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doi: 10.13037/rbcs.vol13n46.

3109   ISSN 2359-4330


RAS Rev. de Atenção à Saúde, v. 13, no 46, out./dez. 2015, p. 5-10 artigo original

5
FATORES DE RISCO RELACIONADOS À INFECÇÃO
DO TRATO URINÁRIO NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE
RISK FACTORS RELATED TO URINARY TRACT INFECTION IN HEALTH CARE

Francisco Eudison da Silva Maiaª*, Anne Itamara Benigna Evangelista**,


Alcivan Nunes Vieira**
a
[email protected]
*Universidade Potiguar – Mossoró (RN), Brasil
**Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – Mossoró (RN), Brasil

Data de recebimento do artigo: 10/12/2014


Data de aceite do artigo: 04/08/2015

RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo identificar os fatores de risco para a ocorrência da infecção do trato
urinário relacionada à atenção à saúde. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada a partir
de artigos publicados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) de abril a junho de 2012. Utilizaram-se os
seguintes descritores: “sistema urinário”, “bexiga urinária” e “fatores de risco”. Os principais fatores de
risco associados à infecção do trato urinário, na atenção à saúde, são: a condição patológica prévia; a
hospitalização; indicação indevida da cateterização; os cuidados com o cateter; o tempo de permanência
do cateter; o sexo e a idade do paciente. A sondagem vesical é um dos principais fatores de risco para a
ocorrência da infecção e, em geral, o mais lembrado. Entretanto, existem outros fatores que precisam ser
levados em consideração pelos profissionais de saúde. A partir da sua identificação, será possível adotar
medidas eficazes de prevenção e controle.

Palavras-chave: Enfermagem; infecção hospitalar; unidades de terapia intensiva.

ABSTRACT
This research aimed to identify risk factors for the occurrence of urinary tract infection related to health
care. It is an integrative literature review of articles published in Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) from
April to June 2012. The following descriptors were used: “sistema urinário”, “bexiga urinária” and “fatores
de risco” [“urinary tract”, “urinary blatter” and “risk factors”]. The main risk factors associated with urinary
tract infection in health care are: prior pathological condition; hospitalization; indication of improper
catheterization; care of the catheter; the catheter dwell time; sex and age of patient. The catheterization is
a major risk factor for the occurrence of the infection and generally the most remembered. However, there
are other factors that need to be taken into account by health professionals. By identifying these factors,
professionals can take effective measures of prevention and control.

Keywords: Nursing; cross infection; intensive care units.

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Introdução com redução na frequência de E. coli (embora ainda


