2006-08-31
O paraíso, Agora!
Dois amigos e bombistas-suicidas
Os palestinianos do filme de Abu-Assad -- “O Paraíso, Agora!”, em cartaz no Cinema King -- falam do que sentem, da ocupação humilhante, das rusgas permanentes, das suas esperanças e, para muitos, da convicção que têm de que Israel nunca os deixará viver independentes e em Paz.
Os dois amigos que decidiram sacrificar-se para “continuar a resistência” correm numa jornada singular, da qual emerge igualmente a dúvida, a incerteza, e um desfecho relativamente inesperado.
É verdade que se trata de um olhar parcial, em que Israel perde humanidade, no lugar do inimigo ocupante, odiado, que os radicais palestinianos castigam entregando, ao mesmo tempo, as próprias vidas.
É um dos lados do conflito, dividido e sacrificado.
O que ainda não alcançou a “Terra Prometida”.
2006-08-30
A "libertação" do major Reinado
"o representante do secretário-geral das Nações Unidas no país, o japonês Sukehiro Hasegawa, sublinhou a necessidade de todas as forças trabalharem em conjunto e «em coordenação de esforços» para recapturar os 57 detidos, entre os quais o major Reinado"...
"No âmbito de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU aprovada sexta-feira passada, os efectivos policiais de Portugal e da Malásia passaram a integrar a Polícia das Nações Unidas (UNPOL) em Timor-Leste, sob comando do comissário Antero Lopes. As forças da Austrália e da Nova Zelândia permanecem em Timor-Leste ao abrigo dos acordos bilaterais que os dois países assinaram com as autoridades timorenses. Em declarações anteriores à agência Lusa, Antero Lopes indicara já que as forças policiais da ONU não tinham qualquer responsabilidade pela segurança na zona da cadeia de Díli. "
[link]Como se sabe a GNR, no cumprimento da lei, prendeu o major Reinado por posse ilegal de armas e assim criou um desgosto e um embaraço ao Presidente Xanana, ao primeiro ministro Horta perante os australianos que devem ter colocado tal acção da GNR na coluna do passivo do contencioso com esta força portuguesa.
Brasil vai à frente
Purista em questão de Português, virei-me para a Pátria. Tempo perdido. Ainda descobri o site da Aplog (Associação Portuguesa de Logística) e lá escrito Dicionário de Logística mas... "Compre já: papel 35 €; CD ROM 30 €; download 30 €".
É diferente não é? Devem ter começado há mais tempo o plano tecnológico.
O ADN à esquerda, a raposa e as galinhas
Maquete do ADN
«(ii) que mais vale ter um emprego menos bem remunerado do que não ter emprego nenhum; (iii) que é mais importante proporcionar mais empregos para quem os não tem do que aumentar substancialmente os salários de quem já os tem.»
terei de alvitrar, respeitosamente, que o meu ADN (político-social) apresenta dois alelos (um crítico, o outro distributivo) que me conferem uma especial sensibilidade face às manifestações aparentemente mais generosas, sempre que está implicado o cálculo económico.
Se os mais deserdados tivessem o poder de assegurar novo emprego ou a manutenção do que à data detêm, por essa via, -- escolher entre um “menos bem remunerado” e “nenhum” -- daria razão a Vital Moreira, com muito prazer e a admiração do costume; se a desistência ou a moderação de certas reivindicações, -- mais emprego em troca de aumentos menos “substanciais” -- eventualmente negociados em sede de concertação social, abrissem caminho à contratação de desempregados, render-me-ia aos seus argumentos sem pinta de hesitação.
Acontece, porém, que a “nossa” economia não se rege por esses piedosos ideais. A lógica que preside aos investimentos não permite perguntar aos pré-despedidos se se disporiam a ficar, ganhando menos.
Não.
Os despedimentos (por deslocalização, downsizing, reestruturação, falência ou porque sim) não são evitáveis ainda que, por absurdo, uma cooperativa de perdição ajoelhasse, aceitando cortes nas remunerações, e pedindo, solitária e solidariamente, a salvação do conjunto dos postos de trabalho.
A arquitectura financeira dessas operações serpenteia planificadamente no médio prazo, e não incorpora a expressão dos interesses dos trabalhadores.
O esquema traçado pela inexorável mãozinha invisível determina apenas que se lhes dê emprego quando tal se justifica e depois, quando já não fizerem falta, andor!
Acompanho, é claro, Vital Moreira, em muitas das causas que defende, e em numerosos pontos de vista pelos quais se bate.
Porém, acusar os que trabalham de excesso reivindicativo, e culpar os que estão empregados pelo infortúnio dos desempregados, não passa, no meu pensamento, sem uma forte reacção.
Olhados mais de perto e com maior atenção, que têm de novo aquelas duas formulações de Vital Moreira?
No primeiro caso, uma adjectivação eufemística: “menos bem” onde se poderia ler “pior”; no segundo caso, um advérbio de modo apontando para um critério vago: “substancialmente”.
Se retirarmos a prudente adjectivação, o que resta?
A crueldade de um apelo que se bamboleia desde o século XIX de ideologia em ideologia:
Melhor um emprego mal pago do que nenhum; melhor ganhar menos e “garantir” emprego aos que o não têm…
Estes ditos fazem-me sempre lembrar os conselhos da alegórica raposa à fabulosa galinha. Uma enche a barriga e passa adiante; a outra, anda a espalhar as suas penas pelas cinco partidas.
Vital Moreira não deixa de ter razão quando humoriza com a genética.
Deve ser do ADN.
Foi ele que introduziu o chiste do ADN. Limitei-me a recordar que o diferencial que parece haver nos patrimónios genéticos das raposas e das galinhas (por analogia, de empregadores e empregados) também poderá ter a sua potência explicativa.
