Modulo2 Ap3 ML Les Comp Hematologicos 20200327

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Curso EAD

Estomatologia

Exames Hematológicos
Os exames hematológicos são exames
laboratoriais realizados a partir de amostras
de sangue. O sangue é um fluido viscoso,
formado por tecido conjuntivo com muita
matriz intercelular, que circula no interior de
vasos sanguíneos, transportando hormônios,
gases, nutrientes, resíduos metabólicos,
anticorpos. Cerca de 7% da massa corporal
de um indivíduo é representada pelo tecido
sanguíneo. Apresenta temperatura em torno
de 38°, e pH entre 7,35-7,45. Dentre os seus
constituintes encontra-se o plasma (55%
do volume), que é composto de água, sais e
proteínas, e pelas células do sangue (45%),
tendo como principais células os eritrócitos,
leucócitos e plaquetas. Os eritrócitos
(glóbulos vermelhos) tem função de
transportar oxigênio. Os leucócitos (glóbulos
brancos) são responsáveis pela defesa Figura 1. Desenho esquemático ilustrando os componentes do sangue.
tecidual do paciente. Já as plaquetas têm
como função principal promover e auxiliar na
hemostasia.
A produção das células é realizada pela medula óssea de acordo com as necessidades do
organismo. Em situações de oxigenação diminuída (altitudes elevadas) ou número reduzido de
eritrócitos (devido à hemorragia, por exemplo), os rins produzem e liberam eritropoietina, hormônio
que estimula a medula óssea a produzir novas células do sangue. Frente a infecções, há aumento
da produção de leucócitos pela medula óssea, a fim de combater o microrganismo. Em resposta
ao sangramento, há aumento da produção de plaquetas. Desta forma, a análise dos componentes
sanguíneos tem se mostrado um excelente exame complementar na prática clínica, pois nos dá
condições de avaliar esses eventos de forma indireta.

Hemograma
Exame laboratorial de rotina para avaliação qualitativa e quantitativa dos elementos figurados
(glóbulos brancos e vermelhos, plaquetas) do sangue. Pode ser dividido em eritrograma (avaliação
das características relacionada aos eritrócitos), leucograma (avaliação do número e proporção dos
leucócitos granulócitos e agranulócitos) e contagem de plaquetas. O cirurgião dentista utiliza muito
o hemograma para avaliar condições sistêmicas antes da realização de procedimentos cirúrgicos.

Quando temos redução de duas das três linhagens de células do sangue, chamamos
de bicitopenia. Quando os três tipos de células estão reduzidos, damos o nome de
pancitopenia.

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Eritrograma
O eritrograma é a primeira parte do hemograma. É o estudo dos glóbulos vermelhos, ou
seja, das hemácias, também chamadas de eritrócitos. O eritrograma fornece várias informações
sobre o perfil dos glóbulos vermelhos. Podem ser observados parâmetros quantitativos (contagem
de eritrócitos, dosagem de hemoglobina e hematócrito) e qualitativos (volume corpuscular médio,
hemoglobina corpuscular média e concentração de hemoglobina corpuscular média).

Avaliações Quantitativas
Esses três primeiros dados devem ser analisados em conjunto e são: contagem de hemácias,
hemoglobina e hematócrito.
Contagem normal de hemácias em homens varia de 4.400.000 a 6.000.000 por milímetro
cúbico de sangue e em mulheres varia de 4.200.000 a 5.500.000 por milímetro cúbico de sangue.
Após 65 anos há decréscimo dos valores, influenciando a resposta tecidual frente a procedimentos
cirúrgicos.
Dosagem de hemoglobina: reflete a quantidade de hemoglobina nos eritrócitos, logo
a capacidade de transporte de oxigênio pelo sangue. Valores de normalidade: para homens 15,3
gramas por decilitro de sangue, e 13,8 gramas por decilitro de sangue para mulheres.
Hematócrito: analisa a proporção de volume da amostra de sangue ocupada pelas hemácias.
Normalidade - 42 a 47% da amostra de sangue, podendo variar conforme sexo, altitude e grau
de atividade física. Pode-se notar, portanto, que praticamente metade do sangue é, na verdade,
composto por células vermelhas.

Quando os valores dos dados quantitativos estão reduzidos, indicam anemia, isto
é, baixo número de glóbulos vermelhos no sangue. Quando estão elevados indicam
policitemia (eritrocitose), que é o excesso de hemácias circulantes.

