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Tribunal de Justiça do Piauí

PJe - Processo Judicial Eletrônico

13/10/2024

Número: 0800192-32.2024.8.18.0049
Classe: AÇÃO PENAL DE COMPETÊNCIA DO JÚRI
Órgão julgador: Vara Única da Comarca de Elesbão Veloso
Última distribuição : 25/01/2024
Valor da causa: R$ 0,00
Assuntos: Prisão em flagrante
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
Delegacia de Polícia Civil de Elesbão Veloso
(TESTEMUNHA)
francisco das chagas de medeiros (REU) CLEUDIANA PINHEIRO DA SILVA (ADVOGADO)
JO ERIDAN BEZERRA MELO FERNANDES (ADVOGADO)
RAISSA MOTA RIBEIRO (ADVOGADO)
JOSIEL DO NASCIMENTO SILVA (REU) MIGUEL DE HOLANDA CAVALCANTE FILHO (ADVOGADO)
JOSE PAULO DA SILVA (TESTEMUNHA)
JOSIMAR DE MACEDO CARVALHO (TESTEMUNHA)
TEN. GEORGE DE ARAÚJO SANCHES JÚNIOR
(TESTEMUNHA)
DELEGADO FELIPE EMANUEL DE QUEIROZ BRITTO
ANDRADE (TESTEMUNHA)
PM HÉLIO RENNAN DE SOUSA SILVA (TESTEMUNHA)
PM LAURIANO RODRIGUES NETO (TESTEMUNHA)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
60141 10/07/2024 16:13 Petição Petição
392
EXCELENTÍSSIMO JUÍZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE
ELESBÃO VELOSO – PI

Referente aos autos de n° 0800192-32.2024.8.18.0049 (AÇÃO PENAL –


TRIBUNAL DO JÚRI)
Acusado: FRANCISCO DAS CHAGAS DE MEDEIROS, alcunha “GUTA”
Vítima: Antônio Carlos Alves dos Santos

FRANCISCO DAS CHAGAS DE MEDEIROS, já devidamente qualificado


nos autos em epígrafe, por seu procurador infra-assinado, nos autos do processo
em que o Ministério Público lhe move, vêm, respeitosamente, à presença de
Vossa Excelência, sob a forma de memoriais, apresentar suas

ALEGAÇÕES FINAIS,

nos termos dos artigos 403, § 3º e art. 404, parágrafo único, ambos do
Código de Processo Penal:

I- DOS FATOS

Com base nas informações presentes nos autos do inquérito policial, o


Ministério Público apresentou denúncia contra FRANCISCO DAS CHAGAS DE
MEDEIROS, devidamente identificado nos documentos anexos, pela prática dos
crimes previstos no art. 121, § 2º, I, III e IV, c/c art. 14, II, todos do Código Penal.

Assinado eletronicamente por: JO ERIDAN BEZERRA MELO FERNANDES - 10/07/2024 16:13:57 Num. 60141392 - Pág. 1
https://pje.tjpi.jus.br:443/1g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=24071016135699600000056456544
Número do documento: 24071016135699600000056456544
Em suma, consta na peça inaugural acusatória que, em 24 de janeiro de
2024, por volta das 15 horas, a vítima, ANTÔNIO CARLOS ALVES DOS
SANTOS, deslocava-se para sua residência pela Rua Eurípedes de Aguiar,
situada nesta urbe de Elesbão Veloso. Nas imediações do Mercado Zé do Milito,
avistou Francisco das Chagas de Medeiros, vulgo “Guta”, o primeiro denunciado,
com quem a vítima mantinha desavenças, e Josiel do Nascimento Silva,
apelidado “Dica”, que estava próximo.

Em seguida, segundo o Órgão Ministerial, Guta havia sacado de sua


cintura um revólver calibre 32 e efetuado um disparo, não atingindo a vítima. Em
razão do ocorrido, Guta proferiu a ameaça: "corre negão, que agora eu te mato",
e avançou contra a vítima, juntamente com Dica.

