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2009-10-30

 

O Todo e as Partes (2)


Uma cadeira para Marcelo Rebelo de Sousa

Quando Paulo Rangel disse ontem a Judite de Sousa (RTP1) que apoiaria Marcelo Rebelo de Sousa nas directas, acrescentou uma justificação curiosa. Marcelo, em sua opinião, é o melhor que há para fazer oposição, quer esteja o PS no poder, quer esteja o PSD. A franqueza irrefreável de Rangel pode gerar um efeito contraproducente. Assim, Marcelo, que já se havia recusado a ir ao ringue em que os barões transformaram a disputa pela liderança do PSD, fica a saber que estes propiciadores de uma nova vaga de fundo não o querem manter ao leme logo que o PSD regresse ao poder.

A mensagem é clara.

Sabemos que em política todas as soluções têm prazo de validade, mas, deste modo, com tanta advertência, pode dizer-se que a diferença entre subir ao ringue ou receber um presente envenenado, é quase nenhuma.

O PSD enfrenta um daqueles momentos paradoxais que sucedem na história das instituições: quem pode não quer (ainda); quem quer, (ainda) não tem poder.


 

Afinal Saramago é um ingénuo?



Caim anda por aí. E com ele Saramago. Só por si Caim teria suscitado as reacções habituais em casos destes. Mas Saramago deu entrevistas e ao classificar a Bíblia Sagrada de «manual de maus costumes» e apregoar que «Deus não é de fiar» fez o que muitos especialistas de marketing ainda têm de aprender com ele. O Nobel animou não apenas os que estão no ramo da orientação das almas e não aceitam ver o seu múnus tratado de forma lhana e sem a transcendência da parábola mística, como também quem tem currículo em matéria bíblica ou se interessa pelo assunto, sem excluir gentios como eu.

Sobre o livro de Saramago e o contexto paroquiano em que se levantou a polémica falou no Público de 28 João Freitas Branco [link]. Concordo com a defesa que fez de Saramago. No mesmo dia, o Público apresentou no seu site a opinião de Richard Zimler sobre o caso [link]. Zimler, norte-americano de origem, nosso compatriota de adopção é um escritor famoso e um especialista em religiões, especialmente destas que afectam há uns milénios o Ocidente: judaismo e cristianismo nas suas variantes católica e protestante luterana e calvinista e mais uma miríade de igrejas algumas multinacionais outras apenas um negócio de família de âmbito local, principalmente nos EUA.
Zimler, que faz considerações muito interessantes sobre a Bíblia e o seu significado acaba a considerar Saramago um "ignorante" que toma a Bíblia à letra e não entende nada dos livros do antigo testamento do Deuteronómio ao Segundo Livro de Samuel. Conclui que não passa de um pobre ingénuo.
Ora Caim não é um ensaio sobre a Bíblia, uma incursão exegética sobre o Livro Sagrado. É uma história, um romance. Bom ou mau isso já é outro assunto - eu acho-o bastante interessante.
Zimler considerou Saramago um "ingénuo". Tal conclusão só me poderia levar a considerar Zimler um ingénuo. Mas considerar eu Zimler ingénuo por achar ele Saramago ingénuo levaria o leitor arguto a dizer, ali em baixo na caixa de comentários: o autor do post é um ingénuo. Ora assim isto poderia abrir uma série infinita de acusações de ingenuidade sem... fundamento. Antevendo o perigo concluo prosaicamente que Zimler apenas de faz de ingénuo ao considerar ingénuo o Nobel Saramago. E porque se faz Richard Zimler de ingénuo? - marketing, tento eu descortinar - é que de outro modo falaríamos menos de Richard Zimler, escritor famoso mas mais lá fora.

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2009-10-25

 

CAIM



Vasco Pulido Valente diz tão mal de Caim como do Saramago. Toda a gente tem fundamentadíííííssima opinião sobre o livro. Mesmo sem o ter lido. Arre gaita. É demais. Do Bispo ao pároco da minha aldeia, do Sr. Doutor até à ti Maria. Além do Sr. De Sousa Lara, Deus Pinheiro e Cavaco Silva - certamente - desde o Evangelho Segundo Jesus Cristo... Decidi comprar o livro. Depois... se me apetecer direi qualquer coisa. Muito profuuuuuunda.

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"Porque hoje é domingo..."

diz a Cristina na Contra Capa. Concordo. Mesmo sem ser ao domingo. Porque isto sim, ao contrário de Caim, é obra de Deus.



2009-10-23

 

O Todo e as Partes (1)



Quem tenha lido a Bíblia, por alto ou por baixo, recordar-se-á que a personificação de Deus se vai alterando, ao ponto de, mesmo nas exegeses de muitos católicos, se distinguir Jeová, cruel, despótico e sanguinário chefe tribal, do Antigo Testamento, do Deus muito mais místico, (Pai na Trindade), retórico, ambíguo, aliado do Jesus que veio à terra para nos salvar e de cuja saga dão testemunho os Evangelhos do Novo Testamento, aos quais esperamos que seja apenso, logo que possível, o recentemente revelado Evangelho de Judas, cuja versão dos acontecimentos que rodearam a prisão e execução de Cristo, lança uma nova luz, benevolente e desculpadora, sobre a traição, os trinta dinheiros e a dissidência interesseira.

Quando o visado fala, a perspectiva, geralmente, altera-se.

Julgo ser por isto que muitas gentes se escusam de entrar nesta discussão pública suscitada pelas larachas bombásticas de José Saramago. A evidência do que afirma torna a discussão desinteressante; o julgamento que faz é o seu próprio e, quanto a isso, vá a jogo quem quiser ir e que ganhe o melhor.

Mas há um pequeno pormenor em que talvez valha a pena reflectir um pouco mais.

Os discursos sobre conjuntos heterogéneos convencionalmente unificados (os livros da bíblia, uma carreira política, um regime, a obra de um autor) tendem, de acordo com as respectivas estratégias, a orientar-se por um número limitado de opções: ou defendem o satus quo que beneficia com a invenção daquele conjunto que pode perfeitamente ser tomado em separado, acusando os detractores das partes más de estarem a tomar tudo demasiado à letra, ou se refugiam nas trincheiras do sagrado, desqualificando quem quer que se ponha a duvidar da interpretação oficial.