As nossas “origens de classe” não estiveram em questão, nem ajudariam, presumo, a compreender a admiração que continuo a ter por ele, nem a displicência com que ele entendeu tratar o assunto.
Areia na cabeça
Vale a pena ler o post de Vital Moreira, -- “Meter a cabeça na areia”, -- no nosso vizinho Causa Nossa. Pode verificar-se, com o devido respeito, que o autor ficou com o pensamento emperrado num dos possíveis ângulos de abordagem da questão.
As “leis” da procura e da oferta aplicam-se também aos mercados de trabalho, desde que se compreenda que, quando um novo ciclo se inicia, a intensificação da procura de “mão-de-obra” (a escassear nalguns sectores) implica uma subida no valor da “oferta”.
Os indicadores económicos sugerem que estamos exactamente no início de um novo ciclo. Os sindicatos fazem as suas contas, preparando as negociações de outono; as associações empresariais, outro tanto. Não costumam puxar para o mesmo lado.
Como eu os compreendo!
Quanto às convicções de Vital Moreira, enunciadas no já referido post, seria apropriado verificar que se o que explana em (i) se pode equiparar a uma constatação de carácter técnico, que subscrevo, já o que sustenta em (ii) e (iii), configura julgamentos de valor que, em nome de um impulso generoso à porfia, suponho, do pleno emprego, esquece a função padronizadora do salário mínimo nacional, e o abaixamento da qualidade de vida de quem, além de perder poder de compra, passa a ser esconjurado por ter conseguido, apesar de tudo, manter o emprego.
Fazer com que os detentores de um posto de trabalho se sintam inibidos de reivindicar as necessárias actualizações salariais, assacando-lhes, ainda por cima, a culpa pela “rigidez” de certos tipos de desemprego, não é uma elaboração nova. Pelo simples facto de se ter tornado numa convicção de Vital Moreira, nada se altera.
Se os baixos salários fazem parte do arcaísmo modelar da economia portuguesa, a depreciação salarial, justificada e consentida, poria fim à dinâmica que resta nos nossos mercados de trabalho.
Haverá, por certo, quem deleitadamente se aproprie das “convicções” (ii) e (iii) de Vital Moreira.
Eu não posso.
Tenho de sacudir a areia.
2006-08-29
Política local, versão francesa
Ontem os eleitos da maioria UMP da câmara de Bordeaux demitiram-se em bloco o que desencadeia automaticamente eleições antecipadas onde Jupé será o candidato da maioria. Muito provavelmente Jupé será eleito, o que muito contribuirá para desacreditar ainda mais a política em França. Sobre este assunto podem ler o artigo do Libération aqui.
Iraque soma e segue
Culpa dos iraquianos. Deviam estar em plena luxúria democrática, a eleger por todo o lado, a beber champanhe à liberdade, a servir de exemplo para que toda aquela região caísse, como um castelo de cartas, na democracia.
Mesopotâmia, Tigre e Eufrates, Babilónia. 4000 mil anos de história. O museu de Bagdad!... Já começam a aparecer umas peças em Nova York. É melhor. Há negócio. Compra-se, vende-se. País velho aquele Iraque. Mesmo a pedi-las.
Bagdad... lembram-se? As estátuas de Sadam Hussein a cair mesmo a parecer que era o 25 de Abril deles. Afinal para isto. Não merecem.
Então e o SIMPLEX?
Mínimo "razoável" = mais emprego?
O mínimo, no máximo!...
Se isso é verdadeiro para as altas e médias remunerações, imagine-se para as baixas!... A depreciação salarial atinge proporções desumanas, num dos países da UE que mantém dos mais baixos níveis salariais.
Há quem entenda, como Vital Moreira, no Causa Nossa, -- ler post intitulado “E os que não têm salário nenhum?” -- que a actualização do salário mínimo, há pouco reivindicada pela CGTP, acaba por ter efeitos contraproducentes.
Segundo ele, tal exigência (passar dos actuais 385,9€ para os reivindicados 410€, -- mais 24 € em 2007, o que representa cerca de 1€ por dia, -- na esperança de chegar aos prometidos 500 € em 2010) porá em risco a criação de emprego, já que, face a tal exorbitância, as entidades empregadoras retrair-se-iam, optando, depreende-se, pela robotização intensiva das suas unidades de produção.
O raciocínio do nosso professor de Coimbra é curioso. Suspeita que os gestores, quando a actividade económica o justifica, deixam de empregar seja quem for por o salário mínimo ter sido actualizado; e deixa supor, também, que a precariedade reinante não convive com atropelos de todas as espécies aos direitos de quem trabalha, sendo que as remunerações inferiores ao salário mínimo nem sempre são o pior que pode acontecer no universo de arbitrariedades a que boa parte dos trabalhadores tem de sujeitar-se.
Quando os sindicatos concordarem, “compreensivamente”, que um salário mínimo não actualizado é a receita para a redução do desemprego, não estarão, por certo, a defender os interesses dos desempregados. Estarão, pelo contrário, a pactuar com o padrão arcaico de falta de exigência em relação a empregadores e empregados; de baixos salários para baixas qualificações; de estancamento da crítica social em nome de uma distribuição que acentua as injustiças e o marasmo.
Apesar de a retoma se afigurar lenta e caprichosa, acho que devemos aspirar a um pouco mais…
A desumanização da política (6)
Não estamos bem uns para os outros!
« (…) a aceitação acrítica da censura partidária pelo ex-presidente é tanto ou mais criticável. Tanto um [ o PCP] como outro [Carlos Sousa] deviam explicações aos eleitores. Ambos falharam redondamente. Estão bem um para o outro.»
Este juízo sumário é inconsistente.
