Monografia 2 Versão
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Monografia 2 Versão
Maputo, 2023
Maputo, 2023
Folha de aprovação
Declaração
Eu Narciso Simião Mahocha declaro por minha honra que, o presente trabalho constitui fruto
da minha investigação pessoal sob orientação da minha supervisora.
Declaro que, o mesmo nunca foi apresentado em nenhum outro âmbito para a obtenção de
qualquer grau académico.
Supervisora
PhDª. Sílvia Afonso
__________________________________________
Agradecimento
Em primeiro lugar agradeço a Deus por me conceder vida até esta fase da minha formação
acadêmica.
Agradeço a minha supervisora, PhDª Sílvia Afonso que com sua larga sabedoria, paciência e
disponibilidade dirigiu-me para realização deste trabalho.
Aos meus colegas de formação que me ajudaram directa ou indiretamente. Junto com os
docentes da UCM aos quais agradeço a oportunidade que me deram de aprender a melhor me
preparar para bem servir a sociedade na formação do homem
Dedicatória
Dedico o presente trabalho à minha esposa que muito me tem dado apoio para a minha
formação como professor. Aos meus pais, que confiaram seus recursos para minha formação
e realização deste trabalho. À minha supervisora Professora Doutora Sílvia, pelas investidas
horas de disposição para esclarecer as dúvidas que surgiam ao longo do trabalho
Lista de abreviações e siglas
PEA__________________ Processo de Ensino Aprendizagem
CAPÍTULO I
INRODUÇÃO
Contextualização
A presente monografia versa sobre a temática de Disgrafia, um distúrbio que se manifesta por
dificuldades na produção gráfica das letras na escrita manual, o que por sua vez resulta numa
letra ilegível.
A produção da escrita constitui um processo complexo que começa desde os primeiros anos
de vida até que se chegue ao domínio da psicomotricidade. Conforme os quatro estágios do
desenvolvimento cognitivo de Piaget, o indivíduo começa a adquirir a motricidade logo na
primeira fase. Piaget, cit. Fossile (2010, p. 108) afirma que no “primeiro estágio (sensório-
motor) [...] o bebê desenvolve os primeiros esquemas de ações sem envolver representações
mentais ou pensamentos”. No último estágio “operatório-formal” que compreende a idade
dos 12 anos, o indivíduo é capaz de realizar as suas actividades “por meio de um raciocínio
hipotético-dedutivo”. Conclui-se, portanto que até aos 12 anos, o aluno domine todos os
movimentos necessários para uma caligrafia legível, e que possa assim expressar seus
pensamentos através da comunicação escrita de forma clara com os seus colegas e
professores.
Com esta monografia pretende-se compreender as causas que estão por detrás da disgrafia
nos alunos do Ensino Secundário, caso específico da 8ª classe na Escola Secundária de
Mudaúca bem como propor técnicas para auxiliar os alunos disgráficos no contexto
psicopedagógico.
O primeiro capítulo corresponde a parte introdutória, que apresenta o tema, sua delimitação,
objectivos, problematização e justificativas. No segundo capítulo são analisados os conceitos
da disgrafia no contexto pedagógico, suas características, métodos de correcção de disgrafia.
Segue no capítulo III, a parte das metodologias, o IV onde constam a colecta e análise de
dados e o IV capítulo referente às considerações finais.
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Problematização
A disgrafia prefigura-se na linguagem escrita e caracteriza-se por uma escrita de letra ilegível
que se torna impossível descodificar uma ou todas as partes da mensagem que se pretende
transmitir. No Ensino Secundário, este problema é frequente nos alunos de todas as classes.
Para resolver este problema propôs-se o presente estudo com a seguinte questão de partida:
Que técnicas aplicar para ajudar os alunos disgráficos da 8ª classe na Escola Secundária de
Mudaúca?
Relevância do estudo
A escrita à mão será necessária em muitos casos como por exemplo nas disciplinas de
Matemática, e outras ciências exactas durante a realização de provas e trabalhos escritos.
Além disso, como refere Ciasca (2009, p. 221) “existem evidências de que o ato físico de
escrever à mão ajuda no fluxo de ideias para a composição escrita de maneiras que a
digitação não ajuda”. Os alunos da 8ª classe já adquiriram, desde o ensino pré-escolar
capacidades psicomotoras para escreverem com legibilidade. Contudo, os professores
deparam-se com uma percentagem não aceitável de alunos disgráficos que apresentam
“caligrafia feia”, ilegível, tal que se torna impossível ler e compreender a mensagem
transmitida pelos seus alunos, tanto nos cadernos de exercícios, trabalhos quanto nas provas.
