História Do Brasil

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HISTÓRIA DO BRASIL

Períodos da História do Brasil

Pré-cabralino

Colonial - Capitanias, governo geral, sociedades açucareira e aurífera;


- Reino e sede da corte portuguesa.

Imperial - Independência;
- Primeiro reinado;
- Regência;
- Segundo reinado.

Republicano - Proclamação da República;


- Velha República;
- Era Vargas;
- República Populista;
- Ditadura militar;
- Nova República.

Período Pré-cabralino (até 1500)

Quando descoberto pelos portugueses em 1500, estima-se que o atual território do


Brasil (a costa oriental da América do sul), era habitado por 2 milhões de indígenas, do
norte ao sul.

A população ameríndia era repartida em grandes nações indígenas compostas por vários
grupos étnicos entre os quais se destacam os grandes grupos tupi-guarani, macro-jê e
aruaque. Os primeiros eram subdivididos em guaranis, tupiniquins e tupinambás, entre
inúmeros outros. Os tupis se espalhavam do atual Rio Grande do Sul ao Rio Grande do
Norte de hoje. Segundo Luís da Câmara Cascudo, os tupis foram «a primeira raça
indígena que teve contato com o colonizador e (…) decorrentemente a de maior
presença, com influência no mameluco, no mestiço, no luso-brasileiro que nascia e no
europeu que se fixava». A influência tupi se deu na alimentação, no idioma, nos
processos agrícolas, de caça e pesca, nas superstições, costumes, folclore, como explica
Câmara Cascudo:

“O tupi era a raça histórica, estudada pelos missionários, dando a tropa auxiliar,
recebendo o batismo e ajudando o conquistador a expulsar inimigos de sua terra. (…)
Eram os artífices da rede de dormir, criadores da farinha de mandioca, farinha de
pau, do complexo da goma de mandioca, das bebidas de frutas e raízes, da carne e
peixe moqueados, elementos que possibilitaram o avanço branco pelo sertão.”

Do lado europeu, a descoberta do Brasil foi precedida por vários tratados entre Portugal
e Espanha, estabelecendo limites e dividindo o mundo já descoberto do mundo ainda
por descobrir.
Destes acordos assinados à distância da terra atribuída, o Tratado de Tordesilhas (1494)
é o mais importante, por definir as porções do globo que caberiam a Portugal no período
em que o Brasil foi colônia portuguesa. Estabeleciam suas cláusulas que as terras a leste
de um meridiano imaginário que passaria a 370 léguas marítimas a oeste das ilhas de
Cabo Verde pertenceriam ao rei de Portugal, enquanto as terras a oeste seriam posse dos
reis de Castela (atualmente Espanha). No atual território do Brasil, a linha atravessava
de norte a sul, da atual cidade de Belém do Pará à atual Laguna, em Santa Catarina.
Quando soube do tratado, o rei de França Francisco I teria indagado qual era "a cláusula
do testamento de Adão" que dividia o planeta entre os reis de Portugal e Espanha e o
excluía da partilha.

Fonte: Egdnd3Mtd2l6IgpUcmF0YWRvIGRlKgIIATIIEAAYgAQYsQMyCBAAGIAEGLED; acesso em


24/07/2023.
Fonte: https://www.google.com/search?q=tratado+de+tordesilhas+(1494); acesso aos 24 de julho de
2023.

Período colonial (1500-1815)


O período compreendido entre o Descobrimento do Brasil em 1500, (chamado
pelos portugueses de Achamento do Brasil), até a Independência do Brasil, é chamado,
no Brasil, de Período Colonial. Os portugueses, porém, chamam este período de A
Construção do Brasil, e o estendem até 1825 quando Portugal reconheceu a
independência do Brasil.

Há algumas teorias sobre quem foi o primeiro europeu a chegar nas terras que
hoje formam o Brasil. Entre elas, destacam-se a que defende que foi Duarte Pacheco
Pereira entre novembro e dezembro de 1498, e a que argumenta que foi o espanhol
Vicente Yáñez Pinzón no dia 16 de janeiro de 1500, possivelmente no Cabo de Santo
Agostinho, litoral sul de Pernambuco. No entanto, oficialmente, o Brasil foi descoberto
em 22 de abril de 1500 pelo capitão-mor de uma expedição portuguesa em busca das
Índias, Pedro Álvares Cabral, que chegou ao litoral sul da Bahia, na região da atual
cidade de Porto Seguro, mais precisamente no distrito de Coroa Vermelha.

No dia 9 de março de 1500, o português Pedro Álvares Cabral, saindo de Lisboa,


iniciou viagem para oficialmente descobrir e tomar posse das novas terras para a Coroa,
e depois seguir viagem para a Índia, contornando a África para chegar a Calicute.
Levava duas caravelas e 13 naus, e por volta de 1 500 homens - entre os mais
experientes Nicolau Coelho, que acabava de regressar da Índia; Bartolomeu Dias, que
descobrira o cabo da Boa Esperança, e seu irmão Diogo Dias, que mais tarde Pero Vaz
de Caminha descreveria dançando na praia em Porto Seguro com os índios, «ao jeito
deles e ao som de uma gaita». As principais naus se chamavam Anunciada, São Pedro,
Espírito Santo, El-Rei, Santa Cruz, Fror de la Mar, Victoria e Trindade. O vice-
comandante da frota era Sancho de Tovar e outros capitães eram Simão de Miranda,
Aires Gomes da Silva, Nuno Leitão, Vasco de Ataíde, Pero Dias, Gaspar de Lemos,
Luís Pires, Simão de Pina, Pedro de Ataíde, de alcunha o inferno, além dos já citados
Nicolau Coelho e Bartolomeu Dias. Por feitor, a armada trazia Aires Correia, que havia
de ficar na Índia, e por escrivães Gonçalo Gil Barbosa e Pero Vaz de Caminha. Entre os
pilotos, que eram os verdadeiros navegadores, vinham Afonso Lopes e Pero Escobar.
Diz a Crônica do Sereníssimo Rei D. Manuel I:

“E, porque el Rei sempre foi mui inclinado às coisas que tocavam a nossa Santa
fé católica, mandou nesta armada oito frades da ordem de S. Francisco, homens
letrados, de que era Vigário frei Henrique, que depois foi confessor del Rei e
Bispo de Ceuta, os quais como oito capelães e um vigário, ordenou que ficassem
em Calecut, para administrarem os sacramentos aos portugueses e aos da terra se
se quisessem converter à fé.”

No dia 26 de abril, um domingo (o de Pascoela), foi oficiada a primeira missa no


solo brasileiro por frei Henrique Soares (ou frei Henrique de Coimbra), que pregou
sobre o Evangelho do dia. Batizaram a terra como Ilha da Vera Cruz no dia 1 de maio e
numa segunda missa Cabral tomou posse das terras em nome do rei de Portugal. No
mesmo dia, os navios partiram, deixando na terra pelo menos dois degredados e dois
grumetes que haviam fugido de bordo. Cabral partiu para a Índia pela via certa que
sabia existir a partir da costa brasileira, isto é, cruzou outra vez o Oceano Atlântico e
costeou a África.

O rei D. Manuel I recebeu a notícia do descobrimento por cartas escritas por Mestre
João, físico e cirurgião de D. Manuel e Pero Vaz de Caminha, semanas depois.
Transportadas na nau de Gaspar de Lemos, as cartas descreviam de forma
pormenorizada as condições geográficas e seus habitantes, desde então chamados de
índios. Atento aos objetivos da Coroa na expansão marítima, Caminha informava ao rei:

“Nela até agora não podemos saber que haja ouro nem prata, nem alguma coisa de
metal nem de ferro lho vimos; pero a terra em si é de muitos bons ares, assi frios e
temperados como os d'antre Doiro e Minho, porque neste tempo de agora assi os
achamos como os de lá; águas são muitas infindas e em tal maneira é graciosa, que
querendo aproveitar-se dar-se-á nela tudo por bem das águas que tem; pero o
melhor fruto que nela se pode fazer me parece que será salvar esta gente (…) boa e
de boa simplicidade.”

Damião de Góis narra o descobrimento em sua língua renascentista:

“Navegando a loeste, aos xxiiii dias do mes Dabril viram terra, do que forão muito
alegres, porque polo rumo em que jazia, vião não ser nenhuma das que até então
eram descubertas. Padralures Cabral fez rosto para aquela banda & como forão bem
à vista, mandou ao seu mestre que no esquife fosse a terra, o qual tornou logo com
novas de ser muito fresca & viçosa, dizendo que vira andar gente baça & nua pela
praia, de cabelo comprido & corredio, com arcos & frechas nas mãos, pelo que
mandou alguns dos capitães que fossem com os bateis armados ver se isto era assi,
os quaes sem sairem em terra tornaram à capitaina afirmando ser verdade o que o
mestre dixera. Estando já sobrancora se alevantou de noite hum temporal, com que
correram de longo da costa ate tomarem hum porto muito bom, onde Pedralures
surgio com as outras naos & por ser tal lhe pos nome Porto Seguro.”
Além das cartas acima mencionadas, outro importante documento sobre o
descobrimento do Brasil é o Relato do Piloto Anônimo. De início, a descoberta da nova
terra foi mantida em sigilo pelo Rei de Portugal. O resto do mundo passou a conhecer o
Brasil desde pelo menos 1507, quando a terra apareceu com o nome de América na carta
(mapa) de Martin Waldseemüller, no qual está assinalado na costa o Porto Seguro.

Expedições Exploratórias

Em 1501, uma grande expedição exploratória, a primeira frota de


reconhecimento, com três naus, encontrou como recurso explorável apenas o pau-brasil,
de madeira avermelhada e valiosa usada na tinturaria europeia, mas fez um
levantamento da costa. Comandada por Gaspar de Lemos, a viagem teve início em 10
de maio de 1501 e findaria com o retorno a Lisboa em 7 de setembro de 1502, depois de
percorrer a costa e dar nome aos principais acidentes geográficos. Sobre o comandante,
podem ter sido D. Nuno Manuel, André Gonçalves, Fernão de Noronha, Gonçalo
Coelho ou Gaspar de Lemos, sendo este último o nome mais aceito. Alguns
historiadores negam a hipótese de Gonçalo Coelho, que só teria partido de Lisboa em
1502. O Barão do Rio Branco, em suas Efemérides, fixa-se em André Gonçalves, que é
a versão mais comumente aceita. Mas André Gonçalves fazia parte da armada de
Cabral, que retornou a Lisboa quando a expedição de 1501 já partira para o Brasil e com
ela cruzou na altura do arquipélago de Cabo Verde. Assim, diversos historiadores optam
por Gaspar de Lemos, que entre junho e julho de 1500 havia chegado a Portugal com a
notícia do descobrimento. O florentino Américo Vespúcio vinha como piloto na frota (e
por seu nome seria batizado todo o continente, mais tarde). Depois de 67 dias de
viagem, em 16 de agosto, a frota alcançou o que hoje é o Cabo de São Roque (Paraíba)
e, segundo Câmara Cascudo, ali plantou o marco de posse mais antigo do Brasil. Houve,
na ocasião, contatos entre portugueses e os índios potiguaras.

