Hemogram A

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H E M O G RAM A

O hemograma compreende a contagem das células do sangue periférico (hemácias, leucócitos e


plaquetas) e a contagem diferencial dos cinco tipos leucocitários, além da quantidade dos valores
da hemoglobina e do hematócrito e ainda o do cálculo dos índices hematimétricos.

I ) - ERITROGRAMA

É a parte do exame hematológico que avalia especificamente a série vermelha, através dos
seguintes parâmetros: número de glóbulos vermelhos, dosagens de hemoglobina e hematócrito e
índices hematimétricos. O eritrograma permite o diagnóstico e o acompanhamento das anemias e
poliglobulias.

Define-se anemia como “ o estado no qual a concentração de hemoglobina sanguínea é menor do


que o limite inferior de referência para a idade e sexo do paciente ”; em geral, considera-se como
anemia os níveis de hemoglobina :
abaixo de 13,5g/dl em homens e de 11,5g/dl em mulheres adultos
Ao nascimento, como os recém-nascidos têm níveis altos de hemoglobina, considera-se
15,0g/dl o limite inferior de referência.
Dos três meses de idade até a puberdade, níveis abaixo de 11,0g/dl indicam anemia.

Quando a concentração de hemoglobina diminui, geralmente diminuem também as contagens de


glóbulos vermelhos do sangue.

Poliglobulia é a condição na qual a concentração de hemoglobina sanguínea é maior do que o


limite superior de referência para o sexo e idade do paciente; considera-se, geralmente, valores
acima de 18g/dl e de 16g/dl para homens e para mulheres adultos, respectivamente. Ao
nascimento, as crianças são fisiologicamente poliglobúlicas, considerando-se como limite
superior da normalidade, nessa faixa etária, valores de até 22g/dl.

Os índices hematimétricos são valores fornecidos pelo contador eletrônico de células que ajudam
a caracterizar o quadro anêmico. Eles podem ser calculados pelas relações apresentadas no
quadro 1:

ÍNDICE CÁLCULO SIGNIFICADO


VCM Ht/GV Tamanho da hemácia
Volume corpuscular médio
HCM ( pg ) Hb/GV Cor da hemácia
Hemoglobina corpuscular
média
CHCM ( % ) Hb/Ht ou HCM/VCM Cor da hemácia
Concentração de hemoglobina
corpuscular média
RDW (% ) ________ Anisocitose
Cell distribution width
Ht ( % ) GV x VCM Volume eritrocitário
Hematócrito
Hb = hemoglobina GV = glóbulos vermelhos pg = picograma
O hematócrito corresponde, em porcentagem, ao volume de hemácias em relação ao volume total
de sangue. Ao mesmo número de hemácias podem corresponder valores de hematócrito
diferentes, conforme o estado de hidratação do indivíduo:
desidratação e redução no volume plasmático geram valores mais elevados;
hipervolemia e aumento no volume plasmático resultam em valores menores.

O número de hemácias, isoladamente, não tem grande valor, mas é fundamental para o cálculo
dos índices. Nos aparelhos automatizados, o hematócrito é calculado e não medido diretamente
e, por esta razão, não é um índice adequado para se avaliar anemia.

Os índices hematimétricos avaliam as hemácias em relação ao tamanho e conteúdo de


hemoglobina, auxiliando na caracterização dos quadros anêmicos. Os contadores automatizados
medem o VCM (volume corpuscular médio) e calculam os demais índices, razão pela qual o
VCM e a hemoglobina são os parâmetros de escolha para avaliação da anemia.

O VCM é um índice de tamanho da hemácia:

Hemácias com VCM abaixo de 80 : são consideradas microcíticas,


Valores acima de 95 : indicam macrocitose;
O VCM é normal nas chamadas hemácias normocíticas.

De maneira geral, as alterações no tamanho das hemácias são referidas como anisocitose
(microcitose e macrocitose).

Recentemente, o uso de aparelhos automatizados permitiu a introdução de um novo índice, o


RDW - red cell distribution width, o qual corresponde à amplitude de distribuição do tamanho
das hemácias. É mais um índice de anisocitose, indicando o quanto a população de hemácias se
desvia do tamanho médio.

HCM e CHCM são índices de cor, refletindo a concentração de hemoglobina presente nas
hemácias.
Valores de CHCM abaixo de 30%: indicam hipocromia, condição em que as hemácias estão
menos coradas que as normais por apresentarem uma concentração hemoglobínica subnormal.

A classificação hematimétrica das anemias relaciona índices de cor e tamanho:

As anemias hipocrômicas geralmente são microcíticas; um exemplo desta condição é a


anemia ferropriva, já que o ferro é fundamental para o processo normal de
hemoglobinização das hemácias.

As anemias normocrômicas e normocíticas apresentam índices de cor e tamanho


normais, porém, a concentração de hemoglobina e o número de glóbulos vermelhos são
anormais; é o caso das anemias da doença crônica ou por sangramento agudo.

As anemias macrocíticas apresentam VCM acima do limite superior de referência; um


exemplo é a deficiência de vitamina B e/ou de folato, os quais são cofatores
indispensáveis para a maturação nuclear normal dos precursores eritrocíticos.