Avaliações Qualitativas
Essas outras informações fornecem dados a respeito do tamanho e a forma das células
vermelhas.
Volume corpuscular médio: volume médio dos eritrócitos, ou seja, o tamanho da célula.
Utilizada para realizar diagnóstico diferencial entre as diferentes anemias. Calcula-se dividindo
o hematócrito pelo número de eritrócitos. Os valores variam de 80 micras cúbicas até 98 micras
cúbicas. Quadros anêmicos onde o tamanho da célula é normal são chamados de anemia normocítica,
enquanto nos que o volume da célula é menor, ou seja, as células são menores que o normal, são
denominados de anemia microcítica. Já nos quadros em que o volume está aumentado, ou seja, as
células são maiores que o normal, denominamos anemia macrocítica.
Por exemplo, anemias por carência de ácido fólico cursam com hemácias grandes, enquanto
que anemias por falta de ferro se apresentam com hemácias pequenas. Existem também as anemias
com hemácias de tamanho normal.
Hemoglobina corpuscular média: representa a quantidade de hemoglobina média
no interior das hemácias, o peso da hemoglobina na hemácia. Valor de normalidade: 24 a 33

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picogramas. Anemia hipocrômica é a diminuição de hemoglobina no interior de hemácias. Anemia


hipercrômica é o aumento de hemoglobina no interior de hemácias.
Concentração de hemoglobina corpuscular média: Reflete a relação do valor de
hemoglobina contido em uma quantidade de sangue e o volume globular expresso em porcentagem.
Nos mostra a concentração de hemoglobina dentro da hemácia. A coloração da hemácia depende
da quantidade de hemoglobina (quanto mais hemoglobina, mais corada e vice-versa). Normalidade:
32 a 36%.
Aumento da concentração de hemoglobina corpuscular média: anemia hipercrômica. Acima de 36%.
Diminuição da concentração de hemoglobina corpuscular média: anemia hipocrômica. Abaixo de 32%.

Anormalidades no Eritrograma
Anemia: condição na qual o número de eritrócitos ou a quantidade de hemoglobina presentes
nas células estão abaixo do normal. Reflete um déficit no transporte de oxigênio.
Lembrando que existem vários tipos de anemia e que em alguns quadros de anemia há
diminuição de hemoglobina, em outros há diminuição dos eritrócitos, ou então há diminuição de
ambos. A forma mais comum de análise de anemia se baseia na hemoglobina (Hb) sendo considerada
anemia leve para os valores de Hb entre 12 e 10, anemia moderada Hb entre 7 e 10 e anemia severa
quando os valores de Hb < 7.
Se por um lado a falta de hemácias prejudica o transporte de oxigênio, por outro, células
vermelhas em excesso deixam o sangue muito espesso, atrapalhando seu fluxo e favorecendo a
formação de coágulos.
Sinais clínicos: astenia (fraqueza muscular), dispneia (alterações respiratórias), hipotensão
ortostática (baixa de pressão quando paciente levanta), picos de taquicardia, mucosas pálidas,
glossite e queilite angular, pele fria e seca, cabelo sem brilho e quebradiço. Em casos mais graves
pode-se notar alterações neurológicas, como parestesia das extremidades, cefaleias e irritabilidade.
Causas: falta de produção dos eritrócitos, aumento da demanda de eritrócitos, excesso de
destruição dos eritrócitos, perda hemorrágica. A falta de produção usualmente está relacionada à
deficiência de ferro, ácido fólico, ou vitamina B12. Pode também estar associada a defeitos genéticos,
má formação de tecido hematopoiético, falta de estimulo da eritropoietina. A deficiência de ferro
é a mais observada na clínica, estando relacionada a uma dieta carente em ferro ou à deficiência
na absorção dele. A deficiência do ferro impossibilita o transporte de oxigênio, sendo denominada
de anemia ferropênica ou ferropriva. O aumento da demanda de eritrócitos é observado durante
a gravidez e o crescimento. O excesso de destruição de hemácias é observado em casos de
hemólise e esplenomegalias. Perdas hemorrágicas ocorrem em quadros de sangramento digestivo,
hipermenorreias e ruptura de vasos importantes.

