História

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 88

Página

1
Capítulo 1
A Colonização Portuguesa
A Exploração do Território
Antes de alcançar o Brasil, os portugueses vinha há muito tempo buscando uma rota
para chegarem às Índias. Essa rota era feita através da navegação de boa parte do
litoral africano até que as embarcações alcançassem os mares do Oriente. Depois de
várias viagens feitas durante o século XV, os portugueses conquistaram essa rota e, com
isso, esperavam lucrar com os tecidos, temperos e outras mercadorias encontradas no
mundo oriental.
Desse modo, ao chegarem ao Brasil, os portugueses estavam bem mais preocupados
em desenvolver o comércio oriental do que se arriscar com as desconhecidas terras
brasileiras. Foi de tal modo que, nas três primeiras décadas da nossa colonização, os
portugueses pouco fizeram por aqui.
Alguns historiadores chegam a dizer
que os trinta primeiros anos de nossa
colonização foram marcados por certo
“abandono”.
É importante destacar que, mesmo
não tendo a mesma importância das
Índias, o território brasileiro foi em
diferentes momentos visitados por
embarcações portuguesas que tinham a
função de reconhecer melhor o nosso
território e patrulhar nossas terras
contra a invasão de outras nações
europeias que tinham o interesse de
colonizar o Brasil. Na verdade, a falta de
uma presença mais marcante dos
portugueses incentivou que outros
povos europeus, como espanhóis e
franceses, chegassem a desembarcar
por aqui nesse tempo.
Não encontrando nenhuma grande riqueza mais atraente, como os metais preciosos,
os portugueses se limitaram a explorar a extração do pau-brasil nessa época. Essa
madeira, além de servir para construção de casas e embarcações, tinha uma tinta
natural avermelhada que servia para o tingimento de tecidos. Nesse tempo, os tecidos
tingidos na cor vermelha eram muito valorizados na Europa.
Para realizarem a retirada das toras de pau-brasil do nosso território, os portugueses
contaram com o auxílio dos grupos indígenas que aqui viviam. Afinal de contas, os
portugueses não tinham conhecimento das regiões exatas em que esse tipo de madeira
poderia ser encontrado. Os indígenas, tendo maior conhecimento do território,
realizavam a extração da madeira nas matas e o transporte até as regiões litorâneas. As
2

toras de madeira eram armazenadas nas feitorias, construções que eram empregadas
Página

como marcos da presença portuguesa no Brasil.


Os indígenas que realizavam esse tipo de trabalho eram recompensados pelo sistema
de “escambo”. Nesse tipo de sistema de trabalho, os indígenas recebiam mercadorias
diversas em troca do pau-brasil retirado. Notamos aqui que o trabalho escravo ainda
não havia sido implantado pelos portugueses. A escravidão só começou a partir da
década de 1530, quando os portugueses intensificariam sua presença no Brasil, mas
afinal, por que motivo eles tiveram mais interesse no Brasil a partir desse momento?
A mudança de comportamento dos portugueses pode ser explicada por vários
motivos. O primeiro deles é o fracasso do comércio desenvolvido nas Índias. A
demorada viagem e a concorrência imposta por outros comerciantes diminuíram as
vantagens que os portugueses esperavam ter no Oriente. Além disso, as ameaças de
invasão estrangeira no Brasil e a existência de ouro em outras regiões da América
também motivaram a mudança da atenção portuguesa para com nossas terras.
Foi assim que, no ano de 1530, uma expedição chefiada por Martim Afonso foi
mandada com diversos objetivos. Chegando aqui, essa nova expedição portuguesa
deveria expulsar os estrangeiros que aqui se encontrassem e buscar metais preciosos
em nossas terras. Ao mesmo tempo, deveriam fundar os primeiros povoamentos que
marcariam o início de uma colonização portuguesa mais intensa em nossas terras.
Em busca de riquezas
Em março de 1500 partiu de Lisboa, Portugal, uma frota com treze embarcações
comandada por Pedro Álvares Cabral, com destino a Calicute, na Índia.
Os portugueses já conheciam o caminho marítimo para a índia, pois em 1498 outro
navegador português, Vasco da Gama, havia realizado essa viagem, trazendo consigo
navios carregados de artigos luxuosos e especiarias.
Naquela época, as especiarias eram muito valorizadas, pois ajudavam a conservar e a
melhorar o sabor dos alimentos. Além disso, eram utilizadas como remédios contra
diversas doenças. Dessa forma, para os portugueses o objetivo principal da expedição
de Cabral era ampliar as negociações com as índias, estabelecendo feitorias na região.
A viagem de Cabral
A chegada dos portugueses ao Brasil é ainda hoje uma questão sem respostas claras.
Durante muito tempo afirmou-se que Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de
abril de 1500 por acaso, após a esquadra que comandava se desviar da rota traçada
após uma tempestade.
Mas há outras versões para essa história. Existem documentos que indicam a
possibilidade de que o italiano Américo Vespúcio tenha viajado pela costa brasileira em
junho de 1499. Outros documentos indicam que o espanhol Vicente Pinzón tenha
também passado por aqui meses depois de Vespúcio. O também espanhol Diego de
Lepe seria outro navegador a viajar em mares brasileiros, em 1500.
Mas fontes um pouco mais antigas ainda indicam que o português Duarte Pacheco
Pereira havia ancorado no Brasil em 1498, por ordem do rei de Portugal, D. Manuel I.
Estas informações levam-nos a pensar se há possibilidade na história de se fazer
afirmações com muita certeza sobre eventos que ocorreram há muito tempo. Talvez a
3

dúvida seja a melhor forma de se chegar ao conhecimento.


Página
Mas o que é oficialmente certo é que a conquista do território brasileiro pelos
portugueses se iniciou a partir da chegada de Cabral, em 22 de abril de 1500. Era a
segunda viagem organizada pela coroa portuguesa com destino à cidade de Calicute, na
Índia. Esta cidade indiana era um local de intenso comércio e a primeira expedição
portuguesa que lá chegou, comandada por Vasco da Gama, em 1498, deu muito lucro
para os portugueses.
Cabral estava encarregado de conseguir o mesmo sucesso que Vasco da Gama. Para
isso, saiu de Lisboa em 09 de março de 1500, com uma esquadra formada por 13
embarcações (3 caravelas e 10 naus). Era a maior expedição marítima que já se tinha
organizado. O financiamento da expedição foi conseguido pela coroa portuguesa em
bancos de Florença, na Itália, e por outros mercadores.
A viagem durou pouco mais de um mês. O primeiro sinal de terra firme visto pelos
portugueses foi o Monte Pascoal, no litoral sul da Bahia. Recebeu este nome por ser
época da Páscoa e os portugueses serem católicos. Dias depois desembarcaram em
local que deram o nome de Porto Seguro, hoje chamado de Santa Cruz Cabrália,
na Bahia.
O escrivão da expedição, Pero Vaz de Caminha registrou o primeiro contato entre os
portugueses e os habitantes do local. Afirmava Caminha que eram puros e bons,
admirando-se da nudez dos indígenas e de como não ficavam envergonhados com ela.
Acreditava ainda Caminha que poderiam facilmente ser convertidos ao cristianismo.
Portugueses e indígenas realizaram ainda algumas trocas de produtos. Cabral
mandou erguer uma cruz de pedra para registrar que havia tomado posse da terra.
Realizaram-se duas missas no território, celebradas pelo frei Henrique Soares.
Essa terra teve vários nomes. Os tupis a chamavam de Pindorama, que em sua língua
significava “região ou país das palmeiras”. Os portugueses, por acreditarem ser o local
recém-conhecido uma ilha, deram o nome de Ilha de Vera Cruz, mas a apelidaram
também de Terra dos Papagaios, em virtude da existência de muitas destas aves.
Alguns anos depois, passaram a chamá-la de Terra de Santa Cruz, pois perceberam
que o Brasil não era uma ilha. Mas a designação de Brasil só ocorreria em 1505 em
razão da existência de muitas árvores de pau-brasil, utilizadas na Europa para o
tingimento de tecidos.
Pedro Álvares Cabral ficou por aqui até o dia 1º de maio de 1500, quando ordenou
que uma nau regressasse a Portugal levando uma carta de Pero Vaz de Caminha, dando
as boas-novas da posse do novo território. Deixaram nas novas terras dois degredados
(pessoas condenadas a viver fora de seu local de origem) e continuou sua viagem à
cidade de Calicute.
Durante muito tempo foi dito que o Brasil havia sido descoberto por Pedro Álvares
Cabral. Mas se já existiam pessoas habitando o local, como poderia Cabral tê-lo
descoberto? O mais correto seria dizer que Cabral iniciou a conquista do Brasil por
Portugal.
✓ Especiarias – plantas aromáticas como: cravo, canela e pimenta.
4

✓ Feitorias – estabelecimento construído para armazenar e comercializar produtos.


Página
Carta para o Rei de Portugal
A Carta de Pero Vaz de Caminha, cujo título oficial é Carta a el-Rei Dom Manoel sobre
o descobrimento do Brasil, é considerada o primeiro documento escrito no e sobre o
Brasil. Seu autor era o escrivão oficial dobrei Dom Manoel I, de Portugal, genro dos reis
espanhóis D. Fernando e Isabel de Castella. Caminha acompanhou a frota de navios
comandada pelo Capitão Pedro Álvares Cabral, em 1500, que tinha a missão de fazer
reconhecimento de um território do “Novo Mundo” ainda não explorado pelos
espanhóis, mas já visitado (na região Norte) por outro navegador português, Duarte
Pacheco Pereira, em 1498.
Caminha ficou encarregado de relatar ao rei o que havia de curioso, útil e valioso na
região encontrada. Essa região corresponde hoje ao atual litoral baiano – a carta foi
escrita por Pero no atual território da cidade de Porto Seguro. Graças a essa carta (com
sete páginas manuscritas no total) que hoje sabemos o dia em que Pedro Álvares Cabral
e os demais tripulantes pisaram em terras brasileiras pela primeira vez: 22 de abril de
1500. Preocupação central do rei Dom Manoel: o ouro
Como dito acima, Pedro Álvares cumpria a missão de reconhecer um território que já
era de conhecimento do rei Dom Manoel desde 1498, por meio dos relatos de Duarte
Pacheco Pereira. Esses relatos, entretanto, permaneceram por um bom tempo em
segredo. Dom Manoel precisava ter certeza do que lá havia de riqueza a ser explorada.
Metais como ouro e prata eram o tipo de “achado” mais cobiçado. A confirmação da
existência de tais metais coube a Cabral.
Em um dos trechos da carta, Caminha descreve o contato que Cabral fez com dois
índios. O episódio segue narrado no trecho abaixo:
Um deles viu umas contas de rosário brancas. Mostrou que as queria,
pegou-as, folgou muito com elas e colocou-as no pescoço. Depois as
tirou e, com elas, envolveu os braços. E acenava para a terra e logo
para as contas e para o colar do capitão, como querendo dizer que
dariam ouro por aquilo.

O Capitão Cabral estava usando um colar de ouro. Caminha, a princípio, achou que o
índio quisesse trocar ouro por um colar de miçangas. Mas um tempo depois, os homens
de Cabral perceberam que metais preciosos não podiam ser vistos em grande
quantidade na nova terra, como acontecera aos espanhóis, que, chegando à América
Central, viram astecas com adornos feitos de ouro. Como diz o pesquisador Lucas
Figueiredo, em sua obra Boa Ventura! A corrida do ouro no Brasil (1697-1810), ao
comentar esse trecho da carta de Caminha:
Na carta de sete páginas escrita por Caminha com letra miúda e
elegante, o rei tomou conhecimento de como era a nova conquista de
Portugal. Parecia o paraíso na terra, tinha muito inhame e, caso
houvesse interesse em cultivá-la, tudo nela daria. O episódio do colar
na capitania, interpretado pelo escrivão como a indicação da suposta
presença do metal em terra, foi relatado com a devida cautela.
“Tomávamos nós nesse sentido por ser esse o nosso desejo”, anotou
caminha com uma honestidade singular.

Apesar da grande importância que hoje em dia a carta de Caminha tem enquanto
documento histórico, por um longo tempo ela esteve guardada nos arquivos
5

da Marinha Real Portuguesa como um documento qualquer. Ela só veio a ser


Página
descoberta, no século XVIII, pelo guarda-mor do arquivo da Torre do Tombo, José
Seabra da Silva.
A Exploração do Território
A exploração do Pau-Brasil foi a primeira atividade econômica do país, logo após o
descobrimento pelos portugueses, em 1500. A madeira foi a primeira riqueza que
saltou aos olhos dos portugueses que aqui chegaram junto com Pedro Álvares Cabral.
Sendo uma atividade bastante fácil para os colonizadores, tanto por conta da
abundância da madeira em todo o litoral quanto por conta do trabalho escravo
indígena, arregimentado à custa de violência e trocas de produtos, a extração de pau
Brasil foi a melhor alternativa para a exploração e posterior colonização das terras
descobertas.
Para assegurar os interesses da Coroa Portuguesa, desde os primeiros momentos, a
exploração do pau Brasil foi regulamentada e dependia de autorização expressa da
Coroa e do pagamento de taxas que garantiam que a riqueza não fosse retirada do país
sem vantagens para os portugueses.
O primeiro a se beneficiar dessa atividade econômica foi Fernando de Noronha que,
em 1501, conseguiu a autorização junto a Portugal e se tornou o primeiro grande
extrator da madeira tão desejada. Seu esforço gerou as bases da atividade econômica
preponderante do início da colonização.
Para conseguir a permissão para explorar o pau Brasil, qualquer interessado deveria
se comprometer a colaborar com a exploração do território recém descoberto (do qual
ainda não tinham noção da dimensão). Era preciso que explorassem ao menos 330
léguas para o interior, a partir da costa, além de garantirem o custeio do processo de
extração. Somado a isso, o interessado deveria se comprometer com a edificação e
manutenção de uma estrutura de defesa que garantisse a segurança do território. Como
última condição, era proibida a queima de madeira corante, fosse pau Brasil ou
qualquer outra.
Com o tempo colonos de outros países acabaram por tentar participar da extração do
pau Brasil. Os espanhóis optaram por respeitar as fronteiras estabelecidas pelo Tratado
de Tordesilhas e rapidamente se retiraram dos territórios portugueses. No entanto, um
grande número de piratas franceses chegava à costa brasileira, aproveitavam a pouca
vigilância e extraiam a madeira ilegalmente, gerando inclusive incêndios e
desmatamentos proibidos pela Coroa Portuguesa.
O Pau brasil foi explorado até a exaustão no país. Mesmo em meados do século XIX,
ainda havia exploração, ainda que pouca, tanto pela raridade da árvore, quase
desaparecida do país pela exploração descontrolada, quanto pela descoberta de um
novo corante não natural que produzia os mesmos efeitos.
Símbolo de nossa terra e base da nossa economia em seu nascedouro, o pau Brasil é
um patrimônio do nosso país e hoje o nosso esforço é voltado a preservá-lo da maneira
mais eficiente possível, permitindo assim que as gerações vindouras possam ter a
chance de conhecer a árvore que nomeia o nosso país.
6
Página
Compreensão
Observe no mapa a seguir, as rotas das expedições de Vasco da Gama e Pedro Álvares
Cabral.

Após analisar o mapa, responda às questões.


1. Descreva as rotas realizadas por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
2. Identifique as diferenças entre as rotas das expedições de Vasco da Gama e de Cabral.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
3. Explique por que as especiarias tinha um alto valor comercial para os portugueses no
século XV,
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
4. Qual foi a primeira forma de exploração das terras? E como era realizado esse
trabalho?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
7

____________________________________________________________________________________________________
Página

___________________________________________________________________________________________________
5. Explique por que o Brasil recebeu esse nome.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
Tratado de Tordesilhas
Tratado de Tordesilhas, assinado em sete de junho de 1494, foi um acordo entre o
monarca de Portugal, D. João II, e os reis do que hoje é a Espanha moderna, Isabel I de
Castela e Fernando II de Aragão. Apesar de o documento ter sido o resultado das
recentes descobertas das viagens do navegador genovês Cristóvão Colombo, para
entender por completo sua relevância histórica é necessário ter em mente acordos
prévios feitos entre as potências ibéricas.
Em paralelo ao recuo islâmico na Península Ibérica, a partir do século XIII, os
castelhanos disputaram com os portugueses a exploração e domínio da costa atlântica
africana, considerada essencial para garantir uma passagem para a Índia que não
dependesse exclusivamente do Mar Mediterrâneo. Durante o século XV, a contínua
expansão dos reinos ibéricos nesta direção gerou conflitos comerciais e, por
consequência, rivalidade política. A partir da década de 1450, reis portugueses
solicitariam intervenção a sucessivos papas, a fim de garantir não apenas a posse
temporal e espiritual das terras já descobertas, mas também dos territórios ainda
desconhecidos no Atlântico.
Por volta da época da disputada ascensão ao trono de Isabel I de Castela, em 1474,
um primeiro tratado começou ser negociado por Portugal para aquietar as disputas a
respeito, culminando finalmente no chamado Tratado de Alcáçovas. Assinado pelas
duas partes em 1479, o documento acertava a paz entre os reinos após a Guerra de
Sucessão Castelhana (1475-79), tendo como principais cláusulas a renúncia de D.
Afonso V ao trono de Castela e um futuro casamento entre os filhos dos soberanos.
Além disso, o tratado demarcava as zonas de influência de cada lado no Oceano
Atlântico ao estabelecer o domínio dos Reis Católicos nas Ilhas Canárias, garantindo aos
portugueses a exploração de todas as terras ao sul. Ambos os reinos comprometeram-
se a não infligir os domínios estabelecidos, e o papa Sisto IV ratificou o acordo em 1481.
Em 1492, contudo, ocorreram as primeiras descobertas por Cristóvão Colombo,
alterando por completo a situação diplomática estabelecida anteriormente. Quase que
imediatamente após a chegada do navegador à Espanha, o casal real procurou garantir
o apoio do papa aragonês Alexandre VI. De acordo, uma bula (bula Inter coetera) foi
publicada em maio de 1493, estabelecendo que todas as terras descobertas e ainda por
descobrir a oeste das Ilhas Canárias eram possessão exclusiva dos Reis Católicos,
restando a Portugal apenas as terras a leste. Julgando que tal decisão do pontífice
contradizia diretamente o Tratado de Alcácoças assinado alguns anos antes, o rei D.
João II procurou Isabel I e Fernando II para negociações paralelas.
8

Enfrentando uma situação interna problemática e procurando evitar a hostilidade do


Página

reino vizinho, os monarcas acabaram por concordar, e o acordo foi selado. Ficou
decidido que a separação das terras demarcadas seria feita a partir de um meridiano
que estaria a 370 léguas (aproximadamente 1780 quilômetros) a oeste das ilhas de
Cabo Verde; todas as terras a oeste seria da Coroa espanhola, enquanto as terras a leste
pertenceriam à monarquia portuguesa. Contudo, como os espanhóis necessitariam de
navegar pelas águas portuguesas para atingir seus próprios domínios, certas cláusulas
garantiam passagem segura, embora ainda proibissem qualquer exploração.

A Ocupação do Litoral Brasileiro


A ocupação do Território Brasileiro e a Economia Colonial
No primeiro século de colonização as terras exploradas na América portuguesa se
reduziam ao litoral brasileiro, sendo o pau-brasil o produto que mais interessava aos
colonizadores. No entanto, a partir do século XVI ocorreu uma significativa mudança na
configuração do território, já que ocorreu uma maior interiorização da ocupação tendo
em vista a conquista dos chamados sertões, regiões estas distantes do litoral.
As mudanças ocorridas neste perfil de ocupação estiveram ligadas a fatores como a
necessidade de proteger o território, a busca pela mão de obra indígena, pela expansão
da pecuária para o abastecimento interno e também pela não necessidade do respeito
ao Tratado de Tordesilhas no momento da união entre Portugal e Espanha.
A Empresa Açucareira
O início da efetiva ocupação territorial da colônia, a partir de 1530, fez com que
Portugal estabelecesse sua primeira empresa colonial em terras brasileiras. Em
conformidade com sua ação exploratória, Portugal viu na produção do açúcar uma
grande possibilidade de ganho comercial. A ausência de metais preciosos e o anterior
desenvolvimento de técnicas de plantio nas Ilhas do Atlântico ofereciam condições
propícias para a adoção dessa atividade.
Mesmo possuindo tantas vantagens, o governo português ainda contou com o auxílio
da burguesia holandesa. Enquanto Portugal explorava economicamente as terras com a
criação das plantações e engenhos, os holandeses emprestavam dinheiro e realizavam a
distribuição do açúcar no mercado europeu. Tal acordo foi de grande importância para
a Coroa Portuguesa, tendo em vista que a mesma não contava com recursos suficientes
para investir na atividade.
Para extrair lucro máximo na atividade açucareira, Portugal favoreceu a criação de
plantations destinadas ao cultivo de açúcar. Essas plantations consistiam em grandes
expansões de terras (latifúndios) controladas por um único proprietário (senhor de
engenho). Esse modelo de economia agrícola, orientado pelo interesse metropolitano,
acabou impedindo a ascensão de outras atividades para fora dos interesses da
economia portuguesa.
Além de restringir a economia, a exploração do açúcar impediu a formação de outras
classes sociais intermediárias que não se vinculassem à produção agrícola e ao senhor
de engenho. Na base desta pirâmide social estariam os escravos africanos trazidos das
possessões coloniais portuguesas na África. Além de oferecerem mão de obra a um
9

baixíssimo custo, o tráfico de escravos africanos constituía outra rentável atividade


Página

mercantil à Coroa Portuguesa.


O engenho, centro da produção de açúcar, baseava-se em um modo de organização
específica. A sede administrativa do engenho fixava-se na casa-grande, local onde o
senhor de engenho, sua família e demais agregados moravam. A senzala era local
destinado ao precário abrigo da mão de obra escrava. As terras eram em grande parte
utilizadas na formação de plantations, tendo uma pequena parte destinada a uma
restrita policultura de subsistência e à extração de madeiras.
Separada do espaço do cultivo da cana, existiam outras instalações que davam conta
do processamento da cana-de-açúcar colhida. Na moenda, na casa das caldeiras e na
casa de purgar ocorria o beneficiamento de toda a produção recolhida. Esse era um
processo inicial para o transporte do açúcar que, ao chegar à Europa, ainda sofreria
outros processos de refinamento.
Dessa forma, notamos que a fazenda açucareira representava bem mais que um mero
sistema de exploração das terras coloniais. Nesse mesmo espaço rural percebemos a
instituição de toda uma sociedade formada por hábitos e costumes próprios. O engenho
propiciou um sistema de relações sociais específico, conforme podemos atestar na obra
clássica Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. Na qualidade de um espaço dotado
de relações específicas, o engenho e o açúcar trouxeram consigo muitos aspectos
culturais da sociedade brasileira.
Durante o Período Colonial, a empresa açucareira foi o grande investimento dos
portugueses nas terras brasileiras. Contudo, as necessidades de consumo das
populações nativas serviram para o desenvolvimento de outras atividades econômicas
destinadas à subsistência. Tais empreendimentos econômicos ficaram comumente
conhecidos como atividades acessórias ou secundárias e costumava abranger o plantio
de pequenas e médias culturas e produção de algodão, rapadura, aguardente, tabaco e
mandioca.
Nesse cenário a atividade pecuarista também começou a ganhar espaço com a
importação de algumas reses utilizadas para o trabalho nos engenhos de açúcar.
Com o passar do tempo, o crescimento do rebanho de gado acabou causando
problemas no interior das plantações de açúcar, que tinham parte de sua plantação
destruída pela ação desses animais. Com isso, o lucro a ser alcançado com a produção
açucareira se incompatibilizava com a incômoda presença do gado dentro das fazendas.
A questão chegou a ser tratada pelas autoridades metropolitanas, que estabeleceram
um decreto que proibia a realização de qualquer atividade pecuarista nas regiões
litorâneas do Brasil. À medida, apesar de seu caráter visivelmente restritivo, acabou
impulsionando a criação de gado no interior do território de forma extensiva com o uso
de pastagens naturais. Segundo algumas estimativas, no século XVII, a atividade
alcançava várias regiões nordestinas e contava com mais de 600 mil cabeças.
Além de se constituir enquanto uma atividade econômica alternativa aos projetos de
exploração colonial, a pecuária também instituiu novas relações de trabalho alheias ao
uso da mão de obra escrava. Geralmente, a pecuária necessitava de um pequeno
número de trabalhadores e tinha sua mão de obra composta por trabalhadores livres
10

de origem branca, negra, indígena ou mestiça. Além disso, o pagamento pelos serviços
prestados era comumente realizado com o repasse de novos animas que surgiam no
Página

rebanho.
Com o surgimento das atividades mineradoras nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, a
pecuária ampliou seu mercado consumidor estabelecendo novas frentes de expansão
no Nordeste e na região Sul do território. Além de servir para o abastecimento da
população, a atividade pecuarista também consolidou um próspero comércio de
equinos e muares usados para o transporte de pessoas e mercadorias. Geralmente,
eram organizadas feiras em alguns centros urbanos do interior onde esses animais
eram negociados.
Além de ocupar uma importante posição no ambiente colonial, a expansão da
pecuária foi de grande importância no processo de ampliação do território.
Paralelamente, após a decadência da atividade mineradora no interior, a pecuária
também se consolidou como uma nova atividade que substituiria o vazio econômico
deixado pelo escassamente das minas.
As drogas do Sertão
Ao longo da colonização, observamos que a incursão pelo interior do nosso território
abriu caminho não apenas para o conhecimento de novos espaços, mas também para a
existência de várias plantas, frutas e raízes que compunham a nossa vegetação. Nesse
processo, o contato com as populações indígenas também foi de suma importância para
que os colonizadores conhecessem as potencialidades curativas e culinárias das
chamadas “drogas do sertão”.
Antes que a nossa colonização se efetivasse, a partir de 1530, toda a Europa tinha
grande interesse nas especiarias vendidas nas Índias. As ervas, frutos, raízes e
sementes do mundo oriental serviam para a preparação de remédios, a fabricação de
manufaturas e o tempero da comida. No século XV, o advento das grandes navegações –
lideradas pelas nações ibéricas – objetivava a conquista de uma rota que ligasse a
Europa aos comerciantes indianos, tamanho era o interesse por esses produtos.
Envolvidos em tal projeto, os portugueses acabaram conquistando uma rota de
chegada ao Oriente por meio da circunavegação da África. Tal rota, apesar de cumprir o
seu objetivo, acabou não sendo economicamente viável por conta do grande tempo
gasto na viagem e a concorrência de outros povos que já comercializavam com os
indianos. Dessa forma, a possibilidade de se vender e consumir as especiarias em
Portugal acabou não sendo concretizada.
Nos séculos XVI e XVII, a exploração da região amazônica acabou surgindo como uma
solução para o papel econômico anteriormente desempenhado pelas especiarias
indianas. Afinal, esse espaço do território colonial acabou se mostrando rico em frutas,
sementes, raízes e outras plantas que tinham finalidades medicinais e culinárias. Cacau,
cravo, guaraná, urucum, poaia e baunilha foram alguns dos produtos que ficaram
conhecidos como as tais “drogas do sertão”.
Na maioria das vezes, a extração das drogas do sertão era feita pelas missões jesuítas
que se localizavam no interior do território e aproveitavam da mão de obra indígena
disponível. Paralelamente, os bandeirantes, em suas incursões pelo interior, também
realizavam essa mesma atividade com o objetivo de vender esses produtos na região
11

litorânea. De modo geral, a extração das drogas do sertão atendia demandas


Página

provenientes tanto do mercando interno como do mercado externo.


