Galoa Proceedings Compos 2019 133260

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Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação

XXVIII Encontro Anual da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2019

FOTOGRAFIA AMADORA DE MÚSICA: Um estudo


comparativo entre 2007 e 20171
AMATEUR MUSIC PHOTOGRAPHY: A comparative
study between 2007 and 2017
Luli Radfahrer 2
Dani Gurgel3
Alexandre Bessa4

Resumo: As fotografias e vídeos registrados pelo público da música sofrem mudanças em sua
estética e na forma de sua produção, concomitantes com o desenvolvimento de novos
equipamentos e redes de compartilhamento e imagens. Para analisar tais alterações
na maneira de se produzir fotografias e vídeos amadores, são comparados dois
experimentos similares, promovidos em 2007 e 2017, nos quais amadores foram
convidados a ceder suas imagens registradas em uma apresentação musical. Através
da sua análise por metadados e assuntos registrados, pôde-se traçar uma leitura
subjetiva em torno das mudanças de assuntos e motivações para o registro das
imagens. Enquanto a palavra-chave para o experimento de 2007 poderia ser “nós”,
em 2017 ela seria “eu”.

Palavras-Chave: Fotografia amadora, fotografia de espetáculos, datacracia, smartphone

Abstract: Amateur photography and videography carried out by music audiences is changing in
their aesthetics and ways of production, along with the development of new
equipment and sharing networks. In order to analyze such changes in the way

1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho Estudos de Cinema, Fotografia e Audiovisual do XXVIII Encontro Anual

da Compós, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre - RS, 11 a 14 de junho de 2018.
2 Professor associado da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Experiência nas áreas de

Comunicação Digital e seus impactos na sociedade; Interação Humano-Computador; Inovação; Design de interfaces digitais;
e Dinâmica de comunidades online. Livre-docência na ECA-USP sob o título “Datacracia”, em que estuda os impactos do
ambiente digital no comportamento contemporâneo. [email protected]
3 Doutoranda do PPGCOM da ECA-USP, orientanda de Luli Radfahrer. Membro do Grupo de Pesquisa Datacracia.

[email protected]
4 Mestre pelo PPGCOM da ECA-USP. Membro do Grupo de Pesquisa Datacracia

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amateur photographs and videos are produced, two similar experiments were carried
out in 2007 and 2017. Amateurs were invited to share their recorded images of a
musical presentation, and those images are compared. Through this analysis of
metadata and composition subjects, it was possible to draw a subjective
understanding around the changes of subjects and motivations for the recording of
the images. While the keyword for the 2007 experiment could be "us," in 2017 it
would be "me."

