Senteça - Marcelo Pegado Correia PDF

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SENTENÇA PROFERIDA EM AUDIÊNCIA

(PARTE INTEGRANTE DO RESPECTIVO TERMO)

PODER JUDICIÁRIO DO RIO GRANDE DO NORTE


6ª VARA CRIMINAL DE NATAL/RN

Processo nº 0116998-31.2014.8.20.0001
ACUSADOS: THIAGO JERÔNIMO PINHEIRO e outros

EMENTA: LATROCÍNIO. CONSUMAÇÃO. ROUBO


QUALIFICADO. TENTATIVA. CORRUPÇÃO DE MENORES.
CONCURSO FORMAL. OCORRÊNCIA. CONDENAÇÃO.
I – Há roubo quando ocorre a subtração de coisa alheia móvel,
mediante a utilização de grave ameaça ou de violência contra a pessoa
ou, ainda, após havê-la reduzido à impossibilidade de resistência, só se
consumando o delito quando o agente obtém a posse, ainda que breve,
do bem subtraído, e sendo qualificado pelas circunstâncias se a
violência ou ameaça é exercida com emprego de arma e se há o
concurso de agentes, majorando-se a pena, na forma do § 2º, do art.
157, do Código Penal.
II – Ocorre latrocínio quando o roubo é qualificado pelo
resultado morte, nos termos do §3º, parte final, do art. 157 do Código
Penal, respondendo todos os agentes quando a morte é causada por um
deles e houver previsibilidade do resultado, que ocorre quando têm eles
consciência de que está sendo empregada arma na prática do crime,
consumando-se o delito ainda que a subtração não tenha se consumado.
III – Sendo o delito praticado juntamente com menor de 18 anos,
configura-se a conduta tipificado no art. 244-B do Estatuto da Criança
e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990), em concurso formal com os
delitos de Roubo.
IV – Demonstrada a materialidade e autoria do delito, impõe-se a
condenação do acusado.

Vistos etc.,

1 – RELATÓRIO:

Trata-se de Ação Penal Pública promovida pelo Ministério


Público contra THIAGO JERÔNIMO PINHEIRO, MARCELO PEGADO CORREIA,
GLAUCIO HERCULANO FONSECA e ALESSANDRO WALLACE DE FREITAS
PROCÓPIO, qualificados nos autos, pela prática da conduta delituosa prevista no art. 157,
§3°, in fine, do Código Penal e no art. 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º
8.069/1990) c/c art. 29 do Código Penal.
A denúncia foi recebida em 14 de maio de 2014 (fls. 208) e
narra, em síntese, que no dia 27 de abril de 2014, por volta das 20:00h, os denunciados,
juntamente com o adolescente KEVIN PEREIRA DAMASCENO, uniram seus desígnios
com o fim de praticar o delito de roubo contra a Padaria La Via Pane, localizada na Av.
Nilo Peçanha, nº 338, bairro Petrópolis, nesta Capital.
Acrescenta, ainda, que, segundo restou apurado na
investigação policial, GLÁUCIO e o menor KEVIN ingressaram na padaria e, cada um
1
fazendo uso de arma de fogo, anunciaram o assalto. Enquanto isso, ALESSANDRO, que
dirigia um veículo GM/Celta, foi para a frente do Hospital Universitário Onofre Lopes
aguardar o desenrolar da ação delituosa; já THIAGO e MARCELO dirigiram as
motocicletas que levaram os dois primeiros até a padaria, possibilitando a rápida fuga do
local do crime.
Por fim, narra que Gláucio se dirigiu ao caixa da
padaria, usando um capacete de motociclista para esconder o rosto, enquanto Kevin, de
face nua, abordava os clientes para subtrair seus pertences e que dentre os clientes da
padaria estava o policial Ilfran André Tavares de Araújo, que juntamente com sua irmã
Ilma Araújo Montenegro ocupava uma das primeiras mesas do estabelecimento. Que ao
ser abordada, Ilma teve apontada contra sua cabeça a arma de fogo empunhada por
KEVIN, o que ensejou reação por parte de Ilfran, que entrou em luta corporal com o
menor. GLÁUCIO, para garantir o êxodo do delito, atirou contra Ilfran, atingindo-o duas
vezes, sendo que este não resistiu aos ferimentos e faleceu.
Instrui o processo os autos do Inquérito Policial, em que
consta Auto de Prisão em Flagrante, Termo de Exibição e Apreensão (fls. 44), Boletim de vida
pregressa dos acusados, Boletins de Ocorrência (fls. 10 e 74), e demais elementos da peça
informativa.
Junta-se Laudo de Exame Residuográfico de Chumbo
realizado nos acusados (fls. 114/128), Laudo de Exame Necroscópico (fls. 221) e Laudo de
Exame em Imóvel Particular (fls. 262/270).
As Certidões Criminais (fls. 493/496) atestam a inexistência
de outros feitos criminais contra os acusados.
A prisão em flagrante foi relaxada e, logo em seguida,
decretada a prisão preventiva (fls. 192/196).
Foi admitido o Bel. Gustavo André de Oliveira Tavares
como Assistente de Acusação (fls. 223).
Procedeu-se toda a instrução processual de forma regular,
com citação dos réus (fls. 222 e 257) e apresentação de defesa (fls. 226/245, 246/253 e
271/278).
Na audiência de instrução, realizada através de gravação em
sistema audiovisual, foram inquiridas as testemunhas arroladas no processo; os acusados foram
interrogados; não houve requerimento de diligências; e as partes apresentaram suas alegações
finais orais.
Em suas alegações finais, o Ministério Público pede a
condenação de todos os acusados nos termos da Denúncia, pelo Latrocínio e Corrupção de
Menores em concurso material. O assistente de acusação acrescenta o concurso formal com
os crimes de Roubo Majorado contra Ilma e Luiz, bem como com o de Associação Criminosa,
bem com e reparação dos danos com base na perspectiva de vida. Já a Defesa de MARCELO
pede a participação de menor importância, bem como a confissão e menoridade e a
desclassificação para Roubo Majorado. A de THIAGO pede o reconhecimento das
atenuantes de menoridade e que seja desqualificado para o delito do art. 157 e
desconsiderado o delito do art. 244, bem como reconsiderado o pedido de exame de
sanidade mental. Por fim a de GLÁUCIO e ALESSANDRO pede seja desclassificado o
crime para o art. 157, I e II, em sua forma tentada, com reconhecimento da confissão e
menoridade, bem como a absolvição pelo art. 244-B.
Vêm os autos conclusos.
É, em suma, o Relatório. Passo a devida Fundamentação e
posterior Decisão.

2 – FUNDAMENTAÇÃO:

2.1 – DOS LIMITES DA ACUSAÇÃO E DA SENTENÇA:

Primeiramente, impõe-se fixar os limites da acusação.


2
Como sabido, os acusados se defendem dos fatos narrados e
não da capitulação legal posta na Denúncia. Daí que, embora a peça acusatória capitule tão
somente o delito do art. 157, § 3º, do CP (Latrocínio) e o do art. 244-B do Estatuto da Criança
e do Adolescente (Corrupção de Menores), a narrativa é suficientemente precisa na imputação
de outros delitos também de Roubo, embora em sua forma tentada.
Com efeito, às fl. 02 a Denúncia relata que os acusados
"uniram seus desígnios com o fim de praticar o delito de roubo contra a Padaria La Via
Pane" e, para tanto, "GLÁUCIO e o menor KEVIN ingressaram na padaria e, cada um
fazendo uso de arma de fogo, anunciaram o assalto".
Continua a narrativa acusatória afirmando que "Gláucio se
dirigiu ao caixa da padaria enquanto Kevin abordava os clientes para subtrair seus
pertences" e que "dentre os clientes da padaria estava o policial Ilfran André Tavares de
Araújo, que juntamente com sua irmã Ilma Araújo Montenegro ocupava uma das primeiras
mesas do estabelecimento". Continua: "ao ser abordada, Ilma teve apontada contra sua
cabeça a arma de fogo empunhada por KEVIN, o que ensejou reação por parte de Ilfran,
que entrou em luta corporal com o menor. GLÁUCIO, para garantir o êxodo do delito,
atirou contra Ilfran, atingindo-o duas vezes", sendo que este "não resistiu aos ferimentos e
faleceu".
São estes os fatos efetivamente narrados na Denúncia.
Da mera leitura da peça acusatória, fácil observar, portanto,
que a mesma, além de narrar a tentativa de subtração dos objetos da Padaria, o que fica bem
claro e é exposto como fato principal do episódio - "com o fim de praticar o delito de roubo
contra a Padaria La Via Pane" tendo "Gláucio se dirigiu ao caixa da padaria" – igualmente
narra a tentativa de subtração dos objetos dos clientes Ilma Araújo Montenegro e Ilfran André
Tavares de Araújo.
Com efeito, ao afirmar que Kevin abordava os clientes para
subtrair seus pertences e dentre os clientes da padaria estava o policial Ilfran André Tavares
de Araújo, que juntamente com sua irmã Ilma Araújo Montenegro ocupava uma das
primeiras mesas do estabelecimento", a peça acusatória já é suficientemente clara em
descrever a conduta em relação a estas duas vítimas. Mas a Denúncia vai além quando, em
relação a Ilma, afirma que a mesma teve apontada contra sua cabeça a arma de fogo
empunhada por KEVIN, assim como, em relação a Ilfran, descreve minuciosamente o
resultado morte como consequência do ato criminoso, o que faz quando descreve que o mesmo
"entrou em luta corporal com o menor" e que "GLÁUCIO, para garantir o êxodo do delito,
atirou contra Ilfran, atingindo-o duas vezes", sendo que este "não resistiu aos ferimentos e
faleceu".
Assim, a peça acusatória, não obstante a falha na
capitulação legal dos delitos, é suficientemente clara ao descrever, além do delito de Corrupção
de Menores (art. 244-B do ECA), três delitos distintos de Roubo: a tentativa de Roubo contra a
padaria La Via Pane (art. 157, § 2º, I e II c/c art. 14, II, do CP); a tentativa de Roubo contra a
vítima Ilma Araújo Montenegro (art. 157, § 2º, I e II c/c art. 14, II, do CP); e o Roubo com
resultado morte (Latrocínio) praticado contra Ilfran André Tavares de Araújo (art. 157, § 3º, do
CP).
Havendo, pois, clara narrativa destes fatos, foi desta
imputação que os acusados efetivamente se defenderam, delimitando esta, em
consequência, a abrangência da presente sentença, ainda que a capitulação posta não
reflita exatamente os delitos narrados.
Cabível, portanto, o emendatio libelli, nos termos do art.
383 do Código de Processo Penal, o qual diz que "o juiz, sem modificar a descrição do fato
contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave".
Neste sentido, pacífica a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça:

"EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


3
ESPECIAL. CRIMES CONTRA A ORDEM
TRIBUTÁRIA. ART. 1º, DA LEI Nº 8.137/90.
EMENDATIO LIBELLI. DEFESA DOS FATOS
NARRADOS NA DENÚNCIA. RECONHECIMENTO
DE CAUSA DE AUMENTO. ART. 12, I, DA LEI Nº
8.137/90. POSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL
NÃO PROVIDO.
1. É sabido que o réu se defende dos fatos narrados na
denúncia e não da tipificação a eles atribuída. Desta
forma, no momento da condenação, pode o Juiz alterar
a definição jurídica dos fatos, ainda que isso importe em
aplicação de pena mais gravosa, nos termos do art. 383,
do CPP.
2. Cabível o reconhecimento pelo magistrado da causa de
aumento prevista no art. 12, I, da Lei nº 8.137/90, ainda que
não conste da denúncia pedido expresso nesse sentido.
3. Agravo regimental não provido". (AgRg no REsp
1368120/AL. Rel. Ministro MOURA RIBEIRO. T5 -
QUINTA TURMA. Julg. 10/06/2014. DJe 17/06/2014).

"EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL.


ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E TRÁFICO DE
DROGAS. ALEGAÇÃO DE MUTATIO LIBELLI.
DENÚNCIA NA QUAL ESTÃO DESCRITOS OS FATOS
PELOS QUAIS O PACIENTE FOI CONDENADO.
MERA EMENDATIO LIBELLI. AUMENTO DA
PENA-BASE DEVIDAMENTE JUSTIFICADO NA
GRANDE QUANTIDADE DE DROGA APREENDIDA.
INCIDÊNCIA DO ART. 42, DA LEI N.º 11.343/06.
IMPOSSIBILIDADE DE SE APLICAR A MINORANTE
PREVISTA NO ART. 33, §
4.º, DA LEI N.º 11.343/06, EM RAZÃO DA
CONCLUSÃO DAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS DE
QUE O O PACIENTE DEDICAVA-SE À
TRAFICÂNCIA. PRISÃO PROCESSUAL JUSTIFICADA
EM DADOS CONCRETOS. PACIENTE PRESO DESDE
O FLAGRANTE. ORDEM DE HABEAS CORPUS
DENEGADA.
1. No sistema processual penal brasileiro, o réu
defende-se dos fatos descritos pela acusação, e não da
imputatio iuris. Por isso é permitido ao Juiz, na
Sentença, proferir condenação por delito pelo qual não
fora o acusado denunciado, se no bojo da exordial há
narração de conduta criminosa típica. De igual maneira,
pode o julgador também conferir definição jurídica
diversa da atribuída pelo Ministério Público.
(...)
6. Ordem de habeas corpus denegada". (HC 174340/
AC.Rel. Ministra LAURITA VAZ. T5 - QUINTA
TURMA. Julg. 27/11/2012. DJe 05/12/2012).

4
Também o Supremo Tribunal Federal:

"EMENTA: HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL.


RITO COMUM ORDINÁRIO. RECAPITULAÇÃO DOS
FATOS PELO MAGISTRADO. EMENDATIO
LIBELLI. DESNECESSIDADE DE REABERTURA
DA INSTRUÇÃO CRIMINAL. DENÚNCIA QUE BEM
NARROU OS FATOS ENSEJADORES DA
CONDENAÇÃO. CONSUNÇÃO. NÃO-OCORRÊNCIA.
QUADRO FÁTICO REVELADOR DA
INDEPENDÊNCIA DAS CONDUTAS SUPOSTAMENTE
PROTAGONIZADAS PELO PACIENTE. ORDEM
DENEGADA.
1. Na concreta situação dos autos, a inicial acusatória
tratou explicitamente de todos os fatos ensejadores da
condenação do paciente. Fatos, todavia, que receberam
do Juízo processante classificação jurídica diversa
daquela efetuada pelo órgão de acusação, o que se
coaduna com o art. 383 do Código de Processo Penal.
Pelo que o caso é mesmo de emendatio libelli (correção
da inicial) e não de mutatio libelli (alteração do próprio
fato imputado ao acusado).
2. Não há como se reconhecer, na via processualmente
estreita do habeas corpus, a incidência do princípio da
absorção do delito menos grave pelo crime mais grave. É
que o quadro fático assentado pelas instâncias ordinárias
revela a independência entre as condutas protagonizadas
pelo paciente.
3. Ordem indeferida". (HC 94443 / MS - MATO GROSSO
DO SUL. Relator(a): Min. AYRES BRITTO. Julgamento:
29/06/2010. Orgão Julgador: Primeira Turma. DJe-190
DIVULG 07-10-2010. PUBLIC 08-10-2010).

"EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL.


PROCESSUAL PENAL. PECULATO EM CONCURSO
DE PESSOAS. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO
PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO E DE DENÚNCIA
ALTERNATIVA. IMPROCEDÊNCIA. ORDEM
DENEGADA.
1. Fato descrito na denúncia em sintonia com o fato pelo
qual o réu foi condenado.
2. A circunstância de não ter a denúncia mencionado o
art. 13, §2°, a, do Código Penal é irrelevante, já que o
acusado se defende dos fatos narrados e não da
capitulação dada pelo Ministério Público.
3. O juiz pode dar aos eventos delituosos descritos na
inicial acusatória a classificação legal que entender mais
adequada, procedendo à emenda na acusação
(emendatio libelli), sem que isso gere surpresa para a
5
defesa.
4. A peça inicial acusatória, na forma redigida,
possibilitou ao Paciente saber exatamente os fatos que
lhe eram imputados, não havendo que se falar em
acusação incerta, que tivesse dificultado ou inviabilizado
o exercício da defesa.
5. Ordem denegada. (HC 102375 / RJ - RIO DE JANEIRO.
Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA. Julgamento:
29/06/2010. Orgão Julgador: Primeira Turma. DJe-154.
DIVULG 19-08-2010. PUBLIC 20-08-2010).

Ressalte-se, por outro lado, que há notícias nos autos de


objeto roubado do cliente Luiz de Barros Correia Neto, mais precisamente um celular
Samsung, modelo Galaxy S4 4G, cor branca, conforme relatado em Boletim de Ocorrência (fls.
74). Entretanto, tal fato não foi capitulado, nem mesmo narrado na Denúncia, devendo a
presente sentença ater-se aos fatos lançados na peça acusatória, respeitando, assim, o princípio
da correlação entre acusação e sentença.
Observe-se que sequer poderia ser caso de aditamento,
tendo em vista que as circunstâncias que conduziriam à consumação do fato já estão presentes
desde a fase investigatória, não tendo surgido durante a instrução, tendo sido opção do órgão
acusador delinear sua acusação como o fez.
Assim, e bem delineada a acusação, e definidos os limites
da presente sentença, passamos a apreciação dos fatos delituosos atribuídos aos acusados.
Por fim, não havendo novos fatos acerca da insanidade do
acusado Thiago, mantenho a Decisão que indeferiu a instauração do incidente.

2.2 – FUNDAMENTAÇÃO FÁTICA (materialidade e autoria):

Pela prova dos autos, a materialidade e autoria delitivas


restaram fartamente demonstradas, de forma a inexistir qualquer dúvida acerca da prática, pelos
acusados, das condutas delituosas narradas na denúncia.
Com efeito, no interrogatório da fase policial, os próprios
acusados confessaram as acusações que lhes são imputadas, ocasião em que também foi ouvida
a versão do adolescente que participou da ação:

THIAGO
Ÿ1 JERÔNIMO PINHEIRO (fls. 32/33) afirmou que "participou do
referido crime na companhia de MARCELO PEGADO, GLAUCIO, vulgo
'GLAUCINHO' e do adolescente chamado KEVEN; Que na noite do dia 27,
estava em casa, na companhia de KEVEN, MARCELO e GLAUCIO quando
tiveram a ideia de sair para praticar um assalto; Que nesta ocasião, KEVEN
já trazia consigo um revólver calibre.38; QUE além do revólver calibre .38,
existia ainda uma pistola de brinquedo, de plástico; Que por volta das 20
horas, saíram da residência do interrogado, em duas motocicletas de cor
preta, sendo uma pertencente a MARCELO e a outra a KEVEN; [...];Que ao
passarem pela Panificadora Via Pane, notaram que o local era pouco
iluminado e deserto, motivo pelo qual o escolheram para a prática do assalto;
Que neste momento, GLAUCINHO e KEVEN entraram na panificadora,
enquanto o INTERROGADO e MARCELO permaneceram do lado de fora,
cada um com uma motocicleta; Que pela vidraça da panificadora, presenciou
o momento em que um dos clientes segurou a arma de KEVEN, momento em
que este disparou contra o cliente; Que ouviu dois disparos, mas não sabe se
ambos atingiram a vítima; Que em seguida, GLAUCINHO e KEVEN saíram
correndo de dentro da panificadora e pularam nas garupas das motocicletas
pilotadas pelo INTERROGADO e por MARCELO, que saíram em disparada;
6
[...]; Que GLAUCINHO e KEVEN disseram que não subtraíram nada da
panificadora; [...]; Que não imaginava que o assalto poderia resultar na
morte de uma pessoa; Que não sabe do paradeiro do revólver calibre .38
utilizado no dia do crime, mas sabe que após o fato, a arma permaneceu com
KEVEN; [...]".

MARCELO
Ÿ2 PEGADO CORREIA (34/35), por sua vez, repetiu grande parte
dos fatos narrados por THIAGO, tendo ressaltado que "na noite do fato, viu
apenas uma arma, qual seja, o revólver .38 que KEVEN portava", além de
que "na fuga, seguiu em direção ao centro da cidade e parou nas
proximidades ao Colégio Winston Churchill, na Av. Rio Branco, onde deixou
KEVEN e seguiu para casa".

GLÁUCIO
Ÿ3 HERCULANO FONSECA (fls. 36/38) acrescentou a
participação de "uma pessoa de apelido SANDRINHO" no assalto, o qual
estava em "um corsa, de cor branca, com xênon, placas não lembradas, rodas
sem calotas". Disse, ainda, que "combinaram todos de realizar um assalto
naquele dia" e que "saíram organizados da seguinte forma: o interrogado na
motocicleta de THIAGO COXINHA, MARCELO na motocicleta dele e os
demais (SANDRINHO, KEVIN e THIAGO) no corsa de SANDRINHO; [...];
QUE ao passarem em frente à padaria no bairro Petrópolis, THIAGO
COXINHA mostrou para SANDRINHO o local dizendo que era ideal para
fazer o assalto; QUE pararam mais à frente e combinaram de realizar o
assalto; QUE numa motocicleta foram THIAGO pilotando e o interrogado na
garupa; QUE na outra motocicleta foram MARCELO pilotando e KEVIN na
garupa; QUE THIAGO repassou para o interrogado uma pistola de cor
preta; QUE não sabe informar qual o calibre da arma de THIAGO; QUE
KEVIN estava armado de revólver calibre .38; QUE foram abordar a padaria
os quatro na motocicleta e SANDRINHO ficou no Chevrolet Corsa; QUE
pararam de frente à padaria e desceram o interrogado e KEVIN; QUE ao
adentrar o local, o interrogado apontou a arma para a mulher que estava no
caixa da padaria, solicitando o dinheiro; QUE enquanto isso, KEVIN passou
em frente e foi abordar os clientes, ocasião em que o agente de polícia civil
Ilfran André reagiu segurando a arma de KEVIN; QUE nesse momento,
KEVIN atirou contra a vítima e o interrogado se assustou; QUE o
interrogado se dirigiu para a vítima e acionou o gatilho por três vezes, mas a
arma não funcionou; QUE KEVIN deu o segundo tiro na vítima; QUE depois
dos disparos, eles correram e foram até às motocicletas que estavam fora da
padaria; QUE não conseguiram subtrair nenhum valor da padaria; QUE
saíram em fuga para a Ribeira e pegaram a Ponte Nova; QUE ao chegarem
nas proximidades da Praia do Forte, THIAGO mandou que o interrogado se
desfizesse da arma; QUE ele obedeceu ao comparsa; [...]".

ALESSANDRO
Ÿ4 WALLACE DE FREITAS PROCÓPIO (fls. 39/40) disse
que "de início, a intenção dos cinco [...] era fazer um assalto no município de
Santo Antônio, porém, ao chegarem no depósito de bebidas, o
empreendimento estava fechado e não deu certo a investida criminosa; QUE
sendo assim, retornaram para Natal-RN, onde ficaram procurando um local
para realizarem o assalto; QUE ao chegarem em frente à padaria no bairro
de Petrópolis, Natal-RN, THIAGO deu a ideia de realizarem o assalto ali,
pois o local era deserto e escuro; QUE o interrogado estacionou seu veículo
nas proximidades da Praça Cívica, de onde THIAGO retirou as armas e
entregou para KEVIN e GLAUCINHO; QUE o interrogado foi então para a
frente do Hospital Onofre Lopes, esperando o desfecho do assalto; QUE não
viu o que aconteceu, recebendo em seguida uma ligação de MARCELO
mandando o interrogado ir pegar KEVIN na Lojas Americanas do centro da
cidade; QUE KEVIN contou o que tinha acontecido; QUE KEVIN disse que
tinha atirado contra a vítima, pois ela tinha reagido; QUE foram para uma
casa no bairro Santarém e depois o interrogado deixou KEVIN no Igapó;
7
QUE o carro usado no assalto, um Chevrolet Celta, de cor branca, de placas
KME-6352, pertence ao irmão do interrogado; QUE uma das motocicletas
usadas no assalto, de placa NNW-3154, pertence ao próprio interrogado;
[...]".