É interessante ressaltar que atualmente a historiografia não aceita mais a visão
clássica dos ciclos econômicos, ou seja, a ideia de que o período colonial teria sido
economicamente conduzido por ciclos, ou seja, sustentado sucessivamente pela
exportação de produtos específicos, primeiramente o pau-brasil, depois o açúcar, o
ouro e o café.
Bandeirantes e Jesuítas: A definição dos limites geográficos e a mão de obra
indígena.
Denominam-se bandeirantes os sertanistas do Brasil Colonial, que, a partir do início
do século XVI, penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais,
sobretudo a prata, abundante na América espanhola, indígenas para escravização ou
extermínio de quilombos.
Estes homens, que saiam de São Paulo e São Vicente, dirigiam-se para o interior do
Brasil caminhando através de florestas e também seguindo caminho por rios, o Rio
Tietê foi um dos principais meios de acesso para o interior de São Paulo. Estas
explorações territoriais eram chamadas de Entradas ou Bandeiras.
Enquanto as Entradas eram expedições oficiais organizadas pelo governo, as
Bandeiras eram financiadas por particulares (senhores de engenho, donos de minas,
comerciantes).
Estas expedições tinham como objetivo predominante capturar os índios e procurar
por pedras e metais preciosos. Contudo, estes homens ficaram historicamente
conhecidos como os responsáveis pela conquista de grande parte do território
brasileiro. Alguns chegaram até fora do território brasileiro, em locais como a Bolívia e
o Uruguai.
Do século XVII em diante, o interesse dos portugueses passou ser a procura por ouro
e pedras preciosas. Então, os bandeirantes Fernão Dias Pais e seu genro Manuel Borba
Gato, concentraram-se nestas buscas desbravando Minas Gerais. Depois outros
bandeirantes foram para além da linha do Tratado de Tordesilhas e descobriram o
ouro. Muitos aventureiros os seguiram, e, estes, permaneceram em Goiás e Mato Grosso
dando início a formação das primeiras cidades.
Nessa ocasião destacaram-se: Antônio Pedroso, Alvarenga e Bartolomeu Bueno da
Veiga, o Anhanguera.
Como conclusão, pode-se dizer que os bandeirantes foram responsáveis pela
expansão do território brasileiro, desbravando os sertões além do Tratado de
Tordesilhas. Por outro lado, agiram de forma violenta na caça de indígenas e de
escravos foragidos, contribuindo para a manutenção do sistema escravocrata que
vigorava no Brasil Colônia.
Os jesuítas também tiveram grande importância na ocupação e delimitação do
território colonial, já que através dos aldeamentos e missões adentraram os sertões
através da exploração de uma série de produtos. Os mesmos eram padres da Igreja
Católica que faziam parte da Companhia de Jesus. Esta ordem religiosa foi fundada em
12

1534 por Inácio de Loiola.


A Companhia de Jesus foi criada logo após a Reforma Protestante (século XVI), como
Página

uma forma de barrar o avanço do protestantismo no mundo. Portanto, esta ordem


religiosa foi criada no contexto da O que ocorreu de fato foi a preponderância de certos
produtos em determinados momentos e não a exclusividade dos mesmos, já que a
economia colonial era bem mais complexa do que unicamente a exportação de
produtos, tendo em vista a montagem de um vigoroso mercado interno.
Contra Reforma Católica. Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil no ano de 1549,
com a expedição de Tomé de Souza.
Objetivos dos Jesuítas
✓ Levar o Catolicismo para as regiões recém-descobertas, no século XVI,
principalmente à América;
✓ Catequizar os índios americanos, transmitindo-lhes as línguas portuguesa e
espanhola, os costumes europeus e a Religião Católica;
✓ Difundir o catolicismo na Índia, China e África, evitando o avanço do Protestantismo
nestas regiões.
Nos aldeamentos jesuíticos os índios eram educados para viver como cristãos. Essa
educação significava uma imposição forçada de outra cultura, a cristã. Os jesuítas
valiam-se de aspectos da cultura nativa, especialmente a língua, para se fazerem
compreender e se aproximarem mais dos indígenas. Esta ação incrementava a
destribalização e violentava aspectos fundamentais da vida e da mentalidade dos
nativos, como o trabalho na lavoura.
Do ponto de vista dos jesuítas, a destruição da cultura indígena simbolizava o
sucesso dos aldeamentos e da política metropolitana inspirada por eles. Os religiosos
argumentavam que as aldeias não só protegiam os nativos da escravidão e facilitavam
sua conversão, mas também forneciam uma força militar auxiliar para ser usada contra
tribos hostis, intrusos estrangeiros e escravos bêbados. Entretanto, os efeitos dessa
política eram tão agressivos e aniquiladores da identidade nativa que, não raro, os
índios preferiam trabalhar com os colonos, apesar de serem atividades mais rigorosas,
pois estes pouco se envolviam com seus valores, deixando-os mais livres.
Em sua trajetória, as missões jesuíticas encamparam uma grande população de
indígenas que ganhava educação religiosa em troca de uma rotina de serviços voltados
à manutenção desses próprios locais. Com o passar do tempo, algumas dessas
propriedades clericais passaram a integrar a economia interna da colônia com o
desenvolvimento da agropecuária e de outras atividades de extrativismo. Dessa forma,
conciliavam uma dupla função religiosa e econômica.
Enquanto essa situação próspera se desenhava no interior da colônia, os
proprietários de terra do litoral enfrentavam grandes dificuldades para ampliar a
rentabilidade de suas posses. Um dos grandes problemas esteve ligado à falta de
escravos africanos que nem sempre atendiam à demanda local e, ao mesmo tempo,
possuíam um elevado valor no mercado colonial. Foi daí então que os bandeirantes
começaram a adentrar as matas com objetivo de apresar e vender os índios que
resolveriam a falta de mão de obra.
13

De fato, essa atividade gerou um bom lucro aos bandeirantes que se dispunham a
adentrar o interior à procura de nativos. Contudo, a resistência destes e o risco de vida
Página
da própria atividade levaram muitos bandeirantes a organizarem ataques contra as
missões jesuíticas.
Afinal de contas, ali encontrariam uma boa quantidade de “índios amansados” que já
estariam adaptados aos valores da cultura europeia e valeriam mais por estarem
acostumados a uma rotina de trabalho.
Com isso, a rivalidade entre bandeirantes e jesuítas marcou uma das mais acirradas
disputas entre os séculos XVII e XVIII. Vez após outra, ambos os lados recorriam à
Coroa Portuguesa para resolver essa rotineira contenda. Por um lado, os colonizadores
reclamavam da falta de suporte da própria administração colonial. Por outro, os
jesuítas apelavam para a influência da Igreja junto ao Estado para denunciarem as
terríveis agressões dos bandeirantes.
O desgaste causado por essas disputas só foi resolvido com as ações impostas pelo
marquês de Pombal. Primeiramente, decidiu determinar a expulsão dos jesuítas do
Brasil por estes imporem um modelo de colonização alheio ao interesse da Coroa. E,
logo em seguida, determinou o fim da escravidão indígena e a formação de aldeamentos
diretamente controlados por representantes da administração metropolitana.
A Escravidão Africana
A substituição da mão de obra escrava indígena pela africana ocorreu,
progressivamente, a partir de 1570. As principais formas de resistência indígena à
escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte de uma
parcela significativa deles. Segundo o historiador Boris Fausto, morreram em torno de
60 mil índios, entre os anos de 1562 e 1563.
As causas eram doenças contraídas pelo contato com os brancos, especialmente os
jesuítas: sarampo, varíola e gripe, para as quais não tinham defesa biológica.
Outro fator bastante importante, se não o mais importante, na substituição de mão
de obra indígena pela africana, era a necessidade de uma melhor organização da
produção açucareira, que assumia um papel cada vez mais importante na economia
colonial. Para conseguir dar conta dessa expansão e demanda externa tornou-se
necessária uma mão de obra cada vez mais especializada, como a dos africanos, que já
lidavam com essa atividade nas propriedades dos portugueses, na Ilha da Madeira,
litoral da África.
Nessa época, a Coroa começou a tomar medidas contra a escravização dos A
substituição da mão de obra escrava indígena pela africana ocorreu, progressivamente,
a partir de 1570. As principais formas de resistência indígena à escravidão foram as
guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte de uma parcela significativa
deles. Segundo o historiador Boris Fausto, morreram em torno de 60 mil índios, entre
os anos de 1562 e 1563.
Para o historiador Eduardo Silva, “a escravidão não funcionou e se reproduziu
baseada apenas na força. O combate à autonomia e indisciplina escrava, no trabalho e
fora dele, se fez através de uma combinação de violência com a negociação, do chicote
14

com a recompensa.”.
Os escravos que trabalhavam na casa grande recebiam um tratamento melhor e, em
Página

alguns casos, eram considerados pessoas da família. Esses escravos, chamados de


“ladinos” (negros já aculturados), entendiam e falavam o português e possuíam uma
habilidade especial na realização das tarefas domésticas. Os escravos chamados
“boçais”, recém-chegados da África, eram normalmente utilizados nos trabalhos da
lavoura. Havia também aqueles que exerciam atividades especializadas, como os
mestres de açúcar, os ferreiros, e outros distinguidos pelo senhor de engenho.
Chamava-se de crioulo o escravo nascido no Brasil.
Geralmente dava-se preferência aos mulatos para as tarefas domésticas, artesanais e
de supervisão, deixando aos de cor mais escura, geralmente os africanos, os trabalhos
mais pesados.
A convivência mais próxima entre senhores e escravos, na casa grande, abriu espaço
para as negociações. Esta abertura era sempre maior para os ladinos, conhecedores da
língua e das manhas para “passar a vida”, e menor para os africanos recém-chegados, os
boçais. Na maioria das vezes, essas negociações não visavam à extinção pura e simples
da condição de escravo, e sim, obter melhores condições de vida, manutenção das
famílias, liberdade de culto, permissão para o cultivo em pedaço de terra do senhor,
com a venda da produção, e condições de alimentação mais satisfatórias.
Compreensão
Responda às questões.
1. Quando a Coroa Portuguesa iniciou o processo de colonização do Brasil? Por quê?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
2. Por que foram instalados engenhos de açúcar na Colônia?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
3. Explique por que os padres Jesuítas eram importantes no projeto colonizador
português no Brasil.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________

4. Observe o mapa
15
Página
a) Quantas vilas existam no Brasil por volta de 1580?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
b) No século XVI, as vilas e cidades brasileiras se concentravam nas regiões de litoral.
Em sua opinião por que isso acontecia?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________

5. Explique como aconteceu a Escravidão Africana.


____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________

A Administração Colonial

Com o sistema de Capitanias Hereditárias, criado por D. João III a partir de 1534, teve
início a colonização regular da colônia.
Este sistema não se constituía em uma experiência totalmente nova, pois já havia
sido empregado na colonização das ilhas portuguesas do Atlântico.
A presença francesa e a situação desfavorável do comércio com o Oriente foram os
fatores determinantes que desencadearam o início da ocupação.
Esta foi realizada com base em recursos de particulares, pois os capitais disponíveis
estavam concentrados no comércio oriental. Assim, o sistema de capitanias se
constituiu em uma divisão do território brasileiro em lotes, de extensão variada, e
16

concedida a particulares interessados em vir colonizar com os seus próprios recursos.


Dois documentos regiam o sistema: as cartas de doação e os forais.
Página
O primeiro realizava a doação do lote ao donatário e especificava quais os poderes de
que estava investido. O segundo determinava os direitos e os deveres dos donatários.
A capitania não podia ser vendida e o Estado português, em casos especiais, tinha o
direito de retomá-la, mediante indenização ou confisco. O donatário (capitão-mor)
podia fundar vilas e doar sesmarias. Este último direito era-lhe garantido pelo foral,
que também permitia a livre exploração das minas, salvo o pagamento o quinto real.
As dificuldades para o desenvolvimento das capitanias foram enormes, apesar das
vantagens concedidas aos donatários. Alguns deles não vieram nem tomar posse das
terras. Outros fracassaram pela falta de recursos financeiros, pelas hostilidades dos
estrangeiros e dos indígenas, pelas dificuldades de comunicação com Portugal e pela
falta de um organismo centralizador.
Diante destas dificuldades, apenas duas capitanias conseguiram realizar o que a
metrópole desejava: Pernambuco e São Vicente.
Com finalidade de superar as dificuldades das capitanias e centralizar política e
administrativamente a colônia, D. João III, em 1548, criou o Governo Geral. Essa
centralização foi necessária para impedir o abuso de poder por parte dos donatários,
combater mais eficientemente a pirataria, deter a hostilidade dos indígenas e incentivar
a economia. Algumas atribuições dos donatários passarem para nova autoridade, mas
as capitanias continuaram existindo normalmente.
Além do cargo de Governador Geral, outros cargos foram criados, como o de
Provedor-mor, encarregado da administração e arrecadação: o de Ouvidor-mor, com
atribuições Judiciárias; o de Capitão-Mor-da-Costa, responsável pela defesa do litoral,
além de outros cargos menores.
O Governador Geral administrava de acordo com o Regimento e com as novas
instruções que vinham de Portugal. Havia órgãos especializados como as Intendências e
as Mesas de Inspeção, subordinadas diretamente à metrópole, não sofrendo
interferência das autoridades constituídas na colônia. Sua função era essencialmente
fiscalizadora e tributaria.
O sistema de Governo perdurou até a vinda da família Real portuguesa, em 1808,
apesar de algumas tentativas de divisão que ocorreram. A primeira foi a divisão em
dois governos, um na Bahia e outro no Rio de Janeiro, de 1573, a 1578.
Em 1621 foi criado o Estado do Maranhão, território que ia do Ceará até o extremo
norte. O Estado do Brasil compreendia o restante da Colônia. Em 1737 o estado do
Maranhão foi substituído pelo Estado de Grão-Pará e Maranhão que foi absorvido em
1774 pelo do Brasil. A partir de 1720 os governadores gerais passaram a utilizar o
título de vice-rei, que lembrava menos um funcionário executante de ordens e parecia a
própria personificação do sagrado poder monárquico.
Em 1763, a capital da colônia foi transferida para o Rio de Janeiro, principalmente
devido à exploração do ouro e às questões fronteiriças no sul.
Sem dinheiro para bancar os custos de um processo de colonização centralizado,
17

dom João III adota o modelo que já experimentara com sucesso nas possessões da
África – o das Capitanias Hereditárias.
Página
Pouco tempo depois, institui também a figura do Governo Geral. Capitanias e
Governo Geral coexistem por mais de dois séculos, numa sobreposição de poderes nem
sempre tranquila.
O sistema de Governos Gerais é interrompido entre 1580 e 1640, época em que
Portugal e suas colônias ficam sob domínio da Espanha.

Capitanias Hereditárias

Mem de Sá

Pelo sistema de Capitanias Hereditárias, implantado entre 1534 e 1536, a Coroa


repassa para a iniciativa privada a tarefa e os custos de promover a colonização.
A colônia é dividida em 15 donatarias, ou capitanias: faixas paralelas de terra, com 50
léguas de largura, que vão do litoral até os limites do Tratado de Tordesilhas. São
doadas a 12 capitães donatários, geralmente membros da pequena nobreza
enriquecidos no comércio com o Oriente. Em troca das terras, compromete-se com a
Coroa em desenvolver a agricultura canavieira e montar engenhos de açúcar, produto
raro e muito valorizado na Europa. Alguns donatários não chegam a tomar posse.
Outros renunciam a seus direitos ou vão à falência nos primeiros anos.
Das 15 capitanias, as de São Vicente e de Pernambuco são as de maior sucesso. Esta
última consegue grande prosperidade com a lavoura de cana e produção de açúcar. O
sistema de capitanias é extinto em 1759.
Direitos dos Donatários
Em suas capitanias, os donatários são senhores absolutos e devem obediência apenas
ao rei. Têm autonomia civil e criminal sobre as terras cedidas, recebem a propriedade
sobre dez léguas de terra ao longo da costa e direitos de posse e usufruto sobre a
produção do restante da capitania. São autorizados a vender anualmente em Lisboa 39
índios escravizados. Podem fundar vilas, nomear ouvidores e tabeliães e doar lotes de
terra – as sesmarias – aos cristãos que tenham condições de torná-las produtivas.
Apesar dos privilégios, a empreitada é cheia de riscos e exige investimentos iniciais
18

volumosos. As vilas são administradas por alcaide nomeado pelo donatário e por uma
câmara municipal (às vezes chamada de senado da câmara). A câmara é formada por
Página

três ou quatro vereadores, um procurador, dois almotacéis (ou fiscais), um tesoureiro e


um escrivão e presidida por um juiz ordinário ou juiz-de-fora, nomeado pela Coroa. Os
vereadores, com mandatos de três anos, são eleitos entre os proprietários de terra e de
escravos.
Governo Geral
O rei Dom João III cria o Governo Geral e transforma a capitania da Bahia em
capitania real em 17 de dezembro de 1548. Seu objetivo é centralizar a administração
colonial por meio de funcionários de confiança e, assim, aumentar o controle sobre os
lucros da produção açucareira e a eficiência no combate às invasões estrangeiras. O
Governo Geral é mantido durante a dominação espanhola com a independência
portuguesa, os governadores recebem o título de vice-reis. O sistema é extinto em
1808, com a vinda da corte portuguesa para o Brasil.
Estrutura dos Governos Gerais
O governador-geral, nomeado pelo rei, é assessorado pelas Juntas Gerais, que
funcionam como um Conselho de Estado, e pelas Juntas de Fazenda, encarregadas da
administração econômica e fiscal. As vilas continuam sob o poder dos capitães-
donatários, que não aceitam a ingerência dos funcionários reais em seus negócios. Na
prática, o poder dos primeiros governadores limita-se à capitania da Bahia.

Governadores
O primeiro é Tomé de Souza. Ele chega ao Brasil
em 29 de março de 1549 e governa até sua morte, em
1553. É substituído por Duarte da Costa, que fica no
cargo por quatro anos. O terceiro é Mem de Sá, que
governa de 1557 até 1572. Até a chegada da família
real no Brasil, em 1808, sucedem-se na colônia 47
governadores-gerais.
Fundação de Salvador
Salvador, sede do Governo Geral é fundada por
Tomé de Souza logo após sua chegada, em 1549. A
vila cresce rapidamente com a vinda de mais colonos,
atraídos pelas doações de sesmarias.
Eles introduzem a cultura do arroz e de árvores
frutíferas, começam as criações de gado, as plantações de cana-de-açúcar e instalam
engenhos.
Fundação do Rio de Janeiro
A cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro é fundada em 1º de março de 1565, por
Estácio de Sá, sobrinho do governador-geral Mem de Sá. O local escolhido é o do antigo
forte construído pelos franceses na entrada da baía de Guanabara.
19
Página
Divisão do Governo Geral
Em 1572 Dom Sebastião divide a administração da colônia em dois governos gerais.
O do sul, com sede em São Sebastião do Rio de Janeiro, fica responsável pelos
territórios da capitania de Ilhéus para baixo. O governo do norte, com capital em
Salvador, se encarrega de administrar a região que vai da capitania de Porto Seguro à
de Pernambuco. O sistema dura pouco. O governo único é restabelecido em 1578; há
uma nova divisão entre 1608 e 1612.
Estado do Maranhão e Grão-Pará
Em 1621, já sob domínio espanhol, é criado o Estado do Maranhão e Grão-Pará. Seu
objetivo é melhorar as defesas da costa e os contatos com a metrópole, já que as
relações com Salvador são dificultadas pelas correntes marítimas.

Compreensão
1. Nos primórdios do Sistema Colonial, as concessões de terras efetuadas pela
metrópole portuguesa pretendiam tanto a ocupação e o povoamento como a
organização da produção do açúcar, com fins comerciais. Identifique a alternativa
correta sobre as medidas que a Coroa portuguesa adotou para atingir esses objetivos.
a) Dividiu o território em capitanias hereditárias, cedidas aos donatários, que, por sua
vez, distribuíram as terras em sesmarias a homens de posses que as demandaram.
b) Vendeu as terras brasileiras a senhores de engenho já experientes, que garantiram
uma produção crescente de açúcar.
c) Dividiu o território em governações vitalícias, cujos governadores distribuíram a
terra entre os colonos portugueses.
d) Armou fortemente os colonos para que pudessem defender o território e
20

regulamentou um uso equânime e igualitário da terra entre colonos e índios aliados.


Página
e) Distribuiu a terra do litoral entre os mais valentes conquistadores e criou engenhos
centrais que garantissem a moenda das safras de açúcar durante o ano inteiro.
2. Em 1534, o Governo Português concluiu que a única forma de ocupação do Brasil
seria através da colonização. Era necessário colonizar, simultaneamente, todo o extenso
território brasileiro. Essa colonização dirigida pelo governo português se deu através
da:
a) criação da Companhia Geral do Comércio do Estado do Brasil.
b) criação do Sistema de Governo-Geral e Câmaras Municipais.
c) criação das Capitanias Hereditárias.
d) montagem do Sistema Colonial.
e) criação e distribuição de sesmarias.
3. A imagem abaixo é um mapa das Capitanias Hereditárias feito por Luís Teixeira,
provavelmente em 1574.

Mapa das Capitanias Hereditárias

Apesar do intuito de Portugal em utilizar as Capitanias Hereditárias como forma de


garantir a colonização e o povoamento do território colonial, as dificuldades
econômicas e de enfrentamento das populações indígenas impediram o sucesso das
capitanias. Apenas duas capitanias hereditárias conseguiram obter lucros, e eram as
capitanias de:
a) São Vicente e Bahia.
b) Pernambuco e Maranhão.
c) Espírito Santo e Porto Seguro.
d) São Vicente e Pernambuco.
e) Rio Grande e Ceará.

