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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas

Tese de Doutorado

EFEITO DO BANDEAMENTO E TAXA DE RESFRIAMENTO NA


OCORRÊNCIA DE AUSTENITA RETIDA EM AÇO BAIXO CARBONO COM
ADIÇÕES DE MANGANÊS E SILÍCIO.

Autor: Helder Carvalho Ferreira

Coorientador: Dr. Francisco Martins Boratto

Orientador: Prof. Dr. Vicente Tadeu Lopes Buono

Belo Horizonte, março de 2015


UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas

Helder Carvalho Ferreira

EFEITO DO BANDEAMENTO E TAXA DE RESFRIAMENTO NA


OCORRÊNCIA DE AUSTENITA RETIDA EM AÇO BAIXO CARBONO COM
ADIÇÕES DE MANGANÊS E SILÍCIO.

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica,
Materiais e de Minas da Universidade Federal
de Minas Gerais.

Área de concentração: Metalurgia Física

Coorientador: Dr. Francisco Martins Boratto

Orientador: Prof. Dr. Vicente Tadeu Lopes Buono

Belo Horizonte

Escola De Engenharia da UFMG

2015
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que deram sua contribuição na elaboração deste trabalho e, em


particular:

Aos meus pais, Sebastião Ferreira Neto e Anísia de Jesus Carvalho Ferreira, por terem
me educado para a vida e as orações da minha mãe nesta caminhada;

À minha esposa Iolete Moreira Lemos o companheirismo e a compreensão. E,


principalmente, por ter me preenchido de esperança nos momentos de incerteza.
Agradeço aos nossos filhos, Alice e Daniel, que, além de nos deixar orgulhos e felizes,
ofereceram serenidade e desprendimento para que eu me dedicasse a este projeto;

À ArcelorMittal Monlevade por ter me proporcionado a oportunidade de realizar o


curso de doutorado e, em especial, ao diretor da Unidade de Negócios, João Henrique
Palmer, pelo apoio e amizade;

Ao meu orientador, professor Vicente Buono, a calorosa acolhida, a paciência, a


confiança, a solicitude para esclarecimentos de dúvidas e as preciosas orientações;

Ao professor Francisco Boratto a dedicação e a disposição em compartilhar


conhecimentos e que, além de colaborar na orientação, não mediu esforços e sempre
esteve ao meu lado neste projeto;

Ao diretor da Cia. Siderúrgica Belgo Mineira, Antônio José Polanczyk, pela iniciativa e
incentivo à aproximação entre empresa e universidade;

Aos professores Dagoberto Brandão Santos e Paulo José Modenesi o apoio na


realização dos ensaios de microscopia e medidas no ferritoscópio;

Ao Oleksii Kuznetsov, pesquisador do Inmetro, a grande ajuda prestada e a disposição


para colaborar;

Aos colegas Caroline Persem, David Barbier e Chann Cheng, do R&D ArcelorMittal, a
ajuda e orientação na realização dos ensaios de difração de raios X;

Ao colega João Garcia Ramalho, por ter aprovado o pedido e me incentivado para
realização do doutorado;

Ao colega Joaquim Costa a serenidade, o apoio e a compreensão nesse período em que


tive que me ausentar em alguns momentos das atividades rotineiras;

Ao colega Roney Lino o apoio na rotina de trabalho e por estar sempre disponível
quando solicitado;
Ao colega Sebastião D’Avila a ajuda na preparação metalográfica de amostras e a
contribuição na correção do texto;

Ao colega Genivaldo Mattos o empenho na realização de inúmeros ensaios Jominy;

Ao colega Ronaldo Felisberto o esmero na usinagem dos corpos de prova;

A colega Marília Brum o apoio e a disponibilidade na realização das análises de


microscopia eletrônica de varredura;

Ao amigo Helder José Andrade as providências e a colaboração na usinagem dos corpos


de prova;

Ao colega Marcos Gomes, responsável pela manutenção do difratômetro de raios X da


ArcelorMittal Monlevade, a constante e significante ajuda durante este período;

Aos colegas Geraldo Fonseca, Maurício Pereira e Wix dos Santos, forneiros do
Laminador 2 da ArcelorMittal Monlevade, sempre dispostos para colaborar na
realização dos tratamentos térmicos no Forno Combustol;

Ao Lucas Vilela, da Assessoria de Comunicação, a ajuda na confecção dos gráficos;

Aos colegas Cesar Sato, José Pantuza e Geraldo Ponciano, a ajuda na programação das
experiências industriais;

Aos colegas da Belgo Bekaert Arames, Rodrigo Linhares, André Leite, José Vilas Boas,
Maria Aparecida Costa e Ivo Ramos a imensa ajuda e apoio nas análises e realização
dos testes de trefilação;

Ao amigo José Alberto da Cruz Júnior, colega de doutorado, que tanto me auxiliou nos
ensaios de microscopia óptica no laboratório da Escola de Engenharia da UFMG;

Ao professor de inglês Charles Vardiero, da UpGrade Business School, o auxílio nas


sugestões e correções dos artigos;

Aos técnicos da Shimadzu, Marcelo Sasaoka, Kozo Hirai, Ronaldo Freitas e Ocimar
Carvalho, a presteza e profissionalismo no apoio para manutenção do difratômetro;

À servidora técnica da UFMG Andréia Bicalho, pela colaboração nos ensaios de


difração de raios X;

A todos os funcionários e operadores da ArcelorMittal Monlevade o apoio recebido na


realização dos programas de experiência;

À Universidade Federal de Minas Gerais a calorosa acolhida e os momentos vividos


nesse período, que sempre ficarão vivos em minha memória.
“Se depender de mim, nunca ficarei plenamente
maduro nem nas ideias nem no estilo, mas sempre
verde, incompleto, experimental”.

Gilberto Freire
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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................... iii


LISTA DE TABELAS ........................................................................................ x
LISTA DE NOTAÇÕES .................................................................................... xii
RESUMO ............................................................................................................. xvii
ABSTRACT ........................................................................................................ xviii
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1
2. OBJETIVOS .................................................................................................. 5
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 7
3.1 Ocorrência de bandeamento em aço de baixo teor de carbono ................. 7
3.2 Formação da martensita ............................................................................ 10
3.3 Aspectos termodinâmicos da transformação martensítica ........................ 18
3.4 Efeito da pressão hidrostática na transformação martensítica .................. 20
3.5 Reação bainítica ........................................................................................ 25
3.6 Aços multiconstituídos .............................................................................. 26
3.6.1 Aspectos microestruturais dos aços multiconstituídos ..................... 27
3.6.2 Avaliação do teor de carbono na austenita retida ............................. 29
3.6.3 Efeito da composição química na estabilidade da austenita retida .. 32
3.6.4 Estabilidade da austenita retida na temperatura ambiente ............... 35
3.7 Influência do bandeamento na ocorrência de estrutura multiconstituída .. 40
3.8 Identificação e quantificação da austenita retida ...................................... 42
3.8.1 Através de métodos metalográficos ................................................. 43
3.8.2 Através de difração de raios X ......................................................... 46
3.9 Modelos para otimização dos picos de DRX ............................................ 52
3.10 Ocorrência do dupleto K 1 e K 2 .............................................................
α α 55
4. METODOLOGIA ......................................................................................... 60
4.1 Material ..................................................................................................... 60
4.2 Processo de fabricação do fio máquina ..................................................... 61
4.3 Procedimento para coleta e preparação de amostras ................................. 62
4.3.1 Coleta de amostras com estrutura bandeada .................................... 62
4.3.2 Obtenção de amostras com estrutura homogeneizada ...................... 63
4.3.3 Coleta de amostras em função da taxa de resfriamento ................... 64
4.3.4 Coleta de amostras de fio máquina .................................................. 66
4.3.5 Coleta de amostras de arame trefilado ............................................. 68
4.4 Difração de raios X ................................................................................... 68
4.4.1 Escolha dos parâmetros de operação ................................................ 69
4.4.2 Posicionamento da amostra no porta-amostra do difratômetro ....... 70
4.4.3 Determinação das raias de difração a serem utilizadas .................... 71
4.4.4 Modelamento dos picos austeníticos e ferríticos .............................. 72
4.4.5 Cálculo da intensidade dos picos de difração ................................... 73
4.4.6 Cálculo da fração volumétrica de austenita retida ........................... 74
4.4.7 Avaliação do teor de carbono presente na austenita retida .............. 76
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4.5 Ensaio de tração no fio máquina ............................................................... 76


4.6 Ensaio de microdureza Vickers ................................................................. 78
4.7 Caracterização metalográfica .................................................................... 78
4.8 Microscopia óptica (MO) .......................................................................... 78
4.9 Ensaio eletrônica de varredura (MEV) ..................................................... 78
4.10 Espectroscopia de dispersão de comprimento de onda (EDS) .............. 79
5. RESULTADOS .............................................................................................. 80
5.1 Caracterização microestrutural do material .............................................. 80
5.2 Medidas do teor de carbono, manganês e silício para amostra bandeada
e homogeneizada ...................................................................................... 80
5.3 Validação do método de difração utilizado ............................................... 87
5.3.1 Saturação magnética ......................................................................... 87
5.3.2 Difração de raios X para espectro com 2θ na faixa 48 - 128º........... 88
5.4 Quantificação da austenita retida em amostra bandeada – longitudinal e
transversal .................................................................................................. 89
5.5 Quantificação da austenita retida em amostra homogeneizada – longitu-
dinal e transversal ...................................................................................... 93
5.6 Efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em
amostra bandeada ...................................................................................... 96
5.7 Efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em
amostra homogeneizada ............................................................................ 100
5.8 Efeito da taxa de resfriamento no teor de carbono da austenita retida ...... 111
5.9 Correlação do parâmetro K da raia (200)α com a microestrutura majo-
.........
ritária ........................................................................................................ 113
5.10 Distribuição da austenita retida ao longo da espira do fio máquina ....... 116
5.10.1 Análise da estrutura presente no fio máquina ............................. 117
5.10.2 Quantificação da austenita retida no fio máquina ....................... 119
5.11 Correlação da austenita retida com resistência mecânica e ductilidade
ao longo da espira ................................................................................... 120
5.12 Redução da austenita retida ao longo da espira do fio máquina para
uma liga com composição química modificada ..................................... 122
5.13 Comparação dos resultados de trefilação para liga convencional e mo-
dificada ................................................................................................... 123
6. CONCLUSÕES ............................................................................................. 131
7. SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ....................................... 133
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 134
Publicações do autor relacionados à tese .......................................................... 142
Anexo – Bibliografia de Karl Pearson .............................................................. 143
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 Microestrutura de arame de solda MIG, rompido na trefilação devi-


do presença do constituinte MA (martensita – austenita). Seção lon-
gitudinal, Nital 2% ............................................................................. 1
Figura 1.2 Evolução no período de 1970 a 2014 das publicações nas bases Sco-
pus e Web of Science relacionadas às seguintes composições de pa-
lavras chaves: “steel + MIG”, “steel + MA + TRIP” e “steel + MA+
DP …………………………………………………………………... 3
Figura 3.1 Perfil de concentração de manganês (a) e silício (b) de uma amostra
de aço na condição bandeada, realizada na direção perpendicular à
direção de laminação. Na parte superior dos gráficos as letras α e P,
correspondem à ferrita pró eutetóide e à perlita, respectivamente ..... 9
Figura 3.2 Efeito do carbono na temperatura MS, ocorrência de martensita e
austenita retida .................................................................................... 11
Figura 3.3 Parâmetros de rede da martensita tetragonal para um aço carbono
temperado ........................................................................................... 13
Figura 3.4 Modelo da distorção de Bain para a transformação de austenita
(CFC) em martensita (TCC): (a) Célula unitária tetragonal destaca-
da dentro da austenita; (b) Deformação da rede devido à compres-
são do eixo “c” para formar a martensita ........................................... 14
Figura 3.5 Representação esquemática da deformação invariante na transfor-
mação martensítica (TM): (a) Mudança de forma na TM; (b) Aco-
modação por escorregamento; (c) Acomodação por maclação .......... 15
Figura 3.6 Influência da temperatura de revenimento na (a) tetragonalidade da
martensita; (b) fração de austenita; e na (c) ocorrência de cementita.
Aço temperado e revenido a diferentes temperaturas. Adaptação fei-
ta do trabalho de AVERBACH et al .................................................. 17
Figura 3.7 Reações no estado sólido durante o revenimento da martensita ........ 18
Figura 3.8 Representação esquemática da energia livre entre as fases “mãe” (γ)
martensita (α’) .................................................................................... 19
e
Figura 3.9 Ilustração da deformação invariante na transformação martensítica e
sua resolução em dois componentes, segundo OTSUKA e WAY-
MAN ................................................................................................... 20
Figura 3.10 Diagrama esquemático da energia livre de Gibbs como função da
temperatura e pressão hidrostática ..................................................... 22
Figura 3.11 Variação nas temperaturas Ms e T0 em função da pressão (Fe-Pt) .... 23
Figura 3.12 Mecanismo de formação da martensita em aço baixo carbono sub-
metido à pressão hidrostática durante o resfriamento a partir da re-
gião austenítica ................................................................................... 24
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Figura 3.13 Representação esquemática da reação bainítica incompleta. A parte


superior corresponde à energia livre para uma temperatura T1. Após
a transformação nesta temperatura, a austenita terá composição da-
da pela linha T0$ e não pela curva de equilíbrio Ae3........................... 27
Figura 3.14 Microscopia eletrônica de Varredura para aço (0,20 %C; 1,51 %Si;
1,51 %Mn) austemperado à temperatura de (a) 350 ºC; (b) 375 ºC;
(c) 400 ºC; (d) 425 ºC; (e) 450 ºC; (f) 475 ºC. Legenda: αbf, αb, αq,
αm e γR: ferrita bainítica, bainita, quase-ferrita, martensita e austeni-
ta retida, respectivamente ................................................................... 30
Figura 3.15" Microestrutura no MET para as temperaturas de austempera de (a)
375 ºC e (b) 450 ºC. Legenda: αbf e γR representam ferrita bainítica
e austenita retida, respectivamente ..................................................... 30
Figura 3.16" Relação de martensita e austenita (martensita/austenita) em função
do teor de carbono presente na austenita retida para um aço carbono
revenido na temperatura de 270 ºC e 363 ºC ...................................... 32
Figura 3.17 Análise quantitativa na interface martensita/austenita construída
mediante sonda de tomografia atômica. As setas indicam o caminho
da sonda para medida do manganês. (a) Estrutura mostrando as in-
terfaces com distribuição dos átomos de manganês (azul); (b) Vari-
ação do teor de manganês em relação a distancia da interface mar-
tensita/austenita .................................................................................. 33
Figura 3.18 Variação da fração volumétrica do constituinte MA com a taxa de
resfriamento para três aços: ! - sem adição de Ti; ! - 0,018 %Ti;
 - 0,043 %Ti .................................................................................... 34
Figura 3.19 (a) Ciclo de tratamento térmico. (b) Variação da fração volumétrica
e concentração de carbono da austenita retida em função da tempe-
ratura intercritica T1 para o aço com composição de 0,20 %C; 1,50
%Mn e 2,0 %Si .................................................................................. 36
Figura 3.20 Mapa de transformação para um aço aquecido na temperatura inter-
crítica de 730 ºC por 5min e depois submetidos à temperatura de
370 ºC. Composição da liga - C: 0,16 %; Mn: 1,30 %; Si: 0,38 %;
Al: 0,030% .......................................................................................... 36
Figura 3.21 Variação da fração volumétrica da austenita retida (fγ) com a tempe-
ratura da transformação bainitica para três aços com manganês vari-
ável - ! 1,99 %; " 1,50 %; ∆ 1,0 % .................................................... 37
Figura 3.22 Modelo de transformação da austenita após tratamento intercritico,
seguido de transformação bainítica. Identificação das fases: ferrita
(α);
(a) austenita (γ); ferrita transformada (αT); bainita (αb) e austenita
retida (γR) ............................................................................................ 38
Figura 3.23 Resultados do ensaio de tração para avaliar a estabilidade da auste-
nita retida em função da deformação, temperatura e teor de manga-
nês: 0,50 %Mn; (b) 2,0 % Mn. Aço Fe-Mn-2,0Si e C:1,2 % (em pe-
so) e Vγο : 0,1282.................................................................................. 40
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Figura 3.24 Efeito da adição de manganês na temperatura Ar3 e composição eu-


tetóide do um aço SAE5140: (a) 0,82 %Mn; (b) 1,83 %Mn (em pe-
so) ....................................................................................................... 41
Figura 3.25 Diagrama de transformação do aço SAE5140 com teores (a) 0,82 %
Mn e (b) 1,83 %Mn - (em peso) ......................................................... 42
Figura 3.26 Microestrutura revelada pelo método de colorização em aquecimen-
to. (a) e (c) microestruturas de aço sem adição de Nb; (b) e (d) mi-
croesturas de aço com adição de Nb. (a) e (b) microestruturas antes
do ensaio de tração; (c) e (d) microestruturas após deformação de
0,2. (α: ferrita, γR: austenita retida, αm: martensita e αb: bainita ........ 46
Figura 3.27 Efeito da distorção do parâmetro de rede da célula no padrão de di-
fração. As linhas que se mantêm com posições inalteradas são liga-
das por linhas tracejadas. Adaptado de CULLITY............................. 49
Figura 3.28 Variação no perfil da curva de Pearson VII em função dos parâme-
tros “M” e “K” da equação 3.23 ......................................................... 55
Figura 3.29 Espectro de raios X para o molibdênio em função da voltagem ........ 56
Figura 3.30 Espectro esquemático para o molibdênio como metal alvo e volta-
gem de aceleração de 35 kV (Kα1:0,709 Å; Kα2: 0,71 Å; Kβ:
0,632 Å. A diferença entre as figuras é apenas na escala horizontal
do comprimento de onda .................................................................... 58
Figura 3.31 Separação do dupleto Kα em função do ângulo (2Ɵ), com identifi-
cação dos planos cristalográficos da ferrita. (Parâmetro de rede da
ferrita de 2,867 Å). Radiação Cu-Kα ................................................. 58
Figura 3.32" Modelamento do pico (200)α através da função de Pearson VII. Os
pontos são valores reais obtidos da DRX e a linha contínua preta é a
curva calculada pelo modelo .............................................................. 59
Figura 4.1" Desenho esquemático do processo de resfriamento Stelmor® .......... 62
Figura 4.2 Variação da segregação residual (δi) do manganês com o tempo pa-
ra quatro temperaturas diferentes ....................................................... 64
Figura 4.3 (a) Representação esquemática do ensaio Jominy; (b) Taxa de res-
friamento do corpo de prova em relação à distância da extremidade
resfriada com água .............................................................................. 65
Figura 4.4 Seccionamento do corpo de prova para calculo da taxa. A tabela a-
baixo da figura mostra as taxas para algumas cotas (distancia do
plano à extremidade resfriada), conforme equação 4.1 ...................... 66
Figura 4.5 Posição das espiras no Stelmor® e a identificação da posição da po-
sição em relação ao sentido da laminação (sul/norte) ........................ 67
Figura 4.6 Perfil termográfico das espiras durante o resfriamento no Stelmor ... 67
Figura 4.7 Desenho esquemático da posição da amostra em relação á radiação
incidência dos raios X. As linhas no interior da amostra representam
a direção do bandeamento, quando foram analisadas amostras na
longitudinal ....................................................................................... 70
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Figura 4.8 Posição das raias para as estruturas cúbicas de corpo centrado
(CCC), cúbica de face centrada (CFC) para o ferro para a faixa 2•
de 0 - 130%. Radiação de cobalto ......................................................... 71
Figura 4.9 Difratograma do espectro teórico para um aço com fração volumétri-
ca de austenita de 10 %. Faixa 2• de 0 – 130&'"radiação de cobalto 72
Figura 4.10 Variação
... do carbono da austenita em função do parâmetro de rede
segundo diversos autores. A linha pontilhada refere-se ao valor mé-
dio entre as sete medidas apresentadas ................................................ 77
Figura 4.11 Dimensões do corpo de prova para ensaio de tração. A = 10 mm, B=
4,5 mm, D = 60 mm e R = 15 mm ....................................................... 77
Figura 5.1 Imagem da microestrutura através do MEV da liga ER70S-6 referen-
te à amostra do perfil intermediário para dois aumentos. As setas in-
dicam o sentido da laminação. Seção longitudinal, Nital 2 % ............ 81
Figura 5.2 Microestrutura da amostra do perfil da tesoura 12 (liga ER70S-6)
para duas condições: (a) bandeada e (b) homogeneizada. O traçado
em amarelo (LHV) é a linha horizontal de varredura. Medidas pon-
tuais realizadas por EDS. As setas indicam o sentido da laminação.
Seção longitudinal, ataque Nital 2 % .................................................. 82
Figura 5.3 Perfis de manganês e carbono, medidos ao longo da linha horizontal
de varredura (LHV) mostrada na figura 5.2(a). Amostra bandeada do
perfil da tesoura 12 (liga ER70S-6) ..................................................... 83
Figura 5.4 Perfis de concentração de carbono e manganês ao longo da linha
LHV mostrada na figura 5.2 (b) na seção longitudinal da amostra
homogeneizada. Amostra homogeneizada do perfil da tesoura 12
(ER70S-6) ............................................................................................ 84
Figura 5.5 Microestrutura da liga ER70S-6 antes (a) e após (b) o tratamento de
homogeneização a 1200 ºC por 170 h. A seta indica a direção de la-
minação. Seção longitudinal, ataque Nital 4 % ................................... 86
Figura 5.6 Correlação das medidas de fração volumétrica de austenita retida por
difração de raios X (eixo da abcissa) e por saturação magnética (eixo
da ordenada) ........................................................................................ 88
Figura 5.7 Correlação entre as medidas de austenita retida pelo método propos-
to na tese (eixo da ordenada) e o utilizado pelo R&D ArcelorMittal
de Maizières/Metz (eixo da abcissa) ................................................... 90
Figura 5.8 Espectro da difração para uma das medidas realizadas na amostra
bandeada de seção transversal resfriada na taxa de 1,6 ºC/s. A linha
pontilhada da grossa corresponde ao comprimento de onda λK 1 e a α

linha fina a λK 2 ................................................................................... 92


α

Figura 5.9 Diagrama de radar dos valores individuais de γR (fração vol.%) para
seções longitudinal e transversal de amostras bandeadas resfriadas
na taxa de 1,6 ºC/s. Não foi evidenciada diferença estatística entre os
cortes longitudinal e transversal conforme pode ser visto na tabela
V.4 ( |Stat-t| < t crítico) ........................................................................ 93
V.4 .............
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Figura 5.10 Espectro da difração para uma das medidas realizadas na amostra
homogeneizada de seção transversal resfriada na taxa de 1,93 ºC/s.
A linha pontilhada grossa corresponde ao comprimento de onda K 1 α

e a linha pontilhada fina a K 2 ............................................................. 95


α

Figura 5.11 Diagrama de radar dos valores individuais de γR (fração vol.%) para
seções longitudinal e transversal de amostras homogeneizadas e res-
friadas na taxa de 1,93 ºC/s. Não foi evidenciada diferença estatística
entre longitudinal e transversal, conforme pode ser visto na análise
estatística mostrada na tabela V.6 ....................................................... 96
Figura 5.12 Difratograma da amostra transversal bandeada resfriada na taxa de
30,3 °C/s. As linhas tracejadas correspondem ao comprimento de o-
da λK 1 e as pontilhadas ao comprimento de onda λK 2. Os pontos
α α

são medidas experimentais e a linha contínua o resultado do modela-


mento matemático completo ................................................................ 99
Figura 5.13 Fração volumétrica de AR em função da taxa de resfriamento para
amostra bandeada. Cada ponto é a média de seis medidas realizadas
por difração de raios X, com radiação monocromática Co-K 1 .......... 100 α

Figura 5.14 Diagrama da amostra transversal e homogeneizada, resfriada na taxa


de 10 °C/s. As linhas tracejadas correspondem ao comprimento de
onda λK 1 e as pontilhadas ao comprimento de onda λK 2. Os pontos
α α

são as medidas experimentais e a linha contínua o resultado do mo-


delamento completo ............................................................................. 101
Figura 5.15 Micrografia da seção transversal de uma amostra homogeneizada e
resfriada na taxa de 10 ºC/s: (a) Microscopia óptica com ataque de
Nital 2 %; (b) Imagem de elétrons secundários (MEV); (c) Ataque
de colorização: martensita e bainita (azul), ferrita (amarelo ou mar-
ron claro) e austenita retida (roxo), indicadas por setas ...................... 103
Figura 5.16 Fração volumétrica da austenita retida em função da taxa de resfria-
mento para amostra homogeneizada. Cada ponto é a média de seis
medidas realizadas por difração de raios X, com uso da radiação mo-
nocromática Co-K 1 ............................................................................ 104
α

Figura 5.17 Fração volumétrica de austenita retida (% no eixo da ordenada) em


função da taxa de resfriamento (escala logarítmica no eixo da abcis-
sa) no ensaio Jominy. (a) amostra bandeada e (b) amostra homoge-
neizada ................................................................................................. 106
Figura 5.18 Micrografia da liga ER70S-6 de amostra bandeada resfriada nas
taxas (a) 1,0 ºC/s; (b) 17,7 ºC/s; (c) 56,75 ºC/s; (d) 114 ºC/s. Ataque
Taxas:
Nital 2 % .............................................................................................. 107
Figura 5.19 Micrografia da liga ER70S-6 de amostra homogeneizada resfriada
taxas: (a) 0,95 ºC/s; (b) 10 ºC/s; (c) 57,8 ºC/s; (d) 120 ºC/s. Ataque
nas
Nital 2 % .............................................................................................. 109
Figura 5.20 Teor de carbono da austenita retida em função da taxa de resfria-
mento para amostra: (a) bandeada e (b) homogeneizada .................... 112
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Figura 5.21 Variação do parâmetro K da equação de Pearson VII do pico (200)α


com a taxa de resfriamento e comparação com o teor de austenita re-
tida para material bandeado. As micrografias de MEV (ataque com
Nital 2 %, aumento de 3000X no original), mostram as fases majori-
tárias em cada uma das três regiões principais. Os dois gráficos me-
nores mostram como a forma do pico (200)α é afetada pela taxa de
resfriamento ......................................................................................... 114
Figura 5.22 Variação do parâmetro K da equação de Pearson VII do pico (200)α
com a taxa de resfriamento e comparação com o teor de austenita re-
tida para material homogeneizado. As micrografias de MEV (ataque
Nital 2 %, aumento de 3000X no original), mostram as fases majori-
tárias em cada uma das três regiões principais. Os dois gráficos me-
nores mostram como a forma do pico (200)α é afetada pela taxa de
resfriamento ......................................................................................... 115
Figura 5.23 Variação do parâmetro K da equação de Pearson VII do pico (200)α
com a dureza (HV) do material homogeneizado. As setas indicam o
sentido de aumento da fase indicada. Legenda: α – ferrita; αʹ – mar-
tensita; αb – bainita .............................................................................. 116
Figura 5.24 Micrografia óptica do fio máquina bitola 5,5 mm. Ataque de Nital
2 %, seguido de revenimento a 250 ºC por 2,5 h, conforme procedi-
mento colorização. Nota-se a presença de ferrita (regiões brancas e
bege clara), martensita (azul) e austenita retida (roxo), indicado por
setas ..................................................................................................... 117
Figura 5.25 Micrografia no MEV para quatro posições do fio máquina diametral-
mente opostos na esteira do Stelmor®. Ataque Nital 2 %, original
com aumento de 3000X ....................................................................... 118
Figura 5.26 Micrografia ao MEV do fio máquina referente à posição 9 – oeste
(vide desenho acima) no Stelmor®, ataque Nital 2 %. A figura da
direita é reprodução com maior aumento, onde pode ser visto pre-
sença de martensítica ........................................................................... 119
Figura 5.27 Variação da fração volumétrica de austenita retida (%) ao longo da
espira do fio máquina no Stelmor®, fabricado com a liga convencio-
nal ER70S-6. Os resultados são médias de seis medidas realizadas
por difração na seção transversal do fio máquina. As posições 6 e 12
refere-se ao sul e norte, respectivamente ............................................. 120
Figura 5.28 (a) Variação da estricção (%), (b) resistência mecânica (MPa); (c) a-
ustenita retida (%) ao longo da espira do fio máquina no Stelmor®,
fabricado com a liga . Os resultados são médias de seis medidas para
cada um dos itens analisados ............................................................... 121
Figura 5.29 (a) Variação da estricção (%), resistência mecânica (MPa) e austeni-
ta retida (%) ao longo da espira no Stelmor® para liga modificada
ER70S-6M, pontos vermelhos, comparados com os valores da liga
convencional ER70S-6, pontos azuis. Os resultados são médias de
seis medidas para cada um dos itens analisados .................................. 125
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"

Figura 5.30 Difratograma de raios X para duas condições para a liga convencio-
nal ER70S-6: (a) Fio máquina antes da trefilação com 5,29 % de
austenita retida; (b) arame bitola 4,80 mm .......................................... 126
Figura 5.31 Difratograma de raios X para o arame 4,80 mm após tratamento de
recristalização (540 ºC, 1000 min) fabricado com a liga convencio-
nal ER70S-6 com a presença dos picos austeníticos (111)γ e (200)γ... 127
Figura 5.32 Liga convencional (tabela IV.1). Microestrutura do arame trefilado
bitola 2,97 mm com presença de vazios (“voids”). Aumentos origi-
nais de 3000X e 10000X para as figuras superior e inferior, respecti-
vamente ................................................................................................ 129
Figura 5.33 Liga modificada (tabela V.9). Micrografia da liga com composição
química modificada: (a) fio máquina 5,5 mm; (b) arame 4,69 mm;
(c) arame1,87 mm. Ataque Nital 2 %, aumento original de 3000X .... 130

"
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LISTA DE TABELAS

Tabela III.1 Razão de partição na solidificação em equilíbrio para alguns ele-


mentos .............................................................................................. 8
Tabela III.2 Orientação e plano de hábito da martensita para ligas de Fe-C de
com KURDJUMOV-SACHS e NISHIYAMA ................................ 16
acordo
Tabela III.3 Cálculo do parâmetro de rede da austenita (a = a0+ kc.%C). Os γ

parâmetros destas equações foram calculados para temperatura de


20 %C sendo desprezadas as contribuições de outros elementos em
relação à do carbono ........................................................................ 81
Tabela III.4 Ataque de colorização das fases para aços multifásicos e suas limi-
tações. (α: ferrita, αb: bainita, αm: martensita, P: perlita, γR: auste-
nita retida, ϴc: carbonetos) ............................................................... 45
Tabela III.5 Cálculo teórico da intensidade (R) para radiação Cr-K . Compri- α

mento de onda médio de 2,29092 Å, parâmetro de rede da ferrita e


Austenita de 2,8664 Å e 3,60 Å, respectivamente.!Os valores de f,
∆f’ e ∆f´´ foram obtidos na tabela Internacional de de Cristalogra-
fia e norma ASTM ........................................................................... 52
Tabela III.6 Comprimentos de onda (Å) das principais radiações para três ele-
mentos mais utilizadas em DRX ...................................................... 57
Tabela IV.1 Composição química (% peso) da liga estudada, ER70S-6 .............. 60
Tabela IV.2 Intensidade relativa teórica (R) para a radiação de cobalto, para
comprimento de onda K 1=1,78892 Å e monocromador de grafita
α

