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2013-09-12

 

A Síria: 110 mil mortos e 4 milhões de deslocados


Diana Soller e Tiago Moreira de Sá (Universidade de Miami e IPRI-UNL e UNL-IPRI),  cientistas, suponho,  referem, num artigo de opinião, no Público de 10 de Setembro de 2013, quatro guerras promovidas pelos EUA, em dez anos, no Médio Oriente.  Afirmam que  
"... em nossa opinião estas decisões não são inteiramente baseadas em interesses estratégicos, mas radicam numa longa tradição liberal, presente nos EUA pelo menos desde o início do sec. XX, que prescreve que as democracias punam e corrijam grosseiras injustiças perpetradas por autocracias."
E esta seria a razão por que Obama ameaçou primeiro invadir a Síria, depois apenas bombardear e agora talvez se fique pelo desmantelar do armamento químico de Damasco, alternativa apresentada pela Rússia com a concordância da Síria e do seu aliado, o Irão.
Diana Soller e Tiago Moreira de Sá radicam este irreprimível impulso dos EUA (e outras potências democráticas) para castigar os regimes autocráticos que ofendem os direitos humanos  ou desrespeitam o direito internacional, em Imannuel Kant, o grande filósofo prussiano do séc. XVIII e oferecem-nos uma viagem pela história dos EUA e dos presidentes norte-americanos que lhes parece corroborar a sua tese

Os autores  acham que “as intervenções punitivas e humanitárias que aumentaram exponencialmente nos últimos vinte anos, tem resultado quase sempre em fracassos e estão contra estas ” guerras punitivas” porque o que vem a seguir, é sempre pior “
Nisto estamos de acordo.
Salvo o devido respeito pela opinião dos articulistas acho que a história dos EUA e de todos os impérios desmente esta sua tese “kantiana” que tomo por manifesta vontade de dar, ainda que ténue, uma auréola de respeitabilidade e humanismo aos agressores imperialistas que se regem estritamente pelos seus interesses: dinheiro e poder. E não recuam ante a morte de mil ou de um milhão dos “súbditos”, das autocracias que decidem castigar e que afinal são delas vítmas inocentes.