Guta, ainda na ótica acusatória, supostamente havia tentado efetuar novo


disparo, que resultou infrutífero por falha da arma. A vítima sacou um facão que
portava e avançou contra Guta e contra Dica em ato consecutivo.

Em face dos fatos, a vítima desferiu golpes de facão contra Guta,


especialmente na região da cabeça, até que este tombou ao solo e soltou o
revólver que trazia consigo. Imediatamente, o segundo denunciado, "Dica",
empurrou a vítima, derrubando-a no chão. Logo após, Guta se levantou e iniciou
uma série de ataques contra a vítima utilizando o próprio facão desta, enquanto
ela ainda se encontrava prostrada no solo.

Subsequentemente, Guta passou a desferir coronhadas na cabeça da


vítima com o revólver, ao passo que Dica a agredia com o facão.

Ainda constante na exordial acusatória, ao acharem que a vítima estava


morta houve emprego de fuga do local.

Sob o crivo da ampla defesa e contraditório demonstraram que os fatos


narrados pelo MP não condizem com a verdade, tendo em vista que restou
demonstrado que estava anteriormente em um bar próximo a localidade do

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acontecimento, quando foi surpreendido com um ataque de facão advindo da
vítima.
Ainda em luta corporal com Antônio, conseguiu pegar o facão e se defender
da injusta agressão, finalizando por dificultar o acesso a arma ao jogá-la em
terreno cercado. Ao andar um pouco, buscando ajuda, acabou por desmaiar
acordando no hospital, em que realizava procedimento médico.

Breve é o relatório.

II- DO DIREITO

1. DA LEGÍTIMA DEFESA.

A toda evidência, perpassa por inquestionável e incontroversa a


excludente da ilicitude arguida pela defesa, eis que presente os elementos
integrativos da legítima defesa própria, quais sejam: a) repulsa a agressão atual
e injusta; b) defesa de direito próprio; c) emprego moderado dos meios
necessário; e d) orientação de ânimo do agente no sentido de praticar atos
defensivos.

Com efeito, certo é que há esclarecimento concreto acerca da maneira


como as agressões recíprocas ocorreram que, diante de iminente e injusta
agressão praticada contra si, agiu o acusado de forma moderada, em face da
situação, usando os meios necessários e de que dispunha naquele momento.

Em verdade, Francisco das Chagas em seu depoimento na Audiência de


Instrução relata o seguinte:

“(...)Que não tinha desavença nenhuma, que o Sr. Antônio Carlos era
junto com sua irmã e moravam em uma casa sua, e sua mãe “colocou”
sua irmã para Esperantina, separando dele porque ele usava muita
droga e ele quis se vingar dele acusado depois que ele pegou a chave
da casa de volta.(...)”

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Destaca-se, portanto, parte motivada de agressões constantes inversas.
A vítima, Antônio, não só andava armada recorrentemente, como, também, ao
avistar um parente de sua ex-companheira, partiu em busca de agredi-lo com o
referido facão e só não empregando ação homicida por interferência do outro réu
de alcunha “Dica”.

A imputação de crime do art. 121, § 2º, I, III e IV, c/c art. 14, II do CP feito
ao acusado deveria ter sido imposta à Antônio, que somente repousa sobre a
condição por ter encontrado viaturas policiais antes de Francisco.

Observa no relato do dono do estabelecimento que o acusado estava que


inexiste a presença de algum armamento descrito nos acontecimentos do fato:
“Que é comerciante, trabalha com bar e churrascaria de nome
“Piratas”. Que Josiel e Francisco foram ao seu bar por volta de 12h,
tomaram umas duas cervejas e “desceram”. Que eles estavam sem
camisa e não estavam armados. Que a confusão aconteceu a tarde e
que não presenciou. Que no momento da confusão estava em um
comércio próximo ao seu bar e correu para fechar suas portas e janelas
e ficar lá dentro, não procurando saber do ocorrido. Que conhece
Antônio, mas só “de vista” e que não viu se Antônio passou pela porta
de seu bar”.

