Os Sentidos Da Retomada de Manoel Bomfim No Século XXI
Os Sentidos Da Retomada de Manoel Bomfim No Século XXI
Os Sentidos Da Retomada de Manoel Bomfim No Século XXI
Brasília
2006
“É de causar surpresa a coerência e a lúcida rebeldia de Bomfim,
e o fato, tão raro como admirável, de ter ele dedicado sua vida ao
projeto que julgava ser imprescindível ao nosso esforço de auto-
superação: a instrução básica, popular e plena”.
2
Dedicatória
3
Agradecimentos
4
Sumário
Introdução...................................................................................................................6
Biografia do autor.........................................................................................................6
Conclusão.......................................................................................................................51
Bibliografia....................................................................................................................53
5
Introdução
Manoel José do Bomfim (1868-1932) nasceu em Aracaju, Sergipe foi o sexto dos
treze filhos de Paulino José, um vaqueiro que, posteriormente, tornou-se dono de loja e de
engenhos, ao lado da esposa, Maria Joaquina.
Em 1893, foi viver em Mococa, no interior paulista. De acordo com Ronaldo Conde
Aguiar, esta saída da então Capital Federal ocorreu devido a perseguições políticas.
Bomfim junto com Olavo Bilac, Luís Murat, Guimarães Passos, José do Patrocínio,
assumiram posições antimilitaristas e apoiaram eleições imediatas para presidente, contra a
permanência de Floriano Peixoto (1839-1895) no poder. 1
“A vida da boêmia era feita nos cafés, para onde se ia depois do trabalho no jornal.
Não podendo ficar no Java ou no Londres após o trabalho de redação, ao lado dos
companheiros, levava-os Coelho [Neto] para sua casa, onde ficavam todos até alta
madrugada. Quando era, por qualquer motivo, obrigado a ficar em casa, eles iam
para lá, reconstituindo a roda como em qualquer café da cidade.”2
1
AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro,
Topbooks, 2000. p.135
2
CAMPOS, Humberto de. Diário secreto, vol. II. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1954. p.102.
6
Em 1895, Manoel Bomfim foi apresentado pelo amigo Alcindo Guanabara, que era
deputado federal naquele momento, ao então Prefeito do Distrito Federal, Werneck de
Almeida. Este o convidou para o cargo de subdiretor do Pedagogium, um instituto dedicado
a promover pesquisas na área da educação. Foi nomeado em 1896 e no mesmo ano passou
a atuar como redator e secretário do jornal A República. Em artigo de 1897, fez crítica à
política de instrução popular dizendo que:
“Todos os governos das nações cujas condições políticas mais se aproximam das
nossas, intervêm na organização moral e política da escola primaria e contribuem
largamente para a instrução popular. (...) O não conheço é país onde o governo
central se despreocupe tão absolutamente da instrução primária como entre nós;
não sabendo o que o povo aprende nem se há escolas, nem o que nelas se ensina;
não concorrendo com um ceitil para a instrução do povo, ignorando, por inteiro,
tudo o que a isto se refere”. 3
Em 1901, foi redator de Leitura para todos (1904) e colaborou com os jornais: A
Notícia, Tribuna, Jornal do Commercio, O Paiz, A Nação, A Academia, O Correio da
3
BOMFIM apud AGUIAR, op. cit., p.128. O trecho foi extraído do artigo Instrução popular, publicado no
jornal A República, em 02/09/1987, posteriormente publicado no livro Cultura e educação do povo brasileiro
(1392).
7
Semana, Correio do Brasil, A Crônica e A Rua. E revistas: Ilustração Brasileira, Os
Annaes e Kosmos.
Em 1905, foi convidado pelo Prefeito Pereira Passos (1836-1913) para assumir
novamente a Diretoria da Instrução Pública, exercendo o cargo até 1907, quando foi
nomeado deputado federal por Sergipe. Sua curta atuação como deputado foi inteiramente
dedicada a causa da instrução pública.
Ainda em 1905, Bomfim se envolveu com um empreendimento editorial que iria ter
uma enorme repercussão na vida cultural brasileira. Ele e o jornalista Renato de Castro e o
poeta Cardoso Júnior, ele desenvolveu o projeto de uma revista semanal voltada para o
público infantil, que veio a se chamar O Tico-Tico e passou a circular no mesmo ano, com
o apoio de Luís Bartolomeu (1866-1932), proprietário da Sociedade O Malho, tornando-se
um fenômeno de vendagem. Com preocupação pedagógica, a revista tornou-se conhecida
por seus concursos, pela publicação de novelas infanto-juvenis, pela correspondência
enviada por crianças, pelas charadas e ilustrações.4
No mesmo ano, Bomfim publicou pela livraria Garnier, A América Latina: males de
origem, um ensaio escrito durante o tempo em que viveu na França, com amplo uso de
categorias explicativas extraídas das ciências naturais. O objetivo era explicar as razões do
atraso das nações latino-americanas, cujos “povos possuem todos os elementos para ser
prósperos, adiantados e felizes, e que, no entanto, arrastam uma vida penosa e difícil”. Nas
4
AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro,
Topbooks, 2000. p .369-374.
8
palavras do autor, o livro era um “estudo de parasitismo social” em busca da “causa
efetiva” dos males que atingem as ex-colônias ibéricas na América. Tal causa derivaria do
“parasitismo” da metrópole sobre a colônia. 5
Este é considerado seu livro mais polêmico, entre outras coisas, por ter suscitado a
crítica furiosa de Silvio Romero (1851-1914), um dos mais conhecidos críticos literários do
período, para quem “só a geral ignorância do mundo legente no Brasil pode explicar a
atenção despertada por um livro tão mal feito, tão falso, tão cheio dos mais grosseiros
6
erros”. Mas, encontrou opiniões favoráveis, como a de José Veríssimo (1857-1916),
outro importante crítico do período que afirmou que A América Latina “não é banal, nem
medíocre”, sendo o seu autor um “espírito culto, uma inteligência iluminada”, que fora
capaz de provocar discussão. 7
8
Segundo Ivonne Bertonha, a obra de Manoel Bomfim, como a de todos os seus
contemporâneos, percorreu um itinerário temático: a questão da identidade nacional. Na
virada do século, porém, a questão nacional estava relacionada à seguinte indignação: era
possível existir uma nação brasileira constituída majoritariamente de negros, índios e
mestiços? A ciência dizia que essa gente era inatamente inferior e incapaz, essa teoria era
aceita plenamente pelo pensamento social e político dominante. Manoel Bomfim, ao
contrário dos ícones do seu tempo, respondeu a esta pergunta negando a existência da
questão racial. Segundo ele, o racismo cientifico era um instrumento de dominação e a
questão nacional somente seria resolvida quando a sociedade brasileira superasse as
barreiras decorrentes da sua formação colonial.
5
BOMFIM, Manoel. A América Latina: males de origem. O parasitismo social e evolução. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1993.p.50.
6
ROMERO, Silvio. A América Latina: análise do livro de igual titulo do Dr. Manoel Bomfim. Porto:
Chardron, 1906. p.92.