Relativamente ao irreprimível apelo ao castigo dos “maus” por parte dos donos dos impérios imaginado pelos autores citados quero lembrar que então os EUA não castigaram Pinochet, antes o instigaram e apoiaram a derrubar o governo legítimo de Allende que o tirano assassinou e de caminho  mais uns 20.000 dos seus adversários políticos.
Também não suscitaram a ira dos EUA as brutais ditaduras da Argentina e do Brasil que nos anos 60 e 70 do século XX massacraram os adversários políticos chegando a atirá-los ao mar a partir de aviões. Ou a roubar os filhos bebés ou crianças a prisioneiros políticos para serem adotados e educados por adeptos seus. Os autores, que tomo por pessoas de boa fé, esqueceram-se do golpe militar organizado por Washington, executado pela CIA e encabeçado pelo coronel  Castilho Armas (http://es.wikipedia.org/wiki/Jacobo_%C3%81rbenz ) que derrubou, na Guatemala ,o presidente Jacobo Arbenz (1951-54) democraticamente eleito e que queria para a Guatemala as riquezas do seu país entretanto apropriadas por empresas norte-americana. Esqueceram-se  que os EUA apoiaram no  Haiti a ditadura terrorista e paranóica de Duvalier o Papa Doc.  Um regime que até chegou a colocar nus, na mesma cela, homens e mulheres, prisioneiros políticos, para diversão dos algozes.
Não se lembraram também do governo nacionalista de Mossadegh, (1951-53) eleito democraticamente na Pérsia (o Irão), http://pt.wikipedia.org/wiki/Mohammed_Mossadegh   que não quis ceder à URSS a exploração de campos de petróleo, o que os EUA consideraram apropriado  mas não perdoaram que fizesse o mesmo às companhias de petróleo norte-americanas. Foi imediatamente “castigado”. A Casa Branca em associação com a Grã Bretanha pressionou o Xá  Reza Pahlavi e este substitui-o de imediato pelo general Zahedi. Seria fastidioso prosseguir pelos infindáveis casos que tornam risível a tese “kantiana” de governantes imperiais justiceiros e humanistas.
Recordo só que o que se atribuía ao presidente F.D. Roosevelt (presidente dos EUA: 1933 – 45), um democrata, que quando questionado o seu apego à democracia e liberdade lhe perguntaram como era possível então os EUA apoiarem o brutal ditador da Guatemala  onde, na verdade, quem mandava era a companhia norte-americana United Fruit, ele teria respondido, "bem... sabe... realmente ele é um ditador horrível mas que posso eu fazer? Ele é “o nosso ditador”. 
Não é certamente o filosófico e irreprimível impulso Kantiano para o primado da justiça e da lei que leva os Estados Unidos a recusarem-se a assinar os estatutos do Tribunal Penal Internacional assinados, até 2012, por 120 países. Ou leva os EUA
. a  fornecer armas químicas a Saddam Hussein quando este era um “democrata” amigo para as lançar sobre as tropas do Irão que estavam a levar a melhor aos exércitos iraquianos na guerra de 1980 a 88, armas que depois Saddam usou também, entre 1986 e 89, no genocídio dos curdos iraquianos;
. ou a apoiar e a armar, com a Arábia Saudita e o Paquistão, a então amiga Al Qaeda e Bin Laden e os então “amigos” talibans a lutar no Afeganistão contra o regime apoiado pelos soviéticos que entretanto atribuíra às mulheres os mesmos direitos que aos homens,  direito ao trabalho, à educação, à intervenção política, a proibir a burka,  e a poderem andar na rua sem a “trela” de um homem;
. ou a instigar, armar e municiar, de braço dado com a democratíssima Arábia Saudita e outros “democracias” sunitas do golfo a rebelião contra o regime sírio onde, no melting pot das organizações terroristas, está a Al Qaeda,  que no terreno puseram desde logo em cheque os legítimos objectivos dos rebeldes democratas da “primavera árabe” que, se a rebelião triunfar, o mais provável é serem fuzilados.
Ora os presidentes norte-americanos fazem estas coisas não por presidirem ao “reino do mal” mas porque têm de defender quem garantiu e subsidiou a sua eleição: os interesses das grandes empresas multinacionais, do complexo industrial-militar (denunciado pelo presidente Eisenhower nos anos 50 do sec.XX).
Sem negar a minha concordância com várias das opiniões expendidas no artigo “Obama, a Síria e os vícios das sociedades liberais” não posso deixar de considerar uma ingenuidade ou estultícia  a tese de que as guerras ditas de punição resultam, pelo menos em parte, de impulsos democrático/justicialistas, decorrentes  de impulsos filosóficos e kantianos. 

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2013-09-08

 

