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Revista

Brasileira de
Direito
Processual
Penal

Volume 9 - Nº 02 - mai./ago. 2023


ISSN 2525-510X
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2

Dossiê
“Processo penal da pessoa jurídica
e investigações empresariais internas”

Publicação fomentada pelo CNPq


(Chamada 12/2022 Programa Editorial) IBRASPP
Revista Brasileira de Direito Processual Penal Volume 9 - Número 02
Brazilian Journal of Criminal Procedure Porto Alegre/RS
mai./ago. 2023
http://www.ibraspp.com.br/revista/
(publicado em jul./2023)
ISSN 2525-510X

Expediente / Masthead

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Bruno Torchia (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa –
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Curitiba/PR, Brasil)
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Universidade de Fortaleza - Fortaleza, Ceará, Brasil)
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Grande, MS, Brasil)
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España)
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Curitiba/PR, Brasil)
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España)
Stefano Ruggeri (Universita’ degli Studi di Messina, Messina, Italia)
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Víctor Beltrán Román (Universidad Diego Portales, Santiago, Chile)
Víctor Gómez Martín (Universitat de Barcelona, Barcelona, España)
Vinícius Diniz Monteiro de Barros (Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais - Belo Horizonte/MG)
Virxilio Rodríguez Vázquez (Universidad de Vigo, Vigo, España)
Vitor de Paula Ramos (Universitat de Girona, Girona, España)
Walter Bittar (Pontifícia Universidade Católica de Londrina - Londrina/PR,
Brasil)
William Cecconello (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul -
Porto Alegre, RS, Brasil)
Xulio Ferreiro Baamonde (Universidade da Coruña, A Coruña, España)

Projeto Gráfico [Diagramação e Capa] Camila Provenzi (be.net/camilaprovenzi)


Sumário

501 Dossiê: “Processo penal da pessoa jurídica e investigações


empresariais internas”
“Criminal proceedings for legal entities and internal corporate
investigations”

503 Editorial para el dossier “Proceso penal de personas jurídicas e


investigaciones internas empresariales”: Investigaciones internas
empresariales, derechos fundamentales y prueba prohibida
 ossier Editorial “Criminal proceedings for legal entities and internal corporate
D
investigations”: Corporate internal investigations, fundamental rights and
exclusionary rule
Ana María Neira Pena

545 Reporting of the results of internal investigations – main types of


cooperation between companies and prosecutorial authorities in the
light of the threats to individuals in criminal proceedings
 eportando os resultados das investigações internas: principais modos
R
de cooperação entre empresas e autoridades investigativas em relação a
persecução de cidadãos no processo penal
Szymon Pawelec

575 Mejores prácticas en los canales de denuncias


Best practices in reporting channels
Oliver Pascual

609 Licitude e validade da prova penal nas investigações empresariais


internas
Legality and validity of criminal evidence in internal corporate investigations
Sérgio Bruno Araújo Rebouças

645 Unlocking the mystery of internal investigation: the use of


information from private internal investigations in the Polish criminal
process
 esbravando os mistérios das investigações internas: o uso de informações
D
oriundas de investigações corporativas internas no processo penal da Polônia
Andrzej Sakowicz
Sebastian Zieliński
689 La Directiva Whistleblowing: un paso más en la privatización
del proceso penal. Especial referencia a las entrevistas en las
investigaciones internas
The whistleblowing Directive: a further step in the privatization
of criminal proceedings. Special reference to interviews in internal
investigations
Ana María Vicario Pérez

723 Corporate Internal Investigations 4.0: on the criminal procedural


aspects of applying artificial intelligence in the reactive
corporate compliance
Investigações internas corporativas 4.0: sobre os aspectos processuais
penais da aplicação da inteligência artificial no âmbito reativo do
compliance
Túlio Felippe Xavier Januário

787 Persecução penal: investigação, juízo oral e etapa recursal

Criminal prosecution: investigation, public oral trial and appeal

789 Evaluación crítica de la regulación y el uso de la suspensión


condicional del procedimiento en el marco de la persecución
penal a personas jurídicas por el delito de soborno en Chile
 ritical evaluation of the regulation and use of the conditional
C
suspension of proceedings in the framework of the criminal
prosecution of corporations for the crime of bribery in Chile
Osvaldo Artaza
Braulio Carrasco

825 Subtracção de menor por um dos pais: eficácia prática no


contexto parental
 ubtraction of a child by one of the parents: practical effectiveness in
S
the parental context
Ofélia Coutinho
875 Teoria da Prova Penal

Criminal evidence theory

877 Prova Pericial no Processo Penal: a compreensão e a mitigação dos


erros forenses como mecanismo de respeito ao contraditório, à ampla
defesa e ao direito à prova lícita
 orensic evidence in Criminal Procedure: the comprehension and mitigation of
F
forensic errors as a mechanism to promote the adversarial principle, the full
defense and the right to legal evidence
Maria Eduarda Azambuja Amaral
Aline Thaís Bruni

913 A complexidade da significação probatória: problemas, dimensões e


conteúdo da intencionalidade da prova penal
 he complexity of probatory signification: problems, dimensions, and content
T
of the intentionality of the criminal proof
Eliomar da Silva Pereira

949 La flexibilización probatoria en el proceso penal: una forma de


injusticia epistémica
Evidence flexibilization in the criminal trial: a form of epistemic injustice
David Sierra Sorockinas
Mariana Toro Taborda

979 O princípio nemo tenetur se ipsum accusare e os meios de obtenção


de prova na lei do cibercrime
 rinciple nemo tenetur se ipsum accusare and the means of evidence
P
attainment in Cybercrime Law
Ana Melro

1003 O erro judiciário e a injustiça epistêmica no reconhecimento


de pessoas
 he miscarriage of justice and epistemic injustice in eyewitness
T
identification
Sara Ribas Ortigosa Leite
Claudio José Amaral Bahia
Dossiê:
“Processo penal da pessoa
jurídica e investigações
empresariais internas”

“Criminal proceedings for


legal entities and internal
corporate investigations”
Editorial para el dossier “Proceso penal de personas
jurídicas e investigaciones internas empresariales”:
Investigaciones internas empresariales,
derechos fundamentales y prueba prohibida

Dossier Editorial “Criminal proceedings for legal entities


and internal corporate investigations”: Corporate internal
investigations, fundamental rights and exclusionary rule

Ana María Neira Pena1


Universidade da Coruña, Coruña, España
[email protected]
orcid.org/0000-0002-6562-8208

Resumen: El presente trabajo aborda el tema de las investigaciones


internas empresariales, como manifestación de la tendencia privatizadora
que representa la autorregulación empresarial. Tras una definición y
caracterización general de las investigaciones internas, el trabajo se
centra en analizar el marco legislativo actual de tales investigaciones
en España, con especial atención a las novedades incorporadas con
la reciente aprobación de la ley de protección de los denunciantes.
A continuación, se problematiza sobre la cuestión de los derechos
fundamentales como límite a los poderes de investigación de la empresa,
tratando de determinar en qué medida resultan de aplicación en el
contexto de las investigaciones empresariales los derechos sustantivos
y los derechos procesales. Por último, se aborda la aplicabilidad de
la regla de exclusión probatoria a estas investigaciones, privadas y
desreguladas, especialmente a la luz de la actual jurisprudencia de los
Tribunales españoles en la materia.
Palabras clave: investigaciones internas empresariales; derechos
fundamentales; prueba prohibida; prueba ilícita; autorregulación

1
Profesora Contratada Doctora (PC-DR) de la Universidade da Coruña, Coruña,
España. Doctora en Derecho.

503
504 | Neira Pena, Ana María.

empresarial.

Abstract: This paper addresses the issue of corporate internal investigations,


as a manifestation of the privatizing trend represented by corporate self-
regulation. After a general definition and characterization of internal
investigations, the paper focuses on analyzing the current legislative
framework of such investigations in Spain, with special attention to the
novelties incorporated with the recent approval of the national law on
whistleblower protection. It then discusses the issue of fundamental rights
as a limit to the company’s investigative powers, trying to determine to what
extent substantive and procedural rights apply in the context of corporate
investigations. Finally, the applicability of the evidentiary exclusion rule to
these private and unregulated investigations is discussed, especially in light
of the current case law of the Spanish Courts on the subject.
Keywords: corporate internal investigations; fundamental rights; exclusionary
rule; unlawful evidence; corporate self-regulation.

Sumario: 1. Introducción. Investigaciones internas y autorregulación


empresarial. 2. Concepto y características de las investigaciones
internas empresariales. 3. Las investigaciones internas empresariales
en el ordenamiento jurídico español. 4. Los derechos fundamentales
como límite a las investigaciones internas empresariales.
5. Investigaciones internas empresariales y prueba prohibida.
6. Conclusiones. Referencias bibliográficas

1. Introducción . Investigaciones internas y autorregulación


empresarial

Las investigaciones internas empresariales son una expresión más


de la denominada autorregulación empresarial, cuyo fomento se identifica
como uno de los principales fundamentos de la responsabilidad penal
de las personas jurídicas2. En este sentido, se observa que la amenaza

2
En este sentido, afirma GÓMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. “Aspectos sustantivos
relativos a la responsabilidad penal de las personas jurídicas”. En BANACLO-
CHE PALAO, Julio; ZARZALEJOS NIETO, Jesús María; GÓMEZ-JARA DÍEZ,

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penal tiene como principal finalidad incentivar a las empresas para


adoptar mecanismos internos de cumplimiento normativo, lo que incluye
herramientas para prevenir y detectar la comisión de ilícitos penales, así
como para reaccionar ante eventuales incumplimientos, principalmente
a través del desarrollo de investigaciones internas, de actuaciones de
colaboración con la justicia y/o de imposición de sanciones disciplinarias.
La autorregulación se justifica, esencialmente, en la incapacidad del
Estado para controlar ciertos riesgos creados por la sociedad post-industrial
moderna3. En ese contexto, y debido a la complejidad de la sociedad actual,
las técnicas clásicas de intervención estatal se reputan insuficientes, por lo
que se opta por recurrir a herramientas de autorregulación social propias
del llamado derecho reflexivo4.
Las ventajas de estas herramientas de autorregulación no son
pocas. En muchos casos las regulaciones internas resultan más eficaces en
términos preventivos que la regulación estatal, al atender a la idiosincrasia
propia de cada organización y al contar con medios y conocimientos

Carlos. Responsabilidad penal de las personas jurídicas. Aspectos sustantivos y


procesales. Madrid: La Ley, 2011, pp. 15-126, p. 27, que el conjunto de la nor-
mativa que introdujo en el ordenamiento español la responsabilidad penal
de las personas jurídicas resulta de difícil explicación sin tomar en conside-
ración la profunda huella que ha ido dejando la autorregulación empresarial
en diversas áreas jurídicas; Por su parte, NIETO MARTÍN, Adán. La respon-
sabilidad penal de las personas jurídicas: un modelo legislativo, Madrid: Iustel,
2008, p. 8, sostiene que “la finalidad de la responsabilidad penal de las personas
jurídicas es coaccionar a la autorregulación”.
3
Según HEINE, G., Die strafrechtliche Verantwortlichkeit von Unternehmen: Von
individuellem Fehlverhalten zu kollektiven Fehlentwicklungen, insbesondere bei
Großrisiken, Nomos, Baden-Baden, 1995, el Estado, en la era de la incerti-
dumbre, ha perdido el monopolio de la protección de bienes jurídicos, de la
distribución de riesgos y de la planificación estratégica, puesto que carece
de la suficiente información y competencia para poder desarrollarlas. Así las
cosas, en opinión del referido autor, para llevar a cabo el management de ries-
gos, a través de la precaución y la adaptación, son necesarios determinados
conocimientos técnicos derivados de la experiencia empresarial a lo largo del
tiempo. El Estado ha dejado de realizar las inversiones suficientes para tener
ese conocimiento técnico y, consecuentemente, carece de competencia para
la administración a largo plazo de los riesgos modernos.
4
AYALA GONZÁLEZ, Alejandro. “Investigaciones internas: ¿zanahorias legis-
lativas y palos jurisprudenciales?”. Indret: Revista para el Análisis del Derecho,
n. 2, pp. 270-303, p. 274, 2020.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
506 | Neira Pena, Ana María.

técnicos más específicos. Además, la autorregulación puede suponer


un ahorro de recursos públicos, al internalizar la empresa parte de los
costes asociados a prevenir y detectar incumplimientos normativos.
Adicionalmente, desde el punto de vista de las organizaciones privadas,
permite mejoras en la gestión, principalmente asociados a la minimización
de los costes de incumplimiento y a la mejor gestión del riesgo reputacional5.
Sin embargo, las referidas ventajas no deben de servir para ocultar
los riesgos, en absoluto desdeñables, que plantea recurrir a “herramientas
de colaboración público-privada”6 en un ámbito como el de la gestión
de los riesgos penales. Es por ello que, esta tendencia privatizadora en
la prevención e investigación de delitos7, ha de ser vista con cautela, en

5
Las ventajas de la autorregulación desde el punto de vista de la gestión em-
presarial pueden tener reflejo en muy diversos ámbitos. Así pues, además
de minimizarse los riesgos de sufrir sanciones, penales o administrativas, la
gestión en compliance también puede implicar mejoras para la imagen de la
empresa, para su posición negociadora ante entidades financieras o asegura-
doras y, por supuesto, para su posición defensiva en caso de verse implicada
en un proceso judicial (Cfr. RIBAS, Xavier. Practicum Compliance. Pamplona:
Aranzadi, 2018, pp. 33-50).
6
Así las define NIETO MARTÍN, Adán. “Investigaciones internas”. En NIETO
MARTÍN (Dir.), Manual de cumplimiento penal en la empresa, Valencia: Tirant
Lo Blanch, 2015, pp. 231-270, p. 261.
7
Son muchos los autores que se refieren a las investigaciones internas empre-
sariales como una forma de “privatización” del proceso penal. Entre otros,
MONTIEL, Juan Pablo, “Sentido y alcance de las investigaciones internas de
la empresa”. En Revista de Derecho de la Pontificia Universidad Católica de Val-
paraíso, Vol. 40, n. 1, 2013, pp. 251-277, pp. 251-252; ESTRADA I CUADRAS,
Albert; LLOBET ANGLÍ, Mariona. Derechos de los trabajadores y deberes del
empresario: conflicto en las investigaciones empresariales internas. En SILVA
SÁNCHEZ, Jesús María (Dir.), Criminalidad de empresa y “Compliance”, Pre-
vención y reacciones corporativas, Barcelona: Atelier, 2013, pp. 197-228, p.
206; DE PRADA RODRÍGUEZ, Mercedes; SANTOS ALONSO, Jesús. “Respon-
sabilidad penal de la empresa: las investigaciones internas”. En Anuario Jurí-
dico Villanueva, n. 8, 2014, pp. 287-306, p. 293; ALCÁCER GUIRAO, Rafael.
“Investigaciones internas”. En AYALA GÓMEZ, Ignacio; ORTIZ DE URBINA
GIMENO, Íñigo (coords.), Memento práctico. Penal Económico y de la Empresa
2016-2017. Madrid: Francis Lefebvre, 2016, p. 214; AYALA (2020), p. 276.
POUCHAIN, Pedro. “Autoincriminación “forzada” en las investigaciones in-
ternas.”. Indret: Revista para el Análisis del Derecho, N. 4, pp. 80-111, 2022, p.
86. En la misma línea, en el derecho estadounidense, pueden verse, al respec-
to, las reflexiones de FIRST, Harry. “Branch office of the prosecutor: the new
role of the corporation in business crime prosecutions”, North Caroline Law

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tanto que, con fundamento en la presunta incapacidad del Estado para


prevenir, detectar y reprimir las conductas delictivas, se da entrada a los
particulares y, por lo tanto, a sus intereses privados, en un ámbito, como
el de la justicia penal, en el que debe de primar el interés público en la
protección de los bienes jurídicos tutelados por las normas penales y en
la persecución de los delitos.
Precisamente, sobre los riesgos que suponen las investigaciones
internas empresariales para los derechos fundamentales de los sujetos
investigados tratan los trabajos de este dossier, en el que se contienen
propuestas regulatorias, interpretativas y mejores prácticas para hacer
compatibles los deberes de investigación de la empresa con los derechos
de sus trabajadores, estableciéndose las condiciones que han de cumplirse
en la indagación interna para que las evidencias así obtenidas resulten
admisibles y válidas como prueba en el proceso penal8.
No cabe desconocer que, entre las herramientas privadas de
gestión de riesgos penales, las investigaciones internas empresariales
ocupan una posición singular. Y ello porque, en estos procedimientos de
indagación o de comprobación, que la empresa viene llamada a desarrollar
como parte de sus deberes de compliance, la tensión entre la búsqueda de
la eficiencia – en términos de ahorro de recursos púbicos- y la eficacia
de los derechos – especialmente de los individuos sujetos a los poderes
de dirección y control del empresario- es máxima9.

Review, n. 89, pp. 23-98, p. 62, 2010. Este autor compara las investigaciones
internas con una técnica de outsourcing, esto es, con una suerte de externali-
zación de las funciones de investigación penal, afirmando que las oficinas de
los fiscales se enfrentan, en esencia, a la decisión de cualquier empresa que
se cuestiona si “producir o comprar” un determinado producto, esto es, si ad-
quirir los recursos necesarios para desarrollar internamente una determinada
función o contratar tales servicios con un agente externo.
8
Los artículos comprendidos en el dossier aportan una visión comparada so-
bre el estado de la cuestión, al abordarse la referida problemática en diversos
ordenamientos jurídicos, tales como el estadounidense, el italiano, el polaco,
el brasileño o el español.
9
Hay que advertir que no puede existir actividad privada legítima separada
por completo del marco constitucional, por lo que la autorregulación siempre
será regulada, debiendo concebirse como una autonomía constitucionalizada,
como un fenómeno social cuyo ejercicio debe darse dentro del contexto de
los valores constitucionalizados. En este sentido, la actuación de los sujetos

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
508 | Neira Pena, Ana María.

Asumir la regularidad de las investigaciones internas empresariales


como estándar de actuación de las empresas10 ante la sospecha de haberse
cometido una infracción o un incumplimiento en su seno, supone ir un
paso más allá en la privatización de la gestión de los riesgos penales. Y
es que, en este caso, la entidad no actuaría solo desde un punto de vista
preventivo, a través de la adopción de medidas organizativas y de gestión
orientadas a minimizar el riesgo de comisión de ilícitos penales; sino que
se le atribuiría un papel fundamentalmente activo y reactivo, consistente
en detectar hechos ilícitos e investigarlos, como el fin de esclarecerlos y
de recabar evidencias sobre los mismos.
En definitiva, con las investigaciones internas empresariales, se
atribuye a las corporaciones privadas una labor de pseudo-policía11, de
forma que se les pide que, a través determinadas medidas indagatorias,
descubran la comisión de ilícitos en su seno, determinen a los culpables
individuales y recopilen las fuentes de prueba, que deberán de proceder
a revelar a la justicia si pretenden beneficiarse de las exenciones y
atenuaciones previstas en la legislación penal.
En este trabajo se abordará, en primer lugar, el concepto y
características esenciales de las investigaciones intra-empresariales. En
segundo lugar, se analizará la legislación española relevante para entender
qué incentivos, obligaciones y limitaciones se prevén en relación con el
desarrollo de actuaciones de investigación de incumplimientos normativos
en la empresa. En tercer lugar, el análisis se centrará en los límites que
representan los derechos fundamentales de los trabajadores para los

privados debe encontrarse subordinada y limitada por los derechos funda-


mentales asegurados por la Constitución (RODRÍGUEZ SALINAS, Sergio. “El
rol de la autorregulación en la determinación de la responsabilidad penal del
empresario”. Revista Electrónica de Estudios Penales y de la Seguridad, N. Extra
7, 2021, p. 1-22, pp. 4 y 6).
10
De acuerdo con DUGGIN, Sarah Helene. “Internal Corporate Investigations:
Legal Ethics, Professionalism and the Employee Interview”, Columbia Busi-
ness Law Review, 2003, pp. 859-964, p. 886, en Estados Unidos, las inves-
tigaciones internas se han convertido en el estándar de cuidado a adoptar
siempre que se producen alegaciones o sospechas de actuaciones irregulares
en entornos organizativos.
11
ALCÁCER GUIRAO, Rafael. “Cumplimiento penal por la persona jurídica y
derechos fundamentales: la intimidad como límite a la vigilancia empresa-
rial”, Diario La Ley, N. 8053, 2 de abril de 2013, p. 2.

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poderes de investigación del empresario. Y, por último, se reflexionará


sobre la aplicación de la regla de exclusión probatoria a las investigaciones
internas empresariales a la luz de la doctrina del Tribunal Constitucional
español sobre la prueba prohibida.

2.- Concepto y características de las investigaciones


internas empresariales

Una investigación interna puede ser definida, en esencia, como


un esfuerzo de la organización por determinar qué ha ocurrido en el
seno de la misma ante la sospecha de alguna infracción normativa. Se
trata, por lo tanto, de procedimientos privados que una organización
desarrolla internamente con la finalidad de esclarecer sospechas de
conductas ilícitas que se hayan cometido o que se estén cometiendo en
el desarrollo de su actividad.
De la anterior definición se deriva que estas investigaciones
tienen la misma finalidad que las investigaciones oficiales propias del
proceso penal, esto es, esclarecer los hechos constitutivos de infracción y
determinar a los responsables de los mismos12. Sin embargo, hay algunas
notas definitorias que las distinguen de una investigación pública.
La primera diferencia fundamental con las investigaciones públicas
radica, precisamente, en el carácter privado de las investigaciones internas
empresariales. Así pues, el hecho de que el procedimiento indagatorio se
entable en el marco de una relación entre particulares, concretamente
en la relación laboral, supone, en primer lugar, que el investigador actúa
sin potestades de injerencia13, justificándose su actuación, a lo sumo,

12
De acuerdo con el art. 299 LECrim estas son, precisamente, las finalidades de
la instrucción penal. el referido precepto dispone que “constituyen el sumario
las actuaciones encaminadas a preparar el juicio y practicadas para averiguar y
hacer constar la perpetración de los delitos con todas las circunstancias que pue-
dan influir en su calificación y la culpabilidad de los delincuentes (…)”.
13
En este sentido, POUCHAIN (2022) p. 85, llama la atención sobre el hecho
de que el empleador no dispone de las mismas potestades que las autoridades
oficiales de persecución penal, destacadamente, los medios de coerción de
una detención cautelar o incautación.

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510 | Neira Pena, Ana María.

en el ejercicio de un derecho14 o en el cumplimiento de un deber15. La


segunda característica diferencial de estas investigaciones respecto de
las investigaciones públicas tiene que ver con su carácter desregulado.
Así pues, la inaplicabilidad de las normas procesales a los actos privados
de obtención de prueba, sumado a la falta de previsiones legales
específicas sobre estos procedimientos empresariales16, provoca que las
investigaciones internas sigan ubicadas en una zona desregulada entre
el derecho público y privado17.
La necesidad de encontrar una base normativa de referencia para
las investigaciones internas empresariales conduce claramente al Derecho
laboral, que regula las relaciones entre el empresario y el trabajador18.

14
Cabe entender que la investigación interna desarrollada por el empresario,
como parte de la eficaz implementación de su programa de cumplimiento,
implica ejercicio del derecho de defensa de la entidad. En este sentido, se pro-
nuncian NIETO (2015) p. 264 y ALCÁCER GUIRAO, Rafael. “Investigaciones
internas: prolegómenos constitucionales y cuestiones abiertas”. En Un modelo
integral de Derecho Penal. Libro Homenaje a la Profesora Corcoy Vidasolo, Ma-
drid: Agencia Estatal Boletín Oficial del Estado, 2022, pp. 989, 1000, p. 999.
15
Concretamente se trataría de una concreción del deber de compliance, con-
sistente en ejercer una debida supervisión, vigilancia y control de la actividad
de los trabajadores. Sin embargo, la existencia de este deber es controvertida.
Así pues, de acuerdo con MONTIEL (2013), pp. 262-265, no resulta senci-
llo encontrar en la legislación alemana, estadounidense y española un deber
legal que obligue a las empresas a someterse a un proceso de auto-limpieza,
siendo posible encontrar únicamente deberes genéricos de control o supervi-
sión, pero no directamente un deber específico de investigar.
16
Tal y como aprecia GALLEGO SOLER, José Ignacio. “Investigaciones internas
corporativas: de la práctica a la teoría”. En Un modelo integral de Derecho Penal.
Libro Homenaje a la Profesora Corcoy Vidasolo, Madrid: Agencia Estatal Boletín
Oficial del Estado, 2022, pp. 1151-1165, p. 1152, al menos hasta el año 2022,
del que data la publicación, no existía en nuestro país, ni en países de nuestro
entorno de cultura jurídica, ninguna regulación legal detallada de las investi-
gaciones internas imperiales, de cómo deben desarrollarse, ni de los efectos
que pueden producir en el proceso penal. Sin embargo, como se argumentará
en el siguiente epígrafe (3), la situación legal en España ha cambiado sensi-
blemente, de forma reciente, con la entrada en vigor de la Ley 2/2023, de 20
de febrero, reguladora de la protección de las personas que informen sobre
infracciones normativas y de lucha contra la corrupción (más conocida como
la ley whistleblowing o la ley de protección de las personas denunciantes).
17
POUCHAIN (2022) p. 86.
18
En este sentido, la doctrina alemana también entiende que las relaciones, en
el ámbito de una investigación interna, se encuentra, en general, reguladas

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Se produce, por lo tanto, una mutación del marco jurídico que rige la
obtención de información por parte del investigador. Así pues, mientras las
investigaciones penales públicas se rigen por las normas procesales previstas
en la legislación procesal penal, estas investigaciones intra-empresariales
vendrán reguladas, principalmente, por la normativa laboral y por la
normativa de protección de datos personales19. A estos bloques normativos,
en España, hay que añadir la recientemente aprobada Ley 2/2023, de 20
de febrero, reguladora de la protección de las personas que informen sobre
infracciones normativas y de lucha contra la corrupción, que obliga a las
empresas a contar con sistemas internos de gestión de denuncias (art. 9).
Esta norma nacional ha venido a trasponer la Directiva (UE) 2019/1937,
del Parlamento Europeo y del Consejo, de 23 de octubre de 2019, relativa
a la protección de las personas que informen sobre infracciones del
Derecho de la Unión, que también alude a las investigaciones internas
empresariales como una de las formas de seguimiento de las denuncias
internas (considerando 57 y art. 5.12 Directiva 2019/1937)20.
La indicada mutación del marco jurídico resulta especialmente
problemática cuando las evidencias obtenidas en el marco de la
investigación interna pretenden luego trasladarse a un ulterior proceso
judicial, aportando la entidad a las autoridades de persecución penal piezas

por el Derecho laboral (MOOSMAYER, Klaus. “Investigaciones internas: una


introducción a sus problemas esenciales”. En ARROYO ZAPATERO, Luis;
NIETO MARTÍN, Adán (dirs.). El Derecho Penal Económico en la Era Com-
pliance, Valencia: Tirant lo Blanch, 2013, pp. 137-144, p. 140)
19
MOOSMAYER (2013) p. 138; DE PRADA; SANTOS (2014) p. 296, sostienen
que la configuración legal del sistema de investigaciones internas se enmarca
en la normativa laboral y en la normativa de protección de datos española
y europea; Sobre las limitaciones que la normativa de protección de datos
impone al empleador en el ejercicio de sus poderes de control, véase SÁEZ
LARA, Carmen. “Derechos fundamentales de los trabajadores y poderes
de control del empleador a través de las tecnologías de la información y las
comunicaciones”, Temas laborales: Revista andaluza de trabajo y bienestar so-
cial, N. 138, 2017, pp. 185-221.
20
El “seguimiento” de las denuncias es definido en la referida norma europea
como “toda acción emprendida por el destinatario de una denuncia o cualquier
autoridad competente a fin de valorar la exactitud de las alegaciones hechas en
la denuncia y, en su caso, de resolver la infracción denunciada, incluso a través
de medidas como investigaciones internas, investigaciones, acciones judiciales,
acciones de recuperación de fondos o el archivo del procedimiento” (art. 5.12).

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512 | Neira Pena, Ana María.

de convicción o evidencias recogidas en el marco de la investigación


intra-empresarial. Esta colaboración público-privada puede suponer,
primeramente, riesgos para los derechos de los trabajadores investigados,
que quedan sujetos a una indagación privada sin las garantías propias
del sistema procesal21; y, en segundo lugar, riesgos para la integridad del
sistema de justicia penal, al que podrían acceder evidencias obtenidas
con vulneración de derechos de los ciudadanos22.
Piénsese que, incluso, es posible que sean las autoridades de
persecución penal las que induzcan a la entidad a recabar pruebas o
evidencias, ofreciendo a la corporación a cambio un trato penológico
favorable por su colaboración o, incluso, un acuerdo que garantice su
impunidad. En este sentido, la responsabilidad penal de las personas
jurídicas es vista, por algunos, como un instrumento, en manos de
la Fiscalía, capaz de desvirtuar las garantías procesales23 a través

21
En este sentido, tal y como afirma ESTRADA I CUADRAS, Albert. “Confe-
sión o finiquito”: el papel del derecho a no autoincriminarse en las investi-
gaciones internas”. Indret: Revista para el Análisis del Derecho. N. 4. 2020, pp.
227-272, p. 232, existe el riesgo de que la privatización de la investigación
penal suponga, en la práctica, una pérdida o degradación sistemática de las
garantías constitucional y legalmente reconocidas a la persona frente al po-
der coercitivo del Estado.
22
Sobre los riesgos de las investigaciones internas empresariales para el efec-
tivo esclarecimiento de los hechos y el descubrimiento de la verdad, véase
NEIRA PENA, Ana María. La instrucción de los procesos penales frente a las
personas jurídicas. Valencia: Tiran Lo Blanch, 2017, pp. 344-347.
23
En este sentido, DISKANT, Edward. B., “Comparative corporate criminal lia-
bility: exploring the uniquely American Doctrine through comparative cri-
minal procedure”, The Yale Law Journal, N. 118, 2008, pp. 126-176, p. 132,
critica la responsabilidad penal de las personas jurídicas por su conceptuali-
zación como herramienta en manos del fiscal para manipular ciertos aspectos
del proceso penal americano; Por su parte, NIETO (2013) sostiene que, el
fiscal tiene en sus manos, a través de la política de incentivos, la posibilidad
de cambiar el marco jurídico que regula la obtención de información en un
proceso penal, en tanto que las investigaciones internas se rigen por el Dere-
cho del trabajo y parten de la relación de sujeción empresario-trabajador y no
de la relación Estado-ciudadano investigado. En la misma línea, sobre el siste-
ma estadounidense en clave comparativa con el sistema continental español,
véase NEIRA PENA, Ana-María. “Corporate Criminal Liability: Tool or obs-
tacle to prosecution?”. En Brodowski, Dominik; ESPINOZA DE LOS MONTE-
ROS DE LA PARRA, Manuel; TIEDEMANN, Klaus; VOGEL, Joaquim (eds.),
Regulating Corporate Criminal Liability, Suiza: Springer, 2014, pp. 197-210.

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del uso de la corporación privada como una “pieza camuflada del


Estado”24 investigador.
Otro aspecto clave para una correcta caracterización de las
investigaciones internas es su carácter reactivo. Esto implica que las
referidas investigaciones se inician ante sospechas o indicios de una
conducta infractora, con el fin de esclarecer lo acontecido25. Esta nota
aproxima las indagaciones privadas a las investigaciones públicas, que
también son legítimas únicamente en la medida en que se inician ante la
existencia de indicios o sospechas de una infracción, siendo inadmisibles
de carácter preventivo o inquisitivo26.

24
Expresión empleada en la STS (Sala de lo Penal) N. 116/2017, de 23 de febre-
ro. Caso Falciani. F. J. 7º.
25
En palabras de GALLEGO (2022), p. 1153, estas investigaciones operan re-
activamente, esto es, tras la constatación de un hecho que verosímilmente
permite hablar de una sospecha de infracción de alguna de las obligaciones
contenidas en el sistema de gestión de riesgos penales de la entidad.
26
En este sentido, la LECrim exige que las denominadas “medidas de inves-
tigación tecnológica” (ej. la interceptación de comunicaciones o el registro
de equipos informáticos) respeten el principio de especialidad, que exige
que la medida esté relacionada con la investigación de un delito concreto,
no pudiendo autorizarse aquellas que tengan por objeto prevenir o descubrir
delitos o despejar sospechas sin base objetiva, en tanto que supondrían una
inaceptable inquisitio generalis. Sobre esta práctica, propia del modelo inqui-
sitivo, actualmente vedada, véase AGUILERA MORALES, Marien. Proceso
penal y causa general. La inquisitio generalis en el Derecho español, Pamplona:
Aranzadi, 2008; A la improcedencia de este tipo de investigaciones prospec-
tivas se refiere también la STS (Sala de lo Penal) N. 228/2015, de 21 de abril,
que confirmó la condena al Juez Elpidio Silva por un delito prevaricación,
por abrir una causa general en la que se investigó todo el proceso de gestión
al frente de la entidad bancaria Caja Madrid. La actuación del Juez habría
consistido en ordenar, entre otras diligencias de investigación, la reclamación
de tres grupos de direcciones de correos electrónicos corporativos: los de los
propios imputados, los de los inspectores del Banco de España encargados
de la supervisión de Caja Madrid entre los años 2002 y 2010, y los de los
miembros del Comité de Riesgos, del Comité Financiero y Comisión Ejecuti-
va Delegada de Caja Madrid entre 2003 y 2010. Igualmente, se reclamaba el
contenido de los correos electrónicos recibidos o remitidos desde esas direc-
ciones en igual periodo de tiempo, sin que, a pesar de la solicitud de uno de
los imputados de separación de los correos que tenían relación con el présta-
mo objeto de la denuncia del resto de la correspondencia, se proveyera en tal
sentido por el Juez posteriormente condenado.

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Sin embargo, el carácter reactivo aleja y distingue a las


investigaciones internas de otras medidas de control empresarial. En
este sentido, resulta relevante subrayar la importancia de diferenciar las
actividades de control y las de investigación empresarial, advirtiendo
que “el perímetro conceptual de las investigaciones internas no abarca meras
actividades de control genérico, sino que comprende (al igual que el proceso
penal) actividades destinadas a (intentar) reconstruir el pasado” 27, que se
inician a partir de una sospecha de haberse cometido un ilícito o, incluso,
cuando ya hay un proceso judicial en marcha28.
En definitiva, por definición, el inicio de una investigación interna
empresarial solo procederá si existe, cuando menos, una sospecha de haber
tenido lugar un incumplimiento normativo. En este sentido, concuerdo
con MONTIEL29 en que resulta conceptualmente discutible hablar de
investigaciones preventivas30 o distinguir entre investigaciones con
o sin sospecha31.
Para terminar de caracterizar a las investigaciones internas
empresariales, vale la pena realizar alguna reflexión sobre el qué y el quién.
Esto es, qué tipo de actuaciones se desarrollan normalmente como parte de
una investigación interna y quién suele desarrollarlas y dirigirlas en la práctica.
En cuanto al contenido de las actuaciones de investigación,
las acciones más habituales consisten, por una parte, en analizar
documentación y, por otra, en examinar a aquellos agentes de la entidad

27
MONTIEL (2013) pp. 258-259.
28
En este sentido, es posible distinguir las investigaciones prejudiciales de las
parajudiciales, según la investigación se inicie antes o después de la apertura
de la investigación judicial (GIMENO BEVIÁ, Jordi. Compliance y proceso pe-
nal. El proceso penal de las personas jurídicas: adaptada a las reformas del CP y
LECrim de 2015, Circular FGE 1-2016 y jurisprudencia del TS. Madrid: Civitas,
2016, pp. 221-223)
29
MONTIEL (2013) p. 270, nota 87.
30
En este sentido, COLOMER HERNÁNDEZ, Ignacio. “Derechos fundamenta-
les y valor probatorio en el proceso penal de las evidencias obtenidas en in-
vestigaciones internas en un sistema de compliance”. En MADRID BOQUÍN,
Christa María; GÓMEZ COLOMER, Juan Luis. Tratado sobre Compliance Pe-
nal: responsabilidad penal de las personas jurídicas y modelos de organización y
gestión. Valencia: Tirant lo Blanch, 2019, pp. 609-652, pp. 611-613, distingue
entre investigaciones preventivas, confirmatorias o defensivas.
31
ESTRADA; LLOBET ANGLÍ (2013) p. 201.

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que pudieran tener conocimiento directo o indirecto sobre la infracción,


dejando constancia documental de todas estas actuaciones, así como de
los resultados que arrojen las mismas.
Por lo tanto, sin poder descartar otras actuaciones de indagación,
tales como registros de ordenadores, videograbaciones o seguimientos
en el espacio físico y/o virtual, cabe afirmar que las principales fuentes
de información de tales investigaciones son, por una parte, los archivos
de la corporación y, por otra, las declaraciones de los trabajadores, u
otros miembros de la entidad, que sean, a tal fin, entrevistados por
los profesionales al cargo32. Mientras los documentos o archivos de la
entidad pueden proveer el registro más claro y completo de los eventos y
transacciones clave, la información más reveladora proviene, normalmente,
de las entrevistas con los empleados. En este sentido, se afirma que los
documentos son el esqueleto, pero las entrevistas son el corazón y el
alma de las investigaciones internas33.
Sobre los sujetos encargados del desarrollo de estas indagaciones
privadas, es habitual que sean encomendadas a profesionales de la abogacía34,
que pueden ser internos o contratados específicamente a tal fin35. El motivo

32
GREEN, Bruce; PODGOR, Ellen S. “Unregulated Internal Investigations:
Achieving Fairness for Corporate Constituents”, Boston College Law Review,
N. 54, 2013, pp. 73-126, p. 87.
33
DUGGIN (2003) pp. 891-892.
34
No existe inconveniente, sin embargo, en que sean titulados en administra-
ción y dirección de empresas, auditores u otro tipo de profesionales los que
asuman el encargo, con tal de que cuenten con una formación coherente con
lo que serán sus cometidos esenciales en el desarrollo de la investigación.
35
En la decisión de si recurrir a un abogado externo o al abogado interno de la
empresa, puede tener relevancia la doctrina del TJUE en el Caso Akzo Nobel
Chemicals y Akcros Chemicals/Comisión y otros, Rec. C-550 P/2007 (STJUE
(Gran Sala) de 14 de septiembre de 2010). En este asunto, se enjuiciaba el
uso por la Comisión Europea de dos correos electrónicos cruzados entre el
director general de la empresa y el abogado interno de la misma que, a su vez,
era directivo de la entidad en un procedimiento administrativo sancionador.
El TJUE vinculaba el privilegio de la confidencialidad a la independencia del
abogado. En este sentido, argumentó que la independencia implica la ausen-
cia de cualquier relación laboral entre el abogado y su cliente, de modo que la
protección con arreglo al principio de la confidencialidad no se extiende a la co-
rrespondencia mantenida en el seno de una empresa o de un grupo de empresas
con abogados internos, entre otras cosas porque el abogado interno no puede

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
516 | Neira Pena, Ana María.

de encargar el desarrollo de las investigaciones a los abogados, además


de la importancia de su formación jurídica, radica en que, confiando tales
actuaciones a un profesional con ese perfil, se asegura, en mayor medida,
la confidencialidad de sus resultados36, en tanto que sus comunicaciones y
los documentos que se produzcan en el marco de la investigación estarán
protegidos por la confidencialidad que informa la relación abogado-cliente
y por las obligaciones de secreto del profesional37.

3.- Las investigaciones internas empresariales en el


ordenamiento jurídico español

En España, las investigaciones internas empresariales son una


práctica en expansión, como demuestra el hecho de que, cada vez en
mayor medida, los despachos de abogados ofrezcan este servicio38.

hacer frente a eventuales conflictos de intereses entre sus obligaciones profesio-


nales y los objetivos y deseos de sus clientes de forma tan eficaz como un abogado
externo (apdo. 44). En definitiva, el TJUE sostuvo, en el referido caso, que el
abogado interno no puede, independientemente de las garantías de que disponga
en el ejercicio de su profesión, ser asimilado a un abogado externo, debido a la
situación de asalariado en la que se encuentra (…) que no le permite apartarse de
las estrategias comerciales perseguidas por su empresa y que ponen en entredicho
su capacidad para actuar con independencia profesional (apdo. 47).
36
En este sentido, DUGGIN (2003) p. 889, señala que se encomienda normal-
mente a los abogados por dos razones. En primer lugar, por la necesidad de
conocimientos legales para determinar si los actos y omisiones objeto de in-
vestigación vulneran la ley. En segundo lugar, por la protección que otorga el
attorney-client y el work product privileges a los materiales que resulten de tal
investigación. Por otra parte, existe un relativo acuerdo en que resulta más
adecuado contratar a un abogado externo para tal fin, porque así se refuerza
la confidencialidad de sus actuaciones y se asegura en mayor medida su inde-
pendencia en relación con la entidad.
37
Según GALLEGO (2022) p. 1156, toda la comunicación que se genere en-
tre trabajadores y abogados estará protegida con ese privilegio siempre que
tenga la finalidad de buscar y recibir asesoramiento para la persona jurídica,
por lo que sería aconsejable marcar todos los documentos y comunicaciones
relaciones con la investigación interna con algún elemento gráfico que señale
este privilegio. Pero, hay que tener en cuenta, como también señala el autor,
que el secreto profesional del abogado puede ser renunciado por el cliente,
que es la empresa y no sus trabajadores, individualmente considerados.
38
“Los departamen­tos de Forensic de grandes auditoras ofrecen servicios especiali-
zados en prevención, detección e investigación del fraude empresarial y financiero
(…)” (DE PRADA; SANTOS (2014), pp. 297-298)

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Sin duda, en la generalización de esta práctica ha tenido mucho


que ver la regulación de la responsabilidad penal de las personas jurídicas,
introducida originariamente en España por la Ley Orgánica 5/2010, de 22
de junio, luego modificada por la Ley Orgánica 1/2015, de 30 de marzo,
ambas reformadoras del Código Penal español (en adelante, CP). Esta
regulación, contenida en los arts. 31 bis a 31 quinquies y concordantes
del CP, aun sin contener una mención expresa a las investigaciones
intraempresariales, supone un claro incentivo al desarrollo de las mismas.
Antes de la referida reforma penal, las empresas no tenían
incentivos claros para investigar y descubrir aquellos delitos que
pudieran cometer sus agentes en el desarrollo de su actividad, viniendo
más bien “animadas” a ocultarlos, para evitar, de este modo, responder
subsidiariamente por los actos realizados por sus agentes en la esfera
civil y para lograr, al mismo tiempo, consolidar en el patrimonio social
las ganancias derivadas de la actividad ilícita.
Sin embargo, con la introducción de un verdadero sistema de
responsabilidad penal para las personas jurídicas, el panorama descrito ha
cambiado sustancialmente, provacando una desalineación de los intereses
de la empresa y sus agentes en los casos en que estos cometen ilícitos
penales por cuenta de la entidad. En ese sentido, se afirma que, “en la
mayoría de los ordenamientos donde se ha introducido la responsabilidad penal
de las personas jurídicas, se han creado las condiciones necesarias para que
exista una competición entre persona física y jurídica con el fin de alcanzar
las zanahorias de la colaboración”39. La lógica ínsita en la regulación es
clara: la entidad es incentivada, a través de atenuaciones y exenciones de
pena, para descubrir a los responsables individuales del delito40.

39
NIETO (2013).
40
En Estados Unidos, los Principles of federal prosecutions of business organi-
zations, establecen como un factor a tomar en consideración para decidir si
presentar cargos frente a la persona jurídica “the adequacy of the prosecution
of individuals responsable for the corporation’s malfeasance”, con lo que la enti-
dad, para ser vista como cooperativa, debe colaborar en el descubrimiento de
los responsables individuales. Por su parte, nuestro CP dispone algo similar,
al señalar como circunstancia atenuante la entrega a las autoridades de prue-
bas nuevas y decisivas para establecer las responsabilidades dimanantes de
los hechos (art. 31 quáter c) CP).

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518 | Neira Pena, Ana María.

La regulación contenida en el CP premia a aquellas empresas


que se involucran en la prevención y detección de conductas ilícitas.
Esto se observa claramente al analizar las circunstancias que atenúan la
responsabilidad de la persona jurídica. Así pues, la entidad que comete un
delito podrá ver atenuada su responsabilidad si, después de la comisión
del hecho, confiesa la infracción a las autoridades de persecución penal
(art. 31 quater a) CP), aporta pruebas nuevas y decisivas para esclarecer
los hechos (arts. 31 quater b) CP) o implementa medidas eficaces, no solo
para prevenir, sino también para descubrir los delitos que en el futuro
pudieran cometerse bajo su cobertura (art. 31 quater d) CP).
Se premia, por lo tanto, con una reacción penológica atenuada,
a la corporación que colabora activamente en el esclarecimiento de los
hechos, aportando información o pruebas de cualquier tipo. Actividad
colaborativa que, claramente, presupone la realización previa de alguna
actividad interna de producción y/o recopilación de evidencias. Así pues,
la confesión y la aportación de pruebas requerirán, normalmente, de una
previa investigación por parte de la entidad para determinar lo ocurrido en
su seno, mientras que la adopción de instrumentos orientados a descubrir
los delitos presuntamente cometidos parece referirse, directamente, a
los sistemas de denuncia interna e, indirectamente, a la práctica de las
investigaciones intraempresriales.
A mayor abundamiento, la entidad que muestra una actitud
colaborativa con la justicia, además de ver atenuada su responsabilidad,
pone de manifiesto que no existe necesidad de prevenir la continuidad
de la actividad delictiva (art. 66 bis 1º a) CP), con lo que el juzgador
podría considerar improcedente la imposición de las penas interdictivas
o restrictivas de derechos previstas en el art. 33.7, letras b) a g) CP, que
poseen una marcada orientación preventivo-especial41, limitándose en
tal caso la respuesta penal a una pena de multa.
Pero, los beneficios de investigar para colaborar con la justicia
no se limitan al momento de determinación de la pena. Así pues, la

41
La imposición y extensión de las penas restrictivas de derechos, distintas de
la multa, se condiciona a la valoración de distintas circunstancias, entre las
que ha de considerarse “su necesidad para prevenir la continuidad de la activi-
dad delictiva o de sus efectos” (art. 66 bis 1º CP).

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entidad que desarrolla una investigación interna y entrega sus resultados


a la justicia podría, incluso, quedar exenta de responsabilidad penal si,
de tal actuación, se deduce que no hubo un ejercicio insuficiente de las
funciones de supervisión, vigilancia y control que se le encomiendan
(arts. 31 bis 1 b) y 31 bis 2. 2º CP). En este sentido, resulta relevante
mencionar la jurisprudencia del Tribunal Supremo español, según la
cual, el sistema de responsabilidad penal de las personas jurídicas se basa
en “en la exigencia del establecimiento y correcta aplicación de medidas de
control eficaces, que prevengan e intenten evitar, en la medida de lo posible,
la comisión de infracciones delictivas por quienes integran la organización”42.
Por su parte, la Fiscalía General del Estado español también
apuesta por la exención de responsabilidad de la entidad que investiga
internamente las sospechas de comisión de ilícitos penales para cooperar
con la justicia. En este sentido, afirma que “la colaboración activa con la
investigación o la aportación al procedimiento de una investigación interna,
sin perjuicio de su consideración como atenuantes, revelan indiciariamente
el nivel de compromiso ético de la sociedad y pueden permitir llegar a la
exención de la pena”43.
A la regulación contenida en el CP, se añaden ahora las
disposiciones de la Ley 2/2023, de 20 de febrero, de protección de las

42
STS (Sala de lo Penal) N. 154/2016, 29 de febrero. Así pues, de acuerdo con
esta resolución, “la determinación del actuar de la persona jurídica, relevante
a efectos de la afirmación de su responsabilidad penal (…) ha de establecerse a
partir del análisis acerca de si el delito cometido por la persona física en el seno de
aquella ha sido posible, o facilitado, por la ausencia de una cultura de respeto al
Derecho, como fuente de inspiración de la actuación de su estructura organizati-
va e independiente de la de cada una de las personas físicas que la integran”.
43
Circular 1/2016, de 22 de enero, sobre la responsabilidad penal de las perso-
nas jurídicas conforme a la reforma del Código Penal efectuada por Ley Orgá-
nica 1/2015, p. 28. Disponible en https://www.boe.es/buscar/abrir_fiscalia.
php?id=FIS-C-2016-00001.pdf, último acceso: 29/05/2023. También en la
doctrina se defienden posturas similares. Así, por ejemplo, en opinión de DO-
PICO GÓMEZ-ALLER, Jacobo. “Responsabilidad de personas jurídicas”, Me-
mento Experto. Reforma Penal 2010. Ley Orgánica 5/2010, Madrid: Francis Le-
febvre, 2010, pp. 11-38, p. 33, si una empresa tiene mecanismos de prevención
y de reacción frente al delito reales y efectivos, que prevén la denuncia de los
empleados y que, tras detectar el delito los ejecutan, debe entenderse que la
entidad prestó el cuidado debido mediante un control reactivo, por lo que no
cabe imputarle responsabilidad penal por el delito cometido por sus agentes.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
520 | Neira Pena, Ana María.

personas denunciantes (ya referida), que obliga a las entidades que integran
el sector público, así como a ciertas entidades privadas – entre otras, las
que tengan cincuenta trabajadores o más contratados, partidos políticos,
sindicatos y organizaciones empresariales- a contar con un sistema interno
recepción y gestión de denuncias. De esta forma, la referida norma viene
a complementar la obligación de informar de posibles incumplimientos
al organismo encargado de vigilar el funcionamiento y observancia del
modelo de prevención como requisito de un modelo de compliance eficaz
(art. 31 bis 5. 4º CP).
De la conjunción de ambas normativas –CP y Ley 2/2023, de 20 de
febrero- se deriva la necesidad de que las empresas cuenten con un canal
de denuncias confiable, que sirva para detectar irregularidades, implicando
en tal labor a los trabajadores de la entidad y a otros agentes. De esta forma,
se democratiza el control y la labor de prevención y detección de ilícitos,
en tanto que se hace partícipes de la misma a todos los miembros de la
organización, evitando un sistema de control basado exclusivamente en
la vigilancia vertical, de los superiores sobre sus subalternos.
El canal de denuncias interno es la herramienta de compliance
naturalmente llamada a preceder a la investigación interna. En este sentido,
se advierte que, detectada una infracción con apariencia delictiva, ya
a través del canal de denuncias, ya por otra vía, la corporación tiene
principalmente dos opciones. Una de ellas sería acudir directamente a las
autoridades públicas, poniendo en su conocimiento las actuaciones de las
que se ha tenido conocimiento, para que sean estas las que investiguen44.
La otra opción, que la entidad tiene sobre la mesa, consiste en gestionar
internamente la información recibida, desarrollando las comprobaciones
precisas para esclarecer los hechos, antes de decidir si acudir a las
autoridades públicas competentes para la persecución de las infracciones
de que se trate.
De hecho, como ya se avanzó, la nueva legislación sobre protección
de informantes o denunciantes viene a establecer la obligación de las

44
De hecho, de acuerdo con la nueva ley de protección de denunciantes, esta
parece ser la actuación debida para el supuesto de que los hechos denuncia-
dos pudieran ser indiciariamente constitutivos de delito, en cuyo caso se pre-
vé la remisión de la información al Ministerio Fiscal con carácter inmediato
(art. 9.2 j) de la Ley 2/2023, de 20 de febrero)

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
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empresas de contar con procedimientos internos para la gestión de las


informaciones recibidas en relación con infracciones normativas. En este
sentido, se prevé que el órgano de administración u órgano de gobierno de
cada entidad sujeta a esta normativa aprobará un procedimiento de gestión
de informaciones que deberá ajustarse al contenido y a los principios
previstos en la norma (art. 9.1 Ley 2/2023, de 20 de febrero), debiendo
además contar con un libro-registro de las informaciones recibidas y
de las investigaciones desarrolladas (art. 26.1 Ley 2/2023, de 20 de
febrero45)46. Se viene a instituir, de esta forma, una obligación expresa
para las empresas de cierto tamaño de regular un procedimiento interno
de investigación de las denuncias recibidas.
Entre los requisitos legales de este procedimiento de gestión de
informaciones previstos en el art. 9.2 de la Ley 2/2023, de 20 de febrero,
cabe destacar la necesidad de prever un plazo máximo, que no podrá
exceder de tres meses, para dar respuesta a las actuaciones de investigación

45
El precepto dispone que “Todos los sujetos obligados, de acuerdo con lo dispues-
to en esta ley, a disponer de un canal interno de informaciones, con independen-
cia de que formen parte del sector público o del sector privado, deberán contar con
un libro-registro de las informaciones recibidas y de las investigaciones internas
a que hayan dado lugar, garantizando, en todo caso, los requisitos de confidencia-
lidad previstos en esta ley. Este registro no será público y únicamente a petición
razonada de la Autoridad judicial competente, mediante auto, y en el marco de un
procedimiento judicial y bajo la tutela de aquella, podrá accederse total o parcial-
mente al contenido del referido registro.”
46
El potencial incriminatorio de ese libro-registro conduce a plantearse si, tra-
tándose de un proceso penal en el que la empresa esté siendo investigada,
esta podría negarse a entregarlo a la autoridad judicial, amparándose en su
derecho a no auto-incriminarse. En este sentido, cabe advertir que, el he-
cho de que la Ley 2/2023, de 20 de febrero, establezca la obligación expresa
de contar con ese libro-registro, podría suponer su exclusión del ámbito de
protección del derecho a no autoincriminarse. Y ello porque, de acuerdo con
doctrina reiterada del TC español, los documentos cuya existencia tiene un
carácter obligatorio ex lege y, por lo tanto, independiente de la voluntad del
sujeto en cuestión quedan excluidos del ámbito de protección del derecho
a no declarar (SSTC 76/1990, de 20 de abril, F. J. 10º y 161/1997, de 2 de
octubre, F. J. 6º). En la misma línea, el TEDH especifica que, para que el de-
recho a no autoincriminarse despliegue sus efectos, es preciso que la medida
coactiva se dirija a la obtención de documentos o fuentes de prueba cuya
existencia dependa de la voluntad del investigado, quedando excluidos aque-
llos que existan por voluntad de la ley (STEDH de 17 de diciembre de 1996.
Caso Saunders c. Reino Unido).

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
522 | Neira Pena, Ana María.

(d), el carácter contradictorio (f) y confidencial del procedimiento (g),


así como la exigencia de que se respeten a los derechos a la presunción de
inocencia y al honor de las personas afectadas (h) y de que se observen
las disposiciones sobre protección de datos personales (i).
Respecto de las posibles actuaciones de comprobación o
indagación, la ley tan solo prevé la posibilidad de solicitar, cuando sea
necesario, información adicional a la persona denunciante (art. 9.2 e)
Ley 2/2023, de 20 de febrero). Esta disposición, sin embargo, no permite
excluir la necesidad de realizar otras actividades de indagación, tales como
interrogatorios o entrevistas a trabajadores, examen de documentación
relevante o, en su caso, realización de comprobaciones por expertos
independientes sobre ciertos hechos cuya apreciación requiera de
determinados conocimientos técnicos.
Igualmente, la normativa sobre protección de datos47, prevé la
posibilidad de que el empleador acceda al contenido de los dispositivos
telemáticos facilitados a los trabajadores por el empresario cuando
sea necesario para controlar el cumplimiento de sus obligaciones
(art. 87.2), así como de que haga uso de sistemas de video-vigilancia
y grabación de sonido en el lugar de trabajo (art. 89) o de sistemas de
geolocalización (art. 90), siempre que se respete el contenido básico
del derecho a la intimidad y las legítimas expectativas de privacidad
de los trabajadores48.
Sea como fuere, parece evidente que las normativas analizadas ya
no solo incentivan a las empresas a adoptar procedimientos de supervisión,
vigilancia y control de las actividades de sus miembros, sino que, para al
menos para ciertas entidades, se establece una obligación legal de regular

47
Ley Orgánica 3/2018, de 5 de diciembre, de Protección de Datos Personales
y garantía de los derechos digitales (en adelante, LOPDGDD).
48
Para respetar las legítimas expectativas de privacidad del trabajador, resulta
esencial que el empleador le informe, no solo sobre las normas de uso de los
recursos digitales que pone a su disposición, sino también sobre la existen-
cia y las características de los sistemas de control que se implementarán, así
como sobre los fines de recogida y de tratamiento de sus datos personales.
Sobre esta cuestión, véase DURO CARRIÓN, Susana. “El deber de informa-
ción en el artículo 87 y 89 LOPDGDD. La quiebra de la expectativa de priva-
cidad vinculada al derecho a la intimidad y otros derechos fundamentales en
liza en la relación laboral”, Revista de Derecho Laboral, N. 3, 2021, pp. 70-93.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
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un procedimiento interno a través del que dar trámite a las informaciones


recibidas acerca de infracciones o incumplimientos normativos. En este
contexto, la facultad de las empresas para investigar internamente la
comisión de las infracciones denunciadas resulta incuestionable por
lo que, consecuentemente, se hace necesario ofrecer a los individuos
eventualmente sujetos a tal poder empresarial de comprobación ciertas
garantías, en la línea ya apuntada por la propia normativa (arts. 87, 89 y
90 LOPDGDD y art. 9.2 f) y h) Ley 2/2023, de 20 de febrero).
En todo caso, aunque la ausencia de una regulación legal específica
sobre las investigaciones internas ha sido en cierta medida suavizada
por los desarrollos contenidos en la legislación laboral, en la normativa
sobre protección de datos y, particularmente en la ley de protección
de denunciantes, este marco normativo de referencia continúa siendo
claramente insuficiente, y ha de ser necesariamente complementado
con el desarrollo de procedimiento internos de actuación por parte de
las empresas, en el ejercicio de sus facultades de autorregulación.
Hay que tener en cuenta que, en la práctica, será la empresa la
que decida sobre el inicio y la finalización de las pesquisas, sobre el nivel
de sospecha requerido para iniciar la investigación49, sobre la persona
que desarrollará la investigación, sobre cuál será su alcance e, incluso,
sobre el procedimiento a seguir en la recolección de evidencias50. Todas
estas cuestiones que, en una investigación pública vienen legalmente
determinadas, se dejan en manos de entidades privadas que, además, por
definición, son parte interesada en el resultado de la investigación que
se les encomienda desarrollar. Por lo tanto, sería muy positivo, desde
el punto de vista de la seguridad jurídica y de la correcta protección
de los derechos de los trabajadores, que las empresas, al igual que se
dotan de programas de compliance documentados por escrito, adoptasen
normas internas explicitando, entre otros extremos, la finalidad de
las investigaciones internas, los plazos, las fases del procedimiento,
las medidas de investigación que podrían desarrollarse, las garantías
de los denunciantes y de los sujetos investigados, así como las formas
en que la investigación podría finalizar, detallando, en su caso, en qué

49
Sobre este aspecto, véanse las reflexiones de MONTIEL (2013) pp. 267-270.
50
GREEN; PODGOR (2013) p. 87.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
524 | Neira Pena, Ana María.

medida las informaciones facilitadas por los trabajadores podrían ser


reveladas a terceros51

4.- Los derechos fundamentales como límite a las


investigaciones internas empresariales

Independientemente de que exista, o no, una regulación específica


sobre las investigaciones internas empresariales, se debe de advertir que,
en estas, al igual que en las investigaciones públicas, no resulta admisible
la búsqueda de la verdad a cualquier precio.
En este punto, resulta esencial erigir los derechos fundamentales
de los miembros de la entidad como límite infranqueable a la actividad
de compliance empresarial52 y, en general, como límite a las facultades
organizativas y de dirección y control del empresario53. Así pues, el celo por
descubrir las malas prácticas corporativas no puede suponer el sacrificio de
los derechos fundamentales de los individuos, por lo que, es preciso buscar
un equilibrio entre los deberes de la entidad en orden al descubrimiento y
la prevención de delitos y el necesario respeto a los derechos de sus agentes.
A pesar de que los derechos fundamentales se conciben
originalmente como protecciones de los individuos ante el poder estatal,
su eficacia horizontal cobra cada vez más relevancia54, especialmente

51
Cfr. ÁLCACER (2022) pp. 997-998; GALLEGO (2022), pp. 1157-1158; En la
misma línea, MONTIEL (2013) pp. 265-267, propone la adopción de “orde-
nanzas procesales internas” por parte de las personas jurídicas, en las que se
regulen las fases de la investigación, las facultades investigativas del empre-
sario, las condiciones de los interrogatorios, la extensión de los deberes de
información de los interrogados, etc.
52
ALCÁCER (2013); Tal y como afirma RODRÍGUEZ (2021) pp. 4 y 6, la auto-
rregulación viene limitada por el marco constitucional y la actuación de los
sujetos privados debe encontrarse subordinada y limitada por los derechos
fundamentales asegurados por la Constitución.
53
Cfr. STC 292/1993, de 18 de octubre, F. J. 4º.
54
Sobre la eficacia horizontal de los derechos fundamentales, véase MAR-
TÍNEZ ESTAY, José Ignacio. “Los particulares como sujetos pasivos de los
derechos fundamentales: la doctrina del efecto horizontal de los derechos”,
Revista Chilena de Derecho, Vol. 25, N. 1, 1998, pp. 59-64; GUTIÉRREZ GU-
TIÉRREZ, I., “Criterios de eficacia de los derechos fundamentales en las rela-
ciones entre particulares”, Teoría y realidad constitucional, núm. 3, 1, semestre

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ante la creciente posibilidad de que sea un particular el que los vulnere,


posibilidad que se ha visto claramente facilitada en las últimas décadas
por los avances tecnológicos55.
La referida eficacia horizontal de los derechos resulta especialmente
trascendente cuando, entre los particulares, se dan relaciones de especial
sujeción o de subordinación, como ocurre, señaladamente, en el entorno
laboral. En este contexto, la relación de sujeción del empleado respecto
de su empleador supone que, efectivamente, aquel puede venir obligado a
soportar determinadas medidas de control y/o de comprobación necesarias
para que el empleador pueda cumplir con sus deberes de dirección. Sin
embargo, esto no implica que el empleado quede desprovisto de derechos
frente al empresario.
Respecto de los derechos sustantivos, concretamente el derecho
a la intimidad o al secreto de las comunicaciones, parece evidente que
estos han de suponer un límite para las medidas de vigilancia, control e
investigación del empresario56. En este contexto, resultará clave el concepto

1999, pp. 193-211; BASTIDA FREIJEDO, F. J.; VILLAVERDE MENÉNDEZ, I.;


REQUEJO RODRÍGUEZ, P., et al., Teoría General de los Derechos fundamenta-
les en la Constitución Española de 1978, Tecnos, 2004, pp. 179-195; ANZURES
GURRIA, José Juan. “La eficacia horizontal de los derechos fundamentales”,
Cuestiones constitucionales: Revista Mexicana de Derecho Constitucional, N. 22,
2010, pp. 1-51; Sobre el tema, destaca la obra colectiva monográfica VV.AA.
El efecto horizontal de los derechos fundamentales. MATEOS DURÁN, Arnulfo
Daniel (Coord.). Colombia: Universidad Externado de Colombia, 2022.
55
Tal y como afirma SAEZ (2017) p. 187, “el uso de tecnologías de la información
multiplica las posibilidades de control empresarial al mismo tiempo que se multi-
plican las posibilidades de limitación de los derechos del trabajador”.
56
En este punto, resulta relevante traer a colación lo dispuesto en la LOPDG-
DD según la cual “Los trabajadores y los empleados públicos tendrán derecho a
la protección de su intimidad en el uso de los dispositivos digitales puestos a su
disposición por su empleador. (art. 87.1). En el mismo texto legal, se impone
también el debido respeto al derecho a la intimidad de los trabajadores para
los casos en que el empresario haga uso de sistemas de vídeo-vigilancia y
grabación de sonido en el lugar de trabajo (art. 89 LOPDGDD) o de sistemas
de geolocalización (art. 90 LOPDGDD). En ambos casos se establece la obli-
gación del empresario de informar de forma expresa, clara e inequívoca a
los trabajadores y, en su caso, a sus representantes, acerca de la existencia y
características de los dispositivos empleados. Además, el uso de sistemas de
vídeo-vigilancia se encuentra sometido a los principios de proporcionalidad
e intervención mínima, estando prohibido en lugares destinados al descanso

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
526 | Neira Pena, Ana María.

de expectativa razonable de privacidad, originariamente desarrollado por


la jurisprudencia de la Corte Suprema americana57 e importado, primero,
por el TEDH58 y después por el TC español59. A este respecto, debe de
advertirse que “el derecho a la intimidad y al secreto de las comunicaciones
tiene lógicamente una distinta intensidad según su afectación tenga lugar en
la relación estado-ciudadano que en la de empleado-empresario, pero una vez
que se constata la vulneración de un derecho fundamental las consecuencias
deben ser similares”60.
El problema de más difícil resolución se encuentra, sin embargo,
al tratar de determinar en qué medida tales investigaciones internas,
sobre todo cuando se orientan a colaborar con la Administración de
justicia en el descubrimiento y la persecución pública de delitos, deben
respetar los derechos procesales de los individuos investigados61. En este

o esparcimiento de los trabajadores, tales como vestuarios, aseos, comedores


y análogos.
57
El concepto de “reasonable expectation of privacy” fue desarrollado original-
mente en Katz v. United States, 389 U.S. 347 (1967). Sobre la evolución del
concepto en la jurisprudencia estadounidense, véase GUERRERO PERALTA,
Óscar Julián. “La expectativa razonable de intimidad y el derecho fundamen-
tal a la intimidad en el proceso penal”, Derecho Penal y Criminología, Vol. 32,
N. 92, 2011, pp. 42-72.
58
Sobre el concepto de expectativa razonable de privacidad del TEDH, véase la
STEDH de 18 enero 2011. Caso Mgn Limited c. Reino Unido, párrafo 87 o,
más recientemente, la STEDH de 17 de octubre de 2019. Caso López Ribalda
contra España, en la que se establecen los criterios a considerar para valorar
la proporcionalidad de las medidas de vídeo-vigilancia en el lugar de trabajo,
de forma que sean respetuosas con la expectativa razonable de privacidad de
los trabajadores. Estos criterios son la información facilitada al trabajador, el
alcance temporal, especial y subjetivo de la medida, así como su necesidad o
la inexistencia de otras medidas menos intrusivas e igualmente idóneas, las
razones justificativas de su adopción y las consecuencias para el trabajador
sujeto al control (párrafo 116).
59
STC 241/2012, de 17 diciembre. Para entender la evolución de la doctrina
constitucional en España, véase RODRÍGUEZ LAINZ, J. L., “El principio de
la expectativa razonable de confidencialidad en la STC 241/2012, de 17 de
diciembre”, Diario La Ley, N. 8122, 9 de julio de 2013.
60
NIETO (2013).
61
Resultan de interés, en este punto, las reflexiones de ESTRADA (2020) pp.
257-258, al afirmar que, en determinadas investigaciones internas, el emplea-
do se encuentra en una situación de subordinación respeto del empleador
análoga a la relación entre el ciudadano y el Estado en el proceso penal. De

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sentido, se hace necesario aclarar si, derechos tales como el consistente


en ser informado de la acusación, el de asistencia letrada, el derecho a
no declarar o el derecho a la presunción de inocencia62, son extensibles
al ámbito de las investigaciones internas empresariales63.
Especialmente controvertida resulta la extensión del derecho a
no declarar al ámbito de las investigaciones internas empresariales. Y es
que, tal y como afirma MONTIEL, un traslado de las garantías del proceso
penal a las investigaciones internas podría generar notables interferencias
y deformaciones en las relaciones jurídicas amparadas por el Derecho
laboral, especialmente porque el trabajador podría incumplir deberes
legales o contractuales bajo el amparo de la garantía del principio “nemo
tenetur se ipsum accusare”64. En la misma línea, se afirma que la negativa del
empleado a responder las preguntas del empleador, especialmente cuando
están vinculadas directamente al ejercicio de las funciones laborales,
conlleva no solo el incumplimiento de su deber de rendir cuentas, sino
también la transgresión de las órdenes e instrucciones del empresario,
lo que podría justificar una sanción disciplinaria de despido65.

acuerdo con el autor, esta identidad estructural entre la investigación interna


y la estatal se produce, al menos, cuando el empleador: i) trate de esclarecer
un hecho penalmente relevante, ii) recopilando material probatorio de forma sis-
temática y iii) mediante el empleo de recursos humanos y materiales equivalentes,
si no superiores, a los utilizados por las autoridades públicas competentes de la
persecución del delito.
62
Este derecho está expresamente previsto en el art. 9.2 h) Ley 2/2023, de 20
de febrero, como principio informador de las actuaciones que desarrolle la
empresa al gestionar internamente las denuncias recibidas.
63
Sobre este particular, resulta interesante el dictamen del Colegio Federal de
Abogados de Alemania (BRAK) según el cual se podrá interrogar a los tra-
bajadores siempre que se les garanticen ciertos derechos, tales como acceso
a una información fiable previa al interrogatorio, asistencia técnica-letrada
e, incluso, el derecho a permanecer en silencio, resultando ilícitas las prue-
bas obtenidas mediante engaño o violencia (Resolución del Colegio Federal
de Abogados de Alemania (BRAK) 35/2010, Tesis 3, pp. 9 y ss. Disponible
en https://www.brak.de/zur-rechtspolitik/stellungnahmen-pdf/stellungna-
hmen-deutschland/2010/november/stellungnahme-der-brak-2010-35.pdf,
último acceso: 29/05/2023.
64
MONTIEL (2013) p. 270.
65
POUCHAIN (2022) p. 84; En la misma línea, se pronuncian, entre otros,
ESTRADA (2020) pp. 247-248; TEJADA PLANA, Daniel. Investigaciones

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
528 | Neira Pena, Ana María.

Ahora bien, cabe preguntarse si esa declaración que el trabajador


presta bajo la amenaza –probablemente legítima desde el punto de vista
del Derecho Laboral- de ser despedido, puede ser usada como prueba
en el proceso penal. Resulta indiscutible que el trabajador que declara
bajo la amenaza de ser despedido o sancionado disciplinariamente, actúa
sometido a una presión importante66, lo que sin duda supone un cierto
grado de coerción en la prestación de sus declaraciones67 o, al menos,
revela que estas no son enteramente libres o espontáneas. Por eso, en las
investigaciones internas, al ocupar la corporación una posición dominante
comparable a la del Estado68, especialmente si se pretenden generar
elementos de prueba admisibles en un proceso judicial, deberían de
exigirse garantías análogas a las de una investigación pública.
Así pues, para atenuar la tensión con los derechos fundamentales
que se produce en los interrogatorios de los empleados realizados en el
marco de las investigaciones internas, se propone que el investigador, antes
de entrevistar a un empleado, le informe con claridad sobre su situación
legal, sobre sus derechos y sobre el destino que pretende dársele a sus
declaraciones, dejando absolutamente claro que el abogado representa
en exclusiva los intereses de la entidad, que no tienen por qué coincidir
con los del trabajador y que, si la empresa renuncia al privilegio de la

Internas, Cooperación y Nemo Tenetur: Consideraciones Prácticas Nacionales e


Internacionales, Pamplona: Aranzadi, 2020, pp. 141 y ss.
66
GREEN; PODGOR (2013) p. 88.
67
De acuerdo con POUCHAIN (2022) p 85, “la amenaza de despido puede ser
suficiente para generar una coacción de hecho sobre el empleado, que es capaz de
viciar la manifestación de voluntad del empleado de declarar. A fin de cuentas, la
alternativa en la que se coloca al empleado, entre perder su trabajo –la base de su
sustento– o autoinculparse, no es exactamente una elección libre entre hablar o
silenciar”.
68
Según GÓMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. GÓMEZ-JARA DÍEZ, C., “La atenuación
de la responsabilidad penal empresarial en el Anteproyecto de Código Penal
de 2008: los compliance programs y la colaboración con la Administración de
justicia”. En El anteproyecto de modificación del Código Penal de 2008. Algu-
nos aspectos, Cuadernos penales José María Lidón, N. 6, Bilbao: Publicaciones
de la Universidad de Deusto. 2009, pp. 221-289, p. 233, las investigaciones
internas deben ser entendidas como una forma de delegación a la empresa
de la “potestad -tanto material como procesal- de ejercer el ius puniendi sobre
quienes se encuentran sometidos a su soberanía”, esto es, sus trabajadores en
sentido amplio.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
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confidencialidad, la información proporcionada por el trabajador podrá


ser facilitada a terceros69.
Con la referida forma de proceder, se posibilitaría que los
individuos investigados pudiesen negarse a declarar cuando entendiesen
que sus manifestaciones podrían redundar en su autoincriminación en un
posterior proceso penal, aunque de esta forma se arriesgasen a sufrir una
sanción disciplinaria, que podría implicar, incluso, su despido. Además,
se legitimaría a la empresa para aportar, a posteriori, al proceso penal, la
información dada por sus empleados, sin que pudiese objetarse que la
misma hubiera sido obtenida mediante coerción o engaño70.
Por último, cabe reflexionar sobre las consecuencias de la
vulneración de los derechos fundamentales de los trabajadores por parte
del empresario que desarrolla una investigación interna, las cuales podrían
reflejarse en varios órdenes. En primer lugar, en el ámbito laboral, la
vulneración de derechos podría suponer la improcedencia o nulidad de
la sanción disciplinaria de despido basada en evidencias obtenidas sin
respetar los derechos del trabajador71. En segundo lugar, en el orden civil,
podría nacer una eventual responsabilidad patrimonial, que obligaría a la

69
Tales advertencias se han denominado “Miranda empresarial” por sus seme-
janzas con la instrucción de derechos que se hace a las personas detenidas
en Estados Unidos antes de tomarles declaración, conocidas como “Miranda
Warnings”. En España, recoge esta denominación, NIETO (2013). En la mis-
ma línea, se pronuncia GALLEGO (2022) pp. 1157-1158, quien insiste en la
importancia de documentar la prestación del consentimiento otorgado por
el trabajador a ser entrevistado, habiéndosele informado previamente de las
advertencias referidas.
70
Cfr. NIETO (2013) Véanse, en la misma línea las reflexiones de GALLEGO
(2022) pp. 1157-1158, para quien, recoger por escrito del consentimiento el
trabajador a ser entrevistado, así como realizarle ciertas advertencias previas
a la entrevista, puede servir para legitimar, posteriormente, el uso de sus de-
claraciones autoincriminatorias como prueba en el proceso.
71
Véase, en este sentido, la STEDH de 5 de septiembre de 2017, Barbulescu c.
Rumanía, que establece ciertos límites a los poderes de dirección del empre-
sario en cuanto al control que puede desplegar sobre el uso que los trabaja-
dores hacen de los medios telemáticos que la empresa pone a su disposición.
Por su parte, la STS (Sala de lo Penal) N. 489/2018, de 23 de octubre, traslada
a la jurisdicción penal el denominado test Barbulescu. En este sentido, al Alto
Tribunal sostiene que, tampoco en este ámbito, resulta admisible “un acceso
inconsentido al dispositivo de almacenamiento masivo de datos si el trabajador
no ha sido advertido de esa posibilidad y/o, además, no ha sido expresamente

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
530 | Neira Pena, Ana María.

empresa a resarcir al trabajador por los daños y perjuicios causados por


su conducta72. Y, en tercer lugar, en el ámbito penal, la empresa podría
responder por un delito de descubrimiento y revelación de secretos,
tipificado en el art. 197 CP, e imputable a las personas jurídicas según el
art, 197 quinquies del mismo texto legal73.
A mayor abundamiento, cabe plantearse si la empresa que
colabora con la justicia, aportando pruebas nuevas y decisivas para el
esclarecimiento de los hechos, podrá beneficiarse de la atenuante contenida
en el art. 31 quáter b) CP, cuando las pruebas aportadas han sido obtenidas
con vulneración de los derechos fundamentales de sus trabajadores.
En este sentido, parece oportuno advertir que, aunque el CP no lo diga
expresamente, las pruebas que aporte la empresa acusada, para gozar de
eficacia atenuante, además de nuevas y decisivas, debieran de ser también
lícitas, no pudiendo, por lo tanto, haberse obtenido con vulneración,
directa o indirecta, de ningún derecho fundamental74. La postura contraria
supondría incentivar legalmente la vulneración de derechos por parte de
la empresa, lo que seguramente provocaría excesos y extralimitaciones
en el ejercicio de las facultades de investigación que se encomiendan a
las corporaciones privadas como parte de sus deberes de compliance.
Pero, además de las referidas consecuencias materiales, hay
que tener en cuenta que la vulneración de un derecho fundamental

limitado el empleo de esa herramienta a las tareas exclusivas de sus funciones


dentro de la empresa”
72
Resultaría aplicable, en este punto, la Ley Orgánica 1/1982, de 5 de mayo, de
Protección Civil del Derecho al Honor, a la Intimidad Personal y Familiar y a
la Propia Imagen.
73
Resulta digna de mención la STS (Sala de lo Penal) N. 328/2021, de 24 de
abril, por la que se confirma la condena de un empresario por delito de des-
cubrimiento y revelación de secretos, al haber accedido al correo electrónico
de un trabajador –tanto el corporativo como uno personal que tenía instalado
en el ordenador de la empresa–, con el fin de confirmar la existencia de in-
dicios de un delito contra el patrimonio empresarial. En el referido caso, el
Tribunal Supremo español considera vulnerado el derecho al secreto de las
comunicaciones y la intimidad del trabajador, dado que no consta acreditado
ni el consentimiento del trabajador ni tampoco un posible acuerdo o adver-
tencia previa que permitiera «excluir cualquier expectativa de privacidad por
parte» del trabajador.
74
NEIRA (2017) pp. 352-353.

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por parte del empresario en una investigación interna también puede


tener consecuencias o costes en el plano procesal75. En este sentido, se
hace preciso determinar en qué medida la regla de exclusión probatoria,
que prohíbe el uso de pruebas obtenidas con vulneración de derechos
fundamentales, resulta de aplicación en este ámbito. A esta cuestión se
dedicará el siguiente epígrafe (5).

5.- I nvestigaciones internas empresariales y prueba prohibida

En la determinación del alcance y límites de la prueba ilícita late


con fuerza la clásica pugna entre garantismo y eficacia76, que también
está muy presente en las investigaciones internas empresariales. Así pues,
una apuesta decidida por las garantías conduciría a excluir todos aquellos
elementos de convicción obtenidos sin una escrupulosa observancia de
los derechos de las personas, señaladamente del investigado, mientras que
alcanzar mayores cotas de eficacia en la persecución penal conduciría a dar
entrada amplia a todos aquellos elementos de prueba útiles y pertinentes
para el esclarecimiento de los hechos, siendo, por lo tanto, los supuestos
de exclusión probatoria excepcionales.
El art. 11.1 de la Ley Orgánica 6/1985, de 1 julio, del Poder
Judicial dispone que “No surtirán efecto las pruebas obtenidas, directa
o indirectamente, violentando los derechos o libertades fundamentales”.
De la lectura del precepto se deriva una exclusión automática de todas
las pruebas derivadas, directa o indirectamente, de una vulneración de
derechos de carácter fundamental, sin introducirse matizaciones, criterios
de ponderación, excepciones ni distinciones entre aquellas pruebas
obtenidas por particulares o por agentes del Estado.

75
En este sentido, ALCÁCER (2013) distingue entre los costes penales y proce-
sales de la actividad empresarial de vigilancia.
76
De esta tensión era bien consciente el TC desde sus primeras resoluciones
sobre el tema, al señalar que “[e]n realidad, el problema de la admisibilidad de
la prueba ilícitamente obtenida se perfila siempre en una encrucijada de intereses
debiéndose así optar, por la necesaria procuración de la verdad en el proceso o por
la’ garantía (…) de las situaciones jurídicas subjetivas de los ciudadanos” (STC
114/1984, de 29 de noviembre, F.J. 4º)

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532 | Neira Pena, Ana María.

Sin embargo, y a pesar de que la referida norma legal ha permanecido


inmutable desde su aprobación hasta nuestros días, el alcance y fundamento
de la regla de exclusión probatoria han variado sustancialmente en los
últimos años, produciéndose estas modificaciones por vía jurisprudencial.
En este sentido, de la mano del Tribunal Constitucional español, ha tenido
lugar una progresiva limitación de la regla de exclusión probatoria, que ha
pasado de una situación en la que la exclusión de las pruebas obtenidas con
vulneración de derechos fundamentales era prácticamente automática (STC
114/1984, 29 de septiembre) a otra en la que se hace necesario desplegar
un complejo juicio de ponderación que exige comprobar la afectación, en
el caso concreto, de un inespecífico derecho a un juicio justo y equitativo
(STC 97/2019, de 16 de julio)77.
La progresiva restricción del ámbito de aplicación de la prueba
ilícita ha alcanzado su punto álgido con la ya citada STC 97/2019, en el
caso, popularmente conocido, como el de la lista Falciani. En el asunto
en cuestión, se pone en entredicho la licitud, como prueba de cargo
en un proceso por delito contra la Hacienda Pública española, de una
serie de datos de contenido económico-financieros que el Sr. Falciani,
trabajador de la sucursal suiza del Banco HSBC Private Bank Suisse en
Ginebra, habría obtenido con violación de los reglamentos internos de
la organización y del derecho a la intimidad de los clientes de la entidad
conforme al derecho suizo.
En la referida sentencia, el Tribunal Constitucional español avala la
licitud de la prueba así obtenida con base en tres argumentos principales: el
hecho de que la vulneración del derecho no estuviese instrumentalmente
orientada a la producción de pruebas; la baja intensidad de la intromisión
en la intimidad del acusado, al referirse los datos aportados al proceso a

77
Sobre esta evolución, véanse las reflexiones de ASENCIO MELLADO, José
María, “La STC 97/2019, de 16 de julio. Descanse en paz la prueba ilícita”,
Diario La Ley, N. 9499, 16 de octubre de 2019; Por su parte, GÓMEZ AMI-
GO, Luis. “Tratamiento procesal de la prueba ilícita en el proceso penal: del
régimen actual al Anteproyecto de Ley de Enjuiciamiento Criminal de 2020”.
Revista Asociación de profesores de Derecho Procesal de las Universidades Es-
pañolas, N. 4, 2021, pp. 201-232, p. 209, califica esta deriva como un cambio
de paradigma en el que la exclusión probatoria de las reglas obtenidas con
vulneración de derechos fundamentales ha pasado de ser la regla general a
convertirse en una consecuencia casi excepcional.

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aspectos periféricos de la llamada “intimidad económica”; y la ausencia


de necesidad de usar el proceso penal para prevenir o disuadir prácticas
similares vulneradoras de derechos fundamentales en el futuro (STC
97/2019, de 16 de julio, F. J. 6º).
Respecto del primer argumento señalado, el Tribunal
Constitucional español destaca que “estamos ante una intromisión en el
derecho a la intimidad que carece de cualquier conexión instrumental, objetiva
o subjetiva, con actuaciones investigadoras llevadas a cabo por las autoridades
españolas o por alguna parte procesal no pública” (STC 97/2019, de 16 de
julio, F. J. 6º). Con este razonamiento, el Tribunal exige, para que aplique
la regla de exclusión probatoria, que la vulneración del derecho responda
a una voluntad clara de preconstituir pruebas para hacerlas valer en un
proceso judicial.
El problema radica en que esa voluntad de prefabricar pruebas no
siempre va a ser evidente o, incluso, puede no existir en el momento de
la obtención de las evidencias en el marco de una investigación interna.
Así pues, cuando una empresa decide iniciar actuaciones de investigación,
su intención no tiene porqué ser la de colaborar con un proceso penal
que, posiblemente, ni siquiera sepa, a ciencia cierta, si se va a iniciar en el
futuro. Posiblemente, la empresa que inicia actividades de investigación
lo haga con el fin de determinar si efectivamente ha tenido lugar una
infracción, cuál es su naturaleza y su alcance dentro de la organización,
si continúa produciéndose en el presente, quién está involucrado, quién
es responsable, por qué ocurrió, si se trata de un hecho aislado o de un
problema sistemático y, eventualmente, también para recoger evidencias,
las cuales podrán ser de utilidad en un eventual futuro procedimiento
sancionador interno frente a los sujetos investigados o, en su caso, en un
posterior proceso judicial. Pero, esta última, no tiene porqué ser la única,
ni aún la principal, finalidad del procedimiento de investigación interna.
Por otra parte, al vincularse la aplicación de la regla de exclusión
probatoria a las necesidades preventivas o de disuasión que se aprecien en
el caso concreto, aunque no se excluye en sentido estricto su aplicación a los
particulares78, sí se observa que, en la práctica, serán las autoridades púbicas,

78
Sobre la aplicación de la regla de exclusión probatoria a los particulares,
véase PÉREZ-CRUZ MARTÍN, Agustín Jesús. “A propósito de la entrega por

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534 | Neira Pena, Ana María.

o quienes actúan directamente por encargo de aquellas, las principalmente


condicionadas por las reglas de exclusión probatoria. Así pues, a pesar de
que el TC afirma que “el dato de que la vulneración originaria del derecho
sustantivo fuera cometida (…) por un particular no altera en absoluto el canon
de constitucionalidad aplicable” a la valoración de la licitud de las fuentes
de prueba y que también los particulares han de ser disuadidos “de realizar
actos contrarios a los derechos fundamentales con fines de obtener una ventaja
probatoria en el proceso”, los criterios de ponderación empleados – finalidad
de prefabricar pruebas y necesidades preventivas- van a llevar a que, en
la práctica, la actuación de los particulares quede, salvo en casos muy
concretos, fuera del radio de acción de la regla de exclusión.
De hecho, para quienes consideran que el fundamento de la
regla de exclusión probatoria es el efecto preventivo, el denominado,
en terminología anglosajona, deterrent effect79, orientado a disuadir a
las fuerzas del orden de cometer futuras violaciones en el desempeño
de sus funciones de investigación de los delitos, la exclusión probatoria
sólo tendría sentido si la conducta que afecta al derecho fundamental del
acusado, procede de un agente del Estado, sea un policía, un fiscal o un
Juez, ya que es, a tales representantes del poder público, a los que habría
que disuadir de violentar los derechos fundamentales en el cumplimiento
de sus funciones públicas.
Sin embargo, si la infracción del derecho fundamental se atribuye
a un particular, el efecto preventivo o disuasorio de la regla de exclusión,

particulares de elementos de prueba decisivos”. En ROCA MARTÍNEZ, José


(Dir.). Procesos y prueba prohibida, Madrid: Dykinson, 2022, pp. 125-142.
Véase también CARRILLO DEL TESO, Ana. “La prueba ilícita aportada por
particulares: ¿admisión o exclusión? Fundamentos y soluciones jurispruden-
ciales”, La Ley Penal, N. 159, 2022, 1-24, quien hace hincapié, entre sus argu-
mentos, en la literalidad del art. 11.1 LOPJ, que no distingue entre autorida-
des púbicas y particulares cuando proclama la regla de exclusión probatoria.
79
Se muestra crítico con este fundamento de la regla de exclusión probatoria
NIEVA FENOLL, Jordi. “Policía judicial y prueba ilícita. Regla de exclusión y
efecto disuasorio: un error de base”. Diario La Ley. N. 6098, 25 de octubre de
2017, pp. 1-4, argumentando, por una parte, que la regla de exclusión proba-
toria no es ineficaz para prevenir abusos policiales y, por otra, que este enten-
dimiento conduce a la irrelevancia de las vulneraciones de derechos cuando
no existe, en apariencia o en realidad, una malintencionada praxis policial, lo
que produce resultados crueles y muy peligrosos.

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elevada por el Tribunal Constitucional español a criterio de ponderación


para decidir sobre la admisibilidad de las pruebas, carecería de fundamento,
excepto en aquellos casos en que la conducta del particular fuese imputable
al Estado o a sus agentes. En este sentido, el Tribunal Supremo español
ha llegado a afirmar que las reglas de exclusión probatoria se distancian
de su verdadero sentido cuando no tienen relaci6n con la finalidad que
está en el origen mismo de su formulación, como ocurre, por ejemplo,
cuando quien obtiene la prueba es un particular, siempre y cuando, ‘no
haya actuado, de forma directa o indirecta, como una pieza camuflada del
Estado al servicio de la investigación penal80.
Esta última interpretación es la defendida por POUCHAIN
en cuanto a la prohibición de usar como prueba las declaraciones
autoincriminatorias de los trabajadores realizadas en el marco de una
investigación interna81. En este sentido, el autor sostiene que la regla
de exclusión probatoria debe aplicarse a las investigaciones internas
solo cuando la actuación empresarial resulte imputable al Estado, ya
por existir un encargo expreso para realizar tal investigación, ya por
darse una dejación de las funciones de investigación por parte de los
órganos estatales a la espera de aprovecharse de los resultados ilícitos
de la investigación privada.
Sin embargo, a mi juicio, una protección como la consagrada por
el Tribunal Constitucional español en el caso de la lista Falciani no encaja
bien con la realidad de las investigaciones internas, en las que grandes
corporaciones tienen la posibilidad fáctica, incentivada legalmente y
admitida jurisprudencialmente, de investigar a sus trabajadores a través
de actuaciones claramente limitativas de sus derechos fundamentales.
En estos casos, la empresa, aunque investigue de forma previa al inicio
de una investigación oficial, sin una inducción expresa por parte de las
autoridades públicas y sin una intención previa de preconstituir pruebas,
debería de ser disuadida de extralimitarse y de vulnerar los derechos de
sus agentes, también con el coste procesal que implica el no poder usar
las pruebas obtenidas con vulneración de derechos fundamentales en su

80
STS (Sala de lo Penal) N. 116/2017, de 23 de febrero. Caso Falciani. F. J. 7º.
81
POUCHAIN (2022) pp. 94 y ss.

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536 | Neira Pena, Ana María.

propia defensa82, ya como prueba de descargo, ya para beneficiarse de


eventuales atenuaciones o exenciones de responsabilidad.
A la vista de la referida doctrina constitucional sobre la prueba
prohibida, la primera crítica que procede realizar tiene que ver con la
situación de desprotección en que se deja a los derechos fundamentales de
los trabajadores sometidos a una investigación interna. De la mano del TC
español, se abre la puerta al uso, por la justicia penal, de pruebas obtenidas
con vulneración de las garantías más básicas del individuo, lo que no parece
coherente con la posición preeminente que los derechos fundamentales
ocupan en nuestro ordenamiento jurídico, en tanto que fundamento
del orden político y la paz social (art. 10.1 Constitución Española),
surgiendo un claro riesgo de deslegitimación de la Administración de
Justicia ante la sociedad.
A mayor abundamiento, si se atiende a los incentivos, supra
analizados83, que las corporaciones tienen para investigar conductas
ilícitas y para recabar pruebas relevantes para el esclarecimiento de
tales conductas, ocurre que, paradójicamente, se está incentivando a las
corporaciones privadas a asumir un nuevo riesgo normativo, consistente
en vulnerar los derechos de sus agentes, el cual puede provocar, incluso,
que la empresa incurra en responsabilidades penales.
Sería importante, por lo tanto, dejar claro que cualquier beneficio
para la empresa derivado de su labor como recolectora de evidencias, ya
en forma de atenuante o eximente, ya en forma de obtención de pruebas
de descargo, debiera de partir del escrupuloso respeto de los derechos
fundamentales de sus empleados. Y, en este sentido, aunque la regla de
exclusión probatoria encuentre su ámbito natural de aplicación en las

82
A una conclusión similar llega ESTRADA (2020) p. 263, al afirmar que, “con
base en la identidad estructural de determinadas investigaciones internas con la
instrucción penal pública, los efectos de la inobservancia del contenido material
de los derechos y garantías reconocidos al investigado en un procedimiento penal
público deberían ser exactamente los mismos que los que se atribuyen a la lesión
de tales derechos y garantías por parte de las autoridades públicas en el marco de
un procedimiento jurídico-penal”.
83
En el epígrafe (2) se analizaron los incentivos, forma de atenuaciones y exen-
ciones, contemplados en el CP para la entidad que detecta las infracciones,
las investiga, recopila pruebas y colabora con la justicia en el esclarecimiento
de los hechos.

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investigaciones estatales, las fuentes de prueba obtenidas en el marco


de las investigaciones internas, a pesar de su carácter extrajudicial y
prejudicial, no deberían resultar ajenas a tal regla legal84.

6.- Conclusiones

Las investigaciones internas empresariales son, en tanto que


elemento integrante de los programas de compliance, una manifestación más
de la tendencia privatizadora que supone la autorregulación empresarial,
justificada en la supuesta incapacidad del Estado para controlar los riesgos
de la sociedad empresarial posmoderna sin recurrir a herramientas de
colaboración público-privada.
El sistema de responsabilidad previsto en el CP para las personas
jurídicas introduce importantes incentivos para la implicación de las

84
De hecho, la STC 114/1984, de 29 noviembre, que fue la primera que se ocu-
pó de la ilicitud de las pruebas obtenidas con violación de derechos funda-
mentales, se enfrentó con un caso de este tipo, relativo a una infracción labo-
ral que motivó un despido basado en unas declaraciones de un trabajador que
fueron grabadas por el representante de la entidad; Así mismo, en la STS (Sala
de lo Penal) N. 206/1995, de 10 de febrero, se consideró ilícita la prueba ob-
tenida con vulneración del derecho al secreto de las comunicaciones por un
particular que, creyéndose erróneamente el destinatario de la misma, abrió
una carta que contenía cocaína. De esta resolución, deduce MIJANGOS GON-
ZÁLEZ, Javier. “Prueba ilícita”, Eunomía. Revista en Cultura de la Legalidad. N.
5, 2013, pp. 223-231, p. 231, que los efectos anulatorios se producen, aunque
la violación de derechos fundamentales los haya producido un particular y
no la autoridad; En la misma línea, HAIRABEDIÁN, Maximiliano. “La prueba
obtenida ilícitamente por particulares”, Nueva Doctrina Penal, 2001, núm. 2,
pp. 663-676, pp. 668-672, sostiene que los argumentos axiológicos y de pre-
vención y disuasión que fundamentan la prueba prohibida, son extensible a
aquellos casos en que las evidencias son obtenidas ilegalmente por particula-
res; Igualmente MUÑOZ CONDE, Franciso. “Prueba prohibida y valoración
de las grabaciones audiovisuales en el proceso penal”, Revista Penal, N. 14,
2004, pp. 96-123, pp. 110-111, asume que la regla del art. 11.1 LOPJ se aplica
siempre que haya habido una vulneración de derechos fundamentales en la
obtención de la prueba, sin distinguir entre particulares y poderes estatales;
También parece partir de su aplicación extrajudicial, ASENCIO MELLADO,
José María. “La exclusión de la prueba ilícita en la fase de instrucción como
expresión de garantía de los derechos fundamentales”. Diario La Ley, N. 8009,
25 de enero de 2013, al referirse a un supuesto de prueba ilícita en el que un
tercero hace una captación de correos que envía al Juzgado y a los medios de
comunicación, sin necesidad de que tal tercero sea una autoridad pública.

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538 | Neira Pena, Ana María.

corporaciones en las funciones de investigación de hechos ilícitos y de


recopilación de pruebas, lo que sin duda ha contribuido a la extensión de
esta práctica empresarial. A este aliciente normativo a investigar85, hay que
sumar la reciente aprobación de la Ley 2/2023, de 20 de febrero, tantas
veces referida, en la que se establece de forma expresa el deber de todas
las empresas de un cierto tamaño de contar con sistemas internos de
gestión de denuncias. Esta nueva norma, sin duda, provocará, en un futuro
próximo, una mayor expansión y protocolización de las investigaciones
internas en el tejido empresarial español.
Sin embargo, y a pesar de su creciente implantación como
práctica empresarial, las investigaciones intraempresariales siguen
siendo procedimientos desregulados, en cuyo desarrollo las empresas
cuentan con un amplio margen de autonomía y discrecionalidad, con los
innegables riesgos que ello plantea, especialmente para los derechos de
los trabajadores investigados.
Ante la falta de una regulación específica, y resultando inaplicables
las leyes procesales dado el carácter privado de las investigaciones internas,
el marco normativo de referencia se busca en la legislación laboral, que
regula las relaciones empresario-trabajador. La consecuencia principal de la
instauración de esta práctica empresarial es, por lo tanto, la mutación que
se produce en el marco jurídico que regula la obtención de información
en la investigación de delitos, con la necesidad que ello conlleva de
repensar la aplicabilidad de las garantías, sustantivas y procesales, en el
entorno laboral.
La aplicabilidad de los derechos fundamentales sustantivos en el
ámbito laboral, señaladamente derechos a la intimidad, al secreto de las
comunicaciones y a la protección de datos, resulta incuestionable. En este
sentido, la empresa, en el desarrollo de las investigaciones internas, deberá
de respetar la expectativa razonable de privacidad de sus trabajadores en
el uso de los espacios o de los medios de comunicación telemática que el
empleador pone a su disposición.

85
AYALA (2020) habla de “zanahorias legislativas” para referirse a las prome-
sas de recompensa previstas en el CP para las entidades que desarrollan ac-
tuaciones de investigación interna para colaborar con la justicia.

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Más controvertida resulta, sin embargo, la extensión de los


derechos procesales a las investigaciones internas empresariales. En
este sentido, aunque puede ser recomendable garantizar ciertos derechos
defensivos al trabajador que es entrevistado o interrogado en el marco de
una investigación interna, debiendo informársele del posible destino de
sus declaraciones y dándole la posibilidad de recibir asesoramiento legal,
un traslado acrítico de las garantías del debido proceso, especialmente
del derecho a no declarar, chocaría con las obligaciones de rendición de
cuentas que pesan sobre el trabajador. De ahí que el despido del trabajador
que se niega a declarar sobre hechos propios de su actividad en la empresa
pueda ser considerado procedente.
Por último, en cuanto a la aplicación de la regla de exclusión
probatoria a las investigaciones internas empresariales, debo discrepar
con las opiniones, doctrinales y jurisprudenciales, que tratan de limitar el
ámbito de la aplicación de la regla de exclusión a actuaciones estatales o
actuaciones de particulares imputables al Estado. En mi opinión, el valor
axiológico de los derechos fundamentales y la posición preeminente que
estos están llamados a ocupar en un Estado de Derecho, aboga por excluir
el valor probatorio, y la eficacia atenuante, de las evidencias obtenidas
con vulneración de aquellos, independientemente de que la transgresión
provenga de una autoridad pública o de una corporación privada facultada
para prevenir e investigar delitos. A mi juicio, la postura contraria
supondría admitir que el legislador premia con efectos atenuantes, y,
por lo tanto, incentiva jurídicamente, la vulneración de los derechos de
los trabajadores por parte de las empresas.

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Authorship information
Ana María Neira Pena. Profesora contratada doctora (PC-DR) de la Universidade
da Coruña, Coruña, España. Doctora en Derecho. [email protected]

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
544 | Neira Pena, Ana María.

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Conflict of interest declaration: the author confirms that there are no


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attests that there is no third party plagiarism or self-plagiarism.

Editorial process dates (https://revista.ibraspp.com.br/RBDPP/about)

▪ Submission: 30/05/2023 Editorial team


▪ Editorial review: 16/06/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)

How to cite (ABNT Brazil):


NEIRA PENA, Ana María. Editorial para el dossier “Proceso penal de
personas jurídicas e investigaciones internas empresariales”: Investigaciones
internas empresariales, derechos fundamentales y prueba prohibida. Revista
Brasileira de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 503-544, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.877

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 503-544, mai.-ago. 2023.
Reporting of the results of internal investigations –
main types of cooperation between companies
and prosecutorial authorities in the light of the
threats to individuals in criminal proceedings

Reportando os resultados das investigações internas: principais


modos de cooperação entre empresas e autoridades investigativas
em relação a persecução de cidadãos no processo penal

Szymon Pawelec1
University of Warsaw, Warsaw, Poland
[email protected]
https://orcid.org/0000-0001-7166-9180

Abstract: This study examines whether internal investigations conducted


as a result of cooperation between the company and prosecutors
may conflict with the rights of individuals in criminal proceedings. It
demonstrates how the post-Enron era emphasized the importance of
internal investigations as a component of corporate criminal compliance
systems worldwide, leading to more frequent cooperation between
companies and prosecutors in launching internal investigations. The
purpose of this publication is to show that they have led to abuse
against individuals, who, because internal investigations are private
and largely unregulated, do not have the same guarantees as in criminal
proceedings. This article aims to critically evaluate the regulations that
have been introduced in this area and to demonstrate the need for
legislative changes in the countries which allow such cooperation but
have not considered the risks that arise from the nature of internal
investigations.
Keywords: white-collar crimes; internal investigations; pretrial diversion
agreements; self-incrimination.

1
Associate Professor and Head of the Department of International Criminal Pro-
cedure at the University of Warsaw, Poland. PhD with habilitation in Law.

545
546 | Pawelec, Szymon.

Resumo: Este estudo analisa se as investigações internas realizadas como


resultado da cooperação entre a empresa e o Ministério Público podem
conflitar com os direitos dos indivíduos no processo penal. Demonstra-se
como a era pós-Enron enfatizou a importância das investigações internas
como um componente dos sistemas corporativos de compliance criminal em
todo o mundo, levando a uma cooperação mais frequente entre empresas e
promotores na realização de investigações internas. O objetivo deste artigo
é demostrar que isso ocasionou abusos contra indivíduos, que, por serem
investigações internas privadas e em grande parte não regulamentadas,
não têm as mesmas garantias que em processos criminais. Este artigo visa
a avaliar criticamente as regulamentações que foram introduzidas nesta
área e demonstrar a necessidade de mudanças legislativas nos países que
permitem essa cooperação, mas não consideraram os riscos decorrentes
da natureza das investigações internas.
Palavras-chave: crimes de colarinho branco; investigações internas; acordos
pré-processuais; autoincriminação.

Introduction

In February 2002, the board of directors of Enron Corporation - the


company that perpetrated one of the largest accounting frauds in history -
released the results of its private internal investigation, commonly known
as the Powers Report, named after the head of the special investigation
committee, William Powers Jr. The committee reviewed more than 430,000
pages of documents and interviewed more than 65 people, including
Enron executives, employees, and some outside professional advisors,
who subsequently helped the government identify the source and details
of the crimes committed2. Michael E. Anderson, then supervising FBI
special agent who led the Enron Task Force in Houston, summed up the
commission’s work unambiguously: “That was a gold mine”3.

2
The Report of the Special Investigation Committee of the Board of Directors
of Enron Corporation issued on 1 February 2002, available at: https://www.
sec.gov/Archives/edgar/data/1024401/000090951802000089/big.txt, ac-
cessed on 19 March 2023
3
The United States Federal Bureau of Investigation website, available at: https://
www.fbi.gov/history/famous-cases/enron, accessed on 19 March 2023

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 547

Shortly thereafter, the United States Congress enacted one of the


most important pieces of corporate compliance legislation, the Sarbanes-
Oxley Act of 2002, which made internal investigations an integral part of
public companies’ corporate governance systems4. Additionally, the United
States Department of Justice (DOJ) updated its guidelines for prosecuting
corporations in a document called the Thompson Memorandum, which
stated that relevant factors in determining whether to charge a corporation
may be timely and voluntary disclosure of wrongdoing and willingness
to cooperate with the government’s investigation. Then, according to the
DOJ guidelines, in gauging the extent of the corporation’s cooperation,
the prosecutor was to consider, inter alia, the corporation’s willingness
to disclose the complete results of its internal investigation5.
It is important to emphasize at the outset that the reach of the
Sarbanes-Oxley Act of 2002 in terms of its impact on corporate law reform
extended beyond the borders of the United States. As in other matters
related to the doctrine of corporate criminal liability, there has also been
a growing trend in the post-Enron era to implement the United States
solutions in other legal systems, with the proviso, of course, that they are
adapted to the specific systems of the countries that have chosen to do so6.
At the time when the term “internal investigation” was beginning
to be incorporated into corporate criminal compliance systems and used

4
BENNET Robert S., KRIEGEL Alan, RAUGH Carl S., WALKER Charles F.,
Internal Investigations and the Defense of Corporations in the Sarbanes-Ox-
ley Era, Chicago: The Business Lawyer, 2006, p. 55-88, available at: https://
www.jstor.org/stable/40688411, accessed on 19 March 2023; MISSAL Mi-
chael., Fishman Ed, OCHS, Brian, DUBILL Rebecca Kline “Conducting Cor-
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ernance, 2007, p. 297–308, available at: https://doi.org/10.1057/palgrave.
jdg.2050065, accessed on 19 March 2023
5
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Stein Problems: A Review of the Federal Policy on the Prosecution of Business
Organizations Note, Connecticut: Connecticut Law Review, 2009, p. 273-318,
available at: https://opencommons.uconn.edu/law_review/48, accessed on
19 March 2023
6
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ropean Community’, in HOPT Klaus J. and others, Corporate Governance in
Context: Corporations, States, and Markets in Europe, Japan, and the US, Ox-
ford, Oxford Academic, 2012, available at: https://doi.org/10.1093/acprof:o-
so/9780199290703.003.0009, accessed on 19 Mar 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
548 | Pawelec, Szymon.

to set standards of integrity around the world, few foresaw that making the
company’s situation dependent on cooperation with the law enforcement
authorities in disclosing the results of its corporate internal investigation
could open the door to abuse. Only a few years after the details of the
major economic scandals emerged, it was already clear - above all as
a result of the well-known Stein vs. the United States case - that the
actions of the government, through the hands of the company conducting
internal investigations, had led to the violation of the fundamental rights
of individuals in criminal proceedings7.
This would not be so controversial were it not for the fact that
corporate internal investigations are private, unregulated, largely unchecked
by legislation, and not covered by the rules of criminal procedure that
protect individuals from governmental overreach8. They are a multimillion-
dollar business in which control is largely in the hands of a company that
can, in certain cases, carry out the orders of the government9. Thus, in a
situation where internal investigations are part of a procedure that is not
covered by any of the safeguards ensuring respect for the fundamental
procedural rights of the person, such as the prohibition on asking the
person interviewed questions suggesting an answer or influencing the
statements of the person being interviewed by using coercion or unlawful
threats, the procedural position of the individuals is fundamentally altered.
This article deals with the question of reporting the findings
of an internal investigation to the government in connection with the
cooperation between a company and the law enforcement authorities in
a way that respects the procedural rights of individuals (possible future
defendants) in criminal proceedings. For this purpose, we will describe
the main cooperation legal constructions, as well as the directly related
problems that concern the privilege against self-incrimination in criminal

7
United States v. Stein (Stein II), 440 F. Supp. 2d 315 (S.D.N.Y. 2006)
8
GRIFFIN Lisa Kern, Compelled Cooperation and the New Corporate Criminal
Procedure, New York: New York University Law Review, 2007, p.311-382,
available at: https://doi.org/10.2307/20454705, accessed on 19 March 2023
9
GREEN Bruce A., PROGDOR Ellen S., Unregulated Corporate Internal Investi-
gations: Achieving Fairness for Corporate Constituents, Boston: Boston College
Law Review, 2013, p.73-126, available at: https://ir.lawnet.fordham.edu/fac-
ulty_scholarship/579/, accessed on 19 March 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 549

proceedings. The analysis is based on model legal solutions initiated in


the United States and subsequently modified and gradually implemented
in the European countries.

1. Self- disclosure

An internal investigation can be initiated for a variety of reasons


but is typically triggered by allegations from an employee whistleblower,
an unsolicited inquiry from a government investigator, the results of an
external audit, or the company’s assessment of its compliance program.
Regardless of the jurisdiction, the guiding principles for conducting an
internal investigation are broadly similar: in most cases, the company
receives information, determines the nature of activities involved to develop
the appropriate response and the scope of the internal investigation, and
ultimately considers the evidence in deciding whether a full government
investigation is warranted10. The potential disclosure of details of internal
investigations to the relevant authorities can be voluntary, usually in the
hope of receiving lenient treatment for early disclosure and cooperation, or
mandatory, where an applicable law or regulation imposes an independent
duty to disclose, or the failure to disclose information evidencing criminal
conduct within the company is itself an independent crime. Either way,
sooner or later every company must make a fundamental decision that
boils down to one question - whether to disclose the details of conducted
proceedings and detected misconduct.
In general, therefore, the company may benefit from being able to
communicate the results of an internal investigation. In many countries,
more on which will follow below, disclosing the results of an internal
investigation to the government can, in certain circumstances, result in
leniency and the prevention of criminal proceedings11. In addition, an

10
TSAO Leo R., KAHN Daniel S., SOLTES Eugene F., Corporate Internal Investi-
gations and Prosecutions, Aspen Publishing, 2022
11
BOUTROS Andrew., Deferred Prosecution Agreements, Nonprosecution Agree-
ments, and Corporate Integrity Agreements, FUNK T. Markus, BOUTROS An-
drew S. Boutros, From Baksheesh to Bribery: Understanding the Global Fight
Against Corruption and Graft, New York, Oxford Academic, 2019, available

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
550 | Pawelec, Szymon.

internal investigation may allow the company to control the information


and evidence that reaches the government and is subsequently used in a
potential trial12. It is also worth noting at this point the most recent guidance
addressed to the United States prosecuting authorities, dated 22 February
2023, in which the United States Department of Justice (DOJ) announced
the implementation of the new United States Attorney’s Offices’ Voluntary
Self-Disclosure Policy for corporate criminal enforcement in all 94 United
States Attorneys’ Offices (USAOs) across the country: “Companies that
voluntarily self-disclose misconduct to the USAO according to this policy
will receive resolutions under more favorable terms than if the government
had learned of the misconduct through other means”13.
On the other hand, self-disclosure can create legal, reputational,
and operational risks for the company. Report of this type of data is
particularly dangerous because they can create a very detailed “road map”
for government regulators, reveal the identity of wrongdoers and lead to
providing incriminating evidence14. Then, even partial concealment of
the details of an internal investigation may be considered commission
of another type of crime, such as the offense of giving false testimony
or withholding evidence15. The results of an internal investigation then
become a means for law enforcement agencies to accurately identify
suspects and obtain valuable information that may expose the company
itself or even expand the scope of such liability.

at: https://doi.org/10.1093/oso/9780190232399.003.0026, accessed on


19 Mar 2023
12
STEVENS Charles J., CHAN Winston Y. Disclosure of Results of Internal In-
vestigations to the Government or Other Third Parties, available at: https://
www.gibsondunn.com/wp-content/uploads/2018/01/Stevens-Chan-Dis-
closure-of-Results-of-Internal-Investigations-to-the-Government-or-Oth-
er-Third-Parties-Internal-Corp-Investigations-Dec-2017.pdf, accessed on
19 Mar 2023
13
https://www.justice.gov/usao/page/file/1569586/download
14
MISSAL Michael., Fishman Ed, OCHS, Brian, DUBILL KLINE Rebecca Con-
ducting Corporate Criminal Investigations, International Journal of Disclosure
and Governance, 2007, p. 297–308 available at: https://doi.org/10.1057/pal-
grave.jdg.2050065, accessed on 19 March 2023
15
TSAO Leo R., KAHN Daniel S., SOLTES Eugene F., Corporate Internal Investi-
gations and Prosecutions, Aspen Publishing, 2022

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 551

However, it is not always possible for a company to keep such


a profit and loss account and to make independent decisions. If the
misconduct has come to the attention of the government and criminal
proceedings have been initiated, it is not always possible to identify
potential wrongdoing exclusively internally, conduct and undertake a
controlled internal investigation, view the full scope of evidence, and
possibly make an independent self-disclosure decision. This refers to those
cases where the company becomes aware of the wrongdoing at a time when
it is approached by law enforcement after a government investigation has
started. It may include a government contact requesting the production of
documents or information, the arrest of a company employee, a physical
search of the company’s offices, or even an indictment16. It is worth
mentioning the content of the famous speech by the head of the Criminal
Division of the DOJ, Assistant Attorney General Leslie Caldwell, who
confirmed that the DOJ takes the time to scrutinize and evaluate the
quality of a company’s internal investigation, does this evaluation “through
our own investigation” as well as in considering what charges to bring
against a company17.
As this analysis is concerned with the rights of individuals, it
is worth noting in passing that the procedural rights of companies in
such situations are regulated differently in different jurisdictions. The
company often has little or no choice as to whether it wishes to produce
such records. In the United States, for example, corporations have no
rights under the self-incrimination clause of the Fifth Amendment to the
US Constitution18. The collective entity doctrine recognizes that the Fifth
Amendment treats corporations and collective entities differently from
individuals because corporations and collective entities do not have a Fifth
Amendment privilege against self-incrimination19. If a corporation receives

16
Ibid.
17
The United States Department of Justice website, available at: https://www.
justice.gov/opa/speech/assistant-attorney-general-leslie-r-caldwell-deliv-
ers-remarks-compliance-week-conference, accessed on 19 March 2023
18
Braswell v. United States, 487 U.S. 99 (1988)
19
COLE Lance, Reexamining the Collective Entity Doctrine in the New Era of Lim-
ited Liability Entities - Should Business Entities Have a Fifth Amendment Privi-
lege, 2005 Colum. Bus. L. Rev. 1

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
552 | Pawelec, Szymon.

a grand jury subpoena for documents, it must provide the government


with the requested documents, even if those documents incriminate the
corporation20. On the other hand, in Europe, for example, this remains a
controversial issue, as both the European Court of Human Rights and the
Court of Justice of the European Union are increasingly coming around
to the argument that corporations should already be afforded procedural
rights, i.e., the right to defense and the right not to incriminate oneself.
However, once the company no longer has this degree of freedom
to decide whether to disclose the results of internal investigations, it is
left with the choice of either cooperating with law enforcement - if it
is offered the opportunity at all - or not, which may expose it to many
negative consequences. However, if a company wishes to take advantage
of an internal investigation and establish cooperation with the public
prosecutor then things can get even more complex.

2. Pretrial diversion agreements

As noted above, a key issue arises when a company faces the


prospect of prosecution or conviction in a criminal case and is offered the
opportunity to cooperate with the government. The most common form
of cooperation, which has become a mainstay of white-collar criminal
law enforcement, originating in the United States, is pretrial diversion
agreements, namely Deferred Prosecution Agreements (DPAs) and Non-
Prosecution Agreements (NPAs)21. Some also point out the importance of
Corporate Integrity Agreements (CIAs), but they are much narrower in
scope - generally, CIAs are only an option in cases of healthcare fraud22.

20
MoloLamken LLP website, available at: https://www.mololamken.com/
knowledge-Can-a-Corporation-Invoke-the-Fifth-Amendment-Right-
Against-Self-Incrimination, accessed on 3 June 2023
21
PIETH Mark, IVORY Radha, Corporate Criminal Liability Emergence, Con-
vergence, and Risk, Springer, 2011
22
BOUTROS Andrew., Deferred Prosecution Agreements, Nonprosecution Agree-
ments, and Corporate Integrity Agreements, FUNK T. Markus, BOUTROS An-
drew S. Boutros, From Baksheesh to Bribery: Understanding the Global Fight
Against Corruption and Graft, New York, Oxford Academic, 2019, available

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 553

To understand the issues that are further discussed in this paper, it is


necessary to briefly clarify the nature and specificity of these agreements.
In their simplest form, DPAs and their related NPAs are voluntary
alternatives to traditional criminal proceedings in which the defendant
avoids a criminal conviction by agreeing with the prosecutor to fulfill
certain obligations set forth in a detailed “contract”, the successful
fulfillment of which will result in the dismissal of the charges or them not
being brought in the first place23. In the United States, these agreements
are negotiated between large corporations and government entities such
as the DOJ or the Securities Exchange Commission (SEC).
DPAs are a hybrid of private contracts, consent decrees, and plea
agreements which offer companies an intermediate sanction that avoids
some of the collateral consequences of indictment and conviction in
exchange for full cooperation with the investigation and post-settlement
remediation24. In the case of the DPA, the prosecutor will dismiss the
charges upon the successful completion of the terms of the agreement
or the diversion period25. NPAs are very similar to DPAs - they generally
require a company to pay a fine, admit relevant facts, cooperate with
the government, etc. However, in the case of an NPA, the prosecutor
does not bring charges at all26. Both D/NPAs are carefully negotiated

at: https://doi.org/10.1093/oso/9780190232399.003.0026, accessed on


19 Mar 2023
23
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available at: https://scholarship.law.duke.edu/faculty_scholarship/1919, ac-
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24
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cessed on 19 March 2023
25
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26
BOUTROS Andrew., Deferred Prosecution Agreements, Nonprosecution Agree-
ments, and Corporate Integrity Agreements, FUNK T. Markus, BOUTROS An-
drew S. Boutros, From Baksheesh to Bribery: Understanding the Global Fight

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
554 | Pawelec, Szymon.

and heavily legalized documents27. Significant from the perspective of


the issues addressed in this article is that the basic agreements usually
include elements such as an obligation to cooperate in ongoing and
further investigations and prosecutions, often by providing evidence
that may incriminate individuals, including officers and employees of
the corporation28.
By entering into such an agreement, the company will act as
an agent of the prosecution and share the documents collected or, at
the request and under the continuing direction of the law enforcement
authorities, may conduct a full internal investigation, thereby obtaining
an extremely valuable body of information about the scope, nature and
participants in a particular incident. However, the possibility of such
an investigation often means that the company must decide whether
to extend the protection to itself, thereby gaining various benefits in
a criminal proceeding, or in most cases its employees or directors.
After all, the corporate investigation uncovers evidence of conduct that
provides a substantial basis for the government’s subsequent prosecution
of individuals29.
Regardless of whether the company decides to sign the agreement,
the creation of such legal mechanisms undoubtedly encourages abuse
against individuals, both by the state and, even worse, by the company30.
According to the DOJ, “it is important early in the corporate investigation

Against Corruption and Graft, New York, Oxford Academic, 2019, available
at: https://doi.org/10.1093/oso/9780190232399.003.0026, accessed on 19
March 2023
27
DAVIS Frederick T., Judicial Review of Deferred Prosecution Agreements. A
comparative study, New York: Columbia Journal of Transnational Law, 2022,
p.752-828, available at: http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.4072985, accessed
on 19 March 2023
28
The United States Department of Justice website, available at https://www.jus-
tice.gov/opa/pr/moneygram-international-inc-agrees-extend-deferred-pros-
ecution-agreement-forfeits-125-million, accessed on 19 March 2023
29
PATTERSON Sarah, Co-opted Cooperators: Corporate Internal Investigations and
Brady v. Maryland, New York: Columbia Business Law Review, 2021, available at:
https://journals.library.columbia.edu/index.php/CBLR/article/view/8482,
accessed on 19 March 2023
30
ARLEN Jennifer, Prosecuting Beyond the Rule of Law: Corporate Mandates
Imposed through Deferred Prosecution Agreements, Journal of Legal Analysis,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 555

to identify the responsible individuals and determine the nature and


extent of their misconduct. Prosecutors should not allow delays in the
corporate investigation to undermine the Department’s ability to pursue
potentially culpable individuals”31.
This is particularly dangerous because internal investigations
are not usually under the direct control of the judicial authorities, and
they are subject to internal rules of procedure or company resolutions.
Thus, there is no guarantee that those conducting internal investigations
will respect the rights of individuals. They are likely to want to avoid
the inconvenience of full corporate criminal liability, and if threats and
terminations are the only way to do so and to obtain the identity of the
perpetrator, many companies will undoubtedly choose to resort to them.
This also seems likely given the nature of the disadvantages,
including financial or reputational, that a company may face from the
prospect of prosecution, let alone conviction, for a criminal offense. In the
case of public companies, for example, it should be noted that a criminal
prosecution itself carries with it the possibility of paralysis of share price,
business relationships, and market activity. The stakes of a formal charge
(let alone a conviction) are simply too high for most companies to risk32.
It is impossible to forget the fate of Arthur Andersen LLP, where the DOJ
proposed a DPA for Arthur Andersen LLP in connection with the Enron
affair, which was rejected by the firm. As a result, the corporation went
bankrupt within months, nearly 30,000 people lost their jobs, and few
remember that the firm was ultimately acquitted. It then became clear
that the mere fact of prosecution could be a corporate death sentence.

2016, p. 191–234, available at: https://doi.org/10.1093/jla/law007, accessed


on 19 March 2023
31
The United States Department of Justice website, available at: https://www.
justice.gov/jm/jm-9-28000-principles-federal-prosecution-business-organi-
zations#9-28.1000, accessed on 19 March 2023
32
ELDRED David, The Defense Strikes Back: United States v. Stein–A Significant
First Step in Recouping the Rights and Privileges of Targeted Employees, Aspen
Publishers, 2007, available at: https://www.dorsey.com/~/media/files/news-
resources/publications/2007/02/the-defense-strikes-back-united-states-
v-steina __/files/tbls13newspdf952838defensestrikescorporationfeb1__/
fileattachment/defensestrikes_corporation_feb15_2007.pdf, accessed on 19
March 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
556 | Pawelec, Szymon.

It is easy to conclude that some companies will do anything to avoid


criminal reprisals33.
The issue of violations of individual rights as a result of a pretrial
diversion agreement was analyzed in the decision of the United States
District Court for the Southern District of New York in United States
v. Connolly, issued on May 2, 2019,34. In that case, the Chief Judge for
the Southern District of New York, the Honorable Colleen McMahon,
issued a decision that sharply criticized certain long-standing practices
by which companies conduct internal corporate investigations under
the direction of the government. In doing so, Judge McMahon drew a
clear line between conducting an internal investigation and becoming
an agent of the federal government. That line turned out to be the Fifth
Amendment’s protection against self-incrimination.
In the above case, one of the defendants was forced, under threat
of dismissal, to submit to questioning by lawyers from the law firm Paul
Weiss, who were interviewing employees on behalf of Deutsche Bank,
acting on behalf of the Commodity Futures Trading Commission, as part
of the concluded DPA. The defendant was briefed before the interview
on the basic “Upjohn warnings” in the US system but indicated that he
had been coerced into making statements that were subsequently used
against him in criminal proceedings.
However, the key to the issue addressed in this paper is that
Deutsche Bank did something that the DOJ could not do directly - it
began each interview with a question that went something like this:
do you want to provide self-incriminating evidence, or do you want
to lose your job and your career? Judge McMahon assessed this as the
government’s practice of “routinely outsourcing its investigations of
complex financial matters to the [corporate] targets of those investigations,
who are in a uniquely coercive position vis-à-vis potential targets of
criminal activity”. It was established that the interviews conducted as

33
DELANEY Rachel, Congressional Legislation: The Next Step for Corporate
Deferred Prosecution Agreements, Wisconsin: Marquette Law Review, 2009,
available at: https://scholarship.law.marquette.edu/mulr/vol93/iss2/19, ac-
cessed on 19 March 2023
34
United States v. Connolly, No. 16 CR. 0370, 2019 WL 2120523, at *9 (S.D.N.Y.
May 2, 2019)

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 557

part of the internal investigation, including the accused himself, were


government-engineered interviews and violated the Fifth Amendment to
the United States Constitution to the extent that no one may be compelled
to testify in a criminal case to his detriment. It is also worth noting that the
famous Garrity v. New Jersey decision was relied upon here. According
to the judge, although the case involved the conduct of a government
employer, the rule applies equally to private conduct where the private
employer’s actions in obtaining the statements are reasonably attributable
to the government. In Garrity v. New Jersey, the Supreme Court held that
the defendant’s statements to police officers under threat of termination
of employment were involuntary and inadmissible35.
In this context, based on United States v. Connolly, it is not
difficult to imagine a scenario, often encountered in practice, in which the
employee in question participated in an interview conducted as part of an
internal investigation without knowing that the material collected would
be used in criminal proceedings. The interviewers did not inform the
employee of his rights and the possibility that information from the internal
investigation could be used in criminal proceedings, or the company
which does not follow corporate “trends” did not implement such internal
safeguards. In addition, the employee was convinced that the information
he provided was protected by attorney-client privilege because he had
been interviewed by the company’s in-house counsel. It is therefore worth
noting at this point, if only by way of clarification, that this is a problem
that is repeatedly raised in the doctrine of attorney-client privilege36. In
a situation where an internal investigation is conducted by lawyers hired
by the company for this purpose (in-house or outside counsel), it is at
least ethical for them to warn the interviewee (in the United States, this
is done by the so-called “Upjohn warnings” mentioned above) that the
interrogators represent only the company, which may waive the attorney-
client privilege to obtain a DPA, and that the contents of the interview
may be used in criminal proceedings against the interviewee. However,

35
Garrity v. New Jersey, 385 U.S. 493 (1967)
36
LOTCHIN Theodore R., No Good Deed Goes Unpunished? Establishing a
Self-evaluating Privilege for Corporate Internal Investigations, Williamsburg:
William & Mary Law Review, 2004, available at: https://scholarship.law.
wm.edu/wmlr/vol46/iss3/5, accessed on 19 March 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
558 | Pawelec, Szymon.

past practice shows that “attorneys often issue ‘watered down’ warnings
to extract full information from employees and zealously represent their
corporate employer clients,” and “these warnings do not negate the fact
that the company will still seek to obtain information from its employees
that may ultimately be damaging to them”37. As a result, individuals
with little or no legal training, and unaware of the ramifications and
personal consequences, willingly cooperate in providing information
to in-house counsel conducting internal investigations, even when the
company is already assisting government prosecutors or regulators in their
investigations of company employees or expects to do so in exchange
for leniency”38.
United States v. Connolly illustrates how the delegation of
investigative work to corporate investigators can negatively affect the
procedural rights of individuals. Therefore, since such legal constructions
create the possibility for a company to weigh its interests in such a
severe way, it seems necessary from a legislative point of view to regulate
precisely the content and scope of compliance procedures for private
internal investigations carried out as a result of the competent corporate
authority’s knowledge of an irregularity exposing the company or its
associated individuals to criminal liability.