(2θm de 30,94°); parâmetros de rede da ferrita e austenita de


2,8664 Å e 3,6440 Å, respectivamente ............................................. 75
Tabela V.1 Medições via EDS para o manganês e silício nas amostras da liga
ER70S-6 com e sem tratamento de homogeneização, em cinco
pontos distintos ................................................................................. 85
Tabela V.2 Comparação de média entre o teor de manganês na ferrita e perlita,
antes e após a homogeneização da liga ER70S-6 ............................. 86
Tabela V.3 Parâmetros otimizados da equação de Pearson VII (seis medidas
por radiação). Radiação K 1 para os quatro picos compreendidos
α

na faixa de 48 a 80º. Amostra bandeada e resfriada na taxa de


1,6 %C/s. O parâmetro M é adimensional e os demais têm unidades
relacionadas à medição do espectro de difração ............................. 91
Tabela V.4 Valores individuais da austenita retida (%) para amostra bandeada,
com taxa de resfriamento de 1,6 ºC/s. Abaixo análise estatística re-
ferente às seis medidas ..................................................................... 94
" "
(!"
"

Tabela V.5 Parâmetros otimizados da equação de Pearson VII (seis medidas


por difração). Radiação K 1 para os quatro picos 2θ na faixa 48 -
α

80%. Amostra homogeneizada e resfriada na taxa de 1,93 ºC/s. O


parâmetro M é mensional e os demais têm unidades relacionadas à
medição do espectro de difração ...................................................... 94
Tabela V.6 Valores individuais da austenita retida (%) para amostra homoge-
nizada, com taxa de resfriamento de 1,93 ºC/s. Abaixo análise es-
tatística referente às seis medidas ..................................................... 97
Tabela V.7 Parâmetros optimizados da função de Pearson VII para amostra
transversal bandeada resfriada na taxa de 30,3 ºC/s (figura 5.12).
Comprimento de onda do cobalto λK 1 e λK 2 de 1,78892 Å e
α α

1,79278 Å, respectivamente. O parâmetro M é adimensional e os


demais têm unidades relacionadas à medição do espectro
de difração ........................................................................................ 98
de))))))))))))))))))"
Tabela V.8" Parâmetros optimizados da função de Pearson VII, correspondente
a uma amostra transversal e homogeneizada, resfriada na taxa de
10 %C/s (figura 5.14). Comprimento de onda do cobalto λK 1 e λK 2 α α

de 1,78892 Å e 1,79278 Å, respectivamente. O parâmetro M é adi-


arâmetro
mensionalMe éosadimensional e os demais
demais têm unidades têm unidades
relacionadas relacionadas
à medição do es-
pectro de difração ............................................................................. 102
Tabela V.9 Composição química (% em peso) da liga modificada, ER70S-6M 122
Tabela V.10 Valores médios de AR (%), estricção (%) e resistência (MPa) entre
ligas ER70S-6 e ER70S-6M, sem e com adição de titânio, respec-
tivamente .......................................................................................... 123
Tabela V.11 Parâmetros K e M da equação de Pearson VII para o pico (200)α
para três condições de estrutura do material. Radiação de cobalto,
comprimento de onda λK 1 ............................................................... 126
α

"

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(!!"
"

LISTA DE NOTAÇÕES

AR: austenita retida (γR)

AS: Temperatura de superaquecimento para transformação α/γ

ASTM: norma internacional (American Society for Testing and Materials)

AWS ER70S: eletrodo MIG segundo a norma internacional AWS

AWS: norma internacional (American Welding Society)

BSE: elétrons retroespalhados (back scatter electrons)

C: relação de intensidade dos picos K 1/K 2


α α

CCC: célula unitária cúbica de corpo centrado

CFC: célula unitária cúbica de face centrada

CI: intervalo de confiança

C0: composição média da liga

C : concentração de carbono na liga


LG

Cγ: concentração de carbono na austenita

CL: concentração em equilíbrio do liquido

CM: concentração de soluto no espaço interdendrítico no tempo t

Cm: concentração de soluto no braço de uma dendrita no tempo t

CM 0 : concentração de soluto no espaço interdendrítico no tempo t0

Cm0 : concentração de soluto no braço de uma dendrita no tempo t0

Cs: concentração em equilíbrio do sólido

DCCC: coeficiente de difusão na ferrita

DCFC: coeficiente de difusão na austenita

Ds: coeficiente de difusão no sólido

DP: bifásico (dual-phase)

DQ: desvio quadrático


(!!!"
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DRX: difração de raios X

EDS: espectro da perda de energia dos elétrons (energy dispersive X-ray spectroscopy)

EELS: Espectro da perda de energia do elétron (electron energy loss spectrum)

EN440 G4Si1: eletrodo MIG segundo a norma internacional DIN

FEG: emissão por campo iônico"*field emission gun)

F: fator de estrutura

FWHM: largura do pico no ponto médio (full width at half maximum)

I: intensidade da radiação difratada

I0: intensidade máxima da radiação difratada

K: parâmetro da função de Pearson VII que governa a largura da curva

K : radiação característica entre a camada atômica L e K


α

Kβ: radiação característica entre a camada atômica M e K

LP: fator de polarização de Lorentz

LD: processo de fabricação de aço (Linz e Donawitz)

LHV: linha horizontal de varredura

M: parâmetro da função de Pearson VII que governa a taxa de decaimento da “cauda”

MA: constituinte formado por martensita e austenita

MEV: microscópio eletrônico de varredura

MET: microscópico eletrônico de transmissão

MFA: microscopia de força atômica

MS: temperatura de início da transformação martensítica

MIG: eletrodo com proteção gasosa (metal inert gas)

N: recíproco do volume de uma célula unitária

Nat: número de átomos da célula unitária

P: perlita

R: intensidade teórica relativa de difração


(!#"
"

Rab: resíduo absoluto do erro

Rm: resistência mecânica

S: grau da ordem

SST: tempo de contagem (scan step time)

SSS: tamanho do passo (scan step size)

STEM: microscópio eletrônico de transmissão (scanning transmission electron


microscopy)

SDQ: soma do desvio quadrático

SE: elétrons secundários (secundary electrons)

S/R: relação sinal/ruído

TRIP: transformação induzida por deformação (transformation induced plasticity)

Tq: temperatura de têmpera

T0: temperatura no equilíbrio de energia entre as fases ferrita e austenita

TA: temperatura de austêmpera

TCC: célula tetragonal de corpo centrado

TM: transformação martensítica

V: volume

Vα: fração volumétrica da ferrita

Vγ: fração volumétrica da austenita

WDS: espectrômetro de dispersão de comprimento de onda (wavelength dispersive


spectometer)

Z: estricção

SWL: limite do menor comprimento de onda (short wavelength limit)

a: parâmetro de rede da célula unitária cúbica nas direções x, y e z

c: parâmetro de rede da célula unitária na direção z

c/a: relação de tetragonalidade da martensita

aα: parâmetro de rede da célula unitária da ferrita


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aγ: parâmetro de rede da célula unitária da austenita

e-2D : fator de temperatura Debye-Walter

f: fator de espalhamento atômico

fb: fração de bainita (fb)

fγ: fração de austenita

fs: fração volumétrica do sólido

h: incremento para a variável dependente

hkl: índices de Miller do plano

kT: constante de proporcionalidade dependente da temperatura

kp: razão de partição na solidificação

kc: constante da equação (a = a0+kc.% C)


γ

l: metade da distância entre duas dendritas secundárias

p: fator de multiplicidade do plano cristalográfico

n: número de testes

s: desvio padrão da amostragem

uvw: coordenadas dos átomos nos eixos cartesianos

x0: posição angular para intensidade máxima do pico K 1 α

ym: valor medido

yc: valor calculado

α: ferrita, solução sólida do ferro (CCC) e carbono

αb: bainita

αq: quasi-bainita

αm: martensita

αbf: ferrita bainítica

αp: ferrita pró eutetóide

αT: ferrita transformada


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δi: microsegregação na solidificação interdendrítica

δ: separação angular entre Kα1 e Kα2

γ: austenita, solução sólida do ferro (CFC) e carbono

γR: austenita retida (AR)

ε: deformação verdadeira

•!: velocidade de deformação

Ɵ: ângulo de incidência dos raios X

Ɵc : carbonetos

Ɵm : ângulo teta do monocromador

λ: comprimento de onda da radiação

∆G: variação de energia livre de Gibbs

∆GQ: variação de energia livre química

∆GM: variação de energia livre mecanica

∆GS: variação de energia livre de superfície

∆T0: super resfriamento necessário para ocorrer a transformação martensítica

∆V: variação de volume na transformação martensítica

∆λ: diferença entre comprimento de ondas

∆f: correção do fator de espalhamento atômico

ε0: variação de volume associado com a transformação martensítica

µ: coeficiente de absorção

v: volume da célula unitária

τ: tensão de cisalhamento

σ: tensão normal ao plano de hábito


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RESUMO

Este trabalho apresenta uma investigação do efeito da taxa de resfriamento e da


presença de bandeamento na ocorrência de austenita retida (AR) em um aço baixo teor
de carbono com adição de manganês e silício, destinado à fabricação de eletrodo MIG,
classe ER70S-6. O método de difração de raios X foi usado para quantificar nível baixo
de AR (fração volumétrica < 6%) que se apresenta como bloco/filme ou constituinte
martensita-austenita (MA). Foi feita decomposição dos comprimentos de onda λK 1 e α

λK 2, através da função de Pearson VII. Ensaios Jominy foram também utilizados para
α

avaliar a influência da taxa de resfriamento na ocorrência de AR. Amostras foram


coletadas a diversas distâncias da extremidade resfriada com jato de água. A avaliação
do bandeamento foi realizada através de comparação de amostra no estado laminado
contra outra que foi tratada termicamente à temperatura elevada e tempo longo. Desta
forma, foi possível avaliar os efeitos da taxa de resfriamento e da estrutura na
ocorrência de AR no aço estudado. Foi observado que a AR aumenta até uma
determinada taxa de resfriamento, caindo em seguida e estabilizando para taxas
maiores. Para o material no estado laminado, isto é, com estrutura bandeada, a maior
ocorrência de AR é encontrada para taxa de resfriamento próxima de 16,7 ºC/s. Já para
material homogeneizado, esta ocorrência máxima se dá a uma taxa menor,
aproximadamente 10 ºC/s. A eliminação da ocorrência desta fase ocorre para taxas de
resfriamento de 0,83 e 0,17 ºC/s para as estruturas bandeadas e homogeneizadas,
respectivamente. Comportamento similar foi evidenciado em relação à variação do teor
de carbono na AR com a taxa de resfriamento. Para ambas as estruturas, as ocorrências
dos máximos de fração volumétrica de AR coincidem com os máximos do teor de
carbono. Na avaliação do fio máquina no processo de resfriamento Stelmor®, foi
observado que a maior concentração de AR se encontra nas regiões de maior
concentração de massa. Estas posições correspondem no ensaio de tração, aos maiores
valores de resistência e os menores de estricção. Com a adição de titânio na
composição, foi possível reduzir significativamente a fração volumétrica de AR do fio
máquina e alcançar níveis satisfatórios de resistência e estricção, permitindo assim a
trefilação direta do diâmetro 5,50 mm para 1,88 mm.

Palavras chave: fio máquina, eletrodo MIG, austenita retida, constituinte MA,
Pearson VII.
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ABSTRACT

This work presents the research of cooling rate effect and the presence of banding in
occurrence of retained austenite (RA) in low-carbon steel with addition of manganese
and silicon, used for the manufacture of MIG electrode, ER70S-6 class. X-ray
diffraction was used to quantify low level of RA (volume fraction below 6 %),
presented as block/film or martensite-austenite constituent (MA). It was performed
decomposition of λK 1 and λK 2 wavelengths through optimization of Pearson VII.
α α

Jominy tests were also used to evaluate the influence of cooling rate on occurrence of
RA. Samples were collected at several distances from the water cooled end. The
evaluation of occurrence of banding on RA was carried out by comparing as-rolled
samples with samples treated at high temperature and long length of time. As a result, it
was possible to combine the effects of cooling rate and structure in the occurrence of
RA in the studied steel. It was observed that RA increases with the cooling rate, reaches
a peak and stabilizes at high rates. For the as-rolled sample, i.e. with banded structure,
the peak of RA is found close to the cooling rate of 16.7 °C/s, and for homogenized
material, this peak occurs at a lower rate, approximately 10 °C/s. For banded and
homogenized structures, the total elimination of the occurrence of this phase occurred at
cooling rates of 0.83 and 0.17 °C/s, respectively. Similar behavior was seen regarding
the variation of carbon content in RA at cooling rate. For both structures, the
occurrences of RA maxima volume fraction coincide with maxima in the carbon content
of the austenite. In the evaluation of the wire rod passed through Stelmor® cooling
process, it was observed that the greatest concentration of RA is in the regions of
greater mass concentration. These positions correspond, in the tensile test, to the highest
strength levels and smallest values of necking. By adding titanium to the steel
composition, it was possible to reduce significantly the volume fraction of RA in the as-
rolled wire rod, and to reach satisfactory levels of resistance and necking, thereby
allowing direct drawing from the 5.50 mm to 1.88 mm wire gauge.

Keywords: wire rod, MIG electrode, retained austenite, MA constituent, Pearson VII.
1
"

1- INTRODUÇÃO
"

A fabricação de eletrodo MIG (metal inert gas) é realizada a partir de fio máquina de
aço de baixo teor de carbono com adições de manganês e silício, conforme previsto em
normas internacionais EN440 G4Si1-SG3 e AWS A5.18 ER70S. O fio máquina bitola
de diâmetro 5,5 mm, obtido da laminação a quente de tarugo de seção quadrada
(155x155 mm), é trefilado para bitolas de arame na faixa de 0,80 – 2,0 mm.
Dependendo do tipo de produto final o fio máquina é submetido previamente a um
tratamento térmico de recozimento para eliminação de estruturas indesejáveis. Em
seguida o fio máquina é trefilado e no final do processo, o arame recebe uma camada de
deposição de cobre na sua superfície para ser utilizado em diversas aplicações de
soldagem.

Durante a trefilação do fio máquina, é comum a ocorrência de fratura associada à


presença de austenita retida que pode estar presente na forma de bloco/filme na matriz
ferrítica ou associada à martensita formando um constituinte mais duro que a matriz,
comumente chamado de constituinte MA (martensita-austenita). O aspecto da
microestrutura do arame na região próxima de uma ruptura é mostrado na figura 1.1.
Conforme pode ser visto nesta figura, existe formação de vazios chamados de “voids”
entre a matriz e este constituinte MA de dureza mais elevada, o que leva a ruptura do
arame nos passes subsequentes de trefilação.

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Figura 1.1 – Microestrutura de arame de solda MIG, rompido na trefilação devido


presença do constituinte MA (martensita – austenita). Seção longitudinal, Nital 2 %.
2
"

Nos aços para fabricação de MIG, onde os teores de manganês e silício são elevados, a
presença do constituinte MA é responsável pela perda de ductilidade e, consequente da
queda na trefilabilidade do fio máquina devido à presença destes “voids”. Portanto, é
importante o entendimento do mecanismo da formação do constituinte MA, com
objetivo de minimizar sua ocorrência. Elementos estabilizadores da austenita, mesmo
em níveis residuais, normalmente estão presentes em concentrações mais elevadas nas
últimas porções de austenita a ser transformada, contribuindo assim para a ocorrência
deste constituinte frágil. Dos elementos estabilizadores da austenita, carbono e
manganês são os elementos que mais fortemente contribuem para a formação do
constituinte MA. Apesar de não estabilizador da austenita, o silício tem um efeito
indireto neste fenômeno, pois retarda a precipitação de carbonetos (Fe3C), aumenta a
concentração de carbono em solução sólida na austenita e, consequentemente,
contribuindo para sua estabilização (1).

A experiência industrial na empresa ArcelorMittal mostra que, para a trefilação direta


do fio máquina, sem necessidade de tratamento térmico, duas condições devem ser
atendidas: a redução de área na estricção, após ensaio de tração na condição laminada,
deve ser superior a 74,5 %, e resistência do fio máquina inferior a 580 MPa (2). Para
valores de resistência acima deste nível, é necessário tratamento térmico de recozimento
no fio máquina antes da trefilação, com o objetivo de eliminar ou minimizar a presença
de fases duras presentes na estrutura.

Devido à similaridade de composição química e de estrutura entre os aços para


fabricação de arame consumível MIG e os aços TRIP (transformation induced
plasticity) e DP (dual phase), associada a pouca disponibilidade de literatura
relacionada à presença de austenita retida e constituinte MA como possíveis causas de
falha na trefilação será utilizado neste trabalho, o conhecimento adquirido nos estudos
já realizados para estes dois últimos aços. A figura 1.2 mostra a evolução da publicação
de artigos relacionados às palavras chave “steel”, “MIG”, “TRIP” e “DP” nas bases de
pesquisa Web of Science e Scopus. Como pode ser visto, existe um crescente interesse
no tema eletrodo MIG, alcançando uma média anual de 50 artigos no período de 2000 a
2014. Já as publicações envolvendo o termo MA (martensita-austenita) apresentam um
média anual de 6 artigos no mesmo período. No entanto, não foi identificado nenhum
3
"

trabalho publicado no período pesquisado, quando são citadas as palavras chaves


“retained austenite” e MIG. Alterando a pesquisa para as palavras “TRIP” e “retained
austenite”, nos mesmos bancos de dados, é encontrado média anual de 40 artigos para
os últimos 10 anos.

4+"
3+"
2+"
789:!;<=>?6@<AB"

1+"
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CAB"D<"E89:!;<=FB"
GH??:"I"JKL" GH??:"I"JC"I"MNK7" GH??:"I"JC"I"O7"

Figura 1.2 – Evolução no período de 1970 a 2014 das publicações nas bases Scopus e
Web of Science relacionadas às seguintes composições de palavras chaves: “steel +
MIG”, “steel + MA + TRIP” e “ steel + MA + DP”.

Ao contrário dos aços TRIP, que necessitam apresentar fração volumétrica de austenita
retida em uma faixa visada para garantir o efeito da transformação induzida por
deformação, aqui, a proposta é entender o mecanismo de formação desta fase, de modo
que possam ser estabelecidas e controladas as variáveis de processo para sua redução ou
mesmo eliminação na condição laminada do fio máquina. A presença da austenita retida
em bloco/filme, ou associada a martensita, formando o constituinte MA pode levar a
4
"

ruptura do arame durante a trefilação. Neste trabalho foi avaliada a ocorrência de


austenita retida e, consequentemente do constituinte MA, para duas condições de
estrutura: amostra laminada, aqui considerada “bandeada” e a outra condição tratada
termicamente para eliminação da estrutura bandeada, considerada como
“homogeneizada”.
5
"

2 - OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é o estudo das principais variáveis que controlam a formação
da austenita retida presente de forma isolada ou associada ao constituinte MA
(martensita-austenita), em aço de baixo teor de carbono com adições de manganês e
silício, e, secundariamente o desenvolvimento de metodologia para medição do teor da
austenita retida em baixos níveis de fração volumétrica ( < 6 % ) em amostras de aço
para fabricação de eletrodo MIG.

Os objetivos específicos em amostras de laboratório, obtidas de perfis intermediários do


laminador de fio máquina, são:

• Avaliar o efeito do “bandeamento” na ocorrência da austenita retida presente


e/ou associada ao constituinte MA;
• Estudar a influência da taxa de resfriamento na ocorrência da austenita retida;
• Verificar se a eliminação do “bandeamento” traz redução na fração volumétrica
da austenita retida e, consequentemente, do constituinte MA;
• Caracterizar as fases presentes na estrutura multiconstituída da liga estudada;
• Determinar o teor de carbono presente na austenita retida presente.

Objetivos específicos em relação ao fio máquina e arame trefilado:

• Determinar a fração volumétrica da austenita retida e sua dispersão ao longo da


espira do fio máquina no estado laminado;
• Propor um modelo para medição dos baixos níveis de austenita retida
encontrados nas ligas estudadas, através da difração de raios X;
• Fornecer informação para determinação dos parâmetros críticos de fabricação
para obtenção de estrutura do fio máquina, na condição laminada, com
minimização de austenita retida e/ou constituinte MA, viabilizando, assim, a
eliminação do tratamento térmico antes da trefilação;
6
"

• Propor uma nova liga para atender as especificações internacionais europeia e


americana, de tal forma a minimizar a ocorrência de austenita retida e/ou
constituinte MA para o fio máquina na condição laminada.
7
"

3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Ocorrência de bandeamento em aço de baixo teor de carbono

“Bandeamento” em aço é um termo utilizado para descrever a ocorrência de


microestrutura constituída de camadas alternadas de ferrita pró eutetóide e perlita ou
outros constituintes. O mecanismo de formação do bandeamento está relacionado à
segregação de elementos substitucionais, que apresentam baixo coeficiente de difusão
no estado sólido. Durante a solidificação, os elementos com maior tendência a segregar,
são rejeitados a partir das dendritas formadas e levados para regiões líquidas cada vez
mais ricas em soluto. Ao final do processo de solidificação, as últimas porções a serem
solidificadas entre as ramificações dendríticas apresentam concentração de soluto
elevada. Durante o processo posterior de laminação a quente, estas regiões intercaladas
e ricas em soluto ficam alinhadas na direção longitudinal de laminação (3), constituindo
assim o fenômeno do bandeamento.

Para uma dada temperatura, considerando CS e CL as concentrações em equilíbrio do


soluto no sólido e no liquido, respectivamente, a razão de partição na solidificação é
definido como:

CS
kp = (3.1)
CL

Supondo que o resfriamento acontece no equilíbrio, com completa difusão do soluto no


líquido e desprezível no sólido, SCHEIL(4) propôs a seguinte expressão para avaliar a
redistribuição do soluto no sólido:

CS = k pC0 (1 − f S ) p
k −1
(3.2)

Onde C0 é a composição média da liga e f S a fração volumétrica do sólido para

determinada temperatura. A equação 3.2 fornece uma boa indicação da distribuição de


soluto. A tabela III.1 lista os valores de kp, assumido ser independente da temperatura
para alguns elementos normalmente encontrados nos aços.
8
"

Tabela III.1 – Razão de partição na solidificação em equilíbrio para alguns


elementos (5).

Elemento kp
P 0,14
Nb 0,23
Cr 0,33
Si 0,60
Mn 0,71
Ni 0,83

Solutos com valores baixos de kp têm grande tendência a segregar. Observa-se, entre os
elementos citados, que o fósforo é aquele que apresenta forte tendência a segregar.
Devido ao baixo teor de fósforo nos aços e teores elevados de manganês e silício, estes
elementos, mesmo com valores de kp superiores ao do fósforo, desempenham papel
mais importante no bandeamento dos aços (6).

Uma forma de quantificar a segregação dendrítica é através da avaliação do


espaçamento entre as dendritas secundárias. Vários pesquisadores citados em
KRAUSS (3) relacionam o espaçamento das dendritas secundárias com parâmetros de
processo. Para minimizar o espaçamento interdendritico, que é uma medida indireta da
segregação, é sugerido aumentar a taxa de resfriamento e o nível de agitação no molde
no lingotamento, assim como reduzir o super-resfriamento durante a solidificação.

Uma vez estando o bandeamento presente no tarugo solidificado, a laminação a quente


não elimina sua ocorrência, podendo apenas reduzir seu efeito. Estudos realizados em
material trabalhado a quente com deformação elevada, evidenciam existência de
camadas alternadas de regiões com alta e baixa concentração de elementos
substitucionais, em função de apresentarem difusão desprezível para condições de
processamento industrial (3,5,7).

A correlação entre o bandeamento de estrutura e o bandeamento químico foi investigada


por THOMPSON e HOWELL (7) para os elementos manganês e silício e é mostrada na
figura 3.1. As posições das regiões de ferrita pró eutetóide (α) e perlita (P) são também
9
"

identificadas nesta figura. Também pode ser visto que a variação da concentração de
manganês e silício está em fase com o bandeamento estrutural. Outra constatação é que
a ferrita está localizada em regiões pobres e a perlita em regiões ricas destes elementos
substitucionais.

Figura 3.1 – Perfil de concentração de manganês (a) e silício (b) de uma amostra de aço
na condição bandeada, realizada na direção perpendicular à direção de laminação. Na
parte superior dos gráficos as letras α e P, correspondem à ferrita pró eutetóide e à
perlita, respectivamente (8).
10
"

FLEMINGS (9) realizou estudo para estimar os parâmetros críticos para cálculo da
microsegregação residual interdendrítica através do parâmetro (δi):

(C M − Cm )
δi = (3.3)
(C M0 )
− C m0

Onde:

CM é a concentração de soluto no espaço interdendrítico no tempo t;


C m é a concentração de soluto no centro do braço de uma dendrita no tempo t;
C M 0 é a concentração de soluto no espaço interdendrítico no tempo t0;

C m0 é a concentração de soluto no centro do braço de uma dendrita no tempo t0.

A segregação residual (δi) pode ser estimada por (9):

  DS t 
δ i = exp− π 2  2 
(3.4)
  l 

Onde:

DS é o coeficiente de difusão na temperatura considerada;


t é o tempo no forno;
l é metade do espaço entre dois braços de dendritas.

Para um espaçamento interdendrítico médio de 100 µm, seria necessário tempo de


aproximadamente 80 h a 1100 ºC para reduzir a segregação de um soluto substitucional
típico em 50 %, o que pode ser considerado inviável para a prática industrial.

3.2 Formação da martensita

O resfriamento rápido a partir da temperatura de estabilidade da austenita pode levar à


formação de uma nova fase chamada martensita. A característica básica da
transformação martensítica (TM) é que a nova fase formada apresenta mesma
composição da fase estável à temperatura elevada, porém com estrutura cristalina
11
"

diferente. Considerando que a composição inicial e final das fases não sofrem alterações
significativas, esta transformação apresenta característica adifusional.

A transformação martensítica se inicia na temperatura designada MS a qual, conforme


ilustrado na figura 3.2 e pela equação 3.5, decresce fortemente com o aumento do teor
de carbono (10).

Ms = 539 - 423C - 30,4Mn - 17,7Ni - 12,1Cr - 7,5Mo (3.5)

Sendo os elementos desta equação fornecidos em % peso.

Figura 3.2 – Efeito do carbono na temperatura MS, ocorrência de martensita e austenita


retida (11).

A martensita, produto da TM, apresenta estrutura cristalina tetragonal de corpo centrado


(TCC), supersaturada de carbono em solução sólida. Nesta estrutura, os eixos
cristalográficos formam entre si ângulos retos, porém o parâmetro de rede c do
12
"

reticulado tem valor diferente do parâmetro a e ambos variam com o teor de carbono (%
em peso) conforme as equações (12):

a = 2,861 − 0,013%C (3.6)


c = 2,861 + 0,116%C (3.7)

A tetragonalidade da martensita, medida pela razão c/a, também aumenta com o teor de
carbono, segundo a equação 3.8:

c
= 1+ 0,045%C (3.8)
a

Na ausência de carbono, a estrutura da martensita passa a ser cúbica de corpo centrado


(CCC), livre de distorção. A estrutura cristalina TCC pode ser considerada uma célula
CCC com eixo vertical mais alongado. A figura 3.3 mostra a variação da
tetragonalidade e dos parâmetros de rede com os teores dos elementos intersticiais (C e
N) para a martensita tetragonal. Como pode ser visto, os valores reais obtidos por vários
autores encontram-se em conformidade com as equações citadas anteriormente.
13
"

Figura 3.3 – Parâmetros de rede da martensita tetragonal para um aço carbono


temperado (13)."

O modelo cristalográfico mais aceito para explicar a transformação da austenita em


martensita é conhecido como distorção de Bain. Este mecanismo de distorção proposto,
visualizado na figura 3.4, converte um reticulado cúbico de face centrada em um
reticulado tetragonal de corpo centrado com o mínimo movimento atômico.
14
"

"

Figura 3.4 – Modelo da distorção de Bain para a transformação de austenita (CFC) em


martensita (TCC): (a) Célula unitária tetragonal destacada dentro da austenita; (b)
Deformação da rede devido à compressão do eixo “c” para formar a martensita (14).

Em ambas as estruturas, CFC e CCC, os átomos de carbono ocupam, preferencialmente,


sítios octaédricos. Na estrutura CFC os seis átomos de ferro vizinhos ao átomo
intersticial carbono formam um sitio octaédrico regular. Já na estrutura CCC, o sítio
octaédrico não é regular, pois é mais curto na direção [001] do eixo z, causando assim
maior deslocamento dos átomos de ferro nesta direção. O sítio “achatado” da estrutura
CCC tem somente um eixo de simetria do tipo 4-fold na direção mais curta ao contrário
do sítio octaédrico regular da estrutura CFC que possui três eixos de simetria do tipo 4-
fold. Este aumento na distorção da estrutura (CFC !TCC), causado pela presença do
carbono, explica o aumento de dureza da martensita.

Considerando que a TM envolve mudança de forma, é previsível o surgimento de


deformações na interface martensita e austenita, pois a acomodação destas deformações
15
"

é importante nos processos de nucleação e crescimento da martensita. Existem duas


ocorrências que explicam uma possível acomodação desta deformação, conforme
descrito na figura 3.5. Estes mecanismos são denominados deformações invariantes de
rede, pois não provocam mudança na cristalina da martensita. Qualquer que seja o
mecanismo de acomodação envolvido, a forma da estrutura martensítica é similar à da
fase “mãe” austenita.

Figura 3.5 – Representação esquemática da deformação invariante na transformação


martensítica (TM). (a) Mudança de forma na TM; (b) Acomodação por escorregamento;
(c) Acomodação por maclação (15).

A formação da martensita envolve movimentos coordenados de átomos, sendo, então,


necessária uma intima inter-relação entre as redes da fase “mãe” (austenita) e o produto
(martensita), uma vez que não existe um processo termicamente ativado. Uma das
explicações é a possível existência de um “plano de hábito” comum a ambas as fases e
macroscopicamente não distorcido durante a transformação. Dentro de um grão, o
16
"

crescimento das placas ocorre para um limitado numero de orientações. No caso de


ligas de ferro, a tabela III.2 mostra as relações possíveis de orientação e planos de
hábitos para três faixas de carbono, segundo NISHIYAMA (13).

Tabela III.2 – Orientação e plano de hábito da martensita para ligas de Fe-C de acordo
com KURDJUMOV-SACHS e NISHIYAMA (13).
Liga Fe Transformação Orientação Plano de hábito
(111) //(011) $"
γ α

(0–0,40 C, % peso) CFC → TCC {111}γ


[101] //[111] $
γ α

(111) //(011) $"


γ α

(0,5–1,40 C, % peso) CFC → TCC {225}γ


[101] //[111] $
γ α

(111) //(011) $"


γ α

(1,5–1,80 C, % peso) CFC → TCC {259}γ


[101] //[111] $
γ α

A transformação adifusional martensítica prevê a conversão das estruturas com menor


número de movimentos atômicos. Entretanto, não existe um plano invariante associado
a esta distorção, de modo que a deformação associada a esta transformação não pode ser
explicada pela distorção de Bain. Considerando que existe macroscopicamente um
plano invariante, apesar da impossibilidade da sua existência em escala atômica, é
aceito que a deformação devido ao deslizamento ou maclação não modifica a estrutura
do cristal, mas sim, cria um plano único macroscópico.

A estrutura tetragonal da martensita pode ser considerada uma estrutura intermediária


entre as estruturas cúbicas de alta e baixa temperatura. Pelo fato de apresentar nível de
deformação de rede elevado, proporcional à concentração de elementos intersticiais,
esta fase é instável termodinamicamente. Quando aquecida, mesmo em temperaturas da
ordem de 200 ºC, os átomos intersticiais (C e N) deixam a rede, aliviando assim o nível
de tensão, devido à perda gradual da tetragonalidade. A figura 3.6 mostra um diagrama
17
"

citado em AVERBACH (16) relativo às modificações na estrutura com o aquecimento a


baixas temperaturas de um aço previamente temperado.

Figura 3.6 – Influência da temperatura de revenimento na (a) tetragonalidade da


martensita, (b) fração de austenita e na (c) ocorrência de cementita. Aço temperado e
revenido a diferentes temperaturas. Adaptação do trabalho de AVERBACH et al.(16).
18
"

Durante o revenimento da martensita após a têmpera, várias reações no estado sólido


podem ocorrer entre as quais pode-se destacar a precipitação de carbonetos e a
transformação da austenita retida. A figura 3.7 mostra de forma esquemática as
principais reações no estado sólido durante o revenimento da martensita em função da
temperatura.