OŸ5adolescente KEVIN PEREIRA DAMASCENO (fls. 41/42), também na


Delegacia, confirmou que conhecia os acusados do Conjunto Panorama e que,
inicialmente, iriam realizar um assalto num depósito situado no município de
Santo Antônio, mas como o local estava fechado, resolveram procurar outro.
Relatou, ainda, que "estava na garupa de THIAGO COXINHA e
GLAUCINHO na garupa de MARCELO; QUE SANDRINHO ia
acompanhando no Chevrolet Celta, de cor branca, placas não lembradas;
QUE SANDRINHO levava as armas no veículo; [...]; QUE SANDRINHO
pegou as armas no carro, entregando uma para o declarante e outra para
GLAUCINHO; [...]; QUE GLAUCINHO portava um revólver calibre .38 e o
adolescente outro revólver do mesmo calibre; QUE o adolescente entrou com
o capacete em mão e GLAUCINHO com o capacete na cabeça; QUE
GLAUCINHO foi direto na mulher que ficava no caixa; QUE o adolescente
foi abordar os clientes, ocasião em que a pessoa de Ilfran André reagiu,
agarrando a arma e imobilizando o adolescente; QUE nesse momento,
GLAUCINHO desferiu dois tiros na cabela da vítima que caiu no chão; QUE
o adolescente ficou assustado e correu, esquecendo o capacete no
estabelecimento comercial; QUE fora da padaria, estavam esperando as
pessoas de THIAGO COXINHA e MARCELO nas motocicletas e
SANDRINHO no Celta; QUE GLAUCINHO e o adolescente subiram nas
motos e foram embora; [...]; QUE as armas utilizadas no assalto eram de
THIAGO e de SANDRINHO; QUE tem a consciência tranquila, pois não
matou ninguém; QUE os outros querem colocar a culpa nele só porque ele é
'de menor'; [...]".

Saliente-se que os depoimentos colhidos na fase


inquisitorial devem ser levados em conta na formação da culpa, máxime quando em
consonância com outras provas colhidas nos autos, como ocorre in casu, já que as vítimas e as
testemunhas confirmaram o que foi declarado pelos acusados perante a autoridade policial.
Esse é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça:

“(...) Os depoimentos produzidos na fase inquisitorial, ainda


que não confirmados em juízo, não induzem à nulidade do feito,
sobretudo quando a condenação se funda em outros elementos
probatórios. 'O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da
prova.' (...)” (STJ – T6; HC 30497/RS; Rel. Min. Paulo Medina; DJ
06/09/2004 p. 312)

No interrogatório judicial, os acusados confirmaram em


quase sua totalidade os depoimentos da fase policial, confessando os fatos a eles atribuídos:
THIAGO JERÔNIMO PINHEIRO confirmou o que
disse na delegacia quanto ao fato criminoso em si e apenas acentuando que a arma de
Glaucio era de brinquedo e que se livrou da mesma na praia do meio; que ficou do lado
de fora e só dava para ver o caixa e Glaucio; que Glaucio fugiu na sua garupa e disse que
Kevin tinha matado a vítima; que depois do fato falou com Kevin que mostrou a arma do
crime com duas munições faltando.

MARCELO PEGADO CORREIA também confirma o


depoimento da fase policial, confessando, pois, a participação no fato, exceto no que diz
respeito ao fato de só ter visto, do lado de fora da padaria, o caixa e Glaucio, não vendo o
8
momento da luta com a vítima e do disparo, acrescentando, ainda, que sua única função
era pilotar a moto.
ALESSANDRO WALLACE DE FREITAS PROCÓPIO
também confessa tal qual consta no depoimento, repetindo o depoimento da fase policial.
GLÁUCIO HERCULANO FONSECA também confessa
a participação no fato, mas afirma que não foi ele quem atirou, mas o menor Kevin.
A materialidade e autoria do delito foi, ainda,
satisfatoriamente demonstrada pela prova produzida, em especial o que se extrai do depoimento
da vítima ILMA ARAÚJO MONTENEGRO, que narra que no dia dos fatos estava na
Padaria por volta das 20 horas para tomar uma sopa e ficou conversando com seu irmão
Ilfran; que estava bem na frente e viu uma movimentação no caixa; que não percebeu que
era um assalto; que veio um rapaz caminhando em direção a ela depoente e ela ficou
inerte; que o rapaz estava sem capacete e com uma arma; que tentou esconder o relógio e
a pessoa dizia que era um assalto e mandou passar tudo; que Ilfran levantou os braços e
disse "que é isso rapaz-"; que saiu entre as prateleiras e viu que seu irmão ficou em luta
com o mesmo indivíduo que lhe abordou; que ficou entre as prateleiras e depois escutou
uns tiros; que viu um vulto que imagina que foi exatamente a pessoa que atirou; que o
menor de fls. 99 dos autos foi a pessoa que abordou inicialmente ela depoente; que seu
irmão disse "o que é isso" quando o menor apontou a arma para sua cabeça; que os dois
saíram correndo enquanto seu irmão ficou no chão e ela saiu atrás gritando; que viu
claramente duas motos esperando os dois e também chegou a ver um veículo pequeno que
estava em frente às motos; que seu irmão foi socorrido; que também foi assaltado um
senhor que estava dentro da padaria quando estava no caixa pagando as contas; que tal
pessoa não estava com ela depoente; que a segunda pessoa que entrou estava de capacete
e o barulho de disparo só ocorreu quando o que veio por trás; que salvo engano foi este
que atirou na cabeça de seu irmão; que nada foi subtraído dela ou de seu irmão.
Já LUIZ DE BARROS CORREIA NETO afirma que
entrou na padaria para comprar pamonha e queijo por volta de 8 horas da noite; que
estava no caixa fazendo pagamento juntamente com seu filho; que entraram dois rapazes,
sendo um de capacete que foi diretamente para ele depoente e estava de arma em punho
enquanto o outro entrou; que levaram o seu celular; que o que estava com ele disse
"espere aí" e saiu em direção ao outro; que ele se escondeu e imediatamente ouviu os
tiros; que logo em seguida os dois saíram fugindo correndo e inclusive chegaram a ter
dificuldade em sair pela porta; que viu a pessoa no chão e a irmã pedindo socorro e
dizendo que tinham atirado em seu irmão; que a irmã da vítima saiu da padaria
gritando; que a caixa da padaria também chegou a ser abordado, mas não viu se levou
alguma coisa; que não seria capaz de reconhecer os assaltantes, inclusive porque o que te
abordou estava com capacete.
Acentue-se que em matéria de crimes contra o patrimônio, a
palavra da vítima, quando narra de forma coerente e segura os fatos, demonstrando que o único
objetivo é apontar os verdadeiros culpados pelo delito, merece credibilidade e é suficiente para
embasar uma condenação.
Neste sentido, o entendimento do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Norte, consoante trechos dos seguintes acórdãos:

“A palavra da vítima nos crimes contra o patrimônio é de


fundamental importância, ainda mais quando se apresenta coerente e
firme e em consonância com o conjunto probatório.” (Apelação
Criminal nº 2004.000547-4 de Alexandria; Câmara Criminal – Rel.
Des. Ivan Meira Lima; Julgamento 07/05/2004)

“É certo que, nos crimes praticados na clandestinidade, ou


seja, na ausência de testemunhas presenciais aos fatos, assume
significativo relevo a palavra da vítima, ainda nos delitos contra o
patrimônio, em que nenhum interesse tem a vítima de incriminar um
9
indivíduo desconhecido, com quem a mesma sequer possui inimizade.”
(Apelação Criminal nº 03.001350-0 de Natal; Câmara Criminal – Rel.
Juiz Luiz Alberto Dantas Filho; Julgamento 05/09/2003)

“Tratando-se de crime praticado sem a presença de terceiros,


impõe-se a valoração mais intensa da palavra da vítima como
esclarecedora da verdade, desde que em consonância com os demais
elementos probatórios dos autos.” (Apelação Criminal nº 01.002539-1;
Câmara Criminal – Rel. Des. Ivan Meira Lima; Julgamento
19/03/2004)

