AF - Marcio José - Art. 129 13

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AO JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER DA CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DO ITAPOÃ – DF.

Autos n°. 0701677-86.2023.8.07.0021

MARCIO JOSÉ SOARES BATISTA, já qualificado nos autos da


ação penal que lhe move o Ministério Público, vem, por intermédio da
Defensoria Pública do Distrito Federal, à presença de V. Exa., apresentar,
com fulcro no art. 403, §3º, do CPP, ALEGAÇÕES FINAIS EM MEMORIAIS,
aduzindo, para tanto, o seguinte:

1 – DA SÍNTESE FÁTICA

O acusado foi denunciado como incurso nas penas do artigo


129, §13º, do Código Penal (id 169484605). Recebida a denúncia (id.
169840268).

Não havendo causas que ensejassem à absolvição sumária, fora


designada data para realização de audiência de instrução e julgamento. Na
referida assentada, foi realizada a oitiva das vítimas Dilva Marques dos
Santos Soares e Pollyana Marques Soares dos Santos, e da testemunha
Gesse Lima da Costa. Em seguido foi realizado a oitiva do acusado (ids
179195962, 179195964, 179195965 e 179195966, respectivamente).

Encerrada a instrução, em sede de alegações finais em forma de


memoriais, o órgão ministerial pugnou pela procedência da pretensão
punitiva com a consequente condenação do acusado nos termos da
denúncia (id. 179195958). Os autos foram remetidos à Defensoria Pública
para oferecimento dos memoriais da defesa.

Eis o breve relato dos fatos.


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2 - DO DIREITO

2.1 – ABSOLVIÇÃO. LESÃO CORPORAL, LEGÍTIMA DEFESA.

Em seus Memoriais, o órgão ministerial pugnou pela condenação


do acusado como incurso no delito de lesão corporal previsto no artigo 129,
§13º, do Código Penal, aduzindo que restou devidamente comprovado a
veracidade da imputação contida na denúncia.

Na fase de instrução foram ouvidas as vítimas Dilva Marques


dos Santos Soares e Pollyana Marques Soares dos Santos e da testemunha
Policial Jessé Lima da Costa, que participou das diligências que deram início
à persecução penal.

A vítima, Dilva Marques, declarou em síntese que (Id.


179195962):

“Relatou que o Acusado chegou em casa alterado, e que as


filhas foram para o quintal e ouviram o casal conversando alto,
quando saíram da casa em direção ao quintal o Acusado falou
para a filha que ela era um lixo, e mandou ela ir embora, que
nesse momento bateu nas costas dele e disse “ela não é lixo e
quem é lixo é você”, que quando o Acusado se virou a
Pollyana subiu nas costas do Acusado, e ambos começaram
a se atracar, que se machucou porque subiu em cima do
Acusado e ambos caíram sobre as britas no chão, não chegou
a ser agredida, mas apenas empurrada, que o Acusado e a
Pollyana se davam tapas, que Pollyana enrolou uma toalha no
pescoço do Acusado, quando ele disse, para, para, para.

Em seguida, lhe foi realizado a oitiva da vítima Pollyana (id.


179195964), a qual relatou que:

“Ele chegou em casa com som alto e visivelmente alterado, que


saiu para fora da casa com a irmã, em seguido o Acusado e
sua Mãe foram em sua direção, e que ele disse “que a casa era
dele, e pra vítima se retirar, que seu marido era um lixo, e que
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vítima também era um lixo” e a Mãe retrucou e disse ao


Acusado, que ela não era um lixo e que o Acusado que era um
lixo, e o Acusado a empurrou, e que vítima puxou o Acusado
pelo cabelo, e nesse momento o Acusado foi pra cima da
vítima e lhe deu uns tapas, e a Mãe tentou tirar o Acusado
de cima da vítima e caiu no chão, que recebeu uns tapas no
rosto que a fez apagar durante piscar de olhos, quando sua
Mãe disse pra parar, o Acusado parou e saiu de cima,
correram para dentro do carro e o Acusado começou a quebrar
as coisas dentro de casa e tacar fogo, quando visualizaram
uma viatura e chamaram a polícia, esclareceu que as
agressões contra a Srª Dilva foram verbais, e que não se
recorda se o Acusado não chegou a agredir fisicamente, e
que os machucados que consta no laudo foram decorrentes da
queda quando tentava apartar a briga.

Além disso, em juízo, a testemunha Gessé Lima, policial militar


responsável pela realização das diligências, em resposta aos
questionamentos da Ilustre Representante do Ministério Público, pouco
soube esclarecer sobre os fatos, consignou apenas que (id. 179195965):
“Que as vítimas haviam relatado que o cidadão estava muito agressivo e
havia agredido a Mãe, e que elas estavam muito nervosas, e que
aparentemente não visualizou nenhuma lesão, que estavam com
característica que teve uma briga lá, que conduziu as duas para a DP, que
teve que tirar o Acusado da residência porque ele estava muito nervoso e
queimou um monte móvel na residência”.

A situação fática, narrada na denúncia, mostra que o Acusado


tinha reais motivos para acreditar que havia iminência de agressão injusta.
Por isso, de todo pertinente presumir legítima sua ação defensiva.

Sem dúvida, a vítima confessou que quando o Réu virou para


falar com sua Mãe (Dilva), nesse momento puxou o Acusado pelo cabelo e
subiu em suas costas, o que motivou o Acusado a utilizar dos meios
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necessários para cessar a injusta agressão. Isso, per se, no calor das
agressões verbais mútua, justifica esse modo de agir.

Dessarte, na espécie a reação é abarcada pela legítima defesa


(CP, art. 23, II). Assim, exclui-se a tipicidade do crime de lesão corporal.

É imperioso ressaltar que a tipicidade delitiva se perfaz com a


presença formal das elementares de ordem objetiva, necessariamente
somadas ao elemento de ordem subjetiva, o dolo. Assim, quando a conduta
do agente se amolda perfeitamente ao tipo penal, mas se mostra carente do
elemento subjetivo, resta manifestamente demonstrada a atipicidade
material da conduta analisada.

No caso em apreço, é certo que a conduta do réu acima descrita


não foi realizada com intenção de lesionar a vítima, mas tão somente de
repeli-la. Desse modo, na ação exteriorizada pelo Acusado inexiste o
elemento volitivo necessário à existência do delito imputado, o que torna o
fato em apuração atípico sob o aspecto material, por ausência de dolo.

Observa-se, que houve agressões reciprocas que se iniciaram


pela vítima Pollyana puxando o cabelo do Acusado, porém, quando a vítima
Dilva disse para, imediatamente, o Acusado parou sua investida contra a
vítima.

Nesses termos, quanto ao delito de lesão corporal imputado,


postula a Defesa a absolvição do Acusado, uma vez que agiu sob o pálio da
legítima defesa, bem como diante da ausência do animus laedendi.

2.2 – DA DESCLASSIFICAÇÃO

Entretanto, caso V. Excelência não se entenda pela absolvição


do acusado ante a excludente de ilicitude da legitima defesa, pugna-se pela
desclassificação da imputação para a contravenção penal de vias de fato
previsto no art. 21 da Lei de Contravenções Penais, pois restou consignado
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nos autos .

3 - DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer a Defesa:

a) a absolvição dos acusados com fundamento no artigo 386,


inciso V e VII do CPP;

Termos em que pede deferimento.


Paranoá/DF, 26 de abril de 2023.

Tony Harley Silva Ferreira


Residente Jurídico DPDF - OAB/DF 70.763
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Ricardo Lustosa Pierre


Defensor Público

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