3. D e lege ferenda proposals

The foregoing analysis, supported by the argumentation of Judge


McMahon, leads to the following conclusions. First, where a jurisdiction
authorizes close cooperation, particularly in the transmission of evidence
between the company and the prosecution, the legislation enacted in this
regard should ensure that the individual realizes the rights guaranteed to

37
CUMMINGS Lawton P. Cummings, The Ethical Mine Field: Corporate Internal
Investigations and Individual Assertions of the Attorney-Client Privilege, West
Virginia: West Virginia Lew Review, 2007, available at: https://researchre-
pository.wvu.edu/wvlr/vol109/iss3/6, accessed on 19 March 2023
38
GREEN Bruce A. PROGDOR Ellen S. Progdor, Unregulated Corporate Internal
Investigations: Achieving Fairness for Corporate Constituents, Boston: Boston
College Law Review, available at: https://ir.lawnet.fordham.edu/faculty_
scholarship/579, accessed on 19 March 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 559

him or her by the law of criminal procedure. If the content of the “interview”
made during an internal investigation can be used against the accused in
a criminal trial, he or she must be informed of all the consequences of
what he or she has said during the internal investigation and must have an
opportunity to be assisted by a defense counsel. This also applies both to
the right to refuse to answer a question that could incriminate the person
questioned, and the prohibition of coercion and threats, as well as the use
of information covered by the attorney-client privilege.
Secondly, it seems necessary to create rules that would apply
the main principles of criminal procedure to the reality of internal
investigations and to establish judicial control over the actions of the
public prosecutor. The company and the public prosecution, having
established this formalized cooperation, have the same objective, which
encourages various types of abuse. Unfortunately, with the prospect
of obtaining various types of benefits, the company may use unlawful
means to effectively obtain answers to the prosecutor’s indirect questions
(after all, without obtaining these answers, the company cannot count on
obtaining any benefit from the cooperation and the lawyers conducting
the interrogation cannot count on generous contingency fees). Practical
examples of this include threatening the interviewee with dismissal,
losing the prospect of promotion or salary increase, creating the often-
unrealistic prospect of various benefits for the interviewee in the event
of confession, or providing false information to induce the interviewee
to provide specific and necessary information to satisfy DPA obligations.
Aligning corporate and criminal law with the requirements of criminal
procedure, such as a mandatory and heavily sanctioned prohibition on the
use of coercion or unlawful threats by interrogators, or an obligation to
instruct the interrogator, would help avoid this type of abuse. Enforcement
of such rules, however, would not be possible without adequate oversight
by the courts, whose role would be to monitor and supervise the actions
of prosecutors and corporations.
Third, it seems reasonable to adopt and enforce evidentiary
prohibitions that will prevent the use against an individual of the
information obtained without proper instructions and in violation of
the rules of criminal procedure, including the use of threats, coercion,
deception, or other such means. This seems justified because, in practice,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
560 | Pawelec, Szymon.

even the company initiating an internal investigation is often unaware


that the reported irregularity fulfills the elements of a criminal offense
and that the results of the investigation in question may in the future
be analyzed by law enforcement authorities and form the basis for a
conviction or, which would be less problematic in practice, an acquittal
in a criminal trial. This would provide any person interviewed with the
assurance that if the company does not meet all the requirements of
sound criminal law compliance, the evidence provided by the company
will not incriminate the potential defendant.
Fourth, it is necessary to discuss the need to limit the personal
scope of persons who may conduct internal investigations into irregularities
that may involve the commission of a criminal offense by a company.
The lack of a legal definition of the entities authorized to carry out such
procedures and the absence of a general and compliant instruction may
lead to a situation in which persons without a legal background have
to carry out an interrogation which is practically an equivalent of an
interrogation carried out in the context of criminal proceedings, with
all the consequences that this entails. This leads to the conclusion that
the persons carrying out internal investigations should include lawyers
or persons trained in this field. Moreover, from the point of view of the
individuals to be interviewed, it seems best to employ people who have
not previously worked with the company in any way. In the case of in-
house counsel, they will often know the interviewees, have worked on
joint projects, or simply have established relationships of various kinds.
For this reason, an internal investigation may be more like a collegial
conversation than an interrogation that will later be used as evidence
in a criminal proceeding. Also, from a psychological point of view, it
is much easier to obtain concrete information which, especially in the
case of people who are unaware of the legal consequences, can easily be
obtained by the lawyers paid by the company.

4. E xpansion of the U nited States solutions and possible


ways of solving problems

It may seem that the problem described above only affects


the United States, but the last few years have shown that it is going to

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 561

affect many other countries as well. Interestingly, the pretrial diversion


agreements implemented by various jurisdictions have to a large degree
addressed the problems that arose in the United States and proposed a
kind of remedy for this.
While the United States created and developed the construct of
pretrial diversion agreements in the context of corporate criminal liability
over 30 years ago, it is only relatively recently that such constructs -
apparently in response to the United States initiative - have been adopted
and implemented in some other countries, while others are considering
possible legislation to adopt them39. In recent years, DPA equivalents have
been introduced in many legal systems around the world, including, inter
alia, the United Kingdom, France, Canada, Singapore, Ireland, Argentina,
and Brazil40. In many cases, as, for example, in Poland, the introduction
of DPA equivalents is still in the drafting stage, but this undoubtedly
indicates a clear international legislative trend that will become even
more visible soon41. Because of the pace of development and change in
recent times, as well as their diversity compared to the US system, the
author of this paper has chosen to analyze the solutions adopted in the
UK (England and Wales), France, and Poland.
As a precaution, it should be stressed at the outset that the
solutions that have been adopted or are in the process of being developed
often differ significantly from the model adopted in the United States,
inter alia as to the form, scope, and benefits offered for cooperation,

39
KAAL, Wulf A., and LACINE Timothy A. The Effect of Deferred and Non-Pros-
ecution Agreements on Corporate Governance: Evidence from 1993-2013”, The
Business Lawyer, 2014, available at: https://www.jstor.org/stable/43665690,
accessed on:19 Mar. 2023
40
DAVIS Frederick T., Judicial Review of Deferred Prosecution Agreements. A
comparative study, New York: Columbia Journal of Transnational Law, 2022,
p.752-828, available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=4072985 or http://
dx.doi.org/10.2139/ssrn.4072985, accessed on 19 March 2023
The United States Department of Justice website, available at https://www.jus-
tice.gov/opa/pr/moneygram-international-inc-agrees-extend-deferred-pros-
ecution-agreement-forfeits-125-million, accessed on 19 March 2023
41
The Polish Government Legislation Centre, available at: https://legislacja.
rcl.gov.pl/docs//2/12363700/12908952/12908953/dokument572980.pdf,
accessed on 19 March 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
562 | Pawelec, Szymon.

the role to be played by internal investigations, the bodies involved in


the conclusion of such an agreement, and the role of the court and the
prosecutor during its operation. For the purposes of this paper, only the
main solutions of DPA/NPA constructions adopted in individual countries
will be discussed here – and only those which are directly related to
the topic of this paper – as a comparative analysis of the institutions in
question would require a separate discussion.
The first DPA model discussed here is also a solution from
another common law. DPAs in England and Wales were adopted under
the provisions of Schedule 17 of the Crime and Courts Act 2013, which
came into force in 201442. This was followed by the famous Code of
Practice on Deferred Prosecutions Agreements for Prosecutors, which
was published jointly by the Serious Fraud Office (SFO) and the Crown
Prosecution Service, and which detailed the procedure for the conclusion
of pretrial diversion agreements43.
The first significant legal solution is the so-called “evidential
and public interest test”. According to the adopted Code of Practice, to
enter the DPA, the prosecutor must apply the following two-step test: the
evidential test and the public interest test. At the evidential stage, the SFO
should demonstrate that the Code for Crown Prosecutors’ full Code test
is satisfied, that there is sufficient evidence to provide a realistic prospect
of conviction, reasonable suspicion that the company has committed the
offense, and that there are reasonable grounds to believe that further
investigation would produce further admissible evidence within a period so
that all the evidence taken together would be satisfying. Once the evidential
test has been met, the prosecutor must proceed to the public interest test
to determine whether the prosecution is in the public interest (1.4, 1.5,
1.6, 1.7 of the Code of Practice on Deferred Prosecution Agreements).

42
The National Archives for the United Kingdom government website, avail-
able at:https://www.legislation.gov.uk/ukpga/2013/22/contents/enacted,
accessed on 19 March 2023
43
The Serious Fraud Office website, available at: https://www.sfo.gov.
uk/2020/10/23/serious-fraud-office-releases-guidance-on-deferred-pros-
ecution-agreements/,https://www.sfo.gov.uk/publications/guidance-pol-
icy-and-protocols/guidance-for-corporates/deferred-prosecution-agree-
ments/, accessed on 19 March 2023,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 563

If the public interest test requires a prosecution rather than a DPA, then
a full prosecution will follow, subject to there being sufficient evidence
to give a realistic prospect of conviction. The solution introduced allows
for an assessment of the actions of the prosecution and the companies
and prevents the content of the agreement from leading to a conflict
with the public interest.
Another noteworthy construction - from the perspective of the
issues addressed in this paper - is the public hearing by a judge, who must
conclude that the DPA is in the interest of justice. This is a different model
of judicial oversight of a concluded agreement than in the United States.
Once the terms have been agreed upon, the prosecutor must apply to
the court for a declaration that the DPA is in the interests of justice and
that the terms are fair, reasonable, and proportionate (only if the court
has made a preliminary declaration). Once the court makes the final
declaration, the DPA becomes effective. While the DPA is in force, if the
Crown Prosecution Service considers that any of its requirements have
not been met, it can apply to the Crown Court for a decision on whether
the company has failed to comply44.
Thus, the England and Wales courts have a much broader scope of
supervision and review of agreements entered than is the case in the United
States. This appears to be a much more rational and beneficial solution
from the perspective of the public interest and the need for companies
and law enforcement to respect the rights of individuals (including, most
importantly, victims and potential defendants). Speaking on 7 March
2017, Ben Morgan, Joint Head of Bribery and Corruption at the SFO, said,
“It is important to note that the entire process is only effective if, after
full scrutiny, it is approved by the court. This is a key and distinguishing
feature of the United Kingdom DPA system. The judge is asked to give
a declaration; first, that disposal of the matter by way of a DPA is in the
interests of justice; and secondly that the terms are fair, reasonable, and
proportionate”45. The introduction of such a model undoubtedly makes

44
The National Archives for the United Kingdom government website, available
at: https://www.legislation.gov.uk/ukpga/2013/22/schedule/17/enacted
45
The Serious Fraud Office website, available at: https://www.sfo.gov.
uk/2017/03/08/the-future-of-deferred-prosecution-agreements-after-rolls-
royce/, accessed on 19 March 2023,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
564 | Pawelec, Szymon.

it possible to control the actions of prosecutors, who, in their efforts


to obtain favorable evidence, may violate the autonomy of individuals
associated with the company.
The French also proposed an equivalent to the DPA and responded
by including the so-called convention judiciaire d’intérêt public (CJIP),
which came into force in June 2017 after much debate, in SAPIN II46. This
is a response to the United States model, which is designed to give French
prosecutors procedural flexibility while being applied to a very different
criminal justice system, based on civil law rather than common law47. In
France, at the end of an investigation, the public prosecutor, under judicial
review, decides whether there is sufficient evidence to proceed to trial
or whether, subject to additional conditions relating to the stage of the
proceedings and the public interest, a CJIP should be offered48. Under
Article 41-1-2 of the Code of Criminal Procedure, the National Financial
Prosecutor may propose a CJIP to a legal person accused of one of the
offenses listed in the French criminal code, if no criminal proceedings
have been instituted. The regulation imposes one or more of the following
obligations on the company: to pay a fine to the Public Treasury in the
public interest - the amount of this fine will be determined in proportion
to the benefit derived from the infringements found, up to a maximum
of 30% of the average annual turnover calculated based on the last three
annual turnovers known at the time of the discovery of the infringements.
The second is to submit, for a maximum period of three years and under
the supervision of the French Anti-Corruption Agency, to a compliance
program aimed at ensuring the existence and implementation within
the company of the measures and procedures listed in the French Penal
Code, to compensate the victim for the damage caused by the offense

46
The Agence Francaise Anticoruption website, available at: https://www.
agence-francaise-anticorruption.gouv.fr/fr/convention-judiciaire-dinter-
et-public, accessed on 19 March 2023
47
DAVIS Frederick T., Judicial Review of Deferred Prosecution Agreements. A
comparative study, New York: Columbia Journal of Transnational Law, 2022,
p.752-828, available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=4072985 or http://
dx.doi.org/10.2139/ssrn.4072985, accessed on 19 March 2023
48
The Légifrance Le service public de la diffusion du droit website, available
at: https://www.legifrance.gouv.fr/codes/article_lc/LEGIARTI00003752
6425/2018-10-25, accessed on 19 March 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 565

or to submit to the compliance program of the French anti-corruption


agency to implement the institutions of French substantive criminal law
as defined by the law. If the accused legal person agrees to the agreement
proposed by the public prosecutor, the public prosecutor submits a request
for approval of the agreement to the president of the competent district
court, who hears the accused and the victim in a public hearing, after
which a final decision is taken. Notably, the prosecutor should consider
additional considerations and significant factors, including: (1) whether
all procedural rules have been followed during the negotiations between
the company and the prosecutor; (2) whether it is appropriate to enter
a settlement; (3) whether the fine imposed is lawful.
The French National Financial Prosecutor’s Office published
new CJIP Guidelines on its website on January 16, 2023, updating those
published jointly with the French Anti-Corruption Agency (AFA) on June
26, 2019. Interestingly, the guidelines confirm and clarify the incentives
referred to as “good faith conditions” of a legal nature. By refraining
from imposing any conditions, other than legal ones, for joining the CJIP,
the French Public Prosecutor’s Office encourages a company wishing
to enter negotiations to actively participate in establishing the truth by
conducting an internal investigation into the facts, the persons involved
and, where applicable, the failures of the compliance system that led to
the violations. The model described above illustrates the contours of the
DPA in a continental legal system, albeit one that appears to implement
solutions adopted in both the United States and the United Kingdom49.
It is also worth noting that, as mentioned above, the DPA continues
to expand. An example of this is the Polish draft law on the criminal
liability of collective entities for criminal offenses of November 2022,
which is expected to be finalized by the end of the first quarter of 202350.
The bill provides that if a collective entity cooperates with the prosecution

49
The Tribunal the Paris de Ministère de la Justice website, available at: https://
www.tribunal-de-paris.justice.fr/sites/default/files/2023-01/Lignes%20
directrices%20sur%20la%20mise%20en%20oeuvre%20de%20la%20conven-
tion%20judiciaire%20d%27intérêt%20public%20PNF%20version%20signée.
pdf, accessed on 19 March 2023
50
The Polish Government Legislation Centre, available at: https://legislacja.rcl.
gov.pl/projekt/12363700, accessed on 19 March 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
566 | Pawelec, Szymon.

authorities, the prosecutor may refrain from taking further procedural


steps and request the court to allow the entity to voluntarily accept liability.
An important element of the agreement between the public prosecutor and
the collective entity is the provision by the latter of evidence useful for
further proceedings. In addition, the collective entity must fulfill several
conditions, including providing the prosecutor with information on the
persons involved in the commission of the offense and the circumstances
relevant to its commission, as well as paying an amount equivalent to
the damage caused by the offense51. The Polish drafters of the bill react
to the increase in the number of implementations of pretrial diversion
agreements in the United States, but do not consider - at least in the
draft - the form of the agreement entered or the control of the court.
In summary, many countries around the world are implementing,
or just starting to implement, solutions that have been used in the United
States for over 30 years. Interestingly, they are very different and have
various design elements which, as shown above, improve on what has
been done in the US. However, the institutions being put in place are
undoubtedly similar, and the risks arising from the existence of legal
constructs and the possibility of entering into such agreements are
common to all the countries mentioned.

5. Whistleblowing Directive (EU) 2019/1937 of the


European Parliament and of the Council of 23 October 2019

Incidentally, staying on the European continent, it is impossible


not to mention the identical threat of the well-known Directive 2019/1937
of the European Parliament and of the Council of 23 October 2019 on
the protection of persons who report violations of Union law, which was
the first attempt to unify minimum standards ensuring the protection
of employees reporting various types of violations52. However, as a

51
The Polish Government Legislation Centre, available at: https://legislacja.
rcl.gov.pl/docs//2/12363700/12908952/12908953/dokument572980.pdf,
accessed on 19 March 2023
52
Whistleblowing Directive (EU) 2019/1937 of the European Parliament and
of the Council of 23 October 2019 on the protection of persons who report

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 567

precaution, it should be noted that in this case, the obligation to report the
results of internal investigations does not result from an agreement with
the public prosecutor or other competent law enforcement authorities in
the jurisdiction, but from an obligation arising from the Directive or the
national law transposing it. Finally, the results of an internal investigation,
according to the wording of the Directive, are not transmitted to the public
prosecutor in the case of an internal report, but firstly to the whistleblower,
who, with the knowledge of the results of the internal investigation, may
take further and unknown follow-up steps for the company53.
The Directive and other legal obligations to conduct an internal
investigation are not the subject of this paper, and an analysis of the
risks arising from the legal obligation to report the results of internal
investigations would require a separate and more detailed discussion.
However, it is important to at least outline the extent of the potential
risks arising from them, if only for practical reasons.
The Directive, in setting minimum standards for the protection
of whistleblowers by requiring Member States to establish channels and
procedures for internal reporting and subsequent follow-up by legal
entities in the public and private sectors, did not foresee that an internal
investigation initiated as a result of an internal report could lead to
numerous legal complications in the event of criminal proceedings.
Companies have become the bodies responsible for verifying
the irregularity that is the subject of the report when it is made through
an internal reporting channel, for following up properly and adequately
on the receipt of the report in question, and thus for carrying out sound
internal investigations. It appears that where a particular report falling
within the scope of the Directive is made through both internal and
external reporting channels, there is a high risk that the procedural
rights of the person interviewed during an internal investigation may be
violated in the event of potential criminal proceedings. Such a violation
may undoubtedly occur when the reported irregularity also constitutes

breaches of Union law, available at: https://eur-lex.europa.eu/legal-content/


EN/TXT/?uri=CELEX%3A32019L1937, accessed on 3 June 2023
53
European Parliament Website, available at: https://www.europarl.europa.eu/
RegData/etudes/ BRIE/2023/747103/EPRS_BRI(2023)747103_EN.pdf, ac-
cessed on 3 June 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
568 | Pawelec, Szymon.

a criminal offense under national criminal law and the state provides for
a corporate criminal liability structure in its legal system. It is therefore
clear that in this case too, the company will seek to free itself from the
risk of criminal liability and will try to minimize this risk through various
types of measures (including looking for “the guilty” individual).
In Article 9(1)(d) of the Directive, which describes the internal
reporting and follow-up procedures, the EU legislator has merely indicated
that the internal reporting and follow-up procedures referred to in Article
8 shall include the following diligent follow-up by the designated person or
department referred to in point (c) of the provision. The EU legislator’s use
of the vague term “diligent follow-up” does not impose any requirements
on the entity falling within the scope of the Directive regarding the risk -
albeit potential - of criminal prosecution for the irregularity that is the
subject of the internal investigation.
What happens is that the entity is obliged to start an internal
investigation (collect all documents, interview employees, secure evidence)
and provide feedback to the whistleblower within a “reasonable timeframe”
not exceeding three months from the acknowledgment of receipt of the
report or, if no acknowledgment has been sent to the whistleblower, three
months from the expiry of seven days after the report (Article 9(1)(f) of
the Directive). In the absence of an acknowledgment, if the whistleblower
is not satisfied with the acknowledgment, or even irrespective of the
content of the acknowledgment (Article 10 of the Directive provides
for the possibility of making an immediate report through an external
reporting channel), the whistleblower concerned may make an external
report to the authority designated for that purpose by the Member State,
which is normally already obliged to report the possible offense to the
law enforcement authorities. In other words, the whistleblower may,
before or after making an internal report, make an external report to an
authority designated by the Member State and provide it with the results
of the internal investigation received from the company, which may then
be passed on to the law enforcement authorities.
A company confronted with the obligation to communicate the
results of an internal investigation will then not consider whether the
hearings conducted during the internal investigation were conducted
in a manner consistent with the principles ensuring the exercise of the

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 569

rights of the individual, but whether consequences will be imposed on


the company for failing to comply with its obligations under the Directive,
including the duty of diligent follow-up. It seems that, as in the case of
the DPA, the risks to the company are so high that it will want to seek to
demonstrate its lack of fault to avoid criminal liability.
Thus, given that the potential risk of criminal liability is very
high, and that the procedure is not precisely regulated, sooner or later the
problem addressed in this paper may arise. However, as mentioned above,
the company in question is left with no choice but to automatically initiate
the procedure described above. It is appropriate to conclude here, as the
Directive and other legal obligations are beyond the scope of this paper.

Final remarks

In the post-Enron era, the practice has repeatedly confirmed


that internal investigations are not only of great assistance to the accused
company but also a valuable resource for law enforcement agencies,
which are usually eager to benefit from the work of a company’s internal
investigative bodies. From the results of an internal investigation, the
prosecutor can learn a lot about the crime committed, the entire criminal
process can take much less time, and often the evidence provided is
irrefutable because it comes directly from the original source, which is
especially important in the case of corporate criminal liability.
However, the above considerations have undeniably shown that
there is a conflict between the rights of individuals and the actions of the
company which cooperate with the prosecution on internal investigations.
In a situation where the only way for the company to avoid various
repressive consequences will be to name the “guilty” individuals to
the prosecution in exchange for numerous benefits, including even the
avoidance of huge financial penalties, there is a high risk that it will try
to do so by force. The situation is not improved by the fact that corporate
investigations themselves are a secondary issue for legislators and are
largely unregulated, both nationally and internationally. As a result, it
is not possible to enforce from within the company what is enforced by
law enforcement during a prosecution.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
570 | Pawelec, Szymon.

In conclusion, while there are many tangible benefits to companies


and law enforcement agencies in conducting internal investigations, it is
important for legislators to consider whether this is a potential area for
abuse against individuals. Pretrial diversion agreements, which are being
introduced in an increasing number of jurisdictions each year, have several
significant and critical flaws from a criminal procedure perspective that
make them contrary to the guiding principles of due process of law. In
any form of cooperation, including the DPA/NPA described above, when
it is directly aimed at finding the guilty individual, that guilty individual
should be protected with the same guarantees as a suspect in a criminal
trial. Failure to make changes could be tragic in the future, when companies
facing increasingly severe sanctions under corporate criminal liability
regimes will be able to do much more just to ensure that the company
survives and avoids at least fragmentary liability.
There is no doubt that legal systems around the world should
look to the case law of the United States, particularly decisions such as
Connolly and Upjohn, and adapt their laws to the realities of corporate
criminal compliance systems by not allowing internal investigators to
use threats, termination, and other such measures. It is encouraging
that protections are being put in place in many of the implementing
jurisdictions, such as England and Wales, although there is no doubt that,
given the scale of the problem and the nature of internal investigations,
they should be expanded and focused even more on the rights of the
individual in criminal proceedings.

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Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829 | 573

Authorship information
Szymon Pawelec. Associate Professor and Head of the Department of International
Criminal Procedure at the University of Warsaw, Poland. PhD with habilitation
in Law. [email protected]

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Conflict of interest declaration: the authors confirm that there are


no conflicts of interest in conducting this research and writing
this article.

Declaration of authorship: all and only researchers who comply


with the authorship requirements of this article are listed as
authors; all coauthors are fully responsible for this work in its
entirety.

Declaration of originality: the authors assure that the text here


published has not been previously published in any other resource
and that future republication will only take place with the express
indication of the reference of this original publication; they also
attest that there is no third party plagiarism or self-plagiarism.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
574 | Pawelec, Szymon.

Editorial process dates


(https://revista.ibraspp.com.br/RBDPP/about)

▪ Submission: 20/03/2023 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 25/03/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 25/04/2023 ▪ Associated-editor: 1 (AMNP)
▪ Review 2: 01/05/2023 ▪ Reviewers: 2
▪ Preliminary editorial decision: 25/05/2023
▪ Correction round return: 04/06/2023
▪ Final editorial decision: 16/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


PAWELEC, Reporting of the results of internal investigations – main
types of cooperation between companies and prosecutorial authorities
in the light of the threats to individuals in criminal proceedings. Revista
Brasileira de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 545-574, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.829

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 545-574, mai.-ago. 2023.
Mejores prácticas en los canales de denuncias

Best practices in reporting channels

Oliver Pascual Suaña 1


Universidad de Valladolid, Valladolid, España
[email protected]
https://orcid.org/0009-0000-7763-9417

Resumen: El artículo analiza, desde una perspectiva comparada, lo


que se consideran las mejores prácticas en la recepción de denuncias
internas, por parte de las corporaciones, y el conjunto de actuaciones
que desde ese momento tienen que adoptar las empresas para pro-
teger al denunciante, desarrollar con éxito la investigación y, una vez
finalizada, tomar las medidas necesarias para que los fallos del sistema
no se repitan en el futuro.
Palabras-clave: cumplimiento normativo; denunciante; canales de
denuncias; investigaciones internas.

Abstract: The article analyzes, from a comparative perspective, what are


considered the best practices in reporting channels by corporations, and the
set of actions that companies have to adopt from that moment on to protect the
complainant, develop with successful internal investigation and, once completed,
take the necessary measures so that system failures do not recur in the future.
Keywords: compliance; whistleblower; reporting channels; internal investigations.

Contenido: Introducción; 1. Objetivos del canal de denuncias; 2. La gestión


del canal de denuncias: interno o externo; 3. El origen de la investigación
interna. 3.1. Formulación de una denuncia. 3.2. Auditorías internas; 4.
Investigación interna; 4.1. Derechos del denunciado; 4.2. Duración de
la investigación; 4.3. Fases de la investigación; 5. Plan de acción para la
reparación de las causas subyacentes; Conclusiones; Bibliografía.

1
Profesor Asociado de Derecho Procesal en la Universidad de Valladolid (UVA). Doc-
tor en Derecho cum laude por la UVA. Abogado en el despacho Muro & San Juan.

575
576 | Pascual Suaña , Oliver.

Introducción

La importancia de los canales de denuncia y las investigaciones


internas en entornos empresariales no arroja dudas2 desde un punto de
vista estadístico: según el estudio elaborado por la Association of Certified
Fraud Examiners, Global Fraud Study, analizando 2.400 casos en 114 países,
un 40% de todos los delitos de fraude fue puesto de manifiesto mediante la
denuncia de un whistleblower3. Como muestra de la eficacia de los canales
de denuncias como medio para la detección de ilícitos, en la UE se ha
promulgado la conocida como Directiva Whistleblower4, recientemente
transpuesta5 al ordenamiento español mediante la Ley 2/2023, de 20 de
febrero, reguladora de la protección de las personas que informen sobre
infracciones normativas y de lucha contra la corrupción6.
Las investigaciones internas, desde una perspectiva ad intra,
tienen además la relevancia de que, como señala NIETO MARTÍN7,

2
Sorprendentemente, la Ley 27.401 de Argentina, dentro de lo que denomina
“programas de integridad”, regulados en sus artículos 22 y 23, señala los ca-
nales de denuncia como parte de los contenidos opcionales.
3
(https://www.acfe.com/-/media/files/acfe/pdfs/2016-report-to-the-na-
tions.ashx).
4
Sobre la Directiva, el contexto en que surgió, y los incentivos a los alertadores
vid. GARCÍA MORENO, B., Del whistleblower al alertador: la regulación euro-
pea de los canales de denuncia, Valencia: Tirant lo Blanch, 2020.
5
En relación con el estado de la transposición de la norma comunitaria en los
distintos países de la UE, vid. EuroWhistle – Interactive Plattform on Imple-
mentation of EU Directive on Whistleblower Protection.
6
La norma española (en consonancia con la europea, aunque con un ámbito
material más ambicioso), tiene el objetivo de proteger a los ciudadanos que en
un contexto laboral o profesional detecten infracciones penales o administra-
tivas graves o muy graves, o que, en su caso, afecten al Derecho de la UE, y las
comuniquen mediante los cauces contemplados en el texto. Los mecanismos
que contempla la Ley 2/2023 de España, como la Directiva Whistleblower,
son los canales internos, gestionados por la propia organización; canal exter-
no, supervisado por la denominada Autoridad Independiente de Protección
del informante (o entidades análogas creadas en las diferentes autonomías de
España); o revelaciones públicas, definidas como la puesta a disposición del
público de información sobre acciones u omisiones que constituyan la infrac-
ción del ámbito material contemplado en la Ley 2/2023 de España.
7
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas, whistleblowing y coopera-
ción: la lucha por la información en el proceso penal”, Diario La Ley, nº. 8120,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 575-607, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.823 | 577

permiten a la persona jurídica construir su mejor versión de los hechos


ocurridos en su seno. Son, por lo tanto, parte del derecho de defensa
(defensa material) del ente.
Tomando como principal hilo conductor la ya referida Directiva
Whistleblower (y, con retazos, la norma española de transposición), se
analizará en este trabajo, con referencia a diferentes textos internacionales,
los principales hitos procedimentales que se deben cumplir – desde la
recepción de la delación hasta la conclusión de la investigación – para
maximizar la efectividad de los canales de denuncias.

1. O bjetivos del canal de denuncias.

Aunque los fines del canal de denuncias8 podrían subdividirse


en multitud de aspectos9, en la práctica, todos culminan en los tres que
a continuación se señalan:

Sección Doctrina, 5 de Julio de 2013, Año XXXIV, Ref. D-247, pág. 9. Igual-
mente, para RODRÍGUEZ GARCÍA, N., GABRIEL ORSI, O., “Las investigacio-
nes defensivas en el compliance penal corporativo”, en RODRÍGUEZ GAR-
CÍA, N., RODRÍGUEZ LÓPEZ, F., (Eds.), “Compliance” y responsabilidad de las
personas jurídicas, Valencia: Tirant lo Blanch, 2021, págs. 293-389, pág. 312,
en las investigaciones internas “el derecho preeminente es el de defensa frente a
una amenaza punitiva”.
8
Sobre los objetivos de los canales de denuncias, y el procedimiento de inves-
tigación, RODRÍGUEZ GARCÍA, N., GABRIEL ORSI, O., “Las investigaciones
defensivas… ob. cit. págs. 293-389.
9
Por referir otra división, señala NIETO MARTÍN, A., “Reforma del proce-
so penal y regulación de las investigaciones internas” [Reforma del proceso
penal y regulación de las investigaciones internas - Almacén de Derecho (al-
macendederecho.org) abril de 2020, última visita 17/03/2023] que las inves-
tigaciones internas tienen los siguientes objetivos: “Investigaciones internas
cuya finalidad es la imposición de sanciones disciplinarias, por infracción por
ejemplo del código ético. A estas asimilaríamos aquellas cuya finalidad es descu-
brir el comportamiento del empleado o directivo que perjudicó a la empresa, en
cuanto que lo más normal es que esta investigación acabe con su despido discipli-
nario. Investigaciones internas cuya finalidad es cooperar con la administración
de justicia o con una autoridad administrativa, con el fin de beneficiarse de una
rebaja en la sanción u obtener un acuerdo judicial (allí donde existan). Investiga-
ciones preventivas destinadas a mejorar el sistema de cumplimiento normativo.
Investigaciones que tienen como finalidad preparar la defensa jurídica de la enti-
dad o sus directivos.”

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 575-607, mai.-ago. 2023.
578 | Pascual Suaña , Oliver.

(i) Cauce para poner de manifiesto los riesgos e incumplimientos


penales detectados.
(ii) Medio adecuado para apreciar las debilidades y fallas del
modelo de prevención penal10.
(iii) Instrumento para la generación de un repositorio documen-
tal íntegro y ordenado empleable en los procesos penales
incoados frente a los sujetos colectivos como acreditación
de la eficacia del sistema preventivo11. Esto es, deberá fa-
cilitar probar que en anteriores ocasiones, y mediante los
propios medios y controles instaurados por la corporación,
se ha detectado y reaccionado ante conductas poco éticas o
directamente criminales.

2. L a gestión del canal de denuncias: interno o externo.

La primera cuestión por esclarecer en la implantación del canal


de denuncias es si la gestión le será encomendada a un órgano de la propia
persona jurídica o, por el contrario, se externalizará la función.
De hecho, atendiendo a que algunos textos12 parecen establecer
que el destinatario directo de la información sobre los incumplimientos
será el organismo encargado de vigilar el funcionamiento y observancia
del modelo de prevención (el compliance officer), cabe preguntarse si es
posible la externalización.
La Circular 1/2016 de la Fiscalía General del Estado de España
habilita e, incluso, recomienda la contratación de profesionales ajenos a
la propia estructura del ente. Apunta el Ministerio Fiscal español13 que la

10
Sobre este objetivo incide el primer punto del aptdo. 8.7 de la NORMA UNE
19601. Viene previsto igualmente como requisito 6º del aptdo. 5 del artículo
31 bis del Código Penal español.
11
La NORMA UNE-ISO 37002 asume entre sus objetivos “demostrar la aplica-
ción de prácticas de gobernanza sólidas y éticas a la sociedad, a los mercados, los
reguladores, los propietarios y otras partes interesadas”.
12
Por ejemplo, el requisito 4 del aptdo. 5 del artículo 31 bis del Código Penal
español, o el Decreto Ejecutivo 42399 de Costa Rica, en su artículo 12, letra h.
13
Párrafo 5º del aptdo. 5.5.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 575-607, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.823 | 579

centralización de las funciones de cumplimiento en el órgano creado al


efecto no supone que todas las atribuciones deban ser realizadas por el
órgano de compliance y, concretamente respecto al canal de denuncias,
señala que su diligenciamiento por personas ajenas a la empresa asegura
mayor independencia y confidencialidad. Por su parte, la Directiva
Whistleblower estipula en el artículo 8.5 que los canales de denuncia podrán
gestionarse internamente por una persona o departamento designados al
efecto o externamente por un tercero14. En el mismo sentido, la NORMA
UNE 1960115 contempla expresamente la posibilidad de externalizar la
gestión (Nota 2 del aptdo. 8.7) si bien establece (punto 4º del aptdo.
8.8) que se debe mantener al órgano de cumplimiento oportunamente
informado del estado y resultados de cada investigación.
En efecto, la independencia, confidencialidad (incluso, anonimato)
y – añado – la objetividad o imparcialidad16 en la tramitación de las
denuncias, son algunos de los argumentos que justifican su atribución
a profesionales ajenos a la entidad. En todo caso, el mayor motivo para
externalizar es, en opinión del que suscribe, la correcta protección del
resultado de las indagaciones internas.

14
En esta línea se refiere igualmente el artículo 8 de la Ley 2/2023 de España.
En todo caso, como señala la NORMA UNE – ISO 37002 (aptdo. 5.3.1) es pre-
ciso que la persona designada dentro de la organización con responsabilidad
en la gestión del canal de denuncias tenga autoridad sobre los externos.
15
Sobre la importancia de las normas UNE – ISO en la implantación de los ca-
nales de denuncia, señala BALLESTEROS SÁNCHEZ, J., “Pautas y recomen-
daciones técnico-jurídicas para la configuración de un canal de denuncias
eficaz en organizaciones públicas y privadas. La perspectiva española”, De-
recho PUCP. núm. 85, 2020, págs. 41-78, pág. 71, “la norma UNE-ISO 19600,
Sistemas de Gestión de Compliance, y la norma UNE 19601, sobre Sistemas de
gestión de compliance penal, ofrecen los más altos estándares técnicos para di-
señar, implementar y revisar programas de cumplimiento idóneos y efectivos. En
consecuencia, las pautas y recomendaciones que ofrecen dichas normas sobre los
canales de denuncia son imprescindibles para cualquier organización que preten-
da disponer de un canal de denuncias eficaz.”
16
La NORMA UNE – ISO 37002 se refiere a la imparcialidad como uno de los
principios básicos de los canales de denuncias; el Decreto Ejecutivo 42399
de Costa Rica (artículo 13, letra e) destaca la importancia de la imparcialidad
en la gestión de las denuncias; igualmente, la Guía canal de denuncias PNUD
México (pág. 9), destaca la imparcialidad en la gestión de las denuncias como
elemento necesario.

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580 | Pascual Suaña , Oliver.

A resultas de la conocida como sentencia Azko17, se ha consolidado


como criterio en la UE que el principio de confidencialidad no se extiende
a los soportes y a las comunicaciones mantenidas por los abogados internos
(in house) con personal de la propia empresa, por lo que son susceptibles
de ser utilizadas en un proceso judicial si llegan a manos de las autoridades
por cualquier medio o, incluso, si directamente se compele su aportación
a la corporación en el marco de un proceso18.
Lógicamente, ese riesgo no late con los profesionales externos,
respecto a los que no cabe duda de que sí gozan del privilegio de la
confidencialidad que preside la relación cliente – abogado, así como
por el deber de secreto a cargo de este último. Sobre la base de lo
anterior, afirma NIETO MARTÍN que la contratación de letrados
ajenos a la organización para la administración del canal puede facilitar
“que la empresa se asegure el dominio sobre los hechos que averigua en
el transcurso de la investigación y pueda salvaguardar la documentación
que la investigación ha generado”19 lo cual, como apunta el autor, resulta
esencial para el correcto desenvolvimiento del derecho de defensa.
Esto es más importante, si cabe, atendiendo a que, como se consignará
posteriormente, la obligación de contar con un registro de denuncias,
preceptuada por la Directiva Whistleblower, provoca que las denuncias,
y las investigaciones internas realizadas pueden no estar protegidas por
el derecho a no incriminarse de la entidad.

17
STJUE de 14 de septiembre de 2010, Akzo Nobel Chemicals Ltd y Akcros Che-
micals Ltd c. Comisión Europea, Asunto C-550/07 P, ECLI:EU:C:2010:512.
18
GOENA VIVES, B., “El secreto profesional del abogado in-house en la en-
crucijada: tendencias y retos en la era del compliance”, Revista Electrónica
de Ciencia Penal y Criminología, 2019, núm. 21-19, págs. 1-26, pág. 3, señala
que “el riesgo de que su labor carezca de expectativas de confidencialidad mina
las probabilidades de que el abogado in- house favorezca las obligaciones de com-
pliance de la empresa. ¿Qué abogado interno se atrevería a promover una inves-
tigación interna si la información recopilada — que puede ser incautada en una
entrada y registro en la persona jurídica — no estuviera amparada por el secreto
profesional?”. Por ello, la autora (pág. 19), recomienda que la gestión del canal
resida en un abogado externo.
19
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas… ob. cit. pág. 239.

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En un sentido similar se pronuncia NEIRA PENA20, quién destaca


además la formación específica de los abogados como otra ventaja de la
externalización.
No obstante, en línea con lo indicado por PRIETO GONZÁLEZ21,
la salvaguarda del producto de la investigación bajo el paraguas del secreto
profesional y la confidencialidad abogado – cliente, requiere observar una
serie de pautas de comportamiento en la gestión de las denuncias, entre
las que destaca la autora la inclusión del abogado en todos los correos
electrónicos que se intercambien sobre el transcurso de la indagación
interna y, además, evitar que el fruto de las pesquisas caiga en manos
de terceros que no se encuentren amparados por el secreto profesional.
GOENA VIVES, señala como cautelas para su protección el “el uso
restringido de documentación escrita, el establecimiento de pautas para la
redacción de correos electrónicos en los que haya múltiples destinatarios o la
previsión de cláusulas de confidencialidad que no sean genéricas”22.

3. E l origen de la investigación interna.

3.1. Formulación de una denuncia.

3.1.1. Información sobre la existencia del canal de denuncias.

El origen más frecuente de los procedimientos de investigación en


los entornos empresariales será la recepción de una denuncia interpuesta
por un directivo, subordinado, o por alguien cercano al sujeto colectivo
(proveedores y clientes, principalmente).
Al objeto de dotar de validez y eficacia al canal de denuncias,
es imprescindible que los miembros de la corporación y terceros sean

20
NEIRA PENA, A. M., La instrucción de los procesos penales frente a las personas
jurídicas, Valencia: Tirant lo Blanch, 2017, pág. 336.
21
PRIETO GONZÁLEZ, H.M., “Las investigaciones internas: el Attorney Pri-
vilege y el Work Product Privilege” en ALCOLEA CANTOS, J.M., PARDO
PARDO, J.M (Coords.), Defensa Corporativa y Compliance, Cizur Menor (Na-
varra): Aranzadi, 2019, págs. 251-265, págs. 262-263.
22
GOENA VIVES, B., “El secreto profesional del abogado… ob. cit. pág. 19.

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informados acerca de su existencia23 y del proceso que se incoará tras la


recepción de la notitia criminis.
Con la transposición de la Directiva Whistleblower, en España la
existencia del canal será no sólo un requisito para lograr la exoneración
de la responsabilidad penal de las personas jurídicas sino, en muchas
ocasiones24, una obligación legal, con consecuencias sancionadoras en
caso de incumplimiento, por lo que la advertencia sobre la existencia del
canal irá destinada también a la acreditación del cumplimiento de una
norma de carácter imperativo.
La relevancia de informar sobre la existencia del canal, como
requisito para su efectividad, es destacada igualmente por el Decreto Nº
11.129, de 11 de julio de 2022 de Brasil (apartado X del artículo 57), la
Ley 27.401 de Argentina (artículo 23. III), o la Guidance on the Evaluation
of Corporate Compliance Programs (aptdo. I, letra D).

3.1.2. Anonimato o confidencialidad.

Parece ya superado el debate de si cabe que las denuncias se


formulen anónimamente [asumen esa posibilidad, entre otras, la Directiva
Whistleblower (artículo 6.2); la Ley 2/2023 de España (artículo 7.3); el
Reglamento N° 30424 de Perú (artículo 39.2.c); el Decreto Ejecutivo 42399
de Costa Rica (el artículo 13.a); el capítulo 8 de la FCPA, o la Guidance
on the Evaluation of Corporate Compliance Programs (aptdo. I.D)]. No
obstante, la entidad debe decidir si acepta este tipo de denuncias.
La Sentencia del Tribunal Supremo español núm. 35/2020 de 6
de febrero25 ha destacado la relevancia en la prevención de ilícitos del
canal de denuncias, y la necesaria tolerancia hacia su articulación de forma
anónima26. En todo caso, como pone de relieve el Alto Tribunal español, la

23
Así lo requería el inciso final del aptdo. 1 del artículo 24 Ley Orgánica de Pro-
tección de Datos, antes de ser modificado por la Ley 2/2023 de España. Aho-
ra esa previsión se contempla en el artículo 25 de la Ley 2/2023 de España.
24
Para las empresas con cincuenta o más trabajadores.
25
F.D. 2º.
26
Constan no obstante resoluciones del Tribunal Supremo Español, como la
Sentencia núm. 181/2014 de 11 de marzo de 2014 que advierten (F.D.3º)
que las denuncias anónimas deben aceptarse como fuente de investigación,

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principal razón por la que personas que tienen conocimiento de prácticas


delictivas en su empresa no denuncian es, fundamentalmente, porque
no se sienten suficientemente protegidas contra posibles represalias.
Aunque la permisividad ante denuncias anónimas puede ser el
caldo de cultivo perfecto para un empleo espurio del canal27, no puede
obviarse que las posibilidades de recabar información relevante sobre el
funcionamiento del sistema de compliance aumentan exponencialmente si
se elimina o minora la contingencia de que el denunciante sufra represalias.
Por lo tanto, exigir la identificación del denunciante, aunque luego se le
“asegure”28 confidencialidad, supone auto-mutilar la utilidad del canal de
denuncias y, con ello, aumentar la posibilidad de que se cometan delitos
bajo la cobertura de la entidad.
Lo antedicho no es incompatible con que la empresa debe
tener la capacidad de fomentar el empleo del canal mediante denuncias
confidenciales, asegurando que el denunciante no sufra represalias.

pero con matices, esto es, no de forma generalizada: “la llamada anónima solo
permite el inicio de la investigación policial, y eso es lo que ocurrió aquí, en base
al resultado de la encuesta policial, de los seguimientos y demás datos obtenidos
es cuando se pide la intervención telefónica y esta se concedió, pero no por la lla-
mada anónima, sino por los resultados de la investigación policial desencadenada
por ésta. SSTS 1945/2005; 551/2006; 1354/2009 ó 318/2013. Todas ellas re-
fieren que la mera y sola denuncia anónima no puede justificar un sacrificio de
derechos fundamentales, sólo la investigación policial encaminada a verificar en
términos razonables la verosimilitud de lo denunciado anónimamente, puede jus-
tificar la intervención. La razón de que no sirva la sola y mera denuncia anónima,
la encontramos en el viejo brocardo “Quien oculta el rostro para acusar, también
es capaz de ocultar la verdad en lo que se acusa” ”.
27
MASCHMANN, F., “Compliance y derechos del trabajador” en KUHLEN, L.,
MONTIEL, J.P., ORTIZ DE URBINA, I., (Eds.), Compliance y teoría del Dere-
cho Penal, Madrid: Marcial Pons, 2013, págs. 147-167, pág. 163. El riesgo de
empleo torticero de los canales de denuncias se ve agravado en los sistemas
(como el de Estados Unidos) en que los denunciantes tienen incentivos eco-
nómicos por denunciar, tal y como pone de manifiesto GIMENO BEVÍA, J.,
“De falciani a birkenfeld: la evolución del delator en un cazarrecompensas.
Aspectos procesales e incidencia frente a las personas jurídicas (whistle-
blower vs bounty hunter)”, Diario La Ley, Nº 9139, Sección Tribuna, 14 de
febrero de 2018, pág. 2.
28
La NORMA UNE-ISO 37002, en el aptdo. referido a la confidencialidad
(7.5.5) asume que, pese a que se establezca la confidencialidad, puede haber
una serie de características en la denuncia o en la investigación posterior que
permitan inadvertidamente la identificación del denunciante.

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Ello redunda en beneficio de la prosperabilidad de la investigación, ya


que la información a obtener de un denunciante identificado, al que
además se podrá interrogar durante la investigación y pedir aclaraciones
o ampliaciones de su denuncia, es mayor que la extraíble de una
denuncia anónima.
En todo caso, las brechas en la gestión del canal que pongan
en riesgo la salvaguarda de la identidad del denunciante que ha pedido
confidencialidad, no son el único peligro que sobrevuela en la pretendida
confidencialidad. Como indican BACHMAIER WINTER y MARTÍNEZ
SANTOS29, concurre la ventura de que, si tras la denuncia interna se
pone el asunto en conocimiento de las autoridades, incoándose el
correspondiente proceso penal, los investigadores públicos pidan se
identifique al denunciante para que preste declaración como testigo. En
esta casuística, la persona jurídica se vería compelida a identificarle. La
Directiva Whistleblower asume30 (artículo 16.2) que puede ser preciso que
la entidad receptora de la denuncia identifique al delator cuando ello sea
necesario para salvaguardar el derecho de defensa de los denunciados.
Por transparencia, sería recomendable que, cuando se informe de la
existencia del canal de denuncias, y los medios para la formulación de
delaciones, se advierta de esta posibilidad que, desde luego, haría decaer
la confidencialidad.

3.1.3. Prioridad del canal de denuncias interno.

Sentada la obligación de denunciar – así lo deberá recoger en el


programa de cumplimiento normativo implantado – surge la cuestión de
si resulta exigible que el denunciante emplee los cauces internos de la
corporación, o puede directamente acudir a las autoridades.

29
BACHMAIER WINTER, L., MARTÍNEZ SANTOS, A., “El régimen jurídi-
co-procesal del whistleblower. La influencia del Derecho europeo” en GÓ-
MEZ COLOMER, J.L. (Dir.), MADRID BOQUÍN, C.M. (Coord.), Tratado so-
bre compliance penal. Responsabilidad penal de las personas jurídicas y modelos
de organización y gestión, Valencia: Tirant lo Blanch, 2019, págs. 503-549,
págs. 533-534.
30
Correlativo artículo 33 de la Ley 2/2023 de España.

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La Directiva Whistleblower establece en el considerando 33


que la tendencia de los denunciantes es el uso de canales internos, sin
perjuicio de lo cual se debe permitir que utilicen el medio que consideren
más adecuado. En consonancia, aunque sin llegar a obligar al empleo
de los canales propios de la entidad, el artículo 7.1 de la Directiva les
otorga preferencia31.

3.1.4. Medios para la formulación de denuncias. Necesario acuse de recibo.

El modelo de prevención penal debe establecer el medio


habitual para la formulación de denuncias – normalmente será el correo
electrónico – aunque dejando abierta la posibilidad de hacerla llegar
a la empresa de la forma que el denunciante considere. La Directiva
Whistleblower apunta al respecto (artículo 9.2) que la denuncia se podrá
formular “por escrito o verbalmente, o de ambos modos. La denuncia verbal
será posible por vía telefónica o a través de otros sistemas de mensajería de
voz y, previa solicitud del denunciante, por medio de una reunión presencial
dentro de un plazo razonable”. El Reglamento N° 30424 de Perú (artículo
39.2.c) señala que los canales que pueden consistir en líneas telefónicas,
buzones de correo electrónico exclusivos, sistemas de denuncia en línea,
reportes presenciales u otros que la organización considere idóneos.
Cuando el whistleblower no haya empleado un medio anónimo, se le
deberá acusar recibo32 como respuesta a la denuncia, exigencia contemplada
por la Directiva Whistleblower33 tanto para las denuncias internas (artículo
9.1.b) como para las externas (artículo 11.2.b) estableciéndose, en ambos
supuestos, el plazo de siete días34 desde la recepción.

31
En la misma línea, artículo 4.1 de la Ley 2/2023 de España.
32
En este sentido se pronuncia PUYOL MONTERO, F.J., El funcionamiento prác-
tico del canal del compliance “whistleblowing”, Valencia: Tirant lo Blanch, 2017,
pág. 151. En cuanto al contenido del acuse, dice el autor que “A los efectos de
la mayor transparencia y seguridad jurídica, sería conveniente que el reporte que
a tal efecto se librara fuera comprensivo del escrito de denuncia en su integridad,
de modo y manera que el denunciante tuviera suficiente constancia del alcance y
contenido de la comunicación realizada”.
33
Lo mismo se exige por la Ley 2/2023 de España, en sus artículos 9 y 17.
34
La NORMA UNE-ISO 37002 establece el plazo de tres días.

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3.1.5. Obligaciones surgidas a cargo de la empresa por la recepción


de la denuncia.

a) Necesario inicio de una investigación interna, o justificación


suficiente en caso contrario.
La primera consecuencia ineludible de la recepción de una
denuncia es la iniciación del procedimiento de investigación previsto
en las normas internas de la persona jurídica. Ello no quiere decir que
todas las denuncias recibidas tengan que provocar una profusa indagación
pues, con carácter previo, se tendrá que efectuar un examen sobre la
verosimilitud de los hechos35. Como pautas de admisión, puede seguirse
lo preceptuado por el artículo 269 de la Ley de Enjuiciamiento Criminal
de España, es decir, se inadmitirán a trámite las denuncias que resulten
manifiestamente falsas o aquellas que, aun de ser ciertas, no constituirían
un incumplimiento. En ambos supuestos, será necesario que se motiven
exhaustivamente las causas de la inadmisión para así poder justificar ex
post por qué no se inició la investigación.
La especial justificación si se rechaza y, además, cierta tendencia a
que ante la mínima duda se inicie la averiguación interna, derivan de que
como establece la NORMA UNE 19601, es imperativo36 que se investiguen
todas las comunicaciones recibidas a lo que se une que, si llega a oídos
del juzgado que la empresa no investigó denuncias por hechos similares a
los que son objeto del proceso, el programa de cumplimiento normativo
penal será automáticamente calificado como ineficaz.

b) Protección al denunciante.
La segunda obligación que surge de forma inmediata con la
denuncia es la de proteger al denunciante, particularmente cuando
la delación se haya realizado de forma confidencial. Se trata de una
exigencia señalada como imprescindible por las principales normas y
recomendaciones: punto 4 del aptdo. 8.7 de la NORMA UNE 19601;

35
La NORME UNE-ISO 37002 define en su aptdo. 3.2 el concepto “evaluación de
las denuncias iniciales (triaje)”, que identifica con la “evaluación inicial de las
denuncias de irregularidades para los propósitos de categorización, adopción de
medidas preliminares, priorización y asignación para su manejo”.
36
Primer punto del aptdo. 8.8.

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Convención de las Naciones Unidas contra la Corrupción (artículo 33);


Reglas para Combatir la Corrupción de la Comisión de Responsabilidad
Corporativa de la Cámara de Comercio Internacional (artículo 8); o el
Decreto Nº 11.129, de 11 de julio de 2022 de Brasil (artículo 42, apartado
X), entre otras.
La Directiva Whistleblower establece cuatro grandes grupos de
medidas de protección:

▪ En el artículo 1937, denominado “prohibición de represalias”,


se recoge un largo catálogo de actos proscritos, siendo los
más destacados la suspensión o despido; degradaciones pro-
fesionales; actos discriminatorios o desfavorables; y daños
reputacionales.

▪ El artículo 2038 compila lo que llama “medidas de apoyo”,


concretadas en el asesoramiento a los denunciantes; asisten-
cia efectiva de las autoridades; asistencia jurídica gratuita de
conformidad con la Directiva (UE) 2016/1919 y la Directiva
2008/52/CE del Parlamento Europeo y del Consejo; asistencia
financiera; y asistencia psicológica.

▪ El artículo 2139 detalla las “medidas de protección frente a


represalias”, que suponen que el denunciante no incurrirá en
vulneración de secretos con la formulación de la denuncia o
las revelaciones públicas; no tendrá responsabilidad respecto
el acceso a la información, siempre que dicha adquisición
o acceso no constituya de por sí un delito; dispondrá de la
presunción en los procedimiento seguidos por el denunciante
contra su empresa de que las medidas negativas sufridas
son una represalia por la denuncia; tendrá acceso a medidas
correctoras frente a represalias; en los procesos judiciales
relativos a difamación, violación de derechos de autor, vul-
neración de secreto, infracción de las normas de protección

37
Articulo 36 de la Ley 2/2023 de España.
38
Artículo 37 de la Ley 2/2023 de España.
39
Artículo 38 de la Ley 2/2023 de España.

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588 | Pascual Suaña , Oliver.

de datos, revelación de secretos comerciales, o a solicitudes


de indemnización basadas en el Derecho laboral, los de-
nunciantes no incurrirán en responsabilidad de ningún tipo
como consecuencia de denuncias o de revelaciones públicas
en virtud de la presente Directiva; y se les conferirá a los
delatores vías para reclamar los daños y perjuicios sufridos
como consecuencia de las represalias.

▪ El artículo 2240 recoge lo que califica de “medidas para la


protección de las personas afectadas”, con un conjunto de
derechos de carácter procesal, como la tutela judicial efectiva
y a un juez imparcial, a la presunción de inocencia y al dere-
cho de defensa, incluido el derecho a ser oídos y el derecho
a acceder al expediente.

c) Obligaciones del denunciante.


La posición del alertador no está exenta de obligaciones y, por
qué no decirlo, de peligros intrínsecos a esa condición.
La interposición de una denuncia, por muchas medidas de
protección que se tomen, genera la posibilidad de represalias, aspecto
que inevitablemente afectará al ánimo del denunciante antes de realizar
la comunicación.
Además, el delator está obligado a formular denuncias de buena
fe41, por lo que es relevante consignar en el modelo de prevención penal

40
Artículo 39 de la Ley 2/2023 de España.
41
Destaca este aspecto PUYOL MONTERO, F.J., “El funcionamiento práctico
del canal… ob. cit. págs. 166-167, poniendo como ejemplo el Reglamento del
Canal de Denuncia de la CRUZ ROJA, según el cual tendrán la consideración
de denuncias de buena fe (artículo 4): “a) se considera que el denunciante ac-
túa de buena fe cuando su denuncia se realice conforme a lo dispuesto en este
Reglamento, y esté basada en hechos o indicios de los que razonable mente pueda
desprenderse la realización de un comportamiento irregular, ilícito o delictivo. b)
se considera que la denuncia es de buena fe cuando, además, la misma se realiza
sin ánimo de venganza, de acosar moralmente, de causar un perjuicio laboral o
profesional, o de lesionar el honor de la persona denunciada o de un tercero. c) se
considera que el denunciante no actúa de buena fe cuando el autor de la denuncia
consciente de la falsedad de los hechos, o actúa con manifiesto desprecio de la
verdad, o con intención de venganza, o de perjudicar a la empresa, o de acosar la

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que queda prohibido emplear el canal con conocimiento de la falsedad de


los hechos imputados o temerario desprecio hacia la verdad. De hecho,
según se desprende del considerando 32 de la Directiva Whistleblower, la
protección que brinda el texto comunitario se extiende a los denunciantes
que tengan “motivos razonables42 para creer, a la luz de las circunstancias y de
la información de que dispongan en el momento de la denuncia, que los hechos
que denuncian son ciertos.”. La norma establece incluso consecuencias
sancionadoras (artículo 23.2), para los alertadores que revelen información
falsa a sabiendas. En esta línea, el Decreto Nº 11.129, de 11 de julio de
2022 de Brasil (apartado X del artículo 57), refiere que la protección de
los denunciantes se extiende a los que lo sean de buena fe. Por su parte,
el Decreto Ejecutivo 42399 de Costa Rica (artículo 10, letra d) exige,
entre las herramientas que deben componer la política de prevención, el
compromiso de que el contenido de la denuncia se reporta con la creencia
de probabilidades de certeza, incluyendo las consecuencias de incumplir
dicho compromiso. El Reglamento N° 30424 de Perú (artículo 39.2.c) alude
igualmente a que la protección se extiende a los denunciantes de buena fe.
Cabe recordar que, desde la perspectiva del denunciante, la
formulación de la denuncia, fuera de los cauces internos de la corporación,
puede suponer la infracción de un deber de secreto o confidencialidad que
tenga asumido legal o contractualmente. En ese supuesto, podría incluso
contraer responsabilidades penales por la denuncia, si bien podríamos
encontrarnos una situación de estado de necesidad43 (artículo 20.5 del
Código Penal español) que justificaría su denuncia o incluso una actuación
en cumplimiento de un deber44 (artículo 20.7 del Código Penal español). En
este sentido, la Directiva Whistleblower (considerando 91) descarta que el

persona denunciada, o de lesionar su honor, o de perjudicarle laboral, profesional


o personalmente”.
42
La NORMA UNE-ISO 37002 refiere el concepto “creencia razonable”, que
define (aptdo. 3.9) como “creencia sostenida por un individuo basada en la ob-
servación, experiencia o información conocida por ese individuo, que también
sería sostenida por otra persona en las mismas circunstancias.”
43
RAGUÉS I VALLÈS, R., “¿Héroes o traidores? La protección de los infor-
mantes internos (whistleblowers) como estrategia político-criminal”, Indret
3/2006, pág. 13.
44
BACHMAIER WINTER, L., y MARTÍNEZ SANTOS, A. “El régimen jurídi-
co-procesal… ob. cit. pág. 531, nota 61.

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denunciante pueda sufrir represalias, en forma de acciones civiles, penales,


administrativas o laborales cuando infrinja un deber de confidencialidad
o secreto. De hecho, el considerando 93, en relación con el artículo 21.7
de la Directiva, preceptúa que cuando el delator cometa un delito para
la formulación de la denuncia, o en el acopio de documentos necesarios
para su sustento (véase, acceso a correos electrónicos de compañeros)
no incurrirán en responsabilidad de ningún tipo como consecuencia de
denuncias o de revelaciones públicas, incluso cuando la denuncia incluya
secretos comerciales.

d) Registro de denuncias.
Cada corporación debe tener instaurado un registro detallado de
las denuncias recibidas, y de la consiguiente reacción corporativa ante las
mismas, que permita acreditar la eficacia del canal implantado.
Se trata de un requisito imperativo de la Directiva45 (artículo
8), siendo el fin de ese repositorio (considerando 86) que “puedan ser
consultadas y que la información facilitada en ellas pueda utilizarse como
prueba si se procede a medidas de ejecución”. En un sentido similar, la NORMA
UNE 19601 incluye el canal de denuncias entre los elementos del sistema de
gestión de compliance que debe constar como información documentada46.
La importancia del repositorio de denuncias, en palabras de
NIETO MARTÍN, reside en que “será uno de los indicadores que habrá de
examinarse en el proceso penal como prueba de la eficacia de la actividad
preventiva de la empresa”47. Las United States Federal Sentencing Guidelines
(Sección 8A1.2) señalan entre los factores para la determinación de la
culpabilidad del ente la historia anterior de la organización en cuanto a
infracciones similares. Igualmente, la Guía Práctica Buenas Prácticas de
Investigación Responsabilidad Penal de las Personas Jurídicas, elaborada
por la fiscalía de Chile en diciembre de 2014, enumera dentro de las
medidas reactivas de la empresa a considerar para la determinación de
la eficacia del programa de cumplimiento implantado (aptdo. 6.3.6) los

45
En el mismo sentido, el artículo 26 de la Ley 2/2023 de España establece que
los sujetos obligados deben contar con un libro-registro de las informaciones
recibidas y de las investigaciones internas a que hayan dado lugar.
46
ANEXO C, letras l) y ñ).
47
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas… ob. cit. pág. 237.

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registros de las investigaciones que se hayan llevado a cabo en el pasado,


y sus resultados.
Dada la especial sensibilidad de la información compilada,
además de los necesarios principios de confidencialidad y secreto48,
deben atenderse las exigencias de la normativa de protección de datos.
De este modo, solo podrán acceder a las denuncias recibidas las personas
que desarrollen funciones de control interno y de cumplimiento;
los encargados del tratamiento que eventualmente se designen a tal
efecto o; excepcionalmente, y cuando sea necesario para la ejecución
de las medidas disciplinarias, se podrán comunicar a terceros o a la
autoridad judicial49.
La regulación del canal de denuncias debe tener preestablecido el
tratamiento de los datos recabados, en particular, cuanto tiempo pueden
ser conservados. Transcurridos tres meses50, solo podrán ser conservados
a los efectos de acreditar el correcto funcionamiento del modelo de
prevención penal (artículo 32.4 Ley 2/2023 de España); sin embargo,
las denuncias a las que no se haya dado curso tienen que mantenerse de
forma anonimizada.
En el mismo sentido, los Lineamientos de la Superintendencia
del Mercado de Valores de Perú (aptdo. 5.3), destacan la importancia
de mantener un registro de las investigaciones internas realizadas y
de las medidas disciplinarias y/o correctivas adoptadas a la luz de los
hallazgos detectados.

48
PUYOL MONTERO, F.J., “El funcionamiento práctico del canal… ob. cit.
pág. 150.
49
Artículo 32 de la Ley 2/2023 de España.
50
Al respecto, la Agencia Española de Protección de Datos, tras la consulta
planteada por ASCOM, aclaró en fecha 22 de diciembre de 2021 que ese
plazo de tres meses no implica que en el caso de que la denuncia pueda
considerarse fundada y dé lugar a una concreta investigación, los datos
deban suprimirse de los sistemas de la entidad en el plazo que indicaba el
artículo 24 LOPD, sino que únicamente procederá su supresión del con-
creto sistema de la información de denuncias internas, pasando a inte-
grarse en los sistemas propios del órgano de cumplimiento o, en su caso,
del que se tenga a su cargo la gestión de recursos humanos [CONTESTA-
CION-DE-LA-AEPD-22-11-21.pdf (asociacioncompliance.com) última vi-
sita 17/03/2023].

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592 | Pascual Suaña , Oliver.

No obstante, no se puede dejar pasar la oportunidad de poner de


manifiesto, como en anteriores ocasiones51, que la obligación de contar con
un registro de denuncias internas y, más particularmente, su accesibilidad
a los tribunales puede afectar gravemente el derecho a no incriminarse
de las personas jurídicas. Según la jurisprudencia del Tribunal Europeo
de Derechos Humanos (por todas, Sentencia de 17 de diciembre de 1996,
Saunders c. Reino Unido52), el derecho a la no colaboración activa no se
extiende a la utilización en los procesos penales de material que pueda
obtenerse del acusado mediante el uso de poderes obligatorios, pero que
tenga una existencia independiente de la voluntad del sospechoso, como,
entre otros, documentos adquiridos en virtud de una orden judicial.
De este modo, el investigado estaría obligado a entregar aquellos
documentos que vengan exigidos por un mandato legal, lo que afecta, por
ejemplo, a la contabilidad o, en relación concreta al tema aquí tratado,
provocará la obligación de facilitar la información compilada en el registro
de comunicaciones. Partiendo de lo antedicho, y desde el punto de vista
de la eficacia del modelo de prevención penal de las personas jurídicas,
tanto el contenido de las denuncias recibidas, como el producto de las
investigaciones internas resulta esencial para la acreditación de la eficacia
del compliance program. De esta forma, si se atestigua que el canal de
denuncias ha posibilitado la reacción corporativa frente a incumplimientos
detectados, en el concreto delito investigado o en situaciones anteriores, la
entidad dispondrá de un indicio palpable de la cultura de cumplimiento53
instaurada en su seno. Por el contrario, si con ocasión de un proceso penal

51
PASCUAL SUAÑA, O., “Implicaciones en el derecho a no incriminarse de
las personas jurídicas del proyecto de ley Whistleblower”, Revista de la aso-
ciación de profesores de derecho procesal de las universidades españolas, Nº. 6,
2022, págs. 71-111.
52
ECLI:CE:ECHR:1996:1217JUD001918791.
53
Como señala RODRÍGUEZ GARCIA N., “El sistema penal español en tiem-
pos de compliance: ¿de dónde venimos? ¿a dónde vamos?”, La Ley Penal, Nº
160, Sección Legislación aplicada a la práctica, Enero-Febrero, 2023, pág. 5, la
cultura organizacional (cultura de cumplimiento) “es el ecosistema dentro del
cual se traza un parámetro estandarizado de acciones que se encuentran previa-
mente estipuladas y difundidas entre todos los miembros de la organización, que
no se circunscriben exclusivamente a conductas delictivas y orientan el compor-
tamiento colectivo e individual en la actividad —estructura, gestión y operación—
de la empresa en todas sus dimensiones y ámbitos.”

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se pone de manifiesto que la corporación no ha respondido ante denuncias


por ilícitos de naturaleza similar a los que son objeto del procedimiento,
en la práctica, se imposibilitará la exoneración de responsabilidad de la
persona jurídica. En resumen, la accesibilidad a las autoridades del registro
de comunicaciones de la entidad puede terminar siendo la mejor evidencia
para acreditar la vulnerabilidad del modelo de prevención penal instaurado,
de ahí el grave peligro que puede generar, desde la perspectiva de la
defensa corporativa, la obligación derivada de la Directiva Whistleblower.

3.2. Auditorías internas.

El segundo medio habitual que provocará la iniciación de


los procedimientos internos de investigación será la detección de
incumplimientos por la propia persona jurídica, en el marco de los
procesos de verificación periódica que tenga preestablecidos. Siguiendo
la NORMA UNE 1960154, las auditorias tendrán como objetivo detectar (i)
la materialización de riesgos penales; (ii) incumplimientos de la política
de compliance; (iii) fallos en el cumplimiento que puedan desembocar en
riesgos penales y; (iv) las posibilidades de mejora del sistema instaurado.
Por lo tanto, si en el marco de una auditoria se descubre un
incumplimiento deberá incoarse la correspondiente indagación55.

4. Investigación interna.

4.1. Derechos del denunciado.

El aseguramiento de los derechos del denunciado56 es un objetivo


en sí mismo de la investigación. Así lo establecen, por ejemplo, la Ley

54
Aptdo. 9.2.
55
La NORMA UNE-ISO 37002 define la investigación como “proceso sistemáti-
co, independiente y documentado para establecer los hechos y evaluarlos objeti-
vamente para determinar si hubo irregularidades, están ocurriendo o es probable
que ocurran y su alcance.”
56
Como señalan VILLEGAS GARCÍA, M.A., ENCINAR DEL POZO, M.A., “Los
derechos de la organización y de los investigados en las investigaciones in-
ternas. Cuestiones para el debate”, La Ley compliance penal, Nº 8, Sección

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594 | Pascual Suaña , Oliver.

27.401 de Argentina (artículo 23. V), la NORMA UNE-ISO 37002 (aptdo.


7.3.3 m), o los Lineamientos de la Superintendencia del Mercado de
Valores de Perú (aptdo. 5.3).
Cualquier vulneración de carácter grave podría invalidar el
resultado averiguado, y con ello, provocar la ineficacia misma del canal.
Para NIETO MARTÍN57, y se suscribe su opinión, la doctrina de la prueba
prohibida se debe extender a las investigaciones internas, al suponer
estas, según el autor, la “privatización del proceso penal”, de tal forma que
la transgresión de los derechos fundamentales de los investigados deberá
causar la calificación de la prueba como contraria al ordenamiento, y con
ello carente de virtualidad procesal. Aunque por limitaciones espacio –
temporales no tiene sitio en este trabajo el análisis de los posibles derechos
más afectados, sí que se debe dejar apuntado que la investigación interna
debe, en todo caso, respetar el derecho al secreto de las comunicaciones
del denunciado (artículo 18.3 de la Constitución Española); el derecho a
la intimidad (artículo 18.1 de la Constitución Española); y el derecho al
entorno digital (artículo 18.4 de la Constitución Española)58. Es imperativo
observar igualmente los denominados derechos fundamentales procesales:
presunción de inocencia, y derecho de defensa59. En relación con el derecho

Estudios, Primer trimestre de 2022, pág. 3 “Lo contrario sería tanto como per-
mitir que las investigaciones internas se conviertan en una «puerta falsa», que
permita validar en un proceso penal pruebas obtenidas con vulneración de dere-
chos fundamentales.”
57
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas… ob. cit. pág. 270.
58
En este sentido se pronuncia NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas”, en
NIETO MARTÍN, A., (Dir.), Manual de cumplimiento penal en la empresa, Valen-
cia: Tirant lo Blanch, 2015, págs. 231-270, pág. 242, indicando: “Las investigacio-
nes internas constituyen una espada de doble filo. La empresa las realiza para atenuar
o evitar la responsabilidad penal, pero atentar indebidamente al derecho a la intimidad
o al secreto de las comunicaciones de las personas investigadas, puede constituir un
delito contra la intimidad.” Con idéntico tenor, BACIGALUPO, E., “Problemas pe-
nales del control de ordenadores del personal de una empresa”, Diario La Ley, nº
8031, Sección Doctrina, 26 de febrero de 2013, Año XXXIV, Ref. D-79, pág. 2.
Una muestra plausible sería la STS núm. 328/2021 de 22 de abril, que confirmaba
la condena de un empresario, por un delito de revelación de secretos, al haber
accedido en reiteradas ocasiones al correo electrónico particular de un trabajador
con el objetivo de recopilar elementos de prueba para fundamentar su despido.
59
Considerando 100 de la Directiva Whistlleblower. El aptdo. 8.4.1. de la NOR-
MA UNE-ISO 37002 refiere el respeto al debido proceso. También alude el

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de defensa y la presunción de inocencia del sujeto pasivo del proceso,


llama la atención que tanto la Directiva Whistleblower, como la norma de
transposición española, se refieren a ambos de forma muy tangencial, sin
el menor desarrollo, convirtiendo, parece, en “secundarios” dos derechos
que deben ser básicos en las investigaciones privadas.

4.2. Duración de la investigación.

La proscripción de dilaciones indebidas es extensible a las


averiguaciones internas.
Según el artículo 9 de la Directiva Whistleblower60, el plazo
máximo no puede superar los tres meses, pudiendo extenderse a seis
en casos justificados. En esta línea, el Decreto Ejecutivo 42399 de Costa
Rica (artículo 13, letra g) habla de seis meses de duración máxima de
la investigación.

4.3. Fases de la investigación61.

4.3.1. Fase preliminar.

a) Decisión sobre la admisión a trámite de la investigación.


Se enmarcaría en este primer momento la admisión o no a trámite
de la denuncia, y el acuse de recibo al denunciante cuando no haya
utilizado el anonimato62.

debido proceso el Decreto Ejecutivo 42399 de Costa Rica (artículo 13, letra f).
60
Artículo 9 de la Ley 2/2023 de España.
61
Como señala GARCÍA – PANASCO MORALES, G., “La nueva Ley del infor-
mante: cuando las buenas intenciones se pueden convertir en un problema.”,
Diario La Ley, Nº 10264, Sección Tribuna, 11 de abril de 2023, pág. 7, tanto la
Directiva, como la norma de transposición española, adolecen de una absolu-
ta falta de regulación sobre el contenido de las investigaciones a realizar tras
la recepción de la denuncia.
62
La NORMA UNE-ISO 37002 señala (Nota del aptdo. 8.3.1) que, al evaluar las
denuncias, se pueden considerar los siguientes aspectos: ¿Está la irregularidad
incluida dentro del alcance de la política de denuncia de irregularidades? Si no es
así, ¿necesitaría tratarse de acuerdo con otro procedimiento o abordarse de otra

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 575-607, mai.-ago. 2023.
596 | Pascual Suaña , Oliver.

El Decreto Ejecutivo 42399 de Costa Rica (artículo 13) establece


que al recibir la denuncia debe procederse a su valoración, considerando
aspectos como prioridad, exhaustividad y relevancia de la información.
También, señala el meritado precepto del Reglamento de Costa Rica, es
en este momento cuando debe determinarse la protección requerida por
el denunciante.

b) Medidas para evitar represalias al denunciante.


Se deben establecer las medidas que resulten necesarias para la
salvaguarda del alertador. Aunque se haya efectuado confidencialmente,
como se ha indicado, en determinadas ocasiones, atendiendo los hechos
que le han sido puestos de manifiesto al sujeto colectivo, es posible que
el denunciado pueda intuir qué persona ha formulado la delación, por lo
que se tendrán que tomar en este momento inicial las cautelas pertinentes
para evitar represalias.

c) Constitución del equipo encargado de la investigación.


Se deberá formar el equipo encargado de la investigación.
Aunque en los supuestos menos graves la encomienda se efectuará
únicamente a las personas a las que se haya asignado la gestión del
canal, en aquellos casos en que la investigación tenga cierta complejidad,
puede ser necesario la utilización de otros recursos, como, por ejemplo,

manera?; ¿Es la irregularidad un delito penal? ¿Es necesario remitir la irregulari-


dad a las autoridades policiales o reguladoras?; ¿Cuándo sucedió la irregularidad
o está a punto de suceder?;¿Existe una necesidad inmediata de detener o suspen-
der las actividades del negocio?; ¿Existe un riesgo inmediato para la salud y la
seguridad?; ¿Existe un riesgo inmediato para los derechos humanos o el medio
ambiente?; ¿Existe una necesidad inmediata de asegurar y proteger las pruebas
antes de eliminarlas o destruirlas?; ¿Existe algún riesgo para las funciones, los
servicios y/o la reputación de la organización?; ¿La continuidad del negocio se
verá afectada por la denuncia que se está investigando?; ¿Podría haber interés de
los medios de comunicación en la denuncia de irregularidades?; ¿Cómo se puede
gestionar este proceso de evaluación, asegurando al mismo tiempo la confianza,
la protección y la imparcialidad?; ¿Hay disponible más información que la corro-
bore?; ¿Cuál es la naturaleza de la irregularidad (es decir, tipo, frecuencia, preva-
lencia, función y antigüedad de los sujetos de la denuncia)?; ¿Existe la posibilidad
de que se denuncie la irregularidad fuera de la organización?; ¿Se ha denunciado
previamente la irregularidad?; ¿Cómo obtuvo el denunciante la información: la
información es de primera mano o proviene de rumores?.

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personal informático que pueda facilitar la recopilación y organización


de los vestigios extraídos de dispositivos electrónicos. La exigencia de
un equipo investigador establecido al efecto, además de una exigencia
doctrinal63, es destacada también por diversos textos. La Directiva
Whistleblower señala en el artículo 9.1.a)64 que no puede acceder a la
denuncia el personal no autorizado. Abundando en esto, el artículo 9.1.c)
determina, entre los elementos del canal de denuncias, la designación
de una persona o departamento imparcial que sea competente para
seguir las denuncias, que podrá ser la misma persona o departamento
que recibe las denuncias, y que mantendrá la comunicación con el
denunciante. Por su parte, el artículo 5.3 de los Lineamientos de la
Superintendencia del Mercado de Valores de Perú, preceptúa que se debe
designar a la persona o equipo de personas encargadas de la realización
de investigaciones internas, pudiendo tercerizarse la administración e
investigación de las denuncias.
La correcta capacitación de las personas encargadas de las
investigaciones es destacada también por las principales normas.
Los Lineamientos de la Superintendencia del Mercado de Valores de
Perú instan (aptdo. 5.2) que su revisión sea encargada a personas que
posean conocimientos jurídicos suficientes para discriminar aquellas
informaciones que pudieran ser relevantes desde la perspectiva jurídico-
penal, de aquellas carentes de interés legal, debiendo además poseer
capacidad suficiente para instar el inicio de una investigación interna,
en tanto la denuncia recibida lo amerite, por lo que se recomienda que
se trate de personas con acceso directo a los órganos de control y de
gobierno de la sociedad. Las normas peruanas destacan también la debida
imparcialidad de los sujetos encargados de la indagación. Al respecto, la
Guidance on the Evaluation of Corporate Compliance Programs recoge, en
la letra D del apartado I, como elemento a considerar para determinar la
efectividad del compliance program instaurado, si las investigaciones son
independientes y objetivas.

d) Fijación de la estrategia y planning de la investigación.

63
PUYOL MONTERO, F.J., “El funcionamiento práctico del canal… ob. cit. págs. 216-
218 o NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas… ob. cit. pág. 239.
64
Artículo 32.1.d) de la Ley 2/2023 de España.

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598 | Pascual Suaña , Oliver.

El equipo investigador debe preestablecer la estrategia más


adecuada para determinar el alcance del posible incumplimiento objeto
de la indagación, fijando la planificación que resulte más eficaz para
su comprobación.
Sin perjuicio de otras cuestiones, se deben consignar
necesariamente los siguientes aspectos:

▪ Normativa de aplicación que pudiera haber resultado incum-


plida, y consecuencias hipotéticas para la empresa.

▪ Documentación que pudiera resultar oportuno recabar, y


cautelas a seguir en el caso de que pudiera estar almacenada
en dispositivos electrónicos que tengan un usuario asignado.

▪ Fijación de las personas de la organización cuyo testimonio


pudiera resultar pertinente para aclarar lo ocurrido.

e) Medidas cautelares.
En ocasiones, con la finalidad de asegurar el buen fin de las
pesquisas65 o evitar la reiteración en el incumplimiento, se pueden tomar
medidas cautelares respecto al denunciado. Para que sean admisibles, es
preciso que la denuncia recibida aporte el suficiente acervo probatorio como
para que permita considerar la apariencia de veracidad de lo denunciado.
Las medidas, principalmente, serán el cambio de puesto de trabajo
o de tareas asignadas al denunciado y, en los supuestos más graves,
suspensión de empleo.

4.3.2. Fase intermedia o de desarrollo de la investigación.

Es durante esta etapa cuando se efectúan verdaderamente las


labores de indagación que podrían permitir determinar lo ocurrido. En
el grueso de ocasiones, se realizarán tres diligencias, principalmente:

65
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas… ob. cit. pág. 257 apunta
como ejemplo la evitación de la destrucción de pruebas que pudiera guardar
el denunciado en su ordenador.

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a) Entrevista al denunciado.
Aunque indudablemente se le debe dar oportunidad al denunciado
para ser oído, la entrevista no necesariamente tiene que materializarse al
inicio de la investigación, pudiendo posponerse hasta un momento ulterior
para, entre tanto, lograr el aseguramiento de los medios de prueba que
corran el riesgo de ser destruidos.
Con la debida antelación a la entrevista, se debe informar al
denunciado de los derechos que le asisten – en particular, para que pueda
acudir asistido de letrado –, exponiéndole los hechos que se le atribuyen,
y facilitándole copia del expediente. Si la denuncia es confidencial se
deben eliminar los datos identificativos del delator.
La entrevista podrá ser grabada en soporte digital o compilar las
afirmaciones que realice en un acta, que deberá ser firmada por todos
los presentes. La Directiva Whistleblower, aunque referida al testimonio
del denunciante realizado mediante una entrevista, señala en el artículo
18.4 que se elaborará “un acta pormenorizada de la reunión preparada
por el personal responsable de tratar la denuncia. Las entidades jurídicas
de los sectores privado y público y las autoridades competentes ofrecerán al
denunciante la oportunidad de comprobar, rectificar y aceptar mediante su
firma el acta de la reunión”.

b) Entrevista a testigos.
Durante esta fase se recabará el testimonio de posibles testigos
del incumplimiento. Aunque el método más eficaz es la realización de
entrevistas personales, en aquellos supuestos en que sea necesario obtener
la testifical de muchos sujetos diferentes una alternativa habitual será la
realización de cuestionarios. La Directiva Whistleblower66, si bien en su
articulado parece centrar solo su protección en los denunciantes, señala
en el considerando 76 que “Los Estados miembros deben velar por que las
autoridades competentes dispongan de procedimientos de protección adecuados
para el tratamiento de las denuncias y para la protección de los datos personales
de quienes sean mencionados en la denuncia. Dichos procedimientos deben
garantizar la protección de la identidad de cada denunciante, cada persona

66
Artículo 5.2.b) de la Ley 2/2023 de España.

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600 | Pascual Suaña , Oliver.

afectada y cada tercero que se mencione en la denuncia, por ejemplo, testigos


o compañeros de trabajo, en todas las fases del procedimiento”.

c) Recopilación de documentos y otros vestigios.


El grueso del material obtenido durante esta fase tendrá carácter
documental. De hecho, el éxito de la investigación depende en buena
medida de la correcta recopilación y organización de la documentación
interna generada por la corporación.
Los Lineamientos de la Superintendencia del Mercado de Valores
de Perú, destacan (aptdo. 5.3) la importancia de documentar debidamente
las actuaciones que se lleven a cabo, preservando la integridad de la
evidencia recolectada a través de procedimientos de cadena de custodia,
a fin de que eventualmente pueda utilizarse en una investigación oficial
conducida por las autoridades encargadas de la persecución penal.
Por este motivo, como señala NIETO MARTÍN67, pueden resultar
muy útiles las empresas dedicadas al forensic68, que, entre otras cuestiones,
emplean herramientas de software mediante los que analizar miles de
documentos rastreándolos con métodos de búsqueda precisos.

4.3.3. Informe final.

La investigación concluirá con la elaboración de un informe por


el equipo investigador que recoja con carácter exhaustivo las conclusiones
alcanzadas, los medios de prueba que las sustentan, y la propuesta
infractora que se realiza frente a los sujetos que se hayan determinado
como incumplidores.

67
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas… ob. cit. pág. 251.
68
El informe forensic, elaborado por la consultora PWC, está teniendo un peso
importante en el proceso penal seguido frente al BBVA por el conocido como
“caso Villarejo” (https://www.elconfidencial.com/empresas/2019-12-24/au-
diencia-nacional-bbva-informe-forensic-pwc_2389159/ última visita 17/03/
2023) De hecho, según algunas informaciones (https://cincodias.elpais.com/
cincodias/2020/02/16/companias/1581877046_300923.html última visita
17/03/2023), el forensic llegó a la conclusión de que el BBVA se saltó sus nor-
mas de compra y su propio código de conducta.

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A resultas de la investigación, pueden alcanzarse dos grupos


de conclusiones:

▪ Archivo del procedimiento, si los hechos investigados no son


constitutivos de delito; no se ha acreditado su comisión; o no
puede detectarse qué concreta persona de la organización
los ha cometido. En este último supuesto, será necesario
tomar medidas internas destinadas a su futura evitación y a
establecer los mecanismos necesarios para la identificación
de los responsables si se dan nuevos incumplimientos.

▪ En el caso de que se determine que se ha producido una


infracción, el informe tendrá que recoger los sujetos que
han intervenido; naturaleza de los hechos; fecha, lugar y las
circunstancias en que sucedieron; normativa infringida y
las posibles consecuencias del incumplimiento. El equipo
investigador debe señalar las medidas a implantar para su
evitación, detección o reacción temprana, y las sanciones
propuestas para los autores.

El informe final con la propuesta se deberá trasladar al órgano


de compliance penal.

4.3.4. Sanción.

El encargado del cumplimiento normativo de la empresa será


quien, sobre la base del informe final, y manteniendo informado al
órgano de gobierno de la empresa69, deberá establecer las sanciones a
imponer al incumplidor, y las medidas que se deben adoptar. El compliance
officer no está obligado a seguir las conclusiones alcanzadas por el equipo
investigador, si bien deberá motivar las causas que le han llevado a
separarse de la propuesta de resolución recibida.
Para asegurar la debida imparcialidad, es relevante que los sujetos
que deban decidir sobre la sanción a imponer no hayan participado en
la investigación.

69
Obligación establecida en la letra d) del aptdo. 5.1.2 de la NORMA UNE 19601.

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4.3.5. Protección del resultado de la investigación.

La correcta protección del resultado de la investigación,


excluyéndolo de miradas ajenas no toleradas expresamente por la persona
jurídica, resulta vital para la defensa corporativa. En línea con lo indicado
por NIETO MARTÍN70, el control de la información emanada del canal
de denuncias reporta a la empresa principalmente tres ventajas: diseñar
la estrategia defensiva más acorde a las concretas circunstancias; facilitar
el fin de la indagación, evitando o reduciendo los costes reputaciones; e
impedir algunas diligencias de investigación (como la entrada y registro),
que podrían afectar al resultado de la investigación.
Por ello, afirma NIETO MARTÍN: “La importancia que en la
prevención de la criminalidad económica tienen los canales de denuncia y,
en general, los programas de cumplimiento hacen necesario que se establezca
algún tipo de garantía que proteja la información que generan frente a jueces,
fiscales y autoridades administrativas”71.
Señala el autor dos prerrogativas, de escaso arraigo en el derecho
continental: el self auditing privilege, en virtud del cual resultarían
inaccesibles a las autoridades los documentos generados con el objetivo
de mejorar el modelo de prevención; y el ombudsman privilege, que dota de
carácter confidencial a las comunicaciones recibidas por la persona de la
empresa designada para la recepción de denuncias o prestar asesoramiento
respecto a cuestiones legales72.
Dado que no existe expreso reconocimiento del work product
privilege73, la única forma de proteger realmente ese material sensible es
empleando letrados externos de inicio a fin de la investigación.

70
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas, whistleblowing … ob.
cit. pág. 3.
71
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas, whistleblowing … ob.
cit. pág. 7.
72
NIETO MARTÍN, A., “Investigaciones internas, whistleblowing … ob.
cit. pág. 6.
73
Por ejemplo, el aptdo. 9-28.710 de los Principles of Federal Prosecution of Bu-
siness Organizations sí que hace referencia a este principio como componente
esencial del sistema legal estadounidense.

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5. Plan de acción para la reparación de las causas subyacentes.

Resultando incontrovertido que el objetivo del modelo de


prevención penal es prevenir, detectar y reaccionar ante los ilícitos, el
establecimiento de un plan de acción para mitigar el riesgo de reiteración de
las conductas criminales detectadas es por lo tanto un elemento ineludible
de los compliance program.
Al respecto, la Guidance on the Evaluation of Corporate Compliance
Programs señala entre los factores a considerar (letra D del apartado
III) para la evaluación de la eficacia del sistema preventivo, si el ente ha
realizado análisis detallados de las causas de fondo de las malas prácticas,
y ha adoptado las medidas correctivas asumidas para que se reproduzcan
en el futuro. Según la NORMA UNE – ISO 37002 (aptado. 8.5), cuando se
detecten irregularidades, la organización, además de sancionar y remitir,
en su caso, el asunto a las autoridades, debe tomar las medidas adecuadas
para resolver las irregularidades y supervisar continuamente la eficacia
de esas medidas implantadas.
Se trata, en definitiva, de acreditar lo que el Decreto Ejecutivo
42399 de Costa Rica (artículo 13) denomina aprendizaje organizacional.

Conclusiones

1. Al objeto de asegurar la efectividad de las investigaciones


internas, como método principal para descubrir ilícitos corporativos,
es preciso que los sistemas internos de información instaurados por
las entidades sigan un conjunto de hitos: faciliten la formulación de
denuncias, incluso de forma anónima; justifiquen adecuadamente la toma
de decisión de la corporación sobre si incoar, en virtud de las delaciones
o de auditorías internas, la correspondiente indagación; seleccionen
los sujetos encargados de la averiguación, determinando las diligencias
a practicar que faciliten el esclarecimiento de los hechos; adopten,
una vez finalizadas las comprobaciones, las decisiones oportunas
respecto al sujeto denunciado, entre las que puede estar el despido
del responsable del ilícito y; por último, en virtud de lo descubierto,
acojan las medidas internas oportunas para prevenir y evitar conductas
similares en el futuro.

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604 | Pascual Suaña , Oliver.

2. Atendiendo a los intereses afectados por las investigaciones


internas, son exigibles unos especiales deberes de cuidado a cargo de
la entidad investigadora, debiendo asegurar escrupulosamente tanto
los derechos del denunciante (principalmente, su protección frente a
represalias) como los del denunciado. En particular, aunque la mayoría
de los textos analizados parecen pasar de largo, las pesquisas privadas
tienen que ser respetuosas con el derecho a la intimidad, el secreto de
las comunicaciones y, en general, el derecho de defensa del investigado.
3. El producto de las investigaciones internas resulta esencial
para la acreditación de la eficacia del programa de compliance implantado.
Por ello, es imprescindible su correcta recopilación y salvaguarda frente
a miradas de terceros (inclusive, autoridades) no autorizados por la
corporación. De este modo, si atendiendo a lo averiguado mediante el
canal de denuncias se pone de manifiesto un defecto organizativo, la
entidad debe tener a su alcance las herramientas oportunas para evitar que,
precisamente, esa indagación interna, contribuya a su propia incriminación
en un hipotético procedimiento penal o administrativo – sancionador en
que aparezca como sujeto pasivo.

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Authorship information
Oliver Pascual Suaña. Profesor Asociado de Derecho Procesal en la Universidad
de Valladolid (UVA). Doctor en Derecho cum laude por la UVA. Abogado en el
despacho Muro & San Juan. [email protected]

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▪ Submission: 18/03/2023 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 30/03/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 18/04/2023 ▪ Associated-editor: 1 (AMNP)
▪ Review 2: 27/04/2023 ▪ Reviewers: 3
▪ Review 3: 29/04/2023
▪ Preliminary editorial decision: 24/05/2023
▪ Correction round return: 06/06/2023
▪ Final editorial decision: 15/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


PASCUAL SUAÑA, Oliver. Mejores prácticas en los canales de
denuncias y en las investigaciones internas. Revista Brasileira
de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 575-607, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.823

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 575-607, mai.-ago. 2023.
Licitude e validade da prova penal nas
investigações empresariais internas

Legality and validity of criminal evidence in


internal corporate investigations

Sérgio Bruno Araújo Rebouças1


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza/CE, Brasil
[email protected]
lattes.cnpq.br/3249458056573661
orcid.org/0000-0001-6716-2950

Resumo: O desenvolvimento dos sistemas de conformidade normativa


no âmbito penal (criminal compliance) tem suscitado discussões sobre os
desdobramentos materiais e processuais do paradigma de autorregula-
ção empresarial, que envolve a delegação normativa de funções inves-
tigativas para a empresa, no marco de programas de gestão, supervisão
e controle, quanto aos crimes praticados em sua órbita. Nesse contexto,
emerge o problema da licitude, da validade e do valor da prova penal
obtida na investigação empresarial interna. Este artigo problematiza
questões como a possibilidade de uso e valoração, no processo penal,
da prova ilícita obtida por um particular na esfera da empresa, à luz
dos direitos fundamentais materiais, e os parâmetros de validade dos
atos e resultados investigativos à luz das garantias processuais. Trata-se
também da categorização do resultado probatório (em sentido amplo) à

1
Professor Adjunto de Direito Processual Penal na Faculdade de Direito da Uni-
versidade Federal do Ceará (UFC). Doutor cum laude em Direito Penal pela Uni-
versidade de Sevilha (US). Coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Direito da Universidade Federal do Ceará (2022-2024). Advogado, pa-
recerista e consultor jurídico nas áreas de Direito Penal Econômico e da Empresa
e Direito Processual Penal. Autor de diversos livros, como Direito Penal, Parte
Geral (2ª edição, Tirant lo Blanch, 2023), Curso de Direito Processual Penal (2ª
edição, D’Plácido, 2022) e Crimes contra o sistema financeiro nacional (Tirant lo
Blanch, 2022), assim como de vários artigos científicos publicados em revistas
nacionais e internacionais especializadas.

609
610 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

luz da diferença, no processo penal brasileiro, entre prova (sentido


estrito) e elemento informativo da investigação. A metodologia do
trabalho é de natureza qualitativa, com investigação indireta, por
meio de pesquisa bibliográfica (fontes doutrinárias, legislativas e
jurisprudenciais brasileiras e estrangeiras), com via exploratória,
descritiva, explicativa e propositiva.
Palavras-chave: Criminal compliance; autorregulação empresarial;
investigação empresarial interna; licitude e validade da prova.

Abstract: The development of criminal compliance has raised discussions


about the substantive and procedural consequences of the corporate self-
regulation paradigm, which implies the normative delegation of investigative
functions to the organization, within the framework of a program of
management, supervision and control, regarding the crimes committed
in its orbit. In this context, the problem of legality, validity and value of
criminal evidence obtained in the internal corporate investigation emerges.
This article problematizes issues such as the possibility of using, in criminal
proceedings, illegal evidence obtained by a private individual within the
scope of the organization, in the light of substantive fundamental rights, and
the parameters of validity of acts and investigative outcomes in the light of
procedural guarantees. The methodology of the work is of a qualitative nature,
with indirect investigation, through bibliographical research (Brazilian and
foreign doctrinal, legislative and jurisprudential sources), with an exploratory,
descriptive, explanatory and propositional approach.
Keywords: Criminal compliance; corporate self-regulation; internal corporate
investigation; legality of evidence.

Sumário: Introdução: contexto dos sistemas de autorregulação em-


presarial e problemáticas da obtenção de prova no âmbito interno
da empresa. 1. Delimitação conceitual e implicações materiais e
processuais do criminal compliance: 1.1. Criminal compliance: con-
ceito, elementos e finalidades; 1.2. Desdobramentos processuais
da obtenção de prova nas investigações empresariais internas. 2.
Diferença entre licitude e validade e entre prova e elemento infor-
mativo da fase de investigação, com suas repercussões na esfera da
investigação empresarial interna; 3. O problema da licitude da prova
obtida nas investigações empresariais internas: 3.1. Fundamentos
da regra de exclusão e sua aplicabilidade à prova ilícita obtida por
um particular; 3.2. Fundamentos da exclusão da prova ilícita e sua
aplicabilidade à investigação empresarial interna; 4. O problema da

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 611

validade da prova (lato sensu) obtida nas investigações empresariais


internas: transgressão de garantias processuais nas investigações
intraempresariais; Considerações finais; Referências.

Introdução : contexto dos sistemas de autorregulação


empresarial e problemáticas da obtenção de
prova no âmbito interno da empresa

O desenvolvimento de sistemas e programas de conformidade e


integridade normativa (compliance), com seus particulares desdobramentos
no âmbito criminal (criminal compliance), tem suscitado novos proble-
mas, materiais e processuais, decorrentes do paradigma de autorregulação
empresarial, em que o Estado transfere para a empresa a supervisão, o
controle e a investigação de atividades desviadas (ilícitas).
Do ponto de vista penal material, mostra-se relevante, por exem-
plo, a definição de critérios especiais de imputação e de responsabilidade
na estrutura complexa da empresa, o que inclui a responsabilidade por
omissão do compliance officer (sujeito ou órgão autônomo incumbido da
execução do programa de conformidade normativa). Podem ser mencio-
nadas também as interações entre a responsabilidade penal do dirigente
e a do compliance officer, por um lado, e a responsabilidade penal (nos
Estados que a admitem) e/ou administrativa da própria empresa, por outro,
à luz dos deveres de implantação e de supervisão eficiente de modelos de
integridade ética e de gestão, supervisão, vigilância e controle de riscos2.

2
No sistema espanhol, a título de referência, foi instituído (Lei Orgânica nº
1/2015, no art. 31 bis do Código Penal) um modelo de responsabilidade pe-
nal da pessoa jurídica em decorrência de defeito de organização imputável
ao administrador, incumbido da implantação de mecanismos de supervisão
e controle de riscos, ou ao oficial de cumprimento normativo (compliance
officer), a quem se reserva a supervisão do mesmo programa. Trata-se de um
sistema bifronte de responsabilidade penal da pessoa jurídica, pela ausência
(i) de implantação de modelos de gestão e controle (compliance) pelo admi-
nistrador (art. 31 bis.2, 1ª condição, CP espanhol), ou (ii) de supervisão da
eficácia dos controles internos do modelo de prevenção implantado (art. 31
bis.2, 2ª condição, CP espanhol).

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612 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

Com isso, a empresa resulta inserida em um sistema de deveres


normativos de prevenção e de repressão de práticas ilícitas em seu próprio
seio (crimes, infrações administrativas), cujo cumprimento eficaz pode
funcionar como fundamento de isenção ou de atenuação de responsa-
bilidade penal e/ou administrativa. Em um sistema como o dos Estados
Unidos da América, encontra-se a plenitude pragmática da lógica do
carrot and stick: se a empresa adotou sistemas e controles eficazes para
a prevenção da prática de crimes (momento ex ante) ou colaborou para
o desvendamento da materialidade e sobretudo da autoria individual de
infrações penais (momento ex post), poderá obter até mesmo isenção
de responsabilidade. Trata-se de expressão metafórica que ilustra um
tratamento de benefício para quem adotou medidas de prevenção ou de
colaboração (a cenoura, carrot) e outro de rigidez (o porrete, stick) para
quem não foi vigilante, nem colaborativo. Desde a reforma legislativa de
2010, o Direito Penal espanhol também prevê um modelo de circunstân-
cias atenuantes da responsabilidade da pessoa jurídica que colaborar com
as autoridades. Esse regime foi essencialmente modificado pela reforma
de 2015 (art. 31 bis.4, Código Penal espanhol), contemplando-se agora
também uma cláusula geral de isenção de responsabilidade penal da pessoa
jurídica quando tenha havido uma atuação preventiva de seus represen-
tantes ou dirigentes na implantação e na execução eficaz de um programa
de cumprimento normativo (art. 31 bis.2 e 4, Código Penal espanhol).
No Brasil, ainda se mostram relativamente tímidas as ações nor-
mativas voltadas à implantação e ao aperfeiçoamento dos sistemas de
compliance criminal na empresa. A esse respeito, a legislação brasileira
só abrange âmbitos extrapenais mais restritos (infrações contra a ordem
econômica, infrações contra a administração pública), que só indiretamen-
te têm alguma repercussão na tarefa de identificação da responsabilidade
penal de diversos sujeitos e órgãos integrantes da estrutura empresarial.
Podem ser indicadas, nessa esfera, a Lei nº 12.529/2011 (“Lei Antitruste”),
a Lei nº 12.846/2013 (“Lei Anticorrupção”), a Lei nº 13.303/2016 (com
regras de governança corporativa no setor público) e o recente Decreto
presidencial nº 11.129, de 11 de julho de 2022, que, substituindo o De-
creto nº 8.420/2015 como instrumento de regulamentação da segunda
lei citada (Lei nº 12.846/2013), disciplina o denominado “Programa de
Integridade”. Em geral, essas normas se baseiam em modelos de isenção

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 613

ou atenuação de responsabilidade administrativa da pessoa jurídica como


consequência de sua colaboração efetiva e útil (a posteriori) com as
investigações3. No plano preventivo, leva-se também em conta, para o
dimensionamento da responsabilidade administrativa da pessoa jurídica,
a existência, a aplicação e a efetividade de mecanismos e procedimentos
internos de integridade4.
Em todo caso, tem-se um cenário bastante difundido de incentivos
normativos à empresa – ainda que só no sentido negativo, de ameaça de
sanções – voltados a uma regulação interna eficiente, refletida na exi-
gência de um modelo virtuoso para prevenir riscos de atuações desviadas

3
De acordo com o art. 16, § 2º, da Lei nº 12.846/2013 (“Lei Anticorrupção”),
“a celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica das sanções
previstas no inciso II do art. 6º e no inciso IV do art. 19 e reduzirá em até 2/3
(dois terços) o valor da multa aplicável”.
4
Nos termos do art. 7º, caput, inciso VIII, da Lei nº 12.846/2013 (“Lei An-
ticorrupção”), será levada em consideração, “na aplicação das sanções”, “a
existência de mecanismos e procedimentos internos de integridade, auditoria
e incentivo à denúncia de irregularidades e a aplicação efetiva de códigos de
ética e de conduta no âmbito da pessoa jurídica”. A regulamentação dos pa-
râmetros de avaliação desses mecanismos e procedimentos ficou legalmente
(art. 7º, parágrafo único, Lei nº 12.846/2013) reservada a um decreto pre-
sencial – o que se cumpriu, mais recentemente, pelo Decreto nº 11.129, de 11
de julho de 2022, cujo art. 57, § 2º, dispõe que “a efetividade do programa de
integridade em relação ao ato lesivo objeto de apuração será considerada para
fins da avaliação de que trata o caput”, vale dizer, para o efeito de aplicação
das sanções à pessoa jurídica (art. 7º, VIII, Lei nº 12.846/2013). Acerca do
art. 7º, VII, da Lei nº 12.846/2013, e dos critérios estabelecidos no decreto
regulamentador (antes o Decreto nº 8.420/2015), merece alusão a crítica de
Eduardo Saad-Diniz, referente à falta de métrica para avaliar em concreto a
efetividade do programa, assim como de “coerência sistemática e articulação
com as reais demandas locais de redução das infrações econômicas”. Consul-
te-se: SAAD-DINIZ, Eduardo. Política regulatória, enforcement e compliance:
análise dos lineamientos da Oficina Anticorrupção da Procuradoria Argenti-
na. Revista Magister de Direito Penal e Processual Penal, Porto Alegre, v. 15, n.
90, p. 72-79, esp. 75, jun.-jul./2019. Ainda sobre os parâmetros adequados à
avaliação da efetividade dos programas de compliance, veja-se: NIETO MAR-
TÍN, Adán. Como avaliar a efetividade dos programas de cumprimento”. In:
NIETO MARTÍN, Adán; SAAD-DINIZ, Eduardo (Org.). Legitimidade e efetivi-
dade dos programas de compliance. São Paulo: Tirant lo Blanch, 2021, p. 6-26;
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SACCANI, Raúl R. (Dir.). Compliance, anticorrupción y responsabilidad penal
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Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
614 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

e, quando isso não seja possível, reprimi-las por colaboração posterior


com as instituições oficiais, de maneira a afastar ou ao menos atenuar a
responsabilidade da própria pessoa jurídica e a de seus dirigentes. Cabe
à empresa vigiar, controlar, identificar práticas ilícitas e investigá-las em
todas as suas circunstâncias.
Assim, merecem adequada problematização, nesse mesmo con-
texto de delegação estatal de funções investigativas para o marco interno da
empresa, que se pode designar por investigações intraempresariais, determi-
nados aspectos processuais da maior relevância, entre os quais se destacam
a licitude, a validade e o uso da prova (lato sensu) na persecução penal.
Observe-se, antes de tudo, que os órgãos oficiais de persecução
penal têm suas atividades investigativas (plano extraprocessual ou pré-
-processual) e instrutórias (plano processual) limitadas pelo regime de
direitos e garantias individuais objeto de especial tutela constitucional.
Na esfera extraprocessual, os meios invasivos de obtenção de prova
estão normativamente disciplinados, quer por (i) restrições constitucionais
materiais e diretas ao investigador (como a exigência de fundada suspeita
para o ingresso não consentido no domicílio em caso de flagrante – art.
5º, inciso XI, da Constituição do Brasil) e controle judicial posterior
(verificação da licitude da intervenção policial no domicílio), quer por
(ii) a imposição de controle judicial prévio, na forma de autorização do
ato invasivo (como a exigência de ordem judicial para a busca domiciliar
durante o dia – art. 5º, inciso XI, parte final, da Constituição – e para o
afastamento do sigilo das comunicações telefônicas – art. 5º, inciso XII).
Nesse âmbito extraprocessual, dá-se a obtenção de prova com potencial
afetação sobretudo a direitos fundamentais de caráter material (v.g.:
inviolabilidade do domicílio, dignidade e autodeterminação pessoal,
inviolabilidade das comunicações telefônicas ou telemáticas, intimidade,
privacidade etc.). Tem-se aqui o problema da inserção, no processo, de
uma prova lícita.
A atividade instrutória em juízo, por seu turno, está normativa-
mente disciplinada em função de garantias processuais, como a do devido
processo legal, a da ampla defesa – com seus desdobramentos, a exemplo
do direito à não autoincriminação –, a do contraditório e a do juízo natural.
O problema que desponta, neste caso, é o da validade da prova formada
no próprio processo, sob supervisão e controle judicial.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 615

Posto nesse cenário, o paradigma da autorregulação empresarial,


com transferência normativamente respaldada de funções de supervisão,
controle e investigação para o âmbito interno da empresa, apresenta
problemas particulares, se consideradas as esferas acima indicadas: (i)
inserção e utilização, no processo penal, de prova lícita obtida por agentes
particulares (na empresa) com potencial afetação de direitos materiais;
(ii) formação na empresa de elementos informativos equiparáveis àqueles
obtidos em uma investigação oficial (polícia, Ministério Público) como
fonte de justa causa para eventual ajuizamento de ação penal, com poten-
cial afetação a garantias processuais; (iii) formação na empresa de prova
válida em um ambiente fora do controle judicial, com potencial afetação
a garantias processuais, e posterior uso desses elementos informativos
no processo penal.
Alguns problemas emergem daí: (a) É possível utilizar e valorar,
no processo penal, prova obtida por particulares (na empresa) com vul-
neração a direitos fundamentais materiais? Busca-se, neste caso, verificar
a aplicabilidade da regra de exclusão de prova ilícita obtida não por um
agente estatal, mas por um particular; (b) Considerando o direito pro-
cessual penal brasileiro, é possível equiparar os dados obtidos no seio
da empresa a elementos informativos da fase de investigação preliminar,
enquanto fonte de justa causa para a ação penal, mas com desdobramen-
tos diretos ou indiretos na própria formação do convencimento judicial
sobre o mérito da hipótese acusatória? Em caso positivo, quais são os
vetores aplicáveis de respeito às garantias processuais pertinentes?
(c) É possível conferir valor probatório (stricto sensu) aos elementos
obtidos na investigação empresarial interna, depois de submetidos ao
contraditório diferido?
Cumpre identificar parâmetros seguros (pressupostos, requisitos,
condições) que, a partir do reconhecimento da realidade normativa de
programas de conformidade, se revelem aceitáveis como base suficiente
para a constituição da licitude, da validade e do valor da prova (lato sensu)
obtida no seio da empresa, com preservação do núcleo intangível de
direitos e garantias materiais e processuais. Este artigo, tomando como
referência o estado atual da questão no sistema brasileiro e em siste-
mas comparados e considerando as discussões presentes na doutrina e
na jurisprudência estrangeiras, orienta-se pelo objetivo de apresentar

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
616 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

algumas situações desafiadoras e de propor possíveis soluções preli-


minares, alertando para a necessidade de mais abrangente disciplina
normativa do tema.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho é
de natureza qualitativa, com investigação indireta, por meio de pesquisa
bibliográfica (artigos científicos, livros especializados, fontes jurispruden-
ciais, legislação brasileira e estrangeira), com via exploratória, descritiva,
explicativa e propositiva.

1. D elimitação conceitual e implicações materiais e


processuais do criminal compliance

1.1. Criminal compliance: conceito e elementos

Segundo uma noção muito propagada, compliance significa sim-


plesmente a correspondência entre o comportamento e as normas5 (con-
formidade normativa) ou, como expressa Rotsch, um instrumento de
supervisão empresarial caracterizado pela operação das empresas e de
seus órgãos em harmonia com o Direito vigente6.
Trata-se, na esfera empresarial, da implantação e operação de
uma organização eficiente, caracterizada por padrões éticos e por meca-
nismos de vigilância e controle de riscos, que assegurem o cumprimento
dos deveres normativos e impeçam ou dificultem a prática de atos ilícitos
pelos sujeitos integrantes da estrutura da empresa em diversos níveis.
Nesse contexto, pode-se entender o termo compliance como a consistência

5
Transcende as finalidades deste artigo analisar os múltiplos conceitos de
compliance oferecidos ou sugeridos por diferentes aportes teóricos. Para uma
análise detalhada das diversas vertentes, consulte-se: ROTSCH, Thomas.
Derecho penal, Derecho penal económico y compliance. Madrid: Marcial Pons,
2022, p. 288-297.
6
ROTSCH, Thomas. Derecho penal, Derecho penal económico y compliance. Ma-
drid: Marcial Pons, 2022, p. 287. Veja-se também: ROTSCH, Thomas. Cri-
minal Compliance. InDret, Revista para el Análisis del Derecho, Barcelona, n.
1, p. 2-11, enero de 2012. Disponível em: https://indret.com/wp-content/
themes/indret/pdf/876a.pdf. Acesso em: 30 mar.2023; ROTSCH, Thomas.
Corrupção e criminal compliance. Revista de Estudos Criminais, Porto Alegre,
v. 18, n. 73, p. 31-51, 2019.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 617

entre as exigências legais e as exigências internas7 de regulação, super-


visão e controle das atividades desenvolvidas nos variados âmbitos de
competência da organização empresarial.
Na perspectiva da responsabilidade penal da empresa, os sistemas
de compliance se entendem, segundo Nieto Martín, como o conjunto de
medidas necessárias a uma organização virtuosa (sentido positivo) da
sociedade empresarial, para que esta não seja penalmente responsável ou
tenha sua pena reduzida no caso de algum de seus órgãos ou empregados
(administradores, diretores, trabalhadores, por exemplo) praticar um
crime no desempenho de suas funções8.
Por outro lado, os programas de cumprimento normativo (com-
pliance) podem ser vistos também sob o prisma da responsabilidade
dos órgãos internos da empresa (administrador e órgão ou oficial de
compliance) pela implantação e supervisão dos mecanismos de vigilân-
cia e controle9.
Desde 1988, a U.S. Sentencing Commission tem estabelecido um
amplo sistema de padrões para um efetivo programa de compliance, no
§8B2.1 de seu Guidelines Manual, cuja última edição foi publicada no final
de 202110. Segundo as linhas centrais desse documento, o êxito do sistema

7
Como expõem Hassan e Logrippo: “We define compliance (sometimes also
called conformance, a term used in software engineering with a similar mea-
ning) as the mutual consistency of legal requirements and enterprise requi-
rements. It could be said that there are two aspects to compliance: comple-
teness and consistency. However often completeness reduces to consistency,
because if an implementation is incomplete with respect to requirements,
then scenarios may exist that are inconsistent with the requirements”. HAS-
SAN, Waël; LOGRIPPO, Luigi. Requirements and compliance in legal sys-
tems: a logic approach. 2008 Requirements Engineering and Law, RELAW’08,
Barcelona, p. 40-44. DOI: 10.1109/RELAW.2008.8.
8
NIETO MARTÍN, Adán. Problemas fundamentales del cumplimiento norma-
tivo en el Derecho penal. In: MONTIEL, Juan Pablo; KUHLEN, Lothar; UR-
BINA GIMENO, Íñigo Ortiz de (Ed.). Compliance y teoría del Derecho penal.
Madrid: Marcial Pons, 2013, p. 21-50, esp. 31.
9
MONTANER FERNÁNDEZ, Raquel. El Criminal Compliance desde la pers-
pectiva de la delegación de funciones. Estudios Penales y Criminológicos, San-
tiago de Compostela, v. XXXV, n. 35, p. 733-782, esp. 772, 2015.
10
US Sentencing Guidelines. Effective Compliance and Ethics Program, § 8B2.1,
p. 517-522. United States Sentencing Commission, Guidelines Manual, US Sen-
tencing Commission, Washington, DC, Nov. 2021. Disponível em: https://

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
618 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

depende não só da fixação de padrões de conduta e de comportamentos


proibidos, mas especialmente da capacidade da empresa de demonstrar
a efetividade do programa.
Nesse cenário, os indicadores de efetividade incluem os se-
guintes: a) a devida diligência (due dilligence) para detectar e prevenir
a prática de crimes e por outros meios promover uma cultura orga-
nizacional, com padrões e procedimentos que estimulem condutas
éticas e o compromisso de cumprir a lei; b) a supervisão do programa
de compliance por pessoas de alta qualificação; c) a delegação respon-
sável de autoridade; d) o contínuo treinamento dos empregados; e) a
efetividade das linhas diretas e anônimas de comunicação, conhecidas
como linhas éticas ou de whistleblowing, e dos protocolos de informes11;
f) a rápida e adequada investigação de reclamações e a correção de de-
ficiências, inclusive com autorrevelação e disciplina consistentemente
aplicada quando seja apropriado; g) robusta vigilância e processos de
auditoria que suficientemente enfrentem as áreas cruciais de risco para
a empresa12. Trata-se, portanto, de um sofisticado sistema de vigilância
e de transparência interna destinado a controlar os riscos de práticas
criminosas a partir da empresa e a reprimir eficientemente os crimes
já aperfeiçoados.

www.ussc.gov/sites/default/files/pdf/guidelines-manual/2021/GLMFull.
pdf. Acesso em: 30 mar. 2023.
11
Veja-se, sobre o whistleblowing no contexto dos sistemas de compliance no
Direito Penal espanhol: GÓMEZ MARTÍN, Victor. Compliance y derechos de
los trabajadores. In: MONTIEL, Juan Pablo; KUHLEN, Lothar; URBINA GI-
MENO, Íñigo Ortiz de (Ed.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid:
Marcial Pons, 2013, p. 125-146, esp. 141-145. Consulte-se também: SAAD-
-DINIZ, Eduardo; MARIN, Gustavo de Carvalho. Criminalidade empresarial
e programas de whistleblowing: defesa dos regimes democráticos ou mer-
cancia de informações? Revista Científica do CPJM, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1,
jun./2021. DOI: 10.55689/rcpjm.2021.01.006.
12
US Sentencing Guidelines. Effective Compliance and Ethics Program, § 8B2.1,
p. 517-522. United States Sentencing Commission, Guidelines Manual, US Sen-
tencing Commission, Washington, DC, Nov. 2021.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 619

1.2. Desdobramentos processuais da obtenção de prova nas investigações


empresariais internas

As investigações empresariais internas (ou investigações intraem-


presariais) refletem um fenômeno de privatização parcial da persecução
penal, em seu momento investigativo preliminar, que é o desdobramento
inevitável do aludido paradigma de transferência, para a empresa, de
funções de controle de criminalidade (criminal compliance). Segundo
certa perspectiva, essa lógica se irradia até mesmo para o sancionamento
de infrações penais. Com esse sentido, Montiel identifica um “segundo
sistema de regulação”, paralelo ao estatal, que reserva às empresas as
tarefas de prevenir, desvendar e sancionar os ilícitos13. Como, porém, tais
sanções se restringem à esfera extrapenal, o ponto de maior interesse para
o processo penal diz respeito à obtenção de prova (lato sensu), em geral
com mais eficiência do que os mecanismos oficiais, dada a imediatidade
e a extensão do acesso da empresa às informações e fontes probatórias
relevantes, assim como os já referidos incentivos de isenção ou de atenua-
ção de responsabilidade. De acordo com Neira Pena, atribui-se à pessoa
jurídica uma tarefa de pseudo-polícia, para que, mediante investigações
internas, desvende a prática de crimes, determine os indivíduos culpá-
veis e compile as fontes de prova para entregá-las à justiça em troca de
leniência14. Ademais, não devem ser menosprezados, ainda no plano
dos incentivos, outras repercussões negativas, de caráter econômico e
reputacional, à empresa carente de um sistema efetivo de investigação e
apuração interna, para fins preventivos e corretivos15. Por fim, há também,

13
MONTIEL, Juan Pablo. Sentido y alcance de las investigaciones internas en la
empresa. Revista de Derecho de la Pontificia Universidad Católica de Valparaíso
XL, Valparaíso, p. 251-277, esp. 253, 2013.
14
NEIRA PENA, Ana María. La instrucción de los procesos penales frente a las
personas jurídicas. Valencia: Tirant lo Blanch, 2017, p. 333.
15
Destacando esse aspecto, Del Rosal Blasco: “…la empresa debe de tener el
máximo de información posible acerca de los hechos, para poder reaccionar
corrigiendo todas aquellas disfunciones que se hayan detectado y prevenir
las posibles consecuencias negativas que tales hechos puedan tener para la
empresa (reputacionales, económicas, limitaciones a la contratación pública,
sancionadoras, etc.)”. DEL ROSAL BLASCO, Bernardo. Las investigaciones
internas en las empresas como estrategia preprocesal de defensa penal cor-
porativa. Diario La Ley, Madrid, n. 9180, Sección Tribuna, 18 de abril de 2018,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
620 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

como vantagem para a empresa, o afastamento dos riscos de intervenções


invasivas dos órgãos de persecução penal, por medidas como a busca e a
apreensão de documentos16.
A fonte de prova obtida no seio da empresa poderá influir direta
ou indiretamente no julgamento e na eventual aplicação de pena (con-
sequência indelegável para o âmbito privado) ao final de um processo
penal. É este o fator que, no presente artigo, se enfatiza como objeto de
análise: licitude e validade da prova (lato sensu) obtida na empresa, em
função de sua afetação a direitos e garantias individuais, assim como sua
inserção e uso no processo penal como base de justa causa para a acusação
e influência na formação do convencimento judicial.
Em primeiro lugar, a abrangência da vigilância e do controle
exigidos já afeta, de plano, a esfera constitucionalmente protegida da
intimidade e da privacidade17. Assim, desponta aí o relevante aspecto da

Editorial Wolters Kluwer, p. 3-6, esp. 3, abr./2018. Disponível em: https://


diariolaley.laleynext.es/Content. Acesso em: 30 mar. 2023. Assim, também:
SACCANI, Raúl R. Investigaciones internas: una guía práctica. In: DURRIEU,
Nicolás; SACANNI, Raúl R. (Dir.). Compliance, anticorrupción y responsabili-
dad penal empresaria. Buenos Aires: La Ley, 2018, p. 313-341, esp. 314-315;
BEDÊ JUNIOR, Américo; ALTOÉ, Marcelo Martins. Investigações empresa-
riais internas e proteção de dados: uma análise da constitucionalidade das
restrições impostas pelo artigo 4º, §§ 2º e 4º, da Lei 13.709/2018 (LGPD).
Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 1008, out./2019, p. 57-
91, esp. 62.
16
Em sentido semelhante: NEIRA PENA, Ana María. La instrucción de los
procesos penales frente a las personas jurídicas. Valencia: Tirant lo Blanch,
2017, p. 342.
17
Sem dúvida, a implantação de modelos de vigilância em geral envolve dife-
renciadas formas de intervenção na intimidade e privacidade alheias. Como
observa Agustina Sanllehí: “La implementación de una vigilancia intensifi-
cada como mecanismo generalizado para el control de la delincuencia y la
desviación social plantea diferentes conflictos en los distintos ámbitos de ac-
tuación de la persona. La aproximación a una nueva concepción de la vigilan-
cia y el control social responde a un mayor convencimiento de la necesidad
y conveniencia de nuevos métodos como parte integrante del arte del buen
gobierno. En este sentido, asistimos a una reorientación de las políticas de
control social de forma que éstas sean capaces de ‘hacer visible todo’, me-
diante una vigilancia ‘permanente, exhaustiva y omnipresente’”. AGUSTINA
SANLLEHÍ, José Ramón. Prevención del delito en la empresa: límites ético-
-jurídicos en la implementación de sistema de video vigilancia. Revista Elec-
trónica de Ciencia Penal y Criminología (en línea), Granada, n. 11-10, p. 1-10,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 621

obtenção de dados probatórios acerca da materialidade e da autoria de


crimes em conformidade com a ordem jurídica (licitude), o que implica a
identificação de limites seguros aos meios invasivos.
Tenha-se em conta que a tutela constitucional de direitos de ca-
ráter material está orientada não somente contra a ação invasiva – e em
ocasiões violenta – do Estado, mas também contra intervenções abusivas
de particulares. Este é um ponto essencial, por mais que haja inequívoca
preponderância da dimensão protetiva contra a ação estatal ilegal. A invio-
labilidade do domicílio (art. 5º, XI, da Constituição) delimita uma esfera
intangível do indivíduo também contra particulares que, por exemplo,
resolvam ingressar na casa alheia sem o consentimento do respectivo
morador, a pretexto de flagrante ou outra motivação. Algo semelhante
se pode dizer, ainda a título de exemplo, do direito à proteção de dados
pessoais, atualmente consagrado no inciso LXXIX acrescentado ao art.
5º da Constituição brasileira pela Emenda Constitucional nº 115/2022,
com tutela da autonomia informacional não só contra a intervenção estatal
(v.g.: para fins de segurança pública), mas também contra ações indevidas
de tratamento de dados por parte de diversas empresas.
Por outro lado, apesar dessa compreensão essencial, parece de
igual modo consistente que a utilização de prova no processo penal, à luz
do vetor de licitude na obtenção, obedece a fundamentos e parâmetros
especiais, que reclamam adequada análise. Isso porque, como aprofundado
no próximo tópico, a origem da regra de exclusão (exclusionary rule) de
provas obtidas por meios contrários ao direito está intimamente associada
ao desestímulo reforçado de práticas desviadas, diretas ou indiretas, de
agentes oficiais (estatais). Na concepção do sistema norte-americano de
inadmissibilidade da prova ilícita, assim como em sua expressão contem-
porânea, a renúncia do Estado ao resultado probatório, suportando os
pesados custos sociais da exclusão (custos à expectativa de incriminação
e de punição), somente se justifica pela necessidade especial de dissuadir
agentes estatais (desestímulo reforçado) quanto à obtenção de dados
probatórios por meios contrários ao direito, não bastando para tanto,
como mostra a experiência, o desestímulo ordinário, de sujeição de tais

esp. 4, 2009. Disponível em: http://criminet.ugr.es/recpc/11/recpc11-10.


pdf. Acesso em: 30 mar. 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
622 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

agentes às diversas formas de responsabilidade penal, administrativa e


civil vinculadas à atividade ilegal. Diversamente, para o particular, en-
tende-se que é suficiente esse desestímulo ordinário, de modo que basta
sua responsabilização pelo ato ilícito, não se justificando, além disso, a
exclusão da prova ilícita, considerando o custo social que isso implicaria.
Por mais que a jurisprudência brasileira, sob a influência (perce-
bida ou não) do referencial preponderante dos princípios da legalidade e
do processo equitativo – fundamento cuja autonomia tem sido sustentada
no sistema europeu-continental18 –, reconheça a inadmissibilidade tam-
bém da prova ilícita obtida por um particular (sem supervisão estatal),
a questão permanece em aberto para debate, diante da inegável e direta
presença, em nosso sistema, dos fundamentos, princípios e institutos
concebidos na jurisprudência da Suprema Corte dos Estados Unidos (ex.:
lógica dos fruits of the poisonous tree na inadmissibilidade da prova derivada
de ilícita, exceção da fonte independente etc.). Ademais, a jurisprudência
recente de sistemas comparados tem admitido o uso da prova obtida com
vulneração a direitos fundamentais por particulares, como hipótese a que
não se aplica a regra de exclusão, desde que obedecidas determinadas
condições19 (ponto aprofundado adiante, no tópico 2).
Assim, mostra-se relevante analisar em que medida a transferência
de significativa parcela da atividade investigativa para a própria empresa,
no marco de sua autorregulação, interfere não só na licitude da prova
obtida por um particular, mas também na possibilidade de uso de prova
ilícita no processo penal. Esse ponto será abordado no tópico 2, infra.
No plano da afetação a garantias processuais, por sua vez, deve-se
considerar como “a rápida e adequada investigação de reclamações e a
correção de deficiências” (diretriz entre as guidelines norte-americanas)
pode conduzir à futura formação de uma prova válida, em condições
aproximáveis – ainda que não equiparáveis – aos elementos informati-
vos passíveis de obtenção na fase pré-processual (investigação prelimi-
nar). Essa análise deve levar em conta especialmente a substituição ou

18
Veja-se: ARMENTA DEU, Teresa. A prova ilícita: um estudo comparado. Tradu-
ção de Nereu José Giacomolli. São Paulo: Marcial Pons, 2014, p. 26 ss.; 151 ss.
19
Nessa direção, a Sentença do Tribunal Supremo (STS) espanhol nº 116/2017
(Relator: Marchena Gómez) e a Sentença do Tribunal Constitucional (STC)
espanhol nº 97/2019 (Relator: Montoya Melgar).

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 623

a complementação da atividade investigativa oficial (da chamada polícia


judiciária, em um inquérito policial, e/ou do Ministério Público, em um
procedimento de investigação criminal) pelas diversas intervenções
instrutórias (inquirição, perícia, obtenção de documentos etc.) praticá-
veis pelos agentes empresariais incumbidos da aplicação do programa
de compliance.
Considerando-se a impossibilidade de substituição instrutória
da atividade processual em contraditório judicial20, a que toda a atividade
prévia investigativa – inclusive a oficial – está sujeita, o ponto central
de abordagem radica na obtenção de elementos preponderantemente in-
formativos que sirvam como base de justa causa para a persecução penal
em juízo (ação penal) e que, segundo a percepção ainda dominante na
prática, continuam encerrando alguma medida de influência – ainda que
secundária e complementar – na formação do convencimento judicial
(art. 155, caput, do Código de Processo Penal).

2. D iferença entre licitude e validade e entre prova e


elemento informativo da fase de investigação , com suas
repercussões na esfera da investigação empresarial interna

Como referencial, é importante a distinção, devida a Pietro Nu-


volone , entre (i) prova ilícita e (ii) prova ilegítima. Identifica-se a ilicitude
21

20
Conforme Ayala González, “las investigaciones ad extra [investigações desti-
nadas às autoridades] no devendrán en un mecanismo sustitutorio de la fase
de instrucción propiamente…”. AYALA GONZÁLEZ, Alejandro. Investiga-
ciones internas: ¿zanahorias legislativas y palos jurisprudenciales? InDret –
Revista para el Análisis del Derecho, Barcelona, nº 2, p. 270-303, esp. 276,
feb./2020. DOI: 10.31009/InDret. 2020.i2.08. Disponível em: https://indret.
com/wp-content/uploads/2020/04/1535-2.pdf. Acesso em: 30 mar. 2023.
21
Nuvolone distingue o ato ilícito do ato ilegítimo como espécies do gênero ile-
galidade. Dessa lógica é que deriva aqui o discernimento entre prova ilícita
e prova ilegítima. NUVOLONE, Pietro. Le prove vietate nel processo penale
dei paesi di diritto latino. Rivista di Diritto Processuale, Padova, v. XXI, s. II,
p. 422-475, 1966: “Un divieto ha natura esclusivamente processuale, quando
è posto in funzione di interessi attinenti unicamente alla logica e alle finalità
del processo; un divieto ha natura sostanziale, allorché, pur servendo me-
diatamente anche interessi processuali, à posto essenzialmente in funzione
dei diritti che l’ordinamento riconosce ai singoli, indipendentemente del

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
624 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

probatória na violação a uma norma de direito material (substancial)


ocorrida no momento da obtenção da prova, fora do processo. Tem-se a
vulneração, portanto, de direitos fundamentais de caráter substancial,
como a liberdade, a autodeterminação pessoal, a inviolabilidade do do-
micílio e das comunicações telefônicas ou telemáticas. O efeito jurídico
da ilicitude é a inadmissibilidade da prova, com a consequência material
de exclusão, expressa no sistema brasileiro como desentranhamento e
posterior inutilização (art. 157, caput, do CPP). Trata-se de um desdo-
bramento extremo, correspondente à gravidade da transgressão, que
reflete a renúncia do Estado ao resultado probatório ilicitamente obtido,
de modo a impedir sua influência direta ou indireta no convencimento
judicial. Por seu turno, a ilegitimidade da prova decorre da sua produção
ou inserção no processo com ofensa só a uma norma processual, ainda que
referente a uma garantia de caráter fundamental: por exemplo, a ofensa às
garantias do devido processo legal, da ampla defesa, do contraditório, ou
à garantia contra a autoincriminação. O efeito jurídico da ilegitimidade é a
invalidade ou nulidade da prova, o que gera a exigência legal de renovação
do ato probatório viciado (art. 573, caput, do CPP) – e dos que dele sejam
consequência (art. 573, § 1º, do CPP) –, desta vez com observância da
norma processual antes violada. Cuida-se de consequência relativamente
menos grave se comparada à ilicitude22.

processo. La violazione del divieto costituisce in entrambi i casi un’illegalità;


ma mentre, nel primo caso, sarà solo un atto illegittimo, nel secondo caso sarà
anche un atto illecito”.
22
Refira-se que parte da doutrina brasileira sustenta a não aplicabilidade da dis-
tinção entre prova ilícita e prova ilegítima, à luz dos parâmetros aqui enuncia-
dos, após a reforma introduzida pela Lei nº 11.690/2008. Segundo Gustavo
Badaró, considerando o caput do art. 157 do CPP, “para a caracterização da
prova ilícita, não se fez qualquer distinção entre natureza da norma violada, se
de direito material ou processual”. O mesmo processualista propõe definição
das provas ilícitas como aquelas “obtidas, admitidas ou produzidas com vio-
lação das garantias constitucionais, sejam as que asseguram liberdades públi-
cas, sejam as que estabelecem garantias processuais”. Consulte-se: BADARÓ,
Gustavo. As propostas de alteração do regime de provas ilícitas no processo
penal. Boletim do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, São Paulo, n. 277,
dez./2015. Disponível em: https://arquivo.ibccrim.org.br/boletim_artigo/
5676-As-propostas-de-alteracao-do-regime-de-provas-ilicitas-no-processo-
-penal. Acesso: 31 maio. 2023. A perspectiva aqui adotada rechaça essa lógica,
à luz do sistema processual brasileiro, que estabelece consequências jurídicas

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 625

Assim, no exame sobre a obtenção, a produção, a inserção e o


uso, no processo penal, da prova decorrente da atividade investigativa
empresarial, deve-se considerar a natureza do direito ou garantia afetável,
de maneira a identificar o efeito jurídico passível de aplicação. Os funda-
mentos e os respectivos desdobramentos são distintos em um e outro caso.
Sob outro prisma, cumpre levantar a questão da diferença, en-
fatizada por parte da doutrina, entre (i) prova e (ii) elemento informativo
da investigação23. Em diversos momentos deste artigo, utiliza-se o termo
prova em sentido amplo, como objeto informativo apto à verificação, ao
dimensionamento ou à refutação de uma hipótese fática. Essa perspectiva
considera a aptidão informativa do objeto probatório independentemente
da forma de sua obtenção ou formação. O tratamento do tema no sistema
processual penal brasileiro (art. 155, caput, do CPP24), porém, conduz
a um significado mais restrito do termo prova, como objeto que, por re-
unir determinadas características especiais, tem idoneidade para, com
preponderância, influir na formação do convencimento judicial acerca
da hipótese acusatória e de outras questões relevantes para a verificação
e o dimensionamento da responsabilidade penal do acusado.
De acordo com o sistema, o valor probatório (sentido estrito) é
adquirido, para além do mero potencial informativo, por sua (a) produ-
ção em contraditório judicial (bilateralidade, judicialidade) ou por (b)
características particulares em sua natureza que justificam sua produção

distintas para, de um lado, a ofensa material ou ilicitude (inadmissibilidade –


art. 157, CPP) e, de outro lado, a transgressão processual (nulidade – art. 573,
§ 1º, CPP). Além disso, os diversos níveis de gravidade dessas duas formas de
ilegalidade recomendam o discernimento de cada uma das respostas jurídicas
indicadas, em perspectiva que segue compatível, de resto, com a amplitude
da atual redação do caput do art. 157, que se deve creditar à imprecisão con-
ceitual, e não à unificação de tratamento.
23
Sobre essa distinção, consulte-se: GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Pro-
vas. Lei 11.690, de 09.06.2008. In: MOURA, Maria Thereza de Assis (Coord.).
As reformas do processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 246-
297, esp. 248.
24
Art. 155, Código de Processo Penal brasileiro: “O juiz formará sua convicção
pela prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação,
ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. (destacou-se).