permaneça habitualmente como a primeira causa), e
A Infecção Hospitalar (IH) consiste em uma das mais um crescimento de Proteus sp, Pseudomonas aeruginosa,
frequentes e importantes complicações dos pacientes Klebsiella sp., Enterobacter sp., Enterococcus faecalis e de
submetidos à hospitalização. É definida como uma in- fungos, com destaque para Candida sp8,9.
fecção localizada ou sistêmica, contraída dentro de uma Embora a morbidade e a mortalidade de ITU sejam
unidade de saúde ou durante a hospitalização. Portanto, consideradas relativamente baixas em comparação a outras
é consequência de uma reação adversa à presença de um IrAS, esse tipo de infecção tem repercussões na assistência
agente infeccioso ou à produção de suas toxinas1. à saúde, seja pelo aumento nos gastos para seu tratamen-
A patologia em questão está presente em todo o mun- to, seja pela possibilidade de provocar complicações10.
do e representa um grave problema de saúde pública, Existem diversos fatores de risco para a ocorrência
uma vez que constitui uma das principais causas de mor- desse tipo de infecção, tanto relacionados ao próprio
bimortalidade de pessoas que se encontram no ambiente paciente quanto à assistência à saúde ou à instrumen-
hospitalar. O problema pode ser minimizado por meio da talização do trato urinário. Ambos têm seu impacto na
adoção de medidas de prevenção e controle por parte de ocorrência de uma ITU, embora a ênfase geralmente
todos os profissionais que atuam na assistência à saúde2. seja dada à alta prevalência da instrumentalização6.
Até o ano de 2008, o conceito de Infecções Este estudo tem como objetivo identificar, a partir da
Hospitalares adotado pelo Ministério da Saúde do Brasil literatura, os fatores de risco para a ocorrência de ITU
enfocava primordialmente infecções que ocorriam no relacionada à assistência à saúde. Para alcançar o objetivo
espaço hospitalar3. O conceito foi revisado e a nova ter- proposto foi realizada uma revisão integrativa da litera-
minologia foi adotada, passando a abranger as Infecções tura, em publicações disponíveis na Biblioteca Virtual
Relacionadas à Assistência em Saúde (IrAS). Essa nova em Saúde. Justifica-se pela necessidade do conhecimento
nomenclatura compreende todas as infecções adquiri- como ferramenta estratégica para a elaboração de ações
das por meio da atenção à saúde, seja pela realização de de prevenção em relação às ITU na assistência à saúde.
procedimentos ambulatoriais, pela atenção prestada em Desse modo, esta pesquisa contribui de forma somatória
domicílio ou durante a internação hospitalar 4. às discussões sobre o tema, fomentando a relevância da
O conceito de IrAS amplia o entendimento de que intervenção adequada dos profissionais da saúde na me-
as infecções se restringem àquelas que ocorrem essen- lhora da qualidade de vida da população.
cialmente no ambiente hospitalar, considerando que, na
realidade, podem ocorrer em todos os níveis assisten-
ciais, seja na unidade básica de saúde, hospital, domicí- Metodologia
lio ou serviços de home care4.
Entre as IrAS, a Infecção do Trato Urinário (ITU) Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, mé-
é a mais comum em qualquer hospital do mundo, che- todo que consiste na síntese de um determinado assunto
gando a corresponder a cerca de 40% do total das IrAS a partir da literatura já publicada, podendo identificar a
em determinados hospitais5-6. A ITU relacionada à as- necessidade da realização de novos estudos, como tam-
sistência à saúde é caracterizada pela invasão do trato bém de reflexões sobre melhorias na prática clínica11,12.
urinário superior ou inferior por micro-organismos em O levantamento bibliográfico foi realizado por meio
decorrência de procedimentos invasivos, como a sonda- da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), nas bases de da-
gem vesical7. dos do SciELO (Scientific Electronic Library Online),
Os sinais e sintomas associados à infecção urinária in- LILACS (Literatura Latino Americana e do Caribe em
cluem polaciúria, urgência miccional, disúria, alteração na Ciências da Saúde) e MEDLINE (Medical Literature
coloração e no aspecto da urina com surgimento de urina Analysis and Retrieval System Online). Foram incluídos
turva acompanhada de alterações no sedimento urinário, artigos completos publicados na língua portuguesa, sem
hematúria e piúria. É comum a ocorrência de dor abdo- delimitação de período de publicação. Esta pesquisa foi
minal na topografia do hipogástrio (projeção da bexiga) e realizada no período de abril a junho de 2012.
no dorso (projeção dos rins), cursando com febre7. A ITU Para construir este manuscrito foram seguidas as se-
pode comprometer somente o trato urinário baixo, carac- guintes etapas: o estabelecimento das questões e objeti-
terizando o diagnóstico de cistite, ou afetar simultanea- vos da revisão integrativa; estabelecimento dos critérios
mente o trato urinário inferior e o superior, configurando de inclusão e exclusão de artigos; definição das informa-
infecção urinária alta, também denominada pielonefrite7. ções a serem extraídas dos artigos selecionados; análise
Quando a ITU é adquirida no ambiente hospitalar, dos resultados; discussão e apresentação dos resultados;
em paciente internado, os agentes etiológicos são bas- e, por último, a apresentação da revisão13. Seu desenvol-
tante diversificados, predominando as enterobactérias, vimento teve como base a seguinte questão norteadora:

