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quinta-feira, setembro 24, 2015

Alguns D's inundados de constatações

Descobrir tem haver com estar disposto a desvendar a mais profunda das obviedades: Quem você é. 

Declarar quantas fugas. Quantas pessoas esconderijo onde eu me guardei para não saber de mim. Existem vários acessos meus que não conheço e é preciso um preparo longo para chegar em alguns deles. Desvendar os meus enigmas, andar em círculos, passear tranquilamente nos meus cantos. Conhecer a resposta e a pergunta, na ordem que vier. Que o interesse sobre o que me compõe me mova a achar em mim o quanto feliz eu sou/estou nos meus processos. Que eu me permita esvaziar caixas, acolher guardados que escondi, como quando você encontra uma foto perdida de alguém que você não consegue ver sem chorar ou sentir mal perdida numa gaveta de trecos.

Desistir de culpados, ou de caracterizar as coisas em boas e ruins. Acolher o passado como o necessário, levando em conta que o contexto conduz as coisas. Não falo sobre imparcialidade, acho vazio, refiro-me a aquilo que foi possível ser feito da vida com o que a vida deu como ferramentas para construir, não pode ser classificado como bom ou como ruim só como possível.

Deixar de me presentear com coisas que não deixam de existir facilmente. A culpa não é justa, por favor não me presentei com ela. Eu me apego facilmente. E carrego algumas culpas de estimação e elas nunca morrem.

Devanear sobre o que constrói os elos, o que desata os nós, e a minha necessidade de me atar a pessoas. Essa fixação por fundos, pela última partícula das vivências que podem ser desmembradas, como dissecar um rato, gosto de analisar as vivências esquartejando-as, conhecendo as suas infinitas possibilidades, acolhendo-as como catar os cacos de cerâmica de um vaso querido demais que não se quis quebrar e não se consegue jogar fora. Eu não excluo vivências e isso me amontoa. Entende como é viver amontado?

Decidir que esse jeito de ser gente, não é bom, nem ruim, nem certo, nem errado é só o jeito que eu achei de seguir em frente, de acolher os meus processos, analisar as opções e escolher ser alguém em eterna construção. um infinito de possibilidades. Aceitar que vivo de profundezas e buscas ilimitadas. Não quero o resulto absoluto, quero o processo. É no processo o meu foco, meu orgasmo mental acontece lá. Isso existe?




terça-feira, outubro 02, 2012

Uma nova viagem.

Eu já tentei fazer isso algumas vezes, voltar a escrever aqui e expor. Eu andei pensando para dentro e criei um medo meio bobo de colocar para fora, tenho percebido os meus sinais, respeitado os meus sinais e de alguma forma filtrado o que é só meu e que pode ser dividido. Claro que eu nunca quis e/ou soube fazer isso, eu apenas TIVE que aprender a fazer, umas espécie de auto-proteção e um silêncio desconhecido meu me tomou. Eu estive calada durante meses e hoje desde que abri os olhos fiquei com essa compulsão de mais uma vez me dar e ignorar o que hão de fazer de mim. Vamos lá, mesmo que eu ainda nem esteja pronta.

Eu entrei num trem, não sei porque, acho que me vi naquelas cenas de filme, numa daquelas estações bem cheias de gente, muitas pessoas se empurrando e indo de lá pra cá. Eu acho que eu estive sentada nessa estação durante muito tempo puxando papo com as pessoas que sentavam ao meu lado meu Forrest Gump, porque eu não sabia qual o horário e o destino do trem que deveria pegar, ou usava isso como desculpa. E do nada algum impulso me fez levantar olhar ao redor e chorar como se fosse uma despedida. E eu fechei ciclos, vi além de espelhos, fiz escolhas impossíveis, aceitei os empurrões e quando dei por mim estava num trem, que eu não vi para onde ia, nem que horas chegaria, mas finalmente eu estava no trem e o frio na barriga da descoberta de ir em frente e deixar uma cidade possível para trás me deu fôlego novo. 
Nunca fui ligada ao destino e sim as descobertas do caminho, não saber para onde o meu trem vai não me assusta, sair da zona de conforto não me assusta, momentaneamente estar tão longe de gente tão querida não me assusta. Porque eu estou num trem que me levará a aventuras novas, a viagens novas e tantas outras descobertas. Sempre que se cresce, se ganha ou se perde é uma escolha e eu instintivamente fiz algumas nos últimos tempos. 
Sei bem o quanto era confortável permanecer sentada no banco da estação acompanhando as histórias das pessoas e conversando sem tempo de pensar sobre o porque de estar ali, sei o quanto revelei-me aos outros fazendo isso e principalmente sei o quanto conheci de mim sentada naquela estação e tudo foi válido. Doeu, diversas vezes decepcionou, criou algumas cascas, porém me deu uma ótima bagagem para embarcar. Deve ser uma viagem de aventura porque eu tenho sentido isso no meu íntimo. Deve ser mais uma daquelas coisas que mudam o trajeto da vida sem que a gente se dê conta, vai exigir muito de mim, como sempre, mas vai me levar além de alguma forma. E não há essa coisa boba de se estar pronta ou não o trem tem seu próprio tempo e não sou eu que digo a hora certa de seguir, é mais energético do que se imagina é um estar disposto, disponível, é ser atraído por essa força que muda o mundo. os mundos. Não há estrategia nem rota de viagem, nem lugares que eu não posso deixar de conhecer, é tudo muito solto, vago. Não, é tudo muito preso, muito bem marcado. Mentira, é como água de rio, é livre para decidir e ousar no caminho e segura para saber que nada vai mudar o rumo necessário que se deve seguir. E no fim da viagem, do curso do rio sei lá, nem o rio, nem trem, nem eu seria mais a mesma. Que bom. 