Síria: gasodutos, petróleo, geoestratégia

 Não tem sido fácil acabar com as dúvidas sobre quem lançou o ataque com armas químicas em Ghouta, nos arredores de Damasco e cometeu o massacre de 1.400 vítimas inocentes incluindo muitas crianças.
Se as armas químicas foram usadas pelo governo Sírio invade-se ou bombardeia-se a Síria mas se foram da autoria dos insurretos? Bombardeia-se ou invade-se os EUA, Israel, a Arábia Saudita e outros países sunitas do Golfo? Pois são estes países que armam e pagam os vários grupos terroristas que são as tropas no terreno dos insurretos, AlQaeda, talibãns e outros jihadistas.
Na guerra terrorista que assola a Síria já morreram cerca de 100.000 pessoas e chegam a um milhão os deslocados. O anunciado ataque por parte dos EUA poderá levar à destruição do país que é um dos raros países árabes com um regime republicano laico ainda que autoritário e violento, longe dos padrões ocidentais, é certo, mas ainda muito mais longe dos padrões de regimes fundamentalistas como o da Arábia Saudita, um reino da família Saud e principal aliado dos EUA na região.
Aos olhos dos líderes de alguns países democráticos, uma intervenção militar mesmo que o responsável não tenha sido o governo de Damasco e mesmo que provoque 100 ou 1000 vezes mais vítimas inocentes é uma oportunidade excelente para os seus interesses coloniais/imperialistas, desde que suficientemente salvaguardada a sua imagem de paladinos dos direitos humanos aos olhos dos eleitores, tarefa entregue aos media.
Para se saber ao certo se tinha havido ataque com gás sarin, se as fotos correspondiam àquele crime e se tinha sido Bashar al-Assad o autor daquele intolerável massacre fizeram-se inspeções, esperou-se pelo seu resultado? Não. Fizeram-se votações. A votação na Câmara dos Comuns, levou os parlamentares (alguns, não todos seguramente) a ponderar com o máximo cuidado como é que o seu voto seria visto pelos bancos e as empresas que habitualmente financiam a sua campanha eleitoral. Ponderaram também como iriam reagir os seus eleitores habituais, escaldados com o Iraque, o Afeganistão, o Egipto e a Líbia. Tudo bem ponderado a maioria decidiu que:
1. não se sabe ao certo se houve ataque com armas químicas;
2. no caso afirmativo não se sabe se foram utilizadas pelo governo da Síria ou pelos terroristas do Hezebolah, seu aliado, ou se pela Al Qaeda ou outro grupo terrorista no terreno, organizados e pagos pela democratíssima Arábia Saudita, por Israel e pelos países livres, ao lado daqueles democratas sírios que se rebelaram em prol da liberdade, que representam, se tanto, 10% dos sírios e que, se triunfarem, serão presos ou mortos pelos fundamentalistas islâmicos, sunitas, xiitas ou alauitas, da Al Qaeda, dos talibans, da Irmandade Muçulmana ou do Hezbolah,.
3. assim, tudo bem "averiguado" e ponderados os interesses geoestratégicos dos EUA, os interesses do Pentágono, das empresas de armamento e das empresas com interesses no projeto do gasoduto (na imagem Qatar-Turquey Pipeline) que a Síria não deixa passar pelo seu território, que faça lá a América a guerra sozinha. Matem 1 ou 2 milhões de sírios, arrasem ou acabem com o país, façam o que entenderem, mas que Obama acolitado por Hollande, não os comprometam a eles, deputados da Câmara dos Comuns.
Interrogada por sondagem a opinião pública, 60% dos norte- americanos acham que não houve gás, ou a ter havido não se sabe quem o usou e que o Bashar al-Assad e o Obama se lixem e não os metam noutro sarilho como o do Iraque ou do Afeganistão porque os lucros são para as grandes companhias e quem paga as despesas são eles.
Já no parlamento português, um deputado do PS, cujo nome não fixei, e que não tendo sido desmentido pelo Largo do Rato certamente veicula a opinião do seu partido, descobriu que houve armas químicas e que elas foram usadas por Damasco o que o revoltou superlativamente dado o seu apego aos direitos humanos, e o levou a exigir, ao lado dos mais fracos dos poderosos, de Obama, do conservador David Cameron e do socialista François Holland, o bombardeamento da Síria e o derrube do ogre alauita.
Para aqueles deputados, membros do governo ou simples quadros aparelhados políticos das jotas ou dos partidos do “arco do poder”, ciosos da sua carreira política e que se decidiram a mercadejar “princípios” na bolsa de interesses da Casa Branca, do Pentágono, de Berlim, do Goldman Sasch, do Bundesbank, do BES ou de outros quaisquer poderes que garantam uma carreira política... para esses políticos, a sua consciência, a sua sensibilidade aos valores da liberdade, dos direitos humanos, da democracia é tal que perceberam logo que as armas químicas tinham sido arremessadas pelo governo de Damasco que assim oferecia, estupidamente e à borla aos “cruzados” o pretexto que  eles exigiam para invadirem o seu país.
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Notas:

1 . Israel realizou novo ataque aéreo à Síria (2013-09-05) contra supostos mísseis que seguiriam para o Hezbollah libanês.
2. A correspondente na Síria, da agência norte-americana Associated Press,  Dave Gavlak, diz que o morticínio do bairro Ghouta resultou de deficiente manipulação de armas químicas fornecidas pela Arábia Saudita a grupo rebelde em Damasco impreparado tecnicamente, segundo entrevistas no local incluindo ao pai de um dos jovens rebeldes morto. Ver também aqui.

3. Loureiro dos Santos: "Agora, presumo que os países estejam preparados para mostrar provas credíveis de que o regime de Assad foi o culpado, não é concebível que lancem um ataque sem provas de quem foi o autor», afirmou o militar.
Loureiro dos Santos frisou que ninguém fala num «terceiro actor» do conflito, os jihadistas – ligados à Al Qaeda e ao grupo Estado Islâmico do Iraque, seu afiliado – que se tiverem acesso a armas de destruição maciça (ADM) «não hesitarão em usá-las».

