Fernandes, F. Entrevista Bib 1995

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ISSN 0100-199X

ANPOCS

BOLETIM INFORMATIVO E BIBLIOGRÁFICO


DE CIÊNCIAS SOCIAIS
ÓRGÃO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO
E PESQUISA EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Neste Múmero:
Florestan Fernandes: Esboço d© uma Trajetória

As Ciências Socias no Brasil

A Sociologia do Traba!ho na América Latina

DUMARÁ
Colaboram neste número:

Cecília Montero é pesquisadora do Centre d’Analise et Interventions Sociologiques, do


Centre National de Recherche Scientifique — CADIS-CNRS.

Laís Abram o é pesquisadora do Instituto Latino-Americano e do Caribe de Planificação


Econômica e Social, Santiago do Chile.

Luiz Werneck Vianna 6 professor e pesquisador do Instituto Universitário de Pesquisas


do Rio de Janeiro — Iuperj e professor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Agrá­
rio da Universidade Rural do Rio de Janeiro — CPDA/UFRRJ.

Manuel Palacios Cunha Melo é professor da Faculdade de Educação da Universidade


Federal de Juiz de Fora — UFJF, e doutorando em Sociologia do Instituto Universitário
de Pesquisas do Rio de Janeiro — Iuperj.

Maria Alice Rezende de Carvalho é professora e pesquisadora do Instituto Universitário


de Pesquisas do Rio de Janeiro — Iuperj.
Florestan Fernandes:
Esboço de uma Trajetória^

Não sou uma pessoa que goste de estar Vivia da porcentagem dos artigos que ven-
falando de si mesma. Eu gosto mais de falar de dià, para ter tempo, para poder estudar.
assuntas coletivos, coisas que têm interesse co­ Nessa época, havia o célebre Artigo 100, que
mum. E, principalmente, de luta política. Ficar permitia â pessoa que fizesse o curso de ma­
me voltando para o começo da minha vida, dos dureza concorrer ao exame colegial, que an­
meus estudos, é uma coisa difícil. tigamente era feito na própria universidade e
Devo dizer que sou uma pessoa de ori­ chamava-se pré. E permitia também fazer o
gem modesta. Minha mãe era uma portu­ exame de habilitação, isto é, concorrer dire­
guesa imigrante, empregada doméstica, c eu tamente à área que se pretendesse cursar.
tive de interromper o curso primário no Eu, naturalmente, fiz os dois exames, e con­
meio. Comecei a trabalhar com pouco mais segui me classificar nos dois.
de seis anos e só voltei a estudar, organizada- O que eu queria fazer mesmo era Enge­
mente, no curso de madureza, em 1938, com nharia Qufmica. Não pude fazer porque era
17 anos e meio. Isso não significa que eu te­ um curso que exigia tempo integral, e eu só
nha interrompido a leitura. Por um acaso fe­ podia fazer cursos que exigiam tempo par­
liz, os livros sempre estiveram ao meu lado. cial. Eu tinha de me sustentar, sustentar mi­
Nos lugares em que trabalhei, bares, restau­ nha mãe. A escolha foi feita, então, entre os
rantes, por exemplo, havia pessoas cultas, que sobravam. Podia ser Filosofia, Letras,
delegados de ensino, farmacêuticos, que Geografia, História... Qualquer coisa em
sempre me deram livros de presente. Assim, mim, porém, despertou uma convicção de
eu estudei muito sozinho. Quando resolvi fa­ que Ciências Sociais estava muito próximo
zer o curso de madureza, já tinha uma baga­ de socialismo. Uma ilusão de que aquilo res­
gem razoável, o que me ajudou muito. pondia a uma segunda escolha. São motivos
Vendo o passado à distância, pode-se totalmente diversos, não é? Depois é que eu
ler a idéia de que houve uma série de coisas fui ver que não respondia. Mas, de qualquer
encadeadas, predeterminadas, como se eu forma, foi um acaso feliz, porque eu tinha
tivesse querido fazer uma coisa e tivesse con­ potencial e talento suficientes para aprovei­
seguido. Mas, na verdade, foi uma sucessão tar aquela chance, aquela oportunidade.
de acasos, acasos felizes para mim. O curso de Ciências Sociais tinha 30 va­
Quando terminei o madureza, traba­ gas. Iiavia 29 candidatos e foram aprovados
lhava como vendedor de artigos dentários. seis. Eu era um deles. Depois fizeram exame

[*N.E.] D epoim ento concedido pelo professor Florestan Fernandes, falecido em agosto de 1995, à
equipe do projeto de pesquisa H istória da Antropologia no Brasil, coordenado pela professora
Mariza C orrea, na Universidade E stadual de Campinas, em 29 de março de 1984. O referido
projeto de pesquisa contou com o apoio do CNPq, FA PESP e FAEP. O texto original, revisto
pelo autor, foi posteriorm ente editado por Patrícia Campos de Sousa. O título deste trabalho
foi retirado, pela Editoria, das palavras do próprio autor nesse depoimento.

1UH, Rio de Janeiro, n. 40,2." semestre 1995, pp. 1 25 3


de segunda época e entraram mais dois. uma tentativa de fazer o que podíamos para
Dois pediram transferência, de modo que o aproveitar aquela oportunidade.
que ficou foi um grupo de seis estudantes. No meu primeiro ano na Universidade
Éramos uns privilegiados: professores de alta fiz esse curso sobre Hegel, dado pelo profes­
qualidade, vindos de vários lugares do mun­ sor Maugüé, um curso do professor Galvani,
do; turmas pequenas, bem assistidas. O estu­ que era um estatístico matemático, dado em
dante era uma pessoa considerada dentro da italiano, difícil de acompanhar, e os cursos
escola e conseguia uma aprendizagem regu­ dos professores Arbousse Bastide, Roger
lar. Para o Brasil, a melhor que existia. Mas Bastide e [Paul] Hugon. Era um elenco de
nós encontrávamos algumas dificuldades, já trabalho muito grande para estudantes que
que, com exceção dos alemães, os profes­ não vinham de um ambiente de tradição uni­
sores davam aula nas suas línguas. Tínhamos versitária européia. Os europeus nunca se
ao menos de aprender o italiano e o francês deram ao trabalho de pensar qual a distância
para entender o que eles diziam — não para cultural que poderia existir entre o Brasil e a
escrever ou falar. Apesar de tudo isso, minha França, ou entre o Brasil e a Itália, o Brasil e
carreira não sofreu um atraso: com 21 anos a Alemanha. Provavelmente estavam envol­
eu estava começando o curso de Ciências vidos em uma tarefa civilizatória: nós éramos
Sociais na USP, com 23 eu me bacharelava os coloniais e, provavelmente, era mais agra­
e, com 24, fazia o curso de licenciatura, que dável ser colonialista na América do Sul do
foi separado, em 1943, do curso de bachare­ que na África ou na Ásia. De qualquer ma­
lado. Quer dizer, praticamente eu estava fa­ neira, eles estavam colonizando, e nós está­
zendo uma carreira em condições normais. vamos recebendo um produto cultural trans­
Eqi 1945-46 fiz pós-graduaçáo na Escola de plantado.
Sociologia e Política de São Paulo, porque Os fundadores da Universidade não ti­
na USP não havia, e em 1947 defendi o grau nham pensado sobre isso. Não se pensou
de mestre com o livro A Organização Social que uma inovação supõe certas condições.
dos Tupinambá. Enfim, acho que não houve Aquilo foi estabelecido e se embarcou dire­
atraso; ao contrário, houve uma rapidez tamente na experiência. Cada professor en­
muito grande na minha carreira. tendia que o estudante era seu, que o traba­
A distância cultural entre professores e lho que ele tinha de fazer era um trabalho de
estudantes na Universidade era realmente alto nível, como se se tratasse de um estu­
enorme. As aulas em francês ou em italiano, dante francês, italiano ou alemão. Para se
enfim, a aula em uma língua estranha não ter uma idéia, o professor Roger Bastide, o
era tão difícil. O mais difícil era o nosso atra­ Bastidinho, no primeiro semestre de 1941,
so cultural. O professor [Jean] Maugüé, por pediu-nos um trabalho com este título: “A
exemplo, dava um curso sobre Hegel em crise da explicação causal na Sociologia”.
1941. Ora, eu saí do curso de madureza sem Ora, se um aluno de pós-graduação de hoje,
fazer pré; de Filosofia, só conhecia a Histó­ ao receber uma tarefa dessa, já sai pela ja­
ria da Filosofia de Will Durant, um livro que nela, imagine a nossa situação. Eu tive de ler
li por causa da minha curiosidade, e de re­ muito para escrever o trabalho. O professor
pente me vejo fazendo um curso monográfi­ Bastide me deu nota 4 ou 4,5, não me lem­
co sobre Hegel dado em francês! Por aí se bro, após comentar que havia pedido uma
vê que houve uma reviravolta muito grande. dissertação e não uma reportagem. É duro,
Parece que nós pegamos, não um bonde an­ não? E, realmente, o que eu podia fazer?
dando, mas um helicóptero andando. Era Fazendo a reportagem, eu já estava fazendo
muito difícil embarcar no veículo em movi­ muito. A distância era realmente terrível.
mento. Mas talvez a dificuldade tenha sido Nesse ano de 1941 o professor Bastide
importante. Talvez o fato de sermos postos deu cursos semestrais. No primeiro semes­
em uma situação difícil tenha exigido de nós tre, deu Patologia Familiar, um curso mais