quinta-feira, agosto 02, 2012

Depois de uma viagem para dentro

Fui à Índia, saí de madrugada e depois de um voo de menos de 45 minutos eu estava lá. Eu conheci mais sobre a Índia em Salvador num fim de semana do que tudo que eu já li que o Google me direcionou. E foi pura entrega, foi incrível. Eu dava, recebia e me sentia inteira e sem lacunas novamente. Li, ouvi, vi, comi e bebi chá boa parte do tempo. Calma e vivendo tudo num mundo muito sutil. Fui a Salvador encontrar-me, eu já era aquela que foi lá, só que lá eu gostava de ser. 
Sei mais um bando de coisas sobre mim, esqueci o medo e vivenciei coisas incríveis. Não senti falta, saudades, angústia, vazio. Nada disso. Senti uma volta ao útero e uma outra oportunidade de estar no cuidado de gente de confiança. Tudo passou a se encaixar e fazer um sentido enorme e eu me calei e ouvi coisas valiosas. Quis chorar de alegria, mas é que anda difícil chorar até por tristeza. E tudo bem também. Tudo certo. Porque eu ouvi muito que tudo estava no lugar certo, se comportando do jeito certo porque os processos tem os seus momentos. E eu baixinho agradeci a vida por ter chegado tão longe. Pensei em mim, nas minhas coisas, nos meus dias sem ansiedade, sem angústia, porque lá estava tudo bem. Tudo certo. E eu precisava muito de uns dias como aqueles. 
Precisava muito daquela viagem, até mesmo dos pensamentos que rodopiavam a minha cabeça na volta foram necessários. E só por causa dessa experiência talvez eu esteja lidando com as coisas dessa forma tão positiva. Porque eu tinha esquecido o otimismo. Porque eu estava desacreditando muito e pensando só na tal semente que é pura vida e simboliza tudo. E lá de repente vendo aquelas pessoas, ouvindo aquelas histórias eu me dei conta que elas eram também produto da semente e aquilo me encheu de otimismo e fé. Caramba, fé depois de tanto tempo. 
Fui ali em Salvador conhecer uma casa que tinha passagem direta para Índia e gostei muito do que vi e vivi lá. Fui também tratar de dores antigas e angústia. Fui lembrar da minha pequenez e admirar a grandeza da semente. Era puro aqui e agora. Era incrível.

quinta-feira, março 29, 2012

Porque eu tive...

Não podia mais, não suportava o peso. Era muita gente amontoada nos meus cantos, era muita história boa e ruim, era muito pathos. Tinha hora que eu era uma multidão, eu era meus irmãos, meus amigos, meus amores, meu marido, e acabava não sendo eu. Porque eu tenho essa mania de ser por inteiro, e quando eu me coloco no lugar de alguém eu levo a sério e simplesmente deixo de ser. Porém aprendi no teatro que entre um papel e outro o ator merece um intervalo, eu merecia e fiz.

Pode ser que eu tenho sido abrupta, até posso ter deixado um monte de gente sem explicação, mas é que eu estava sentindo sem controle. Movida por uma necessidade louca e ininterrupta de ser eu. Eu mesma, sem máscaras e pessoas. Sem nada imutável, sem verdade e relações absolutas. E quando eu cheguei lá, quando finalmente me desliguei de todo mundo, era uma noite de um dia da semana que eu não lembro, mas era noite disso eu tenho certeza, peguei uma toalha e fui ao banheiro tomar um banho, desliguei a luz, sentei no chão de chuveiro ligado, água quentinha e fiquei lá em silêncio. Nunca mais tinha estado tão sozinha, tão inteira. Eu estava recomeçando dali. Só existia o de hoje em diante e era quase mágico. Algumas fichas caíram e eu voltava a ser minha, mesmo que dividida em cacos mas era minha. E tudo o que eu fiz se justificava e fazia um sentido lúcido.

As relações necessárias voltam, as impostas também, mas hoje não, só quando eu estiver pronta pra voltar aos palcos. Ainda estou carinhando meu ego, colando pedaços, me curtindo. Um dia quem sabe, eu restabeleça algumas das relações que desfiz esses dias, porém para isso eu preciso ser outra e os relacionados também. Porque eu não mais permitirei invasões e/ou pesos nos meus cantos. E também preciso possuir novamente a vontade (necessidade) honesta destas pessoas, porque eu não tenho. A distância me fez perceber que eu me impunha pessoas (mãe, pai e...) e eu não posso mais, estou vivenciando um momento libertador. Caminhando lagarta. Eu sou bicho, especificamente daquele tipo que se despede dos pais para encontrar seu caminho. Aí está a minha despedida de libertação e (honestamente) sem olhar pra trás nenhuma vez.

sábado, março 10, 2012

O óculos. A tarde. Os companheiros.

Não olhei nos seus olhos no dia em que nos vimos da primeira vez, nem me detive no seu nariz tão evidente, no teu olhar sério ou na tua cara de CDF. Não, eu estava numa escola nova me sentindo o patinho feio, e quando eu não estou insegura acabo me escondendo na minha carranca, na minha audácia e na porra louquice. A gente não se olhou e foi amor a primeira vista não, ainda bem. Seu olhar para mim não dizia nada. Mas passaram se os anos e eu dividi meus textos com você, alguns segredos e finalmente a gente era amigo de se reconhecer um no olhar do outro. Mas não a gente não estava apaixonado, ainda bem. Você me ensinava física, química e matemática e eu não te ensinava nada. Lia como louca o que não era matéria da aula, discutia no corredor a conjuntura da educação no país, no estado, na nossa escola e atrapalhava a tua aula que por acaso era a minha também, porém eu cabulava quase sempre as aulas de exatas. Você me acompanhava ouvindo minhas ideias, compartilhando pensamentos e quando percebi você fazia parte do grêmio, do movimento político da escola e estávamos em sintonia, finalmente além de amigos tínhamos alguma coisa em comum para fazer, mas não a gente não estava apaixonado, ainda bem.
Tenho a sorte de saber o dia exato que você se apaixonou por mim, em um final de tarde na reunião que havíamos marcado para formar um grupo para passar o legado do que havíamos conquistado todos juntos no grêmio, já não estudávamos na mesma sala e nos conhecíamos há mais de dois anos, eu entrei usando óculos pela primeira vez na frente dos amigos, um óculos de grau de armação grossa e com formato engraçado, a minha cara. Sentei no birô e peguei meus apontamentos ia falar pra os novatos e incentiva-los a levar o projeto do grêmio adiante e um tempo depois você me contou que olhou para mim ali sentada, falando e balançou a cabeça como se estivesse zonzo sem acreditar que me via diferente. Seriam os óculos?? Acho que não, realmente ali eu já era outra mesmo, bem diferente da menina que você havia conhecido lá atrás, tantos namoros, tantas leituras, festas, amigos e lutas me transformaram, e sim meu querido amigo você naquele dia se apaixonou por mim a primeira vista, ainda bem. E eu? Bem, para variar eu estava noutra. E fiquei nesse outro por um tempo ainda, porque eu precisava e você sabia disso. Uns meses depois, você me contou tenso, ansioso que a amizade era diferente, que você havia se apaixonado e eu? Estava pronta para vê-lo diferente e passei a ver. Assim fácil. Acho que a gente foi construindo esse novo olhar. sabe há quanto tempo isso aconteceu? quase sete anos. Onde estamos hoje? no nosso apertamento um no quarto estudando e o outro no PC escrevendo. Casados, apaixonados, cúmplices, grandes amigos ainda, ainda bem.
Tanta água passou por esse rio. Foi tanta água e a gente já teve que dar boas braçadas juntos para não se separar, para virar adulto e não perder o freio. E aqui estamos juntos, muitos anos depois daquela tarde e dos meus óculos que nem existem mais. Não importa quanto tempo já passou, mas quanto ainda há de vir e é claro que a gente continue existindo e que ainda sejamos grandes companheiros.

