2024, INTERSECCIONALIDADES - CONQUISTANDO DIREITOS AINDA VOLÁTEIS
https://doi.org/10.6084/m9.figshare.25777506Diferentes áreas do conhecimento têm se preocupado em compreender as intersecções que perpassam pela produção de subjetividade e influem na realidade vivenciada individual e coletivamente. A crise climática bem como a recente experiência de uma pandemia e constantes ameaças de guerras globais evidenciam a fragilidade da condição humana e ainda assim escancaram as diferentes formas de viver experiências que não podem ser consideradas universais. É cada vez mais inegável que as interseccionalidades de território, raça, classe e gênero repercutem de forma muito peculiar na experiência e nos impactos sofridos por pessoas e grupos específicos e aumentam as situações de desigualdade e vulnerabilidade que não podem ser naturalizadas. Nesse sentido o livro “Interseccionalidades e produção de subjetividades: diálogos sobre racismo, sexismo e direitos humanos” é fruto de reflexões e debates de pesquisadoras e pesquisadores da psicologia e da educação que se debruçaram em olhar para fenômenos específicos diante do pressuposto epistemológico e metodológico da interseccionalidade, com base nos resultados da pesquisa Itinerários e condições de desenvolvimento de jovens estudantes do ensino superior: desafios para a permanência (FAPEAM). A interseccionalidade apresenta-se como um termo que precisa ser inserido não só na forma de compreender as dinâmicas presentes em níveis micro e macro estruturais bem como na construção de estratégias de produção do próprio conhecimento, de políticas educacionais, de saúde, moradia e diferentes expressões do exercício da cidadania e de direitos humanos. A fim de evidenciar elementos importantes para o diálogo sobre a temática abordada o livro está estruturado em 13 capítulos. No primeiro momento, o capítulo intitulado “Interseccionalidade e pesquisa na Amazônia: diálogos entre a psicologia e a educação” de autoria das organizadoras da obra, Isabel Cristina Fernandes Ferreira, Adria de Lima Sousa, Iolete Ribeiro da Silva e Regina Lúcia Sucupira Pedroza, o objetivo é apresentar a interseccionalidade como elemento fundamental no desenvolvimento de pesquisas comprometidas com a realidade da Amazônia. As autoras apontam como interseccionalidade na pesquisa revela a complexidade das experiências sociais, especialmente para estudantes universitárias Amazônidas, destacando a importância de considerar múltiplos fatores de opressão. Essa abordagem amplia a compreensão das desigualdades, promove políticas mais inclusivas e forma profissionais sensíveis à diversidade. Além disso, destaca-se a necessidade de uma pesquisa ético-política orientada para a transformação social e a inclusão dos estudantes Amazônidas no ensino superior. No segundo capítulo “Interseccionalidades - conquistando direitos ainda voláteis” de autoria de Silviane Barbato, Kristine R. Medeiros Alves, Victoria Goulart da Silva e Ana Beatriz Goyanna é possível abordar o modo como Mulheres enfrentam obstáculos nos direitos humanos e acesso à educação e trabalho, influenciadas por fatores sociais, políticos e culturais. O capítulo propõe-se analisar a socialização de estudantes universitárias e apresentar iniciativas para promover a participação e visibilidade das mulheres em suas comunidades e na produção de conhecimento. Em “ A trajetória e permanência de jovens indígenas em instituições de ensino superior no amazonas: a transformação do estigma em protagonismo”, Rosemary Amanda Lima Alves, Raniele Alana Lima Alves, Socorro Gamenha, Vanderlécia Ortega dos Santos (Wanda Witoto), Consuelena Lopes Leitão e Iolete Ribeiro da Silva apresentam um estudo que foca nas narrativas de mulheres indígenas na universidade, destacando suas trajetórias, desafios e o papel das políticas públicas afirmativas. A inserção dessas mulheres na universidade as torna visíveis, desafiando estereótipos de gênero e étnicos. A pesquisa, realizada no Amazonas, revela a importância de políticas de acesso e permanência. Apesar dos avanços na democratização do acesso, é necessário modificar o sistema universitário e implementar políticas de permanência para garantir uma educação inclusiva e bem- sucedida para todos os estudantes. O capítulo em seguida sobre “Os atravessamentos do racismo estrutural no brasil: heranças de uma sociedade colonial escravocrata” de Melquides Felipe de Gois Maia Neto e Caní Jakson Alves da Silva evidencia como o racismo estrutural é um componente ativo nas relações sociais brasileiras, afetando política, economia, cultura, educação e mercado de trabalho. O estudo visa analisar a violência racial no Brasil, contextualizando sua historicidade e indicando os determinantes do aumento das Mortes Violentas Intencionais (MVI’s) da população negra. