Minha Escolha (Im) Perfeita - Priscilla Averati
Minha Escolha (Im) Perfeita - Priscilla Averati
Minha Escolha (Im) Perfeita - Priscilla Averati
PLAYLIST
NOTA DA AUTORA
GLOSSÁRIO
EPÍGRAFE
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
EPÍLOGO 1
EPÍLOGO 2
AGRADECIMENTOS
ENTRE EM CONTATO
SOBRE A AUTORA
OUTRAS OBRAS
Jasper Hill reveza seu tempo entre o curso de direito, seu papel como
jogador do aclamado time de futebol americano e zelar pela segurança noturna da
pacata Silent Grove, uma cidade nem tão comum quanto parece.
O que tinha tudo para ser apenas mais um romance como tantos outros, se
torna algo impossível de acontecer: Ele, faz parte de um clã de lobisomens
enquanto ela é integrante de uma família fundadora da cidade, totalmente proibida
para ele.
Jasper é um lobo nem tão mal assim e faria qualquer coisa pela sua
amada.
Victoria está prestes a se descobrir mais forte do que jamais imaginou ser
e, juntos, vão provar que amor à primeira vista existe sim e que o final feliz é
possível, basta acreditar — e, às vezes, — lutar por ele.
Aproveite!
Oiiie, querida leitor(a)!!!
Mais uma vez é importante avisar para que iniciem essa leitura de mente
aberta, já que esse romance tem um bocado de fantasia. Então, esperem situações
inusitadas e místicas. Além disso, nesse universo fantasioso, talvez as coisas não
sejam como as conhecemos ou lemos em outras obras.
Se lembrem de que, assim como todos nós, os personagens não são
perfeitos. São jovens na faixa dos vinte e poucos anos, com suas fragilidades,
imaturidades, medos e aptos a várias presepadas, assim como todos nós.
ATENÇÃO! Essa história contém cenas impróprias para menores de
dezoito anos. Contém palavras de baixo calão, violência, conteúdo sexual, e
conduta inadequada de personagens.
PS: Caso você tenha adquirido essa obra de forma ilegal por qualquer
outro meio que não seja a Amazon/Kindle Unlimited, saiba que esse tipo de
compartilhamento não foi autorizado por mim e é uma violação dos direitos
autorais.
Como sempre, a seguir teremos um pequeno glossário para ajudar em
algumas referências que eu costumo trazer em meus livros.
Espero que se apaixonem por esse casal como eu e mergulhem de cabeça
nessa aventura. Bem-vindos à pequena e pacata Silent Grove.
Ah! E se você puder, avalie o livro, evitando spoilers.
Divirta-se!
Priscilla Averati
Averty: Fictício reino europeu criado pela autora para sediar suas estórias.
Famoso pelos seus alpes e clima ameno, ele é o palco da maioria das estórias do
Averativerso a partir de 2022.
MontZaffir: É a capital de Averty e o local onde a família real reside.
MontBianc: Cidade universitária mais ao interior de Averty.
Silent Grove: Cidade do interior do país que fica em um Vale, cercada de
florestas onde a neblina dos Alpes desce toda as noites, tornando-a um tanto
sombria.
“Há trevas na vida e há luzes, e você é uma das luzes, a luz de todas as luzes.”
Bram Stoker
A todos os que acreditam e persistem em seus sonhos.
Não desistam.
Ao Filipe e às minhas Amoras.
Se eu pudesse voltar no tempo... faria tudo exatamente igual. Não é como
se eu tivesse alguma escolha, desde que coloquei os olhos naquela garota, tempos
atrás.
Apesar de toda a merda, não consigo sequer imaginar meu mundo sem
Victoria Miller: a razão da minha existência.
Mesmo que, nesse momento, com o corpo exausto de tanto correr e ainda
um pouco tonto, por causa de mais uma das muitas reviravoltas do meu destino,
tudo em que consigo pensar, e desejar com toda a força do meu ser, é que ela
esteja bem.
Porque eu não conseguiria seguir vivendo em um mundo no qual ela não
exista.
Por minha culpa.
Eu falhei — meu lobo lamenta, colérico.
Um uivo dolorido eclode do meu peito, enquanto cravo as garras afiadas e
escuras na terra. A fera dentro de mim também se culpa por tudo o que está
acontecendo e meu peito arde, o coração se encolhendo, enquanto os pulmões
teimosos se dilatam em busca de ar. Um esforço inútil, se a porcaria do plano não
der certo. Não viverei sem ela. Como poderia?
Enquanto ouço os outros se aproximarem, não me movo.
— Me deixem em paz, caralho! — grito, através da conexão gerada quando
Liam, meu irmão e líder, finalmente, aceitou seu destino, alguns meses antes.
— Pode xingar o quanto quiser, Jas! — Para variar, o tom de Mack não
contém o tom divertido de sempre. — Ainda estaremos aqui.
Porra!
— Eu estraguei tudo! — Lanço-me ao chão, meu corpo em sua versão
lupina, contorcendo-se pela dor que abrasa meu peito e a minha mente.
Victoria, minha metade, meu Raio de Sol, está em perigo, quando sua
segurança sempre foi a minha única e maior prioridade.
— Jasper! — é a voz imperiosa que chama e me faz voltar à razão por um
instante.
Meu alpha, de certa forma, entende, melhor do que ninguém, o que estou
sentindo, embora, não totalmente. Sua escolhida está a salvo, agora.
— O plano vai dar certo — afirma. — Vicky precisa de você.
— Não. Ela deveria me odiar. — E aqui está, a dor pungente e torturante,
mais uma vez. — Eu deveria estar lá, porra!
E, sem esperar por uma ordem dele, que me obrigaria a dar meia volta e
retornar à Silent Grove, eu volto a correr. Como se isso afastasse a merda de
situação em que estamos e a possibilidade de perdê-la.
— Tem até à noite para retornar. — O tom grave em sua voz, forçando-me
a obedecê-lo. — Vai dar certo, Jas. Nós precisamos acreditar.
Acreditar...
Ciente de que não conseguirei seguir em frente, após a ordem do Alpha,
dou a volta após alguns quilômetros, ainda sentindo a essência de Mack correndo
próximo a mim. Todos eles preocupados comigo e com ela. Minha alcateia. Nossa
família.
— Exatamente. Não vamos a lugar nenhum, Jas. — A porcaria do sujeito
teimoso afirma em minha mente.
Droga.
Ciente de que, talvez, eu me arrependa ao seguir através das árvores, de
volta à cidade e, de que, possivelmente, isso me seja cobrado, em algum momento,
não consigo parar. Eu nunca tive escolha.
Desde que nossos olhares se cruzaram, naquela festa, eu nunca tive chance.
Talvez, tenha sido o cheiro adocicado, a inocência nos olhos castanhos ou a beleza
dos traços delicados de seu rosto; pouco importa. Fosse lá o que houvesse em
Victoria Miller, ela foi a eleita da fera que habita minha pele e que faria qualquer
coisa por ela.
Exceto me afastar.
E, quando minha forma lupina salta por entre as pedras e riachos, meu
único foco é ela. Como foi, desde o primeiro dia. E será, até o último, que parece
cada vez mais próximo, e essa é a razão de todo o meu desespero. Essa merda de
plano precisa dar certo.
Ou eu jamais me perdoarei.
Tudo parece exatamente igual em Silent Grove.
O mesmo ar sombrio, a neblina no fim da tarde, as pessoas, os treinos e
tudo o que nos cerca, segue sem qualquer alteração. Apesar de eu estar prestes a
fazer vinte e um anos, no mesmo dia em que a faculdade decidiu marcar a tal festa
para recebermos os calouros da Emberwood University e, claro, o técnico e o
reitor não nos permitiriam ficar de fora, o que, para mim, significa uma festa sem
graça, nos padrões da faculdade, ao invés do que eu havia planejado, meses antes.
Algo mais selvagem e digno do que eu sou.
Filhos da lua, ou amaldiçoados por alguma entidade revoltada com o que
um humano fez durante a vida: várias são as lendas e mistérios em torno do que
somos. A verdade, no fim das contas, é uma só: lobisomens não se transformam
apenas em noites de lua cheia e prata é algo que evitamos a todo custo. Somos
fortes, inteligentes e bonitos. Além de exímios atletas. Não que isso seja
divulgado, mas me espanta que ninguém desconfie do quanto somos realmente
bons e, ainda assim, vivemos isolados, em uma cidade cercada por florestas. O
nome do time é Warrior Wolves, pelo amor de Deus!
É o que estou pensando, enquanto espero os dois idiotas que entraram na
cafeteria para buscar algo para comermos, já que a mansão da Colina continua em
reforma e a cozinha ainda parece uma zona de guerra, se considerarmos a camada
grossa de poeira branca que encontramos conforme passávamos uns dias na casa
dos meus pais. E de Liam, se ele fosse capaz de aceitar, é claro.
Finjo não notar a atenção da Sra. Holloway, como sempre, vigiando a vida
alheia, da janela de sua casa, com os olhos claros fixos em mim. Conhecida por
suas previsões não solicitadas, a velha agourenta segue me encarando, como se eu
fosse um maldito rato de laboratório. Dentro de mim, a fera rosna, indignada com
a atenção.
Maldito seja Mack, que é um esfomeado de merda e nos forçou a parar
aqui na cafeteira, tamanho era o seu medo de chegar à Colina e não ter nada para
comer. Ash, como o bom líder que é, acompanhou-o até o lugar, para impedir que
o maluco comprasse todo o estoque de comida da lanchonete, e me deixou sozinho
sob os cuidados da idosa, que segue me observando com um sorriso pequeno no
rosto enrugado.
Ela sempre tem esse ar de quem está aprontando alguma coisa.
— É... as coisas vão mudar, em breve — afirma em um tom sombrio. Deus
me livre! Essa mulher é cheia de previsões agourentas. Credo. —, Jasper Hill. —
Apenas aquiesço, confirmando quem sou, embora ela não tenha realmente
perguntado.
Desvio os olhos, deixando-os vagar até o pequeno sobrado amarelo de
porta vermelha, tradicional de uma das famílias mais antigas do lugar, quando o
som da fechadura destravando, no interior, chama a minha atenção, porém, antes
que a porta se abra, a mulher volta a falar.
— É como se você soubesse… — Deus me livre de saber qualquer coisa.
Uma essência deliciosa faz meu lobo ronronar dentro de mim e o modo
como a velha senhora me encara, me faz pensar que ela foi capaz de ouvi-lo.
Baunilha, lírios e patchouli — uma combinação interessante e feminina.
E deliciosa — a fera complementa.
— Sra. Holloway, eu posso garantir que não sei de nada. — Dou de
ombros enquanto observo, aliviado, os dois babacas vindo com várias sacolas em
direção ao carro. Graças aos céus. Mack sorrindo, como o palhaço que é, ao lado
do outro sujeito, vestindo preto dos pés à cabeça, com sua cara de poucos amigos,
como sempre.
Mas ela não está mais prestando atenção em mim, seus olhos se focam em
Ash, que finge não estar vendo a senhorinha. Certamente, minha mãe acertaria um
daqueles tapas ardidos em sua nuca, se o visse agir dessa forma, e estou quase
dizendo isso a ele, quando a mulher solta um riso. Algo melódico e estranho, que
faz até mesmo Ash parar no lugar.
Talvez, algumas coisas tenham mudado por aqui, afinal.
— Liam Ashbourne, seja bem-vindo de volta! — E então, seus olhos se
voltam para mim e o sorriso desaparece, quando minhas narinas dilatam,
absorvendo o perfume inebriante quando a porta finalmente se abre e um arrepio
estranho percorre o meu corpo inteiro. — Tudo, exatamente, como deve ser.
Puta que pariu. Tá repreendido!
Com uma troca rápida de olhares, despedimo-nos da mulher e entramos
correndo no carro. Os dois babacas nos bancos da frente, enquanto duelo com a
tonelada de coisas no banco de trás. Ainda estou olhando para a idosa, quando o
veículo desaparece na neblina do fim de tarde, ouvindo os idiotas caírem na
gargalhada.
— Nem uma semana de volta à cidade e Jasper já tem um encontro —
Mack comenta, estalando a língua, como se recriminasse tal fato.
— Tia Emma criou um gentleman — Ash complementa em um tom
divertido. — Pretende levar a Sra. Holloway à festa?
Mas que filhos da mãe!
— Vão se foder, vocês dois — reclamo, jogando a cabeça para trás, no
encosto do banco e fechando os olhos, tentando a todo custo não pensar no olhar
sombrio que a mulher me lançou, pouco antes de Ash chegar. Ou no fato de que
não cheguei a ver a dona da essência deliciosa.
As coisas vão mudar, em breve — ela disse. E as palavras seguem
circulando, sem parar, em minha cabeça.
Observo quando o velho Grosby faz o sinal da cruz e fecha com rapidez a
porta de sua casa, assim que nos vê passar, exatamente como sempre fez.
Tudo na mesma, por aqui...
Por enquanto — a fera adverte.
Abro os olhos e encaro o teto mofado por alguns minutos, o pequeno feixe
de luz, vindo de um furo um pouco acima da minha cabeça, despertando-me cedo
demais. Levanto-me, ainda um pouco bêbado pela nossa pequena comemoração
pela nova fase de nossas vidas e, antes de sair do quarto, viro-me para o lugar mais
ao canto, próximo à parede, onde Mack, usando apenas uma boxer branca, parece
ter engolido uma turbina de avião, enquanto Liam poderia ter sido mumificado
durante a madrugada, dormindo de barriga para cima, com alguns filhotes de
gambá aninhados em seu torso tatuado.
Impossível não tirar uma foto desse momento tão comovente.
E, claro, é exatamente o que eu faço, guardando a imagem para uma
situação oportuna, enquanto desço a escadaria de madeira antiga, para tentar
improvisar um café da manhã. Hoje é um dia especial. Mesmo que eu tenha que ir
à tal festa, para os calouros na universidade, ao invés da minha.
Em Silent Grove, a pacata cidade onde nasci e cresci — assim como toda a
minha família, antes de mim, exceto por minha prima e tia, que se rebelaram e
hoje moram na capital do país, Montzaffir — nada dura muito, após as sete da
noite. Talvez, seja culpa da neblina espessa que toma conta da cidade e que piora
muito nos dias mais frios, ou seja, apenas reflexo da criação de todos aqui, que
temem os lobos e possíveis outras lendas tenebrosas que habitam a floresta densa
que cerca a cidade.
De toda forma, aqui estou eu. Em um dos quatro reservados do banheiro
feminino, pensando em como farei para encontrar aquela maluca da Kat. Já é tarde
e, apesar de todos os avisos para não prolongarmos demais a festa, a música
seguiu rolando no salão, até dois minutos atrás. As vaias e os protestos no salão,
indicam que a festa acabou.
Bem, exceto para o casal no reservado ao lado do meu, onde as coisas
parecem bastante quentes, enquanto do outro lado, uma pobre moça parece estar
com sérios problemas intestinais. Termino de me aliviar e logo saio do meu
esconderijo, lavando as mãos rapidamente, antes de seguir porta afora, decidida a
encontrar minha amiga para darmos o fora daqui, mas, assim que passo pelo
batente, sou agarrada pelo antebraço e tenho minhas costas prensadas contra a
parede fria de tijolos.
Eu grito, é claro. Mas então, o indicador comprido toca os meus lábios e
me faz erguer os olhos para o rosto coberto pela máscara de lobo, em contraste
com o peitoral nu — os suspensórios caídos na lateral da cintura.
— Fomos interrompidos, mais cedo, Raio de Sol. — A voz baixa, em meu
ouvido, faz meu corpo inteiro se arrepiar. — Quase acreditei que havia sido uma
invenção da minha cabeça.
O indicador desce pelo meu queixo, explorando o meu pescoço e
acompanhando o decote profundo do vestido de Kat, fazendo meu corpo reagir, no
mesmo instante, ao rastro quente que deixa no caminho e a minha respiração
muito mais pesada, apenas com o toque suave.
— É tarde. — Consigo achar minha voz, engolindo em seco quando ele
traça o caminho contrário, subindo o dedo até o meu rosto, percorrendo os limites
da máscara dourada, antes de tentar erguê-la. Fazendo-me lembrar de um livro que
li há algum tempo atrás, onde a mocinha se arrisca em uma noite de aventura com
um homem misterioso, que depois, propõe um acordo de uma noite[1]. Assim como
eu, essa noite. — Não. — Sem hesitar, ele recua dois passos, seus olhos focando
algo atrás de mim, então, abre um sorrisinho sacana, como se soubesse o que está
acontecendo dentro do banheiro. — Não tire.
Ele inclina a cabeça de lado, observando-me, como se tentasse entender o
que pretendo, mas parece desistir, poucos segundos depois, posicionando-se ao
meu lado e, descansando o corpo contra a parede, pega minha mão e me puxa para
mais perto. Estremeço ao sentir o meu corpo contra o seu e o cheiro mentolado de
seu hálito.
Uma noite para ser rebelde, Vicky.
No tempo em que os olhos castanhos se focam nos meus, tomo as rédeas
da situação e, nas pontas dos pés, suspendo sua máscara, apenas para liberar a sua
boca e pressionar, de leve, meus lábios nos seus, sendo recompensada
imediatamente com a pegada forte de suas mãos em minha cintura, enquanto
nossas línguas duelam em um misto de força, desejo e intensidade. De uma forma
a qual eu nunca fui beijada antes.
Arrebatamento.
Agarro seu pescoço, erguendo ainda mais as pontas dos pés, colando ao
máximo o meu corpo no seu, como se eu não conseguisse me conter enquanto sua
língua devora a minha e seu sabor almiscarado explode em minha boca, fazendo-
me arder de dentro para fora, como se não houvesse qualquer outra opção. Roço
meu corpo no seu, vagarosamente, sentindo-o exalar de forma ruidosa em meus
lábios, incendiando meu corpo com uma potência ainda mais forte.
Não me espanta quando ele inverte nossa posição, minhas costas
novamente contra a parede do ginásio, que já deve estar vazio a essa hora, mas
esses são apenas fragmentos de pensamentos que consigo reunir, já que todo o
meu foco está no modo como o sinto tão descontrolado quanto eu, tentando ter
mais de mim, como se não suportasse qualquer distanciamento.
E ele não está sozinho. Quando ele arranca a própria máscara, jogando-a
longe, seguro seu cabelo, puxando-o, enquanto nos agarramos feito dois loucos e,
quando sinto o aperto de suas mãos em uma das minhas coxas, erguendo-a, o som
de saltos se aproximando nos tira do torpor insano em que nos metemos.
— Amiga! Até que enfim, te achei! — A voz de Kat nos saúda, fazendo
com que eu gema baixinho e o “lobo” esconda o rosto no meu pescoço, beijando
ali, antes de morder devagar, arrancando um suspiro da minha boca e me fazendo
agarrar os fios curtos de sua nuca com mais força.
— Caralho, Raio de Sol — o tom gutural de sua reclamação, me faz puxá-
lo de seu esconderijo e colar minha boca na sua mais uma vez.
— Sua safada! Tá na hora da gente ir! — Kat reclama, de pé, no início do
corredor. — Se despeça do seu lobão e vamos logo! Tá tarde!
Meu? O comentário ridículo me faz rir, ao mesmo tempo que uma parte de
mim acha que faz muito sentido.
Sinto meu peito se apertar de forma estranha e um tanto ressentida, já que,
provavelmente, não voltarei a trocar mais do que um olhar com esse sujeito que
me deixou louca com apenas um beijo. E, por algum motivo que me foge
totalmente à compreensão, encerro esse último beijo prendendo seu lábio inferior
com os dentes, mordendo-o com força, antes de me afastar. O rosnado que deixa
sua garganta reverbera de forma infinita em minha cabeça.
O modo como seus olhos se escurecem quando toca a própria boca com as
pontas dos dedos, faz meu interior inteiro se agitar, desejando aceitar o braço que
ele estende em minha direção, como um convite silencioso. Mas não o faço.
Ao invés disso, corro até Kat, engancho meu braço no seu e saímos juntas
do ginásio, para o carro que já nos espera, próximo à guarita. O tempo todo, sinto
o peso de seu olhar sobre mim.
Agitada e ansiosa, a fera à espreita, dentro de mim, se move. Exigindo algo
que ainda não entendo bem o que é, estarmos neste período de lua cheia não ajuda
na contenção dos meus instintos. Isso explica eu estar sentado na sala, diante da
tela grande que chegou algumas horas mais cedo e que Eli instalou ao voltar da
festa, enquanto sigo sentindo a ardência do corte no lábio levemente inchado,
provocado pelo anjo loiro, antes de ir embora sem sequer se despedir, como a
porcaria da Cinderela.
Uma pena, para ela, que eu esteja bem longe de ser um príncipe.
Entre todas as outras pessoas ali, ela brilhava diferente sob as luzes
coloridas do lugar, aproximar-me foi algo natural e que eu não conseguiria evitar,
nem mesmo se quisesse. Seja pelo modo como os seus quadris se moviam ou pelo
brilho esverdeado dos olhos, destacados pela máscara, eu não sei dizer o que
cativou minha atenção, mas foi provar seu gosto insanamente doce e viciante, que
me fez perder o rumo e desejar por mais.
Muito mais — exige.
A culpa foi daquela porcaria de mordida... Caralho!
Há anos, meu lobo e eu nos tornamos um só. Basta que uma velha bruxa
me avise que as coisas iriam mudar e uma feiticeira loira, invocada do meu inferno
particular, apareça de forma misteriosa e morda meu lábio inferior, para que o
safado comece a cantar feito um passarinho. Maravilha.
— É, realmente, Jas não parece bem. — Com a atenção de volta ao
momento, deparo-me com a mão larga diante do meu rosto e Mack faz questão de
repetir o movimento, estalando os dedos algumas vezes. — E está meio... tenso.
Aponta para o volume evidente entre as minhas pernas.
— Eu diria que, definitivamente, as coisas estão... duras para ele, essa
noite — Eli complementa, fazendo Ash dar uma gargalhada, enquanto perde o
jogo para o babaca piadista.
— Estou morando com um bando de manja-rola? — Reviro os olhos,
antes de ajeitar as joias da família dentro da calça jeans, que é a única roupa que
visto no momento, levantando-me em seguida para esticar o corpo. — Devo me
preocupar?
— Não sei… Vai rolar alguma competição de tamanhos? — Mack, claro,
não deixaria passar. — Nesse caso, eu não julgaria o seu receio. É difícil conviver
com alguém como eu.
A autoestima desse babaca não conhece limites.
— Porra, cara. — Eli não desvia os olhos da tela.
— Longe demais, Mack — Ash declara, enquanto Eli o vence no jogo
idiota, mais uma vez.
— Alan Mackenzie Blackmoon não tem vergonha de seus dotes! — O
idiota se levanta e faz uma pose ridícula, evidenciando os músculos antes de
apontar para o volume obsceno na cueca boxer. — E agora, vai tomar um banho,
para mais uma noite dormindo no chão. Jas, não vamos julgar se demorar um
tempo a mais no banheiro, após essa visão impactante.
Todos caem na gargalhada, é claro. Sem conseguir me conter, assim que
ele se afasta, levo a mão até a boca, sentindo os cortes pequenos, causados pelos
dentes daquela loira gostosa, arderem. Aquela garota só pode ser venenosa. Ash
para de rir, assim que percebe o movimento, e estreita os olhos.
— Jasper... — Ele se levanta, vindo em minha direção. — Aconteceu
alguma coisa?
Sim. Encontrei um anjo loiro que literalmente devorou todo o meu juízo
em um beijo erótico e sensual dos infernos, e fez meu corpo inteiro arder, como se
ela fosse um pedaço do Sol. Dramático pra caralho.
— É só a lua cheia, cara — garanto a nós dois, evitando falar em voz alta o
rumo dos meus pensamentos confusos. — Daqui a duas noites, nem me lembrarei
dessa festa.
Ou dessa garota.
É o que eu espero.
É natural que, após meu lobo fazer o seu decreto, eu tenha tentado me
afastar.