Keywords: Amateur photography, Concert photography, Datacracy, Smartphone

1.Introdução
As formas de se criar e compartilhar música e imagem se encontram em constante
revolução, propiciada pelas novas possibilidades de produção e divulgação de conteúdo.
Artistas e público interagem de maneiras criativas e oportunas com esse novo ambiente,
enquanto a comunicação como um todo traça um caminho de volta à oralidade na transmissão
de conhecimento.
Considerando que a indústria da música é constantemente moldada e transformada por
mudanças em seu formato de armazenamento e distribuição, cabe indagar se o objeto de suas
vendas, ao invés da música (o conteúdo), era na verdade o plástico (o suporte), conforme
questionado por Eduardo Vicente (2012) e Sérgio Amadeu da Silveira (in: PERPETUO;
SILVEIRA, 2009, p. 30).
Grandes gravadoras passaram a primeira década do século XXI empenhadas em uma
batalha infrutífera contra seus próprios clientes que, ingenuamente ou não, entendiam o
download ilegal e o compartilhamento de música como uma prática regular, e não como um
crime pelo qual poderiam ser punidos (KEEN, 2009; LESSIG, 2004; TAPSCOTT, 2009).
Hoje diversos artistas interagem de maneiras criativas e oportunas com esse ambiente de
livre compartilhamento de conteúdo. O que muitos entendiam como vendas perdidas, um lucro
em potencial que não havia sido obtido por causa do acesso gratuito e ilegal ao conteúdo,
portanto uma prática deplorável que deveria ser combatida; passou, com o tempo, a ser
considerada uma oportunidade de mercado. Grupos como O Teatro Mágico e Móveis Coloniais
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de Acaju cedem seus álbuns em formato digital gratuitamente para seus fãs, que depois acabam
por financiar os artistas comprando ingressos para os shows, camisetas, versões especiais de
CDs, LPs e outros produtos (DE MARCHI, 2012, p. 10).
Ainda que o formato já tenha sido sugerido no final do século XX por Aram Sinnreich
(2000), só na segunda metade da década de 2010 que os serviços de streaming 5 de música por
assinatura se fortaleceram. É um mercado no qual o download rende cada vez menos, segundo
dados da International Federation for the Phonographic Industry (IFPI, 2017, p. 6) e as antigas
lojas de discos tornam-se cada vez mais lojas de estilo, vendendo camisetas, vídeo games,
bonecos e outros objetos (PERPETUO; SILVEIRA, 2009); e no qual a música passa a ser
oferecida como um serviço, para um público-alvo que não obrigatoriamente a compra, mas a
escuta (GURGEL, 2016). A música é “vaporizada”, segundo Marcelo B. Conter (2017), sendo
consumida de maneira digital por ouvintes que não mais arquivam as canções em suas
discotecas ou discos rígidos, consumindo-as diretamente por streaming.
A oralidade secundária que segue o fechamento do Parêntese de Gutenberg, apresentado
por Thomas Pettit (2011), traz um novo meio de se conhecer, ouvir, tocar e compartilhar
música, especialmente através desse conteúdo amador. Desde a invenção da imprensa por
Gutenberg, as informações eram apresentadas de forma centralizada e oficial pelas fontes ditas
confiáveis – livros, jornais e revistas, por exemplo –, e as imagens eram distribuídas da mesma
maneira, utilizando-se de fontes oficiais de conteúdo tanto informativo quanto de
entretenimento. Hoje, segundo o autor, fecha-se o “parêntese” histórico e volta-se a um
contexto em que tanto as informações quanto as imagens são produzidas e transmitidas de
pessoa a pessoa, propagando-se de forma irregular e descentralizada. Artistas são apresentados
por seu próprio público, que relê e reescreve as canções a seu modo, registra e reporta seus
acontecimentos com sua própria estética, e realimenta sua produção com seus próprios desejos.
Há um novo ecossistema da comunicação, em que mídias de massa perdem o protagonismo
para mídias sociais interativas, nas quais todos os integrantes são também produtores do
conteúdo que nelas circula. Luli Radfahrer define datacracias como os regimes nos quais

5
. Forma de distribuição de dados em fluxo, na qual o usuário reproduz o conteúdo sem guardar uma cópia
em seu computador. As palavras streaming e download são utilizadas sem grifo para não comprometer a fluidez
do texto.
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“bases de dados e algoritmos têm grande influência sobre a tomada de decisão”


(RADFAHRER, 2018).

2. Tecnologias
É fato conhecido que as tecnologias digitais mudaram muito a forma com que se registra
imagens em fotografias e vídeos. A melhoria de qualidade dos sensores, o barateamento dos
equipamentos e a facilidade no tratamento das imagens transformaram a fotografia analógica,
registrada em filmes, em uma categoria de expressão artística utilizada por um público cada
vez menor6. Boa parte das análises, no entanto, pouco leva em consideração uma transformação
muito maior: a popularização de câmaras 7 em smartphones8, que levou a diversas mudanças
de comportamento do público geral, e de seu registro de imagens 9. Este estudo visa registrar
parte da mudança promovida pela popularidade de smartphones entre o público de espetáculos
musicais, indicando algumas mudanças significativas de paradigma na maneira de se produzir
o registro imagético da música ao vivo pelo público.
Fotografias de shows, inicialmente realizadas quase que exclusivamente por fotógrafos
profissionais a serviço de veículos oficiais, passaram a fazer parte de um universo maior. Hoje