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública revelam um aumento da violência racial, evidenciando a perpetuação de lógicas coloniais que marginalizam corpos negros. Em “A questão racial na formação de professores: desafios e possibilidades” , Fernanda Calegare aborda a importância de discutir o racismo na formação de professores, buscando romper com sua invisibilidade nos processos educativos escolares. Baseado em leituras que exploram a interseção entre questões raciais e educacionais, o texto aborda conceitos fundamentais de Direitos Humanos e reflete sobre a estruturação do racismo, sexismo e classismo na sociedade. No capítulo sobre “Branquitude e subjetividade: um ensaio sobre a identidade manauara” , Alessandra dos Santos Pereira propõe uma reflexão sobre a identidade da cidade de Manaus, destacando sua relação com as comunidades indígenas e utiliza conceitos de cultura, identidade e representação, incluindo a ideia de branquitude. Em “Racismo estrutural nos serviços públicos de saúde no Brasil” , os autores Henrique de Araújo Martins e Marck de Souza Torres realizam uma análise do racismo nos serviços públicos de saúde no Brasil, examinando a interseção entre discriminação racial e acesso à saúde. Reconhecendo a saúde como um direito fundamental o ensaio busca compreender como o racismo se manifesta na prática e seus impactos na vida dos afetados. Ainda no amplo debate sobre o racismo na esfera da saúde, o capítulo “Racismo obstétrico, interseccionalidade e a assistência a mulheres pretas no ciclo gravídico puerperal” de Karolayne Rodrigues Silva, Letícia Moura da Silva Patrício; Aline de Lima Sousa, Consuelena Lopes Leitão e Iolete Ribeiro da Silva, aborda o racismo e a violência obstétrica, reconhecendo a importância das práticas humanizadas na saúde das mulheres. O termo "racismo obstétrico" é utilizado para descrever as violências enfrentadas por mulheres pretas e indígenas nas instituições de saúde. Destaca-se o estudo, realizado por uma mulher negra e uma mulher não-binária, busca entender como essas práticas afetam as mulheres pretas, considerando a interseccionalidade. O capítulo “Interseccionalidade entre raça e gênero: uma reflexão acerca da violência simbólica nas escolas de EJA da rede pública municipal de ensino de Manaus/Am” de Débora Napoleão de Sena e Márcio de Oliveira busca compreender como a interseccionalidade entre raça e gênero contribui para a violência simbólica nas escolas de Educação de Jovens, Adultos/as e Idosos/as da Rede Pública Municipal de Ensino de Manaus/AM. Inicialmente, destaca-se a importância de investigar essas questões na área da educação, dada a influência dos ambientes de socialização na escola. A pesquisa foi conduzida com o objetivo geral de compreender essa interseccionalidade e objetivos específicos de identificar os sujeitos da EJA, apresentar a interseccionalidade como uma ferramenta analítica e analisar como ela contribui para a violência simbólica. O capítulo “Feminismo negro interseccional: contribuições para um (re)pensar da ensinagem” de Raescla Ribeiro de Oliveira aponta a ausência de representatividade de mulheres negras e indígenas ao longo da formação acadêmica, desde a pré-escola até a pós-graduação. O capítulo discute o racismo e o sexismo na educação brasileira, dialogando com a teoria feminista negra interseccional e a abordagem da Aprendizagem Criativa para propor reflexões sobre o caminho para uma educação antirracista e antissexista. Em “Gênero e sexualidade nas políticas públicas educacionais: indicadores sociais e métricas para a avaliação na promoção da inclusão”, Maise Caroline Zucco aborda a complexidade das políticas públicas educacionais, destacando que as iniciativas selecionadas refletem escolhas específicas e são influenciadas pela interação entre atores governamentais e não governamentais. A autora ressalta a importância de considerar diversos fluxos, como políticos e de problemas, na definição das agendas governamentais. Além disso, destaca a necessidade de uma abordagem interseccional na coleta de dados sobre diversidade, reconhecendo que nem todos os marcadores identitários são contemplados pelos indicadores produzidos pelo Estado. O texto destaca os desafios metodológicos e a importância de problematizar as análises para promover ações que contribuam para transformações sociais. O capítulo “ Sentidos e trajetórias de mulheres camponesas na Amazônia: relatos da luta pela permanência na terra e na universidade” de Angélica de Souza Lima e Juliana da Silva Nóbrega destaca a importância na resistência pela terra e no movimento feminista. Discute também a importância da educação do campo e a criação do curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEDOC) e explora a relação entre psicologia e ruralidades, propondo uma práxis descolonizadora. Originado de uma pesquisa sobre as trajetórias de estudantes da LEDOC na Universidade Federal de Rondônia, o texto apresenta narrativas de mulheres camponesas no acesso ao ensino superior. Em “Reflexões sobre as vivências de pessoas bissexuais à luz da interseccionalidade” de Victor Lucas da Silva Carvalho, Paulo Guilherme da Encarnação Matos, Gisele Cristina Resende e Breno de Oliveira Ferreira é possível refletir sobre os desafios enfrentados por pessoas bissexuais em uma socieda...