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que fatores de riscos estão implicados na infecção do delimitada na literatura estudada os seguintes fatores
trato urinário relacionada à atenção à saúde? de risco para a ocorrência da infecção urinária relacio-
Para a delimitação dos artigos, foram utilizados como nada à atenção à saúde, a saber: condição patológica
critérios de inclusão: que investigasse ou relatasse os fatores prévia, hospitalização, indicação indevida da cateteri-
associados à ocorrência da infecção do trato urinário; estar zação, cuidados com o cateter, tempo de permanência,
disponível no idioma português. Foram excluídos da amos- sexo e idade4,6,7,14-19.
tra os editoriais e as cartas ao editor, pelo entendimento de
que esse modelo de texto não disponibilizava informações
suficientes para o alcance dos objetivos propostos. Discussão
Utilizou-se a seguinte estratégia de busca: cruzamento
das palavras chave “Infecção do Trato Urinário”, “sonda- Condições patológicas prévias para ocorrên-
gem vesical” e “fatores de risco” com os descritores “Sistema cia da ITU
Urinário”, “Bexiga Urinária” e “Fatores de Risco”. Após a
aplicação desses critérios, a busca resultou em 128 publi- Com relação às condições patológicas prévias, que
cações, das quais, após a aplicação dos critérios de inclu- consistem em condições que antecedem e possuem re-
são, 88 foram eliminadas, restando 40 artigos (conforme lação direta com a ocorrência da infecção, os fatores de
Quadro 1). No momento exploratório, foram empreen- risco para ITU estão relacionados à assistência em saúde
didas leituras dos resumos dos artigos, evitando concomi- e diferem dos que estão presentes nas infecções comu-
tantemente aqueles duplicados e indexados em mais de nitárias. Nestas, os fatores de risco estão relacionados
uma base. Do montante dos 40, 9 foram utilizados, sen- principalmente à predisposição do paciente, ao passo
do 71,7,9,10,11,15,17 oriundos da base de dados SciELO, 12 da que nas ITU relacionadas à atenção à saúde podem estar
LILACS e 16 da MEDLINE. Esses 91,2,6,7,9,10,11,15,17 foram associados aos pacientes ou procedimentos diagnósticos
utilizados para constituir o corpus da discussão por apre- e terapêuticos 15.
sentarem maior afinidade com o tema proposto. Um exemplo das patologias prévias que atuam como
fatores de risco para a ocorrência da ITU são as con-
dições que provocam um esvaziamento incompleto da
Resultados bexiga, como as anormalidades anatômicas ou fisiológi-
cas, as más formações congênitas, o estreitamento ure-
O Quadro 1 apresenta os artigos encontrados em tral, a hipertrofia prostática, o divertículo de bexiga, a
periódicos e bases de dados da BVS. cistocele e o refluxo vesicoureteral. Incluem-se ainda as
Após a leitura seguindo a sistematização orga- patologias neurológicas e obstrutivas devido à existência
nizacional conforme a metodologia proposta, foi de cálculos7.

Quadro 1: Distribuição e quantidade de artigos por periódicos e bases de dados com respectivas áreas temáticas e ano de publicação.
Periódico/BD Qa Ap At
Revista Latino-americana de 2 1996/2010 Enfermagem
Enfermagem /SciELO
Revista Associação Medica 6 1999/2001/2003/ Medicina
Brasileira/SciELO 2004/2004/2007
Revista Brasileira Ginecologia e 1 2002 Medicina
Obstetrícia/SciELO
Arquivos Catarinenses de 3 2003/2006/2006 Medicina
Medicina/LILACS
Jornal de Pediatria/SciELO 2 2003/2003 Medicina
Arquivos de gastroenterologia e 1 2005 Medicina
endoscopia digestiva/SciELO
Jornal Brasileiro de Patologia 3 2005/2005/2009 Medicina
Médica/SciELO
Revista Brasileira de Análises 11 2005/2006/2006/2006/2008/2008 Farmácia
Clínicas/LILACS /2009/2009/2010/2011/2011
Revista Panamericana de 1 2005 Medicina
Infectologia/SciELO
continua...

