Interseccionalidade

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O CONCEITO DE INTERSECCIONALIDADE: CONTRIBUIÇÕES PARA A

FORMAÇÃO NO ENSINO SUPERIOR

Claudia Lopes Perpétuo


Universidade Paranaense – UNIPAR-PR.

RESUMO

O projeto de pesquisa aqui apresentado objetivou investigar o conceito de


interseccionalidade e suas contribuições para a formação no ensino superior. O
conceito nos leva a compreender como as articulações das diferentes categorias
sociais se inter-relacionam e estruturam a vida dos sujeitos, produzindo
desigualdades e injustiças, desvela a complexidade da situação de pessoas e
grupos, afirmando a coexistência de diferentes fatores como: vulnerabilidades,
violências, discriminações; também chamados como eixos de subordinação, permiti
a possibilidade de pesquisar e viabilizar a existência ou não de desvantagens
produzidas pela sociedade desigual sobre os sujeitos. Como nos traz Pocahy (2011,
p.28) podemos pensar a interseccionalidade “[...] como um modo de problematizar o
que nos faz humanos ou não”. A abordagem interseccional mostra a coexistência e
a subordinação de diferentes fatores, como se interseccionam em contextos
históricos e específicos nas diferentes dimensões da vida social, que não são
separadas. Este projeto na graduação possibilitou desvelar a articulação das
múltiplas diferenças e desigualdades que perpassam, atingem e transitam todos os
contextos, sem exceções, onde se produzem e reproduzem as relações humanas,
buscando perceber a produção de sujeitos.

Palavras-chave: Interseccionalidade; psicologia; categorias sociais.

INTRODUÇÃO

A contemporaneidade não nos permite mais atuações vazias, as realidades


são outras e demandam dos múltiplos saberes, práticas engajadas e comprometidas
com a vida e sua produção. Na Psicologia não é diferente, cada vez mais essa
ciência é chamada a problematizar os diversos contextos aos quais se inserem as
atividades e as relações humanas, assim como, na problematização dos pontos de
interseções e marcadores sociais que subjetivam e categorizam as pessoas.
É importante perceber que a própria universidade, como instituição
potencialmente reprodutora ou questionadora do status quo, torna-se então
profundamente imbricada no problema, visto que um de seus objetivos é possibilitar
aos acadêmicos, da forma mais intensa possível, a formação de um sujeito crítico,
problematizador, capaz de reconhecer a realidade, na qual o mesmo se encontra,
como um processo em constante transformação e historicamente construído e
constituído.
Cabe a Universidade propiciar programas e espaços de discussões, neste
caso então temos o Programa de Iniciação Científica (PIC) que através de diversos
projetos de pesquisas objetiva possibilitar espaços para a vivência da pesquisa,
onde a partir de uma formação crítica e problematizadora, visa fomentar assim a
autonomia do acadêmico com relação ao seu pensar, bem como sua postura diante
a realidade e do contexto que lhe é apresentado e no qual estará realizando sua
práxis profissional ético-política.
Nesse viés alguns campos dessa ciência já não aceita as limitações de
atuações de manuais que visualizam as pessoas como unidades isoladas e sobre
elas aplicam-se intervenções individualizadas, pelo contrário, problematiza os
contextos, os territórios, os guetos, a história, a cultura, as políticas e a sociedade de
forma geral, portanto é preciso comprometer-se com o humano em sua totalidade,
considerando os atravessamentos que os compõe e o posicionam no mundo.
Falamos então de uma Psicologia que tem em seu cerne o compromisso ético e
social com as pessoas e seus contextos de vivencias, locais onde experimentam no
corpo a materialidade de suas realidades.
Diante dessa exposição inicial, este trabalho objetiva trazer as discussões
propiciadas em um projeto de pesquisa realizado em uma universidade no interior do
Paraná, no ano de 2015 e 2016, o qual objetivava investigar teoricamente o conceito
de interseccionalidade e suas contribuições para a formação no ensino superior.
Assim o projeto buscou promover um espaço de ampliação e
problematizações dos saberes psi, possibilitando a partir destas a análise dos
atravessamentos e dos determinantes sociais, bem como das relações de poder que
corroboram na produção das desigualdades, das violações de direitos e na não
humanização de alguns grupos de pessoas.
Os marcadores sociais (interseccionalidades) correspondem às conexões de
diferentes fatores que demarcam territórios específicos de vivências na vida de cada
sujeito e/ou grupo. A presente pesquisa teve por metodologia a pesquisa
bibliográfica sobre o conceito de interseccionalidade, buscando problematizar e
articular seus desdobramentos e questões pertinentes às áreas da Psicologia,
possibilitando assim um espaço de discussão, construção e desconstrução de
saberes, discursos e práticas instituídas nas diferentes áreas de formação d@s
futur@s psicólog@s.
Esta pesquisa se justifica pela necessidade, bem como a importância de
estudos referentes à perspectiva da interseccionalidade na formação d@s futur@s
psicólog@s, e não só estes, com o intuito de propiciar um espaço de discussões
teórico-acadêmicas, criando assim condições para troca de saberes e experiências
coletivas a partir da mediação enquanto dispositivo de (des)construção de discursos
e práticas instituídas, levando assim o acadêmico a se (re)posicionar a partir de uma
postura ética, problematizadora, crítica e reflexiva.
Diante disso entende-se em Dimenstein (2001) que o compromisso ético e
social requer um profissional “capaz de construir um saber crítico sobre si mesmo,
sobre seu mundo e sobre a sua inserção nesse mundo” (2001, p. 03), um
profissional capaz de analisar criticamente as dinâmicas sociais que corroboram
para não humanização e para as produções das iniqüidades, em outras palavras,
que seja flexível e dinamizador e que recuse o “determinismo absoluto que aniquila
os possíveis espaços de liberdade, de criação, de diversidade” (DIMENSTEIN, 2001,
p. 03).
Um profissional engajado com seu saber, com os sujeitos, seus territórios de
vivencias e com a ética profissional deve possuir condições de analisar os
atravessamentos e os determinantes sociais que corroboram na produção das
iniqüidades, das violações de direitos e da não humanização de alguns grupos de
pessoas. Nesse sentido postula-se na contemporaneidade um profissional
qualificado, que possua um campo de atuação ampliado e que construa novas
possibilidades de vivencias, enfocando os sujeitos em suas totalidades e
multiplicidades, que considere as interseccionalidades que compõem e subjetivam
as pessoas e posteriormente categoriza em níveis de hierarquias sociais que geram
opressões e exclusões de alguns grupos de pessoas.
Para estas discussões, articulações e problematizações percebe-se a
necessidade de pensarmos a partir de uma perspectiva interseccional, para tanto
expomos a seguir o conceito de interseccionalidade e algumas reflexões para a
formação em Psicologia.

