Sebenta FigueiredoDias
Sebenta FigueiredoDias
Sebenta FigueiredoDias
DIREITO PENAL I
SUMÁRIOS DO PROGRAMA
ANO 2002/2003
Bibliografia:
- Sebenta de DP do Mestre Augusto Silva Dias
- Fascículos de DP do Prof. Doutor Jorge Figueiredo Dias
PARTE I
FUNDAMENTO E LIMITES DO DIREITO PENAL
I. Noções básicas
1.3. Direito Penal nuclear e Direito Penal complementar: critérios formais e materiais de
distinção.
Formal:
DP nuclear: Conjunto de incriminações que figuram no CP
DP complementar ou secundário: São aquele conjunto de incriminações de legislação penal
avulsa ou extravagante
Material:
DP nuclear: È constituído pelo conjunto de incriminações contra os valores fundamentais da
comunidade
DP complementar: São o conjunto de incriminações que por necessidade político criminal, no
momento são consideradas crime
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Tolentino Santos – UL/PL
Sumários de Direito Penal
2.2. Autonomia e dependência do Direito Penal relativamente a outros ramos do Direito: critica
à tese de BINDING da natureza puramente sancionatória do Direito Penal e defesa de um
sentido moderno da ideia de subsidiariedade.
Binding, autor penal dos princípios do séc. 20, diz que o DP não é autónomo mas sim
sancionatório de normas de D. Público, esta concepção está hoje rejeitada, pois a doutrina
qualifica que o DP é actualmente autónomo, pois não dispõe de sanções para quaisquer normas
de D. Público, mas tão só para impedir ou evitar a violação gravíssima de valores ou bens
jurídicos fundamentais, ou seja para repressão de comportamentos que violem gravemente os
valores fundamentais da ordem jurídica sem que seja posta em causa o princípio da unidade de
toda a ordem jurídica, ideia de não contradição valorativa (como sejam poder haver conceitos
diferentes entre o DP e outros ramos de direito). È ainda o DP um direito autónomo pois é
criador de uma específica ilicitude penal.
1. O conceito de crime
1.1. O conceito formal de crime: seu significado e alcance.
O crime é todo o facto qualificado e punível na lei como tal
d) Classificação dos bens jurídicos: bens jurídicos individuais e bens jurídicos supra-
individuais; teorias monistas e teorias dualistas.
A diferença radica na existência de duas zonas relativamente autónomas, pois enquanto
os primeiros se relacionam directa ou indirectamente, com a ordenação jurídico
constitucional relativa aos DLG das pessoas e são regulados pelo DP primário, já os
segundos regulados pelo DP secundário ou extravagante, de que se encontram exemplos
no DP económico e se relacionam com a ordenação jurídico constitucional dos direitos
sociais e à organização económica. Diferença que radica, por sua vez, na existência de
duas zonas relativamente autónomas na actividade tutelar do Estado, uma visa proteger
a esfera de actuação especificamente pessoal do homem, “como este homem”; a outra
visa proteger a sua esfera de actuação social, “como membro da comunidade”.
Uma vez que o direito penal utiliza, com o arsenal das suas sanções específicas, os meios mais
onerosos para os direitos e liberdades das pessoas, ele só pode intervir nos casos em que todos
os outros meios da política social, em particular da política jurídica se revelem insuficientes e
inadequados. Quando assim não aconteça aquela intervenção pode e deve ser acusada de
contrária ao princípio da proporcionalidade, sob a forma de violação do princípio da violação da
proibição do excesso.
Tal sucederá, p. ex. quando se determine a intervenção penal para protecção de bens jurídicos
que podem ser suficientemente tutelados por intervenção de meios civis, pelas sanções do
direito administrativo (contra ordenações) ou do direito disciplinar.
O mesmo sucederá sempre que se demonstre a inadequação das sanções penais para prevenção
de determinados ilícitos, nomeadamente sempre que a criminalização de certos
comportamentos, seja factor da prática de muitas mais violações, do que aquelas que se
pretendem evitar, o que sucede nos denominados crimes sem vitima, como p. ex. o consumo de
drogas, prostituição, pornografia, etc.
Contra ordenação: Contra ordem, violação da ordem, que foi criada para despenalização de
comportamentos denominados contravenções, são violações de um dever, sendo um ilícito de
uma actividade sócio económica, cujas sanções são as coimas, que é uma advertência social,
sanção pecuniária, são aplicadas pela autoridade administrativa e não são convertíveis.
2. O conceito de pena.
2.1. Os fins das penas: fins de retribuição e de prevenção; uma resenha histórica. Fins das penas
e funções do Direito Penal.
Em relação aos fins das penas pode-se dizer sem exagero, que ela constitui no fundo, a questão
do destino do direito penal.
Intimidação (negativa)
Prevenção Geral
Teorias Relativas: Integração (positiva)
Socialização (positiva)
Prevenção Especial
Inocuização (negativa)
Teoria Absoluta – Doutrina da Retribuição: Para esta doutrina, a pena tem como sua
essência, a retribuição, expiação, reparação ou compensação do mal do crime, cuja justificação da
pena se encontra no passado, no próprio facto do crime.
Historicamente, esta teoria tem como modelo inspirador o muito conhecido principio de Talião,
do “olho por olho, dente por dente”, mais tarde os defensores desta teoria vão inspirar-se na
filosofia de Kant, que qualificava a pena como um “imperativo categórico”, o qual defendia que
se o Estado e a sociedade viessem a desaparecer, “tinha o último assassino que se encontrasse na
prisão de ser previamente enforcado, para que assim cada um sinta aquilo de que são dignos os
seus actos e o sangue derramado não caia sobre o povo que se não decidiu pela punição”.
Ultrapassado este período, acabou por reconhecer-se, que a pretendida igualação, não podia ser
fáctica, mas que tinha que ser normativa. Restava no entanto saber-se se desejada reparação,
deveria assumir o carácter de uma reparação do dano real, do dano ideal ou de qualquer outra
grandeza, e se ela ocorria em função do desvalor do facto ou antes da culpa do agente. Hoje
tem-se como assente, que a retribuição só pode ser em função da culpa do agente.
Porque se o que está em causa é tratar o homem segundo a sua liberdade e a sua dignidade
pessoal, então isso conduz-nos ao principio da culpa como máxima de todo o DP humano,
democrático e civilizado, que nos leva ao principio segundo o qual, não há pena sem culpa e a
medida da pena não pode em caso algum ultrapassar a medida da culpa.
A concepção retributiva teve o mérito de ter erigido o princípio da culpa em princípio absoluto
de toda a aplicação da pena e ter, deste modo, levado a que na aplicação de uma pena criminal,
não se possa violar a eminente dignidade da pessoa humana.
Mas o Estado democrático, pluralista e laico dos nossos dias não pode arvorar-se em entidade
sancionadora do pecado e do vício, mas tem de limitar-se a proteger bens jurídicos, e para tanto
não pode servir-se de uma pena conscientemente dissociada de fins. E justamente por isso a
retribuição não aparece, muito exactamente, contabilizada entre os fins da aplicação da pena
exarados no art.º40.1, mas apenas como limite inultrapassável da sua aplicação no art.º 40.2.
Mas se toda a pena supõe a culpa, nem toda a culpa supõe a pena, mas só aquela culpa que
simultaneamente acarrete a necessidade ou carência de pena, o que aliás se pode comprovar
através do instituto da dispensa de pena, consagrado no art.º74 relativo a casos de crimes onde,
estando ainda presente a culpa, todavia não se verifica a carência de pena, precisamente porque
neles não se fazem sentir quaisquer exigências preventivas, podendo-se assim afirmar, que a
culpa é requisito ou limite, mas não fundamento da pena.
Uma pena retributiva esgota o seu sentido no mal que se faz sofrer ao delinquente como
compensação ou expiação do mal do crime, nesta medida é uma doutrina puramente social –
negativa, inimiga de qualquer tentativa de socialização do delinquente e de restauração da paz
jurídica da comunidade afectada pelo crime.
Teorias Relativas – Teorias Preventivas, de Fins: Também estas teorias reconhecem que a
pena se traduz num mal para quem a sofre, mas que se deve usar desse mal para alcançar a
finalidade principal de toda a política criminal, a Prevenção ou a profilaxia criminal, que é a que
está consagrada no CP, cfr. art.º 40. Há todavia que distinguir entre as doutrinas de Prevenção
Geral e as de Prevenção Especial ou Individual.
