terça-feira, dezembro 04, 2012

Vivendo e aprendendo a jogar again.

Eita. Quando dei por mim nem eu estava lá. As vezes, quando a gente se dá sem reservas acaba se confundindo com o outro, e se outro não fica bem inteiro, eu sinto que acabo me enrolando nos seus longos fios de questões e fica mais difícil sair do desconforto. Claro que sempre há a opção de uma boa navalha e algumas rupturas, mas eu tenho sempre que sair (tentar sair) na sutileza, e nessa sempre tropeço. Pluft! Caí mais uma vez, quantas vezes mais eu verei o céu deitada no chão do lado de alguém que virou estranho?
 Não posso, na verdade, não devo manter essa atitude perigosa de não manter reservas para as pessoas. É que eu cresci recebendo tudo, coisas ruins, coisas boas, tive que lidar com tudo e aprender a diferenciar a importância dos acontecimentos como gente adulta faz. Minha família me criou todo mundo junto sem hierarquia, ninguém era maior que ninguém ou mais importante, por isso não faço distinção de ordens ou pessoas. Não tenho obrigação de agradar ninguém, nem me dou ao trabalho de fazer de tudo pra agradar ninguém, mas eu notei que quando me esforço pra ser minimamente agradável erro feio na mão. Dessas coisas que a gente não nasce sabendo e nem é ensinado por ninguém.
Mas para dar não deveriam haver medidas né? Pois é, pra mim nunca houve. Só que agora tenho que me refazer, catar cacos no chão, enxugar a testa, dar um nó na saia e sair caminhando novamente, pronta de novo para mais uma vez tentar dosar o que as pessoas precisam de mim e o que é meu e de ninguém mais.

Vivendo e aprendendo a jogar again.

terça-feira, outubro 02, 2012

Uma nova viagem.

Eu já tentei fazer isso algumas vezes, voltar a escrever aqui e expor. Eu andei pensando para dentro e criei um medo meio bobo de colocar para fora, tenho percebido os meus sinais, respeitado os meus sinais e de alguma forma filtrado o que é só meu e que pode ser dividido. Claro que eu nunca quis e/ou soube fazer isso, eu apenas TIVE que aprender a fazer, umas espécie de auto-proteção e um silêncio desconhecido meu me tomou. Eu estive calada durante meses e hoje desde que abri os olhos fiquei com essa compulsão de mais uma vez me dar e ignorar o que hão de fazer de mim. Vamos lá, mesmo que eu ainda nem esteja pronta.

Eu entrei num trem, não sei porque, acho que me vi naquelas cenas de filme, numa daquelas estações bem cheias de gente, muitas pessoas se empurrando e indo de lá pra cá. Eu acho que eu estive sentada nessa estação durante muito tempo puxando papo com as pessoas que sentavam ao meu lado meu Forrest Gump, porque eu não sabia qual o horário e o destino do trem que deveria pegar, ou usava isso como desculpa. E do nada algum impulso me fez levantar olhar ao redor e chorar como se fosse uma despedida. E eu fechei ciclos, vi além de espelhos, fiz escolhas impossíveis, aceitei os empurrões e quando dei por mim estava num trem, que eu não vi para onde ia, nem que horas chegaria, mas finalmente eu estava no trem e o frio na barriga da descoberta de ir em frente e deixar uma cidade possível para trás me deu fôlego novo. 
Nunca fui ligada ao destino e sim as descobertas do caminho, não saber para onde o meu trem vai não me assusta, sair da zona de conforto não me assusta, momentaneamente estar tão longe de gente tão querida não me assusta. Porque eu estou num trem que me levará a aventuras novas, a viagens novas e tantas outras descobertas. Sempre que se cresce, se ganha ou se perde é uma escolha e eu instintivamente fiz algumas nos últimos tempos. 
Sei bem o quanto era confortável permanecer sentada no banco da estação acompanhando as histórias das pessoas e conversando sem tempo de pensar sobre o porque de estar ali, sei o quanto revelei-me aos outros fazendo isso e principalmente sei o quanto conheci de mim sentada naquela estação e tudo foi válido. Doeu, diversas vezes decepcionou, criou algumas cascas, porém me deu uma ótima bagagem para embarcar. Deve ser uma viagem de aventura porque eu tenho sentido isso no meu íntimo. Deve ser mais uma daquelas coisas que mudam o trajeto da vida sem que a gente se dê conta, vai exigir muito de mim, como sempre, mas vai me levar além de alguma forma. E não há essa coisa boba de se estar pronta ou não o trem tem seu próprio tempo e não sou eu que digo a hora certa de seguir, é mais energético do que se imagina é um estar disposto, disponível, é ser atraído por essa força que muda o mundo. os mundos. Não há estrategia nem rota de viagem, nem lugares que eu não posso deixar de conhecer, é tudo muito solto, vago. Não, é tudo muito preso, muito bem marcado. Mentira, é como água de rio, é livre para decidir e ousar no caminho e segura para saber que nada vai mudar o rumo necessário que se deve seguir. E no fim da viagem, do curso do rio sei lá, nem o rio, nem trem, nem eu seria mais a mesma. Que bom. 

segunda-feira, agosto 06, 2012

Pra mim é tudo ou nunca mais...