6
O número de fotografias tiradas com filme chega a cerca de 85 bilhões por ano em 2000, para logo a seguir
cair vertiginosamente. Dados disponíveis em < https://petapixel.com/2011/09/16/film-photography-peaked-in-
2000-with-85-billion-photos-taken-then-plummeted/ >. Acesso em 25 Jan 2018.
7
Usamos o termo "câmara" fotográfica em vez do popular derivado do inglês "camera" por compreender
que câmaras são, em sua essência, espaços hermeticamente fechados por onde a luz passa até ser registrada nos
sensores (portanto, câmaras). Porém, se levado em consideração que smartphones portam câmeras (equipamentos
de registro fotográfico) sem câmara (espaço vazio) em seu interior, tal termo provavelmente cairá em desuso nas
próximas décadas.
8
Expressão em inglês que significa “telefone esperto” ou “telefone inteligente”, que determina os telefones
celulares com capacidade de rodar aplicativos. Esses aparelhos existem desde o final do século XX, porém com
teclados completos. O termo e a ausência do teclado, possível através de toques direto na tela (touchscreen), foram
popularizados a partir de 2007 com o LG Prada e o iPhone.
9
Entre os anos de 2001 e 2011, a produção de câmaras não só muda de natureza, como também cresce
vertiginosamente. A partir de 2011, no entanto, essa produção começa a cair, dado aparentemente inconsistente
com o aumento da popularidade das redes e aplicativos de compartilhamento de fotografias. Dados disponíveis
em <https://www.mirrorlessrumors.com/chart-shows-how-digital-cameras-killed-analog-cameras-and-how-the-
selfie-culture-almost-killed-digital-cameras-after-that/>. Acesso em 25 Jan 2018.
Essa mesma produção explode com crescimento exponencial levadas em consideração as câmaras digitais
incorporadas a smartphones. Dados da Consultoria Gartner, disponíveis em <
https://petapixel.com/assets/uploads/2015/04/chartwithsmartphones1.jpg >. Acesso em 25 Jan 2018.
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indivíduos comuns, munidos de câmaras simples (cuja qualidade da imagem produzida vem
crescendo à medida que, paradoxalmente, seus custos caem 10), smartphones (com recursos
fotográficos progressivamente melhores 11), câmaras semiprofissionais (cuja qualidade cresce
significativamente a cada ano12) e câmaras profissionais (cujo preço também cai
significativamente) publicam suas fotografias em redes sociais e aplicativos dedicados à
apresentação, comentário e compartilhamento de imagens – como Instagram e Snapchat –
além dos populares WhatsApp, YouTube e Facebook13.
Em 2007, tanto a popularidade das redes sociais em que se podem distribuir imagens 14
quanto o uso de câmaras digitais eram muito inferiores aos níveis de hoje. Apesar disso já era
visível uma “invasão” do ambiente do show por fotógrafos amadores e suas câmaras pessoais.
Para documentar essa mudança de comportamento – em que um público, inicialmente
ouvinte, passivo no que diz respeito à produção de imagens – tornava-se produtor de conteúdo,
em março de 2007 foi realizado um experimento: 22 convidados foram instruídos a levar suas
próprias câmaras, utilizadas no cotidiano15, a uma apresentação musical do grupo Gafieira São
Paulo.
O espetáculo, realizado em uma casa de shows, não teve nenhuma preparação especial. A
banda tocou como em um espetáculo normal e boa parte do público, desconhecedor do
experimento, assistiu à apresentação como o faria normalmente. À parte alguns organizadores
e os 22 fotógrafos convidados, poucos estavam a par do que ocorria. A apresentação

10
Em 2007, as câmaras tinham em média 7 a 8 megapixels, telas de 3 polegadas e 3 a 5x de zoom ótico, com
os principais modelos Sony Cybershot, Panasonic Lumix e Canon Powershot. Em 2017, pelo mesmo preço, poder-
se-ia adquirir uma DSLR de 24 megapixels. Informações disponíveis em <http://bit.ly/2HV2lrb> e
<http://bit.ly/2GTGLC8>. Acesso em 30 Jan 2018.
11
O iPhone original, lançado em 2007, trazia câmara de 2MP, enquanto o iPhone X, lançado em 2017, traz
câmara de 12MP com opções de lentes. Informações disponíveis em <https://www.gsmarena.com/apple_iphone-
1827.php> e <https://www.apple.com/br/iphone-x/specs/>. Acesso em 31 Jan 2018.
12
Pelo preço de uma câmara compacta de 2007, hoje é possível comprar uma câmara semiprofissional com
características técnicas superiores às câmaras profissionais da época. Disponível em <http://bit.ly/2FeL4dS>.
Acesso em 31 Jan 2018.
13
As maiores redes no Brasil, cujos dados estão disponíveis em:
<http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de-contratos-
atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf>. Acesso em 31 Jan 2018.
14
A rede de armazenamento de imagens mais importante da época, o Flickr, alcançou um bilhão de fotos em
Junho de 2007. Somente o Facebook em 2014 armazenava cerca de 240 bilhões de fotos. Hoje seus usuários
contribuem com cerca de 350 milhões de fotos por dia. Informações disponíveis em < http://bit.ly/2F1VDSp>.
Acesso em 31 Jan 2018.
15
Não houve distribuição de equipamento, portanto são câmaras com as quais os convidados tinham razoável
familiaridade.
5
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transcorreu normalmente e as imagens foram encaminhadas para os organizadores do


experimento (GURGEL, 2007).