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
626 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

unilateral e pré-processual (prova cautelar25, prova antecipada26, prova


não repetível27). A aquisição desse valor probatório permite que o objeto
possa interferir com predominância na formação do convencimento do
juiz (art. 155, caput, CPP). Por sua vez, o objeto que não encerre tais
características – vale dizer, aquele de obtenção unilateral, extrajudicial e
pré-processual, sem atributos especiais de justificação de valor probató-
rio – se entende como elemento informativo da fase investigativa, que só
secundariamente poderia de alguma forma influenciar o convencimento
judicial, uma vez que a norma só veda de forma expressa que a convicção
do juiz se forme exclusivamente com base em tal objeto (art. 155, caput,
do CPP28). Importa observar que mesmo essa idoneidade secundária do
elemento informativo é questionada por significativa parte da doutrina29,
entendendo-se que a finalidade do elemento informativo está limitada à
apreciação de justa causa para o processo penal, sem reflexos, portanto,
no julgamento da acusação. Esse ponto foi reforçado pelo sistema de
juiz das garantias – ainda suspenso por medida liminar de ministro do
Supremo Tribunal Federal30 –, em que se afastam da apreciação do juiz
da instrução e julgamento os elementos obtidos no inquérito policial,
ressalvados aqueles que digam respeito a provas cautelares, antecipadas ou
não repetíveis (art. 3º-C, § 3º, do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019).

25
Exemplos de prova cautelar: resultado de busca e apreensão domiciliar, de
interceptação telefônica ou de afastamento de sigilo de dados telemáticos.
26
Antecipação em caso de risco de perecimento da fonte de prova: por exem-
plo, inquirição judicial antecipada (pré-processual, antes da fase instrutória
normal) de testemunha com idade avançada ou doença grave.
27
Exemplo de prova não repetível: exame de corpo de delito (perícia imediata
sobre os vestígios, por natureza perecíveis), para qual não se exige o contra-
ditório (participação do investigado).
28
Art. 155, Código de Processo Penal brasileiro: “O juiz formará sua convicção
pela prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua
decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, res-
salvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. (destacou-se).
29
Por todos: GOMES FILHO, Antônio Magalhães. Provas. Lei 11.690, de
09.06.2008. In: MOURA, Maria Thereza de Assis (Coord.). As reformas do
processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 246-297, esp. 248.
30
Decisão monocrática do Ministro Luiz Fux proferida em 22.02.2020 nas
Ações Diretas de Inconstitucionalidade 6.298. 6.299 e 6.300.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
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Em tais condições, partindo-se da premissa (exposta supra) de


que a investigação empresarial interna não pode substituir a atividade
instrutória processual em contraditório judicial, os problemas aqui ver-
sados podem ser dimensionados desta forma: (i) No que diz respeito ao
problema da ilicitude, existe a possibilidade de produção de efetiva prova
(sentido estrito) por particulares (ex.: gravação ambiental ou telefônica),
devendo-se apreciar (i.a) as condições para sua obtenção em conformi-
dade com o direito e, portanto, para a admissibilidade de sua inserção no
processo e (i.b) a aplicabilidade ou não do princípio de inadmissibilidade
ou de exclusão da prova ilicitamente obtida por um particular ao longo de
uma investigação empresarial interna; (ii) No que concerne à validade,
a questão se restringe às condições de eficácia do objeto como elemento
informativo da fase pré-processual, apto a (ii.a) conferir ou não justa
causa para o exercício da ação penal e (ii.b) secundariamente (se muito)
influenciar de algum modo na formação do convencimento judicial sobre
o mérito da acusação.
Esses pontos serão desenvolvidos adiante.

3. O problema da licitude da prova obtida nas investigações


empresariais internas

3.1. Fundamentos da regra de exclusão e sua aplicabilidade à prova ilícita


obtida por um particular

No precedente do caso Burdeau v. McDowell, de 1921, a Suprema


Corte dos Estados Unidos entendeu pela inaplicabilidade da regra de ex-
clusão da prova ilícita obtida por particular. Com efeito, reconheceu-se ali
a possibilidade de utilização de documentos fornecidos por particulares
que os obtiveram mediante busca ilícita em um escritório privado, sem
a participação ou o conhecimento de um agente do Estado. Ficou então es-
tabelecido que a inviolabilidade dos documentos privados, proclamada
pela Quarta Emenda à Constituição dos Estados Unidos contra buscas e
apreensões ilícitas, só diz respeito à ação estatal31.

31
United States Supreme Court, Burdeau v. McDowell, 256 U.S. 465, 1921: “1.
The United States may retain for use as evidence in the criminal prosecution

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
628 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

Qual o fundamento dessa posição? Nas origens da regra de exclusão


da prova ilícita, não se desprezou o alto custo social (expectativa de eficácia
da prevenção e da repressão do crime) decorrente da renúncia do Estado
ao resultado probatório (em geral decisivo para sustentar uma condena-
ção). A exclusão da prova, portanto, só se justifica pela necessidade de um
desestímulo reforçado à atividade estatal de obtenção de prova com ofensa
a direitos fundamentais, para além da dissuasão ordinária, que neste caso
(ação estatal) se entendeu como ineficaz, propiciada pela possibilidade
de responsabilização criminal, administrativa e civil. Assim, a evolução
da jurisprudência norte-americana – como ilustrado por diversos casos
paradigmáticos – tem se orientado pelo parâmetro da compensação efetiva
do custo social da exclusão pela necessidade real do efeito dissuasório
da exclusão. Entendeu-se, nesse cenário, que para o particular, que só
esporadicamente se vê em uma oportunidade de obtenção ilícita do dado
probatório, basta o desestímulo ordinário (sujeição a diversas formas de
responsabilidade, inclusive a penal), não se justificando a exclusão da prova.
Com postura diversa, o Supremo Tribunal Federal brasileiro fixou –
em pelo menos duas oportunidades – a inadmissibilidade de toda prova
ilícita, independentemente de quem a tenha obtido, diante da amplitude da
norma do art. 5º, inciso LVI, da Constituição Federal. Neste sentido, disse
a Suprema Corte, ao julgar o HC 82.862/SP, que é inadmissível o uso de
papeis confidenciais obtidos ilicitamente por ex-empregado de empresa32.
Esse julgado seguiu a mesma linha de outro em que se afirmou que a inad-
missibilidade da prova ilícita se aplica “ainda que não se revele imputável
aos agentes estatais o gesto de desrespeito ao sistema normativo”33.

of their own incriminating documents which are turned over to it by private


individuals who procured them, without the participation or knowledge of any
government official, through a wrongful search of the owner’s private desk
and papers in an office. 2. The provision of the Fourth Amendment forbi-
dding unreasonable searches and seizures refers to governmental action”.
(destacou-se). Disponível em: https://supreme.justia.com/cases/federal/
us/256/465/. Acesso em: 30 mar. 2023.
32
Supremo Tribunal Federal (STF), 2ª Turma, Habeas Corpus nº 82.862/SP,
Rel. Min. Cezar Peluso, Brasília, publicação em 13.06.2008.
33
Supremo Tribunal Federal (STF), decisão monocrática, Recurso Extraor-
dinário nº 251.445/GO, Rel. Min. Celso de Mello, Brasília, publicação em
03.08.2000.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
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Apesar desses precedentes no Brasil, a questão está longe de cons-


tituir ponto pacífico. O debate segue aberto e assume grande relevância
no âmbito da investigação empresarial interna, em que a transferência de
significativa parcela de controle de criminalidade para a empresa assume
o caráter de delegação estatal.
Em julgado mais recente (2017), o Tribunal Supremo da Espanha
afirmou, como “dado decisivo”, o seguinte ponto: “a decisão sobre a ex-
clusão probatória adquire uma dimensão especial se quem fez possível
que as provas controvertidas aflorassem nunca atuou no marco de uma
atividade de respaldo aos órgãos do Estado chamados à persecução do
delito”. Segundo o mesmo Tribunal, o fator determinante é que o parti-
cular “nunca, de forma direta ou indireta, tenha atuado como uma peça
camuflada do Estado a serviço da investigação penal”. Assim, concluiu
o Tribunal Supremo da Espanha pela possibilidade de valoração de uma
fonte de prova obtida por um particular (a) com absoluta desconexão de
toda atividade estatal e (b) alheia em sua origem à vontade de prefabricar
provas. Com isso, fixou-se viabilidade do uso e da valoração da prova
ilícita, obtida com ofensa a direitos fundamentais (no caso concreto,
o direito à intimidade), desde que ausentes: (a) vínculo com atividade
estatal de investigação criminal (“exercício do jus puniendi); (b) intenção
prévia do particular de constituir prova para utilização em processo
penal futuro34.
O Tribunal Constitucional espanhol, por sua vez, apreciou em sede
recursal o mesmo caso antes julgado pelo Tribunal Supremo, mantendo
em linhas gerais a mesma orientação, embora enfatizando aspectos es-
pecíficos da ordem jurídica espanhola acerca da regulação bancária entre
particulares e seus reflexos no direito à intimidade. No julgado do Tribunal
Constitucional interessa destacar estes pontos: (i) A Corte reconhece,
em caráter geral, que a “vulneração originária do direito substantivo” por
um particular “não altera em absoluto o cânone de constitucionalidade
aplicável desde a ótica do direito a um processo com todas as garantias
(art. 24.2 CE)”, de modo que a exclusão dos elementos probatórios obtidos

34
Tribunal Supremo, España. Sentencia del Tribunal Supremo (STS) nº
116/2017, Sala de lo Penal, Ponente: Manuel Marchena Gómez, 23 febre-
ro 2017. Disponível em: https://vlex.es/vid/667933841. Acesso em: 30
mar. 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
630 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

deve ser, também nessas hipóteses, o “ponto de partida”; mas admite,


de toda sorte, que “em cada caso concreto” o órgão jurisdicional possa
apreciar “a ausência de necessidades de tutela processual quanto à vulne-
ração consumada, incorporando, nestes casos excepcionais, os elementos
controvertidos ao acervo probatório”; (ii) No caso particular, entendeu a
Corte que não existe uma “necessidade jurídica” de extensão ao processo
penal da tutela do direito à intimidade relacionada a uma “intromissão
inter privatos”, considerando que a Espanha não tem um sistema jurídico
de “opacidade bancária que exija instrumentalizar o processo penal para
prevenir este tipo de violações de direitos fundamentais verificadas entre
particulares”35.
Os fundamentos invocados pelo Tribunal Constitucional da Es-
panha, abstraindo-se aqui as peculiaridades (irrelevantes para a discussão
em foco) da ordem jurídica espanhola, parecem sinalizar um exame de
proporcionalidade quanto ao uso no processo penal de dados ilicitamente
obtidos nas relações entre particulares. Em todo caso, a questão central
discutida não é a tutela constitucional de direitos fundamentais contra
intervenções também de particulares, algo inequívoco quando se considera
que o agente pode ser responsabilizado até mesmo criminalmente, mas a
possibilidade de uso e valoração do resultado probatório no processo penal.
A este respeito, o Tribunal Supremo espanhol estabeleceu parâmetros
relevantes nos planos objetivo (ausência de vínculo estatal direto ou in-
direto) e subjetivo (ausência de intenção prévia de fabricação de prova
para uso futuro em processo penal) para admitir a valoração da prova
ilicitamente obtida pelo particular.

3.2. Fundamentos da exclusão da prova ilícita e sua aplicabilidade à


investigação empresarial interna

Uma vez transportado o contexto acima apresentado para o marco


da investigação intraempresarial, alguns aspectos específicos reclamam

35
Tribunal Constitucional, España. Sentencia del Tribunal Constitucional (STC)
nº 97/2019, Pleno, Ponente: Alfredo Montoya Melgar, 16 julio 2019. Dispo-
nível em: https://www.boe.es/diario_boe/txt.php?id=BOE-A-2019-11909.
Acesso em: 30 mar. 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
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exame: (i) a delegação estatal de funções de controle e de investigação


para a empresa é estável e permanente, não se tratando aqui, portanto, de
atuação esporádica e imprevisível de um particular na obtenção de prova;
(ii) em virtude do próprio regime inerente aos programas de compliance,
normativamente disciplinado em suas características e finalidades, tem-se
a intenção prévia do particular, na empresa, de constituir prova para uso
futuro em processo penal.
Com base no acima referido julgado do Tribunal Supremo da
Espanha, Ayala González aponta ainda o aspecto de que, apesar da dele-
gação formal, a investigação empresarial interna não envolve uma atuação
“camuflada” do Estado, acrescentando que as apurações corporativas
paralelas (meios) não são as próprias da autoridade pública, por mais que
possam perseguir as mesmas finalidades36.
Parece haver razão nesse raciocínio em si mesmo, tomado iso-
ladamente, mas é preciso considerar que as características do modelo
de autorregulação empresarial tornam a empresa um ente investigativo
habitual e institucionalizado, com previsibilidade de atuação normati-
zada, que, por isso, não pode ser tratado da mesma forma que o par-
ticular que esporadicamente encontra oportunidade para obter prova
por meios ilícitos. Este é o aspecto acima indicado em (i). Por certo,
os meios empresariais investigativos não implicam nenhuma forma de
interferência do Estado (fosse este o caso, a discussão nem se colocaria,
considerando a própria posição da jurisprudência da Suprema Corte dos
Estados Unidos, antes referida37). O paradigma da autorregulação, por
sinal, é mesmo o de delegação (transferência regrada) de tais atividades
para a empresa, cujo aparato de supervisão e de controle difere daquele

36
AYALA GONZÁLEZ, Alejandro. Investigaciones internas: ¿zanahorias legis-
lativas y palos jurisprudenciales? InDret – Revista para el Análisis del Dere-
cho, Barcelona, nº 2, p. 270-303, esp. 288, feb./2020. DOI: 10.31009/InDret.
2020.i2.08.
37
United States Supreme Court, Burdeau v. McDowell, 256 U.S. 465, 1921: “1.
The United States may retain for use as evidence in the criminal prosecution
of their own incriminating documents which are turned over to it by private
individuals who procured them, without the participation or knowledge of any
government official, through a wrongful search of the owner’s private desk
and papers in an office”. (destacou-se). Disponível em: https://supreme.jus-
tia.com/cases/federal/us/256/465/. Acesso em: 30 mar. 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
632 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

próprio da investigação oficial. Essa não é, porém, a questão relevante a


ser enfatizada aqui.
À luz da perspectiva do sistema jurisprudencial dos Estados Uni-
dos, que legou também aos sistemas da tradição europeia-continental os
fundamentos do tema discutido, a necessidade de exclusão da prova ilícita
se restringiria à ação estatal porque o Estado é que detém os mecanismos
institucionalizados e profissionalizados de investigação, conduzidos em
uma esfera de poder capaz de elidir – na prática – os aparatos ordinários
de desincentivo (dissuasão) de práticas ilegais. O agente investigador
tem um aparato à sua disposição que pode ser desvirtuado para dificultar
ou impedir a apuração de sua responsabilidade. Desde o paradigmático
caso Weeks v. United States, de 1914, aliás, a Suprema Corte dos Estados
Unidos já aludia à “tendência daqueles que executam as leis penais do
país de obter elementos de convicção por meio de apreensões ilegais e de
confissões forçadas”, com “sujeição de acusados a injustificáveis práticas
destrutivas de direitos assegurados pela Constituição” que “provavelmente
não encontra nenhuma sanção nos julgamentos das cortes”38. E por que a
prática ilícita de agentes estatais não encontra sanção? A resposta parece
derivar do controle estatal do sistema investigativo, com habitualidade
e profissionalidade, em uma estrutura funcional de poder.
Por sua vez, o particular não dispõe dessa estrutura e dessas
funcionalidades. Os casos típicos na jurisprudência são de particulares
que encontram ocasião para obter prova ilícita, ou que a alcançam sem
intenção específica de ato contrário ao direito. Trata-se de um evento
esporádico – e, ainda que possa ser reiterado algumas vezes, normal-
mente não se constitui como exercício habitual e profissional e jamais
poderia ser institucionalizado. Para esse particular, não há justificação
para a renúncia do Estado à valoração da prova ilícita, porque o efeito
de desestímulo a atividades ilegais já se tem por cumprido mediante as
normas ordinárias de responsabilização penal (quando o ilícito constitua
também crime) e civil – de modo que não se justifica, para além disso,
suportar o custo social oriundo da exclusão da prova.

38
United States Supreme Court, Weeks v. United States, 232. U.S. 383, 1914.
Disponível em: https://supreme.justia.com/cases/federal/us/232/383/.
Acesso em: 30 mar. 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 633

No entanto, quando se transferem essas atribuições investigati-


vas para o marco interno da empresa, em relação aos eventos passíveis
de ocorrência como desdobramento da atividade empresarial intrínseca
(criminalidade na empresa) ou extrínseca (criminalidade de empresa)39,
já se tem um sistema normativo de autorregulação com funções investi-
gativas institucionalizadas, ainda que diversas, em suas características,
da investigação oficial. No seu próprio seio, a empresa tem o controle da
investigação, com amplas possibilidades manipulativas da descoberta dos
meios realmente empregados nas tarefas de apuração. Ademais, a aproxi-
mação aos fatos no domínio da empresa não se mostra imparcial40, e sim,
bem diversamente, interessada, já que movida pelo incentivo da isenção
ou atenuação de responsabilidade. O próprio programa de compliance,
por fim, pode ser propulsor de práticas investigativas desviadas, e não se
pode presumir que haja facilidade de fiscalização estatal a esse respeito,
considerando até mesmo que, por ser o destinatário e favorecido pelo
resultado probatório, o investigador público sequer terá ordinariamente
maior interesse na aferição da higidez dos meios empregados pela empresa
para a obtenção da prova.
Dessa forma, a empresa, como ente investigativo normativamente
reconhecido e disciplinado, precisa de desestímulo reforçado frente a
práticas investigativas desviadas. Apesar da ausência de interferência do
Estado ao longo da investigação, trata-se de modelo institucionalizado.
Além disso, a circunstância de ser o Estado destinatário habitual – e não
esporádico – do resultado probatório também qualifica a necessidade de
desestímulo reforçado a práticas vulneradoras de direitos fundamentais,

39
A distinção entre criminalidade de empresa (Unternehmenskriminalität)
e criminalidade na empresa (Betriebskriminalität) se deve a Schünemann.
Confira-se em: SCHÜNEMANN, Bernd. Cuestiones básicas de dogmática
jurídico-penal y de política criminal acerca de la criminalidad de empresa.
Trad. de Daniela Brückner y Juan Antonio Lascuraín Sánchez. In: SAGGE-
SE, Silvina Bacigalupo; SÁNCHEZ, Bernardo José Feijoo; BASALDÚA, Juan
Ignacio Echano (Coord.). Estudios de Derecho penal: Homenaje al profesor
Miguel Bajo. Madrid: Editorial Centro de Estudios Ramón Areces, 2016, p.
529-558, esp. 529.
40
Mencionando esse ponto como desvantagem: NEIRA PENA, Ana María. La
instrucción de los procesos penales frente a las personas jurídicas. Valencia: Ti-
rant lo Blanch, 2017, p. 343.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
634 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

o que só pode ser cumprido pelo efeito de exclusão. É o que aqui se de-
fende, com base nos fundamentos centrais da regra de exclusão e de seus
desdobramentos, que superam o argumento levantado, à luz da realidade
da autorregulação empresarial, quanto à ausência de vínculo da empresa
com a investigação criminal oficial.
Por fim, o segundo ponto indicado pelo Tribunal Supremo da
Espanha41, sobre a exigência de que não haja intenção prévia do par-
ticular de alcançar prova para uso em futuro processo penal, de igual
modo não se aplica à investigação empresarial interna, uma vez que o
próprio modelo de autorregulação implica que a empresa obtenha a prova
precisamente para colaboração com as autoridades, com a finalidade de
afastar sua própria responsabilidade. O objetivo, naturalmente, não é o de
“prefabricar” prova, como observa Ayala González, advertindo que não
haveria tal aspecto se as provas chegam mais tarde a ser incorporadas a
um procedimento penal42. Mais uma vez, entretanto, este não parece ser
o ponto essencial. A questão é que a empresa obtém a prova com o intuito
prévio de fornecê-la depois às autoridades para uso em um processo penal,
o que, associado aos demais aspectos aqui observados, oferece potenciais
particulares de manipulação, que devem ter desestímulo reforçado com
a exclusão da prova.

4. O problema da validade e do valor da prova ( lato sensu )


obtida nas investigações empresariais internas : transgressão
de garantias processuais nas investigações intraempresariais

Antes de tudo, cumpre considerar as dificuldades de atribuição de


validade e de valor probatório, com o sentido estrito exposto no tópico 2

41
Tribunal Supremo, España. Sentencia del Tribunal Supremo (STS) nº
116/2017, Sala de lo Penal, Ponente: Manuel Marchena Gómez, 23 febre-
ro 2017. Disponível em: https://vlex.es/vid/667933841. Acesso em: 30
mar. 2023.
42
AYALA GONZÁLEZ, Alejandro. Investigaciones internas: ¿zanahorias legis-
lativas y palos jurisprudenciales? InDret – Revista para el Análisis del Derecho,
Barcelona, nº 2, p. 270-303, esp. 288-289, feb./2020. DOI: 10.31009/InDret.
2020.i2.08.

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 635

(supra), aos elementos obtidos na investigação empresarial interna com


potencial afetação a garantias processuais.
Alguns fatores merecem destaque no presente tópico: (i) A vali-
dade dos elementos obtidos em diligências potencialmente vulneradoras
de garantias processuais, a exemplo de inquirições de testemunhas e
investigados, acareações, perícias internas etc.; (ii) O valor informativo-
-probatório dos dados assim obtidos, à luz da categorização entre prova
(stricto sensu) e elemento informativo da fase investigativa (art. 155,
caput, do CPP brasileiro).
Em primeiro lugar, observe-se que a ausência de regulação nor-
mativa específica e uniforme dos procedimentos instrutórios de inves-
tigação empresarial interna reflete um problema particular da maior
envergadura43, uma vez que conduz a esforços em direções muito diversas
na busca, por analogia, de padrões aproximados àqueles dos procedi-
mentos oficiais, relativamente à observância das garantias processuais
afetáveis. Não se pode deixar esse problema para a regulação interna de
cada empresa, sem parâmetros seguros para que o órgão jurisdicional
depois aprecie a possibilidade de utilização dos elementos informativos
na persecução penal44.
Esclarecido esse ponto, algumas aproximações podem ser pen-
sadas, considerando-se a realidade já instalada, inclusive no Brasil, de
autorregulação empresarial e a correlata legitimação normativa das in-
vestigações internas.
Não se pode, como antes observado, equiparar a investigação
interna a uma investigação oficial, em sentido substitutivo, uma vez que

43
Sobre procedimentos aplicáveis à entrevista, consulte-se: BONFANTE, Filipe
Gollner; HADDAD, Regina; GIEREMEK, Rogeria. Condução de entrevista em
investigações internas. In: FRANCO, Isabel (Org.). Guia prático de complian-
ce. Rio de Janeiro: Forense, 2020, p. 159-171, esp. 164-167.
44
Uma problemática especial a ser apreciada, na esfera dos procedimentos, é a
da cadeia de custódia da prova, analisada detalhadamente em: JANUÁRIO, Tú-
lio Felippe Xavier. Cadeia de custódia da prova e investigações internas em-
presariais: possibilidades, exigibilidade e consequências processuais penais
de sua violação. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v.
7, n. 2, p. 1453-1510, mai./ago. 2021. DOI: 10.22197/rbdpp.v7i2.453. Dispo-
nível em: https://revista.ibraspp.com.br/RBDPP/article/view/453. Acesso
em: 31 maio. 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
636 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

faltam na primeira, inerentemente, vários atributos fundamentais, como,


por exemplo: a) não há garantia de independência do investigador privado,
normalmente um advogado interno ou outro subordinado na estrutura
da empresa; mesmo em relação ao compliance officer, não há segurança
quanto à sua independência no desempenho de funções investigativas;
b) a ausência de oficialidade de depoimentos e perícias, enquanto atos
não compromissados, diminui seu valor como potencial meio probatório
(sentido amplo); c) a relação de subordinação de investigados e testemu-
nhas em relação à própria empresa também enfraquece a expectativa de
busca da verdade; d) a atuação da empresa à luz de seus próprios interesses
afasta qualquer expectativa de impessoalidade.
A título de exemplo: é válido, na persecução penal oficial, o
resultado de inquirição de testemunha ou do próprio investigado con-
duzida por advogado ou outro encarregado da empresa? Tomem-se
algumas variáveis:
(a) Se o depoimento envolveu coação, fraude, erro ou outro vício
de consentimento, o ato é inválido. É assim, naturalmente, também no
âmbito oficial. A ausência de oficialidade no marco interno da empresa,
porém, impõe cautelas adicionais na demonstração da validade. Isso
pode ser amenizado pela exigência de gravação do depoimento. Não se
resolve, de toda sorte, a falta de oficialidade do ato, o que – assim como
outros aspectos – impõe a identificação de um caráter complementar,
e não substitutivo, da investigação empresarial interna frente ao âm-
bito oficial. A utilidade da investigação interna radica muito mais na
identificação de fontes de prova para futura exploração pelas autoridades
públicas – não devendo ser alimentadas expectativas de produção de
elementos com valor probatório (sentido amplo). Além disso, tem-se
a vantagem da imediatidade da empresa na obtenção do dado informa-
tivo, o que de igual modo não exime os órgãos de persecução penal de
uma apuração posterior. Assim, mesmo com o cumprimento de todas
as cautelas aplicáveis na esfera da empresa, as autoridades públicas
deverão adotar diligências no sentido de corroboração dos resultados
da investigação intraempresarial.
(b) No caso do investigado, e mesmo no da pessoa identifi-
cada como testemunha, devem ser asseguradas a assistência de defe-
sa técnica e o direito à não autoincriminação. Esse ponto é também

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
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problemático45, considerando a relação de subordinação na empresa. O


empregado que se recusar a declarar poderá, na prática, ser despedido.
Como observa Neira Pena, o direito de não se autoincriminar protege
o sujeito do uso processual de suas declarações, mas não o protege de
uma demissão injusta46. Não se pode, de toda sorte, emprestar valor
informativo ao depoimento de um investigado sem a observância
dessas garantias mínimas. A confissão prestada sem isso tampouco
teria validade. É preciso que o investigador privado advirta o sujeito
acerca de seus direitos, inclusive o de guardar silêncio, assim como
das implicações de suas declarações, informando-o também sobre a
posição e os interesses da própria empresa47. Por fim, resulta de igual
modo inaceitável, no contexto de uma investigação interna, a gravação
ambiental clandestina, por um interlocutor, da confissão manifestada
por outro, o que também ofende o direito de não se autoincriminar. Essa
hipótese é diversa daquela em que, fora de um contexto investigativo,
um interlocutor particular grava a conversa do outro (hipótese em que
devem ser consideradas as circunstâncias concretas da gravação para
que se possa apreciar sua licitude).
Não parece aceitável que tais regulações fiquem restritas, com
ampla liberdade, ao contrato de trabalho, como ocorre no sistema

45
Para um estudo específico e detalhado desse problema, consulte-se: GRECO,
Luís; CARACAS, Christian. Internal investigations e o princípio da não auto-
-incriminação, p. 787-820. In: LOBATO, José Danilo Tavares; MARTINELLI,
João Paulo Orsini; SANTOS, Humberto Souza (Org.). Comentários ao Direito
Penal Econômico Brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido, 2018, p. 787-820.
46
NEIRA PENA, Ana María. La instrucción de los procesos penales frente a las
personas jurídicas. Valencia: Tirant lo Blanch, 2017, p. 363.
47
Em direção semelhante, sustentam Caio Antonietto e Douglas da Silva: “Para
que se possa aproveitar no processo penal o conteúdo das declarações pres-
tadas pelo empregado em sede de investigação interna, mais do que deixar
claro para quais fins o procedimento se destina (se visa colaborar com as
autoridades ou somente para detecção de deficiências internas), é preciso
que tenha sido oportunizado ao investigado, em primeiro lugar, saber em que
condição é ouvido e, em segundo lugar, a destinação que se dará aos seus re-
latos, deixando evidenciado, desde logo, que o procedimento não é imparcial
e visa, sobretudo, os interesses da empresa”. ANTONIETTO, Caio Marcelo
Cordeiro; SILVA, Douglas Rodrigues da. Aproveitamento de investigações in-
ternas como prova no processo penal. Revista Brasileira de Ciências Criminais,
São Paulo, v. 156, jun./2019, p. 61-90, esp. 71.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
638 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

norte-americano, o que, entre outros problemas, permitira que os ór-


gãos de persecução penal utilizassem a esfera empresarial para obter
elementos probatórios em um ambiente privado dispensado do respeito
às garantias constitucionais.
Assim, a atribuição de validade ao resultado do ato investigativo
interno depende da observância das garantias processuais aplicáveis, da
corroboração posterior pelas autoridades públicas e do estrito controle
de sua validade e veracidade. Sem esse parâmetro mínimo, não pare-
ce tolerável conferir valor informativo ao dado obtido na investigação
intraempresarial.
Superada a questão da validade, deve-se dimensionar adequada-
mente o valor do resultado informativo obtido. Como antes indicado, no
sistema processual penal brasileiro, é preciso levar em conta a distinção
entre elemento informativo e prova (sentido estrito).
A investigação empresarial interna se desenvolve em um âmbito
interessado e sem supervisão judicial no momento de sua realização.
Não se atribui valor probatório (sentido estrito) aos dados obtidos na
investigação intraempresarial, da mesma forma que ocorre na esfera
da própria investigação oficial. O valor é de elemento informativo da
fase pré-processual, condicionado à observância de garantias mínimas
e à corroboração posterior no marco oficial, assim como limitado a
estas cogitáveis finalidades: (a) servir de base ao exame sobre a exis-
tência ou não de justa causa para o exercício de ação penal; (b) servir
de referência secundária e complementar na formação do conven-
cimento do juiz, após submissão ao contraditório diferido. Uma vez
consagrado o sistema de juiz das garantias, porém, o ponto (b) ficaria
marcantemente prejudicado, considerando que os próprios elementos
do procedimento investigativo oficial não poderão ser levados ao co-
nhecimento do juiz da instrução e do julgamento, senão os que digam
respeito a provas cautelares, não repetíveis ou antecipadas (art. 3º-C,
§ 3º, do CPP, incluído pela Lei nº 13.964/2019). Assim, resultados de
inquirições e perícias internas ficam com seu valor limitado ao exame
pré-processual de justa causa.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 639

C onsiderações finais

A partir da análise desenvolvida, podem ser apresentadas as


seguintes respostas aos problemas inicialmente formulados:
(a) No plano da licitude: Não é possível utilizar e valorar, no
processo penal, a prova obtida na investigação empresarial interna com
vulneração a direitos fundamentais materiais, vale dizer, a prova ilícita.
A proteção constitucional de direitos fundamentais (art. 5º, LVI, da
Constituição Federal) contra ações invasivas ilícitas se aplica também a
particulares (e não só ao Estado). Segundo a orientação aqui sustentada,
esse aspecto pode ceder a temperamentos no âmbito probatório, para
o efeito de admissibilidade do uso e da valoração da prova ilicitamente
obtida por um particular em um contexto isolado e esporádico, o que se
justifica pelos fundamentos da regra de exclusão da prova ilícita, relacio-
nados à necessidade de desestímulo reforçado dirigido especificamente
a agentes estatais. Esses temperamentos, entretanto, não podem ser
aplicados à investigação empresarial interna, em virtude de sua equi-
paração às investigações estatais no que diz respeito à habitualidade e
à institucionalidade do desempenho empresarial de funções investiga-
tivas, em um contexto de controle, o que evidencia a necessidade de
desestímulo reforçado frente a práticas de obtenção de prova ilícita no
seio da empresa privada.
(b) No plano da validade e do valor: Considerando o direito pro-
cessual penal brasileiro vigente, os resultados obtidos no seio da própria
empresa em um procedimento investigativo interno com potencial vulne-
ração de garantias processuais são comparáveis a elementos informativos
da fase de investigação preliminar (art. 155, caput, do CPP), enquanto fonte
de justa causa para a ação penal, com a questionável possibilidade adicio-
nal de influência secundária no convencimento do juiz. Esses resultados
carecem dos atributos da oficialidade e da impessoalidade, o que impõe,
para que se identifique o referido valor de elemento informativo, o estrito
e demonstrado respeito às garantias processuais afetáveis. Isso não exime
as autoridades públicas da realização de diligências de corroboração. Para
além disso, a atividade empresarial investigativa encontra sua utilidade
na identificação de fontes de prova. Em nenhum caso poderá haver
valor probatório (stricto sensu), como base principal para a formação do

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
640 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

convencimento judicial (art. 155, caput, CPP), nos elementos obtidos


em uma investigação empresarial interna. Destaca-se, nesse cenário, a
necessidade de regulação normativa específica de um procedimento de
investigação intraempresarial.

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Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840 | 643

Authorship information
Sérgio Bruno Araújo Rebouças. Professor Adjunto de Direito Processual Penal na
Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutor cum laude
em Direito Penal pela Universidade de Sevilha (US). Coordenador do Programa
de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade Federal do Ceará
(2022-2024). Advogado, parecerista e consultor jurídico nas áreas de Direito
Penal Econômico e da Empresa e Direito Processual Penal. [email protected]

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Conflict of interest declaration: the author confirms that there are


no conflicts of interest in conducting this research and writing
this article.

Declaration of authorship: all and only researchers who comply


with the authorship requirements of this article are listed as
authors; all coauthors are fully responsible for this work in its
entirety.

Declaration of originality: the author assured that the text here


published has not been previously published in any other resource
and that future republication will only take place with the express
indication of the reference of this original publication; she also
attests that there is no third party plagiarism or self-plagiarism.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
644 | Araújo Rebouças, Sérgio Bruno.

Editorial process dates


(https://revista.ibraspp.com.br/RBDPP/about)

▪ Submission: 31/03/2023 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 02/04/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 27/04/2023 ▪ Associated-editor: 1 (AMNP)
▪ Review 2: 01/05/2023 ▪ Reviewers: 2
▪ Preliminary editorial decision: 25/05/2023
▪ Correction round return: 31/05/2023
▪ Final editorial decision: 18/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


ARAÚJO REBOUÇAS, Sérgio B. Licitude e validade da prova
penal nas investigações empresariais internas. Revista Brasileira
de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 609-644, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.840

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 609-644, mai.-ago. 2023.
Unlocking the mystery of internal investigation:
the use of information from private internal
investigations in the Polish criminal process

Desbravando os mistérios das investigações internas:


o uso de informações oriundas de investigações
corporativas internas no processo penal da Polônia

Andrzej Sakowicz1
University of Bialystok, Bialystok, Poland
[email protected]
http://orcid.org/0000-0001-6599-4876

Sebastian Zieliński2
Warsaw University of Technology, Warsaw, Poland
[email protected]
https://orcid.org/0000-0002-8443-8944

Abstract: This study aims to present the problems associated with


the use of information from private internal investigation in a criminal
process. The paper first presents the essence, functions, limits, and
purposes of internal investigations, taking into account legal restrictions,
including constitutional ones. Further in the paper, the authors critically
analyze the possibility of using materials obtained and produced in
internal investigations in criminal proceedings. A significant number
of internal investigations are conducted by attorneys. Therefore, the
paper also evaluates the permissibility of abolishing the attorney-client
privilege and of the court or the law enforcement agencies obtaining
the materials produced by an attorney in the course of an internal

1
Professor at the University of Bialystok, Poland; the Faculty of Law; the Depart-
ment of Criminal Procedure. PhD in Law.
2
Assistant Professor at the Warsaw University of Technology, Poland; the Faculty
of Administration and Social Sciences; the Department of Administrative Law
and Public Policy. PhD in Law.

645
646 | Sakowicz; Zieliński.

investigation or questioning of the lawyer. Having an attorney


conduct an internal investigation improves the security of the
information produced in the course of the internal investigation, as
the materials are covered by the attorney-client privilege. However,
one should bear in mind that in Poland this is not an absolute
protection. The considerations led the authors to the conclusion
that internal investigations are a valuable tool of the system for
preventing irregularities in corporations and an important source
of materials that can be used in criminal proceedings.
Keywords: internal investigation; obtained evidence; attorney-client
privilege; criminal proceedings; compliance investigation; Poland.

Resumo: Este estudo visa a apresentar os problemas associados ao uso de


informações de investigação interna privada em um processo criminal. O
trabalho descreve inicialmente a essência, as funções, os limites e as finalida-
des das investigações internas, levando em consideração as restrições legais,
inclusive constitucionais. Mais adiante, os autores analisam criticamente a
possibilidade de utilização em processos criminais de materiais obtidos e
produzidos em investigações internas. Um número significativo de investi-
gações internas é conduzido por advogados. Portanto, o trabalho também
discute a amplitude do privilégio advogado-cliente e do tribunal ou dos órgãos
persecutórios obterem os materiais produzidos no curso de uma investigação
interna ou interrogatório do advogado. Ter um advogado conduzindo uma
investigação interna melhora a segurança das informações produzidas no
decorrer da investigação interna, pois os materiais são cobertos pelo sigilo
advogado-cliente. No entanto, deve-se ter em mente que na Polônia esta não
é uma proteção absoluta. As considerações levaram os autores à conclusão
de que as investigações internas são uma valiosa ferramenta do sistema
de prevenção de irregularidades nas empresas e uma importante fonte de
materiais que podem ser utilizados em processos criminais.
Palavras-chave: investigações internas; meios de obtenção de prova; sigilo
cliente-advogado; processo penal; compliance; Polônia.

I. Introduction

The role of organizations (corporations) in modern societies


of developed countries is aptly reflected in Peter Drucker’s concept of
“society of organizations.” Drucker stresses that in this type of society

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 647

“most, if not all, social tasks are done in and by an organization” and this
applies as much to commerce as it does to healthcare, social welfare, and
the military3. Organizations, including corporations, are equal participants
in legal relations in the field of civil and administrative law. Over time,
it was also recognized that the admissibility of their criminal liability
should be considered, for the Latin phrase societas delinquere non potest
is inconsistent with the current reality. Edwin Sutherland reached similar
conclusions. His research shows that corporations resemble professional
criminals in their pathological behavior. Only some of their “deeds” come
to light, and even if they do, corporations do not lose the “high” status they
enjoy among other actors in the “market.”4 Almost all of the corporations
surveyed by E. Sutherland had committed punishable violations of law.
Most of them were considered by Sutherland to be repeat offenders5. It
must be admitted that Sutherland’s research and its conclusions have
received considerable criticism6. However, the estimation of the size of
the phenomenon of corporate wrongdoings made by E. Sutherland was
later confirmed by, among others, Marshall Clinard and Peter Yeager, as
well as Irwin Ross7. The literature emphasizes the need to separate the
acts and culpability of individuals (managers, agents, and employees)
from the culpability of the corporation for which these individuals acted8.
Corporate crime is thus different from white collar-crime9.

3
DRUCKER, Peter. Post-capitalist society. London: Butterworth-Heinemann,
p. 44, 1993.
4
SUTHERLAND, Edwin Hardin. Crime of Corporations, The Sutherland Pa-
pers, pp. 78-95, 1956. Reprint In: ORLAND, Leonard. Corporate and White
Collar Crime: An Anthology. Cincinnati Ohio: Anderson Publishing Co., pp.
105-106, 1995.
5
SUTHERLAND [1956], p. 99.
6
ORLAND, Leonard. Reflections on Corporate Crime: Law in Search of Theory
and Scholarship. American Criminal Law Review. vol. 17, pp. 501-520. 1980.
7
CLINARD, Marshall B.; YEAGER, Peter C. Illegal Corporate Behavior, 1979.
Reprint In: ORLAND [1995], p. 106; ROSS, Irwin. How Lawless Are Big
Companies? Fortune. pp. 56-72, 1980. Reprint In: ORLAND [1995], p. 114.
8
SCHRAGER, Laura S.; SHORT, JR. James F. Toward a Sociology of Organiza-
tional Crime. Social Problems, vol. 25, n. 4, pp. 407-419. 1978, https://doi.
org/10.2307/800493.
9
Corporate crime is defined as illegal acts involving actions or omissions by
an individual or a group of individuals in a legitimate formal organization in

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
648 | Sakowicz; Zieliński.

The need for the concepts of white-collar crime and corporate


crime to coexist was extensively justified in 1984 by Brent Fisse in his
work titled “The Duality of Corporate and Individual Criminal Liability10.”
From the perspective of this paper, one of the arguments presented by
Brent Fisse in support of the proposition concerning the validity of the
aforementioned duality of liability is extremely relevant. Fisse claims that
the first argument justifying the need for coexistence of both concepts
(i.e. punishing simultaneously the members of a corporation for their own
acts and the corporation itself for a “corporate crime”) is the existence
of a kind of conspiracy of silence - the corporation’s secret. When a
corporation is accused of irregularities, its personnel become silent, either
out of loyalty to their co-workers or for fear of being fired. According to
B. Fisse, the introduction of criminal liability of corporations eliminates
this problem. If a corporation is to be liable for irregularities committed
by its employees (managers, agents, etc.), it will itself seek to eliminate the
wrongdoers and punish every person liable those irregularities (and no one
else)11. Corporations often seek to punish the perpetrators not so much
out of a need for justice, but to mitigate their own potential legal liability12.
Regardless of the indicated motives, it is necessary to initiate an internal
investigation. For this to happen, the corporation’s internal regulations
should specify the procedure and rules for conducting the investigation. On
the one hand, the existence of an internal act establishing a whistleblowing

connection with the operational objectives of that organization that have a


serious physical or economic impact on employees, consumers, or the gener-
al public, see SCHRAGER, Laura S.; SHORT, JR. James F. Toward a Sociology
of Organizational Crime. Social Problems, vol. 25, n. 4, pp. 407-419. 1978,
https://doi.org/10.2307/800493.
10
FISSE, Brent. The Duality of Corporate and Individual Criminal Liability.
In: HOCHSTEDLER, Steury Ellen. (ed.). Corporations as criminals. Beverly
Hills: Sage Publications, p. 168. Reprint In: CROALL, Hazel. Corporate Crime
Vol. 1, Corporate Crime: Issues of Definition, Construction and Research,
Sage Publications, Thousand Oaks, California, 2009.
11
FISSE [1984], pp. 167-178.
12
This argument will be referred to again later in this paper, because it empha-
sizes the importance of internal investigations for demonstrating the due dil-
igence of a corporation, which should be one of the most relevant criteria for
assessing the criminality of the corporation’s “behavior,” and therefore should
significantly affect the severity of the penalty imposed on the corporation.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 649

system indicates an authentic commitment of the corporate management to


the policies pursued and the values proclaimed, when there is information
that indicates that the behavior of the company’s employees violates law
or ethical principles, or takes the form of unacceptable practices. On the
other hand, such an internal act should specify for current and former
employees the rules of internal conduct. In particular, it should identify
the body that analyzes the information received, its composition, and the
rules of appointment and the powers of its members (e.g. hearing the
parties involved in the investigation and the witnesses, and the rules of
collection and analysis of any evidence).
The main purpose of the paper is to present the possibility of
using materials from corporations’ private internal investigations in
criminal proceedings in Poland. This issue is interesting for several
reasons. First, in the Polish legal system, there are no defined rules
for internal investigations and, therefore, it is necessary to establish
the legal boundaries of private internal investigations. This fact results
significant problems in the proper collection of information in internal
investigations and in the further procedural use of such information and
materials in criminal proceedings. Second, in Polish criminal proceedings,
the position of corporations as the aggrieved parties is strong. They can
actively participate in criminal proceedings and thus use the information
from its internal investigations. Third, many of the internal investigations
are conducted by attorneys. This is also true of internal investigations in
Poland. Therefore, the paper analyzes the issue of attorney-client privilege
in the context of internal investigations and the possibility of obtaining
information from an attorney in a criminal trial by law enforcement
agencies or the court. Along with these issues, the essence, functions, and
types of internal investigations must be presented. Due to the scope of this
publication, the issue of whistleblower protection has been deliberately
omitted. Recognizing the importance of this issue, we would only like
to point out that Poland, as a member of the European Union, has not
yet implemented Directive (EU) 2019/1937 of the European Parliament
and of the Council of October 23, 2019 on the protection of persons
who report breaches of Union law13, which requires member states to

13
Official Journal of the European Union of November 26, 2019, L 305/17.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
650 | Sakowicz; Zieliński.

implement regulations providing protection to whistleblowers, including


the establishment of internal procedures for reporting violations covered
by that directive14. Therefore, currently the Polish legal system lacks a
comprehensive regulation dedicated to the protection of whistleblowers.
Reporting of violations of the law and protection of whistleblowers are
possible primarily under the Labor Code. In particular, protection of
an employee who has reported a violation of law from the employer’s
retaliation is possible under the provisions on the principle of non-
discrimination in employment (Article 183a (1) of the Labor Code)15 and
on the violation of the principle of equal treatment (Article 183b (1) of
the Labor Code), as well as those provisions that govern the employer’s
obligation to prevent discrimination in employment (Article 94 (2b) of
the Labor Code).

II. Functions and types of internal investigations

An internal investigation is usually defined as an inquiry


conducted by, or on behalf of, an organization in an effort to discover
salient facts pertaining to acts or omissions that may generate legal
liability16. Internal investigations are widely regarded as “an integral part
of the successful defense of corporations against charges of misconduct,
as well as an important board and management tool for assessing
questionable practices.”17

14
The provisions of Directive 2019/1937 apply to entities operating both in the
public sector and in the private sector. As far as private entities (in particular
companies) are concerned, the obligations set out in Directive 2019/1937
related to internal reporting procedures apply to entities with at least 50 em-
ployees or those engaged in financial services.
15
This is dictated by the fact that the Polish Labor Code has an open catalog of
prerequisites for considering actions as discriminatory, and these provisions
can also be applied to discrimination against an employee who has reported
a violation of law.
16
DUGGIN, Sarah Helene. Internal Corporate Investigations: Legal Ethics, Pro-
fessionalism and the Employee Interview. Columbia Business Law Review.
no. 3, p. 864. 2003.
17
BENNETT, Robert S.; KRIEGEL, Alan; RAUH Carl S.; WALKER Charles F. In-
ternal Investigations and the Defense of Corporations in the Sarbanes-Oxley

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 651

An internal investigation can be initiated and conducted for various


purposes. Corporate internal investigations may serve preventive purposes
by identifying and stopping ongoing violations or developing an informed
basis for responding to any civil or criminal action based on the possible
wrongdoing18. A preventive internal investigation can aim to identify
potential weaknesses in internal compliance procedures and to seal the
corporation’s fraud prevention system. Of similar nature are those internal
investigations that aim to assess the legal situation of a company, e.g. in
connection with M&A transactions. This type of internal investigations
is hereafter referred to as due diligence investigations19 and is used to
obtain information about the actual state of the corporation, including the
procedures in place. In particular, due diligence investigations are aimed at
assessing the risk of irregularities (including crimes) in the corporation’s
operations and evaluating the compliance system already in place. Due
diligence investigations can therefore be considered a tool that allows
the corporation to detect those elements that may cause irregularities at
early stages. Due diligence investigations should be conducted periodically
and also every time there is a change in the regulatory environment in
which the corporation operates. This type of monitoring of the proper
functioning of a corporation is usually optional. The obligation to conduct
it, however, may arise from legislation which clearly forces corporations
to take care of the integrity of their own procedures.
The second group of internal investigations are those carried
out to obtain evidence for the company’s defense in proceedings that
have already been initiated, regardless of the liability regime (civil, tax,
administrative, or criminal proceedings). This process is aimed to establish

Era. The Business Lawyer. vol. 62. n. 1. pp. 55-88, 2006.


18
STEWART, David Overlock. Basics of Criminal Liability for Corporations and
Their Officials and Use of Compliance Programs and Internal Investigations.
Public Contract Law Journal. vol. 22, p. 94. 1992; see also JANUÁRIO, Túlio
Felippe Xavier. Cadeia de custódia da prova e investigações internas empre-
sariais: possibilidades, exigibilidade e consequências processuais penais de
sua violaçã. Revista Brasileira de Direito Processual Penal. vol. 7, n. 2, pp. 1453-
1508, https://doi.org/10.22197/rbdpp.v7i2.453.
19
MICHELS, Kevin H. Internal Corporate Investigations and the Truth. Se-
ton Hall Law Review. vol. 40, pp. 84-89. 2010, https://doi.org/10.2139/
ssrn.1481412.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
652 | Sakowicz; Zieliński.

facts and sources of evidence in proceedings initiated by or pending against


the corporation. It can also be used to obtain the information necessary
to provide sound legal advice. This type of internal investigations is
hereinafter referred to hereafter as counseling investigations20.
Counseling investigations are used by corporations to obtain
information that is useful for defending their interests in proceedings that
are already underway. Internal investigations in this area serve the purpose
of obtaining the maximum amount of data to defend against allegations
formulated against corporations, which may give rise to their legal liability
or form the basis of the corporations’ claims against other entities. The
proper conduct of this process is sometimes important not only in criminal
cases, but also in civil proceedings. By way of example, in the Polish
legal system, in civil proceedings, the plaintiff (possibly a corporation)
is obliged to cite all claims and evidence in the lawsuit, and the defendant
is obliged to do so in the response to the lawsuit21. As a rule, any claims
and evidence that are relied on at later stages are disregarded. a properly
conducted counseling investigation then serves to establish and evaluate
all the circumstances that may affect the corporation’s legal position in
the trial and to determine all the claims that the corporation should raise
in the trial (or to which it should refer in the trial) and the evidence
to support them. Establishing these circumstances in cases involving
criminal proceedings to which the corporation is a party is, of course,
no less important. In the case of criminal proceedings relating to crimes
committed against a corporation, the corporation should establish all the
circumstances related to the perpetration of the crimes and determine
the nature and extent of the damage so as to be able to effectively seek
redress. In the case of criminal proceedings against a corporation, an
internal investigation serves to weaken the asymmetry of information

20
MICHELS [2010], p. 89..
21
It should be added that in a situation where a party fails to provide evidence
within the time limit specified by the court, any evidence provided later is
subject to dismissal, unless the party demonstrates that it is plausible that
it could not be provided earlier or that the need to provide it arose later. In
such a case, further claims and evidence in support thereof should be pre-
sented within two weeks from the date on which their presentation became
possible or the need to prove them arose (Article 4585 of the Code of Civil
Procedure).

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 653

between procedural authorities and the corporation’s managers. In the


case of criminal proceedings against individuals, it is those individuals
who know best whether they have committed a crime, whether they
have an alibi, and whether they have concealed evidence unfavorable to
themselves. The accused persons usually have full knowledge of their
own behavior. In the case of criminal proceedings against corporations,
sometimes the corporations’ managers have either no knowledge of the
criminal behavior (e.g. when the proceedings concern the behavior of
a company’s previous managers) or their knowledge is fragmentary. In
such a situation a properly conducted internal investigation may be the
only tool for the current management of the corporation to find out the
relevant circumstances of the case. Knowledge of such circumstances
is necessary to provide the corporation with a fair defense strategy
in eventual proceedings against the company. Therefore, it should be
considered that ascertaining such circumstances (and thus conducting
an internal investigation) can be seen in the category of exercising due
diligence by a manager obliged to care for the welfare of the corporation.
The third type of internal investigations are those aimed at
identifying and stopping ongoing violations or establishing (or confirming)
that irregularities have occurred in the past. Such investigations are
initiated when a corporation has become aware of internal wrongdoings
of its employees or managers (e.g. as a result of whistleblowing, third-
party complaints, or media information) and is taking steps to verify
this information22. This type of internal investigations, which Michels
refers to as reliance and duty investigations23, is the main focus of this
paper. Reliance and duty investigations are initiated when there is
reasonable suspicion that irregularities have occurred within a corporation.
Importantly, they are conducted in secret, without the knowledge of
and in isolation from any activities carried out by authorities. As a rule,
despite, for example, the suspicion that a crime has been committed,
internal investigations of this type are conducted without notifying law
enforcement authorities. In Poland, corporations - like individuals - do not,

22
MICHELS [2010], p. 89.
23
MICHELS [2010], p. 89.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
654 | Sakowicz; Zieliński.

as a rule, have a legal obligation to report a crime24. If it is determined that a


crime has been committed inside a corporation, the decision to disclose this
information and notify procedural authorities rests with the corporation’s
management. At first glance, therefore, it may seem that such an internal
investigation - regardless of the outcome - is a win-win situation. If an
internal investigation does not provide materials to confirm irregularities,
this is a good outcome, as no crime has been committed and the company
faces no risk of legal liability. If an internal investigation proves that a
crime has been committed, then the corporation’s managers are able to
keep this information to themselves. Of course, this is not very simple.
Petter Gottschalk points out that typical elements of an internal
investigation include extraordinary examination of suspicions of
misconduct and crime with goal-oriented data collection based on a
mandate defined by and with the client. At the same time, the purpose of
such an investigation is to clarify facts, analyze events, identify reasons
for incidents, and evaluate system failure and personal misconduct25. In
one of his works, Gottschalk also points out the different levels of private
internal investigations, which include “activity investigation,” “problem
investigation,” “evidence investigation,” and “value investigation.”26
These levels represent the successive stages of maturity of an internal
investigation. An activity investigation is focused exclusively on activities
that may have been performed in a reprehensible way (answering the
question: What happened?) and the next level, problem investigation,
is focused on problems and issues that must be solved and clarified

24
According to Article 304 of the Polish Code of Criminal Procedure, anyone
who has learned that a crime prosecuted ex officio has been committed has
only a social obligation to notify a public prosecutor or the Police. It is only
punishable to fail to report a crime included in an exhaustive list of criminal
offenses that are not typical corporate crimes (including, but not limited to,
crimes against life and health, and crimes against sexual freedom and moral-
ity – as provided for in Article 240 of the Polish Criminal Code).
25
GOTTSCHALK, Petter; CHAMBERLAIN, John Martyn. Limits to private in-
ternal investigations of white-collar crime suspicions: The case of Scandi-
navian bank Nordea in tax havens. Cogent Social Sciences, vol. 2, no. 1, p. 4.
2016, https://doi.org/10.1080/23311886.2016.1254839.
26
GOTTSCHALK, Petter. Maturity levels for private internal investigations. In-
ternational Journal of Police Science & Management. vol. 19, no. 4, pp. 285-293.
2017, https://doi.org/10.1177/1461355717733139.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 655

(answering the question: How did it happen?). The latter model does not
merely seek information about the irregularities that have occurred, but
also seeks to answer the question of what has caused them. The evidence
investigation level refers to internal investigations that are focused on
revealing something that is kept hidden, and therefore on uncovering a
kind of corporation’s secret mentioned earlier. Gottschalk points out that
in this model, “Examiners choose their tactics to ensure success in the
disclosure of any possible misconduct and white-collar crime. They are
looking for the unknown.” The additional goal is to answer the question
of why did wrongdoings occur. The last level, value investigation, is
focused “on the value for the client being created by the investigation”
and its purpose is “to create something that is of value to the client; it
may be valuable new knowledge, the settling of disagreements about past
events, external opinions, and input to change management processes.”
Notwithstanding the above, each level of internal investigation results
in a “product” - usually a report or a memorandum - which can serve as
a source of evidence in future criminal proceedings.
A report resulting from an internal investigation should include, at
a minimum, a presentation of the scope of the investigation, the established
chronology of events, the methodology adopted for the examination, the
collection of documents, data, and other information on which the report’s
assertions were based, as well as recommendations for the corporation’s
further conduct. Providing the above scope of reliable information to
a corporation’s managers is one of the obvious functions of internal
investigations. An internal investigation may or may not lead to the
initiation of a criminal trial. One of the differences between a private
internal investigation and a police investigation is the fact that the goal
of the former is more often to evaluate potential for economic crime
to occur and to get rid of the issue internally rather than through the
involvement of the police27.
This paper focuses on the general usefulness of internal
investigations and the admissibility of the use of the information collected
therein in a criminal trial. Notwithstanding the above, it should be pointed
out - to summarize the general considerations so far - that a corporation

27
GOTTSCHALK, CHAMBERLAIN [2016], p. 4.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
656 | Sakowicz; Zieliński.

may assume several distinct roles in criminal proceedings. The corporation


may act in criminal proceedings as the so-called active party - primarily as
a victim (in pre-trial proceedings) or a subsidiary prosecutor (in the court
proceedings). The corporation may also act in criminal proceedings as the
so-called passive party - the defendant. In this area, Polish legal system
recognizes the quasi-criminal liability of corporations exercised under
the provisions of the Act of 28 October 2002 on the liability of collective
entities for acts prohibited under penalty. Then such a corporation would
be a “collective entity subject to liability”. Of course, depending on the
role of the corporation, the functions of such internal investigation will
vary. Where the corporation acts as the active party - the key will be
to establish the circumstances of the case primarily in order to defend
the interests of the corporation understood, inter alia, as the need to
redress the damage caused to it. Where the corporation acts as the passive
party - the aim will be to prepare a solid line of defense for the collective
entity against prosecution and retributive liability. Notwithstanding the
relevance of these separate perspectives, in the following section we will
refer primarily to the problems associated with the use of information
from private internal investigation in criminal proceedings.

III. Internal investigation run in the family versus external


private investigators

It is not only a corporation’s decision in the initiation of an


internal investigation and on its scope that is important, but also the
determination of the procedure for conducting the internal investigation,
i.e. its initiation, the scope of the actions taken by the relevant persons
within the corporation, its duration, and the selection of the person
or team to conduct the investigation. In the case of the first two types
of internal investigations (due diligence investigation and counseling
investigation), this is clearly important (the team should be composed
of professionals in the respective fields), but this choice has much more
far-reaching consequences in the case of reliance and duty investigations.
A team conducting an internal investigation of this type should
have knowledge, experience, and expertise related to the irregularities the
suspicion of the existence of which provided the grounds for the initiation

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 657

of the investigation. Corporations have two basic dilemmas to resolve


in this regard. First, should the internal investigation be conducted by
people from within the corporation or by an independent external expert?
Second, what type of expert should conduct an internal investigation?
There are many advantages of reliance and duty investigations
conducted by the corporation itself and by people from within the
corporation. Such investigations (referred to as internal investigations run
in the family) can theoretically be carried out, for example, by people from
the compliance or legal departments. Such people, at least at the beginning
of the investigation, have more knowledge of the corporation and the
processes operating within it than an outside expert. At the same time,
running internal investigations by people from inside a corporation allows
more of the knowledge of potential irregularities to be kept just inside the
corporation. People within a corporation also have “insider knowledge” of
individual employees’ personal relationships, their possible friendships or
conflicts, mutual conflicts of interest, and financial dependencies of one
department on another. This knowledge is difficult for an outside expert
to acquire quickly. Also, people from inside a corporation are often more
trusted by employees, which can sometimes make it easier to question
employees about circumstances that are important for the findings of an
internal investigation. Finally, it can be argued, not unreasonably, that
an internal investigation conducted by people from within a corporation
is less expensive than one conducted by external experts, such as a law
firm or external auditors.
A presentation of the disadvantages of an internal investigation
conducted by people from inside the corporation can begin by reversing
the last argument. Internal investigations conducted by people from
within a corporation who normally do not run such audits (which, after
all, are incidental, not permanent or periodic) make it necessary for these
people to be moved away from their regular tasks in the corporation.
During an internal investigation, a corporation’s lawyer is not able to
spend as much time reviewing the corporation’s contracts. An accountant
is unable not spend as much time keeping the corporation’s books. The
IT specialist is not able to handle employees’ inquiries related to the
day-to-day operation of the corporation. In fact, having these people
conduct internal investigations means “shifting their work” and not

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
658 | Sakowicz; Zieliński.

doing their actual work, which constitutes a cost to the corporation. At


the same time, it is clear that these people, as a rule, are not specialized
in conducting internal investigations. Since this is a “side job” or an
“accidental job” for them, it is clear that they are unable to carry out the
process as professionally as an external expert in the field.
Similarly, the fact that people inside a corporation know the
corporation itself and its employees well can also be a disadvantage. Those
inside a corporation may be prejudiced in their opinion about the events
taking place within it. Of course, they may know better the relationships
between individuals, but they are also themselves involved in those
relationships. Such persons may have to conduct internal investigations
into suspected wrongdoing by either their colleagues or persons to whom
they owe a favor, which constitutes an obvious conflict of interest. A
similar conflict arises in the opposite situation, where such a person
conducts an internal investigation concerning, for example, another
employee with whom the investigator has a personal dispute. From this
perspective, hiring an outside expert is advantageous because it helps
avoid conflicts of interest.
An obvious conflict of interest is a situation where a person
inside a corporation is appointed to run an internal investigation of
irregularities in which he or she was involved. After all, at the beginning
of an investigation, it is often impossible to identify all those involved
in irregularities. A conflict of interest can also become apparent if the
internal investigation team makes findings concerning irregularities
involving their superiors, such as members of a company’s management
board. All these conflicts can be resolved by appointing an external expert
to conduct an internal investigation.
One of the advantages of appointing an external expert is the
ability to choose a professional in the specific field affected by the potential
irregularity, who also specializes in conducting internal investigations. In
Poland - as in many jurisdictions - there are no substantive regulations in
place governing who can conduct internal investigations. In this regard,
it seems that lawyers, accountants, and tax consultants are most often
hired, but also private detectives and IT specialists. It seems that in recent
years the role of the latter in particular - Forensic IT specialists - has been
growing, as complex internal investigations generally require the analysis

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 659

of a large amount of documentation or correspondence, the automation


of which significantly speeds up the process while lowering its costs.
In the case of the reliance and duty investigations, however, the
first choice seems to be lawyers. On the one hand, the recommendation
to conduct an internal investigation often comes precisely from a law
firm and is made in the course of provision of other legal advice28. On the
other hand, entrusting an internal investigation to an attorney allows the
corporation to enjoy the special protection of the results of this cooperation
characteristic of the legal profession, i.e. the attorney-client privilege29.
An internal investigation conducted by an attorney increases the secrecy
of the process in the corporation’s view30. Moreover, the doctrine points
out that the use of a lawyer for this purpose is also supported by the fact
that “on a practical level, lawyers are accustomed to the investigative
process, interviewing witnesses and reviewing documents to piece together
a picture of what really happened” and that “lawyers also will be more
aware of the company’s potential areas of liability, and are less likely
to miss a subject of concern.”31 For this reason, even in cases where an
internal investigation has not been commissioned to lawyers, the doctrine
indicates that the process should be supervised by a lawyer to some
extent3233. It is the work of lawyers - fraud examiners and the possibility
of using the results of their work in criminal proceedings that is the main

28
DUGGIN, Sarah Helene. Internal Corporate Investigations: Legal Ethics, Pro-
fessionalism and the Employee Interview. Columbia Business Law Review. no.
3, p. 863. 2003.
29
MULROY, Thomas R.; THESING JR. Joseph W. Confidentiality Concerns in
Internal Corporate Investigations. Tort & Insurance Law Journal. vol. 25, no.
1, p. 49. 1989-1990.
30
CIOPEC, Flaviu. New Trends in Addressing Corporate Crimes: Internal In-
vestigations. Journal of Eastern-European Criminal Law. no. 2, p. 59. 2019.
31
STEWART, David Overlock. Basics of Criminal Liability for Corporations and
Their Officials and Use of Compliance Programs and Internal Investigations.
Public Contract Law Journal. vol. 22, p. 94. 1992.
32
BENNETT, Robert S.; KRIEGEL, Alan; RAUH Carl S., WALKER Charles F. In-
ternal Investigations and the Defense of Corporations in the Sarbanes-Oxley
Era. The Business Lawyer. vol. 62. n. 1. p. 62. 2006.
33
DERVAN, Lucian E. International White Collar Crime and the Globalization
of Internal Investigations, Fordham Urban Law Journal. vol. 39, no. 2, pp.
367-368. 2011.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
660 | Sakowicz; Zieliński.

focus of this paper. It should be added that in common law the attorney-
client privilege is considered “the oldest of the privileges for confidential
communications known to the common law.”34 The importance of the
attorney-client privilege is also emphasized and reflected in legislation
in countries where the continental legal system prevails. Despite the
important social function of internal investigations, in many jurisdictions
they exist without any regulation in law35. This is also true of Poland. The
lack of regulation of internal investigations also creates problems from an
attorney-client privilege perspective, which is discussed later in this paper.

IV. L egal limits of internal investigations in P oland

Currently, with the exception of selected sectors, there is no legal


basis in Polish law for conducting internal investigations in companies.
As a result, internal investigations conducted in Poland are frequently
based on models and guidelines from foreign companies. In the banking
sector, Article 9 of the Banking Law explicitly stipulates that banks
are required to have internal control systems. The requirements for an
internal control system are specified in Recommendation H issued by
the Polish Financial Supervision Authority (KNF) on April 25, 2017.
The recommendation is a set of good practices that indicate the KNF’s
expectation for banks to act in accordance with the regulations on the
principles of operation of an internal control system. However, one may
attempt to find the legal basis for conducting internal investigations in
other sectors in the provisions of the Code of Commercial Companies
(CCC). Of key importance to companies that operate in the form of a
joint-stock company is Article 368 (1) of the CCC, which provides the
management board, on the basis of its management powers, may decide
on the establishment of an internal compliance function, organization,
and program. The supervisory board, on the other hand, is charged with

34
MULROY, Thomas; R. MUNOZ Eric J. The Internal Corporate Investigations.
DePaul Business & Commercial Law Journal. vol. 1, pp. 49-84, p. 50. 2002;
https://via.library.depaul.edu/bclj/vol1/iss1/3.
35
GREEN, Bruce A.; PROGDOR, Ellen S. Unregulated Corporate Internal Inves-
tigations: Achieving Fairness for Corporate Constituents. Boston College Law
Review. vol. 54, pp. 73-74. 2013.

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overseeing the corporate compliance activity of the company within the


framework of the powers vested in it by Article 382 (2) of the CCC. In
principle, for example, the members of the company’s management board
or supervisory board may carry out such investigations as part of their
own obligation to deal with the company’s business activities.
In the Polish legal system, the limits of activities in internal
investigations are defined not only by internal acts, but also by the
Constitution of the Republic of Poland and the Labor Code. Evidence in
internal investigations, defined as any source of knowledge of facts relevant
to the resolution of the case under consideration, should be obtained in
compliance with the law. The basic legal act in this regard is the Labor
Code, which in Article 11¹ imposes an obligation on the employer to
respect the dignity and other personal rights of employees. The purpose
of this provision is to oblige employers to respect the dignity of their
employee. The Labor Code does not define the concept of employee
dignity. In linguistic terms, dignity is understood as a sense of self-worth
or self-respect. The dignity of an employee, as defined by the Labor Code,
boils down to the dignity of every individual, as referred to in Article
30 of the Constitution of the Republic of Poland, i.e. the inherent and
inalienable dignity of the human being, which is the source of human
and civil liberties and rights36. Respecting the dignity of an employee
should be understood as not doing anything that would harm his or her
dignity. Employers must not take advantage of their relative strength
in the labor market or cause employees to lose their self-esteem and
accept degrading treatment. Therefore, ongoing internal investigations
may not be used to harass employees. The Labor Code does not allow

36
For information about human dignity in Poland, see: SONIEWICKA, Mar-
ta; HOLOCHER, Justyna. Human Dignity in Poland, in Handbook of Hu-
man Dignity in Europe. In: BECCHI, Paolo; MATHIS, Klaus. Handbook
of Human Dignity in Europe. Springer: International Publishing, 2019,
doi:10.1007/978-3-319-27830-8_32-1, pp. 697-718, Available at SSRN:
https://ssrn.com/abstract=3464705; BUTRYNOWICZ, Magdalena. Human
Dignity in Law – A Case Study of the Polish Legal System, The Person and
the Challenges. vol. 6, n. 2, pp. 87–96. 2016, doi: http://dx.doi.org/10.15633/
pch.1894; CHORĄŻEWSKA, Anna. Human dignity as a source, foundation,
and principle of the constitutional order in the state of law. Scientific Jour-
nal of Bielsko-Biala School of Finance and Law. vol. 26, n. 3, pp. 10-16. 2022,
doi:10.19192/wsfip.sj3.2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
662 | Sakowicz; Zieliński.

internal investigations that consist in persistent and prolonged harassment


and intimidation of employees, causing them to have a low opinion
of their professional suitability, as well as in humiliating or ridiculing
employees, isolating them, or eliminating them from worker teams.
Such internal investigations would in fact be a form of mobbing, which
is prohibited in the Labor Code37. Such a situation could occur if a new
internal investigation is initiated with respect to the same employees
based on the same information, after a previous investigation has been
completed. Also, if an internal investigation team repeatedly “interrogates”
employees to get information on the same facts, this could be considered
as harassment of employees. Such situations can violate employees’ self-
esteem, make them look bad, put their abilities in question, and reduce
their commitment to the company.
Article 11¹ of the Labor Code, in addition to “dignity,” also protects
the “personal rights” of employees. Since the concept of “personal rights”
has not been clarified by the provisions of the Labor Code, in defining
this concept, we apply the provisions of the Civil Code. Personal rights
are indicated in Article 23 of the Civil Code and include, in particular,
health, freedom, honor, freedom of conscience, last name or alias, image,
secrecy of correspondence, inviolability of the dwelling, and scientific,
artistic, inventive, and rationalization creativity. From the perspective of an
internal investigation, respect for employee privacy and mail control are of
particular importance. As early as the 1970s, the Supreme Court in Poland
ruled that searches of staff members to prevent carrying the company’s
property outside of the workplace, as used within the framework of
company regulations, are lawful and do not violate the personal rights
of employees when employees have been warned of the possibility of
application of such checks to protect property38. Nowadays, employers’

37
Article 943 of the Labor Code stipulates that employers are obliged to coun-
teract mobbing, i.e. such actions concerning employees or directed against
employees that consist in persistent and prolonged harassment or intimi-
dation of employees, causing employees’ undervaluation of their own pro-
fessional suitability, causing or aimed at causing humiliation, or ridiculing
employees, isolating them, or eliminating them from worker teams.
38
Judgment of the Supreme Court of April 13, 1972, I PR 153/72, OSNC
1972/10, item 184; LACH, Arkadiusz. Monitorowanie pracownika w miejscu
pracy [Monitoring of employees at workplaces]. Monitor Prawa Pracy. vol. 10,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 663

general right to control their employees arises directly from Article 22


of the Polish Labor Code, which imposes an obligation on employees to
perform work of a certain type under the direction of their employers.
However, in the digital age, workplace monitoring has emerged,
which is of particular significance. Undoubtedly, such actions by employers
constitute an interference with protected personal rights, in particular
employees’ right to privacy. Therefore, the Polish legislature found it
necessary in 2018 to regulate this issue in detail in the Labor Code. De lege
lata, the legal forms of permissibility and scope of the use of monitoring in
the workplace and monitoring of employees’ electronic mail are regulated
in Articles 22² and 22³ of the Polish Labor Code, respectively. According
to Article 222 (1) of the Polish Labor Code, monitoring is allowed if it is
necessary to ensure the safety of employees, the protection of property,
or the control of production, or to maintain the secrecy of information,
the disclosure of which could expose the employer to harm. The catalog
of permissible purposes for the use of video surveillance in relation to
employees indicated in that article is exhaustive. Consequently, employers
are not allowed to use the surveillance for purposes other than those
specified in the law. On the other hand, reference to the criterion of
necessity means that it is the employer who has to demonstrate that the
objectives indicated above cannot be achieved in any other way than
through the chosen form of employee monitoring39. The circumstances
relevant to this assessment are the type of work, its nature, and the
position held by the employee.
The provision of Article 222 (1) of the Polish Labor Code refers
exclusively to control conducted using technical means for video recording.
Thus, the control in question is video surveillance, usually implemented
with cameras. It can take different forms. In this regard, the doctrine

p. 264. 2004; LACH, Arkadiusz. Monitorowanie pracownika po nowelizacji


kodeksu pracy [Monitoring at work after amendment of the Labour Code].
Monitor Prawniczy. vol. 18, pp. 969-974, 2018 doi: 10.32027/MOP.18.18.1;
KUBA, Magdalena. Prawne formy kontroli pracownika w miejscu pracy,
Warszawa 2014, passim.
39
JAŚKOWIAK, Kazimierza. Labor Code. A commentary to Article 222 of the
Labor Code. In: JAŚKOWIAK, Kazimierza; MANIEWSKA, Eliza. Kodeks
pracy. Komentarz [Labor Code. A commentary], Warszawa: WoltersKluw-
er online.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
664 | Sakowicz; Zieliński.

distinguishes between continuous (systematic) and short-term (incidental,


sporadic) monitoring, as well as overt and covert monitoring40. Employers
may process the video recordings only for the purposes for which they
were collected and may store them for a period not exceeding 3 months
from the date of their recording. If the video recordings constitute evidence
in proceedings conducted pursuant to law or the employer has obtained
information that they may constitute evidence in criminal, civil, or
other proceedings, the 3-month period is extended until the proceedings
have become final.
The use of video recordings in internal investigations is permitted
under Polish law for a period of 3 months from the date of recording. This
period is extended if, in the opinion of the employer, the recording can
serve in legal proceedings (including criminal proceedings) or has been
used as evidence in such proceedings. Should the latter situation arise,
according to Article 222 (5) of the Labor Code, video recordings containing
personal data must be destroyed after a period of 3 months after the final
conclusion of the proceedings and video recordings obtained as a result
of video surveillance containing personal data must be destroyed, unless
otherwise provided by separate regulations.
It should be added that the provisions of the Labor Code exclude
monitoring of premises provided to the company’s trade union organization.
In addition, monitoring must not cover sanitary facilities, locker rooms,
canteens, and smoking rooms, unless the use of monitoring in these
rooms is necessary to achieve the purpose set forth in Article 222 (1) of
the Labor Code and does not violate the dignity and other personal rights
of employees, in particular by using techniques that make it impossible to
recognize the persons present in these rooms. Moreover, the monitoring
of sanitary facilities requires the prior approval of the company’s trade
union organization, and if there is no trade union organization in the
employer’s company, the prior approval of employee representatives
elected in accordance with the procedure adopted by the employer.

40
KUBA, Magdalena. Labor Code. A commentary to Article 222 of the Labor
Code. In: BARAN, Krzysztof (ed.). Kodeks pracy. Komentarz. Tom I. Art.
1-93 [Labor Code. A commentary. Volume I. Articles 1-93], Warszawa: Wolt-
ersKluwer 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 665

The Labor Code also introduces other guarantees to employees


that must not be violated in connection with monitoring. Employers are
obliged to inform employees about the introduction of monitoring, in the
manner adopted by the specific employers, no later than 2 weeks before
the monitoring is launched Such notification must therefore precede the
introduction of monitoring. Before an employee is subject to monitoring,
he or she must be notified that video surveillance with cameras is to
be implemented. In addition, in the case of new employees, employers
must provide them with written information on the purpose, scope, and
method of application of monitoring (Article 222 (8) of the Labor Code)
before allowing the employees to work.
As part of an internal investigation, it is also possible to use
information from employee email monitoring. It should be noted that,
being a type of control of employees by their employers, monitoring must
take into account the need to respect the personal rights of employees41.
Freedom of communication is a part of the right to privacy, constituting a
personal freedom that may be subject to restrictions under the conditions
set forth in Article 31(3) of the Constitution42. In turn, according to Article
49 of the Polish Constitution, “The freedom and privacy of communication
shall be ensured. Any limitations thereon may be imposed only in cases
and in a manner specified by statute.” The introduction of monitoring of
employees’ electronic mail must be in compliance with the aforementioned
regulations, as well as with the jurisprudential standard of the European
Court of Human Rights set forth in Article 8 of the ECHR43. In order

41
See: ECtHR judgement of 28 November 2017 in the case Antović and Mirkov-
ić v. Montenegro, application no. 70838/13, https://hudoc.echr.coe.int/en-
g?i=001-178904; ECtHR judgement of 3 April 2007 in the case Copland v.
the United Kingdom, application no. 62617/00, https://hudoc.echr.coe.int/
eng?i=001-79996.
42
This regulation provides that “Any limitation upon the exercise of constitu-
tional freedoms and rights may be imposed only by statute, and only when
necessary in a democratic state for the protection of its security or public
order, or to protect the natural environment, health or public morals, or the
freedoms and rights of other persons. Such limitations shall not violate the
essence of freedoms and rights.”
43
Among others, in the judgment in the case Bărbulescu v. Romania (ECtHR
judgement of September 5, 2017, application no. 61496/08, https://hudoc.
echr.coe.int/eng?i=001-177082), the Court stated that before an employer

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
666 | Sakowicz; Zieliński.

to satisfy these requirements, the Polish legal system has explicitly


adopted a legal basis for the employer to exercise control in the area of
business communications. Article 223 of the Labor Code, enacted in 2018,
indicates that control of an employee’s business mail may be introduced
if it is necessary: a) to ensure a work organization that allows the full
use of the working time and b) for the proper use of the work tools
provided to the employee. Basic examples of purposes for the use of email
monitoring are to distribute work evenly among employees, to control
the completed tasks assigned to individual employees, and to control
whether an employee uses company hardware and software only for
purposes related to the company’s business. Although the above purposes
of monitoring employees’ business email are objectively legitimate, one
can have doubts as to whether they are the most relevant in the context
of the risks associated with employees’ use of business email. Some
representatives of the doctrine point out that they do not include, for
example, the duty to keep secret information that, if disclosed, could
expose the employer to harm44. This view cannot be accepted. When
referring to the need to determine the proper use of the work tools
provided to employees (e.g. laptop computers), employers may check
their employees’ business email when they suspect that the employees
send confidential information to unauthorized parties. This is because
monitoring of employees’ email will help identify those employees who
send company data to unknown email addresses and thus reveal company
secrets to the detriment of their employers. When introducing this form
of monitoring, employers are obliged to inform their employees in the

decides to use email monitoring in the workplace, it must inform the em-
ployee. A similar conclusion was reached by the ECtHR in its judgment in
the case Copland v. the United Kingdom (ECtHR judgement of April 3, 2007
in application no. 62617/00, https://hudoc.echr.coe.int/eng?i=001-79996),
which indicated that the collection and storage of information of a personal
nature concerning a person’s telephone and email, as well as Internet use,
carried out without the applicant’s knowledge, amounted to an interference
with the right to respect for private life and correspondence within the
meaning of Article 8 of the ECHR.
44
KUBA, Magdalena. Labor Code. A commentary to Article 223 of the Labor
Code. In: BARAN, Krzysztof (ed.). Kodeks pracy. Komentarz. Tom I. Art.
1-93 [Labor Code. A commentary. Volume I. Articles 1-93], Warszawa: Wolt-
ersKluwer 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 667

manner adopted by the employers, 2 weeks before employees’ business


email monitoring is launched, while newly hired employees must be
provided with written information on the objectives, scope and manner
of application of monitoring, before they are allowed to work.
This demonstrates that a compliance officer conducting an
internal investigation may inspect an employee’s business email if
such an inspection is permitted in the company and if employees have
been informed of the possibility of such an inspection. The compliance
officer can conduct this activity himself or herself, or can request the IT
department to conduct the monitoring. It is also possible to use “external”
specialists if necessary. In such a case, any “external” person being a
member of a team conducting an internal investigation should be obliged
to keep confidential any information obtained in the course of his or her
support for the investigation45.
The duty of secrecy of correspondence in business relations raises
some concern. The prohibition to violate the secrecy of correspondence
applies primarily to private correspondence sent from business email
accounts. This prohibition means that if an employer were to find an
employee’s private correspondence in the employee’s mailbox, the employer
may not read it in its entirety. The prohibition for the employer to violate the
secrecy of correspondence applies even if an internal act prohibits the use
of business email for private purposes and the employee has not complied
with it. This restriction applies in the context of internal investigations. Even
if an employee uses business equipment for private purposes without the
employer’s consent, the employer should not use the knowledge obtained
by analyzing the contents of such equipment, unless the disclosed content
proves a violation of employee’s duties, e.g. unauthorized transfer of
information. It should be noted that an employer may at any time require
an employee to make the employee’s business equipment (e.g. a laptop, a
smartphone, etc.) available. These devices are the property of the employer
and therefore the employer has the right to review their contents and
check how they are used by the employee. A refusal to hand over business
equipment that is the property of the employer may even constitute the

45
TOKARCZYK, Damian. Whistleblowing i wewnętrzne postępowania wy-
jaśniające, Warszawa: WoltersKluwer 2020, p. 62.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
668 | Sakowicz; Zieliński.

crime of misappropriation (Article 284 (2) of the Polish Criminal Code46).


The situation is different when it comes to use by employees of private
equipment for business purposes. If such a situation arises, although it
should not, the employer (including the compliance officer) is not authorized
to monitor or check the employee’s private devices47.
Last but not least, it is necessary to refer to the possibility of the
so-called questioning of employees by a compliance officer. Pursuant
to Article 100 (2) (4) of the Labor Code, the employer (and, under his
authority, the compliance officer) may demand that employees provide
information and explanations, regardless of the extent of their potential
involvement in an irregularity. This provision formulates the employee’s
duty of loyalty to the employer, in particular the duty to keep confidential
information that, if disclosed, could expose the employer to harm. From
its content, it is possible to derive the employee’s obligation to participate
in questioning conducted as part of internal investigations. An employee
often has to make a difficult choice: to answer questions during an internal
investigation and risk facing consequences for the irregularities reported,
or to use his or her right to remain silent, which can also result in a penalty
for not contributing to the investigation. Recognizing that Article 100
(2) (4) of the Labor Code is of a general nature, we are of the opinion
that the procedures defining internal proceedings in each case should
specify the rules for employee participation in the interview48. When a
company has defined an obligation for an employee to participate in a
questioning conducted as part of an internal investigation, this means
that refusing to cooperate in the clarification of the circumstances related

46
According to Article 284 (2) of the Polish Criminal Code, anyone who appro-
priates movable property that has been entrusted to him or her shall be liable
to imprisonment for a term going between 3 months and 5 years.
47
With the reservations specified by TOKARCZYK, Damian. Whistleblowing i
wewnętrzne postępowania wyjaśniające, Warszawa: WoltersKluwer 2020, p. 62.
48
The need for this is justified by the fact that the findings from corporate
investigations may serve as factual evidence in subsequent legal hearings be-
fore the courts regarding either criminal proceedings or related economic
claims. If the corporate investigations do not recognize or grant witnesses
the right to exercise the privilege against self-incrimination, then there is
a risk that the findings of that investigation may either be challenged or be
found to be incomplete or potentially materially incorrect.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 669

to a notification may constitute a violation of employee duties. Such


behavior by an employee may, depending on the circumstances, justify
the imposition of a penalty on the employee or even the termination of
his or her employment contract. This does not mean that the employee is
obliged to provide evidence that would incriminate himself or herself. Any
person, including an employee, has the right to defense. This means that an
employer may not force an employee to provide evidence against himself
or herself or explanations to his or her detriment. The same principle
should be applied to the employees relatives. They are protected by the
principle of nemo se ipsum accusare tenetur, which introduces freedom
from providing evidence against oneself49. Depriving an employee of
this right in an internal investigation would in fact mean that the right
to remain silent in criminal proceedings is fictitious if the accused were
that employee. The silence of an accused employee would be irrelevant,
as the court could question the compliance officer about the information
obtained from the employee during his or her questioning in the course
of the internal investigation. It is also unacceptable the use of physical
coercion, mental coercion, or threats to induce employees to participate
in an internal questioning or to provide certain information.

V. M aterials obtained during internal investigations and the


possibility of its use in criminal proceedings in P oland

As discussed above, internal investigations are aimed not only at


clarifying the situation, but also at gathering materials for possible legal

49
BERGER, Mark. Self-Incrimination and the European Court of Human Rights:
Procedural Issues in the Enforcement of the Right to Silence. European Hu-
man Rights Law Review. vol. 5, pp. 514-533. 2007; HELMHOLZ, Richard H.
Origins of the Privilege against Self-Incrimination: The Role of the European
Ius Commune. New York University Law Review. vol. 65, pp. 962-990. 1990;
SAKOWICZ, Andrzej. Standard of the protection of the right to silence ap-
plicable to persons examined as witnesses in the light of the European Court
of Human Rights case law. Ius Novum. vol. 12, n. 2, pp. 120-136, https://doi.
org/10.26399/iusnovum.v12.2.2018.19/a.sakowicz. See also HILL Jr, Mar-
vin F.; WRIGHT, James A. Employee Refusals to Cooperate in Internal In-
vestigations: Into the Woods with Employers, Courts, and Labor Arbitrators.
Missouri Law Review. vol. 56, Issue 4, pp. 899-902. 1991. Available at: https://
scholarship.law.missouri.edu/mlr/vol56/iss4/1

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
670 | Sakowicz; Zieliński.

proceedings. The evidence collected most commonly during internal


investigations are documents, data saved on electronic data storage media
(e.g. laptop computers), computer printouts, objects, video monitoring
recordings, and reports from questioning of employees, witnesses, or
persons suspected of involvement in irregularities. The means of obtaining
such materials are not always specified in internal procedures, as is
the case in proceedings before government authorities, e.g. in criminal
proceedings. In these proceedings, there are specific rules that govern
obtaining evidence and the possibility of using materials acquired in the
course of internal investigations. In this context, the question arises of
whether evidence collected during internal investigations can be used in
criminal proceedings. Although the current legislation does not explicitly
regulate this issue, several observations can be made on the basis of the
Polish Code of Criminal Procedure (hereinafter: the CCP).
First of all, it should be pointed out that materials obtained in
the course of an internal investigation can be attached to a complaint
of a criminal offense. This situation occurs when a corporation, having
completed an internal investigation, finds that the collected materials
indicate that a crime has been committed. In general, the corporation
has no legal obligation to inform procedural authorities that an offense
has been committed. Only in the case of some grave felonies (such as
murder, grievous bodily harm, causing a public threat, hijacking of an
aircraft or vessel, unlawful detention, trafficking in human beings, hostage
taking and keeping, and terrorist offenses), is there a legal obligation in
Poland to report a crime. In such a situation, the further use of evidence
obtained in the course of an internal investigation is at the discretion of
the prosecutor conducting the pre-trial proceedings.
It is also possible that the corporation, as a legal entity, obtains
the status of a litigant. In Polish criminal proceedings, the position of the
aggrieved party is very strong. It can be a natural or a legal person whose
legal interest has been directly infringed on or threatened by an offense
(Article 49(1) of the CCP). This person may declare, by the beginning
of the judicial proceedings at the main trial, that he or she will act in
the capacity of the subsidiary prosecutor. The victim, by obtaining the
status of a litigant, can take an active part in the course of the criminal
proceedings. In particular, he or she can be present at the trial, actively

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 671

participate in it, e.g. ask questions of the defendant, the witnesses, and the
experts; submit evidence in person during the trial, review the case file,
file an appeal against the judgment, as well as submit motions for evidence.
The latter power is of particular importance in the context of evidence
obtained during an internal investigation. The subsidiary prosecutor
has the initiative to present evidence, which may primarily include real
evidence. At the same time, it should be noted that the Polish criminal
trial, with regard to certain evidence, strictly defines the rules regarding
the taking of evidence. For example, testimony provided by witnesses may
only be taken by a procedural authorities, its content should be included
in a report prepared by this authority conducting the proceedings, and
it may not be replaced by other documents50. Therefore, a report from
the questioning of a witness in the course of an internal investigation
may not be used directly. However, the report from the questioning of an
employee as part of an internal investigation may justify the appointment
of a compliance officer as a witness, along with an indication of the
circumstances on which the witness should be questioned.
An important role in the use of information from internal
investigations in criminal proceedings is played by Article 393 (3) of
the CCP. This provision allows fact-finding in a criminal trial based on
the so-called private evidence, which means documents, statements, or
recordings made by private individuals outside criminal proceedings.
Some jurisdictions, including Poland, permit evidentiary use of
information, e.g., recordings, collected by private individuals with the
intention of using it later in criminal proceedings. Pursuant to Article 393
(3) of the CCP, in criminal proceedings all private documents created
outside criminal proceedings, in particular statements, publications,
letters, and notes may be read at the trial. The phrase “outside criminal
proceedings” in that article refers to the time when a given document
was created. This is because the documents in questions are private
documents created by the parties, not by the authority conducting
the criminal proceedings, outside the formal framework of criminal

50
The provision of Article 174 of the CPP states that evidence consisting of
explanations of the accused or testimonies of a witness may not be replaced
with the content of documents, notes or memoranda.

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672 | Sakowicz; Zieliński.

proceedings51. This can be the so-called private evidence obtained


through private collection for use in criminal proceedings, such as a
private written expert opinion prepared at the request of the parties,
or material obtained from a detective or in the course of an internal
investigation. In internal investigations, these can be, e.g., documents,
data saved on electronic storage media, computer printouts, objects, video
monitoring recordings, and contents of an employee’s correspondence.
. Nevertheless, in the private gathering of evidence (which is, after
all, the purpose of an internal investigation), a party may not use in a trial,
as a private document, a recorded transcript of a person’s statements in lieu
of questioning of a witness by the authority conducting the proceedings,
as mentioned above. On the other hand, it is possible to use notes from a
private questioning to confirm or supplement explanations or testimony. In
such a situation, the content of a private document is intended to establish
the actual knowledge of the witness. On the other hand, a different kind
of situation occurs in the event of discrepancies between the testimony
of a witness and the content of a private document, in which case the
private document can be read for verification.
In light of Supreme Court’s jurisprudence, a “private document”
can also be a recording of a conversation made, even secretly, by one of its
participants. A recording of a conversation made by one of its participants
(regardless of whether it was done with the knowledge and consent of
the other participant) can in no way be compared to a recording made
by law enforcement agencies, such as the police. With this in mind, the
Supreme Court added that such a recording “should be evaluated in terms
of any provocation or suggestion used in the course of the conversation
by the person making the recording, and such evaluation should also take
into account the state in which the interlocutor unaware of the recording

51
STEFAŃSKI, Ryszard A. A commentary to Article 393 of the Code of Crimi-
nal Procedure. In: STEFAŃSKI, Ryszard A. and ZABŁOCKI, Stanisław (eds.).
Kodeks postępowania karnego. Komentarz. Tom III. Art. 297-424 [The
Code of Criminal Procedure. A commentary. Volume III. Articles 297-424],
Warszawa: WoltersKluwer 2021, pp. 964-965; WAŻNY, Andrzej. A com-
mentary to Article 393 of the Code of Criminal Procedure. In: SAKOWICZ,
Andrzej (ed.). Kodeks postępowania karnego. [The Code of Criminal Proce-
dure. A commentary], Warszawa: C. H. Beck 2023, pp. 1125-1126.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 673

was.”52 A recording from an internal investigation can be used to confirm


the credibility of the testimony given by a witness or another person.
In a Polish criminal trial, the subsidiary prosecutor may also
use a private opinion (e.g. of an expert auditor) prepared as part of an
internal investigation. A private opinion as a private document may
be used in the event of a need for the court to admit an opinion of an
expert witness. De lege lata, in the Polish criminal proceedings, a private
opinion does not have the same status as an opinion of an expert witness
appointed by the court. The court may not make factual findings on its
basis in a scope that requires special knowledge. As indicated above -
data obtained during internal investigations - may constitute relevant
evidence which could serve the court to establish the material truth in
the criminal proceedings. However, it should be noted that in the Polish
criminal procedure the decision on admitting such evidence in criminal
proceedings and “reading out” a private document belongs to the court.
The Article 393(3) of the CCP introduces the court’s power to “read out”
such documents, not the court’s obligation to do so. The party may only
provide such document and file an evidentiary motion regarding it. If
the Court decides to read out such private document at the hearing, or to
disclose it without reading out (which is permissible under Article 405
(2 and3) of the CCP) then such documents may be used as evidence in
the case. However, it should not be forgotten that the court is obliged to
ascertain the material truth, and the discussed ‘private document’ may
be of vital importance for this purpose.
The reliability of a “private documents” may be considered as
another important issue related to using such documents as an evidence
in the criminal proceedings. One may argue that, for example, an expert
opinion commissioned by a party may have been drawn up in a biased
manner. The party paid for the document, so one can assume that the
party demanded its author to prepare the document of specific content
and conclusions. However, the court, after reading out such a private
document, evaluates it in accordance with the Code’s principle of free
appraisal of evidence - like any other evidence. In this context, the case

52
Decision of the Supreme Court of October 20, 2016, III KK 127/16, OSNKW
2017, vol. 2, item 10.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
674 | Sakowicz; Zieliński.

law emphasizes that the court shall not disregard a “private document”
and mechanically, indiscriminately refuse to include it in the case file
or instrumentally dismiss it as not requiring any assessment. In some
cases the author of the opinion may be appointed to prepare an expert
opinion commissioned by the court in the same proceedings, which will
constitute separate evidence in the case53.

VI. A ttorney- client privilege in P oland

Polish law shapes the attorney-client privilege as follows: “An


attorney is obliged to keep secret everything he has learned in connection
with the provision of legal assistance.”54 In the doctrine, it is assumed
that this privilege covers information obtained by the attorney from
the client, which is to remain secret from third parties, and therefore
information that the lawyer has acquired in connection with the provision
of legal assistance, the disclosure of which could jeopardize the client’s

53
Judgment of the Court of Appeal in Wrocław of April 19, 2012., II AKa
67/12, OSAW 2013, no. 3, item 294; The “private document” even if it was
prepared by an expert is not considered as an “expert opinion” within the
meaning of the Code of the Criminal Procedure - as it is not the result of
the court’s decision to admit such an opinion. Under Article 193 (1) of the
Code of Criminal Procedure, if the establishment of circumstances vital for
the solution of a case requires special knowledge, the opinion of one or more
experts is requested. Any other private opinion provided by the party, and
not requested by the court (or requested in the preparatory proceedings by
the prosecutor) is not an expert in the case in the meaning of Article 193
(1), See Decision of the Supreme Court of June 25, 2020, V KK 631/19, LEX
nr 3224943.
54
Article 6 (1) of the Law on the Bar of May 26, 1982 (Journal of Laws no. 16,
item 124, as amended). It should be pointed out that in the Republic of Po-
land, a defense counsel in criminal proceedings can be either an attorney or
a legal counsel. The Act of May 26, 1982 on Legal Counsels (Journal of Laws
no. 16, item 124, as amended) contains an analogous regulation in Article 3
(3) which provides that a legal counsel is obliged to keep secret everything he
or she has learned in connection with the provision of legal assistance. The
remainder of this paper will refer to attorneys, but the regulations in this area
are, in principle, analogous. About attorney-client privilege in Polish law see,
HRYNIEWICZ-LACH, Elżbieta. Attorney-client privilege in Polish law and
legal practice – on legal gaps and some controversial matters. ERA Forum. vol
23, pp. 447-461. 2023, https://doi.org/10.1007/s12027-023-00741-0

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 675

interest deserving protection55. The attorney-client privilege covers the


substantive aspects of a case, and therefore that information which is
directly related to the legal assistance provided56.
The attorney whom a corporation hires to conduct an internal
investigation has an attorney-client relationship with the corporation. Legal
advice related to the conduct of an internal investigation is covered by
the protection provided for the attorney-client privilege. The attorney is
obliged to keep secret everything that he or she has learned in connection
with the internal investigation, including, in particular, information
that he or she has learned in connection with the provision of legal
assistance, the disclosure of which could jeopardize a legitimate interest
of the client - corporation. It seems that, in this context, information
obtained not only from the client (and therefore representatives of the
corporation), but also from other persons, in particular persons from
inside the corporation, including employees with whom the attorney has
had discussions in connection with the internal investigation, should be
covered by the attorney-client privilege.

55
MATUSIAK-FRĄCCZAK, Magdalena. Ochrona poufności komunikacji klien-
ta z adwokatem. Standardy międzynarodowe, standard Unii Europejskiej oraz
standardy krajowe wybranych państw a prawo polskie [Protection of the con-
fidentiality of the communications between the client and his attorney. In-
ternational standards, the standard of the European Union, and the national
standards of selected countries vs. the Polish law]. Warszawa: C. H. BECK,
p. 228, 2023 and quoted there; CHOJNIAK, Łukasz. Obowiązek zachowania
tajemnicy adwokackiej a kolizja interesów adwokata i jego klienta [The obli-
gation to maintain the attorney-client privilege and the conflict between the
interests of the attorney and his or her client]. In: GIEZEK, Jacek; KARDAS,
Piotr, (eds.). Etyka adwokacka a kontradyktoryjny proces karny [Attorney’s
ethics and the adversarial criminal process]. Warszawa: Wolters Kluwer Pol-
ska, p. 282, 2015.
56
Judgment of the Supreme Court - Criminal Chamber of December 1, 2016,
SDI 65/16 OSND 2016, item 107. The cited Supreme Court thesis comes
from a judgment in an attorney’s disciplinary case where an attorney was
accused of disclosing to a prosecutor information obtained from a client in
connection with the provision of legal assistance. In that case, the Supreme
Court held that attorney-client privilege does not extend to activities of a
formal nature, unrelated in content to the case in which legal assistance is
provided. The ruling was not made in a criminal case, however it is relevant
to the scope of the attorney-client privilege and the permissible release of
such information.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
676 | Sakowicz; Zieliński.

When applying the above in the consideration of internal


investigations, it should be noted that, as a rule, the result of a completed
investigation is a document (a report, a legal opinion, or a memorandum)
that contains the findings, the conclusions, and often the recommendations
of the expert who conducted the internal investigation. In the case of
attorneys, the recommendations most often concern further legal steps
related to the findings made. Such documentation is protected pursuant to
the laws on the attorney-client privilege. In US legislation, the protection
of such documents is known as the Work Product Doctrine, which is
widely recognized as applicable to the secrecy of the outcomes of internal
corporate investigations57.
It is clear that a report containing findings on irregularities in
a corporation could be a desirable evidence for procedural authorities
investigating such irregularities. In Poland, procedural authorities have
the authority to demand from a person who is in possession of items that
may constitute evidence in a case to surrender such items. If a person
refuses to voluntarily surrender an item, a seizure and search may be
conducted (Article 217 of the CCP). An internal investigation report
prepared by an attorney is be protected as a document that is subject
to the attorney-client privilege and, as such, should not be disclosed. If
such a document is obtained in the course of a search of the corporation,
the representative of the corporation should indicate that the document
contains information covered by the attorney-client privilege. In this
situation, the authority carrying out the activity immediately forwards
the document without reading it to the prosecutor or the court in a sealed
package to prevent unauthorized persons from learning its contents58.

57
MULROY, Thomas R.; THESING JR. Joseph W. Confidentiality Concerns in
Internal Corporate Investigations. Tort & Insurance Law Journal. vol. 25, no.
1, p. 49. 1989-1990.
58
The provision of Article 225 (3) of the Polish Code of Criminal Procedure
states that if the defence counsel or other person summoned to surrender an
object or whose premises were researched, declares that correspondence or
other documents surrendered or found in course of the search contain infor-
mation pertaining to the performance of function of the defence counsel, the
agency conducting the search leaves the documents to the said person with-
out becoming familiar with their contents or appearance. However, if such a
statement made by a person who is not a defence counsel, raises doubts, the

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 677

This also applies to information saved on electronic storage media59. The


fact that such a document is handed “to the prosecutor or the court in a
sealed package” rightly raises the presumption that it can be used. The
CCP provides for the possibility to use such documents. It will now be
discussed in the context of the second possible way of gaining knowledge
about the findings of an internal investigation: questioning of the attorney.
As a rule, an attorney may not be questioned about circumstances
covered by the attorney-client privilege. The provisions of the Law on the
Bar cited earlier explicitly indicate that attorney may not be exempted
from the obligation of professional secrecy as to the facts that he or
she has learned while providing legal assistance or conducting a case.
However, an opposite provision is contained in the CCP, which allows
the questioning of an attorney regarding the attorney-client privilege
in exceptional cases, when “it is necessary for the interests of justice
and the circumstance cannot be established by other evidence.”60 The
prevailing view in the jurisprudence of the common courts of law is that
the provisions of the CCP in this regard constitute lex specialis in relation
to the provisions of the Law on the Bar and therefore they allow for the
questioning of an attorney.
The decision on questioning or permission to question an attorney
is decided by the court. The court’s decision may be appealed and the
attorney should challenge it. The primary basis for the challenge is the

agency conducting the procedure hands these documents over to the court.
The court, having acquainted itself with the documents, returns them in their
entirety or in part to the person, from whom they were taken, or issues a
decision that the documents be seized for the purposes of the proceedings.
59
The ECtHR judgment of 3 September 2015 in the case Sérvulo & Associa-
dos - Sociedade de Advogados RL v. Portugal, application no. 27013/10,
https://hudoc.echr.coe.int/eng?i=001-157284.
60
Article 180 (2) of the CCP provides that “Persons obliged to maintain the se-
crecy of a notary public, attorney, legal counsel, tax advisor, physician, journal-
ist, or statistician, as well as the secrecy of the General Counsel to the Republic
of Poland, may be questioned as to the facts covered by that secrecy only if it
is necessary for the interests of justice, and the circumstance cannot be estab-
lished by other evidence. In pre-trial proceedings, the questioning or permis-
sion for questioning shall be decided by the court, at a meeting held without
the participation of the parties, within no more than 7 days from the date of
service of the prosecutor’s request. The court’s decision may be appealed.”

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
678 | Sakowicz; Zieliński.

failure to meet the premise of “necessity for the interests of justice”


combined with the impossibility of establishing the circumstances in
question on the basis of other evidence. It is not unreasonable to raise
doubts about what should be considered “necessary for the interests of
justice” in the above context. Especially since the principle of material
truth is considered the guiding principle of the Polish criminal trial.
Therefore, an argument about the need to establish the truth in the trial
is possible, for the issuance of a verdict not based on the truth appears to
be incompatible with the interests of justice. This in turn would mean that
the attorney-client privilege is in fact fictitious. The Polish Constitutional
Tribunal found that the allegation of indefiniteness of Article 180 (2) of
the CCP is not justified, by emphasizing the precise nature - in the opinion
of the Constitutional Court - of the prerequisite of indispensability of
evidence, and therefore the impossibility of making specific findings
with the help of other evidence61.
However, the standards for abolishing the attorney-client privilege
have been partially clarified in the jurisprudence of common courts of
law, according to which, among other things, exempting an attorney from
the obligation to maintain the attorney-client privilege should relate to
specific circumstances about which the witness is to testify and may not
constitute a blanket exemption covering the attorney’s entire knowledge
covered by attorney-client privilege62. An exemption from the attorney-
client privilege may not apply to any facts that the investigators want to
know, but only to facts necessary for justice while demonstrating the
absence of other means of establishing evidence63.
Not all internal investigations inevitably lead to a scenario in which
an attorney is required to testify on specific circumstances or provide
access to documents based on the premise of necessity in the interests of
justice. However, even if this were permissible in the Reliance and Duty
Investigations section, even there it is reasonable to point out that such

61
Judgement of the Constitutional Tribunal of 22 November 2004, SK 64/03,
Dz.U. 2004 nr 255 poz. 2568.
62
Decision of the Court of Appeals in Cracow of 21 April 2010, II AKz 129/10,
KZS 2010, Nr 5, poz. 36.
63
Decision of the Court of Appeals in Cracow of January 13, 2009, II AKz
651/08, KZS 2009, no 1, item 72, Prokuratura i Prawo 2009, vol. 7-8, p. 45.

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 679

circumstances can be established by other evidence. After all, like law


enforcement agencies and the court, the attorney conducting the internal
investigation sees only the “reflected light” of the case and relies on
evidence obtained from documents, IT data, interviews with employees,
etc. In this regard, law enforcement agencies and the court adjudicating the
case have much more far-reaching powers in the acquisition of evidence,
so the claim of “impossibility of establishing evidence” is unfounded
in many cases64.
However, regardless of the existence of a provision in the CCP
that allows questioning of an attorney on an exceptional basis on facts
covered by the attorney-client privilege, that privilege gives the most
extensive protection to the findings of an internal investigation from their
acquisition in the process by, for example, law enforcement agencies that
might in the future pursue a case concerning identified irregularities in
the corporation’s operations.
In addition, it should be pointed out that the provisions of the CCP
do absolutely prohibit the interrogation of an attorney acting as a defense
counsel in proceedings that are already underway or providing legal
assistance to a detained person (before that person becomes a suspect).
This secrecy - referred to as defense secrecy - relates to the facts that
the attorney learned while providing legal advice or handling the case65.
However, this secrecy does not apply in internal investigations where
the attorney-client relationship is concluded between the corporation
and the attorney and therefore does not apply to the legal assistance
of the defense counsel provided to the person against whom criminal
proceedings are being conducted.

64
For example, an employee of a corporation who is a witness is required to
provide true information and not to conceal the truth under the penalty of
criminal liability for providing false testimony. In a conversation with an at-
torney in an internal investigation, that employee may lie or conceal the truth
virtually without legal consequences.
65
According to Article 304 of the CCP, it is not permitted to examine as a wit-
ness a defence counsel or an advocate providing legal assistance to a detainee
as to the facts that he learned while giving legal advice or conducting a case.

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680 | Sakowicz; Zieliński.

VII. C onclusion

The paper presents the essence, functions, and limits of internal


investigations in Poland and the use of information from private internal
investigations in the Polish criminal trial. The analysis carried out proved
that internal investigations can achieve various goals. On the one hand,
these investigations can be an important tool for identifying potential
weaknesses in internal compliance procedures and for making the system
leak-proof to prevent fraud or irregularities in the corporation. On the
other hand, internal investigations can serve the purpose of obtaining
evidence for the purpose of filing a complaint of a criminal offense or can
aim to obtain evidence for the corporation’s defense in ongoing criminal
or civil proceedings. Last but not least, in some situations, corporations
seek to punish the perpetrators not so much out of a need for justice, but
to mitigate their own potential legal liability. Regardless of the purpose of
an internal investigation, any corporation that wants to use this mechanism
should specify in its internal regulations the procedure and rules for
conducting the investigation. In particular, it should identify the body
that analyzes the information on irregularities, its composition, and the
rules of appointment and the powers of its members (e.g. hearing the
parties involved in the investigation and the witnesses, and the rules of
collection and analysis of any evidence).
The paper points to the fact that the evidence collected most
commonly during internal investigations are documents, data saved
on electronic data storage media, computer printouts, objects, video
monitoring recordings, and reports from questioning of employees,
witnesses, or persons suspected of involvement in irregularities. The
manner in which these materials are obtained must comply with the
provisions of the Constitution of the Republic of Poland, the Labor
Code, and other legal acts defining individual rights and freedoms. In
particular, it is prohibited to conduct internal investigations to harass and
intimidate employees. It is also not permissible to use video monitoring
recordings or electronic mail as part of internal investigations, unless
the employee concerned has been informed of the possibility of its
use in the corporation. An important part of an internal investigation
is the questioning of employees by a compliance officer. From to the

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826 | 681

current provisions of the Labor Code in Poland, it is possible to derive


the obligation of an employee to participate in questioning conducted in
the course of internal investigations. The existence of this obligation does
not mean that the employee is obliged to provide evidence that would
incriminate himself or herself. Any person, including an employee, has
the right to defense. An employer may not force an employee to provide
evidence against himself or herself or explanations to his or her detriment.
Depriving an employee of this right in an internal investigation would
in fact mean that the right to remain silent in criminal proceedings is
fictitious if the accused were that employee.
The analysis showed the limits of the use of materials from internal
investigations in criminal proceedings in Poland. The strong position of the
aggrieved party in criminal proceedings and the ability of the aggrieved
party to become a litigant (i.e. the subsidiary prosecutor) allows a range
of information from private internal investigations to be used in court
proceedings. Usually, this information is real evidences. The situation
is different in the case of a so-called private questioning. A report from
questioning of an employee as part of an internal investigation may not
form the basis for factual findings, but may only justify the designation of
a compliance officer or a person questioned by him or her as a witness.
The analysis showed that attorneys play an important role in
internal investigations. An attorney may conduct an investigation or be
a member of the team conducting it. In both cases, he or she is obliged to
maintain secrecy. There is no doubt that legal advice related to the conduct
of an internal investigation is covered by the protection provided for the
attorney-client privilege. The scope of the attorney-client privilege should
cover information obtained from the client (and therefore representatives
of the corporation), but also from other persons, in particular persons
from inside the corporation, including employees with whom the attorney
has had discussions in connection with the internal investigation. At the
same time, for the materials in question to be covered by the attorney-
client privilege, it is irrelevant how they were recorded and then possibly
introduced into the criminal trial. Protection is extended equally to
the attorney’s knowledge that he or she may present when testifying
in criminal proceedings, as well as to any products of his or her work
that contain this knowledge regardless of the medium (i.e. printouts,

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682 | Sakowicz; Zieliński.

notes, electronic documents, datasets produced in the course of the


investigation, or correspondence with the attorney). The regulations
allowing the abolishing of the attorney-client privilege should be treated
narrowly, with the condition of “necessity for the interests of justice”
approached with due caution. After all, maintaining the attorney-client
privilege is also a part of the proper operation of the judiciary and the
entire system of legal protection in a democratic state. A court allowing
an attorney to be exempted from the attorney-client privilege should also
establish without question in each case the impossibility of obtaining the
information in question by means of other evidence.

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686 | Sakowicz; Zieliński.

Authorship information
Andrzej Sakowicz. Professor at the University of Bialystok, Poland; the Faculty of
Law; the Department of Criminal Procedure. PhD in Law. [email protected]

Sebastian Zieliński. Assistant Professor at the Warsaw University of Technology,


Poland; the Faculty of Administration and Social Sciences; the Department of
Administrative Law and Public Policy. PhD in Law. [email protected]

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Conflict of interest declaration: the authors confirm that there are


no conflicts of interest in conducting this research and writing
this article.

Declaração de autoria e especificação das contribuições (declaration


of authorship): todas e somente as pessoas que atendem os
requisitos de autoria deste artigo estão listadas como autores;
todos os coautores se responsabilizam integralmente por este
trabalho em sua totalidade.

▪ Andrzej Sakowicz: conceptualization, methodology, data


curation, investigation, writing – original draft, validation,
writing – review and editing, final version approval.

▪ Sebastian Zieliński: conceptualization, methodology, data


curation, investigation, writing – original draft, validation,
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Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
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▪ Review 2: 05/05/2023 ▪ Reviewers: 2
▪ Preliminary editorial decision: 24/05/2023
▪ Correction round return: 04/06/2023
▪ Final editorial decision: 16/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


SAKOWICZ, Andrzej; ZIELIŃSKI, Sebastian. Unlocking the mystery
of internal investigation - the use of information from private internal
investigations in the Polish criminal process. Revista Brasileira de Direito
Processual Penal, Porto Alegre, vol. 9, n. 2, p. 645-687, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.826

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 645-687, mai.-ago. 2023.
La Directiva Whistleblowing: un paso más en la
privatización del proceso penal. Especial referencia
a las entrevistas en las investigaciones internas1

The whistleblowing Directive: a further step in the


privatization of criminal proceedings. Special reference
to interviews in internal investigations

Ana María Vicario Pérez2


Universidad de Burgos, Burgos, España
[email protected]
https://orcid.org/0000-0002-5261-3146

Resumen: El presente trabajo tiene por objetivo examinar el valor de


las entrevistas realizadas a los trabajadores, en el contexto de una
investigación corporativa, en un posterior proceso penal. Se ofrece así
un comentario analítico sobre el papel de las investigaciones internas
en el fenómeno de privatización del proceso penal, abordando las
previsiones que en materia de canales de denuncia e investigaciones
intraempresariales ofrece la Directiva 2019/1937 del Parlamento
Europeo y del Consejo, de 23 de octubre de 2019, relativa a la
protección de las personas que informen sobre infracciones del
Derecho de la Unión, para tratar de dar respuesta a la siguiente
pregunta: ¿pueden las declaraciones del trabajador en un interrogatorio
interno ser constitutivas de prueba en un proceso penal seguido
contra el mismo? Y es caso afirmativo, ¿vulnera el derecho a la no
autoincriminación la aportación al proceso penal de declaraciones

1
El presente trabajo se ha realizado en el marco del proyecto de investigación
del plan estatal español “El Derecho Procesal civil y penal desde la perspec-
tiva de la Unión Europea: la consolidación del Espacio de Libertad, Seguri-
dad y Justicia” (Ref. PID2021-124027NB-I00), financiado por MCIN/AEI/
10.13039/501100011033 / FEDER, UE.
2
Contratada Predoctoral FPU. Área de Derecho Procesal de la Universidad de Bur-
gos (España). PhD candidate.

689
690 | Vicario Pérez, Ana María.

vertidas en investigaciones intraempresariales?; ¿qué límites rigen


el valor probatorio penal de las entrevistas realizadas a trabajadores
en las investigaciones internas?
Palabras clave: investigaciones internas; entrevistas; proceso penal;
medio de prueba; autoincriminación.

Abstract: The aim of this paper is to examine the value of employee


interviews, in the context of a corporate investigation, in subsequent criminal
proceedings. It thus offers an analytical commentary on the role of internal
investigations in the phenomenon of privatisation of criminal proceedings,
addressing the provisions on whistleblowing channels and intra-corporate
investigations offered by Directive 2019/1937 of the European Parliament
and of the Council of 23 October 2019 on the protection of persons who
report breaches of Union law, in order to answer the following question:
can the statements made by an employee in an internal interrogation
constitute evidence in criminal proceedings against the same employee? If
so, is the right against self-incrimination violated when statements made in
intra-corporate investigations are used in criminal proceedings?; what limits
should govern the criminal evidentiary value of interviews with employees
in internal investigations?
Key words: internal investigations; interviews; criminal proceedings;
evidence; self-incrimination.

INTRODUCCIÓN

Las investigaciones internas o intraempresariales como forma de


conocimiento de hechos delictivos en el seno de la persona jurídica, se
erigen en claro ejemplo del acuciante fenómeno de la privatización del
proceso penal. En efecto, la inclusión en ordenamientos nacionales como
el español de la responsabilidad penal de las entidades a consecuencia de
su defecto de organización -entendido éste como el incumplimiento de
los deberes empresariales de supervisión y control de los miembros de
la organización-, y la colaboración con el proceso penal en cuanto que
forma de atenuación o incluso exención de su responsabilidad, propicia
en los entes corporativos el desarrollo de procedimientos internos de
averiguación delictiva.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 691

La aprobación de la Directiva 2019/1937 del Parlamento Europeo


y del Consejo, de 23 de octubre de 2019, relativa a la protección de las
personas que informen sobre infracciones del Derecho de la Unión3,
da buena muestra de cómo el reporte de hechos delictivos es un eficaz
mecanismo de descubrimiento y prevención de infracciones a intereses
europeos y nacionales. La Directiva carece, sin embargo, de una manifiesta
ponderación entre el fin perseguido con la denuncia llevada a cabo por
miembros de la organización y la salvaguarda de los derechos y garantías de
los trabajadores sobre los que recaiga la investigación a que den resultado
las alertas. Lo mismo acontece con el actual Proyecto de trasposición de
la norma europea en España.
En este contexto, es objeto del presente trabajo el análisis de cómo
los resultados de las entrevistas o interrogatorios a los trabajadores por
parte del empresario como medio de prueba en la investigación interna,
pueden ser aportados al proceso penal sin que ello constituya una merma
del derecho de los empleados a su no autoincriminación. Con este fin,
son varias las preguntas a las que trataremos de dar respuesta.
¿Cuál es el contexto en el que fue aprobada la Directiva 2019/1937?
A ello dedicaremos el primer apartado de nuestro estudio, analizando la
existencia de un escenario en el que tanto la Unión Europea como España
apuestan por la responsabilidad de las personas jurídicas ante la comisión
de hechos delictivos, al tiempo que prevén la colaboración en el proceso
penal como elemento clave de eficacia de los programas de compliance
gracias a los cuales aquéllas pueden eludir su responsabilidad. Junto con
ello, nos plantearemos la siguiente cuestión ¿suponen la mencionada
Directiva y su trasposición en España un impulso al desarrollo de
investigaciones intraempresariales derivadas de la denuncia de infracciones
por los propios miembros de la entidad?
En el segundo apartado, se abordará cómo las entrevistas o
interrogatorios a los trabajadores son el medio de prueba central en las
investigaciones internas y cómo su acometimiento en el marco de una
relación laboral puede derivar en una autoincriminación forzada de
aquéllos. Dos son las preguntas, por lo tanto, a las que trataremos de dar
respuesta: ¿pueden las declaraciones del trabajador en un interrogatorio

3
DOUE n. L 305, de 26 de noviembre de 2019, pp. 17 – 56.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
692 | Vicario Pérez, Ana María.

interno ser constitutivas de prueba en un proceso penal seguido contra


el mismo? Y en su caso, ¿vulnera el derecho a la no autoincriminación
del trabajador la aportación al proceso penal de declaraciones vertidas
por él en investigaciones intraempresariales?
Consecuentemente, la pregunta que surge irremediablemente
es la que sigue: ¿qué límites deben regir el valor probatorio penal de las
entrevistas realizadas a trabajadores en las investigaciones internas? A
ello destinaremos el tercer apartado, analizando las limitaciones que la
información sobre hechos delictivos obtenida por esta vía ha de presentar
a la hora de ser aportada como prueba al proceso penal que se siga contra
el trabajador interrogado, garantizándose con ello el cumplimiento de los
artículos 24 de la Constitución Española (CE)4 y 11 de la Ley Orgánica
6/1985, de 1 de julio, del Poder Judicial (LOPJ)5. Nos serviremos para
ello de los pronunciamientos jurisprudenciales europeos y españoles
en la materia.

1. LA DIRECTIVA 2019/1937 DE PROTECCIÓN DEL


DENUNCIANTE COMO NORMA IMPULSORA DE LAS
INVESTIGACIONES INTERNAS CORPORATIVAS

Dedicamos el presente apartado de nuestro estudio al análisis


de la Directiva 2019/1937 del Parlamento Europeo y del Consejo, de
23 de octubre de 2019, relativa a la protección de las personas que
informen sobre infracciones del Derecho de la Unión. Se trata de la
norma europea que ha establecido la obligación para las personas
jurídicas de contar en su organización con canales de denuncia que
permitan a sus miembros alertar sobre posibles delitos cometidos en su
ámbito de actividad. Con ello se dará lugar al desarrollo de las sucesivas
investigaciones internas por parte de los compliance officers de cara a
la efectiva averiguación delictiva.

4
BOE n. 311, de 29 de diciembre de 1978, ref. BOE-A-1978-31229.
5
BOE n. 157, de 2 de julio de 1985, ref. BOE-A-1985-12666.

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1.1. Contexto de la aprobación de la Directiva 2019/1937


Whistleblowing. Hacia la privatización del proceso penal contra
las personas jurídicas.

Las normas aprobadas por el legislador europeo bajo la


fundamentación jurídica del artículo 83 del Tratado de Funcionamiento
de la Unión Europea (TFUE)6 en aras de la aproximación legislativa de
los ordenamientos penales de los Estados miembro, han propiciado la
incorporación en el ordenamiento de la Unión de la responsabilidad
de las personas jurídicas por los ilícitos cometidos en su seno7. Así y
a modo de ejemplo, las Directivas promulgadas en materia de trata de
seres humanos8, delitos informáticos9, abuso de mercado10 o fraude a
los intereses financieros europeos11, entre otras, contemplan entre sus
previsiones la posible comisión de los hechos delictivos en ellas descritos
por parte de las entidades.

6
DOUE n. C 202, de 7 de junio de 2016, pp. 47 – 199. Versión consolidada.
7
JIMENO BULNES, Mar. Normas de la Unión Europea sobre responsabili-
dad (penal o administrativa) de las personas jurídicas y sobre compliance:
Su adaptación en España. En GÓMEZ COLOMER, Juan Luis (dir.); MADRID
BOQUÍN, Christa M. (coord.). Tratado sobre compliance penal: responsabilidad
penal de las personas jurídicas y modelos de organización y gestión. Valencia:
Tirant lo Blanch, 2019. p. 939 – 974, esp. p. 945 – 952.
8
Directiva 2011/36/UE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 5 abril
de 2011, relativa a la prevención y lucha contra la trata de seres huma-
nos y a la protección de las víctimas y por la que se sustituye la Decisión
marco 2002/629/JAI del Consejo (DOUE n. L 101, de 15 de abril de 2011,
pp. 1 – 11).
9
Directiva 2013/40/UE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 12 de agos-
to de 2013, relativa a los ataques contra los sistemas de información y por la
que se sustituye la Decisión marco 2005/222/JAI del Consejo (DOUE n. L
218, de 14 de agosto de 2013, pp. 8 – 14).
10
Directiva 2014/57/UE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 16 de abril
de 2014, sobre las sanciones penales aplicables al abuso de mercado (DOUE
n. L 173, de 12 de junio de 2014, pp. 179 – 189).
11
Directiva (UE) 2017/1371 del Parlamento Europeo y del Consejo, de 5 de
julio de 2017, sobre la lucha contra el fraude que afecta a los intereses finan-
cieros de la Unión a través del Derecho penal (DOUE n. L 198, de 28 de julio
de 2017, pp. 29 – 41).

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
694 | Vicario Pérez, Ana María.

Más aún, estas mismas normas son las que configuran el régimen
de autorresponsabilidad12 que predica respecto de las personas jurídicas.
Ciertamente, como resulta de la naturaleza incorpórea de los entes
corporativos, su responsabilidad derivará de los delitos cometidos por
parte de las personas físicas que operen en el ámbito de su estructura
organizativa13. En este sentido, la legislación europea prevé una doble
tipología14 de sujetos cuyas actuaciones en nombre y por cuenta de la
persona jurídica pueden redundar en la responsabilidad de ésta: en primer
lugar, los sujetos físicos que ostenten un puesto directivo, ya sea basado
en un poder de representación, en la posibilidad de tomar decisiones en
nombre de la entidad o en la atribución de autoridad para ejercer una
función de control respecto de los demás miembros de la organización;
y en segundo lugar, los sujetos físicos con condición de empleadas en
la persona jurídica y que se encuentran bajo el control y supervisión de
los anteriores.
Fuera quien fuese el sujeto físico del que se derive la responsabilidad
(penal o administrativa) de la persona jurídica, las normas europeas
y posteriormente las nacionales como la española que incorporan tal
regulación (artículo 31 bis Código Penal) concretan que la actuación que
aquél haya acometido ha de ser consecuencia de una deficiente vigilancia

12
Modelo entendido como la posible atribución de responsabilidad (penal o
administrativa) a la persona jurídica de forma directa e independiente de la
existencia o no de culpabilidad de una concreta persona física.
13
DE LA CUESTA ARZAMENDI, José Luis; PÉREZ MACHÍO, Ana. La respon-
sabilidad penal de las personas jurídicas en el marco europeo: las directri-
ces comunitarias y su implementación por los Estados. En DE LA CUESTA
ARZAMENDI, José Luis; PÉREZ MACHÍO, Ana; UGARTEMENDÍA ECEI-
ZABARRENA, Juan Ignacio (dirs.). Armonización penal en Europa. Pamplo-
na: Instituto Vasco de Administración Pública, 2013. p. 52 – 76, esp. p. 137;
SÁNCHEZ GIMENO, Sergio; ESTEVE CARRASCOSA, Alba; GAY QUINZÁ,
Ignasi. Régimen jurídico internacional de la responsabilidad penal de las em-
presas. El estado de la cuestión en el Derecho de la Unión Europea y en los
Estados Unidos de América. En GIMÉNEZ ZURIAGA, Isabel (dir.). Manual
práctico de compliance. Cizur menor: Civitas, 2017. p. 67 – 93, esp. p. 75 – 76.
14
En lo que se concibe como un sistema dualista o de doble vía de imputación
de la persona jurídica, URRUELA MORA, Asier. La introducción de la res-
ponsabilidad penal de las personas jurídicas en Derecho español en virtud
de la LO 5/2010: perspectiva de lege data. Estudios penales y criminológicos.
Santiago de Compostela, n. 32, p. 413-468, 2012., esp. p. 425.