7
VERISSÍMO, José. Livros e autores de 1903 a 1905. In: Estudos de literatura brasileira, 6º. Serie. Belo
Horizonte, MG: Itatiaia; São Paulo: USP, 1977, p.126-7.
8
BERTONHA, Ivonne. Manoel Bomfim: um ilustre desconhecido. São Paulo: PUC, dissertação de mestrado
em História do Brasil, 1987, p.45.
9
Em 1910, Bomfim foi novamente comissionado pelo governo municipal para
estudar a organização do ensino profissional na Europa, para onde embarcou , retornando
em 1911, para retomar o cargo de diretor do Pedagogium. Pouco antes de viajar, ele
publicou, em parceria com Olavo Bilac, Através do Brasil, um livro de leitura para o curso
médio das escolas primárias que, até 1962, teve sessenta e seis edições.
“A escola primária deve ensinar muito mais do que aqui se contém, e muito mais
do que se possa conter em qualquer livro de leitura. Quando a pedagogia
recomendada que as classes primárias elementares não tenham outro livro além do
de leitura, não quer dizer com isso que nesse livro único se incluam todas as noções
e conhecimentos que a criança pode adquirir”. 9
9
BOMFIM, Manoel & BILAC, Olavo. Através do Brasil: prática da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1910. 66º. Ed. Em 1962. Publicado em São Paulo, pela Companhia das Letras, 2000.
Coleção Retratos do Brasil.
10
Antonio Candido, uma “teoria da transformação das estruturas sociais”, mas apontou o
caminho.
Manoel Bomfim morreu em 1932, vítima de câncer de próstata, após passar por dez
cirurgias. Segundo seus biógrafos ele se recusou a receber morfina, pois acreditava que a
medicação poderia comprometer sua capacidade de pensar.
Desde a publicação de seu último livro em 1931, Manoel Bomfim e sua obra
ficaram esquecidos com exceção do seu livro didático Através do Brasil que foi reeditado
66 vezes. Bomfim e sua obra não ocuparam nenhum espaço de relevância entre os
principais pensadores do processo de formação social brasileiro, mesmo sendo ele o
primeiro autor a apresentar um discurso contrário ao pensamento dominante da entrada do
século XX, demonstrando que o atraso do país não se justificava por motivos de
mestiçagem e sim por problemas sociais.
Tal retomada do autor e de suas obras dá o que pensar. Por isso, a presente pesquisa
tem como objeto os sentidos atribuídos à obra do autor nos trabalhos a ele dedicados a
partir dos anos de 1980 até 2003, data da edição do último trabalho que o tematiza.
Portanto, devido a recente redescoberta de Manoel Bomfim e sua obra o objetivo dessa
pesquisa e compreender como e porque Manoel Bomfim está sendo relido.
11
A presente pesquisa está organizada em três capítulos. O primeiro traz a analise de
três dissertações de mestrado sobre Manoel Bomfim realizadas por historiadores. No
segundo a analise se detém nas obras sobre Bomfim de dois sociólogos (uma tese de
doutorado e uma dissertação de mestrado). Por fim o terceiro capítulo traz artigos
produzidos e publicados no mesmo período por intelectuais membros da academia ou de
instituições de pesquisa, alguns dos quais são referências constantes nos estudos sobre
história das idéias no Brasil.
12
Capítulo I – Olhares históricos
10
SÜSSEKIND, Flora e VENTURA, Roberto. Uma teoria biológica da mais valia? (Análise da obra de
Manoel Bomfim). Rio de Janeiro: Divisão de Intercâmbio e Produções da Pontifícia Universidade Católica,
1979.
11
SÜSSEKIND, Flora e VENTURA, Roberto. Uma teoria biológica da mais valia? (Análise da obra de
Manoel Bomfim). In: _____. História e dependência: cultura e sociedade em Manoel Bomfim. Rio de
Janeiro: Moderna, 1981, p.9-59.
12
CÂNDIDO, Antônio (n.1918). Radicalismos. Estudos Avançados, jan./abr., 1988. p.10.
13
IGLÉSIAS, Francisco. Segundo momento: 1838-1931. In: Historiadores do Brasil: capítulos de
historiografia brasileira. Belo Horizonte: UFMG, 2000, p.157.
13
“Bomfim foi historiador e ensaísta do início deste século, pouco divulgado na
história intelectual brasileira. Personagem enigmático, Bomfim era capaz de
provocar querelas com Silvio Romero e Rui Barbosa e de recusar a indicação para
a Academia Brasileira de Letras, tão cobiçada naquele tempo.” 14
14
SÜSSEKIND, Flora e VENTURA, Roberto. Uma teoria biológica da mais valia? (Análise da obra de Manoel Bomfim).
In: _____. História e dependência: cultura e sociedade em Manoel Bomfim. Rio de Janeiro: Moderna, 1981, p.3.
15
SÜSSEKIND e VENTURA, op. cit., p. 14-15.
16
Ibidem, p.56.
14
contrária à utilização de noções da biologia na análise da sociedade; entre o pensamento
cientificista marcado pelos determinismos do meio e da raça e sua posterior ruptura, quando
o econômico e o cultural passaram a ocupar maior espaço.
A associação entre Freyre e Bomfim remete para o modo como ambos lidaram com
o tema da miscigenação. Os autores lembram que a noção de plasticidade presente em
Freyre era utilizada por Bomfim em A América Latina (1905). Ele a relacionava ao “poder
de assimilação” dos povos. Além disso, no capítulo “O cruzamento na formação da
população brasileira”, do livro O Brasil na América (1929), Bomfim explorou o terreno da
miscigenação pelo viés da biologia, mas, também destacou aspectos relativos à cultura,
outro tema caro ao autor de Casa Grande & Senzala.18 Afirmar que Bomfim antecipara
Freyre contribui para classificá-lo como um precursor.
Süssekind e Ventura concluem que a utilização de metáforas biológicas não teria
conduzido Bomfim ao travamento de sua interpretação sobre a sociedade. Pelo contrário,
segundo eles,
17
SÜSSEKIND, Flora e VENTURA, Roberto. Uma teoria biológica da mais valia? (Análise da obra de
Manoel Bomfim). In: _____. História e dependência: cultura e sociedade em Manoel Bomfim. Rio de
Janeiro: Moderna, 1981. p. 54.
18
Ibidem, p. 54-55.
19
Ibidem, p. 22.
15
passado, é na espreita de um abalo da cadeias que entrelaçam o presente ao
passado que se situa Bomfim”.20
20
SÜSSEKIND, Flora e VENTURA, Roberto. Uma teoria biológica da mais valia? (Análise da obra de
Manoel Bomfim). In: _____. História e dependência: cultura e sociedade em Manoel Bomfim. Rio de
Janeiro: Moderna, 1981. p. 55
21
Ibidem, p.56.
22
Não acredito que Bomfim estava à frente de seu tempo. Porque se estivesse seria de se esperar que sua obra
fosse colocada posteriormente na galeria dos “precursores”, das “exceções”, o que de fato não ocorreu.
