibliográficas e 52 cartas manuscritas à *Biblioteca de Mafra. ARRÁBIDOS O primeiro convento de religiosos desta Província franciscana foi fundado em 1538 ou 1539 na serra da Arrábida, donde derivou a designação pela qual haviam de tornar-se conhecidos. Não consta qual a data exacta da sua chegada a Mafra, no entanto sabe-se que desde o século XVII, pelo menos, a sua presença se tornou regular todos os anos pela *Quaresma, ficando instalados no hospício anexo à capela do Espírito Santo, outrora situada junto à Quinta da Raposa (vila velha). De forma inesperada, porquanto haviam visto recusada pelo mesmo monarca solicitação para a fundação de uma casa religiosa em Mafra, lograram obter de *Dom João V, no ano de 1711, a doação do convento de Santo António junto à vila. *Dona Maria I intentou mandar edificar outro cenóbio para esta Ordem na Quinta da Roussada, tendo, para o efeito, lançado a pedra fundamental, mas a transferência da corte para o Brasil, em consequência da primeira invasão napoleónica (1808), hipotecou definitivamente a concretização do projecto. Os *Arrábidos egrediram do convento de Mafra em Abril de 1771, após residirem ali durante 40 anos, 6 meses e 11 dias. Regressariam, em 12 de Maio de 1792, rendendo os *Cónegos Regrantes que os haviam substituído duas décadas antes. Bibliografia: PEREIRA, José Fernandes, Arquitectura e Escultura de Mafra: retórica da Perfeição, Lisboa, 1994, doc. 29, p. 351-353 [BN: cod. 1496]; PIMENTEL, António Filipe, Arquitectura e Poder: o Real Edifício de Mafra, Coimbra, 1992, doc. XV, p. 405-410 [Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, caixa 627, Negócios de Portugal, pacote 3, doc. 14: “Notícia das razões que motivaram a saída dos religiosos *Arrábidos do convento de Mafra, sua substituição pelos cónegos regrantes de Santo Agostinho e seu posterior reingresso”] 216 ARROZ DOCE Sempre que a comunidade conventual de Mafra comia arroz doce consumia os seguintes géneros: 2 alqueires e meio de arroz; 48 canadas de leite; 42 arráteis de açúcar; canada e meia de água de flor; meio arrátel de canela. Se fosse adicionada amêndoa, gastava-se 1 arroba dela. ARTE DA MEMÓRIA Arte apadrinhada por Mnemosis, mãe das nove Musas, também conhecida por Memória de ferro, Arte da Memória e Memória artificial (por oposição à memória congénita ou natural, cujo adestramento visava). Foi Simónides de Ceos (556-468 a. C.) o primeiro a formulá-la sob a forma de um sistema de tópicos. Todavia, o seu sistema só se tornou relevante graças a um acidente trágico ocorrido durante um banquete para o qual fora convidado por Escopas, rei da Tessália. Simónides participava na festa quando um mensageiro chegou com um recado para si, o que o fez sair da sala para o receber. Pouco depois o tecto desta caía sobre o anfitrião e os convivas, ficando os cadáveres de tal modo desfigurados que se tornou impossível identificá-los. Solicitado a colaborar no processo de identificação, Simónides reconstituiu o cenário até ao momento do acidente, assinalando o lugar preciso ocupado à mesa por cada convidado e demonstrando a excelência do seu método, que advogava ser mais fácil recordar objectos, situações e eventos quando é possível reportá-los a lugares conhecidos. O método proposto por Simónides grangeou legião de adeptos e continuadores, alguns dos quais lhe introduziram alterações e aperfeiçoamentos. O sofista Hipias parece encabeçar a lista, que regista o nome de Metrodoro da Ásia, amigo de Epicuro, como introdutor de 360 lugares inspirados nos 12 signos do zodíaco, em substituição das imagens dos edifícios e compartimentos de Simónides. Em Roma, onde a retórica (cons217 tituída por cinco partes: inventio, dispositio, elocutio, memoria e pronuntiatio) gozou de enorme prestígio, Cícero (De oratore), o anónimo autor da principal fonte tradicional da mnemotecnia, intitulada Ad C. Herennium, e Quintiliano (Institutio oratoria) deram-lhe enorme impulso, sendo ulteriormente considerados os decanos da Arte da Memória. Na prática, a técnica mnemónica que propuseram associa dois métodos, o dos lugares e o das imagens ou pinturas (Constat igitur artificiosa memoria ex locis et imaginibus). O primeiro consiste em instituir uma topologia concreta, destinada a armazenar argumentos, sentenças, hieróglifos, emblemas, etc., ao passo que o segundo propõe a eleição de um elenco de imagens a cada uma das quais possa ser associada uma ideia ou palavra. Até ao séc. XIII, salvo uma breve referência de Martianus Capella (410-439), no De nuptis Philologiae et Mercurii, nada consta sobre a utilização de regras mnemónicas. Nessa centúria Rogério Bacon (1214-1294) redige a Arte memorativa e Raimundo Lúlio (1235-1346) a sua Ars Generalis. Cerca dos finais de quatrocentos, Pedro de Ravena causa sensação em Itália com as suas proezas mnemónicas tidas por nigromânticas por alguns. A Phoenix Artis Memoriae (Veneza, 1491) deste mnemotécnico teve diversas edições num período de poucos anos, merecendo ainda referência a Oratoriae artis epitome (1482) de J. Publicius. De entre os mnemotécnicos portugueses saliento, meramente a título de exemplo, os nomes do padre António Vieira, frei Francisco de Santo Agostinho Macedo (Padre Ilídio de Sousa Ribeiro, Fr. Francisco de Santo Agostinho de Macedo: um filósofo escotista português e um paladino da Restauração, Coimbra, 1952), frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas (Francisco da Gama Caeiro, Frei Manuel do Cenáculo: aspectos da sua actuação filosófica, Lisboa, 1959, p. 25-28, 32-24, 129-133, 221-227, 229-231, etc.), António Feliciano de Castilho (Tratado de Mnemónica ou Methodo facilimo para decorar muito em pouco tempo, Lisboa, 218 1909-1910, 3 vols.) e Martins Oliveira (Magia Teatral, Porto, 1948, 2 vols.). A mnemotecnia desempenha um papel superlativo como retórica geometrizante do espaço da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, certamente sob os influxos do neo-lulismo setecentista. Algumas obras de Lúlio, atinentes à Arte da Memória, pertencentes à Biblioteca do PNMafra Opera Omnia, quae ad inventam ab ipso artem universalem, Argentorati (Estrasburgo), 1598, 2 partes em um tomo [2-29-4-5 e 6 (= 2 exemplares) A edição mais completa das obras do maiorquino sobre a Arte combinatória. Inclui: Ars brevis; De auditu kabbalistico seu Kabbala; Duodecim principia Philosophiae Lullianae; Dialectica seu Logica; Rhetorica; Ars Magna. E ainda: Commentaria in Artem brevem Lullianam, de Cornélio Agrippa, De Specierum scrutinio, De lampade combinatoria Lulliana e De progressu et lampade venatoria Logicorum, de Giordano Bruno e o comentário Articuli Fidei, de V. de Valeriis]; Arbol de la Sciencia, Bruxelas, 1664 [2-13-13-1] Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Filosofia Hermética em Portugal e no acervo da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural ’93, Mafra, 1994, p. 58-59; A Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra: cosmologia e mnemotecnia, in Bol. Cultural ’96, Mafra, 1997, p. 9-70 ARTES LIBERAIS E MECÂNICAS As obras relativas a esta matéria acham-se reunidas na estante superior n. 41 da *Biblioteca de Mafra. ARTHUR WILLIAM COSTIGAN Pseudónimo de James Ferrier, engenheiro e um dos principais acessores do Conde de Lippe na tarefa de reorganização do exército português. Autor de Sketches of Society and 219 Manners in Portugal. In a series of letters from […], Esq. late a Captain of the Irish Brigade in the service of Spain, to his brother in London (Londres: Vernor, [1787], 2 vols.). Segundo afirma, “o único emprego que [Dom João V] dava às suas tropas era de as fazer tirar e levar pedras para a construção de uma igreja e convento magnífico em Mafra, para trezentos preguiçosos […]” (Carta 12, de Castelo de Branco, 1778). O azedume que revela relativamente a Portugal deriva decerto da circunstância de, por motivos religiosos, ter sido compelido a largar o comando do regimento de artilharia do Porto, sediado em Valença, e a abandonar o país. O monumento de Mafra teria sido construído “em imitação e competição com o Escorial”. Ver Cartas de Portugal, 1778-1779 (Lisboa, 1946). ARTUR ALCÂNTARA Um quadro da Revista em dois actos Tristezas… leve-as o vento (original de Francisco Alves Gato e Joaquim Resina), representada nos dias 7 e 8 de Julho de 1934, incluía uma canção da autoria de Artur Alcântara, intitulada Horta dos Frades. ARTUR JOSÉ Operário falecido em consequência de um acidente enquanto trabalhava nas obras do Palácio Nacional de Mafra (cf. O Jornal Mafrense, 3 Mai. 1896). A imprensa local deu grande destaque às cerimónias fúnebres, muito participadas pelos companheiros profissionais da vítima (idem, 10 Mai. 1896). ÁRVORE Por ofício, de 16 de Fevereiro de 1833, a Administração da Fazenda da Casa Real comunicava à Câmara Municipal, na pessoa do seu Vice Presidente, Joaquim Pedro Moreira, a concessão de 100 árvores oriundas da *Tapada, destinadas à arborização dos largos e ruas da vila de Mafra. 