Artigo - Mariane de Oliveira Dias 2710
Artigo - Mariane de Oliveira Dias 2710
Artigo - Mariane de Oliveira Dias 2710
DE PERUÍBE/SP
¹Graduanda em Biomedicina pela Universidade Paulista (UNIP), Santos – SP, Campus Rangel.
²Graduada em Ciências Biológicas Especialista em Saúde Pública pela Universidade de
Ribeirão Preto (UNAERP) – SP, MBA em Gestão de Inovação pelo Instituto Butantan, Mestre
em Ciências pela Coordenadoria dos Institutos de Pesquisa e Doutora pela Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
ABSTRACT
1
INTRODUÇÃO
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crônica e desnutrição, comprometendo o desenvolvimento físico e intelectual
dos indivíduos6,7.
Infecções parasitárias intestinais não são tratadas durante a gravidez,
pois podem causar efeitos adversos para as mães ou para o feto, como por
exemplo, retardo no crescimento fetal, parto prematuro, infecção no feto, na
placenta ou no próprio recém-nascido. Milhares de gestantes, ao redor do
mundo, apresentam infecções entéricas crônicas, porém, é importante ressaltar
que essas infecções raramente interferem na capacidade reprodutiva da
hospedeira gestante5.
Achados parasitológicos positivos, quando analisado grupos de
gestantes, não diferem estatisticamente quando comparado a população em
geral. Estudos apontam uma taxa média de infecção por parasitose de 40%
das mulheres gestantes quando se utiliza apenas uma técnica parasitológica, a
sedimentação por centrifugação10,7.
Dados relacionados à prevalência de parasitoses intestinais em
gestantes, ou são inexistentes ou são subestimados devido à precariedade no
diagnóstico, como por exemplo, o uso de técnicas parasitológicas com baixa
sensibilidade e a falta de profissionais treinados, especificamente em leitura
coprológica, além de outros fatores inerentes ao ciclo do parasito e a coleta do
material para análise, que contribuem para a não detecção da
enteroparasitose7.
Além disso, existe uma diferença nas técnicas empregadas para medir
as taxas de infecções parasitárias, como geralmente é feito em laboratórios
públicos e quando se utiliza mais de um método de detecção, com técnicas
mais específicas7.
O tratamento junto a infecções parasitárias deve ser realizado durante a
gestação7, porém, ainda existem poucos estudos acerca do mesmo. Ainda
assim, a associação entre a gravidez e as parasitoses nos últimos anos, tem
despertado o interesse dos pesquisadores, uma vez que se trata de um grupo
que possui características próprias e transitórias de padrões metabólicos,
endocrinológicos e imunológicos11.
Com relação aos agravos das enteroparasitose em gestantes, como a
anemia2, não foi encontrado qualquer tipo de associação entre essas duas
ocorrências, contudo, a presença de parasitos intestinais em gestantes possa
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levá-las à desnutrição, gerando um agravamento da situação, quando a
gestante é acometida com o quadro de anemia12.
As enteroparasitoses, de modo geral, apresentam sintomas
gastrointestinais, como cólica estomacal, diarréia e vômito. Estudos apontam
que gestantes podem apresentar alguns desses sintomas ou serem
assintomática, sendo fundamental a realização de exame laboratorial para um
diagnóstico preciso, o qual é feito por meio de um exame parasitológico de
fezes13.
Os principais patógenos causadores de enteroparasitoses são os
helmintos ou os protozoários. As denominadas helmintíases que possuem
maiores incidências em humanos são a ascaridíase (A. Lumbricoides), a
enterobiose (E. vermicularis), a ancilostomose (A. Duodenale, A braziliense, N.
americanos) e a entrongiloidíase (S. stercoralis). Já dentre os protozoários, os
mais encontrados são a giardíase (G. Lamblia) e a amebíase (E. Coli, E.
histolytica)14.
Envolvendo todo o contexto abordado até o momento, vale destacar
alguns aspectos relacionados ao papel dos profissionais da saúde no
tratamento da enteroparasitose. Para os mesmos, são de extrema relevância a
realização de projetos educativos e a criação de programas que contribuam
para o controle das enteroparasitoses em algumas regiões subdesenvolvidas,
que são mais acometidas pelos parasitos citados15.