"Talvez eu seja camicaze
Que meu amor te abrase
O coração"*


Talvez eu seja muito louca mesmo como dizem, me entregando as pessoas e coisas no ato. É que sinceramente, não sei agir de outra forma, confesso nem quero. Só funciona para mim viver a minha verdade, mesmo que isso mostre a minha cara limpa, meus defeitos evidentes, medos, erros, acertos, dúvidas porque eu só posso me mostrar por inteiro. E só se ama alguém por inteiro.  
Eu nunca guardei nenhum grande segredo de vida. É talvez eu não tenha nenhum segredo, comigo não funciona omissão, meias verdades e reservas já disse isso tantas vezes. Não quero entrar na dúvida se isso é bom ou ruim, certo ou errado e coisas assim. Tem sido como me comporto, meu jeito de fazer as coisas e nunca me fez muito mal agir assim. 
Eu me mostro porque é assim que as pessoas conhecem as outras, não me importo com o que concluem sobre mim, porque nem dá para se preocupar com isso, continuo sendo apesar de. Fato, tenho opinião sobre coisas e pessoas, e quem não admite que tem é hipócrita. Questiono o tempo todo o que me rodeia e nunca aceitei estar num lugar que não me cabe ao lado de pessoas que não me identifico. É questão de escolha, mesmo sendo difícil escolher eu cumpro o meu papel. Mas quando eu me entrego aceite, quando estou me dando estou me construindo humana e evoluindo, quando ofereço é honesto, quando doou é do coração, mesmo que pareça grande demais, acredite cabe no bolso e tem o tamanho de um patuá diante da grandeza desse mundo.
Escolhi não perdoar pessoas pelo menos por enquanto, não me resignar, amar para o resto da vida, afastar, não matar animais, não comer enlatados, ser seletiva com a minha alimentação, com as minhas leituras, militar pelas causas que me cabem, não fazer parte de partidos políticos, questionar sempre tudo que pedir uma revisão e assim tenho feito e é assim que eu vivo o meu aqui-agora, sempre criando a consciência de onde estou, com quem e que atividade exerço.  
Gosto muito de mim, tenho entendido cada dia mais minhas nuances e me apaixonado. Porque eu já tive motivos para sair dos meus próprios trilhos um milhão de vezes e ainda sim me mantive locomotiva, continuo com os mesmos cachos soltos, a mesma cara lavada, a mesma força para enfrentar a vida, menina-mulher-criança-adulta que eu senti que necessitava ser. Rapá isso valeu essa vida gostosa, as vezes ardida, as vezes doce e sempre em construção como uma tela que nunca termina, uma peça de argila que ainda recebe uns detalhes, como um ser em eterna construção. Por que não?


quinta-feira, agosto 02, 2012

Depois de uma viagem para dentro

Fui à Índia, saí de madrugada e depois de um voo de menos de 45 minutos eu estava lá. Eu conheci mais sobre a Índia em Salvador num fim de semana do que tudo que eu já li que o Google me direcionou. E foi pura entrega, foi incrível. Eu dava, recebia e me sentia inteira e sem lacunas novamente. Li, ouvi, vi, comi e bebi chá boa parte do tempo. Calma e vivendo tudo num mundo muito sutil. Fui a Salvador encontrar-me, eu já era aquela que foi lá, só que lá eu gostava de ser. 
Sei mais um bando de coisas sobre mim, esqueci o medo e vivenciei coisas incríveis. Não senti falta, saudades, angústia, vazio. Nada disso. Senti uma volta ao útero e uma outra oportunidade de estar no cuidado de gente de confiança. Tudo passou a se encaixar e fazer um sentido enorme e eu me calei e ouvi coisas valiosas. Quis chorar de alegria, mas é que anda difícil chorar até por tristeza. E tudo bem também. Tudo certo. Porque eu ouvi muito que tudo estava no lugar certo, se comportando do jeito certo porque os processos tem os seus momentos. E eu baixinho agradeci a vida por ter chegado tão longe. Pensei em mim, nas minhas coisas, nos meus dias sem ansiedade, sem angústia, porque lá estava tudo bem. Tudo certo. E eu precisava muito de uns dias como aqueles. 
Precisava muito daquela viagem, até mesmo dos pensamentos que rodopiavam a minha cabeça na volta foram necessários. E só por causa dessa experiência talvez eu esteja lidando com as coisas dessa forma tão positiva. Porque eu tinha esquecido o otimismo. Porque eu estava desacreditando muito e pensando só na tal semente que é pura vida e simboliza tudo. E lá de repente vendo aquelas pessoas, ouvindo aquelas histórias eu me dei conta que elas eram também produto da semente e aquilo me encheu de otimismo e fé. Caramba, fé depois de tanto tempo. 
Fui ali em Salvador conhecer uma casa que tinha passagem direta para Índia e gostei muito do que vi e vivi lá. Fui também tratar de dores antigas e angústia. Fui lembrar da minha pequenez e admirar a grandeza da semente. Era puro aqui e agora. Era incrível.

terça-feira, julho 03, 2012

Considerações feitas depois de uma leitura quase doída.

E eu estou lendo sobre pessoas que se assemelham as minhas vivências, das quais eu sou herdeira de características de personalidade, que são boas e más. E nessa leitura eu já me perdi diversas vezes pensando sobre mim, sobre tantos nós e pessoas, fazendo anotações de canto de página que mais tem haver com o que me causa a leitura do que sobre a leitura em si. E é sobre ela que eu quero fazer considerações pessoais.
Ninguém é uma parte de um todo que só se forma quando se juntam, o amor não pode ser isso. Também não se pode apropriar-se das buscas alheias, toda mulher e homem interessante só são assim por causa dos suas próprias buscas. Nenhuma relação pode se basear no deslumbramento, pelo corpo, pelas ideias, pelas buscas, pelo temperamento, ou seja pela vida do outro, sabe, ninguém merece um fardo tão pesado. As decisões pessoais não podem ser coletivas, não devem gerar uma onda de atitudes iguais e vazias. E outra, devemos desistir dos rótulos ou então (e eu sigo desse jeito), usá-los com muito humor, transformando amigos em irmão, amores em amigos, amigos em companheiros até que essa coisa poderosa e cheia de amarras antigas perca a força e a importância que a gente ainda dá a coisas tão mesquinhas. Ouse, ouse tudo, o que vier do seu mais íntimo e aceite com coragem e honra as consequências disso sem se colocar como vítima de si mesmo, porque é pobre não viver por motivos como esse e é ainda mais ridículo não assumir tudo que a ousadia gera. Sinto que o outro, que convive comigo em todas as possibilidades de rótulos devolve-me a consciência do meu aqui-agora, lembrando-me da responsabilidade dos meus atos e isso não me paralisa, apenas me adverte que os meus atos aqui-agora interferem no outro de igual maneira e faz parte da minha humanidade respeitar isso e responsabilizar-me. Não, a opinião dos outros não se agrega a essa ideia, ela sempre é maledicente, e para mim é só uma ideia alheia e cabe a mim levá-la a sério ou não,    e é de muito imaturidade se deixar levar pela imobilização alheia. São opiniões e opiniões nem sempre podem ser caracterizadas como verdades, relativo as pessoas quase nunca o são. Seja forte, proteja-se do que pode negar os teus impulsos mais íntimos, porque só eles valem a vida. Relacione-se, sinceramente penso que essa é a forma mais natural de crescer, aprender e conhecer a si mesmo. Mantenha-se aberto a tudo e todos, mas por segurança faça um seleção do que merece ficar em você, de quem vale a pena frequentar e lembre-se é sempre bastante honesto e corajoso tomar as rédeas da sua vida antes de oferece-la para alguém. 'Então vá, faça o que tu queres há de ser tudo da lei' (não é referência ao texto que tenho lido, mas para mim faz um sentido enorme) Sim é isso aí siga os seus impulsos, defenda suas verdades e isso por si só legitimará o que você se tornou ou pretende tornar-se não é essa nossa busca individual? Então vá!