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Conteúdo de hemoglobina
Tamanho da célula Normocrômica Hipocrômica
Microcítica Incomum. Possível em alguns casos de infecção Anemia ferropriva,
e doenças sistêmicas crônicas (DSC) talassemia maior e
menor, anemias por
DSC
Normocítica Hemólise, anemia hemorrágica, anemia Envenenamento por
aplásica, anemia por insuficiência renal, chumbo
hiperesplenismo
Macrocítica Anemia perniciosa, deficiência de ácido fólico, Anemias microcítica
má absorção, reticulocitose, doença hepática associadas a
crônica, alguns casos de anemia aplástica, deficiência de ferro
alcoolismo
Tabela 1. Resumo dos tipos de anemia e fatores associados

Leucograma
Identifica os leucócitos (também chamados de glóbulos brancos do sangue) tanto do ponto
de vista quantitativo quanto qualitativo morfológico. A média de leucócitos no sangue é de 5.000
a 10.000 por milímetro cúbico de sangue. Esse valor de referência de normalidade se modifica
conforme idade, sexo, raça, temperatura ambiente, situações de repouso ou exercício físico,
ansiedade, depressão, alimentação, gravidez e período menstrual. Quando o leucograma apresenta
índices aumentados na contagem de leucócitos, denominamos de leucocitose pode ser causada por
uma infecção e até uma leucemia. Em casos de diminuição na contagem, é chamado de leucopenia
que pode ser causada pelo uso de medicamentos ou quimioterapia, por exemplo, e cada uma destas
situações necessita de um tratamento específico.
Os leucócitos são células mais volumosas quando comparadas com as hemácias. A principal
função dos leucócitos é participar da defesa imunológica, quando requeridos, dessa forma saem
da corrente sanguínea e defendem os tecidos. A produção dos leucócitos também depende do
estímulo sistêmico, na presença de quadros infecciosos há um considerável aumento na produção,
visando debelar o processo a defesa.
Os leucócitos podem ser divididos em granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e
agranulócitos (linfócitos e monócitos). Os grânulos presentes no citoplasma são compostos por
enzimas que participam da resposta imunológica que cada célula vai desempenhar.
O número total de leucócitos circulantes varia de 5.000 a 10.000 por milímetro cúbico de
sangue. Em valores abaixo de 5.000, há um quadro de leucopenia. Em valores acima de 10.000 há um
quadro de leucocitose, refletindo uma resposta da medula óssea a estímulos que produzem aumento
da produção de linhagem neutrofílica ou linfocítica. Esses estímulos podem ser inflamatórios ou
neoplásicos.
O leucograma permitirá verificar quantitativamente cada um dos leucócitos. Sabe se que
em situações de normalidade há um predomínio de neutrófilos (50-70%), seguido de linfócitos,
monócitos, eosinófilos e basófilos.

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Tipos de Leucócitos Funções


Neutrófilos Leucócitos mais abundantes
Responsável pelo combate a bactérias e, quando os valores de neu-
trófilos estão altos, isto pode indicar uma infecção bacteriana.
Os bastões (bastonetes) são os neutrófilos jovens, que foram lança-
dos no sangue para combater uma infecção aguda e, os neutrófilos
segmentados são os neutrófilos maduros.
Linfócitos Associados com reposta a vírus, tumores e produzem anticorpos.
Quando aumentados, podem indicar uma infecção viral, HIV, leucemia
ou rejeição de um órgão transplantado, por exemplo.
Monócitos Responsáveis por fagocitar micro-organismos
Quando localizados nos tecidos extra sanguíneos são chamados de
macrófagos.
Atuam contra vírus e bactérias, sem distinção.
Eosinófilos Células de defesa que são ativadas em caso de alergia ou infecção
parasitária.
Basófilos Células ativadas em caso de inflamação crônica ou alergia prolongada
e, em um indivíduo normal, só é encontrado até 1%.
Tabela 2. Detalhamento a respeito dos tipos de glóbulos brancos e suas funções

