2009-10-02
Deve & Haver (7)
A cavalo na estrutura do DailyShow de Jon Stewart, os Gato Fedorento atiraram-se ao esmiuçamento dos sufrágios com particular felicidade. Mais ou menos tensos, confiantes ou defensistas, os actores políticos têm desfilado por Carnaxide, mostrando o fair play que qualquer candidato, em campanha ou fora dela, ganha em ter.
Todos?
Bom. Há uma excepção.
Paulo Portas conseguiu vencer o concurso do autoritarismo.
Quando Ricardo Araújo Pereira o confrontou com a proposta do CDS/PP de pagar uma parte do RMG em "géneros", Paulo Portas interrompeu-o, afivelando um semblante de profundo aborrecimento.
"Sabe? Há coisas com que não se brinca. E com a fome das pessoas não se brinca" - ciciou, naquele tom sentencioso que deixa à entrada das feiras e mercados.
A entrevista prosseguiu, é claro.
Mas aquela tirada traiu completamente o que há de mais conservador na nossa cultura. Um político, convidado a participar num programa humorístico, tem a lata de se pôr a ensinar ao humorista, em tom professoral, com que coisas se brinca ou não se brinca.
O conservadorismo mais reaccionário é assim mesmo. Não se limita a disputar a influência. Tem de impor as regras, os termos, e definir o que é aceitável e o que não é. Não lhe chega dialogar e debater. Tem de ditar as condições e mandar.
Espantoso!
Se fosse uma batalha naval, Paulo Portas já tinha um porta-aviões no fundo.
Assim, perdeu apenas mais um submarino...