terça-feira, junho 26, 2012

Sobre não comer e não acolher. (ou acolhendo a mim de jeito novo)

E se eu confessar para você que eu não sei mais nada, se eu admitir que tudo tem me cansado e que de novo eu ando focando nas coisas erradas, que eu ando dando aquela atenção exagerada ao que nunca precisa da minha atenção, você jura que só me ouve e deixa as coisas como estão? Porque eu estou bem. Tem paz nisso tudo e muito acolhimento, sou eu e meus processos. Tive vontade de comprar duas passagens para Minas e não comprei, sabe aquela coisa do contexto né? Estou lendo um livro que tem me deixado a flor da pele, mentira, eu ando assim desde da coisa de focar no Zen Budismo. Não importa mesmo o que me deixou assim. Mas sabe, o livro é delicioso, é sobre aquela mulher que me encantou e me lembra a Leila, a Pagú e diversas vezes me pega sem esperar nas mesmas dúvidas. É azedo e doce do jeito exato do tipo de leitura que me detém. Não consigo fazer yoga e meditar, não consigo responder emails, fazer ligações, pensar novos planos é que ando focada no meu umbigo. Isso aí no meu umbigo. Sinto uma dor nova ultimamente, nada do que se preocupar faz parte do meu jeito torto de desenrolar as coisas. E então Minas? É fica difícil. Um monte de coisas são difíceis comigo nesse exato momento. Tenho lembrado do saguão do aeroporto de Sampa e das 12 horas que passei lá sentada e das resoluções que fiz e no que falhei. É o meu melhor exemplo de solidão sabia? Saguão de Aeroporto é a imagem perfeita de solidão urbana. Ando sem fome, ou melhor sem vontade de comida, comer com prazer, preparar, desejar comida, acho que é porque estou tentando experimentar o diferente e nada me acolhe mais do que comer, e quando eu não consigo comer é sinal de não acolhimento eu acho. E eu confesso que tenho gostado de não sentir o acolhimento de sempre vindo de onde sempre é esperado, gostado desse silêncio que me imponho, do atual não escrever sobre os sentimentos e vivê-los, claro que eu estou longe do ideal mas quem sabe um dia né? Também quero dizer que você estava certo, está certo sobre mim e meus métodos, sobre o meu jeito confuso de viver e por estar certo você também sabe que eu não vou mudar nunca né? Ainda bem, por mim e por você. Nem que eu compre as passagens para Minas.

sábado, maio 12, 2012

Voltando para casa.

Adquiri uma necessidade de silêncios. Uma vontade de diminuir o ritmo. Ler comer escrever devagar, aproveitar com mais atenção a vida que passa diante dos meus olhos numa velocidade que me tonteia . Eu quis desacelerar, focar em mim e nos meus processos individuais. E fiz.
Tenho gana por uma paz interior que ando ensaiando, gana de que ela se estabeleça, que me aceite. Torço para que dure ao menos uns dois meses é que eu careço de silêncios e plenitude. Vivo desvendando enigmas, construindo sobre escombros, reformando a vida e montando ideias há tanto tempo que eu não sei mais como é sentar e deixar existir. Não estou saindo do front, não conseguiria, é que todo soldado merece passar uns dias em casa entre uma guerra e outra né? Eu estou voltando pra casa, temporariamente.

segunda-feira, abril 30, 2012

No meu jardim-presente que já foi muito ignorado.

Estou podando meu jardim 
Estou cuidando bem de mim*

Acredito no agora com mais força
Consigo ver o agora como ele é
um presente que eu recebo para viver
e  não há idiotice maior do que ignorar isso.
E eu ignorava
Não queria ver.
Estava ligada ao passado,
 aos meus ressentimentos,
as lembranças ruins...
Tenho me policiado me ensinado a lidar com isso de outra forma.
Não quero o futuro hoje porque estou vivendo o presente que ganhei.
Não viverei de passado ignorando o meu presente porque não quero mais.
A consequência da decisão,
o querer respeitado e defendido.
O hoje que me apaixona e me refaz.
O que cabe na minha mão
e o que eu não carrego mais.
Vazia de expectativas inúteis feliz por isso.
Sentindo e vendo só o que divide comigo o agora
Querendo internalizar o tal bambu que ouvi por aí
que balança com o vento forte, que se entorta,
mas quando o ambiente descansa volta a estar de pé contemplando o sol.

Sem fugas
Sem apego
Sem ansiedade (tentando)
Sem excessos assim me misturo com o cotidiano
ouço mais vejo mais aprendo mais e vivo melhor.
Estou aprendendo, sem correria, eu chego lá.