Prevenção Geral: Tem esta teoria como concepção, a susceptibilidade de poder vir a actuar
psiquicamente sobre a generalidade dos membros da sociedade, afastando-os da prática de crimes. Parte-
se da ideia de que muitas pessoas só são capazes de dominar as suas tendências criminosas, face
ao reconhecimento de que quem se decide pela via do crime acaba por sofrer mais danos
pessoais do que vantagens, a velha ideia popular de que o crime não compensa, tendo assim a
pena como função a legitimação da ordem jurídica vigente e a manutenção da paz social.
Prevenção Geral Negativa ou de Intimidação: Se a pena for concebida por uma parte como
forma de intimidação, defesa da sociedade através do contra estímulo que é a ameaça da pena
pode ter sobre as outras pessoas, pelo mal que com ela se faz sofrer o delinquente, pretendendo-
se assim induzi-las a não cometerem factos criminais, dissuadindo assim também potenciais
criminosos..
Critica: Não está provado que os delinquentes conheçam a pena quando cometem o facto ilícito,
e qual será a quantidade de pena necessária para que ela funcione como forma de contrariar o
crime, sabendo-se que a eficácia da pena como factor intimidatório, será tanto maior, quanto
menor for a gravidade dos factos ilícitos praticados. Pelo que se poderá dizer que a eficácia da
intimidação, não se mede pela quantidade dos crimes cometidos, mas pelos que deixaram assim
de ser praticados. Embora seja um critério a ponderar, mas desde que não ameace a dignidade
do ser humano.
Prevenção Geral Positiva ou de Integração: Quando a pena é concebida, com outra parte
destinada a manter e a reforçar a confiança dos cidadãos na força de vigência das suas normas
de defesa de bens jurídicos. Integrando-se assim nas pessoas a convicção que tais práticas
criminosas são punidas, que o sistema jurídico penal funciona, pese embora todas as violações
que até aí tenham tido lugar. Ou como dizia Montesquieu, que a causa de todos os desleixos
(relâchements) está “na impunidade dos crimes e não na moderação das penas". Pretende-se
assim criar uma coesão colectiva à volta de tais princípios.
Critica: Tal situação pode vir a criar atropelos ao princípios fundamentais do Estado de direito,
pois ninguém deve ser considerado instrumento negociável para fins que lhe são estranhos,
afectando assim a princípio da dignidade humana.
Prevenção Especial ou Individual: Pune-se para que o delinquente não pratique mais crimes,
para o corrigir, sendo a pena um instrumento de actuação preventiva, como forma de prevenção
da reincidência.
Estas teorias de Prevenção Especial, podem também ter uma vertente Positiva e outra
Negativa, assim temos:
Porquê?: Porque é que o legislador ameaça na lei com uma pena?, para protecção de bens
jurídicos, ou seja porque o legislador valora o facto como violador de bens jurídicos
fundamentais, o legislador fixa a pena para proteger o bem jurídico fundamental, atribuindo-lhe
um valor, para que se saiba quanto ele vale para a vida em comunidade, pelo que a teoria da
Prevenção Geral Positiva/Integrativa dá a resposta, pois não é um efeito Intimidatório.
Porque através de um comportamento humano foi praticado um facto ilícito (violação de um
bem jurídico fundamental), culposo, com o empenho pessoal do agente, cuja pena não deve
ultrapassar o envolvimento pessoal que o agente pôs na pratica de tal facto lesivo, mas por
outro lado se não houvesse condenação o juiz estaria a desdizer aquilo que o legislador disse,
Para Quê? – Aplicação concreta: No momento da sua aplicação concreta, o juiz deverá ter em
conta o efeito social da pena para o agente, pois ele mais tarde ou mais cedo voltará para o seio
da comunidade, pelo que a pena terá de pesar os seus efeitos sobre a vida futura do delinquente,
evitando que vá agravar o sentimento associal do agente.
Execução da Pena: Prevenção especial, a pena deve ser cumprida tendo em conta a
possibilidade do regresso do indivíduo à sociedade, devendo ponderar-se regimes de semi
detenção (fins de semana), liberdade condicional, fiscalizado por um juiz de execução de penas, o
qual tem os poderes para assim decidir.
Assim temos que a pena, quer na sua ameaça, quer na sua aplicação concreta, quer ainda na sua
execução efectiva, só pode prosseguir a realização de finalidades de prevenção quer geral quer
especial, prevenindo assim a prática de futuros crimes.
Pelo que a finalidade primária da pena deverá ser a Prevenção geral positiva ou de
Integração, através do restabelecimento da paz jurídica comunitária abalada pelo crime,
princípio da necessidade da pena, que será fornecida a moldura da prevenção, dentro de cujos
limites devem actuar as consideração de prevenção especial (e não a culpa, a qual só é limite
inultrapassável) a qual posteriormente vai então determinar a medida da pena, seja pela função
positiva de socialização, seja pela função negativa de segurança. No entanto esta função de
socialização só deve entrar em consideração, se o agente se revelar carente de socialização, o que
a não ser necessária, permitirá que a pena desça até perto do limite mínimo da moldura de
prevenção.
Mas se ao contrário não houver esperança de êxito na socialização do agente, caso de
incorrigibilidade, fica só em aberto a necessária segurança individual
Art.º 91 CP, refere que a medida de segurança sendo aplicada tendo por base a perigosidade do
indivíduo, é renovada de 2 em 2 anos e cessa logo que cessar a perigosidade e manter-se-á até ao
limite máximo de pena fixado na lei (25 anos), mas o art.º 30 CRP não cobre tal situação, mas há
sempre recurso com suporte legal na Lei Geral de Saúde (processo de tratamento psiquiátrico).
Acrescenta o N.º 2 do art.º 91 CP que quando “o facto cometido pelo inimputável corresponder a
crime contra a s pessoas ou a crime de perigo comum puníveis com pena de prisão superior a 5 anos, o
internamento tem a duração mínima de 3 anos, salvo se a libertação se revelar compatível com a defesa
da ordem jurídica e da paz social”. Um tal regime é sinal de que não se trata aqui de uma mera
presunção de duração de perigosidade, mas que tendo-se cometido um crime grave há razões de
tranquilidade social e tutela da confiança comunitária nas normas violadas a que a política
criminal tem de responder mesmo estando-se perante inimputáveis, através da aplicação de
medidas de segurança. Mas tendo sempre em conta o princípio da ponderação de bens
conflituantes, segundo o qual liberdade da pessoa (de qualquer pessoa, mesmo inimputável), só
pode ser suprimida ou limitada, como justamente nota Roxin “ quando o seu uso conduza, com alta
probabilidade, a prejuízo de outras pessoas que, na sua globalidade pesa mais do que a limitações que o
causador do perigo deve sofrer com a medida de segurança”.
A culpa como limite inultrapassável da pena: A função da culpa tal como está inserida no
Estado de Direito Democrático, é a de estabelecer o máximo de pena ainda compatível com as
exigência de preservação da dignidade da pessoa humana, e da garantia do livre
desenvolvimento da sua personalidade, cfr. Art.º 40 CP
Resumo:
Defesa das Teorias de Prevenção1
1 – Toda a pene serve finalidade exclusivas de prevenção geral e especial
2 – A pena concreta é limitada no seu máximo inultrapassável pela medida da culpa
3 – Dentro deste limite máximo ela é determinada no interior de uma moldura de prevenção
geral de integração, cujo limite superior é oferecido pelo ponto óptimo de tutela dos bens
jurídicos e cujo limite inferior é constituído pelas exigências mínimas de defesa do ordenamento
jurídico.
4 – Dentro desta moldura de prevenção geral de integração a medida da pena é encontrada em
função das exigências de prevenção especial, em regra positiva ou de socialização,
excepcionalmente negativa de intimidação ou segurança individual.