Em primeiro lugar porque, mantido, embora, o aparente respeito pelo “centralismo democrático”, o ex-presidente da Câmara de Setúbal anunciou, alto e em bom som, que discordava da decisão, dos fundamentos anunciados, e da apreciação acerca do défice de ânimo e motivação que lhe imputaram.
A questão não está, portanto, em se ter conformado com a decisão dos seus camaradas, mas na sua opção de trazer a público uma discrepância cuja lógica nos escapa. Onde outros, também legitimamente, silenciam, Carlos Sousa, nos limites da coerência estatutária, deu a entender que, de outro modo, não teria quebrado o compromisso eleitoral que assumiu, derivado dos últimos resultados eleitorais.
Ora eu acho que vale a pena discuti-la por isso mesmo.
Todas as forças políticas, num momento ou outro, passam por cima dos direitos individuais dos seus membros para fazer valer o que os seus dirigentes entendem por «bem comum» -- da força partidária, do país, da união, ou do mundo -- e creio que Vital Moreira também já passou por isso mais do que uma vez. A questão reside precisamente no sentido político dos actos e das decisões.
De umas vezes, as direcções políticas exercem os seus direitos de reserva através de figuras como quotas, homologações e ratificações; de outras, reconhecem a soberania paroquial para tratar questões do mesmo jaez. De umas vezes, aguardam o término dos mandatos e, avaliando a «prestação de contas», propõem afastamentos ou reconduções; de outras, intempestivamente, impõem a saída abrupta de uma pessoa eleita, extravasando para a esfera pública as lutas internas pelo poder.
Como, neste caso, as saídas forçadas de Carlos Sousa e Aranha Figueiredo configuram precisamente um ajuste de contas interno à custa dos compromissos eleitorais que ambos, nas listas do PCP/CDU, assumiram, o escrutínio político da questão não deve deter-se na consideração imponderada de que «estão bem uns para os outros».
Sem cair em despropositados dramatismos, à falta de explicações, o imperativo democrático é buscá-las, descobri-las, exigi-las e avaliá-las. De outro modo, continuaremos, todos, demasiado bons uns para os outros.
2006-08-28
O Nariz do Mundo
No posto de turismo da simpática vila, sede do concelho (ou será cidade? Como se sabe, terra com mais de 2000 habitantes reivindica o título) o jovem que me atendeu recomendou olhe, para comer é ali, no Nariz do Mundo, em Moscoso.
O Senhor João não deixa o posto de turismo ficar mal. O prato forte é o dos costeletões de novilho grelhados no carvão, servidos em fartura, numa travessa-quase-alguidar, com um arroz a preceito e o ex-libris da casa, um segredo impenetrável, feijão preto com um molho divino que me pareceu levar abóbora, de comer, comer e comer.
A comida é até fartar e com fruta, doce e café são dez euros por cabeça.
O Sr. João está orgulhoso do seu restaurante. Já cá esteve gente muito importante.
- Olhe, o deputado da Europa António Vitorino, o professor Herman Saraiva e outros que já nem me lembro.
Mas Senhor... foram só 131!...
2006-08-27
Morreu Veiga de Oliveira. Morreu um Grande Homem
Foi preso pela PIDE em 20 de Dezembro de 1965, num encontro de rua. Foi libertado, cinco anos depois, em 28 de Julho de 1970. Submetido a torturas inauditas (18 dias de tortura do sono seguida pouco depois de tortura da estátua até ter ficado em estado de coma) para denunciar companheiros e a sua actividade, manteve sem falar uma atitude de altiva dignidade.
Ultimamente adiámos várias vezes, por razões pouco importantes, um almoço que afinal era urgente.
"O LUSOCAOS"
A mim o que me preocupa nesta altura é o que pode decorrer de uma decisão da toda poderosa FIFA que afecte o futebol português no seu conjunto.
Mas interrogo-me sobre se o Governo deve ficar quieto nesta matéria e nesta situação. Estão em causa interesses muito superiores ao caso Mateus. É o futebol portugês que pode ser penalizado.
2006-08-26
Porque não descem os Partidos de divisão?
Devia constituir um "código de honra" o seu cumprimento. As empresas, o cidadão comum têm essa obrigação para com o Fisco. Também se sabe que muitos falham, mas se o exemplo é este?!...
Neste país se pratica uma cultura de cidadania. Tudo como nos incêndios: se é a propriedade gerida pelo Estado a que mais arde, por falta da aplicação das medidas de prevenção, como pode este ou outro governo sentir-se bem com ele prórpio face à população? Como exigir?Como cidadão custa acreditar num governo, oriundo de partidos que não cumprem a mais elementar obrigação num Estado de direito: a da prestação de contas.
Muito mal continua a democracia deste país.
2006-08-25
Crónica muito desesperada (1)[segunda série]
No tempo em que Plutão era um planeta.
Os espanhóis, ressabiados com a corrida que lhes demos em 1640, estão a aprimorar os serviços das maternidades de Badajoz e arredores. A tal ponto que as portuguesas de Elvas afiançam, completamente fidelizadas, que não deixariam de ir ter os filhos a Espanha, nem que José Sócrates e Correia de Campos voltassem a mandar abrir a maternidade da sua terra.
Suponho que o ministro Mário Lino deve afivelar um sorriso manhoso, fingindo não perceber mas, lá no fundo, congratulado com a confirmação das suas teses mais íntimas. O facto de os putos começarem a ter dupla nacionalidade só prova que o iberismo vai de vento em popa. Não é por sermos ibéricos que perdemos a nossa identidade lusitana. Antes pelo contrário.
Como se isso não bastasse, vêm agora os astrónomos e astrofísicos, reunidos num congresso clandestino, revelar algo catastrófico. O sistema solar encolheu. Afinal só temos oito planetas. Plutão foi barbaramente discriminado e despromovido. Chamam-lhe agora planeta-anão, baralhando completamente o pessoal que foi à escola nos últimos anos.