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ou menos montado dentro da linha da Esco­ com idéias abstratas. A professora Lavínia
la de Le Play. No segundo semestre... Eu Vilela, que dava o cursinho de folclore como
não me lembro mais o que ele deu no segun­ alguma coisa subordinada ao trabalho do
do semestre. Não foi um curso de Sociologia professor Roger Bastide, não tinha passado
Geral, pois este quem deu foi o professor do Saintyves, do Sebillot — quer dizer, dos
Arbousse Bastide, que ficava discutindo co­ folcloristas. No entanto, com o professor
nosco, em termos quase metafísicos, se a So­ Arbousse Bastide eu tinha penetrado no es­
ciologia é uma ciência ou não, o que 6 técni­ tudo de Durkheim, da escola sociológica
ca, o que é método, o que é processo. Ele fa­ francesa; com Roger Bastide, no estudo de
lava em francês e parecia uma locomotiva. Gaston Richard, de Maunier, Mauss, [Mau-
É claro que não tínhamos base nenhuma pa­ rice] Halbwachs; enfim, tinha travado conta­
ra acompanhar aquilo, mas fomos aprenden­ to com um pouco do que se fazia na Univer­
do. Enfim, entre as coisas que eu tive de fa­ sidade de Chicago, com o que os alemães fi­
zer na cadeira — apesar de os cursos serem zeram. Não era difícil para mim, portanto,
semestrais — do professor Roger Bastide es­ trabalhar com um tema desses sem saber as
tava um estudo do folclore de São Paulo, pa­ técnicas.
ra ser feito ao longo do ano. Na cadeira do Quando cursava o madureza, fiz amiza­
professor Hugon, Economia e História das de com colegas que viviam no Bom Retiro,
Doutrinas Econômicas, também tive de fa­ um bairro onde os grupos de crianças, as
zer um trabalho anual, sobre a evolução do “trocinhas”, estavam em plena atividade.
comércio exterior no Brasil, desde a Inde­ Assim, quando foi suscitado o trabalho, eu
pendência até 1940. Não é brincadeira! sabia onde colher: no Belenzinho, onde eu
O trabalho que se destinava à cadeira morava naquele momento; na Penha, onde
do professor Roger Bastide era um trabalho eu tinha morado pouco antes; na Bela Vista,
bem dentro do que eu poderia fazer. Pois eu onde tinha vivido uma grande parte da mi­
era sobretudo um homem que saíra da cul­ nha infância; no Bom Retiro e na Luz, onde
tura de folk. Eu vivi nos bairros pobres de eu tinha convivido com as famílias Mezara-
São Paulo: no Bexiga, no Bosque da Saúde, na, Soncine etc. Foi fácil, pois, fazer um am­
na Penha. Eu vivi com aqueles bandos de plo levantamento de todos os aspectos do
crianças. Aqueles bandos ainda existiam na folclore. Folclore e Mudança Social em São
minha época. A urbanização não foi tão rápi­ Paulo é uma monografia geral, que depois
da, nem tão destrutiva a ponto de acabar eu piquei em pequenos ensaios.
com todas as coisas. Ou seja, havia uma pon­ A professora Lavínia não estava prepa­
te entre eu e a cultura d e.folk que sobrevivia, rada para o meu trabalho. Quando eu lhe
e, na Universidade, um acaso me pôs em entreguei o estudo, no fim do ano, ela levou
contato com o que eu era, aquilo que eu fora um susto: “Mas eu não pedi nada disso!”.
há poucos anos atrás. De fato, eu entreguei um negócio enorme.
Eu sabia que tipo de pesquisa fazer, Ela leu o trabalho e depois veio discutir co­
embora não tivesse aprendido a fazer pes­ migo. Disse que eu tinha feito uma coisa
quisa. As assistentes do professor Bastide muito ousada, que ela não sabia se era pos­
não ensinavam a fazer pesquisa. Os france­ sível fundir o trabalho dos folcloristas com o
ses não ensinavam a fazer pesquisa. Eles co­ dos sociológos, que achava tudo muito ousa­
lhiam material para eles. Pediam para nós do e que não assumia a responsabilidade de
colhermos material mas não se preocupavam aprovar o que eu tinha feito. Esse foi um dos
com as técnicas de investigação, com os trabalhos.
processos de trabalho com o material, nem O outro trabalho, sobre a evolução do
com os problemas lógicos da explicação. O comércio exterior, foi feito em bibliotecas.
professor Arbousse Bastide, quando falava As bibliotecas eram, então, ricas: a Bibliote­
dc técnica, processo, método, estava lidando ca da Faculdade de Direito, a Bibliolcca l’ú-

S
blica de São Paulo, que ficava ali, na rua var ao professor Emílio Willems, de origem
Conselheiro Crispiniano, a própria Biblioteca alemã, que era assistente do professor Fer­
da Faculdade de Filosofia... Eu podia ir a vá­ nando de Azevedo. O professor Willems le­
rias bibliotecas, trabalhar com vários autores. vou um susto: “Eu não posso publicar isso
Então, fiz muitos quadros, muitas tabelas, na revista Sociologia. Tomaria mais de um
gráficos, e entreguei o trabalho datilografado número anual”. Mas ficou com o trabalho
ao professor Hugon. Ele ficou com esse para ler. Bastidinho me levou também ao
trabalho, que não possuo em sua forma fi­ Sérgio Milliel, para ver se ele me arranjava
nal e completa (a não ser os manuscritos, um emprego na Biblioteca Municipal, por­
nos quais não constam os gráficos, as tabelas, que ele achava que eu não devia continuar
os quadros). Nesse texto, para surpresa mi­ fazendo o que eu fazia (nessa época eu já es­
nha, encontro muitas idéias que iriam ser tava fazendo propaganda de dois remédios,
trabalhadas depois. Iodobisman e Tropholipan). Eu achava que
É isso o que eu chamo de chance. o que eu fazia era uma excelente ocupação,
Quando Max Weber fala em chance, é no porque eu tinha de fazer oito visitas diárias e
sentido de oportunidade. E o que é oportu­ só numa manhã, em um hospital, fazia 15,20
nidade? A “capacidade de uma pessoa enfei­ visitas. Aquilo era uma mina para um estu­
tar o seu destino”, como diz Thomas Mann, dante. Eu ganhava mais que um assistente
é uma coisa que depende da oportunidade. na Faculdade de Filosofia e dispunha de
Se a pessoa nunca tem oportunidade, não mais tempo que ele para trabalhar para
enfeita o seu destino. Na minha pesquisa so­ mim, para estudar. Bom, mas quando o
bre os negros descobri homens de muito ta­ professor Bastide pediu o emprego para
lento, mulheres inteligentíssimas, mas que mim, na minha frente, eu fiquei totalmente
nunca tiveram oportunidade. Essas pessoas envergonhado. Se eu pudesse me enfiar em­
não podiam enfeitar o seu destino: só po­ baixo do tapete eu me enfiava. E o Sérgio
diam sofrer a miséria, as dificuldades. Eram Milliet, muito amigavelmente, disse: “Flores-
talentos perdidos. Mas eu tive a oportunida­ tan, não queira ser funcionário público. Eu
de. E a oportunidade surge com esses dois posso arranjar um emprego para você aqui
trabalhos, logo no primeiro ano. na Biblioteca, e já. Mas lhe dou um conse­
O professor Roger Bastide, como iodo lho: não queira ser funcionário da Biblioteca.
bom professor francês, ia à Europa todo fim Você arranja um emprego e acaba com a
de ano e voltava só em março. Quando ele sua vida. Eu lhe ofereço um coisa melhor:
retornou, no início do ano letivo de 1942, fui você vai colaborar n’0 Estado de S. Paulo.
falar com ele: “Eu quero saber quais são as Tendo necessidade, nós descontamos os arti­
suas críticas ao meu trabalho. Eu fiz o traba­ gos com antecedência. Você pode escrever
lho, ganhei nota nove e o trabalho não foi mais artigos que outros colaboradores, e por
discutido comigo. Eu não estou questionan­ aí você resolve os seus problemas”. Eu agra­
do a nota; estou questionando a falta de deci. De repente, eu linha a oportunidade de
atenção para comigo, porque eu queria ver o escrever no jornal O Estado de S. Paulo.
trabalho discutido”. E ele: “Mas existe um E não ficou só nisso. O professor Willems
trabalho sobre folclore em São Paulo?”. logo me chamou para um encontro a fim de
“Existe”, eu respondi. “Bom, mas eu não co­ decidirmos o que fazer com aquele meu
nheço isso. Eu quero ler esse trabalho”. Afi­ trabalho. Ele então fez a crítica da minha in­
nal, eu entreguei o trabalho e ele marcou um vestigação. Foi a primeira vez que vi um
encontro comigo na casa dele. E aí começa profissional falar sobre a natureza de um
uma história pessoal diferente. Ele ficou sa­ trabalho de pesquisa; realmente, foi então
bendo quem eu era, como eu vivia, e queria que descobri os erros que eu cometera: erros
publicar o trabalho. na coleta do material, na elaboração do
A primeira idéia que ele teve foi me le­ trabalho. Depois, concluiu: “Eu não posso