Ao longo das expedições, os portugueses costumavam batizar os acidentes


geográficos segundo o calendário com os nomes dos santos dos dias, ignorando os
nomes locais dados pelos nativos. Em 1 de novembro (Dia de Todos os Santos),
chegaram à Baía de Todos-os-Santos, em 21 de dezembro (dia de São Tomé) ao Cabo
de São Tomé, em 1 de janeiro de 1502 à Baía da Guanabara (por isso batizada de "Rio
de Janeiro") e no dia 6 de janeiro (Dia de Reis) à angra (baía) batizada como Angra dos
Reis. Outros lugares descobertos foram a foz do rio São Francisco e o Cabo Frio, entre
vários. As três naus que chegaram à Guanabara eram comandadas por Gonçalo Coelho,
e nela vinha Vespúcio. Tomando a estreita entrada da barra pela foz de um rio,
chamaram-na Rio de Janeiro, nome que se estendeu à cidade de São Sebastião que ali se
ergueria mais tarde.

Em 1503 houve nova expedição, desta vez comandada (sem controvérsias) por
Gonçalo Coelho, sem ser estabelecido qualquer assentamento ou feitoria. Foi
organizada em função um contrato do rei com um grupo de comerciantes de Lisboa para
extrair o pau-brasil. Trazia novamente Vespúcio e seis navios. Partiu em maio de
Lisboa, esteve em agosto na ilha de Fernando de Noronha e ali afundou a nau capitânia,
dispersando-se a armada. Vespúcio pode ter ido para a Bahia, passado seis meses em
Cabo Frio, onde fez entrada de 40 léguas terra adentro. Ali teria deixado 24 homens
com mantimentos para seis meses. Coelho, ao que parece, esteve recolhido na região
onde se fundaria depois a cidade do Rio de Janeiro, possivelmente durante dois ou três
anos.

Nessa ocasião, Vespúcio, a serviço de Portugal, retornou ao maior porto natural


da costa brasileira, a Baía de Todos-os-Santos. Durante as três primeiras décadas, o
litoral baiano, com suas inúmeras enseadas, serviu fundamentalmente como apoio à rota
da Índia, cujo comércio de produtos de luxo – seda, tapetes, porcelana e especiarias –
era mais vantajoso que os produtos oferecidos pela nova colônia. Nos pequenos e
grandes portos naturais baianos, em especial no de Todos os Santos, as frotas se
abasteciam de água e de lenha e aproveitavam para fazer pequenos reparos.

No Rio de Janeiro, alguns navios aportaram no local que os índios chamavam de


Uruçu-Mirim, a atual praia do Flamengo. Junto à foz do rio Carioca (outrora abundante
fonte de água doce) foram erguidas uma casa de pedra e um arraial, deixando-se no
local degredados e galinhas. A construção inspirou o nome que os índios deram ao local
(cari-oca, "casa dos brancos"), que passaria a ser o gentílico da cidade do Rio. O arraial,
no entanto, foi logo destruído. Outras esquadras passariam pela Guanabara: a de
Cristóvão Jacques, em 1516; a de Fernão de Magalhães (que chamou o local de Baía de
Santa Luzia), em 1519, na primeira circunavegação do mundo; outra vez a de Jacques,
em 1526, e a de Martim Afonso de Sousa, em 1531.

Outras expedições ao litoral brasileiro podem ter ocorrido, já que desde 1504 são
assinaladas atividades de corsários. Holanda, em Raízes do Brasil, cita o capitão francês
Paulmier de Gonneville, de Honfleur, que permaneceu seis meses no litoral de Santa
Catarina. A atividade de navegadores não-portugueses se inspirava doutrina da
liberdade dos mares, expressada por Hugo Grotius em Mare liberum, base da reação
europeia contra Espanha e Portugal, gerando pirataria alargada pelos mares do planeta.

Extração de pau-brasil

O pau-brasil ou pau-de-pernambuco (que os índios tupis chamavam de


ibirapitanga) era a principal riqueza de crescente demanda na Europa. Estima-se que
havia, na época do descobrimento, mais de 70 milhões de árvores do tipo, abundando
numa faixa de 18 km do litoral do Rio Grande do Norte até a Guanabara. Quase todas
foram derrubadas e levadas para aquele continente. A extração foi tanta que atualmente
a espécie é protegida para não sofrer extinção. Pernambuco, Porto Seguro e Cabo Frio
eram as regiões de maior concentração do produto, e por isso contavam as três com
feitorias portuguesas. Pernambuco tinha a madeira mais cobiçada no Velho Mundo, o
que explica o fato de a árvore do pau-brasil ter como principal nome "pernambuco" em
idiomas como o francês e o italiano.

Para explorar a madeira, a Coroa adotou a política de oferecer a particulares, em


geral cristãos-novos, concessões de exploração do pau-brasil mediante certas condições:
os concessionários deveriam mandar seus navios descobrirem 300 léguas de terra,
instalar fortalezas nas terras que descobrissem, mantendo-as por três anos; do que
levassem para o Reino, nada pagariam no primeiro ano, no segundo pagariam um sexto
e no terceiro um quinto. Os navios ancoravam na costa, algumas dezenas de marinheiros
desembarcavam e recrutavam índios para trabalhar no corte e carregamento das toras,
em troca de pequenas mercadorias como roupas, colares e espelhos (prática chamada de
"escambo"). Cada nau carregava em média cinco mil toras de 1,5 metro de
comprimento e 30 quilogramas de peso.

Em 1503, toda a terra do Brasil foi arrendada pela coroa a Fernão de Noronha
(ou Loronha) e outros cristãos-novos, que extraíram por volta de 20 mil quintais de
madeira vermelha. Segundo Capistrano de Abreu, em Capítulos da História Colonial,
cada quintal era vendido em Lisboa por 21/3 ducados, mas levá-lo até lá custava apenas
meio ducado. Os arrendatários pagavam 4 mil ducados à Coroa. Comerciantes de
Lisboa e do Porto enviavam embarcações à costa para contrabandearem pau-brasil, aves
de plumagem colorida (papagaios, araras), peles, raízes medicinais e índios para
escravizar. Surgiram, assim, as primeiras feitorias.

Além dos portugueses, seus rivais europeus, principalmente franceses, passaram


a frequentar a costa brasileira para contrabandear a madeira e capturar índios.
Estimulados por seu rei, corsários passam a frequentar a Guanabara à procura de pau-
brasil e outros produtos. Ganharam a simpatia dos índios tamoios, que a eles se aliaram
durante décadas contra os portugueses.

Portugal, verificando que o litoral era visitado por corsários e aventureiros


estrangeiros, resolveu enviar expedições militares para defender a terra. Foram
denominadas expedições guarda-costas, sendo mais marcantes as duas comandadas por
Cristóvão Jacques, de 1516-1519 e 1526-1528. Suas expedições tinham caráter
basicamente militar, com missão de aprisionar os navios franceses que, sem pagar
tributos à coroa, retiravam grandes quantidades do pau-brasil. A iniciativa teve poucos
resultados práticos, considerando a imensa extensão do litoral e, como solução, Jacques
sugeriu à Coroa dar início ao povoamento.

A expedição enviada em 1530 sob a chefia de Martim Afonso de Sousa tinha por
objetivos explorar melhor a costa, expulsar os franceses que rondavam o sul e as
cercanias do Rio de Janeiro e estabelecer núcleos de colonização ou feitorias, como a
estabelecida em Cabo Frio. Em 1532 Martim Afonso fundou o núcleo de São Vicente,
primeira vila do Brasil, onde foi feita a primeira eleição no continente americano e
instalada a primeira câmara municipal.

Também no ano de 1532, Bertrand d'Ornesan, o barão de Saint Blanchard,


tentou estabelecer um posto de comércio em Pernambuco. Com o navio A Peregrina,
pertencente ao nobre francês, o capitão Jean Duperet tomou a Feitoria de Igarassu e a
fortificou com vários canhões, deixando-a sob o comando de um certo senhor de La
Motte. Meses depois, na costa da Andaluzia na Espanha, os portugueses capturaram a
embarcação francesa, que estava atulhada com 15 mil toras de pau-brasil, três mil peles
de onça, 600 papagaios e 1,8 tonelada de algodão, além de óleos medicinais, pimenta,
sementes de algodão e amostras minerais. E no exato instante em que A Peregrina era
apreendida no mar Mediterrâneo, o capitão português Pero Lopes de Sousa combatia os
franceses em Pernambuco. Retomada a feitoria, os soldados franceses foram presos e La
Motte foi enforcado. Após ser informado da missão que A Peregrina realizara em
Pernambuco, o rei Dom João III decidiu começar a colonização do Brasil, dividindo o
seu território em capitanias hereditárias.

Administração colonial

Capitanias do Mar (1516-1532)


A administração das terras ultramarinas, que a princípio foi arrendada a Fernão
de Noronha, agente da Casa Fugger (1503-1511), ficou a cargo direto da Coroa, que não
conseguia conter as frequentes incursões de franceses na nova terra. Por isso, em 1516,
D. Manuel I e seu Conselho criam nos Açores e na Madeira as chamadas «capitanias do
mar», por analogia com as estabelecidas no Oceano Índico. O objetivo fundamental era
garantir o monopólio da navegação e a política do mare clausum (mar fechado). De dois
em dois anos, o capitão do mar partia com navios para realizar um cruzeiro de inspeção
no litoral, defendendo-o das incursões francesas ou castelhanas. No Brasil, teriam
visitado quatro armadas.
As armadas de Jacques assinaram-se com insistência no rio da Prata. Também
em 1516 ocorre a primeira tentativa de colonização metódica e aproveitamento da terra
com base na plantação da cana (levada de Cabo Verde) e na fabricação do açúcar. Já
devia ter havido algumas tentativas de capitanias e estabelecimentos em terra, pois em
15 de julho de 1526 o rei D. Manuel I autorizou Pero Capico, "capitão de uma capitania
do Brasil", a regressar a Portugal porque "lhe era acabado o tempo de sua capitania". A
Capico, que era técnico de administração colonial, tinha sido confiada a Feitoria de
Itamaracá, no atual estado de Pernambuco.
Roberto Simonsen (em História Econômica do Brasil, pág.120) comenta:

“Na terra de Santa Cruz, o valor e as possibilidades de comércio não


justificavam (…) organizações da mesma importância» que as feitorias de
Portugal na África. «Mesmo assim, foram instaladas, quer pelos
concessionários do comércio do pau-brasil, quer pelo próprio governo
português, várias feitorias, postos de resgate onde se concentravam, sob o
abrigo de fortificações primitivas, os artigos da terra que as naus vinham
buscar. São por demais deficientes até hoje as notícias sobre estas feitorias,
Igaraçu, Itamaracá, Bahia, Porto Seguro, Cabro Frio, São Vicente e outras
intermediárias, que desapareciam, ora esmagadas pelo gentio, ora
conquistadas pelos franceses. Mas o próprio comércio do pau-brasil é uma
demonstração de sua existência, e as notícias sobre a década anterior, de
1530, salientam a preocupação do Governo português de defendê-las.» Eram
assim postos de resgate de caráter temporário, estabelecimentos efêmeros,
assolados por entrelopos e corsários franceses, por selvagens. Por muitos
anos cessará todo o interesse de Portugal pelo Brasil. O Brasil ficou ao
acaso… Colonizar a nova terra seria dispendioso, sem lucro imediato.
Portugal, no auge de sua técnica de navegação, de posse de feitorias fincadas
em vastíssimas costas de oceanos, não tinha recursos humanos, com uma
população estimada em um milhão de habitantes. Impunha-se uma atitude
predominantemente fiscal. Havia o quê? Havia macacos, papagaios,
selvagens nus e primitivos. Mas havia pau-brasil…”
João Ribeiro (em História do Brasil) diz que
“... depois das primeiras explorações, as terras do Brasil tornaram-se
constante teatro da pirataria universal. Especuladores franceses, alemães,
judeus e espanhóis aqui aportam, comerciam com o gentio ou s
elvajam-se e com eles convivem em igual barbaria. Os navegadores de todos
os pontos aqui se aprovisionam ou se abrigam das tempestades. Aventureiros
aqui desembarcam, e vivem à ventura, na companhia de degredados e
foragidos. O que procura a corte portuguesa de D. Manuel I são as riquezas
do Oriente, e se alguma expedição aqui toca e se demora, (....) não é o Brasil
que as atrai mas ainda a fascinação do Oriente.”.