4. Síria:   [Fonte: The World Factbook - CIA]
Área: 185.000 Km2 (quase duas vezes Portugal).
População: 22.457.336 (2013). Árabes 90.3%, Kurdos, Armenios e outros 9.7%.
Regime: República, regime autoritário, laico, liberdade para a as diferentes religiões.
Parlamento: 250 deputados eleitos por 4 anos.
Partidos legalizados: 6, partidos kurdos não legalizados 16.
Voto aos 18 anos para homens e mulheres.
Idade média da população: 22,7 anos (Portugal 40,7) Mortalidade infantil por 1000 nascimentos: 14,63 (Portugal 4,54, EUA 5,9)
Religião: Sunitas 74%, outros islamitas incluindo alauitas, druzos: 16%, Cristãos vários: 10%, Judeus: pequenas comunidades em Damasco, Al Qamishli, e Aleppo.
PIB per capita: 5.100 dólares, em 2011 (Portugal 23.800 dólares, em 2012)
Serviço militar obrigatório para os homens 18 meses a partir dos 18 anos. As mulheres podem prestar serviço militar voluntário 

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2013-09-04

 

Ainda as armas quimicas na Síria

Loureiro dos Santos, nas alegações finais de hoje do DN, face a uma pergunta de Lumena Raposo "Mas o uso de armas químicas já não parece estar em causa mas sim quem as utilizou: o regime ou os rebeldes?" responde:

"Isto é ainda mais difícil de demonstrar. Em termos estratégicos não faz qualquer sentido que tenha sido o regime de Bachar al-Assad que está a ganhar a guerra, não ganharia nada com isso. Foi um ataque que só interessa aos rebeldes, apoiados pela Arábia Saudita, e a Turquia, aos jihadistas. E os EUA vão actuar como se fossem a força aérea deles (jihadistas)! Não faz sentido".

Sublinho o regime de Bachar-al-Assad está a ganhar a guerra.

Não será exactamente por esta razão que este ataque está a ser perpretado? Não terá sido o uso das armas da responsabilidade dos rebeldes, tudo combinado com a Cia & companhia para culpar o regime sírio exactamente porque está em vantagem e não interessa?

Tudo é possível. E quem tem no cadrasto a espionagem de Dilma e do presidente do México, é capaz de tudo.

Mas uma coisa é certa. O regime sírio não é estúpido. Tem de certeza bons assessores, russos e chineses, e não iria fazer uma asneira básica destas.

Esperava mais de OBAMA. Mas já entendi, afinal, a cor não é suficiente. gera alguma simpatia. Mas o que lhe falta são os princípios políticos de democrata.

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2011-07-12

 

A luta de sempre. A da repartição da riqueza

Continua a guerra entre os congressistas republicanos, numa já longa deriva de direita muito extremada e o governo de Obama. Em causa o teto da dívida federal que pode colocar os EUA em incumprimento, em 6 de Agosto,  o que sucederia pela primeira vez na história do império, com consequências imprevisíveis.
Os republicanos querem que o governo diminua as despesas, "emagreça" o Estado (onde é que já ouvi isto?...) querem que elimine a reforma da saúde de Obama que permite pela primeira vez o acesso à saúde de milhões de norte-americanos pobres, ou que o reduza drasticamente. O governo não quer eliminar a sua promessa eleitoral mais simbólica e aceitando fazer algumas concessões, quer pôr fim ao maná, do tempo de W.Bush, que foi a drástica baixa de impostos às grandes fortunas. Também por cá, a nossa direita ( e recentemente um membro deste governo), lança o balão de ensaio da diminuição do número dos escalões de IRS, obviamente para diminuir a progressividade deste e favorecer as grandes fortunas. Espadejam com um argumento "fortíssimo" e comovente, simplificar o IRS.

Os muito poderosos querem ser, sempre, mais poderosos. 

Em resumo, o braço de ferro mantém-se entre o Obama, humanista, sim, mas demasiado conciliador e crente num consenso entre o bando das raposas e as galinhas, entre a cúpula radical das grandes fortunas e o cidadão comum.

É um braço de ferro, duríssimo, pela repartição da riqueza.

Afinal, lá na América, como por cá, na União Europeia e em Portugal. É a lógica natural do capital financeiro, sem regras, na sua crescente arrogância, sentindo-se impune sem o perigo que antes, o comunismo lhe inspirava e o travava. (Link)

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2011-07-09

 

EUA em 1 de Agosto, em default?