220 ÁRVORE DOS SEPHIROT A Árvore dos Sephirot exemplifica esquematicamente o processo pelo qual a existência se tornou manifesta, conforme a Kabbalah. Segundo ela, e em traços largos, é através da Árvore dos Sephirot, qual Tronco de Jessé, que a natureza divina enviada ao mundo adquire a sua vertebração. O frontispício 221 da *Basílica de Mafra pode ser lido com base nesse registo. Os três mundos (A. espiritual ou da Acção; B. anímico ou da contemplação; C. físico ou da devoção) organizam-se em cascata, revelando as gradações do influxo divino e gerando uma autêntica Escada de Jacob, composta pelos dez (mais um, Daat) níveis ou atributos da manifestação: 1. Esfera de Deus invisível e indizível (Kether = Coroa) = *lanternim do zimbório; 2. [Sephira invisível = Esfera do Conhecimento (Daat) = *zimbório]; 3. Esfera da Sabedoria (Hokmah) = *Torre Sul; 4. Esfera da Compreensão (Binah) = *Torre Norte; 5. Esfera da Compaixão (Hesed) = *São Francisco; 6. Esfera da Justiça ou da Força (Gevurah) = *São Domingos; 7. Esfera da Beleza (Tiferet) = *frontão; 8. Esfera da Eternidade ou Vitória (Nezah) = *Santa Elisabete; 9. Esfera da Glória (Hod) = *Santa Clara; 10. Esfera da Fundação (Yesod) = pórtico do *átrio ou galilé; 11. Esfera do Reino (Malkhut) = *adro. Repare-se no papel central do Sol sobre o adro, fundante da dimensão das esferas dos três mundos (cujo raio é igual à distância entre o centro do Sol e o limite ocidental do adro) e dos onze Sephirot (o raio da sua circunferência é igual ao do próprio Sol). Realce-se que o adro, apesar de fazer parte da planta do edifício, surge nos desenhos mais antigos sempre compaginado com o alçado dele. Decerto intencionalmente… ASCENSÃO Na festa da Ascensão, os *Arrábidos de Mafra comiam o mesmo que nos dias ordinários de carne, mais um arrátel de vitela assada, pastel de carne, laranjas e queijos. À noite o mesmo que nos dias ordinários. A. SEVERIANO ALVES Responsável pelas experiências agrícolas empreendidas na *granja de Mafra, sob o patrocínio de *Dom Fernando II. *Alexandre Herculano. 222 ÁSIA José Carlos Calazans arrolou as obras existentes na *Biblioteca sobre o continente asiático no estudo O Núcleo da Ásia do Palácio-Convento de Mafra (in Para além da Taprobana: de Lisboa a Nagasaqui, 1993, p. 9-18). ASILO DE MAFRA Também denominado Asilo dos Filhos dos Soldados. Herdeiro do Asilo Rural Militar, tinha por objecto formar bons oficiais inferiores e hábeis coranheiros, espingardeiros e músicos. Os asilados, assim que atingissem a idade adequada, ficavam obrigados a servir no exército por espaço de doze anos, abrindo-se, contudo, excepções para aqueles que no momento de abandonar a instituição efectuassem o pagamento integral dos montantes gastos na sua instrução e alimentação. Inicialmente instalado no convento do Varatojo (Torres Vedras), viria, por iniciativa de *Dom Pedro V, a ser transferido para o convento de Mafra, para as dependências antes ocupadas pelo *Colégio Militar, na ala Sul do edifício. Em consequência da morte prematura do monarca, coube a seu irmão, *Dom Luís, a honra de presidir às cerimónias de inauguração, ocorridas a 24 de Agosto de 1863, sendo comandante o capitão António José da Cunha Salgado. O colégio abriu com 57 alunos, “uma súcia de gaiatos e garotos”, a quem o marquês de Fronteira e Alorna, no dia antecedente à abertura, acusava de “toda a qualidade de pouca vergonha” (Memórias, parte 2, p. 215). A instituição teve vida curta, porquanto seria extinta em 1873. *Tomás de Mello Breyner narra nas suas Memórias (v. 1, Lisboa, 1930, p. 10) que aos rapazinhos do Asilo, bem armados e equipados, se ficou a dever a defesa do quartel de Mafra e a contenção da insurreição do batalhão chamado da Zambézia, ali verificada no ano de 1869. Bibliografia: ANSÚR, Alfredo, O Asilo de Mafra: carta ao Illustrissimo Exmo. Senhor Ministro da Guerra, Lisboa, 1869 223 ASILO DOS FILHOS DOS SOLDADOS *Asilo de Mafra. ASSIS CHATEAUBRIAND Jornalista brasileiro. Tendo visitado o Monumento de Mafra na década de 1950, e constatado o deplorável estado de conservação dos *Carrilhões, convenceu alguns dos seus patrícios a oferecerem a quantia de cinquenta contos para o restauro do maquinismo. A verba doada andou em bolandas por diferentes organismos estatais, até que, finalmente, foi aplicada e, como gostava de frisar *Ayres de Carvalho, “os sinos começaram a tocar espalhando música e alegria pelas povoações circunvizinhas” (Algumas recordações de um artista, Lisboa, 1995, p. 46). ASSISTÊNCIA PÚBLICA DE MAFRA Em 14 e 28 de Junho 1929 realizaram-se festas de caridade promovidas pela Assistência Pública de Mafra no *Jardim do Cerco. 224 ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA Episódio referido pelos apócrifos assuncionistas. Primeiro festejada na igreja oriental, seria introduzida em Roma pelo Papa Sérgio I (687-701). No século VI, celebrava-se em Janeiro, no entanto, nessa mesma centúria foi transferida para 15 de Agosto, pelo Imperador Maurício (582-602). Também conhecida por festa da Dormição, Trânsito e Natividade (Dormitio, Pausatio, Natalis). Comemora a morte de Nossa Senhora e a sua entrada em corpo e alma no Céu. A Assunção de Nossa Senhora acha-se figurada num óleo s/tela (3,28 x 2,25 m) pertencente ao acervo do Palácio Nacional de Mafra (sacristia da *capela de Nossa Senhora do 225 Livramento [inv. n. 202]). Pintado (c. 1730) e assinado no reverso por *André Gonçalves. Adquirida a circunstância de o pintor usar obras alheias (sobretudo gravuras) para a composição das suas telas, Nuno Saldanha advoga que se inspirou, particularmente no que respeita às figuras de *São João e de *São Pedro, “nos modelos clássicos da pintura bolonhesa seiscentista, baseando-se de perto na obra de Guido Reni”. Já para a parte superior da composição aponta uma Assunção de Nossa Senhora da igreja de Holkham Hall (Norfolk), datada de 1616 (cf. Joanni V Magnifico, Lisboa, 1994, p. 150). ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA, Capela da *Capela do Santíssimo Sacramento. ASTROLOGIA Não se encontram ainda seguramente averiguadas as crenças astrais da antiguidade hispânica. Diversas concitaram o anátema de sucessivos Concílios, não sendo dispiciendas as expostas pelos priscilianistas, nem mero exercício de retórica o cânone 72 de S. Martinho de Dume: “Não seja lícito a cristãos conservar práticas do gentilismo e regular-se ou governar-se pelos elementos ou pelo curso da Lua ou estrelas, ou fútil significação dos signos nas horas domésticas”. No final da Idade Média a astrologia grangeara uma aceitação quase generalizada, sendo legião os seus adeptos. Reis, príncipes, e áulicos mantinham astrólogos nas suas cortes, eles próprios aderindo frequentemente à arte. Portugal não foi excepção. A dinastia de Avis e o seu círculo áulico foram muito permeáveis à astrologia, porquanto se Dom João I, os Infantes Dom Pedro e Dom Henrique, Dom Manuel I lhe eram muito afeiçoados, a Afonso V se atribui um tratado, hoje perdido, sobre a Constelação do Cão Maior, alegadamente regente da nação lusíada por intermédio da estrela Sirius. As Ordenações 226 do Reino (título III, livro 5), que prescreviam penalidades contra aqueles que se dedicassem a adivinhar futuros, ressalvavam delas os astrólogos: “Porém isto não haverá lugar nas pessoas que, vendo primeiro as nascenças das pessoas, disserem alguma coisa segundo seu juízo e regra da dita Ciência”. Francisco de Holanda colocaria a astrologia entre as ciências que convêm ao pintor no Da Pintura Antiga. Por outro lado, as sucessivas edições do Repertório dos Tempos e do Tesouro de Prudentes, bem como o sem número (manuscrito ou impresso) de efemérides, tábuas, prognósticos, lunários, almanaques, sarrabais, juízos sobre eclipses e tratados acerca de cometas, ou até o Memorial de Pedro Roiz Soares, constituem um acervo não negligenciável para aquilatar da extraordinária receptividade de tal, nas palavras de Pedro Nunes, “crendice vã […], que emite juízos sobre a vida e a fortuna […]”. Os comentários negativos e as censuras podem, do mesmo modo, constituir um valioso auxiliar nessa tarefa. A 9.