1
Teoria penal defendida pelos Prof. Doutores Jorge Figueiredo Dias e Anabela Rodrigues
2
Teoria defendida pelo Juiz Conselheiro José de Sousa e Brito
3
José de Sousa e Brito: “Os fins da penas no código penal”, Problemas Fundamentais de
Direito Penal, Homenagem a Claus Roxin, Lisboa, Universidade Lusíada Editora 2002
- Pena: Castigo, sofrimento, que são aplicáveis a quem for susceptível de culpa, juízo de
reprovação de censura individual, é a sanção jurídico penal por excelência, aplicável a
quem for susceptível de culpa (juízo de reprovação), de censura individual, que se traduz
por um castigo ou sofrimento infligido ao agente que pratica um crime.
o Acessórias: Art.º 65 e ss. CP, são só de aplicação com a pena principal, reforço de
proibição.
o Penas substitutivas: Trabalho em favor da comunidade, multa se não estiver
prevista (art.º 44 CP) e admoestação art.º 60 CP.
Medida de Segurança: Aplicável a quem pratica o c<rime, mas não tem capacidade de
culpa, inimputável, pena de internamento
2.3. Distinção entre as sanções penais e outras espécies sancionatórias: as coimas, as sanções
disciplinares e as «penas privadas».
Outra espécie sancionatória (não penal), decorre da prática das Contra - ordenações (que vieram
substituir as contravenções), contra ordem, violação da ordem ou de um dever, um ilícito de
uma actividade sócio económica, cujas sanções são as coimas.
A Coima: É uma advertência social, uma sanção pecuniária, não é convertível como a sanção
penal (pena, juízo de reprovação social por violação de um bem jurídico), a coima é aplicada por
uma entidade administrativa, enquanto as penas só podem ser aplicadas pelos tribunais, embora
possa haver recurso da coima para o tribunal. No entanto os princípios aplicáveis no DP são os
mesmos das contraordenações, embora com mais flexibilidade.
2. O princípio da culpa.
Decorre este P. da Culpa (PC), do princípio da dignidade da pessoa humana, ou seja, quando se
pune alguém sem se ter em conta a sua culpa, está-se a instrumentalizar a pessoa para
finalidades que lhe são estranhas, pois não pode haver pena sem culpa e a pena não deve
ultrapassar a medida da culpa, o que violaria assim este princípio. A pena deve ser adequada à
culpa, segundo o demérito pessoal do agente revelado na prática do facto ilícito.
3. O princípio da proporcionalidade.
Pretende-se com o princípio da Proporcionalidade (PP), que os meios têm de ser proporcionais
aos bens que se pretendem proteger, proporcionalidade em sentido restrito, não podendo o DP
proteger bagatelas (art.º 18 CRP).
Está inserido no espirito deste princípio o P. da Ofensividade (PO), onde não haja bem jurídico
ameaçado pela conduta que não tenha qualquer perigosidade, não há relação lesiva entre a
conduta e o bem, significa que não tem dignidade penal, não sendo merecedora de pena (crime
em sentido abstracto).
4. O princípio do «facto».
O P. do Facto (PF), que se contrapõe ao DP do agente, sendo a resposta dada pelo modelo
político de Estado, ou seja se o Estado é totalitário temos o DP do agente, o DP do inimigo
interno, em que o ilícito é construído sob forma de desobediência ou traição, leis contra os
parasitas do povo, tipos normativos do agente por detrás dos tipos legais, p. ex. homicídio,
furto... por detrás do homicida está o homem que a comunidade modela como homicida, o que
interessa saber é quem é quem é que praticou o furto, quem está por trás, ou seja se esse tipo
não corresponde à imagem do tipo, não é condenado, selecção do criminoso capacitário, o que se
pune é o agente sendo o facto o pretexto (tal como a figura da culpa na formação da
personalidade, o que se está a pretender punir não é o facto, o que se censura é o modo como o
agente se conduz na vida), aqui parte-se do agente e não do facto para se punir, porque o que
está em jogo é o empenhamento pessoal do agente naquilo que ele fez, que é o corolário deste
PF
6. O princípio da legalidade.
O princípio da Legalidade (PL), “Nullem crimem, nulla poena sine lege”, é um produto político,
que está inserido no Estado de Direito formal, é a ideia da segurança jurídica, pelo que é
necessário que os factos ilícitos esteja, previstos na lei, evitando-se que os cidadãos possam ser
surpreendidos com a criminalização de um comportamento, ou seja para haver intervenção
penal, só se encontra legitimada a instância que represente o Povo como titular último do “Ius
Puniendi”, donde a exigência de lei e neste caso lei formal emanada do Parlamento ou por ele
devidamente autorizada (art.º 165.1 al. c) CRP) de acordo com art.º 18.2.3 e 27 da CRP.
Visa-se impor limites à intervenção do Estado no âmbito do DP, limites esses que se dirigem
não só ao Estado enquanto legislador, mas como também enquanto Juiz.
Mas não pode estar previsto qualquer facto como crime, só devendo estar previstos aqueles
comportamentos graves e lesivos dos bens jurídicos fundamentais, para os quais a comunidade
não tem outro meio que não seja o DP, principio da subsidiariedade, ideia de garantia do E.
Direito material, sendo o DP que corporiza o P. da Necessidade.
PARTE II
TEORIA DA LEI PENAL
1.1. Os forais.
1.2. A lei das «Sete Partidas».
1.3. Das Ordenações de D. Duarte às Ordenações Filipinas.
2. O período do Direito Penal iluminista (do último quartel do Sec. XVIII até meados do Sec.
XIX).
1. A lei: o princípio constitucional da reserva de lei («nullum crimen, nulla poena sine lege scripta»).
Para haver Costume terá de existir uma prática reiterada dos actos e quem os pratica terá de
agir com a convicção que está a actuar de acordo com aquilo que a norma prescreve.
Ora como já vimos o costume não pode criar leis penais Art.º 29 CRP, pela que a única fonte é a
Lei, com uma única excepção Art.º 29.2 CRP, que são os princípios de direito Internacional,
embora já todos eles constem do CP (é só uma questão de precaução). No entanto o costume e o
uso podem ter uma função importante na concretização de conceitos indeterminados, quer os
locais quer os nacionais.
No entanto poderá haver casos em que o costume “contra legem”, pode ser importante como
referência legislativa, na despenalização de certos comportamentos, p. ex. se ainda existisse uma
lei (proibição do uso de saias curtas) que já estivesse ultrapassada pelo costume, poderia este
servir como fonte de despenalização, ou de atenuante, tendo portanto só força derrogatória e
nunca incriminatória, pois a tal se opõe o P. da Legalidade
Certas práticas costumeiras também podem funcionar como causas para afastar ou de exclusão
da responsabilidade criminal, p. ex. pancada dada com os alhos porros nas noites de S. João, bem
assim como as chamadas Acções socialmente adequadas, que não ofendem bens jurídicos, p. ex.
palmadas nos filhos, os murros dados no boxe, etc., não são vistas por determinadas
comunidades, como acções ofensivas.
Já o Costume como corrente jurisprudencial, tem valor como fonte interpretativa da lei, já que
condiciona a forma de aplicação da lei, criando a convicção da obrigatoriedade para os tribunais
inferiores das decisões emanadas dos Tribunais superiores.
Positivas: São aquelas que definem pela positiva os pressupostos da responsabilidade criminal,
estabelecendo pressupostos positivos, p. ex. as normas da parte especial do código.
o Permite-se a interpretação extensiva (ex. açúcar = veneno para diabético, embora
o açúcar não seja um veneno)
o Proíbe-se a analogia
Em qualquer dos casos há autores que defendem que se pode fazer uma interpretação
Declarativa lata, ou seja interpretar no sentido mais amplo que as palavras têm, o P. da
Legalidade proíbe é a interpretação que ao subsumir-se ao facto ele não existe.
È também permitida a interpretação de casos técnicos, mas só de forma a que tal não
surpreenda os destinatários.
2. Os limites da interpretação e o problema da analogia («nullum crimen, nulla poena sine lege
stricta»): sentido e alcance da proibição da analogia (art°1 n°3 do CP).
Dirige-se ao juiz afim de evitar a analogia, mas tal como no caso do Costume estamos a referir o
analogia incriminatória, pois caso seja para atenuar a incriminação, já é possível.
