V CONGRESO GALEGO-PORTUGUÉS
DE PSICOPEDAGOXÍA
ACTAS (COMUNICACIÓNS E POSTERS)
N° 4 (Vol. 6) Ano 4°-2000 ISSN: 1138-1663
RELA90ES PAIS-FILHOS FACE Ji SEXUALIDADE
José VASCONCELOS-RAPOSO
Zélia ANASTÁCIO
RESUMO
Este estudo teve como propósito estabelecer a rela~o
entre sexo, escolaridade, área de residenliterárias dos pais com a frequencia de ,oa~cinum
a
cia, prática religiosa, idade e habilt~6es
tomada de decisao, proximidade entre pais e filhos e o conflitos de opini6es, tal como percebidos
pelos adolescentes relativamente a quest6es de sexualidade. Estas rela~6s
foram vistas no contexto do relacionamento que os filhos tem com os pais.
Foi aplicado um questionário a urna amostra de 408 adolescentes (225 raparigas e 183 rapazes).
Integraram a amostra alunos que frequentavam do 7° ao 12° anos de escolaridade. A média de idade
foi 15,57 anos. 85,8% dos adolescentes residiam em meio rural e 12,7% em meio urbano.'
Verificou-se que os adolescentes comunicam mais com os amigos do que com os pais, que sao
capazes de tomar sozinhos várias decis6es, que se sentem próximos de seus pais, excepto quanto a
de conflito com os pais.
quest6es de sexualidade e que raramente experimentam situa~6e
Os valores obtidos deste estudo apontam no sentido de ser necessário intensificar a complementaridade de oa~mrf
na escola sobre assuntos relacionados com a sexualidade dos jovens. Os
nao deverao ser desenhadas exclusivamente
dados sugerem, ainda, que as campanhas de oa~cude
para os adolescentes, urna vez que os pais, durante o período da adolescencia, continuam a ser o
elemento de referencia para os adolescentes no que se refere aos valores socioculturais inerentes
aos seus comportamentos sociais.
Agradecimento ao Centro de Estudos da
Crian~
do lEC pelo apoio financeiro.
INTRODur;Jo
A sexualidade nos adolescentes tem merecido, nas últimas décadas, a aten~o
de vários investigadores. A investga~o
científica nesta área tem focado um conjunto diversificado de aspectos relativos a
esta dimensao do desenvolvimento humano. Se bem que o sexo, em termos anatómicos, esteja definido
todos os outros aspectos relacionados com a identidade sexual resultam dos processos de
anasce~,
oa~ zil cos
e encultra~o
a que todo o indivíduo é submetido durante a infancia e a adolescencia.
41
Lerner e Spanier (1980, cit in Moore e Rosenthal, 1995) preconizam um modelo de socialz~
sexual em que se defende que a sexualidade é um processo longo e que contribui para o desenvolvimento, forma~
e modifca~
de atitudes que, por sua vez, se transformam em esquemas que
sexual é um processo simultaneaconstituirao a base para novos comportamentos. A socialz~
mente determinado por duas dimens6es concomitantes do desenvolvimento do indivíduo: os aspectos relacionados com a puberdade e a adolescencia. O primeiro relativo aos processos de matur~o
biológica e o segundo as repercuss6es psíquicas que advem dos desequilíbrios hormonais a que os
jovens estaD sujeitos. Dependendo do contexto sociocultural em que este desenvolvimento ocorre
os jovens vivificam um conjunto de novos sentimentos e formas de expressao emocional. Através
os jovens desenvolvem níveis de
dos conhecimentos culturais adquiridos através da encult ra~ o
das vivencias físicas, sociais e emocionais. Assim, o processo de "socialimestria na integra~ o
za~ o
sexual" assenta em cinco aspectos desenvolvimentais: 1) desenvolvimento da preferencia do
objecto de sexo; 2) desenvolvimento da identidade sexual; 3) desenvolvimento de papéis sexuais;
4) oa~isuq
de destrezas, conhecimentos e valores sexuais; e 5) desenvolvimento de dispo~6e
para agir em contextos sexuais. De especial relevancia para o desenvolvimento do adolescente é o
aspecto da aquis~ao
de destrezas sexuais, conhecimentos e valores. Os adolescentes interessam-se
muito por sexo e sao receptivos a nova informa~o,
ao mesmo tempo que van questionando valoos pais
res e experimentando comportamentos. A Priori, os jovens tem como fontes de informa~
e a escola embora a maioria recorra ao grupo de amigos.