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publicar tudo de uma vez. Você divide os as­ eu tinha amplas oportunidades de fazer uma
suntos e nós vamos publicando pequenos carreira. Eu, muito astuciosamente, disse-
trabalhos na revista Sociologia”. lhe: “É, professor, mas as portas de uma car­
No ano seguinte, por acaso, fui fazer reira são muito difíceis de serem abertas”.
uma pesquisa para o professor Willems em Ao que ele respondeu: “Bom, mas elas po­
Sorocaba (SP). (Foi aí que eu acabei fazen­ dem ser abertas”. Quer dizer, estava mais do
do um estudo sobre o João de Camargo.) que claro que as portas iam ser abertas por
Foi o primeiro contato que tive com mani­ ele. Enfim, eu, ainda no segundo ano, já era
festações de preconceito racial. Estudei o conhecido pelos professores, convivia com
passeio público em Sorocaba: como negros e eles. Porque o professor Hugon também me
brancos eram separados nesse passeio. No levou para a casa dele, para discutir com ele,
decorrer do trabalho de campo, alterei as re­ para ver o que eu devia fazer. Em suma,
gras que Willems tinha estabelecido. Na vol­ houve um acaso que eu soube aproveitar e
ta, fui discutir com ele audaciosamente. Ele um esforço que foi bem-sucedido.
ficou vermelho e disse: “Florestan, você tem Escrevendo para O Estado de S. Paulo,
razão. Você fez bem em revisar minhas eu também acabei escrevendo para a Folha
orientações”. Isso é que é élan, a pessoa es­ da Manhã. Eu tinha um amigo, que foi meu
tar envolvida no trabalho, identificada com colega no curso de madureza, o Jussieu da
ele. É um salto tremendo. Cunha Batista, que trabalhava na Folha. Eu
Eu tive um outro lucro imprevisível. O o visitava sempre no jornal e, após o convite
professor Fernando de Azevedo, natural­ do Milliet, fui correndo lhe contar: “Olha, eu
mente, era leitor da revista Sociologia. Ele vou escrever para o EstadoV’. E o Jussieu:
nunca foi meu professor mas, um dia, de re­ “Puxa, como é que você conseguiu isso?”.
pente, recebi um telefonema dele me convi­ “Eu não consegui. Foi um negócio assim, as­
dando para conversar. Ele soube que eu era sim, assim” — expliquei. O Sacchetta, que
um estudante de talento, que tinha dificulda­ era secretário de redação, ouviu e disse:
des, e por isso punha à minha disposição a “Ah! Você vem aqui toda semana e quando
biblioteca dele, a orientação dele e, se eu se trata de ser colaborador de jornal você vai
precisasse, os recursos dele. Eu agradeci tu­ ser lá no Estado de S. PauloT. Eu me justifi­
do, mas o que se deve fazer em relação a fa­ quei: “Eles é que me ofereceram”. “Bom,
vores é não usá-los se possível, o que tornou mas você vai escrever para nós também”.
a nossa relação mais agradável, para ele e Então, com 22 anos, eu escrevia na revista
para mim. Isso me deu a oportunidade, Sociologia, n’0 Estado de S. Paulo, e na Fo­
quando terminei o curso, de ser convidado lha da Manhã. Naquela época São Paulo era
para ser assistente do professor Fernando de uma cidade um pouco rústica. O fato de al­
Azevedo. guém publicar um artigo no Estado ou na
O professor Plugon também veio discu­ Folha da Manhã, ou então publicar nos dois
tir o trabalho comigo: “Aqui nós temos o de uma vez, era como se tivesse ido à Lua e
ponto de partida de uma tese. O senhor vai voltado. Isso dava à pessoa uma notoriedade
fazer seu doutorado comigo sobre esse as­ que ninguém, naquele momento, ganharia
sunto. E vai ser meu assistente”. Enfim, pa­ ao longo de uma carreira de 20 ou 30 anos,
recia que estava chovendo maná, não é? Eu, nem publicando três teses. Hoje estamos vi
que tinha pensado em ser professor secundá­ vendo uma situação, como dizem os comuni-
rio — pois toda a minha ambição se resumia cólogos, de “cultura de massa”. Os intelec­
a ser professor de ginásio ou de escola nor­ tuais perderam muito prestígio, os profes­
mal —, de repente me vejo, já no início de sores também, já não há mais “carisma lite­
minha vida universitária, diante de duas rário”. Mas naquele tempo havia. Quando
oportunidades de fazer carreira. Fernando eu ia aos consultórios, o médico que me re
Azevedo, numa conversa comigo, disse que cebia como propagandisia ficava embaraça
do, porque me julgava uma pessoa mais im­ sora Lucila Hermann, a professora Giocon-
portante que ele. E eu ali, fazendo propa­ da Mussolini e vários outros. Mas a Escola
ganda de Iodobisman e Tropholipan... E era nãonos recebia com alegria. Nos recebia se­
o intelectual, o homem que escrevia para O letivamente, com dissimulada resistência.
Estado de S. Paulo, a Folha etc. Tanlo que tentei entrar em 1944 e, sob o ar­
Por aí se vê como o acaso me ajudou e gumento de que eu não tinha um bom in­
como eu não posso falar mal da minha sorte. glês, não fui admitido. Foi tudo um artifício.
Recebi mais do que havia dado. Em 1944 Eu tntão decidi fazer um curso de inglês e,
havia sido convidado para ser assistente de dessa vez, realizei um exame melhor. Foi
dois professores, Fernando de Azevedo e coma professora Lucille Robson, se não me
Hugon. Naturalmente, eu preferia trabalhar engano. Ela me disse: “Puxa, Florestan, eu
com o Fernando de Azevedo. Ele era mais nunca conheci ninguém na minha vida que
arejado, era uma pessoa de centro, um radi­ soutesse tantas palavras em inglês mas, ao
cal burguês, um socialista, reformista, defen­ mesno tempo, soubesse fazer tão pouco
sor de uma social-democracia civilizada na com elas”. Mas eu sabia tantas palavras em
periferia. Eu tinha uma boa convivência com inglês que ela ficou impressionada. Era uma
ele, uma boa abertura — a palavra “abertu­ pessoa simpática. Depois veio outro profes­
ra” hoje está muito em moda —, uma certa sor, cujo nome não me lembro. Era um in­
afinidade política. O Hugon era um profes­ glês magrinho. Ele tinha a peculiaridade de
sor metódico — ele era tão metódico que o trazer um monte de livros e de pô-los na ca­
professor Maugüé dizia que ele era o profes­ beça ao subir as escadas daquele antigo pré­
sor petit a,petií b —, bem-informado e escla­ dio da Escola de Sociologia, no Largo de São
recido, mas tinha o mal de ser extremamente Frarisco. A grande mania dele era dar chu­
conservador em política. Por isso eu preferia tes sos estudantes, na canela, por baixo da
o convite do professor Fernando de Azeve­ carteira. Era um taradinho.
do. Isso levou o professor Hugon a ir à casa Mas o fato é que eu fui recebido na Es­
dele, disputar a minha colaboração: “Olha cola de Sociologia e Política com uma resis­
aqui: nós estamos interessados na mesma tência muito grande. O que não impediu que
pessoa. Mas veja bem: o Florestan pode fa­ o professor Donald Pierson procurasse en­
zer uma carreira importante na Economia. trarem boas relações comigo. Afinal, eu es-
I’ara a Universidade será mais importante creva na Folha, escrevia no Estado. Ele fi­
que ele trabalhe na Economia. Tem muita cou sabendo que eu tinha a idéia de fazer
gente na Sociologia”. E o Hugon me ofere­ uma pesquisa sobre as relações de índios
cia, como ponto de partida, ser o seu segun­ com portugueses no século XVI em São
do assistente, um emprego na Associação Paulo e propôs que eu recebesse uma bolsa
Comercial — eu seria chefe de uma divisão da Escola de Sociologia, naquela ocasião
lá — e um lugar na Faculdade de Ciências coma dotação de 800 mil réis, para fazer es­
liconômicas, que estava em véspera de ser se levantamento. O Maurício Segai foi um
criada. Quer dizer, quando eu rejeitei essa dos elementos da minha equipe. Ao todo, a
oportunidade, eu estava rejeitando algo gor­ equipe contava com dois monitores e uns
do em troca de uma preferência, por assim cinco ou seis auxiliares de pesquisa. Mas as
dizer, “vocacional”. Tratava-se de uma voca­ mintas relações com o professor Pierson não
ção de trabalho, uma vocação de liberdade, caminharam muito bem. No início do curso
de auto-realização. enfrentei um conflito porque rejeitara dois
Quando eu comecei a cursar a Escola projramas que ele considerava como crédi­
de Sociologia e Política, em 1945, eu já era tos obrigatórios. Eu vinha de um trabalho in­
assistente na Faculdade de Filosofia. Não fui telectual na Faculdade de Filosofia, talvez
o primeiro assistente da Faculdade de Filo­ demasiado orgulhoso. Disse-lhe: “Não, não
sofia a fazer cursos lá. Antes, teve a profes­ vou fazer esses cursos”. Dei as razões e elas

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eram muito vigorosas. No fim, ele esclare­ um sistema repressivo de educação e um sis­
ceu: “Bom, se o senhor não fizer o senhor tema educacional mais fluido, que talvez te­
não pode completar os créditos”. Ao que re­ nha alguma coisa a ver com o passado indí­
truquei: “Se o senhor me obrigar, vou escre­ gena brasileiro. Os Tupi, por exemplo, não
ver no jornal por que eu me recuso a fazer violentavam as crianças. Não estavam tam­
os cursos”. Desse jeito níesmo. Resultado: bém culturalmente distantes das crianças.
não fiz aqueles cursos e ganhei aquela bolsa. Não havia estratificação de classes, não havia
No trabalho, entrei em outro conflito vi­ uma distância cultural que tornasse o adulto
goroso com o professor Pierson porque as diferente da criança ou do jovem. Eram te­
nossas concepções de trabalho de pesquisa mas de fato importantes. Se aprende mais
eram inconciliáveis. Na Faculdade de Filoso­ Antropologia desse modo. Também o meu
fia não se aprendia a fazer pesquisa, mas já trabalho sobre as “trocinhas” foi objeto de
se sabia que uma coisa essencial era cons­ discussão. O professor Baldus, que viu nes­
truir um universo empírico e só começar a ses seminários qual era a minha envergadu­
fazer afirmações depois de estabelecido ma­ ra, acabou brigando no Conselho de Profes­
terialmente esse universo empírico. O sores da Escola para que a minha bolsa não
professor Pierson queria o contrário: que eu fosse eliminada, para que ela continuasse
montasse hipóteses em função de dados es­ comigo e eu fosse trabalhar ao seu lado.
parsos. Eu retrucava: “Não! Isso não é hipó­ Não perdi aquela fonte de renda tão impor­
tese. Isso parece o que o Monteiro Lobato tante para mim naquele momento por inter­
chama de olhômetro. Eu não aceito”. A ten­ ferência dele.
são se encaminhou de maneira tão violenta Na pós-graduação o acaso ajudou-me
que, no fim, tivemos um conflito explosivo. de novo. Os alunos eram obrigados a fazer
Naturalmente, a pesquisa se interrompeu. dois trabalhos de aproveitamento. Eram
Por essa época eu fazia um seminário trabalhos muito difíceis. Na Faculdade de Fi­
com o professor Herbert Baldus. Era um se­ losofia não havia, então, ensino aprofundado
minário sobre índios no Brasil que, na verda­ de Antropologia, nem de Etnologia brasilei­
de, constituía uma espécie de tribuna livre. ra. Na Escola de Sociologia e Política, que ti­
A gente discutia as idéias de Trotski, os dese­ nha uma estrutura mais moderna, mais an-
nhos de Walt Disney ou qualquer coisa viva, glo-norte-americana, essas matérias tinham
importante. O antropólogo é o homem que uma importância relativa maior. O que eu
se interessa por tudo e que tem uma mente poderia fazer? Porque não contavam somen­
aberta, crítica, não é? Podíamos debater um te os debates, os seminários; precisávamos
romance, por exemplo, ou então, eventual­ descobrir alguma coisa que fosse específica
mente, quando eu precisava conhecer certo dentro da matéria. E o Baldus sugeriu-me:
livro em alemão, o professor Baldus encar­ “Você não quer discutir o livro do Gabriel Soa­
regava Jürgen Philipson de ler o livro e expor res?”. Eu disse: “Ótimo, eu tenho o livro”. E
tais e tais capítulos no seminário. Ele fazia a me incumbi de fazer uma análise sociológica
exposição e nós discutíamos. Eram seminá­ do conteúdo do livro. Se alguém quisesse es­
rios fantásticos. Discutia-se tudo. Por exem­ tudar a sociedade tupi, qual seria a contribui­
plo: existe educação no Brasil? O professor ção do livro? Fiz o trabalho com ardor,
Baldus dizia: “Não existe educação no Brasil. trabalho que mais tarde tive o bom senso de
Na Alemanha me davam uma ordem e eu ti­ rasgar, para não ser incentivado a publicá-lo.
nha de fazer. Eu era soldado. Se eu tinha Quando Baldus leu o trabalho teve um fani­
um furúnculo, cortavam, espremiam, joga­ quito: “Mas, Florestan, o Métraux não viu
vam iodo, eu berrava e ninguém prestava nada! Se é verdade o que você diz aqui, o
atenção. Isso é educação!”. E eu: “Não, isto que há de mais importante para fazer sobre
é brutalidade”. A questão era: o que caracte­ os Tupinambá não foi feito”. Eu concordei:
riza a educação? Qual é a diferença entre “É, eu também estou pensando isso”.