Capitanias hereditárias (1532-1549)

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=mapa+das+capitanias+heredit%C3%A1rias; acesso em 26/07/2023.

As capitanias hereditárias
A apatia só iria cessar quando D. João III ascendeu ao trono. Na década de 1530,
Portugal começava a perder a hegemonia do comércio na África Ocidental e no Índico.
Circulavam insistentes notícias da descoberta de ouro e de prata na América Espanhola.
Então, em 1532, o rei decidiu ocupar as terras pelo regime de capitanias, mas num
sistema hereditário, pelo qual a exploração passaria a ser direito de família. O capitão e
governador, títulos concedidos ao donatário, teria amplos poderes, dentre os quais o de
fundar povoamentos (vilas e cidades), conceder sesmarias e administrar a justiça. O
sistema de capitanias hereditárias implicava na divisão de terras vastíssimas, doadas a
capitães-donatários que seriam responsáveis por seu controle e desenvolvimento, e por
arcar com as despesas de colonização. Foram doadas aos que possuíssem condições
financeiras para custear a empresa da colonização, e estes eram principalmente
"membros da burocracia estatal" e "militares e navegadores ligados à conquista da
Índia" (segundo Eduardo Bueno em "História de Brasil"). De acordo com o mesmo
autor, a sugestão teria sido dada ao rei por Diogo de Gouveia, ilustre humanista
português, e respondia a uma "absoluta falta de interesse da alta nobreza lusitana" nas
terras americanas.
Foram criadas, nesta divisão, quinze faixas longitudinais de diferentes larguras
que iam de acidentes geográficos no litoral até o Meridiano das Tordesilhas, e foram
oferecidas a doze donatários. Destes, quatro nunca foram ao Brasil; três faleceram
pouco depois; três retornaram a Portugal; um foi preso por heresia (Tourinho) e apenas
dois se dedicam à colonização (Duarte Coelho na Capitania de Pernambuco e Martim
Afonso de Sousa na Capitania de São Vicente).
Das quinze capitanias originais, apenas as capitanias de Pernambuco e de São
Vicente prosperaram. As terras brasileiras ficavam a dois meses de viagem de Portugal.
Além disso, as notícias das novas terras não eram muito animadoras: na viagem, além
do medo de "monstros" que habitariam o oceano (na superstição europeia), tempestades
eram frequentes; nas novas terras, florestas gigantescas e impenetráveis, povos
antropófagos e não havia nenhuma riqueza mineral ainda descoberta. Em 1536, chegou
o donatário da capitania da Baía de Todos os Santos, Francisco Pereira Coutinho, que
fundou o Arraial do Pereira, na futura cidade do Salvador, mas se revelou mau
administrador e foi morto pelos tupinambás. Tampouco tiveram maior sucesso as
capitanias dos Ilhéus e do Espírito Santo, devastadas por aimorés e tupiniquins.

Governo-Geral (1549-1580)

Tomé de Sousa
Após o fracasso do projeto de capitanias, o rei João III unificou as capitanias sob
um Governo-Geral do Brasil e em 7 de janeiro de 1549 nomeou Tomé de Sousa para
assumir o cargo de governador-geral. A expedição do primeiro governador chegou ao
Brasil em 29 de março do mesmo ano, com ordens para fundar uma cidade para abrigar
a sede da administração colonial. O local escolhido foi a Baía de Todos-os-Santos e a
cidade foi chamada de São Salvador da Baía de Todos os Santos. A excelente posição
geográfica entre as capitanias de Pernambuco e São Vicente e num ponto mais ou
menos equidistante das extremidades do território, as favoráveis condições de
assentamento e defesa, o clima quente e o solo fértil fizeram com que o rei decidisse
reverter a capitania para a Coroa (expropriando-a do donatário Pereira Coutinho). As
tarefas de Tomé de Sousa eram tornar efetiva a guarda da costa, auxiliar os donatários,
organizar a ordem política e jurídica na colônia. O governador organizou a vida
municipal, e sobretudo a produção açucareira: distribuiu terras e mandou abrir estradas,
além de fazer construir um estaleiro.
Desse modo, o Governo-Geral centralizou a administração colonial,
subordinando as capitanias a um só governador-geral que tornasse mais rápido o
processo de colonização. Em 1548, elaborou-se o Regimento do Governador-Geral, que
regulamentava o trabalho do governador e de seus principais auxiliares - o ouvidor-mor
(Justiça), o provedor-mor (Fazenda) e o capitão-mor (Defesa). O governador também
levou ao Brasil os primeiros missionários católicos, da ordem dos jesuítas, como o
padre Manuel da Nóbrega. Por ordens suas, ainda, foram introduzidas na colônia as
primeiras cabeças de gado, de novilhos levados de Cabo Verde. Ao chegar à Bahia,
Tomé de Sousa encontrou o velho Arraial do Pereira com seus moradores, e mudaram o
nome do local para Vila Velha. Também moravam nos arredores o náufrago Diogo
Álvares "Caramuru" e sua esposa Paraguaçu (batizada como Catarina), perto da capela
de Nossa Senhora das Graças (hoje o bairro da Graça, em Salvador). Consta que Tomé
de Sousa teria pessoalmente ajudado a construir as casas e a carregar pedras e madeiras
para construção da capela de Nossa Senhora da Conceição da Praia, uma das primeiras
igrejas erguidas no Brasil. Tomé de Souza visitou as capitanias do sul do Brasil, e, em
1553, criou a Vila de Santo André da Borda do Campo, transferida em 1560 para o
Pátio do Colégio dando origem à cidade de São Paulo.

Duarte da Costa
Em 1553, a pedidos, Tomé de Sousa foi exonerado do cargo e substituído por
Duarte da Costa, fidalgo e senador nas Cortes de Lisboa. Em sua expedição foram
também 260 pessoas, incluindo seu filho, Álvaro da Costa, e o então noviço José de
Anchieta, jesuíta basco que seria o pioneiro na catequese dos nativos americanos. A
administração de Duarte foi conturbada. Já de início, a intenção de Álvaro em
escravizar os indígenas, incluindo os catequizados, esbarrou na impertinência de Dom
Pero Fernandes Sardinha, primeiro bispo do Brasil. O governador interveio a favor do
filho e autorizou a captura de indígenas para uso em trabalho escravo. Disposto a levar
as queixas pessoalmente ao rei de Portugal, Sardinha partiu para Lisboa em 1556 mas
naufragou na costa de Alagoas e acabou devorado pelos caetés antropófagos.
Durante o governo de Duarte da Costa, uma expedição de protestantes franceses
se instalou permanentemente na Guanabara e fundou a colônia da França Antártica.
Ultrajada, a Câmara Municipal da Bahia apelou à Coroa pela substituição do
governador. Em 1556, Duarte foi exonerado, voltou a Lisboa e em seu lugar foi enviado
Mem de Sá, com a missão de retomar a posse portuguesa do litoral sul.

Mem de Sá
O terceiro Governador-Geral, Mem de Sá (1558-1572), deu continuidade à
política de concessão de sesmarias aos colonos e montou ele próprio um engenho, às
margens do rio Sergipe, que mais tarde viria a pertencer ao conde de Linhares (Engenho
de Sergipe do Conde). Para enfrentar os colonos franceses estabelecidos na França
Antártica, aliados aos tamoios na baía de Guanabara, Mem de Sá aliou-se aos
Temiminós do cacique Arariboia. O seu sobrinho, Estácio de Sá, comandou a retomada
da região e fundou a cidade do Rio de Janeiro a 20 de Janeiro de 1565, dia de São
Sebastião.

União Ibérica (1580-1640)


Com o desaparecimento de D. Sebastião e posteriormente a morte de D.
Henrique I, Portugal ficou sob união pessoal com a Espanha, e foi governada pelos três
reis Filipes (Filipe II, Filipe III e Filipe IV, dos quais se subtrai um número quando
referentes a Portugal e ao Brasil). Isso virtualmente acabou com a linha divisória do
meridiano das Tordesilhas e permitiu que o Brasil se expandisse para o oeste.
Várias expedições exploratórias do interior (chamado de "os sertões") foram
organizadas, fosse sob ordens diretas da Coroa ("entradas") ou por caçadores de
escravos paulistas ("bandeiras", donde o nome "bandeirantes"). Estas expedições
duravam anos e tinham o objetivo principalmente de capturar índios como escravos e
encontrar pedras preciosas e metais valiosos, como ouro e prata. Foram bandeirantes
famosos, entre outros, Fernão Dias Paes Leme, Bartolomeu Bueno da Silva
(Anhanguera), Raposo Tavares, Domingos Jorge Velho, Borba Gato e Antônio
Azevedo.
A União Ibérica também colocou o Brasil em conflito com potências europeias
que eram amigas de Portugal mas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda.
A Capitania de Pernambuco, mais rica de todas as possessões portuguesas, tornou-se
então um alvo cobiçado. Já em 1595, durante a Guerra Anglo-Espanhola, o almirante
inglês James Lancaster tomou de assalto o porto do Recife, onde permaneceu por quase
um mês saqueando as riquezas transportadas do interior, no episódio conhecido como
Captura do Recife, única expedição da Inglaterra que teve como objetivo principal o
Brasil, e que representou o mais rico butim da história da navegação de corso do
período elisabetano. A Holanda, por sua vez, atacou e invadiu extensas faixas do litoral
nordestino, fixando-se principalmente em Pernambuco por vinte e quatro anos.

Estado do Maranhão e Estado do Brasil (1621-1755)


Das mudanças administrativas durante o domínio espanhol, a mais importante
sucedeu em 1621, com a divisão da colônia em duas administrações independentes: o
Estado do Brasil, que abrangia de Pernambuco à atual Santa Catarina, e o Estado do
Maranhão, do atual Ceará à Amazônia. A razão se baseava no destacado papel assumido
pelo Maranhão como ponto de apoio e de partida para a colonização do norte e nordeste.
O Maranhão tinha por capital São Luís, e o Estado do Brasil sua capital em Salvador.
Nestes dois estados, os súditos eram cidadãos portugueses (chamados de "portugueses
do Brasil") e sujeitos aos mesmos direitos e deveres, e as mesmas leis as quais estavam
submetidos os residentes em Portugal, entre elas, as Ordenações manuelinas e as
Ordenações filipinas.
Quando o rei Filipe III (IV da Espanha) separou o Brasil e o Maranhão,
passaram a existir três capitanias reais: Maranhão, Ceará e Grão-Pará, e seis capitanias
hereditárias. Em 1737, com sua sede transferida para Belém, o Maranhão passou a ser
chamado de Grão-Pará e Maranhão. Tal instalação era efeito do isolamento do extremo
norte do Estado do Brasil, pois o regime de ventos impedia durante meses as
comunicações entre São Luís e a Bahia. No século XVII, o Estado do Brasil se estendia
do atual Pará até o Rio Grande do Norte e deste até Santa Catarina, e no século XVIII já
estariam incorporados o Rio Grande de São Pedro, atual Rio Grande do Sul e as regiões
mineiras e parte da Amazônia. O Estado do Maranhão foi extinto na época de Marquês
de Pombal.