Por outro lado, a escrita à mão é muito pessoal, é um método pelo qual os alunos expressam
sua identidade, portanto não deve ser suprimida ou deixada em segundo plano.
Torna-se, portanto, pertinente estudar este tema pois com a compreensão da disgrafia e
conhecimentos de técnicas para sua correcção, os professores não deixarão que este problema
se arraste pelas restantes classes do Ensino Secundário, no Ensino Superior ou até na Carreira
Profissional do aluno.
No âmbito acadêmico
O processo de Ensino Aprendizagem é sustentado por uma constante comunicação entre o
professor-aluno, aluno-aluno e aluno-professor. A comunicação dentro da sala inclui a
linguagem oral e escrita.
Estes alunos, quando são indicados para escreverem no quadro, sofrem discriminação por
causa da sua caligrafia à vista dos colegas e professores das outras disciplinas.
13
Ribeiro (2009, p. 10) defende que “ a escrita é uma actividade complexa [...], assim é
importante ensinar a escrita cursiva manual, iniciando na infância com continuidade ao longo
dos anos”. Muitos estudos sobre a disgrafia são feitos nas escolas do Ensino pré-escolar e
Primário, considerando o estágio de desenvolvimento humano dos alunos que frequentam
estas escolas. Este estudo é inovador na medida em que, ao contrário de muitos, este será
realizado numa escola do Ensino Secundário.
Através desta inovação será possível contribuir com novas evidências científicas as quais
provarão que é possível melhorar a caligrafia de alunos que já ultrapassaram as fases
“normais” de aquisição desta habilidade.
No âmbito profissional
O aluno disgráfico de hoje será o profissional de amanhã. Dependendo da área profissional
em que estará inserido, um profissional que apresenta este tipo de transtorno compromete a
qualidade dos serviços prestados pela instituição. A título de exemplo, os profissionais de
saúde, ao prescreverem uma receita médica, fazem-no de tal forma que se torna impossível
decifrar o tipo de medicamento que o paciente precisa comprar na farmácia. Tal situação
coloca a saúde pública em perigo dado que os pacientes vão medicar usando remédios que
não os conhecem pelos nomes.
Outra situação profissional não menos importante é a do futuro professor disgráfico. Este,
pelo seu potencial de se tornar espelho transmitirá sua ilegível caligrafia aos alunos que
cruzarem o seu caminho, proporcionando assim um círculo cada vez maior de indivíduos com
esta problemática.
Objectivos do estudo
Objectivo geral
♦ Compreender os erros gráficos cometidos pelos alunos da 8ª classe na Escola
Secundária de Mudaúca.
Objectivos específicos
♦ Caracterizar a Disgrafia cometida pelos alunos da 8ª classe na Escola Secundária de
Mudaúca;
CAPÍTULO II
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Aprendizagem
Para Bastos (2016, p. 28) a
Aprendizagem consiste em um processo de aquisição, conservação e evocação do
conhecimento, ocorrendo a partir de modificações do Sistema Nervoso Central (SNC), mais ou
menos permanentes quando o indivíduo é submetido a estímulos e ou experiências que se
traduzem por modificações cerebrais.
De acordo com Zanella (2003) cit. in Silva (2008), a aprendizagem é constante no ser
humano, iniciando com o nascimento e finalizando com a morte. Assim, “[...] em qualquer
etapa, em qualquer situação ou em qualquer momento o indivíduo está aprendendo, sendo
que, em todos os casos, os processos são graduais e, além disso, para que a pessoa vá
construindo novos comportamentos, novos tipos de respostas, é necessário partir de outros
comportamentos anteriores, já existentes no repertório desse indivíduo.
Dificuldade de aprendizagem
Kirk (1962), refere que,
Disortografia
Disgrafia
Conceptualização da Disgrafia
Cordeiro (2009) refere que “etimologicamente, disgrafia é uma palavra de origem grega dos
termos ‘dys’ que indica a existência de prejuízo, ‘graph’, refere-se a função da mão ao
escrever e o sufixo ‘ia’que significa ter um condição, ou seja, é ‘uma perturbação de tipo
funcional que afeta a qualidade da escrita do sujeito, no que se refere ao seu traçado ou à
grafia” (p. 1 e 2).