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Eu já conhecia, naturalmente, os livros mesmo. E quanto ao doutorado, já estou
do [Alfred] Métraux, por causa do trabalho trabalhando sobre os sírios e libaneses, e
sobre o livro do Gabriel Soares. Baldus quis portanto vou fazer isso”.
saber se as outras fontes eram tão ricas e eu Na defesa da tese, recebi duas críticas
tive de admitir, modestamente: “Não sei. Eu negativas da Banca. Uma foi do professor
não conheço as outras fontes. O que nós po­ Mário Wagner Vieira da Cunha, que achava
demos fazer é um outro trabalho de aprovei­ que eu não devia ter integrado a documenta­
tamento. Vamos escolher outra fonte”. En­ ção. No seu entender, eu devia ter dado um
tão, discutimos a fonte, se seria uma fonte tratamento particularizado — os Tupi no
francesa ou uma fonte de outra natureza, Rio de Janeiro, os Tupi na Bahia, os Tupi no
outro português etc. Ele achava que deveria Pará e Maranhão — e depois fazer como os
ser o Hans Staden: “O Staden é bem dife­ americanos: uma espécie de cross-crossing
rente de todos os outros e as descrições dele dessas conclusões. Mas eu fui para cima de­
são descrições de quem viveu ali com os ín­ le, porque tinha a impaciência do jovem po­
dios, dentro das malocas, dentro do grupo bre, que não pode ser detido. Eu arrasei lo­
local. E são descrições mais concisas. Se o go: “Essa reflexão é típica de quem não quer
livro mantiver a mesma importância, então é fazer nada. Se eu ficasse discutindo se vou
possível fazer um trabalho sobre a sociedade fazer o trabalho assim ou assado eu não faria
tupi”. E lâ fui eu ler o Hans Staden, que es­ trabalho nenhum”. Este foi um golpe sério,
tava traduzido para o alemão moderno e do porque ele gostava de pensar no pró e no
alemão moderno para o português, com contra, como aquele que fica: atravesso ou
uma boa edição em português. não atravesso? Ele era meu amigo, mas ali
Quando terminei esse trabalho, recebi ele era meu examinador. Na verdade, eu ha­
de Baldus a incumbência de fazer um estudo via começado com aquela técnica, e portanto
sobre os índios tupi, dentro daquele progra­ foi fácil para mim dar razões positivas para o
ma a que me ligava a bolsa da Escola de So­ fato de tê-la eliminado. Porque havia um
ciologia, abandonando de vez o meu projeto interesse da crítica de fontes, crítica interna
inicial sobre o contato cultural no século de fontes, de conhecimento do universo em­
XVI. Trabalhei sistematicamente com as pírico, em fazer o tratamento unificando e
fontes, fiz um pequeno arquivo, que está lá fundindo todo o material.
em casa até hoje, fichei os textos. Eu próprio Outro examinador que defendeu postu­
inventei as técnicas de organização do mate­ ra negativa foi o professor Willems. Ele disse
rial. Não tinha treino para isso mas fiz uma que eu não devia fazer um trabalho de re­
coisa que era fácil para mim. E já coligi o construção histórica de uma civilização tribal
material com a idéia de explorar o estudo da sem antes ter tido contato direto com grupos
organização social, o estudo do contato com indígenas. O professor Baldus, que realmen­
os brancos, o estudo da guerra e da religião te endossou o meu trabalho sem ter
de uma perspectiva diferente daquela que o acompanhado a sua elaboração e dispensou-
Métraux desenvolveu. Elaborei o trabalho e me de suas críticas, saiu como a galinha que
ele foi apresentado como tese de mestrado. defende o pintinho. Disse, com sotaque ale­
O professor Pierson me procurou para dizer mão: “Ah! Que bobagem Willems. Bem se
que era um desperdício, que eu não devia vê que você nunca viu um índio!”. Quer di­
entregar aquele trabalho para mestrado, que zer, acabou com a história ali, no nascedouro.
eu devia fazer doutorado na Filosofia com Eu não precisei sequer responder. O mestrado
ele e que, provavelmente, qualquer um dos estava feito. Novamente eu tive muita sorte,
capítulos serviria para mestrado, ficando eu não é? O acaso me pôs diante de um trabalho
livre para fazer o doutorado com toda a mo­ que tinha grandes perspectivas.
nografia. Mas firmei pé: “Não! Eu decidi Na Faculdade de Filosofia, no doutora­
que isso vai ser mestrado e vai ser mestrado do, eu queria fazer uma pesquisa sobre acul­

10
turação de sírios e libaneses. Eu tinha o pres­ levar em conta a minha condição humana. É
tígio de ser o enfant terrible do Departamen­ uma mentira pensar que um pesquisador po­
to, e lá um projeto de pesquisa tjpha de ser de fazer tudo que ele queira. O pesquisador
mais complexo. De fato, a minha pesquisa não é uma máquina, não é um robô. Ele é
para o doutorado não tivera uma origem um ser humano. É preciso que haja um mí­
empírica ou ocasional, mas uma origem teó­ nimo de relação emocional com os sujeitos
rica: eu quis pôr em teste a hipótese de Ma- da pesquisa para que o trabalho possa se de­
linowski sobre a dinâmica da mudança cultu­ senrolar com uma certa regularidade e pro­
ral, segundo a qual, numa situação de conta­ dutividade. Senão não há respeito mútuo. E
to, a transformação não se dá em itens e ins­ o fato é que ficara difícil para mim continuar
tituições isoladas, mas como parte de um aquela pesquisa.
complexo total. Tudo está inter-relacionado Nesse ínterim, elaborei o questionário
nesse processo dc mudança. Essa era a hipó­ que deveria ser aplicado. A elaboração de
tese. Quando relatei ao professor Willems a um questionário, como se sabe, é um proces­
idéia dessa pesquisa ele ficou deslumbrado. so complexo. É preciso saber o que se pre­
Foi falar para o professor Fernando de Aze­ tende, escolher as perguntas, fazer o teste do
vedo que eu era um talento na pesquisa. Es­ questionário, eventualmente reformulá-lo.
sa é a origem teórica da pesquisa. Assim, quando entreguei o questionário
Havia um estudante chamado Jamil Sa- pronto e acabado ao doutor Fernando de
fady que se tomou um colaborador perma­ Azevedo, que era o orientador da tese, ali es­
nente e entusiasta do meu trabalho. Ele tava o produto final de um longo e paciente
desempenhava o papel ativo de um terceiro trabalho criativo. Infelizmente, ele acabara
entrevistador. Junto com ele colhi muito ma­ de receber a visita do professor Milton [Silva
terial sobre os sírios-libaneses, estudando a Rodrigues], de Estatística. Os dois estavam
religião, a carreira dos indivíduos, a família. conversando e o doutor Milton quis saber o
Mas fui descobrindo um universo que não que eu estava entregando. Ambos começa­
me atraía, um mundo que estava muito dis­ ram a brincar com o meu questionário. Foi
tante do meu universo de garoto pobre, de realmente uma brincadeira de gato e rato. E
pessoa de origem humilde. Quando conhecia eu que sou uma pessoa agressiva absorvi
uma pessoa que tinha uma condição igual, aquela situação como uma afronta. Discuti o
de pequena classe média, ou alguém que assunto com eles mas botei de lado a idéia
não tinha tido êxito, logo descobria uma car­ dc fazer pesquisa de campo para o doutora­
ga emocional tremenda por trás. Reações de do. Resolvi voltar aos Tupi e fazer a tese so­
inveja, de rancor. Vinham discutir comigo se bre a função social da guerra na sociedade
era justo que os pais tomassem as decisões, tupinambá. Com isso eu me punha ao abrigo
que os filhos não tivessem liberdade para is­ de qualquer pressão. Parecia-me que a nos­
so ou para aquilo, e eu tinha de dizer: “Sou sa tradição ainda se limitava ao terreno his­
um pesquisador, não um sacerdote, ou um tórico. Nele os brasileiros se sentiam bem.
psicanalista”. Certa ocasião, fui à casa de um As pesquisas mais importantes do passado ti­
rapaz que fora meu colega no curso de Didá­ nham sido estas, não é? Tirando Euclides da
tica, muito amigo meu, e me senti tão mal na Cunha, se pegamos o Oliveira Vianna, o Gil­
sala de visitas, por causa do luxo (sua família berto Freyre, o próprio Fernando de Azeve­
morava na Vila Mariana), que logo ele per­ do com Um Trem Cone para Oeste e Cana­
cebeu e me disse: “Florestan, eu sei o que viais e Engenhos na Vida Social do Brasil,
está acontecendo com você. É o que aconte­ descobrimos uma continuidade, historica­
ce comigo. Vamos para o meu quarto”. O mente. O terreno parecia-me sólido. Era o
quarto dele era um quarto modesto, como o que sabíamos fazer. Decidi: “Vou me plan­
de uma empregada. O luxo da casa era tar nesse terreno. Vou fazer o trabalho aí
opressivo. Enfim, eu escolhera o tema sem mesmo!”.Depois de certo tempo o professor

li
Fernando de Azevedo me chamou: “Que dia­ los? Virariam caça do inimigo por pura estu­
bo! Você não veio mais falar da sua pesquisa”. pidez?”. Aí foi um delírio, algo tão estrondo­
Eu respondi: “Eu mudei. Estou fazendo a tese so... Foi uma gargalhada geral. A Congrega­
sobre a guerra na sociedade tupinambá”. E ção estava cheia, porque toda vez que havia
ele: “Mas, como? Você nem me consultou”. uma defesa de tese era uma enchente. Sob a
“Não precisava. Eu sou o candidato. O senhor gargalhada geral, ele ficou vermelho como
é o orientador. O senhor brincou com o meu um pimentão. Enfim, foi uma argüição nesse
questionário. O senhor sabe o que é um estilo, de luta. A minha mãe, por exemplo,
questionário? O senhor já elaborou um assim viu as coisas. Ela era uma mulher da
questionário alguma vez em sua vida? Q se­ cultura defo lk e que não saiu da cultura de
nhor e o doutor Milton brincaram comigo e folk. Quando lhe perguntaram a respeito ela
eu então encerrei o assunto. E o senhor só disse: “Eu estou muito nervosa, estou com
vai ver o meu trabalho quando ele estiver dor de cabeça. Havia cinco homens lá; eram
pronto”. Assim, acabei fazendo o doutorado todos contra o Florestan. Eles atacavam o
sobre os índios tupi. Florestan e o Florestan os atacava. Era uma
O que interessa nisso tudo? Aquele aca­ luta entre eles. E eu fiquei muito nervosa,
so do curso na Escola de Sociologia, de ter li­ porque eles queriam destruí-lo”. Foi assim a
do Gabriel Soares, de ter lido Hans Staden, argüição. Um médico português que assistiu
de ter descoberto um tipo de trabalho que a tudo, e que depois ficou meu amigo, assim
podia ser feito. Produzi uma das teses mais comentou o ocorrido: “Só ficou faltando, pa­
complexas que já foi escrita no Brasil, em ra ser uma argüição em Portugal, que a ban­
termos de “trabalho acadêmico”. A Organi­ ca jogasse a tese aos pés do candidato. É co­
zação Social dos Tupinambá foi a única tese mo se faz lá em Portugal. Depois que o exa­
efetiva que eu elaborei. minador argúi, ele joga a tese aos pés do
Para defendê-la não tive de enfrentar candidato”. Felizmente, para nós faltou esse
muitos problemas. Na Escola de Sociologia, complemento. Quanto a mim, tornara-me
no mestrado, a banca era: Baldus, presiden­ “doutor pelaUSP”.
te, e Willems, Mário Wagner e Donald Fier- Além de Plínio Ayrosa, na banca do
son, examinadores. Tinha mais gente as­ doutorado estava o Fernando de Azevedo,
sistindo, ao estilo norte-americano (quem que antes havia feito certas críticas ao traba­
quiser assistir entra, ouve e discute). Não me lho que eu recusei. Eu então lhe dissera:
lembro mais se tinha uma quinta pessoa ar- “Não aceito as suas críticas, professor. O se­
güindo. Eu acho que não: eram só os quatro. nhor não conhece as fontes e está querendo
Aliás, argüição propriamente dita não houve. que eu introduza modificações que não são
Já no doutorado, na Faculdade de Filosofia, verídicas, não são consistentes. O que o se­
se fazia argüição, e uma argüição dura. O nhor falou que tinha sentido eu aceitei, e
professor Plínio Ayrosa, por exemplo, disse eram coisas mais de exposição do que de re­
que minhas reconstruções eram malfeitas. construção e de interpretação de fatos. Ago­
Eu o provoquei: “Dê um exemplo”. E ele: ra, as questões de interpretação de fatos eu
“A sua reconstrução da paliçada, do grupo discuto com o senhor em público. O senhor
local”. Eu aí fiquei quieto, mas quando che­ fez as críticas e eu não as aceitei. Então, o se­
gou a minha vez de falar dei o troco: nhor as repete e eu respondo. Não vou me
“Professor, o senhor agora revelou ter uma dar ao trabalho de responder duas vezes”. E
idéia de senso comum a respeito dos indíge­ ele não o fez.
nas brasileiros. O senhor pensa que eles são A argüição do professor Baldus só teve
pessoas rústicas, ‘primitivas’ e tão ingênuas um ponto duro, que foi sobre a bibliografia.
que, em vez de a paliçada ser um meio de A tese ostenta uma bibliografia que me deixa
defesa, seria um alçapão, expondo-os a ficar até envergonhado. Naquela época, uma boa
ã mercê dos adversários que vinham atacá- tese também implicava uma boa bibliografia.

