Livro 3 Trilhas 01
Livro 3 Trilhas 01
Livro 3 Trilhas 01
Fonte: https://wakke.co/wp-content/uploads/2019/12/artigo-1.png
1. Introdução
Não é de hoje que se busca traduzir o conceito que caracteriza uma educação de qualidade.
Essa é uma temática que há muitos anos vem sendo discutida no Brasil, tanto pelos órgãos
governamentais, quanto por diversos setores da sociedade civil, como movimentos,
organizações não governamentais, fundações, entre outros, que estudam as redes de ensino
e o sistema educacional brasileiro em busca de definir padrões para a oferta de uma boa
educação. Mas, afinal, o que podemos considerar indicadores de qualidade na educação, ou
seja, o que caracteriza uma educação de qualidade?
De acordo com a revista Ação Educativa (BRASIL, 2018), uma noção de educação de
qualidade:
Para se tomar decisões a partir de evidências, são necessários dados que mostrem com
clareza os pontos de atenção que uma escola e respectivos sistemas de ensino precisam
focar para melhorarem seus resultados, a partir de achados científicos.
Nos últimos anos, a tendência de tomar decisões com base em evidências na educação vem
ganhando importância cada vez maior na formulação de políticas, considerando aspectos
como (Burns e Schuller apud Codes e Araújo, (2021, p. 7):
Portanto, não se pode dizer que todas as evidências a que temos acesso possuem solidez ou
que são robustas, visto que o conhecimento científico que embasa a tomada de decisões
educacionais está em constante evolução, processo pelo qual as próprias evidências são
responsáveis por superar ou alterar constantemente.
Isso posto, a tomada de decisões na gestão pública, seja em nível de implementação de uma
política ou para o desenvolvimento de um plano de ação, requer que seja baseada em dados
e evidências, os quais compõem um diagnóstico acerca do objetivo e das metas a serem
alcançadas. Os gestores contam com inúmeras fontes de dados que abrangem diferentes
indicadores educacionais, relacionados a rendimento escolar, fluxo, aprendizagem, corpo
docente, infraestrutura, finanças e perfil socioeconômico, entre os quais se destacam os
variados sistemas de avaliação que acontecem em escala nacional, estadual e escolar,
gerando um fator diagnóstico para as redes realizarem seu planejamento.
A nível de Brasil, por exemplo, temos o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
(SAEB), que realiza um conjunto de avaliações externas em larga escala, a cada dois anos, e
permite compor um diagnóstico da educação básica brasileira a partir de uma série de
informações coletadas por meio da aplicação de testes cognitivos e questionários, cujo
resultado oferece subsídio para a elaboração, monitoramento e aprimoramento de políticas
educacionais baseadas em evidências (BRASIL, 2022). No estado do Espírito Santo, temos
duas avaliações externas aplicadas aos estudantes das redes municipais e que fazem parte
do Sistema Capixaba de Avaliação da Educação Básica: o Programa de Avaliação da
Educação Básica – Paebes/Paebes Alfa, composto de testes cognitivos e questionários
contextuais e a Avaliação de Fluência em Leitura.
A temática da inclusão e equidade tem sido pauta constante nas políticas educacionais na
busca de promover a justiça social e garantir os direitos de escolarização para todos. Nesse
sentido, a gestão escolar precisa assegurar que os estudantes, com todas as suas diferenças,
tenham na escola o acolhimento adequado para a sua aprendizagem.
A Constituição Federal de 1988, no seu Art. 206, inciso II, traz como princípio da educação
nacional a “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (BRASIL, 1988)”.
Ou seja, o poder público precisa empreender políticas que dotem a escola de condições
materiais e pessoais, para que não haja discriminações e exclusões do processo educativo
pelas situações de vida dos estudantes.
Diante de tal contexto, faz-se necessário que busquemos estratégias e metodologias para as
diferentes necessidades. A equidade na personalização das estratégias educacionais é
essencial para garantir que todos os estudantes, independentemente de suas origens,
contextos socioeconômicos, habilidades ou necessidades, tenham oportunidades justas de
aprendizado e desenvolvimento.
Oferecer Suporte Adicional: Disponibilizar suporte adicional para alunos que enfrentam
desafios específicos, sejam eles de aprendizado, linguagem, socioeconômicos ou emocionais,
proporcionando oportunidades iguais para o sucesso acadêmico e pessoal.