Magalhaes (2015), em seu estudo sobre esta temática define Disgrafia como “ distúrbio da
palavra escrita que se caracteriza por uma leve incoordenação motora, apresentando a mesma
letra com movimentos diferentes e escrita confusa, sendo assim chamada de letra feia” (p.
13).
Este autor afirma que a disgrafia em muitos casos está associada a outros transtornos
superpostas como a dislexia (transtorno do desenvolvimento da escrita), discalculia
16
De acordo com Ajuriaguerra,(1980) citado por Magalhaes (2015) disgrafia é uma deficiência
na qualidade do traçado gráfico que não deve ter uma causa “déficit” intelectual e/ou
neurológico. Fala-se, portanto, de crianças de inteligência média ou acima da média, que por
vários motivos apresentam uma escrita ilegível ou demasiadamente lenta, o que impede um
desenvolvimento normal da escolaridade.
Disgrafia é uma perturbação de tipo funcional na componente motora do ato de escrever, que
afeta a qualidade da escrita, sendo caracterizada por dificuldade na grafia, no traçado e na
forma das letras, surgindo estas de forma irregular, disforme e rasurada.
Este autor chegou à conclusão de que é necessário que o educador seja comprometido,
criativo, dinâmico e que respeite as individualidades de cada educando, valorizando a
realidade e as evidências dos mesmos, para que numa acção conjunta e integrada, possa
favorecer e estimular a cooperação, diálogo, democracia e autonomia na sala de aulas.
Numa mesma perspectiva, Nunes realizou em 2010 um estudo com esta temática, porém no
âmbito psicopedagógico. Nunes (cit. Vygotsky 1998, p. 139) afirma que “apesar da
existência na pedagogia prática, de muitos métodos de ensinar a ler e escrever, ainda tem-se
que desenvolver procedimento científico efetivo para o ensino da linguagem escrita às
crianças”. Com efeito, a aprendizagem da escrita requer do professor e do aluno redobrada
atenção. O treinamento do aluno será o procedimento a ser valorizado em permanência até
que este adquira as competências desejáveis. Ao longo da aprendizagem da escrita, verifica-
se muitas dificuldades.
17
Caracterização da disgrafia
Magalhaes (2015) em seu estudo sobre disgrafia, refere que os alunos disgráficos apresentam
as seguintes características:
a) Lentidão na escrita
b) Escrita desorganizada
c) Traços irregulares
García (1998, p. 198, 199) destaca duas características apresentadas pelos disgráficos:
♦ Escrita espelho – uma dificuldade típica observada na criança com disgrafia, é não possuir
uma representação estável dos traços componentes dos grafemas e possuir apenas parte da
informação, produzindo uma confusão e uma escrita em espelho.
Ex.: confusão entre o p e q, m e n.
♦ Intercâmbio de letras – a criança apresenta dificuldades na codificação da linguagem, na
construção de representações léxicas, na aprendizagem de regras fonema/grafema e
grafema/fonema. Esta dificuldade aparece sobretudo, nos seguintes grafemas, que apresentam
traços semelhantes: p e q, b e d, p e b, etc.
Figura 1-Letra com traço forte, desorganização espacial do espaço ocupado na folha e com
escrita lenta.
Tipos de Disgrafia
A disgrafia pode ser adquirida por lesão ou ser resultado de uma disfunção no Sistema
Nervoso Central (SNC). O Sistema Nervoso Central é responsável por receber e processar
informações. Para alguns especialistas, enquanto a lesão resulta em perda de habilidades
anteriormente adquiridas, a disfunção resulta no desenvolvimento anormal da habilidade de
escreve, daí a relação do SNC com a disgrafia.
Segundo UCM (2022, p. 102 e 103) destacam-se dois tipos de Disgrafia a saber: disgrafia
específica e disgrafia motora.
♦ Disgrafia específica
Está ligada a uma lesão orgânica do sistema nervoso: a criança é incapaz de escrever um
ditado, as letras que escreve não têm nada que ver com as que lhe são ditadas, custa-lhe
transformar sons em letras e reproduzir em seguida essas letras.