4. “[El rei D. João III] ordenou que se povoasse esta província, repartindo as terras por
pessoas que se lhe oferecessem para as povoarem e conquistarem à custa de sua
fazenda, e dando a cada um cinquenta léguas por costa com todo o seu sertão, para que
eles fossem não só senhores, mas capitães delas pelo que se chamam e distinguem por
21

capitanias.”
Página

SALVADOR, Frei Vicente do. História do Brasil (1550-1627). 7 ed. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1982. p. 103-104.
Ao receber uma Capitania Hereditária, o donatário recebia também o Foral, um
documento onde eram determinados os seus direitos e deveres nas terras a ele
concedidas. Dentre esses direitos e deveres não constava:
a) o direito de repassar a concessão das capitanias a um descendente.
b) o dever de cumprir as funções militares e judiciais na capitania.
c) o direito de controlar o direito de passagem nos rios e portos.
d) o direito de vender as terras recebidas a terceiros.
e) fundar vilas.
Escravidão Indígena no Brasil Colonial

Negociantes com escravos indígenas

O litoral brasileiro era repleto de tribos indígenas no começo do século XVI, época em
que os portugueses chegaram ao Brasil. Como o objetivo principal dos colonos era a
obtenção de lucro na nova terra conquistada, a opção pela escravidão indígena foi
quase que imediata. O auge da escravidão indígena no Brasil foi no período inicial da
colonização, entre os anos de 1540 e 1580.
O escambo
A primeira “relação de trabalho” entre portugueses e índios brasileiros foi o
escambo. Os portugueses ofereciam objetos (espelhos, apitos, cordas, facas e etc.) aos
índios em troca do trabalho no corte e transporte de pau-brasil.
O trabalho nos Engenhos
Com o estabelecimento dos engenhos de açúcar no nordeste do Brasil, os colonos
precisavam de grande quantidade de mão de obra. Muitos senhores de engenho
recorreram a escravização de índios. Organizavam expedições que invadiam as tribos
de forma violenta, inclusive com armas de fogo, para sequestrarem os indígenas jovens
e fortes para levarem até o engenho.
O trabalho na Região Norte
A mão de obra escrava indígena foi muito utilizada na segunda metade do século
XVII, principalmente no Maranhão. Os índios foram usados em pequenas lavouras e
22

também na exploração das "drogas do sertão". A falta e o alto custo dos escravos
africanos fizeram com que os colonos optassem pelos índios. O uso dos nativos como
Página

escravos teve forte oposição dos jesuítas, que entraram em conflito com os colonos da
região. Foi somente em 1682, com a criação da Companhia Geral de Comércio do
Estado do Maranhão, que a mão de obra indígena começou a deixar de ser usada, sendo
substituída pelos escravos africanos.
O Comércio de Escravos Indígenas
Houve até um mercado de negócios com escravos indígenas. Comerciantes
organizavam expedições de captura indígena para lucrar com a venda destes escravos
aos senhores de engenho.
Outra forma de obtenção de Escravos Indígenas
Era muito comum a guerra entre tribos indígenas. Os portugueses aproveitaram esta
rivalidade, faziam alianças com determinadas tribos e, em troca de apoio militar,
recebiam índios adversários capturados como recompensa.
Principais problemas e dificuldades da Escravidão Indígena no Brasil
Desde o início a Escravidão Indígena não deu certo pelos seguintes motivos:
✓ Os índios não aguentavam o trabalho forçado e intenso nos engenhos;
✓ Muitos indígenas resistiam ao trabalho forçado, não trabalhando (mesmo recebendo
punições físicas) ou tentando a todo custo fugir para a mata;
✓ Havia forte oposição ao trabalho escravo indígena por parte dos jesuítas portugueses
que vieram para o Brasil catequizarem os indígenas no período colonial;
✓ Com o aumento do lucrativo tráfico de escravos africanos, a própria Coroa
Portuguesa começou a se opor à escravização indígena no final do século XVI;
✓ Muitos indígenas morreriam de doenças trazidas pelos colonos portugueses como,
por exemplo, sarampo, varíola e gripe.
Diminuição e fim da Escravidão Indígena
A partir do final do século XVI houve uma forte redução da escravidão indígena. Isso
ocorreu, principalmente, em função das dificuldades apontadas acima e também do
aumento da escravidão negra africana. Esta segunda era bem mais lucrativa aos
comerciantes e também a cora portuguesa. Não houve também, como ocorre com a
indígena, uma forte oposição dos jesuítas ao trabalho escravo africano no Brasil.
23
Página
Jesuítas no Brasil Colônia

Durante a colonização do Brasil pelos portugueses, uma ordem religiosa cumpriu um


papel de destaque na organização social da colônia: a Companhia de Jesus, ou
simplesmente os jesuítas, como eram comumente conhecidos.
Os jesuítas liderados por Manoel da Nóbrega chegaram à colônia Brasil em 1549,
junto a Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral enviado por Portugal. A principal
função dos jesuítas, ao virem ao Brasil, era evangelizar, catequizar e tornar cristãos os
indígenas que habitavam estas terras.
Na Europa, o objetivo dos jesuítas era evitar o aumento do número de protestantes. A
Companhia de Jesus havia sido fundada em 1534, pelo militar Santo Inácio de Loyola,
no contexto da Reforma e da Contrarreforma religiosa. Na colônia, pretendiam também
impedir que os protestantes realizassem a catequização indígena.
Para que a catequização fosse realizada, era necessário que os indígenas
aprendessem a língua portuguesa para a leitura de trechos bíblicos e o ensino da
prática religiosa católica. Um dos nomes mais conhecidos no processo de evangelização
que chegaram até nós foi o do padre José de Anchieta.
Mas os jesuítas não ensinavam apenas os indígenas. Os filhos de colonos,
principalmente dos senhores de engenho, também eram educados por eles. Para
oferecer essa educação, os jesuítas criaram alguns colégios pela colônia, sendo o mais
conhecido o Colégio de São Paulo, em torno do qual foi fundada a cidade de São Paulo
de Piratininga, atual São Paulo.
A educação dos colonos era rígida. A disciplina era duramente cobrada. Em caso de
desobediência a alguma norma ou mesmo no erro de alguma lição, os alunos eram
punidos pelos jesuítas com castigos, muitas vezes físicos. O mais conhecido foi o uso da
palmatória, um instrumento de madeira utilizado para bater na palma da mão dos
alunos. Porém, como a educação tradicional indígena era diferente, baseada na
solidariedade e na cooperação, com os índios mais novos aprendendo com os mais
velhos, foram necessárias algumas mudanças.
Nas missões, locais onde os jesuítas habitavam por vezes com milhares de indígenas,
foi necessário em muitos momentos abandonar os castigos físicos. Elas estavam
localizadas em várias localidades da colônia, sendo as mais conhecidas as construídas
24

no sul, na fronteira onde estão Paraguai e Argentina.


As missões serviram também para que os jesuítas mudassem os hábitos dos
Página

indígenas. O interesse era que eles passassem a viver de acordo com a cultura europeia:
que as famílias fossem nucleares (pai, mãe e filhos do casal), que eles se fixassem em
um local (grande parte das tribos indígenas era seminômade, vivendo em constante
deslocamento) e passassem a adotar os ritmos e as disciplinas de trabalho que
impunham os europeus. Esse processo ficou também conhecido como aculturação.
Com isso, os jesuítas conseguiram que as missões produzissem para seu próprio
consumo, além de fornecerem excedentes que eram comercializados. Toda essa
situação levou os jesuítas a entrarem em conflitos com os colonos, que tinham interesse
na escravização indígena. As missões serviam como áreas protegidas da ação dos
colonos, mas também resultaram em fonte de força de trabalho para os jesuítas que se
enriqueceram com a exploração dos indígenas.
Além do que eram comercializados nas missões, os jesuítas conseguiram acumular
fortuna com a posse de enormes extensões de terras e engenhos. Os jesuítas
permaneceram na colônia portuguesa na América até 1759, quando foram banidos das
colônias portuguesas. A venda do patrimônio dos jesuítas garantiu altas rendas para a
Coroa Portuguesa, o que mostrou que o poder espiritual dos jesuítas também havia se
transformado em poder econômico.
Compreensão
1. No processo de Colonização do Brasil (sécs. XVI-XVIII), os jesuítas tiveram papel de
destaque na difusão do catolicismo. Sobre eles é correto afirmar, exceto:
a) Detinham o monopólio da educação e, na segunda metade do século XVI, fundaram
colégios na cidade de Salvador e na Vila de São Vicente.
b) Sua tarefa missionária era a catequização dos índios, convertendo-os à verdadeira fé
e à recuperação de fiéis.
c) Construíram as missões para impedir a escravidão dos indígenas pelos coloniais e
manter o universo de valores culturais dos índios.
d) Foram expulsos de Portugal e das possessões coloniais pelo Marquês de Pombal,
após 1750, devido ao seu poder econômico e político.

2. “Quando chega a época do amanho da terra e da sementeira, (...) o padre dá a cada


índio duas ou três juntas de boi para o amanho da roça (...). Pois o padre chegou a um
índio, que lhe parecia ser o mais aplicado. Que tinha ele feito dos bois, que o padre tinha
lhe emprestado? (...) o coitado está com fome, desatrela o zebruno e o abate. (...) Desta
maneira, o pobre boi do arado virou fumaça num único almoço (...). Aos europeus isto
parecerá incrível, mas aqui entre nós é a pura verdade, que os índios deixam estragar
as espigas de milho maduras e amarelas, se os padres não os ameaçam expressamente
com 24 pancadas de sova como castigo. Castigar desta maneira paternal tem resultado
extraordinário, também entre os bárbaros mais selvagens, de sorte que nos amam de
verdade, como os filhos aos pais.”
SEPP, Anton. (1655-1733). Viagem às missões jesuíticas e trabalhos apostólicos. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1972, p. 87.

A passagem acima se refere ao trabalho que os jesuítas desenvolviam junto aos índios
do Brasil, nos séculos XVI e XVII. Sobre esse contexto histórico, aponte a alternativa
correta:
25

a) Os jesuítas desenvolveram a catequese junto aos índios, como forma de escravizá-los,


aplicando constantes castigos físicos a quem não trabalhasse;
Página
b) Os jesuítas pregavam que os índios selvagens não tinham alma e que, portanto, era
necessário convertê-los ao catolicismo, como forma de torná-los mais dóceis para
serem escravizados pelos senhores de terras;
c) As missões tinham como orientação integrar os índios nos princípios da civilização
cristã, promovendo a educação religiosa e para o trabalho;
d) O trabalho das missões foi interrompido, pois não alcançava resultados práticos e
muitos padres acabavam adquirindo hábitos próprios dos índios, o que contrariava os
interesses da Igreja;
e) Apesar de conseguirem muitos resultados positivos nas atividades econômicas, pois
castigavam os índios preguiçosos, no campo religioso não alcançaram resultados, sendo
baixo o número de índios que se converteram ao Cristianismo.
3. A Ordem Jesuíta foi claramente inspirada em sua forma de organização nas
estruturas militares da Idade Moderna. Inclusive seu fundador foi um militar ferido em
combate, cujo nome era:
a) José de Anchieta d) Inácio de Loyola
b) Manoel da Nóbrega e) Marquês de Pombal
c) António Vieira

4. A Companhia de Jesus exerceu durante quase todo o período colonial um importante


papel na atuação conjunta à Coroa Portuguesa no processo de colonização brasileira.
Controlou a educação no período e realizou a assimilação de algumas tribos indígenas à
nova sociedade que estava se constituindo. Porém, em decorrência dos ideais
iluministas e da influência que exercia sobre alguns governantes do século XVIII, a
Companhia de Jesus foi suprimida dos territórios portugueses:
a) pelo Padre Antônio Vieira. d) pelo Marquês de Pombal.
b) pela Rainha Maria I. e) pelo papa Clemente XIV.
c) por D. João IV.
5. A Companhia de Jesus foi uma ordem religiosa fundada por Inácio de Loyola no
século XVI, que exerceu forte influência em diversas áreas coloniais controladas por
europeus entre os séculos XVI e XVIII. Apesar de ter sido uma ordem religiosa muito
próxima aos clérigos poderosos do Vaticano, somente no século XXI conseguiu fazer
com que um de seus membros se tornasse papa. Qual foi esse papa?
a) João Paulo II. d) João XXIII
b) Bento XVI. e) Pio XII
c) Francisco I.
26
Página
Capítulo 2
O Período Colonial
A Economia Colonial e o Trabalho Escravo
Os Primeiros Anos do Brasil

A extração do pau-brasil: a mais importante atividade econômica dos primeiros anos


da colonização. No ano de 1500, a chegada da expedição do navegador português Pedro
Álvares Cabral marcou oficialmente a colonização das terras brasileiras pela Coroa
Portuguesa. A primeira impressão que temos é que, já naquele mesmo ano, os
portugueses começaram a explorar e lucrar muito com as riquezas a serem exploradas
em nossas terras. Mas as coisas não aconteceram de forma tão simples assim.
Antes de alcançar o Brasil, os portugueses vinham há muito tempo buscando uma
rota para chegarem às Índias. Essa rota era feita através da navegação de boa parte do
litoral africano até que as embarcações alcançassem os mares do Oriente. Depois de
várias viagens feitas durante o século XV, os portugueses conquistaram essa rota e, com
isso, esperavam lucrar com os tecidos, temperos e outras mercadorias encontradas no
mundo oriental.
Desse modo, ao chegarem ao Brasil, os portugueses estavam bem mais preocupados
em desenvolver o comércio oriental do que se arriscar com as desconhecidas terras
brasileiras. Foi de tal modo que, nas três primeiras décadas da nossa colonização, os
portugueses pouco fizeram por aqui. Alguns historiadores chegam a dizer que os trinta
primeiros anos de nossa colonização foram marcados por certo “abandono”.
É importante destacar que, mesmo não tendo a mesma importância das Índias, o
território brasileiro foi em diferentes momentos visitados por embarcações
portuguesas que tinham a função de reconhecer melhor o nosso território e patrulhar
nossas terras contra a invasão de outras nações europeias que tinham o interesse de
colonizar o Brasil. Na verdade, a falta de uma presença mais marcante dos portugueses
incentivou que outros povos europeus, como espanhóis e franceses, chegassem a
desembarcar por aqui nesse tempo.
27

Não encontrando nenhuma grande riqueza mais atraente, como os metais preciosos,
os portugueses se limitaram a explorar a extração do pau-brasil nessa época. Essa
Página

madeira, além de servir para construção de casas e embarcações, tinha uma tinta
natural avermelhada que servia para o tingimento de tecidos. Nesse tempo, os tecidos
tingidos na cor vermelha eram muito valorizados na Europa.
Para realizarem a retirada das toras de pau-brasil do nosso território, os portugueses
contaram com o auxilio dos grupos indígenas que aqui viviam. Afinal de contas, os
portugueses não tinham conhecimento das regiões exatas em que esse tipo de madeira
poderia ser encontrado. Os indígenas, tendo maior conhecimento do território,
realizavam a extração da madeira nas matas e o transporte até as regiões litorâneas. As
toras de madeira eram armazenadas nas feitorias, construções que eram empregadas
como marcos da presença portuguesa no Brasil.
Os indígenas que realizavam esse tipo de trabalho eram recompensados pelo sistema
de “escambo”. Nesse tipo de sistema de trabalho, os indígenas recebiam mercadorias
diversas em troca do pau-brasil retirado. Notamos aqui que o trabalho escravo ainda
não havia sido implantado pelos portugueses. A escravidão só começou a partir da
década de 1530, quando os portugueses intensificariam sua presença no Brasil. Mas
afinal, por que motivo eles tiveram mais interesse no Brasil a partir desse momento?
A mudança de comportamento dos portugueses pode ser explicada por vários
motivos. O primeiro deles é o fracasso do comércio desenvolvido nas Índias. A
demorada viagem e a concorrência imposta por outros comerciantes diminuíram as
vantagens que os portugueses esperavam ter no Oriente. Além disso, as ameaças de
invasão estrangeira no Brasil e a existência de ouro em outras regiões da América
também motivaram a mudança da atenção portuguesa para com nossas terras.
Foi assim que, no ano de 1530, uma expedição chefiada por Martim Afonso foi
mandada com diversos objetivos. Chegando aqui, essa nova expedição portuguesa
deveria expulsar os estrangeiros que aqui se encontrassem e buscar metais preciosos
em nossas terras. Ao mesmo tempo, deveriam fundar os primeiros povoamentos que
marcariam o início de uma Colonização Portuguesa mais intensa em nossas terras.
A escravidão de indígenas
A mão de obra escravizada aumentava os lucros da Coroa Portuguesa com o
comércio de produtos como o pau-brasil e, principalmente, o açúcar.
Os colonizadores necessitavam de mão de obra para trabalhar na produção
açucareira. Nas demais atividades econômicas, a introdução do trabalho escravo
mostrou-se a alternativa mais barata. Inicialmente, recorreu-se à escravidão de
indígenas.
No entanto, diversos fatores dificultavam sua escravização, como a resistência por
meio de fugas e de ataques aos engenhos e vilas. Além disso, para evitar seu
aprisionamento, os indígenas deslocaram-se cada vez mais para o interior do território.
28
Página
Os Negros Trazidos para o Brasil

A força de trabalho dos negros foi explorada durante vários séculos no Brasil. No
começo da colonização brasileira, os portugueses buscaram empreender ações
econômicas que viessem a estabelecer lucro para a Coroa Lusitana. A partir do ano de
1530, a instalação das primeiras lavouras de cana-de-açúcar exigiu um elevado número
de trabalhadores que não poderia ser obtido em um país tão pequeno como Portugal.
Foi então que a escravidão surgiu como uma oportunidade de resolver essa demanda
por mão de obra e, ao mesmo tempo, ampliar os lucros com a atividade
agroexportadora a ser desenvolvida por aqui. Dentre os povos escravizados, os
indígenas brasileiros tiveram sua força de trabalho utilizada pelos portugueses, assim
como as populações africanas que também eram colonizadas pelos portugueses.
Transformando-se em uma atividade lucrativa para os portugueses, o tráfico de
escravos africanos para o Brasil iniciou a captura, transporte, venda e exploração
sistemática de vários povos do continente africano. Entre os séculos XVI e XIX foi
enorme a quantidade de pessoas retiradas de seus locais de origem para terem sua
força de trabalho aproveitada em terras brasileiras.
Além do número de africanos transformados em escravos, devemos também
destacar que uma enorme quantidade de prisioneiros morria nos porões dos navios
negreiros. Acomodados em condições degradantes e submetidos a uma dieta alimentar
insuficiente, quase metade dos negros trazidos da África acabava falecendo na travessia
do Oceano Atlântico.
Mesmo tendo acabado no ano de 1888, a escravidão negra ainda teve efeitos diversos
na história brasileira. Apesar da libertação, a população negra do Brasil ainda sofreu
com o preconceito e a imposição de baixos salários. Pesquisas recentes mostram que
pessoas negras que exercem a mesma função ou cargo de uma pessoa branca recebem
salários menores.
Há alguns anos o governo brasileiro vem tomando algumas ações para amenizar os
efeitos negativos da escravidão. Pela nossa lei, a realização de injúrias racistas ou
qualquer tipo de atividade discriminatória por razão semelhante é punida como crime.
Ao mesmo tempo, várias ações e debates vêm sendo realizados para superar essas
lamentáveis marcas deixadas pela escravidão no Brasil.
29
Página
Compreensão
1. Explique como aconteceu a primeira forma de exploração das terras que hoje é o
Brasil.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
2. Com o aumento da produção do pau-brasil e o açúcar, como foi possível aumentar a
mão-de-obra escrava?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
3. Como eram as defesas dos indígenas?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
4. Os africanos escravizados no Brasil por volta de 1570, para trabalharem nas
lavouras. Como era o tratamento com os escravos?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
Economia Açucareira
A produção de açúcar em terras brasileiras foi a melhor forma encontrada pelos
portugueses para compensar economicamente os esforços em proteger a colônias de
ameaças estrangeiras. A economia açucareira teve início no litoral e foi bastante
lucrativa, pois o produto era bastante consumido nos países europeus. A cultura
da cana-de-açúcar ainda deu aos colonizadores, a possibilidade de organização do
cultivo permanente do solo. Com isso, houve o início do povoamento da colônia de uma
maneira sistemática.
A economia açucareira já estava superando os lucros que Portugal ganhava com
o pau-brasil. O motivo foi a expansão rápida do plantio da cana em regiões onde as
condições eram muito favoráveis. Para o desenvolvimento da agricultura canavieira
eram necessários chuvas e clima quente; e o Brasil contava com tudo isso.
O solo de massapé, presente no litoral do Nordeste do Brasil também foi fundamental
para o cultivo. Mas esta não foi a primeira experiência portuguesa com a produção de
açúcar. Eles há muito tempo, já plantavam cana-de-açúcar na Ilha da Madeira e nos
Açores.
Compreensão
1. Quem deu início à agricultura da cana-de-açúcar no Brasil?
30

____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
Página
2. Onde o cultivo obteve maior desenvolvimento e por quê?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
3. Quem foi favorecido com a produção de açúcar?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
4. O que a cultura da cana provocou?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
5. Nessa época, o açúcar era usado para quê?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________

Engenho

Os holandeses e o açúcar do Brasil

No século XVII, a Holanda era uma das


maiores potências econômicas da Europa. Um
dos negócios mais lucrativos da burguesia
holandesa (também chamada de flamenga)
tinha a ver com o açúcar do Brasil.
Para começar, imagine que um nobre
português quisesse instalar um engenho no
Brasil. Como conseguir dinheiro para comprar
as máquinas, as caríssimas caldeiras de cobre,
as ferramentas e os escravos? Ele poderia pedir
dinheiro emprestado ao Banco de Amsterdã, que era o maior banco holandês da época.
Como você vê, os holandeses financiavam a produção de açúcar. Em troca, recebiam
o pagamento dos juros.
Os lucros Indiretos da Holanda com o açúcar brasileiro não paravam aí. Em várias
ocasiões, os comerciantes portugueses contrataram companhias de navegação
holandesas para transportar o açúcar do Brasil até Lisboa. Grande parte do açúcar saía
do Brasil em estado bruto para ser refinado (até ficar branco e fininho) em Amsterdã.
Naqueles tempos de mercantilismo, os burgueses holandeses monopolizavam
(controlavam com exclusividade) muitas rotas de comércio de açúcar entre os países
europeus. Por isso os comerciantes portugueses tinham de vender seu açúcar
diretamente aos holandeses. Depois, os holandeses revendiam o açúcar pelo resto da
31

Europa.
Página
Portanto, os holandeses tinham várias maneiras indiretas de lucrar com o açúcar do
Brasil: financiando e recebendo juros bancários, cobrando pelo transporte e pelo refino,
ou revendendo na Europa. Houve momentos em que eles tinham mais lucros com o
açúcar do Brasil do que os próprios comerciantes portugueses. Essa melosa ligação
comercial entre Holanda, Portugal e Brasil foi encerrada de surpresa, quando aconteceu
a União Ibérica.
A crise do açúcar
A crise do açúcar brasileiro ocorreu após a expulsão dos holandeses do Brasil, pois
eles não desistiram do açúcar. Instalaram engenhos nas Antilhas (que são ilhas que
ficam no mar do Caribe, lá na América Central) e começaram a exportar açúcar para a
Europa. Dessa maneira, a produção mundial de açúcar aumentou demais, O açúcar
brasileiro passou a ter de disputar compradores com o açúcar antilhano. Com tanto
açúcar sendo oferecido no mercado, os preços foram caindo.
As coisas não estavam boas na Europa. Na famosa crise do século XVII, ninguém
conseguia comprar muita coisa. Os preços caíram muito e mesmo assim o comércio
continuava declinando. Dá para perceber que isso também botou os preços do açúcar
brasileiro lá no porão.
Com os preços internacionais em queda, as exportações brasileiras caíram, o que
provocou a ruína de muitos senhores de engenho.
Porém houve um fator que atenuou a crise: as compras de açúcar pelo mercado
interno brasileiro.
Engenho de Açúcar
Os escravos na produção de açúcar no período colonial…
As fazendas produtoras de açúcar no período histórico da colonização no Brasil eram
referidas como engenho de açúcar. O termo também define as máquinas utilizadas para
moer a cana-de-açúcar. Os engenhos de açúcar eram predominantes no nordeste e
destinavam a sua produção de açúcar para a metrópole portuguesa e para o mercado
europeu.
O engenho era composto pela casa-grande, senzala, capela, horta e o canavial. Era
utilizada a mão-de-obra escrava dos negros africanos. Depois da expulsão dos
holandeses, a produção do açúcar brasileiro passou a sofrer a concorrência do açúcar
holandês produzido nas ilhas da América Central.
O chamado engenho-banguê incluía a moeda, a casa das caldeiras e a casa de purgar.
Os engenhos resistiram até o século XX, nos estados de Pernambuco, Rio de Janeiro,
Alagoas e São Paulo.
Foram finalmente extintos, a partir da evolução da agroindústria e o surgimento das
usinas de açúcar e álcool.
No engenho, as etapas de produção do açúcar iniciavam-se na moagem de cana. Na
moagem era extraído o caldo de cana; posteriormente encaminhado para o tanque e
32

depois armazenado.
Página
Para a produção da cachaça, o caldo era armazenado para a fermentação e destilação.
Na produção do açúcar, o caldo era colocado em tachos de cobre em fogo, até a etapa do
resfriamento do mel.
Especialmente no norte (região conhecida como Nova Inglaterra) e no centro da
costa atlântica da América do Norte, desenvolveu-se uma economia dinâmica, com
produção para o mercado interno, logo desdobrando-se em atividades comerciais e
manufatureiras, produzindo as origens da riqueza dos Estados Unidos.
Observe o quadro abaixo.
Colônia de Exploração Colônia de Povoamento
Latifúndio Pequena propriedade familiar

Monocultura Policultura e desenvolvimento de manufaturados

Trabalho compulsório: escravidão e servidão indígena Trabalho livre e “servidão por contrato”