Aproveitando-me do início dos primeiros jogos da temporada e dos treinos
mais longos, tenho tentado me distanciar um pouco de Vicky, mantendo meu lobo
sob controle. Não estamos prontos para reivindicar alguém, ou tomá-la como
nossa. Ainda mais, uma humana. Ainda não. Embora eu a mantenha sempre sob a
minha vista, nunca me afastando demais, porque não sei se sou capaz de fazê-lo.
Mas esses são segredos que tenho guardado para mim, e tento combatê-los
sozinho, enquanto observo-a chegar à faculdade.
Estou prestes a reduzir a distância entre nós, mandando a porcaria do
afastamento autoimposto para os ares, quando Chad II, como o maldito fura-olho
que parece ser, aproxima-se dela e lança o braço nojento sobre os ombros finos,
cobertos por um casaco claro, realçando ainda mais o brilho dourado de seus
cabelos, enquanto ela olha para ele e abre um sorriso tímido, mas simpático.
Mas que merda é essa?
Alguém precisa conhecer o seu lugar. Que é longe, bem distante mesmo,
da minha garota. Estou prestes a ir até eles e tirar as garras do folgado de cima
dela, quando noto, pela visão periférica, Liam caminhando determinado até mim,
vindo, provavelmente, de uma das reuniões idiotas do Conselho — uma das
instituições remanescentes dos Acordos firmados, quando a maioria de nós ainda
não existia.
Um dos lados ruins de ser a porcaria de um lobisomem em Silent Grove.
Ou lobo, como preferimos chamar. A merda do passado, segue reverberando em
nossas vidas, até a presente data, através de regras idiotas e obrigações. A
seriedade em sua expressão e a força de sua mão em meu ombro me fazem parar e
me deixam subitamente preocupado. Seus olhos escuros acompanham a cena
ridícula, enquanto encaramos o babaca carente de atenção, com cara de poucos
amigos.
— A realeza da cidade — Brennan, um dos novatos na defesa do Warrior
Wolves e membro do nosso clã, comenta, parando ao nosso lado.
A cena é tão clichê, que até mesmo há uma brisa leve, movimentando os
cabelos loiros dos dois. Só falta a coisa toda em câmera lenta. Porra.
— Do que o adolescente tá falando? — Mack, que se mantinha quieto no
canto dele, também se aproxima. Uma espécie de plateia, para o babaca folgado,
se engraçando com a mulher dos outros sem qualquer noção.
— Do que tá falando? — questiono, desviando o olhar dos dois, um tanto
aliviado, quando ela se desvencilha dele e seus olhos encontram os meus, e ela
sorri. Um sorriso lindo, enquanto seu rosto cora violentamente. Chupa, fura-olho
do caralho. — Brennan?
— Greymane e Miller, juntos. — Aponta com o queixo na direção dos
dois. Vicky ainda olha para mim, enquanto o idiota fala sem parar.
Mas não correspondo ao seu sorriso. Honestamente, como poderia? Tenho
quase certeza de que a merda do meu coração parou de bater.
Não.
— Chad I deve estar emocionado — indiferente ao som terrível de algo se
partindo dentro de mim, ele segue falando, mas Liam o interrompe, mandando que
se cale.
— Não — nego, sinto-me um pouco tonto. — Cara, não.
— Eu devia ter buscado saber — Liam lamenta, baixando seus olhos
escuros para a ponta das botas pretas. — Mas é verdade, Jas. Aquela é Victoria
Miller.
— A minha Vicky não é uma Miller. — Não pode ser. Porra, não. Ou…
Tudo estará acabado entre nós, constato, desalentado.
— E, se não fosse, seria uma Lawson. — Brennan enterra meus sonhos de
vez. — Meu pai disse ontem, que o prefeito Graymane já planeja o futuro
casamento do filho com a garota Miller.
Casamento.
Garota Miller.
Caralho.
Tento buscar na memória todas as nossas conversas. Ela nunca falou seu
sobrenome. Uma aventura. Porra.
Nervoso, indignado e sentindo algo estranho, mas que ganha um volume
muito alto dentro de mim, a cada minuto que passa, eu tento me estabilizar.
— Jas... — Liam aperta meu ombro novamente. — É melhor irmos pra
casa.
Foco novamente seus olhos, ainda mais esverdeados na luz do sol, que bate
na lateral do rosto bonito e a deixa ainda mais irresistivelmente linda. E totalmente
proibida para mim.
Estava bom demais para ser verdade, não é?
Malditos sejam os acordos e os nossos pais, por nos tirarem da cidade
durante a adolescência, por medo de que nos encantássemos por alguma herdeira
das malditas famílias fundadoras, repetindo os erros de Owen Ashbourne, que
culminaram em toda essa merda e que nos deixa escravos do Conselho até hoje..
Não serviu para merda nenhuma, no fim das contas. Aqui estou eu, viciado nos
beijos de uma garota que foi proibida para mim, antes mesmo de nascermos.
Alheia à confusão que ameaça transbordar do meu corpo trêmulo, Vicky
acena para mim, um sorriso brilhante e lindo, que faz meu coração saltar dolorido
no peito. Incapaz de corresponder, apenas sigo Liam até nossas motos, sem olhar
para trás e, em poucos minutos, estamos em casa.
— Pelo menos, você não a reivindicou pra valer — Liam diz, alguns
minutos depois, estendendo-me um copo cheio do que parece ser uísque.
Ainda bem.
Mais uma vez, sinto a textura do gramado contra a lateral do meu rosto e a
ardência dos pequenos cortes, quando sou derrubado pela equipe de defesa do time
adversário.
— Hill! — o treinador grita, da lateral do campo. — Você tá dormindo,
porra?!
— Cara, você tá bem? — Mack me ajuda a levantar.
São os efeitos do tal elixir mágico no meu corpo. A letargia, os reflexos
mais lentos, não são efeitos sentidos apenas pelo meu lobo — meu corpo também
é afetado e já não sei dizer qual sensação é pior.
— Levanta logo daí, porra! — Liam berra no centro do campo. — Vamos
vencer esse bando de filho da puta!
Um líder nato. O verdadeiro Alpha.
— Eu tô bem — respondo ao olhar preocupado do jogador ainda parado à
minha frente. — Você ouviu o chefe.
— A cerveja dessa noite é por minha conta, Jas — Mack avisa, correndo
até sua posição e acenando brevemente às garotas que sacodem seus pompons
coloridos na lateral do campo.
A dor que corta o meu peito ao vislumbrar os fios dourados me levaria ao
chão outra vez, se eu não tivesse fincado os pés na grama áspera e, ignorando o
desejo irracional de me virar para olhar em sua direção — ou pior, ir até ela —
corro para a minha posição, sob o olhar indignado do treinador e preocupado do
quarterback, que caminha até mim, determinado.
Ele toca as barras de proteção no meu capacete até que eu não consiga
desviar da força de seus olhos, totalmente escuros. Se ele tem noção do que está
fazendo, não faço ideia, mas essa é uma das poucas vezes em que ele permite que
o Alpha assuma as rédeas.
— Concentre-se, porra! — ordena, e então, meu foco inteiro está na
presença do jogador à minha frente. — Vamos ganhar a porra desse jogo!
Sim, nós vamos.
— Vamos acabar com eles! — grito para o time, que se prepara para o
próximo e, se tudo der certo, último lance do jogo.
Enquanto corro através do campo, fazendo minha parte, nada mais existe.
Desempenho a minha função com a agilidade habitual e, em poucos lances, a
vitória é nossa. Como eu sabia que seria. Juntos, somos imbatíveis. Quando o juiz
decreta o fim da partida, celebramos e nos abraçamos, antes de irmos em direção
aos vestiários. Agitados e eufóricos com a adrenalina do jogo, não há muito em
que pensar, e eu aproveito da paz e tranquilidade desse momento. Já que essa
sensação não dura o bastante para amenizar meu interior caótico, sempre que
Victoria Miller está por perto.
— Preparem-se, Warrior Wolves — a voz de Mack troveja pelo lugar
fechado e parcialmente tomado pela névoa, devido à água quente dos chuveiros.
— Hoje, a Colina está em festa!
Alguns jogadores uivam — uma espécie de grito de guerra — enquanto
outros aplaudem, empolgados pela celebração de mais uma vitória.
Até mesmo, nisso, ela se faz presente — reclamo em silêncio, mas percebo
os olhos escuros do meu melhor amigo, focados em mim.
Não me julgue. Não é como se eu pudesse me controlar, não é?
Sete dias.
Uma semana, desde aquele momento naquele quarto de hotel e, desde
então, não o vi mais do que algumas poucas vezes, nos treinos de futebol ou
andando apressado pelos corredores do campus — Jasper, como das outras vezes,
parece ter se arrependido.
As palavras que usou naquela noite, ainda girando em minha cabeça, todos
os dias. “Não existe “nós”, quando se trata de mim e você.” — ele confessara, na
ocasião, com um tom sofrido. E o que foi aquela ideia envolvendo Chad? Deixo os
pensamentos de lado, enquanto termino de esquentar meu jantar — uma lasanha
congelada de microondas — voltando a prestar atenção ao noticiário local na
televisão, que não para de falar sobre os últimos ataques a alguns turistas, na
floresta.
Como se dona Elinor precisasse de mais motivos para implicar, sempre
que saio de casa.
Foram cinco turistas “desaparecidos” no último mês. Quatro, encontrados
mortos, vítimas de ataques brutais de animais selvagens. Lobos, segundo a
repórter, que repete a informação a cada frase mais longa. Aparentemente, as feras
que habitam a floresta que cerca a cidade, estão mais agitadas do que de costume e
não parecem muito inclinadas a aceitar ninguém invadindo seu território.
Infelizmente, não se fala em outra coisa e as imagens dos turistas, sorrindo
em fotos cedidas pelas famílias, seguem passando em um loop infindável de
reportagens e entrevistas. Abutres. Penalizada com as histórias tristes, tiro o prato
do microondas e me sento à mesa, observando o quadrado fumegante de massa e
molho e mudando de canal, para uma série qualquer, tentando não pensar em tudo
o que está acontecendo tão perto de nós.
Entre Jasper e toda a situação esquisita entre nós, e os ataques recentes na
floresta, meus pensamentos seguem igualmente confusos e barulhentos. Às vezes,
tudo que precisamos é de um pouco de distração e uma série ruim e confortável,
para terminar um dia exaustivo.
Eu, pelo menos, preciso.
Meu corpo cai em queda livre, pela terceira vez, nessa tarde e, assim como
as outras duas companheiras de equipe, aterrizo perfeitamente nos braços dos dois
integrantes do squad, que celebram a execução perfeita de mais um movimento
sincronizado.
— Arrasamos mais uma vez, Vicky! — Ted beija o topo da minha cabeça,
enquanto Chris abraça meus ombros. — Acho que podemos passar para o próximo
movimento.
— Vocês mandaram muito bem! — uma das veteranas, a menos pior delas,
nos cumprimenta. — E sem tirar o sorriso do rosto! Vicky, você nasceu pra isso!
— Obrigada! — Mesmo sem graça, sorrio orgulhosa, enquanto sinto o
peso do olhar sobre mim. Não demoro muito a encontrá-lo, do outro lado do
campo, alguns metros à frente. Pego em flagrante, Jasper me cumprimenta de
longe, com um sorriso triste, antes de voltar à sua posição.
Por que tanta tristeza?
E por que a sensação de que ela tem a ver comigo?
— Vamos tentar alguns rodopios, dessa vez? — Chris bate o ombro no
meu, enquanto me entrega uma garrafinha de água. — Pronta?
— Não, mas vamos nessa. — Sorrio, antes de tomar metade do conteúdo
da garrafa e voltar ao treino.
Uma coisa de cada vez.
“Tudo o que é bom dura pouco.” — meu pai disse, certa vez, ao ouvir os
protestos de Liam e eu, quando fomos obrigados a deixar o parque de diversões,
em Montbianc, para trás.
Eu deveria tê-lo ouvido, naquela época, e então, eu não teria comemorado
tão cedo.
Três dias.
Três exatos, lindos e encantadores dias, desfrutando da tranquilidade de
não desejar dolorosamente estar próximo a Victoria Miller, e então, tudo caiu,
como a porcaria de um castelo de cartas.
Reviro-me no colchão, sentindo meu corpo febril e a fera em meu interior
se mover, desesperada e colérica, exigindo mais uma vez por ela.
— Jasper... — A voz de Ash chega a mim, mas não consigo realmente
enxergá-lo. — Abra a boca.
— Não — respondo, cego para tudo o que não seja o alvo da minha
afeição, que está distante demais de mim, nesse momento.
Tudo começou quando a vi chegar na faculdade, com o maldito Chad II,
que envolvia seu ombro, enquanto entravam no pavilhão dos auditórios. Porra!
Ainda que a ordem dela valesse e eu não fosse capaz de me aproximar muito,
doeu. O ciúme insano e intenso fez minhas entranhas arderem e não demorou, até
que meu lobo se vingasse de mim, por ter apenas desviado o olhar, ao invés de ter
arrancando o braço daquele maldito folgado.
“Minha” — exige.
— Jas, abra a porra da boca! — a voz do futuro Alpha ordena e não
consigo deixar de obedecê-lo, embora o lobo rosne e se recuse a tomar a porcaria
ruim que Ash despeja em minha garganta.
Ele luta, assumindo os movimentos dos meus braços, que se debatem sob o
aperto férreo de mãos firmes, enquanto alguém me segura com força no lugar, pela
cintura.
— Não o soltem ainda — Liam Ashbourne, nosso capitão, é taxativo. —
Vai ficar tudo bem, Jas. Logo, o elixir vai fazer efeito.
Aos poucos, paro de lutar e o lobo adormece — assumindo um estado
letárgico, típico após o tal remédio e, finalmente, eu consigo reassumir o controle.
— Bem-vindo de volta. — Mack liberta meus braços, e as mãos de Eli se
soltam do meu tronco. — Cara, o seu lobo não tá pra brincadeira.
— E a merda do efeito parece estar passando cada vez mais rápido —
aviso. Que merda.
— Que merda! — Ash, como Liam prefere ser chamado, ecoa meus
pensamentos. — Precisamos voltar à Holloway. Tem que haver alguma maneira.
— Talvez... — Eli ergue os olhos muito claros para nós. — Uma ordem do
Alpha possa ajudar. Nós somos uma alcateia e, segundo dizem os costumes, não
conseguimos desobedecer ao líder. Ash...
A expressão torturada, no rosto do meu amigo, silencia até mesmo à
esperança que nascia timidamente dentro de mim. Ele ainda não está pronto.
— Me perdoe, Jas. — penteia os cabelos escuros para trás, agitado. — Mas
eu... Não. Não posso.
Ainda não.
Porém, não digo nada, apenas confirmo com a cabeça, sentindo meu corpo
dolorido devido ao esforço que fiz para me libertar, antes.
— Talvez, haja uma dose mais forte do elixir — garanto aos meus amigos.
— Vai dar tudo certo.
Assim espero.
Cedo demais, descubro que não há nada tão ruim que não possa piorar.
Além de Chad II parecer a porra da sombra de Vicky, mais dois ataques
têm nos mantido ocupados durante as noites, afetando meu desempenho nas salas
de aula e me deixando um maluco sanguinário e competitivo nos treinos — algo
que não parece ter desagradado nosso treinador, mas que tem irritado todo o resto
do time.
— Porra! — grito, quando Ash perde a bola que acabei de passar a ele.
— Cara, você... — Mack começa a falar, mas apenas me viro e corro de
volta à minha posição.
— Mais uma vez! — O treinador atende ao meu pedido e logo, estamos
todos em posição.
Que se dane! Preciso gastar minha energia, ou vou ficar louco.
Ignoro tudo ao meu redor e prendo a respiração o máximo que posso,
apenas para não ceder à tentação de vigiar a garota, que é lançada no ar contínuas
vezes, e sentir um ciúme idiota de cada um dos babacas que toca seu corpo.
Não. Me recuso a pensar nisso.
Foco na porra do jogo, Jasper.
Pela visão periférica, eu a vejo sorrindo e comemorando com dois idiotas,
enquanto um deles ainda a carrega nos ombros. Filho da puta.
Porcaria de lobo carente e ciumento.
Pilotar uma moto é incrível, mas correr livremente sobre quatro patas é
libertador. Ainda mais, quando é tudo de que preciso para manter minha mente
focada e distante dos pensamentos obsessivos dos últimos tempos. Transformado
no lobo de pêlo avermelhado, corro velozmente por entre as árvores da mata
fechada, buscando por qualquer sinal de presença incomum por aqui.
Desde que os turistas começaram a ser atacados em nosso território, a
presença dos malditos lobos brancos foi detectada e aumentamos a segurança no
perímetro. Na última semana, três ataques foram impedidos pela nossa presença
nas rondas durante a noite.
Não que seja incrível vigiar de longe, um pequeno acampamento de
homens com higiene duvidosa, mas manter o lugar protegido é nosso dever e serve
para fazer aqueles covardes malditos engolirem suas palavras desafiadoras nas
reuniões que, agora, Ash tem que comparecer sozinho. Aparentemente, dois de
nós é o bastante para colocar medo naqueles malditos idiotas.
Quando cruzo o pequeno riacho, a oeste do centro e próximo às ruínas dos
Redmayne, começo a farejar o cheiro estranho que os integrantes do bando
misterioso possuem. É como se estivessem apodrecendo de dentro para fora, algo
incomum e totalmente impossível. Sigo o rastro forte até as cercas apodrecidas do
local, quando vislumbro, pela visão periférica, o vulto branco disparar em direção
à floresta.
E logo, estou seguindo em seu encalço. Durante horas, eu o persigo,
observando-o correr sem rumo, por quase toda a extensão da floresta, antes de
deixar os limites de Silent Grove para trás, quando os primeiros raios da manhã
começaram a aparecer.
Cansado e com as patas traseiras doloridas, corro de volta para casa, muito
ciente de que o filho da mãe estava apenas me distraindo. Uma perda de tempo,
para mim, e para o babaca, que não conseguiu seguir para onde iria, antes de me
ver. Faço um lembrete mental de contar aos outros sobre o rastro próximo às
ruínas Redmayne, antes de cochilar por um par de horas, antes de ir para a
Universidade.
Nada tira da minha cabeça que há algo estranho acontecendo e esse bando
parece buscar por alguma coisa. Ou alguém.
Quase um mês de perseguições frustradas, em que não conseguimos
capturar nenhum dos forasteiros — o que só corrobora com a ideia de que não são
amigáveis e que os ataques não vão parar. As rondas aumentaram, e agora, temos
mais lobos atentos ao que acontece dentro do nosso território, porém, na semana
passada, mais um turista foi vítima dos malditos lobos brancos.
É como se buscassem por algo, provavelmente, no centro da cidade, já que
frequentemente sentimos seu rastro por ali. Fecho um dos livros e, com os olhos
ardendo, deito a cabeça sobre o braço, enquanto o professor se despede da turma,
permitindo-me cinco minutos de um cochilo tranquilo e necessário.
Não é surpresa alguma, quando acordo com a sala já praticamente vazia,
após o fim da última aula do dia, indicando que dormi mais do que deveria e
acabei perdendo as duas últimas.
— Cara, você tá horrível! — Will, um dos caras do time de polo, entrega-
me seu caderno, com uma expressão de pena em seu rosto preocupado. — Talvez,
devesse pegar mais leve com as festas.
Festas, é claro. São elas que me mantém ocupado todas as noites, e não
rondas contínuas para manter você seguro em sua cama quentinha. Filho da mãe.
— Valeu, cara. — Pego a caneta e me preparo para copiar as anotações,
antes de voltar para casa e me jogar na cama, para me preparar para mais uma
noitada.
Deixo a água gelada cair pelas minhas costas e tento, sem muito
sucesso, acalmar os meus nervos, após a visão dos infernos de ter aquele
filho da mãe agarrado, como sempre, a Vicky. Mais um dia, mais
sofrimento com as caronas do babaca, que parece estar colado nela,
sobretudo, nos últimos dias. As provas finais se aproximam, assim como as
férias de fim de ano e as perspectivas de ver Victoria Miller, durante esse
tempo, totalmente extintas para mim. Algo que tem se tornado uma espécie
de tortura mental.
E física.
Ergo a cabeça e tento abafar todos os pensamentos conflituosos,
com o fluxo intenso de água, antes de desligar a torneira, me enxugar
rapidamente, ainda no banheiro, e dar de cara com o folgado, deitado na
minha cama, apenas de cueca boxer.
— Posso saber o que traz o princeso aqui? — questiono, quando ele
se vira no meu travesseiro, em um gesto preguiçoso. Filho da puta.
— Fora a visão do seu corpo gostoso nu? — Aponta para mim,
enquanto seco o cabelo e vou até a cômoda pegar uma cueca.
— Arram. — Visto a peça azul marinho e volto a olhar em sua
direção. — Manda.
— O que faria, se estivesse interessado em um amigo? — Ah, que
merda. — Tipo, vocês já... ficaram juntos, mas não sozinhos e... Não sei.
Não quero atrapalhar a amizade.
Mack não é tão desatento quanto gosta de parecer.
— Eli gosta de você. — Abrevio a história toda. — E, se for
correspondido, não vejo por que não tentar. Veja os seus pais. Eles se
escolheram, antes de conhecerem a sua mãe, certo? — ele assente,
pensativo. — Era só isso?
— É. Meio que era. Mas não sei se posso arriscar, Jas. — E essa é
uma das poucas vezes em que o vejo falar sério na vida. — Ainda não.
— Entendo. Mas não faço ideia de quando virei referência em
relacionamentos. — Dou de ombros, vestindo uma calça jeans clara. —
Vivo em sofrimento constante, nos últimos tempos.
— Só porque quer. — Mack revira os olhos para a minha expressão
furiosa. — Jas, eu vejo a sua situação de outra forma. Seu lobo escolheu a
Vicky e ela é proibida para você, nós sabemos dessa merda toda, dos
Acordos. Mas não estamos falando de casamento, uma casa grande, com
cerca pintada de branco e o caralho a quatro. Estou falando de se permitir,
por um momento. O sofrimento já é algo previsto, por que se negar a
experimentar? Uma lembrança é melhor do que nada.
Sento-me ao seu lado na cama, desalentado.
— Você se esquece de outro fator. — Encaro o móvel à minha
frente. — Ela teria que querer.
— Vá se foder, Jas! — Bate o ombro no meu. — Todos nós
sabemos que ela quer. Muito.
Um rosnado instintivo e raivoso irrompe da minha garganta, à
simples menção de que todos ali já sentiram, em algum momento, o aroma
picante que deveria pertencer somente a mim.
— Lembre-se de que me escolheu primeiro. Não precisa me morder
de novo. — Mack gargalha e, então, pisca rapidamente, como uma donzela
de desenho animado, e dá um tapinha fraco em meu ombro. — Não gosto
de ser a segunda opção, Jasper Hill! Seu safado de meia tigela!
Mas, quando chega à porta, ele se vira e volta a falar sério.
— Pense nisso. Ela deve vir à festa amanhã, e seria uma
oportunidade e tanto, para vocês dois. — Filho da mãe.
Como se eu precisasse de mais incentivo para pensar a respeito.
Pela janela do meu quarto, observo a neblina que cobre as árvores ao redor
da cidade e deixa tudo um pouco mais misterioso — algo com o qual já estava
habituada, mas que, após os últimos eventos, assumiu novos significados para
mim. Os uivos, ao longe, não indicam apenas lobos correndo por aí, mas um
bando de lobisomens, lutando por território em meio às árvores. E, entre eles,
Jasper Hill.
A parte difícil disso tudo? Não conseguir pensar nisso como algo ruim, ou
perigoso. No fim das contas, é Jasper. O mesmo jogador lindo e divertido — na
maioria das vezes — que sempre parece mais do que disposto a me proteger de
tudo. E por quem estou bastante apaixonada.
Que confusão.
— Tão pensativa... — a voz da minha mãe me resgata do caos que é a
minha cabeça. — Suas malas já estão prontas?