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o control por parte de la entidad, de forma tal que haya existido una
suerte de “permisividad” propiciadora de la actuación criminal15. Así, el
modelo de autorresponsabilidad de las entidades se basa en el “defecto
de organización”, cuyo concepto nace en la doctrina alemana de la mano
de TIEDEMANN, primer autor en correlacionar la culpabilidad de la
persona jurídica con el incumplimiento por ésta de su deber de controlar
las conductas desarrolladas en su seno16. De entre la doctrina española
señalamos las palabras de NIETO MARTÍN, para quien “La culpabilidad de
la empresa por defecto de organización significa que en la dirección empresarial
no se han cumplido eficazmente y de manera prolongada las obligaciones
de autorregulación que impone el derecho administrativo o el derecho penal
con el fin de evitar lesiones para los bienes jurídicos más afectados por la
actividad empresarial”17.
En este contexto, los programas de cumplimiento penal o
compliance ocupan un papel preeminente en la observancia por parte
de la entidad de sus deberes de supervisión y control, siendo que es
precisamente la inexistencia de tales programas la que determina su
responsabilidad por los hechos cometidos por sus miembros. Así, y
en tanto en cuanto el modelo de autorresponsabilidad requiere de la
comisión de un hecho propio por la entidad, es la falta de un programa
de cumplimiento efectivo y eficaz lo que redunda en su propia actuación

15
A modo de ejemplo, por todas, véase el art. 5.2 Directiva 2011/36/UE del
Parlamento Europeo y del Consejo, de 5 abril de 2011, relativa a la prevención
y lucha contra la trata de seres humanos y a la protección de las víctimas, con-
forme al cual, “los Estados miembros se asegurarán asimismo de que las personas
jurídicas puedan ser consideradas responsables cuando la falta de supervisión o
control por parte de una de las personas a que se refiere el apartado 1 (en el que
se hace referencia a los directivos y empleados de la organización) haya hecho
posible que una persona sometida a su autoridad cometa una de las infracciones
contempladas en los artículos 2 y 3 en beneficio de la persona jurídica”.
16
Así en la obra clásica TIEDEMANN, Klaus. Die ‘Bebußung’ von Unterneh-
men nach dem 2. Gesetz zur Bekämpfung der Wirtschaftskriminalität. Neue
Juristische Wochenschrift (NJW). Disponible en https://beck-online.beck.
de/Dokument?vpath=bibdata%2Fzeits%2Fnjw%2F1988%2Fcont%2Fn-
jw.1988.1169.1.htm&anchor=Y-300-Z-NJW-B-1988-S-1169-N-1 Acceso en
26 may. 2023.
17
NIETO MARTÍN, Adán. Responsabilidad social, gobierno corporativo y auto-
rregulación: sus influencias en el derecho penal de la empresa. Política Crimi-
nal. Talca, n. 5, pp. 1 – 18, 2008, esp. p. 14.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
696 | Vicario Pérez, Ana María.

ilícita. Siguiendo a ZUGALDÍA ESPINAR, el compliance se define como “el


protocolo o el mecanismo integrado estatutaria, orgánica y jerárquicamente
en la entidad para ejercer el debido control (evitar conductas indeseables)
de sus directivos y empleados, con la finalidad de aminorar los riesgos de
que la empresa incurra en responsabilidad criminal. (…) Con el corporate
compliance, la empresa se autoimpone una serie de obligaciones para dar
satisfacción a las normas”18.
Con ello no pretende sino propiciarse la participación de la
persona jurídica en la prevención y represión delictiva, erigiéndose
así una “autorregulación” de las entidades o “privatización del proceso
penal”19 en aras de solventar las dificultades que, a consecuencia de los
complejos entramados organizativos que existen en los entes corporativos,
pueden encontrarse las autoridades jurisdiccionales o administrativas
nacionales a la hora de investigar los hechos ilícitos. En efecto, son las
propias personas jurídicas quienes se encuentran en mejor situación para
detectar e investigar los hechos acaecidos en su ámbito de actividad20,
de forma tal que el legislador fomenta un “Derecho autorregulado” en
el que las autoridades jurisdiccionales o administrativas supervisan la
conducta de las entidades en función de la atención por las mismas a los
modelos de compliance que hayan implantado. Se habla en este orden
de ideas de una “autorregulación regulada”, en cuya virtud, se señalan
los elementos básicos que han de tener los programas de compliance a

18
ZUGALDÍA ESPINAR, José Miguel. La responsabilidad criminal de las personas
jurídicas, de los entes sin personalidad y de sus directivos. Análisis de los arts. 31
bis y 129 del Código Penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013, p. 98.
19
ECHEVERRIA BERECIARTUA, Eneko. Las modalidades de responsabilidad
penal de las personas jurídicas en el marco del proceso penal. Valencia: Tirant
lo Blanch, 2021, p. 36; NEIRA PENA, Ana María. La otra cara del compliance
penal. La privatización de la investigación penal y los derechos de los traba-
jadores. En JIMÉNEZ CONDE, Fernando; BELLIDO PENADÉS, Rafael (dirs.);
LLOPIS NADAL, Patricia; DE LUIS GARCÍA, Elena (coords.). Justicia: ¿garan-
tías versus eficiencia?. Valencia: Tirant lo Blanch, 2019. p. 857 – 868, esp. pp.
858 – 859.
20
GÓMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. Fundamentos de la responsabilidad penal de las
personas jurídicas. En BANACLOCHE PALAO, Julio; ZARZALEJOS NIETO,
Jesús; GÓMEZ-JARA DÍEZ, Carlos. Responsabilidad penal de las personas jurí-
dicas. Aspectos sustantivos y procesales. Madrid: La Ley Wolters Kluwer, 2011.
p. 24 – 47, esp. pp. 26 – 29.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
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implementar por las personas jurídicas, de modo que la existencia de los


mismos derivará en la atenuación o incluso exención de la responsabilidad
de éstas21. Es así que los programas de compliance tienen como principal
consecuencia para con las personas jurídicas la conformación de un
instrumento probatorio al respecto del efectivo respeto de sus funciones
de prevención y detección delictiva, incentivándose con ello una cultura
de cumplimiento de la legalidad.
Ello no empero, el ordenamiento jurídico europeo no ofrece en sus
normas de aproximación sustantiva cuáles han de ser los elementos de un
programa de compliance que excluya la responsabilidad de las entidades.
Hemos de recurrir en este sentido a normas de soft law, como es el caso
de las normas de la International Organization for Standardization (normas
ISO), y así en concreto la norma ISO 37301:202122, publicada el 13 de
abril de 2021, por la cual se detallan una serie de criterios o estándares
para el desarrollo, implementación y evaluación de los programas de
compliance. Desde el punto de vista normativo, si bien como decimos fuera
del marco de la aproximación legislativa sustantiva, es destacable a la fecha
la Propuesta de Directiva del Parlamento Europeo y del Consejo sobre
diligencia debida de las empresas en materia de sostenibilidad y por la que
se modifica la Directiva (UE) 2019/193723. En la misma, se establece para
las empresas obligaciones atinentes al establecimiento de un Código de
Conducta y el control de su cumplimiento; a la elaboración de un “mapa
de riesgos” sobre las posibles conductas ilícitas; o al establecimiento de un
canal de denuncia interno que permita a los miembros de la organización
poner en conocimiento de los responsables del compliance program las
comisiones delictivas que observen en la empresa.

21
AGUILERA GORDILLO, Rafael. Manual de compliance penal en España. Cizur
Menor: Aranzadi, 2022, p. 186.
22
Vista en CASANOVAS YSLA, Alain. Guía práctica de compliance según la Nor-
ma ISO 37301:2021. Madrid: AENOR - Asociación Española de Normaliza-
ción y Certificación, 2021, pp. 337 – 398.
23
Bruselas, 23 de febrero de 2022, COM (2022) 71 final. Sobre la misma, BA-
CHMAIER WINTER, Lorena. Whistleblowing europeo y compliance: La Di-
rectiva EU de 2019 relativa a la protección de personas que reporten infrac-
ciones del Derecho de la Unión. Diario la Ley 18 de diciembre de 2019, n.
9539. Disponible en www.diariolaley.com a través de SMARTECA. Acceso en
8 feb. 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
698 | Vicario Pérez, Ana María.

Similar es la fórmula legislativa empleada por el ordenamiento


jurídico español. En el mismo, es el artículo 31 bis 5 CP el que explicita
cuáles son los elementos de un programa de compliance a efectos
de su consideración como circunstancia atenuante o eximente de la
responsabilidad penal de la entidad: a) medidas de prevención, por medio
de la identificación del “mapa de riesgos” y la inclusión de protocolos de
reducción de los riesgos penales percibidos; b) medidas de detección, esto
es, de control y supervisión del cumplimiento de los antedichos protocolos
internos; c) medidas de reacción, consistentes en el establecimiento
de canales internos de denuncia que deriven en el posterior desarrollo
de investigaciones internas para la averiguación de hechos delictivos
e imposición de sanciones disciplinarias; d) medidas de seguimiento
consistentes en la supervisión y actualización periódica del programa24.
En lo tocante al establecimiento de canales internos de denuncia,
el paso normativo más significativo a nivel europeo lo ha supuesto la
Directiva 2019/1937 del Parlamento Europeo y del Consejo, de 23 de
octubre de 2019, relativa a la protección de las personas que informen
sobre infracciones del Derecho de la Unión. Esta norma, transpuesta en
España por medio de la Ley 2/2023, de 20 de febrero, reguladora de la
protección de las personas que informen sobre infracciones normativas
y de lucha contra la corrupción25, tiene por objetivo, como señalan sus
artículos 1 y 2, el establecimiento de normas mínimas comunes para la
protección de las personas que informen sobre infracciones del Derecho
de la Unión por parte de las personas jurídicas que integran, ya sea como
directivos o como trabajadores.

1.2. Los obligatorios canales internos de denuncia y las


consiguientes investigaciones corporativas

El fundamento de la Directiva 2019/1937 aparece contemplado


en el Considerando 1 de la norma, en el cual se explicita que las personas

24
BACIGALUPO SAGESE, Silvina. Compliance. Eunomía. Revista en Cultura de
la Legalidad, Madrid, n. 21, p. 260-276, 2021. https://doi.org/10.20318/eu-
nomia.2021.6348 esp. p. 268.
25
BOE n. 44, de 21 de febrero de 2023, ref. BOE-A-2023-4513.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 699

que desempeñan sus funciones en una organización son quienes se


encuentran en mejor situación para conocer las amenazas o perjuicios
para el interés público que pueden darse en la entidad. De esta forma,
el incentivo a la denuncia de los hechos ilícitos se convierte en un papel
clave en la prevención y descubrimiento de conductas que afecten a los
intereses europeos, lo que requiere a su vez el establecimiento de un
elenco de medidas tendentes a evitar la adopción de represalias contra
los denunciantes por parte de la propia persona jurídica. Sumariamente,
señala OLAIZOLA NOGALES, “la protección (de los denunciantes) no
es el fin último de la Directiva, sino que dicha protección es el instrumento
necesario para que a través de los alertadores puedan prevenirse y descubrirse
determinadas infracciones”26.
Con este ánimo, el artículo 4.2 de la Directiva incluye en su
ámbito personal de aplicación a los denunciantes de cualesquiera
organizaciones públicas y privadas, concretándose en el artículo 6 las
específicas condiciones que han de darse para la protección de tales
alertadores, cuales son la existencia de motivos razonables de veracidad
de las informaciones que se denuncien27, así como su comunicación por
medio de los canales de denuncia implantados por la persona jurídica. Es
en este punto donde cobra especial importancia otra de las previsiones
más destacadas de la Directiva, esto es, la imposición a las personas
jurídicas de una obligación de contar con canales internos y externos de
denuncia28. La denuncia interna será aquella efectuada por el whistleblower

26
OLAIZOLA NOAGALES, Inés. La protección de los denunciantes: algunas
carencias de la Directiva (UE) 2019/1937. En OLAIZOLA NOGALES, Inés;
SIERRA HERNÁIZ, Elisa; LÓPEZ LÓPEZ, Hugo (dirs.); MOLINA ÁLVAREZ,
Inés; ALEMÁN ARÓSTEGUI, Lorena (coords.). Análisis de la Directiva UE
2019/1937 Whistleblower desde las perspectivas penal, procesal, laboral y admi-
nistrativo-financiera. Cizur Menor: Aranzadi, 2021. p. 27 – 51, esp. p. 29.
27
Siguiendo el tenor literal de la Directiva 2019/1937 en su art. 6.1.a), se exige
que los alertadores “tengan motivos razonables para pensar que la información
sobre infracciones denunciadas es veraz en el momento de la denuncia y que la
citada información entra dentro del ámbito de aplicación de la presente Directi-
va”. Vid. GARCÍA MORENO, Beatriz. Del whistleblower al alertador: la regu-
lación europea de los canales de denuncia. Valencia: Tirant lo Blanch, 2020,
pp. 71 – 74.
28
En el caso de las entidades privadas, tal obligación se limitará a aquellas que
empleen al menos a cincuenta trabajadores.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
700 | Vicario Pérez, Ana María.

ante los órganos que a este efecto hayan sido designados por el ente
corporativo, en tanto en cuanto la denuncia externa se llevará a cabo ante
las autoridades competentes determinadas por cada Estado miembro29.
A ello se une la posibilidad de revelación pública, entendida como la
puesta a disposición de la sociedad de información atinente a infracciones
habidas en la organización.
Si bien es cierto que la elección del medio de denuncia se deja
en manos del whistleblower en atención al riesgo de posibles represalias
que pueda existir en cada caso concreto, las denuncias internas son
dotadas por el legislador europeo de un carácter preferente respecto a
los canales de comunicación externa o las revelaciones públicas, habida
cuenta constituyen una manifestación del “autocontrol de riesgos” de
las personas jurídicas derivado de su autorregulación30. En esta lógica
argumental, señalamos el tenor literal del Considerando 33 de la Directiva,
conforme al cual, “en general, los denunciantes se sienten más cómodos
denunciando por canales internos, a menos que tengan motivos para denunciar
por canales externos. Estudios empíricos demuestran que la mayoría de
los denunciantes tienden a denunciar por canales internos, dentro de la
organización en la que trabajan. La denuncia interna es también el mejor
modo de recabar información de las personas que pueden contribuir a resolver
con prontitud y efectividad los riesgos para el interés público”. Ciertamente,
el whistleblowing interno dota de primera mano a la persona jurídica de
los datos e informaciones necesarios para el eficiente funcionamiento
de su programa de compliance, señalándose las debilidades del mismo
y advirtiéndose sobre las conductas que pudieran ser constitutivas de
delito y que podrían redundar en su propia responsabilidad penal, de
forma tal que pueda preparar su defensa en el proceso jurisdiccional que
eventualmente se sigua contra ella31.

29
JULIÀ-PIJOAN, M. Un por qué a la observancia de las garantías procesales en
las investigaciones internas. Revista Vasca de Derecho Procesal y Arbitraje. San
Sebastián, n.3, p. 317 – 353, 2021, esp. p. 323.
30
GARCÍA-MORENO, Beatriz. Del whistleblower al alertador: la regulación euro-
pea de los canales de denuncia. op. cit. p. 35.
31
Sobre la construcción del canal de denuncias, GARCÍA MORENO, Beatriz.
Whistleblowing y canales institucionales de denuncia. En NIETO MARTÍN,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 701

En cualquier caso, incorporada al canal de denuncias la información


concerniente a comportamientos presuntamente delictivos, sobre la base
de los datos comunicados tendrá lugar la apertura de una investigación
interna para la averiguación de los hechos realmente acaecidos32.
Se desarrolla así una investigación reactiva a consecuencia de la
notitia criminis33, la cual puede tener por finalidad bien el conocimiento de
los hechos delictivos con carácter previo al proceso penal para denunciar
los delitos de los que conozca (investigación reactiva confirmatoria
o pre-judicial); bien la averiguación delictiva de forma paralela al
trascurso del proceso penal incoado, de cara a la colaboración con el
órgano jurisdiccional (investigación reactiva defensiva o para-judicial)34.
En ambos casos, nos encontramos por tanto ante la manifestación del
requisito de los programas de compliance consistente en informar sobre
los riesgos penales existentes en la persona jurídica, aportando al proceso
penal las informaciones descubiertas. Se da por consiguiente una suerte
de “instrucción corporativa” en tanto en cuanto las personas jurídicas
“desarrollan internamente de facto potestades instructoras”35.
Pues bien, el hecho de que las personas jurídicas aporten a las
autoridades jurisdiccionales los resultados de las investigaciones internas

Adán (dir.). Manual de cumplimiento penal en la empresa. Valencia: Tirant lo


Blanch, 2015. p. 205 – 230, esp. p. 214 – 224.
32
FORTUNY CENDRA, Miquel. Las investigaciones internas en el marco de
un modelo de prevención de delitos. En FORTUNY CENDRA, Miquel (dir.).
Las investigaciones internas en compliance penal. Factores clave para su eficacia.
Cizur Menor: Aranzadi, 2021. p. 21 – 60, esp. pp. 28 – 30.
33
A diferencia de las investigaciones internas preventivas, que tienen por fina-
lidad “comprobar el grado de funcionamiento del sistema, sin que existan sos-
pechas de que se ha cometido algún tipo de irregularidad”, NIETO MARTÍN,
Adán. Investigaciones internas. En NIETO MARTÍN, Adán (dir.). Manual de
cumplimiento penal en la empresa. Valencia: Tirant lo Blanch, 2015. p. 231 –
270., esp. p. 232.
34
COLOMER HERNÁNDEZ, Ignacio. Derechos fundamentales y valor proba-
torio en el proceso penal de las evidencias obtenidas en investigaciones in-
ternas en un sistema de compliance. En GÓMEZ COLOMER, Juan Luis (dir.);
MADRID BOQUÍN, Christa M. (coord.). Tratado sobre compliance penal. Va-
lencia: Tirant lo Blanch, 2019. p. 610 – 652, esp. p. 619.
35
AYALA GONZÁLEZ, Alejandro. Investigaciones internas: ¿zanahorias legis-
lativas y palos jurisprudenciales? InDret, Barcelona, n. 2, p. 270 – 303, 2020.
10.31009/lnDret.2020.i2.08, esp. pp. 275 – 277.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
702 | Vicario Pérez, Ana María.

¿podría suponer una injerencia injustificada en los derechos de defensa


de los miembros de la organización contra los que se siga el proceso
penal? O en otras palabras ¿tendrán valor probatorio las informaciones
proporcionadas por la entidad o serán por el contrario consideradas
como pruebas ilícitas? En los apartados que siguen trataremos de dar
respuesta a tales preguntas, focalizando nuestro estudio en las entrevistas
o interrogatorios como uno de los mecanismos de investigación interna
de los que puede servirse la persona jurídica para, a continuación,
analizar la inclusión de sus resultados en el proceso penal seguido contra
un trabajador.

2. LA ENTREVISTA COMO MEDIO DE PRUEBA EN LAS


INVESTIGACIONES INTERNAS. AFECTACIÓN A LOS
DERECHOS DE DEFENSA DE LOS TRABAJADORES

Dedicamos este apartado al estudio de las entrevistas o


interrogatorios al trabajador como de uno de los principales medios de
prueba de los que puede servirse la persona jurídica en el desarrollo de
las investigaciones internas reactivas bajo la base jurídica, en el caso
español, del artículo 20.3 del Real Decreto Legislativo 2/2015, de 23 de
octubre, por el que se aprueba el texto refundido de la Ley del Estatuto de
los Trabajadores (ET)36. Por medio del citado precepto, se prevé el dado
en llamar poder de dirección del empresario, consistente en la facultad
de adopción de las medidas más adecuadas para el control y vigilancia
del correcto cumplimiento por el trabajador de sus obligaciones. Potestad
que no es absoluta, sino limitada por el debido respeto a la dignidad y
demás derechos fundamentales de los empleados37, entre los que ocupa
un lugar destacado la tutela judicial efectiva38.

36
BOE n. 255, de 24 de octubre de 2015, ref. BOE-A-2015-11430.
37
NEIRA PENA, Ana María. La instrucción de los procesos penales frente a las
personas jurídicas. Valencia: Tirant lo Blanch, 2017, p. 351; de la misma au-
tora, NEIRA PENA, Ana María. Sherlock Holmes en el centro del trabajo.
Las investigaciones internas empresariales. Revista de derecho y proceso penal.
Madrid, n. 37, pp. 49 – 89, 2015, esp. p. 65.
38
ESTEBAN ROS, Ignacio. Derecho laboral e investigaciones internas. En FOR-
TUNY CENDRA, Miquel (dir.). Las investigaciones internas en compliance

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 703

Con ello, en el marco de una investigación interna defensiva,


la empresa puede servirse de distintos medios de indagación, resultado
de su poder fáctico de acometer intensas intervenciones en el ámbito
laboral39, como pudieran ser las grabaciones de imagen y/o sonido, el
acceso a los equipos informáticos individuales de los trabajadores, las
escuchas telefónicas o incluso el acceso a informes de detectives privados.
De entre todas, las entrevistas son consideradas como “el corazón de las
investigaciones internas”40.

2.1. Entrevista al trabajador investigado ¿obligado a


autoincriminarse bajo amenaza de despido?

La realización de entrevistas o interrogatorios a los trabajadores


investigados41, se presenta como el medio de prueba más frecuente
para llegar al conocimiento de los hechos acontecidos42. La principal
problemática que sin embargo puede desprenderse del recurso a este
mecanismo, es la concerniente a la posible vulneración del derecho
del investigado a guardar silencio o a no confesarse culpable y declarar
contra sí mismo43.

penal. Factores clave para su eficacia. Cizur Menor: Aranzadi, 2021. p. 201 –
235, esp. pp. 205 – 208.
39
POUCHAIN, Pedro. Autoincriminación “forzada” en las investigaciones in-
ternas. Prohibición probatoria según la imputación al Estado. InDret. Barce-
lona, n. 4, p. 80 – 111, 2022. 10.31009/InDret.2022.i4.03, esp. p. 84.
40
SUGGIN, Sarah Helene. Internal Corporate Investigations: Legal Ethics, Pro-
fessionalism and the Employee Interview. Columbia Business Law Review.
Washington, n. 3, p. 859 – 964, 2003, esp. p. 864.
41
También a testigos y denunciantes, sobre cuyas declaraciones no nos ocupa-
remos en el presente estudio por escapar de nuestro objeto de investigación.
42
ESTEBAN ROS, Ignacio. Derecho laboral e investigaciones internas. op.
cit. p. 210.
43
Como señala ARANGÜENA FANEGO, ambos derechos se encuentran indiso-
ciablemente vinculados en torno al principio nemo tenetur se ipsum accusare.
El derecho al silencio ha de ser entendido como la negativa del investigado a
declarar sin que de ello se desprendan suposiciones negativas para su defen-
sa; este silencio inocuo permite que se dé lugar al derecho a no confesarse
culpable o declarar contra uno mismo, que se presentan así como garantías
sucesivas al silencio y que implican la no obligatoriedad de una declaración

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
704 | Vicario Pérez, Ana María.

En cuanto que inserto en una relación laboral, el trabajador se


ve desde luego compelido a responder a las preguntas que se le formulen
en el curso de la investigación interna, en cumplimiento de su deber de
diligencia con respecto a las órdenes o instrucciones adoptadas por el
empresario en el ejercicio de sus facultades de dirección (artículos 5.c) y
20.2 ET)44. El empleado se encontrará de esta suerte ante la encrucijada
de declarar y confesarse culpable o ser despedido por negarse a cumplir
con los mandatos empresariales, lo cual aparece resumido en la expresión
inglesa “Talk or walk”45. Como puntualiza ESTRADA I CUADRAS, la
opción por la no autoincriminación será cuanto menos clara en los casos
en los que la infracción disciplinaria derivada de la comisión delictiva no
haya prescrito, de forma tal que si el trabajador confiesa será igualmente
despedido (artículo 54.d ET, bajo la argumentación de la transgresión
de la buena fe contractual o el abuso de confianza en el desempeño del
puesto de trabajo); sin embargo, en la medida en que ya no sea posible
dicha sanción en el orden laboral, el silencio del trabajador sí puede
tener la consecuencia indeseable de convertirse en la causa del fin de la
relación contractual46. Son estos supuestos, por lo tanto, en los que debe

de la que pueda derivarse la incriminación del investigado, ARANGÜENA


FANEGO, Coral. El derecho al silencio, a no declarar contra uno mismo y a no
confesarse culpable. En GÓMEZ COLOMER, Juan Luis (dir.); MADRID BO-
QUÍN, Christa M. (coord.). Tratado sobre compliance penal. Responsabilidad
penal de las personas jurídicas y modelos de organización y gestión. Valencia:
Tirant lo Blanch, 2019. p. 439 – 472, esp. p. 463; también puede consultarse
GOENA VIVES, Beatriz. Responsabilidad penal de las personas jurídicas y
nemo tenetur: análisis desde el fundamento material de la sanción corporati-
va. Revista Electrónica de Ciencia Penal y Criminología. Granada, n. 23 – 22, p.
1 – 52, 2021, esp. p. 6.
44
NIETO MARTIN, Adán. Investigaciones internas, whistleblowing y coopera-
ción: la lucha por la información en el proceso penal. Diario la Ley 5 de julio
de 2013, n. 8120. Disponible en www.diariolaley.com a través de SMARTE-
CA. Acceso en 8 feb. 2023.
45
WING, James D. Corporate internal investigations and the Fifth Amendment.
Business Law Today, 18 de septiembre de 2014. Disponible en https://www.
americanbar.org/groups/business_law/publications/blt/2014/09/03_
wing/. Acceso en 11 feb. 2023.
46
ESTRADA I CUADRAS, Albert. Confesión o finiquito: el papel del derecho a
no autoincriminarse en las investigaciones internas. InDret. Barcelona, n. 4,
pp. 226 – 272, 2020. 10.31009/InDret.2020.i4.06, esp. p. 229.

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 705

ponderarse el cumplimiento por el trabajador de sus deberes para con la


empresa y su derecho a que las declaraciones vertidas en las investigaciones
internas no le resulten perjudiciales en un eventual proceso penal en el
que tenga la condición de sujeto pasivo. Y es que, la posibilidad de despido
puede generar sobre el empleado una coacción de hecho suficiente para
inducir su declaración, constituyendo tal situación un claro vicio de su
manifestación de voluntad colaboradora. Como señala POUCHAIN, “la
alternativa en la que se coloca al empleado, entre perder su trabajo –la base
de su sustento– o autoinculparse, no es exactamente una elección libre entre
hablar o silenciar. En tales circunstancias, una elección racional y sin trabas
parece efectivamente imposible. (…) Una situación de presión que ponga en
peligro la supervivencia del trabajador, desde un punto de vista económico,
es capaz de menoscabar su libertad de decidir entre guardar o no silencio”47.
En suma, la posibilidad de despido que se presenta al trabajador
ante su negativa a declarar en el interrogatorio interno conlleva que
las informaciones obtenidas por esta vía sean constitutivas de una
autoincriminación forzada. Ello se erige en un riesgo palpable de la
privatización del proceso penal en que consiste el obligado establecimiento
de canales internos de denuncia y consiguientes investigaciones corporativas
por parte de las personas jurídicas48. Ciertamente, es tentador para las
autoridades públicas el recurso a medios de prueba como el aquí analizado
para obtener informaciones, soslayando los rígidos principios que deben regir
la práctica de diligencias de investigación en el curso de un proceso penal.

2.2. Límites en la aportación al proceso penal de las declaraciones


del trabajador

A priori, el derecho a la no autoincriminación del trabajador no


predica respecto de los interrogatorios que se desarrollen en el marco

47
POUCHAIN, Pedro. Autoincriminación “forzada” en las investigaciones in-
ternas. Prohibición probatoria según la imputación al Estado. op. cit. p. 85.
48
NEIRA PENA, Ana María. Programas de cumplimiento penal e investiga-
ciones internas. Los derechos de los trabajadores en juego. En BUENO DE
MATA, Federico (dir.); NEIRA PENA, Ana María; PÉREZ GAIPO, Julio
(coords.). Processulus. Estudios sobre derecho procesal. Granada: Comares,
2015. p. 163 – 175, esp. p. 168 – 170.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
706 | Vicario Pérez, Ana María.

de la investigación interna, toda vez que los derechos fundamentales


(entre los que se encuentra la tutela judicial efectiva de la que forma
parte la no autoincriminación) sólo pueden ser apreciados como límites
a los poderes públicos49 y no a las relaciones de índole privada como son
las laborales. Por tanto, no pretende aquí argumentarse que la negativa
del trabajador a colaborar con la investigación interna no pueda derivar
en una sanción disciplinaria como el despido. Cuestión distinta es, sin
embargo, que a las declaraciones obtenidas de este modo se les pueda
dotar de valor probatorio en procesos penales. Es en este ámbito donde
el derecho a la no declaración culpable incardinado en el artículo 24.2 CE
despliega sus efectos, quedando éste, por tanto, limitado a los supuestos
en que el trabajador no actúa como mero empleado, sino como sujeto
pasivo de un proceso penal en el que la presunción de inocencia ha de
erigirse como principio básico50.
Dos son las vías por las que la información aportada por el
trabajador puede terminar formando parte del proceso penal en curso:
mediante la incautación por parte de las autoridades de los documentos
relativos a las investigaciones internas corporativas desarrolladas, por
ejemplo a través la práctica de diligencias de entrada y registro en la
persona jurídica51; o mediante la aportación de las declaraciones por la

49
Vid. art. 53.1 CE: “Los derechos y libertades reconocidos en el Capítulo segundo
del presente Título vinculan a todos los poderes públicos”.
50
Vid. STS 186/2000, de 10 de julio, ECLI:ES:TC:2000:186, Fundamento Ju-
rídico décimo: “el derecho fundamental a la presunción de inocencia no puede
alegarse en el ámbito de las relaciones laborales cuando éstas son extinguidas
unilateralmente por el empleador mediante el despido disciplinario”; también la
STSJ Valencia 661/2016, de 22 de marzo, ECLI:ES:TSJCV:2016:2031, Funda-
mento Jurídico Segundo: “en el proceso laboral no son aplicables los principios
que rigen en el derecho administrativo sancionador y en el derecho penal; y uno de
esos principios es, precisamente, el derecho del investigado a no declarar contra sí
mismo”; o la STS 489/2018, de 23 de octubre, ECLI:ES:TS:2018:3754, Funda-
mento Jurídico Decimocuarto: “Por definición algunos derechos fundamentales
solo son oponibles al poder estatal (derecho a no confesarse culpable -con algún
matiz-, y en general, derecho a un proceso con todas las garantías)”.
51
Para GASCÓN INCHAUSTI, la obtención de medios de prueba por esta vía
será constitutiva de fraude de ley por aprovecharse deliberadamente de los
resultados de investigaciones internas en las que no se ha atendido a las ga-
rantías propias del proceso penal, no pudiendo por más que declararse la

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propia entidad cuando ésta sea a su vez susceptible de imputación, en


aras de la exención o atenuación de su propia responsabilidad.
Centrándonos en la segunda posibilidad, por cuanto a nuestro
objeto de estudio se refiere, resulta lógico que, si la persona jurídica
decide poner en conocimiento de las autoridades las informaciones
recabadas por medio interrogatorios internos de cara a la incoación
de un proceso penal contra el propio trabajador o su utilización en un
proceso ya en curso, una automática traslación del interrogatorio a
la instrucción penal podría suponer una vulneración del derecho del
investigado a la no autoincriminación y por, ende, a la tutela judicial
efectiva proclamada por el artículo 24 CE. Sobre este particular, señala
LEÓN ALAPONT que el valor de la información en el proceso penal podrá
predicar única y exclusivamente cuando la realización del interrogatorio
haya sido voluntaria para el trabajador, sin haberse visto por lo tanto
sometido a coacciones o amenazas desprendidas del poder de dirección
del empleador52.
En la misma lógica argumental, NEIRA PENA sostiene la necesidad
de definir el contexto en el que tiene lugar el interrogatorio, de forma tal
que si las preguntas se plantean al trabajador como referidas únicamente a
su desempeño o comportamiento en la empresa, una negativa a colaborar
podría justificar la adopción de medidas coactivas como el despido,
en cuanto que manifestación de la antedicha facultad de dirección del
empresario; ahora bien, si tales declaraciones pretender ser posteriormente
incorporadas a un proceso penal en curso, su valor probatorio vendrá
determinado porque en su obtención se hayan respetado las garantías
propias de esta tipología de procesos, debiendo ser consideradas como
ilícitas aquellas pruebas obtenidas bajo amenaza de sanción en virtud
del artículo 11 LOPJ. Así, para la referida autora, “aunque a primera vista,
los derechos a no declarar o a la presunción de inocencia podrían parecer
ajenos al procedimiento de recopilación de evidencias en el marco de una
investigación intra-empresarial, no es menos cierto que tales averiguaciones,

invalidez probatoria de las informaciones recabadas, GASCÓN INCHAUSTI,


Fernando. Proceso penal y persona jurídica. Madrid: Marcial Pons, 2012, p. 125.
52
LEÓN ALAPONT, José. Retos jurídicos en el marco de las investigaciones
internas corporativas: a propósito de los compliances. Revista Electrónica de
Ciencia Penal y Criminología. Granada, n. 22-4, p. 1 – 34, 2020, esp. p. 12.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
708 | Vicario Pérez, Ana María.

como las realizadas en una fase pre-procesal, han de respetar todos los
derechos fundamentales de los sujetos investigados, tanto los de carácter
material como los de carácter procesal”53.
Igualmente, señala NIETO MARTÍN que deben distinguirse las
investigaciones internas que tienen por objeto la mejora del modelo
de cumplimiento penal de la empresa, en las que siempre existirá la
obligación de declarar por parte del trabajador, de aquellas que se realizan
para descubrir una posible comisión delictiva. En estas últimas habrá de
velarse especialmente por el respeto al derecho a no autoincriminarse
y por la adopción de medidas tales como la asistencia de abogado y la
información al trabajador de su situación legal, los derechos que le asisten
y el destino que la empresa dará a sus declaraciones54.
Especialmente significativo resulta el pronunciamiento del
Tribunal Supremo en la Sentencia de 1 de marzo de 1996, por la cual se
establece que “El contenido de una conversación obtenida por estos métodos
no puede ser incorporado a un proceso criminal en curso cuando se trata
de utilizarlo como prueba de la confesión de alguno de los intervinientes
ya que ésta se ha producido sin ninguna de las garantías establecidas
por los principios constitucionales y es nula de pleno derecho, (…) sin
estar revestidas de las garantías que aporta la intervención del Juez y del
Secretario Judicial y la advertencia de los derechos a no declarar y a no
confesarse culpable”55.
Debe impedirse, por ende, que el Estado se sirva en el ejercicio
de su ius puniendi de una instrucción privatizada no respetuosa con las

53
NEIRA PENA, Ana María. La instrucción de los procesos penales frente a las
personas jurídicas. op. cit. p. 362; de la misma autora, véase también La otra
cara del compliance penal. La privatización de la investigación penal y los
derechos de los trabajadores. op. cit. p. 863 – 866.
54
NIETO MARTIN, Adán. Investigaciones internas, whistleblowing y coopera-
ción: la lucha por la información en el proceso penal. op. cit. Señala además
el autor que “esta “Miranda empresarial”, llamada así por sus semejanzas a la
lectura de derechos que se hace a las personas detenidas, debe dejar absoluta-
mente claro que la persona que realiza la investigación, sea un abogado externo o
interno, representa en exclusiva los intereses de la empresa”.
55
STS 178/1996, de 1 de marzo, ECLI: ES:TS:1996:1322, Fundamento Jurídi-
co Primero.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 709

garantías procesales56. Resulta conveniente mencionar la Sentencia del


Tribunal Europeo de Derechos Humanos en el asunto Allan v. Reino
Unido, por la que se reputaron ilícitas las declaraciones de un preso a
su compañero de celda que, a instancia y conducido por las autoridades
policiales, le sonsacó información. Ello por cuanto, señaló el Tribunal,
las preguntas del preso acabaron operando como el equivalente funcional
de un interrogatorio desarrollado por las propias autoridades públicas,
pero sin la salvaguarda de garantías como la asistencia letrada57. De igual
forma proclamó el Tribunal Supremo en la STS 311/2018, de 27 de junio,
que “ha de quedar fuera de toda duda que en aquellas ocasiones en las que el
Estado se vale de un particular para sortear las limitaciones constitucionales
al ejercicio del ius puniendi, la nulidad probatoria resultará obligada. De
lo contrario, se corre el riesgo de tolerar con indiferencia el menoscabo de
derechos del máximo rango axiológico y que confieren legitimidad al ejercicio
de la función jurisdiccional”58.
De la referida jurisprudencia se infiere que los órganos
jurisdiccionales acotan la actuación de los particulares como “agentes
del Estado”, limitando el valor probatorio de informaciones obtenidas en
investigaciones o actuaciones llevadas a cabo por tales particulares, como
lo son las personas jurídicas, al operar como una especie de colaboradores
en la instrucción penal.

3. EL VALOR PROBATORIO PENAL DE LAS


ENTREVISTAS REALIZADAS A TRABAJADORES

La cuestión del valor probatorio de las investigaciones internas


corporativas y, en concreto, de las entrevistas a los trabajadores realizadas
en su marco, ha sido analizada por la jurisprudencia en un juicio de

56
NEIRA PENA, Ana María, “Programas de cumplimiento penal e investigacio-
nes internas. Los derechos de los trabajadores en juego”, op. cit. p. 173.
57
STEDH 48539/99, de 5 de noviembre, ECLI:CE:ECHR:2002:1105JUD0048
53999, párrafo 52.
58
STS 311/2018, de 27 de junio, ECLI:ES:TS:2018:2290, Fundamento Jurí-
dico Primero; en el mismo sentido, la STS 875/2021, de 15 de noviembre,
ECLI:ES:TS:2021:4168, Fundamento Jurídico Segundo.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
710 | Vicario Pérez, Ana María.

proporcionalidad entre los intereses para el desarrollo del proceso penal


y la prohibición de utilización de pruebas ilícitas. Esta última, que en
el ordenamiento jurídico español se desprende del artículo 11 LOPJ,
se encuentra estrechamente relacionada con el derecho del trabajador
investigado a la no autoincriminación.
Desde el punto de vista de la jurisprudencia europea, es digna
de mención la resolución del TEDH en el asunto Barbulescu II59 que,
si bien referida al uso de medios tecnológicos en el desarrollo de las
investigaciones internas, recoge conclusiones que pueden extrapolarse
al medio de prueba en que consisten las entrevistas. Así, en la misma se
señala que, aunque los resultados de las investigaciones internas no son
consecuencia de una intervención directa de los poderes públicos, el
correcto proceder de estos últimos en el proceso jurisdiccional se verá
afectado si se sirven de medios de prueba en cuya obtención no se han
garantizado las garantías del investigado. De este modo, se configura para
el Estado una obligación positiva consistente en proteger los derechos
de los trabajadores investigados en el marco de las relaciones laborales
de cara a la utilización sin abusos de sus declaraciones en un ulterior
proceso penal.
Con este propósito, del pronunciamiento del Tribunal colegimos
los siguientes condicionantes para la validez en el proceso penal de las
declaraciones internas60: a) la necesidad de que el trabajador haya sido
debidamente informado de la aplicación que se dará a sus declaraciones;
b) la valoración de cuál fue el alcance de la actuación investigadora del
empleador y el grado de intrusión en la vida privada del empleado; c) que
el empleador presente argumentos legítimos para el acometimiento de la

59
STEDH 2017/61, de 5 de septiembre de 2017, Barbulescu c. Rumanía, ECLI:-
CE:ECHR:2017:0905JUD006149608, párrafos 109 y ss. Ampliamente sobre
la misma, DELGADO JIMÉNEZ, Antonio Felipe. El Caso Barbulescu y su Im-
pacto en la Jurisprudencia Constitucional. Revista Internacional Consinter de
Direito. Oporto, n. 7, p. 163 – 179, 2018. https://doi.org/10.19135/revista.
consinter.0007.10.
60
Como se ha indicado ut supra, la STEDH en el asunto Barbulesu II se refiere a
un supuesto de supervisión por el empresario del correo electrónico del tra-
bajador. Del análisis del caso, el Tribunal extrae una serie de condicionantes
de la validez de este medio de prueba que nosotros extrapolamos en nuestro
estudio a las entrevistas o interrogatorios del trabajador por el empleador.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 711

entrevista; d) valorar si las informaciones recabadas podrían haber sido


obtenidas por medios menos invasivos; e) si se ofrecieron al trabajador
garantías adecuadas en el desarrollo de la entrevista. A estos parámetros
habrá de añadirse otro aportado por la STEDH en el asunto López Ribalda
II61, el cual puede ser entendido como la necesidad de que el empleador,
para justificar el desarrollo de la investigación interna, tenga sospechas
fundadas de comisión delictiva por el trabajador. Con todo, estos seis
criterios pueden ser refundidos en dos: principio de proporcionalidad
(derecho a la no autoincriminación del trabajador versus poder de
dirección del empresario) y requisito de información previa62.
Con respecto a la jurisprudencia española, sobre la traslación al
proceso penal de los resultados de investigaciones internas se pronunció
el Tribunal Constitucional en el asunto Bershka, estableciendo en una
tónica similar a la del TEDH que “para comprobar si una medida restrictiva
de un derecho fundamental supera el juicio de proporcionalidad, es necesario
constatar si cumple los tres requisitos o condiciones siguientes: si tal medida es
susceptible de conseguir el objetivo propuesto (juicio de idoneidad); si, además,
es necesaria, en el sentido de que no exista otra medida más moderada para
la consecución de tal propósito con igual eficacia (juicio de necesidad); y,
finalmente, si la misma es ponderada o equilibrada, por derivarse de ella más
beneficios o ventajas para el interés general que perjuicios sobre otros bienes
o valores en conflicto (juicio de proporcionalidad en sentido estricto)” 63.
Más ilustrativa se presenta si cabe la sentencia del Tribunal
Supremo en el asunto Falciani, por la cual se excluye el valor probatorio de

61
STEDH 1874/13 y 8567/13, de 17 de octubre de 2019, asunto López Ribalda
y otros c. España, ECLI:CE:ECHR:2018:0109JUD000187413, párrafos 66 y ss.
Sobre la misma, MIGUEL BARRIO, Rodrigo. El juicio de proporcionalidad
en la prueba de videograbación oculta a las personas trabajadoras. Análisis
de la situación ante la reciente jurisprudencia. Revista de Trabajo y Seguridad
Social. Madrid, n. 461 – 462, pp. 99 – 141, 2021. https://doi.org/10.51302/
rtss.2021.2460, esp. pp. 114 – 118.
62
SOTO PATIÑO, Fernando. La investigación en la empresa, ilicitud de la
prueba y uso de datos en el proceso penal. En GÓMEZ COLOMER, Ignacio
(dir.); CATALINA BENAVENTE, María Ángeles; OUBIÑA BARBOLLA, Sa-
bela (coords.). Uso de la información y de los datos personales en los proce-
sos: los cambios en la era digital. Cizur Menor: Aranzadi, 2022. p. 349 – 374,
esp. p. 360.
63
STC 39/2016 de 3 marzo, ECLI:ES:TC:2016:39, Fundamento Jurídico Quinto.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
712 | Vicario Pérez, Ana María.

las fuentes obtenidas por particulares a la luz del artículo 11 LOPJ, en tanto
en cuanto hayan sido recabadas con el propósito de ser posteriormente
incorporadas a un proceso penal. Siguiendo su tenor literal, resuelve el
Tribunal Supremo que “la posibilidad de valoración de una fuente de prueba
obtenida por un particular con absoluta desconexión de toda actividad estatal y
ajena en su origen a la voluntad de prefabricar pruebas, no necesita ser objeto
de un enunciado legal que así lo proclame. Su valoración es perfectamente
posible a la vista de la propia literalidad del vigente enunciado del art. 11 de
la LOPJ y, sobre todo, en atención a la idea de que, en su origen histórico y en
su sistematización jurisprudencial, la regla de exclusión sólo adquiere sentido
como elemento de prevención frente a los excesos del Estado en la investigación
del delito”64. La STS 119/2018, de 8 de febrero, en el asunto Inditex, se
presenta como la adopción de la doctrina Barbulescu por la jurisprudencia
española, por la que se señalan los requisitos de «idoneidad», «necesidad»
y «proporcionalidad» de las investigaciones acometidas por el empresario
de cara a la producción de eficacia en el proceso penal65. También y con
carácter más reciente, la STS 89/2023, de 10 febrero, determina que la
exclusión probatoria, en cuanto que manifestación del sistema de garantías
del debido proceso, debe operar cuando el Estado o los particulares
tienen acceso a un medio de prueba mediante la infracción de tal derecho
fundamental, pretendiendo aprovecharse de su valor incriminatorio66.

64
STS 116/2017, de 23 de febrero, ECLI:ES:TS:2017:471, Fundamento Jurídico
Sexto; confirmada por la STC 97/2019, de 16 de julio, ECLI:ES:TC:2019:97. En
el mismo sentido, la STS 489/2018, de 23 de octubre, ECLI:ES:TS:2018:3754,
Fundamento Jurídico Decimocuarto: “cuando no se constata en la actuación
del particular la finalidad de obtener pruebas para hacerlas valer en un proceso
judicial puede eludirse la tajante sanción del art. 11.1 LOPJ en cuanto no está
presente la finalidad a que obedece la norma”; o la más reciente STS 597/2022,
de 15 de junio, ECLI:ES:TS:2022:2348, Fundamento Jurídico Primero: “Está
fuera de discusión la necesidad de excluir el valor probatorio de aquellas diligen-
cias que vulneren el mandato prohibitivo del art. 11 de la LOPJ”.
65
STS 119/2018, de 8 de febrero, ECLI:ES:TS:2018:594, Fundamento Jurídico
Sexto. Sobre la misma, puede consultarse ESTRADA CUADRAS, A.; TOMÁS
VAQUÉS, C. Legado jurisprudencial del 2022 en materia de investigaciones
internas. La Ley Compliance Penal. Madrid, n. 12, p. 1 – 11, 2023, p. 2 – 5.
66
STS 89/2023, de 10 de febrero, ECLI: ECLI:ES:TS:2023:441, Fundamento Ju-
rídico Trigésimo.

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 713

Ha de valorarse, en resumidas cuentas, si apreciándose una


vulneración de las garantías procesales en el trascurso de la investigación
interna (como lo es la conculcación del derecho a no autoincriminarse
del trabajador), existe o no “conexión de antijuricidad” que conlleve la
invalidez de las informaciones como prueba en el proceso jurisdiccional67.
Sumariamente, la vulneración del derecho del trabajador a no
autoincriminarse en el desarrollo de la entrevista interna, supondrá
la imposibilidad de su utilización en el proceso penal, en la medida en
que exista un nexo que vincule la información obtenida en el marco
laboral con la que pretende aportarse con carácter probatorio a las
autoridades jurisdiccionales. Tal nexo existirá si desde el primer momento
el interrogatorio por el empleador se efectuó con el ánimo de transmitir
la información al proceso penal y el trabajador no fue debidamente
informado de ello. Como señalara el Tribunal Supremo en el asunto
Parques Reunidos, “no se trata, por supuesto y en definitiva, de impedir la
utilización de medios de investigación tan útiles para el descubrimiento de
conductas gravemente reprochables sino, tan sólo, de dar cumplimiento a
las previsiones constitucionales rectoras de un procedimiento tan invasivo
en derecho de semejante trascendencia para los ciudadanos”68.

A MODO DE REFLEXIÓN FINAL

A lo largo del estudio hemos ido dando respuesta a las preguntas


inicialmente planteadas. Por cuanto se refiere al contexto de aprobación
de la Directiva 2019/1937 Whistleblower, ésta ha supuesto un paso
más en la preocupación del legislador por la defensa de los intereses

67
Sobre la “conexión de antijuricidad”, véase la STC 81/1998, de 2 de abril,
ECLI:ES:TC:1998:81, Fundamento Jurídico Cuarto: “para concluir que la pro-
hibición de valoración se extiende también a ellas (a las pruebas que pretenden
ser aportadas al proceso penal), habrá de precisarse que se hallan vinculadas
a las que vulneraron el derecho fundamental sustantivo de modo directo, esto
es, habrá que establecer un nexo entre unas y otras que permita afirmar que la
ilegitimidad constitucional de las primeras se extiende también a las segundas
(conexión de antijuridicidad)”.
68
STS 528/2014, de 16 de junio, ECLI:ES:TS:2014:2844, Fundamento Jurídi-
co Primero.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
714 | Vicario Pérez, Ana María.

europeos. En efecto, la inclusión por las personas jurídicas de sistemas


eficaces de denuncia e investigación de infracciones cometidas en su
marco organizacional, constituye un para nada desdeñable mecanismo
de prevención y conocimiento de vulneraciones del Derecho no solo
europeo, sino también estatal a través de la trasposición de la Directiva en
ordenamientos como el español. En efecto, tanto la Directiva europea como
la Ley 2/2023 para su incorporación en España, han supuesto un impulso
al desarrollo de investigaciones corporativas internas derivadas de la
denuncia de infracciones por los propios miembros de la persona jurídica.
En cuanto a las implicaciones de las entrevistas a los trabajadores
en el seno corporativo, puede concluirse que la aportación de los resultados
de las investigaciones internas a un proceso penal en curso, ya sea contra la
propia persona jurídica, ya sea contra el trabajador o contra ambos al mismo
tiempo, se ha convertido, desde la incorporación de la responsabilidad
criminal de las entidades en el ordenamiento nacional, en una privatización
del proceso penal. Verdaderamente, las fuentes de prueba obtenidas por
los compliance officers se convierten en fundamentales en el desarrollo
de la fase de instrucción, al facilitar el conocimiento por las autoridades
de conductas e infracciones cuya averiguación sin la colaboración de la
persona jurídica sería harto complicada.
En el desarrollo de estas investigaciones corporativas, las
entrevistas o interrogatorios a los trabajadores involucrados en la presunta
comisión ilícita se presentan como el eje central de las averiguaciones,
habida cuenta el poder de dirección del empresario impone una suerte de
obligación al empleado para colaborar con las pesquisas. Las conclusiones a
que se lleguen tendrán importantes efectos en el ámbito laboral, pudiendo
derivar en sanciones disciplinarias de constatarse la conducta criminal de
los empleados. Ahora bien, la traslación de las informaciones obtenidas a
un proceso penal en el que el trabajador tiene la condición de sujeto pasivo,
puede suponer una vulneración de su derecho a la no autoincriminación.
Debe seguirse el pronunciamiento tanto del TEDH en el asunto Barbulescu
II, como del Tribunal Supremo español en la STS 178/1996, de 1 de marzo,
de cara a concretar en el Estado un deber de protección de los derechos
procesales de los trabajadores en el curso de las investigaciones internas,
de forma tal que el valor probatorio de la información que revelen no
quede desvirtuado en un posterior proceso penal.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 715

Es por ello que el valor probatorio penal de las entrevistas


realizadas a trabajadores en las investigaciones internas debe venir
revestido de algunos límites. A estos efectos, la noción de pruebas ilícitas a
que se refiere el artículo 11 LOPJ ocupa aquí un papel destacado69, siendo
que la invalidez probatoria de las declaraciones del trabajador vendrá
determinada por una serie de parámetros concretados por medio de la
jurisprudencia del TEDH en los asuntos Barbulescu II y López Ribalda II,
así como por el Tribunal Constitucional español en el caso Falciani: la
colaboración en el interrogatorio o entrevista interna bajo amenaza de
sanción disciplinaria; la intención de la persona jurídica de aportar sus
declaraciones al proceso penal de cara a la atenuación o exención de su
propia responsabilidad; la no información al trabajador entrevistado de
este extremo70; y la no salvaguarda de las garantías propias del proceso
penal en el trascurso del interrogatorio.
En definitiva y como se propugna por el Tribunal Supremo español
en la STS 311/2018, de 27 de junio, se trata de evitar que la privatización
del proceso penal y la consiguiente configuración de la persona jurídica
como “agente del Estado”, se convierta en una forma de instrucción en la
cual las autoridades se sirvan de fuentes de prueba que no atiendan a las
garantías y derechos de los investigados. La estimación de tales pruebas
como ilícitas constituye una innegable garantía en este sentido, más
aún cuando la inutilidad de las informaciones aportadas por la entidad
al proceso penal conllevará que aquélla no se vea beneficiada de las
atenuaciones o exenciones previstas por el legislador.
En cualquier caso, creemos que hubiese sido deseable una expresa
previsión de estas consideraciones tanto en la Directiva 2019/1939 como
en su norma de trasposición, en el sentido de que, junto con la obligación
a las entidades de incorporar canales de denuncia y de acometimiento de

69
RENEDO ARENAL, María Amparo. El elemento subjetivo de la prueba ilícita.
En ROCA MARTÍNEZ, José María. Procesos y prueba prohibida. Madrid: Dy-
kinson, 2022. p. 143 – 162, esp. p. 148 – 153; CARRILLO DEL TESO, A. La
prueba ilícita aportada por particulares: ¿admisión o exclusión? Fundamentos
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p. 8 – 10.
70
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En ROCA MARTÍNEZ, José María. Procesos y prueba prohibida. Madrid: Dy-
kinson, 2022. p. 191 – 226, esp. p. 216.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
716 | Vicario Pérez, Ana María.

investigaciones internas, se garantizase en el desarrollo de estas últimas


las garantías y derechos de los trabajadores, imponiendo como preceptivas
medidas tales como la asistencia letrada o la debida información previa
y demás contempladas por el propio legislador europeo en las Directivas
que conforman el estatuto procesal del investigado71.

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813 | 721

Authorship information
Ana María Vicario Pérez. Contratada Predoctoral FPU. Área de Derecho Procesal
de la Universidad de Burgos (España). PhD candidate. [email protected]

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Conflict of interest declaration: the author confirms that there are


no conflicts of interest in conducting this research and writing
this article.

Declaration of authorship: all and only researchers who comply


with the authorship requirements of this article are listed as
authors; all coauthors are fully responsible for this work in its
entirety.

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published has not been previously published in any other resource
and that future republication will only take place with the express
indication of the reference of this original publication; she also
attests that there is no third party plagiarism or self-plagiarism.

Editorial process dates


(https://revista.ibraspp.com.br/RBDPP/about)

▪ Submission: 16/02/2023 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 10/03/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 19/04/2023 ▪ Associated-editor: 1 (AMNP)
▪ Review 2: 27/04/2023 ▪ Reviewers: 3
▪ Review 3: 28/04/2023
▪ Preliminary editorial decision: 24/05/2023
▪ Correction round return: 29/05/2023
▪ Final editorial decision: 16/06/2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
722 | Vicario Pérez, Ana María.

How to cite (ABNT Brazil):


VICARIO PÉREZ. Ana María. La Directiva Whistleblowing: un paso
más en la privatización del proceso penal. Especial referencia a
las entrevistas en las investigaciones internas. Revista Brasileira
de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 689-722, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.813

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 689-722, mai.-ago. 2023.
Corporate Internal Investigations 4.0: on the
criminal procedural aspects of applying artificial
intelligence in the reactive corporate compliance1

Investigações internas corporativas 4.0: sobre os


aspectos processuais penais da aplicação da inteligência
artificial no âmbito reativo do compliance

Túlio Felippe Xavier Januário2


Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
[email protected]
http://orcid.org/0000-0003-0400-1273

Abstract: The aim of the present paper is to analyze the criminal


procedural implications of applying artificial intelligence systems in
the context of internal investigations. More specifically, we will seek to
answer the following questions: how can AI be used in these procedures
and which are its legal boundaries? In case of effective use of this
technology, how can it, in a future criminal proceeding, affect the
admissibility and valuation of elements of information derived from
internal investigations? In order to address these questions, we will apply

1
This investigation was carried out within the scope of the project entitled "Au-
toria e responsabilidade em crimes cometidos através de sistemas de inteligên-
cia artificial", funded by the "Fundação para a Ciência e a Tecnologia - FCT"
(2020.08615.BD).
2
PhD Candidate in Law at the University of Coimbra (Portugal), with a fellowship
from the Fundação para a Ciência e a Tecnologia – FCT. M.Sc. in Law by the Univer-
sity of Coimbra (Portugal), with a research internship of the “ERASMUS+” Program
at the Georg-August-Universität Göttingen (Germany). He had Graduate Studies
in International Criminal Law at the Siracusa International Institute for Criminal
Justice and Human Rights (Italy), Graduate Studies in Economic Criminal Law and
Crime’s Theory at the University of Castilla-La Mancha (Spain), Graduate Stud-
ies in Compliance and Criminal Law at IDPEE (Portugal) and Graduate Studies in
Criminal Law – General Part at IBCCRIM/IDPEE (Brazil/Portugal). He holds a
Bachelor´s Degree in Law by the Universidade Estadual Paulista – UNESP (Brazil).

723
724 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

the deductive methodology with a review of European and Brazilian


legislation, doctrine and jurisprudence. At the end of the paper,
we will demonstrate the limits to be observed for the processing
of data and the use of AI in the scope of internal investigations,
as well as the requirements and limits of sharing the information
obtained from them with criminal proceedings.
K eywords : Corporate criminal law; compliance; internal
investigations; artificial intelligence; criminal procedure.

Resumo: O objetivo do presente trabalho é analisar as implicações processuais


penais da aplicação de sistemas de inteligência artificial em investigações
internas. Mais especificamente, buscaremos responder aos seguintes ques-
tionamentos: como a IA pode ser utilizada nesses procedimentos e quais
são suas limitações legais? Em caso de efetivo uso dessa tecnologia, como
ela pode afetar a admissibilidade e valoração de elementos de informação
derivados de investigações internas, em um futuro processo penal? Para
responder a estas questões, aplicaremos a metodologia dedutiva, com análise
da legislação, doutrina e jurisprudência europeia e brasileira. Ao final do
artigo, demonstraremos os limites a serem observados no processamento
de dados e uso da IA no âmbito das investigações internas, assim como os
requisitos e limites para o compartilhamento das informações obtidas a
partir delas, com processos penais.
Palavras-chave: direito penal empresarial; compliance; investigações in-
ternas; inteligência artificial; processo penal.

Introduction

Among the various mechanisms for preventing and tackling


economic and business crimes, one of those that has become the object
of greater legislative, jurisprudential and, mainly, doctrinal attention is
certainly the compliance programs. More recently, these mechanisms, as
well as several other sectors of society, have experienced the influxes of
the so-called “Revolution 4.0”3, since their most diverse activities have been

3
The use of the term “revolution 4.0”, which we also refer to in the title, is at-
tributed here to Barona Villar, who explains that scientific and technological

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 725

carried out with the aid of new technologies, among which autonomous
systems and artificial intelligence (henceforth, AI)4.

advances, especially at the end of the 20th and the beginning of the 21st cen-
tury, opened space for a new stage of industrialization, in which digitalization,
connectivity, automation, robotization and artificial intelligence are combined.
It is precisely this new stage that is known as Industry 4.0. According to the au-
thor, this expression was used for the first time by Henning Kagermann, pres-
ident of Acatech, at the 2011 Hannover Messe. See: BARONA VILAR, Silvia.
Algoritmización del derecho y de la justicia: de la inteligencia artificial a la Smart
Justice. Valencia: Tirant lo Blanch, 2021. p. 58. In this sense: “The term “Indus-
trie 4.0” was introduced in 2011 by the Communication Promoters Group of
the Industry-Science Research Alliance to describe the widespread integration
of information and communication technology in industrial production. The
“4.0” alludes to how this trend’s potentially revolutionary impact follows di-
rectly in the footsteps of the three previous industrial revolutions” (SCHUH,
Günther et al (eds.). Industrie 4.0 Maturity Index: Managing the Digital Trans-
formation of Companies: Update 2020. München: Acatech Study, 2020. p. 11).
4
As explained by Matheus de Alencar e Miranda, (1) technologies of automat-
ed decision are the genus, of which (1.1) systems/algorithms of autonomous
pre-programmed decision and (1.2) artificial intelligence are species. The dis-
tinction between the two species lies in the fact that in artificial intelligence
systems, there is no human rule that determines how the algorithm decides.
Human decisions are limited to defining the objective and form of learn-
ing. The algorithm, in turn, has the ability to understand the environment
through data inputs and choose, among several possible courses of action,
one that solves the posed problem. In turn, although systems of autonomous
pre-programmed decisions can react to the environment without the need
for human input at that moment of decision, they are unable to learn or cre-
ate their own solution to that problem and to modify their codes. Their be-
havior, therefore, is a pre-programmed reaction to the posed problem. See in
detail at: MIRANDA, Matheus de Alencar e. Técnica, decisões automatizadas
e responsabilidade penal. 2023. Tese - (Doutorado em Direito). Rio de Janei-
ro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2023. p. 74-94. For an analy-
sis of the difficulties in differentiating these concepts, see also: AGAPITO,
Leonardo Simões; MIRANDA, Matheus de Alencar e; JANUÁRIO, Túlio Fe-
lippe Xavier. On the Potentialities and Limitations of Autonomous Systems
in Money Laundering Control. RIDP, v. 92, n. 1, p. 87-108, 2021. p. 89ff.;
SANTOSUOSSO, Amedeo; BOTTALICO, Barbara. Autonomous Systems and
the Law: Why Intelligence Matters. In: HILGENDORF, Eric; SEIDEL, Uwe
(eds.). Robotics and the Law: Legal Issues Arising from Industry 4.0 Technol-
ogy Programme of the German Federal Ministry for Economic Affairs and
Energy. Baden-Baden: Nomos, 2017. p. 27-58. p. 35ff; HILGENDORF, Eric.
Recht und autonome Maschinen – ein Problemaufriβ. In: HILGENDORF,
Eric; HÖTITZSCH, Sven (eds.). Das Recht vor den Herausforderungen der
modernen Technik. Baden-Baden: Nomos 2015. p. 11-40.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
726 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

It is true, however, that despite their undeniable potential to


make compliance activities more effective and efficient, the use of these
technologies also raises some relevant doubts, especially if we consider
some of their inherent limitations, such as the opacity of their operation
and unpredictability of their outputs. Furthermore, their specific use in
compliance programs, especially in their most repressive aspect, which
is conducting corporate internal investigations (henceforth, CII), raises
serious questions in terms of the rights and guarantees of those being
investigated, which is even more serious if we consider that, although
is not their exclusive purpose, they can investigate facts that constitute
crimes and, consequently, be relevant in future criminal proceedings.
In view of this scenario, the central object of this investigation
focuses precisely on the use of AI in the scope of CII and its criminal
procedural repercussions. In other words, we will seek to answer the
following questions: how has AI been and can be applied in CII and what
are the legal limits for its use? In case of application, how can it affect
the admissibility and valuation of the information collected in these
investigations in any criminal proceedings?
To elucidate these questions, we will initially analyze the concept,
operation and limitations of AI systems in order to understand not only
their potentials, but also the risks generated by their use in the scope
of CII. These procedures will also be the object of our attention in this
topic. Through the analysis of their fundamental concepts in the light of
doctrine, legislation and jurisprudence, we will seek to understand their
relevance, functioning and possible criminally relevant implications.
Finally, we will focus on the main question of the present study,
analyzing the legal guidelines for the use of AI in the scope of CII and for
the sharing of information with the criminal procedures. In this context,
based on a deductive methodology and with the analysis of Brazilian and
European legislation, doctrine and jurisprudence, we will investigate three
main aspects: the legal guidelines for processing data in CII; the limits
to the use of AI systems in these procedures; and the requirements and
limits for sharing the information elements derived from them, with an
eventual criminal proceeding.
At the end of the investigation, we will seek to demonstrate that the
processing of data for the purpose of applying AI in CII does not find obstacles

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 727

in the Brazilian General Data Protection Law (LGPD) or in the European


General Data Protection Regulation (GDPR), provided that it is based on
at least one of the legal hypotheses and respects the test of proportionality
between the intended purpose and the means employed to achieve it. We
will also demonstrate that, although based on the directive power of the
employer, the use of AI systems in this scope is not unlimited either, and
must observe, among other barriers, those imposed by the legality, the
expectation of privacy of employees and by a second proportionality test.
Finally, we will conclude that these elements of information can be shared
with the criminal procedure provided that a third proportionality test is
respected and that it is observed that they can never be considered sufficient
to justify the conviction of any defendant, having a regime similar to that
of the elements of information coming from public acts of investigation.

1. B lack - boxes 2.0: Artificial intelligence and the “ new ”


face of corporate internal investigations

Although recent attention has been paid to problems related to AI,


driven especially by technological advances in this scope, it is important
to mention that this field of study dates back to the post-World War II
period, largely made possible by the work of Alan Turing focused on
decoding messages during the war5. However, the use of this terminology
is attributed to John McCarthy in the context of the text “A Proposal for
the Dartmouth Summer Research Project on Artificial Intelligence”, of 1955.
At the time, the author considered it as “the science and engineering of
making intelligent machines, especially intelligent computer programs”.
Besides, “it is related to the similar task of using computers to understand
human intelligence, but AI does not have to confine itself to methods
that are biologically observable”6.

5
SHABBIR, Jahanzaib; ANWER, Tarique. Artificial intelligence and its role in
near future. Journal of Latex Class Files, v. 14, n. 8, p. 1-11, Aug./2015, p. 3;
PEIXOTO, Fabiano Hartmann; SILVA, Roberta Zumblick Martins. Inteligência
artificial e direito, Curitiba: Alteridade Editora, 2019, p. 24.
6
MCCARTHY, John. What is Artificial Intelligence?. Stanford: Stanford Univer-
sity, 2007; MCCARTHY, John et al. A Proposal for the Dartmouth Summer
Research Project on Artificial Intelligence, August 31, 1955. AI Magazine, v.

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728 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

Currently, a proposal of definition that seems more appropriate to


the state of the art of the matter is presented by the European Commission’s
High-Level Expert Group on Artificial Intelligence, which proposes a
subdivision into two categories: by i) artificial intelligence as systems,
we can understand software or hardware that, given a complex goal,
acts in the physical or digital world by perceiving their environment,
interpreting the collected data, reasoning on this data and deciding the
best action(s) to take, according to pre-defined parameters. Moreover,
they can also be designed to learn to adapt their behavior by analyzing
how the environment is affected by their previous actions. In turn, when
considered an ii) scientific discipline, AI includes several approaches and
techniques, such as machine learning, machine reasoning and robotics,
integrating them in cyber-physical systems7.
Scientific and technological advances in the area of AI have
been accompanied by an undeniable expansion of the application of this
technology in various fields of activities, such as transports, medicine and
the capital market. It is no different with the scope of criminal justice,
where autonomous and AI systems have been increasingly applied in
activities of surveillance, investigation, judgment and sentence serving8.

27, n. 4, p. 12-14, 2006, p. 14. See also: JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier.
Vulnerabilidad e hiposuficiencia 4.0: la protección jurídico-penal de los con-
sumidores en la era de la inteligencia artificial. In: FONTESTAD PORTALÉS,
Leticia (dir.), PÉREZ TORTOSA, Francesc. (coord.). La justicia en la sociedad
4.0: nuevos retos para el siglo XXI. A Coruña: Editorial Colex, 2023. p. 187-
199, p. 189.
7
THE EUROPEAN COMMISSION’S HIGH-LEVEL EXPERT GROUP ON AR-
TIFICIAL INTELLIGENCE: A Definition of AI: Main Capabilities and Scien-
tific Disciplines: Definition Developed for the Purpose of the Deliverables of the
High-Level Expert Group, Brussels, 2018, p. 7. See also: See also: JANUÁRIO,
Túlio Felippe Xavier. Vulnerabilidad e hiposuficiencia…, p. 189.
8
For a broad analysis, see: AGAPITO, Leonardo Simões; MIRANDA, Matheus
de Alencar e; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Underneath the Robot
Judge’s Robe: demystifying the use of artificial intelligence in criminal justice
through a global south perspective. In: KOSTIĆ, Jelena; BOŠKOVIĆ, Mari-
na Matić. Digitalizacija u kaznenom pravu i pravosudu: Digitalization in Penal
Law and Judiciary. Belgrade: IKSI, 2022. p. 271-289. p. 272ff.; QUATTRO-
COLO, Serena. Artificial Intelligence, Computational Modelling and Criminal
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Nature Switzerland AG, 2020. p. 37ff.; GLESS, Sabine. AI in the Courtroom:

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 729

Our object of study, however, refers to the application of AI in


the most varied activities carried out within the scope of compliance
programs9-10, especially with regard to their reactive scope, that is, the

A Comparative Analysis of Machine Evidence in Criminal Trials. Georgetown


Journal of International Law, v. 51, n. 2, p. 195-253, 2020. p. 202ff.
9
Compliance programs can be understood as instruments of self-supervision
and self-regulation inserted in the context of corporate governance, whose
immediate purposes are the promotion of a culture of ethics and legal com-
pliance in business activities and the prevention, investigation and repres-
sion of illegal practices within the corporate sphere. By its turn, their medi-
ate aims are to maintain or recover the good reputation of the legal person,
to secure the continuity of the business with potential profits and, mainly, to
protect the corporation, its collaborators and representatives, from eventual
liabilities in the most varied spheres, as well as from financial and reputa-
tional losses. JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Criminal compliance e cor-
rupção desportiva: um estudo com base nos ordenamentos jurídicos do Brasil
e de Portugal. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2019, p. 85-86. As Silva Sánchez
explains, compliance programs cannot be exhausted in the mere adoption
of self-surveillance mechanisms, but must also encompass positive training
measures that seek to neutralize cultural factors and group dynamics that
favor criminality. See in detail: SILVA SÁNCHEZ, Jesús María. Fundamentos
del derecho penal de la empresa. Madrid: Edisofer, 2013. p. 193. The relation-
ship between self-regulation and corporate governance is well approached
by Cláudia Barrilari, who recalls that the latter has its origins in the UK and
the US in the 1990s, configuring itself as commercial practices and rules that
aim precisely to overcome the conflicts inaugurated with the split between
the management of controllers, on the one hand, and ownership by the com-
panies’ shareholders, as well as the interests of creditors, on the other. Great
influence on these concepts was exerted by the scandals of fraud and market
manipulation that were publicized at this time, as well as the approval of the
Sarbanes-Oxley Act. See with more details at: BARRILARI, Claudia Cristina.
Crime empresarial, autorregulação e compliance. 2. ed. atual. e ampl. São Pau-
lo: Thomson Reuters Brasil, 2021. Ebook. N.P. Section 3.4.3. See also: LUZ,
Ilana Martins. Compliance & omissão imprópria. 3. Reimp. Belo Horizonte:
D’Plácido, 2021. p. 30ff.
10
“Primitive” versions of compliance programs already existed in the US in
the 1930s and 1940s, especially after SEC and DOJ impositions. However,
it was after the disclosure of the Watergate scandal in the 1970s and the
subsequent approval of the US Sentencing Guidelines of 1991, and especially
with the financial scandals at the turn of the millennium (such as Enron,
WorldCom and Parmalat), that these programs became a real asset in the
attempt to overcome state difficulties in regulating, preventing, investigating
and repressing corporate crimes. On the origins and historical evolution of
compliance programs, see: NIETO MARTÍN, Adán. El cumplimiento norma-
tivo. In: NIETO MARTÍN, Adán et al. (dir.). Manual de cumplimiento penal en

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
730 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

conduction of CII11-12. As Christoph Burchard rightly points out, the

la empresa. Valencia: Tirant lo Blanch, 2015. p. 25-48. p. 27ff; SAAD-DINIZ,


Eduardo. Ética negocial e compliance: entre a educação executiva e a interpre-
tação judicial. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 125ff. Regarding
Brazil, even though compliance programs already existed in the 1990s, it was
in the first two decades of the 21st century that they became the object of real
expansion within companies and the focus of national doctrine. The reasons
for this, according to Saavedra, lie in: i) the compliance duties inserted in the
Brazilian legal system by Law 12,683/12, which modified the Anti-Money
Laundering Law (Law 9,613/98); ii) the debate instigated by APn 470 (pop-
ularly known as “mensalão”) on the criminal responsibility of compliance of-
ficers; and iii) the approval of the Anti-Corruption Law (12,846/13), which
provides for express positive impacts in administrative penalties imposed on
companies when adopting these programs. SAAVEDRA, Giovani Agostini.
Panorama do compliance no Brasil: avanços e novidades. In: NOHARA, Irene
Patrícia; PEREIRA, Flávio de Leão Bastos (coord.). Governança, compliance e
cidadania. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. p. 37-50. p. 37-38. See
also: BOTTINI, Pierpaolo Cruz. Programas de compliance voltados à pre-
venção da lavagem de dinheiro. In: BADARÓ, Gustavo Henrique; BOTTINI,
Pierpaolo Cruz. Lavagem de dinheiro: aspectos penais e processuais penais:
comentários à Lei 9.613/1998, com alterações da Lei 12.683/2012. 4.ed. rev.,
atual. e ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 47-71; CARDOSO,
Débora Motta. Criminal compliance na perspectiva da lei de lavagem de din-
heiro. São Paulo: LiberArs, 2015. p. 125ff.
11
We have had the opportunity to partially address this topic on other oc-
casions. The present paper is intended to bring a theoretical deepening in
some its fundamental aspects. See also: CANESTRARO, Anna Carolina;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligência artificial e programas de com-
pliance: uma análise dos possíveis reflexos no processo penal. In: D’ÁVILA,
Fábio Roberto; AMARAL, Maria Eduarda Azambuja (eds.). Direito e Tecnolo-
gia. Porto Alegre: Citadel, 2022. p. 363-392; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier.
Inteligencia artificial y responsabilidad penal de personas jurídicas: un análi-
sis de sus aspectos materiales y procesales. Estudios Penales y Criminológicos,
Santiago de Compostela, forthcoming.
12
It is important to emphasize that there is no single pre-defined model of
compliance program, since it undeniably depends on the particularities of
the corporation and its sector of activity (in that sense, see: RODRIGUES,
Anabela Miranda. Direito penal económico: uma política criminal na era
compliance. 2.ed. Coimbra: Almedina, 2020. p. 102; SIEBER, Ulrich. Com-
pliance-Programme im Unternehmensstrafrecht: ein neues Konzept zur
Kontrolle von Wirtschaftskriminalität. In: SIEBER, Ulrich et al. (Hrsg.). Stra-
frecht und Wirtschaftsstrafrecht – Dogmatik, Rechtsvergleich, Rechtstatsachen:
Festschrift für Klaus Tiedemann zum 70. Geburtstag. Köln: Carl Heymanns
Verlag, 2008. p. 449-484. p. 458). For illustrative purposes, we can cite the
model proposed by Marc Engelhart, who classifies its stages of elaboration

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 731

time when only state agents made use of predictive systems to detect
and prevent crimes is gone. On the contrary, digital criminal compliance
(DCC) can be considered the buzzwords when it comes to employing
digital systems for real-time prevention of compliance violations13.
Depending on the complexity of the case and the companies
involved and their respective scopes of activity, CII tend to be proportionally
complex, with a high expenditure of time and human and financial
resources of the corporation, for the purpose of properly ascertaining
the facts in question. For this reason, technological instruments capable
of assisting in certain tasks that demand the processing of an immense
amount of data in a short time, especially with accuracy superior to that
of humans, have been increasingly sought after.
When talking about the digitization of criminal compliance, it
refers to the intelligent analysis of a large data set (big data), especially
through AI, in order to ensure compliance with laws and prevention of

into three columns, namely: i) the formulation, characterized by the trino-


mial “detect-define-structure”, which includes risk management, approval
of a code of ethics and conducts, the implementation of a whistleblowing
channel and the definition of the respective competences within the scope
of the program; ii) the implementation, marked by the trinomial “commu-
nicate-promote-organize”, which includes the program dissemination and
personnel training phases, as well as the daily promotion of the culture of
compliance; and iii) consolidation and improvement, marked by the trinomial
“react – sanction – improve”, and which encompasses CII and sanctioning
procedures, as well as the evaluation mechanisms and continuous improve-
ment of the program. See: ENGELHART, Marc. Sanktionierung von Un-
ternehmen und Compliance: eine rechtsvergleichende Analyse des Straf- und
Ordnungswidrigkeitenrechts in Deutschland und den USA. 2. ergänzte und
erweiterte Auflage. Berlin: Dunker & Humblot, 2012. p. 711-719. Also based
on this classification: JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Criminal compliance
e..., p. 90ff; VERÍSSIMO, Carla. Compliance: incentivo à adoção de medidas
anticorrupção. São Paulo: Saraiva: 2017, p. 271ff.; GARCÍA CAVERO, Per-
cy. Criminal compliance. Lima: Palestra Editores, 2014, p. 27ff; RODRIGUES,
Anabela Miranda. Direito penal económico..., p. 102ff.
13
BURCHARD, Christoph. Das »Strafrecht« der Prädiktionsgesellschaft: …oder
wie »smarte« Algorithmen die Strafrechtspflege verändern (könnten). For-
schung Frankfurt: das Wissenschaftsmagazin: Recht und Gesetz, n. 1, p. 27-31,
Aug./2020, p. 28. See also: CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio
Felippe Xavier. Inteligência artificial e..., p. 369.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
732 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

crimes within companies14. The reasons for this option lie precisely in
the pretension of greater effectiveness and efficiency of the compliance
program and, consequently, greater security for the company, since
more advanced computer systems are able to predict with high accuracy
the actions and productive processes, as well as to prevent and detect
situations that may be harmful to the corporation15.
According to Burchard, digital criminal compliance presents the
promise (not necessarily fulfilled) of being a more complete, objective,
neutral and effective form of compliance. The author explains that one of
the main limitations of traditional (human-based) compliance is the fact
that it is often forced to operate retrospectively (ex post). This occurs
precisely due to human limitations and errors and despite the prior
existence (ex ante) of data on possible non-compliance. Furthermore,
despite the need to contain corporate crimes, companies are always
faced with the dilemma that compliance measures tend to paralyze the
company. With the digitalization of the compliance structure and the
ability of new technologies to analyze big data in real time, the expectation
is to predict a large number of possible infractions, preventing their
occurrences. Furthermore, even if they are not avoided in some cases,
the data storage capacity of AI systems would certainly favor the ex post
investigation of the facts16.
In view of these ambitions, it is important to point out that some
functionalities of compliance programs already experience the benefits of
digitalization and some new technologies. This is the case, for example, of
the digitalization of whistleblowing and guidance channels and the portals
of training and clarification of doubts of the employees. Furthermore,
employee training itself can be favored by technological tools, which

14
BURCHARD, Christoph. Digital Criminal Compliance. In: ENGELHART,
Marc et al (Hrsg.). Digitalisierung, Globalisierung und Risikoprävention: Fest-
schrift für Ulrich Sieber zum 70. Geburtstag: Teilband II. Berlin: Duncker &
Humblot, 2021. p. 741-756. p. 742.
15
RODRIGUES, Anabela Miranda; SOUSA, Susana Aires de. Algoritmos em
contexto empresarial: vantagens e desafios à luz do direito penal. In: RO-
DRIGUES, Anabela Miranda (coord.). A inteligência artificial no direito penal,
vol. II. Coimbra: Almedina, 2022. p. 11-39. p. 13.
16
BURCHARD, Christoph. Digital Criminal Compliance…, p. 744-747.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 733

can be used to clarify doubts about concrete and specific situations,


especially those that can be easily solved in light of the company’s code
of ethics17. With the consequent reduction in the demand for services,
the competent department is able to dedicate itself to the resolution of
more delicate cases, which cannot be solved by the system18.
In addition, activities that demand the processing of a huge
amount of data in a short time tend to be especially benefited. This is
the case, for example, of the analysis of the legal and regulatory aspects
applicable to a given situation, especially if we consider that companies
have been increasingly subjected to an immensity of legislation, including
international ones, due to their activities in different markets. In this sense,
tools that assist in the automated processing of data and categorization
of those that are relevant in the specific case tend to benefit not only the
compliance sector, but the generality of the company’s legal activities.
Dedicating itself to the study of the applications of these technologies in
the legal field, we have legal tech (or law tech), which refers precisely to
the use of new technologies (from the simplest ones, such as those used

17
Cornelia Inderst draws attention to the importance of training using technol-
ogy when the company is large, especially with dispersed and global opera-
tions. This increases the possibility of standardizing behavior standards in
all branches, as well as control over the effective implementation of training
programs. See in detail at: INDERST, Cornelia. Einzelaufgaben der Compli-
ance-Organisation. In: GÖRLING, Helmut et al. Compliance: Aufbau – Man-
agement – Risikobereiche. Hamburg: C.F. Müller, 2010. p. 112-122. p. 115.
18
It is important to mention, however, that despite its possible benefits, the
digitization of reporting and helping channels must also be subject to some
reservations. To what extent, for example, would AI be able to more effec-
tively ensure the confidentiality of denounces and whistleblowers? As we
suggested on another occasion, if on the one hand it is a fact that the re-
duction of human contacts with sensitive information could open up fewer
gaps for possible undue leaks and possible reprisals and embarrassment to
those involved, on the other hand, we must ask ourselves about the level of
security of these channels and also who would have access to data and what
would be the destination given to them, after processing. Furthermore, it is
questionable to what extent the reduction of human contacts is beneficial in
these situations. We have doubts about whether machine assistance in these
cases, which are often delicate, could not end up representing a “dehuman-
ization” of care for victims, who may feel helpless and disrespected at these
times. See more details at: CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio
Felippe Xavier. Inteligência artificial e..., p. 370-371.

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734 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

in data storage, security or in office administrative services, up to the


most modern ones, which help or even replace lawyers in some tasks)
for the simplification and enhancement of legal services19.
Also in this sense, the identification, monitoring and analysis of
risks – activities that we will include here within the scope of so-called
risk assessment – are positively impacted by the aforementioned data
processing capacity. As if that were not enough, algorithms that are
capable not only of a mere risk categorization, but also effectively able
of autonomously update themselves with their previous experiences and
the most recent scientific knowledge, legal updates and jurisprudence,
certainly add to the program’s efficiency20.
Within the scope of due diligence activities21, there are already
tools on the market that assist in the collection of information regarding
third parties, merger or acquisition target companies and any other agents,
which the company wishes to do business with, identifying the viability,
risks and transaction values. The benefits of using AI in this scope are
once again in its high data processing capacity and its high accuracy, which
helps in the preparation of a very precise and informative final report22.
These are, however, some less controversial features of AI within
compliance programs. Larger issues arise from its application when

19
See: CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. In-
teligência artificial e..., p. 371; CORRALES, Marcelo; FENWICK, Mark; HAAP-
IO, Helena. Digital Technologies, Legal Design and the Future of the Legal Pro-
fession. In: CORRALES, Marcelo; FENWICK, Mark; HAAPIO, Helena (ed.).
Legal Tech, Smart Contracts and Blockchain. Singapore: Springer, 2019. p. 1-16.
20
CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligên-
cia artificial e..., p. 372.
21
On the difficulties of conducting due diligence procedures, especially in
transnational contexts, see: CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO,
Túlio Felippe Xavier. Beyond Ecocide: Extraterritorial Obligations of Due
Diligence as an Alternative to Address Transnational Environmental Damag-
es?. RIDP, v. 93, n. 1, p. 231-250, 2022.
22
As an example, see the following tools already available on the market:
RELATIVITY. One platform for all your legal & compliance needs; NEOWAY
COMPLIANCE. Diligência prévia completa e gestão de compliance para análise
e prevenção de riscos; UPLEXIS. Atualize seu processo de tomada de decisão.
For a more detailed analysis, see: CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO,
Túlio Felippe Xavier. Inteligência artificial e..., p. 372.

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monitoring and supervising the work environment and tools, as well as


the workers themselves. Furthermore, its capabilities can also be used in
the measures of CII themselves, whether merely because of the immense
amount of data it can store and which may be of interest for fact-finding,
or because of its potential to effectively assist in conducting interviews,
analyzing data and making decisions and predictions.
In order to better understand how new technologies such as AI
can be employed in CII, we first need to understand what these procedures
are. CII can be considered a set of procedures conducted within a given
company, with or without the help of external professionals, with the aim
of investigating facts showing signs of legal, ethical or bylaw violations
that come to its knowledge. They cannot be confused with day-to-day
supervisory activities, or with due diligence procedures, since they have
a reactive and non-day-to-day nature23.
Even if not considered legally obliged to do so, companies have
a burden of investigating24 the facts that occurred within their scope,

23
CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe X. Investigação
defensiva corporativa: um estudo do Provimento 188/2018 e de sua eventual
aplicação para as investigações internas de pessoas jurídicas. Revista Brasile-
ira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 283-328, jan./abr.
2020, p. 294.
24
In a different sense, Leon Alapont considers that, in light of the Spanish legal
system, there is an unavoidable obligation to conduct CII when the company is
aware of possible risks and compliance violations. See: LEÓN ALAPONT, José.
Canales de denuncia e investigaciones internas en el marco del compliance penal
corporativo. Valencia: Tirant lo Blanch, 2023. p. 341. We dare to disagree with
this position. Although we recognize that the failure to conduct this procedure
may be a considered negative aspect, in a specific case, within the scope of the
judgment on the effectiveness of the compliance program for the purpose of
obtaining a certain criminal procedural benefit (in this case, exemption from
criminal liability of the person legal), we did not identify in Art. 31, bis, 5, 4th,
of the Spanish Penal Code, an obligation to conduct them, precisely because it
will depend on the judge, in the concrete case, to assess when the legal entity
made the sufficient and necessary efforts to ascertain the facts. In some hy-
potheses, when the facts are evident, it will often not be necessary to conduct
a CII itself, without this absence implying a failure in the compliance program.
Think, for example, of cases in which a certain employee is “caught” attacking
or harassing a colleague or third party, or committing some other offense that
does not require further investigation. In these cases, internal measures (sanc-
tions, dismissal) and external measures (notification of the authorities) can be
taken without initiating a proper internal investigation procedure.

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736 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

since not doing it may end up calling into question the adequacy and
effectiveness25 of their compliance programs and, consequently, affecting
possible procedural benefits derived from them, such as non-prosecution
agreements, penalty reductions or even the exclusion of corporate
criminal liability26-27.

25
As highlighted by Adán Nieto Martín, the effectiveness of a compliance pro-
gram can be assessed in two different ways, depending on its purpose. The
retrospective valuation analyzes the effectiveness of the program in relation to
the moment in which the facts were committed, in order to verify if the com-
pany had the necessary controls to avoid the unlawful occurrence. In some
legal systems, such as Spanish, this assessment is important to determine
whether the company should be held criminally liable and can have its sen-
tence mitigated. In turn, the prospective valuation aims to analyze the entire
program in relation to a certain type of crime, not being limited, however,
to a specific occurrence. In the Spanish system, this evaluation is important
to know the type of sanction. In some other countries, there is also the pos-
sibility of submitting the company to a kind of probation or entering into
certain agreements. See: NIETO MARTÍN, Adán. Como avaliar a efetividade
dos programas de cumprimento?. In: NIETO MARTÍN, Adán; SAAD-DINIZ,
Eduardo (org.). Legitimidade e efetividade dos programas de compliance. São
Paulo: Tirant lo Blanch, 2021. p. 6-26. p. 7-9.
26
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. O sigilo profissional no âmbito das pes-
soas jurídicas: um estudo da particular posição dos in-house lawyers e dos
advogados de compliance e de investigações internas. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, São Paulo, ano 27, n. 159, p. 297-339, set./2019, p. 315;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia da prova e investigações
internas empresariais: possibilidades, exigibilidade e consequências proces-
suais penais de sua violação. Revista Brasileira de Direito Processual Penal,
Porto Alegre, vol. 7, n. 2, p. 1453-1510, mai./ago. 2021, p. 1466. In a similar
sense, Montiel states that any obligation to conduct internal investigations
can only be identified with regard to the requirements of good governance
derived from compliance, since, legally, there is no such obligation. See:
MONTIEL, Juan Pablo. Sentido y alcance de las investigaciones internas en la
empresa. Revista de Derecho de la Pontificia Universidad Católica de Valparaíso,
v. XL, p. 251-277, 2013. p. 262-265.
27
On this point, we disagree with Sahan and Moosmayer, who understand that
from Article 130 of the Gesetz über Ordnungswidrigkeiten (OWig) it is possi-
ble to derive an obligation to conduct CII. In our point of view, when estab-
lishing the administrator’s obligation to take the necessary supervisory mea-
sures to prevent non-compliance with the obligations of the establishment or
company, under penalty of administrative infraction, the Law does not spec-
ify what these measures are, making no express mention of conducting CII.
Therefore, we understand that whether or not to carry out this procedure
ends up being at the discretion of the administrator or person competent to

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The investigative procedures tend to follow a minimally uniform


rite, subject to some obvious particularities of the corporation and its
scope of activities. As a rule, the company becomes aware of facts that are
potentially illegal, or contrary to its internal rules, from denouncements
through communication channels28, its daily supervisory activities or

do so, as to what measures would be necessary in the specific case, without


prejudice, of course, that these may be considered insufficient in the future
and that the legal entity and its representatives suffer the consequences of
this choice. We analyzed this problem in detail in: CANESTRARO, Anna
Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Dos níveis de exigibilidade dos
procedimentos de investigação interna. In: INSTITUTO BRASILEIRO DE
CIÊNCIAS CRIMINAIS. Anais do CPCRIM: IV Congresso de Pesquisas em
Ciências Criminais, de 21 a 23 de outubro de 2020. São Paulo: IBCCRIM,
2020. p. 215-237. See also: SAHAN, Oliver. Investigaciones empresariales
internas desde la perspectiva del abogado. In: KUHLEN, Lothar; MONTIEL,
Juan Pablo; DE URBINA GIMENO, Íñigo Ortiz (eds.). Compliance y teoría del
derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 245-259. p. 248-250; MOOS-
MAYER, Klaus. Investigaciones internas: una introducción a sus problemas
esenciales. In: ARROYO ZAPATERO, Luis; NIETO MARTÍN, Adán (dir.). El
derecho penal económico en la era compliance. Valencia: Tirant lo Blanch, 2013.
p. 137-144. p. 138.
28
As Beatríz García-Moreno explains, through the so-called internal whis-
tleblowing, companies are expected, among other measures, to implement
reporting channels so that their employees and other people close to the
corporation can report certain irregularities internally, which will be subject
to investigation and sanction by the company itself. See: GARCÍA-MORE-
NO, Beatriz. Del whistleblower al alertador: la regulación europea de los ca-
nales de denuncia. Valencia: Tirant lo Blanch, 2020. p. 249. The Directive
(EU) 2019/1937 of the European Parliament and of the Council of 23 Oc-
tober 2019 on the protection of persons who report breaches of Union law
provides for the obligation of legal entities with 50 or more workers (or
even fewer, in specific cases), to establish internal reporting channels. The
procedure for these channels is provided for in Article 9 in the following
terms: “Article 9 Procedures for internal reporting and follow-up 1. The pro-
cedures for internal reporting and for follow-up as referred to in Article 8
shall include the following: (a) channels for receiving the reports which are
designed, established and operated in a secure manner that ensures that the
confidentiality of the identity of the reporting person and any third party
mentioned in the report is protected, and prevents access thereto by non-au-
thorised staff members; (b) acknowledgment of receipt of the report to the
reporting person within seven days of that receipt; (c) the designation of an
impartial person or department competent for following-up on the reports
which may be the same person or department as the one that receives the
reports and which will maintain communication with the reporting person

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738 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

even externally, through the current or imminent promotion of a state


investigation or criminal proceeding communicated directly to the
company or reported in the media29.
In some cases, as highlighted by Nieto Martín, depending on the
origin of the complaint, it may be necessary to carry out a preliminary
investigation, prior to the CII, in order to verify the degree of verisimilitude
of the allegations, avoiding, thus, waste of the company’s financial
resources, as well as unnecessary interference in the scope of the rights
of any persons being investigated30.
Subsequently, an investigation plan is defined. This phase is
essential for previously assessing the costs and time required for the CII,
as well as for defining the limits of the methods employed. Furthermore,
it is at this stage that the competences within the procedure are defined,
appointing a person or department responsible for the investigation and

and, where necessary, ask for further information from and provide feed-
back to that reporting person; (d) diligent follow-up by the designated per-
son or department referred to in point (c); (e) diligent follow-up, where
provided for in national law, as regards anonymous reporting; (f) a reason-
able timeframe to provide feedback, not exceeding three months from the
acknowledgment of receipt or, if no acknowledgement was sent to the re-
porting person, three months from the expiry of the seven-day period after
the report was made; (g) provision of clear and easily accessible information
regarding the procedures for reporting externally to competent authorities
pursuant to Article 10 and, where relevant, to institutions, bodies, offices
or agencies of the Union. 2. The channels provided for in point (a) of para-
graph 1 shall enable reporting in writing or orally, or both. Oral reporting
shall be possible by telephone or through other voice messaging systems,
and, upon request by the reporting person, by means of a physical meeting
within a reasonable timeframe” (EUROPEAN PARLAMENT; COUNCIL OF
THE EUROPEAN UNION. Directive (EU) 2019/1937 of the European Par-
liament and of the Council of 23 October 2019: on the protection of persons
who report breaches of Union law. Available on: <http://data.europa.eu/eli/
dir/2019/1937/2023-05-02>. Accessed on May 29th, 2023).
29
CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe X. Investigação de-
fensiva corporativa..., p. 298.
30
NIETO MARTÍN, Adán. Investigaciones internas. In: NIETO MARTÍN, Adán
et al. (dir.) Manual de cumplimiento penal en la empresa. Valencia: Tirant lo
Blanch, 2015. p. 231-271. p. 235-236.

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also deciding whether or not to hire external professionals31-32. In any


case, internal or external lawyers must be granted the respective powers
of attorney and signatures in the relevant terms of confidentiality must
be taken from those involved in the investigation in order to ensure the
legitimacy of the measures taken, as well as to preserve the secrecy of
the information collected, if so decided33.
Once the investigations themselves have begun, interviews are
conducted, documents, audio and video recordings and other digital
files (such as email messages, web files and hard disks) are collected
and analyzed, and these may even be from working instruments – such
as corporate computers and cell phones. Depending on the case and the
area of activity, technical expertise may also be required34.
It is precisely in the execution of these investigative activities
that AI proves to be most useful. Attention is drawn, for example, to the

31
Ibidem, p. 240-241. It is also important to point out that it may be in the
company’s best interest that facts under investigation are not disclosed to
a greater number of employees than is strictly necessary, as an early disclo-
sure, even if limited to the company’s internal scope, may represent severe
disadvantages to it and unfair stigmatization of the investigated. See: PELZ,
Christian. Offenbarungs- und Meldepflichten bei Internal Investigations. In:
In: AHLBRECHT, Heiko et al (Hrsg.). Unternehmensstrafrecht: Festschrift
für Jürgen Wessing zum 65. Geburtstag. München: C. H. Beck, 2016. p. 605-
624. p. 605.
32
As we have already analyzed in detail on other occasions, one of the main
factors that can be considered by the company when deciding whether or
not to hire external professionals concerns the undeniable controversy over
the extent of professional secrecy to so-called in-house lawyers, with dif-
ferent positions on whether they would be covered by prerogatives such as
the work-product-protection and the attorney-client-privilege. See in detail at:
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. O sigilo profissional..., p. 316ff; JANUÁRIO,
Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., p. 1468-1470. See also: VASCON-
CELLOS, Vinicius Gomes de. “The Right to Counsel and the Protection of
Attorney-Client Privilege in Criminal Proceedings”: direito de defesa técnica
e relações cliente-advogado no processo penal contemporâneo. Revista Bra-
sileira de Ciências Criminais, São Paulo, v. 29, n. 176, p. 257-272, fev./2021.
p. 263-264; p. 315-320; GALEGO SOLER, José-Ignácio. Investigaciones in-
ternas corporativas: de la práctica a la teoría. In: GÓMEZ MARTÍN, Víctor et
al (dir.). Un modelo integral de Derecho penal: Libro homenaje a la profesora
Mirentxu Corcoy Bidasolo. Madrid: BOE, 2022. p. 1150-1165. p. 1154-1157.
33
NIETO MARTÍN, Adán. Investigaciones internas…, p. 240-242.
34
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., p. 1470.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
740 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

predictive surveillance of employees, through which, based on the analysis of


a dataset, it is expected to determine with a high degree of precision which
employees are more likely to commit acts of non-compliance, including
criminal offenses35. This dataset may include, for instance, audio and video
files of environmental and telephone recordings, monitoring of e-mails
and internet browsers, information about computer keystrokes, content
published on social media and information regarding facial expressions,
body heat, physical gestures and voice tones, being these later accessed
through devices incorporated into workers’ desks and offices36-37.
Some other systems already available on the market38 are allegedly
able to detect “sensitive keywords” in communications (videos, phone
calls, emails, etc.) and send an alert to the responsible department, so
that it can analyze the interlocution. In addition, they have the ability to
measure the actual work time performed by the employee, comparing it
with the time he deals with outside matters39.
Focusing his analysis on the use of AI in lie detection systems,
and its possible use in CII, Trentmann explains that the present and the
future of technical lie detection involve the detection and evaluation by AI
systems of verbal and non-verbal signals and patterns. During a statement,

35
BURCHARD, Christoph. Digital Criminal Compliance..., p. 747.
36
DEARDEN, Lizzie. The Telegraph Backtracks on Sensors Monitoring Wheth-
er Journalists are Sitting at Desks Amid Outrage. The Independent, Jan./2016;
MOORE, Phoebe V. The Threat of Physical and Psychosocial Violence and Ha-
rassment in Digitalized Work. Geneva: International Labour Office. Bureau for
Workers’ Activities, 2018. p. 26; CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO,
Túlio Felippe Xavier. Inteligência artificial e..., p. 373; JANUÁRIO, Túlio Fe-
lippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.
37
Burchard mentions that these technologies are already in full swing, being
known as electronic performance monitoring. The author exemplifies them
with the use of GPS data and the (in theory, voluntary) implantation of chips
in employees – a practice known as chipping. See: BURCHARD, Christoph.
Digital Criminal Compliance…, p. 747; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. In-
teligencia artificial y…, forthcoming.
38
These are some of the functionalities announced, for example, by the sys-
tems Veriato and Veritone. See: VERIATO. Employee Monitoring & Insider
Threat Detection Software: see and understand exactly what your employees
are doing; VERITONE. Making the AI revolution work for you.
39
CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligên-
cia artificial e..., p. 373-374.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 741

the system collects, through cameras and microphones, information


about facial expressions, gestures, language use or the frequency of
certain terms and formulations. Subsequently, it compares these data to
the empirical knowledge stored by the system and assesses whether the
information provided by the declarant is true or false. The author explains
that AI works particularly with voice stress analysis and with facial or eye
scanning, also being able, in a combined approach, to recognize patterns
very quickly, even based on an almost infinite data repertoire40.
Among the many examples of AI-based systems for the analysis
of verbal, non-verbal and combined signals41, the so-called Eye Detect
stands out for its application also in the private sphere42. As Trentmann
explains, this system is owned by the American company Conversus,
having been launched in 2019, but the technology used by it was created
at the University of Utah in 2003 and has been improved since then.
This software’s approach is based on the observation that when a person
is lying, their brain has to work harder, which ends up unconsciously
affecting their eyes. Therefore, through high-speed cameras (especially
infrared), the system records the reactions of the declarant’s eyes to
certain questions or situations, including changes in pupil diameter, eye
movements, blinks or fixations. Its algorithm then calculates a credibility

40
TRENTMANN, Christian H. W.. Wahrheitsdetektionssyteme mit künstlicher
Intelligenz: ein neues Legal-Tech-Modell für Internal Investigations. Baden-
Baden: Tectum Verlag, 2022. p. 29-30.
41
The author cites and explains several examples of AI systems based on ver-
bal signals (such as Precire, VeriPol and Online Polygraph), non-verbal signals
(such as Silent Talker, Facesoft, iBorderCtrl and the aforementioned Eye De-
tect) and on combined analysis (such as Real-life-Trial-Data-Analysis, DARE
and AVATAR). As the author points out, while a person can distinguish a true
statement from a false one in 54% of cases (56% when prosecutors, judges
and policemen), AI-based lie detection systems have an average hit rate of
79.17% when based on verbal signals, 87.75% when based on non-verbal sig-
nals and 82.67% when based on a combined analysis. See in detail at: TRENT-
MANN, Christian H. W. Op. Cit., p. 30ff.
42
It is estimated that there are around 500 users of this technology, in 42 differ-
ent countries. In Spain, for example, an automotive repair corporation uses
the system to find out if its mechanics are making unnecessary repairs to
customer vehicles. See: HELLER, Piotr. Lügendetektoren: Kann dieses Auge
lügen?. Frankfurter Allgemeinen Zeitung, 12.10.2019. p. 2.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
742 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

value between 0 and 100, with any value below 50 indicating that the
claim is a lie43.
We, therefore, observe that there is great potential for using AI
in CII and compliance programs as a whole. However, even though we
recognize that this technology can in fact make these activities more
efficient and effective, the risks derived from it are equally relevant,
and hence reflections on its legal bases are fundamental, especially if we
consider its possible implications in criminal proceedings.
When the investigations are completed, a final report will be
prepared with their respective conclusions44. The destination that will
be given to the information obtained will be decided according to the
specific interests of the company45. If signs of practices that are illegal or
contrary to the company’s internal regulations are found, the corporation
may choose to: i) apply internal sanctions, such as warnings, suspensions
or dismissals; ii) safeguard the information for the preparation of the
company’s defense in future state liability procedures, including in
court, presenting the evidence it deems appropriate in those respective
moments; or iii) share with the competent authorities the information
and evidence collected that it deems appropriate and relevant, requesting
their incorporation in official investigations and bargaining for eventual
procedural benefits, such as settlements, reductions in sentences or
acquittals, if applicable46.
It is precisely from the hypothesis of sharing the results of CII
with the authorities that some of the most relevant controversies arise in
this scope, not only due to susceptibilities to “risk shifting” or violation

43
TRENTMANN, Christian H. W.. Op. Cit., p. 43ff.
44
NIETO MARTÍN, Adán. Investigaciones internas…, p. 258.
45
In the same sense, emphasizing that internal responsible persons may decide,
on their own initiative, whether to investigate and subsequently report to the
authorities: SAHAN, Oliver. Op. cit., p. 246.
46
CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe X. Investigação
defensiva corporativa..., p. 299; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de
custódia..., p. 1471.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 743

of rights and guarantees of those involved47-48. Since in these procedures


possible criminal offenses are generally investigated, the information
collected in CII will often not be limited to the defensive purposes of
the legal entity49, and may be of interest to public authorities for the

47
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., p. 1472; CANES-
TRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe X. Investigação defensiva
corporativa..., p. 301. On the risk of risk shifting, that is, the behavior of ad-
ministrators trying to transfer criminal responsibilities to occupants of lower
positions or even to the legal entity, see: BALCARCE, Fabián I.; BERRUEZO,
Rafael. Criminal compliance y personas jurídicas. Buenos Aires: Editorial B de
F, 2016. p. 163-164; LAUFER, William S. Corporate Liability, Risk Shifting,
and the Paradox of Compliance. Vanderbilt Law Review, v. 52, n. 5, p. 1343-
1420, out./1999. p. 1368 e ss. Neira Pena also highlights this concern, not-
ing that the neutrality of the investigator may be at stake, especially in cases
where the company’s directors are investigated. According to the author, in
some legal systems, this problem is faced by imputing the crime of obstruc-
tion of justice to those who hinder the proper conduct of CII. The option,
however, is controversial, especially if we think of the legal entity as having
the right against self-incrimination. See in detail at: NEIRA PENA, Ana María.
La instrucción de los procesos penales frente a las personas jurídicas. Valencia:
Tirant lo Blanch, 2017. p. 344-347.
48
The concern about the rights of whistleblowers can be observed, for exam-
ple, in the Directive (EU) 2019/1937, which provides for measures to pro-
tect and support these agents. See: EUROPEAN PARLAMENT; COUNCIL
OF THE EUROPEAN UNION. Directive (EU) 2019/1937 of the European
Parliament and of the Council of 23 October 2019: on the protection of per-
sons who report breaches of Union law. Available on: <http://data.europa.
eu/eli/dir/2019/1937/2023-05-02>. Accessed on May 29th, 2023. See also,
as examples, the Laws that transposed the Directive to the internal legal
systems of Portugal and Spain, in: PORTUGAL. Lei n. º 93/2021, de 20 de
dezembro: Regime Geral de Proteção de Denunciantes de Infrações. Avail-
able on: <https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?artigo_
id=&nid=3544&tabela=leis&pagina=1&ficha=1&so_miolo=&nversao=#arti-
go>. Accessed on May 29th, 2023; ESPAÑA. Ley 2/2023, de 20 de febrero,
reguladora de la protección de las personas que informen sobre infracciones nor-
mativas y de lucha contra la corrupción. Available on: <https://www.boe.es/
eli/es/l/2023/02/20/2/con>. Accessed on May 29th, 2023.
49
On the relevance of compliance programs in the attribution of criminal re-
sponsibility to legal entities, see: SOUSA, Susana Aires de. Questões funda-
mentais de direito penal da empresa. 2. ed. Coimbra: Almedina, 2023. p. 150ff;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. O ônus da prova da existência e eficácia dos
programas de compliance no âmbito do processo penal das pessoas jurídicas:
um estudo com base no ordenamento jurídico espanhol. Revista Brasileira de
Ciências Criminais, São Paulo, ano 27, n. 160, p. 219-257, out./ 2019. p. 230ff.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
744 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

purpose of ascertaining authorship and punishing the individual who


committed the crime. For this reason, the transfer of this information
to the criminal trial, either as defensive evidence from company, or
through its collaboration with the authorities, raises numerous questions,
starting with the compatibility of these private procedures with the rights
and guarantees of those being investigated, such as the presumption of
innocence, the contradictory and the right to non-self-incrimination50.
In addition, since the collection of evidence in this scope is carried out
by private entities, generally dissociated from public authorities, there
are doubts regarding the possible means of ensuring the reliability of the
evidence collected in CII and how to fully certify the procedure that was
carried out in the collection, transport and storage of these information,
including the subjects who intervened in each phase of the process51-52.
The relevance of all these discussions enhances, in our view,
if we consider the possible application of AI in CII, which is why it is
fundamental to address the topic of possible legal frameworks for its
employment and its possible criminal procedural implications.

50
The issue becomes even more problematic if we observe that, in practice,
those affected by CII tend to give up their most basic rights, such as the
non-self-incrimination. This is due not only to the pressure (expressed or
tacit, with the risk of dismissal) that is exerted on them, but also to the lack
of understanding about the possibility that the information they offer may be
passed on to public authorities in the future. See in detail: MOMSEN, Carsten.
Internal Investigations zwischen arbeitsrechtlicher Mitwirkungspflicht und
strafprozessualer Selbstbelastungsfreiheit. Zeitschrift für Internationale Stra-
frechtsdogmatik, n. 6, p. 508-516, 2011. p. 512.
51
It is for this reason that we believe that the documentation of the chain of cus-
tody is also of paramount importance in the context of internal investigations.
For a comprehensive study of this topic and its criminal procedural implica-
tions, see: JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., passim.
52
In this scope, the concern with the preservation of digital evidence deserves
special attention, since, as with most white-collar crimes, CII also depend
heavily on the analysis of computer systems. As Basar explains, also in this
corporate context, the future use of collected evidence depends, in addition
to other conditions, on whether the originality of the digital data is not in
question. In this sense, see: BASAR, Eren. Anforderungen an die digitale
Beweissicherung im Strafprozessrecht und in internen Untersuchungen. In:
AHLBRECHT, Heiko et al (Hrsg.). Unternehmensstrafrecht: Festschrift für
Jürgen Wessing zum 65. Geburtstag. München: C. H. Beck, 2016. p. 635-647.
p. 635; 642.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 745

2. Legal guidelines for applying artificial intelligence in


internal investigations and the possible admissibility of
information in subsequent criminal procedures

2.1. Legal requirements for data processing

When referring to the use of AI within the scope of CII, we


must bear in mind that this technology inescapably depends on data
that feed its system. For this reason, the first question to be answered is
about the eventual legal permissibility and the possible limits for data
processing in this scope.
As Victor Valente points out, the protection of personal data is a
fundamental and extremely personal, autonomous right, being effectively
a result of the functionalization of privacy. Personal data are, above all,
components of personality or legal capacity, conferring rights to their
holder and legal obligations regarding informational self-determination53.
In Brazil, the Federal Constitution provides in its Article 5th, X, the
protection of the inviolability of private life, in addition to ensuring, in
its item LXXIX, the right to the protection of personal data, including
in digital media. In Europe, Article 8(1) of the Charter of Fundamental
Rights of the European Union and Article 16(1) of the Treaty on the
Functioning of the European Union (TFEU) provide that everyone is
entitled to protection of personal data concerning them.
If we take the Brazilian legal system as a basis, we will see that the
General Data Protection Law (LGPD) excludes from its regime, among
others, data regarding public safety and criminal proceedings54. Likewise,
the General Data Protection Regulation (GDPR) is also not applicable,
within Europe, to data processed by authorities for the purposes of

53
VALENTE, Victor Augusto Estevam. A proteção de dados pessoais no direito
penal: uma análise crítica da criminalização nas perspectivas constitucional e
de política criminal. Belo Horizonte: D’Plácido, 2022. p. 46-49.
54
See Article 4th, in: BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018: Lei Ger-
al de Proteção de Dados Pessoais. Available on: <https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm>. Accessed on February
27th, 2023. About this, see: GLEIZER, Orlandino; MONTENEGRO, Lucas; VI-
ANA, Eduardo. O direito de proteção de dados no processo penal e na segurança
pública. Rio de Janeiro: Marcial Pons, 2021. p. 20.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
746 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

“prevention, investigation, detection or prosecution of criminal offences


or the execution of criminal penalties, including the safeguarding against
and the prevention of threats to public security”55. However, in our opinion,
these rules are not directly an impediment for data processing in CII.
As we have already mentioned, not only the primary purposes of these
procedures are neither strictly the public safety nor the investigation of
crimes, but also there is a clear economic purpose when these activities
are carried out.
This understanding also seems not to make CII incompatible
with the provisions of Article 4th, §2nd, of the LGPD. It is a fact that this
provision prohibits the processing of personal data by private persons for
the sole purpose of investigation and criminal prosecution. However, as
we have already pointed out, although these CII procedures can identify
facts that fall under crimes, this is not their exclusive purpose. A contrary
understanding, in our view, would make it impossible not only CII, but also
compliance programs as a whole, hindering legal entities from fulfilling
duties imposed to them by Law.
A point to be noted, however, is that, under the GDPR, the
processing of data related to criminal convictions or offenses is not
permitted, unless conducted under the control of an official authority
or authorized by the law of a Member State of the Union, which also
ensures rights and guarantees of the data subjects56. The interpretation
to be made of this article, in our view, is that the use of data related to
possible criminal records as input to AI systems can only occur if the

55
See Article 2 (2) (d), in: EUROPEAN UNION. Regulation (EU) 2016/679 of
the European Parliament and of the Council of 27 April 2016: on the protec-
tion of natural persons with regard to the processing of personal data and on
the free movement of such data, and repealing Directive 95/46/EC (General
Data Protection Regulation). Available on: <https://eur-lex.europa.eu/le-
gal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016R0679>. Accessed on March
09th, 2023.
56
See Article 10, in: EUROPEAN UNION. Regulation (EU) 2016/679 of the Eu-
ropean Parliament and of the Council of 27 April 2016: on the protection of
natural persons with regard to the processing of personal data and on the
free movement of such data, and repealing Directive 95/46/EC (General
Data Protection Regulation). Available on: <https://eur-lex.europa.eu/le-
gal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016R0679>. Accessed on March
09th, 2023.

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investigation takes place with the knowledge and supervision of the


state authority in question or if the law of the Member State authorizes
it. Furthermore, when the occurrence of a criminal offense is verified
during the investigation, the processing of data may continue to take place
for the purposes of better ascertaining the facts only in cases where the
law authorizes the company to investigate (eg, anti-money laundering
laws) or with the knowledge of the authority.
The LGPD presents different requirements for their processing in
the case of personal data or sensitive personal data57-58. In a very similar way,
the GDPR admits the processing of data in the cases provided for in Article
6, while Article 9(2) provides for the exceptional situations in which the
processing of “special categories of personal data”59 will be admitted.
In light of these legislation, we can consider that the main legal
bases that authorize the processing of data within the scope of CII are,
in descending order of relevance, i) compliance with a legal or regulatory
obligation, by the company; ii) the regular exercise of rights in judicial,

57
For the purposes of this Law, “personal data” is considered to be information
related to an identified or identifiable natural person, and “sensitive person-
al data”, those about “racial or ethnic origin, religious conviction, political
opinion, union affiliation or organization of a religious, philosophical or po-
litical nature, data referring to health or sexual life, genetic or biometric data,
when linked to a natural person” [free translation]. See Article 5th, in: BRA-
SIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018: Lei Geral de Proteção de Dados
Pessoais. Available on: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/l13709.htm>. Accessed on February 27th, 2023.
58
See Article 7th and 11, in: BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018: Lei
Geral de Proteção de Dados Pessoais. Available on: <https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm>. Accessed on Feb-
ruary 27th, 2023.
59
Are thus considered: “1. Processing of personal data revealing racial or ethnic
origin, political opinions, religious or philosophical beliefs, or trade union
membership, and the processing of genetic data, biometric data for the pur-
pose of uniquely identifying a natural person, data concerning health or data
concerning a natural person’s sex life or sexual orientation shall be prohibit-
ed”. EUROPEAN UNION. Regulation (EU) 2016/679 of the European Parlia-
ment and of the Council of 27 April 2016: on the protection of natural persons
with regard to the processing of personal data and on the free movement of
such data, and repealing Directive 95/46/EC (General Data Protection Reg-
ulation). Available on: <https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/
PDF/?uri=CELEX:32016R0679>. Accessed on March 09th, 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
748 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

administrative or arbitration proceedings; iii) the pursuit of legitimate


interests by the company; iv) the consent of the holder60.
In order to justify this order, we must point out that in cases
where compliance obligations are imposed on the legal entity by law,
decrees or regulations61, they justify the processing of personal data as
an indispensable measure for the fulfillment of these obligations. In our
view, this legal basis overlaps with the hypothesis of regular exercise of
rights in proceedings (expressly provided for only in the LGPD and not
in the GDPR, except for sensitive data), because, although the legal entity
has the legitimate right to defend itself, in some situations there would
not be ongoing, or on the verge of being initiated, judicial, administrative
or arbitration proceedings. Although the admissibility of this basis can

60
Highlighting that the legal bases of the LGPD most commonly invoked by
data controllers, regarding compliance and CII activities, are “legitimate in-
terest” and “compliance with legal obligations”: PALHARES, Felipe; PRADO,
Fernando; VIDIGAL, Paulo. Compliance Digital e LGPD. In: NOHARA, Irene
Patrícia Diom; ALMEIDA, Luís Eduardo de (coord.). Coleção compliance, v.
5. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2021. Ebook. N. P. Section 5.3.14. We
did not list here the “public interest” provided for by the GDPR, because even
though the invocation of this legal basis can be ventilated, the delimitation
between CII that in fact pursue this objective (for example, the investigation
of a crime that occurred in its environment) and those who seek to investi-
gate facts that are only of their private interest seems to us to be very casu-
istic. The same can be said with regard to the provision, in both legislations,
of the possibility for the purpose of fulfilling contractual obligations, as it
would depend on an analysis of the provisions set forth in the concrete em-
ployment contract.
61
In the Brazilian Anti-Corruption Law (Law 12.846/13), for example, there
is express recognition of compliance programs as relevant to the dosimetry
of the sanction. In this regard, see in detail at: SILVEIRA, Renato de Mel-
lo Jorge. Autorregulação, responsabilidade empresarial e criminal compli-
ance. In: SILVEIRA, Renato de Mello Jorge; SAAD-DINIZ, Eduardo. Compli-
ance, direito penal e lei anticorrupção. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 25-239. p.
190ff; FERNANDES, Fernando Andrade. Brasil. In: RODRÍGUEZ-GARCÍA,
Nicolás (dir.); ONTIVEROS ALONSO, Miguel; ORSI, Omar Gabriel; RODRÍ-
GUEZ-LÓPEZ, Fernando (coord.). Tratado angloiberoamericano sobre compli-
ance penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 2021. p. 155-241. p. 208ff. Regarding
compliance duties in the scope of Anti-Money Laundering, specially in Por-
tugal, see: CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier.
Programas de compliance e branqueamento de capitais: implicações da lei nº
83/2017, de 31 de agosto, no regime jurídico de Portugal. Revista Científica do
CPJM, v. 1, n. 3, p. 65-98, 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 749

be ventilated considering future hypothetical processes, the use of this


legal basis is more appropriate when the company is actually defending
itself, especially when sharing data with public authorities (a hypothesis
that we will discuss in detail later).
The pursuit of the company’s legitimate interest, although quite
appropriate to the context of CII, is in third place on this list because, as
can be seen from the aforementioned Article 11 of the LGPD and Article
9(2) GDPR, it is a hypothesis that does not support the processing of
sensitive personal data, which will be of particular relevance (especially the
biometric ones) if we consider the use of some AI systems in compliance
programs and CII.
Finally, even though we consider the subject’s free, informed and
unequivocal consent necessary for each specific purpose of processing
his/her data (including for subsequent purpose changes, such as eventual
sharing with authorities), we understand that this should be the subsidiary
legal basis in the case of CII and compliance programs. Firstly, because,
pursuant to Article 8th, §5th, LGPD and Article 7(3) GDPR, consent may
be revoked at any time, upon express manifestation by the holder. Also,
because we have serious doubts about whether we can effectively talk
about freedom of consent in labor relations. In other words, the fear of
not being hired or, as the case may be, being fired, can hinder subordinate
employees from exercising effectively, with freedom, their agreement or
not with the processing of their data62.
However, in light of the GDPR, we understand that the consent of
the data subject is essential, even if this is not the legal basis invoked by
the controller, when it comes to data processing for the purposes of using
autonomous systems and AI. This is because Article 21 provides that the
subject may object, at any time, to the processing of their data based on
the public interest or the legitimate interest of the controller (hypotheses
(e) and (f) of Article 6(1) GDPR), for e.g. profiling purposes, unless the

62
Precisely in this sense: ARTICLE 29 WORKING PARTY. Guidelines on con-
sent under Regulation 2016/679: Adopted on 28 November 2017. As last Re-
vised and Adopted on 10 April 2018. Available on: <https://ec.europa.eu/
newsroom/article29/items/623051>. Accessed on March 10th, 2023; PAL-
HARES, Felipe; PRADO, Fernando; VIDIGAL, Paulo. Op. cit., N. P. Section
5.3.7.2.2.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
750 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

controller demonstrates that there are “compelling legitimate grounds


for the processing which override the interests, rights and freedoms of
the data subject or for the establishment, exercise or defence of legal
claims”. Furthermore, in accordance with Article 22, the data subject
has the right not to be subject to any decision based on automated data
processing, which may produce legal effects or affect him or her in any
way, unless, among other hypotheses, if authorized by the legal system
in question or based on the explicit consent of the data subject63. For this
reason, regardless of the legal basis used, we maintain that there must
also be the explicit consent of the data subject, including which data will
be processed, for what purposes, and even which technological systems
will be employed in the processing of this data.
Despite this order listed above, we maintain that, provided that the
respective requirements are met, any of these legal bases can be invoked
to substantiate the processing of data within the scope of compliance
programs and CII. Legal authorization, however, although imperative, is not
enough. The guiding principles of data processing must also be observed.
In a monograph on the subject, Gleizer, Montenegro and Viana
maintain that the processing of data for purposes of public security and
criminal investigations must comply with two fundamental principles: the
necessary reserve of law (in the sense that all data processing presupposes
authorization by law) and the prohibition of excess (in the sense that
the proportionality of interventions must be observed)64. Although the
purpose of CII is not strictly the investigation of crimes, we understand that
these two principles can also guide the processing of data in this private
sphere, not only because they are not incompatible with the LGPD and
GDPR (quite the contrary), but, also, precisely because is possible that,

63
See Articles 21 and 22 in: EUROPEAN UNION. Regulation (EU) 2016/679
of the European Parliament and of the Council of 27 April 2016: on the protec-
tion of natural persons with regard to the processing of personal data and on
the free movement of such data, and repealing Directive 95/46/EC (General
Data Protection Regulation). Available on: <https://eur-lex.europa.eu/le-
gal-content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016R0679>. Accessed on March
09th, 2023.
64
In this sense: GLEIZER, Orlandino; MONTENEGRO, Lucas; VIANA, Eduar-
do. Op. Cit., p. 40.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 751

within the scope of these CII, facts of criminal relevance are investigated
and may be of interest to state investigations and proceedings.
Legal authorization refers precisely to the cases mentioned
above, in which data processing is authorized. With regard to the test
of proportionality, it refers to the balance that must be made between
the means used by the data controller and the purposes sought by the
processing. The criteria that must be observed in this proportionality
test are, according to the authors: i) the legitimacy of the purpose, that
is, that the purpose pursued must actually correspond to interests related
to the common good; ii) adequacy, in the sense that the means chosen
must be able to promote the purpose in question; iii) the necessity, in the
sense that there should not be less onerous and equally efficient means
to achieve the purpose in question; and iv) proportionality in the strict
sense, in the sense that the severity of the intervention and the common
interests pursued must be pondered65.
According to the authors, this proportionality test is precisely
materialized through the list of principles that is brought by Articles 6th
of the LGPD and similar articles in the GDPR and DPD66. In short, they
are: good faith; i) purpose (legitimate, specific, explicit, and informed
purposes to the holder); ii) adequacy (processing according to the purposes
informed to the data subject and the context of the treatment); iii) necessity
(processing limited to the minimum necessary to achieve the purposes);
iv) free access (facilitated and free consultation by the holders, of the
form, duration and completeness of the data); v) data quality (accuracy,
clarity, relevance and up-to-date data); vi) transparency (clear, precise
and accessible information); vii) security (protection against unauthorized
access, destruction, loss, alteration, communication or diffusion); viii)
prevention (measures to avoid harm); ix) non-discrimination (prohibition
of treatment for unlawful or abusive discriminatory purposes) and x)
responsibility and accountability (clear demonstration of personal data
protection measures and their effectiveness)67.

65
Ibidem, p. 58.
66
Ibidem, p. 59.
67
See Article 6th, in: BRASIL. Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018: Lei Ger-
al de Proteção de Dados Pessoais. Available on: <https://www.planalto.gov.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
752 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

Responding, therefore, to the question raised at the beginning


of the topic, we understand that the processing of data for the purpose
of applying AI in the scope of CII does not find obstacles, either in the
LGPD or in the GDPR, being admitted, provided that it is supported by at
least one of the legal hypotheses and respects the proportionality between
the legitimate purpose sought and the means applied.

2.2. (In)Admissibility of AI systems in corporate internal investigations

A different question is to know which AI instruments would be


admissible in the field of CII. Since they are very efficient in collecting,
processing and storing data, as well as in predictions and decision-
making, they open the door for the company to obtain a multitude of
data and information from its employees, in addition to, in cases with
more advanced systems, performing real-time monitoring and enabling
automatic decision-making. However, even if there are eventually no
problems in data processing, it is certain that the company will not be
able to apply any and all AI systems without considering some rights
and guarantees of those involved. Concerns about the level of intrusion
into workers’ privacy, secrecy of communications68 and even physical
integrity are evident69.
A first limit to be observed is that of legality, that is, the adoption of
these instruments must find legal support. As a rule, employer supervision

br/ccivil_03/_ato2015-2018/2018/lei/l13709.htm>. Accessed on February


27th, 2023. For a detailed analysis, see also: VALENTE, Victor Augusto Este-
vam. A proteção de..., p. 64ff; PALHARES, Felipe; PRADO, Fernando; VIDI-
GAL, Paulo. Op. cit., N. P. Section 5.2.
68
According to Adán Nieto Martín, the difference between the two lies in the
moment when the intervention takes place. When access to the content of a
communication is given “live”, at the time it occurs and affecting the channel
in which it develops, the restricted right is that of secrecy of communications,
which enjoys jurisdictional guarantee and requires a court order. On the con-
trary, when control takes place a posteriori, through access to the content
of the communication, the affected right is privacy. See: NIETO MARTÍN,
Adán. Investigaciones internas…, p. 250.
69
CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligên-
cia artificial e..., p. 376.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 753

and control measures are based on the employer’s directive power70, which
attributes to him/her the burdens and powers related to the control of the
work environment, the company’s assets and employees. However, it is
certain that these powers are not unlimited, encountering barriers precisely
in the constitution, in the laws and eventually in collective agreements.
In Spain, for example, the Workers’ Statute is clear in its Articles
20.3 and 18, that the employer can adopt the measures he/she deems
opportune for the surveillance and control of the worker’s labor obligations
and duties, as well as for the protection of the business assets71. According
to Gómez Martín, within the scope of this company’s right to inspect
its workers, there are two very distinct groups of cases: i) the right to
register the worker, his locker and his personal objects; and ii) the right
to supervise the work instruments that the employer makes available
to the employee. In the first case, it is a very exceptional measure to be
taken only in the working environment and hours, and must also respect,
to the maximum, the worker’s dignity and privacy. In turn, the second
group encompasses the installation of cameras, microphones and other
technological forms of communication control, especially those carried out
in the computers and cell phones provided by the company. It is important
to point out that, although based on the rights and duties assumed in
the employment contract, especially the employers’ right to supervise
and control their means of production, properties and employees, this
control cannot be unlimited either. Even if provided for work purposes,
work tools (such as cell phones and corporate computers) may be used

70
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 11. ed. São Paulo:
LTr, 2012. p. 662; BARROS, Alice Monteiro. Curso de direito do trabalho. 7.
ed. São Paulo: LTr, 2011, p. 462; CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO,
Túlio Felippe Xavier. Inteligência artificial e..., p. 373; JANUÁRIO, Túlio Fe-
lippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.
71
See: ESPAÑA. Real Decreto Legislativo 2/2015, de 23 de octubre, por el que
se aprueba el texto refundido de la Ley del Estatuto de los Trabajadores. Avail-
able on: <https://www.boe.es/eli/es/rdlg/2015/10/23/2/con>. Accessed
on March 03th, 2023. See also: LEÓN ALAPONT, José. Medios de tecnovig-
ilancia e investigaciones internas en el ámbito empresarial: algunas consid-
eraciones sobre la tutela penal y procesal del secreto de las comunicaciones la
intimidad (¿derechos negociables?). In: ROPERO CARRASCO, Julia (coord.).
Aspectos jurídicos de actualidad en el ámbito del derecho digital. Valencia: Ti-
rant lo Blanch, 2023. p. 114-141. p. 127.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
754 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

in some specific cases for personal purposes, especially outside working


hours or during rest periods72.
In Brazil, the legislation is not clear and much less extensive in this
matter. Initially, it is understood that the directive power of the employer
is based on Article 2nd CLT, when considered as the person who directs
the personal provision of service. This is a power derived from the labor
contract itself and whose content can be divided into organizational,
control and disciplinary powers73. Concrete provisions, however, about
which control measures are permitted or prohibited are scarce74. Article
74 allows, in a general way, the control of working hours, which may be
manual, mechanical or electronic. Furthermore, Article 373-A, item VI,
prohibits intimal searches of female employees75.
One could question, for example, in light of the lack of legal
authorization and mainly in view of the reserve of jurisdiction in the
matter, whether the employer would be authorized to intercept (including
with technological systems, perhaps with AI) employees’ communications.
Gustavo Garcia, considers it inadmissible, since telegraphic, data and
telephone communications are inviolable, except, in the latter case, with
a court order for the purposes of investigation and criminal proceedings.
Although the constitutionally foreseen inviolability is unquestionable, we
understand, however, that a possible obstacle would not be based on this

72
GÓMEZ MARTÍN, Victor. Compliance y derecho de los trabajadores. In:
KUHLEN, Lothar; MONTIEL, Juan Pablo; DE URBINA GIMENO, Íñigo Ortiz
(eds.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p.
125-146. p. 132-135.
73
See: GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 8. ed. Rio
de Janeiro: Forense, 2014. Ebook. N.P. Section 11.5.
74
Amauri Mascaro and Sônia Mascaro draw attention, for example, to the fact
that the personal search arose from usages and customs, and just cannot be
abusive. For the authors, the new technological control mechanisms, among
which those that make use of images or sensors, must obey the same princi-
ples, balancing in the specific case, the dignity and privacy of the employee
and the requirements of security and organization. See: NASCIMENTO, Am-
auri Mascaro; NASCIMENTO, Sônia Mascaro. Curso de direito do trabalho. São
Paulo: Saraiva, 2014. 29. ed. Ebook. N.P. Chapter 43. Section 11.
75
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943: Aprova a Consolidação
das Leis do Trabalho. Available on: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
decreto-lei/del5452.htm>. Accessed on March 03th, 2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 755

issue. If, on the one hand, terminologically speaking, the recording of a


conversation between two agents by a third party would fit the concept
of a telephone interception or an environmental interception, on the other,
it would not affect the freedom of communications and intimacy, if (and
only if) interlocutors have previous knowledge of the recording76. By this
we mean that the eventual use of AI systems that monitor telephone,
telematic or environmental communications does not violate Art. 5th,
XII, CF, provided that there is knowledge on the part of the interlocutors.
This does not mean, of course, that this employment is proportional, a
criterion that we will discuss later.
Directly related to the abovementioned issue, we can also identify
as one of the main limits that must be observed (not only when applying
new technologies, such as AI, but in CII as a whole) those spaces in
which there are expectations of privacy on the part of those investigated.
Even if provided for work purposes, it is commonplace, in practice, for
employees to use some work tools, such as cell phones, computers and
corporate e-mail, also to deal with personal matters. This is an undeniable
result of today’s fluidity of boundaries between the work and home
environment, accentuated by phenomena such as the digitalization of
work and the home office77. For this reason, there are precedents and it
is well recognized in the doctrine that there is an expectation of privacy

76
According to the classification presented by Badaró, telephone interception
is configured when there is telephone communication, with third-party in-
terference, without the interlocutors’ knowledge; wiretapping, when there is
telephone communication, with the interference of a third party, with the
knowledge of one of the interlocutors; clandestine telephone recording, when
the telephone communication is recorded by one of the interlocutors; envi-
ronmental interception, when a third party records a conversation between
those present, without the knowledge of any of them; and clandestine envi-
ronmental recording, when one of those present records a conversation, with-
out the knowledge of the other. For the author, situations in which there is
environmental or telephone recording, by one of the interlocutors or by a
third party, with everyone’s knowledge, do not enjoy legal relevance in terms
of freedom of communications or protection of privacy. See with details and
references at: BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal. 8.ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020. p. 592.
77
OIT. Trabalho em tempos de COVID: Relatório do diretor-geral, Conferência
Internacional do Trabalho, 109ª sessão, Genebra, 2021. p. 14.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
756 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

and consequent limits to the inspection and monitoring of information


stored in cell phones, computers, e-mail and other work instruments78.
This expectation, however, may be excluded, in the specific case,
when the employer gives the employee prior and explicit notice that the
objects and tools are to be used exclusively for work purposes, defining
the limits of permissibility for their use and making it clear that they can
be inspected and what the concrete information that can be collected
from them will be79.