Porém, observa-se que além de todas as medidas técnicas, deve-se
pensar também nas melhorias voltadas às condições socioeconômicas e de
infraestrutura em geral, garantindo assim o engajamento comunitário,
implementando e desenvolvendo a partir deste, políticas públicas e programas
de controle de sucesso16.
A hipótese é de que há necessidade da implementação de políticas de
saúde pública para que se possam alcançar, de fato, melhorias gerais voltadas
ao acometimento de doenças causadas por parasitos, como no caso da
enteroparasitose. A falta de tais melhorias e mudanças no cenário
socioeconômico do país, assim como a criação de políticas públicas, são os
principais fatores que contribuem para a grande quantidade de parasitoses
desenvolvidas junto à população mais carente.
4
Com base nesses pensamentos o objetivo do trabalho é apresentar, por
meio de uma análise de dados secundários, o perfil epidemiológico das
gestantes que apresentarem diagnóstico de enteroparasitoses, destacando as
principais espécies e formas biológicas encontradas, além de características
dos exames hematológicos.
As condições de vida da população, de modo geral, incluído saneamento
básico e higiene, são os principais fatores determinantes para a transmissão de
parasitos intestinais. Essas parasitoses podem agravar a saúde dos indivíduos,
e quando acometidas junto a outros problemas de saúde, a mesma pode
ocasionar outros tipos de patologias e agravos daquelas já existentes. Tal fato
pode acontecer no caso das gestantes, que devem receber um tratamento
mais específico e adequado, quando acometidas por enteroparasitoses
intestinais.
Assim, justifica-se a realização do trabalho em questão a partir da
necessidade de compreender quais são as enteroparasitoses que acometem
este público, realizando uma análise de dados dos exames coprológicos e
hematológicos, correlacionando possíveis alterações de dosagens de
hemoglobinas e eosinófilos ao quadro de gestante, uma vez que existem
poucos estudos que abordam este assunto e os tratamentos para esse grupo
nos dias atuais.
MÉTODOS
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Santista, Peruíbe está dentre as que possuem melhor avaliação no IDH,
obtendo índice superior aos de Itanhaém, Cubatão e Bertioga que tiveram,
respectivamente 0,745, 0,737 e 0,730 no IDH (17). O IDH de longevidade de
Peruíbe tem índice de 0,854, seguido de renda com um índice de 0,7318.
A cidade de Peruíbe possui uma quantidade relativamente considerável
de moradores e, segundo o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS),
cerca de 26,3% da população19 encontra-se em situação de alta fragilidade
social. Grande parte da cidade ainda não possui serviços de saneamento
básico, como coleta de esgoto domiciliar, favorecendo assim, uma maior
vulnerabilidade ao contágio com micro-organismos que são precursores de
doenças parasitológicas.
A população de estudo foi constituída por gestantes, residentes no
município de Peruíbe, com diagnóstico laboratorial confirmado para
enteroparasitoses, no período de 01 de janeiro de 2019 a 31 de dezembro de
2020.
Define-se como resultado positivo para doença parasitária aquele cujo
laudo confirme a presença de enteroparasitas, relatando a presença das
formas biológicas encontradas (ovos, cistos, oocistos, trofozoítos, vermes
adultos, larvas), bem como o gênero/espécie.
Foi usado o termo “coinfecção enteroparasitológica” á gestante que
apresentar a presença de mais de um tipo de enteroparasita no exame
realizado.
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Para a interpretação dos exames hematológicos considerou-se as
alterações no nível de hemoglobina, que quando estão abaixo do esperado,
reduzem a quantidade de hemácias no sangue. No caso da hemoglobina os
valores de referência são: Homens: 14 a 18 g/dL; Mulheres: 12 a 16 g/dL;
Grávidas: 11 g/dL.
Também será verificado o número de eosinófilos que, quando estão
acima do normal, podem identificar alergias, asmas ou dermatite atópica.
Os valores normais de eosinófilos no sangue são: Valor absoluto: 40 a 500
células/ µL de sangue - é a contagem total das eosinófilos no
sangue; Valor relativo: 1 a 5% - é a porcentagem dos eosinófilos em relação às
outras células do leucograma.