Neutrófilos:
Os neutrófilos têm um tempo de vida de aproximadamente 24-48 horas. Sua principal
função é a fagocitose (englobar e digerir) de pequenas partículas que precisam ser eliminadas.
Há predomínio de neutrófilos em quadros de infecção bacteriana. Por isso, assim que o processo
infeccioso é controlado, a medula reduz a produção de novas células e seu níveis sanguíneos
retornam rapidamente aos valores basais.
Valores de referência: representa em média 50-70% dos leucócitos circulantes ou entre
1.800 a 7.700/mm3
Aumento: neutrofilia, em casos de infecções bacterianas, viróticas ou fúngicas agudas,
necroses teciduais, quadros de hipersensibilidade, insuficiência renal aguda.
Diminuição: neutropenia, em casos de hepatite, viroses, mononucleoses e doenças
autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico.
Classificação:
- Neutropenia leve: entre 1700 e 1000
- Neutropenia moderada: entre 1000 e 500
- Neutropenia importante: < 500:
Quando estamos infectados, a medula óssea aumenta rapidamente a produção de leucócitos
e acaba por lançar na corrente sanguínea neutrófilos jovens recém-produzidos denominados de
bastões (bastonetes). A infecção deve ser controlada rapidamente, por isso, não há tempo para
esperar que essas células fiquem maduras antes de lançá-las ao combate. Desta forma, quando
o hemograma apresenta muitos bastões chamamos este achado de “desvio à esquerda”. Esta

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denominação deriva do fato dos laboratórios fazerem a listagem dos diferentes tipos de leucócitos
colocando seus valores um ao lado do outro. Como os bastões costumam estar à esquerda na lista,
quando há um aumento do seu número diz-se que há um desvio para a esquerda no hemograma.
Portanto, se você ouvir o termo desvio à esquerda, significa apenas que há um aumento da produção
de neutrófilos jovens.
Os neutrófilos segmentados são os neutrófilos maduros. Quando o paciente não está doente
ou já está em fase final de doença, praticamente todos os neutrófilos são segmentados, ou seja,
células maduras.

Linfócitos:
Os linfócitos são as principais linhas de defesa contra infecções por vírus e contra o surgimento
de tumores. São eles também os responsáveis pela produção dos anticorpos.
Valores de referência: representam em média 20-40% dos leucócitos circulantes.
Aumento – linfocitose. Em quadros infecciosos virais (hepatite A, mononucleose, rubéola,
sarampo, citomegalovírus, infecção herpética), sífilis, infecções crônicas, reação de hipersensibilidade
e leucemias linfocíticas.
Quando temos um processo viral em curso, é comum que o número de linfócitos aumente,
às vezes, ultrapassando o número de neutrófilos e tornando-se o tipo de leucócito mais presente na
circulação.
Diminuição – linfocitopenia. Em quadros de estresse agudo, uremia, doença cardíaca
congestiva, linfoma, lúpus eritematoso, anemia aplásica, infecção por HIV após aumento dos
linfócitos inicialmente.
Obs: linfócitos atípicos são um grupo de linfócitos com morfologia diferente, que podem ser
encontrados no sangue. Geralmente surgem nos quadros de infecções por vírus, como mononucleose,
gripe, dengue, catapora, etc. Além das infecções, algumas drogas e doenças autoimunes, como
lúpus, artrite reumatoide e síndrome de Guillain-Barré, também podem estimular o aparecimento
de linfócitos atípicos. Atenção, linfócitos atípicos não têm nada a ver com câncer.

Monócitos:
Os monócitos são células de defesa ativadas tanto em processos virais quanto bacterianos.
Essas células são os precursores dos macrófagos teciduais. O monócito deixa o sangue e vai para o
tecido, se tornando macrófago.
Valores de referência: representam em média 3 – 7% dos leucócitos circulantes.
Aumento – monocitose. Em quadros infecciosos crônicos, como tuberculose, doenças
inflamatórias crônicas, neoplasias e doenças mieloproliferativas crônicas.
Diminuição – monocitopenia. Em quadros de estresse agudo, anemia aplásica e uso de
corticoides. Presentes também em fases reparativas de doenças.

Eosinófilos:
Células capazes de realizar pequena fagocitose. Tornam-se ativos nas fases tardias da
inflamação. São ativos principalmente nas reações alérgicas e em parasitoses.

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Valores de referência: 1-3% dos leucócitos circulantes.


Aumento: Eosinofilia, em casos de doenças alérgicas, hipersensibilidade a drogas, infecções
parasitárias e doenças linfoproliferativas.
Diminuição: Eosinopenia, em casos de estresse agudo, causado por traumas, cirurgias, infarto
do miocárdio e inflamação aguda.