ª Regra do Índice Expurgatório de 1564 é disso o atestado: “E os bispos tenham muita conta que ninguém tenha, nem leia livro ou catálogo ou tratado de astrologia judiciária que tratem do que está por vir e do que há-de acontecer, ou de casos de fortuna ou de todas as obras que dependem da vontade dos homens, ou que afirmam com certeza alguma destas coisas. Poder-se-ão permitir juízos e especulações naturais que para base da navegação ou da agricultura ou da medicina estão escritas”. Estêvão da Guarda, em duas cantigas de escárnio, e Álvaro Pais, no Colírio da Fé contra as Heresias, denunciaria entre nós os primeiros sintomas desta reacção a determinados aspectos da prática astrológica, que a Teologia desde São Basílio e *Santo Agostinho vinha reprovando, quando, a propósito do averroísmo que o seu contemporâneo Tomás Escoto ensinava na Universidade de Lisboa, escreve: “Outro erro sustenta como dizem os maus astrólogos e também chamados falsos profe227 tas, que as coisas surgem e sucedem necessariamente neste mundo pelas constelações”. No Leal Conselheiro, D. Duarte, cuja biblioteca possuía obras de astrologia, alinharia com a ortodoxia: “por que principalmente fica tudo em poder de nosso livre alvedrio, não nos constrangendo à predestinação nem por ciência de Nosso Senhor Deus”. Aliás, correspondia tal assunção à exposta pelo canonista da corte, Diogo Afonso Mangancha, o qual, numa carta divulgada por Moreira de Sá, concedera que “não têm pecado” os julgamentos astrológicos sobre coisas naturais, designadamente chuvas, secas, saúde e enfermidades, incorrendo, porém, em grave ilícito quem ousasse emitir juízos sobre as obras dos homens, dotados de livre arbítrio e, por conseguinte, não sujeitos a qualquer determinismo. As reservas da Igreja dirigiam-se, conforme os ditames do Breve Coeli et Terrae de Sixto V (5 Janeiro 1586) e da Constituição de Urbano VIII, contra a astrologia judiciária, que se aplicava à adivinhação de futuros contingentes, mas igualmente visavam alguns exageros da astrologia mundial, como aqueles de que frei António de Beja se faz eco no Contra o Juízo dos Astrólogos (Lisboa, 1523), em grande parte inspirado nas Disputationes adversus astrologiam (1496) de Pico della Mirandola. No mesmo sentido vão as críticas de Gil Vicente na Carta a D. João III sobre o tremor de terra ocorrido a 26 de Janeiro de 1531: “Se dizem que por estrolomia, que é ciência o sabem, não digo eu os de agora que a não sabem soletrar, mas é em si tão profundíssima que nem os de Grécia, nem Moisés, nem João de Monterégio alcançaram da verdadeira judicatura peso de um oução. E se dizem que por mágica, esta carece de toda a realidade e toda a substância sua consiste em aparências de coisas presentes e do porvir não sabe nenhuma coisa […]”. Idêntica intenção exprimira já na Exortação da Guerra (1513), no Auto dos Físicos (1524) e no Auto da Feira (1527). Por sua vez, Álvaro Gomes, aderindo à 228 doutrina de Tomás de Aquino de acordo com a qual os astros influem mas não determinam, escrevia no seu Tratado da Perfeição da Alma (1550), contestando Alexandre de Afrodísio: “[…] que os corpos celestes com seu movimento, com o seu lume e influência, imprimiam nas coisas criadas, cá [em] baixo, suas virtudes, não actualmente como em eles está, mas um poder ou disposição mui propínqua para a ter”. Com a Contra-Reforma, e não obstante os interditos (na origem de amputações impostas a almanaques e repertórios e relativas a prognósticos sobre guerras, morte de monarcas, destruições, sedições, etc.), tanto a astrologia judiciária quanto a mundial continuaram a ser praticadas, contando-se entre os seus mais ferverosos adeptos o príncipe Dom Teodósio, bem assim como muitos religiosos. Estes chegavam, por vezes, como aconteceu com os oratorianos de Lisboa no ano de 1769, a competir com leigos pelo privilégio de imprimir obras sobre a matéria. O ensino da disciplina fora institucionalizado, em 1513, com a criação da cadeira de Astrologia nos curricula da Universidade de Lisboa, onde leccionaram Mestres Filipe e Tomás de Torres, este professor do futuro Dom João III a quem ensinou os rudimentos da arte, conforme o cronista Francisco de Andrade, e estrologo nomeado por carta régia (24 de Março de 1524) para integrar (com Simão Fernandes e Francisco de Melo) a junta de cosmógrafos-matemáticos incumbidos de analisar a questão da posse das Molucas. Os jesuítas ensinavam astrologia no Colégio de Santo Antão, cujo corpo docente produziu algumas obras de mérito que chegariam a correr impressas, caso do Planetário Lusitano do padre Eusébio da Veiga (Lisboa, 1756 [PNMafra: 2-40-2-16] e 1758 [PNMafra: 2-40-2-17]), as primeiras Efemérides regulares e metódicas editadas em Portugal. Um trinitário, frei António Teixeira, foi autor de outra notável obra, intitulada Epitome das Notícias Astrológicas necessárias para a Medicina (Lisboa, 229 1670 [BAjuda: 38-IV-18]), na qual assegurava a total ineficácia da medicina sem a astrologia, tese clássica (bastará recordar a frequência com que se confundiam as profissões de médico e astrólogo), igualmente perfilhada por António Xavier de Paula, no Tratado da Influência da Lua nas Febres (Lisboa, 1790). Merecem ainda menção a Chronographia o Repertorio de los Tiempos de Valentim Fernandes, de Jerónimo de Chaves (Lisboa, 1576 [PNMafra: 2-40-2-26] e Sevilha, 1580 [PNMafra: 2-63-5-5]) e de André de Avelar (Lisboa, 1594 [PNMafra: 2-40-2-27] e 1602 [PNMafra: 2-40-2-28]), O Non Plus Ultra do Lunario de Jerónimo Cortez, e o Teatro universal de novidades […] tiradas dos movimentos dos astros do globo esférico pela altura do pólo de ambas as Lisboas (Lisboa, 1736 a 1739 [PNMafra: 2-25-8-23 (7.º)]) de Carlos de Vico, cuja dedicatória “às senhoras desta corte” deixa adivinhar o importante papel da mulher na difusão do ideário astrológico, nomeadamente da sua vertente horoscópica. Não obstante, em Lisboa, no ano de 1741, seria preso pela segunda vez, por se aplicar à adivinhação de futuros contingentes recorrendo à astrologia, um homem já reconciliado no auto de 1709 por culpas da mesma heresia. Na *Biblioteca do Palácio Nacional acham-se, entre outras obras de astrólogos consagrados, as de: Ptolomeu [2-51-13-4], Pedro Ciruelo [2-51-7-8], João Eschuid [2-51-13-2], Pedro Apiano [2-52-5-21], Luca Gauricus [2-40-4-23]; Valentim Nabob [2-40-2-12], Henrique Rantzovius [2-39-5-1], Diego Torres Vilarroel [2-56-7-6; 2-2510-3/4; 2-25-1-6], etc. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., A Filosofia Hermética em Portugal e no acervo da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural ’93, Mafra, 1994, p. 58-59 ASTRONOMIA Partilha com outros *Tratados de Matemática a estante superior n. 40 da *Biblioteca de Mafra. 