PDF - Obrigações
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Mônica Queiroz
Direito Civil
Aula 11
ROTEIRO DE AULA
Quando se fala em relação jurídica obrigacional, há, de um lado, o credor (sujeito ativo). De outro lado, há o devedor
(sujeito passivo). Entre eles, haverá um objeto. Todos esses elementos serão ligados por um vínculo jurídico.
Estudar o direito das obrigações é estudar a relação jurídica obrigacional, ou seja, a estrutura acima apresentada.
Geralmente, as duas pessoas envolvidas na relação jurídica obrigacional são, ao mesmo tempo, credora e devedora uma
da outra.
Exemplo: “A” vai comprar o carro de “B”. Em um primeiro momento, “A” é credor, porque ele quer receber o carro de
“B”. Neste caso, “B” é devedor do carro. Entretanto, nesse exemplo, há uma outra obrigação: “A” deve dinheiro a “B” e,
portanto, nesta segunda relação, “A” é devedor e “B” é credor.
Diante dessa perspectiva, há a ideia de sinalagma, que se refere à proporcionalidade das prestações.
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A professora explica que é importante que tal proporção exista tanto na origem do contrato quanto durante toda a sua
vigência. Nesse âmbito, surgem duas divisões:
1º) Sinalagma genético – Refere-se à proporção que deve existir na origem da contratação/negociação. Assim sendo, o
negócio deve nascer equilibrado.
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CC, art. 157: “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio
jurídico.
§ 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida
concordar com a redução do proveito.”
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CC, art. 156: “Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de
sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo as
circunstâncias.”
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2º) Sinalagma funcional – Refere-se ao equilíbrio que deve perdurar ao longo de todo o contrato.
Quando há ofensa ao sinalagma funcional, ou seja, quando ocorre um desequilíbrio superveniente, a parte prejudicada
poderá se valer da teoria da imprevisão ou da teoria da quebra da base objetiva.
Obs. 1: A Teoria da Imprevisão é adotada no Código Civil, art. 4783 e no art. 3174.
Obs. 2: A doutrina afirma que a Teoria da Quebra da Base Objetiva tem cabimento quando o desequilíbrio sobrevier nas
relações de consumo. Essa teoria está prevista no art. 6º, V do CDC5.
1) Teoria Monista
• A obrigação se funda em um elemento: a prestação.
• Prevaleceu até o fim do séc. XIX.
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CC, art. 478: “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação.”
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CC, art. 317: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida
e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o
valor real da prestação.”
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CDC, art. 6º, V: “a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão
em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;”
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✓ O débito, também conhecido como schuld, é a dívida e o dever de pagá-la.
✓ A responsabilidade, também conhecida como haftung, é a possibilidade que tem o credor de invadir o
patrimônio do devedor para se satisfazer.
Obs.: A partir do momento em que o devedor não cumpre o dever de pagar a dívida, surge o segundo elemento,
qual seja, a responsabilidade.
A professora afirma que, na grande maioria das obrigações estabelecidas em nosso país, existem esses dois elementos:
débito e responsabilidade. Neste caso, há a chamada obrigação civil ou perfeita.
✓ Obrigação Civil ou Perfeita: débito + responsabilidade.
Há também a chamada obrigação natural ou imperfeita, que é aquela em que somente existe um elemento: débito.
✓ Obrigação Natural ou Imperfeita: débito.
Neste caso, se o devedor não pagar a dívida espontaneamente, não há como o credor invadir o patrimônio do devedor
para se satisfazer.
Exemplos de obrigações naturais ou imperfeitas:
• Dívida prescrita – Exemplo: “A” deve R$ 1.000 a “B” há muito tempo e já houve a prescrição. Neste caso, “A”
pode querer pagar a dívida, pois o débito ainda existe. Neste exemplo, se “A” pagar a dívida e se arrepender
(pois descobriu posteriormente que ela estava prescrita), ele não poderá repetir o pagamento (art. 882 do CC).
CC, art. 882: “Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação
judicialmente inexigível.”
• Dívida de jogo - Exemplo: “A” deve R$ 10.000 aos jogadores de pôquer. Neste caso, há a dívida, mas, caso o
devedor não pague, não é possível, por exemplo, ajuizar uma ação judiciária para cobrá-la.
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Atenção: São exemplos de obrigações naturais apenas aqueles que se referem às dívidas de jogos proibidos ou
tolerados.
É possível o débito sem a responsabilidade? Sim. Isso ocorre nas obrigações naturais.
É possível a responsabilidade sem o débito? Sim. Isso ocorre naquelas obrigações resultantes de contrato de fiança. O
fiador tem responsabilidade por um débito de terceiro.
Observações importantes:
✓ A professora ressalta que, apesar do que dispõe o art. 391 do CC, há alguns bens que são impenhoráveis, ou
seja, não se sujeitam a nenhum tipo de constrição judicial.
✓ Existe o princípio da responsabilidade patrimonial do devedor e, portanto, o art. 391 do CC é dispensável.
✓ A responsabilidade do devedor é tão somente patrimonial, ou seja, se ele não paga a dívida, apenas seu
patrimônio responderá pela obrigação (e não o seu corpo, a sua liberdade, etc.). Assim, a responsabilidade pelas
dívidas não é pessoal.
✓ No Brasil, em regra, não existe prisão por dívida civil. Exceção: devedor de alimentos.
Para o devedor se livrar da obrigação propter rem, ele deve renunciar ao direito de propriedade ou deve abandonar a
coisa.
✓ O sucessor, automaticamente, assumirá a dívida, ainda que ele não saiba sequer da existência dessa dívida.
STJ: “Os honorários de sucumbência decorrentes de ação de cobrança de cotas condominiais não possuem natureza
propter rem.” (REsp 1.730. 651 – SP, j. 09.04.2019).
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Fontes das Obrigações
2) Fontes Mediatas:
• Negócio jurídico – O negócio jurídico decorre da autonomia privada e demonstra a liberdade das partes em
alcançar os efeitos jurídicos pretendidos pelas próprias partes.
o Bilateral – Depende de duas pessoas para aperfeiçoar o negócio jurídico. Exemplo: contrato de compra
e venda de carro.
Obs.: Todo contrato é exemplo de negócio jurídico bilateral.
o Unilateral – É aquele que depende de uma única pessoa para aperfeiçoar o negócio jurídico. Exemplo:
promessa de recompensa.
➢ Quando se faz um negócio jurídico, seja ele bilateral ou unilateral, surge uma obrigação e há devedor e
credor.
• Ato jurídico em sentido estrito – Representa uma mera submissão do agente ao ordenamento jurídico. Neste
caso, o agente faz algo e, dessa ação, surgem efeitos impostos pela lei. Exemplo: o reconhecimento de
paternidade gera efeitos sucessórios, direito a alimentos etc.
➢ O ato jurídico em sentido estrito também é fonte de obrigação.
• Ato ilícito – É o contrário à lei. Exemplo: “A” entra na contramão e bate na frente do carro de “B”. Neste caso,
“A” praticou um ato ilícito e passou a ser devedor de “B”.
➢ O ato jurídico em sentido estrito também é fonte de obrigação.
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✓ Em todas as fases do processo obrigacional (antes, durante e depois) deve perdurar a boa-fé objetiva, pois,
apenas dessa forma, é possível alcançar a maior satisfação para o credor com a menor onerosidade para o
devedor.
✓ Exatamente em virtude dessa ideia de que a boa-fé objetiva deve estar presente em todas as fases da obrigação
que, atualmente, é possível concluir que todas as obrigações são complexas.
Conceitos importantes:
Obrigação complexa é aquela em que o seu cumprimento ocorre não apenas com o adimplemento da obrigação
principal, mas também com o cumprimento de deveres laterais ou anexos.
Os deveres laterais ou anexos se traduzem em alguns elementos: proteção, informação, cooperação, lealdade e
solidariedade.
✓ Pablo Stolze chama os deveres laterais de deveres invisíveis, pois, para existirem, não precisam estar expressos
no contrato. Há autores que os denominam de deveres satelitários.
Exemplo: “A” compra um sanduíche no McDonald’s do shopping e, ao sair, escorrega no chão molhado (não há
placas avisando para o cliente tomar cuidado), cai e se machuca. “A” processa o McDonald’s pleiteando uma
indenização e tem seu pedido deferido, pois a empresa não cumpriu com a obrigação lateral de proteger o
cliente contra eventual acidente ou informá-lo que o chão estava molhado.
✓ O que liga os deveres laterais ou anexos à obrigação principal é o princípio da boa-fé objetiva (art. 422, CC6).
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CC, art. 422: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.”
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Relação Jurídica Obrigacional
1) Obrigação de dar – Por meio da obrigação de dar, busca-se a entrega ou a restituição de algo.
A depender do que é devido, é possível estar diante de uma obrigação de dar coisa certa ou de dar coisa incerta.
Conceito - Por meio da obrigação de dar coisa certa, busca-se a entrega de algo que esteja perfeitamente
individualizado/especializado.
Exemplo: “A” é credor de “B” e quer que este lhe entregue o carro XX, modelo YY, placa ZZZZ. Neste caso, “B” possui
uma obrigação de dar coisa certa, pois o objeto está perfeitamente individualizado. Se “B” não entrega a “A” o carro
objeto da obrigação e oferece a ele um ainda melhor e mais caro, “A” não é obrigado a aceitar a troca.
CC, art. 313: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.”
Se, no exemplo dado, entretanto, “A” decidir aceitar o carro mais valioso, estar-se-á diante do instituto da dação em
pagamento, o qual extinguirá a obrigação existente.
Obs.: A dação em pagamento ocorre quando o credor consente em receber prestação diversa da que lhe é devida.
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CC, art. 356: “O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida.”
Acessórios: Pelo princípio da gravitação jurídica, o bem principal atrai os acessórios, estendendo a eles o seu regime
jurídico.
No exemplo dado anteriormente, os acessórios do carro deverão ser entregues com o veículo (principal).
✓ Obs.: O princípio da gravitação jurídica (o acessório segue o principal) se aplica em se tratando de benfeitorias e
frutos. Em se tratando de pertenças, em regra, tal princípio não se aplica (art. 94 do CC7).
CC, art. 233: “A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o contrário
resultar do título ou das circunstâncias do caso.”
Em relação à parte final do art. 233 do CC (“salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso”), a
professora explica que é possível que, no contrato, haja a menção expressa ao fato de o acessório não seguir o principal
ou isso pode ocorrer a depender das circunstâncias do caso.
Exemplo 1: “A” faz um contrato com “B” para a compra do carro XX, modelo YY, placa ZZZZ e eles estabelecem que o
acessório W não acompanhará o veículo.
Exemplo 2: “A” alugou um apartamento para “B”. “B”, ao entrar no apartamento, equipou-o com alguns móveis, entre
eles, uma geladeira e um fogão. Ao devolver o apartamento a “A”, o fogão e a geladeira não precisam ser entregues ao
locador (“A”) e isso decorre das circunstâncias do caso.
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CC, art. 94: “Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o
contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.”
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• A partir da tradição, o adquirente passa a ser dono da coisa (no exemplo dado acima – venda do carro -,
o adquirente é “B”).
Atenção: A professora destaca que, na lei, o alienante é chamado de devedor, pois o legislador está focado na
obrigação de dar. No exemplo dado, “A” (alienante) é devedor de “B” na obrigação de dar o carro e “B”
(adquirente) é credor do bem (carro).
Questão: Se a coisa (carro) se perder antes da tradição, quem ficará com o prejuízo? O devedor. No exemplo
dado, “A” ficará com o prejuízo.
Todavia, se a coisa se perder após a tradição, o prejuízo será do credor do bem (no exemplo dado, o prejuízo
será de “B”).
Observação: Se a perda ocorre antes da tradição, entretanto, é necessário verificar se a coisa se perdeu por
culpa do devedor ou não.
Situação 1: “A” vendeu o carro para “B”, mas ainda não houve a tradição. “A” é devedor de “B” na entrega da
coisa, ou seja, na entrega do carro. Antes da tradição, contudo, houve a perda total do carro, porque “A” mora
em uma cidade vizinha à barragem de rejeitos de minério e, no caso concreto, a barragem se rompeu e destruiu
o carro. No exemplo dado, não houve culpa do devedor “A”. Diante de situações como essa, a lei preceitua que
a obrigação será resolvida/extinta, ou seja, o prejuízo será de “A”, que ainda é dono do veículo. Se,
eventualmente, parcela do dinheiro já tiver sido entregue a ele, ele deverá restituir o valor pago a “B” (credor
do carro).
Situação 2: “A” vendeu o carro para “B”, mas ainda não houve a tradição. Antes da tradição, contudo, houve a
perda total do carro, porque “A”, completamente bêbado, dirigiu o veículo e se acidentou. No exemplo dado,
houve culpa do devedor “A”. Diante de situações como essa, a lei preceitua que a obrigação será
resolvida/extinta. Assim, se, eventualmente, parcela do dinheiro já tiver sido entregue a ele, ele também deverá
restituir o valor pago a “B” (credor do carro). Além disso, como houve culpa de “A”, ele precisará indenizar “B”
por perdas e danos.
CC, art. 234: “Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou
pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do
devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.”
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Deterioração da coisa certa
Deterioração é uma perda parcial da coisa, que ainda pode ser alienada. Neste caso, também é necessário verificar se
houve culpa (ou não) do devedor da coisa.
• Sem culpa: resolução da obrigação ou manutenção da obrigação, com a subtração decorrente da depreciação
da coisa. Neste caso, não há indenização por perdas e danos, pois o devedor não teve culpa na deterioração da
coisa.
CC, art. 235: “Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou
aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu.”
• Com culpa: resolução da obrigação com a devolução do equivalente + perdas e danos/ ou manutenção da
obrigação com um abatimento no preço + perdas e danos.
CC, art. 236: “Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em
que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.”
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CC, art. 237: “Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá
exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a obrigação.”
Parágrafo único. Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes.
Obs. 1: Os frutos já percebidos são os frutos colhidos. Exemplo: no exemplo dado anteriormente, todos os filhotes que a
cachorrinha teve são do devedor (“B” – petshop).
✓ O caput do art. 237 do CC cita a situação em que houve a negociação, não se cogitava a existência de frutos
pendentes e, posteriormente, eles ocorrem de forma superveniente (no exemplo dado, a prenhez surgiu de
modo superveniente à negociação e antes da tradição).
Obs. 2: Em relação ao parágrafo único do art. 237, imagine a seguinte situação: “A” vai a um petshop (“B”) e vê uma
cadelinha grávida que está sendo vendida naquela condição. Neste caso, há frutos pendentes, mas esses já foram
constatados e, portanto, “A” paga R$ 3.000,00 pelo animal naquele estado e os frutos serão atribuídos a “A”.
Na obrigação de restituir, antes ou depois da restituição, o dono é uma pessoa só, ou seja, não há a alteração do dono
da coisa. O dono sempre será o credor.
Exemplo: “A” emprestou um carro a “B”. “B” é o devedor. Entretanto, perceba que, mesmo antes de “B” restituir a
coisa, “A” já era dona.
Quando a perda ocorre antes da restituição, faz-se a mesma pergunta: O devedor agiu com culpa ou sem culpa?
- Se o devedor tiver agido sem culpa, a obrigação simplesmente é resolvida e o prejuízo será do dono (mas o dono é o
credor).
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Exemplo 1: “A” emprestou um carro a “B”. Posteriormente, “B”, em um lugar aparentemente seguro e durante o dia,
sofreu um assalto à mão armada e o ladrão levou o carro. Neste exemplo, houve a perda da coisa em uma obrigação de
restituir. Como se tratava de contrato de comodato (empréstimo de bem infungível) e não houve culpa do devedor, a
obrigação será resolvida e o prejuízo será de “A” (que é dona do carro).
Exemplo 2: “A” (credor) alugou o apartamento para “B” (devedor) e este deve restituí-lo ao final do contrato de locação.
Antes de haver a restituição, o apartamento sofre um incêndio sem haver a culpa de “B”. Neste caso, a obrigação
também será resolvida e o prejuízo será de “A”. Entretanto, eventuais aluguéis devidos por “B” a “A” devem ser pagos
normalmente.
- Se o devedor tiver agido com culpa, a obrigação também será resolvida, mas o devedor deverá pagar ao credor o
equivalente ao valor do objeto e indenizá-lo por perdas e danos.
Exemplo: “A” emprestou um carro a “B”. Posteriormente, “B” pegou o carro bêbado, acidentou-se e o carro teve perda
total. Neste caso, a obrigação também será resolvida, mas “B” deverá pagar o valor equivalente ao carro e mais a
indenização por perdas e danos.
CC, art. 238: “Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição,
sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.”
CC, art. 239: “Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.”
CC, art. 240: “Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem
direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239.”
✓ O final do art. 240 do CC afirma que, se houver deterioração da coisa por culpa do devedor na obrigação de
restituir, a obrigação será resolvida e o credor receberá o valor equivalente ao bem e pode exigir perdas e
danos.
✓ A professora destaca que, quando o art. 240 do CC faz remissão ao art. 239 do CC, ele não leva em consideração
que, em caso de deterioração do objeto a ser restituído, é cabível a manutenção do contrato pelo princípio da
função social do contrato e da conservação. Assim sendo, a despeito de não estar expresso em lei, o contrato
deve ser mantido e a coisa deve ser devolvida para o credor (que poderá exigir perdas e danos). Veja o
enunciado a seguir:
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Enunciado nº 15, CJF: “As disposições do art. 236 do novo Código Civil também são aplicáveis à hipótese do art. 240, in
fine.”
Atenção: Por meio do Enunciado 15 do CJF, é possível que o credor fique com a coisa + perdas e danos.
CC, art. 244: “Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário
não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor.”