Acredito que ele teve a capacidade de enxergar com uma extraordinária clareza os problemas que o Brasil
atravessava. Problemas estes que ainda hoje, quase cem anos depois, permanecem sem solução.
16
Um último aspecto, que serve indício para se pensar na construção da memória
sobre Bomfim, refere-se à análise de duas categorias presentes em seus textos: a paixão e o
interesse. Os autores observam a associação, feita pelo autor, entre ciência e afeto, com a
utilização da paixão como instrumento para explicitar as motivações e os interesses
mascarados pelas práticas científicas pretensamente neutras. Uma das marcas de Bomfim
(também destacada por outros intérpretes) seria, justamente, a preocupação em denunciar o
interesse por trás das práticas científicas e defender a explicitação do mesmo. Esta postura
assumidamente parcial diante da ciência de seu tempo seria uma característica a ser
lembrada desse autor, cuja imagem é mais uma vez confirmada como a de alguém crítico o
suficiente para ser tomado como um pensador de oposição.
23
BERTONHA, Ivonne. Manoel Bomfim: um ilustre desconhecido. São Paulo: PUC, dissertação de mestrado
em História do Brasil, 1987.
17
colonização deveriam seguir os moldes clássicos das nações que passaram pelas revoluções
burguesas. Porém, ao contrário de seus contemporâneos, cujo ideal burguês de evolução
teria sido guiado pelos determinismos do meio e da raça, Bomfim apresentaria este mesmo
ideal ilustrado que estabelece um caminho único para o progresso só que orientado por
relações históricas.
Bertonha faz referencias a Flora Süssekind e Roberto Ventura quando afirma que,
“Bomfim não chegou a elaborar um quadro teórico novo, com uma conceituação
própria. A inovação do autor está em apresentar as contradições da teoria da
desigualdade das raças, relacionando-as aos fatos históricos.”26
24
BERTONHA, Ivonne. Manoel Bomfim: um ilustre desconhecido. São Paulo: PUC, dissertação de mestrado
em História do Brasil, 1987. p. 27
25
BERTONHA, Ivonne. Op. cit. p. 25-33.
26
Ibidem, p. 45.
27
Ibidem, p. 89-112.
18
A autora mostra a questão nacional como objeto principal do trabalho de Bomfim.
Assim como, observa a preocupação do autor em analisar as contradições sociais, sempre
utilizando categorias polares, tais como: parasitas e parasitados, oprimidos e opressores,
explorados e exploradores etc. Segundo Bertonha, esta forma de argumentação seria indício
da percepção do autor sobre a existência de conflitos de classe, cujos interesses seriam
irreconciliáveis. 28
Contudo, afirma que ele não teria percebido as diferenças históricas do processo de
implantação da ordem burguesa, desconsiderando a colonização como uma necessidade das
relações capitalistas. Ao mesmo tempo, afirma que sua perspectiva histórica o teria ajudado
a compreender as diferenças de progresso existentes em sua época. Diferenças analisadas
por meio da observação da situação de Portugal na divisão internacional do trabalho e das
relações entre metrópole e colônia, com destaque para as relações de produção e a
explicação da origem da dependência colonial, a partir da qual o atraso nacional teria sido
pensado. 29
28
BERTONHA, Ivonne. Manoel Bomfim: um ilustre desconhecido. São Paulo: PUC, dissertação de mestrado
em História do Brasil, 1987. p. 47-87
29
Ibidem, p.58-69.
30
Ibidem, p. 67.
19
instituição para promover transformações de ruptura com o passado, lhes dirigia propostas
de reforma. 31
A autora compara Caio Prado Júnior a Manoel Bomfim. Ambos teriam elaborado
interpretações a partir da questão nacional. O que, embora seja um tema freqüente entre a
intelectualidade brasileira, sobretudo, a partir dos anos 1920, é considerado por Bertonha
como indício suficiente para aproximar dois autores distantes no tempo. Os dois também
teriam utilizado um mesmo repertório conceitual, cujos exemplos citados são: o dualismo,
expresso pela construção de dicotomias do tipo colônia/metrópole, atraso/progresso, etc.; a
valorização das raças que compõem a população brasileira; a atenção dada aos processos
tecnológicos aplicados à produção; e a defesa de valores morais aplicados à administração
pública. 32
31
BERTONHA, Ivonne. Manoel Bomfim: um ilustre desconhecido. São Paulo: PUC, dissertação de mestrado
em História do Brasil, 1987. p. 126-127..
32
Ibidem, p.127-8.
33
Ibidem, p17-128.
20
A autora considera a proposta de Bomfim “rara”, não por ser a única, mas por ser
suficientemente crítica para se opor ao pensamento conservador dominante. Diz que “o
método de Bomfim é atuante, vivo, oposto ao dos historiadores de gabinete”34. Esta
proposta é interpretada como sendo a expressão da valorização do real (a história) em
relação às teorias deterministas, expressão da “ideologia conservadora”. Assim, temos a
oposição real (história) versus ideologia (teorias deterministas), identificada no texto de
Bomfim, compondo a imagem de um pensador militante.35
Bertonha afirma,
“Não é estranho que num país reconhecido, pela própria intelectualidade, como
“pobre de idéias”, qualquer questionamento maior, como é o caso de Manoel
37
Bomfim, tenha permanecido isolado e sem repercussão”.
34
BERTONHA, Ivonne. Manoel Bomfim: um ilustre desconhecido. São Paulo: PUC, dissertação de mestrado
em História do Brasil, 1987. p.7-8-9.
35
Ibidem, p. 8-9.
36
Bertonha apresenta Lukács – Marxismo e teoria da literatura (1968) – como seu referencial teórico, p.24.
37
Ibidem, p. 128
21
posicionamento político ora adepto de uma ideal burguês ilustrado, defensor de reformas e
de uma “visão naturalista da história”. Um pensador com espaço na atualidade, cuja
influência, ainda que incógnita, se faz presente na obra de muitos historiadores, sendo
possível considerá-lo como um “ilustre” (porque é importante) “desconhecido” (porque foi
esquecido).
Observemos, agora, a leitura feita por José Maria de Oliveira Silva sobre Manoel
Bomfim. Trata-se de uma dissertação de mestrado em História, defendida na Universidade
de São Paulo, em 199038. O objetivo é explicitar a “ideologia radical” de Manoel Bomfim,
observando-a em relação ao pensamento conservador dominante em sua época e
considerando três aspectos: o educativo, o nacionalista e o progressista. De acordo com
Oliveira Silva, “Bomfim teria operado um deslocamento ideológico capaz de romper com a
visão homogeneizadora dos intelectuais da classe dominante”39. O que teria contribuído
para o seu progressivo esquecimento. Ou seja, o radicalismo de Bomfim por ter
incomodado os setores dominantes, lançou-o ao ostracismo.
Oliveira Silva também aponta a linguagem de Bomfim como obstáculo para a sua
aceitação.
38
SILVA, José Maria de Oliveira. Da educação à revolução: radicalismo republicano em Manoel Bomfim.
São Paulo: USP, dissertação de mestrado em História Social, 1990.
39
SILVA, op. cit., p.8, 11.