No presente caso, as vítimas apresentaram depoimentos


firmes, seguros e coerentes, demonstrando idoneidade e deixando fora de dúvida não terem
nenhuma intenção de incriminar indevidamente alguém e, além do mais, suas alegações
encontram guarida nas demais provas dos autos, conforme se extrai do depoimento das
testemunhas.
GLEIDIANE VANESSA ROCHA DOS SANTOS,
operadora de caixa da padaria, disse que estava atendendo um cliente por volta de 8 ou 8
e meia da noite; que os dois entraram, sendo um de capacete e outro não; que os dois
estavam armados e anunciaram o assalto; que o de capacete foi em sua direção e o de
capacete foi assaltar os demais clientes; que o de capacete não chegou a tirar o dinheiro
do caixa embora ela já estivesse com o dinheiro na mão para entregar; que nessa hora o
de capacete saiu em direção ao outro e ouviu os tiros; que reconhece a foto de Glaucio às
fls. 99 como o que estava de capacete e muito mais pelo olho e pelas características; que só
viu o menor de costas; que viu o de capacete apontar a arma mas não viu exatamente o
momento do tiro; que os dois fugiram e inclusive tiveram dificuldade de sair pela porta;
que a irmã da vítima chegou a sair da padaria e correr atrás dos assaltantes; que Mateus
disse que um dos assaltantes usava aparelho; que o de capacete era o mais agressivo; que
na delegacia reconheceu o de capacete pelo olho, altura, cor e o que viu do rosto.
MATHEUS DA SILVA SANTOS, funcionário da
padaria, disse que estava na hora do fato e viu quado entraram dois indivíduos; que um
sem capacete foi em direção ao caixa e o sem capacete foi em sua direção; que um senhor
estava juntamente com sua irmã; que parece que o que veio em sua direção tirou o
capacete; que virou e ouviu o primeiro disparo e não viu se quem atirou foi o com ou o
sem capacete; que quando estava na porta do corredor ouviu o segundo disparo; que
quando voltou a vítima já estava caído; que o menor de foto de fls. 99 é o que estava sem
capacete e reconhece mais ou menos.
JOSÉ GOMES DA SILVA e CARLOS MARCELO DE
FARIAS, policiais que participaram das diligências, foram dispensados..
LUIZ ARMANDO DE ARAÚJO SOUZA, padrastro de
Kevin; que a mãe do menor disse que achava que era Kevin que estava nas imagens que
aparecia na televisão; que compareceu à delegacia para esclarecimento e foi na intenção
de identificar e apresentar o adolescente; que a mãe do menor disse que a namorada do
adolescente ligou e disse que achava que era o mesmo que aparecia nas imagens; que na
delegacia pediu para ver as imagens e foi mostrado em um celular; que disse que tinha
certeza que era o adolescente; que seu enteado menor estava sem capacete; que o menor
ao tempo dos fatos estava morando com amigos que ele não conhecia; que o acusado que
tem sobrenome Herculano tinha proximidade com a família; que o adolescente confessou
a mãe ter praticado o crime mas não disse quem teria atirado.
O adolescente KEVIN PEREIRA DAMASCENO teve
precatória expedida para Caicó e a mesma ainda não retornou, mas já havia prestado
depoimento perante a Vara da Infância, tendo sido o feito juntado aos autos.
A testemunhas arrolada pela defesa de GLÁUCIO,
ADONIAS DE MEDEIROS PEREIRA, dá boas referências do mesmo e disse que era
vizinho dele, gozando de bom conceito; que acredita que Glaucio conhecia os demais mas
ele depoente só conhecia o Tiago; que o acusado Glaucio não usa aparelho dentário; que
10
conhece Tiago por Coxinha.
MARIA APARECIDA SILVA FREIRE, HELENEIDE
FERNANDES e MARIA DE FÁTIMA DE SOUZA DE ARAÚJO foram dispensados pela
defesa.
Ademais, as imagens internas da câmera de segurança
da Padaria La Via Pane (fls. 110) mostram o momento em que o acusado GLÁUCIO,
acompanhado do menor KEVIN, entra no estabelecimento. O primeiro, na ocasião, estava com
capacete e vestia uma camiseta azul; o segundo, vestia uma camiseta listrada, levava consigo
uma mochila nas costas, um capacete em uma das mãos e uma arma na outra. Enquanto
GLÁUCIO se dirigiu direto ao caixa, onde estava o cliente Luiz de Barros Correia Neto e a
funcionária Gleidiane Vanessa Rocha dos Santos, o adolescente foi na direção dos clientes,
onde estava a vítima Ilfran André Tavares de Araújo e sua irmã Ilma Araújo Montenegro. Logo
em seguida, GLÁUCIO pegou um objeto do cliente que estava no caixa e o colocou em seu
bolso, quando percebeu a luta corporal entre KEVIN e a vítima Ilfran e foi na direção de ambos
já com a arma apontada. Rapidamente se vê que a vítima cai, KEVIN se desvencilha e sai
correndo, juntamente com GLÁUCIO, passando pela porta por onde entraram.
Já o Laudo de Exame Necroscópico (fls. 221) comprovou
a morte da vítima Ilfran André Tavares de Araújo, concluindo que "a morte se deu devido a
endema e hemorragia cerebral, devido a ferimento penetrante de crânio, produzido por
projétil de arma de fogo".
Quanto à divergência no que tange a quem efetuou o
disparo que resultou na morte da vítima, inicialmente, cumpre ressaltar que todos agiram em
unidade de desígnios, sendo irrelevante, pelo menos para fim de tipificação, essa discussão. No
entanto, tal fato restou devidamente comprovado. É que embora três dos acusados tenham
afirmado, desde o interrogatório da fase policial, que KEVIN foi o responsável pelos disparos,
este foi firme e insistente em atribuir essa responsabilidade a GLÁUCIO.
A própria irmã da vítima fatal (fls. 109), que presenciou de
perto todo o ocorrido, afirmou ainda na Delegacia que "ILFRAN foi atingido por trás, tendo a
declarante certeza que o tiro partiu da arma do indivíduo que usava capacete", isto é, de
GLÁUCIO.
Por fim, os Laudos de Exame Residuográfico de
Chumbo (fls. 114/128) concluíram que somente foi constatada a presença de resíduos de
chumbo metálico ou de cátion chumbo II nas mãos direita e esquerda da pessoa de GLÁUCIO
HERCULANO FONSECA, restando, portanto, demasiadamente comprovado que o tiro partiu
de sua arma, e não da que portava o menor.
O carro e as motos utilizadas para dar cobertura e fuga aos
acusados também foram apreendidos, assim como a roupa que o menor vestia (Auto de
Exibição e Apreensão de fls. 44). O carro e uma das motos foram apreendidos em poder do
acusado ALESSANDRO, conforme afirmou o mesmo em seu depoimento na Delegacia (fls.
39/40); a outra moto estava com MARCELO, tendo este afirmado que pertencia a uma pessoa
próxima (fls. 34/35).
Além disso, o Laudo de Exame em Imóvel Particular
(fls. 262/270) concluiu pela ocorrência de dano tanto no imóvel comercial Padaria La Via Pane,
situada na Avenida Nilo Peçanha, s/n, Petrópolis, como no apartamento 101 do Edifício
Alphavile, localizado na mesma avenida, dano este que fora provocado por disparo de arma de
fogo.
Consta também dos autos, prova da menoridade de KEVIN
(fls. 467) e cópia do processo n.º 0117001-83.2014.8.20.0001 (fls. 337/492), por meio do qual
se apurou a prática do ato infracional pelo adolescente, aplicando-lhe, ao final, medida
socioeducativa de internação.
Portanto, inexiste dúvida acerca da materialidade dos
delitos, assim como da autoria dos acusados, restando demasiadamente claro que os mesmos,
em união de desígnios e divisão de tarefas, juntamente com um menor de 18 (dezoito) anos e
com utilização de armas de fogo, na tentativa de roubar um estabelecimento comercial e seus
clientes, notadamente Ilma e Ilfran, empreenderam violência da qual resultou a morte de Ilfran
11
André Tavares de Araújo.
Não resta dúvida da participação de todos no delito,
inclusive planejando previamente o mesmo, desde a saída do local de encontro inicial,
passando pela distribuição das armas e até a descida de dois no local do fato para a execução
direta, ficando os demais, cada um em veículo distinto, esperando o desfecho para dar fuga aos
executores diretos.

2.3 - FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA:

Delito de Roubo – Latrocínio (art. 157, §3º, do CP):

A acusação posta na denúncia é primeiramente de que os


acusados teriam praticado, contra a vítima Ilfran André Tavares de Araújo, o delito capitulado
no art. 157, §3º, parte final, do Código Penal:

“Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,


mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la,
por qualquer meio, reduzido a impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa.
(...)
§ 2º. A pena aumenta-se de um terço até metade:
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II – se há concurso de duas ou mais pessoas.
(...)
§3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de
reclusão, de sete a quinze anos, além da multa; se resulta morte, a
reclusão é de vinte a trinta anos, sem prejuízo da multa.”

O roubo, capitulado no caput do art. 157, vem a ser a


subtração de coisa alheia móvel, tal qual o furto, só que mediante a utilização de grave ameaça
ou de violência contra a pessoa ou, ainda, após havê-la reduzido à impossibilidade de
resistência. Para Júlio Frabrinni Mirabete, "a conduta típica é subtrair, tirar, arrebatar a coisa
alheia móvel, empregando o agente violência, grave ameaça ou qualquer outro meio para impedir a
vítima de resistir".
A acusação que pesa contra os mesmos é de que teriam
praticado o delito de roubo em sua forma qualificada pelo resultado morte, previsto no §3º,
parte final, do art. 157 do Código Penal, crime conhecido por latrocínio.
O latrocínio é, pois, o roubo com ocorrência de morte,
sendo considerado um crime hediondo, nos termos do inciso II do art. 1º da Lei nº 8.072/1990,
de modo que lhes são aplicáveis as disposições deste diploma legal.
Como assevera Mirabete1, em relação ao art. 157, §3º,
parte final, “o dispositivo engloba, com a mesma punição, o latrocínio (em que a morte é
causada dolosamente, por dolo direto ou eventual), e o roubo seguido de morte (em que o
evento letal é atribuível a título de culpa, por ser a morte previsível”, e prossegue dizendo que
“respondem todos os agentes pelo latrocínio quando a morte é causada por um deles e houver
previsibilidade do resultado, que ocorre quando têm eles consciência de que está sendo
empregada arma na prática do crime”.
O mesmo doutrinador ainda destaca que é irrelevante “a
identificação daquele que desferiu o golpe fatal contra a vítima” e “que a pessoa morta não
seja a mesma que detinha a posse da coisa subtraída”.
Este é também o entendimento do Superior Tribunal de

1
Código Penal Interpretado, 2ª ed.Atlas, 2001, p.1149.
12
Justiça, consoante trechos dos seguintes acórdãos:

“(...) Na hipótese de concurso de agentes no crime de roubo


com resultado morte, o co-autor que não efetuou o disparo de arma
de fogo causador da morte da vítima também responde pelo delito de
latrocínio, consubstanciado no artigo 157, parágrafo 3º, do Código
Penal. (...)”
(STJ – T5; HC 31169/SP; Rel. Min. Hamilton Carvalhido; DJ
06/02/2006 p. 330)

“(...) Paciente que se envolve na prática de roubo qualificado


pelo emprego de arma de fogo, assume o risco do resultado morte,
não havendo que se falar de ausência de liame entre sua conduta e o
resultado morte. O co-autor, mesmo que não efetue os disparos,
responde pelo evento morte, a título de dolo ou culpa. (...)”
(STJ – T6; HC 39243/RJ; Rel. Min. Hélio Quaglia Barbosa; DJ
05.12.2005 p. 381)

“I - O roubo com morte é delito qualificado pelo resultado,


sendo que este plus, na melhor dicção da doutrina, pode ser imputado
na forma de dolo ou de culpa.
II - No roubo, mormente praticado com arma de fogo,
respondem, de regra, pelo resultado morte, situado evidentemente em
pleno desdobramento causal da ação delituosa, todos que, mesmo não
agindo diretamente na execução da morte, contribuíram para a
execução do tipo fundamental (Precedentes). Se assumiram o risco,
pelo evento respondem. Recurso provido.”
(STJ – T5; Resp 418183/DF; Rel. Min. Félix Fisher; DJ
04.08.2003 p. 362)

"(...) Por oportuno, registre-se, ao contrário do que sustenta a


impetração, mesmo que o paciente não tenha sido o responsável pela
efetuação dos disparos de arma de fogo que culminaram no óbito de
uma das vítimas, deve responder como coautor pelo roubo seguido de
morte.
5. Isso porque ficou bem demonstrada, na espécie, a existência
de liame subjetivo e ajuste prévio do paciente com os demais agentes,
assumindo ele também o risco, com a participação na empreitada
delituosa, de que alguma vítima fosse morta em virtude de disparo de
arma. (...)"
(STJ – T6; HC 185.167/SP; Rel. Ministro Og Fernandes;
julgado em 15/03/2011, DJe 08/02/2012).

No presente caso, não há que se falar em participação de


menor importância, nem mesmo que algum dos concorrentes quis participar de crime menos
grave. Isto porque todos tinham pleno conhecimento de que estava sendo utilizada arma no
assalto que pretendiam cometer, tanto que foram unânimes ao mencionar, nos interrogatórios, a
existência desta, assumindo, portanto, o risco do resultado morte. Além disso, a divisão de
tarefas empreendida não faz de nenhuma conduta menos importante, pois enquanto GLAUCIO
entrou no estabelecimento na companhia do menor, os outros ficaram do lado de fora para dar
fuga e cobertura.
O Superior Tribunal de Justiça já se pronunciou a esse
respeito:

"(...) Ademais, descabida a alegação do correu Rafael quanto a


sua participação de menor importância no delito, eis que é pacífico o
entendimento no sentido de que todos que participam do latrocínio em
concurso de agentes são responsáveis pelo resultado mais gravoso,
13
seguindo regra prevista no art. 29, caput, do Código Penal. A Rafael
coube permanecer no veículo enquanto seus comparsas realizavam o
assalto e para que pudessem empreender fuga."
(STJ, HC 220.419/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta
Turma, julgado em 20/09/2012, DJe 26/09/2012)

"Conforme o entendimento desta Corte, "no roubo, mormente


praticado com arma de fogo, respondem, de regra, pelo resultado
morte, situado evidentemente em pleno desdobramento causal da ação
delituosa, todos que, mesmo não agindo diretamente na execução da
morte, contribuíram para a execução do tipo fundamental
(Precedentes). Se assumiram o risco, pelo evento, respondem." (HC n.º
35.895/DF, Rel. Min. Felix Fischer, DJ de 04/10/2004).
2. No caso, tal como consignou o acórdão recorrido, de acordo
com as circunstâncias fáticas, o resultado mais grave era previsível, na
medida em que o Recorrido e outros 2 (dois) corréus ajustaram a
prática do delito de roubo mediante armas de fogo. Ao Recorrido foi
dada a tarefa de transportar os demais para o local do crime, bem
como aguardá-los em local estratégico para, após, empreenderem
fuga.
Os Réus, agindo em unidade de desígnios, planejaram a
prática do delito básico (roubo à mão armada) que, num
desdobramento causal, resultou na morte da vítima.(...)"
(STJ, REsp 1111717/SP, Rel. Ministra Laurita Vaz, Quinta
Turma, julgado em 17/09/2009, DJe 13/10/2009).

Quanto à consumação, no caso específico do § 3º, o


Supremo Tribunal Federal, firmou o entendimento, na Súmula n.º 610, de que "há crime de
latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de
bens da vítima".

Segue a mesma linha o Superior Tribunal de Justiça:

"EMENTA: RECURSO ESPECIAL. PENAL.