Figura 1: Público a fotografar e filmar apresentação musical do grupo “5 a Seco”.


Autora: Dani Gurgel, 2017.

Dez anos depois o experimento foi revisitado (FIG. 1), registrando a produção de outro
grupo de amadores sob as mesmas condições: um show musical, desta vez do coletivo de
compositores 5 a seco, para o qual os convidados não receberam orientação, e que tinham como
equipamento apenas seus dispositivos fotográficos utilizados corriqueiramente. Para esta nova
edição foi analisado o material de três grupos:
• Dez convidados compareceram ao espetáculo musical portando smartphones,
sendo que alguns também portaram câmaras semiprofissionais. Ao final do show,
os convidados forneceram todas as imagens que produziram para esta análise;
• 52 pessoas do público, que produziram imagens sem o incentivo de convite, foram
abordadas no teatro e aceitaram compartilhar sua produção para esta pesquisa; e
• O grupo dos fãs da banda no aplicativo WhatsApp foi monitorado durante os três
dias de apresentações. No mesmo período foram recolhidas imagens publicadas na
rede social Instagram marcadas com a palavra-chave “#5aseco” e indicadas pelas
informações de geolocalização da imagem como registradas na casa de espetáculos
em que os shows aconteceram.

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Em uma primeira análise, pode-se dizer que as imagens de 2007 refletem uma liberdade
de expressão de um público mais preocupado com a música e a experiência do que com uma
eventual repercussão das imagens produzidas (FIG 2). Ali se veem diversos defeitos como
borrões de movimento, imagens sem foco fotografadas por acidente e a baixa qualidade das
câmaras compactas e dos poucos telefones celulares da época, característica de fotógrafos
amadores que não aparentam ter o compromisso de “acertar” suas fotografias.

Figura 2: público em relação descompromissada com a câmara.


Autora: Dani Gurgel, 2007.
Em 2017, a intenção e aparente responsabilidade do produtor de conteúdo parece outra.
Apesar de não haver solicitação de compartilhar imagens, boa parte dos fotógrafos amadores
aparentaram cumprir o papel de repórteres fotográficos do evento. O ato de registrar a
apresentação parece ter se tornado parte da função da plateia do show e, em alguns casos, até
aparentava ser mais importante do que a apresentação em si. Algumas pessoas da plateia
assistiam ao show através das telas de seus celulares, às vezes sem perceber que os vizinhos
estavam em pé a aplaudir os músicos (FIG 3).

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Figura 3: Em primeiro plano, no centro, homem concentrado nas imagens captadas por seu smartphone,
aparentemente sem perceber que seus vizinhos já estavam em pé,
a aplaudir o final. Autora: Dani Gurgel, 2017.

3. Análise quantitativa das imagens


Com acesso aos metadados16 das imagens dos dois experimentos, foi possível organizar
algumas informações de maneira quantitativa, como:

• Orientação (vertical, horizontal ou quadrado);

• Proporção (1:1, 2:3, 16:9, etc.);

• Tipo de imagem (fotografia ou vídeo); e

• Tipo de câmara (DSLR, celular ou compacta).


Além dos critérios acima, as imagens foram classificadas com relação ao tema fotografado,
a saber: o show, o público, o ambiente (plateia); ou autorretrato. A tabulação ajudou a

16
Dados que acompanham as imagens dentro dos arquivos e trazem informações sobre a data, localização,
modelo e número de série da câmara, resolução etc.
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identificar algumas diferenças essenciais entre as fotografias resultantes dos experimentos de


2007 e 2017.
2007 2017

Fotógrafos 23 69

Imagens 2084 2166

Média 91 31
imagens/pessoa
Tabela 1: Distribuição de imagens por pessoa em 2007 e 2017

Orientação e proporção
As amostras dos dois experimentos mostraram-se significativamente diversas quanto à
orientação e proporção das imagens. Enquanto em 2007 houve 65,8% de imagens horizontais,
mesmo quando se tratasse de um assunto vertical em sua essência (FIG 4, FIG 5), em 2017 foi
verificado o oposto, com 44,4% de imagens verticais (10,4% a mais do que 2007), incluindo
imagens verticais com o palco horizontal na parte central e uma grande área escura em volta
(FIG 6). Essa distribuição pode ser visualizada no gráfico da Fig. 7.

Figura 4: Imagem horizontal com assunto vertical. Autor: Henrique Robles, 2007.