Basófilo:
São leucócitos raros. Células ativadas em caso de inflamação crônica ou alergia prolongada
e, em um indivíduo normal, só é encontrado até 1% dos leucócitos circulantes.
Aumento: basofilia, em casos de hipersensibilidade, assim como leucemia mieloide crônica.
Diminuição: basopenia, em casos de estresse agudo.

Questões que podemos elucidar a partir da análise do leucograma:


1. Existe processo infeccioso presente?

2. Que tipo de processo inflamatório está presente?

Agudo (aumento de neutrófilos) ou crônico (aumento de leucócitos).


3. Em qual fase o processo se encontra?

-Processo agudo: aumento de leucócitos, aumento de neutrófilos com desvio à esquerda


e eosinofilia.
-Processo agudo com supuração: além da neutrofilia, há granulação tóxica.
-Processo agudo em resolução: além da neutrofilia, há monocitose (reparo do quadro
instalado).
-Processos crônicos: leucocitose com aumento de linfócitos e eosinofilia.
4. Existe supuração? Verificada a partir da presença de granulação tóxica

Grandes elevações dos leucócitos podem ocorrer nas leucemias, que nada mais
é que o câncer dos leucócitos. Enquanto processos infecciosos podem elevar os
leucócitos até 20.000-30.000 células/mm3, na leucemia estes valores ultrapassam
facilmente as 50.000 células/mm3.

As leucopenias normalmente ocorrem por lesões na medula óssea. Podem ser


por quimioterapia, por drogas, por invasão de células tumorais ou por invasão por
micro-organismos.

Coagulograma
O coagulograma é a parte do hemograma que avalia o nível de coagulação do sangue.
Nos permite avaliar quantitativamente e qualitativamente a hemostasia. A hemostasia pode ser
definida como o equilíbrio entre a hemorragia e a trombose, ou seja, o sangue deve correr no
sistema circulatório de maneira fluida. O sangue não pode extravasar, o que caracterizaria uma
hemorragia, e não pode coagular, o que caracterizaria um trombo. Alterações da hemostasia são
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condições patológicas frequentes, podendo estar associadas com alterações na parede dos vasos,
nas plaquetas ou nos fatores de coagulação.
Os exames que compõem o coagulograma são:
• Tempo de Sangramento (TS)

• Tempo de Coagulação (TC)

• Tempo de Ativação da Protrombina (TAP)

• Tempo de Ativação Parcial da Tromboplastina (KPTT ou TTPA)

• Número de Plaquetas

Esses exames ajudam na identificação de qual dos componentes estão alterados na


hemostasia, podendo prevenir ou minimizar quadros de hemorragia frente a procedimentos
cirúrgicos.

Plaquetas:
As plaquetas são produzidas na medula óssea a partir de megacariócitos, sendo liberadas
na corrente sanguínea. São fragmentos de células com citoplasma granuloso. Apresentam papel
fundamental na estabilização de quadros hemorrágicos, através da formação do tampão plaquetário
pela adesividade entre as plaquetas.
Valor de normalidade: 130.00 a 400.000 por milímetro cubico de sangue.
Quando as plaquetas apresentam um número aumentado, chamamos de plaquetose (ou
trombocitose). Quando estão em pequeno número, chamamos plaquetopenia (ou trombocitopenia).
Nesta situação pode haver sangramento, dependendo do grau da plaquetopenia:
< 100.000: risco de sangramento quando submetido a trauma ou procedimentos de grande
porte (cirurgia da cabeça, do coração ou dos olhos)
< 50.000: risco de sangramento quando submetido a trauma ou procedimentos de pequeno
e médio porte
< 10.000: risco de sangramento espontâneo

Fatores de coagulação:
Após romper o vaso, há migração das plaquetas do vaso para a parede endotelial, aderindo-
se entre elas e formando o tampão primário, que é frágil, podendo ser deslocado com facilidade.
Após formar o tampão primário são ativados os fatores de coagulação que ao produzirem fibrina
estabilizam o coágulo, solidificando o tampão, que passa a se chamar tampão secundário, estancando
o sangramento. Após isso, as células endoteliais reestabelecem o vaso que fora rompido.
Pelo coagulograma podemos detectar alterações nas plaquetas e nos fatores de coagulação,
além de alterações vasculares que possam levar a quadros hemorrágicos, ou seja, a dificuldade de
hemostasia que o paciente apresenta.
Tempo de sangramento
Avalia a disponibilidade de plaquetas na corrente sanguínea e a capacidade que elas têm em
conter o sangramento frente uma incisão.
Valor de normalidade: 1-3 min.
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Tempo aumentado: paciente portador de função plaquetária anormal. Quadros observados


