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A primeira vez que ouvi falar de Olney São Paulo foi quando, em 1965, assisti a O grito da terra, seu primeiro longa metragem, na tela do cinema Excelsior, situado na Praça da Sé em Salvador. Lá se vão 44 anos. Mas me ficou na memória a bela fotografia em preto e branco e a música e letra do tema principal, além do fato de se constituir num filme genuinamente baiano - e mais: feirense.
Os anos se passam. Ouvi falar da proibição de Manhã cinzenta, filme no qual Olney registra os acontecimentos do explosivo ano de 1968 através de imagens ficcionais e documentais inseridas numa fábula meio surrealista. Um casal de estudantes, militantes e combativos, é preso e torturado, tendo, como algozes, um cérebro eletrônico e um robô. A censura não gostou nada e, além de proibir o filme, o seu autor, Olney, acabou a ter o mesmo destino dos personagens de seu filme: cadeia e tortura.
Em 1972, na primeira Jornada Baiana, sem a dimensão internacional que depois iria adquirir, mas apenas restrita aos filmes e mostras da soterópolis, vim a conhecer pessoalmente a figura de Olney São Paulo no jardim do Instituto Goethe, palco do evento. Olney, sobre ser um cineasta profundamente enraizado com a sua cultura e seu povo, era uma pessoa de lhano trato cuja característica principal, e poucos como ele, podia se destacar na simpatia, na afeição que tinha pelos seus semelhantes, longe da arrogância, da petulância e da pretensão de muitos de seus colegas realizadores cinematográficos. Esta simpatia singular, marca registrada de sua esfuziante personalidade, fazia-o querido por todos que dele se aproximavam.
Em 1975, com um ano de coluna na Tribuna da Bahia, eis que O forte, segundo longa, é lançado no Tamoio distribuído pela Embrafilme. Adaptação de um romance homônimo de Adonias Filho, O forte, no entanto, por problemas de produção, não alcançou um resultado satisfatório. Há lacunas e buracos que podem ser atribuídos à uma crise na produção, mas, crítico neófito, ousei criticá-lo em minha coluna da Tribuna. Na semana seguinte, recebo, na portaria deste jornal, um envelope a conter uma carta do cineasta com quatro laudas na qual rebate os meus comentários. Como na minha coluna não havia espaço para publicá-la, solicitei ao editor-chefe na época que, excepcionalmente, alargasse a coluna para conter, ipsis literis, a carta de Olney São Paulo. E assim aconteceu.
Em 1972, na primeira Jornada Baiana, sem a dimensão internacional que depois iria adquirir, mas apenas restrita aos filmes e mostras da soterópolis, vim a conhecer pessoalmente a figura de Olney São Paulo no jardim do Instituto Goethe, palco do evento. Olney, sobre ser um cineasta profundamente enraizado com a sua cultura e seu povo, era uma pessoa de lhano trato cuja característica principal, e poucos como ele, podia se destacar na simpatia, na afeição que tinha pelos seus semelhantes, longe da arrogância, da petulância e da pretensão de muitos de seus colegas realizadores cinematográficos. Esta simpatia singular, marca registrada de sua esfuziante personalidade, fazia-o querido por todos que dele se aproximavam.
Em 1975, com um ano de coluna na Tribuna da Bahia, eis que O forte, segundo longa, é lançado no Tamoio distribuído pela Embrafilme. Adaptação de um romance homônimo de Adonias Filho, O forte, no entanto, por problemas de produção, não alcançou um resultado satisfatório. Há lacunas e buracos que podem ser atribuídos à uma crise na produção, mas, crítico neófito, ousei criticá-lo em minha coluna da Tribuna. Na semana seguinte, recebo, na portaria deste jornal, um envelope a conter uma carta do cineasta com quatro laudas na qual rebate os meus comentários. Como na minha coluna não havia espaço para publicá-la, solicitei ao editor-chefe na época que, excepcionalmente, alargasse a coluna para conter, ipsis literis, a carta de Olney São Paulo. E assim aconteceu.
Pensei que depois dessa Olney estivesse retado comigo, mas, dois anos depois, numa outra jornada, encontro o cineasta no mesmo jardim do Goethe, sorriso largo, e, vindo em minha direção, abraçou-me. É um exemplo de sua personalidade, de sua integridade como homem e como artista. A partir de então, sempre me mandava fotografias e cartões sobre os filmes que estava a fazer até que, de repente, veio a dolorosa notícia de sua morte, a Implacável que o levou ainda jovem e disposto a muitas idéias e muitos filmes.
O crítico neófito que era não sabia que a concretização de O forte se constituiu por uma espécie de milagre, tamanhos os obstáculos, que tornaram a sua rodagem um verdadeiro calvário, uma via-crucis. Mas também a obra cinematográfica é o que está na tela, o resultado de um processo de elaboração.