domingo, fevereiro 26, 2012

Das coisas que eu não entendo.

Creio que tudo possui várias perspectivas, tudo. E por isso me dou ao luxo de pensar em tudo um milhão de vezes ou até não conseguir extrair mais nada da tal vivência em questão. É óbvio que tem coisas que eu já dediquei horas e que ainda não entendi, e talvez nunca entenderei e não me importa isso, o que importa mesmo é ter pensando, dedicado horas da minha vida a questionar, entender e construir o que é opinião minha e não consenso coletivo.
Vendo tv, acabei numa entrevista de João Carlos Martins, pianista e hoje regente, que desde sempre só olhar pra ele em qualquer lugar enche meus olhos de lágrimas, gera um choro engasgado uma dor na espinha, porque só quem já viveu pelo menos um dia na vida com a mão atrofiada consegue ter a dimensão do que é aquilo, principalmente para um pianista por exemplo. Sei que não sou como escritora nem de muito longe o pianista que ele foi, porém, talvez eu já tenha chorado as mesmas lágrimas. Lágrimas de quem conversa com as mãos e tem que reaprender a falar com o resto do corpo, a dor de não poder mais ser a única coisa que você tinha certeza que era, não mais poder fazer o que te move, e o pior de tudo porque visívelmente e existem provas médicas que você não pode mais. Não há um não querer, é um não poder.
É quando a vida te nega uma esmola, você precisa daquilo pra viver, pelo menos é assim pra você - é o seu alimento, a sua essência vital - mas a vida diz olhando nos teus olhos sem piedade, perdoe. Vivi algumas vezes esse momento, um cara de branco olhando nos meus olhos dizendo você tem que parar, não era definitivo (ainda), porém não deixava de ser cruel por não ser.
E sobre não poder escrever, levantar um copo para beber água, tomar banho e trocar de roupa eu já pensei horas a fio, já chorei um mar de lágrimas e já consegui contaminar algumas coisas aqui dentro com um pesar, talvez, irreparável. Você não sai de uma lesão, de um imobilização, você não engole um não como esse fácil. Você tem que enlutar, pensar e sofrer horrores questionar a vida e acabar pensando na morte, como coisa boa, como coisa ruim. Ruminar a sentença do não poder, eu transcritora braille há tanto tempo, que conheço tantas pessoas sentenciadas, que nunca poderam ver nada na vida, ou nunca mais poderam ver nada para o resto da vida. Eu, que poderia ser tão mais calejada, mais forte, choro o meu não poder e as minhas dores como se não tivesse experiência nenhuma, porque realmente não tenho. Depois de muito pensar entendi que existe a minha dor, e principalmente a minha perspectiva da dor, e quem me enxerga possui uma visão diferente sobre a minha dor. E essa dor de perder algo individual não pode ser encarrada como uma vivência coletiva. Os meus amigos, meu marido e o resto da família tem visões diferentes da minha dor e a minha dor causa neles dores que eu desconheço. Mas aquele tal João Carlos Martins ainda me comove, e eu tenho que entender porque me comove tanto assim.
Amo arte e pessoas, amo a humanidade que existe nas duas. Uma das minhas certezas na vida. Amo as palavras e suas eternizações profundamente, amo as palavras que dançam na minha cabeça 24 horas por dia. Eu sou palavra, me apresento as pessoas através delas, me exponho através delas, me componho através delas e sinceramente, não vivo sem elas. E gosto do poder de ser regente das minhas palavras, de possuí-las nas pontas dos meus dedos, as palavras estão aqui nas minhas mãos, o problema são as minhas mãos, que não são de boa qualidade eu diria, tentando amenizar o tom do papo, são as dores cotidianas que as palavras me causam e o que escrever já interfiriu na minha vida para ruim. Mesmo que o que escrever me deu de bom na vida sobresaia eu não posso deixar de perceber o óbvio que me é demostrado todos os dias, quase em doses homeopáticas (as vezes não) que as palavras vão ter que encontrar um novo jeito de sair de dentro de mim, porque por algum motivo caprichoso as mãos um dia não mais poderão regê-las, assim como um dia João Carlos Martins deixou de fazer música atráves das suas mãos nos pianos, eu reles eu que como já disse não sou de escritora nem de muito longe o pianista que ele foi, um dia - espero que ainda distante - quando não mais poderei escrever palavras num papel, num computador ou nas paredes da minha casa e tudo for passodo não tão distante, deverei me lembrar que o que me mantém confiante é que elas nunca poderão sair da minha cabeça e isso me conforta mesmo que meu corpo inteiro esteja atrofiado eu ainda serei palavra em essência, porque no mais profundo de mim é só isso que existe.

terça-feira, fevereiro 21, 2012

QUERO FAZER COCÔ NA CASA DO PEDRINHO!