em pacientes que utilizam inibidor de adesão plaquetária, para impedir formação de trombos,
plaquetopênicos e com insuficiência hepática. Utilização de aspirina e AINES aumentam o tempo
de sangramento, diminuindo o controle da hemostasia. Atualmente, não se recomenda a suspensão
do AAS, pois o risco gerado pela suspensão da droga é maior que a dificuldade de controle do
sangramento pela anti-agregação.
Tempo de coagulação
Mensura a capacidade da fibrina em formar o coágulo inicial. Portanto, estaremos avaliando
fatores plasmáticos ativos na coagulação.
Valor de normalidade: 5-10 min.
Usualmente está aumentado em quadros com deficiências de fatores plasmáticos (hemofilia),
na deficiência de vitamina K e em drogas anticoagulantes.
Tempo de tromboplastina parcial (TTP):
Avalia a via intrínseca da coagulação, os fatores de coagulação.
Valor de normalidade: 35-50 s.
TTP aumentado: defeitos genéticos, fatores intrínsecos – hemofilia (fator VIII), doença
de Christmas (fator IX) e alterações do fator XI e XII em menor grau. Utilizada para monitorar
tratamento com heparina, que age na via intrínseca da coagulação.
Tempo de protrombina (TP):
Avalia a via extrínseca da coagulação. Ligada ao fibrinogênio, fator X, VIII, V e protrombina.
Valor de normalidade: 11 a 13 s.
Alterado em casos de má absorção de vitamina K, principalmente em quadros de colite,
doença celíaca e diarreia crônica. Utilizada para monitoramento de anticoagulante com cumarina,
pois este medicamento inibe a síntese hepática desses fatores.

Exames Bioquímicos
Refletem processos metabólicos, auxiliando no diagnóstico de doenças hepáticas, renais
e metabólicas comuns. A identificação de anormalidades nesses exames indica qual órgão está
afetado. Podemos detectar no sangue substâncias como glicose, sódio, potássio, metabólitos como
a ureia, creatinina e amônia, substâncias decorrentes de dano celular, como creatinina, amilase,
ferritina e fosfatase alcalina, e drogas como antibióticos, álcool e anticonvulsivantes.

Glicemia
Valor de normalidade (jejum): 70-100 mg/dl
É o exame bioquímico mais solicitado, servindo para avaliar níveis séricos de glicose. A taxa
aumentada (>100mg/dl) indica estágios inicias de diabetes. Esse diagnóstico é definido a partir
da obtenção de 2 resultados iguais ou superiores a 126mg/dl. Valores abaixo de 70mg/dl indicam
hipoglicemia.
Quando detectada a hiperglicemia, precisamos saber se ela é persistente (em quadros de
diabetes, obesidade e hipertireoidismo) ou transitória (estresse físico, hepatopatia grave, choque
convulsões).
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Glicemia elevada- hiperglicemia


Sintomas: boca seca, sede, vontade frequente de urinar, cansaço e visão turva. Se você
apresentar qualquer um desses sintomas, teste sua glicemia imediatamente.
As razões para glicemia elevada incluem comer exageradamente, ser menos ativo que o
comum, estar doente ou sob estresse ou necessitar de ajustes no medicamento contra diabetes.
Glicemia baixa -hipoglicemia
Pode acontecer se você estiver tomando algum medicamento para manter os níveis de
glicose no sangue próximos ao normal. Entretanto, este não é um motivo para deixar de controlar o
diabetes – apenas acompanhe de perto os níveis baixos de glicemia.
A baixa de glicose no sangue é causada, geralmente, por comer menos ou mais tarde do que o
normal, estar mais ativo do que o habitual ou tomar medicamento contra o diabetes que não esteja
de acordo com suas necessidades.
Hemoglobina glicada
Valor de normalidade: 4-6%.
Outra forma de verificar a glicemia vem a ser pela hemoglobina glicada, que representa uma
avaliação retroativa dos últimos 3 meses, informando flutuações na glicemia nesse período. Então,
a glicemia em jejum faz uma avaliação momentânea, enquanto a hemoglobina glicada nos mostra
uma análise retrospectiva.