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Quadro 1: Continuação.
Periódico/BD Qa Ap At
Acta Médico/MEDLINE 1 2006 Medicina
Revista Brasileira Saúde
1 2007 Medicina
Materno Infantil/SciELO
Revista Brasileira de
1 2007 Enfermagem
Enfermagem/SciELO
Revista Brasileira de Terapia
1 2007 Medicina
Intensiva/SciELO
J Obstet Gynaecol Res/
1 2007 Medicina
MEDLINE
Ciência, Cuidado e Saúde/
1 2007 Enfermagem
LILACS
Revista Paranaense de Medicina/
1 2007 Medicina
SciELO

Revista Brasileira de Clinica


1 2010 Medicina
Médica/LILACS
Revista da Escola de
1 2011 Enfermagem
Enfermagem da USP/SciELO
Texto e Contexto/SciELO 1 2011 Enfermagem
Fonte: Biblioteca Virtual de Saúde.

Os aspectos da ITU no meio hospitalar expostos a outros fatores de risco, tais como: procedi-
mentos invasivos, cirurgias complexas, drogas imunos-
Quanto à hospitalização, os pacientes internados supressoras, antimicrobianos e interações com a equipe
em instituições de saúde estão expostos à coloniza- de saúde e os fômites1.
ção por parte de uma ampla variedade de micro-or- Outro fator de risco identificado foi a indicação
ganismos patogênicos, principalmente em Unidade indevida da cateterização. Existe um conjunto de in-
de Terapia Intensiva (UTI), pois nesse setor o uso de dicações que devem ser consideradas antes de uma ca-
antimicrobianos potentes e de largo espectro e os pro- teterização vesical, que objetivam estabelecer critérios
cedimentos invasivos são rotineiros, incluindo a cate- para a realização do procedimento, visando a evitar o
terização vesical15. uso indevido7. Entre essas indicações estão as condi-
Salienta-se que o ambiente hospitalar é inevitavel- ções em que o paciente apresenta retenção urinária de
mente um grande reservatório de patógenos oportunis- forma aguda, relacionada concomitantemente ao uso
tas, de modo que as infecções hospitalares podem ser de anestésicos em cirurgias ou à sedação, prévia à re-
adquiridas não apenas por pacientes, que apresentam alização de alguns procedimentos invasivos. Incluem-
maior susceptibilidade, mas também, embora menos se ainda nesse nicho os traumas envolvendo o trato
frequentemente, por visitantes e funcionários do pró- urinário7.
prio hospital15. Outra indicação é a presença de obstruções crônicas
A maioria dos casos de ITU relacionada à atenção à da via urinária, tais como a estenose uretral, hiperplasia
saúde em instituições hospitalares ocorre após cateteri- prostática obstrutiva e tumores. Nesse caso, a cateteri-
zação do trato urinário. Cerca de 80% das ITU no am- zação crônica é indicada com o intuito de assegurar a
biente hospitalar são associadas ao uso de cateter vesical, eliminação vesical sem provocar desconforto ou dor no
e entre 5% e 10% são causados por outras manipula- paciente2,9.
ções da área. Aproximadamente 10% dos pacientes são A cateterização vesical também é indicada em si-
cateterizados durante internação hospitalar, com uma tuações que necessitem de controle preciso de débito
permanência média de 4 dias10,11. urinário, por exemplo em pacientes com instabilidade
Os pacientes sondados cronicamente fora do am- hemodinâmica em UTI, ou durante os procedimentos
biente hospitalar possuem um risco de infecção con- cirúrgicos no período perioperatório, com o intuito de
sideravelmente inferior. Os pacientes internados, além assegurar a asepssia do procedimento6. Finalmente, seu
de intrinsecamente mais vulneráveis à infecção, são uso é indicado em pacientes que requerem imobilização