*Meu Jardim, Vander Lee

segunda-feira, abril 09, 2012

Eu e Portinari

Você não percebe mas eu sou muito só - não sozinha, porque sim eu tenho muita, muita gente mesmo ao redor - não é sobre a solidão física que estou me referindo é sobre o que há dentro. Não existiram muitas pessoas que foram fundo, por causa de mim, por causa delas. Não sei, é que eu tenho umas cercas a mais, e critérios de quem pode ou não passar por essa ou por aquela cerca é um jeito de administrar a coisa não julgue. É que se eu fosse sem trancas não seria seguro.
Eu entro nas pessoas, é estranho isso, eu realmente entro nas pessoas, porém não é todo mundo que eu deixo entrar porque as pessoas podem me machucar, porque eu posso machucar as pessoas com o que há aqui dentro. Não tenho como me defender de mim, assim como me guardar é a única forma de proteger os outros da minha tristeza, que quase nunca se mostra. Que vive escondida no canto de um riso solto, de chistes e que reside em uma ou duas frases secas e cruel quando alguém me pede um pouquinho de realidade. É que eu não poderia ter vivido tudo e continuar a mesma meninoca que adora o colo do avô, porque nem o meu avô existe mais. Imagine uma exposição de um artista desconhecido que não assina seus quadros, imagine um galeria com quadros amontoados - quando eu penso nos meu sentimentos lembro dos quadros do Portinari, pois sim - são como os quadros do Portinari sobre a seca, são crus, são doloridos de tão reais que são, estão amontoados e também não estão organizados por tema ou estilo, são os quadros que contam sobre o que passei e nada foi esquecido, está tudo lá. Cada dor, cada despedida, cada escolha. Minha. Dos outros. E as vezes sabe, apago a luz da galeria e deixo de ver, e até parece por alguns dias que estes quadros nem existem, mas a vida me obriga a acender a luz para lembrar que está é minha história e não pode ser esquecida.
Não tenho vergonha dos meus quadros, claro que por muitos anos tive medo deles - como quando conheci Portinari e fiquei com medo dos rostos da seca - mas eu cresci e não tenho mais medo. Tem alguns que eu até tenho uma afeto maior, que quietinha sento a sua frente, fecho os olhos e medito e consigo vivê-los novamente. Porque eu acabei criando afeto por algumas dores, e não se larga afetos da infância. Como não dá também pra se desfazer de pai e mãe. Do sangue. Fisicamente sou esta, não posso ser outra e nem quero ser. Do meu passado sobraram estes quadros que são coleção particular. Fui eu, foi o jeito que eu achei de sobreviver. Quem sou hoje? Não importa. Porque o presente é um caminho que estou percorrendo, são outras escolhas e outras revelações. Sei que ainda ei de pintar tantos outros quadros, felizes ou não. O que eu não posso mesmo é me afastar do real.
E hoje eu lembrei de quando eu deitava e via estes quadros no telhado da casa da minha mãe. No meu antigo quarto onde eu deixei alguns quadros que eu nunca mais quero ver.

quinta-feira, abril 05, 2012

É. Estou em processo.

Fiz bagunça, dentro e fora de mim. Tirei livros, discos, dvds, roupas do lugar. Fiquei com tanta dor no pé (por dentro, por fora) que passei uma semana sem colocá-lo no chão novamente. Eu sai do chão por alguns dias. Quis organizar as coisas e acabei bagunçando ainda mais, porque não era a hora de colocar as coisas no lugar. Meditei, me amei de dentro pra fora. Me permiti chorar e não precisei, não é que as lágrimas acabaram, ou eu tenha perdido a esperança, é que eu não preciso chorar porque tenho me revelado de uma maneira muito generosa comigo mesma. Tenho me doado a esse encontro, acreditado nele e respeitado seus caminhos, só sigo, não questiono como antes. É doar. E é uma doação diferente, é doar-se para mim. É respeitar os meus momentos, o meu tempo, os meus silêncios, os meus gritos. É ouvir a mim em primeiro lugar. Agora de fato no primeiro lugar. Porque EU me dei esse direito.

quinta-feira, março 29, 2012

Porque eu tive...

Não podia mais, não suportava o peso. Era muita gente amontoada nos meus cantos, era muita história boa e ruim, era muito pathos. Tinha hora que eu era uma multidão, eu era meus irmãos, meus amigos, meus amores, meu marido, e acabava não sendo eu. Porque eu tenho essa mania de ser por inteiro, e quando eu me coloco no lugar de alguém eu levo a sério e simplesmente deixo de ser. Porém aprendi no teatro que entre um papel e outro o ator merece um intervalo, eu merecia e fiz.

Pode ser que eu tenho sido abrupta, até posso ter deixado um monte de gente sem explicação, mas é que eu estava sentindo sem controle. Movida por uma necessidade louca e ininterrupta de ser eu. Eu mesma, sem máscaras e pessoas. Sem nada imutável, sem verdade e relações absolutas. E quando eu cheguei lá, quando finalmente me desliguei de todo mundo, era uma noite de um dia da semana que eu não lembro, mas era noite disso eu tenho certeza, peguei uma toalha e fui ao banheiro tomar um banho, desliguei a luz, sentei no chão de chuveiro ligado, água quentinha e fiquei lá em silêncio. Nunca mais tinha estado tão sozinha, tão inteira. Eu estava recomeçando dali. Só existia o de hoje em diante e era quase mágico. Algumas fichas caíram e eu voltava a ser minha, mesmo que dividida em cacos mas era minha. E tudo o que eu fiz se justificava e fazia um sentido lúcido.

As relações necessárias voltam, as impostas também, mas hoje não, só quando eu estiver pronta pra voltar aos palcos. Ainda estou carinhando meu ego, colando pedaços, me curtindo. Um dia quem sabe, eu restabeleça algumas das relações que desfiz esses dias, porém para isso eu preciso ser outra e os relacionados também. Porque eu não mais permitirei invasões e/ou pesos nos meus cantos. E também preciso possuir novamente a vontade (necessidade) honesta destas pessoas, porque eu não tenho. A distância me fez perceber que eu me impunha pessoas (mãe, pai e...) e eu não posso mais, estou vivenciando um momento libertador. Caminhando lagarta. Eu sou bicho, especificamente daquele tipo que se despede dos pais para encontrar seu caminho. Aí está a minha despedida de libertação e (honestamente) sem olhar pra trás nenhuma vez.

quinta-feira, março 15, 2012

Por uma nova causa. Eu mesma.