22
saudável, progresso/atraso etc., seria uma marca dessa “ideologia ilustrada”. Outra
característica seria uma “interpretação maniqueísta da história nacional”, expressa na visão
de que o “povo” é “bom” e os “dirigentes” são “corruptos”41.
Oliveira Silva chama a atenção para esse aspecto, afirmando que, “a diferença de
Bomfim em relação a outros evolucionistas de seu tempo estaria na negação da teoria da
desigualdade racial, vista como produto de interesses imperialistas”. 44
40
Ibidem, p. 13
41
SILVA, José Maria de Oliveira. Da educação à revolução: radicalismo republicano em Manoel Bomfim.
São Paulo: USP, dissertação de mestrado em História Social, 1990. p. 54
42
Ibidem, p. 21-23.
43
Ibidem, p.42 e 111.
44
Ibidem, p.81e 93.
23
Com a preocupação de localizar as contradições de Bomfim, Oliveira Silva
identifica a ambigüidade da idéia de progresso apresentada em A América Latina. Segundo
o intérprete, Bomfim ora idealiza o progresso como proveniente de um saber ilustrado,
sendo a razão o único meio para o aperfeiçoamento do indivíduo e da sociedade; ora
idealiza o progresso como obra das “massas miseráveis”, sem que, contudo, haja nessa
idealização um conteúdo de luta de classes (aspecto que Silva parece considerar
fundamental).45 Mais adiante o autor se contradiz, ele afirma (ainda se referindo ao mesmo
livro), que “ao analisar as relações sócio-econômicas no interior do regime colonial,
Bomfim observou o ângulo do conflito entre classes sociais”.46
45
SILVA, José Maria de Oliveira. Da educação à revolução: radicalismo republicano em Manoel Bomfim.
São Paulo: USP, dissertação de mestrado em História Social, 1990. p 84-5.
46
Ibidem, p. 106.
47
Ibidem, p.93-95.
48
Ibidem, p. 135.
24
“A tese de Bomfim sobre a relação entre nação e povo recuperou não apenas a
visão romântica de oposição ao lusitanismo, mas a visão negativa do poder que
49
vinha dos liberais radicais, dos panfletários e dos jacobinos”.
Oliveira Silva afirma que, o nacionalismo de Bomfim não chegou a romper com os
interesses de sua classe, ainda que ele tenha sido radical ao defender a educação popular e
atacar o imperialismo e a ordem política conservadora. Ao referir-se à idéia de “caráter
nacional”, Oliveira Silva a classifica como conservadora e orientada por premissas
extraídas da biologia e dos determinismos racial e climático. Ao escrever sobre o "caráter
nacional”, Bomfim teria participado da elaboração de outros “mitos veiculados pela
tradição dominante”. Estes “mitos” são exemplificados por uma relação de autores e
assuntos, também identificados nos textos de Bomfim. Assim, de Paulo Prado (1869-1943),
ele teria assimilado a exaltação dos bandeirantes; de Henry Koster (1793-1820), a imagem
de bondade dos senhores para com os escravos; de Gonçalves Dias (1823-1864), a política
de amizade entre índios e colonizadores portugueses; de Jean de Lery (1534-1611), a idéia
de tratamento mais humano dado aos índios pelos portugueses; de Frei Vicente do Salvador
(c.1527-c.1636), a valorização dos primeiros colonos; de José de Alencar (1829-1877), a
visão romântica de que o povo era pacífico. Desse modo, Oliveira Silva identifica, em
Bomfim, a “tese da harmonia nacional”, que enfatiza a figura do português miscigenador e
idealiza romanticamente o índio. 51 Segundo Silva,
49
SILVA, José Maria de Oliveira. Da educação à revolução: radicalismo republicano em Manoel Bomfim.
São Paulo: USP, dissertação de mestrado em História Social, 1990. p. 135.
50
Ibidem, p. 135-136
51
Ibidem, p. 137- 139
52
Ibidem, p. 87.
25
“A análise do passado desenvolvida por Bomfim produz novas imagens, mitos e
heróis, capazes de criar uma nova versão sobre a tradição nacional, ainda que
terminem por cristalizar um sentido único para a história”.53
53
SILVA, José Maria de Oliveira. Da educação à revolução: radicalismo republicano em Manoel Bomfim.
São Paulo: USP, dissertação de mestrado em História Social, 1990. p. 141
54
Ibidem, p. 110-111.
55
Ibidem, p. 164-165.
26
Capítulo II – Olhares sociológicos
Ao mesmo tempo, lembra que, embora sua obra ensaística tenha permanecido
ignorada por décadas, o mesmo não aconteceu com seus trabalhos paradidáticos, reeditados
várias vezes.59
56
BOMFIM e BILAC. Através do Brasil: prática da língua portuguesa. Organização de Marisa Lajolo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000. Coleção Retratos do Brasil. 1a. ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1910.
57
BOTELHO, André Pereira. O batismo da instrução: atraso, educação e modernidade em Manoel Bomfim.
Campinas: UNICAMP, dissertação de mestrado em Sociologia, 1997.
58
BOTELHO, André Pereira Op. cit. p.62. O intérprete se apóia nas idéias de SCHWARZ, R. Nacional por subtração. In:
Que horas são?Ensaios. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
59
Ibidem. p.57-58. O livro didático Através do Brasil foi reeditado 66 vezes.
27
trinta, foi vítima de um injusto esquecimento motivo central dos estudos sobre seu
pensamento.”60
Por sua vez, o interesse de Botelho é analisar o alegado avanço de sua reflexão em
relação ao pensamento dominante em seu tempo, especificamente, no que dizia respeito à
negação do paralelismo entre o social e o biológico. Bomfim teria desmistificado as
justificativas deterministas raciais para a exclusão política dos grupos sociais dominados,
remetendo-as a causas históricas, além de desmascarar o caráter ideológico do racismo em
suas relações com o imperialismo europeu.61
60
BOTELHO, André Pereira. O batismo da instrução: atraso, educação e modernidade em Manoel Bomfim.
Campinas: UNICAMP, dissertação de mestrado em Sociologia, 1997. p. 59.
61
BOTELHO, op. cit., p. 61-2 e 64-5.
62
Ibidem, p. 15.
63
Ibidem, p. 16 e 74-5.
28
“Bomfim é um autor inovador, alguém que na contracorrente soube filtrar o
paradigma das ciências naturais, adaptando-o às relações sociais. Sua reflexão é
associada a uma matriz culturalista, relativamente pioneira em sua época, que se
afirmaria somente nos anos trinta, com Gilberto Freyre.”64
64
BOTELHO, André Pereira. O batismo da instrução: atraso, educação e modernidade em Manoel Bomfim.
Campinas: UNICAMP, dissertação de mestrado em Sociologia, 1997. p.69.
65
Ibidem, p.57 e 68.
66
Ibidem, p.68-9
67
Ibidem, p.42-7.