Os jornais davam conta, ontem, que os republicanos mantinham o braço de ferro com Obama, não cedendo à imperiosa necessidade que o Governo tem em obter autorização do Congresso para aumentar a dívida global federal sem o que, em 1 de Agosto próximo, os EUA (atenção! é os EUA, não é Portugal...) entrarão em default, isto é, não tem dinheiro para pagar as dívidas que vencem nessa data. Em resumo, entram no declive da "bancarrota".
Mas realtivisemos a situação. Em primeiro lugar os republicanos chegarão a acordo com o Governo de Obama. Ou, talvez mais provavelmente, este com eles. O que os republicanos, agora numa onda de extrema direita, querem não é os EUA em default, mesmo que seja os EUA do governo de Obama. O que estes representantes mais extremistas da alta finança querem é que o governo diminua as despesas com a saúde da raia miuda, a educação da cambada, de pretos, chicanos e americanos de origem europeia mas pobres, o que os torna uma variedade branca de pretos e chicanos. O que os "representantes" republicanos  querem é uma repartição da riqueza à moda de Bush (à moda implantada desde Reagan e que Obama quer mudar, ao menos um bocadinho) ou seja uma repartição mais favorável aos muito ricos.
Lá como, afinal, na Europa de Merkel, Sarkosi, BCE, e Ciª. Lá como no Portugal de Cavaco e Passos Coelho.

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2011-02-18

 

A difícil gestão da democracia

Paul Krugman, no jornal I de hoje, analisa os prementes problemas da realidade norte-americana e dá o sugestivo título à sua análise: Comer o futuro: a resposta republicana ao défice americano.
Vale a pena ler, diria que vale sempre a pena ler PK mesmo aos que estão distantes das suas concepções sobre a Economia e a sociedade.
Que problemas trata? De um problema essencial, do funcionamento da democracia em geral, por detrás da análise dos problemas da conjuntura política dos EUA.
Como dar a melhor solução (melhor para as grandes massas da população, não para os hiper-privilegiados) aos problemas económicos de um país no médio e longo prazo.
Cito:
...
"Os líderes republicanos proclamam aos sete ventos que as eleições intercalares lhes concederam um mandato para fazer cortes profundos nos gastos governamentais.
...
"O importante é perceber que, embora muitos eleitores afirmem querer uma redução dos gastos, quando se insiste um pouco percebe-se que tudo o que querem é cortar os gastos feitos com os outros.

"É esta a principal lição a retirar da última sondagem do Pew Research Center, em que se pergunta aos americanos se preferem gastos mais ou menos elevados numa série de áreas. Acontece que querem mais, e não menos, na maior parte das coisas, incluindo a educação e a saúde..."
...
"Ora o que andamos a ouvir desde Ronald Reagan é que o dinheiro que tanto lhes custa a ganhar está a ir pelo cano a baixo, que só serve para pagar hordas de burocratas inúteis ... Como podemos estar à espera que os eleitores compreendam a questão fiscal quando os políticos descrevem insistentemente a realidade de forma distorcida?"
_____________

A direita mais radical do Partido Republicano, a do Tea Party, investe milhões e milhões na desinformação e na propaganda de medidas que lhes darão um retorno multiplicado mas que apresentam ao eleitor como da maior vantagem para os que, na verdade, querem espoliar. E frequentemente podem parecer boas a quem não tenha a informação e formação suficiente para entender o alcance de medidas em geral complexas.
Barak Obama ou, em geral, quem queira vencer a direita e defender os interesses dos menos favorecidos tem, com frequência, de executar as políticas que lhes dêem satisfação imediata mas lhes comprometem o futuro.

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2010-11-04

 