Já não bastava o acordo ortográfico, os incêndios, as promessas eleitorais e a cruzada contra os direitos adquiridos, a renúncia do mandato de Carlos Sousa e o centenário do nascimento de Marcello Caetano. Temos também de arcar com a transfiguração do sistema solar e com a geração da dupla identidade.
Daqui a uns bons anos, quando o recém-eleito Presidente da República Portuguesa, inesperadamente, em directo no telejornal da hora do almoço da RTP-1, se curvar perante o monarca espanhol e lhe beijar a mão, em sinal de súbdito respeito e obediência à coroa e a Castela, perceber-se-á finalmente o que os espanhóis andavam a magicar desde meados do século XVII, e como nós, obcecados pelo défice orçamental, nos deixámos levar.
Mas, então, já será talvez, muito … bom fim-de-semana.
A desumanização da política (5)
"Agora, telefonamos primeiro!"
A RTP-1, inseriu uma informação semelhante no noticiário da hora do almoço. O teor era mais ou menos o mesmo do desta notícia do DD (ver “Nove feridos em dois ataques israelitas na Faixa de Gaza”), que esta tarde já tinha sido remetida para o “arquivo” quotidiano.
Este é um dos aspectos mais perversos da guerra. Acusados de insensibilidade humanitária, as tropas israelitas prosseguem a destruição sistemática de bairros inteiros, avisando, com uma série de telefonemas tão certeiros quanto os obuses, que os mísseis vão a caminho.
Poder-se-ia imaginar algo mais humanitário?
Talvez o envio, em vectores separados, de um cheque-viagem ou de um convite para um chá em Telavive.
É que, apesar da generosidade judaica, as pessoas ficam sem casa. Às vezes, não terão sequer tempo para retirar o recheio.
Um pouco mais de empenhamento psico-social não ficaria mal ao humanitarismo hebraico…
Bruscamente, neste Verão! (desenvolvimento)
Carlos Sousa, uma injustiça flagrante.
« (...) Não me pronuncio (e não me pronunciei), em substância, sobre a gestão autárquica de Setúbal. Disso saberás tu melhor que eu. Apesar de achar que adoptaste uma perspectiva demasiado “fechada” para contrastar o que se tem passado (nos últimos cinco anos) com as gestões anteriores (designadamente a de Mata Cáceres), reconheço que saberás melhor do que eu o que se passa em Setúbal.
No meu bilhete postal sob forma de post , exprimo, afinal, três opiniões muito simples:
1) Que os balanços de mandato não são feitos a dez meses de vista;
2) Que a legitimidade eleitoral é neste caso vista de forma enviesada;
3) Que Carlos Sousa, à frente da Câmara de Palmela, se tornou numa referência histórica incontornável para quem quiser estudar ou desenvolver a experiência da gestão municipal participada.
Essa experiência tem limitações que ele próprio reconheceu publicamente. Estou a recordar-me de um debate em Lisboa, no qual tb participaste e intervieste.
O que eu sublinho, a este respeito, é que o lastro conservador que domina o estilo e a estratégia dos autarcas portugueses (incluindo os do PCP/CDU) não permitiu que experiências similares, e que quem, a seu tempo, o fizer, não fará mais que arrombar portas abertas.
Não quero exagerar as qualidades do ex-Presidente da Câmara de Setúbal. Na hora própria, lamentei o modo como a força política a que pertence o tratou e, por cima dos considerandos ideológicos e partidários, enviei-lhe um abraço, desejando-lhe boa sorte no primeiro dia do resto das nossas vidas.
Como muito bem sabemos, a política é importante, sem dúvida, mas não é tudo!»
2006-08-24
Assédio é que não
Enquanto o primeiro ministro de Israel, Ohud Olmert observa (aí em cima) a sua obra no Líbano, o presidente da república, Mosh Katasav, corre o risco de demissão por razões de assédio sexual a secretárias.
A Moral, em certas democracias (especialmente onde o confessionalismo pesa) tem destas coisas. Arrasar um país e provocar milhares de mortes, feridos e tragédias inomináveis, como no Líbano, nos territórios palestinos e desta vez até em Israel, aguenta-se. Agora assédio sexual... alto lá, isso é que já ultrapassa as marcas.
Da Madeira a Lisboa (3)
AJJ procurou palco e conseguiu-o. Uma grande conquista sua e uma grande arma que soube bem usar junto da população madeirense. Um dia AJJ disse, há uns bons anos e esta passagem encontra-se escrita num livro sobre conversas com 20 personalidades deste país (não me lembro o autor), que fazia tudo para que dele falassem (bem ou mal, não interessava). Assim seria ouvido, não era esquecido e podia pressionar e ameaçar concluo eu.
Este "folclore montado", com alguma ciência, projectou-o muito na Madeira e por cá até há quem aprecie, com algum incómodo talvez, o seu "poder, dito, reivindicativo".
Não discuto em abstracto o montante das transferências. Discuto-as num contexto de regras e princípios. A lei das finanças regionais tardou; só apareceu com Guterres e Sousa Franco constituindo um marco muito positivo a sua simples existência (boa ou mal formatada).
Em meu entender, a lei das finanças regionais foi mal preparada, ou talvez, numa outra óptica mais pela positiva deveria ter sido continuado o seu aprofundamento e, desde logo, com estudos que levassem a um levantamento exaustivo das transferências directas e indirectas que se processam entre o Continente e as regiões, pois acredito na base de alguma informação que ninguém conhece, ao certo, o montante global que será umas quantas vezes superior ao que é transferido via Lei das Finanças Regionais.