Não que eu não venha me dedicando a mim nesses últimos anos, mas sinto que não estava fazendo isso certo. E estou feliz demais por reconhecer isso, hoje mais forte e preparada pra essa constatação. Mesmo que eu tenha perdido umas partes de mim nessa jornada me sinto inteira, da maneira exata que eu imaginava que estaria quando chegasse aqui. É fato - disso não tinha dúvidas - eu estaria exatamente assim quando estivesse pronta para dar o primeiro passo para fora do cercadinho. Só não sabia a hora exata que isso ia acontecer mais eu estava pronta. E entendo agora o porque de um monte de coisas. Das minhas vírgulas, nos textos, na vida. Tenho sentido a necessidade de pontos finais. Pontos que realmente me desacelerem. E assim nesse movimento natural venho aprendendo a substituir as minhas vírgulas por pontos, mesmo que não sejam pontos definitivos, porém devem ser bem marcados. Na vida, nos textos.
Porque é para mim que escrevo e ninguém mais. É para entender, absorver das palavras que dançam na minha cabeça o tempo todo, tudo que há em mim e me escapa dos sentidos. É por isso que absorvi essa mania de enfileirar palavras. Assim elas fazem mais sentido, aqui fora diante dos meus olhos e não atrás deles. Tenho direcionado a minha atenção aos meus sinais, tenho me dedicado a mim numa espécie de quarentena interior. E já consigo ver progresso. Estou no sexto livro do ano, lendo vorazmente já que não mais me preocupo tanto com tantas pessoas. Deixei de ser um zoológico aberto 24 horas, pessoas visitando o tempo inteiro, vigiando os meus chipanzés. Meus animais interiores agora andam calminhos, sós entre eles, ando retirando as jaulas aos poucos porque eles se desacostumaram a viver fora das suas respectivas grades. Ando lendo para o leão baixinho para acalmá-lo, livros cheios de esperança e humanidade para que aprendamos a viver sem as grades em harmonia. Não sou ingênua para achar que não vai dar briga, que eu vou conseguir convencer o leão a tornar-se vegetariano e para de comer os meus pedaços, não eu já passei dessa fase. Estou na verdade dedicada a explicar a ele as coisas e os animais que mais gosto do meu zoológico e peço com afeto que ao menos os meus prediletos sejam poupados, que ele só ataque para se alimentar e defender-se de perigos verdadeiros, que eu prometo que em troca vou tentar fazer o mesmo do meu lado de fora, atacar para me alimentar e defender-me de perigos verdadeiros. Vou mostrar-me segura, como eu sou por dentro, mostrar aos meus chipanzés que eu ainda jogo cocô nas pessoas vez em quando, que eu ainda sou curiosa como eles e posso sim mostrar-me esperta mesmo não sendo igual aos outros. Tenho que manter-me longe de tristezas avassaladoras que sempre me derrubam como tempestades de verão. Tenho que esquecer muito coisa aprendida depois de muito tempo em cativeiro, relembrar alguns instintos, escutar os meus animais do zoo e voltar a rir sozinha sem sentir falta de nenhum amigo de cativeiro que não conseguiu fugir comigo. Lembrar de não levar muito a sério as minhas penas da cabeça e correr por aí bagunçando-as. Também não me importar se tem alguém observando eu me lamber, eu lambendo a minha cria ou catando carrapato de algum amigo enquanto intercalo cafunés. Eu sou bicho-gente, tentando lembrar como é ser bicho-solto. E sabe do que mais, eu vou ali aproveitar o fim de tarde lendo pro meu leão.

sábado, março 10, 2012

O óculos. A tarde. Os companheiros.

Não olhei nos seus olhos no dia em que nos vimos da primeira vez, nem me detive no seu nariz tão evidente, no teu olhar sério ou na tua cara de CDF. Não, eu estava numa escola nova me sentindo o patinho feio, e quando eu não estou insegura acabo me escondendo na minha carranca, na minha audácia e na porra louquice. A gente não se olhou e foi amor a primeira vista não, ainda bem. Seu olhar para mim não dizia nada. Mas passaram se os anos e eu dividi meus textos com você, alguns segredos e finalmente a gente era amigo de se reconhecer um no olhar do outro. Mas não a gente não estava apaixonado, ainda bem. Você me ensinava física, química e matemática e eu não te ensinava nada. Lia como louca o que não era matéria da aula, discutia no corredor a conjuntura da educação no país, no estado, na nossa escola e atrapalhava a tua aula que por acaso era a minha também, porém eu cabulava quase sempre as aulas de exatas. Você me acompanhava ouvindo minhas ideias, compartilhando pensamentos e quando percebi você fazia parte do grêmio, do movimento político da escola e estávamos em sintonia, finalmente além de amigos tínhamos alguma coisa em comum para fazer, mas não a gente não estava apaixonado, ainda bem.
Tenho a sorte de saber o dia exato que você se apaixonou por mim, em um final de tarde na reunião que havíamos marcado para formar um grupo para passar o legado do que havíamos conquistado todos juntos no grêmio, já não estudávamos na mesma sala e nos conhecíamos há mais de dois anos, eu entrei usando óculos pela primeira vez na frente dos amigos, um óculos de grau de armação grossa e com formato engraçado, a minha cara. Sentei no birô e peguei meus apontamentos ia falar pra os novatos e incentiva-los a levar o projeto do grêmio adiante e um tempo depois você me contou que olhou para mim ali sentada, falando e balançou a cabeça como se estivesse zonzo sem acreditar que me via diferente. Seriam os óculos?? Acho que não, realmente ali eu já era outra mesmo, bem diferente da menina que você havia conhecido lá atrás, tantos namoros, tantas leituras, festas, amigos e lutas me transformaram, e sim meu querido amigo você naquele dia se apaixonou por mim a primeira vista, ainda bem. E eu? Bem, para variar eu estava noutra. E fiquei nesse outro por um tempo ainda, porque eu precisava e você sabia disso. Uns meses depois, você me contou tenso, ansioso que a amizade era diferente, que você havia se apaixonado e eu? Estava pronta para vê-lo diferente e passei a ver. Assim fácil. Acho que a gente foi construindo esse novo olhar. sabe há quanto tempo isso aconteceu? quase sete anos. Onde estamos hoje? no nosso apertamento um no quarto estudando e o outro no PC escrevendo. Casados, apaixonados, cúmplices, grandes amigos ainda, ainda bem.
Tanta água passou por esse rio. Foi tanta água e a gente já teve que dar boas braçadas juntos para não se separar, para virar adulto e não perder o freio. E aqui estamos juntos, muitos anos depois daquela tarde e dos meus óculos que nem existem mais. Não importa quanto tempo já passou, mas quanto ainda há de vir e é claro que a gente continue existindo e que ainda sejamos grandes companheiros.

quinta-feira, março 08, 2012

E se...?