12
Esta devia ser “completa”. No entanto, o Fernando de Azevedo subiu. Fernando de
Baldus sugeriu umas fontes que rifo consta­ Azevedo decidiu, então, atribuir aquele lugar
vam, e eu resisti: “Professor, eu lamento, a Willems, seu assistente. Ele foi o nosso pri­
mas já acho a bibliografia grande demais. meiro professor de Antropologia. Isso em
Eu quero saber qual foi a questão que foi 1943. A turma de 1941, que já estava no ter­
tratada de modo insuficiente por causa da ceiro ano, foi obrigada a fazer o curso. Ale-
ausência desses livros. Eu cometi algum erro gou-se que nós não tínhamos a aprovação
de descrição, de interpretação?”. E ele: nesse curso e, portanto, devíamos fazê-lo. O
“Não, não tem nada. Está tudo bem-feito”. professor Willems ministrava o curso
“Então, por que e para que o senhor queria acompanhando as grandes linhas do livro de
mais esses livros?”. Foi a única coisa. Apesar Ralph Linton, O Homem, que naquele mo­
do choque com o professor Plínio Ayrosa, eu mento ainda não existia em português. A
tive 10 com distinção e louvor. orientação básica inicial provinha desse livro,
Mas, afinal, qual era a essência do meu uma obra didática notável.
trabalho: Antropologia ou Sociologia? Aí é Eu nunca me indaguei muito se o que
que está o ponto. Na Escola de Sociologia eu fazia era Sociologia ou Antropologia. O
havia ensino básico de Antropologia, de E t­ que é importante é que acabei lidando com
nologia brasileira. Na Faculdade de Filosofia técnicas de reconstrução que obrigavam a
não havia. Mas na Filosofia havia aquela trabalhar com relações de concomitância.
ponte com os franceses, uma influência gran­ Não se tratava de uma civilização vista ao
de de Durkheim, de Le Play, de Mauss, Gas- longo de sua evolução de dois, três séculos,
ton Richard, Lévi-Bruhl. Para a tradição ou mesmo de um século. Tratava-se de ín­
francesa era irrelevante separar a Antropolo­ dios tupi, em dados momentos, focalizados
gia da Sociologia. Tudo dependia do modo pelos cronistas, pelos jesuítas, pelos docu­
de tratar. Durkheim escreveu A Divisão So­ mentos oficiais, pelos viajantes. Ou tratava-
cial do Trabalho, O Suicídio, que ninguém se de folclore. Daí eu ter acumulado um co­
chamaria, naquele momento, de estudos an­ nhecimento amplo sobre a técnica e o
tropológicos, mas escreveu A s Formas Ele­ processo de lidar com análise funcional de
mentares da Vida Religiosa que, na boa tra­ relações de concomitância (ou “uniformida-
dição européia e norte-americana, seria um des de coexistência”).
trabalho de Antropologia. Mauss também O primeiro seminário que eu dei na Fi­
escreveu trabalhos que podiam ser de Antro­ losofia, em 1945, foi s o b re is Regras do Mé­
pologia ou de Sociologia, ou até de Etnogra­ todo Sociológico. Retornando a esse texto,
fia Material. Não havia essa preocupação. se vê que a preocupação de Durkheim é com
O ensino de Antropologia na Faculdade a explicação causal: a análise funcional e a
de Filosofia começa realmente com o profes­ explicação funcional entram no quadro de
sor Willems, que, apesar de ter sido aluno de referências em termos da repetição da causa.
Thurnwald — Baldus também foi aluno de Dadas certas condições, certas ocorrências se
Thurnwald —, não era antropólogo, mas so­ reproduzem. Então, a causa se repete e nós
ciólogo — embora, no Brasil, tenha feito um estamos diante de “fins úteis”, “efeitos
trabalho sobre aculturação que, do ponto de úteis”. Eu trabalhei nessa direção, com um
vista norte-americano, seria trabalho de an­ pouquinho mais de sofisticação. Porque eu
tropólogo. O professor Mário Wagner havia estava tentando, por meio da análise funcio­
ido para os Estados Unidos aprender Antro­ nal, chegar à explicação causal. Durkheim,
pologia e, ao voltar, deveria ensinar Antro­ no esquema dele, trabalhando com tipos mé­
pologia, não como matéria independente, dios, podia remontar da causa para o efeito e
mas como disciplina. No ínterim, enquanto descobrir as funções. Eu, da minha parte, só
ele foi e voltou, o diretor foi substituído: o podia conhecer as funções: qual é a função
professor Alfredo EUis caiu e o professor da guerra, qual é a função da onça (uma das

13
coisas que impressionou a professora Gio- o que caracteriza a abordagem sociológica é
conda Mussolini foi a onça no universo dos o estudo da sociedade; o que caracteriza a
índios tupi, tal como relato em A Organiza­ abordagem antropológica é o estudo da cul­
ção Social dos Tupinambã), a função do gru­ tura. Ou seja, um branco e preto. Um bran­
po local? E me vi compelido a tratar delas co e preto que, naturalmente, já naquele
em termos de relações de coexistência. Eu momento, não tinha validade nas grandes
conhecia as funções e tinha de chegar às cau­ universidades, mas que para nós era um
sas para poder fazer uma tese de doutorado, bom recurso adaptativo.
senão me esmagavam. Eu tive muita sorte Willems, partindo do livro do Linton,
porque já conhecia vários livros na área de simplificava as coisas e submergia nesse uni­
métodos e teorias da ciência, entre outros, o verso, porque até os sistemas sociais, as insti­
livro de Simpson, o biólogo. Baseado em um tuições, tudo em Linton é parte da cultura.
livro dele sobre Arqueologia, havia me pro­ Aquilo que o sociólogo estuda como objeto
posto o problema da seleção das funções, a acaba desaparecendo no tratamento que
distinguir as funções selecionadas das fun­ Linton dá à cultura, absorvido pelo objeto da
ções potenciais e a conciliar, por aí, história e Antropologia. Por sua vez, Roger Bastide
função. Essas possibilidades são encantado­ operava uma reversão, pois a Sociologia di­
ras em uma “sociedade simples” como a dos luía o antropólogo e o antropológico, surgin­
Tupinambã, da qual nada se sabe a respeito do como a ciência das civilizações, do ho­
da seleção das funções na vida social concre­ mem como ser social civilizado em todas e
ta e das alternativas perdidas com as funções quaisquer situações históricas possíveis. Na­
potenciais eliminadas, mas que permite a ex­ turalmente, para mim, as alternativas extre­
clusão de reducionismos empiristas de teor mas ainda interessavam pouco. Eu traba­
mecanicista, porque a totalidade aparece lhava numa cadeira de Sociologia e não pre­
com todo o vigor nas relações dos homens cisava justificar o fato de meus trabalhos po­
entre si e com a natureza. derem ser encarados como “trabalhos de
Na Faculdade de Filosofia o que preva­ Antropologia”, embora algum colega ou ou­
lecia era a tradição sociológica de Roger tro tenha me apoquentado por causa disso:
Bastide, de Arbousse Bastide, ou mesmo de “Você não está trabalhando como sociólogo;
Fernando de Azevedo, dentro de óticas fran­ você está trabalhando como antropólogo”.
cesas. Emílio Willems ampliara essas óticas Eu pouco me preocupava, pois não achava
com os autores alemães e norte-americanos isso relevante. O que me preocupava mais
que faziam parte do seu repertório. Na Es­ eram as lacunas de formação. Lacunas que
cola de Sociologia o que prevalecia era a óti­ eram terríveis para quem tinha freqüentado
ca de Chicago, complementada pela Antro­ aquelas duas escolas.
pologia inglesa e por autores alemães que Na Faculdade de Filosofia havia um al­
alimentavam a imaginação etnosociológica to nível de exigência abstrata, muito mais
de Baldus (e também de Willems). A volta que teórica, e ao mesmo tempo as condições
de Mário Wagner e de Octávio da Costa de trabalho permitiam uma reflexão muito
Eduardo deu maior densidade a correntes pouco madura, porque todos trabalhavam
especificamente antropológicas, considera­ tanto que dispunham de pouco tempo para
das teoricamente ou à luz do estudo da acul- pensar. O professor Maugüé, por exemplo,
luração e do Novo Mundo. Era possível es­ não admitia que um aluno citasse uma fonte
tabelecer uma adaptação provisória, como indiretamente. Eu me lembro de um as­
uma espécie c1e ponto de partida precário. E sistente da Faculdade de Filosofia, hoje um
a adaptação acabou sendo estabelecida se­ professor conhecido, que foi chamado por
gundo critérios que prevaleciam mais na Es­ ele em público, no exame oral de fim de ano:
cola de Sociologia, pela combinação da tradi­ “O senhor é um burríssimo!”. Não era bur­
ção alemã com a tradição norte-americana: ro: era burríssimo. Por quê? Porque ele ci-

14
tou Scheling. “Aonde o senhor leu Sche­ muito grande”. Aliás, foi o que disse a Fer­
ling?”, Maugüé perguntou. Ele havia lido na nando de Azevedo na hora em que se con­
nossa Bíblia, a História da Filosofia de [An­ cretizou o convite para ser seu segundo as­
dré] Lalande’. E o Maugüé continuou: “On­ sistente: “Olha, a responsabilidade é do se­
de o senhor leu Herder?”. “No Lalande”. nhor. O senhor não esqueça de que está
“Onde o senhor leu Shoppenhauer?”. “No convidando um aluno. Eu acabei de me for­
Lalande”. E ele então disse: “Mas o senhor mar. Sou um aluno. Não sei como eu vou
não lê os autores? O senhor é um burrís­ ser como professor. Eu não tenho nível inte­
simo!”. Enfim, havia uma exigência funda­ lectual de assistente”. Eu chamei a sua aten­
mental quanto ao estilo de trabalho acadê­ ção com tal vigor que ele levou um choque.
mico, mas esse trabalho era feito de maneira E não fosse a presença de Antônio Cândido,
um tanto precária, de acordo com as nossas que foi providencial, eu teria perdido aquela
possibilidades. Por exemplo, o professor oportunidade de emprego e teria de ir traba­
Arbousse Bastide, no terceiro ano do seu lhar com o professor Hugon. O Antônio
curso de Ciência Política, quis saber o que Cândido salvou-me brincando: “É, profes­
nós tínhamos lido. Ele estava descobrindo sor. Nós sabemos que o Florestan é muito
que o horizonte intelectual do estudante bra­ ignorante, não é?”. Aí o doutor Fernando
sileiro era muito ralo. Então, perguntou-me: deu uma gargalhada e tudo se encerrou.
“O senhor leu Durkheim?”. Eu disse: “Sim, Mas ele ficou com a responsabilidade. Eu
eu li Durkheim”. E ele: “O que o senhor leu poderia falhar à vontade que a responsabili­
de Durkheim?”. Eu comecei a responder: dade seria dele. Visto de longe, aquele era
“As Regras do Método Sociológico, que, um pânico psicológico total.
aliás, eu li no bonde...”. “Leu no bonde? Ah, Eu aceitei o convite e o professor Aze­
leu Durkheim no bonde...”. Foi um escânda­ vedo me obrigou a um programa de leituras.
lo. Onde já se viu um supra-sumo da tradi­ Um programa típico não de quem saíra gra­
ção universitária francesa sendo lido no bon­ duado de uma universidade, mas típico de
de? Pois todo dia eu ia da Praça da Sé à Pe­ um autodidata. Um autodidata de tipo novo,
nha, uma viagem de 40 minutos, a uma hora um sujeito que fez, antes, cursos universitá­
da madrugada, lendo no bonde. Era muito rios de alto nível, que aprendera a fazer e a
bom ler no bonde. Havia menos barulho que ler a sua bibliografia e que, além disso, era
na Praça da República. capaz também de criticar as suas leituras.
No ápice, prevalecia um sofisticado refi­ Esse era o programa de trabalho que eu iria
namento, sustido por uma baixa realização. desenvolver de maneira intensa, durante um
É óbvio que no centro da minha angústia es­ ano e meio, dois anos, ou mais, trabalhando
tava a Sociologia, não a Antropologia. De­ nas várias bibliotecas mas, principalmente,
pois de quatro anos de estudos, eu não sabia na Biblioteca Municipal. Foi um período
o que era a Sociologia, como a Sociologia se muito marcante, que me ajudou a superar as
relacionava com outras ciências, como ela limitações da herança que eu recebi como
poderia ser dividida etc. Não por Durkheim, aluno de uma universidade de origem recen­
não por Tõnnies, não pela escola do Le Play, te e precária. Revelava-me o produto de
não por Mannheim, cuja leitura me impuse­ uma escola improvisada, de uma universida­
ra desde 1943. Meu problema era: como é de criada de repente, com professores de vá­
que nós poderíamos definir o objeto e dividir rios lugares do mundo, com critérios confli­
o campo da Sociologia naquele momento. tantes de trabalho. Punha a nu as qualidades
Resultado: entrei em pânico, pânico real, a e os defeitos que se tornaram meus também,
ponto de acusar-me: “Sou um ignorante e me obrigava a corrigi-los, a trabalhar duro