Abordaremos aqui o fazer da gestão junto ao corpo docente, com o olhar para as
especificidades do ensino e de como ele poderá ser garantido ao educando por meio da
personificação.
Na sala de aula, podemos encontrar os arranjos didáticos por meio de algumas ações que
precisam ser crescentes no que diz respeito à aprendizagem. O ensino personalizado é uma
estratégia que pode garantir ao estudante o fortalecimento do conhecimento que é adquirido
por intermédio de atividades significativas, partindo de metodologias eficazes, desenvolvidas
pelo professor em sala de aula. Desenvolver recursos didáticos e estratégias de ensino que
trazem significado para o estudante, compreendendo que ele é um ser único, com suas
competências e habilidades e que tem o seu jeito pessoal de aprender, é algo imprescindível.
O professor irá pensar na turma como um todo, mas traçando metas coerentes à
personalização do ensino, sem deixar nenhum estudante de fora da garantia da
aprendizagem com equidade. O fortalecimento dessas ações envolve muitos profissionais da
escola, entre os quais os gestores são figuras primordiais. É preciso fortalecer o diálogo com
os pares, tecer algumas metas que serão cruciais na organização da realização de todas as
atividades didáticas propostas pelo professor, mas com o olhar da gestão escolar.
Listar as habilidades fundamentais e avaliar diariamente faz com que os avanços sejam
perceptíveis e/ou as fragilidades existentes possam ser o foco do planejamento e das
estratégias, que serão utilizadas para garantir a consolidação dos processos e identificar
como as propostas contribuíram nos avanços das aprendizagens e quais estratégias foram
mais eficientes, partindo do coletivo para o específico. É no replanejamento das próximas
ações que a validação será feita.
FONTE: https://eskadauema.com/mod/book/tool/print/index.php?id=2685.
Promover o ensino por meio das metodologias ativas é uma boa alternativa, mas requer um
bom planejamento, pois o professor proporá aos educandos várias formas de aquisição e
desenvolvimento da aprendizagem como, por exemplo, a sala invertida e gamificação, onde
os educandos têm a oportunidade de aprender com autonomia e interação com ferramentas
tecnológicas.
Todos esses fatores contribuirão para o alcance de maior equidade na educação e para a
melhoria de outros indicadores, como a distorção idade/série, reprovação, na qualidade das
aulas dadas, nos resultados das avaliações e, consequentemente, na proficiência dos
estudantes.
Vejamos o texto abaixo, de Cipriano Luckesi, acerca do olhar para o estudante em sua
totalidade ao avaliar.
As formas de avaliação variaram ao longo dos anos e, atualmente, ocorrem de maneira
processual, em que seus resultados ganham caráter significativo. Além de serem
classificadas como internas (realizadas pelo professor) e externas (realizadas e aplicadas por
agentes externos) à escola, possuem diferentes funções, tornando-se cada vez mais precisas
e produzindo informações importantes para tomadas de decisões, tanto no âmbito da gestão
escolar quanto das práticas avaliativas dos professores.
3. Avaliação Educacional
Essa avaliação deve surgir a partir de uma prática e desempenhar a função de ir além dos
resultados, fazendo uma análise crítica construtiva da prática pedagógica e não apenas para
constatar resultados, classificar ou reprovar. Se faz necessário que a avaliação da
aprendizagem esteja vinculada ao processo de ensino e aprendizagem para garantir retorno
permanente ao professor sobre em que medida de conhecimento o aluno se encontra, dando
condições de validar ou rever as estratégias que estão sendo trabalhadas e reverter possíveis
defasagens e resultados negativos dos estudantes.
A Avaliação Somativa ocorre no final do processo e tem como finalidade verificar o que o
aluno ou a turma aprendeu, bem como avaliar as estratégias metodológicas utilizadas ao
longo da etapa de ensino.
1.do contexto onde uma ação qualquer vai ser desenvolvida (outros indicadores);
Em análise aos modelos avaliativos propostos por Luckesi, percebemos que é necessário
compreendermos e identificarmos em qual momento utilizar cada um deles, para que
possamos fazer intervenções pertinentes e que realmente terão finalidade no processo
educativo.