♦ Disgrafia motora
19
É a mais frequente e está ligada a uma imperícia geral. As crianças são desajeitadas, não têm
jeito para nada e apresentam, por vezes, sinais discretos de má coordenação de movimentos.
Causas da disgrafia
Baseado na mesma referência UCM (2022, p. 103), apresentam-se as seguintes causa para a
disgrafia: “Aprendizagem prematura, carências educativas, disgrafias tardias, perturbações da
motricidade”
Disgrafias tardias: nos mais velhos acontece às vezes aparecer uma disgrafia que sucede a
um bom domínio da escrita; este caso dá-se com frequência ao passar do ensino primário para
o secundário: exige-se muito mais trabalho escrito, é necessário tomar notas com rapidez, a
atmosfera muda radicalmente, os professores tornam-se tão numerosos quanto as disciplinas
e, como as suas exigências nem sempre concordam, o aluno encontra-se muito mais entregue
a si próprio. Tudo isso pode inquietar a criança, sobretudo se ela é mal apoiada por um meio
familiar indiferente; todas essas mudanças provocam reações de instabilidade e de ansiedade,
que influenciam a escrita: o traço torna-se incerto, irregular, as letras informes.
Estas causas podem ser agrupadas em dois tipos, ambientais e orgânicas. As ambientais
correspondem a todos os estímulos que, mesmo com um aluno de boas condições de saúde,
propiciam a uma letra feia. O início precoce da escrita é um dos exemplos que fazem parte
deste tipo, juntamente com a pressão da criança para a escrita, aplicação de métodos
impróprios para o ensino da escrita, falta de acompanhamento de um educador especializado
na criança iniciante à escrita, posições e lugares impróprios para a escrita, entre outras causas.
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Por outro lado, existe as causas orgânicas, que correspondem aquelas de origem neurológica
como por exemplo: as lesões cerebrais do Lóbulo Frontal e Parietal. Como observa Saito
(2014, sp.) “pacientes com danos nesta parte do cérebro [lóbulos frontal e parietal] têm
problemas na fala e escrita à mão”. As causas orgânicas resultam das alterações na região
posterior do hemisfério cerebral direito que desempenha a função cognitiva espacial e que
pode levar à síndrome de disfunção hemisférica direita.como se pode ver na imagem a seguir
identificados pelas cores violeta e amarela.
Fonte: amenteemaravilhosa.com.br
Diagnóstico de disgrafia
Conhecer os sintomas da disgrafia é de suma importância, pois, além de servir como bússola
para a identificação do problema, fornece a possibilidade de conhecer as técnicas adequadas
para a intervenção. O diagnóstico norteará o psicopedagogo se o problema é originado da
educação no meio escolar ou da que recebe da sociedade em que o aluno se encontra inserido.
Smith e Strick (2001, p. 50, 59) apresentam listas de sintomas referentes as dificuldades de
aprendizagem, mas só serão apresentadas duas, que são as inerentes a disgrafia, foco desta
pesquisa.
A seguir, serão pontuados alguns sintomas que podem facilitar a identificação dos casos de
disgrafia, caso estes sintomas persistam:
Erros bizarros de ortografia (não - fonéticos). O estudante pode ser incapaz de decifrar a
própria escrita;
Lista de verificação de sintomas para deficiência motora fina. Esta deficiência não tem
impacto sobre a capacidade intelectual da criança, mas interfere no desempenho da sua
comunicação através da linguagem escrita:
Em casa:
Tem dificuldade para pegar e usar pequenos objetos, como peças de quebra-cabeças ou
blocos de construção;
Tem problemas com botões, presilhas e zípers ao vestir-se; considera muito difícil atar os
sapatos;
Não tem sucesso em jogos e atividades que envolvem habilidades das mãos “cama de gato”,
lições de piano, basquete;
22
Apresenta fraca capacidade para colorir; não consegue manter-se dentro dos contornos do
desenho;
Trabalhos de arte parecem imaturos para a idade (desenhos criados a parir da imaginação
geralmente são melhores que esforços para copiar desenhos);
Desajeitado ao segurar o lápis (pode segurá-lo de modo muito apertado ou muito frouxo);
Atrasos para aprender e escrever; a escrita é grande e imatura, as letras e os números são mal
formados;
Na escola:
Fraca caligrafia (desleixada, ilegível, pouco espaçamento, tamanho irregular das letras,
nenhum estilo consistente, escapamento das linhas no papel);
Lentidão acentuada, esforço excepcional e frustração são notados durante as tarefas escritas;
O conteúdo/estilo das tarefas escritas é fraco (seu foco primário está sobre a obtenção de
legibilidade);
Os erros de cálculos são comuns, devido a numerais ilegíveis, amontoados e pouco alinhados;
♦ Erros na soletração;
♦ Erros na sintaxe;
Garcia (1998, p. 72) apresenta outras alterações associadas a disgrafia tais como:
Técnicas gráficas
As gráficas adequadas para melhorar as habilidades motoras através do uso da escrita. Esta se
denomina, “método preparatório” e inclui duas outras técnicas: pictográficas e
“escriptográficas”. A primeira inclui exercícios de pintura e desenho, destinados a enriquecer
o grafismo e os meios de expressão. A segunda, obter melhora dos movimentos e posições
gráficas, mesmo que não se utilize a escrita e sugere-se os seguintes exercícios:
para direita; rotações e as formas ascendentes e descendentes. Atividades que poderão ser uti-
lizadas com estes movimentos: sublinhado de traços, da esquerda para direita e de cima para
baixo; traçado de bucles.