De acordo com o percurso sexual esbo~ad
por Simon e Gagnon ( cit in Sprinthall e Collins,
1994) a socialz~
sexual inicia-se no contexto familiar. Contudo, chegada a adolescencia a interven~ao
da família modifica-se e a dos amigos ganha importancia. Os adolescentes adquirem a
maior quantidade de informa~
através dos colegas, pois estes sao percebidos como menos amea~ dores
que os adultos para abordar assuntos relacionados com a sexualidade. A sociedade, como
sistema, associa a sexualidade sentimentos de culpa e vergonha, para impor níveis de conformidade sociocultural. Como consequencia deste processo de controlo social sao transmitidas informa~6es
incorrectas aos jovens (Sprinthall e Collins, 1994).
Sutton (1944, cit in Moore e Rosenthal, 1995) defende que a preferencia dada aos colegas como
fontes de informa~
está na base das incore~6s
aprendidas. Ainda de acordo com este autor, os
pais podem melhorar os seus níveis de partic~o
neste domínio da vida dos filhos. Para tal será
suficiente responder com veracidade a curiosidade justificável dos seus filhos adolescentes.
O trabalho de vários autores (i.e. Koch, 1991; Moore e Rosenthal, 1995; Sprinthal e Collins, 1994;
Youniss e Smollar, 1985) tem revelado que a comunia~
no contexto familiar sobre quest6es de
sexualidade é reduzida. No entanto, outros estudos sugerem que quando há diálogo entre pais e filhos
sobre sexo, os últimos tendem a ser menos experimentadores e que quando o fazem demonstram maiores conhecimentos sobre os riscos associados a essas actividades, daí que sejam maiores utilizadores
sexuais. Para além deste aspecto demonstram ser mais
de métodos contraceptivos quando tem rela~6s
capazes de usar métodos contraceptivos eficazes, assim como tendem a ter menos parceiros sexuais
(Fox, 1981; Furstenberg, 1971; Lewis, 1973; Shah e Zelnik, 1981; Spanier, 1977, cit in Koch, 1991).
Num estudo Duke-Duncan, Iones e Morgan (1986, cit in Duke-Duncan, 1991) com um grupo
de jovens da Califómia com idades compreendidas entre os 10 e os 12 anos, verificaram que os pais
eram frequentemente escolhidos como as pessoas com quem os filhos preferiam falar sobre as
quest6es associadas a puberdade. Ainda neste sentido, Vasquez (1999) refere, também, que os adolescentes manifestam desejo e vontade de dialogar com os pais sobre sexualidade.
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Offer e Church (1991) analisando o tumulto emocional atribuído a adolescencia verificaram que
nao há evidencia de conflito emocional profundo entre pais e filhos. Existe, sim, alguma ansiedade relacionada com quest6es quotidianas, nomeadamente no que se refere aos aspectos de explora~ o
e afirm~o
de urna imagem de autonomia e identidade própria. Offer (1969), constatou que
os adolescentes se inserem orgulhosamente na sua farrulia, discutindo os seus problemas e opini6es
abertamente com os seus pais, com urna :oa~pecx
os sentimentos e impulsos sexuais. As investiga~6es
de Steinberg (1987) sobre as se6~amrofsnart
pubertárias e seus impactos nas se6~cartni
familiares demonstram que com o avn~r
da maturidade física, diminui a proximidade entre os
seus membros e que a autonomia emocional aumenta. Mesmo quando ocorre alguma pertuba~o
relacional, esta nao ame~
a coesao emocional entre pais e filhos.