78
See: ECHR. Case of Copland v. The United Kingdom. Application n.º
62617/00. Strasbourg, 03/04/2007. Available on: <https://www.juridice.ro/
wp-content/uploads/2016/07/1531450.pdf>. Accessed on June 10th, 2021;
BRASIL. TRT-9. TRT-PR-02822-2001-660-09-00-8 (RO-05568-2002) –
Acórdão -06845-2003. Rel. Juíza Janete do Amarante. Diário da Justiça Paraná,
XLIX, Edição digitalizada n. 6343. Curitiba, 6ª feira, 04 de abril de 2003. p.
397. Available on: <https://www.tjpr.jus.br/diario-da-justica>. Accessed
on June 10th, 2021; ESPAÑA. TS. SALA DE LO PENAL. STS 1486/2021 -
ECLI:ES:TS:2021:1486: Sentencia núm. 328/2021. Ponente: Manuel Marche-
na Gómez. 22.04.2021. Available on: <https://www.poderjudicial.es/search/
AN/openCDocument/cac2ec927df2ac24eb9f320e282b0b4267378998e-
9c61ee7>. Accessed on March 10th, 2023; CANESTRARO, Anna Carolina;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligência artificial e..., p. 376-377. For a
detailed analysis of the Spanish judgment 328/2021, see: GÓMEZ MARTÍN,
Víctor. ¿Un nuevo golpe de gracia a las investigaciones internas corporativas?
Reflexiones en voz alta sobre la sentencia de tribunal supremo 328/2021,
de 22 de marzo. In: GÓMEZ MARTÍN, Víctor et al (dir.). Un modelo integral
de Derecho penal: Libro homenaje a la profesora Mirentxu Corcoy Bidasolo.
Madrid: BOE, 2022. p. 1167-1178. p. 1174ff. On the contrary, rejecting this
expectation of privacy: ESPAÑA. TS. SALA DE LO SOCIAL. STS, 6 de Oc-
tubre de 2011. Ponente: Jesus Souto Prieto. Available on: <https://vlex.es/
vid/-347104538>. Accessed on March 10th, 2023.
79
See: BRASIL. TST. RR - 61300-23.2000.5.10.0013. 1ª. Turma. Rel. Ministro
João Oreste Dalazen. Data de Julgamento: 18/05/2005. Data de Publicação:
DJ 10/06/2005. Available on: <http://www.tst.jus.br/>. Accessed on June
10th, 2021; ECHR. Case of Bărbulescu v. Romania. Application n.º 61496/08.
Strasbourg, 05/09/2007. Available on: <http://www.marinacastellaneta.it/
blog/wp-con-tent/uploads/2017/09/CASE-OF-BARBULESCU-v.-ROMA-
NIA.pdf>. Accessed on June 10th, 2020; PORTUGAL. STJ. Processo 07S043.
N.º Convencional JSTJ000. N.º do Documento SJ200707050000434. Rel.
Mário Pereira. Data do Acórdão: 05/07/2007. Available on: <http://www.
dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/54d3c9f0041a33d-
58025735900331cc3?Open-Document&Highlight=0,07S043>. Accessed
on June 10th, 2021; CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Fe-
lippe Xavier. Inteligência artificial e..., p. 377; GÓMEZ MARTÍN, Victor.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 757

It is also important to mention, as Montiel does, that there are


certain areas in which the expectation of privacy is unchangeable, as an
eventual breach would affect an intangible core of intimacy, referring to
the most private and personal sphere of workers. This would be the case,
for example, of digital files from recordings made in locker rooms and
bathrooms, genetic tests and compulsory intimate searches80.
But attending the employee’s expectation of privacy is not enough
to attest to the legitimacy of the employer’s intervention. In our view, it
is necessary to balance the interests based on the proportionality test81,
assessing whether, in the specific case, i) the measure restricting the
worker’s right is likely to achieve the desired purpose (adequacy judgment);
ii) if there are no other equally effective measures that restrict to a
lesser degree the worker’s right (necessity judgment); iii) whether the
concrete restriction of the worker’s right results in more benefits for
the common good than its preservation to the detriment of the purpose
sought (proportionality in the strict sense)82. Gómez Martín understands as

Compliance y derecho…, p. 134-135; ECHR. Case of Copland v. The United


Kingdom. Application n.º 62617/00. Strasbourg, 03/04/2007. Available on:
<https://www.juridice.ro/wp-content/uploads/2016/07/1531450.pdf>.
Accessed on June 10th, 2021.
80
For the author, postal or electronic correspondence of a personal nature,
as well as lockers and offices assigned for personal use, also fall under this
category. See: MONTIEL, Juan Pablo. Autolimpieza empresarial: compliance
programs, investigaciones internas y neutralización de riesgos penales. In:
KUHLEN, Lothar; MONTIEL, Juan Pablo; DE URBINA GIMENO, Íñigo Ortiz
(eds.). Compliance y teoría del derecho penal. Madrid: Marcial Pons, 2013. p.
221-243. p. 234-235.
81
In the same opinion: ALCÁCER GUIRAO, Rafael. Investigaciones internas:
prolegómenos constitucionales y cuestiones abiertas. In: GÓMEZ MARTÍN,
Víctor et al (dir.). Un modelo integral de Derecho penal: Libro homenaje a la
profesora Mirentxu Corcoy Bidasolo. Madrid: BOE, 2022. p. 989-1000. p.
997-998; GÓMEZ MARTÍN, Victor. Compliance y derecho..., p. 133. Also
highlighting the rule of proportionality, plus the employee’s consent, as pil-
lars of authorization of compliance programs, especially in light of Article 32
of the BDSG, see: MASCHMANN, Frank. Compliance y derechos del traba-
jador. In: KUHLEN, Lothar et al. (eds.). Compliance y teoría del derecho penal.
Madrid: Marcial Pons, 2013. p. 147-167. p. 151ff.
82
ESTRADA I CUADRAS, Albert; LLOBET ANGLÍ, Mariona. Derechos de los
trabajadores y deberes del empresario: conflicto en las investigaciones em-
presariales internas. In: SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María (dir.); MONTANER

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
758 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

disproportionate, for example, using technological instruments to carry


out constant and indiscriminate surveillance of everything that appears
on the worker’s computer screen, without distinction between what is
personal and what is related to work83.
In the light of what has been exposed so far, we can observe
that this judgment made between the interests at stake in the specific
case, based on the proportionality test, is perhaps the most fundamental
criterion in assessing the admissibility or not of AI systems in CII. As
we have explained, the criterion of legality ends up being fulfilled not
only by the norms that authorize the necessary measures to implement
the employer’s directive power, but also by those that encourage the
adoption of specific supervision and control measures within the scope of
compliance programs. Therefore, with the exception of some occasional
express prohibitions, AI systems in this field are not illegal.
Likewise, it has been demonstrated that there are spaces in which
the employee’s expectation of privacy must be respected, and in some cases
it cannot even be waived under any circumstances. However, fulfilling
this criterion does not impose severe practical difficulties either, since it
demands mere prior and detailed information to the employee about the
limits of use and the possibility and means of surveillance. In addition, we
cannot forget the undeniable position of vulnerability in which workers
find themselves, which is why we believe that, even if notified, they will
often not be in full conditions to truly understand the implications of
the situation they are facing, or not interested in extend the discussions
regarding it, precisely due to the fear of being fired or not being hired.
The proportionality test, in turn, ensures the analysis, in the
specific case, of what technology is being used, which rights are being
restricted, what the expected benefit of this use, the level of suspicion
and the severity of the facts are, in addition to other important for the
analysis of the admissibility, or not, of using the system. We understand
that an absolute answer, either in the sense of full admissibility or in the
sense of an absolute ban on AI in CII, would not be satisfactory.

FERNÁNDEZ, Raquel (coord.). Criminalidad de empresa y compliance: pre-


vención y reacciones corporativas. Barcelona: Atelier, 2013. p. 197-228. p. 205.
83
GÓMEZ MARTÍN, Victor. Compliance y derecho..., p. 135.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 759

It is evident that companies are currently in an uncomfortable


position of complying with an immensity of duties imposed by law and
regulations, whose non-compliance can bring severe reputational and
financial consequences and especially in terms of liability, including
criminal responsibility. And it is also true that emerging technologies,
in which we include AI, are fundamental for compliance, aggregating in
terms of efficiency and effectiveness.
However, if even within the scope of criminal investigations and
prosecutions, not any and all measures based solely on efficiency are
admissible, much less will they be in this environment of privatization
of criminal procedure84, in which there is often no suspicion of an illegal
act, since many instruments are used for day-to-day supervision and
monitoring purposes.
Based on what has been said, we consider unacceptable, for
example, any kind of polygraph, such as those exposed in the first topic85.
At stake, in our view, is the constitutional guarantee that no one will be
subjected to torture or inhuman or degrading treatment, provided for in
Brazil in Art. 5th, II, CF86. Despite its alleged efficiency for detecting lies,
which would make it adequate for achieving its purposes, we understand
that there are less harmful means to the rights of those being investigated,
which would mean that it would not pass the criterion of necessity. It
could be argued that it is more effective than other means. However, even
if that is the case, the investigation of relevant facts for the company87

84
On this “privatization”, see: ANTUNES, Maria João. Privatização das investi-
gações e compliance criminal. Revista Portuguesa de Ciência Criminal, Coim-
bra, ano 28, n. 1, p. 119-128, jan./abr. 2018. p. 121-122.
85
On the contrary, admitting it solely for the purpose of exculpation and when
the initiative for its use came from the employee himself: TRENTMANN,
Christian H. W.. Op. Cit..
86
In this sense: LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 19. ed. São Paulo:
SaraivaJur, 2022. p. 513.
87
We understand that the facts discovered in interviews have their relevance
restricted to the business environment, because, as we will explain later, we
sustain, following Canestraro, that interview reports cannot be transferred to
criminal procedures. See: CANESTRARO, Anna Carolina. As investigações in-
ternas no âmbito do criminal compliance e os direitos dos trabalhadores: consid-
erações sobre a possibilidade de investigar e a transferência de informações
para o processo penal. São Paulo: IBCCRIM, 2020. p. 93-94.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
760 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

certainly does not prevail over the protection of human dignity, object
of protection of the guarantee in question.

2.3. Legal boundaries on the transmission to criminal proceedings of


information obtained in internal investigations with the assistance of AI

Although the investigation of crimes is not necessarily the


purpose of CII, it is true that the facts ascertained within their scope may
correspond to criminal offenses. That said, even though conducted in a
private environment, by entities dissociated from public authorities, CII
become a relevant problem in criminal procedural terms from the moment
that the company, upon completing the investigation, decides to share
the established information with the public authorities for the purpose
of obtaining the appropriate benefits (possible mitigation or exemption
of penalties, conclusion of agreements, etc.) or even present them in the
context of their defense in judicial or administrative proceedings that
are brought against them.
However, it is evident that the conclusions of the investigation will
not always be limited to demonstrating, if that is the case, the correctness
of the organization, controls and business procedures, but will often
indicate who the people who circumvented the compliance program and
committed the crimes were. This raises a number of questions, especially
with regard to the admissibility and probative value of the conclusions of
CII and the documents collected in them, in future criminal proceedings.
On the one hand, it is true that the debates on how to guarantee
the reliability of the elements of information collected in CII and whether
and how to make these procedures compatible with criminal procedural
guarantees such as non-self-incrimination, the contradictory and the
presumption of innocence, have already existed even before the massive
use of AI in these activities88. However, the progressive use of these

88
As Neira Pena points out, even though at first glance they may seem unrelat-
ed to CII, some rights and guarantees of those being investigated, such as the
presumption of innocence, the right to remain silent, not to incriminate one-
self and to have a private lawyer, must, in fact, be observed, otherwise, the
use of this information in a future investigation or criminal proceeding may
be rejected. See: NEIRA PENA, Ana María. La instrucción de…, p. 361-362. On

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 761

technologies tends to accentuate the relevance of these discussions,


especially if we consider that, in addition to their indisputable benefits,
they have serious limitations and risks89.
A first limitation, already widely pointed out by the doctrine, is
the opacity of AI systems. This means that, due to its technical complexity,
this technology imposes severe difficulties on the human understanding
of its internal procedures, the decisions that underlie decision-making and
even the data that are used as input, to reach of a given output. That is,
even though we have access to the concrete decision taken by the system,
understanding its “hows” and “whys”, when possible, is very difficult90-91.

this topic, especially on the impossibility of waiving the right to non-self-in-


crimination in the employment contract, see: SILVA, Douglas Rodrigues da.
Investigações corporativas e processo penal: uma análise sobre os limites da
licitude da prova. Londrina: Thoth, 2021. Ebook. N.P. Section 4.3.3.
89
See: JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligência artificial e responsabili-
dade penal no setor da medicina. Lex Medicinae: Revista Portuguesa de Di-
reito da Saúde, ano 17, n. 34, p. 37-63, jul./dez. 2020, p. 44ff; JANUÁRIO,
Túlio Xavier. Inteligência artificial e direito penal da medicina. In: RO-
DRIGUES, Anabela Miranda (coord.). A inteligência artificial no direito penal,
volume II. Coimbra: Almedina, 2022. p. 125-174, p. 135ff.
90
See: BURRELL, Jenna. How the Machine ‘Thinks’: Understanding Opacity
in Machine Learning Algorithms. Big Data & Society, v. 3, n. 1, p. 1-12, jan./
jun. 2016, p. 1; WIMMER, Miriam. Inteligência Artificial, Algoritmos e o
Direito: Um Panorama dos Principais Desafios. In: LIMA, Ana Paula Can-
to de; HISSA, Carmina Bezerra; SALDANHA, Paloma Mendes (eds), Direito
Digital: Debates Contemporâneos, São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019;
Ebook. N. P. Chapter 1. Section 3.; RODRIGUES, Anabela Miranda. Inteligên-
cia Artificial no Direito Penal – A Justiça Preditiva entre a Americanização
e a Europeização. In: RODRIGUES, Anabela Miranda (coord.). A Inteligência
Artificial no Direito Penal, vol. 1. Coimbra: Almedina, 2020, p. 11-58. p. 25;
DE HOYOS SANCHO, Montserrat. El uso jurisdiccional de los sistemas de
inteligencia artificial y la necesidad de su armonización en el contexto de
la Unión Europea. Revista General de Derecho Procesal, n. 55, p. 1-29, 2021,
p. 4; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligência artificial e manipulação
do mercado de capitais: uma análise das negociações algorítmicas de alta
frequência (high-frequency trading – HFT) à luz do ordenamento jurídico
brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano 29, n. 186, p. 127-173,
Dec./2021, p. 159. Nieva Fenoll also highlights the difficulties imposed by
intellectual property issues. See at: NIEVA FENOLL, Jordi. Inteligencia artifi-
cial y proceso judicial. Madrid: Marcial Pons, 2018. p. 143.
91
This opacity is increased if we consider that the companies responsible for
the development of this technology are generally protected by trade secrets

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
762 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

This opacity also has, as one of its consequences, doubts related to


the data used as input, either with regard to the legality of their obtaining
or their own quality. In this sense, as Miró Lliñares points out, today’s
data collection differs from that carried out in the past, which always
depended on minimally conscious and active conduct by their holders.
Currently, data are shared on a massive scale, causing well-founded fears
of disproportionate violations of people’s privacy. Furthermore, poor
data quality can be caused by poor qualification by the programmer,
collection over a very short period of time, or the simple fact that the
data in question are not representative. In either case, the invalidity or
inaccuracy of the data will increase the chances of inaccurate outputs
and, consequently, of errors92.
Finally, we must also not forget that, due to their ability to “learn”
from their past experiences and autonomously adapt their own algorithms,

and intellectual property rights, having no interest in making public some


aspects of their production. See: GÓMEZ COLOMER, Juan-Luis. Derechos
fundamentales, proceso e Inteligencia Artificial: una reflexión. In: CALAZA
LÓPEZ, Sonia; LLORENTE SÁNCHEZ-ARJONA, Mercedes (dir.). Inteligencia
artificial legal y administración de justicia. Cizur Menor: Aranzadi, 2022. p.
257-287. p. 262-263.
92
MIRÓ LLINARES, Fernando. Inteligencia artificial y justicia penal: más allá
de los resultados lesivos causados por robots. Revista de Derecho Penal y
Criminología, 3. época, n. 20, p. 87-130, Jul./2018, p. 114ff. On the issue of
data security and quality and their possible impacts, see: DE HOYOS SAN-
CHO, Montserrat. El Libro Blanco sobre Inteligencia Artificial de la Comis-
ión Europea: reflexiones desde las garantías esenciales del proceso penal
como “sector de riesgo”. Revista Española de Derecho Europeo, n. 76, p. 9-44,
Oct./Dec. 2020, p. 16ff; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Considerações
preambulares acerca das reverberações da inteligência artificial no direito
penal. In: COMÉRIO, Murilo Siqueira; JUNQUILHO, Tainá Aguiar (orgs.).
Direito e tecnologia: um debate multidisciplinar. Rio de Janeiro: Lumen Ju-
ris, 2021. p. 295-314; MIRANDA, Matheus de Alencar e; JANUÁRIO, Túlio
Felippe Xavier. Novas tecnologias e justiça criminal: a tutela de direitos
humanos e fundamentais no âmbito do direito penal e processual penal.
In: MOREIRA, Vital et. al. (orgs.). Temas de Direitos Humanos do VI CIDH
Coimbra 2021. Campinas/Jundiaí: Brasílica/ Edições Brasil, 2021, p. 284-
298, p. 286ff.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 763

more advanced AI systems can end up proving to be unpredictable at a


certain point, even for their programmers93-94.
In our opinion, these limitations have the potential to further
increase the risk of violating the rights and guarantees of those investigated
in CII. The opacity of AI systems and the algorithms used by them tend to
limit the concrete possibilities of those involved to understand and contest
the decisions eventually taken against them. Likewise, the analysis of which
dataset was taken into account for a given decision and, consequently,
whether they were obtained in a lawful manner and operated in a non-
imprecise or even non-discriminatory manner is quite an obstacle.
This framework reinforces what we have already argued on other
occasions95, in the sense that the transfer of information and documents
from CII to the criminal process must be subject to rigorous analysis, and
one cannot speak of unrestricted transmission of the integrality of the
fruits of these procedures.
Initially, it is important to point out that sharing data processed
within the scope of CII can configure, depending on the case, a change of
purpose and, consequently, a new intervention. By this we mean that, if the
legal basis used to authorize the processing of data has been other than the
exercise of defense in judicial, administrative or arbitration proceedings,

93
Precisely as Susana Aires de Sousa explains, one of the main specificities of
autonomous systems lies in their ability to achieve outputs without human
interference, based solely on information and experience acquired by them.
As a result, outputs (even illegal ones) that were not even imagined by the
programmers can be achieved. See: SOUSA, Susana Aires de. “Não fui eu,
foi a máquina”: teoria do crime, responsabilidade e inteligência artificial”. In:
RODRIGUES, Anabela Miranda (coord.). A inteligência artificial no direito pe-
nal. Coimbra: 2020. p. 59-94. p. 64. See also: JANUÁRIO, Túlio Xavier. Veícu-
los autónomos e imputação de responsabilidades criminais por acidentes. In:
RODRIGUES, Anabela Miranda (coord.). A inteligência artificial no direito pe-
nal. Coimbra: Almedina, 2020. p. 95-128, p. 118ff; VALENTE, Victor Augusto
Estevam. Inteligência artificial e o direito penal: a propósito da responsabili-
dade criminal em decorrência de sistemas tecnológicos altamente complexos
nas empresas. Belo Horizonte: D’Plácido, 2023. p. 28.
94
We addressed these aforementioned limitations also in: JANUÁRIO, Túlio
Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.
95
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming;
CANESTRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligên-
cia artificial e..., passim.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
764 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

sharing them for these areas will require a new legal authorization and
judgment of proportionality in a broad sense. Consider, for example,
the hypothesis that data processing initially took place only to fulfill
compliance obligations (Art. 7th, II, LGPD). The use of these data for
the exercise of defense in legal proceedings, even if to demonstrate the
existence and effectiveness of the compliance program, constitutes a
deviation from the original purpose, which does not necessarily prohibit
their sharing, but demands a new analysis on the fulfillment of the
requirements for this purpose.
The misuse of purpose configured by data sharing is observed even
in the field of public entities. Citing the principle of informational separation,
whose constitutional status in Germany had even been recognized by the
BVerfG, Gleizer, Montenegro and Viana draw attention to the fact that
data transfer between bodies of criminal prosecution, public security
and intelligence, must be exceptional, and all exceptions must be clearly
regulated and delimited by law, in authorization rules. According to the
authors, any form of sharing implies an autonomous intervention in
informational rights, as they represent a breach in the finalistic linkage96.
As the authors argue, we can consider data sharing when two
entities (even if carrying out activities of the same nature) or two
departments within the same entity, exchange information, regardless
of how they do it. For the authors, the formal legality of this sharing
could be solved through the so-called two-door model, in the sense that is
necessary a rule to authorize the entity that first collected and stored the
data (primary controller) to give access to the information and another rule
that authorizes the entity that will receive the data (secondary controller).
The foundation of this proposition relies in the fact that data sharing
involves two distinct interventions, each of which demands its own legal
basis. The first would consist of changing the purpose that had determined
the collection of data, with legal authorization specifying the extent of
shared data and the new purposes for which sharing is acceptable. The
second refers to the storage and use of data by the secondary controller,
and the legal authorization must specify the conditions for processing

96
GLEIZER, Orlandino; MONTENEGRO, Lucas; VIANA, Eduardo. Op.
Cit., p. 56-57.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 765

the data and the standards of protection, including the duties of control
and elimination97.
The authors also support a second criterion, which is obligatory
to observe in the context of sharing, which would refer to the material
principle of differentiation according to the proximity between the purposes
of the collection and the new purpose sought with sharing. This means that
the greater the distance between these purposes, the more onerous the
intervention and the higher the requirements to be observed for sharing.
German doctrine, by the way, usually applies the so-called hypothetical
intervention doctrine, which supports the possibility of sharing between
entities only if the secondary controller has similar authorization for a
hypothetical collection, under the same terms as the primary controller,
including the one regarding gravity of the means employed by the latter98.
Applying these considerations to the scope of CII, sharing
the data collected in these procedures with the state investigation and
prosecution authorities would require, in the first place, specific and clear
legal authorization to change the purpose of data processing, that is, for
sharing with the authority. In Brazilian law, this authorization is found
in Arts. 7th, VI and 11, II, d, LGPD. Once this requirement has been met,
it would be necessary legal authorization for the authority in question to
receive data from CII. In the persistent lack of data protection legislation
in the field of criminal justice in Brazil99, the precise regulation of this
matter is unfortunately still missing, and this analysis is only possible

97
Ibidem, p. 135-138.
98
Ibidem, p. 138-140.
99
In Europe, data processing for the purposes of “prevention, investigation, de-
tection or prosecution of criminal offenses or the execution of criminal pen-
alties” is regulated by Directive (EU) 2016/680. See: EUROPEAN UNION.
Directive (EU) 2016/680 of the European Parliament and of the Council of 27
April 2016: on the protection of natural persons with regard to the processing
of personal data by competent authorities for the purposes of the prevention,
investigation, detection or prosecution of criminal offences or the execution
of criminal penalties, and on the free movement of such data, and repealing
Council Framework Decision 2008/977/JHA. Available on: <https://eur-
lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/HTML/?uri=CELEX:32016L0680&-
from=EN>. Accessed on March 10th, 2023. In Brazil, although it is in the
legislative process, we still do not have a data protection law in the field of
criminal justice and public security.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
766 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

in light of the rules on sharing information in specific areas (e.g., anti-


money laundering; anti-corruption; state-owned companies, etc.) and,
in the case of the criminal procedures, the rules of admissibility and
valuation of evidence. The material legality does not seem to present major
difficulties, since, despite the difficulties to do so, public investigation
and criminal prosecution authorities have the means to request this
information themselves.
It is also important to mention that if the legal basis used as
fundament for processing data in CII has been the consent of the holder
(Art. 7th, I; Art. 11, I, LGPD), it must contain, from the first moment,
explicit information on its purpose to the holder, under penalty of a new
legal basis or a new consent form being necessary100.
As regards admissibility of documents collected within the scope
of CII in criminal proceedings, we understand that some situations should
be differentiated. In principle, these elements of information will be
admissible in criminal proceedings when the company presents them in
the context of its defense, precisely as a realization of its right of defense
and right to present evidence. A contrary understanding, in our opinion,
would represent not only an unacceptable violation of these rights, but
also a factor that discourages the adoption of compliance programs and
the conduction of CII101.
The issue is much more complex when it comes to the
admissibility of elements of information from an CII, presented by the
Public Prosecution, to the detriment of another defendant (an employee,
for example), or even presented by the company’s defense, in detriment

100
As Gleizer, Montenegro and Viana point out, the fundamental rights that pro-
tect the conditions for the free development of the personality guarantee the
predictability, on the part of the individual, about the use that will be made
of his/her data. This means, in other words, that the purpose of the interven-
tion must be determined in advance, at the time of data collection (principle
of finalistic linkage), and that any subsequent change in this purpose must
be justified, that is, any treatment with a purpose different from the one on
which the collection was based, will configure an autonomous intervention
act that will demand a new and autonomous legal authorization. See: GLEIZ-
ER, Orlandino; MONTENEGRO, Lucas; VIANA, Eduardo. Op. cit., p. 50-51.
101
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., p. 1483-1484;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 767

to another defendant. In these cases, as noted, there is a conflict between


the rights to contradictory and due process of the subject affected by the
evidence and the right of defense of the defendants, especially of the
company that conducted the CII102.
For these situations, we propose the following solutions: i) the
elements of information will be admissible in criminal proceedings when
presented by the defendant in his defense and will be fully valued for
these purposes, except, of course, when obtained illegally103.
ii) although admissible, the aforementioned elements of
information, whether presented by the Public Prosecution, or presented
by one defendant against another, can never be considered sufficient to
substantiate a conviction. This is an intermediate proposal between full
valuation and total non-admission104, which aims to meet the functionality

102
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., p. 1483-1484;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.
103
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., p. 1483-1484;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.
104
Greco and Caracas, for example, understand that there is a prohibition of ad-
mitting evidence (Beweisverwendungsverbot) whenever it is identified that the
start of the CII was encouraged by the criminal prosecution bodies or if they
postpone the start of state investigation procedures, for the purpose of taking
advantage of the evidentiary material produced in private proceedings. See:
GRECO, Luís; CARACAS, Christian. Internal investigations e o princípio da
não auto-incriminação. In: LOBATO, José Danilo Tavares et al (orgs.). Co-
mentários ao direito penal econômico brasileiro. Belo Horizonte: D’Plácido,
2018. p. 787-820. p. 807ff. Although it is a well-founded solution and seems
to solve the problem presented here, we have doubts about its practical use-
fulness, mainly due to the fact that the authors consider as an incentive any
influence of the prosecution bodies on the formation of the company’s will
that results (from the perspective of adequate causality) in the initiation of
the CII. As Engelhart points out, there are several levels of state incentives for
these procedures, ranging from i) pure self-regulation (level 1), in which there
is no public incentive, with the adoption of these programs being a mere
option marked by market interests, up to a possible vi) general obligation to
implement compliance programs (level 6). However, at intermediate levels,
there are still very relevant incentives, which are certainly considered by cor-
porations when deciding whether or not to promote a compliance program
and an internal investigation. In addition to ii) public informal support (level
2), with the promotion of courses and training programs, Engelhart iden-
tifies: iii) rewards for compliance, through non-prosecution agreements and
penalty reductions, for example (level 3); iv) punishment for failures or lack of

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
768 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

of compliance programs (especially in their aspect of collaboration with


the state), without disregarding the rights to due process and contradictory
of the affected subjects105-106. Proposing this solution, Anna Carolina

compliance, through the aggravation of penalties or even the judicial determi-


nation of the implementation or correction of a compliance program (level
4); and v) exclusion of corporate criminal liability for the adoption of effective
compliance programs (level 5). See: ENGELHART, Marc. The Nature and Basic
Problems of Compliance Regimes. Freiburg im Breisgau: Max-Planck-Institut
für ausländisches und internationales Strafrecht, 2018. p. 21-30. In practice,
therefore, cases in which there will be no incentive for these procedures
will be very rare, if not non-existent, which would result, therefore, that any
and all elements of information arising from these investigations would be
inadmissible.
105
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., p. 1483-1484;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.
106
A different solution is proposed by Hernandez Colomer. The author clas-
sifies CII as preventive investigations (daily supervision of the company and
of the compliance program); confirmatory investigations (to prove or clari-
fy facts identified in the scope of preventive investigations) and defensive
investigations (carried out after the beginning of the state procedures, for
the purpose of defending the legal entity). For the author, preventive inves-
tigations, carried out based on the directive power of the employer, admit
greater violations of fundamental rights of the employee, but the elements
of information obtained from them should not be admitted in criminal pro-
ceedings. On the other hand, the elements of information obtained through
confirmatory or defensive investigations, have much narrower limits of vio-
lation of employee rights. However, in case of violation of these rights, they
cannot be accepted either, as there is a link between the business activity of
investigation and the state’s interest on investigating the facts. See in detail
at: COLOMER HERNÁNDEZ, Ignacio. Derechos fundamentales y valor pro-
batorio en el proceso penal de las evidencias obtenidas en investigaciones in-
ternas en un sistema de compliance. In: GÓMEZ COLOMER, Juan-Luis (dir.);
MADRID-BOQUÍN, Christa M. (coord.). Tratado sobre compliance penal: re-
sponsabilidad penal de las personas jurídicas y modelos de organización y
gestión. Valencia: Tirant lo Blanch, 2019. p. 609-652. Although this is a very
interesting and well-founded option, we disagree on some points. Initially,
we understand that the day-to-day supervision of the company cannot be
considered an investigation itself. However, our main question regarding
this position concerns its practical consequences related to the evidentiary
admissibility in criminal proceedings. Although we agree with the premise
that there are different limits to be observed when dealing with daily super-
vision activities or CII, we understand that any inadmissibility of any and all
information arising from what the author calls “preventive investigations”
would be easily circumvented in practice, by, for example, subpoenaing the
compliance officer as a witness in court, or requesting expert examination

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 769

Canestraro explains that the sharing of information from CII with


the criminal procedure must be subject to a new judgment of legality
and proportionality, which is usually positive (with the exception of
interview reports)107. However, since they have not been produced under
contradictory, these elements themselves cannot justify a conviction,
being sufficient only to form the opinio delicti of the Public Prosecution,
in a regime similar to that of state investigation acts108.
iii) finally, as a result of the two premises mentioned above, we
maintain that the elements of information presented and admitted as
defensive evidence of the company cannot be valued for the purpose
of substantiating the conviction of another defendant. The solution to
this impasse, in our view, lies between two alternatives: i) the first of
them, supported by the majority doctrine109, would be to consider that,
even though natural and legal persons enjoy the right of defense and
procedural guarantees related to it, they would not necessarily have the
same “weight” for both. That is, in case of conflict between the rights
of defense of natural and legal persons, the ones of natural persons

on digital files of the company. Once public and private investigators already
know what exactly to look for, it is very simple to collect other elements of
information that prove the fact.
107
The author understands that the repetition in court of the hearing of the
people interviewed in the scope of CII would not result in any loss in terms
of effectiveness of the verification of the facts, in addition to ensuring the
rights of the interviewee in a more incisive way. Therefore, she understands
that, within the scope of the proportionality test, sharing the interview re-
port with the criminal procedure does not meet the requirement of necessity,
and is, therefore, not admissible. See: CANESTRARO, Anna Carolina. As in-
vestigações internas..., p. 93-94. See also: ROXIN, Imme. Problemas e estraté-
gias da consultoria de compliance em empresas. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, São Paulo, v. 23, n. 114, p. 321-339, mai./jun. 2015. p. 334.
108
CANESTRARO, Anna Carolina. As investigações internas..., p. 95ff; CANES-
TRARO, Anna Carolina; JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligência artifi-
cial e..., p. 384.
109
In this sense: BRODOWSKI, Dominik. Minimum Procedural Rights for Cor-
porations in Corporate Criminal Procedure. In: BRODOWSKI, Dominik et. al.
(eds.). Regulating Corporate Criminal Liability. Cham: Springer, 2014. p. 211-
225. p. 219-221; ANTUNES, Maria João. Privatização das investigações..., p.
126-127. For a detailed analysis of the legal person’s procedural rights and
guarantees, see: ANTUNES, Maria João. Processo penal e pessoa coletiva argui-
da. Coimbra: Almedina, 2020. p. 45ff.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
770 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

would have primacy. The foundations for this position would be: due
to the nature of legal persons, their fundamental rights would admit
some relativizations; some procedural rights are linked not only to the
guarantees directly related to equality of arms in criminal proceedings,
but also to the dignity of the human person, which does not extend to
legal persons110. II) The second possibility, which in our opinion would
be the most appropriate, would be the use of the faculty provided for
by some legal systems, that is, the separation of processes. This is the
case, for example, of the Brazilian legal system, which allows the judge,
in Art. 80 CPP111, the separation of processes when deemed convenient
for a relevant reason112.
It is clear that, assuming the admission of these elements of
information in the criminal procedure, in no way hinders the imperious
judgments about their credibility within the scope of their valuation.
Even because, as we have already pointed out throughout the paper, AI
systems pose some challenges in terms of transparency and, consequently,
contestability of their decisions. If we think of their application in the
most varied functions of CII, we tend to have an environment of even
greater difficulties for the exercise of the defense of those affected by these
elements of information, even if a contradictory a posteriori is assured.
As we have already argued on other occasions113, due to the
questions that are raised around the integrity, identity and authenticity
of digital evidence114 obtained with some form of AI intervention, it is
essential, also within the scope of CII, to document the chain of custody,

110
On this distinction, see: NEIRA PENA, Ana María. La instrucción de…, p. 235ff.
111
BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941: Código de Processo
Penal. Available on: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/
del3689.htm>. Accessed on March 07th, 2023.
112
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., p. 1483-1484;
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.
113
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Cadeia de custódia..., passim; JANUÁRIO,
Túlio Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming.
114
On the topic of the chain of custody of digital evidence, see: BADARÓ, Gus-
tavo Henrique. Os standards metodológicos de produção na prova digital e a
importância da cadeia de custódia. Boletim IBCCRIM, ano 29, n. 343, p. 7-9,
jun./2021; PRADO, Geraldo. A cadeia de custódia da prova no processo penal.
2.ed. São Paulo: Marcial Pons, 2021. p. 173ff.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 771

as it can prove to be the only way to attest to the legitimacy and legality of
the elements collected in CII, preventing them from being excluded from
the process. It is true, however, that despite the models and procedures
proposed by international certification institutes115, for the purpose of
documenting the chain of custody of digital evidence, further investigations
are still pending on the extent to which these models will be suitable for
evidence related to AI116.

Conclusion

As demonstrated, CII emerge, along with compliance programs,


not only as one of the possible tools for tackling corporate crimes, but
also as an important mechanism of legal entities’ defense, when subject to
criminal prosecution. In order to achieve these purposes and effectively
and efficiently perform the tasks included therein, new technologies such
as AI have been progressively employed, and it is expected that their use
will help in the best and most accurate verification of facts in a shorter time
and with less expenditure of companies’ financial and human resources.
However, in view of their limitations and especially the risks derived
from them, it is essential to observe legal limits, not only in the use of
these technologies, but also in the sharing with criminal procedures, of
information obtained with them in the scope of CII.
In light of these considerations, we demonstrated that the
processing of data as input for AI systems applied in CII must find legal
support in one of the hypotheses provided for by legislation. The ones
that are generally selected are those provided for by Article 7th, items
I, II, VII or IX and Article 11, items I and II, “a” and “d” of the LGPD

115
See, for example: NATIONAL INSTITUTE OF STANDARDS AND TECH-
NOLOGY – NIST. Guide to Integrating Forensic Techniques into Incident Re-
sponse: Recommendations of the National Institute of Standards and Tech-
nology. 2006.
116
JANUÁRIO, Túlio Felippe Xavier. Inteligencia artificial y…, forthcoming. On
evidentiary difficulties in the field of AI, see: FIDALGO, Sónia. A utilização
da inteligência artificial no âmbito da prova digital – direitos fundamentais
(ainda mais) em perigo. In: RODRIGUES, Anabela Miranda. Inteligência arti-
ficial no direito penal. Coimbra: Almedina, 2020. p. 129-162.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
772 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

or, when applicable the GDPR, those provided for by Article 6, items
(a), (c), (e) or (f) and Article 9(2), items (a) and (f). In addition, the
fundamental principles for data processing and the test of proportionality
between the intended purpose and the intervention that is carried out
must be observed.
Even if the issue of data processing is overcome, the actual use
of AI systems in CII must also observe limits. Although, in terms of
legality, these systems usually find support in the norms that underlie the
employer’s directive power, it is also imperative that their application does
not affect areas in which there are (and which have not been withdrawn)
expectations of privacy by the employee and, once more, it must be
observed a test of proportionality between the intended purpose and the
technology concretely employed and the rights affected by it.
In criminal procedural terms, however, remains the tormenting
question of knowing to what extent the use of AI in CII affects the
admissibility and valuation of evidence in criminal proceedings. In our
view, the sharing in question may represent a misuse of purpose for
which the data were originally collected. If that is the case, and therefore
there is a new intervention, sharing will depend, in order to comply with
the requirement of legality, on legal authorization for sharing with the
public authority in question and on legal authorization for this authority
to receive these data. Furthermore, this sharing will only be admissible
if the authority in question has powers to, hypothetically, collect these
information under the same terms in which it was collected by the
company, including with regard to the gravity of the means employed.
With regard to the admissibility in criminal proceedings of
elements of information collected in CII, we maintain that they can be
presented by the company, in its defense, and by the Prosecution itself,
when there has been a prior sharing, provided that a new proportionality
test has been overcome. However, these elements of information cannot
be considered sufficient for the conviction of the company, nor for proof
of guilt of other co-defendants, having probative value similar to that
of the elements of information arising from acts of state investigation,
such as police investigations. In addition, if the company and individual
persons investigated in the scope of the CII are co-defendants, it may
be beneficial to separate the procedures in order to better protect both

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 773

the right of defense of the legal entity and the procedural guarantees of
the individual.
We agree that this is a complex proposal and that it tends to
impose some practical difficulties in the investigation and processing of
legal entities. However, we believe it is an imperative solution in view of
the interests at stake, which tend to be even at higher risk when related
to interventions by AI systems.

R eferences

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Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
784 | Januário, Túlio Felippe Xavier.

Authorship information
Túlio Felippe Xavier Januário. PhD Candidate in Law at the University of Coimbra
(Portugal), with a fellowship from the Fundação para a Ciência e a Tecnologia –
FCT. M.Sc. in Law by the University of Coimbra (Portugal), with a research
internship of the “ERASMUS+” Program at the Georg-August-Universität Göttingen
(Germany). He had Graduate Studies in International Criminal Law at the Siracusa
International Institute for Criminal Justice and Human Rights (Italy), Graduate
Studies in Economic Criminal Law and Crime’s Theory at the University of
Castilla-La Mancha (Spain), Graduate Studies in Compliance and Criminal Law
at IDPEE (Portugal) and Graduate Studies in Criminal Law – General Part at
IBCCRIM/IDPEE (Brazil/Portugal). He holds a Bachelor´s Degree in Law by the
Universidade Estadual Paulista – UNESP (Brazil). [email protected]

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Acknowledgement: the author is grateful to the “Fundação para a


Ciência e a Tecnologia – FCT” for the doctoral research grant. He
also thanks the members of the International Network of Doctoral
Studies of Law for the constructive comments addressed to this
paper during its oral presentation at the “10th International
Conference of PhD Students and Young Researchers “The Good,
the Bad and the Legal: Balance between Stability and Disruptions
of Law”, held at the University of Vilnius – Lithuania in May 2023.

Conflict of interest declaration: the author confirms that there are no


conflicts of interest in conducting this research and writing this article.

Declaration of authorship: all and only researchers who comply with


the authorship requirements of this article are listed as authors;
all coauthors are fully responsible for this work in its entirety.

Declaration of originality: the author assured that the text here


published has not been previously published in any other resource
and that future republication will only take place with the express
indication of the reference of this original publication; he also
attests that there is no third party plagiarism or self-plagiarism.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837 | 785

Editorial process dates


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▪ Submission: 30/03/2023 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 02/04/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 18/04/2023 ▪ Associated-editor: 1 (AMNP)
▪ Review 2: 30/04/2023 ▪ Reviewers: 3
▪ Review 3: 30/04/2023
▪ Preliminary editorial decision: 25/05/2023
▪ Correction round return: 03/06/2023
▪ Final editorial decision: 16/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


JANUÁRIO, Túlio Felippe X. Corporate Internal Investigations 4.0: on the
criminal procedural aspects of applying artificial intelligence in the reactive
corporate compliance. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, vol. 9,
n. 2, p. 723-785, mai./ago. 2023. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.837

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 723-785, mai.-ago. 2023.
Persecução penal:
investigação, juízo
oral e etapa recursal

Criminal prosecution:
investigation, public
oral trial and appeal
Evaluación crítica de la regulación y el uso de
la suspensión condicional del procedimiento
en el marco de la persecución penal a personas
jurídicas por el delito de soborno en Chile

Critical evaluation of the regulation and use of the conditional


suspension of proceedings in the framework of the criminal
prosecution of corporations for the crime of bribery in Chile

Osvaldo Artaza1
Universidad de Talca, Talca, Chile
[email protected]
https://orcid.org/0000-0001-8453-5069

Braulio Carrasco2
Universidad Diego Portales, Santiago, Chile
[email protected]
https://orcid.org/0009-0002-6636-2939

Resumen: La presente investigación ofrece una evaluación crítica de la


utilización, por parte del Ministerio Público en Chile, de las “suspensiones
condicionales del procedimiento” a propósito de la investigación y
persecución de personas jurídicas por los delitos de soborno cometidos
en su interés por sus integrantes. Para tales efectos se analiza la literatura
angloamericana especializada en el uso de “acuerdos negociados” como
estrategia frente a la criminalidad empresarial, con el propósito de
ofrecer una serie de criterios que facilitarían tal evaluación en atención
a los objetivos que debiesen guiar la utilización de tales acuerdos como

1
Doctor en Derecho, Universidad de Barcelona (España). Profesor asociado De-
recho Penal Universidad de Talca (Chile) y director del Centro de Estudios de
Derecho Penal, Universidad de Talca.
2
Abogado, Universidad Diego Portales. Magíster en Derecho Penal y Procesal pe-
nal por la Universidad Diego Portales (Chile).

789
790 | Artaza; Carrasco.

forma de reacción estatal. La investigación concluye detectando


una serie de posibles mejoras que podrían incorporarse a la práctica
chilena para potenciar la coherencia del uso de tales acuerdos con
aquellos objetivos previamente detectados.
P alabras - clave : Suspensión condicional del procedimiento;
acuerdos negociados; investigación de la criminalidad empresarial;
responsabilidad penal de las personas jurídicas.

Abstract: This research offers a critical evaluation of the use, by the Public
Prosecutor’s Office in Chile, of “conditional suspensions of proceedings” in the
investigation and prosecution of corporations for bribery offenses committed
in their interest by their members. For this purpose, the Anglo-American
literature specialized in the use of “negotiated agreements” as a strategy
against corporate crime is analyzed, with the purpose of offering a series
of criteria that would facilitate such an evaluation in view of the objectives
that should guide the use of such agreements as a form of state reaction.
The research concludes by identifying a series of possible improvements
that could be incorporated into Chilean practice to enhance the coherence
of the use of such agreements with the objectives previously identified.
Keywords: Conditional suspensions of proceedings; negotiated settlements;
investigation of corporate criminality; criminal liability of corporations.

Introducción : planteamiento del problema

En Chile, las personas jurídicas pueden ser objeto de persecución


y sanciones penales, a partir del 2 de diciembre de 2009 momento en
que se publica la Ley N°20.393. En términos simples, esta ley permite
que se condene a las personas jurídicas cuyos integrantes han cometido
ciertos delitos, como el supuesto paradigmático del soborno a funcionarios
públicos, con el objeto de beneficiar a la propia empresa (o “corrupción en
los negocios”), siempre y cuando este delito pueda comprenderse como
una consecuencia de la infracción de los deberes de dirección y supervisión
que recaen en la persona jurídica3. La respuesta legal del legislador, por

3
Se debe advertir que las personas jurídicas en Chile pueden responder penal-
mente por un catálogo amplio de delitos y no solo por la corrupción en los

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regla general, es la de sancionar a la persona jurídica con penas que


van desde la disolución para casos especialmente graves, la prohibición
de celebrar actos y contratos con el Estado, la pérdida de beneficios
fiscales, multas y penas accesorias como el comiso y la publicación de
la sentencia en el Diario Oficial. Sin embargo, es posible evitar el juicio
y las eventuales sanciones a través de una salida alternativa al juicio4
conocida en Chile como “suspensión condicional del procedimiento” (en
adelante SCP), la que ha sido definida como “un mecanismo procesal que
permite dar término anticipado al procedimiento, a través de un acuerdo
entre el persecutor y el imputado, donde este último se compromete al
cumplimiento de una serie de condiciones – o “términos del acuerdo”- cuyo
periodo de observación no puede ser inferior a un año ni superior a tres y
que debe ser aprobado por el tribunal con competencia respectivo”5. Como
se desprende de las investigaciones e imputaciones de responsabilidad
penal a personas jurídicas en Chile por el delito de corrupción en los
negocios, esta salida alternativa ha sido “preferida” por parte del Ministerio
Público (en adelante MP), a la posibilidad de resolver el conflicto mediante
juicio6. Esta tendencia, es decir, la de resolver tales conflictos recurriendo
a mecanismos que no tengan forma de juicio, y que suponen, con las
diferencias que sean propias de cada ordenamiento jurídico, el acuerdo
entre la persecución y las personas jurídicas investigadas, no sería una
realidad exclusiva de Chile, sino que como indican Ivory y Soreide,
respondería a una práctica globalizada en la lucha contra la corrupción7. Por

negocios. Para conocer tales delitos, remitirse al artículo 1° de la Ley 20.393.


Respecto al contenido de esta ley, ver HERNÁNDEZ (2012, pp. 75 y ss.);
NAVAS y JAAR (2018, pp. 1032-1045).
4
MATURANA y MONTERO (2010, p. 626), las entienden como formas de
“autocomposición homologada por parte del tribunal”, para suspender o po-
ner término al proceso penal como alternativa a la eventual sanción.
5
HORVITZ y LOPEZ (2003, p. 552), MATURANA y MONTERO (2010, p. 627).
6
En Chile, hasta el año 2022, aproximadamente 6 personas jurídicas han sido
condenadas por su responsabilidad en delitos de cohecho cometidos por in-
tegrantes en interés de la primera, frente a 17 personas jurídicas que han
sido beneficiadas por esta salida alternativa. Esta información fue solicitada
a la Unidad Especializada Anticorrupción de la Fiscalía Nacional en Chile y
remitida en diciembre de 2022.
7
IVORY y SØREIDE (2020, p. 945). Se debe recordar que por corrupción, se
suele agrupar una serie de conductas delictivas, dentro de las que destacan

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792 | Artaza; Carrasco.

lo mismo, no resulta extraño que la literatura reciente, especializada en el


combate a este fenómeno, asuma como desafío la detección de criterios que
permitan evaluar esta estrategia de cara, por ejemplo, a si resulta adecuada
para potenciar la lucha contra este delito o, si por el contrario, podría
ser contraproducente con tales objetivos8. Con todo, tal preocupación
no es exclusiva de los delitos de corrupción, sino que, del tratamiento
que debiese darse a la “criminalidad empresarial”, categoría más amplia
del cual la corrupción en los negocios forma parte. Si se observan los
esfuerzos de justificación que la literatura angloamericana ha llevado a cabo
especialmente a propósito del uso de los “acuerdos negociados” para el caso
de la criminalidad empresarial, se pueden identificar dos preocupaciones
diversas. La primera de estas, es la de otorgar razones que explicarían
por qué parecería adecuado o conveniente que el ordenamiento jurídico
respectivo cuente con esta herramienta como alternativa a la sanción. La
segunda, es la de la evaluación de la forma como se están utilizando estos
mecanismos como medio de reacción frente a esta forma delincuencia y
si, en definitiva, en un sistema de justicia criminal determinado se está
arribando o no a acuerdos que propendan de forma efectiva a la satisfacción
de los objetivos que permitirían su justificación9.
La primera parte de este estudio estará dirigida a determinar
las razones por las cuales parecería aconsejable, o no, contar con esta
herramienta, con énfasis en su eventual utilidad y los objetivos que
podrían guiar su utilización y posterior evaluación de cara a la lucha
contra la corrupción en los negocios entre privados y el Estado10. Para

los supuestos de soborno.


8
Fundamental HAWLEY, KING y LORD (2020, pp. 311 y ss.).
9
Por tanto, la pregunta, al estilo de, DAVIS (2020, p. 260), de “qué cuenta
como un buen acuerdo”, dependerá siempre de definiciones previas rela-
tivas a la justificación de tal herramienta. Ver también IVORY y SØREIDE
(2020, p. 951), quienes distinguen entre la justificación de procesos y de los
resultados.
10
Se debe clarificar que se recurrirá al análisis de la justificación de los acuer-
dos negociados, ya que refleja adecuadamente la discusión que subyace a la
utilización de mecanismos que supongan un acuerdo entre persecución y
personas jurídicas como alternativa al juicio. Se debe reconocer que aunque
las SCP presentan la forma de un acuerdo, esto no significa que sean el resul-
tado de un verdadero proceso de negociación, lo que no obsta a que le resul-
ten aplicables las reflexiones que se han efectuado a propósito de los acuerdos

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tales efectos se atenderá, principalmente, a la evaluación que ha efectuado


la literatura angloamericana respecto a la satisfacción de tal estrategia de
cara a las exigencias de la Convención de las Naciones Unidas contra la
Corrupción de que los Estados Parte cuenten con mecanismos efectivos
y eficientes para la lucha contra este ilícito. Como se podrá aprecair, tales
acuerdos podrían propender a la satisfacción de tales exigencias a través
de la consecución de objetivos como el de la colaboración de las personas
jurídicas con el éxito de la investigación contra los individualmente
responsables, así como el de la adopción de medidas para la prevención de
futuros delitos. Por otra parte, también se ha señalado que estos acuerdos
resultarían idoneos para la consecución de otros objetivos considerados
valiosos como, por ejemplo, compensar a los perjudicados por estos
delitos. De esta manera, se podrá clarificar, a continuación, en qué forma
tales objetivos podrían servir de guía para la evaluación de la coherencia
del ejercicio de la facultad de la persecución de proponer acuerdos a las
personas jurídicas11.
En la segunda parte, se analizará la regulación de la SCP en Chile,
así como su uso en concreto en el marco de las investigaciones por
casos de corrupción en los negocios que se han llevado a cabo desde la
entrada en vigencia de la Ley de Responsabilidad Penal de las Personas
Jurídicas (Ley 20.393). Lo anterior, con el objeto de determinar si la
regulación de esta salida alternativa, así como las directrices que emanan
de la máxima autoridad de la persecución penal y su utilización en casos
concretos, resultan o no coherentes con los objetivos o finalidades que se
propondrán como guía para su uso en la primera parte de este estudio. De
esta forma se podrá comprobar que, al menos hasta el momento, si bien
es cierto la regulación legal en Chile de esta salida alternativa no resulta
incompatible con la pretensión de alcanzar los objetivos previamente

negociados relativas a la consecución de ciertos objetivos que no necesaria-


mente derivan de una verdadera negociación, sino que, exclusivamente, de
la propuesta de los “términos del acuerdo” que efectúe la persecución a la
persona jurídica investigada.
11
Para tales efectos se observará la aplicación actual de la Foreign Corrupt Prac-
tices Act, por parte del Departamento de Justicia de los Estados Unidos debi-
do a lo usual que es recurrir a estos mecanismos a propósito de los casos de
soborno a funcionarios públicos extranjeros.

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declarados como valiosos, del análisis del ejercicio de esta facultad se


podrán constatar importantes oportunidades para merjorar esta práctica
y guiar el uso de las SCP12.

1. Justificación de los acuerdos negociados entre


persecución y empresas en la literatura angloamericana .
O bjetivos que debiesen inspirar su utilización

1.1 Los acuerdos negociados en el ámbito de la criminalidad empresarial y


las dimensiones para su justificación

Para efectos del análisis de la justificación de estos mecanismos de


acuerdos negociados como alternativa a la condena a la persona jurídica
por los delitos de corrupción cometidos por sus integrantes, se ha recurrido
al desarrollo de esta institución por la literatura angloamericana. La
justificación de este punto de partida es sencilla: debido a su extensa
utilización como estrategia -entre otras- para el enforcement13de la
legislación anti-corrupción en las transacciones económicas internacionales
en Estados Unidos14/15. En este sentido, se ha señalado por parte de la
literatura estadounidense que la persecución “preferiría”16 la utilización de
mecanismos como los negotiated settlemets, donde destacan especialmente
los Deferred Prosecution Agrement (DPAs). En estos, la persecución
ofrece a la persona jurídica investigada una oportunidad de negociar un
acuerdo en forma externa a los tribunales con el objeto de evitar que el

12
En este sentido, el trabajo responde a la preocupación de la política crimi-
nal por evaluación de las estrategias estatales para el combate del delito, Al
respecto MIR (2005, p. 60). Se aclara, desde ya, que el trabajo se centrará
en aspectos exclusivamente teóricos, y no en la verificación empírica de la
eventual eficacia de esta estrategia, por exceder con creces el objeto y posibi-
lidades de este estudio.
13
Se debe entender enforcement, como el proceso o estrategias para que la ciu-
dadanía obedezca la legislación vigente.
14
PEREZ (2020, pp. 2 y 15), LUND y SARIN (2021, p. 296), JIMENEZ (2019, p.
354). Para un panorama internacional, ver MAKINWA (2020, pp. 42 y ss.).
15
Ver también, para el Reino Unido, LORD (2022, pp. 3 y ss.) y LORD (2014,
pp. 104 y ss.), considerando la realidad de Alemania.
16
WERLE (2019, p. 43).

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conflicto se resuelva mediante juicio -non-trial resolutions-y la dictación


de una sentencia condenatoria -o absolutoria, en su caso-17. Lo anterior,
reflejaría la tendencia en lo que respecta a la persecución de la criminalidad
empresarial, donde lo fundamental sería identificar a los individuos
responsables del delito y, para tales efectos, se ha reconocido por la
persecución la utilidad de la cooperación de la propia persona jurídica18.
Como se señaló en forma previa, tal práctica, de acuerdo con Arlen19,
ha derivado en un importante debate por parte de la literatura respecto
a su justificación como estrategia frente a esta clase de delincuencia20.
De acuerdo con Makinwa tal estrategia no solo afectaría a sistemas de
justicia criminal que adhieran al principio de oportunidad, por tanto,
donde a la autoridad a cargo de la persecución se le reconozca cierta
discrecionalidad a la hora de definir cuándo se perseguirá criminalmente
a alguien o no, sino que incluso a países que han optado por “el principio
de legalidad y persecución obligada” de todos los delitos, por lo que la
posibilidad de la adoptación o no de acuerdos negociados es más bien
una cuestión que obedece a criterios prácticos21que se explicarían por la
necesidad de adaptar las prácticas de enforcement a propósito de la lucha
contra la corrupción22.

17
REILLY (2018, p. 1116). Incluso, han sido catalogados por KING y LORD
(2018, p. 8) como una manifestación de “justicia negociada” pero con la par-
ticularidad que no suponen reconocimiento de responsabilidad por parte de
la persona jurídica, lo que haría especialmente necesario los esfuerzos des-
plegados por la literatura y tribunales por su legitimación.
18
BENNETT, LOCICERO y HANNER (2013, p. 431). Ver también, LUND y
SARIN (2021, pp. 295-301).
19
ARLEN y BUELL (2020, p. 703).
20
HOCK (2020, p. 950). Fundamental HAWLEY, KING y LORD (2020, pp. 311
y ss.). Tal debate se ha visto influenciado incluso, aunque en forma aún inci-
piente, por reflexiones o valoraciones que provienen de la “justicia procedi-
mental” y, por tanto, en la preocupación de que la ciudadanía -así como los
intervinientes del proceso penal- puedan percibir como justa y legítima tales
herramientas, de esta forma, tender a la confianza en el sistema de justicia
penal. Para un análisis en detalle, ver KING y LORD (2018, p. 25). Funda-
mental, CHEN (2022, p. 137).
21
MAKINWA (2020, p. 48).
22
Lo plantean como interrogante, IVORY y SØREIDE (2020, p. 949).

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796 | Artaza; Carrasco.

Con todo, el problema de la legitimación de una institución es


siempre complejo, en la medida que se debe transparentar los parámetros
que sirven de base para tal labor. En este sentido, y solo a modo de
ejemplo, King y Lord, a la hora de evaluar la utilización de los acuerdos
negociados entre persecución y personas jurídicas como mecanismo de
reacción frente a la criminalidad empresarial, sostienen que se puede
adoptar tanto una perspectiva normativa -centrada en el análisis del
marco regulatorio de estas- como una “empírica”, asociada a sus efectos
y la percepción que tienen de esta práctica los actores del sistema penal23.
Desde un punto de vista normativo, uno de los principales criterios
que se han postulado para su evaluación es el de la “legalidad” de tales
mecanismos, mediante el cual se buscaría responder a las interrogantes
acerca de si esta estrategia satisface las exigencias contendidas en tratados
o instrumentos internacionales relativos a la lucha contra la corrupción,
o si su utilización está respaldada por una base jurídica sólida y si la
persecución ejerce su poder de negociación en forma coherente con esta,
es decir, en forma “legítima”24. Así, en lo que respecta a la satisfacción de
estándares que emanan de tratados internacionales, resulta especialmente
relevante atender a lo dispuesto por la Convención de las Naciones
Unidas contra la Corrupción25. Como se ha advertido, si bien es cierto
esta Convención no contiene exigencias específicas respecto al uso de
acuerdos entre la persecución e investigados, se puede evaluar si el uso
de tal herramienta por parte de un Estado satisface ciertos principios
básicos que derivan de este instrumento, a saber, por ejemplo, la exigencia
de contar con mecanismos efectivos y eficientes para la lucha contra la
corrupción que respeten a su vez el debido proceso26. En este sentido, se

23
KING y LORD (2018, pp. 28-29). Respecto a la escasa evidencia empírica,
ver PARKER (2021, p. 1) y más recientemente PARKER y DODGE (2022, pp.
940-944), quienes enfocan su investigación en la percepción de esta práctica
por parte de los operadores el sistema penal.
24
KING y LORD (2018, p. 29). Ver también, DAVIS (2020, p. 272), respecto al
concepto del ejercicio de poder en forma legítima.
25
DAVIS (2020, pp. 261 y ss.).
26
IVORY y SØREIDE (2020, p. 957). Con todo, no se puede desconocer que la
Convención autoriza atenuar la responsabilidad a los responsables de actos
de corrupción o incluso otorgarle inmunidad para los supuestos de colabora-
ción con la autoridad, al respecto, DAVIS (2020, p. 263).

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ha señalado que contar con mecanismos que permitan arribar a acuerdos


para los casos de criminalidad empresarial resultaría más “eficiente”
para el sistema de justicia criminal, en la medida que por lo general se
trata de casos sumamente complejos, cuyas investigaciones suponen un
alto costo de tiempo y recursos económicos y humanos27, lo que traería
como consecuencia la disminución de la capacidad del propio sistema de
justicia criminal de enfrentar otros delitos de connotación social28. Por lo
mismo, la posibilidad de arribar a acuerdos evitaría tal gasto “ineficiente”
de recursos para el sistema de justicia criminal. Obviamente, tal argumento
es insuficiente por sí solo, debido a que dejaría de lado la dimensión de
la “efectividad”, la que se debe evaluar en atención a la medida en que
esta herramienta contribuiría a la consecución de objetivos de diverso
orden. Como se podrá apreciar a continuación, uno de los objetivos que
no se ponen en duda es que tal herramienta debiera resultar útil -y no
al revés- de cara al fomento de la prevención de la corrupción en los
negocios. Con todo, de la Convención también se desprenden otros
objetivos más específicos que debiesen inspirar la legislación y la práctica
respectiva, como son la recuperación de activos obtenidos a través de este
ilícito, potenciar la colaboración entre el sector público y privado para la
prevención de este, propender a la compensación de los perjudicados y
el “rechazo a la cultura de la corrupción”29. Debido a la importancia que
presenta esta dimensión se le dará especial relevancia en esta investigación,
en la medida que se ha podido constatar que por lo general la literatura
especializada se concentra en esta a la hora de evaluar la utilización de los
acuerdos negociados para los supuestos de criminalidad empresarial. Lo
anterior no es irrelevante, ya que efectivamente parece del todo razonable
indagar en qué medida y en qué condiciones tales prácticas podrían incidir
positivamente en los esfuerzos estatales vinculados a la lucha contra la
corrupción y su reacción adecuada frente a esta.

27
En detalle respecto a tales dificultades, LORD (2022, p. 8).
28
ARLEN (2018, p. 8).
29
NACIONES UNIDAS (2004), Ver especialmente “Preámbulo”, artículo 34
respecto a las medidas para “eliminar las consecuencias de la corrupción”, y
artículo 35, para la adopción de medidas para indemnizar daños y perjuicios.
Ver también, DAVIS (2020, p. 262).

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798 | Artaza; Carrasco.

1.2 La efectividad de los acuerdos negociados en el marco de la lucha


contra la criminalidad empresarial como objetivo a satisfacer

Una de las principales críticas que se ha efectuado a esta estrategia


es que podría afectar la efectividad en la prevención de la corrupción,
si termina, por ejemplo, reemplazando la sanción a los individualmente
responsables por estos delitos y se termina convirtiendo en un “trato
preferente” para quienes cometen este ilícito a través de personas jurídicas30
y tienen medios o influencia suficiente como para arribar a acuerdos con
la persecución. Se ha señalado por otra parte, que tales acuerdos podrían
generar relaciones indebidas o poco éticas entre la persecución y el sector
privado que disminuyan la confianza en la imparcialidad de los primeros
a la hora de ofrecer acuerdos a las empresas31.
Por lo mismo, conviene preguntarse por qué la posibilidad de
contar con acuerdos negociados podría propender a hacer más efectiva
la lucha contra la corrupción y los resguardos que se debiesen tomar para
evitar sus eventuales resultados adversos. Al respecto, Arlen ha señalado
recientemente que tales herramientas podrían potenciar la capacidad del
sistema de justicia criminal de reacción frente a esta clase de delincuencia
en la medida que permitirían que la autoridad “induzca a las corporaciones
a detectar y obtener evidencia necesaria para perseguir a los individuos
que cometen estos delitos32”. De acuerdo con Arlen, las corporaciones
podrían colaborar con la persecución mediante la adopción de “programas
de cumplimiento” diseñados para prevenir, detectar y autodenunciar
conductas delictivas cometidas por sus integrantes, así como proveer a
las autoridades de la información necesaria para perseguir a estos33. Como

30
Fundamental, COFFEE (2020, pp. 15-16); BERNASCONI (2019, p. 9). Se
debe advertir que un análisis en profundidad de esta crítica supondría abor-
dar los problemas que podrían provenir de las facultades discrecionales para
la persecución de delitos que pueden ejercer los órganos responsables de esta
y los riesgos de una “persecución selectiva”. Al respecto, resulta fundamental
el trabajo de MILLER y WRIGHT (2008, p. 127).
31
Fundamental REILLY (2015, pp. 337-339), respecto, por ejemplo, a los
acuerdos entre persecutores e importantes estudios jurídicos, donde incluso
podrían terminar trabajando en el futuro.
32
ARLEN (2016, p. 203). Ver también, BU (2021, pp. 178 y ss.).
33
ARLEN (2016, p. 203).

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se puede apreciar, en la actualidad se reconoce que esta herramienta no


debe reemplazar la sanción a los individualmente responsables, sino que,
por el contrario, potenciar el éxito de la investigación en lo que a este
aspecto se refiere. Con todo, tal cooperación, que resultaría deseable
desde el punto de vista de la eficacia de la persecución de estos delitos,
solo resultaría posible si las corporaciones tienen incentivos adecuados
para su fomento, es decir, si resultan beneficiadas en caso de que se
autodenuncien y cooperen con la investigación de delitos cometidos en
el marco de su actividad34. Tales incentivos podrían venir dados tanto
por la posibilidad de evitar la sanción penal a la persona jurídica como,
en caso de no resultar posible, atenuar su gravedad. Como señalan Arlen
y Buell, si las corporaciones tienen incentivos adecuados para adoptar
mecanismos de detección y denuncia de conductas delictivas se produciría
también el efecto de comunicar a sus integrantes que las posibilidades
de ser sancionados por la comisión de un delito son mayores, lo que
podría traer aparejados efectos preventivos35. Por otra parte, y como se
advirtió con anterioridad, tales acuerdos no solo mirarían a una dimensión
retrospectiva -asociada a la efectividad de la persecución- sino también
a una dimensión prospectiva, dirigida a que las corporaciones adopten
medidas adecuadas para prevenir futuros ilícitos. Destacan, por ejemplo,
las exigencias asociadas a implementar programas de cumplimiento
o a perfeccionar los sistemas de prevención de delitos ya existentes
de acuerdo con los defectos organizacionales que hayan permitido o
facilitado la comisión del delito respectivo36. Es importante considerar
que tal finalidad también ha sido criticada porque resultaría ajena a la
función de la persecución, ya que esta debiera dedicarse a la investigación

34
En este sentido, como explican ARLEN y BUELL (2020, p. 708), tal modelo
de persecución supondría tanto la amenaza de sanción a las organizaciones
como la posibilidad de mecanismo que reduzcan o eviten esta última para los
supuestos de colaboración por parte de la empresa. Para el ámbito del Reino
Unido, ver HOCK (2021, p. 950).
35
ARLEN y BUELL (2020, p. 702). Se ha señalado por PEREZ (2020, p. 8), que
la existencia de tales acuerdos podría potenciar la coordinación internacional
en delitos -especialmente de corrupción en las transacciones económicas in-
ternacionales- que afectan a varias jurisdicciones- con el objeto de armonizar
entre estas las respuestas frente a tales casos
36
REILLY (2018, pp. 1120-1121).

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800 | Artaza; Carrasco.

de delitos para su sanción y no a tratar de incidir en la forma como se


organizan las personas jurídicas o en mejorar su cultura corporativa37.
Sin embargo, se debe considerar que, al menos en Chile, tal objetivo está
expresamente considerado por el legislador, en la medida que, como se
podrá apreciar más adelante, incorpora dentro de los posibles términos de
una SCP la adopción de mecanismos o medidas dirigidas a la prevención
de futuros delitos38.
Por último, y como se observa en el tratamiento de la literatura
especializada, no puede desconocerse que en la actualidad también han
surgido voces que abogan por incorporar criterios diversos para evaluar
esta práctica, dentro de los que destaca el de la reparación del daño causado
por el delito corporativo39. En este sentido, esta herramienta podría resultar
sumamente útil en la medida que permitiría introducir dimensiones que,
al menos en Chile, no son consideradas por la sanción penal, como es
el de la reparación del daño causado a los perjudicados por el delito. Si
bien es cierto, como observa Karp40, muchas veces no resulta evidente
quiénes deben ser considerados como “perjudicados” por delitos como
el de la corrupción en los negocios41, de acá no se extrae la imposibilidad
de tal identificación. En los supuestos de soborno para la obtención de
negocios o para obtener ventajas en su ejecución, se puede terminar
afectando a todos aquellos competidores que quedaron en una situación
de desventaja por no estar dispuestos a pagar sobornos o, como muchas
veces sucede, un sector de la población puede resultar perjudicado por
las decisiones ilegales que están aparejadas al pago de sobornos, como en
los casos en que se autoriza el desarrollo de una actividad económica sin

37
REILLY (2015, pp. 339-342). Conviene considerar también la crítica efectua-
da por ARLEN (2016, pp. 197 y ss.), en el sentido de que el Departamento de
Justicia, debido a un excesivo poder, se ha terminado convirtiendo en un ver-
dadero ente regulador de las corporaciones. Lo anterior se debería, principal-
mente al hecho de que en este país tales acuerdos no requieren la autorización
de los tribunales y porque las corporaciones que suscriben un acuerdo pueden
ser sancionadas, penalmente, por el incumplimiento de sus condiciones.
38
Ley 20.393. artículo 25, 4).
39
BENNETT, LOCICERO y HANNER (2013, p. 414).
40
KARP (2001, p. 729).
41
En suma, porque no se trata de supuestos donde -a diferencia de la delincuen-
cia tradicional- sea fácilmente identificable un solo agresor y una víctima.

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cumplir con la normativa medioambiental o cuando la corrupción deriva


en una disminución del número de prestaciones de algún servicio público
a la ciudadanía debido al encarecimiento de precios que trae aparejada42.

1.3 Análisis del uso de los acuerdos a propósito de la aplicación de la


Foreign Corrupt Practices Act (FCPA) en EE.UU.43

Como el objetivo del estudio es evaluar el ejercicio de la facultad


de proponer acuerdos por parte de la persecución en Chile de cara a su
eventual eficacia para la consecución de los objetivos previamente descritos,
resulta útil observar cómo puede ser llevada a cabo tal evaluación. Para
tales efectos, se recurrirá al análisis de los DPA entre el Departamento de
Justicia de EE.UU y corporaciones a propósito de la aplicación de la FCPA.
Para tales efectos, resulta sumamente útil considerar lo dispuesto en el
“memorándum” de 15 de septiembre de 2022 del “Office of the Deputy
Attorney General” del Departamento de Justicia de los Estados Unidos,
dirigido a revisar las políticas de “enforcement” para la criminalidad
empresarial, donde se reconoce que la prioridad para el Departamento de
Justicia es la sanción de aquellos individuos que cometen o se benefician
de esta clase de delitos44. Tal premisa permitirá explicar, por ejemplo, la
práctica de este Departamento en lo que respecta al contenido básicos
de los DPA entre la persecución y las corporaciones para los supuestos
de soborno a funcionarios públicos extranjeros y a la relevancia que se le

42
En detalle, ARTAZA (2022, pp. 132 y ss.), NIETO (2021, p. 2). Ver también
GUARDIOLA (2020, p. 577), respecto al concepto de “victimas difusas” o
de “comunidad afectada”. En este sentido, un sector de la literatura inclu-
so ha abogado por la incorporación parcial de criterios “restaurativos” a la
hora de enfrentar la delincuencia empresarial con el objeto de dar cuenta
en forma adecuada de esta dimensión de los perjudicados que usualmente
no se abordaría a través de la imposición de sanciones. Ver, al respecto, en
Chile, CARNEVALI (2019, p. 432), ver también, PIQUERO, RICE y PIQUERO
(2008, p. 211).
43
Lo anterior se llevará a cabo solo con el objeto de ejemplificar tal labor de
evaluación, y en ningún caso con el objeto de recurrir a este ejercicio del po-
der de proponer acuerdos como un modelo que debiese seguir el Ministerio
Público en Chile.
44
En MONACO (2022, p. 1).

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802 | Artaza; Carrasco.

otorga al hecho de que la corporación haya facilitado toda la información


que lícitamente pueda entregar respecto a la conducta delictiva de sus
integrantes45, así como que en los términos de un acuerdo se dé importancia
al aseguramiento y mantención de tal relación de colaboración con la
persecución. En este sentido, si se observan los términos de los DPA
del año 202246, inmediatamente llama la atención cómo se verifica este
componente de “cooperación” con la investigación, ya que, por ejemplo,
todos los acuerdos contienen un reconocimiento de hechos – o statements
of facts-, donde se reconoce el pago de sobornos, cómo fue llevado a
cabo y quiénes estuvieron involucrados en este ilícito. Por otra parte, las
empresas se comprometen a colaborar, en el futuro, con antecedentes
relevantes para la acreditación de cada uno de los hechos reconocidos,
lo que supone, incluso, compartir con la persecución los resultados de
procesos de investigación interna por parte de las corporaciones, como se
constata, por ejemplo en United States vs UOP LLC D/B/A HONEYWELL
UOP47, donde se facilitaron las entrevistas efectuadas a sus empleados y
se localizaron y entregaron documentos fundamentales para el éxito de
la investigación. En ocasiones, como se refleja en United States vs ABB
LTD48, si bien es cierto no se verificó una autodenuncia por parte de la
corporación, igualmente se arribó a un DPA debido a la extraordinaria
cooperación que prestó tal entidad en la medida que faciliten en forma
oportuna y eficaz los resultados de su investigación interna.
Por otra parte, y en lo que respecta a la práctica del DOJ en EEUU,
es innegable que los acuerdos no solo presentan este componente de
“cooperación”, sino que también uno evidentemente preventivo asociado a
remediar las causas organizacionales del delito respectivo – o a fortalecer
la capacidad de las organizaciones en prevenir futuros delitos-. Así, se
evidencia en todos los casos que las empresas involucradas se comprometen

45
Incluso para un sector de la literatura, esta debiera ser una de las condi-
ciones básicas para poder arribar a un acuerdo negociado. Ver, COFFEE
(2022, p. 984).
46
Disponible en la página web del Departamento de Justicia de Estados Unidos: ht-
tps://www.justice.gov/criminal-fraud/case/related-enforcement-actions/2022.
47
Disponible en: https://www.justice.gov/criminal-fraud/file/1558776/download.
48
Disponible en: https://www.justice.gov/criminal-fraud/file/1556576/download.

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a fortalecer su “programa de cumplimiento”49, considerándose los


siguientes puntos: a. Compromiso de la alta dirección de la empresa,
b. Implementación de políticas y procedimientos específicos para la
prevención de este delito, donde destaca la regulación de al menos: los
regalos, la hospitalidad, entretenimiento y gastos, viajes de clientes,
contribuciones políticas, donaciones benéficas y patrocinios, entre otros,
c. La revisión periódica de los riesgos de comisión de soborno a los que
se exponen, d. Supervisión adecuada e independiente de su Compliance
Program, e. Medidas de formación y capacitación, f. Procedimientos de
Investigación interna, g. Medidas disciplinarias para el incumplimiento
de políticas y procedimientos, h. Regulación de las relaciones comerciales
con socios estratégicos -como, por ejemplo, intermediarios-, i. Medidas
de cuidado para fusiones o adquisiciones y, j. El testeo y monitoreo
permanente. Junto a lo anterior, destacan aquellas medidas asociadas a
la desvinculación -o sanción- de aquellos empleados involucrados en el
delito, con independencia de su cargo, o al entrenamiento o capacitación
específica a los trabajadores empleando para tales efectos el análisis de
casos concretos de soborno en los negocios50.
Un componente innegable de esta práctica es el de la dimensión
de compensación que busca, principalmente, que las corporaciones
involucradas en este delito no se vean beneficiadas económicamente por
la comisión de este. Por lo mismo, todos los DPA observados evidencian
el pago de multas cuantiosas calculadas en atención a los parámetros que
otorga la United States Sentencing Guidelines, donde destacan: la gravedad
del delito cometido, la cantidad de veces que se sobornó, si se involucró
o no a funcionarios públicos de alto rango y el monto de las ganancias
para la alta dirección de la corporación51.
Cómo se puede observar, de esta práctica -en lo que respecta
a la aplicación de la FCPA- refleja adecuadamente el componente de

49
Un ejemplo en, United States v. Gol Linhas Aéreas Inteligentes S.A., pp. C-1,
y ss. Disponible en https://www.justice.gov/criminal-fraud/file/1535366/
download.
50
Como en United Stated vs ABB Ltd. Disponible en: https://www.justice.gov/
criminal-fraud/file/1556576/download.
51
Ver, por ejemplo, United States v. Stericycle, Inc., p. 8. Disponible en https://
www.justice.gov/criminal-fraud/file/1496296/download.

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cooperación -éxito de la investigación mediante la detección de los


individuos que delinquen-, un componente de sanción -dado por el
pago de multas- y el componente de fortalecimiento de la capacidad de
la organización de prevenir futuros delitos52.

2. E valuación de la regulación y el uso de la SCP por


parte de la persecución a propósito de la aplicación de la
responsabilidad penal de las personas jurídicas

Para efectos de ordenar el análisis que se llevará a cabo a


continuación, se hablará de cuatro dimensiones para la evaluación de la
utilización de SCP entre persecución y personas jurídicas, en atención a
los objetivos que debiesen guiar la práctica de la persecución. Como se ha
podido verificar, tales objetivos resultarían plenamente compatibles con
ciertas directrices internacionales para combatir la corrupción, por lo que
resulta autorizado evaluar si en Chile, tanto la regulación como el uso de
esta herramienta resultan coherentes con estos. La primera dimensión
será la de la cooperación de la persona jurídica con la investigación, cuyo
principal propósito es el de propender a la identificación de los individuos
que cometieron el delito, así como a la obtención de antecedentes relevantes
para la persecución. La segunda, será la dimensión “sancionatoria”, que dice
relación con la interposición de multas y a la obtención de compensación
por el delito cometido. La tercera, es la dimensión de fortalecimiento
de la capacidad de la persona jurídica de prevenir futuras conductas
delictivas y, por último, la dimensión de reparación, con énfasis en la
identificación de perjudicados por la conducta delictiva y la satisfacción
de sus intereses53. Es importante clarificar que solo se pretende evaluar
si de la regulación de esta herramienta y su uso, se refleja que estas

52
Por otra parte, no es posible advertir que el componente de reparación del
daño resulte realmente relevante como criterio para modular los términos
de tales acuerdos. Con todo, no es posible abordar acá las razones que expli-
carían tal decisión, por exceder el alcance de la investigación, donde inter-
vienen, además, cuestiones de territorialidad, en la medida que tal daño se
manifiesta en un estado extranjero.
53
En un sentido similar, DAVIS (2020, p. 264).

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dimensiones operan como objetivos a alcanzar y, en modo alguno, a


comprobar empíricamente su consecución.
Para efectos de llevar a cabo tal evaluación se requiere dar cuenta
de dos niveles distintos. El primero, dice relación con las posibilidades
de que la persecución pueda recurrir a esta herramienta en el marco
de la criminalidad empresarial y, específicamente, en los supuestos
de corrupción o soborno en los negocios. Para esto, se describirán las
posibilidades dadas por la Ley 20.393 y por las directrices que se han
otorgado a la persecución por parte del Fiscal Nacional, máxima autoridad
del MP y que tienen carácter obligatorio para los fiscales de esta institución.
El segundo nivel, que presenta especial relevancia para el objeto de estudio,
es el de los resultados a los que se ha arribado a través de esta práctica,
para lo cual se analizó el registro de audiencias -actas de audiencia- de las
suspensiones condicionales del procedimiento entre el MP y personas
jurídicas a propósito de la aplicación de la Ley 20.393 por la comisión
de delitos de cohecho54.

2.1 Evaluación de su regulación y las directrices para la persecución

Respecto de las personas jurídicas, la Ley N°20.393 en su artículo


25, autoriza expresamente la posibilidad de dar término al procedimiento
a través de una SCP, regulando expresamente sus requisitos básicos, la
extensión del plazo de su duración en su mínimo y máximo– de seis meses
y tres años respectivamente- y las condiciones que pueden ser incluidas en
el acuerdo. En lo que respecta a su procedencia la ley chilena solo las admite
en caso de que la persona jurídica imputada no hubiere sido condenada

54
Como solo se pretende evaluar el uso de esta herramienta de cara a los obje-
tivos cuya consecución parece quererse alcanzar por parte de la persecución,
se recurrió exclusivamente al registro de las SCP en las “actas de audiencia”
en las que fueron autorizadas y no a otros antecedentes, como podría ser los
“audios de las audiencias”. En tales actas se deja registro exclusivamente de
los términos del acuerdo, y no constan los argumentos que eventualmente
podría haber esgrimido el tribunal competente -Juzgados de Garantía- para
efectos de aprobar tal acuerdo, lo que en ningún caso es objeto de análisis
en este estudio. Tampoco resulta posible evaluar un eventual proceso de ne-
gociación previo entre el persecutor y la persona jurídica investigada, en la
medida que, de existir tal registro, no es de acceso público.

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previamente o que, incluso, no haya sido beneficiaria de otra SCP. Tal


acuerdo, que debe ser autorizado por el juez de garantía, puede incluir las
siguientes condiciones: a. Pagar una determinada suma a beneficio fiscal,
b. Prestar un determinado servicio a favor de la comunidad, c. Informar
periódicamente su estado financiero a la institución que se determinare, d.
Implementar un programa para hacer efectivo el “modelo de prevención
de delitos” o “programa de cumplimiento”, e. Cualquier otra condición que
resulte adecuada en consideración a las circunstancias del caso concreto
y fuere propuesta, fundadamente, por el MP. Con todo, la persecución se
encuentra limitada no sólo por la ley al momento de sopesar la posibilidad
de llevar adelante una SCP con una persona jurídica imputada, sino
que además por las instrucciones administrativas provenientes de la
Fiscalía Nacional, mediante documentos denominados “Oficios FN”. En la
práctica, los Oficios que entregan instrucciones aplicables a los casos de
responsabilidad de las personas jurídicas y que resultan relevantes para el
objeto de estudio son dos, el Oficio FN N°440/2010 que imparte criterios
de actuación para la investigación y persecución penal de las personas
jurídicas y el Oficio FN N°278/2022 que imparte criterios de actuación en
delitos de corrupción, dentro de los que incluye los supuestos de cohecho
o soborno. En lo que respecta al primer Oficio, las directrices para el uso
de la SCP son exiguas, ya que se limita a indicar que “la aplicación de
esta salida alternativa deberá ser analizada por el fiscal, especialmente en
aquellos casos en que pudiere proceder la suspensión de la condena…, ya
que los efectos terminan siendo, prácticamente, los mismos con excepción
del comiso. El cualquier caso, la decisión deberá ser aprobada por el Fiscal
Regional respectivo”55. Como se puede apreciar, el único criterio que
subyace es el de la eficiencia en la administración de los recursos56, en el
entendido que resultaría más eficiente arribar a una SCP si es que existe
la probabilidad de que igualmente se termine suspendiendo la condena
por parte del tribunal respectivo57. No se refleja, en ningún caso, una

55
Fiscalía Nacional, 2010, Oficio FN N°440/2010.
56
Para un análisis de este criterio como fundamento de las salidas alternativas,
DUCE y RIEGO (2007, pp. 294-295).
57
En definitiva, se sugiere aplicar esta salida a los supuestos en que la conde-
na de la persona jurídica sea baja -de “simple delito en su grado mínimo” y
que por el número de trabajadores o ciertos datos financieros de la persona

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política de persecución -al menos declarada formalmente- de recurrir al


acuerdo negociado como mecanismo para potenciar la consecución de
objetivos vinculadas a cualquiera de las cuatro dimensiones previamente
detectadas. En segundo lugar, debe ser considerado lo dispuesto por el
Oficio N°472 de 2020, que “imparte criterios de actuación en delitos
de corrupción”. En este, que expresamente se aplica para los supuestos
regulados en la Ley 20.393, se indica expresamente que tal facultad
deberá ser aplicada en forma “excepcional, limitada y prudente, teniendo
especialmente en consideración la dificultad que representa controlar
el cumplimiento de las condiciones de la suspensión y la señal que
podría implicar, para la ciudadanía, una salida de este tipo en delitos
de corrupción”. Para su procedencia, aparte de la satisfacción de los
requisitos legales, deberá verificarse el cumplimiento de al menos cuatro
de un listado de circunstancias, entre los que resultan relevantes para el
objeto de estudio: la autodenuncia del investigado, la colaboración de
este, razones de estrategia y de política criminal, como es la necesidad
de enfocar la persecución en otro imputado “con un claro y notorio
mayor grado de participación, involucramiento y responsabilidad en los
hechos” y, por último, la reparación significativa del perjuicio causado o
la “disponibilidad para reparar la totalidad del perjuicio causado” en los
delitos que “causan un perjuicio patrimonial”. Al igual que lo dispuesto
por el Oficio anterior, la SCP deberá ser autorizada en forma previa por
el Fiscal Regional.
Respecto a estas instrucciones llama la atención que no se efectúe
ninguna distinción respecto a su alcance entre los supuestos en que
el imputado sea una persona natural frente a los que sea una persona
jurídica. Lo anterior podría resultar contraproducente, ya que como
se analizó con anterioridad, tales acuerdos negociados con personas
jurídicas justamente podrían propender a una persecución más efectiva
de esta clase de delitos y a concentrar los esfuerzos en la acreditación
de la responsabilidad de los individuos que cometieron el ilícito. Para
tales efectos, se debiera, por ejemplo, incentivar en tales directrices un
uso oportuno de tales acuerdos con personas jurídicas, y no una vez que

jurídica, resulte recomendable suspender la ejecución de la condena por un


plazo determinado.

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ya se han recabado todos los antecedentes necesarios para sostener la


acusación del individuo responsable.
Con todo, y como se podrá apreciar a continuación, la práctica
de la imputación a personas jurídicas demuestra que las SCP son una
herramienta sumamente utilizada, sin perjuicio de que efectivamente
podría ser perfeccionada para fortalecer la consecución de los objetivos
que debiesen guiar su utilización.

2.2 Evaluación del uso de las SCP en casos concretos y de los objetivos
que subyacen a estas

2.2.1 La dimensión de la cooperación

Del registro de SCP entre la persecución y personas jurídicas


no existe dato alguno que permita verificar que uno de los objetivos que
subyacen a la utilización de tales acuerdos sea el obtener la cooperación de
la entidad en el éxito de la investigación58. Tampoco existen acuerdos en
los cuales la persona jurídica se comprometa a la entrega de información
relevante para tales efectos o respecto a futuros casos que pudiesen
detectarse a propósito de investigaciones internas que se lleven a cabo.
Si algún componente de “cooperación” se puede detectar es uno muy
distinto y que se refleja en al menos dos casos. En la SCP entre el MP y la
empresa Cerecita59, la persona jurídica “acepta que los antecedentes de la
investigación sean utilizados para “fines académicos” y para estudios de
prevención del delito. Por otra parte, en la SCP entre el MP y la empresa
“Emergya Agencia Chile”60, donde esta última se compromete, en caso

58
Se debe reconocer, eso sí, los sesgos de la investigación por la clase de datos
analizados, ya que solo se conocen los términos del acuerdo y no es posible
evaluar si estos fueron el resultado de un proceso de negociación y si, en el
marco de esta, se solicitó la cooperación de la persona jurídica. Por otra parte,
se debe considerar que la SCP puede autorizarse bastante avanzada la inves-
tigación sobre un hecho ilícito, por lo que un mero compromiso a futuro de
cooperar puede ser poco efectivo.
59
Causa RIT N°157-2012 ante el 3° Juzgado de Garantía de Santiago, resolu-
ción de fecha 30/04/2013.
60
Causa RIT N°1868-2019 ante el 7° Juzgado de Garantía de Santiago, resolu-
ción de fecha 14/12/2021.

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de publicar en medios de comunicación que no había sido condenada, a


explicar en qué consistió la SCP y los montos que tuvo que pagar. Como
se puede apreciar, en ningún caso se trata de cooperación con el éxito
de la investigación, sino más bien, con la “educación” de la ciudadanía
respecto a la responsabilidad penal de las personas jurídicas.
Con independencia de las razones que pudiesen explicar tal
realidad, se debe considerar que la amplitud del marco regulatorio chileno
admitiría, sin problema alguno, que la persecución incluyera tal objetivo
dentro de sus acuerdos, por lo que esta es una dimensión en que la práctica
chilena podría ser perfeccionada, sobre todo si se considera los efectos
positivos en la lucha contra la corrupción que pueden venir aparejadas
a una estrategia colaborativa entre persecución y las personas jurídicas.
No se puede olvidar que, como indica Arlen, los acuerdos negociados
serían una de las maneras más efectivas de implementar regímenes de
responsabilidad penal corporativa que den cuenta de todos los niveles
que se requiere para prevenir conductas ilícitas en aquellas empresas
donde su alta dirección no esté directamente involucrada en la conducta
delictiva61. Tal pretensión no es contradictoria con el ordenamiento jurídico
chileno, ya que, en primer lugar, de la propia Ley 20.393 se desprende que
el objeto de introducir la responsabilidad penal de las personas jurídicas
es el fomento de la capacidad de estas para prevenir conductas delictivas
y que, en definitiva reaccionen frente a estas en forma tal que confirmen
su intención de cumplir con la normativa vigente que regula su actividad,
lo que supone, necesariamente, la implementación de mecanismos para
detectar a tiempo eventuales ilícitos y propender a que los responsables
sean sancionados. En este sentido, el artículo 4° de la Ley 20.393, dispone
que un modelo de prevención debe contar con medidas disciplinarias
para quienes infrinjan sus obligaciones contendidas en este instrumento.
Incluso, es compatible con las directrices que emanan de la Fiscalía
Nacional, en el entendido que tal cooperación es una de las circunstancias
que deben ser tenidas en cuenta para poder arribar a un acuerdo62.

61
ARLEN (2018, p. 22).
62
Sin embargo, parecería adecuado clarificar el contenido de tales directrices
diferenciando, como ya se señaló, entre la cooperación de la persona jurídica
investigada y las personas naturales que cometieron el delito, incluyendo los
criterios de oportunidad advertidos.

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810 | Artaza; Carrasco.

En segundo lugar, se debe partir de la base que la cooperación


de la persona jurídica imputada con la persecución es absolutamente
compatible con la propia naturaleza de la SCP como salida alternativa
que no supone “admisión de responsabilidad”. Desde un punto de vista
lógico se debe separar la responsabilidad de la persona jurídica de la
responsabilidad de aquellos integrantes que cometieron un delito. En
definitiva, no contar con esta posibilidad, podría dificultar seriamente
que el MP cuente con una herramienta que podría resultar eficaz para
reforzar la persecución de esta clase de delitos.

2.2.2 La dimensión sancionatoria

A diferencia de la dimensión anterior, esta dimensión sí está


presente en la totalidad de las SCP analizadas. En este sentido destaca,
en primer lugar, las condiciones que buscan indemnizar a instituciones
públicas -por lo general, a las municipalidades63- cuyos funcionarios
fueron destinatarios de soborno64.
Al respecto, se puede apreciar que dentro de las condiciones, y
con el objeto de resguardar la naturaleza sancionatoria de tales pagos,
se indicó que estos “no se puedan imputar como gasto” por parte de
la persona jurídica que arribaba al acuerdo65, con el objeto de que no
terminara beneficiada desde el punto de vista impositivo o tributario. Eso
sí, cabe destacar que, a diferencia de la práctica del DOJ en EE.UU, no se
han otorgado criterios objetivos que permitan que el Ministerio Público
determine los montos de las multas o indemnizaciones a pagar. Lo anterior
no resulta irrelevante, en la medida que se podría dotar de criterios claros
que permitan regular tal práctica en atención a factores como el del monto

63
Así, en causa RIT N°1801-2020 ante el Juzgado de Garantía de Copiapó, re-
soluciones de fecha 18/08/2021, 29/09/2021 y 05/10/2021, y RIT N°2778-
2015 del Juzgado de Garantía de Talca, resolución de fecha 04/04/2018.
64
En ocasiones, tales montos debieron pagarse al Fisco. Ver, causa contra la em-
presa SQM, RIT N°10969-2016 ante el 8° Juzgado de Garantía de Santiago,
resolución de fecha 26/01/2018.
65
Así, por ejemplo, causa contra Emergya Agencia Chile y Soluciones Tecnoló-
gicas de Negocios SpA, alías ALTIUZ, RIT N°1868-2019 ante el 7° Juzgado de
Garantía de Santiago, resoluciones de fecha 04/12/2020 y 14/12/2020.

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de los sobornos pagados, las ganancias obtenidas por la persona jurídica


y sus integrantes o los daños causados por el hecho delictivo.
Por otra parte, se pudo apreciar supuestos donde las condiciones
resultan del todo equivalentes a sanciones reguladas por la Ley 20.393, como
en la SCP donde la empresa acuerda su propia liquidación y disolución66
o en los que acuerda la “prohibición de celebrar contratos con el Estado
y organismos de este por determinado plazo”, así como la prohibición
de participar en licitaciones públicas67. Es más, la disolución en tanto
sanción solo puede ser aplicada en supuestos especialmente graves como
el de la reincidencia de la persona jurídica o la reiteración de delitos68.
Por lo mismo, y para valorar tales medidas, no pueden olvidarse los
argumentos de eficiencia del sistema que se han esgrimido al comienzo
de esta investigación que aconsejarían el uso de tales acuerdos. Si dentro
de estos se encuentra evitar las consecuencias negativas para empresas que
desarrollan actividades lícitas y, sobre todo, a terceros inocentes, como sus
trabajadores o proveedores69, parece necesario que este tipo de condiciones
se requieran en casos sumamente excepcionales y calificados debido a
ser la única opción para prevenir futuros hechos delictivos. Lo anterior se
aplica, aún más a supuestos como el de la liquidación y disolución, en el
entendido de que si el legislador los ha restringido a hipótesis especialmente
graves, no parece legítima su consecución a través de acuerdos negociados.

2.2.3 La dimensión de fortalecer la capacidad de la persona jurídica para la


prevención de futuros ilícitos

De acuerdo con la práctica chilena analizada, la generalidad de


las SCP cuentan con alguna condición asociada a la implementación

66
Causa contra la empresa CAVAL Ltda., RIT N°1651-2015 ante el Juzgado de
Garantía de Rancagua, resolución de fecha 08/03/2018.
67
Causa, en este caso contra de todas las empresas imputadas, RIT N°1801-2020
ante el Juzgado de Garantía de Copiapó, resoluciones de fecha 18/08/2021,
29/09/2021 y 05/10/2021. Ver también causa contra la empresa HAZA
Ltda., RIT N°11806-2016 ante el Juzgado de Garantía de Valparaíso, resolu-
ción de fecha 18/01/2019.
68
Artículo 9°, inc. final, Ley N°20.393.
69
Al respecto, LORD, WINGERDE y CAMPBELL (2018, p. 3).

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812 | Artaza; Carrasco.

o ejecución de un modelo de prevención de delitos o programa de


cumplimiento. Por regla general el compromiso al que arriban las personas
jurídicas beneficiadas con el acuerdo es el de implementar un modelo
de prevención en caso de que no hayan tenido uno con anterioridad
y, en su caso, a pasar por un proceso externo de certificación de tal
modelo70. Tal certificación en Chile es llevada a cabo por instituciones
certificadoras autorizadas para operar por parte de la Comisión para el
Mercado Financiero, institución que debe constatar que estas cuenten con
medios y métodos adecuados para verificar que los modelos de prevención
cumplan con los requisitos dispuestos por la Ley 20.393. Al respecto, el
MP pareciera renunciar a incidir mayormente en el contenido de tales
medidas. Lo anterior podría ser entendido como un reconocimiento por
parte del MP de que en Chile los llamados a tal delimitación son organismos
técnicos y especializados en la evaluación de modelos de prevención o
“certificadoras”, instituciones que, por lo demás, son reconocidas por
la Ley 20.393. Tal práctica tiene la ventaja que se evitaría el peligro de

70
Causa contra la empresa CONSTRUCTORA SOL SPA y otras, RIT N°1801-
2020 ante el Juzgado de Garantía de Copiapó, resoluciones de fecha
18/08/2021, 29/09/2021 y 05/10/2021; contra la empresa EMERGYA
AGENCIA CHILE, RIT N°1868-2019 ante el 7° Juzgado de Garantía de San-
tiago, resolución de fecha 14/12/2021; contra la empresa CERESITA, RIT
N°157-2012 ante el 3° Juzgado de Garantía de Santiago, resolución de fecha
30/04/2013; contra la empresa SQM, RIT N°10969-2016 ante el 8° Juzgado
de Garantía de Santiago, resolución de fecha 26/01/2018; contra la empre-
sa ALTIUZ, RIT N°1868-2019 ante el 7° Juzgado de Garantía de Santiago,
resolución de fecha 04/12/2020. En base a la información disponible al pú-
blico en general, es posible señalar que el cumplimiento de la SCP ha sido
acreditado por el tribunal en las siguientes causas: contra la empresa ASFAL-
TOS CHILENOS S.A., RIT N°4392-2014 ante el 7° Juzgado de Garantía de
Santiago, por resolución de fecha 21/10/2016; contra la empresa CERESITA,
RIT N°157-2012, ante el 3° Juzgado de Garantía de Santiago, por resolución
del 22/07/2016; contra la empresa SQM, RIT N°10969-2016 ante el 8° Juz-
gado de Garantía de Santiago, por resolución de fecha 17/08/2018; contra
la empresa CTS, RIT N°2778-2015 ante el Juzgado de Garantía de Talca,
por resolución de fecha 25/06/2020; contra la empresa TECNODATA, RIT
N°477-2015 ante el 7° Juzgado de Garantía de Santiago, por resolución de fe-
cha 12/07/2019; contra las universidades SEK y PEDRO DE VALDIVIA, RIT
N°4799-2012 ante el 8° Juzgado de Garantía de Santiago, por resoluciones
de fecha 21/06/2017 y 12/06/2017. Sin embargo, las señaladas resoluciones
han fundado su decisión en el cumplimiento del plazo establecido para la
SCP, en cada caso, y no consta se hubiese verificado su cumplimiento.

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que el MP se inmiscuya indebidamente en la organización de personas


jurídicas, convirtiéndose así en un verdadero ente regulador del sector
privado71,lo que está lejos de sus funciones de acuerdo a lo dispuesto por
su normativa interna y la Constitución de la República de Chile72. Sin
embargo, tal decisión no responde a todos los casos, ya que se ha detectado
al menos un supuesto donde la condición consiste exclusivamente en la
implementación del modelo de prevención, olvidando, completamente,
la certificación o la verificación del cumplimiento de esta73. Lo anterior
es del todo relevante, ya que demuestra que no existen definiciones
claras respecto a quién debe constatar la satisfacción de esta condición,
lo que podría incidir negativamente en la verificación del cumplimiento
de tal condición.
Además del anterior, hay otros aspectos que pueden ser mejorados.
El primero de estos responde a una cuestión de orden temporal. En
ocasiones se otorga a la persona jurídica el plazo de seis meses para
la implementación de un modelo de prevención74 o de un año para
su implementación y acreditar su certificación75, lo que podría ser
contraproducente para los objetivos que se pretenden alcanzar, en la
medida que tal plazo podría resultar insuficiente, si se tiene en cuenta
que una institución certificadora debe verificar no solo el diseño de un
modelo de prevención, sino que también su aplicación efectiva dentro de
una organización76. En segundo lugar, destacan aquellos supuestos donde

71
Respecto a esta realidad, desde una perspectiva crítica, ARLEN (2016, pp.
197 y ss.).
72
Artículo 1° de la Ley Orgánica Constitucional del Ministerio Público,
N°19.640, y artículos 7 y 83 de la Constitución Política de la República
de Chile.
73
Causa RIT N°477-2015 ante el 7° Juzgado de Garantía de Santiago, resolu-
ción de fecha 11/07/2018. En tales casos se aplicaría la regla general, que-
dando en manos del Juzgado de Garantía la verificación del cumplimiento
para el sobreseimiento de la causa.
74
Por ejemplo, causa contra la empresa HAZA Ltda., RIT N°11806-2016 ante
el Juzgado de Garantía de Valparaíso, resolución de fecha 18/01/2019.
75
Así, por ejemplo, ocurrió en la causa respecto de las empresas CONSTRUC-
TORA SOL SPA e ISAFER, RIT N°1801-2020 ante el Juzgado de Garantía de
Copiapó, resoluciones de fecha 05/10/2021 y 29/09/2021.
76
Conforme se indica en el acápite 5° de la Norma de Carácter General N°
302 emitida por la Superintendencia de Valores y Seguros en el año 2011,

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814 | Artaza; Carrasco.

la persona jurídica beneficiada por la SCP ya contaba con un modelo de


prevención y, pese a eso, igualmente se vio envuelta en un supuesto de
soborno a funcionarios públicos77. En estos casos, si de lo que se trata es
de potenciar esta herramienta como mecanismo que podría fortalecer
la capacidad de las personas jurídicas para prevenir sus propios delitos,
convendría dirigir el acuerdo a perfeccionar aquellos defectos en su
propio modelo de prevención que expliquen que la conducta delictiva
no haya sido detectada a tiempo. En suma, en tales supuestos parece
insuficiente que se acuerde “mantener en funcionamiento un modelo
de prevención de delitos”78.

2.2.4 La dimensión de la reparación del daño

Como se señaló con anterioridad, la Ley 20.393 contempla dentro


de los posibles términos del acuerdo, el de “prestar un determinado
servicio a favor de la comunidad”. Debido a lo anterior, no es extraño
que las SCP contengan alguna condición que esté asociada a beneficiar
a la comunidad como, por ejemplo, efectuar alguna donación en favor
de algún centro educacional79, centros hospitalarios, bomberos80, o
fundaciones81. Por otra parte, se detectó un supuesto donde la persona
jurídica, dedicada al rubro de la educación superior, se compromete a
crear y ejecutar un programa de becas82 y otro, donde una empresa de
tecnología, acuerda realizar dos cursos de capacitación a organismos del

en virtud de lo dispuesto en el artículo 4, numeral 4°, de la Ley N°20.393.


Disponible en: https://www.cmfchile.cl/educa/621/w3-article-807.html.
77
Causa RIT N°4799-2012 ante el 8° Juzgado de Garantía de Santiago, resolu-
ciones de fecha 30/05/2016 y 07/06/2017.
78
Causa RIT 4799-2012 ante el 8° Juzgado de Garantía de Santiago, resolución
de fecha 30/05/2016 y 07/06/2017.
79
Causa RIT 4392-2014 ante el 7° Juzgado de Garantía de Santiago, resolución
de fecha 16/10/2015.
80
Causa RIT 1136-2012 ante el Juzgado de Garantía de La Ligua, resolución de
fecha 18/03/2016.
81
Causa RIT 10969-2016 ante el 8° Juzgado de Garantía de Santiago, resolución
de fecha 26/01/2018.
82
Causa RIT 4799-2012 ante el 8° Juzgado de Garantía de Santiago, resolución
de fecha 30/05/2016 y 07/06/2017.

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Estado respecto a materias técnicas específicas83. Si bien es cierto parece


positivo que las personas jurídicas investigadas que arriban a un acuerdo
puedan desplegar esfuerzos económicos en interés de la comunidad,
convendría encauzar esta condición en forma tal que tuviera como acento
prioritario la reparación del daño causado por la comisión del delito, y
en caso de resultar imposible lo anterior-por no existir, por ejemplo,
sujetos o comunidades que al menos hayan sido perjudicadas de manera
indirecta- se opte por incorporar a los acuerdos medidas como las ya
descritas, resultando especialmente valiosas, aquellas donde la misma
empresa utiliza su capacidad para beneficiar a la comunidad.
Un buen ejemplo para comprender el potencial de los acuerdos
para reparar el daño causado, aunque sea en forma indirecta, es el
conocido caso “Cerecita”84. En términos muy simples, la empresa fue
investigada, ya que uno de sus integrantes pagó sobornos a un funcionario
público, en reiteradas ocasiones, con el objeto de que se autorizara la
construcción y el funcionamiento de las instalaciones de la empresa
dedicada al rubro de la producción de pinturas, sin cumplir con los
requisitos legales, especialmente los de la autoridad sanitaria-. A raíz
de lo anterior, y como quedó en evidencia durante la investigación, se
afectó gravemente el medioambiente de la localidad donde se instalaron
sus plantas productoras85. Por lo mismo, la SCP estuvo preferentemente
dirigida a revertir el impacto medioambiental causado y que fue posible
debido al pago permanente de sobornos a la autoridad respectiva. Dentro
de las condiciones se incluyó: a. El traslado de todas sus faenas industriales
y productivas a otra comuna, con observación de la normativa medio
ambiental, b. Demoler todas instalaciones que existían en la comuna
afectada en la que originalmente operaba, c. Acreditar que uno de los
terrenos donde operaba se encontraba exento de todo riesgo para la

83
Causa RIT 1868-2019 ante el 7° Juzgado de Garantía de Santiago, resolución
de fecha 04/12/2020.
84
Causa RIT 157-2012 ante el 3° Juzgado de Garantía de Santiago, resolución
de fecha 30/04/2013. Más detalles respecto al caso en BALMACEDA y GUE-
RRA (2014, pp. 153-160).
85
Para un análisis detallado de cómo se identificó el daño por parte de la fiscal
a cargo del caso y el rol que jugaron los perjudicados, ver CAÑAS (2013,
pp. 82-83),

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816 | Artaza; Carrasco.

salud de la población, realizando para ello un estudio de “Evaluación


de Riesgo” con contenidos mínimos establecidos por el tribunal. De ser
exigido por el estudio de Evaluación de Riesgo, debía implementarse un
estudio de “Plan de Remediación” que incluyera las labores de limpieza
necesarias bajo la aprobación de la autoridad sanitaria, d. La donación de
6.000 metros cuadrados de uno de los sitios en que operaba la empresa, a
fin de ser transformado en un parque a beneficio de la comunidad de la
comuna afectada y, e. Desarrollar un sistema interconectado de parques
en el terreno donado con los implementos e instalaciones determinadas
por el tribunal. Como se puede apreciar, frente a la constatación de que
a través de la corrupción se había autorizado las operaciones de una
empresa con graves efectos medioambientales, se opta por recurrir
a la SCP con el objeto de reparar el daño86. Tal experiencia permite
sentar las bases de una práctica que debiese ser replicada y que permite
introducir en los términos de los acuerdos negociados la dimensión de la
reparación del daño, potenciando así la consecución de objetivos valiosos
que debiesen estar aparejados a la estrategia de lucha contra la corrupción
y la criminalidad empresarial.

C onclusiones.

El uso de acuerdos negociados entre la persecución y las personas


jurídicas imputadas o acusadas de delitos relativos a la corrupción en los
negocios ha sido considerado, por un sector importante de la literatura
angloamericana dedicada al estudio de la criminalidad empresarial,
como una herramienta valiosa para enfrentar este fenómeno. En suma,
sus ventajas radicarían en el eventual fomento de la “efectividad” de
la respuesta del sistema de justicia criminal a la hora de enfrentar esta
forma de delincuencia. En este sentido, tales acuerdos son usualmente
considerados “legítimos” a la hora de evaluarlos, por ejemplo, respecto a la
satisfacción de exigencias que provienen de instrumentos internacionales

86
Se debe advertir el siguiente sesgo de la investigación: no resultó posible veri-
ficar, con los datos disponibles, la forma como se identificó el daño por parte
del Ministerio Público, y qué rol cumplieron los perjudicados por el delito
respecto a tal identificación o en la concreción de los términos del acuerdo.

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relativas a la lucha contra la corrupción. La efectividad de estos se debiese


evaluar respecto a la consecución de una serie de objetivos que debiesen
guiar la respuesta estatal para enfrentar la corrupción -tanto en lo que
respecta a su legislación como a la aplicación de esta-. Dentro de estos
objetivos destaca el fomento de la cooperación de las personas jurídicas
para el éxito de la investigación, así como evitar que las personas jurídicas
resulten beneficiadas por estas prácticas ilícitas, se fomente su capacidad
para prevenir fututos delitos y, por último, propender a que se repare
integralmente los daños o perjuicios causados con la corrupción.
De acuerdo con tales criterios de evaluación se pudo proponer una
serie de posibles mejoras que podrían ser incorporadas por la persecución
en Chile a la hora de utilizar las SCP con personas jurídicas. Una de estas
es la que dice relación con el fomento de la cooperación de las personas
jurídicas con el éxito de la investigación, lo que no solo resultaba coherente
con la naturaleza de la SCP, sino que, además, parecía deseable de cara
a los propios fundamentos del sistema de responsabilidad penal de las
personas jurídicas, sin perjuicio de los ajustes que debiesen incorporarse
a las directrices que guían su uso, para poder potenciar la consecución de
este objetivo. Por otra parte, se propusieron una serie de posibles mejoras
para el ámbito sancionatorio -principalmente la clarificación de criterios
para la determinación del monto de multas. Respecto a la dimensión del
fomento de la capacidad de las personas jurídicas para la prevención de
ilícitos, se propuso la adopción de criterios que permitan homogenizar
la supervisión de tales acuerdos y el tratamiento especial de aquellas
personas jurídicas que ya contaban con un modelo de prevención al
momento de la comisión del delito. Por último, se analizaron los acuerdos
dirigidos al “beneficio de la comunidad” y se propuso un enfoque basado
en la reparación integral del daño causado por el delito.

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Authorship information
Osvaldo Artaza. Doctor en Derecho, Universidad de Barcelona (España). Profesor
asociado Derecho Penal Universidad de Talca (Chile) y director del Centro de
Estudios de Derecho Penal, Universidad de Talca. [email protected]

Braulio Carrasco. Abogado, Universidad Diego Portales. Magíster en


Derecho Penal y Procesal penal por la Universidad Diego Portales (Chile).
[email protected]

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 789-823, mai.-ago. 2023.
822 | Artaza; Carrasco.

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Acknowledgement: El trabajo de investigación se llevó a cabo em


el marco del proyecto Fondecyt Regular N°1200083, Justicia
restaurativa y Sistema Penal, a cargo del professor Raúl Carnevali
Rodríguez.

Conflict of interest declaration: the author/s confirm/s that there


are no conflicts of interest in conducting this research and writing
this article.

Declaration of authorship: all and only researchers who comply


the authorship requirements of this article are listed as authors;
all coauthors are fully responsible for this work in its entirety.

▪ Osvaldo Artaza: conceptualization, methodology, data


curation, investigation, writing – original draft, validation,
writing – review and editing, final version approval.

▪ Braulio Carrasco: conceptualization, methodology, data


curation, investigation, writing – original draft– review
and editing, final version approval.

Declaration of originality: the author/s assure/s that the text


here published has not been previously published in any other
resource and that future republication will only take place with
the express indication of the reference of this original publication;
he/she/they also attests that there is no third party plagiarism
or self-plagiarism.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 789-823, mai.-ago. 2023.
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▪ Submission: 28/03/2023 ▪ Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 10/04/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 20/04/2023 ▪ Reviewers: 5
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▪ Review 3: 28/04/2023
▪ Review 4: 29/04/2023
▪ Review 5: 30/04/2023
▪ Preliminary editorial decision: 21/05/2023
▪ Correction round return: 01/06/2023
▪ Final editorial decision: 18/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


ARTAZA, Osvaldo; CARRASCO, Braulio. Evaluación crítica de la regulación
y el uso de la suspensión condicional del procedimiento en el marco de la
persecución penal a personas jurídicas por el delito de soborno en Chile.
Revista Brasileira de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 789-823, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.835

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 789-823, mai.-ago. 2023.
Subtracção de menor por um dos pais:
eficácia prática no contexto parental

Subtraction of a child by one of the parents: practical


effectiveness in the parental context

Ofélia Coutinho1
Universidade de Macau, Macau, China
[email protected]
https://orcid.org/0000-0003-2249-7751

Resumo: A subtracção gera desafios e perigos para a vítima que clamam


por implementação de medidas mais efectivas em relação ao progenitor
incumpridor da decisão judicial de regulação das responsabilidades
parentais de modo a prevenir ofensas a bem jurídicos da vitima que se
caracteriza pela sua vulnerabilidade em razão da sua idade dependência
face ao progenitor. Questiona-se, tendo em referência a protecção dos
direitos fundamentais do menor subtraído; as dificuldades probatórias
que subjaz ao crime de subtracção de menor; a presunção da inocência
a favor do arguido; a antecipação da tutela processual penal e a tomada
das declarações do menor. a a intensidade e a relevância da lesão, face
a uma vítima que se caracteriza pela sua vulnerabilidade. Em sede de
conclusões, observa-se que a realidade fáctica subjacente à subtracção
carece da introdução de mecanismos legais de tutela mais efectivos e
abrangentes de prevenirem incumprimentos das decisões dos tribunais,
com o fito de reforçar a protecção das crianças e dos pais vítimas deste
tipo de crime no quadro do exercício do poder paternal.
Palavras-chave: subtracção de menor; protecção das crianças; protecção
do poder parental; tutela penal da subtracção de menor.

Abstract: Abduction creates challenges and dangers for the victim who call for
the implementation of more effective measures in relation to the parent who
fails to comply with the judicial decision regulating parental responsibilities in

1
Doutoranda e mestre pela Universidade de Macau, China.

825
826 | Coutinho, Ofélia.

order to prevent offenses to the victim’s legal rights, which is characterized


by its vulnerability due to its age dependence on the parent. It is questioned,
with reference to the protection of the fundamental rights of the subtracted
minor; the probative difficulties underlying the crime of child abduction;
the presumption of innocence in favor of the defendant; the anticipation
of criminal procedural protection and the taking of the minor’s statements
the intensity and relevance of the injury, compared to a victim who is
characterized by his vulnerability. In terms of conclusions, it is observed
that the factual reality underlying subtraction requires the introduction
of more effective and comprehensive legal mechanisms of guardianship to
prevent non-compliance with court decisions, with the aim of strengthening
the protection of children and parents victims of this type of crime within
the framework of the exercise of parental authority.
Keywords: abduction of a minor; protection of children; protection of
parental authority; penal protection of the abduction of a child.

Sumário: Introdução. 1. Crime de Subtracção de Menor. 1.1. Enqua-


dramento. 1.2. Elementos do crime. 1.3. Natureza jurídica. 2. Dados
estatísticos sobre a subtracção de menor em Macau e Portugal. 3.
Dignidade da pessoa humana. 4. A vítima em processo penal. 4.1.
A vítima vulnerável. 4.2. Declarações para memória futura. 4.3.
Mecanismos de protecção policiais e legais para as vítimas. 5. O
ónus da prova e a presunção da inocência. 5.1. A prova a cargo do
Ministério Público. 5.2. O ónus da prova de argumentação favorável
que impedem sobre o arguido. 5.3. Justiça restaurativa. 6. Tutela
penal da subtracção de menor: o crime de subtracção de menor. 7.
Tutela do poder paternal. 8. Procedimentos judiciários no âmbito
da subtracção de menor: análise comparada. 9. Articulação entre o
fórum civil e o fórum penal para o combate do crime de subtracção
de menor. 9.1. Articulação entre o tribunal de família e menores
com outros sectores.

I ntrodução

Parece-nos correcto considerar que, bastaria a qualificação ju-


rídica dos factos imputados única e exclusivamente ao progenitor que
subtrai a criança do casal, para sustentar que existem indícios para a
responsabilização criminal na prática do crime de subtracção de menor,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 827

do artigo 241.º do CP. A letra do artigo 241.º do CP deve ser interpretada


em articulado com as disposições previstas nos 1733.º e ss, mercê da
relação familiar entre o arguido e a vítima.
A criança subtraída por um dos pais não é realmente livre, está
em risco. A eficácia com que o sistema reage ao crime de subtracção e
os mecanismos jurídicos de que dispõe para obstar a consumação do
perigo2, estão longe do alcance das normas do direito penal, cujo princí-
pio da intervenção mínima propugna uma intervenção de ultima ratio 3.
Sendo assim, subjacente à escolha do tema encontra-se a tentativa
de reflexão sobre a possibilidade de introdução de outros mecanismos
legais de tutela mais efectivos, susceptíveis de serem utilizados em rela-
ção ao progenitor incumpridor das decisões dos tribunais. Dessa forma,
será possível encontrar, esperamos, respostas legais mais especializadas
e mais proveitosas para melhor se alcançarem resultados concordantes
com os direitos fundamentais, concedendo a protecção devida à criança,
eliminando a sua vitimização recorrente e prevenindo a conduta ilícita
praticada por um dos progenitores.
No que diz respeito à metodologia, desenvolve-se uma pesquisa
quantitativa e qualitativa, a partir de estudos bibliográfico de lições dou-
trinárias, associada as decisões jurisprudenciais e dos dados estatísticos
oficiais de Macau e de Portugal. As propostas de solução terão por refe-
rencia os ordenamentos jurídicos de Macau e Portugal.

1. Crime de subtracção de menor

1.1 Enquadramento:

O crime de subtracção de menor é essencialmente familiar, de raiz


patriarcal, e está tipificado no artigo 241.º do CP de Macau4. O preceito consagra

2
OLIVEIRA, Fernando António Rodrigues da Silva Coutinho. Breves conside-
rações a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana, Porto: Univer-
sidade do Porto, 2014, pp. 13-14, disponível em: https://repositorio-aberto.
up.pt/bitstream/10216/68997/2/24817.pdf. Acesso a 06/05/2023.
3
BELEZA, Teresa Pizarro. Direito Penal, Lisboa: AAFDL, vol. I, 2010. p. 35.
4
Artigo 241.º do CP de Macau: Quem a) subtrair menor, b) se recusar a en-
tregar menor, ou c) por meio de violência ou de ameaça com mal importante
determinar o menor a fugir à pessoa que sobre ele exercer poder paternal ou

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
828 | Coutinho, Ofélia.

três formas de subtracção5, nomeadamente: a) subtracção simples, ou seja,


separar fisicamente o menor da esfera jurídica de um progenitor; b) subtracção
com violência ou ameaça com mal importante que consiste por exemplo em
ameaçar/instigar, manipular ou coagir o menor a fugir de casa); c) a recusa
de entrega de menor quando devida (a tónica criminosa é a recusa sem justa
causa, não se abrangendo as condutas de atraso na entrega da criança).
O agente pode ser qualquer pessoa, pai/mãe que não detêm a
guarda da criança, os progenitores quem detém a guarda ou um terceiro,
tal como refere a al. a) do n.º 1 do artigo 241.º do CP de Macau. Trata-se,
por isso, de um crime comum6.
A vítima no processo penal pode ser pai/mãe visitante ou pai/mãe
guardião, tutor ou instituição, que ocupe essa posição jurídica no âmbito
do acordo/decisão judicial de regulação do exercício do poder parental,
nos termos do artigo 114.º do Regime Educativo de Protecção Social e
Jurisdição de Menores (REPSJM)7 e artigo 1760.º do Código Civil (CC)8.
A conduta pode englobar, assim, comportamentos de crime
aparente de ameaça, se o agente praticar crime contra a liberdade pessoal
da criança, de forma adequada a provocar-lhe medo ou inquietação ou
prejudicar a sua liberdade de autodeterminação, nos termos do artigo
147.º do CP; (crime de coacção, artigo 148.º do CP); (crime de sequestro,
artigo 152.º do CP); (crime de rapto, artigo 154.º do CP), aplicando-se a
norma que estabelecer mais adequada protecção dos valores lesados, ou
seja que estabelecer um tratamento mais severo9.

tutela, ou a quem ele esteja legitimamente confiado é punido com prisão até
3 anos. 2. O procedimento penal depende de queixa.
5
HENRIQUES, Manuel Leal. Anotação e Comentário ao Código Penal de Ma-
cau, Parte Especial, Macau: Centro de Formação Jurídica e Judiciária, vol. V,
2017, pp. 67 e ss.
6
LOPES, Joana Sachse Cardoso. Do crime de subtracção de menor, evolução
legal e reflexões críticas, Porto: Universidade Católica Portuguesa, 2011, p.
24, disponível em: https://repositorio.ucp.pt. A cesso a 20/10/2022.
7
Artigo 114.º do RESPJM: homologação do Acordo sobre o exercício do poder
paternal (..).
8
Artigo 1760.º do CC: Exercício do poder paternal, nos casos de divórcio liti-
gioso ou anulação do casamento.
9
GONÇALVES, Maia M. Código Penal Português, Anotado e Comentado e Le-
gislação Complementar, Coimbra: Almedina, 1995, p. 809.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 829

Em Portugal por exemplo, não é qualquer incumprimento do exer-


cício do poder parental que permite a imputação do crime de subtracção
de menor, embora se valorizem os atrasos/dificuldades na entrega do
menor, a conduta repetida, injustificada e grave, nos termos consagrados
no artigo 249.º, n.º 1 al. c) do CP Português.
No Brasil, a subtracção de incapaz encontra outras formas de
tutela à luz do artigo 249.º do CP brasileiro10. Se a subtracção possui fina-
lidade específica de colocação em lar substituto, há lugar à condenação,
podendo ser imposta pena mais severa ao agressor, nos termos do artigo
237.º do Estatuto da Criança e Adolescente (ECA)11. Se o progenitor, tutor
ou curador com pátrio poder, subtrair o menor ao outro pai, fica isento
de culpa, justificando-se assim os comportamentos para autotutela do
direito, uma vez que pode ser concedido o perdão judicial, nos termos
do artigo 107.º, IX do CP brasileiro.

1.2 Elementos do crime

No crime de subtração de menor, é estabelecida uma dupla pro-


tecção12, por um lado, o interesse do próprio menor e a sua opinião13, e
por outro, em favor desta, integram o convívio e a protecção activa da
criança pelos dois pais14. O elemento objectivo é o conhecimento e a
vontade em realizar o facto típico. O objecto da acção é sempre, tal como

10
Artigo 237.º do ECA: Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem
sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação
em lar substituto: Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.
11
Artigo 107.º, IX do CP brasileiro: extinção da punibilidade, pelo perdão judi-
cial, nos casos previstos em lei.
12
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, 1062/15.1GEALM.L1-9, de 21-
04-2022, disponível em: http://www.dgsi.pt. Acesso a: 21/11/2022.
13
CARVALHO, Américo Taipa de. Direito Penal, Parte Geral-Questões Funda-
mentais Teoria Geral do Crime, Coimbra: Editora Coimbra, 2008, p. 277.
14
MARQUES, Nuno Miguel Dias Curado, Subtração de menores quando o progenitor
é o criminoso, Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna, 2017,
p. 21, disponível em: https://comum.rcaap.pt/bitstream/10400.26/24846/1/
Dissertacao_Nuno_Marques.pdf. Acesso a 16/05/2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
830 | Coutinho, Ofélia.

resulta do artigo 241-º, menor de 18 anos de idade. Os meios de actuação


do raptor são: a recusa/dificuldades na entrega da crença15.
O bem jurídico protegido é o direito ao exercício sem entraves
ilícitos dos conteúdos ínsitos às responsabilidades parentais16, os quais
integram o convívio e a protecção activa da criança por ambos os pais,
no interesse deste17, lidos em conjugado com os artigos 1733.º e ss. do
CC18, cujo respeito a norma penal visa garantir19.

1.3 Natureza jurídica

O crime diz-se de execução vinculada, específico e de resultado.


Pode ser praticado por acção ou omissão, por força da extensão do artigo
9.º do CP. O ilícito, em qualquer das vertentes do artigo 241.º, n.º 1 do
CP reveste sempre natureza semipública20. Para que o Ministério Públi-
co possa promover o processo, o titular dos interesses especialmente

15
SANTOS, André Teixeira dos. Do crime de subtracção de menor Nas-Novas”
Realidades Familiares, Lisboa: Julgar N.º 12 (especial) – 2010, pp. 233-235,
disponível em: https://julgar.pt/wp-content/uploads/2015/10/221-252-Cri-
me-de-subtrac%C3%A7%C3%A3o-de-menor.pdf. Acesso a 16/05/2023.
16
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, Processo n.º 866/15.0PELSB.L1-5,
de 07-02-2017, disponível em: http://www.dgsi.pt. Acesso em: 21/11/2022.
Vide também, ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de. Comentário do Código Penal
à luz das Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos do
Homem, Lisboa, Universidade Católica, 2ª ed, 2010, p. 485.
17
J. M. DAMIÃO Cunha, in FIGUEIREDO DIAS (dir.). Comentário Conimbricen-
se do Código Penal, Coimbra: Editora Coimbra, Tomo II, 1999, p. 614.
18
Artigos 1733.º e ss. do CC: exercício do poder paternal.
19
LEITE, André Lamas, O Crime de Subtracção de Menor - Uma Leitura do
Reformado Art. 249º do Código Penal, Lisboa: Julgar, n.º 7, Janeiro-Abril,
2009, p. 119. ver também, NEVES, José Francisco Moreira das, Violência
Doméstica – Bem jurídico e boas práticas, Revista do CEJ, XIII ed. pp. 43-62,
2010. ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de. Comentário do Código Penal à luz da
Constituição da República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem,
Lisboa: Editora Universidade Católica, 2015, p. 591.
20
LEAL, Ana Teresa. A Tutela Penal nas Responsabilidades Parentais- O Crime
de Subtracção de Menor, Portugal: DataVenia, ISSN 2182-6242 Ano 2, N.º 03,
Fevereiro, 2015, p. 421,, disponível em: https://www.datavenia.pt. Acesso a
21/11/2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 831

protegidos21, deve apresentar queixa conforme subscrevem os artigos


241.º, n.º 2 e 193.º ambos do CP, sob pena desse direito se extinguir no
prazo de 6 meses, contados a partir da data em que o ofendido tiver tido
conhecimento do facto, conforme o disposto no artigo 38.º, do CPP. O
arguido é punido dentro da moldura abstracta até 3 anos de prisão, tal
como prescreve a al. c) do n.º 1, do artigo 241.º do CP. Não obstante, a
intenção do legislador terá sido a de criar um regime especial de atenua-
ção da pena22, por isso, a mera tentativa de subtracção não é punível, tal
como subscreve o artigo 22.º, n.º 1, do CP.

2. D ados E statísticos sobre a subtracção de menor em M acu e


P ortugal

Dos dados colhidos constatamos que, a Autoridade Central da


RAEM, (Instituto de Acção Social) prestou assistência em 4 casos de
subtracção de menor de 2002 a maio de 2009 e 2011, envolvendo des-
locações para Franca (1 caso); Alemanha (1 caso); Austrália (1 caso)23
e, Canada (2 casos)24.