Figura 3.7 - Reações no estado sólido durante o revenimento da martensita (17).

3.3 Aspectos termodinâmicos da transformação martensítica

A transformação martensítica é adifusional, na qual os átomos movem de forma


cooperativa por mecanismo de cisalhamento. Usualmente, a fase “mãe” é cúbica e
estável a elevadas temperaturas, enquanto a martensita apresenta menor simetria
cristalográfica e é metaestável a baixas temperaturas. Uma vez que esta transformação
não está associada a alterações na composição química, a energia livre de ambas as
fases pode ser representada esquematicamente conforme mostrado na figura 3.8. A
força motriz para ocorrência da transformação é dada pela diferença de energia entre as
fases e está representada por ∆G, necessária para vencer a barreira da energia interfacial
e de deformação. Conforme pode ser visto, existe necessidade de super-resfriamento
19
"

(T0-MS) para nucleação da martensita, ou superaquecimento (AS-T0) para ocorrência da


transformação reversa.

Figura 3.8 – Representação esquemática da energia livre entre as fases “mãe” (γ) e
martensita (α’) (18,19).

A variação na energia livre da transformação martensítica pode estar associada a outras


contribuições, tais como, energia química (∆GQ), energia de superfície (∆GS) e energia
mecânica (∆GM) entre as fases. Desta forma, a variação na energia livre resultante pode
ser decomposta em contribuição química e não química conforme equação 3.9:

∆G = ∆GQ + ∆GS + ∆GM (3.9)

Em muitas situações, a contribuição não química pode ser tão expressiva quanto à
contribuição química e, portanto, não pode ser desprezada. Por este motivo, é necessário
que um mínimo super-resfriamento (∆T) seja alcançado para que a reação ocorra.
20
"

3.4 Efeito da pressão hidrostática na transformação martensítica

Conforme já abordado anteriormente, a transformação martensítica ocorre por


mecanismo de cisalhamento e, portanto, responde à tensão aplicada. Este assunto foi
inicialmente estudado por PATEL e COHEN´S (20). Este tema tem sido amplamente
abordado em ligas com presença do efeito memória. De acordo com estes autores o
trabalho realizado no sistema pela aplicação da tensão pode ser representado pela
equação 3.10:

s
∆G = m ( p)τ + m (n)σ
1 1 n
(3.10)

Onde τ é a tensão de cisalhamento na direção d1(p), σn é a tensão normal ao plano de


hábito. O significado dos termos da equação 3.10 pode ser visualizado na figura 3.9.

Figura 3.9 – Ilustração da deformação invariante na transformação martensítica e sua


resolução em dois componentes, segundo OTSUKA e WAYMAN (21).

Por convenção σn é positivo para tensão trativa e negativa para compressiva. O


coeficiente m1(n) é a medida da variação relativa de volume (∆V/V) associada à
21
"

transformação. Desta forma, o sinal do segundo termo da equação 3.10 dependerá do


sinal da tensão, enquanto o sinal do primeiro termo será sempre positivo (15). Assim, a
tensão de cisalhamento irá sempre contribuir para a transformação martensítica,
enquanto a tensão normal poderá contribuir ou não, dependendo do sinal da tensão e da
variação de volume envolvido nesta transformação. Com a presença de pressão
hidrostática a tensão de cisalhamento é nula, anulando assim o primeiro termo da
equação 3.10. Desta forma, o sinal de ∆GS irá depender do sinal de m1(n). Estes
resultados são confirmados experimentalmente para dois casos distintos. Para ligas Au-
Cd, onde o valor de m1(n) é negativo, a pressão hidrostática contribui para a
transformação. Já em ligas a base de Fe-Ni, onde o valor de m1(n) é positivo, ocorre
efeito contrário (22,23).

A figura 3.10 ilustra esquematicamente a influência da pressão hidrostática sobre a


energia livre química, conforme estudo de PATEL e COHEN´S (22). Quando a pressão
hidrostática é aplicada no sistema, a energia livre de cada uma das fases varia de forma
diferente. No caso mostrado, que representa uma liga à base de ferro, a variação da
energia livre da fase “mãe” é menor do que a da fase martensita, devido ao maior
volume desta fase comparado à outra. Como resultado, a temperatura de equilíbrio (T0)
na presença da componente hidrostática é diminuída, como mostrado nesta figura.

A temperatura MS também sofre uma redução na presença da pressão hidrostática. No


(22,24)
trabalho de PATEL e COHEN´S é considerado que a variação na energia livre (GP
–Gm) é a mesma independente da presença de pressão hidrostática. Considerando essas
condições, foi obtida a equação 3.11 para estimar a dependência da pressão com a
temperatura de transformação:

∆G(MS,0) - ∆G(M`S,0)= -ε0.p (3.11)


22
"

Figura 3.10 – Diagrama esquemático da energia livre de Gibbs como função da


temperatura e pressão hidrostática (18).

A validade da equação 3.11 foi confirmada para ensaios sob tensão uniaxial (22,25). No
entanto, com presença de tensão hidrostática, a queda das temperaturas MS e T0 tem
comportamento parabólico e não pode ser descrita por esta equação. Para avaliar o
efeito da componente hidrostática, KAKESHITA et al.(24) utilizaram ligas Invar (Fe e
Ni) onde a resistividade elétrica foi utilizada para mensurar a temperatura de
transformação martensítica. Neste estudo, foi considerada a influência da deformação
da estrutura cristalina devido à presença de campos magnéticos (magnetostricção),
através do grau de ordem (S). A figura 3.11 mostra o efeito da pressão hidrostática na
temperatura Ms e T0.
23
"

Figura 3.11 – Variação nas temperaturas Ms e T0 em função da pressão (Fe-Pt) (18).

Pode ser visto na figura anterior que para S=0,8 a temperatura T0 aumenta quando a
pressão hidrostática cai para valores abaixo de 0,25GPa, diminuindo para valores
maiores de pressão. Este fenômeno pode estar associado à mudança no sinal variação de
volume da transformação martensítica (∆V) para esta faixa de pressão. Para outros
valores de ordenação magnética é verificado queda sistemática nas temperaturas Ms e T0
com o aumento da pressão hidrostática.

Experimentos realizados por GHAZANI et al. (26) em amostras de aço com baixo teor de
carbono, submetidas a elevados níveis de pressão durante o resfriamento, comprovam o
efeito da pressão hidrostática no abaixamento da temperatura Ar3 e, consequentemente,
na transformação martensítica. A experiência consistiu em aquecer amostras até
temperaturas pré-selecionadas (650, 930 e 1100&C), seguidas de resfriamento moderado
após alívio abrupto na pressão. A figura 3.12 mostra que a transformação (γ→α) foi
suprimida devido ao abaixamento da temperatura Ar3 imposto pela pressão hidrostática
durante o resfriamento.
24
"

Figura 3.12 – Mecanismo de formação da martensita em aço baixo carbono submetido


à pressão hidrostática durante o resfriamento a partir da região austenítica (26).

Para condições em que a temperatura Tf é menor do Ar1 no momento de alivio da


pressão, foi evidenciada microestrutura puramente martensítica. Microestrutura bifásica
formada por martensita e ferrita foi observada para temperatura Tf entre Ar1 eAr3. Para a
condição em que a temperatura Tf está acima de Ar3, foi observada microestrutura
formada totalmente por ferrita.
25
"

3.5 Reação bainítica

Considerando que em uma determinada liga a transformação perlítica ocorre na faixa de


550-720 ºC e que a formação da martensita se inicia em temperaturas abaixo de 250 ºC,
existe uma faixa de temperatura entre 250 e 550 ºC, na qual nenhuma destas
transformações citadas ocorre. É nesta faixa intermediária que um agregado de ferrita
em forma de plaquetas finas e cementita é formado e recebe o nome de bainita. Este
constituinte é considerado uma microestrutura ainda não conhecida completamente e
repleta de controvérsias quanto ao seu mecanismo de nucleação e crescimento (14).

Existem duas hipóteses a respeito do mecanismo de formação da bainita. A primeira


admite que o mecanismo controlador seja do tipo “displasiva”, na qual a interface move
de forma similar ao da transformação martensítica sem saltos aleatórios dos átomos, isto
é, sem contribuição de ativação térmica. De acordo com a segunda hipótese, o
mecanismo é controlado pela difusão de curto alcance dos átomos da rede (27).

As características da bainita são modificadas com a redução da temperatura de


transformação. Para transformação na faixa de 550 – 400 ºC a microestrutura recebe o
nome de bainita superior, formada em placas de ferrita com espessura próxima de
0,2 µm e 10 µm de comprimento e com carbonetos presentes entre os cristais de ferrita.
A bainita inferior se forma na faixa de temperatura 400 – 250 ºC. A principal diferença
é que para a bainita inferior a precipitação de carbonetos ocorre dentro das placas de
ferrita, gerando carbonetos da ordem de 500 nm de comprimento. Desta forma, existe
ocorrência de dois tipos de precipitados: aqueles que crescem a partir da austenita
enriquecida em carbono e separam as placas de ferrita bainítica, e outros que se
precipitam no interior da ferrita bainítica (28).

Para temperaturas elevadas, a difusão do carbono é rápida e não ocorre a precipitação de


carbonetos no interior da ferrita bainítica, gerando o constituinte bainita superior. A
cementita pode precipitar a partir da austenita residual e, neste caso, ter morfologia de
filmes finos. Para o caso da bainita inferior, associado a menor difusão, o carbono
normalmente precipita na forma de carbonetos finos dentro da ferrita bainítica.
26
"

De acordo com BHADESHIA (28) o excesso de carbono presente na bainita difunde para
a austenita durante a reação, de tal forma que a bainita formada subsequente cresça a
partir de uma austenita enriquecida ainda mais de carbono. A transformação continua,
enquanto a energia livre for favorável, finalizando quando a concentração de carbono na
austenita residual até o ponto onde a ferrita e austenita estão em equilíbrio. Este
fenômeno é descrito na figura 3.13, onde a curva T0 é o local no qual a ferrita e
austenita de mesma composição têm energias livres iguais. Nesta figura é também
mostrado a curva T$0, de mesmo conceito de T0, porém considera o efeito da energia de
deformação da ferrita devido ao mecanismo de cisalhamento da transformação. Desta
forma, a reação bainítica é considerada incompleta, pois a austenita não alcança a
composição de equilíbrio representada pela curva Ae3.

3.6 Aços multiconstituídos

São aços em que a estrutura é composta de uma matriz contínua de ferrita com presença
de “ilhas” de outras fases. Para obtenção da microestrutura desejada, normalmente é
realizado tratamento térmico intercrítico. Os aços bifásicos DP e TRIP são exemplos
destas ligas multiconstituidas, pois são formados pela presença de diversos constituintes
e conseguem aliar diversas características mecânicas de ductilidade e resistência. Dentre
estas ligas multiconstuídas, os aços TRIP têm destaque especial, desenvolvidos a partir
do final da década de 1960 e têm como atrativo altos níveis de resistência e elevada
capacidade de deformação uniforme, devido à presença de austenita retida e martensita
em uma matriz ferrítica.
27
"

Figura 3.13 - Representação esquemática da reação bainítica incompleta. A parte


superior corresponde à energia livre para uma temperatura T1. Após a transformação
nesta temperatura, a austenita terá composição dada pela linha T0$ e não pela curva de
equilíbrio Ae3 (29).

3.6.1 Aspectos microestruturais dos aços multiconstituidos

Os aços bifásicos DP (dual-phase) são aços de baixo teor de carbono com


microestrutura constituída de martensita dispersa em matriz ferrítica. Já os aços TRIP
apresentam microestrutura composta de matriz ferrítica (tipicamente próximo de 50 %),
bainita (próximo de 30 %), austenita retida (20-30 %) e, em alguns casos, também de
estrutura martensítica (até 10 %) para garantir maior resistência. Nos aços TRIP, a
austenita retida desempenha um papel de destaque, pois promove ganho na deformação
uniforme através da sua transformação em martensita. A contribuição da austenita
retida em promover propriedade adequada nos aços TRIP depende de várias
características, entre as quais pode-se destacar: fração volumétrica da fase, concentração
de carbono, tamanho de grão e presença de textura. Dentre estes fatores, é aceito que as
28
"

principais contribuições são devidas à fração volumétrica e à concentração de carbono


na austenita (30).
Normalmente, as microestruturas dos aços multiconstituidos são complexas e sua
caracterização envolve uma combinação de técnicas metalográficas, microscopia óptica,
difração de raios X (DRX) e, eventualmente, microscopia eletrônica de transmissão
(MET) para a identificação das fases presentes.

A microestrutura dos aços multiconstituintes depende do tipo de tratamento intercrítico


utilizado. O resultado do tratamento térmico é a presença de segunda fase, formada
pelas “ilhas” de martensita e/ou de martensita-austenita (MA). SUGIMOTO et al.(31)
destacam que a austenita retida nos aços TRIP pode estar presente em três formas: (1)
situada entre partículas de bainita e contornos de grão da ferrita; (2) no contorno de dois
grãos de ferrita; (3) como partículas isoladas no interior dos grãos de ferrita. A fração
volumétrica da segunda fase aumenta com a presença de elementos de liga, como por
exemplo, manganês ou silício, sendo o efeito do primeiro maior comparado com o do
último.

Nos aços utilizados para fabricação de eletrodo MIG, a queda na trefilabilidade pode
estar associada à presença do constituinte MA. Adição de elementos, mesmo em níveis
residuais, os quais aumentam a estabilidade da austenita podem favorecer a ocorrência
deste constituinte, como o manganês e carbono. Apesar de não estabilizador da
austenita, o silício desempenha indiretamente um papel importante neste fenômeno,
devido sua característica de inibir a precipitação da cementita, contribuindo para
elevação no teor de carbono da austenita e, consequentemente, sua estabilização.

Um outro elemento que tem efeito determinante na ocorrência do constituinte MA é o


nitrogênio, mesmo em baixas concentrações. Por exemplo, o inicio da transformação da
perlita pode ser retardada em até 30&C com o aumento do nitrogênio de 30 para 110ppm
para uma taxa de resfriamento de 3,5 &C/s (1). Para taxa de 5,2 &C/s o aumento na fração
do constituinte MA pode ser de até 8 %, para os mesmos teores de nitrogênio. A adição
de titânio pode ser uma alternativa para reduzir o nível de nitrogênio em solução sólida
na austenita, quando for desejável a eliminação do constituinte MA.
29
"

A figura 3.14 mostra microestrutura típica de um aço baixo carbono, com adição de
1,5 %Mn e 1,5 %Si. A microestrutura é caracterizada pela matriz ferrítica com presença
de bainita, austenita retida e constituinte MA. Como pode ser visto, a microestrutura é
alterada em função da temperatura de austêmpera (TA), de 350 a 475 ºC. Para
temperaturas TA acima de MS (417 ºC), foi evidenciada maior quantidade de martensita
coexistindo com bainita e austenita retida. Com ajuda de microscopia eletrônica foi
possível identificar que a microestrutura é constituída principalmente de austenita retida
intercalada em ripas de bainita, conforme pode ser visto com uso de maior aumento na
figura 3.15.

3.6.2 Avaliação do teor de carbono na austenita retida

A avaliação do teor de carbono (C ) pode ser calculada em função da medida do


γ

parâmetro de rede da austenita (a ), cuja relação é apresentada por diversos autores


γ

conforme mostrado na tabela III.3. O teor de carbono da austenita retida (Cγ) determina
sua estabilidade para diversas condições de tratamentos térmicos e por isto tem
despertado grande interesse na obtenção de valores cada vez mais precisos do teor deste
elemento.

Estudos de DYSON (32) mostram que a influência do silício é desprezível em relação ao


efeito do carbono. Já o manganês tem efeito ligeiro, conforme VAN DIJK et al.(33) e
deve ser considerado quando é necessária precisão elevada.

SUGIMOTO (30,33) realizou medição do teor de carbono da austenita retida em aços


através do cálculo do parâmetro de rede com uso da DRX. Foram avaliadas ligas com
teores de carbono fixo em 0,20 %, variando silício e manganês na faixa de 1,0 a 2,5 %.
Foi evidenciada redução no teor de carbono da austenita, na faixa de 1,13 a 1,53 % (em
peso), com o aumento do teor de silício e manganês.
30
"

Figura 3.14 – Microscopia eletrônica de Varredura para aço (0,20 %C; 1,51 %Si;
1,51 %Mn) austemperado à temperatura de (a) 350 ºC; (b) 375 ºC; (c) 400 ºC; (d)
425 ºC; (e) 450 ºC; (f) 475 ºC. Legenda: αbf, αb, αq, αm e γR: ferrita bainítica, bainita,
quase-ferrita, martensita e austenita retida, respectivamente (34).

Figura 3.15– Microestrutura no MET para as temperaturas de austempera de (a) 375 ºC


e (b) 450 ºC. Legenda: αbf e γR representam ferrita bainítica e austenita retida,
respectivamente (34).
31
"

Tabela III.3 – Cálculo do parâmetro de rede da austenita (a = a0+ kc.%C). Os


γ

parâmetros destas equações foram calculados para temperatura de 20&C sendo


desprezadas as contribuições de outros elementos em relação à do carbono.

Autor Ano Ref a0 (nm) kc (nm/%peso)


Roberts 1953 (12) 0,3555 0,0044
Ridley et al. 1969 (35) 3,573 0,0330
Dyzon e Holmes 1970 (32) 3,578 0,0330
Nishiyama 1971 (13) 3,5467 0,0467
Cheng L. et al. 1990 (36) 3,553 0,0105
Onik et al 1993 (37) 3,5667 0,00895
Van Dijk et al. 2005 (33) 3,556 0,0453

O uso de DRX para determinação do parâmetro de rede tem sido um recurso muito
utilizado para avaliação do teor de carbono da austenita retida. No entanto, este método
apresenta limitações, por ser um método indireto de medição e, portanto, sujeito a erros
na medida do parâmetro de rede, devido à presença de elementos de liga e tensão
residual interna. Adicionalmente a estas limitações, o método de DRX fornece a
composição média de um volume coberto pela radiação e, portanto, pouco preciso para
medidas pontuais.

Uma técnica alternativa para medida do carbono na austenita retida foi desenvolvida
pelo centro de pesquisas da ArcelorMittal (38). Quando um feixe de elétrons incide sobre
uma folha fina, certo número de colisões com os elétrons da espécie em estudo são
inelásticas. Esta perda de energia é característica do número atômico e do tipo de
camada eletrônica envolvida (K, L, M). Os elementos presentes na região analisada na
amostra apresentaram picos característicos que puderam ser quantificados pelo EELS –
electron energy loss spectrum. Segundo os autores, para testes realizados em
microscópio Philips CM200 FEG/STEM, equipado com espectrômetro Gatan 666 EL/P,
foi possível obter teores de carbono mínimo de até 0,04 % (em peso), com erro relativo
estimado de 3 %.
32
"

3.6.3 Efeito da composição química na estabilidade da austenita retida

Dos elementos estabilizadores do constituinte MA presentes nas ligas em estudo,


manganês e carbono desempenham um papel de destaque. Embora não estabilizador da
austenita, o silício indiretamente pode aumentar a estabilidade deste constituinte, devido
sua capacidade de inibir a formação da cementita, disponibilizando assim aumento do
carbono em solução sólida na austenita, com consequente aumento da estabilidade do
constituinte MA. A figura 3.16 mostra a estabilidade da austenita residual em função
do teor de carbono. Como pode ser visto, a medida que aumenta o teor deste elemento,
diminui a razão martensita/austenita.

Figura 3.16 – Relação de martensita e austenita (martensita/austenita) em função do


teor de carbono presente na austenita retida para um aço carbono revenido na
temperatura de 270 ºC e 363 ºC (39).
33
"

O manganês por apresentar menor coeficiente de difusão na austenita (5,86x10-24 m2s-1)


comparação com ferrita (1,75 x 10-22 m2s-1) e elevada tendência à segregação, apresenta
forte tendência de partição na interface. Consequentemente, a austenita cresce com
composição do manganês dado pelo equilíbrio local. O uso da técnica de sonda por
tomografia computadorizada realizado por Dmitrieva (40) mostrou que o teor deste
elemento pode chegar a 27 (% atômica) na austenita próxima da interface, ao passo que
para regiões distantes da interface este valor pode chegar a 12 (% atômica). Já o teor de
manganês na martensita próxima da interface pode chegar a 6 (% atômica) ao passo que
para regiões afastadas da interface o a concentração deste elemento é de 10 (%
atômica). Este fenômeno é ilustrado na figura 3.17 onde é mostrado também um mapa
com as fases e interfaces analisadas.

Figura 3.17 – Análise quantitativa na interface martensita/austenita construída


mediante sonda de tomografia atômica. As setas indicam o caminho da sonda para
medida do manganês. (a) Estrutura mostrando as interfaces com distribuição dos átomos
de manganês (azul); (b) Variação do teor de manganês em relação a distancia da
interface martensita/austenita (40).

Entre os elementos presentes em menor quantidade, o nitrogênio tem sido


extensivamente estudado quanto ao seu efeito no envelhecimento de arame trefilado.
Entretanto, sua contribuição em relação a outros fenômenos, tais como aumento na
resistência em aço baixo carbono, somente mais recentemente tem despertado maior
interesse. Estudos da microestrutura de solda tem mostrado que a concentração do
nitrogênio está diretamente relacionado à formação do constituinte MA (1,41-44). Em aços
34
"

baixo teor de carbono com elevadas adições de manganês, a martensita e austenita


retida estão diretamente relacionadas com a queda na ductilidade do material. Portanto,
é importante o entendimento do mecanismo de formação do constituinte MA, para que
sua ocorrência possa ser controlada e minimizada. Uma alternativa que pode ser
utilizada para neutralização do efeito do nitrogênio tem sido a adição de titânio,
mediante redução de sua presença em solução sólida. Desta forma, é possível promover
a transformação perlítica em temperaturas maiores, reduzindo ou mesmo evitando a
formação do constituinte MA no fio máquina para a condição bandeada. A figura 3.18
mostra a evolução da fração volumétrica do constituinte MA com a taxa de
resfriamento. Pode ser visto que, para taxas de resfriamento de até 5 ºC/s, o titânio tem
efeito significativo na redução deste constituinte indesejável no fio máquina para
trefilação.

Figura 3.18– Variação da fração volumétrica do constituinte MA com a taxa de


resfriamento para três aços: ! - sem adição de Ti; ! - 0,018 %Ti;  - 0,043 %Ti (1).
35
"

3.6.4 Estabilidade da austenita retida na temperatura ambiente

Os principais fatores relacionados à estabilidade da austenita retida são atribuídos a sua


morfologia e ao aumento na concentração de carbono. Nos aços TRIP a austenita retida
deve ser suficientemente estável de modo que a transformação para martensita ocorra
somente em níveis de deformação elevados. Uma forma de garantir estas propriedades é
mediante combinação da adição de elementos químicos (Mn e Si) e de tratamentos
térmicos específicos. A estabilização da austenita foi amplamente estudada em
SUGIMOTO e diversos outros autores (30,31,34,45-51).

O tratamento térmico realizado nos aços TRIP para obtenção da fração volumétrica
ideal de austenita retida na temperatura ambiente consiste em dois estágios.
Inicialmente, o material é aquecido na região crítica (γ + α) e depois resfriado
rapidamente e mantido por determinado tempo no patamar da transformação bainítica.
No segundo estágio, o carbono rejeitado da bainita é redistribuído e enriquece a
austenita. Com o objetivo de evitar precipitação de cementita durante a transformação
bainítica, os aços TRIP contêm teores elevados de silício (1,0 a 2,5 % em peso), ou de
(42,52,53)
outros elementos que inibem a precipitação da cementida . A estabilidade da
austenita retida é fortemente influenciada pela temperatura intercrítica, conforme pode
ser visto na figura 3.19.

A concentração de carbono permanece praticamente estável para a faixa de temperatura


correspondente a fração volumétrica máxima de austenita retida. O aumento na
concentração de carbono para temperaturas maiores é atribuído à ocorrência de filmes
de austenita retida enriquecida de carbono. Estes filmes, ricos em carbono, apresentam
maior estabilidade mecânica para maiores graus de deformação. Já a austenita retida em
forma de blocos pode transformar em martensita não revenida e com característica
frágil, mesmo diante de baixo grau de deformação.

A figura 3.20 mostra a evolução dos diversos constituintes presentes em aço TRIP, em
função da temperatura de transformação bainítica. Como pode ser observado, no início
36
"

do tratamento intercrítico, existe uma proporção de ferrita e austenita de 75 % e 25 %,


respectivamente.

Figura 3.19 – (a) Ciclo de tratamento térmico. (b) Variação da fração volumétrica e
concentração de carbono da austenita retida em função da temperatura intercritica T1
para o aço com composição de 0,20 %C; 1,50 %Mn e 2,00 %Si (30).

Figura 3.20 – Mapa de transformação para um aço aquecido na temperatura intercritica


de 730 ºC por 5min e depois submetidos à temperatura bainitica de 370 ºC. Composição
da liga - C: 0,16 %; Mn: 1,30 %; Si: 0,38 %; Al: 0,030 % (42).
37
"

Dependendo do tempo mantido na temperatura bainítica, é possível obter quantidades


variadas de constituintes, incluindo a austenita retida. Resultados similares foram
obtidos em estudos de outros pesquisadores (30,54) sobre a estabilidade da austenita para
tempo constante na região intercrítica e temperaturas diferentes de transformação
bainítica.

Em temperaturas de transformação bainítica elevadas, mantido o tempo fixo, é possível


ocorrer a transformação da austenita em bainita, conforme mostrado na figura 3.19. No
tempo fixo de 600 s, a austenita retida é estável em temperaturas abaixo de 400 ºC. Em
temperaturas superiores, os autores confirmaram que a austenita retida se decompõe em
bainita (30). Além disso, durante o resfriamento pode ocorrer transformação parcial da
austenita em martensita para menores tempos de tratamentos isotérmicos conforme
mostrado na figura 3.21. Isso acontece porque a austenita não se enriquece de carbono o
suficiente para que a temperatura de início de transformação da martensita (Ms)
permaneça abaixo da temperatura ambiente.

Figura 3.21 – Variação da fração volumétrica da austenita retida (fγ) com a temperatura
da transformação bainitica para três aços com manganês variável – ! 1,99 %; " 1,50 %;
∆ 1,0 %(30).
38
"

Com isso, parte da austenita se transforma em martensita, formando desta forma uma
microestrutura do aço TRIP multiconstituído de ferrita, bainita, austenita retida e
martensita.

O teor de carbono (Cγ) na austenita residual pode ser estimado através da concentração
de carbono da liga (CLG), do carbono na ferrita bainitica (Cb ≅ 0,03 % peso) e da fração
de bainita (fb), conforme proposto por BHADESHIA (55):

f b (C LG − C b )
Cγ = C LG + (3.12)
1 − fb

Um modelo para decomposição da austenita retida durante a reação bainítica foi


proposto em CHEN et al.(56), o qual é representado na figura 3.22. Nesta figura, são
apresentados de forma esquemática três grãos de ferrita (α) e um grão de austenita (γ)
em equilíbrio na temperatura intercrítica. Ao ser resfriado para temperatura da
transformação bainítica, parte da austenita se transforma em ferrita, promovendo a
difusão do carbono para parte da austenita não transformada.

Figura 3.22 – Modelo de transformação da austenita após tratamento intercritico,


seguido de transformação bainítica. Identificação das fases: ferrita (α); austenita (γ);
ferrita transformada (αT); bainita (αb) e austenita retida (γR) (56).

No processo de enriquecimento de carbono, parte da austenita agora se transforma em


bainita. A rejeição de carbono da transformação bainítica torna a austenita não
39
"

transformada ainda mais rica em carbono. Com o aumento do carbono da austenita, a


temperatura de início de transformação austenita-martensita (Ms) pode alcançar níveis
abaixo da temperatura ambiente, resultando em uma metaestabilidade da austenita
retida.

A transformação induzida pela deformação da austenita para martensita é reconhecida


como uma importante contribuição para os aços TRIP. Desta forma, grande esforço
também tem sido necessário na previsão da estabilidade da austenita retida, através do
cálculo de sua fração volumétrica em função da deformação. Considerando que a
variação na fração volumétrica da martensita ( Vγο − Vγ ) pelo incremento de deformação
(57)
(dε) seja proporcional à fração de austenita retida ( Vγ ), BHADESHIA et al.

propuseram a equação 3.13:

(
d Vγο − Vγ )
= kTVγ (3.13)

Onde kT é função da composição química e da temperatura de transformação. Cálculos


da fração volumétrica da austenita retida em função da deformação são mostrados na
figura 3.23 para deformações realizadas no ensaio de tração. Nesta figura, é mostrado
que o aumento da temperatura e do teor de manganês torna a austenita retida mais
estável. Diversos outros autores (41,46,58,59,60,61) avaliaram a estabilidade da austenita com
a deformação em ensaio de tração com resultados similares. Nota-se em todas as
referências pesquisadas que a deformação ocorreu para ε positivo, ou seja, com
aplicação de deformação através de esforço em tração. Para deformação com ε
negativo, como no caso da trefilação, o comportamento pode não ser similar ao
apresentado em tração simples em função do modo de deformação em compressão
hidrostática.
40
"

Figura 3.23 – Resultados do ensaio de tração para avaliar a estabilidade da austenita


retida em função da deformação, temperatura e teor de manganês: (a) 0,50 %Mn; (b)
2,0 % Mn. Aço Fe-Mn-2,0Si e C:1,2 % (em peso) e Vγο : 0,1282 (57).

3.7 Influência do bandeamento na ocorrência de estrutura multiconstituida

O processo de solidificação do aço gera a partição do soluto entre o líquido e a fase


sólida. Este fato leva à obtenção do produto final solidificado com presença de
heterogeneidade química a nível macroscópico e microscópico. Segundo KIRKALDY
et al.(62) existem duas possibilidades para ocorrência da segregação em bandas
alternadas: (a) “pré-segregação” com origem durante a solidificação dendrítica e (b)
“trans-segregação” com ocorrência durante as transformações no estado sólido. A
explicação para este fenômeno está na diferença do coeficiente de difusão entre os
elementos presentes nos aços. Ao contrário do carbono, os elementos substitucionais
apresentam baixo coeficiente de difusão. Dentre estes elementos substitucionais, o
manganês ocupa posição de destaque, pois normalmente é adicionado em grandes
quantidades e promove a formação de bandas da perlita, uma vez que influencia
fortemente a atividade do carbono durante a transformação da austenita.

O manganês está entre os principais elementos, quando se considera o projeto de ligas


de alta resistência, devido a seu efeito na estabilidade da austenita, na energia de falha
41
"

de empilhamento e na cinética de transformação (40). Outro aspecto importante deste


elemento está relacionado à sua baixa taxa de difusão na austenita e elevada tendência
de segregar na interface. O seu efeito no abaixamento da temperatura Ar3, pode ser visto
na figura 3.24. Durante a laminação, as bandas são alongadas e dispostas em camadas
alternadas. Já no resfriamento, os primeiros cristais de ferrita pró eutetóide serão
formados nas regiões de Ar3 elevados, ou seja, pobre em concentração de manganês.

Com o progresso da ocorrência de ferrita, o carbono é rejeitado para regiões ricas em


manganês, até atingir a concentração eutetóide. Desta forma, a perlita é formada nestas
regiões com concentração de manganês mais alta. Com a ocorrência do bandeamento é
possível que as estruturas apresentem características diferentes para as regiões ricas e
pobres em manganês. A figura 3.25 mostra as microestruturas possíveis de serem
obtidas para o aço SAE5140 com teores de manganês diferentes e submetidos a
diferentes taxas de resfriamento. No aço com baixo teor de manganês, é possível que a
transformação austenita-perlita ocorra completamente em taxa de 1,0 ºC/s. Já no aço
com teor mais elevado de manganês submetido a esta mesma taxa de resfriamento, é
possível obter uma estrutura multiconstituída em uma matriz ferrítica.