3. Avaliação Educacional
Como vimos, as avaliações externas são classificadas como avaliações somativas, visto que,
na maioria das vezes aferem a aprendizagem dos estudantes ao final de uma determinada
etapa de ensino. São definidas como aquelas construídas, organizadas e conduzidas por
profissionais e instituições externos às escolas e, considerando sua abrangência, também são
intituladas avaliações em larga escala. Essas avaliações são necessárias para monitorar o
funcionamento de redes de ensino e fornecer subsídios para seus gestores na formulação de
políticas educacionais baseadas em evidências, tornando-se, senão a mais importante, uma
das principais fontes de evidências educacionais para a gestão pedagógica em todas as
esferas: federal, estadual, municipal, unidades escolares e sala de aula.
Nesta perspectiva, nos anos recentes, a avaliação ganhou força como um diagnóstico de todo
o processo de ensino-aprendizagem, desde o planejamento até a eficácia dos métodos,
ficando longe de ser um mero processo classificatório para os estudantes, como foi vista
durante muitas décadas.
Utilizar avaliações externas como uma ferramenta para subsidiar tomadas de decisões no
âmbito dos sistemas educacionais ou em cada escola é uma prática na qual importantes
pesquisas demonstram estar associada a redes e escolas com melhores resultados de
aprendizagem. De acordo com o Instituto Unibanco, um desses estudos foi divulgado em
dezembro de 2015 pelo Sesi-RJ. A pesquisa “O impacto da liderança dos diretores sobre os
resultados dos alunos das escolas de ensino médio do estado do Rio de Janeiro”, por
exemplo, realizada pela Universidade de Nottingham em parceria com a Universidade Federal
Fluminense, concluiu que diretores de escolas bem-sucedidas costumam incentivar toda a
equipe a utilizar os dados da avaliação externa no planejamento e, gerenciam e discutem os
dados das avaliações internas e externas com os professores.
Os dados produzidos a partir das avaliações consistem em um material seguro para apoiar a
análise do cenário da educação pública, colaborando para o entendimento crescente dos
fatores que incidem na qualidade do ensino ministrado nas escolas e na aprendizagem
revelada pelos estudantes.
A participação, que tem aumentado consideravelmente, é um ponto muito importante nessa avaliação, pois permite algumas
generalizações que melhor direcionam as intervenções pedagógicas e a implementação de políticas públicas.
Ler é uma atividade complexa, que requer a automatização dos processos de reconhecimento de palavras (decodificação), de
modo que se possa construir os significados do que se lê, considerando-se a integração das palavras no contexto em que são
usadas
No quadro abaixo são apontados os aspectos considerados em cada tarefa de leitura presente no teste. O desempenho dos
estudantes, ou seja, o número de palavras lidas nas tarefas, pode alocá-los em um dos três perfis: Pré-leitor, Leitor Iniciante e
Leitor Fluente.
A Avaliação da Fluência em Leitura permite a obtenção de informações sobre o desempenho dos estudantes das redes
participantes, de modo que professores e gestores possam realizar um diagnóstico das principais dificuldades de
aprendizagem e elaborar um planejamento pedagógico mais adequado às suas necessidades.
Apresentamos abaixo os perfis leitores. Salientamos que é preciso pensar em ações para os estudantes em todos os perfis,
incluindo o leitor fluente, para que possa aprofundar suas habilidades em leitura. No entanto, no 2º ano, a maior preocupação
deve ser com os estudantes que ainda são pré-leitores, dado o compromisso de que todos estejam alfabetizados até o fim
dessa etapa da alfabetização.
Com base nos resultados dos testes aplicados, é possível identificar em que nível do processo de alfabetização cada estudante
se encontra, a partir dos critérios que compõem essa avaliação, no intuito de que sejam realizadas intervenções pedagógicas
direcionadas, sendo importante ressaltar que esses dados jamais devem servir para classificar ou categorizar os estudantes,
mas, sim, para orientar ações em prol do seu desenvolvimento.
A participação, que tem aumentado consideravelmente, é um indicador importante nessa avaliação, pois permite algumas
generalizações que melhor direcionam as intervenções pedagógicas e a implementação de políticas públicas. Como vimos, a
partir dos resultados alcançados pelos estudantes na avaliação da fluência, foram definidos três perfis de leitor: Pré-leitor,
Leitor iniciante e Leitor fluente, sendo que, cada perfil descreve um padrão, de acordo com o seu desempenho no teste. Esses
resultados são apresentados para a rede como um todo e para cada escola, turma e estudante. Especificamente em relação ao
perfil Pré-leitor, seus seis níveis de desenvolvimento demarcam características importantes sobre o desempenho dos
estudantes, as quais devem ser observadas na hora do planejamento das intervenções pedagógicas.