A base sã de transparência e para assumpção de quem é responsável pelo quê, entre poder central e regional, seria uma das razões para que a população da Madeira não atribua a AJJ funções do poder central como, por exemplo, o caso das reformas.
Amnistia Internacional com o Hezebollah?
2006-08-23
Bruscamente, neste Verão!...
Carlos Sousa, quando ainda era Presidente da Câmara de Setúbal
É lamentável que um dos autarcas mais preocupados com a participação dos munícipes na gestão municipal, atento às mudanças e disposto a arriscar inovações que fizeram história, saia deste modo, no decurso do seu segundo mandato à frente da Câmara de Setúbal.
Dificilmente se compreenderá que, após a confiança expressa pelo eleitorado nas últimas eleições autárquicas, o jogo partidário imponha decisões que frustram o voto dos eleitores.
Dado o seu entendimento acerca do carácter predominantemente partidário do exercício do cargo, Carlos Sousa deixou claro que a iniciativa não partiu dele próprio. Terá sido o “colectivo partidário” a pedir-lhe que se retirasse.
Obrigar deste modo os munícipes setubalenses a desperdiçar a inteligência e o talento de um dos melhores autarcas portugueses, não augura melhores dias.
Um abraço para o Carlos Sousa.
E boa sorte.
2006-08-22
Férias de Ministro em Altura
Nas suas sete quintas? Talvez. Mas melhor estaria se não tivesse aceitado o convite de José Sócrates – ter de aturar a OTA e o TGV. E as pontes! Sabe-se lá como estão as pontes – e tivesse ficado descansado a postar aqui no PUXA, como todos (com uma certa dor de cotovelo, é certo) vivamente lhe recomendámos. Apesar disso a redacção do PUXAPALAVRA deseja-lhe e a toda a família umas boas férias.
Mais outra crónica desesperada (3)
Saramago apoia Günter Grass, num momento particularmente difícil da vida do escritor alemão. Para temperar narrativamente a sua solidariedade com um ex-nazi que permaneceu em silêncio até há pouco (coitado!, Nobel-esse oblige), José Saramago lembra-nos a alegoria de um homem que seguia o circo para toda a parte perante a estranheza dos que o reconheciam, de terra em terra, sempre atento a todos os espectáculos. Veio a saber-se, mais tarde, que o safado queria assistir (era já a vertigem do directo?) à queda dos trapezistas que, segundo ele, haveria de ocorrer um dia ou outro.
Que dizer?
Que Saramago fez isso com Günter Grass?
Ou que os voyeurs que nós, afinal, também somos, se comprazem em seguir tutti quanti até ao dia em que o respectivo passado se revela em todo o seu horror, manifesto ou encapotado?
Às vezes, nem o Nobel nos salva.
No meio da tragédia o regresso.
Um milhão de libaneses desalojados pelos bombardeamentos regressa a casa ao Sul do Líbano.
Enquanto uns procuram a sua casa...
... outros encontram-na
Mas a vida não pára e esta libanesa que estava para se casar quando Israel invadiu o seu país casou agora. Mas a casa dos pais, onde seria a festa, foi destruída e a casa para onde iam morar... também foi. (link)
Mais outra crónica desesperada (2)
Fontes geralmente bem informadas, em meios ligados às Necessidades, à Casa Branca e a Teerão, afiançam que a nova escala das vacas mudas será Telavive. Como a tropa hebraica violou o cessar-fogo e se prepara para uma 2ª volta da guerra do Líbano, talvez a sua presença pacífica dilua as juras de morte contra o xeque Hassan Nasrallah. Onde a boa vontade dos homens de Paz falhou, quiçá as vacas triunfem.
Mais outra crónica desesperada (1)
“Se Sócrates faz isto aos portugueses que, como Luis Filipe Menezes, no Pontal, dizem que o país está a ficar anestesiado, o que não nos faria a nós? Às tantas ainda se punha a pensar que deveríamos pagar a nossa estadia em baldes de leite!?”
Já nos tínhamos habituado às suas pachorrentas presenças. Agora, com a partida delas, parece que Lisboa fica mais vazia, solitária, e… menos transparente.
2006-08-21
Da Madeira a Lisboa (2)
O seu passado (mais longínquo ou mais próximo) não aponta no sentido de uma pessoa onde a sensatez seja uma virtude a engrandecê-lo. Só que a situação tem piorado recentemente. Os seus correlegionários do PSD Madeira já o gostariam de o ter por longe. Ou então vão ter de deixar de ligar ao que o homem diz.
Mas Alberto João Jardim está a ser o seu próprio coveiro.
E agora quem tanto se bateu pela regionalização das Finanças enjeita a revisão da Lei das Finanças regionais?
2006-08-19
Não descobrimos nada de jeito
Como se sabe, atrás da porta ou com meios sofisticados género esticar a orelha para as conversas de telemóvel, com as desculpas do terrorismo, droga, lavagem de dinheiro, o país inteiro faz escutas, seguindo o exemplo das autoridades.
Por isso sentimo-nos no direito de fazer também o nosso trabalhinho. Um dos nossos mais experimentados repórteres de investigação, deslocou-se em segredo ao restaurante do peixe ali à José Fontana.
Cruzando conversas e exclamações descobriu que à esquerda sentava-se a Maria Machado, a seguir... foi o único que não conseguiu identificar, depois a Joana Ribeiro e encostado a ela o Manuel Correia, em segundo plano a ver-se só a cabeça, a Alexandra Ferreira e à direita o Pedro Ferreira.
As conversas? Política, má língua, filmes. Um que corre em Paris mas não corre cá, sobre a Arménia actual. Marques Mendes e o Pontal. O Governo e o tal avião com material de guerra não ofensivo para Israel. Israel para aqui, Líbano para ali, Hezebollah com caixa alta, "holocausto com caixa baixa!". Não se percebeu se referiam josé manuel fernandes mas é provável.