Exemplo: “A” fez um contrato com “B” e este deve àquele 5 vacas (quantidade e gênero). Neste caso, para verificar a
quem caberá a escolha, é necessário verificar o que dispõe o contrato. No silêncio do instrumento contratual, o devedor
(“B”) escolherá os objetos a serem entregues. Conforme dispõe o art. 244 do CC, o devedor não poderá dar a coisa pior,
nem será obrigado a prestar a melhor.
Momento em que a obrigação de da coisa incerta se transforma em obrigação de dar coisa certa (art. 245, CC8)
A obrigação de dar coisa incerta, em determinado momento, irá se transformar em obrigação de dar coisa certa e,
segundo o art. 245 do CC, isso ocorrerá com a cientificação daquilo que foi escolhido.
Exemplo: “A” fez um contrato com “B” e este deve àquele 5 vacas (quantidade e gênero). Como o contrato não
dispunha sobre quem deveria fazer a escolha, coube ao devedor fazê-la. Assim sendo, o devedor escolheu as 5 vacas e
comunicou “A” sobre as vacas escolhidas para entrega (cientificação). A partir deste momento, a obrigação de dar coisa
incerta se convola em obrigação de dar coisa certa.
➢ Obs.: A definição do momento da convolação da obrigação de dar coisa incerta em obrigação de dar coisa certa
definirá as regras a serem aplicadas ao caso concreto.
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CC, art. 245: “Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente.”
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Perda da coisa incerta (????)
A noção de perda da coisa somente se refere à obrigação de dar coisa certa.
➢ Nós devemos nos manifestar pela impossibilidade de uma coisa incerta vir a se perder.
✓ A regra é que o gênero não se perde - “genus non perit”. Por esse motivo, o devedor, em caso de obrigação de
dar coisa incerta, não pode alegar a perda ou a deterioração da coisa, ainda que sem culpa dele.
CC, art. 246: “Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior
ou caso fortuito.”
✓ Atenção: A professora esclarece que o art. 246 do CC possui um equívoco, pois ele cita que “antes da escolha”,
o devedor não poderá alegar perda ou deterioração da coisa. Entretanto, para ser coerente com o disposto no
art. 245 do CC, o legislador deveria ter mencionado “antes da cientificação”.
Conceito: Por meio da obrigação de fazer, busca-se do devedor o desempenho de uma atividade:
• Física – Exemplo: contratar alguém para lavar o carro.
• Intelectual – Exemplo: contratar um advogado ou um médico.
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• Declaração de vontade - Exemplo: promessa de compra e venda em que o dono do imóvel a ser alienado se
obriga a, após receber o valor devido, ir com o adquirente a um cartório de notas e fazer a escritura pública de
compra e venda de imóvel.
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INTENSIVO I
Mônica Queiroz
Direito Civil
Aula 12
ROTEIRO DE AULA
Conceito: Por meio da obrigação de fazer, busca-se do devedor o desempenho de uma atividade.
Essa atividade poderá ser:
• Física – Exemplo: contratar alguém para lavar o carro.
• Intelectual - Exemplo: contratar um médico, um advogado, etc.
• Declaração de vontade - Exemplo: após o término do pagamento das parcelas relativas a um contrato de
promessa de compra e venda de imóvel, o adquirente quer que o alienante manifeste a sua vontade e transfira o
imóvel.
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CC, arts. 247 a 249: “Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele
só imposta, ou só por ele exeqüível.
Art. 248. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele,
responderá por perdas e danos.
Art. 249. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor, havendo
recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar
executar o fato, sendo depois ressarcido.”
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A obrigação de fazer se subdivide em duas espécies:
• Fungível – É aquela em que a pessoa do devedor poderá ser substituída. Exemplo: Se “A” contrata alguém para
pintar as paredes de sua casa, o que importa para “A” é que o serviço seja feito e não quem é o pintor.
• Infungível - É aquela em que a pessoa do devedor não poderá ser substituída. É também conhecida como
obrigação de fazer personalíssima (intuitu personae). Exemplo: “A” contrata Chico Buarque para fazer uma
música. Neste caso, o que interessa para “A” é que o compositor Chico Buarque faça a música e não outro
profissional.
Descumprimento da obrigação de fazer: Ocorre o descumprimento da obrigação de fazer quando o devedor não faz aquilo
que ele deveria fazer.
• Sem culpa: resolvida.
Exemplo: Imagine que “A” contratou “B” para cantar em sua festa. No dia da festa, “B” não apareceu, pois ele
sofreu um sequestro. Neste caso, “B” descumpriu o contrato, mas não houve culpa do devedor. Assim sendo,
haverá a resolução da obrigação (extinção). Se, porventura, “A” já tiver pagado um determinado valor a “B”, o
devedor deverá devolver o equivalente ao que foi pago.
• Com culpa: resolvida + perdas e danos.
Exemplo: Imagine que “A” contratou “B” para cantar em sua festa. No dia da festa, “B” não apareceu, pois ele
bebeu demais e não quis ir cantar. Neste caso, “B” descumpriu o contrato e houve culpa do devedor. Assim sendo,
haverá a resolução da obrigação com a devolução do equivalente ao que foi pago ao devedor e o credor poderá
exigir uma indenização por perdas e danos.
CC, art. 249: “Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do devedor,
havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível.
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Parágrafo único. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar
executar o fato, sendo depois ressarcido.”
Atenção: O parágrafo único do art. 249 do CC traz a hipótese de autotutela ou autoexecutoriedade da obrigação de fazer
em caso de urgência.
Conceito: Por meio da obrigação de não fazer, busca-se do devedor uma abstenção.
A obrigação de não fazer é sempre infungível (personalíssima), pois sempre diz respeito àquela pessoa do devedor.
• Instantânea ou transeunte – É aquela em que, quando há o seu descumprimento, não é possível desfazer aquilo
que foi feito.
Exemplo: Imagine que “A” trabalhava na fábrica da Coca-Cola e conhecia a fórmula do produto. “A” fez um
contrato com a empresa se comprometendo a não divulgar o segredo da fórmula. Trata-se de obrigação de não
fazer instantânea, pois, se “A” descumprir com tal obrigação, ele não poderá desfazer aquilo que foi feito.
• Permanente - É aquela em que, quando há o seu descumprimento, é possível desfazer aquilo que foi feito.
Exemplo: “A” faz um acordo com o condomínio em que reside e se compromete a não utilizar a vaga de garagem
X. Trata-se de obrigação de não fazer permanente, pois, se “A”, eventualmente, estacionar na garagem X, ele
poderá desfazer aquilo que foi feito, retirando o seu carro da vaga.
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CC, art. 250 e 251:
“Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do
ato, que se obrigou a não praticar.
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob pena
de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização
judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.”
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Descumprimento da obrigação de não fazer: (art. 390, CC3)
Nas obrigações de não fazer, o devedor será considerado inadimplente desde o dia em que praticou o ato que não poderia
praticar.
• Sem culpa: resolvida;
Exemplo: Imagine que “A” trabalhava na fábrica da Coca-Cola e conhecia a fórmula do produto. “A” fez um
contrato com a empresa se comprometendo a não divulgar o segredo da fórmula. Entretanto, em determinado
dia, ao sair da empresa, “A” foi abordado por “B” que colocou uma arma em sua cabeça e o ameaçou de morte.
Diante disso, “A” teve que contar o segredo da fórmula, mas não houve culpa do devedor “A”. Assim sendo, no
exemplo dado, haverá a resolução da obrigação.
• Com culpa: resolvida + perdas e danos.
Exemplo: Imagine que “A” trabalhava na fábrica da Coca-Cola e conhecia a fórmula do produto. “A” fez um
contrato com a empresa se comprometendo a não divulgar o segredo da fórmula. Entretanto, em determinado
dia, “B” ofereceu um valor muito alto a “A” e este àquele revelou o segredo. Perceba que, nesse exemplo, houve
o descumprimento da obrigação com culpa do devedor e, portanto, haverá a resolução da obrigação e a Coca-
Cola poderá exigir uma indenização por perdas e danos.
CC, art. 251: “Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o desfaça, sob
pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, independentemente de autorização
judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido.”
Atenção: O parágrafo único do art. 251 do CC traz a hipótese de autotutela (autoexecutoriedade) da obrigação de não
fazer em caso de urgência.
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CC, art. 390: “Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de que
se devia abster.”
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Modalidades das Obrigações
1) SIMPLES: É aquela em que, de um lado, há um credor; do outro lado, há um devedor; e, entre eles, há um objeto.
Situação 2: Imagine que 3 devedores devam R$ 90,00 para 1 credor. Trata-se de prestação divisível.
Havendo pluralidade de devedores e se tratando de prestação divisível, deve-se presumir que cada devedor apenas
poderá ser cobrado pelo valor correspondente à sua fração ou quota-parte.
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CC, art. 257: “ Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em
tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores.”
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Obrigações solidárias
Conceito de solidariedade:
CC, art. 264: “Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada
um com direito, ou obrigado, à dívida toda.”
Obs.: A professora destaca que, ao falar de solidariedade (obrigação subjetivamente plural), o aluno deve perceber que
se trata de situação em que haverá vários credores e/ou vários devedores. Se houver vários credores solidários, qualquer
um deles poderá cobrar a dívida toda. Se houver vários devedores solidários, qualquer um deles poderá ser cobrado pela
dívida toda.
Espécies de solidariedade:
• Solidariedade ativa – No esquema abaixo (lado • Solidariedade passiva - No esquema abaixo (lado
esquerdo), há 3 credores solidários de uma dívida de R$ direito), há 3 devedores solidários de uma dívida de R$
90,00. Neste caso, qualquer um deles poderá cobrar a 90,00. Neste caso, qualquer um deles poderá ser
dívida toda do devedor. Trata-se de solidariedade ativa. cobrado pela dívida toda. Trata-se de solidariedade
Se, exemplificativamente, o credor 1 cobrou os R$ 90,00 passiva.
do devedor, o credor 1 deverá distribuir R$ 30,00 para Se, exemplificativamente, o credor cobra a dívida toda
C2 e R$ 30,00 para C3. do D1 e este faz o pagamento, D1 cobrará a fração
✓ Haverá pluralidade de credores. devida por D2 e D3.
✓ Qualquer credor poderá cobrar a dívida toda. ✓ Haverá pluralidade de devedores.
✓ Aquele credor que receber o pagamento deverá dividir ✓ Qualquer devedor poderá ser cobrado pela dívida toda.
com os demais aquilo que recebeu. ✓ Aquele devedor que pagar poderá se voltar contra os
demais devedores exigindo a fração de cada um.
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Observações:
a) A solidariedade não se presume, decorre da lei ou da vontade das partes (art. 2655) – Para se afirmar que há
solidariedade, deve haver previsão legal ou o contrato deve ter estabelecido que, no caso concreto, há solidariedade. Se
não houver previsão legal ou contratual, não há solidariedade.
Exemplo 1 - Imagine que a questão de prova trouxe o seguinte enunciado: João e Maria são credores de José. A dívida é
de R$ 1.000,00. Neste caso, quanto João poderá cobrar de José?
Perceba que a questão não traz nenhuma informação sobre a existência de solidariedade. Assim sendo, João apenas pode
cobrar a sua quota-parte (R$ 500,00).
Exemplo 2 - Imagine que a questão de prova trouxe o seguinte enunciado: João e Maria são credores de José. A dívida é
de R$ 1.000,00. O contrato feito entre as partes estabeleceu que João e Maria são credores solidários. Neste caso, quanto
João poderá cobrar de José?
Como há solidariedade ativa, João (ou Maria) pode cobrar a dívida toda de José.
b) A solidariedade só se manifesta nas relações externas (C-D); nas relações internas (C-C ou D-D), o que há é
fracionariedade.
✓ Relação externa é aquela que existe entre credor e devedor.
✓ Relação interna é aquela que ocorre entre credores ou entre devedores – No exemplo dado anteriormente, em
que João e Maria são credores solidários de José em uma dívida de R$ 1.000,00, se João cobrar a dívida toda,
haverá a chamada fracionariedade, pois João deverá entregar R$ 500,00 a Maria.
CC, art. 266: “A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e condicional, ou
a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro.”
✓ Obrigação pura e simples é aquela que não se subordina a nenhuma condição, termo ou encargo.
Enunciado 347, CJF: “A solidariedade admite outras disposições de conteúdo particular além do rol previsto no art. 266
do Código Civil.”
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CC, art. 265: “A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes”
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REGRAS DE SOLIDARIEDADE ATIVA
Em suma: Em princípio, o devedor poderá escolher a qual credor solidário ele pretende fazer o pagamento. Todavia, se
um dos credores promover a demanda em relação ao devedor, este ficará obrigado a pagar o credor que demandou, pois
terá se operado o fenômeno da prevenção judicial.
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Em suma: Havendo o falecimento de um dos credores solidários, cada um dos herdeiros apenas poderá cobrar o valor
correspondente ao seu quinhão hereditário.
CC, art. 270: “Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber
a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.”
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CC, art. 271: “Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.”
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✓ Obs.: A professora explica que o legislador, no art. 271 do CC, utilizou a expressão “perdas e danos”, mas o ideal
seria que ele utilizasse uma expressão análoga à “se a prestação se converter em seu equivalente” ou “se a
prestação se converter em pecúnia”. Isso ocorre porque as perdas e danos, tecnicamente falando, apenas são
devidas pelo devedor se o descumprimento da obrigação for culposo.
• Remissão = perdão.
• Remição = resgate (direito processual civil).
Exemplo: Imagine que haja 3 credores solidários de uma dívida de R$ 90,00. C1, neste caso, perdoa a dívida toda e o
devedor é liberado da obrigação. Neste caso, C1 deverá pagar a quota-parte dos demais credores.
✓ Obs.: do mesmo modo que todos os credores solidários podem cobrar a dívida toda, eles também podem perdoar
a dívida toda.
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A professora destaca, entretanto, que, neste caso, não seria possível, por exemplo, que, diante do ajuizamento da ação
de C1, o devedor tentasse apresentar exceção pessoal relativa a outro credor (por exemplo, relativa a C3).
7) O alcance da coisa julgada quanto aos credores solidários que não fizeram parte do processo
Exemplo: Imagine que haja 3 credores solidários e um devedor. C1 ajuíza uma ação contra o devedor e os demais credores
não participaram da demanda. Posteriormente, sobrevém uma decisão judicial na ação intentada. Questiona-se: Qual
seria o alcance da coisa julgada dessa demanda em relação a C2 e C3?
Exemplo: Imagine que haja vários credores solidários e um devedor. C1 ajuíza a ação contra o devedor. D (devedor) opõe
uma exceção pessoal contra C1. Neste exemplo, C1 se frustra nessa demanda. Nesse caso, questiona-se: A decisão
contrária a C1 alcança os demais credores? Não.
CC, art. 274: “O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável
aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles.”
Exemplo: Imagine que haja vários credores solidários e um devedor. C1 ajuíza a ação contra o devedor e obtém êxito em
seu pedido. Neste caso, o julgamento favorável a C1 alcançará os demais credores solidários.
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CC, art. 274: “O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável
aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles.”
Exemplo: Imagine que haja vários credores solidários e um devedor. C1 ajuíza a ação contra o devedor e obtém êxito em
seu pedido. Neste caso, o julgamento favorável a C1 alcançará os demais credores solidários, exceto se o devedor tiver
uma outra exceção pessoal em relação aos demais credores (exemplo C3). Nessa situação, C3 não será beneficiado pela
decisão favorável a C1.
REGRAS DE SOLIDARIEDADE PASSIVA – Ocorre quando há vários devedores e todos podem ser cobrados pela dívida toda.
A professora explica que, se o credor ajuizar a ação contra apenas um dos devedores (exemplo: D1), D1 poderá utilizar o
chamamento ao processo (modalidade de intervenção de terceiros) para chamar os demais devedores (D2 e D3) ao
processo.
✓ Obs.: Se o credor ajuíza a ação contra um dos devedores (exemplo: D1) e se frustra em sua demanda, nada impede
que, posteriormente, ele cobre a dívida de D2 ou de D3.
CC, art. 275: “O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida
comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.”
Parágrafo único. “Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos
devedores.”
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2) Oposição de exceções (art. 281)
Exemplo: Imagine que haja 3 devedores solidários e 1 credor. Neste caso, o credor ajuizou uma demanda em desfavor de
D1. D1 pode apresentar exceções pessoais (exemplo: compensação) e pode apresentar exceções comuns a todos os
devedores (exemplo: prescrição da dívida). No exemplo dado, entretanto, D1 não pode apresentar exceções pessoais de
D3.
Questão: No exemplo dado, quanto o credor pode cobrar de cada um dos devedores?
Em relação a D1 e a D2, o credor pode cobrar a dívida completa (R$ 90,00). Em relação a dx e dy, o credor apenas poderá
cobrar o valor de R$ 15,00 (valor correspondente ao quinhão hereditário).
dx e dy não são devedores solidários, pois a solidariedade não se presume, mas decorre da vontade da lei ou das partes.
Exemplo 2: Imagine que haja 3 devedores solidários de uma vaca. Neste caso, o credor pode cobrar a dívida integralmente
de qualquer um de seus devedores (todos estão vivos) e isso ocorre por dois motivos: há solidariedade e a prestação é
indivisível.
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Exemplo 3: Imagine que haja 3 devedores solidários de uma vaca. Ocorre que, antes do pagamento, D3 falece e deixa dois
herdeiros (dx e dy). Neste caso, questiona-se:
• Quanto o devedor poderá cobrar de D1? Poderá cobrar a vaca inteira.
• Quanto o devedor poderá cobrar de D2? Poderá cobrar a vaca inteira.