LATROCÍNIO. CONSUMAÇÃO. TENTATIVA DE
SUBTRAÇÃO. HOMICÍDIO CONSUMADO.
VERBETE SUMULAR N.º 610 DO STF. PENA.
REGIME INTEGRALMENTE FECHADO.
INAPLICÁVEL A LEI DE TORTURA. SÚMULA 698
DO STF.
1. Caracterizado que o escopo dos acusados era
subtrair coisa alheia móvel, mediante violência ou
grave ameaça, sendo impedidos de realizar a subtração
e disparando arma de fogo em desfavor da vítima que
faleceu, resta consumado o crime de latrocínio.
Inteligência do enunciado n.º 610 da Súmula do STF.
2. Não se estende aos demais crimes hediondos a
admissibilidade de progressão no regime de execução da
pena aplicada ao crime de tortura, nos termos do verbete
sumular n.º 698 do STF, devendo a pena pelo crime de
latrocínio ser cumprida no regime integralmente fechado.
3. Recurso conhecido e provido. (REsp 768915/RS. Rel.
Ministra LAURITA VAZ. T5 - QUINTA TURMA. Julg.
18/10/2005. DJ 14/11/2005 p. 404).

14
É o que ocorre no presente caso, tendo em vista que,
embora os agentes não tenham subtraído objetos de Ilfran André Tavares de Araújo, como era
o seu intento, a conduta delituosa praticada pelos acusados culminou na morte deste, consoante
já devidamente analisado na fundamentação fática, pelo que, em relação à presente vítima,
configura-se o delito do art. 157, § 3º, do Código Penal, em sua forma consumada.

Delitos de Roubos (art. 157, §2º, I e II, c/c art. 14, II, CP):

A acusação posta na denúncia é, ainda, de que os


acusados teriam praticado, contra a Padaria La Via Pane e contra Ilma Araújo Montenegro, o
delito capitulado no art. 157, § 2º, I e II, c/c art. 14, II, do Código Penal:

“Art. 157. Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem,


mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la,
por qualquer meio, reduzido a impossibilidade de resistência:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa.
...
§ 2º. A pena aumenta-se de um terço até metade:
I – se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II – se há concurso de duas ou mais pessoas”.

Como antes já acentuado, o roubo, capitulado no caput do


art. 157, vem a ser a subtração de coisa alheia móvel, tal qual o furto, só que mediante a
utilização de grave ameaça ou de violência contra a pessoa ou, ainda, após havê-la reduzido à
impossibilidade de resistência. Para Júlio Frabrinni Mirabete, “a conduta típica é subtrair,
tirar, arrebatar a coisa alheia móvel, empregando o agente violência, grave ameaça ou qualquer outro
meio para impedir a vítima de resistir”2.
Quanto à consumação, dentre as várias teorias a respeito, a
jurisprudência mais atual do Supremo Tribunal Federal (HC 94234 – 1ª Turma, Ministro
Ricardo Levandowsky, DJ 13/06/2008; HC 89958 – 1ª Turma, Ministro Sepúlveda Pertence,
DJ 27/04/2007; e HC 89653 - 1ª Turma, Ministro Ricardo Levandowsky, DJ 23/03/07),
acompanhada pelo Superior Tribunal de Justiça (HC 99761 – 6ª Turma, Ministro Og
Fernandes, DJe 06/10/2008; e REsp 908053 – 5ª Turma, Ministra Laurita Vaz, DJe 29/09/2008;
e HC 105764 - 5ª Turma, Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 13/10/2008), entendem
que para a consumação do delito de roubo, dispensa-se o critério da saída da coisa da chamada
"esfera de vigilância da vítima", e se contenta com a verificação de que, cessada a
clandestinidade, o agente tenha tido a posse da res furtiva, ainda que por pouco tempo e
retomada em seguida, pela perseguição imediata.
No presente caso, não houve consumação do delito, já que
os acusados não conseguiram subtrair nenhum objeto pertencente às duas vítimas, se
configurando, pois, a hipótese de tentativa, nos termos do art. 14, II, do CP.
A acusação é, ainda, de que os acusados teriam praticado
o delito de roubo nas circunstâncias dos incisos I e II do § 2º, do art. 157 do Código Penal, pelo
que se impõe o exame das referidas majorantes. Vejamos:
Para Mirabete, “o emprego de arma, que denota não só
maior periculosidade do agente, como uma ameaça maior à incolumidade da vítima, qualifica o
roubo”, acrescentando que “arma é todo instrumento normalmente destinado a ataque ou defesa
(arma própria) como outro a ser empregado nessas circunstâncias (arma imprópria)”. E exemplifica,
afirmando que “as próprias são as armas de fogo (revólveres, pistolas, fuzis etc.), brancas (punhais,
estiletes, etc.) e os explosivos (bombas, granadas, etc.). As impróprias são as facas de cozinha,
canivetes, barras de ferro, fios de aço, etc”3.

2
Código Penal Interpretado, 2ª ed.Atlas, 2001, p.1081 e 1088.
3
ob. cit, p.1128/1129.
15
Quanto ao reconhecimento da majorante, preciosa é a
lição do Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo, que decidiu que “para o reconhecimento
da referida qualificadora necessário é que o agente porte ostensivamente a arma, de forma que a
vítima a veja ou, então, que se utilize dela para intimidar a vítima”4, e a do Tribunal de Justiça de
São Paulo, em que “tratando-se de roubo em co-autoria, não importa quem ou quantos estavam
armados, pois, praticada a subtração mediante o emprego de arma, todos os agentes respondem pela
qualificadora”5. Nesse mesmo sentido o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, considerando
que “o emprego de arma por um dos agentes importa no aumento da pena para todos os que do crime
participaram” 6.
Nesse mister, importa ressaltar a posição do Superior
Tribunal de Justiça, que entende não ser imprescindível a apreensão da arma de fogo ou a
realização de perícia sobre a mesma para que se possa conhecer da referida majorante, quando
o restante do conjunto probatório dos autos demonstrar sua efetiva utilização, conforme se
extrai dos julgados abaixo colacionados, in verbis:

“Na hipótese dos autos, não tendo sido possível a apreensão da


arma de fogo, que foi dispensada pelo acusado quando da aproximação
dos policiais, a prova testemunhal reunida no processo, supre a
realização do exame de corpo de delito, autorizando a aplicação da
majorante do emprego de arma de fogo, nos termos do art. 167 do
CPP." (Resp. 954579/RS, Rel. Min. Felix Fisher, Quinta Turma.
Publicado no DJe 05/05/2008)

“[...] É dispensável a apreensão da arma de fogo ou a realização


da perícia técnica para a caracterização da causa especial de aumento,
prevista no § 2º, inciso I, do art. 157 do Código Penal, quando existentes
outros meios aptos a comprovar a sua efetiva utilização no crime, o que
ocorreu in casu pelos autos de apreensão, restituição e eficácia da arma
de fogo e pela segura prova oral produzida. Precedentes do STJ. [...]”
(Resp. 631414, Rel. Min. Laurita Vaz, Quinta Turma. Publicado no DJ
em 19.06.2006, p. 179.)

“[...] A ausência do laudo pericial não afasta a majorante


prevista no inciso I, do § 2º, do art. 157, do CP, se existem outros
elementos nos autos a comprovar a efetiva utilização da arma de fogo
pelo agente. [...]” (Resp. 770157, Rel. Min. Gilson Dipp, Quinta Turma.
Publicado no DJ em 06.03.2006, p. 438.).

Neste mesmo sentido e de forma ainda mais enfática, é a


jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, conforme se exemplifica:

"EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO


MONOCRÁTICA QUE NEGOU PROVIMENTO AO RECURSO
ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PREVISÃO DO ART. 192 DO
RISTF. ROUBO MAJORADO PELO EMPREGO DE ARMA DE
FOGO. PERÍCIA PARA A COMPROVAÇÃO DE SEU POTENCIAL

4
RT 685/336.
5
RT 759/597.
6
RT 504/407.
16
OFENSIVO. DESNECESSIDADE. CIRCUNSTÂNCIA QUE PODE
SER EVIDENCIADA POR OUTROS MEIOS DE PROVA.
PRECEDENTES. AGRAVO DESPROVIDO. I – A questão de mérito
foi devidamente analisada pela decisão ora recorrida, que, assentando
a reiterada jusrisprudência desta Corte sobre a matéria, afastou a tese
da impetração e negou provimento ao recurso ordinário, com base no
caput do art. 192 do RISTF. II – É irrelevante saber se a arma de fogo
estava ou não desmuniciada, visto que tal qualidade integra a própria
natureza do artefato. Não se mostra necessária, ademais, a apreensão
e perícia da arma de fogo empregada no roubo para comprovar o seu
potencial lesivo. III - Lesividade do instrumento que se encontra in re
ipsa. IV - A majorante do art. 157, § 2º, I, do Código Penal, pode ser
evidenciada por qualquer meio de prova, em especial pela palavra da
vítima - reduzida à impossibilidade de resistência pelo agente - ou
pelo depoimento de testemunha presencial. V – Agravo regimental
desprovido." (Decisão (RHC 104583 AgR / DF - DISTRITO FEDERAL
AG.REG. NO RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI; julgamento: 26/10/2010
Órgão Julgador: Primeira Turma).

É o que ocorre in casu, tendo em vista que, apesar de não


ter sido apreendida ou realizada perícia na arma de fogo, todas as provas dos autos, conforme
expostas na fundamentação fática, sobretudo as imagens da câmera de segurança, e o resultado
morte da conduta praticada contra a vítima Ilfran, demonstram que tanto o acusado GLÁUCIO
como o adolescente KEVIN, com o conhecimento dos demais, portavam as armas de forma
ostensiva.
No que diz respeito à ocorrência da hipótese II - se há
concurso de duas ou mais pessoas – utilizando-se a expressão de Mirabete, "o concurso de duas ou
mais pessoas também qualifica o roubo, dada a maior periculosidade dos agentes, que se unem para a
prática do crime, dificultando a defesa da vítima, sendo irrelevante a missão desempenhada por um ou
outro sujeito. Como no furto, é irrelevante que um dos dois agentes seja inimputável ou que não
participe da fase executiva do crime. Também não é afastada a qualificadora quando não é identificado
o co-autor".
Destaque-se que o Tribunal de Alçada Criminal de São
Paulo acertadamente decidiu que "no concurso de agentes para a prática do crime de roubo não há
que falar em participação de menor importância, pois na co-autoria não há necessidade do mesmo
comportamento por parte de todos, podendo haver divisão quanto a atos executivos relevantes para o
objetivo criminoso" .
Assim, considerando que in casu a prova dos autos
demonstra que o delito foi praticado por quatro pessoas, acompanhadas também de um menor,
o roubo se deu na forma qualificada do inciso II, sendo desnecessário maiores delongas acerca
do seu exame, devendo a qualificadora ser reconhecida para efeito de majorar-se a pena do
delito.
Inequivocamente, pois, os acusados também praticaram,
contra duas vítimas distintas, o delito tipificado no art. 157, §2º, I e II, c/c art. 14, II, do Código
Penal.

Do concurso formal entre os delitos de Roubo:

A prática, pelos acusados, de delitos contra três vítimas


diferentes (Ilfran, Padaria e Ilma), atingindo patrimônios diversos, tendo em vista que ocorreu
em um mesmo contexto fático, não se configura concurso material nem se traduz em uma
unidade delituosa, antes se configurando em Concurso Formal.
17
Neste sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça:

EMENTA: HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO.


SUBTRAÇÃO, NO MESMO CONTEXTO FÁTICO, DE BENS
PERTENCENTES A DIFERENTES VÍTIMAS.
RECONHECIMENTO DE CRIME ÚNICO. IMPOSSIBILIDADE.
CONDUTA QUE CARACTERIZA CONCURSO FORMAL DE
DELITOS.
1. Na linha da iterativa jurisprudência desta Corte, não há falar
em crime único quando, num mesmo contexto fático, são
subtraídos bens pertencentes a diferentes vítimas. Em casos que
tais, incide a regra prevista no art. 70 do Código Penal.
2. No caso, o paciente, juntamente com corréu, teria abordado
duas jovens em ponto de ônibus, subtraindo bens a elas
pertencentes.
3. Ordem denegada. (Processo HC 151899 / MG HABEAS
CORPUS 2009/0211347-0 Relator(a) Ministro OG FERNANDES
(1139) Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA Data do
Julgamento 03/05/2011 Data da Publicação/Fonte DJe
16/05/2011).

EMENTA: HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO.