Marques Mendes... temporariamente na clandestinidade
Imaginou uns estados gerais virtuais. Imaginou uns almoços de aproximação entre gente dirigente importante, muita inserida na sociedade, atingindo aí uns 0,0% de representatividade social e eleitoral e agora uma rentrée, sem chefe, embora com observador mandatado. O chefe clandestinizou-se. Deve ter sido um trabalho muito esforçado arranjar uma agenda para justificar a não presença
Leis, Resoluções e Despachos... deste país
Às vezes, até mete PR ou AR com toda a solenidade que estas coisas implicam.
Vem dar tudo na mesma.Deve ser o descrédito gerado - a má "sabedoria" - de quem por lá andou muito tempo e viu, observou e viveu muita coisa.
Não li ainda a resolução, mas asseguro que não é para cumprir. O Conselho de ministros foi no engodo de mais uma boa resolução virtual.
Os motoristas (podem)/recebem 60% mais por mês por andar ao serviço destas entidades, em horas extraordinárias. A lei não diz: recebem, mas é assim ainda hoje que funciona.
Muito sinceramente, acredito que alguns Ministros estejam bem consigo, ao pensar que aprovaram uma excelente resolução. A bem do País.
Pode ser que venha aí um milagre.
2006-08-18
A guerra das "boas acções" (2)
Não há muito, Pedro Ferreira, em comentário a outro poste acerca da situação no Médio Oriente, sublinhava a questão das minas como uma das mais chocantes e menos comentadas nos media (aqui).
Israel não deve correr o risco de, a prazo, ter contra ele, além da rua árabe, as outras ruas do mundo.
Nesta matéria, estou com os judeus que reconhecem que, até aqui, Israel não foi capaz de falar (dialogar, negociar) senão consigo próprio. Concordo com o que Daniel Bem Simon escreveu -- “Talking only to ourselves” -- no Haaretz de ontem:
Para agravar a situação, ao contrário do que correntemente dizemos por aqui, as acções, -- as boas e as más -- não ficam com quem as pratica. Os generais israelitas vendem-nas (ver anterior post) enquanto elas ainda valem alguma coisa…
2006-08-17
Este futebol ... português..
Em Itália, pelo menos, o calciocaos teve os seus resultados. Bons ou mais, contesta-se, mas lá estão. Certamente muito ficou por apurar. Mas alguma coisa veio ao de cima.
Portugal é outra galáxia. Anos e anos de nada ... É o empata ... É o nada. É o assobiar para o lado à portuguesa. Em quase tudo, não passamos da cepa torta.
Um país que não renova comportamentos não vai longe.Acontecimentos recentes como as posturas de João Loureiro, Pinto da Costa e Jesualdo Ferreira são muito feios. São posturas de quem não tem o mínimo de seriedade e transparência.
Porque não assumiram que face ao bater da porta de Co Adriannse, o que estava em causa era a negociação de uma transferência? Que mal havia nisso?!Que ridículas estas pessoas, estarão convencidas de que desempenham funções de elevado gabarito e de que o povo não percebe?!
Com alguma Dignidade mesmo, só mesmo o holandês Co Adriannse.
A guerra das "boas acções" (1)
Dan Halutz a pensar nas suas "boas acções"
Seymour Hersh, escreve na New Yorker, uma peça intitulada “Watching Lebanon”. (Ler aqui). Sustenta o óbvio. O plano de contingência existia há muito e era do conhecimento de Washington. Bater o Hezbollah no Líbano poderia ser o ensaio geral para uma guerra contra o Irão.
Até aqui, nada de novo.
Hersh protege as suas fontes. Apesar da congruência das suas hipóteses explicativas, nada do que adianta foi (ainda) oficialmente confirmado.
A primeira confirmação de peso chegou, inopinadamente, de Israel.
O general chefe das Forças de Defesa de Israel, Dan Halutz, vendeu a sua carteira de acções na véspera do começo da guerra. (Ver notícia do Ha'aretz aqui).
Quando reuniu o gabinete de crise, Dan Halutz soube que a guerra ia começar e que as suas acções se iam desvalorizar.
É sempre assim. Ao desencadear-se uma guerra, deixa de haver lugar para “boas acções”.
2006-08-15
Eles matam e destroem. Nós pagamos
A guerra que a todos derrotou (4)
Todos foram derrotados. O Líbano. Os libaneses. Israel. Os israelitas. Só não foi derrotado quem era suposto ser derrotado, o Hezebollah.
A guerra que a todos derrotou (3)
Mas sem vida. Soldados israelitas carregam urna de um camarada
morto em combate.
A guerra que a todos derrotou (2)
Libanês convida os amigos para festejar o fim da guerra.
Opta pelo ar livre.
A guerra que a todos derrotou (1)
Libanesa procura o retrato do marido que estava aqui na secretária.
Terrorismo policial
2006-08-14
Isabel do Carmo sem respeito pelo politicamente correcto
Como ardem, ardem, ardem... os incêndios...
Da Madeira a Lisboa (1)
Mas o problema surgiu, numa época, em que o ambiente não era muito propício a discussões, sobretudo num país onde a tradição de debate político simplesmente não existia.
Tive oportunidade então (1974/75) de ter vivido um pouco por dentro esta problemática, com alguma responsabilidade institucional até e senti quão dificil era colocar a questão para cima, ou seja, no Terreiro do Paço.
Pensando bem, talvez seja mesmo este o "tipo de processo de decisão política" que nos caracteriza como País. E então não terá sido só a Madeira e os Açores que não foram alvo de reflexão e debate. Um muito reduzido número de pessoas, a "elite do poder", atenção não é no poder, vinco, é do poder - decide sem debate.