• Quanto o devedor poderá cobrar de dx? Poderá cobrar a vaca inteira. Isso ocorre porque há indivisibilidade na
prestação. Nesse caso, não há solidariedade. Trata-se de situação excepcional.
CC, art. 276: “Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a
quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.”
Para entender a parte final do art. 276 do CC, veja o exemplo abaixo:
Exemplo: Imagine que haja 3 devedores solidários de uma dívida de R$ 90,00. Ocorre que, antes do pagamento, D3 falece
e deixa dois herdeiros (dx e dy). Neste caso, em regra, o credor poderá cobrar de dx apenas o quinhão hereditário
correspondente. Imagine, entretanto, que o credor, para facilitar sua cobrança, ajuíze a ação contra D1 para conseguir
receber, de uma vez só, o valor integral devido. D1 paga a dívida e, neste caso, torna-se credor de D2 e de dx e dy. Diante
dessa situação, os herdeiros de D3 (dx e dy) são tidos como um único devedor solidário diante de D1. Isso significa que
D1 pode cobrar R$ 30,00 de dx ou pode cobrar R$ 30,00 de dy.
✓ Obs.: O final do art. 276 do CC traz um exemplo de solidariedade imposta por lei (“mas todos reunidos serão
considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores”).
4) Remissão
Exemplo: Imagine que haja 3 devedores solidários de uma dívida de R$ 90,00. O credor é amigo de D1 e, por esse motivo,
resolve perdoar a dívida dele. D1, neste caso, é totalmente liberado de sua obrigação. Nesse exemplo, D2 e D3 continuam
responsáveis apenas pelo valor restante da dívida (R$ 60,00), o qual é obtido a partir da subtração da quota-parte de D1.
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CC, art. 277: “O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros
devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada.”
✓ Obs.: A professora destaca que o aluno não deve confundir a remissão com a renúncia à solidariedade, tema que
será estudado na próxima aula.
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INTENSIVO I
Mônica Queiroz
Direito Civil
Aula 13
ROTEIRO DE AULA
5) Renúncia à solidariedade
Relembrando:
✓ A solidariedade passiva ocorre quando há vários devedores e qualquer devedor pode ser cobrado pela dívida toda.
✓ Se um devedor paga a dívida, ele se voltará contra os demais devedores exigindo a fração de cada um.
A professora explica que, na estrutura de solidariedade passiva, ocorre a renúncia à solidariedade em relação a um dos
devedores ou a vários deles.
Exemplo: Imagine que o credor tenha diante de si três devedores solidários de uma dívida de R$ 90,00. O credor decide
renunciar à solidariedade em relação a D1. Isso significa que D1 deixa de participar da dívida solidária, mas continua,
entretanto, devedor. Assim, ele irá se tornar um devedor fracionário. Com isso, o credor somente poderia cobrar R$ 30,00
de D1 (e não a dívida toda).
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Os demais devedores que não foram beneficiados com a renúncia à solidariedade continuam devedores solidários, tendo
que subtrair a quota do D1 que obteve a renúncia à solidariedade. Assim, no exemplo dado, D2 e D3 continuam devedores
solidários de uma dívida de R$ 60,00.
✓ Em suma: A partir do momento em que o credor renuncia à solidariedade em relação a D1, não significa que ele
esteja perdoando a dívida, significa que ele está apenas renunciando aos laços de solidariedade em relação ao D1,
de modo que ele continua devedor, porém devedor fracionário.
✓ Isso é muito bom para o D1 porque quando se é devedor solidário, pode existir a cobrança pela dívida toda.
Quando se é devedor fracionário, somente é possível ser cobrado pela fração que lhe cabe.
Obs.: A professora destaca que, em provas de concurso, os examinadores tentam fazer com que o aluno confunda a
remissão na solidariedade passiva com a renúncia à solidariedade (passiva).
Relembrando:
✓ Ao estudar o tema “remissão”, a professora explicou que, quando o credor perdoa o devedor, este fica totalmente
liberado de qualquer obrigação e não precisa pagar nada.
✓ Por outro lado, quando o credor obtém uma renúncia à solidariedade, ele deixa de ser devedor solidário e passa
a ser devedor fracionário.
CC, art. 282: “O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.
Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais.”
Enunciado 349, CJF: “Com a renúncia à solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá
cobrar do beneficiado a sua quota na dívida, permanecendo a solidariedade quanto aos demais devedores, abatida do
débito a parte correspondente aos beneficiados pela renúncia.”
Enunciado 351, CJF: “A renúncia à solidariedade em favor de determinado devedor afasta a hipótese de seu chamamento
ao processo.
✓ Chamamento ao processo é o instrumento de que o devedor solidário dispõe para chamar à baila os demais
devedores solidários. Assim, se um dos devedores foi beneficiado com a renúncia à solidariedade, ele não pode
mais ser chamado ao processo, pois se tornou devedor fracionário.
Enunciado 348, CJF: “O pagamento parcial não implica, por si só, renúncia à solidariedade, a qual deve derivar dos termos
expressos da quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias do recebimento da prestação pelo credor.”
✓ Exemplo: Imagine que o credor tenha diante de si três devedores solidários de uma dívida de R$ 90,00. O credor
cobra a dívida toda de D1, mas este paga apenas R$ 30,00. Diante desse pagamento parcial, em princípio, a dívida
permanece em relação ao restante do valor (R$ 60,00) e a solidariedade continua. O fato de o credor ter aceitado
o pagamento parcial de D1 não implica, necessariamente, renúncia à solidariedade.
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6) Impossibilidade da prestação (art. 279)
Exemplo: Imagine que haja 3 devedores solidários de uma vaca. O credor pode cobrar a dívida por inteiro de qualquer um
dos devedores por dois motivos: já havia solidariedade e há indivisibilidade. No exemplo dado, a vaca morreu e surgiu a
impossibilidade da prestação. Assim, essa vaca será substituída pelo seu valor equivalente que, no caso em questão, vale
R$ 900,00.
No exemplo acima, embora a indivisibilidade tenha acabado, a solidariedade continua e qualquer um dos credores poderá
ser cobrado pelo valor equivalente. Desse modo, o credor pode cobrar de qualquer devedor os R$ 900,00 porque, em
relação ao equivalente, a solidariedade continua.
Imagine ainda que, neste exemplo, a vaca tenha morrido porque um dos devedores, o D3, ficou de dar ração para o animal
e não deu. Neste caso, há uma coisa certa que se perdeu por culpa de um dos devedores solidários.
Atenção: Pelas perdas e danos somente responde o devedor que tiver agido com culpa pela perda da coisa, porque, pelo
valor equivalente, todos continuam como devedores solidários. Veja o esquema abaixo:
CC, art. 279: “Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de
pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.”
CC, art. 283: “O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos codevedores a sua quota,
dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os
codevedores.”
Lembrando que a palavra “quota” também pode ser escrita como “cota”.
Exemplo: Imagine que, em determinado caso, haja cinco devedores solidários, porque assim estava previsto no contrato.
A dívida é de R$ 100.000,00. Porque são devedores solidários, qualquer devedor pode ser cobrado pela dívida toda. D1
faz o pagamento ao credor do valor total. O credor sai da relação jurídica obrigacional satisfeito e D1 se volta contra D2,
D3, D4 e D5.
Assim, cada um dos devedores deverá pagar as quotas que lhes cabem do valor total da dívida, ou seja, R$ 20.000,00.
Contudo, D1 pagou os R$ 100.000,00 ao credor e, quando foi cobrar dos codevedores, ele percebeu que o D5 era
insolvente, não tendo dinheiro ou patrimônio para responder pela dívida. Neste caso, o art. 283 do CC vai dizer que todos
os devedores são responsáveis pela quota parte do devedor insolvente.
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Na medida em que D1 pagou os R$ 100.000,00 ao credor e o D5 é insolvente, D1 vai se voltar contra D2, D3 e D4 apenas,
porque D5 não tem dinheiro para pagar. Neste caso, D2, D3 e D4 vão arcar com R$ 25.000,00 cada e não com R$ 20.000,00,
já que a quota-parte do devedor insolvente foi dividida pelos demais codevedores.
Atenção: Mesmo aquele devedor que foi beneficiado com a renúncia à solidariedade será chamado à baila para responder
pelo devedor insolvente.
Enunciado 350, CJF: “A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão, em que o devedor fica inteiramente liberado
do vínculo obrigacional, inclusive no que tange ao rateio da quota do eventual co-devedor insolvente, nos termos do art.
284.”
✓ Atenção: o devedor remitido fica totalmente liberado da sua obrigação. Já o devedor solidário que foi beneficiado
com uma renúncia à solidariedade continua devedor fracionário e, se houver insolvência de algum dos
codevedores, ele será chamado para arcar com a quota do devedor insolvente.
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9) A dívida no interesse exclusivo de um dos devedores (art. 285)
Exemplo: Imagine que haja dois devedores solidários de um lado (locatário e fiador) e o credor de outro lado. D1 é o
locatário e D2 é o fiador. No exemplo dado, D1 possui uma dívida de R$ 10 mil perante o locador. O locador, percebendo
que o contrato previa a solidariedade do fiador, cobrou D2 e este pagou a dívida integralmente.
Atenção: Neste caso, a dívida existe no interesse exclusivo de um dos devedores solidários. Assim sendo, após D2 pagar
o débito, ele cobrará a dívida toda de D1.
✓ A regra que consta no art. 285 do CC é uma exceção à regra de que a solidariedade apenas se manifesta nas
relações externas.
Observação:
O fiador é sempre um devedor solidário? Não. Em regra, o fiador é devedor subsidiário, ou seja, ele apenas é chamado a
pagar se o locatário não tiver condições de fazê-lo. Assim sendo, em regra, se o fiador for demandado antes do devedor,
haverá o benefício de ordem (art. 827 do CC), que é o direito que tem o fiador de ver primeiro excutidos os bens do
devedor principal.
CC, art. 827: “O fiador demandado pelo pagamento da dívida tem direito a exigir, até a contestação da lide, que sejam
primeiro executados os bens do devedor.
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Parágrafo único. O fiador que alegar o benefício de ordem, a que se refere este artigo, deve nomear bens do devedor,
sitos no mesmo município, livres e desembargados, quantos bastem para solver o débito.”
Contudo, a professora destaca que, na maioria dos contratos de fiança, há uma cláusula em que o fiador renuncia ao
benefício de ordem. Quando o fiador renuncia ao benefício de ordem, ele deixa de ter esse benefício e deixa de ser
responsável subsidiariamente para ser responsável solidariamente (art. 828 do CC).
OBRIGAÇÕES INDIVISÍVEIS
✓ Obs.: Inicialmente, a professora destaca que o aluno não deve confundir obrigação solidária com obrigação
indivisível.
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CC, art. 258: “A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de
divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico.”
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OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS
A obrigação é divisível quando a prestação for divisível. A divisibilidade da prestação ocorrerá quando não houver nenhum
dos óbices expressos no art. 258 do CC.
Exemplo: 3 devedores devem R$ 12.000,00 ao credor. Dinheiro é prestação divisível.
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Exemplo: Imagine que 3 pessoas são credoras de uma vaca (ou uma casa). Neste caso, há uma obrigação indivisível com
pluralidade de credores.
CC, art. 260: “Se a pluralidade for dos credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores
se desobrigarão, pagando:
I - a todos conjuntamente;
II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.”
Imagine outra situação: O devedor precisa entregar uma vaca para 3 credores, mas C1 vive viajando e C2 não mora na
cidade. Apenas C3 está disponível para receber a prestação. Nesse caso, o devedor até poderá pagar C3, desde que este
credor apresente um documento chamado de “caução de ratificação”. Isso consta no art. 260, II, CC.
✓ Caução de ratificação é o documento pelo qual os demais credores consentem que o pagamento poderá ser feito
a um credor determinado.
Após um dos credores receber a prestação, mediante a apresentação da caução de ratificação, ele deverá pagar aos
demais credores a fração correspondente em dinheiro a cada um dos credores.
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CC, art. 261: “Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito de exigir dele
em dinheiro a parte que lhe caiba no total.”
Obs.: A remissão na solidariedade ativa foi estudada no art. 272 do CC2 e libera totalmente o devedor da obrigação.
A remissão que ocorre na obrigação indivisível é diferente, pois, não estando presente a solidariedade, o devedor remitido
continua vinculado perante os demais credores.
Exemplo: Imagine que 3 pessoas são credoras de uma casa e há um devedor. Se, exemplificativamente, C3 perdoa a dívida
do devedor, este continua obrigado perante os demais credores.
No exemplo dado acima, apesar de C3 ter remitido a dívida do devedor, este continuará obrigado a entregar a casa a C1
e a C2, conforme preceitua o art. 262 do CC. Assim sendo, o devedor entrega a casa aos demais credores (C1 e C2) e recebe
o valor equivalente à fração de C3. Se, exemplificativamente, a casa entregue valer R$ 900 mil, o devedor a entrega e tem
direito a receber o valor de R$ 300 mil relativo à fração de C3.
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CC, art. 272: “ O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes
caiba.”
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Conversão da prestação em perdas e danos
Relembrando: Se houver solidariedade ativa em uma hipótese de prestação que se converteu em perdas e danos, a
solidariedade persiste em relação ao valor correspondente à coisa e qualquer credor poderá cobrar o valor integral da
prestação (art. 271 do CC3).
3
CC, art. 271: “Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.
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✓ Obs.: o Código Civil não versa sobre as obrigações cumulativas em nenhum de seus dispositivos e, portanto, elas
são reguladas pelas regras gerais da Teoria Geral do Direito Obrigacional.
Em suma:
• Diversas prestações;
• Pluralidade de prestações;
• Partícula aditiva “E”.
Em suma:
• Pluralidade de prestações;
• Partícula alternativa “OU”;
• Arts. 252/256, CC4.
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CC, art. 252 a 256: “Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1 o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2 o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.
§ 3 o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este
assinado para a deliberação.
§ 4 o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não
houver acordo entre as partes.
Art. 253. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito
quanto à outra.
Art. 254. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha,
ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar.
Art. 255. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor
terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as
prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por
perdas e danos.
Art. 256. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação.”
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Como se trata de obrigação alternativa, deverá ser feita uma escolha.
Questão: A quem cabe a escolha da prestação a ser entregue?
• Em primeiro lugar, é necessário analisar o contrato.
• Se o contrato for silente, deve-se analisar o disposto no art. 252 do CC.
Exemplo 1: Imagine que João deve 2 apartamentos ou 2 iates para Maria. Neste caso, de acordo com o art. 252, §1º do
CC, João não pode obrigar Maria a aceitar um apartamento e um iate.
Exemplo 2: João cultiva café e feijão e, periodicamente, ele entrega a safra produzida a Maria. Neste caso, conforme art.
252, §2º do CC, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período de safra.
Exemplo 3: João deve um carro ou uma moto para Maria. No contrato, ambos estipulam que a escolha será feita por
Antônio. Entretanto, Antônio se nega a fazer a escolha. Neste caso, o juiz fará a escolha (art. 252, §4º do CC).
A partir do momento em que há a escolha, a obrigação plural se torna uma obrigação simples.
Atenção: A professora pede para o aluno não confundir a obrigação alternativa com a obrigação com faculdade alternativa
de cumprimento.
• Na obrigação alternativa, há uma obrigação objetivamente plural. Exemplo: João deve um carro ou uma moto
para Maria.
• Na obrigação com faculdade alternativa de cumprimento, há uma obrigação simples. Exemplo: João deve um carro
a Maria. Entretanto, no contrato, há uma cláusula dispondo que a João é deferida a possibilidade de, no lugar do
carro, entregar uma moto, se ele assim optar. Neste caso, portanto, há um direito potestativo do devedor de
entregar outra coisa no lugar da prestação previamente definida.
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Classificações:
1) Quanto ao conteúdo:
a) Obrigação de meio/de diligência – É aquela em que o devedor se obriga a empreender a sua atividade sem,
contudo, garantir um resultado. Exemplo: serviços advocatícios, cursos preparatórios para concurso, serviços
médicos (em geral) etc.
A obrigação de meio é sinônimo de obrigação de diligência.
b) Obrigação de fim/de resultado – É aquela em que o devedor se compromete a obter um resultado. Exemplo:
serviço prestado por motorista de táxi, serviços de engenharia etc.
A professora destaca que é comum que os examinadores cobrem esse tema e indiquem o exemplo do cirurgião plástico,
questionando se ele teria obrigação de meio ou de fim.
Atenção: Os médicos, de uma maneira geral, assumem uma obrigação de meio. Entretanto, no caso do cirurgião plástico,
é necessário detectar no enunciado da questão qual é a atividade que está sendo assumida pelo profissional.
• Se o cirurgião plástico estiver exercendo uma atividade estética, a obrigação será de fim (posição do STJ). Exemplo:
A mulher se submete a uma cirurgia plástica estética para mudar os lábios. Após o procedimento, a boca da
paciente fica horrorosa.
• Se o cirurgião plástico estiver exercendo uma atividade reparadora, a obrigação será de meio. Exemplo: a pessoa
sobreviveu a um incêndio e está cheia de cicatrizes. Diante disso, ela procura um cirurgião plástico para tentar
reparar os danos que sofreu.
2) Quanto à dependência:
a) Principal - É aquela que existe sozinha, independentemente de qualquer outra.
Exemplo 1: obrigação do locatário no contrato de locação.
Exemplo 2: obrigação do mutuário no contrato de mútuo.
b) Acessória - É aquela cuja existência pressupõe a existência de uma obrigação principal.