Também organizadas PELO Caed, no Paebes/Paebes Alfa são aplicados testes padronizados
dos componentes curriculares de Língua Portuguesa e Matemática anualmente. Além disso,
os estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio são avaliados
nos componentes História e Geografia nos anos pares e na área de Ciências da Natureza nos
anos ímpares. Para que o objetivo do Paebes/Paebes Alfa seja atingido em sua totalidade,
aplica-se também questionários contextuais para diretores, professores (que ministram os
componentes curriculares avaliados), estudantes e responsáveis, no intuito de compreender a
formação dos profissionais, as práticas pedagógicas e de gestão escolar e entender melhor
as dimensões de clima escolar e condições socioeconômicas de nossas crianças e
adolescentes. Além disso, a GEA/Sedu oportuniza provas acessíveis aos alunos surdos,
cegos e com baixa visão a partir dos dados indicados no Sistema Estadual de Gestão Escolar
- Seges (Rede Estadual e Mepes) e Censo Escolar (Rede Municipal e Privada).
Os resultados do Paebes variam de 0 a 500 pontos e são descritos e organizados em escalas
de proficiência estruturadas em níveis, de modo crescente, os quais descrevem as
competências e habilidades que os estudantes demonstram ter aprendido. A escala de
proficiência pode ser comparada a uma régua, na qual os itens (questões) que compõem os
testes são posicionados a partir dos parâmetros calculados com base na Teoria de Resposta
ao Item (TRI). A essas informações são incorporados dados qualitativos oriundos dos
questionários contextuais preenchidos por estudantes, professores e gestores.
Fonte: https://avaliacaoemonitoramentoespiritosanto.caeddigital.net/#!/programa
SISTEMA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – SAEB
Embora não seja aplicado em 2024, visto que sua aplicação é bianual, o Saeb é uma
importante avaliação externa e em larga escala, pois avalia as redes de ensino de todos os
estados brasileiros. O SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica, foi implantado no
Brasil em 1990, com o intuito de obter informações mais precisas sobre a real situação da
educação no país. A partir de 2005, passou a contar com duas avaliações: a Avaliação
Nacional da Educação Básica (Aneb), que manteve as características, os objetivos e os
procedimentos da avaliação efetuada até aquele momento, e a Avaliação Nacional do
Rendimento Escolar (Anresc), conhecida como Prova Brasil, criada com o objetivo de avaliar
a qualidade do ensino ministrado nas escolas das redes públicas. Em 2013, foi criada a
Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) e, por fim, em 2019, foram incluídas as avaliações
amostrais do 2º ano do Ensino Fundamental Anos Iniciais – Língua Portuguesa e Matemática,
e do 9º ano do Ensino Fundamental Anos Finais– Ciências Humanas e Ciências da Natureza.
As provas que compõem o SAEB são organizadas pelo INEP - Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, e o público-alvo são estudantes de 2º, 5º e 9º ano do
Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio da Rede Pública de Ensino, além de uma
amostra de escolas da rede privada. A publicação dos resultados é garantida para as
unidades escolares que obtiverem a participação de, pelo menos, 80% dos estudantes
matriculados e o mínimo de 10 (dez) estudantes presentes no momento da aplicação dos
instrumentos em cada turma avaliada ((BRASIL, 2021c).
Sendo assim, por meio de testes cognitivos e questionários, o Saeb reflete os níveis de
aprendizagem demonstrados pelo conjunto de estudantes avaliados. Esses níveis estão
descritos e organizados de modo crescente, em Escalas de Proficiência de Língua
Portuguesa e Matemática, para cada uma das etapas avaliadas. Os resultados de
aprendizagem dos estudantes, juntamente com as taxas de aprovação, reprovação e
abandono, verificadas por meio do Censo Escolar, compõem o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb). O Ideb relaciona o desempenho dos estudantes nas avaliações
externas em larga escala com dados do fluxo escolar, com a finalidade de monitorar as
escolas e as redes de ensino. O índice varia de 0 a 10 e, quanto maior o desempenho e o
número de alunos aprovados, maior será o Ideb, calculado para escolas e redes de ensino
que monitoram o seu desempenho, frente a metas individuais pactuadas com o governo
federal (Decreto 6.094, de 24 de abril de 2007).