A homenagem que a Prefeitura de Feira de Santana está a fazer a Olney São Paulo, inclusive com a inauguração de uma rua com seu nome, é uma homenagem mais que justa. Apesar de nascido em Riachão de Jacuípe, Olney viveu muitos anos em Feira de Santana e se considerava um feirense. Se um dos maiores cineastas baianos, Olney Alberto São Paulo é, sem sombra de dúvida, o maior realizador cinematográfico feirense de todos os tempos.
O crítico neófito que era não sabia que a concretização de O forte se constituiu por uma espécie de milagre, tamanhos os obstáculos, que tornaram a sua rodagem um verdadeiro calvário, uma via-crucis. Mas também a obra cinematográfica é o que está na tela, o resultado de um processo de elaboração.
A homenagem que a Prefeitura de Feira de Santana está a fazer a Olney São Paulo, inclusive com a inauguração de uma rua com seu nome, é uma homenagem mais que justa. Apesar de nascido em Riachão de Jacuípe, Olney viveu muitos anos em Feira de Santana e se considerava um feirense. Se um dos maiores cineastas baianos, Olney Alberto São Paulo é, sem sombra de dúvida, o maior realizador cinematográfico feirense de todos os tempos.
P.S: Publico aqui, para mais informações sobre Olney São Paulo, um texto do jornalista e poeta Gilfrancisco, que achei na internet.Gilfrancisco, conheço-o há mais de trinta anos desde a época da agitação icbana.
"Perdi mais um amigo. Quantos me restam? Recuso-me a contá-los. Mais um amigo que se vai, mais uma vida que se esvai. Olney Alberto São Paulo (8 de agosto, 1936; Riachão de Jacuípe-BA/ 15 de fevereiro, 1978; Rio de Janeiro-RJ). Considerado um dos cineastas fundamentais para a sétima arte brasileira, Olney São Paulo completa 29 anos de morto mas, continua infelizmente esquecido do grande público, apesar da sua vasta obra, entre curtas e longa-metragem e da importância histórica que ela assume. Em dezembro de 1975, patrocinado pela Cinemateca, pela primeira vez, foi possível o público brasileiro assistir à “Mostra Olney São Paulo”, com exceção do filme “Manhã Cinzenta”, proibido em todo território nacional.
A primeira vez que ouvi falar de Olney São Paulo foi em 1970, na residência (Edifício Nossa Senhora de Lourdes, Areial de Cima ap. 306- 2 de Julho) dos feirenses Antonio Álvaro, professor de alemão e filósofo e Ary da Silva Moreira, acadêmico de direito da UFBA, meu colega de repartição pública. No velho “balança mais não cai” tive conhecimento do compacto “Grito da Terra”, trilha sonora interpretada por Fernando Lona (1937-1977), uma preciosidade que guardo até hoje.
Pessoalmente, só o conheci em 1972 durante a Jornada Nordestina de Curta Metragem (BA), organizada por Guido Araújo, exatamente no dia 13 de setembro, quando ele (Olney) me presenteou com um exemplar do livro “A antevéspera e o canto do sol”. A partir daí fizemos uma boa amizade que se intensificou durante as filmagens do longa-metragem O Forte e, desta forma, cheguei a ser seu assistente de produção no filme dirigido por Guido Araújo “Festa de São João no Interior da Bahia” (1978) e Ciganos do Nordeste, documentário dirigido por ele (1978).
Feira de Santana
Na Princesa do Sertão, Olney estuda no Santanópolis (Colégio, Ginásio, Escola Normal e Escola Técnica de Comércio) e começa a se interessar pela obra de Jorge Amado, escrevendo-lhe algumas cartas (1956 e 1957) solicitando informações sobre andamentos das filmagens de algumas de suas obras. Sua primeira incursão como cineasta acontece logo após ter adquirido uma câmara Bell & Howell, com o documentário “O Bandido Negro”, sobre Lucas da Feira (1804-1849), chefe de bando terrível, terror de sua região, que durante 20 anos tornou-se personagem da literatura popular. O projeto não foi concluído por falta de recursos. Ainda estudante Olney revela-se como ator, teatrólogo e editor.Em Feira de Santana, Olney dirige dois números da revista Sertão (1961-1963), órgão da Associação Cultural Filinto Bastos. Esse número 1, capa de Duval Queirós, “Um dia em feira de Santana”, com 54 páginas, data de 1 de setembro de 1961, traz colaboradores como: Edgar Suzarte, João Assis, Raimundo Almeida e outros.