21
GASPAR, António Henriques; CABRAL, José António Henriques dos San-
tos; COSTA, Eduardo Maia; MENDES, António Jorge de Oliveira; MADEIRA,
António Pereira; GRAÇA, António Pires Henriques da. Código de Processo
Penal Português Comentado, Coimbra: Almedina, 2014., p. 183. Ver também,
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Português- As Consequências Jurídi-
cas do Crime, Coimbra: Editora, Coimbra, pp. 664 – 665, 1993.
22
HENRIQUES, Manuel Leal, Anotação e Comentário ao Código Penal de Ma-
cau, Macau: Centro de Formação Jurídica e Judiciária, vol. I, 2018, p. 321.
23
Convention on the Rights of the Child, Consideration of reports submitted by
States parties under article 44 of the Convention Second periodic reports of
States parties due in 2009, Macau, China, [16 July 2010], pp. 13-14. “The Ha-
gue Convention on the Civil Aspects of International Child Abduction of 25
October 1980 is applicable to the MSAR. Being the Central Authority for the
MSAR, the SWB provided assistance in 3 cases from 2002 until May 2009”,
disponivel em: https://www.ias.gov.mo. Acesso a 11/10/2022.
24
Response of the Government of the Macao Special Administrative Region to
the List of Issues of the Committee on the Rights of the Child of 7 February
2013 (CRC/C/CHN/Q/3-4). In Connection with the Combined 3rd and 4th Re-
ports on the Convention on the Rights of the Child and the Optional Protocol
to the Convention on the Rights of the Child on the Sale of Children, Child
Prostitution and Child Pornography Submitted by the People’s Republic of Chi-
na, 2013, p. 43, disponivel em: https://www.ias.gov.mo. Acesso a 11/10/2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
832 | Coutinho, Ofélia.

Desde logo, é possível inferir que a tendência para a prática do


crime de subtracção de menor na RAEM, é, apesar de tudo, decrescente.
Verifica-se, também, que se mantém estável a proporção entre número
de crimes registados e o número de condenados.

N.º crimes Ano

Tipo de crime Tipo de crime Tipo de crime


2002 2003 2004 2011
(Nível 1) (Nível 2) (Nível 3)

CP) Contra a
Subtracção de
vida em socie- Contra a família 1 - 2 2
menores
dade

Perante a escassez de informação actualizada sobre o problema


em Macau, os dados que se seguem foram extraídos das estatísticas por-
tuguesas dos crimes registados pelas autoridades policiais, por crime de
subtração de menor, nos anos de 2019 a 2021.
Num olhar mais detalhado, os processos crime em fase de jul-
gamento findos nos tribunais judiciais de 1ª instância, por crime de
subtração de menores, nos anos de 2018 a 2020 abordam as seguintes
categorias de dados:
-Arguidos em processo-crime em fase de julgamento findos nos
tribunais judiciais de 1ª instância, por crime de subtração de menores,
nos anos de 2018 a 2020;
-Condenados em processo-crime em fase de julgamento findos
nos tribunais judiciais de 1ª instância, por crime de subtração de menores,
nos anos de 2018 a 2020;
-Duração média dos processos-crime em fase de julgamento
findos nos tribunais judiciais de 1ª instância, por crime de subtração de
menores, nos anos de 2018 a 202025.

25
Direcção Geral de Política de Justiça, inf. N.º 118/DSEJI/21/09/2022: Notas me-
todológicas: a) a contabilização dos processos tem em conta o crime mais grave;
b) não são contabilizados os processos transitados, apensados, incorporados ou
integrados, remetidos a outra entidade e os processos com termo “NE” e mo-
dalidade do termo; c) os dados estatísticos sobre processos nos tribunais judi-
ciais de 1.ª instância são recolhidos a partir do sistema informático dos tribunais

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 833

A subtracçção de menor, representa em Portugal um número


muito superior em relação à RAEM. O quadro abaixo reflete os números
registado de crimes de subtracção de menor, nos tribunais judiciais de 1ª
instância, que compreende, a subtracção simples com ameaça/violência
e recusa na entrega da criança.
Da análise dos dados é possível verificar uma ligeira redução de
crimes registados pelas autoridades policiais, por crime de subtracção de
menor sem alterar, contudo, a tendência geral.

N.º crimes Ano


Tipo de crime Tipo de crime Tipo de crime
2021 2020 2019
(nível 1) (nível 2) (nível 3)
(CP) Contra
Contra a Subtracção de
a vida em 385 394 400
família menores
sociedade

Tabela 1. Crimes registados pelas autoridades policiais, por crime de subtração de


menores, nos anos de 2019 a 2021

O quadro seguinte releva, numa óptica de percepção da reacção


por parte do sistema judicial dos processos-crime na fase de julgamento
nos tribunais judiciais de 1ª instância. É possível inferir que houve uma
ligeira subida de 2018 a 2019 e uma tendência decrescente de 2019 a 2020,
os números de processos registados por crime de subtracção de menor.

N.º processo Ano


Tipo de crime Tipo de crime Tipo de crime
2020 2019 2018
(nível 1) (nível 2) (nível 3)
(CP) Contra
Contra a Subtracção de
a vida em 17 29 27
família menores
sociedade

Tabela 2. Processos crime em fase de julgamento findos nos tribunais judiciais de


1ª instância, por crime de subtração de menores, nos anos de 2018 a 2020

representando a situação dos processos registados nesse sistema. Data da última


actualização: 29.10.2021, disponível em: https//estatísticas.justica.gov.pt/sites/
site/pt-pt/paginas/default.aspx. [email protected]. Acesso a 16/10/2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
834 | Coutinho, Ofélia.

É possível percepcionar, que muitos crimes registados não che-


gam à fase de julgamento.

N.º Arguidos Ano

Tipo de crime Tipo de crime Tipo de crime


2020 2019 2018
(nível 1) (nível 2) (nível 3)

(CP) Contra
Contra a Subtracção de
a vida em 17 29 27
família menores
sociedade

Tabela 3. Arguidos em processos-crime em fase de julgamento findos nos tribunais


de 1ª instância, por crime de subtração de menores, nos anos de 2018 a 2020

No que se reporta a condenação em processo-crime em fase de


julgamento findos nos tribunais de 1.ª instância, em 2018, foram conde-
nados 14 arguidos, em 2019, 15 arguidos e, em 2020, 12 arguidos.

N.º condenados Ano

Tipo de crime Tipo de crime Tipo de crime


2020 2019 2018
(nível 1) (nível 2) (nível 3)

(CP) Contra
Contra a Subtracção de
a vida em 12 15 14
família menores
sociedade

Tabela 4. Condenados em processos crime em fase de julgamento findos nos tribu-


nais de 1ª instância, por crime de subtração de menores, nos anos de 2018 a 2020

Relativamente às penas aplicadas pelo crime de subtracção de


menor, prevalecem em grande medida, penas de suspensão com regime
de prova, com sujeição à observância de condutas ou deveres. Esta penas
representam cerca de 10 das penas aplicadas em 2018, cerca de 13 das
penas aplicadas em 2019 e cerca de 13 das penas aplicadas em 2020.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 835

Duração
média Ano
(em meses)

Tipo de crime Tipo de crime Tipo de crime


2020 2019 2018
(nível 1) (nível 2) (nível 3)

(CP) Contra
Contra a Subtracção de
a vida em 13 13 10
família menores
sociedade
Duração média (em meses) dos processos crime em fase de julgamento findos
nos tribunais judiciais de 1ª instância, por crime de subtração de menores, nos
anos de 2018 a 2020

Os números percorridos demostram uma realidade gritante sobre


a qual importa intervir. É possível, por um lado, percecionar que o número
de crimes registados é claramente inferior ao número das condenações.
Em processos findos foram constituídos arguidos por crime de subtrac-
ção de menor, no ano de 2021, 385 pessoas, 394 pessoas em 2020 e 400
pessoas em 2019. Foram condenados, em 2020, 12 arguidos. Em 2019,
foram condenados 15, em 2018, 14 arguidos.
A preocupação acresce relativamente às condenações por crime
de subtracção de menor, insinuando-se a insuficiência/desadequação
do contexto penal, como adequada em termos de prevenção geral. As
penas aplicadas neste âmbito, são em grande medida, penas suspensas,
com regime de prova.
O juiz, e o Ministério Público na fase do inquérito em processo
penal, apesar de procederem à análise de todos os indícios ou meios de
prova que os possam suportar, constatam frequentemente a ausência de
provas directas, havendo que conjugar todos os indícios, circunstâncias,
para se obter conclusões seguras e sólidas. Não podemos olvidar que na
apreciação da prova dos factos o juiz aprecia segundo as regras da expe-
riência e a livre convicção, conforme o preceituado no artigo 114.º do CPP.
Face ao acervo probatório é necessário que o tribunal expresse o modo
como alcançou essa convicção quanto à autoria dos factos, procedendo
à indicação dos fundamentos, motivos ou razões que foram decisivos
no processo decisório. Sendo comprovados os indícios em julgamento,
demonstrada a culpabilidade do arguido, decreta-se a sua condenação.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
836 | Coutinho, Ofélia.

Há subtracções que são difíceis de provar, nomeadamente nos


casos em que não se mostra verificada a existência de qualquer incum-
primento por falta de participação do progenitor (non facere). O tribunal
não considera verificado qualquer facto que não esteja acompanhado do
respetivo acervo probatório. Quando não haja fixação do exercício do
poder paternal, através de um acordo homologado/decisão judicial, o
artigo 241.º do CP/M o crime em causa não tem aplicação ao progenitor da
criança subtraída. Outra questão relaciona-se com as queixas/denúncias
que, como verificamos, são muito maiores do que as condenações. Há
um inflacionar do número de inquéritos crime em processo penal que
pode estar relacionada com a desistência do processo, eventualmente
resultante de um acordo posterior entre os progenitores.
Pelas particularidades do delito, em sede de audiência, discussão
e julgamento, muitos arguidos acabam condenados a pena suspensa,
nos termos do artigo 263.º do CPP. A sentença judicial, não obstante,
a sua característica de acto de autoridade, é também susceptível de ser
interpretada em harmonia com as boas regras da hermenêutica. Todas
as circunstâncias atenuantes/agravantes que fazem parte do tipo são
determinadas dentro da moldura penal abstracta, conforme prevê os
artigos 65.º e 66.º do CPP.
Neste domínio, e tal como mostram os dados, o tribunal pode sus-
pender a execução da pena de prisão em medida não superior a 3 anos, nos
termos preceituados no artigo 48.º do CPP. Bem explica a doutrina, que a
pena do crime de subtração ainda suscita questões ao nível da própria inves-
tigação ou de afastamento do perigo de repetição da conduta26. Condenar
um progenitor por subtração do filho parece ser considerado uma realidade
distante, vez que, o direito penal deve ser a última ratio da intervenção esta-
dual, qualquer punição é no âmbito civil parece, neste caso, ter prevalência.
Para atenuar o risco da subtracção, os tribunais de família e menores devem,
pois, implementar medidas mais progressivas e restritivas de modo a pre-
venir uma recusa em incumprimento das obrigações parentais, por um dos
pais. A par da perseguição penal dos arguidos, podem adoptar-se resposta
céleres buscando evitar a subtracção, a reincidência a vitimização recorrente.

26
SANTOS, André Teixeira dos. Do Crime de Subtracção de Menor Nas “Novas-
-Realidades Familiares, ob. Cit, p. 227.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 837

3. D ignidade da pessoa humana

As lutas pela dignidade da pessoa humana começam com a De-


claração Universal dos Direitos Humanos de 1948, nos termos do artigo
1.º, todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direi-
tos27. Encontramos disposição semelhante no artigo 30.º da Lei Básica da
RAEM, no qual arrancam tanto os direitos, liberdades e garantias como os
direitos económicos, sociais e culturais28. Facilmente podemos atestar que
a concepção da dignidade da pessoa humana29 tem uma ligação umbilical
com a liberdade e a igualdade-30.
O alarme social que tem revestido alguma importância gravita
no conteúdo que para nós todos constitui o que é proibido31, aquele cuja
violação arranham a liberdade e igualdade, cuja observância vinculada
é imprescindível no Estado Democrático32. Um perigoso assalto à dig-

27
Artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada e procla-
mada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10
de dezembro 1948.
28
MIRANDA, Jorge. Valores permanentes da Constituição portuguesa, Alme-
dina: Julgar, N.º 29, 2016, p. 44, disponível em: http://julgar.pt/wp-content/
uploads/2016/05/JULGAR-36-03-JM.pdf, acesso a 06/05/2023.
29
BOTELHO, Catarina Santos. A Tutela Directa dos Direitos Fundamentais –
Avanços e Recuos na Dinâmica Garantística das Justiças Constitucional, Admi-
nistrativa e Internacional, Almedina: Coimbra, 2010, pp. 96-97.
30
BOTELHO, Catarina Santos, A dignidade da pessoa humana – Direito subjec-
tivo ou princípio axial?, Universidade Portucalense, Revista Jurídica Portuca-
lense / Portucalense Law Journal, N.º 21, ISSN-e: 2183-5705 (21), 2017, 274,
doi: http://dex.doi.org/10.21788/, https://revistas.rcaap.pt/juridica/issue/
view/752. Acesso a 06/05/2023.
31
OLIVEIRA, Fernando António Rodrigues da Silva Coutinho. Breves con-
siderações a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana, Porto:
Universidade do Porto, 2014, p. 12, https://repositorio-aberto.up.pt/bits-
tream/10216/68997/2/24817.pdf. Acesso a 12/05/2023.
32
LUCA, Luiz Gustavo Canuto de. Lei Maria da Penha aplicada para proteger
homens: Um estudo jurisprudencial sob a perspectiva do princípio consti-
tucional de igualdade entre homens e mulheres, Universidade do Extremo
Sul Catarinense – UNESC, 2011, p. 47, http://repositorio.unesc.net/bits-
tream/1/429/1/Luiz%20Gustavo%20Canuto%20de%20Luca.pdf.. Acesso a
13/05/2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
838 | Coutinho, Ofélia.

nidade humana que impedem a realização das pessoas33. Porque aqui se


percebe que a criança está em perigo constante de violação do direito
dos seus direitos fundamentais34. A dignidade da pessoa humana, pro-
cura proteger, não somente o direito de a criança receber o amor dos
dois pais, mas também, a igualdade, a liberdade, a igualdade e os demais
direitos das pessoas35, previstos nos artigos 28.º e 38.º da Lei Básica. Os
benefícios decorrentes de se evitar a dor, devem ser garantidos pelas
ordens jurídicas democráticas36. A eficácia com que o sistema reage
ao crime de subtracção e os mecanismos jurídicos de que dispõe para
obstar a consumação do perigo37, estão longe do alcance das normas do
direito penal. As soluções legais e jurisprudenciais para determinados
comportamentos, que são absolutamente condenáveis e ilícitos38, tem
um limite mínimo de condições reais na ratio do artigo 241.º do CP, lidas
e interpretada em estreita articulação com as disposições da lei civil,
dos artigos 1733.º e ss39. No fim de contas, o nosso pensamento está de
acordo que, não é realmente livre o menor que não tem acesso ao outro

33
CAETANO, João Relvão, A harmonização de Direitos no Direito Europeu, Lis-
boa: Universidade Aberta, 2007, pp. 149.
34
SANTOS, Hugo Luz dos e WEI, Wang, A privacidade da temática e a pri-
vacidade espacial nos casinos da Região Administrativa Especial de Macau:
Algumas notas à luz do conceito de “Ambiente Inteligente”, Administração,
vol. XXIX, n.º 114, 4.ª ed, pp. 239-262, 2016, p. 246, disponível em: https://
www.safp.gov.mo,. Acesso a 18/05/2023.
35
OLIVEIRA, Fernando António Rodrigues da Silva Coutinho, Breves conside-
rações a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana, ob. Cit, p. 15.
36
OLIVEIRA, Fernando António Rodrigues da Silva Coutinho, Breves conside-
rações a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana, ob. Cit, p. 16.
37
OLIVEIRA, Fernando António Rodrigues da Silva Coutinho, Breves consi-
derações a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana, ob. Cit,
pp. 13-14.
38
OLIVEIRA, Fernando António Rodrigues da Silva Coutinho, Breves consi-
derações a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana, ob. Cit,
pp. 13-14.
39
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, Processo n.º 41/19.4PCOER.
L1-3, de 13-07-2022, disponível em: http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182f-
c732316039802565fa00497eec/67e701ed62ec4734802588e20048d-
f76?OpenDocument. Acesso a 12/05/2023.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 839

pai40. Esta perpectiva leva-nos a concordar que em Macau, os direitos


fundamentais terão que ser encarados de forma extremamente séria e
com os olhos postos no futuro41. Assinala-se nesse âmbito, como recor-
dável, uma investigação criminal mais activa, tomadas em conexão com
o processo penal, por exemplo à suspensão da pena, mas, que utilizem
prevalentemente as medidas de natureza civil, para atenuar os riscos de
continuação da actividade criminosa e reduzir as vitimizações.

4. A vítima em Processo Penal

É considerada vítima de um delito a pessoa que tenha injusta-


mente sofrido de um mal42, à sua integridade física ou psíquica, um dano
emocional ou moral, ou uma perda material, causado por outra pessoa. Ao
mesmo tempo deparamo-nos com as vítimas especialmente vulneráveis
em razão da sua idade, suscetíveis de acentuar a sua fragilidade face à
subtracção, como referem os artigos 111.º e ss do CC43.
Desde logo, a vítima deve constituir-se assistente, de acordo
com o artigo 57.º do CPP, desde que maior de 16 anos. Infelizmente,
em Macau não existe disposição explicita na Lei Básica que define a
figura de assistente, contudo, aproveitamos as disposições do artigo 36.º,
onde se lê: os residentes de Macau têm o direito de intervir no proces-
so contra os actos dos serviços do argão executivo e do seu pessoal”,
desde que representado pelo seu advogado, nos termos do artigo 59.º
do CPP. Assim, a vítima pode prestar queixa, nos termos do n.º 1 do
artigo 105.º do CP; intentar um pedido de indeminização pelos danos
sofrido, em conformidade com o artigo 60.º e ss do CPP; colaborar com

40
OLIVEIRA, Fernando António Rodrigues da Silva Coutinho, Breves conside-
rações a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana, ob. Cit, p. 16.
41
CARDINAL, Paulo, Estudos de Direitos Fundamentais: No contexto da Jus-
macau, Macau, Editora Fundação Rui Cunha, ISBN, 978-999965-761-2-6,
2015, p. 37.
42
ROBALO, Teresa Lancry de G. de A. e S, O Estatuto das Vítimas de Crimes e o
Princípio da Presunção de Vitimização, Macau: Universidade de Macau, 2017,
p. 24, disponível em: https://webmail.um.edu.mo/. Acesso a 06/05/2023.
43
ROBALO, Teresa Lancry de G. de A. e S, O Estatuto das Vítimas de Crimes e o
Princípio da Presunção de Vitimização, Universidade de Macau, ob. Cit, p. 26.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
840 | Coutinho, Ofélia.

o Ministério Público para a descoberta da verdade material, de acordo


com o n.º 2 do artigo 58.º do CPP; acusar independentemente da do
Ministério Público por factos diversos dos levado à acusação pública ou
abster-se de a deduzir, como consagra o artigo 58.º, n.º 2, al. b) e artigos
266.º do CPP. A mesma possibilidade é conferida ao incapaz na al. d)
do artigo 57.º do CPP, carecendo de um representante legal44. Na sua
falta, sendo o ofendido ser menor, às pessoas e instituições previstas
no Decreto-Lei n.º 65/99/M, de 25 de Outubro, REPSJM e disposições
do artigo 111.º e ss, artigos 1736.º, 1732.º e ss do CC, poder paternal, e
subsidiariamente, pela tutela. O legislador pretendeu dar voz à vítima
de se fazer valer dos direitos e participar no processo penal45. A prova
disso é o disposto no n.º 2 do artigo 57.º do CPP. Parece-nos correcto
considerar que, a subtracção carece da consagração no REPSJM, o
Esttuto da Vítima46, por forma a que os direitos fundamentais da víti-
ma47estejam devidamente protegidos. Sendo certo que, nesta matéria,
as vítimas podem ser protegidas contra a vitimização secundária e re-
petida, e beneficiar de apoio adequado para facilitar a sua recuperação
e de acesso suficiente à justiça48.

44
Magistrados do Ministério Público do Distrito Judicial do Porto. Código de
Processo Penal Comentários e Notas Práticas, Coimbra: Editora Coimbra,
2009, p. 181.
45
SILVA, Madalena Barreiros Henriques, Protecção da vítima no processo penal-
-Análise crítica da evolução do estatuto processual da vítima, Lisboa: Univer-
sidade de Lisboa, 2020, p.19, disponível em: https://repositorio.ul.pt/bits-
tream/10451/49617/1/ulfd0148994_tese.pdf. Acesso a 06/06/2023.
46
LEITE, Inês Ferreira. Violência doméstica e violência interpessoal: contribu-
tos sob a perspetiva do Direito para a racionalização dos meios de prevenção
e protecção, Anatomia do Crime. Revista de Ciências Jurídico-Criminais, n.º
10, pp. 31-68, 2019, p. 44, disponível em: https://www.academia.edu/. Aces-
so a 06/05/2023.
47
SILVA, Madalena Barreiros Henriques. Protecção da vítima no processo
penal-Análise crítica da evolução do estatuto processual da vítima, Lisboa:
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, 2020, p.19, disponível em:
https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/49617/1/ulfd0148994_tese.pdf.
Acesso a 06/06/2023.
48
Diretiva 2012/29/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de Outu-
bro de 2012, JO L 328 de 15.12.2009, (nota 43), p. 42.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 841

4.1. A Vítima vulnerável

Têm sido profusos os instrumentos lavrados sobre esta ma-


téria, vocacionados para a protecção da vítima vulnerável49. Convêm
lembrar o artigo 1.º do DUDH, o qual se reconhece esse direito50. Ao
lado deste instrumento, temos o Pacto Internacional de 1966 sobre
os Direitos Civis e Políticos e sobre os Direitos Económicos, Sociais e
Culturais e a Convenção das Nações Unidas de 1989 sobre os Direitos
da Criança. É possível perceber ao longo do texto da Convenção sobre
os Direitos, os direitos à sobrevivência e desenvolvimento harmonioso
(artigo 6.º); a protecção da identidade (artigo 8.º); à não separação
dos seus pais, salvo se tal for considerado necessário para assegurar o
seu superior interesse (artigo 9.º); a exprimir livremente a sua opinião
sobre questões que lhe digam respeito, desde que lhe seja reconhecida
capacidade de discernimento (artigo 12.º); a protecção da vida privada
(artigo 16.º); a proteção contra maus-tratos e negligência (artigo 19.º);
a protecção quando privada de ambiente familiar (artigo 20.º); a saúde
e ao acesso a serviços médicos (artigo 24.º); a revisão periódica de
medida de colocação em instituição (artigo 25.º); e, a sua recuperação
quando vítima de maus-tratos e negligência (artigo 39.º)51. No âmbito
nacional constitucional e processual, importa atender ao artigo 25.º da
Lei Básica; artigo 57.º do CPP, legitimidade para se constituir assistente;
artigo 58.º do CPP, posição processual do assistente; artigo 59.º do CPP,
representação judiciária do assistente; artigo 64.º, dever de informação;
artigo 327.º do CPP, declarações do assistente. Reconhece-se também
nos artigos 28.º e 38.º da Lei Básica, o direito a liberdade e ao amparo.
Na Lei n.º 2/2016/M, Lei de prevenção e combate à violência doméstica
e no direito Civil, o Decreto-Lei n.º 65/99/M, de 25 de Outubro, que
regula o regime de jurisdição de menores (REPSJM).

49
LEITE, Ana Raquel Gomes, A tutela processual penal do menor “vítima” de
violência doméstica. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual,
CEJ, ISBN 978-972-9122-98-9, 1.ª ed. 2021, p. 13.
50
Artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptada e procla-
mada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (resolução 217 A III) em 10
de dezembro 1948.
51
Convenção das Nações Unidas de 1989 sobre os Direitos da Criança.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
842 | Coutinho, Ofélia.

Reconhece-se ainda que as crianças também são vítimas deste tipo


de violência, nomeadamente, enquanto testemunhas de comportamentos
violentos praticados no seio da família52, cujo abuso emocional pode ser
tão prejudicial quanto a violência puramente física53. A criança corre, pois,
o risco de vitimação directa ou vitimacão indirecta, onde fica num canto
a ouvir gritos ou uma multiplicidade de situações a que esta sujeita54, que
a aterroriza, a oprime, a força a viver em ambientes hostis e perigosos e
expõe a modelos negativos e violentos55, praticados no seio da família56.
A conduta do pai agressor agrava-se por praticar. o facto contra menor,
na presença de menor, no domicílio comum ou no domicílio da vítima57.
A vítima vulnerável beneficia de um tratamento específico58, que
passa pela prestação de consentimento para prestar depoimento, tendo
em conta a sua idade e maturidade59, nos termos do artigo 14.º do Lei n.º

52
LEITE, Ana Raquel Gomes. A tutela processual penal do menor “vítima” de
violência doméstica. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual,
ob. Cit, p. 13.
53
MIRANDA, Francisco Javier Forcada. Subtracção internacional de meno-
res: excepção ao retorno e violência intrafamiliar, Almedina: Julgar, N.º
37, p. 77-96, 2019, p. 86, disponível em: http://julgar.pt/wp-content/
uploads/2019/01/JULGAR37-05-FM.pdf. Acesso a 06/05/2023.
54
SANI, Ana Isabel, Vitimação indirecta de crianças em contexto familiar, Aná-
lise Social, vol. XLI (180), pp. 849-864, 2006, p. 850, disponível em: http://
analisesocial.ics.ul.pt/documentos/1218722582J2vZM0qb0Xf05ZG5.pdf.
Acesso a 05/05/2023. Ver também, PAULINO, Mauro, “Violência doméstica –
impacto na estabilidade emocional das crianças acolhidas conjuntamente com
familiar(es) em casa de abrigo”, “Prevenir ou Promover – uma solução para cada
criança”, 2018, disponível em: https://www.justicatv.com/2018/arquivo.
php?cat=970. Acesso a 15/05/2023.
55
LEITE, Ana Raquel Gomes, A tutela processual penal do menor “vítima” de
violência doméstica. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual, ob.
Cit, p. 16.
56
LEITE, Ana Raquel Gomes, A tutela processual penal do menor “vítima” de
violência doméstica. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual, ob.
Cit, p. 13.
57
N.º 2 do artigo 67.ºA do CPP português.
58
LEITE, Ana Raquel Gomes, A tutela processual penal do menor “vítima” de
violência doméstica. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual, ob.
Cit, p. 18.
59
BORJA, Letícia Lopes, MENESES, Isabel Rodrigues de, MATEUS, Júlia Vitória
da Silva Cavalcante, CLEMENTINO, Marco Bruno Miranda, O direito de voz

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 843

2/2016/M, sem prejuízo do disposto no CPP, que garante o contraditório


em processo penal. Podíamos, nestes termos recorrer pela prova testemu-
nhal nos termos dos artigos 115.º, artigos 131.º e 327.º do CPP, contudo,
quando a vítima corre o risco de, por exemplo de sofrer novas vitimações,
pode ser dispensada de depor como testemunha, como prevê o artigo
121.º do CPP e n.º 3, al. 3) do artigo 14.º da Lei. Neste caso, a investigação
do mesmo depara-se com obstáculos ao nível da aquisição de prova60.
Sem, contudo, subestimar a força probatória de outros meios de prova
do artigo 112.º do CPP, a prova pericial (artigos 139.º e ss e o n.º 3, al. d)
do artigo 141.º do CPP) é relevante para evitar a vitimização secundária
da criança, evitar abusos e garantir a celeridade do processo,em audiên-
cia de discussão e julgamento, bem como para influenciar na decisão61.
Contudo, é importante evitar o uso de perícias vão para além do escopo
do que se pretende62. A este propósito, o juiz indica o objecto da perícia,
dando instruções que devem ser seguidas, nos termos do artigo 141.º do
CPP. Assim, é possível detectar as situações de risco para a criança, como,
presença de elementos ligados aos maus tratos e violência doméstica,
comportamentos agressivos, vínculos de afectividade, os peritos podem
fornecer pistas específicas e relevantes derivadas da psicologia do teste-
munho, que ajudam a avaliar a fiabilidade deste tipo de relatos63. Quando
é possível obter informações por outros meios (polícia criminal, acção
social), o tribunal decide se essenciais, nos termos do artigo 142.º do CPP.
Finda a perícia, elabora-se um relatório, ao juiz, indicando o impacto físico

das crianças na subtracção internacionalde menores e a emergência de cri-


térios de avaliação, Belo Horizonte: e-Civitas -Revista Científica do Curso de
Direito do UNIBH, vol. XV, número 2022–ISSN: 1984-2716, 1, julhode, 2022,
p. 159, disponível em: https://revistas.unibh.br/dcjpg/article/view/3466/
pdf. Acesso a 17/05/2023.
60
LEITE, Ana Raquel Gomes, A tutela processual penal do menor “vítima” de
violência doméstica. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual, ob.
Cit, p. 18.
61
MIRANDA, Francisco Javier Forcada, Subtracção internacional de menores:
excepção ao retorno e violência intrafamiliar, ob. Cit, p. 90.
62
MIRANDA, Francisco Javier Forcada, Subtracção internacional de menores:
excepção ao retorno e violência intrafamiliar, ob. Cit, p. 90.
63
MIRANDA, Francisco Javier Forcada, Subtracção internacional de menores:
excepção ao retorno e violência intrafamiliar, ob. Cit, p. 90.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
844 | Coutinho, Ofélia.

e psicológico sobre a criança ou que medidas a serem tomadas para atenuar


esse impacto ou ainda propor medidas de protecção à criança, assistentes
sociais, psicólogos, nos termos do artigo 143.º do CPP. Contudo, a prova
pericial fica à livre apreciação do julgador, nos termos dos artigos 149.º
e 114.º do CPP. Sendo certo que o plano do artigo 184.º do CP, (medida
especifica de coacção) não são aplicáveis à subtracção de menores. A
subtracção clama por mecanismos legais de tutela mais progressivos e
restritivos, por exemplo, providenciar formação especifica a determinados
profissionais que possam lidar com estes casos64; juntar a competência
penal e civil numa mesma secção; aumento do valor das indemnizações,
que podem forçar os pais a desencorajar a prática do delito.

4.2. As declarações para memória futura

A prova tem que ser obrigatoriamente produzida em julgamento


(princípio da imediação)65. A imediação parece alargar o âmbito de aplicação
para as declarações para memória futura, às testemunhas especialmente
vulneráveis, com previsão no artigo 27.º da Lei n.º 2/2016/M, sem pre-
juízo do disposto no artigo 253º do CPP - um meio alternativo de reforça
a tutela judicial da vítima66, evitar a vitimização secundária e repetida67 e à
sujeição da vítima a pressões desnecessárias68. A Directiva da PGR 5/2019,

64
ROBALO, Teresa Lancry de G. de A. e S. Breves apontamentos sobre a Lei
n.º 2/2016, Medidas de protecção e medidas de coacção: Direito da Mulher e
da Criança, Macau: Centro de Estudos Jurídicos e Judiciários, pp. 209-222,
2017, pp. 215.
65
HENRIQUES, Manuel Leal. Anotação e Comentário ao Código de Processo
Penal de Macau, artigos 176.º a 361.º, Macau: Centro de Formação Jurídica e
Judiciaria, vol. II, 2014, p. 343.
66
CARVALHO, Inês Santos. A Tutela Processual Penal do Menor «vítima» de
violência doméstica: Enquadramento jurídico, prática e gestão processual,
ISBN 978-972-9122-98-9, CEJ, 1.ª ed. 2021, p. 70, disponível em: https://cej.
justica.gov.pt. Acesso a 13/05/2023.
67
GOUVEIA, Joana Filipa Nunes. Declarações para memória futura. Enqua-
dramento jurídico, prática e gestão processual, CEJ, 978-972-9122-98-9, 1.º
ed. 2019, p. 22, https://cej.justica.gov.pt/LinkClick.aspx?fileticket=PU8Vix-
07g38%3D&portalid=30. Acesso a 13/05/2023.
68
Manual de Actuação Funcional a adotar pelos OPC nas 72 horas subsequen-
tes à apresentação de denúncia por maus-tratos cometidos em contexto de

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 845

de 15/11/2019, Portugal, chama à atenção da obrigatoriedade da tomada


de declarações para memória futura, sempre que haja notícia da existência
de crianças presentes num contexto de violência doméstica e independen-
temente se serem aquelas ou não destinatárias de actos de violência69. Sem
prejuízo do disposto no n.º 1 do artigo 253.º do Código de Processo Penal,
nos termos do n.º 2, o juiz de instrução, a requerimento do Ministério Pú-
blico, do ofendido ou do assistente, pode proceder à inquirição urgente de
testemunhas no decurso do inquérito e da instrução, a fim de que o depoi-
mento possa, se necessário, ser tomado em conta no julgamento, quando
sirva para assegurar a sua espontaneidade ou quando a vulnerabilidade
da testemunha o justifique70. Não podemos deixar de manifestara a nossa
concordância com o legislador português que realiza a tomada as declara-
ções em ambiente informal e reservado, sem constrangimentos, para que
o relato seja recolhido nas melhores condições e a vítima seja protegida71.
Acresce que, é permitida a leitura de declarações para memória futura, se
as declarações tiverem sido tomadas no termos dos artigos, os termos dos
artigos 337º, 253.º e 276.º do CPP. Parece-nos correcto considerar, que
o depoimento da criança para memória futura tenha lugar no mais curto
espaço de tempo, após a ocorrência dos factos ou do seu conhecimento e,
ainda, que não haja suspeito ou arguido constituído72. Não haverá dúvidas
que este procedimento protege a prova que se encontrasse em perigo de
ser perdida e também o direito da vítima e preserva a prova necessária ao

violência doméstica, RCM n.º 139, de 19 de agosto, 2019, p. 25, disponível


em: https://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2020/06/172-20_MA-
NUAL_ATUACAO_FUNCIONAL_Final.pdf. Acesso a 13/05/2023.
69
Directiva da PGR 5/2019, de 15/11/2019, p. 5, disponível em: https://
www.ministeriopublico.pt/sites/default/files/documentos/pdf/diretiva_
num_5_2019.pdf. Acesso a 12/05/2023.
70
Artigo 27.º da Lei n.º 272016/M, Lei de Prevenção e Combate a Violência
Doméstica.
71
CARMO, Rui do, in Declarações para memória futura – Crianças vítimas de cri-
mes contra a liberdade e a autodeterminação sexual, 134, Abril – Junho, Revista
do Ministério Público, 2013, p. 166.
72
CARVALHO, Inês Santos, A Tutela Processual Penal do Menor «vítima» de
violência doméstica: Enquadramento jurídico, prática e gestão processual, ob.
Cit, p. 72.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
846 | Coutinho, Ofélia.

esclarecimento da verdade73. No caso concreto, é necessário ter presente


a especial vulnerabilidade da vítima que foi perturbada d sua integridade
emocional. Assim sendo, as devidas formalidades legais devem ser capaz
de alcançar às vítimas vulneráveis da subtracção.

4.3. Mecanismos de protecção policiais e legais para as vítimas

O direito à segurança figura no elenco dos direitos fundamentais


previsto no artigo 28.º da Lei Básica. A subtracção é um crime que cons-
titui uma ameaça e um risco para a ordem e segurança pública74. É dever
dos órgãos da polícia garantir a protecção desses direitos75, nas vertentes
processual-penal, e a um conjunto de atitudes que permitam melhorar o
estado de sofrimento das vítimas, em particular nas mais76, nos termos
dos artigos 44.º n.ºs 1 e 2, 231.º e 252.º do CPP. Denota-se ainda no âmbito
dos artigos 232.º do CPP e 233.º do CPP, uma série de responsabilidade
de prevenção, recaindo a salvaguarda de todos os meios de prova77, com a
finalidades de prevenção primária, segurança78, diligências, (artigos 232.º,
156.º e 158.º CPP), a identificação do suspeito e pedido de informações,
(artigo 233.º do CPP), as revistas e buscas (artigo 234.º do CPP), bem
como e apreensão de correspondência, (artigo 235.º do CPP).
Na fronteira entre os meios de prevenção possíveis, o circunstan-
cialismo urgente para crime de subtracção de menor, deparamo-nos com a

73
CARMO, Rui do, in Declarações para memória futura – Crianças vítimas de
crimes contra a liberdade e a autodeterminação sexual, ob. Cit, pp. 72 e ss.
74
COMISSÁRIO, José Armando Carriço Bagorro. Investigação Criminal em Vio-
lências Doméstica: A Protecção das vítimas menores de idade, Instituto Supe-
rior de Ciências Policiais e Segurança Interna, 2021, pp. 14-15. Disponível em:
https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/39728. Acesso a 08/05/2023.
75
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes. Teoria Geral do Direito Policial. Coim-
bra: Editora Almedina, 6.ª ed. 2019, p. 59.
76
DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Processual Penal, Coimbra: Editora Coim-
bra, vol. I, Reimp. da 1ª ed. de 1974, 2004. p. 194.
77
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito Policial, ob.
Cit, p. 374.
78
MESQUITA, Paulo Dá. Repressão criminal e iniciativa própria dos órgãos de po-
lícia criminal, in I Congresso de Processo Penal. Coimbra: Editora Almedina,
2005, p. 27.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 847

medida de “localização celular”, previsto no artigo 252.ºA do CPP português79.


Trata-se de uma medida de pura prevenção criminal80, equivalente a um
“estado de necessidade” (artigos 33.º e 34.º e o CPP de Macau), que contente
directamente com o direito de liberdade de movimento81, no qual permite a
ingerência das autoridades públicas na correspondência, para salvar valores
maiores, nos casos previstos na lei em matéria criminal82. O n.º 2 do artigo
252.º do CPP português, diz que deve ser referente a um processo em curso,
a sua obtenção deve ser comunicada ao juiz no prazo máximo de quarenta
e oito horas, por a diligência colidir com direitos e liberdades fundamen-
tais83. Quando não exista comunicação padece de nulidade materialmente
nos termos do n.º 4, por violação do disposto do n.º 4 do artigo 34º da CRP
(correspondente ao artigo 28.º da Lei Básica), que determina a intervenção
do juiz quando as diligências processuais possam colocar em causa direitos
fundamentais84, que viole o disposto nos números anteriores. Esta medida
se conjuga com a Lei n.º 8/2005/M, Lei da Protecção de Dados Pessoais,
contudo, manifestamos a concordância da divulgação ou partilha de dados
pessoais ao circunstancialismo urgente do crime de subtracção de menor.

5. O ónus da prova e a presunção da inocência

É através do processo penal que se atingem da forma mais intensa


os direitos fundamentais85. O princípio da aquisição da prova articulado

79
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito Policial, ob. Cit,
pp. 402-403.
80
LOBO, Fernando Gama, Código de Processo Penal Anotado, Coimbra,: Editora
Almedina, 2015, pp. 468-469.
81
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito Policial, ob. Cit,
pp. 406-407.
82
PIMENTA, Andreia Castanheira, Das Medidas Cautelares e de Polícia, Lisboa:
Universidade Autónoma de Lisboa Luís de Camões, 2015, pp. 55-58, dispo-
nível em: https://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/744/1/Disserta%-
C3%A7%C3%A3o%20Final%20-%20Entrega.pdf. Acesso a 08/05/2023.
83
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria Geral do Direito Policial, ob. Cit,
pp. 406-407.
84
LOBO, Fernando Gama, Código de Processo Penal Anotado, Coimbra: Editora,
Almedina, 2015, p. 469.
85
ROBALO, Teresa Lancry A. S. Robalo, Princípio da presunção de vitimiza-
ção e princípio da presunção de inocência: Um combate de titãs? Análise do

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
848 | Coutinho, Ofélia.

com o princípio da investigação, dá-nos o critério para avaliar em que


termos a prova é produzida86. O que significa que num inquérito criminal
a cargo do Ministério Público, procura-se determinar a conduta do agen-
te e o apuramento da responsabilidade destes e a descoberta e recolha
das provas, em ordem à decisão final (acusação ou arquivamento), nos
termos dos artigos 250.º a 253.º e artigos 249.º e 245.º do CPP87, tem-
perado pelo princípio das garantias da defesa, consignado no artigo 29.º
da Lei Básica e artigo 111.º do CPP. Aliás, o n.º 7 do artigo 32.º da CRP
(correspondente ao artigo 36.º da Lei Básica), confere amplos direitos
de intervenção do ofendido no processo penal88, bem como a possibili-
dade de escolher se o processo deve ou não prosseguir para julgamento,
quando o procedimento depender de acusação particular, nos termos do
n.º 3 do artigo 267.º do CPP89.
Como é consabido, o princípio in dúbio pro reo, é decorrência
da presunção constitucional de inocência do arguido em processo
penal90, um forte indicador da protecção91 e promoção da dignidade

problema à luz dos ordenamentos jurídicos de Portugal e de Macau”, Lisboa:


Revista do Ministério Público n.º 159, pp. 169-195, Julho – Setembro, 2019, p.
171, disponível em: https://rmp.smmp.pt/wp-content/uploads/2019/11/8.
RMP_159_Teresa_Robalo_3PAG.pdf Acesso a 07/05/2023.
86
GAMA, António; LATAS António; CORREIA, João Conde; LOPES, José Mou-
raz; TRIUNFANTE, Luís Lemos; DIAS, Maria do Carmo Silva; MESQUITA,
Paulo Dá; ALBERGARIA, Pedro Soares de; MILHEIRO, Tiago Caiado. Comen-
tário Judiciário do Código de Processo Penal, Artigos 124.º a 190.º, Coimbra:
Editora Almedina,Tomo II 2019, p. 25.
87
CARVALHO, Paula Marques. Manual Prático de Processo Penal, Coimbra: Edi-
tora Almedina 9ª ed. 2015, p. 224.
88
GUIMARÃES, Ana Paula. A pessoa como objecto de prova em Processo Penal:
exames, perícias e perfis de ADN – reflexões à luz da Dignidade Humana, Porto:
Nova Causa Edições Jurídicas, 2016, p. 78.
89
ROBALO, Teresa Lancry de G. de A. e S, O Estatuto das Vítimas de Crimes e
o Princípio da Presunção de Vitimização, ob. Cit, p. 315.
90
CARVALHO, Paula Marques, Manual Prático de Processo Penal, 9.ª ed. Coim-
bra, Editora Almedina, 2015, pp. 24-25.
91
OLIVEIRA, Alexandre Luiz Alves de. Presunção de inocência: estudos em
homenagem ao professor Eros Grau / organizador: Felipe Martins Pinto. Belo
Horizonte: Instituto dos Advogados de Minas Gerais, ISBN: 978-65-81289-
00-3, 2019, p. 1, disponível em. http://www.mpsp.mp.br/portal/page/por-
tal/documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_produtos/

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 849

humana92 na defesa da posição concreta do arguido93, com previsão


no artigo 11.º da Declaração Universal dos Direitos do Homem e n.º
2 do artigo 14.º do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e
artigo 29.º da Lei Básica. O arguido presume-se inocente até ao transito
em julgado da sentença de condenação pelo tribunal94.
O principal problema consiste em saber qual é a adequação da
qualificação jurídica da conduta factual do progenitor visitante, quando
visando remover o perigo concreto para o menor, subtrai a criança do
progenitor guardião abusador. Por um lado, temos o arguido que goza de
presunção de não ter subtraído a criança. por outro lado, a vítima goza
de presunção de ter sido subtraída95. A presunção de que se trata de um
direito não criminoso96 revela-se fulcral para que o arguido possa colocar
em prática os seus direitos de defesa97. Igualmente, a vítima presume-me
vítima efectiva até que se prove o oposto98. Duas ideias são convocadas:

BibliotecaDigital/BibDigitalLivros/TodosOsLivros/Presuncao_de_Inocen-
cia.pdf. Acesso a 06/05/2023
92
OLIVEIRA, Alexandre Luiz Alves de. Presunção de inocência, ob. Cit, p. 1.
93
SILVA, Germano Marques da. Direito Processual Penal Português, Lisboa:
Universidade Católica Editora vol. I, 2017, pp. 51-52.
94
LOPES, Manuel Barros. A presunção de inocência, Portugal: Revista Jurídi-
ca Portucalense, N.º 31, 2022, DOI: https://doi.org/10.34625/issn.2183-
2705(31)2022.ic-07, disponível em: https://revistas.rcaap.pt. Acesso a
08/05/2023. Ver também, FERREIRA. Manuel Cavaleiro de. Lições de Direito
Penal, Almedina: Editora Coimbra, vol. II, 2010, p. 316. DIAS, Figueiredo de:
O defensor e as declarações do arguido na instrução preparatória, in RDES, 18,
1971, p. 185 ss.
95
ROBALO, Teresa Lancry de G. de A. e S, O Estatuto das Vítimas de Crimes e
o Princípio da Presunção de Vitimização, ob. Cit, p. 326.
96
VILELA, Alexandra, Considerações Acerca da Presunção de Inocência em Di-
reito Processual Penal, Coimbra: Coimbra Editora, 2005, pp. 58. Ver também,
GUIMARÃES, Ana Paula, A pessoa como objeto de prova em Processo Penal:
exames, perícias e perfis de ADN – reflexões à luz da Dignidade Humana, Porto,
Nova Causa Edições Jurídicas, 2016, p. 78.
97
BRIENEN, Marion Eleonora Ingeborg, Victims of Crime in 22 European Cri-
minal Justice Systems the Implementation of Recommendation (85) 11 of
the Council of Europe on the Position of the Victim in the Framework of
Criminal Law and Procedur, ob. Cit, pp. 30-31.
98
ROBALO, Teresa Lancry de G. de A. e S, O Estatuto das Vítimas de Crimes e
o Princípio da Presunção de Vitimização”, ob. Cit, p. 325.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
850 | Coutinho, Ofélia.

uma relacionada com o modo de tratamento do arguido, no decurso do


processo, e outra com o juízo face à prova99, sendo que todas as provas
devem ser encaradas, no processo. Por vezes não é possível apurar a con-
duta criminosa do agente. A partir do momento que se profere sentença
a favor do arguido, cessam todas as sanções contra o arguido, nos termos
do artigo 198.º, n.º 1, al. c) do CPP, decaem as garantias da adequação e
da proporcionalidade, do artigo 178.º do CPP, nenhuma medida de ga-
rantia patrimonial subsiste, conforme previsto no artigo 177.º, n.º 2 do
CPP. Assim, após realizada toda a produção de prova, caso permaneça,
no julgador, uma dúvida razoável quanto aos factos e/ou culpabilidade,
deverá este decidir em sentido favorável ao arguido100, relativamente à
eventualidade de se condenar um inocente101. Na luta entre a inocência
e a vitimização, o legislador de Macau devia adoptar uma proposta de
estatuto de vítima, tal como o fez o legislador português, por forma a que
reduza a vitimização, aumente o respeito pela vítima, sem se esquecer das
garantias em termo de apoio psíquico, médico e a possibilidade de prestar
declarações para a memória futura102, a funcionar em desfavor do arguido.

5.1. A prova a cargo do Ministério Público

O Ministério Público é a entidade competente dar início às in-


vestigações com a abertura de Inquérito, aquando da notícia de um crime
(artigos 42º, n.º 3 e 224.º do CPP), em cumprimento ao princípio da le-
galidade, como prevê os artigos 245.º a 252.º do CPP do CPP, bem como
praticar os actos e assegura os meios de prova necessários à realização
das finalidades no inquérito (artigos 164.º e 172.º do CPP, artigos 162.º

99
VILELA, Alexandra. Considerações Acerca da Presunção de Inocência em Direi-
to Processual Penal, ob. Cit, pp. 59-60.
100
CUNHA, Diana Andreia Mendes da Silva. Os acordos sobre a sentença penal:
questões, desafios e prospetivas, 2016, p. 157, Disponível em: https://repo-
sitorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/47961/1/Diana%20Andreia%20
Mendes%20da%20Silva%20Cunha.pdf. Acesso a 12/05/2023
101
PINHEIRO Rui e MAURÍCIO, Artur, A Constituição e o Processo Penal, Clássi-
cos Jurídicos, Coimbra: Editora Coimbra, 2007, pp. 86.
102
ROBALO, Teresa Lancry de G. de A. e S. O Estatuto das Vítimas de Crimes e
o Princípio da Presunção de Vitimização, ob. Cit, p. 328.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 851

e 234.º do CPP e artigos 112.º e 251.º do CPP). Denota-se um manan-


cial de diligências103 de investigação obrigatórias precedidas pelo juiz
de instrução, os órgãos de polícia criminal ou o Ministério Público104.
Contudo, é nesta matéria especial, e sobretudo na vida real e no decurso
de casos concretos, que ocorrem as problemáticas mais relevantes105, do
crime de subtracção de menor. A obtenção da prova é desafiadora para a
justiça, tendo em conta as dificuldades de não se actuar em tempo real106.
As várias soluções que perfilam para as decisões dos tribunais portu-
gueses, no Processo n.º 866/15.0PELSB.L1-5, 07-02-2017; Processo n.º
278/17.0PBGMR.G1, de 14 Setembro 2020; Processo n.º 3735/2006-5,
de 27-06-2006107, emergem de circunstâncias relevantes para determinar
a exclusão da ilicitude, da culpa ou da pena, condenação ou absolvição
do arguido, isso porque: a) nunca tiver sido verificada a existência de
qualquer incumprimento por falta de participação do progenitor lesado
(non facere); b). Insuficiência da matéria de facto provada (omissão no
apuramento/investigação) no âmbito da livre apreciação, c) O exercício
do poder parental não se encontrava regulado aquando da subtracção
da criança; d) O tribunal investiga/procura averiguar por recurso aos
meios de prova disponíveis até onde for possível108, dentro das soluções

103
SILVA, Flávio Manuel Carneiro da; CASTRO, Henrique Gustavo R. F de Antas
e; SAÚDE, Marta Saúde; TRANCOSO, Raul Estêvão Ramos; REAL, Rui Miguel
dos Santos; SILVA, Catarina Pais Silva; OLIVEIRA, Telmo SANTOS; Vera L. Q.
de Oliveira e. Meios de obtenção de prova e medidas cautelares e de polícia,
ob. Ct, P. 65.
104
COSTA, José de Faria et al (org.), Buscas Domiciliárias, realizadas por órgãos
de de polícia criminal em situações de flagrante delito-Estudos em homenagem
ao Prof. Doutor Manuel da Costa Andrade, Coimbra: Instituto Jurídico, AA.
VV, vol. II, 2017a, pp. 363 e ss.
105
ABREU, Carlos Pinto de, Prova e meios de obtenção de prova breve nota
sobre a natureza e o regime dos exames no processo penal, disponível em:
https://carlospintodeabreu.com/public/files/CPA_prova_meios_obtencao_
prova.pdf. Acesso a 08/05/2023.
106
ABREU, Carlos Pinto de, Prova e meios de obtenção de prova breve nota so-
bre a natureza e o regime dos exames no processo penal, ob. Cit.
107
Processos portugueses sobre o Crime de subtracção de menor. https://juris-
prudencia.pt. Acesso a 25/11/2022.
108
SILVA, Flávio Manuel Carneiro da; CASTRO, Henrique Gustavo R. F de Antas
e; SAÚDE, Marta Saúde, SILVA, Flávio Manuel Carneiro da, CASTRO, Henri-
que Gustavo R. F de Antas e, SAÚDE, Marta Saúde, TRANCOSO, Raul Estêvão

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
852 | Coutinho, Ofélia.

plausíveis da causa, em harmonia com o objecto do processo e dos ac-


tos que são essenciais para a decisão109, e) Não se considera verificado
qualquer facto não acompanhado de regime de prova110. Quando o Mi-
nistério Público não obteve indícios suficientes da verificação do crime,
dá se lugar ao arquivamento do inquérito, nos termos do n.º 2 do artigo
259.º do CPP, porque o inquérito ficou alheio a factos essenciais para a
referida decisão111, defendendo-se que a conduta descrita não preenche
a previsão do artigo 241.º do CP.

5.2. O ónus de argumentação de circunstancias dirimentes favoráveis, que


impende sobre o arguido

É arguido aquele contra quem for deduzida acusação ou reque-


rida a instrução num processo penal, (artigos 46.º e 245.º do CPP)112,
sem prejuízo da aquisição desse estatuto durante a fase do inquérito em
processo penal. O seu posicionamento no processo penal garante-lhe um
conjunto de direitos que permitem assegurar o respeito pela sua dignidade
humana113, (artigos 47.º, 49.º e 50.º do CPP), bem como a obrigatoriedade
de ser interrogado (artigo 254.º do CPP).

Ramos, REAL, Rui Miguel dos Santos, SILVA, Catarina Pais Silva, OLIVEIRA,
Telmo SANTOS, Vera L. Q. de Oliveira e. Meios de obtenção de prova e medi-
das cautelares e de polícia, CEJ, ISBN 978-972-9122-98-9, 1.ª ed. 2019, P. 65,
disponível em: https://cej.justica.gov.pt/LinkClick.aspx?fileticket=Y-MYpP-
voBeE%3D&portalid=30. Acesso a 09/05/2023.
109
CARVALHO, Paula Marques, Manual Prático de Processo Penal, Coimbra: Edi-
tora Almedina, 9ª ed, 2015, p. 25.
110
SANTOS, Gil Moreira dos, Noções de Processo Penal, Porto-Portugal, O Oiro
do Dia, 1994, p. 220.
111
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, Processo n.º 687/10.6TAABF.S1,
de 23-05-2012, disponível em: http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9d-
d8b980256b5f003fa814/705f484972ca00f680257a7c004fb6c5?OpenDocu-
ment. Acesso a 08/05/2023.
112
ANTUNES, Maria João. As garantias dos arguidos no processo penal portu-
guês, Janus 2004, pp. 1-6, disponível em: https://www.janusonline.pt/arqui-
vo/2004/2004_3_4_3.html. Acesso a 11/05/2023.
113
RODRIGUES, Anabela Miranda. A defesa do arguido: uma garantia constitu-
cional em perigo no “admirável mundo novo, Coimbra: in Revista Portuguesa
de Ciência Criminal Coimbra, n.º 4, Ano 12, out./dez, 2002, pp. 549-550.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 853

Relembrando, previsto no n.º 2, do artigo 40.º do CP, toda a pena


supõe a culpa e não pode ultrapassar, na sua medida, a medida da culpa114.
Qualquer reacção criminal tem de ter na sua base um juízo de censura
ao agente, nulla poena sine culpa115, fundamentado com no princípio da
inviolabilidade da dignidade da pessoa humana116, cujo critério junta-se
a protecção de bens jurídicos e as exigências de prevenção117, que se es-
pelha dentro dos limites do 65.º do CP, acompanhados das circunstâncias
do artigo 66.º do CP: com vista a procura de uma solução mais justa118
para absolvição ou para aplicação de uma medida branda119, em que está
inserido à subtracção de menor. Em sentido oposto, violar-se-ia o prin-
cípio da culpa120. Em função dessa realidade, é esta a opção refletida no
CPP, pondo a tónica na celeridade e simplificação processuais, um espaço
mais reduzido, numa relação vítima-agressor121. Há que reconhecer as
dificuldades probatórias que gravitam em torno da subtracção de menor, e

114
DIAS, Jorge de Figueiredo. Acordos sobre a sentença em processo penal – O
“fim” do Estado de Direito ou um novo “princípio”?, Porto, Conselho Distrital do
Porto da Ordem dos Advogados, 2011, p. 51.
115
COSTA, José de Faria. Diversão (desjudiciarização) e mediação: que rumos?
Coimbra: in Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vol.
LXI, 1988, p. 36, apud FERNANDES, Fernando, O processo penal como instru-
mento de política criminal, Coimbra: Editora Almedina, 2001, p.562.
116
DIAS, Jorge de Figueiredo O sistema sancionatório do direito penal português
no contexto dos modelos da política criminal”, in Separata do número especial
do Boletim da Faculdade de Direito de Coimbra – Estudos em Homenagem
ao Professor Doutor Eduardo Correia, Coimbra: Faculdade de Direito da Uni-
versidade de Coimbra, 1984, p.36.
117
CUNHA, Diana Andreia Mendes da Silva. Os acordos sobre a sentença pe-
nal: questões, desafios e prospetivas, Universidade do Minho, 2016, p. 159,
https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/47961/1/Diana%20
Andreia%20Mendes%20da%20Silva%20Cunha.pdf. Acesso a 11/05/2023.
118
DIAS, Jorge de Figueiredo. Acordos sobre a sentença em processo penal – O
“fim” do Estado deDireito ou um novo “princípio”? Porto, Conselho Distrital
do Porto da Ordem dos Advogados, 2011, pp, 242-245.
119
DIAS, Jorge de Figueiredo, Acordos sobre a sentença em processo penal – O
“fim” do Estado de Direito ou um novo “princípio”?, ob. Cit, p. 50.
120
DIAS, Jorge de Figueiredo, Acordos sobre a sentença em processo penal – O
“fim” do Estado de Direito ou um novo “princípio”?, ob. Cit, p. 53.
121
CUNHA, Diana Andreia Mendes da Silva, Os acordos sobre a sentença penal:
questões, desafios e prospetivas, ob. Cit, p. 159.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
854 | Coutinho, Ofélia.

concordar com o recurso a exigência mais de reparação dos danos causados


às vítimas e menos aumento da severidade das penas, que visa remover
a rigidez da prova directa, pois deste modo os tribunais erram menos122.

5.3. Justiça restaurativa

Sinteticamente, a subtracção de menor é provavelmente a área de


aplicação mais problemática da família, cujo sistema da jurisdição penal
não atinge em plenitude sua finalidade de garantir o bem-estar social, a
tranquilidade para a sociedade, sendo assim, necessário à adopção de ou-
tros procedimentos de protacção123. A reconciliação familiar, esta prevista
nos artigos 19.º e ss da Lei n.º 2/2007/M, desde que não se ultrapassem
as regras processuais do artigo 263.º do CPP124. Este procedimento busca
o equilíbrio entre o agente, a vítima, na construção de soluções125 para a
reintegração de ambos na sociedade, para o desencorajamento do agente
no cometimento de crimes futuros126, apoiando-o no cumprimento das
suas responsabilidades127, assim como estimula que outros não cometam
crimes128. A proposta restaurativa é promovida durante a suspensão pro-

122
ERISTAIN, Antonio. Los Grupos Vulnerables: Su Dignidad Preeminente, Vic-
timal. Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Jorge de Figueiredo Dias.
Boletim da Faculdade de Direito, ob. Cit, pp. 1225 e ss.
123
BORDALO, T.S.; BORDALO, M.F.S.; GONÇALVES, A.M.. A importância da
justiça restaurativa no contexto da criminologia, Revista Portuguesa de Ciên-
cias Jurídicas, vol. 3, Nº1, p.104-125, Jan./Jul, 2022, p. 112, disponível em:
https://www.cnj.jus.br. Acesso a 14/05/202.
124
ROBALO, Teresa Lancry A. S. Estudos Comemorativos XX Anos Código Penal,
Código de Processo Penal de Macau: Violência doméstica no enquadramento jurí-
dico-penal de Macau, Macau: Fundação Rui Cunha, pp. 319-399, 2016, p. 333.
125
PINTO, Renato Sócrates Gomes, Justiça Restaurativa é Possível no Brasil? Jus-
tiça Restaurativa. Coletânea de Artigos. Programa Das Nações Unidas para o
Desenvolvimento – PNUD, 2005, p. 19.
126
CRUZ, Cláudia Maria. A Justiça Restaurativa. Um Modelo de reacção ao crime
diferente da Justiça Penal. Porquê, para quê e como?, Coimbra: Editora Coimbra
2014, p. 356.
127
PASSOS, Célia. Novos repertórios em Justiça Restaurativa, disponível em: ht-
tps://www.youtube.com/watch?v=7roMblyYcZ4. Acesso a 14/05/2023.
128
ALMEIDA, Tania; PELAJO, Samantha; JONATHAN, Eva (Coord.), Media-
ção de conflitos: para iniciantes, praticantes e docentes. Salvador: Editora

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 855

visória do processo. O juiz de instrução pode convocar, a requerimento


do Ministério Público o arguido, o ofendido ou do assistente. Para que
o Ministério Público possa propor a medida é necessário que respeite o
limite máximo da moldura penal de 3 anos, como prevê o artigo 263.º do
CPP, que consideramos estar ajustado ao crime de subtracção de menor.
Sucede que tal medida esta depende da vontade do arguido em partici-
par, devendo por isso submeter-se a um programa de acompanhamento
do agente129. Podíamos recorrer a justiça restaurativa como uma saída
à subtracção de menor. Infelizmente Macau não dispõe de um regime
jurídico do instituto da conciliação familiar, por isso, é nos difícil discutir
com precisão este instituto, e fazer o devido enquadramento jurídico ás
situações da subtracção de menor130. Talvez, seria um ponto de partida
para a introdução da mediação penal no ordenamento jurídico de Macau131.

6. T utela penal da subtracção de menor: o crime de subtracção


de menor

A questão que se põe no artigo 241.º do CP é apenas a de saber


se o arguido agiu com dolo exigível para a subsunção na ofensa aos pode-
res parentais do outro progenitor, mercê do incumprimento do acordo/
decisão judicial que decretou o poder parental.
O direito de convívio da criança com os dois pais é constitucional-
mente consagrado, uma concretização da norma do artigo 7.º, n.º 4 da Lei
de Bases da Política Familiar, lido em conjugado com os artigos 1733.º e
ss. do CC, e artigos 4.º e 5.º da Convenção da Haia, cujo respeito a norma

JusPodivm, 1.ed. 2016, p. 680.


129
ROBALO, Teresa Lancry A. S. Estudos Comemorativos XX Anos Código Penal,
Código de Processo Penal de Macau: Violência doméstica no enquadramento ju-
rídico-penal de Macau, Macau, ob. Cit, p. 334.
130
CHENG, Wong Kit. Implementação do Regime de Conciliação Familiar em Ma-
cau, Assembleia Legislativa de Macau, Agosto de 2020, pp. 2-3, disponível em: ht-
tps://www.al.gov.mo/uploads/attachment/2020-09/386535f647383d5628.
pdf. Acesso a 15/05/2023.
131
ROBALO, Teresa Lancry A. S, Estudos Comemorativos XX Anos Código Penal,
Código de Processo Penal de Macau: Violência doméstica no enquadramento ju-
rídico-penal de Macau, ob. Cit, p. 335.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
856 | Coutinho, Ofélia.

penal visa garantir. A violação dos direitos da criança está abrangida pelo
tipo legal da subtracção de menores. Não haverá dúvidas relativamente
a aplicação do artigo 241.º do CP, quando um progenitor age de forma
egocêntrica132. Negar este desfecho é desvalorizar o direito penal. Nesse
sentido, se pronunciou o Acórdão da Relação de Lisboa133, entendendo
que, o progenitor com quem o menor reside pratica o crime de subtracção
de menor quando haja regularização do poder parental, homologado por
acordo/decisão judicial. Parece-nos correcto considerar que, bastaria
a qualificação jurídica dos factos imputados única e exclusivamente a
esse progenitor para sustentar que existem indícios relevantes de en-
quadramento para a responsabilização criminal do arguido na prática do
crime de subtracção de menor, do artigo 241.º do CP, condenando-o pela
prática, em autoria material e na forma consumada, artigo 25.º do CP,
interpretados e integrados com recurso as regras do artigo 13.º do CP,
agravada pelas regras do artigo 65.º do CP.
Na verdade, a letra do artigo 241.º do CP, insere-se num contex-
to em que saltam à vista do homem médio, patente o reconhecimento
da especial atenuação, mercê da relação familiar entre o arguido e a
criança. Não se trata de uma medida de afrouxamento do direito penal.
Na verdade, o reconhecimento do direito penal tem sentido quando os
meios civis não se revelem eficazes, razão concedida pelo legislador ao
conferir um modelo de pena de suspensão, entendendo que, verificada a
totalidade dos pressupostos formais do artigo 48.º do CP, o tribunal pode
suspender a execução da pena de prisão aplicada em medida não superior
a 3 anos. A aplicação desta medida pode estar subordinada ao cumpri-
mento de deveres e regras de conduta impostos ao condenado, tal como
subscrevem os artigos 49.º e 50.º CP, acompanhada do regime de prova,
se o considerar conveniente e adequado a facilitação e reintegração do
condenado na sociedade, nos termos do artigo 51.º do CP. A suficiência
do processo penal, nos termos do artigo 7.º do CPP, não atribuí ao juiz

132
SOTTOMAYOR, Maria Clara, Exercício do Poder Paternal, Estudos e monogra-
fias, Porto: Universidade Católica, 2003, pp. 324-335.
133
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, Processo n.º 866/15.0PELSB.L1-
5, de 07-02-2017, disponível em: http://www.dgsi.pt. Acesso a 25/11/2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 857

penal a faculdade de se pronunciar sobre o mérito das decisões proferidas


num processo da jurisdição de menores e família134.

6. Tutela do Poder Paternal 135

Pela necessidade imperiosa de proteger as crianças, tendo em


conta a realidade os graves prejuízos agravados nas situações de sub-
tracção de menor, o legislador desenhou um regime especial, O Regime
Educativo Social de Protecção e Jurisdição de Menor (RESPJM), (artigos
95.º e ss), cujas regras se articulam com as disposições do artigo 1206.º e
ss. do CPP136. Pelas particularidades do regime, a jurisdição voluntária é
meramente administrativa, sendo negado nestes processos a intervenção
da actividade jurisdicional137. O juiz de equidade pode adoptar a solução
que reputar mais conveniente para cada caso concreto138, reconhecen-
do-se a presença de certa discricionariedade139. Em vez de interditar
os progenitores incumpridores do poder paternal, o tribunal requer o
cumprimento coercivo e a condenação do remisso em indemnização a
favor do menor, artigo 121.º, n.º 1 do RESPJM.

134
Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, Processo n.º 10210/05.9TDLSB.
L1-5, de 15-06-2010, disponível em: https://jurisprudencia.pt. Acesso a
26/11/2022.
135
PIRES, Cândida da Silva Antunes. Estudos de Direito da Família e Menores:
Subsídios para o Estudo do Instituto do Poder Paternal ou Responsabilidade Pa-
rental-natureza, conteúdo, titularidade e exercício, Macau, Centro de Formação
Jurídica e Judiciária, 2018, p. 300. O legislador de Macau privilegia o termo
“poder parental”.
136
Artigo 1206.º do CPP de Macau: aplicação subsidiária.
137
BELEZA, Maria dos Prazeres. Jurisprudência sobre Rapto Internacional de
Crianças, Coimbra: Julgar, N.º 24, 2014, p. 70, disponível em: http://julgar.pt.
Acesso a 26/11/2022.
138
REIS, José Alberto dos. Processos Especiais II, 2.ª edição reimpressão, Coim-
bra, Editora Coimbra, 1982. p. 400. Ver também, NETO, Abílio, Código de
Processo Civil Anotado, Lisboa: Ediforum, 2.ª ed. 2014, p. 1034. ANDRADE,
Manuel Domingues de. Noções Elementares de Processo Civil, Coimbra: Edito-
ra Coimbra, 1956, p. 72.
139
Tribunal de Segunda Instância, Processo n.º 840/2020, de 11/03/2021, dis-
ponível em: https://www.court.gov.mo. Acesso a: 27/11/2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
858 | Coutinho, Ofélia.

Atentos os interesses em causa, o legislador teve cuidado de enqua-


drar a tutela do poder paternal no direito penal, tornando mais abrangente
o campo de aplicação dos ilícitos em causa, nos termos dos artigos 241.º
e 242.º. do CP, interpretada logo pela construção da tipicidade na recusa
entrega da criança ou através da fuga com a criança para o estrangeiro.
A questão é a de saber se o direito penal é a solução adequada
para o problema específico da subtracção de menor ou urge aferir outros
mecanismos de tutela da situação.
O recurso ao Direito Penal só poderia aumentar o número de
processos-crimes, de incumprimento do poder paternal, o que não seria
saudável para as crianças. Na fronteira entre as obrigações positivas e
negativas é necessário: encontrar um ponto de equilíbrio dos interesses
em causa140; evitar o risco de vitimação e o desequilíbrio de poder entre
a vítima e o progenitor violador do direito; tomar medidas positivas, su-
ficientes e adequadas às situações que podem encontrar enquadramento
penal no artigo 241.º do CP; sancionar a falta de colaboração de um dos
pais; fazer cumprir e executar o direito de guarda/visita. O processo de
decisão deve revestir um carácter justo e equitativo, em obediência ao
princípio da intervenção mínima. Não podemos deixar de manifestar a
nossa concordância com a doutrina que explica que quando a subtracção
envolva contornos transfronteiriços, urge aferir se existem outros me-
canismos de tutela da situação deixando o problema, por conseguinte,
de ser interno141.

7. Procedimentos judiciários no âmbito da subtracção de menor:


análise comparada

No prazo máximo de 72 horas após a apresentação da denúncia,


o órgão de polícia criminal deve entregar ao Ministério Público toda a
informação coligida, para que este decida os termos do prosseguimento

140
Centro de Estudos Judiciários. Jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos
do Homem: Casos Nacionais, CEJ, ISBN: 978-972-9122-28-6, 2013, p. 55, dis-
ponível em: [email protected]. Acesso a 28/11/2022.
141
SANTOS, André Teixeira dos, Do crime de subtracção de menor “Nas-Novas”
Realidades Familiares, ob. Cit, p. 227.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777 | 859

dos autos142. Ao Ministério Público caberá decidir qual a melhor estratégia


de realização da acção penal em cada caso concreto atenta a celeridade
que os caracteriza por confronto com a própria natureza urgente do
processo por crime de subtracção de menor143.
A sentença judicial, não obstante, a sua característica de acto de
autoridade, é também susceptível de ser interpretada em harmonia com
as boas regras da hermenêutica. Todas as circunstâncias atenuantes/agra-
vantes, determinadas dentro da moldura penal abstracta, a enumeração
dos factos provados e não provados, conforme o preceituado no artigo
355.º, n.º 2 do CPP. São também relevantes para decisão os factos alegados
pela acusação, defesa ou que resultem da discussão em causa, artigo 349.º,
n.º 2 do CPP. Esta é a demostração que o tribunal analisou toda a matéria
provada, essenciais à caracterização do crime e suas circunstâncias juri-
dicamente relevantes, para a graduação da responsabilidade do arguido.
A pena do crime, como referimos permite, desde logo, ao modelo
de pena de suspensão, verificada a totalidade dos pressupostos formais
do artigo 48.º do CP, afasta-se a possibilidade de aplicar a medida de
suspensão do exercício das responsabilidades parentais (artigo 95.º do
REPSJM), medidas de coacção (artigo 181.º do CPP), proibição de con-
tactos (artigo 184.º do CPP) e prisão preventiva (artigo 186.º do CPP).
No caso de Macau e Portugal, ao contrário do que sucede, em
Brasil, para além das fortes ligações culturais, no quadro de acrescida ne-
cessidade de protecção à criança, o tipo do artigo 249.º do CP (subtracção
de incapaz)144 e do artigo 237.º do Estatuto da Criança e do Adolescente

142
Manual de Actuação Funcional a adotar pelos OPC nas 72 horas subsequentes
à apresentação de denúncia por maus-tratos cometidos em contexto de vio-
lência doméstica, RCM n.º 139/2019, p. 40, disponível em: https://www.cig.
gov.pt/wp-content/uploads/2020/06/172-20_MANUAL_ATUACAO_FUN-
CIONAL_Final.pdf. Acesso a 16/05/2023.
143
Manual de Actuação Funcional a adotar pelos OPC nas 72 horas subsequentes
à apresentação de denúncia por maus-tratos cometidos em contexto de vio-
lência doméstica, ob. Cit.
144
Artigo 249.º do CP, Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao poder de
quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial: Pena - de-
tenção, de dois meses a dois anos, se o fato não constitui elemento de outro
crime. 1º - O fato de ser o agente pai ou tutor do menor ou curador do interdi-
to não o exime de pena, se destituído ou temporariamente privado do pátrio
poder, tutela, curatela ou guarda; 2º - No caso de restituição do menor ou do

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(ECA)145, traduzido na possibilidade de poder ser imposta uma pena


mais severa ao agressor, inclusive, motivo de alteração do exercício da
regulação do poder parental, por quem tem a guarda.
Há diferença de tratamento entre o progenitor guardião e o
progenitor visitante. Esta factualidade não deixa de ser merecedora de
perplexidade: a) Se o progenitor, tutor ou curador com pátrio poder,
subtrair o menor ao outro pai fica isento de culpa, tal com o exposto no
primeiro parágrafo do artigo 249.º do CP brasileiro. Esta medida pare-
ce-nos um pouco desajustada, face ao propósito que a norma serve; b)
A norma do artigo 249.º do CP não funciona na integra, a norma abre
também uma possibilidade no paragrafo segundo, de não aplicação de
pena se o menor subtraído não tiver sofrido maus-tratos ou privações.
Pode ser concedido o perdão judicial, nos termos do artigo 107.º, IX do
CP. O alcance pretendido deste parágrafo é pouco claro, não se coaduna
com a realidade que o direito penal visa proteger. Estamos a referir-nos
de comportamentos activos com prejuízos gravíssimos para estabilidade,
afectiva e vivencial da criança e dos progenitores.
Nas decisões relativas a medidas penais por crime de subtrac-
ção de incapaz, envereda-se pela tranca do processo por atipicidade da
conduta146, absolvição por insuficiência de prova, isenção de pena do
paragrafo segundo do artigo 249.º do CP147, a prova dos autos embora
parca é insuficiente para se confirmar o delito148, decretamento de medida

interdito, se este não sofreu maus-tratos ou privações, o juiz pode deixar de


aplicar pena.”
145
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Apelação, Processo n.º
20170110410788APR (0008911-36.2017.8.07.0001), disponível em: https://
www.tjdft.jus.br. Acesso a 21/11/2022.
146
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios TJ-DF- HBC: HC
XXXXX-7802009.807.000 DF XXXXX-7802009.807.000, disponível em: ht-
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147
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148
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socioeducativa de internamento, nos termos do artigo 122.º do ECA, com


reavaliação periódica a cada seis meses149.
A par do Brasil, parece-nos que em Macau e Portugal o legislador
foi assertivo a mensagem do que constitui crime a subtracção, vertida nos
artigos 241.º do CP de Macau e artigo 249.º do CP Portugal, ao reconhecer
que o fundamento para a incriminação se encontra no comportamento de
ambos os progenitores. Essa valência permite compreender e clarificar
quando as crianças sejam o fulcro da disputa entre os pais, certamente
quando envolve a mudança da residência da criança para outro local.
Num panorama geral, incorporando os três ordenamentos jurí-
dicos, leva-nos a desacreditar, de certo modo, sobre a eficácia prática do
crime de subtracção de menor no contexto parental - a moldura penal
abstracta aplicada aos arguidos é muito baixa e desproporcional, face à
conduta ilícita, prevendo-se a multa alternativa à pena de prisão e existin-
do um amplo leque de penas de substituição aplicáveis150. Na linguagem
do artigo 241.º, n.º 3 do CP de Macau, a pena de prisão é de 3 anos. Em
Portugal, o legislador estabeleceu pena de prisão até dois anos ou com
pena de multa até 240 dia, nos termos do artigo 249.º, n.º 2 do CP. No
Brasil, a pena de prisão é de dois meses a dois anos, artigo 249.º do CP.
Aqui reside a tónica da questão, se as penas existentes na Parte Geral do
CP são suficientes para prosseguir a finalidade da pena do artigo 40.º do
CP, uma vez que se trata de matéria que deve ser avaliada num processo
de família e não penal151. Nos parece que não. O legislador quis prevenir
a existência de uma ruptura familiar entre os progenitores e o filho, no
direito de aqueles conviverem com este152. Nesse sentido, concordamos
com a doutrina que explica haver uma tendência do legislador para recor-
rer a sanções penais para fazer valer o cumprimento de normas jurídicas

149
Tribunal de Justiça de Goiânia TJ, Apelação Criminal, Processo n.º
0203772.43.2016.8.09.0052, de 19/06/2019, disponível em. https://www.
jusbrasil.com.br. Acesso a 30/11/2022.
150
LEITE, André Lamas. O Crime de Subtracção de Menor - Uma Leitura do
Reformado Art. 249º do Código Penal, ob. Cit, p. 12..
151
SANTOS, André Teixeira dos. Do crime de subtracção de menor Nas-Novas”
Realidades Familiares, ob. Cit, p. 246.
152
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, Processo n.º 1431/17.2T8MTS.
P1.S1, de 17-12-2019. http://www.dgsi.pt. Acesso em: 12/12/2022.

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862 | Coutinho, Ofélia.

que e a intervenção e punição do direito penal, mais do que solucionar a


situação, em regra agrava-a153, porquanto exacerbada os conflitos parentais.

8. A rticulação entre o fórum civil e o fórum penal para o


combate do crime de subtracção de menor

Que responsabilidades podem ser assacadas à justiça de família


e menores, de protecção as crianças expostas à subtracção?
1. intervenção da justiça na prevenção da subtracção e sua reincidência.
2. Desenvolver estratégias em prol de respostas alternativas às medidas
já existentes para melhor se alcançar respostas congruentes e eficazes,
no interesse da criança; 3. Conhecer com detalhe os cenários e os con-
textos da tensão, no âmbito das questões parentais. 4. Maior articulação
ao nível das duas jurisdições de família e menores e criminal relativas
à garantia de coerência na aplicação do direito. 5. Incrementar trabalho
em rede com parceiros internos e externos, para o alcance de melhores
resultados relativamente à solução a oferecer às crianças subtraídas, obri-
gando ao reporte de resultados para apreciação do tribunal de família e
menores. 6. Intervenção mais profunda das entidades policiais, na busca
de elementos associados à motivação criminosa para a prova, nos casos
em que a vítima não apresente denúncia. O desenvolvimento de estra-
tégia de respostas alternativas culmina com as exigências da celeridade
processual, no âmbito do artigo 4.º da do RESPJM, ao conferir ao juiz de
jurisdição civil o poder de solicitar apoio a outras autoridades, serviços
públicos e privados, no interesse da criança.
Assinala-se nesse âmbito, a criação de uma equipa especial de
carácter interinstitucional que integra as duas jurisdições (civil e crimi-
nal), órgãos de polícia criminal, representantes do Ministério Público em
ambas jurisdições, representantes da direcção dos serviços de Justiça,
um representante do Instituto de Acção Social, sociedade civil e outros
serviços, responsáveis para a monitorização das decisões proferidas em

153
Acórdão do Tribunal da Relação do Porto, Processo n.º 1520/17.3T9PNF.P1,
de 26-06-2019. http://www.dgsi.pt. Vide também, LEITE, André Lamas, O
crime de subtracção de menor - Uma Leitura do Reformado Art. 249º do Código
Penal, ob. Cit, p 99.

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processos penais conexas as medidas tutelares civis, elaboração de um


manual de boas práticas de convivência entre os pais, elaboração de
orientações procedimentais, relativo as crianças que sejam vítimas da
subtracção154. Não se dispensa o acompanhamento psicológico da criança,
pois, tudo isso significou um evento traumático na vida desta criança, que
a afectou na sua vida, no seu bem-estar e no seu desenvolvimento. Não
podemos deixar de sublinhar que a inexistência de recursos materiais/
humanos suficientes inerentes à investigação ao nível do judiciário e os
órgãos de polícia criminal pode denotar um sentimento de frustração
que permita diminuir o risco da subtracção.

9.1. Articulação entre o tribunal de família e menores com outros serviços

O critério seguido pela Convenção da Haia, exige por parte das


autoridades centrais dos Estados signatários um protocolo de coopera-
ção que ofereça protecção adequada aos direitos ameaçados. É preciso
conceber respostas adequadas às suas necessidades (medidas práticas),
a par das medidas burocráticas já existentes (obtenção de informações),
bem como o uso de outros meios preventivos do crime155. Os desafios
futuros incluem:
1. Necessidade de reforço (numa lógica de cooperação e in-
tegração) dos poderes de investigação nas estruturas dos tribunais de
família para que seja assegurada a protecção das crianças, considerada
insuficiente, em muitos casos de subtracção de menor, decretados pelos
tribunais de família.
2. Criar ao abrigo da Convenção da Haia um sistema legal de
alerta precoce, mais estruturado e integrado, autónomo e autossuficiente,
garantindo acesso a apoio adequado, relativamente à solução a oferecer
quanto à ordem de protecção das crianças, no âmbito da cooperação. A

154
GREVIO’s (Baseline) Evaluation Report, Group of Experts on Action against
Violence against Women and Domestic Violence, Istanbul Convention,
2019, pp. 31 e ss,disponivel: https://rm.coe.int/grevio-reprt-on-portu-
gal/168091f16f. Acesso a 16/05/2023.
155
VALENTE, Manuel Monteiro Guedes, Teoria geral do direito policial, ob.
Cit, p. 589.

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própria convenção da Haia de 1983, no seu espírito, consagra a possibi-


lidade de os estados contratantes a criarem mecanismos de cooperação
mais célere, bem como prevenir tais condutas.
3. Criação de uma secção especial nos tribunais de família, en-
carregue de compreender, clarificar e fornecer apoio sustentável aos
direitos processuais das crianças, tratar de todos os litígios relativos ao
crime de subtracção de menor, que se justapõe aos sistemas existentes.
4. Implementar medidas mais efectivas e abrangentes para o
progenitor que retira a criança da esfera espacial do outro progenitor,
indicando-se à título de exemplo: implementação da sanção pecuniária
compulsória a favor do menor. Esta medida pode ter uma duração de 5
anos. A maior importância deste regime seria o de forçar os pais a cum-
prirem as suas obrigações parentais, e desencorajar a prática do delito.
5. Criação de uma base de dados “nas fronteiras”, de serviços de
suporte abrangentes na cooperação e coordenação com a secção especial
de família, dos serviços da polícia criminal, a migração, os consulados, as
embaixadas, empresas de transporte, orientado para o trabalho em rede
com as autoridades do direito da família e dos Serviços Sociais, permi-
tindo-se para o alcance de melhores resultados relativamente à solução a
oferecer às crianças subtraídas. Com a base de dados, a criança entra no
sistema do direito de família, isso pode impedir o afastamento forçado da
criança a um dos progenitores. Nesta base podem ser inscritas as penas,
medidas aplicadas, a ordem de protecção às crianças, violação das penas
e medidas impostas.

Conclusão e recomendações

Procedeu-se a análise dos dados disponíveis relacionados com a


questão de subtracção de menor em Macau e Portugal, com o desiderato
de perceber a eficácia prática do delito no contexto parental. Os números
percorridos (em Portugal) demostram uma realidade gritante sobre a qual
importa intervir: existência de penas suspensas, com regime de prova,
insinuando-se a insuficiência/desadequação do delito no contexto penal,
como reacção adequada em termos de prevenção geral.
Sugerem-se as seguintes medidas, para além das supra mencionadas:

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Criar uma comissão que incluam profissionais dos vários sectores:


Magistrados do Ministério Público e judicias, polícia, acção social, saúde,
advogados, que promovam o debate sobre eventuais falhas do sistema, e
contribua para a melhoria;
Treinamento/formação especializada de profissionais para ras-
trear, identificar e colectar dados sobre vítimas de subtracção de menores;
No âmbito criminal, sugere a previsão de uma fase de triagem
(investigação sumária obrigatória, com audição de outras testemunhas),
permitindo fazer a triagem de casos que podem constituir verdadeira
subtracção de menor e que se revestem de diminuta gravidade;
Criação de um manual de actuação: que inclua Magistrados do
Ministério Público e judicias, saúde, acção social, polícias, advogados;
a fase de triagem; as regras e os prazos de actuação (24/48/72 horas),
os qual define as obrigações para cada autor, e obrigação de partilha de
comunicação e informação;
Previsão de obrigatoriedade de cooperação célere, recíproca e
contínua entre os tribunais de família e os tribunais criminais, em caso
de denúncia de subtracção de menor, abrangendo todos os momentos
processuais, até ao trânsito em julgado da decisão, com vista a protecção
da vítima em qualquer momento processual;
Criação do Estatuto da vítima, independentemente do tipo de
crime. A Lei n.º 6/98/M
de 17 de Agosto, Lei de Protecção às vítimas de crimes violentos,
não serve para os efeitos desejados.
Previsão legal de obrigatoriedade de comunicar à vítima do evento
das fazes processuais (mas não do seu conteúdo), para evitar que não
seja surpreendida pelo agente.
Criação de uma secção especial com competência para duas
especialidades: dedicar-se a vítima vulnerável e decisão conjunta da
matéria (criminal e civil);
No âmbito civil, sugere-se, ponderar a aplicação de medidas mais
progressivas e restritivas para o progenitor que retira a criança da esfera
espacial do outro progenitor: aumento do valor das indemnizações, im-
plementação da sanção pecuniária compulsória a favor do menor.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
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Authorship information
Ofélia Coutinho. Doutoranda e mestre pela Universidade de Macau/Macau.
[email protected]

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Acknowledgement: Ao Ângelo Patrício Rafael, PhD pela


Universidade de Macau, Faculdade de Direito - revisão linguística
do texto.

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874 | Coutinho, Ofélia.

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▪ Submission: 15/12/2022 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 10/01/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 20/01/2023 ▪ Reviewers: 2
▪ Review 2: 26/01/2023
▪ Preliminary editorial decision: 05/05/2023
▪ Correction round return: 20/05/2023
▪ Final editorial decision: 11/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


COUTINHO, Ofélia. Subtracção de menor por um dos pais:
eficácia prática no contexto parental. Revista Brasileira de
Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 825-874, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.777

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 825-874, mai.-ago. 2023.
Teoria da Prova Penal

Criminal evidence theory


Prova Pericial no Processo Penal:
a compreensão e a mitigação dos erros forenses
como mecanismo de respeito ao contraditório,
à ampla defesa e ao direito à prova lícita1

Forensic evidence in Criminal Procedure: the comprehension


and mitigation of forensic errors as a mechanism to promote the
adversarial principle, the full defense and the right to legal evidence

Maria Eduarda Azambuja Amaral2


Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, 14040-901, Ribeirão Preto-SP, Brasil
[email protected]
lattes.cnpq.br/2525804613065405
orcid.org/0000-0002-3361-3888

Aline Thaís Bruni3


Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, 14040-901, Ribeirão Preto-SP, Brasil
[email protected]
lattes.cnpq.br/3354375468883489
http://orcid.org/0000-0002-7721-3042

1
Apoio e Financiamento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq, projeto 465450 / 2014-8 - INCT Ciências Forenses, bolsa
105997/2022-6)
2
Advogada. Pesquisadora em estágio pós-doutoral na Faculdade de Filosofia, Ciên-
cias e Letras de Ribeirão Preto/USP (Bolsista CNPq/Brasil). Doutora em Ciên-
cias Criminais (PUCRS). Especialista em Perícia Criminal e Ciências Forenses
(IPOG). Especialista em Direito Processual Penal (CEI/CERS). Mestra em Biolo-
gia Celular e Molecular (PUCRS). Bacharela em Biomedicina (UFRGS).
3
Professora do Departamento de Química da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras de Ribeirão Preto/USP. Doutora em Ciências pela Universidade Estadual
de Campinas. Pós-doutorado em Biofísica (IBILCE/UNESP) e Química Teórica
(IQSC/USP). MBA em Planejamento e Gestão Ambiental pela Universidade Cân-
dido Mendes. Bacharela em Direito pela Universidade Paulista-UNIP.

877
878 | Azambuja Amaral; Bruni.

Resumo: A ciência forense auxilia a compreensão da dinâmica fá-


tica a partir do emprego de métodos, que possibilitam uma maior
controlabilidade à produção da prova, buscando reduzir o subjeti-
vismo inerente a outros meios de prova. Neste cenário, o que se
busca responder é: como a compreensão e a mitigação dos erros
forenses pode auxiliar na garantia dos direitos ao contraditório, à
ampla defesa e à prova lícita? Como hipótese de trabalho tem-se
que o conhecimento sobre os erros forenses é indispensável para
a produção de uma prova pericial de maior qualidade, que leve
ao julgador um conhecimento especializado de maior confiança,
resultando em uma valoração probatória mais coerente e direcio-
nada aos fatos, buscando reduzir o arbítrio e os erros judiciais. Para
isso, utilizou-se o método hipotético-dedutivo, com o emprego
da técnica de revisão bibliográfica e consulta à jurisprudência. Foi
possível demonstrar, ao final, que a comunidade científica deve
refletir, discutir e prezar por mais rigor na ciência forense, priori-
zando uma comunicação clara dos resultados, de modo a integrar
ciência, justiça e sociedade de maneira harmônica.
Palavras-Chave: ciência forense; ciências criminais; erros forenses;
direitos humanos.

Abstract: Forensic science contributes to criminal science by using scientific


methods, which allow for greater controllability in producing evidence,
seeking to reduce the subjectivism inherent in other types of proof. In this
scenario, we aim to answer the question: how can the comprehension
and mitigation of forensic errors contribute to ensuring the rights of the
adversarial principle, the entire defense, and legal evidence? The working
hypothesis is that knowledge about forensic errors is indispensable for the
high quality of expert evidence, resulting in a more coherent, evidential
assessment that is more focused on the facts to reduce arbitrariness and
judicial errors. To this end, the hypothetical-deductive method was used,
with the technique of bibliographic review and reference to jurisprudence.
In conclusion, it was possible to show that the scientific community should
reflect, discuss and value more rigor in forensic science, prioritizing a clear
communication of results to harmonize science, justice, and society.
Keywords: Forensic science; criminal sciences; forensics; human rights.

Sumário: Introdução; 1 A trilogia Daubert: um marco no estudo


dos erros forenses; 2. Os erros forenses e a importância do seu

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.819 | 879

estudo no Processo Penal; 2.1. Identificando as fontes de erros;


2.2. O controle dos erros forenses como mecanismo de efetivação
de direitos; Considerações Finais; Referências.

Introdução

Quando ocorre um crime, a investigação é desenvolvida a par-


tir de uma interface dupla: tanto técnica, quanto jurídica. As ciências
criminais buscam estudar o fenômeno do crime, diagnosticando os
principais problemas de segurança pública e buscando mecanismos de
redução de danos (COCKBAIN; LAYCOCK, 2017). A ciência forense,
por sua vez, auxilia na compreensão da dinâmica fática a partir do
emprego de métodos que possibilitam uma maior controlabilidade à
produção da prova, na tentativa de reduzir o subjetivismo inerente a
outros meios de prova.
A ciência forense pode ser vista como um dos pilares do sistema
de justiça e é considerada essencial para o avanço na resolução de casos
criminais. Por muito tempo, a prova pericial foi considerada como algo
infalível e inquestionável (KAPLAN; LING; CUELLAR, 2020; MURRIE
et al., 2019), notadamente pela racionalidade que sustentou o desenvol-
vimento científico por séculos. Historicamente a ciência pautou-se por
uma epistemologia de objetividade, em um cenário alavancado pela dico-
tomia cartesiana que entendia que o pesquisador se afastava do objeto de
modo a não permitir que eventos externos afetassem a sua avaliação. No
entanto, há muito já se sabe que tudo aquilo produzido e aplicado pelo ser
humano é passível de erros e, portanto, assumir uma objetividade plena
é um mito. Com a prova pericial não seria diferente.
O cientista, ao ocupar-se de novas metodologias, inevitavelmente
compreende o cenário experimental a partir de um outro olhar, tendo na
contestabilidade a principal ferramenta para a identificação de limites e
do aprimoramento da técnica. Essa é a ideia de falibilidade inaugurada
por Karl Popper no século XX, a partir da qual o autor sustenta que a
cientificidade de uma teoria se dá justamente pelo fato dela aceitar ser
contestada. Nas palavras de Edgard Morin,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 877-912, mai.-ago. 2023.
880 | Azambuja Amaral; Bruni.

“Popper troca a certeza pelo falibilismo, porém, não abandona a


racionalidade. Ao contrário, ele diz que o que é racional na ciência
é que ela aceita ser testada e aceita criar situações nas quais uma
teoria é questionada, ou seja, aceita a si mesma como biodegradável”
(MORIN, 2010, p. 38–39).

Esse cenário dicotômico já não mais se sustenta em uma socie-


dade que questiona, pelo menos desde a metade do século XX (ROUX;
CRISPINO; RIBAUX, 2012; MORGAN, 2018, 2019; GARRETT, 2021;
GARRETT et al., 2021; ROUX et al., 2022; SWOFFORD; CHAMPOD,
2022), a possibilidade de separar as experiências pessoais do fenômeno
analisado. Do contrário, é o cientista que cria o cenário, elege o objeto de
análise e aplica o método, estando inteiramente imerso em um contexto
pessoal e histórico. Por isso, entender as fontes de erros e os potenciais
vieses que podem interferir no exame pericial é de extrema importância
para aqueles que oferecem o seu serviço em um contexto de investigação
criminal (WINBURN; CLEMMONS, 2021).
Tratando da importância da compreensão de erros no cenário
criminal, Brandon Garret desenvolveu um estudo em que analisou o
contexto processual de 250 exonerações ocorridas nos Estados Unidos
(GARRET, 2011), em que indivíduos foram condenados erroneamente.
Dos 250 casos, a pesquisa mostra que em 74% (185) a discussão central
era o erro relacionado aos exames forenses. Dentre os principais temas,
análises de marca de mordida, de cabelo e de sorologia eram aquelas
que apresentaram mais erros. Em uma busca recente ao site4 do registro
norte-americano de exonerações, é possível identificar que das 3.284
exonerações constantes no banco de dados, em 2.509 um dos fatores
que contribuiu para a condenação injusta foi a “bad forensic scncontr”ou
seja, uma “má ciência forense”. Infelizmente não é possível encontrar
esse dado em relação ao cenário brasileiro.
Apesar disso, é importante relembrar que a perícia criminal, no
Brasil, é uma função do Estado e as análises forenses utilizam as condi-
ções oferecidas por ele. Logo, não é incomum encontrar notícias sobre
centros periciais mal equipados e com poucos investimentos. O estudo

4
Disponível em: <https://www.law.umich.edu/special/exoneration/Pages/
Exonerations-in-the-United-States-Map.aspx>. Acesso em: 15 mai. 2023

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 877-912, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.819 | 881

mais completo sobre dados da perícia criminal no Brasil foi publicado


em 2013 pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP). Esses
dados contemplam tanto a perícia Estadual, como a Federal (RODRIGUES;
DA SILVA; TRUZZI, 2012; SECRETARIA NACIONAL DE SEGURANÇA
PÚBLICA, 2013). A variabilidade interestadual e federal é bastante cla-
ra, não havendo, em alguns casos, procedimentos padronizados para as
avaliações, o que pode gerar interpretações questionáveis. É importante
que se reconheça que o levantamento citado provavelmente está desa-
tualizado e não representa o atual cenário de coisas. É provável que a
infraestrutura das perícias tenha sofrido um aprimoramento, mas sem
os dados não se pode concluir qual o atual momento em que se encontra
a perícia brasileira. A pergunta que se coloca é: como ter uma garantia
efetiva de que a informação em um laudo é fidedigna? Há pouquíssimos
estudos sobre a efetividade e a credibilidade dos laudos periciais e, prin-
cipalmente, se estes chegam a conclusões metodologicamente adequadas
sobre a interpretação dos vestígios (KOEHLER, 2016).
Embora a escassez de recursos seja parte da crise, uma identi-
dade contestada da ciência forense também é um fator significativo. É
necessário um consenso sobre a unidade da ciência forense: o que ela
“é” e, principalmente, para que serve. Uma identidade consistente, de-
senvolvida de forma colaborativa e aceita em todo o sistema de justiça, é
fundamental para diagnosticar as diferentes causas da crise e ser capaz de
articular soluções eficazes. A medida em que a ciência forense é conside-
rada uma disciplina unificada, coerente e interdisciplinar (RODRIGUES
et al., 2022), determinará como ela se desenvolve, quais os desafios que
ela é capaz de enfrentar e o quão bem-sucedida ela será na superação da
crise atual (MORGAN, 2019). Isso decorre do fato de que, ao tratarmos
a ciência forense de uma forma compartimentada, como um conjunto
de ciências multidisciplinares e não integradas, impedimos que ela seja
considerada uma ciência autônoma com principiologia própria. Ou seja,
“considerar a ciência forense de maneira integrada auxilia na coleta de
dados que podem ser utilizados de maneira eficiente em mecanismos de
inteligência forense” (RODRIGUES et al., 2022).
Neste cenário, o estudo dos erros forenses se coloca como elemen-
to central para a compreensão dos limites e das insuficiências estruturais
que perpassam as análises forenses, buscando uma maior compreensão

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 877-912, mai.-ago. 2023.
882 | Azambuja Amaral; Bruni.

do resultado de uma perícia. Na interface técnica, conhecer as fontes


e dar publicidade às taxas de erros das metodologias empregadas nas
análises e, consequentemente, dos limites da técnica, é uma maneira de
compreender as necessidades da ciência forense e de como aprimorar
o trabalho prestado. Na interface jurídica, por sua vez, esse conjunto
de informações são indispensáveis para que se produza uma perícia de
qualidade e mais transparente, propiciando uma maior efetivação dos
direitos à prova lícita, à ampla defesa e ao contraditório. Como conse-
quência, tem-se a redução de erros e arbítrios judiciais, se colocando
como um mecanismo de respeito aos direitos humanos e aos princípios
de um processo penal democrático.
Sendo assim, o presente artigo possui como objeto central
o estudo dos erros forenses no contexto processual penal, tentando
compreender as principais fontes de erro e quais os entraves que
devem ser superados para que se possa produzir uma prova pericial
mais qualificada e transparente. O que se busca responder é: como a
compreensão e a mitigação dos erros forenses pode auxiliar na garantia
dos direitos ao contraditório, à ampla defesa e à prova lícita? Como
hipótese de trabalho tem-se que o conhecimento sobre os erros forenses
é indispensável para a produção de uma prova pericial de maior qua-
lidade, que leve ao julgador um conhecimento especializado de maior
confiança, resultando em uma valoração probatória mais coerente e
direcionada aos fatos, buscando reduzir o arbítrio e os erros judiciais.
É a partir da interpretação dos vestígios através da análise realizada
pelos diversos métodos que se gera conhecimento técnico especializado,
o que auxilia no processo de tomada de decisão jurídica, justificando
a importância do presente estudo (MORELATO et al., 2014; DROR,
2017; COOPER; METERKO, 2019). Para isso, utilizou-se o método
hipotético-dedutivo, com o emprego da técnica de revisão bibliográfica
e consulta à jurisprudência.

1. A trilogia D aubert : um marco no estudo dos erros


forenses

O cenário norte-americano é peça chave no estudo dos erros fo-


renses, ainda que a discussão se coloque no momento da admissibilidade

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 877-912, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.819 | 883

da prova, geralmente de características diferentes aos sistemas romano-


-germânicos (VÁZQUEZ, 2021). Nos EUA vigora o modelo da common
law, no qual os precedentes jurisprudenciais têm importância central nas
decisões judiciais. Nesse sistema, as demandas são resolvidas de forma
mais específica, levando em consideração suas principais características.
Para que o réu seja considerado culpado, a hipótese acusatória deve ser
confirmada a partir de um arcabouço probatório que supere qualquer
dúvida razoável (beyond any reasonable doubt) (TARUFFO, 2014). A
interpretação mais aceita desse standard probatório demanda uma prova
incriminatória suficiente para descartar, por completo, qualquer versão
alternativa e razoável dos fatos que possa inocentar o acusado. Ou seja,
é necessário um juízo de probabilidade bastante elevado acerca do nexo
de causalidade e da culpabilidade do réu para que ele seja condenado
(GOMES et al., 2008; GUNN; MEVIS, 2018; PALMA, 2020; GONÇALVES;
DISSENHA, 2021; SOUSA FILHO, 2022).
Antes de falar dos casos, é importante fazer uma diferenciação
entre a figura do perito na common e na civil law. Na common law, as
provas periciais são apresentadas na corte a partir do testemunho do
perito (daí surge a ideia do expert witness). O perito é, portanto, in-
terrogado. No sistema da civil law, o perito não é uma testemunha e a
prova pericial não tem qualquer semelhança com a prova testemunhal.
A prova é formalmente oferecida em forma de laudo, contendo infor-
mações técnicas e/ou científicas específicas, embora o perito também
possa ser chamado em juízo para prestar esclarecimentos e emitir suas
opiniões (TARUFFO, 2014). Apesar das diferenças, em ambos os siste-
mas jurídicos a produção da prova deve, sempre que possível, aplicar as
melhores técnicas internacionais e levar em consideração os controles
de qualidade indicados pelos órgãos especializados na matéria. Ou seja,
a diferença substancial está em como a prova é apresentada e não na
aplicação da técnica na prática.
Em 1923, o caso Frye v. United States5 estabeleceu um primeiro
padrão para a aceitação da prova pericial. Neste caso, James Frye, que já
tinha sido condenado por homicídio, retratou-se da confissão que havia

5
Disponível em: <https://casetext.com/case/frye-v-united-states-7>. Acesso
em: 11 jun. 2022

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 877-912, mai.-ago. 2023.
884 | Azambuja Amaral; Bruni.

feito. Em primeiro grau, a defesa requereu ao juízo que James fosse sub-
metido a um detector de mentiras baseado em uma análise inovadora de
pressão sanguínea (VÁZQUEZ, 2021), pedido que foi negado pelo juízo
de primeiro grau. Diante disso, a defesa recorreu e o pedido também foi
negado em segundo grau, sob a fundamentação de que a técnica precursora
do polígrafo não havia conquistado a aceitação geral no campo ao qual
pertencia. Ou seja, a Suprema Corte do Distrito de Columbia afirmou que,
para que uma metodologia científica seja admitida no tribunal, deve ser
demonstrada a aceitação geral da técnica na comunidade científica (general
acceptance test) (HERDY, 2020; IMWINKELRIED, 2020), confirmando
a sentença condenatória. O critério Frye é, por isso, também conhecido
como critério da aceitação geral.
No entanto, alguns problemas surgem a partir desse padrão. O
primeiro é de que não há uma definição de como mensurar esse critério;
o segundo, é que não se pode estabelecer quais são os círculos científicos
relevantes. Quer dizer, não há um parâmetro humano e de aceitação para
subsidiar o critério estabelecido em Frye. Com o passar dos anos, diversos
tribunais passaram a criticá-lo fortemente, por ser “demasiadamente
maleável para ser útil” (VÁZQUEZ, 2021). Em 1975, à parte da discussão
acerca de Frye, foram promulgadas as Federal Rules of Evidence (FRE),
ou Regras Federais Norte Americanas acerca da prova, cuja regra 702 se
propunha a regular a admissibilidade da prova pericial e não abarcava o
critério da aceitação geral.
Apesar disso, o critério Frye ainda perpassou os debates até 1993,
quando o caso Daubert v. Merrel Dow Pharmaceuticals, de natureza civil,
mudou o curso da aceitabilidade da prova pericial. Na década de 1980,
o casal Daubert ajuizou uma ação indenizatória contra a farmacêutica
Merrell Dow, alegando que a ingestão pré-natal do medicamento Bendec-
tin, comercializado pela empresa, teria sido a causa de malformação nos
seus filhos. Tal medicamento era utilizado para prevenir indisposições
durante a gravidez.
A Corte Federal do Distrito Sul da Califórnia (United States Dis-
trict Court for the Southern District of California), responsável por anali-
sar o caso em primeira instância, afastou o testemunho de oito peritos
apresentados pelo casal – os quais afirmavam que o Bendectin “poderia
possivelmente causar danos congênitos” (VÁZQUEZ, 2021), por entender

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que eles não atendiam ao requisito da aceitação geral. Além disso, a Corte
Federal também afastou o testemunho de um médico especialista pela
farmacêutica – que afirmava não haver dados epidemiológicos publicados
que demonstrassem a correlação entre o fármaco e a má-formação, sob
o argumento de que os dados não teriam sido publicados ou sujeitos a
uma avaliação por pares (VÁZQUEZ, 2021).
Os autores recorreram e, chegando à Suprema Corte Norte Ame-
ricana, foi decidido que o critério da aceitação geral havia sido superado
pela regra 702 das FRE e que o juiz de primeira instância deve atuar
como guardião (gatekeeper) da prova pericial, recaindo sobre ele a res-
ponsabilidade para excluir depoimentos não confiáveis (CRISPINO, 2008;
SANDERS, 2009; MIRZA, 2016). Além disso, a corte determinou que o
juiz deve verificar alguns requisitos básicos no momento da admissibi-
lidade da prova pericial.
De maneira prática, o chamado Critério Daubert estabeleceu (i)
que a apresentação de provas científicas no tribunal deve ter base empírica,
(ii) que os métodos utilizados devem ser confiáveis e (iii) que as taxas
de erros devem ser conhecidas e aceitáveis. Além disso, (iv) determinou
que os métodos e as metodologias utilizados devem ter sido revisados
por pares, publicados em periódico internacional indexado e aceitos na
comunidade científica. Por fim, (v) a prova pericial deve ser útil para
auxiliar o julgamento e (vi) deve ter sido realizada independentemente
do litígio em específico. Esses requisitos apresentados pela Suprema Corte
estabeleceram limites para o testemunho do expert, evitando que fossem
usadas meras opiniões em relação à avaliação científica (SANDERS, 2009;
MIRZA, 2016; GIANNELLI, 2017; SILVA, 2018). Superava-se, assim, o
critério Frye e o mito da objetividade da prova pericial (WINBURN;
CLEMMONS, 2021).
O caso Daubert levou a reflexões sobre o uso da ciência forense e
suas consequências para um julgamento. Por esse motivo, é considerado
um marco no que tange à admissibilidade das provas periciais nas cortes
americanas. Os desdobramentos do julgamento impactaram a regra 702
das FRE, estabelecendo padrões mínimos a serem observados para ava-
liar a confiabilidade e a utilidade do testemunho de um especialista (LII:
LEGAL INFORMATION INSTITUTE, 2011):

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Regra 702. Testemunho do Expert

Uma testemunha qualificada como especialista por conhecimento,


habilidade, experiência, treinamento ou educação pode depor na
forma de opinião ou de outra forma se:

(a) o conhecimento científico, técnico ou outro conhecimento


especializado do perito ajudará o julgador do fato a compreender
a evidência ou a determinar um fato em questão;

(b) o testemunho é baseado em fatos ou dados suficientes;

(c) o testemunho é produto de princípios e métodos confiáveis;

(d) o “expert” aplicou de forma confiável os princípios e métodos


aos fatos do caso. (tradução dos autores)6

Após Daubert, dois outros casos foram importantes para reafirmar


a jurisprudência da Suprema Corte. O caso General Eletric Co. vs Joiner7
ocorreu em 1992, quando Joiner, um ex-funcionário da empresa General
Eletric, diagnosticado com câncer de pulmão, entrou com uma ação no
Tribunal da Georgia, alegando que sua doença fora desencadeada pela
exposição laboral contínua a agentes químicos. Como evidência científica,
Joiner levou o testemunho de especialistas que afirmavam – com base
em estudos pré-clínicos – o nexo de causalidade entre a exposição aos
elementos químicos e o desenvolvimento de câncer. O Tribunal Distrital
decidiu a favor da empresa, justificando que não havia provas o suficiente
que demonstrassem que o indivíduo teria sido exposto às toxinas e, prin-

6
Rule 702.Testimony by Expert Witnesses
Primary tabs
A witness who is qualified as an expert by knowledge, skill, experience, training,
or education may testify in the form of an opinion or otherwise if:
(a) the expert’s scientific, technical, or other specialized knowledge will help the
trier of fact to understand the evidence or to determine a fact in issue;
(b) the testimony is based on sufficient facts or data;
(c) the testimony is the product of reliable principles and methods; and
(d) the expert has reliably applied the principles and methods to the facts
of the case.
7
General Eletric Co. v. Joiner, 522 U.S. 136 (1997). Disponível em: <https://supre-
me.justia.com/cases/federal/us/522/136/case.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2022

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cipalmente que os especialistas não conseguiram comprovar que havia


alguma correlação. Na análise do recurso, a Corte de Apelação entendeu
que o tribunal a quo errou ao excluir o testemunho dos peritos, justificando
que “as regras federais de prova que regem os depoimentos de especia-
listas mostram uma preferência pela admissibilidade”. A Suprema Corte
Norte Americana, por sua vez, reverteu a decisão da Corte de Apelação,
sustentando que nada em Daubert ou nas Regras Federais exige que um
juiz admita uma prova de opinião ligada a dados existentes apenas pelo
ipse dixit do perito. Ou seja, o foco do debate deve permanecer na meto-
dologia e nas técnicas empregadas e não apenas na conclusão do estudo
oferecido na corte. Ficou decidido que “as provas periciais apresentadas
eram insuficientes em si mesmas, ou em conjunto” para sustentar que
a exposição aos químicos havia contribuído para o desenvolvimento da
doença (VÁZQUEZ, 2021). Isso reforçou o papel de gatekeeper do juiz,
uma vez que o tribunal tem legitimidade para concluir quando há lacunas
entre os dados e a opinião levada à corte.
O terceiro caso, Kuhmo Tire Co., Ltd. vs. Carmichael8, começou
em 1993 e levou em consideração questões relacionadas ao testemunho
de peritos. Patrick Carmichael estava dirigindo um veículo quando o
pneu estourou e o veículo tombou, resultando na sua morte e no feri-
mento dos outros passageiros. Os sobreviventes e o representante do
falecido entraram com uma ação contra o fabricante do pneu (Kumho
Tire) e seu distribuidor, alegando – a partir de um testemunho peri-
cial – que a falha no pneu foi a causa do acidente. Entretanto, a análise
deu-se apenas por inspeção visual e tátil do pneu e baseou-se na teoria
de que na ausência de pelo menos dois dos quatro sintomas físicos que
indicam excesso de uso de pneus, a falha do modo como ocorreu teria
sido causada por um defeito de fabricação (VÁZQUEZ, 2021). O Tribu-
nal Distrital (primeiro grau), ao aplicar os critérios Daubert, entendeu
que não havia confiabilidade na metodologia apresentada pelo perito.
A Corte de Apelação sustentou que o tribunal a quo havia cometido um
erro ao aplicar Daubert, afirmando que esse critério se limitava apenas
ao contexto científico e não a análises técnicas baseadas em habilidade

8
Kumho Tire Co. v. Carmichael, 526 U.S. Disponível em: <https://caselaw.
findlaw.com/us-supreme-court/526/137.html>. Acesso em: 15 jun. 2022

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888 | Azambuja Amaral; Bruni.

ou experiência. A Suprema Corte Norte Americana reverteu a decisão


do Tribunal de Apelação em 1999, considerando que a obrigação gate-
keeping aplica-se não apenas ao testemunho científico, mas a todos os
tipos de esclarecimentos prestados por especialistas (também chamada
de prova técnica). Ou seja, o critério Daubert não é um esquema rígido
e taxativo, mas um critério geral e flexível que deve ser aplicado em
cenários de prova técnica e/ou científica.
Por fim, não se pode deixar de salientar dois relatórios que fo-
ram produzidos nos Estados Unidos e que expuseram alguns problemas
encontrados nas análises forenses, servindo de base para o estudo dos
erros. O primeiro deles é o Strengthening Forensic Science in the United
States: A Path Forward, produzido em 2009 pela National Agency of Science
(NAS) (NATIONAL ACADEMY OF SCIENCES, 2009), o qual demons-
trou que algumas técnicas empregadas não apesentam confiabilidade e
cientificidade suficientes para serem empregadas no contexto forense e
elencou algumas recomendações na busca por uma maior qualidade da
prova pericial. Dentre elas, pode-se citar (i) o estabelecimento da ciência
forense como um campo maduro de pesquisa e prática, com a padroniza-
ção de terminologias a padrões de aplicabilidade, (ii) o desenvolvimento
de pesquisas acerca da precisão, confiabilidade e validade das técnicas
forenses e (iii) o investimento em treinamento pessoal, capacitação,
educação e acreditação de laboratórios. A recomendação 5, por sua vez,
incentiva o desenvolvimento de pesquisas relacionadas aos vieses e erros
forenses, buscando quantificar e caracterizar esses erros e determinar os
seus efeitos no contexto processual. A partir isso, a ideia era desenvolver
padrões de procedimentos, a fim de minimizar, na medida do possível,
potenciais vieses e fontes de erro.
O segundo foi o documento encomendado pelo ex-presidente
dos EUA, Barack Obama, produzido pelo comitê conhecido como Pre-
sident’s Council of Advisors on Science and Technology (PCAST) e inti-
tulado Forensic Science in Criminal Courts: Ensuring Scientific Validity of
Feature-Comparison Methods (PRESIDENT’S COUNCIL OF ADVISORS
ON SCIENCE AND TECHNOLOGY (PCAST), 2016), que se propôs a
avaliar o cumprimento das recomendações feitas pelo NAS no relatório
anterior. Infelizmente o cenário não foi muito favorável. Os dados do
PCAST demonstram a ausência de informações acerca de quais padrões

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científicos são utilizados nas análises forenses, havendo lacunas em relação


à validade e à confiabilidade científica dos métodos. Ou seja, as mesmas
preocupações identificadas em 2009 seguiram até 2016 e, provavelmente,
algumas delas permanecem até os dias atuais.
Especificamente em relação ao estudo dos erros forenses, o re-
latório encomendado pelo presidente Barack Obama apontou a ausência
de transparência em relação às taxas de erros, sendo cientificamente
indefensável a afirmativa sobre a possibilidade de 100% de certeza em
uma técnica (CHRISTENSEN et al., 2014; GARRETT; FABRICANT, 2018;
CRISPINO et al., 2022). A evidência científica, apesar de fornecer uma
prova mais objetiva ao processo penal, deve ser estudada dentro dos limi-
tes da técnica empregada. A importância prática e o uso frequente desse
tipo probatório justificam ainda mais a necessidade de um estudo sério
dos erros no cenário forense. É necessário primeiro reconhecer quais os
problemas que podem ocorrer para, então, desenvolver estratégias para
evitá-los ou, até mesmo, minimizar seus impactos práticos, servindo como
mecanismo de respeito aos direitos humanos e à principiologia probatória
do processo penal (KOPPL, 2005; ESSEIVA et al., 2007; GIANELLI, 2008;
RIBAUX; CRISPINO; ROUX, 2014; KOEHLER, 2017).

2. O s erros forenses e a importância do seu estudo no


Processo P enal

Os erros são algo natural e inerente a qualquer procedimento


técnico-científico (GARRETT, 2021) e, portanto, assumir a inexistência
de erros é atestar o desconhecimento da própria técnica. As fontes de
erro são inúmeras e, a partir da sua identificação, é possível, desenvolver
mecanismos de redução e controle. Sendo assim, nos últimos anos cresceu
muito o acerca dos tipos de erros (DROR; CHARLTON, 2006; CHRIS-
TENSEN et al., 2014; DU, 2017; DROR; SCURICH, 2020; DE ANDRADE;
SALUM; FERRARI JÚNIOR, 2021) e a discussão sobre a importância de
uma correta aplicabilidade das técnicas para orientar a investigação acerca
da autoria e da materialidade de um crime (CLARKE, 2004; COCKBAIN;
LAYCOCK, 2017). A ideia é centrar-se e identificar os erros, aprendendo
com eles como aprimorar as metodologias de análise.

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2.1. Identificando as fontes de erros

Os possíveis erros gerados na atividade pericial têm sido objeto


de discussão em diversos setores. O Innocence Project, por exemplo, é
uma organização não governamental relacionada aos direitos humanos
nos Estados Unidos que tem de maneira sistemática questionado con-
denações baseadas em convicções errôneas. No Brasil esse projeto teve
início em dezembro de 2016 e tem como objetivo identificar e reverter
as condenações de inocentes do país (INSTITUTO DE DEFESA DO DI-
REITO DE DEFESA, 2017).
Há uma série de situações e contextos em que erros podem
ocorrer durante a aplicação de uma técnica. Alguns cenários facilitam a
identificação, enquanto outros impõem algumas limitações e dificuldades.
O importante é assumir o fato de que as fontes são extensas e variadas
e, por isso, não se busca esgotar a temática, mas tão somente apontar
alguns cenários sabidamente críticos e descritos pela literatura atual
como potenciais fontes de erro no cenário forense.
Sem desconhecer que há variadas formas de classificar as fontes
e os tipos de erros forenses, optou-se, para fins didáticos e para manter
uma organização da ideia, por dividir em três grandes grupos – que não
são excludentes nem totalmente independente entre si, apenas agrupam
cenários práticas que se aproximam no que tange à temática: o primeiro
deles refere-se a fontes de erros diretamente relacionados às técnicas
em si, ou seja, questões de prática metodológica; o segundo, por sua vez,
abarca questões institucionais e administrativas, focando na estrutura
organizacional como um todo; o terceiro, por fim, fala das diferenças
conceituais e principiológicas e da incompatibilidade cultural que há
entre a ciência forense e o direito.
Peter Huber, um advogado norte-americano crítico às Federal
Rules of Evidence, em 1991 publicou o livro Galileo’s Revenge: Junk Science
in the Courtroom, no qual ele cunhou o termo junk science, para descre-
ver a aceitação judicial de testemunhos de especialistas não confiáveis
(GIANNELLI, 1993). Com o passar dos anos essa expressão passou a ser
amplamente utilizada como sinônimo às técnicas que não apresentam
padrões confiáveis de cientificidade ou, ainda, que possuem altas taxas
de erro. Exemplos citados pelo relatório norte-americano são as análises

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de mordida (bitemarks), as quais, conforme descrito, são apresentadas


no tribunal sem validação científica, determinação de taxas de erro ou
testes de confiabilidade para explicar os limites da técnica (NATIONAL
ACADEMY OF SCIENCES, 2009). O emprego de junk science na ciência
forense pode ter um efeito devastador, pois a fragilidade dos métodos
pode afetar uma série de etapas da análise pericial, levando a conclusões
frágeis e, até mesmo, errôneas (CRESSEY, 2012; SERVICK, 2016). A
lógica na ciência forense é de que as técnicas tenham base estatística
para garantir uma validação adequada e, principalmente, a reprodutibi-
lidade (STERN, 2017).
No primeiro grupo, podem-se citar os problemas relacionados
ao processamento de vestígios. Eles incluem desde a coleta, passando
pelo transporte, armazenamento, condicionamento e preservação das
amostras a serem periciadas. A ausência de protocolos de padroniza-
ção e de procedimentos uniformizados pode levar a contaminações e
degradações indesejadas (REID, 2018). Isso está diretamente associado
tanto a uma implementação adequada da cadeia de custódia do vestígio,
quanto ao chamado efeito backlog - que pode ocorrer nos laboratórios
e está relacionado ao tempo de armazenamento das amostras até que a
perícia seja realizada. Um estudo demonstrou que, quanto mais tempo
amostras de maconha ficam armazenadas para posterior análise, maior a
probabilidade de um resultado ser inconclusivo e menor a de um positivo
(DE ANDRADE; SALUM; FERRARI JÚNIOR, 2021). Ou seja, a forma de
processamento dos vestígios e a logística do próprio laboratório forense
também impactam nos dados encontrados.
Já, em relação ao segundo grupo, há uma série de questões insti-
tucionais que podem resultar em uma maior probabilidade de ocorrência
de erros. A falta de uma infraestrutura mínima, de gerenciamento dos
vestígios e de investimento em equipamentos podem afetar a logística
interna e a qualidade dos serviços prestados pelos órgãos de perícia.
A ausência de condições mínimas de trabalho pode gerar vícios nas
operações de análise e disseminação de resultados (ROUX; CRISPINO;
RIBAUX, 2012). O monopólio da interpretação de vestígios por uma única
instituição e a vinculação de laboratórios forenses a agências ligadas à
fase investigativa pode favorecer um cenário acusatório desequilibrado e
reduzir a imparcialidade pericial (KOPPL, 2010; EDMOND et al., 2015).

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No Brasil, o último diagnóstico mais geral da perícia criminal


foi realizado no ano de 2013, o qual identificou a carência de pessoal, de
equipamentos e de capacitação, e apontou a “necessidade de reformula-
ção da gestão da criminalística, sem o que o país siga carente de serviço
tão fundamental para a proteção dos direitos humanos” (SECRETARIA
NACIONAL DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2013). Segundo o Anuário de
Segurança Pública de 2022, atualmente há, no Brasil, 6.375 peritos crimi-
nais, 2.460 médicos legistas e 2.988 papiloscopistas. A recomendação das
Organizações das Nações Unidas (ONU) é de que o país tenha 1 perito a
cada 5 mil habitantes. Levando em consideração que a população brasi-
leira atual é de aproximadamente 211 milhões de habitantes, conforme
a última estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE)9, e somando os dados do anuário (peritos criminais, médicos
legistas e papiloscopistas – que totalizam 11.805 profissionais), o Brasil
tem um déficit de 30.395 profissionais.
Apenas a título de exemplo, o anuário demonstrou que, em 2021,
ocorreram 39.961 homicídios dolosos, 512 lesões corporais seguidas de
morte, 184.586 casos de tráfico e 164.879 de posse e uso de entorpecentes,
14.921 estupros e 45.994 estupros de vulneráveis (FÓRUM BRASILEI-
RO DE SEGURANÇA PÚBLICA, 2022). Uma quantidade extremamente
elevada para o número de efetivo pessoal disponível, sendo pratica-
mente impossível suprir a demanda investigativa. Isso reflete a falta de
investimento institucional, o que resulta em um passivo extremamente
elevado que, lá em 2013, já era de 22.479 laudos em relação a locais de
crime contra a pessoa, 200.622 em locais de crime contra o patrimônio
e 61.668 em acidentes de trânsito (SECRETARIA NACIONAL DE SEGU-
RANÇA PÚBLICA, 2013).
O terceiro grande grupo abarca, de uma maneira mais geral, a
distância teórica, conceitual e de linguagem que existe entre o direito
e a ciência forense. Há algumas incompatibilidades metodológicas que
devem ser levadas em consideração nesse cenário (ROBERTS, 2015).
Essa diferença se dá, principalmente, porque enquanto as ciências bus-
cam princípios mais gerais, o direito avalia a aplicabilidade da lei para

9
Disponível em: <https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-pr-254-de-
-25-de-agosto-de-2020-274382852>. Acesso em: 16 mai. 2023

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cada evento. A ciência possui um desenvolvimento muito mais acelerado


e dinâmico, se reinventando a cada descoberta. O direito, por sua vez,
possui regras e procedimentos formais mais estáticos e que demandam
um esforço maior para serem atualizados. Exemplo claro disso é a ativi-
dade legislativa, em que o projeto de novo código de processo penal (PL
8045) está em tramitação desde 2010. Apesar da natureza contraditória e
do desenvolvimento à parte dessas culturas, o sistema jurídico não pode
dispensar o conhecimento técnico-científico, da mesma forma que a
ciência forense não pode prescindir dos requisitos legais. Esse processo
simbiótico é essencial na aplicação da lei e no correto emprego das técnicas
forenses, buscando assegurar os direitos e as garantias fundamentais das
partes processuais (HAACK, 2009).
Nesse contexto, a forma pela qual a informação chega ao pro-
cesso penal é peça chave no cenário democrático. O uso de termos
muito técnicos e pouco didáticos contribui de maneira significativa
para os problemas de comunicação no sistema de justiça. É preciso
compreender que a comunidade – pensando nas partes do proces-
so – e os operadores do direito não possuem o mesmo background de
conhecimento dos especialistas forenses e, por isso, não lhes pode ser
exigido uma compreensão direta e ampla dos termos utilizados na re-
dação dos laudos periciais. É dever dos peritos o desenvolvimento de
habilidades de comunicação para alcançar a sociedade de uma forma
geral (BRACH; DUNN, 2009; CHRISTENSEN et al., 2014; HOWES,
2015). Um estudo realizado por Georgiou e colaboradores desenvol-
veu uma série de ferramentas para conceitualizar, avaliar e comunicar
resultados incertos na ciência forense, o que pode ser extrapolado para
a comunicação pericial de uma forma geral. Isso envolve, por exemplo,
a necessidade de utilização de termos apropriados para cada fenômeno
a ser informado e o uso de dados estatísticos para embasar os achados
(GEORGIOU; MORGAN; FRENCH, 2020).
No entanto, reconhecer a importância de uma comunicação
efetiva não significa abdicar da realidade de carência formativa dos pró-
prios profissionais do direito. Aos operadores do sistema criminal não
lhes é exigido um conhecimento pleno para avaliar de maneira vertica-
lizada as evidências científicas, entretanto, uma compreensão mínima é
indispensável para uma formação interdisciplinar completa. Por isso, é

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894 | Azambuja Amaral; Bruni.

importante que haja uma coerência nos questionamentos que são reali-
zados por parte dos operadores do direito, evitando enviesamentos que
busquem apenas um interesse pessoal, da mesma forma que peritos e
assistentes técnicos não podem fundamentar respostas em argumentos
não científicos (EDMOND et al., 2016; REID, 2018; SANGER, 2019). Para
isso, o Ministério da Justiça, junto com a Perícia Federal, desenvolveu o
Manual de Orientação de Quesitos da Perícia Criminal10, que tem como
objetivo orientar e facilitar essa comunicação.
Além disso, é sempre importante levar em consideração todas as
informações da técnica e dos procedimentos empregados para identificar
a possibilidade de ocorrência de erro na análise das evidências, evitando,
dessa maneira, alegações infundadas e baseadas em lacunas teóricas. Alguns
esclarecimentos sobre os procedimentos e o desempenho profissional
podem ser úteis na tentativa de resolver problemas e melhorar o sistema
de justiça. Por exemplo, os profissionais do direito podem questionar
se uma certa análise foi baseada na ciência e se o especialista possui a
experiência necessária para tal. Perguntas sobre a qualidade dos dados
também podem ser relevantes (GARRETT; NEUFELD, 2009; SANGER,
2013; REID, 2018) para compreender o resultado alcançado.
Esses três grupos abarcam alguns cenários que podem gerar erros
na prática. Os erros variam em cada cenário. Um erro pode ser definido
como engano, uma imprecisão, um problema de cálculo ou um descuido
prático (FRANCK; FRANC, 2020). Há dois tipos de erro relevantes e que
merecem atenção – apesar de não serem os únicos: são os falsos positivos
e os falsos negativos. Usando o exemplo de uma análise de droga, o falso
positivo ocorre quando o resultado de um teste afirma que há a substân-
cia ilícita em uma amostra quando esta está ausente. O falso negativo,
por sua vez, atesta que não há a substância, quando, na realidade, há.
Diversos estudos (BORDINI et al, 2012; FUCCI; DE GIOVANNI, 2012;
CONCEIÇÃO et al., 2014; DE JONG et al., 2018; MARTIRE et al., 2019;
ELIAERTS et al., 2021; GROWNS; KUKUCKA, 2021) vem sendo desen-
volvidos para compreender esses erros, o que auxilia no desenvolvimento

10
Disponível em: <http://www.mpce.mp.br/wp-content/uploads/2016/03/
Manual-de-orientação-de-quesitos-da-perícia-criminal.pdf>. Acesso em:
16 mai. 2023

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de mecanismos de controle. Uma vez que se possua a informação sobre


os erros, principalmente sobre a probabilidade e sensibilidade da técnica
(FRANCK; FRANC, 2020), dever-se-á discutir sobre o manejo jurídico
desses dados (VÁZQUEZ, 2021).