Ademais, inexiste presença de testemunhas oculares. No entanto, a


maioria das testemunhas, que são de cunho policial e de forma indireta, se
tornam como verdade absoluta e suficiente para imputação de um crime
imotivado pela parte acusada. Portanto, resta certo que o acusado foi agredido
e reagiu em legítima defesa, restando essa defesa.

Nesse sentido, expõe Guilherme de Souza Nucci [1]:

“Valendo-se da legítima defesa, o indivíduo consegue repelir as


agressões a direito seu ou de outrem, substituindo a atuação da
sociedade ou do Estado, que não pode estar em todos os lugares ao
mesmo tempo, através dos seus agentes. A ordem jurídica precisa ser
mantida, cabendo ao particular assegurá-la de modo eficiente e
dinâmico” (g.n.)

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Ora, emérito julgador, a presente definição não poderia adequar-se
melhor ao caso em tela. Que se havia de esperar que fizesse o réu?

Em inversão da posse da arma branca tomada, houve a possibilidade de


realmente atentar com a vida da vítima, coisa que não houve. Segue o relato in
verbis do outro réu:

“(...)Que no dia do acontecido, viu a confusão e entrou para separar.


Que a vítima saiu caminhando e o Sr. Francisco foi para o hospital.
Que os dois, Sr. Antônio Carlos e Sr. Francisco das Chagas, estavam
“bolando” pelo chão e quando viu, entrou para separar para “evitar o
pior”.(...)”

Ou seja, comprova-se que o verdadeiro lesado da situação e que por


legítima defesa empregou força resistiva foi FRANCISCO DAS CHAGAS. A
vítima, com as lesões resultantes, ao invés de procurar ajuda médica, buscou
inverter o resultado das suas ações perante agentes policiais.

Segue-se jurisprudência acerca de proximidade com o caso em tela:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PENAL E PROCESSO PENAL.


TENTATIVA DE HOMICÍDIO. PRONÚNCIA DO ACUSADO. PLEITO
DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. TESE DE LEGÍTIMA DEFESA.
PROVAS DE QUE O RÉU AGIU PARA REPELIR INJUSTA
AGRESSÃO ATUAL CONTRA SUA INTEGRIDADE FÍSICA.
EXCLUDENTE DE ILICITUDE CONFIGURADA. RECURSO
PROVIDO. 1. Nas hipóteses em que os elementos probatórios
constantes dos autos demonstram que o réu agiu em legítima defesa,
ao repelir injusta agressão atual contra a sua integridade física, a
absolvição em face do reconhecimento da mencionada excludente de
ilicitude é medida que se impõe, nos moldes do art. 25 do Código
Penal. 2. In casu, as provas apuradas evidenciam que na data do fato
as partes estavam bebendo em um bar, quando a vítima provocou o
réu com ofensas verbais, deu-lhe um tapa no rosto, bem como deu
início à luta corporal entre ambos, ocasião em que o ofendido utilizou
a faca que portava consigo para tentar atingir o apelante, o qual reagiu
tomando o objeto cortante e desferiu alguns golpes contra o ofendido
durante a briga. 3. A par de tais elementos, conclui-se que a ação
imputada ao recorrente encontra-se amparada pelo manto da
excludente de ilicitude da legítima defesa, eis que o agente utilizou
moderadamente dos meios necessários para repelir injusta e atual
agressão, no intuito de preservar sua integridade física. 3. Recurso
provido, para absolver sumariamente o acusado, na forma do art. 415,
IV do CPP.

(TJ-AM - RSE: 02083461420138040001 AM 0208346-


14.2013.8.04.0001, Relator: Jomar Ricardo Saunders Fernandes, Data

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de Julgamento: 05/05/2021, Segunda Câmara Criminal, Data de
Publicação: 05/05/2021)

EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO


TENTADO. PRONÚNCIA. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. CABIMENTO.
LEGITIMA DEFESA COMPROVADA. 1. Restando comprovado que o
réu apenas repeliu injusta agressão que sofria, torna-se imperioso o
reconhecimento da excludente de ilicitude da legítima defesa,
mediante a absolvição sumária do agente.