Mercado externo Mercado interno

Pacto Colonial Liberdade Econômica

Senhores e Escravos
Durante o ciclo da cana-de-açúcar, a sociedade colonial se definia a partir da casa-
grande e da senzala. Formando o poderoso grupo socioeconômico da colônia, havia os
brancos colonizadores, donos dos engenhos, que habitavam as casas-grandes.
O poder dessa aristocracia canavieira ia além de suas terras, expandindo-se pelas
vilas, dominando as Câmeras Municipais e a vida colonial.
A autoridade do senhor de casa-grande era absoluta: em família a obediência lhe era
incondicional e o respeito como chefe superior, indiscutível, estando as mulheres
submetidas a um papel subordinado, complementar.
A sociedade açucareira teve, assim, um carácter explicitamente patriarcal. Os
escravos, considerados simples mercadorias, formavam a base econômica dessa
33

sociedade indígena e, principalmente, negros africanos eram responsável pela quase


totalidade dos trabalhos braçais executados na colônia, constituindo “as mãos e pés do
Página

senhor”.
Os escravos, em sua maioria trabalhavam de sol a sol na lavoura e na produção de
açúcar, vigiados por um feitor, sofrendo constantes castigos físicos. Alguns exerciam
trabalhos domésticos na casa-grande como cozinheiras, arrumadeiras, amas de
crianças, moleques de recados, etc. Formando uma pequena parcela da população,
havia os homens livres, plantadores de cana com poucos recursos, que não possuíam
instalações para produzir o açúcar (engenhos), sendo obrigados a vender a cana a um
senhor de engenho.
A essa camada intermediária pertenciam também os feitores, capatazes,
comerciantes, artesãos, padres, militares e funcionários públicos, moradores das
poucas vilas e cidades da época. Auge do ciclo da cana-de-açúcar. Durante os séculos
XVI e XVII, o Brasil tornou-se o maior produtor de açúcar do mundo, gerando imensas
riquezas para os senhores de engenho, para Portugal e, sobretudo, para os holandeses.
Ostentando sua opulência, os senhores de engenho do Nordeste importavam da
Europa desde roupas e alimentos até louças e objetos de decoração. Como
consequência da maciça importação de mercadorias europeias, da importação de
escravos e da participação dos holandeses e portugueses no comércio de açúcar, quase
toda a riqueza gerada por este ciclo econômico foi desviada da colônia para as áreas
metropolitanas, caracterizando as condições do pacto colonial.
Atividades complementares da economia açucareira. Embora a economia do período
colonial tenha se baseado num único produto, que concentrava quase completamente o
interesse e as atividades de toda a colônia, havia algumas atividades secundárias,
realizadas para complementar as necessidades da população. Sendo assim, havia,
dentro do próprio engenho, uma pequena produção de aguardente e rapadura,
utilizada no consumo interno da colônia e também no escambo de escravos africanos.
Ao mesmo tempo, iniciou-se a criação do gado que se desenvolveu no Nordeste,
próximo aos engenhos, penetrando depois no interior. Sendo uma atividade
complementar, importância comercial da criação de gado era muito menor que a da
produção de açúcar. Entretanto, além de servir para mover as moendas e transportar o
açúcar, o gado era fonte de alimentação e fornecia o couro que era usado na confecção
de roupas, calçados, móveis e outros utensílios.
Na criação de gado, quase não havia escravos, predominando o trabalho livre,
principalmente dos indígenas. O gado era criado de forma extensiva, ou seja, solto nas
terras, sempre à procura de melhores pastagens. Dessa forma, o gado penetrou no
interior, alcançado, já no século XVII, o Maranhão e o Ceará, ao norte, e, mais ao sul, as
margens do rio São Francisco.
Originaram-se, assim, diversas fazendas no interior, o que acabou levando ao
desbravamento da atual região Nordeste. Além da criação e gado, havia o cultivo de
alguns produtos agrícolas complementares, como a mandioca que constituía a base da
alimentação da população colonial, principalmente dos escravos.
O fumo ou tabaco era produzido principalmente para ser trocado por negros
escravos na costa africana, onde era muito valorizado. Sua produção desenvolveu-se
34

mais na Bahia e em Alagoas. Já o cultivo de algodão desenvolveu-se mais no Maranhão e


visava apenas à produção de tecidos rústicos usando na confecção das roupas dos
Página
escravos, já que, para os senhores de engenho e suas famílias, as vestimentas vinham da
Europa.
A produção de artigos manufaturados na colônia era controlada pela metrópole
portuguesa, a quem interessava assegurar a venda dos tecidos produzidos na Europa.
No século XVII, a riqueza do açúcar levou os holandeses a invadirem o Brasil. Durante
alguns anos, eles dominaram o Nordeste e se apropriaram de suas técnicas de
produção.
Após sua expulsão, em 1654, os holandeses tornaram-se os maiores concorrentes
dos produtores nordestinos, passando a fabricar açúcar nas suas colônias das Antilhas.
Isso marcou o início da decadência econômica do Nordeste açucareiro, o que levou toda
a colônia a uma profunda crise.
Colônias de Exploração e Colônias de Povoamento
A Colonização Portuguesa no Brasil, assim como a espanhola na América, realizou-se
com base no pacto colonial, produzindo riquezas que quase nunca ficavam nas áreas
coloniais. Ao mesmo tempo, para garantir os ganhos e o domínio colonial, as
metrópoles definiam o tipo de propriedade e a forma de produzir, além de exercerem o
controle da produção.
Resulta daí uma economia e uma organização social que espelhavam a dominação e a
dependência. Para atender às exigências metropolitanas, o Brasil e a América
Espanhola transformaram-se num conjunto de colônias de exploração. Situação muito
diferente aconteceu com a América Inglesa, em cuja colonização, só iniciada no século
XVII, teve predomínio as colônias de povoamento.
Para lá se dirigiram colonos que fugiram de perseguições religiosas ou políticas e que
tinham interesse em se instalar na colônia e produzir para sua sobrevivência.
Fundando as chamadas Treze Colônias, contavam com o clima temperado de boa parte
de seu território, muito semelhante àquele que haviam deixado na Europa.
Economia e Sociedade Canavieira
O Açúcar
Durante toda a fase colonial brasileira, houve sempre um produto em torno do qual
se organizava a maior parte da economia. A importância de determinado produto
crescia até alcançar o apogeu e depois entrava em decadência. Embora sua produção
continuasse, surgia outro produto que entrava rapidamente em ascensão, substituindo
em importância o anterior.
35
Página
Moenda
Depois que os escravos chegavam ao Brasil passava por um período de recuperação
devido ao desgaste da viagem. Depois eram vendidos e levados ao local de trabalho.
Após Portugal ter perdido o monopólio do comércio com as índias, decidiu colonizar
o Brasil e aumentar a produção de especiarias para mandar para a metrópole.
Naquela época o principal produto econômico era a cana-de-açúcar e eram os
escravos quem faziam todo o serviço ate a cana se transformar em açúcar.
Lugares do Engenho
Cada engenho tinha lugares que determinavam onde iria ser feito cada coisa:
✓ Casa-Grande – era onde o Senhor do engenho morava com sua família
✓ Moradias – era onde moravam os habitantes livres do engenho
✓ Casa de purgar – lugar onde começa a produção do açúcar (purificação da cana)
✓ Caldeira – onde ferve o caldo da cana
✓ Moenda – onde moer os grãos da cana
✓ Senzala – é a moradia dos escravos.
Processo de Fabricação do Açúcar
✓ Os escravos aplicam a água sobre o barro
✓ Eles retiram os pães das formas
✓ O açúcar vai para a casa de purgar e é purificado nas andainas
✓ Separação das “caras”
✓ Cristalização do açúcar
✓ Organização das andainas para o encaixe das formas
✓ Perfuração das formas para a drenagem do açúcar
✓ Batimento do açúcar para o encaixotamento
✓ Batimento do açúcar na parte de cima das formas
✓ Separação dos pães do açúcar
✓ Aplicação do barro.
Compreensão
1. “Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo
muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A
sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali
não faltaram as canas, porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o
cetro de escárnio, e outra vez para a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo
parte foi de noite sem dormir, parte foi de dia sem descansar, e tais são as vossas noites
e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos;
36

Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as prisões, os açoites,


Página
as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que, se for
acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.”
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).

O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de
Cristo e
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros.
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.
2. Com relação à economia da cana-de-açúcar e da pecuária no Nordeste durante o
período colonial, é correto afirmar que:
a) por serem as duas atividades essenciais e complementares, portanto os mais
permanentes foram as que mais usaram escravos.
b) a primeira, tecnologicamente mais complexa, recorria à escravidão, e a segunda,
tecnologicamente mais simples, ao trabalho livre.
c) a técnica era rudimentar em ambas, na agricultura por causa da escravidão, e na
criação de animais para atender o mercado interno.
d) tanto em uma quanto em outra, desenvolveram-se formas mistas e sofisticadas de
trabalho livre e de trabalho compulsório.
e) por serem diferentes e independentes uma da outra, não se pode estabelecer
qualquer tentativa de comparação entre ambas.
3. A imagem abaixo é do holandês Frans Post, que pintou diversas imagens do Brasil,
dentre elas os engenhos de açúcar.

Fábrica de açúcar e plantação do Engenho Real, de Frans Post (1612-1680)

Os engenhos constituíam verdadeiras fábricas, realizando todas as fases do processo de


produção do açúcar em suas próprias instalações. Dentre as alternativas abaixo, qual
indica uma informação incorreta sobre os engenhos de açúcar?
37

a) Após a colheita, a cana-de-açúcar era levada à moenda para sofrer o esmagamento de


seu caule e a extração da garapa.
Página
b) Em terras coloniais era produzido apenas um tipo de açúcar: o mascavo, de
coloração escura. O açúcar branco era refinado na Europa, em virtude de ser
direcionado aos consumidores desse continente.
c) As moendas funcionavam com o uso da tração animal, o trapiche, pois os gastos
exigidos para a sua construção eram menores.
d) Os engenhos não estavam disponíveis em toda e qualquer propriedade que plantava
cana-de-açúcar. Os fazendeiros que não possuíam um engenho eram geralmente
conhecidos como lavradores de cana.
e) Além dessas unidades produtivas, um engenho também contava com construções
utilizadas para o abrigo da população que ali vivia, como a Casa-grande e a Senzala.

4. A agromanufatura do açúcar no Brasil colonial garantia todo o processo de produção,


desde o plantio da cana até o produto final, pronto para ser exportado para a Europa,
ficando na colônia o açúcar mascavo e sendo exportado em sua maior parte o açúcar
branco. Apesar de controlar todo o processo de produção, não eram os portugueses que
realizavam a distribuição do produto na Europa, cabendo essa função aos:
a) ingleses.
b) holandeses.
c) franceses.
d) belgas.
e) espanhóis.
A Resistência dos Escravos
No desenvolvimento do regime escravocrata no Brasil, observamos que os negros
trazidos para o espaço colonial sofriam um grande número de abusos. A dura rotina de
trabalho era geralmente marcada por longas jornadas e a realização de tarefas que
exigiam um grande esforço físico. Dessa forma, principalmente nas grandes
propriedades, observava-se que o tempo de vida de um escravo não ultrapassava o
prazo de uma década.
Quando não se submetiam às tarefas impostas, os escravos eram severamente
punidos pelos feitores, que organizavam o trabalho e evitavam a realização de fugas.
Quando pegos infringindo alguma norma, os escravos eram amarrados no tronco e
açoitados com um chicote que abria feridas na pele. Em casos mais severos, as punições
poderiam incluir a mutilação, a castração ou a amputação de alguma parte do corpo. De
fato, a vida dos escravos negros no espaço colonial era cercada pelo signo do abuso e do
sofrimento.
Entretanto, não podemos deixar de salientar que a população negra também gerava
formas de resistência que iam contra o sistema escravista. Não raro, alguns escravos
organizavam episódios de sabotagem que prejudicavam a produção de alguma fazenda.
Em outros casos, tomados pelo chamado “banzo”, os escravos adentravam um profundo
38

estado de inapetência que poderia levá-los à morte. Não suportando a dureza do


trabalho ou a perda dos laços afetivos e culturais de sua terra natal, muitos negros
Página

preferiam atentar contra a própria vida. Nesse mesmo tipo de ação de resistência,
algumas escravas grávidas buscavam o preparo de ervas com propriedades abortivas.
Além disso, podemos salientar que o planejamento de emboscadas para assassinar os
feitores e senhores de engenho também integrava esse corolário de ações contra a
escravidão.
Quilombo dos Palmares
Zumbi foi um dos mais bravos líderes da comunidade quilombola dos Palmares.
Durante todo o período em que a escravidão foi vigente, os cativos empreenderam
formas diversas de escaparem daquela ordem marcada pela repressão e o controle.
Dentre as várias manifestações de resistência, os quilombos, também conhecidos como
mocambos, funcionavam como comunidades de negros fugidos que conseguiam
escapar do controle de seus proprietários.
Sendo local de refúgio, os escravos escolhiam localidades de difícil acesso que
impedissem uma possível recaptura. Além disso, os quilombos também eram
estrategicamente próximos de algumas estradas onde poderiam realizar pequenos
assaltos que garantissem a sua sobrevivência. Não sendo abrigo apenas de escravos, os
quilombos também abrigavam índios e fugitivos da justiça.
Um dos quilombos mais conhecidos da história brasileira foi Palmares, instalado na
serra da Barriga, atual região de Alagoas. Com o passar do tempo, Palmares se
transformou em uma espécie de confederação, que abrigava os vários quilombos que
existiam naquela localidade. Seu crescimento ocorreu principalmente entre as décadas
de 1630 e 1650, quando a invasão dos holandeses prejudicou o controle sobre a
população escrava.
A prosperidade e a capacidade de organização desse imenso quilombo
representaram uma séria ameaça para a ordem escravocrata vigente. Não por acaso,
vários governos que controlaram a região organizaram expedições que tinham por
objetivo estabelecer a destruição definitiva de Palmares. Contudo, os quilombolas
resistiram de maneira eficaz e, ao longo de oitenta anos, conseguiram derrotar
aproximadamente trinta expedições militares organizadas com este mesmo objetivo.
Mediante a resistência daquela população quilombola e não mais suportando a
exaustão das derrotas, o governador de Pernambuco, Aires Sousa e Castro, e Ganga
Zumba, importante líder palmarino, assinaram o chamado “acordo de 1678” ou “acordo
de Recife”. Por esse tratado, o governo pernambucano reconhecia a liberdade de todos
os negros nascidos em Palmares e concedia a utilização dos terrenos localizados na
região norte de Alagoas.
Compreensão
1. Qual foi a principal forma de resistência contra a escravidão no Brasil?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
2. Explique o que é um Quilombo.
____________________________________________________________________________________________________
39

___________________________________________________________________________________________________
Página
3. Qual o maior quilombo formado durante o período colonial no Brasil? Quais são as
principais características desse quilombo.
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
Expansão Territorial Brasil
Invasão holandesa no Brasil
Entre os anos de 1630 e 1654, o Nordeste brasileiro foi alvo de ataques e fixação de
holandeses. Interessados no comércio de açúcar, os holandeses implantaram um
governo em nosso território. Sob o comando de Maurício de Nassau, permaneceram lá
até serem expulsos em 1654. Nassau desenvolveu diversos trabalhos em Recife,
modernizando a cidade.
Expansão Territorial: bandeiras e bandeirantes
Foram os bandeirantes os responsáveis pela ampliação do território brasileiro além
do Tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes penetram no território brasileiro,
procurando índios para aprisionar e jazidas de ouro e diamantes. Foram os
bandeirantes que encontraram as primeiras minas de ouro nas regiões de Minas Gerais,
Goiás e Mato Grosso.
O Ciclo do Ouro: século XVIII – após a descoberta das primeiras minas de ouro, o rei
de Portugal tratou de organizar sua extração. Interessado nesta nova fonte de lucros, já
que o comércio de açúcar passava por uma fase de declínio, ele começou a cobrar o
quinto. O quinto nada mais era do que um imposto cobrado pela coroa portuguesa e
correspondia a 20% de todo ouro encontrado na colônia. Este imposto era cobrado nas
Casas de Fundição.
A descoberta de ouro e o início da exploração da minas nas regiões auríferas (Minas
Gerais, Mato Grosso e Goiás) provocou uma verdadeira "corrida do ouro" para estas
regiões. Procurando trabalho na região, desempregados de várias regiões do país
partiram em busca do sonho de ficar rico da noite para o dia. O trabalho dos tropeiros
foi de fundamental importância neste período, pois eram eles os responsáveis pelo
abastecimento de animais de carga, alimentos (carne seca, principalmente) e outros
mantimentos que não eram produzidos nas regiões mineradoras.
Desenvolvimento urbano nas cidades mineiras começou a surgir e o
desenvolvimento urbano e cultural aumentou muito nestas regiões. Foi neste contexto
que apareceu um dos mais importantes artistas plásticos do Brasil: Aleijadinho.
Vários empregos surgiram nestas regiões, diversificando o mercado de trabalho na
região aurífera. Igrejas foram erguidas em cidades como Vila Rica (atual Ouro Preto),
Diamantina e Mariana.
Para acompanhar o desenvolvimento da Região Sudeste, a capital do país foi
transferida de Salvador para o Rio de Janeiro.
40
Página
Trabalho escravo nas minas

Os bandeirantes paulistas, no século XVII, encontraram minas de ouro na província


do Brasil, em primeiro instante no território onde, atualmente, é o estado de Minas
Gerais, depois nas vizinhanças da então cidade de Cuiabá, metrópole do estado de mato
Grosso, e por fim no Arraial de Sant’Anna, onde hoje é a cidade de Goiás, no estado de
Goiás.
Esse lugar de minas, como ficou popularizado, no período da exploração do outro
fazia parte da Capitania de São Vicente, na atual São Paulo, contudo a Capitania de São
Vicente foi separada e formaram-se as Capitanias de Goiás e Minas Gerais.
No decorrer da primeira metade do século XVIII, uma grande quantidade de pessoas
se mudou para o local das minas. Dentre esses indivíduos estavam homens branco
europeus, africanos escravos, colonos e índios e lá eles criaram diversos povoados, vilas
e arraiais.
Na mineração, ou seja, na obtenção de ouros nas minas, usavam-se o oficio de negros
escravizados vindos da África. As minas representavam os lugares onde os escravos
eram inspecionados pelos seus senhores, que pretendiam conter o tráfico de ouro.
Fora a inspeção constante, a atividade escrava realizada na mineração possuía
deploráveis condições. Diversos escravos não aguentavam mais que cinco anos nessa
ocupação; e constantemente haviam mortes precoces pautadas nas circunstâncias de
trabalho nocivo e aos acidentes de ofício.
Dessa maneira, os escravos trabalhavam perante o perigo de morte por meio de
afogamento ou soterramento ocasionado pela ruptura das barragens de controle das
minas. Esse era o acidente de oficio mais frequente nas minas e que sacrificava os
escravos. Além disso, os presos faziam a atividade diante de condições deploráveis de
higiene, permanecendo dentro da água por um período muito longo, sujeitos a baixas
temperaturas, ao mesmo tempo em que outros permaneciam muito tempo no interior
das cavernas e nas minas.
Tirando as lamentáveis situações de trabalho, os negros escravos encaravam a falta
de alimentos e entregavam-se a diversas doenças, promovendo uma grande quantidade
de falecimentos.
41

As atividades escravas no local das minas não ficaram apenas limitadas a obtenção
Página

do ouro, uma vez que os escravos executavam diversas funções, como trabalhos
relacionados ao transporte, comércio ambulante e a estruturação de ruas, pontes e
edifícios. A atividade nas minas foi julgada o modo de trabalho mais doloroso e árduo
exercido pelos africanos que eram escravizados no Brasil.
Trabalho escravo dos indígenas
Os indígenas foram utilizados no Brasil a partir dos primeiros anos da conquista até
o século XVIII. Os colonos portugueses escravizaram os índios para que eles
executassem atividades, especialmente, na obtenção de madeira. Os indígenas
escravizados cortavam e carregavam a madeira até os navios.
Os índios eram muito usados e sofriam intensas punições físicas quando resistiam a
trabalhar ou agiam de maneira errada. Vários não suportavam a condição e faleciam.
Trabalho Escravo dos Africanos
Os portugueses que chegaram ao Brasil foram procurar na África a mão-de-obra
essencial para os hábitos da cana-de-açúcar. Os escravos colaboravam com todos os
processos da manufatura do açúcar, a começar pelo plantio até a preparação do açúcar
nos engenhos. Esforçavam-se de sol a sol e eram punidos com dureza quando não
efetuavam as ordens, pecavam na atividade ou tentavam escapar. Tinham que realizar
todos os trabalhos exigidos pelo seu “dono”.
As escravas mulheres também atuavam muito, contudo um pequeno número tinha a
sorte de executar atividades domésticas como, culinária, limpeza e cuidas das crianças.
Essas possuíam um trabalho menos doloroso.
Os filhos de escravos também trabalhavam desde muito novos. Em torno dos oito
anos de idade já eram coagidos a realizar atividades de adultos e quase abandonavam a
infância.
Com início na metade do século XVIII, e com a descoberta das minas de ouro, os
presos de nacionalidade africana começaram a trabalhar na mineração. Executavam as
atividades mais difíceis, isto é, carregavam cascalho, quebravam pedras e operavam na
procura de pepitas de ouro nos riachos.
Nos séculos XVIII e XIX eram frequentes, especialmente nas maiores cidades, os
prisioneiros de ganho. Esses possuíam a autonomia de realizar atividades ou
comercializar mercadorias nas ruas. Contudo, a grande parte dos ganhos dessas
atividades teria que ser entregue aos seus donos. Mesmo que ficassem com quase nada,
diversos escravos de ganho economizam dinheiro no decorrer dos anos para poder
adquirir a carta de alforria, alcançando assim sua liberdade.
Resultado
O trabalho destinado aos escravos no Brasil até 1888, com a abolição, foi pesado,
fuzilante e injusto. Ganhavam somente alimentação de qualidade ruim, vestimentas
velhas e moradias desumanas, conhecidas como senzalas.
Vários escravos não aguentavam e faleciam de enfermidades ou acidentes de oficio,
que eram frequentes na época. Não apresentavam direito e eram comercializados como
42

mercadorias. Em oposição a essas situações de trabalho, diversos escravos fizeram


rebeliões ou escapavam, construindo os quilombos, no qual podiam trabalhar conforme
Página

os hábitos africanos.
Revoltas Coloniais

As Revoltas Coloniais, em suma, foram as seguintes:

✓ Aclamação de Amador Bueno (São Paulo – 1641) – motivo – proibição da Escravidão


Indígena.
✓ Revolta de Beckman (Maranhão – 1684) – motivos – contra o monopólio da Cia
Geral do Comércio do Maranhã e proibição da Escravidão Indígena.
✓ Guerra dos Emboabas (São Vicente – 1707-1710) – motivo – disputa pelo ouro.
✓ Guerra dos Mascates (Pernambuco – 1710) – motivo – endividamento dos senhores
de engenho (Olinda) com os comerciantes Reinóis (Recife).
✓ Revolta de Vila Rica (ou Felipe dos Santos – 1720) – motivo – casas de fundição.

Revoltas Coloniais e Conflitos


Em função da exploração exagerada da metrópole ocorreram várias revoltas e
conflitos no período colonial do Brasil.
Dentre as principais revoltas e conflitos do período temos:
✓ Guerra dos Emboabas – os bandeirantes queriam exclusividade na exploração do
ouro nas minas que encontraram. Entraram em choque com os paulistas que estavam
explorando o ouro das minas.
✓ Revolta de Filipe dos Santos – ocorrida em Vila Rica, representou a insatisfação dos
donos de minas de ouro com a cobrança do quinto e das Casas de Fundição. O líder
Filipe dos Santos foi preso e condenado a morte pela coroa portuguesa.
✓ Inconfidência Mineira (1789) – liderada por Tiradentes, os inconfidentes mineiros
queriam a libertação do Brasil de Portugal. O movimento foi descoberto pelo rei de
Portugal e os líderes foram condenados.
Revoltas Coloniais – Período Colonial
As revoltas ocorridas no Período Colonial costumam ser divididas didaticamente em
Nativistas e Separatistas.
Revoltas Nativistas
Foram movimentos de protesto contra o excesso de exploração por parte de
Portugal, bem como, conflitos internos entre grupos rivais, mas sem qualquer
pretensão de independência.
As principais foram:
✓ A Aclamação de Amador Bueno da Ribeira – Vila de São Paulo (1641) – foi um
protesto contra o fim do comércio com a região do Rio da Prata, provocado pela
Restauração Portuguesa, bem como, contra repressão à escravidão indígena.
A população aclamou o comerciante Amador Bueno da Ribeira como “rei da Vila de
43