Nós duas olhamos, ao mesmo tempo, para a montanha de roupas sobre a
bagagem rosa, aberta no chão — os novos casacos, comprados recentemente,
ainda nas sacolas, sobre a pilha de roupas coloridas.
— Semana de provas e véspera de férias, sabe como é... — Sorrio sem
graça. — Prometo deixar tudo arrumado.
Pela primeira vez, vamos passar as festas de fim de ano em uma pousada
charmosa, no sul da Itália, realizando o sonho de vida da minha mãe — um
presente de Natal da Tia Marianne para nós. Aquela maluca se casou com um
homem rico e não aceitou as negativas da irmã, tampouco as inúmeras desculpas
que eu inventei, antes de aceitar, feliz e resignada, uma espécie de “mochilão” por
algumas cidades europeias, antes de iniciar um novo ciclo, segundo ela. Para a
minha tia, tudo sempre parece exatamente igual em Silent Grove.
Mal sabe ela, dos segredos que essa cidade esconde.
— Espero que sim, mocinha. — Já vestindo seu uniforme branco, ela faz
uma imitação de si mesma, anos atrás. — Essa viagem será boa para nós duas,
tenho certeza.
— Vai sim — concordo, ouvindo-a gargalhar, ao ver meu olhar
desalentado para a mala desarrumada. — Novos ares vão nos fazer bem.
Talvez, seja tudo de que preciso, para colocar a cabeça no lugar. Mas, antes
disso, ainda há uma última semana de aula e a festa de despedida do semestre,
marcada para essa tarde. Depois da revelação bombástica sobre Jasper, nós meio
que entramos em uma espécie de amizade, e o Sr. Idiota parou de dar as caras, por
um tempo. Graças a Deus.
Mas isso não quer dizer que haja alguma chance para nós dois. Ele não
voltou a tocar no assunto e, tirando aquele episódio, na casa abandonada, nunca
mais voltamos a nos beijar ou a falar a respeito disso. Bem, pelo menos, até hoje.
Uma brisa fria entra pelo vão da janela e balança meu cabelo, antes que eu me
levante e a feche rapidamente. Os ventos da mudança estão soprando, a Sra.
Holloway — a vizinha meio bruxa — comentou outro dia, ao me ver saindo para a
faculdade.
Eu só espero que seja para a melhor.
— Quem é você, e o que fez com a minha amiga, antes de tomar o corpo
dela? — Kat me sacode pelos ombros, quando pego a minha sexta garrafa de
cerveja. — Vicky, por mais que eu esteja amando a sua descontração, também
estou um tantinho assim — distancia alguns poucos centímetros o indicador do
polegar, à minha frente — preocupada com você.
— Eu tô bem — afirmo, mais uma vez, sentindo a minha cabeça mais leve.
— Mack! — Abro os braços para um dos jogadores do Warrior Wolves que vinha
andando em nossa direção, e ele logo passa as mãos em minha cintura, me
abraçando e suspendendo meu corpo do chão.
— Eu sei que sou a alegria da festa e muito amado por todos — sorri e
deixa um beijo na boca da minha amiga, às minhas costas —, mas, Loirinha, não
faça isso com o meu amigo, ele não vai aguentar.
— E onde é que ele está, agora? — grito, próximo ao seu ouvido, para que
me ouça sobre a música alta.
Mack ergue os olhos e encara um ponto atrás de mim. Motivada pela
coragem líquida, olho por cima do ombro e o encontro. De pé, em uma espécie de
recuo na construção, com uma garrafa de cerveja na mão, Jasper Hill nos observa
à distância, com uma expressão nada feliz, antes de sair de vista.
— Estou cansada disso, sabia? — declaro, para ninguém em especial e,
quando estou preparada para ir atrás do lobo-problema, sinto Kat me segurar pela
mão.
— Eu vou com você — afirma, mas, logo, Mack segura firme em sua
cintura e a puxa contra seu peito.
— Você fica aqui, pequeno gafanhoto. — O jogador alto sorri e pisca para
mim, agarrando Kat pela cintura, prendendo-a em seu abraço. — Eles realmente
precisam conversar.
— Mack tem razão, Kat. Eu já volto — afirmo e, apesar da surpresa no
rosto de Eli, que se aproxima deles, sigo caminho entre as pessoas dançando ali e
me deparo com um espaço escuro e deserto, que leva à construção onde estivemos
na noite em que descobri a verdade sobre Jasper.
Ou parte dela, pelo menos.
Enquanto meus olhos se acostumam com o ambiente mais escuro,
resmungo comigo mesma, xingando baixinho, enquanto tropeço várias vezes pelo
piso desnivelado e cheio de pequenas pedras, sentindo minha cabeça rodar pelo
efeito do álcool, quando subo os degraus da escada.
— Porcaria! — praguejo mais uma vez, quando o salto da minha bota
agarra em um buraco na pedra e quase me faz cair de cara no chão. — Olha, ele
pode ter agilidade fora do comum, mas será que não poderia ter arrumado um
esconderijo menos...
Sinto, antes de ver, o calor da mão grande envolver a minha panturrilha e
me libertar. Os dedos subindo levemente pela minha pele, até a bainha do vestido
justo e curto que escolhi para vir hoje.
— O que faz aqui, Vicky? — pergunta às minhas costas, se afastando
rapidamente, passando por mim, até chegar ao topo da escada. — Da última vez,
se afastar da festa quase resultou em uma tragédia.
Jasper relembra o que aconteceu na noite em que tudo mudou e eu acabei
descobrindo sobre ele, mas deixo a provocação de lado e, ao invés de responder
imediatamente, ou de enfrentá-lo, apenas encaro o céu estrelado e a floresta ao
longe — muito depois do fim do terreno da casa — buscando por um pouco mais
de coragem, para seguir adiante com o meu plano de conversar com Jasper sobre
as minhas dúvidas e sentimentos.
— Mas você está aqui, não é? — murmuro após alguns minutos, sabendo
que pode me ouvir, já que não se moveu. — E prometeu que não deixaria nada me
acontecer.
Jasper chia e joga algo ali de cima — a garrafa de cerveja, percebo. Não
me movo, apenas espero. Não vai me afastar bancando o Sr. Idiota, dessa vez,
Jasper.
— Volte para a festa, Victoria — ordena, em um tom enrouquecido e
amargurado. — Você bebeu e não acho que essa seja uma boa hora para conversas
e ...
Termino de subir os degraus, fechando a cara para ele e cruzando os braços
de forma teimosa, cansada disso tudo. Com um suspiro igualmente exausto, ele
desiste e abre a porta de madeira, entrando no quarto improvisado e escuro, onde
conversamos da outra vez.
— “Se afaste, Victoria” — imito o seu tom de voz grave e mandão,
enquanto ele anda até o interruptor, que não parece funcionar. — “Nós não somos
para ser.” “Não posso fazer isso, Victoria” — cuspo o meu nome como um
xingamento. — Mas, então, “Raio de Sol”. “Tudo vai ficar bem”. “Estou aqui”—
faço uma imitação bem ruim. — Quer saber de uma coisa? Você não sabe o que
quer, Jasper Hill! Ao mesmo tempo em que me manda ficar longe, seus olhos
chamam por mim! E isso tem ferrado com a minha cabeça! — Infelizmente,
pertenço ao grupo das pessoas que não consegue discutir sem chorar. E é
exatamente o que estou fazendo, de forma vergonhosa.
— Vicky... — Dá um passo à frente, com a mão estendida em minha
direção, mas eu nego e recuo.
— Não! — Nego com a cabeça, para enfatizar. — Não me toque, não se
preocupe comigo, não aja como se não conseguisse ficar longe, porque é mentira!
— Limpo as lágrimas que escorrem pelo meu rosto, puxando o ar e tentando
recobrar o meu controle, mas não tenho tempo para isso, já que, logo, estou
pressionada contra a porta, que acaba de bater, fechando-nos no quarto escuro,
iluminado apenas pela luz da lua.
O running back[3] do Warrior Wolves me mantém presa entre seu corpo e a
madeira, enquanto respira de forma ruidosa, visivelmente nervoso.
— Mentira? — rosna e não é um resmungo ou algo humano. — Eu tenho
tomado uma gororoba mágica nojenta, para aliviar a dor que eu sinto, só por estar
longe de você, Victoria. — Usa o mesmo tom debochado que usei antes. —
Enquanto anda para todo canto com aquele babaca do Chad II... — rosna. — Não
imagina a porra do vazio, quando está longe... — Ri sem humor algum,
desesperado. — Ou do desejo que ameaça a minha sanidade, sempre que está por
perto. — Abaixa a cabeça e inspira forte em meu pescoço, como se tentasse me
absorver. — Porra! Você realmente não deveria estar aqui.
Ele se afasta, derrotado, alisando o peito sobre a camisa, com força, como
se estivesse sentindo dor.
— Volte para a festa, Vicky. — Seu tom é uma súplica desesperada,
enquanto ele se afasta. — Por favor.
Assim que a força do seu corpo deixa o meu, sinto sua falta. Não podemos
mais ficar assim.
— Desde aquela tarde, eu... eu tenho medo, o tempo todo. Não consigo
mais dormir, Jasper — confesso, puxando o ar de forma entrecortada, notando o
quanto suas mãos tremem, através da luz que vem das janelas altas. — Relembro o
tempo todo, apavorada, dos lobos brancos na floresta, daquele homem estranho
que me pediu informações sobre o banheiro e, então, tentou me raptar. — Abraço
meu próprio corpo ao me lembrar de tudo. — Medo do que significa tudo o que
me contou e medo de saber que está lá fora, correndo riscos. — Ele arregala os
olhos, chocado. — Mas, não de você. Talvez eu devesse, mas não... Eu só...
Movo a boca, mas não consigo emitir nenhum som, já que ele volta a se
aproximar e segura meu rosto mais uma vez, deslizando o dedão sobre a lateral,
antes de acariciar meu lábio inferior.
— Não — nega, com o olhar desesperado, iluminado apenas pela parca luz
da lua, que não é mais do que um anel fino no céu. — Nunca tenha medo de mim.
Eu jamais faria algo para feri-la. Não por querer... Você não entende, não é?
— Então, me explique... — peço baixinho, envolvendo a mão que abarca
meu rosto. — Porque eu... me apaixonei, Jasper. E a cada vez que me nega, acaba
me ferindo, me machucando um pouco mais.
Jasper acaricia levemente meu lábio inferior com o polegar, antes de fazê-
lo com a sua boca e, então, com sua língua, enquanto pede perdão repetidas vezes,
antes que eu aprofunde o beijo, laçando seus ombros e puxando-o para mim.
Apertando suas omoplatas cada vez mais forte, como se desejasse nos fundir e
aplacar a tal necessidade que, percebo agora, fere a nós dois. Como de costume, o
beijo, que começou lento, se transforma rapidamente em um atentado ao pudor,
quando suas mãos deslizam pelo meu corpo e as minhas se mantêm firmes,
puxando-o para mim com força, gemendo baixo, sempre que movimenta seu corpo
rígido contra o meu.
— Perdoe-me — murmura dentro da minha boca. — Nunca quis que fosse
assim, Vicky. Mas... o meu lobo te escolheu. Naquela maldita festa, ele te
escolheu, dentre todas as garotas que cruzaram o meu caminho — as pontas dos
dedos acariciando meu rosto com delicadeza —, a única que eu não posso ter.
Gentilmente, ele nos leva para o sofá-cama recostado na parede e segura as
minhas mãos, acomodando-se de joelhos à minha frente, antes de começar a falar.
— Em algum momento da nossa vida, o lobo que habita dentro de nós,
elege a sua Escolhida e é para ela e por ela, que nós vivemos. — Ele baixa os
olhos e, em seguida, leva a minha mão até o seu peito, onde seu coração bate em
um ritmo forte e acelerado. — Desde aquele dia, eu sou seu, Victoria. Apesar de
tudo.
— Mas... se você me escolheu e eu não quero mais ninguém, isso não seria
algo bom?
Jasper sorri de forma triste, antes de me beijar lentamente, com uma
entrega tão delicada e doce, que faz com que as lágrimas voltem a descer pelo meu
rosto.
— Há um tempo, houve uma tragédia nessa cidade, envolvendo o Alpha do
nosso clã. Muita gente se feriu e alguns morreram, o que levou à criação dos
Acordos. São emendas, um nome para a punição do nosso povo, por conta do que
aconteceu naquela maldita noite e, nesses Acordos, somos proibidos de nos
envolver romanticamente com qualquer membro das famílias fundadoras. E eu sou
um lobo e você, uma Miller.
— Por isso, a insistência de que Chad seria mais certo para mim —
constato, chocada. — Pois eu não aceito. Já tentamos, até... — quando ele fecha a
cara e bufa alto, sorrio, esclarecendo — no passado, Jas. Chad é um cara legal,
mas, hoje, somos apenas amigos. Nada mais.
— Fico feliz em saber... de alguma forma. — Jasper sorri e dá de ombros.
— Eu não posso tê-la, mas ele também não tem chance.
— Não sei se consigo rir disso. Tudo o que eu queria era... — bocejo, de
repente, me sentindo cansada demais. De tudo. Ele beija o meu queixo de forma
carinhosa e afaga o meu rosto. — A sua presença, de algum modo, me traz paz. Eu
me sinto segura.
Jasper se levanta e acomoda o corpo largo no móvel pequeno, antes de me
puxar para os seus braços. Aconchego-me ali, sobre seu peito, ouvindo seu
coração bater acelerado, enquanto suas mãos acariciam meu cabelo.
— Eu te procurei, porque queria resolver as coisas — confesso baixinho,
meus olhos pesados, já fechados. — Mas não há nenhuma solução, não é?
— Descanse, Raio de Sol — sua voz calma e tranquila me embala, meus
olhos pesados, por conta da bebida e das noites mal dormidas, totalmente
fechados. — Eu estou aqui.
E, por agora, isso basta.
Não sei por quanto tempo eu dormi, mas acordo com a mão de Jasper
acariciando as minhas costas, enquanto brinca com o meu cabelo com a outra.
Suspiro, notando que o cochilo anulou o efeito do álcool e, por tabela, a minha
coragem. Maravilha.
— Oi — Jasper me cumprimenta, quando me viro em seu peito, apoiando
o queixo nas mãos. — Descansou?
— Um pouco — admito, e quando noto que o dia já está clareando,
levanto-me rapidamente. — Meu Deus! A minha mãe vai me matar!
Jas ergue a sobrancelha, divertindo-se.
— Eu mandei uma mensagem pra ela, do seu telefone — coçando a nuca,
visivelmente sem graça, ele confessa — e avisei que iria dormir na casa da Kat.
Volto a me sentar, mais calma, arrumando os cabelos, que devem parecer
um ninho de guaxinins, a essa altura
— Avisou? — repito, observando-o se sentar ao meu lado, enquanto me
espreguiço sob o seu olhar atento.
— Você tinha reclamado sobre a falta de sono e... — aponta para uma
mancha molhada perto do seu ombro — bem, você apagou, e até, meio que, babou
em mim, dois minutos depois. Achei melhor te deixar dormindo.
— Ah, minha santinha, que vergonha! — Escondo o rosto entre as mãos.
— Eu lavo a sua camiseta. Normalmente, isso não acontece e...
Meu Deus! Será que eu ronquei?
— E eu não consegui te deixar ir, Vicky — os olhos castanhos se tornando
mais quentes, à medida que ele confessa. — Eu queria saber como era, acordar ao
seu lado, nem que fosse uma vez.
— Jasper... — viro-me para ele, acariciando seu rosto, observando-o
fechar os olhos e inclinar a cabeça em direção ao meu toque. Minha mente, livre
do torpor da bebida e do sono, tomando uma decisão ousada, mas que, a cada
segundo diante desse homem, me parece mais certa. — Preciso de um minuto.
Levanto-me rapidamente, pego a minha bolsa, deixo um beijo em seu rosto
e corro para o pequeno banheiro, entulhado de coisas antigas. Faço o maior xixi da
história da minha vida e me encaro no espelho, observando o tom avermelhado
das minhas bochechas, antes de pegar o enxaguante bucal que carrego sempre
comigo.
Graças a Deus, por ser uma pessoa prevenida.
Ajeito o cabelo, mando uma mensagem para Kat, a fim de evitar que ela
apareça na minha casa, e abro a porta, encontrando Jasper de pé, pensativo,
próximo à janela. Toda a sua postura denunciando a tensão que sente. Sigo até ele
e, sem pensar muito, abraço sua cintura, após passado o susto, com a minha
aproximação repentina, sinto-o relaxar sob as mãos que correm trêmulas e incertas
pelo seu tronco, sobre o tecido da camiseta escura que veste. Levo-as até os seus
ombros, descendo pelos braços fortes, repetindo os movimentos algumas vezes,
notando sua respiração cada vez mais pesada.
Ou talvez, seja só o reflexo da minha.
— Vicky... — murmura, ainda de costas para mim, quando meus dedos
traçam o cós de sua calça jeans. — Eu... Isso só vai tornar tudo pior, Raio de Sol.
Congelo no lugar, sentindo algo amargo crescer dentro de mim. Rejeição.
Dou um passo para trás, sentindo-me uma idiota por pensar que… Eu realmente
deveria parar de agir por impulso, não é para mim. Recuo mais dois passos,
sentindo os olhos arderem, indo em direção ao sofá para pegar minhas coisas e ir
embora daqui, mas Jasper se vira, vindo até mim e prendendo minhas mãos com a
sua, enquanto a outra se encaixa no meu rosto, erguendo-o para o seu.
— Acha que eu não quero? — E lá está, de novo, o tom debochado, sério e
sexy que ele assume, sempre que chega ao limite, noto. Minha pulsação aumenta e
meu corpo inteiro reage de forma exagerada, como sempre acontece, quando
estamos assim. — Meu Deus, Vicky! Não entende que isso tem o potencial de me
ferrar ainda mais? Como eu vou conseguir lidar com o fato de que nunca...
Ele me solta e enfia as mãos no cabelo escuro, puxando os fios —
descontrolado. Anda para longe de mim, respirando aos arquejos, enquanto se
mantém afastado, como se buscasse, desesperadamente, por uma saída.
— Eu só preciso saber como é estar com você... Nem que seja uma única
vez — murmuro, aproximando-me novamente, colando meu peito às suas costas.
— Mas não quero te fazer mal, Jas. Me perdoe. — Ele envolve minha mão com a
sua, antes de se virar de frente para mim. — Eu entendo.
Suas pupilas, dilatadas ao extremo, quando suas narinas inflam, como se
ele farejasse algo.
— Se você entendesse... — engole em seco, encaixando uma mão na
lateral do meu rosto, antes que seus lábios toquem os meus levemente — o risco
que eu corro, estando tão perto de você... — os dentes brancos mordem
brevemente meu lábio inferior, me fazendo agarrar com força a sua camiseta.
Recuo alguns passos, trazendo-o comigo, de volta ao sofá onde dormimos.
— Eu sempre fui uma boa menina — comento, enquanto tombo seu corpo
no móvel, posicionando-me sobre o seu colo. O corpo grande e forte se encaixa
entre minhas pernas, enquanto Jasper estende os braços no encosto do sofá,
fechando os olhos castanhos, ainda hesitando. — Aquela noite, foi a minha
tentativa de ser rebelde e acabei... — rio de mim mesma — me tornando obcecada
por certo jogador vestido de lobo, naquela festa idiota.
Meu corpo inteiro vibra quando ele ri e não consigo segurar o suspiro
baixo que sai da minha garganta, quando seu corpo roça no meu. Jasper cola a
testa na minha e as mãos grandes envolvem a minha cintura, trazendo-me mais
para perto.
— Victoria, você tem certeza? — E, quando confirmo, olhando fundo em
seus olhos, sem qualquer subterfúgio ou disfarce, ele cede. Sua boca buscando a
minha com um desejo desmedido.
— Eu nunca fiz isso antes — confesso e seus olhos brilham, intensos e
apaixonados — Eu estava esperando por alguém de quem eu gostasse. Esperando
por você.
— Porra! — Um rosnado animalesco irrompe de seu peito e ele enfia as
mãos no vão do meu pescoço, trazendo-me para mais perto, colando meu corpo ao
seu.
Deslizo minhas mãos por baixo de sua camisa, explorando os músculos
rígidos sob os meus dedos, ignorando a vergonha que me toma, manchando meu
rosto de vermelho, enquanto me sinto desmanchar, assim que sinto o roçar leve de
seu quadril no meu, mas tendo a consciência de que isso ainda é muito pouco,
diante do que preciso agora.
— Jasper... — chamo, entre os beijos, e com mais uma última investida,
me faz apertar os olhos com força e estremecer, sua boca desce para o meu
pescoço.
— Sua pele é tão macia quanto nos meus sonhos, Raio de Sol. — Um som
gutural irrompe de seus lábios, quando minhas unhas correm pelas suas costas, ao
mesmo tempo em que sua boca desliza pelo vão entre os meus seios, através do
tecido fino do vestido claro. — Tão linda...
— Jasper! — gemo mais alto, quando ele desce a boca para um dos meus
seios, abocanhando-o através do tecido fino do vestido e do sutiã. Choramingo ao
sentir minha pele arder, meu centro úmido dolorido, de repente. — Ah!
Não demora muito para que eu perca a cabeça, e a minha timidez e, sem
conseguir me conter, me esfrego descaradamente em seu colo, sentindo-me cada
vez mais molhada, enquanto ele sobe o meu vestido e o tira pela cabeça, antes que
seus dedos encontrem um dos meus seios e o massageie com avidez, ao mesmo
tempo em que seus dentes encontram o outro mamilo e me façam gritar.
— Jasper, por favor! — Perdida em todas as sensações que tomam o meu
corpo, nesse momento, rebolo contra a ereção entre as suas pernas, sentindo o
choque percorrer meu corp, sempre que ela atinge meu feixe de nervos, sensível
demais, a essa altura.
A situação só piora, quando Jasper inverte nossas posições e se ajoelha à
minha frente, mantendo-me aberta para os seus olhos nublados de desejo.
— Eu tô sonhando, porra — murmura para si mesmo. — Eu só posso
estar...
Vagarosamente, ele desce a caleçon de renda rosa claro pelas minhas
pernas, e, após levá-la ao nariz e inspirar fundo, sua boca busca a minha, beijando-
me desesperadamente, mordendo o meu lábio inferior, antes de voltar a descer o
corpo e desaparecer no vão entre as minhas coxas.
Logo, sua língua corre por toda a minha extensão, concentrando-se no
ponto inchado, que lateja, necessitado. Quando a sensação se torna insustentável,
agarro com força o cabelo escuro, movendo meus quadris contra a sua boca, até o
meu mundo explodir em milhões de pedaços por trás das minhas pálpebras
fechadas, enquanto chamo por ele continuamente.
— Me diga o que quer, minha vida, e eu te darei — ele garante, seus
dentes passeando pela minha barriga, antes que volte a morder e sugar os meus
seios, arrancando ainda mais gemidos de mim.
— Jasper... — E nem sei pelo que estou pedindo, mas tenho certeza de que
preciso dele. Urgentemente.
Ele para com a tortura deliciosa e ergue o rosto para o meu, segurando
firme em meus cabelos, arranca outro gemido alto quando puxa os fios dourados
com mais força, levantando o meu rosto, para que possa olhar dentro dos meus
olhos, enquanto desliza uma das mãos entre as minhas pernas, acertando em cheio
o ponto pulsante, massageando-o incessantemente.
— Eu sou seu, Victoria Miller — sua declaração acelera o meu coração e
faz com que meu corpo responda de forma nada sutil, explodindo em um novo
orgasmo intenso.
Não consigo mais pensar direito, prendendo-o com as minhas pernas e
juntando nossas bocas mais uma vez, antes de me deparar com seu olhar
escurecido pelo tesão, as pupilas dilatadas consumindo todo o resto. Puxo a bainha
de sua camiseta, achando-o vestido demais. O jogador inclina a cabeça de lado,
esperando.