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Figura 5: Imagem horizontal com assunto vertical. Autora: Paula Romano, 2007.

Figura 6: Imagem vertical com assunto horizontal. Autor: Khalil Ayache, 2017.

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Orientação
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2007 2017

Horizontal Vertical Quadrado

Figura 7: Distribuição da orientação das imagens

2007 2017
Orientação
Horizontal 1372 65,8% 1024 47,3%
Vertical 708 34,0% 962 44,4%
Quadrado 0 0,0% 151 7,0%
1:1
Proporção
1:1 0 0,0% 113 5,2%
2:3 480 23,0% 600 27,7%
3:4 1563 75,0% 681 31,4%
4:5 36 1,7% 38 1,8%
5:7 0 0,0% 11 0,5%
16:9 1 0,0% 444 20,5%
Tabela 2: Orientação e proporção das imagens entre 2007 e 2017

Vários fatores contribuem para a mudança, tanto no comportamento do público, quanto no


conteúdo (e formato) das imagens registradas. A melhoria da qualidade dos sensores
fotográficos, tanto em câmaras quanto em smartphones, por exemplo, influi diretamente na
qualidade final do material registrado. Outros fatores também merecem atenção, como:

• A popularidade das câmaras e o hábito de registrar imagens – à medida que a


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maioria do público tem acesso a câmaras em seu cotidiano, há maiores possibilidades


tanto no porte do equipamento (que, por ser comum, chama pouca atenção e minimiza
os riscos de furto) quanto em seu uso constante, o que leva a um aumento da produção
diária e consequente segurança na definição do que “deve” e o que “não deve” ser
registrado e compartilhado;

• Smartphones – a evolução do telefone celular para um pequeno computador de bolso,


capaz de portar aplicativos com diversos recursos de edição e transmissão de imagens
permite que cada usuário destes aparelhos se torne um fotógrafo amador, com sua
câmara carregada e disponível o tempo todo. Tanto as proporções da tela (mais
retangular do que o tradicional 3:4 das câmaras convencionais) quanto a orientação do
sistema operacional (vertical) são responsáveis por uma grande transformação no tipo
de imagem registrada (o formato 16:9, por exemplo, era quase inexistente em 2007,
mas passa a compor 20,5% das imagens de 2017);

• O aumento da capacidade de armazenamento – tanto em smartphones quanto em


câmaras, cartões de memória com maior capacidade permitem que o usuário registre
mais imagens e capte fotos e vídeos de melhor qualidade;

• O aumento da capacidade de transmissão de dados – tanto das redes de telefonia


quanto das redes de rádio (wi-fi, bluetooth, NFC etc) facilita o compartilhamento das
imagens que, até há pouco, ficariam confinadas aos cartões de memória das câmaras e
smartphones até serem conectadas a computadores, reduzindo o imediatismo e a
“novidade” do compartilhamento;

• Álbuns em redes sociais genéricas – facilitam o compartilhamento e consumo de


imagens. Enquanto em 2007 a rede social com maior e melhor capacidade de armazenar
álbuns de fotos de qualidade era o Flickr, conhecido principalmente por fotógrafos
amadores e profissionais; em 2017 as principais redes sociais tem grande capacidade
de armazenamento e transmissão de imagens; e

• Redes sociais dedicadas ao compartilhamento de imagens – surgem novas redes


sociais, como Instagram, Pinterest e Snapchat, voltadas quase que exclusivamente para
a transmissão e compartilhamento de imagens entre usuários comuns, com formatos de
registro até então pouco utilizados (como o quadrado, 1:1, utilizado pelo Instagram,
inexistente em 2007, que chega a 7% em 2017. Até 2015, o aplicativo só aceitava
imagens nesse formato, o que chegou a ser comentado como “a tirania do quadrado”
na mídia especializada17) (FIG 8).

17
“Instagram ends the tiranny of the square”, em tradução livre, “Instagram acaba com a tirania do
quadrado”, publicado em 27 de Agosto de 2015 na revista Wired. Disponível em <http://bit.ly/2oHQunu> Acesso
em 25 de Janeiro de 2018.
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Figura 8: Imagem em formato quadrado. Autora: Paula Gurgel, 2017.

O mesmo aplicativo oferece o recurso stories, no qual uma imagem é publicada por um
período finito de 24 horas. Esse recurso só está disponível no formato 16:9, e apenas em
orientação vertical, o que faz com que surjam distorções da métrica. Imagens que foram
registradas com o celular em posição horizontal são gravadas e visualizadas como se fossem
verticais (FIG 9).