Para a reeducação do grafismo, pode-se incluir a reeducação grafo motora preparatória, são
exercícios do grafismo utilizados de modo prévio à escrita criando as condições mais
adequadas para um grafismo correto. Os instrumentos concretos de reeducação dos erros,
mais comuns, do grafismo se referem aos seguintes aspectos: forma das letras; tamanho ou
dimensão das letras; inclinação inadequada das letras; espaçamentos indevidos e união ou
ligações inapropriadas.
É de destacar o papel do professor que irá aplicar estas técnicas, pois sua influência será de
grande impacto para o alcance dos objectivos desejados. Poderá auxiliar a aplicação destas
técnicas criando situações que motivem o aluno a aprender sistematicamente a nova
caligrafia.
Figura 3- letra mais legível e com traçado menos forte; melhor organização espacial Depois
do tratamento de 2 meses
25
Fonte: http://www.correioweb.com.br/euestudante/noticias.php?id=5257&tp=19.Acesso em
27/12/2022, às 23:13h.
26
CAPÍTULO III
METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
Tipo de estudo
Este estudo é de uma abordagem qualitativa e descritiva, que segundo Godoy (1995, p. 24) “o
pesquisador vai ao campo objetivando captar o fenômeno a partir da perspectiva das pessoas
nele envolvidas”, pois visava compreender o fenômeno de disgrafia enquanto entrave da
comunicação escrita entre o aluno-professor e aluno-aluno no PEA na Escola Secundária de
25 de Setembro de Mudaúca.
Foi aplicado um estudo de caso, que segundo Yin (2005, p. 32) “investiga um fenômeno atual
dentro do seu contexto de realidade, quando as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não
são claramente definidas e no qual são utilizadas várias fontes de evidências”. Este método
adequa-se para este trabalho, porque disgrafia é um fenômeno complexo de natureza
sociolinguística
Fontes de Informação
A população
Gil (2008, p. 89) refere que população “É um conjunto definido de elementos que possuem
determinadas características”.
Neste caso, a população foi constituída por alunos disgráficos de todas as turmas da 8ª classe
na Escola Secundária de Mudaúca.
A amostra
A amostra compreendeu 50 alunos, 25 do sexo masculino e 25 do sexo feminino e 4
professores.
Considerações éticas
Aspectos éticos
Antes dos informantes fazerem parte do estudo, foram transmitidos um documento que
contêm informações, detalhando os objectivos da pesquisa e posterior assinatura do termo de
consentimento livre e informado. Como forma de manter a privacidade dos participantes, o
autor pediu previamente à direção da Escola a disponibilização de uma sala onde decorreu a
entrevista, sendo um entrevistado de cada vez. Foi igualmente garantido o anonimato e
confidencialidade dos pesquisados conforme uma codificação em cada folha do informante
(Aluno A, B, C, D,......).