[* ] AikIré I .alande, Vocabulaire Tecnique et Critique de la Philosophie.

15
para corrigir ao menos as limitações identifi­ res. Vargas fez uma demagogia com os po­
cadas. bres, com os trabalhadores. É claro que nós
Uma delas era o ecletismo. A caracte­ poderíamos ter apoiado Vargas, se tivés­
rística principal do ensino dos franceses ou semos nos sentido seduzidos por esse “popu-
dos alemães era o caráter eclético dos cur­ lismo”, mas aquele era um momento em que
sos. Nunca só Durkheim, ou só Mauss, ou só intelectuais estavam presos, Prestes estava
Radcliffe-Brown, ou só Marx. Não havia na prisão. A luta pela liberdade era decisiva­
uma Bíblia. Na Escola de Sociologia eu iria mente importante. O estudante era fatal­
descobrir um tipo de ensino básico que eu mente levado para a ação clandestina contra
não conhecera anteriormente, voltado para a a ditadura, ação que encontrava suporte e
aprendizagem dos conceitos fundamentais tolerância na burguesia, que tinha eclosão,
ou das técnicas e métodos de investigação. possuía suas vias de manisfestação. De outro
Sem a devida prática no uso das técnicas, lado, o Partido Comunista mantinha seus
mas com um treinamento rudimentar no quadros ilegais em atividade clandestina, via­
emprego dos conceitos e das técnicas dado bilizando a ação oculta, a ação contestadora
pelo professor Pierson. Para alunos de gra­ dissimulada. Foi mais fácil, naquele momen­
duação, isso era uma grande coisa. Depois to, lutar contra a ditadura contemporânea
nós procuramos introduzir transformações do que seria, posteriormente, contra o pre­
análogas na Faculdade de Filosofia, só que sente regime. É claro que, em 1941, em
procurando associar a aprendizagem â práti­ 1942, eu ainda estava muito próximo do es­
ca. A elaboração de um pequeno questioná­ tudante ardente: não tinha sido plenamente
rio, a realização de uma entrevista etc. Além adotado pela Universidade, nem havia me
disso, desenvolvemos também o estudo dos imiscuído na vida subterrânea da luta políti­
modelos de análise e de explicação, o que é ca. Mas, por escrever em jornais, por ter
um passo a mais e igualmente necessário. contato com outras pessoas, por ter maior
Na minha vida houve um acidente mui­ notoriedade, também os colegas que esta­
to importante, que não tem nada a ver com vam na ação clandestina revelaram interesse
o ensino; tem a ver com a cidade de São por mim. Eu repeli de imediato a vida nos
Paulo. A cidade de São Paulo é responsável grêmios. Achava que era um desperdício de
pela probabilidade da existência de uma uni­ tempo ir aos grêmios. Tinha de ganhar a mi­
versidade, de uma Faculdade de Filosofia ou nha vida, tinha de estudar, de sustentar minha
de uma Escola de Sociologia e Política com mãe. O grêmio, para mim, representava uma
professores estrangeiros. Naquele momento devastação de tempo e de energias. Um estu­
aquilo parecia impossível. A Universidade do dante do grêmio era um estudante que eu não
Distrito Federal, a qual pertenceram Anísio respeitava. Havia razões, porque sob a ditadu­
Teixeira, Gilberto Freyre e os franceses Émi- ra o grêmio não era uma coisa séria, não era a
le Bréhier, Pierre Deffontaines e Henri Hau- espinha dorsal da luta política, como se tomou
ser, teve de fechar pouco depois de sua cria­ mais tarde. A espinha dorsal da vida política es­
ção. É sabido que a ditadura de Vargas foi tava em outras esferas.
um terrível período de repressão. E, natural­ O fato é que me vi arrastado para a
mente, na época em que fui para a Faculda­ ação clandestina contra a ditadura. Os conta­
de de Filosofia, a luta contra a ditadura já tos mais instrumentais para isso foram os co­
era elaborada e começava a ganhar vida, pois legas que estavam na Folha da Manhã, o
a insatisfação dos estudantes já se projetava. Sacchetta e outros. Acabei indo diretamente
As classes burguesas, ao contrário do que para a extrema esquerda, para o grupo trots-
acontece sob a ditadura atual, promoviam kista, um grupo filiado à IV Internacional.
ativamente certas resistências a Vargas, tan­ Deixei, portanto, de gravitar pelo centro.
to que a ditadura varguista procurou apoio Não sofri as seduções da esquerda modera­
nas classes trabalhadoras, não só nos milita­ da: fui direto para extrema esquerda daquele

16
momento, que era uma extrema esquerda mia Política de Marx, trabalho que conduzi
séria porém fraca — um grupúsculo. com muita dificuldade, porque trata-se de
O trabalho de luta política era um um livro complexo. Eu tinha estudado ale­
trabalho de “agit-prop” (agitação e propa­ mão mas não podia arcar com a tradução.
ganda), não era um trabalho teórico. Nossas Para se ter uma idéia, para traduzir uma pá­
reuniões eram reuniões com operários^ com gina de Alfred Weber, eu e Alice Canabrava
operárias — muito poucos, a bem da verdade. investimos o tempo de que dispúnhamos pa­
Elaborávamos alguns números de um jornal ra estudar alemão durante uma semana. Fi­
clandestino, que era mimeografado na minha cou uma boa tradução, mas é impossível
casa, distribuídos precariamente aos militantes trabalhar assim, não é? A tradução do livro
do movimento e também a alguns colegas da de Marx foi feita de três línguas: inglês, fran­
Faculdade de Filosofia, a um ou outro estu­ cês e espanhol. A melhor edição era em
dante. Não obstante, essa iniciação foi impor­ espanhol. Minha maior dificuldade estava
tante para o meu batismo político. em reconstruir a linguagem de Marx. De ou­
Fiquei vinculado a esse grupo alguns tro lado, minha ignorância do marxismo im­
anos, até 1950 ou 1951, não me lembro di­ pedia o domínio correto da terminologia
reito, mas chegou o momento em que ficou marxista. Portanto, nesse ponto a tradução
claro que eu tinha potencialidades de auto- era precária. Minha grande aventura foi a
realização que não podiam ser satisfeitas leitura e o primeiro estudo que fiz do Posfá-
dentro do grupo. De outro lado, a rotina do cio. Naquela época eu andava muito preocu­
meu trabalho universitário interferia nos pado com a explicação na ciência. De repen­
meus deveres de militante. Nós não tí­ te, descobria Marx ali, toda a sua rica e original
nhamos partidos revolucionários propria­ fundamentação da explicação materialista-dia-
mente ditos, capazes de oferecer ao intelec­ lética na ciência social. A leitura do livro não
tual uma oportunidade equivalente ã que ele foi irrelevante; o trabalho era pioneiro em
encontra na Universidade. Se se considera, muitas coisas e nele aparecem preocupações
por exemplo, a situação da Rússia revolucio­ e descobertas que foram exploradas por We­
nária, um Bukarin, um Lênin, um Trotski, ber e outros autores nos célebres e infindá­
ou mesmo um Stalin, quem quer que fosse veis “diálogos com Marx” — inclusive a res­
podia ser um intelectual do partido. Veja a peito do entesouramento, da relação entre
Rosa de Luxemburgo. Seu curso sobre Eco­ protestantismo e a acumulação primitiva, e
nomia, dado aos militantes do Partido, podia várias outras coisas. Mas, de repente, eu en­
ser publicado como livro de real importância contrava no Posfácio um Marx que estava
científica. O Partido era um ambiente no falando diretamente conosco. Mais do que
qual o intelectual podia ter papéis específicos os professores com quem eu aprendera,
e criar uma contribuição própria. No Brasil mais do que os livros que eu vivia lendo.
não existia (como ainda não existe) nada dis­ Para mim foi uma descoberta extraordinária.
so. Em resumo, eu era um intelectual, mas Eu já ficara impressionado com a primeira
o que eu fazia no movimento qualquer indi­ parte de/I Ideologia Alemã, que estava entre
víduo poderia fazer. Se eu estivesse no Parti­ os clássicos cuja leitura eu me impusera. E
do Socialista, no qual prevaleciam os italia­ com o Posfácio se desvenda toda uma nova
nos, ou no Partido Comunista, aconteceria a linha de trabalho, que na Universidade eu
mesma coisa. Se eu pertencesse a algum havia trabalhado muito mal.
grupo burguês de ação democrática a reali­ Como eu disse, o ecletismo dos profes­
dade seria a mesma. sores europeus obrigava-os a lidar simulta­
Uma exceção, nesse quadro, foi o convi­ neamente com Comte, Simmel, Marx, Durk-
te dos companheiros trotskistas, que haviam heim, Spencer etc. Quer dizer, nós sabíamos
criado uma editora chamada Flama, para um pouco de tudo. O intelectual da Faculda­
traduzir a Contribuição à Crítica da Econo­ de de Filosofia era como um xerox: você ou-
via um, ouvia todos. Assistir a um concurso problemática original da Sociologia descritiva
de professores licenciados para a Escola ou da Sociografia, Le Play; para toda a pro­
Normal era o mesmo que desvendar um pa­ blemática da Sociologia comparada, Comte,
drão: o que variava era a capacidade de sa­ Spencer e, principalmente, Durkheim; para a
turar o padrão. Mas, nesse padrão, Marx problematização da Sociologia Bistórica ou
nunca entrou de corpo inteiro. Por exemplo, diferencial do método dialético, Marx; para a
o professor Hugon dava uma grande aten­ Sociologia aplicada, os autores que eu come­
ção a Marx, mas para em seguida demolir cei a explorar a partir do curso de Patologia
Marx. Já o professor Bastide dava atenção a Social de Roger Bastide, mas que reformulei
Marx simplesmente para pôr em equação com os sociólogos e os patologistas sociais
uma nova explicação do estético em que en­ norte-americanos e ingleses e os autores
tra o materialismo histórico, porque é preci­ marxistas (aliás, a Sociologia aplicada foi
so considerar a infra-estrutura etc. e tal. uma área à qual me dediquei intensamente,
Marx mesmo, de corpo e alma, não compa­ por causa dos meus interesses práticos, por
recia. Assim, ao fazer a tradução, descobri causa da minha posição socialista e da espe­
por minha conta o verdadeiro Marx. E, com rança de que a Sociologia aplicada poderia
isso, completo um circuito intelectual em mi­ ser muito importante para nós). Discutia
nha formação. também os campos e os problemas da So­
A Escola de Sociologia, com sua ênfase ciologia Geral, que derivavam principalmen­
na pesquisa empírica sistemática, no traba­ te da divisão durkheimiana (e permitem co­
lho da Escola de Chicago — que naquele locar os problemas epistemológicos e meto­
momento ainda era importante, pioneiro —, dológicos da ciência), conciliando a evolução
com os antropólogos da linha inglesa, com as histórica das disciplinas com a necessária
correntes emergentes da ecologia humana, fundamentação lógica. Eu fazia um elenco e,
da psicoetnologia, da antropologia cultural, com isso, estabelecia um ponto de partida
da psicologia social, contribuiu para alargar o bem diferente daqueles que nós tínhamos
painel dentro do qual a influência de Marx herdado. Não repetia simplesmente a divisão
iria conduzir-mc por novos caminhos. Assim, da Sociologia de Mannheim, que era a que
quando iniciei o meu trabalho como profes­ eu considerava a mais orgânica, consistente e
sor, propus-me uma saída diferente: não re­ lógica. Conseguia, num país em situação de
petir este ou aquele autor, mas procurar de­ dependência cultural, definir as relações com
limitar as diferentes orientações básicas den­ o exterior num plano multívoco e situar-me
tro da Sociologia. No curso que desenvolvi como sociólogo fora e acima das precarieda­
sobre a indução na Sociologia, publicado na des dos “autores da moda” e da imitação co­
ocasião, estão todas essas orientações, com lonial.
destaque para Weber, com o qual trabalhei Quem leu Marti (naquela época eu ain­
ordenadamente num dos seminários com o da não tinha lido Marti) deve se lembrar de
professor Bastide (eu dedicara a Weber um um conselho famoso: “Se é para depender
semestre inteiro de estudo extensivo e inten­ de literatura externa, então é melhor ler to­
sivo). Mannheim foi outro autor que me en­ das do que ler só uma”. Ou seja, se é para
cantou e com o qual dialoguei reiteradamen- depender de correntes na Sociologia, na An­
te. Freyer, Sombart, TOnnies, Maunier, Si- tropologia, ou na Física, na Química ou na
miand, Park e tantos outros faziam parte de Biologia, é melhor absorver todas as influên­
incursões obrigatórias que eu levava aos es­ cias e selecionar aqui aquelas que são impor­
tudantes. Nas tentativas de caracterização da tantes para nós. Quais são as nossas condi­
explicação sociológica em esquemas menos ções de trabalho? O que elas permitem fa­
abrangentes, trabalhava com Weber, Durk- zer? Que salto criativo podemos dar? Foi
heim e Marx. Quando explorava esquemas exatamente o que eu tentei fazer na cadeira
mais amplos, usava outros autores: para a de Sociologia I. Tentei desenvolver um