230 ATANÁSIO KIRCHER (1602-1680) Nasceu em Geise (perto de Fulda), na Alemanha no ano de 1602. Nono filho de Johann Kircher, notável polígrafo e mestre dos beneditinos de Heiligenstadt, revela-se precocemente um espírito inquieto, tendo ingressado ainda criança no Colégio Jesuíta de Fulda e recebido lições de hebraico ministradas por um rabino. Em 1620 completa o noviciado que iniciara dois anos antes no colégio da Companhia em Paderborn, que se vê constrangido a abandonar, interrompendo os estudos escolásticos a que se entregava ali, devido a um episódio da guerra dos Trinta Anos: o ataque do Duque Christian de Brunswick (1622). Até aos 23 anos a sua 231 vida reparte-se sucessivamente pelos Colégios jesuítas de Neuss, Colónia, Koblenz e Heiligenstadt. Neste último, a recepção que prepara quando da visita do Arcebispo-Eleitor de Mainz faz atrair sobre si a atenção dos superiores. O Eleitor passa então a contar com a sua presença na corte de Aschaffenburg, onde leva a cabo pesquisas sobre o magnetismo, as quais haviam de resultar na publicação, em 1631, do seu primeiro livro. Após a morte do Eleitor, viaja para Mainz e depois para Speier e Wurzburg de onde regressa precipitadamente a Mainz, escapando a uma súbita invasão sueca (o que acarreta na perda de todos os seus manuscritos), na companhia de Gaspar Schott, discípulo e futuro editor de número considerável dos seus inéditos. Presumivelmente, ainda no mesmo ano de 1631, vê ser-lhe concedida autorização para passar a França, tendo-se instalado em Avinhão, onde ensina matemática, filosofia e línguas orientais, dedicando-se também ao estudo dos hieróglifos, os quais crê ter decifrado. O renome que a excelência do seu magistério lhe grangeia vale-lhe ser nomeado, em 1633, Matemático da Corte de Habsburg, em substituição de Kepler (f. 1631). Todavia, uma tempestade impedi-lo-á de atingir o seu destino, Viena de Áustria. Arribado a Itália, é chamado ao Colégio Romano, tendo entrado na Cidade Eterna em 1635. A Casa central da Companhia tornar-se-á, assim, a sua residência definitiva, leccionando aí, a partir de 1638, a matemática e as línguas orientais, entre outras disciplinas. No período compreendido entre 1647 e 1678 (ano a partir do qual e até ao fim da vida a sua preocupação maior serão os exercícios espirituais), definitivamente liberto de obrigações docentes e tendo encontrado, por fim, a estabilidade e os meios para prosseguir as suas investigações, o Doctor Centium Artium, epíteto que alude muito justamente ao número surpreendente de disciplinas e temas que examinou, dedica-se quase exclusivamente à redacção 232 da maior parte da cerca de meia centena de volumes e opúsculos a cuja passagem a letra de forma assiste ainda. A ruptura entre a filosofia natural, as artes e a religião que a especialização, consequência das assunções científicas da época, gerava, não afectou minimamente Kircher, porquanto as suas pesquisas foram, sem excepção, conduzidas sub species aeternitatis, orientadas pela máxima “Nada é mais belo do que o Todo” e inspiradas pela profunda convicção de numa prisca theologia, que incessantemente buscou, se acharem as chaves para o desvendamento dos Arcanos Divinos. Talvez, por esse motivo, nenhuma das invenções que lhe são creditadas — o aritmómetro, o pantómetro, o órgão matemático e a lanterna mágica (a mais célebre de todas) — viria a ter a repercussão das realizadas por Kepler, Boyle ou Newton. Seja como for, só uma reputação sólida, como aquela de que gozou, poderia suscitar não apenas a copiosa epistolografia de que foi o destinatário (no Arquivo da Universidade Gregoriana guardam-se 114 volumes de cartas), como permitir-lhe reunir, provenientes das mais desencontradas origens, a notável colecção de artefactos, 233 curiosidades da história natural e aparelhos científicos expostos no Museu Kircheriano, instalado no Colégio Romano, em 1651, por sua iniciativa. Está ainda por averiguar o âmbito exacto da projecção inegável, que teve em Portugal, bem como o grau da influência sobre si exercida pela cultura portuguesa. Sabe-se, por exemplo, que Dom Francisco Manuel de Melo era por ele “sumamente venerado” (Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana). Não oferece dúvida que a sua obra foi aqui larga e extensivamente divulgada e estudada, como atesta o elevado número de exemplares dela disponíveis ainda hoje em Arquivos e Bibliotecas, a maioria originária de conventos extintos. Porém, aquela que maior atenção concitou foi, indubitavelmente, o Mundus Subterraneus, muito propalado e glosado, mormente por quantos se dedicaram à especulação sobre as verdadeiras causas dos terramotos. Na doutrina dos pirofilácios (ou do fogo subterrâneo latente), aí consignada, encontraram inúmeros autores, não obstante o impacto da Filosofia Natural dos Modernos, o fundamento físico plausível para o terramoto de 1755. É o caso, entre númerosíssimos outros, de Bento Morganti (Carta de hum amigo para outro em que dá succinta noticia dos effeitos do terramoto succedido em o primeiro de Novembro de 1755 com alguns principios Fisicos para se conhecer a origem, e a causa natural de similhantes Phenomenos terrestres, Lisboa, 1756), do autor anónimo da Relação do Grande Terramoto que houve na Praça de Mazagam (1756) e de Veríssimo Moreira de Mendonça (Dissertação Philosophica sobre o terramoto de Portugal do primeiro de Novembro de 1755, Lisboa, 1756). Convém, no entanto, não esquecer que a mesma obra foi alvo de refutações pertinentes, como a exposta por Joaquim Moreira de Mendonça na História Universal dos Terramotos que tem havido no Mundo […] com huma Narração Individual do Terramoto do primeiro de Novembro de 1755 […] e huma Dissertação Physica sobre as causas geraes 234 dos Terramotos, seus effeitos, differenças e Prognosticos, e as particulares do ultimo (Lisboa, 1758). A mais significativa e detalhada delas, porém, foi apresentada por *Anselmo Caetano de Abreu Gusmão Castelo Branco, em Ennoea ou Aplicação do Entendimento sobre a Pedra Filosofal (Lisboa, 1732-33), e dirigida contra a opinião advogada por Kircher de não ser viável a crisopeia ou transmutação laboratorial dos metais, conquanto aceitasse a possibilidade da mesma transmutação na natureza. Obras de Kircher constantes do acervo da Biblioteca de Mafra (pela ordem cronológica de edição) Ars Magnesia, Wurzburg, 1631 (Sobre o magnetismo, a primeira obra que imprimiu [2-37-5-21]); Magnes, sive de Arte Magnetica, Colónia, 1643 e Roma, 1654, 2 vols. (O mais extenso dos seus estudos editados sobre o magnetismo [Colónia, 1643, 2-37-5-20; Roma, 1654, 2 ex., 1-20-54 e 5]); Rituale Ecclesiae AEgypticae sive Cophtitarum, s.l., 1647 (Tradução da liturgia copta [1-40-5-8]); Musurgia Universalis, Roma, 1650, 2 vols. [22-41-10-1 / 2]; Obeliscus Pamphilius, Roma, 1650 (A propósito do obelisco da Piazza Navona, em Roma [1-38-12-8]); OEdipus AEgyptiacus, Roma, 1652-54, 3 vols. [1-38-8-9 / 11]; Scrutinium Pestis Physico-Medicum, Roma, 1658 (Sobre as causas da peste, a qual, baseado nas suas observações com microscópio, atribui aos micróbios [2-31-7-13]); Magneticum Naturae Regnum, Roma, 1667 (Curto ensaio sobre experiências relacionadas com o magnetismo [238-1-31]); Iter Exstaticum coelesti, Roma, 1656 [2-37-8-2] e Wurzburg, 1671 [2-37-8-6]; Polygraphia Nova, Roma, 1663 (Propõe uma língua universal com base no latim, italiano, espanhol, francês e alemão [1-11-7-2]); Mundus Subterraneus, Amesterdão, 1665, 2 vols. (É possível 235 encontrar referências a um número surpreendente de factos fabulosos relativos ao mundo subterrâneo, além de capítulos sobre a alquimia, a pedra filosofal e a transmutação dos metais, a pirotecnia, os Rosa-Cruzes ou a palingenésia [1-20-12-1 / 2]; Historia Eustachio-Mariana, Roma, 1665 (Sobre um santuário por si descoberto em Mentorella [1-44-10-4]); Obeliscus AEgyptiacus, Roma, 1666 [1-38-8-18]; China Monumentis, Amesterdão, 1667 [136-8-8; La Chine Illustré, Amesterdão, 1670, 1-32-4-10]; Ars Magna Sciendi, Amesterdão, 1669 (Desenvolve um sistema lógico baseado na Arte da Memória de Raimundo Lúlio [1-20-1-10]); Ars Magna Lucis et Umbrae, Amesterdão, 1671 (Trata questões astronómicas e de óptica [1-20-2-14]); Latium, Amesterdão, 1671 [1-32-4-11]; Splendor et Gloria Domus Joanniae, Amesterdão, 1669; intitulada Principis Christiani Archetypon Politicum, sive sapientia regnatrix, Amesterdão, 1672 (Panegírico da família Imperial alemã [2-56-11-4]); Phonurgia Nova, Kempten, 1673 (Sobre acústica [1-20-7-9]); Arca Noe, Amesterdão, 1675 [1-54-1-13]; Sphinx Mystagoga, Amesterdão, 1676 (Sobre múmias descobertas em Memphis [1-38-8-19]); Turris Babel, Amesterdão, 1679 [1-54-1-14]. Obras editadas por discípulos de Kircher Gaspar Schott Magia Universalis Naturae et Artis, Bamberg, 1677, 4 vols. [2-37-8-8 / 11]; Organum Mathematicum, Herbipoli, 1668 (Sobre uma