Seria bom poder cometer meus erros, dar meus chiliques e testar minhas novas atitudes na vida de alguém, no corpo de alguém, se existisse na vida a possibilidade de fazer merda na casa do Pedrinho. Ando cansada de testar a minha capacidade de lidar com dores emocionais no meu próprio corpo. Exausta. Ando de um jeito que um apertãozinho qualquer e eu me desfaço em lágrimas de dores emocionais, físicas, que eu não sei lidar sem remédios e pessoas por perto.
Não acredito que deus só da a cruz que a gente pode carregar, a merda que a gente pode por para fora e lá vai. Não acredito em deus e sua incrível misericórdia. Queria acreditar que existe essa tal casa do Pedrinho onde cocô não fede e é tudo limpinho, onde há a tal mãe do pedrinho que é solicita e gentil como deveriam ser todas as mães e abre a porta sorridente pra gente cagar lá, porque cagar na casa (vida) da gente anda difícil. Quero encontrar esse lugar onde despejar merda, vivências ruins e cheias de dores que eu carrego aqui dentro, seja aceitável. Quero sair da casa do Pedrinho feliz, sentindo o cheirinho bom de casa limpa fora do banheiro por mim tão desejado, quero me sentir acolhida e ando tão afetada emocionalmente que a casa do Pedrinho pra mim já é de bom tamanho.
Colocar pra fora os meus medos guardados, as minhas dores, essas responsabilidades que carrego que não são minhas, os meus lutos, o que eu não entendo, o que eu não aceito mesmo entendendo. Eu tenho um mundo pra descarregar na casa do Pedrinho, resta saber onde é esse lugar e se a mãe dele vai abrir a porta pra mim.

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Lendo e devorando a Leila Diniz depois de uma crise

Fechei os olhos e as mãos de cansaço, depois de conversa longa. Abri os olhos segundos depois, apontei o indicador da mão esquerda como sempre fiz, repetindo 'é assim aqui que eu sou, é assim que eu sinto', mas não esperava que não conseguiria mais abrir a mão direita naquele fim de tarde, naquela noite, no hospital, depois da injeção, da tipoia, depois de um fim de semana inteiro eu simplesmente não conseguia abrir a mão direita. Chorei gritando, tremendo, babando, gemendo encolhida até acordar o vizinho, até esquecer porque estava chorando. Dor de alma. Tenho sempre vontade de responder isso pra médica quando ela pergunta: hoje você tem dor de quê? Não digo, vai ela me interna.
Fui num outro médico porque a minha querida e compreensiva médica estava viajando, e ganhei 8 dias de gesso, morfina, analgésico, relaxante muscular e o de sempre. Médica querida de volta e o diagnóstico de mais uma crise 3 comprimidos tarja preta por dia, 1 protetor de estômago e continuar o uso do analgésico já que o estômago não anda aceitando anti-inflamatório, então são 5 remédios por dia por enquanto. Só pude mexer mesmo a mão novamente na segunda uma semana depois daquela piscada de olho e do movimento quase involuntário de fechar a mão.
Não soube o que dizer para mim para confortar, não consegui aceitar bem o início da crise ando sonolenta (crise de fibromialgia dá fadiga né?)e cheia de lágrimas espontâneas. Estou com aquele sentimento novamente de não pertencimento, rodeada de amigos e só com os meus pensamentos. Pirei no dia que tirei o gesso, andei pela cidade, almocei comida que eu adoro, comprei o livro que eu estava louca de vontade de ler e pensei pensei pensei pensei até me perder de mim.
Leila Diniz é sobre quem eu estou lendo, foi onde eu me encontrei e onde eu pretendo me perder. Sempre admirei mulheres fortes e sinceras, mas essa me faz chorar só de pensar em tanta alma. E está sendo tão confortante chorar pela alma da Leila e não pela minha dor na alma porque por causa da minha dor eu já chorei demais, pela minha dor não adianta chorar. Deixa que 5 remédios diários tomam conta, acalentam, me calam.
Tendo a Leila eu me tenho. Sei que não é claro isso, porém, essas coisas de identificação não se explicam. Posso abrir a mão agora mesmo que ainda trema e doa onde não dá nem pra explicar onde sente, vi na tv uma senhora com o braço direito também com hematoma, porque ela foi tirada da casa dela em Pinheirinho pelo braço, de uma hora pra outra, ela perdeu a casa, a vida que viveu lá, o amanhã, assim como eu quando fechei e não abri a mão. O hematoma vai se desfazer, a minha mão já abriu, mas e a casa, a vida e o amanhã dela, quem devolve?
Eu não sei se suporto dor de mundo e dor alma juntas, não sei o quão sou forte, ou má, ou boa só sei que agora doí sentir tudo ao mesmo tempo, doí continuar escrevendo porque os dedos ainda estão fracos, doí querer escrever um artigo acadêmico sobre ativismo individual agora que larguei a universidade, doí ler tanto e com tanto prazer e saber que a universidade me tomou isso por um tempo. O que mais que eu deixei passar porque eu não pude ser ativa? Não sei quem eu sou enquanto definição, só sei que isso vai me levar além, foi o Leminski que disse e não é mentira.

domingo, agosto 14, 2011

Quase boa. Quase inteira. Quase sã.