Invasão holandesa (1630-1654)


Recife foi a mais cosmopolita cidade da América durante o governo do conde
alemão (a serviço da coroa holandesa) Maurício de Nassau.
A invasão holandesa no Nordeste brasileiro foi um importante capítulo da
Guerra Luso-Holandesa. Em 1630, a Capitania de Pernambuco foi invadida pela
Companhia das Índias Ocidentais. Por ocasião da União Ibérica (1580-1640), a
Holanda, antes dominada pela Espanha tendo depois conseguido sua independência
através da força, vê em Pernambuco a oportunidade para impor um duro golpe no reino
de Filipe IV, ao mesmo tempo em que tiraria o prejuízo do fracasso na Bahia, uma vez
que Pernambuco era o maior produtor de açúcar do Brasil Colônia.
Em 26 de dezembro de 1629 partia de Cabo Verde em direção a Pernambuco
uma poderosa esquadra com 67 navios e cerca de 7 mil homens, a maior já vista na
colônia, sob o comando do almirante Hendrick Lonck. Os holandeses, desembarcando
na praia de Pau Amarelo, conquistaram a capitania em fevereiro de 1630 e
estabeleceram a colônia Nova Holanda. A frágil resistência portuguesa na passagem do
Rio Doce foi derrotada, e os holandeses invadiram sem grandes contratempos Olinda.
Os moradores, em pânico, fugiram levando o que puderam. Alguns bolsões de
contenção foram eliminados, destacando-se a brava luta do capitão André Temudo em
defesa da Igreja da Misericórdia. Em poucos dias, Olinda e o seu porto, Recife, foram
tomados.
O conde Maurício de Nassau desembarcou na Nieuw Holland, a Nova Holanda,
em 1637, acompanhado por uma equipe de arquitetos e engenheiros. Nesse ponto
começa a construção de Mauritsstad (atual Recife), que foi dotada de pontes, diques e
canais para vencer as condições geográficas locais. O arquiteto Pieter Post foi o
responsável pelo traçado da nova cidade e de edifícios como o Palácio de Friburgo, sede
do poder de Nassau na Nova Holanda, que tinha um observatório astronômico — o
primeiro do Hemisfério Sul —, e abrigou o primeiro farol e o primeiro jardim
zoobotânico do continente americano. Em 28 de fevereiro de 1643 o Recife (atualmente
o bairro do Recife) foi ligado à Cidade Maurícia com a construção da primeira ponte de
grande porte da América Latina. Durante o governo de Nassau, Recife foi considerada a
mais cosmopolita cidade da América, e tinha a maior comunidade judaica de todo o
continente, que construiu, à época, a primeira sinagoga do Novo Mundo, a Kahal Zur
Israel, bem como a segunda, a Maguen Abraham. Na Nova Holanda foram cunhadas as
primeiras moedas em solo brasileiro: os florins (ouro) e os soldos (prata), que
continham a palavra Brasil.
Por diversos motivos, sendo um dos mais importantes a exoneração de Maurício
de Nassau do governo da capitania pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, o
povo de Pernambuco se rebelou contra o governo, juntando-se à fraca resistência ainda
existente, num movimento denominado Insurreição Pernambucana.

Insurreição Pernambucana (1645-1654)


As Batalhas dos Guararapes, episódios decisivos na Insurreição Pernambucana,
são consideradas a origem do Exército Brasileiro.
Em 15 de maio de 1645, reunidos no Engenho de São João, 18 líderes insurretos
pernambucanos assinaram compromisso para lutar contra o domínio holandês na
capitania. Com o acordo assinado, começa o contra-ataque à invasão holandesa. A
primeira vitória importante dos insurretos se deu no Monte das Tabocas (hoje localizado
no município de Vitória de Santo Antão), onde 1.200 insurretos mazombos armados de
armas de fogo, foices, paus e flechas derrotaram numa emboscada 1.900 holandeses
bem armados e bem treinados. O sucesso deu ao líder Antônio Dias Cardoso o apelido
de Mestre das Emboscadas. Os holandeses que sobreviveram seguiram para Casa Forte,
sendo novamente derrotados pela aliança dos mazombos, índios nativos e escravos
negros. Recuaram novamente para as fortificações em Cabo de Santo Agostinho, Pontal
de Nazaré, Sirinhaém, Rio Formoso, Porto Calvo e Forte Maurício, sendo
sucessivamente derrotados pelos insurretos.
Cercados e isolados pelos rebeldes numa faixa que ficou conhecida como Nova
Holanda, indo do Recife a Itamaracá, os invasores começaram a sofrer com a falta de
alimentos, o que os levou a atacar plantações de mandioca nas vilas de São Lourenço,
Catuma e Tejucupapo. Em 24 de abril de 1646, ocorreu a famosa Batalha de
Tejucupapo, onde mulheres camponesas armadas de utensílios agrícolas e armas leves
expulsaram os invasores holandeses, humilhando-os definitivamente. Esse fato histórico
consolidou-se como a primeira importante participação militar da mulher na defesa do
território brasileiro.
Com a chegada gradativa de reforços portugueses, os holandeses por fim foram
expulsos em 1654, na segunda Batalha dos Guararapes. A data da primeira das Batalhas
dos Guararapes é considerada a origem do Exército Brasileiro.
Tomada a colônia holandesa, os judeus receberam um prazo de três meses para
partir ou se converter ao catolicismo. Com medo da fogueira da Inquisição, quase todos
venderam o que tinham e deixaram o Recife em 16 navios. Parte da comunidade judaica
expulsa de Pernambuco fugiu para Amsterdã, e outra parte se estabeleceu em Nova
York. Através deste último grupo a Ilha de Manhattan, atual centro financeiro dos
Estados Unidos, conheceu grande desenvolvimento econômico; e descendentes de
judeus egressos do Recife tiveram participação ativa na história estadunidense:
Gershom Mendes Seixas, aliado de George Washington na Guerra de Independência
dos Estados Unidos; seu filho Benjamin Mendes Seixas, fundador da Bolsa de Valores
de Nova York; Benjamin Cardozo, juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos ligado a
Franklin Roosevelt; entre outros.
Devido à Primeira Guerra Anglo-holandesa, a República Holandesa não pôde
auxiliar os holandeses no Brasil. Com o fim da guerra contra os ingleses, a Holanda
exige a devolução da colônia em maio de 1654. Sob ameaça de uma nova invasão do
Nordeste brasileiro, Portugal firma acordo com os holandeses e os indeniza com quatro
milhões de cruzados e duas colônias: o Ceilão (atual Sri Lanka) e as ilhas Molucas
(parte da atual Indonésia). Em 6 de agosto de 1661, a Holanda cede formalmente a
região ao Império Português através da Paz de Haia.

Economia colonial
O Ciclo da Cana-de-Açúcar

A economia da colônia, iniciada com o puro extrativismo de pau-brasil e o escambo


entre os colonos e os índios, gradualmente passou à produção local, com o cultivo da
cana-de-açúcar. Pernambuco foi o primeiro núcleo econômico do Brasil Colonial, uma
vez que se destacou na extração do pau-brasil (a madeira pernambucana regulava o
preço no comércio europeu) e foi a primeira capitania onde a cultura da cana-de-açúcar
desenvolveu-se efetivamente. O engenho de açúcar constituiu a peça principal do
mercantilismo português, organizado em grandes propriedades. Estas, como se chamou
mais tarde, eram latifúndios, caracterizados por terras extensas, abundante mão-de-obra
escrava, técnicas complexas e baixa produtividade.

Para sustentar a produção de cana-de-açúcar, os portugueses começaram, a partir de


meados do século XVI, a importar africanos como escravos. Eles eram pessoas
capturadas entre tribos das feitorias europeias na África (às vezes com a conivência de
chefes locais de tribos rivais) e atravessados no Atlântico nos navios negreiros, em
péssimas condições de asseio e saúde. Ao chegarem à América, essas pessoas eram
comercializadas como mercadoria e obrigadas a trabalhar nas plantações e casas dos
colonizadores. Dentro das fazendas, viviam aprisionados em galpões rústicos chamados
de senzalas, e seus filhos também eram escravizados, perpetuando a situação pelas
gerações seguintes.

Nas feitorias, os mercadores portugueses vendiam principalmente armas de fogo,


tecidos, utensílios de ferro, aguardente e tabaco, adquirindo escravos, pimenta, marfim e
outros produtos.
Até meados do século XVI, os portugueses possuíam o monopólio do tráfico de
escravos. Depois disso, mercadores franceses, holandeses e ingleses também entraram
no negócio, enfraquecendo a participação portuguesa.

“O Brasil nasceu e cresceu econômica e socialmente com o açúcar, entre os


dias venturosos do pau-de-tinta e antes de as minas e o café o terem
ultrapassado. Efetivamente, o açúcar foi base na formação da sociedade e na
forma de família. A casa de engenho foi modelo da fazenda de cacau, da
fazenda de café, da estância. Foi base de um complexo sociocultural de vida.”

Em 1549, Pernambuco já possuía trinta engenhos-banguê, a Bahia, dezoito, e São


Vicente, dois. A lavoura da cana-de-açúcar era próspera e, meio século depois, a
distribuição dos engenhos de açúcar perfazia um total de 256. Houve ainda engenhos na
capitania do Rio de Janeiro que cobriam cem léguas e, assim como na capitania de São
Vicente, couberam a Martim Afonso de Sousa. Este receberia o apoio de João Ramalho
e de seu sogro Tibiriçá. Em São Sebastião do Rio de Janeiro funcionava o engenho de
Rodrigo de Freitas, nas margens da lagoa que hoje leva seu nome. Ao entrar o século
XVII, o açúcar brasileiro era produto de importação nos portos de Lisboa, Antuérpia,
Amsterdã, Roterdã, Hamburgo. Sua produção, muito superior à das ilhas portuguesas no
Atlântico, supria quase toda a Europa. Discorrendo sobre o centro da economia colonial,
o padre Fernão Cardim disse que em «Pernambuco se acha mais vaidade que em
Lisboa», opulência que parecia decorrer, como sugere Gabriel Soares de Sousa em
1587, do fato de, então, ser a capitania «tão poderosa (...) que há nela mais de cem
homens que têm de mil até cinco mil cruzados de renda, e alguns de oito, dez mil
cruzados. Desta terra saíram muitos homens ricos para estes reinos que foram a ela
muito pobres». Soares de Sousa também comentava o luxo reinante na Bahia e Cardim
exaltava suas capelas magníficas, os objetos de prata, as lautas refeições em louça da
Índia, que servia de lastro nos navios: «Parecem uns condes e gastam muito», reclamava
o padre.