Resta aos discursos críticos uma de duas vias: ou se deitam a fazer a análise das partes, numa tarefa ciclópica e ingrata, desafiando a capacidade de compreensão e a paciência dos seus públicos, ou arriscam sínteses, muito mais eficazes e estimulantes, apesar de parciais.

Depois do XX Congresso de Partico Comunista da União Soviética, passou-se algo de semelhante com a avaliação dos dirigentes e balanço do estalinismo. Enquanto a ortodoxia sustentava que Staline fizera "algumas" coisas más, mas também fizera umas quantas boas, outros estimavam que as alegadamente boas não chegavam para as más, e execravam o conjunto.

Descido aos infernos, entre a catequese servida aos miudos de pés descalços na sua infância e a glorificação do estalinismo, José Saramago leu mais do que uma Bíblia.

Atentemos no dever cristão de ouvir um homem atormentado que fala das suas razões.

Debaixo do Sol, nem tudo é vaidade e tempo perdido.



 

Marcas da Moderna (e muitíssiiiiimooooo moderada) Esquerda (2)



As mulheres socialistas bem se esfalfaram chamando a atenção da direcção do PS para a rara oportunidade que teria, ao constituir o novo governo, de mostrar como interpreta e executa a promessa ideológica da paridade. Apesar de legalmente a Lei não se lhe aplicar por inteiro, José Sócrates poderia fazer a demonstração de que, considerando esta discriminação positiva uma "marca de esquerda", não lhe seria difícil encontrar 50% de mulheres ministeriáveis.

O PS ficou pelos 29%.

Prevendo o azucrinamento de dentro e de fora, o argumento justificativo aponta que, "apesar de tudo", é o governo com maior número de mulheres na sua composição.

Marcas de esquerda, talvez, mas só a 29%...

 

Marcas da Moderna (e muitíssiiiiimooooo moderada) Esquerda (1)



A direita separa a economia da sociedade. Diz que põe as empresas antes das pessoas, porque são as empresas que produzem bens e serviços, e geram emprego, enquanto as pessoas (os trabalhadores por conta de outrem em larga maioria) são "apenas" indivíduos, isolados e incompletos, cujas existências só ganham algum sentido no mercado.

Ora como as empresas são entidades abstractas que apenas ganham sentido quando as relações dos que lá trabalham lhes dão vida e algum sentido, a direita isola os empresários dessa teia de relações, protege-os e considera-os os seus interlocutores privilegiados.

Atentando na passagem de Vieira da Silva do Ministério do Trabalho para o da Economia, o que poderemos nós inferir, enquanto o programa do governo é cozinhado?

Que Vieira da Silva espera ser bem recebido pelo novo público alvo, em virtude do seu desempenho à frente do Ministério transacto?

Sim. Não só esperaria, como já recebeu, nas últimas horas, uma série de manifestações de apreço por parte de alguns dirigentes da direita e grandes empresários.

Com sinais de "esquerda" deste tipo, o PSD pode fazer descansadamente o tratamento termal de que anda tão precisado.

Ninguém dará pela sua falta.

 

Mário Lino regressará ao Puxapalavra?

Mário Lino deixa o Governo na 2ª f próxima e espero que volte ao Puxapalavra. Não lhe faltarão temas.  Por exemplo expor os argumentos que contrariem Campos e Cunha, o arrependido ministro das Finanças de Sócrates, que garante não haver dinheiro para o Novo Aeroporto de Lisboa e para a Alta Velocidade e que tais empreendimentos só contribuirão para o atraso do país.

Aproveito para saudar o Professor António Mendonça que sucederá a Mário Lino.

Com Mendonça são já 4 ministros, Joaquim Pina Moura , Mário Lino, Isabel Pires de Lima  e António Mendonça, e quatro Secretários de Estado: Osvaldo de Castro, Victor Neto, José Magalhães, Mário Vieira de Carvalho vindos todos da grande dissidência do PCP do fim dos anos 80 início dos anos 90.
Isto revela a boa escola de quadros políticos que foi o PCP e dá uma ideia (apenas uma pálida ideia) da formidável hemorragia de intelectuais e outros recursos humanos muito capacitados, por ele sofrida . E lendo a Rita Rato fica-se na dúvida se por este caminho o PCP conseguirá colmatar as brechas.

2009-10-22

 

Bernardino Soares nos Gatos Fedorentos


Só hoje vi o programa dos Gatos Fedorentos com Bernardino Soares. O líder do grupo parlamentar do PCP esteve bem. Jovem e boa figura deixou uma boa imagem do seu partido. Longe vão os tempos da gafe "coreana".
Interrogado pelo Gato explicou a provocação que fez ao ministro da Economia Manuel Pinho e o levou à insensata e fatídica cena dos simbólicos cornos.
Bernardino conseguiu duma penada despachar o ministro. Mas Pinho teve uma vitória póstuma: roubou Aljustrel a Bernardino.

2009-10-21

 

Velhas Sanfonas (2)



Foi há uns anos, quando alguns católicos tentaram explicar a Herman José que os dez mandamentos não deviam ser parodiados com uma tábua de engomar numa lavandaria, nem Moisés tinha incluído nas palavras que o Senhor lhe ditara, "Não pirilamparás a mulher alheia". Alguém escreveu, então, que a Igreja (Católica) estava zangada, mas, como sempre, houve católicos que não se importaram nada com as graçolas de Herman e até confessaram em público acharem-lhe montes de piada. Há sempre católicos que se escandalizam, muito compreensivelmente, quando alguns objectos, associados à sua fé, se podem confundir com ela. Nada de novo.

Uns sim, outros não.

O humor, a crítica, a análise, suscitam sempre reacções de desconforto por parte de quem vive colado aos seus ritos, confundindo-se com eles, sem tempo, vontade ou disposição para se pôr a questioná-los.

