2016 Sepech Mulhernodiscursoreligioso
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INCLUSÃO DE ALUNA SURDA NO ENSINO PROFISSIONALIZANTE EM ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE LONDRINA View project
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RESUMO
Este trabalho, que é fruto de uma pesquisa de iniciação científica, visa a analisar a
representação da mulher e o papel do feminino no discurso religioso cristão, mais
especificamente no discurso bíblico. Para tanto, recorre à Análise do Discurso de
corrente francesa, justamente por considerar que essa teoria dá suporte para
compreender a Formação Ideológica presente no discurso. O corpus de análise é
formado pelos livros bíblicos de 1 Timóteo, Efésios e Tito. Por meio da análise,
observou-se que a mulher tem papel marginalizado, submisso ao homem, que se em
geral a mulher é retratada por meio de uma ideologia machista. Nos textos analisados, o
objetivo é capturar a mulher que já é oprimida pela sociedade patriarcal e assujeitá-la
ainda mais à opressão, que, nesse caso, vem de um poder ainda mais superior (poder de
Deus), determinando a ela papéis secundários, de inferioridade, de submissão. Ela é
representada como frágil, dependente e, por vezes, pecadora.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1. DISCURSO E IDEOLOGIA
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qual os homens vivem a sua relação com as condições reais de existência,
relação esta, imaginária;
b) “a ideologia tem uma existência porque existe sempre num aparelho e na sua
prática ou suas práticas” (p.23): a ideologia se materializa por meio de atos
concretos, adotando um caráter moldador das ações. A prática só existe numa
ideologia e por meio dela;
c) e “a ideologia interpela indivíduos como sujeitos” (p.23): a função de toda
ideologia é constituir indivíduos concretos em sujeitos.
Mussalin (2001, p. 110) lembra que o discurso é tomado como:
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c) Função de Deformação:
A ideologia oscila entre dois polos: de um lado, tem-se a concepção de
ideologia ligada à tradição marxista, que entende o fenômeno da ideologia como o
mecanismo que leva ao mascaramento da realidade social, resultante na existência de
um discurso ideológico que legitima o poder de uma classe social. Por outro lado, há o
conceito de ideologia como uma visão de mundo de uma determinada comunidade
social numa dada situação histórica. Essas duas concepções não se excluem, mas se
cruzam, já que, partindo-se do princípio de que a ideologia, enquanto visão de mundo,
apresenta-se como uma forma verdadeira de se pensar esse mundo, esta forma pode ser
incompatível com a realidade. Faz-se, assim, um recorte da realidade, mesmo que por
meio de manipulação, como pode ocorrer, por exemplo, com o discurso político,
fazendo com que o real não se mostre na medida em que, intencionalmente, omitem-se,
atenuam ou falseiam dados.
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Silva (2002), em concordância com Laffey (1994), também traz uma
definição do que é o patriarcado. Para a autora,
Nessa citação, Beauvoir (1949) define que o papel que a mulher ocupa na
sociedade não é definido por fatores (biológicos, psíquicos e econômicos), mas por um
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conjunto de regras imposto por um modelo de sociedade. Alguns desses modelos
impõem à mulher uma socialização de inferioridade desde o nascimento e procura
conservá-los ao longo da vida.
Como exemplo desse papel secundário que é imposto à mulher, principalmente
dentro das religiões cristãs, podemos analisar o texto de Timóteo, em que Paulo faz uso
de sua autoridade apostólica e ordena: “A mulher aprenda em silêncio, com toda
submissão. E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o
marido; esteja, porém, em silêncio” (1TIMÓTEO, 2:11-12). Ou seja, o poder divino
(oferecido a Paulo por Deus – o poderoso, imortal, onipotente, onipresente, onisciente,
infalível) é sustentado pela desigualdade de papéis e de lugares entre homens e
mulheres em vários grupos sociais.
Assim, notamos que, nesse discurso, a intenção é a de que a interação seja
estabelecida de forma a conter a reversibilidade (ORLANDI, 1996), ou seja, congelar
tanto o locutor quanto o ouvinte no lugar que lhe é de direito e dever (ORLANDI,
1996), e cujo sentido fica aprisionado pelo próprio dizer: único e inquestionável. Nesse
sentido a reversibilidade trata-se de a Bíblia conter um discurso professado por uma
autoridade/divindade (Deus) que não pode ser questionada ou desmistificada, tornando
o ouvinte um ser assujeitado que não pode interagir nesse discurso, deve somente ouvi-
lo e tê-lo como verdade única.
No discurso religioso, a mulher é oprimida pela sociedade patriarcal e
assujeitada ainda mais à opressão, a qual, nesse caso, vem de um poder ainda mais
superior (poder de Deus), determinando a ela papéis secundários, de inferioridade, de
submissão perante o sexo masculino, conforme podemos observar neste versículo:
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Destarte, nesse texto bíblico (TITO 2:5), a mulher é assujeitada a um papel que
não seja de sua própria personalidade, mas imposto pela voz autoritária que representa a
voz divina em que a mulher deve ser pura, bondosa, deve se ocupar com as tarefas
domésticas e ser sempre ser submissa ao marido.
A sociedade é que impõe a mulher que ela seja submissa ao marido e uma vez
casada se dispõe a prestar serviços a ele, ou seja, o homem é submisso à sociedade que
lhe impõe deveres a serem cumpridos, e ele incube a mulher de ajudá-lo nessas
obrigações, isso em troca de proteção, subsistência e presentes. Percebe-se, assim, uma
ideologia machista que permeia a representação da mulher e do papel do feminino no
corpus analisado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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neste trabalho, conduziu a uma abordagem por meio da Análise do Discurso que visou a
romper com o patriarcado e com uma ideologia machista e, consequentemente, acabar
com a desvalorização da mulher (que é pautada apenas por quesito do sexo, ou seja, por
ter nascido mulher) dentro e fora dos limites da igreja. Melhorar a relação da
valorização da mulher é melhorar de forma significativa a sociedade na qual estamos
inseridos.
REFERÊNCIAS
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