Em meados do século XVII, o açúcar produzido nas Antilhas Holandesas começou a


concorrer fortemente na Europa com o açúcar do Brasil. Os holandeses tinham
aperfeiçoado a técnica, com a experiência adquirida no Brasil, e contavam com um
desenvolvido esquema de transporte e distribuição do açúcar em toda a Europa.
Portugal foi obrigado a recorrer à Inglaterra e assinar diversos tratados que afetariam a
economia da colônia. Em 1642, Portugal concedeu à Inglaterra a posição de "nação
mais favorecida" e os comerciantes ingleses passaram a ter maior acesso ao comércio
colonial.

Em 1654 Portugal aumentou os direitos ingleses, que poderiam negociar diretamente


vários produtos do Brasil com Portugal e vice-versa, excetuando-se alguns produtos
como bacalhau, vinho, pau-brasil. Em 1661 a Inglaterra se comprometeu a defender
Portugal e suas colônias em troca de dois milhões de cruzados, obtendo ainda as
possessões de Tânger e Bombaim. Em 1703 Portugal se comprometeu a admitir no
reino os panos dos lanifícios ingleses, e a Inglaterra, em troca, a comprar vinhos
portugueses. Data da época o famosíssimo Tratado de Methuen, do nome de seu
negociador inglês, ou tratado dos Panos e Vinhos. Na época, satisfazia os interesses dos
grupos dominantes, mas teria como consequência a paralisação da industrialização em
Portugal, canalizando para a Inglaterra o ouro que acabava de ser descoberto no Brasil.
Fonte: https://www.google.com.br/search?q=mapa+da+forma%C3%A7%C3%A3o+do+estado+brasileiro+e+dos+pa
%C3%ADses+sul-americanos+1700; acesso em 26/07/2023.
Formação do estado brasileiro (em verde escuro) e dos países sul-americanos desde 1700.

No nordeste brasileiro se encontrava a pecuária, tão importante para o domínio do


interior, já que eram proibidos rebanhos de gado nas fazendas litorâneas, cuja terra de
massapê era ideal para o açúcar.

A conquista do sertão, povoado por diversos grupos indígenas foi lenta e se deveu muito
à pecuária (o gado avançou ao longo dos vales dos rios) e, muito mais tarde, às
expedições dos Bandeirantes que vinham prear índios para levar para São Paulo.

O Ciclo do Ouro

No final do século XVII foi descoberto, pelos bandeirantes paulistas, ouro nos ribeiros
das terras que pertenciam à capitania de São Paulo e mais tarde ficaram conhecidas
como Minas Gerais. Descobriram-se depois, no final da década de 1720, diamante e
outras gemas preciosas. Esgotou-se o ouro abundante nos ribeirões, que passou a ser
mais penosamente buscado em veios dentro da terra. Apareceram metais preciosos em
Goiás e no Mato Grosso, no século XVIII. A Coroa cobrava, como tributo, um quinto
de todo o minério extraído, o que passou a ser conhecido como "o quinto". Os desvios e
o tráfico de ouro, no entanto, eram frequentes. Para coibi-los, a Coroa instituiu toda uma
burocracia e mecanismos de controle. Quando a soma de impostos pagos não atingia
uma cota mínima estabelecida, os colonos deveriam entregar joias e bens pessoais até
completar o valor estipulado — episódios chamados de derramas.

O período que ficou conhecido como Ciclo do Ouro iria permitir a criação de um
mercado interno, já que havia demanda por todo tipo de produtos para o povoamento
das Minas Gerais. Era preciso levar, Serra da Mantiqueira acima, escravos e
ferramentas, ou, rio São Francisco abaixo, os rebanhos de gado para alimentar a
verdadeira multidão que para lá acorreu. A população de Minas Gerais rapidamente se
tornou a maior do Brasil, sendo a única capitania do interior do Brasil com grande
população.

A essa época maioria da população de Minas Gerais , aproximadamente 78%, era


formada por negros e mestiços. A população branca era formada em grande parte por
cristãos-novos vindos do norte de Portugal e das Ilhas dos Açores e Madeira. Os
cristãos novos foram muito importantes no comércio colonial e se concentraram
especialmente nos povoados em volta de Ouro Preto e Mariana. Ao contrário do que se
pensava na Capitania do Ouro a riqueza não era mais bem distribuída do que em outras
partes do Brasil. Hoje se sabe que foram poucos os beneficiados no solo mais rico da
América no século XVIII.

As condições de vida dos escravizados na região mineira eram particularmente difíceis.


Eles trabalhavam o dia inteiro em pé, com as costas curvadas e com as pernas
mergulhadas na água. Ou então em túneis cavados nos morros, onde era comum
ocorrerem desabamentos e mortes. Os negros escravizados não realizavam apenas
tarefas ligadas à mineração. Também transportavam mercadorias e pessoas, construíam
estradas, casas e chafarizes, comerciavam pelas ruas e lavras. Alguns proprietários
alugavam seus escravos a outras pessoas. Esses trabalhadores eram chamados de
"escravos de aluguel". Outro tipo de escravo era o "escravo de ganho", por exemplo, as
mulheres que vendiam doces e salgados em tabuleiros pelas ruas. Foi relativamente
comum este tipo de escravo conseguir formar um pecúlio, que empregava na compra de
sua liberdade, pagando ao senhor por sua alforria.

A Sociedade Mineradora e as Camadas Médias

O Brasil passou por sensíveis transformações em função da mineração. Um novo polo


econômico cresceu no Sudeste, relações comerciais inter-regionais se desenvolveram,
criando um mercado interno e fazendo surgir uma vida social essencialmente urbana. A
camada média, composta por padres, burocratas, artesãos, militares, mascates e
faisqueiros, ocupou espaço na sociedade. A população mineira, salvo nos principais
centros Vila Rica, Mariana, Sabará, Serro e Caeté, era essencialmente pobre. O custo de
vida altíssimo e a falta de gêneros alimentícios uma constante.

Cidade de Mariana, Minas Gerais.

As minas propiciaram uma diversificação relativa dos serviços e ofícios, tais como
comerciantes, artesãos, advogados, médicos, mestre-escolas entre outros. No entanto foi
intensamente escravagista, desenvolvendo a sociedade urbana às custas da exploração
da mão de obra escrava. A mineração também provocou o aumento do controle do
comércio de escravos para evitar o esvaziamento da força de trabalho das lavouras, já
que os escravos eram os únicos que trabalhavam. Os escravos mais hábeis para a
mineração eram os "Minas" trazidos da Costa ocidental africana, onde eram
mineradores de ouro, e saídos do porto de Elmina, em Gana, onde ficavam no Castelo
de São Jorge da Mina. Foi muito comum a fuga de escravos e a formação de muitos
quilombos em Minas Gerais, sendo o mais importante foi o "Quilombo do Ambrósio".

Também foi responsável pela tentativa de escravização dos índios, através das
bandeiras, que com intuito de abastecer a região centro-sul promoveu a interiorização
do Brasil.

Apesar de modificar a estrutura econômica, manteve a estrutura de trabalho vigente,


beneficiando apenas os ricos e os homens livres que compunham a camada média.
Outro fator negativo foi a falta de desenvolvimento de tecnologias que permitissem a
exploração de minas em maior profundidade, o que estenderia o período de exploração
(e consequentemente mais ouro para Portugal).

Assim, o eixo econômico e político se deslocou para o centro-sul da colônia e o Rio de


Janeiro tornou-se sede administrativa, além de ser o porto por onde as frotas do rei de
Portugal iam recolher os impostos. A cidade foi descrita pelo padre José de Anchieta
como "a rainha das províncias e o empório das riquezas do mundo", e por séculos foi a
capital do Brasil.

Invasões estrangeiras e conflitos coloniais

O início da colonização portuguesa no território brasileiro foi a primeira invasão


estrangeira da história do país, então denominado pelos nativos tupis como Pindorama,
que significa "Terra das Palmeiras". A resposta imediata foi de longos embates, entre
eles a Guerra dos Bárbaros. Houve ainda disputas com os franceses, que tentavam se
implantar na América pela pirataria e pelo comércio do Pau-Brasil, chegando a criar
uma guerra luso-francesa. Tudo isso culminou com a expulsão dos franceses trazidos
por Nicolas Durand de Villegagnon, que haviam construído Forte Coligny no Rio de
Janeiro, estabelecendo-se em definitivo a hegemonia portuguesa.

A época colonial foi marcada por vários conflitos, tanto entre portugueses e outros
europeus, e europeus contra nativos, como entre os próprios colonos. O maior deles,
sem dúvida, foi a Insurreição Pernambucana, que marca a expulsão dos holandeses do
Nordeste do Brasil.

A insatisfação com a administração colonial provocou a Revolta de Amador Bueno em


São Paulo e, no Maranhão, a Revolta de Beckman. Os colonos enchiam os navios que
aportavam no Brasil, esvaziando o reino, e foram apelidados "emboabas" porque
andavam calçados contra a maioria da população, que andava descalça. Contra eles se
levantaram os paulistas, nas refregas do início do século XVIII que ficariam conhecidas
como Guerra dos Emboabas e paulistas e ensanguentaram o rio que até hoje se chama
Rio das Mortes.

Em Pernambuco, a disputa política e econômica entre mercadores e canavieiros, após a


expulsão dos holandeses, levou à Guerra dos Mascates. Os escravos negros que fugiam
das fazendas se refugiavam nas serras do interior nordestino e lá fundavam quilombos,
dos quais o mais importante foi o de Palmares, liderado por Ganga Zumba e seu
sobrinho Zumbi, que foi destruído durante a Guerra dos Palmares.

No sul, a tentativa de escravizar indígenas levou a confrontos com os missionários


jesuítas, organizados nas "reduções" (missões) de catequese com os guaranis. As
Guerras Guaraníticas duraram, intermitentemente, de 1750 a 1757.

Já no Ciclo do Ouro, a Capitania de Minas Gerais sofreu a Revolta de Filipe dos Santos
e a Inconfidência Mineira, seguida pela Conjuração Baiana na Capitania da Bahia. Esses
movimentos ficaram marcados por terem a intenção de proclamar a independência.

Nos últimos anos do período colonial ocorre a Revolução Pernambucana, que chegou a
proclamar a República de Pernambuco. O movimento foi derrotado após forte repressão
organizada por D. João VI.

Inconfidência Mineira

A Inconfidência Mineira foi um movimento que partiu da elite de Minas Gerais. Com a
decadência da mineração na segunda metade do século XVIII, tornou-se difícil pagar os
impostos exigidos pela Coroa Portuguesa. Além do mais, o governo português pretendia
promulgar a derrama, um imposto que exigia que toda a população, inclusive quem não
fosse minerador, contribuísse com a arrecadação de 20% do valor do ouro retirado. Os
colonos se revoltaram e passaram a conspirar contra Portugal.

Em Vila Rica (atual Ouro Preto), participavam do grupo, entre outros, os poetas Cláudio
Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, os coronéis Domingos de Abreu Vieira e
Francisco Antônio de Oliveira Lopes, o padre Rolim, o cônego Luís Vieira da Silva, o
minerador Inácio José de Alvarenga Peixoto e alferes Joaquim José da Silva Xavier,
apelidado Tiradentes. A conspiração pretendia eliminar a dominação portuguesa e criar
um país livre. Pela lei portuguesa a conspiração foi classificada como "crime de lesa-
majestade", definida como "uma traição contra a pessoa do rei" nas ordenações
afonsinas.