Quer interpretação quer a analogia são processos de obtenção do Direito, e no DP, o que não
está dentro está fora, também se dirige a legislador para que na criação da lei, o faça de forma a
não deixar lacunas, pois quando o faz é propositadamente, pelo que a proibição de integração
analógica de lacunas se dirige ao juiz.
Lei penal em branco, é a lei que prevê uma pena cujo preenchimento (espaço em branco) dos
pressupostos típicos, são remetidos para outra lei por razões de economia legislativa, ex. Lei
28/94 art.º 32.º .
1. O princípio da não retroactividade da lei penal («nullum crimen, nulla poena sine lege previa») e
a aplicação retroactiva da lei penal mais favorável.
É uma injunção dirigida ao Juiz, mas que também atinge o legislador, de se abster de criar leis
com alcance retroactivo, cujo fundamento é a segurança jurídica consagrada na constituição
art.º 29.1 e 4, sendo que também uma das consequências do PL é o da proibição da
retroactividade em tudo quanto funcione contra o delinquente, o qual só pode ser punido por
lei (em vigor) anterior ao momento da prática do facto. A consequência mais importante
deste princípio, é que a proibição de retroactividade, só vale contra o agente, já não se aplicando
a favor dele, o qual se consubstancia assim no princípio da aplicação da lei ou do regime
mais favorável (lex mellior). Art.º 29 CRP e art.º 2 CP
Por outro lado é obrigatória a retroactividade de aplicação de normas penais mais favoráveis ao
delinquente.
A própria lei se nada disser entra em vigor decorrido o período de “vacatio legis”, que é de 5
dias.
O momento da prática do facto de acordo com o art.º 3 CP, é regra geral o momento da acção
ou da omissão, ou seja o momento da violação da norma, pelo que desde este momento até ao
trânsito em julgado ou até ao efectivo cumprimento da pena (conforme seja o caso), aplicam-se
as leis que estavam em vigor ou que neste espaço de tempo iniciaram a sua vigência.
A acção é dominável pelo agente mas o resultado é aleatório, não sendo por ele controlável, pelo
que as proibições dirigem-se ás acções. Os crimes podem ser:
- Instantâneo: As acções esgotam-se rapidamente
- Duradouros: A acção protela-se no tempo, indeterminadamente, p. ex. Sequestro, que
começa com a privação da liberdade da vitima e termina com a sua libertação
- Continuado: Art.º 30.2 CP, O delinquente vai cometendo crimes em série, vários tipos de
crime que protegem o mesmo bem jurídico, que é uma excepção ao concurso de crimes,
ex. furto, pois não podem ser bens jurídicos pessoalíssimos, acção homogénea propiciada
por situações externas, que como que facilitam a prática do crime (a ocasião faz o
ladrão), atenuando assim a culpa do agente, resumindo-se tudo a um crime (ficção
jurídica). O crime continuado é um só crime, embora sejam vários delitos, o
dolo/vontade/intenção tem se surgir de cada vez.
Leis penais em sentido impróprio – Art.º 2.2 CP: São as situações em que o facto deixou de ser
considerado crime, p. ex. cheques sem provisão, drogas,... a execução da pena cessa no dia de
entrada em vigor da nova lei, o que significa que o detido por tal crime, é devolvido
imediatamente à liberdade.
O que se passa na sucessão de leis penais em sentido impróprio, é a alteração dos elementos
constitutivos do tipo incriminado, no entanto temos de verificar se há continuidade da lei nova
em relação à antiga, ou se pelo contrário existe uma rotura entre a lei antiga e a lei nova, para se
verificar tal situação, existem 2 teorias:
No caso de a lei nova transformar o facto em contra – ordenação, mudando assim a natureza
jurídica do facto, despenalizando tal situação através da nova lei descriminalizadora, cuja
consequência é a extinção do processo crime, não se aplicando o regime das contra ordenações,
dado que este também não se aplica retroactivamente (art.º 3.2), ora como também não existe
sucessão de contra ordenações, e a sucessão de leis no tempo não é geral, de qualquer lei, mas
sim de leis penais, estamos aqui em presença de uma rotura completa.
Sucessão de leis penais em sentido próprio – Art.º 2.4 CP: Lei em sentido próprio, porque
continuam a ser leis penais, quer formal quer materialmente, o que acontece é que apesar do
facto continuar a ser crime, mantendo-se o tipo mas este ter sido restrito, ou então que as
causas de exclusão se tenham alargado, ou ainda ter sido a moldura penal alterada pela lei nova,
correspondendo-lhe um tratamento mais favorável, entrando a lei nova em vigor enquanto o
delinquente cumpre a pena, aqui o caso julgado é limite inultrapassável de acordo com o art.º
2.4 CP, tendo o detido de cumprir a totalidade da pena.
Neste caso a doutrina divide-se pois há quem considera tal situação inconstitucional, pois o art.º
29.4 da CRP não estabelece limites de retroactividade, pelo que o art.º 2.4 do CP também não o
deveria fazer, como p. ex. José de Sousa e Brito, que preconiza que em tal situação se deveria
estabelecer o limite da pena, ou seja que não se deveria cumprir pena superior ao limite legal
entretanto aprovado pela lei nova, dando como exemplo de tal injustiça, o crime praticado em
co-autoria cujos autores são julgados em momentos diferentes, cumprindo por esta razão penas
diferentes para o mesmo crime, o que viola quer o princípio da Igualdade, quer o princípio da
Necessidade da Pena, que diz só ser legitima a actuação penal, na medida em que se demonstre
que tal seja necessário para a protecção do bem jurídico, de acordo com o princípio da
Subsidiariedade.
O Prof. Augusto da Silva Dias, defende a reabertura do processo sempre que se esteja em
presença de uma sucessão de leis penais em sentido próprio, mesmo que o processo já tenha
transitado em julgado, o qual deverá ser reapreciado à luz da nova lei, permanecendo no entanto
os factos tidos anteriormente como provados.
A determinação de qual é a lei mais favorável, tem de ser feita uma ponderação de todo o
regime, globalmente, tendo sempre por referência o facto, verificando qual das leis é que tem
um regime punitivo mais favorável para aquele facto, que se deve aplicar ao caso concreto,
podendo dar-se o caso de numa situação de co-autoria, poder-se aplicar um regime a um autor e
outro regime ao co-autor, desde que no caso concreto, sejam esses os regimes mais favoráveis
respectivamente.
O Prof. Taipa de Carvalho, diz que devem ser aplicados os aspectos mais favoráveis de cada uma
das leis (regime transitório inter legal), sendo este regime aquele que deveria ser aplicado,
dando-se assim ao juiz a possibilidade de criar um regime.
O Direito Penal Internacional, ramo de direito público, que delimita até onde vai o poder
punitivo de cada Estado (elemento de conexão), soberania do Estado em matéria penal, nas
relações com os outros Estados, que é o conjunto de normas nacionais que visam regular os
termos e condições da aplicação da lei penal no espaço, princípio da territorialidade, mas que
também leva à punição de factos cometidos no estrangeiro, princípio da Universalidade
Mas o espaço comunitário tem em vista o direito Comunitário Penal, cuja implementação não
tem sido fácil (3.º pilar), devendo para tal ser aprovado por convenção e ratificado pelos
Estados.
O art.º 29 do TUE, apresenta diversos princípios em matéria penal. Há uma decisão quadro (de
aplicação obrigatória), que altera a extradição, através do processo de entrega, esta decisão vem
as sequência da Política de cooperação em matéria judicial e policial.
2. Aplicação da lei penal portuguesa a factos cometidos no território nacional (art°4 do CP).
Razões jurídico penais e de política criminal, pois deve ser na sede do delito que mais se
faz sentir as necessidades de punição e de cumprimento das suas finalidades,
nomeadamente as de prevenção geral positiva, pois é a comunidade onde o facto teve
lugar, que viu a sua paz jurídica perturbada e como tal exige por isso que a sua confiança
no ordenamento e as suas expectativas na vigência da norma sejam regularizadas
através da punição.
O PT encontra-se previsto no Art.º 4 do CP, segundo o qual, “... a lei penal portuguesa é
aplicável a factos praticados em território português, seja qual for a nacionalidade do agente”.