(TJ-MG - Rec em Sentido Estrito: 10398110014717001 Mar de


Espanha, Relator: Marcílio Eustáquio Santos, Data de Julgamento:
26/01/2022, Câmaras Criminais / 7ª CÂMARA CRIMINAL, Data de
Publicação: 28/01/2022)

Ademais, quanto às testemunhas de cunho indireto, tem-se que todos os


depoimentos colhidos em juízo aconteceram apenas de "ouvir dizer". Ora, se
os policiais não presenciaram os fatos, não podem ser considerados
testemunhas oculares, aferindo-se, destarte, que os seus depoimentos somente
poderiam ser prestados de forma indireta. Assim, o testemunho indireto (também
conhecido como testemunho de "ouvir dizer" ou "hearsay testimony") não é apto
para comprovar a ocorrência de nenhum elemento do crime.

Consterna-se, a quem lê, o pedido do Órgão Ministerial de pronunciar o


réu Francisco das Chagas, mesmo com decisões de instâncias superiores
veementemente contra. As jurisprudências, in verbis:

HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2, II, DO CÓDIGO PENAL).


AUDÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INDÍCIOS DE AUTORIA
INSUFICIENTES. TESTEMUNHAS OUVIDAS NA INSTRUÇÃO.
DEPOIMENTO INDIRETO SEM INDICAÇÃO DA FONTE.
IMPRONÚNCIA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. DECISÃO
UNÂNIME. 1. Dada a estrutura bifásica do procedimento do júri, ainda
que a decisão de pronúncia não seja uma decisão de mérito, é
inconteste que esta funciona como um filtro processual, limitando de
maneira técnica a acusação a ser analisada em plenário pelos jurados,
só se justificando na medida em que as provas produzidas ao longo do
sumário de culpa tenham alguma relevância. 2. Na hipótese dos autos,
como bem consignado pelo Magistrado no decisum, os depoimentos
dos 03 policiais militares são exatamente iguais, e eles foram as únicas
testemunhas que apontam o denunciado Marcus Antônio Alves da
Silva Ribeiro como sendo um dos autores do homicídio. Contudo, eles
não estavam presentes no momento do crime, tampouco declinaram
os nomes dos populares que lhes informaram ser o recorrido um dos
autores do delito, sendo o testemunho puramente “por ouvir dizer”. 3.
A jurisprudência dos Tribunais Pátrios é uníssona no sentido de
inadmitir a pronúncia de acusados com base tão somente em
depoimentos testemunhais indiretos, de “ouvir dizer”, seja por se
afigurarem por demais frágeis e vagos, seja por violarem o princípio da

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ampla defesa, na medida em que ao não apontarem uma fonte direta
da informação. Precedentes do STJ.In casu, não há fundamentos que
justifique a reforma da decisão atacada, que entendeu inexistirem os
requisitos para o recebimento da denúncia, consubstanciados na
ausência de justa causa e indícios de autoria. 4. De fato, a justa causa
é exigência legal para o recebimento da denúncia, instauração e
processamento da ação penal, nos termos do artigo 395, III, do Código
de Processo Penal, e consubstancia-se pela somatória de três
componentes essenciais: a tipicidade, a punibilidade e a viabilidade. 5.
À unanimidade de votos, negou-se provimento ao recurso, mantendo
a decisão de impronúncia exarada pelo Juízo de Primeiro Grau. A C Ó
R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos do Recurso em
Sentido Estrito, tendo por partes as acima nominadas. ACORDAM os
Desembargadores componentes da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de
Justiça de Pernambuco, à unanimidade, em negar provimento ao
recurso, mantendo a sentença de impronúncia, nos termos do relatório,
voto, notas taquigráficas e demais peças que passam a integrar o
presente arresto. Recife, data da assinatura eletrônica. Des. Evandro
Magalhães Melo Relator.