São Paulo, que se recusou a participar do movimento. Dias depois, as autoridades


pacificaram a população.
Página
✓ A Revolta de Nosso Pai – Pernambuco (1666) – foi causada pelas dificuldades
econômicas no período após a expulsão dos holandeses e pela nomeação de Jerônimo
de Mendonça Furtado para governar Pernambuco. Um grupo, do qual faziam parte
senhores de engenho. padres, vereadores e até o Juiz de Olinda, organizou uma falsa
procissão de Nosso Pai, na qual foi preso o Governador. Mais tarde foi nomeado André
Vidal de Negreiros como novo Governador de Pernambuco, acalmando os ânimos.
✓ Revolta de Beckman – Maranhão (1684) – foi provocada pela proibição da
escravidão indígena, graças aos jesuítas, e pela falta de negros, além, é claro, pelos altos
preços cobrados pela Companhia de Comércio do Estado do Maranhão. Os rebeldes,
liderados pelos fazendeiros Jorge Sampaio, Manuel Beckman e Tomás Beckman,
expulsaram os jesuítas, saquearam os armazéns da Companhia de Comércio,
depuseram as autoridades locais e formaram um novo governo. Tomás Beckman foi
enviado a Portugal para informar ao rei quais eram os motivos da revolta. Lá chegando,
foi preso e reconduzido ao Maranhão, junto com Gomes Freire, novo governador
indicado por Portugal, que recolocou no poder as autoridades depostas e capturou os
rebeldes. Manuel Beckman e Jorge Sampaio foram enforcados e Tomás Beckman foi
exilado na África. Os jesuítas voltaram ao Maranhão e a Companhia de Comércio foi
reativada.
✓ Guerra dos Emboabas – Minas Gerais (1708–1709) – foi provocada pela rivalidade
entre os bandeirantes paulistas (descobridores das minas) e os “emboabas” (pessoas
que vieram de outros lugares em busca de metais preciosos). O Rei Dom João V
determinou que todos pudessem explorar as minas e separou a capitania de São Paulo e
Minas de Ouro da jurisdição do Rio de Janeiro. Muitos paulistas partiram para Goiás e
Mato Grosso, onde acabaram descobrindo novas jazidas de ouro.
✓ Guerra dos Mascates – Pernambuco (1710–1711) – com a decadência do açúcar, os
outrora poderosos senhores de engenho, que moravam em Olinda, foram se
endividando com os portugueses que habitavam em Recife, que, aliás, dependia das leis
vindas da Câmara de Olinda. Os olindenses denominavam os recifenses de “mascates”,
que, por sua vez, chamavam os olindenses de “pés-rapados”. O conflito se agravou
quando Recife obteve autonomia em relação a Olinda. Os olindenses, liderados por
Bernardo Vieira de Melo, atacaram Recife, provocando a imediata reação dos
“mascates”, liderados por João da Mota. O conflito só terminou com o perdão de parte
das dívidas dos senhores de engenho e com a ascensão de Recife como capital da
Capitania.
✓ Revolta de Felipe dos Santos – Vila Rica (1720) – foi provocada pelos elevados
preços cobrada pelos comerciantes portugueses e, principalmente, pela criação das
Casas de Fundição. Os rebeldes entregaram uma lista ao governador Conde de Assumar,
contendo uma série de exigências, tais como, diminuição dos impostos (inclusive sobre
o ouro), e o fim do monopólio que os comerciantes portugueses possuíam sobre o sal, o
fumo e a aguardente. Assumar fingiu concordar com tudo, mas quando a situação se
acalmou, mandou prender os líderes, entre eles, Felipe dos Santos, que foi enforcado e
esquartejado. Os demais foram enviados a Portugal e, logo depois, foram perdoados.
44
Página
Revoltas Separatistas
Buscavam a independência em relação a Portugal e suas causas gerais foram:
influência do Iluminismo, o desejo do fim do monopólio, a Revolução Americana (1776)
e a Revolução Francesa (1789).
As principais foram:
✓ Inconfidência Mineira (1789)
Causas Locais: Os impostos exagerados sobre a mineração, assim como, o violento
aumento da fiscalização e da repressão na região mineradora.
Líderes: Domingos Vidal Barbosa, José Álvares Maciel, Tomás Antônio Gonzaga,
Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto, Joaquim José da Silva Xavier (o
Tiradentes), etc.
Projetos: Implantação de uma República inspirada nos Estados Unidos, cuja capital
seria São João Del Rei e o primeiro presidente seria Tomás Antônio Gonzaga; criação do
serviço militar obrigatório; fundação de uma universidade em Vila Rica; instalação de
fábricas por todo o país; amparo às famílias numerosas; manutenção da escravidão.
O movimento deveria acontecer no dia da Derrama, mas os rebeldes foram delatados
por Silvério dos Reis, Brito Malheiros e Correia Pamplona. Foram todos presos e
submetidos a processo (Os Autos da Devassa), que durou três anos, e condenados à
morte, mas apenas Tiradentes foi executado, pois todos os outros reconheceram que
eram “culpados de traição” e foram degredados para a África.
✓ Conjuração do Rio de Janeiro (1794)
Em 1794, os membros da Sociedade Literária do Rio de Janeiro, liderados por
Ildefonso Costa Abreu, Silva Alvarenga, Mariano José Pereira da Fonseca e João
Marques Pinto, foram presos por ordem do vice-rei Conde de Resende, acusados de
conspiração contra a Coroa Portuguesa. Dois anos depois, foram libertados por falta de
provas.
✓ Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates (1798)
Causas Locais: Decadência econômica, aumento dos preços das mercadorias, aumento
dos impostos, influência das duas revoltas populares de 1711, conhecidas como
“Motins do Maneta” (João de Figueiredo Costa).
Líderes: Membros da Loja Maçônica Cavaleiros da Luz, Cipriano Barata, Lucas Dantas,
Luiz Gonzaga das Virgens, João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino dos Santos
Lira. Foi um movimento com grande participação popular e seus principais líderes
eram pessoas pobres e negras (soldados, alfaiates, escravos, ex-escravos, etc).
Projetos: Implantar a República Baiense, inspirada na República Francesa; liberdade
de comércio; fim da escravidão e do preconceito.
A revolta foi duramente reprimida e seus líderes mais pobres foram enforcados e
esquartejados. Os demais líderes foram degredados ou presos e muito foram anistiados
depois.
45
Página
Revoltas Coloniais – Brasil
Ainda hoje, muitos historiadores pensam sobre como o Brasil conseguiu dar fim a
dominação colonial exercida pelos portugueses.
O interesse pelo assunto promove uma discussão complexa que interliga as
transformações intelectuais e políticas que tomaram conta do continente europeu e o
comportamento das ideias que sustentaram a luta pelo fim da ingerência lusitano
diretamente ligado ao poder. Por fim, tivemos que alcançar nossa autonomia graças ao
interesse de sujeitos metropolitano.
No século XVIII, podemos observar que algumas revoltas foram fruto da
incompatibilidade de interesses existente entre os colonos e os portugueses. Algumas
vezes, a situação de conflito não motivou uma ruptura radical com a ordem vigente,
mas apenas a manifestação por simples reformas que se adequassem melhor aos
interesses locais. Usualmente, os livros de História costumam definir essas primeiras
revoltas como sendo de caráter nativista.
Outras rebeliões desenvolvidas no mesmo século XVIII tomaram outra feição. As
chamadas rebeliões separatistas pensavam um novo meio de se organizar a vida no
espaço colonial a partir do banimento definitivo da autoridade lusitana. Em geral, seus
integrantes eram membros da elite que se influenciaram pelas manifestações liberais
que engendraram a Independência das Treze Colônias, na América no Norte, e a
Revolução Francesa de 1789.
Mesmo preconizando os ideais iluministas e liberais, as revoltas acontecidas no
Brasil eram cercadas por uma série de limites. O mais visível deles se manifestava na
conservação da ordem escravocrata e a limitação do poder político aos membros da
elite econômica local. Além disso, ao contrário do que apregoavam muitos
historiadores, essas revoltas nem mesmo tinham a intenção de formar uma nação
soberana ou atingir amplas parcelas do território colonial.
Entre os principais eventos que marcam a deflagração das revoltas nativistas,
destacamos a Revolta dos Beckman (1684, Maranhão); a Guerra dos Emboabas (1707,
Minas Gerais); a Guerra dos Mascates (1710, Pernambuco); e a Revolta de Filipe dos
Santos (1720, Minas Gerais). As únicas revoltas separatistas foram a Inconfidência
Mineira, ocorrida em 1789, na região de Vila Rica, e a Conjuração Baiana, deflagrada em
1798, na cidade de Salvador.
Rebeliões Nativistas
As pessoas aprendem ou interpretam as rebeliões coloniais em bloco, julgando,
quase sempre, todos os eventos como uma prova incontestável do desejo e da luta pela
romântica e patriótica autonomia política da nação.
De fato, várias revoltas, motins e conspirações marcaram o nosso passado colonial e
revelavam a insatisfação dos colonos e a dificuldade de controle por parte das forças
metropolitanas. Contudo, dizer que eles lutavam pela autonomia do nosso povo ou
defendiam a construção de uma nação autônoma incorre em um grande equívoco.
46

Afinal de contas, as ideias de povo ou nação brasileira nem sequer eram debatidos nos
meios intelectuais da época.
Página
Observando os primeiros conflitos ocorridos na colônia, observamos que a intenção
fundamental era a de promover algumas mudanças nas exigências e práticas impostas
pela metrópole. Em nenhum momento, as primeiras grandes revoltas, acontecidas
entre os séculos XVII e XVIII, pretendiam extinguir o pacto colonial ou estabelecer a
independência da América Portuguesa. Com isso, temos mais um argumento que vai
contra a tradicional interpretação dada aos levantes decorridos no período colonial.
Conhecidos como Revoltas Nativistas, esses movimentos tiveram início no século
XVII, momento em que diversas regiões da colônia enfrentavam sérias dificuldades
econômicas provenientes da crise da economia açucareira. Adentrando o século XVIII,
vemos que essas rebeliões persistem com a rigorosa fiscalização imposta por Portugal
nessa mesma época. Entre as maiores rebeliões nativistas destacamos a Revolta de
Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1708), a Guerra dos Mascates (1710) e a
Revolta de Filipe dos Santos (1720).

Rebeliões Separatistas

A Independência do Brasil, notamos que os desejos pela emancipação apareceram


anteriormente ao momento em que o Príncipe Regente, Dom Pedro I, realizou a
proclamação de 1822. Ao longo do século XVIII, em um contexto em que a mineração
tinha grande visibilidade econômica, os colonos se mostravam insatisfeitos com as
exigências, cobranças e imposições estabelecidas pela Coroa Portuguesa.
Se por um lado contabilizamos a mudança política do governo português, também
devemos destacar que essa insatisfação veio acompanhada por uma base de
sustentação ideológica. Nesse sentido, surge a necessidade de salientarmos como o
Iluminismo, a Revolução Francesa e a Independência dos Estados Unidos tiveram
grande peso para que uma parte dos colonos projetasse o fim do pacto colonial. Já nessa
época, alguns filhos de nossas elites se formavam em universidades europeias onde
essas transformações eram propagadas.
Ao identificarmos as Rebeliões Separatistas, observamos que esse conjunto de
fatores atuou em favor de levantes favoráveis à quebra do pacto colonial. Contudo, vale
aqui frisar que esses movimentos não podem ser erroneamente julgados como eventos
que lutaram pela formação de uma nação autônoma. No século XVIII, a emancipação de
nosso extenso território ou o reconhecimento de uma pátria brasileira não se
evidenciou na pauta dos revoltosos dessa época.
Por meio dessa afirmativa, realizamos a construção de outra perspectiva com relação
ao significado da Inconfidência Mineira. Ocorrida em 1789, essa conspiração
antimetropolitana não fez menção a nenhum desejo de libertação do nosso território.
Focado no desenvolvimento de uma pátria mineira, a elite envolvida com esse
movimento estabeleceu um projeto de emancipação que preservava o trabalho escravo
em terras coloniais.
47

Tocada por essa mesma separação entre as elites e as camadas menos favorecidas, a
Conjuração Baiana, de 1798, foi impulsionada por uma elite ilustrada que se afastou do
Página

movimento ao perceber que o mesmo passava a ser controlado por populares. Mesmo
não tendo um projeto amplo de emancipação, essa revolta teve grande importância ao
tocar diretamente na questão da escravidão – um dilema que ainda perduraria por um
bom tempo em nossa história.
Por fim, em 1817, observamos uma última revolta que se desenvolveu na capitania
de Pernambuco, já conhecida pelo desenvolvimento de diversas situações de
enfrentamento. Na chamada Revolução Pernambucana, temos o discurso iluminista e o
socialismo utópico, fundamentando a fala de uma população desgastada com os altos
impostos a serem pagos e as oscilações econômicas que marcavam o lugar. Mais uma
vez, a reprimenda das cortes impediu o fortalecimento dessa situação de conflito.
Revoltas no Brasil Colonial
Do fim do século XVII até o começo do século XIX, o Brasil passou por diversas
revoltas que podem ser divididas, segundo suas características, em dois grupos:
movimentos nativistas ou reformistas e movimentos emancipacionistas.
Até a primeira metade do século XVIII, diversos movimentos nativistas realizaram-se
no Brasil. O que caracterizou esses movimentos foi a negação dos abusos portugueses
sem, no entanto, contestar o domínio luso. Baseavam-se, portanto, na defesa dos
interesses locais e regionais, porém sem questionar o Pacto Colonial.
Já os movimentos emancipacionistas, ocorridos da segunda metade do século XVIII
ao primeiro quartel do XIX, tratou-se de revoltas contra a subordinação da colônia ao
poder da Coroa portuguesa. Diante dos sinais de esgotamento do sistema colonial, estas
tensões surgem lutando, principalmente, pela independência política da região que
representavam.
Neste espaço trataremos das principais rebeliões pertencentes às duas categorias
acima descritas e da ligação de cada uma destas com o contexto mundial da época.
Revoltas Nativistas
Ocorridas num intervalo de aproximadamente 30 anos, as revoltas nativistas têm
muito em comum. Nos links abaixo você poderá ler sobre a situação da Europa na
época e um pouco mais sobre cada uma dessas manifestações.
Contexto Internacional
Como já estudado, Portugal esteve sob domínio espanhol de 1580 a 1640. Durante
esse período, os portugueses foram obrigados a participar de guerras contra os
inimigos da Espanha: França, Holanda e Inglaterra. Isto lhe acarretou a perda de
diversas colônias na África e no Oriente e invasões no território brasileiro,
prejudicando a política mercantilista portuguesa. As principais dessas invasões foram
as holandesas ocorridas no Nordeste açucareiro na região da Bahia, de 1624 a 1625, e
na de Pernambuco, de 1630 a 1654, e que fizeram com que os portugueses perdessem o
controle sobre uma importante área produtora de cana.
A situação portuguesa ainda só tendia a piorar. Na luta pela libertação da União das
Coroas Ibéricas, Portugal contou com ajuda financeira inglesa, tornando-se
economicamente dependente e submisso a essa potência. Além disso, também tiveram
48

de arcar com a perda do controle do tráfico negreiro para a Holanda em 1641 e, treze
Página
anos mais tarde, com as despesas adquiridas na briga contra o domínio holandês no
Nordeste.
Os batavos, sem contar mais com o açúcar brasileiro, foram estabelecer-se nas
Antilhas francesas e inglesas onde foram bem sucedidos na economia açucareira.
Em pouco tempo, a produção antilhana começou a concorrer com a brasileira, dando
início a decadência do açúcar do Brasil.
Diante desse quadro tão desfavorável, só restava a Portugal intensificar a exploração
de sua colônia de maior importância econômica, o Brasil, que mesmo sofrendo com a
crise da comercialização da cana ainda era a base colonial do Reino. Essa intensificação
consistia no arrocho colonial, determinando menor autonomia para a colônia e maior
controle e exploração da mesma através de várias medidas como a implantação do
Conselho Ultramarino, que resultou no aumento de poder dos governantes gerais
(elevados a categoria de vice-reis em 1720), as Companhias de Comércio que
asseguravam o monopólio português no comércio brasileiro, e a interferência nas
Câmaras Municipais através de Juízes de Fora, nomeados pelo próprio rei, visando
controlar a elite local.
Toda essa situação de enrijecimento do pacto colonial, a partir do fim do século XVII,
gerou insatisfações, desencadeando os movimentos denominados nativistas ou
reformistas.
✓ Revolta dos Beckman (1684)
No Maranhão, por volta do século XVII, a situação econômica baseava-se na
exploração das drogas do sertão e nas lavouras dos colonos. A mão-de-obra usada
nessas plantações não podia ser a escrava negra, uma vez que a região maranhense era
pobre e não tinha recursos para valer-se de tal mão-de-obra escassa e cara, restando
como opção a escravização de indígenas. Já as drogas do sertão eram extraídas com
mão-de-obra indígena, porém não escrava, uma vez que os índios, habitantes de
missões jesuíticas, eram convencidos a fazê-lo por livre e espontânea vontade, a favor
da comunidade onde viviam. Um impasse, porém, estabeleceu-se nessa situação
quando os jesuítas conseguiram determinar junto a Portugal a proibição da
escravização indígena, causando a insatisfação dos colonos e opondo os dois grupos.
Tendo como um dos motivos amenizar a tensão entre agricultores e religiosos, o
governo português estabeleceu, em 1682, uma Companhia de Comércio para o Estado
do Maranhão, que tinha como finalidade deter o monopólio do comércio da região,
vendendo os produtos europeus e comprando os locais, além de estabelecer um trato
de fornecimento de escravos negros para a região. Esta, contudo, não foi a solução do
problema uma vez que a Companhia vendia produtos importados a altos preços,
oferecia pouco pelos artigos locais e não cumpria com o abastecimento de escravos,
sendo marcada pelo roubo e pela corrupção.
O descontentamento da população, diante deste quadro, aumentava cada vez mais.
Assim, chefiados por Manuel e Tomas Beckman, os colonos se rebelaram, expulsando os
jesuítas do Maranhão, abolindo o monopólio da Companhia e constituindo um novo
49

governo, que durou quase um ano. Com a intervenção da Coroa Portuguesa, foi
nomeado um novo governador para a região. Este puniu os revoltosos com a
Página

condenação à prisão ou ao exílio dos mais envolvidos, a pena de morte para Manuel
Beckman e Jorge Sampaio e reintegrou os jesuítas no Maranhão. Dos objetivos da
revolta o único que foi, de fato, alcançado com sucesso foi a extinção da Companhia de
Comércio local.
“Não resta outra coisa senão cada um defender-se por si mesmo; duas coisas são
necessárias: revogação dos monopólios e a expulsão dos jesuítas, a fim de se recuperar
a mão livre no que diz respeito ao comércio e aos índios.” Manuel Beckman (1684)

✓ Guerra dos Emboabas (1708)

No fim do século XVII, os bandeirantes paulistas descobriram ouro na região das


Minas Gerais, na época, região pertencente à capitania de São Vicente. Este ouro seria
uma riqueza muito importante para Portugal e para todos os brasileiros, uma vez que,
desde a crise da produção do açúcar, estes vinham buscando uma nova fonte de lucro.
Pelo fato dos paulistas terem sido pioneiros na descoberta das jazidas de metais
preciosos, julgavam-se no direito de possuir a exclusividade de extração destes, não
aceitando que forasteiros, em sua maioria baiana e portuguesa, também se
beneficiassem da atividade.
O nome emboabas, palavra vinda da língua tupi e que se referia a um determinado
tipo de ave com pés emplumados, fora usado pelos paulistas, povo simples e rude, em
menção pejorativa aos portugueses, que usavam botas, acessório incomum dentre os
primeiros.
Estas discrepâncias entre bandeirantes, colonos da Bahia e portugueses acabaram
desencadeando um conflito armado. Neste, os emboabas saíram vitoriosos, visto que
estavam em maior número, possuíam mais e melhores armamentos e tinham o apoio
do Estado Português, para o qual interessava que o maior número possível de
mineradores explorasse a região, visto que quanto maior fosse a mineração, mais ouro
seria extraído e consequentemente mais lucro teria a metrópole.
Para melhor administrar a região e encerrar o conflito, o Governo Português criou a
capitania de São Paulo e das Minas. Voltando aos paulistas, derrotados, muitos
abandonaram a região, dirigindo-se para Mato Grosso e Goiás, fato que implicou não só
na descoberta de novas minas de ouro, como também na expansão territorial do
domínio português na América.

✓ Guerra dos Mascates (1710)

Em Pernambuco, por volta do século XVIII, podiam-se destacar dois grupos sociais
como os de maior importância. O primeiro deles era a aristocracia rural olindense, que,
produtora de açúcar, vinha empobrecendo com a crescente desvalorização deste
produto devido à crise açucareira. O segundo era o grupo de comerciantes recifenses,
50

que estavam prosperando com o intenso comércio que se praticava na região e com os
empréstimos que faziam a altos juros aos olindenses falidos. À medida que os mascates,
Página

apelido pejorativo dado pelos olindenses aos comerciantes do Recife, ganhavam


importância econômica, mais se incomodavam com a condição de subordinação política
a Olinda, estabelecida pelo fato de ser apenas da segunda o título de Município,
implicando que se localizasse e fosse comandada por esta a Câmara Municipal, força
política de ambas regiões. Muito insatisfeito com a condição de freguesia de Olinda e
com as decisões políticas que barganhavam as crescentes dívidas da elite rural, Recife
busca a autonomia junto a Portugal. Inicialmente a Coroa pendeu para o lado dos
proprietários de terra, mas não deixando de ignorar a importância cada vez maior dos
comerciantes, o governo luso acabou por, em 1709, privilegiá-los, elevando a freguesia
a categoria de município, com sua própria Câmara Municipal. Os olindenses,
inconformados, invadem e dominam os recifenses, nomeando um governador. A reação
local gera um conflito armado que prossegue até a chegada de um novo governador
enviado pelo Reino. Este prende os principais envolvidos na revolta mantém a
autonomia do Recife, que no ano seguinte viria a ser elevada a categoria de sede
administrativa de Pernambuco.
✓ Revolta de Felipe dos Santos (1720)
A descoberta das jazidas de ouro e o início da extração aurífera na Brasil faziam
surgir em Portugal a necessidade de uma administração que assegurasse os privilégios
da metrópole, facilitasse a política fiscal e impusesse o absoluto controle sobre a
mineração, impedindo o contrabando. A Revolta de Felipe dos Santos ou Levante de
Vila Rica, ocorreu como consequência destes crescentes tributos. Visando impedir
fraudes no transporte e no comércio do ouro em pó ou em pepitas, o governo real criou
as Casas de Fundição, nas quais todo ouro extraído seria fundido e teria o quinto
cobrado.
Também foi estabelecida uma rigorosa legislação com penas severíssimas a todos
aqueles que fossem surpreendidos circulando com ouro bruto. Insatisfeitos com as
novas medidas e com a opressiva tributação imposta à região, mais de 2000
mineradores, liderados por Felipe dos Santos, dirigiram-se ao governador de Minas
Gerais.
Sem soldados suficientes para reprimir a revolta, o governador estrategicamente
decidiu receber alguns revoltosos fingindo aceitar a revogação da instalação das Casas
de Fundição e a diminuição das tributações. Deste modo ganhou tempo e quando
conseguiu reunir forças militares suficientes prendeu todos os revoltosos punindo-os
com rigor e violência e condenando à forca e ao esquartejamento o líder Felipe dos
Santos.
Sendo totalmente frustrada em seus objetivos, esta rebelião ainda implicou na
separação das capitanias de São Paulo e Minas Gerais, intensificando a autoridade real
sobre a região.
Revoltas Emancipacionistas
Sendo influenciadas pelo ideal iluminista europeu, as revoltas emancipacionistas são
o assunto desta seção.
Abaixo estão detalhados cada um destes importantes movimentos ocorridos no Brasil
51

Colonial:
Página
✓ Contexto Internacional
O século XVIII, na Europa, foi um período de transição da velha ordem monárquica,
absolutista, mercantilista e testamental para uma ordem mais liberal burguesa. Essas
transformações foram encabeçadas por países como França e Inglaterra, berços de
novas ideologias que vinham de encontro aos princípios do Antigo Regime.
No plano filosófico, difundiram-se as ideias iluministas, que com o lema “liberdade,
igualdade e fraternidade”, baseavam-se no princípio de que todo homem podia
aprender e agir com sua própria consciência, condenando a submissão total ao Estado e
exaltando valores como o individualismo, o livre arbítrio, a liberdade de expressão e a
propriedade privada. Influenciados por esta doutrina, muitos movimentos eclodiram na
Europa. O primeiro deles foi a Revolução Industrial que impulsionou a burguesia e
representou a transição do capitalismo mercantil para o capitalismo industrial,
difundindo a doutrina do liberalismo. Outro movimento de influências Iluministas foi a
Revolução Francesa que, também com bases liberalistas, fez a burguesia chegar ao
poder. Toda essa movimentação na Europa teve como consequência inicial a
Independência dos Estados Unidos, que foi o primeiro forte indício da decadência do
sistema colonial e o ato responsável pela divulgação do Regime Republicano na
América.
Todos estes acontecimentos e novos pensamentos circulantes chegavam ao Brasil
através de um hábito da época que era o de jovens da elite colonial brasileira viajarem
para a Europa para completar seus estudos, em sua grande maioria na universidade de
Coimbra. Lá, entravam em contato com todas estas novas ideias e vinham divulgá-las na
colônia ao retornarem. Em um Brasil sufocado pela intensa exploração da Coroa
Portuguesa, tais ideais foram muito bem aceitos, servindo como fonte de inspiração
para a ocorrência de algumas revoltas, cujas propostas revolucionárias foram
estruturadas sobre o desejo de emancipação política da sua área de ocorrência.
✓ Inconfidência Mineira (1789)
Na segunda metade do século XVII, a mineração começou a entrar em decadência,
surgindo os primeiros sinais de esgotamento do ouro. Nessa época, a colônia já nem
mais conseguia arrecadar com a cobrança do quinto as cem arrobas de ouro anuais
exigidas pela Coroa Portuguesa que, mesmo diante deste quadro, no qual era quase
impossível para os mineiros pagar tantas taxas, não diminuía a alta tributação que
aplicava sobre o metal extraído. Pelo contrário, o governo real, em 1765, ainda criou a
derrama, novo imposto que visava alcançar a meta anual de ouro através da
apropriação de pertences da população mineira. Inconformados, um grupo de colonos
da elite de Vila Rica iniciou reuniões secretas com o objetivo de conspirar contra
Portugal e preparar uma revolta.
A proposta revolucionária do grupo era muito baseada nas ideias e acontecimentos
de caráter iluminista que vinham ocorrendo na Europa e englobavam medidas como a
emancipação política entre Brasil e Portugal, com a adoção de um sistema republicano;
52

a obrigatoriedade do serviço militar; o apoio à industrialização; a criação de uma


universidade em Vila Rica.
Página
Os inconfidentes haviam decidido que o movimento ocorreria no dia da derrama e
pretendiam aprisionar o representante do governo português da região.
Segundo o plano, Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier, iria ao Rio de Janeiro para
a divulgação do movimento, porém, três conspiradores, sendo o mais famoso deles
Joaquim Silvério dos Reis, denunciaram a revolta a autoridades portuguesas que
suspenderam a derrama, expediu ordem de prisão aos conjurados e aprisionou
Tiradentes, que estava a caminho do Rio. Este foi o único dos envolvidos que assumiu
responsabilidade no movimento, recebendo como pena o enforcamento e o
esquartejamento. As partes do corpo de Tiradentes foram distribuídas pelas cidades
onde este esteve pedindo apoio e sua cabeça foi exposta em Vila Rica, na intenção de
intimidar o acontecimento de novas rebeliões.
O fracasso da Inconfidência Mineira deveu-se principalmente à falta de apoio popular
ao movimento, organizado somente entre a elite, e à falta de organização militar. De
qualquer forma, apesar de não ter passado de uma conspiração, esta foi o principal
movimento emancipacionista ocorrido no Brasil.
“Ouro branco! Ouro preto! Ouro podre!
De cada ribeirão trepidante e de cada recosto
De montanha o metal rolou na cascalhada
Para fausto d’El-Rei: para a glória do imposto
Que restou do esplendor de outrora? Quase nada:
Pedras”… Templos que são fantasmas ao sol-posto.”
Manoel Bandeira – Ouro Preto – Lira dos 50 anos

✓ Conjuração Baiana (1798)


Após 1763, quando a capital brasileira foi transferida para o Rio de Janeiro, Salvador
entrou em sérias dificuldades econômicas. Lá, as diferenças sociais eram contrastantes,
havendo por um lado ricos comerciantes portugueses e grandes proprietários, com a
maioria da população, submetida à opressão tributativa e preconceitos raciais e sociais.
O descontentamento do povo havia ganhado força com as informações que chegavam,
principalmente, sobre a fase popular da Revolução Francesa e sobre a independência
do Haiti.
Foi fundada então em Salvador a “Academia dos Renascidos”, uma associação
literária que discutia os ideais do iluminismo e os problemas sociais que afetavam a
população. A Conjuração Baiana surgiu com as discussões promovidas por esta
associação, que por contar com a participação de negros e mulatos, artesãos, pequenos
comerciantes, escravos, alfaiates e libertos ficou também conhecida como Revolta dos
Alfaiates. O movimento pretendia o fim da escravidão, a emancipação política de
Portugal, a proclamação de uma república democrática e a igualdade social.
Em 12 de agosto de 1798, a cidade de Salvador amanheceu com cartazes
revolucionários espalhados por diversas igrejas, estabelecimentos comerciais e
residências. A repressão contra o movimento foi imediata. Houve a decretação da
53

devassa pelo governador e a prisão e enforcamento dos principais envolvidos.