Consultas bibliográficas
Relativamente à maneira pela qual foram obtidos os dados para a elaboração do presente
estudo, recorreu-se numa primeira instância às consultas bibliográficas dado que todos os
estudos precisam de um referencial teórico para se inteirar até que ponto outros pesquisadores
anteriores concluíram sobre estudos com as mesmas temáticas. Esta técnica auxilia no
delineamento do trabalho, como referem Marconi & Lakatos (2003):
Observação directa
A observação directa é uma técnica de colheita de dados que utiliza os órgãos de sentido na
obtenção de determinados aspectos da realidade. Segundo Artur (2010, p. 20) “não consiste
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apenas em ouvir e ver, mas também em examinar factos ou fenómenos que se desejam
estudar”.
É com esta técnica que se observou a realidade do que acontece nos cadernos dos alunos
depois e durante a escrita. Esta técnica decorreu em duas etapas, a saber:
1ª etapa Observação dos cadernos dos alunos em 2 turmas da 8ª classe (Turmas 1 até 3) a fim
levantar os seguintes dados: legibilidade da caligrafia, espaçamento das letras e entre as
linhas, posição da caligrafia, tamanho, rasuras ou limpeza na escrita.
2ª etapa Assistência de aulas nas 2 turmas da 8ª classe para observar: a posição tomada pelos
alunos durante a escrita, o tipo de suporte usado para encosto do caderno, a velocidade
aplicada no ditado e na escrita, a posição do caderno, o tipo de instrumento para escrever, a
posicionamento dos dedos.
Entrevista
Consiste na recolha de dados envolvendo perguntas aos respondentes, quer em grupo quer
individualmente, onde as respostas podem ser registadas por escrito ou gravadas em áudio.
Foi aplicada uma entrevista semiestruturada aos alunos e professores sobre o estágio da arte
de escrita à mão.
A opção por esta fundamentou-se por um lado, porque o estudo continha perguntas mais
abertas, com mais liberdade, e, em geral, podiam ser respondidas dentro de uma conversa
informal, e por outro, por permitiria uma grande flexibilidade nas perguntas, obtenção de
dados não encontrados em fontes documentais, possibilidade de obter informações mais
precisas, podendo ser confrontadas e comprovadas de imediato, e, porque forneceria mais
riqueza para obter o contexto.
Questionário
Neste sentido, cada informante recebeu uma folha contendo perguntas sobre a disgrafia e com
o devido espaço para responder.
29
Local do estudo
Fonte: www.google&maps.localizacao&geografica.de/escolasecundariademudauca/mz.com
Massinga é um dos 14 distritos que compõem a província de Inhambane. Este distrito faz
limite a Norte com o distrito de Vilankulo, a Sul com Morrumbene, Oeste com Funhalouro e
a Este é banhado pelo Oceano Índico. Segundo o Censo de 2017, Massinga é o distrito mais
populoso da província de Inhambane com uma população de 228437 habitantes, cujo taxa
líquida de escolarização até o EP2 situa-se em 87,7 %.
30
CAPÍTULO IV
25 cadernos apresentam uso incorrecto das linhas, isto é, invasão do espaço reservado às
apreciações do professor.
10 casos de rasuras
Relativamente aos aspectos acima apresentados, 19 alunos dos observados foram descartados
por se apresentarem com menos de 2 aspectos que concorrem para a Disgrafia. Além destes
aspectos correspondentes aos sintomas da Disgrafia propostos por Magalhães (2015), foram
verificados outros que contribuem para uma caligrafia pouco apreciável como uso irregular
das maiúsculas e minúsculas bem como a mistura da letra imprensa e cursiva. Depois desta
fase de observação, 11 alunos (A1, C, G, H1, L, M, K1, S, S1, W, Z) foram classificados
32
como disgráficos dado que, estiveram inclusos em todos itens tomados em consideração,
Figura 6 Caderno do aluno C (21/02/2023),
como se vê nas imagens abaixo:
Os alunos acima representam uma cifra de 22% (n = 11) de todos os casos observados (50),
ou seja, em cada 4 alunos 1 é disgráfico. Estes números levam a concluir que em cada turma
desta escola, existem em média 11 alunos disgráficos. Verificou-se que a prevalência é mais
notável nos alunos do sexo masculino, onde correspondem o número de 8 relativamente a 3
do sexo feminino. Esta constatação corrobora com o preconizado por DMS (2014, p. 49) que
diz “indivíduos do sexo masculino, em geral, tem mais propensão do que os do sexo feminino
para receber o diagnóstico de formas moderadas e graves de deficiência intelectual”. Uma
tentativa de explicar estes resultados no mesmo estudo refere que registro de maior número
de meninos no diagnóstico de transtornos mentais, deve-se ao facto de que “grande parte da
população masculina não adere às medidas de atenção integral, decorrente das variáveis
culturais”. Com efeito o homem, mesmo consciente de que sua saúde mental não vai bem, na
tentativa de defender sua masculinidade, opta por ignorar os sintomas e viver, propiciando
desta maneira grandes chances de transferir a doença para as gerações posteriores.