(TJ-PE - Recurso em Sentido Estrito: 0000231-60.2023.8.17.2980,


Relator: EVANDRO SERGIO NETTO DE MAGALHAES MELO, Data
de Julgamento: 22/12/2023, Gabinete do Des. Evandro Sérgio Netto
de Magalhães Melo)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO QUALIFICADO.
PRONÚNCIA. TESTEMUNHA DE "OUVIR DIZER". INFORMES
ANÔNIMOS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO. 1. O art. 413 do Código de Processo
Penal exige, para a submissão do réu a julgamento pelo Tribunal do
Júri, a existência de comprovação da materialidade delitiva e de
indícios suficientes de autoria ou participação. 2. Conforme o
entendimento jurisprudencial desta Corte Superior, "muito embora a
análise aprofundada dos elementos probatórios seja feita somente pelo
Tribunal Popular, não se pode admitir, em um Estado Democrático de
Direito, a pronúncia baseada, exclusivamente, em testemunho indireto
(por ouvir dizer) como prova idônea, de per si, para submeter alguém
a julgamento pelo Tribunal Popular" ( REsp 1.674.198/MG, Rel.
Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, DJe
12/12/2017). 3. No caso, as instâncias ordinárias fundamentaram a
pronúncia apenas em uma testemunha que "ouviu boatos" sobre a
autoria dos fatos e na menção genérica de alegados "informes
anônimos", cuja veracidade não foi confirmada por nenhuma diligência
posterior. 4. A menção a boatos e informes anônimos caracterizam-se,
no máximo, como frágeis relatos indiretos (testemunhas por ouvir
dizer), os quais a jurisprudência desta Corte Superior tem rechaçado,
por não se constituírem em fundamentos idôneos para a submissão da
acusação ao Tribunal do Júri. 5. Agravo regimental desprovido.

(STJ - AgRg no AREsp: 1628052 RO 2019/0356824-4, Relator:


Ministra LAURITA VAZ, Data de Julgamento: 18/08/2020, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 01/09/2020)

Assinado eletronicamente por: JO ERIDAN BEZERRA MELO FERNANDES - 10/07/2024 16:13:57 Num. 60141392 - Pág. 7
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Portanto, deve-se levar em conta a situação de perigo gerada no espírito
de quem se defende. Seria demais exigir que alguém, visualizando agressão
impendente, tenha de aguardar algum ato de hostilidade manifesto e avisado,
pois essa espera, para o ingresso de das agressões, lhe poderia ser fatal. Ainda,
por fim, existiam problemas de cunho familiar em que a vítima foi a única
provocadora e, por avistá-lo, somente poderia se defender.

Incontestável que todas as condições para a legítima defesa encontram-


se satisfeitas. Assim, forçoso que o réu seja absolvido por ter agido em legítima
defesa.

2. DA INEXISTÊNCIA DE MOTIVO TORPE

A doutrina brasileira tem debatido extensivamente o conceito de "motivo


torpe" ao longo dos anos. Nesse viés, os juristas têm argumentado que o motivo
torpe deve estar relacionado a um comportamento moralmente reprovável ou
abjeto por parte do autor do crime.

Além disso, a doutrina também enfatiza a importância de uma análise


cuidadosa do contexto específico do caso para determinar se o motivo em
questão atende aos critérios de torpeza. Aspectos como a natureza do
relacionamento entre vítima e autor, as circunstâncias que levaram ao crime e
os motivos subjacentes devem ser considerados de forma integral.

No caso em comento, não existem nos autos evidências que ditem com
segurança a motivação do fato imputado ao réu, devendo ser efetuado o decote
da qualificadora em caso de pronúncia. Em relato de instrução, o Réu:

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“(...)Que não tinha desavença nenhuma, que o Sr. Antônio Carlos era
junto com sua irmã e moravam em uma casa sua, e sua mãe “colocou”
sua irmã para Esperantina, separando dele porque ele usava muita
droga e ele quis se vingar dele acusado depois que ele pegou a chave
da casa de volta”

Ou seja, a desavença familiar trazida é tão somente unilateral, que,


inclusive em sede de legítima defesa, pleito anterior, houve ação de surpresa
ao ser atacado por arma branca nas proximidades do mercado.