Alguns apontamentos sobre o conceito de Interseccionalidade:


O conceito de interseccionalidade, inicialmente proposto a partir de estudos e
pesquisas feministas, se propõe a compreender como a articulação das diferentes
categorias sociais (classe social, gêneros, raça/etnia, cor, sexualidades, corpos,
entre outras) se encontram inter-relacionadas e estruturam a vida dos sujeitos,
produzindo desigualdades e injustiças.
A pesquisa deste conceito se propõe na tentativa de apreender a articulação
das múltiplas diferenças e desigualdades que perpassam, atingem e transitam pela
Psicologia, ou melhor, em todos os contextos, sem exceção, onde acontecem; se
produzem e reproduzem as relações humanas, buscando compreender a produção
de sujeitos.
O conceito de interseccionalidade, proposto por Degele e Winker (2007, apud
Mattos, 2011), autoras alemãs, tem proporcionado discussões no intuito de
compreender a dinâmica da dominação social, trazendo como ideia básica a
possibilidade de explicar como as normas, valores, ideologias e discursos
influenciam tanto as estruturas sociais quanto a constituição de identidades e são
por elas influenciados.
Este conceito ajuda a compreender a complexidade da situação de pessoas e
grupos, afirmando a coexistência de diferentes fatores como: vulnerabilidades,
violências, discriminações; também chamados como eixos de subordinação, que
acontecem de modo simultâneo na vida dos sujeitos.
Esta perspectiva traz então a possibilidade de pesquisar e viabilizar a
existência ou não de desvantagens produzidas pela sociedade desigual sobre as
pessoas, permitindo ainda compreender e enfrentar de forma mais precisa a
articulação entre as questões de gêneros raça/etnia, classe social, moradia, idade,
orientação sexual, corpo, entre outras categorias; visto que estas não se
desenvolvem de modo isolado nem afastam outros fatores passíveis de produzir
desigualdades e injustiças da vida cotidiana. A presença de outros fatores ao
mesmo tempo potencializa os efeitos de ambos, bem como oferece as condições
necessárias para que outras violações de direitos ou de criação de privilégios e
desigualdades se instalem. Chama a atenção de como estas categorias sociais,
longe de serem “naturais” ou “biológicas”, são construídas e estão inter-relacionadas
e ainda como estas estruturam a vida das pessoas. (MÉNDEZ, 2014, pg. 56)
Assim sendo a interseccionalidade traz a conceituação do problema que
busca capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou
mais destes chamados eixos de subordinação. Trata especificamente da forma pela
qual os sistemas discriminatórios criam desigualdades básicas que estruturam
posições sociais e como as ações e políticas específicas geram opressões que
circulam ao longo de tais eixos constituindo aspectos dinâmicos ou ativos do
desempoderamento.
Abordar de forma interseccional nos possibilita a realização de estudos mais
precisos a respeito de possíveis causas e efeitos das desigualdades sociais em suas
diversas combinações. Assim como traz Pocahy (2011, p.28) podemos pensar a
interseccionalidade “[...] como um modo de problematizar o que nos faz humanos ou
não”.
A abordagem interseccional nos traz questões sobre como o encontro destes
diferentes fatores/categorias/marcadores sociais, inferem direta/indiretamente no
contexto de cada sujeito e/ou grupo e como estes agem sobre os mesmos,
permitindo assim também buscar refletir de que forma se dá esta articulação
(gêneros, raça/etnia, classe social, idade, moradia, corpo), visto que as mesmas não
se dão de modo isolado e estanque, nem excluem outras categorias possíveis de
produzir desigualdades, revelando assim múltiplas formas de desigualdade social,
repressão e poder. Proporcionou-nos discussões e reflexões no sentido de
compreender a dinâmica da dominação social, possibilitando entender como valores,
ideologias, normas influenciam tanto as estruturas sociais quanto a constituição de
identidades e são por elas influenciadas (MATTOS, 2011).
A interseccionalidade segundo Rodrigues (2013), é um conceito que permite
dar visibilidade as múltiplas formas de 'estar' no mundo sem cair em “um
reducionismo de um principio unificador comum, mas sem, contudo, resvalar para
um relativismo que desloca as relações de poder envolvidas nas diversas formas de
opressão” (RODRIGUES, 2013, p. 6). Esse conceito viabiliza estudar uma
multidimensionalidade atravessada por raça, gênero, classe social e orientação
sexual que permitem descontruir os conceitos impregnados, naturalizados e
reproduzidos na sociedade como aqueles tidos como “normais”.
Ao longo da história as diferenças anatômicas dos órgãos sexuais femininos e