Precursores:
Os precursores das hemácias maduras são os chamados eritroblastos, células nucleadas
que se encontram, normalmente, apenas na medula óssea; tais células só passam ao
sangue periférico em condições de estímulo aumentado à gênese da série vermelha, como
por exemplo na anemia hemolítica.
O precursor imediato da hemácia madura é o reticulócito (nl =1 a 2%; no RN é mais
elevado: a termo, 5%, prematuro, até 10%, normaliza-se ao fim da primeira semana),
célula anucleada com restos ribossômicos em seu citoplasma e cuja contagem é útil para
se avaliar a formação de novas hemácias.
 Reticulócitos acima de 2,0% indicam maior estímulo à eritrogênese: anemias
hemolíticas, pós-hemorrágicas. Reticulócitos também aumentam nas anemias ferroprivas
quando se administra ferro (modo indireto de se diagnosticar anemia ferropriva)
 Contagem inferior a 0,5% sugere falta de produção medular de glóbulos vermelhos
(provável anemia ferropriva ou aplástica).

Alterações de forma , cor e tamanho de hemácia:

A avaliação da série vermelha inclui o exame microscópico do esfregaço sanguíneo, porque


muitas alterações morfológicas de importância diagnóstica não são identificadas apenas pelas
contagens e cálculo dos índices. A observação microscópica das hemácias pode fornecer
informações adicionais importantes, sendo particularmente útil no diagnóstico das anemias.

Alterações da forma:

anisocitose é a variação de tamanho das hemácias, medida pelos índices VCM e RDW
poiquilocitose é a variaçâo da forma das hemácias
Alterações de forma das hemácias podem sugerir tipos específicos de anemias,
necessitando-se eventualmente de outros exames para confirmação diagnóstica. São tipos
de poiquilócitos: esferócitos (esferocitose hereditária), ovalócitos (ovalocitose), hemácias
em alvo (talassemia ou HbC), hemácias em lágrima ou dacriócitos (mielofibrose),
estomatócitos (estomatocitose), esquizócitos (coagulação intravascular disseminada,
prótese valvar, microangiopatia), equinócitos ou crenadas (uremia), acantócitos
(dislipidemia) e hemácias em foice ou drepanócitos (anemia falciforme).

Alterações da cor:
hipocromia e hipercromia referem-se à variação de cor e são indicadas pela CHCM
o termo policromasia refere-se à cor azulada que as hemácias mais jovens – reticulócitos
- assumem quando presentes no sangue periférico.

Atenção:
A anemia carencial ferropriva é a mais comum das anemias da infância
A idade de aparecimento geralmente é de 6meses a 2 anos, com pico de 6 a 10 meses, mas
os sintomas geralmente se tornam evidentes mais tarde
São fatores de risco: prematuridade ou baixo pesos ao nascer, anemia materna, ingestão
exagerada de leite de vaca (ou de cabra), dieta prolongada com mamadeiras (atraso em
iniciar alimentos sólidos), perda gastrointestinal ( diarréia crônica, ancilostomíse, RGE,
alergia a leite de vaca, anomalias anatômicas, úlcera péptica).
É HIPOCÔMICA E MICROCÍTICA COM REICULÓCITOS BAIXOS E RDW
ELEVADO
Adinamia, fraqueza, desânimo, mau desempenho físico e escolar são comuns. Pode haver
vontade de comer terra ou gelo. Esplenomegalia pode ser palpada em 15% dos doentes.
Deficiência de ferro está relacionada com déficit de aprendizado, menor desempenho
intelectual e de atenção, tanto em crianças quanto em adolescentes.
Geralmente e microcitose e hipocromia e poiquilocitose mais a história clínica são
suficientes para o diagnóstico e início do tratamento. Quando a história é típica e a palidez
inquestionável o tratamento pode ser iniciado mesmo antes do resultado do laboratório
Quando persiste dúvida estuda-se o ferro sérico e suas proteínas transportadoras
 O ferro sérico está baixo na anemia ferropriva mas em lactentes seu valor se
superpõe à faixa normal, portanto, O FERRO SÉRICO ISOLADO É UM MAU
MARCADOR DE ANEMIA FERROPRIVA (o valor limite normal varia com a
idade)
 A ferritina sérica é a proteína que se liga ao ferro nos tecidos. Reflete o total de
ferro no organismo. Está diminuída na anemia ferropriva, exceto nos casos
associados de infecção/inflamação. O valor da Ferritina Sérica pode ter aumento
de duas a quatro vezes na presença de infecções e processos inflamatórios , o que
faz diminuir o seu valor diagnóstico.
 Quase todo o ferro do soro está ligado à transferrina, a proteína de transporte do
ferro. Na anemia ferropriva aumenta muito a síntese de transferrina para
compensar o transporte e a absorção. Valor normal varia de 300 a 360 microg/dL
 O índice de saturação da transferrina é baixo.Valores abaixo de 10% da saturação
de transferrina são indicativos de anemia ferropriva, entre 10 e 16%, duvidoso e
acima de 16% normal.

Atenção:

Suspeitar de anemia hemolítica quando no hemograma aparecerem sinais de estímulo


acentuado à eritropoiese, como presença de:
eritroblastos circulantes (precursores nucleados das hemácias)
inclusões no citoplasma das hemácias:
 corpúsculos de Howell-Jolly (restos de cromatina nuclear)
 pontilhado basófilo (restos ribossômicos, instabilidade do RNA)
 anel de Cabot (restos de membrana nuclear)
 corpúsculos de Pappenheimer (grânulos contendo ferro
II ) - LEUCOGRAMA

É a parte do hemograma que inclui a avaliação dos glóbulos brancos. Compreende as contagens
global e diferencial dos leucócitos, além da avaliação morfológica do esfregaço sanguíneo ao
microscópio.

Este exame está indicado no diagnóstico e acompanhamento dos processos infecciosos, inf
lamatórios, alérgicos, tóxicos e neoplásicos.