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prolongada (fraturas pélvicas; lesões potencialmente falar, tossir ou espirrar, assim como o contato da tornei-
instáveis da coluna torácica ou lombar), ou aqueles que, ra de drenagem com o recipiente de coleta15.
dentro ou fora dos serviços de saúde, possuem sequelas
de injúrias neurológicas que implicam em limitação de
movimentos espontâneos10,11. Prevalência da ITU na assistência à saúde
Conterno et al.17 relataram em sua pesquisa que 13%
dos pacientes tiveram a indicação da cateterização vesi- Estima-se que entre 17 e 69% das ITU associadas ao
cal considerada inapropriada, e em 41% a manutenção cateter possam ser prevenidas com medidas de controle
foi além do período necessário. A indicação indevida da de infecção recomendadas, o que significa que até 380
cateterização favorece a ocorrência de ITU, pois implica mil infecções e 9 mil mortes relacionadas com ITU por
exposição do paciente a um procedimento invasivo com ano poderiam ser prevenidas7.
potenciais riscos para a ocorrência de infecção17. O tempo de permanência da sondagem vesical é um
Antes da decisão por uma cateterização vesical, al- importante fator de risco para a ocorrência da ITU:
guns serviços preconizam a adoção de medidas não in- quanto mais prolongado, maior a colonização local e
vasivas que tentam estimular a micção espontânea em o risco de infecção9. São classificados como de curta
pacientes que apresentam essa possibilidade, as quais permanência (1 a 7 dias) em pacientes pós-operados,
consistem em técnicas alternativas, como proporcionar de média permanência (7 a 30 dias) em pacientes cri-
um ambiente privativo e confortável, induzir o paciente ticamente enfermos e de longa permanência (mais de
a ouvir barulho de água corrente, mergulhar as mãos em 30 dias) em pacientes com continência ou obstrução
água aquecida, irrigar o períneo com água aquecida e urinária19. A sondagem urinária por período superior
aplicar compressas quentes na região suprapúbica2. a sete dias é associada ao desenvolvimento de ITU em
A ausência dos cuidados com o cateter emerge en- até 25% dos pacientes, com risco diário de 5%7,9,15.
quanto um fator de risco importante quanto à própria Portanto, a duração do cateterismo é, provavelmente,
cateterização. Essa categoria de cuidados abrange desde o fator de risco mais importante para a instalação da
o procedimento de inserção até os cuidados desenvolvi- bacteriúria relacionada ao cateter vesical de demora1.
dos para a manutenção do cateter, os quais preservam a Mesmo com o sistema de drenagem fechado, a bacteri-
assepsia do local, bem como dos dispositivos que com- úria ocorre inevitavelmente ao longo do tempo através
põe o sistema de drenagem7. de interrupções no sistema de estéril ou da route ex-
Os cuidados preconizados com o intuito de preser- traluminal7. Nesse sentido, é necessário questionar a real
var assepticamente os cateteres urinários são a inserção necessidade da permanência da cateterização vesical10,11.
asséptica do cateter urinário e a manutenção do sistema Quanto ao sexo e à idade, as ITU acometem homens
de drenagem fechado. Em caso de desconexão, deve-se e mulheres em qualquer faixa etária, no entanto, inci-
substituir o cateter e sistema de coleta e assegurar que o dem em maior frequência em mulheres. Essa condição
fluxo de urina esteja desobstruindo o cateter, manten- deve-se a alguns fatores intrínsecos ao sistema urinário
do-o junto do tubo coletor, livre de dobras7. feminino quando relacionado ao masculino, como a ex-
A inserção do cateter é considerada um procedimen- tensão da uretra e a colonização da região periuretral15.
to invasivo que deve ser realizado em condições assépti- Evidências indicam que os grupos de pessoas com maior
cas, em que o uso das precauções padrão é obrigatório2. risco para ITU e decorrente óbito são as mulheres,
Entre os cuidados imprescindíveis para a prevenção idosos e os pacientes com imunidade comprometida7.
de infecções destacam-se: higienizar as mãos com água A prevalência de ITU aumenta em homens com ida-
e sabão todas as vezes em que for haver manipulação da de acima de 50 anos, provavelmente devido à hipertro-
sonda; realizar higiene local pelo menos uma vez ao dia fia da próstata e instrumentação do trato urinário infe-
com água e sabão; não usar pomadas com antibióticos rior que é mais frequente nessa faixa etária11.
ou antissépticos na área periuretral nas higienizações de Em relação à faixa etária, as doenças infecciosas re-
rotina; esvaziar a bolsa coletora sempre que estiver com presentam uma ameaça significativa de morbidade e
dois terços de sua capacidade preenchida; manter o flu- mortalidade às pessoas idosas devido ao comprometi-
xo contínuo e evitar refluxo de urina11. mento das defesas do hospedeiro provocada por uma
Em relação ao sistema coletor, algumas condutas redução na imunidade celular e humoral2. A perda da
são imprescindíveis à prevenção de infecção. A primeira reserva fisiológica relacionada à idade e às doenças crô-
delas é manter em todos os momentos o coletor abai- nicas também contribui para o aumento da susceptibi-
xo do nível da bexiga; não colocar em hipótese alguma lidade, sendo a ITU uma das infecções mais comuns
o coletor no chão; esvaziá-lo regularmente usando um observadas na pessoa idosa. A condição natural de ser
recipiente limpo para a coleta e individualizado para idoso por si só é considerada fator de risco para a ocor-
cada paciente. Ao realizar o procedimento deve-se evitar rência de uma ITU relacionada à assistência à saúde7.