Exemplo 1: obrigação do fiador no contrato de fiança. Neste exemplo, a obrigação do fiador depende da obrigação
do locatário.
a) Obrigação de execução instantânea/imediata- É aquela em que o seu cumprimento deve ocorrer logo após a sua
constituição. Exemplo: na compra e venda à vista, há uma obrigação de execução instantânea.
b) Obrigação de execução futura - É aquela em que o cumprimento ocorrerá no futuro. Ela se subdivide em:
• Continuada - É aquela em que o cumprimento ocorrerá no futuro por meio de subvenções periódicas, ou
seja, por meio do pagamento de parcelas.
Exemplo: compra de uma geladeira com pagamento em 6 parcelas mensais.
• Diferida - É aquela em que o cumprimento ocorrerá no futuro, mas será feita de uma só vez.
Exemplo: compra de uma geladeira com pagamento feito por meio de um cheque pós-datado para daqui
a 40 dias.
2) Formas especiais (pagamento indireto): consignação em pagamento; pagamento com sub-rogação; imputação de
pagamento; dação em pagamento; novação; compensação; confusão; remissão. (arts. 334/388).
TEORIA DO PAGAMENTO
1) Aspectos subjetivos (sujeitos envolvidos).
2) Aspectos objetivos (objeto)
3) Lugar do pagamento (onde o pagamento deverá ser feito)
4) Tempo do pagamento (quando deverá ocorrer o pagamento)
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Aspectos Subjetivos
a) Quem paga é o devedor (304/3075)
✓ A pessoa que paga é conhecida como solvens (devedor).
Além do devedor, o terceiro interessado também poderá pagar (é aquele que tem um interesse jurídico na extinção da
obrigação, porque, se isso não ocorrer, vai haver uma repercussão no patrimônio dele).
Exemplo: o fiador possui interesse jurídico na extinção da obrigação.
Quando o terceiro interessado paga, acontece o fenômeno da sub-rogação porque esse terceiro interessado vai se sub-
rogar na posição de credor (vai substituir o credor primitivo). O fiador, terceiro interessado, ao pagar o credor, passa a
ocupar o lugar dele com todas as garantias e privilégios que o credor originário possuía.
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CC, art. 304 a 307: “Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser,
dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição
deste.
Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar;
mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.
Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar aquele
que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.
Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o
objeto em que ele consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu
e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.”
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III - Do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.”
CC, art. 349: “A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em
relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores.”
Além do devedor e do terceiro interessado, o terceiro não interessado também pode pagar.
Ele é chamado dessa forma porque não tem interesse jurídico na extinção da obrigação, já que o inadimplemento não
repercute no patrimônio desse terceiro não interessado. Ele paga porque, embora não tenha interesse jurídico, ele pode
vir a apresentar outros interesses, como um interesse moral, religioso etc.
Exemplo: o pai que, envergonhado, promove o pagamento do filho maior de 18 anos plenamente capaz, apesar de não
ser responsável ou fiador.
O terceiro não interessado, quando paga, pode pagar de duas formas: em nome do devedor (o pai paga e diz ao credor
que deve ser constado do recibo o próprio filho) ou em nome próprio.
• Quando o terceiro não interessado paga em nome do devedor, significa que amanhã esse terceiro (pai) não pode
se voltar contra o filho exigindo o pagamento, porque, aos olhos do legislador, isso é tido como mera liberalidade.
• Esse terceiro não interessado também pode pagar em nome próprio, ou seja, o pai envergonhado paga a dívida
do filho maior de 18 anos plenamente capaz, mas o pai exige a quitação em seu nome. Esse terceiro não
interessado pagou em nome próprio. Nesse caso, é possível que, posteriormente, esse terceiro não interessado
se volte contra o devedor exigindo um reembolso daquilo que ele pagou.
Atenção: O terceiro não interessado, quando paga em nome próprio, faz jus a um reembolso. Já o terceiro interessado se
sub-roga na posição de credor.
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Questão: Se sub-rogar na posição de credor é o mesmo que ter direito a reembolso? Não. O terceiro interessado se sub-
roga na posição de credor, que não é o mesmo que ter direito a reembolso. Quando a pessoa se sub-roga na posição da
outra, significa que ele passa a ocupar o lugar do credor primitivo, com todos os direitos, garantias, ações, privilégios que
aquele credor primitivo tinha.
Já quando falamos que o terceiro não interessado que paga em nome próprio não se sub-roga, mas tem direito a
reembolso, estamos querendo dizer que ele não passou a ocupar o lugar do credor primitivo, apenas podendo ser
reembolsado dos valores que foram pagos.
• Representante expresso é aquele que tem em mãos um instrumento de mandato, isto é, uma procuração.
• Representante tácito é aquele que, embora não tenha em mãos um instrumento de mandato, uma procuração,
ele tem o próprio título, a própria nota promissória assinada pelo devedor ou a quitação.
O devedor somente deve pagar ao credor se ele for CAPAZ para dar a quitação.
✓ Capacidade para dar a quitação seria a capacidade de fato.
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CC, arts. 308 a 312: “Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só
valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.
Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício
dele efetivamente reverteu.
Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem
a presunção daí resultante.
Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da impugnação a ele
oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a pagar de novo, ficando-
lhe ressalvado o regresso contra o credor.”
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Exemplo: o pai deve pensão alimentícia ao seu filho de 10 anos de idade. O menino de 10 anos de idade é o credor e o pai
é o devedor. Quando o pai vai pagar essa pensão, ele deposita o valor em uma conta bancária destinada a esse filho ou
ele entrega o dinheiro nas mãos da mãe do menino, que está representando a criança (credor verdadeiro).
Imagine que, em um dia de sol no parque, esse pai, com preguiça de ir ao banco no dia seguinte fazer a transferência da
pensão alimentícia, saca o dinheiro em um caixa eletrônico e entrega o valor ao menino.
Questão: Esse pagamento será considerado como válido? Não. Quem paga mal, paga duas vezes.
Dois dias depois, a mãe do menino vai ligar para o pai para cobrar os valores novamente porque o pagamento feito ao
credor que não era capaz será considerado inválido.
Questão: Esse pai não pode alegar nada para não ter que pagar novamente? Esse pai tem um argumento que lhe favorece:
o mesmo art. 310, em sua parte final, diz que esse pai somente não terá que pagar novamente se ele conseguir provar
que o pagamento reverteu em benefício do incapaz.
Imagine que o pai pagou o filho no domingo no parque, mas o menino, na segunda-feira, foi à escola com esse dinheiro e
pagou a mensalidade, apresentando o comprovante. Se o pai conseguir provar isso, ele não terá que pagar novamente.
Vejamos:
CC, art. 310: “Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em
benefício dele efetivamente reverteu.”
Credor Putatitvo
A palavra “putativo” vem de putare, que significa imaginar. Credor putativo é o credor imaginário.
Conceito: credor putativo é aquele que se porta como verdadeiro credor, não o sendo, porém.
Questão: Imagine que um credor de boa-fé promova um pagamento a um credor putativo. Será que esse pagamento será
considerado válido? Sim. O art. 309 vai nos informar que o devedor de boa-fé, quando paga ao credor putativo, tem o
pagamento considerado válido.
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Quem responderia negativamente a essa pergunta, certamente se pautou naquela premissa do pagamento indevido, de
que quem paga mal paga duas vezes. Realmente existe essa premissa no mundo do pagamento indevido, mas quando o
art. 309 do CC informa que o pagamento feito ao credor putativo deve ser considerado válido, esse dispositivo funciona
como uma exceção à regra de que quem paga mal paga duas vezes.
CC, art. 309: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.”
➢ Exemplo da doutrina: um sujeito entra em uma loja, promove um assalto, amarra todos em um quartinho nos
fundos da loja e se dirige ao caixa. Posteriormente, ele coloca o uniforme da loja e recebe o pagamento de uma
vítima que nada sabia do assalto. Esse pagamento será considerado válido.
Duas horas depois, esse assaltante foi preso e o dono da loja ligou para aquele cliente, querendo receber
novamente. Contudo, essa pessoa pagou a um indivíduo que se apresentava perante a sociedade como sendo o
credor verdadeiro e esse pagamento deverá ser considerado válido.
➢ Exemplo do TJRJ: um rapaz alugou um barracão em um contrato de locação muito simples, muito informal. O
proprietário do barracão era um idoso de 90 anos de idade e ficou combinado que todo dia ele 5 passaria ali para
receber do locatário o aluguel e assim foi acontecendo. Esse idoso tinha uma namorada de 25 anos e ele, cansado
de ir receber o aluguel no barracão, informa o locatário que ele deveria pagar à sua namorada todo dia 5. Seis
meses depois, o idoso falece, mas ela não conta isso ao locatário, de modo que ele continua a fazer os
pagamentos. Meses depois, os herdeiros do idoso ajuízam uma ação contra o rapaz, oportunidade em que este
vem a saber que o idoso tinha falecido há meses. Esses herdeiros cobram o pagamento do aluguel. Realmente
quem paga mal paga duas vezes, mas esse rapaz alegou, em sua defesa, que havia pagado a um credor putativo.
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INTENSIVO I
Mônica Queiroz
Direito Civil
Aula 14
ROTEIRO DE AULA
Credor Putatitvo
Relembrando:
A palavra “putativo” vem de putare, que significa imaginar. Credor putativo é o credor imaginário. Ele não é o credor
verdadeiro, é aquele que é capaz de iludir a outra pessoa de tal modo a fazer com que essa outra pessoa pague a ele.
O legislador, neste momento, protege o devedor e afirma que o pagamento feito a credor putativo deve ser considerado
válido.
Relembre o exemplo dado na aula anterior: um sujeito entra em uma loja, promove um assalto, amarra todos em um
quartinho nos fundos da loja e se dirige ao caixa. Posteriormente, ele coloca o uniforme do estabelecimento e recebe o
pagamento de uma vítima que nada sabia do assalto. Esse pagamento será considerado válido. Duas horas depois, esse
assaltante é preso e o dono da loja liga para aquele cliente, querendo receber o valor novamente. Contudo, essa pessoa
1
pagou a um indivíduo que se apresentava perante a sociedade como o credor verdadeiro e esse pagamento deverá ser
considerado válido.
CC, art. 309: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.”
A professora destaca que o art. 309 do CC funciona como uma exceção à regra que diz que “quem paga mal paga duas
vezes”.
Teoria da aparência: o art. 309 do CC se pauta nessa teoria. A teoria da aparência traz equilíbrio para as relações negociais.
Questão: Quando alguém vai pegar um táxi, ela faz sinal para o motorista, entra o carro, mas não pergunta àquele taxista
se ele é realmente motorista, se ele tem carteira de habilitação. Ela simplesmente entra, indica seu destino e é levada até
lá, com base na teoria da aparência. Da mesma forma, quando a pessoa está dentro de um banco e se dirige a um caixa
para fazer o pagamento, ela não pergunta para a pessoa que está ali naquele guichê se ela realmente trabalha na
instituição financeira.
Segundo o STJ, para que seja considerado credor putativo, é necessário que o erro seja escusável, ou seja, é necessário
que o erro seja desculpável.
“RECURSO ESPECIAL. CIVIL. SEGURO DPVAT. INDENIZAÇÃO. CREDOR PUTATIVO. TEORIA DA APARÊNCIA. 1. Pela aplicação
da teoria da aparência, é válido o pagamento realizado de boa-fé a credor putativo. 2. Para que o erro no pagamento seja
escusável, é necessária a existência de elementos suficientes para induzir e convencer o devedor diligente de que o
recebente é o verdadeiro credor. 3. É válido o pagamento de indenização do DPVAT aos pais do de cujus quando se
apresentam como únicos herdeiros mediante a entrega dos documentos exigidos pela lei que dispõe sobre seguro
obrigatório de danos pessoais, hipótese em que o pagamento aos credores putativos ocorreu de boa-fé. 4. Recurso
especial conhecido e provido.” (REsp 1.601.533/MG, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado
em 14/06/2016, Dje 16/06/2016).
Atenção: O credor verdadeiro deverá se voltar contra o credor putativo, não mais podendo cobrar do devedor, porque
esse pagamento foi tido como válido.
Imagine que determinada pessoa precisa pagar um boleto de condomínio e, para tanto, entra no site da administradora,
imprime o boleto e promove o pagamento. Contudo, fraudadores entraram no sistema e alteraram o código de barras de
tal modo que essa pessoa pagou mal. Ele pagou a um credor putativo e o engano dele foi escusável.
“É válido o pagamento realizado por meio de boleto bancário mesmo que o código de barras tenha sido alterado por
terceiros fraudadores. Na origem, os locatários requereram a declaração de inexistência da dívida de aluguel com base no
2
comprovante de quitação juntado aos autos, entretanto, o locador alegou que o pagamento realizado não lhe foi revertido
porque terceiros fraudadores manipularam o código de barras do boleto. Diante desse cenário, a Turma se filiou ao
entendimento do STJ de que ’é válido o pagamento realizado de boa-fé a pessoa que se apresenta com aparência de ser
credor ou seu legítimo representante. Para que o erro no pagamento seja escusável, é necessária a existência de
elementos suficientes para induzir e convencer o devedor diligente de que quem recebe é o verdadeiro credor ou seu
legítimo representante.’ Para os Julgadores, se a impressão do boleto bancário foi feita por meio da página da internet do
próprio locador com o código de barras já alterado, como consta dos autos, o reconhecimento da fraude pelos locatários
demandaria diligência extraordinária que não se exige do homem médio. Desta feita, a Turma negou provimento ao
recurso do locador por entender que, realizado o pagamento válido a credor putativo, resta ao verdadeiro credor
perseguir o crédito daquele que indevidamente o recebeu.” (Acórdão n. 851718, 20140310233290ACJ, Relatora: EDI
MARIA COUTINHO BIZZI, 3ª Turma Recursal dos Juizados Especiais do Distrito Federal, Data de Julgamento: 24/02/2015,
Publicado no DJE: 02/03/2015. Pág.: 334).
Aspectos Subjetivos
a) Quem paga → solvens (devedor, terceiro interessado, terceiro não interessado).
b) A quem pagar → accipiens (credor, representante do credor).
Aspectos Objetivos
Já vimos que o art. 313 do CC traz a informação de que o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa. Se o combinado foi X, deverá ser pago X. Assim, mesmo que aquilo que o devedor está
oferecendo ao credor seja muito valioso, o credor não é obrigado a receber. Algumas provas alteram o final do artigo
dizendo que “o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, exceto se mais valiosa”. ERRADO.
Exemplo: X é devedor de um carro para Y. O carro vale R$ 100.000,00. No lugar do carro, o devedor quer dar uma vaca ao
credor porque ela vale R$ 150.000,00. Neste caso, Y evidentemente não é obrigado a aceitar (mas pode aceitar).
CC, art. 313: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.”
Na esteira do art. 313, nos deparamos com o artigo subsequente. No art. 314 do CC, há o princípio da prestação integral
ou da identidade física da prestação.
3
Imagine que determinada prestação seja divisível, como o dinheiro. Neste caso, o credor não é obrigado a receber por
partes nem o devedor é obrigado a pagar por partes, se assim não foi convencionado. Para que haja parcelamento, é
importante que haja previsão contratual nesse sentido.
CC, art. 314: “Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem
o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou.”
Obs.: Quando a prestação for convencionada em dinheiro, é necessário utilizar o disposto no art. 115 do CC:
Inicialmente, é possível dividir o art. 315 do CC em três partes. A primeira parte vai nos informar que as dívidas em dinheiro
deverão ser pagas quando do vencimento, sendo o princípio da pontualidade. Na segunda parte, ele cita a moeda
corrente. De acordo com a Lei n. 9.069/95, a moeda corrente no nosso país é o Real. Na terceira parte, o artigo exige que
seja observado o valor nominal, sendo este o princípio do nominalismo. O valor nominal da moeda corrente significa dizer
que se deve obedecer ao valor que está estampado naquela cédula, cunhado na moeda.
Atenção: O art. 315 do CC não se esquece dos efeitos da inflação, porque ele faz uma ressalva importante dizendo “salvo
o disposto nos artigos subsequentes”, que são os arts. 316 e 317.
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CC, art. 316: “É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas.”
Cláusula de escala móvel ou cláusula de escalonamento → é a cláusula que prevê um reajustamento prévio e automático
das prestações.
Essa cláusula vai se traduzir nessas fórmulas para atualizar, de modo automático, o valor da moeda. Trata-se dos índices
oficiais para corrigir monetariamente o valor da moeda por conta da inflação (Exemplos: INPC, IGPM).
CC, art. 317: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e
o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o
valor real da prestação.”
Teoria da Imprevisão → essa teoria aparece no art. 317 do CC, na seara do Direito das Obrigações; e no art. 478 do CC1,
no âmbito da Teoria Geral dos Contratos.
O art. 317 do CC afirma que, quando se está diante de um contrato de execução futura (exemplo: compra de algo com
parcelas pagas em 24 meses), haverá uma obrigação que irá se protrair no tempo. Diante disso, se, futuramente, acontecer
algo extraordinário, superveniente e, com isso, o devedor for colocado em uma situação de ruína, será possível pleitear
a correção das prestações deste contrato.
1
CC, art. 478: “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação.”
5
Obs.1: Enunciado 175, CJF: “A menção à imprevisibilidade e à extraordinariedade, insertas no art. 478 do Código
Civil, deve ser interpretada não somente em relação ao fato que gere o desequilíbrio, mas também em relação às
consequências que ele produz.”
O Enunciado 175 do CJF preceitua que a imprevisibilidade do evento será avaliada do ponto de vista da parte (e não
do mercado). A professora afirma que, aos olhos do mercado, tudo é previsível.
Exemplo: “A” trabalha na mesma empresa há 25 anos e, nesse tempo todo, vive a mesma rotina. Para “A”, nem há a
cogitação da possibilidade de demissão. Entretanto, para o mercado, qualquer pessoa pode ser demitida.