As fontes de dados utilizadas na pesquisa foram:
Sistema TM Interface – base de dados laboratoriais com a
finalidade de interfaceamento dos exames realizados no Município
de Peruíbe/SP, como fonte de casos confirmados de
enteroparasitoses.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como fonte de
dados demográficos utilizados para os cálculos de taxas de
incidência e de mortalidade.
A coleta de dados de interesse foi feita a partir da identificação dos
indivíduos que cumprem os critérios de inclusão apresentados, no sistema TM
Interface.
Após, as informações foram transportadas para a planilha de dados
Excel, onde será aplicado filtros específicos à fim de levantar as informações
pertinentes a variáveis de interesse. Em seguida foi feita uma análise descritiva
das principais características dos casos, em conformidade com as variáveis de
interesse abordadas.
Para a estimativa da taxa de incidência anual média das
enteroparasitoses na população de estudo, foi considerado como “numerador”
os casos detectados e como “denominador”, a média de gestantes do
município no período de estudo, dividindo-se em seguida a taxa de incidência
do período por dois.
Como principais limitações do estudo, diante de um estudo de dados
secundários, podem destacar o preenchimento incompleto da requisição de
7
exames e o preenchimento incorreto dos dados no sistema TM Interface, pois a
não seleção do campo de “gestante”, pode acarretar na perda de informações.
RESULTADOS
A partir dos principais dados obtidos com a realização do trabalho foram
identificadas a quantidade de gestantes identificadas dentre o público em geral,
que apresentaram resultados positivos em exames coprológico e hematológico,
dados apresentados na Tabela 1, que compreende o período de janeiro de
2019 a dezembro de 2020.
Resultado do exame
Público Geral Gestante em gestantes
Mês e Ano (n=16,953) (n=1622)
(n=%) (n=9,57)
Positivo Negativo
8
Postivas
9%
Total
50%
Negativas
41%
9
Torre 6 (4,00)
Trevo 16 (11,00)
Veneza 8 (6,00)
Vila Peruibe 10 (7,00)
Ovos de Enterobius
Vermiculares
0%
Cisto de
Ovos de Ascaris endolimax
Lumbricoides nana
13% 10%
Cisto de Giardia
Lamblia
20% cisto de entamoeba coli
57%
10
DISCUSSÃO
Durante o estudo realizado foi possível observar que as gestantes
representaram um total de 144 novos casos de enteroparasitoses no período
de 01 de janeiro de 2019 à 31 de dezembro de 2020, na cidade de Peruíbe no
Litoral de São Paulo.
Dentre esses os exames indicaram a presença de cistos de Entamoeba
coli e cistos de Giárdia lambia como enteroparasitoses mais prevalentes, ao
contrário do que indicam os estudos de Macedo e Rey7 realizado na cidade do
Rio de Janeiro, e Lodo no interior de São Paulo20.
O primeiro revelou que no Rio de Janeiro a prevalência em gestantes é
dos parasitas Áscaris lumbricoides e Trichuris trichiura7. E o segundo que os
parasitas mais frequentes em gestantes na região analisada foi o protozoário
Endolimax nana20, que também foram revelados cistos do mesmo no estudo
realizado em Peruíbe.
Já no estudo de Souza et al21, revelou a maior incidência dos parasitas
Entamoeba histolytica e Áscaris lumbricoides. Segundo os autores, a maioria
das gestantes que participaram do estudo se mostraram anêmicas e
desnutridas, porém, não revelaram se há ou não associação entre ambas
ocorrências.
Neves et al22 revelaram que as gestantes podem apresentar quadros
graves em decorrência de parasitoses, sendo importante averiguar o seu
acometimento, algo que pode ser realizado por meio de exames
hematológicos, como no estudo aqui desenvolvido.
Em um estudo desenvolvido por Silva et al.23, participaram 100 gestantes
e a partir dos exames desenvolvidos, os resultados apontaram incidência de
ascaridíase, esquistossomose, ancilostomíase, enterobíase e teníase, dentre
eles a mais recorrente foi a ascaridíase, que perfez um total de 70%.