Figura 3.24 – Efeito da adição de manganês na temperatura Ar3 e composição eutetóide


do um aço SAE5140: (a) 0,82 %Mn; (b) 1,83 %Mn (em peso) (63).
42
"

Figura 3.25 – Diagrama de transformação do aço SAE5140 com teores de (a)


0,82 %Mn e (b) 1,83 %Mn - (em peso) (63).

3.8 Identificação e quantificação da austenita retida

O grande interesse na quantificação da austenita retida iniciou-se com o


desenvolvimento dos aços TRIP a partir da década de 80. Estes aços apresentam uma
estrutura composta basicamente de ferrita, bainita, austenita retida e martensita. Entre
todas as fases presentes, a austenita retida desempenha um papel de destaque, pois
garante propriedades diferenciadas de resistência, tenacidade e deformação uniforme. A
contribuição da austenita retida na melhoria destas propriedades depende de vários
fatores, entre os quais, conforme já destacado, a fração volumétrica e a concentração de
carbono.

Desta forma, para garantir as propriedades dos aços TRIP é crucial uma determinação
precisa de fração volumétrica das fases presentes, assim como a concentração de
carbono. Dentre as técnicas disponíveis para quantificação da austenita retida, pode-se
destacar a microscopia óptica mediante uso de ataques específicos, a difração de raios X
e a de saturação magnética. Atualmente, há grande interesse no desenvolvimento de
novas técnicas, baseadas em diferenças de propriedades, como a difusividade térmica
43
"

das fases, orientação cristalográfica dos grãos ou através de fases com respostas
diferentes ao ultrassom a laser.

Dentre todas as técnicas, a metalográfica óptico-eletrônica e a difração de raios X


ocupam posição de destaque no estudo da austenita retida. Com a difração de raios X,
além da quantificação relativamente fácil da fração volumétrica, também é possível
estimar indiretamente, mas com grande precisão, a concentração de carbono através da
medida do parâmetro de rede das fases presentes.

3.8.1 Através de métodos metalográficos

A forte dependência das propriedades físicas e mecânicas com a microestrutura faz do


exame metalográfico um recurso importante na etapa de caracterização e
desenvolvimento de novos materiais. Para revelar as características estruturais das
diversas fases presentes nos aços, vários métodos para identificação e caracterização
foram desenvolvidos com uso de diversos tipos de ataques químicos. Nesta técnica
utiliza-se o processo de corrosão diferenciado, devido à diferença no potencial químico
ou a heterogeneidade física entre as fases. Para aços que apresentam estrutura
constituída basicamente de ferrita e grãos ferríticos com contorno de cementita, o
reagente mais utilizado é o Nital (solução de ácido nítrico em álcool etílico). Já para
aços multifásicos, que contêm dispersão de martensita em uma matriz ferrítica, este
reagente passa a não ser mais satisfatório.

A revelação fica mais complexa quando a microestrutura tem a presença simultânea de


austenita e martensita na segunda fase. Para aços multifásicos, o procedimento mais
utilizado consta do ataque em dois estágios. JACQUES et al.(64) recomendam que a
amostra seja atacada inicialmente por 30segundos em uma solução 4 % Picral (4 g de
ácido pícrico em 100 ml de etanol). Em seguida, a amostra é lavada em água corrente e
imediatamente imersa por 8-10 s em solução com 10 % de metabissulfeto de sódio em
meio aquoso. A amostra é então lavada novamente com água corrente, depois etanol e
secada com ar aquecido. Neste ponto, é possível observar ao microscópio óptico, com
luz de halogênio, uma estrutura formada de ferrita e austenita com tonalidade branca e
44
"

martensita com coloração marrom clara. No caso da presença de carbonetos, estes


poderão ser identificados pela coloração preta. No estudo de aços DP (dual-phase), a
dificuldade na separação entre as fases austenita e martensita não é importante, devido
ao baixo nível da primeira fase. Normalmente, a sua presença é apenas mencionada
como constituinte MA (martensita-austenita) sem a necessidade de distinção entre elas.

Já nos aços TRIP, a microestrutura é composta de quatro fases (ferrita, bainita,


martensita e austenita), sendo importante a caracterização de cada uma delas, com
ênfase para a austenita retida, que desempenha papel importante nas características
físicas e mecânicas destes aços. Diante da necessidade de identificar a austenita
separadamente da martensita, tem sido utilizado uma técnica de colorização através de
ligeiro aquecimento (41,65). A amostra é lixada e polida conforme procedimento
convencional de preparação, em seguida atacada em solução Nital 2 % por 15 s. A
próxima etapa consiste em aquecer a amostra em forno sem atmosfera protetiva, na
temperatura de 260 ºC por 2,5 h e seguida de resfriamento ao ar até temperatura
ambiente. Com esta técnica, as fases de interesse assumem tonalidades diferentes,
quando observadas no microscópio óptico. A ferrita e bainita apresentam tonalidade
bege, a austenita retida roxa e a martensita tonalidade azul escura. Análises com
microscopia eletrônica de varredura e através de raios X foram realizadas em amostras
antes e após este ensaio e não evidenciaram alteração na fração volumétrica nem na
estabilidade da austenita retida (41), o que valida este procedimento para revelar estrutura
multiconstituída. A tabela III.4 resume as diversas técnicas de colorização das fases
muito utilizadas em aços multifásicos. Um exemplo da técnica de colorização pelo
aquecimento foi utilizada em PERELOMA et al.(41) para avaliação do comportamento
das fases no ensaio de deformação através de tração. A figura 3.26 mostra a
microestrutura de dois aços antes e após a deformação.
45
"

Tabela III.4 – Ataque de colorização das fases para aços multifásicos e suas limitações.
(α: ferrita, αb: bainita, αm: martensita, P: perlita, γR: austenita retida, ϴc: carbonetos) (65).

Solução Colorização Limitações


2,5 % Nital seguido de 10% de metabissulfeto α, γR: branca αb, P, ϴc e αm
de sódio em água destilada αb, αm, P: escura sem distinção
Le Pera (66), proporção de reagentes 1:1 α: amarela/azul γ e αm não são
(a) 1 % de metabissulfeto de sódio em αm: marrom separadas
água destilada; γR, αm: branca visualmente
(b) 4 % picral em álcool etílico.
4 % picral e 2 % de metabissulfeto de sódio α: marrom γ e αm não são
em água destilada αm: branca separadas
γR: branca visualmente
2 % Nital, seguido de aquecimento em forno. α, αb: bege Tratamento
γR: roxo térmico adicional
αm: azul escuro

A quantificação da austenita retida através de observação microscópica, normalmente, é


realizada pelo método de contagem de pontos, através da seleção aleatória de cinco
campos em cada amostra, observada com aumento de 500X (64). Este método apresenta
limitações para fração volumétrica de austenita retida para valores abaixo de 10 %.
46
"

Figura 3.26 – Microestrutura revelada pelo método de colorização em aquecimento. (a)


e (c) microestruturas de aço sem adição de Nb; (b) e (d) microestruturas de aço com
adição de Nb. (a) e (b) microestruturas antes do ensaio de tração; (c) e (d)
microestruturas após deformação de 0,2. (α: ferrita, γR: austenita retida, αm: martensita e
αb: bainita) (41).

3.8.2 Através de difração de raios X

Os fundamentos dos procedimentos atuais para medição da austenita retida em aços


foram desenvolvidos a partir de recursos bastante limitados. A literatura (67) cita que a
primeira tentativa para quantificação da austenita retida através de difração de raios X
foi realizada em TAMARU e SEKITO, na década de 1930. Neste experimento, foi
utilizada uma câmara de Deybe-Scherrer, onde uma amostra em rotação era posicionada
no centro. A intensidade da austenita presente na amostra era comparada com a
47
"

intensidade de outra amostra de ouro. Outras técnicas similares foram desenvolvidas


nesta época, como a câmara de Phragmen. Neste caso a calibração da intensidade era
feita com uma série de aços onde o percentual de austenita era conhecido mediante uso
prévio de técnicas metalográficas. Para evitar a interferência do ruído devido à
fluorescência do ferro e de elementos de liga, AVERBACH e COHEN (68) utilizavam
radiação monocromática Co-Kα.

Com o desenvolvimento da tecnologia de difração, houve também evolução na


capacidade de medição da austenita retida. Com os resultados obtidos quanto à
intensidade dos picos de difratograma de raios X, MARBURGER e KOISTENEN (69)
estabeleceram uma relação empírica para cálculo da austenita retida (fγ), em aços com
carbono na faixa 0,37-1,10 %:

[ ]
f γ = exp − 0,011(M S − Tq ) (3.14)

Onde:
MS: temperatura de inicio da transformação martensítica
Tq: temperatura de têmpera

Uma dificuldade para melhorar a precisão das medições foi atribuída à presença de
textura na amostra. Esta limitação foi, inicialmente, apontada em MILLER (70) que
propôs a formulação de picos múltiplos para minimizar este problema. Para reduzir ao
mínimo este efeito, este autor projetou e construiu um porta-amostra com possibilidade
de rotação e alteração na sua inclinação.
Em setembro de 1979, foi publicado pela SAE – Society Automotive Engineers um
manual descrevendo os procedimentos e técnicas para medição da austenita retida
através de difração de raios X, assim como métodos de controle desta fase. Atualmente,
o procedimento para quantificação da austenita retida se tornou uma rotina e, na maioria
das vezes, é automatizada, com precisão cada vez maior mesmo para níveis baixos de
fração volumétrica da austenita de até 0,5 %. As radiações normalmente utilizadas na
difração de raios X são de cobre (Cr-Kα), Cobalto (Co-Kα), Cromo (Cr-Kα) ou
Molibdênio (Mo-Kα), sendo que cada uma apresenta vantagens e desvantagens. Por
48
"

exemplo, a radiação Cu-Kα e Mo-Kα são as que apresentam menores e maiores


penetrações, respectivamente (71).

A aplicação da técnica de difração através de raios X se baseia na diferença cristalina


das fases presentes e na intensidade difratada dos planos cristalográficos, segundo a
indexação do padrão de difração dado pela lei de Bragg. Por exemplo, um cristal cúbico
irá difratar somente para ângulos cujo sen2Ɵ satisfaça a equação 3.15:

sen2θ λ2
= (3.15)
( h 2 + k 2 + l 2 ) 4a 2

Sendo:
λ: comprimento da onda incidente
ϴ: ângulo de incidência
a: parâmetro de rede da fase
hkl: índices de Miller do plano

Considerando que a soma dos quadrados dos índices de Miller é sempre um número
inteiro e que o segundo termo será sempre uma constante para uma dada condição
(comprimento de onda e parâmetro de rede constantes), a indexação do sistema cúbico
ficará resolvida para todos os números inteiros (hkl) que fornecerem valores da razão
entre sen2θ e a (h2+k2+l2) igual ao segundo termo da expressão.

No caso dos sistemas com menor simetria, como por exemplo, o tetragonal, a indexação
dos índices se torna mais complicado, pois existem dois parâmetros (a e c) a serem
investigados. Neste caso, um cristal tetragonal irá difratar somente para ângulos cujo
sen2Ɵ satisfaça a equação 3.16:

sen 2θ λ2
2
= (3.16)
 al  4a 2
( )
h2 + k 2 +  
c
49
"

A relação a/c, que é uma medida da tetragonalidade da célula, irá introduzir uma perda
de simetria em relação à célula cúbica e, consequentemente, aumento no número de
linhas. Desta forma, novas linhas irão aparecer no espectro de difração, conforme
mostrado na figura 3.27. Maiores detalhes deste procedimento podem ser obtidos em
literatura especializada sobre o assunto (72-74).

Como mostrado anteriormente, usando-se a equação de Bragg é possível identificar as


posições angulares dos planos cristalográficos para cada fase presente, mas não há
informações quanto à intensidade destes planos. O cálculo da intensidade é também de
grande interesse nos trabalhos de DRX, pois fornece informações precisas para a
estimativa da fração volumétrica de uma determinada fase em relação às demais
presentes.

Figura 3.27 – Efeito da distorção do parâmetro de rede da célula no padrão de difração.


As linhas que se mantêm com posições inalteradas são ligadas por linhas tracejadas.
Adaptado de CULLITY(72).

A intensidade de uma difração de um plano (hkl), relativo a uma determinada fase (α), é
dada pela equação 3.17:
50
"


I α (hkl ) = KRα (hkl ) (3.17)

Sendo:

I (hkl): intensidade da radiação difratada do plano hkl na fase α;


α

K: constante que agrupa os fatores que dependem da amostra e equipamento;


Vα: fração volumétrica da fase α;
µ: coeficiente de absorção da amostra.

A intensidade relativa da fase α para o plano (hkl) é dado pela expressão (72, 73, 74):

1 2
Rα (hkl ) = Fα (hkl ) pLPe − 2 D (3.18)
2
υ

E o fator de estrutura F (hkl) tem a seguinte expressão:


α

N at
Fα (hkl ) = ∑ f corr e 2πi( hu n + kv n + lwn ) (3.19)
1

Sendo,
υ : volume da célula unitária da fase considerada

LP: fator de polarização de Lorentz (75) igual a


(1 + cos 2
2θ cos 2 2θ m )
sen 2θ cos θ
(θm é o angulo do monocromador)
e-2D: fator de temperatura Debye-Walter (D=Bsen2Ɵ/λ2; 2B=0,71)
f corr = f + ∆f ' + i∆f '' (fator de espalhamento atômico)
uvw: coordenadas dos átomos nos eixos cartesianos
Nat: número de átomos na célula
p: fator de multiplicidade do plano cristalográfico
N: recíproco do volume de uma célula
51
"

Os valores de R são normalmente fornecidos em normas internacionais para as


radiações mais utilizadas ou podem ser calculados teoricamente. A combinação
adequada da equação 3.16, aplicada a um plano hkl da fase austenita a outros planos das
fases ferrita e/ou martensita, permite a determinação da percentagem de austenita
presente em um aço temperado. Não obstante, combinações de distintos planos hkl das
fases presentes em uma mesma amostra, podem conduzir a valores irreais devidos, por
exemplo, ao efeito da textura. Para evitar este problema, é recomendável o uso de
dispositivo que permita a rotação e inclinação da amostra em relação ao feixe de
radiação incidente, assim como uso de picos de difração múltiplos.

O fator de absorção é um parâmetro muito complicado para se calcular, pois este


depende da fração volumétrica das fases. Na aplicação de método direto (72-74) que é
muito utilizado para agregados policristalinos, este parâmetro pode ser considerado uma
constante, sendo assim eliminado no cálculo da razão das frações volumétricas:

Vα I α (hkl )Rγ (hkl )


= (3.20)
Vγ I γ (hkl )Rα (hkl )

Quando apenas duas fases estão presentes (α e γ), o cálculo da fração volumétrica de
uma fase pode ser calculado através da expressão:

Vγ = (I γ (hkl ) Rγ (hkl ))/ [(I α (hkl ) Rα (hkl )) + (I γ (hkl ) Rγ (hkl ))] (3.21)

Considerando “n” picos da fase γ e “m” picos da fase α, a expressão anterior pode ser
reescrita da seguinte forma generalizada:

1 n 1 n 1 m
Vγ = ∑ (I γ (hkl ) Rγ (hkl )) /  ∑ (I γ (hkl ) Rγ (hkl )) + ∑ (I α (hkl ) Rα (hkl )) (3.22)
n 1 n 1 m 1 

A quantificação da austenita retida em aços é normalizada pela ASTM (76), através da


norma E975-03 – Stardard Practice for X-Ray Determination of Retained Austenite in
Steel with Near Randon Crystallographic Orientation e descrita em CULLITY (72). A
52
"

determinação é realizada através do cálculo da área abaixo do pico e acima do ruído de


fundo, dado pelo difratograma de raios X, com uso de radiação Cr-Kα, Mo-Kα ou Cu-
Kα. A fração volumétrica da austenita retida é determinada pela comparação entre a
intensidade difratada (área calculada abaixo da curva) das fases austenita e ferrita.

O cálculo teórico das intensidades relativas (R) pode ser obtido para cada tipo de
radiação utilizada e plano cristalográfico correspondente. Como exemplo, a tabela III.5
mostra os valores de R para a radiação de cromo, valores estes padronizados na norma
ASTM E975. Neste trabalho, cuja radiação utilizada foi de cobalto, uma tabela similar
foi construída.

Tabela III.5 – Cálculo teórico da intensidade (R) para radiação Cr-K . Comprimento de α

onda médio de 2,29092 Å, parâmetro de rede da ferrita e austentia de 2,8664 Å e


3,60 Å, respectivamente.! Os valores de f, ∆f’ e ∆f´´ foram obtidos na tabela
(77) (76)
Internacional de Cristalografia e norma ASTM .
!
hkl θ F ∆f ‫׳‬ ∆f ‫׳׳‬
|F|2 LP p e-2D 1/υ R
(110)α 34,41 18,474 -1,6 0,9 1142,2 4,290 12 0,9577 0,001803 101,5
(200)α 53,06 15,218 -1,6 0,9 745,0 2,805 6 0,9172 0,001803 20,73
(211)α 78,20 13,133 -1,6 0,9 534,6 9,388 24 0,8784 0,001803 190,8
(111)γ 33,44 18,687 -1,6 0,9 4684,4 4,554 8 0,9597 0,0004594 75,24
(200)γ 39,52 17,422 -1,6 0,9 4018,3 3,317 6 0,9467 0,0004594 34,78
(220)γ 64,15 14,004 -1,6 0,8 2472,0 3,920 12 0,8962 0,0004594 47,88

3.9 Modelos para otimização dos picos de DRX

O grande interesse no refino do modelo para ajuste dos picos de DRX está no fato de
que a fração volumétrica de uma fase é proporcional à área abaixo do pico (valores de I α

e I na equação 3.21). Vários modelos para cálculo da área dos picos são propostos,
γ

entre os quais se destacam: Gauss, Lorentz, Pearson VII, Voigt e pseudo-Voigt. Com o
advento da computação, tem sido cada vez mais utilizada a técnica de refinamento pelo
(78)
método de Rietveld , a qual usa estes modelos de forma combinada dependendo do
nível de simetria apresentada pelos picos. A assimetria dos picos pode estar relacionada
53
"

à divergência axial do feixe difratado para baixos ângulos ou alguma outra característica
do equipamento e amostra utilizados. KHATTAK et al.(79) mostram que podem existir
problemas no ajuste das linhas de difração através do uso simples de funções de Gauss e
de Lorentz. Estes autores afirmam que os melhores ajustes para difração de raios X são
obtidos com as funções de Pearson VII, Voigt ou pseudo-Voigt. A função de Voigt é na
verdade uma convolução das funções de Gauss e de Lorentz e pseudo-Voigt, é uma
combinação ao invés de convolução.

Independente do tipo de modelo escolhido para ajuste, a sua contribuição relacionada à


intensidade difratada do pico deve ser estabelecida para uma determinada faixa. Como
regra geral, é aceito que a área do pico pode ser considerada desprezível quando a
intensidade atinge a faixa de 0,1 – 1,0 % da intensidade máxima. Dentro desta faixa, a
percentagem apropriada vai depender do formato do pico. Para picos com “caudas”
longas, ou seja, com características Lorenziana, uma maior faixa FWHM (full width at
half maximum) será necessária, comparado com picos característicos da Gausiana.

Uma dificuldade adicional para modelamento dos picos de uma fase ocorre quando
estes apresentam intensidades baixas comparadas com picos de outras fases presentes.
Neste caso, em que a fase a ser determinada encontra-se em níveis muito baixos, ou
seja, baixa intensidade dos picos correspondentes pode ser mais adequado o
modelamento individual dos picos escolhidos para integração.

O método de Rietveld foi desenvolvido para estruturas cristalinas, com ênfase no


refinamento a partir da difração de amostras em pó. Para amostras maciças este
refinamento através do método de Rietveld não foi o foco principal dos estudos, não
sendo assim possível certificar da eficiência do método para esta condição (78).

Dentre as distribuições citadas, conforme já comentado, as funções Pearson VII e a


pseudo-Voigt apresentam os melhores ajustes no modelamento dos picos de
difração (78).

Uma forma de apresentar a função de Pearson VII é através da seguinte expressão:


54
"

−M
 K 2 (x − x0 )2 
f ( x) = I 0 1 +  (3.23)
 M 

Sendo x o valor do ângulo 2Ɵ e I0 a intensidade máxima do pico. O parâmetro “K”


governa a largura da curva, x0 a posição do pico K 1 e “M” a taxa de decaimento das
α

“caudas”. Para valores de “M” próximos de um, a curva assume perfil puramente de
Cauchy. Para “M” igual a dois, o aspecto é de uma Lorentziana e para “M” infinito o
perfil é Gaussiano. Como exemplo, a figura 3.28 ilustra o comportamento da
distribuição de Pearson VII para alguns valores de “K” e “M” hipotéticos.

Como a radiação não é totalmente monocromática e possui comprimentos de onda


distintos, K 1 e K 2, o modelamento considera cada pico do espectro como a soma de
α α

picos individuais, somado ao ruído de fundo dado através de variação linear, p e q sendo
qualquer número real, do tipo:

f R ( x) = px + q (3.24)

Se I(x) é a intensidade como função da posição angular, a forma geral da função


descrevendo o dupleto K 1/K 2 é dada por:
α α

I (x ) = If (x − x0 ) + ICf (x − x0 − δ ) + f R (x ) (3.25)

Sendo:

f(x): função de distribuição de Pearson VII;

I: altura máxima do pico para um determinado comprimento de onda;

x0: posição do ângulo 2Ɵ para intensidade máxima do pico K 1; α

C: relação de intensidade dos picos K 1 e K 2; α α

δ: separação angular do dupleto K 1/K 2. α α


55
"

Figura 3.28 - Variação no perfil da curva de Pearson VII em função dos parâmetros
“M” e “K” da equação 3.23.

3.10 Ocorrência do dupleto K 1 e K 2


α α

A produção de raios X origina-se basicamente de uma fonte de elétrons, dois eletrodos


mantidos a elevada diferença de potencial e um anteparo formado pelo metal alvo. Os
56
"

elétrons acelerados pela diferença de potencial colidem com o metal alvo, gerando
grande quantidade de energia em forma de calor e uma pequena fração em forma de
radiação. Quando a voltagem é aumentada, acima de certo valor específico para cada
metal alvo, é gerada uma descontinuidade no espectro de elevada intensidade e
comprimento de onda definido, conhecido como “espectro característico” do metal alvo.
Como pode ser visto na figura 3.29, o espectro característico ocorre a partir de um valor
mínimo da voltagem aplicada.

Figura 3.29 – Espectro de raios X para o molibdênio em função da voltagem (72).

Estes picos de descontinuidade gerados estão relacionados às camadas eletrônicas K, L,


M etc. Os picos correspondentes a transições para a camada K apresentam os menores
comprimentos de ondas (maiores energias) e, por isto, têm grande aplicação no estudo
de estruturas atômicas. Na verdade, existem vários picos característicos provenientes da
transição eletrônica para a camada K, mas somente as radiações K 1, K 2 e K são
α α β

observadas em experimentos de DRX. A tabela III.6 mostra os comprimentos de onda


para três elementos mais utilizados em DRX.
57
"

Tabela III.6 – Comprimentos de onda (Å) das principais radiações para três elementos
mais utilizadas em DRX (72).

Elemento Kα1 Kα2 Kβ


Co 1,792850 1,788965 1,62079
Cu 1,544390 1,540562 1,392218
Mo 0,713590 0,709300 0,632288

Destas três radiações, Kα1 e Kα2 merecem mais atenção, pois possuem comprimentos de
onda muito próximos, e são, portanto, de difícil resolução (filtragem). Quando
resolvidas, elas recebem o nome de dupleto Kα, ou quando não resolvidas, apenas de
Kα. A figura 3.30 mostra o espectro para o molibdênio para duas escalas de
comprimento de onda, onde a figura da direita a escala é menor para evidenciar a
presença das duas radiações características.

(72,73,80)
A relação de intensidade entre os picos Kα1 e Kα2 é de 0,51 ± 0,03 e a posição
do pico ƟK 2 pode ser obtida em função de ƟK 1, através da equação de Bragg pela
α α

expressão:

  λ Kα 2  
θ Kα 2 = sen −1   sen(θ Kα 1 ) (3.26)

  λ Kα 1  

Onde λKα1 e λKα1 são os comprimentos de onda das radiações e ƟKα1 o ângulo
correspondente à máxima intensidade do pico Kα1. A separação do dupleto é
desprezível para ângulos baixos, mas torna-se progressivamente significativa com o
aumento do ângulo de difração, conforme pode ser visto na figura 3.31.
58
"

Figura 3.30 – Espectro esquemático para o molibdênio como metal alvo e voltagem de
aceleração de 35 kV (Kα1: 0,709 Å; Kα2: 0,71 Å; Kβ: 0,632 Å). A diferença entre as
figuras é apenas na escala horizontal do comprimento de onda (72).

Figura 3.31 – Separação do dupleto Kα em função do ângulo (2θ), com identificação


dos planos cristalográficos da ferrita. (Parâmetro de rede da ferrita de 2,867 Å).
Radiação Cu-K .α
59
"

Para determinação precisa do teor de austenita retida, a resolução do dupleto deverá ser
feita através do uso da equação 3.26 associada ao fato de que a intensidade do pico Kα2
é da ordem de 0,52 do pico Kα1. A figura 3.32 mostra, como exemplo, o resultado do
modelamento para o pico (200)α com radiação de Cu-Kα. Note a decomposição do
dupleto K 1 e K 2, onde são mostradas as curvas correspondentes a cada radiação
α α

individual. A minimização dos erros quadráticos, entre os valores medidos e os


teoricamente calculados através do modelo, será realizada com uso do programa Solver,
a ser apresentado no item 5.7.1.

Figura 3.32 – Modelamento do pico (200)α através da função de Pearson VII. Os


pontos são valores reais obtidos da DRX e a linha contínua preta é a curva calculada
pelo modelo.
60
"

4 - METODOLOGIA

Neste capítulo é apresentada a metodologia proposta para quantificação da austenita


retida em uma liga utilizada para fabricação de eletrodo MIG, em função da estrutura e
da taxa de resfriamento. Foi utilizada a técnica de difração de raios X para a
quantificação da fase austenítica presente na liga estudada.

4.1 Material

O material estudado é um aço utilizado para fabricação de eletrodos MIG, com


composições químicas previstas em normas internacionais, europeia (EN440 G4Si1
SG3) e americana (AWS A5.18 ER70S-6). Este aço apresenta estrutura multiconstituída
semelhante ao de aço TRIP, cuja composição química corresponde a um material de
baixo teor de carbono com adições de manganês e silício. Amostras de perfis
intermediários do trem de laminação, do fio máquina e de arame trefilado foram objetos
de estudo para caracterização por difração de raios X e por ensaios metalográficos. A
composição química da liga estudada, aqui denominada ER70S-6, é mostrada na tabela
IV.1.

Tabela IV.1 – Composição química (% peso)da liga estudada, ER70S-6.

Liga %C % Mn % Si N (ppm)

ER70S-6 0,096 1,637 1,096 45

Faixa 0,06 – 0,15 1,40 – 1,85 0,80 – 1,15 -

Foram utilizadas para estudo amostras retiradas de corridas do processo industrial, que
consiste no refino primário no processo LD, seguido de tratamento secundário no forno
panela para ajuste térmico e químico. Na sequência, foram produzidos tarugos em
máquina de lingotamento contínuo de seção quadrada de 155 mm e comprimento
próximo de 12 m. Posteriormente, os tarugos foram reaquecidos e laminados a quente
61
"

para bitola 5,5 mm. Nesta etapa, foram retiradas amostras dos perfis intermediários e do
fio máquina na condição bandeada. Posteriormente, também foram coletadas amostras
de arames para avaliação do comportamento da austenita retida durante o processo de
trefilação.

4.2 Processo de fabricação do fio máquina

Inicialmente, o tarugo foi enfornado na temperatura ambiente e reaquecido até


aproximadamente 1100 °C em forno tipo walking-beam, mediante queima de gás de
alto-forno e/ou gás natural. Em seguida, o tarugo aquecido foi deformado de forma
continua e sucessiva numa sequência de 28 passes oval-redondo até a bitola final do fio
máquina. Para cada sequência de 8 a 10 passes, existe uma tesoura que possibilita a
eliminação de defeitos nas extremidades, além de caixas d’água para controle da
temperatura do perfil ao longo do processo de deformação. Nestas tesouras existe a
possibilidade de coleta de amostras, conforme descrito anteriormente. No processo final
de laminação, o fio máquina foi resfriado de forma controlada da temperatura de
1000 ºC até a temperatura ambiente. A figura 4.1 mostra, de forma esquemática, o
principio de funcionamento do processo de resfriamento conhecido como Stelmor®,
onde podem ser identificadas as principais partes desta etapa.!

Este sistema de resfriamento compõe-se basicamente de dois estágios: no primeiro, o fio


máquina é bruscamente resfriado ao passar em duas ou mais zonas de resfriamento a
água equipadas com bicos de pulverização com elevada pressão e vazão. Entre estas
zonas, existe um espaço adequado para promover a equalização da temperatura entre a
superfície e o núcleo do fio máquina. Nesta etapa do processo, o objetivo é reduzir a
temperatura rapidamente para aproximadamente 900°C, de tal forma que se evite
crescimento exagerado do grão, assim como o controle na formação de óxidos
superficiais. No segundo estágio, o fio máquina tem seu resfriamento controlado através
de ventilação, onde pode ser variada a taxa de resfriamento, usualmente, empregada na
faixa de 2 a 25 ºC/s através da atuação no nível de ventilação, velocidade da esteira e
posicionamento das tampas (aberta ou fechada). Devido ao acúmulo de espiras em
62
"

certas posições, a taxa de resfriamento não é homogênea ao longo do perímetro de uma


espira, conforme mostrado na figura 4.1(b), o que gera no fio máquina uma dispersão na
estrutura e, consequentemente, nas propriedades mecânicas.

P<!(<"D$<Q8<" RBST<DBS"D?"U6E!S<6"

RBST<DBS"D?"
V?AH!:<DBS?6"
9B9!A<"

(a) Vista lateral do Stelmor.

(b) Vista superior da esteira do Stelmor.

Figura 4.1 – Desenho esquemático do processo de resfriamento Stelmor®.

4.3 Procedimento para coleta e preparação de amostras

Foram coletadas amostras em três estágios de fabricação, a saber: perfis intermediários


de laminação, fio máquina e arame trefilado.

4.3.1 Coleta de amostras com estrutura bandeada

Foram coletados amostras de seção redonda nas tesouras 6, 12 e 18 do Trem de


Laminação, cujos diâmetros são de 70, 30 e 17,5 mm, respectivamente. Em algumas
destas amostras foram realizados cortes longitudinal e transversal em relação à direção
63
"

de laminação para avaliar o efeito da textura na medição da austenita retida. Foram


também coletadas amostras de comprimento maiores para confecção por usinagem de
corpo de prova para o ensaio Jominy (81), cujo objetivo específico neste trabalho, é
descrito posteriormente. Parte das amostras foi tratada em forno mufla e resfriada de
forma controlada com uso de termopar. Em seguida, estas amostras foram cortadas em
seções longitudinal e transversal, lixadas, polidas, atacadas e observadas na microscopia
óptica e posterior análise por difração.

4.3.2 Obtenção de amostras com estrutura homogeneizada

Parte das amostras coletadas foi utilizada para realização de tratamento térmico de
homogeneização. Devido ao baixo coeficiente de difusão dos elementos substitucionais
no estado sólido, as amostras no estado laminado apresentam um bandeamento químico,
o qual não é eliminado durante o reaquecimento do tarugo. Dos elementos que
apresentam esta característica, o manganês, apesar de menor tendência de segregar em
relação a outros elementos (8), desempenha papel de destaque devido sua elevada
concentração presente no aço.