Obs.2: Art. 7º, Lei nº 14.010/20. “Não se consideram fatos imprevisíveis, para os fins exclusivos dos arts. 317, 478, 479
e 480 do Código Civil, o aumento da inflação, a variação cambial, a desvalorização ou a substituição do padrão
monetário.”
✓ A Lei nº 14.010/20 é a lei da pandemia ou RJET. Tal lei traz um regime jurídico emergencial e transitório acerca
das relações jurídicas de direito privado.
✓ O RJET entrou em vigor em 12/06/2020 e valeu até 30/10/2020.
✓ Essa lei trouxe questões relevantes acerca do prazo prescricional, questões relativas às assembleias de
condomínios e sobre a teoria da imprevisão.
✓ O art. 7º, Lei nº 14.010/20, teve um curto período de vigência, mas o disposto nela já era algo consolidado na
jurisprudência. Assim sendo, o aumento da inflação, a variação cambial, a desvalorização ou a substituição do
padrão monetário não são considerados fatos imprevisíveis.
d) Que gere extrema vantagem para uma das partes.
Questão: Quais são os defeitos/problemas apresentados pela doutrina e que estão presentes no art. 478 do CC?
1º) O primeiro grande problema é o quarto requisito apresentado anteriormente: gerar extrema vantagem para uma das
partes. Isso porque, na maioria dos casos, uma das partes é conduzida à extrema ruína, mas a outra não teve uma
vantagem extrema. Assim sendo, o quarto requisito é, na verdade, uma falha do Código Civil, apresentado pela doutrina.
2º) Ao ler o caput do art. 478 do CC, é possível perceber que, em primeiro plano, ele traz o efeito da resolução (extinção)
do contrato. Trata-se de outra falha, pois, na grande maioria das vezes, a parte prejudicada não quer a resolução do
contrato, mas o reequilíbrio das prestações para manutenção do instrumento contratual.
✓ Obs.: O art. 479 do CC2 até traz a possibilidade de revisão do contrato, mas isso, segundo a professora, é feito de
modo muito tímido. Isso porque, nesse caso, a parte não prejudicada deverá mostrar interesse na revisão do
instrumento contratual.
✓ A professora destaca que o disposto no caput do art. 478 do CC é um problema, pois, um dos princípios que
inspira a contratualidade é o princípio da função social do contrato e o outro é o princípio da conservação dos
2
CC, art. 479: “A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar eqüitativamente as condições do
contrato.”
6
contratos. De acordo com eles, se um contrato possui desequilíbrio, as partes e o juiz devem se esforçar para
mantê-lo em vigor.
✓ A doutrina afirma que, como o art. 478 do CC possui tantos problemas, é melhor a parte se valer do art. 317 do
CC para aplicar a teoria da imprevisão. Desse modo, as partes conseguirão se manter em conformidade com os
princípios da função social do contrato e com o princípio da conservação dos contratos.
A professora explica que a moeda nacional é a expressão da soberania de um país. Assim sendo, se a lei admitisse a
utilização de outras moedas, o Real se enfraqueceria.
Assim o que justifica o curso forçado da moeda nacional é que, se deixarmos de lado a nossa moeda corrente, estaríamos
atacando a soberania do nosso país ou enfraquecendo-a, o que significa dizer que são nulas as convenções de pagamento
em ouro ou em moeda estrangeira.
CC, art. 318: “São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a
diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.”
Existem contratos baseados no dólar, por exemplo. Essa situação adentrou nos limites da excepcionalidade porque, na
parte final do art. 318 do CC, constam situações em que podem existir leis especiais. Exemplo: contrato de importação.
Para o STJ:
“as dívidas fixadas em moeda estrangeira deverão, no ato de quitação, ser convertidas para a moeda nacional, com base
na cotação da data da contratação, e, a partir daí, atualizadas com base em índice oficial de correção monetária" (STJ,
AgRg no REsp 1.342.000 – PR, 3ª T, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, j. 04.02.2014).
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PROVA DO PAGAMENTO → Quitação (arts. 319/320)
CC, art. 319: “O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada.”
O devedor que paga (ou o terceiro interessado ou não interessado) tem direito à quitação regular, que é o recibo.
A quitação é, antes de tudo, um direito daquele que paga. Assim, imagine que o devedor quer pagar e o credor, por
qualquer motivo, se recusa a dar essa quitação. Neste caso, o devedor pode reter esse pagamento até que lhe seja
oferecida a quitação (recibo).
✓ Ocorre que, muitas vezes, ao recusar a quitação, o devedor não paga e, posteriormente, tem problemas para
provar que apenas reteve a quitação por uma conduta do devedor e, portanto, não é justa a imposição de juros e
multa. Assim sendo, o Código Civil traz o instituto da consignação em pagamento (depósito da coisa devida). Esse
tema será estudado posteriormente.
Esse dispositivo do CC/2002 coloca fim a uma discussão que existia no velho CC/1916. No Código Civil revogado, havia a
seguinte dúvida: uma obrigação constituída por escritura pública poderia ser quitada por meio de instrumento particular?
O CC/1916 não respondia tal questão. O CC/2002 responde essa dúvida, porque essa quitação sempre pode ser dada por
instrumento particular, ainda que a obrigação tenha sido constituída por instrumento público.
Obs.: O comprovante de uma transferência bancária vale como quitação, porque dele se extrai as informações no sentido
de que houve o pagamento.
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➢ E a quitação que se opera por meios eletrônicos? Temos um enunciado que cuida dessa quitação.
Enunciado nº 18, CJF: “A ‘quitação regular’ referida no art. 319 do novo Código Civil engloba a quitação dada por meios
eletrônicos ou por quaisquer formas de ‘comunicação a distância’, assim entendida aquela que permite ajustar negócios
jurídicos e praticar atos jurídicos sem a presença corpórea simultânea das partes ou de seus representantes.”
Presunções de pagamento:
Há dispositivos do CC/2002 que beneficiam o devedor, pois aceitam presunções de pagamento. Nestes casos, há a
inversão do ônus da prova e o credor deverá comprovar que não recebeu.
1ª) CC, art. 322: “Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário,
a presunção de estarem solvidas as anteriores.”
Tal dispositivo traz a ideia de pagamento que se traduz em quotas periódicas, ou seja, em parcelas. A presunção favorável
ao devedor que esse art. 322 do CC traz é de que o pagamento de uma parcela faz presumir o pagamento das anteriores.
Exemplo: Imagine um devedor que paga somente a terceira parcela, sem pagar a primeira ou a segunda. Apesar dessa
presunção de pagamento que beneficia o devedor, o que ocorre, na verdade, é uma inversão do ônus da prova. Neste
caso, não é mais o devedor que tem que provar que pagou e sim o credor que deve provar que não recebeu, gerando
grandes dificuldades probatórias.
Assim, na maioria dos casos, o art. 322 do CC é afastado porque geralmente se coloca no contrato ou no boleto que “o
pagamento da parcela X não implica o pagamento das anteriores”. Essa informação é colocada exatamente para afastar
a presunção legal do dispositivo.
➢ Uma regra que surge de um acordo feito entre as partes tem o condão de afastar esse art. 322 do CC? Sim,
porque esse artigo é norma de natureza privada, que pode ser perfeitamente afastada por acordo feito entre as
partes.
Em um caso que chegou ao STJ, o indivíduo não pagou várias parcelas da taxa condominial, pagando apenas a última
(atual). Quando o condomínio foi cobrar dele as taxas condominiais anteriores, ele alegou o art. 322 do CC. Nesse caso,
questiona-se: o art. 322 do CC se aplica às taxas condominiais?
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O STJ se manifestou dizendo que esse art. 322 do CC não se aplica ao pagamento de taxa condominial porque cada quota
goza de autonomia:
“COTA. CONDOMÍNIO. PRESUNÇÃO. QUITAÇÃO. A jurisprudência das Turmas que compõem a Segunda Seção deste
Superior Tribunal pacificou-se no sentido de que as cotas condominiais são imprescindíveis à manutenção do condomínio,
que sobrevive da contribuição de todos em benefício da propriedade comum de que usufruem. Elas representam os gastos
efetuados mês a mês, de sorte que gozam de autonomia umas das outras, não prevalecendo a presunção contida no art.
322 do CC/2002 (correspondente ao art. 943 do CC/1916), de que a mais antiga parcela estaria paga se as subsequentes
o estivessem. Diante disso, a Seção deu provimento aos embargos. Precedente citado: REsp 852.417-SP, DJ 18/12/2006.
(EREsp 712.106-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgados em 9/12/2009.)”
2ª) CC, art. 323: “Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.”
Se houve a quitação do capital, sem haver algum esclarecimento quanto à ideia de que os juros foram pagos ou não,
devemos presumir que os juros foram pagos.
✓ O acessório segue o principal.
3ª) CC, art. 324: “A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.”
Se João deve a Mônica R$ 1.000,00 e assinou uma nota promissória, assim que João chega com o dinheiro para promover
o pagamento, Mônica não precisa fazer uma quitação por escrito, podendo simplesmente devolver a nota promissória ao
João, que é o devedor.
✓ Claro que todas essas presunções analisadas até agora são presunções relativas, que admitem prova em sentido
contrário.
CC, art. 324, p.ú.: “Ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do
pagamento.”
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CC, art. 326: “Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que
aceitaram os do lugar da execução.”
O lugar da execução é o lugar em que aquela obrigação será cumprida. Nesse exemplo, estamos falando da fazenda e o
lugar do cumprimento é onde está situado o imóvel. Assim sendo, será considerado o alqueire paulista.
LUGAR DO PAGAMENTO
Uma obrigação poderá ser quesível (é aquela em que o pagamento deverá ocorrer no domicílio do devedor) ou portável
(é aquela em que o pagamento ocorrerá no domicílio do credor).
• Na obrigação portável, há um devedor que porta o pagamento até o seu credor (pagamento no domicílio do
credor).
• Na obrigação quesível, o pagamento ocorre no domicílio do devedor.
Questão: Como saber onde ocorrerá o pagamento no caso concreto? Primeiramente, é necessário analisar o disposto no
contrato. Se o contrato for omisso nesse ponto, é necessário se valer da regra do art. 327 do CC, ou seja, o pagamento
deverá ocorrer no domicílio do devedor.
Portanto, a conclusão a que chegamos é que a regra no ordenamento jurídico brasileiro é que as obrigações são quesíveis
ou quérables. Somente será portável se houver disposição contratual.
CC, art. 327: “Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou
se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles.”
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Exemplo: imagine que o contrato designou dois lugares para o pagamento, que poderá ocorrer no lugar A ou no lugar B.
Quem irá escolher? Segundo o parágrafo único do art. 327, caberá ao credor escolher entre eles.
Nesse ponto, a professora pede para o aluno tomar cuidado, pois, até então, as aulas de direito das obrigações traziam
regras que beneficiavam o devedor. Entretanto, no caso do art. 327 do CC, o benefício é do credor.
➢ E se o pagamento consistir na entrega de um imóvel (ou prestações relativas a um imóvel)? Neste caso, há uma
regra específica.
CC, art. 328: “Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar
onde situado o bem.”
Exemplo: Imagine que “A” tenha pegado R$ 10.000,00 emprestados de “B” e estipulem que o pagamento ocorrerá em
10x de R$ 1.000,00, no dia 5 de cada mês. As partes também estabeleceram um lugar para o pagamento: ambos moram
em Belo Horizonte/MG e combinaram um ponto específico na cidade, na beirada da Lagoa da Pampulha, em frente ao nº
X. Nas três primeiras parcelas, o pagamento foi realizado no local convencionado.
Entretanto, da quarta parcela em diante, as partes começaram a se encontrar em local diverso da cidade para efetuar os
pagamentos e o credor recebeu tranquilamente em local diverso, fornecendo a quitação. Quando chegou na oitava
parcela, o credor (“B”) lembrou da disposição do contrato e percebeu que o devedor estava violando aquela cláusula do
lugar do pagamento. Como “A” violou uma cláusula do contrato e há previsão de multa para o descumprimento, “B” pode
cobrá-la? Não. Pela boa-fé objetiva, “B” não pode cobrar multa alguma de “A”, pois ele aceitou pagamentos reiterados
em lugares diversos.
✓ À medida que esse credor vai aceitando receber os pagamentos em local diverso e isso vai acontecendo de forma
reiterada, ele gera na cabeça do devedor a expectativa de que ele não vai exercitar aquele direito que ele tinha
de cobrar naquele lugar X antes estipulado.
O art. 330 do CC tem como base a Teoria da Supressio (Verwirkung). Por essa teoria, a longa omissão de uma das partes
resulta na supressão de um direito que ela possuía. Essa teoria é uma das decorrentes do princípio da boa-fé objetiva.
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✓ Obs.: Na Parte Geral do Direito Civil, o aluno estuda que a prescrição extingue a pretensão e a decadência extingue
o direito potestativo. Ambos os institutos não podem ser confundidos com a supressio.
✓ Prescrição e decadência são institutos perfeitamente delimitados no ordenamento jurídico brasileiro. A supressio,
por sua vez, não está delimitada no ordenamento jurídico brasileiro, sendo uma teoria decorrente do princípio da
boa-fé objetiva.
✓ A supressio não ocorre apenas na situação do art. 330 do CC, podendo ser aplicada a diversas situações.
✓ A professora explica que, em relação ao disposto no art. 330 do CC, o juiz, no caso concreto, definirá o que se
considera como “reiteradamente”.
Atenção: Todas as vezes em que há a supressio (extinção de um direito), há a surrectio (nascimento de um direito).
Assim, quando uma das partes tem um direito extinto pela supressio, há a consequente surrectio, ou seja, o nascimento
do direito para uma das partes em virtude da longa omissão da outra parte.
TEMPO DO PAGAMENTO
A importância de saber o tempo do pagamento é para se saber a partir de quando surge a exigibilidade para o credor.
✓ O devedor não pode pagar de forma atrasada, pois, neste caso, haverá sanção. Do mesmo modo, o credor não
pode pedir o pagamento antecipado da dívida.
As obrigações poderão ser de execução imediata/instantânea (é aquela em que o cumprimento deverá ocorrer logo após
a sua constituição, como ocorre em uma compra à vista) ou de execução futura (é aquela em que o cumprimento da
obrigação ocorrerá no futuro). Neste último caso, tal obrigação se subdivide em continuada (é aquela em que o
cumprimento ocorre no futuro, por meio do pagamento de parcelas, subvenções periódicas) e diferida (é aquela em que
o cumprimento ocorrerá no futuro, porém de uma só vez, como na emissão de um cheque para daqui 40 dias apenas para
a compra de uma geladeira).
Atenção: No silêncio do contrato sobre o tempo do pagamento, as dívidas deverão ser cumpridas de forma imediata.
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CC, art. 331: “Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-
lo imediatamente.”
✓ Portanto, a regra no nosso país é de que as obrigações são de execução instantânea ou imediata.
Obrigações condicionais
CC, art. 332: “As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de
que deste teve ciência o devedor.”
Condição é aquela cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina os efeitos ou o fim dos efeitos
do negócio a evento futuro e incerto.
Exemplo: Mônica dará um carro a João se Maria se casar. Hoje, João não pode exigir a entrega do carro porque não tem
direito adquirido, tem apenas uma expectativa de direito. Surge a necessidade da entrega do carro se, no futuro, houver
o implemento da condição.
Com isso, o art. 332 do CC informa que as obrigações condicionais, subordinadas a uma condição, cumprem-se na data do
implemento da condição, isto é, no dia em que a condição acontecer, se ela acontecer, cabendo ao credor a prova de que
deste teve ciência o devedor.
O tempo do pagamento é importante para que saibamos a partir de quando surge a exigibilidade do credor. Do mesmo
modo que o devedor não pode pagar atrasado, porque ele pode ser punido por isso, o credor não pode se precipitar e
cobrar antes da hora, porque, se o credor fizer isso, também existe punição para ele, nos moldes do art. 939 do CC.
CC, art. 939: “O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará
obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e
a pagar as custas em dobro.”
Obs.: O que há no art. 939 do CC são as sanções que o credor irá enfrentar caso ele demande o devedor antes do
vencimento. Todavia, a parte destacada traz a ressalva de permissão legal. Existem situações excepcionalíssimas
(vencimento antecipado da dívida) em que o credor pode cobrar do devedor antes do vencimento. Nessas situações, caso
o credor demande antes do vencimento, não haverá problema nenhum e essas sanções do art. 939 do CC não incidirão
sobre esse credor.
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Em todas essas situações excepcionais do art. 333, que é o dispositivo que justifica o vencimento antecipado da dívida, o
que ocorre é um risco para o crédito, para o credor. Há um risco de que o credor não receberá a dívida. Por isso, o legislador
protege o credor nesse momento e faz a dívida se vencer antecipadamente, de forma que o credor poderá cobrar sem as
sanções.
Hipóteses:
CC, art. 333: “Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou marcado
neste Código:
I - No caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;”
➢ No caso de falência do devedor, se o credor de dívida vincenda for esperar ocorrer o vencimento da obrigação,
todos os credores de dívidas vencidas já terão habilitado seus respectivos créditos e recebido, nada sobrando
para aquela que ainda venceria.
“II - Se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;”
• Hipoteca é um direito real de garantia em que, em regra, um imóvel é dado para garantir o cumprimento da dívida.
Exemplo: “A” está precisando de dinheiro e pede dinheiro emprestado a “B”. Para garantir o pagamento, “A”
hipoteca a sua fazenda.
• Penhor também é um direito real de garantia. Entretanto, o penhor se refere a um bem móvel. Exemplo: “A” está
precisando de dinheiro, vai até o banco e empenha um anel em troca de empréstimo de dinheiro.
• Penhora, por sua vez, é instituto do direito processual civil. Trata-se de ato de constrição judicial.