29
outra, mais otimista, sobre a viabilidade do progresso; sua relação com a necessidade de
educar a população na cultura técnica, atendendo ao avanço do capitalismo.68
O intérprete considera a proposta de Bomfim como tendo sido orientada por certo
“realismo pragmático”, que procurava atender às necessidades de um regime republicano
democrático inserido na ordem capitalista. Além disso, mesmo quando o autor abandonou a
perspectiva reformista, ao propor uma revolução popular, não teria aberto mão da idéia de
“redenção pela educação”. Daí a possibilidade de interpretar sua proposta educacional
como sendo mais ampla do que um ideal ilustrado de reforma, uma vez que ela estaria
relacionada à perspectiva de mudança histórica da sociedade.71 Deste modo, ao invés de
constituir um “decepcionante estrangulamento da argumentação”,72 a proposta de educação
como solução para os problemas nacionais tanto refletiria o próprio contexto social vivido
pelo autor, quanto expressaria uma formulação intelectual “peculiar” a ele. Segundo
Botelho, a defesa da educação teria sido a forma encontrada por Bomfim para afirmar a
nação frente às teses deterministas baseadas na existência de uma “hierarquia natural” entre
os homens e as nações, e para restabelecer a discussão sobre a cidadania, interrompida e
desautorizada pelo debate racial do pós-Abolição (1888).73
68
BOTELHO, André Pereira. O batismo da instrução: atraso, educação e modernidade em Manoel Bomfim.
Campinas: UNICAMP, dissertação de mestrado em Sociologia, 1997. p. 47 e 70.
69
André Botelho é um dos intérpretes, que ao lado de Simone Petraglia Kropf e Lucia Lippi que ainda serão
vistos aqui a fazer esta inserção de Bomfim na geração de 1870.
70
Ibidem, p. 19 e 40.
71
Ibidem, p.72-3 e 75.
72
CÂNDIDO, Antonio apud BOTELHO, p. 69
73
Ibidem, p.69 e 71-72.
30
solução dos problemas nacionais poderia ser buscada no âmbito estritamente nacional. A
reformulação do sistema educacional teria sido considerada suficiente para combater a
herança ibérica, associada ao atraso do país. Além disso, esta mesma perspectiva não teria
permitido a Bomfim compreender que,
Seria possível ir mais longe neste trabalho de esmiuçar o estudo de Botelho, ainda
que não fosse possível esgotá-lo. Mas, para os objetivos aqui propostos, o que foi
apresentado é suficiente para desenhar um quadro representativo de Manoel Bomfim, de
onde alguns elementos constitutivos da memória sobre esse autor possam ser extraídos.
Antes, contudo, é preciso lembrar que esse desenho é delimitado pelo interesse do
intérprete em abordar apenas um dos livros de Bomfim – Através do Brasil – tomando-o
como representativo de uma modalidade discursiva específica: a literatura escolar nacional,
ainda que realize o cruzamento com outros trabalhos. Além disso, a análise do referido
livro praticamente desconsidera a participação de seu co-autor: Olavo Bilac (1865-1918). 76
74
BOTELHO, André Pereira. O batismo da instrução: atraso, educação e modernidade em Manoel Bomfim.
Campinas: UNICAMP, dissertação de mestrado em Sociologia, 1997. p. 75
75
Ibidem, p. 170-4.
76
Segundo Conde Aguiar, Olavo Bilac participou, ao lado de Bomfim, da Liga Brasileira Pró-Aliados. Bilac era
defensor da educação primária e do serviço militar obrigatório. Preocupado com questões cívicas, tornou-se um
importante divulgador de idéias nacionalista, que culminaram com a criação da Liga de Defesa Nacional, em 1916 – ano
em que o Brasil declarou guerra contra a Alemanha.
31
Dito isso, observemos alguns aspectos da memória sobre Bomfim presentes no estudo de
André Botelho. O primeiro refere-se ao ostracismo ao qual ele foi lançado. Embora o
esquecimento não seja objeto de análise, trata-se de um ponto lembrado pelo intérprete que,
inclusive, o identifica como motivo principal dos estudos sobre o autor. Também
reconhece, nos outros estudos, o desenho de uma imagem ambígua do escritor: ao mesmo
tempo vítima de um “injusto esquecimento” e frustrante, por ater-se a uma linguagem em
vias de superação e por basear-se em pressupostos ilustrados e reformistas. Daí a “posição
indefinida” que lhe coube na literatura do pensamento social brasileiro. Ou seja, esta
ambigüidade ou indefinição do lugar de Bomfim estaria relacionada, sobretudo, aos
métodos empregados por seus intérpretes, não sendo inerentes ao autor estudado.
77
Os textos de Antônio Cândido citados por Botelho são: Literatura e subdesenvolvimento. A educação pela
noite. São Paulo: Ática, 1987; Radicalismos e A Sociologia no Brasil. Enciclopédia Delta-Larousse, v.4.
32
A perspectiva teórica de André Botelho é orientada pela sociologia do
conhecimento, inspirada em Karl Mannheim.79 A análise do livro de Bomfim caminha na
“conjunção de decifração de texto e localização sociológica do mesmo”.80
A obra de Ronaldo Conde Aguiar,82 trata-se de uma tese de doutorado escrita sobre
o autor em questão. Recebeu o prêmio de melhor tese de doutorado no I Concurso
Brasileiro CNPq-ANPOCS de Obras Científicas e Teses Universitárias em Ciências
Sociais, em 1999, sendo publicado no ano seguinte. 83
78
SÜSSEKIND e VENTURA, já citado.
79
O trabalho de Mannheim utilizado por Botelho é Essays on Sociology and Social Psychology (1959).
80
BOTELHO, André Pereira. O batismo da instrução: atraso, educação e modernidade em Manoel Bomfim.
Campinas: UNICAMP, dissertação de mestrado em Sociologia, 1997. p. 17.
81
Ibidem, p. 43.
82
Ronaldo Conde Aguiar é sociólogo. Foi secretário de Ciência e Tecnologia do governo do Distrito Federal e,
recentemente, além da biografia sociológica de Bomfim, também publicou a Pequena bibliografia crítica do pensamento
social brasileiro (2001).
83
AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Brasília: Dep. de
Sociologia/UnB, 1998, tese de doutorado. Publicado com o mesmo título, no Rio de Janeiro, pela Topbooks, em 2000.
Todas as referências a este trabalho, correspondem ao texto do livro.
33
Na introdução, Ronaldo Conde Aguiar afirma que sua intenção inicial era “investir
pesado no estudo dos autores cujas obras formam a base, o corpo e a alma do pensamento
social brasileiro”. O intérprete se dá conta da inviabilidade desse projeto, considerando
ambiciosa sua proposta de “ler tudo sobre a obra de”. Em seguida, faz uma breve reflexão
sobre a construção do campo intelectual no Brasil. Segundo ele, a história do “pensamento
social brasileiro” é excludente e tende a perpetuar os mesmos nomes. Omite
sistematicamente a importância de alguns autores do passado, através da construção de uma
“hierarquia de relevância”, baseada na eleição de autores “ícones” e “obras de marca”.