Página
✓ Revolução Pernambucana (1817)
Em 1808, fugindo dos franceses, a família real portuguesa veio abrigar-se no Brasil e,
para manter os luxos que a sua corte tinha em Portugal, foram ainda mais elevados os
impostos cobrados sobre a colônia. A população desta, que já se encontrava em uma
situação difícil por não ter nenhum produto em ascendência comercial, ficou revoltada
com este aumento tributário. Então, grupos populares e de classe média pernambucana
organizaram um movimento pró-independência e república.
Os revoltosos chegaram a derrubar o governador e implantar um novo governo,
acabando com a tributação, dando liberdade de imprensa e religião. Os envolvidos
discordavam quanto ao tópico escravidão, não tendo chegado a nenhuma conclusão.
Esta e outras divergências internas enfraqueceram o movimento, que sucumbiu quando
foi cercado por mar e por terra por tropas portuguesas, que prenderam ou executaram
os envolvidos.
A Revolução Pernambucana de 1817 contribuiu decisivamente para a independência
brasileira, ocorrida pouco mais tarde, em 1822.
Paralelo com a atualidade
Mudam-se as épocas e os contextos, porém focos de insatisfação com características
da sociedade, da política ou da economia sempre se fazem presentes. Do período
colonial até hoje, em muitas ocasiões os brasileiros de várias regiões uniram-se na
tentativa de concretizar mudanças que julgavam necessárias. No entanto, o que mais
diferencia estas mobilizações são os modos pelos quais elas ocorrem.
No Brasil-Colônia, em geral, as reivindicações realizavam-se de modo desorganizado,
havendo contradições de interesses entre os grupos envolvidos e a distinção entre
revoltas das camadas populares e da elite, visto que esta segunda temia pedir apoio aos
primeiros para não ter que atender suas reivindicações como terra, fim da escravidão,
melhores condições de vida etc., as manifestações, quando chegavam a acontecer,
davam-se violentamente, buscando alcançar seus objetivos através da força física. A
opressão destas revoltas por parte da Coroa Portuguesa também era igualmente
agressiva, realizada de modo tirânico, sem dar espaço a eventuais negociações ou
acordos.
Já atualmente, as contestações são feitas de modo muito mais organizado.
Normalmente as pessoas unem-se e protestam através de greves e passeatas. Buscam
por meio da argumentação e negociação atingir suas metas. O governo, por sua vez,
também modificou sua maneira de reagir a estas manifestações, passando a tentar
propor acordos ou fazer concessões que venham a beneficiar ambas as partes.
Mas o que levou de fato a essas diferentes maneiras de demonstrar
descontentamento?
A resposta para esta pergunta também acaba evidenciando outro fato, do qual, às
vezes, não nos damos conta: o de quanto é forte influência da política sobre nosso modo
de viver e de agir. Quando colônia, o Brasil era regido por um Estado Absolutista, no
54

qual todo o poder concentrava-se na mão de um só governante, determinado por


hereditariedade. Para esse tipo de regime, não é importante a vontade e a satisfação
Página

popular sendo, portanto praticamente nulo o interesse da Coroa pela opinião e


sentimentos da população. Sem espaço e até mesmo sem outra opção para expor o que
lhes desagradava, só mesmo restava a eventuais grupos descontentes chamar atenção
para suas causas através de revoltas, lutas, invasões, etc. E, diante dessas rebeliões, o
governo, poder único e majoritário, tinha como único objetivo abafá-las para assegurar
sua autoridade, derramando para isto o sangue que fosse necessário e na maioria das
vezes não dando a mínima atenção ou importância às reclamações dos revoltosos. O
grande trunfo do regime atual, a república, para assegurar que haja respeito às ideias e
à integridade do povo é o fato de os governantes atuais dependerem do voto popular
para serem eleitos. Atualmente, o governo, para manter-se precisa preocupar-se com o
bem-estar de todo seu povo, respeitando e ouvindo todas as suas exigências e tentando
solucionar eventuais mobilizações, não com represálias brutas, mas sim com
diplomacia e acordos, visando conservar sua popularidade.
Não se pode afirmar que hoje a população conquista todas as melhorias pelas quais
protesta, nem mesmo que têm seus desejos como prioridade governamental, porém, o
progresso, assim como o tempo, não para e desejamos que com mais alguns anos o
Brasil livre-se das falhas de sua política (com um destaque para a vergonhosa
corrupção), alcançando, consequentemente, o molde de uma sociedade ideal.
Compreensão
Produza na tabela, comparando as Revoltas Coloniais apresentadas, caso seja
necessário, faça uma pesquisa.

Revolta Revolta de Vila Rica Conjuração Mineira Conjuração Baiana


(1720) (1789) (1798)
Motivo Principal

Reivindicações

Organizações

Sentença de aos líderes

2. Leia o texto e responda as questões.


A segunda metade do século XVIII foi marcada por intensas transformações na história.
No Brasil, não foi diferente, e em 1798, o mês de Agosto ficou marcado como um dos
mais importantes para o movimento negro brasileiro. Foi de 12 a 25 de Agosto daquele
ano que negros e mestiços comandaram uma das maiores manifestações populares em
busca de democracia, igualdade e melhores condições de vida para todos os brasileiros
(...).
a) A qual evento histórico o texto faz referências?
55

____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
Página
b) Em sua opinião, por que esse evento é importante para o movimento negro no Brasil,
atualmente?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
3. Complete as frases com as palavras.
Quilombos – fugas – resistência

a) Houve muita ___________________ á escravidão no Brasil tanto por parte dos indígenas
como dos africanos e seus descendentes.
b) Entre as principais maneiras de resistir á escravidão estavam as ___________________.
c) Ao fugiram do domínio de seus senhores, muitos escravos procuravam formar
_______________________________.
4. Faça um desenho representando a estrutura de um engenho.

56
Página
Capítulo 3
De Colônia a País Independente
Corte Portuguesa no Brasil
No início do século XIX, a política expansionista de Napoleão Bonaparte altera o
equilíbrio político da Europa. O imperador tenta impor a supremacia da França sobre
os demais países. A Inglaterra resiste e Napoleão decreta o chamado bloqueio
continental: a proibição, sob a ameaça das armas, de os demais países do continente
negociar com a Inglaterra.
Portugal tenta uma política de neutralidade, mas continua negociando com os
ingleses. Em represália, o imperador francês ordena a invasão de Portugal pelas tropas
do general Jean Junot. Firma com a Espanha o Tratado de Fontainebleau (1807), que
reparte o território português entre os dois países, dividindo-o em dois reinos,
Lusitânia e Algarves.
Essa divisão não é posta em prática, mas a ameaça de uma invasão francesa faz com
que a família real portuguesa se transfira para o Brasil.
Fuga da Família Real
Em outubro de 1807 os governos português e inglês assinam um acordo secreto em
que a Inglaterra se compromete a ajudar a nobreza em fuga. Começa, então, o que os
historiadores caracterizam como o momento do “salve-se quem puder”. A notícia da
fuga da família real espalha-se, e Lisboa é tomada pelo caos. Apavorada, a população da
cidade sai às ruas para protestar contra os governantes que não hesitam em deixá-la
entregue à própria sorte.
Séquito Real
Dia 29 de novembro, depois de vários incidentes, a esquadra real parte de Lisboa
escoltada por navios de guerra ingleses. Vários nobres morrem afogados ao tentar
alcançar a nado os navios superlotados. Nas 36 embarcações, o príncipe-regente dom
João, a família real e seu séquito, estimado em 15 mil pessoas, trazem joias, peças de
ouro e prata e a quantia de 80 milhões de cruzados, o equivalente à metade do dinheiro
circulante no reino. Em janeiro de 1808, a frota lusa chega à Bahia. O Brasil passa a ser
sede da monarquia portuguesa.
Dom João VI (1767-1826)
Filho da Rainha Dona Maria I e do Príncipe Dom Pedro III, herda o direito ao trono
com a morte do primogênito Dom José.
Em 1785, casa-se com Dona Carlota Joaquina, uma das herdeiras do trono espanhol.
Dom João assume a regência de Portugal em 1792, quando sua mãe enlouquece e
enfrenta conflitos internos e externos durante todo o seu governo.
Na França, Luís XVI é executado pelos revolucionários e as monarquias europeias
temem destino semelhante. Na Corte Portuguesa, Dom João sofre constantes tentativas
de golpes tramados pela esposa e pelo filho, Dom Miguel.
57
Página
No Brasil, Dona Carlota tenta derrubar Dom João e conspira com diferentes grupos
da nobreza espanhola. Pretende conquistar a Coroa da Espanha, unir os dois reinos e
tornar-se imperatriz das Américas.
Quando Dom João, de volta a Portugal, submete-se ao regime constitucionalista, Dona
Carlota e Dom Miguel assumem a luta pela autonomia do trono frente às Cortes.
Prendem Dom João durante uma revolta em Lisboa, em 1824. O rei foge sob a proteção
dos ingleses e manda prender a esposa e o filho. Isolado na Corte, morre dois anos
depois.
A Corte no Rio de Janeiro
Em 7 de março de 1808, a corte se transfere para o Rio de Janeiro. No primeiro
momento, a mudança provoca grandes conflitos com a população local. A pequena
cidade, com apenas 46 ruas, 19 largos, seis becos e quatro travessas, não tem como
acomodar de uma hora para outra os 15 mil novos habitantes.
Para resolver o problema, os funcionários reais recorrem à violência, obrigando os
moradores das melhores casas a abandoná-las a toque de caixa. A senha P.R. (Príncipe-
Regente), inscrita nas portas das casas escolhidas, passa a ter para o povo o sentido
pejorativo de “ponha-se na rua”. Apesar dos contratempos iniciais, a instalação da
realeza ajuda a tirar a capital da letargia econômica e cultural em que está mergulhada.
Novas Instituições
Toda a burocracia administrativa do Estado Português é remontada no Brasil. Para
fazer frente às novas despesas é criado, em 1808, o primeiro Banco do Brasil. Sua
função é obter fundos para cobrir os gastos suntuários da Corte, pagar os soldados e
promover transações comerciais. Instalam-se o Erário Régio, depois transformado em
Ministério da Fazenda; o Conselho de Estado; a Junta de Comércio; a Intendência Geral
da Polícia; o Desembargo do Paço; a Mesa de Consciência e Ordens (ou tribunal) e a
Junta Real de Agricultura e Navegação.
Repercussões Econômicas
Logo ao chegar, Dom João decreta a abertura dos portos às nações amigas, abolindo o
monopólio comercial luso. A vida econômica muda radicalmente. O Séquito Real amplia
a demanda de bens de consumo e aumenta as despesas públicas. O comércio se
diversifica com a inundação de produtos estrangeiros suntuários e o príncipe toma
medidas de incentivo à indústria.
Estímulo às Manufaturas
Dom João revoga o alvará de 1785, que proibia as manufaturas brasileiras e autoriza
a instalação de tecelagens, fábricas de vidro e de pólvora, moinhos de trigo e uma
fundição de artilharia. Também facilita a vinda de artesãos e profissionais liberais
europeus, inclusive médicos e farmacêuticos. Dez anos depois da chegada da corte ao
Brasil, a população do Rio de Janeiro aumentam de 50 mil para 100 mil habitantes.
Presença Inglesa no Brasil
58

Até 1814 a abertura dos portos beneficia exclusivamente a Inglaterra, que


praticamente monopoliza o comércio com o Brasil. Outros tratados firmados por Dom
Página

João em 1810, o de Amizade e Aliança e o de Comércio e Navegação consolidam ainda


mais a presença inglesa na colônia. O Tratado de Comércio, por exemplo, fixa a taxa de
15% para todas as importações inglesas e de 24% para as de outras nações.
Abertura Cultural
Com a corte no Brasil, dom João toma várias iniciativas para estimular a educação, a
ciência e as artes na colônia. Promove várias missões culturais, com a vinda de
cientistas e artistas franceses, alemães e ingleses: o pintor e escritor francês Jean-
Baptiste Debret, o botânico francês Auguste Saint-Hilaire, o naturalista alemão Karl
Friedrich Von Martius, o pintor alemão Johann Moritz Rugendas e o naturalista e
geólogo britânico John Mawe.
Centros Culturais
Foi criada a primeira escola superior, a Médico-cirúrgica, em Salvador, em
18/2/1808; a Academia da Marinha, em 5/5/1808, e a Academia Militar do Rio de
Janeiro, em 4/12/1808; e a primeira Biblioteca Pública (atual Biblioteca Nacional),
também no Rio de Janeiro, em 13/5/1811. Cultura e ciências são também estimuladas
com a criação do Jardim Botânico e da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios (depois
Academia de Belas Artes), em 4/12/1810.
D.João VI e a Família Real Portuguesa no Brasil (1808)
A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil representou um passo importante
para a nossa futura independência política. Na primeira década do século XIX, as forças
militares de Napoleão Bonaparte, tomaram a Europa, em nome dos ideais democráticos
da Revolução Francesa.
Napoleão tinha a intenção de dominar a Europa dividindo o continente entre aliados
e amigos da França. Essa divisão foi levada radicalmente em 1806, quando foi
declarado o Bloqueio Continental por meio do qual pretendia sufocar a economia
inglesa, que era principal adversário francês.
O Bloqueio Continental foi instituído através de um decreto de Napoleão Bonaparte,
assinado em 1806, proibindo os países europeus de receberem navios ingleses em seus
portos e de venderem produtos a Inglaterra.
Com essa medida Napoleão Bonaparte pretendia enfraquecer a Inglaterra, privando-
a de seus mercados consumidores e de suas fontes de abastecimentos. Aliado fiel do
Império Britânico, Portugal viu-se no meio de um grave conflito internacional. Não
podia virar as costas a Inglaterra, nem afrontar o Bloqueio Napoleônico.
A situação interna de Portugal apresentava dificuldades administrativas e políticas:
falta de orientação do regente D. João nos assuntos de governo e divergência entre os
partidários monárquicos e liberais. No plano externo a situação era bastante grave,
devido ao expansionismo napoleônico e as ameaças a Portugal.
Muitas instituições foram inauguradas no Rio de Janeiro para abrigar e manter o
funcionamento da sede do governo a partir de 1808, tais como:
✓ Imprensa Régia – foi a primeira editora do Brasil, fundada em 1808 para publicar
59

livros e documentos oficiais do governo.


✓ Real Horto – criado em 1808 para o estudo e a adaptação de plantas de diferentes
Página

espécies ao clima tropical do Brasil.


✓ Banco do Brasil – fundado em 1809, foi o primeiro banco a funcionar no Brasil.
✓ Real Biblioteca – foi trazida de Portugal para o Brasil e, a partir de 1810, foi
instituída com um acervo composto de cerca de 60 mil peças, entre livros, mapas,
gravuras, manuscritos e outros.
Compreensão
Leia o texto e responda as questões.
A vinda da Família Real para o Brasil
A Família Real nunca tinha vindo visitar o Brasil desde o descobrimento. Somente em
1808, D. João resolveu que a Família Real Portuguesa e a corte teriam que vir para o
Brasil.
O que motivou essa mudança foi a guerra entre ingleses e franceses, em que
Napoleão Bonaparte ameaçou invadir Portugal.
Neste período quem governava Portugal era o Príncipe Regente D. João, que
governava em nome de sua mãe D. Maria I que estava muito doente.
O fato principal não foi só a vinda da Família Real, mas a transferência da sede do
governo para o Brasil.
A Família Real foi recebida em salvador com muita festa. Mas um mês depois a sede
do governo foi mudada para o Rio de Janeiro. Com a sua chegada, os benefícios foram os
seguintes: a abertura dos portos as nações amigas; instalações de fábricas; criação da
imprensa régia; criação do banco do Brasil; casa da moeda, do jardim Botânico, da
Biblioteca e do teatro Real, e das escolas de medicina na Bahia e no Rio de Janeiro.
O Brasil foi elevado á Reino Unido a Portugal e Algarves, em 1815. No ano seguinte
com a morte de D. Maria I, D. João tornou-se rei do Brasil e de Portugal e recebeu o
título de D. João VI.
Todos os brasileiros estavam felizes com a permanência do rei. Já os portugueses,
com a retirada das tropas francesas do território, exigiam a volta do Rei para Portugal.
Em 1821 o rei cedeu as exigências dos portugueses e voltou a Portugal, deixando seu
filho D. Pedro como Príncipe-Regente.
Compreensão
1. Em que ano a Família Real veio para o Brasil?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
2. Qual o motivo para a Família Real vir morar no Brasil?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
3. Quem governava Portugal nesta época? Por quê?
____________________________________________________________________________________________________
60

___________________________________________________________________________________________________
Página
4. Onde desembarcou a Família Real no Brasil?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
5. Onde foi fixada a sede do governo?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
6. Cite pelo menos três benefícios trazidos para o Brasil pela vida da Família Real.
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
7. O que aconteceu em 1815?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
8. O que aconteceu em 1816?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
9. O que aconteceu em 1821?
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________

61
Página
Independência do Brasil

A Independência do Brasil,
enquanto processo histórico desenhou-
se muito tempo antes do príncipe
regente Dom Pedro I proclamar o fim
dos nossos laços coloniais às margens
do Racho Ipiranga.
De fato, para entendermos como o
Brasil se tornou uma nação
independente, devemos perceber como
as transformações políticas, econômicas
e sociais inauguradas com a chegada da
família da Corte Lusitana ao país
abriram espaço para a possibilidade da
independência.
A chegada da Família Real Portuguesa ao Brasil foi episódio de grande
importância para que possamos iniciar as justificativas da nossa independência. Ao
pisar em solo brasileiro, Dom João VI tratou de cumprir os acordos firmados com a
Inglaterra, que se comprometera em defender Portugal das tropas de Napoleão e
escoltar a Corte Portuguesa ao litoral brasileiro. Por isso, mesmo antes de chegar à
capital da colônia, o rei português realizou a abertura dos portos brasileiros às demais
nações do mundo.
Do ponto de vista econômico, essa medida pode ser vista como um primeiro
“grito de independência”, onde a colônia brasileira não mais estaria atrelada ao
monopólio comercial imposto pelo antigo Pacto Colonial. Com tal medida, os grandes
produtores agrícolas e comerciantes nacionais puderam avolumar os seus negócios e
viver um tempo de prosperidade material nunca antes experimentado em toda história
colonial. A liberdade já era sentida no bolso de nossas elites.
Para fora do campo da economia, podemos salientar como a reforma urbanística
feita por Dom João VI promoveu um embelezamento do Rio de Janeiro até então nunca
antes vivida na capital da colônia, que deixou de ser uma simples zona de exploração
para ser elevada à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarves. Se a medida
prestigiou os novos súditos tupiniquins, logo despertou a insatisfação dos portugueses
que foram deixados à mercê da administração de Lorde Protetor do exército inglês.
Essas medidas, tomadas até o ano de 1815, alimentaram um movimento de
mudanças por parte das elites lusitanas, que se viam abandonada por sua antiga
autoridade política. Foi nesse contexto que uma revolução constitucionalista tomou
conta dos quadros políticos portugueses em agosto de 1820. A Revolução Liberal do
Porto tinha como objetivo reestruturar a soberania política portuguesa por meio de
uma reforma liberal que limitaria os poderes do rei e reconduziria o Brasil à condição
62

de colônia.
Página
Dom Pedro I
Os revolucionários lusitanos formaram uma espécie de Assembleia Nacional que
ganhou o nome de “Cortes”. Nas Cortes, as principais figuras políticas lusitanas exigiam
que o rei Dom João VI retornasse à terra natal para que legitimasse as transformações
políticas em andamento. Temendo perder sua autoridade real, D. João saiu do Brasil em
1821 e nomeou seu filho, Dom Pedro I, como príncipe regente do Brasil.
Primeiro Reinado
Dom Pedro I
O Primeiro Reinado foi o período inicial
do Império, estende-se da Independência
do Brasil, em 1822, até a abdicação de Dom
Pedro I, em 1831.
Aclamado primeiro imperador do país a
12 de outubro de 1822, Dom Pedro I
enfrenta a resistência de tropas
portuguesas.
Ao vencê-las, em meados do ano
seguinte, consolida sua liderança.
Seu primeiro ato político importante é a convocação da Assembleia Constituinte,
eleita no início de 1823. É também seu primeiro fracasso: devido a uma forte
divergência entre os deputados brasileiros e o soberano, que exigia um poder pessoal
superior ao do Legislativo e do Judiciário, a Assembleia é dissolvida em novembro.
A Constituição é outorgada pelo imperador em 1824. Contra essa decisão rebelam-se
algumas províncias do Nordeste, lideradas por Pernambuco. A revolta, conhecida pelo
nome de Confederação do Equador, é severamente reprimida pelas tropas imperiais.
Embora a Constituição de 1824 determine que o regime vigente no país seja liberal, o
governo é autoritário. Frequentemente, Dom Pedro impõe sua vontade aos políticos.
Esse impasse constante gera um crescente conflito com os liberais, que passam a vê-lo
cada vez mais como um governante autoritário. Preocupa também o seu excessivo
envolvimento com a política interna portuguesa. Os problemas de Dom Pedro I
agravam-se a partir de 1825, com a entrada e a derrota do Brasil na Guerra da
Cisplatina.
A perda da Província da Cisplatina e a Independência do Uruguai, em 1828, além das
dificuldades econômicas levam boa parte da opinião pública a reagir contra as medidas
personalistas do imperador.
Sucessão em Portugal
Além disso, após a morte de seu pai Dom João VI , em 1826, Dom Pedro envolve-se
cada vez mais na questão sucessória em Portugal. Do ponto de vista português, ele
63

continua herdeiro da Coroa. Para os brasileiros, o imperador não tem mais vínculos
com a antiga colônia, porque, ao proclamar a Independência, havia renunciado à
Página
herança lusitana. Depois de muita discussão, formaliza essa renúncia e abre mão do
trono de Portugal em favor de sua filha Maria da Glória.
Ainda assim, a questão passa a ser uma das grandes bandeiras da oposição liberal
brasileira. Nos últimos anos da década de 1820, esta oposição cresce. O governante
procura apoio nos setores portugueses instalados na burocracia civil-militar e no
comércio das principais cidades do país.
Incidentes políticos graves, como o assassinato do jornalista oposicionista Líbero
Badaró em São Paulo, em 1830, reforçam esse afastamento: esse crime é cometido a
mando de policiais ligados ao governo imperial e Dom Pedro é responsabilizado pela
morte.
Sua última tentativa de recuperar prestígio político é frustrada pela má recepção que
teve durante uma visita a Minas Gerais na virada de 1830 para 1831. A intenção era
costurar um acordo com os políticos da província, mas é recebido com frieza. Alguns
setores da elite mineira fazem questão de ligá-lo ao assassinato do jornalista.
Revoltados, os portugueses instalados no Rio de Janeiro promovem uma
manifestação pública em desagravo ao imperador. Isso desencadeia uma retaliação dos
setores antilusitanos. Há tumultos e conflitos de rua na cidade. Dom Pedro fica irado e
promete castigos. Mas não consegue sustentação política e é aconselhado por seus
ministros a renunciar ao trono brasileiro. Ele abdica em 7 de abril de 1831 e retorna a
Portugal.
O Período Regencial é uma época da História do Brasil entre os anos de 1831 e 1840.
Quando o imperador D. Pedro I abdicou do poder em 1831, seu filho e herdeiro do
trono D. Pedro de Alcântara tinha apenas 5 anos de idade. A Constituição brasileira do
período determinava, neste caso, que o país deveria ser governado por regentes, até o
herdeiro atingir a maioridade (18 anos).
Regentes que governaram o Brasil no período
✓ Regência Trina Provisória (1831) – regentes Lima e Silva, Senador Vergueiro e
Marquês de Caravelas.
✓ Regência Trina Permanente (1831 a 1835) – teve como regentes: José da Costa
Carvalho, João – Bráulio Moniz e Francisco de Lima e Silva.
✓ Regência Una de Feijó (1835 a 1837) – teve como regente Diogo Antônio Feijó.
✓ Regência Interina de Araújo Lima (1837) – teve como regente Pedro de Araújo
Lima.
✓ Regência Una de Araújo Lima (1838 a 1840) – teve como regente Pedro de Araújo
Lima.
Um Período Tumultuado
O Brasil passou por uma grave crise políticas e diversas revoltas durante o Período
Regencial.
64
Página
Crise Política

A crise política deveu-se, principalmente, a disputa pelo controle do governo entre


diversos grupos políticos: Restauradores (defendiam a volta de D. Pedro I ao poder);
Moderados (voto só para os ricos e continuação da Monarquia) e Exaltados (queriam
reformas para melhorar a vida dos mais necessitados e voto para todas as pessoas).
Revoltas
As revoltas ocorrem basicamente por dois motivos: más condições de vida de grande
parte da população (mais pobres) e vontade das elites locais em aumentar seu poder e
serem atendidas pelo governo.
Principais Revoltas do período
✓ Cabanagem (1835 a 1840) – motivada pelas péssimas condições de vida em que
vivia a grande maioria dos moradores da província do Grão-Pará.
✓ Balaiada (1838–1841) – ocorreu na província do Maranhão. A causa principal foi a
exploração da população mais pobre por parte dos grandes produtores rurais.
✓ Sabinada (1837-1838) – ocorreu na província da Bahia. Motivada pela insatisfação
de militares e camadas médias e ricas da população com o governo regencial.
✓ Farroupilha (1835) – teve como líder Bento Gonçalves, eles estavam insatisfeitos
com a taxa sobre o gado na fronteira Brasil – Uruguai.

Golpe da Maioridade e fim do Período Regencial


Os políticos brasileiros e grande parte da população acreditavam que a grave crise
que o país enfrentava era fruto, principalmente, da falta de um imperador forte e com
poderes para enfrentar a situação. Em 23 de julho de 1840, com apoio do Partido
Liberal, foi antecipada pelo Senado Federal a maioridade de D. Pedro II (antes de
completar 14 anos) e declarado o fim das regências.
Esse episódio ficou conhecido como o Golpe da Maioridade. Foi uma forma
encontrada pelos políticos brasileiros de dar poder e autoridade ao jovem imperador
para que as revoltas pudessem ser debeladas e a ordem restaurada no Brasil.
Segundo Reinado
Dom Pedro II, um Imperador em meio às transformações
de um longo governo. O Segundo Reinado iniciou-se com a
declaração de maioridade de Dom Pedro II, realizada no dia
23 de julho de 1840.
Na época, o jovem imperador tinha apenas quatorze anos
de idade e só conseguiu ocupar o posto máximo do poder
executivo nacional graças a um bem arquitetado golpe
promovido pelos grupos políticos liberais.
65

Até então, os conservadores (favoráveis à centralização


Página

política) dominaram o cenário político nacional.