O segundo e último número da revista saiu em novembro de 1963, tendo capa “Mandacarus”, desenho do pintor feirense Juracy Dória Falcão, 54 páginas e colaboravam intelectuais como: Edivaldo Boaventura, Eurico Alves, Olney São Paulo, Jorge Amado e outros. Em 1961 Nelson Pereira dos Santos estava para fazer “Vidas Secas” (realizado posteriormente) no interior da Bahia, mas as chuvas, em abundância, impediram que isso ocorresse. Então ele improvisou um outro roteiro e resultou no Mandacaru Vermelho, rodado em Juazeiro do Norte, Ceará. Nesse filme Olney foi seu assistente, desta forma a experiência serve como porta de entrada para a sétima arte. Em Salvador, o jovem cineasta estabelece vários contatos com gente da geração nova, tendo Glauber Rocha à frente. Olney começava a vislumbrar novos rumos para o cinema brasileiro e, em 1963, foi assistente de direção de Oscar Santana no filme O Caipora.
Grito da Terra
Baseado no livro de Ciro Carvalho Leite, o filme tratava de questões agrárias e da fome no nordeste. Camponeses na luta pela terra e que ao sentirem-se famintos saqueiam para sobreviver. A pré-estréia aconteceu em novembro de 1964 na cidade de Feira de Santana. Aclamado no I Festival Internacional de Filmes da Guanabara, onde Ney conhece o cineasta baiano Fernando Coni Campos e trocam várias idéias. O resultado da conversa foi o registro dos dias negros brasileiro, no curta-metragem “Manhã Cinzenta”, realizado nos anos de 1968/1969, a partir do conto homônimo do cineasta baiano, que abre o livro “A antevéspera e o canto do sol”. O Grito da Terra é uma crônica rural, um depoimento sobre a vida do sertanejo desamparado e explorado.
Lamento de Justino, composição de Orlando Sena e Lona e Terra Seca, ambas com orquestração de Remo Usai, funciona perfeitamente no filme, sem quebrar o ritmo da narrativa, obtendo efeitos surpreendentes, valorizando dramaticamente as situações.
Manhã Cinzenta
No inicio de 1967, Olney aporta na “cidade maravilhosa”, terra de São Sebastião, que tanto amou e em cuja comunidade se integrou. Trazia dos confins do sertão baiano sua mulher e três filhos Ivigri, Olney e Pilar e seu filme O Grito da Terra. O roteiro de Manhã Cinzenta foi escrito ainda em Feira de Santana, mas Olney aproveitou a crise estudantil de 1968. Segundo ele “Manhã Cinzenta” é um projeto de um filme em três histórias, do qual participariam, além deste, mais dois episódios que eu ia fazer: uma comédia e um cinema-verdade”. Esse curta trata de um casal de estudante, em um país imaginário, que ao ouvir noticias de transformação política, com outros colegas, começa a imaginar torturas físicas e mentais, que culminariam com uma morte por fuzilamento. O conto foi escrito em 1966.
Em agosto, Olney exibe o filme em sessão especial no MAM (Museu de Arte Moderna) para alguns amigos cineastas. Por prudência, antes de enviá-lo para a censura, temeroso de cortes, fez várias cópias e enviou para diversos cineclubes do país e festivais internacionais. O filme teve sua exibição proibida no Brasil, com o rótulo de subversivo.
Prisão
Depois de ter sua residência invadida pelos militares à procura de documentos e projetos cinematográficos comprometedores, Olney foi levado pela polícia federal, permanecendo por dez dias em local desconhecido. Retornou doente, com pneumonia, que evoluiria, mais tarde, para câncer no pulmão.
Preso, torturado e depois processado pela ditadura militar, quando uma cópia do filme Manhã Cinzenta , documentário de 1968, censurado em todo o território nacional, encontrado na residência de um dos participantes do primeiro seqüestro político no país, embora nada tivesse a ver com a ação terrorista.
Glauber Rocha, criador do cinema novo, dedicou-lhe três páginas de louvor no livro Revolução do Cinema Novo, 1981, coletânea de artigos escritos sobre tudo: amigos, inimigos, cinema e até sobre sua sanidade mental, onde o considera como mártir e herói do cinema brasileiro: “Olney é a Metáfora de uma Alegorya. Retirante dos sertões para o litoral – o cineasta foi perseguido, preso e torturado. A Embrafilme não o ajudou, transformando-o no símbolo do censurado e reprimido. Manhã Cinzenta é o grande filmexplosão de 1968 e supera incontestavelmente os delírios pequeno-burgueses dos histéricos udigrudistas. Montagem caleidocóspia desintegra signos da luta contra o Systena – panfleto bárbaro e sofisticado, revolucionário a ponto de provocar prisão, turtura e iniciativa mortal no corpo de Artysta. O Cinema Nordestino, Cinema Popular metaforizado em Olney e Miguel Torres, vítimas dos invasores – Heroys do Brazyl!”.