espécie de computador primitivo [2-39-324]); Pantometrum Kircherianum, Herbipoli, 1660 (Sobre um “calculador geométrico” [2-40-2-6]); Technica Curiosa, sive mirabilia artis, Herbipoli, 1687, 2 vols. (Refere diversas maravilhas científicas [2-37-8-12 / 13]); Physica Curiosa, sive mirabilia naturae et artis, Herbipoli, 1697, 2 vols. [2236 37-8-14 / 15]; Schola Steganographica, s.l., 1665 [2-37-8-24]. Philippo Bonanni Rerum Naturalium Historia […], in Museo Kircherum, Roma, 1769 (Catálogo do Museu Kircher [1-38-5-12], revisto por J. A. Baturra, em 1773). Johann Stephan Kestler Physiologia Kircheriana Experimentalis, Amesterdão, 1680 (Resumo das experiências realizadas por Kircher [1-20-29]). Johann Jacob Manget Bibliotheca Chemica Curiosa, Genebra, 1702 (Inclui escritos de Kircher sobre a Alquimia: De Lapide Philosophorum, v. 1, p. 54-112; os comentários críticos de Salomão Blavenstein: Contra Antichymisticum Mundum Subterraneum, idem, p. 113-118, i. e., Contra Kircherum, Viena, 1667; e Gabriele Claudero: Tractatus de Tinctura Universali, idem, p. 119-168 [1-18-5-1 / 2]. Georgibus de Sepibus Romani Collegii Societatis Jesu Musaeum Celleberrimum, cujus magnum antiquario rei, Statuarum imaginum picturarumque partem ex legato Alphonsi Domini […] relictum. P. Kircheri novis et variis inventis locupletatam, compluriunque Principum curiosis donarici magnum, Amesterdão, 1678 [138-5-17]. Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Atanásio Kircher (1602-1680), Doutor das Cem Artes: Ecos portugueses e presença na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, in Bol. Cultural ‘ 93 da Câmara Municipal de Mafra, Mafra, 1994, p. 333-340; GARRUCCI, R., Origini e vicende del Museo Kircheriano dal 1651 al 1773, in Civ. Cattolica, s. 10, v. 12, n. 4 (1879), p. 727-739 e s. 11, v. 1, n. 1 (1880), p. 453-462; GODWIN, Joscelyn, Athanasius Kircher – A Renaissance Man and the Quest for lost knowledge, Londres, 1979; REILLY, Conor (S. J.), Athanasius Kircher, S. J., Master of a Hundred Arts, Roma-Wiesbaden, 1974 237 ATANÁSIO RACZYNSKI (1788-1874) Diplomata polaco, crítico de arte e ministro de Frederico Guilherme II da Prússia em Lisboa (de 13 de Maio de 1842 até 3 de Abril de 1848). Visitou Mafra a 13 de Setembro na companhia do Cavalheiro Bertone, do Conde Crivelli e do Príncipe Löwenstein. Os resultados do minucioso estudo que levou a cabo sobre a arte em Portugal, a convite da Sociedade Artística e Científica de Berlim, encontram-se coligidos em cartas redigidos na língua francesa, compendiadas em Les Arts en Portugal (Paris, 1846). Aquela que se reporta à excursão a Mafra tem o n. XIV e está datada de 14 de Setembro de 1844. Confessa que se revoltou contra os cicerones do edifício logo à chegada. A Igreja é, “como a da Estrela, uma imitação em miniatura” da de S. Pedro de Roma, “um trecho de arquitectura irrepreensível e produzido de um jacto. Não há ali anacronismo ou confusão de ideias e se o progresso não lhe tocar conservar-se-á bela até cair”. Quanto ao Palácio “é imenso, mas deserto e silencioso” além de ter “um aspecto bolorento”. Elegeu, como o mais belo, o quadro representando S. Domingos e S. Francisco em adoração diante de Cristo e da Virgem, outrora, exposto na Portaria do Convento. Referências adi238 cionais nas Cartas I (6 Dezembro 1842), XXIX (1 Agosto 1845), no Apêndice B da VI e no Dictionnaire HistoricoArtistique du Portugal (Paris, 1847). ÁTRIO DA BASÍLICA Também denominado *galilé ou galileia. AUDIÊNCIA, casa da Também denominada *sala do Trono (ver descrição das pinturas parietais por Cirilo Volkmar Machado). *Frei João de Santa Ana (fl. 398-399): “A mesma escada principal do torreão, que dá entrada para a casa da portaria das Damas, por outro portal fronteiro a este a dá também para a Casa de Audiência, indicado na planta pelo n. 38 a qual se estende do poente para nascente, tem 81 palmos de comprido 33 de largo três grandes janelas na parede do Sul, que deitam para a varanda do claustro B as quais se segue um portal fingido e depois deste um aberto junto ao topo poente por onde da 239 casa do docel se entra para esta. Defronte deste portal e do fingido estão na parede do Norte dois fingidos e defronte das três janelas estão três abertos, que são o da escada e dois por onde da casa da frente Norte se entra também para esta. No topo do nascente está no meio o Trono e o Docel e no lado Norte um portal fingido e no Sul um aberto para a sala, que lhe fica ao nascente. Defronte destes portais no topo poente estão outros dois fingidos. Esta casa esta ricamente pintada com pinturas análogas ao fim para que foi destinada. Em ambos os topos no principio do tecto está pintado o lusitano sobre o trono, e por cima riquíssimo docel. Por baixo do trono estão pintados dois grandes gigantes sobre que o trono descansa. Entre as janelas e os portões estão pintados as grandes figuras da ciência, Docilidade, Tranquilidade e Perfeição na parede Norte e na do Sul a Generosidade a Concórdia a Constância e a Diligência. Por baixo de cada uma das ditas grandes figuras representativas das virtudes reais está um quadro e em todos eles se representa as vitórias conseguidas na Índia pelos portugueses. Estes quadros são tão admiráveis, que sendo tudo pintura de cor parda parecem relevados e ou se vejam ao longe ou de perto representam-se as figuras tão […] fora, que mesmo quem esta junto a elas não se persuade que tudo é plano sem apalpar. Do mesmo são os dois gigantes, que estão em cada topo e dois génios, que seguram a coroa. Toda a casa esta ricamente ornada de damasco e veludo encarnado e o pavimento coberto de ricas alcatifas. Todo o tecto é de riquíssimas pinturas e no meio tem buracos para suspender lustres”. AUGUSTO, Infante Dom (4.11.1847-26.9.1889) Oitavo filho de *Dona Maria II e *Dom Fernando II. Dispunha de aposentos privativos na ala Sul do *andar nobre do Palácio de Mafra, os quais conservaram, até há alguns anos, a designação de “quarto de Dom Augusto”. 240 AUGUSTO DOS SANTOS Encarregado dos trabalhos de reparação nas portas e janelas do Palácio Nacional de Mafra, os quais ainda prosseguiam em 1899 (O Mafrense, 1 Dez. 1899). AULA DE FÍSICA A Aula da Física, designada na planta pelo n. 111, tinha, à semelhança da *Aula de Lógica, o portal para o *corredor das Aulas. Segundo *frei João de Santa Ana, estava cercada “de assentos com espaldares e estrados (e do mesmo modo todas as outras). Além dos muitos vidros, que tem nas sobreportas há em cada uma delas por cima da cimalha uma grande janela, que deitam [sic] sobre o terraço do corredor. Em ambas elas a cadeira magistral está no meio junto à parede do lado do Norte e defronte na do Sul está um famoso painel. Cada uma das aulas tem outro, mas presen241 temente todos estão no Tesouro da Sacristia [*casa da Fazenda] para onde se recolheram pela invasão francesa. Entre estas duas aulas há uma casa estreita com portal para o mesmo corredor e outro no fundo, que deita para o dormitório n. 122. É chamada a casa da tinta, porque no tempo em que os estudantes postilavam, nela estava a tinta de escrever de que eles se proviam quando lhe era precisa. Recebe luz pelos portais e pela bandeira ou sobreporta do que deita para o dormitório”. A Gazeta De Lisboa de Setembro de 1790 reporta a visita a Mafra de *Dona Maria I, a qual terá assistido a uma aula de Física e a experiências com máquinas pneumática e electroestática dos *Reais Estudos. *Dom Joaquim da Assunção Velho. AULA DE GRAMÁTICA LATINA *Aula de Teologia. AULA DE PRIMEIRAS LETRAS Destinada aos estudantes seculares do *Real Colégio de Mafra. Tinha a cadeira magistral colocada a meio da parede Norte. AULA DE LÓGICA *Frei João de Santa Ana (fl. 117): “A casa designada na planta pelo n. 109 é a Aula da Lógica a qual tem o portal para o corredor das Aulas”, tal como acontece com a *Aula de Física, designada pelo n. 111, e em tudo idêntica a esta. AULA DE METAFÍSICA Este curso durava três anos. A cadeira magistral ficava a meio da parede poente. Uma vez perdida a sua função original, serviu, primeiro, de sala de *Esgrima do *Real Colégio Militar, tornando-se, depois de entregue ao Ministério da Justiça, sala de jurados e de testemunhas do *Tribunal. 