A inconformidade por parte da vítima pelo fim do seu relacionamento foi


motor para a tentativa de homicídio resistida e invertida em presente processo.

Em conformidade com a ausência de torpeza na imputação do homicídio


tentado por parte do réu, há a perpetuação na jurisprudência in verbis:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.


HOMICÍDIO. MOTIVO TORPE. QUALIFICADORA
MANIFESTAMENTE IMPROCEDENTE. EXCLUSÃO DA
PRONÚNCIA. POSSIBILIDADE. MODIFICAÇÃO DO JULGADO
A QUO. REVOLVIMENTO DE MATERIAL FÁTICO-
PROBATÓRIO. ÓBICE DA SÚMULA N. 7/STJ. INSURGÊNCIA
DESPROVIDA. 1. Permite-se a exclusão de qualificadoras na
fase do juízo sumariante, desde que manifestamente
improcedentes, sem que se possa falar em usurpação da
competência do Tribunal Popular. 2. Na hipótese, a Corte
recorrida afastou a incidência da qualificadora do motivo torpe
por considerá-la manifestamente improcedente, salientando que
os fatos relativos à presença dessa circunstância não foram
suficientemente demonstrados. 3. Nesse aspecto, para se
desconstituir o julgado e operar o reconhecimento da
qualificadora do motivo torpe, seria necessário o revolvimento do
material fático-probatório dos autos, o que é vedado na via eleita,
conforme o óbice previsto na Súmula n. 7/STJ. 4. Agravo
regimental desprovido.
(STJ - AgRg no REsp: 1663967 RS 2017/0073786-2,
Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento:
20/06/2017, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
28/06/2017)

As provas controversas não são capazes de evidenciar a relação do


acusado com a vítima, mas sim o contrário, razão pela qual não se pode aferir
os motivos do fato. Por isso, requer-se o decote de tal qualificadora em uma
possível discussão em tribuna.

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3. DA INEXISTÊNCIA DE RECURSO QUE IMPOSSIBILITOU A DEFESA
DA VÍTIMA

A qualificadora foi inserida na denúncia sem nenhum fundamento ou


subsunção dos fatos que pudesse levar a este equivocado entendimento. Logo,
a inexistência de prova do recurso que impossibilitou ou dificultou a defesa do
ofendido torna patente é o afastamento da qualificadora descrita no inciso IV, §
2º, do art. 121, do CP.

O Ministério Público, cita que o motivo da dificuldade da defesa da vítima


se consubstancia no fato de existirem na ação duas pessoas, que ao se
aproveitarem do fato da vítima estava caída, impossibilitaram a sua defesa.

Entretanto, não consta por unanimidade fatos de que existiu essa


cooperação na ação. Em presente relatos de FRANCISCO DAS CHAGAS e
JOSIEL ocorre a uníssona de que o réu, FRANCISCO, estava sozinho durante
os acontecimentos. Torna-se, por muito, tentativa de imputar pena maior do que
o quadro fático demonstrado.

Aliás, nem se demonstra, em sede de defesa justificada de sua vida.

Segue jurisprudência, in verbis:

RECURSO CRIME EM SENTIDO ESTRITO. HOMICIDIO


QUALIFICADO. ART. 121, PARÁGRAFO 2o., IV.
DESCLASSIFICACAO. HOMICIDIO SIMPLES. - Se nem a denuncia
descreve qual o meio que dificultou ou impossibilitou a defesa da
vitima, nem a prova traz elementos que pudessem amparar a alegada
surpresa, a qualificadora nao pode subsistir, e deve se extirpada da
pronuncia. - Desentendimento anterior que possibilitava ao ofendido
esperar alguma reacao por parte do reu. Surpresa inexistente. Recurso
provido, para que o acusado seja levado ao Juri apenas pelo homicidio
simples ( CP, art. 121 caput).