Se tudo tivesse sido diferente, terminado diferente o que seria a gente? Um tal casal? Depois de tanta intimidade e cotidiano será que daríamos conta de nos aventurar a ser um tal casal começando do zero? Ou pior, de onde estávamos que já era bem longe e estragaria o contexto irremediavelmente, eu sei, porque te conheço. Crescemos juntos. Não consigo me imaginar vivendo esse tal casal caprichoso, nunca senti vontade de correr ao seu encontro, viver cena de filme contigo de casal apaixonadinho. Cansa. Colecionamos tantos por-do-sóis visto de dentro do mar, madrugadas de conversa, sonhos e sonos juntos, confidências de pé de ouvido, de olho no olho, dividimos medos, conquistas, amores, paixões, comida no mesmo prato, vodca do mesmo copo, cama de solteiro, cama de casal, cigarros, férias e datas especiais. Porque tudo isso não foi suficiente? Porque o que eu dava para mim era tudo que tinha e para você sempre foi pouco?
E se conseguíssemos entender a gente, liberar o super ego e falar sem omissões sobre nós, será que algo sobraria de lembrança? Ou será que finalmente colocaríamos essa história em seu lugar? Nunca saberemos. O que eu sei é que não troco sexo pelo que tivemos, não troco o que construímos (principalmente os bons momentos sem brigas e DRs) para formar esse tal casal. Porque seria uma mentira, porque não seria recíproco, porque depois de um tempo esse joguinho ficou para mim indigesto, chatinho e cansativo. Porque - e isso pode ser até cruel - eu te conheço demais para cair no seu papo de vida a dois, nunca esqueça quanto tempo faz que nos conhecemos, principalmente o dia que passamos a conversar com olhares e gestos. Era o que eu podia te oferecer de mais audacioso e honesto, mas não, não era o suficiente, você ficou preso no e se... por anos, confabulando o e se..., guardando seus planos para ele. Planos que não foram compartilhados comigo, logo nós dois que compartilhávamos a vida a tanto tempo.
Como eu fico sem o abraço de urso, sem o cacho enrolado no dedo e um filme no cinema? Como eu fico se eu não posso me obrigar, principalmente por que eu não quero, a viver do seu e se...? Sabe... eu quero um e se... diferente pra nós. Mais ou menos assim: e se você fosse franco, e se você esperasse menos, e se você tivesse sido compreensivo e respeitado meu querer, e se você não fosse possessivo e se não criasse a obrigatoriedade de ter sempre razão, e se não brigássemos tanto, e se esse contrato de amizade fosse melhor redigido, e se eu não conhecesse seus defeitos tão bem, e se você quisesse ser alguém melhor, e se a gente não tivesse tentando ficar junto há muito tempo atrás. E se eu precisasse tanto de você e nem você de mim, e se conseguíssemos construir algo mais saudável e até mais sólido. Porque teve uma época que foi pesado, cansativo e sem expectativa de melhoras, e um dia qualquer por volta das três da tarde você me desencantou, não fez nada grave não, foi sutil você nem percebeu, porém eu olhei pra você e pensei para que e por que a gente ainda tá nessa? E eu não tinha mais motivo para estar lá, só a certeza da saudade irracional que eu sentiria se tudo aquilo acabasse, mas sim meu querido eu tinha desistido de você, e você até pensa que foi sem tentar, porém saiba que teve uma época que eu tentei, que eu questionei a possibilidade do tal casal e você não me contagiou com seu projeto. Não me deu vontade de largar o status de amiga, porque só isso que você queria trocar o meu status, saliva e secreções e eu achei pouco o que você oferecia para trocar por tudo que eu dava e não aceitei, tudo foi bem rápido mas aconteceu e você nem notou que aquela era sua chance. Talvez ainda estava confabulando o e se...? Apanhei minhas bolinhas de gude e mesmo triste decidi não mais brincar com você, por mais que você fosse um pessoa que eu ame tanto sem nem saber direito de onde isso vem. E eu estou assim agora aposentada do nosso joguinho.

domingo, fevereiro 26, 2012

Das coisas que eu não entendo.

Creio que tudo possui várias perspectivas, tudo. E por isso me dou ao luxo de pensar em tudo um milhão de vezes ou até não conseguir extrair mais nada da tal vivência em questão. É óbvio que tem coisas que eu já dediquei horas e que ainda não entendi, e talvez nunca entenderei e não me importa isso, o que importa mesmo é ter pensando, dedicado horas da minha vida a questionar, entender e construir o que é opinião minha e não consenso coletivo.
Vendo tv, acabei numa entrevista de João Carlos Martins, pianista e hoje regente, que desde sempre só olhar pra ele em qualquer lugar enche meus olhos de lágrimas, gera um choro engasgado uma dor na espinha, porque só quem já viveu pelo menos um dia na vida com a mão atrofiada consegue ter a dimensão do que é aquilo, principalmente para um pianista por exemplo. Sei que não sou como escritora nem de muito longe o pianista que ele foi, porém, talvez eu já tenha chorado as mesmas lágrimas. Lágrimas de quem conversa com as mãos e tem que reaprender a falar com o resto do corpo, a dor de não poder mais ser a única coisa que você tinha certeza que era, não mais poder fazer o que te move, e o pior de tudo porque visívelmente e existem provas médicas que você não pode mais. Não há um não querer, é um não poder.
É quando a vida te nega uma esmola, você precisa daquilo pra viver, pelo menos é assim pra você - é o seu alimento, a sua essência vital - mas a vida diz olhando nos teus olhos sem piedade, perdoe. Vivi algumas vezes esse momento, um cara de branco olhando nos meus olhos dizendo você tem que parar, não era definitivo (ainda), porém não deixava de ser cruel por não ser.
E sobre não poder escrever, levantar um copo para beber água, tomar banho e trocar de roupa eu já pensei horas a fio, já chorei um mar de lágrimas e já consegui contaminar algumas coisas aqui dentro com um pesar, talvez, irreparável. Você não sai de uma lesão, de um imobilização, você não engole um não como esse fácil. Você tem que enlutar, pensar e sofrer horrores questionar a vida e acabar pensando na morte, como coisa boa, como coisa ruim. Ruminar a sentença do não poder, eu transcritora braille há tanto tempo, que conheço tantas pessoas sentenciadas, que nunca poderam ver nada na vida, ou nunca mais poderam ver nada para o resto da vida. Eu, que poderia ser tão mais calejada, mais forte, choro o meu não poder e as minhas dores como se não tivesse experiência nenhuma, porque realmente não tenho. Depois de muito pensar entendi que existe a minha dor, e principalmente a minha perspectiva da dor, e quem me enxerga possui uma visão diferente sobre a minha dor. E essa dor de perder algo individual não pode ser encarrada como uma vivência coletiva. Os meus amigos, meu marido e o resto da família tem visões diferentes da minha dor e a minha dor causa neles dores que eu desconheço. Mas aquele tal João Carlos Martins ainda me comove, e eu tenho que entender porque me comove tanto assim.
Amo arte e pessoas, amo a humanidade que existe nas duas. Uma das minhas certezas na vida. Amo as palavras e suas eternizações profundamente, amo as palavras que dançam na minha cabeça 24 horas por dia. Eu sou palavra, me apresento as pessoas através delas, me exponho através delas, me componho através delas e sinceramente, não vivo sem elas. E gosto do poder de ser regente das minhas palavras, de possuí-las nas pontas dos meus dedos, as palavras estão aqui nas minhas mãos, o problema são as minhas mãos, que não são de boa qualidade eu diria, tentando amenizar o tom do papo, são as dores cotidianas que as palavras me causam e o que escrever já interfiriu na minha vida para ruim. Mesmo que o que escrever me deu de bom na vida sobresaia eu não posso deixar de perceber o óbvio que me é demostrado todos os dias, quase em doses homeopáticas (as vezes não) que as palavras vão ter que encontrar um novo jeito de sair de dentro de mim, porque por algum motivo caprichoso as mãos um dia não mais poderão regê-las, assim como um dia João Carlos Martins deixou de fazer música atráves das suas mãos nos pianos, eu reles eu que como já disse não sou de escritora nem de muito longe o pianista que ele foi, um dia - espero que ainda distante - quando não mais poderei escrever palavras num papel, num computador ou nas paredes da minha casa e tudo for passodo não tão distante, deverei me lembrar que o que me mantém confiante é que elas nunca poderão sair da minha cabeça e isso me conforta mesmo que meu corpo inteiro esteja atrofiado eu ainda serei palavra em essência, porque no mais profundo de mim é só isso que existe.