Sendo assim, é necessário haver um bom planejamento dos recursos pelos gestores para
possibilitar a melhoria dos resultados na educação, cujas necessidades são muitas. Esse
planejamento perpassa pela habilidade para leitura e interpretação de dados educacionais, a
partir de relatórios, planilhas, taxas, gráficos, infográficos e outras ferramentas, em busca de
promover ações eficazes.
Percebemos nesses dados que ainda há um grande caminho a ser percorrido para que o
sistema educacional brasileiro alcance uma educação de qualidade para todos. As trajetórias
educacionais dos estudantes são comprometidas ao longo da educação básica, evidenciando
a exclusão educacional e o fracasso escolar de uma considerável parcela de alunos, ao
concluir as etapas da educação.
Diante desse cenário e para responder a essas questões, os gestores dos sistemas
educacionais e das escolas precisam, de forma planejada, tomar medidas visando ao
atendimento dos estudantes com baixo rendimento por meio da recuperação ou
recomposição dos conteúdos dessas “lacunas” de aprendizagem, considerando também
outros fatores que causam desvantagens, como aspectos socioeconômicos, emocionais e
familiares. Para além disso, é preciso pensar em como diminuir as diferenças na
aprendizagem desde o ciclo de alfabetização para que não haja essa “falta de base” e nesse
aspecto, há a necessidade de uma gestão que tenha o conhecimento dos dados, mas, mais
do que isso, que converta esse conhecimento em ações efetivas que contribuam para sanar
ou ao menos diminuir essas defasagens.
Bravo (2021) ressalta que é necessário desenvolver programas de incentivo ao uso
pedagógico e estratégico dos dados educacionais, também conhecido como letramento em
dados (data literacy), com o objetivo de estimular o planejamento educacional baseado em
evidências. Nesse processo, saber interpretar e utilizar os resultados das avaliações
educacionais externas para intervenções pedagógicas eficientes na busca pela melhoria da
aprendizagem, é essencial. Para o autor, os principais fatores que afetam a utilização de
dados pelos profissionais da educação gira em torno das metodologias na divulgação dos
resultados de avaliações em formatos pouco acessíveis, a falta de formação especializada na
interpretação desses dados, a resistência dos profissionais ao modelo das avaliações em
larga escala e a distância temporal entre a aplicação das avaliações e a disponibilidade dos
resultados.
Neste sentido, Boudett (Org. 2020, p. 236), considera que, para que a utilização dos
resultados da avaliação dos estudantes seja construtiva, é preciso que as equipes de gestão
desenvolvam uma variedade de habilidades que os capacitem para:
o utilizar de forma eficiente os resultados das avaliações externas, aliados aos demais
indicadores da escola, é possível fazer um diagnóstico e planejar ações de acordo com as
especificidades de cada unidade escolar, traçar metas e meios para alcançá-las, saber de
onde partir, onde se espera chegar e qual o percurso a percorrer, de forma eficiente, com
responsabilidades definidas e estratégias bem definidas.
3.2.2 Evidências educacionais no Ciclo de Alfabetização
E no caso do 1º e 2º ano do Ensino Fundamental – Anos Iniciais, que não fazem provas, o
que considerar?
Nos últimos dados do Saeb, obtidos em 2021, apenas 49,4% das crianças brasileiras foram
consideradas alfabetizadas ao final do 2º ano, sendo que, nos estados, somente Santa
Catarina obteve mais de 50%. De acordo com o MEC (BRASIL, 2022) esses resultados
geram graves impactos na violação do direito à alfabetização, tanto em relação à
“continuidade da trajetória escolar dos estudantes quanto do ponto de vista de suas
correlações com o aprofundamento da vulnerabilidade social e econômica e das
desigualdades regionais, de raça/cor, gênero”.