Considerando o espaçamento médio do bandeamento da perlita no aço em estudo


próximo de 100µm expresso por “l”, a difusividade (D0) e energia de ativação para
difusão (Q) do manganês na austenita igual a 0,178 cm2/s e 264 kJ/mol (82),
respectivamente, pode-se estimar o tempo necessário para homogeneização deste
elemento para várias condições de tempo e temperatura. A figura 4.2 mostra que o
tempo necessário para completa homogeneização do manganês ( δ =0) pode ser muito
elevado, mesmo para temperaturas relativamente altas, conforme previsto pela equação
3.4.

Estima-se que seriam necessários quatro dias na temperatura de 1200 ºC para completa
homogeneização química deste elemento. Já para temperatura de 1100 ºC o tempo
necessário para completa homogeneização química é estimado em onze dias.
64
"

Figura 4.2 – Variação da segregação residual (δi) do manganês com o tempo para
quatro temperaturas diferentes.

De posse dos resultados obtidos, foi utilizado como condição de homogeneização das
amostras o ciclo de tratamento térmico de 168 h na temperatura de 1200 ºC que foi
realizado em forno industrial, na zona de maior temperatura e controlado por
termopares. Após este ciclo, as amostras foram usinadas para eliminação da
descarbonetação e preparação de corpo de prova para ensaio Jominy. Outra parte da
amostra foi também tratada em forno mufla e resfriada de forma controlada. Em
seguida, estas amostras foram cortadas em seções longitudinal e transversal, lixadas,
polidas, atacadas e observadas na microscopia óptica para comprovação da
homogeneidade estrutural e posterior análise por difração.

4.3.3 Coleta de amostras em função da taxa de resfriamento

Para avaliação da taxa de resfriamento, foi utilizado o aparato do ensaio Jominy,


preparado conforme dimensões previstas na norma NBR6339 (81), sendo o corpo de
prova aquecido em forno mufla a temperatura de 910 ºC por 1h. Em seguida, o corpo de
prova foi retirado para resfriamento por jato d’agua em uma das extremidades. Neste
experimento, o objetivo não foi medir o perfil de dureza que é a proposta original do
65
"

ensaio, mas sim o mapeamento da estrutura em função da taxa de resfriamento ao longo


de seu comprimento a partir da extremidade resfriada com água. A figura 4.3 (a) mostra
esquematicamente o ensaio Jominy e o aparato utilizado. A taxa de resfriamento (°C/s)
a 700 °C, em cada cota, X (mm), distante da ponta resfriada, pode ser calculada de
acordo com equação Eq.4.1 desenvolvida a partir dos dados disponíveis no trabalho
de KANDPAL et al. (83), e mostrada no eixo superior da Fig. 4.3 (b).

taxa = 872,7569X −1,547197 */),W"


"

Figura 4.3 – (a) Representação esquemática do ensaio Jominy; (b) Taxa de


resfriamento do corpo de prova em relação à distância da extremidade resfriada com
água.

Após ensaio Jominy foram realizados cortes transversais ao longo do corpo de prova,
que foram montados em baquelite. Em seguida, estes corpos de prova foram lixados,
polidos e atacados com Nital 2 % para análise de estrutura e posterior difração de raios
X. Os cortes transversais foram realizados de tal forma que sempre foi possível
identificar a taxa de resfriamento correspondente. A figura 4.4 mostra o processo de
seccionamento e rastreabilidade dos corpos de prova e a planilha com registro das taxas
66
"

de resfriamento correspondente para alguns planos de corte. Como exemplo, a amostra


AM4 quando observada na cota de 28,25 mm corresponde a um plano resfriado na taxa
de 4,96 ºC/s. O ensaio Jominy foi utilizado para avaliar a influência da taxa de
resfriamento na ocorrência de austenita retida em amostras bandeada e homogeneizada.

Figura 4.4 – Seccionamento do corpo de prova para calculo da taxa. A tabela abaixo da
figura mostra as taxas para algumas cotas (distancia do plano à extremidade resfriada),
conforme equação 4.1.

4.3.4 Coleta de amostras de fio máquina

A coleta de fio máquina foi realizada no final da esteira do Stelmor®, após o


resfriamento à temperatura ambiente. A amostragem foi realizada de forma a manter
identificado a relação de sua posição ao longo do perímetro da espira, conforme
mostrada esquematicamente na figura 4.5. Como pode ser visto na figura 4.6, para
condições de baixa taxa de resfriamento, existe uma concentração de calor nas bordas
67
"

devido ao acumulo de massa, o que pode gerar diferenças de estrutura ao longo da


espira de fio máquina.

Cada amostra analisada foi identificada com numeração de 1 a 12, de modo que foi
correlacionado com sua posição e respectiva taxa de resfriamento no processo
industrial. As amostras de fio máquina coletadas foram preparadas nas seções
longitudinal e transversal, através de sequência convencional de corte, montagem,
lixamento, polimento e ataque químico.

Figura 4.5 – Posição das espiras no Stelmor® e a identificação da posição da amostra


em relação ao sentido da laminação (sul/norte).

Figura 4.6 – Perfil termográfico das espiras durante o resfriamento no Stelmor.


68
"

4.3.5 Coleta de amostras de arame trefilado

Foram realizadas duas experiências de trefilação de fio máquina. A primeira trefilação


foi da bitola 5,5 para 2,17 mm, realizada em laboratório, manualmente a um passe por
vez, em baixa velocidade, aproximadamente 6 m/min. Inicialmente, o fio máquina foi
tratado termicamente para homogeneização da estrutura, de tal modo que a fração de
austenita retida estivesse presente de forma uniforme ao longo de todo corpo de prova.
Com esta finalidade, uma parte do fio máquina de comprimento aproximado de 500 mm
foi austenitizado a 910 ºC por 15 min e resfriado naturalmente ao ar ao longo de toda a
extensão de seu comprimento. Antes da trefilação deste material, foram coletadas
amostras nas extremidades para confirmação da homogeneidade de estrutura e
quantificação de austenita retida presente na entrada da máquina de trefilação. A
segunda experiência foi realizada a partir de fio máquina na condição laminada, bitola
5,5 mm trefilado para arame bitola 1,88 mm, realizada em máquina industrial à
velocidade de 600 m/min. Foram utilizados sete passes de deformação para a
experiência em laboratório e oito passes para experiência industrial. Para cada passe de
trefilação, foi amostrado arame para eventual necessidade de análise metalográfica e
quantificação da austenita retida.

4.4 Difração de raios X

Diversos métodos, além da difração de raios X são utilizados para medição da austenita
retida, como o uso de técnicas metalográficas, EBSD e saturação magnética. Entretanto,
todos estes métodos se tornam pouco precisos, quando a fração volumétrica deste
constituinte é menor do que 10 %. Medidas da fração volumétrica de austenita retida
para valores inferiores a 1 % tem sido um desafio, onde a técnica de difração de raios X
ocupa uma posição de destaque em estudos recentes. Com uso do conhecimento
adquirido de técnicas de difração cada vez mais sofisticadas, associadas a uma adequada
relação sinal/ruído, o nível mínimo de detecção com grande precisão é citado por alguns
autores como sendo de 0,30 % (64, 84,91).
69
"

4.4.1 Escolha dos parâmetros de operação

Considerando que a fração volumétrica da austenita retida nos aços estudados ser baixa
(inferior a 6 %) comparada com os aços TRIP (20 a 30 %), é fundamental que a relação
sinal/ruído (S/R) seja maximizada. Este é um procedimento empírico, onde devem ser
considerados os seguintes parâmetros:

• Aumento no tempo de exposição. O ruído diminui com a raiz quadrada do


tempo;

• Área da amostra não deve ser inferior à área irradiada no plano da amostra. A
fenda deve apresentar uma resolução suficiente;

• Alinhamento das fendas;

• Otimização da eletrônica do detector;

• Potência do tubo gerador de raios X;

• Espessura do filtro de Kβ.

A escolha dos parâmetros para maximização do sinal/ruído da difração de raios X foi


realizado seguindo orientação do trabalho de JACQUES et al.(64). Neste trabalho, os
autores comparam resultados de diferentes técnicas para medição de austenita retida em
aço multifásico TRIP tais como: microscopia óptica, EBSD, saturação magnética,
difusividade térmica, ultrassom a lazer e difração de raios X.

Com relação à técnica de difração de raios X, os autores utilizaram seis experimentos


distintos em relação à preparação das amostras: tipo de radiação, número de picos
ferríticos e austeníticos, condição de ajuste do equipamento e tipo de análise dos dados.

Neste trabalho, as análises foram realizadas em difratômetro de cobalto Shimadzu,


modelo XRD6000 de radiação Co-K e cristal monocromador de grafita. A escolha dos
α

parâmetros do equipamento de difração foi feita similar ao procedimento de JACQUES


et al (64), para os quais houveram as menores dispersões entre os resultados de austenita
retida. Desta forma, os seguintes parâmetros foram escolhidos:
70
"

• Tamanho do passo entre leituras – SSS (ScanStepSize) fixo em 0,02º;

• Tempo de radiação em cada passo – SST (ScanStepTime) de 3 s;

• Intensidade da corrente de 35 mA;

• Intensidade da voltagem de 40 kV.

A escolha das fendas foi realizada conforme orientação do fornecedor Shimadzu:

• Fenda divergente de 1,00 mm;

• Fenda de espalhamento de 1,00 mm;

• Fenda de recebimento de 0,15 mm.

4.4.2 Posicionamento da amostra no porta amostra do difratômetro

As análises da difração de raios X foram realizadas de tal forma que a amostra


permanecesse fixa no porta-amostra durante a realização do ensaio e posicionada de
cada vez em uma das seis posições conforme ilustrado na figura 4.7. Cada posição
recebeu uma identificação (Pi; i=1 a 6) com rotação de 60º entre duas medidas
consecutivas.

Figura 4.7 – Desenho esquemático da posição da amostra em relação a radiação de


incidência dos raios X. As linhas no interior da amostra representam a direção do
bandeamento, quando foram analisadas amostras bandeadas na longitudinal.
71
"

4.4.3 Determinação das raias de difração a serem utilizadas

A liga ER70S-6, de composição química mostrada na tabela IV.1, normalmente


apresenta as fases ferrita, bainita, austenita e martensita. As duas primeiras fases
apresentam estrutura CCC, enquanto a terceira e quarta estruturas CFC e TCC,
respectivamente. A figura 4.8 mostra a posição das raias calculadas em função do
ângulo (2θ), para as duas estruturas cristalinas, para a radiação de cobalto. A posição e
intensidade das raias no diafratograma de raios X variam com o tipo de rede cristalina e
as posições atômicas. Como pode ser visto cada estrutura cristalina apresenta
determinados planos cristalográficos e posições específicas, tornando assim possível sua
identificação.

Figura 4.8 – Posição das raias para as estruturas cúbicas de corpo centrado (CCC),
cúbica de face centrada (CFC) para o ferro para a faixa 2• de 0 - 130&. Radiação de
cobalto.

A escolha da faixa 2θ de 48° até 80° foi devido à baixa intensidade da austenita presente
no aço estudado. A figura 4.9 mostra a intensidade relativa para uma liga com fração
volumétrica de 10% de austenita retida. Como pode ser visto no difratograma, os picos
mais intensos são (111)γ e (200)γ. Os picos austeníticos para 2θ acima de 80& têm
intensidades muito baixas e podem ser facilmente confundidos com “background”,
ficando a relação sinal/ruído ainda mais crítica para teores menores desta fase.
72
"

Figura 4.9 – Difratograma do espectro teórico para um aço com fração volumétrica de
austenita de 10 %. Faixa 2• de 0 – 130&'"radiação de cobalto.

4.4.4 Modelamento dos picos austeníticos e ferríticos

Neste trabalho a decomposição dos picos de difração foi modelada pela equação de
Pearson VII com otimização dos parâmetros pelo método dos mínimos quadrados (86- 88).
A equação de Pearson VII utilizada aqui, tem a forma apresentada na equação 3.23:

−M
 K 2 (x − x0 )2 
I ( x) = I 0 1 + 
 M 

Onde x refere-se ao valor 2• e I0 é a intensidade máxima para o pico na posição x0. O


valor da intensidade foi calculado para cada uma das radiações K 1 e K 2, sendo aα α

posição de um pico em relação ao outro obtido através do uso da equação 3.26:

  λKα 2  
θ Kα 2 = sen−1   sen(θ Kα 1 )

  λKα 1  

Desta forma, o modelo completo para I(x) inclui o “doublet” K 1 K 2 para as fases ferrita
α α

e austenita, somado com a contribuição do “background” (ax+b). A forma final deste


73
"

modelo, o qual inclui os quatro picos escolhidos é mostrada a seguir (os índices impares
referem-se aos picos K 1 e os índices pares aos picos K 2):
α α

I ( x) = I (111)γ ( x) + I (110)α ( x) + I ( 200)γ ( x) + I ( 200)α ( x) + (a + bx ) "*/)-W"


" "
"
onde:
−M1 −M 2
 K12 (x − x01 )2   K 2 2 (x − x02 )2 
I (111)γ ( x) = I1 1 +  + I 2 1 + 
 M1   M2 

−M 3 −M 4
 K 2 (x − x03 )2   K 2 (x − x04 )2 
I (110)α ( x) = I 3 1 + 3  + I 4 1 + 4 
 M3   M4 

−M 5 −M 6
 K 2 (x − x05 )2   K 2 (x − x06 )2 
I ( 200)γ ( x) = I 5 1 + 5  + I 6 1 + 6 
 M5   M6 

−M 7 −M 8
 K 7 2 (x − x07 )2   K8 2 (x − x08 )2 
I ( 200)α ( x) = I 7 1 +  + I 8 1 + 
 M7   M8 

O uso do método dos mínimos quadrados através da função Solver do Excel foi
utilizado para otimização dos parâmetros da equação 4.3. Foi também assumido que
para todos os picos, K 1 está conectado com K 2 conforme equação 3.26 e tem relação
α α

das intensidades (K 1/K 2) na faixa 0,52 ± 0,05 (72,73,80).


α α

4.4.5 Cálculo da intensidade dos picos de difração

A intensidade total de um pico de difração é dada pela sua área, a qual foi calculada pela
integração algébrica da função de Pearson VII, cujo resultado é apresentado na equação
4.3 de acordo com MICHETTE (89):

I 0 Mπ Γ(M − 1 / 2)
I TOTAL = (4.3)
K Γ( M )
74
"

Onde Γ(z) representa a função gama dada pela equação 4.4 e que pode ser facilmente
calculada na planilha Excel© 2010 (versão brasileira), mediante uso da função
EXP(GAMALN(z)).

Γ(z ) = ∫ t z −1e −t dt (4.4)
0

Assim, para o cálculo da intensidade dos picos K 1 e K 2, é necessário primeiro a


α α

obtenção dos parâmetros I0, M e K para o “doublet”. O cálculo dos parâmetros


otimizados foi realizado através do Método dos Mínimos Quadrados (90) entre a equação
4.2 e os espectros experimentais, com a restrição de que para cada pico a posição
relativa das componentes K 1 e K 2 respeita a equação de Bragg, com λK 1 = 1,78892 Å e
α α α

λK 2 =1,79278 Å.
α

4.4.6 Cálculo da fração volumétrica de austenita retida

Para aço contendo somente as fases ferrita/martensita e austenita, o cálculo da fração


volumétrica da austenita pode ser obtido conforme mostrado na equação 3.21:

(
Vγ = ∑ I γ(hkl ) Rγ(hkl ) / ∑ I α(hkl ) Rα(hkl ) + ∑ I γ(hkl ) Rγ(hkl ) )
Nesta equação:
Ι é a intensidade do pico para determinada fase (α/γ) e plano (hkl) correspondente;
R é a intensidade teórica para determinada fase (α/γ) e plano (hkl) correspondente.

A intensidade (Ι) de uma determinada fase é proporcional a sua fração volumétrica e


pode ser representada pela equação 3.17:


I (hkl) = K i R (hkl)
γ γ 2µ

Onde:
75
"

Iγ(hkl): intensidade do pico (hkl) referente a fase(γ);


Rγ(hkl): intensidade teórica do pico (hkl) referente à fase (γ);
Ki: constante relacionada à geometria do instrumento e tipo de radiação utilizada;
Vγ: fração volumétrica da fase(γ);
µ: coeficiente de absorção linear da amostra.

A intensidade relativa (R) depende do espaçamento interplanar (hkl), do ângulo (•) e do


tipo de radiação utilizada. A intensidade teórica de um pico da fase (α) para um
determinado plano (hkl) é dado pela equação 3.18:

1 2
Rα (hkl ) = 2
Fα (hkl ) p.LP.e −2 D
υ

O significado de todos os termos desta equação é explicado na revisão bibliográfica,


item 3.8.2.

A tabela IV.2 mostra o valor calculado de R para os planos de interesse neste trabalho.
Para a radiação de cobalto, a determinação dos parâmetros de rede da ferrita e austenita
refere-se à média de 112 medidas para os picos (200)α e (200)γ, respectivamente.

Tabela IV.2 - Intensidade relativa teórica (R) para a radiação de cobalto, para
comprimento de onda K 1 = 1,78892 Å e monocromador de grafita (2θm de 30,94°);
α

parâmetros de rede da ferrita e austenita de 2,8664 Å e 3,6440 Å, respectivamente.

hkl 2θ |F|2 LP p e-2D 1/υ R

(110)α 52,37 928,70 7,29 12 0,9577 0,00180 140,3

(200)α 77,23 588,81 3,40 6 0,9172 0,00180 19,9

(111)γ 50,82 3.826,20 7,78 8 0,9600 0,00045 103,2

(200)γ 59,40 3.254,57 5,58 6 0,9470 0,00045 46,6


76
"

4.4.7 Avaliação do teor de carbono presente na austenita retida

Para a medida do parâmetro de rede da austenita foi inicialmente calculado o parâmetro


de rede da ferrita para o pico (200)α, cujo resultado de 112 medições do ângulo 2θ para
o pico (200)α, referente à radiação λk 1, apresentou valor médio 2•k 1 de 77,2047&. A
α α

utilização da ferrita como referencia foi devido ao fato do carbono não variar nesta fase.
Desta forma, para cada medida realizada, foi introduzido um fator de correção (f2•) que
é a diferença entre o valor médio e o valor individual de 2•k 1 referente ao pico (200)α:
α

f 2θ = 77,2047 − 2θ( 200 )


kα1 (4.5)

Este fator de correção (f2•) foi então utilizado para ajustar o valor 2• do pico
austenítico (200)γ. Entre as equações mostradas na tabela III.3, a apresentada por Van
Dijk foi escolhida pelo fato de apresentar a menor soma dos desvios quadráticos entre o
previsto por cada equação e o valor médio calculado pela contribuição das sete
equações. Este resultado pode ser visualizado na figura 4.10.

A avaliação do teor de carbono da austenita (Cγ) foi então feita de acordo com a
equação dada por VAN DIJK (33) que combinada com a equação de Bragg para o pico
(200)γ fornece a seguinte equação:

 
 λ K α1 
C γ = 22,0751  − 78,4989
 sen (2θKα1 + f 2θ )  
(4.6)
  2 

4.5 Ensaio de tração no fio máquina

Ensaios de tração foram realizados em uma máquina Shimadzu, na temperatura


ambiente a uma velocidade de deformação (•!) de 5,0 x 10-3 s-1, compatível com a
77
"

prática de ensaio de tração para liberação do fio máquina na ArcelorMittal Monlevade.


As dimensões do corpo de prova cilíndrico estão representadas na figura 4.11. Antes do
ensaio foi registrada a área inicial da seção útil de cada corpo de prova. Após o ensaio
foram registradas a área final e a carga máxima. A partir destes dados foram calculadas
a resistência mecânica (Rm) e a estricção (Z) de cada corpo de prova (91).

Figura 4.10 – Variação do carbono da austenita em função do parâmetro de rede


segundo diversos autores. A linha pontilhada refere-se ao valor médio entre as sete
medidas apresentadas.

Figura 4.11 – Dimensões do corpo de prova para ensaio de tração, sendo A = 10 mm,
B = 4,5 mm, D = 60 mm e R = 15 mm.
4.6 Ensaio de microdureza Vickers
78
"

Foi realizado ensaio de microdureza no aparelho Struers Duramin, versão 2.02, com pré
carga de 2,942N e tempo de penetração de 10s. Foram realizadas pelo menos 6 medidas
aleatórias na seção transversal do corpo de prova lixado e polido, sem ataque químico.

4.7 Caracterização metalográfica

Inicialmente as amostras foram preparadas seguindo procedimento convencional: corte,


embutimento em baquelite, lixamento com lixas de carboneto de silício (sequência #60,
120, 320, 400, 600) e acabamento especular com pasta de diamante de grãos 3-6µm e
finalmente de 2µm. Foram utilizados ataques químicos na superfície polida (transversal
e longitudinal) com reativo Nital 2 % (98 % álcool etílico e 2 % ácido nítrico). Para
caracterização da austenita retida foi utilizada técnica de colorização que consiste em
atacar a amostra com Nital 2 %, seguido de recozimento em forno à temperatura de
250 &C por 2,5 h.

4.8 Microscopia óptica (MO)

Para observação das fases reveladas pelo método de colorização, as análises qualitativas
foram realizadas através do software Leica Application Suite V3, acoplado a um
microscópio óptico metalográfico marca Leitz, modelo DM2500 M. Já para as
observações de amostras atacadas com Nital, foi utilizado microscópio óptico
metalográfico marca Leitz Aristomet.

4.9 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)

Foi realizada microscopia eletrônica usando microscópio eletrônico de varredura


(MEV) marca Oxford, modelo Quanta 400, cujo objetivo foi a identificação com maior
precisão das fases presentes na estrutura multiconstituída das amostras. Foi utilizado o
mesmo procedimento de preparação e ataque das amostras analisadas na MO.
79
"

4.10 Espectometria de dispersão de energia (EDS)

O mapeamento individual dos elementos substitucionais, Mn e Si, para as condições de


amostras “bandeadas” e homogeneizadas em relação à direção de laminação foi
realizado com um Espectrômetro de Dispersão de Energia (EDS) acoplado ao
microscópio eletrônico de varredura. Eventualmente, também poderão ser realizadas
medidas através do Espectrômetro de Dispersão de Comprimento de Onda (WDS).
80
"

5 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo é apresentado e discutido a caracterização da microestrutura de amostras


do aço utilizado para produção de arame MIG classe ER70S-6, assim como os
resultados de quantificação da austenita retida por difração de raios X em função da
presença do bandeamento e da taxa de resfriamento. Ao final é apresentada uma nova
liga com composição química modificada, visando a redução e/ou eliminação de
austenita retida no fio máquina.

5.1 Caracterização microestrutural do material

A figura 5.1 (a e b) mostra microestruturas típicas da liga, nas quais pode ser visto
presença de forte bandeamento na amostra do perfil intermediário (ϕ=70 mm), coletada
na tesoura após primeiro desbaste de laminação e resfriada naturalmente, com taxa de
resfriamento de 1,6 ºC/s, calculada com uso de termopar acoplado no interior da
amostra. Fica evidente na microestrutura a presença de uma matriz ferrítica com
alinhamento de perlita na direção de laminação. Na micrografia com aumento maior,
figura 5.1(b) observa-se presença de ilhas maciças localizadas entre a perlita e a ferrita,
comum em aços TRIP, e que correspondem ao constituinte martensita - austenita (MA).

5.2 Medidas do teor de carbono, manganês e silício para amostra bandeada e


homogeneizada.

A figura 5.2 mostra as microestruturas da liga ER70S-6 para as condições bandeada e


homogeneizada, onde pode ser vista a presença do constituinte maciço MA alinhado na
direção de laminação para a amostra bandeada. Nesta figura, é mostrada também as
linhas de varredura (LHV), referente ao percurso feito para levantamento dos perfis do
manganês e carbono, cujos resultados são mostrados nas figuras 5.3 e 5.4 para as
amostras bandeada e homogeneizada, respectivamente. Para regiões perlíticas, foram
evidenciados teores mais elevados do manganês e ocorrências de constituintes MA com
81
"

teores de carbono também mais elevados do que da matriz. Já na região ferrítica, os


teores do manganês e do carbono são mais baixos comparados com a região perlítica.
(3,5,7)
Conforme relatado na revisão bibliográfica , dentre os elementos substitucionais, o
manganês apresenta forte tendência a segregar durante a solidificação dendrítica do aço,
agravado ainda mais pelo seu teor elevado na liga.

<W"
,++"µT"
"#! $#! 1+"µT"
" "

Figura 5.1 – Imagem da microestrutura através do MEV da liga ER70S-6 referente à


amostra do perfil intermediário de laminação para dois aumentos. As setas indicam o
sentido da laminação. Seção longitudinal, ataque Nital 2 %.

Foi avaliado também o bandeamento de estrutura e químico na seção longitudinal de


amostras submetidas a tratamento térmico de homogeneização em temperatura elevada
e tempos longos, conforme descrito no item 4.3.2. Para a homogeneização da estrutura,
utilizou-se um ciclo de tratamento em que a amostra foi submetida à temperatura de
1200 ºC por aproximadamente 168h. Após este tratamento térmico de homogeneização,
análises por EDS nas amostras não evidenciaram segregações significativas dos
elementos substitucionais (Mn e Si), mostrando assim que o tratamento foi efetivo na
redistribuição destes elementos. O resultado do perfil do manganês pode ser visto na
figura 5.4. A figura 5.5 mostra o resultado para a estrutura após o tratamento térmico de
homogeneização, onde pode ser visto pelo aspecto da microestrutura que ocorreu a
82
"

completa eliminação do bandeamento estrutural, quando comparado com a


microestrutura mostrada na figura 5.1.

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Figura 5.2 – Microestrutura da amostra do perfil da tesoura 12 (liga ER70S-6) para


duas condições: (a) bandeada e (b) homogeneizada. O traçado em amarelo (LHV) é a
linha horizontal de varredura. Medidas pontuais realizadas por EDS. As setas indicam o
sentido da laminação. Seção longitudinal, ataque Nital 2 %.
83
"

Figura 5.3 – Perfis de manganês e carbono, medidos ao longo da linha horizontal de


varredura (LHV) mostrada na figura 5.2(a). Amostra bandeada do perfil da tesoura 12
(liga ER70S-6).
84
"

Figura 5.4 – Perfis de concentração de carbono e manganês ao longo da linha LHV


mostrada na figura 5.2 (b) na seção longitudinal da amostra homogeneizada. Amostra
homogeneizada do perfil da tesoura 12 ( liga ER70S-6).
85
"

A tabela V.1 mostra valores individuais encontrados para o manganês e silício nas
amostras com e sem tratamento de homogeneização, através de análise realizada por
EDS. Cálculos estatísticos entre amostras bandeada e homogeneizada foram realizados
para confirmação dos resultados. Como pode ser visto na tabela V.2, pode-se afirmar
com 95 % de confiança, que o teor de manganês na perlita é maior do que na ferrita
(|Stat-t| > tcrítico), presumindo variâncias equivalentes. Já para a amostra homogeneizada,
as médias do teor de manganês são iguais na ferrita e perlita (|Stat-t| < tcrítico). Não foi
evidenciada diferença significativa em relação ao silício na ferrita nem na perlita, para
condições homogeneizadas e não homogeneizadas.

Tabela V.1 – Medições via EDS para o manganês e silício nas amostras da liga ER70S-
6 com e sem tratamento de homogeneização, em cinco pontos distintos.

Amostra bandeada Amostra homogeneizada


figura 5.2 (a) figura 5.2 (b)
Exp.
Na ferrita Na perlita Na ferrita Na perlita
Si Mn Si Mn Si Mn Si Mn
1 0,95 1,35 0,87 1,85 0,97 1,67 0,87 1,77
2 0,91 1,75 0,97 1,89 0,86 1,83 0,81 1,66
3 1,03 1,75 1,00 1,96 0,86 1,90 0,91 1,81
4 0,93 1,49 0,99 1,92 0,91 1,66 0,82 1,91
5 0,92 1,64 1,00 2,18 0,99 1,65 0,78 1,84
Média 0,95 1,60 0,97 1,96 0,92 1,74 0,84 1,80
Desvio 0,05 0,17 0,05 0,13 0.06 0,12 0,05 0,09
86
"

"#! $#!
=&!µ'! =&!µ'!
" "

Figura 5.5 – Microestrutura da liga ER70S-6 antes (a) e após (b) o tratamento de
homogeneização a 1200 ºC por 170 h. A seta indica a direção de laminação. Seção
longitudinal, ataque Nital 4 %.

Tabela V.2 – Comparação de média entre o teor de manganês na ferrita e perlita, antes
e após a homogeneização da liga ER70S-6.
87
"

5.3 Validação do método de difração utilizado

A validação do método foi realizada por saturação magnética. Adicionalmente, foi


realizado em um laboratório externo, ensaios com uso de outra técnica de difração de
raios X, para efeito de comparação.

5.3.1 Saturação magnética

Foram selecionadas amostras com teores de austenita previamente calculados pela


difração de raios X, conforme proposto neste trabalho. Nestas amostras, foram então
realizadas as medidas e os resultados registrados referem-se à média de dez medidas de
saturação. A fração de austenita retida foi calculada pela equação 5.1 (64):

 M 
fγ = 1 − S  x100 (5.1)
 Mo 
 S

Onde, M S representa a saturação de magnetização da medida e M oS é o valor teórico da

saturação de referência, utilizado aqui como a medida da saturação para uma amostra
ferrítica isenta de austenita. O resultado das medidas comparativas por difração de raios
X e por saturação magnética é mostrado na figura 5.6.

Como pode ser observado na figura 5.6, foi evidenciada boa correlação entre os
resultados, confirmado pelo trabalho de JACQUES et al. (64). Uma limitação deste tipo
de ensaio é para o estudo da austenita retida em função da taxa de resfriamento, pois
não é possível obter medidas superficiais de austenita retida em amostras em que a taxa
de resfriamento varia com a profundidade.
88
"

Figura 5.6 – Correlação das medidas de fração volumétrica de austenita retida por
difração de raios X (eixo da abcissa) e por saturação magnética (eixo da ordenada).

5.3.2 Difração de raios X para espectro com 2θ na faixa 48 - 128º

Foram selecionadas três amostras para comparação das medições da fração volumétrica
de austenita retida com as medidas realizadas pelo método deste trabalho. Para o
método com refinamento por Rietveld, foi utilizado detector com elevada resolução do
Centro de Pesquisa da ArcelorMittal de Maizières/Metz- França, conforme
procedimento e condições descritas abaixo:

• Radiação de cobalto com potencia de 1400 W (35 kV, 40 mA);


• Rotação da amostra no eixo ψ a 1080 º/min (3 voltas/minuto);
• Inclinação até 60º na velocidade de 9 º/min;
• 2θ na faixa 48 - 128º para medida dos picos ferríticos: (110), (200), (211) e
(200); e austeníticos: (111), (200), (220), (311) e (222);
89
"

• Tamanho do passo entre leituras de 0,0017º;


• Tempo de radiação em cada passo de 1,77 s.

Os resultados comparativos entre as medidas apresentadas neste trabalho e os realizados


no Centro de Pesquisa da ArcelorMittal de Maizières/Metz são mostrados na figura 5.7.
As medidas no eixo da ordenada são referentes à média de seis medidas com uso da
metodologia desenvolvida neste trabalho. Já as medidas do eixo da abcissa representam
a média de três medidas realizadas no Centro de Pesquisa.