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(TJ-PR - RECSENSES: 250544 PR Recurso em Sentido Estrito -
0025054-4, Relator: Martins Ricci, Data de Julgamento: 12/08/1993, 2ª
Câmara Criminal)

4. AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA DO INCISO III, 2°, DO ART.


121, DO CP.

Ao empregar supostamente arma de fogo e efetuar disparos contra a


vítima, coisa já exaustivamente comprovada inexistente, houve a imputação da
conduta demonstrada no art. 121, §2°, III do CP ( perigo comum ).

Entretanto, se possuía uma quantidade indeterminada de pessoas que


poderiam ter sido lesadas, aproximando a qualificadora do art. 121, §2°, III, pelo
emprego da arma de fogo mencionada, se demonstra claramente tendencioso
ter-se apenas testemunhas indiretas presentes na Instrução.

Faz-se com que as provas orais sejam, no mínimo, questionadas.

Ademais, perigo comum tem como caracterizador a infringência do dano,


ou potencialidade do mesmo, de atingir um número indeterminado de pessoas
proporcionando sofrimento intenso e exagerado à vítima.

Coisa inexistente em entendimento jurisprudencial, sendo utilizado de


forma inclinada para aumentar a dosimetria em caso de pronúncia. In verbis:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. HOMICÍDIO DOLOSOS


QUALIFICADO (DUAS VEZES). PRONÚNCIA. QUALIFICADORA DO
PERIGO COMUM AFASTADA. INCONFORMISMO MINISTERIAL. A
qualificadora do perigo comum se mostra manifestamente
improcedente. Isto porque, ainda que os projéteis disparados por uma
arma de fogo possuam razoável poder destrutivo, capaz de ceifar a
vida de uma pessoa, o fato é que, em regra, não tem a capacidade de
atingir um número indeterminado de pessoas, circunstância necessária
para configurar o perigo comum. Além disso, pelo que se pode
observar das imagens captadas pelas câmeras de segurança, não
havia pessoas transitando no local, sendo que os disparos foram

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desferidos apenas na direção do automóvel em que estavam as
vítimas.RECURSO DESPROVIDO.
(TJ-RS - RSE: 70079188249 RS, Relator: José Antônio Cidade Pitrez,
Data de Julgamento: 27/06/2019, Segunda Câmara Criminal, Data de
Publicação: 16/07/2019)

Conforme visto, é entendimento já pacificado, de que tal qualificadora não


pode prosperar. Principalmente no caso dos autos, tendo em vista as provas
produzidas e a completa inexistência de comprovação intrínseca de elementos
da efetivação de disparos.

Ademais, não existem cápsulas, munições ou arma presente no local, tal


qual perfuração de projétil advindo de arma de fogo nas imediações, portanto a
qualificadora não se sustenta.

5. DO DIREITO DE AGUARDAR EM LIBERDADE EM CASO DE DECISÃO


DE PRONÚNCIA.

A fragilidade das provas mencionadas, e, em caso do réu se submeter a


júri, não se sustentarão em plenário. Observa-se também que a pena cominada,
mesmo que distantemente houvesse condenação, não seria o regime fechado
condizente com a pena aplicável, já que FRANCISCO DAS CHAGAS é primário
e não possui outras condenações.

Desta feita, o mesmo que aguardará preso, se torna inviável por causa de
situação, que é de uma eventual sentença condenatória, não ser compatível com
regime mais gravoso.