A Grande Crise e Obama derrotam Obama

Obama sofreu a grande derrota há muito anunciada pelas sondagens. Conservou no entanto a maioria no Senado.
Aconteceu a Obama o que aconteceu a muitos outros presidentes dos EUA, perder a maioria na Câmara dos Representantes nas eleições intercalares. Afinal Obama, nisto, não fez a diferença.
Três razões explicam a derrota:
1) a grande crise global com a consequente travagem do desenvolvimento económico, o desemprego e menos dinheiro no bolso da classe média; 
2) o carácter conciliatório do cidadão Obama que pensa que as boas palavras, as palmadinhas nas costas dos republicanos ou as políticas "certas" podem convencer o adversário (na realidade o inimigo) a fazer o consenso. Leu pouco (ou mal) Marx e não entendeu bem o que é isso de interesses de classe. Parece não entender que o "certo" para a maioria dos americanos (que por sua vez nem sempre alcançam todas as consequências das políticas, vide o caso da saúde para os menos ricos) não é o "certo" para a oligarquia ou para aqueles da classe média que, por cupidez e estupidez, adoptam para si as dores daquela;
3) a grande mobilização da direita e da extrema direita do Tea Party, apoiada por dinheiro a jorros de organizações camufladas de "independentes", de "defesa da moral" ou "da cultura"  alimentadas pelas grandes fortunas, para atingir um compensador retorno financeiro através do controlo do poder político.     

É frequente o presidente eleito ver o seu partido derrotado nas eleições intercalares para o Congresso. Comportamentos opostos podem dar o mesmo bom resultado (eleitoral), depende das circunstâncias. Truman, em 1946-47, atacou o adversário para defender as suas políticas e foi reeleito. Clinton conciliou e também foi eleito. Mas Clinton tinha consigo o trunfo de a América viver um bom momento e ter nas contas do Estado um glorioso e  histórico superavit, exactamente o oposto do que Obama tem.
As grandes expectativas criadas pela sua vitória, vitória de um humanista, de um homem com um passado de integridade e acção guiada por ideais de justiça social e racial não podiam ir demasiado longe quando contava no essencial com a máquina do Partido Democrático e um grande movimento da juventude, das minorias e dos intelectuais, mas... mas... um movimento e não uma organização. 
As grandes expectativas e boas intenções assentavam em bases que em parte não tinham estrutura, cimento e comando a não ser pelo Twiter ou o Facebook. Por isso quem percebia isto sabia que, por melhor que fosse Obama, não poderia deixar de estar aprisionado nas malhas de Washington que ele prometia desfazer. 

Veremos o que faz Obama mas provavelmente seguirá, para além do que a boa táctica exija, a conciliação para além do que a prudência impôe e que lhe está nos genes. E se a economia dos EUA não der uma grande volta antes das eleições de 2012, que dificilmente dará, tem assegurada a derrota que será uma grande derrota para a América progressista.

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2010-01-23

 

[1916] Consegue Obama domesticar o monstro?

Novo"round" no ataque de Obama a Wall Street chama o Jornal de Negócios (Fim de Semana) às novas medidas com que o presidente dos EU tenta impedir os banqueiros de jogar à roleta com o dinheiro dos depositantes.

* Banca comercial separada da banca de investimento. Os bancos comerciais que recebem depósitos dos clientes estão proibidos de fazer aplicações financeiras com fundos próprios.
* Bancos proibidos de deterem, investirem ou colaborarem em "hedge funds" e empresas de capital de risco.
* Limites ao gigantismo dos bancos e suas quotas de mercado.
* Novo imposto sobre os maiores bancos para recuperar algum do dinheiro dos contribuintes que lhes foi prodigamente fornecido para salvar o sistema financeiro.
Criação de um nova agência  que proteja os consumidores dos abusos que levedaram a grande crise e controlo do crédito às famílias.
* Limitação dos escandalosos pacotes remuneratórios e bónus que os senhores da banca generosamente se atribuem e têm escandalizado o bom cidadão que acreditou nos "bons rapazes".
Isto a somar às reformas propostas em Junho e aprovadas em Dezembro pela Câmara dos Representantes está a criar, como é espectável, grande mágoa aos rapazes da finança que não tiveram mais remédio senão desembainhar a espada.
As reformas não são para matar o monstro (aliás nem sabem bem que tipo de bicho deveriam pôr no lugar dele) pretendem apenas açaimá-lo. Não será fácil.
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O touro é o tal que anuncia ao peão mais distraído que está ali, mesmo mesmo na Wall Street, em NY e não na lezíria ribatejana.

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2010-01-21

 

[1914] Obama, um ano depois

Barack Obama completou um ano de governo.Mudou os Estados Unidos? Sim e muito na sua imagem no mundo e na alma da América negra e de outras minorias. Mas ficou aquém do era possível ainda que o possível não pudesse ser muito.