Os valores de referência para leucócitos totais e para os diferentes tipos leucocitários variam com
a idade. Crianças costumam apresentar contagens globais mais altas, com porcentagens relativas
de linfócitos superiores às dos adultos, diferença esta que tende a desaparecer após a puberdade.

número global de leucócitos é alto no recém-nascido, e começa a cair ano fim de 2 ou 3 dias.

Leucopenia é definida pela contagem de leucócitos abaixo de 4 000 por mm3


Leucocitose corresponde à contagem acima de 10 000 leucócitos por mm3.

A contagem relativa dos leucócitos é de uso corrente na prática clínica, mas pode não traduzir
uma real alteração; esta deve ser comprovada pela contagem absoluta, a qual considera o número
global dos leucócitos.

Os glóbulos brancos podem ser classificados em:


granulócitos : neutrófilos (segmentados), eosinófilos e basófilos. Os neutrófilos jovens
são formas não segmentadas (bastonetes, metamielócitos, mielócitos e pró-mielócitos)
não granulócitos :linfócitos e monócitos.

O número global de leucócitos no RN é alto e começa a cair no fim de 2 a 3 dias.

Valores hematológicos normais no RN:


Ao nascer 12 horas 24horas >72h
Neutrófilos totais 1.800-5.000 8100-14.400 7.000-12600 1.800-5.400
(bastões +
segmentados)
Neutrófilos 1.100 1.400 >60h:
imaturos 800
(bastões)

Fórmula leucocitária

 Na fórmula do RN predominam os neutrófilos (segmentados), mais ou menos até o


décimo dia. A partir dessa época:

 2 semanas a dois anos: 30% de segmentados 1:2


60% de linfócitos (predomínio de linfócitos)

 aos 3 ou 4 anos: equilíbrio


 10 ou 12 anos: semelhante ao adulto:

60% de segmentados (predomínio novamente) 2:1


30% de linfócitos

O aumento de segmentados é denominado de neutrofilia e ocorre principalmente nas infecções


bacterianas .

Cada um dos tipos de leucócito está envolvido com uma função particular.

Desvio à esquerda corresponde ao aparecimento, no sangue periférico, de precursores


granulocíticos, que normalmente se localizam na medula óssea. Estes precursores
incluem os bastonetes, os mielócitos e os metamielócitos.
O desvio à esquerda ocorre em resposta aos processos infecciosos bacterianos ou na
leucemia mielóide crônica nos primeiros existe um desvio escalonado por todos os
precursores.

Na avaliação dos resultados devem-se considerar os valores de referência para idade, sexo e
etnia, bem como as condições de coleta do sangue. Situações de estresse, gravidez, exercício
físico, alimentação e uso de corticóides podem aumentar a leucometria, mais especificamente o
número de neutrófilos circulantes.

Leucocitose – aumento global de leucócitos – verifica-se:

Na maior parte dos casos de infecções bacterianas, agudas e crônicas.


Nas infecções bacterianas supuradas
Na coqueluche, no fim do período catarral e no começo do paroxístico ( atinge
de 15.000 a 45.0000), havendo predomínio de linfócitos
Na mononucleose infecciosa, há elevação de leucócitos a partir da segunda
semana, podendo exceder 30.000, e linfocitose, com presença de linfócitos
atípicos
Na cetoacidose diabética ( na ausência de qualquer processo infeccioso), cifras
podem atingir 20.000 a 30.000.
NAS INFECÇÕES BACTERIANAS SÃO OBSERVADOS:
leucocitose por neutrofilia (aumento dos neutrófilos) ;
desvio à esquerda escalonado dos neutrófilos: corresponde à
presença de neutrófilos jovens, as formas não segmentadas
(bastonetes, metamielócitos, mielócitos e pró-mielócitos), no
sangue periférico. O desvio é dito escalonado quando existe
predomínio dos neutrófilos mais maduros.
alterações tóxico-degenerativas nos neutrófilos: caracterizadas pela
presença de granulações tóxicas, corpúsculos de Döle e vacúolos no
citoplasma dos neutrófilos
eosinopenia

A resolução do processo infeccioso caracteriza-se por:


diminuição do número de neutrófilos
aumento do número de linfócitos
retorno de eosinófilos
Tanto o desvio à esquerda quanto as granulações tóxicas são indicadores do aumento da
produção e da velocidade de maturação dos neutrófilos pela medula óssea. Esta reação é
comumente associada às infecções graves como pneumonias, endocardites, peritonites,
pielonefrites, abscessos, etc. O surgimento de leucopenia no curso destas infecções é um sinal
de mau prognóstico.

Alterações hematológicas na sepse do recém-nascido:


 Leucopenia: < 5000 ou Leucocitose: > 25000
 Neutropenia (diminuição de neutrófilos) : < 2500
 Granulocitopenia :< 500 (mau prognóstico)
 Granulações tóxicas e vacúolos neutrofílicos
 Bastonetose: mais de 1400 bastões entre 12 e 18 horas de vida e após maior
que 800
 Ìndice neutrofílico: relação Nº bastões/neutrófilos totais maior que 0,2 (mais
sensível; sensibilidade maior que 90% e valor preditivo negativo em 100% dos
RN normais
 Plaquetopenia: <100.000 (tardio)

As leucocitoses reacionais intensas são chamadas de reações leucemóides e devem ser


diferenciadas principalmente da leucemia mielóide crônica. Nesta, o desvio à esquerda é não
escalonado, com aumento de mielócitos e presença de poucos blastos. São comuns os aumentos
no número de eosinófilos e de basófilos. A pesquisa de fosfatase alcalina nos neutrófilos pode
ajudar nos casos mais difíceis. Ausência de atividade da fosfatase alcalina neutrofílica sugere a
origem leucêmica dos neutrófilos.