Segue a jurisprudência de conformidade com o caso em tela:

CRIMINAL. HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO DUPLAMENTE


QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. RÉU PRONUNCIADO.
PLEITO DE AGUARDAR O JULGAMENTO DO RECURSO EM
SENTIDO ESTRITO EM LIBERDADE. GRAVIDADE GENÉRICA DO
DELITO. PERICULOSIDADE ABSTRATA DO AGENTE. GARANTIA
DA ORDEMPÚBLICA. POSSIBILIDADE DE VIR A AMEAÇAR
TESTEMUNHA OU PRATICAR NOVOS CRIMES. AMEAÇA À
INSTRUÇÃO CRIMINAL NÃO DEMONSTRADA. RÉU QUE

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PERMANECEU PRESO DURANTE A INSTRUÇÃO CRIMINAL.
NECESSIDADE DE FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA DA SENTENÇA
DE PRONÚNCIA. CONSTRANGIMENTOILEGAL EVIDENCIADO.
ORDEM CONCEDIDA. I. A prisão preventiva é medida excepcional e
deve ser decretada apenas quando devidamente amparada pelos
requisitos legais, em observância ao princípio constitucional da
presunção de inocência ou da não culpabilidade, sob pena de antecipar
a reprimenda a ser cumprida quando da condenação definitiva. II. O
juízo valorativo sobre a gravidade genérica do crime imputado ao
paciente e sua periculosidade abstrata, não constituem fundamentação
idônea a autorizar a prisão cautelar, se desvinculados de qualquer fator
concreto ensejador da configuração dos requisitos do art. 312 do CPP.
(Precedentes) . III. Em que pese a renovação da oitiva das
testemunhas perante o júri, não pode o magistrado concluir que o réu,
solto, irá interferir na instrução criminal, sem base em fatos concretos
que indiquem a real possibilidade deste efetivamente vir a ameaçar as
testemunhas, não sendo tal argumento, portanto, suficiente à
manutenção da custódia provisória. IV. Simples menção aos requisitos
legais da segregação, à necessidade de manter a credibilidade da
justiça e de coibir a prática de delitos graves que não se prestam a
embasar a custódia acautelatória. V. É indispensável a presença de
concreta fundamentação para o óbice ao direito de recorrer da
sentença de pronúncia em liberdade, com base nos pressupostos
exigidos para a prisão preventiva, mesmo tendo o réu permanecido
custodiado durante a instrução criminal. VI. Deve ser cassado o
acórdão recorrido, bem como a sentença condenatória, no tocante à
decretação da prisão do réu, para revogá-la, determinando a expedição
de alvará de soltura em seu favor, para que possa recorrer em
liberdade, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que
venha a ser decretada novamente a custódia, com base em
fundamentação concreta. VII. Ordem concedida, nos termos do voto do
Relator.

(STJ - HC: 195781 CE 2011/0018560-0, Relator: Ministro


GILSON DIPP, Data de Julgamento: 12/04/2011, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJe 11/05/2011)

De todo modo, a prisão preventiva não pode ser medida de


ANTECIPAÇÃO DA PENA, e deve fazer jus aos requisitos do art. 312, CPP.
Ainda, não há que se falar em permanência do réu em reclusão apenas por este
já se encontrar preso até este momento processual. No caso dos autos, é
inconteste que o acusado não representa risco à ordem pública, sendo a
medida cautelar de comparecimento obrigatório em juízo a mais adequada neste
momento processual.

Sua estadia em sistema prisional, de fato, está baseada em perigo


abstrato e não factível com o apresentado em argumentos contundentes no
presente documento. Assim, sua defesa contra ato injusto, se torna na verdade
o que o pune por tentar sobreviver ao ocorrido.

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Portanto, excelência, diante de tudo que foi exposto, esta defesa clama
que seja concedido ao réu o direito de responder ao processo em liberdade, já
que estão ausentes os requisitos para a manutenção de sua custódia cautelar.

III – DOS PEDIDOS

Diante a exposição, requer que o réu FRANCISCO DAS CHAGAS DE


MEDEIROS, seja absolvido em face do reconhecimento da mencionada
excludente de ilicitude, medida que se espera, nos moldes do art. 25 do Código
Penal.

Termos em que, Pede Deferimento.

Teresina- PI, 10 de Julho de 2024.

Jó Eridan B M Fernandes

OAB-PI 11827

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