— Eu quero você... — engulo a timidez. Não é hora para isso, talvez nunca
mais seja — agora, Jasper... — ordeno, sem desviar meus olhos dos seus,
enquanto ele me ajuda a tirar a peça e desce a calça jeans até os tornozelos, antes
de encaixar os dedos no cós da cueca boxer azul marinho e me lançar um olhar
abrasador.
Jasper Hill é bonito — é algo inegável — mas tê-lo ali, totalmente nu à
minha frente, é algo que eu jamais seria capaz de imaginar, nem mesmo nos meus
sonhos mais quentes. De repente, me sinto envergonhada pelo modo pervertido
com que o encaro, porém, o risinho de lado, que surge em seus lábios, quando me
engasgo ao acompanhar o movimento de sua mão sobre o membro rígido, me faz
relaxar.
— Tem certeza, Raio de Sol? — pergunta mais uma vez. — Se
continuarmos, eu não acho que seja capaz de parar. — O som úmido que escapa de
seus movimentos cadenciados, atinge com tudo o vão entre as minhas pernas, me
fazendo apertá-las, tentando aplacar o desejo desesperado que cresce ali.
— Eu... — Engulo em seco, diante dos olhos escuros e atentos do cara à
minha frente. Você quer isso, Vicky. Desde o primeiro momento. — Você disse que
o seu lobo me escolheu e eu tenho quase certeza de que o escolhi de volta. —
Jasper cola a testa na minha, respirando fundo, enquanto seu coração bate
enlouquecido em seu peito, sob a minha palma.
— Eu vou cuidar de você — garante, beijando-me mais uma vez, enquanto
pega o preservativo no bolso da calça. — Para sempre, minha Escolhida. Não
importa com quem ou onde você esteja, eu sempre serei seu. Para o que quiser.
Jasper pincela a minha entrada alguma vezes, fazendo o desejo se
avolumar mais e mais dentro de mim, quando sinto um dedo me invadir e a
sensação dolorida e incômoda cede, quando usa o polegar para estimular meu
clitóris, circulando-o repetidas vezes, enquanto acrescenta outro dedo em minha
entrada, preparando-me para recebê-lo. A situação é tão sensual, que logo me sinto
estremecer por inteiro, quando o orgasmo me atinge novamente.
— Agora, eu vou saber o que é me sentir completo, Raio de Sol — declara,
se encaixando entre as minhas pernas devagar.
— Seremos dois, então — respondo baixinho, aprofundando o beijo,
enquanto me preparo para o que vem a seguir.
Jasper vai devagar, tentando se controlar enquanto entra, centímetro por
centímetro, fazendo meu interior inteiro latejar de forma não muito agradável, até
que sinto uma ardência mais forte e meus olhos se enchem de lágrimas, pela dor
momentânea.
— Tudo bem? — preocupado, ele não se move. Observo a gota de suor
que percorre o seu pescoço, demonstrando o esforço que faz para se controlar. —
Vicky?
— Eu sou sua, Jas — declaro, impulsionando o corpo, trazendo-o até o
fundo, com um gemido alto. — Sua.
— Sim, hoje, você é — repete, e só então, começa a se mover.
A princípio, o incômodo permanece, porém, quando leva uma de suas
mãos entre os nossos corpos e começa a me tocar, tudo muda. À medida que ele
investe com mais força, entrando e saindo de mim, logo, não existe mais dor, e o
fogo que arde dentro de mim, é puro prazer.
E me rendo à sensação intensa, mais uma vez, agarrando seus ombros com
mais força, enquanto Jasper estoca impiedosamente em meu interior, antes de
jogar a cabeça para trás, com um grunhido animalesco ao se libertar, eu sei que
não importa o que ele diga, ou o que aconteça em seguida, ele sempre terá uma
parte de mim.
E eu espero que isso baste.
A vida é algo estranho. Em um momento, estou sonhando. No outro,
realizando algo que sequer me permiti sonhar e, então, a realidade.
E mal se passaram mais do que alguns dias, desde que tive a mulher dos
meus sonhos em meus braços e a fiz minha — mais de uma vez. A mesma loirinha
que é proibida para mim, por causa dos malditos Acordos, e que está de malas
prontas para passar quase um mês longe de mim.
— Cara, se continuar com isso, eu vou chorar — Mack reclama dos meus
suspiros tristes, ao meu lado no sofá, enquanto duelamos em uma partida de
futebol no videogame.
— Eu estou jogando, Jas está chorando, pra variar, e o filho da mãe do Eli
desapareceu, depois do encontro com a maluca da Kat — o idiota passa o relatório
completo.
— E você não estava com eles, dessa vez, porque... — provoco, apenas
pelo prazer de vê-lo fechar a cara.
— Dia de jantar com os meus pais — finge uma indiferença que, pelo
maxilar travado, ele não sente. — E eu achando que era o preferido dela.
— Seria uma sorte, não é? — comento de forma amarga, sem tirar os olhos
da televisão. — Já que ela não pode ser minha, também não será daquele babaca
II.
Maldito lobo.
— Vou sentir sua falta — confessa, e minha respiração falha, assim como a
minha tentativa de parecer estar bem com isso. Dramático para um caralho.
Suspiro, agarrando-a mais forte, mas ela recua e busca meu olhar. — Não ajudei
em nada, não é?
— Não vai ficar sofrendo por isso, Jasper — Sua voz se torna decidida,
imperativa e, em um segundo, ela tem toda a minha atenção. As escolhidas têm
todo o poder sobre seus lobos. — Vai se divertir e descansar durante esse tempo.
Não vai pensar em mim ou desejar estar comigo, entendeu? Sem dor, sem vazio.
— Os olhos castanhos cor-de-mel estão cheios de água, encarando-me, à espera de
uma confirmação, que não passa de um aceno. — Fique bem, por favor.
Sua mãe volta e abraço Vicky mais uma vez, acenando um cumprimento
sem jeito para a mulher, que apenas sorri brevemente, antes de entrar no carro,
esperando pela filha, que fecha a mão em punho sobre o tecido da minha camisa,
enquanto aperta mais forte os braços finos em meu corpo.
Mais uma festa e eu mal posso esperar para ter um momento a sós com
certa loirinha, que anda circulando pelo campus nos últimos dias, tentando fugir
de mim. É uma merda de um jogo de gato e rato — ou de lobo e gata — que
estamos jogando, para o meu desespero, enquanto observo a movimentação na
Colina, ao lado do meu futuro líder e quase irmão, que parece ter desenvolvido
uma curiosidade a respeito da aluna novata e prima da loirinha gostosa, que segue
fazendo charme e fugindo em toda oportunidade que tem.
— Talvez, não fosse má ideia, se você topasse dar uma rapidinha com a
Viv, antes que a festa fique mais movimentada. — comento, apenas para irritá-lo.
A garota, como eu sabia que faria ao ouvir a minha sugestão, rebola mais os
quadris e lança um beijo para Ash.
— Fácil falar. — Sorrio de forma triste, mas resignado com o meu destino.
— Não posso me casar ou namorar com Vicky, mas os acordos não dizem nada
sobre o que temos feito, Alpha. Então... vou buscá-las. — E assim que avisto o
idiota sorridente passando correndo com a chave de um dos carros nas mãos,
encontro a solução perfeita. — Mack!
— Já olhou bem para você? — Coloco uma mecha loira atrás de sua
orelha, enquanto observo seu rosto corar. — Não há mais ninguém para mim, meu
Raio de Sol ciumento. Embora, para você...
— Não vamos falar sobre isso... — ela abaixa o tom de voz, traçando um
padrão em meu peito com as pontas dos dedos, antes de deslizá-los pela lateral do
meu corpo. — Vamos falar de esperança...
Como eu queria...
Vicky ainda tenta encontrar alguma solução para nós. Infelizmente, com os
novos ataques e tudo o que vem acontecendo na cidade, as nossas chances, que já
eram mínimas, foram reduzidas a menos que zero. Totalmente impossível.
— Vicky... — peço, mas ela cobre a minha boca com a sua e eu perco
totalmente a batalha. Cada segundo é precioso e inestimável e não vou perder
tempo discutindo sobre algo que não posso mudar.
O clima intimista muda, quando ela desce a boca pelo meu pescoço,
arranhando a minha pele com os dentes, antes de mordiscar a minha orelha com
um pouco mais força. Fazendo-me apertá-la mais forte contra o meu corpo,
trazendo-a para cima de mim. Com uma perna de cada lado do meu quadril, o anjo
loiro rebola sobre a minha ereção, provocando-me descaradamente.
— Victoria... — o meu tom gutural deixa nós dois alertas. — Hoje é lua
cheia, Raio de Sol, e eu não estou no meu estado normal.
Engulo em seco quando ela sorri, antes de rebolar mais uma vez.
— Foi incrível! — Seguro seu rosto, buscando os olhos que exalam uma
insegurança boba e sem sentido. — Um dos melhores momentos da minha vida.
Morde o lábio cheio e fecha a cara, quando eu não consigo segurar o riso.
Isso, claro, a deixa irritada e ela se levanta, antes de pegar a bota de salto alto e
levar até o banquinho da bateria idiota no canto e se sentar ali, começando a se
preparar para sair.
Infelizmente, para ela, vai ter exatamente o que pediu, porque não há a
menor chance de eu deixá-la sair daqui desse jeito.
Em três passadas, bato a porta que ela acabara de abrir e, com a outra mão,
envolvo a sua cintura, pressionando seu corpo contra a madeira firme. Inclino a
minha cabeça e afundo o rosto na lateral do seu pescoço, inspirando o perfume
floral e adocicado da minha garota. Minha.
Vicky não reclama, nem mesmo quando, após descer a porcaria da calça
justa e preta que veste, deixando-a apenas com o cropped rosa pink, que mostra
mais do que deveria, uma das minhas garras escuras corta a lateral de renda da sua
lingerie úmida, antes que minha mão encontre suas dobras encharcadas, abrindo-a
para mim, e sendo recompensado pelo gemido estrangulado que deixa sua
garganta, ao mesmo tempo em que sua cabeça pende em meu ombro quando eu a
penetro de uma só vez.
— Minha. — Travo o maxilar e agarro suas coxas com mais força, quando
tiro meu pau de seu interior e arremeto mais uma vez, tocando-a até o fundo
conforme urro com a sensação inacreditavelmente boa, sentindo sua boceta se
apertar ao meu redor, em espasmos, enquanto deslizo para dentro e para fora,
enlouquecendo a nós dois.
E, então, é demais para mim. Assim que a sensação cruza o meu corpo,
retiro-me dela, gozando forte e intenso em minha mão e na pele macia da sua
barriga, sentindo a essência típica do vínculo indissolúvel da Reivindicação se
espalhar pelo espaço apertado. Não há como voltar atrás. Não mais. Agarro forte o
seu corpo, mantendo-a colada em mim, enquanto respiramos aos arquejos e o
cheiro do que acaba de acontecer se espalha por todo o cômodo pequeno,
denunciando a minha ruína.
— Você ainda será minha, mesmo quando for de outro, Victoria Miller —
aviso a ela em um tom baixo e solene. — E eu serei seu, enquanto viver.
Estamos a caminho do carro, após mais uma das dolorosas sessões em que
Vicky ordena que eu me afaste, apenas para manter parte da minha sanidade, ainda
mais agora, depois que a bruxa velha parou de nos fornecer o elixir que mantinha
meu lobo sob controle, quando vejo uma cena que me faz parar no lugar.
— Aquele é o Ash? — Vicky para ao meu lado e seu tom demonstra que
está tão chocada quanto eu. — Com a Harper?
— Vai chover canivetes! — Olho para cima, enquanto Ash, que acaba de
nos ver bisbilhotando a cena inesperada, manda que eu tire Wolf, o cachorro mais
tranquilo do mundo, de vista.
Abro a porta dos fundos da casa e Wolf entra tranquilamente por ali, antes
que eu volte para perto do veículo. A garota loira olha para os dois e abre um
sorriso conspirador em minha direção, enquanto Liam Ashbourne, o capitão do
time, fala algo com a garota, ainda aninhada a ele.
— Não. Vá para casa, Jasper. Durma bem e nos vemos amanhã, ok? —
ordena, mas, então, sorri. — Eu realmente escolho você. Todos os dias.
— E isso é tudo o que importa — respondo e espero que ela suma atrás da
porta vermelha, para me debruçar sobre o volante e me preparar para lidar com o
vazio dolorido que virá, com toda certeza, depois dessa declaração.
— Como espera que eu consiga fazer alguma coisa lá, sabendo que está em
perigo? — Esfrego o rosto em um gesto frustrado, muito semelhante ao de Liam,
que também parece ter esgotado todos os seus argumentos inutilmente.
— E como espera que eu fique em casa, sabendo que está se arriscando por
mim? Será que é mesmo tão difícil de entender? Seu lobo teimoso!
Mack tenta conter uma gargalhada, mas o som que faz, ao prendê-la, é
ainda pior e mais escandaloso. Ria mesmo, seu filho da mãe.
— Ponto pra loirinha, seu lobo teimoso! — zomba, fazendo até mesmo o
idiota do Alpha rir do nosso infortúnio.
— Raio de Sol… — advirto, mas ela apenas beija o meu rosto e segue a
prima para o segundo andar.
Impossíveis!
Dias de glória, eu disse. Fora toda a surpresa de ter nossas garotas na frente
de uma possível batalha, finalmente descobrimos que a porcaria do bando de
lobos brancos tem uma agenda bem estabelecida e, para o meu profundo
descontentamento, quem trouxe a merda da informação, como o maldito príncipe
que é, foi Chad Babaca II, que, agora, parece estar jogando ao nosso lado. Se é
uma merda, para mim, admitir isso, para Ash deve ser ainda pior, já que, no fim
das contas, ele e Harper Lawson, também conhecida como Intrépida Lawson, e
vítima das intenções nada inocentes do maldito fura-olho do caralho, formaram
um casal inseparável.
Tudo bem, ainda temos que lidar com os malditos invasores e toda a merda
que eles trouxeram para a cidade, que ainda corre perigo, já que não conseguimos
encontrar o maldito líder. Mas isso é apenas uma questão de tempo. O que importa
agora, é que, no fim das contas, os Acordos finalmente serão revistos — não é
muito justo pagar por crimes que não cometemos. E Liam, finalmente, ter
assumido seu papel na alcateia fez toda a diferença, é claro. Engraçado que o
sujeito, todo durão e cético, acabou se rendendo exatamente da forma como me
criticou, tanto tempos antes, mas meu irmão não está preparado ainda para essa
conversa.
O que não quer dizer que ela não irá acontecer, em algum momento.
— É a mim que eles querem — Ash avisa, o indicador fixo no ponto onde
fica a velha igreja. — É por isso que marcaram essa merda de reunião. A porra de
uma armadilha. — Um sorriso malicioso ergue seus lábios. — Infelizmente, para
eles, estamos um passo à frente.
Calado observo a tudo, com uma Victoria focada em meu colo, enquanto
participamos da reunião, e me pego sorrindo ao constatar que, apesar de tudo, nós
acabamos formando a porra de um time — nossas garotas inclusas — contra os
malditos lobos brancos que quiseram se arriscar e invadir a cidade errada.
Eles e seus comparsas não perdem por esperar e, se essa noite, pensam que
vão nos pegar em uma merda de armadilha, terão uma grande surpresa. Já que
Silent Grove, agora, tem um Alpha e um clã poderoso e imbatível.
— Explodiram a velha igreja — Eli avisa. — Mack e Ash estão bem. Jas?
Vicky.
Uivo pedindo por ajuda, enquanto tento abrir os olhos, mas não consigo
mais do que uma fenda pequena, sob o fluxo intenso de sangue que sai de um
possível corte em minha cabeça, e que lateja fortemente, assim como meu tronco,
como um todo. Em algum ponto, minha pata dianteira esquerda queima e eu urro
alto devido à pressão da mandíbula forte contra a minha carne. Minha consciência
está oscilando perigosamente, antes que tente mais uma vez me comunicar,
ordenando que alguém consiga resgatá-la.
— Salvem-na.
— Você é uma vergonha — a voz fria gargalha, antes que ela arfe para,
então, gritar de dor. — Amante de cachorros.
Ouço uma pancada seca e um grunhido de dor, antes que o corpo de Vicky
caia sobre mim, seus olhos estão fechados e há um corte em sua testa, que sangra
profusamente. Não. Rosno, colérico, usando a raiva e meus instintos de
sobrevivência para conseguir me levantar e rosnar alto, mais um vez, prestes a
enfrentar os filhos da mãe que me atacam sem descanso, mas acabo cedendo,
quando um deles salta contra mim, esmagando minha pata traseira, enquanto as
garras do outro rasgam a pele do meu abdômen.
Pela visão periférica, vejo os filhos da puta carregando a minha garota,
desacordada, para longe.
Não.
Eu falhei, porra.
— Vicky — aviso, com os olhos fechados e a dor se tornando cada vez mais
intensa. — Eles... a levaram. Minha Vicky.
A dor lancinante.
O desespero.
O vazio.
Vicky.
Meu corpo treme — raiva, ira, dor, vazio e desespero — não consigo me
manter parado. Os olhos, cegos para tudo o que não seja a imagem terrível dos
cabelos loiros presos em uma trança, sacolejando sobre o ombro de um maldito
filho da puta, enquanto a levava para longe.
Não sei quanto tempo se passou, até que, finalmente, abro os olhos.
Ainda estou na sala, constato, olhando para o teto de madeira. Movo os
dedos e então, ergo a mão diante do rosto, observando o acesso intravenoso que
sai dali.
— Você está bem — a voz calma da Sra. Griff, uma das enfermeiras do
clã, avisa.
A mulher está sentada no sofá, lendo uma revista enquanto toma chá — ao
mesmo tempo em que uma batalha acontece do lado de fora. Porra.
Vicky.
— Meu filhote! — Minha mãe alisa meu cabelo, enquanto meu pai me
mantém deitado. — Nós teríamos vindo antes... Você e Liam deveriam ter pedido
ajuda!
Claro que ela ficaria com raiva, mas, então, se orgulharia de nós — Era
sempre assim, quando se tratava de Emma Hill. Ao contrário do marido, que me
encara com seus olhos firmes e escuros, como os meus, o cenho franzido pela
preocupação.
Meu pai estende a mão e desliza sobre a dela, entrelaçando seus dedos,
enquanto mantém os olhos fixos nos meus. Compreensão.
Eu vou tentar.
Minha cabeça gira quando abro os olhos e a encontro ali. O rosto inchado
pelo choro, enquanto mantém um pedaço de tecido pressionado sobre a minha
testa e arregala os olhos quando me vê acordar. Elinor Miller nega, em um gesto
rápido, mas não consigo fechar os olhos, antes que eu o veja.
O homem que conheci apenas por fotos, antes de vê-lo na floresta essa
noite, encara-me com os olhos muito claros, injetados de ódio.
Ele cutuca a lateral do meu corpo com o pé, como se tivesse nojo. A
porcaria de um genitor, que teve a coragem de abandonar a mulher e a filha, sem
qualquer explicação, tem a ousadia de nos acusar de alguma coisa? Engulo a
resposta que faz minha língua coçar e espero. Observando a arma brilhando em
sua mão.
— Jack! Não! — minha mãe agarra suas pernas, implorando. — Por favor,
não. Ela é nossa filha! Eu devolvo a você, tudo! Não é, Vicky? Nós devolvemos!
— Mas é claro que não ficarão com o meu dinheiro — gargalha e, quando
se livra da minha mãe, noto que puxa de uma das pernas. — Contudo, não é
apenas sobre isso, Elinor. Seu pai destruiu a minha vida, quando me acertou,
naquela noite.
Ele nega e desvia o olhar para a janela, como se tivesse ouvido algo, mas
logo se volta novamente para a minha mãe, dando-me tempo para continuar
tentando libertar as minhas mãos.
— Não importa — responde. — Meu bisavô também era um idiota e
acabou se envolvendo com uma loba, não foi dificil achar um Alpha covarde para
estabilizar a minha transformação — estala a língua, desgostoso. — Uma pena que
não tenha vivido o bastante para servir mais à nossa causa.
Um ruído do lado de fora chama nossa atenção e Jack Miller não termina o
que dizia. Suas narinas se expandem, antes que seus olhos se arregalem e um
rosnado alto e furioso faça as paredes do lugar estremecerem. Tudo acontece
rápido demais.
Meu coração acelera e, sob a mira do homem que seria meu pai, eu vejo o
exato momento em que o lobo gigantesco de pelos acastanhados entra,
vagarosamente, no cômodo empoeirado. Imponente e perigoso, ele marcha —
mancando um pouco, percebo — até nós. Os olhos castanhos fixos nos meus,
antes de correrem pela minha mãe e, só então, focaram no homem, cuja mão treme
violentamente contra a minha cabeça.
Suas mãos tremem, mas, logo, estou com as mãos livres e me deito no
chão, buscando a arma, enquanto os dois lobos duelam no espaço apertado.
Destravo a arma prateada e, junto à minha mãe, ladeio a parede que leva à porta
do cômodo que, um dia, já foi um quarto e, assim que chegamos à uma área
“segura”, volto correndo ao quarto para ajudar Jasper e acabar de uma vez com
esse circo de horrores, quando sinto um baque no ombro e uma dor intensa,
seguida de ardor violento, quando a fera branca se lança sobre mim, rosnando.
Não demora muito para que o outro lobo apareça, guinchando de ódio,
mordendo próximo ao pescoço da criatura, ele lança-a para o outro lado das ruínas
da mansão antiga, para onde nos trouxeram. Acompanhamos a luta entre as duas
criaturas enormes e furiosas e seguimos seu rastro de destruição até um salão
lotado de lobos onde Harper, Ash e os outros parecem enfrentar uma nova batalha.
Mas não consigo pensar em nada mais, além de proteger Jasper e encerrar
a loucura na qual a minha vida se transformou nos últimos tempos. Aponto a arma
para o maldito lobo, tentando encontrar um ângulo mais seguro, quando o
estampido de outra arma cruza o ar e o lobo branco cai, imóvel, no chão. Alguém
grita por ele, mas não consigo desviar os olhos do lobo que tenta sair de baixo da
carcaça do primeiro. Jasper.
— Nós vamos ficar bem, não é? — pergunto baixinho, nada mais do que
um sussurro.
Seres míticos, saídos das profundezas do inferno, vivendo entre nós, como
se fizessem parte desse mundo — eu os vi. E tempos depois, matei alguns deles,
observando-os se transmutar de volta a uma forma que não os pertencia. Pelo
menos, não mais. Embora ninguém acreditasse, eu sei bem o que vi e o que vivi
desde aquele encontro terrível. E se eu soubesse do que aconteceria, logo depois,
não teria hesitado quando tive uma daquelas malditas feras sob a minha mira.
Um a um.
Termino de prender o cabelo no alto da cabeça, em um rabo de cavalo
firme e ajeito o laçarote vermelho no topo da cabeça, antes de pegar meu casaco
claro e guardá-lo na mochila, já dentro do armário, no vestiário feminino. Fecho a
porta de metal e olho rapidamente em direção à Harper, que também enfia a
mochila lotada dentro do quadrado metálico, antes de erguer os olhos e sorrir para
mim.
Olho para a mochila, com mais que uma troca de roupa, jogada ali dentro e
rio de mim mesma. A quem estou querendo enganar?
Apesar disso, ela tem melhorado mais a cada dia. Pelo menos, já faz um
tempo desde que pisou no pé de alguém durante uma apresentação. Claro que
ninguém diz nada sobre isso — pelo menos, não mais — afinal, ela é a namorada
do temido capitão dos Warrior Wolves e a sua cara de mau funciona cem por cento
das vezes.
— Algo assim — Jasper me beija mais uma vez, eu desejo boa sorte e ele
corre até o campo, tomando seu lugar ao lado de Ash, antes que o jogo comece. —
Torça por mim, Raio de Sol.
À medida que o jogo vai passando e nosso time arrasa em quase todas as
jogadas, pego-me divagando, algo que tem acontecido muito, principalmente,
quando estamos juntos, como agora: Harper quase erra a coreografia no solo, o
que faz a garota ao seu lado se distanciar um pouco mais. Ainda é difícil de
acreditar que tudo deu certo. Às vezes, meus pesadelos à noite são realistas e
desesperadores — fragmentos de lembranças daquela noite terrível, que tinha
potencial para destruir tudo.