CONCURSO DE AGENTES. 1. CONCURSO FORMAL. DUAS
VÍTIMAS. PATRIMÔNIOS DISTINTOS. CAUSA DE
AUMENTO CARACTERIZADA. 2. ORDEM DENEGADA.
1. A jurisprudência desta Corte tem entendimento pacífico de
que, se com uma só ação houve lesão ao patrimônio de várias
vítimas, está configurado concurso formal, e não delito único.
2. Dúvida não há de que o paciente, em um mesmo contexto
fático e circunstancial, por meio de uma única ação, abordou
vítimas distintas, atingindo-lhes os patrimônios material e
emocional, tratando-se, portanto, de pluralidade de delitos.
3. Habeas corpus denegado. Processo HC 207320 / MG
HABEAS CORPUS 2011/0114598-3 Relator(a) Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE (1150) Órgão Julgador T5 -
QUINTA TURMA Data do Julgamento 20/03/2012 Data da
Publicação/Fonte DJe 12/04/2012).

Assim, tendo as condutas dos acusados, ainda que em um


mesmo contexto fático, se direcionado contra mais de uma vítima e visando patrimônios
distintos, configura-se o concurso formal, tal qual previsto no art. 70 do Código Penal.
Saliente-se por fim que, mesmo havendo um Latrocínio
dentre os Roubos, tendo em vista que os delitos ocorreram sem que houvesse desígnios
autônomos, mais em um mesmo contexto não só fático, mas também circunstancial, aplica-se a
regra do concurso formal, afastando-se a incidência da segunda parte do referido dispositivo
legal, a exemplo do que decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

"EMENTA: HABEAS CORPUS. LATROCÍNIO


TENTADO E ROUBO CIRCUNSTANCIADO PELO
EMPREGO DE ARMA DE FOGO, CONCURSO DE
AGENTES E RESTRIÇÃO DA LIBERDADE DA
VÍTIMA. CRIME ÚNICO. NÃO OCORRÊNCIA.
VÍTIMAS E PATRIMÔNIOS DISTINTOS.
18
CONCURSO FORMAL CARACTERIZADO.
ORDEM DENEGADA.
1. Dúvida não há de que o paciente, em um mesmo
contexto fático e circunstancial, por meio de uma única
ação, abordou vítimas distintas, atingindo-lhes os
patrimônios material e emocional, não se podendo
falar, portanto, em crime único, mas em pluralidade de
delitos.
2. Habeas corpus denegado. (HC 192927/SP. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE. T5 - QUINTA
TURMA. Julg. 15/03/2012. DJe 23/04/2012).

Aplica-se, pois, entre os delitos de Roubo, inclusive o


Latrocínio, a regra do concurso formal, nos termos do art. 70 do Código Penal.

Delito de Corrupção de Menores (art. 244-B da Lei 8.069/1990):

A acusação contra os acusados é, por fim, de que os


mesmos também teriam praticado o delito de Corrupção de Menores, tipificado no art. 244-B
do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990):

"Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18


(dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a
praticá-la:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos."

Ao tratar do delito de corrupção de menores, Magalhães


Noronha diz que o objetivo da tipificação "foi prover de maior tutela os interesses do menor,
coibindo a prática de delito, em que existe exploração sua, ou melhor de infrações (crime ou
contravenção), em que há intervenção de menor de dezoito anos". Exemplifica dizendo que "quem
furtar, juntamente com menor, não só incidirá nas penas de furto, mas também nas do referido
dispositivo: há duas objetividades jurídicas violadas - a posse da coisa móvel e a preservação dos
costumes do menor. A regra será a do concurso formal".
O objeto jurídico tutelado pelo tipo em questão é a proteção
da moralidade do menor e visa coibir a prática de delitos em que existe sua participação ou
exploração.
A corrupção de menores é, pois, crime formal, o qual
prescinde de prova da efetiva corrupção do menor, sendo irrelevante a anterior prática, por este,
de ato infracional.
Nesse sentido, cumpre-se destacar o entendimento do
Superior Tribunal de Justiça, expresso em decisão proferida em 29/05/2008, que bem tratou
da matéria em questão:

"RECURSO ESPECIAL. PENAL. CORRUPÇÃO DE


MENORES. CRIME FORMAL. PRÉVIA CORRUPÇÃO DO
ADOLESCENTE EM GRAU CORRESPONDENTE AO ILÍCITO
PRATICADO COM O MAIOR DE 18 ANOS. INEXISTÊNCIA.
CRIAÇÃO DE NOVO RISCO AO BEM JURÍDICO TUTELADO.
INTERPRETAÇÃO SISTÊMICA E TELEOLÓGICA DA NORMA
PENAL INCRIMINADORA. TIPICIDADE DA CONDUTA
RECONHECIDA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. É firme a orientação do Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que o crime tipificado no art. 1º da Lei 2.252/54 é formal,
ou seja, a sua caracterização independe de prova da efetiva e
19
posterior corrupção do menor, sendo suficiente a comprovação da
participação do inimputável em prática delituosa na companhia de
maior de 18 anos.
2. Na hipótese, as instâncias ordinárias consignaram que as
passagens anteriores do menor pela Vara da Infância e da Juventude,
por atos infracionais praticados mediante violência ou grava ameaça,
aliadas ao seu comportamento no fato descrito na denúncia – roubo –,
revelariam a prévia corrupção moral do adolescente, caracterizadora
do crime impossível.
(...)
7. O art. 1º da Lei 2.252/54, que tem como objetivo primário a
proteção do menor, não pode, atualmente, ser interpretado de forma
isolada, tendo em vista os supervenientes direitos e garantias
menoristas inseridos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança
e do Adolescente. Afora os direitos já referidos anteriormente, importa
registrar que à criança e ao adolescente são asseguradas todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento,
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e
de dignidade (Lei 8.069/90, art. 3º).
8. Diante disso, dessume-se que o fim a que se destina a
tipificação do delito de corrupção de menores é impedir o estímulo
tanto do ingresso como da permanência do menor no universo
criminoso. Assim, o bem jurídico tutelado pela citada norma
incriminadora não se restringe à inocência moral do menor, mas
abrange a formação moral da criança e do adolescente, no que se
refere à necessidade de abstenção da prática de infrações penais.
9. Por conseguinte, mesmo na hipótese da participação anterior
de criança ou adolescente em ato infracional, reconhecida por
sentença transitada em julgado, não haveria razão para o
afastamento da tipicidade da conduta, porquanto do comportamento
do maior de 18 anos advém a criação de novo risco ao bem jurídico
tutelado.
10. De fato, a criança e o adolescente estão em plena formação
de caráter e personalidade e, por essa causa, a repetição de ilícitos
age como reforço à eventual tendência infracional anteriormente
adquirida.
11. Nesse contexto, considerar inexistente o crime de corrupção
de menores pelo simples fato de ter o adolescente ingressado na seara
infracional equivale a qualificar como irrecuperável o caráter do
inimputável – pois não pode ser mais corrompido – em virtude da
prática de atos infracionais. Em outras palavras, é o mesmo que
afirmar que a formação moral do menor, nessa hipótese, encontra-se
definitiva e integralmente comprometida.
(...)
13. Recurso especial parcialmente provido para reconhecer a
tipicidade da conduta."
(STJ – T5; REsp 1031617/DF; Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima;
DJe 04/08/2008 )

Na verdade o dispositivo, de redação demasiadamente


clara quando ao núcleo do seu tipo, merece ser destacado apenas no que diz respeito a dois
aspectos essenciais e deveras controvertidos a nível principalmente doutrinário: a necessidade
da comprovação da efetiva corrupção do menor e a possibilidade de sua compatibilidade com a
qualificadora do concurso de agentes nos delitos de roubo ou furto.
Sobre estes dois aspectos, adoto o pensamento
jurisprudencial mais recente do Superior Tribunal de Justiça, que se ilustra pelas ementas que
seguem:

"AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE


20
CORRUPÇÃO DE MENORES. CARACTERIZAÇÃO.
PRESCINDIBILIDADE DE COMPROVAÇÃO DA
EFETIVA CORRUPÇÃO DO MENOR. DELITO DE
NATUREZA FORMAL.
1. Para a caracterização do crime tipificado no artigo 1º da
Lei nº 2.254/1954, atual art. 244-B do Estatuto da Criança e
do Adolescente, basta a efetiva participação do menor no
delito, independente de comprovação da efetiva corrupção do
menor, tendo em vista se tratar de delito de natureza formal.
2. Agravo regimental a que se nega provimento." (AgRg no HC
150019 / DF AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS
2009/0197145-0 Relator(a) Ministro HAROLDO RODRIGUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/CE) (8195)
Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA Data do Julgamento
28/09/2010 Data da Publicação/Fonte DJe 06/12/2010).

"HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO.


CONCURSO DE AGENTES. DELITO PRATICADO NA
COMPANHIA DE INIMPUTÁVEL. INCIDÊNCIA DA
CAUSA DE AUMENTO. CORRUPÇÃO DE MENORES.
ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. CRIME FORMAL.
PRESCINDIBILIDADE DE PROVA DA EFETIVA
CORRUPÇÃO DO MENOR.
1. Incide a majorante prevista no art. 157, § 2º, II, do Código
Penal, nos crimes praticados na companhia de inimputável,
porquanto a razão da exacerbação da punição é justamente o
maior risco que a pluralidade de pessoas ocasiona ao
patrimônio alheio e à integridade física do ofendido, bem
como o maior grau de intimidação infligido à vítima.
2. O Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no
sentido de que o crime de corrupção de menores é de natureza
formal, bastando a participação do menor de dezoito anos
para que se verifique a subsunção da conduta do réu
imputável ao tipo descrito no art. 1º da Lei nº 2.252/54.
Precedentes.
3. Ordem denegada." (HC 86185 / DF HABEAS CORPUS
2007/0153351-8 Relator(a) Ministro OG FERNANDES (1139)
Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA Data do Julgamento
10/06/2010 Data da Publicação/Fonte DJe 01/07/2010).

"HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO E


CORRUPÇÃO DE MENORES (ARTS. 157, § 2o., I E II DO
CPB E ART. 1o. DA LEI 2.252/54). CORRUPÇÃO DE
MENORES. CRIME FORMAL. INDIFERENÇA DO
COMETIMENTO ANTERIOR DE ATO INFRACIONAL.
IMPOSSIBILIDADE DA ABSOLVIÇÃO.
RECONHECIMENTO DO CONCURSO FORMAL ENTRE
O ROUBO E A CORRUPÇÃO DE MENORES. PARECER
DO MPF PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM,
PORÉM, PARCIALMENTE CONCEDIDA, APENAS PARA
RECONHECER A EXISTÊNCIA DE CONCURSO
FORMAL ENTRE OS CRIMES DE ROUBO E
CORRUPÇÃO DE MENORES.
1. O crime tipificado no art. 1o. da Lei 2.252/54 é formal, ou
seja, a sua caracterização independe de prova da efetiva e
posterior corrupção do menor, sendo suficiente a
comprovação da participação do inimputável em prática
delituosa na companhia de maior de 18 anos.
2. Caracterizado está o crime de corrupção de menores,
21
ainda que o menor possua antecedentes infracionais, tendo
em vista que a norma do art. 1o. da Lei 2.252/54 visa também
impedir a permanência do menor no mundo do crime.
3. Constatando-se uma só ação para a prática de dois crimes,
é de se reconhecer o concurso formal entre os delitos de roubo
e corrupção de menores. Precedentes.
4. Parecer ministerial pela denegação da ordem.
5. Ordem parcialmente concedida, apenas para reconhecer a
existência de concurso formal entre os delitos de roubo e
corrupção de menores." (HC 144181 / DF HABEAS CORPUS
2009/0152925-1 Relator(a) Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO (1133) Órgão Julgador T5 - QUINTA TURMA
Data do Julgamento 29/10/2009 Data da Publicação/Fonte
DJe 30/11/2009).

No presente caso, os acusados, além de praticarem os


delitos de Roubo em concurso de pessoas (inclusive o menor), o que qualifica a sua conduta,
praticaram, em concurso formal, o delito de Corrupção de Menores previsto no art. 244-B da
Lei 8.069/1990, visto que a pessoa que lhes acompanhou e com eles praticou os delitos tinha
menos de 18 (dezoito) anos de idade (fls. 467).
Registre-se, por fim, quanto ao delito do art. 288, não se
pode acolher a pretensão do assistente de acusação, não foi objeto da acusação.