Compreender a importância das metas e dos indicadores educacionais para alcance dos
objetivos é essencial e, para tanto, a avaliação tem um papel fundamental. Como vimos, os
números citados acima foram obtidos por meio do Saeb, uma avaliação nacional da
proficiência em Língua Portuguesa e Matemática que também utiliza questionários que
embasam outros indicadores, considerando as sete dimensões analisadas. Nesse sentido,
torna-se importante ter conhecimentos claros de como avaliar o ciclo de alfabetização
também no âmbito escolar, pelos professores, equipe pedagógica e diretor, por meio de
instrumentos claros e indicadores pré-estabelecidos, de forma que o acompanhamento diário
da aprendizagem dos estudantes aconteça e sejam direcionados para o alcance das metas
estabelecidas e, o mais importante, que todas as crianças estejam alfabetizadas ao final do 2º
ano.
Nesse contexto, faz-se necessário que o gestor esteja atento ao registro dessas informações,
por meio de acompanhamento, participação nas análises e avaliação do seu
desenvolvimento, para que faça os ajustes necessários no decorrer do processo. Também é
importante fornecer formação em serviço para as equipes escolares, visando um ensino de
qualidade e aprimorar os conhecimentos da equipe escolar acerca do uso de evidências a
favor da melhoria da aprendizagem.
É comum a elaboração de planos de gestão em que são elencadas inúmeras ações com
metas, prazos e responsáveis. Contudo, via de regra, o objetivo fim de sua elaboração não
está conectado com as reais necessidades e objetivos, mas sim para cumprir uma exigência
de financiamento ou utilização de recursos pela escola.
Para romper com essa prática ineficaz, os gestores precisam elaborar planos a partir de
indicadores confiáveis e seguirem uma metodologia adequada que envolvam a participação
das equipes, análise de dados, estabelecimento de ações, execução, monitoramento e
avaliação. Apresentamos a seguir, a título de exemplo, a figura do processo de melhoria
“Data Wise” que sugere um roteiro de planejamento escolar a partir dos resultados de
avaliações dos alunos.
Assim, a análise de indicadores precisa ter uma rotina organizada em todos os níveis,
instâncias e em todos os aspectos, como pedagógico, financeiro, administrativo e clima
organizacional. Essa análise deve ser convertida em dados para alimentar um sistema seguro
e organizado de informações gerenciais confiáveis para fomentar a tomada de decisão por
meio de planos de ação.
É comum a divulgação pela imprensa de aspectos negativos das escolas, como falta de
transporte, falta de alimentação escolar, falta de professor, condições físicas dos prédios
escolares deteriorados, entre outros aspectos. Isso ocorre, em certa medida, pela falta de
planejamento nas aquisições e nas contratações de serviços, na quantidade e qualidade
certas e em tempo hábil, a partir de indicadores de qualidade.
É bom sempre lembrar que uma educação de qualidade se constitui por meio de um conjunto
de ações articuladas para assegurar que a gestão pedagógica aconteça da melhor forma
possível, tendo a garantia dos direitos dos estudantes atendida plenamente, principalmente os
de aprendizagem na escola. Para isso, os gestores precisam analisar continuamente os
resultados de aprendizagem, de frequência e convivência dos estudantes, em nível de
sistema, rede e escola e identificarem os fatores associados ao sucesso ou fracasso escolar
para o planejamento de soluções para os problemas prioritários que forem identificados e,
como forma de sistematizar o planejamento estratégico, é imprescindível a construção de um
Plano de Ação, no qual essas evidências serão consolidadas em ações, com tarefas
específicas, prazo de execução e responsáveis pelo seu desenvolvimento.
Embora o plano de ação escolar seja uma estratégia que deva mapear todas as atividades e
objetivos da organização ao longo do tempo, ele não é um documento engessado, sendo
preciso ter espaço para mudanças e imprevistos que podem acontecer ao longo do percurso
no seu desenvolvimento.
É importante lembrar que o principal propósito do plano de ação é guiar a escola e seus
profissionais ao longo dos processos no contexto escolar em todos os seus projetos e
atividades, portanto é essencial garantir que o documento tenha uma linguagem clara e
objetiva para o melhor entendimento e envolvimento de todos.
5. O Plano de Ação como instrumento de planejamento estratégico baseado em
evidências
Para elaborar um Plano de ação eficaz é preciso, além da análise dos indicadores, fazer um
planejamento estratégico, com clareza de onde se deseja chegar(metas) e as etapas a seguir
durante o percurso. Na figura abaixo, descrevemos as etapas mais importantes para a
construção, execução, monitoramento e avaliação de um Plano de Ação objetivo e eficiente.