As sa~ndum
físicas da puberdade sao acompanhadas de sa~ndum
emocionais com origem nos
domínios cognitivo, afectivo e comportamental. Por sua vez, todos estes tem um papel activo no
ajustamento que os jovens tem de fazer perante as ocorrencias que conduzem a constru~a
da imagem corporal do jovem. O desenvolvimento saudável do adolescente é, também, reflexo do papel
da imagem corporal na auto-estima. No final do período da adolescencia, há urna oa~ler
estreita
entre a imagem corporal e a auto-estima positiva. Esta asoci~
tem como um dos seus factores
feitas pelos outros mais próximos, nomeadamente os amigos, assim
determinantes as se6~ailv
como a satif~o
com a situa~o
familiar (Duke-Duncan, 1991).
De acordo com Selverstone (1989, cit in Moore e Rosenthal, 1995) o papel da sexualidade na
vida do adolescente é de tal forma relevante que representa urna dimensao cujo impacto nutre ou
impede o desenvolvimento de urna auto-estima saudável. Esta última, por sua vez, é da maior
importancia para o desenvolvimento das outras áreas socio-cognitivas em que os jovens devem
desenvolver mestria.
Partindo dos dados da literatura, e atendendo a que a escola tem algumas dificuldades em proporcionar aos alunos urna oa~cude
para a sexualidade que complemente a educa~o
proveniente
da farrulia, o presente trabalho pretende apresentar, de forma sumária, dados relativos a rela~o
pais- filhos no contexto da educa~o
e comunia~
sobre a vida sexual dos jovens.
METODOLOGIA
Para o propósito deste trabalho recorremos aos dados relativos aos inquéritos preenchidos pelos
alunos na sala de aula. A amostra foi constituída por 408 adolescentes (225 raparigas e 183 rapazes) do 7° ao 12° anos de escolaridade. A idade média foi de 15,57 anos. Dos adolescentes da amostra 85,8% residiam em meio rural e 12,7% em meio urbano.
Para o propósito deste trabalho, apresentamos os resultados preliminares de um estudo que
levamos a cabo sobre a rela~o
entre pais e filhos. Optamos por fazer urna descri~ao
de dados
com base na estatística descritiva, apresentando valores referentes a frequencias e percentagens,
respectivamente as que se referem as preferencias de comunia~,
tomada de decisao, proximidade e conflitos entre pais e filhos. As componentes que consideramos relativamente a comunica~ o
prendiam-se com as quest6es relacionadas com os seguintes temas: namorados, amigos,
preocu a~6 s
pessoais, preocua~6s
face a sexualidade, transfom~6es
corporais e início da
actividade sexual.
43
ANÁLISE DE RESULTADOS
Com base nos valores obtidos foi possível constatar que no que se prende com a comunia~
dos adolescentes com várias pessoas sobre aspectos da sua sexualidade, verificou-se que sobre
Namorados/as, Amigos, Preocupa~6s
face a sexualidade e Início da actividade sexual é com os
amigos que os jovens mais dialogam. Relativamente as se6~apucoerP
pessoais e Transfom~6e
corporais, a mae é a pessoa eleita para dialogar. No entanto, para os itens Preocupa~6s
face a
sexualidade, Transfom~6e
corporais e Início da actividade sexual a comunia~
entre mae e filhos tem urna expressao mais reduzida comparativamente aos outros aspectos tomados em considera~ o.
(gráficos 1 a 6).
Gráfico 1: Frequencia de
sobre Namorados/as
Comunica~ o
Comunica.;ao sobre Namorados
250
200
11)
150
U.