➢ Esse inciso II está se referindo à hipoteca e ao penhor, institutos do Direito Real de Garantia. Imagine “A”
emprestou R$ 1 milhão de “B” e, como garantia, foi feita uma hipoteca da fazenda. O vencimento da dívida
ocorrerá em 2 anos. Diante disso, imagine que a fazenda que foi hipotecada no exemplo foi penhorada em
execução judicial por outro credor. O credor titular daquela garantia real pode se manifestar dizendo que o
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vencimento de sua dívida pode se antecipar, de modo a viabilizar o direito de preferência do credor hipotecário
(ou do credor pignoratício, a depender do caso).
“III - Se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado,
se negar a reforçá-las.”
➢ Exemplo: “A” pegou R$ 1 milhão emprestado com “B” e fez uma hipoteca da fazenda para garantir o pagamento.
Posteriormente, foi construída uma grande penitenciária ao lado da fazenda e essa passou a valer R$ 100 mil.
Neste exemplo, a garantia foi enfraquecida. O credor procura o devedor e pede um reforço da garantia, mas este
nada faz. Nesta situação, a obrigação é considerada vencida de modo antecipado.
➢ Em um caso de solidariedade passiva, com vários devedores e qualquer devedor podendo ser cobrado pela
dívida toda, se houver o vencimento antecipado em relação a um dos devedores solidários, haverá o
vencimento em relação aos demais devedores também? Havendo vencimento antecipado em relação a um dos
devedores, isso não se estende em relação aos demais devedores. Vejamos:
CC, art. 333, Parágrafo único: “os casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido
quanto aos outros devedores solventes.”
Obs.: A professora destaca que o estudo do pagamento está inserido no gênero “adimplemento das obrigações”.
FORMAS ESPECIAIS DE CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO (arts. 334 a 388 do CC) – (Pagamento indireto)
1) Consignação em pagamento
2) Pagamento com sub-rogação.
3) Imputação de pagamento;
4) Dação em pagamento;
5) Novação;
6) Compensação;
7) Confusão;
8) Remissão de dívida.
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INTENSIVO I
Mônica Queiroz
Direito Civil
Aula 15
ROTEIRO DE AULA
Nesta aula, a professora continuará trabalhando o tema “adimplemento das obrigações”. Nas aulas passadas, ela já
explicou a forma normal de se adimplir com uma obrigação, que é o pagamento. Nesse momento, ela trabalhará as formas
especiais de cumprimento das obrigações.
1) Consignação em pagamento
A consignação em pagamento é um instituto de natureza mista, pois apresenta uma faceta de direito material e uma
faceta de direito processual.
Disciplina Legal
▪ CC: arts. 334/345.
▪ CPC: arts. 539/549.
▪ Lei de locação (Lei n. 8.245/91): arts. 58 e 67 – Na lei de locação, há dispositivos específicos para a consignação
em pagamento relativos a uma relação locatícia.
✓ Como visto, trata-se de um instituto de natureza mista porque apresenta disciplina dentro do Código Civil e
também no Código de Processo Civil.
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Sinônimos:
▪ Consignação em Pagamento
▪ Pagamento em Consignação
▪ Oferta Real
O nome “consignação em pagamento” consta no CPC. O Código Civil, por sua vez, traz a expressão “pagamento em
consignação”.
Além disso, o instituto também é chamado de oferta real por alguns doutrinadores.
Imagine que o devedor quer exercer seu direito de ficar livre dessa obrigação e o credor cria dificuldades para receber o
pagamento, recusando-se a recebê-lo. Pode ser também que o credor queira receber, mas não queira dar a quitação.
Ainda pode acontecer de o credor residir em local de acesso difícil ou perigoso. Em todos esses casos, é possível utilizar a
consignação em pagamento.
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✓ Obs.: Prevalece o entendimento de que este dispositivo é meramente exemplificativo.
Objeto da consignação?
Os objetos das obrigações são: dar, fazer e não fazer. Diante disso, a professora explica que é perfeitamente possível
aplicar a consignação em pagamento a uma obrigação de dar.
Entretanto, questiona-se: É possível aplicar a consignação em pagamento a uma obrigação de fazer? Neste caso, não é
possível. Exemplo: “A” é devedor de “B” e tem como obrigação o desempenho de uma atividade. “A” não consegue
adimplir com sua obrigação, mas, como ela se trata de obrigação de fazer, “A” não consegue se valer do instituto da
consignação em pagamento, pois não é possível “depositar uma atividade”.
Também não se aplica a consignação em pagamento para a obrigação de não fazer.
Em suma: apenas a obrigação de dar pode ser objeto da consignação em pagamento.
CC, art. 345: “Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá
qualquer deles [dos credores] requerer a consignação. ”
Exemplo: “A” é devedor e possui dois pretensos credores (“B” e “C”). Imagine que, nesse caso, os credores estão brigando
entre si para decidir quem é o verdadeiro credor de “A”. Diante disso, com medo de que o devedor pague a “B”, “C”
solicita que “A” promova a consignação em pagamento. Depois que ficar definido quem é o credor, este fará o
levantamento do depósito.
Efeito: Quando o devedor promove o depósito, o efeito da consignação em pagamento é a liberação do devedor do vínculo
obrigacional, isentando-o do risco de arcar com juros e com multa.
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Procedimento extrajudicial ou particular
Após ser feito o depósito em estabelecimento bancário, o credor indicado será cientificado de que o depósito foi feito em
seu benefício. O credor tem um prazo de 10 dias para recusar o depósito (art. 539, §1º, CPC).
CPC, art. 539, §1º: “Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser depositado em estabelecimento bancário,
oficial onde houver, situado no lugar do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento,
assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa.”
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Questão: A via extrajudicial é exigência para que haja a consignação em pagamento?
Não. É possível que o devedor, ao tentar fazer a consignação pela via extrajudicial, tenha o seu pagamento recusado e,
posteriormente, ele poderá ingressar com a ação de consignação em pagamento (em 30 dias).
Procedimento Judicial
Lugar da propositura da ação: é o do foro do pagamento.
Questão: O que o devedor deve inserir na petição inicial da ação de consignação em pagamento? O devedor deve apontar
os requerimentos do art. 542 do CPC.
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CPC, art. 545: “Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder
a prestação cujo inadimplemento acarrete a rescisão do contrato.
§ 1º No caso do caput , poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a consequente liberação
parcial do autor, prosseguindo o processo quanto à parcela controvertida.
§ 2º A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, sempre que possível, o montante devido e valerá
como título executivo, facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após liquidação, se
necessária.”
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2ª) Se o credor (devedor) receber o depósito e der a quitação, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o réu ao
pagamento de custas e honorários (art. 546, § único, CPC).
3ª) Pode haver, ainda, o julgamento de procedência do pedido. Neste caso, o juiz declarará extinta a obrigação e
condenará o réu ao pagamento de custas e honorários (art. 546, CPC2).
Sub-rogação: substituição.
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CPC, art. 546: “Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a obrigação e condenará o réu ao pagamento de
custas e honorários advocatícios.
Parágrafo único. Proceder-se-á do mesmo modo se o credor receber e der quitação.”
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No tocante ao pagamento com sub-rogação, há uma relação jurídica obrigacional (credor x devedor) e um terceiro realiza
o pagamento da obrigação. O terceiro que fez o pagamento passa a ocupar o lugar do credor primitivo. Trata-se de
pagamento com sub-rogação.
Nas hipóteses de sub-rogação legal, essa substituição ocorre de forma automática, por força da lei.
Um exemplo comumente lembrado em provas é o do art. 346, III, do CC, relativo ao terceiro interessado (exemplos: fiador,
avalista) que paga. Quando ele paga, ele se sub-roga na posição de credor, passando a ocupar o lugar do credor primitivo.
✓ Obs.: Terceiro interessado é aquele que possui interesse jurídico na extinção da obrigação. Assim, ele tem
interesse na extinção da obrigação, pois, caso contrário, haverá uma repercussão em seu patrimônio.
Atenção: A professora destaca que não é sempre que o terceiro que paga a dívida ocupa o lugar do credor primitivo. Para
tal, é necessário que o terceiro esteja dentre as hipóteses do art. 346 do CC (sub-rogação legal) ou que haja uma convenção
entre as partes afirmando que o terceiro que está pagando a dívida se sub-roga na posição de credor.
Efeito:
CC, art. 349: “A sub-rogação transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em
relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores.”
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✓ O terceiro interessado se sub-roga nos direitos do credor primitivo, fazendo jus a todos os direitos, ações,
privilégios e garantias em relação à dívida.
✓ Não se trata, portanto, de mero reembolso.
A professora destaca que a lei não autoriza a sub-rogação com intuito especulativo/lucrativo:
3) Imputação de pagamento
• Imputar: apontar/atribuir.
• Premissa: trata-se de instituto que ocorre quando o devedor está obrigado perante o mesmo credor a vários
débitos.
Exemplo: O devedor (“A”) deve R$ 200,00 a “B” por conta de um serviço prestado e não pago. “A” deve mais R$
300,00 a “B” relativos a uma compra e deve mais R$ 500,00 a “B” por ocasião de um empréstimo. Todas as dívidas
são relacionadas ao mesmo credor.
O instituto da imputação em pagamento se refere ao fato de que, se o devedor for pagar o credor, é ele quem vai
atribuir o pagamento, ou seja, vai imputar o pagamento. Exemplificativamente, se ele pagar R$ 200,00, é direito
dele falar que quer quitar integralmente a primeira dívida ou que quer dar quitação parcial a alguma das outras
duas. Trata-se de instituto que beneficia o devedor.
• Conceito: Imputação de pagamento é instituto que beneficia o devedor, à medida em que ao devedor é dado o
direito de apontar a qual dívida corresponde o pagamento que está sendo feito.
Atenção: Se o devedor não exercitar o seu direito de imputar o pagamento, caberá ao credor atribuir o pagamento.
✓ Se nem o devedor e nem o credor atribuírem o pagamento, haverá a chamada imputação legal, sendo a imputação
promovida pela lei.
✓ A imputação legal terá cabimento quando nenhuma das partes atribuir o pagamento.
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Regras de Imputação Legal (arts. 354/355)
➢ Havendo capital e juros, a imputação ocorrerá em relação aos juros;
➢ A imputação ocorrerá em relação às dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar;
➢ Se as dívidas forem líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação ocorrerá em relação à mais onerosa.
CC, art. 354: “Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no capital, salvo
estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital.”
CC, art. 355: “Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas
dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação
far-se-á na mais onerosa.”
Atenção: Se houver identidade entre todas as dívidas (todas possuem o mesmo valor, mesmo vencimento, todas são
líquidas etc.), a doutrina afirma que haverá um abatimento proporcional em relação a todas as dívidas.
4) Dação em pagamento
Conforme já estudado anteriormente, o credor não é obrigado a receber uma prestação diversa da que lhe é devida (art.
313 do CC), ainda que ela seja mais onerosa do que a prestação original. Entretanto, o credor pode aceitar a prestação
diversa e, nesse caso, haverá o fenômeno da dação em pagamento.
• Conceito: ocorre quando o credor consente em receber prestação diversa da que lhe é devida.
Questão: Quando o credor aceita essa prestação diversa, para que aquela obrigação seja extinta, aquilo que está sendo
oferecido tem que ter valor equivalente ao da prestação primitiva? Não necessariamente. Pode ser que valha mais ou que
valha menos. O que importa é que o credor aceitou, extinguindo a obrigação pela dação em pagamento.
Imagine que “A” deve um bem X a “B”. Entretanto, ao invés de entregar o bem X ao credor, ele lhe oferece dinheiro. Nesse
caso específico, como, em lugar da prestação, está sendo oferecido dinheiro, a transação deixa de ser dação em
pagamento e passa a ser uma compra e venda.
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Se a coisa dada em pagamento for um título de crédito, o que ocorre? Depende.
CC, art. 359: “Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem
efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de terceiros.”
5) Novação
Novação dá a ideia daquilo que é novo.
• Conceito: na novação, temos uma relação jurídica obrigacional preexistente: há um credor de um lado, um
devedor de outro e, entre eles, um objeto que já existe. Neste caso, é extinta a obrigação primitiva e uma nova
obrigação é surge, seja porque houve alteração dos sujeitos ou porque houve alteração do objeto.
• Caráter extintivo e gerador ao mesmo tempo. Será extinta uma obrigação preexistente e, simultaneamente,
nascerá uma nova obrigação, seja porque houve alteração dos sujeitos ou porque houve alteração do objeto.
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Espécies:
1ª) Novação objetiva (art. 360, I, CC) – Neste caso, há alteração apenas do objeto.
2ª) Novação subjetiva – Neste caso, o objeto será mantido, mas haverá alteração do sujeito. Ela poderá ser:
• Novação subjetiva passiva: há a alteração do devedor (art. 360, II, CC).
• Novação subjetiva ativa: há a alteração do credor (art. 360, III, CC).
Requisitos da novação:
a) A existência de uma obrigação;
Obs.: Uma obrigação extinta não pode ser novada.
b) Surgimento de uma nova obrigação;
c) Animus novandi – Trata-se do ânimo de novar. O animus novandi se caracteriza no caráter inequívoco que as
partes têm de realizar a novação.
CC, art. 361: “Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
simplesmente a primeira.”
• Fiador:
Questão: Imagine que a obrigação primitiva foi extinta, dando lugar a uma nova obrigação. Entretanto, a primeira
obrigação era garantida por um fiador e este, por ocasião da novação, não foi sequer consultado. O fiador da
obrigação primitiva, com a novação, continua garantindo a nova obrigação que nasceu?
Não. Se esse fiador não consentiu, não se manifestou, ele será exonerado de sua obrigação (art. 366, CC).
CC, art. 366: “Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.”
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Para que ocorra a novação, é preciso, de antemão, que uma obrigação exista. Se essa obrigação já se extinguiu,
não há como se falar em novação.
Também não está sujeita à novação uma obrigação que seja nula, pois o legislador do Código Civil, na Parte Geral,
art. 1693, já havia nos informado que o negócio nulo, justamente por dizer respeito ao interesse público, não é
suscetível de confirmação.
CC, art. 367: “Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou
extintas.”
Obs.1: Obrigações anuláveis –A obrigação anulável não atinge o interesse público, mas tão somente o interesse particular.
O art. 172 do CC4 nos diz que o negócio anulável é suscetível de confirmação. Assim sendo, o negócio anulável pode ser
novado.
Atenção: O aluno não pode confundir a novação subjetiva ativa com a cessão de crédito, nem pode confundir a novação
subjetiva passiva com a assunção de dívida.
• A novação subjetiva ativa e a novação subjetiva passiva são formas especiais de cumprimento da obrigação.
• A cessão de crédito e a assunção de dívida são modalidades de transmissão da obrigação.
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Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.
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Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.
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CC, art. 191: “A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro,
depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com
a prescrição.”
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Na cessão de crédito e na assunção de dívida, vai haver uma alteração no polo ativo e no polo passivo (respectivamente),
mas a obrigação continua sendo a mesma.
Classificação da compensação:
Quanto à extensão:
a) Total – É aquela que diz respeito à totalidade da dívida. Exemplo: Mônica deve R$ 1.000,00 ao João. Em outra
obrigação, João deve R$ 1.000,00 à Mônica. Neste caso, pode haver a compensação total.
b) Parcial - É aquela que diz respeito à parte da dívida. Exemplo: Mônica deve R$ 1.000,00 ao João. Em outra
obrigação, João deve R$ 700,00 à Mônica. Neste caso, pode ser feita uma compensação parcial.
Quanto à origem:
a) Compensação legal – É a compensação que decorre de lei e possui incidência automática.
- Requisitos:
Para que a compensação ocorra de forma automática, devemos preencher três requisitos simultâneos:
• As dívidas deverão ser líquidas (certas quanto à existência e determinadas quanto ao objeto);
• As dívidas deverão ser vencidas (exigíveis);
• As dívidas deverão ser de prestações fungíveis entre si (Exemplo: Mônica deve dinheiro a João e João deve
dinheiro à Mônica).
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Obs.: Se Mônica devesse dinheiro ao João e João devesse sacas de café a ela, não ocorreria compensação de forma
automática, porque as coisas não são fungíveis entre si.
CC, art. 369: “A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.”
Obs.: Se algum dos requisitos citados acima não estiver presente, não ocorrerá a compensação de forma automática.
Entretanto, isso não significa que as partes não possam fazer um acordo e estabelecer a compensação.
CC, art. 371: “O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar sua
dívida com a de seu credor ao afiançado.”
✓ Ao ler a primeira parte do art. 371 do CC, é possível chegar à conclusão de que a compensação é uma defesa
pessoal.
✓ Entretanto, ao ler a segunda parte do art. 371 do CC, é possível verificar que há uma exceção a essa possibilidade
de defesa pessoal.
Exemplo: imagine que João (locatário) alugou o apartamento de Antônio (locador) e apresentou Mônica como
fiadora. João parou de pagar o aluguel há 10 meses e está devendo R$ 10 mil ao locador. Antônio tenta cobrar o
locatário, mas, quando não encontra patrimônio, cobra a fiadora. Mônica descobre que, em virtude de uma
relação obrigacional pretérita, Antônio deve R$ 3 mil a João. Neste caso, o credor dos R$ 3 mil é o
locatário/inquilino e este poderia apresentar como defesa pessoal a existência da dívida de R$ 3 mil. Entretanto,
como João não faz isso, Mônica pode alegar a compensação que diz respeito a João.
Prazo de favor: É uma mera liberalidade por parte do credor, o qual admite que o devedor ultrapasse a data de vencimento
para realizar o pagamento, sem lhe cobrar multa e juros.