Em raras ocasiões verifica-se a presença de neutrófilos jovens não escalonados e eritroblastos no


sangue periférico, caracterizando a reação leuco-eritroblástica. Esta reação, que deve ser
diferenciada dos quadros reacionais, sugere a presença de infiltração de medula óssea por
metástases, por exemplo, permitindo o escape de células medulares.

Leucopenia – diminuição global dos leucócitos – encontra-se:

Na maior parte das viroses há leve leucopenia com linfocitose, mas às vezes o número de
leucócitos não se modifica ou se mostra um pouco elevado
Em certas infecções bacterianas, como febre tifóide e paratifóide
Em infecções bacterianas habitualmente acompanhadas de leucocitose, em condições
particulares, o aparecimento de leucopenia traduz um prognóstico de gravidade em
relação à infecção (falha dos meios de defesa do organismo).
Nas riquetsioses (primeira semana de evolução do tifo exantemático)
Malária crônica
Leishmaniose visceral
Início do choque anafilático
Várias doenças do sangue: anemia aplástica, leucemia aguda (formas leucopênicas)
Carência de ácido fólico ou vitamina B12. desnutrição grave.
LES
Certas doenças acompanhadas de esplenomegalia (como a doença de Gaucher)
Como efeito de agentes depressores da medula óssea: medicamentos (cloranfenicol,
imunodepressores), tóxicos ( DDT), irradiação.

NAS INFECÇÕES VIRAIS SÃO OBSERVADAS, EM GERAL:

Leucopenia ou leucocitose por aumento no número


de linfócitos
atipia linfocitária : caracterizada pela presença de linfócitos
maiores, com citoplasma mais volumoso e basofílico,
núcleos irregulares e com cromatina mais aberta. Esta
reação é mais comum em crianças e adolescentes, sendo
rara em adultos; a doença mais comumente associada a
atipia linfocitária é a MONONUCLEOSE INFECCIOSA.
Algumas vezes, o polimorfismo dos linfócitos atípicos pode
ser confundido com blastos ( que ocorrem nas doenças
linfoproliferativas neoplásicas, como as leucemias).

O aumento no número de eosinófilos (eosinofilia: >500 eosinófilos) está comumente associado a:


processos alérgicos como asma, rinite e dermatite ; processos parasitários, especialmente as
verminoses intestinais; reações a medicamentos: penicilina, cefalosporinas,nitrofurantoína,
clorpromazina; convalescença de doenças infecciosas agudas; síndrome de Löeffler e outros.

O aumento de monócitos está associado aos processos inflamatórios ou infecciosos crônicos.

Linfocitose -aumento dos linfócitos – ocorre:


. nas infecções virais
. na coqueluche (acompanhada de leucocitose)
. Nas infecções ou processos inflamatórios de evolução crônica ou subaguda (tuberculose, sífilis)
. Na convalescença de moléstias infecciosas agudas

Dentre as principais causas de erro laboratorial na execução do hemograma destaca-se a coleta


inadequada da amostra. Para este exame, o sangue deve ser obtido por punção venosa
minimamente traumática, evitando-se, sempre que possível, o acesso de cateteres. O sangue
assim colhido deve ser prontamente colocado em tubo de vidro contendo proporção adequada de
EDTA (ácido etilenodiaminotetraacético) e homogeneizado com delicadeza. A formação de
agregados plaquetários é causa de falsa plaquetopenia, podendo os microcoágulos resultar em
grandes variações nas contagens celulares.

EXAMES DE URINA

Num indivíduo adulto normal, aproximadamente um litro de sangue perfunde os dois rins a cada
minuto, possibilitando a formação de um ultrafiltrado do plasma. Este filtrado possui pH e
osmolalidade semelhantes aos do plasma sanguíneo, ou seja, 7,4 e 285mOsm/kg de água,
respectivamente. A densidade é de aproximadamente 1010.
À medida que o ultrafiltrado flui pelos túbulos de cada néfron e pelos duetos coletores de cada
rim, ocorrem modificações em sua constituição química e suas características físicas, que
resultam em um volume de urina com composição final extremamente diferente daquela inicial
do ultrafiltrado, seja pela reabsorção da maioria das substâncias, seja pela secreção de outras
tantas.
O volume final de urina formada depende do estado de hidratação do indivíduo. Os 180 litros de
filtrado glomerular formados a cada 24 horas são reduzidos a um ou dois litros de urina. A tabela
8 apresenta os volumes de urina habitualmente observados nas diferentes faixas etárias.

Tabela 8: Volume de urina nas diferentes faixas etárias


Faixa etária Volume (ml/24 horas)
1 a 2dias 30 - 60
3 a 10 dias 100 – 300
11 a 60 dias 250 – 450
61 dias a 1 ano 400 – 500
2 a 3 anos 500 – 600
4 a 5 anos 600 – 700
6 a 8 anos 650 - 1.000
9 a 14 anos 800 - 1.400
Adultos 600 - 1.600
Idosos 250 - 2.400

Frente a algumas situações clínicas, pode ser útil a realização de dosagens bioquímicas na urina
coletada por períodos de 12 ou 24 horas. A coleta de urina por períodos longos, ainda que mais
representativa, pode se constituir em grande obstáculo nos pacientes pediátricos. Uma possível
solução para este problema é a adoção de valores de referência parametrizados em relação à
excreção urinária de creatinina.