Desta vez, porém, com o seu "Caim", José Saramago fez o pleno. Atirou-se ao "Livro" - a Bíblia - que é o elemento identitário reclamado por Cristãos das várias igrejas, Judeus e Muçulmanos. E se é verdade que o gesto da criação (literária e artística) não deve conhecer fronteiras, também é sabido que cada um se indigna com o que entende, e o autor de "Levantado do Chão" já tem uma fila enorme de gentes despeitadas, ofendidas e agravadas, não tanto com o livro, que ainda não tiveram tempo ou vontade de ler (apesar de ser pequeno e de fácil leitura), mas com as detracções que Saramago fez ao ler a Bíblia com olhos de ateu, ao comentá-la sem respeitar a hermenêutica vaticana, e, finalmente, ao tirar conclusões de carácter popular, discutíveis, manhosas e brejeiras tal como convém ao registo popular.

Resultados:

1) o Cardeal Patriarca correu a falar com o 1º Ministro. Há quem pense que é por causa da formação do novo governo. Eu suponho que foi por causa das declarações de Saramago. Quem irá sobraçar a pasta da Cultura?

2) o deputado europeu Mário David afirmou que gostaria de ver Saramago desnacionalizado, explorando as "ameaças" que o nosso Prémio Nobel da Literatura fez ao tomar conhecimento de que o Sec. de Estado da Cultura, Sousa Lara, (de um governo do PSD chefiado por Cavaco Silva) tinha vetado o "O Evangelho segundo Jesus Cristo" expulsando-o da lista de obras concorrentes ao Prémio Literário Europeu. Desde aí, o PSD nunca mais foi o mesmo e, Mário David, também membro do PSD, vem confirmá-lo.

3) Cavaco Silva declina convite dos Gato Fedorento Esmiuça os Sufrágios. Supõem muitos que se trata de uma precaução contra o ridículo. Disparate. Cavaco sabe que seria confrontado com a polémica que a esta hora divide o mundo bíblico. Necessita do apoio de todos para as próximas presidenciais. Deste modo, não beneficiará Caim... nem Abel. Além disso, não terá de explicar-se sobre a lucidês de Sousa Lara e o facto de ele ser seu subordinado na altura do desconchavo.

4) Salman Rushdie ficou cheio de inveja. Palpita-lhe que "Caim" vai ser mais lido do que "Os versículos Satânicos". As taxas de alfabetização, os pluralismos democráticos e os mercados livreiros fazem alguma diferença entre o Irão e a União Europeia.

5) Maitê Proença já encomendou um exemplar de Caim. Depois do que os media portugueses lhe fizeram, não quer que nada do que é português lhe escape.

6) O Papa Bento XVI, ciente das procelas que se avizinham, convidou os Anglicanos a regressarem ao seio Católico. Quinhentos anos, na divina presciência não devem valer mais do que 2 ou 3 segundos dos nossos relógios. O lugar deles na Igreja Católica nem sequer arefeceu ainda. Falta apenas saber se a Coroa Inglesa estará agora pelos ajustes.

Com franqueza, José Saramago!

Não havia necessidade!

2009-10-19

 

As Mulheres Socialistas e a História



Maria Manuela Augusto, Presidente do Departamento das Mulheres Socialistas, veio dizer ao DN (ver notícia intitulada Mulheres do PS querem um governo mais feminino ) que a composição do próximo governo ganharia com a inclusão de um significativo número de mulheres. A aspiração é justificada, tanto mais que vem de um partido que se bateu denodamente pela Lei da Paridade, apontando-a, até, como uma das marcas de "esquerda" da governação socialista. Porém, ao olhar para trás, Maria Manuela Augusto afirma ter feito um "balanço muito positivo" da acção das mulheres nos governos de José Sócrates.

O que quis ela dizer com isto?

Que Ana Jorge, Ana Paula Vitorino e Maria Manuel Leitão Marques estiveram à altura.

A presidente do Departamento Nacional das Mulheres Socialistas, além de esquecer outras mulheres que passaram pelos governos de José Sócrates, refere-se à "própria ministra de Educação, que fez um trabalho excelente - e a quem a história fará justiça."

Ao tratar Maria de Lurdes Rodrigues como um caso à parte, Maria Manuela confirma o carácter especial (problemático? polémico?) que o consulado da Educação revestiu. Porém, ao exprimir o voto de que a história lhe venha a fazer justiça, a presidente das Mulheres Socialistas parece estar a sustentar a tese de que a história ainda não lhe fez justiça.

Já agora, convém não deitar pela borda fora a história que foi feita até hoje. Nela cabem, quer se queira ou não, as grandes manifestações dos professores e a obstinação da ministra, acompanhada de uma fraquíssima capacidade de diálogo.

Pois se tiver de ser apenas a história a fazer-lhe justiça, que o faça também de um modo justo, sem "esquecer" nenhum dos episódios lamentáveis que muitas gentes vão querer esquecer muito depressa.

Quando se evoca a história, tal como noutras questões sociais, convém ser inclusivo. Que lhe seja então feita justiça por inteiro!

 

" Havia ali matéria de notícia? Havia – e muita."

A Crónica de Joaquim Vieira - Provedor dos leitores do Público - que sai aos Domingos também está aqui no seu blog
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"A notícia culminou com o autêntico haraquiri político em directo que foi a comunicação do Presidente"
...
"Quanto à revelação pelo DN, em 18 de Setembro, do email dos jornalistas do PÚBLICO, perguntava-se também na emissão televisiva [em Os Prós e os Contras] se era legítima (dado violar correspondência privada), se não deveria ser acompanhada da revelação de como o email chegou ao jornal e se não haveria grave falta deontológica por se identificar a fonte confidencial de um jornalista.
"Mais uma vez, segundo o entendimento do provedor, o critério básico que deve prevalecer – atendendo aos princípios editoriais do DN, não muito distintos dos do PÚBLICO – é o do interesse público da notícia. E haveremos de convir que a manchete do DN – alvo de tentativas iniciais de desmentido, mas com uma incoerência que só serviria de comprovativo à sua autenticidade – causou considerável abalo no mundo político, então em plena campanha eleitoral para as legislativas, com reacções de todos os sectores, ajustamentos da agenda e do discurso políticos, eventuais efeitos no resultado das eleições e até a necessidade sentida pelo Presidente de vir a público explicar-se. Como é que não havia ali matéria de notícia? Havia – e muita."
...