A documentação deve contemplar todas as ações que serão executadas pela unidade escolar
em um determinado período letivo e deve conter:
● Uma revisão geral sobre as experiências anteriores, tanto em relação à gestão quanto aos
métodos de ensino;
Logo após construir o planejamento e mapear todas as ações a serem realizadas ao longo do
período no plano de ação escolar, é importante estabelecer um cronograma e definir prazos
finais para cada atividade, assim podemos garantir que todas as atividades sejam executadas
dentro do esperado.
Sendo assim, é necessário criar processos e mecanismos para garantir que as pessoas
estejam cientes de como está caminhando a evolução do plano de ação escolar, fazendo
avaliações constantes, diagnosticando quais pontos precisam de atenção extra e se existe
algo que precisa ser adaptado, aprimorado ou mudado durante o percurso, em relação ao
plano inicial.
Para monitorar a execução das ações planejadas, deve-se fazer uso de relatórios de
acompanhamento e percepções da gestão em torno do trabalho que está sendo desenvolvido
em cada etapa, podem ser criados instrumentos de acompanhamento que devem ser
respondidos pelos responsáveis após cada ação desenvolvida. Para avaliar a qualidade e
efetividade das ações, assim como todo o processo de execução, é possível se utilizar desses
instrumentos que possibilitam a coleta de informações para tomada de decisões.
Em relação à gestão pedagógica, o plano de ação deve abordar metas e ações relacionadas
ao currículo, metodologias de ensino, formação de professores, acompanhamento do
desenvolvimento dos estudantes e a implementação de práticas educativas inovadoras.
Também inclui a análise de indicadores de desempenho, fluxo, frequência, entre outros, o
acompanhamento das avaliações internas durante o processo de ensino e aprendizagem,
para embasar a tomada de decisões que visem a melhoria contínua do processo educativo. É
essencial para garantir a qualidade do ensino uma aprendizagem eficaz e significativa para os
educandos.
A gestão participativa é outra dimensão relevante, pois envolve ativamente todos os membros
da comunidade escolar, incluindo professores, estudantes, pais e funcionários, no processo
de definição de metas, planejamento e implementação de ações. A inclusão de diferentes
pontos de vista e a colaboração de todos os envolvidos é fundamental para o sucesso do
plano de ação.
No que tange à avaliação, deve ser contínua, ao longo da execução das ações e, ainda, ao
final de cada trimestre ou etapa do plano. Nesse momento, é preciso realizar a análise da
implementação e validar o alcance dos resultados ao longo do processo, para que seja
possível corrigir lacunas ou inserir novas tarefas, de acordo com as necessidades da escola.
Essa é a etapa de monitoramento do Plano de Ação.
O diretor escolar é o profissional da gestão que tem como função desenvolver ações
pedagógicas e administrativas, ter boa comunicação com a comunidade escolar, além de
primar por boas relações interpessoais, visando assegurar o bom funcionamento do ambiente
escolar, propiciando condições para garantir com eficiência os processos educacionais. Por
isso, listamos algumas atribuições/características importantes de um bom gestor.
Quando a unidade escolar dispõe do coordenador pedagógico, o diretor escolar conta com as
ações desse agente para auxiliá-lo, as quais são focadas na rotina pedagógica da instituição
de ensino, como um articulador e transformador da prática docente, cujas funções estão
diretamente ligadas ao processo educativo que resultam na aplicação de princípios,
promovendo um ensino de qualidade aos estudantes e a formação do ser integral. As ações
de acompanhamento do diretor(a) e do coordenador pedagógico se entrelaçam e para que
sejam efetivas é necessária uma agenda de trabalho estruturada com foco na garantia da
aprendizagem de todos os alunos.
6. Monitoramento e Acompanhamento dos Processos de Aprendizagem
Para que a criança desenvolva o autoconhecimento, o professor tem o papel de levá-los a ter
percepções sobre o que gostam e como se sentem frente a determinadas situações simples,
mas que os auxiliem a descobrir a si próprios e aos outros. Com os bebês, por exemplo,
situações em que eles podem ficar em frente a espelhos e se observar, a hora do banho,
alimentação e troca de fraldas são ricos para essa aprendizagem: ao se sentir cuidado e ao
aprender a cuidar de si, a criança desperta a consciência sobre seu corpo.