A excreção urinária de cálcio, por exemplo, pode ser avaliada em amostras de urina de 24 horas
ou isoladas, sendo expressa por creatinina (mg/g). Os intervalos de referência nas diferentes
faixas etárias são:

Relação cálcio/creatinina
0 a 6 meses – inferior a 0,86
7 a 18 meses – infenor a 0,60
19 a 24 meses – inferior a 0,42
acima de 2 anos – inferior a 0,2

Para as relações ácido úrico/creatinina e oxalato/creatinina, os intervalos de referência, nas


diferentes faixas etárias, estão listados na tabela 9.

Tabela 9: Relação ácido úrico / creatinina (mg/g) e oxalato / creatinina (mg/g): intervalos de
referencia nas diversas faixas etárias
Idade Ácido Úrico/ Creatinina Oxalato/creatinina

1 a 6 meses 1189 – 2378 56 – 175


6 meses a 1 ano 1040 – 2229 48 – 139
1 a 2 anos 743 – 2080 40 – 103
2 a 3 anos 698 – 1932 32 – 80
3 a 5 anos 594 – 1635 24 – 64
5a7anos 446 – 1189 24 – 56
7 a 10 anos 386 – 832 16 – 48
10 a 14 anos 297 – 654 16 – 48
14 a 17 anos 297 – 594 16 – 48
Exame de urina de rotina (tipo I)
O exame de urina de rotina é um dos procedimentos laboratoriais mais solicitados para os
pacientes com as mais diferentes queixas clínicas, ou mesmo para indivíduos normais que
apenas se submetem à avaliação periódica, sem sintomatologia alguma.

Este exame pode fornecer informações úteis para o diagnóstico de processos irritativos,
inflamatórios e infecciosos, bem como de alguns distúrbios metabólicos, como por exemplo,
diabetes e acidose. Graças às diferentes substâncias pesquisadas é possível, também, a detecção
até mesmo de algumas doenças não relacionadas com o rim ou vias urinárias, como distúrbios
hemolíticos, hepatite, etc.

Como todos os demais exames laboratoriais, a ocasião e as condições de coleta são fundamentais
para a obtenção de resultados úteis e confiáveis. Idealmente, deve-se utilizar amostra recente
coletada após um período de, pelo menos, duas horas sem que o indivíduo tenha urinado. A urina
deve ser colhida após assepsia local, desprezando-se o primeiro jato sempre que possível.

O exame é constituído por três fases: análises física, química e de elementos figurados.

Análise física

Compreende a observação do aspecto, da cor e da densidade.

Aspecto: a urina normal possui aspecto claro, transparente. Pode, porém, se apresentar
turva devido à presença de formações de uratos ou fosfatos amorfos.

Cor: a cor da urina normal varia do amarelo ao âmbar e é devida à presença de um


pigmento chamado urocromo. As colorações rósea, vermelha ou castanha podem indicar
presença de sangue, enquanto a cor âmbar escuro sugere níveis elevados de urobilina ou
bilirrubina; já as urinas que assumem uma tonalidade amarela-viva, verde ou mesmo azul
podem ser compatíveis com o uso de medicamentos, tais como antissépticos e vitaminas,
ou de alimentos corados.

Densidade: o uso da densidade como índice de avaliação parcial da integridade renal é


baseado no conceito de que o túbulo renal normal é capaz de modular o volume de
líquido a ser reabsorvido a partir do filtrado glomerular, poupando ou não água na
dependência das necessidades imediatas do organismo. Em condições habituais,
considera-se como densidade adequada aquela cujo valor se situa no intervalo entre 1 015
e 1 021 (1 018 + 0,003).

Análise química

Inclui a determinação do pH, a pesquisa de proteínas, glicose, corpos cetônicos, bilirrubinas e


urobilinogênio e a quantificação dos valores de proteínas e glicose.

pH: os rins são reguladores do equilíbrio ácido-básico. A regulação se dá pela secreção


de hidrogênio e de ácidos orgânicos fracos, bem como pela reabsorção de bicarbonato do
ultrafiltrado pelos túbulos contornados. A determinação do pH urinário pode auxiliar no
diagnóstico dos distúrbios eletrolíticos sistêmicos de origem metabólica ou respiratória e
no acompanhamento de tratamentos que exijam manutenção da urina num determinado
intervalo de pH. No exame de rotina, algumas vezes, a determinação do pH é substituída
pela simples referência à reação (ácida, alcalina ou ligeiramente ácida). Esta
determinação, para ter algum significado clínico, deve ser feita em amostra de urina
recente.

Proteínas: proteinúria pode ser indicadora de lesão renal. Em relação à intensidade, ela
pode ser classificada em:

 proteinúria elevada: excreção superior a 3,5g de proteínas em 24 horas. É típica


de síndrome nefrótica, mas pode ocorrer em casos de glomerulonefrite,
nefroesclerose, amiloidose, lupus eritematoso disseminado, trombose da veia
renal, insuficiência cardíaca congestiva ou pericardite.

 proteinúria moderada: excreção entre 0,5 e 3,5g de proteínas em 24 horas. É


detectada em doenças renais como glomerulonefr,ite crônica, nefropatia diabética,
mieloma múltiplo e nefropatia tóxica, na pré-eclâmpsia e ainda nas alterações inf
lamatórias malignas, degenerativas e irritativas do trato urinário, incluindo a
presença de cálculo urinário.

 proteinúria mínima: excreção inferior a 0,5g de proteínas em 24 horas. Está


associada a doenças como glomerulonefrite crônica, enfermidade policística renal,
afecção túbulo-renal, fase de convalescença de glomerulonefrite aguda e vários
distúrbios do trato urinário inferior.

 proteinúria postural: ocorre apenas quando o indivíduo permanece em posição


ereta e pode atingir até 1,0g de proteínas em 24 horas.

 proteinúria funcional: associada a estados febris, à exposição ao calor ou ao frio


intensos e a exercícios físicos.

 microalbuminúria: presença de albumina na urina em quantidade variável de 20 a


200 microgramas por minuto ou de 30 a 300mg em 24 horas. No diabetes mellitus
insulina-dependente, a microalbuminúria é indicador de doença renal inicial,
refletindo a existência de lesão microvascular.