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2009-10-17

 

Uma monstruosa "Casa Pia" na "piedosa" Irlanda

Já antes do Relatório Ryan de Maio de 2009, vária literatura, livros, reportagens e testemunhos, tinham dado conta da "traição do Estado da catolicíssima Irlanda em conluio com a Igreja" que reduziu, em colégios religiosos apoiados pelo Estado, milhares de crianças, as mais desprotegidas e abandonadas, ao trabalho escravo, aos abusos sexuais e toda a casta de maus tratos, em especial às que não tinham família ou às que não recebiam visitas e a quem faziam crer que a não tinham.
O horror em "escolas" onde as crianças eram mantidas no analfabetismo e eram espancadas e aterrorizadas se não cumpriam as metas de trabalho estabelecidas. Eram escondidas do mundo exterior do qual tudo ignoravam. Hoje na grande reportagem do DN aqui e aqui  ou guardado aqui e aqui.

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Mais que a táctica eleitoral a Grande Crise pôs em cheque o PSD

Hoje no Público Vasco Pulido Valente vaticinou a continuação da desgraça no PSD por muito tempo: até que a Grande Crise se dissipe e seja esquecida. Porque, considera ele e bem, a tónica da estratégica do PSD e da direita em geral ficou marcada por menos Estado, privatizações e mais privatizações incluinda a da CGD, menos impostos ou seja menos Saúde, menos Educação, menos Segurança Social. Ora contra isso estão não apenas os trabalhadores e classes médias mas a maioria do tecido empresarial portugês que tem sobrevivido à sombra do Estado desde que há memória.

 

PSD com liderença em "gestão corrente"

Uma derrota eleitoral não deve obrigar, por princípio, a pôr em causa a liderança do derrotado. Isso depende da dimensão da derrota e de ela ser razoavelmente atribuível ao seu mau desempenho ou à estratégia política adoptada. No caso do PSD é evidente que a direcção de MFLcontribuiu para a derrota com um manifesto mau desempenho. A táctica geral da campanha incluindo a da "asfixia democrática" que tem sido atribuída principalmente a Pacheco Pereira mas teve o apoio e um protagonista de peso que acabou, aliás, desmascarado: o PR, com "as escutas", foi desastrada.
Isto é razão mais que suficiente para que MFL seja afastada a curto prazo e portanto antes do fim do seu mandadto em Maio. Mas acresce que ela própria diz que não se recandidatará e então deixa o PSD em "getão corrente".
Ângelo Correia patrono de PPassos Coelho já disse o óbvio na SicNotícias, que o PSD necessita de ter uma liderença, com urgência, que não seja apenas virtual. Machete pronunciou-se também pela insustentabilidade de um interregno de 7 meses.
O professor Marcelo e os outros potenciais candidatos à liderança opôem-se ou calam-se gerindo o "timing" de acordo com o que julgam ser o seu interesse pessoal na corrida ao topo borrifando-se para o que possa ser entendido por um abstrato "interesse do PSD" que julgam, e talvez com razão, que também está totalmente ausente em Ângelo's ou Machete's.

2009-10-15

 

Velhas Sanfonas (1).



O Partido Socialista ganhou as eleições legislativas. Tem condições políticas para governar. Porém, ainda não sabe com quem. É uma organização que se reclama da esquerda (quando o rei faz anos) mas hesita à brava sempre que tem de fazer a demonstração de que o rei foi corrido pela República.

Segue-se, agora, aquela cena nauseabunda, em que os dirigentes do PS rasgam as vestes e apontam para o BE e para o PCP bradando que, com estes partidos, não é possível governar (à direita), enquanto o PCP e o BE denunciam a intenção do PS em continuar a mesma política do Governo anterior, mas à procura de uma bengala parlamentar.

Apesar de já sabermos o que se vai passar, preparamo-nos para seguir atentamente os rituais do costume.

O PS é um partido de governo?
É.

Para governar à direita ou à esquerda?
Nós desconfiamos...

Porém, os dirigentes do PS parecem nunca saber...

2009-10-14

 

A boa e a má moeda
















Tal vão os câmbios em tempo de crise.
A diferença entre boa e má moeda cifra-se em 0,00145%
 

Barak Hussein Obama um bem merecido Nobel

As reacções na imprensa dos mais conhecidos analistas à atribuição do Nobel a Obama são, como era inevitável, bastante contraditórias e... bastante previsíveis. A última que li foi a de Pacheco Pereira no Público (2009-10-09) e o político que tão entusiasticamente apoiou invasão do Iraque e a Administração W Bush que conduziu a América ao mais elevado patamar de repulsa em todo o  mundo, não está satisfeito com a decisão do comité do Nobel.
O argumento mais comum dos incomodados com o Nobel da Paz de 2009 para desvalorisar os fundamentos da decisão é o de que atribuição só se pode sustentar pelo que Obama promete ou prometeu  e não pelo que tenha feito que seria ainda nada. E que não passa de uma forma de o condicionar a lutar pela Paz desviando assim a América do justo desígnio que acham dever ser o seu, o belicismo imperialista.
______
Nota: isto foi escrito no dia 10 quando saiu o artigo de opinião referido. Ficou para ali a aboberar, como rascunho, com a ideia de o acrescentar. Agora, já obsoleto, quando o sentenciava à guilhotina  do delete fraquejei e atirei-o para aqui. Peço a vossa indulgência.