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Figura 9: Imagem fotografada na horizontal, porém recebida como se fosse vertical. Traz essa distorção porque
foi registrada através da funcionalidade "Stories" do Instagram, que só aceita imagens verticais. Autora: Leticia Dias,
2017.

Vídeo

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Figura 10: Pessoa na plateia gravando vídeo com telefone celular.


Autor: Mansur Atique, 2017.

Dos 264 vídeos produzidos pelos amadores de 2017 (FIG 10), apenas 32 não tinham a
apresentação musical como assunto principal. Essas exceções são vídeos do público, do
ambiente externo do teatro, ou selfies18. Os restantes 232 vídeos (86,7%), são registros de
momentos do show, músicas e trechos de canções.

2007 2017
Tipo de imagem
Foto 2080 99,8% 1901 87,8%
Vídeo 4 0,2% 264 12,2%

18
Redução de self portrait, expressão inglesa que significa autorretrato. Foi decidido manter o termo em
inglês porque, mais do que apenas uma imagem de si mesmo, ele define o autorretrato feito com a câmera frontal
de telefones celulares, marcado pelo ângulo característico causado pelo esticamento do próprio braço ao se
fotografar.
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Tabela 3: Fotografias e vídeos entre 2007 e 2017. A rede Instagram reporta que, a cada ano, seus usuários passam
80% mais tempo assistindo a vídeos do que no anterior 19.

Em 2007, apenas 6 das câmaras fotográficas utilizadas estavam integradas a telefones


celulares, os primeiros smartphones. Três deles eram do modelo V3 da Motorola, com o qual
foram produzidas imagens de 1280 x 1024 pixels, quase dez vezes menores do que a média de
4032x3024 pixels dos telefones de 2017. Além do pequeno tamanho, por serem produzidas em
uma câmara de sensor limitado e com pouca sensibilidade, as imagens contam com baixa
definição, pouca nitidez e bastante ruído, como se pode ver nos exemplos abaixo, a contrapor
uma imagem registrada em um V3 com o registro desse registro, feito com câmara DSLR (FIG
10 e 11).

Figura 11: Convidado a fotografar com telefone celular. Autora: Dani Gurgel, 2007.

19
Disponível em <https://business.instagram.com/blog/welcoming-two-million-advertisers/>. Acesso em 25
Jan 2018.
16
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Figura 12: Fotografia registrada com telefone celular no momento do registro da

Figura 11. Autor: Vinicius Calderoni, 2007.


Enquanto em 2007 60% das câmaras eram compactas (FIG 12), em 2017 nenhuma câmara
deste tipo foi utilizada. À maioria de smartphones da segunda edição (89,2%, FIG 13) se
somam câmaras DSLR semiprofissionais de sete dos convidados, que compareceram ao
espetáculo com o fim específico de registrá-lo para os fins desta pesquisa. Mesmo estes o
fizeram duplamente em câmaras DSLR e smartphones. Todas as imagens fornecidas por

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pessoas abordadas no teatro na segunda edição – amadores espontâneos – foram produzidas


por smartphones.

Figura 13: Público utiliza câmaras compactas. Autora: Dani Gurgel, 2007.

Figura 14: Espectador a registrar imagem em seu smartphone através da funcionalidade "Stories" do Instagram.
Autor: Mansur Atique, 2017.

2007 2017
Aparelhos únicos

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Celular 6 24,0% 58 89,2%


Compacta 15 60,0% 0 0,0%
DSLR 4 16,0% 7 10,8%
Aparelho/número de fotos
Celular 213 10,2% 1535 70,9%
Compacta 1473 70,7% 0 0,0%
DSLR 398 19,1% 599 27,7%
Adicionais
Flash 293 14,1% 13 0,6%

Tabela 4: Tipos de aparelhos, 2007 e 2017

As câmaras compactas também foram protagonistas do uso de flash em 2007. 293


fotografias (14,1%) foram registradas utilizando-se desse recurso, contra apenas 13 imagens
em 2017. Cinco convidados de 2007 produziram mais de 95% das suas imagens com o flash
no modo automático (FIG 14).

Figura 15: Imagem registrada por convidado que, segundo os metadados do seu material, manteve o flash no
modo automático durante todo o experimento. O mesmo foi disparado pela câmara em 81,6% de suas imagens. Autor:
Henrique Robles, 2007.