Creatinina: é um metabólito dos rins, o exame serve para verificação do funcionamento renal. Valor
de normalidade: 0,7-1,4mg/dl. Aumento da creatinina no plasma: presença de insuficiência renal.
O cálcio e o fósforo são íons, presentes na corrente sanguínea, que estão relacionados
com a mineralização óssea. Portanto, devem ser avaliados conjuntamente. O fluxo desses íons é
controlado pelo paratormônio, pela vitamina D e pela calcitonina. Uma diminuição de cálcio livre
estimula a produção de paratormônio, causando reabsorção do cálcio a partir dos ossos, suprimindo
sua perda pela urina. A vitamina D promove a absorção de cálcio e fósforo pelo intestino, acelerando
a renovação desses minerais no sistema ósseo.

Calcemia
Valores de referência: 8,5 a 10,5 mg/d
Hipercalcemia - aumento de cálcio no sangue: em quadros de hiperparatireoidismo, tumores
ósseos malignos, ingesta excessiva de Ca, hipervitaminose D. Hipocalcemia – valores diminuídos de
cálcio no sangue: hipoparatireoidismo, insuficiência renal, síndrome de má absorção e deficiência
de vitamina D. Cálcio não está sendo absorvido ou produzido.
Fósforo: excesso de fósforo é filtrado e eliminado pelo rim. Portanto, aumento indica
insuficiência renal.
Fosfatase alcalina é uma enzima encontrada em todos os tecidos corporais, principalmente
em tecido ósseo. Utilizada para verificar doenças ósseas. É responsável pela degradação de
substâncias que contenham fosfato. Valores aumentados quando há aumento na atividade óssea.
Portanto, o aumento pode ser fisiológico, em fases de crescimento, e patológico em quadros de
fraturas, doença de Paget, tumores ósseos e hiperparatireoidismo.

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Exames Sorológicos
A partir de amostras de sangue, podemos realizar exames sorológicos, que avaliam os
mecanismos imunológicos, demonstrando a presença de anticorpos ou antígenos associados
a infecções específicas e doenças autoimunes. Isso ocorre em casos de sífilis, HIV, hepatite e
mononucleose infecciosa.
VDRL (sigla de Venereal Disease Research Laboratory): teste para identificação de pacientes
com sífilis.
Um teste de VDRL negativo quase sempre significa que a pessoa nunca teve contato
com a sífilis entretanto, num estado avançado da sífilis o VDRL poderá dar resultado negativo.
Isto é chamado de resultado falso negativo e acontece devido ao elevado número de anticorpos
produzidos pelo organismo durante o estado latente ou terciário da doença.
Por outro lado, o VDRL é às vezes positivo na ausência do sífilis. Chama-se de resultado
falso positivo. Como exemplo temos, a mononucleose infecciosa, o lupus eritematoso sistêmico,
a hepatite A, a hanseníase, a malária e, ocasionalmente, até a gravidez podem ser encontrados
pequenos títulos que não significam a presença de sífilis.
O ideal é realizar o VDRL e o FTA ABS, para confirmar a sífilis.
FTA-ABS: teste mais específico e sensível que o VDRL. A sua janela imunológica é mais curta,
podendo estar positivo já após alguns dias depois do aparecimento da lesão inicial.
Uma vez positivo, o FTA-ABS assim permanecerá para o resto da vida, mesmo após a cura
do paciente. Já os valores do VDRL caem progressivamente após a cura, podendo ou não tornar-se
negativos após um tratamento bem sucedido.
Habitualmente o VDRL é usado para rastreio da doença e o FTA-ABS para confirmação num
estado latente ou terciário da sífilis.

Interpretação de resultados de VDRL e FTA-ABS


- VDRL positivo e FTA-ABS (ou TPHA) positivo confirmam o diagnóstico de sífilis.
- VDRL positivo e FTA-ABS (ou TPHA) negativo indicam outra doença que não sífilis.
- VDRL negativo e FTA-ABS (ou TPHA) positivo indicam sífilis em fase bem inicial ou sífilis já
curada ou sífilis na fase terciária.
- VDRL negativo e FTA-ABS (ou TPHA) negativo descartam o diagnóstico de sífilis.