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2009-10-13

 

O País com o passo trocado

Sem saber como explicar porque deram os eleitores mais votos ao PS do que ao PCP em Beja, Aljustel ou Marinha Grande onde o seu partido governava, a Jerónimo de Sousa não ocorreu melhor do que dizer às televisões "que o PS era o principal instrumento da direita para atacar o PCP." Melhor seria tentar explicar com causas mais plausíveis decorrentes da gestão autárquica. Porque assim lá terá de explicar a conquista de Alpiarça ao PS com um argumento equivalente e igualmente falso, do género: o PS é o melhor instrumento da direita para ajudar o PCP.
O país vai com o passo trocado. E não há maneira de o acertar pelo de Jerónimo de Sousa.

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Lições de Lisboa


António Costa foi certeiro ao dizer que os que quiseram unir-se ganharam e os que se recusaram perderam.

O eleitorado do BE, e algum do PCP, mandou às malvas os  interesses sectários das direcções dos seus Partidos e foram calmamente votar António Costa e impedir que Santana Lopes lançasse a capital no desgoverno.

Uma lição de maturidade política e exemplo de cegueira de directórios partidários.

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2009-10-12

 

"PS surpreende na vitória do PSD"

"Roubei" este título PS surpreende na vitória do PSD, por João Marcelinoporque acho que diz tudo o que, genericamente, se passou nas autárquicas de ontem.

Já aqui escrevera que o PSD iria ter o maior número de Presidentes de Câmara e que isso lhe dava a qualidade de partido ganhador.

Mas o PS surpreendeu, apesar da nódoa que foi a perda de Faro. Parece que o Algarve e a Madeira não se andam a entender com o PS, pois todo este ciclo eleitoral foi terrível nesse "desentendimento".

Mas, sem dúvida, a grande vitória, apesar de muito sofrida, foi averbada em Lisboa, não só pelo simbolismo, mas porque é a capital e ainda porque as forças em presença estavam aparentemente em desequilíbrio (a direita unida contra as esquerdas separadas).

Sobre esta vitória, há muita reflexão a fazer, nomeadamente no campo das esquerdas, pois o percurso poderia ter sido bem outro.

2009-10-09

 

A questão das Autárquicas

O resultado das autárquicas estava/está claro, é "conhecido". Haverá certamente umas quantas transições de Autarquias como sempre houve em todos estes actos eleitorais.

O PSD terá o maior número de Câmaras.

Até aqui nada de novo.

A grande questão é Lisboa. A grande derrota do PSD, ou melhor dizendo ,da actual "gestão" deste partido é, como tudo indica, perder Lisboa.

E porquê?

Tudo simples. Somente Lisboa foi uma escolha claramente política de Ferreira Leite.

Porto, Coimbra, Sintra, etc, eram dados adquiridos: Rui Rio era o candidato natural, assim como Carlos Encarnação ou Fernando Seara. Com isto apenas digo que não houve qualquer decisão de Ferreira Leite. Eram eles os decisores de avançarem ou não.

A derrota em Lisboa a dar-se e, assim, o espero é uma derrota para toda a direita. que vai a eleições coligada. Não consigo, pois, descortinar razões para que algumas esquerdas andem tão preocupadas com tal possibilidade.

 

Barack Obama - Prémio Nobel da Paz

Ouvi vários comentadores de política muito admirados com a atribuição deste prémio Nobel.

Surpresa, de facto, acho que houve. Mas olhando para trás, muitos "Nobel da Paz " foram atribuídos a pessoas ou entidades de menos mérito. Porque não a OBAMA que, a seu modo, anda num esforço meritório de Paz para o mundo, com a defesa dos EUA sempre em primeiro lugar, é claro?

Podemos não concordar com ele em vários aspectos.

Pessoalmente, tenho sérias dúvidas sobre a direcção traçada para o Afeganistão. Mas reconheço-lhe esforço e mérito e, como tal este, Prémio talvez lhe dê mais força. Leia ainda "o valor das ideias" Barack Obama, Nobel da Paz - E agora, Obama?

2009-10-07

 

Felizmente, ainda há gente que pensa!

Carvalho da Silva é um exemplo. Excelente a sua atitude e decisão tornada pública.

Ao vir hoje declarar o apoio a António Costa para a Presidência da Câmara de Lisboa demonstra que sabe distinguir que algo de fundamental está em jogo na Câmara de Lisboa

E de facto está. Neste momento é de extremo interesse nacional barrar o caminho de Santana Lopes ao Município da Capital. Carvalho da Silva percebeu bem e não hesitou em publicamente assumir esse seu pensamento.

Sabemos que a distância política entre António Costa e Carvalho da Silva é muito grande. Mas o problema agora não é esse. O problema imediato é o da direita na governação de Lisboa.

Há que impedi-lo e impedir significa pôr lá António Costa e, de seguida, exigir-lhe a factura e a toda a equipa: uma boa governação da Capital.

2009-10-06

 

Sobrescritos mal fechados


Alves Dias, Prof. da Universidade Nova - ontem, na Fundação Mário Soares, na apresentação do livro A Maçonaria e a Implantação da República - informava que vários conspiradores na preparação da revolução republicana de 1910, comunicavam as suas mensagens secretas displicentemente através dos Correios e… pior ainda, em sobrescritos mal colados. O que, é claro, deu origem a uns puxões de orelhas de “irmãos” mais avisados.

Conclusão minha. É pecha nacional. A prova é a trapalhada dos emails mal fechados do Público para a Madeira, caídos (em desgraça) no Diário de Notícias. Pouco versados em História, Cavaco Silva e José Manuel Fernandes, pensaram logo em “escutas” e no SIS quando afinal tudo não passou , certamente, de sobrescritos mal fechados.

 

AMÁLIA - Estranha forma de vida



No dia do 10º aniversário da sua morte fica bem, aqui no PuxaPalavra, Amália Rodrigues junto dessa outra grande artista que foi Mercedes Sosa.

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2009-10-05

 

Mercedes Sosa. Uma flor de adeus.



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Como a Madeira se diverte ... Alberto João não encaixa

Primeira parte da inauguração http://www.youtube.com/watch?v=mF8SiYuzWZo .