Não lembro o dia que não senti dor, depois daquela primeira dor há 9 anos atrás. Não lembro de me sentir inteira por mais de um dia na vida e só aceitei a ideia de ser sã, quando entendi, que isso significava estar distante da máxima do ser normal, porém também não me sinto sã por muito tempo.
Pode-se dizer que sou um quase. Quase um erro para os meus pais, quase uma dor desconhecida para os meus médicos, quase um amor para os meus amigos-irmãos e quase uma mulher para o Dito (marido).
Não entendo nada no mundo. As vezes, sinto que exitem tantas pessoas, tantas certezas, tantas razões que desconheço, que eu não faço parte e por isso decido desbravar antes de fazer planos no desconhecido. Vivo de dias de descoberta e cansaço. Medos e alegrias constantes. E percebo que não dou conta, das pessoas, das certezas e de tantas razões. Que o lógico mesmo seria sentar numa cadeira de vime do lado do portão da casa que foi do meu avô e só observar o tempo passar, as pessoas e as nuvens passarem, e aceitar que eu só conhecerei as pessoas, as certezas e as razões que atravessarem meu caminho e que não é inteligente almejar nada além disso.
A dor para mim é um costume. As vezes me percebo tão imersa nas coisas da vida e atenta aos meus afazeres, que acabo nem sentindo a sua latência, acho estranho sento por dois minutos, diminuo meus movimentos, chamo a minha atenção, calo o meu corpo e lá está a dor caladinha como a minha gata quando chego em casa e a pego dormindo na minha cama, caladinha esperando que eu volte a minha atenção para ela para voltar a existir. E juntas continuarmos na nossa estrada da coexistência.
Tenho um sentimento engraçado cá dentro do peito, complicado de confessar, atrelado a uma certa vergonha de existir. Mas é preciso, é preciso me despir deste tecido puído que me recobre, é preciso tecer um novo manto. Não sou ainda o que gostaria de ser nessa vida, entenda-me, também não pergunte o que eu quero nessa vida, porque eu não sei. Só tenho a certeza de que há algo em mim que quer ser outra coisa, e não precisa ser maior ou menor que o que sou atualmente só de me tornar algo que acalme meu espírito já basta. São anseios de todos os tipos, profissionais, pessoais, femininos e artísticos. Então não há satisfação completa com tantas coisas em suspenso.
Não pretendo ser previsível, normal, aceitável. Assim como acredito que não sou exemplo para ninguém. Minha mente é o meu inferno e o meu céu. É onde eu existo plenamente e sem máscaras, é em mim o lugar mais inseguro para se estar e onde eu passo a maior parte do meu tempo.
Não sou um conceito. Não sou um definição. Sou um quase. Sou um talvez. Um alguém que acha que é maior do que realmente é, um ser sem paz, uma criatura que não sabe nenhuma das respostas das muitas perguntas que faz. Uma louca vivendo como se ninguém notasse que no fundo ela não pertence e não fica bem em lugar nenhum. Está mais para um filme feito para televisão que nunca passará no cinema, um texto de verso de página de um escritor iniciante que nunca será inserido num livro, um esboço de um dos primeiros desenhos de um cartunista perfeccionista que nunca o terminará.

*imagem arquivo pessoal.

sexta-feira, julho 15, 2011

Sentindo sem controle

Tenho alma de menina sapeca, acredito e espero mesmo que a minha alma não envelheça. Mas o meu rosto, meu corpo vem dando sinais. Não de uma velhice próxima, mas sim de sua construção. Ninguém fica velho da noite para o dia, as pessoas envelhecem cotidianamente.
Não tenho medo de envelhecer, nem tenho vaidade o suficiente para me importar com isso. Só não quero ficar cansada da vida, cheia de achismos e arrotando vivências, não quero usar a frase 'sei bem como é', odeio quando usam comigo, sei que por mais que você se esforce, cada pessoa vive de um jeito, internaliza como sabe e entende como quer, então ninguém sabe como é que as coisas acontecem comigo ou o quanto significam para mim.
Ando fraca novamente, sinto que estou entrando numa crise, que sabe-se lá quanto vai durar, depois da última confesso que não tenho mais medo, só espero que eu aprenda o mais rápido possível o que ela quer me ensinar e que passe.
Tenho vivido dias bons, encontrando amigos queridos sempre, o que ainda mantem o vínculo com o mundo exterior. Gostaria de conseguir tecer comentários sobre o que eu tenho pensado ultimamente, mas não sou capaz, estou sentindo sem controle, sem me poupar. Sempre foi assim... Doando, doando tudo sempre.

Lembrando sempre que 'se eu tivesse mais alma para dar eu daria, isso para mim é viver'.

domingo, junho 19, 2011

Eu apenas queria que você soubesse*

Que eu vivi problemas demais, mesmo que eu ainda ache que não tenham sido o suficiente. Que eu já magoei e fui magoada um monte de vezes e que eu já ri de desespero, igual a um monte de gente que não admite. Já chorei de medo milhões de vezes e poucas pessoas já me viram chorar por causa disso. Por trás dessa coragem que arrotei todos esses anos tem a menininha que fui, que morria de medo da mãe esquecê-la por aí, a garota boba e insegura café-com-leite da maioria das brincadeiras por causa do tamanho, por causa da insegurança e da crueldade das crianças que brincavam comigo. Eu fui/sou o patinho feio da minha história, a que não se encaixa por vários motivos e que de alguma forma, inconscientemente sabe o porque, e que já não se importa mais, confesso que até gosto de ser esse tal pato, não me obrigo a ficar na fila das migalhas cotidianas, não quero mesmo uma vida de cinema. Gosto do sol forte que incomoda, do vento que sempre deixa os meus cachos bagunçados, dos meus erros, das minhas crises, das minhas artes, dos problemas que cultivo, isso mesmo CULTIVO, e da vida real que se apresenta na falta de grana, na não realização de planos, na preguiça, no trabalho, no noticiário da TV.
Gosto dos meus amigos espalhados, diferentes, misturados. De ser irmã-escolhida de um monte de gente, depois da rejeição do meu pai, isso acaba sendo uma misericórdia de família, das minhas cicatrizes que pontuam vivências, das minhas tatuagens cheias de palavras e de sentimentos que não cabem em mim. Apenas queria que você soubesse que a vida as vezes se intercala com fases muito difíceis, algumas dessas fases as vezes me desmontam, porém eu (sra. Batatão que sou) quando me restabeleço, junto as minhas peças e me remonto ainda melhor e garanto que saio melhor do entrei, pode ser que com mais uma ou outra cicatriz para rememorar, contudo não há nada que eu gosto mais do que essa eterna reinvenção.


*Gonzaguinha.

quarta-feira, junho 15, 2011

Será mesmo?