Exemplo: João deve um certo dinheiro a Mônica e, todos os meses (no dia 5), ele deve fazer o pagamento no valor de R$
1.000,00. Entretanto, João nunca paga no dia 5, mas sempre faz isso no dia 15. Mônica nunca reclamou e, portanto, dá a
João um prazo de favor. Neste caso, questiona-se: João pode alegar o prazo de favor para afastar uma compensação?
Não. Veja o que diz o art. 372 do CC:
CC, art. 372: “Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação. ”
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Em relação ao art. 374 do CC, imagine a seguinte situação: “A” deve tributos para o Estado e, por algum motivo, “A”
também é credor do Estado. Pelo disposto no art. 374 do CC, seria possível que “A” compensasse essa dívida com o Estado.
Entretanto, o dispositivo em questão foi revogado por MP, a qual, posteriormente, foi convertida em lei.
• Conceito: a confusão ocorre quando, na mesma pessoa, se concentrarem as qualidades de credor e devedor ao
mesmo tempo.
Enquanto na compensação temos duas pessoas e ambas são credoras e devedoras entre si ao mesmo tempo; na confusão,
só temos uma pessoa e essa pessoa é credora e devedora de si mesma. É exatamente por essa incompatibilidade lógica
que a obrigação será extinta.
Exemplo: Mônica pegou emprestado de seu pai R$ 100.000,00. Antes de ela promover o pagamento desse valor a ele, o
pai dela falece. Ela é a única herdeira e herda a casa, o dinheiro, o carro, além de créditos que, porventura, ele tenha a
receber. Nesse momento, ela acaba de se tornar credora e devedora de si mesma. Por incompatibilidade lógica, a
obrigação que existia (dívida de R$ 100 mil) será extinta.
Cuidado: nas provas os examinadores costumam inverter o instituto da compensação com o instituto da confusão.
• Espécies: a confusão pode ser total (diz respeito à dívida por completo, como no exemplo dado) ou parcial (diz
respeito à parte da dívida – Exemplo: imagine que a herdeira do exemplo dado tenha um irmão. Quando o pai
dela falecer, ela se tornará devedora do seu irmão no tocante à metade da dívida que lhe cabe).
CC, art. 384: “Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior.”
Imagine que, no exemplo dado anteriormente, Mônica acredita que seu pai faleceu e, portanto, haveria o instituto da
confusão no tocante à dívida de R$ 100 mil. Entretanto, o pai de Mônica, na verdade, não faleceu e, nesse caso, cessa a
confusão e a obrigação primitiva será restabelecida.
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8) Remissão de dívida (arts. 385 e ss.)
A remissão significa perdão.
• Conceito: A remissão de dívida ocorre quando o credor graciosamente libera o devedor do vínculo obrigacional.
A remissão deve ser considerada um negócio jurídico bilateral, pois exige a manifestação das duas partes, ou seja,
exige a aceitação do devedor. Se o credor for perdoar a dívida em relação ao seu devedor, esse perdão apenas vai
se concretizar quando o devedor aceitar.
• Espécies:
a) Total: é aquela que diz respeito à dívida por completo. Exemplo: Mônica deve R$ 1.000 reais a João e este perdoa a
dívida integral. Mônica aceita o perdão.
b) Parcial: é aquela que diz respeito à parte da dívida. Exemplo: Mônica deve R$ 1.000 reais a João e este perdoa R$ 200.
Mônica aceita o perdão.
Situação: João empresta R$ 1.000,00 a Mônica e ela dá a ele um anel a título de garantia, além de assinar a nota
promissória. Neste caso, Mônica dá azo ao penhor (direito real de garantia), pois empenhou o anel. João devolve a ela o
objeto empenhado.
Questão: A devolução do objeto empenhado representa uma remissão tácita? Não. A devolução do objeto dado em
garantia representa apenas uma renúncia ao objeto que foi dado em garantia, mas isso não representa remissão tácita.
CC, art. 387: “A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a extinção da
dívida.”
✓ A renúncia é ato unilateral.
✓ A remissão de dívida é ato bilateral.
Obs.: As formas especiais de cumprimento da obrigação podem ser chamadas de pagamento indireto.
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INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
CC, art. 394: “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no
tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.”
A mora ocorre quando o devedor não quer pagar ou o credor não quer receber em tempo/lugar/ou forma previstos na lei
ou no contrato.
Atenção: A mora não é apenas o atraso no pagamento. Ela consiste na não satisfação da obrigação no tempo/lugar/ forma
previstos na lei ou no contrato.
Exemplo: o devedor quer pagar o credor de uma forma diversa da estabelecida para o pagamento ou em um lugar diverso
do convencionado.
A professora destaca que mora não é um instituto exclusivo do devedor. A mora também pode ser do credor.
Exemplo: “A” deve um carro para “B”. “A” é devedor e “B” é credor. “A” deve entregar o carro ao credor no próximo
sábado, conforme estabelecido em contrato. “B” ainda não possui uma vaga na garagem de sua casa e percebe que, se
receber o veículo, terá que gastar com estacionamento. “B” não vai receber o carro e, portanto, está em mora com “A”.
Termos utilizados:
• Mora do devedor Mora solvendi
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• Mora do credor Mora accipiendi
CC, art. 396: “Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.”
Para que a mora do devedor se configure, é necessária uma manifestação culposa por parte dele.
No caso da mora do credor, há responsabilidade objetiva. Assim, só de não haver o recebimento da prestação no
tempo/lugar/forma previstos na lei ou no contrato, independentemente de o credor ter agido com dolo ou culpa, já haverá
uma situação de mora accipiendi.
Mora ex re – Ocorre nas obrigações com prazo determinado. Exemplo: João tem que pagar uma prestação na loja X no
dia 20 de novembro. Trata-se de obrigação com prazo determinado. Se chegar o dia e João não pagar, automaticamente,
no dia 21 de novembro, ele entrará em mora ex re.
✓ A mora ex re incide de pleno direito.
✓ “De pleno direito” pode ser substituída por “automaticamente”.
✓ O dia interpelou pelo homem – Dies interpellat pro homine.
Mora ex persona - Ocorre nas obrigações com prazo indeterminado. Exemplo: Mônica emprestou a sua casa de praia a
João (contrato de comodato) e não foi estipulada uma data para a devolução do bem imóvel. Incomodada com o fato de
João estar há 4 meses na casa, Mônica precisará notificar o devedor de modo a constituí-lo em mora e dando um prazo
para ele desocupar o imóvel.
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Passado o prazo estabelecido para a desocupação, João, caso não saia da casa, estará em mora. Trata-se de mora ex
persona.
✓ A mora ex persona não incide de pleno direito.
✓ O credor deverá fazer algo para constituir o devedor em mora.
CC, art. 397: “O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o
devedor.
Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.”
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INTENSIVO I
Mônica Queiroz
Direito Civil
Aula 16
ROTEIRO DE AULA
Na aula passada, a professora explicou que o inadimplemento das obrigações ocorre de três formas:
1) Inadimplemento Relativo (Mora)
2) Inadimplemento Absoluto
3) Violação Positiva do Contrato
Como visto na aula passada, a mora não é só coisa de devedor, a mora também poderá ser do credor.
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A mora ocorre quando o devedor não quer pagar ou então quando o credor não quer receber no tempo/lugar/forma
previstos em lei ou em contrato.
- Efeitos da Mora:
CC, art. 395: “Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores
monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”
Os efeitos da mora do devedor são intuitivos: quando se deve e não se paga, o pagamento deverá ser feito com correção
monetária, com juros moratórios e multa (se estiver prevista em contrato).
Além dos efeitos da mora do devedor constantes no art. 395 do CC, há um outro efeito que consta no art. 399 do CC
(perpetuação da obrigação).
Exemplo: Imagine que “A” deva entregar uma vaca para “B” no dia X. Passado o dia X, “A” não fez a entrega e ficou em
mora. Durante esse período de mora, a vaca morreu porque caiu um raio no local onde o animal estava.
✓ Conforme já aprendido, quando há descumprimento de obrigação de dar coisa certa, deve-se verificar se a perda
ocorreu com culpa ou sem culpa do devedor. Quando ocorre a perda da coisa certa antes da tradição,
perguntamos se o devedor agiu com culpa ou sem culpa, pois, somente se tiver agido com culpa, é que ele vai
indenizar o credor em perdas e danos. Entretanto, perceba que, nesse momento, a professora está trabalhando
com a hipótese de perda da coisa durante a mora do devedor, ou seja, aqui há uma situação diversa.
✓ Atenção: Se a perda da coisa ocorrer durante a mora do devedor, ele sempre terá que ressarcir o credor em
perdas e danos, ainda que a coisa tenha se perdido sem culpa dele, é o que consta da primeira parte do art. 399
do CC.
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CC, art. 399: “O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de
caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa [pelo atraso], ou
que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.”
✓ Essa primeira parte do artigo está dizendo que se a coisa se perder em uma situação de mora, o devedor responde
pela perda da coisa e tem que ressarcir o credor em perdas e danos, independentemente de a coisa ter se perdido
por caso fortuito ou força maior, isto é, sem culpa do devedor.
1. Salvo se ele provar isenção de culpa: a professora explica que o art. 399 do CC foi mal redigido. A expressão de ressalva
que consta no dispositivo não se trata da culpa pela perda, pois esta nem é analisada, mas sim a culpa pelo atraso, a culpa
para que se constitua a mora.
Exemplo: vamos imaginar que havia um atraso e a coisa se perdeu durante aquele atraso. Só que o devedor consegue
provar que ele não agiu com culpa. Na verdade, estava consignado em contrato que o credor é que deveria vir receber a
coisa e ele não veio. Então, o devedor não conseguiu entregar o bem para o credor.
No exemplo dado, houve um atraso, mas não houve culpa do devedor pelo atraso.
2. Ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada: neste caso, o devedor
comprova que realmente estava em situação de mora, mas, ainda que ele tivesse cumprido com sua obrigação
tempestivamente, a perda ocorreria do mesmo modo.
Exemplo: o devedor deve ao credor uma vaca, mas, no contrato, estava estabelecido que o animal, mesmo após a entrega,
permaneceria na fazenda do devedor por mais seis meses. Imagine que o devedor entre em mora, caia um raio em sua
fazenda e mate a vaca. Neste caso, ainda que o devedor tivesse cumprido a sua obrigação tempestivamente, a vaca
morreria, pois ela estaria na fazenda dele do mesmo modo após o cumprimento da obrigação. Neste caso, o devedor,
ainda que tenha entrado em mora, também não precisará pagar perdas e danos para o credor.
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b) do credor: art. 400, CC
CC, art. 400: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o
credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.”
✓ O devedor está liberado da responsabilidade pela conservação da coisa, mas será que esse devedor pode pegar
uma marreta e quebrar o carro inteiro? Claro que não. Exatamente por isso que o art. 400, na sua primeira parte,
diz “isento de dolo”, porque aí surgiria responsabilidade para ele.
No exemplo dado acima, o credor “B” não quer receber aquele carro e “A” não tem mais responsabilidade, só que o
devedor também não vai deixar o carro parado no meio da rua e, para tanto, aluga uma vaga de garagem para ele em um
estacionamento pago. Quando o credor for receber esse carro após dois meses, ele deverá ressarcir os gastos dispendidos
pelo devedor.
➢ 2º efeito – obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservar a coisa.
CC, art. 400: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o
credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.”
✓ É razoável dizer que o credor, ao receber o carro, deverá ressarcir o devedor nas despesas empregadas com a
conservação da coisa. Esse é o segundo efeito da mora do credor.
Exemplo: o que é devido pode ter oscilação do seu valor. Pode ser que, no dia previsto em contrato para o cumprimento
da obrigação, a coisa valia X. Ocorre que o credor ficou em mora por 8 meses e a coisa que valia X, no momento da
entrega, estava valendo Y. Houve uma oscilação do valor.
Se houver oscilação do valor da coisa entre a data em que era para ter sido entregue e a data em que foi efetivamente
entregue, devemos considerar o valor mais favorável ao devedor.
➢ 3º efeito – valor mais favorável ao devedor, se houver oscilação do valor da coisa.
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CC, art. 400: “A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o
credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.”
Por fim, a professora explica que a doutrina traz um 4º efeito da mora do credor: a mora do credor dá direito de o devedor
manejar a chamada “consignação em pagamento”, prevista no art. 334 do CC1.
Relembrando: uma obrigação pode nascer da lei, do contrato e até mesmo da prática de um ato ilícito.
Imagine que uma pessoa, que vinha na contramão de direção, tenha batido no carro de Mônica. Ele amassou todo veículo
e, portanto, praticou um ato ilícito. Nesse exemplo, Mônica se tornou credora e aquele sujeito que veio na contramão e
bateu no carro dela se tornou devedor, nascendo uma obrigação.
Mônica consertou o veículo e ele não pagou os danos. Assim, a credora ajuizou uma ação contra ele cobrando o valor que
ela gastou com o conserto do veículo. Dessa ação, decorreu uma sentença que condenou aquele sujeito ao pagamento
de XXX reais, atualizados monetariamente, pelo conserto do veículo. Sobre o valor dessa sentença, irão incidir juros
moratórios.
➢ Devemos considerar esses juros de mora a partir de quando? A partir do dia do acidente? A partir da citação?
Muita gente responde que será a partir da citação, mas isso está errado. Quando falarmos de mora decorrente
da prática de ato ilícito, temos uma exceção que consta no art. 398 do CC. Assim sendo, consideramos os juros
de mora a partir da própria prática do ato ilícito.
CC, art. 398: “Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.”
Quando esse artigo traz essa informação, ele simplesmente está repetindo algo que já estava consolidado na
jurisprudência do STJ, sendo, inclusive, tema sumulado:
Súmula 54, STJ: Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.
- Purga da Mora
Purgar a mora significa sanar a mora.
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CC, art. 334: “Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da
coisa devida, nos casos e forma legais.”
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O devedor está em mora quando ele não quer pagar. Assim sendo, ele vai purgar a sua mora pagando o credor. Entretanto,
além de pagar, ele tem que assumir os efeitos decorrentes da sua mora e que estão no art. 395 do CC (valor corrigido
monetariamente, acrescido de juros moratórios, etc.).
2) Inadimplemento Absoluto
Hipóteses:
a) Quando há total perda ou destruição da coisa.
Exemplo: João deve um carro para Mônica e, antes de cumprir sua obrigação, bate o carro e dá perda total no veículo.
Houve a total perda ou destruição da coisa e isso é muito pior do que a mora, isso é inadimplemento absoluto.
c) Quando a prestação se torna inútil para o credor (art. 395, parágrafo único, CC).
Exemplo (Orlando Gomes): a entrega do vestido de noiva no dia seguinte ao casamento. É importante destacar que, nessa
hipótese, o que há, em princípio, é uma situação de mora que, posteriormente, transforma-se em situação de
inadimplemento absoluto. A entrega do vestido de noiva no dia seguinte ao casamento torna impossível a purga da mora.
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Enunciado nº 162, CJF: “A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte do credor deverá ser
aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de acordo com o mero
interesse subjetivo do credor.”
Quando há um atraso, não necessariamente a entrega atrasada daquela coisa vai significar um inadimplemento absoluto.
Não podemos crer em uma inutilidade que decorra de um mero capricho do credor. Temos que observar parâmetros de
boa-fé e considerar objetivamente aquela questão.
Efeito: Resolução.
A obrigação será resolvida/extinta.
A professora explica que sempre que há inadimplemento absoluto, a obrigação será resolvida. Entretanto, deve-se
averiguar se a perda da coisa ocorreu com culpa ou sem culpa do devedor. Se não tiver ocorrido por culpa do devedor,
ela será simplesmente resolvida. Se tiver ocorrido por culpa, a obrigação também será resolvida, mas o credor poderá
exigir indenização por perdas e danos.
✓ O que são esses deveres laterais ou anexos que o contratante também deve cumprir? Proteção, Informação,
Cooperação, LEaldade e Solidariedade.
➢ Os deveres laterais ou anexos estão implícitos em todos os contratos, não precisando aparecer expressamente.
Pablo Stolze chama esses deveres laterais ou anexos de deveres invisíveis porque estão implícitos nos contratos.
São também conhecidos como deveres satelitários, pois funcionam como satélites ao redor da obrigação
principal.
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➢ O que liga esses deveres laterais ou anexos à obrigação principal é exatamente o princípio da boa-fé objetiva (art.
422, CC2).
➢ Os deveres laterais ou anexos devem ser cumpridos durante todas as fases do contrato/obrigação (antes, durante
e depois).
Exemplo: um sujeito entrou no McDonalds, pediu um refrigerante e um sanduíche. O McDonalds entregou a ele
a bandeja com os produtos, mas o chão estava molhado e não havia nenhuma informação nesse sentido. O sujeito
escorregou e caiu. Ele, posteriormente ajuízou uma ação contra o McDonalds. A empresa se defendeu arguindo
que cumpriu com a obrigação principal e o sujeito revidou dizendo que a empresa não cumpriu com o dever
lateral ou anexo de proteger e informar que o chão estava molhado. Esse sujeito obteve êxito no seu pedido
indenizatório exatamente porque restou constatada a chamada violação positiva do contrato.
Atenção: Ocorre a violação positiva do contrato quando a pessoa, tendo cumprido a obrigação principal, não cumpre com
qualquer um dos deveres laterais ou anexos.
✓ Quando falamos em violação positiva do contrato, embora tenha havido o cumprimento da obrigação principal,
não foram cumpridos os deveres laterais ou anexos.
✓ A violação positiva do contrato também pode ser chamada de adimplemento ruim.
Enunciado 24, CJF: “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres
anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.”
Imagine que tenha havido um inadimplemento mínimo, muito pequeno, de tal modo a haver um adimplemento
substancial.
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CC, art. 422: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os
princípios de probidade e boa-fé.”
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Essa teoria não está prevista expressamente em nenhum artigo do Código Civil, mas ela é aceita pelos doutrinadores e há
um enunciado do CJF que versa sobre ela.