Para determinar o que é o território português, a resposta é dada pelo Art.º 5 da CRP,
para determinar a sede do delito é o Art.º 7 do CP que refere “ o facto considera-se
praticado tanto no lugar em que, total ou parcialmente, e sob qualquer forma de comparticipação,
o agente típico se tiver produzido”. O legislador ao cumular aqui quer o critério actuou, ou,
no caso de omissão, devia ter actuado, como naquele em que o resultado da conduta quer o do
resultado, optou uma solução mista ou plurilateral, não deixando assim espaço a
eventuais lacunas de punibilidade, caso se viesse a admitir só um dos critérios.
3. Aplicação da lei penal portuguesa a factos praticados fora do território nacional (art°5 do CP).
Al. d) - Requisitos:
o Tanto o autor como a vitima serem portugueses
o Que o autor viva habitualmente em Portugal
o Que o facto não seja considerado crime no local onde foi praticado, para prevenir
situações de fraude à lei penal (ex. ajuda de suicídio; Eutanásia, ...) a bigamia fica
de fora pois não é contra portugueses.
Al. e): Princípio da administração subsidiária da justiça penal, pretende-se assim evitar
que Portugal seja um paraíso de delinquentes.
O momento da prática do facto, é o momento da acção, ex. crimes de mera actividade, previstos
para protecção penal, para o momento da acção, não exige qualquer facto externo, mas a mera
conduta (p. ex. violação de domicílio)
O RNCT, estes crimes não têm resultado típico, são para protecção antecipada, evitando assim
determinados resultados nocivos, o resultado não faz parte destes tipos de crime, são situações
decorrentes p. ex. dos crimes de mera actividade, mas caso se venha a verificar um resultado
com um enquadramento típico de outro crime, será aplicada a pena a que corresponda a moldura
penal mais elevada. P. ex. o crime de participação em rixa (art.º 151), se tiver como resultado
uma morte ou ofensa corporal grave (não tendo havido dolo, o qual é no entanto necessário para
o resultado típico do crime) houve aqui um RNCT.
O N.º 2, refere a tentativa, também está abrangida, é uma ficção, pois o resultado não se produz,
ausência de resultado, pelo que seria o hipotético lugar em que o resultado se produziria.
5. Aplicação da lei penal estrangeira mais favorável pelo juiz nacional (artº6 do CP).
N.º 1: A lei penal portuguesa é subsidiária da lei penal do país da prática do facto, ou da lei do
país em que o agente é condenado, mas condiciona-se tal aplicação quando o agente aí não tiver
sido julgado ou se houver subtraído ao cumprimento total ou parcial da pena, e desde que o
elemento de conexão seja reconhecido pela lei penal portuguesa.
Este princípio da Ubiquidade, de aplicação extraterritorial é supletivo do princípio prioritário
da territorialidade, afim de prevenir a impunidade que poderia resultar de conflitos negativos de
jurisdição.
N.º 2: Para se saber se a lei penal portuguesa é aplicável. Tem de se saber se globalmente a lei
penal do local da prática do facto é mais favorável ou não, pelo que o juiz deverá para tal fazer
uma conversão de penas do sistema penal.
A lei estrangeira tem assim efeitos sobre a lei penal portuguesa (que aqui tem aplicação
subsidiária) quer por impedir a sua aplicação, quer por ser a aplicável se for a mais favorável.
N.º3: Aqui a lei penal portuguesa já não cede perante a lei estrangeira, na defesa do princípio da
defesa dos interesses nacionais.
6. Relevância interna das sentenças penais proferidas por tribunais estrangeiros: efeitos
negativos e efeitos positivos de caso julgado.
Quando um comportamento realiza vários tipos incriminatórios, mas a violação de uma norma
já engloba todo o ilícito do comportamento, estamos perante um concurso aparente e assim não
se pode punir por vários crimes, pois violava-se o princípio “ne bis in idem”, ou seja se um dos
comportamentos realiza o tipo e se a punição fosse por concurso efectivo, estava-se assim a
punir várias vezes o mesmo tipo de crime. Assim um dos crimes absorve todos os outros, pelo
que só temos um crime, mas quando é que podemos concluir que isso acontece?
Para fazermos essa distinção, temos 3 constelações doutrinárias, que seguidamente
analisaremos: Especialidade, subsidiariedade e consunção.
A relação de especialidade, contém todos os elementos da geral e mais alguns que o especializa,
a lei especial derroga a lei geral, p. ex. A Ofensa corporal grave (especial), abrange a simples
(geral) a partir da qual é construída.
2 – Subsidiariedade: T
Tipos de crime diferentes
Elementos comuns
Ex. Coacção, art.º 154 CP, é elemento constitutivo de vários tipos de crime (extorsão, roubo,
violação etc.), pois quando são utilizados meios coercivos (medo), realiza vários tipos de crime
consoante o caso, o tipo de coacção é subsidiário quer da violação, quer da extorsão ou do roubo,
só sendo aplicado se estes não o forem, pelo que punir em sentido efectivo seria uma vez mais
violar o princípio “ne bis in idem”, pode-se dar também como exemplo a violência usada como
elemento constitutivo de outros tipos de crime, mas a qual é instrumental para a prática do
crime. A relação de subsidiariedade (violência), pode até gerar uma subsidiariedade de crimes,
entre um roubo com sequestro (o ladrão fecha a vitima dentro de casa), que no caso de se
esquecer de libertar a vitima, teríamos um concurso efectivo que em princípio era
subsidiariamente aparente (se depois do roubo libertasse a vitima), mas porque se tornou um
meio excessivo para o roubo, deixou de ser instrumental, ultrapassando em larga medida o meio
típico, tendo em conta o fim típico.
Assim, tudo o que seja excesso de lesão, deverá ser considerado concurso efectivo, punido-se
pelo mais grave dos crimes.
PARTE III
TEORIA GERAL DO CRIME
I. Introdução
1. A dogmática jurídico-penal no contexto de uma «ciência global do Direito Penal».
Dogma (grego: opinião, doutrina), conceitos e regras de opinião.
Sistema de conceitos e regras de imputação ou atribuição de responsabilidade, com a
particularidade de cada incriminação ser concebida como um sistema aberto.
Funções: Hermenêutica de obtenção e aplicação do direito aos casos concretos.
Segurança: Utilizando a dogmática, introduziu-se uma maior harmonização na resolução dos
casos, como função estabilizadora na aplicação do direito penal.
Descarga: Dispensa o aplicador (juiz), do recurso permanente a valorações, não se interrogando
se é válido o modo como aplica o direito.
Não impede no entanto uma função critica, sempre que seja necessário recorrer a argumentos
de validade, de determinadas soluções ou leis, pois como se disse é um sistema aberto.
Ordenada teleologicamente, a dogmática do crime é composta por elementos que do ponto de
vista normativo deva ser considerado crime, servindo para determinar responsabilidade
criminal, baseada em valorações do ordenamento jurídico, e assim atribuir responsabilidade
criminal, a quem praticar factos correspondentes a essas definições.
São elementos que definem e integram o conceito de crime: Facto, Típico, Ilícito, Culposo e
Punível.
Tal ordenação corresponde a uma lógica, elementos que correspondem a valorações.
Típico: Formulação do tipo punível, de incriminação, descrição típica, modelar de tipos puníveis
(parte especial), o tipo reflecte o ilícito, realização do ilícito, indicando assim a existência de um
facto ilícito.
Ilícito: É ilícito, se não houver nenhuma causa de justificação do mesmo (análise negativa), na
ordem jurídica no seu conjunto, de causas de justificação ou exclusão do facto ilícito, as causas
de justificação não estão tipificadas, embora se utilize o tipo justificador.
1. O facto típico.
1 – Causal ou Naturalístico: Conceito adoptado pela escola clássica, com base nesta
teoria, acção era todo o movimento corpóreo causador de uma alteração no mundo
exterior.
Foi criticada, porque levava a incluir nela, realidades que não eram comportamentos
humanos (p. ex. actos reflexos), e deixava de fora comportamentos que deviam ser
incluídos.