— Está tudo bem, Jas. — Afago o seu rosto. — Você ainda tem um jogo
para ganhar, não é?
Incerto, ele anui, mas seus olhos ainda estão focados em mim, enquanto ele
caminha de costas, afastando-se de forma lenta. Terrivelmente superprotetor.
— Hill! — o treinador chama e, mais uma vez, ele volta a prestar atenção
no jogo.
Toda a história dos lobos brancos, meu pai envolvido com aquele bando
estranho e a sua busca por uma vingança fútil e mesquinha, nos deixou um tanto
traumatizados, embora o bando inimigo tenha sido extinto e a paz tenha reinado na
cidade, desde então.
Esfrego o ombro mais uma vez, antes de voltar à coreografia com o resto
da equipe, mantendo o sorriso no rosto e tentando ao máximo focar em nosso
futuro, algo que jamais imaginaríamos ser possível.
Não há escapatória.
Olho ao redor e não há nada além das árvores com seus troncos
esverdeados cobertos pelo musgo. Ergo os olhos para o céu, tentando me situar,
mas a neblina espessa cobre tudo e, quando ouço o som de galhos se partindo e a
respiração acelerada e pesada, indicando que a fera se aproxima: eu corro.
Estou cercada.
Um uivo de alerta ecoa pela floresta e faz com que os morcegos e algumas
aves saiam de seus esconderijos e voem para longe. Protegendo-se da fera
ameaçadora que se aproxima de mim.
Não.
— Estou aqui.
— Vicky? Amor? — Jasper me aperta mais forte contra o seu peito, suas
mãos acariciando de leve as minhas costas, em uma tentativa de me acalmar. —
Está tudo bem agora. Estamos seguros.
Só então, percebo que estou gritando e o quanto meu corpo treme. Droga.
Mais um pesadelo.
— Acabou, Raio de Sol — afirma mais uma vez, beijando minha testa,
antes que eu volte a afundar o rosto em seu peito nu, já que ele veste apenas uma
calça de moletom. — Estamos bem agora. O pior já passou.
— Não, não se desculpe. — Beija mais uma vez o topo da minha cabeça.
— Nós passamos por muita coisa. Estamos juntos nessa, certo?
— Meu Deus, será que vocês podem parar com isso? — Kat, que está
sentada do lado oposto da mesa, faz uma careta — As vidas solteiras importam!
Tudo bem. É fato que, desde que tornamos nosso namoro oficial, Jasper se
tornou quase a minha sombra. Exceto nos horários em que está resolvendo alguma
coisa do clã e em horário de aula, estamos juntos e, normalmente, não
conseguimos tirar as mãos um do outro.
Depois que minha amiga decidiu terminar o rolo com Eli e Mack, os três
têm distribuído farpas entre si em todos os momentos juntos — exatamente como
acaba de acontecer, durante nosso almoço no refeitório da Universidade. Ash e
Harper desapareceram, como tem sido costume deles, desde toda aquela confusão
com os lobos brancos.
Nem um pouco.
Tudo, aos poucos, vai se ajeitando, após o caos daquela maldita noite e,
tendo assumido minha função de segundo no comando, minhas responsabilidades
aumentaram de forma significativa. O que indica que não vejo minha namorada há
pelo menos dois dias inteiros, e meu lobo já começa a dar sinais de impaciência
dentro de mim.
Meu coração acelera, assim que paro a moto diante do sobrado amarelo,
sob o olhar atento de Olga Holloway, que acena para mim, abrindo um sorriso
genuinamente doce, antes de franzir a testa enrugada e seu semblante se fechar em
uma expressão preocupada. Droga.
Não tenho tempo de ir até ela, porém. Porque, logo, a porta vermelha se
abre e a garota loira — e linda — corre em minha direção, lançando-se nos meus
braços, antes de beijar a minha boca com vontade, em plena luz do dia, para
qualquer um ver. Minha. Impossível não me render. Tudo o mais, pode esperar.
Que venham.
— Tudo bem — responde, antes que eu a beije com força, fazendo-a sentir
exatamente o que faz comigo.
— Não me olhe assim — rosno baixo, observando a pele dos seus braços
se arrepiar. — Sua mãe está lá embaixo, Raio de Sol.
— Vou calçar um tênis. — Como se não tivesse feito o meu sangue ferver,
segundos antes, com um sorriso inocente, ela se levanta e vai até o guarda-roupa
pegar o maldito tênis, e saio do quarto, mantendo a respiração curta para evitar
que eu volte lá para dentro e a jogue naquela cama, enfiando-me entre suas pernas
longas, fazendo exatamente o que meu corpo pede.
Em menos de cinco minutos, ela sai porta afora, vestindo a mesma roupa
de antes — calça jeans clara e uma blusa de alcinhas rosa claro, que realça seu
colo bonito — usando uma jaqueta preta e carregando sua bolsa cruzada sobre o
peito, o cabelo arrumado em um rabo de cavalo e tênis. Linda para um caralho! E
minha.
— Você precisa parar com isso. — Bate no meu peito, ao passar por mim
com o rosto corado.
— O que eu fiz, dessa vez? — Seguro seu braço, virando-a e trazendo seu
corpo para o meu.
— Me encarando, como se eu fosse algo extraordinário... — beijo sua
boca, cortando o assunto. Bem, até ela resmungar contra os meus lábios — Estou
usando calça jeans e camiseta, pelo amor de Deus!
Deitado de lado em minha cama, grunho baixo e me encolho, cada vez que
os dedos frios de Vicky tocam a lateral do meu corpo para passar a maldita
pomada preparada pela sua vizinha. Olga Holloway precisa, urgentemente, de uma
consultoria sobre o aroma de seus medicamentos naturais. Puta que pariu, que
emplastro fedido.
E, então, ela curva o corpo sobre o meu, apoiando o joelho na cama e deixa
um beijo na lateral do meu rosto. Claro que isso não bastaria e, então, prendo-a
sob o meu corpo e beijo sua boca com determinação, até que ela cede, enfiando os
dedos sujos com a pomada podre no meu cabelo, enquanto corresponde à minha
investida.
Infelizmente, quando desliza uma das mãos pelos meus ombros e acaba
tocando na lateral fodida do meu corpo, não consigo reprimir um gemido de dor,
que corta totalmente o clima.
— Que tal um romance? — Estreito os olhos para o idiota que, por algum
motivo, ainda está aqui. — Um filme, Jasper. Podemos chamar a Intrépida
Lawson.
— Talvez seja melhor assim, Jas... — Vicky solta a minha mão e passa
para o lado do velho babão. — Além disso, faz um bom tempo que não vejo
Clarice.
Ela aceita o gesto galante do cinquentão, que lhe oferece o braço, e os dois
caminham juntos em direção à uma das casas alguns metros à frente, sendo logo
recebida pelos braços fortes de Clarice McGraff, que a saúda com a mesma alegria
de sempre, enquanto sigo até a casa maior, onde os recém-chegados são
acomodados.
— Bem, além de ser o running back dos Warrior Wolves — ele arregala os
olhos, surpreso — estou no fim do curso de Direito em Emberwood — o homem
abre um sorriso amplo enquanto me parabeniza, mas sua empolgação se apaga aos
poucos, à medida que o som melodioso da voz de Vicky e da Sra. McGraff nos
alcançam. — Assim como a minha namorada, Victoria Miller.
Assim que ouve o seu nome, Vicky ergue os olhos e caminha em minha
direção, ao lado de uma atenta Sra. McGraff, que a acompanha de perto. Entrelaço
nossos dedos, enquanto a esposa do soturno Tim, me abraça e beija meu rosto
algumas vezes, antes de avisar que irá à cozinha pegar uma de suas compotas para
a minha garota.
— Vicky, estes são o Sr. e a Sra. Darkfur e seus filhos, Thomas, Justin e…
Selena — apresento-os e noto o receio do homem para com a garota ao meu lado,
o que me faz dar um passo à frente instintivamente. — Ela deve se matricular em
Emberwood nos próximos dias.
— Perdoe-me, Raio de Sol. — Trago sua mão até a minha boca, beijando-
a. — Alguns lobos ainda são adeptos às tradições antigas. — Rio comigo mesmo.
— Nosso clã era um dos progressistas — e quando ela estreita os olhos, completo
— menos quando se tratava das nobres famílias fundadoras, é claro. Mas isso é
passado.
Avalio meu rosto pálido e cansado diante do espelho, após mais uma noite
de pesadelos e gritos. Nem mesmo as gotinhas amargas da Sra. Holloway têm
conseguido manter os lobos brancos ferozes — ou o lobo branco e aterrorizante —
longe dos meus pesadelos. Ainda que tenham desaparecido da face da Terra, eles
insistem em me atormentar, mesmo depois de tudo.
Claro que cogitei terapia, mas como explicar a alguém, o que aconteceu
comigo, sem ir parar em uma clínica de recuperação? Rio comigo mesma,
relembrando da minha conversa com Harper, quando cogitamos essa
possibilidade. Ainda é um pouco inacreditável, até para mim, como alguém de
fora poderia compreender o que aconteceu?
Quando a forte pontada de dor atravessa o meu ombro, mais uma vez,
agarro as extremidades da pia e travo a mandíbula, tentando não gritar. No
espelho, apenas uma cicatriz fina indica que o ferimento ali existiu. Droga!
Descanso a cabeça contra o azulejo gelado e respiro devagar, tentando me
recuperar de mais um episódio estranho.
— Acho que cochilei por alguns segundos — minto e sei que fui bem
sucedida quando ouço sua gargalhada. — Se é que isso seria possível.
— Jasper não tem tantas tatuagens e nem aquela cara de quem seria capaz
de decepar alguém, só porque pode, mas um macho rendido, também tem seu
apelo. — Sorrio. — Seja sincera, amiga! Aquele jogador tem uma pegada forte,
não tem?
— Não vamos falar sobre isso. — Minha amiga morde o canto da boca,
um sinal claro de quando está ansiosa.
— Kat... — Ela ergue a mão e foca em enfiar tudo seu dentro da mochila
de qualquer jeito.
— Não deu certo — responde, finalmente. — Eu não quero raízes, Vicky.
Meu sonho ainda é ir embora daqui e, me envolver de verdade com aqueles dois,
não é uma boa ideia.
Meu.
Só nós dois.
“Falta pouco”
Abro os olhos, minhas mãos tateando o ar, com o grito de horror ainda
preso na garganta. Saio das cobertas e me aproximo da janela do quarto,
observando a rua tranquila e sem qualquer sinal do maldito perseguidor, ou de
algum dos lobos da cidade.
Antes de voltar para a cama, encaro a floresta enevoada mais uma vez e a
dor pungente em meu ombro se agrava, ardendo ainda mais forte do que nas outras
vezes, como se algo estivesse prestes a rasgar a pele, fazendo seu próprio caminho
para fora.
Acabou, Vicky.
Na manhã seguinte, sentindo-me uma boba, espero minha mãe sair para o
trabalho e corro até a casa da velha senhora, olhando para os lados de forma
suspeita, como se estivesse prestes a fazer algo de errado. Bato na porta algumas
vezes, antes que uma garota de cabelos escuros e olhos muito verdes me atenda,
fico um pouco confusa, mas, logo, Olga Holloway entra na sala e sorri para mim.
— Você demorou mais tempo do que eu imaginava. — Ela sorri, assim
com a garota à minha frente, que dá um passo para o lado, deixando a entrada
livre. — Essa é Victoria Miller, a garota de quem falei antes, Mari — a mulher
comenta — Victoria Miller, essa é a minha neta, que passará um tempo comigo.
— Tem a minha palavra — prometo, mas ela volta a olhar para a xícara e
me encara, esperando que eu tome o resto do chá quente, sem um gosto definido.
Apenas algumas folhas mergulhadas em água fervente.
Seus olhos claros e leitosos encontram os com meus, quando ela agarra
uma de minhas mãos que descansava sobre a mesa, no que parece ser uma
tentativa de acalento.
— Não sei se sou boa jogadora. — Ela pressiona sua palma contra a
minha.
Dessa vez, não grito. Apenas seguro com força o braço esquerdo, senti-o
latejar de dor, enquanto meu ombro arde como se alguém houvesse ateado fogo
ali. Quando a dor passa, finalmente, rolo entre os lençóis da minha cama,
buscando coragem para enfrentar mais um dia nessa TPM terrível, que só vem
piorando ao longo dos dias.
— Ela está de volta! — grita para a cozinha vazia, já que minha mãe deve
ter saído bem cedo, nessa manhã. — Toquem os sinos! É um milagre! Meus
incensos funcionam e arrasam muito!
Desde que chegou aqui, minha prima se tornou a louca dos incensos.
Talvez, seja algo que aprendeu com tia Marianne. Vai saber. Sirvo-me de um
pouco de café e mal me sentei à mesa, quando ela bate na superfície de madeira,
como se tivesse compreendido algo importantíssimo.
Saio da aula antes que ela termine e corro em direção ao banheiro, para
lavar o rosto e me preparar para o jogo e a tal festa. Minha única alegria é saber
que as noites com Jasper são mais tranquilas e eu durmo melhor. Ou, pelo menos,
é como costumava ser.
— Kat, avise ao professor que Vicky não estava se sentindo bem e achou
melhor ir para casa — o tom de sua voz deixa claro que não permitirá discussões.
— Jas, não... Tem o jogo e o squad precisa de mim e... — murmuro contra
o seu peito, sem forças para sair dali, sentindo-me absurdamente cansada de
repente.
— Cara, você não parece bem — Eli dispara, do sofá, quando passo por ele
com a bandeja que preparei para a dorminhoca, a caminho da cozinha. — Vicky
está se sentindo melhor?
— Kat acha que está entre nós. — Definitivamente, alguém cismou que eu
sou a porra de um especialista em relacionamentos. Até bem pouco tempo, tudo o
que eu sabia fazer era sofrer. — Mack e eu.
Como se eu não soubesse.
Vicky se aproxima, e puxando-a pela mão, beijo seu punho, antes de inalar
seu cheiro e trazê-la para mais perto de mim, acariciando os cabelos molhados e
enlaçando-os entre os meus dedos.
Vicky desliza a boca pela lateral do meu rosto, seus dentes arranhando a
minha pele, antes de espalhar alguns beijos em meu pescoço, enquanto aperto
firme a sua cintura e fecho os olhos, desfrutando da eletricidade do seu toque.
Quando ela fricciona o corpo no meu, não consigo resistir mais e beijo sua boca
com cuidado. Aprofundando o contato de forma lenta, sentindo seu gosto
misturado ao sabor mentolado da pasta de dente, explodindo em meu paladar e me
deixando completamente alucinado por mais.
Mordo e chupo a carne macia, antes de erguer o rosto e fisgar seu lábio
inferior entre os meus dentes, em uma provocação clara, antes de subir minha mão
direita por seus braços, encaixando-a em seu pescoço e fazendo-a engasgar
levemente pela surpresa.
— Você passou mal essa tarde, Raio de Sol... — murmuro contra a sua
boca, quase uma súplica.
— E decidiu vir até ao quarto dele? — Vicky debocha, e então olha para
mim. — Será que ele perdeu o seu telefone, Jasper?
— O que ela fazia aqui? — Ele aponta para o local onde ela desapareceu.
— Ash tá dando chilique lá embaixo e Chad está tentando resolver a merda toda,
mas não teve muito sucesso.
— Cara, você é rápido, mas nem tanto — Mack comenta do outro lado. —
Não aceite menos do que merece, Vicky!
Parado à porta, sorrio ao ver Harper Moon, a tal Lua dele, aproximando-se
de onde estamos. E pelo modo como ele puxa o ar, Ash acaba de descobrir isso e
parece mais do que feliz, nesse momento.
Não olho para trás, apenas acelero minha moto para longe dali, a caminho
de casa.
Mas tudo o que vejo ao abrir a porta é Victoria, seus cabelos espalhados
pelas travesseiros, enquanto observa a lua gigante através da janela aberta, como
se estivesse hipnotizada com a visão.
Tranco a porta atrás de mim, sem desviar meus olhos da cena. Desde os
cabelos loiros caindo em suas costas estreitas, os seios empinados sob o tecido
fino da camisola branca, que reflete o brilho do luar, fazendo sua pele clara e
macia reluzir.
Porra.
— Eu devo ter feito algo de muito bom nesta vida, para merecer você,
Raio de Sol — murmuro em seu ouvido, ao mesmo tempo que deslizo a mão entre
suas pernas, sentindo-a tão molhada contra os meus dedos, que não hesito em
roçar sua entrada com eles, ouvindo-a gemer baixinho, enquanto mordo o lóbulo
da sua orelha e tomo a sua boca na minha.
Perdição.
Minha escolhida.
— E isso é tudo o que importa — repetiria essas palavras por todos os dias
da minha vida.
Há algo sobre esperar o momento certo, que os que se dizem mais
corajosos não entendem. Não é sobre covardia, como gostam de apontar, mas
sobre a hora certa de agir. Em silêncio, eu planejei e agi, traçando o caminho que
me levaria exatamente aonde eu queria chegar.
Após a queda dos malditos lobos brancos, esperei. Lapidando meus planos
e, no ódio mútuo e na ganância alheia, forjei uma aliança inesperada, mas bastante
promissora.
— Eu realmente espero que esse vestido faça o trabalho dele. — Pisca para
mim, ajeitando meu cabelo atrás da orelha. — Você parece cansada, Vic. Tá tudo
bem?
— Acho que sim... — Harper segura firme a minha mão e nos encaramos
no espelho. Meu vestido preto, contrastando com meus fios loiros e o corte mais
rodado da saia me deixando com um aspecto romântico e elegante, enquanto ela
encarna a versão Femme fatale da Chapeuzinho Vermelho. Uma brincadeira
constante entre ela e o namorado. E Mack, é claro.
— Nos vemos daqui a pouco, Raio de Sol. — Jasper pisca para mim e se
afasta, junto aos outros.
— Sinto muito? — sorrio, e ela beija meu rosto, antes de sair porta afora,
reclamando.
Sem ter muito o que fazer, ligo a televisão e me sento na cama, zapeando
pelos canais, enquanto tento distrair a minha mente ansiosa e espero meu
namorado resolver, seja lá o que for dessa vez, e vir me buscar, para enfrentar os
novos lobos do clã.
No fim das contas, o tal evento nem foi tão ruim quanto imaginávamos.
Possivelmente, por causa do Alpha, agarrado à sua noiva o tempo todo, deixando
muito claro a todos, que qualquer comentário maldoso sobre o envolvimento com
outsiders — forma como alguns lobos chamam a quem não corre pela floresta
sobre as quatro patas — não seria tolerado.
No final da noite, uma Sra. McGraff um pouco bêbada, chegou até mesmo
a nos cobrar por lobinhos, para tomar conta, o que fez Jasper se engasgar e Ash
arregalar os olhos e recuar um passo para longe de Harper. Homens, às vezes, são
tão imaturos.
— Sexo seguro sempre foi meu lema. — Fecho a cara e ele bate o
indicador na ponta do meu nariz, sorrindo. — Até você aparecer e me fazer perder
a cabeça completamente. — E então, coça a garganta, um tanto desconfortável e
parecendo meio ansioso — Sobre filhos... Você já pensou a respeito?
Sorrio ao ver sua pele bronzeada corar levemente, enquanto seus olhos me
encaram com expectativa.
Por enquanto.
No banheiro de casa, encaro no espelho as bolsas arroxeadas embaixo dos
olhos e suspiro cansada. Mais uma noite recheada de pesadelos, onde o maldito
lobo branco persegue a mim na floresta. Meu interior se agita instantaneamente, a
sensação estranha de que algo está fora do lugar, toma conta de mim enquanto
meu ombro lateja levemente.
Droga.
Assim que deixo o banheiro, encontro Harper em minha cama, com sua
bolsa jogada ao seu lado, enquanto digita, freneticamente, algo em seu celular. A
fumaça doce dos incensos em seu quarto, tomando conta de tudo no segundo
andar da casa, fazendo meu estômago revirar de forma desagradável.
— Tudo bem. — Os braços magros, mas firmes, logo estão ao meu redor.
— Parece ser uma crise de pânico. Está tudo bem, Vicky. Respire comigo. Inspire.
Respire. — Tento imitá-la, sentindo o corpo todo tremer descontrolado. — Isso.
Inspire. Respire.
— Com toda certeza. Bom jogo! — ele se despede com um beijo, antes de
correr em direção ao time.
Deixo estar. Mas vou pesquisar mais a fundo sobre eles. Há algo de errado
ali. Eu sei.
Quando o lobo uiva mais uma vez, muito mais perto do que na anterior, a
fera de pelagem branca foge. As patas queimando, pelo esforço que faz para se
distanciar o máximo possível dali, em direção à neblina espessa, camuflando-se
ali por um tempo, antes de voltar para a segurança de seu esconderijo, enquanto
espera pelo momento certo.
“A hora se aproxima.”
Frio.
Sinto meu corpo rígido estremecer de frio, mesmo sob a água quente do
chuveiro. A falta de um sono de qualidade vem cobrando seu preço sobre a minha
saúde e a dor de cabeça, essa manhã, é prova disso. Como se já não bastasse a
TPM terrível e interminável em que me encontro e a maldita dor no ombro no
local em que a ferida nem existe mais.
Assim espero.
Sair dos braços da minha garota, para um passeio com quatro marmanjos
peludos pela floresta, não é nada animador e ainda me traz uma merda de déjà vu
dos infernos. Talvez, seja por isso que me mantenho em um silêncio indignado,
ignorando toda a conversa idiota que Mack e o Sr. McGraff começaram a dois
malditos quilômetros atrás. Ash, também em silêncio ao meu lado, segue tenso,
observando tudo ao redor, enquanto seguimos o grande lobo cinzento que estava
de guarda e encontrou a porcaria de um rastro na floresta.
Corro as pontas dos dedos pela copa úmida de uma árvore maior, mas tudo
o que consigo sentir ao longe é o cheiro de Vicky, que estava esparramada em meu
peito algumas horas atrás, enquanto assistíamos à “As Branquelas” mais uma vez.
Pelo menos, eu assistia, enquanto ela dormia tranquilamente, aconchegada a mim.
Seus olhos estão fixos nos meus — e espelham o mesmo brilho enfurecido
e preocupado.
O modo solene com que olha para o objeto, me faz temer que um olho
apareça ou que ele tente morder a mão de alguém, como naqueles filmes de terror,
mas quando seu indicador deixa uma gota de sangue sobre a página de papel
envelhecido, as letras cursivas e rebuscadas aparecem ali. Das esquisitices, a
menor.
A mulher para, seus olhos claros e opacos pensativos, enquanto focam algo
ao longe, provavelmente, pensando na possibilidade.
— Não creio que teriam sobrevivido por tanto tempo sem o sangue de um
alpha — pondera. — Mas, e se houvesse outra explicação? E se alguém tiver sido
transformado naquela noite, meses atrás?
— Sem novela pra mim também, Sra. Holloway. — Ela sorri e me puxa
para um abraço.
Anuo rapidamente e saio correndo atrás de Ash, que já está pronto para
sair. Conto rapidamente o que ela me disse e ele grunhe, tão puto quanto eu.
Por que é que as previsões dela nunca podem ser felizes? Uruca do cacete.
Com a rotina cada vez mais pesada, com os treinos que antecedem a final
contra os idiotas dos Kings da capital, e o retorno do rodízio de rondas na floresta,
por conta da invasão, naquela outra noite, quase não tive tempo de estar com
Vicky fora do horário de aula e dos nossos treinos.
— Está bem mesmo? — Acaricia a linha marcada das olheiras sob meus
olhos. — Você parece cansado.
— Porque estou. — Beijo-a mais uma vez. — Os treinos e as porcarias do
trabalho estão me matando. Fora a saudade de você.
— Eu faria qualquer coisa para te manter segura, Raio de Sol. Sabe disso,
não é? — Desço uma trilha de beijos molhados pelo seu pescoço e, quando suas
mãos agarram forte a minha nuca, sei que fui bem-sucedido em mudar o foco de
sua atenção.