3 – PARTE DISPOSITIVA:

3.1 - DECISÃO:
ISTO POSTO, e por tudo mais que nos autos consta,
JULGO PROCEDENTE a denúncia, para CONDENAR os
acusados THIAGO JERÔNIMO PINHEIRO, MARCELO
PEGADO CORREIA, GLAUCIO HERCULANO FONSECA
e ALESSANDRO WALLACE DE FREITAS PROCÓPIO
pela conduta delituosa de ROUBO QUALIFICADO PELO
RESULTADO MOTE (LATROCÍNIO), praticado contra a
vítima Ilfran André Tavares de Araújo, tipificada no art. 157, § 3º,
parte final, do Código Penal; bem como pelos delitos de ROUBO
(duas vezes), em sua forma tentada, praticados contra a Padaria
La Via Pane e contra Ilma Araújo Montenegro e tipificados no
art. 157, § 2º, I e II, c/c art. 14, II, do Código Penal; e, ainda, pelo
delito de CORRUPÇÃO DE MENORES capitulado no art.
244-B da Lei 8.069/1990, todos em concurso formal, nos termos
do art. 70 do Código Penal.

3.2 - APLICAÇÃO DA PENA:

3.2.1 - CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS:

Ao iniciar-se a dosimetria da pena, há de se verificar as


circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal, quais sejam, Culpabilidade,
Antecedentes, Conduta Social, Personalidade do agente, Motivos do crime,
Circunstâncias do crime, Conseqüências do crime e Comportamento da vítima.
No caso dos autos, fala em desfavor dos réus as
circunstâncias do crime, já que praticado por 05 indivíduos, com perfeita divisão de tarefas e
planejamento detalhado, com três veículos destinados a dar fuga aos executores diretos do
delito, adentrando no interior de um estabelecimento comercial movimentado, utilizando duas
armas de fogo (e não qualquer arma menos letal, o que seria suficiente à configuração do
22
Roubo). Os agentes chegaram inclusive a ir até outro município praticar idêntico delito, sem
êxito, retornando a Natal e praticando suas condutas em estabelecimento conscientemente
escolhido de parecer ser escuro e isolado. Não se trata, portanto, apenas de um crime grave pela
sua própria natureza, mas de gravidade potencializada pelas circunstâncias que o cercaram;
também as consequências do crime, já que, embora não tenha havido subtração de objetos
(salvo um celular que não foi objeto de denúncia), houve inegável prejuízo material em razão
do dano devidamente comprovado nos imóveis comercial e residencial submetidos à vistoria.
Além disso, pesa somente contra o réu GLÁUCIO
também a sua culpabilidade, visto que participou diretamente da execução dos roubos, tendo
efetuado dois disparos por trás de uma das vítimas, sem deixar qualquer possibilidade de
defesa, ou seja, foi o executor direto da ação criminosa e o principal responsável pelo resultado
morte, o que revela um maior grau de reprovabilidade da sua conduta em relação à conduta dos
demais, que ficaram dando apoio ao ato criminoso.

3.2.2 – DOSIMETRIA DA PENA:

Acusado THIAGO JERÔNIMO PINHEIRO:

Ÿ1 Delito de Latrocínio (art. 157, §3º, parte final, CP):

a) pena-base (art. 59 do CP): Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, em


relação ao presente delito, FIXO a pena base em 22 (vinte e dois) anos e 06 (seis) meses de
reclusão e 20 (vinte) dias multa.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos, e
a circunstância do art. 65, inciso III, “d”, do Código Penal, face à ocorrência da confissão.
Assim, altero o quantum da pena para 20 (vinte) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa.
c) causas de aumento e diminuição: Não há causas de aumento ou diminuição de pena.
d) valor do dia multa: Considerando as condições financeiras do réu, fixo o valor do dia multa
em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo ao tempo do fato delituoso, na forma do § 1º do art.
49 do Código Penal.
e) pena definitiva: A pena definitiva para o presente delito é de 20 (vinte) anos de reclusão e
10 (dez) dias-multa.

Ÿ2 Delitos de Roubo (art. 157, §2º, I e II, c/c art. 14, II, CP):

a) pena-base (art. 59 do CP): Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, em


relação ao presente delito, FIXO, para cada um dos dois delitos, a pena base em 05 (cinco)
anos e 06 (seis) meses de reclusão e 15 (quinze) dias multa.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos,
bem como a do art. 65, inciso III, "d" do Código Penal, em razão da confissão do acusado.
Assim, altero o quantum da pena para 04 (quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 12
(doze) dias multa.
c) causas de aumento e diminuição: Tendo se caracterizado as qualificadoras dos incisos I e II
do § 2º, do art. 157 do Código Penal, que aumentam a pena de um terço até metade, aumento a
pena para 06 (seis) anos de reclusão e 16 (dezesseis) dias-multa. Entretanto, em se tratando de
crime apenas tentado, a pena deve ser diminuída de um a dois terços (art. 14, II e parágrafo
único), pelo que diminuo a pena para 04 (quatro) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa.
d) valor do dia multa: Considerando as condições financeiras do réu, fixo o valor do dia multa
em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo ao tempo do fato delituoso, na forma do § 1º do art.
49 do Código Penal.
e) pena definitiva: A pena definitiva para cada um dos delitos de Roubo é de 04 (quatro) anos
de reclusão e 10 (dez) dias-multa.
23
Ÿ3 Delito de Corrupção de Menores (art. 244-B da Lei 8.069/1990):

a) pena-base: Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, FIXO a pena base


em 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos,
bem como a do art. 65, inciso III, "d" do Código Penal, em razão da confissão do acusado.
Assim, altero o quantum da pena para 01 (um) anos de reclusão.
c) causas de aumento e diminuição: Não há causas de aumento ou diminuição da pena.
d) pena definitiva: A pena final e definitiva para o presente delito é de 01 (um) ano de
reclusão.

Ÿ4 Unificação das penas em face do concurso formal:

Em tendo ocorrido concurso formal, nos termos do art. 70


do Código Penal, já que mediante uma só ação ou omissão o agente praticou dois ou mais
delitos (um de Latrocínio, dois de Roubo tentado e um de Corrupção de Menores), deve-se
aplicar a pena mais grave, ou somente uma se iguais, aumentada de 1/6 até 1/2. Assim, a pena
final, definitiva e unificada do réu passa a ser de 23 (vinte e três) anos e 06 (seis) meses de
reclusão e 20 (vinte) dias-multa (art. 72 do Código Penal).

Acusado MARCELO PEGADO CORREIA:

Ÿ6 Delito de Latrocínio (art. 157, §3º, parte final, CP):

a) pena-base (art. 59 do CP): Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, em


relação ao presente delito, FIXO a pena base em 22 (vinte e dois) anos e 06 (seis) meses de
reclusão e 20 (vinte) dias multa.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos, e
a circunstância do art. 65, inciso III, “d”, do Código Penal, face à ocorrência da confissão.
Assim, altero o quantum da pena para 20 (vinte) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa.
c) causas de aumento e diminuição: Não há causas de aumento ou diminuição de pena.
d) valor do dia multa: Considerando as condições financeiras do réu, fixo o valor do dia multa
em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo ao tempo do fato delituoso, na forma do § 1º do art.
49 do Código Penal.
e) pena definitiva: A pena definitiva para o presente delito é de 20 (vinte) anos de reclusão e
10 (dez) dias-multa.

Ÿ7 Delitos de Roubo (art. 157, §2º, I e II, c/c art. 14, II, CP):

a) pena-base (art. 59 do CP): Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, em


relação ao presente delito, FIXO, para cada um dos dois delitos, a pena base em 05 (cinco)
anos e 06 (seis) meses de reclusão e 15 (quinze) dias multa.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos,
bem como a do art. 65, inciso III, "d" do Código Penal, em razão da confissão do acusado.
Assim, altero o quantum da pena para 04 (quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 12
(doze) dias multa.
c) causas de aumento e diminuição: Tendo se caracterizado as qualificadoras dos incisos I e II
do § 2º, do art. 157 do Código Penal, que aumentam a pena de um terço até metade, aumento a
pena para 06 (seis) anos de reclusão e 16 (dezesseis) dias-multa. Entretanto, em se tratando de
24
crime apenas tentado, a pena deve ser diminuída de um a dois terços (art. 14, II e parágrafo
único), pelo que diminuo a pena para 04 (quatro) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa.
d) valor do dia multa: Considerando as condições financeiras do réu, fixo o valor do dia multa
em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo ao tempo do fato delituoso, na forma do § 1º do art.
49 do Código Penal.
e) pena definitiva: A pena definitiva para cada um dos delitos de Roubo é de 04 (quatro) anos
de reclusão e 10 (dez) dias-multa.

Ÿ8 Delito de Corrupção de Menores (art. 244-B da Lei 8.069/1990):

a) pena-base: Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, FIXO a pena base


em 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos,
bem como a do art. 65, inciso III, "d" do Código Penal, em razão da confissão do acusado.
Assim, altero o quantum da pena para 01 (um) anos de reclusão.
c) causas de aumento e diminuição: Não há causas de aumento ou diminuição da pena.
d) pena definitiva: A pena final e definitiva para o presente delito é de 01 (um) ano de
reclusão.

Ÿ9 Unificação das penas em face do concurso formal:

Em tendo ocorrido concurso formal, nos termos do art. 70


do Código Penal, já que mediante uma só ação ou omissão o agente praticou dois ou mais
delitos (um de Latrocínio, dois de Roubo tentado e um de Corrupção de Menores), deve-se
aplicar a pena mais grave, ou somente uma se iguais, aumentada de 1/6 até 1/2. Assim, a pena
final, definitiva e unificada do réu passa a ser de 23 (vinte e três) anos e 06 (seis) meses de
reclusão e 20 (vinte) dias-multa (art. 72 do Código Penal).

Acusado ALESSANDRO WALLACE DE FREITAS PROCÓPIO:

Ÿ10Delito de Latrocínio (art. 157, §3º, parte final, CP):

a) pena-base (art. 59 do CP): Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, em


relação ao presente delito, FIXO a pena base em 22 (vinte e dois) anos e 06 (seis) meses de
reclusão e 20 (vinte) dias multa.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos, e
a circunstância do art. 65, inciso III, “d”, do Código Penal, face à ocorrência da confissão.
Assim, altero o quantum da pena para 20 (vinte) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa.
c) causas de aumento e diminuição: Não há causas de aumento ou diminuição de pena.
d) valor do dia multa: Considerando as condições financeiras do réu, fixo o valor do dia multa
em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo ao tempo do fato delituoso, na forma do § 1º do art.
49 do Código Penal.
e) pena definitiva: A pena definitiva para o presente delito é de 20 (vinte) anos de reclusão e
10 (dez) dias-multa.

Ÿ11Delitos de Roubo (art. 157, §2º, I e II, c/c art. 14, II, CP):

a) pena-base (art. 59 do CP): Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, em


relação ao presente delito, FIXO, para cada um dos dois delitos, a pena base em 05 (cinco)
anos e 06 (seis) meses de reclusão e 15 (quinze) dias multa.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos,
25
bem como a do art. 65, inciso III, "d" do Código Penal, em razão da confissão do acusado.
Assim, altero o quantum da pena para 04 (quatro) anos e 06 (seis) meses de reclusão e 12
(doze) dias multa.
c) causas de aumento e diminuição: Tendo se caracterizado as qualificadoras dos incisos I e II
do § 2º, do art. 157 do Código Penal, que aumentam a pena de um terço até metade, aumento a
pena para 06 (seis) anos de reclusão e 16 (dezesseis) dias-multa. Entretanto, em se tratando de
crime apenas tentado, a pena deve ser diminuída de um a dois terços (art. 14, II e parágrafo
único), pelo que diminuo a pena para 04 (quatro) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa.
d) valor do dia multa: Considerando as condições financeiras do réu, fixo o valor do dia multa
em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo ao tempo do fato delituoso, na forma do § 1º do art.
49 do Código Penal.
e) pena definitiva: A pena definitiva para cada um dos delitos de Roubo é de 04 (quatro) anos
de reclusão e 10 (dez) dias-multa.