Será que eu sou doida como dizem ou será exagero? Então? Sou mesmo aquela que pune, com as palavras mais duras os amigos mais queridos? Será que eu realmente não penso nenhum segundo antes de falar? Será que eu não tenho paz, nenhum conforto e que realmente me faltam todas as certezas? Não sei. Não saberás. Não sabemos.
Eu sou sim. Tá uma palavra que me define bem. Você me ama? SIM! Você gosta? SIM! Você quer? SIM! Você nunca mais vai me esquecer? SIM. Mas como se eu também sou não. Você não me ama mais é isso? NÃO. Você me entende? NÃO. Você aceita meus motivos? NÃO. Você tem medo? NÃO SEMPRE. Você sabe onde quer chegar? NÃO. Você espera algo? NÃO, EU DESESPERO SEMPRE... e eu nem sei o que sou. E isso pouco me importa. Não sei quem são os outros, não os entendo plenamente, não me entendo, não me entendem e assim estamos quites. Não quero passar a vida tentando achar respostas, quero questionamentos 'ad infinitum' dá pra ser?
Sabendo eu que nunca vou achar o x, o lugar certo para se estar, o jeito certo de chegar nesse maldito lugar, a companhia perfeita para essa viagem, proponho a mim mesma não sair do lugar. Meus pés ficados no chão. E o meu amor pela palavra rodopiando a sala, invadindo os meus pensamentos e dominando-me. Quero a viagem dentro de mim. O devaneio lúcido. Um bom livro, um bom disco e alguns goles de amor. Uns instantes de sexo a todo vapor e a vida rodopiando a sala, se misturando com a palavra, com os meus pensamentos, com o meu universo que não cabe em mim.
Eu não me basto. Ninguém preenche e não há nada errado nisso. O que eu quero saber é o que os fazem quando não se questionam o tempo todo? Quando não testam a vida, argumentam, enlouquecem? O que é o não estar louco? O que é o não querer? Perguntas, perguntas, perguntas sem resposta.
Será mesmo que eu sou a única? Vai ver sou.
Palavras, palavras, palavras só as palavras que não consigo externar me entorpecem e o que não me falta é devaneio cotidiano, nem sempre lúcido. Delícia.

terça-feira, janeiro 18, 2011

Inteira.

"Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar."*


Estou procurando-me por aí. Estou com os olhos arregalados, atentos. Percebo essa nuvem misteriosa no ar de contentamento e de dúvida. Engraçado, ando tão inteira ultimamente, e só me sinto assim por poder observar os pedaços ao meu redor. Cada um por vez, ao meu bel prazer, no momentos com longas pausas. Uma observação mais ampla. Sou bastante confusa, daquele tipo pessoa difícil que as vezes não diz coisa com coisa, sei que de honesta passo pra cruel em segundos, sei que os meus sentimentos se misturam e o meu jeito de lidar é o mais desajeitado possível. Não entenda mal, esse é o meu jeito de sentir a minha molequice.
Na acupuntura, uma vez por semana, escuto que as minhas emoções são por demais embaralhadas. E eu concordo. Tenho vivido alguns dias horríveis, dias que já acordo mau, levanto negando o próximo passo e super dolorida e não tem RPG, Acupuntura, Tarja preta, analgésico, conto do Caio, papo de amigo antigo que resolva, acordo assim "pra dentro" mesmo. Sem querer dividir muito, procuro o meu próprio eixo o dia inteiro, enquanto me esquivo dos muitos convites para compartilhar, não obrigada. Apenas observo, os carros passando, as pessoas conversando, a vida seguindo sem a minha intervenção, está lá e não depende em nada de mim. É livre. Livre e linda, exercendo o direito de simplesmente ser.
Não importa para os carros, as pessoas, as vidas que eu não tenha acordado em um dos meus melhores dias. E isso é tão claro, ainda mais claro que cruel. Eu sou livre para acordar como quiser e isso não altera em nada o rumo dos dias alheios. Então porque insistem em salvar-me da introspecção? Do sentir por dentro?
As vezes choro, grito e resmungo em dias assim mas é só parte do processo. Eu preciso, pelo menos tenho encarado dessa forma, preciso sentir a dor do pulso que não passa, o incomodo das costas que não relaxam, a sonolência do tarja preta, a agitação dá insônia na hora errada. Preciso desses pequenos obstáculos que só afetam a mim, e só a mim dizem respeito, para me ver aos pedaços, e por mais estranho que pareça, o quão completa e inteira posso ser (no momento).
Não, ainda não estou desesperada.

*Clarice Lispector

sexta-feira, novembro 05, 2010

Tenho um milhão de coisas pra conquistar e eu não posso ficar aqui parada.

Tenho vontade de aprender tanta coisa que ainda não sei e não tenho a mínima ideia se consigo mesmo aprender essas coisas. E daí? Eu tenho um mundo inteiro baby, depois de você e de suas crises melodramáticas, tenho o mundo inteiro. Tenho tantas pessoas e coisas a conhecer, tantos sabores a provar.
Um mundo que se remonta todos os dias diante dos meus olhos, do lado de fora do meu apartamento minúsculo entulhado de livros e histórias loucas do passado, sonhos pro futuro e um amor de muitas vidas, o meu companheiro amigo-urso. Eu hoje conheço o prazer de dividir-confundir a minha vida com tantas coisas e pessoas, entendo que não possuo ninguém e compreender isso é revelador para um bando de coisa que eu ainda pretendo na vida. E eu pretendo tanta coisa... Não faz ideia.
Infelizmente eu ainda não perdi essa mania besta de escrever sobre isso, sobre esse nós rasgado e sujo, que hoje é tão alheio a você como a cotação do dólar é a mim. Eu te aceito, ou melhor, não te esqueço, não te deixo ir embora porque mesmo sem ter ido definitivamente já me faz a maior falta. E você? Onde está no meio disso que vivemos e vivo? Você simplesmente não está. Se é que já esteve além do corpo presente, uma noite e outra e algumas meias verdades. Mania que eu vou tirar de mim um dia. Porque eu já disse pretendo viver umas outras coisas que estão por aí só aguardando esse espaço que você ocupa e não cuida, não trata e que se depender de você morre. Mas esse você em mim independe de você e é só por isso que existe.
Quero andar de bicicleta por aí sem me preocupar, quero tecer novos planos, organizar as ideias, continuo querendo gritar de dor-de-mundo, ler, ouvir, crer e há tão pouco tempo para fazer tudo isso. Mas eu quero, de algo jeito meio louco, eu vou fazer algumas ou todas essas coisas, no meu tempo, do meu jeito porque você não existe mais, porque você já está de dias contados a muito tempo, você vai de vez. Vai sim.
Até a saudade vai junto. Mesmo que da boca para fora.

terça-feira, agosto 31, 2010

No casulo.