De novo, não.
Rosno com força, em um aviso alto e claro de que vou encontrá-lo e ele
não perde por esperar.
De pé, próximo à porta, noto que um dos sentinelas espera que o Alpha se
acalme. Aproximo-me lentamente, e não preciso vê-lo para saber que está prestes
a arrancar os cabelos escuros de sua cabeça. Meu amigo nunca foi uma pessoa
muito calma e, infelizmente, essas não são boas notícias.
Assim que nos vemos sozinhos, conto rapidamente alguns detalhes sobre o
que aconteceu, enquanto tentamos criar algumas teorias malucas sobre o ataque
dessa noite. A chegada de muitas famílias ao clã pode ter dado a visibilidade que
tanto evitamos e nos tornou alvo de alguns idiotas intolerantes.
Concordo imediatamente.
— O que foi dessa vez? — Ele enxuga a testa brilhante de suor com o
maldito lenço de tecido. Covarde Imprestável.
Muito pouco.
Minhas pernas ardem pelo esforço, enquanto corro por entre as folhas
umedecidas pela chuva fina que cai por entre as árvores altas, estendo os braços
diante do corpo, sentindo as gotas geladas tocarem minha pele febril. Tudo ao
redor parece mais brilhante e intenso — desde as cores da floresta, até os aromas
ao redor.
De alguma forma, sei que estou sendo seguida e à medida que acelero a
minha corrida, sinto meu coração bater mais forte, insano, dentro do peito, que
sobe e desce com dificuldade pelo esforço e pela expectativa bizarra de que a fera
sanguinária, que cheira a pinheiros e lavanda, finalmente me alcance.
Quente.
Frio.
Desde que nos contaram sobre o tal rastro na floresta, Jasper e Ash se
tornaram ainda mais protetores, o que transformou a tarefa de se afastarem de nós,
ainda mais penosa. Minha prima chama de “esquisitice de lobo”, mas eu meio que
acho fofo. E um pouco sexy.
— Não me olhe assim, Victoria Miller — rosna, ainda de costas para mim.
— Não quando eu preciso sair.
— Meu Deus, Vicky — Jas se vira e engatinha até mim, até que seu corpo
esteja encaixado sobre o meu, seu nariz inspirando em meu pescoço. — Você
mente mal, Raio de Sol. E agora, vai me fazer sair desse quarto com o seu cheiro
impregnado em mim. — Deixa o corpo pesar sobre o meu. — Por favor, diz que
vai dormir comigo.
— Não posso. — Ele suspira chateado. — Prometi que voltaria para jantar
em casa. Amanhã?
Com mais um beijo rápido, Jasper se despede e sai do quarto, deixando seu
perfume flutuando por aqui.
— Não faço ideia — rapidamente, pego uma lanterna e a arma que Jasper
mantém guardada em seu armário e sorrio para a minha prima. — Mas pretendo
descobrir.
Nenhuma de nós teve uma experiência muito boa, após entrar ali, e é isso
que nos faz hesitar às margens sombrias do lugar.
Andamos por uns bons dez minutos, mas após um vislumbre rápido dos
cabelos castanhos da garota misteriosa, perdemos seu rastro, as árvores
começaram a se tornar mais espessas e o ambiente mais escuro. E perigoso.
— Tudo bem, vamos voltar — digo à minha prima, que avalia as árvores à
nossa frente. — Ainda não foi dessa vez.
— Mas isso não nos impede de contar à Liam o que vimos — seu tom é
sério. — Ninguém deveria entrar na floresta, essa foi a ordem, certo?
Harper arfa e então, grita. Alguém responde ao longe, mas não consigo
pensar. Um zumbido estranho e aterrorizante ecoa dentro da minha cabeça, quando
o mundo parece girar ao contrário e cambaleio no lugar, recuando à medida em
que o animal rosna de forma intimidante, aproximando-se de mim, colocando-se
entre minha prima e eu.
Próximo de mim, ouço Harper gritar o meu nome repetidas vezes, mas não
consigo encontrar a minha voz e o toque quente de suas mãos em minhas costas,
faz a minha pele e o meu sangue queimarem ainda mais, à medida que cambaleio
para trás com um rosnado feroz vindo da minha garganta, enquanto me afasto
ainda mais de seu toque.
Dor.
Ardor.
Desespero.
Livre, enfim.
Enquanto seguimos em uma porcaria de reunião chata e que, até agora, não
apresentou nenhuma solução para os nossos problemas mais urgentes, tento não
bocejar, mirando a paisagem da janela do antigo quarto de bagunça do chalé, que
acabou se transformando em uma espécie ouvidoria, onde Ash tem recebido os
colonos que acabam vindo procurá-lo na Colina.
Ash não parece muito melhor do que eu nesse quesito, já que esfrega os
olhos continuamente, enquanto repete as mesmas respostas, desde o início, porém,
quando um grito, vindo dos arredores da mansão, ecoa pelo espaço apertado,
seguido de rosnados fortes e selvagens e de um alerta claro de invasor, ele se
levanta imediatamente. Sua expressão entediada se transformando em pura fúria
em poucos segundos.
Harper.
Puxo o ar, tentando farejar minha namorada em meu quarto, onde a deixei
mais cedo esperando por mim, mas pelo desespero de sua prima, nos braços do
noivo, sei que não vou gostar nada do que ela tem a dizer. Um cheiro diferente,
como o que emanava do invasor naquela noite, rescende pelo lugar, indicando que
o maldito está por perto. Ele tem culhões, admito.
Minha mente entra em alerta total, enquanto procuro pelos fios loiros em
toda parte, mas tudo o que encontro são fragmentos do casaco que Vicky usava
sobre seu uniforme.
Porra, não.
Porra!
Não.
“Espere, irmão.”
Caralho!
—“Volte para Silent Grove, Selena.” — decreto e, sem relutar muito, ela se
vai.
Um gesto que pode ser genial, ou que pode me custar uns bons dias de dor.
Quem vai decidir o que será, é a loba branca — linda e feroz — à minha frente.
A grande loba rosna, mas não se afasta. Hesitante, ela dá alguns passos
incertos em minha direção, saindo do escuro e me permitindo realmente vê-la. Sob
a luz da lua, os pelos brilham, não totalmente brancos, mas com um fundo
dourado, assim como os cabelos da minha garota. Terrivelmente linda.
Tão frágil.
Victoria Miller segue sendo minha escolha. E isso é tudo o que importa.
Duas malditas horas tensas e Vicky ainda não demonstrou qualquer reação,
imersa em um sono pesado e agitado. As pequenas gotículas de suor brilham em
sua testa, enquanto ela parece delirar, revezando estágios de consciência perdida,
dentro de sua mente.
Enfiar-me debaixo da água morna, com minha namorada nos braços, não
foi problema para mim, mas toda a tensão da situação estava cobrando seu preço
sobre o meu corpo, esgotando-o. Meus olhos ardem, enquanto sigo observando-a o
tempo todo, à espera de que ela acorde e possamos resolver todo o quebra-cabeça
em torno de sua transformação surpresa.
— Duvido que haja mais do que uma linha fina, agora, Harper. — Esfrego
o rosto com a mão livre, sem desviar o olhar da garota sobre a cama. — Será que
eles ainda vão demorar?
— Não sei dizer, Jas. — Seus olhos consternados, fixos na garota loira. —
Deve ter sido assustador, para ela, não é?
Estou tão exausto e perdido em meus próprios pensamentos, que mal noto
a aproximação do grupo, até que estejam entrando no quarto. Eli, que se mantém
junto à porta, enquanto Liam, uma chorosa e preocupada Elinor Miller e Olga
Holloway entram no cômodo, que se torna apertado de repente.
Porra, Vicky! Por que é que não me falou sobre nada? Meu Deus!
— O que quer dizer com isso, Olga? — Harper é quem faz a pergunta,
entalada em minha garganta.
Ao meu lado, Ash encara as pontas dos tênis e eu fecho as mãos em punho
no moletom escuro da minha calça, tentando me manter sob controle.
Não!
Estou enlouquecendo.
Não.
— NÃO! — grito, empurrando seus ombros com força para longe de mim.
— Se afaste, Jasper! Eu... E-eu sou um monstro!
— Raio de Sol, respire fundo — pede com o tom calmo. — Está tudo bem.
Estamos em casa. Respire.
Imito os movimentos que ele faz, tentando acalmar meu corpo e, quando o
tremor passa, ele se aproxima mais.
Algumas horas atrás, meu quadro piorou um bocado e, junto à febre e à dor
muscular, uma espécie de tosse seca e estranha tem roubado meu fôlego em alguns
momentos, deixando a todos alarmados. Se eu dissesse que não estou preocupada,
estaria mentindo e, agora, encolhida sobre a cama, usando uma bermuda e uma
blusa de Jasper, com o rosto apoiado nos joelhos, encaro a bandeja de comida
intocada ao meu lado, para não ter que olhar para a dupla revoltada à minha frente.
— Você não pode estar falando sério! — Harper joga os braços para cima,
frustrada. — Vicky, sua vida tá em perigo! Essa febre que vai e volta é sinal de
uma infecção no seu corpo, e ainda tem a tosse...
Não aceitar a ajuda de Ash foi uma decisão razoável — Como poderia
pedi-lo para me ajudar, quando me transformei na imagem de seus piores
inimigos? Depois de tudo o que fizeram contra todos nós? É isso que Jasper,
Harper, minha mãe e o resto não entendem. De alguma forma tortuosa e irônica,
transformei-me no meu pior pesadelo.
— Posso ficar a sós com ela, por um momento? — é minha mãe, que
estava calada, assistindo a tudo em silêncio na poltrona ao lado da cama, quem
pede.
Com alguma resistência, até mesmo Jasper deixa o quarto, seu olhar
magoado, fixo em mim, enquanto se afasta, fechando a porta atrás de si ao passar,
deixando-me a sós com Elinor Miller, que coloca as mãos na cintura, como fazia
quando eu era criança e fazia alguma malcriação.
Seu gesto me faz rir, assim como a ilusão de ter a porta fechada, já que a
maioria ali conseguirá ouvir tudo o que falamos dentro dessas paredes, de
qualquer forma, mas isso não parece diminuir a tensão da enfermeira-chefe, que
segue me olhando com os lábios crispados.
— Mãe, não fale assim… — interfiro. — Como se fosse algo ruim ser um
deles — respondo, sentindo a indignação arder dentro de mim. — Como se fosse...
— É bom que aceite essa proposta, Vicky. — Jasper entra no quarto e para
ao lado do amigo. Sua expressão é tão séria quanto a dele. — Não vou ficar sem
você, entendeu? Não posso.
Embora eu não diga nada, meu silêncio parece ser o suficiente para a
comitiva, já que Ash inclina um pouco o corpo em direção à porta, chamando a
namorada que, claro, estava ali, a postos. Com ou sem audição sobrenatural, todos
estavam bem cientes de nossa conversa, aparentemente.
— Tenho que concordar com ele. — Eli joga o braço ao redor dos ombros
largos de Mack quando fecham a fileira ao lado dos outros dois. — Envelheci uns
cinco anos nessas últimas horas.
— Jas, eu vou morder a sua escolhida — Ash repete o que a idosa, que
veste uma roupa colorida de vermelho, amarelo e laranja, sob o casaco caramelo
disse, os olhos escuros focados no amigo. — Não vai funcionar se me atacar no
processo e eu tiver que me defender.
— Ele não vai — Harper para ao lado do namorado. — Porque estarei bem
aqui, na frente dele.
— Posso lidar com isso — Liam garante, segurando firme a minha mão em
sua palma enorme, enquanto meu namorado, sentado ao meu lado na cama,
ampara meu corpo enfraquecido pela transformação. — Vicky?
— Tu-tudo bem — gaguejo, mordendo o canto interno da boca,
preparando-me para o que vem a seguir. — Jas?
— Desde que fique bem, nada mais importa — meu namorado garante,
estreitando o braço que envolve a minha cintura.
Ainda que eu ache que consiga ficar de pé sem problemas, entendo o que
minha prima está fazendo e me apoio mais em Jasper que, imediatamente, se
coloca às minhas costas, encaixando meu corpo no seu e me envolvendo em seu
calor confortável, enquanto a Sra. Holloway me entrega um cálice com um líquido
escuro e amargo, obrigando-me a beber tudo, antes de entregar minha mão à Ash,
que a segura com delicadeza.
— Me perdoe por isso, Vicky — seu hálito quente faz cócegas em minha
pele, quando seus olhos escuros se fixam nos meus —, mas vai doer para um
caralho.
Sem outro aviso, com um rosnado alto e poderoso, uma versão diferente do
quarterback — os olhos totalmente escuros e sem pupilas, exibem um brilho
prateado hipnotizante, à medida em que ele se transforma em algo metade
humano, metade fera e seus dentes se cravam em meu pulso.
— Você precisa parar de fechar a cara desse jeito — Harper dispara, assim
que chega até nós, abraçando a cintura do namorado, sem se importar que ele
esteja o puro suco de grama e terra desse lugar. — Sabe que ela não consegue se
controlar, por enquanto, por causa da “esquisitice de lobo”, mas que te ama.
— Não vai escapar, Raio de Sol. — E o modo como olha para mim, me faz
sorrir de verdade, dessa vez.
Nem tudo está perdido, se ela ainda me olha desse jeito — Como se eu
fosse o seu mundo. Ainda mais, quando acabo de perceber o que está diferente:
não há mais vínculo algum entre nós.
E então, conto tudo a ele. Tirando das costas o peso que tem ameaçado me
sufocar, desde que descobri o motivo do silêncio no peito. Para minha surpresa,
ele ouve tudo calado, antes de exprimir uma opinião. Ou talvez, ele só me devolva
uma pergunta retórica, ajudando-me a chegar a uma conclusão por mim mesmo.
— Jasper, isso muda alguma coisa, para você? — Seus olhos muito escuros
e sérios focados em mim. — Seus sentimentos por ela mudaram?
Porra, não.
— Vamos à Sra. Holloway, logo após a faculdade, mas acho que sim.
Victoria mudou — considera. — Talvez, seja isso o que aconteceu. Então, pode ir
tirando esse cu da cara, porque nossas garotas estão a caminho.
Como de costume, Vicky usa uma de suas blusas de tecido claro e calça
jeans, sob o casaco rosa, e logo se lança nos meus braços e deixa um beijo em
minha boca, apesar de corar quando o idiota a cumprimenta com seu tom rouco e
baixo de sempre. Palhaçada do caralho.
O fato de eu sentir o ciúme arder dentro de mim, a cada vez em que isso
acontece, só comprova que, para o meu lobo — e para mim — nada mudou.
Victoria Miller ainda é a minha escolhida. E, quando ela entrelaça nossos dedos,
meu peito se expande, sentindo seu perfume — agora, um tanto diferente, mas
igualmente delicioso — invadir todos os meus sentidos, sei que tudo vai ficar
bem, de alguma forma.
Várias.
Pelo menos, terei tempo de pensar em uma justificativa decente, que não
envolva vínculos sobrenaturais.
Não demoramos mais do que meia hora para chegar à fazenda, entretanto,
não há sinal algum da Sra. McGraff em sua casa, ou na casa de hóspedes, onde seu
marido garantiu que ela estaria. Eu só precisava de um pouquinho de sorte.
— Ok, podemos voltar uma outra hora — resignada, dou meia volta, sendo
seguida de perto por Harper, quando Selena entra na sala, fazendo minha prima,
literalmente, rosnar.
A princípio ela fica confusa, mas, então, seus olhos encontram-se com os
meus e ela sorri, voltando à sala.
Por fim, desço as escadas, cansado de ficar ali e, claro, não encontro
nenhum dos idiotas à vista. Todos devem estar aproveitando os efeitos da maldita
lua alta no céu, se esbaldando por aí, mas não eu.
— Pensei que não sairia de casa, hoje — soa como uma acusação, embora
essa não tenha sido a minha intenção.
Abaixo os olhos, tentando lidar com toda a bagunça em meu interior e com
a possibilidade de que eu não seja mais o que ela quer. Caralho! Estou cogitando
interrompê-la e inventar uma desculpa qualquer para me esconder, mas ao invés
disso, ouço-me dizendo:
Caralho.
Sorrio e me aproximo mais, minhas mãos tocando firme na pele nua de sua
cintura, sentindo-a se arrepiar ao mesmo tempo em que o perfume delicioso da sua
excitação toma o ar ao nosso redor.
— Para sempre, Raio de Sol — o tom gutural da minha voz surpreende até
a mim mesmo. — Mas poderíamos ter essa conversa vestidos.
— Senti sua falta, sabia? E meio que fiquei com medo de que estivesse
repensando sobre nós — admito, roçando minha boca na sua.
— Nunca. Você sempre foi uma certeza. — ela diz, recuando um passo.
Sua pele clara quase brilhando sob a luz da lua imensa no céu. O que pensa
que está fazendo? Vicky sorri, lendo a pergunta em minha expressão chocada, mas
segue aumentando a distância entre nós.
Nem nos meus melhores sonhos, imaginei que algo assim poderia
acontecer. Desde que meu lobo fez sua escolha, uma vida tranquila ao lado de
Victoria Miller era tudo o que eu precisava para ser feliz — ainda preciso, claro.
Porém, a sensação do vento frio em meu pelo, enquanto a persigo por entre as
árvores em nossas formas animais é algo inimaginável. Deliciosamente
impossível. Sigo seu rastro, deixando que pense que está no comando, enquanto
corre à minha frente — a caçada deixando-a tão excitada quanto estou, nesse
momento.
—“Tem certeza de que vai por aí, Raio de Sol?” — provoco-a quando
salta sobre um pequeno córrego, correndo pelo terreno descampado, em direção ao
rio.
Meu coração bate forte contra o meu peito e tudo o que há no mundo é ela:
a razão da minha existência, minha Victoria. Percorro suas curvas com as mãos,
antes de deslizar uma delas entre suas pernas, correndo meus dedos pelo seu
clitóris, enquanto ela move os quadris, buscando por mais contato. Gemendo
baixinho, joga a cabeça para trás, descansando-a em meu ombro, enquanto se
entrega ao desejo que a emoção da caçada provocou em nós dois.
Ela não termina de falar, apenas se vira em meus braços e me beija com
impaciência, mastigando meu lábio inferior, arrancando um rosnado baixo de
alerta da minha boca, quando ergo-a em meu colo, sentindo-a se abrir para mim,
circulando as pernas em minha cintura, sem deixar de me beijar. Suas mãos
passam a me agarrar com força, a língua respondendo a cada provocação da
minha, arrancando um grunhido baixo quando encaixa nossos corpos sob a água,
afundando as unhas em meus ombros, rompendo a pele e fazendo brotar sangue
dali, enquanto leva meu pau até o fundo de seu corpo. Com um rosnado de
protesto, movo-me lentamente em seu calor, estocando firme uma única vez,
sentindo-a gemer em protesto, quando me retiro.
— Ainda não, Raio de Sol — aviso.
Nos conduzo até a beira do lago, erguendo seu corpo pequeno ali, antes de
também sair da água. Nossos corpos escorregando pelo chão de terra e pelas
folhas da árvore frondosa que cerca o lugar, mas nada disso importa agora. Deixo
o meu lobo dominar a razão e enquanto lambo e mordisco seu pescoço, assisto-a
se abrir para mim, afastando-me para admirar todas as suas cores sob a luz
prateada da noite, enquanto subo e desço as mãos pelo meu pau, desesperado por
algum contato. Vicky rosna, exigente, buscando a minha boca e me fazendo rosnar
de volta, quando me toca, substituindo minha mão pela sua.
Minha.
Tudo bem, nós temos bastante tempo ainda, pela frente. Assim espero.
A novidade dessa semana fica por conta de Chad Graymane II, juntando-se
aos nossos esforços, para ajudar na busca de informações sobre o grupo hostil, que
fez mais duas vítimas em um clã mais ao sul da cidade, na última semana. Sua
presença em uma reunião do conselho, me faz relembrar dos velhos tempos —
nem tão antigos assim — quando seu pai era quem conduzia as reuniões. Aquele
maldito hipócrita.
Que nada tem a ver com o sujeito loiro que nos tem ajudado, sempre que
necessário, e que fez de tudo para que seu pai fosse levado à justiça e pagasse por
seus crimes. Chad II é um sujeito decente, no fim das contas, embora, realmente
me doa admitir isso.
— Nós temos sorte em ter um Alpha — um dos mais velhos do clã dispara,
em meio à reunião. — A falta de um líder forte, enfraquece o clã e nos deixa mais
expostos aos perigos.
— É livre para ficar, se eles partirem — Ash avisa e Selena sorri, aliviada,
antes de sair para o ar frio da noite. — Assim como sua mãe e seus irmãos.
— Faça o que for preciso e... obrigado pela ajuda, Graymane — Chad
apenas anui e logo deixa a sala, com a garota tímida em seu encalço. De alguma
forma, vê-lo com outra pessoa, me deixa feliz, uma indicação de que o babaca não
vai ousar colocar as mãos grudentas na minha garota.
— Vai dizer que não se lembra de quando ele estava de olho na sua
Moon?! — Um silvo baixo escapa por entre os seus lábios. — Foi o que pensei.
Chad pode entrar para a nossa família e, caralho, eu confio nele, mas ainda me
lembro de que ele teve a audácia de tocar no meu Raio de Sol.
Nós todos.
Merda.
Fora isso, ontem à noite quando deixei, a contragosto, Vicky em casa, tive
que lidar com o olhar vazio de sua vizinha e mais uma de suas premonições, que
sempre soam como sentenças. “Todo cuidado é pouco. Tudo está prestes a mudar
mais uma vez, e o perigo, nem sempre, vem de onde se espera.”
Nada como um bom recado criptografado para nos fazer perder o sono.
O futebol americano é algo que gosto de fazer, mas meus planos futuros
consistem em advogar, reformar o solar dos Hill e colocar o anel da minha família
no anelar de certa loirinha sorridente, que, no momento, é lançada no ar por dois
companheiros de equipe, enquanto concluo uma volta ao redor do campo, junto
com o time.
Deslizo as pontas dos dedos pela pele macia de suas costas e sinto-a sorrir
em meu peito, enquanto suspiro, cansado. Quem me dera, pudéssemos usufruir
dessa calmaria pelo resto da vida.
À medida que nossos corpos se entendem, sinto sua essência invadir meu
olfato e paladar, mas há algo diferente ali. Sutil, mas há algo díspar. Talvez, por
ser uma loba, nosso vínculo tenha alterado os meus sentidos, tornando-a ainda
mais única para mim.
E irresistível.
Não julgo. Lembro-me como se fosse hoje, a primeira vez em que o vi.
Óbvio que também tive minhas explicações a dar: aquela desconfiança era
apenas a loba territorial dentro de mim, que não suportava a ideia de eu não ter
marcado Jas como meu. Algo que resolvemos à beira daquela lagoa, algum tempo
depois.
Sua fala silencia a todas nós, que trocamos um olhar breve, antes que
Harper dispare:
Ainda de pijama, jogo-me na cama, antes da porta do meu quarto ser aberta
e eu ser arrastada pela dupla dinâmica, animadíssima, para um café da manhã
rápido, antes de irmos para a faculdade.
— Você tem tomado pílula, né? — não confirmo ou nego, estou focada em
me manter de pé, enquanto minha pressão afunda. — Vem, vamos lavar essa boca
e te tirar daqui. Beber até de madrugada, em um dia de semana, claramente não
fez muito bem.
Não mesmo.
Embora seja — não é como se eu passasse todo o meu tempo junto com
Jasper jogando xadrez.
— Ela está fora com o marido, mas iremos para a casa deles, ao invés de
ficar no hotel — minha prima sorri, denunciando totalmente sua intenção de
passar um tempo a sós com o namorado.
Sim, nós somos fortes, só não precisávamos ser testados o tempo todo.