Nesse processo, cabe aos diretores escolares o cuidado com a orientação e articulação da
equipe pedagógica e professores na definição das ações de acolhimento, diagnóstico,
adaptação e gestão das evidências, especialmente na fase de transição entre as etapas de
ensino.
A transição dos anos iniciais para os finais no Ensino Fundamental também constitui um
momento de cautela com o processo de aprendizagem dos estudantes. As rupturas que
ocorrem do 5º para o 6º ano se inserem em diferentes campos, desde a complexidade dos
conteúdos de ensino, com diferentes lógicas de organização dos conhecimentos relacionados
às áreas, passando pela adaptação a nova dinâmica de professores, um por componente
curricular e, ainda, as mudanças fisiológicas das crianças, na transição da infância para a
adolescência, marcada por intensas mudanças decorrentes de transformações biológicas,
psicológicas, sociais e emocionais.
Todo esse quadro impõe à escola desafios que vão além da função pedagógica, ao
pensarmos no cumprimento do seu papel em relação à formação das novas gerações. Ao
firmar seu compromisso de estimular a reflexão e a análise aprofundada, as instituições
escolares devem contribuir para a formação de um estudante crítico em relação ao conteúdo
e à multiplicidade de ofertas midiáticas e digitais, que incorpore novas linguagens e maneiras
de funcionamento, desvendando possibilidades de comunicação (e também de manipulação),
e que eduque para usos mais democráticos das tecnologias e para uma participação mais
consciente na cultura digital.
Tomando como base o compromisso da escola de propiciar uma formação integral, balizada
pelos direitos humanos e princípios democráticos, é preciso considerar a necessidade de
desnaturalizar qualquer forma de violência. Em todas as etapas de escolarização, mas de
modo especial entre os estudantes dessa fase do Ensino Fundamental, esses fatores
frequentemente dificultam a convivência cotidiana e a aprendizagem, conduzindo ao
desinteresse e à alienação e, não raro, à agressividade e ao fracasso escolar, levando muitas
vezes à reprovação ou ao abandono e evasão. É necessário que a escola dialogue com a
diversidade de formação e vivências para enfrentar com sucesso os desafios de seus
propósitos educativos.
7. Considerações Finais
Vimos neste tópico que a gestão baseada em evidências considera diferentes indicadores
educacionais que englobam todas as dimensões da gestão escolar. Nesse contexto, os
resultados das avaliações externas ganham destaque pois, além dos testes cognitivos,
disponibilizam questionários contextuais, socioeconômicos e/ou socioemocionais, que
possibilitam aos gestores da educação em todas as instâncias - federal, estadual, municipal e
escolar - o acesso a dados relacionados tanto aos estudantes, quanto aos seus familiares,
aos professores, à rede física das escolas, ao clima escolar, à questões socioemocionais,
entre outros, como o SAEB, que toma como referência sete dimensões de qualidade da
Educação Básica, os quais se inter-relacionam para promover percursos regulares de
aprendizagem com vistas à formação integral dos estudantes brasileiros: Atendimento
escolar; Ensino e aprendizagem; Investimento; Profissionais da educação; Gestão; Equidade
e; Cidadania, direitos humanos e valores.
Outros indicadores são fornecidos por meio da frequência dos estudantes e pelos resultados
de aprendizagem obtidos nas avaliações internas, parciais e finais, os quais definem as taxas
de aprovação e reprovação, abandono e evasão, distorção idade/série, além de informações
complementares acerca do clima escolar, relações interpessoais, relacionamento com a
comunidade e familiares, rede física escolar e administração de recursos.
Portanto, quando falamos em gestão por meio de evidências devemos considerar inúmeros
fatores que vão influenciar nos resultados de aprendizagem, o que nos leva a refletir sobre a
importância do planejamento estratégico e da construção de um plano de ação que englobe
todos esses fatores, dentro do peso elencado a cada um deles. Para tanto, faz-se necessário
que os gestores escolares tenham consciência da importância do seu papel como articulador
e participante ativo das ações pedagógicas, desde o seu planejamento, passando por sua
execução, monitoramento, avaliação e na realização dos ajustes necessários para se
alcançar a equidade e as melhorias nos resultados de aprendizagem e, consequentemente,
na qualidade da educação.
8. Referências Bibliográficas
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