Neste ensaio, foram utilizadas técnicas mais sofisticadas, como o uso de rotação e
inclinação de amostras. Além disso, também foi utilizada uma faixa mais ampla de 2θ e
menor tamanho entre leituras, o que aumenta a precisão dos cálculos, a custo de
significativo aumento de 1h no tempo de execução do ensaio em relação ao proposto
neste trabalho. Os resultados comparativos entre os dois métodos também apresentaram
boa aderência.

5.4 Quantificação da austenita retida em amostra bandeada - longitudinal e transversal

Inicialmente, foi coletada uma amostra de seção 17,5 mm. Esta amostra foi
austenitizada em forno mufla à temperatura de 910 ºC por 30 min e em seguida
resfriada naturalmente ao ar até a temperatura ambiente. As dimensões da amostra
foram escolhidas, por tentativas, de tal forma a garantir uma taxa de resfriamento entre
1 – 3 ºC/s, compatível com o processo industrial. Para cálculo da taxa, um termopar de
chromel-alumel foi inserido em um orifício previamente feito no centro da amostra.
90
"

Figura 5.7 – Correlação entre as medidas de austenita retida pelo método proposto na
tese (eixo da ordenada) e o utilizado pelo R&D ArcelorMittal de Maizières/Metz (eixo
da abcissa).

Desta forma, foi obtido taxa de resfriamento de 1,6 ºC/s na temperatura de 700 ºC. A
amostra foi então seccionada em duas partes para obtenção das seções transversal e
longitudinal. Em seguida, estas foram preparadas seguindo procedimento convencional
de embutimento, lixamento, polimento e ataque químico em Nital 2 %.
O cálculo da austenita retida nas seções transversal e longitudinal foi realizado através
da difração de raios X com uso de radiação de cobalto. Este procedimento é descrito no
item 4.4.5 e a fração de austenita retida é dada pela equação 3.21:

Vγ = ∑ I γ(hkl ) Rγ(hkl ) / (∑ I (
α
hkl )
Rα(hkl ) + ∑ I γ( hkl ) Rγ(hkl ) )
O significado dos termos desta equação é mostrado no item 3.8.2. Para cada seção
(transversal e longitudinal) foram realizadas seis medidas por difração, simetricamente
distribuídas no porta-amostra, vide figura 4.7. Como exemplo, a figura 5.8 mostra o
91
"

espectro correspondente a um das doze medidas de difrações realizadas. Os pontos nesta


figura representam as intensidades reais medidas e a linha continua a equação de
Pearson VII com os parâmetros otimizados para cada pico dado pela equação 4.2. A
tabela V.3 mostra o resultado da otimização para seis medidas referentes a cada seção
de observação.

Tabela V.3 – Parâmetros otimizados da equação de Pearson VII (seis medidas por
seção). Radiação K 1 para os quatro picos compreendidos na faixa 2θ de 48 a80º.
α

Amostra bandeada e resfriada na taxa de 1,6 ºC/s. O parâmetro M é adimensional e os


demais têm unidades relacionadas à medição do espectro de difração.

Longitudinal Transversal
Parâmetro
(111) γ (110)α (200) γ (200)α (111) γ (110)α (200) γ (200)α

K (graus-1) 5,61 13,43 3,81 6,69 5,02 14,62 4,35 7,35

xo (graus) 50,82 52,34 59,39 77,18 50,85 52,38 59,42 77,21

M 1,98 1,38 1,97 1,52 2,00 1,35 1,60 1,48

Io (cps) 78 31887 33,72 2192 92 36551 36 2403

I (cps.graus) 35 6060 20 796 41 6424 23 808

O cálculo da fração volumétrica da austenita retida obtido utilizando todos os doze


resultados foi de 0,98 ± 0,14 % (intervalo de confiança de 95 %). A figura 5.9 mostra
um diagrama de radar referente aos valores encontrados para austenita retida nas seções
transversal e longitudinal desta amostra bandeada. Pela análise estatística “t-de-student”
mostrada na tabela V.4 referente aos doze resultados, foi evidenciado que não existe
diferença estatística entre os valores de austenita retida para as seções transversal e
longitudinal, indicando que o método utilizado não é afetado pela direção de laminação.
92
"

Figura 5.8 – Espectro da difração para uma das medidas realizadas na amostra
bandeada de seção transversal resfriada na taxa de 1,6 ºC/s. A linha pontilhada grossa
corresponde ao comprimento de onda λK 1 e a linha pontilhada fina a λK 2.
α α
93
"

Figura 5.9 – Diagrama de radar dos valores individuais de γR (fração vol.%) para
seções longitudinal e transversal de amostras bandeadas resfriadas na taxa de 1,6 ºC/s.
Não foi evidenciada diferença estatística entre os cortes longitudinal e transversal
conforme pode ser visto na tabela V.4 ( |Stat-t| < t crítico).

5.5 Quantificação da austenita retida em amostra homogeneizada - longitudinal e


transversal

Realizado procedimento similar de coleta da amostra conforme realizada no item


anterior. A diferença foi que para esta análise a amostra foi homogeneizada, conforme
descrito no item 4.3.2. A taxa de resfriamento, após tratamento em forno mufla (910 ºC
por 30 min), foi de 1,93 ºC/s na temperatura de 700 ºC. Para cada seção (transversal e
longitudinal) foram realizadas seis medidas por difração, simetricamente distribuídas no
porta-amostra. Como exemplo, a figura 5.10 mostra o espectro correspondente a um das
doze medidas realizadas. A tabela V.5 mostra os valores médios dos parâmetros
otimizados para as seis medidas referentes a cada seção de observação da amostra
homogeneizada.
94
"

Tabela V.4 – Valores individuais da austenita retida (%) para amostra bandeada, com
taxa de resfriamento de 1,6 ºC/s. Abaixo análise estatística referente às seis medidas.

Estrutura Seção P1 P2 P3 P4 P5 P6 x σ

Longitudinal 0,96 0,66 0,88 1,36 0,68 1,03 0,93 0,23


Bandeada
Transversal 0,93 0,87 1,38 1,03 1,11 0,88 1,03 0,18

LONG TRAN

Média 0,93 1,03


Variância 0,07 0,04
Observações 6 6
Variância agrupada 0,05
Hipótese da diferença de média 0
Grau de liberdade 10
Stat-t -0,80
P(T<=t) uni-caudal 0,22
t crítico uni-caudal 1,81
P(T<=t) bi-caudal 0,44
t crítico bi-caudal 2,23

Tabela V.5 – Parâmetros otimizados da equação de Pearson VII (seis medidas por
seção). Radiação K 1 para os quatro picos 2θ na faixa 48 - 80º. Amostra homogeneizada
α

e resfriada na taxa de 1,93 ºC/s. O parâmetro M é adimensional e os demais têm


unidades relacionadas à medição do espectro de difração.

Longitudinal Transversal
Parâmetro
(111) γ (110)α (200) γ (200)α (111) γ (110)α (200) γ (200)α

K (graus-1) 4,98 13,50 5,11 6,18 5,85 14,00 5,09 7,44


xo (graus) 51,04 52,42 59,58 77,25 51,03 52,44 59,59 77,27
M 1,00 1,30 1,40 1,74 1,00 1,34 1,48 1,46
Io (cps) 182 28653 67 1901 240 29202 59 2243
I (cps.graus) 115 5574 35 715 129 5380 30 745
95
"

O cálculo da fração volumétrica da austenita retida obtido utilizando todos os doze


resultados foi de 2,41 ± 0,11 % (intervalo de confiança de 95 %). A figura 5.10 mostra
um diagrama de radar referente aos valores encontrados para austenita retida nas seções
transversal e longitudinal. Pela análise estatística “t-de-student” foi também evidenciado
que não existe diferença estatística nas medidas de austenita retida nas duas amostras,
conforme confirmado na análise estatística mostrada na tabela V.7.

Figura 5.10 – Espectro da difração para uma das medidas realizadas na amostra
homogeneizada de seção transversal resfriada na taxa de 1,93 ºC/s. A linha pontilhada
grossa corresponde ao comprimento de onda K 1 e a linha pontilhada fina a K 2.
α α
96
"

Figura 5.11 – Diagrama de radar dos valores individuais de γR (fração vol.%) para
seções longitudinal e transversal de amostras homogeneizadas e resfriadas na taxa de
1,93 ºC/s. Não foi evidenciada diferença estatística entre longitudinal e transversal,
conforme pode ser visto na análise estatística mostrada na tabela V.6 ( |Stat-t| < tcrítico).

"
5.6 Efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em amostra
bandeada

O efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida foi avaliado mediante


seccionamento ao longo do corpo de prova Jominy após realização do ensaio. A Taxa
de resfriamento para as amostras a serem analisadas foi calculada em função da
distancia do plano da amostra ao jato d’agua, conforme descrito no item 4.3.3. No total
foram analisados 18 planos retirados ao longo do corpo de prova Jominy. Para cada
plano (correspondente a uma taxa de resfriamento específica) foram realizados seis
análises por difração, conforme procedimento já descrito.
97
"

Tabela V.6 – Valores individuais da austenita retida (%) para amostra homogeneizada,
com taxa de resfriamento de 1,93 ºC/s. Abaixo análise estatística referente às seis
medidas.
Estrutura Seção P1 P2 P3 P4 P5 P6 x σ

Longitudinal 2,16 2,36 2,17 2,60 2,67 2,46 2,40 0,19


Homogeneizada
Transversal 2,45 2,16 2,63 2,51 2,29 2,44 2,41 0,15

LONG TRAN
Média 2,40 2,41
Variância 0,05 0,03
Observações 6 6
Variância agrupada 0,04
Hipótese da diferença de média 0
Grau de liberdade 10
Stat t -0,09
P(T<=t) uni-caudal 0,46
t crítico uni-caudal 1,81
P(T<=t) bi-caudal 0,93
t crítico bi-caudal 2,23
"

Como exemplo, a figura 5.12 mostra o resultado da difração de raios X, para um plano
distante de 8,77 mm da extremidade resfriada com água, correspondente a uma taxa de
resfriamento de 30,3 ºC/s. Os parâmetros da função de Pearson VII, optimizados pelo
método dos mínimos quadrados para o difratograma da figura 5.12 são mostrados na
tabela V.7, referente aos comprimentos de onda λK 1 e λK 2. O parâmetro M é
α α

adimensional, os outros parâmetros Io, xo, K e I têm unidades relacionadas à medição do


espectro de difração. O cálculo da fração volumétrica da austenita foi calculado pela
equação 3.21, onde foram utilizados os valores das intensidades teóricas (R) da tabela
IV.2 e os parâmetros otimizados da equação de Pearson VII, referente exclusivamente
ao comprimento de onda λK 1, mostrado na tabela V.7. O resultado para os 18 planos
α

de corte analisados é mostrado na figura 5.12. Cada ponto deste gráfico corresponde à
98
"

média de seis medidas de difração. É observado que a fração volumétrica de austenita


cresce a partir de taxas de resfriamento baixas até aproximadamente 16,6 ºC/s, quando
atinge um nível de aproximadamente de 6 %. A partir deste ponto, a fração de austenita
decresce ligeiramente com o aumento da taxa de resfriamento. Este crescimento na
fração da austenita retida está relacionado ao aumento na fração volumétrica de bainita
com aumento da taxa de resfriamento. A austenita ao decompor em bainita, rejeita
carbono que passa a enriquecer a austenita não transformada, aumentando assim sua
estabilidade. Quando a taxa de resfriamento atinge 16,6 ºC/s inicia-se o surgimento da
martensita, diminuindo assim o carbono dissolvido disponível para enriquecimento da
austenita. Desta forma, a partir desta taxa a austenita tem seu teor de carbono diminuído
e consequentemente, sua estabilidade reduzida. Para taxas de resfriamento mais
elevadas, a fração volumétrica de martensita é muito superior a da bainita, o que
justifica a saturação e estabilização da austenita em um nível praticamente constante,
em torno de 4,5 %, conforme pode ser visto na figura 5.13.

Tabela V.7 - Parâmetros optimizados da função de Pearson VII para uma amostra
transversal bandeada resfriada na taxa de 30,3 ºC/s (figura 5.12). Comprimento de onda
do cobalto λK 1 e λK 2 de 1,78892 e 1,79278 Å, respectivamente. O parâmetro M é
α α

adimensional e os demais têm unidades relacionadas à medição do espectro de difração)"

λ C %!
α "" λ C D!
α

>"?@'*A?B!
(%%%#γ! (%%&#α! (D&&#γ! (D&&#α! (%%%#γ! (%%&#α! (D&&#γ! (D&&#α!
!
K!*QS<86X,W! /'/2" ,,'40" .'-+" 0',/" /'/2" ,-'12" .'-+" 0'/."
x&!*QS<86W! 0+'3+" 0-'.4" 04'.," 22'-+" " 0+'4-" 0-'0," 04'/0" 22'/+"
,'2+" ,'/-" ,'4+" ,'1-" " ,'2+" ,',2" ,'4+" ,'/1"
M
I&!*;E6W! /,3" -/1.-" ,,2" ,,-+" " --1" ,-2,/" 1." 0/2"
"
I!*QS<86);E6W! D%E! =%77! ED! =%7! !! %%E! D75=! FF! DF5!
99
"

Figura 5.12 – Difratograma da amostra transversal bandeada resfriada na taxa de


30,3 °C/s. As linhas tracejadas correspondem ao comprimento de onda λK 1 e as
α

pontilhadas ao comprimento de onda λK 2. Os pontos são as medidas experimentais e a


α

linha contínua o resultado do modelamento matemático completo.


100
"

"

Figura 5.13 – Fração volumétrica da austenita retida em função da taxa de resfriamento


para amostra bandeada. Cada ponto é a média de seis medidas realizadas por difração de
raios X, com uso da radiação monocromática Co-K 1.α

5.7 Efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em amostra


homogeneizada

Após homogeneização a 1200 ºC por 168 h, a amostra foi usinada para obtenção do
corpo de prova nas dimensões do ensaio Jominy. Esta amostra foi então austenitizada a
910 ºC por 1 hora e resfriada, conforme procedimento descrito para amostra bandeada.

Como exemplo, a figura 5.14 mostra os difratogramas para os quatro picos presentes na
faixa 2θ de 48 a 80º, para uma amostra transversal homogeneizada e resfriada na taxa de
10 ºC/s. Os pontos do gráfico representam as medidas reais de intensidade e a linha
continua a equação 4.2 com os parâmetros de Pearson VII otimizados. Os parâmetros
otimizados para esta condição são mostrados na tabela V.8. O parâmetro M é
adimensional, os outros parâmetros Io, xo, K e I têm unidades relacionadas à medição do
101
"

espectro de difração. O cálculo da austenita retida foi realizado com uso dos parâmetros
e da intensidade teórica dos planos cristalográficos mostrados na tabela IV.2. O
resultado das seis medidas realizadas para esta taxa de resfriamento indica uma fração
volumétrica de 5,8 ± 0,6 % (intervalo de confiança de 95 %).

Figura 5.14 – Diagrama da amostra transversal e homogeneizada, resfriada na taxa de


10 °C/s. As linhas tracejadas correspondem ao comprimento de onda λK 1 e as α

pontilhadas ao comprimento de onda λK 2. Os pontos são as medidas experimentais e a


α

linha contínua o resultado do modelamento matemático completo.


102
"

Tabela V.8 - Parâmetros optimizados da função de Pearson VII, correspondente a uma


amostra transversal e homogeneizada, resfriada na taxa de 10 ºC/s (figura 5.14).
Comprimento de onda do cobalto λK 1 e λK 2 de 1,78892 e 1,79278 Å, respectivamente.
α α

O parâmetro M é adimensional e os demais têm unidades relacionadas à medição do


espectro de difração.

λ C %!
α "" λ C D!
α

>"?@'*A?B!
(%%%#γ! (%%&#α! (D&&#γ! (D&&#α! (%%%#γ! (%%&#α! (D&&#γ! (D&&#α!
!
K!*QS<86X,W! /'/2" ,,'40" .'-+" 0',/" /'/2" ,-'12" .'-+" 0'/."
x&!*QS<86W! 0+'3+" 0-'.4" 04'.," 22'-+" " 0+'4-" 0-'0," 04'/0" 22'/+"
M ,'2+" ,'/-" ,'4+" ,'1-" " ,'2+" ,',2" ,'4+" ,'/1"
I&!*;E6W! /,3" -/1.-" ,,2" ,,-+" " --1" ,-2,/" 1." 0/2"
"
I!*QS<86);E6W! D%E! =%77! ED! =%7! !! %%E! D75=! FF! DF5!

A figura 5.15 mostra a microestrutura na seção transversal para esta amostra resfriada
na taxa de 10 ºC/s, onde foram utilizadas diferentes técnicas para caracterização da
microestrutura, referente ao mesmo campo de observação. Não foi possível identificar a
austenita retida com uso de Nital. Porém, com o uso da técnica de colorização, foi
possível identificar a presença desta fase. Neste ataque, a martensita e bainita têm uma
coloração azul, a ferrita amarela ou marrom claro e a austenita uma tonalidade roxa.
Para esta taxa de resfriamento, foi evidenciado que a austenita está associada às regiões
com martensita/bainita. O resultado completo da fração volumétrica de austenita retida
para as 18 taxas de resfriamento utilizado na amostra homogeneizada é mostrado na
figura 5.16.

Ao se comparar a variação da austenita retida com taxa de resfriamento para amostras


bandeada e homogeneizada, figuras 5.13 e 5.16, nota-se que para a primeira condição o
máximo de austenita retida ocorre a uma taxa mais elevada. Para a amostra bandeada, o
máximo de austenita retida ocorre para taxa de 16,7 %C/s, enquanto que para amostra
homogeneizada o máximo ocorre para taxa de 10 %C/s. Como na amostra bandeada o
manganês se encontra em maior concentração nas regiões perlíticas, comparado com as
103
"

regiões ferríticas, a formação do constituinte MA é mais favorecida nas regiões de


maior concentração deste elemento, quando esta é austenitizada e resfriada. Já para
material homogeneizado, a distribuição deste elemento é uniforme, tanto nas regiões
perlíticas quanto nas ferríticas. Desta forma, quando a amostra homogeneizada é
reaquecida até o campo austenítico e em seguida resfriada, a austenita apresenta-se mais
rica em manganês e, portanto, mais estável devido ao abaixamento da temperatura MS.
É importante salientar que para o material bandeado, as regiões “ricas” em manganês
tiveram sua concentração reduzida, enquanto para as regiões de menor concentração,
que representam a maior fração volumétrica, houve enriquecimento deste elemento.

Figura 5.15 – Micrografia da seção transversal de uma amostra homogeneizada e


resfriada na taxa de 10 ºC/s: (a) Microscopia óptica com ataque de Nital 2 %; (b)
(41)
Imagem de elétrons secundários (MEV); (c) Ataque de colorização : martensita e
bainita (azul), ferrita (amarelo ou marrom claro) e austenita retida (roxo), indicadas por
setas.
104
"

Figura 5.16 – Fração volumétrica da austenita retida em função da taxa de resfriamento


para amostra homogeneizada. Cada ponto é a média de seis medidas realizadas por
difração de raios X, com uso da radiação monocromática Co-K 1.
α

Como as regiões que aumentaram a concentração de manganês são muito maiores do


que as regiões que diminuíram, houve um favorecimento generalizado para
transformação martensítica para o material homogeneizado. Com isso, a austenita retida
teve seu enriquecimento de carbono reduzido em relação ao material bandeado, onde
houve maior formação de bainita. Desta forma, a austenita retida no material
homogeneizado apresenta-se menos estável, o que explica sua ocorrência máxima para
uma taxa de resfriamento menor.

O efeito da estrutura (bandeado x homogeneizado) na ocorrência de austenita retida


pode ser melhor visualizado quando a taxa de resfriamento é disposta em escala
logarítmica. Na figura 5.17 é mostrado este gráfico para a estrutura bandeada e
homogeneizada. Conforme já havia sido relatado, os resultados mostram que a presença
de austenita retida em amostra bandeada se inicia na taxa de 0,83 ºC/s e passa por um
máximo na taxa de 16,7 ºC/s. Já para amostra homogeneizada, a austenita retida se
inicia em uma taxa menor, 0,17 ºC/s e passa por um máximo na taxa de 10 ºC/s. O
105
"

ponto máximo de austenita, em ambas as amostras, coincide com o inicio de formação


da martensita, 16,7 e 10 ºC/s para amostra bandeada e homogeneizada, respectivamente.

A figura 5.18 mostra quatro micrografias de amostra bandeada, sendo uma de baixa taxa
de resfriamento (1,0 ºC/s) duas taxas intermediárias (17,7 e 56 ºC/s) e uma elevada
(114 ºC/s). Para taxa de 1,0 ºC/s a microestrutura apresenta perlita e constituinte MA na
matriz ferrítica. Conforme discutido anteriormente, a fração volumétrica de austenita
retida é máxima para taxa de 16,6 %C/s, portanto próxima da taxa de 17,7 ºC/s. Para
taxas superiores a 16,6 %C/s foi evidenciado crescimento na fração de martensita e
saturação no teor de austenita.

A figura 5.19 mostra também quatro micrografias de amostra homogeneizada, com


quatro níveis de taxas de resfriamento: baixa (0,95 ºC/s), intermediárias (10 e 57,8 ºC/s)
e elevada (120 ºC/s). Mesmo para taxa de 0,95 ºC/s não é possível identificar a presença
de perlita. Nesta taxa já é possível observar a presença de estrutura maciça,
correspondendo ao constituinte MA e ferrita acicular. Já para a taxa de 10 ºC/s a
presença da austenita retida é máxima e para taxas maiores, existe aumento na
ocorrência de martensita, com decréscimo da austenita presente no constituinte MA. A
microestrutura da amostra homogeneizada apresenta um aspecto mais acicular quando
comparado com amostra bandeada, conforme pode ser comprovado pelas
microestruturas apresentadas nas figuras 5.18 e 5.19 para amostra bandeada e
homogeneizada, respectivamente.
106
"

Figura 5.17 – Fração volumétrica de austenita retida (% no eixo da ordenada) em


função da taxa de resfriamento (escala logarítmica no eixo da abcissa) no ensaio
Jominy. (a) amostra bandeada e (b) amostra homogeneizada.
107
"

H*?I,A"!

)J!

)J! )J!

D&G'!
"!

)J!

)J!

D&G'!
$!

Figura 5.18 – Micrografia da liga ER70S-6 de amostra bandeada resfriada nas taxas:
(a) 1,0 ºC/s; (b) 17,7 ºC/s. Ataque Nital 2 %.
108
"

"! D&G'!

D&G'!
$!

Figura 5.18 (cont) – Micrografia da liga ER70S-6 de amostra bandeada resfriada nas
taxas: (c) 56,75 ºC/s; (d) 114 ºC/s. Ataque Nital 2 %.
109
"

"! D&G'!

$! D&G'!

Figura 5.19 – Micrografia da liga ER70S-6 de amostra homogeneizada resfriada nas


taxas: (a) 0,95 ºC/s; (b) 10 ºC/s. Ataque Nital 2 %.
110
"

D&G'!
"!

$! D&G'!

Figura 5.19 (cont.) – Micrografia da liga ER70S-6 de amostra homogeneizada e


resfriada nas taxas: (c) 57,8 ºC/s; (d) 120 ºC/s. Ataque Nital 2 %.
111
"

Para taxa de resfriamento baixa, próximo de 1,0 ºC/s, é possível identificar no material
bandeado, uma matriz predominantemente formada por ferrita equiaxial com presença
de pequenas regiões perlíticas e algumas ilhas de constituinte MA formadas nos
contornos de grãos. É interessante notar que para a liga homogeneizada, analisada em
taxas de resfriamento próximas de 1,0 ºC/s, é evidenciada a matriz ferrítica com
aparecimento de uma maior concentração de bainita de aspecto acicular e orientada a
partir dos contornos de grãos.

Com o aumento da taxa de resfriamento, é visível a presença de perlita é praticamente


eliminada com o aumento da concentração de bainita cada vez mais com aspecto
agulhado e orientado a partir dos contornos de grãos. A partir de uma determinada taxa
de resfriamento, é evidenciado o surgimento cada vez mais intenso de martensita, sendo
que para material homogeneizado, a fração volumétrica de martensita é majoritária em
relação às outras fases já para taxas menores.

5.8 Efeito da taxa de resfriamento no teor de carbono da austenita retida

A avaliação do teor de carbono (C ) foi obtida em função da medida do parâmetro de


γ

rede da austenita (a ), conforme descrito no item 4.6. A figura 5.20 mostra o


γ

comportamento do carbono na austenita em função da taxa de resfriamento para


amostra bandeada e homogeneizada. No cálculo do carbono da austenita foi utilizado a
equação 4.6 de VAN DIJK et al. (33) combinada com a equação de Bragg, que apresenta
a menor variação em relação aos outros pesquisadores.

É evidenciado pelos gráficos da figura 5.20 que o carbono tem comportamento similar
para ambas as estruturas. No entanto, o carbono passa por um máximo, a uma taxa
menor, para amostra homogeneizada. Este comportamento do carbono com a taxa de
resfriamento está em acordo com o comportamento da austenita. O aumento do carbono
na faixa de taxas menores está associado à ocorrência da transformação bainitica, a qual
enriquece a austenita não transformada. Como o inicio da ocorrência de
112
"

Figura 5.20 – Teor de carbono da austenita retida em função da taxa de resfriamento


para amostra: (a) bandeada e (b) homogeneizada.

martensita acontece para taxas menores na estrutura homogeneizada, o carbono é


máximo também para taxas menores para estrutura homogeneizada em relação à
bandeada.
113
"

5.9 Correlação do parâmetro K da raia (200)α com a microestrutura majoritária

Foi observado que o parâmetro K da equação de Pearson VII, referente à radiação de


comprimento de onda λK 1, apresenta um comportamento característico em função da
α

presença da fase majoritária. Sendo assim, para uma taxa de resfriamento baixa, onde a
ferrita é a fase em maior fração volumétrica, o valor deste parâmetro K apresenta um
valor elevado. Este parâmetro tem seu valor diminuído com o aumento na presença de
bainita e apresenta os menores valores para taxas de resfriamento elevadas, onde a fase
majoritária é a martensita. O comportamento deste parâmetro para material bandeado,
em função da taxa de resfriamento, é ilustrado na figura 5.21, onde são mostradas,
também, as microestruturas características para cada região e o aspecto do pico (200)α
para dois valores extremos de K. Como pode ser visto no gráfico, os valores de K tem
inclinação constante para três campos distintos. No primeiro campo, onde a taxa de
resfriamento é baixa este parâmetro apresenta os maiores valores e a ferrita é a fase
majoritária, onde os picos K 1 e K 2 da raia (200) são resolvidos. Para a faixa
α α α

intermediária da taxa de resfriamento, entre 17 e 80 ºC/s, a fase majoritária é a bainita,


com valor de K decrescente com aumento da taxa. Já para as taxas superiores a 80 ºC/s,
o valor de K é menor e permanece praticamente constante, sendo que os picos K 1 e K 2
α α

da raia (200) se apresentam de forma confundida.


α

Resultados similares são apresentados para o material homogeneizado, porém com


deslocamento do inicio da martensita para menores taxas, conforme discutido
anteriormente. A figura 5.22 ilustra o comportamento do parâmetro K para a estrutura
homogeneizada. Em ambas as figuras, 5.21 e 5.22, também são mostradas a evolução
do carbono e microestrutura correspondente para as três regiões de interesse. Como
pode ser visto na figura 5.22, o campo para a ferrita majoritária é reduzido o que
dificulta a obtenção dos dados em função da limitação na obtenção de amostras para
taxas menores.
114
"

Figura 5.21 – Variação do parâmetro K da equação de Pearson VII do pico (200)α com
a taxa de resfriamento e comparação com o teor de austenita retida para material
bandeado. As micrografias de MEV (ataque com Nital 2 %, aumento de 3000X no
original), mostram as fases majoritárias em cada uma das três regiões principais. Os
dois gráficos menores mostram como a forma do pico (200)α é afetada pela taxa de
resfriamento.

A presença das fases majoritárias em cada uma das três regiões pode também ser
evidenciada através da correlação entre o parâmetro K e a medida da microdureza (HV)
para amostra homogeneizada. Como pode ser visto na figura 5.23 a microdureza
aumenta com a diminuição do parâmetro K, para comportamentos distintos e associados
à fase majoritária presente. Nota-se que quando a fase majoritária é ferrita, a dureza
permanece praticamente constante em torno de 188 HV. Com o aumento da taxa de
resfriamento e o consequentemente aparecimento de bainita, o comportamento do
parâmetro K tem uma inclinação negativa, isto é, a dureza aumenta com a diminuição
deste parâmetro, com dureza variando na faixa de 200 – 280 HV. Já para taxas maiores,
115
"

quando surge a martensita, a inclinação é alterada e correspondendo a dureza na faixa


de 290 - 313 HV.

Figura 5.22 – Variação do parâmetro K da equação de Pearson VII do pico (200)α com
a taxa de resfriamento e comparação com o teor de austenita retida para material
homogeneizado. As micrografias de MEV (ataque com Nital 2 %, aumento de 3000X
no original), mostram as fases majoritárias em cada uma das três regiões principais. Os
dois gráficos menores mostram como a forma do pico (200)α é afetada pela taxa de
resfriamento.
116
"

Figura 5.23 – Variação do parâmetro K da equação de Pearson VII do pico (200)α com
a dureza (HV) do material homogeneizado. As setas indicam o sentido de aumento da
fase indicada. Legenda: α – ferrita; αʹ – martensita; αb – bainita.

5.10 Distribuição da austenita retida ao longo da espira do fio máquina

Inicialmente foi coletada uma amostra de fio máquina do aço utilizado para fabricação
de eletrodo MIG. A figura 5.24, mostra a microestrutura da seção transversal do fio
(41)
máquina, mediante uso de uma técnica especifica, ataque de colorização , uma vez
que não é possível identificar a presença de austenita retida com uso de Nital. Mediante
uso desta técnica, para algumas amostras de fio máquina foi possível identificar a
presença da austenita retida, normalmente associada à martensita em uma matriz
ferrítica.
117
"

Figura 5.24 – Micrografia óptica do fio máquina bitola 5,5 mm. Ataque de Nital 2 %,
seguido de revenimento a 250 ºC por 2,5 h, conforme procedimento da técnica de
(41)
colorização . Nota-se a presença de ferrita (regiões brancas e bege clara), martensita
(azul) e austenita retida (roxo), indicado por setas.

5.10.1 Análise da estrutura presente no fio máquina

Como mostrado no item 4.3.4, o resfriamento do fio máquina acontece de forma não
homogênea ao longo da espira no processo Stelmor®. A figura 5.25 mostra as
micrografias típicas para quatro pontos diametralmente opostos da espira, conforme
posicionada na esteira durante o processo de resfriamento no Stelmor®. Pela análise das
micrografias, percebe-se maior incidência de regiões maciças, provavelmente
correspondendo ao constituinte MA, nas amostras correspondentes às posições leste e
oeste em comparação às amostras norte e sul. Para a posição 9, que juntamente com a
posição 3 apresenta as maiores concentrações de austenita retida, são mostrados na
figura 5.26 micrografias com aumentos maiores no MEV.
118
"

D&G'! D&G'!
" "

Posição Oeste Posição Norte

"

"

D&G'! D&G'!
" "

Posição Sul Posição Leste

Figura 5.25 – Micrografia no MEV para quatro posições do fio máquina


diametralmente opostos na esteira do Stelmor®. Ataque Nital 2 %, original com
aumento de 3000X.

"
119
"

%&G'! =G'!
" "
Figura 5.26 – Micrografia ao MEV do fio máquina referente à posição 9 – oeste (vide
desenho acima) no Stelmor®, ataque Nital 2 %. A figura da direita é reprodução com
maior aumento, onde pode ser visto presença de estrutura martensítica.