A forma de governo escolhida foi o estabelecimento de uma República, inspirados pelas


ideias iluministas da França e da recente independência norte-americana. Traídos por
Joaquim Silvério dos Reis, que delatou os inconfidentes para o governo, os líderes do
movimento foram detidos e enviados para o Rio de Janeiro, onde responderam pelo
crime de inconfidência (falta de fidelidade ao rei), pelo qual foram condenados. Em 21
de abril de 1792, Tiradentes, de mais baixa condição social, foi o único condenado à
morte por enforcamento. Sua cabeça foi cortada e levada para Vila Rica. O corpo foi
esquartejado e espalhado pelos caminhos de Minas Gerais. Era o cruel exemplo que
ficava para qualquer outra tentativa de questionar o poder de Portugal. Apesar de
considerada cruel hoje o enforcamento e esquartejamento do corpo, no contexto da
época a pena foi menos cruel que a pena aplicada, naquela mesma época, à família
Távora, no Caso Távora, por igual crime de lesa-majestade, foi condenação à fogueira.

O crime de lesa-majestade era o mais grave dos regimes monarquistas absolutistas e era
definido pelas ordenações filipinas, como traição contra o rei. Crime este comparado à
hanseníase pelas Ordenações filipinas, no livro V, item 6:
“Lesa-majestade quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real
Estado, que é tão grave e abominável crime, e que os antigos Sabedores tanto
estranharam, que o comparavam à lepra; porque assim como esta enfermidade enche
todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de
quem a tem, e aos que ele conversam, pelo que é apartado da comunicação da gente:
assim o erro de traição condena o que a comete, e empece e infama os que de sua linha
descendem, posto que não tenham culpa.”

O caso específico de crime de lesa-majestade praticado pelos inconfidentes foi o caso


número 5, previsto nas ordenações filipinas, que diz: Se algum fizesse conselho e
confederação contra o rei e seu estado ou tratasse de se levantar contra ele, ou para
isso desse ajuda, conselho e favor.

Conjuração Baiana

A Conjuração Baiana foi um movimento que partiu da camada humilde da sociedade da


Bahia, com grande participação de negros, mulatos e alfaiates, por isso também é
conhecida como Revolta dos Alfaiates. Os revoltosos pregavam a libertação dos
escravos, a instauração de um governo igualitário (onde as pessoas fossem promovidas
de acordo com a capacidade e merecimento individuais), além da instalação de uma
República na Bahia. Em 12 de Agosto de 1798, o movimento precipitou-se quando
alguns de seus membros, distribuindo os panfletos na porta das igrejas e colando-os nas
esquinas da cidade, alertaram as autoridades que, de pronto, reagiram, detendo-os. Tal
como na Inconfidência Mineira, interrogados, acabaram delatando os demais
envolvidos. Centenas de pessoas foram denunciadas - militares, clérigos, funcionários
públicos e pessoas de todas as classes sociais. Destas, 49 foram detidas, a maioria tendo
procurado abjurar a sua participação, buscando demonstrar inocência. Mais de 30 foram
presos e processados. Quatro participantes foram condenados à forca e os restos de seus
corpos foram espalhados pela Bahia para assustar a população.

Principado do Brasil

O Principado do Brasil era um título nobiliárquico que existiu em Portugal entre 1645 a
1815, se referindo ao Estado do Brasil, instituído em 1549.

Tendo sido o Brasil uma colônia do Império Português, careceu de bandeira própria por
mais de trezentos anos. Não era costume, na tradição vexilológica lusitana, a criação de
bandeiras para suas colônias, quando muito de um brasão. Hasteava-se no território a
bandeira do reino, ou do representante direto do monarca, como o governador-geral ou
o vice-rei. Ainda que não seja considerada uma bandeira brasileira, visto que seu uso
era exclusivo aos herdeiros aparentes do trono português, o pavilhão dos príncipes do
Brasil pode ser tido como a primeira representação flamular do Brasil. Sobre campo
branco – cor relacionada à monarquia – inscreve-se uma esfera armilar – objeto que
viria a ser, por muito tempo, o símbolo do Brasil. Já no pavilhão pessoal de D. Manuel
I, aparece este que foi um objeto crucial para viabilizar as explorações marítimas de
Portugal.

Reino (1815-1822)1
1
Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves foi a designação oficial assumida em 16 de dezembro de
1815, a elevação do então Estado do Brasil (1621-1815), uma colônia portuguesa, a reino unido com o
Elevação a Reino Unido

No contexto das negociações do Congresso de Viena, o Brasil foi elevado à condição de


Reino dentro do Estado português, que assumiu a designação oficial de Reino Unido de
Portugal, Brasil e Algarves em 16 de dezembro de 1815. A carta de lei foi publicada na
Gazeta do Rio de Janeiro de 10 de janeiro de 1816, oficializando o ato. O Rio de
Janeiro, por conseguinte, subia à categoria de Corte e capital, as antigas capitanias
passaram a ser denominadas províncias (hoje, os estados). No mesmo ano, a rainha
Maria I morreu e D. João foi coroado rei como João VI. Deu ao Brasil como brasão-de-
armas a esfera manuelina com as quinas, encontradas já no século anterior em moedas
da África portuguesa (1770).

Revolução Pernambucana

A chamada Revolução Pernambucana, também conhecida como "Revolução dos


Padres", eclodiu em 6 de março de 1817 na então Capitania de Pernambuco. Dentre as
suas causas, destacam-se a influência das ideias iluministas propagadas pelas sociedades
maçônicas, o absolutismo monárquico português e os enormes gastos da Família Real e
seu séquito recém-chegados ao Brasil — o Governo de Pernambuco era obrigado a
enviar para o Rio de Janeiro grandes somas de dinheiro para custear salários, comidas,
roupas e festas da Corte, o que dificultava o enfrentamento de problemas locais (como a
seca ocorrida em 1816) e ocasionava o atraso no pagamento dos soldados, gerando
grande descontentamento do povo pernambucano e brasileiro. O movimento foi
liderado por Domingos José Martins, com o apoio dos religiosos Padre João Ribeiro,
Padre Miguelinho, Padre Roma, Vigário Tenório, Frei Caneca e mais Antônio Carlos de
Andrada e Silva (irmão de José Bonifácio), José de Barros Lima, Cruz Cabugá, José
Luiz de Mendonça e Gervásio Pires, entre outros.

No começo do século XIX, Pernambuco era a capitania mais rica do Brasil Colônia.
Recife e Olinda, as duas maiores urbes pernambucanas, tinham juntas cerca de 40 mil
habitantes (o Rio de Janeiro, capital da colônia, possuía 60 mil habitantes). O porto do
Recife escoava a produção de açúcar — das centenas de engenhos da Zona da Mata,
cujo litoral se estendia da foz do rio São Francisco até a vila de Goiana —, e de algodão.
Além de sua importância econômica e política, os pernambucanos tinham participado de
diversas lutas libertárias. A primeira e mais importante tinha sido a Insurreição

Reino de Portugal (sua metrópole soberana até então) e Algarve, devido à transferência da família real e
da nobreza portuguesa para o Brasil. Tal aconteceu por ordem do então Príncipe-regente Dom João Maria
de Bragança (futuro Rei Dom João VI), após as invasões napoleônicas a Portugal
Pernambucana, em 1645. Depois, na Guerra dos Mascates2, foi aventada a possibilidade
de proclamar a independência de Olinda.

A repressão à Revolução Pernambucana foi sangrenta. Muitos revoltosos foram


enforcados e/ou arcabuzados, com seus corpos mutilados depois de mortos. Outros
morreram na prisão. O Padre João Ribeiro suicidou-se, mas o seu corpo foi
desenterrado, esquartejado e sua cabeça exposta em praça pública. Um episódio que
emocionou até os carrascos foi o de Vigário Tenório, que foi enforcado e decepado, teve
as suas mãos cortadas e o corpo arrastado pelas ruas do Recife. Também em retaliação,
foi desmembrada de Pernambuco, com sanção de João VI de Portugal, a Comarca das
Alagoas, cujos proprietários rurais haviam se mantido fiéis à Coroa, e como
recompensa, puderam formar uma capitania independente.

Revolução na cidade do Porto e Retorno de D. João VI

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=Bras%C3%A3o+do+Vice+reino+do+Brasil; acesso em 26/07/2023.


Brasão do Vice Reino do Brasil.

D. João VI deixaria o Brasil em 1821. Em agosto de 1820 houvera no Porto uma


revolução constitucionalista (revolução liberal portuguesa de 1820), movimento com
ideias liberais que ganhou adeptos no reino. Em setembro de 1820, uma Junta
Provisória de Governo obrigou os portugueses a jurarem uma Constituição provisória,
2
foi uma rebelião de caráter nativista, ocorrida em Pernambuco entre os anos de 1710 e 1711, que
envolveu as cidades de Olinda e Recife.
Contexto histórico - Com a expulsão dos holandeses do Nordeste, a economia açucareira sofreu uma
grave crise. Mesmo assim, a aristocracia rural (senhores de engenho) de Olinda continuava controlando o
poder político na capitania de Pernambuco.
Por outro lado, Recife se descolava deste cenário de crise graças à intensa atividade econômica dos
mascates (como eram chamados os comerciantes portugueses na região). Outra fonte de renda destes
mascates eram os empréstimos, a juros altos, que faziam aos olindenses.
Causas da Guerra dos Mascates: a) Disputa entre Olinda e Recife pelo controle do poder político em
Pernambuco; b) Crise econômica na cidade de Olinda; c) Favorecimento da coroa portuguesa aos
comerciantes de Recife; d) Forte sentimento antilusitano, principalmente entre a aristocracia rural de
Olinda; e) Conquista da emancipação de Recife, através de Carta Régia de 1709, que passou a ser vila
independente, conquistando autonomia política com relação à Olinda. A aristocracia rural de Olinda temia
que Recife, além de ser o centro econômico, passasse a ser também o centro político de Pernambuco.
nos moldes da Constituição espanhola de Cádiz, até redação de uma constituição
definitiva. Em janeiro de 1821, em Portugal, aconteceu a solene instalação das Cortes
Gerais, Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa, encarregadas de elaborar a
constituição, mas sem representantes brasileiros. Em fevereiro, D. João VI ordenou que
deputados do Brasil (bem como dos Açores, Madeira e Cabo Verde) participassem da
assembleia.

Em março, as Cortes em Portugal expediram decreto com as bases da constituição


política da monarquia. No Rio de Janeiro, outro decreto comunicava o retorno do rei
para Portugal e ordenava que, «sem perda de tempo», fossem realizadas eleições dos
deputados para representarem o Brasil nas Cortes Gerais convocadas em Lisboa.
Chegaria em abril a Lisboa um delegado da Junta do Pará, Maciel Parente, que por
exceção conseguiu discursar e foi o primeiro brasileiro a falar perante aquela
Assembleia. Em abril, na cidade do Rio de Janeiro, realizou-se a primeira assembleia de
eleitores do Brasil, que resultou em confronto com mortos, pois as tropas portuguesas
dissolveram a manifestação. No dia seguinte, cariocas afixaram à porta do Paço um
cartaz com a inscrição "Açougue do Bragança", referindo-se ao Rei como carniceiro. D.
João VI partiu para Portugal cinco dias depois, em 16 de abril de 1821, deixando seu
primogênito Pedro de Alcântara como Príncipe-Regente do Brasil.