Li uma biografia de Obama, de David Mendell, um jornalista do Chicago Tribune e também a sua autobiografia. Fica-se a gostar do homem. Pelo seu trajecto de vida, abnegação, recusa a uma vida fácil, (trocou uma carreira de sucesso e fortuna por trabalho voluntário no gueto de Chicago) pela sua inteligência e invulgares dotes comunicacionais. À comunicação ajuda muito ter ideias arrumadas.

Mas Obama é um conciliador e julga que o sucesso que obteve na direcção da consagrada e emblemática revista de Direito de Harvard, quando lá cursou, em que ficou célebre a sua escolha para a direcção democrata da revista de alguns republicanos poderia resultar aqui, nos assuntos de Estado, “naquilo que comanda a vida”, o dinheiro, o poder.

É um grave erro pensar que concilia os interesses das petrolíferas com a luta contra o aquecimento global, da indústria de armamento com a paz, das seguradoras com os dos 30 milhões de norte-americanos que não têm acesso à saúde, os fanáticos evangélicos neocons com os democratas, o Partido Republicano dominado pela extrema-direita com a esquerda ou o centro do Partido Democrático. É uma ilusão que já lhe está a sair cara e será fatal se não quiser ou não conseguir alterar o rumo.
Penso que tinha margem de manobra, ainda que não muita, para fazer valer uma política mais firme contra os grandes interesses financeiros que estão na raiz da crise mundial, uma política mais firme no conflito Israelo-Árabe onde está aquém das expectativas que ajudou a criar. Não chega o discurso na Universidade do Cairo por melhor que seja e foi.
Do Afeganistão e do Iraque necessita de sair o mais depressa possível ainda que se perceba que tente uma saída diferente da de Saigão.
Claro que apesar de tudo há uma situação incomparavelmente nova relativamente a W. Bush e sua entourage, de Dick Cheney a Donald Rumsfeld e Paul Wolfowitz.

O busílis está na superação da crise económica. Consegue ou não  pôr a economia a crescer e a dar emprego? It's the economy, stupid, explicou Bill Clinton.
A uma grande parte do seu eleitorado importa saber se consegue ou não dar um novo equilíbrio à sociedade norte-americana diminuindo o fosso crescente, desde os anos 80, entre uma restrita minoria escandalosamente rica e uma percentagem crescente da população empobrecida, marginalizada e abaixo do nível de pobreza.

A perda pelo Partido Democrático da maioria qualificada no Senado (de 60 para 59 senadores) com a vitória do candidato Republicano no Massachusetts, um feudo dos Kennedy desde 1972, vai criar maiores dificuldades a Obama e é um mau presságio para as eleições que se avisinham para a renovação do Congresso.

A sua eleição contou com a ala esquerda do Partido Democrático mas não só. Porque os grandes potentados do partido democrata a certa altura receando-lhe a vitória decidiram investir muito dinheiro na sua campanha como forma de o controlar.
Para a sua vitória foi decisivo o grande movimento popular que galvanizou os afro-americanos, mas também a juventude com o uso da internet e a grande mobilização pelo recenseamento das camadas mais marginalizadas que os neoconservadores do Partido Republicano procuraram eliminar do direito de voto (para além das fraudes eleitorais organizadas nos cadernos de recenseamento e na contagem de votos). Esta grande e rara  mobibilação popular foi decisiva para a vitória mas era sabido, por quem sabe, que se tais milhões de apoiantes não estivessem bem organizados seriam uma poderosa força mas… efémera. Dá para eleger mas não para sustentar uma governação - mudar Washington como dizia - que afronte os poderosíssimos lobbies que cercam a Casa Branca e condicionam os congressistas, sempre receosos de não terem os apoios financeiros suficientes para serem reeleitos.

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2009-12-25

 

[1886] Notícias confortáveis


PAUL KRUGMAN na sua habitual coluna do NYTimes conta uma história natalícia que pretende ilustrar os méritos da nova legislação sobre a saúde, arrancada a ferros no Congresso por Obama na véspera de Natal.  Ela que enfrentou uma virulenta campanha hostil nos media desencadeada pelos Republicanos em representação dos interesses das garndes companhias de seguros e da população rica que não quer pagar impostos para um programa de saúde como há nos países civilizados.
Eis a história e, com particular interesse, a análise dos argumentos da direita contra a segurança na doença dos mais pobres ou dos desempregados. [link]

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2009-11-07

 

Obama: "comunista muçulmano do Quénia "