2.2. O controle dos erros forenses como mecanismo de efetivação de direitos

No Brasil, o estabelecimento de processo democrático a partir


da Constituição de 1988 (CF/88) trouxe garantias processuais básicas
e normas regulamentadoras da produção probatória que devem ser res-
peitadas (DE MENDONÇA, 2014; FONSECA, 2018). A principal delas é
a vedação à prova ilícita, disposta no artigo 5, inciso LVI da CF/88 e no
artigo 157 do CPP que, apesar de ser uma regra probatória de extrema
importância, não é suficiente para garantir que a prova pericial seja idônea.
Isso quer dizer que o fato de uma prova ser lícita não signifi-
ca – ou não é garantia – de que ela foi obtida por meio de boas práticas
forenses de investigação e de análise. Nesse sentido, o uso de mecanismos
de controle e de redução de erros forenses é peça fundamental para a
obtenção e produção de provas pautadas pela principiologia e legalida-
de democráticas. No contexto penal, espera-se que os exames periciais
sejam conduzidos pelos peritos oficiais com suficiente e confiável rigor
técnico-científico, de acordo com as melhores práticas internacionais,
buscando auxiliar na reconstrução fática e na confirmação ou refutação
das hipóteses processuais.
A prova pericial normalmente é produzida antecipadamente, em
momento anterior ao procedimento criminal, ainda em sede de inquérito
policial. E há justificativas técnicas para isso, além da norma disposta
nos incisos I e VII do artigo 6º do Código de Processo Penal (CPP), pois,
na ciência forense, o tempo é inimigo da precisão. Isso quer dizer que,
quanto mais tempo demorar para ser feita a busca dos vestígios, a coleta
e a análise, menores são as chances de se produzir uma prova confiável.
O próprio tempo de armazenagem do vestígio pode impactar na análise
forense, como já foi referido em um estudo que demonstrou o aumento
de resultados inconclusivos de acordo com o tempo de estocagem das
amostras (DE ANDRADE; SALUM; FERRARI JÚNIOR, 2021).

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Nesse cenário, quando a denúncia é oferecida, ela normalmente


está acompanhada da prova pericial, não havendo um juízo prévio de ad-
missibilidade desse tipo probatório. Em princípio, a ela só será discutida
pela sua admissibilidade e valoração quando da avaliação pelo juízo na
instrução probatória (HERDY; DIAS, 2021), ou seja, por aquele(a) que
irá julgar a causa. Vale lembrar, ainda, que de acordo com o princípio do
livre convencimento motivado11, disposto no artigo 155 do CPP, o juiz
tem a liberdade de apreciar a prova e formar seu convencimento, desde
que a decisão seja devidamente fundamentada por meio da apreciação
da prova produzida sob contraditório judicial, não podendo fundamen-
tar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipa-
das (AUILO, 2021).
Assim, apesar de ser produzida de maneira antecipada, é neces-
sário que a prova pericial seja submetida ao contraditório para que possa
ser utilizada como elemento do arcabouço probatório, ainda que de forma
diferida (já que produzida antecipadamente), já que a “possibilidade de
refutação pela defesa constitui elemento indispensável à validade jurídica
de um processo penal estribado na verificação do fato como condição
para a punição do acusado” (PRADO, 2014). Para isso, é indispensável
que se conheça a metodologia empregada, como se deu o procedimento
pericial, a taxa de erro da técnica, além de toda a documentação da cadeia
de custódia da evidência. Isso se deve, principalmente, pois a análise pe-
ricial pode afetar diretamente a liberdade do indivíduo envolvido naquele
procedimento criminal, sendo essencial que não restem dúvidas sobre os
procedimentos e resultados ali expostos (MOZAYANI; NOZIGLIA, 2006).
Nesse sentido o documento produzido pela Rede Europeia de Institutos
de Ciência Forense (European Network of Forensic Science Institutes –
ENFSI) estabelece que os profissionais forenses têm o dever de auxiliar
o tribunal, explicando o significado das suas conclusões no contexto do
caso (ENFSI, 2016).
Neste contexto, várias iniciativas nacionais e internacionais têm
sido desenvolvidas na tentativa não só de identificar as fontes de erros,
mas também tentar minimizá-las. Um exemplo é National Institute of

11
Também conhecido como Princípio da Persuasão Racional do Juiz.

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Standards and Technology (NIST) que administra uma organização de


comitês científicos (Organization of Scientific Area Committees for Fo-
rensic Science - OSAC), a qual tem por objetivo o desenvolvimento de
padrões e diretrizes com base científica para a análise dentro das diversas
disciplinas forenses. Nessa mesma lógica, a International Organization
for Standardization (ISO) publicou, em 2018, a norma ISO 21043, rela-
cionada a ciência forense. A primeira parte do documento corresponde
a termos e definições, enquanto a segunda se encarrega de protocolos
relacionados a procedimentos de cadeia de custódia. A ideia de lançar
esses documentos consiste em estabelecer padrões internacionais para
aumentar a confiabilidade no processamento dos vestígios e a transpa-
rência nas investigações. Os padrões, ainda, podem auxiliar as trocas de
informações entre países e o estabelecimento de cooperações no âmbito
da inteligência forense.
No Brasil, em 2020 passou a vigorar os artigos 158-A até 158-F
do CPP, que regulamentam a cadeia de custódia das provas periciais,
que se trata de um pressuposto fundamental para garantir a integridade
do vestígio, assegurar a rastreabilidade da fonte de prova e contribuir
para uma decisão mais coerente com os fatos, potencializando-se o
contraditório (GIACOMOLLI; AMARAL, 2020). Além disso, o Insti-
tuto Vladimir Herzog, em parceria com a Fundação Friedrich Ebert,
promoveu uma série de encontros do Grupo de Trabalho (GT) Perí-
cia Criminal nos anos de 2020 e 2021, com o intuito de aprofundar
a discussão a respeito das necessidades de aperfeiçoamento técnico
e científico das perícias e sua adequação aos principais parâmetros
e diretrizes de Direitos Humanos. Os trabalhos partiram de um de-
bate sobre o Relatório Nacional sobre Perícia Criminal (MEDEIROS,
2020), cujas recomendações indicavam, dentre outras necessidades,
o investimento em educação, ciência e tecnologia para a valorização
de pesquisas sobre perícia criminal e a continuidade de investimento
em programas de atuação autônoma de peritos.
Já em 2009, inclusive, o relatório norte-americano indicava a
necessidade de controlabilidade dos erros, com investimentos em edu-
cação, treinamento de boas práticas metodológicas e acreditação de la-
boratórios e pessoal. Segundo o documento, seria recomendado, dentre

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outras coisas,12 (i) apoiar a pesquisa das ciências forenses sobre o viés
humano e as fontes de erro, (ii) desenvolver ferramentas para o avanço
da medição, validação, confiabilidade, compartilhamento de informações
e testes de proficiência, a fim de estabelecer protocolos para exames,
métodos e práticas, (iii) exigir o credenciamento obrigatório de todos
os laboratórios forenses e a certificação para todos os profissionais da
ciência forense e (iv) que os laboratórios estabeleçam procedimentos
rotineiros de garantia de qualidade.
Boas práticas de análise forense, equipamentos adequados, pro-
fissionais capacitados e procedimentos padronizados são essenciais para
a produção de evidência e redução de erros. Uma das ferramentas críticas
de gestão em análise forense é a certificação, que pode conferir segurança
aos procedimentos administrativos e institucionais. A acreditação busca
atestar a credibilidade técnica da prestação de um serviço. A garantia
da qualidade em um processo de investigação criminal é fundamental,
pois pode evitar questionamentos jurídicos sobre as provas produzidas
consequentes nulidades, sendo reiteradamente reforçada a sua necessi-
dade no cenário pericial. O procedimento de acreditação realiza diversas
atividades aplicáveis ​​aos laboratórios de calibração e ensaios e análises
clínicas, além de serviços de consultoria e acompanhamento da interpre-
tação dos resultados (KOCH; TANDALO; SILVA, 2016; RODRIGUES; DE

12
No original: 1. Create a National Institute of Forensic Sciences (NIFS). 2.
Standardize terminology and reporting practices. 3. Expand research on the
accuracy, reliability, and validity of the forensic sciences. 4. Remove forensic
science services from the administrative control of law enforcement agen-
cies and prosecutors’ offices. 5. Support forensic science research on human
observer bias and sources of error. 6. Develop tools for advancing measure-
ment, validation, reliability, information sharing, and proficiency testing and
to establish protocols for examinations, methods, and practices. 7. Require
the mandatory accreditation of all forensic laboratories and certification for
all forensic science practitioners. 8. Laboratories should establish routine
quality assurance procedures. 9. Establish a national code of ethics with a
mechanism for enforcement. 10. Support higher education in the form of
forensic science graduate programs, to include scholarships and fellowships.
11. Improve the medico-legal death investigation system. 12. Support Auto-
mated Fingerprint Information Systems (AFIS) interoperability through the
development of standards. 13. Support the use of forensic science in home-
land security.

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TOLEDO, 2017). Os órgãos oficiais de análise forense brasileiros não têm


a obrigação de obter a certificação.
Apesar disso, em 2013, representantes do Instituto Nacional
de Criminalística da Polícia Federal (INC/DPF) procuraram o Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), demonstran-
do interesse em acreditar alguns dos seus laboratórios, mas, para isso, o
Inmetro precisava estruturar um programa de acreditação de laboratórios
forenses na área criminal13. A partir disso, foi criado um Grupo de Trabalho
Forense para estruturar o Programa de Acreditação, que desenvolveu o
projeto piloto NIT-DICLA-075, cujo objetivo é definir as aplicações da
ABNT NBR ISO/IEC 1702514 para Laboratórios de Criminalística. Esse
projeto abarca desde os ensaios a serem realizados, a forma de processa-
mento, passando pela regulamentação da cadeia de custódia.
Em 2018 os laboratórios de Química de Genética Forense do Insti-
tuto Nacional de Criminalística da Polícia Federal receberam a acreditação
ABNT NBR ISO/IEC 1702515, com uma revisão em 2020 e que, segundo
as informações encontradas, ainda está ativa16. É importante reconhecer
a importância de uma padronização a partir de regras compartilhadas
internacionalmente, buscando uma melhor adequação aos parâmetros
de referência e o fortalecimento da perícia. Portanto, a acreditação dos
laboratórios da Polícia Federal é uma iniciativa extremamente necessária
e que deve ser enfatizada, na medida em que eleva a qualidade da perícia
brasileira aos padrões internacionais de acreditação, servindo como exem-
plo para que outros laboratórios também busquem por esses parâmetros.
É um mecanismo que, além de elevar a qualidade do trabalho pericial,
reduz a possibilidade de ocorrência de erros, entregando uma prova de
maior qualidade para a sociedade e para o sistema de justiça.

13
Disponível em: <http://lilith.fisica.ufmg.br/wmcf2/2017-apr_TelmaRNasci-
mento.pdf>. Acesso em: 6 nov. 2022
14
Norma ABNT ISO/IEC 17025 - Requisitos Gerais para Competência de Labo-
ratórios de Ensaio e Calibração.
15
Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/laboratorios/rble/docs/CRL1392.
pdf>. Acesso em: 6 nov. 2022
16
Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/laboratorios/rble/detalhe_la-
boratorio.asp?nom_apelido=POLICIA+FEDERAL%2FINC#>. Acesso em:
6 nov. 2022

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900 | Azambuja Amaral; Bruni.

O que se percebe, portanto, são iniciativas que buscam aprimorar


a idoneidade da prova pericial, notadamente diante da sua importância
no processo penal. A partir do estudo dos erros forenses, é possível iden-
tificá-los e tentar reduzi-los, num esforço direcionado pelo respeito aos
direitos humanos. A partir da identificação das limitações da técnica, é
possível questioná-la, propiciando uma maior efetividade aos princípios
do contraditório, da ampla defesa e do direito à prova lícita.

C onsiderações Finais

Existem muitos relatos na literatura de erros na análise decor-


rentes de investigações científicas que levaram a condenações injustas
(GARRETT; NEUFELD, 2009; D. FREE, JR.; RUESINK, 2016; KARAFFA;
PAGE; KOCH, 2017; ZAPF; DROR, 2017). Não resta dúvida sobre a utili-
dade das ciências em ajudar a desvendar as características de um crime.
Entretanto, os fundamentos usados para apoiar essas investigações não
podem estar embasadas em dados não confiáveis e desprovidos de me-
todologia conhecida (MNOOKIN, 2018; REID, 2018). Isso pode levar a
alegações equivocadas e, principalmente, a condenações de inocentes.
A transparência, a imparcialidade e, principalmente, a lealdade
à técnica devem conduzir a análise forense, apresentando um laudo que
seja coerente, claro, preciso e compreensível (EDMOND et al., 2016).
Se conduzida em desconformidade com as metodologias estabelecidas
e com os padrões de qualidade recomendados, a perícia criminal pode
ser uma fonte autorizada de injustiças. Por isso, os métodos usados na
ciência forense há muito tempo vêm sofrendo críticas acadêmicas e
científicas, as quais podem colocar em xeque a credibilidade do conteúdo
dos laudos e, principalmente, a própria estrutura do sistema pericial no
mundo jurídico (ROBERTS, 2015; ROBERTS; STOCKDALE, 2018). Para
os mesmos temas, existem abordagens diversas e pouco validadas (ROUX
et al., 2015; MNOOKIN, 2018).
Portanto, a comunidade científica deve refletir, discutir e prezar
por mais rigor na ciência forense. A comunicação dos resultados deve ser
clara, de modo a integrar ciência, justiça e sociedade de maneira harmônica
(HOWES, 2015; STERN, 2017; BELL et al., 2018). O que se espera é que

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a evidência forense colabore e ofereça um conhecimento mais correto


acerca da realidade fática, afastando ao máximo a subjetividade inerente
a outros meios de prova, como o testemunho. Exatamente por isso é que
a prova pericial deve ser cuidadosamente produzida e gerenciada.
Entende-se que o artigo atingiu o seu objetivo, trazendo à tona
como compreensão e a mitigação dos erros forenses pode auxiliar na
garantia dos direitos ao contraditório, à ampla defesa e à prova lícita, de-
monstrando a clara necessidade de um sistema de controles que perpassa
desde os protocolos internos de laboratório, até a estrutura organizacional
da perícia. Não se buscava esgotar o assunto, mas trazer à tona elementos
que auxiliem para o aprimoramento da perícia e da prova oferecida ao
sistema criminal. O compartilhamento das experiências de análises de
casos é de extrema importância para detectar pontos fracos, propor me-
lhorias e promover discussões sobre as informações produzidas a partir
de uma avaliação científica de casos criminais (TONRY, 2015; BILLIS,
2017), garantindo o respeito aos direitos humanos e à principiologia
processual penal.

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Authorship information
Maria Eduarda Azambuja Amaral. Bolsista de Pós-Doutorado Júnior (CNPq) no
Departamento de Química da FFCLRP/USP. Doutora em Ciências Criminais
(PUCRS). Advogada. [email protected] ou [email protected]

Aline Thaís Bruni. Professora no Departamento de Química da FFCLRP/USP.


Doutora em Ciências pela Universidade de Campinas, com Pós-doutorado em
Biofísica (IBILCE/UNESP) e Química Teórica (IQSC/USP). Bacharela em Direito
(UNIP). [email protected]

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 877-912, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.819 | 911

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Acknowledgement: Apoio e Financiamento: Conselho Nacional


de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, projeto
465450 / 2014-8 - INCT Ciências Forenses, bolsa 105997/2022-6).

Conflict of interest declaration: the authors confirm that there are


no conflicts of interest in conducting this research and writing
this article.

Declaração de autoria e especificação das contribuições (declaration


of authorship): all and only researchers who comply with the
authorship requirements of this article are listed as authors; all
coauthors are fully responsible for this work in its entirety.

▪ Maria Eduarda Azambuja Amaral: conceptualization,


methodology, investigation, writing – original draft,
validation, writing – review and editing, final version
approval.

▪ Aline Thaís Bruni: conceptualization, investigation, validation,


writing – review and editing, final version approval.

Declaration of originality: the authors assure that the text here


published has not been previously published in any other resource
and that future republication will only take place with the express
indication of the reference of this original publication; they also
attest that there is no third party plagiarism or self-plagiarism.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 877-912, mai.-ago. 2023.
912 | Azambuja Amaral; Bruni.

Editorial process dates


(https://revista.ibraspp.com.br/RBDPP/about)

▪ Submission: 15/03/2023 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 25/03/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 22/04/2023 ▪ Reviewers: 3
▪ Review 2: 22/04/2023
▪ Review 3: 05/05/2023
▪ Preliminary editorial decision: 12/05/2023
▪ Correction round return: 16/05/2023
▪ Final editorial decision: 11/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


AZAMBUJA AMARAL, Maria Eduarda; BRUNI, Aline Thaís. Prova Pericial
no Processo Penal: a compreensão e a mitigação dos erros forenses como
mecanismo de respeito ao contraditório, à ampla defesa e ao direito à prova
lícita. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, vol. 9, n. 2,
p. 877-912, mai./ago. 2023. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.819

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 877-912, mai.-ago. 2023.
A complexidade da significação probatória:
problemas, dimensões e conteúdo da
intencionalidade da prova penal

The complexity of probatory signification: problems, dimensions,


and content of the intentionality of the criminal proof

Eliomar da Silva Pereira1


Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil
Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, Portugal
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/9833903206987713
https://orcid.org/0000-0001-7792-7654

Resumo: O que queremos dizer com a asserção “está provado que”?


O argumento principal deste artigo é que se trata de um problema de
significação probatória, cuja devida compreensão passa pelo concei-
to central de intencionalidade, acerca do qual encontramos muitos
problemas, precisamos distinguir dimensões semióticas e especificar
uma constelação de noções lógicas. O objetivo deste artigo consiste
em discutir essas questões, com base em uma abordagem que mobi-
liza argumentos da filosofia da mente e da linguagem, especialmente
encontrados nas teorias de J. R. Searle. Ao final, esperamos tornar
claro que a significação probatória, embora pressuponha uma mente
e se encontre em linguagem processual, consiste em uma específica
intencionalidade intermediária, que se pode beneficiar teoricamente
das duas bases conceituais, e assim tornar evidente tudo que se supõe
na asserção “está provado que”.
Palavras-chave: significação; intencionalidade; semiótica; prova.

1
Doutor em Direito (Universidade Católica Portuguesa – Escola de Lisboa) com
pós-doutorado em Filosofia (Universidade de Brasília – Departamento de Filo-
sofia, Programa de Pós-Graduação em Filosofia, no âmbito do qual esse artigo
foi escrito).

913
914 | da Silva Pereira, Eliomar.

Abstract: What do we mean by the assertion “it is proved that”? The main
argument of this article is that it is a problem of probative significance, whose
proper understanding goes through the central concept of intentionality,
about which we found many problems, we need to distinguish semiotic
dimensions and specify a constellation of logical notions. The purpose of
this article is to discuss these issues, based on an approach that mobilizes
arguments from the philosophy of mind and language, especially found
in the theories of J. R. Searle. In the end, we hope to make it clear that
the evidential meaning, although it presupposes a mind and is found in
procedural language, consists of a specific intermediate intentionality,
which can theoretically benefit from the two conceptual bases, and thus
make evident everything that is assumed in the assertion “it is proven that”.
Keywords: signification; intentionality; semiotics; proof.

Sumário: Introdução; 1. A intencionalidade: mente, prova e atos de


fala; 2. Intenções de significação; 3. A tridimensionalidade semiótica;
4. A significação probatória: um modelo analítico; Considerações
finais. Referências

Introdução

O que queremos dizer com “está provado que” (pq)? Essa asser-
ção, que tem começado a preocupar juristas em relação à prova dos fatos
jurídicos em geral2, e mais especificamente aos fatos jurídicos definidos
como crime, há muito tempo preocupa filósofos3. Nós a podemos en-
contrar em sentenças penais, bem como em uma variedade de outros

2
Jordi Ferrer Beltran se propõe enfrentar o problema de enunciados desse
tipo, dividindo-o em questão de força e questão de sentido, para os quais
tendemos a considerar com questões de referência e significado no probema
geral da significação probatória (BELTRAN, J. F. Prova e verdade no direito. São
Paulo, RT, 2017, p. 21)
3
Richard Fumerton inicia sua discussão filosófica, dando-nos um problema
real que ajude o leitor a entender de que trata a epistemologia: “Você está
num júri. Sua tarefa é decidir se as provas mostram de fato que não pode haver
dúvida racional de que Jones tenha matado sua espsosa” (FUMERTON, R..
Epistemologia. Petrópolis, Vozes, 2014, p. 9)

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.817 | 915

atos processuais, a exemplo de relatórios de inquéritos, laudos periciais,


denúncias de acusação e até mesmo em depoimentos de testemunhas.
Todos, ainda que com sentenças linguísticas muito diferentes, querem
dizer “X prova que Y” (XpqY)4. Cada um ao seu modo, de forma mais
direta ou menos incisiva, pode conter na sua proposição central isso que
interessa a todo o processo penal, saber se “está provado que” alguém
cometeu um crime. Mas também as mídias sociais o dizem, ainda que
apenas o sugiram quando são mais cautelosas, embora na audiência pública
não se siga igual cautela ao reproduzirem as reportagens.
Apesar de nem sempre a questão “está provado que” ocupar o
ponto central das decisões jurídicas – sobretudo em tribunais superiores,
porque a questão de fato não é rediscutida em grau de recurso, em razão
da organização do sistema jurídico, ou simplesmente porque não é levada
a sério nos casos de competência originária, em razão da inexistência de
um grau de recurso que as possa auditar – trata-se de uma questão pre-
judicial, sem a qual toda a discussão jurídica se faz apenas por abstração
racional dos pensamentos. O jurista bem o sabe, afinal antes que qual-
quer norma penal possa ser interpretada e aplicada, supõe-se que exista
algum acordo acerca dos fatos a que se refere e destina5. Mas entre fato
e norma, interpõe-se essa questão, embora não devidamente enfatizada,
que assume a base de sustentação das decisões judiciais. É, insuperavel-
mente, o problema central do processo penal, pelo menos nos modelos
de jurisdição que assumem o postulado do cognitivismo processual6. Ao
jurista, portanto, deve interessar entender o que se quer dizer com “está
provado que”, afinal é uma questão que concerne à lógica dos raciocínios
probatórios, ainda que não venha explícita na motivação de sentenças
judiciais, pois se supõe em qualquer sistema de valoração de provas.

4
Ao falarmos em sentenças, em sentido geral ou linguístico, pedimos ao leitor
que a considere como formas possíveis de enunciados que contêm uma mes-
ma proposição, a exemplo dessa que nos interessa: “X prova que Y” (XpqY).
Se estivermos falando de um específico enunciado processual, diremos sen-
tença penal, setença judicial ou sentença em julgamento.
5
FERRAJOLI, L. Diritto e Ragione: teoria del garantismo penale. Roma-Bari,
Laterza, 2008, p. 18-23.
6
FERRAJOLI, L. Diritto e Ragione: teoria del garantismo penale. Roma-Bari,
Laterza, 2008, p. 8.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
916 | da Silva Pereira, Eliomar.

Inicialmente, é certo, a considerar que encontramos tais asserções


em forma escrita no processo, podemos discutir a questão em termos
linguísticos para perguntar o que significam enunciados do tipo “está
provado que” (e de fato muitas categorias teóricas da análise linguística
nos podem auxiliar na discussão), mas uma primeira tentativa de res-
posta – que remeta à necessária alusão ao fato de que há provas acerca
do objeto do processo – logo nos deve reconduzir ao nível primário dos
signos em que se apoia a asserção linguística “está provado que”7. A ju-
ristas, portanto, embora desenvolvam toda a discussão probatória em sua
linguagem natural, nos atos documentados do processo, interessa saber
antes e sobretudo o que quer dizer quando afirmamos que um signo (não
necessariamente linguístico) prova um crime, afinal as palavras não são
prova do crime, são apenas prova de que alguns sujeitos processuais afir-
mam existir prova de crime, possivelmente acreditam nisso e certamente
esperam dos demais interlocutores algumas atitudes similares. Mas isso
quer dizer algo muito diferente do que quer dizer que algum sinal (coisa
ou pessoa) seja prova de um crime.
O que quer, então, dizer tudo isso? Seja o que for, a resposta passa
pelo problema geral da significação probatória, quando consideramos a
discussão probatória em termos de linguagem, mas vamos argumentar
que antes de qualquer linguagem intervir, temos uma instância anterior de
intencionalidade nos eventos mentais, que serve inclusive para uma melhor
compreensão dos problemas típicos da linguagem probatória8. A proposta,
portanto, que vamos desenvolver neste ensaio, assume “o significado

7
Ao falarmos de signos, pedimos ao leitor que assim considere quaisquer sinais
assumidos como prova, em atos e discussões processuais. Assim o fazemos
com base em concepção que se encontra na semiótica peirceana (PEIRCE,
C. S. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 2017), segundo a qual tudo se pode
compreender como signo, sempre que temos sinais (coisas ou pessoas) inter-
pretados em referência a um objeto (o crime).
8
Essa é uma abordagem possível, como o admite Luiz Henrique de Araújo Du-
tra: “O caráter intencional dos eventos mentais – hoje um ponto pacífico na
filosofia da mente – tem sido um tema de discussão que ocasiona particular-
mente o recurso a certas teorias da linguagem” (DUTRA, L. H. A. Filosofia da
Linguagem: introduçào crítica à semântica filosófica. Florianópolis, Editora
UFSC, 2017, p. 30)

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
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como um tipo de intencionalidade”9, embora optemos por usar a palavra


significação, segundo terminologia sugerida por L. H. Araújo Dutra, para
quem o termo abrange tanto questões de referência, quanto de significado,
além de questões de sentido nos casos em que se aplica10. Mas o usamos
em sentido não restrito apenas a enunciados linguísticos sobre a prova,
supondo que nos seja possível falar de significação de sinais do crime
assumidos como signo probatório, nos casos em que a terminologia se
possa aproveitar. Trata-se apenas de admitir o modelo de atos de fala
para compreender a intencionalidade dos atos probatórios, assim como
Searle o admite para compreender a intencionalidade dos estados mentais.
Isso, contudo, não implica assumir que “a filosofia da linguagem é um
ramo da filosofia da mente”11, afinal, como adverte L. H. Araújo Dutra:
“A intencionalidade é, de fato, um fenômeno emergente que pode acon-
tecer em diversos contextos. Acontece no contexto da vida, da mente e
também da sociedade e nas diversas inter-relações entre essas esferas
emergentes”12. E supomos que também aconteça na esfera da prova do
crime como parte do que acontece na comunidade jurídica dos sujeitos
processuais. A linguagem, nesse sentido, é apenas uma dessas esferas, na
qual a intencionalidade emerge, mas antes ela se encontra na esfera da
mente, assim como se vai encontrar em várias outras instituições sociais,
a exemplo do processo penal onde temos uma pretensão probatória13.
O argumento principal deste ensaio, portanto, consiste em ex-
plicar a asserção “está provado que” como um problema de significação
probatória, cuja natureza intencional nos exige entender o conceito central

9
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 225.
10
DUTRA, L. H. A. Filosofia da Linguagem: introduçào crítica à semântica filo-
sófica. Florianópolis, Editora UFSC, 2017, p. 46.
11
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 224.
12
DUTRA, L. H. A.. Realidade e Conhecimento Social: aspectos ontológicos e
epistemológicos das ciências humanas. Florianópolis, Editora UFSC, 2021,
p. 179-180)
13
A expressão “pretensão probatória”, que foi suscitada por um dos avaliado-
res deste artigo e aceita pelo autor, parece-nos representar bem o problema
da intencionalidade, se tivermos em conta, além da pretensão processual de
obtenção certa prova, a intenção material de obter certo resultado lógico da
prova em relação ao crime. É nesse sentido que falaremos de postulação de
uma função probatória.

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918 | da Silva Pereira, Eliomar.

de intencionalidade, com base em concepções que encontramos tanto na


filosofia da mente, quanto na filosofia da linguagem, especialmente nas
teorias de J. R. Searle, buscando evidenciar a específica intencionalidade
probatória (Seção 1). Esperamos com base nesse conceito central poder
avançar no entendimento de que o problema da significação probatória
não se pode reduzir a uma questão semântica (Seção 2), pois o específico
contexto processual penal nos exige reconhecer outras dimensões semió-
ticas da prova, sobretudo a pragmática (Seção 3), mas ainda como uma
perspectiva da intencionalidade probatória. Em complemento, buscamos
detalhar o conteúdo dessa intencionalidade, segundo um modelo analítico
composto de três relações (significado, referência e verdade) com que
podemos entender a específica significação probatória (Seção 4). Com
isso, ao final, esperamos tornar mais claro por que razões a significação
probatória, como um problema de intencionalidade, é uma pretensão
complexa que nos exige ter em conta muitas questões nem sempre postas
em evidência na prática processual penal. O nosso objetivo, nesse sentido,
é essencialmente teórico, porque busca explicar a significar probatória,
com base em diálogo com a filosofia da mente e a filosofia da linguagem,
em termos de intencionalidade, expondo seus principais problemas e
como eles se podem apresentar no âmbito do interesse probatório em
processo penal.

1. A intencionalidade: mente, prova e atos de fala

Antes que qualquer linguagem probatória se possa apresentar


aos sujeitos processuais – visando à comunicação por atos processuais,
na discussão pelas partes em debates de instrução ou no proferimento da
sentença em julgamento –, um sujeito qualquer se depara com os diversos
sinais relativos ao crime acerca dos quais postula sua função probatória.
E embora essa postulação probatória tenha que pressupor certas ins-
tituições, além de também relacionar-se com elas quando enunciadas,
trata-se de uma questão de intencionalidade que originariamente ocorre
no campo da mente dos sujeitos. Essa é uma afirmação trivial, sobretudo
para quem de fato se dedica à atividade probatória no processo penal,
mas até quem nunca se tenha empenhado nesse tipo de atividade pode
entendê-la facilmente. Entretanto, esse é precisamente o modelo de que

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https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.817 | 919

precisamos para discutir a intencionalidade probatória que antecede ao


problema da significação especificamente linguística, que desde os eventos
mentais já assume aquilo que a linguagem probatória depois pretende
discutir no processo penal. Isso quer dizer, portanto, que “o significado
do falante deve ser inteiramente definível em termos de formas mais
primitivas de Intencionalidade”, a requerer que falemos de formas de
intencionalidade “não intrinsecamente linguísticas”, o que é não-trivial
como ressalta J. R. Searle14.
É, portanto, do que vamos tratar nessa seção, visando a obter uma
compreensão geral dessa intencionalidade que nos conduza depois ao seu
tipo específico de significação. Uma noção com que podemos entender a
intencionalidade é aquela de representação, com a qual podemos entender
não apenas atos de fala, mas também signos em geral, a exemplo dos atos
probatórios como temos argumentado. Essa noção nos coloca em conexão
com uma das ideias fundamentais do signo que encontramos em C. S.
Peirce, permitindo entender sua abrangência não puramente correspon-
dencial, a considerar os diversos tipos que encontramos nas tricotomias
peirceanas, tanto relativa ao objeto (ícone, índice, símbolo), quanto
relativa ao interpretante (rema, dicente, argumento)15. A juristas penais,
essa concepção abrangente se pode compreender facilmente, se tivermos
em conta que a prova, assimilada como signo, pretende corresponder ao
crime como objeto, embora nem sempre tenhamos correspondências icô-
nicas do crime, como registros de câmaras ou interceptações telefônicas,
mas apenas indícios de que o crime foi praticado por alguém. Por isso,
precisamos de uma noção mais primária, em termos de direcionalidade
e relacionalidade, com as quais poderemos entender melhor seu sentido
abrangente de eventos que estão além dos signos, bem como antes deles
na mente das pessoas, permitindo-nos entender especificamente a noção
de intencionalidade probatória que nos interessa, segundo uma noção de
funcionalidade16.

14
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 224.
15
PEIRCE, C. S. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 2017, p. 52.
16
Essas três concepçõees fundamentais (direcionalidade, relacionalidade e fun-
cionalidade) se encontram, respectivamente em SEARLE, J. R. Intencionalida-
de. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 1-6; DENNETT, D. C. Tipos de Mentes:
rumo a uma compreensão da consciência. Rio de Janeiro, Rocco, 1997, p.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
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Direcionalidade, relacionalidade e funcionalidade

J. R. Searle considera a intencionalidade inicialmente como uma


propriedade da mente, seus estados e eventos mentais, pela qual estes são
direcionados a objetos, eventos ou estados de coisas que se encontram no
mundo17, a exemplo dos sinais que queremos usar como prova do crime. A
ideia central é que, considerada como direcionalidade, a intencionalidade
surge quando algum estado intencional da mente (E) está direcionado
a algum objeto. Assim, para que possamos perceber se há algum estado
intencional, Searle nos sugere que perguntemos: “A que se refere E?”. Des-
sa forma, podemos entender por que ansiedade e depressão são estados
mentais não-intencionais, a menos que sejam direcionadas, mas estados
como crença na função probatória de algum sinal são necessariamente
intencionais, porque estão dirigidos a algum objeto. Nesse sentido, a noção
de relacionalidade parece tornar a intencionalidade mais compreensível,
porque “alguma coisa exibe intencionalidade se sua competência é de
algum modo sobre alguma outra coisa”18. L. H. Araújo Dutra também
considera essa noção central na intencionalidade, mas a amplia para
uma relacionalidade finalista, que se pode compreender segundo uma

25-55; e DUTRA, L. H. A.. Realidade e Conhecimento Social: aspectos ontoló-


gicos e epistemológicos das ciências humanas. Florianópolis, Editora UFSC,
2021, p. 165-180.
17
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 1. L. H.
Araújo Dutra, contudo, considera a intencionalidade como uma realidade
emergente, não uma propriedade, podendo estar presente tanto em seres vi-
vos, quanto nas mentes ou em realidades sociais como a linguagem. Trata-
-se de diferença sutil, mas que repercute o seu emergentismo perspectivista
(DUTRA, L. H. A.. Realidade e Conhecimento Social: aspectos ontológicos e
epistemológicos das ciências humanas. Florianópolis, Editora UFSC, 2021, p.
165-180; DUTRA, L. H. A. A Escala Humana: emergentismo perspectivista
nas humanidaes. Ribeirao Preto, Agrya, 2021; DUTRA, L. H. A. Consciência
e Racionalidade: esboço de uma filosofia da ação.Ribeirao Preto, Agrya, 2021,
p. 21-58; DUTRA, L. H. A. Temíveis Tigres Invisíveis: ontologias das realidades
abstratas e dos poderes naturais. Ribeirao Preto (SP), Agrya, 2021, p. 9-31;
DUTRA, L. H. A. Autômatos Geniais: a mente como sistema emergente e pers-
pectivista. Brasília, Editora UnB, 2018, p. 145-222).
18
DENNETT, D. C. Tipos de Mentes: rumo a uma compreensão da consciência.
Rio de Janeiro, Rocco, 1997, p. 39.

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funcionalidade que envolve a noção de perspectiva19. Em estudos poste-


riores, Searle chegou a admitir isso, ao ressaltar que nossas experiências
conscientes são sempre em perspectiva, o que nos permite entender que
“toda intencionalidade é aspectual”, o que quer dizer que elas “são sempre a
partir de um ponto de vista”20. Nada mais esclarecedor para que possamos
entender a intencionalidade da mente diante de um sinal qualquer que
pode significar muitas coisas, mas que nos interessa segundo a direcio-
nalidade, relacionalidade ou funcionalidade que intencionalmente lhe
atribuímos como prova de um crime. É realmente o fato de colocarmos
aquele sinal em perspectiva probatória, segundo uma intencionalidade
da mente, que nos permite depois emitir atos de fala acerca desse sinal
em enunciados assertivos sobre o crime21. A juristas penais, por exemplo,
convém ter em mente que um fio de cabelo encontrado na cena de um
crime somente é aceito como sinal do crime em razão dessa específica
função probatória, mas poderia ser outro o caso, se estivéssemos falando
de um adultério na mesma cena22.
A intencionalidade, assim considerada, não se confunde com a
consciência, embora a maior parte desta, mas não toda, seja intencional23,
assim como não se confunde com a intenção24. Afinal, a intenção – es-

19
DUTRA, L. H. A.. Realidade e Conhecimento Social: aspectos ontológicos e
epistemológicos das ciências humanas. Florianópolis, Editora UFSC, 2021, p.
166; p. 168.
20
SEARLE, J. R. A Redescoberta da Mente. São Paulo, Martins Fontes,
1997, p. 188ss.
21
Aqui, assumimos desde já a taxionomia alternativa dos atos ilucutórios sus-
tentada por J. R. Searle: assertivos; diretivos; compromissivos; expressivos; de-
clarativos (SEARLE, J. R. Expressão e Significado: estudos da teoria dos atos de
fala. São Paulo, Martins Fontes, 2002, P. 19-31).
22
A respeito dessa questão, para uma melhor compreensão, sugerimos consul-
tar PEREIRA, E. S. (2023). Homicídio, infidelidade e sujeira em quartos de
hotel: problemas de significado probatório. Quaestio Facti. Revista Internacio-
nal Sobre Razonamiento Probatorio, (4), 2023.
23
SEARLE, J. R. A Redescoberta da Mente. São Paulo, Martins Fontes,
1997, p. 188ss.
24
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 4. A con-
fusão está na língua, porque, enquanto no alemão há diferença entre Absicht
(intenção) e Intenctionalität (intencionaldiade), no português, assim como
no inglês parece sugerir alguma derivação (SEARLE, J. R. Mente, Linguagem e
Sociedade: filosofia no mundo real, 2000, p. 83).

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pecificamente como propósito – é apenas uma das formas possíveis de


intencionalidade, a exemplo de outras como crenças e desejos, também
estados intencionais sem necessidade de intenção. Uma intencionalidade
probatória, portanto, pode conter, além da intenção de provar, uma crença
de que algo prova e o desejo de que algo venha a provar, mas pode ter
também um receio de que não venha a provar e, sobretudo, uma dúvida
de que possa provar. No conjunto, intenção, crença, desejo, receio e
dúvida, todos são estados intencionais possíveis, mas é próprio de todos
serem estados direcionados, bem como relacionados a algo comum que
é a prova, em função da qual os sinais são postos em perspectiva, no caso
uma perspectiva especificamente jurídica direcionada a prova de crimes
previstos na lei penal. Por isso, uma forma – apenas heurística, como o
admite Searle – de podermos compreender melhor a relação que se es-
tabelece entre os estados intencionais (crença, dúvida etc.) e os estados
de coisas (sinais do crime, p. ex.) a que estão direcionados é recorrer aos
modelos de atos de fala que, no caso de provas do crime, se vão apresentar
sempre e inevitavelmente em algum momento do processo penal, o que
justifica com mais razão assumir essa proposta.

O modelo de intencionalidade dos atos de fala

J. R. Searle considera que nos é possível pensar a intencionalidade


como representação, recorrendo ao modelo de ato de fala, porque “os
estados intencionais representam objetos e estados de coisas no mesmo
sentido de «representar» em que atos de fala representam”25. Embora
desconfiemos que essa comparação não se possa aplicar a todos os estados
intencionais, parece-nos que o modelo tem alguma aplicação no caso das
provas, a considerar o tipo de atos de fala assertivos com que podemos
assimilar os estados intencionais probatórios. Mas isso não significa que
aceitemos a ideia de intencionalidade derivada da linguagem em relação
à intencionalidade intrínseca ou original26. Ao aceitarmos o modelo de

25
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 6.
26
Embora essa discussão interfira diretamente na discussão que nos interessa,
convém ao leitor ter em mente a crítica que faz Daniel C. Dennett, ao obje-
tar que, se levarmos a sério a ideia de derivação, “toda intencionaldiade que

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ato de fala, não ignoramos que a linguagem emerge como instituição


na esfera social da realidade, na qual há algo além da esfera mental, na
intencionalidade linguística27. Esta, no entanto, ainda nos aproveita ao
entendimento da intencionalidade da mente, pelo menos nos casos em
que há alguma aproximação similar como a intencionalidade probatória.
Dessa forma, assim como podemos fazer uma distinção entre
conteúdo proposicional (p) e força ilocucionária (F) nos atos de fala, pode-
mos distinguir nos estados mentais um conteúdo representativo (r) e um
modo psicológicos (S), em que tanto o conteúdo proposicional quanto o
representativo são conteúdos intencionais28, a exemplo do que encontra-
mos em casos de intencionalidade probatória. Assim, podemos ter duas
fórmulas correspondentes – “F(p)” para os atos de fala e “S(r)” para os
estados mentais –, as duas possíveis ao tratarmos de prova do crime como
uma atitude proposicional, acerca da qual podemos falar tanto de crenças,
como modo psicológico de estados mentais dos sujeitos processuais,
quanto de asserções, como força ilocucionária de algum enunciado que
se encontra documentado no processo penal. Mas se quisermos ser mais
específicos a respeito da prova, podemos unificar a fórmula “M(p)”, em
que temos um conteúdo intencional probatório (p) segundo um modo
(M) psicológico ou locutório.
Assim como os atos de fala, também os estados intencionais
admitem o que Searle chama de diferentes direções de ajuste da relação
entre mundo e mente, que será responsável pela adequação entre esta-
dos ou atos e as coisas com que se relacionam. Há, nesse sentido, três
possibilidades de ajuste: palavra-mundo, mundo-palavra ou casos nulos.
Não nos vamos deter na comparação de todos, mas basta que tomemos o
caso dos atos de fala assertivos, com base nos quais podemos entender os

desfruttamos é derivada da intencionalidae mais fundamental” de outros sis-


temas intencionais mais grosseiros, que se podem assimilar apenas como sis-
temas vitais, não necessaraimente mentais (DENNETT, D. C. Tipos de Mentes:
rumo a uma compreensão da consciência. Rio de Janeiro, Rocco, 1997, p. 51).
27
Essa é a concepção que decorre do emergentismo perspectivista em que se
baseia L. H. Araújo Dutra, para considerar a intencionaldiade como realidade
emergente de várias esferas, o que é muito diferente de falar em derivação
como o faz Searle (DUTRA, L. H. A. Consciência e Racionalidade: esboço de
uma filosofia da ação. Ribeirao Preto, Agrya, 2021, p. 180).
28
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 9.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
924 | da Silva Pereira, Eliomar.

enunciados acerca de provas do crime, para dizer que esses atos exigem
dos enunciados uma adequação ao mundo, ou seja um ajuste “palavra-
-mundo”, o que significa dizer que podem ser avaliados por sua verdade
ou falsidade. Assim, se estivermos falando de crenças, estas assim como
os enunciados podem ser igualmente verdadeiras ou falsas, contendo
uma direção de ajuste “mente-mundo”. Mas basta que pensemos em um
outro modo psicológico como o desejo de que a prova seja aceita, para
entendermos que a direção de ajuste nesse caso é inversa, no sentido
“mundo-mente”29. Em qualquer caso, se estivermos falando de crime,
sabemos que a verdade é importante para o caso em questão, fazendo
parte necessariamente da intencionalidade probatória.
A comparação entre estados mentais e atos ilocucionários não
ignora que na passagem de um para o outro “é sempre possível mentir” –
admite Searle, assim como nos adverte Umberto Eco –, mas o estado
intencional expressado se torna uma condição de sinceridade do ato de
fala30. Este, contudo, não fica dependente da sinceridade ou não do sujeito,
afinal o enunciado posto em contexto de comunicação processual entre
os demais sujeitos, ainda será avaliado segundo sua direção de ajuste pa-
lavra-mundo. Assim, se algum sujeito processual, mesmo não acreditando
haver prova de um crime, ainda assim o enuncia, há um problema de ajuste
tanto entre mente-mundo, quanto palavra-mundo, mas esta não depende
da sinceridade do sujeito, cuja crença não satisfaz o ajuste mente-mundo.
E isso nos encaminha à “noção de condições de satisfação”31, que se aplica
tanto à crença quanto aos enunciados, tendo grande relevância ao tema
da prova. É certo que essas condições de satisfação não se limitam a que
existam os objetos de crença ou do enunciado, tendo em conta que os
estados intencionais, assim como atos de fala podem ser de outro tipo
como ordens que requerem ser obedecidas ou promessas que esperam
ser cumpridas, mas no caso de provas de crime, essas condições dizem
respeito a coisas que podem satisfazer o estado mental ou o enunciado.
Em termos processuais penais, podemos facilmente entender que uma

29
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 10ss.
30
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 13; ECO,
U. Tratado geral de semiótica. São Paulo, Perspectiva, 2014, p. 49.
31
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 14.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
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prova exige como condição que exista algo a respeito do que se pensa e
fala, mas para que o possamos qualificar como crime.
Consideradas assim as condições de satisfação, entende-se por
que a noção de representação com que J. R. Searle tenta explicar a in-
tencionalidade é, segundo o admite expressamente, “convenientemente
vaga”, com o que ele pretende abranger nos casos de atos de fala “não
só a referência, mas também a predicação e as condições de verdade
ou de satisfação de maneira geral”, o que se pode encontrar tanto nos
estados intencionais quanto nos seus respectivos modos psicológicos32.
Em outros termos, ao considerar a intencionalidade como representação,
Searle entende esta apenas como uma abreviação para o que chama de
“constelação de noções lógicas”, na qual podemos abranger a crença não
apenas como mera imagem, mas todo o arcabouço semiótico com que C.
S Peirce discute suas tricotomias do signo, segundo o objeto (ícone, índi-
ce e símbolo) e segundo o interpretante (rema, dicente e argumento)33.
Assim, segundo essa concepção de Searle, se quisermos compreender a
representação, a chave está nas “condições de satisfação”: “Todo estado
intencional com uma direção de ajuste é uma representação de suas con-
dições de satisfação”34. E esse é precisamente o caso das provas de um
crime, consideradas em sua intencionalidade, quer estejamos tratando
de enunciados como atos de fala assertivos, quer estejamos tratando de
crenças como estados mentais.
Há na intencionalidade probatória, portanto, muito mais que ape-
nas uma referência ao objeto, como voltaremos a falar dessa “constelação
de noções lógicas” suscitada por Searle, ao apresentarmos um modelo
analítico detalhado (Seção 4), mas de imediato gostaríamos de ressaltar
que tudo isso se encontra nessa noção de condições, cuja satisfação de-
pende de antes de entendermos as intenções de significação probatória
(Seção 2) segundo dimensões semióticas diversas (Seção 3).

32
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 15.
33
PEIRCE, C. S. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 2017 p. 52.
34
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 18.

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926 | da Silva Pereira, Eliomar.

2. Intenções de significação probatória

A distinção entre intencionalidade intrínseca e intencionalidade


derivada – apesar das objeções que lhe podemos fazer35 – permite a Searle
falar de significados que encontramos na linguagem, embora inicialmente
ele considere que “significado” seja uma noção que literalmente apenas
se aplica a atos de fala, não a estados intencionais. Mas a considerar que
ele entende o significado como um tipo de intencionalidade, parece-lhe
inevitável admitir o significado “em termos de formas de Intencionali-
dade não intrinsecamente linguísticas”36, a exemplo do que encontramos
em estados mentais e vamos encontrar também em atos probatórios.
Mas nesse caso, parece-nos que o melhor seja falar de significação – e
Searle também vai usar esse termo, como correspondente de conteúdo
proposicional, que pode estar em crenças ou enunciados, reservando
o termo significado apenas para falar de sentenças, quando estivermos
falando de linguagem37.
Isso nos é especialmente relevante à consideração da prova do
crime, antes que possamos tratá-la em enunciados probatórios. Porque,
no que nos interessa especificamente, podemos observar que entre a in-
tencionalidade dos estados mentais e a intencionalidade dos atos de fala,
a prova considerada como signo do crime se interpõe por meio de sinais
autônomos com sua própria intencionalidade. Essa prova não é ainda
posta em termos de ato de fala, mas também não se encontra limitada aos
estados mentais; é um conjunto de signos que, ainda com mais razão, pode
ser considerado segundo o modelo da linguagem natural. Afinal, não nos
seria difícil imaginar uma linguagem artificial probatória, na qual certos
sinais do crime estivessem convencionados como evidência positiva ou
negativa acerca da autoria, permitindo a compreensão de seu significado
probatório pela mera ostensão em audiência sem necessidade de recor-
rer a qualquer linguagem natural. Nesse sentido, poderíamos pensar em

35
A respeito dessas objeções, veja-se a principal que lhe apresenta DENNETT,
D. C. Tipos de Mentes: rumo a uma compreensão da consciência. Rio de Janei-
ro, Rocco, 1997, p. 51, já referida na nota 29.
36
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 38, p. 224.
37
DUTRA, L. H. A. Filosofia da Linguagem: introduçào crítica à semântica filo-
sófica. Florianópolis, Editora UFSC, 2017, p. 46.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
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alguma linguagem artificial da prova, na qual estivessem sistematizadas


as unidades de significação, suas relações e seus usos possíveis. Tudo
isso, portanto, nos permite falar do que Searle chama de “estrutura das
intenções de significação”38, comum não apenas aos estados mentais e
atos de fala, mas a quaisquer outros sinais que possamos assumir como
signos, a exemplo do que fazemos com as provas do crime.
O ponto de unidade entre as intenções de significação (na mente
e nos enunciados) está nas condições de satisfação. A considerar que,
segundo Searle, impomos intencionalidade a nossas expressões, atribuin-
do-lhes intencionalmente determinadas condições de satisfação – embora
seja importante distinguir entre “ter em mente” fazer um enunciado (por
exemplo sobre prova) e fazer esse enunciado sobre prova –, podemos de
fato concluir que, na realização de qualquer ato de fala, “a mente impõe
intencionalmente à expressão física do estado mental as mesmas condi-
ções de satisfação do próprio estado mental”39. Se essa concepção estiver
correta, e estamos considerando que há razões para aceitá-la, podemos
entender como no caso dos sinais de um crime a mente também lhes impõe
intencionalmente uma função probatória, aceitando-os como signos, que
assumem as mesmas condições de satisfação dos estados mentais. A única
diferença aqui é que, enquanto nos estados mentais e enunciados sobre
provas, os sinais são as condições de satisfação na direção de ajuste mente/
palavra-mundo, ao considerarmos os sinais como signos, embora ainda
mantendo a direção de ajuste sinais-mundo, as condições de satisfação
estarão no crime que se supõe existir e se pretende provar, num sentido
de tipo específico prova-crime. Mas se algum enunciado for feito acerca
desse mesmo objeto, as condições de satisfação serão as mesmas, tanto
nos enunciados, quanto nos estados mentais. A diferença, portanto, está
apenas em crer que alguém praticou um crime (AxC) e crer que um sinal
prova que (pq)AxC, cujas condições de satisfação podem intencionalmente
ser impostas a enunciados assertivos distintos conforme o caso.
Assim, as intenções de significação que podemos encontrar
na prova do crime podem assumir a estrutura das intenções de signi-
ficação que encontramos nos atos de fala, o que nos permite explorar

38
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 38, p. 228.
39
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 38, p. 239.

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928 | da Silva Pereira, Eliomar.

alguns conceitos fundamentais da filosofia da linguagem, na qual o termo


significação abrange tanto questões de referência e sentido, quanto de
significado40, a exemplo das discussões que encontramos na semântica
especificamente e na semiótica em geral como iremos tratar a seguir. No
que nos interessa, importa entender preliminarmente que, ao assumirmos
algum sinal como prova de crime, estamos a conferir-lhe um significado
probatório, o que é uma questão semântica. Mas veremos em seguida
que essa questão não é suficiente à definição do que seja prova em um
processo penal.

A semântica como ciência do significado

A semântica, desde sua fundação no final do século XIX, reivin-


dica para si o papel de ciência do significado que estuda o sentido das
palavras41. Tendo inicialmente uma orientação essencialmente histórica,
limitada às mudanças de significado, a semântica passou a admitir duas
perspectivas possíveis (tanto diacrônica, quanto sincrônica), desde as
aulas do curso geral de linguística (1916) de Ferdinand de Saussure42.
Mas a semântica não se limita apenas às palavras, além de não se limitar a
uma questão apenas linguística, mesmo quando trata apenas de palavras,
o que nos permite abranger com ela também o signo probatório e outras
questões de interesse. A respeito, observou-se que a semântica – do grego
“sêmainô” (significar), derivado de “sêma” (sinal) – aplica-se a qualquer
sinal, além de abranger três problemas distintos: um problema psicológico
que concerne ao substrato psíquico da interlocução; um problema lógico
que concerne à relação entre signo e realidade; e um problema linguís-

40
DUTRA, L. H. A. Filosofia da Linguagem: introduçào crítica à semântica filo-
sófica. Florianópolis, Editora UFSC, 2017, p. 46.
41
Apesar de admitirem-se perspectivas semânticas desde a retórica grega clás-
sica, os semanticistas estão de acordo em considerar como fundador da “nova
ciência” o trabalho do francês Michael Bréal (1883), no qual ele usa pela pri-
meira vez o termo “semântica” – antes chamado de “semasiologia” por C.
Reisig (1825) –, especificamente para tratar da “ciência das significações”
(ULLMANN, S. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1977, p. 17; GUIRAUD, P. A Semântica. São
Paulo-Rio de Janeiro, Difel, 1980, p. 10).
42
SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo, Cultrix, 2012.

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tico que concerne aos sistemas de signos43. Essa concepção aberta de


Pierre Guiraud, contudo, não o impede de anunciar apenas a semântica
linguística como “semântica por excelência”, responsável por estudar as
palavras, nas suas relações entre a forma e o sentido. E embora admita
existir também uma semântica geral, bem como uma semântica filosófica,
limita-se a afirmar que “a semântica é o estudo do sentido das palavras”.
Nenhum problema quanto a isso, desde que estejamos falando apenas de
signos linguísticos; o problema está mesmo em outro ponto, ao limitar
o problema do significado a uma questão de semântica, a respeito do
qual precisamos considerar melhor os argumentos que se encontram na
semântica linguística.
A concepção linguística de Stephen Ullmann – também orientada
apenas ao estudo do significado das palavras – é um bom exemplo dessa
perspectiva meramente semântica do significado, embora acabe por admi-
tir algo mais que se acresce, aparentemente sem dar-se conta que se abria
a outra dimensão não apenas semântica do significado. Mas sua concepção
se inicia com uma outra redução, limitando o significado a “uma relação
recíproca e reversível entre o nome e o sentido”44, na qual não há espaço
para discutir a coisa ou referente do signo. Partindo do que admite ser o
mais conhecido modelo analítico do significado – o triângulo básico de
Ogden e Richards a que voltaremos ao final – Ullmann considera que há
no modelo componentes demais, porque inclui três elementos que ele
sugere chamar de coisa, nome e sentido. Na sua concepção, “o referente,
o aspecto ou acontecimento não-linguístico, como tal, fica nitidamente
fora do âmbito da linguística”. Aqui, o equívoco de Ullmann parece estar
em não perceber que, ao limitar-se ao campo da semântica linguística,
na qual o referente (ou coisa, segundo sua terminologia) não terá impor-
tância ao estudo do significado, conduz-se a concluir que o referente não
terá importância na discussão sobre o significado de qualquer outro tipo
de signo. Não pretendemos disputar com Ullmann se para a linguística
o referente é irrelevante ao significado das palavras como signos, mas

43
GUIRAUD, P. A Semântica. São Paulo-Rio de Janeiro, Difel, 1980, p. 8.
44
ULLMANN, S. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1977, p. 118ss.

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certamente não nos parece ser o caso para o significado de enunciados


relativos à prova do crime.
Sobretudo porque o próprio Ullmann, ao reconhecer o que chama
de uma definição operacional do significado atribuída a Ludwig Wittgens-
tein, admite que “o significado de uma palavra é o seu uso”. E de fato, ao
comparar a linguagem com o jogo, no que chama de “jogos de linguagem”,
Wittgenstein promove uma virada operacional porque leva em conta o
contexto de uso do signo para estabelecer seu significado. Partindo de uma
citação que encontra nas Confissões de Santos Agostinho, Wittgenstein,
sugere que: “Aquele conceito filosófico de significação cabe bem numa
representação primitiva da maneira pela qual a linguagem funciona”45.
A considerar, contudo, a data das Investigações Filosóficas (1945), não
se pode ignorar que o pragmatismo, especialmente com Experiência e
Natureza (1925) de John Dewey, já havia transposto os limites semânti-
cos. Ao dizer que “o significado é primeiramente intenção, e a intenção
não é pessoal no sentido de privativo e exclusivo”, Dewey ressalta uma
relação de importância que a coisa assume no contexto de uso46, o que
é precisamente o caso dos sinais assumidos como prova de um crime,
porque não basta que a acusação pública assuma como prova do crime
algum sinal, em sentido privado que o convence pessoalmente, sem que
consiga convencer a audiência pública e sobretudo o juízo criminal. Dewey,
portanto, antecipa com o pragmatismo aquilo que Ullmann encontra em
Wittgenstein. Mas nenhum problema há em Ullmann situar no trabalho
de Wittgenstein uma viragem operacional do significado; o problema está
em admitir que essa viragem trouxe novas perspectivas para a linguística,
mas não se dar conta de que essa perspectiva já colocava o problema do
significado além da dimensão restrita à semântica, como nos parece ser
incontornável ao falarmos de significado probatório. Isso, portanto, nos
exige conduzir o problema do significado para outras dimensões, tendo
em conta a concepção tridimensional proposta por Charles Morris.

45
WITTGENTEIN, L. Investigações Filosóficas (Os Pensadores). São Paulo
1999, p. 28.
46
DEWEY, J. (1980). Experiência e Natureza (Os Pensadores). São Paulo, Victor
Civita, 1980, p. 37; DEWEY, J. La Experiencia e la Naturaleza. Mexico-Buenos
Aires, Fondo de Cultura Económica, 1948, p. 139.

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3. A tridimensionalidade semiótica

Ao tratar do problema do significado, Charles Morris conside-


ra que “uma linguagem, em sentido semiótico total dos termos, é um
conjunto qualquer de veículos sígnicos intersubjetivos cujo uso está
determinado por regras sintáticas, semânticas e pragmáticas”47. E, por
isso, o significado não pode situar-se em qualquer lugar do processo de
semiose, senão em termos desse processo globalmente considerado. As-
sim, na sua perspectiva, nem o meio, nem o objeto, nem o interpretante
pode definir-se sem referências mútuas, e é nessa referência mútua que
encontramos a unidade da semiótica. O significado de um signo, nesse
sentido, “é exaustivamente especificado pela averiguação de suas regras
de uso” que podemos encontrar em cada dimensão semiótica. Não se
trata, portanto, de um problema restrito de semântica, tampouco de
uma questão apenas de significado que ignora o problema da referência,
embora Morris ainda permaneça usando o termo “significado” segundo
a terminologia da semântica linguística.
Charles Morris, partindo da relação triádica fundamental entre
os elementos do signo – por ele chamados de veículo (signico), desig-
natum e interpretante –, considera possível também abstraírem-se uma
série de outras relações diádicas, que se podem chamar de dimensões
de análise semiótica. Assim, podemos discutir o signo segundo sua
dimensão semântica, ao tratarmos das suas relações com os objetos;
segundo sua dimensão pragmática, ao tratarmos das suas relações com
os intérpretes; e segundo sua dimensão sintática, ao tratarmos das rela-
ções dos signos entre si mesmos, abstraídos objeto e intérpretes. Mas,
embora possam ser consideradas em separado, cada dimensão concorre
para a formação e compreensão de uma linguagem qualquer, a exemplo
da que podemos conceber a respeito das provas penais, com algumas
regras de uso. Luigi Ferrajoli, embora tratando da verdade no direito,
recorreu a essas dimensões para admitir a respeito teorias diversas da
verdade (correspondência, coerência e aceitabilidade justificada), con-
forme a dimensão (semântica, sintática e pragmática) em que estivermos

47
MORRIS, C. Fundamentos de la teória de los signos. Barcelona-Buenos Aires-
-Mexico, Ediciones Paidós, 1985, p. 75.

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discutindo a verdade processual48. Apesar das virtudes teóricas que essa


abordagem confere ao estudo da verdade no processo penal, ressalvada
a duvidosa assimilação da concepção semântica de Tarski como teoria
da correspondência49, parece-nos que o discurso morrisiano se aplica
melhor ao estudo da prova, a considerar que é ela que podemos assimilar
à noção de signo como temos sustentado. É com base nessa concepção
que propomos as distinções a seguir.

Sintaxe das provas

A dimensão sintática pressupõe aquele repertório de signos de


que trata Elisabeth Walther-Bense, para quem existe uma “dependência em
relação a um repertório”50. Charles Morris fala de classes de signos, o que
poderia nos remeter às diversas classificações das provas que encontramos
na tradição jurídica51, bem como às dez classes de signos principais de C.
S. Peirce, compostas a partir de combinações tricotômicas fundamentais
baseadas na divisão dos signos segundo o meio, o objeto e o interpretante.
Mas, se voltarmos a pensar em termos de intencionalidade, devemos ter
em mente o que Searle considera uma “rede” de outros estados mentais,
“um complexo mais amplo de outros estados” com que uma intencionali-
dade se relaciona sempre52. É, portanto, especialmente importante termos
em conta que estamos a tratar ainda de intencionalidade, ao falarmos

48
A passagem fundamental, que assume essas concepções, se encontra em
FERRAJOLI, L. Diritto e Ragione: teoria del garantismo penale. Roma-Bari,
Laterza, 2008, p. 40.
49
A respeito, temos em mente as objeções que L. H. de Araújo Dutra apresenta
conta a interpretação de Karl Popper sobre a teoria semântica de Alfred Tar-
ki, na qual Ferrajoli se baseia para asssimilá-la como teoria da correspondên-
cia (DUTRA, L. H. A. Verdade e Investigação: o problema da verdade na teoria
do conhecimento. São Paulo, EPU, 2001, p. 43; DUTRA, L. H. A. Verdade e
Investigação: o problema da verdade na teoria do conhecimento. 2. ed. rev.
Florianópolis, Edição du Autor, 2020).
50
WALTHER-BENSE, E. A teoria geral dos signos. São Paulo, Perspectiva,
2010, p. 6.
51
Por todos, cf. MALATESTA, N. F Dei. A lógica das provas em matéria criminal.
Campinas, Bookseller, 1996.
52
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 38, p. 195.

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de repertório de sinais com significado probatório. Contudo, embora


pressuponha um repertório qualquer, de estados mentais ou de signos,
a sintaxe não se resume a isso.
Além de um repertório fundamental, à sintaxe uma questão é
mais importante: algumas regras de relacionamento entre os elementos
do repertório. E, assim como acontece em qualquer linguagem, também
nas provas há regras de relacionamento entre os signos, que exigem pelo
menos uma distinção entre níveis primários e secundários, permitindo
estabelecer possíveis correlações. Assim, não podemos confundir os
vestígios encontrados no local do crime com o laudo pericial produzido
a partir dos vestígios, mas que na prática assume o lugar daqueles sem
maiores discussões; não podemos, igualmente, confundir o registro men-
tal que a testemunha tem em sua cabeça com o seu depoimento, escrito
ou mesmo gravado acerca do que presenciou. Há uma nítida distinção
de níveis, pois o signo probatório de segundo nível se constitui a partir
e com base no primeiro, que deve ter uma espécie de proeminência e
dominância sobre aquele. Esse é um primeiro princípio que parece re-
ger a sintaxe probatória em plano vertical, posto que, havendo alguma
discordância entre provas de níveis diversos, tem precedência a de nível
primário para exigir revisão e correção da prova de nível secundário.
Isso pode acontecer quando dois laudos contraditórios são apresentados
acerca dos mesmos vestígios. Mas quando não há essa distinção de níveis,
outro é o princípio que parece reger a sintaxe probatória em um plano
horizontal, posto que, entre provas de igual nível, não podendo haver
precedência por falta de qualquer dominância, resta-nos decidir segundo
a concordância. Mas em qualquer caso, o que teremos é um postulado de
coerência a reger a dimensão sintática probatória, na qual encontramos
dois tipos de regras: regras de formação, “que determinam as combinações
independentes e permissíveis dos elementos do conjunto” (orações); e
regras de transformação, “que determinam as orações que podem obter-se
a partir de outras orações”53.
Embora Morris esteja pensando na linguagem natural, não nos
é difícil pensar em estruturas sintáticas probatórias que nos conduzem

53
MORRIS, C. Fundamentos de la teória de los signos. Barcelona-Buenos Aires-
-Mexico, Ediciones Paidós, 1985, p. 44.

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a três tipos fundamentais de frases no processo penal: frase condenató-


ria, quando os signos probatórios estão todos em concordância, vertical
e horizontalmente, a favor da acusação; frase absolutória, quando em
concordância a favor da defesa; e frases dubitativas, quando não haven-
do coerência em algum sentido, subsiste uma dúvida que opera a favor
da defesa (in dubio pro reo). Juristas sabem que o processo penal, se
considerado apenas formalmente, pode ter outras tantas possibilidades
frasais, mas o que estamos a afirmar diz respeito à sintaxe probatória,
à discussão sobre possibilidades vinculadas aos signos probatórios. Não
estamos nessa dimensão pensando em problemas pragmáticos que podem
emergir da obtenção de certas provas ilícitas, que, embora possam estar
em concordância com outras admissíveis, acabam sendo expurgadas
do processo. A chamada prova ilícita54, embora possa assumir a mesma
natureza sígnica, é excluída do repertório como um elemento estranho
ao conjunto probatório, como uma língua que recusa palavras estrangei-
ras, ainda que estas possam ser compreendidas pela combinação com as
palavras do léxico, porque não compõem o dicionário da língua.
A existência de um repertório, bem como de regras sintáticas,
princípios e postulados, não exclui a possibilidade de um processo penal
concluir-se apenas com base em um único signo probatório. A hipótese é
rara, ademais de geralmente incluir outros tantos elementos circunstanciais
que cooperam para a formação da frase. Mas seria algo similar ao que
acontece em uma língua, quando dizemos apenas “socorro” e consegui-
mos produzir uma frase com sentido. Assim, embora sozinha, essa frase
está inserida em um contexto e seguida de entonação que colabora para
a compreensão. Seria algo similar a ter apenas um vídeo – sem áudio, e
nada mais que isso – como prova de um crime, embora ele pudesse ser
uma mera encenação, assim como pode acontecer com um grito de socorro
usado apenas para chamar a atenção sem qualquer situação de perigo.
Aqui, contudo, estamos antecipando aquilo que é próprio da dimensão
semântica, embora pressuponha necessariamente a dimensão sintática.
A sintaxe, nesse sentido, não corresponde aos estados mentais
intencionais, mas antes ao que torna a intencionalidade possível, algo

54
No sentido que a considera, v. g., ARMENTA DEU, T. A prova ilícita: um estu-
do comparado. Madri-Barcelona-Buenos Aires-São Paulo, Marcial Pons, 2014.

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como uma pré-condição que Searle chama de Background: “um conjunto


de capacidades mentais não-representacionais que permite a ocorrência
de toda representação”55. Trata-se, assim, do que proporciona as condi-
ções ao funcionamento de formas particulares de intencionalidade como
a significação que nos interessa relativamente à prova. Mas, somente se
estivermos tratando de intencionalidade dos estados mentais, podemos
acreditar que ele se refere apenas a capacidades próprias do indivíduo,
como o sustenta Searle, pois basta que passemos a tratar de atos de fala,
para entendermos que estes pressupõem algo além do que precisa a in-
tencionalidade da mente – eles precisam de instituições como a língua,
com suas regras sintáticas, assim como as provas do crime precisam de
instituições relativas ao direito penal, também com suas regras jurídicas,
da qual emerge um domínio próprio de intencionalidade que não depende
exclusivamente do indivíduo. Em outras palavras, podemos dizer que
o significado probatório de um sinal, assim como o significado de uma
palavra, depende de uma sintaxe probatória que permita aos diversos
sujeitos se comunicarem acerca da prova, o que em termos práticos quer
dizer que o significado depende antes de uma sintaxe, antes de ser uma
questão semântica. Mas esta ainda tem sua importância.

Semântica das provas

A dimensão semântica, por sua vez, segundo a concepção de


Morris, pressupondo a sintaxe, se ocupa da relação dos signos com o que
ele chama de designatum, considerado como um objeto que pode ou não
ser algo existente real (denotatum)56. Mas nessa sua concepção, Morris
se confronta com a tradição linguística, na qual a semântica se ocupa da
relação entre o nome e o sentido57, como estudo da função de transmitir
o sentido que têm as palavras58. Essa divergência decorre em parte de

55
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 38, p. 198.
56
MORRIS, C. Fundamentos de la teória de los signos. Barcelona-Buenos Aires-
-Mexico, Ediciones Paidós, 1985, p. 55.
57
ULLMANN, S. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian, 1977, p. 118.
58
; GUIRAUD, P. A Semântica. São Paulo-Rio de Janeiro, Difel, 1980, p. 11.

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disputas que existem em torno do problema específico do significado, aqui


compreendido como problema geral de significação, para o qual Morris
sustenta uma concepção unitária da semiótica decorrente de operações
que se realizam nas três dimensões. No que nos interessa, relativamente
à prova do crime, parece-nos que essas duas concepções se entrelaçam
necessariamente, para que possamos entender a significação probatória,
não limitada a uma questão de significado semântico, mas também não
limitada a uma concepção meramente referencial do significado. Ade-
mais, essa parece ser uma consequência de considerarmos as intenções
de significação segundo o modelo de ato de fala, em que temos a fórmula
“F(p)”: composta por conteúdo proposicional (p) e força ilocucionária (F).
Morris explica que, enquanto linguistas se têm interessado pelo
estudo das condições de uso de uma palavra, empiristas se ocuparam
em termos mais gerais das condições sob as quais podemos afirmar que
um signo tem um denotatum. E nessa perspectiva tem lugar a discussão
sobre a “verdade” sempre que se considera a relação de um signo com
alguma coisa, questão para a qual ressalta a importância dos esforços
lógicos feitos especialmente pela teoria semântica da verdade. É por isso
que Morris reserva o temo “designa” ou “denota” para a semântica, para
especificar a relação entre um signo e um objeto, em distinção como o
termo “expressa”, reservado à dimensão pragmática. Assim considerada
a dimensão semântica, portanto, entende-se por que Morris considera
sua regra fundamental a que especifica sob que condições um signo
qualquer – como uma prova em relação ao crime – pode aplicar-se a um
objeto ou situação. Em termos mais diretos, uma semântica probatória se
destina a estabelecer sob que condições um signo é prova de um crime.
E em termos de intencionalidade, segundo Searle, sob que condições de
satisfação algo funciona como prova, tendo em conta uma direção de
ajuste prova-crime.
Aqui o jurista poderá ser tentado a elencar um conjunto de re-
gras jurídicas que dizem respeito a garantias processuais de obtenção e
admissão das provas, mas o que concerne à semântica diz respeito mais
precisamente àquilo que o direito probatório tem chamado de valoração da
prova, embora nesta se encontrem imbricadas questões outras de ordem
pragmática que iremos abordar adiante. O que Morris considera regra
semântica não parece encontrar qualquer similaridade em regras jurídicas

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contemporâneas, embora no direito medieval possamos encontrar algumas


regras desse tipo no chamado “sistema taxado de provas legais”, no qual
duas testemunhas concordantes denotavam necessariamente a existência
do crime. Entretanto, como observa Morris (1985, p. 58), e atualmente
é assim no direito probatório, as regras semânticas não são geralmente
formalizadas, ou o são apenas parcialmente, ou melhor casuisticamente
como podemos encontrar em certas jurisprudências acerca de algum crime
em espécie. Assim, portanto, geralmente as regras semânticas “são mais
hábitos de conduta que outra coisa”59, o que deixa o direito probatório
em situação de incerteza epistêmica que reflete em insegurança jurídica
dos acusados, porque não é possível arbitrar antecipadamente, tampouco
auditar posteriormente as provas de uma condenação além da íntima
convicção do juiz.
É com razão, por isso, que essa questão se tem tornado o ponto
de convergência central dos renovados estudos probatórios na viragem
jurídica do século XXI com a discussão ardente e crescente em torno
do que se tem chamado de standard de prova60. Mas como veremos, isso
que parece habitar a dimensão semântica da prova, dificilmente terá uma
compreensão satisfatória se não avançarmos mais além para a dimensão
pragmática. Em outros termos, precisamos reconhecer que o significado
probatório de qualquer sinal do crime precisa ser construído pragmati-
camente de forma intersubjetiva entre os diversos sujeitos processuais,

59
MORRIS, C. Fundamentos de la teória de los signos. Barcelona-Buenos Aires-
-Mexico, Ediciones Paidós, 1985, p. 58.
60
Susan Haack considera que “os estândares de prova devem ser entendidos
como graus de aval” (HAACK, S.. El probabilismo juridico: uma disensión
epistemológica. Vazquez, C. (ed.). Estándares de prueba y prueba científica:
ensayos de epistemología jurídica. Madrid-Barcelona-Buenos Aires, São Pau-
lo, 2016, p. 66); Carmen Vazquez (2013, p. 13), cuidando de distinguir as
antigas provas taxadas por lei dos atuais estândares científicos, explica que
estes pretendem estabelecer um grau mínimo de prova indispensável para
condenação, mas destinado à valoração do conjunto de provas, não ao valor
de cada prova a priori, embora também establecidos por lei (VAZQUEZ, C.
(ed.). Estándares de prueba y prueba científica: ensayos de epistemología ju-
rídica. Madrid-Barcelona-Buenos Aires, São Paulo, 2016), a exemplo do que
se tem chamado de beyond a reasonable doubt (mais além de toda a dúvida),
abreviado geralmente como BARD (LAUDAN, L. Verdad, error y proceso pe-
nal: un ensayo sobre epistemológia jurídica. Madrid-Barcelona-Buenos Aires-
-São Paulo, 2013, p. 104)

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o que vem em favor de reforçar a necessidade de regras democráticas de


participação processual efetiva sobretudo das partes.

Pragmática das provas

A dimensão pragmática, que tem pressupostas as dimensões


sintática e semântica, concerne à relação do signo com seus intérpretes,
considerados em seus diversos aspectos biológicos, psicológicos e so-
ciológicos61. Aqui, Morris subjetiva o interpretante do signo concebido
por Peirce independentemente do sujeito, ao passo que reconhece no
processo de pensamento a interação de um organismo com seu ambiente
(natural e social). E isso nos coloca de volta em contato com a concep-
ção do significado como um tipo de intencionalidade da mente, mas que
também necessariamente supões práticas sociais como um fenômeno
coletivo62. Assim, na perspectiva pragmática, um sistema qualquer de
signos – linguístico ou probatório – sintetiza um sistema de condutas, no
qual os signos atuam como instrumento de mediação entre organismo e
ambiente. A pragmática, nesse sentido, enfatiza o juízo ou valoração de
um signo. Mas embora essa valoração se desenvolva em termos de verda-
de – sobretudo no campo probatório de nosso interesse – parece-nos que
Morris nesse ponto faz uma redução excessiva da dimensão pragmática, a
considerar que, até mesmo uma prova de crime – retirada de seu contexto
probatório – poderá operar como mediação de conduta segundo outros
valores não apenas epistêmicos, mas também éticos (bom) ou estéticos
(belo). Usando a terminologia da intencionalidade em Searle, diremos
que em cada caso as condições de satisfação serão distintas, além das
direções de ajuste possíveis.
Se estamos a considerar os intérpretes do signo, basta que se
apresente o mesmo conjunto probatório de um processo antigo (como
um processo inquisitorial do século XV) a historiadores ou romancistas,
que estes serão capazes de modular o interesse e extrair do mesmo sig-
no não apenas outras verdades – como geralmente se tem enfatizado, e

61
MORRIS, C. Fundamentos de la teória de los signos. Barcelona-Buenos Aires-
-Mexico, Ediciones Paidós, 1985, p. 67.
62
SEARLE, J. R. Consciência e linguagem. São Paulo, Martins Fontes, 2021, p. 231.

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especificamente no processo penal se observa nas disputas entre acusação


e defesa –, mas sobretudo outros juízos possíveis de valoração no amplo
conjunto axiológico que interessa e move o ser humano em suas condutas
na vida em comum, o que pode até ser um interesse meramente contem-
plativo, não judicativo da verdade histórica do outro. Essa é, inclusive, a
consequência que se pode extrair de uma observação feita pelo próprio
Morris, acerca da possibilidade de um mesmo veículo sígnico funcionar
como dois signos distintos, porque não se trata apenas de uma distinta
valoração do signo – mas ainda segundo o mesmo valor; é também uma
questão de interesse que opera na dimensão pragmática, permitindo não
apenas oscilar em um mesmo espaço de possibilidades semânticas, mas
também inaugurar um outro espaço semântico com outras expectativas
que não apenas as epistêmicas63. É isso que nos permite entender por que
o direito probatório considera as provas não apenas segundo a verdade,
mas também segundo outros interesses que compõem toda a teoria da
proibição de obtenção e proibição de valoração de cercas provas obtidas
por meios ilícitos64. A teoria jurídica das proibições de provas, nesse
sentido, inaugura um outro espaço semântico de significado, movido por
interesses de proteção da dignidade humana, para excluir do julgamento
provas que foram obtidas com ofensa a direitos fundamentais. É, em
termos de intencionalidade, uma questão de perspectiva que coloca o
signo probatório em um contexto próprio de interesse.
Assim, podemos entender melhor a extensão com que Morris65
considera a regra pragmática fundamental, pela qual se estabelecem as
condições com que os intérpretes – sujeitos processuais interessados na
prova – aceitam ou recusam uma prova como signo do crime. Em outras
palavras, embora a verdade constitua o valor central na discussão proba-
tória orientada por um interesse epistêmico, não é estranho ao processo
penal abrir-se a outros interesses ético-políticos acerca das mesmas provas,
requerendo a incidência de outras regras pragmáticas que concernem a

63
MORRIS, C. Fundamentos de la teória de los signos. Barcelona-Buenos Aires-
-Mexico, Ediciones Paidós, 1985, p. 80.
64
Por todos, cf. ANDRADE, M. C. Sobre as proibições de prova no processo penal.
Coimbra, Coimbra Editora, 2013.
65
MORRIS, C. Fundamentos de la teória de los signos. Barcelona-Buenos Aires-
-Mexico, Ediciones Paidós, 1985, p. 75.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
940 | da Silva Pereira, Eliomar.

valores distintos, mas igualmente reconhecidos na comunidade jurídica. A


respeito, voltando à terminologia da intencionalidade com que iniciamos,
Searle admitirá que “o significado não é só produto da intencionalidade
individual, mas também o resultado de prática sociais”, o que pressupõe,
segundo ele, além do que considera background dos estados mentais,
também convenções e regras66. Nesses termos, podemos concluir que,
embora possamos aceitar a concepção originária de Searle, para quem a
significação é um tipo de intencionalidade que encontramos na cabeça
das pessoas, somos levados a admitir que há intencionalidade também na
realidade social, que os significados dependem de alguma intencionalidade
social com instituições como a linguagem67 e, no que nos interessa mais
especificamente, com o direito penal e sua linguagem própria. É como
pensamos ser necessário discutir mais detidamente o problema da sig-
nificação probatória, como uma questão de específica intencionalidade.

4. A significação probatória: um modelo analítico

A considerar tudo quanto o problema de significação envolve,


entendem-se as razões por que C. Morris nos sugere evitar o uso do ter-
mo “significado”, requerendo termos mais específicos para discriminar
melhor os vários fatores que ele abrange68. Esta é uma razão por que
temos usado significação – segundo a terminologia sugerida por L. H.
Araújo Dutra, para quem o termo abrange questões relativas ao signifi-
cado e à referência – ao falarmos de prova de crime. Mas ao usá-lo, como
advertimos desde o início, não pensamos em restringi-lo aos casos de
enunciados probatórios.

66
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 232.
67
A respeito, cf. DUTRA, L. H. A.. Realidade e Conhecimento Social: aspectos
ontológicos e epistemológicos das ciÊncais humanas. Florianópolis, Edito-
ra UFSC, 2021, p. 180, com o que obtemos uma outra objeção àquela ideia
de J. R. Searle sobre itencionalidade originária e intencionaldiade derivada,
porque a linguagem não deriva simplesmente da mente, a considerar que ela
inaugura um espaço próprio de intencionalidade que depende não apenas do
que se encontra na mente do indivíduo.
68
MORRIS, C. Fundamentos de la teória de los signos. Barcelona-Buenos Aires-
-Mexico, Ediciones Paidós, 1985, p. 87.

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Essa parece ser a razão também por que C. K. Ogden e I. A. Ri-


chards propõem um modelo analítico composto por três elementos com o
qual pretendem discutir o problema do significado como termo abrangente,
segundo uma proposta do simbolismo geral, embora ainda partindo de
“pensamentos, palavras e coisas”, o que os leva muito constantemente
a discutir o significado tendo como parâmetro a nossa língua natural69.
Mas, se tivermos em conta a significação como tipo de intencionalidade,
segundo a concepção de Searle, podemos usar esse modelo próprio dos
atos de fala para os casos de estados mentais, assim como para os casos de
prova como signo do crime. Por isso, esse esquema analítico geral pode
ser aplicado a todas as espécies de signos, que eles optam por chamar
de símbolos, embora saibamos que – na concepção de C. S. Peirce – o
símbolo seja apenas uma das espécies de signo com referência ao objeto,
tendo por característica aquilo que é comum às línguas, serem convenções
representativas distintas de ícones e índices, dos quais os sinais do crime
se aproximam mais constantemente, mas sem descartar possibilidades
de símbolos relativos à prova, tendo em conta também os enunciados
probatórios existentes no processo. O mais importante do modelo ana-
lítico de Ogden e Richards é, contudo, considerarem que “para a análise
dos sentidos de «significado» (...) é desejável começar pelas relações de
pensamento, palavras e coisas”. É com base nesse pressuposto que eles
nos oferecem aquilo que se tornou o ponto de partida de muitas discus-
sões acerca do significado – o conhecido “triângulo básico” de Ogden e
Richards, com o qual eles apresentam de fato aquilo que temos chamado
de significação, termo mais amplo que abrange questões sobre significado
e referência. A virtude da proposta, no entanto, está em ver a significação
como algo complexo, composta não tanto apenas pelos elementos do signo
em si, mas pelas relações que se estabelecem entre esses elementos, o
que nos parece ser promissor para uma análise da significação probató-
ria. O modelo, que reproduzimos sem todos os detalhes – contendo (P)
pensamento, (S) símbolo e (R) referente como elementos, e (c) correto, (a)
adequado e (v) verdadeiro como relações – pode ser assim simplificado:

69
OGDEN, C. K.; RICHARDS, I. A. O significado de significado: um estudo da
influência da linguagem sobre o pensmaneto e sobre a ciência do simbolismo.
Rio de Janeiro, Zahar, 1972, p. 32.

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942 | da Silva Pereira, Eliomar.

(c) (a)

S R
(v)

Quanto ao essencial, os elementos de que se utilizam Ogden e


Richards, embora recebam outros nomes, parecem ser reconduzíveis
aos elementos do signo em geral, segundo a concepção peirceana –
meio (M), objeto (O) e interpretante (I); ademais, no seu modelo o
pensamento assume o topo da pirâmide, ao passo que a questão da
verdade aparece como uma relação entre signo e objeto. Apesar de
considerarmos mais adequado discuti-la como relação entre referência
e significado, o modelo de Ogden e Richards tem a virtude de apresen-
tar o problema da verdade como uma relação indireta – representada
por uma ligação em pontilhados. A nossa proposta, nesse sentido,
com base nas relações entre os elementos peirceanos, compostas de
(r) referência (M-O); (s) significado (M-I); e (v) verdade (O-I), tem o
seguinte arranjo:

(r) (s)

O I
(v)

Com esse modelo analítico, queremos detalhar aquela “cons-


telação de noções lógicas” de que fala Searle, ao admitir a noção “con-
venientemente vaga” com que considera a representação da mente ou

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da linguagem70, e com que podemos entender igualmente a significação


probatória do crime como uma específica intencionalidade da prova, cuja
função é representar o crime em um empreendimento coletivo que requer
a interação intersubjetiva de diversos sujeitos processuais.

Considerações finais

É, portanto, com base nesse modelo analítico, tendo em conta


uma perspectiva semiótica tridimensional, que podemos discutir na
questão geral da significação os problemas da referência, do significado
e da verdade como questões específicas que nos permitem entender o
problema geral da significação probatória, compreendida como um tipo
de intencionalidade, mas não apenas como algo de domínio individual,
também como algo de domínio social, no qual a perspectiva pragmática
assume uma proeminência. Afinal, os sinais de um crime não são provas
apenas porque uma mente individualmente acredita ser o caso, tampouco
porque o enuncia ainda que solenemente, mas sobretudo porque, assu-
mindo-as intencionalmente como hipótese em sua mente, submete-as
ao debate por intermédio de enunciados em linguagem de comunicação,
segundo regras e convenções jurídicas em processo penal, no qual outras
mentes com suas intencionalidades têm o poder de confirmar ou refutar
suas intenções de significação probatória. Em outros termos, que integram
a discussão sobre a tridimensionalidade, podemos dizer que a significação
probatória não se pode reduzir a um problema de semântica dos sinais,
sem levar seriamente com conta o contexto pragmático de uso desses
sinais como prova do crime.
Entretanto, embora possamos recorrer tanto ao modelo de estados
intencionais – a considerar que as intenções de significação probatória
acontecem primeiramente na mente –, quanto ao modelo de atos de
fala – a considerar que também encontramos enunciados probatórios, é
especialmente relevante reconhecer que a prova como signo assume uma
específica intencionalidade intermediária, que se beneficia dos conceitos
e das discussões que encontramos tanto na filosofia da mente, quanto na

70
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 15.

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filosofia da linguagem, mas que emerge como uma instituição própria no


domínio de uma discussão juridicamente comprometida com os tipos do
direito penal (ontologia) e com os fins da política criminal (ideologia).
E, usando a terminologia do emergentismo perspectiva sugerida por L. H.
Araújo Dutra, esses domínios jurídico e político nos parecem ser condi-
ções de base que permitem emergir uma intencionalidade de significação
probatória. Efetivamente, não nos seria possível falar de prova de um
crime, sem antes termos as condições jurídico-políticas de definição
legal do crime. Compreendê-las é, portanto, parte do estabelecimento
das condições de satisfação de qualquer intenção de significação que
concerne à verdade de enunciados sobre as provas.
E precisamente nisto está o centro do problema da significação,
segundo Searle, para quem “a chave do significado é simplesmente que este
pode ser parte das condições de satisfação (no sentido de requerimento)
da minha intenção de que suas condições de satisfação (no sentido de coisa
requerida) também tenham condições de satisfação”71. Essa certamente
não é uma concepção unânime acerca da significação, a considerar as
diversas teorias que podemos encontrar sobre o problema72, mas ela nos
parece ser suficientemente ampla para abranger as disputas principais,
bem como sobretudo para nos permitir tratar especificamente do pro-
blema da significação probatória como questão de intencionalidade, em
comparação tanto com a linguagem quanto com a mente. Afinal, parece
adequar-se bem ao conceito de Gilbert Ryle, para quem a significação é
“um estilo de operação” que se executa com uma expressão qualquer, e
podemos executar com sinais do crime, mas não é qualquer coisa referi-
da, embora esta possa estar pressuposta; é, nesse sentido, apenas “uma
função”73: o que está em conformidade com o essencial da intenciona-
lidade, considerada em última análise como funcionalidade. A prova do
crime, nesse sentido, poderá ser tudo que se assuma intencionalmente em
função representativa do crime, desde que consiga cumprir as condições
sintática, semântica e pragmática de satisfação. Apenas se tivermos em

71
SEARLE, J. R. Intencionalidade. São Paulo, Martins Fontes, 2002, p. 38, p. 38.
72
ALSTON, W. P. Filosofia da linguagem. Rio de Janeiro, Zahar, 1972, p. 25-56.
73
RYLE, G. A teoria da significação. Ensaios: Ryle, Strawson, Austin, Quine (Os
Pensadores). São Paulo, Victor Civita, 1980, p. 69.

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conta essa complexidade da significação probatória, podemos entender


o que se quer dizer com a asserção “está provado que”.

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Authorship information
Eliomar da Silva Pereira. Doutor em Direito (Universidade Católica Portuguesa –
Escola de Lisboa) com pós-doutorado em Filosofia (Universidade de Brasília –
Departamento de Filosofia). [email protected]

Additional information and author’s declarations


(scientific integrity)

Acknowledgement: The author thanks the Department of Philosophy


at the University of Brasília, especially the Post-Graduate Program
in Philosophy, within which this article was written, under the
supervision of Professor Luiz Henrique de Araújo Dutra. The
author also thanks the evaluators who contributed with their
reviews and suggestions for the improvement of this article.

Conflict of interest declaration: the author confirms that there are


no conflicts of interest in conducting this research and writing
this article.

Declaration of authorship: all and only researchers who comply with


the authorship requirements of this article are listed as authors;
all coauthors are fully responsible for this work in its entirety.

Declaration of originality: the author assured that the text here


published has not been previously published in any other resource
and that future republication will only take place with the express
indication of the reference of this original publication; she also
attests that there is no third party plagiarism or self-plagiarism.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
948 | da Silva Pereira, Eliomar.

Editorial process dates


(https://revista.ibraspp.com.br/RBDPP/about)

▪ Submission: 03/03/2023 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 02/04/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 19/04/2023 ▪ Reviewers: 3
▪ Review 2: 05/05/2023
▪ Review 3: 07/05/2023
▪ Preliminary editorial decision: 25/05/2023
▪ Correction round return: 31/05/2023
▪ Final editorial decision: 18/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


DA SILVA PEREIRA, Eliomar. A complexidade da significação
probatória: problemas, dimensões e conteúdo da intencionalidade da
prova penal. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2,
p. 913-948, mai./ago. 2023. https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.817

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 913-948, mai.-ago. 2023.
La flexibilización probatoria en el proceso
penal: una forma de injusticia epistémica

Evidence flexibilization in the criminal trial:


a form of epistemic injustice1

David Sierra Sorockinas2


Universidad Autónoma Latinoamericana, Medellín, Colombia.
[email protected]
https://orcid.org/0000-0002-3829-4548

Mariana Toro Taborda3


Universidad Autónoma Latinoamericana, Medellín, Colombia.
[email protected]
https://orcid.org/0000-0002-8099-6420

1
Este artículo es un resultado de investigación del Convenio Específico de Cola-
boración entre la Facultad de Derecho y Ciencias Políticas de la Universidad de
Antioquia (UdeA) y la Universidad Autónoma Latinoamericana (UNAULA) del
30 de noviembre de 2020 para el desarrollo del proyecto de investigación titula-
do “La carga de la prueba y su flexibilización en el Código General del Proceso
colombiano, estudio teórico y dogmático”; proyecto que se encuentra inscrito
mediante Acta CODI 2020-31930 (20/04/2020) de la UdeA y según código 34-
000033 de la UNAULA. Además, se adscribe a los Grupos de Investigación en
Derecho Administrativo (UNAULA) y Estado de Derecho y Justicias (UdeA).
Además, es un resultado de investigación del Proyecto de Investigación “Límites
constitucionales a la privación de la libertad en Colombia: el efecto de las decisio-
nes de la Corte Constitucional sobre los centros de detención transitoria”, adscri-
to al Grupo de Investigación en Proceso Penal y Delito. El proyecto se encuentra
inscrito con el Código 36-000009 de la UNAULA.
2
Docente e investigador de tiempo completo de la Escuela de Posgrados de la Uni-
versidad Autónoma Latinoamericana. Doctor en Derecho de la Universidad Fe-
deral de Bahía. Magíster y abogado de la Universidad de Antioquia.
3
Docente e investigadora de tiempo completo de la Escuela de Posgrados de la
Universidad Autónoma Latinoamericana. Magíster en Derecho Penal y Política
Criminal de la Universidad de Málaga. Magíster en Derecho Penal y abogada de la
Universidad EAFIT.

949
950 | Sierra Sorockinas; Toro Taborda.

Resumen: El propósito del presente trabajo es analizar un tipo de


injusticia epistémica en el ámbito del derecho procesal penal.
La pregunta central de la investigación es: ¿la reversión de la
carga de la prueba en el proceso penal puede conducir a una
injusticia epistémica? Para responder este interrogante se dividirá
el texto en tres partes. En primer lugar, examinamos el concepto
de injusticia epistémica y sus diversas modalidades. En segundo
lugar, presentamos las condiciones en las que el proceso penal
es un escenario epistémico. Hacemos una caracterización del
proceso penal en clave epistemológica. Finalmente, en tercer
lugar, se exponen las razones por las que un cambio en el diseño
institucional (la carga de la prueba) conlleva una injusticia
epistémica.
Palabras clave: injusticia epistémica; testimonio; proceso penal;
carga de la prueba; presunción de inocencia.

Abstract: This paper aims to analyze a type of epistemic injustice in the


field of criminal procedural law. The central research question is: can
reverse onus in criminal trial lead to epistemic injustice? To address this
question, the text will be divided into three parts. First, we examine the
concept of epistemic injustice and its various modalities. Second, we
present the conditions under criminal trials in an epistemic setting. We
characterize the criminal trial in an epistemological key. Finally, in third
place, we present why a change in the institutional design (the burden of
proof) leads to epistemic injustice.
Keywords: epistemic injustice; testimony; criminal trial; the burden of proof;
the presumption of innocence.

Sumario: Introducción; 1. Breve contexto de la injusticia epistémica;


2. Las garantías penales como expresión de un esquema epistémico;
3. La carga dinámica de la prueba: ¿una fuente de injusticias
epistémicas?; Conclusiones; Referencias bibliográficas.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 949-978, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.798 | 951

Introducción

Imaginemos a dos individuos: Tom Robinson4, protagonista


de la novela de Harper Lee, Matar a un ruiseñor, y Michael Peterson5,
protagonista del documental Soupçons (más conocido como The Staircase6).
Ambos comparten una situación: son sujetos pasivos en un proceso penal.
Ahora bien, el escenario que los iguala solo es parcial. Mientras en el
relato ficcional de Harper Lee nosotros sabemos –como lectores– de la
inocencia de Tom Robinson, en el documental no tenemos la certeza de
ello, pues a lo largo del proceso no tenemos una posición privilegiada
que nos permita saber si Michael Peterson mató, o no, a su cónyuge,
Kathleen Peterson.
La situación de Tom Robinson ha sido usada como un ejemplo
de injusticia epistémica testimonial, en los términos de Miranda Fricker
(2007). En la novela, la posición epistémica de Robinson se ve disminuida
injustamente, debido principalmente a los sesgos del jurado (todos varones
blancos). El caso de Michael Peterson, por el contrario, no parece que siga
las mismas sendas, ya que se trata de un varón blanco que fue juzgado por
matar a su cónyuge7 y no hay una confirmación de que el jurado rechazase
de plano sus versiones o de que haya certeza de su inocencia. Pese a las
diferencias identitarias que existen, ambos casos siguen perteneciendo al

4
Para nuestro trabajo es necesario saber que el personaje de Tom Robinson es
varón afro condenado penalmente por un jurado por violar a una mujer, pese
a que la narradora nos muestra la inocencia de él y el prejuicio de las personas
que componen el jurado.
5
El personaje central del documental –o de la serie– es un varón exmilitar y
escritor acusado (y eventualmente condenado por un jurado) por el homici-
dio de su esposa. Pese a que se anula una parte del juicio, el proceso finaliza
con un acuerdo entre la fiscalía y el acusado (Alford plea), lo que deja a los
espectadores en un estadio de incerteza sobre los hechos.
6
Existen dos obras: el documental francés escrito y dirigido por Jean-Xavier
de Lestrade (2004-2018) y una serie de televisión cuyo showrunner es Anto-
nio Campos (2022), protagonizada por Toni Collette y Colin Firth.
7
Por mor de la brevedad, no nos concentraremos en un elemento que fue dis-
cutido durante el proceso: la homosexualidad de Michael Peterson. Hay que
aclarar, de todas formas, que este elemento fue considerado por el ente acu-
sador como un motivo válido para la comisión del delito.

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conjunto de procesos penales, en el que el agente procesado se encuentra


en una desventaja epistémica8.
La desventaja epistémica, sin embargo, no implica per se un
caso de injusticia epistémica. De acuerdo con la literatura académica
(Pohlhaus, 2017; Wanderer, 2017, Goldstein, 2022, Medina, 2022), esta
desventaja (reflejada en la falta de credibilidad, por ejemplo) debe ser
injusta. En palabras de Miranda Fricker: “la injusticia testimonial, por la
que se causa un mal a alguien en su capacidad para aportar conocimiento,
y la injusticia hermenéutica, según la cual se causa un mal a alguien en su
capacidad como sujeto de comprensión social” (2007, p. 15). Así, tenemos
que la injusticia epistémica conlleva un debilitamiento injustificado del
rendimiento intelectual (producción de conocimiento), de la confianza en
la justificación de las creencias doxásticas (reproducción del conocimiento)
y del desarrollo cognitivo (distribución del conocimiento).
Si evaluamos estas características de forma independiente,
podríamos concluir que el proceso penal es un ambiente en el que hay
agentes que tienen una posición epistémica desventajosa. En este escenario,
por regla general, la posición del procesado es débil. No obstante, en
los sistemas garantistas, esta posición se compensa institucionalmente
cuando se establece un dique normativo que blinda al sujeto: la presunción
de inocencia9 (Ferrajoli, 2011). El diseño institucional permite que el
escenario epistémico no se torne injusto. Ora un juez, ora un jurado,
quien tome la decisión debe favorecer al procesado en los eventos de
umbral o de precariedad epistémicos.
A lo largo de los años, no obstante, el diseño institucional se
ha modificado. Por medio de reformas legales o través de la aplicación
jurisprudencial se han incluido estímulos normativos que terminan por

8
Podríamos presentar una definición de desventaja epistémica, así: “[esta] se
produce cuando las relaciones no deliberadas y asimétricas excluyen a la(s)
persona(s) de la participación social, lo que provoca un perjuicio intelectual
o moral. En otras palabras, la desventaja epistémica se produce cuando se
excluye justificadamente a una persona o grupo de los intercambios de co-
nocimientos, pero la exclusión deriva en un perjuicio intelectual o moral”
[traducción propia] (Goldstein, 2022, p. 1862).
9
En el derecho español, el ya clásico análisis a la institución por medio del co-
mentario jurisprudencial de Jaime Vegas (2006) muestra las virtudes de este
diseño institucional.

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mutar la institución. Uno de esos cambios es la flexibilización probatoria


en materia penal.
La hipótesis que sostenemos es que los estímulos normativos que
debilitan la presunción de inocencia transforman el proceso penal en un
escenario de injusticia epistémica, toda vez que habría un daño efectivo
en la confianza epistémica de un agente.
Para ello estructuramos el texto así: (i) breve contexto de la
injusticia epistémica; (ii) las garantías penales como expresión de un
esquema epistémico y (iii) la carga dinámica de la prueba: ¿una fuente
de injusticias epistémicas?

1. B reve contexto de la injusticia epistémica

Los nuevos estudios de epistemologías críticas enfatizan en los


problemas de silenciamiento y vulnerabilidad de los agentes epistémicos,
así como otras formas de discriminación y opresión. Lo que otrora era un
campo ideal de estudio, hoy en día los problemas que se investigan en el
dominio ponen el foco en las características de los individuos sociales,
tales como su participación en una etnia, sus preferencias sexuales, su
género o en circunstancias que los limitan, v. gr. las migraciones masivas;
estas condiciones limitan la producción, la distribución y la reproducción
del conocimiento (Medina, 2022, Battaly, 2023).
En términos prosaicos, las corrientes críticas epistemológicas
muestran un nuevo escenario en el que el conocimiento es un producto
social, pero no con los tintes de modelos ideales en los que los agentes
aparentemente se coordinaban satisfactoriamente, sino uno en el que
hay sectores y, siguiendo a Fricker (2007 & 2017), grupos que sufren
opresión, debilitamiento o marginación. Así, no resulta lo mismo ser un
varón cisgénero heterosexual que una mujer afro en términos epistémicos.
La epistemología se mueve, pues, de un motivo teórico a uno en
el que la frónesis impera: los aspectos éticos y políticos son trasversales
al estudio del conocimiento. En la literatura se concentran, al menos,
tres tipos de problemas en este ámbito: (i) la forma de transmitir
conocimiento, un conjunto de problemas que se ha encuadrado dentro
de la etiqueta “injusticia testimonial”; (ii) la forma de dar sentido a las

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experiencias sociales, un conjunto de problemas denominado “injusticia


hermenéutica” y, finalmente, (iii) la forma en la que están diseñadas
las instituciones sociales, este conjunto de problemas también llamado
“injusticias estructurales” (Broncano, 2020, cap. VII).
Los dos primeros tipos de problemas han sido discutidos
ampliamente en la literatura académica (Giromini & Vilatta, 2022).
Sin pretensiones exhaustivas, es posible hacer una breve síntesis que
nos permita operar en los contextos. Comencemos con una definición:
“Injusticia epistémica es toda degradación de la posición y autoridad
epistémicas de un agente que se produce cuando la posición social
interfiere causalmente en ejercicio epistémico de los agentes” (Broncano,
2020, posición Kindle 3439).
Para que se dé un caso de injusticia epistémica debe existir una
degradación de la posición y autoridad epistémicas del agente. El primer
caso es la injusticia hermenéutica: el agente no cuenta con el repertorio
conceptual adecuado para dar cuenta de una experiencia social (Radi,
2022ª y 2022b), así hay una especie de vacío conceptual que lo afecta. El
segundo es la injusticia testimonial, en la que hay un fallo en la transmisión
de conocimiento, pues su competencia, autoridad o credenciales se ven
afectadas (Wanderer, 2017).
La otra condición que establece Fernando Broncano en su
definición está relacionada con el diseño de las instituciones. Guiándonos
por la idea de Douglass North, las instituciones serían las reglas del juego
(1995, p. 3); expresado de otra forma, el conjunto de normas –lato sensu–
que tiene una sociedad. Es importante aclarar que no se trata solo de
normas jurídicas, sino que pueden ser de cualquier tipo, como morales,
religiosas, de conducta e, incluso, epistémicas. En términos amplios,
estaríamos hablando de un rasgo cultural. Así, serían instituciones los
ritos de iniciación o consagración en una religión específica, como la
regulación de una lengua determinada.
En el marco de esta nueva ola epistemológica, el estudio del
conocimiento ha pasado de una versión meramente individualista a una
en la que el aspecto social es influyente para comprender cómo se puede
saber algo. Así, dentro de este dominio, el estudio por el testimonio ha
sido determinante para mostrar algunos aspectos de la agencia de los
individuos (Audi, 2015, Battaly, 2023, Fricker, 2006, Greco, 2021). El

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testimonio10, en el ámbito de la epistemología, es acaso la principal forma


de obtención del conocimiento diferente a las puramente individuales,
como la percepción, la razón o la memoria (Broncano, 2019, pp. 242-3).
Uno de los aspectos del testimonio que nos interesa resaltar aquí es
el testimonio ante la precariedad epistémica. En otras palabras, nos interesa
circunscribir el caso de un sujeto que legítimamente ignora algo y, por
medio del conocimiento de otro agente, busca ampliar su conocimiento.
Desde esta perspectiva la decisión del juez se encuadra de forma
satisfactoria dentro del conjunto de casos en el que el testimonio (en el
sentido de la epistemología11) es la base de la producción del conocimiento.
Que sea la base no significa que sea la totalidad. En el moderno derecho
probatorio existe un marco normativo en el que se circunscribe al fallador
para aceptar un tipo de pruebas. La obtención del conocimiento está
reglada. No obstante, la construcción del relato, de los hechos, depende
principalmente del testimonio, así como la solidez de las evidencias
aportadas (Amaya, 2020, Leonard, 2022).
Veamos a continuación cómo se manifiesta esta estructura en
el proceso penal.

2. L as garantías penales como expresión de un esquema


epistémico

Los procesos jurisdiccionales podrían caracterizarse como una


modulación entre dos dimensiones: poder y saber. Al igual que otro
tipo de operadores jurídicos, los jueces tienen la potestad de adoptar
decisiones que influyen en la esfera jurídica de los sujetos. Ello implica
que la libertad de estos últimos pueda verse comprometida, por ejemplo,
por la imposición de una obligación pecuniaria, de una sanción o de una

10
No huelga aclarar que aquí nos referimos al dominio de la epistemología. Para
los fines argumentativos, no debe confundirse con el concepto en el campo
del estudio del derecho probatorio o del derecho procesal.
11
No vamos a negar el contenido semántico que tiene el término dentro del
ámbito jurídico, especialmente, en material procesal, mas, para este texto –a
menos que hagamos una mención específica– nos referiremos siempre al
sentido expresado inicialmente.

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calidad jurídica. En este sentido, la actividad judicial implica siempre un


ejercicio de poder. Sin embargo, a diferencia de lo que ocurre con otros
operadores jurídicos como los que conforman el poder ejecutivo o el
legislativo, la legitimidad de las decisiones judiciales no está determinada
por su representatividad, sino por la comprobación de los hechos y su
subsunción al derecho. Así pues, la labor de los jueces también implica
un ejercicio epistémico o de saber (Ferrajoli, 2004).
De esta forma, la regulación de las pruebas en el proceso puede
considerarse como un problema epistémico, en la medida en que se
relaciona con la constatación de la ocurrencia de un hecho consagrado
en la norma (Taruffo, 2005, p. 79). Empero, no puede considerarse un
problema exclusivamente epistémico, puesto que con base en dicho
conocimiento el juez puede adoptar decisiones que afectan a terceros. Dado
que la actividad judicial combina las dimensiones aludidas, el diseño de
los procesos correspondientes no es neutral, sino que tiene importantes
implicaciones desde el punto de vista axiológico.
En lo que respecta al proceso penal, la conjunción de ambos
componentes resulta aún más relevante. Dado que la pena constituye la
sanción más intrusiva que se puede imponer al ciudadano, las implicaciones
axiológicas de implementar un modelo epistémico determinado son
especialmente gravosas. Mientras que en materia civil o administrativa
el resultado de una decisión injusta o arbitraria puede tener como
consecuencia la imposición de una obligación pecuniaria o la restricción
de un derecho político –por poner un ejemplo–, en materia penal el
resultado será la privación de la libertad ambulatoria o, incluso, de la vida.
Así, las normas que delimitan cómo se deben obtener y valorar
las pruebas no solo establecen la ruta epistémica que deben seguir los
jueces para verificar la ocurrencia de un hecho, sino que expresan un
límite al poder decisional de estos últimos. En consecuencia, el esquema
epistémico del proceso penal es, a su vez, un dique que limita los alcances
del ejercicio del poder punitivo del Estado en el escenario jurisdiccional.
Estaríamos hablando, entonces, de un asunto de diseño institucional
(Broncano, 2020).
En efecto, la potestad judicial es la única potestad jurídica que
está condicionada por la comprobación de un hecho y no, como ocurre
frente a otros poderes públicos, por la representatividad democrática

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de las decisiones. De esta forma, es –o debería ser– indiferente si las


mayorías abogan por el castigo de un sujeto, o la persecución de un
grupo particular: la actividad del juez responderá a la comprobación de
los hechos contenidos en la norma, y la imposición de la pena que esta
última consagre. Por ello, Ferrajoli afirma que “No hay jurisdicción donde
no hay una comprobación de hechos y de derecho” (2004, p. 233). La
comprobación es, entonces, el elemento definitorio de la jurisdicción
con respecto a otras actividades jurídicas que implican poder decisorio.
Tal comprobación, sin embargo, no se lleva a cabo de manera
arbitraria, sino que está condicionada por la regulación legal de la prueba
que, en materia penal, se liga íntimamente a las garantías con las que
cuenta el procesado. La norma define ex ante cuáles son los mecanismos
admisibles de adquisición de conocimiento, las reglas de formación de
la prueba en el proceso, las reglas de valoración a las que se encuentra
sometido el juez y la forma en que se deben exponer en el fallo los juicios
relativos a los hechos que se consideran probados. Así, por ejemplo, la
prohibición de torturas implica un límite en relación con los medios que
pueden emplearse para obtener información sobre un delito, de la misma
forma en que la presunción de inocencia establece una restricción con
respecto a las consecuencias que puede derivar el operador jurídico de
la carencia de información sobre los hechos.
Estas exigencias son las que permiten modular en cada modelo
procesal las dimensiones de saber y poder, aludidas al principio del
apartado, en tanto las garantías que condicionan la comprobación de los
hechos impiden que el procesado deba padecer las consecuencias de un
ejercicio arbitrario del ius puniendi. En esa medida, su vigencia también
constituye una condición de legitimación de la actividad jurisdiccional,
al asegurar que la imposición de castigos institucionalizados sea racional
y respetuosa de las libertades individuales (Ferrajoli, 2011).
Dado que los procesos penales son la vía para la materialización
del poder punitivo del Estado, su configuración debe atender también a
las condiciones de legitimación a las que aquel se encuentra sometido. En
un Estado constitucional, tales condiciones surgen de la constatación de
que los costes derivados de la imposición de penas institucionalizadas son
inferiores a sus beneficios. Empero, tal análisis no solo tiene en cuenta
el interés de la mayoría no desviada en la prevención de los delitos,

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sino además el de la minoría desviada en la prevención de los castigos


arbitrarios. En ambos casos lo que se pretende es proveer protección a
los derechos fundamentales del más débil. Así, mientras que los tipos
penales constituyen una salvaguarda frente a la violencia del delito, las
garantías penales y procesales lo son frente a la violencia del aparato
punitivo (Ferrajoli, 2011, Prieto Sanchís, 2015, p. 61).
En consecuencia, los esquemas epistémicos que sirven como límite
a la actividad jurisdiccional son, a su vez, mecanismos que protegen al
procesado de la situación de desventaja en la que se encuentra dentro del
proceso penal12. A diferencia de lo que ocurre en otras especialidades, el
sujeto pasivo del proceso penal se encuentra, por regla general, en una
situación de desventaja con respecto a su contraparte. Teniendo en cuenta
que el titular de la acción penal es el Estado, la posición epistémica del
procesado siempre es desigual, incluso en modelos procesales acusatorios
o predominantemente acusatorios.
Así, pese a que jurídicamente se establezca la separación entre
quien acusa y quien juzga, y que las partes estén, teóricamente, en igualdad
de condiciones, lo cierto es que la posición del procesado no puede
equipararse a la del Estado (Maier, 1999, p. 578). Primero, porque este
último cuenta con recursos y prerrogativas en materia de investigación
con las que el procesado no. Piénsese, verbigracia, en los allanamientos
o las interceptaciones de comunicaciones13.

12
Es importante aclarar que con esta afirmación no se pretende desconocer, ni
mucho menos, el hecho de que otros sujetos del proceso puedan encontrarse
también en situación de desventaja epistémica; tal y como ha sido denuncia-
do, por ejemplo, con relación a las víctimas de violencia de género. Empero,
dicha cuestión excede el objeto del presente texto.
13
En el caso colombiano, incluso cuando la defensa puede desarrollar diligen-
cias investigativas de manera autónoma, no por ello cuenta con iguales po-
sibilidades que la Fiscalía, en la medida en que esta última puede acceder a
un abanico de actividades investigativas más amplio. Ello se suma al hecho
de que, con la entrada en vigencia del sistema acusatorio, a partir del Acto
Legislativo 03 de 2002, se ha entendido que dicha entidad no está obligada
a adelantar una investigación integral, que abarque tanto lo favorable como
lo desfavorable al reo. En este sentido, la Corte Constitucional, en Sentencia
C-1194/05, ha considerado que la naturaleza adversarial del proceso supo-
ne que el acusador solo está obligado a recaudar el material de convicción
requerido para soportar la acusación, siempre que, de encontrar evidencia
favorable al procesado, esta sea revelada a la defensa.

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Segundo, porque el solo hecho de estar incurso en un proceso


penal reduce las posibilidades de participación social del sujeto, no solo
por las medidas cautelares a las que se le puede someter, sino por la
carga discursiva que surge de que una autoridad afirme que es autor o
partícipe de un delito. En este sentido, se puede ofrecer como ejemplo
el efecto perverso que tienen los registros en bases de datos del sistema
penal sobre el acceso al mercado laboral (Escobar, 2018, p. 512)14, o la
presión ejercida por los medios de comunicación en casos mediáticos
(Gómez-Colomer, Forthcoming).
Esta desigualdad implica que el procesado cuenta con menores
recursos epistémicos para hacer valer su defensa en el proceso. Teniendo
en cuenta que sobre él recae ya una hipótesis acusatoria propuesta por
una autoridad, el punto de partida para su defensa es epistémicamente
desigual al del acusador. Si a ello se suma, además, el hecho de que este
último cuenta con mayores posibilidades de adquirir información acerca
de lo ocurrido, y que el acusado pierde credibilidad ante el conglomerado
social, entonces es claro que el proceso penal implica una desventaja
epistémica para quien lo enfrenta.
Es importante aclarar, no obstante, que la situación de desventaja en la
que se encuentra el procesado no es la misma en todos los sistemas procesales.
Precisamente, la incorporación de mecanismos para favorecer la igualdad
entre las partes y la racionalidad de los juicios incide de manera decisiva en
la posibilidad de que se produzcan decisiones arbitrarias. Naturalmente, la
situación del procesado no será igual en aquellos sistemas en los que la defensa
cuenta con la posibilidad de desarrollar actividades investigativas autónomas,
o en los que las decisiones judiciales exigen una alta carga de motivación, en
comparación con aquellos en los que no existen tales mecanismos.
No obstante, la existencia de las instituciones mencionadas no
implica que el procesado deje de ser la parte débil en el proceso, sino

14
En algunos casos, dicha limitación incluso se encuentra prevista legalmente:
el art. 29, num. 3°, del Código Disciplinario del Abogado (Ley 1123 de 2007)
establece que las personas que se encuentren privadas de la libertad como
consecuencia de la imposición de una medida de aseguramiento no podrán
ejercer la abogacía. Ello, pese a que el Código de Procedimiento Penal incluso
prevé la posibilidad de otorgar permisos para trabajar en el exterior a aquellas
personas sometidas a detención preventiva en el domicilio.

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que, por el contrario, refuerza la idea de que resulta necesario contar con
salvaguardas institucionales que lo protejan de las arbitrariedades que
pudieran derivarse de su condición. En este contexto, la regulación legal
de la obtención y la valoración de las pruebas podría considerarse como
un filtro que evita que la posición de desventaja en la que se encuentra
el acusado dé lugar a situaciones de injusticia. Por ello, los esquemas
garantistas propician estructuras epistémicas en las que la declaratoria
de responsabilidad se condiciona a la comprobación de la hipótesis
acusatoria, y no de las hipótesis alternativas (Ferrajoli, 2011; Ferrer,
2020 & 2021, pp. 44 y ss.).
Esta estructura se expresa en una serie de garantías que aseguran
que el error epistémico siempre se resuelva en favor del sujeto en
desventaja. De esta forma, no solo se exige que la responsabilidad penal
sea consecuencia de un juicio (principio de jurisdiccionalidad), sino que
este sea iniciado a raíz de una acusación (principio acusatorio), cuya
hipótesis debe ser probada por quien la postula (principio de carga de la
prueba o verificación), habiendo ofrecido oportunidades al procesado
para contradecirla (principio de defensa) (Ferrajoli, 2011).
Así, las garantías procesales conforman un esquema epistémico
que, al condicionar la forma en que se obtiene y valora la información
aportada por las partes, previene que la situación de desigualdad en la
que se encuentra el procesado se transforme en una injusticia epistémica.
En últimas, este constituye el filtro final para impedir que otras posibles
fuentes de injusticia epistémica, presentes a lo largo de los procesos de
criminalización primaria y secundaria, deriven en la imposición arbitraria
de penas a quienes las han padecido.
En términos de Fricker (2007), uno podría identificar tres posibles
fuentes de injusticia epistémica dentro de dichos procesos. Primero,
en la producción de las normas penales es factible que se refuercen
situaciones de injusticia al propiciar formas de persecución selectivas que
afectan especialmente a ciertos colectivos. Tal es el caso, por ejemplo,
de los fenómenos de criminalización de grupos sociales marginales en
Latinoamérica, a partir de la segunda mitad del siglo XX (Iturralde, 2007).
Segundo, en la actividad desplegada por los operadores del sistema
penal, frente a la identificación de conductas delictivas y su judicialización,
es posible establecer ciertos patrones de persecución que se reflejan en

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la conformación de la población penitenciaria. Este es, verbigracia, el


fenómeno que han denunciado algunos autores con respecto a la población
afroamericana en Estados Unidos (Simon, 2020), a los inmigrantes en
España (Daunis, 2021) o, recientemente, a los migrantes venezolanos en
Colombia (Wolf, 2022).
Finalmente, en el desarrollo de los procesos penales es posible
que la desigualdad entre el sujeto pasivo del proceso y el Estado se
convierta en una forma de injusticia, en la medida en que el diseño
institucional adjudique el error al sujeto en desventaja, favoreciendo la
condena de inocentes15.
Partiendo de la propuesta de la autora, sería posible afirmar
que este último tipo de injusticia epistémica constituye una injusticia
testimonial, esto es, aquella en la que el hablante ve disminuida su
credibilidad como resultado del prejuicio identitario vertido sobre él
(Fricker, 2007, p. 23)16.
En el caso referido, la credibilidad del procesado se encuentra
disminuida, precisamente, como consecuencia de su condición. Empero,
ante la existencia de garantías que condicionan epistémicamente la decisión
jurisdiccional, dicha situación no puede considerarse injusta. Puesto que
el propio diseño institucional evita que la hipótesis acusatoria se vea
favorecida por tal circunstancia, la desigualdad entre el procesado y el
Estado no deriva en la atribución del error en el juicio sobre el primero.
De esta forma, las garantías impiden que la desventaja en la que este se
encuentra dé lugar a penas arbitrarias.
En cambio, cuando dichas garantías se limitan, el procesado debe
hacer un esfuerzo desmedido para hacer valer su defensa, en tanto ya
existe una hipótesis en su contra que deriva en la conformación de una

15
Por ello, en términos epistémicos, el establecimiento de estándares probato-
rios exigentes, coherentes con la presunción de inocencia, puede considerar-
se como una institución virtuosa que previene los riesgos de abuso y error
(Ramírez Ortiz, 2020, Vera Sánchez, 2022).
16
En sus formulaciones más recientes, la autora ha modificado su posición, am-
pliando el concepto a colectividades (Fricker, 2017). Un trabajo muy inte-
resante sobre un grupo poblacional no identitario sería el de los migrantes,
Allison B. Wolf (2022) demuestra que existen injusticias epistémicas en el
conjunto de migrantes venezolanos en Colombia.

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creencia acerca de su responsabilidad penal, no solo en el juez, sino en


el conglomerado social que ejerce presión sobre él.
Este, a su vez, puede considerarse aisladamente, como el resultado
de la existencia de una hipótesis acusatoria en la que se afirma que el
sujeto es autor o partícipe de un delito, o bien de manera conjunta, como
la consecuencia de la conjunción de otras injusticias epistémicas anteriores
como las relacionadas con la criminalización y persecución selectiva de
ciertos grupos sociales por parte del sistema penal. Así, por ejemplo,
frente a un procesado afrodescendiente, es posible plantear la existencia
en el juzgador de un doble prejuicio. Primero, en atención a un sesgo
de tipo racial y, segundo, en atención a la existencia de una acusación17.
De este modo, si bien el prejuicio surgido del proceso de
criminalización secundaria puede agravar otros prejuicios preexistentes, no
se confunde con ellos, sino que tiene entidad propia. Por ende, incluso si no
concurrieran otras fuentes identitarias es posible afirmar que la reducción
de las garantías procesales podría dar lugar a injusticias epistémicas18.
En este sentido, se habla de “otras” fuentes identitarias en la
medida en que la etiqueta de delincuente también configura la identidad
del sujeto que la soporta. Si bien se trata de una etiqueta socialmente
construida, no por ello su atribución deja de convertirse en parte de esta
última. Al respecto, las teorías criminológicas del labelling approach ya
han señalado los efectos que tiene la judicialización del sujeto, planteando
que el solo hecho de ser sometido a un proceso penal constituye una
“ceremonia de degradación social” (Garfinkel, 1956) sobre su estatus
lo que, a la par, repercute en la adscripción de una nueva identidad
(Lemert, 1951). Así pues, una vez los individuos han sido etiquetados
como delincuentes, usualmente deben enfrentar nuevos problemas que
surgen de las reacciones frente al estereotipo negativo vinculado con tal
etiqueta. Esta, no obstante, es independiente de la infracción de la norma
penal. Es decir, es posible encontrar sujetos que llegan a ser definidos
como delincuentes sin haber infringido la norma, y otros que habiéndolo
hecho no llegan a ser nunca seleccionados por el sistema (Becker, 1963,
pp. 20). Por ello, la identidad que se atribuye a ciertos sujetos bajo tal

17
Este es el caso paradigmático de Tom Robinson, personaje de Matar a un ruiseñor.
18
Este es el caso de Michael Peterson, protagonista del documental The Staircase.

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etiqueta surge como consecuencia del proceso de criminalización y no


necesariamente de la comisión de un delito.
Dicha circunstancia es la que determina que la ausencia de
garantías procesales pueda ser considerada como una fuente de injusticia
epistémica. En efecto, tales garantías son las que evitan que la condena
se produzca como resultado del prejuicio que se cierne sobre el sujeto
identificado como delincuente y no de la comprobación de un delito. Este
es, entonces, el esquema que determina que una condena penal pueda
ser considerada justa en términos epistémicos.
Así pues, el diseño del proceso penal constituye un elemento
determinante en la contención de las injusticias epistémicas que pudieran
surgir en su trámite. Como plantea Broncano (2020, posición Kindle
3833 y ss.), los diseños institucionales pueden ser epistémicamente
perturbadores, esto es, pueden tener efectos estructurales sobre la
posición epistémica de las personas. Por ello, no resultan indiferentes
de cara a las distorsiones injustas en el conocimiento con base en el cual
operan. El diseño institucional puede reproducir, mantener o aumentar
prácticas insensibles a las desventajas epistémicas de ciertos sujetos,
propiciando daños a su rendimiento epistémico. O, por el contrario,
compensar situaciones de desigualdad epistémica, evitando que esta
derive en situaciones de injusticia.
En el caso del proceso penal, el hecho de que se exija que la
responsabilidad sea la consecuencia de un juicio, que debe iniciar siempre
a partir de una acusación, cuya prueba le corresponde al Estado, evita
que la decisión jurisdiccional sea un mero acto de poder guiado por el
perjuicio que se cierne sobre el procesado. Si, en cambio, se planteara que
la condena es posible sin cumplir con alguna de las condiciones aludidas,
entonces se abriría la puerta para que esta estuviera determinada por la
creencia incontrastada en la calidad de delincuente del sujeto, y no en la
comprobación de su responsabilidad.

3. L a carga dinámica de la prueba : ¿ una fuente de injusticias


epistémicas ?

Como se planteó en el apartado anterior, el diseño institucional del


proceso penal es el que evita que la desigualdad en la que se encuentra el

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procesado se convierta en injusticia. En efecto, este debe enfrentarse con


la existencia de una hipótesis acusatoria, con base en la cual se refuerza el
proceso de criminalización que le asigna la etiqueta de delincuente. Dicha
etiqueta, a su vez, contribuye a la formación de un prejuicio identitario
en su contra que impacta negativamente en la percepción que tiene el
conglomerado social acerca de su credibilidad.
La forma en que el diseño institucional previene el surgimiento
de injusticias epistémicas es evitando que la condena se produzca como
resultado de dicho prejuicio, y no como consecuencia de la comprobación
de la responsabilidad del sujeto (Vera Sánchez, 2022). Para ello, los
procesos penales garantistas cuentan con un esquema epistémico que
exige que la pena se imponga exclusivamente en el marco de un juicio,
en el que el Estado debe acreditar su hipótesis, ofreciendo oportunidades
de contradicción al procesado.
De esta forma, la jurisdicción constituye la actividad que debe
desplegarse para probar que el sujeto ha llevado a cabo una conducta
delictiva. Por ende, si dicha prueba no se produce, no es posible afirmar
la ocurrencia del delito ni imponer la pena correspondiente. En términos
axiomáticos, este esquema podría resumirse en cuatro exigencias: (i) que
no haya culpa sin juicio; (ii) que no haya juicio sin acusación; (iii) que no
haya acusación sin prueba y (iv) que no haya prueba sin contradicción
(Ferrajoli, 2011).
En suma, la confluencia de dichas exigencias supone que el sujeto
debe presumirse inocente hasta que se haya acreditado lo contrario, y
que tal acreditación haya constituido la base de la sentencia definitiva
de condena. En ese sentido, es la prueba de la culpabilidad –y no a la
inversa– la que constituye el objeto del juicio (Ferrajoli, 2011, p. 549).
Así, el esquema epistémico del proceso penal asigna el error a la hipótesis
acusatoria y no a las hipótesis alternativas evitando que, eventualmente y
como consecuencia de este último, se produzca la condena de inocentes.
De la presunción de inocencia es posible derivar dos reglas
procesales: una, de tratamiento del procesado, y otra, de juicio (Moreno
Catena & Cortés Domínguez, 2005, p. 286). En primer lugar, teniendo en
cuenta que el sujeto debe considerarse inocente hasta que sea condenado,
la primera de dichas reglas exige que su trato sea consecuente con ello.
Por ende, la presunción de inocencia constituye una importante fuente

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de argumentos en contra de la detención preventiva, ya que esta última


supone someter al procesado a una medida ónticamente indiferenciable
de la pena, pese a que esta no ha llegado a ser impuesta.
Por otro lado, como regla de juicio, la presunción de inocencia
implica que la condena deprecada por el acusador solo puede producirse
cuando este ha logrado acreditar los hechos constitutivos de delito.
Esta manifestación del derecho es la que corresponde al principio in
dubio pro reo, que obliga al juez a dictar una sentencia absolutoria en
aquellos supuestos en que las pruebas sobre la culpabilidad no resulten
concluyentes (Fernández López, 2020, p. 441). De tal suerte que, ante
cualquier resquicio de duda, la consecuencia epistémica será la negación
de la responsabilidad penal.
El hecho de que la inocencia se asuma como la conclusión, por
defecto, de la falta de conocimiento, implica que la carga de aportar el
conocimiento necesario para soportar la culpabilidad recae sobre quien
postula la hipótesis acusatoria. En efecto, como plantea Armenta Deu
(2003), la prueba completa que soporta la culpabilidad debe ser aportada
por la acusación, lo que supone que la absolución debe imponerse en
cualquier supuesto en el que dicha culpabilidad no queda demostrada.
Ello implica que el procesado podría asumir una defensa pasiva,
en el sentido de no aportar pruebas de descargo. En este caso, la ausencia
de actividad probatoria de su parte no puede tener consecuencias
desfavorables, ya que la duda ha de resolverse, en cualquier caso, a su favor.
En suma, ambas reglas impiden que se genere una injusticia
epistémica en la medida en que evitan que una persona deba padecer
la privación de la libertad, a partir de la existencia de un prejuicio en
su contra y no de la constatación de los hechos por los que se le acusa.
Empero, a los efectos del presente texto, es la segunda de dichas reglas la
que reviste mayor interés, puesto que esta es la que se ve afectada como
consecuencia de tendencias de flexibilización probatoria, como la carga
dinámica de la prueba.
La regla de juicio aludida –esto es, que la carga de la prueba en
los procesos penales recae sobre el acusador– supone partir de una regla
de juicio más general: aquella que remite a la noción de carga de la prueba
como mecanismo para resolver los supuestos en que el juez no encuentra
en el proceso suficientes pruebas como para tener certeza acerca de los

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supuestos que deben soportar su decisión (Devis Echandía, 1981, p. 426).