242 Enquanto sala de Esgrima, tinha nas paredes quatro dísticos com as seguintes máximas francesas: Le sentiment du fer est le secret de l’art (Norte); Gardez-vous de confondre le nom sacré de l’honneur avec ce préjugé féroce qui met toutes les vertus à la Pointe d’une épée – J. J. Rousseau (Sul); N’employer la force que pur accèlerer la vitesse – A. Grisier (Leste); Faites des faux temps pour poser et riposter – A. Grisier (Oeste). AULA DE MORAL Os coristas que não tinham capacidade para o *púlpito estudavam Moral para servirem como confessores. *Frei João de Santa Ana (fl. 120): “Esta aula, designada na planta pelo n. 118, é semelhante à de Lógica e à de Física tem 39 palmos de alto do mesmo modo que as outras. Tem uma janela, que deita para o corredor dos autos e outro que deita para o terraço do mesmo corredor tem mais sobre o portal da entrada, que no mesmo corredor uma sobreporta com 18 vidros. Os mesmos têm também os portões das outras. Tem a cadeira magistral junto à parede do lado do Norte. É cercada de assentos com espaldares. Esta e todas as mais aulas têm o pavimento de tijolos, mas são cercadas de estrados de pau por baixo dos assentos”. AULA DE TEOLOGIA O curso de Teologia durava quatro anos. *Frei João de Santa Ana (fl. 120): “Tanto a Teologia Dogmática como a Canónica, Exegética, Histórica, etc., se ensinam na Aula de Teologia designada na Planta pelo n. 69 cujas matérias os Lentes diversos ensinam em diversas horas. E por isso quando sai um de ler a sua hora, entra outro. Isto que fazem uns de manhã, fazem outros à tarde”. A mesa do leitor ficava a meio da parede nascente. Esta sala era também usada como Aula de Gramática Latina. 243 AULAS As aulas dos *Reais Estudos de Mafra eram mobiladas com: um quadro com moldura de madeira pintada de preto com friso amarelo; uma cadeira de leitor (defronte do quadro), bancos com espaldar encostados à parede, em torno da casa; mesas estreitas diante dos bancos dos estudantes; dois candeeiros de bronze nas cabeceiras da sala; uma tribuna de madeira, portátil, junto da porta, onde se podia assistir oculto às lições. *Sino das aulas. AULAS, Corredor das O grande corredor das Aulas estende-se de Norte a Sul, desde uma até à outra fachada do Edifício, “tem as suas principais entradas pelos dois portais que estão no fim dele em ambas as frentes, os quais estão designados pelos n. 77 e cada um deles tem diante quatro degraus por onde da rua se sobe para o corredor. Cada portal destes com uma janela redonda, que tem em cima, tem de alto 28 palmos e meio e de largo 13. Este corredor […], tem de comprido 837 palmos [184,14 m e 22 palmos = 4,84 m de largura] e com a grossura das paredes até à superfície externa delas tem 848 […]. Tem na parede do lado do poente 22 janelas com grades de ferro e fingidas tem 7. Estão levantadas 9 palmos [1,98 m] acima do chão e todas têm de alto 20 palmos [4,40 m] e de largo 10 [2,20 m]. Do mesmo tamanho são todas as mais janelas dele 244 e de todos os outros corredores que comunicam com este [nele desembocam quatro outros *corredores que se iniciam nos *claustros]. Todas as ditas janelas deitam para o pátio da igreja umas e para os dois saguões designados na planta pelos n. 73 e 85. Tem mais no mesmo lado três janelas sobre as portas e quatro portais […]. No lado nascente tem 15 janelas do tamanho já dito e das mesmas tem 8 fingidas. No mesmo lado tem 8 janelas mais pequenas sobre várias portas e outras 8 fingidas. De todas as sobreditas janelas umas comunicam luz para o Refeitório, Casa De Profundis, dos Lavatórios e mais casas que estão na mesma linha até à dos Actos inclusive; e outras a comunicam para a escada designada na planta pelos n. 104, 105 e 106. No mesmo lado tem onze grandes portais por onde se entra nas ditas casas. Tem mais um pequeno e além destes tem três grandes fingidos. Há, portanto, em todo o corredor 50 janelas com vidros e fingidas 23. Todo o pavimento dele e dos corredores que têm o seu princípio junto aos portões dos claustros, e igualmente o do Capítulo, e o das Sepulturas é de pedras brancas e azuis. Nos lados têm soco de pedra branca e muitas pilastras da mesma, sobre as quais se firmam muitos arcos de pedra formados na abóbada” (frei João de Santa Ana, fl. 91-92). Deste corredor saem duas escadarias para o corredor da *Sacristia, igualmente descritas no Real Edifício Mafrense (fl. 94-95): “No mesmo corpo quadrado formado entre os quatro corredores principia no corredor das Aulas a famosa escada designada na planta pelo n. 75, a qual está formada entre o pátio n. 73 e o corredor próximo ao pátio da Igreja. Tem esta escada 14 palmos de largo e onde ela principia forma sobre o primeiro degrau um famoso arco de pedra branca ricamente lavrada e com muito ornato de flores, etc. e está levantado do degrau 23 palmos. Faz o arco duas faces com o mesmo ornato de uma e outra parte. Uma face olha para a escada, cuja abóbada é muito elevada e outra olha para o corredor das Aulas. 245 Na parede deste, defronte do dito arco, está formado outro que lhe corresponde perfeitamente, mas como aí não há portal aberto, só tem a face que olha para o corredor. Sobre o arco da escada há uma famosa tribuna ou varanda com peitoril, colunatas e outro muito lavor de pedra branca, a qual tribuna olha para a escada, tem a mesma largura e está elevada sobre ela 26 palmos e meio. Tem a escada 26 degraus e entre estes e o famoso corrimão, que de um e outro lado é acompanhada, é tudo de pedra encarnada com moldura de pedra branca. Sobre ela deitam duas grandes janelas que olham para o pátio da Igreja, e defronte destas estão outras duas fingidas. Todas estas janelas, as paredes colaterais da escada e do grande patamar, que está no fim dela, são de pedras de diversas cores e têm muito ornato de talha. O tecto dela é de abóbada apainelada. […]”. Tudo quanto se disse acerca desta escadaria aplica-se à outra, simétrica, designada na planta pelo n. 75, formada entre os quatro corredores junto ao claustro Norte, a qual sobe do corredor das Aulas para a tribuna da capela do *Campo Santo, passando-se dela para o corredor de São Pedro de Alcântara e deste para a 246 Igreja. A todo o comprimento do corredor das Aulas corresponde um *terraço ou varanda. Os braços transversais do corredor das Aulas eram utilizados pela comunidade nas procissões públicas (*Candeias, *Ramos e *Corpo de Deus), que percorriam o exterior da *Basílica. AULAS, Fonte das Também denominada *Fonte das Almas. AULAS LITERÁRIAS DE MAFRA Referenciadas num manuscrito de *Machado de Castro, intitulado O Zenit da ingratidão. Ainda não se conseguiu apurar se efectivamente se tratava de uma *Academia literária ou simplesmente dos *Reais Estudos de Mafra. Bibliografia: LUCENA; Armando de, Existiu em Mafra uma Academia Literária?, in Diário de Notícias (20 Ago. 1945) ÁUSTRIA No acervo da *Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra existe uma obra de tipografia austríaca quinhentista: Typi Chrographici Provinciarum Austriae cum Explicatione Earundem pro Commentariis Rerum Austriacarum Concinnati […] (Viena, Michael Zimmermann, 1561 [1-38-11-14]) de Wolfgangus Lazius. Bibliografia: ASSUNÇÃO, Guilherme de, Obras de Tipografia austríaca, holandesa e portuguesa na Biblioteca de Mafra (século XVI), in Boletim Internacional de Bibliografia Luso-Brasileira, v. 5, n. 4 (Out.Dez. 1964), p. 635 AUTO DA FÉ Tinha lugar ao Domingo. O primeiro auto da fé de que há notícia em Portugal ocorreu em Lisboa, a 20 de Setembro de 1540, e os derradeiros em Lisboa, Coimbra e Évora no ano de 1781. Consistia de uma proclamação solene e pública das 247 sentenças condenatórias proferidas pelo Santo Ofício. Após um Sermão, saíam os penitentes para ouvirem ajoelhados as respectivas sentenças. Os penitentes admitidos à reconciliação abjuravam, enquanto os condenados à morte eram entregues à justiça secular. Parenética dos Autos da Fé na Biblioteca Volante de frei Matias da Conceição ALMEIDA, Padre Aires de, Sermam Do Acto Da Fee Que Se Celebro Em Coimbra, No Terreiro de S. Miguel em 17 de Outubro de 1694, Coimbra, José Ferreira, 1697 [2-11-8-12 (15.