Estou aprendendo, através das consequências das minhas decisões, coisas que a vida nunca me daria de graça, sem a obrigação do ganhar aqui-perder ali mais adiante. Tranquei a universidade, ou melhor, - fui verdadeira comigo mesma e parei de passar a noite sentada no banco em baixo da árvore em frente a didática II - porque eu já nem conseguia mais acompanhar as aulas. E essa decisão me levou a muitas conversas acaloradas, julgamentos de pessoas muito queridas, broncas e ameaças. Na verdade a ninguém que eu conto que tranquei a informação passa sem um comentário pesado e cheio de máximas ridículas sobre seguir com a maré.
Engraçado isso vir de pessoas que me conhecem tanto e que sabem que eu não sei fazer isso. Não sou capaz de simplesmente seguir a fila. Mesmo que eu um dia eu me arrependa, que eu esteja perdendo a "oportunidade de me formar com a galera" - que galera mesmo? Se eu não consigo me ver fazendo parte daquilo! - essa decisão foi a mais acertada dos últimos tempos. Consegui restabelecer uma conexão comigo mesma que a tempos estava perdida, isso de me sentir in, não out, tem me feito TÃO bem.
Ficar sozinha em casa a noite lendo um livro, dormindo, comendo, lavando roupa, sonhando, planejando, ruminando passados distantes tem sido tão agradável quanto. Na verdade nem se compara.
Já ouvi tantas coisas sobre isso, tipo: "A mulher moderna FLávia estuda, faz graduação, pra ter grana pra pagar alguém pra tomar conta da casa e dos guris". Já ouvi gente que eu respeito muito enfiar o pé na jaca falando com um preconceito burro de quem nem para pra pensar no que acredita de vez em quando. Essa decisão que já foi tomada só diz respeito a mim, ao que eu preciso no momento.
Cada dia que passa onde eu aprendo a ficar mais tempo calada, apenas ouvindo meus pensamentos, meus desejos mais íntimos, meus sonhos reprimidos, o meu ideal de vida eu aprendo mais sobre mim, sobre o meu lugar no mundo e principalmente de qual grupo de pessoas eu não faço parte.
Esse tipo de amadurecimento não vem com a idade não. É necessidade para alguns.
Pra um bando de gente eu sei que é.

terça-feira, março 02, 2010

Percebi.

Eu sou feliz. Dei-me conta disso às quatro da tarde de um dia chuvoso, por ter amado a todos com tudo que podia, por ter ido até onde nem os meus olhos alcançavam, por ter dado até aqueles restinhos de amor que ficam nos cantos. Hoje sei que dei o que era necessário. Nem mais, nem menos, nem.

Amei cada um como se fizesse uma oração por todos juntos. Em cada pôr-do-sol de tirar o fôlego. Em cada amanhecer na praia. Todas as vezes que inesperadamente quase pisei numa flor que surgiu no meio do caminho como uma espécie de presente, agradeci os instantes divididos e inesquecíveis.

Desde pequena, sempre que eu me sinto muito feliz, sempre que sinto aquele cheiro mágico de momento único no ar, faço uma panorâmica. Tento reter tudo que pode me fazer lembrar dali a muitos e muitos anos aquele instante que não viverei mais. Eu nunca consegui aceitar sem queixas que um dia eu esquecerei tudo. Como minha avó que no fim da vida não era capaz de pronunciar palavra alguma nem lembrava de ter feito isso um dia ou a importância que isso tinha.

Como poderia esquecer todas as conversas reveladoras que tive, todos os amigos-irmãos de alma, todos os amores inesquecíveis. Como?

Como poderia ter vivido essa vida sem ter amado a todos que amei, sem ter vivido tudo que ela tinha para me oferecer. Dos presentes que essa vida me proporcionou o que foi mais delicioso viver foi o amor. Todos os tipos. Aqueles que surgiram da admiração mútua. Aqueles que transbordaram da amizade. Aqueles que só tinham explicação na carne. Aqueles que só existiram nos sonhos. Os que surgiram sutilmente. Os avassaladores. Aqueles que sem os quais a vida não faria sentido. Aqueles que depois de tudo deram sentido a minha vida. Eu fui o amor. Eu sou.

Principalmente o amor que dedico à palavra. E toda a emoção que ela me dedicou por toda a vida. A minha maior devoção. A única.

Amei. Amigos. Idéias. Livros. Telas. Filmes. Fotografias. Movimento. Dança. Música e músicos. Autores. Completos Desconhecidos. Noites. Dias. Tardes. Segundos. Amei quase sem querer tudo que passou pelos meus olhos, tudo que por mim foi pronunciado. Tudo que faz com que o amor ainda exista em mim.

Peço à força que movimenta o mundo e proporciona tudo, que eu não perca as minhas lembranças quando a velhice me encontrar. Que as lembranças que as pessoas que convivi possui de mim não sejam descartadas quando desaparecer, elas são a minha própria vida. Que as palavras não me abandonem nunca. Que os amigos-irmãos-de-alma sejam eternos. Que a alma para sempre transborde de amor, para que cada dia eu ame mais e mais mesmo que isso me deixe um pouco zonza, confusa, e com os olhos cheios d’água. Mesmo que...