5.10.2 Quantificação da austenita retida no fio máquina

Foram realizadas difrações de raios X para as 12 posições coletadas na espira, conforme


desenho mostrado na figura 4.2. Para cada medida, foram realizadas 6 medidas na seção
transversal. Os resultados da ocorrência de austenita retida ao longo da espira do fio
máquina, para a liga convencional ER70S-6 na condição bandeada, são mostrados na
figura 5.27. Nota-se que a fração deste constituinte é maior para as posições leste e
oeste, posições estas em que a taxa de resfriamento é menor em relação às posições
norte e sul. A ocorrência de maior fração volumétrica nas regiões de menor taxa no
Stelmor® pode ser explicada pela limitação no comprimento da esteira. Estas espiras,
correspondentes às posições leste/oeste, ainda não transformada, são submetidas,
repentinamente, a uma taxa de resfriamento maior devido ao contato com outras espiras
frias no Formador de Bobina. Desta forma, as posições leste/oeste, apesar de
120
"

apresentarem menores taxas de resfriamento ao longo do comprimento da esteira,


retardando assim a transformação perlítica, contribuem para aumento da fração
volumétrica de austenita retida nestas posições.

"

Figura 5.27 – Variação da fração volumétrica de austenita retida (%) ao longo da espira
do fio máquina no Stelmor®, fabricado com a liga convencional ER70S-6. Os
resultados são médias de seis medidas realizadas por difração na seção transversal do
fio máquina. As posições 6 e 12 refere-se ao sul e norte, respectivamente.

5.11 Correlação da austenita retida com resistência mecânica e ductilidade ao longo da


espira

A figura 5.28 (a e b) mostra a variação de características obtidas no ensaio de tração


(resistência mecânica e estricção) ao longo da espira do fio máquina fabricado com a
liga convencional ER70S-6, mantido a sua posição na esteira do Stelmor®. Foi incluído
também neste gráfico, figura 5.28 (c), a fração volumétrica de austenita para facilitar a
visualização. A maior concentração de austenita retida nas posições leste/oeste está em
121
"

Figura 5.28 – (a) Variação da estricção (%), (b) resistência mecânica (MPa) e (c)
austenita retida (%) ao longo da espira do fio máquina no Stelmor®, fabricado com a
liga . Os resultados são médias de seis medidas para cada um dos itens analisados.
122
"

concordância com os resultados de resistência e estricção. A presença da austenita retida


normalmente está associada à martensita, formando o constituinte MA, que é mais duro
do que a matriz. Esta maior ocorrência de austenita, e consequentemente MA, justifica o
aumento de resistência e diminuição da estricção para estas regiões da espira do fio
máquina.

5.12 Redução da austenita retida ao longo da espira do fio máquina para uma liga com
composição química modificada

A ocorrência de níveis elevados de austenita retida no fio máquina na condição


bandeada pode apresentar um obstáculo para trefilação direta do fio máquina. A
trefilação do fio máquina, mesmo com fração volumétrica em níveis baixos (1-5 %),
gera ocorrência de fratura devido à transformação da austenita para martensita,
formando o constituinte duro MA. A presença desse constituinte no fio máquina e no
arame é responsável pela perda de ductilidade e consequente fratura durante a trefilação.

Para o fio máquina ser submetido à trefilação direta, é desejável a resistência mecânica
abaixo de 575 MPa e estricção acima de 75 %. Com o objetivo de reduzir a ocorrência
do constituinte MA no fio máquina, foi elaborado uma nova liga, ER70S-6M, com
composição química próxima da liga convencional mostrada na tabela IV.1, porém com
adição de titânio. A adição de titânio retira o nitrogênio de solução sólida. O nitrogênio
atua como elemento estabilizador da austenita retida, e, consequentemente, aumenta a
estabilidade do constituinte MA, conforme descrito no item 3.6.3. A nova liga testada,
ER70S-6M, tem composição química mostrada na tabela V.9, a qual difere basicamente
da liga convencional pela adição de titânio.

Tabela V.9 – Composição química (% em peso) da liga modificada, ER70S-6M.

Liga %C % Mn % Si % Ti N (ppm)

ER70S-6M 0,076 1,640 0,957 0,027 32


123
"

Outra característica importante da liga com adição de titânio é o refino do tamanho de


grão do fio máquina, o que favorece a transformação perlítica, mesmo para maiores
taxas de resfriamento no processo Stelmor® conforme mostrado por STAIGER et al. (1).

A figura 5.29 (a, b e c) mostra os resultados para limite de resistência, estricção e fração
volumétrica de austenita retida para o fio máquina fabricado com a liga modificada,
pontos vermelhos.
Como pode ser visto, houve aumento na estricção e diminuição na resistência mecânica
para os níveis recomendados devido à redução na fração volumétrica de austenita retida.
Os valores médios da austenita retida, estricção e resistência do fio máquina da liga
modificada são mostrados na tabela V.10.

Tabela V.10 – Valores médios de AR (%), estricção(%) e resistência (MPa) entre as


ligas ER70S-6 e ER70S-6M, sem e com adição de titânio, respectivamente.

γR Estricção Resistência mecânica


Liga
(%) Z (%) Rm (MPa)
ER70S-6 4,0 54 621
ER70S-6M < 0,80 76 560

5.13 Comparação dos resultados de trefilação para liga convencional e modificada

A primeira parte dos resultados da trefilação foi realizada no laboratório da


BelgoBekaert Arames em uma amostra de fio máquina de comprimento 500 mm,
homogeneizada e com nível de austenita retida medida por XRD de 5,29 %. Neste
experimento foi utilizado fio máquina referente à liga com composição química
convencional. A sequência de passes na trefilação foi projetada para redução do fio
máquina bitola 5,5 mm para arame bitola 2,42 mm em sete passes com deformação
média por passes de 0,27. No primeiro passe de deformação, o fio máquina foi reduzido
da bitola 5,5 para 4,80 mm (RA=23,8 % e ε = 0,27). Já neste primeiro passe houve uma
queda acentuada da austenita retida, de 5,29 para 1,72 %. A partir do segundo passe,
124
"

não foi mais possível a quantificação de austenita retida por difração de raios X. Com as
três amostras trefiladas em laboratório, não foi possível obter o arame final de 2,42 mm
devido ocorrência de quebras no terceiro e quarto passe de redução. Devido à
transformação da austenita para martensita induzida pela deformação já no primeiro
passe de trefilação, houve um alargamento considerável do pico ferrítico (110)α o que
impossibilitou o aparecimento do pico austenítico (111)γ.

Para quantificação da austenita retida no arame 4,80 mm, foi necessário minimizar a
interferência entre estes picos de difração. Com esse objetivo, foi realizado tratamento
de recristalização no arame 4,80 mm antes da avaliação da fração de austenita retida. A
figura 5.30 mostra o difratograma do fio máquina e do arame 4,80 mm, fabricados com
a liga convencional ER70S-6. Como pode ser comprovado, não é possível a
visualização do pico austenítico (111)γ devido ao alargamento do pico ferritico (110)α.

Com o tratamento de recristalização realizado na temperatura de 540 ºC por 1000 min


foi possível promover o alívio da deformação e o revenimento da martensita, sem,
contudo alterar a fração volumétrica da austenita presente, pois o tempo foi
suficientemente curto para promover a ocorrência de bainita. A figura 5.31 mostra a
presença dos picos austeníticos (111)γ e (200)γ após o tratamento de recristalização
realizado no arame 4,80 mm.

Uma maneira de avaliar a influência da deformação pode ser realizada pela análise do
pico (200)α. Este pico, por não ter interferência de outros picos de difração, apresenta
vantagem neste tipo de análise. Removido a deformação com a recristalização, o
formato do pico (200)α apresenta um valor do parâmetro K (equação de Pearson VII)
inferior ao valor para condição do fio máquina laminado. Para o arame recristalizado,
este parâmetro não retornou ao valor original do fio máquina devido à transformação da
austenita em martensita durante a deformação. A tabela V.11 mostra os valores dos
parâmetros M e K do pico (200)α para três condições: laminado, trefilado e recozido. A
influência destes parâmetros na curva de modelo pode ser visualizada na figura 3.26.
125
"

Figura 5.29 – (a) Variação da estricção (%), resistência mecânica (MPa) e austenita
retida (%) ao longo da espira no Stelmor® para liga modificada ER70S-6M, pontos
vermelhos, comparados com os valores da liga convencional ER70S-6, pontos azuis. Os
resultados são médias de seis medidas para cada um dos itens analisados.
126
"

"

"

Figura 5.30 – Difratograma de raios X para duas condições para a liga convencional
ER70S-6: (a) Fio máquina antes da trefilação com 5,29 % de AR; (b) Arame bitola
4,80 mm.

Tabela V.11 – Parâmetros K e M da equação de Pearson VII para o pico (200)α para
três condições de estrutura do material. Radiação de cobalto comprimento de onda λK 1.
α

Condição de processamento K(graus-1) M


Fio máquina 7,1 1,71
Arame trefilado 3,39 1,21
Arame trefilado e recristalizado 4,78 2,01
127
"

"

" "

Figura 5.31 – Difratograma de raios X para o arame 4,80 mm após tratamento de


recristalização (540 ºC, 1000 min) fabricado com a liga convencional ER70S-6 com a
presença dos picos austeníticos (111)γ e (200)γ.

A figura 5.32 mostra a micrografia de um dos arames trefilados para a liga


convencional, onde é possível identificar a presença do constituinte MA, cuja dureza é
superior a da matriz. Este fato fez com que fossem gerados vazios (“voids”) no material
levando a ocorrência da fratura do arame no terceiro e quarto passe de trefilação.

A segunda parte da experiência foi trefilar nas condições do processo industrial o fio
máquina fabricado com a liga modificada, após resultados satisfatórios de resistência e
estricção encontrados nos ensaios do fio máquina para condição laminada. Foram
trefilados na BelgoBekaert Arames 2,2t de fio máquina proveniente de corrida com
adição de titânio. A trefilação consistiu em reduzir o fio máquina da bitola 5,5 mm para
a bitola 1,87 mm em oito passes, com deformação verdadeira média por passe de 0,27.
Durante a realização da experiência, foi utilizada velocidade de trefilação compatível
com o processo convencional de fio máquina previamente tratado termicamente. Não
houve ocorrência de ruptura durante a trefilação. Para caracterização da microestrutura,
foram coletadas amostras de fio máquina após o primeiro e último passe de trefilação. A
128
"

figura 5.33 mostra as microestruturas do fio máquina e dos arames nas bitolas 4,69 e
1,87 mm para a liga modificada (tabela V.9). Para o fio máquina foram coletadas quatro
amostras referentes às posições criticas no Stelmor®. Pode-se perceber pela
microestrutura a existência de uma pequena fração volumétrica de constituinte MA.
Para o arame trefilado, não foi evidenciado a ocorrência de vazios (“voids”), mesmo
para bitola fina. A microestrutura desta liga com composição química modificada deve
ser comparada com a do material trefilado com ruptura, conforme mostrado na figura
1.1 e com o material trefilado no laboratório, figura 5.32.
129
"

=&G'!

)J!

%&G'!

Figura 5.32 – Liga convencional (tabela IV.1). Microestrutura do arame trefilado bitola
2,97 mm com presença de vazios (“voids”). Aumentos originais de 3000X e 10000X
para as figuras superior e inferior, respectivamente.
130
"

"! D&G'!

$! D&G'!

K! D&G'!

Figura 5.33 – Liga modificada (tabela V.9). Micrografia da liga com composição
química modificada: (a) fio máquina 5,5 mm; (b) arame 4,69 mm; (c) arame 1,87 mm.
Ataque Nital 2 %, aumento original de 3000X.
131
"

6 – CONCLUSÕES

Neste trabalho foi realizado estudo da influência da estrutura, bandeada e


homogeneizada, e da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida, e
consequentemente do constituinte MA, em uma liga baixo carbono com adição de
manganês e silício, utilizada na fabricação de eletrodo MIG. Como o teor de austenita
retida presente na liga estuda se encontra em níveis baixos, foi desenvolvido e proposto
um método alternativo para quantificação desta fase. As seguintes conclusões foram
consideradas:

• O método desenvolvido para quantificação de austenita retida (< 6 %) em aço


eletrodo MIG mostrou ser efetivo. Através do modelamento pela função de
Pearson VII foi possível a decomposição individual dos picos para os
comprimentos de onda λK 1 e λK 2;
α α

• A intensidade real dos picos para os comprimentos de onda λK 1 e λK 2 foi obtida


α α

pela integração algébrica da função de Pearson VII, com os seus parâmetros


otimizados pelo método dos mínimos quadrados;
• Foi possível utilizar o pico de maior intensidade (111)γ, apesar de sua
sobreposição parcial com o pico (110)α, o que também contribuiu para melhorar
a precisão dos resultados de quantificação da austenita retida;
• O cálculo do parâmetro de rede da austenita, e consequentemente o seu teor de
carbono, foi otimizado através do resultado de 112 medições de difração
referentes ao pico austenítico (200)γ;
• O tratamento de homogeneização foi efetivo na eliminação do bandeamento
estrutural e químico. No entanto, não foi evidenciado redução na ocorrência de
austenita retida, quando comparado com estrutura bandeada;
• Medidas de austenita retida nas seções transversal e longitudinal de amostras
bandeadas ou homogeneizadas, para mesma taxa de resfriamento, não
evidenciaram diferença estatística entre as medidas;
• A austenita retida aumenta com a taxa de resfriamento, passando por um
máximo e estabilizando para taxas mais elevadas independente da presença ou
132
"

não do bandeamento. Para cada estrutura os máximos da fração de austenita e de


carbono ocorrem para taxas de resfriamento distintas. Para amostra bandeada, o
teor máximo de austenita retida ocorre para taxa de 16,7 %C/s. Já para amostra
homogeneizada, o teor máximo desta fase ocorreu para taxa de 10"%C/s.
• A taxa de resfriamento mínima para eliminação da austenita retida ocorre de
forma diferenciada em função da estrutura presente. Para amostra bandeada, a
eliminação da austenita ocorre para taxas de resfriamento menores do que
0,83 %C/s. Já para amostra homogeneizada, a eliminação ocorre para taxas
menores de 0,17 %C/s.
• É possível avaliar a presença majoritária de uma determinada fase em função do
comportamento do parâmetro K da equação de Pearson VII;
• Ficou evidenciado que as posições de maior concentração de austenita retida
encontram-se nas regiões de maior acúmulo de espiras no Stelmor®, e portanto,
de menor taxa de resfriamento (posições leste/oeste);
• A nova liga, com adição de titânio, apresentou fração volumétrica de austenita
retida em nível compatível com a trefilação direta;
• Com a nova liga, foi possível obter características do fio máquina adequadas
para trefilação direta, ou seja, limite de resistência abaixo de 580 MPa e
estricção acima de 74,5 %;
• Foi possível realizar a trefilação direta, isto é, sem tratamento térmico prévio, do
fio máquina com a nova liga. Não foi evidenciado ocorrência de fratura na
trefilação desta nova liga da bitola do fio máquina de 5,5 mm para 1,88 mm.
Posteriormente, foi realizado a retrefilação para o diâmetro final de 0,90 mm,
quando também não houve ocorrência de fratura.
133
"

7 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Estudo da análise de bandeamento por difração de raios X através da relação de


intensidade teórica R(110)α/R(200)α em aço de matriz ferrítica com isenção de
austenita retida. Para este estudo deverá ser avaliado a relação nas seguintes condições:

• Seção transversal de material bandeado;

• Seção transversal de material homogeneizado;

• Seção longitudinal de material bandeado;

• Seção longitudinal de material homogeneizado.

Estudo do efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em aço baixo


teor de carbono, alto manganês com adição de titânio. A proposta de adição de titânio é
para eliminar o efeito nitrogênio como estabilizador da austenita.

Aplicação da técnica desenvolvida neste trabalho para quantificação de austenita retida,


em aços com maior temperabilidade como aço da série 41XX, 51XX e aço médio teor
de carbono para uso em amortecedor, devido a elevada incidência de empeno após a
têmpera realizada pelo cliente.
134
"

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142
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Publicações do autor relacionadas à tese

O texto completo dos dois últimos artigos listados abaixo é apresentado em anexo.

Ferreira, H. C.: Silva, R. L.; Duarte, L. W.; Otimização do ciclo de tratamento térmico
do aço para solda ER70S-6 antes da trefilação. In: XI Seminário Interno da
ArcelorMittal Monlevade, 2009.

Ferreira, H.C.; Henriques, A.B; Boratto, F.M.; Analysis of the level of preferred
crystallographic orientation in steel by the ratio of peaks (200)alfha /(110)alpha
modeled by Pearson VII function. In: XII Encontro da SBPMat, Campos de Jordão,
2013.

Ferreira, H.C.; Boratto, F.M.; Buono, V.T.; Determination of low levels of retained
austenite in low-carbon high-manganese steel using X-ray diffraction. Trabalho aceito
para publicação na revista Material Science & Engineering A em 2015.

Ferreira, H.C.; Boratto, F.M.; Buono, V.T.; Efeito da Taxa de Resfriamento na


Ocorrência de Austenita Retida em um Aço para Eletrodo de Solda. Trabalho aceito
para publicação na revista TMM em 2015.
143
"

Apêndice

Karl Pearson nasceu na cidade de Islington,


Inglaterra em 1857. Atuou em diversas áreas como
eugenesia, matemática e com relevantes
contribuições no campo da estatística. Foi educado
inicialmente na University College School e mais
tarde em Cambridge para continuação dos estudos
em matemática, influenciando diretamente os
trabalhos a relatividade de Einstein. Foi estudar
física na Alemanha em 1879, na Universidade de
Heidelberg. Mais tarde atuou com professor de

" matemática em diversas universidades da


Inglaterra. Em 1898 ganhou a renomada medalha
de Darwin pelos trabalhos prestados a comunidade científica.
Karl Pearson contribuiu significativamente também em outros campos como biologia,
medicina, psicologia e foi um assíduo defensor do socialismo. Entre as contribuições na
estatística, pode ser destacada a família de distribuições de probabilidade contínua,
inicialmente escrita em 1895. Em 1901 identificou outros quatro tipos de distribuições,
numeradas de I a IV, além da distribuição normal, nomeada como tipo V. Em um
segundo trabalho, redefiniu a distribuição tipo V e introduziu uma nova classificada
como tipo VI. Em 1916 foi elaborada uma sequência especial de distribuições, tipo VII
a XII, de grande utilidade no campo da bioestatística.
Casou-se com Maria Sharpe em 1890 e teve duas filhas e um filho. Karl Pearson morreu
em 27 de Abril de 1936, aos 79 anos, na cidade de Coldharbour, Surrey, Inglaterra.
Materials Science & Engineering A 628 (2015) 110–115

Contents lists available at ScienceDirect

Materials Science & Engineering A


journal homepage: www.elsevier.com/locate/msea

Determination of low levels of retained austenite in low-carbon


high-manganese steel using X-ray diffraction
Helder Carvalho Ferreira a, Francisco Jose Martins Boratto b, Vicente Tadeu Lopes Buono c,n
a
ArcelorMittal Monlevade, Av. Getúlio Vargas, 100, 35930-000 João Monlevade, MG, Brazil
b
Independent Consultant, Av. Aeroporto, 9, 35930-438 João Monlevade, MG, Brazil
c
Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antonio Carlos, 6627, 31270-901 Belo Horizonte, MG, Brazil

art ic l e i nf o a b s t r a c t

Article history: A method involving the decomposition of the X-ray diffraction (XRD) peaks for the single wavelengths
Received 19 October 2014 Kα1 and Kα2 was used to quantify the amount of retained austenite at levels lower than 5% in low-
Received in revised form carbon high-manganese steels. By applying this method, it was possible to use the two main peaks of
8 January 2015
austenite (γ) and the two main peaks of ferrite (α) in the calculations, despite the partial overlapping of
Accepted 9 January 2015
the (111)γ and (110)α peaks. The diffraction peaks were modeled with the Pearson VII equation using a
Available online 23 January 2015
nonlinear least-squares optimization technique. This allowed the integrated intensities of the XRD peaks
Keywords: to be calculated using only the Kα1 side. The method was used to measure the levels of retained
X-ray diffraction austenite in samples of a metal-inert gas steel welding rod cooled at the rates of 10 1C/s and 1.6 1C/s. The
Retained austenite
accuracy of the method was determined by performing six measurements in different directions in both
Pearson VII function
the longitudinal and the transverse section of the 1.6 1C/s sample.
& 2015 Elsevier B.V. All rights reserved.

1. Introduction The conventional methods for quantifying the amount of


retained austenite in steels can present difficulties when it comes
Steels for metal-inert gas (MIG) welding electrodes are usually to detecting and quantifying low austenite levels, and a critical
produced by adding manganese and silicon to a low-carbon steel comparison of the commonly used techniques such as light
base and may contain retained austenite (γR), which is associated microscopy, X-ray diffraction (XRD) analysis, and magnetic satura-
with martensite, in their as-rolled microstructure. This martensite- tion measurement has not yet been performed for this type of
retained austenite phase mixture is called the MA constituent, and material [1].
its presence may increase the hardness of the steel rod, causing it In this study, the classical approach of decomposing XRD peaks
to fracture during wire drawing. This phase can also increase the modeled with the Pearson VII equation [2–4] while using non-
final strength of the wire to values greater than those desired. linear least-squares optimization routines was employed to eval-
Previous measurements in the plant indicate that the best results – uate the low levels of retained austenite in a MIG electrode steel.
direct drawing from 5.5 mm in diameter wire rod to 0.80 mm final Using this technique, experimental XRD peak intensity measure-
diameter – are obtained when the reduction of area in tensile tests ments were performed only on the Kα1 side of the peaks, and
of the wire rod is greater than 74.5% and the strength is lower than Pearson VII function algebraic integration was employed. This
573 MPa. For strengths higher than this value, the volume fraction made it possible to use the four high-intensity peaks, despite the
of the hard phase is such that the rod will not sustain deformation (111)γ and (110)α peaks exhibiting partial overlapping. Using a
until the final size is reached. single wavelength, Kα1, instead of the “weighted averages” of Kα1
and Kα2, as recommended in ASTM E975 [5], avoids interference
of Kα2 in the peak intensity. This interference must be avoided for
accurate measurements because it varies with the Bragg angle and
n
Correspondence to: Department of Metallurgical and Materials Engineering, is stronger for low index planes. The proposed method was then
Universidade Federal de Minas Gerais, Av. Antonio Carlos, 6627 – Campus used to measure the γR levels in rod samples of a MIG material
Pampulha, 31270-901 Belo Horizonte, MG, Brazil. Tel.: þ55 31 3409 1859; cooled at rates of 10 1C/s and 1.6 1C/s. The accuracy of the method
fax: þ55 31 3409 1815.
was confirmed by performing six measurements at different
E-mail addresses: [email protected] (H. Carvalho Ferreira),
[email protected] (F. Jose Martins Boratto), directions in both longitudinal and transverse sections of the
[email protected] (V. Tadeu Lopes Buono). 1.6 1C/s sample.

http://dx.doi.org/10.1016/j.msea.2015.01.019
0921-5093/& 2015 Elsevier B.V. All rights reserved.
H. Carvalho Ferreira et al. / Materials Science & Engineering A 628 (2015) 110–115 111

2. Materials and methods Table 1


Chemical composition (in wt%) of the welding electrode alloy investigated.
2.1. Sample collection and preparation
Classification %C %Mn %Si

Samples of the MIG material were collected at the intermediate Alloy 0.095 1.637 1.096
profile (30 mm and 17.5 mm) from a wire rod rolling mill. Table 1 ER70S-6a 0.06–0.15 1.40–1.85 0.80–1.15
shows the chemical composition of the alloy, which corresponds a
European Specification – EN440; American Specification – AWS A 5.18
to a ER70S-6 grade. Other elements are at residual levels.
Initially, the rod with a diameter of 30 mm was homogenized at
1200 1C for 7 days, in order to eliminate the banded structure. For steels containing only α (ferrite/martensite) and γ (auste-
After being cooled to room temperature, it was machined to the nite) phases, it is possible to calculate the volumetric fraction (Vγ)
standard dimensions used for Jominy tests [6]; this also removed of the γ-phase from the following equation:
the decarburization layer formed during the heat treatment. A first X ðhklÞ ðhklÞ "X ðhklÞ ðhklÞ X ðhklÞ ðhklÞ #
sample was obtained by austenitization in a laboratory electric Vγ ¼ I γ =Rγ = I α =Rα þ I γ =Rγ ð2Þ
furnace at a temperature of 910 1C for 30 min and subsequently
cooling in a Jominy test apparatus. A cross-sectional sample was
taken at a distance of 18 mm from the cooling end; according to 2.3. XRD peaks of interest
the equation developed by Brian [7], this position along the Jominy
bar corresponds to a cooling rate of approximately 10 1C/s at Owing to the low concentration of austenite in the studied
700 1C. The sample cooled under these conditions was used to alloy, only four peaks with high intensities were selected. These
develop the proposed XRD method. were two ferritic peaks, (110)α and (200)α, and two austenitic
Other samples were obtained using the 17.5 mm rod, which peaks, (111)γ and (200)γ. Each peak was decomposed for wave-
was not subjected to the homogenization treatment, but austeni- lengths of Co-Kα1 and Co-Kα2. Further, in order to increase the
tized at 910 1C for 30 min and subsequent cooled in air to room accuracy of the calculation of the volumetric fraction of austenite,
temperature. This simulated the low-end cooling rate of a wire- only the peaks related to the Co-Kα1 wavelength were used.
rod-cooling conveyor. A chromel–alumel thermocouple was
inserted in the sample to monitor the temperature. A cooling rate 2.4. Modeling a diffraction spectrum with austenite and ferrite peaks
of 1.6 1C/s at 700 1C could be achieved in this manner. This rod was
cut in longitudinal and transverse sections. To model the peak intensities obtained by the XRD measure-
All the samples were prepared using the conventional proce- ments, several equations have been proposed: Gauss, Lorentz,
dures, including cutting, grinding, and polishing, and care was Pearson VII, Voigt, and pseudo-Voigt [11]. Among these, the
taken to avoid heating their surfaces. The XRD analyses were Pearson VII and pseudo-Voigt equations yield the best results
performed on the sample cooled at 10 1C/s (i.e., the sample when used for modeling diffraction peaks. In this study, the
corresponding to the transverse section of the original rod), as Pearson VII function was used in the form of the following
well as on longitudinal and transverse sections of the 1.6 1C/s rod. equation:
The measurements were made at the center of the samples, #&M
K 2 ðx & x 0 Þ2
"
illuminating the same area of 10 mm " 10 mm. For each sample,
IðxÞ ¼ I 0 1 þ ð3Þ
the data were collected in six symmetrically spaced positions, M
which were set by rotating the sample around the normal to its
surface. This was done to avoid the possible influence of crystal- where x is the 2θ value and I0 is the maximum intensity of the
lographic texture. peak at x0. The parameter K controls the width of the curve, and M
For the measurements, a Shimadzu XRD6000 diffractometer is the decay ratio of the “tails”. For M values close to one, the curve
with a Co-Kα radiation source was used; diffraction by mono- is purely a Cauchy profile. For M values close to two, it is a
chromator and sample take place in the same plane. The scan rate Lorentzian, and for M values approaching infinity, the profile is a
was 0.0212θ/s, each step was 3 s, and scans were made for 2θ Gaussian one [12]. The peak position θK α2 may be obtained as a
values of 48–801. Color metallography was also performed, using a function of θK α1 by using the Bragg equation as follows:
previously described method [8]. &&
λK α2
' '
θK α2 ¼ sin & 1 sin θK α1
( )
ð4Þ
λK α1
2.2. Calculation of the austenite volume fraction
Therefore, the complete model for I(x) must include the Kα1 and
If a phase does not have a preferred crystallographic orienta- Kα2 doublets for both the ferrite and the austenite phases, plus a
tion, its XRD intensity is proportional to its volume fraction [9,10] linear background, (aþ bx). The final shape for this model, which
and is given by the following equation: includes four peaks, is as follows (the odd index refers to the Kα1
peak and the even index to the Kα2 peak):

I γðhklÞ ¼ K i RγðhklÞ ð1Þ IðxÞ ¼ I ð111Þγ ðxÞ þ I ð110Þα ðxÞ þ I ð200Þγ ðxÞ þ I ð200Þα ðxÞ þða þbxÞ ð5Þ

where: where:
I(hkl)
γ : the measured integrated intensity per angular diffraction # & M1 # & M2
K 2 ðx & x01 Þ2 K 2 ðx & x02 Þ2
" "
(hkl) peak in the γ-phase; I ð111Þγ ðxÞ ¼ I 1 1þ 1 þI 2 1þ 2
R(hkl) M1 M2
γ : the theoretical intensity of the γ-phase relative to that
(hkl) peak; # & M3 # & M4
K 23 ðx & x03 Þ2 K 2 ðx & x04 Þ2
" "
Ki: a constant and related to the group geometric factors of the I ð110Þα ðxÞ ¼ I 3 1 þ þ I4 1 þ 4
instrument and the type of radiation used, but independent of the M3 M4
type of the sample; # & M5 # & M6
K 25 ðx & x05 Þ2 K 26 ðx &x06 Þ2
" "
Vγ: the volumetric fraction of the γ-phase; I ð200Þγ ðxÞ ¼ I 5 1 þ þ I6 1 þ
M5 M6
m: the linear absorption coefficient of the sample
112 H. Carvalho Ferreira et al. / Materials Science & Engineering A 628 (2015) 110–115

# & M7 # & M8
K 27 ðx & x07 Þ2 K 28 ðx &x08 Þ2 2.5. Pearson VII-based calculation of the function peak intensity
" "
I ð200Þα ðxÞ ¼ I 7 1 þ þ I8 1 þ
M7 M8
The total integrated intensity of an XRD peak can be calculated
by integrating the Pearson VII function in the measured range [12],
In order to calculate the parameters in Eq. (5), for a given as shown in Eqs. (6) and (7):
diffraction diagram showing the austenite and ferrite peaks, the
“least-squares method with Solver” technique [13] was used. It #&M
K 2 ðx &x0 Þ2
Z "
was also assumed that, for all the peaks, Kα2 is connected to Kα1 I¼ I0 1 þ dx ð6Þ
M
through Eq. (4), and that the integrated intensity ratio Kα2/Kα1 is
0.51 70.03 [14,15]. pffiffiffiffiffiffiffiffi
I 0 M π Γ ðM & 1=2Þ
I¼ ð7Þ
K Γ ðMÞ
Table 2
Theoretical calculated relative intensity (R) values for cobalt radiation with a
where Γ(z) represents the gamma function given by Eq. (8), and
wavelength of 1.78892 Å obtained using a graphite monochromator (2θm of
30.941); the lattice parameters for ferrite and austenite were assumed to be can be easily calculated using the function EXP(GAMMALN(Z)) in
2.8664 Å and 3.6440 Å, respectively. the Microsoft Excel© 2010 software program.
1
|F|2 e & 2D
Z
hkl 2θ LP p 1/υ R
Γ ðz Þ ¼ t z & 1 e & t dt ð8Þ
0
(110)α 52.37 928.70 7.29 12 0.9577 0.00180 140.3
(200)α 77.23 588.81 3.40 6 0.9172 0.00180 19.9
Thus, in order to calculate the integrated intensity of a particular
(111)γ 50.82 3,826.20 7.78 8 0.9600 0.00045 103.2
(200)γ 59.40 3,254.57 5.58 6 0.9470 0.00045 46.6 Kα1 peak, it is necessary to first measure the parameters I0, M,
and K, for both the Kα1 and the Kα2 doublets by applying the

Fig. 1. XRD spectrum of the sample cooled at 10 1C/s, showing the (110)α, (200)α, (111)γ, and (200)γ peaks. The red dotted lines correspond to Kα1 and the blue lines to Kα2.
The linear background is not shown in the images. Note the difference in the vertical scales. (For interpretation of the references to color in this figure legend, the reader is
referred to the web version of this article.)
H. Carvalho Ferreira et al. / Materials Science & Engineering A 628 (2015) 110–115 113

least-squares method using Eq. (5) and to then substitute these (θm is the diffraction angle of the monochromator for Co-Kα
values in Eq. (7). radiation)
The R-values calculated for the crystallographic planes of
interest are shown in Table 2. To determine the lattice parameters
2.6. Theoretical relative intensities of the austenite and ferrite peaks of the ferrite and austenite structures, the average of previous
diffraction measurements was considered, using positions (200)α
The theoretical relative intensity (R) of a phase peak depends and (200)γ, respectively, for a Co-Kα1 wavelength of 1.78892 Å.
on the interplanar spacing (hkl) of the Bragg angle (θ) of the The observed value for austenite indicated that this phase was
crystal structure of the phase composition under investigation and carbon rich [17].
on the type of radiation used [15,16]. The theoretical relative
intensity of the γ-phase peak is given by the following expression:

1 3. Results and discussion


Rα ðhklÞ ¼ j F α ðhklÞj 2 p:LP:e & 2D ð9Þ
υ2
3.1. Sample cooled at 10 1C/s
where:
υ: the volume of a unit cell; Fig. 1 shows the results for the sample cooled at 10 1C/s as well
Fα(hkl): the α-phase structure factor for the (hkl) reflection; as the four diffraction peaks that show up in the range 48–801. The
p: the multiplicity factor of the (hkl) reflection; dots in the diagrams represent the measured intensity values,
e & 2D: the Debye–Waller or temperature factor (D ¼B sin2 θ/λ2; while the continuous black line represents the values found
2B ¼0.71); using Eq. (5) after optimizing the parameters of the Pearson VII
LP: the Lorentz-polarization factor, which is equal to function. These optimized parameters are listed in Table 3, as is the
ð1 þ cos 2 2θ cos 2 2θm Þ
intensity of each peak obtained by integration of the Pearson VII
sin 2 θ cos θ

Table 3
Least-squares optimization parameters for the Pearson VII function for each peak in Fig. 1. The M parameter is dimensionless. The wavelengths Kα1 and Kα2 were 1.78892 Å
and 1.79278 Å, respectively.