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10 MAIA F. E. S., EVANGeLIsTA A. I. B., VIeIRA A. N.

Nesse diapasão, pode-se concluir que a sondagem 6. Kamilya G, Seal SL, Mukherji J, Bhattacharyya SK,
vesical é um dos principais fatores de risco para a ocor- Hazra A. A randomized controlled trial comparing
rência da ITU, ou o mais apontado pela literatura. short versus long-term catheterization after uncompli-
Entretanto, outros fatores de risco estão presentes na cated vaginal prolapse surgery.J Obstet Gynaecol Res.
ocorrência da infecção. Sendo assim, a equipe de profis- 2010;36(1):154-8.
sionais em saúde precisa estar ciente desses fatores para 7. Roriz-filho JS, Vilar FC, Mota LM, Leal CL, Pisi PCB.
a adoção de medidas de prevenção e controle eficazes. Infecção do trato urinário. Simpósio: Condutas em enfer-
maria de clínica médica de hospital de média complexi-
dade - Parte 1 Capítulo III. Rev Med de Ribeirão Preto.
Conclusão 2010;43(2):118-25.
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tura pesquisada, são: a condição patológica prévia do 9. Oliveira R, Maruyama SAT. Controle de infecção hos-
paciente e suas implicações na imunidade celular e/ pitalar: histórico e papel do estado. Rev. Eletr. Enf.
ou inespecífica; a própria hospitalização, que por sua 2008;10(3):775-83.
vez expõe o paciente a várias alterações em sua vida, 10. Mazzo A, Godoy S, Alves LM, Mendes IAC, Trevizan MA,
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mesmo nos hábitos de higiene; a indicação indevida da culdades relacionadas à sua padronização. Texto contexto.
cateterização, capaz de aumentar exponencialmente o 2011; 20(2):333-39.
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Esta revisão demonstrou que a sondagem vesical 2012;13(1):220-30.
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Como citar este artigo:


Maia FES, Evangelista AIB, Vieira NA. Fatores de risco relacionados à infecção do trato urinário na assistência à
saúde. Rev. Aten. Saúde. 2015;13(46):5-10

Revista de Atenção à Saúde, v. 13, no 46, out./dez. 2015, p.5-10

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