Macedo e Rey7 realizaram o seu estudo com um total de 795 mulheres
de faixa etária compreendida entre 15 e 34 anos. Já o estudo aqui realizado
compreendeu uma gama maior de mulheres, principalmente com relação à sua
faixa etária, envolvendo de 10 a 50 anos de idade, e em todas as fases foram
detectadas alterações parasitológicas. Contudo, a idade de maior incidência foi
de 21 a 25 anos, período que também compreende os estudos de Macedo e
Rey7.
11
23
Silva et al. revelou que a faixa etária compreendida no estudo variou
de >15 a <30 anos de idade e as que apresentaram maior valor de
enteroparasitas foram as gestantes até 25 anos. Algo que pode ser relacionado
ao número encontrado a partir da realização da pesquisa em questão.
Nesse mesmo sentido o estudo de Einloft et al24 foi desenvolvido com
gestantes na faixa etária de 20 a 35 anos, dentre as quais a idade de 21 a 34
anos apresentou a presença de parasitas durante a gestação. De um total de
246 mulheres estudadas, 173 (70,33%) não realizaram exames de fezes
durante a gestação. Porém, das que fizeram, 18 (24,67%) se encontravam
parasitadas e os parasitas mais comuns foram Entamoeba Coli e Entamoeba
histolytica.
CONCLUSÃO
Observa-se que as infecções parasitárias são frequentes em várias
regiões do Brasil durante o período gestacional das mulheres, o que tem sido
associado diretamente com hábitos e condições socioeconômicas da
população, de modo geral.
O estudo em questão revelou que a maioria das mulheres com idade
entre 21 e 25 anos tem maior incidência de enteroparasitoses, dentre as quais
se destacam a presença de cisto de Entamoeba coli em sua maioria. Além
disso, o trabalho apontou que o bairro onde há maior incidência na cidade de
Peruíbe é no Ribamar.
A partir de todas as análises realizadas, foi possível concluir que em
Peruíbe há uma grande incidência de gestantes com enteroparasitoses. Tais
acometimentos podem estar relacionados á diversas formas de ocorrências
possíveis e necessitam de tratamento adequado, programas de correção das
deficiências públicas, como o acesso ao saneamento básico, a moradias
dignas e melhores condições de vida à população, enfatizando a necessidade
de preservar e garantir a vida da mulher e do bebê durante a gestação e
também da população de um modo geral.
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AGRADECIMENTOS
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REFERÊNCIAS
1 Kirk MD et al. World Health Organization estimates of the global and regional diseaseburden
of 22 food-borne bacterial, protozoan and viral diseases, 2010: A Data Synthesis. PLoS Med,
12 (12), 2015.
5 Santos MC et al. Enteric parasites and commensals in pregnant womenseenat the University
hospital, federal University of Uberlândia, Sate of Minas Gerais, Brazil. Rev. Inst. Med. Trop.
São Paulo, 40 (3), 1998.
12 Barua RN, Foll CV. Anemias of pregnancy in Upper Assam and Upper Burma. J. Trop Med
Hyg, v. 63, 1960.
14 Motta MEFA, Silva GAP. Diarreia por parasitas. Rev. Bras. Saúde MaterInfant, 2(2) Recife,
2002.
15 Stratton JA, Miller RD, Schmidt P. Effect of maternal parasiticdisease on the neonate. Am J
ReprodImmunol Microbiol. 8 (4), 1985.
18 Brasil. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Peruíbe [internet]. 2012. Disponível em:
<https://atlasbrasil.org.br/consulta/map> Acesso em 28 abr. 2021
14
19 Indice Paulista de Vulnerabilidade Social. IPVS. Estado de São Paulo e Município de
Peruíbe.2010. Disponível em:
<http://ipvs.seade.gov.br/view/index.php?prodCod=2&selTpLoc=2&selLoc=3537602|-
24.26449336927064|-46.96895599365235&codSetor=353760205000082> Acesso em 28
abr. 2021.
23 Silva JCB et al. Conhecimentos sobre enteroparasitoses entre gestantes atendidas em uma
unidade de saúde de Maceió – AL em 2017. Revista Principia, (50), 2020.
24 Einloft ABN et al. Efeito das infecções parasitárias e da anemia materna sobre o peso ao
nascer de crianças no município de Viçosa, MG. Revista Médica de Minas Gerais, 20 (3),
2010.
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