Pai
• Mae
D Irma(o)
100
D Amigo(a)
• Outro adulto
50
O
~v
;e~
CJ't>
~
~>t'
e;<::>
Com unica~o
Gráfico 2: Frequencia de
Comunica~ o
sobre Amigos
Comunra.;ao sobre os Amigos
111 Pai
• Mae
O Illna(o)
O Amigo(a)
• Outro adulto
Comunica~ o
44
Comunica~ o
Gráfico 3: Frequencia de
Comunra~ o
~
200
180
160
140
120
100
sobre
sobre as seo~apucoerP
Preocupa~ s
Pessoais
Pessoais
-T »"§ '~- · = _W'~- =" ~ -.0 "_ '~# _"= 0 ' ~
- , - ~
-+----------1lIIIII-r
• Pai
11 Mae
-+-------.....---1
-+--------t--------c"'
~~
D Inna(o)
___
80
60
40
20
O
• Amigo(a)
• Outro adulto
Comunica~
Gráfico 4: Frequencia de
Comunica~ o
sobre
sobre seo~apucoerP
Sexualidade
Comunka~ o
25O -,w_·~"'mM.«»
200
..~ ~'=_ '·~_ ' "~_ »
-+-1 ..1 - -
Preocupa~ s
Cace
a Sexualidade
Cace a
__''W'V.M",__ "_=.~ , . ,
--------,---
111 Pai
• Mae
150
D Inna(o)
100
D Amigo(a)
50
• Outro adulto
O
Comunica~
45
Comunica~
Gráfico 5: Frequencia de
sobre
Transfo m ~ e
Corporais
Comunra.;ao sobre as Transforma.;oes Corporais
11]
Pai
• Mae
11] Irma(o)
11]
Amigo(a)
• Outro adulto
Comunica~
Gráfico 6: Frequencia de
oa~ cinum C
sobre Início da Actividade Sexual
Comunra.;ao sobre Início da Actividade Sexual
350
300
11]
250
~
Pai
• Mae
11] Irma(o)
200
150
O Amigo(a)
100
50
• Outro adulto
O
Comunica~
Todavia, com base nos valores obtidos, constatamos que existem diferenc;as entre os sexos. O
número de raparigas que fala com a mae e os amigos sobre Namorados/as, Amigos, Preocupac;6es
pessoais e Transformac;6es corporais é superior ao de rapazes. Quando se trata de discutir assuntos
relacionados com as Preocupac;6es face a sexualidade e, sobretudo, Início da actividade sexual, os
rapazes atingem valores mais elevados que as raparigas sobre as preferencias em falar com o pai,
irmao, amigo e outro adulto, embora com valores menores quando comparados com os que nunca
falaram sobre o assunto.
46
Além do sexo também o ano de escolaridade influencia a comunica<;ao com o pai. Os valores dos
alunos do 7° e 8° ano apresentam frequencia de comunica<;ao mais baixas que os do 11° e 12° anos.
Estas diferen<;as sao mais notórias para os temas relacionados com os Namorados/as e Preocupa<;6es
face a sexualidade. Também constatamos que os estudantes do 11° falam mais sobre o Início da actividade sexual que os do 9° e do 12° ano. Sobre a comunica<;ao com um amigo, verificamos que as
diferen<;as sao maiores para os temas Namorados/as, Amigos, Preocupa<;6es pessoais e Preocupa<;6es
face a sexualidade. Os indivíduos do 7° ano sao os que evidenciam valores mais baixos.
A prática religiosa influencia a comunica<;ao com o pai sobre Namorados/as, Transforma<;6es
corporais e Início da actividade sexual, sendo sempre os nao praticantes os que apresentam as frequencias mais altas. No que se refere a comunica<;ao com a mae sobre Preocupa<;6es pessoais e
Transforma<;6es corporais, sao os muito praticantes que comunicam mais que os outros.
Em fun<;ao da área de residencia, verificou-se que os adolescentes do meio urbano apresentam
frequencias de comunica<;ao mais altas quer com o pai quer com a mae. Há diferen<;as acentuadas
relativamente aos temas Namorados/as e Início da actividade sexual.
Quanto aTomada de decisao constatou-se que a maioria dos adolescentes afirma decidir sozinho sobre urna série de tarefas (gráfico 7), nomeadamente as que se referem a matérias como as
horas a que vao para a cama a noite, quais os amigos com quem podem sair, se podem namorar ou
nao, com quem podem namorar e o tipo de roupa que podem comprar. Contudo, os jovens preferem tomar decis6es em conjunto com os pais sobre os seguintes assuntos: até que horas podem ficar
fora de casa numa festa, onde podem passar as férias e com quem as podem passar.