33
Paralelamente a estes dados, prosseguiu-se com assistência de 4 aulas nas mesmas turmas
envolvendo 4 professores da mesma unidade escolar afim de observar os seguintes aspectos:
a posição tomada pelos alunos durante a escrita, o tipo de suporte usado para encosto do
caderno, a velocidade aplicada (ditado verso escrita), a posição do caderno, o posicionamento
dos dedos.
Segundo o terapeuta de psicomotricidade, Kostka (2022, s/p.) para uma caligrafia legível “é
essencial adotar bons hábitos logo desde o início[...]a criança pode começar a aprender a
utilizar uma boa postura assim que estiver corretamente sentada à sua mesa”, como se vê na
imagem abaixo:
Fonte:www.bickids.com (2023)
carteiras em todas as turmas, porém, não são suficientes para todos, ao que alguns sentam em
3 numa carteira, outros ainda sentam no chão”, como se verifica na imagem a seguir:
Esta situação propicia para uma caligrafia indesejável pois aluno não está numa posição
correcta para escrever à vontade. Nesta posição, o aluno é obrigado a usar os pés como
suporte do caderno, o que é impróprio, pois a um dado momento estes lhe doem e o caderno
escorrega facilmente, além de que o aluno é obrigado a dobrar a coluna e o pescoço, o que
constitui um atentado à sua saúde.
♦ No segundo aspecto observado nesta fase, constou que, 11 carteiras não possuem condições
favoráveis para uma letra apreciável, onde duas estão sem a tábua de suporte devido à
danificação e 9 com tábuas exageradamente inclinadas para baixo.
35
Nesta etapa cada um dos 50 alunos recebeu uma ficha contendo as perguntas e recebeu
instruções de como devia responder. O autor deixou claro que quem não quisesse responder
não seria prejudicado, bastando deixar as perguntas que não achar conveniente responder em
branco, ao que as respostas colhidas são resumidas pela seguinte distribuição
Pergunta 9: (12 mãos no ar) 13(dedo no chão) 9 (com giz nas paredes de chapa) 16 (não
respondidas)
Pergunta 10 a) 17 (lápis porque é fácil de apagar quando errar) 28(canetas porque fica mais
bonito) 5(não respondidas), justificações diversas
Das respostas obtidas verificou-se que 96% dos alunos (n=50) responderam a todas as
questões em relação a 4% que responderam a zero questões. Verificou-se através da pergunta
número 16 que os alunos não conhecem as patologias da linguagem, muito especificamente a
disgrafia. Por não terem tais conhecimentos, não procuraram formas de melhorar a sua
escrita. Outra verificação que ajuda a compreender as origens da disgrafia foi a pergunta
38
número 7, onde 40% dos investigados responderam que foram pressionados a melhorar sua
caligrafia principalmente na primeira classe aquando da aprendizagem do abecedário. Tais
constatações concordam com as indicações preconizadas por UCM (2022), no âmbito de
prevenção contra a disgrafia onde se lê:
É preciso não forçar a criança a escrever muito cedo, é também preciso não esquecer que toda
e qualquer aquisição requer um processo de integração mental que tem lugar nos períodos de
repouso: é por isso contra-indicado deixar e obrigar a criança escrever sem para (p. 103).
Quanto mais a criança é pressionada para escrever com qualidade desejável, alimenta no seu
pensamento o medo de que vai errar da próxima veze. Requer-se do educador a criatividade
de aplicar técnicas dinâmicas, de forma a induzir o aluno a melhorar por si próprio a sua
caligrafia.
Foi dirigida uma entrevista a 4 professores da mesma escola para compreender que métodos
estes têm aplicado para corrigir situações de disgrafia.