Parameter Kα1 Kα2

(111)γ (110)α (200)γ (200)α (111)γ (110)α (200)γ (200)α

K (degree & 1) 5.43 12.48 3.79 5.57 5.43 14.18 3.79 5.76
x0 (degree) 50.88 52.45 59.40 77.25 51.00 52.57 59.54 77.45
M 1.64 1.46 1.66 1.66 1.64 1.09 1.90 1.36
I0 (cps) 639 29,016 159 1,475 320 14,065 80 756
I (cps.degree) 278 5,755 95 623 139 2,898 47 336

Fig. 2. Microstructure on the transverse section of the sample cooled at a rate of 10 1C/s for the same field, observed using different techniques: (a) 2% Nital, optical
micrograph; (b) 2% Nital, secondary electron image; (c) color tint etching [8], optical micrograph. Martensite/bainite (blue), ferrite (yellow or light brown) and retained
austenite (purple).
114 H. Carvalho Ferreira et al. / Materials Science & Engineering A 628 (2015) 110–115

function. Using these optimized parameters, as well as the theore- Nital etching; however, it was possible to do so by using color tint
tical intensity values shown in Table 2, the volume fraction of etching [8].
retained austenite was calculated using Eq. (2). The results of all the
measurements, which were performed on six symmetrically spaced
positions, indicate that the level of γR for this sample was 5.870.6%
(95% confidence level). Fig. 2 shows the microstructure of the 3.2. Samples cooled at 1.6 1C/s
transverse section of the sample cooled at a rate of 10 1C/s,
as observed using different techniques. As can be noticed, it was For each section (transverse and longitudinal), six measure-
not possible to identify clearly the retained austenite by using ments, P1 to P6, were performed at symmetrically distributed

Fig. 3. XRD spectrum corresponding to one of the measurements made on the sample cooled at 1.6 1C/s (transverse section, position P5). The (110)α, (200)α, (111)γ, and (200)γ
peaks can be seen. The red dotted lines correspond to Kα1 and the blue lines to Kα2. The linear background is not shown in the images. (For interpretation of the references to
color in this figure legend, the reader is referred to the web version of this article.)

Table 4
Average of the Pearson VII function parameters (six measurements were made in each section) for the Kα1 side of the peaks for 2θ of 48–801; the M parameter is
dimensionless; the sample was cooled at 1.6 1C/s.

Parameter Longitudinal Transverse

(111)γ (110)α (200)γ (200)α (111)γ (110)α (200)γ (200)α

&1
K (deg ) 5.61 13.43 3.81 6.69 5.02 14.62 4.35 7.35
x0 (deg) 50.82 52.34 59.39 77.18 50.85 52.38 59.42 77.21
M 1.98 1.38 1.97 1.52 2.00 1.35 1.60 1.48
I0 (cps) 78 31,887 33.72 2,192 92 36,551 36 2,403
I (cps.deg) 35 6,060 20 796 41 6,424 23 808
H. Carvalho Ferreira et al. / Materials Science & Engineering A 628 (2015) 110–115 115

overlapping of the (111)γ and (110)α crystallographic planes. High-


accuracy theoretical peak intensity calculations could be made by
using the Pearson VII equation and nonlinear least-squares opti-
mization techniques for single-wavelength (Kα1) radiation. Less
information and expertise is required than when using the
Rietveld refining techniques. The method was applied to measure
the γR levels in rod samples of a MIG material that had been
homogenized at a high temperature and subsequently cooled at a
rate of 10 1C/s, as well as the levels in rolling-textured rod samples
cooled at 1.6 1C/s. The accuracy of the method was confirmed by
making six measurements in different directions in both long-
itudinal and transverse samples that simulated the rolling condi-
tions. The results indicated that the method is independent of the
rolling texture.

Fig. 4. Radar diagram of the individual values of γR (vol%) for the longitudinal and Acknowledgments
transverse sections of the sample cooled at 1.6 1C/s. There was no statistical
difference between the results corresponding to the longitudinal and transverse
sections. The authors would like to thank ArcelorMittal Monlevade,
Brazil, for supplying the test samples and for sponsoring this
project. Financial support was also provided by CNPq, CAPES/
locations. As an example, Fig. 3 shows the XRD spectrum corre-
PROEX and FAPEMIG, Brazil.
sponding to the transverse section at position P5.
As in the previous case, the dots represent the measured
intensity values, while the continuous black line represents the References
values obtained by optimizing the parameters of the Pearson VII
function given by Eq. (5). Table 4 lists the average of the six [1] P.J. Jacques, et al., Mater. Sci. Technol. 25 (2009) 567–574.
measurements for each cut section. The calculated volumetric [2] S.K. Gupta, J. Appl. Cryst. 31 (1998) 474–476.
fraction of retained austenite, obtained using all twelve results, [3] A. Garg, T.R. Mcnelley, Mater. Lett. 4 (1986) 214–218.
[4] P.S. Prevey, Adv. X-ray Anal. 29 (1986) 103–111.
was 0.99 70.15% (95% confidence interval). The radar diagram in
[5] X-ray Determination of Retained Austenite in Steel with Near Random
Fig. 4 shows the calculated amounts of retained austenite for the Crystallographic Orientation, American Society of Testing and Materials,
longitudinal and transverse sections. A statistical analysis per- Philadelphia, PA, 1995.
formed using Student's t-test showed that there was no difference [6] Standard Test Methods for Determining Hardenability of Steel, American
Society of Testing and Materials, Philadelphia, PA, 2010.
between the values of γR determined in the longitudinal and [7] B.C. Kandpal, A. Chutani, A.G. Harsimran, C.A. Sadanna, Int. J. Adv. Eng. Technol.
transverse sections, indicating that the method was not affected by 3 (2011) 65–71.
the rolling direction. [8] I.B. Timokhina, P.D. Hodgson, E.V. Pereloma, Metall. Mater. Trans. A 35 (2004)
2331–2341.
Finally, some consideration is required regarding the use of the [9] B.D. Cullity, S.R. Stock, Elements of X-ray Diffraction, Third ed., Prentice Hall,
proposed method and not the Rietveld refining technique, which New Jersey, 2001.
became so widespread in the last few years. The main reasons are [10] H.P. Klugg, L.E. Alexander, X-ray Diffraction Procedures, Second ed., John
Willey & Sons, New York, 1974.
related to the following problems associated to the latter method: it
[11] R.A. Young, The Rietveld Method, first ed., Oxford University Press, New York,
needs a wide spectrum, Rietveld programs are not easy to use, and the 2002.
refinements require some experience not easily achieved [11]. The [12] A. Michette, S. Pfauntsch, J. Appl. Phys. D 33 (2000) 1186–1190.
proposed approach is more straightforward and problem oriented. [13] E.J. Billo, Excel for Scientists and Engineers, John Wiley and Sons, Hoboken, NJ,
2007.
[14] G. Holzer, M. Fritsch, M. Deutsch, J. Hartwig, E. Forster, Am. Phys. Soc. 56
(1997) 4554–4568.
4. Conclusions [15] T.B. Massalski, C.S. Barrett, Structure of Metals, Third ed., Pergamon Press,
New York, 1980.
[16] I.C. Madsen, N.V.Y. Scarlett, Quantitative Phase Analysis, in: R.E. Dinnebier,
The method of decomposing the XRD peaks for the single
S.J.L. Billinge (Eds.), Powder Diffraction: Theory and Practice, CSIRO Minerals,
wavelengths Kα1 and Kα2 proved to be effective for calculating Victoria, 2008, pp. 298–331.
low levels of retained austenite, as low as 0.99%, despite the partial [17] C.S. Roberts, J. Met. Trans. AIME 197 (1953) 203–204.
D

http://dx.doi.org/10.4322/tmm.2014.055

EFEITO DA TAXA DE RESFRIAMENTO NA OCORRÊNCIA DE


AUSTENITA RETIDA EM UM AÇO PARA ELETRODOS DE SOLDA
Helder Carvalho Ferreira 1,2,3
Francisco José Martins Boratto 4,2
Vicente Lopes Tadeu Buono 5,2

Resumo

A influência da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em um aço de baixo teor de carbono ligado
ao Si e Mn, utilizado na fabricação de eletrodos de solda, é medida aqui através da combinação de seccionamento de
corpo de prova Jominy com o método de medição de austenita retida através da difração de raios X. Foi observado que
a quantidade de austenita retida aumenta de zero, quando a taxa de resfriamento é menor do que 0,8°C/s e a estrutura
é majoritariamente ferrítica, para um valor máximo de 6%, no ponto em que a quantidade de bainita também é máxima.
Essa informação passa a guiar assim o projeto do ciclo de resfriamento pós-laminação de fio máquina para eletrodos de
solda. O conhecimento da proporcionalidade da austenita retida com a presença de fases duras passa a permitir o uso
da difração de raios X como exame liberatório de fio máquina neste tipo de aço, assim como na simplificação de ciclo de
tratamento térmico antes da trefilação.
Palavras-chave: Eletrodo; Austenita retida; Taxa de resfriamento.

INFLUENCE OF COOLING RATE ON THE OCORRENCE OF RETAINED


AUSTENITE IN A STEEL FOR WELDING ELECTRODES

Abstract

The effect of cooling rate on the occurrence of retained austenite in a low carbon Si-Mn steel, used for welding
electrodes, is measured here by combining the sectioning of Jominy test samples with the measurement of retained austenite
by X-ray diffraction. It was observed that the amount of retained austenite increases from zero, as the cooling rate is less
than 0.8°C/s, and the structure is mostly ferrite, to a maximum of 6%, where the quantity of bainite is also maximum.
This information guides the post-rolling cooling cycle when welding grade is been rolled. The hard phases proportionality
with the amount of retained austenite allows, then, the use of X-ray diffraction as an end of the line equipment for quality
control, and also permits simplification of heat treatment before wire drawing.
Keywords: Electrode; Retained austenite; Cooling rate.

1 INTRODUÇÃO

Os aços de baixo teor de carbono utilizados na A caracterização e quantificação da fração volumétrica


fabricação de eletrodos de solda do tipo MIG têm normalmente de austenita retida têm sido amplamente exploradas em aços
teores de manganês e silício elevados, o que favorece a TRIP, onde a presença deste constituinte (15 – 20%) melhora
ocorrência do constituinte MA (martensita-austenita) o qual as propriedades de resistência mecânica e ductilidade devido
apresenta dureza elevada em relação à matriz ferrítica. Esta ao fenômeno da transformação induzida por deformação [1].
característica de dureza elevada pode ocasionar fratura do Porém, no caso de aços para eletrodos, onde a presença
arame durante a trefilação, assim como aumento do limite deste constituinte se encontra em níveis baixos (<6%),
de resistência acima de um nível considerado adequado são praticamente inexistentes trabalhos técnicos sobre o
para operação de solda. comportamento da austenita em fio máquina para trefilação.

1
Doutorando em Engenharia Metalúrgica, Materiais e de Minas, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil. E-mail:
[email protected]
2
Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração – ABM, São Paulo, SP, Brasil.
3
Arcelormittal Monlevade, João Monlevade, MG, Brasil.
4
Consultor Independente, Belo Horizonte, MG, Brasil.
5
Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte, MG, Brasil.

Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, 1


Ferreira; Boratto; Buono

Neste trabalho é avaliada a influência da taxa 2T de 48 a 80°, uma vez que esta faixa contém os picos mais
de resfriamento na ocorrência de austenita retida para intensos tanto da fase ferrítica quanto austenítica. Desta
amostras deste tipo de aço. Para se conseguir várias taxas forma, quatro picos foram analisados: (110)D, (200)D, (111)J e
de resfriamento foi seccionado um corpo de prova (CP) (200)J. Para aço contendo somente as fases ferrita/martensita
submetido ao ensaio Jominy [2]. e austenita, o cálculo da fração volumétrica da austenita pode
Para a quantificação da austenita retida foi utilizado ser obtido conforme mostrado na Equação 2 [7]:

¦I ¦I RDhkl  ¦ IJhkl RJhkl


o método de comparação direta, através da difração de
raios X [3]. Para melhorar a precisão dos cálculos, foram
feitas decomposições das radiações KD1 e KD2, através de
VJ J
hkl
RJhkl / D
hkl
(2)

modelamento matemático das intensidades de raios X com


Os valores da intensidade teórica normalmente são
o uso da função de Pearson VII e integração algébrica de
padronizados para cada tipo de radiação utilizada ou podem
cada pico [4].
ser calculados. Para a radiação usada aqui, estes valores
foram calculados, conforme previsto na literatura [3,7] e
2 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL estão mostrados na Tabela 2.
Para modelamento matemático dos picos ferríticos
2.1 Coleta de Amostra e austeníticos foi utilizado a equação Pearson VII [4], cuja
forma é apresentada na Equação 3:
Foi coletada uma amostra do perfil intermediário
(I=30 mm), durante laminação de uma corrida de aço para
ª K 2 x - x0 º
M

I 0 «1  »
2
eletrodo MIG, fabricada na ArcelorMittal Monlevade, cuja
¬« ¼»
I ( x) (3)
composição química é mostrada na Tabela 1. Esta amostra M
foi usinada para as dimensões padronizadas do ensaio Jominy.

Na Equação 3 x é o valor do ângulo 2T e Io a intensidade


O carbono é um dos elementos de maior influência na
microestrutura da solda. O manganês promove o refinamento
da microestrutura, porém aumenta a estabilidade da austenita máxima do pico para o ângulo xo. O parâmetro K controla
devido sua baixa difusividade nesta fase e tendência de a largura da curva e o parâmetro M a taxa de decaimento
segregação na interfase martensita-austenita [5]. Já o silício das “caudas”.
é o principal desoxidante do metal de solda, não sendo O modelo completo da intensidade calculada, incluindo
efetivo na formação de uma estrutura refinada. ambas as radiações OKD1 (índices ímpares) e OKD2 (índices
pares) para a ferrita e austenita, pode ser expresso pela
2.2 Cálculo da Taxa de Resfriamento Equação 4, onde é incluída, também, a contribuição do
ruído (“background”), a+bx:
Para a amostra usinada foi utilizado o procedimento do
ensaio Jominy. A taxa de resfriamento (°C/s) na temperatura
de 700°C, em cada cota, X(mm), distante da ponta resfriada, I ( x) I (111) J ( x)  I (110) D ( x)  I (200) J ( x)  I (200) D ( x)  a  bx (4)
pode ser calculada pela Equação 1, obtida através de análise
de regressão, com dados de taxa de resfriamento no ensaio
Jominy previamente publicados [2,6]:

taxa 872,7569X 1.547197 (1) Tabela 1. Composição química (% em peso) da liga utilizada.

Após a realização do ensaio, foram feitos cortes Classificação %C %Mn %Si


transversais no CP Jominy. A escolha das cotas foi feita Liga 0,095 1,637 1,096
de modo a se obter taxas de resfriamento próximas das ER70S-6(*) 0,06-0,15 1,40-1,85 0,80-1,15
praticadas industrialmente no processo Stelmor“ (resfriamento (*) Especificação europeia EN440; Especificação americana AWS A5.1..
controlado pós-laminação de fio máquina). Em seguida, as
amostras foram lixadas, polidas e preparadas para análise
metalográfica e difração de raios X. Tabela 2. Intensidade teórica relativa (R) para radiação de cobalto, onde
foi utilizado comprimento de onda OKD1 de 1,78892 Å, monocromador
de grafite (2Tm de 30,94°) e parâmetros de rede de 2,8664 e 3,6440 Å
2.3 Uso da Difração de Raios X para Quantificação
para ferrita e austenita, respectivamente.
2T
da Austenita Retida
hkl R
A difração por raios X foi realizada em um difratômetro (110)D 52,37 140,3
Shimadzu XRD6000, com radiação de cobalto-KD e uso de (200)D 77,23 19,90
monocromador. Utilizou-se velocidade do goniômetro de (111)J 50,82 103,2
0,02°C/s com passo de 3s. Foi escolhida para análise a faixa (200)J 59,40 46,60

2 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo,


Efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em um aço para eletrodos de solda

Sendo: 3 RESULTADOS

ª K 2 x  x01 º ª K 2 x  x02 º
 M1 M2

I1 «1  1 »  I 2 «1  2 »
2 2
A Figura 1 ilustra como foi feita a correlação da taxa
¬« ¼» ¬« ¼»
I (111) J ( x)
M1 M2 de resfriamento com o resultado de difração de raios X.
Como exemplo, são mostrados dois difratogramas para
ª K 2 x  x03 º ª K 2 x  x04 º
M3 M4 dois planos de corte, relativo a duas taxas de resfriamento
I 3 «1  3 »  I 4 «1  4 »
2 2

conforme previsto pela Equação 1. Podem ser vistos nos


«¬ »¼ «¬ »¼
difratogramas dois picos correspondentes à fase ferrítica(D)
I (110) D ( x)
M3 M4

e dois correspondentes a austenita(J).


ª K 2 x  x05 º ª K 2 x  x06 º
M5 M6

I 5 «1  5 »  I 6 «1  6 »
2 2

¬« ¼» ¬« ¼»
I (200) J ( x) 3.1 Fração Volumétrica da Austenita Retida
M5 M6

Foram observados 18 planos de corte ao longo do


ª K 2 x  x07 º ª K 2 x  x08 º
M7  M8

I 7 «1  7 »  I 8 «1  8 »
comprimento do CP Jominy. Para cada plano (correspondente
2 2

«¬ »¼ «¬ »¼
I (200) D ( x)
M7 M8 a uma taxa de resfriamento específica) foram realizados
6 difratogramas em posições equidistantes para cálculo da
A otimização dos parâmetros e os cálculos para fração volumétrica com grau de significância de 95%. Como
exemplo, a Figura 2 mostra o resultado obtido para uma
obtenção das intensidades (áreas) dos picos ferríticos e
medida referente à cota de 8,77 mm, o que corresponde a
austeníticos foram feitos utilizando regressão não linear pelo
uma taxa de 30,3°C/s, incluindo as linhas do modelamento
método dos mínimos quadrados [8], com a restrição de que
para cada pico a posição relativa das componentes KD1 e
matemático com a função Pearson VII. O cálculo da fração

KD2 respeita a equação de Bragg, com OKD1= 1,78892 Å e


volumétrica da austenita é então obtido pelo uso dos

OKD2=1,79278 Å. As áreas foram calculadas pela integração


parâmetros optimizados da função de Pearson VII, referente
à radiação OKD1 (Tabela 3), substituídos na Equação 2 com
algébrica da função de Pearson VII [4]. os valores da intensidade teórica informados na Tabela 2. O

Figura 1. Desenho esquemático do corpo de prova (CP) Jominy e os planos de corte realizados para análise na difração. Para cada plano de
corte foi realizado difração de raios X, conforme ilustrado (seis medidas de difração para cada plano).

Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, 3


Ferreira; Boratto; Buono

Figura 2. Difratograma da amostra resfriada a uma taxa de 30,3°C/s. As linhas pontilhadas correspondem ao comprimento de onda OKD1 (pico
mais alto) e ao comprimento de onda OKD2. (pico mais baixo). Os pontos são as medidas experimentais e a linha contínua o resultado do
modelamento matemático completo.

Tabela 3. Parâmetros optimizados da função de Pearson VII, pelo método dos mínimos quadrados, correspondente ao difratograma da Figura 2.
Comprimento de onda do cobalto OKD1 e OKD2 de 1,78892 e 1,79278 Å, respectivamente. O parâmetro M é adimensional, os outros parâmetros
Io, xo, K e I têm unidades relacionadas à medição do espectro de difração.
Parâmetro KĮ1 KD2
(111)J (110)D (200)J (200)D (111)J (110)D (200)J (200)D
K (graus-1) 4,47 11,95 3,20 5,14 4,47 12,67 3,20 5,43
x0 (graus) 50,80 52,39 59,31 77,20 50,92 52,51 59,45 77,40
M 1,70 1,42 1,90 1,62 1,70 1,17 1,90 1,46
I0 (cps) 418 24.632 117 1.120 226 12.714 63 547
I (graus.cps) 218 5.177 82 517 118 2.795 44 249

4 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo,


Efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em um aço para eletrodos de solda

resultado da fração volumétrica de austenita retida para todos 3.3 Forma do Pico (200)D
os 18 planos de corte está mostrado na Figura 3a. Cada ponto
do gráfico corresponde à média das seis medidas. A fração Foi observado que o parâmetro K da equação
de austenita retida cresce a partir de taxas de resfriamento de Pearson VII, referente à radiação OKD1, apresenta um
baixas até aproximadamente 16,6°C/s. A partir deste valor, comportamento característico em função da presença da
a fração de austenita decresce ligeiramente com o aumento fase majoritária. Sendo assim, para uma taxa de resfriamento
da taxa de resfriamento. baixa, onde a ferrita é a fase em maior fração volumétrica,
o valor deste parâmetro K apresenta um valor elevado.
3.2 Teor de Carbono da Austenita Retida Este parâmetro tem seu valor diminuído com a presença
de bainita e apresenta os menores valores para taxas de
A avaliação do teor de carbono (CJ) foi feita em resfriamento elevadas, onde a fase majoritária é a martensita.
função da medida do parâmetro de rede (aJ) obtido a partir O comportamento deste parâmetro é ilustrado na Figura
da difração do pico (200)J, de acordo com a Equação 5, 4, onde são mostradas, também, as microestruturas
onde o efeito do silício e manganês foram considerados características para cada região e o aspecto do pico (200)
desprezíveis em relação ao carbono [9]: D para dois valores extremos de K.

3, 4567  0, 0467C J
A Figura 5 mostra as medidas do % de austenita
aJ (5) retida em função da taxa de resfriamento, resultados da
Figura 3a, porém com o eixo da abcissa em escala logarítmica
Para a medida do parâmetro de rede da austenita
invertida, da maneira que é usual nos diagramas TRC. A taxa
foi inicialmente calculado o parâmetro da ferrita para o
pico (200)D, cujo resultado de 112 medições, referente à
para ocorrência máxima de austenita retida corresponde
radiação OkD1, apresentou valor 2TkD1 de 77,2047°. Desta
a 16,6°C/s (1.000°C/min). A taxa para ocorrência mínima
de austenita retida, extrapolação para AR(%)=zero na
forma, para cada medição realizada, foi introduzido um
Figura 5, é de 0,8°C/s (50°C/min). Estes valores estão
fator de correção (f2T) que é a diferença entre este valor
médio e o valor individual de 2TkD1 referente ao pico (200)D
em coerência com a previsão do parâmetro K, conforme
mostrado na Figura 4.
(Equação 6):

f2T 77,2047  2T(200)


kD1
(6)
4 DISCUSSÃO
Desta forma, o parâmetro de rede corrigido da
austenita foi calculado através da equação de Bragg para o Os resultados mostraram que a presença de
pico (200)J, e é dado pela Equação 7: austenita retida se inicia na taxa de 0,8°C/s e tem sua fração
volumétrica crescente com da taxa de resfriamento. Para
O
sen > (2T  f 2 T ) 2@
aJ taxa próxima de 16,6°C/s a austenita retida passa por um
(7)
máximo e ficando estabilizada, ou ligeiramente decrescente,
para taxas superiores.
A Figura 3b mostra o comportamento do teor de Em relação à microestrutura, existem três regiões
carbono na austenita retida em função da taxa de resfriamento de predominância das fases. Para a região de baixas
para a amostra testada. É observado que o teor de carbono taxas (inferior a 16,6°C/s, mas acima de 0,8°C/s), a fase
cresce com o aumento da taxa de resfriamento, com predominante é ferrita com presença de perlita e bainita.
comportamento similar ao da Figura 3a. Para a região intermediária, com taxas entre 16,6°C/s e

Figura 3. (a) Fração volumétrica da austenita retida (AR) em função da taxa de resfriamento; e (b) teor de carbono da austenita retida como
função desta taxa.

Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, 5


Ferreira; Boratto; Buono

Figura 4. Variação do parâmetro K da função de Pearson VII do pico (200)D com a taxa de resfriamento e comparação com o teor de austenita
retida. As micrografias de MEV (ataque com Nital 2%, aumento de 3.000X no original), mostram as fases majoritárias em cada uma das três
regiões principais. Os dois gráficos menores mostram como a forma do pico (200)D é afetada pela taxa de resfriamento.

um teor de carbono mais baixo e, portanto menos estável,


pois a martensita formada tem composição da fase “mãe”
restando assim, menos carbono presente na austenita.
O surgimento das fases majoritárias ferrita, bainita e
martensita pode ser acompanhado através do comportamento
do parâmetro K da função de Pearson VII, do pico (200)
D, referente ao comprimento de onda OKD1. Para ferrita, o
valor deste parâmetro apresenta um valor mais elevado em
relação aos valores apresentados quando a estrutura contém
a presença de martensita/bainita. Assim existe separação
clara entre os picos referentes aos comprimentos de onda
OKD1 e OKD2, quando a estrutura é majoritariamente ferrítica,
mas estes picos aparecem confundidos quando a estrutura
Figura 5. Fração volumétrica da austenita retida em função da taxa de
é majoritariamente martensítica.
resfriamento no ensaio Jominy. Escala logarítmica invertida na abcissa.
Início de formação de bainita, e de austenita retida, em torno de Para ausência de austenita retida, e outras fases duras
50°C/min. Início de formação martensítica em torno de 1.000°C/min. associadas, é necessária uma taxa de resfriamento inferior
a 0,8°C/s, guiando assim o projeto do ciclo de resfriamento
do fio máquina no processo Stelmor“, em aço a ser usado
80°C/s a fase predominante é bainita com presença crescente para eletrodos de solda. Desta forma, foi possível criar,
de martensita. Finalmente para taxas superiores a 80°C/s a também, uma alternativa para tratamento do fio máquina,
fase predominante é martensita. antes da trefilação, com a implantação de ciclo mais rápido
A ocorrência de um máximo de austenita retida pode em substituição ao ciclo anteriormente utilizado (recozimento
estar associada ao teor de carbono da austenita. A austenita intercrítico), com os ganhos de tempo e energia associados
tem o teor de carbono aumentado devido ao aumento a esta simplificação.
gradativo de bainita. Com o surgimento da martensita a A proporcionalidade da austenita retida com o
partir de 16,6°C/s, o teor de carbono na austenita retida é surgimento de fases duras gera, ainda, a possibilidade de
gradativamente reduzido até o completo desaparecimento se usar a difração de raios X como exame liberatório de
da bainita. A partir da taxa de 80°C/s, a austenita apresenta fio máquina deste tipo de aço destinado a trefilação direta.
6 Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo,
Efeito da taxa de resfriamento na ocorrência de austenita retida em um aço para eletrodos de solda

5 CONCLUSÕES com a taxa de resfriamento e saturando, ou diminuindo


discretamente, com o surgimento de martensita.
A combinação da técnica de seccionamento de corpo Para que ocorra ausência de austenita retida e de
de prova Jominy com medição de espectros de difração outras fases duras associadas, é necessária uma taxa de
de raios X, permitiu a avaliação quantitativa da presença resfriamento inferior a 0,8°C/s, guiando assim o projeto
de austenita retida em aço para eletrodo. A partir desses do ciclo de resfriamento no Stelmor“, quando se procede
dados pode-se concluir que a fração volumétrica da austenita à laminação de aço para ser usado na trefilação de arames
varia com a taxa de resfriamento e apresenta um máximo de eletrodos de solda. Com isto houve ganho significativo
para 16,5°C/s. através da simplificação e redução de custo de tratamento
Os espectros de difração de raios X foram optimizados térmico posterior no cliente.
através do método dos mínimos quadrados de função não O conhecimento da proporcionalidade da austenita
retida com a presença de fases duras passa a permitir o
linear, com modelagem através da função Pearson VII e
uso da difração de raios X como exame liberatório de fio
utilização apenas das raias KD referente ao comprimento
de onda OKD1, o que gerou melhor precisão nas medidas de
máquina neste tipo de aço.
austenita retida.
Através da avaliação do parâmetro K da função Pearson
VII, modelando o pico (200)D, referente ao comprimento
Agradecimentos

de onda OKD1, é possível prever a fase majoritária presente. Os autores agradecem a ArcelorMittal Monlevade
O teor de carbono na austenita retida segue o pelo suporte a este projeto assim como a CAPEX/PROEX
comportamento da fração volumétrica, aumentando pelo apoio financeiro.

REFERÊNCIAS

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transformation-induced-plasticity steels. Metallurgical and Materials Transactions. A, Physical Metallurgy and
Materials Science. 2004;35(8):2331-2341. http://dx.doi.org/10.1007/s11661-006-0213-9.
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elements on hardenability of steel using Jominy end quench test. International Journal of Advances in Engineering &
Technology. 2011;1(3):65-71.
3 Cullity BD, Stock SR. Elements of X-ray diffraction. 3. ed. New Jersey: Prentice Hall; 2001.
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Physics D: Applied Physics. 2000;33(10):1186-1190. http://dx.doi.org/10.1088/0022-3727/33/10/308.
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between martensite and austenite in steel studied by atom probe tomography and simulation. Acta Materialia.
2011;59(1):364-374. http://dx.doi.org/10.1016/j.actamat.2010.09.042.
6 American Society for Testing and Materials. ASTM A255-2: Standard test methods for determining hardenability of steel.
West Conshohocken: ASTM; 2002.
7 American Society for Testing and Materials. ASTM E975-95: X-ray determination of retained austenite in steel with near
randon crystallographic orientation. Philadelphia: ASTM; 1995.
8 Billo EJ. Excel for scientists and engineers. New York: John Wiley and Sons; 2007. Nonlinear regression using the
solver; p. 313-339. http://dx.doi.org/10.1002/9780470126714.ch14.
9 Roberts CS. Effect of carbon on the volume fraction and lattice parameters of retained austenite and martensite.
Journal of Metals Transactions AIME. 1953;197:203-204.

Recebido em: 14 Set. 2014


Aceito em: 29 Jan. 2015

Tecnol. Metal. Mater. Miner., São Paulo, 7

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