É uma falsa ideia esta. Se, pelo menos, os partidos funcionassem e decidissem eles verdadeiramente, teríamos uma democracia muito rica. Mas a realidade é outra. Temos uma democracia muito frágil em termos de participação consciente. Dirão alguns. A nossa jovem democracia ... tem falhas. E onde estão as medidas e a vontade política de a aprofundar?. Onde está a vontade de criar as condições de participação?. Temos sim uma democracia formal, jurídica, apenas...e pouco mais.
Este debate não se fez e, dessa falha de organização política do país, há sequelas muito profundas. Ainda se está a tempo de melhorar: porque não aproveitar a oportunidade da nova Lei das Finanças regionais para um debate, aliás como é sugerido num comentário do post abaixo: " De retorno à capital". A resposta é: à "elite do poder" não interessa.
E só para acabar este post: este processo consumou-se por acção das "elites do poder".
2006-08-13
Tendas em Paris
Os incêndios neste País
Quererá dizer alguma coisa? Isto leva-me a voltar ao tema de uma forma mais abrangente.
Não percebo francamente as razões de tanto incêndio, há tantos anos, neste País. Haverá aqui um problema que ultrapassa os governos?
Por isso, vou ler um livrinho que saiu que diz, segundo a nossa comunicação social escrita, que os bombeiros desta nossa terra não estão preparados para essa função. E se, de facto, fôr assim, de quem é a culpa? Porque vejo, com muita frequência, alguns dos seus dirigentes, ano após ano, a dizer que os nossos bombeiros são dos melhores. Não duvido. Mas os factos negam. Onde está a sua eficácia?
Admito deve haver uma relação "óptima" bombeiros/carro/equipamento e, certamente, aqui residirá o número "baixo" de bombeiros no combate efectivo aos incêndios. Mas se é, assim, qual a necessidade de tanto bombeiro nas corporações?
2006-08-12
A Desumanização da Política (5)
The Economist, August 12th-18th 2006, p.7
De retorno à capital
Umas férias que não tinha há uns anos. Repouso, bom clima, boa estadia. Boa gente. Boa comida para quem gosta. Contacto com gente de boas maneiras, culta, por vezes esquecemo-nos disso por cá e até de pensamento contestatário de cá e de lá.
Dizer que um "homem" daqueles é um dirigente nacional seja do que fôr, choca. Não se percebe como o PSD pode dar-lhe cobertura máxima.
Até no meio mais popular da Madeira - se começa a ter pouco encaixe para o aturar. O Povo começa a ver que aquele tipo de bocas vai contra os interesses da Região.
2006-08-10
David maniqueísta contra Golias bem pensante (1)
David e Golias
Ocupo-me de três deles.
O 1º é o que insinua haver uma intimidade não assumida entre as críticas anti-sionistas e os propósitos anti-semitas.
O 2º sustenta, mesmo contra a evidência do contínuo histórico, que a brutalidade Israelita é defensiva, enquanto a reacção palestiniana é ofensiva.
O 3º é o da dicotomização, que reduz a complexidade do tema colocando todos os árabes de um lado, e os Israelitas do outro.
Alguns dos debatentes, cheios de boa vontade e sentido de missão, escrevem quilómetros de prosa, tentando demonstrar a sua coerência anti-sionista, demarcando-se da abjecção do anti-semitismo (versão nazi); adiantando, também, que contrariar as retaliações cegas e desproporcionadas por parte de Israel, não significa a aprovação automática dos actos de terrorismo que lhes deram pretexto, vindos eles do Hamas ou do Hezbollah; e que, quer em Israel, quer nos países árabes, há diferentes vozes de distintos coros, tornando-se o diálogo com alguns deles incontornável se se busca, como às vezes se diz, uma solução pacífica para os conflitos.
Tempo perdido.
Quando a discussão se escora em processos de intenção, suspeitas indemonstráveis e fugas à análise da história, desemboca-se invariavelmente num confronto de monólogos.
Temos de reconhecer, é claro, o direito à propaganda. Bom, mas nesse caso, não vale a pena fingir que se aceita a discussão.
Maniqueístas são sempre os outros.
2006-08-09
A Desumanização da Política (4)
Orçamentalite Generalis
“ (…) a saúde contribuir positivamente para o equilíbrio das contas públicas.”
Como se vê, a vida que resta para lá do orçamento continua a ser escassa. Entende-se que a racionalização dos meios e a melhor gestão dos recursos constituam uma preocupação permanente de todos os ministérios e organismos do Estado, mas promover a prioridade das prioridades um objectivo genérico e abstracto como o do cumprimento orçamental, mostra o caminho que a ressuscitada obsessão contabilística retomou dos governos anteriores.
Melhorar a cobertura e a eficácia dos cuidados de saúde? Não. As políticas públicas do Ministério de Saúde estão reféns de uma visão petrificada das verbas orçamentais. E o que mais parece interessar ao Governo não corresponde, uma vez mais, ao que os portugueses parecem esperar das políticas para a Saúde.
Se as políticas públicas para a Saúde não encontrarem, bem depressa, um objectivo superior mais útil, específico e coerente, é a própria política, assim adoecida pela irrelevância a que está a ser votada, que entrará em coma profundo.
2006-08-08
Tahar Ben Jelloun e Amos Gitai
«Existir é dispôr de um estado com fronteiras contínuas e seguras, é poder ir à escola e depois à universidade, é fazer projectos para o futuro, é ter um passaporte, é viajar, ter uma polícia, un exército, construir estradas, hospitais, parques, creches, casas sem pensar que, um dia, elas serão arrazadas por escavadoras que atacam sem piedade os habitantes suspeitos de abrigarem resistentes à ocupação...