Gráfico 7: Tomada de decisao
Tomada de decisao
IIpais
350
11 pais disco
300
Onós
250
F
Oeu disco
200
lIeu só
150
IIpai só
100
IImae só
50
O
O nao resp.
qdec 1
qdec2
qdec3
qdec4
qdec5
qdec6
qdec7
qdec8
Para este aspecto também sao acentuadas as diferen<;as entre os sexos. Sao quase sempre os
rapazes que evidenciam maior capacidade de decisao autónoma. A prática religiosa tem efeito
importante sobre as decis6es relativas aos temas se podem namorar e com quem podem passar as
férias. Para estes mesmos temas, os muito praticantes evidenciam valores mais baixos que os restantes. Em fun<;ao da área residencial, verificou-se que os adolescentes do meio rural sao mais autónomos no que se refere a assuntos como o horário de deitar, bem como a escolha da pessoa com
quem podem namorar. Quando tomámos em considera<;ao a idade dos pais, observou-se que os filhos dos mais velhos decidem mais frequentemente sozinhos a hora de regressar a casa de urna festa.
Relativamente a variável Proximidade constatou-se que de um modo geral os adolescentes se
sentem próximos dos seus pais. Obteve-se o valor mais elevado (81,9%) na op<;ao verdadeira para
47
o item Dou-me bem com os meus pais. No entanto, no respeitante as quest6es Eu conto com os meus
pais para me ajudarem a resolver os meus problemas relativos a sexualidade e Os meus pais estilo
sempre disponíveis para Jalar comigo sobre sexualidade as respostas na opc;ao verdadeira baixaram para 25,2% (gráfico 8).
Gráfico 8: Proximidade percebida pelos filhos adolescentes
Proximidade percebida pelos filhos
400
- r "' = ' ~- W"
350
~
300
f:I nao respondeu
250
• falsa
200
O geralmente falsa
150
O geralmente verdadeira
100
• verdadeira
50
-I. L ~ . , -. -I J + O
verpaisl verpais2 verpais3 verpais4 verpais5 verpais6 verpais7 verpais8
A percepc;ao dos adolescentes relativamente a disponibilidade dos pais para falar com eles sobre
sexualidade sugere que há urna relac;ao entre o tipo de actividade profissional dos pais e o tempo
para comunicar com os filhos. Os valores obtidos sugerem que a profissao dos pais é influente.
Constatou-se que os filhos das maes pertencentes aos quadros técnicos apresentam os valores mais
elevados. Relativamente a comunicac;ao com o pai, tal como medida pela variável habilitac;ao
académica deste, sao os filhos dos que tem o ensino unificado que evidenciam frequencias mais
altas. A prática religiosa apresenta-se influente para vários itens, constando-se que sao os pouco
praticantes que apresentam valores mais baixos para a componente proximidade.
Quanto aos conflitos entre pais e filhos adolescentes, consta-se que existem poucos e que na
maior parte das situac;6es em que estes ocorrem tendem a estar associados com assuntos relativos
ao tempo dedicado ao estudo e as notas obtidas na escola. Esporadicamente, o conflito surge incidindo no facto do adolescente querer sair a noite e na desobediencia as ordens dadas pelos pais.
Em relac;ao a discordancia de ideias face a sexualidade, o conflito acontece as vezes para cerca da
25% dos adolescentes. Apesar disto, existem diferenc;as entre os sexos, as mais acentuadas prendem-se com os temas relacionados com namoros, o tempo dedicado ao estudo, as notas obtidas na
escola, a nao obediencia as ordens e aos lugares que o adolescente frequenta. De entre estes, só
em relac;ao aos namoros as raparigas registam frequencias de conflito mais elevadas que os rapazes (gráficos 9 e 10).