masculinos foram determinantes na naturalização de papéis instaurados a mulheres
e homens. A partir dos meados do século passado iniciou-se uma desconstrução
das algemas da natureza do destino biológico com a formulação dos estudos de
gênero. De acordo com Butler (2003), gênero pode ser compreendido como “um
modo contemporâneo de organizar normas passadas e futuras, um modo de nos
situarmos e através dessas normas, um estilo ativo de viver nosso corpo no mundo”
(BUTLER, 2003, p. 147). Os estudos de gênero descontroem a ideia essencialista
de que as diferenças entre mulheres e homens em sua forma de estar no mundo
são naturais e constroem que os papeis de feminilidade e masculinidade são
construídos e impostos socialmente e historicamente através das mais diversas
linhas que atravessam os corpos. Essa perspectiva compreende que a passividade
feminina é construída, mas acaba atrelada apenas a leituras sexistas,
desconsiderando outras formas de estar no mundo que se constroem através das
várias linhas que atravessam cada gênero.
Ao tomarmos os fatores econômico/classe social, como um marcador social
que atravessa e subjetivam os corpos, temos ai um amplo campo de
problematizações, o qual possibilita compreender os processos de exclusões
advindos do marcador classe social. Nesse sentido os estudos de Guattari e Rolnik
(1996) elucidam como este fator produz segregação e despotencialização de alguns
grupos de pessoas, ao mesmo tempo em que desnaturaliza a produção da
subjetividade no sistema capitalista.
Em suas discussões os autores apresentam as semióticas e os
agenciamentos que produzem os processos de subjetivação de forma serializada e
massificada. De acordo com os mesmos, a produção de subjetividade se da a partir
das relações estabelecidas entre os indivíduos e a sociedade, “a subjetividade está
em circulação nos conjuntos sociais de diferentes tamanhos: ela é essencialmente
social, e assumida e vivida por indivíduos em suas existências particulares”
(GUATTARI e ROLNIK, p. 33, 1996), sua produção é serializada e ocorre por meio
de agenciamentos em grandes escalas capilísticas que confeccionam processos de
subjetivação correspondentes aos valores pregados por esse sistema.
Para os autores a produção de subjetividade está interpenetrada com a
grande maquina capitalística, sofrendo influencias de três tipos culturais
historicamente confeccionados, quais seja, a cultura de valor, cultura alma coletiva e
a cultura de massas ou cultura mercadoria.
Entende-se por “cultura de valor” os agenciamentos que produzem a
sistematização dos valores socialmente aceitos, hegemonicamente os burgueses,
por estarem desde sempre no poder e por meio dos saberes introduzidos ao longo
da história. Os burgueses postularam toda uma conduta de valores que são
introduzidos, legitimados e padronizados socialmente, tornam-se normas, viram
condutas veneradas e admiradas. Nesse sentido os sujeitos que possuem ‘certa’
cultura burguesa possuem também certo valor social, já os que não possuem são
submissos e entendidos como inferiores ‘culturalmente’ por não possuírem os
valores impostos pela cultura dominante burguesa, a vista disso cria-se níveis
culturais de legitimidade e ilegitimidade, posteriormente as segregações sociais.
(GUATTARI e RONILK, 1996).
A “cultura alma coletiva” compreende que todos os sujeitos, povos, grupos
sociais pertencem a um tipo cultura, este entendimento se da a partir da revolução
das ciências antropológicas que almejam livrar-se do etnocentrismo da cultura
dominante, (branca e burguesa) através dos estudos do estruturalismo e
culturalismo, estabelecendo um policentrismo cultural que segundo os autores
novamente se fechou em etnocentrismos. (GUATTARI e ROLNIK, 1996).
Por ultimo apresentam a “cultura de massa” ou “cultura-mercadoria”, na qual
ocorre uma produção constante, massificada e serializada da cultura e dos valores
capitalísticos. Produtora de mercadorias e desejos massificados e serializados a
cultura de massas infere diretamente nos processos de subjetivação de todas as
pessoas, os valores ainda continuam sendo os dominantes, aos quais os consumos
e desejos são direcionados de forma naturalizadas (GUATTARI e ROLNIK, 1996).
Segundo os autores essas três formas culturais estão entrelaçadas e
interpenetradas, produzindo conexões constantes que se manifestam em conjunto
articulados, seus efeitos atingem toda a massa e produz “indivíduos normalizados,
articulados uns aos outros segundo sistemas hierárquicos, sistemas de valores,
sistema de submissão” (GUATTARI e ROLNIK, p. 16, 1996).
As contribuições de Guattari e Rolnik (1996) permite-nos compreender o