terça-feira, fevereiro 21, 2012

QUERO FAZER COCÔ NA CASA DO PEDRINHO!

Seria bom poder cometer meus erros, dar meus chiliques e testar minhas novas atitudes na vida de alguém, no corpo de alguém, se existisse na vida a possibilidade de fazer merda na casa do Pedrinho. Ando cansada de testar a minha capacidade de lidar com dores emocionais no meu próprio corpo. Exausta. Ando de um jeito que um apertãozinho qualquer e eu me desfaço em lágrimas de dores emocionais, físicas, que eu não sei lidar sem remédios e pessoas por perto.
Não acredito que deus só da a cruz que a gente pode carregar, a merda que a gente pode por para fora e lá vai. Não acredito em deus e sua incrível misericórdia. Queria acreditar que existe essa tal casa do Pedrinho onde cocô não fede e é tudo limpinho, onde há a tal mãe do pedrinho que é solicita e gentil como deveriam ser todas as mães e abre a porta sorridente pra gente cagar lá, porque cagar na casa (vida) da gente anda difícil. Quero encontrar esse lugar onde despejar merda, vivências ruins e cheias de dores que eu carrego aqui dentro, seja aceitável. Quero sair da casa do Pedrinho feliz, sentindo o cheirinho bom de casa limpa fora do banheiro por mim tão desejado, quero me sentir acolhida e ando tão afetada emocionalmente que a casa do Pedrinho pra mim já é de bom tamanho.
Colocar pra fora os meus medos guardados, as minhas dores, essas responsabilidades que carrego que não são minhas, os meus lutos, o que eu não entendo, o que eu não aceito mesmo entendendo. Eu tenho um mundo pra descarregar na casa do Pedrinho, resta saber onde é esse lugar e se a mãe dele vai abrir a porta pra mim.

domingo, fevereiro 05, 2012

Banho quente por favor!

Adoraria sentar num canto do quarto, abraçar os joelhos e chorar aquele choro que é que nem aquele catarro de pneumonia que a gente tem desde criança que tá lá envelhecendo no pulmão e sempre volta com gripe forte. Pois bem, quero chorar esse choro-catarro. Quero sentar lá e só sair quanto alguma coisa fizer sentido, porém é domingo a noite, e amanhã sete da matina eu tenho que trabalhar mesmo que não haja sentido algum.
Sempre tomo banho de luz apagada, mania mesmo, sempre sendo dia ou não, gosto de estar sozinha no escuro e no banheiro, de preferência com o chuveiro ligado no máximo bem frio quando a vida tá boa, bem quente quanto eu quero muito um abraço. Cheguei em casa agora louca por um banho e fui direto pro banheiro, sem roupa e com a toalha na mão desliguei a luz, acomodei a toalha e entrei no box e fiquei na dúvida entre água fria ou quente, entende? Entre felicidade e tristeza, entre vontade de abraço e vontade de dancinha ridícula com canto desafinado.
Porque ando pensado tanto que nem sei mais se está sendo bom ou ruim, ando lendo tanto que nem sei mais se isso me eleva ou se me expõe a minha pequenez, nem sei mais se estou chegando em algum lugar ou se nunca estive tão perdida. Esperei por 5 minutos que o chuveiro me soprasse a escolha, devaneando pensei: mas hoje foi um dia não muito bom eu estive disponível para pessoas o dia inteiro o único momento realmente meu hoje foi um sorvete no fim da tarde e esse banho e eu estou tão cansada dessa minha disponibilidade eterna. Água quente por favor, bem forte e bem quente.