Uma lufada de vento frio bate em meu rosto e sinto um mover estranho
dentro de mim, uma espécie de repuxar, quase um pressentimento. O pequeno
retângulo de plástico pesa um pouco mais, dentro da minha mochila, e estou tão
perdida em meus pensamentos, que me assusto quando a mão grande descansa
sobre a minha coxa.
Tic-tac.
Digitando...
Digitando...
JASPER Running up that HILL: Essa noite será ainda mais, Raio de
Sol. Eu prometo.
Volto a me sentar na cama e tiro o teste da bolsa mais uma vez. Minhas
mãos tremem — apavorada — porém, de alguma forma, não parece tão ruim que
tenha acontecido. Com a cabeça rodando, tento me distrair com a movimentação
intensa de pessoas no andar de baixo e ao redor da casa, já que hoje é dia de
festejar a vitória do time que receberá uma solenidade, daqui a alguns dias, na
universidade, como a treinadora fez questão de ressaltar mais cedo.
Harper decidiu ir para casa, pegar algumas coisas, mas estava ansiosa
demais e acabei combinando de nos encontrarmos por aqui. Tomei um banho
rápido e vesti uma das roupas mais arrumadas, que deixei aqui para esse tipo de
situação. Guardo o exame de volta na minha mochila e volto ao espelho, para
terminar a maquiagem leve que decidi fazer, termino de passar o rímel e estou
alisando a frente da calça de tecido preta e afofando as mangas do cropped rosa
pink enquanto confiro que horas são, esperando Jasper chegar, quando os primeiro
uivos ao longe na floresta começam.
Um alerta.
Com o coração acelerado, corro até a janela do quarto no segundo andar da
casa e observo várias pessoas correndo em direção às margens da floresta, com
olhares aterrorizados e preocupados, enquanto tento enxergar alguma coisa em
meio às árvores verdes que já começam a ser encobertas pela neblina espessa do
fim de tarde.
A porta do quarto se abre em um impulso e, ao contrário do que eu
imaginava, não é Jasper que finalmente chegou. É Selena, usando apenas um
vestido simples, com o rosto coberto por pequenos arranhões, que ainda sangram,
e me encara com os olhos dourados alarmados.
— Precisamos te tirar daqui — fala de forma urgente e atropelada. —
Agora.
— Selena, Jasper já deve estar chegando e... — Mais uivos e, então, os
tiros começam. Uma saraivada de flechas atinge toda a área descampada, como
naqueles filmes de batalha medieval.
Não demora muito para que os uivos e rosnados, vindos mais de perto,
rompam o silêncio e os tiros recomecem, tornando a atmosfera festiva em um caos
terrível.
— Nós precisamos ir, Vicky! — Selena olha por sobre o ombro. — Por
favor.
Aquiesço e dou a volta na cama, esbarrando na mochila aberta, por onde o
exame de gravidez escapa e rola pelo chão. Os olhos da garota se arregalam e ela
se apressa ainda mais.
— Nós vamos sair daqui — garante, pegando-me pela mão, enquanto
destrava uma arma que nem notei que segurava. — Chad, estamos saindo. Por
onde devo ir?
Não ouço o que ele diz, mas os tiros do lado de fora soam cada vez mais
perto da casa, enquanto descemos as escadas com rapidez. Selena à frente, abrindo
caminho.
— Harper já está com vocês? Ótimo — responde. — Agora, ajude-me a
tirar Vicky daqui.
Assim que chegamos à porta de entrada é que tenho a noção do caos que
acontece do lado de fora — tiros, sangue, gritos e choro, enquanto todos correm de
um lado ao outro — lobos ou humanos — uivando ou chamando pelos nomes dos
familiares, fugindo das flechas e das balas que chovem pelo lugar.
— Meu Deus! — Observo o corpo imóvel e nu de um homem mais velho,
caído próximo à janela da sala.
— Não olhe, Vicky. — Selena me puxa pelo braço, protegendo-me com o
próprio corpo. — Abaixe-se, ok? Chad vai nos dar cobertura, assim que
chegarmos ao portal principal.
— Vou me transformar — aviso, deixando o calor invadir as minhas veias,
como treinei tantas vezes com Jasper e os outros na floresta.
— Não! — Selena me segura pela mão e me força a me abaixar atrás de
um carro de bebidas — Eles não sabem que é uma loba, é melhor assim. Ouviu?
Sem transformação, Vicky. Por favor. Vamos chegar até o portão e Chad vai te
levar até um lugar seguro.
Olho ao redor e a frequência dos tiros parece ainda pior. Eles estão mais
perto.
Enquanto corremos sobre o gramado em direção aos portões, a voz de um
grupo nos alcança e sinto meu corpo inteiro se arrepiar. Travo os dentes para evitar
o rosnado, ao ouvi-los rindo do terror que está acontecendo ali.
— Levem as humanas como reféns — um dos homens escondidos pelas
paredes do salão avisa. — Elas serão moedas de troca com o maldito Alpha.
— E os outros? — uma voz mais fina questiona.
— Que vão para o inferno — responde e engatilha a arma mais uma vez.
Troco um breve olhar com Selena, antes de dispararmos em direção ao
portão, que está tão perto e, ao mesmo tempo, longe demais. Estamos correndo até
as grades pintadas de cinza chumbo, quando os tiros começam a pipocar ao nosso
redor e estamos quase alcançando o nosso destino — Chad, se protegendo atrás de
um dos carros estacionados, atira nos caçadores, nos dando cobertura, quando
Selena grunhe de dor, impulsionando o corpo para frente, por conta do impacto da
bala que a acertou.
Meus olhos buscam pela ferida ou pelo sangue, e sinto o alívio percorrer
meu corpo quando noto o corte largo em seu braço, por causa da bala que pegou
de raspão. Dessa vez, quando um idiota se aproxima mais de nós com a arma em
punho, não consigo conter o rosnado e Selena aumenta o aperto da mão na minha
em uma reprimenda.
— É só um arranhão! Pare de rosnar! Você ainda é valiosa! Não faça
nenhuma besteira, ouviu? — Selena avisa e corremos mais alguns metros, antes
que eu os veja.
Enfileirados diante do portão, três homens apontam suas armas para nós,
enquanto Chad grita alguma coisa sobre nos abaixarmos, e estamos prestes a
obedecê-lo, quando sinto a pontada de dor no topo da cabeça e, então, algo
escorre, quente e volumoso sobre o meu rosto. Minha visão se embaralhando
enquanto os olhos dourados e tristes de Selena me encaram, antes que seu corpo
ceda sobre o chão de pedras.
— É hora de dar uma volta, loirinha — a voz sombria avisa, antes que o
mundo gire de forma estranha e meu corpo oscile sob o meu peso.
Uma noite inesquecível. — Jasper disse, horas antes. Só espero que não
seja por ser trágica — penso, antes de ceder à inconsciência.
Finalmente, a hora chegou.
Tudo o que planejei, finalmente, está acontecendo. Entre os corpos e as
lamúrias das malditas feras abatidas no primeiro embate, eu contemplo o início da
minha vingança. Eles me tiraram tudo: meu emprego, minha credibilidade, a
sanidade, minha família e até mesmo a minha identidade. Avalio o reflexo
deformado no vidro de uma janela. Se hoje eu sou um monstro, foram eles quem
me fizeram assim.
Atiro contra um homem calvo que se arrastava pelo chão, tentando se
esconder atrás de um veículo.
— Cessem fogo — aviso pelo sistema de rádio. — Eles já entenderam o
recado.
— Chefe, os outros estão a caminho — a voz avisa, no ponto eletrônico em
meu ouvido.
— Recuem — aviso. — Vamos esperá-los na floresta, onde contamos com
o elemento surpresa.
A vantagem de se contratar mercenários é que são ótimos em obedecer
ordens e de fácil descarte, após a execução do serviço. Eles ainda não perceberam
que as chances de saírem vivos dessa batalha é nula e que esse foi o fim que eu
orquestrei antes de, finalmente, unir-me à minha Lisandra no inferno.
Observo o lugar, absorvendo o caos e os gritos de desespero e pedidos de
socorro. Ao longe, alguns uivos ecoam entre as árvores, anunciando a chegada de
mais lobos ao local. Que venham todos. Principalmente, o maldito lobo branco —
tenho algo especial preparado para ele.
— Tony — chamo pelo comunicador. — Estou a caminho. Esteja
preparado. Sem erros, dessa vez.
Me espere, amor. — Seguro firme a aliança pendurada em uma corrente de
prata em meu pescoço, lembrando-me do momento em que a arranquei de seus
dedos ensanguentados, depois de ser obrigado a atirar na cabeça da fera branca
terrível que ela se tornou. — Vou fazê-los pagar e estou a caminho.
Falta pouco, agora.
Nunca uma viagem demorou tanto — A falta de notícias está nos deixando
com os nervos à flor da pele e isso parece estar tão claro, que nenhum dos outros
que celebram e comemoram a vitória do time se aproxima de nós, mais à frente do
ônibus. Falta pouco para chegarmos em casa. Repito a mim mesmo, enquanto
repasso meus planos para o pedido dessa noite, tentando distrair a minha mente
ansiosa.
Por um tempo, tentamos manter o clima leve e não foram poucas as piadas
sobre os meus próximos passos, com relação ao meu futuro com a minha garota.
— Péssimo dia para essa merda de missão de reconhecimento — Ash
resmunga ao meu lado.
— Concordo — Mack, que no momento, parece quase tão sério quanto
nosso quarterback, trava o maxilar quando Eli nega, com um movimento rápido
de cabeça sobre a falta do sinal de telefone. — Porra!
— Estamos nos aproximando de Virgin Creek — o loiro aponta para a
placa. — Lá devemos ter nossos telefones de volta.
Tomara.
Mais vinte minutos na estrada e, finalmente, estamos de volta ao mundo
dos vivos. Meu celular vibra continuamente e logo, uma série de chamadas não
atendidas do celular da minha namorada figuram nas atualizações do aparelho.
Clico no ícone verde para retornar a ligação, mas o telefone chama algumas vezes,
antes de cair na caixa de mensagens.
O celular deve ter descarregado. É isso. Apenas isso. Respire, Jasper.
Puxo o ar com força, tentando acalmar a fera dentro de mim, quando noto
a expressão de Liam, que já está com o telefone na orelha, mudar de forma
abrupta. Ele está furioso.
— O QUE? — Ele grita, indiferente à todas as pessoas no ônibus. —
Porra! Harper! Minha Lua, amor, calma. — Abaixa o tom de voz, como se
quisesse acalmar a noiva, mas sua expressão tensa não se alivia. — O que
aconteceu?
Troco um olhar rápido com Mack e Eli, e logo, todos estamos ouvindo o
que a voz tensa e chorosa de Harper conta à Liam.
— Estamos escondidos na Fazenda Blackmoon — ela sussurra e um uivo
ao longe é seguido por outros tantos, sobrepujando sua voz. Um ataque. Caralho.
— Eles me buscaram em casa e me trouxeram para cá. Eu estou bem, Liam. E-eu
tô bem, mas... Meu Deus! — Harper chora sentida. — Eles... Foi um ataque
surpresa. Vocês precisam vir agora. Tomem cuidado, eles estão em toda parte,
entendeu?
— Estou a caminho, Harper Moon — a voz rouca e furiosa avisa. — Não
saia daí e mate qualquer um que se aproximar de você. Me ouviu?
— Liam, eles levaram reféns — adverte, após confirmar que se manterá
segura. — E-eu não consigo achar a Vicky.
Porra, não.
Um rosnado irrompe do meu peito, mas Mack espalma a mão ali,
mantendo-me no lugar. Os olhos escuros me encarando, em um aviso silencioso
para que eu mantenha a cabeça no lugar.
— Esfria a cabeça, Jas — sem qualquer resquício do divertimento de
sempre em sua voz. — Nós vamos resolver toda essa merda juntos.
— São quinze minutos de corrida pela floresta — Elijah aponta para as
primeiras árvores que começam a aparecer.
Me levanto e estou prestes a ir até o motorista, quando Ash bloqueia o meu
caminho. A tatuagem na lateral do seu rosto, destacando-se no rubor do ódio que
sente nesse momento.
— Não. É o que eles esperam que nós façamos — os olhos totalmente
escuros, observam algo do lado de fora. — Nós vamos acabar com eles, mas
apenas se conseguirmos manter a porra das nossas cabeças no lugar.
Alguns minutos se passam, enquanto sigo sendo vigiado por Mack, ao
mesmo tempo em que Ash e Chad, ainda ao telefone, tentam bolar a merda de um
plano para retaliar os filhos da puta e conter os danos do que aconteceu. Com o
meu celular na mão, eu espero agoniado e esperançoso que Vicky também esteja a
salvo e arrume alguma forma de falar comigo, recusando-me a acreditar na versão
do príncipe idiota, que a viu ser levada pelos malditos filhos da puta.
Esteja bem, Raio de Sol. Por favor.
Por alguns minutos, procuramos uma entrada, mas não encontramos nada
que não seja um grande paredão de pedra. Porra! Para evitar que algum traidor
dos infernos acabe com o nosso elemento surpresa, nos escondemos na mata
escura e nos transformamos de volta.
— Não tem como entrar por aqui — Mack revira os olhos, diante da
constatação óbvia. — Eu vou até Ash e você dá a volta. Quando o primeiro grupo
entrar, vá com eles. Nos encontramos lá dentro.
— Ok. Vamos tirá-los de lá. — Os olhos escuros focados no amontoado de
pedra.
— Ela é uma loba corajosa. Seu lobo tem razão de tê-la escolhido — seu
olhar se torna estreito e ele esfrega o rosto, desalentado.
— Não é tão simples — um pouco desesperado, ele estala o pescoço. —
Primeiro, salvamos o dia e, então, nos preocupamos com todo o resto. Boa sorte,
Jasper.
— Para nós, Mack.
Respondo, mas ele já está correndo em direção ao grupo responsável pela
retaguarda. Não demoro nada a me colocar em movimento — já na forma do lobo
marrom — indo em direção ao olho do furacão.
Vagarosamente, aproximo-me do bando que circunda a figura humana de
Ash — vestindo preto, como sempre — que observa com desgosto e ódio os
corpos de alguns membros do clã, que foram empilhados diante da caverna, bem
ao lado do homem que tem o rosto desfigurado, que parece bastante satisfeito com
o seu feito.
— Então, aqui estamos — a voz áspera e monótona do homem afirma. Ele
abre os braços diante da abertura média do que parece ser a entrada de uma antiga
mina, desativada há décadas. — Confesso que estou decepcionado, no entanto.
Sigo andando por entre os meus, que me cedem espaço até que eu pare ao
lado de Ash, que troca um breve olhar comigo, antes de voltar sua atenção para o
idiota, que parece um daqueles malditos vilões de filmes infantis.
— O poderoso e temido Alpha de Silent Grove mandou um... — a
expressão de desdém em seu rosto é evidente — moleque para negociar em seu
lugar?
Sem desviar os olhos do homem, Liam dá um passo à frente — ainda em
forma humana, as mãos caídas ao lado do corpo, em uma postura falsamente
relaxada.
— São apenas vocês? — Aponta para a meia dúzia de mercenários que
carregam armas pesadas e, pelo fedor de medo presente no lugar, estão prestes a se
mijarem.
— E alguma quantidade de prata. — O sujeito esfrega a parte deformada
do rosto mais uma vez, como se fosse um reflexo. — Bem, vamos jogar com o
que temos, não é? Avise ao maldito Alpha, que a putinha dele está comigo, e que
não planejo esperar muito para que ela faça parte daquela pilha.
Anthony, o maldito traidor, sai da caverna, empurrando uma Vicky ferida e
se debatendo contra o aperto férreo em seu braço. E o cretino ainda tem a coragem
de se encolher diante do olhar furioso que Ash lhe lança, mas ele nada diz, apenas
mantém a garota sob seu domínio.
— Não se preocupe com recados — os lábios de Liam Ashbourne se
erguem nos cantos e ele encara o homem com desdém, o que parece irritá-lo. — O
tão aguardado Alpha, já está entre nós. Tony? — ele se volta para o homem que
mantém as patas imundas em Vicky, que se debate, com os olhos fixos em mim.
— Sabe que pagará caro pela traição, não é?
O tal Gunner tira a arma prateada do cós de sua calça e, com os olhos tão
brilhantes quanto o metal que tem nas mãos, ele mira em Ash, parado à sua frente.
— Eu sei das suas motivações, Gunner Smith — Um passo adiante faz
com que o homem destrave a arma. — Eu também teria perdido a cabeça, se
tivesse perdido a minha companheira. — Liam se aproxima de Vicky,
inspecionando-a. O olhar assustado em seu rosto, me faz rosnar baixo. Mas que
merda.
Quando os outros homens armados miram nosso líder, um coro de
rosnados toma a floresta, deixando todos ali alertas, possibilitando que Mack e os
outros entrem através da abertura na rocha — a distração de que tanto
necessitávamos.
— O que eu não entendo, é a sua vingança. Você deveria nos agradecer
por termos destruído aquela alcateia de lobos brancos, banindo-os para sempre. —
Aponta para os corpos com tristeza. — Ao invés disso, nos pagou com ódio e
violência.
— Ainda há um deles, pivete — afirma, fazendo os pelos do meu pescoço
se eriçarem e um rosnado de aviso ressoar em meu peito. — E eu não devo nada a
vocês, suas abominações!
— Gunner... — Anthony tenta avisá-lo, ao notar que estamos em grande
número e que as coisas não parecem muito boas para eles. — Seu idiota! Ele...
Seu rosto se torna um tom mais vermelho e ele aponta novamente a arma
para Liam, mas os uivos e o som de tiros e gritos de horror, dentro da caverna,
roubam totalmente a sua atenção.
— Você queria o Alpha — o jogador de preto recua alguns passos,
sorrindo.
Ele lança o corpo no ar, transformando-se em seguida, quando o homem,
assustado pelo gesto, atira — mas não consegue acertá-lo, já que Eli tem os dentes
presos em seu antebraço e faz o seu corpo sacudir de maneira absurdamente
violenta.
— “Tire Vicky daqui e a leve para longe da confusão.” — Ash ordena e,
quando hesito, estreitando os olhos para o maldito covarde: — “O traidor é meu,
Jas.”
Não é surpresa quando, ao me aproximar de onde estão, o covarde lance
Vicky para frente, derrubando-a, enquanto foge pela lateral da caverna, sendo
seguido de perto pelo imponente lobo preto, que o fará pagar por sua traição. Sem
perder tempo, corro até Vicky, farejando-a, escaneando sua pele em busca de
algum indicativo de que esteja ferida de forma mais grave, mas com a descarga de
adrenalina em seu corpo, ela se levanta e sob a minha proteção, corremos por entre
as árvores, saindo da linha de tiro e nos escondendo em um dos muitos sulcos da
antiga montanha.
Transformo-me de volta, sem conseguir me conter, trazendo-a para os
meus braços e beijando-a rapidamente. Pelos sons, a batalha começa a acontecer
perto dali e eu precisarei voltar para ajudar os outros.
— Você veio... — As mãos arranhadas, pelo tombo, acariciam o meu rosto,
me fazendo fechar os olhos e agradecer em silêncio por tê-la a salvo.
— Sempre. Está tudo bem? — corro os olhos pelo seu rosto pálido, as
mãos agarradas em sua cintura. — Vicky, eu preciso voltar para lá, e você irá
andar até aquele corredor estreito de árvores — aponto para uma trilha mais ao sul
— e então, se transformar e correr para casa. Prometa.
— Mas, Jas... Essa batalha também é minha e sabe que eu posso ajudar. —
Bela hora para que ela comece a agir como a prima destemida. — Preciso voltar e
encontrar a Selena! Ela está ferida, Jas.
— Eu sei, amor, é mais pela minha saúde e paz de espírito. Por favor. — E
pelo nosso filho, eu poderia dizer, mas não seria o momento certo, então, apenas
insisto, apesar de saber, pelo brilho em seu olhar, que sua loba não concorda
comigo. — Por favor. Mack e o outros estão lá dentro, logo, ela estará à salvo.
— Não se movam! — A voz estridente revela a insegurança do sujeito que
tem uma arma na mão, estendida em nossa direção. — Encontrei dois deles aqui!
Meus olhos encontram os da garota loira à minha frente e, antes que eu
possa negar, ela recua brevemente, então, assume a forma de uma fera branca,
deixando ao idiota e a mim em estado total de pânico, ao rosnar em sua direção,
preparando-se para atacar. Transformo-me rapidamente, avançando contra o
pescoço do homem, que mal teve tempo de gritar, antes que seu corpo atingisse o
chão com um baque seco.
— “Eu poderia ter feito isso.” — a loba garante, um tanto contrariada.
— “Não enquanto eu estiver por perto, Raio de Sol.”
Os sons dos passos e das armas engatilhadas indicam que o pedido de
ajuda do imbecil foi atendido e é tarde demais para que Vicky se esconda. Droga!
Pense, Jasper.
— “Vou me transformar de volta para distraí-los. Eles não sabem que sou
uma loba” — avisa, parando ao meu lado, e afundando o focinho em minha
pelagem. — “Tenha cuidado, por favor.”
Não tenho como responder, porque, logo, o trio de mercenários aparece e,
com algum desespero — principalmente da minha parte — observo-a se cobrir
com os retalhos de suas roupas, chorando e pedindo ajuda aos idiotas, antes que eu
os elimine um a um, sob o olhar atento de Victoria. Eu poderia comemorar
exultante, não fosse pelos passos que se aproximam de onde estamos e pela
batalha, que começa a nos alcançar.
Merda.
Não há como fugir agora — e, pela primeira vez em minha vida, não estou
certa se quero fazer isso. É como se aquela parte instintiva e bastante ansiosa por
atender aos chamados do Alpha, estivesse tomando conta do meu corpo, apesar da
preocupação evidente no rosto do lobo que bufa constantemente para mim,
encarando a floresta escura ao longe, onde várias lanternas denunciam a chegada
de mais reforços à área.
— Eu também faço parte do clã — anuncio, antes de me transformar
novamente na fera de pelagem quase branca.
— “Não saia de perto de mim.” — Jasper comanda. — “Não temos
certeza de quantos são e se os que estão a caminho também serão hostis a nós.”
As luzes das lanternas piscam entre a neblina da floresta, como as luzes de
vagalumes gigantes. Bonito e preocupante ao mesmo tempo.
— “Sim, senhor.” — debocho, raspando as garras no chão de terra,
impaciente.
— “Me chame assim quando estivermos sozinhos, Raio de Sol, e eu não
responderei por mim.” — tenta descontrair o clima.
— “Sigam na retaguarda. É melhor que eles não a vejam.” — a ordem
que ecoa em nossas mentes pertence a Ash. — “Não se arrisque mais do que o
necessário, Vicky.”
O lobo marrom, ao meu lado, solta um som semelhante a uma risada, mas
seus olhos endossam o que o líder acaba de falar.
—“Selena?” — testo o estranho canal de comunicação, mas não consigo
alcançá-la, então, expando a busca. — “Alguém sabe sobre Selena?”
— “Ainda estão lá dentro.” — a voz de Mack responde. — “Não
conseguimos encontrá-la em uma primeira busca, mas Eli e os outros ainda estão
procurando. Eles vão ficar bem.” — garante, se para o meu conforto ou o dele,
não sei dizer. — “Tomem cuidado com as balas. Algumas são de prata e podem
causar um estrago grande.”
— “Pronta?” — Jasper se adianta, colocando-se à minha frente. — “Se
mantenha escondida.” — Algo que não é nem um pouco difícil, já que a névoa
branca engole basicamente tudo ao nosso redor. — “Por favor, tenha cuidado.”
A cabeça grande do lobo roça a minha, encaixando-me em seu pescoço,
antes que os olhos castanhos encontrem os meus.
— “Eu te amo, Victoria Miller.” — declara, voltando a roçar seu rosto
lupino no meu, em um gesto delicioso de carinho, que deixa a minha versão loba
exultante. —“Não se arrisque.”
— “Eu te escolho sempre, Jasper Hill.” — respondo, dessa vez,
retribuindo seu gesto.
E, juntos, corremos em direção ao caos espalhado pela floresta.