Em 1821, o Brasil elegeu seus representantes em número de 97 entre deputados e


suplentes para as Constituintes em Lisboa. Em agosto de 1821, as Cortes apresentariam
três projetos para o Brasil que irritaram os representantes brasileiros com medidas
recolonizadoras que estes se recusavam a aceitar. Depois de Maciel Parente, o
monsenhor Francisco Moniz Tavares, deputado pernambucano, seria o primeiro
brasileiro a discursar oficialmente, em vivo debate com os deputados portugueses
Borges Carneiro, Ferreira Borges e Moura, contra a remessa de mais tropas para
Pernambuco e a incômoda presença da numerosa guarnição militar portuguesa na
província.

A separação do Brasil foi informalmente realizada em janeiro de 1822, quando D. Pedro


declarou que iria permanecer no Brasil ("Dia do Fico"), com as seguintes palavras:
Como é para o bem de todos e felicidade geral da nação, estou pronto: diga ao povo que
fico. Agora só tenho a recomendar-vos união e tranquilidade.

A sucessão dos acontecimentos nos meses seguintes foram responsáveis por incitar no
Brasil a ruptura com Portugal, uma vez que, como mencionado, isso não era certo em
janeiro de 1822. Ao longo do processo de independência, duas pessoas tiveram grande
influência na tomada de decisões de D. Pedro: sua esposa Maria Leopoldina e José
Bonifácio de Andrada e Silva.

O rompimento ficou cada vez mais evidente com algumas medidas aprovadas no Brasil.
Em maio de 1822, foi decretado o “Cumpra-se”, medida que determinava que as leis e
as ordens decretadas em Portugal só teriam validade no Brasil com o aval do príncipe
regente. No mês seguinte, em junho, foi determinada a convocação de eleição para a
formação de uma Assembleia Constituinte no Brasil.

Essas medidas reforçavam a progressiva separação entre Brasil e Portugal, uma vez que
as ordens de Portugal já não teriam validade aqui conforme determinava o “Cumpra-se”
e, além disso, esboçava-se a elaboração de uma nova Constituição para o país com a
convocação de uma Constituinte.

A relação das Cortes portuguesas com as autoridades brasileiras permaneceu


irreconciliável e prejudicial aos interesses dos brasileiros. Em 28 de agosto de 1822,
ordens de Lisboa chegaram ao Brasil com a mensagem que o retorno de D. Pedro para
Portugal deveria ser imediato. Além disso, anunciava-se o fim de uma série de medidas
em vigor no Brasil e tidas pelos portugueses como “privilégios”, e os ministros de D.
Pedro eram acusados de traição.

A ordem, lida por Maria Leopoldina, a convenceu da necessidade do rompimento com


Portugal e, em 2 de setembro, organizou uma sessão extraordinária, assinou uma
declaração de independência e a enviou para D. Pedro que estava em viagem a São
Paulo. O mensageiro, chamado Paulo Bregaro, alcançou a comitiva de D. Pedro, na
altura de São Paulo, quando estavam próximos ao Rio Ipiranga.

Na ocasião, D. Pedro I estava sofrendo de problemas intestinais (que não se sabe sua
origem específica). O príncipe regente leu todas as notícias e ratificou a ordem de
independência com um grito às margens do Rio Ipiranga, conforme registrado na
história oficial. Atualmente, os historiadores não têm evidências que comprovem o grito
do Ipiranga.

O 7 de setembro não encerrou o processo de independência do Brasil. Esse processo


seguiu-se com uma guerra de independência e nos meses seguintes acontecimentos
importantes aconteceram, como a Aclamação de D. Pedro como imperador do Brasil, no
dia 12 de outubro, e sua coroação que aconteceu no dia 1º de dezembro."

Diferentemente do que muitos acreditam, a independência do Brasil não foi pacífica.


Com a declaração da independência, uma série de regiões no Brasil demonstrou sua
insatisfação e rebelou-se contra o processo de independência. Eram movimentos “não
adesistas”, isto é, movimentos que eclodiram nas províncias que não aderiram ao
processo de independência e que se mantiveram leais a Portugal.

Os quatro grandes centros da resistência contra a independência do Brasil aconteceram


nas seguintes províncias: Pará, Bahia, Maranhão e Cisplatina (atual Uruguai).

Aconteceram campanhas militares nessas localidades, e os combates contra as forças


que não aderiram à independência estenderam-se até 1824. Para saber mais sobre, leia
este texto: Guerra de independência do Brasil."

Entre as consequências do processo de independência do Brasil, podem ser


mencionados: 1) surgimento do Brasil enquanto nação independente; 2) construção da
nacionalidade “brasileira”; 3) estabelecimento de uma monarquia nas Américas (a única
no continente junto da haitiana e mexicana); 4) endividamento do Brasil por meio de um
pagamento de 2 milhões de libras como indenização aos portugueses.
(1822-1889)
Primeiro reinado3
Após a declaração da independência, o Brasil foi governado por Dom Pedro I até o ano
de 1831, período chamado de Primeiro Reinado, quando abdicou em favor de seu filho,
Dom Pedro II, então com cinco anos de idade.

Logo após a independência, e terminadas as lutas nas províncias contra a resistência


portuguesa4, foi necessário iniciar os trabalhos da Assembleia Constituinte. Esta havia
sido convocada antes mesmo da separação, em julho de 1822; foi instalada, entretanto,
somente em maio de 1823. Logo se tornou claro que a Assembleia iria votar uma
constituição restringindo os poderes imperiais (apesar da ideia centralizadora
encampada por José Bonifácio e seu irmão Antônio Carlos de Andrada e Silva). Porém,
antes que ela fosse aprovada, as tropas do exército cercaram o prédio da Assembleia, e
por ordens do imperador a mesma foi dissolvida, devendo a constituição ser elaborada
por juristas da confiança de Dom Pedro I. Foi então outorgada a constituição de 1824,
que trazia uma inovação: o Poder Moderador. Através dele, o imperador poderia
fiscalizar os outros três poderes.

Surgiram diversas críticas ao autoritarismo imperial, e uma revolta importante


aconteceu no Nordeste: a Confederação do Equador. Foi debelada, mas Dom Pedro I
saiu muito desgastado do episódio. Outro grande desgaste do Imperador foi por o Brasil
na Guerra da Cisplatina, onde o país não manteve o controle sobre a então região de
Cisplatina (hoje, Uruguai). Também apareciam os primeiros focos de descontentamento
no Rio Grande do Sul, com os farroupilhas.

3
O Primeiro Reinado é o nome dado ao período da história brasileira em que Pedro I do Brasil governou o Brasil como Imperador,
entre 7 de setembro de 1822, data em que proclamou a independência do Brasil, e 7 de abril de 1831, quando abdicou do trono
brasileiro. Este período caracterizou-se por ser de transição, marcado por uma grande crise econômico-financeira, social e política.
A efetiva consolidação da independência do Brasil ocorreria a partir de 1831, com a abdicação de D. Pedro I. É historicamente
incorreto referir-se a este período como "primeiro império", já que o Brasil teve um único período imperial contínuo, dividido em
primeiro reinado, período regencial e segundo reinado.

4
D. Pedro, agora Imperador Dom Pedro I , buscou retirar possíveis focos de resistência portuguesa dentro do território brasileiro.
Encontrou ferrenha oposição nas províncias de Maranhão, Bahia, Pará e Piauí sem contar tropas portuguesas que ainda estavam
instaladas no Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras. Assim, D. Pedro I contratou alguns militares europeus, a maioria
ingleses e franceses. Comandados pelo marechal britânico Thomas Cochrane, os soldados brasileiros e mercenários contratados
conseguiram retirar a resistência. Thomas Cochrane chegou a dissipar a resistência maranhense com apenas um navio de guerra.
Aclamado primeiro imperador do país em 12 de outubro de 1822, D. Pedro I enfrentou a resistência de tropas portuguesas. Ao
vencê-las, em meados de 1823, consolidou sua liderança. Seu primeiro grande ato político foi a convocação da Assembleia
Constituinte, eleita no início de 1823. Foi também seu primeiro fracasso: dada a uma forte divergência entre os deputados e o
soberano, que exigia poder pessoal superior ao do Poder Legislativo e ao do Poder Judiciário, a assembleia foi dissolvida em
novembro.
Em 1831 o imperador decidiu visitar as províncias, numa última tentativa de estabelecer
a paz interna. A viagem deveria começar por Minas Gerais; mas ali o imperador
encontrou uma recepção fria, pois acabara de ser assassinado Líbero Badaró, um
importante jornalista de oposição. Ao voltar para o Rio de Janeiro, Dom Pedro deveria
ser homenageado pelos portugueses, que preparavam-lhe uma festa de apoio; mas os
brasileiros, discordando da festa, entraram em conflito com os portugueses, no episódio
conhecido como Noite das Garrafadas5.

Dom Pedro tentou mais uma medida: nomeou um gabinete de ministros com suporte
popular. Mas desentendeu-se com os ministros e logo depois demitiu o gabinete,
substituindo-o por outro bastante impopular. Frente a uma manifestação popular que
recebeu o apoio do exército, não teve muita escolha, assim criou o quinto poder. Mas
não deu certo a ideia, e não restou nada ao imperador a não ser a renúncia, no dia 7 de
abril de 1831.

Confederação do Equador

A Confederação do Equador foi um movimento revolucionário, de caráter


emancipacionista (ou autonomista) e republicano ocorrido em Pernambuco.
Representou a principal reação contra a tendência absolutista e a política centralizadora
do governo de D. Pedro I (1822-1831), esboçada na Carta Outorgada de 1824, a
primeira Constituição do país.

O conflito possui raízes em movimentos anteriores na região: a Guerra dos Mascates e a


Revolução Pernambucana, esta última de caráter republicano.

O centro irradiador e a liderança da revolta couberam à província de Pernambuco, que


já se rebelara em 1817 e enfrentava dificuldades econômicas. Além da crise, a província
se ressentia ao pagar elevadas taxas para o Império, que as justificava como necessárias
para levar adiante as guerras provinciais pós-independência (algumas províncias
resistiam à separação de Portugal).

Pernambuco esperava que a primeira Constituição do Império seria do tipo federalista, e


daria autonomia para as províncias resolverem suas questões.

A repressão ao movimento foi severa. Dom Pedro I pediu empréstimos à Inglaterra e


contratou tropas no exterior, que seguiram para o Recife sob o comando de Thomas
Cochrane. Os rebeldes foram subjugados, e vários líderes da revolta, como Frei Caneca,
foram enforcados ou fuzilados. Também em retaliação, Dom Pedro I desligou do
território pernambucano, através de decreto de 7 de julho de 1824, a extensa Comarca
do Rio de São Francisco (atual Oeste Baiano), passando-a, inicialmente, para Minas
Gerais e, depois, para a Bahia. Esta foi a última porção de terra desmembrada de
Pernambuco, impondo à província uma grande redução da extensão territorial, de 250
mil km² para 98 mil km².

