A Bahia sempre teve os seus burocratas da cultura, agora temos um “coronelete” de plantão, uma raça julgada extinta. Censor, porteiro kafkiano, entrincheirado sob os podres poderes, enodoando o nome do libertário Glauber Rocha. Vai chegar o dia em que o personagem, António das Mortes, descerá das telas para prestar contas com este dito cujo. Da nossa parte, sem entrar no mérito do valor, podemos afirmar: Cascalho não é um filme datado. O silencio imposto pela inexplicável e cruel proibição no espaço que resultou da briga do cinema baiano como um todo, não vai ofuscar o direito à vida desta fita, ficará apenas como sendo uma espécie de marca da maldade.
Missiva ao Fundo de Cultura
Sr. Ciro Nunes Sales,
Acabo de receber um comunicado participando a negativa do Fundo de Cultura, ao projeto Produção do DVD do Filme Longa Metragem Cascalho, de Tuna Espinheira. O que causa estranheza é a ausência de explicações do nível baixo de cada votante desta Comissão. Ora, formada por pessoas de alto nível de conhecimento dos assuntos ligados ao cinema, como seria de esperar, seus membros não teriam nenhuma dificuldade em apontar as razões para a não aprovação, sobretudo em caráter de “pré-seleção”, como está dito no comunicado. Temos convicção de que apresentamos um projeto honesto, bem fundamentado, bem justificado com vistas a festejada inovação de aceitamento intitulado “Natureza Espontânea”.
Um filme genuinamente baiano, longa metragem produzido com a agônica circunstancia do baixo orçamento, ser vetado ao legítimo direito de poder ser distribuído/difundido através da comercialização democrática dos DVDs, é algo cruel, fere a combalida cultura, como um todo, da cinematografia baiana.
Paira dúvidas sobre uma efetiva análise técnica do projeto em questão, ou as pessoas que o julgaram são PHD em outros saberes e não nas questões pertinentes ao cinema! Seria de bom alvitre, para dirimir este imbróglio, que a Comissão, através do relator, apresentasse os motivos que embasaram a recusa ao primo-canto da pré-seleção.
Atenciosamente,
Tuna Espinheira
Eis o seu desabafo recente:
Mais realistas que o Rei
"A missiva acima, dirigida ao Fundo de Cultura, foi elaborada no calor da hora, pelo sim e pelo não, não desdigo nada, não movo uma vírgula do lugar. Mas, hoje, um dia depois, resolvi clarear os porquês das minhas dúvidas levantadas (postas na referida missiva) quanto ao julgamento sumário, uma espécie de guerra sem quartel, do meu projeto. Para evitar suspense, também vou sentenciar ( à moda do Fundo...) sumariamente: Meu nome é que foi julgado, não o meu projeto.
O “causo” eu conto, como o “causo” foi. Algum tempo atrás, na labuta agônica do lançamento do meu filme, genuinamente baiano, CASCALHO, o gerente do Complexo UNIBANCO-GLAUBER ROCHA, fazendo ouvido de mercador às tentativas dos produtores para uma negociação para que o filme tivesse sua hora e sua vêz no sagrado espaço que leva o nome do cineasta maior do Brasil. A resposta obtida foi o veto silencioso, com cheiro de desprezo.
Como nunca fui um bom cabrito, (mesmo porque sou de Capricórnio), botei a boca no trombone, veiculando o meu berro no jornal A Tarde, na austera e democrática coluna Opinião. O artigo causou um certo frisson, provocando, ao mesmo tempo alguns mal entendidos, parte pela razão de que me neguei a citar o verdadeiro nome do personagem tristemente principal do meu texto, preferindo na data e hora que escrevi, chamá-lo de “coronelete”. Como o Cão atenta, quem quiser que duvide! Naquele período histórico a bola da vez, ou melhor o Judas da vez, era o Secretário da Cultura, Marcio Meireles. Estorava desintelingencias em vários segmentos da área cultural. Inúmeras pessoas, de níveis diferenciados, (talvez eu tenha pecado por um ato falho de comunicação do meu escrito), entenderam que o dito cujo, “coronelete”, só poderia ser o gestor da Secretária de Cultura.
Como quem avisa amigo é, não me faltou conselhos para tornar público que a bala que lancei certeiramente, não podia fazer às vezes de bala perdida, ou torna-se um legitimo “causo” digno da historieta: “Atirou no que viu e acertou no que não viu”. Para encolher estes dizeres vou xerocar e replicar (abaixo deste) as duas matérias que atraíra, pela lei da gravidade, meu nome para o rol dos morféticos. Trata-se simplesmente do meu já relatado artigo e de uma nota postada pelo mais ilustre cronista político, Samuel Celestino, em seu próprio blog, onde seus escritos costumam ser garimpados à luz de lupas pela classe política.
Este relato espantoso, que poderia ser cordelizado se assemelha aquela máxima do Governador Mangabeira: “Pense no maior o absurdo... Pois na bahia já aconteceu”. A bajulice congênita dos mais realistas do que o Rei, levou meu nome, já na categoria de morfético, Pela incúria, engano, e má fé) a julgamento, o projeto ficou de fora. A morte anunciada do projeto só não do meu conhecimento. “Triste Bahia”.
Em tempo: Para não dizer que não falei de flores, o nome do “coronelete” (gênese deste furdunço) é Claudio Marques, nenhum parentesco com o genial autor de O Capital, muito menos com os irmãos Marx"
Eis a nota que saiu no blog de Samuel Celestino:
Antonio das Mortes contra Márcio Meirelles
"O cineasta Tuna Espinheira, nome de referência nacional e um dos expoentes da intelectualidade baiana, com o artigo "Cascalho, o Filme em Cartaz", que publica hoje na terceira página de A Tarde, reserva um parágrafo devastador contra o secretário Márcio Meireles, da Cultura, corvo que pousou também sobre o filme que realiza. Diz: "A Bahia sempre teve os seus burocratas da cultura, agora temos um "coronelete" de plantão, uma raça julgada extinta. Censor, porteiro kafkiano, entrincheirado sobre os podres poderes, enodoando o nome do libertário Glauber Rocha. Vai chegar o dia em que o personagem Antônio das Mortes descerá das telas para prestar contas com este dito cujo." Bem, de minha parte que Antônio das Mortes seja breve, rápido e certeiro."