Antes do novo regime monárquico, o período regencial foi caracterizado por uma
política conservadora e autoritária que fomentou diversas revoltas no Brasil. As
disputas políticas do período e o desfavor promovido em torno do autoritarismo
vigente permitiram que a manobra em favor de Dom Pedro de Alcântara tivesse
sustentabilidade política.
Nos quarenta e nove anos subsequentes o Brasil esteve na mão de seu último e mais
longevo monarca. Para contornar as rixas políticas, Dom Pedro II contou com a criação
de dispositivos capazes de agraciar os dois grupos políticos da época. Liberais e
conservadores, tendo origem em uma mesma classe socioeconômica, barganharam a
partilha de um poder repleto de mecanismos onde a figura do imperador aparecia
como um “intermediário imparcial” às disputas políticas.
Ao mesmo tempo em que se distribuíam ministérios, o rei era blindado pelos amplos
direitos do irrevogável Poder Moderador. A situação contraditória, talvez de maneira
inesperada, configurou um período de relativa estabilidade.
Depois da Revolução Praieira, em 1847, nenhuma outra rebelião interna se impôs
contra a autoridade monárquica. Por quê? Alguns historiadores justificam tal condição
no bom desempenho de uma economia impulsionada pela ascensão das plantações de
café. No entanto, esse bom desempenho conviveu com situações delicadas provindas de
uma economia internacional em plena mudança.
O tráfico negreiro era sistematicamente combatido pelas grandes potências, tais
como a Inglaterra, que buscava ampliar seus mercados consumidores por aqui. A partir
da segunda metade do século XIX, movimentos abolicionistas e republicanos ensaiavam
discursos e textos favoráveis a uma economia mais dinâmica e um regime político
moderno e inspirado pela onda republicana liberal.
Após o fim da desgastante e polêmica Guerra do Paraguai (1864–1870), foi possível
observar as primeiras medidas que indicaram o fim do regime monárquico. O anseio
por mudanças parecia vir em passos tímidos ainda controlados por uma elite
desconfiada com transformações que pudessem ameaçar os seus antigos privilégios. A
estranha mistura entre o moderno e o conservador ditou o início de uma república
nascida de uma quartelada desprovida de qualquer apoio popular.
Compreensão
1. Qual o motivo que levou D. Pedro I deixar o Império do Brasil?
____________________________________________________________________________________________________
2. Como era a forma de governo no Brasil Colônia?
____________________________________________________________________________________________________
3. O que foi o Período Regencial?
____________________________________________________________________________________________________
4. Quais foram as revoltas no Período Regencial?
____________________________________________________________________________________________________
66

___________________________________________________________________________________________________
Página

5. Como ficou caracterizado o Segundo Reinado?


____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
Fim da Escravidão no Brasil
Desde o início do século XIX, a questão da escravatura é uma fonte constante de
atrito entre o Brasil e a Inglaterra. No interior do país, a abolição da escravatura é
defendida por grupos de liberais, mas não chega a ter repercussão na elite agrária,
dependente do trabalho escravo. O fim efetivo do tráfico negreiro é o primeiro grande
passo para a transformação real da estrutura das relações de trabalho no Brasil,
mantidas praticamente intactas desde a colonização.
Fim do Tráfico
Já em 1810, ao assinar o Tratado de Comércio e Navegação com a Inglaterra, Dom
João VI compromete-se com o fim do comércio de escravos. As negociações arrastam-se
por 15 anos, devido à ferrenha oposição dos grandes proprietários de terras. Em 1825
os ingleses exigem que o Brasil marque uma data para a extinção do tráfico.
Um decreto imperial de 1827 garante a interrupção do comércio negreiro no prazo
de quatro anos. Em 7 de novembro de 1831 é votada a lei que determina o fim do
tráfico. Nunca posta em prática, o episódio dá origem à expressão “para inglês ver”.
Lei Eusébio de Queiroz
Em 8 de agosto de 1845 o Parlamento inglês promulga a Lei Bill Aberdeen, que
proíbe o tráfico em todo o mundo e arroga ao Reino Unido o dever e o direito de
aprisionar qualquer navio suspeito de carregar escravos.
No Brasil, o fim do tráfico negreiro é definido pela Lei Eusébio de Queiroz, aprovada
em 4 de setembro de 1850 e complementada pela Lei Nabuco de Araújo, de 1854. Os
últimos 209 escravos trazidos para o Brasil desembarcam em Sirinhaém (PE), em 1855.
Consequências do fim do Tráfico
Em 1856 já não há entradas de escravos no Brasil. Logo aparecem as primeiras
reclamações sobre a falta de “braços” para a lavoura e a carestia das “peças” negras.
Alguns fazendeiros chegam a tentar a reprodução “racionalizada” da população
escrava, num sistema semelhante ao utilizado nas plantations norte-americanas. Mas a
experiência não vinga por exigir grandes gastos com a manutenção dos “reprodutores”.
O fim do tráfico negreiro estimula a imigração de europeus, inclusive de operários
qualificados, e libera grandes quantidades de capitais, até então empregados no
comércio de escravos – cerca de 1,9 milhão de libras esterlinas por ano. Esses dois
fatores são determinantes para a diversificação econômica do país.
Campanha Abolicionista
O Partido Liberal compromete-se publicamente com a causa abolicionista. A
campanha cresce após a Guerra do Paraguai com a adesão dos militares. No início da
década de 80 é criada a Sociedade Brasileira contra a Escravidão e a Associação Central
Abolicionista, no Rio de Janeiro, agremiações políticas que reúnem figuras
67

proeminentes do Império, como José do Patrocínio, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa, Luís
Página

Gama e André Rebouças.


Em 1887, nas fazendas, começam as fugas em massa de escravos. São apoiadas pelos
abolicionistas e o Exército recusa-se a perseguir os fugitivos.
✓ Lei do Ventre Livre
Em 28 de setembro de 1871 o governo conservador do visconde do Rio Branco
promulga a Lei do Ventre Livre. De poucos efeitos práticos, a lei dá liberdade aos filhos
de escravos, mas deixa-os sob tutela dos senhores até 21 anos de idade.
✓ Abolição no Ceará
A campanha abolicionista no Ceará ganha a adesão da população pobre. Os
jangadeiros encabeçam as mobilizações, negando-se a transportar escravos aos navios
que se dirigem ao sudeste do país. Apoiados pela Sociedade Cearense Libertadora, os
“homens do mar” mantêm sua decisão, apesar das fortes pressões governamentais e da
ação repressiva da polícia.
O movimento é bem-sucedido: a vila de Acarape (CE), atual Redenção, é a primeira a
libertar seus escravos, em janeiro de 1883. A escravidão é extinta em todo o território
cearense em 25 de março de 1884.
✓ Lei dos Sexagenários
Em 28 de setembro de 1885 o governo imperial promulga a Lei Saraiva-Cotegipe,
conhecida como Lei dos Sexagenários, que liberta os escravos com mais de 65 anos. A
decisão é considerada de pouco efeito, pois a expectativa de vida do escravo não
ultrapassa os 40 anos.
Fim da Escravidão no Brasil
✓ Lei Áurea
Em 13 de maio de 1888, o gabinete conservador de João Alfredo apresenta, e a
Princesa Isabel assina a Lei Áurea, extinguindo a escravidão no país. A decisão, porém,
não agrada aos latifundiários, que exigem indenização pela perda dos “bens”. Como isso
não acontece, passam a apoiar a causa republicana. Os escravos, por seu lado, ficam
abandonados à própria sorte. Marginalizados pela sociedade, vão compor a camada
mais miserável das classes populares.
Compreensão
Leia o texto e responda as questões.
Abolição da Escravatura
A decisão de abolir a escravatura não se deu da noite para o dia, levou muitos anos e
passou por muitas revoltas. Alguns movimentos como a Inconfidência Mineira e a
Conjuração Baiana que tinham como proposta substituir a mão de obra escrava pelo
trabalho livre.
Mas a estrutura agrária brasileira era contra, e ao invés disso eles queriam
intensificar o tráfico de escravos, pois isso garantia mão de obra barata.
Em 1831 foi promulgada a lei que declarava livres os negros que entrassem no Brasil
68

a partir daquela data, mas esta lei nunca foi obedecida. Em 1850 o tráfico foi proibido,
Página

mas isso também foi inútil.


Em 1871 foi aprovada a Lei do Ventre Livre, que declarava livre os filhos dos escravos
nascidos a partir daquela data. Esta lei dizia que as crianças tinham que ficar com as
mães que eram escravas.
Em 1885 surgiu a Lei dos Sexagenários, que declarava livres os escravos com mais de
60 anos.
Em 13 de maio de 1888 a Princesa Imperial Regente D. Isabel, assinou a Lei Áurea,
que abolia a escravidão no Brasil. Isso aconteceu aproximadamente às 15 horas, no
Paço da Liberdade. Para assinar a Lei a Princesa utilizou uma caneta de ouro e pedras
preciosas, oferecida pelos abolicionistas.
Compreensão
1. Em que data foi assinada Abolição da Escravatura?
____________________________________________________________________________________________________
2. Que nome levou esta lei?
____________________________________________________________________________________________________
3. Quem assinou esta lei?
____________________________________________________________________________________________________
4. Cite alguns movimentos abolicionistas que precederam a Abolição da Escravatura.
____________________________________________________________________________________________________
5. Que lei foi promulgada em 1831? Ela foi obedecida?
____________________________________________________________________________________________________
6. Que lei foi assinada em 1850?
____________________________________________________________________________________________________
7. Quando foi promulgada a Lei do Ventre Livre?
____________________________________________________________________________________________________
8. Explique o que era a Lei do Ventre Livre.
____________________________________________________________________________________________________
9. O que era a Lei dos Sexagenários? E quando ela foi assinada?
____________________________________________________________________________________________________
10. Produza um texto dissertativo sobre a Escravidão. O texto deve ter no mínimo 10
linhas.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
69

____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
Página

____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________

70
Página
Imigração no Brasil
A vinda de imigrantes para o Brasil, ressalvada a presença dos portugueses –
colonizadores do País – delineia-se a partir da abertura dos portos às “nações amigas”
(1808) e da independência do País (1822).
À margem dos deslocamentos populacionais voluntários, cabe lembrar que milhões
de negros foram obrigados a cruzar o oceano Atlântico, ao longo dos séculos XVI a XIX,
com destino ao Brasil, constituindo a mão-de-obra escrava. Os monarcas brasileiros
trataram de atrair imigrantes para a região sul do País, oferecendo-lhes lotes de terra
para que se estabelecessem como pequenos proprietários agrícolas. Vieram primeiro
os alemães e, a partir de 1870, os italianos, duas etnias que se tornaram majoritárias
nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entretanto, a grande leva
imigratória começou em meados de 1880, com características bem diversas das acima
apontadas.
A principal região de atração passou a ser o estado de São Paulo e os objetivos
básicos da política imigratória mudaram. Já não se cogitava de atrair famílias que se
convertessem em pequenos proprietários, mas de obter braços para a lavoura do café,
em plena expansão em São Paulo.
A opção pela imigração em massa foi a forma de se substituir o trabalhador negro
escravo, diante da crise do sistema escravista e da abolição da escravatura (1888). Ao
mesmo tempo, essa opção se inseria no quadro de um enorme deslocamento
transoceânico de populações que ocorreu em toda a Europa, a partir de meados do
século XIX, perdurando até o início da Primeira Guerra Mundial.
A vaga imigratória foi impulsionada, de um lado, pelas transformações
socioeconômicas que estavam ocorrendo em alguns países da Europa e, de outro, pela
maior facilidade dos transportes, advinda da generalização da navegação a vapor e do
barateamento das passagens. A partir das primeiras levas, a imigração em cadeia, ou
seja, a atração exercida por pessoas estabelecidas nas novas terras, chamando
familiares ou amigos, desempenhou papel relevante. Nas Américas, pela ordem, os
Estados Unidos, a Argentina e o Brasil foram os principais países receptores de
imigrantes.
No caso brasileiro, os dados indicam que em torno de 4,5 milhões de pessoas
imigraram para o país entre 1882 e 1934. Destes, 2,3 milhões entraram no estado de
São Paulo como passageiros de terceira classe, pelo porto de Santos, não estando, pois,
aí incluídas entradas sob outra condição.
É necessário ressalvar, porém, que, em certas épocas, foi grande o número de
retornados. Em São Paulo, por exemplo, no período de crise cafeeira, (1903-1904), a
migração líquida chegou a ser negativa.
Um dos traços distintivos da imigração para São Paulo, até 1927, foi o fato de ter sido
em muitos casos subsidiada, sobretudo nos primeiros tempos, ao contrário do que
sucedeu nos Estados Unidos e, até certo ponto, na Argentina. O subsídio consistiu no
fornecimento de passagem marítimo para o grupo familiar e transporte para as
71

fazendas e foi uma forma de atrair imigrantes pobres para um país cujo clima e
Página

condições sanitárias não eram atraentes.


A partir dos anos 30, a imigração em massa cedeu terreno. A política nacionalista de
alguns países europeus – caso típico da Itália após a ascensão de Mussolini – tendeu a
colocar obstáculos à imigração para a América Latina.
No Brasil, a demanda de força de trabalho, necessária para o desenvolvimento
industrial, passou a ser suprida, cada vez mais, pelas migrações internas. Habitantes do
Nordeste do País e do estado de Minas Gerais abandonaram suas regiões em busca do
“Eldorado paulista”.
Na década de 30, somente os japoneses, ligados à pequena propriedade agrícola,
continuaram a vir em grande número para São Paulo. Em anos mais recentes, a
imigração para o Brasil, qualitativamente, diversificou-se bastante. Novas etnias se
juntaram às mais antigas, como é o caso da imigração de países vizinhos – Argentina,
Uruguai, Chile, Bolívia etc. – tanto por razões profissionais como políticas. Coreanos
passaram a compor a paisagem da cidade de São Paulo, multiplicando restaurantes e
confecções.
Após os primeiros anos de dificuldades extremas, que não foram muito diversas das
que atravessaram em outros países, os imigrantes acabaram por se integrar à
sociedade brasileira.
Em sua grande maioria, ascenderam socialmente, mudando a paisagem
socioeconômica e cultural do Centro-sul do Brasil. No Sul, vincularam-se à produção do
trigo, do vinho, e às atividades industriais; em São Paulo, impulsionaram o
desenvolvimento industrial e o comércio.
Nessas regiões, transformaram também a paisagem cultural, valorizando a ética do
trabalho, introduzindo novos padrões alimentares e modificações na língua portuguesa,
que ganhou palavras novas e um sotaque particular.
Os imigrantes europeus, do Oriente Médio e asiático (portugueses, italianos,
espanhóis, alemães, judeus, sírios e libaneses, japoneses) influenciaram a formação
étnica do povo brasileiro, sobretudo na região Centro-sul e Sul do País.
Tendo em conta as contribuições de índios e negros, disso resultou uma população
etnicamente diversificada, cujos valores e percepções variam de um segmento a outro,
no âmbito de uma nacionalidade comum.
✓ Espanhóis
Os espanhóis começaram a imigrar para o Brasil em razão dos problemas no país de
origem e das possibilidades de trabalho que, bem ou mal, lhes eram oferecido. Muitos
agricultores, proprietários de minifúndios, partiram da Galícia; outros vieram da
Andaluzia, onde eram, principalmente, trabalhadores agrícolas.
Nos primeiros tempos, ou seja, a partir da década de 80 do século XIX, os espanhóis
foram encaminhados, sobretudo, para trabalhar nas fazendas de café no estado de São
Paulo. Com relação aos demais grupos europeus, caracterizaram-se por serem os que,
em maior grau, chegaram como grupo familiar e os que trouxeram crianças em maior
proporção.
72
Página
Eles constituíram a terceira maior etnia que imigrou para o Brasil, após os
portugueses e italianos, entre 1880 e 1972, representando cerca de 10% do total de
imigrantes nesse período.
Dentre os grandes grupos de imigrantes, os espanhóis foram os que mais se
concentraram no estado de São Paulo.
O censo de 1920, por exemplo, revelou que 78% dos espanhóis residiam neste
estado. Embora a grande maioria dos espanhóis tenha se fixado, a princípio, no campo,
onde ganharam posições como pequenos e médios proprietários, a presença urbana da
etnia não é desprezível.
Em seus primeiros tempos, os espanhóis vincularam-se ao comércio de metais
usados – o chamado “ferro velho” – e ao setor de restaurantes, diversificando,
posteriormente, suas atividades.

✓ Italianos
Os italianos começaram a imigrar em número significativo para o Brasil a partir da
década de 70 do século XIX. Foram impulsionados pelas transformações
socioeconômicas em curso no Norte da península italiana, que afetaram sobre tudo a
propriedade da terra. Até a virada do século, italianos dessa região predominaram na
corrente imigratória.
A partir daí, os italianos do Centro-sul ou do Sul se tornaram dominantes. Um
aspecto peculiar à imigração em massa italiana é que ela começou a ocorrer pouco após
a unificação da Itália (1871), razão pela qual uma identidade nacional desses
imigrantes se forjou, em grande medida, no Brasil.
As grandes áreas de atração de imigrantes italianos para o Brasil foram os estados de
São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Considerando o período 1884-1972,
verificamos que quase 70% dos italianos ingressaram no País pelo estado de São Paulo.
As condições de estabelecimento dos italianos foram bastante diversas. A imigração
sulina praticamente não foi subsidiada e os recém-chegados instalaram-se como
proprietários rurais ou urbanos.
Em São Paulo, foram a princípio atraídos para trabalhar nas fazendas de café, através
do esquema da imigração subsidiada. Nas cidades paulistas, trabalharam em uma série
de atividades, em especial como operários da construção e da indústria têxtil.
Os imigrantes italianos influenciaram fortemente os hábitos alimentares nas regiões
em que se fixaram e deram uma importante contribuição à industrialização gaúcha e
paulista.
A maioria dos primeiros grandes industriais de São Paulo – o Matarazzo, os Crespi –
constituíram o grupo dos chamados “condes italianos”, cuja proeminência só foi
ultrapassada com o correr dos anos.
73
Página
✓ Japoneses
A primeira leva de japoneses chegou ao Brasil em 1908, através de um esquema de
imigração subsidiada. Houve oposição inicial à imigração dessa etnia, que acabou sendo
aceita como uma alternativa as dificuldades impostas pelo governo italiano à imigração
subsidiada de italianos para o Brasil.
Os japoneses concentraram-se no estado de São Paulo, correspondendo a 92,5% o
número de japoneses que entrou nesse estado, entre 1909 e 1972. O fluxo imigratório
de japoneses ganhou relevo no período posterior a 1930, quando a imigração de
italianos e de espanhóis se reduziu consideravelmente. Entre 1932 e 1935, cerca de
30% dos imigrantes que ingressaram no Brasil eram de nacionalidade japonesa.
Os japoneses foram destinados inicialmente as fazendas de café, mas gradativamente
tornaram-se pequenos e médios proprietários rurais. Dentre todos os grupos
imigrantes foram os que se concentraram por período mais longo nas atividades rurais,
em que se destacaram pela diversificação da produção dos hortifrutigranjeiros.
Em anos recentes, houve forte migração de descendentes de japoneses para os
centros urbanos, onde passaram a ocupar posições importantes nas várias atividades
componentes da área de serviços.
Compreensão
Leia as sentenças abaixo e assinale com “X” a alternativa correta para cada questão.
1. Um dos fatores que favoreceu o fim do Império Brasileiro foi:
( ) Chegada de D. Pedro II à Portugal.
( ) A chegada de imigrantes que defendiam os direitos dos trabalhadores.
( ) A destruição das tropas de Napoleão.

2. Qual dos fatores abaixo justifica o aumento de imigrantes no Brasil no período


imperial?
( ) A natureza exuberante da época atraia os turistas estrangeiros que adoravam praia.
( ) Para substituir os índios nas roças.
( ) O fim do tráfico de escravos fez com que pessoas de outros países viessem para cá,
com o objetivo de trabalhar nas fazendas de café.
3. Como os jornais apresentavam a figura do imperador no período Imperial?
( ) Somente publicavam imagens dele jovem.
( ) Publicavam imagens dele brincando com crianças de rua.
( ) Publicavam imagens do imperador cansado e velho.
4. Após a Proclamação da República em 15 de Novembro de 1889 podemos afirmar
que:
74

( ) A situação econômica do povo brasileiro melhorou muito, principalmente das


pessoas mais pobres que ficaram ricas, algumas até ficaram milionárias.
Página
( ) Logo após a Proclamação da República Dilma foi eleita a primeira presidente do
Brasil.
( ) A situação da população pouco mudou, pois o povo continuou sob o domínio de
governantes que atendiam somente aos interesses das pessoas mais ricas do país.
5. O que aconteceu com a família imperial após a Proclamação da República?
( ) A Família Imperial foi obrigada a trabalhar nas fazenda de café no lugar dos
escravos.
( ) A Família Imperial foi obrigada a doar suas terras para os índios.
( ) A Família Imperial deixou o Brasil e voltou para a Europa.

75
Página
Capítulo 4
O Fim da Monarquia e a República no Brasil
A Monarquia é um sistema de governo que
tem uma pessoa como chefe de estado
permanente, até que ele ou ela morre ou
abandona a sua posição.
Normalmente, a posição de Monarca é
hereditária, tal como é o caso com monarcas
famosos como a do Reino Unido.
O termo é usado frequentemente para se
referir a um sistema de governo em que o
monarca – como um rei ou rainha – tem
autoridade absoluta, mas muitas monarquias são
monarquias limitadas ou constitucional na qual o
monarca restringiu o poder e pode até mesmo
ser mais uma figura em vez de uma régua.
✓ Monarquia Absoluta
Em uma Monarquia Absoluta, o monarca tem total autoridade sobre o governo e de
seus povos. Um gabinete de conselheiros pode ser montado para ajudar o monarca, mas
os membros do gabinete não fazer as grandes decisões. Este tipo de monarquia tornou-
se cada vez mais raros, porque muitos países têm receio de dar a uma pessoa o poder
desmarcado.
Os níveis de felicidade dos cidadãos sob Monarquias Absolutas podem variar muito, e
esses governos geralmente são fiscalizadas por outras nações.
✓ Monarquia Limitada
O poder do Monarca em uma monarquia constitucional ou limitado é restrito pela
constituição do país ou outras leis, e mais poder político pode realmente ser exercido
por uma câmara de representantes eleitos e um primeiro-ministro. O monarca costuma
participar na execução da nação, mas ele ou ela pode ter poderes em sua maioria
cerimoniais ou pode ser capaz de agir só com a aprovação do primeiro-ministro e
outros membros do governo.
Em uma Democracia Constitucional, o monarca é muitas vezes capaz de vetar a
legislação que ele ou ela se sente é contrária aos melhores interesses do país. O
monarca também pode ser capaz de dissolver a Câmara de representantes sob
determinadas circunstâncias.
Pode promover a unidade
Um aspecto de uma Monarquia que é considerado ser uma vantagem é que ele pode
reduzir ou eliminar a luta para poder final dentro do governo. Quando o chefe de
Estado deve ser eleito, os membros de diferentes partidos políticos ou facções vão
76

concorrer ao cargo. Isso muitas vezes cria divisão e conflito dentro do governo.
Se o chefe de Estado serve para a vida e seu sucessor já é conhecido, ele pode
Página

aumentar a unidade dentro do governo.