Veja-se ainda a segunda parte http://www.youtube.com
 

Da Câmara de Comuns ...

Sobre a República ... relembrar sim. Comparar!! Pouco ajustável.

Mas vejam.


 

Mercedes Sosa

Já lá vão uns bons anitos. O 25 de Abril ainda não tinha cantado.

Estive em Madrid em tempos difíceis por razões que não interessam para este escrito.

A repressão de então era forte tanto em Espanha como em Portugal. Mas o acesso aos cânticos de resistência eram ali mais fáceis do que em Lisboa.

Uns amigos de Madrid levaram-me às compras de música revolucionária. E lá trouxe uns tantos discos que ainda hoje conservo de Mercedes Sosa e de outros latino americanos e até de cantores portugueses exilados em Paris.

Mercedes Sosa acaba de nos deixar. Os discos ficarão comigo, pois foram sempre uma boa companhia.

 

Cavaco Silva comemorou a sua República

Cavaco Silva não esteve presente na varanda da Câmara de Lisboa, onde em 1910 houve o primeiro "grito" pela República em Portugal.

Tudo bem. As condições do país, campanha eleitoral em curso, poderiam justificar essa postura.

Os actores que actuaram nestas cerimónias comemorativas da República alinharam numa presença discreta.

Tenho dúvidas quanto à posição de Cavaco Silva. Não discursa na varanda da CML, mas discursa em Belém?

Qual a diferença? O Palácio de Belém não é a casa de Cavaco Silva.

E penso que discursa como Presidente e não como Cavaco Silva que anda a tentar redimir-se para um segundo Mandato de PR (confundindo os dois papéis).

Aproveita o falar, não lhe chamo discurso, indo ao encontro do que ele quer para falar de "ética" política?

Acho que Cavaco Silva ainda não fez uma séria introspecção para então nos poder falar desse tema.

2009-10-04

 

"Voto útil mais útil"

«Quem votar em Isaltino Morais ofende a democracia e declara-se potencial cúmplice de um acto de corrupção. Se o voto, elemento fundamental do sistema, passar a estar ao serviço da imoralidade e da política sem ética então a democracia desmorona-se. Perde as qualidades que lhe conferem superioridade.»  

diz, João Maria de Freitas Branco, eleitor do concelho  de Oeiras, "filósofo", como ele costuma dizer, em vez de licenciado em Filosofia, melómano (não fosse ele filho de João Maria de Freitas Branco que ensinou, nos 29 anos que durou o seu programa "O gosto pela música" tantas gerações de Portugueses a amar a grande música) e homem de vastíssima cultura e rectidão.
Do seu post extraí o parágrafo que inicia este texto. No entanto a leitura de todo o artigo... recomendo-a vivamente.

Ei-lo:

«Quem me conhece e tem acompanhado o meu percurso político-ideológico sabe do meu desafecto à tese do voto útil. Cada voto deve expressar aquilo que, em consciência, o cidadão eleitor considera ser a forma de melhorar o estado de coisas. A aposta no mal menor, em nome dum suposto “voto útil”, representa perda de autenticidade e raramente satisfaz os interesses do votante. Quando um político declara só existirem dois votos úteis, o voto em A (ele próprio), e o voto em B (o alegado adversário principal) está despudoradamente a insultar o eleitorado e a democracia. Todo o voto é útil desde que consciente, fundamentado e bem informado, cognitivamente alicerçado. Por isso, sempre entendi e entendo ser bem útil o voto nas forças políticas que, mesmo não ganhando, se opõem ao sistema vigente, o capitalismo gerador de desigualdades crescentes, e que procuram edificar novo sistema alternativo que inverta o processo, reduzindo as desigualdades e a injustiça social, e cumprindo o esplêndido programa iluminista da Igualdade.
Sem pôr em causa ...»  Continua aqui.
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Nota: Fiz uma correcção. Sobre o mesmo assunto o autor publica no Público de 2009-10-03 este artigo.

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2009-10-02

 

Deve & Haver (7)



A cavalo na estrutura do DailyShow de Jon Stewart, os Gato Fedorento atiraram-se ao esmiuçamento dos sufrágios com particular felicidade. Mais ou menos tensos, confiantes ou defensistas, os actores políticos têm desfilado por Carnaxide, mostrando o fair play que qualquer candidato, em campanha ou fora dela, ganha em ter.

Todos?

Bom. Há uma excepção.

Paulo Portas conseguiu vencer o concurso do autoritarismo.

Quando Ricardo Araújo Pereira o confrontou com a proposta do CDS/PP de pagar uma parte do RMG em "géneros", Paulo Portas interrompeu-o, afivelando um semblante de profundo aborrecimento.

"Sabe? Há coisas com que não se brinca. E com a fome das pessoas não se brinca" - ciciou, naquele tom sentencioso que deixa à entrada das feiras e mercados.

A entrevista prosseguiu, é claro.

Mas aquela tirada traiu completamente o que há de mais conservador na nossa cultura. Um político, convidado a participar num programa humorístico, tem a lata de se pôr a ensinar ao humorista, em tom professoral, com que coisas se brinca ou não se brinca.

O conservadorismo mais reaccionário é assim mesmo. Não se limita a disputar a influência. Tem de impor as regras, os termos, e definir o que é aceitável e o que não é. Não lhe chega dialogar e debater. Tem de ditar as condições e mandar.

Espantoso!

Se fosse uma batalha naval, Paulo Portas já tinha um porta-aviões no fundo.

Assim, perdeu apenas mais um submarino...

 

Um jogo de lotaria ...

Pelo menos para o público em geral...

Sócrates convocado para Belém.

Toda a gente fica na expectativa. Depois daquela troca de galhardetes entre PR e PS, em que, no meu entender e de quase toda a gente, o Presidente Cavaco Silva se saiu pela porta baixa, não se percebe a que título Sócrates era convocado. Começam a aparecer as ideias mais mirabolantes e uma delas é que Sócrates nem vai ser indigitado para formar governo. A mente portuguesa é muito imaginativa!