Em relação à etiologia e local de origem, a proteinúria pode ser classificada como se segue:

 proteinúria glomerular: é o tipo mais comum, havendo predomínio de albumina entre as


proteínas excretadas. É decorrente do aumento da permeabilidade glomerular, como
ocorre nas glomerulonefrites, sendo a proteinúria geralmente superior a 2,0 g em 24
horas.

 proteinúria tubular: excreção urinária de proteínas de baixo peso molecular, as quais, em


condições normais, são reabsorvidas pelas células tubulares. As proteínas excretadas são
a beta-2 microglobulina, a lisozima, a pré-albumina, a proteína carregadora do retinol, a
alfa-1 glicoproteína ácida, a alfa-2 macroglobulina e a siderofilina. A proteinúria tubular
pode ocorrer agudamente, em situações de estresse, tais como queimaduras, pancreatite
aguda ou administração de drogas nefrotóxicas. A proteinúria tubular crônica pode ser
decorrente de doenças hereditárias, como a síndrome de Fanconi, ou de doença renal,
como a pielonefrite crônica. Em geral, estas proteinúrias são de 1,0 a 2,0 g em 24 horas.

 proteinúria por sobrecarga: ocorre quando a concentração plasmática de uma determinada


proteína filtrável está anormalmente elevada, como acontece com a hemoglobina, nos
casos de hemólise intravascular intensa, e com a mioglobina, nas lesões extensas de
tecido muscular. Nas doenças linfoproliferativas, ocorre produção anormal de grandes
quantidades de cadeias leves de imunoglobulinas, caracterizando a proteinúria de Bence-
Jones.

 proteinúria pós-renal: resultante do extravasamento de proteínas plasmáticas em


decorrência de processos inf lamatórios, infecciosos ou neoplásicos em vias urinárias.

Glicose: em circunstâncias normais, praticamente toda a glicose filtrada pelos glomérulos


é reabsorvida no túbulo contornado proximal e a pesquisa de glicose na urina é negativa. O nível
sanguíneo no qual a reabsorção tubular é superada é chamado de limiar renal e está situado na
faixa entre 160 e 180 mg/dl. Esse conceito deve ser considerado nas situações em que a glicose
aparece na urina.

Outros açúcares podem ser encontrados na urina, seja por simples sobrecarga alimentar, seja por
deficiência de algumas enzimas responsáveis pelo metabolismo dos carboidratos. Estes erros
inatos do metabolismo podem resultar em galactosúria, frutosúria e pentosúria. As fitas reagentes
utilizadas na realização dos exames de urina de rotina são baseadas na reação com glicose--
oxidase, o que lhes confere elevadas sensibilidade e especialidade. Para a identificação de outros
açúcares, é necessária a utilização de metodologias específicas.

Corpos cetônicos: cetonúria ocorre no jejum prolongado, em estados febris, após exercícios
físicos intensos, no frio intenso e no diabetes mellitus mal controlado. Os três corpos cetônicos
presentes são: ácido acetoacético (20%), acetona (2%) e ácido beta hidroxibutírico (78%).

Bilirrubina e urobilinogênio: em condições normais, após a conjugação, a bilirrubina direta é


excretada pelas vias biliares, chegando ao intestino. Nesse local, por ação bacteriana, ela é
metabolizada, gerando urobilinogênio. Cerca de 50% do urobilinogênio formado no intestino é
reabsorvido pela circulação êntero-hepática e posteriormente excretado pelo fígado e pelo rim.
Qualquer falha neste mecanismo, seja pela maior quantidade de bilirrubina formada, seja por
lesão hepática que impeça a excreção do urobilinogênio, acarretará modificações na excreção
urinária. Há dois grupos de doenças que podem alterar os níveis de excreção urinária de
bilirrubina e de urobilinogênio:

 doença hepática: a bilirrubina direta não é excretada, como ocorre, por exemplo, na
obstrução biliar, ref luindo para o sangue. Como essa bilirrubina é filtrada pelos
glomérulos renais, à medida que sua concentração aumenta no sangue, aumenta sua
excreção renal. Como não chega bilirrubina no intestino, a produção de urobilinogênio é
reduzida, chegando a ser negativa sua pesquisa na urina.

 doença hemolítica: Há aumento acentuado na produção da bilirrubina indireta. Como o


fígado está normal, grande quantidade de bilirrubina direta é produzida e lançada no
intestino, com consequente conversão em urobilinogênio. Há, portanto, um aumento da

 reabsorção intestinal de urobilinogênio, elevando a excreção renal. Não ocorre excreção


urinária de bilirrubina, pois a fração aumentada é a indireta, não solúvel e que circula
ligada às proteínas, o que a torna não filtrável.
Hemoglobina: as fitas reagentes possuem áreas que permitem o reconhecimento da presença de
hemoglobina na urina, seja na hemácia íntegra (hematúria) ou livre (hemoglobinúria). Esse dado
é importante e deve ser relacionado com a observação do exame morfológico da urina. É
possível a ocorrência de hemoglobinúria sem a presença de grande número de hemácias íntegras,
em decorrência, por exemplo, de hemólise intravascular.