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Efeitos especiais – os “filtros”


“Filtros”, efeitos especiais predeterminados para edição e modificação de características
de imagens (contraste, cor, brilho, luminância etc.), são recursos muito comuns em redes de
compartilhamento de imagens como o Instagram. A informação sobre a aplicação de tais
efeitos não fica necessariamente registrada nos metadados das imagens, por isso não foi
possível a quantificação objetiva de sua aplicação (FIG 18). Entretanto, o reconhecimento
visual dos filtros é possível em pelo menos 4,4% das imagens de 2017 (FIG 16), somando as
que apresentam cores irreais (FIG 19) e as em preto e branco (FIG 17). É importante explicitar
que esse é um número mínimo de imagens, calculado a partir das quais certamente algum filtro
foi aplicado. Em meio às luzes coloridas do espetáculo, é possível que não tenha sido possível
identificar visualmente muitas mais imagens com filtros aplicados.

Figura 16: Imagem na qual pode ser identificada a utilização de filtro.


Autora: Amanda Manara, 2017.

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Figura 17: Imagem em preto e branco. Autora: Lirou, 2017.

Distribuição dos filtros aplicados

2017

2007

0.00% 1.00% 2.00% 3.00% 4.00% 5.00%

Filtro colorido de celular PB de celular PB de DSLR

Figura 18: Distribuição dos tipos de filtros aplicados às imagens

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Figura 19: Filtro de inversão de cores do telefone celular Motorola V3. Autor: Tó Brandileone, 2007.

Apesar de ser possível identificar com objetividade o uso de filtros em apenas 4,4% das
imagens de 2017, essa porcentagem é, mesmo assim, significativa quando levado em conta que
apenas duas imagens com cores irreais foram entregues em 2007, e 1,7% em preto e branco
(este, hoje, é um efeito, dado que todos os sensores captam as imagens em cor).
É relevante destacar que mais de 99% das imagens em preto e branco de 2007 foram
produzidas em câmaras DSLR, sendo a monocromia resultado de um tratamento posterior no
computador (FIG 20). Já em 2017, as imagens com filtro identificado são 100% de celulares,
e as em preto e branco são 42% de celulares e 58% de câmaras DSLR.

Figura 20: Imagem fotografada em câmara DSLR, com tratamento posterior em preto e branco. Autor: Roger
Sassaki, 2007.

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Assuntos: público e ambiente versus selfies


Foi realizada uma classificação manual de todas as imagens de 2007 e 2017 entre quatro
categorias: show, ambiente, público e selfie. Enquanto na primeira categoria se encontram
apenas imagens da apresentação musical em si, com os músicos ou instrumentos ocupando a
maior parte da cena (FIG 21), as outras três separam as imagens que tratam de outros assuntos
em torno do show, ainda que relacionados a ele.

Figura 21: Imagem do show como assunto principal. Autora: Amanda Broering, 2007.

Na categoria “ambiente”, a maior parte da imagem deveria estar ocupada por objetos ou
pessoas que não interagem com a câmara ou com o show, como pessoas conversando nas partes
externas dos teatros, foyer, mezanino, bar, etc. (FIG 22).

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Figura 22: Jardim externo do teatro Viradalata, onde aconteceram os shows do 5 a Seco. Categoria “ambiente”.
Autor: Pedro Campos, 2017.

Já na categoria “público” foram separadas as imagens em que o assunto principal é a


relação das pessoas com o show – na plateia ou pista de dança–, ou retratos e fotos posadas,
em que há relação do retratado com a câmara. Também são incluídas aqui as imagens que
mostram outras pessoas fotografando o show, de maneira metalinguística, sendo considerada
essa uma relação da pessoa com o show (FIG 23, 24 e 25).

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Figura 23: Espectadora fotografando seu ingresso. Classificada como imagem do público. Autor: Thiago Negrão
Chuba, 2017.

Figura 24: Fotografia enviada por Cristiane Dutra Cardoso, em frente à programação do teatro, exposta no
saguão. 2017. Também publicada no perfil do Instagram @crisdutracardoso, com legenda “Chegandíneo... #5aseco
#brotherzagem #showzao @lauracarnicero”, em outro corte e com aplicação de filtro de cor e contraste.

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Figura 25: Público na pista de dança. Autora: Sabrina Korman, 2007.

Por último, a categoria “selfie” contém apenas as fotos que a própria pessoa tira de si
mesma, em parte ou em todo, com suas próprias mãos. Além das selfies características do
termo, são incluídas todas as fotos de partes do próprio corpo, como as fotos de suas próprias
mãos segurando ingressos (FIG 26, 27 e 28).