18
trabalho criativo no sentido de nos concen­ pesquisa iria ter Bastide como coordenador
trarmos principalmente nos campos da So­ central e os três mil dólares seriam divididos
ciologia diferencial ou histórica e, como é da seguinte maneira: mil dólares iriam para
inevitável, da Sociologia descritiva. Lidar Virgínia Bicudo e Aniela Ginsberg, que se
com os problemas do subdesenvolvimento e encarregariam de duas pesquisas psicológi­
da dependência (que, naquela época, eu cha­ cas; mil dólares caberiam ao professor Oracy
mava heteronomia, conceito que aparece em Nogueira, que deveria estudar as relações
Marx e é generalizado por Max Weber). raciais em Itapetininga, comunidade que ele
Não se tratava de fazer uma “Sociologia bra­ já estava investigando, e mil dólares cabe­
sileira”, mas de aproveitar estrategicamente riam ao professor Bastide. Não ficamos com
os recursos de que dispúnhamos — muito um tostão desse dinheiro: ele foi aplicado,
pobres e limitados — na investigação socio­ como retribuição simbólica, a dois pesquisa­
lógica do Brasil e da América Latina. dores: a doutora Lucila Hermann e o profes­
Embora a Antropologia não fosse o sor Renato Jardim Moreira, por tarefas es­
centro do meu trabalho, acabei fazendo uma peciais de que se incumbiram. Paulo Duarte,
pesquisa para a Unesco sobre relações ra­ que era muito amigo do Reitor da Universi­
ciais. Uma pesquisa na qual eu, de início, dade de São Paulo, conseguiu que esta doas­
não quis entrar. É uma longa história. se 60 ou 80 contos à revista Anhembi, para
Quando o Métraux veio para São Paulo, co­ financiar a publicação dos trabalhos em um
mo emissário da Unesco, com a idéia de fa­ grosso volume, que reuniu todas as mono­
zermos o trabalho, ele já tinha ido a Pernam­ grafias.
buco, a Salvador, ao Rio de Janeiro. Ele tra­ Por que estou dando tanta atenção a is­
zia ao todo cinco mil dólares, pelo que nos so? Para que se avalie as condições e os va­
informou, e dispunha-se a investir três mil lores que orientavam concretamente o nosso
dólares na pesquisa de São Paulo. Primeiro trabalho intelectual. Eu estava trabalhando
ele falou com o professor Roger Bastide. sobre os Tupinambá e não tinha tempo para
Este não quis fazer a pesquisa mas sugeriu o me envolver em um projeto que caía abrup­
professor Pierson. Métraux, então, foi à Es­ tamente do céu. Respondi até com uma cer­
cola de Sociologia comigo e teve uma con­ ta má-criação ao professor Bastide quando
versa elucidativa com o professor Pierson. ele me convidou para dividir com ele a res­
Este provavelmente supôs: “Unesco, pesqui­ ponsabilidade da pesquisa sociológica sobre
sa de relações raciais... Isso deve ter uma do­ relações raciais na cidade de São Paulo. Eu
tação fantástica”, E excluiu todos do campo já trabalhava com ele (embora ainda
com uma habilidade incrível: “Fulano não pertencesse à cadeira do doutor Fernando-
pode. Poderia, mas, por isso, por aquilo...”. de Azevedo) e ele era o “meu” professor,
Enfim, o único que poderia fazer a pesquisa amigo provado e querido. Além disso, antes
era ele. Aí veio: “Com quanto se conta?”. de partir para a Europa, no fim do ano letivo
“Cinco mil dólares, sendo que dois mil já es­ de 1950, ele convocara o Departamento para
tão alocados”. Imediatamente, então, o esclarecer que, ao me escolher para seu as­
professor Pierson refez o percurso com a sistente, ele também escolhia seu substituto,
mesma habilidade: repôs todos e tirou o cor­ pois achava que o substituto dele deveria ser
po fora. Métraux teve, assim, de voltar à Fa­ eu, o que de fato sucedeu. Eu lhe devia mui­
culdade de Filosofia e recorrer ao professor to, quase tudo, desde os bancos escolares,
Bastide, que era um homem de grande hu­ mas mantive-me firme na recusa, porque es­
mildade intelectual, incapaz de dizer não e tava empenhado com afinco na elaboração
de pensar sobre pesquisa como “sociólogo da tese para o doutoramento. O que fez o
profissional”. Fomos à Confeitaria Vienense Bastide me convencer? Ele foi à sala na qual
e lá Métraux consumou com sagacidade a eu trabalhava para insistir de novo e eu fui
submissão de Bastide aos seus desígnios. A peremptório: “Não, de jeito nenhum! O se-

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nhor não me convence”. Aí ele foi saindo, já dir pontos de vista tidos como especiais e ex­
ia fechar a porta, quando meteu a cabecinha clusivos”.
entre o vão e me disse: “Professor, eu colho Quando aceitei colaborar no projeto,
todo o material. O senhor só trabalha nos pensava em usar duas técnicas que aprende­
dados. O senhor aceita?”. Eu confesso que ra por acaso. O professor Pierson, nos seus
então chorei. Foi uma emoção forte demais. cursos, falava em uma técnica de observação .
Aquele homem, do qual eu tinha sido aluno que foi posta em prática na Inglaterra duran­
quatro anos, que fizera tudo por mim, de re­ te a guerra, de observação em massa. Por
pente faz isso, exige a minha colaboração, le­ outro lado, ao estudar o trabalho do pessoal
vando a sua dedicação a esse ponto. Ele faria de Chicago, descobrira que o uso do docu­
tudo e eu só teria de trabalhar na fase de in­ mento pessoal pode ser explorado de manei­
terpretação. Então, me levantei e anuí: ra muito mais sofisticada do que se fez em
“Bom, o senhor venceu. Eu faço a pesquisa outras correntes nos Estados Unidos. Há to­
com o senhor”. da uma teoria sobre o “estudo de caso” que
Elaborei o projeto de pesquisa com vis­ foi desenvolvida por Robert E. Park e seus
tas a acertar os ponteiros, já que muita coisa discípulos (consulte-se, por exemplo, Vivien
ele via de um jeito e eu via de outro. Elabo­ Palmer, Field Studies on Sociology, e Pauline
rando o projeto tornava-se possível unificar Young, Scientific Social Surveys and Re­
as nossas perspectivas. Ele leu o projeto com search). Um livro de Zorbaugh, A Costa do
cuidado e a única coisa que ele sugeriu mo­ Ouro e as Favelas, havia me impressionado
dificar dizia respeito às críticas feitas ao pelo amplo e meticuloso aproveitamento so­
ciológico de documentos pessoais em pro­
professor Pierson. A versão publicada, nesse
fundidade. Supunha que poderíamos explo­
ponto, é muito atenuada. Realmente ela fi­
rar essas técnicas em nossas condições de
cou palatável; o que eu havia escrito no
pesquisa.
trabalho original não era. Essa pesquisa foi
Explorei a técnica de observação de
uma revolução na minha vida intelectual e é
massa em situações concretas, aqui e ali, ao
também uma revolução em termos de inter­
sabor do contato com as pessoas ou do regis­
pretação do Brasil. Ela permite conhecer a
tro de ocorrências raciais reveladoras. À me­
sociedade brasileira de outra forma, permite dida que ia surgindo o assunto negro, eu ia
combinar Sociologia, Antropologia, Psicolo­ pondo o preto no branco. E colhi um imenso
gia e História como nunca se fizera antes. material. A sondagem do cotidiano é muito
Em Wright Mills encontra-se essa exigência rica. É só ficarmos alertas para discriminar o
teórica de estabelecer uma ligação, fundir que acontece e fazermos o registro. O uso de
pelo menos a Psicologia, a Sociologia e a documentos pessoais, no entanto, revelou-se
História, e ele realizou tal intento em suas pobre. O questionário teve um desenvolvi­
principais investigações, embora a Psicologia mento relativamente rico mas, em si mesmo,
tenha uma importância central em seu es­ era pobre, voltado para uma sondagem de
quema interpretativo. Em nosso trabalho, e superfície. As lacunas eram cobertas pela en­
em particular em A Integração do Negro na trevista focalizada e pela elaboração de al­
Sociedade de Classes, a fusão se faz na re­ guns estudos de caso. O afluxo de documen­
construção das situações de vida e ao nível tos pessoais relevantes e profundos, porém,
da teoria implícita na explicação dos proces­ escapava ao nosso controle. É claro que o
sos psicossociais e histórico-culturais consi­ documento pessoal exigia uma tradição inte­
derados. Tanto que a iniciativa de publicar o lectual de ler e escrever, tradição que era
livro em inglês partiu do professor Charles pouco difundida e pouco densa no meio ne­
Wagley, exatamente por causa disso. Ele me gro. Algumas pessoas podiam ser definidas
disse: “É o primeiro trabalho no qual há uma como intelectuais e passaram a colaborar co­
tentativa explícita de cruzar as coisas, de fun­ nosco nessa condição. Mas a maioria sofria