Além disso, os estudos sobre tais “ícones” também serviriam como um meio de garantir
renome acadêmico àqueles que se dedicam a estudar tais intelectuais e a definir o quadro
hierárquico.84
Sendo o estudo mais recente sobre Bomfim e, também, o que propõe ir mais longe
na interpretação do mesmo, conjugando a trajetória pessoal à análise de sua obra, optei pelo
exercício de compará-lo diretamente às outras interpretações sobre o autor, buscando
compreender em que medida Aguiar reafirma as leituras (interpretações) anteriores à sua e
em que medida propõe algo diferente. Melhor dizendo, o que este intérprete resgata da
biografia e dos textos de e sobre Bomfim e que imagem ou representação elabora sobre
esse autor, consolidando ou enquadrando uma determinada memória sobre ele.
84
AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Brasília: Dep. de
Sociologia/UnB, 1998, tese de doutorado. Publicado com o mesmo título, no Rio de Janeiro, pela Topbooks,
em 2000. p. 13-18.
34
Aguiar refere-se à Bomfim como “uma voz que ousava dizer o indizível”, “um
pensador que não temia pensar o impensável”, num meio social mais alienado, conservador
e inculto que o de hoje. 85 Acredita que pode demonstrar as qualidades intelectuais do autor
“em toda a sua dimensão, não deixando de apontar as suas virtudes e idiossincrasias, suas
contradições e inconsistências”. Concorda com as idéias de Flora Süssekind e Roberto
Ventura, que situam Bomfim como autor de um contradiscurso, ou seja, um discurso crítico
produzido no interior do discurso ideológico dominante. Essa seria uma das causas do seu
esquecimento: a afronta às elites dominantes. Assim, Bomfim teria pronunciado um
discurso que “precisava ser silenciado”.
Além disso, seu próprio estilo literário teria dificultado o acesso a sua obra. Sua
opinião contrária a uma revolução comunista no Brasil, também pode ter despertado a
85
AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Brasília: Dep. de
Sociologia/UnB, 1998, tese de doutorado. Publicado com o mesmo título, no Rio de Janeiro, pela Topbooks,
em 2000. p. 25
86
Ibidem, p. 510
87
Após Bomfim ter publicado América Latina; Males de origem, em 1905. Silvio Romero escreveu América
Latina; Análise do livro de igual título do Dr. Manoel Bomfim.
35
oposição dos comunistas brasileiros, que o ignoraram. Do mesmo modo, por criticar a
Revolução de 1930, o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) ter-lhe-ia feito
restrições, impedindo a reedição de seus livros e a menção de seu nome em jornais e
revistas, além de retirá-los das bibliotecas públicas.88
Por fim, Aguiar conclui que o “atávico hábito brasileiro de repudiar a memória
nacional”, também ajudou a lançá- lo ao ostracismo. De acordo com o intérprete,
Pondo de lado a questão do esquecimento, Aguiar situa Bomfim como precursor das
idéias de Sérgio Buarque de Holanda sobre a cordialidade do povo brasileiro. Também
constrói associações entre o autor e Caio Prado Júnior porque ambos teriam rompido com
os interesses das classes a que pertenciam. Nas palavras de Aguiar,
Aguiar parece consolidar uma determinada versão sobre o autor, resgatando aspecto
presentes em outras leituras sobre ele e afirmando outros tantos. Tais aspectos seriam: o
pioneirismo; a originalidade; a coragem (ao enfrentar os cânones políticos e ideológicos de
88
AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Brasília: Dep. de
Sociologia/UnB, 1998, tese de doutorado. Publicado com o mesmo título, no Rio de Janeiro, pela Topbooks,
em 2000. p. 513
89
Ibidem, p. 340
90
Ibidem, p. 59
91
Ibidem, p. 340-360.
36
seu tempo); a capacidade de argumentação; a lucidez; a discrição; a paixão; a coerência; a
rebeldia; o humanismo; o reformismo, a perspectiva nacionalista e popular.
Mas, para melhor situar o trabalho de Aguiar em relação aos outros, é importante
observar não apenas sua análise sobre Bomfim, mas, o tipo de narrativa, o modo de
argumentar ou de ordenar sua leitura.92 Almejando “ser lido pelo maior número de leitores,
e não só pelos intelectuais e iniciados” o que contribuiria para o conhecimento do nome de
Bomfim por parte de um público mais amplo, o intérprete fornece pistas sobre o modo
como quer que leiam seu estudo.93
92
Reflexão desenvolvida a partir da orientação feita pelo professor Rubens Câmera durante a execução do
meu trabalho sobre Bomfim na disciplina Historiografia Brasileira.
93
AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Brasília: Dep. de
37
A maneira como ele constrói a biografia também chama a atenção. A história de
Bomfim começa com a “saga” de sua família. A experiência familiar (presente e passada)
torna-se um ponto ao qual se pode recorrer em busca de aspectos que ajudem a
compreender determinadas posições e escolhas do autor/personagem. Exemplo: a
convivência e amizade de infância entre Bomfim e um escravo da fazenda de seus pais,
ajudaria a compreender sua postura anti-racista.
Lembrando Pierre Bourdieu, “um livro não chega jamais ao leitor sem marcas”. 96
Suponho que o mesmo se pode dizer sobre determinados autores, submetidos a leituras que
Sociologia/UnB, 1998, tese de doutorado. Publicado com o mesmo título, no Rio de Janeiro, pela Topbooks,
em 2000. p.23
94
AGUIAR, Ronaldo Conde. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra de Manoel Bomfim. Brasília: Dep. de
Sociologia/UnB, 1998, tese de doutorado. Publicado com o mesmo título, no Rio de Janeiro, pela Topbooks,
em 2000. p. 20.
95
Ibidem, p. 387.
96
BOURDIEU, Pierre. A leitura: uma prática cultural (debate entre Pierre Bourdieu e Roger Chartier). In:
CHARTIER, Roger (org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. p. 248.
38
procuram classificá- los, rotulá- los, situá-los em relação a outros autores ou no interior do
conjunto que se denomina por pensamento social brasileiro. Considero que a leitura de
Ronaldo Conde Aguiar contribuiu exatamente nesse sentido. Ao passar em revista grande
parte daquilo que foi escrito de e sobre Bomfim, utilizando e orientado por determinada
perspectiva sobre o que deve ser uma biografia um volume extenso de documentos sobre
sua trajetória de vida e, na ausência de tais documentos, elaborando situações e diálogos
fictícios a fim de construir a história de Bomfim, o intérprete colaborou para a inserção do
nome desse intelectual no conjunto do pensamento social brasileiro, sem, contudo,
questionar a própria idéia da existência desse conjunto.
Refletindo sobre a memória que foi construída sobre um autor através de seus
leitores, pude observar que essa reflexão abre um pequeno espaço para o questionamento
do lugar chamado pensamento social, para onde o contínuo trabalho de enquadramento da
memória leva autores e obras. Assim, o pensamento social brasileiro pode ser visto como
uma construção de memória e não como algo naturalmente constituído por intelectuais que
representam a genialidade, o supra-sumo da inteligência de um país, os representantes por
excelência do mundo pensante.
Após percorrer aos estudos aqui analisados produzidos ao longo dos anos 80 e 90,
no âmbito das pósgraduações, passo, agora, a um outro tipo de texto, produzido e publicado
no mesmo período por intelectuais membros da academia ou de instituições de pesquisa,
alguns dos quais são referências constantes nos estudos sobre história das idéias no Brasil.