Análise dos elementos figurados

Pode ser realizada por microscopia óptica ou por citometria de fluxo. A microscopia é realizada
no sedimento urinário obtido por centrifugação, enquanto na citometria de fluxo, a identificação
e a contagem de elementos figurados são realizadas por equipamentos automatizados, em urina
não centrifugada.

Os elementos figurados da urina incluem:

Células epiteliais: três diferentes tipos de células epiteliais podem ser observados na
urina, quais sejam: escamosas, transicionais e tubulares renais. Na prática diária, pouca
atenção é dispensada a estes elementos, uma vez que podem raramente ref letir alguma
doença; no entanto, a presença de células com morfologia anômala deve ser considerada
como indicativa de eventual processo neoplásico, havendo necessidade de exames mais
específicos.

Células sanguíneas: células do sangue periférico estão normalmente presentes em


pequeno número na urina, sendo as mais frequentes os leucócitos polimorfonucleares e os
eritrócitos.

 leucócitos: são visualizados cerca de 3 a 5 por campo e a elevação desse número


indica, geralmente, a existência de processo inf lamatório ou infeccioso em algum
nível do sistema urinário. A presença de um corpo estranho em via urinária, como
cálculo, por exemplo, também pode ocasionar aumento no número de leucócitos.
A detecção de mais de 50 leucócitos por campo, ou de grumos de leucócitos
degenerados é fortemente sugestiva de infecção bacteriana aguda. Quando o
exame é realizado por citometria de fluxo, considera-se como elevados mais de
20000 leucócitos por ml para os homens e mais de 30 000 leucócitos por ml para
as mulheres;

 hemácias: não há um consenso sobre o número de hemácias que podem estar


presentes na urina normal. Por esta razão, cada laboratório assume um valor de
referência e o informa no lauda. Para a população pediátrica, em especial, o
sedimento urinário obtido por centrifugação, quando examinado ao microscópio,
apresenta de duas a cinco hemácias por campo; já na urina analisada por
citometria de fluxo, considera-se como referência até 25 000 hemácias por ml.

Em urinas muito diluídas, com densidade entre 1002 e 1005, as hemácias podem
se romper, liberando hemoglobina. Nesta eventualidade, o exame é negativo para
hemácias, mas a pesquisa de hemoglobina se mantém positiva. Como a membrana
celular é bastante flexível e distintamente permeável a solutos e água, a
morfologia típica de disco bicôncavo dos eritrócitos pode ser alterada, em
resposta a modificações na osmolalidade urinária. Quando a urina é hipertônica,
verifica-se um deslocamento de água intracelular para o meio externo e a célula
assume uma forma irregular, descrita como crenada. Quando a urina, ao contrário,
está hipotônica, o fluxo de água ocorre em sentido contrário, fazendo com que as
hemácias assumam a forma esférica.

Processos inflamatórios, infecciosos ou traumáticos das vias urinárias causam


aumento do número de eritrócitos. A hematúria tem relação mais próxima com
distúrbios de origem renal ou geniturinários, nos quais o sangramento é resultado
de trauma ou irritação das mucosas. As principais causas de hematúria são:
cálculos renais, glomerulonefrite, tumores, trauma, pielonefrite e exposição a
produtos químicos tóxicos.

Pacientes com doenças glomerulares, como os diversos tipos de


glomerulonefrites, nefropatia por IgA e nefroesclerose, apresentam eritrócitos
com morfologia bizarra, denominados dismórficos, enquanto aqueles com lesões
não glomerulares mostram eritrócitos com morfologia típica ou com alterações
mínimas.

Estas características podem ser assim descritas:


• evaginações e/ou invaginações celulares com alta densidade óptica;
• rupturas da membrana celular, com perda de citoplasma;
• depósitos granulares com alta densidade óptica circundando internamente a
célula; e
• células com aspecto de timão de navio, com evaginações pequenas circundando
externamente a membrana.

Estas características dismórficas não são devidas às modificações do meio ambiente urinário,
mas sim da estrutura intrínseca da membrana celular e têm sido detectadas, com altos graus de
sensibilidade (99%), e especificidade (93%) nos processos glomerulares. A referência ao
dismorfismo eritrocitário só tem sentido quando se constata a presença de hematúria, uma vez
que a maioria das hemácias observadas na urina de indivíduos normais apresenta algum grau de
dismorfismo, sem nenhum significado clínico relevante.

Hematúria macroscópica é evento relativamente raro na clínica pediátrica, sendo relatada uma
incidência anual de 1,3 por mil. Hematúria microscópica, porém, é encontrada com grande
frequência na prática diária (ver definições de hematúrias macroscópica e microscópica no
parágrafo abaixo). A ocorrência descrita na literatura varia na dependência dos critérios
utilizados para diagnóstico, dos métodos laboratoriais, do número de amostras por indivíduo e
das características da população estudada, entre outros fatores. Vehaskari e colaboradores,
pesquisando crianças com idades entre oito e quinze anos, encontraram prevalência de 4,1% de
hematúria microscópica definida como pelo menos uma amostra positiva em quatro; esta
prevalência caiu para 1,1% quando houve exigência de duas amostras positivas em quatro.
Doodge e colaboradores, ao analisarem amostras seriadas de urina de crianças com idades entre
seis e doze anos, encontraram prevalência de 3,5 casos de hematúria por mil meninos e de 6,4
casos por mil meninas, considerando a ocorrência de pelo menos duas amostras positivas em
três.

