259-Texto Do Artigo-692-1012-10-20130814
259-Texto Do Artigo-692-1012-10-20130814
259-Texto Do Artigo-692-1012-10-20130814
Introdução
A
qualidade da educação tem se constituído, nos últimos tempos, em tema
central do debate político e pedagógico. Sua base está ancorada em medi-
das diversas de caráter político e legal que têm afetado a gestão da educa-
ção. É nesse contexto que se insere a política de avaliação, quando, a partir dos seus
resultados, se promovem medidas de natureza política e administrativa que acabam
*
Doutoranda em Educação. Professora da Faculdade de Saúde da Universidade de Brasília (UnB).
Membro da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes) e da Comissão Técnica
de Acompanhamento da Avaliação (CTAA). Diretora de Avaliação da Educação Superior do Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC). Coordena a implementa-
ção do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), do Sistema Arcu-Sul e do Exa-
me Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos expedidos por instituições de educação superior
estrangeiras (Revalida). Brasília/DF, Brasil. E-mail: [email protected].
**
Doutoranda em Ciências e Tecnologias da Saúde. Coordenadora-geral de Avaliação dos Cursos de
Graduação e IES, onde coordena a avaliação in loco para cursos e instituições do Brasil pelo Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e a avaliação para acreditação de cursos do
Sistema Arcu-Sul no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Brasília/DF, Brasil. E-mail: [email protected].
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br> 49
Claudia Maffini Griboski e Suzana Schwerz Funghetto
50 Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br>
O Sinaes e a qualidade da educação
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br> 51
Claudia Maffini Griboski e Suzana Schwerz Funghetto
Na sequência das disposições legais sobre avaliação, o PNE, instituído pela Lei
nº 10.172, de 2001, em relação à educação superior, define no artigo 4º: “A União ins-
tituirá o Sistema Nacional de Avaliação e estabelecerá os mecanismos necessários ao
acompanhamento das metas constantes do Plano Nacional de Educação.” (BRASIL,
2001).
Esses dispositivos ratificam as competências da União expressas na Constituição
Federal (BRASIL, 1988), a partir da compreensão do direito à educação como um di-
reito social. Com a institucionalização do processo de avaliação, uma nova dinâmica
é implementada na educação superior, com sucessivos ciclos avaliativos, integrando
os processos de avaliação.
Nessa concepção sistêmica, o Sinaes apresenta como princípios norteadores: a
responsabilidade social da educação superior; o reconhecimento da diversidade do
sistema; o respeito à identidade institucional; a globalidade da instituição e uso ar-
ticulado de um conjunto de indicadores; a legitimidade técnica, ética e política; a
52 Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br>
O Sinaes e a qualidade da educação
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br> 53
Claudia Maffini Griboski e Suzana Schwerz Funghetto
Mesmo com essa expansão, o Brasil ainda precisa avançar na meta de crescimen-
to do número de matrículas na educação superior. O PNE, considerando os objetivos
estabelecidos e a realidade de outros países5, estabeleceu a meta de crescimento de
33% das matrículas até 2020.
Configurando-se o cenário da qualidade da educação, o PNE 2001-2010 estabe-
leceu a meta de criação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior e o
PNE 2011-2020 se prepara para orientar a garantia da sua implementação como su-
porte para a melhoria da qualidade e verificação do alcance dos objetivos da educa-
ção superior expressos no plano.
Entre as metas do PNE para o decênio 2011-2020 referentes à educação superior,
está a elevação da taxa bruta de matrícula nesse nível de ensino para 50% e a taxa lí-
quida para 33% da população de 18 a 24 anos, buscando assegurar a elevação da quali-
dade da educação superior. A Meta 13: “Elevar a qualidade da educação superior pela
ampliação da atuação de mestres e doutores nas instituições de educação superior para
75%, no mínimo, do corpo docente em efetivo exercício, sendo, do total, 35% doutores”
(BRASIL, 2010b), expressa que uma das medidas para a garantia da qualidade é a am-
pliação da qualificação de mestres e doutores nas instituições de educação superior.