quarta-feira, janeiro 27, 2010

Prefiro não rotular

Eu tinha o que alguns chamam de amizade perfeita. Eu prefiro chamar de completude. Graças a uma força maior que desconheço, tenho algumas amizades perfeitas parecidas com essa que perdi, porém, nenhuma dessas me faz sentir menos a falta que ela me faz. Quais os motivos para o fim? A sociedade. Estranho né? Mas nesse caso foi. Essa mania besta que as pessoas tem de generalizar para achar o nome certo para as coisas, levou meu amigo embora. Quero deixar bem claro que eu nunca - principalmente agora depois que ele se foi - eu nunca tentei achar um nome para o que a gente tinha. Porque qualquer palavra já existente não caberia para o que tinhamos, nem se eu inventasse uma nova palavra para conceituar, ela ainda não diria tudo que essa amizade me disse com: troca de olhares, cumplicidade, amor (porque não dizer?), sinceridade e aquela magia que liga pessoas por aí - todos os dias que ela existiu. Eu tinha um amigo (um ex-namorado muito próximo e meio estranho como preferiram rotular) mas ele foi embora. Mudou-se da minha vida, da vida que a gente dividia quando estavamos juntos, para um outro lugar provavelmente sem o mesmo brilho que eu não sei onde é. Eu tinha um amigo cheio de defeitos; cheio de manias que me enlouqueciam, de cobranças sem lógica e ciúmes de irmão que me fez perder a cabeça e discutir feio várias vezes, mas nunca em nenhuma de nossas conversas acalorodas me fez esquecer o carinho sem pedidos, daquele abraço de urso, do ouvido que adorava minhas abobrinhas - e o mais incrível, que entendia todas elas - que só ele tinha. Das conversas da madrugada, dos passeios não programados de qualquer hora, das risadas e daquela cumplicidade que nem se comenta. Sim ele tinha defeitos que me enlouqueciam e me faziam gostar mais ainda deste "não-saber-porque-tanto-gostar-de-alguém-tão-irritante" que me deixava maravilhada em todos os dias. Mas esse meu amigo não quer mais dividir coisas comigo. Porque em algum momento que eu não sei bem precisar, eu ou ele, até os dois, ficamos meio assustados com a pressão do mundo com suas nomeclaturas e talvez tenhamos desistido. De quê? De defender o direito de amar e ainda sim não ter necessidade sexual alguma pelo outro. Como em o conto Os sobreviventes de Caio Fernando Abreu, nós tentamos algo mais a algum tempo atrás e não era bem isso que a gente precisava pra ficar junto. Faço-me clara? Nós só queriamos viver, compartilhando momentos algumas vezes, nos divertindo como amigas mulheres "não lésbicas" fazem. Ter o direito de não ouvir piadinhas, indiretas e até broncas mesmo de quem nem tem noção como amizade perfeita pode ser. Mas infelizmente nessa vida, essa minha alma-irmã tão querida e eu desistimos por puro cansaço de lutar contra essa tortura cultural desumana de rotular tudo e todos sempre. E olha que eu não fujo de briga.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Puta medo do mar

Eu tenho um puta medo do mar daquela imensidão toda... As vezes tenho um puta medo de mim quando me vejo assim tão imensa. Tenho um puta medo de tudo que eu me reservo, tudo que há dentro da minha imensidão que eu não posso controlar... e eu quase não controlo nada.

Cabe em mim um maracanã para cada amigo querido distante, alguns muros de Berlin que coleciono com medo de ver o que há do outro lado, uma árvore de natal imensa de más recordações da infância e um daqueles edifícios gigantescos de Dubai de recordações de coisas boas que já vivi nessa vida. Eu só não sei onde exatamente cada coisa fica, não sei como organizar tudo, manter limpo e calmo esse lugar que eu nem sei direito onde fica dentro de mim.

E com tantas coisas para pensar, eu ainda tenho que me preocupar por que eu não consigo me livrar dessa saudade de você, não consigo explicar pra mim que não vale a pena que é melhor mesmo "deixar ir" que você não sente o mesmo nem pretende entender o que acontece com a gente. Sabe eu sinto uma puta falta da sua companhia, das conversas e dos passeios mesmo que alguns amigos digam pra mim que eu posso ter companhias melhores, mesmo assim, eu acredito no que acontece quando a gente divide momentos.

Eu tive que aprender tanto de você para conviver, e no momento, -bem nesse lugar onde estou para você- percebo que não aprendi o suficiente, entendo que não há nada mais para ensinar a você sobre como manter pessoas queridas por perto porque definitivamente você não é capaz de aprender.

Eu queria tecer novos momentos, eu queria compreender cada dia mais porque essa amizade é tão importante para mim, porque eu faço tanta questão de preservar você...

Eu queria entender porque eu gosto tanto do mar e ao mesmo tempo tenho tanto medo de não saber lidar com ele, de não entender onde ele quer me levar e de não conseguir pisar no chão.
Porque as coisas não podem ser menores, as imensidões transformadas em caixinhas de fósforo só por alguns dias, porque talvez assim eu consiga percorrer todos os caminhos que existem em mim e que infelizmente no momento é impossível chegar.

terça-feira, setembro 15, 2009

saí de cartaz.

É o que acontece no fim da temporada. Não foi isso que tivemos, uma temporada?
Se o texto fosse bom, se os atores tivessem química e a produção fosse competente, até dava pra estender um pouco mais. Mas não foi o que aconteceu, não é mesmo? Puro improviso, sem texto, personagens despreparados sem nenhum ensaio, sem produção ou verbas.
A vida é mesmo assim. E o segundo encontro das nossas vidas não seria diferente. Estavamos por nossa conta. Tinhamos tanto... (pelo menos pra mim - o suficiente), tantos sentimentos a serem trabalhados. Eu acabar te conhecendo mais, você ia entender meus devaneios e a gente ia acabar conhecendo uma outra eu, um outro você.
E onde fomos parar? Você não investiu em nós. Isso mesmo, você não acreditou que essa amizade era possível. E para fugir me tirou de cartaz, cancelou a temporada. E eu ainda estou me equilibrando depois do golpe. Estou tentando achar um meio, focalizar um bom sentimento, algum bom momento nosso. Estou tentando guardar o que há de bom em você, do mesmo jeito que fiz na primeira vez, na verdade, na mesma caixa. E essa será a última vez que entulharei a sua caixa em mim, essa foi a última vez que eu quis que você estivesse perto e dividisse coisas comigo.
"E é pra não ter recaída que não me deixo esquecer
Que é uma pena, mas você não vale a pena".

terça-feira, julho 21, 2009

"Tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros."*

Queria que pelo menos alguém um dia, levasse em conta o que vivi, o que tenho vivido, o quanto já cai e o quanto levantei em consideração antes de julgar-me. Sei que o que vivi não me livra das minhas falhas, nem quero que isso aconteça, só estou pedindo pra chegar devagar que eu ando frágil, pra não gritar que estou pensando e ando lenta por fora, em alta velocidade por dentro.
Que eu ando precisando da compreensão dos sábios...

*Caio Fernando Abreu