O Forte
Mesmo durante os anos de chumbo, depois de muitas lutas, apesar da saúde fragilizada, Olney conseguiu filmar novamente, em 1972, quando assina contrato com a extinta Embrafilme (Empresa Brasileira de filme) e realiza O Forte, longa-metragem baseado no romance do escritor baiano Adonias Filho. Estive no set de filmagem por várias vezes, levado pelo amigo Guido Araújo, cuja filha Milena Araújo, na época com 3 ou 4 anos, era uma das personagens do filme, juntamente com Monsueto Campos de Meneses (1924-1973), compositor carnavalhesco, destacou-se com os sucessos: Me deixa em paz; A fonte secou; Mora na filosofia (gravado por Caetano Veloso).
No recinto fantasmagórico dos seus muros desenrola-se o que um crítico chama “o lado claro-escuro da vida”, uma mistura caleidoscópica do cotidiano, ou seja, os encontros clandestinos dos namorados Jairo e Tibiti, e do épico, a saber, as rápidas evocações de episódios marcantes, alguns sangrentos da história da Bahia (e portanto do Brasil) em que o Forte desempenhou algum papel: a chegada dos portugueses, a invasão holandesa, um levante de escravos.
No fim, o Forte – vestígio remanescente de um passado atribulado, injusto e muitas vezes glorioso – é demolido, ao mesmo tempo em que Jairo e Tibiti esperam o nascimento do seu primeiro filho, que jamais o verá. O Forte é um filme de tendência mais lírico que trágico: o que o Forte representa está espiritualmente vivo na mentes e nos atos dos homens. Segundo seu realizador, o filme “é uma história de amor que se passa na Bahia”.MorteApós as filmagens de Festa de São João no interior da Bahia, Olney de passagem por Salvador, almoçou comigo e Guido Guerra no Restaurante do Sesc, no Pelourinho. Conversamos mais uma vez sobre o projeto do longa-metragem, a Revolta dos Alfaiates, e combinamos que eu daria continuidade nas pesquisas para rever o material após seu retorno de Natal. Acho que ele estava envolvido numa filmagem sobre as fortificações no nordeste brasileiro.
Ultimamente Olney vinha trabalhando intensamente nesse projeto,longa-metragem histórico com ação passada no período do Brasil colônia, na Bahia, quando foi organizado um movimento popular, caracterizado como a primeira tentativa de libertação brasileira do jugo de Portugal. Semanas depois do nosso encontro, soube do seu internamento e que os médicos haviam diagnosticado câncer generalizado.
Visitei Olney São Paulo no Hospital da Beneficência Portuguesa, do Rio, juntamente com Guido Araújo, Luiz Orlando, Celinha e Vera Moss, quatro ou cinco dias anterior à sua morte; a conversa foi muito breve, Maria Augusta, sua mulher havia nos recomendado. Entreguei o número 3 do jornal alternativo “Universo”, dirigido por Damário Dacruz, que tinha um artigo seu, bem como texto/pesquisa que eu havia feito sobre a Conjuração dos Alfaiates, seu próximo projeto para a realização de um longa-metragem. O amigo estava muito debilitado pela doença, parecia uma criança, tinha um sorriso celestial e um olhar distraído. Estava no soro e respirava artificialmente, falava pausado com dificuldade. Disse-me “Gil Brega, vou ficar bom para fazermos muitos filmes; um pulmão já está bom o outro falta pouco para me recuperar”. Na verdade ele já havia perdido um pulmão e parte do outro, a doença devora-o rapidamente. Mas em momento algum demonstrou que estava no fim.
Falei algo que não recordo, em seguida saímos do quarto e fizemos alguns comentários no corredor.
Deixei aquela casa de saúde com a certeza de que não mais o veria. Com destino a Caxias do Sul (RS), onde participaria da XII Jornada Nacional de Cineclubes, dois dias após o início dos trabalhos, o presidente da mesa, Marco Aurélio, noticiava o seu falecimento, em 15 de fevereiro de 1978, após três paradas cardíacas, aos 41 anos. Em, seguida, o diretor da Cinemateca do MAM, Cosme Alves Neto, anunciava uma retrospectiva da sua filmografia. Ao retornarmos a Salvador, Guido Araújo providenciou junto ao Cosme a exibição da mostra em homenagem a Olney São Paulo no Clube de Cinema da Bahia.Olney publicou: A antevéspera e o Canto do Sol – prefácio de Alex Viana (1969);12 Contistas da Bahia, (1969); Moderno Conto Baiano (1974); Dezoito Contistas Baianos (1978). E teve recentemente publicado (1999) o livro Olney São Paulo e a peleja do cinema brasileiro, de Ângela José.Olney, deixou esposa e três filhos Irving (1966-2007), Ilya e Pilar."