54 Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br>
O Sinaes e a qualidade da educação
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br> 55
Claudia Maffini Griboski e Suzana Schwerz Funghetto
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
56 Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br>
O Sinaes e a qualidade da educação
Além da avaliação in loco, o Sinaes prevê a avaliação dos cursos por meio da ava-
liação de desempenho dos estudantes, entendida como componente curricular obri-
gatório aos cursos de graduação.
Com esse formato, assegura-se a pesquisa e a avaliação para fins de orientar a
expansão da oferta e garantir a qualidade. O Enade é aplicado periodicamente aos
estudantes de todos os cursos de graduação, inscrevendo no histórico escolar do es-
tudante a situação regular em relação a essa obrigação, atestada pela sua efetiva par-
ticipação ou, quando for o caso, dispensa oficial pelo Ministério da Educação.
Seus resultados, disponibilizados na forma de relatórios, produzem dados por
instituição de educação superior, categoria administrativa, organização acadêmica,
município, estado, região geográfica e Brasil. Assim, constituem-se referenciais para
a definição de ações voltadas à melhoria da qualidade dos cursos de graduação por
parte de professores, técnicos, dirigentes e autoridades educacionais.
O Enade é desenvolvido com o apoio técnico de comissões assessoras de áreas,
compostas por especialistas de notório saber, responsáveis pela determinação das
competências, conhecimentos, saberes e habilidades a serem avaliados e todas as es-
pecificações necessárias à elaboração da prova a ser aplicada pelo Enade.
A avaliação da educação superior, realizada por meio do Enade, compreende o
ciclo avaliativo definido pela realização periódica de avaliação de instituições e cursos
superiores, com base nas avaliações trienais de desempenho de estudantes.
O calendário do ciclo avaliativo para as áreas observa as seguintes referências: a)
Ano I – saúde, ciências agrárias e áreas afins; b) Ano II – ciências exatas, licenciaturas
e áreas afins; e c) Ano III – ciências sociais aplicadas, ciências humanas e áreas afins. O
calendário para os eixos tecnológicos segue as áreas definidas para os cursos de gra-
duação: a) Ano I – ambiente e saúde, produção alimentícia, recursos naturais, militar
e segurança; b) Ano II – controle e processos industriais, informação e comunicação,
infraestrutura e produção industrial; e c) Ano III – gestão e negócios, apoio escolar,
hospitalidade e lazer, produção cultural e design (BRASIL, 2010a).
Nesse processo, totalizam-se, de 2004 a 2012, 80 áreas avaliadas, distribuídas
em cada ciclo avaliativo. Tem-se, portanto, que no primeiro ciclo avaliativo (2004-
2006) foram avaliados pelo Enade 13.396 cursos e 804.676 estudantes, no segundo
ciclo avaliativo (2007-2009), 17.371 cursos e 1.374.449 estudantes, e no terceiro ciclo
(2010-2012), 20.323 cursos e 1.183.798 estudantes.
Para a análise desse quantitativo, sob a ótica da expansão e crescimento do sis-
tema educacional, é preciso lembrar-se de mudanças estabelecidas na definição do
exame, tais como: i) até 2008, admitia-se uma amostra de estudantes ingressantes e
concluintes para participação no exame; ii) a partir de 2009, o exame passou a ser cen-
sitário; e iii) a partir de 2011, a prova passou a ser aplicada somente aos concluintes.
Feitas essas observações, percebe-se que aumenta significativamente em cada ciclo o
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br> 57
Claudia Maffini Griboski e Suzana Schwerz Funghetto
58 Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br>
O Sinaes e a qualidade da educação
Considerações finais
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br> 59
Claudia Maffini Griboski e Suzana Schwerz Funghetto
Notas
1 “As comissões de avaliação in loco de instituições serão compostas por três avaliadores e as de curso,
por dois avaliadores, sorteados pelo sistema e-MEC dentre os integrantes do Banco de Avaliadores do
Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior[Basis]).” (BRASIL, 2010a).