Gráfico 9: Conflito percebido pelos rapazes
COIlf1ito percebido pelos mpazes
Conflil
48
COlilli2
Confli3
Confli4
Confli5
Confli6
Confli7
Confli8
Confli9
ConflilO
Gráfico 10: Conflito percebido pelas raparigas
Conflito percebido pelas raparigas
70
60
50
40
[])Nunca
30
l1li Raramente
20
DÁsvezes
DMuitasvezes
10
IIIISempre
Conflil
Confli2
Confli3
Confli4
Confli5
Confli6
Confli7
ConfliS
Contli9
Confli 10
[]) Nao respondeu
acadéNo confronto de ideias sobre a sexualidade, as variáveis idade dos pais, e as se6~atilbah
micas da mae apresentam-se como mais diferenciadoras. Os valores referentes aos conflitos sugerem que os filhos de pais com mais de 50 anos apresentam frequencias mais elevadas.
Relativamente as se6~atilbah
da mae, os filhos das que tem menos que a 4a classe apresentam os
valores mais altos e os das que tem o ensino complementar os mais baixos.
DIS eUSSAO
Este estudo confirmou a maioria dos dados obtidos em estudos realizados noutros países. No
entanto, os valores do presente estudo evidenciam difern~as
mais acentuadas para quest6es referentes há comunica~ o
entre pais e filhos adolescentes sobre os temas mais específicos a sexualidade.
Para a comunia~
sobre temas de sexualidade confirmou-se que as pessoas que os adolesentre os sexos
centes mais procuram para dialogar sao os amigos. Contudo, verificamos difern~as
que nos indicam que as raparigas falam mais que os rapazes com a mae e com amigo(a) sobre os
vários assuntos, a excp~ao
das se6~apucor
face a sexualidade e do início da actividade sexual.
Neste tópico os rapazes falam mais com o pai, irmao, amigo ou outro adulto, embora continuem a
ter baixos níveis de .oa~cinum
Julgamos que esta difern~a
seja devida a socialz~
sexual
que se demonstra mais permissiva para os rapazes do que para as raparigas.
O Início da actividade sexual é o assunto em que mais rapazes preferem falar com o pai do que
com a mae. Estes resultados assemelham-se aos de Youniss e Smollar (1985) que verificaram que
a questao do namoro era sempre o tópico que atingia mais baixas percentagens de oa~cinum
entre mae e filho. Este tema, juntamente com ideias sobre sexo, raramente eram discutidos com os
pais. Na comunica~ o
com o pai, o namoro atingia valores ainda mais baixos para as raparigas do
era mais
que para os rapazes. Moore e Rosenthall (1995) também concluíram que a comunia~
comum entre maes e filhas do que entre os dois pais e os rapazes, se bem que, além disto, a peroa~pec
dos rapazes sobre as atitudes parentais liberais para o sexo tenha sido maior que nas rapacom as filhas se faz de urna forma mais funrigas. Deduzimos, mais urna vez, que a comunia~
cional no sentido de oa~ucerp
e de travao a actividade sexual, enquanto que para os rapazes parece existir urna maior permissividade por parte de ambos os pais.
As sa~nerfid
em fun~ao
do ano de escolaridade, relativamente há comunia~
com o pai e com o
amigo, evidenciaram que para os estudantes do 7° ano os assuntos da sexualidade ainda nao sao do inte49
resse destes adolescentes. Há evidencia de que os pais se preocupam mais com a transmissao de conhecimentos aos filhos mais velhos. Nao sabemos as raz6es de tal preferencia, porém convém estudar se
esta resulta do facto dos pais considerarem que estes filhos estao numa fase desenvolvimental mais
ad ~n v
e por isso necessitam de mais esclarecimentos para evitar riscos. Treboux e Busch-Rossnagel
(1991) referem vários estudos em que os pais informam mais os adolescentes mais velhos do que os
O mesmos autores sugeriram existir urna
mais novos sobre assuntos relacionados com a contraep~.
maior oa~ispd
dos pais para apoiar o envolvimento sexual dos filhos do sexo masculino.
