Perspectivas Dos Direitos Fundamentais - Wilso
Perspectivas Dos Direitos Fundamentais - Wilso
Perspectivas Dos Direitos Fundamentais - Wilso
Os direitos fundamentais podem ser analisados sob duas perspectivas: A perspectiva Subjectiva e a
perspectiva objectiva.
A Perspectiva subjectiva, como o próprio nome prenuncia, é relativa aos sujeitos destinatários da ordem
jurídica, e, remete-nos à noção dos direitos subjetivos. Segundo o professor Gilles Cistac, os direitos
subjectivos são poderes concedidos pela ordem jurídica para tutela de um interesse ou de um núcleo de
interesses de uma ou mais pessoas determinadas. Por outras palavras do professor, citando BERGEL J.
L., “trata-se de prerrogativas individuais, atribuídas a pessoas pela satisfação de interesses pessoais e
garantidos pelos meios do Direito".
Nesse âmbito, quando se trata de um direito fundamental como direito subjectivo, significa que o titular
do direito poderá exigir judicialmente o cumprimento da obrigação objecto da norma diretamente do
seu destinatário. Implica um poder ou uma faculdade para a realização efetiva de interesses que são
reconhecidos por uma norma jurídica como próprios do respectivo titular.
Em conformidade com as lições sumárias do Professor António Chipanga, as quais temos vindo a seguir
na disciplina de Direitos fundamentais na nossa faculdade, os direitos e liberdades consagrados na
Constituiçãoe os demais não formalmente prescritos na Constituição, mas sim nas demais leis da
República são direitos do cidadão, pessoa humana que serve de fundamento do Direito expresso,sob
forma de Constituição,que tem a finalidade de proteger a pessoa física, em todas as suas dimensões e
com todas as garantias que resultam da força jurídica da lei fundamental,sem prejuízo dos direitos e
liberdades reservadas à pessoa colectiva.
A principal função política dos direitos, liberdades e garantias fundamentais é servir de travão, de
limitação ao poder político investido aos titulares dos órgãos do Estado em relação a pessoa humana. A
sua consagração em texto constitucional visa a protecção jurídica dos direitos, liberdades e garantias
fundamentais do cidadão perante o
Estado e constituem um meio para evitar a ingerência e expansão do poder do Estado sobre a vida
privada do cidadão, em todos os seus domínios.
O Professor Jorge Bacelar Gouveia, intervindo no mesmo debate defende que os direitos fundamentais
são as posições jurídicas activas das pessoas integradas no Estado Sociedade, exercidas por
contraposição ao Estado-Poder, positivadas no texto constitucional.
Para este Professor, o conceito de Direitos Fundamentais apresenta-nos três elementos constitutivos: o
Objetivo, o subjetivo e o formal.
O Professor Gouveia sobre o elemento subjectivo, desenvolve a sua doutrina defendendo que os
direitos fundamentais ganham sentido a benefício de quem pretende enfrentar o poder estadual, ou
qualquer outro poder público. Para ele, os direitos fundamentais caracterizam-se pela dicotomia: Poder
e Sociedade, devendo por isso, somente serem titulares dos direitos fundamentais as pessoas que se
integram na sociedade e que em relação ao poder se possam contrapor, pelo que os titulares do poder
não podem ser titulares dos direitos fundamentais nesta qualidade, porque para ele não faz sentido que
alguém no poder se defende do próprio poder de que seja titular.
Segundo Clèmerson Merlin Clève, citado por Alexandre Antônio, a dimensão subjetiva dos direitos
fundamentais desempenha três funções:
a) de defesa do indivíduo contra a ingerência do poder público que venha impedir a satisfação do direito
fundamental;
c) de não-discriminação, segundo a qual o indivíduo deve ter ao seu dispor, sem discriminação em
relação aos demais, os bens e serviços necessários à satisfação de seus direitos fundamentais
Segundo Canotilho, citado por Leonardo Rodrigues, “Fala-se de uma fundamentação objetiva de uma
norma consagrada de um direito fundamental quando se tem em vista o seu significado para a
coletividade, para o interesse público, para a vida comunitária.
Cita também Antonio Enrique Perez Luño, que diz que além de fornecer diretrizes para órgãos do Poder
Público, os direitos fundamentais em sua perspectiva objetiva têm a função de “sistematizar o conteúdo
axiológico objetivo do ordenamento democrático ao que a maioria dos cidadãos prestam seu
consentimento e condicionam seu dever de obediência ao direito”.
Referindo-se ao elemento objectivo, do qual acima referimo-nos, o Professor Jorge Bacelar explicita
neste elemento a existência de vantagens patrimoniais e não patrimoniais, em favor do titular dos
direitos fundamentais, inscrevendo-se num conjunto das situações jurídicas activas porque portadoras
de benefícios.
Os efeitos jurídicos que traduzem a situação de vantagem projectam-se sobre as realidades materiais
que afectam, em favor do titular do direito, bens jurídicos que se tornam, por essa via,
constitucionalmente relevantes.