Enunciado nº 361, CJF: “O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer
preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475.”
Atenção:
No REsp 1.622.555/MG, o STJ afastou a aplicabilidade da teoria do adimplemento substancial em caso de contrato de
alienação fiduciária em que 92% do contrato foi cumprido, permitindo ao Banco promover a busca e apreensão.
STJ: A teoria do adimplemento substancial não se aplica aos vínculos jurídicos familiares, máxime em se tratando de
prestações alimentares. (HC 439.973 – MG).
✓ Funções:
- Coerção, na medida em que impõe às partes o fiel cumprimento daquele contrato;
- Prefixar perdas e danos em caso de inadimplemento culposo.
A cláusula penal estipula, antecipadamente, as perdas e danos que serão devidas em caso de inadimplemento culposo.
A professora explica que, quando há o descumprimento da obrigação por culpa de alguma das partes, o prejudicado
poderá exigir indenização por perdas e danos. Tais perdas e danos podem ser levantadas em juízo, mas também podem
estar prefixadas no contrato (cláusula penal).
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Existem espécies de cláusula penal:
Há dois tipos de cláusulas penais: moratória e compensatória.
Obs. 1: em um mesmo contrato, podemos contemplar essas duas espécies de cláusula penal, pois elas se destinam a
finalidades distintas. Uma é para situação de mora e a outra é para situação de inadimplemento absoluto.
Obs. 2: Mônica e João celebraram o contrato, mas não estabeleceram uma cláusula penal. Dias depois, as partes ainda
não cumpriram com suas obrigações, mas perceberam que não estabeleceram uma cláusula penal (moratória ou
compensatória). Diante disso, questiona-se: a cláusula penal pode ser estabelecida em documento apartado? Sim. É
perfeitamente possível que a cláusula penal seja estabelecida por ato posterior à celebração do contrato.
✓ Teto: Existem tetos para a cláusula penal moratória, a depender das relações que estão por trás do contrato
celebrado.
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- Relação de consumo: 2% (art. 52, §1º, CDC3) – Tal cláusula penal possui um percentual fixo, não importando o
número de dias de atraso.
- Nos contratos bancários: 2% (Súmula 285, STJ4)- A relação entre cliente e banco é uma relação de consumo e,
portanto, o teto da multa moratória também é de 2%.
- Despesa condominial: 2% (art. 1.336, §1º, CC5);
- Para as demais situações: STJ – 10% (Art. 9º, DL 22.626/336).
✓ Obs.: No CC/1916, o teto para atraso no pagamento do condomínio era de 20%. Atualmente, isso foi reduzido
para 2%. Para as demais situações em que a lei não traz um teto, o STJ, aplicando a Lei da Usura, entende que o
teto é de 10%.
✓ Característica: substitutiva.
Ela substitui a prestação principal. Quando falamos em cláusula penal compensatória, não podemos apresentar
como característica a complementaridade, porque a prestação principal não tem mais como ser cumprida.
✓ Teto: o valor da obrigação principal (art. 412, CC). Isso ocorre porque a cláusula penal compensatória substitui a
prestação principal, então o teto é o próprio valor da obrigação principal.
CC, art. 412: “O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal.”
✓ O art. 412 do CC se refere à cláusula penal compensatória.
✓ A professora explica que, embora ele seja um dispositivo do CC, ele se aplica ao CDC (de forma analógica).
Indenização suplementar:
A professora ressalta que a cláusula penal (multa) representa a fixação prévia do valor de perdas e danos em caso de
inadimplemento culposo. Assim sendo, em princípio, não é possível que a parte queira receber a multa estipulada em
contrato e as perdas e danos, pois estas já estão fixadas dentro da cláusula penal.
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CDC, art. 52, § 1°: “As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser
superiores a dois por cento do valor da prestação.”
Súmula n. 285 do STJ: “Nos contratos bancários posteriores ao código de defesa do consumidor incide a multa moratória
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nele prevista.”
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CC, art. 1336, §1º: “O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios convencionados
ou, não sendo previstos, os de um por cento ao mês e multa de até dois por cento sobre o débito.”
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DL 22.626/33, art. 9º: “Não é válida a cláusula penal superior a importância de 10% do valor da dívida.”
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CC, art. 416, § único: “Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir indenização
suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como mínimo da indenização, competindo ao
credor provar o prejuízo excedente.”
Em relação à indenização suplementar, além de haver cláusula contratual que estabeleça, expressamente, essa
possibilidade, a parte interessada deve fazer prova do prejuízo excedente.
CC, art. 413: “A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em
parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio.”
Ainda que a cláusula penal tenha sido fixada no contrato dentro dos tetos, pode o juiz, buscando a equidade no caso
concreto, e observando as peculiaridades e as circunstâncias da situação fática, reduzir a cláusula penal.
O juiz deve fazer essa redução, inclusive, de ofício.
✓ Obs.: Quando encontrarmos em lei essa expressão “por equidade” ou “equitativamente”, podemos substituí-la
pela expressão “buscando justiça”.
As partes não podem afastar a possibilidade de aplicação do art. 413 do CC por se tratar de matéria de ordem pública.
Enunciado 355, CJF: “Não podem as partes renunciar à possibilidade de redução da cláusula penal se ocorrer qualquer
das hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, por se tratar de preceito de ordem pública.”
Enunciado 356, CJF: “Nas hipóteses previstas no art. 413 do Código Civil, o juiz deverá reduzir a cláusula penal de ofício.”
✓ O art. 413 do CC relativiza o pacta sunt servanda (o contrato faz lei entre as partes).
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JUROS
Não podemos confundir cláusula penal, que é a multa (moratória ou compensatória), com os juros.
Os juros são tidos como bens acessórios, sendo chamados de rendimentos.
1. Quanto à finalidade:
a) Moratórios: Os juros moratórios são aqueles que têm cabimento em hipótese de mora. Os juros moratórios têm
a finalidade de punir aquela pessoa que se atrasou e adentrou em um estado de mora. Apresentam esse caráter
indenizatório e punitivo.
b) Compensatórios (remuneratórios): são aqueles que têm por finalidade compensar o uso do capital alheio.
Os juros compensatórios não chegam para punir, chegam para compensar o uso do capital alheio.
Exemplo: Mônica pede R$ 100.000,00 emprestado para João e ele empresta o dinheiro. Ocorre que, se João
ficasse com esses R$ 100.000,00 que ele vai emprestar, ao menos, ele iria investir esse dinheiro em uma caderneta
de poupança. À medida em que ele empresta o dinheiro, ele perde o rendimento. Mônica, portanto, ao pagar
João, vai pagar os R$ 100.000,00 e X a mais a título de juros compensatórios.
Ainda que se pague em dia, os juros compensatórios são devidos. Também são chamados de remuneratórios.
Visualizamos a aplicação desses juros no mútuo feneratício (art. 591 do CC7), que é o empréstimo de dinheiro a
juros e esses juros são os juros compensatórios.
Suponhamos que, no exemplo dado, chegou o dia do vencimento e Mônica não pagou, estando atrasada em uma
semana. Neste caso, ela vai pagar o valor emprestado, acrescido de juros compensatórios (para compensar o uso
do capital alheio) mais os juros moratórios.
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CC, art. 591: “Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução,
não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.”
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Os juros legais serão aplicados se as partes não convencionarem percentual de juros no contrato.
3. Quanto à incidência:
a) Simples: juros simples são aqueles cuja base de cálculo se reduz ao capital disponibilizado.
Exemplo: Mônica atrasou 1 dia no pagamento de sua obrigação. Ela estava devendo R$ 100,00. Neste caso, se os
juros forem simples, ela considerará o percentual de juros sobre o valor de R$ 100,00.
Em suma: quando os juros moratórios forem simples, o cálculo será feito da seguinte forma:
Primeiro dia de atraso será x/100. Segundo dia de atraso será x/100. Terceiro dia de atraso será x/100. A base de
cálculo se reduz ao capital disponibilizado.
Justamente por virar uma “bola de neve”, esse anatocismo é, em regra, vedado no nosso país (Súmula 121, STF8 e Dec.-
Lei 22.626/33, art. 4º9 - Lei da Usura).
Exceções:
Art. 591 do CC10;
Instituições financeiras (bancos).
CC, art. 406: “Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de
impostos devidos à Fazenda Nacional.” (grifamos)
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Súmula n. 121 do STF: “É vedada a capitalização de juros, ainda que expressamente convencionada”
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Decreto-Lei n. 22.626, art. 4º: “É proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a acumulação de
juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.”
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CC, art. 591: “Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução,
não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalização anual.”
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➢ O art. 406 do CC versa sobre os juros legais. Assim sendo, se as partes não estabelecerem juros convencionais, os
juros aplicados serão os estabelecidos pelo dispositivo.
Os juros legais moratórios serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos
devidos à Fazenda Nacional, como o Imposto de Renda. A pergunta que fica é: que taxa é essa? Temos uma ampla
discussão em nosso país acerca de qual taxa será considerada no art. 406 do CC.
Dois posicionamentos:
CTN, art. 161, §1º: “Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao
mês.”
A doutrina se inclina fortemente para o segundo posicionamento, tanto é assim que foi aprovado em Jornada de Direito
Civil um enunciado que traz essa informação:
Enunciado nº 20, CJF: “A taxa de juros moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1º, do Código Tributário
Nacional, ou seja, um por cento ao mês.”
Exemplo:
Uma pessoa deve R$ 100,00 na loja e, chegando o dia do vencimento, essa pessoa teria que ir até a loja fazer o pagamento,
mas não foi e entrou em situação de mora. O atraso foi de três dias para fazer o pagamento. Neste caso, o devedor vai
pagar os R$ 100,00 mais a cláusula penal moratória pela situação de atraso.
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Como se trata de uma relação de consumo, sabemos que o teto fixo trazido pelo CDC é de 2%. Além disso, por cada dia
de atraso, o devedor vai arcar com 0,033% ao dia, a partir do segundo posicionamento.
Se falamos de taxa fixa de 1% ao mês, isto é, adotando o segundo posicionamento, 1% ao mês significa 0,033% ao dia.
No STJ, logo quando entrou em vigor o CC/2002, tivemos decisões do STJ aplicando a taxa SELIC e decisões do STJ
aplicando o CTN. Até que, no ano de 2008, sobreveio uma decisão do STJ no EREsp 727.842, no sentido de que a taxa é a
SELIC.
Observações:
✓ A Lei da Usura não foi revogada. Assim, essa lei continua em vigor.
✓ Os juros convencionais podem ser pactuados, desde que não sejam superiores ao dobro da taxa legal. Se
considerarmos a taxa legal do CTN, que é 1% ao mês, o dobro disso será 2% ao mês.
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Em suma: se as partes forem estipular taxa de juros em sua negociação, pode ser colocado, no máximo, 2% ao mês de
juros.
• Lei nº 4.595/64
• Súmula 596, STF: “As disposições do Decreto 22.626/1933 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos
cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional.”
A Lei da Usura está em vigor, mas não se aplica na relação do particular com o banco. Portanto, não é possível aplicar aos
bancos aquele teto do art. 1º da Lei da Usura em que juros convencionais não podem ser superiores ao dobro da taxa
legal.
Os juros praticados pelo cartão de crédito também são assustadores, eis o motivo:
Súmula 283, STJ: “As empresas administradoras de cartão de crédito são instituições financeiras e, por isso, os juros
remuneratórios por elas cobrados não sofrem as limitações da Lei de Usura.”
ARRAS
Arras vem de uma palavra grega que significa “anel”.
✓ Arras é o mesmo que sinal.
Espécies:
1º) Confirmatórias/ Probatórias
2º) Penitenciais
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CC, art. 417: “Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a título de arras, dinheiro ou outro bem
móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero
da principal.”
CC, art. 418: “Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a
inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais
o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de
advogado.”
CC, art. 419: “A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como taxa
mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras como o
mínimo da indenização.”
Funções:
a) Confirmar o contrato: Mônica vai comprar um imóvel no valor de R$ 1 milhão e está fazendo a promessa de compra e
venda com o sujeito que é dono do imóvel e, nessa promessa de compra e venda, ela vai dar um sinal, a título de arras,
no valor de R$ 100 mil. Nesse momento, Mônica está confirmando aquele contrato.
b) Antecipar o pagamento
No exemplo dado anteriormente, quando as partes forem fazer a escritura pública de compra e venda, o valor de R$ 100
mil não será devolvido a Mônica. Ela apenas fará o pagamento da diferença (R$ 900 mil).
✓ Indenização suplementar: se, além das arras devolvidas em dobro, o comprador sofreu prejuízo superior pela
desistência do vendedor, a indenização suplementar pode ser exigida. Essa possibilidade é mencionada no art.
419 do CC11, sendo necessária a produção das provas do prejuízo excedente, sem exigência de previsão contratual
prévia nesse sentido.
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CC, art. 419: “A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como
taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras
como o mínimo da indenização.”
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CC, art. 420: “Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou sinal terão
função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as recebeu
devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização suplementar.”
- Direito de arrependimento: As arras penitenciais terão cabimento em contratos que prevejam o direito de
arrependimento.
Exemplo: Imagine que Mônica faça uma promessa de compra e venda do imóvel que vale R$ 1 milhão. Ela dá R$ 100 mil
a título de arras. Entretanto, no contrato, há uma cláusula que prevê que as partes, a qualquer tempo, poderão se
arrepender e não precisarão fazer o contrato definitivo. Neste caso, as arras oferecidas não são confirmatórias, mas sim
penitenciais.
Quando há a possibilidade do direito de arrependimento, ele não irá afastar a função de prefixar perdas e danos das arras
penitenciais. O direito de arrependimento irá afastar outra coisa, o direito de se pleitear indenização suplementar.
Enunciado 165, CJF: “Em caso de penalidade, aplica-se a regra do art. 413 ao sinal, sejam as arras confirmatórias ou
penitenciais.”
✓ REsp 1513259-MS.
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Na cessão de crédito, em princípio, é possível que um credor (cedente) transfira a um terceiro (cessionário) os direitos
que ele possui na relação jurídica obrigacional.
Conceito: cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral em que o credor transfere a um terceiro, a título gratuito ou
oneroso, os seus direitos na relação jurídica obrigacional.
Exemplo: factoring é um exemplo de cessão de crédito a título oneroso.
Objeto de cessão:
Em regra, qualquer crédito pode ser cedido.
Salvo se a isso se opuser:
- a natureza da obrigação (exemplos: créditos oriundos de salário e de pensão alimentícia não podem ser cedidos);
- a lei (exemplos: crédito que já tenha sido penhorado não pode ser objeto de cessão de crédito – art. 298, CC12).
- o contrato.
Observações importantes:
1º) Não é necessária a anuência do devedor para que seja feita a cessão de crédito.
2º) É imprescindível a notificação do devedor para que a cessão produza efeitos em relação a ele (plano da eficácia).
Se o devedor não for notificado e pagar o credor primitivo, o pagamento será considerado válido, pois a cessão não
produziu efeitos quanto a ele.
Se o devedor for notificado e pagar o credor primitivo, o cessionário poderá cobrar o devedor novamente (“quem paga
mal, paga duas vezes).
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CC, art. 298: “O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da
penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os
direitos de terceiro.”
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RESPONSABILIDADE DO CEDENTE:
Questão: O cessionário (novo credor) pode se voltar contra o cedente (credor antigo) se o devedor não honrar a dívida?
Na cessão onerosa:
Na cessão onerosa, o cedente é responsável pela existência do crédito. Entretanto, ele não será responsável pela solvência
do devedor. Trata-se de cessão pro soluto.
Na cessão gratuita:
Na cessão gratuita, o cedente é responsável pela existência do crédito somente se tiver agido de má-fé.
Exemplo: Mônica não é credora de João e sabe que não existe nenhum tipo de crédito. Entretanto, ela cede gratuitamente
um crédito que não existe a Antônio. Quando Antônio vai cobrar João, este nega a existência do valor. Neste caso, como
Mônica agiu de má-fé, ela é responsável pela existência do crédito.
Excepcionalmente:
Exemplo: Mônica vai ceder seu crédito e seu cessionário exige que ela garanta não apenas a existência do crédito, mas a
solvência do devedor. Neste caso, é possível estabelecer essa cláusula no instrumento de cessão, de forma a ampliar a
responsabilidade da cedente. Trata-se de cessão pro solvendo.
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ASSUNÇÃO DE DÍVIDA (Arts. 299/303, CC)
Na assunção de dívida, um terceiro (assuntor) assumirá a dívida do devedor.
Modalidades de Assunção:
a) Por expromissão: É aquela que decorre de um negócio feito diretamente entre o credor e o terceiro assuntor.
b) Por delegação: É aquela que decorre de um negócio feito entre o devedor e o terceiro assuntor.
O devedor primitivo será chamado de delegante.
O terceiro assuntor será o delegatário.
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Para evitar fraudes, a lei, ao se referir à delegação por assunção, considera imprescindível que haja autorização do credor
com a delegação da dívida.
Efeitos da assunção:
a) Liberatório: É aquela em que o terceiro assuntor assume a dívida e o devedor primitivo é liberado da obrigação.
b) Cumulativo: É aquela em que o terceiro assuntor assume a dívida, mas o devedor primitivo não é totalmente
liberado da obrigação. Apesar dessa assunção não estar prevista em lei, há o Enunciado 16 do CJF que a admite.
Enunciado 16, CJF: “O art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade da assunção cumulativa da dívida quando dois ou
mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com a concordância do credor.”
Questão: Quando o terceiro assuntor assume a dívida sem liberar o devedor primitivo, ele se torna um devedor solidário?
Não necessariamente. Isso dependerá do que for estipulado.
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