39
Capítulo III – Olhares cruzados
Artigos
“Bomfim era um pensador original, o maior que geramos (...) um pensador plenamente
maduro em 1905 o grande intérprete do processo de formação do povo brasileiro, uma fonte
99
doméstica de água pura”.
97
RIBEIRO, Darcy. Manoel Bomfim, antropólogo. Revista do Brasil. Rio de Janeiro: Secretaria de Ciência e
Cultura do Município do Rio de Janeiro, ano 1. 1984. p. 48-54.
98
RIBEIRO, op. cit. p. 53.
99
Ibidem, p. 49.
100
Ibidem, p. 50-52.
40
1949) e Josué de Castro (n.1905).101 Ribeiro conclui afirmando que Bomfim foi o
“fundador da antropologia do Brasil e dos brasileiros” e lembrando que ele teve
predecessores, mas não sucessores.
101
Ibidem. p.50 e 52. Segundo Ribeiro Arthur Ramos foi um importante antropólogo. Formou-se na
Faculdade de Medicina da Bahia (1926) e desenvolveu trabalhos na área de psiquiatria. Fundou a Sociedade
Brasileira de Antropologia e Etnologia. Atuou em universidades norte-americanas (Northwestern e Luisiana),
e na Universidade do Brasil. Fez parte de uma vertente de pensadores, relacionada a Gilberto Freyre, que
incorporou as culturas africanas de modo positivo, desenvolvendo o elogio da miscigenação. Publicou, entre
outros livros: O negro brasileiro (1938). Jusué de Castro, médico, sociólogo e político pernambucano, foi
membro do Instituto da Pessoa Humana, ligado a Organização das Nações Unidas. Publicou vários livros
sobre a questão da fome no Brasil, entre eles: Alimentação no Brasil (1933) e Geopolítica da fome (1952).
Para Darcy Ribeiro, os autores citados teriam se aproximado da visão de Bomfim, mesmo sem tê-lo lido.
102
ORTIZ, Renato. Memória coletiva e sincretismo científico: as teorias raciais do século XIX. In : _____.
Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1985, p.13-35. Este artigo foi originalmente
publicado nos Cadernos CERU, n.17, em setembro de 1982.
103
ORTIZ, .op. cit., 1985, p.14.
104
Ibidem.. p.22.
41
compreensão dos fatos sociais. 105 As principais marcas do seu pensamento seriam: a “visão
internacionalista” sem correspondência com outros autores da época – expressa pela
inserção do Brasil no quadro mais amplo da América Latina; a concepção de que as
sociedades existem como organismos similares aos biológicos; a idéia de que existem leis
orgânicas que determinam a evolução social; a suposição de que a análise da nacionalidade
depende do estudo do meio em ação combinada com o tempo; a valorização da
miscigenação como possibilidade de renovação e de equilíbrio dos elementos negativos
herdados do colonizador; a construção de uma teoria biológico-social, com base nas
relações entre colonizador e colonizado (ou parasita e parasitado); a identificação do
progresso com o modelo de civilização européia; a crítica do conservadorismo e da falta de
espírito de observação. O papel de Bomfim como crítico do imperialismo – com o qual as
teorias sobre desigualdade racial estariam relacionadas também é acentuado por Ortiz, que
considera A América Latina (1905) como “um libelo contra a opressão das nações
colonizadoras”.106
Através da leitura realizada por Ortiz, é possível perceber Manoel Bomfim com um
lugar garantido entre os construtores da identidade nacional, ainda que ele tenha sido
esquecido. Contra as teorias da desigualdade das raças humanas, ele teria construído uma
interpretação dissidente e original.
Radicalismos
Radicalismos107 é o título de um dos textos sobre Bomfim mais citados entre seus
intérpretes. Foi escrito em 1988, por Antônio Cândido, cujo objetivo era mostrar a
ocorrência de idéias radicais (opostas ao conservadorismo dominante) no Brasil.108 A
hipótese que orienta seu ensaio é a de que as idéias radicais do país não constituiriam um
105
Ibidem. p.22-3. Ortiz lembra que Bomfim não cita Durkheim em nenhum momento, o que tornaria
difícil interpretar seu pensamento como uma possível leitura durkheimiana de Auguste Comte (1798-1857).
106
ORTIZ, op.cit., p. 23-6.
107
CÂNDIDO, Antônio. Radicalismos, Estudos Avançados, 4-18, jan./abr., 1988.
108
O intérprete analisa três autores e respectivos livros: O Abolicionismo (1883), de Joaquim Nabuco (1849-
1910); A América Latina (1905), de Bomfim; e Raízes do Brasil (1936), de Sérgio Buarque de Holanda.
42
sistema, podendo ser observadas apenas em autores isolados, “de modo ocasional,
passageiro ou permanente”.
Ao contrário do que ocorreu em outros países da América Latina, no Brasil não teria
se desenvolvido um “corpo próprio de doutrinas radicais politicamente avançadas”. As
doutrinas teriam sido geradas no interior da classe média e por setores esclarecidos das
classes dominantes, não constituindo um pensamento revolucionário por não se
identificarem com os interesses das classes trabalhadoras, segmento social considerado
como potencialmente apto à revolução.109
“Penso que por causa de seu método de analogias biológicas, superadas em seguida
por outras correntes da sociologia; e também porque manifestava pontos de vista
politicamente incômodos para as ideologias dominantes”.111
109
CÂNDIDO, op. cit. p. 4
110
Ibidem, p. 8
111
Ibidem, p. 10
43
Antonio Candido diz que só muitas gerações depois as interpretações magistrais de
Manoel Bomfim entram em curso, lidas em ouros autores. “ Muito antes de Gilberto Freyre
aprender isto em Nova York Manoel Bomfim dizia com clareza que as taras do crioléu não
vinham da raça, mas da escravidão.”113
“Não teve a consagração merecida, mesmo tendo construído um sólido projeto radical, que
não teve eco no seu tempo, nem depois. Ele merece ser relido na atualidade, é um dos
pensadores mais originais e clarividentes que o Brasil já teve”.114
Elege como “maciço central de sua obra” os livros: A América Latina, O Brasil na
América, O Brasil na história e O Brasil nação, sendo que “o primeiro é o melhor e o que
realmente conta”.115 Bomfim seria o exemplo do pensador plenamente radical, além de ser
o primeiro a observar a persistência do conservadorismo no Brasil. Sobre esse tema, teria
construído análises “fecundas e esclarecedoras”. Seu radicalismo é visto como permanente,
sobretudo na análise “notável” das relações de produção. Cândido se surpreende com o fato
de Bomfim ter chegado a conclusões originais a partir de uma base que considera
“insuficiente e restrita”.116
112
I CÂNDIDO, op. cit. p. 11.
113
Ibidem, p. 15
114
Ibidem, p. 17.
115
Ibidem, p. 18.