Ingo Sarlet, citado por Alexandre Antônio e Ana Isabel, ao tratar da perspectiva objetiva dos direitos
fundamentais disserta, inicialmente, sobre seu aspecto axiológico, entendendo que os direitos
fundamentais representariam a ordem de valores vigentes na sociedade.
Pois bem, se nessa perspectiva tem que se considerar o significado para a coletividade, para o interesse
público e para a vida comunitária, e se a maioria dos cidadãos presta consentimento e obediência a esse
conteúdo axiológico, fica claríssimo que não se trata somente de um direito de defesa, mas também de
um direito prestacional oponível ao Estado consistente no dever de proteger e fazer prevalecer esses
valores.
Os direitos fundamentais, nesse sentido, enquanto elementos objetivos podem restringir o exercício dos
direitos subjetivos individuais, na medida em que expressam valores objetivos fundamentais da
sociedade. Sendo assim, o exercício dos direitos subjetivos individuais está condicionado, em certa
medida, ao seu reconhecimento pela sociedade. Daí o correto entendimento de que a perspectiva
objetiva dos direitos fundamentais não só legitima restrições aos direitos subjetivos individuais com
base no interesse da sociedade prevalente, como também contribui para a limitação do conteúdo e do
alcance dos direitos fundamentais, em conformidade com o artigo 55 da CRM.
A dimensão axiológica da função objetiva dos direitos fundamentais é aquela que decorre da idéia de
que estes incorporam e expressam determinados valores objetivos fundamentais da comunidade.Os
direitos fundamentais, mesmo os clássicos direitos de defesa, não devem ter sua eficácia valorada
somente sob um aspecto individualista. É necessário verificar sua aceitação sob o ponto de vista da
sociedade, da comunidade na sua totalidade. Afinal, são os valores e fins que devem ser respeitados e
concretizados por toda a sociedade.
Em conformidade com esse pensamento, o Prof. J.C. Vieira de Andrade, considera que “.... os preceitos
relativos aos direitos fundamentais não podem ser pensados apenas do ponto de vista dos indivíduos,
enquanto posições jurídicas de que estes são titulares perante o Estado, designadamente para dele se
defenderem, antes valem juridicamente também do ponto de vista da comunidade, como valores ou
fins que esta se propõe prosseguir, em grande medida através da acção estadual.”
O Prof. Vieira de Andrade entende que os Direitos fundamentais devem ser encarados na dimensão
objectiva como produtora de efeitos jurídicos, enquanto complemento e suplemento da dimensão
subjectiva. Defende ainda aquele autor que na dimensão subjectiva defendida pelo Prof. Jorge Miranda
retiram-se dos preceitos constitucionais efeitos que não se reconduzem totalmente às posições jurídicas
subjectivas que reconhecem, ou se estabelecem deveres e obrigações, normalmente para o Estado, sem
a correspondente atribuição de “direitos” aos indivíduos. Para ele, a dimensão objectiva reforçaria,
assim, a imperatividade dos “direitos” individuais e alargaria a sua influência normativa no ordenamento
jurídico e na vida da sociedade.
O legislador moçambicano em face do debate doutrinário que acabamos de evidenciar, optou por
consagrar os pontos de vistas maioritariamente defensáveis, ao considerar Direitos Fundamentais os
que constam da Constituição em sentido formal e os que não figurando no texto constitucional, são no
enquanto corresponderem a dignidade e valor humano, bem como o papel objectivo dos direitos
fundamentais, que se caracteriza pelo dever do cidadão para com a comunidade, conforme o artigo 44
da CRM.
Assim, o legislador consagrou na Constituição o princípio aberto, nos termos do qual os direitos
fundamentais não se limitam apenas aos que constam da Constituição. Estendem-se aos direitos
humanos constantes nas demais leis, referindo-se a todas as fontes de Direito (imediatas e mediatas).
O legislador constituinte moçambicano pelo que se acha fixado nos artigos 44, 45, 46 e n.˚ 1 do artigo
267, não quis tomar partida entre os doutrinários portugueses, porquanto com estes artigos quis o
legislador estabelecer deveres que são simultaneamente direitos da esfera individual quando
considerados em relação ao individuo que deve cumprir com a obrigação e direito em relação ao
cidadão que da acção daquele se beneficia. Portanto, temos nesta perspectiva uma dimensão subjectiva
dos direitos fundamentais que se complementa e integra a dimensão objectiva. Nesta conformidade
todos estes doutrinários não se divergem, pelo contrário
Referências bibliográficas
CISTAC, Gilles. Curso de Metodologia Jurídica: Método do Direito. Maputo: Livraria Universitária- UEM
SANTOS, Leonardo. A perspectiva objetiva dos direitos fundamentais. 07/2009. Disponível em:
Http:Www.Direitonet.com.br. acessado em: 26/01/2021
SILVA, Alexandre; STRADA, Ana. Revista opinião Jurídica: Apontamentos acerca das dimensões subjetiva
e objetiva dos direitos fundamentais sociais. 2-9.pp.