Ÿ12Delito de Corrupção de Menores (art. 244-B da Lei 8.069/1990):

a) pena-base: Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, FIXO a pena base


em 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos,
bem como a do art. 65, inciso III, "d" do Código Penal, em razão da confissão do acusado.
Assim, altero o quantum da pena para 01 (um) anos de reclusão.
c) causas de aumento e diminuição: Não há causas de aumento ou diminuição da pena.
d) pena definitiva: A pena final e definitiva para o presente delito é de 01 (um) ano de
reclusão.

Ÿ13Unificação das penas em face do concurso formal:

Em tendo ocorrido concurso formal, nos termos do art. 70


do Código Penal, já que mediante uma só ação ou omissão o agente praticou dois ou mais
delitos (um de Latrocínio, dois de Roubo tentado e um de Corrupção de Menores), deve-se
aplicar a pena mais grave, ou somente uma se iguais, aumentada de 1/6 até 1/2. Assim, a pena
final, definitiva e unificada do réu passa a ser de 23 (vinte e três) anos e 06 (seis) meses de
reclusão e 20 (vinte) dias-multa (art. 72 do Código Penal).

Acusado GLÁUCIO HERCULANO FONSECA:

Ÿ14Delito de Latrocínio (art. 157, §3º, parte final, CP):

a) pena-base (art. 59 do CP): Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, em


relação ao presente delito, FIXO a pena base em 24 (vinte e quatro) anos e 06 (seis) meses de
reclusão e 25 (vinte) dias multa.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos, e
a circunstância do art. 65, inciso III, “d”, do Código Penal, face à ocorrência da confissão.
Assim, altero o quantum da pena para 22 (vinte e dois) anos de reclusão e 15 (quinze)
dias-multa.
c) causas de aumento e diminuição: Não há causas de aumento ou diminuição de pena.
d) valor do dia multa: Considerando as condições financeiras do réu, fixo o valor do dia multa
em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo ao tempo do fato delituoso, na forma do § 1º do art.
49 do Código Penal.
e) pena definitiva: A pena definitiva para o presente delito é de 22 (vinte e dois) anos de
reclusão e 15 (quinze) dias-multa.
26
Ÿ15Delitos de Roubo (art. 157, §2º, I e II, c/c art. 14, II, CP):

a) pena-base (art. 59 do CP): Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, em


relação ao presente delito, FIXO, para cada um dos dois delitos, a pena base em 06 (seis)
anos de reclusão e 17 (dezessete) dias multa.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos,
bem como a do art. 65, inciso III, "d" do Código Penal, em razão da confissão do acusado.
Assim, altero o quantum da pena para 05 (cinco) anos de reclusão e 15 (quinze) dias multa.
c) causas de aumento e diminuição: Tendo se caracterizado as qualificadoras dos incisos I e II
do § 2º, do art. 157 do Código Penal, que aumentam a pena de um terço até metade, aumento a
pena para 06 (seis) anos e 08 (oito) meses de reclusão e 20 (vinte) dias-multa. Entretanto, em se
tratando de crime apenas tentado, a pena deve ser diminuída de um a dois terços (art. 14, II e
parágrafo único), pelo que diminuo a pena para 04 (quatro) anos e 05 (cinco) meses de reclusão
e 13 (treze) dias-multa.
d) valor do dia multa: Considerando as condições financeiras do réu, fixo o valor do dia multa
em 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo ao tempo do fato delituoso, na forma do § 1º do art.
49 do Código Penal.
e) pena definitiva: A pena definitiva para cada um dos delitos é de 04 (quatro) anos e 05
(cinco) meses de reclusão e 13 (treze) dias-multa.

Ÿ16Delito de Corrupção de Menores (art. 244-B da Lei 8.069/1990):

a) pena-base: Considerando as circunstâncias judiciais acima examinadas, FIXO a pena base


em 01 (um) ano e 06 (seis) meses de reclusão.
b) circunstâncias legais: Reconheço a existência da circunstância atenuante do art. 65, inciso
I, do Código Penal, tendo em vista ser o réu menor de 21 (vinte e um) anos à época dos fatos,
bem como a do art. 65, inciso III, "d" do Código Penal, em razão da confissão do acusado.
Assim, altero o quantum da pena para 01 (um) anos de reclusão.
c) causas de aumento e diminuição: Não há causas de aumento ou diminuição da pena.
d) pena definitiva: A pena final e definitiva para o presente delito é de 01 (um) ano de
reclusão.

Ÿ17Unificação das penas em face do concurso formal:

Em tendo ocorrido concurso formal, nos termos do art. 70


do Código Penal, já que mediante uma só ação ou omissão o agente praticou dois ou mais
delitos (um de Latrocínio, dois de Roubo tentado e um de Corrupção de Menores), deve-se
aplicar a pena mais grave, ou somente uma se iguais, aumentada de 1/6 até 1/2. Assim, a pena
final, definitiva e unificada do réu GLÁUCIO HERCULANO FONSECA passa a ser de
26 (vinte e seis) anos de reclusão e 28 (vinte e oito) dias-multa (art. 72 do Código Penal).

3.3 – REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DA PENA:

A pena privativa de liberdade deverá ser inicialmente


cumprida em regime fechado, nos termos do art. 33 do Código Penal, em face do quantum da
pena, resguardando-se a progressividade da execução (art. 33, § 2º, CP), a cargo do Juiz da
Execução Penal (art. 66, III, “b” da Lei nº 7.210/84).
O disposto no art. 387, § 1º, do CPP não tem influência
sobre a fixação do regime.

3.4 – SUBSTITUIÇÃO DA PENA:

No presente caso é incabível a Substituição da Pena


Privativa de Liberdade por Restritiva de Direitos, tendo em vista que a pena aplicada em
27
definitivo extrapola o limite de 04 (quatro) anos previsto no art. 44 do Código Penal e o crime
foi cometido mediante violência ou grave ameaça;

3.5 – SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA:

Incabível o SURSIS tendo em vista que a pena aplicada


em definitivo extrapola o limite de 02 (dois) anos previsto no art. 77, do Código Penal.

4 - PROVIMENTOS FINAIS:

4.1 - DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE:

Decidiu o Supremo Tribunal Federal que "é entendimento


pacífico desta Corte o de que é inaplicável o disposto no art. 594 do Código de Processo Penal a réu
preso em virtude de flagrante ou preventivamente" o que, em outras palavras, faz predominar o
entendimento do Superior Tribunal de Justiça, de que "réu que responde preso a todo o
processo e é condenado mantêm-se preso para apelar".
Persiste, outrossim, a necessidade da Prisão dos acusados,
pelas mesmas razões da decisão que a decretou, e que se utiliza do seguinte fundamento:

"In casu, a decretação da prisão embasa-se na necessidade de


garantir a ordem pública, que resta inequivocamente abalada
com a continuidade da liberdade dos autores do delito que se
apura.
Com efeito, o crime cometido - roubo na modalidade
latrocínio (art. 157, §3º, CP) - que já apresenta-se por si só
como grave, acentua os seus contornos de gravidade quando
observadas as circunstâncias e os pormenores que o envolveram,
tendo em vista que se tratou de uma empreitada criminosa que
envolveu organizadamente 05 (cinco) agentes, 02 (dois) deles
portando armas de fogo, as quais foram usadas para gravemente
ameaçar uma das vítimas e para ferir fatalmente uma outra
vítima, que com os disparos veio a falecer, enquanto que os
outros 03 (três) agentes ficaram do lado de fora do
estabelecimento comercial, dando cobertura e aguardando os
executores diretos do roubo para a fuga.
Veja que o modus operandi do crime evidencia a
periculosidade dos agentes e revela ter se tratado de uma ação
planejada, organizada e com divisão de tarefas, em que enquanto
parte dos agentes dava a cobertura e aguardava para a fuga,
outra parte executava diretamente o roubo, sendo que a forma
como agiram ao abordar as vítimas, com uso de armas e
disparos proferidos, não deixou qualquer possibilidade de defesa
às mesmas. Sequer possibilidade de fuga das vítimas existia, já
que 03 elementos davam cobertura do lado de fora.
Observe-se, ainda, que os 05 agentes do fato delituoso estavam
em 03 veículos distintos, o que demonstra a abrangência da
operação criminosa.
Some-se a isto o fato de terem os representados, anteriormente
ao fato, ido até uma outra cidade com o fim exclusivo de
praticarem um assalto e, resultando sem êxito por razões outras,
vieram até Natal praticar o fatídico crime.
Por fim, a frieza como atiraram na vítima, sem vacilos e
diretamente na cabeça, demonstra a falta de limites dos agentes
para atingir o objetivo criminoso da ação.
Tudo isto demonstra muito bem a enorme e particular
gravidade da ação criminosa que resultou na morte da vítima,
28
bem como a acentuada periculosidade dos seus agentes.
Assim, inegável que o meio social necessita ser acautelado
contra a prática que se verificou, o que não ocorreria se
permanecessem os seus autores, em absoluta liberdade,
propensos a repetir, quanto necessário, a prática delituosa,
gerando insegurança e medo na sociedade.
Inegável, portanto, que a prisão preventiva impõe-se, no
presente caso, como garantia da ordem pública".

Nos termos do art. 287, § 1º do CPP, MANTENHO A


PRISÃO PREVENTIVA dos condenados por persistirem, em sua integralidade, os
fundamentos para a sua Decretação, que igualmente os adoto.
Desta forma, não reconheço o direito dos réus de
recorrerem em liberdade.

4.2 - PAGAMENTO DAS CUSTAS E REPARAÇÃO DOS DANOS:

Condeno os réus a pagarem as custas processuais, nos


termos do art. 804 do Código de Processo Penal, no prazo de 30 (trinta) dias do trânsito em
julgado da presente decisão, ficando deste já intimados da presente obrigação, sob pena de
serem adotadas todas as providências legais para o pagamento do débito.
Deixo de fixar valor mínimo para fins de reparação dos
danos, com o permitido pelo art. 387, IV, do Código de Processo Penal, visto que não ficou
provado nos autos o quantum dos prejuízos materiais decorrentes do fato delituoso, e não haver
nos autos elementos suficientes para a fixação de eventual dano moral, inclusive não tendo se
instaurado contraditória acerca desta questão específica, de tal forma que a sua fixação
aleatória seria contrário à prudência e a boa aplicação do direito, sem prejuízo da parte buscar a
via civil adequada para a sua pretensão.
Neste sentido, aliás, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça:

"EMENTA: PROCESSUAL PENAL.


INDENIZAÇÃO DO ART. 387, IV, DO CPP.
APLICABILIDADE À AÇÃO PENAL EM CURSO
QUANDO A SENTENÇA CONDENATÓRIA FOR
PROFERIDA EM DATA POSTERIOR À VIGÊNCIA
DA LEI N. 11.719/2008.
1. A regra estabelecida pelo art. 387, IV, do Código de
Processo Penal, por ser de natureza processual, aplica-se a
processos em curso.
2. Inexistindo nos autos elementos que permitam a
fixação do valor, mesmo que mínimo, para reparação
dos danos causados pela infração, o pedido de
indenização civil não pode prosperar, sob pena de
cerceamento de defesa.
3. Recurso especial conhecido, mas impróvido". (REsp
1176708/RS. Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR.
T6 - SEXTA TURMA. Julg. 12/06/2012. DJe
20/06/2012).

4.3 – INTIMAÇÕES E COMUNICAÇÕES:

Publicada em audiência e intimados os presentes.


Registre-se a presente sentença, na forma do art. 389 do
29
CPP.
Intime-se as vítimas, na forma do art. 201, §2º, do Código
de Processo Penal.
Transitada em julgado esta decisão, lance-se o nome dos
réus no rol dos culpados (art. 393, II); comunique-se ao setor de estatísticas do ITEP; oficie-se
ao Tribunal Regional Eleitoral para fins de suspensão dos direitos políticos (art. 15, III, CF);
encaminhe-se as respectivas Guias, devidamente instruídas, ao Juízo das Execuções Penais;
comunique-se ao Distribuidor Criminal, para os fins necessários.
Natal/RN, 21 DE JULHO DE 2014.

GUILHERME NEWTON DO MONTE PINTO


Juiz de Direito

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