Pergunta 2: 1 (transtornos mentais), 1(falta de dom para escrever bonito) e 2(sem resposta)
Pergunta 5: 1 (poucos alunos aperfeiçoam, no final, sua caligrafia), 1 (os alunos não se
comprometem com a caligrafia) e 2(sem resposta)
Pergunta 6: 3(dificulta a comunicação do aluno na base do que ele escreve) 1(sem resposta)
Dadas resposta analisou-se que os professores não possuem conhecimentos amplos deste
transtorno, o que contribui para sua prevalência nas escolas. É preciso se identificar e
conhecer um problema para depois se constituir formas de resolvê-lo.
Só um professor (P2), dos quatro entrevistados foi ao encontro de uma das causas de
disgrafia. Este, questionado sobre as causas da disgrafia respondeu “esses alunos na sua
maioria possuem transtornos mentais que lhes impossibilitam sua coordenação no momento
de realizar os traços de escrita”. Esta declaração concorda com a preconizada por Magalhaes
(2015, p.13) que avança como uma das causas da Disgrafia “transtornos de habilidades
motoras e transtornos de condutas de tipo desorganizado”. Há que realçar a mitificação do
dom divino no que concerne a caligrafia desejável. Segundo a resposta do professor P3, “cada
aluno tem seu dom no que toca à caligrafia”. Ele continua a explicar que “pode-se ensinar a
caligrafia com rigor e com um excelente modelo, no entanto, resultar num aluno disgráfico”.
O mesmo pensamento é sustentado por Vygotsky (1998 1998, p. 139) que diz:
Estes dois autores confirmam que a escrita é adquirida com o esforço combinado (aluno,
professor e pais/encarregados de educação), e não à inata habilidade defendida pelo P3.
Para tal cabe-se empreender tempo, recursos e todos os métodos dos mais sofisticados e
dinâmicos para levar o aluno a desenvolver esta habilidade. Cabe aos educadores despertar
nos alunos o interesse pelo belo na escrita e aos pais colaborarem com todos os esforços que
estão sendo aplicados na escola. É necessário explicar-se aos alunos que eles são capazes de
mudarem as suas histórias no que se refere à escrita.
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CAPÍTULO V
CONSIDERÇÕES FINAIS
Conclusão
Não obstante a maior prevalência nos indivíduos do sexo masculino, ela atinge a qualquer
indivíduo e em qualquer idade.
Verificou-se que os principais erros cometidos pelos alunos relacionados à disgrafia são:
défice na organização espacial durante a escrita, onde em alguns casos está exageradamente
inclinada para esquerda ou para direita e em outros casos a mistura. Outro erro registado está
relacionado ao tamanho da letra onde em certos casos é muito fina e noutra muito grossa. Em
casos mais graves notou-se a incoordenação total onde a escrita não possibilita sequer a
decodificação de todas as letras, comprometendo assim a mensagem transmitida na sua
totalidade.
superlotação das salas, em destaque nas classes em que se inicia a aprendizagem da escrita,
onde o professor vê-se incapacitado de acompanhar o percurso de cada aluno, condena os
alunos a adquirirem disgrafia. É pertinente que haja mais investimento na contratação mais
professores para aliviar as enchentes que se verificam no nosso país.
Constatou-se ainda que, dentro das influências ambientais, deve-se investir na alocação das
carteiras para proporcionar aos alunos melhor posição para escrever com elegância. Na
fabricação das mesmas deve-se observar o plano do encosto do caderno, pois os planos mais
inclinados dificultam a fixação do caderno para uma caligrafia legível.
Recomendações
Diante do constatado durante o estudo, recomenda-se que mais pesquisas sobre a disgrafia
sejam incentivadas para que se possa enriquecer o pouco referencial teórico que até se
regista. Aliado ao o acima dito, nota-se que ainda há mais por se investir para a intervenção
da disgrafia. É necessário que se organize conferências, palestras, capacitações aos
professores sobre a disgrafia, com o intuito desvendar as origens deste transtorno e identificar
mais técnicas adequadas à realidade moçambicana.
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Referências Bibliográficas
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língua portuguesa, UNIOESTE, Paraná.
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um sinal de que nem tudo vai bem com o estudante, Brasília
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transtorno de aprendizagem, V CONEDU, São Paulo.
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https://www.tdahmente.com/wp-content/uploads/2023/02/Manual-Diagn%C3%B3stico-e-
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