Apesar de estar escondida sob a névoa espessa, minha visão processa
absolutamente tudo o que acontece no terreno irregular um pouco mais adiante,
em meio às árvores altas que dominam o lugar e ao meu redor. Os uivos e
rosnados furiosos, em contraste com os estampidos dos tiros, fazendo os pequenos
animais da floresta buscarem por abrigo, enquanto sigo vigiando o lobo marrom,
que ataca impiedosamente nossos inimigos, já que não consigo sair do lugar,
incapaz de desobedecer à ordem do Alpha.
A confusão generalizada, diante da caverna onde estávamos presas, não me
permite ver se Selena já foi resgatada — a última vez que nos vimos foi no
momento que seu padrasto, aquele bastardo nojento, foi me buscar para ameaçar
Ash, diante do grupo — Covarde, ele havia se aproveitado do fato de tê-la presa e
vulnerável, para acertar seu rosto um par de vezes com a mão pesada, após a
garota corajosa tê-lo condenado pela sua traição.
Farejo o fedor da pólvora flutuando no ar e o medo dos soldados armados,
que atiram sem se empenhar em mirar em algum alvo específico, já que os lobos
do clã sabem bem como usar a névoa a seu favor. Ao redor da entrada da caverna,
os vestígios da batalha marcam o chão de terra, cobrindo-o de vermelho. Quando
um dos caçadores se aproxima, fugindo das presas protuberantes do grande lobo
preto — Ash, percebo — acaba cruzando o meu caminho. Uma infelicidade para
ele, mas não para a parte mais selvagem de mim, que está no controle agora e que
o ataca sem pensar muito a respeito, fincando seu corpo com as garras afiadas,
lançando-o aos berros de volta à clareira, para enfrentar o resto do clã.
Rápidos e ferozes, os lobos se movem, cercando os mercenários
contratados pelo homem louco, em seu projeto de vingança, que não conseguiram
fugir ou não foram abatidos. Vários gritam todo tipo de maldição e xingamento,
enquanto outros imploram por suas vidas, à medida que os membros do clã
fecham o cerco contra eles — as mais variadas pelagens, mas os olhos, muito
ardentes e furiosos — encerrando a terrível tentativa de ataque dessa noite.
Encurralado entre a rocha escura e três lobos igualmente raivosos, Anthony
Darkfur tem agora as mãos envoltas em correntes de prata, enquanto berra
ameaças ao vento. Um dos lobos, de um tom marrom diferente de Jasper, sangra
por um ferimento feio na cabeça, mas não deixa de ser ameaçador — Selena,
percebo aliviada. Os outros dois, ao seu lado, a protegem, rosnando para quem
quer que se aproxime. Mack e Eli a encontraram.
O traidor estremece fortemente, enquanto tenta, mas não consegue se
transformar, provavelmente, suprimido pelo lobo totalmente preto que se
aproxima dele, movendo-se de forma imponente, como uma sombra sob a névoa
espessa.
— Não pode me culpar — finalmente, ele parece ter desistido de lutar. —
Outros inimigos surgirão. Eles sempre aparecem. — Um sorriso cruel torce os
lábios finos. — A coroa é pesada, Ashbourne. Tomara que ela te esmague.
Em silêncio, observo o modo elegante com que a fera se move, colocando-
se diante do homem covarde que nos entregou às garras dos malditos caçadores,
sem hesitar, encarando-o com os olhos totalmente escuros e letais. Desvio os olhos
quando o Alpha uiva — uma sentença de morte e um aviso a todos que se
atreveram a desafiá-lo — e, quando volto a olhar, sangue escorre do corpo
decapitado pelas garras e dentes potentes do nosso líder.
Que, aclamado pelos nossos — que uivam e celebram a derrota dos
inimigos — não percebe quando o homem que, também escondido na névoa,
esperando pelo momento certo de agir, encontra uma brecha e aponta a arma
prateada na direção aos nossos com um sorriso doentio no rosto deformado,
enquanto atira, acertando qualquer um no caminho cambaleante que faz até seu
alvo.
Entre o caos e a confusão generalizada, e a aproximação de um grupo
misterioso, sou surpreendida por um dos mercenários, que se arrastou até onde o
meu namorado elimina mais um dos inimigos e, com um rosnado alto de aviso,
saído da minha garganta, deixo o meu esconderijo, saltando sobre ele e arrancando
a arma de sua mão, antes que o corpo ferido caia, alguns metros adiante,
paralisando a comemoração e deixando a todos em estado de alerta.
E então, o tempo parece desacelerar. Revelando mais homens escondidos
e, entre eles, sinto o olhar odioso sobre mim, antes mesmo que eu o veja se
aproximando. Eu, que sempre tive um temperamento tranquilo e nunca fui de me
arriscar, me vejo mais uma vez, em uma situação de vida ou morte, exceto que,
agora, fui motivada pelo instinto da loba selvagem que habita a minha pele, ao
invés de ter sido forçada a isso. Estranhamente, não me arrependo.
— Eu esperei muito por esse momento — a voz monótona comenta, a
arma apontada para mim dessa vez. — Sua abominação, chegou a hora de pagar.
Apesar de visivelmente ferido, ele caminha até mim. Apoio-me em minhas
patas traseiras, me preparando para saltar e escapar do maldito tiro, quando um
sorriso de satisfação se abre em seu rosto terrivelmente marcado. Sob sua mira, eu
espero, me preparando para tentar desviar da trajetória da bala enquanto encaro os
olhos apavorados do Alpha, que acompanha todos os movimentos do homem
cambaleante, que parece ter perdido o braço quando foi atacado por Eli, mais
cedo.
Ash se prepara para avançar sobre ele ao mesmo tempo em que o caçador
estende a mão que segura a arma, mirando diretamente em mim. Um uivo de
alerta e de raiva estoura a alguns metros de mim, roubando sua atenção e
desequilibrando o homem, que balança de um lado para o outro, recuando alguns
passos, mas ainda mantendo a arma apontada em minha direção.
— “Jasper, não!” — imploro, mas o lobo já está em movimento.
Me encolho ao ouvir o estampido, me abaixando ao invés de saltar — o
cheiro forte da pólvora ardendo em minhas narinas, quando sinto um aperto
estranho em meu peito. Se estivesse em forma humana, teria espalmado a mão ali,
conferindo se não fui atingida, tamanha a força da sensação que faz meu corpo
enfraquecer e o meu coração bater descompassado.
Ao mesmo tempo, junto aos outros, assisto Jasper dar vazão ao ser
instintivo e selvagem dentro de si, enquanto ataca sem qualquer hesitação ou
remorso o caçador, que já não emite qualquer som, além dos estalos de seus ossos
sendo esmagados pela mandíbula forte do lobo feroz.
Quando se dá por satisfeito, a fera marrom ergue a cabeça e seus olhos
castanhos intensos e profundos se fixam nos meus, avaliando-me de longe, como
se precisasse confirmar que estou bem. Totalmente coberto de sangue, ele caminha
a passos lentos em minha direção, antes que seus olhos revirem nas órbitas e o
corpo grande ceda, esparramando-se no chão de terra, criando uma leve nuvem de
poeira ao seu redor, enquanto o líquido espesso e vermelho escorre de sua forma,
agora, humana.
Jasper, por favor, não!
Um uivo desesperado irrompe da minha garganta, enquanto eu corro até
ele, sem me importar muito com o grupo misterioso que se aproxima, com o recuo
dos últimos mercenários remanescentes, ou com a minha nudez ao me transformar
de volta, puxando sua cabeça para o meu colo enquanto acaricio seus cabelos
escuros — meus ouvidos totalmente surdos para qualquer som que não seja o
coração de Jasper, que bate de forma fraca. Suas pálpebras estremecem, antes de
se abrirem, fitando-me sob os cílios espessos.
— Não era... — diz com a voz enrouquecida, fazendo uma careta de dor
quando engole em seco — bem isso, que eu... — sua mão ensanguentada toca o
meu rosto onde as lágrimas descem, com delicadeza — pretendia para essa noite.
Não!
Eu já devia saber que havia algo de ruim para acontecer, afinal, as coisas
estavam dando certo: O Warrior Wolves é campeão nacional, estava prestes a pedir
a minha garota em casamento e com um filho a caminho para, logo em seguida,
tudo começar a dar errado para um caralho.
História da minha vida, ao que tudo indica.
Que, considerando a dor dilacerante em meu tórax e a dificuldade de
respirar, após o tiro que aquele filho da mãe me acertou, momentos antes, deve
estar chegando ao fim. Porra.
— Jas, fica calmo, tá bom? — a voz anasalada pelo choro pede. — Va-vai
ficar tudo bem.
— Vicky, preciso que se afaste dele — a voz de Ash ordena e, embora eu
queira rosnar para ele, apenas sigo segurando a palma morna da minha garota,
contra a minha mão.
— Nós precisamos tirar a bala, Jas — Liam avisa, respirando fundo. — Vai
doer para um caralho, mas eu preciso tirar a prata do seu corpo e você não quer
ferir a Vicky, não é? Então, solta a mão dela, enquanto Mack te mantém firme no
lugar.
Obedeço, ouvindo-a chorar baixinho em algum ponto às minhas costas.
Não sei quando colocou a camisa de malha larga, mas agradeço mentalmente a
quem quer que seja que tenha providenciado isso. É óbvio que estou me distraindo
para o que vem a seguir, enquanto ouço as instruções de Harper, que diz tudo o
que precisam fazer pelo telefone.
— Jasper, não ouse morrer! — ela avisa, me fazendo rir baixinho. — É
sério! Agora, façam logo isso! Já estamos chegando à estrada principal e vocês
precisam trazê-lo até aqui, imediatamente!
Ash faz uma careta, antes de voltar toda a força dos olhos pretos
manchados pelo brilho prateado para os meus.
— Ande… logo com… — engulo em seco — isso — peço, enquanto
Liam estuda o local com uma careta.
— Você vai ficar bem — é uma ordem, percebo. — Vamos logo com essa
merda.
Tudo bem.
Se a dor estava insuportável antes, agora, era enlouquecedora. Os braços
firmes de Mack me seguram, enquanto Ash, após ter lavado os dedos no que
parecia ser uma garrafa de vodca barata, tenta recuperar a maldita bala através do
furo que a maldita fez para entrar. Quando sinto o fedor de carne queimada e ele
lança a porcaria em algum lugar por perto, o alívio me invade e eu fecho os olhos,
sentindo o peso do dia se abater sobre mim.
Quando as mãos delicadas e trêmulas voltam a me tocar e pressionar a
ferida aberta em meu ombro, tentando estancar o sangue que sai profusamente da
perfuração — como tentar carregar água em uma peneira — seguro firme em seu
punho, tentando acalmá-la.
— Você está bem — o esforço para falar é quase sobre humano, nesse
momento. — E isso é tudo o que importa.
— Não. Não é — Vicky chora, os ombros sacudindo sob o casaco escuro
que Selena colocou em seus ombros instantes atrás. — Jas, não pode me deixar...
— choraminga — Eu... Nós vamos... — lágrimas gordas rolam pelo rosto bonito,
mesmo sujo de terra e sangue, como agora. — Nós vamos ter um filho. Ouviu? Eu
preciso que esteja comigo.
Há uma movimentação ao nosso redor, mas não consigo desviar os olhos
da minha garota, não quando tudo parece prestes a desaparecer. Exceto pela dor
filha da puta, que não me deixa em paz, nem por um segundo.
— Eu sabia...— sorrio em meio ao sangue, que começa a escapar entre os
meus lábios, provavelmente, efeito da prata em meu organismo. — Você me fez o
cara mais... feliz... do mundo, Victoria... — gorgolejo mais uma vez, enquanto ela
grita por ajuda. Tento pressionar minha mão em sua cintura, mas não tenho força
alguma, então, apenas deslizo a mão até sua barriga, sentindo meus lábios se
erguerem brevemente. — Está tudo bem, amor. Estou completo, agora, graças a
você.
— Precisamos levá-lo! Agora! — alguém grita ao fundo e logo, tenho a
sensação de estar voando.
Vicky chora mais alto, apertando forte a minha mão, mas não consigo
manter meus olhos abertos. Não chore, Raio de Sol. Quero falar, mas não consigo
encontrar a minha voz. Vagarosamente, a minha mente desliza para a tranquilidade
da inconsciência, enquanto sinto o toque leve do vento frio sobre o meu corpo e,
então, nada mais.
Bip. Bip.
Os sinais sonoros aceleram e soam cada vez mais altos e urgentes.
— Ele está entrando em choque — uma voz estranha decreta, enquanto sou
tocado e tenho o braço furado diversas vezes, ao mesmo tempo que um ardor
estranho percorre o meu corpo.
— Você vai ficar bem, Jas — a voz, que parece ser de Harper, treme e sinto
um leve toque em meu braço, mas não consigo esboçar qualquer reação.
O som de alerta das máquinas aumenta e, ao fundo, alguém chora
desesperado. Vicky. Eu a ouço, mas não há muito o que eu possa fazer agora, além
de tentar me manter inteiro, enquanto meu corpo parece à beira de explodir,
incinerado por um calor gélido e estranhamente reconfortante.
Em meio à escuridão que ameaça me engolir para sempre, a visão de uma
garotinha loira, de olhos escuros e rosto redondo e infantil, sorri para mim e acena
uma despedida alegre — quase uma saudação.
— Volte para mim, Jasper — a ordem vem alta e clara, avivando o fio
único que me mantém ainda ancorado a esse mundo, impedindo-me de seguir em
frente.
FIM
Afundo o indicador entre o meu pescoço e a gola da camisa social, presa
com a merda de uma gravata, que ameaça me sufocar. Quem foi que inventou essa
merda?
Caralho! Estou tendo a porra de um infarto nesse momento, tenho certeza.
É isso. O fim do aclamadíssimo jogador Mack Blackmoon, será um infarto em
meio a um arco de flores idiotas, em frente a um bando de idiotas que parecem se
divertir muito com os meus últimos minutos na Terra.
Como é que eu vim parar aqui, com o coração prestes a saltar do peito?
Bem, essa é uma história engraçada e não muito longa, mas que terá que
esperar, já que o meu coração parece ter reagido e agora, bate forte ao ver o sujeito
vestindo um smoking preto, com os cabelos loiros penteados para trás,
cumprimentar um dos meus pais, antes de voltar toda a força dos olhos muito
azuis para mim.
Em seu colo, a pequena garotinha, de olhos dourados como os da mãe,
brinca com sua gravata, enquanto ele segue caminhando em minha direção. Assim
que me vê, o rostinho da pequena se ilumina e ela lança os bracinhos em minha
direção, agarrando-se ao meu pescoço com força, fazendo seu outro pai rir.
— Fui abandonado — Elijah faz um bico exagerado, fazendo nossa
pequena Emma cogitar voltar ao seu colo. — Mas não julgo. Nervoso?
— Para cace… tete de polícia! — respondo, sob o olhar curioso da
mocinha esperta, que é exatamente a minha cópia, exceto pelos olhos. — Por que
a demora?
— Ela é a noiva, Mack — Eli dá de ombros, antes de envolver a minha
cintura com o braço forte. — é o dia dela.
— E o do meu funeral, se ela demorar por mais tempo — afirmo, tentando
alargar mais a gola e sentindo o cheirinho calmante do bebê em meu colo. —
Onde está Theo?
— Perseguindo Luna, para desespero do Alpha — Eli aponta para o garoto
de cabelos escuros cacheados, que herdou os olhos claros do pai, correndo atrás da
garota de vestido azul de forma determinada.
— Ele é bom nisso — sorrio, satisfeito.
— E eu sou bom com as minhas garras — Ash se aproxima, com seu jeito
soturno de sempre. — Tirem seu filho folgado de perto da minha Luna.
— Deixem as crianças! — Harper se junta ao marido, rindo de sua
carranca nervosa. — Deixe para se preocupar, quando eles forem adolescentes e
Theo pilotar uma moto.
— Harper Moon — adverte.
— Se ela tiver puxado à mãe, vai ter uma quedinha por sujeitos que
rosnam.
— A Intrépida Lawson nunca decepciona! — gargalho alto, chamando
atenção de todo mundo à nossa volta. Meus pais acenam orgulhosos para mim de
seu lugar na primeira fila, enquanto minha mãe e Elinor conversam
animadamente, ao lado deles — Onde está Cassie?
— Se divertindo, como todo mundo — Elijah olha ao redor e aponta para o
local onde a garotinha é empurrada pelas gêmeas loirinhas de Jasper e Vicky, que
se aproximam de nós com sua tranquilidade de sempre. — Exceto você. Está
repensando?
— Ficou louco, porra? — Segurando a pequena, que cochila em um braço,
puxo Eli de volta para mim e deixo um beijo em seu ombro. — Vocês são a minha
vida.
— Caralho! Romântico Blackmoon! — Jasper exclama, fazendo o apelido
idiota correr pelo nosso grupo. Harper, é claro, entoa como se fosse uma
musiquinha infantil, apenas para fazê-la grudar em minha cabeça por meses. —
Amigos, acho que é chegada a hora.
Os olhos escuros de Jas focam em um ponto branco, próximo à entrada do
Solar Blackmoon — que reformamos assim que Eli parou de fugir da realidade:
Nós três nos pertencemos. Sermos jogadores da liga profissional, nos mantém por
algum tempo longe de casa, mas retornamos em toda e qualquer oportunidade — e
ele assobia, admirado.
Eli e eu acompanhamos o olhar de todos e a visão da mulher mais linda do
mundo, enquanto desce os degraus em um vestido de tecido fluido e branco, me
faz suspirar e traz lágrimas aos meus olhos. Selena sorri, ajeitando as alças finas
de tecido nos ombros magros, realçando o decote e a curva dos seios deliciosos,
assim como a barriga enorme que carrega nosso quarto filho.
É. Quatro filhos lindos e uma mistura incrível de nós três. Eu realmente
não deveria ter brincado com Jasper e Vicky sobre a coisa da ninhada — rio
comigo mesmo, observando-a se posicionar no início do tapete, enquanto o
cerimonial contratado prepara tudo para que a cerimônia possa, finalmente,
começar.
Foi uma batalha conquistá-la e, talvez, sozinho eu não tivesse conseguido.
Ir atrás de Elijah, quando fomos draftados foi a decisão mais acertada do mundo.
Nos tornamos jogadores profissionais e, juntos, conseguimos muito mais do que
títulos e honrarias, nós conquistamos a mulher mais arisca e maravilhosa que
cruzou nosso caminho.
— Por que papai Mack está chorando? — o garotinho, que está de mãos
dadas com Elinor Miller, que limpa sua roupa e ajeita os fios rebeldes de seu
cabelo, pergunta.
— Porque ele nunca viu uma mulher mais linda, filho — Eli se abaixa e
toma a mão do garoto, olhando para Selena, que sorri avaliando a cena. Linda
para um caralho.
E nossa.
— Vamos buscá-la, amor — Eli me beija, brevemente, antes de caminhar
de forma elegante sobre o tapete vermelho de mãos dadas com o nosso filho, para
buscar a nossa escolhida.
E quando observo Eli beijar os lábios pintados de vermelho de Selena
antes de segurar sua mão e se virar para mim, sinto meu coração bater
descompassado. Juntos e ladeados por nossos filhos, eles caminham sorrindo em
minha direção e, nesse momento, me sinto o cara mais sortudo do mundo. A porra
de um sonho!
— Apaixonado Blackmoon! — o babaca do Jasper cantarola, de seu lugar
no altar, fazendo toda a fileira de idiotas rir.
— Porra! Já chega dessa merda! É uma cerimônia séria e já vai começar.
Tenham senso. — Aprumo o corpo e espero, enquanto a minha família se
aproxima cada vez mais. A baixinha em meu colo se levanta, olhando-me confusa,
enquanto toca meu rosto emocionado com as mãos gordinhas, deixando um beijo
em minha bochecha, antes de voltar a buscar abrigo em meu ombro.
“Apaixonado Blackmoon” não chega nem perto do que sinto nesse
momento.
Era apenas mais uma noite — é o pensamento que recorre em minha
mente.
Desesperada, com as mãos trêmulas e ainda sem acreditar que algo assim
esteja realmente acontecendo, eu corro. Corro com todas as minhas forças pela
floresta, tentando me desviar dos galhos baixos que arranham meu rosto e meus
braços, enquanto o lobo de pelos brancos, saído diretamente dos meus pesadelos,
me persegue de perto, rosnando e uivando de tempos em tempos, com os dentes
enormes e ameaçadores cada vez mais próximos de mim.
A lua cheia ilumina parcamente o caminho, enviando fachos cada vez
menores de claridade ao meio da floresta, que parece se fechar cada vez mais ao
meu redor, ou talvez seja só o medo falando mais alto.
O lobo rosna de novo, ainda mais próximo, aumentando meu desespero.
Apavorada, consigo até mesmo antecipar a dor do que acontecerá comigo, se ele
conseguir me alcançar. Suando frio, enquanto os músculos das minhas pernas
queimam e falham como meus pulmões, tropeço em raízes, pedras e em mim
mesma. Um grito escapa da minha garganta quando um uivo terrível atravessa o
lugar, como uma promessa velada de que, não importa o quanto eu fuja, me
encontrar é apenas uma questão de tempo. Ignoro a dor das minhas mãos feridas, o
ardor em meus joelhos e, quando caio mais uma vez, vejo sangue. Não, não!
Sangue, não! Me levanto rapidamente e, quando olho para trás, não vejo mais a
fera que me persegue, mas não paro de correr, não agora, quando não o vejo mais.
Corra, Harper, corra! A angústia me consome e, envolvida em minha
necessidade de escapar, e com o coração a mil, tropeço de novo entre as raízes
altas de uma árvore frondosa, então, quando algo pontiagudo acerta a lateral da
minha cabeça, sinto-a girar por um momento, antes de ouvir os sons de algo se
partindo sob pés, — ou patas, provavelmente — que se aproximam de mim.
É isso: Ele me encontrou. É o meu fim.
Ainda tonta, choramingo, mas não me entrego, agarro com força a primeira
coisa que encontro — uma pedra — e estou em vias de me levantar quando a luz
da lua retorna, me permitindo vê-lo parado ali, à minha frente, com suas roupas
pretas de sempre e o sorriso debochado e irritante em seu rosto, quase perigoso,
mas, ainda assim, lindo, como os monstros dos meus pesadelos.
— Encontrei você.
Instagram: @priscillaaveratiautora
Email: [email protected]
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Amoras: https://chat.whatsapp.com/CapLG0eqqtJ4xeB3ObMEp2
Priscilla Averati é uma autora de romances mineira. Nascida no dia 29 de
fevereiro em algum momento nos anos 80, adora o cheiro que os livros possuem e
passou a amar também o Kindim (que é como chama seu Kindle de
estimação).Tem certa predileção pelo romance e por finais felizes.
Quando não está grudada nos livros ou no Kindim, está se divertindo com
a família vendo séries e filmes e traçando os mais variados roteiros para novas
aventuras.
Você encontra todos os meus livros aqui:
https://amzn.to/3nC73kR
LUNY
Leo: Ainda Estou Aqui
A Conquista do Chef
Na Armadilha do CEO
A Obsessão do Juiz
Nas Garras do Milionário
Um Amor de Natal
Um Acordo com o CEO
Box Série CAFAJESTES
Bad Reputation: Coração de Gelo
Na pegada do Agroboy
Chamas do Passado
Perdição: Um contrato com o CEO
A ruína do Cafajeste
Redenção: Uma segunda chance para o viúvo
Atração: Armadilhas do Destino
Rendição: A Queda do Último Cretino
Minha Descoberta [Im]Perfeita
[1]
Livro Um Acordo com o CEO de Priscilla Averati.
[2]
São disciplinas oferecidas pelos cursos superiores para complementação da grade
curricular, à escolha do aluno.
[3]
Running backs são jogadores de ataque no futebol americano, que ficam atrás ou ao lado do
quarterback, para, geralmente, serem uma alternativa para correr com a bola. Eles também podem
receber passes.
[4]
São os jogadores que ficam ao lado do center para bloquear defensores vindos pelo