2 – Conceito Social de acção: Para este conceito, o comportamento humano, acção, é toda
a resposta do agente a uma situação de emergência, que se lhe depara, mediante a
realização de uma possibilidade de acção, de que o agente dispõe, devido à sua liberdade,
ou seja, é a opção por uma possibilidade de agir entre várias possíveis.
humano, quando o acto seja susceptível de ser controlado pelos mecanismos físicos e
psicológicos do agente
A doutrina afasta situações de fronteira, mas onde se podem ver acção humana, é
o caso dos automatismos, movimentos automáticos, reiterados, que são acções
humanas, como os actos em curto circuito, e os actos de afecto profundo
Note-se que tais actos apesar de serem situações qualificadas copmo acção, não
são só por isso puníveis, há que verificar se encerram os atributos de tipicidade.
Ilicitude e culpa, podendo assim o impulso defensivo ser resolvido pela legitima
defesa e os estados de afecto profundo em sede de capacidade de culpa.
A conduta activa (acção), vale “mutatis mutandis” para a omissão, pois a conduta
tanto pode ser activa como omissiva, embora os comportamentos omissivos, só se
tornam relevantes verificados os requisitos legais do art.º 10 CP.
Toda a acção é uma acção final, tendo como consequência que o dolo (ideia finalista), é
um elemento do tipo, passa da culpa para o tipo.
Todo o comportamento típico há-se ser um comportamento doloso, a orientação
finalista, vai no sentido em que mesmo sem aceitarem o ponto de partida de Welzel, de
que toda a acção humana é uma acção finalista, acabam por considerarem que o dolo e a
negligência são elementos do tipo.
Pelo que todos os conceitos e expressões que figuram no tipo legal pertencem a
um contexto normativo (suportam juízos de desvalor), pois não há elemento que
dispensem o recurso à valoração, pelo que assim temos só elementos normativos
Diferentes, são também situações em que ainda não foram postas à disposição da
vitima os meios de salvamento, quando havia um dever geral de o fazer art.º 200
CP = Omissão por acção, outras, são as situações em que já foi criada uma
expectativa de salvamento, comportamento activo.
o Crime de Lesão: Relação entre o facto e o bem jurídico, de que resulta a sua
destruição, ex. homicídio.
1.2.4. A posição de garante como elemento dos tipos comissivos por omissão (art°10 n°2
do CP): fontes da posição de garante; fontes formais e fontes materiais. Posição de
garante e dever especial de agir.
As posições de garante, como elemento não escrito dos tipos de omissão imprópria, dado
o Art.º 10.2 CP, exigir como pressuposto de punibilidade que sobre o omitente recaia um
dever jurídico que pessoalmente o obrigue a evitar o resultado (crimes de resultado),
sendo deveres específicos, que incidem apenas sobre determinadas pessoas, que são as
garantes da não produção desse resultado.
Segundo as fontes formais, vínculos jurídico formais que decorrem de contrato ou da lei,
era muito difícil fundamentar a punibilidade do autor, em virtude p. ex. da nulidade da
fonte de posição de garante, mas de acordo com a teoria da fonte material, já não existem
obstáculos a essa fundamentação, pois ela decorre da relação material subjacente.
Assim, quando um crime é de resultado, pode-se realizar o tipo de crime por omissão,
quando se tem a posição de garante
2 - Posição de garante decorrente do controle de uma fonte de perigo, quer por parte
de quem as criou, quer ainda por quem tem a sua fiscalização.
2.1 – Resultante do domínio sobre uma fonte de perigo: Dever que recai sobre
todos aqueles, em cuja esfera de domínio se encontram instalações, máquinas
ou animais, que podem criar perigo para os bens jurídicos de terceiros, e
exerçam um controlo dessas fontes de perigo. P. ex. quem tem a seu cargo a
fiscalização das condições de segurança de uma fábrica de explosivos, e nada
faz quando vê crianças dentro das instalações a brincar com fósforos. Ou o
guarda de uma jaula de leões que se esquece de fechar a porta, e o leão
soltando-se fere um transeunte.
1.2.5. Causalidade e imputação objectiva como elementos não escritos dos crimes de
resultado.
O art.º 10.2 CP, estabelece que se verifique um “nexo de adequação”, que é um elemento
não escrito dos tipos de crime de resultado.
Á relação de causa efeito é importante, pois foi aquela causa que provocou tal resultado,
conexão entre a acção e o resultado, mas não chega, é preciso que essa causa seja
adequada à produção do efeito ou resultado, isto é, o risco por ele criado é que
fundamenta a imputação objectiva, só sendo imputável objectivamente ao autor o
processo causal que esteja na sua esfera de domínio, pelo que só este significado do nexo
de adequação exigido pelo art.º 10.1CP, se encontra em conformidade com a teoria do
ilícito pessoal.
b) O dolo.
I) Noção e os 2 elementos do dolo.
O dolo é o conhecimento e a vontade ou o querer de realizar os elementos
objectivo de ilícito.
a) – O elemento cognitivo o “conhecer”, que implica: conhecer a
factualidade tipicamente relevante, incluindo o processo causal, que
represente correctamente e que o meio é idóneo para o efeito;
conhecimento actual (sem reflexão) e co-consciência; diferenciação
entre conhecimento intelectual e consciência da ilicitude (valoração
social); conhecimento dos elementos típicos sem a valoração jurídica,
a chamada valoração paralela na esfera do leigo (o juiz põe-se na
posição do leigo)
b) – O elemento volitivo a “vontade” (art.º14 CP), é o que
verdadeiramente serve para indiciar uma posição ou atitude do agente
contrária à norma de comportamento, ou seja, uma culpa dolosa.
O dolo nos factos omissivos: Não há muita diferença, tendo o dolo nos
crimes omissivos impróprios de abarcar:
• A posição de garante, que são elementos objectivos do tipo
omissivo impróprio carecidos de valoração, pelo que também aqui
se deve proceder a uma valoração paralela na esfera do leigo.
• O risco de realização do resultado típico
• A possibilidade de uma intervenção que diminua o risco de
verificação do resultado
outro objecto quer este seja idêntico ou não, exclui-se assim o dolo em
relação ao objecto que foi lesado por erro, sendo punido por Negligência
se previsto, e por tentativa em relação ao objecto falhado.
A própria expressão latina esclarece bem este erro:
“Aberratio ictus”: acto que, dirigido a alguém, atinge indirectamente um
terceiro, desvio do golpe.
São situações, em que se verifica uma conduta base doloso (ofensa corporal), mas um
resultado mais grave (morte), que o autor não quer nem a título de dolo eventual, sob
pena de realizar o tipo de homicídio doloso, mas, de acordo com o art.º 18 CP, a conduta
base do autor e o resultado agravado, tem de ter um nexo de imputação objectiva, tendo
de ter uma relação, pelo menos de negligência (negligência simples), para se poderem
fundir os dois crimes num só, o que se traduz por uma excepção às regras do concurso
efectivo, pois há a fusão de dois crimes num só, sendo assim um misto de dolo -
negligência.
A expressão pelo menos, consiste em identificar a negligência com a negligência simples
e admitir que o resultado agravado possa ser imputado também a titulo de negligência
grosseira (negligência grave).
1.2.8. A exclusão da tipicidade: os casos especiais das acções insignificantes e das acções
socialmente adequadas.
Sempre que alguém se defende de uma agressão (que não seja provocada pelo
próprio agente), está a tomar a defesa da ordem jurídica, como uma necessidade
de manutenção de exigências de prevenção geral.
- A agressão tem de ser ilícita, pelo que não há legitima defesa contra agressões
licitas. A ilicitude é em relação à totalidade da ordem jurídica, não tendo de ser
específica do DP (ex. A pode pela força, por termo às emissões de ruído de um
bar, que ou funciona para além do horário permitido ou porque não cumpre com
as normas legais de insonorização, e que o impedem de descansar durante a
noite), a agressão tem de dirigir-se contra quaisquer interesses legitimamente
protegidos, do agente ou de terceiros, só se excluindo os bens colectivos cuja
tutela pertença ao Estado (Estado soberano, dotado de “Ius Imperii”, mas já se
admitindo desde que seja como sujeito privado, p. ex. carro pertencente a
ministério), estão no entanto também fora do âmbito da LD situações de
agressões ou ameaças tipicamente relevantes, levadas a cabo pelo credor sobre o
devedor, ou pelo marido para impedir que a mulher abandone o lar.