Tradição Cultural
Em muitos lugares, mesmo após a operação real do governo mudou para um sistema
diferente, uma monarquia será mantida, porque é um aspecto importante da história
cultural e política da nação. Os monarcas, nestes casos, são representantes de gerações
de governantes que vivem. Eles muitas vezes são tratados como figuras de reverência.
Proclamação da República
A data da Proclamação da República – 15 de novembro se tornou feriado nacional a
partir da aprovação da lei nº. 662, de 6 de abril de 1949, proposta pelo então
presidente Eurico Gaspar Dutra. A República no Brasil começou a dar seus primeiros
passos em 1870, com a publicação do “Manifesto Republicano” no jornal A República.
Com 58 assinaturas de jornalistas, advogados, médicos, negociantes e fazendeiros o
documento anunciava: “Somos da América e queremos ser americanos”. Ser americano,
naquele momento, significava ser republicano. Afinal, o Brasil era o único país do
continente que ainda adotava a monarquia como regime de governo.
O Manifesto defendia o Federalismo (autonomia para as Províncias administrarem
seus próprios negócios) e criticava o poder pessoal do imperador. A partir dessas ideias
surgiram os jornais, os clubes e os partidos republicanos.
Em 1873, foi fundado o Partido Republicano Paulista (PRP), na cidade de Itu, que
difundiu a ideia de que a República era sinônimo de progresso. Na verdade, os
cafeicultores paulistas que compunham o partido não aceitavam a falta de participação
na vida política do país. O PRP passou a contar também com o apoio de parte da classe
média, dos operários, do Exército e da Igreja Católica.
Em 1873, reuniu-se em Itu, na província de São Paulo, a primeira Convenção
republicana. Os republicanos de São Paulo começavam os trabalhos que orientariam a
ação do Partido Republicano.
Marechal Deodoro proclamou a República no Quartel-General do Exército, Os
republicanos brasileiros dividiam-se em duas tendências:
Tendência Evolucionista
Representada por Quintino Bocaiúva,
acreditava que a transição da Monarquia para a
República deveria ser feita pacificamente.
Tendência Revolucionária
Representada por Silva Jardim e Lopes Trovão.
Pretendia instalar a República através da ação
armada do povo. Essa tendência era minoritária
no Parlamento Republicano.
Questões que levaram a queda da Monarquia
Em 1888, a escravidão foi definitivamente
abolida. Os grandes proprietários rurais do Vale
77

do Paraíba (SP), defensores da escravidão, passaram a apoiar o movimento


Página

republicano, pois se sentiam traídos pela monarquia. Durante o Império, o Catolicismo


era a religião oficial no Brasil e a Igreja era subordinada ao Estado. O império começou
a perder a simpatia da Igreja Católica a partir de 1872. Nesse ano, os bispos de Olinda e
de Belém puniram ordens religiosas que apoiavam os maçons. D. Pedro II solicitou que
as punições fossem suspensas, mas os bispos não obedeceram, sendo, por isso
condenado à prisão.
Depois da guerra do Paraguai, o Exército ganhou importância na sociedade. Mas, não
tinham reconhecimento do governo monárquico. O poder dos civis era muito maior que
o dos militares. Os militares queriam maior participação na vida política do país, os
oficiais do Exército começaram a aderir as ideias republicanas. O coronel Benjamin
Constant foi um dos que ajudaram a difundir as ideias republicanas.
Em 1844, grandes chefes do Exército (entre eles o marechal Deodoro da Fonseca)
revoltaram-se contra a punição de oficiais que fizeram denúncias de corrupção
acobertada por políticos. Para resolver sua situação de isolamento, o governo imperial
tentou um programa de reformas políticas (liberdade religiosa, liberdade de ensino,
autonomia das províncias, mandato temporário para os senadores). Mas as reformas
chegaram tarde.
No dia 15 de novembro de 1889, no Rio de Janeiro, o marechal Deodoro da Fonseca
(1827-1892), liderou um golpe que depôs a Monarquia. Deodoro à frente de um
batalhão marchou para o Ministério da Guerra, depondo o Gabinete de Ouro Preto. Não
houve resistência. Os revoltosos conseguiram a adesão das tropas governistas.
Deodoro que estava doente dirigiu-se então para a sua residência e os militares
voltaram aos quartéis. Nesse momento, alguns republicanos, entre os quais José do
Patrocínio, preocupados com a indefinição do movimento, dirigiu-se à Câmara de
Vereadores do Rio de Janeiro, proclamando a República. O povo não participou de
nenhuma ação política, quando viram a tropa na rua, pensaram que se tratasse de um
desfile militar. Deodoro criou o governo Provisório da República dos Estados Unidos do
Brasil. D. Pedro II foi convidado a deixar o país com sua família.
Compreensão
1. Explique o que é Monarquia?
___________________________________________________________________________________________________
2. O que levou a população exigir o fim da Monarquia?
____________________________________________________________________________________________________
3. O que é República?
____________________________________________________________________________________________________
4. Quem proclamou a República? E qual foi o dia, mês e ano?
____________________________________________________________________________________________________
5. O que aconteceu com D. Pedro II e sua família após o fim da Monarquia?
____________________________________________________________________________________________________
78
Página
Primeiros Anos do Brasil República
Os primeiros anos republicanos foram governados por 2 militares
✓ Marechal Deodoro da Fonseca
✓ Marechal Floriano Peixoto
Marechal Deodoro da Fonseca (15/11/1889 a 23/11/1891)
Em seu governo foi promulgada a primeira Constituição republicana e a segunda
Constituição brasileira. Deodoro enfrentou vários problemas em seu governo. O
ministro da Fazenda, Rui Barbosa, queria industrializar o Brasil, ou seja, transformar o
país em uma nação industrializada, então autorizou os bancos a emprestar dinheiro.
Com esta facilidade, muitos criaram empresas fantasmas e outros investiram na Bolsa.
Como consequência, o dinheiro desvalorizou-se causando a ruína de muitos
empresários. Com todos estes problemas, os fazendeiros passaram a ser os principais
opositores ao governo de Deodoro. Rui Barbosa foi demitido e o presidente tenta um
golpe de Estado decretando o fechamento do Congresso. As Forças Armadas foram
contra esta atitude. Deodoro sente-se pressionado e acaba renunciando.
Outros Acontecimentos Do Governo De Deodoro
✓ Destruição de todos os documentos ligados ao período da escravatura.
✓ Criação da Igreja Episcopal do Brasil.
Constituição de 1891
A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil de 1891, ou Constituição
de 1891, foi a primeira Constituição Republicana do país, promulgada em dois anos de
negociações após a queda do Imperador D. Pedro II.
Inspirada no exemplo norte-americano e moldada pela filosofia francesa do
positivismo foi esta a constituição que estabeleceu as principais características do
Estado brasileiro contemporâneo, como o modelo presidencialista e federativo, o voto
direto (ainda que masculino e não secreto) para representantes do executivo e
legislativo, a separação entre Estado e religião (laicidade) e a independência entre os
três Poderes, bem como o fim de instituições monárquicas como o Poder Moderador e o
Conselho de Estado. Relativamente estável esta Constituição durou até a Revolução (ou
Golpe) de 1930, sofrendo apenas uma grande alteração neste período (as Emendas
Constitucionais de 1926).
Contexto Histórico
A Constituição de 1891 surgia com o fim do Império Brasileiro (1899) e, mais
importante, com o fim da escravidão, tendo que lidar com os conflitos de interesses de
uma sociedade essencialmente agrária, pobre, politicamente centralizadora e
socialmente fragmentada.
Visando à construção de uma nação plural e livre, seu texto se inspira na Constituição
dos Estados Unidos; refletindo a tendência intelectual da época, que acreditava que um
79

Estado seria mais bem governado sob preceitos racionais, a elaboração da Carta
baseou-se também nas ideias do filósofo positivista Auguste Comte, que acreditava que
Página
a sociedade operava - e, portanto, podia ser administrada – por leis fixas e objetivas, tal
como a natureza opera segundo leis físicas como a da gravidade.
Divisão de poderes e o Presidencialismo Federalista
Decidida a expurgar a influência despótica da política nacional, a Carta de 1891
instituiu a independência dos três poderes e eliminou o Poder Moderador, através do
qual o Imperador influenciava os demais.
Com a adoção do Presidencialismo, ela ampliava o direito de voto para o cargo
máximo do Executivo, sendo Prudente de Morais o primeiro presidente eleito do país.
Com o federalismo, legava-se maior autonomia e independência aos Estados, que
podiam criar suas próprias leis, embora sempre em consonância com a Constituição.
Ainda assim, como seria costumeiro em todas as constituições seguintes, houve uma
eventual concentração de prerrogativas no Poder Executivo federal, principalmente
após as emendas de 1926, que ampliaram o escopo da União para suplantar os
interesses dos líderes e populações estaduais, como visto nas diversas revoltas da
República Velha (Guerra de Canudos, Guerra do Contestado, etc.).
Voto e Eleições
A Constituição estabeleceu o sufrágio direto para Presidentes e Vice-Presidentes
(mandatos de quatro anos sem reeleição), senadores e deputados, acabando com a
censitariedade (ou seja, restrição por condições financeiras) da Constituição de 1824.
Mesmo assim, podiam votar apenas homens alfabetizados com mais de 21 anos,
estando excluídos também mendigos e membros de ordens monásticas, o que
restringia o número de eleitores a uma ínfima parcela da população.
A Constituição acabou com a vitaliciedade de senadores, reduzindo seu mandato a
nove anos, e, em tese, também não restringia a elegibilidade aos cargos por condições
econômicas. Na prática, como o voto era descoberto (não secreto), manipulações e
intimidações de eleitores pelos candidatos da elite era norma, resultando no fenômeno
do coronelismo.
República Oligárquica
Damos o nome de República Oligárquica (1894 –1930) a um dos períodos da
República Velha. O mesmo se inicia após a saída de Floriano Peixoto do poder, que
acabou sendo substituído por Prudente de Morais, um grande cafeicultor paulista.
✓ Campos Sales
A morte de Floriano Peixoto e os desgastes gerados pelos diversos conflitos surgidos
na época fizeram com que os militares tenham se afastado do poder, abrindo caminho
para a ascensão das elites agrárias.
A eleição de Prudente de Morais marca o início de uma nova dinâmica política no
Brasil, dominada pelas oligarquias. Foi nesse período que surgiu a Política Café-com-
Leite. Café e leite eram os principais produtos de São Paulo e Minas Gerais,
respectivamente. Tal política se baseou no revezamento entre políticos destes dois
80

Estados na presidência do país.


Isso era possível pelo fato de estes estados serem os mais ricos do Brasil, sem contar
Página

que Minas Gerais detinha o maior colégio eleitoral na época.


A base da Política Café-com-Leite tinha nome:
coronelismo. Na época, os coronéis, grandes
latifundiários, tinham o direito de formar milícias
em suas propriedades e combater qualquer
levante popular.
Assim, trabalhadores e camponeses se viam
subordinados ao poder militar e, sobretudo,
político dos coronéis. Contrariar o candidato
preferido do coronel na eleição, por exemplo, era
uma atitude que poderia resultar no assassinato
do indivíduo, uma vez que o voto era aberto. Essa
dinâmica eleitoral ficou conhecida como “voto de
cabresto”.
Desta forma, os coronéis, grandes fazendeiros, optavam por candidatos da Política
Café-com-Leite, e estes, além de focar suas decisões no sentido de proteger os negócios
destes latifundiários, lhe concediam regalias, cargos públicos e financiamentos.
Entre os motivos do fim da República Oligárquica, podemos citar o fortalecimento
dos centros urbanos; a queda do preço do café brasileiro, gerada pela quebra da Bolsa
de Nova York, em 1929; e a insatisfação de empresários ligados à indústria, que viam o
governo não dar a devida atenção para a atividade industrial. A República Oligárquica
se findou com a Revolução de 1930, marcando o início da Era Vargas.
Compreensão
1. Comente sobre a relação entre o fim da escravidão e a queda da Monarquia no Brasil.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
2. Quais as principais características da Constituição de 1891?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
3. Observe a charge a seguir e responda às questões.
81
Página
a) A qual período da História Política do Brasil ela faz referência? O que caracterizou
esse período?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________________________
b) Faça uma pequena descrição da charge.
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
c) De que maneira os coronéis exerciam o controle sobre a população?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
d) Como os coronéis podiam favorecer os governantes?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
Revolta da Vacina
Com o advento da República, em 1889, o Brasil passou a ter não apenas uma nova
forma de organização política, como também uma nova concepção de Estado e
sociedade. Aos poucos, a presença do Estado na vida social foi ficando cada vez mais
intensa; processo esse que teve seu ápice com a Revolução de 1930 e a ascensão de
Getúlio Vargas ao poder.
Contudo, essa inserção do domínio estatal gerou bastante resistência, que pode ser
claramente vista nas denominadas Revoltas da República Velha. Uma delas foi a Revolta
da Vacina, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 10 e 16 de novembro
de 1904. Para compreendermos efetivamente essa revolta, é necessário que saibamos
alguns detalhes do contexto em que ela ocorreu.
O Rio de Janeiro, como sabemos, era capital do Brasil naquela época. Como a
população da cidade havia crescido muito, sua organização urbana acabou por ficar
precarização. As regiões centrais da cidade estavam abarrotadas de cortiços com
péssimas condições de habitação. A proliferação de doenças infectocontagiosas era
frequente. O então prefeito da cidade, que também era engenheiro, Pereira Passos, com
o apoio do presidente da República, Rodrigues Alves, promoveu, no ano de 1903, uma
radical reforma urbana no Rio de Janeiro.
A Reforma de Pereira Passos teve uma orientação sanitarista, isto é, guiava-se pelas
medidas de controle de proliferação de doenças transmitidas por agentes como
mosquitos, pulgas, carrapatos, ratos etc.
O sanitaríssimo pautava-se nas teses do médico francês Louis Pasteur, fundador da
82

higienização. A principal autoridade nesse campo de estudos no Brasil era o também


médico Oswaldo Cruz, que era quem aprovava as medidas reformistas implementadas
Página
por Pereira Passos. A remoção dos cortiços, por exemplo, tinha, além de um objetivo
arquitetônico-urbanístico, um viés de viabilidade sanitária.
Apesar de tais medidas, nem todas as doenças infectocontagiosas foram eliminadas
pela reforma urbana. Uma das mais mortíferas ainda persistia, a varíola. A única forma
de erradicar os casos de varíola era a vacinação.
O problema é que o método da vacinação ainda não era um consenso nessa época.
Nem todos os médicos eram partidários do higienismo de Pasteur como Oswaldo Cruz
e muitos acusavam a vacinação de produzir o óbito de muitos dos vacinados.
Essas divergências de opinião ocuparam as páginas dos jornais da época e, por
consequência, atingiram as camadas populares da cidade. A rejeição à ideia da
vacinação por livre iniciativa acabou por gerar a campanha pela vacinação obrigatória,
levada a cabo em 1904.
Essa campanha culminou em uma intensa revolta da população contra o Estado na
cidade do Rio de Janeiro. Além de uma grande massa de pessoas não concordar com o
método da vacinação, também não concordava com o poder que o Estado queria
exercer sobre as pessoas, poder esse que havia chegado ao nível da “administração do
corpo”, da “gestão da saúde” dos indivíduos. Mas apesar dos levantes populares de
1904, a campanha prosseguiu nos anos seguintes e obteve sucesso. Com o tempo, o
discurso da medicina sanitarista prevaleceria em praticamente todo o globo.
Compreensão
1. Observe a charge e responda as questões.

a) Na charge, o personagem central é o médico sanitarista Oswald Cruz. Como ele foi
representado?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
b) Que pessoas representam a população do Rio de Janeiro? Como essas pessoas foram
representadas?
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________
83

c) Por que as pessoas reagiram dessa forma à vacinação obrigatória?


Página
____________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________________
Governo Getúlio Vargas
Depois de liderar uma revolução 1938 que derrubou o partido do governo brasileiro,
Getúlio Vargas assumiu poderes ditatoriais e trabalhou para centralizar o governo até
que ele próprio foi derrubado em 1945. Restante uma figura controversa e divisava, ele
foi mais tarde eleito presidente em 1951, mas cometeu suicídio em 1954, após um
apelo generalizado para a sua retirada.
Getúlio Dornelles Vargas serviu como presidente do Brasil, primeiro como ditador,
de 1930 a 1945, e em um prazo democraticamente eleito a partir de 1951 até seu
suicídio em 1954. Getúlio Vargas levou o Brasil por 18 anos, o máximo para qualquer
presidente, e segundo na história do Brasil apenas para o Imperador Pedro II entre os
chefes de governo.
Ele favorecia o nacionalismo, industrialização, centralização, bem-estar social e
populismo – para o último. Getúlio Vargas ganhou o apelido de “O Pai dos Pobres”
(Português para “O Pai dos Pobres”). Apesar de sua promoção de direitos dos
trabalhadores, Vargas era um ferrenho anticomunista.
Getúlio Vargas foi levado ao poder por pessoas de fora políticos e da classificação e
arquivo das Forças Armadas na Revolução de 1930, uma reação à sua perda em
fraudulentas eleições no início do ano que. Sua ascensão marcou o fim do Brasileiro
oligárquico da República Velha e dos estados dominados café política com Leite. Ele
conseguiu influenciado o resultado da eleição presidencial brasileira de 1934, e
instituiu um autoritário corporativista regime, em 1937, conhecido como o Estado
Novo (Estado Novo), prolongando a sua espera no poder.
Getúlio Vargas passou a apaziguar e eventualmente dominar os seus apoiantes, e
empurrou sua agenda política como ele construiu uma propaganda máquina em torno
de sua figura. Vargas procurou transformar o Brasil de uma economia de plantação
baseada em uma potência industrializada, sob a orientação da intervenção
governamental.
Seu abraço de desenvolvimentismo foi expressa não apenas na retórica forte, mas
também pela proteção de empréstimos à indústria nacional e em um orçamento de
investimento pesado que visa dar o pontapé inicial setores “estratégicos” e configurar a
infraestrutura necessária. Vargas criou monopólios estatais de petróleo ( Petrobras ),
mineração ( Vale ), siderurgia ( Companhia Nacional de Siderurgia ), álcalis (Companhia
Álcalis Nacional) e automóveis ( Fábrica Nacional de Motores ).
Suas políticas moldaram o debate econômico brasileiro ao longo de décadas, a partir
dos governos de esquerda de Juscelino Kubitschek e João Goulart para o milagre
brasileiro na direita ditadura militar de 1964-1985. A tendência protecionista foi
revertida na década de 1990 com as reformas liberais de Fernando Collor e Fernando
Henrique Cardoso.
84

Com o aumento global da democracia no rescaldo da II Guerra Mundial, Vargas


Página

concordou em ceder o poder em eleições livres, terminando assim a Era Vargas. Sua
popularidade lhe rendeu um termo final presidencial, mas a pressão de montagem e
conflitos políticos sobre seus métodos o levou ao suicídio. Ele foi o primeiro presidente
do país para desenhar um amplo apoio das massas e é considerado como o político
mais influente do Brasil do século XX.
Ele também era advogado e proprietário de terras e ocupou a cadeira 37 da
Academia Brasileira de Letras a partir de 1943 até sua morte em 1954.
Governo Juscelino Kubitschek (JK)
Após ter assumido a presidência da República, JK efetivou o Plano de Metas, além
disso, foi no Governo JK que Brasília foi construída para ser a nova capital do país.
Juscelino Kubitschek foi eleito presidente da República em 1955, juntamente com o
vice-presidente João Goulart. Nos primeiros anos do pleito, após a situação política ter
tomado seus caminhos (tentativa de golpe da UDN (União Democrática Nacional) e dos
militares), rapidamente JK colocou em ação o Plano de Metas e a construção de Brasília,
transferindo a capital do Brasil da cidade do Rio de Janeiro para o Planalto Central.
Sendo assim, abordaremos os principais feitos realizados por JK durante o seu governo
como presidente (1955-1960).
O Plano ou Programa de Metas (31 metas) tinha como principal objetivo o
desenvolvimento econômico do Brasil, ou seja, pautava-se em um conjunto de medidas
que atingiria o desenvolvimento econômico de vários setores, priorizando a
dinamização do processo de industrialização do Brasil.
O desenvolvimentismo econômico que o Brasil viveu durante o mandato de JK
priorizou o investimento nos setores de transportes e energia, na indústria de base
(bens de consumos duráveis e não duráveis), na substituição de importações,
destacando a ascensão da indústria automobilística, e na Educação. Para JK e seu
governo, o Brasil iria diminuir a desigualdade social gerando riquezas e desenvolvendo
a industrialização e consequentemente fortalecendo a economia. Sendo assim, estava
lançado seu Plano de Metas: “o Brasil iria desenvolver 50 anos em 5”.
Para ampliar o desenvolvimentismo econômico brasileiro, JK considerava
impossível o progresso da economia sem a participação do capital estrangeiro. Para
alcançar os objetivos do Plano de Metas era necessária uma intervenção maior do
Estado na economia, priorizando, então, a entrada de capitais estrangeiros no país,
principalmente pela indústria automobilística.
Ressalta-se que nesse período o Brasil iniciou o processo de endividamento externo.
Os setores de energia e transporte foram considerados fundamentais para o
desenvolvimentismo econômico, ressalta-se a importância do governo Vargas neste
processo, com a criação da Companhia Siderúrgica Nacional em Volta Redonda-RJ no
ano de 1946 e da Petrobras no ano de 1953.
Outros setores que ganharam relevância foram o agropecuário; JK procurou
aumentar a produção de alimentos e o setor energético, construindo as usinas
Hidrelétricas de Paulo Afonso no rio São Francisco e as barragens de Furnas e Três
Marias.
85
Página
Compreensão
Marque (V) para as alternativas Verdadeiras e (F) para as Falsas
1. O período da República conhecido como "Era Vargas" divide-se em três fases:
Governo Provisório (1930-1934); Governo Constitucional (1934-1937) e Estado Novo
(1937-1945). Os principais fatos do Governo Provisório foram:
a) ( ) Revolução Constitucionalista de 1932;
b) ( ) A criação dos Ministérios da Educação e Saúde; Trabalho, Indústria e Comércio;
c) ( ) Período sem revolução;
d) ( ) A promulgação da Constituição de 1934.

2. É característica da Constituição de 1934:


a) ( ) Diminuiu bastante a autonomia dos Estados,
b) ( ) Facilitava Intervenção Federal;
c) ( ) Abria o direito de voto às mulheres e aos maiores de 18 anos;
d) ( ) Conservava os fundamentos republicanos do Federalismo e do Presidencialismo;
e) ( ) Incluía apenas o poder executivo;
f) ( ) Estabeleceu a Justiça Eleitoral, a Justiça do Trabalho e a Militar.

3. Aconteceu no período Constitucional da “Era Vargas” (1934-1937)


a) ( ) Este período se caracterizou pelo desenvolvimento de duas políticas de
orientação contrárias: Ação Integralista Brasileira e Aliança Nacional Libertadora
(ANL).
b) ( ) A ANL foi colocada na ilegalidade e sua ala mais radical iniciou um movimento
armado em novembro de 1935: foi a Revolta Vermelha ou Intentona Comunista,
reprimida pelas forças do governo.
c) ( ) A Intentona Comunista e o apoio dos chefes militares contribuíram decisivamente
para que Getúlio Vargas desse o Golpe de Estado de 1937, instaurando no Brasil um
regime de caráter democrático.
d) ( ) O movimento integralista de 1935, a descoberta do Plano Cohen (forjado pelos
integralistas, que continha um plano comunista para a tomada do poder),

4. O Estado Novo (1937-1945) da “Era Vargas” foi marcado pelos seguintes fatos:
a) ( ) Foi Outorgada a Constituição de 1937, que instituiu um federalismo
centralizado;
b) ( ) Aumentou autonomia federalista dos Estados.
86

c) ( ) Centralização do poder nas mãos do Executivo;


Página
d) ( ) Nomeação de interventores para os Estados; Proibição das greves e Extinção de
todos os partidos políticos.
A Construção de Brasília
Em termos estratégicos e econômicos, o governo de Juscelino Kubitschek (1956-
1961) foi marcado pela elaboração e aplicação do Plano de Metas, que estava dividido
em seis grandes objetivos: energia, transportes, alimentação, indústria de base,
educação e, é claro, a construção de Brasília, o que foi chamado de meta-síntese.
Apesar da descrença generalizada de que a nova capital fosse realmente construída,
Juscelino conseguiu aprovar no Congresso, em 19 de setembro de 1956, a Lei n.º 2.874,
que daria seguimento ao processo de construção e criaria a Companhia Urbanizadora
da Nova Capital (Novação), responsável pela execução do projeto.
Entre os objetivos básicos para a mudança da capital, destacavam-se: obedecer à
Constituição de 1891, reafirmada pela de 1946; integrar o interior do país; gerar
empregos; ocupar parte da mão-de-obra nordestina; e promover o desenvolvimento do
interior do país, contribuindo para desafogar a Região Centro-Sul.
A construção de Brasília expressava o desejo, por parte tanto dos arquitetos e
engenheiros quanto dos políticos, de modernidade, de igualdade defendida pelo Estado;
enfim, de mudança histórica, pois o Brasil, pela primeira vez, olhava para seu interior e
não para o Oceano Atlântico e a Europa.
Ditadura Militar
A Ditadura Militar é um tipo de governo liderado pelo exército. Para designar uma
ditadura militar, muitas vezes falamos de Junta (o espanhol junta), mas é mais
especificamente um tipo de ditadura militar bastante convencional na América Latina
(daí a origem da palavra) que é gerenciado por um grupo de líderes de exércitos.
É uma forma de governo onde o poder político reside com o militar. É semelhante,
mas não idêntico a um estratocracia, um estado governado diretamente pelos militares.
A ditadura militar pode ter político ao invés de líderes militares, onde eles são
nomeados e mantidos no local pelos militares.
Como qualquer ditadura, uma Ditadura Militar pode ser oficial ou não oficial, e como
resultado não pode realmente qualificar como stratocratic. Também existem formas
mistas, onde o militar exerce uma influência muito forte, sem ser totalmente
dominante.
Tipos de Ditadura
Desde 1945, a América Latina, África e Oriente Médio foram as áreas comuns a todas
as ditaduras militares. Uma das razões para isso é o fato de que o militar tem
frequentemente mais coesão e estrutura institucional do que a maioria das instituições
civis da sociedade.
A Ditadura Militar típica na América Latina era governada por uma junta (derivado
de uma palavra espanhola que pode ser traduzido como “conferência” ou “board”), ou
87

um comité composto por vários agentes, muitas vezes de liderança mais antigo dos
militares, mas, em outros casos menos sênior, como evidenciado pelo regime dos
Página

coronéis prazo, onde os líderes militares permaneceram leais ao regime anterior.


Outros tipos estão inteiramente nas mãos de um único funcionário, às vezes
chamado de caudilho, geralmente o comandante do exército sênior. Em ambos os casos,
o presidente da junta ou o único comandante pode muitas vezes pessoalmente assumir
mandato como chefe de Estado.
No Oriente Médio e África, militares governos mais vezes passou a ser liderado por
uma única pessoa poderosa, e eram autocracias além de ditaduras militares.
Líderes como Saddam Hussein, Idi Amin, Sani Abacha, Muammar Gaddafi, e Gamal
Abdul Nasser trabalhado para desenvolver um culto à personalidade e se tornou a face
da nação dentro e fora de seus países.
Compreensão
1. Quais as características do Regime Militar?
____________________________________________________________________________________________________
2. Qual era a atitude da população diante os militares?
____________________________________________________________________________________________________
3. Explique o que é tortura.
____________________________________________________________________________________________________
4. Como acabou o Regime Militar?
____________________________________________________________________________________________________
A Constituição de 1988
A Constituição Federal Brasileira
Foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988 a nova Constituição Federal, com uma
abordagem o tanto quanto democrática em relação as demais constituições. Essa
democracia é evidenciada, pois teve a colaboração e participação do povo, por meio de
abaixo-assinados, liderados pelos sindicatos de classe, entidades religiosas e demais
segmentos da sociedade.
Na nova Constituição, a classe trabalhadora adquiriu vários direitos, como de licença
maternidade para 120 dias, licença paternidade de 5 dias, redução da jornada de
trabalho de 48 horas semanais para 44 horas , além de direito à greve, liberdade
sindical, abono de férias de um terço do salário e o 13o salário para os aposentados.
Foram realizadas mudanças para a consolidação da democracia como o direito de
voto aos analfabetos e facultativo aos jovens com idade entre 16 e 18 anos, as eleições
que antes eram de apenas um turno com a nova constituição passa a ser de dois, para
os candidatos ao cargo de presidente, governador e prefeito, no caso de prefeito ocorre
segundo turno somente nas cidades que possuem mais de 200 mil eleitores, quando
ocorrer de um dos candidatos alcançar 50% dos votos, e o mandato do presidente
sofreu uma redução de 5 para 4 anos.
88
Página

Você também pode gostar