En términos generales, esta se erige como una institución dirigida a atender
aquellos casos en que el juzgador no cuenta con suficientes elementos
para fallar en favor de una de las partes (Calvinho, 2020, p. 169). Así,
se concluye que si una de ellas no ha logrado acreditar los hechos que
afirma, estos últimos deben ser considerados falsos y, en consecuencia,
el fallo debe serle desfavorable.
En las últimas décadas, sin embargo, dicha visión se ha puesto en
jaque desde dos frentes. Primero, un sector de la academia ha criticado
la persistencia del concepto por considerar que carece de sentido en
sistemas de libre valoración probatoria (Nieva Fenoll, 2019). Así, se
postula que mantener la noción de carga de la prueba puede dar lugar a
resultados materialmente injustos, en tanto la ausencia de prueba sobre
un hecho no implica necesariamente su falsedad, sino exclusivamente la
imposibilidad de considerarlo acreditado. En materia penal, no obstante,
esta crítica no pareciera compatible con la presunción de inocencia –tal
y como está consagrada, por ejemplo, en el sistema jurídico colombiano–
en tanto esta última implica que, ante la ausencia de prueba, se declare la
inocencia del procesado y no exclusivamente su no culpabilidad.
Segundo, desde los años 80 se ha venido gestando la denominada
“teoría de la carga dinámica de la prueba”, que postula que, frente a
situaciones excepcionales en las que la tarea de probar resulta
especialmente dificultosa para una de las partes, el esfuerzo probatorio
debe trasladarse a su contraparte, en tanto esta se encuentra en mejores
circunstancias para hacerlo (Peyrano, s.f., p. 971). La propuesta, surgida
en el ámbito del derecho civil y comercial, pretende flexibilizar las reglas
tradicionales de la carga de la prueba, con el fin de evitar que su aplicación
dé lugar a consecuencias manifiestamente problemáticas por favorecer
desproporcionadamente a la parte que tiene mayor cercanía con el material
probatorio, pero no la carga de aportarlo (Peyrano, s.f., p. 972).
En materia civil, la utilización de cargas dinámicas de la prueba ha
sido ampliamente criticada. Dado que la inversión de la carga de la prueba
se produce como una regla ad hoc, a criterio del juzgador, se ha planteado
que la figura afecta la seguridad jurídica, en tanto las partes no llegan a
conocer cuál es la distribución de las cargas probatorias hasta que ya se
encuentran en el proceso (Corral Talciani, 2012, p. 112). Así mismo, dada

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su naturaleza eminentemente jurisdiccional, la carga dinámica de la prueba


puede abrir un importante margen para la discrecionalidad judicial, en
tanto el criterio que permite determinar cuándo debe invertirse la carga
de probar no se encuentra previsto en la norma, sino que depende de la
valoración judicial (Palomo Vélez, 2013, p. 462).
Frente a estos riesgos, la doctrina ha planteado que la solución no
debería implicar la transformación de la regla de juicio, sino simplemente
la posibilidad de que se ordene a la parte que tiene mayor cercanía con
el material probatorio su exhibición. De tal manera que se asegure que
aquella que no puede acceder al material pueda hacerlo, pero sin que se le
releve de la carga de soportar su afirmación (Palomo Vélez, 2013, p. 462).
En el caso de los procesos penales, la flexibilización probatoria que
se pretende mediante la figura de la carga dinámica de la prueba no solo
pareciera improcedente, sino además innecesaria. En efecto, la presunción
de inocencia supone que la carga de la prueba recaiga siempre sobre el
acusador, de tal forma que la ausencia de conocimiento sobre los hechos
se resuelva en todos los casos a favor del procesado, tal y como ordena el
subprincipio conocido como in dubio pro reo (Moreno Catena & Cortés
Domínguez, 2005, p.398). Si ello es así, no se podría asignar en ningún caso
a este último la carga de acreditar los hechos que soportarían su inocencia,
puesto que tal exigencia supondría correlativamente el decaimiento de la
presunción (Betancourt Restrepo, 2010; Urbano Martínez, 2021).
Pero, adicionalmente, la estructura probatoria del proceso penal
colombiano pareciera incompatible con el fundamento de la teoría de las
cargas dinámicas de la prueba (Urbano Martínez, 2021). Efectivamente,
a diferencia de lo que ocurre en los procesos civiles, en estos la parte
que tiene la carga de probar es el Estado, por lo que las dificultades
probatorias a las que tendría que enfrentarse no son equivalentes a las de
una parte civil. Por regla general, este último cuenta con un abanico más
amplio de recursos y potestades para recopilar información que pueda
hacer valer en el juicio y, por ende, serán mucho más excepcionales los
casos en que la posibilidad de hacerlo dependa de su contraparte, el
procesado. Pero, incluso si no se puede llegar a establecer la ocurrencia
de un hecho ante la dificultad probatoria, la regla de juicio de in dubio
pro reo ya establece qué decisión debería adoptar el juez: declarar la
inocencia del sujeto procesado.

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En el ámbito penal, por ende, la implementación de cargas


dinámicas de la prueba no solo resultaría contraria a las garantías que
rigen el proceso, sino que además tampoco pareciera tener un sustento
equivalente19. En el caso colombiano, particularmente, la legislación
procesal penal niega claramente la posibilidad de que la presunción de
inocencia pueda ser objeto de excepciones, estableciendo, además, la
prohibición de invertir la carga de la prueba20.
Pese a ello, la Corte Suprema de Justicia de Colombia ha admitido
la posibilidad de establecer cargas dinámicas en materia probatoria, frente
a aquellos delitos que suponen una mayor dificultad demostrativa para la
Fiscalía. Desde antes de la entrada en vigencia del sistema penal acusatorio,
mediante el Acto Legislativo 003 de 2002, la Sala Penal de la Corte ya había
referido de manera expresa la posibilidad de acudir a la figura en comento
frente a ciertos delitos. Sin embargo, a partir de la implementación de
dicho sistema, las referencias a la figura en las providencias del tribunal
se hicieron más recurrentes (Pulecio-Boek, 2012, p. 295).
En vigencia del sistema inquisitivo, su utilización se limitaba a
aquellos supuestos de enriquecimiento ilícito de particulares, omisión
de agente retenedor o lavado de activos en los que se entendía que el
acusado tenía mayor cercanía con los elementos de prueba que permitían
establecer el origen o destinación de los recursos. Así, por ejemplo, se
sostenía que era el procesado quien podía acreditar las razones que

19
Este tipo de reglas probatorias parecieran asemejarse más a las lógicas pro-
pias de los tribunales de conciencia. Dado que estos últimos juzgaban aten-
tados contra el dogma de fe, el procesado era el único que, en últimas, podía
tener el conocimiento directo acerca de su ocurrencia. Por ello, se forzaba la
confesión del sujeto a partir de torturas y cuestionarios confusos, al tiempo
que la reticencia a responder se consideraba como un indicio de culpabilidad.
Sobre los tribunales de consciencia, véase Prosperi (1996).
20
Así, la Ley 906 de 2004 establece en su art. 7° que:
“Toda persona se presume inocente y debe ser tratada como tal, mientras no
quede en firme decisión judicial definitiva sobre su responsabilidad penal. En
consecuencia, corresponderá al órgano de persecución penal la carga de la
prueba acerca de la responsabilidad penal. La duda que se presente se resol-
verá a favor del procesado. En ningún caso podrá invertirse esta carga probato-
ria. Para proferir sentencia condenatoria deberá existir convencimiento de la
responsabilidad penal del acusado, más allá de toda duda” (bastardilla fuera
de texto).

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justificaban el incremento patrimonial en el delito de enriquecimiento


ilícito (Corte Suprema de Justicia de Colombia, Sala Penal, Sentencia
del 9 de abril de 2008, radicado 23754) o la no retención de los dineros
correspondientes a la renta en el delito de omisión de agente retenedor
(Corte Suprema de Justicia de Colombia, Sala Penal, Sentencia del 13 de
mayo de 2009, radicado 31147).
Sin embargo, a partir de la entrada en vigencia del sistema penal
acusatorio, la aplicación de la figura se amplió bajo la idea de que, ante
la desaparición del principio de investigación integral –que exigía que la
Fiscalía investigara tanto lo favorable como lo desfavorable al procesado–,
y tratándose de un modelo adversarial, era posible predicar la existencia
de cargas probatorias para ambas partes. Así, se comenzó a hacer uso de
esta, verbigracia, en casos de homicidio y acceso carnal violento.
En estos casos, sin embargo, el concepto de carga dinámica de
la prueba comenzó a emplearse de manera diferente. Ya no se trataba
de que el procesado tuviera mayor cercanía con el material probatorio,
sino de que en aquellos supuestos en que la defensa alegaba que la prueba
ofrecida por la Fiscalía era insuficiente, le correspondía aportar el elemento
probatorio correspondiente.
En un caso de acceso carnal violento e incesto, en el que la víctima
resultó contagiada de sífilis, la defensa alegó que la Fiscalía tendría que
haber practicado un examen para establecer si el procesado portaba
dicha infección, puesto que de lo contrario no se podría sostener que
había sido el autor del delito. Al analizar el caso, la Corte estimó que,
dado que la defensa era quien alegaba la necesidad de contar con una
prueba semejante, entonces debió ser ella quien aportara el elemento
correspondiente (Corte Suprema de Justicia de Colombia, Sala Penal,
Sentencia del 27 de marzo de 2009, radicado 31103).
Un criterio similar se empleó al analizar un caso de homicidio
algunos años después. En esta ocasión, se trataba de un sujeto que
había accionado un arma en contra de su pareja. En este supuesto,
la defensa alegó que, teniendo en cuenta el contexto en el que se
produjo el disparo, la Fiscalía debía haber investigado si se trataba de
un caso fortuito (Corte Suprema de Justicia de Colombia, Sala Penal,
Sentencia del 25 de mayo de 2011, radicado 33660). Empero, el alto
tribunal consideró que, por tratarse de una circunstancia que podía

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repercutir favorablemente en la responsabilidad del procesado, su


prueba correspondía a la defensa.
Así pues, la Corte Suprema de Justicia ha empleado la noción
de carga dinámica de la prueba, pero no en el sentido propio del
concepto –como la posibilidad de invertir la carga de la prueba cuando
la contraparte es quien tiene mayor facilidad para probar– sino como
una figura que eximiría a la Fiscalía de probar la no concurrencia de
causales de exención de la responsabilidad penal. Por ello, se ha planteado
que realmente el uso de la carga dinámica de la prueba no atiende al
fundamento de dicha institución en el derecho civil, sino al interés en
moderar la carga probatoria que corresponde al ente acusador, con todas
las consecuencias que ello puede acarrear (Pulecio-Boek, 2012, p. 296).
Pues bien, esta postura jurisprudencial no solo podría resultar
criticable desde las exigencias propias de la presunción de inocencia, sino
que pone en evidencia el riesgo que implica la introducción de la noción
de carga dinámica de la prueba de cara a la justicia epistémica del proceso.
Al asumir que la Fiscalía no debe ocuparse de aquellas
circunstancias que puedan implicar la ausencia de responsabilidad del
sujeto, la Corte desconoce que el concepto de delito está conformado por
categorías con contenido positivo y negativo (en el sentido de conformar
o excluir la responsabilidad penal). Por ende, para cumplir con su carga
de acreditar la comisión de un delito, el acusador no solo debe probar
que el sujeto llevó a cabo el hecho descrito en la norma, sino que lo hizo
sin estar amparado por una causal de justificación o de exculpación. Si
luego de aportar las pruebas correspondientes, todavía quedara resquicio
de duda en torno a la existencia de una de tales causales, entonces la
decisión tendría que favorecer al procesado.
La pretendida inclusión de la carga dinámica de la prueba en
materia penal tiene un efecto perverso sobre la operatividad real de las
garantías procesales y, con ello, sobre el diseño institucional que previene
el surgimiento de injusticias epistémicas. Al atribuir una carga probatoria
a la defensa, el tribunal vacía de contenido la presunción de inocencia,
puesto que termina por resolver las dudas, en torno a la concurrencia de
causales de ausencia de responsabilidad, en contra del procesado. Esta
modificación altera estructuralmente el esquema epistémico del proceso,
puesto que resta operatividad a una de las garantías que lo definen.

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Luego, si como se sostuvo en el apartado anterior, tales garantías


son las que evitan que la desventaja epistémica en la que se encuentra
el procesado se convierta en una forma de injusticia, entonces la
flexibilización probatoria del proceso deriva en su producción. Más aún,
si se tiene en cuenta que el uso más reciente del concepto no pretende
atender la problemática que dio lugar a su surgimiento, y que soporta su
uso en otras áreas del derecho, sino por el contrario a la moderación de
la carga probatoria del acusador.

Conclusiones

Usualmente, la noción de injusticia epistémica suele vincularse con


la posición de ciertos colectivos cuya credibilidad se encuentra disminuida.
Dentro de dicha categoría también pueden encuadrarse supuestos en los
que la injusticia está determinada por diseños institucionales que afectan
estructuralmente la posición epistémica de los agentes.
Tal es el caso del proceso penal colombiano y las medidas de
flexibilización probatoria que se han implementado en décadas recientes,
de la mano de la noción de carga dinámica de la prueba. En efecto, el
proceso penal constituye un esquema epistémico que condiciona el poder
decisorio de los jueces, en función de las reglas acerca de la obtención
y valoración de conocimiento sobre los hechos. En modelos procesales
garantistas, su diseño impide que la posición de desventaja en la que
se encuentra el sujeto criminalizado derive en la configuración de una
injusticia epistémica.
En consonancia con este esquema, la presunción de inocencia
opera como una regla de juicio que exige que sea el Estado quien acredite
su hipótesis acusatoria, y no que sea el procesado quien deba acreditar
una hipótesis alternativa. Con ello se distribuye el error epistémico de la
manera más consecuente con el derecho a la libertad, esto es, evitando
la condena de sujetos inocentes.
Sin embargo, en las últimas décadas la Corte Suprema de Justicia
de Colombia ha empleado la figura de la carga dinámica de la prueba en
procesos penales, lo que supone atribuir cargas probatorias a la defensa
y limitar la operatividad de dicha presunción. Esta tendencia no solo
deforma el diseño institucional que impide que la posición de desigualdad

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del procesado derive en una injusticia epistémica, sino que, además,


agrava las demás injusticias epistémicas presentes en los procesos de
criminalización primaria y secundaria.
En efecto, el diseño institucional, que prevé que el error
epistémico del juzgador se resuelva en favor del agente procesado, impide
que su posición de desventaja se traduzca en una injusticia. En términos
probatorios, ello significa que la presunción de inocencia contrarresta el
prejuicio que recae sobre el procesado por el solo hecho de encontrarse
incurso en un proceso penal. Precisamente, como afirma Ferrajoli (2011),
este último tiene la posición más débil, por lo que el objetivo de las
garantías del proceso no es otro que precaver los excesos en el ejercicio
del poder punitivo.
En este escenario, atribuir la carga de la prueba al acusador
constituye un presupuesto necesario para que la presunción de inocencia
sea efectiva. Solo en la medida en que la hipótesis que deba acreditarse
sea la acusatoria, y no las alternativas, es posible afirmar que existe un
dique epistémico que evita que la posición de debilidad del sujeto se
torne injusta. Así, si bien es cierto que instituciones como la motivación
judicial, el derecho de contradicción o el principio de objetividad del
acusador contribuyen a evitar la condena de inocentes, lo cierto es que los
mismos no constituyen un presupuesto suficiente para ello. Siempre que
el procesado tenga la carga de acreditar aquellos hechos que soporten la
ausencia de responsabilidad, habrá espacio para que el error epistémico
derive en injusticia.

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Authorship information
David Sierra Sorockinas. Docente e investigador de tiempo completo de la Escuela
de Posgrados de la Universidad Autónoma Latinoamericana. Doctor en Derecho
de la Universidad Federal de Bahía. Magíster y abogado de la Universidad de
Antioquia. [email protected]

Mariana Toro Taborda. Docente e investigadora de tiempo completo de la Escuela


de Posgrados de la Universidad Autónoma Latinoamericana. Magíster en Derecho
Penal y Política Criminal de la Universidad de Málaga. Magíster en Derecho Penal
y abogada de la Universidad EAFIT. [email protected]

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Universidad Autónoma Latinoamericana for funding this project
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curation, investigation, writing – original draft, validation,
writing – review and editing, final version approval.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 949-978, mai.-ago. 2023.
978 | Sierra Sorockinas; Toro Taborda.

▪ Mariana Toro Taborda: conceptualization, methodology, data


curation, investigation, writing – original draft, validation,
writing – review and editing, final version approval.

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published has not been previously published in any other resource
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▪ Review 2: 12/05/2023
▪ Review 3: 13/05/2023
▪ Preliminary editorial decision: 21/05/2023
▪ Correction round return: 05/06/2023
▪ Final editorial decision: 16/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


SIERRA SOROCKINAS, David; TORO TABORDA, Mariana. La flexibilización
probatoria en el proceso penal: una forma de injusticia epistémica. Revista
Brasileira de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 949-978, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.798

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 949-978, mai.-ago. 2023.
O princípio nemo tenetur se ipsum accusare e os
meios de obtenção de prova na lei do cibercrime

Principle nemo tenetur se ipsum accusare and the


means of evidence attainment in Cybercrime Law

Ana Melro1
Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal
[email protected]
https://orcid.org/0000-0001-9710-0574

Resumo: Portugal evoluiu muito no que diz respeito à relevância dada


aos crimes cometidos em ambiente digital. Tem sido uma preocupação
constante, sobretudo, desde 2009, procurar entender o meio particular
em que operam os cibercriminosos. Desde a transposição de Direti-
vas Europeias, até à criação legislativa específica, muito se tem feito
nesse campo. Mas o que fica para os meios de obtenção de prova, em
particular, no que diz respeito à precaução de salvaguardar um Direito
Fundamental do arguido, que é o seu direito à não autoincriminação
(Nemo tenetur se ipsum accusare)? Em termos de legislação nacional, o
que se verifica é que há, ainda, um risco de se ver violado um direito que
tem previsão constitucional, por falta de conhecimento do que deverá
ser, por exemplo, o procedimento, quando o que se procura obter por
parte do arguido é o acesso a uma password que protege documentos
autoincriminatórios. Assim, aborda-se o direito à não autoincriminação,
como, inclusivamente, protegido constitucionalmente, no contexto
da Lei do Cibercrime, cujos princípios são os mesmos contidos na
Lei processual penal (ou, como defende alguma doutrina, o Direito
constitucional aplicado). O artigo aborda o direito processual penal e
o direito do arguido à não autoincriminação à luz da Lei do Cibercrime.

1
Doutora em Políticas Públicas e em Informação e Comunicação em Plataformas
Digitais, pela Universidade de Aveiro. Licenciada em Direito, em Gestão e em
Sociologia. Frequência do Mestrado em Direito Judiciário. Docente em Ciências
Sociais, Investigadora científica, Advogada. Áreas de Investigação: Cibercultura e
Ciências da Comunicação, Practicum em Direito.

979
980 | Melro, Ana.

Palavras-Chave: Meios de obtenção de prova; Prova; Lei do Ciber-


crime; Nemo tenetur se ipsum accusare.

Abstract: Portugal has evolved with regard to the relevance given to crimes
committed in the digital environment. It has been a constant concern,
especially since 2009, to understand the particular environment in which
cybercriminals operate. From the transposition of European Directives to
specific legislative creation, much has been done in this field. But what
about the means of obtaining evidence, in particular, with regard to the
precaution of safeguarding a Fundamental Right of the accused, which
is their right not to self-incrimination (Nemo tenetur se ipsum accusare)?
In terms of national legislation, what can be verified is that there is still a
risk of seeing a right that is constitutionally foreseen violated, due to lack
of knowledge of what should be, for example, the procedure, when what
is sought to obtain on the part of the accused is access to a password
that protects self-incriminating documents. Thus, the right to non-self-
incrimination is addressed, as constitutionally protected, in the context of
the Cybercrime Law, whose principles are the same as the ones contained in
the Criminal Procedural Law (or, as advocated by some doctrine, the applied
Constitutional Law). The article discusses criminal procedural law and the
accused right to non-self-incrimination in the light of the Cybercrime Law.
Keywords: Means of evidence attainment; Evidence; Cybercrime Law;
Nemo tenetur se ipsum accusare.

Sumário: Introdução; 1. O direito processual penal como direito


constitucional aplicado: breves considerações; 1.1. Distinção entre
princípio da presunção de inocência, direito ao silêncio e à não
autoincriminação; 2. Meios de obtenção de prova no Direito Proces-
sual Penal e o direito à não autoincriminação; 3. Lei do Cibercrime,
lei n.º 109/2009, de 15 de setembro; 3.1. Meios de obtenção de
prova na Lei do Cibercrime e o direito à não autoincriminação;
Considerações Finais; Referências.

Introdução

No cumprimento do que tem sido uma das principais preocupa-


ções do legislador ordinário, a de acompanhar a evolução social, em 2009,

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.806 | 981

é transposta, para o ordenamento jurídico português, a Decisão-Quadro


2005/222/JAI do Conselho, de 24 de fevereiro de 2005, relativa a ataques
contra os sistemas de informação. Preocupação essa que, inevitavelmente,
está em linha com a rápida evolução das Tecnologias de Informação e
Comunicação, já identificadas por Ribeiro, Cordeiro e Fumach2.
Recuando ainda mais, poder-se-á afirmar que já o legislador cons-
titucional, em 1976, previu a relevância do que seriam as comunicações
eletrónicas e a proteção dos Direitos Fundamentais (DF) dos cidadãos a
esse nível. Culminando, em 1997, com a que viria a ser a redação atual
do artigo 35.º da Constituição da República Portuguesa (CRP), que, para
o que aqui releva, se transcreve:

Artigo 35.º Utilização informática […]

2. A lei define o conceito de dados pessoais, bem como as condições


aplicáveis ao seu tratamento automatizado, conexão, transmissão
e utilização, e garante a sua protecção, designadamente através de
entidade administrativa independente. […]

4. É proibido o acesso a dados pessoais de terceiros, salvo em casos


excepcionais previstos na lei. […]

6. A todos é garantido livre acesso às redes informáticas de uso


público, definindo a lei o regime aplicável aos fluxos de dados
transfronteiras e as formas adequadas de protecção de dados
pessoais e de outros cuja salvaguarda se justifique por razões de
interesse nacional. […]3

Por outro lado, apesar de o texto constitucional não prever es-


pecificamente o direito à não autoincriminação do arguido, a verdade é
que o artigo 32.º da CRP contém garantias que não se contendem com a
violação desse direito, prevendo explicitamente outras que são um seu
apanágio, como a presunção da inocência ou a cominação com nulidade

2
RIBEIRO, Gustavo Alves Magalhães, CORDEIRO, Pedro Ivo Rodrigues Vello-
so e FUMACH, Débora Moretti. O malware como meio de obtenção de prova
e a sua implementação no ordenamento jurídico brasileiro. Revista de Direito
Processual Penal, Porto Alegre, vol. 8, n. 3, p. 1463-1500, 2022. https://doi.
org/10.22197/rbdpp.v8i3.
3
Constituição da República Portuguesa.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
982 | Melro, Ana.

qualquer meio de obtenção de provas que implique uma intromissão na


vida privada, nomeadamente, as telecomunicações (entre outras formas
ofensivas à intimidade da vida privada).
Assim, serão estes os tópicos do presente artigo. Por um lado, (1)
apreciar brevemente o contexto do direito processual penal enquanto o
que vários autores defendem como sendo direito constitucional aplicado45
e, neste âmbito, destacar o direito à não autoincriminação e distingui-lo
do princípio de presunção da inocência e do direito ao silêncio. Partindo
daqui, (2) fazer referência aos meios de obtenção de prova em processo
penal, especificamente, os mais gravosos, como as escutas telefónicas,
para depois terminar com uma (3) breve análise à Lei do Cibercrime e
aos meios de obtenção de prova e o direito à não autoincriminação do
arguido nesse contexto legal e como estão contemplados. O artigo orga-
niza-se, então, nestas três secções principais.
Ao longo do artigo pretende responder-se a algumas questões
relacionadas com o direito do arguido à sua não autoincriminação, no-
meadamente, em contexto informático, entre as quais: qual a relevância
da distinção entre direito e princípio aplicada ao nemo tenetur? O direito
à não autoincriminação do arguido deverá evoluir no mesmo sentido em
que evoluem as ferramentas informáticas (e os crimes praticados por
meio destas ferramentas)?

1. O direito processual penal como direito constitucional


aplicado : breves considerações

José António Barreiros6 abriu o seu artigo intitulado “A Nova


Constituição Processual Penal” com a seguinte afirmação: “O Direito
processual penal, em abstracto, é uma ordem jurídica infra-constitu-

4
ANTUNES, Maria João. Direito processual penal – “direito constitucional
aplicado”. In Que Futuro para o Direito Processual Penal?. Coimbra: Coimbra
Editora, p. 745 e ss., 2009.
5
SILVA, Germano Marques da e SALINAS, Henrique. Artigo 32.º. In MIRAN-
DA, Jorge e MEDEIROS, Rui (Eds.). Constituição Portuguesa Anotada: Vol. I.
Coimbra: Coimbra Editora, p. 709, 2005.
6
BARREIROS, José António. A Nova Constituição Processual Penal. Revista da
Ordem dos Advogados, vol. II, p. 425 e ss., 1988. Disponível em https://portal.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.806 | 983

cional”7, algo que já seria defendido por Figueiredo Dias, em 19748 e,


posteriormente, em 19769. Mais recentemente, Maria João Antunes10,
seguiu a mesma linha, defendendo o Direito Processual Penal como
Direito Constitucional aplicado.
Ao longo dos anos, também os tribunais portugueses têm adotado
esta perspetiva. Assim, vários são os acórdãos que, expressamente, referem
aquele paradigma. Vejam-se, a título de exemplo, os Acórdãos do STJ, de
10 de outubro de 2007, Processo n.º 07P3742, Relator Pires da Graça11,
de 21 maio 2008, Processo n.º 08P1795, Relator Armindo Monteiro12, do
Tribunal da Relação do Porto, de 09 abril 2008, Processo n.º 0840367,
Relatora Airisa Caldinho13, do Tribunal da Relação de Lisboa, de 14 de
junho de 2007, Processo n.º 4251/2007-5, Relator Nuno Gomes da Silva14.
Na senda do que vinha defendendo Figueiredo Dias15, Mário
Ferreira Monte16 explicita que também ao direito processual penal no
âmbito do direito judiciário podem ser dados dois sentidos: por um lado, “é
inegável que a Constituição se oferece como matriz referencial do direito
processual penal. […]. Por outro lado, da leitura daquelas normas resulta

oa.pt/upl/%7Bfb2bda40-2883-4766-a66d-a671b126eb50%7D.pdf. Acesso
em: 02 jan. 2023.
7
BARREIROS, José António, op. cit., p. 425.
8
DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Processual Penal. Coimbra: Coimbra Edi-
tora, 1974.
9
DIAS, Jorge de Figueiredo. A Nova Constituição da República e o Processo
Penal. p. 99 e ss., 1976. Disponível em https://portal.oa.pt/upl/%7Bbc2145f-
1-946b-4932-9eb9-7a07eec4d1ed%7D.pdf. Acesso em: 20 dez. 2022.
10
ANTUNES, Maria João. Direito Penal, Direito Processual Penal e Direito da
Execução das Sanções Privativas da Liberdade e Jurisprudência Constitucional.
Revista Julgar, Braga, n. 21, p. 89 e ss., 2013. Disponível em http://julgar.pt/wp-
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11
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12
https://jurisprudencia.pt/acordao/134479/. Acesso em: 15 nov. 2022.
13
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14
https://jurisprudencia.pt/acordao/79971/. Acesso em: 15 nov. 2022.
15
DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Processual.
16
MONTE, Mário Ferreira. Direito Processual Penal Aplicado. Braga: Associação
de Estudantes de Direito da Universidade do Minho, 2016.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
984 | Melro, Ana.

claramente a definição – ou o sentido – das finalidades do processo penal


[…] e dos seus princípios estruturantes […]”17.
Assim, para o que no presente contexto releva, são vários os pre-
ceitos constitucionais que o legislador ordinário necessitou considerar no
direito processual penal e que o aplicador do direito deve levar em linha
de conta quando atua nesse âmbito. Desde logo, com aplicação direta
no processo penal, os artigos 27.º, 28.º, 29.º, 30.º, 31.º, 32.º da CRP. Mas
podem, ainda, indicar-se como tendo influência os artigos 3.º, 13.º, 18.º,
20.º, 21.º, 24.º, 25.º, 26.º, 33.º, 34.º e 35.º da CRP.
Tratou a presente secção de apresentar uma breve reflexão e
contextualização da forma como a doutrina perspetiva a aplicação do
direito processual penal português, considerando a evidente força cons-
titucional. De seguida, far-se-á, à luz desses preceitos constitucionais, a
distinção entre o que são os direitos à presunção da inocência, ao silêncio
e à não autoincriminação.

1.1. Distinção entre princípio da presunção de inocência, direito ao


silêncio e à não autoincriminação

Três direitos plasmados na CRP (melhor explicando, um deles


explicitamente referenciado, enquanto os outros apenas surgem como
resultado da aplicação indireta de outros direitos e/ou princípios) são a
presunção da inocência, o direito ao silêncio e a não autoincriminação,
todos relativos ao arguido em processo penal.
O princípio da presunção da inocência vem previsto no artigo
32.º, n.º 2 da CRP, enquanto o direito ao silêncio e o direito à não autoin-
criminação (ou, em latim, nemo tenetur se ipsum accusare) encontram
proteção constitucional através dos artigos 20.º, n.º 4, 26.º, n.º 1, 27.º,
n.º 4, 28.º, n.º 1 e 32.º, n.º 2, 5, 7 e 818 19.

17
MONTE, Mário Ferreira, op. cit., pp. 55-56.
18
CORREIA, Hélder Santos e NEVES, Rita Castanheira. A Lei do Cibercrime e a
colaboração do arguido no acesso aos dados informáticos. Actualidad Jurídica
Uría Menéndez, Lisboa, n. 38, p. 146 e ss., 2014, Disponível em https://www.
uria.com/documentos/publicaciones/4377/documento/fp02.pdf?id=5591.
Acesso em: 20 dez. 2022.
19
De acordo com SILVA, Sandra Oliveira e . O arguido como meio de prova contra
mesmo: considerações em toro do princípio «nemo tenetur» se «ipsum accusare».

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.806 | 985

Não obstante, como refere o acórdão n.º 298/19, do Tribunal


Constitucional (TC):

II - A Constituição não consagra expressis verbis o princípio nemo


tenetur se ipsum accusare, mas tal não impede o seu reconhecimento
como um princípio constitucional implícito a que corresponde um
direito fundamental não escrito que, em sentido amplo, abrange,
na sua área nuclear, o direito ao silêncio propriamente dito e des-
dobra-se em diversos corolários, designadamente nas situações
em que esteja em causa a prestação de informações, a entrega de
documentos ou outras formas de colaboração e que correspondem
a zonas de proteção mais periféricas; no processo penal a inter-
venção do princípio nemo tenetur (e, portanto, dos direitos dele
decorrentes) ocorre sob duas formas distintas: preventivamente,
impedindo soluções que façam recair sobre o arguido a obrigatorie-
dade de fornecer meios de prova que possam contribuir para a sua
condenação; e, repressivamente, proibindo a valoração de meios de
prova recolhidos com aproveitamento duma colaboração imposta ao
arguido.20 (Negrito da autora).

Sobre o direito à presunção da inocência, no presente contexto,


não há muito que se possa acrescentar ao que explicitamente é vertido na
norma constitucional. Primeiro porque se entende que a norma é autoe-
xplicativa. Mas também porque não é esse o objetivo do artigo, surgindo
aqui apenas como um esclarecimento relativamente a dois direitos que
aparecem frequentemente associados: presunção da inocência e limitação
à não autoincriminação.
Já o direito à não autoincriminação decorre de outro com apli-
cação prática no processo penal português, que é o direito do arguido
ao silêncio (artigo 61.º, n.º 1, d) do Código de Processo Penal (CPP),
não podendo quaisquer omissões (aqui entendido no sentido contrário
à ação de falar ou de ser parte ativa no processo, de facultar meios de

Coimbra: Edições Almedina, p. 153 e ss., 2019, o princípio nemu tenetur é,


ainda, uma decorrência dos artigos 1.º, 2.º, 25.º, 26.º, n.º 1, 32.º, n.º 1 e 5 CRP.
20
Acórdão do TC, relativo ao processo n.º 1043/17, Relator Juiz Conselheiro
Pedro Machete. Disponível em http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/
acordaos/20190298.html. Acesso em 06 nov. 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
986 | Melro, Ana.

prova que contribuam para a convicção da sua culpa) desfavorecê-lo ou


prejudicá-lo (artigo 343.º, n.º 2 do CPP).
Portanto, se, por um lado, o direito à não autoincriminação im-
plica essas duas faculdades detidas por parte do arguido – remeter-se ao
silêncio, seja qual for o momento processual em que se encontre e não
contribuir ativamente para a sua própria inculpação, facultando meios
de prova –, a presunção da inocência implica que, enquanto essas duas
faculdades não forem pelo arguido afastadas e não se provar que, efeti-
vamente, é culpado (e a sentença que o fizer não transitar em julgado),
então, terá que ser tratado como inocente. Ou seja, o primeiro direito
poderá contribuir para que se construa e mantenha o segundo.
Nesta linha de pensamento encontra-se Costa21, que explica, pre-
cisamente, a inter-relação existente entre o direito à não autoincriminação
e a presunção da inocência. Para tal, recorre aos princípios fundamentais
do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH), que relaciona o
direito à não autoincriminação com o direito ao silêncio do arguido e,
consequentemente, culminando com a sua presunção de inocência, em
duas linhas fundamentais: por um lado, pela obrigatoriedade de respei-
tar a vontade de o arguido se remeter ao silêncio e, por outro lado, pelo
facto de todos os meios de prova através dos quais se constrói a acusação
contra o arguido não poderem recorrer a práticas de coação ou opressão,
em total desrespeito da sua vontade e dignidade22.
Aliás, continua a autora na explicação dos três sentidos pos-
síveis atribuídos ao nemo tenetur pelo TEDH, quando em situação de
obtenção de informação por parte do arguido e sobre ele. Assim, po-
dem distinguir-se

i) situações em que o uso de poderes coercivos se destina a que o


acusado preste declarações, estando em causa o direito ao silêncio;
ii) situações em que o uso dos poderes coercivos visa a obtenção
de informações através da entrega de documentos pelo acusado; iii)

21
COSTA, Joana. O princípio do nemo tenetur na Jurisprudência do Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem. Revista do Ministério Público, Lisboa, n. 128,
p. 117 e ss., 2011 https://doi.org/10.11606/d.2.2017.tde-11122020-011515.
22
COSTA, Joana, op. cit., p. 118.

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situações em que o uso dos poderes coercivos se relaciona com a


obtenção de material corpóreo do acusado para análise.23

Conclui-se esta secção com Lima24, afirmando com a autora que


tanto o direito ao silêncio como o nemo tenetur são DF do arguido em
processo penal e que, não sendo sinónimos25, estão intimamente relacio-
nados. Arriscando, mesmo, dizer-se que o segundo depende do primeiro,
sendo que este implica os três sentidos atribuídos ao nemo tenetur pelo
TEDH vistos anteriormente.

2. M eios de obtenção de prova no D ireito P rocessual P enal


e o direito à não autoincriminação 26

Chegados aqui, após o que foi a reflexão em torno do direito


à não autoincriminação, será pertinente abordar a sua relação com os
meios de obtenção de prova em processo penal. Começa por tratar-se
o que se entende por prova. De acordo com Meireles27 “A prova será,
então, entendida como um mecanismo de descoberta, por aproximação

23
COSTA, Joana, op. cit., p. 118.
24
LIMA, Sofia Belo Campos de. Âmbito do nemo tenetur se ipsum accusare direito
processual penal português, com destaque para a sua aplicabilidade aos casos de
recolha de provas por intrusão corporal. Dissertação de Mestrado em Direito,,
Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, 2014.
25
LIMA, Sofia Belo Campos de, op. cit., p. 19.
26
O direito à não autoincriminação tem a sua designação latina na expressão
nemo tenetur se ipsum accusare. Segundo SATULA, Benja. Nemo tenetur se
ipsum accusare. Direito ou princípio?. JURIS, vol. 1, n. 2, p. 7 e ss., 2016.
Disponível em https://revistas.ucp.pt/index.php/juris/article/view/9171.
Acesso em: 20 dez. 2022, as origens deste direito estão relacionadas com um
outro princípio, bem mais antigo, em latim nemo tenetur prodere seipsum.
De acordo com o qual, “nenhuma pessoa pode ser compelida a trair-se a si
própria, publicamente”, como diria o autor desta frase, São João Crisóstomo.
Este direito teve a sua transposição para ordem jurídica ocidental através do
direito canónico, com a tradução “nenhuma pessoa deve ser obrigada a fazer
acusações contra si própria”, pp. 8-9.
27
MEIRELES, Ana Isa Dias. A prova digital no processo judicial. Dissertação de
Mestrado em Direito, Universidade do Minho, Braga, 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
988 | Melro, Ana.

ou distanciamento, daquilo que é a verdade.”28 e “a prova será a verda-


deira tentativa de reconstituição da realidade ou, melhor, um dos meios
de tentativa de reconstituição da realidade a par, também, dos factos.”29.
Através de diversificados meios da sua obtenção que os Órgãos de Polícia
Criminal (OPC) têm à sua disposição para que se alcance aquela recons-
tituição dos factos e a verdade.
O que se almeja com o direito à não autoincriminação é garantir
que o processo penal é equitativo para o arguido. Assim, os meios de
obtenção de prova têm que cumprir, entre outros, mas para o que aqui
releva, os princípios constitucionais consagrados nos artigos 24.º, 25.º,
34.º e 32.º n.º 8 da CRP. Caso assim não se realize, então, são os meios de
obtenção de prova cominados com a nulidade, o que, conforme expres-
samente concretiza o CPP, se traduz na aplicação do efeito à distância às
provas assim obtidas (artigo 126.º, n.º 1 CPP).
Já no que diz respeito aos métodos, estes “são, de acordo com a
etimologia da palavra, os “caminhos a percorrer” para se atingir determi-
nado fim – e, por decorrência, a proibição tem o sentido de delimitar ne-
gativamente os modus de aquisição de certo conhecimento no processo.”30.
Assim, facilmente se conclui que o direito à não autoincrimi-
nação é constitucionalmente protegido, podendo o arguido remeter-se
ao silêncio (não prestar quaisquer outros meios de prova que o possam
prejudicar), presumindo-se a sua inocência até trânsito em julgado da
sentença, sendo proibido qualquer meio de prova “que viole a vida hu-
mana, obtida mediante tortura, maus-tratos, tratamentos degradantes ou
desumanos, aquela que viole a integridade moral, ofenda a integridade
física ou, ainda, aquela que resulte de uma intromissão abusiva na vida
privada, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações”31
do arguido. Mas, outros contextos há em que este direito à não autoin-
criminação não é tão linear assim.

28
MEIRELES, Ana Isa Dias, op. cit., p. 4.
29
MEIRELES, Ana Isa Dias, op. cit., p. 15.
30
GAMA, António et al. Comentário Judiciário do Código de Processo Penal -
Tomo II - Artigos 124.º a 190.º. Coimbra: Edições Almedina, p. 44, 2021.
31
MEIRELES, Ana Isa Dias. A prova digital, p. 5.

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Não nos detendo muito sobre isso, mas dada a complexidade em


garantir o direito à não autoincriminação e, por isso, é de relevar que
se refira, é o âmbito dos crimes tributários. Assim, enquanto regulador,
poderá a Administração exigir dos contribuintes a prestação de esclare-
cimentos no respeito pelo dever de colaboração previsto, por exemplo,
no n.º 1 do artigo 59.º da Lei Geral Tributária (LGT). Este dever implica
o dever do contribuinte de prestar informações, sempre que a Adminis-
tração o exija, facultar documentos relevantes para o esclarecimento de
dúvidas relativas à sua situação contributiva, no cumprimento do que
vem estipulado no n.º 4 da mesma norma legal32.
Ora, em situação de descoberta de crime, estas informações
podem depois ser remetidas ao Ministério Público (MP), que investiga
com base nas mesmas e as poderá usar em sede de acusação. Não será
esta uma entorse ao direito à não autoincriminação do arguido? Parece
entender-se que sim. Aliás, como bem esclarece o acórdão do Tribunal
da Relação de Lisboa, Relator João Lee Ferreira, “Trata-se em todo o caso
de um direito que não é absoluto e que se deve entender como sujeito
à ponderação com outros interesses e com deveres de colaboração, no-
meadamente no âmbito do Direito Fiscal.”33

32
A este respeito veja-se o acórdão n.º 279/2022, processo n.º 1093/2021, 1.ª
Secção, Relatora: Conselheira Maria Benedita Urbano. Disponível em http://
www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20220279.html. Acesso em: 02
jan. 2023, “Assim se conclui, portanto, que a recusa do arguido na revelação
da palavra-passe não veda efetivamente o acesso aos dados informáticos, ao
abrigo do nemo tenetur, apenas fazendo com que tenha que haver, mais tarde,
um desbloqueio técnico da palavra-passe.
Isto é, e utilizando uma expressão coloquial, a existência desses processos
“concorrentes” pode servir para contornar, mais ou menos habilmente (e de
forma inaceitável e constitucionalmente desconforme), esta proibição, “en-
trando pela janela” (por efeito da obrigação de prestação de declarações ou de
junção de documentos nesses outros processos, com eventuais consequên-
cias gravosas, incluindo criminais, para o incumprimentos das obrigações
legais inerentes a esses outros processos) o que nunca poderia “entrar pela
porta” num processo criminal (recorrendo-se à junção de elementos proba-
tórios relativos a esses processos para obviar ao silêncio do arguido ou à im-
possibilidade de lhe impor que junte esses documentos).”
33
Acórdão do processo n.º 483/15.4IDLSB-3, de 14/03/2018. Disponível em
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/-/4F697801A7E4B393802582CC0050ACCF.
Acesso em: 02 jan. 2023.

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990 | Melro, Ana.

Ou seja, em ponderações com outros direitos (ou deveres), é o


da não autoincriminação colocado em suspenso, podendo o arguido pre-
viamente a esta sua condição ser induzido a contribuir (e até colaborar)
com a sua incriminação, que poderá, de futuro, ser usada precisamente
nesse sentido, e no contexto criminal.
O que nos detém no presente artigo é a reflexão em torno do
direito à não autoincriminação na Lei do Cibercrime. E é nesse âmbito
que se iniciará a reflexão da secção seguinte.

3. L ei do C ibercrime, lei n .º 109/2009, de 15 de setembro

A rápida profusão de Tecnologias de Informação e Comunicação


(TIC), bem como as características que lhe estão associadas, como a
célere transmissão de uma quantidade muito vasta de dados, faz das TIC
ferramentas que fácil e rapidamente se percecionaram como úteis em
todas as esferas da sociedade, mais ainda quando o que está em causa é
a redução do espaço-tempo34.
Todas as vantagens associadas à utilização de TIC foram não ape-
nas compreendidas pelas atividades lícitas, mas, igualmente, pelas ilícitas.
Transmitir, armazenar, eliminar ou criar dados e informação; comunicar
em tempo real com indivíduos que estão a milhares de quilómetros de
distância, num fuso horário completamente diferente, são capacidades
que permitem a prática de crimes da mais elevada gravidade e comple-
xidade, conseguindo manter-se na obscuridade por longos períodos35.
Neste contexto, compreendendo todos os desafios colocados por
esta nova realidade, Portugal não ficou indiferente (exigência também
que se contende com a sua integração numa União Europeia (UE)), tendo
começado por, em 1991, dar uma primeira resposta com a Lei da Crimi-
nalidade Informática (lei n.º 109/91, de 17 de agosto, diploma entretanto
revogado pela Lei do Cibercrime). Mais tarde, em novembro de 2001,
adotou e adaptou a Convenção sobre Cibercrime do Conselho da Europa.

34
HARVEY, David. The Condition of Postmodernity. An Enquiry into the Origins
of Cultural Changes. Oxford: Blackwell, 1990.
35
VENÂNCIO, Pedro Dias. Lei do Cibercrime – Anotada e Comentada. Coimbra:
Coimbra Editora, p. 15, 2011.

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Em 2005, surge a Decisão Quadro n.º 2005/222/JAI, do Conselho, de 24


de fevereiro, que culminou, no direito interno com a Lei n.º 109/2009,
de 15 de setembro, designada Lei do Cibercrime.
De acordo com Freitas36, entende-se por cibercrime “aquele tipo
de crime cujos sistemas informáticos podem servir de instrumento para
a perpetração de crimes, ou cujos instrumentos informáticos são alvo
desses mesmos ataques”37, o que implicará uma ponderação diferente do
contemplado pelo legislador penalista em termos de meios de obtenção
de prova e até de prevenção e de penalização dos crimes.
Este último diploma, alvo de análise no presente artigo, está orga-
nizado em quatro capítulos. O primeiro capítulo é dedicado, essencialmen-
te, à definição de conceitos relevantes no contexto da cibercriminalidade.
No segundo capítulo elencam-se os tipos legais de crime associados à
cibercriminalidade. O capítulo terceiro dedica-se à atividade processual.
E, por último, o capítulo quarto é relativo à cooperação internacional.
O que nos detém aqui é o capítulo terceiro, mais concretamente,
os meios de obtenção de prova e a sua relação com o direito à não autoin-
criminação nesse contexto particular da cibercriminalidade. Informa o
diploma que a sua aplicação é feita em relação a crimes:
a) Previstos na presente lei;
b) Cometidos por meio de um sistema informático; ou
c) Em relação aos quais seja necessário proceder à recolha de
prova em suporte electrónico.38
Ora, nos termos do diploma legal (Lei n.º 109/2009, de 15 de
setembro), estão previstos como crimes do catálogo da Lei do Cibercri-
me os seguintes:
▪ Falsidade informática (artigo 3.º)
▪ Contrafação de cartões ou outros dispositivos de pagamen-
to (artigo 3.º-A)

36
FREITAS, José Pedro. Os Meios de Obtenção de Prova Digital na Investigação
Criminal: o Regime Jurídico dos Serviços de Correio Eletrónico e de Mensagens
Curtas. Braga: Nova Causa, 2020.
37
FREITAS, José Pedro, op. cit., p. 56.
38
Artigo 11.º, n.º 1 da Lei n.º 109/2009, de 15 de setembro (Lei do Cibercrime).

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992 | Melro, Ana.

▪ Uso de cartões ou outros dispositivos de pagamento contra-


feitos (artigo 3.º-B)
▪ Aquisição de cartões ou outros dispositivos de pagamento
contrafeitos (artigo 3.º-C)
▪ Atos preparatórios da contrafação (artigo 3.º-D)
▪ Aquisição de cartões ou outros dispositivos de pagamento
obtidos mediante crime informático (artigo 3.º-E)
▪ Dano relativo a programas ou outros dados informáti-
cos (artigo 4.º)
▪ Sabotagem informática (artigo 5.º)
▪ Acesso ilegítimo (artigo 6.º)
▪ Interceção ilegítima (artigo 7.º)
▪ Reprodução ilegítima de programa protegido (artigo 8.º)
Relativamente aos quais se prevê como meios de obtenção de
prova os seguintes:
▪ Preservação expedita de dados (artigo 12.º)
▪ Revelação expedita de dados de tráfego (artigo 13.º)
▪ Injunção para apresentação ou concessão do acesso a da-
dos (artigo 14.º)
▪ Pesquisa de dados informáticos (artigo 15.º)
▪ Apreensão de dados informáticos (artigo 16.º)
▪ Apreensão de correio eletrónico e registos de comunicações
de natureza semelhante (artigo 17.º)
▪ Interceção de comunicações (artigo 18.º)
▪ Ações encobertas (artigo 19.º)
Retira-se, essencialmente, o artigo 14.º, relativo a injunção para
apresentação ou concessão do acesso a dados. Sobre este será feita uma
análise mais aprofundada na subsecção seguinte.

3.1. Meios de obtenção de prova na Lei do Cibercrime e o direito à não


autoincriminação

O que sai evidenciado do artigo 14.º da Lei da Cibercrime é a exis-


tência de “novas ferramentas processuais” especificamente vocacionadas

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para a obtenção de prova em contexto digital, muitas vezes, resultado


de uma adaptação legislativa dos “tradicionais” meios de obtenção de
prova já previstos no processo penal39. Ademais, importa ter presente
que também os requisitos para aplicação de meios de prova em processo
penal – e que se deverão verificar também no ambiente digital – são a
necessidade, subsidiariedade e taxatividade.
Detendo-nos sobre o artigo 14.º da Lei do Cibercrime, é aqui
que residem muitas dúvidas sobre o seu conflito com o direito à não
autoincriminação do arguido. Refere o artigo que:

1 - Se no decurso do processo se tornar necessário à produção


de prova, tendo em vista a descoberta da verdade, obter dados
informáticos específicos e determinados, armazenados num de-
terminado sistema informático, a autoridade judiciária competente
ordena a quem tenha disponibilidade ou controlo desses dados que
os comunique ao processo ou que permita o acesso aos mesmos,
sob pena de punição por desobediência.
2 – […]
3 - Em cumprimento da ordem descrita nos n.os 1 e 2, quem
tenha disponibilidade ou controlo desses dados comunica esses
dados à autoridade judiciária competente ou permite, sob pena de
punição por desobediência, o acesso ao sistema informático onde
os mesmos estão armazenados.
4 – […]
5 – A injunção prevista no presente artigo não pode ser dirigida
a suspeito ou arguido nesse processo.
6 – […]

7 – […]40

Considerando os critérios elencados supra – necessidade, sub-


sidiariedade e taxatividade, Nunes41 faz uma aplicação dos mesmos aos

39
MARQUES, Maria Joana Xara-Brasil.. Os meios de obtenção de prova na Lei do
Cibercrime e o seu confronto com o Código de Processo Penal. Dissertação de
Mestrado em Direito, Universidade Católica Portuguesa, Lisboa, p. 16, 2014.
40
Artigo 14.º da Lei n.º 109/2009, de 15 de setembro (Lei do Cibercrime).
41
NUNES, Duarte Alberto Rodrigues. Os meios de obtenção de prova previstos na
Lei do Cibercrime. Coimbra: GESTLEGAL, 2018.

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994 | Melro, Ana.

meios de obtenção de prova na lei do cibercrime. Assim, para o autor, no


que diz respeito ao artigo 14.º, não há qualquer limitação no que ao tipo de
crime diz respeito, ou seja, poderão as injunções ser aplicadas a qualquer
tipo de crime. Em relação à necessidade, deverá o meio de obtenção de
prova ser aquele que melhor se adequa à descoberta da verdade.
Também em relação ao grau de suspeita de cometimento do
crime, o legislador deixa em aberto se a aplicação das injunções previstas
no artigo 14.º poderá ser realizada se se tratar de uma suspeita inicial.
Do mesmo modo que pode ser o primeiro meio de prova a que se recor-
re na investigação do crime. Não obstante, podendo cumular-se com a
preservação expedita de dados (artigo 12.º) e com a revelação expedita
de dados de tráfego (artigo 13.º).
Já no que diz respeito ao sujeito sobre o qual recai este meio de
obtenção de prova, no entender de Nunes, deverá aplicar-se analogica-
mente o artigo 187.º, n.º 4 do CPP, ou seja, apenas poderão ser alvo deste
meio de obtenção de prova (como o são no caso das escutas telefónicas)
o suspeito ou arguido, pessoa que sirva de intermediário ou a vítima42.
Já não se concorda com o autor no que diz respeito à aplicação
analógica do artigo 187.º, n.º 4 CPP ao artigo 14.º da Lei do Cibercrime em
relação ao suspeito e ao arguido. Aliás, o n.º 5 do artigo 14.º é elucidativo
desta distinção. Talvez por essa razão, e porque esse facto implica que
estejamos perante uma restrição de DF pouco intensa, os critérios para
aplicação de meios de obtenção de prova na Lei do Cibercrime, explorados
nas palavras de Nunes, são bastante latos, deixando o legislador um pouco
no poder de decisão do aplicador de direito a aceitação ou não do meio
de obtenção de prova e, consequentemente, da prova obtida.
Não obstante, fica claro que o direito à não autoincriminação
está salvaguardado naquele n.º 543. No entanto, a questão poderá, ainda,
colocar-se no âmbito da informação facultada pelo arguido, por exemplo,
relativamente à palavra-passe que protege o meio físico onde determina-
dos documentos estão guardados digitalmente (um CD, disco externo ou
pen-drive) ou mesmo a palavra-passe que protege o acesso a uma conta

42
NUNES, Duarte Alberto Rodrigues. Os meios de, pp. 69-73.
43
CORREIA, Hélder Santos e NEVES, Rita Castanheira. A Lei do Cibercri-
me, p. 148.

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de e-mail, a que se acede online, será que aí terá o arguido a obrigação


de facultar a palavra-passe, ainda que as autoridades responsáveis pela
investigação do crime tenham conhecimento do local exato onde esses
documentos se encontram guardados?
Ora, no entender de Sandra Oliveira e Silva44, são, de facto, três
dimensões diferentes: o conhecimento que o arguido tem sobre deter-
minada informação, protegida pelo direito à não autoincriminação, o
conhecimento do suporte digital onde essa informação está contida, aqui
já apenas um direito à não autoincriminação parcial, porquanto o arguido
deverá facultar o suporte digital (que poderá depois ser desencriptado
recorrendo a perícias das autoridades) e, finalmente, a respetiva pala-
vra-passe que a protege45.
Continua a autora a esclarecer que o facultar da palavra-chave
pelo arguido já se encontra totalmente salvaguardo pelo direito à não
autoincriminação, à semelhança da informação concreta que essa pa-
lavra-chave protegerá. Essa palavra-passe poderá proteger informação
incriminadora, sendo que a revelação da primeira poderá implicar a
incriminação pelo acesso à segunda46.
Ademais, são vários desafios os colocados à Lei do Cibercrime
e aos meios de obtenção de prova nesse âmbito e que tenham por base
documentos/informações em suporte digital47: primeiro de tudo, o facto
de se estar perante dados ao abrigo da proteção a eles inerente e que tem
sido objeto de ampla discussão4849. Depois, assiste-se ao que aparenta ser
a nova neurose do século XXI, à semelhança do já anteriormente iden-

44
SILVA, Sandra Oliveira e . O arguido.
45
SILVA, Sandra Oliveira e. op. cit., p. 830.
46
SILVA, Sandra Oliveira e. op. cit., p. 831.
47
Alguns desses desafios são identificados em RIBEIRO, Gustavo Alves Maga-
lhães, CORDEIRO, Pedro Ivo Rodrigues Velloso e FUMACH, Débora Moretti.
O malware.
48
LUGATI, Lys Nunes e ALMEIDA, Juliana Evangelista de. A LGPD e a constru-
ção de uma cultura de proteção de dados. Revista de Direito, Viçosa, vol. 14, n.
01, p. 01 e ss., 2022.
49
MOTTA, Clara Amédée Péret. Evolução legislativa do direito digital: a influên-
cia europeia na Lei Geral de Proteção de Dados e na criação da Autoridade
Nacional de Proteção de Dados. Revista Controle - Doutrina e Artigos, Ceará,
vol. 20, n. 1, p. 50 e ss., 2021. https://doi.org/10.32586/rcda.v20i1.699

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996 | Melro, Ana.

tificado por Braga50, mas que agora, reportando ao contexto específico


do acesso a dados como meios de prova, deverá a autoridade criminal
munir-se de cautelas especiais para fazer seleção do que efetivamente
pretende recolher e como, inclusivamente, para não colocar em causa o
direito à não autoincriminação do arguido.
Como Meireles51 identifica, desde que obtida através de meio
digital, toda a prova pode ser considerada digital, devendo, quer a auto-
ridade criminal que investiga, quer o julgador, ter o especial cuidado de
validar o que é prova real e efetiva. A isto acresce o facto de ser de elevada
dimensão o número de origens dessa prova digital, que se traduzirá (já
traduz) em horas de investigação, em ligações entre provas e, mais uma
vez, nesse especial cuidado de proteger o direito à não autoincriminação
do arguido, que poderá ser posto em causa com as ligações digitais que
se fazem de modo quase automático52.
Assim, entre o que tem sido o avanço legislativo para acompa-
nhar a rápida profusão de TIC e dos crimes a elas associados, deverão
os desafios anteriormente identificados ser tidos em consideração em
futuras alterações legislativas. Tarefa nem sempre fácil, sobretudo quan-
do se pensa na instabilidade promovida pelo avanço tecnológico e pelas
potencialidades criminais que tal avanço intensifica.

C onsiderações Finais

Nas palavras de Satula53, “Podemos afinal concluir que o nemo


tenetur se ipsum accusare é um princípio de dimensão subjetiva com pa-
râmetros axiológico-normativos não escritos com dimensão de liberdade
e permissão, categórico, sem força irradiante e destituída de ponderação
e constitutivo da matriz acusatória do processo penal.”54.

50
BRAGA, Ryon. O Excesso de Informação - A Neurose do Século XX. Mettodo -
Reflexão Estratégica, p. 1 e ss., 2003.
51
MEIRELES, Ana Isa Dias. A prova digital.
52
MEIRELES, Ana Isa Dias, op. cit., p. 6.
53
SATULA, Benja.Nemo tenetur.
54
SATULA, Benja, op. cit., p. 24.

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Para Satula, o cerne está na classificação do nemo tenetur como


princípio ou direito. Ora, no contexto do presente artigo, não se concorda
com esta visão, defende-se antes que o nemo tenetur é um direito, porque
está na esfera de disponibilidade do arguido, estando na sua esfera jurídica
a sua limitação ou abrangência, ainda que, como afirma Costa Andrade55,
não se possa colocar em causa, independentemente do tipo de crime e
da gravidade da prática do ato. Assim, considera-se que é relevante esta
distinção entre princípio e direito, sobretudo, quando o que se coloca em
discussão é o seu afastamento em detrimento da prossecução da prática
de crimes gravosos.
Assim, concorda-se com Costa Andrade 56 , quando o
autor afirma que,

soa hoje consensual o entendimento segundo o qual o nemo tene-


tur goza de uma tutela absoluta. No sentido de que não comporta
relativização em sede de ponderação. Resumidamente, o prin-
cípio nemo tenetur está subtraído a todo o juízo de ponderação
(abwägungs fest) mesmo face aos interesses ou valores de maior
relevo e eminência comunitária. Como o interesse da eficiência da
justiça criminal, maxime na perseguição dos crimes mais graves.
Valores ou interesses cuja prossecução não pode, em caso algum,
justificar que o arguido venha a ser coactivamente convertido em
instrumento activo da sua própria condenação.”57.

Ademais, se a abertura e alargamento do que são DF (nos quais


o nemo tenetur se inclui), de modo que se ajustem às exigências da evo-
lução da sociedade, são pacificamente aceites. Já o não serão tanto a sua
compressão e limitação, sem que, para tal, o legislador intervenha e dite
claramente as regras impostas58.

55
ANDRADE, Manuel da Costa. Nemo tenetur se ipsum accusare and tax law:
or the unbearable indolence of Decision n.º 340/2013 of the Constitutional
Court. Boletim de Ciências Económicas, vol. 57, n. 1, p. 385 e ss., 2014.
56
ANDRADE, Manuel da Costa, op. cit.
57
ANDRADE, Manuel da Costa, op. cit, p. 423.
58
ANDRADE, Manuel da Costa. «Bruscamente no verão passado», a reforma do
Código de Processo Penal. Coimbra: Coimbra Editora, p. 150, 2009.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
998 | Melro, Ana.

Como verificado, não é de hoje a preocupação estadual em pro-


mover o acesso a meios informáticos seguros e em tipificar crimes co-
metidos ao abrigo de um qualquer dispositivo informático. No entanto,
deverá ser uma preocupação constante que a evolução da investigação
criminal acompanhe a evolução tecnológica, nomeadamente, para que se
encontre a par do que vem sendo (e do que virá a ser) uma criminalidade
cada vez mais sofisticada59.
Esta preocupação deverá ser ainda mais relevante quando se
ouve falar em ferramentas como Inteligência Artificial e Internet das
Coisas com aplicação ao direito e aos meios de obtenção de prova em
processo penal60.
Para tal, é igualmente imprescindível o desenvolvimento da
cooperação nacional intersectorial e internacional, como refere Ama-
dor61, “Desde a família à escola, às autoridades, aos especialistas em
informática, aos ISP, todos devem empenhar-se, no sentido de contribuir
para um ciberespaço mais seguro, onde as práticas criminais devem ser
denunciadas às autoridades.”62.

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CibercrimeemPortugalTrajetóriasePerspetivasdeFuturo.pdf. Acesso em: 02 jan.
2023.

59
AMADOR, Nelson José Roque. Cibercrime em Portugal: Trajetórias e Pers-
petivas de futuro. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Policiais e Se-
gurança Interna, p. 68, 2012. Disponível em https://comum.rcaap.pt/
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vasdeFuturo.pdf. Acesso em: 02 jan. 2023.
60
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2, p. 767-821, 2022, https://doi.org/10.22197/rbdpp.v8i2.709.
61
AMADOR, Nelson José Roque, op. cit.
62
AMADOR, Nelson José Roque. op. cit., p. 72.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.806 | 999

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Authorship information
Ana Melro. Doutora em Políticas Públicas e em Informação e COmunicação em
Plataformas Digitais, pela Universidade de Aveiro. Licenciada em Direito, em
Gestão e em Sociologia. Frequência do Mestrado em Direito Judiciário. Docente
em Ciências Sociais, Investigadora científica, Advogada. Áreas de Investigação:
Cibercultura e Ciências da Comunicação, Practicum em Direito. [email protected].

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Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
1002 | Melro, Ana.

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▪ Submission: 16/01/2023 Editorial team


▪ Desk review and plagiarism check: 10/03/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Review 1: 26/04/2023 ▪ Reviewers: 3
▪ Review 2: 27/04/2023
▪ Review 3: 29/04/2023
▪ Preliminary editorial decision: 12/05/2023
▪ Correction round return: 23/05/2023
▪ Final editorial decision: 15/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


MELRO, Ana. A. O princípio nemo tenetur se ipsum accusare e os
meios de obtenção de prova na lei do cibercrime. Revista Brasileira
de Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 979-1002, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.806

License Creative Commons Attribution 4.0 International.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 979-1002, mai.-ago. 2023.
O erro judiciário e a injustiça epistêmica
no reconhecimento de pessoas

The miscarriage of justice and epistemic


injustice in eyewitness identification

Sara Ribas Ortigosa Leite1


Instituição Toledo de Ensino de Bauru, Bauru, SP, Brasil
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/0102372476376246
http://orcid.org/0000-0003-2820-9191

Claudio José Amaral Bahia2


Instituição Toledo de Ensino de Bauru, Bauru, SP, Brasil
[email protected]
http://lattes.cnpq.br/5835862675809257
http://orcid.org/0000-0001-7146-162X

Resumo: O presente artigo pretende demonstrar que os erros judiciários


decorrentes de falhas no reconhecimento de pessoas estão relacionados
à existência de estereótipos e ao fenômeno da injustiça epistêmica,
melhor descrito por Fricker e Lackey. Afinal, de que forma esses este-

1
Graduação em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto/Universidade
de São Paulo (2018) e especialização em Direito Penal e Criminologia pela Ponti-
fícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2022). Mestranda em Sistema
Constitucional de Garantias pela Instituição Toledo de Ensino de Bauru. Funcio-
nária pública federal. E-mail: [email protected].
2
Graduação em Direito pela Instituição Toledo de Ensino (1996) e Mestrado em
Direito Constitucional pela mesma instituição (2002). Doutorado em Direito do
Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Pós-doutorado pelo
Ius Gentium Conimbrigae da Universidade de Coimbra (2020). Professor, na
graduação, na Instituição Toledo de Ensino de Bauru e na Faculdade Iteana de
Botucatu e, na pós-graduação lato e stricto sensu, na Instituição Toledo de Ensino
de Bauru. E-mail: [email protected].

1003
1004 | Leite; Bahia.

reótipos e a injustiça epistêmica se manifestam nesses casos? Essa


pergunta será respondida a partir de uma pesquisa jurisprudencial,
selecionando-se as decisões proferidas pelo STJ em Habeas Corpus
e Revisão Criminal, entre 01/03/2012 e 31/03/2022, que tenham
resultado em absolvição ou relaxamento da prisão em razão da
inobservância do procedimento do art. 226 do CPP. Os resultados
mostram que os preconceitos que acometem indivíduos negros, de
baixa escolaridade e de baixa renda, com empregos menos presti-
giados e que já tiveram algum contato com a atividade criminosa
não se manifestam de forma explícita, mas são determinantes para a
ocorrência do erro judiciário. Por outro lado, os estereótipos ligados
à natureza da infração penal e à posição processual da pessoa não
apenas são bastante explícitos, como são assumidamente levados
em conta pelo juízo. Esses estereótipos constituem o principal
critério de distribuição de credibilidade às narrativas dos sujeitos
processuais, revelando que a injustiça epistêmica é uma importante
causa dos erros judiciários.
Palavras-Chave: Erro judiciário; Injustiça epistêmica; Reconheci-
mento de pessoas.

Abstract: This article intends to demonstrate that miscarriages of justice


arising from eyewitness identifications failures are related to the existence
of stereotypes and the phenomenon of epistemic injustice, best described
by Fricker and Lackey. After all, how do these stereotypes and the epistemic
injustice manifest themselves in these cases? This question will be answered
based on a jurisprudential research, selecting the decisions handed down
by STJ in Habeas Corpus and Criminal Review, between 03/01/2012 and
03/31/2022, which have resulted in exoneration or imprisonment relaxation
due to infringement of the procedure of 226th article from CPP. The results
show that the prejudices that affect black individuals, with low education
and low income, with less prestigious jobs and who have already had some
contact with criminal activity, are not explicitly manifested, but are decisive
for the occurrence of miscarriage of justice. On the other hand, stereotypes
linked to the nature of the criminal offense and the person’s procedural
position are not only quite explicit, but are admittedly taken into account
by the court. These stereotypes constitute the main criterion for distributing
credibility to the procedural subjects narratives, revealing that epistemic
injustice is an important cause of miscarriage of justice.
K eywords : Miscarriage of justice; Epistemic injustice; eyewitness
identification.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1005

Sumário: Introdução; 1. Análise da jurisprudência do Superior Tri-


bunal de Justiça; 2. A injustiça epistêmica no reconhecimento de
pessoas; Considerações Finais; Referências.

Introdução

Não é novidade na doutrina e na jurisprudência que a inobser-


vância do procedimento legal para o reconhecimento de pessoas torna o
sistema penal suscetível à ocorrência de erros judiciários. Isso porque a
memória humana pode sofrer perdas e distorções, sobretudo quando uma
pessoa estranha “foi vista em condições precárias (pouca luz, à distância,
por muito pouco tempo)”3. Além disso, existem diversas variáveis que
podem influenciar o reconhecimento, inclusive questões relacionadas a
raça, gênero e estereótipos4. Por isso, os especialistas são unânimes em
recomendar a observância de técnicas específicas, como as técnicas de
reconhecimento por alinhamento, em que o suspeito é colocado ao lado
de outras pessoas com características físicas semelhantes5. Ainda,

Buscando minimizar os possíveis vieses inerentes ao reconheci-


mento, existem algumas normas básicas a serem seguidas: uma
refere-se à condução do reconhecimento “as cegas”, e a outra a
testagem do equilíbrio do alinhamento. A primeira diz respeito a
quem conduz o reconhecimento. Este profissional (por exemplo,
policial) além de estar capacitado para conduzir o reconhecimento,
também não deve ter conhecimento sobre quem é o suspeito (em
outras palavras, faça um reconhecimento “cego”). [...] Portanto,
um cuidado fundamental a ser adotado para eliminar esse tipo de
viés é o double-blindness, em que nem o policial, nem a testemu-
nha sabem quem é o suspeito. [...] A segunda, testagem de quão

3
STEIN, L. M; ÁVILA, Gustavo Noronha. Avanços científicos em Psicologia do
Testemunho aplicados ao reconhecimento pessoal e aos depoimentos forenses.
Brasília: Secretaria de Assuntos Legislativos, Ministério da Justiça (Série Pen-
sando Direito, n. 59), 2015. E-book. p. 27.
4
Ibid., p. 29.
5
Ibid., p. 28.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1006 | Leite; Bahia.

equilibrado e não enviesado (denominado em inglês de fairness


test) está o alinhamento deverá ser feita antes do próprio ato de
reconhecimento. De fato, para a construção dos alinhamentos a
dimensão nominal (número de pessoas por alinhamento) é me-
nos importante que a dimensão funcional (número de pessoas
semelhantes ao suspeito)6.

Como se observa, essas recomendações foram, em grande medida,


encapadas pelo legislador, no art. 226 do CPP, que cuidou de estabelecer
um procedimento adequado para o reconhecimento de pessoas. Assim,
nos termos da lei, o reconhecimento apenas pode ocorrer após a descrição
da pessoa a ser reconhecida. Da mesma forma, a pessoa a ser reconhecida
deve ser colocada ao lado de outras semelhantes, sempre que possível.
Isso nem sem razão, uma vez que o uso de técnicas inadequadas
tende “a resultar em relatos limitados ou, até mesmo, falsos, [...] preju-
dicando a investigação policial e o sistema de justiça como um todo”7.
Por isso, o Superior Tribunal de Justiça passou a entender, em 2020, que
a norma insculpida no art. 226 do Código de Processo Penal não é mera
recomendação legislativa, mas regra cuja inobservância vicia a prova e
a torna nula8.
Essa nova orientação do STJ, no entanto, resolve o sintoma de um
problema mais profundo: as falhas no reconhecimento de pessoas e seus
consequentes erros judiciários estão associados, em primeira análise, aos
estereótipos que recaem sobre pessoas com características homogêneas

6
STEIN, L. M; ÁVILA, Gustavo Noronha. Avanços científicos em Psicologia do
Testemunho aplicados ao reconhecimento pessoal e aos depoimentos forenses.
Brasília: Secretaria de Assuntos Legislativos, Ministério da Justiça (Série Pen-
sando Direito, n. 59), 2015. E-book. p. 29.
7
CECCONELLO, William W.; MILNE, Rebecca; STEIN, Lilian M. Oitivas e in-
terrogatórios baseados em evidências: considerações sobre entrevista investi-
gativa aplicado na investigação criminal. Revista Brasileira de Direito Processual
Penal, Porto Alegre, v. 8, n. 1, p. 489-510, jan./abr. 2022. Disponível em: <ht-
tps://revista.ibraspp.com.br/RBDPP/article/view/665/443>. Acesso em: 17
maio 2023. p. 491.
8
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 598.886. Pacientes: Vanio da Silva
Gazola e Igor Tartari Felacio. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina. Relator: Ministro Rogerio Schietti Cruz. Brasília, 27 out. 2020.
Disponível em: <https://www.stj.jus.br/sites/portalp/SiteAssets/documen-
tos/noticias/27102020%20HC598886-SC.pdf>. Acesso em: 30 set. 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1007

e ao fenômeno da injustiça epistêmica. Mas, afinal, de que forma esses


estereótipos e a injustiça epistêmica se manifestam nos casos de erro
judiciário decorrentes do reconhecimento de pessoas?
Para responder a essa pergunta, será realizada, em um primeiro
momento, a pesquisa qualitativa da jurisprudência do STJ nos últimos 10
anos (entre 01/03/2012 e 31/03/2022), notadamente em ações de Habeas
Corpus e Revisão Criminal, com a respectiva consulta aos processos de
origem para obter informações específicas sobre as pessoas acusadas. A
seleção dos julgados a serem investigados levará em conta os seguintes
requisitos: 1) a existência, em um primeiro momento, de condenação ou
decretação de prisão; 2) em um segundo momento, absolvição e/ou rela-
xamento da prisão da pessoa acusada, por qualquer dos fundamentos do
art. 386 do CPP; 3) a inobservância do procedimento de reconhecimento
insculpido no art. 226 do CPP.
O objetivo é identificar, pela aplicação do método indutivo, o perfil
comum aos(as) acusados(as) e réus(rés) de todas as decisões, apontando
para a existência de um estereótipo, presente no imaginário social, que
influencia na tarefa de reconhecimento. Nessa etapa, pretende-se, ainda,
coletar e apresentar os excertos das decisões que demonstram desprezo
ou desconsideração das narrativas das pessoas que ostentam esse es-
tereótipo, em detrimento do prestígio ou preferência pelas narrativas
apresentadas por outras pessoas.
Em seguida, na segunda seção, buscar-se-á, através da revisão
da bibliografia sobre o tema – sobretudo das obras de Miranda Fricker e
de Jennifer Lackey – e através do método dedutivo, aproximar os dados
observados na amostra jurisprudencial coletada e o fenômeno da injustiça
epistêmica. O objetivo é demonstrar que os estereótipos – referentes à
natureza da infração penal imputada, à posição processual de sujeito
passivo da ação penal e às características sociais, econômicas e raciais –
identificados na primeira seção levam, por um lado, a um déficit de
credibilidade dos discursos das pessoas acusadas. Por outro lado, defere
um excesso de credibilidade aos demais sujeitos envolvidos no processo,
prejudicando os reconhecidos por erro judiciário.
Assim, fica claro que o objetivo do presente artigo é, em primeiro
lugar, avaliar os estereótipos que informam a epistemologia de vítimas e
testemunhas que são colocadas a reconhecer, das autoridades policiais que

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1008 | Leite; Bahia.

conduzem a prova e dos juízos que decidem sobre a inocência ou a culpa


da pessoa acusada. Em um segundo momento, o escopo é demonstrar que
o equivocado reconhecimento de pessoas, que gera os erros judiciários,
é preponderantemente resultado da injustiça epistêmica.
Essa análise é de suma importância, porque, em primeiro lugar,
promove a reflexão e a conscientização sobre os estereótipos e preconceitos
que estão disseminados em toda a sociedade e determinam decisões e
comportamentos nas mais variadas esferas. Além disso, esse diagnóstico
alcança uma das causas mediatas do erro judiciário, para além da mera
inobservância do procedimento legal, permitindo sua prevenção e, con-
sequentemente, o recrudescimento da credibilidade e da legitimidade do
sistema penal como um todo.

1. Análise da jurisprudência do S uperior Tribunal de Justiça

A pesquisa empírica proposta foi realizada pela busca da expres-


são “erro judiciário”, nas decisões proferidas pelo Superior Tribunal de
Justiça, no período de 10 anos (entre 01/03/2012 e 31/03/2022). Fo-
ram selecionadas decisões em Habeas Corpus ou Revisão Criminal que
atendessem, concomitantemente, três requisitos, quais sejam: 1) houve,
em um primeiro momento, condenação ou decretação de prisão; 2) em
um segundo momento, a pessoa acusada foi absolvida e/ou sua prisão
foi relaxada, por qualquer dos fundamentos do art. 386 do CPP; 3) o erro
decorreu da inobservância do procedimento de reconhecimento inscul-
pido no art. 226 do CPP. A pesquisa resultou em 24 acórdãos, dos quais
apenas seis, todos referentes a Habeas Corpus, preencheram os requisitos
formulados para investigação9.
Esses critérios são suficientes para a pesquisa aqui proposta, uma
vez que não existe, para o cumprimento dos objetivos postos, a preocu-
pação em se investigar apenas o erro judiciário indenizável, na distinção
assumida por Seña10. Ao contrário, busca-se analisar qualquer forma de

9
LEITE, Sara Ribas Ortigosa; BAHIA, Claudio José Amaral (2023): Decisões do
STJ - critérios de inclusão e de exclusão. figshare. Dataset.
10
SEÑA, Jorge F. Malem. El erro judicial y la formación de los jueces. Barcelona:
Gedisa, 2008. p. 108.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1009

erro judiciário, isto é, qualquer “atuação judicial danosa enquanto exercício


da função estatal atinente ao Poder Judiciário”11. Da mesma forma, na
seleção dos dados, não houve a preocupação de identificar e diferenciar os
erros de acusação dos erros de convicção, sobretudo porque suas causas
são semelhantes e os prejuízos são igualmente devastadores12.
Vale ressaltar que o Superior Tribunal de Justiça13 já decidiu que
“a restrição preventiva da liberdade de alguém que posteriormente venha
a ser absolvido” equivale ao erro judiciário. Isso porque “a prisão injusta
revela ofensa à honra, à imagem, mercê de afrontar o mais comezinho
direito fundamental à vida livre e digna”. Assim, “a absolvição futura
revela da ilegitimidade da prisão pretérita, cujos efeitos deletérios para a
imagem e honra do homem são inequívocos”, como se verifica no excerto:

Sob esse ângulo, forçoso convir que a situação de o cidadão ser


submetido à prisão processual e depois absolvido, é equivalente
àquela em que o Estado indeniza o condenado por erro judiciário
ou pelo fato de este permanecer preso além do tempo fixado na
sentença. Forçoso, assim, concluir, que quando preso preventiva-
mente o cidadão e depois é absolvido, in casu, pelo Tribunal do
Júri, também se configura situação em que houve erro judiciário,
sem que tenha havido condenação14.

11
HENTZ, Luiz Antonio Soares. Indenização do erro judiciário: e danos em geral
decorrentes do serviço judiciário. São Paulo: Leud, 1995. p. 18.
12
DUCE, Mauricio; FINDLEY, Keith A. Editorial of dossier “Wrongful convic-
tions and prosecutions: current status, causes, correction and reparation me-
chanisms” - Wrongful convictions and prosecutions: an introductory over-
view. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 8, n. 2, p.
523-566, maio/ago. 2022. Disponível em: <https://revista.ibraspp.com.br/
RBDPP/article/view/746/444>. Acesso em: 21 out. 2022. p. 528.
13
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 427.560. Recorrente: Estado do
Tocantins. Recorrido: Antônio Pereira Batista. Relator: Ministro Luiz Fux.
Brasília, 05 set. 2002. Disponível em: <https://processo.stj.jus.br/SCON/
GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=200200446278&dt_publica-
cao=30/09/2002>. Acesso em: 17 out. 2022.
14
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp 427.560. Recorrente: Estado do
Tocantins. Recorrido: Antônio Pereira Batista. Relator: Ministro Luiz Fux.
Brasília, 05 set. 2002. Disponível em: <https://processo.stj.jus.br/SCON/
GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=200200446278&dt_publica-
cao=30/09/2002>. Acesso em: 17 out. 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1010 | Leite; Bahia.

Assim, esse julgado aponta, para além da adequação dos parâ-


metros definidos pela pesquisa, para a pertinência da análise tanto de
decisões pertencentes à classe de Revisões Criminais quanto de Habeas
Corpus, em que pese a existência de vozes dissonantes na doutrina15.
Por fim, em cada decisão foram identificadas a natureza da infração
penal imputada e, quando disponíveis, as características específicas da
pessoa acusada referentes à cor, ao grau de escolaridade, à profissão e à
existência de alguma passagem pela polícia. Quando possível, inclusive,
houve a consulta ao processo de origem, com a finalidade de colher essas
informações. Superados esses breves esclarecimentos metodológicos, é
possível detalhar as decisões investigadas.
A primeira decisão que merece uma análise mais detida é o HC
682.986/SP, que impôs a absolvição e o relaxamento da prisão (que, fri-
sa-se, não foi precedida de flagrante) pelo equivocado reconhecimento
pessoal do paciente. O reconhecimento ocorreu na delegacia, sem a
observância do procedimento do art. 226 do Código de Processo Penal,
“sem a apresentação de pessoas semelhantes nem a indicação de justifi-
cativa plausível acerca de impossibilidade de realização do ato nos termos
estabelecidos na norma legal”16. Também não existiam outras provas que
indicassem a vinculação do acusado ao crime e não houve ratificação do
reconhecimento em juízo.
Consta, ainda, que a decisão coatora de segundo grau explicou
que “as palavras da vítima Ana Karolina foram corroboradas pelos de-
poimentos dos policiais Marco e Fábio, tendo Marco confirmado que Ana
Karolina reconheceu os réus, pessoalmente, na Delegacia”17. O ministro
relator do Habeas Corpus ressaltou em seu voto, contudo, que

15
Para Médici, por exemplo, “o meio adequado de correção dos erros judiciá-
rios é a revisão”. MÉDICI, Sérgio de Oliveira. Revisão Criminal. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1998. p. 209.
16
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 682.986. Paciente: Luis Henri-
que Zacarone de Oliveira. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Relator: Ministro Olindo Menezes. Brasília, 22 mar. 2022. Disponível
em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_regis-
tro=202102360547&dt_publicacao=25/03/2022>. Acesso em: 30 set. 2022.
17
Ibid.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1011

Apenas uma das vítimas, ANA KAROLINA, reconheceu os réus


pessoalmente na delegacia, pois a vítima ALEXIA teria entrado em
estado de choque, e o depoimento prestado pelos policiais ratifica
o procedimento realizado na delegacia18.

Por outro lado, foram ouvidas quatro testemunhas arroladas


pela defesa, que confirmaram que o acusado estava em um churrasco
no dia do fato. Além disso, o acusado – incurso em roubo majorado pelo
concurso de agentes, branco, com ensino médio incompleto, ajudante de
marceneiro e já cadastrado anteriormente como suspeito de outro roubo –
apenas foi levado à delegacia porque tinha relação de amizade com outro
investigado. Foi o que constou do parecer do Ministério Público Federal:

Assim, verifica-se que não foram observados os procedimentos


definidos no art. 226 do CPP para o reconhecimento pessoal reali-
zado nos autos, não tendo sido referenciados outros elementos de
prova a indicar a vinculação do acusado com a prática delitiva, mas
somente o fato de ter sido acusado em razão do relacionamento
de amizade que mantinha com outro investigado pela prática de
delitos semelhantes, registrando-se que o paciente apresentou nar-
rativa e testemunhas, quanto ao seu paradeiro na noite em questão
(confraternização com amigos, da qual foi embora na companhia
de um amigo em uma motocicleta, com posterior abordagem por
policiais militares, em via pública, no intervalo entre 22h e 23h),
que, se não o afasta da cena do crime, ao menos traz dúvida quanto
a sua participação no delito, o que já é suficiente para fundamentar
o decreto absolutório19.

Nota-se que, embora o acusado tenha, assim como as vítimas e


os policiais, apresentado sua versão dos fatos, seu conhecimento sobre
o ocorrido e sua contribuição para o processo foram completamente
desconsiderados na decisão a respeito de sua prisão. Com efeito, consta

18
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 682.986. Paciente: Luis Henri-
que Zacarone de Oliveira. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Relator: Ministro Olindo Menezes. Brasília, 22 mar. 2022. Disponível
em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_regis-
tro=202102360547&dt_publicacao=25/03/2022>. Acesso em: 30 set. 2022.
19
Ibid.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1012 | Leite; Bahia.

do acórdão que o tribunal de origem considerou que os depoimentos da


vítima e dos policiais eram “coerentes e harmônicos”. Também ficou con-
signado que não existia nada nos autos que indicasse “que as ofendidas e
os policiais estivessem perseguindo os apelantes, ou que tivessem qualquer
motivo para incriminar falsamente pessoas que sabem ser inocentes”20.
Da mesma forma, no AgRg no HC 685.033/SP, constou que a
condenação (também sem prévia prisão em flagrante) por erro judiciário
decorreu de um reconhecimento fotográfico realizado em fase pré-pro-
cessual que não seguiu estritamente o procedimento insculpido no art.
226 do CPP. O procedimento não foi sequer confirmado em juízo porque
a vítima já não conseguia mais reconhecer com certeza nessa ocasião.
Consta, inclusive, que, ao reconhecer a acusada, o ofendido não tinha
plena certeza e admitiu que a paciente estava diferente, isto é, mais gorda
e com o cabelo enrolado.
O tribunal de origem entendeu, no entanto, ser “plenamente
justificável a insegurança do ofendido, sobretudo diante do longo perío-
do transcorrido desde os fatos (cerca de três anos)”21. O depoimento da
vítima foi, ainda, corroborado pelo depoimento do policial civil, “que
confirmou ter apresentado diversas fotos constantes da delpol [...], tendo
o ofendido, naquela oportunidade, apontado a ré com convicção, como a
autora do delito”22. Por isso, a decisão proferida pelo tribunal de segunda
instância asseverou que

O depoimento do policial merece credibilidade, mesmo porque não


se demonstrou que razões ele teria para mentir sobre a dinâmica
dos fatos e imputar-lhe, falsamente, crime dessa gravidade se nem
mesmo a conhecia23.

20
Ibid.
21
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 685.033. Paciente: Ana Luiza Sole-
ra. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Relator: Ministro
Olindo Menezes. Brasília, 05 out. 2021. Disponível em: <https://processo.stj.
jus.br/processo/dj/documento/mediado/?tipo_documento=documento&-
componente=MON&sequencial=136740241&tipo_documento=documen-
to&num_registro=202102486091&data=20211008&formato=PDF>. Acesso
em: 30 set. 2022.
22
Ibid.
23
Ibid.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1013

A paciente, branca e incursa no crime de estelionato, crime pelo


qual já havia sido presa antes inclusive,

Negou a acusação, dizendo que não praticou o delito descrito na


denúncia. Disse morar em Americana e nunca praticou crime na
vizinha Piracicaba. Mencionou que está presa por estelionato e
sempre confessou os crimes que praticou24.

Não foi sua versão, contudo, que prevaleceu, uma vez que, no
acórdão impugnado pelo Habeas Corpus, o juízo entendeu que “a negativa
não convence, pois frágil, inverossímil e dissociada do conjunto proba-
tório”25. Ficou consignado, ainda, que

Em sede de crimes patrimoniais, especialmente aqueles cometidos


na clandestinidade, presentes apenas os agentes ativo e passivo da
infração, o entendimento que segue prevalecendo, sem qualquer
razão para retificações, é no sentido de que, na identificação do
autor, a palavra da vítima é de fundamental importância (TACRIM -
Ap. 440.643-6 - 8ª Câmara - j. 23.07.86 - Rel. Juiz Canguçu de
Almeida, v. u., JUTACRIM 91/407). “Não há desmerecer o valor
da palavra da vítima: ao revés, sua condição de protagonista do
evento delituoso é a que a credencia, sobre todos, a discorrer das
circunstâncias dele. “Tão só em casos excepcionais, de manifesta
contravenção da verdade sabida, será lícito opor restrições ao teor
de suas palavras. No geral, a palavra da vítima é a primeira luz que
afugenta as sombras sob que se pretende abrigar a impunidade”
(TACRIM - Ap. n° 1.047.937/5, Rel. : Juiz Carlos Biasotti)26.

No HC 687.103/RN, o erro decorreu da inobservância do proce-


dimento do reconhecimento pessoal do paciente, ocorrido na delegacia

24
Ibid.
25
Ibid.
26
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 685.033. Paciente: Ana Luiza Sole-
ra. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Relator: Ministro
Olindo Menezes. Brasília, 05 out. 2021. Disponível em: <https://processo.stj.
jus.br/processo/dj/documento/mediado/?tipo_documento=documento&-
componente=MON&sequencial=136740241&tipo_documento=documen-
to&num_registro=202102486091&data=20211008&formato=PDF>. Acesso
em: 30 set. 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1014 | Leite; Bahia.

apenas após identificação pela vítima em fotografia divulgada na internet


pela imprensa. Não houve prévio flagrante, tampouco a apresentação de
pessoas semelhantes ou a indicação de justificativa plausível acerca da
impossibilidade de realização do ato nos termos estabelecidos na norma
legal. Antes do reconhecimento, inclusive, as vítimas tiveram contato
com o denunciado na delegacia, o que é amplamente advertido pela
doutrina especializada como conduta que deve ser evitada, sob pena de
se contaminar a prova.
Ademais, a decisão impugnada consignou que o paciente – pre-
so e incurso no crime de roubo majorado pelo concurso de agentes e
corrupção de menores – afirmou, no interrogatório judicial, que “não é
verdadeira a acusação e não participou do assalto, não sabendo porque as
vítimas o reconheceram”27. Apesar disso, a decisão coatora defendeu que
“não obstante a negativa do réu, o contexto probatório bem evidencia a
ocorrência delituosa praticada pelo acusado e seu comparsa adolescente,
em especial pelo que se extrai dos depoimentos das vítimas”28. Ademais,

Em matéria de crimes contra o patrimônio, a palavra da vítima,


quando narra de forma coerente e segura os fatos, demonstrando
que o único objetivo é apontar os verdadeiros culpados pelo delito,
merece credibilidade e é suficiente para embasar uma condenação29.

Na sequência, no AgRg no HC 643.429/SP30, verificou-se que o


erro judiciário se perpetrou pelo reconhecimento fotográfico feito pelas

27
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 687.103. Paciente: Welton Ruan
Ferreira da Silva. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Norte. Relator: Ministro Olindo Menezes. Brasília, 16 nov. 2021. Disponível
em: <https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_regis-
tro=202102594823&dt_publicacao=19/11/2021>. Acesso em: 30 set. 2022.
28
Ibid.
29
Ibid.
30
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 643.429. Paciente: Lucas Elias de
Barros. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Relator: Mi-
nistro Rogerio Schietti Cruz. Brasília, 28 maio 2021. Disponível em: <https://
processo.stj.jus.br/processo/dj/documento/mediado/?tipo_documento=-
documento&componente=MON&sequencial=128021566&tipo_documen-
to=documento&num_registro=202100330872&data=20210531&formato=P-
DF>. Acesso em: 30 set. 2022.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1015

vítimas na delegacia sem a observação dos parâmetros legais. Consta nos


autos a informação de que o verdadeiro autor do fato era branco e usava
capacete por ocasião da infração, enquanto o paciente – incurso no crime
de roubo majorado pelo concurso de agentes, servente e já condenado
em outra ocasião por roubo – era pardo. Ele apenas não foi efetivamente
recolhido à prisão porque se encontrava em local incerto e não sabido.
No HC 648.232/SP, mais uma vez a condenação por erro judi-
ciário foi determinada em razão do equivocado reconhecimento pessoal
do paciente que ocorreu na delegacia e que se formalizou um mês e meio
após o fato. O reconhecimento foi validado mesmo após a vítima ter
consignado que tinha somente 70% de certeza e que teria visualizado o
autor do fato apenas através da viseira do capacete. Sobre isso, o acórdão
impugnado entendeu que

O fato de a vítima ter dito que o fazia com 70% de certeza não
enfraquece a prova acusatória, notadamente por ter afirmado
que quando esteve na delegacia de polícia, um mês e meio após o
crime, o apontamento se deu de forma segura e inequívoca, sendo
compreensível que em juízo, já passados seis meses dos fatos, ela
tivesse se esquecido de alguns detalhes da fisionomia do agente31.

O paciente, que a todo momento negou a imputação, foi incurso


no crime de roubo majorado pelo concurso de agentes, era pardo, ajudante
de pedreiro, tinha apenas o 1º grau de instrução e era suspeito da prática
de outros roubos. Mesmo assim, a decisão impugnada entendeu que “a
vítima [...] apresentou declarações harmônicas e convincentes acerca
dos fatos”. Asseverou, ainda, que “nada consta dos autos que permita a
conclusão de que os policiais civis tivessem motivo para incriminar o
apelado graciosa e falsamente, merecendo os depoimentos total credi-
bilidade”32, complementando que

31
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 648.232. Paciente: Claudio Hen-
rique dos Santos. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Relator: Ministro Orlando Menezes. Brasília, 18 maio 2021. Disponível em:
<https://scon.stj.jus.br/SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_regis-
tro=202100583447&dt_publicacao=21/05/2021>. Acesso em: 30 set. 2022.
32
Ibid.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1016 | Leite; Bahia.

Como é cediço, a palavra da vítima, neste tipo de crime patrimo-


nial, tem grande relevância, e nada há a fazer crer que ela teria
algum motivo para falsamente acusar inocente da prática do de-
lito. Registre-se que, em crimes como este há grande relevância
na versão da vítima, principalmente quando ofertada de maneira
segura, como no caso em comento 33.

Por fim, no HC 598.886/SC, a condenação por erro judiciário foi


decretada em razão do equivocado reconhecimento fotográfico extraju-
dicial do paciente, que se realizou sem a observância do procedimento
legal e sem que houvesse qualquer outra prova em seu desfavor. A prova
foi reputada suficiente mesmo sendo o paciente 25 centímetros mais
alto que o autor do fato e estando os verdadeiros assaltantes com o rosto
parcialmente coberto (apenas os olhos descobertos). Para o tribunal de
origem, essa diferença de altura não poderia ser tomada isoladamente
para afastar a condenação34.
Instada a confirmar o reconhecimento em juízo, uma das vítimas
afirmou que, em razão do tempo, não seria possível efetuar novo reco-
nhecimento. Ainda assim, o paciente foi condenado, incurso no crime de
roubo majorado pelo concurso de agentes, embora tenha constado que:

Nada relacionado ao crime foi encontrado em seu poder e a auto-


ridade policial nem sequer explicou como teria chegado à suspeita
de que poderia ser ele um dos autores do roubo – ficam mais evi-
dentes com as declarações de três das vítimas em juízo, ao negarem
a possibilidade de reconhecimento do acusado35.

Como se verifica, a amostra obtida foi exígua, em razão das li-


mitações que os bancos de dados dos tribunais e os próprios processos
podem apresentar. Trata-se de uma limitação já esperada de uma pesquisa

33
Ibid.
34
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. HC 598.886. Pacientes: Vanio da Silva
Gazola e Igor Tartari Felacio. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de
Santa Catarina. Relator: Ministro Rogerio Schietti Cruz. Brasília, 27 out. 2020.
Disponível em: <https://www.stj.jus.br/sites/portalp/SiteAssets/documen-
tos/noticias/27102020%20HC598886-SC.pdf>. Acesso em: 30 set. 2022.
35
Ibid.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1017

que parte dos casos de exoneração, porque “depende da habilidade de


identificação e contagem de todos os casos de erro judiciário, sendo que a
maioria dos casos permanece oculta”36. Há que se ter em conta, portanto,
que a proporção do problema é consideravelmente maior, o que reforça
a importância da investigação aqui proposta.
Com efeito, em levantamento realizado pelo STJ, provavelmente
despojado das mesmas limitações que um pesquisador externo possui,
foram analisadas decisões proferidas em Habeas Corpus e em recursos
de Habeas Corpus que tramitaram no tribunal no período de 27/10/2020
a 19/12/2021. Na pesquisa, foram localizados 89 casos em que a ordem
foi concedida em razão de “falha, vício ou inexistência do ato de reco-
nhecimento formal do acusado”37.
De todo modo, a partir dos dados obtidos com a análise juris-
prudencial, é possível observar, em primeira análise, que todos os casos
de erro judiciário levantados se referiram a crimes patrimoniais, notada-
mente o roubo circunstanciado pelo concurso de pessoas. Apenas uma
pessoa sofreu imputação por crime diverso (estelionato). Em mais de
uma situação, inclusive, o crime se deu em um formato de “arrastão” e
os(as) verdadeiros(as) autores(as) do fato estavam com o rosto enco-
berto no momento da infração penal, circunstância que torna a prova do
reconhecimento de pessoas bastante duvidosa.
Isso explica porque quatro das seis decisões investigadas tinham
origem no estado de São Paulo. Os dados do Anuário Brasileiro de Segu-
rança Pública38 indicam que essa unidade federativa ostentou nos últimos

36
DUCE, Mauricio; FINDLEY, Keith A. Editorial of dossier “Wrongful convic-
tions and prosecutions: current status, causes, correction and reparation me-
chanisms” - Wrongful convictions and prosecutions: an introductory over-
view. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 8, n. 2,
p. 523-566, maio/ago. 2022. Disponível em: <https://revista.ibraspp.com.
br/RBDPP/article/view/746/444>. Acesso em: 21 out. 2022. p. 532, tra-
dução nossa.
37
SCHIETTI CRUZ, Rogerio. Investigação criminal, reconhecimento de pessoas
e erros judiciais: considerações em torno da nova jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre,
v. 8, n. 2, p. 567-600, maio/ago. 2022. Disponível em: <https://revista.ibraspp.
com.br/RBDPP/article/view/717/445>. Acesso em: 21 out. 2022. p. 576.
38
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de
Segurança Pública. 2022. Disponível em: <https://forumseguranca.org.br/

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1018 | Leite; Bahia.

anos os maiores índices de furtos e roubos (de veículos, de celulares, a


estabelecimentos comerciais e residenciais, a transeuntes e de carga) e
de estelionatos, em comparação com os demais estados brasileiros.
Além disso, todas as pessoas prejudicadas pelo erro judiciário
possuíam preponderantemente baixa escolaridade e eram ocupantes de
empregos informais, também com baixa remuneração (como servente,
ajudante de pedreiro e ajudante de marceneiro). Não por outro motivo
Baratta aponta que, como as estatísticas criminais normalmente se ba-
seiam na criminalidade identificada e perseguida, que não contempla
as cifras negras dos crimes de colarinho branco, existe a ideia difundi-
da de que a criminalidade se concentra em grupos sociais de estratos
inferiores e é, portanto, ligada a fatores pessoais e sociais relacionados
com a pobreza39.

Essas conotações da criminalidade incidem não só sobre os estereó-


tipos da criminalidade, os quais, como investigações recentes têm
demonstrado, influenciam e orientam a ação dos órgãos oficiais,
tornando-a, desse modo, socialmente “seletiva”, mas também so-
bre a definição corrente de criminalidade, que o homem da rua,
ignorante das estatísticas criminais, compartilha”40.

Diante disso, é coerente que não tenham sido localizadas Revisões


Criminais que se subsumissem aos parâmetros definidos, uma vez que
o art. 105, I, e) da CF/88 estabelece que o STJ apenas tem competência
para julgar as revisões criminais referentes a seus julgados. Ocorre que a
competência criminal originária deste tribunal está adstrita a autoridades
públicas do alto escalão, como Governadores dos Estados e do Distrito
Federal, desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal, membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Dis-
trito Federal, membros dos Tribunais Regionais Federais, Eleitorais e do
Trabalho, membros dos Conselhos e Tribunais de Contas dos Municípios

wp-content/uploads/2022/06/anuario-2022.pdf?v=4>. Acesso em: 05 out.


2022. p. 104-114.
39
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e crítica do Direito Penal: Introdu-
ção à Sociologia do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 102.
40
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e crítica do Direito Penal: Introdu-
ção à Sociologia do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002. p. 103.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1019

e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais (art.


105, I, a) da CF/88). São autoridades mais comumente envolvidas em
crimes contra a Administração Pública e não na criminalidade de rua e
que desfrutam de elevada remuneração ou subsídio.
Assim, a inexistência de Revisões Criminais motivadas por erro
judiciário demonstra que as categoriais sociais mais abastadas e com grau
de escolaridade maior, como os ocupantes de cargos de provimento por
concurso público, são poupadas dos equívocos que acometem outros
sujeitos epistêmicos. Muito provavelmente, isso também ocorre porque
são sujeitos que não sofrem com os estereótipos a que as categorias
identificadas se submetem.
Ademais, ao menos em quatro dos seis casos (nos demais a in-
formação não estava disponível), os(as) acusados(as) já possuíam algum
tipo de histórico criminal (condenação ou suspeita de participação). Isso
revela que o sistema penal não os(as) vê como sujeitos “temporariamente
expulsos da vida social normal e destinados a serem reeducados, reabili-
tados e reenviados à comunidade”. Ao contrário, são tratados como sujei-
tos “permanentemente marginalizados, inadequados para a ‘reciclagem
social’ e designados a serem mantidos permanentemente fora, longe da
comunidade dos cidadãos cumpridores da lei”41.
Por outro lado, é importante consignar que a questão racial foi
inconclusiva na pesquisa realizada. Essa limitação pode ser explicada
pelas restrições das bases de dados, que dificilmente disponibilizam
essa informação, e pela quantidade exígua de amostras avaliadas. Disso
decorre a necessidade de se recorrer a outras pesquisas sobre o tema,
que podem subsidiar as conclusões aqui formuladas.
Nesse contexto, é válido destacar a pesquisa conduzida pela Dire-
toria de Estudos e Pesquisas de Acesso da Justiça da Defensoria Pública do
Estado do Rio de Janeiro. A instituição apurou casos de reconhecimento
fotográfico em sede policial que não foram confirmados em juízo e que
foram contemplados por sentenças absolutórias posteriormente. A pesqui-
sa investigou fatos ocorridos ou processos iniciados entre maio de 2012
e julho de 2020, em 10 estados, concluindo que 83% dos prejudicados

41
BAUMAN, Zygmunt. Tempos líquidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007. p. 76.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1020 | Leite; Bahia.

eram negros (pretos e pardos)42, revelando maior incidência dos casos


aqui investigados em pessoas com essa característica.
A constatação mais significativa, no entanto, extraída da análise
jurisprudencial realizada foi a verificação de que diversas decisões dei-
xaram explícita sua franca preferência pela narrativa das vítimas, das
testemunhas e/ou dos(as) policiais, unicamente por ocuparem essa po-
sição processual ou funcional. Fizeram questão, ainda, de consignar que
essa inclinação estava relacionada à natureza da infração penal: crimes
patrimoniais, que são essencialmente praticados por pessoas pertencen-
tes a setores social e economicamente subintegrados. Em verdade, as
narrativas das vítimas até foram desconsideradas em alguns momentos,
mas apenas quando manifestaram dúvida e infirmaram a culpa da pessoa
acusada, jamais para fazer valer a presunção de inocência.
Trata-se, pois, de uma interpretação diametralmente oposta ao
preconizado pela Constituição Federal, ao se considerar a pessoa acusada
presumidamente mentirosa e culpada, exclusivamente em razão da posição
que ocupa no processo penal e da natureza do crime que lhe foi imputado.
Aliás, como se nota pelos excertos colacionados, essa presunção de culpa
não alcança os acusados por crimes de colarinho branco ou crimes tradi-
cionalmente cometidos por autoridades públicas ou pessoas de elevado
poder aquisitivo. Isso porque as decisões analisadas fizeram questão de
esclarecer que a preferência pelas narrativas de vítimas, testemunhas e
policiais se aplicava (apenas) aos crimes patrimoniais.
A expressão “narrativa” é usada de forma proposital nesse contex-
to, porque não é novidade a tese do processo como narrativa ou story-telling
jurídico e processual, que oferece construções interpretativas de eventos
e um “método para descobrir aquilo que verdadeiramente ocorreu”43. E,
como histórias que são, “são perigosas e abertas à suspeição” e “abrem
caminhos para a imprecisão, para a variabilidade, bem como manipulações

42
DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Diretoria de
Estudos e Pesquisas de Acesso da Justiça. Relatório sobre reconhecimento foto-
gráfico em sede policial. Rio de Janeiro, s.d. Disponível em: <https://www.de-
fensoria.rj.def.br/uploads/arquivos/54f8edabb6d0456698a068a65053420c.
pdf>. Acesso em: 21 out. 2022.
43
TARUFFO, Michele. Uma simples verdade: O Juiz e a construção dos fatos. 1.
ed. São Paulo: Marcial Pons, 2016. p. 54.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
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na reconstrução dos fatos”. Estão, ainda, suscetíveis a “perigos de erro,


de incompletude, de manipulações e de reconstruções incorretas dos
fatos [...], podendo levar a equívocos dramáticos e a erros substanciais
na decisão final da controvérsia”44.
Mais do que isso, como narrativa construída, o processo tem uma
perspectiva cultural: “qualquer narrativa funda-se em uma cultura e é cons-
truída através de uma cultura (compreendida como conhecimento de mun-
do)”, fazendo sempre referência ao pano de fundo cultural de cada narrador,
também chamado de stock of knowledge45. Esse pano de fundo cultural inclui
diversos “ingredientes”: preconceitos (sexuais, raciais, religiosos, étnicos e
profissionais), tramas (práticas e comportamentos considerados normais
em uma comunidade, que condicionam a valoração dos fatos), estereótipos
e perfis (são “generalizações grosseiras” e “uma espécie de idealização de
personagens típicos que se comportam em modos típicos”, “usados como um
meio para reconduzir pessoas ou comportamentos específicos a tipos bem
conhecidos”), generalizações de senso comum e quantificações estatísticas
ou probabilísticas não justificadas e não verificadas46.
Todos esses dados, portanto, permitem induzir que a pessoa
prejudicada pelo erro judiciário decorrente de falhas no reconhecimento
de pessoas é aquela acusada da prática de crime patrimonial, que possui
baixo grau de escolaridade e empregos mal remunerados. Normalmente,
também já tiveram algum contato prévio com a atividade criminosa e são,
preponderantemente, negras. Resta, assim, apenas verificar a estreita
relação entre esses dados e o fenômeno da injustiça epistêmica.

2. A injustiça epistêmica no reconhecimento de pessoas

A partir da análise jurisprudencial qualitativa formulada na pri-


meira seção, não restam dúvidas de que os erros judiciários causados
por falhas no reconhecimento de pessoas decorrem não apenas da inob-
servância do procedimento, mas também e sobretudo de estereótipos

44
Ibid., p. 54-55.
45
Ibid., p. 78.
46
Ibid., p. 78-82.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1022 | Leite; Bahia.

socioeconômicos e, até mesmo, raciais. Decorrem, ainda, do desprezo de


narrativas de pessoas específicas, que pertencem a setores subintegrados
da sociedade e que ocupam “o banco dos réus” em crimes patrimoniais.
É claro que, ao contrário do que se verificou quanto à posição
processual de réu e à natureza da infração penal, em relação aos quais
houve explícita preterição narrativa, os depoimentos das vítimas e das
testemunhas não deixaram expressas as influências que os preconceitos
e estereótipos atinentes às características sociais, econômicas e raciais
exerceram sobre seu (sub)consciente no momento do reconhecimento.
Da mesma forma, as decisões judiciais analisadas não consignaram sua
inclinação a uma ou outra narrativa com base nesses critérios. No en-
tanto, a uniformidade das características processuais e pessoais dos(as)
acusados(as) não permite outra conclusão senão a de que existem, em
relação a essas características, preconceitos que influem diretamente
no reconhecimento pessoal e na decretação da prisão. É nesse contexto,
portanto, que se pode falar em injustiça epistêmica, mais especificamente
em injustiça testemunhal.
A injustiça epistêmica é uma “injustiça distributiva em relação a
bens epistêmicos”47, como informação, educação e credibilidade. Espe-
cificamente em sua dimensão testemunhal, consiste em um “mal feito a
alguém especificamente por sua capacidade como conhecedor” (sujeito
epistêmico). “Ocorre quando o preconceito faz com que o ouvinte dê um
nível de credibilidade deflacionado à palavra de um orador”, em razão de
um “preconceito na economia da credibilidade”48. Em outras palavras,
“uma injustiça testemunhal ocorre quando um sujeito tem sua capaci-
dade de testemunhar algo a alguém reduzida ou impedida por conta de
um preconceito de identidade”49, “devido ao seu pertencimento a um ou
mais grupos sociais”50. Explica-se.

47
FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: Power & the Ethics of Knowing. Nova
Iorque: Oxford, 2007. p.1, tradução nossa.
48
Ibid., p.1, tradução nossa.
49
SANTOS, Breno R.G. Injustiça Epistêmica. In: OLIVEIRA, Rogel Esteves de
et al. (orgs.). Compêndio de Epistemologia. Porto Alegre: Fi, 2022. p. 561-
583. Disponível em: <https://www.editorafi.org/ebook/625epistemologia>.
Acesso em: 13 fev. 2023. p. 565.
50
Ibid., p. 567.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1023

A injustiça testemunhal está intimamente atrelada à noção de


poder social, consistente na capacidade de agentes sociais influencia-
rem no funcionamento das coisas no mundo51. O objetivo desse poder é
efetuar o controle social:

Com o nascimento do delinquente, uma posição do sujeito é criada


como o assunto para certos discursos teóricos; com a privação de
direitos de um determinado grupo social, o interesse desse grupo
se torna politicamente dispensável52.

Em alguma medida esse poder sempre se manifesta estrutu-


ralmente, porque depende de uma coordenação prática entre os de-
mais agentes sociais. Afinal, “qualquer operação de poder depende do
contexto de um mundo social funcional – instituições compartilhadas,
significados compartilhados, expectativas compartilhadas”53. Para além
da coordenação prática, no entanto, em alguns casos, o poder depende,
ainda, de uma coordenação social imaginativa, isto é, de concepções pre-
sentes no imaginário coletivo social que equivalem a estereótipos (isto
é, associações e generalizações de um atributo a um grupo social) e que
são compartilhadas pelos agentes sociais54.
Como melhor explicado por Santos55, esses estereótipos não
são necessariamente um problema, pois podem até ser úteis em tarefas
cotidianas. O problema é quando eles se manifestam como preconceitos
de identidade e servem de critério para a avalição da credibilidade do
interlocutor nas trocas testemunhais. Isso gera uma disfunção epistêmica
(o ouvinte faz um “julgamento depreciativo da credibilidade do orador”,
prejudicando a aquisição do conhecimento) e um problema ético (“o
orador é injustamente prejudicado em sua capacidade como conhece-

51
FRICKER, op. cit., p. 10.
52
Ibid., p. 13, tradução nossa.
53
FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: Power & the Ethics of Knowing. Nova
Iorque: Oxford, 2007. p. 12, tradução nossa.
54
Ibid., p. 17, tradução nossa.
55
SANTOS, Breno R.G. Injustiça Epistêmica. In: OLIVEIRA, Rogel Esteves de
et al. (orgs.). Compêndio de Epistemologia. Porto Alegre: Fi, 2022. p. 561-
583. Disponível em: <https://www.editorafi.org/ebook/625epistemologia>.
Acesso em: 13 fev. 2023. p. 565.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1024 | Leite; Bahia.

dor”)56. Em outras palavras, o marco distintivo da injustiça testemunhal


em relação a outras formas de rejeição de uma narrativa é a influência
do preconceito de identidade, que faz com que haja uma distorção na
credibilidade atribuída a um sujeito epistêmico:

A ideia é que o preconceito tenderá a aumentar ou diminuir a


credibilidade atribuída ao falante e, às vezes, isso será suficiente
para atravessar o limiar da crença e da aceitação, de modo que o
preconceito do ouvinte o fará perder parcelas do conhecimento57.

Assim, “o sujeito que comete a injustiça o faz a partir da posse


de um afeto negativo de identidade que associa pejorativamente carac-
terísticas morais, políticas e epistêmicas ao seu interlocutor”58. Esse
raciocínio epistemológico opõe-se à chamada norma evidencialista, que
impõe que o julgamento de credibilidade do(a) interlocutor(a) de um(a)
ouvinte seja compatível com as evidências de que esse(a) orador(a)
está falando a verdade. Significa que, quando um(a) ouvinte forma seu
convencimento sobre a credibilidade de um(a) interlocutor(a), deve con-
frontá-lo(a) com as evidências disponíveis, bem como com as evidências
que deveria ter disponíveis, não se admitindo, portanto, uma exposição
limitada às evidências59.
Com efeito, o percurso ideal da epistemologia é o de, inicial-
mente, pesquisar e avaliar objetivamente todas as evidências sobre uma
questão com o objetivo de, apenas então, chegar à conclusão imparcial
que elas impõem. O vício nesse percurso causa um desvio inaceitável,
conhecido como confirmation bias (viés de confirmação). Trata-se da
construção do caso para justificar uma conclusão já pronta, a partir da
coleta seletiva ou atribuição de valor e peso indevidos às evidências

56
FRICKER, op. cit., p.17, tradução nossa.
57
Ibid., p. 17, tradução nossa.
58
SANTOS, op. cit., p. 567.
59
LACKEY, Jennifer. Credibility and the Distribution of Epistemic Goods. In:
MCCAIN, Kevin (ed.). Believing in Accordance with the Evidence. v. 398. Cham:
Springer, 2018. p. 145-168. Disponível em: <https://link.springer.com/chap-
ter/10.1007/978-3-319-95993-1_10>. Acesso em: 16 set. 2022. p. 160.

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que dão subsídio à posição de alguém, negligenciando ou descartando


evidências aptas a contradita-la60.
Quando esse percurso ideal, portanto, é violado e o(a) ouvinte
atribui a(o) interlocutor(a) credibilidade inferior às evidências de que
ele(a) está falando a verdade, ocorre um déficit de credibilidade, que
caracteriza a injustiça epistêmica testemunhal61. A consequência desse
julgamento deflacionado da credibilidade do(a) depoente é que o(a)
orador(a) se torna incapaz de transmitir seu conhecimento ou sua per-
cepção sobre os fatos testemunhados62. Dessa forma, é possível dizer, em
resumo, que a injustiça testemunhal ocorre quando um(a) ouvinte viola a
norma evidencialista, ignorando evidências relevantes e atribuindo uma
depreciação à credibilidade do(a) interlocutor(a) em razão de algum
preconceito, destituindo-o(a) de sua capacidade de sujeito epistêmico
(conhecedor(a))63.
Importante ressaltar, contudo, que, diante da análise jurispru-
dencial formulada na seção anterior, é preciso concordar com Lackey,
que, ao contrário de Fricker, acredita que a injustiça testemunhal também
pode decorrer de um excesso de credibilidade que se atribui a experts ou
autoridades em geral em razão de seu status social. Isso leva a uma resis-
tência ou insensibilidade em relação a evidências relevantes, causando a
chamada visão do túnel epistêmica: apenas uma tese é perseguida com
determinação, sem considerar todo conjunto probatório. Da mesma for-
ma, o próprio ouvinte pode atribuir excesso de credibilidade a si mesmo,
como um viés em favor de si mesmo, que o impossibilita de reconhecer
suas próprias fragilidades64.
Com efeito, nos casos de erro judiciário analisados, a equivocada
formação da culpa se concretizou pela preponderância que se atribuiu ao

60
NICKERSON, Raymond S. Confirmation bias: A Ubiquitous Phenomenon in
Many Guises. Review of General Psychology, v. 2, n. 2, p. 175-220, 1998. Dispo-
nível em: <https://journals.sagepub.com/doi/10.1037/1089-2680.2.2.175>.
Acesso em: 30 ago. 2022. p. 175.
61
LACKEY, op. cit., p. 146.
62
FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: Power & the Ethics of Knowing. Nova
Iorque: Oxford, 2007. p. 17.
63
LACKEY, op. cit., p. 146.
64
Ibid., p. 149-156.

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1026 | Leite; Bahia.

depoimento da vítima ou da testemunha, cuja credibilidade é inflacionada


(excesso de credibilidade), em relação ao depoimento do(a) acusado(a),
o que foi expressamente consignado em algumas decisões. Com isso, na
disputa entre a palavra de ambos, a credibilidade que se atribui a cada
um dos sujeitos foi decisiva para a prisão ou para a liberdade, para a
condenação ou para a absolvição. Da mesma forma, há que se considerar
o excesso de credibilidade que se atribui às autoridades policiais respon-
sáveis pela condução dos(as) acusados(as), pela realização da prova de
reconhecimento ou pelo desenvolvimento da investigação, o que também
foi explícito na pesquisa desenvolvida.
Também em oposição a Fricker, Lackey assevera que a injustiça
testemunhal deve sim ser verificada em uma dimensão relacional e distri-
butiva. Assim, também há injustiça testemunhal “quando a credibilidade
é distribuída de forma inadequada entre os membros de um contexto
comunicacional ou uma comunidade, em razão de um preconceito”65.
Portanto, ainda que se atribua a credibilidade adequada a um(a) interlocu-
tor(a), se aos(às) demais se atribui um excesso de credibilidade, também
haverá injustiça testemunhal, pois o resultado prático é o mesmo de uma
avaliação deficitária. Afinal, a credibilidade não é um bem infinito, então
“quando alguém recebe muito, outros frequentemente recebem menos”66.
Nesse sentido, os julgamentos penais, que são “uma prática epis-
têmica por excelência”67, são um exemplo bastante contundente sobre a
finitude da credibilidade enquanto bem epistêmico. Isso porque a satisfação
da pretensão acusatória implica necessariamente na rejeição da pretensão
defensiva, ou vice-versa. Assim, uma vez atribuído o excesso de credi-
bilidade à pessoa que figura em um polo processual, automaticamente a

65
LACKEY, Jennifer. Credibility and the Distribution of Epistemic Goods.
In: MCCAIN, Kevin (ed.). Believing in Accordance with the Evidence. v. 398.
Cham: Springer, 2018. p. 145-168. Disponível em: <https://link.springer.
com/chapter/10.1007/978-3-319-95993-1_10>. Acesso em: 16 set. 2022. p.
157, tradução nossa.
66
Ibid., p. 166, tradução nossa.
67
SANTOS, Breno R.G. Injustiça Epistêmica. In: OLIVEIRA, Rogel Esteves de
et al. (orgs.). Compêndio de Epistemologia. Porto Alegre: Fi, 2022. p. 561-
583. Disponível em: <https://www.editorafi.org/ebook/625epistemologia>.
Acesso em: 13 fev. 2023. p. 567l.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
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credibilidade é retirada do(a) adversário(a), concretizando a dimensão


distributiva da injustiça epistêmica.

Na justiça penal, em que os fatos criminais estão sob discussão,


o resultado do processo dependerá, em última análise, de quem
conseguiu ter sua versão dos fatos como mais digno de crédito. [...]
Em situações como essa, em que as transações epistêmicas são uma
competição de credibilidade entre sujeitos, excesso de credibili-
dade e déficit de credibilidade são dois lados da mesma moeda68.

Como se verifica, é válida, nesse contexto, a crítica que doutrina


faz à visão limitada de Fricker sobre a injustiça epistêmica, que obstacu-
liza sua completa aplicação no cenário jurídico69. Com efeito, é preciso
considerar outras formas de injustiça epistêmica que prejudicam grupos
sociais e políticos vulneráveis, como as consideradas por Lackey70.
A partir de todos esses elementos, é possível deduzir que a injus-
tiça epistêmica é, em última análise, a própria causa dos erros judiciários,
porque eles estão atrelados, preponderantemente, a uma prova de reco-
nhecimento mal produzida. As falhas no reconhecimento, por sua vez,
decorrem, em um primeiro momento, de estereótipos que influenciam
vítimas e testemunhas que atuam em reconhecimentos que não atendem
aos comandos legais. Em um segundo momento, decorrem da desvalori-
zação do depoimento do(a) acusado(a) de crimes patrimoniais por parte
das autoridades públicas e judiciais que avaliam a prova e chancelam
esses estereótipos. Foi a mesma conclusão sinalizada por Páez e Matida,
ao analisarem o cenário jurídico-penal brasileiro:

As condenações de pessoas inocentes com base na identificação


inválida podem ser examinadas pelas perspectivas de Fricker
e Lackey. Nas investigações de roubos, é comum a situação em

68
PÁEZ, Andrés; MATIDA, Janaina. Editorial of dossier “Epistemic Injustice
in Criminal Procedure”. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto
Alegre, v. 9, n. 1, p. 11-38, jan./abr. 2023. Disponível em: <https://revista.
ibraspp.com.br/RBDPP/issue/view/21/26>. Acesso em: 17 maio 2023. p.
21, tradução nossa.
69
Ibid., p. 16.
70
Ibid., p. 18.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
1028 | Leite; Bahia.

que a palavra do réu (preto, pobre e da favela) não é levada em


conta. Quando ele é ouvido (porque, em muitos casos, ele não é),
sua versão é rapidamente desqualificada. [...] Em complemento
a esses casos de identificação contaminada, é importante traçar
os casos em que o excesso de credibilidade foi automaticamente
atribuído à polícia sem qualquer preocupação em obter outras
versões. Durante as operações policiais, as declarações da polícia
recebem sistematicamente mais credibilidade que o testemunho
das vítimas da violência policial71.

Consequentemente, é a pessoa negra, de baixa escolaridade e


de baixa renda, com empregos menos prestigiados e que já teve algum
contato com a atividade criminosa, isto é, a protagonista dos crimes patri-
moniais e das decisões analisadas, que é prejudicada pelo reconhecimento
viciado. O problema é que essa prova constitui, na maioria das vezes, o
fundamento exclusivo da prisão ou da condenação. Como reconhece a
doutrina especializada:

O reconhecimento formal do suspeito tem, mutatis mutandis, a


mesma função da confissão: permitir à autoridade policial con-
siderar encerrada a tarefa de investigar a autoria delitiva e, por
conseguinte, considerar provado o crime, em seus aspectos objetivo
e subjetivo. [...] A denúncia é oferecida, o acusado, provavelmente,
já estará preso – com base também nessa prova isolada – e o pro-
cesso caminhará até a instrução, na qual, mesmo com a ausência
de confissão do réu, e sem que se perquira sobre o procedimento
adotado no momento do reconhecimento na delegacia, o juiz, à luz
da confirmação, pela vítima, de que reconheceu mesmo o imputa-
do na fase inquisitorial, o condena às penas do crime de roubo72.

Com isso, a injustiça epistêmica, especificamente a injustiça tes-


temunhal, triunfa, na medida em que os estereótipos preconceituosos que

71
Ibid., p. 29-30, tradução nossa.
72
SCHIETTI CRUZ, Rogerio. Investigação criminal, reconhecimento de pes-
soas e erros judiciais: considerações em torno da nova jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça. Revista Brasileira de Direito Processual Penal,
Porto Alegre, v. 8, n. 2, p. 567-600, maio/ago. 2022. Disponível em: <https://
revista.ibraspp.com.br/RBDPP/article/view/717/445>. Acesso em: 21 out.
2022. p. 583.

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815 | 1029

permeiam a posição processual de acusados(as) e réus(réus) e os grupos


socioeconômicos e raciais subintegrados, deflacionam sua credibilidade
(déficit de credibilidade). Isso ocorre através de uma coordenação so-
cial imaginativa que contamina as próprias vítimas e testemunhas que
participam da prova de reconhecimento e é posteriormente chancelada
pelo juízo. Essas pessoas acusadas têm, com isso, sua capacidade de trans-
missão de conhecimentos desprezada, ignorando-se, assim, sua posição
como sujeito epistêmico.
Não por outro motivo, o Superior Tribunal de Justiça já reco-
nheceu, embora em caso concreto diverso, o instituto da injustiça epis-
têmica, no AREsp 1940381/AL. Tratava-se de acusação de menor por ato
infracional análogo a homicídio tentado, cuja condenação se baseou nos
depoimentos indiretos do bombeiro e da policial militar que atenderam
a ocorrência, sem que houvesse a produção de qualquer prova direta e
ignorando-se a tese da legítima defesa apresentada pelo réu. O STJ en-
tendeu, então, que o Estado se omitiu e deixou de produzir as provas que
estavam ao seu alcance, incorrendo em perda de uma chance probatória.
O Superior Tribunal também asseverou que houve injustiça epistêmica
pela desconsideração da narrativa do réu, que era “jovem pobre, em situa-
ção de rua, sem educação formal e que se tornou pai na adolescência”73.
Como se verifica, a pessoa prejudicada não estava nem um pouco
distante do perfil aqui identificado. Por isso, essa decisão deve ser feste-
jada, uma vez que oferece um indício de que os tribunais já não toleram
esse fenômeno, o que se espera ser estendido aos casos de erro judiciário,
sobretudo quando decorrentes do reconhecimento de pessoas.

Considerações Finais

A partir da análise jurisprudencial e da revisão bibliográfica sobre


o tema, é possível responder satisfatoriamente à pergunta formulada na

73
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. AREsp 1.940.381. Agravante: M.B.B.
Agravado: Ministério Público do Estado do Alagoas. Relator: Ministro Ribei-
ro Dantas. Brasília, 14 dez. 2021. Disponível em: <https://scon.stj.jus.br/
SCON/GetInteiroTeorDoAcordao?num_registro=202102429156&dt_publi-
cacao=16/12/2021>. Acesso em: 16 set. 2022.

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introdução, isto é, de que forma os estereótipos e a injustiça epistêmica


se manifestam nos casos de erro judiciário decorrentes do reconheci-
mento de pessoas.
Percebe-se que, nesses casos, os preconceitos que acometem
indivíduos negros, de baixa escolaridade e de baixa renda, com empre-
gos menos prestigiados e que já tiveram algum contato com a atividade
criminosa não se manifestam de forma explícita. No entanto, são deter-
minantes, o que fica claro, em primeiro lugar, pela uniformidade com que
essas características apareceram na amostra jurisprudencial analisada.
Em segundo lugar, pela suficiência do reconhecimento como prova para
a prisão ou para a condenação dessas pessoas, mesmo quando destituído
de outras provas que corroborassem com a acusação. A análise empírica,
por outro lado, revela que os estereótipos ligados à natureza da infração
penal – que, em última análise, está essencialmente relacionada também
às características pessoais do(a) acusado(a) – e à posição processual da
pessoa não apenas são bastante explícitos, como são assumidamente
levados em conta pelo juízo.
De todo modo, os resultados demonstram que esses estereótipos
preconceituosos são o critério de distribuição de credibilidade às narra-
tivas e aos sujeitos epistêmicos. Isso revela, a partir do aprofundamento
teórico, um típico caso de injustiça epistêmica, que, especificamente em
sua dimensão testemunhal, se manifesta como fenômeno imanente nos
casos de erro judiciário, constituindo sua principal causa.
A identificação desse fenômeno como causa e a consequente
possibilidade de prevenção e mitigação da ocorrência de erros judiciários
é fundamental. Toda comunidade e a própria democracia se beneficiam de
um sistema penal idôneo e imparcial, que zela pela distribuição assertiva
e equitativa da credibilidade. São características que legitimam o poder
punitivo e estimulam o cumprimento voluntário das normas penais.
Afinal, é cediço que a persecução penal não possui recursos
humanos, materiais e financeiros infinitos. Assim, quando sobrecarrega
populações específicas, naturalmente precisa desviar a atenção em re-
lação a outros grupos, assegurando, por via oblíqua, a impunidade, tão
prejudicial à credibilidade da justiça penal e à efetivação das normas.
Ademais, essa investigação contribui para a identificação e para a cons-
cientização a respeito da existência de um imaginário social contaminado

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por preconceitos relativos a classes sociais, cor, antecedentes criminais e


posições processuais, cujo enfrentamento é igualmente importante para
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Authorship information
Sara Ribas Ortigosa Leite. Graduação em Direito pela Faculdade de Direito de
Ribeirão Preto/Universidade de São Paulo (2018) e especialização em Direito
Penal e Criminologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(2022). Mestranda em Sistema Constitucional de Garantias pela Instituição Toledo
de Ensino de Bauru. Funcionária pública federal. [email protected].

Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.
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Claudio José Amaral Bahia. Graduação em Direito pela Instituição Toledo de


Ensino (1996) e Mestrado em Direito Constitucional pela mesma instituição
(2002). Doutorado em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo. Pós-doutorado pelo Ius Gentium Conimbrigae da Universidade de
Coimbra (2020). Professor, na graduação, na Instituição Toledo de Ensino de
Bauru e na Faculdade Iteana de Botucatu e, na pós-graduação lato e stricto sensu,
na Instituição Toledo de Ensino de Bauru. [email protected].

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no conflicts of interest in conducting this research and writing
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▪ Sara Ribas Ortigosa Leite: conceptualization, methodology,


data curation, investigation, writing – original draft,
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▪ Claudio José Amaral Bahia: validation, writing – review and


editing, final version approval.

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Editorial process dates


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▪ Submission: 01/12/2022 Editorial team


▪ Desk review rejection: 15/01/2023 ▪ Editor-in-chief: 1 (VGV)
▪ Ressubmission: 18/02/2023 ▪ Reviewers:2
▪ Desk review and plagiarism check: 10/03/2023
▪ Review 1: 13/04/2023
▪ Review 2: 01/05/2023
▪ Preliminary editorial decision: 12/05/2023
▪ Correction round return: 23/05/2023
▪ Final editorial decision: 15/06/2023

How to cite (ABNT Brazil):


LEITE, Sara R. O.; BAHIA, Claudio J. A. O erro judiciário e a injustiça
epistêmica no reconhecimento de pessoas. Revista Brasileira de
Direito Processual Penal, vol. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai./ago. 2023.
https://doi.org/10.22197/rbdpp.v9i2.815

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Rev. Bras. de Direito Processual Penal, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 1003-1034, mai.-ago. 2023.

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