Seguidores

10 agosto 2009

Pola Ribeiro tenta salvar "Revoada"

Vê-se uma luz no fim do túnel para a salvação de Revoada, de José Umberto, que foi montado à sua revelia com um resultado desastroso e que se revela totalmente oposto à concepção original de seu autor. E a luz está na intervenção de Pola Ribeiro, diretor-geral do Irdeb, e, também, o representante do audiovisual baiano, que tenta resolver o impasse.

Pola Ribeiro é o intermediário do acordo entre o produtor Rex Schindler e o cineasta José Umberto para que o império do Autor se mantenha de acordo com o projeto original aprovado pelo MinC (patrimônio público). O apoio de Pola Ribeiro se manifestou na sala de reunião da diretoria do Irdeb que teve as presenças de Edgard Navarro (Eu me lembro) e Luz Paulino dos Santos (roteirista original e diretor das primeiras filmagens de Barravento). As tratativas para solucionar o impasse também se desenvolveram com a reunião que Pola patrocinou com Umberto e a família de Rex Schindler.

Creio que o apoio de Pola Ribeiro é fundamental para se resolver esta questão difícil, cuja solução seria importante para o Cinema Baiano, principalmente no seu significado simbólico. Pola estaria, nesse sentido, na posição de um pacificador, e a resolução do impasse teria um significado extremamente importante para tirar o Cinema Baiano das sombas nas quais se encontra escondido pelas picuinhas desordenadas, pelos interesses comerciais, e pelo poder econômico a preponderar sobre a criação artística. Basta dizer que o Edital de Baixo Orçamento do MinC (do qual Revoada foi um dos vencedores) visa prestigiar a produção independente, a política do Autor de filmes. O que aconteceu com Revoada, assim é se me parece, descaracteriza o propósito e o objetivo precípuo dos editais do MinC, a transferir o processo de criação para os interesses nada autorais do produtor em questão.

Não se pode esquecer que Pau Brasil, de Fernando Belens (recentemente apresentado no encerramento do V Seminário do Cinema e do Audiovisual), O jardim das folhas sagradas, de Pola Ribeiro, O homem que não dormia, de Edgard Navarro, e Revoada, de José Umberto, são filmes que formam um dos arcos da evolução cíclica do Cinema Baiano. A cópia de Revoada, editada sem a presença de seu autor, espúria, não pode ser mostrada como exemplo de uma expressão individual, pois, sobre descaracterizar uma obra cinematográfica, desvirtua, como já disse, a razão de ser dos editais do Minc. Seus negativos estão íntegros, e a batalha consiste em dar a oportunidade de Umberto montar o seu filme segundo o seu projeto original. A intervenção política de Pola Ribeiro não ficaria restrita a uma intervenção para salvar apenas um filme, mas seria um beau geste em favor de todo o Cinema Baiano.

Como disse José Umberto: "O Cinema Baiano está envolvido atualmente por uma Sombra, e é preciso, o quanto antes, afastar este fantasma shakespeariano, porque, afastado, todos irão respirar o ar puro da criação inviolável". Mais: "A questão, hoje, não é de um filme em si, mas uma questão ética que transcende a individualidade de uma obra para alcançar a dimensão coletiva da inviolabilidade da obra artística na sua pureza original, porque, na verdade, o artista verte lágrimas de sangue ao ver sua obra inacabada."

Salvar Revoada, penso, é uma questão moral. E não há dúvida sobre isso. É superar um pesadelo, é limpar a estrada para um Cinema Baiano livre da consciência culpada. A História, nesse sentido, pede passagem.

E a passagem está sendo aberta com a intervenção de Pola Ribeiro, gestor administrativo, mas, e principalmente, também um criador de imagens em movimento.
MENSAGEM DE APOIO DE EDGARD NAVARRO
Recebi uma mensagem importante de apoio do cineasta Edgard Navarro
"Prezado André,
Atento às notícias sobre o filme REVOADA, de José Umberto, leio em seu blog que existe uma luz no fim do túnel para a salvação do filme, por intervenção de Pola Ribeiro, diretor do IRDEB. Venho dar o meu testemunho de que a solução está realmente a caminho, pois tenho acompanhado de perto o desenrolar dos fatos. O primeiro passo foi dado há cerca de 2 meses atrás, quando Pola recebeu o cineasta em seu gabinete, na presença de um assessor jurídico, para inteirar-se das possibilidades reais que o caso oferecia. Em solidariedade ao cineasta e amigo José Umberto (e juntamente com ele próprio), Luiz Paulino dos Santos e eu comparecemos à referida reunião, de onde saímos todos com a sensação de que finalmente uma solução será encontrada para pôr um feliz termo ao complicado episódio que tem emperrado a finalização de REVOADA. Depois daquele dia tenho me comunicado frequentemente com Pola e posso dizer que confio em que ele está realmente empenhado em resolver o problema, tendo se oferecido para mediar o diálogo entre os envolvidos e tentar, desta forma, a solução justa e pacífica que todos esperamos. Louvável sob todos os aspectos esta atitude do IRDEB, através de sua diretoria, demonstrando que, acima de quaisquer interesses individuais, prevalece a preocupação com a cinematografia baiana, que dentro em breve poderá contar com mais um filme de que se possa orgulhar. Aliás, não se poderia esperar outra atitude de uma pessoa que é e sempre foi apaixonada pelo cinema e que conhece o valor exato do que está em jogo. Esperamos para breve, portanto, o dia em que os negativos do filme REVOADA voltarão finalmente às mãos de seu autor pra que ele possa montá-lo como melhor lhe aprouver, segundo seu desejo e sensibilidade estética. Acreditamos mesmo que, juntamente com os negativos, estará sendo devolvida a confiança e algo da dignidade perdida por todos nós, que fomos impactados com a usurpação de um direito inalienável do criador. Reitero que o que está acontecendo se deve ao fato de que Pola também é um criador e sabe o quão precioso e intransferível é esse direito de que tratamos.
Saudações cinematográficas!
Edgard Navarro"

09 agosto 2009

O Pai Sandú

O publicitário Jonga Olivieri, bloguista (Novas Pensatas: http://novaspensatas.blogspot.com/), pintor e desenhista (http://pinturas-jonga.blogspot.com/ ) e, nas horas vagas, free-lancer como repórter fotográfico dos cinemas antigos do Rio de Janeiro, enviou-me, desta vez, para dar continuidade à serie sobre as antigas, e inesquecíveis, salas de projeção cariocas, uma montagem do Cinema Paissandú, que o mostra em seu auge e hoje, com as portas cerradas, acabado e fechado. O Pai Sandú, que resolvo chamá-lo assim porque um verdadeiro pai cinematográfico para toda uma geração de cinéfilos, constitui-se, nos anos 60, num point indispensável para todos aqueles que, cinéfilos, gostavam de assistir às últimas novidades do cinema mundial. Há um capítulo essencial sobre a Geração Paissandú em Um filme é para sempre, de Ruy Castro (Companhia das Letras), cuja leitura se faz obrigatória para todos os que gostam da arte do filme.
Após as exibições no Pai Sandú, as pessoas se reuniam em bares e pizzarias nas circunvizinhanças para discutir o último travelling de Godard. Ir ao cinema, naquela época, era uma festa (no melhor sentido). Uma festa para os sentidos, uma festa para o espírito, uma festa para a inteligência. Bebia-se muito chopp (e no Rio, o chopp é uma delícia dos deuses).