Figura 26: Selfie. Autor: Henrique Robles, 2007.

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Figura 27: Selfie. Autor: Mateus Villaça, 2017.

Figura 28: Selfie com o ingresso do show. Autor: Thiago Negrão Chuba, 2017.

2007 2017
Assunto

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Show 1509 72,4% 1723 79,5%


Ambiente 132 6,3% 99 4,6%
Publico 431 20,7% 197 9,1%
Selfie 12 0,6% 112 5,2%
Tabela 5: Análise quantitativa da classificação das imagens de 2007 e 2017 por assunto.

Distribuição das imagens em categorias


0% 20% 40% 60% 80% 100%

2007

2017

Show Ambiente Público Selfie

Figura 29: Distribuição das imagens em categorias.

Em 2007 apenas 12 selfies foram contabilizadas, registradas por equipamentos sem câmara
frontal, e por isso com número inflado por ter de realizar mais de uma tentativa até acertar o
enquadramento desejado (FIG 29). Já em 2017, as selfies chegaram a 5,2% das imagens
recolhidas, em número superior às fotos do ambiente. Paralelamente a esse aumento, houve
diminuição da quantidade de imagens do público – de 20,7% em 2007 para 9,1% em 2017.

Considerações finais: “Nós” versus “Eu”


É importante destacar uma diferença central entre a motivação dos produtores de imagens
convidados antecipadamente e os coletados no ato. Ambas as edições foram realizadas a partir
de convites a amadores para fotografar uma apresentação musical, sem o fornecimento de
qualquer pauta ou treinamento. Em ambas, pessoas do público comum, ainda menos passíveis

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de qualquer sugestão, foram convidadas a compartilhar sua produção imagética para os fins da
pesquisa.
Enquanto em 2017 foram 52 dos mais de 100 abordados no teatro que compartilharam suas
imagens, em 2007 apenas duas pessoas foram ao show com suas câmaras fotográficas sem
terem sido requisitadas. Outras duas eram funcionários da casa, que lá guardavam suas
câmaras.
Lipovetsky e Serroy abordam a abundância de registros em fotografia e vídeo na década
de 2010, em A estetização do mundo (2015).

Longe da visão tradicional do consumidor passivo, todos querem cada vez mais ser criadores, tocar música,
fotografar, praticar dança, dedicar-se à pintura, participar de um coral, fazer cursos
de teatro, exercitar-se na gastronomia, escrever memórias, manter um blog.
O desenvolvimento da web e dos equipamentos high-tech foi um acelerador
formidável dessa tendência ao exercício artístico, proporcionando uma ferramenta
inédita e “simples” ao desejo de expressão individual. Hoje, os indivíduos fotografam
e filmam facilmente, graças ao celular, ao iPhone, à câmera, os lugares que visitam,
os encontros esportivos, as exposições, as propagandas, as cenas de rua, os
acontecimentos insólitos: filma-se tudo, o tempo todo. [...] Tudo acontece como se
em cada um estivesse adormecido um desejo artista, uma paixão para pôr o mundo e
a si próprio em música, em imagem e em cena. (LIPOVETSKY; SERROY, 2015,
loc. 6151)

Além da disponibilidade de equipamentos fotográficos, é também significativa a mudança


dos assuntos. A quantidade de selfies cresceu de 0,6% para 5,2% entre as duas edições do
experimento, enquanto a categoria de imagens do público baixou de 20,7% para 9,1%.
Enquanto os amadores de 2007 registraram os colegas, a pista de dança e o resto do público;
em 2017 esse mesmo público registrou a si mesmo, isoladamente ou com poucos outros
companheiros (FIG 30).

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Figura 30: Selfie a caminho do show do 5 a Seco. Autora: Laura Patriota, 2017.

Se dez anos antes a palavra-chave das fotografias de assuntos além da apresentação


musical poderia ser “nós”, a da segunda edição seria então “eu”. Selfies como a de uma pessoa
que registra o figurino escolhido para o show (FIG 31), uma construção de sua personalidade
para um público (PEREIRA; SILVA, 2017, p. 216), são contrapostas às imagens de uma pista
de dança cheia dez anos antes (FIG 32).

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Figura 31: Imagem publicada no Instagram pela usuária @leticiacristinaalves em 25/11/2017, com a legenda “Aí
... aquele look <3 #5aseco #showdelicia #apaixonada”

Figura 32: Pista de dança em fotografia com borrão de movimento. Autor: Luli Radfahrer, 2007.

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