Com relação à intensidade, as hematúrias podem ser macroscópicas, quando o número de


hemácias presentes é tal que o aspecto e a cor da urina estão alterados à simples inspeção visual,
ou microscópicas, nas quais apenas ao exame mais minucioso se constata a presença de um
número anormal destas células. A intensidade da hematúria não guarda relação com a gravidade
do processo patológico que a ela deu origem; porém, as hematúrias microscópicas são, mais
frequentemente, de origem glomerular, enquanto os sangramentos francos acompanhados de
coágulos sanguíneos são, quase que exclusivamente, de causas urológicas. As hematúrias são
ditas isoladas quando o aumento no número de hemácias é a única anormalidade presente. Em
muitas ocasiões, a presença de hemácias está associada a outras alterações urinárias, das quais a
proteinúria é a mais frequente. A hematúria pode, ainda, ser transitória, intermitente ou
persistente.

Hematúria pode ser consequência de diferentes tipos de lesões em variados locais do trato
urinário, dos rins até a uretra. Ainda que um mesmo evento possa causar sangramento em
diferentes locais do trato urinário, pode-se definir, sob o aspecto didático, quatro locais como
fontes potenciais de hematúria: glomérulos, interstício renal, sistema vascular e vias urinárias. O
reconhecimento da origem do sangramento, se renal ou pós-renal, é útil no direcionamento da
elucidação etiológica, na escolha dos procedimentos diagnósticos e na definição da conduta a ser
instituída.

Quadro 2: Causas de hematúria


Cilindros: são precipitados protéicos formados na luz tubular. Na dependência do conteúdo da
matriz protéica, os cilindros são classificados como:

 hialinos: compostos de proteína, sem inclusões. Possuem pouco significado


clínico, podendo estar associados à proteinúria. Grandes quantidades destes
cilindros aparecem na urina colhida após a realização de atividade física intensa;
 celulares: compostos por células epiteliais descarnadas. A presença de cilindros
epiteliais renais é indicativa de doença tubular e varia de acordo com a natureza
do processo lesivo;
 leucocitários: aparecem em inflamações intersticiais e doenças glomerulares.
Podem conter uns poucos leucócitos ou estarem completamente saturados, sendo
muito difícil a sua identificação se houver degeneração celular;
 hemáticos: caracterizam-se pela presença de eritrócitos no interior. Pode ocorrer
lise dos eritrócitos, com liberação de hemoglobina, identificada pela cor
amarelada na matriz protéica. A presença deste tipo de cilindro é significativa de
doença glomerular;
 granulosos: caracterizam-se pela presença de restos celulares no interior da matriz
 protéica. Cilindros mais velhos tendem a ser finamente granulosos. Estes cilindros
indicam, quase sempre, a presença de doença renal e as exceções incluem os
breves surtos de cilindros granulosos que podem aparecer após exercícios
intensos;
 céreos: ref letem a fase final dos cilindros granulosos e significam obstrução
prolongada do néfron e oligúria. Ocorrem em estágios finais de doença renal
crônica;
 gordurosos: também chamados de cilindros lipoídeos, apresentam gotículas de
gordura em seu interior. Este tipo de cilindro é observado em associação com
grandes proteinúrias.

Cristais: podem ser observados ao exame microscópico de pessoas normais. Alguns são
decorrentes de alterações posteriores à coleta, tais como rebaixamento da temperatura ou
variações do pH, não possuindo nenhuma importância diagnóstica; outros ref letem
características da composição da dieta habitual do indivíduo ou situações metabólicas
particulares, mas não patológicas; por fim, raros tipos de cristais podem indicar a presença de
distúrbios metabólicos específicos. Incluem-se entre estes os cristais de cistina, de
fosfatoamoníaco-magnesiano, de tirosina e de leucina. Os principais descritos são:

 oxalato de cálcio: estão presentes em grande número em urinas de indivíduos normais


com dietas ricas em alimentos contendo precursores do ácido oxálico, tais como tomate,
maçã, laranja e bebidas carbonatadas;
 ácido úrico: são vistos com frequência em urinas de crianças durante as fases de
crescimento corporal acelerado, em razão do intenso metabolismo de nucleoproteínas;
 cistina: observados em urinas de portadores de cistinúria. A cistinúria é responsável por
cerca de 1 % dos cálculos urinários;
 fosfato-amoníaco-magnesiano: também denominados de cristais triplos. Quando
observados em urina recém emitida, sugerem a presença de processo infeccioso por
germe produtor de urease;
 tirosina e leucina: são aminoácidos resultantes do catabolismo protéico e podem aparecer
na forma de cristais em urinas de pacientes com degeneração ou necrose tecidual
importante.

Outros elementos figurados incluem fungos e bactérias. Se as condições de coleta e preservação


não são adequadas, o exame pode fornecer informações incorretas e até mesmo prejudiciais ao
raciocínio clínico. Se o tempo entre a coleta e o exame é excessivo, pode ocorrer o crescimento
de microrganismos que induzem o diagnóstico de infecção urinária. Ainda que seja possível a
ocorrência isolada de bactérias, os processos infecciosos caracterizam-se, geralmente, por um
conjunto de alterações que inclui aumento no número de leucócitos, de hemácias, bactérias e
proteinúria.

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