marcador classe social por uma perspectiva histórica, política e cultural, inserida no
sistema vigente capitalista, no qual as relações de poder/saber corroboraram para a
padronização e a naturalização de uma hegemonia burguesa e dos valores
capitalísticos, inviabilizando e produzindo segregações aos que não se assemelham
a esses valores. Portanto compreende-se o quanto o fator econômico/classe social é
ponto de intersecção e sua materialização produz hierarquias em níveis sociais.
Essas discussões, reflexões sobre a noção de interseccionalidade já vem
sendo feitas, dentro dos estudos e teorias feministas, onde no final dos anos 80 e
durante toda década de 90, surgem novas formulações sobre o conceito de gênero,
sendo este repensado por diversas autoras como Joan Scott, Donna Haraway, entre
outros.
Na atualidade os estudos interseccionais têm corroborado para o
aprimoramento dessas discussões em alguns campos da Psicologia, as quais
permitem problematizar as relações de poder que produzem os marcadores sociais,
que subjetiva, confecciona e distribui os corpos. Em um breve estudo sobre as
interseccionalidades no cenário brasileiro Rodrigues (2013) ressalta que os pontos
de intersecções mais presentes são os de gênero, classe social, raça/etnia e
geração, os quais envolvem atravessamentos históricos, políticos, culturais e
relações de poder que dão legitimidade e visibilidade a alguns modos de ser e estar
no mundo e ao mesmo tempo corrobora para ilegitimidade e invisibilidade de outros
modos de existir.
Considerações Finais
A partir das problematizações e proposições apresentadas neste trabalho,
podemos considerar que as perspectivas teóricas interseccionais são de grande
relevância para as discussões realizadas ao longo da formação em Psicologia. Isso
se configura pelos recentes diálogos que a ciência psicológica vem se propondo
fazer com outras áreas de saber, como Sociologia, Filosofia, Antropologia, etc. Essa
bricolagem de conhecimentos propicia não somente abertura para troca de saberes,
mas também empoderamento e maior articulação dos futuros profissionais psi, bem
como, dos que já se encontram desenvolvendo suas atividades nos diversos
campos de trabalhos.
A abordagem interseccional nos ajuda a compreender a complexidade da
situação de pessoas e/ou grupos, considerando a coexistência e a subordinação de
diferentes fatores que incidem simultaneamente na vida das pessoas. Apresenta um
significado complexo, irredutível, um conjunto de efeitos variados e variáveis que
surgem quando as múltiplas categorias de diferenciação se interseccionam em
contextos históricos e específicos, enfatizando que as diferentes dimensões da vida
social não podem ser separadas.
Os estudos interseccionais corroboram para problematizações dos processos
de subjetivação e dos marcadores sociais que subjetivam os corpos e, numa
perspectiva transdisciplinar compreende que esses são constituídos de
multiplicidades e pluralidades, nos quais são atravessados por marcadores sociais
que interseccionam a vida, produzindo sua hierarquização e segregação por
intermédio dos valores culturais e sociais.
Levar em consideração os marcadores sociais/interseccionais (raça/etnia,
sexo, sexualidades, religiões, idade, classe social, entre outros) na formação em
Psicologia, faz problematizar os agenciamentos e suas potencias na produção de
subjetividades. Assim, ao perceber que as subjetividades são produzidas no campo
coletivo e não individual, estas são constantemente atravessadas por dispositivos de
poder que delimitam por vezes a ampliação da vida e da percepção das realidades.
Compreender as dinâmicas das relações de poder que (re)produzem
desigualdades múltiplas, constroem visões parciais e dicotômicas no tratamento das
diferenças ainda se constitui um desafio para a Psicologia enquanto ciência e
profissão. É imprescindível perceber as interconexões das lógicas produtoras das
diferentes formas de opressão, bem como de privilégios.
Concluímos então que trazer o diálogo e a perspectiva interseccional para a
Formação em Psicologia se torna em primeiro lugar uma ampliação da própria
ciência psicológica, rompendo com essencialismos e naturalizações de modos de
existência. Em segundo lugar, cria espaços de diálogos mais humanizados e críticos
a respeito das demandas sociais, sexuais e raciais que se configuram na realidade
transcontemporanea. Portanto, pesquisar, discutir e problematizar os marcadores
sociais/interseccionais neste projeto de pesquisa possibilitou seguir outros rastros de
vivencias possíveis de vida e de encontros intensos com as diferenças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução


de Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

DIMENSTEIN, M. O psicólogo e o compromisso social no contexto da saúde


coletiva. Psicol. estud., Maringá, v. 6, n. 2, p. 57-63, Dec. 2001.

GUATTARI, F. ROLNIK, S. Micropolitica: Cartografias do desejo. Petropólis, Vozes,


1996.

MATTOS, P. O conceito de Interseccionalidade e suas vantagens para os estudos


de gênero no Brasil. Trabalho apresentado no XV Congresso Brasileiro de
Sociologia, Universidade Federal de São Carlos, Curitiba/PR, 2011.

MÉNDEZ, P. R. (Lucas). Metáforas y articulaciones para una pedagogía crítica sobre


la interseccionalidad. Quaderns de Psicologia. v. 16, n.1, p.55-72. 2014. Disponível
em: http://www.quadernsdepsicologia.cat/article/view/1219.

POCAHY, A. F. Interseccionalidade e educação: cartografias de uma prática-


conceito feminista. Textura, Canoas, n.23, p.18-30, jan./jun. 2011.

RODRIGUES, C. Atualidade Do Conceito De Interseccionalidade Para A Pesquisa E


Prática Feminista No Brasil. Seminário Internacional Fazendo Gênero 10(Anais
Eletrônicos), Florianópolis, 2013. Disponível em
http://www.fazendogenero.ufsc.br/10/resources/anais/20/1384446117_ARQUIVO_Cr
istianoRodrigues.pdf>. Acesso em 05 de maio de 2015.

TITLE: The Concept of Intersectionality: contributions to higher education

ABSTRACT: The research project presented here aimed to investigate the concept
of intersectionality and its contributions to training in higher education. The concept
leads us to understand how the articulations of the different social categories
interrelate and structure the life of the subjects, producing inequalities and injustices,
reveals the complexity of the situation of people and groups, affirming the
coexistence of different factors such as vulnerabilities, violence , Discrimination; Also
called as axes of subordination, allowed the possibility of researching and making
feasible the existence or not of the disadvantages produced by the unequal society
on the subjects. As Pocahy (2011, p. 28) brings us to think of intersectionality "[...] as
a way of problematizing what makes us human or not." The intersectional approach
shows the coexistence and subordination of different factors, as they intersect in
historical and specific contexts in the different dimensions of social life, which are not
separate. This graduation project made it possible to unveil the articulation of the
multiple differences and inequalities that permeate, reach and transit all contexts,
without exceptions, where human relations are produced and reproduced, seeking to
perceive the production of subjects.

KEY WORDS: Intersectionality; Psychology; Social categories.

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