- A defesa tem de ser um meio necessário, tem de ser adequado, proporcional à
agressão, pelo que o meio não deve ser excessivo, no entanto conforme as
circunstância do caso, pode-se considerar uma defesa irreflectida, a qual está
justificada. Na ponderação dos meios não deve entrar-se em linha de conta com a
possibilidade de fuga, pois apesar de assim se poder evitar a agressão, não se pode
impor ao agredido o uso de meios desonrosos e também porque dessa forma se
precludiria a prevenção geral, a que a LD está adstrita
O excesso de legitima defesa, em determinadas circunstâncias, não é causa de
exclusão da ilicitude mas de exclusão de culpa, porque lhe falta o meio adequado.
- Só podem ser atingidos pela acção de defesa os bens jurídicos do agressor e não
bens de terceiros
A destruição do instrumento da agressão (p. ex. um animal), se adequada abarca o
direito de defesa.
A LD pressupõe a ilicitude da agressão, mas não a culpa do agressor, podendo
assim ser repelida em LD agressões em que o agente actue sem culpa, quer
devido a inimputabilidade, quer devido a uma causa de exclusão da culpa, quer
ainda a um erro sobre a ilicitude não censurável
- Conhecimento (ou Animus defendendi), elemento subjectivo, o agente conhece a
acção do agressor (e/ou tem vontade de a repelir).
Quando uma situação de perigo ameaça pelo menos dois bens jurídicos e apesar
do agente ter o dever jurídico de salvar ambos, só pode, por força das
circunstâncias salvar um deles, pelo que pode tal situação, representar um caso de
estado de necessidade em sentido amplo, para que tal comportamento seja
justificado, basta que o agente tenha cumprido um dever de valor igual ao
daquele que sacrifica, p. ex. o pai que vê dois filhos a afogarem-se e só pode salvar
um, ora a ordem jurídica não pode aqui fazer mais nada, do que contentar-se com
a realização de qualquer um dos deveres, segundo a livre discricionariedade do
agente, mas se uma das pessoas que se estão a afogar uma é filho do agente e a
outra não, aqui o conflito é entre um dever geral de auxílio e um dever baseado
2.5. Os elementos subjectivos das causas de justificação: alcance do art°38 n°4 do CP.
O elemento subjectivo está presente em todos os tipos justificadores, pois todos eles
requerem um elemento subjectivo, que é o conhecimento por parte do agente da situação
justificante, só com este conhecimento se consuma a exclusão da ilicitude, pelo que, se o
agente actua desconhecendo a situação justificante, é punível com a pena aplicável à
tentativa.
A ocorrência dos elementos objectivos da justificação só eliminam ou compensam o
desvalor do resultado, pelo que se o agente desconhece a situação objectiva justificante,
actua com dolo pelo que tal comportamento não pode ser aprovado pelo direito,
funcionando o elemento subjectivo que é o conhecimento, como contrapartida do dolo.
Assim o agente, só é punido com a pena aplicável à tentativa, pelo desvalor da acção, pois
o desvalor do resultado é compensado pela salvaguarda de outro bem jurídico, não
havendo assim qualquer desvalor do resultado (é como se não houvesse resultado, só
tentativa), pois só subsiste o desvalor da acção.
2.6. O erro sobre os pressupostos objectivos de uma causa de justificação (art°16 n°2 do
CP) e sua distinção do erro sobre a existência ou os limites de uma causa de justificação.
O art.º 16 n.º 2, por remissão do n.º 1, exclui a atribuição do Dolo, em virtude do agente
se encontrar em erro sobre ao factos de uma causa de justificação, que a existirem,
tornariam licita a sua conduta, pelo que tal representação defeituosa exclui o Dolo, ou
seja, quem actua segundo circunstâncias que se existissem justificariam o facto, age com
uma finalidade que a ordem jurídica aprova.
O agente pensa que se verifica uma determinada situação que não existe por erro, erro
sobre os elementos objectivos de uma causa de justificação da ilicitude, ou seja o agente
representa os pressupostos de facto de uma causa de justificação da ilicitude, que por
erro não de verificam, os quais por uma equiparação formal, leva à exclusão do dolo, o
agente está convencido que actua conforme o direito, pensa p. ex. que vai ser agredido
mas não vai, pelo que actua com consciência da ilicitude e que o seu comportamento é
contrário ao direito, só que está justificado, pelos factos que ele pensa verificarem-se (por
erro).
O n.º 3 ressalva os casos em que a conduta ou não é censurável, ou é então específica da
negligência, quando o agente actuou, sem observar o cuidado devido, pelo que a
punibilidade por negligência fica assim ressalvada.
3. O facto culposo.
Capacidade em razão da idade: Art.º 19, fixa a idade de 16 anos para aquisição da
capacidade de culpa, no entanto antes dos 16 anos se o menor se revelar
perigoso, pode ser-lhe aplicada uma medida de segurança.
Art.º 20.3, dispõe que a comprovada incapacidade do agente para ser influenciado
pelas penas, desde que associada a uma anomalia psíquica, poderá conduzir à
situação prevista no n.º 2, podendo no entanto ditar o seu internamento em
estabelecimento destinado a inimputáveis cfr. art.º 104 e 105
Art.º 20.4, consagra a figura da “Actio libera in causa” acção livre na causa do
crime, que ocorre quando o efeito psicológico do n.º 1, provém de uma anomalia
psíquica criada pelo agente com intenção de cometer o facto. O autor coloca-se
voluntariamente nessa situação com o intuito imediato de praticar o facto (exige-
se dolo directo), a conduta não é livre no instante da sua realização, mas é livre na
causa., pelo que o autor permanece imputável .
Se o autor se coloca numa situação de completa inimputabilidade quer de forma
voluntária, actuando com dolo necessário ou eventual, ou ainda de forma
negligente, e desde que não se tenha colocado nesse estado de completa
inimputabilidade por causa do facto praticado e para o cometer, é punido por
facto autónomo, de acordo com o art.º 295, crime de perigo abstracto.
O código distingue entre um erro sobre a ilicitude (art.º 17), e um erro sobre
proibições cujo conhecimento é razoavelmente indispensável para que o agente
possa tomar consciência da ilicitude do facto (art.º 16.1 in fine). O primeiro
representa uma falta de consciência da ilicitude e exclui a culpa, quando não for
censurável; o segundo integra o tipo de erro que exclui o dolo, sendo que o
primeiro (art.º 17) é um erro de valoração, já que incide sobre o significado
jurídico valioso ou desvalioso do facto praticado, o qual não se confunde com o
segundo (art.º 16.1), com a representação da ilicitude formal, pois é a norma que
desvalora o comportamento, é um erro de conhecimento da norma, p. ex. “in side
trading”; “conduzir pela direita”, cujo conhecimento é indispensável para que o
agente possa tomar consciência da sua ilicitude, ora se o agente não conhece tal
proibição jurídica formal, nem sequer pode ter consciência da ilicitude do acto,
pelo que exclui o dolo. Já no caso do erro do art.º 17.1 o agente actua
conhecendo que o seu acto é desvalioso, pensa é que p. ex., actua dentro dos
limites de uma causa de exclusão da ilicitude, o agente representa um limite
jurídico maior da causa de exclusão da ilicitude, havendo por esta razão um erro
sobre a ilicitude do facto, o que exclui a culpa, se de acordo com o n.º 2 o erro não
for censurável.
Já no erro do art.º 16.1 não existe um conhecimento da proibição (que não se
confunde com o conhecimento da lei), pelo que assim o agente não sabe que o
Em ambos os casos, o agente conhece toda a realidade dos factos, o que não
conhece são as normas que tipificam esses crimes.
Nas causa de exclusão da culpa, a ausência de culpa deve-se à falta de um dos seus
elementos constitutivos: a capacidade de culpa ou imputabilidade e consciência da
ilicitude.
Nas causas de desculpa, haveria culpa, pois qualquer daqueles elementos está
presente, mas o conteúdo dessa culpa seria tão diminuto, que a ordem jurídica
renuncia em concreto a uma censura.
Pressupostos:
- O bem jurídico a salvaguardar, não seja superior ao bem jurídico
sacrificado
- Situação de necessidade, perigo
- Não existir outro modo de remover o perigo
- Conflito de interesses
Art.º 35.2 poderá existir um conteúdo de culpa maior dos que os casos do
n.º 1, daí que a consequência possa ser uma atenuação especial da pena ou
o agente ser dela isento.