"Barack Obama é um comunista muçulmano do Quénia que quer transformar os Estados Unidos na União Soviética". Esta fantasia vendida como facto domina há meses as ondas de rádio e televisão na América como uma visão politizada da Guerra dos Mundos de H.G. Wells."(Pedro Guerreiro TABU - Sol 2009-11-06)
A extrema direita republicana e a FOX News do magnate dos media, Rupert Murdoch, além de muitos outros meios de comunicação, inundam os EUA de lixo tóxico com o rótulo de notícias e de factos. No centro dos ataques está, como se de obra do diabo se tratasse, o serviço nacional de saúde público e gratuito que Obama quer levar por diante.
A face do ódio racial e social: Roger Ailes ( da Fox), Rush Limbaugh, Glen Beck (8 milhões de ouvintes na rádio) clama: "Obama tem um ódio profundo pelos brancos"
A campanha contra o Presidente dos EUA começou no dia seguinte à sua eleição.  A crise e o desemprego filhos directos das políticas neo-liberais extremadas e incensadas pelos neo-cons servem agora como armas de arremeço contra Obama.
O "comunista muçulmano do Quénia " bem quer mas dificilmente pode.
Comparada com isto a nossa querida Moura Guedes tão assanhadinha contra o nosso 1º mais parecia uma pomba.

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2009-10-14

 

Barak Hussein Obama um bem merecido Nobel

As reacções na imprensa dos mais conhecidos analistas à atribuição do Nobel a Obama são, como era inevitável, bastante contraditórias e... bastante previsíveis. A última que li foi a de Pacheco Pereira no Público (2009-10-09) e o político que tão entusiasticamente apoiou invasão do Iraque e a Administração W Bush que conduziu a América ao mais elevado patamar de repulsa em todo o  mundo, não está satisfeito com a decisão do comité do Nobel.
O argumento mais comum dos incomodados com o Nobel da Paz de 2009 para desvalorisar os fundamentos da decisão é o de que atribuição só se pode sustentar pelo que Obama promete ou prometeu  e não pelo que tenha feito que seria ainda nada. E que não passa de uma forma de o condicionar a lutar pela Paz desviando assim a América do justo desígnio que acham dever ser o seu, o belicismo imperialista.
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Nota: isto foi escrito no dia 10 quando saiu o artigo de opinião referido. Ficou para ali a aboberar, como rascunho, com a ideia de o acrescentar. Agora, já obsoleto, quando o sentenciava à guilhotina  do delete fraquejei e atirei-o para aqui. Peço a vossa indulgência.

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2009-03-17

 

Encontro Obama-Lula

Leituras possíveis Encontro de Lula com Obama reforça liderança do Brasil no mundo ...Esta é, pelo menos, a do partido de Lula da Silva

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2009-03-03

 

A nova administração americana


Exemplo do desanuviamento e cooperação resultante da era Barak Obama é a autorização da Rússia para a passagem pelo seu território de um primeiro comboio de logística não militar dos Estados Unidos para abastecimento das sua tropas no Afeganistão.
Trata-se de um percurso longuíssimo da fronteira da Estónia até ao outro lado do continente asiático justificado pela extrema insegurança dos abastecimentos através do Paquistão

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2009-02-10

 

"We can't afford to wait".


"Confrontado com as reservas do Congresso ao seu plano, Obama foi fazer este excelente discurso à cidade americana com maior taxa de desemprego, Elkhart, Indiana. Independentemente do que disse, revelou- se, se já não o sabíamos, um extraordinário comunicador e pedagogo. E notam sinais de teleponto?"
(Link para o vídeo)

É o texto do email que o meu amigo João Vasconcelos Costa teve a gentileza de me enviar. Não lhe pedi autorização para o publicar, desculpar-me-á certamente, mas é de justiça que mais gente o oiça e constacte que

"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,/Muda-se o ser, muda-se a confiança;/
Todo o Mundo é composto de mudança,/Tomando sempre novas qualidades. "

Já sabíamos que com Barak Obama, todos os dias vem da América alguma coisa que nos conforta. E subverte também aqui a ordem das coisas. Os "anti-americanos" viraram americanos e os nossos tão "americanos" (das Lages a Bagdad passando por Abhu Graib e Guantânamo) viraram anti-americanos.
O que vem provar (como todos muito bem sabemos) que o problema não é de Geografia nem de nacionalidades mas de Política.

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