116
Ibidem, p. 19
117
Ibidem, p.20
44
Nenhum outro pensador brasileiro daquela época teria sido tão lúcido e avançado diante de
temas cruciais como a natureza da sociedade latino-americana e, particularmente, do
Brasil.” 118
Mas Cândido se frustra pelo fato de que pessoas saem das faculdades de história e
sociologia desconhecendo a obra de Bomfim. “ Vi jovens doutores de história que nunca
leram nem ouviram falar de Manoel Bomfim. Conheci doutores em filosofia que, em todo o
seu curso jamais conheceram a sua obra”.119
Em suma, Manoel Bomfim, segundo Antônio Cândido, foi um autor “radical, lúcido
e precursor”. Um intelectual avançado para sua época que, apesar da ambigüidade,
elaborou interpretações originais sobre o país, ainda que tenha tido seu radicalismo
atenuado por idéias reformistas.
118
Ibidem. p.21
119
Ibidem, p.22
120
KROPF, Simone Petraglia. Manoel Bomfim e Euclides da Cunha: vozes dissonantes aos horizontes do
progresso. História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Oswaldo Cruz,
mar./jun. de 1996. p. 90-105.
45
expressar novas idéias. Embora Kropf admita a presença dessa ambigüidade, que considera
como característica dos discursos do início do século, ela seria um indício da distância
crítica assumida por Bomfim em relação a tais paradigmas e não um sinal de seu
comprometimento com eles. A hipótese é que ele teria conseguido marcar uma
descontinuidade em relação ao discurso dominante, rompendo ideologicamente com sua
lógica e seus princípios fundamentais.121
“Bomfim assumiu uma posição crítica questionadora, em relação aos rumos assumidos pelos
projetos modernizadores. Ele e Euclides da Cunha representaram vozes dissonantes aos
horizontes do progresso, não por se oporem a essa perspectiva, mas porque introduziram
questões importantes sobre o processo de implementação da modernidade. 122
121
KROPF, op.cit., p.96.
122
Ibidem, p. 97.
123
Ibidem, p. 100.
124
Ibidem, p. 105.
46
O artigo de Kropf contribui para a construção da memória sobre Manoel
Bomfim,discutindo e posicionando-se em relação a outras interpretações sobre o mesmo.
Também realiza o trabalho de compará- lo com outro intelectual, seu contemporâneo,
ajudando a situálo como um pensador crítico, engajado e inovador; alguém que participa
dos debates de seu próprio tempo e que, nesta participação, encontra pares, constituindo
diálogos. Além disso, ao referir-se a formação médica de Bomfim, abre uma porta para a
inserção deste autor no âmbito da história da medicina no Rio de Janeiro, coadunando-se
com a perspectiva da instituição mantenedora da revista onde seu artigo foi publicado: a
Fundação Casa de Oswaldo Cruz, importante guardiã da memória sobre o saber médico e
as ciências naturais no Brasil.
Lúcia Lippi de Oliveira em seu livro A questão nacional na Primeira República tem
como objetivo compreender como diferentes intelectuais brasileiros se ocuparam do tema
da nação e da nacionalidade durante o período de constituição da República, mostrando
conexões entre as diferentes propostas de identidade nacional. Bomfim é situado entre os
herdeiros da chamada “geração de 1870” e apresentado como membro da boêmia e
participante das conferências literárias que então eram realizadas no Instituto Nacional de
Música.126
Orientada pelo estudo de Flora Süssekind e Roberto Ventura, Lúcia Lippi afirma
que Bomfim, ao mesmo tempo em que “inaugurou uma nova perspectiva para o saber
científico do seu tempo”, perspectiva marcada pela rejeição da equivalência entre a vida
orgânica e a vida social, expressou-se através de uma linguagem e de um esquema de
análise comprometidos com o biologismo. Apesar disso, a autora destaca: a) a recusa de
Bomfim em aceitar a pretensa neutralidade da ciência, que ele considerava cúmplice do
liberalismo econômico e do racismo; b) a aceitação da existência de fatores psicológicos
125
OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1990, p. 113-
118.
47
hereditários como elementos definidores do “caráter nacional”; c) a defesa da educação
como “salvação nacional”.127
126
OLIVEIRA, op. cit. p. 113-114.
127
Ibidem, p. 115
128
Ibidem, p. 117.
48
Conclusão
Meu primeiro contato com Manoel Bomfim e sua obra foi por meio de um trabalho
de faculdade na disciplina Historiografia Brasileira, ministrada pelo professor Rubens
Câmara. Tratava-se de um autor esquecido, uma obra pouca lembrada, recuperada na
última década do século XX, por meio da reedição de três de seus livros: A América
Latina(1993), O Brasil nação (1996) e O Brasil na América (1997).
49
Diferentes interpretações sobre Manoel Bomfim e suas obras foram construídas por
diferentes autores de diferentes áreas. Algumas dessas interpretações serviram para
alimentar a perspectiva da existência, nas primeiras décadas do século XX, de um
pensamento de esquerda ou de oposição a esse pensamento. Nessa época o meio intelectual
era povoado por teoria racistas, reacionárias e positivistas, combatidas por Bomfim.
Esta pesquisa visou construir, um retrato do autor em diálogo com seu próprio
tempo, interessado em questões nacionais (particularmente, na educação pública e na
escrita da história-pátria) e empenhado em solucionar a tensão entre a busca de
neutralidade, como pressuposto para a objetividade científica, e a exigência de
comprometimento político e intelectual.
Espera-se que este trabalho tenha permitido constatar que a história das idéias ou
história intelectual no Brasil não é constituída por um corpo homogêneo de autores e obras
a atravessar o tempo constituindo algo como o pensamento social brasileiro. Ela é feita de
exclusões e consagrações, o que implica estratégias de escolha. Assim, a importância
conferida a determinado autor e/ou livro pode ser questionada considerando-se não apenas
os aspectos intrínsecos ao próprio autor ou à sua obra, mas, sobretudo, os métodos e os
interesses de seus intérpretes, de acordo com o contexto em que tais interpretações são
elaboradas.
129
GOMES, Ângela de Castro. Política: história, ciência, cultura etc. Estudos Históricos. Rio de Janeiro:
FGV,9(17):59-84, 1996. p.67. Segundo Ângela Gomes, a expressão pensamento político-social brasileiro
serve para recobrir “um espaço amplo e diversificado que une a história política à história intelectual (das
idéias, ideologias, mentalidades)”.
50
A análise em conjunto das interpretações sobre Bomfim e sua obra permite
constatar a existência de um trabalho de consagração do autor e de sua obra no início do
século XXI. Acredito que tal retomada do autor e sua conseqüente consagração, deve-se
principalmente ao fato de que na obra de Manoel Bomfim defendeu-se temas que ainda
hoje, cem anos depois, permanecem na ordem da política brasileira, tais como: distribuição
de terra, legislação trabalhista e previdenciária, educação das massas populares, reforma
urbana e política de habitação. Talvez, por essa razão, a obra de Bomfim não perdeu sua
atualidade, pois o autor mostra que a triste sina do Brasil e de seu povo é lidar
permanentemente com os mesmos e irresolvidos problemas de sua formação social.
51
Bibliografia
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