As sa~nerfid
em fun~ao
da prática religiosa apresentam-se divergentes, na medida em que os
nada praticantes comunicam mais com o pai e os muito praticantes falam mais com a mae. Para
adequada dos dados será necessário tomar em considera~o
no desenho da invesurna oa~terpni
tiga~ o
um outro tipo de variáveis que permitam quantificar o possível conservadorismo e orienta~ o
cultural.
Em rela~o
a área residencial, verificou-se que os adolescentes do meio urbano comunicam
mais com o pai e com a mae, sobre os temas da sexualidade, que os jovens de meio rural. Julgamos
que talvez existam, no meio rural, preconceitos mais constrangedores, tal como estes reflectem um
para o desenrolar de tais discuss6es.
certo conservadorismo cultural que se traduz na inb~ao
Os resultados obtidos para a tomada de decisao mostram que quando questionados sobre se
podem, e com quem, namorar e onde, e com quem, podem passar as férias, sao sempre os rapazes
sexuais na conseu~a
da
que evidenciam maior capacidade de decisao autónoma. As sa~nerfid
independencia sao preconizadas por Douvan e Adelson (1966, cit in Lopes, 1998). Estes autores
argumentam que os rapazes manifestam um maior interesse em se tomar independentes do controlo dos pais e assumem um maior autocontrolo do que as raparigas. Tal poderá dever-se a sociálioa~ z
para a obediencia e dependencia a que as raparigas sao mais frequentemente sujeitas.
entre a área de residencia, a idade dos pais e a tomada de decisao,
Ao verificarmos a rela~o
constatou-se que os jovens do meio rural sao mais independentes a decidir com quem podem namorar, do mesmo modo que os filhos dos mais velhos decidem sozinhos, mais frequentemente que os
filhos de pais mais jovens, sobre aspectos como até que horas podem ficar fora numa festa.
Interpretamos tais resultados com base nas responsabilidades que possivelmente lhes sao atribuídas
familiares para os adolescentes. Este
no quotidiano, já que no meio rural afloram mais se6~agirbo
facto, juntamente com o dos pais serem mais idosos, poderá dar azo a que estes aprovisionem os
jovens com tarefas e responsabilidades acrescidas. Isto poderá conduzir a um processo acelerador do
desenvolvimento do adolescente cujo final está associado a urna maior autonomia (Steinberg, 1987).
Relativamente a proximidade, o facto dos adolescentes se revelarem próximos dos pais é indicom o ambiente familiar. Poderá, também, indiciar que a consecador de harmonia e satif~o
oa~uc
da autonomia ocorre sem conflitos emocionais nesta amostra. Nas quest6es específicas para
a sexualidade os resultados confirmam que persiste a distancia entre pais e filhos.
ao conflito de opini6es percepcionados pelos filhos, as sa~nerfid
em fun~ao
do
Em rela~ o
aos namosexo indicam que as raparigas experimentam mais conflitos que os rapazes em rela~ o
ros, cuja frequencia se assemelha a de querer sair a noite. Daqui se deduz que há urna maior
entre as duas se6~auti
conflituosas pode
repressao sobre a sexualidade feminina e a asoci~
dever-se aideía que os país mantem de que as saídas dos adolescentes sao movidas por encontros
de natureza sexual (Sampaio, 1998).
50
o facto do conflito inerente a discordancia de ideias face a sexualidade apenas acontecer as
vezes para cerca de 25% dos adolescentes pode estar relacionado com o baixo nível de comunica~ o
sobre sexualidade, além da harmonia familiar.
CONCLUSAO
Os valores obtidos neste estudo apontam no sentido de ser necessário intensificar a complementaridade de oa~mrf
na escola sobre assuntos relacionados com a sexualidade dos jovens. Os
dados sugerem, ainda, que as campanhas de oa~cude
nao deverao ser desenhadas exclusivamente
para os adolescentes, urna vez que os pais, durante o período da adolescencia, continuam a ser o
elemento de referencia para os adolescentes no que se refere aos valores socioculturais inerentes
aos seus comportamentos sociais.
BIBLIOGRAFIA
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