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Lendo e devorando a Leila Diniz depois de uma crise

Fechei os olhos e as mãos de cansaço, depois de conversa longa. Abri os olhos segundos depois, apontei o indicador da mão esquerda como sempre fiz, repetindo 'é assim aqui que eu sou, é assim que eu sinto', mas não esperava que não conseguiria mais abrir a mão direita naquele fim de tarde, naquela noite, no hospital, depois da injeção, da tipoia, depois de um fim de semana inteiro eu simplesmente não conseguia abrir a mão direita. Chorei gritando, tremendo, babando, gemendo encolhida até acordar o vizinho, até esquecer porque estava chorando. Dor de alma. Tenho sempre vontade de responder isso pra médica quando ela pergunta: hoje você tem dor de quê? Não digo, vai ela me interna.
Fui num outro médico porque a minha querida e compreensiva médica estava viajando, e ganhei 8 dias de gesso, morfina, analgésico, relaxante muscular e o de sempre. Médica querida de volta e o diagnóstico de mais uma crise 3 comprimidos tarja preta por dia, 1 protetor de estômago e continuar o uso do analgésico já que o estômago não anda aceitando anti-inflamatório, então são 5 remédios por dia por enquanto. Só pude mexer mesmo a mão novamente na segunda uma semana depois daquela piscada de olho e do movimento quase involuntário de fechar a mão.
Não soube o que dizer para mim para confortar, não consegui aceitar bem o início da crise ando sonolenta (crise de fibromialgia dá fadiga né?)e cheia de lágrimas espontâneas. Estou com aquele sentimento novamente de não pertencimento, rodeada de amigos e só com os meus pensamentos. Pirei no dia que tirei o gesso, andei pela cidade, almocei comida que eu adoro, comprei o livro que eu estava louca de vontade de ler e pensei pensei pensei pensei até me perder de mim.
Leila Diniz é sobre quem eu estou lendo, foi onde eu me encontrei e onde eu pretendo me perder. Sempre admirei mulheres fortes e sinceras, mas essa me faz chorar só de pensar em tanta alma. E está sendo tão confortante chorar pela alma da Leila e não pela minha dor na alma porque por causa da minha dor eu já chorei demais, pela minha dor não adianta chorar. Deixa que 5 remédios diários tomam conta, acalentam, me calam.
Tendo a Leila eu me tenho. Sei que não é claro isso, porém, essas coisas de identificação não se explicam. Posso abrir a mão agora mesmo que ainda trema e doa onde não dá nem pra explicar onde sente, vi na tv uma senhora com o braço direito também com hematoma, porque ela foi tirada da casa dela em Pinheirinho pelo braço, de uma hora pra outra, ela perdeu a casa, a vida que viveu lá, o amanhã, assim como eu quando fechei e não abri a mão. O hematoma vai se desfazer, a minha mão já abriu, mas e a casa, a vida e o amanhã dela, quem devolve?
Eu não sei se suporto dor de mundo e dor alma juntas, não sei o quão sou forte, ou má, ou boa só sei que agora doí sentir tudo ao mesmo tempo, doí continuar escrevendo porque os dedos ainda estão fracos, doí querer escrever um artigo acadêmico sobre ativismo individual agora que larguei a universidade, doí ler tanto e com tanto prazer e saber que a universidade me tomou isso por um tempo. O que mais que eu deixei passar porque eu não pude ser ativa? Não sei quem eu sou enquanto definição, só sei que isso vai me levar além, foi o Leminski que disse e não é mentira.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Aceito a responsabilidade de amadurecer ou ganha-se aqui, perde-se ali

Não foi a coisa mais fácil que fiz na vida, nem de longe. E não seria eu se ao falar sobre isso fosse hipócrita dizendo que foi normal. Não foi. Doeu. Sangrou a carne, me tirou o ar e todas aquelas coisas. Mas era exatamente assim que eu esperava se não fosse não seria crescimento, amadurecimento e página virada. Eu preciso crescer de um jeito ou de outro. E eu sempre escolho o jeito que doí, que sai de dentro levando tudo.
Mas eu preciso ser verdade. Preciso olhar no espelho e dizer baixinho com o coração cheio de felicidade: eu sou o melhor que posso ser, sou responsável pelas decisões da minha vida e em momento algum fui apatia, omissão e paralisia. Não aceitaria dizer esse contrário fitando os meus olhos no espelho. Tão pouco aceitaria viver esse contrário, e manter as coisas como estavam era quase isso. Claro que como toda decisão, essa teve consequências, acho que esse amor não vai saber se reinventar e ser pleno, vai se tornar com o tempo um oi, um tchau no meio do calçadão, no corredor do shopping, na fila do cinema. Porém penso que pior não seria se ele envelhecesse esperançoso, cheio de expectativas? Ninguém saberá. Só sei que eu tinha o direito de direcioná-lo como fosse confortável para mim e foi o que eu fiz.
Foi difícil fitar os olho dele, eu não vou negar que foi, não corresponder instintivamente as suas mãos como sempre fiz, puxar o assunto, me posicionar e defender o oposto ao esperado. Mas quem disse que eu sou obrigada a viver do previsível? Sei que pela lógica dos grandes romances esse foi um fim meio torto.
Quero declarar que isso não era um romance. Era uma amizade confusa, revirada, cheia de intensões,eram doses cavalares de afeto, cumplicidade era ser mais que amigo, mais que próximo era a relação bonita e cheia de efeitos românticos da nossa vida. Mas não era romance, nunca quis romance na vida.
Gosto de ler histórias que contem a vida de gente de carne e osso, e mesmo que esses personagens sejam pura ficção necessito que se assemelhem com o humano. Nunca aceitei bem príncipes destemidos que andaram quilômetros, abandonaram a boa vida, enfrentaram dragões e despertaram mulheres com um beijo. Também não levei a sério história de filme de sessão da tarde onde todos os personagens conhecem o amor da mesma forma e se alimentam de respostas prontas.
Gosto do que eu fiz com essa relação, como trabalhei o sentimento. Compartilhando a vida com ele, choro, dor, risadas,crises,carinhos e planos reais. Quais eram os planos? Resta saber quais:os meus? os dele? os nossos? Acho que essa relação foi bombardeada por queres omitidos. Essa coisa de romance de achar que o outro espera o mesmo que você, que prevê o passo seguinte, que sonha o mesmo sonho e espera da vida o mesmo. Eu prefiro quando tudo está as claras como já disse um milhão de vezes, quando doí de tão verdade que é, quando ensina, quando se ganha, quando se perde, quando cai uma lágrima vez ou outra, quando se ri gostoso até aquele ai ai inevitável.
Eu quero me recuperar desse baque. Dessa dor de perda e seguir em frente esperando dessa história alguns outros momentos de risada gostosa mesmo que por acaso numa fila de cinema qualquer.