º)]; ALMEIDA, Frei Cristóvão de, Sermam Do Acto de Fee, Que Se Celebrou no Terreiro do Paço desta Cidade de Lisboa, a 17 de Agosto do anno de 1664, Lisboa, Henrique Valente de Oliveira, 1664 [2-11-8-12 (9.º)]; ÁLVARES, Padre Luís, Sermam, Que Pregou O Padre Lvis Alvares Da Companhia De Jesv, Sendo Reytor do Colegio, & Universidade de Evora. Em o acto de Fé, que em a Cidade de Evora se fez a tres de Abril do Anno de 1672. Lisboa, António Craesbeeck de Melo, [1672] [2-11-8-12 (10.º)]; ANJOS, José dos, Sermão No Auto Publico Da Fe, Que se celebrou na Praça de S. Miguel da Cidade de Coimbra em 25 de Maio de 1727, Coimbra, Real Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1727 [2-11-5-12 (11.º)]; BARATA, Frei Domingos, Sermão Do Acto Da Fe Pregado Na Cidade de Coimbra em 14 de Junho de 1696 […], Évora, Oficina da Universidade, 1717 [2-11-8-6 (4.º); 2-11-6-2 (4.º) e 2-11-8-12 (1.º)]; BULHÕES, Frei Miguel de, Sermão Do auto Da Fé Celebrado Na Igreja De S. Domingos Desta Corte, Que recitou em 16 de Outubro de 1746, Lisboa, Pedro Ferreira, 1750 [211-8-6 (3.º) e 2-11-6-2 (3.º)]; GOMES, Padre André, Sermão Que Fez O Padre Andre Gomez Da Companhia de Iesus. No Auto da Fê, que se celebrou no Recio da Cidade de Lisboa, em 248 28 de Novembro, primeiro Domingo do Aduento de 1621, Lisboa, Pedro Craesbeeck, 1621 [2-11-8-12 (18.º)]; JUSTINIANO, Diogo da Anunciação, Sermam Do Auto Da Fe, que se celebrou no taboleyro da Parochial Igreja de Santo Antam de Evora, em Domingo 20 de Julho de 1710, Lisboa, António Pedroso Galrão, 1710 [2-11-8-12 (11.º)]; NASCIMENTO, José do, Sermaõ Do Acto Público Da Fee, Que Se Celebrou No Terreyro De Saõ Miguel da Cidade de Coimbra, em trinta de Junho de 1726, Coimbra, José Antunes da Silva, [1726] [2-11-5-12 (10.º)]; OLIVEIRA, Frei José de, Sermam Prégado No Auto Da Fé, Que se Celebrou Na Cidade De Coimbra Em O Atrio De S. Miguel Na primeyra Dominga de Julho de 1691, Coimbra, José Ferreira, 1691 [2-11-8-12 (14.º)]; OLIVEIRA, Frei José de, Sermam Que Prégou No Auto Da Fe, Que Se Celebrou No Rocio da Cidade de Lisboa em Domingo 6 de Novembro do anno de 1707, Coimbra. José Ferreira, 1707 [2-11-8-12 (16.º)]; PEDROSO, Francisco, Exhortação Dogmatica Contra A Perfidia Judayca Feyta aos Reos Penitenciados no Auto publico da Fé, que se celebrou na praça do Rocio junto aos paços da Inquisição desta Cidade de Lisboa em 9 de Julho de 1713, Lisboa, Miguel Manescal, 1713 [2-11-8-12 (6.º)]; SANTA MARIA, Padre Francisco de, Sermam do Auto da Fé, que se celebrou na Praça do Rocio desta Cidade de Lisboa, junto dos Paços da Inquisiçaõ. Anno de 1706, Lisboa, Na Officina de Manoel & Joseph Lopes Ferreyra, 1706 [2-11-8-12 (2.º)]; SÃO JOSÉ, Frei Caetano de, Sermam no Auto Publico da Fé que se celebrou na Praça do Rocio desta Corte em Domingo 14. de Outubro de 1714, Lisboa, Na Officina de Joseph Lopes Ferreyra, 1715 [211-8-12 (7.º)]; SEQUEIRA, Padre Bento de, Sermam, que pregou o Padre Mestre Bento de Siqueira da Companhia de Iesv no Auto da Fé, que se celebrou no Terreiro do Paço desta Cidade de Lisboa em 6. de Abril do anno de 1642, Lisboa, Na Officina de Domingos Lopes Rosa, 1642 [2-11-8-12 (12.º)]; 249 SILVA, Luís da, Sermam do Auto da fee que se celebrou no terreiro do Paço desta cidade de Lisboa a 10 de Dezembro do anno de 1673, Lisboa, A. Craesbeeck de Mello, 1674 [2-118-12 (5.º)]; TELES, Frei Bernardo, Sermam do Auto da Fé que se celebrou no Rocio de Lisboa, em Domingo 30. De Junho, no anno de 1709, Lisboa, Na Officina de Manoel, e Joseph Lopes Ferreyra, 1709 [2-11-8-12 (3.º)]; VIEIRA, Frei Francisco, Sermaõ do Acto da Fé, que se celebrou no pateo de S. Miguel da Cidade de Coimbra em 19 de Junho do prezente anno de 1718, Coimbra, No Real Collegio das Artes da Companhia de Jesus, 1718 [2-11-8-12 (4.º)] Bibliografia: BETHENCOURT, Cardozo de, L’ auto da Fé de Lisbonne, 15 Décembre 1647, in Révue des Études Juives, n. 98 (out.-Dez. 1904), p. 262-269; GANDRA, Manuel J., Parenética dos autos de fé na Biblioteca Volante de Frei Matias da Conceição, in Boletim Cultural ’98, Mafra, 1999, p. 847-851; GLASER, Edward, Invitation to Intolerance: a study of the Portuguese sermons preached at Autos de fé, in Hebrew Union Collection Annual, v. 27 (1956), p. 327-385; REMÉDIOS, Joaquim Mendes dos, Sermões em Autos-da-fé, in Biblos, n. 3 (Jan. 1927), p. 617; VERO, Carlos, The Inquisition and Judaism: a sermon adressed to jewish martyrs on the ocasion of an auto da Fé at Lisbon, 1705, by the Archbishop of Cranganor, Philadelphia, 1860 AUTORES CLÁSSICOS Partilham com os *Oradores Gregos e Latinos as *estantes inferiores n. 12 e 13 da *Biblioteca de Mafra. AVELAR BROTERO *Félix de Avelar Brotero. AYRES DE CARVALHO (25.6.1911-199?) Concluiu o Curso de Pintura na ESBAL, em 1935. Participou em muitas exposições promovidas pela ANBA e pelo SNI, 250 com desenhos, pinturas a óleo, monotipias, águas-fortes e pontas-secas, realizando também inúmeras mostras a título individual e recebendo diversos galardões, de que se salienta o Grande Prémio da ANBA, em Julho de 1985, atribuído por unanimidade, “tendo em apreço a obra realizada e o seu contributo para a consolidação do modernismo português”. Em 1947, é nomeado Conservador interino dos Palácios Nacionais, tornando-se Segundo Conservador, em 1948 e Primeiro Conservador dos Palácios e Monumentos Nacionais, em 1976. A 1 de Março de 1947 tomou posse do cargo de Conservador do Palácio Nacional de Mafra, ence251 tando, imediatamente, o inventário do respectivo acervo, procurando dar às salas certa uniformidade nos estilos e na disposição dos objectos, muitos dos quais são expostos pela primeira vez. Introduz melhorias na *Galeria de Arte Sacra, organiza uma reconstituição da *Botica conventual, no vestíbulo da *Enfermaria. No ano seguinte, ocupa-se da reintegração e complemento das pinturas murais das salas de *Diana, dos *Destinos e de *Faetonte. Em 1959, providencia o restauro de todas as imagens dos 18 andores das Procissões da Penitência dos Terceiros Franciscanos e das Dores de Nossa Senhora. No ano de 1961, inicia a organização do *Museu de Escultura Comparada, criado por diploma de 11 de Dezembro de 1963. Em suma, a ele se ficaria a dever a reabilitação do Palácio Nacional de Mafra e da sua imagem geralmente tão denegrida. Concomitantemente, investiga questões de história de arte, mormente atinentes ao período *Barroco, revelando (muitas vezes em entrevistas) grande número de documentos, até então inéditos, reinterpretando outros já publicitados e desbravando muitos territórios nunca antes explorados. Em 1964, ano em que se tornou Académico efectivo da ANBA, seria transferido para o Palácio da Ajuda mantendo, porém, o cargo de Conservador do Palácio Nacional de Mafra. Autor de invejável obra ensaística, estudos de história de Arte, inventários artísticos e catálogos de exposições. A Câmara Municipal de Mafra e a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva homenagearamno em 1992 e 1994, respectivamente. Condecorações: Comenda de São Gregório (1967), Comenda de Cavaleiro da Ordem de Mérito da República Italiana (1968), Oficial da Ordem Militar de Santiago de Espada (1969), Comenda da Ordem Brasileira do Rio Grande (1973), Comenda da Ordem de Mérito da República do Senegal (1975), Medalha de Honra Municipal da Câmara Municipal de Mafra (1992). *Segundo Centenário. 