5
Em março de 1831, D. Pedro I viaja para Minas Gerais, sendo hostilizado pelo povo mineiro. No dia 11 de março
ele retorna ao Rio de Janeiro, onde volta a encontrar oposição aberta nas ruas da cidade. O conflito culminou na noite
do dia 13, quando os portugueses organizavam uma grande festa para recepcionar o governante, mas os brasileiros
revoltosos atacaram com pedras e garrafas.
Período regencial

Durante o período de 1831 a 1840, o Brasil foi governado por diversos regentes,
encarregados de administrar o país enquanto o herdeiro do trono, D. Pedro II, ainda era
menor. A princípio a regência era trina, ou seja, três governantes eram responsáveis pela
política brasileira, no entanto com o ato adicional de 1834, que, além de dar mais
autonomia para as províncias, substituiu o caráter tríplice da regência por um governo
mais centralizador.

O primeiro regente foi o Padre Diogo Antônio Feijó , que notabilizou-se por ser um
governo de inspirações liberais, porém, devido às pressões políticas e sociais, teve que
renunciar. O governo de caráter liberal caiu para dar lugar ao do conservador Araújo
Lima, que centralizou o poder em suas mãos, sendo atacado veementemente pelos
liberais, que só tomaram o poder devido ao golpe da maioridade. Destacam-se neste
período a instabilidade política e a atuação do tutor José Bonifácio, que garantiu o trono
para D. Pedro II.

Teve início neste período a Revolução Farroupilha, em que os gaúchos revoltaram-se


contra a política interna do Império, e declararam a República Piratini. Também neste
período ocorreram a Cabanada, de Alagoas e Pernambuco; a Cabanagem, do Pará; a
revolta dos Malês e a Sabinada, na Bahia; e a Balaiada, no Maranhão.

Segundo reinado

O Segundo Reinado teve início com o Golpe da Maioridade (1840), que elevou D.
Pedro II ao trono, antes dos 18 anos, com quinze anos. A economia, que teve como base
principal a agricultura – tornando-se o café o principal produto exportador do Brasil
durante o reinado de Pedro II, em substituição à cana-de-açúcar –, apresentou uma
expansão de 900%. A falta de mão-de-obra, na época chamada de "falta de braços para
a lavoura", em consequência da libertação dos escravos foi solucionada com a atração
de centenas de milhares de imigrantes, em sua maioria italianos, portugueses e alemães.
O que fez o país desenvolver uma base industrial e começar a expandir-se para o
interior.

Nesse período, foi construída uma ampla rede ferroviária, sendo o Brasil o segundo país
latino-americano a implantar este tipo de transporte, e, durante a Guerra do Paraguai, foi
possuidor da quarta maior marinha de guerra do mundo. A mão-de-obra escrava, por
pressão interna de oligarquias paulistas, mineiras e fluminenses, manteve-se vigente até
o ano de 1888, quando caiu na ilegalidade pela Lei Áurea. Entretanto, havia-se encetado
um gradual processo de decadência em 1850, ano do fim do tráfico negreiro, por
pressão da Inglaterra, além de que o Imperador era contra a escravidão, pela opção dos
produtores de café paulistas que preferiam a mão de obra assalariada dos imigrantes
europeus, pela malária que dizimou a população escrava naquela época e pela guerra do
Paraguai quando os negros que dela participaram foram alforriados.

A partir de 1870 assistiu-se ao crescimento dos movimentos republicanos no Brasil. Em


1889 um golpe militar tirou o cargo de primeiro-ministro do visconde de Ouro Preto, e,
por incentivo de republicanos como Benjamin Constant Botelho Magalhães, o Marechal
Deodoro da Fonseca proclamou a República e enviou ao exílio a Família Imperial.
Diversos fatores contribuíram para a queda da Monarquia, dentre os quais: a
insatisfação da elite agrária com a abolição da escravatura sem que os proprietários
rurais fossem indenizados pelos prejuízos sofridos, o descontentamento dos
cafeicultores do Oeste Paulista que se tornaram adeptos do Partido Republicano Paulista
e da abolição pois usavam apenas mão de obra europeia dos imigrantes, e perdendo
apoio dos militares, especialmente do exército que se sentiam desprestigiados
entendendo que o imperador preferia a marinha do Brasil e que almejavam mais poder,
e as interferências do Imperador em assuntos da Igreja.

Não houve nenhuma participação popular na proclamação da República do Brasil. O


que ocorreu, tecnicamente foi um golpe militar. O povo brasileiro apoiava o Imperador.
O correspondente do jornal "Diário Popular", de São Paulo, Aristides Lobo, escreveu na
edição de 18 de novembro daquele jornal, sobre a derrubada do império, a frase
histórica:

“Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi
deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo
assistiu àquilo tudo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que
significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada!”

Para poupar conflitos, não houve violência e a Família Imperial pôde exilar-se na
Europa em segurança.

D. Pedro II assinou sua renúncia com a mesma assinatura de seu pai ao abdicar em
1831: Pedro de Alcântara.

O período pode ser divido em três etapas principais:

 a chamada fase de consolidação, que se estende de 1840 a 1850. As lutas


internas são pacificadas, o café inicia a sua expansão, a tarifa Alves Branco
permite a Era Mauá.
 o chamado apogeu do Império, um período marcado por grande estabilidade
política, quando de 1849 até 1889 não aconteceu no Brasil nenhuma revolução,
algo inédito no mundo: 50 anos de paz interna em um país, permitida pelo
sistema parlamentarista,(o parlamentarismo às avessas) e pela política de troca
de favores. Em termos de Relações Internacionais, o período é marcado pela
Questão Christie e pela Guerra do Paraguai.
 o chamado declínio do Império, marcado pela Questão Militar, pela Questão
Religiosa, pelas lutas abolicionistas e pelo movimento republicano, que
conduzem ao fim do regime monárquico.

Libertação dos escravos

Os primeiros movimentos contra a escravidão foram feitos pelos missionários jesuítas,


que combateram a escravização dos indígenas mas toleraram a dos africanos. O fim
gradual do tráfico negreiro foi decidido, no Congresso de Viena, em 1815. Desde 1810,
a Inglaterra fez uma série de exigências a Portugal, e passou, a partir de 1845, a reprimir
violentamente o tráfico internacional de escravos, amparada na lei inglesa chamada Lei
Aberdeen. Em 1850, a Lei Eusébio de Queirós aboliu o tráfico internacional de escravos
no Brasil.

Em 1871 o Parlamento Brasileiro aprovou e a Princesa Isabel sancionou a Lei 2.040,


conhecida como Lei Rio Branco ou Lei do Ventre Livre, determinando que todos os
filhos de escravos nascidos desde então seriam livres a partir dos 21 anos.

Em 28 de setembro de 1885 promulgou-se uma outra lei, a Lei dos Sexagenários (Lei
Saraiva–Cotegipe) que determinava a "extinção gradual do elemento servil" e criava
fundos para a indenização dos proprietários de escravos e determinava que escravos a
partir de 60 anos poderiam ser livres. Assim, com estas duas leis (Ventre Livre e
Sexagenários), a abolição dos escravos seria gradativa, com os escravos sendo libertos
ao atingirem a idade de 60 anos.

Em 1880 fora criada a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão que, juntamente com a
Associação Central Abolicionista e outras organizações, passou a ser conhecida pela
Confederação Abolicionista liderada por José do Patrocínio, filho de uma escrava negra
com um padre. Em 1884, os governos do Ceará e do Amazonas aboliram, em seus
territórios, a escravidão, no que foram pioneiros.

As fugas de escravos aumentaram muito, após 1885, quando foi abolida a pena de açoite
para os negros fugidos, o que estimulou as fugas. O exército se negava a perseguir os
negros fugidos. Há que lembrar ainda os Caifases, liderados por Antônio Bento de
Souza e Castro, que promoviam a fuga dos negros, perseguiam os capitães-de-mato e
ameaçavam os senhores escravistas. Em São Paulo, a polícia, em 1888, também não ia
mais atrás de negros fugidos.

A abolição definitiva era necessária. Há divergências sobre o número de escravos


existentes em 1888. Havia, segundo alguns estudiosos, 1.400.000 escravos para
população de 14 milhões habitantes: cerca de 11%. Porém, segundo a matrícula de
escravos, concluída em 30 de março de 1887, o número de escravos era apenas 720.000.

Uma Missa campal realizada em 1888 em ação de graças pela Abolição da Escravatura
no Brasil.

Finalmente, o presidente do Conselho de Ministros do "Gabinete de 10 de março", João


Alfredo Correia de Oliveira, do Partido Conservador, promoveu a votação de uma lei
que determinava a extinção definitiva da escravidão no Brasil. Em 13 de maio de 1888,
a Princesa Isabel sancionou a Lei Áurea, que já havia sido aprovada pelo Parlamento,
abolindo toda e qualquer forma de escravidão no Brasil. Logo após a Princesa assinar a
Lei Áurea, ao cumprimentá-la, João Maurício Wanderley, o barão de Cotegipe, o único
senador que votou contra o projeto da abolição da escravatura, profetizou:

"A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono!".

Em resposta, Isabel replicou: "Se mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para a
libertação dos negros".

A aristocracia escravista, oligarquia rural arruinada com a abolição sem indenização,


culpou o governo e aderiu aos vários partidos republicanos existentes, especialmente ao
Partido Republicano Paulista e o PRM, que faziam na oposição ao regime monárquico,
assim, uma das consequências da abolição seria a queda da monarquia. Pequenos
proprietários que não podiam recorrer a mão de obra assalariada fornecida pelos
imigrantes europeus também ficaram arruinados. Apenas a economia cafeeira do oeste
paulista, porém, quando comparada à de outras regiões, não sofreu abalos, pois já se
baseava na mão-de-obra livre, assalariada. Muitos escravos negros permaneceram no
campo, praticando uma economia de subsistência, em pequenos lotes, outros buscaram
as cidades, onde entraram num processo de marginalização. Desempregados, passaram
a viver em choças e barracos nos morros e nos subúrbios.

E de acordo com a análise de Everardo Vallim Pereira de Souza, reportando-se às


consideração do Conselheiro Antônio da Silva Prado, as consequências da abolição dos
escravos, em 13 de maio de 1888, deixando sem amparo os ex-escravos, foram das mais
funestas:

“Segundo a previsão do Conselheiro Antônio Prado, decretada de afogadilho


a “Lei 13 de maio”, seus efeitos foram os mais desastrosos. Os ex-escravos,
habituados à tutela e curatela de seus ex-senhores, debandaram em grande
parte das fazendas e foram "tentar a vida" nas cidades; tentâme aquele que
consistia em: aguardente aos litros, miséria, crimes, enfermidades e morte
prematura. Dois anos depois do decreto da lei, talvez metade do novo
elemento livre havia já desaparecido! Os fazendeiros dificilmente
encontravam "meieiros" que das lavouras quisessem cuidar. Todos os
serviços desorganizaram-se; tão grande foi o descalabro social. A parte única
de São Paulo que menos sofreu foi a que, antecipadamente, havia já recebido
alguma imigração estrangeira; O geral da Província perdeu quase toda a
safra de café por falta de colhedores!”

O Brasil foi o último país independente do continente americano a abolir a escravatura.


O último país do mundo a abolir a escravidão foi a Mauritânia, somente em 9 de
novembro de 1981.

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