2 Programa do Ministério da Educação, criado em 2004, que concede bolsas de estudo integrais e parciais
(50%) em instituições privadas de ensino superior, em cursos de graduação e sequenciais de formação
específica, a estudantes brasileiros, sem diploma de nível superior.
4 O programa do Ministério da Educação tem como principal objetivo ampliar o acesso e a permanência
na educação superior, criando condições para que as universidades federais promovam a expansão
física, acadêmica e pedagógica da rede federal de educação superior. As ações do programa con-
templam o aumento de vagas nos cursos de graduação, a ampliação da oferta de cursos noturnos, a
promoção de inovações pedagógicas e o combate à evasão, entre outras metas que têm o propósito de
diminuir as desigualdades sociais no País.
7 A consulta das avaliações pode ser realizada no Sistema Integrado de Monitoramento (Simec), no
Painel de Execução e Controle do Ministério da Educação (http://simec.mec.gov.br/painel).
60 Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br>
O Sinaes e a qualidade da educação
Referências
BARROSO, João. O estado, a educação e a regulação das políticas públicas. Educação & Sociedade, v.
26, n. 92, p. 725-751, out. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v26n92/v26n92a02.pdf >.
Acesso em: 13 jul. 2013.
BONAMINO, Alicia; SOUSA, Sandra Zákia. Três gerações de avaliação da educação básica no Brasil:
interfaces com o currículo da/na escola. Educação e Pesquisa, v. 38, n. 2, p. 373-388, abr./jun. 2012.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal, 1988.
______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 1996.
______. Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001.
______. Lei nº 10.861, de 14 de abril de 2004. Institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (Sinaes). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 15 abr. 2004.
______. Decreto nº 5.773, de 9 de maio de 2006. Dispõe sobre o exercício das funções de regulação,
supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de graduação e
sequenciais no sistema federal de ensino. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 10 maio 2006.
______. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 8.035, de 20 de dezembro de 2010. Aprova o Plano
Nacional de Educação para o decênio 2011-2020 e dá outras providências. Brasília, DF: Câmara dos
Deputados, 2010b.
DUARTE, Marisa Ribeiro Teixeira; SANTOS, Maria Rosemary Soares dos. Avaliação das políticas em
educação: a coordenação sistêmica pela União. Revista Retratos da Escola, v. 6, n. 10, p. 79-93, jan./jun.
2012.
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br> 61
Claudia Maffini Griboski e Suzana Schwerz Funghetto
______. Censo da educação superior. Brasília, DF: Inep, 2011. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/
superior- censosuperior-sinopse>. Acesso em: 14 jul. 2013.
______. Sinopse estatística da educação básica – 2012. Brasília, DF: Inep, 2012. Disponível em: <http://
portal.inep.gov.br/basica-censo-escolar-sinopse-sinopse>. Acesso em: 21 maio 2013.
RISTOFF, Dilvo; GIOLO, Jaime. O Sinaes como Sistema. RBPG, v. 3, n. 6, p. 193-213, dez. 2006.
SCHMITZ , Heike; ARGOLLO, Rivailda Silveira Nunes de; TENÓRIO, Robinson Moreira. Governança
e gestão num sistema de avaliação da educação superior. In: TENÓRIO, Robinson Moreira; VIEIRA,
Marcos Antônio (Orgs.). Avaliação e sociedade: a negociação como caminho. Salvador: EDUFBA, 2009.
p. 21-43.
SPELLER, Paulo; ROBL, Fabiane; MENEGHEL, Stela Maria (Orgs.). Desafios e perspectivas da
educação superior brasileira para a próxima década. Brasília, DF: UNESCO/CNE/MEC, 2012.
62 Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br>
O Sinaes e a qualidade da educação
Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 49-63, jan./jun. 2013. Disponível em: <http//www.esforce.org.br> 63