252 Obra Mafrense de Ayres de Carvalho A antiga Botica do Convento de Mafra (comunicação apresentada ao I Congresso Luso-Espanhol de Farmácia, realizado em Madrid), 1948; A propósito de dois inéditos de Vieira Lusitano, in Ocidente, v. 35, n. 128 (Dez. 1948) e in O Concelho de Mafra (2 Jan. 1949); O Natal, os Presépios e Machado de Castro, in O Concelho de Mafra (19 Dez. 1948); A Escultura de Mafra, Lisboa, 1950 e 1956; Dois Frescos de Vieira Lusitano, in Ocidente, v. 45, n. 188 (Dez. 1953); Uma estátua equestre do Rei D. João V, in Diário de Notícias (27 Jun. 1954); Identificação duma Miniatura de setecentos, in Bol. do Museu Nacional de Arte Antiga, v. 3, n. 1 (1955); Arte e Tradição – O Museu da Casa do Povo – Quatro Registos gravados inéditos, in Mensário das Casas do Povo, v. 9, n. 108 (Jun. 1955); Notas inéditas sobre alguns Artistas da Escola de Escultura de Mafra, in Belas Artes, s. 2, v. 3 (1955); Arte e Tradição – II. Irmandades de Mafra, in Mensário das Casas do Povo, v. 10, n. 117 (Mar. 1956); Para a História do Hospital da Misericórdia de Mafra, in O Concelho 253 de Mafra (Abr. 1959); Dom João V e a Arte do seu tempo, [Mafra], 1960- 1962, 2 vols.; A Escola de Escultura de Mafra […], in Belas Artes, s. 2, v. 19 (1963); Catálogo do Museu de Escultura Comparada – Gipsoteca, Lisboa, 1964; Novas Revelações para a História do Barroco em Portugal, in Belas Artes, s. 2, v. 20 (1964); Obra Mafrense, Mafra, 1992 Bibliografia: COELHO, Maria Eduarda Leal, Ayres de Carvalho: uma antologia, Lisboa, 1994; GANDRA, Manuel J., Ayres de Carvalho: nota bio-bibliográfica e artística, in Bol. Cultural ’92, Mafra, 1993, p. 209-221 A. WINCKLER Gravador, em 1836 (?) de estampa (155 x 155 mm), intitulada Mafra, em tudo idêntica a outra gravada por William Finden e editada em Londres no ano de 1833 (Finden’s Illustrations of the life and works of Lord Byron, v. 1). Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Iconografia do Monumento de Mafra (desenho, pintura e gravura, até 1900), in Boletim Cultural ’97, Mafra, 1998, n. 38 e 39, p. 243 AZEITE Em 1884, o azeite de oliveira fino (170 réis o litro) destinado à iluminação da *Basílica, era arrematado em leilão. *Armazém do azeite. AZULEJO Do acervo do Palácio Nacional fazem parte alguns azulejos representando caçadas, pintados por *Dom Fernando II. 254 ÍNDICE Artes, artistas e ofícios mecânicos Aarão de Lacerda Adriano Gavila, Don Ad Quadratum Agostinho Corsini Agostinho Masucci Aguarela Alberto Monteiro Alçado Alcatifas de Mafra Alexandre Giusti Alexandre Gomes Alfaias Religiosas (ver Teologia, liturgia e alfaias litúrgicas) Amâncio José Henriques Anacleto Ventura de Castro André Gonçalves Ânfora António Baptista Garvo António Canevari António Duarte António Francisco da Silva António Machado António Manuel da Fonseca António Maria Maragliano António Montante António Pecorado António Rebelo da Fonseca António Soares de Faria Aparador Aprendiz de vidraceiro Aquecedor de cama Arca Arca para cera Arcangelo Foschini Arcaz Areação dos Bronzes Armando de Lucena Armário Conventual Armário Holandês Armeiro Arquitectura Artur José Atanásio Raczynski Augusto dos Santos Ayres de Carvalho Azulejo Biblioteca, bibliografia, fontes e literatura A . Fontoura da Costa Aires de Sá Aleixo Ribeiro Alemanha Alexandre António de Lima Alexandre Freire Alvará Álvaro Ferrand de Almeida Fernandes Álvaro Guerra Anatomia Anticristo Antiguidades Romanas António de Andrade Rebelo António Estácio dos Reis António Ibot António Isidoro da Nobrega António Joaquim Anselmo António Luís Gomes António Mourão Toscano António Pereira de Figueiredo António Oliveira Freire António de Santa Marta Lobo Apocalipse Arcipreste da Santa Basílica Patriarcal Armando Boaventura Armas de Colegio Artes Liberais e Mecânicas Ásia Astronomia 255 Áustria Autores Clássicos Calendário e festividades Ver Teologia , liturgia e alfaias litúrgicas Carrilhões Ver Música, músicos e instrumentos musicais Ciência, cientistas e fenómenos naturais Abalo Telúrico Águas destiladas António Francisco Raposo António Trigo A . Severiano Alves Aula de Física Avelar Brotero Corte e cortesãos Abrantes, Marquês de Açafata Afonso, Dom Afonso Henriques, Dom Afonso Henriques, Infante Dom Afonso II, Dom Afonso III, Dom Afonso IV, Dom Afonso VI, Dom Alegrete, marquês do Amélia, Dona Amélia Leuchtenberg, Dona Ana de Jesus Maria, Dona António, Dom António Abreu da Silva António Luís de Oliveira António Pio, Dom Augusto, Infante Dom 256 Cultura e Instrução Absolutismo Academia Acontece Actos Escolares Actos Escolares, Sala dos Actos Finais Actos Literários Actos Literários, Sala dos Aula de Gramática Latina Aula de Lógica Aula de Metafísica Aula de Moral Aula de Primeiras Letras Aula de Teologia Aulas Aulas, Corredor das Aulas, Fonte das Aulas Literárias de Mafra Dependências áulicas Ajardinamento dos Claustros Andar Nobre Andar Superior Andar Térreo Antecâmara do Torreão Norte Antecâmara do Torreão Sul Aposentos Régios Archeiros, Casa dos Areação, casa da Audiência, casa da Dependências monásticas Ábside Açougue Adro Água do Convento Alameda Alameda do Real Edifício Alameda Dom Manuel II Alameda Miguel Bombarda Alicerces Almas, Fonte das Armazém de Azeite Armazém do Bacalhau Armazéns Junto à Sacristia Assunção de Nossa Senhora, Capela da Átrio da Basílica Eruditos, historiadores, filósofos e críticos Alberto Pimentel Alexandre Herculano Antero de Quental António Gouveia António José de Almeida António Pereira de Figueiredo Atanásio Kircher Eventos Públicos Adriano Augusto de Figueiredo Dores Aniversário Auto da fé Gastronomia Açúcar Arroz Doce Hagiografia e santos Ana, Santa Agostinho, Santo Ambrósio, Santo André, Santo António, Santo Apóstolo Hermetismo Anagrama Alquimia Anselmo Caetano Munhós de Abreu Gusmão e Castelo Branco Ar Arte da Memória Árvore dos Sephirot Astrologia Iconografia, imaginária religiosa Alberto Teles Alexandre Magno Anjo Anjo Custódio de Portugal Anunciação Apresentação de Maria no Templo Arcanjo A. Rouargue Assunção de Nossa Senhora Instituições Academia dos Ocultos Academia de São Lucas Administração da Fazenda da Casa Real Almoxarifado da Reais Propriedades de Mafra Amigos de Lisboa Arcádia Romana Arquivo Histórico de Mafra Arquivo Histórico Ultramarino Asilo de Mafra Asilo dos Filhos dos Soldados Assistência Pública de Mafra Jardim do Cerco Abílio Ferreira de Brito Água no Jardim do Cerco Mitologia Adamastor 257 Música, músicos e instrumentos musicais Administrador dos Reais Órgãos de Mafra Ajudante de carrilhanor Ala dos Organistas Alfredo Pinhão Alegria André Lehr Angeleli Antoine Sibertin-Blanc António Bernardo da Silva António Duarte António José Soares António Leal Moreira António Simões António Teixeira António Xavier Machado Antuérpia Artur Alcântara Assis Chateaubriand Organaria Ver Música, músicos e instrumentos musicais Religiosos Abade, Dom Abade beneditino Abade de Tibães Afonso da Conceição, Frei Agostinho, Frei Agostinho da Natividade, Frei Agostinho Pereira Alberto da Fonseca Rebelo, Padre Alexandre António Duarte, Padre Ambrósio da Conceição, Frei Anastásio dos Santos, Frei André de Jesus Maria, Frei António da Arrábida, Frei António da Assunção, Frei António da Cera, Frei 258 António das Chagas, Frei António da Charneca, Frei António da Conceição, Frei António de Cristo, Frei António da Encarnação, Frei António do Espírito Santo, Frei António da Graça, Frei António da Índia, Frei António da Madre de Deus, Frei António da Madre de Deus Galrão, Frei António do Nascimento Mocambo, Frei António da Natividade Mocambo, Frei António de Oliveira, Padre António das Onze Mil Virgens, Frei António dos Prazeres, Frei António da Purificação, Frei António da Purificação Morais Cardoso, Padre António Rainha Santa, Frei António do Rosário, Frei António de Santa Ana, Frei António de Santa Clara, Frei António de Santa Helena, Frei António da Santa Maria dos Anjos, Frei António de Santa Maria dos Anjos Melgaço, Frei António de Santa Teresa de Jesus, Frei António de São João, Frei António de São José, Frei António de São José Linhares, Frei Arrábidos Tapada Abade, Chafariz e Fonte do Abegoarias, poço da nora das Abelheira Abrunheira Adega, poço da Água Férrea, Chafariz da Água Férrea e Purgativa, Fonte da Água da Tapada Álamos, Chafariz dos Almarjão, Minas do Alto do Assobio Alto dos Barros, Nascente do Alto das Calças Alto dos Palheiros, Nascente do Alto da Tojeira Alto do Urzal Alto da Vela Árvore Teologia, liturgia, alfaias litúrgicas Ablução Absolvição Abstinência Acólito Advento Adoração Agnus Dei Água Benta Aleluia Alfaias religiosas Almofada de Missal Altar Altar Mor da Basílica Altares da Basílica Alva António José Nogueira Apagador Arca do Testamento Arcanjo António dos Reis Ascensão Azeite Visitantes estrangeiros e turistas A . C. Inchbold Adam Neale Afonso Texedor, Don A . Fullarton A . Germond de Lavigne Alexandre Boutroque Alexandre Jean Nöel Alfred Charles Smith Alfred Lyall Alfredo von Bergh Andrew Halliday Arthur William Costigan 259