Exame para EBV (vírus Epstein-Barr)


O vírus Epstein-Barr é um membro da família de vírus da herpes e é um dos vírus mais comuns
a infectar os seres humanos em todo o mundo. Em crianças, o vírus normalmente não provoca
sintomas. Em adolescentes e adultos, ele provoca uma doença conhecida como mononucleose
infecciosa entre 35 e 50% dos casos. A propagação do vírus é através da saliva ou secreções
respiratórias superiores e não pode ser propagado pelo contato com o sangue.
A pesquisa do EBV é muito utilizada para identificação de mononucleose infecciosa, quando
nesse exame há IgG houve contato pregresso com o vírus, tendo IgM a doença está ativa.

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Estomatologia

CMV (Citomegalovírus)
Os exames para citomegalovírus (CMV) são usados para diagnosticar uma infecção ativa ou
para determinar se uma pessoa teve uma infecção anterior. A presença de anticorpos IgM indicam
a presença de infecção ativa pois são os primeiros a serem produzidos em resposta a uma infecção.
São detectados em uma a duas semanas após a exposição inicial ao CMV. Após alguns meses, não
são mais detectados, mas podem voltar a ser produzidos quando a infecção latente é reativada.
Os anticorpos IgG são detectados algumas semanas após a infecção inicial, e permanecem
detectáveis durante o resto da vida da pessoa desta forma, indicam que a pessoa teve contato com
a doença.
Além disso, podemos detectar por exame sorológico a infecção pelo HIV tipo 1 e 2, herpes
simples, tipos de hepatite, sarampo, caxumba e rubéola. Sarampo: IgG (pregressa ou vacina), IgM
(ativa). Caxumba: IgG (pregressa, imunização), IgM (ativa). Rubéola: IgG (imunidade), IgM (ativa).

Considerações Finais - Exames Hematológicos


Exames hematológicos são fundamentais para monitorar doenças sistêmicas, ou diagnosticar
determinadas doenças. Depende do exame clínico inicial, visto que é um exame complementar, sendo
realizado em casos que necessitamos de um auxílio para fechar o diagnóstico final. Hemograma é
indicado para analisar elementos figurados do sangue (hemácias, leucócitos, plaquetas e fatores
de coagulação). Bioquímicos: analisar o metabolismo da glicose, ósseo. Sorológicos: suspeita de
doenças infecciosas e autoimunes.

Referências
COLEMAN, C. C.; NELSON, J. F. Principios de diagnósticos bucal. Editora Guanabara Koogan, 1993.
MARCUCCI, G. Fundamentos de Odontologia – Estomatologia. Editora Guanabara Koogan, 2005.

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Equipe Responsável:
A Equipe de coordenação, suporte e acompanhamento do Curso é formada por integrantes do
Núcleo de TelessaúdeRS do Rio Grande do Sul (TelessaúdeRS/UFRGS) e do Programa Nacional de
Telessaúde Brasil Redes.

TelessaúdeRS-UFRGS
Edição/Filmagem/Animação
Coordenação Geral Diego Santos Madia
Marcelo Rodrigues Gonçalves Rafael Martins Alves
Roberto Nunes Umpierre
Divulgação
Coordenação do curso Camila Hofstetter Camini
Vinicius Coelho Carrard Guilherme Fonseca Ribeiro
Vitória de Oliveira Pacheco
Coordenação da Teleducação
Ana Paula Borngräber Corrêa Equipe de Teleducação
Andreza de Oliveira Vasconcelos
Conteudistas Angélica Dias Pinheiro
Manoela Domingues Martins Cynthia Goulart Molina Bastos
Marco Antonio Trevizani Martins Francine de Souza Borba
Vinícius Coelho Carrard Luís Gustavo Ruwer
Vivian Petersen Wagner Rosely de Andrade Vargas
Ylana Elias Rodrigues
Revisores
Bianca Dutra Guzenski
Fernanda Friedrich
Otávio Pereira D’Avila
Michelle Roxo Gonçalves
Thiago Tomazetti Casotti

Projeto Gráfico
Iasmine Paim Nique da Silva
Lorenzo Costa Kupstaitis

Diagramação
Angélica Dias Pinheiro
Iasmine Paim Nique da Silva
Lorenzo Costa Kupstaitis

Ilustração
Carolyne Vasques Cabral
Luiz Felipe Telles
Dúvidas e informações sobre o curso
Site: www.telessauders.ufrgs.br
E-mail: [email protected]
Telefone: 51 33082098

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