Afinal para espanto de todos. A convocação transforma-se no processo de consulta a partidos, fase prévia da indigitação.

Mas uma pergunta, esta conversa a sós pode funcionar de consulta ao PS?

Ou foi apenas "uma saída" para um acto pouco oportuno do Sr. Presidente, que constatando o mau ambiente reactivo nacional que a sua comunicação teve, resolveu dar a volta?


 

Compromisso à esquerda











O link está na barra da esquerda, à distância de um clic para
quem queira assinar.

 

A quadratura de Pacheco Pereira

" A quadratura do círculo" debruçou-se hoje sobre a recente comunicação ao país do PR. Trouxe várias novidades. A primeira foi José Magalhães ter reocupando o seu antigo lugar, em substituição de António Costa que está em campanha e tinha decidido não participar. A segunda foi Lobo Xavier não vir em socorro de Pacheco Pereira e dizer que as notícias do Público em Agosto sobre as escutas não foi invenção do jornal deixando a paternidade para fonte de Belém. A terceira foi Pacheco Pereira ter saído tão derrotado na conversa (donde costuma sair vencedor) como na orientação que deu à campanha de Manuela Ferreira Leite.
A prestação de PP na "Quadratura" pautou-se pela "verdadeira leitura", ou "a leitura autêntica" das palavras do Presidente com tanto ênfase que parecia estar ainda em campanha eleitoral para a AR. Com tal estratega percebe-se melhor as razões da derrota do PSD.
José Magalhães desenvolveu uma linha de argumentação que valorisou o facto do PR ter negado as escutas e de que a comunicação do Presidente encerrara o assunto. Uma posição "politicamente correcta" que várias vezes desequilibrou Pacheco com a técnica do Aikido, aproveitando os seus próprios impulsos.

2009-10-01

 

O PR chamou ao Palácio o Secretário Geral do PS

Mas não era a auscultação que o PR tem de fazer aos partidos. Era uma conversa especial. Para quê? Tabu.
À saída do Palácio:
- Então diga, diga, que conversaram?
- Foi uma boa conversa.
- Mas... que assunto? ...
- Foi uma boa conversa. Não digo mais nada.
Num evento, mais tarde, com a outra parte:
- Então no que consistiu a conversa com o...
- Não digo nada.
- Mas foi o assunto da formação de governo? Diga...
- Não digo nada. Não digo nada.
- Mas foi uma boa conversa como disse o...
- Boa. 
Antes esta não comunicação do que a dos últimos dias.
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Nota às 23 h.: afinal ao contrário do  anunciado a conversa do  PR com o 1ºM terá sido no âmbito das auscultações para a formação de Governo. Ou então a conversa foi tão "boa" que se transformou nisso.
 

Deve & Haver (6)













(Click sobre a foto para aumentá-la)


No website da Health Consumer Powerhouse, foi acrescentado, à pressa de forma um tanto atribiliária, que Portugal, tal como dissemos nos poste anterior, não ficou muito mal colocado (atribuem-lhe uma posição intermédia) em matéria de "e-health solutions".


Quem terá telefonado para lá para que, diferentemente de todos os outros países analisados, o item de Portugal ostente aquela longa e inestética legenda?


Provavelmente, foi para compensar a circunstância pouco abonatória para as autoridades portuguesas, de Portugal acusar um declínio continuado, atrás da Espanha (também em declínio) e da Grécia.


O comunicado de imprensa, em português, parece ter sido redigido por quem não leu o estudo. Oculta o facto de, em termos gerais, o sistema de saúde português, se encontrar em declínio há vários anos.


Não há nenhum dos denodados defensores das políticas de saúde de Correia de Campos, Ana Jorge e José Sócrates que queira dizer qualquer coisita sobre isto?

 

País "Encavacado"


Quanto não se sabe nadar em águas revoltas o que se deve fazer é boiar e esperar que a turbulência passe. Esbracejar é contra-indicado porque quanto mais se esbraceja mais se afunda.

Cavaco Silva é, como já pôde provar quando foi 1º M, que é competente. É competente na sua especialidade a Economia, ciência social que, como tal, oferece uma larga margem para os vaticínios "científicos" mais desencontrados. E revelou-se competente, de acordo com as opções da direita, quando à frente do Governo. Mas, como analisa um amigo meu, a sua maneira é adversa à gestão serena das contrariedades e da controvérsia da luta política. Não é capaz de enfrentar com serenidade os diferendos e interesses contraditórios na complexa arena político/partidária. A sua pulsão autoritária não se compagina com as disputas em regime democrático.

A política em democracia está repleta de manobras, golpes baixos, intrigas, jogos subterrâneos, que acompanham e condicionam a política reluzente à vista de todos. Desde Maquiavel que se sabe bem de tudo isso. Jogar esse jogo sujo também tem, apesar de tudo, as suas regras e os seus limites. O Chefe não pode nunca proceder de modo a perder a face. Cada jogada suja tem de ter sempre uma porta de recuo. Uma boa desculpa, prova de "inocência" do Chefe. E ter preparada para o contra-ataque a jogada da vitimização.

Goste-se ou não a luta entre os Homens, seja em que actividade for, e portanto também na política, está sujeita à amoralidade.

Quanto mais limpa, mais honesta, mais portadora de ideais for a actuação dos líders mais prestígio terão mas nem sempre maior êxito atingem, como se sabe.

O que Cavaco Silva tentou fazer, por acção ou omissão, foi ajudar o seu PSD, a facção dirigida pela sua fiel colaboradora Manuel Ferreira Leite. Não é nada que em princípio não seja tolerado e menos ainda, estranho à política democrática. Mas Cavaco Silva não tem jogo de cintura e não é capaz da jogada fina e arguta da florentina perfídia política.
A operação contra o Governo e o PS, na campanha eleitoral, a inventona das escutas, montada pela "fonte da presidência" e José Manuel Fernandes do Público, foi mal gerida e o PR ficou a descoberto. Não ter esclarecido o caso antes dos votos e pior, ter insinuado que haveria mesmo vigilância do Governo ao PR ,com a afirmação "depois das eleições vou-me informar melhor sobre aspectos de segurança" parecia ser de todo impossível de "explicar". A menos que houvesse escutas! Mas se tivesse provas de escutas então a situação era ainda mais penalizadora do Presidente por não tomar medidas.