O que está em causa sobre a distinção entre exclusão da ilicitude e exclusão da culpa, são
quatro consequências importantes:
1. O crime tentado
O “iter criminis”: Fases da acção: 1.ª Decisão = Dolo; 2.ª Preparação: 3.ª Inicio da
execução e 4.ªConsumação.
Ora na fase de decisão de formação do dolo, na preparação da realização do facto o
direito penal não intervém, pois ainda não há ofensa aos bens jurídicos, assim a
intervenção do direito penal, só se justifica no inicio dos actos de execução.
Como então se pode distinguir actos preparatórios de actos de execução, pois em regra
os actos de preparatórios não são puníveis (embora haja excepções), passemos então à
análise das várias teses:
Imediatidade: Art.º 22 al. c), (FranK), São actos de execução, aqueles que se encontram
numa antecedência imediata com os actos idóneos para produzir o resultado, estão no
degrau anterior ao acto que produz o resultado, ao acto de execução segue-se
imediatamente o plano do agente.
São elementos do tipo tentado a decisão ou dolo eventual e a prática de pelo menos um
acto de execução e a não verificação do resultado por razões independentes da vontade
do agente, assim a tentativa, tem a moldura penal do facto consumado reduzida de 1/3
do limite máximo.
Diferente é quando há uma conduta activa do agente em não produzir o resultado, uma
conduta reparadora, é a tentativa inacabada, art.º 24 CP.
1.4. A tentativa nos crime de comissão por omissão (art.º 10): início e termo da execução.
2.2. Formas de autoria: autoria singular; co-autoria; autoria mediata (art°26 do CP).
Autor: É aquele que contribui causalmente para a prática do facto, o CP, consagra um
conceito restritivo, o autor é “quem” dos tipos da parte especial, sendo que a punibilidade
do participante é feita por extensão dos tipos incriminadores.
Participante: Não é autor, é punido por extensão dos tipos da parte especial em
articulação com as normas da parte geral, que permitem englobar situações que não são
de autoria.
Critério Subjectivista:
A: É aquele que se sente como autor
P: É aquele que perante o facto exprime um animus acessório
Teoria do domínio do facto (Welzel) : Esta teoria aplica-se à generalidade das situações,
contendo no entanto excepções:
A: Só é autor quem tem o domínio do objecto
P: Quem não tem o domínio do facto
2 elementos:
Positivo: Ter domínio do “se”, “como” e “quando”
Negativo: Possibilidade de fazer gorar o facto, impedindo a sua realização.
Excepção: Violação do vinculo do dever (quer de agir quer de não agir)
- Pode ser autor de um crime de omissão imprópria, quem está vinculado ao
dever de agir (posição de garante)
- É quem está sujeito ao vinculo do dever, de não cometer certos factos.
Autor Singular - Art.º 26.1: Quem executa o facto por si mesmo, que tem o domínio da
execução.
Co-autoria - Art.º 22: Os agentes que têm o domínio do facto funcional, tendo cada um o
domínio de uma parcela de execução do facto típico, seja por acordo ou juntamente com
outro ou outros, quando (ambos) sabem (pode ser no próprio momento da realização e o
conhecimento pode ser tácito), ou distribuem a execução do facto, tomando parte directa
na execução, tendo domínio do “se”, “como” e “quando”.
Na co-autoria o excesso na execução só é imputado ao co-autor executante, mas o acto
de execução é imputado a todos os co-autores o que tem importância, para efeitos de se
saber quando começa a tentativa de co-autor.
Autoria Mediata - Art.º 26: É aquele que executa por intermédio de outrem, tem o
domínio da execução, sendo o “autor atrás do autor”, pelo que o AM domina a vontade
do autor imediato, que tem o domínio da acção, sendo no entanto possíveis 3 grupos de
situações possíveis:
1 - Casos em que o AI não pratica qualquer acção, casos de coacção física, vis
absoluta, o executante é um instrumento da acção do AM.
2 - O AM, induz o AI em erro sobre o facto típico /art.º 16 e 17)
3 - Situações em que o AI, actua sem culpa, por ser inimputável ou por estado de
necessidade desculpante (ex. do alpinista), em que o AM de aproveita de um
estado de necessidade do AI, para este praticar o crime.
4 - (Roxin) Quando o AI é um elemento fungível ao serviço do uma estrutura
(aparelho) organizada de poder, sendo o AM o chefe, ex. da Máfia e SS
É duvidosa no entanto esta teoria, pois apesar do AI não ter o domínio da
vontade naquele momento, podia ter evitado tal situação de facto, pois quem
pertence à organização aderiu voluntariamente, como é o caso da Máfia, e já
devia saber as suas regras.
2.3. A participação.
2.3.1. Fundamento da punibilidade do participante: teorias da acessoriedade,
limitada e extrema (art. 28 e 29 do CP).
Instigador - art.º 26: È equiparado para efeitos de punição ao autor, mas não é A,
pois não tem o domínio do facto, art.º 26 in fine., assim o instigador, é aquele que
determina outrem à prática do facto, cria no A, a vontade da prática do facto
ilícito, através de um impulso específico (explicito) que o leva à prática do crime,
cuja característica é ter duplo dolo, ou dolo do instigador, dado que: Quer criar no A,
a vontade de praticar o facto e quer o facto.
Mas se o A, já está decidido a praticar o facto, e o instigador tiver só dolo em
relação ao resultado, pode vir a ser punido como cúmplice moral, por ter
reforçado a vontade do A, aconselhando e assim auxiliando este a praticar o facto,
mas se tiver só dolo de motivação e não de resultado é agente provocador, o qual
não é punível.
O garante que não é capaz ou não pode realizar o dever a que está obrigado, não
pode ser responsabilizado, pois o domínio do facto, só está pensado para os
crimes de acção.
Quem não realiza o dever a que está vinculado, realiza o crime por omissão,
autoria na omissão, pois poderia evitar o resultado por força do dever, pois se
assim o quisesse tinha o domínio do facto.
Co-autor por omissão, é quando há uma acção e quem tem o dever de garante não
actua.
Co-autor na omissão, neste caso não há acção, mas um perigo
Há autoria mediata na omissão, mas já não há por omissão, pois o AM, por erro
pode dominar a vontade de quem tem a posição de garante, mas como o AM não
é garante, só pode ser punido como cúmplice moral, pois aconselha o A, a não
agir, o qual tem uma posição de garante.
ex. o agente que convence um pai a não agir para salvar o filho de morrer afogado,
dizendo que é um golfinho que está a brincar, também não haveria punibilidade se não
fosse a ficção jurídica do art.º 28, pois o pai estava em erro e o AM não tem posição de
garante.
O art.º 28.1 contém assim uma extensão da regra de acessoriedade, dizendo que quando
a punibilidade depende da qualidade ou de relação especial, são comunicáveis entre os
autores que tenham dela conhecimento, transmitindo-se assim a qualidade do
participante para o A e co-autor e destes para o participante, assim no primeiro exemplo:
Caso do juiz gémeo A, (extrameus), passa a ter a qualidade do juiz instigador
(Intrameus)
Caso do pai que tem a posição de garante passa esta para o participante , sendo este
punido por autoria mediata.
O art.º 28.2, aplica-se a crimes específicos e omissão imprópria, mas em que o juiz pode
não aplicar a regra do art.º 28.1 ao Extrameus, como p. ex. Na violação do segredo de
justiça, se for funcionário o ilícito é agravado em virtude da qualidade do agente, se o
extrameus é instigador ou cúmplice, o juiz pode apenas considera-lo instigador ou
cúmplice, podendo assim o participante ser punido pelo crime geral não agravado.
Critério de resolução sobre o principio da culpa. Quem pensa que auxilia, que é cúmplice,
mas na realidade está a praticar actos de execução, tendo assim o domínio do facto é
objectivamente autor, nesta situação será punido como cúmplice segundo o seu dolo,
pois a sua representação não é a de um acto de execução.
Mas se pensa que está a executar, quando está apenas a auxiliar, sendo cúmplice, aqui
também será punido por cumplicidade, pois só pode ser punido na medida da sua culpa
que é um limite à punição.
PARTE IV
(parte do programa que não foi dada)