Existir, para Israel, é ter fronteiras seguras e reconhecidas, ter garantias de segurança para os seus cidadãos, não ver mais kamikazes explodirem num restaurante ou num autocarro,matando inocentes, é não mais ter medo de foguetes atirados do outro lado da fronteira, é resolver de uma vez por todas a questão da vizinhança restituindo os territórios ocupados em troca da paz, libertando os prisioneiros, fazendo um grande esforço para renúnciar à lenda do grande Israel, é deixar de acusar os povos árabes do crime contra a humanidade que foi o holocausto, cometido em nome, convem lembrar, de uma ideologia europeia, é enfim aceitar vir a ser um estado no qual a normalidade não é uma doença.» Tahar Ben Jelloun, Le Monde
«Entretanto, nem os israelitas nem os palestinianos têm tempo de resolver as questões quotidianas e humanas que aqui, como em todo o mundo, se colocam, os problemas das reformas e do salário mínimo. O conflito impede qualquer avanço social. Atenção à confusão entre o conflito principal entre israelitas e palestinianos e os diferendos entre Israel e os países árabes. O primeiro é um conflito essencial, pois a terra pertence aos dois povos e são eles que têm de encontrar um meio de viver em paz.» Amos Gitai, Le Monde
Ocaso do socialismo fraternal
Os irmãos Castro, no princípio...
Aí está mais uma utopia frustrada pela negação dos seus próprios ideais. Sem democracia, os ideais socialistas foram revelando a perversão dos que traiem, com as suas práticas, o que afirmam no plano dos princípios.
O expediente pode dar resultado durante algum tempo, mas falha sempre!
Da minha janela
2006-08-07
A desumanização da política (3)
Sessão do Parlamento Palestiniano em Março passado
O edificante gesto de boa fé democrática quase passou despercebido no rodopio de notícias sobre a guerra do Líbano. Nas masmorras, Aziz Dawik, faz companhia a cinco dúzias de ministros e deputados do Hamas presos no final de Junho.
Convém ter presente que o Hamas ganhou as eleições em Janeiro, e Aziz Dawik foi eleito para a Presidência do Parlamento em Março. Os radicais do Hamas preparavam-se para o “incómodo” das limitações institucionais que o exercício do poder de Estado comporta. Mas Israel preferiu prendê-los.
Se não quer tentar o jogo democrático e continua a prender e a humilhar os representantes eleitos dos palestinianos (os mais e os menos radicais), em frontal violação do Direito Internacional, Israel está a dar um claro sinal de que só está disposto (pelo menos até agora) ao confronto.
Esse empobrecimento e desumanização da política adiam para as calendas qualquer solução pacífica do conflito.
2006-08-06
A Desumanização da Política (2)
Dispositivo de lançamento de rockets do Hezbollah.
Os media chamados de referência, que são, em todo o caso, aqueles que os restantes media navegam à vista, balizando por eles muito do que noticiam, têm dispensado um tratamento de excepção à causa Israelita, atentos e compreensivos.
João Tunes, aqui ao lado, no Água Lisa (6), sustenta, num dos seus postes, (aqui) que a exploração das imagens de horror, sobretudo as televisivas, favorecem a dramatização das causas palestiniana (Hamas) e Libanesa (Hezbollah), em detrimento do impacto, também horrendo e sangrento, das agressões contra Israel.
À primeira vista, João Tunes tem razão. As notícias que nos chegam enfatizam o alarme humanitário, o número de baixas, a destruição sistemática de infra-estruturas, relativamente a um dos lados. Vida por vida, o horror equivale-se. Porém, o desequilíbrio em matéria de potencial militar e de destruição sistemática de redes de comunicação e estruturas produtivas, continua a pôr Israel, apesar de tudo, no lugar do ganhador antecipado, que tritura metodicamente os meios de sobrevivência de libaneses e palestinianos.
Olhando mais de perto, divisa-se uma outra explicação para o tratamento que aparentemente desfavorece Israel na guerra das imagens.
O Estado Hebraico debate-se com uma contradição insanável em matéria de gestão da informação. Visando a percepção da «rua árabe», minimiza as suas perdas, sustentando que o seu poder retaliatório continua intacto e temível. Com o intuito de desencorajar agressões presentes e futuras, gere as imagens de modo a dar uma ideia geral de que permanece inexpugnável, apesar de uma ou outra vulnerabilidade pontual. Nessa linha, os poderosos não podem conservar um tal estatuto simbólico sem abdicarem dos lamentos, da denúncia da brutalidade dos combates, dos corpos desfeitos e da execração da guerra.
Neste aspecto, a globalização das imagens joga contra Israel. A percepção do conflito apodrecido com os palestinianos, e das invasões cíclicas do Líbano, através das mesmas imagens, surte um efeito desastroso na «rua europeia» e na «rua americana». O que nós vemos é aquilo que Israel promove, autoriza e deixa passar. Ora quase tudo aquilo que tem como propósito intimidar os vizinhos, horroriza o mundo.
São essas as duas razões principais porque Israel está a perder apoios. A cada escaramuça responde com um massacre, ampliando o raio de destruição retaliatória. Já se sabia, é certo. Fechava-se os olhos, mas só não sabia quem não se interessava.
Israel não está interessado em expor as suas feridas em público.
Não se publicam mais imagens sobre os impactos de foguetes e mísseis lançados pelo Hezbollah sobre Israel, porque Israel não quer.
Partilhar com o resto do mundo as suas dores, os seus mortos e as suas feridas, torná-lo-ia demasiado humano, frágil e vulnerável, na «rua árabe». Ora, tal como confessam alguns defensores da continuação da guerra,
Israel sionista a pátria do "povo eleito"?