Antes de se meter neste jogo sujo deveria ter pedido ajuda ao grande criador nacional de factos políticos, Marcelo Rebelo de Sousa.

A incomodidade do Presidente foi-se-lhe tornando intolerável devido à excessiva ambição de intocável quanto a imparcialidade no debate político/partidário.
Cavaco Silva devia, portanto, uma explicação ao país e a que deu agravou sobremaneira a sua situação. Fugiu à explicação das "escutas", expôs-se como fraco analista político, entrou em confissões pessoais espúrias e deu de si uma imagem de periclitante sanidade mental.

Já toda a gente, que não estivesse obnubilada pela cegueira do facciosismo, tinha percebido tudo. Os beneficiários do PSD, os obcecados pelo ódio a Sócrates, o PCP, fingiam que não percebiam e apoiavam no todo ou em parte as teses do PR. Mas só era possível enquanto ele conseguisse salvar a face. Para sua desgraça nem uma burka, ou simples capuz tinha de reserva no palácio.

Faculto aqui, mas já demasiado tarde para o caso em análise, um pequeno truque que se usava na luta clandestina contra a ditadura, luta que Cavaco Silva saberá ter existido.

Nesse tempo, quando opositores da ditadura se reuniam para conspirar, fazia-se o "minuto conspirativo": combinava-se uma "boa" explicação para gente por vezes tão dispar estar ali reunida, no caso de eventual entrada abrupta de uma brigada da PIDE para os prender. Não resolvia o problema mas salvava a face.

Era melhor ter ficado calado. Ficava em falta mas não agravava a situação. Assim o Presidente ficou mais fragilizado e aparentemente sem a serenidade de que o país que precisa particularmente numa conjuntura tão exigente como a actual.

A minha proposta é mesmo que se esqueça o caso. Finja-se que não passou nada e ver se a atrapalhação do Presidente não atrapalha ainda mais o país.
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Nota: O post é de ontem mas a TVcabo interrompeu, na minha zona de residência, a ligação à rede, por isso só agora aqui vai, já talvez a destempo. O qualificativo "encavacado" é como se sabe uma expressão de Ana Gomes. Que no seu blog era prova de humor mas naquela cerimónia, onde estava o 1º M, é deslocada.

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Deve & Haver (5)

Tentando emergir dos nossos queixumes e jogo de cintura partidário, um olhar mais circunspecto, desapaixonado e sistemático, sobre o nosso sistema de saúde, dá-nos um quadro surpreendente.

De acordo com o índice europeu dos cuidados de saúde, analisado no inquérito anual levado a cabo pelo Health Consumer Powerhouse (ver notícia da TSF aqui, e estudo completo ali), Portugal oferece serviços cuja qualidade é francamente má (listas de espera para consultas de especialidade, cirurgias, p. ex) a par de uma elevada qualidade no atendimento telefónico (telemedicina, saúde 24, aconselhamento) e na utilização da internet para obter informações, marcar consultas, etc.

A modernização, informatização, e excelência nas comunicações e no marketing, ultrapassaram, de longe, a capacidade de satisfazer o que é fundamental num serviço de saúde: diagnosticar e tratar a tempo - minimizar o sofrimento e salvar vidas.

Não caio no botabaixismo de acusar o Governo de ter trabalhado "apenas" para as estatísticas. Levo muito seriamente em linha de conta os bons resultados alcançados, se bem que, alguns deles decorram daquela generalidade a que costumamos chamar o progresso civilizacional (decréscimo da taxa de mortalidade infantil, p. ex.).

Mas pergunto porque é que a nossa comunicação social tem tratado os resultados deste estudo tão timidamente.

Será que, depois da inventona presidencial, anda alguém a plantar "silêncios" nas redacções?





 

O discurso do Senhor Presidente sofre de truncagem de factos

O discurso do Presidente Cavaco Silva veio confundir ainda mais a situação das "escutas" a Belém, imputadas ao Governo.

Nada disto foi bom para o País e menos ainda para Belém no seu conjunto e, de tal modo, que a boataria, e a apreensão acerca de alguns problemas graves (a serem verdadeiros) e, muito incómodos (se o não forem), se espalharam por Lisboa inteira, aos mais diferentes níveis.

Mas aqui ficam algumas truncagens de factos.

Cavaco Silva não pode passar ao lado de alguns dos assessores do presidente de terem colaborado no programa do PSD (independentemente de isso ser a nível pessoal, dizendo que "investigou" e não tirou essa conclusão). Quem divulgou a noticia desse facto foi o próprio PSD. Assim, não pode embalar para um ataque a altas personalidades do partido do governo (expressão pouco diplomática) que reagiram questionados, na altura, pela comunicação social acerca dessa "colaboração".

Segunda questão : O PR não pode considerar "velho" o email publicado pelo DN no passado dia 18 de Setembro - troca de correspondência entre jornalistas do jornal Público datado de Abril 2008 sobre um encontro com o assessor do PR, suspeitas de escutas, etc - omitindo que as notícias do Público de 18 e 19 de Agosto deste ano, se basearam no teor desse mesmo "velho" email, como lhe chamou o Presidente.

Terceiro, o Presidente interroga-se sobre a veracidade de algumas afirmações desse email. Sendo assim, porque não desmentiu as notícias do Publico de 18 e 19 de Agosto deste ano, pergunto? Por outro lado, o mesmo "velho" email advoga que Fernando Lima, na tal conversa de café discreto com o jornalista do Publico, entregou um dossier sobre o assessor de Sócrates, o tal que "espião" socialista que tinha integrado a comitiva do PR na visita oficial à Madeira.
Porque será que o PR se esqueceu de explicar ao pais este "pormenor" na sua comunicação?

De forma alguma estes três factos se esgotam nesta abordagem.

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