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das limitações do que o passado escravista e “É claro que vão. Q senhor tem prestígio en­
a pseudoliberdade impingiram ao negro. tre eles”. E foi assim que nós colhemos um
Realizamos a primeira reunião na Bi­ material riquíssimo, porque, na situação de
blioteca Municipal e decidimos empregar a grupo, dar a palavra não era problema. O
taquigrafia para o registro do material. Gra­ problema era interromper o relator no ponto
ças ao prestígio que o professor Bastide pos­ em que a exposição perdia contato com o
suía no meio negro, a afluência foi grande: objetivo da coleta de dados. Eu já tivera uma
200 a 300 pessoas. As outras reuniões foram experiência anterior com entrevista a três.
feitas na Congregação da Faculdade de Filo­ Um trabalho que escrevi e que publiquei em
sofia, com o afluxo médio de 120 a 150 pes­ colaboração com Ranzia Gattds mostra a
soas. Nelas nós pescávamos gente para en­ importância de a entrevista ser não só uma
trevistas, localidades e outros tipos de dados. entrevista do pesquisador, mas também de
Ficou patente que as mulheres tinham maior uma pessoa da comunidade que colabora
maturidade, talvez por causa das condições com o pesquisador. Com essa terceira pessoa
de existência do negro e da pressão psicológi­ operando como o “advogado do diabo” era
ca e social que elas enfrentam. Pela própria possível colher o material e questionar o en­
posição que desempenham na sociedade e trevistado, recapitular coisas que ele não
na família negra, as mulheres se revelaram queria dizer e sulcar criticamente a sua me­
como um elemento estratégico da investiga­ mória e o comportamento dos outros. Na si­
ção. Inventamos o “seminário das mu­ tuação de grupo acontecia a mesma coisa. O
lheres”, que eu fazia às sextas-feiras à noite. problema era calar as pessoas, porque depois
Projetamos também, em alguma sala de que tomavam a palavra o impulso era para
trabalho da Faculdade de Filosofia, um se­ falar, falar, falar.
minário com os intelectuais negros, que era Lembro-me de um médico que vinha da
feito numa sociedade cultural negra, na rua Bahia, o doutor Edgar Santana, homem in­
Formosa, aos sábados â tarde. Ali eles apre­ teligente e culto, mas que sustentava a visão
sentavam os resultados de suas experiências tradicional: “Não existe preconceito no Bra­
pessoais e observações sobre vários tópicos. sil. Eu sou médico na Bahia e sou igual aos
O documento pessoal, porém, acabou outros”. Ele quase foi linchado. Dentro de
sendo uma área pobre. Era impossível repe­ pouco tempo, porém, ele conheceria a reali­
tir os experimentos de Chicago. Sabem co­ dade e o que os negros de São Paulo pensa­
mo surgiu a solução? Lembrei-me da afluên­ vam sobre ela. Logo ele descobriu que, co­
cia que nós tivemos na Biblioteca Pública, mo médico, era realmente discriminado e
das reuniões tribais na África e dos índios tu­ passou a rever as suas experiências na Bahia,
pi. Na verdade, primeiro me lembrei dos ín­ que não eram bem o que ele percebia no
dios tupi. Quando eu escrevi sobre eles, tive contexto psicossocial em que vivera. O dou­
curiosidade de ver como se desenrolavam as tor Santana passou por uma reveladora me­
reuniões dos conselhos de chefes em outras tamorfose, chegando mesmo a escrever um
tribos, inclusive africanas. A palavra falada é pequeno livro no qual procede ao desmasca­
um instrumento rico na descrição e na co­ ramento da situação do negro. Em suma, a
municação de povos que não têm escrita. situação de grupo proporcionou um vasto
Então, discuti com o professor Bastide: “O material e abriu as portas para o aprofunda­
que não podemos fazer individualmente com mento perceptivo e cognitivo do negro sobre
as pessoas podemos fazer em situação de sua condição humana. Técnicas de trabalho
grupo. É só repetir na Faculdade de Filoso­ que seriam, por assim dizer, antropológicas
fia essas reuniões e nós vamos ter os relatos encontravam ressonância e utilidade no estu­
das experiências críticas que desejamos”. E do sociológico do preconceito e da discrimi­
foi exatamente o que aconteceu. Ele apenas nação raciais, bem como de uma sociedade
ponderou: “Será que eles vão?”. Eu disse: de classes multirracial. É como se estivés-

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sem os fazendo a típica pesquisa de campo, este pode configurar-se como uma barreira
só que numa sociedade metropolitana. Foi específica e insuperável. É claro que não vou
uma pesquisa realmente muito rica, unia repetir aqui o conteúdo desse livro. Só me
pesquisa que nos lançou para o passado, cabe assinalar que ele me permitiu rever as
porque, naturalmente, era preciso conhecer interpretações da sociedade brasileira, do
todo o passado do negro. nosso passado, do nosso presente e do nosso
O primeiro e o segundo capítulos de futuro.
Negros e Brancos em São Paulo, que coube a Nesse trabalho, a perspectiva antropo­
mim redigir, são capítulos que apresentam lógica jâ aparece como uma dimensão inter-
uma longa evolução da situação racial, do pretativa básica: não se trata de um estudo
passado remoto até o presente. É toda uma de relações raciais típico dos Estados Uni­
análise de como a sociedade paulistana se dos; é o estudo de uma sociedade concreta,
tornou o que é, revelando que, ao deixar de vista em termos de posição de raça dominan­
ser escravo, nem por isso o negro chega a ser te e raça dominada, classe dominante e clas­
cidadão. Ele se defronta com todos os pro­ se dominada, luta de classes e luta de raças.
blemas que surgem mediante uma modali­ Um estudo de como a raça subalternizada, a
dade de preconceito racial que não é análoga classe que foi posta para fora do regime esta-
â que aparece nos Estados Unidos, na África mental, sob a escravidão, não se integra rapi­
do Sul, na Rodésia etc., mas que não conduz damente na classe. De como o preconceito, a
tampouco à igualdade racial e à democracia discriminação e a segregação vão servir para
racial. banir o negro do regime de classe e de como
Além desse livro, em colaboração, tanto o negro vai lutar de uma forma dura, ter­
o professor Bastide quanto eu exploramos os rível, para varar tais barreiras e se classificar
nossos dados e descobertas em outras dire­ como proletário, para subir socialmente, em­
ções, escrevendo outros livros e ensaios. Eu bora pareça incrível que alguém queira se
próprio suplementei a pesquisa por minha classificar como proletário. Mas é uma dife­
conta, em 1954, especialmente com referên­ rença específica. Algo separa o homem que
cia ao conteúdo da imprensa negra e à histó­ não pode trabalhar, quer dizer, o negro que
ria do movimento de rebelião negra. No con­ sai da escravidão, que rejeita um tipo de
junto, a pesquisa sobre relações raciais em trabalho, porque acha que aquilo o tornaria
São Paulo permitiu-me rever toda a história um equivalente do que ele foi. Pois não ha­
brasileira, toda a sociedade escravista, como via, para ele, diferença entre a escravidão e o
ela se desagrega, como se dá a revolução trabalho livre. De repente ele se percebe na
burguesa, qual é a importância do fazendei­ condição de homem livre, que vende o traba­
ro e do imigrante, o significado do negro na lho como mercadoria... isso é uma ascensão
construção e dinâmica da nova sociedade de social. É um processo de classificação. Tudo
classes etc. Acusam-me (e também ao isso é discutido: como esse processo vai atin­
professor Bastide) de identificação psicológi­ gir, depois, proporções mais amplas; como o
ca e moral com o negro. Esse é, de fato, o negro de classe média e o novo negro vão
grande dilema do meu trabalho: eu enfrento agir em relação a tal situação e, principal­
as interpretações da realidade como se eu mente, a análise sociológica de dois fenôme­
fosse negro. Seria eu o supernegro, porque nos que nunca foram bem estudados: a rela­
percebo e vejo as coisas do ângulo do negro? ção social assimétrica, inerente ao sistema de
Com efeito, eu me situo historicamente do dominação escravista, e, de outro lado, a re­
ângulo do homem que surgiu como excluído, ação do negro, a tentativa do negro de criar
viveu no cortiço, que sabe que o preconceito com suas mãos e por seus meios uma segun­
é de classe mas é de raça também, que é ca­ da abolição, e como ele não obtém êxito. Os
paz de perceber, na superposição do precon­ movimentos sociais eclodem mas não ven­
ceito de classe ao preconceito de raça, que cem o muro do isolamento, da segregação.

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Essa é uma pesquisa de grande envergadura, exemplo, de estender a análise da empresa
que combina História, Psicologia e Antropo­ industrial para a Argentina e o México. En­
logia na compreensão do presente como to­ quanto o Fernando Henrique fazia a pesqui­
talidade. sa aqui, Pedro Paulo Popovic já ia à Argenti­
Posteriormente, com os projetos que na, já ia ao México colher material compara­
foram expandidos na cadeira de Sociologia I, tivo. O trabalho do Ianni no projeto Econo­
surgiram novos trabalhos sobre relações ra­ mia e Sociedade no Brasil era sobre o Esta­
ciais. Eu estimulei o Fernando Henrique do brasileiro, mas ele estendia o estudo da
Cardoso, o Renato Jardim Moreira, o Otá­ ditadura Vargas e de sua crise, inquirindo
vio Ianni a trabalharem no Sul. Foi feito um outras ditaduras e formas de populismo em
survey em Santa Catarina, Florianópolis. outras partes da América Latina. O trans-
Eles escolheram os casos. Fernando Henri­ bordamento para a América Latina se fez a
que escolheu Porto Alegre; Otávio Ianni, partir de projetos concretos de pesquisa.
Curitiba. Fizeram o doutorado sobre isso. Havia essa ênfase criadora quando, em
Depois nós tentamos projetos mais amplos e 1964, configuraram-se as pressões repres­
ambiciosos, projetos sobre a empresa indus­ sivas que iriam se tornar uma rotina. E em
trial que, por sua vez, acabaram sendo o 1969 vieram as primeiras cassações. Eu es­
principal projeto do CESIT [Centro de So­ tava na primeira lista; o Otávio e o Fernando
ciologia Industrial e do Trabalho] (o projeto Henrique na segunda, e uma parte do grupo
está transcrito em Sociologia numa Era de é então expulsa da USP. O CESIT desapare­
Revolução Social), e outro projeto, Econo­ ce e muitas promessas são interrompidas ou
mia e Sociedade no Brasil (igualmente trans­ se redefinem. Ainda assim, o grupo conti­
crito naquele livro), que nos levou a fazer do nuou e os trabalhos se perpetuaram. Mas is­
Brasil o nosso laboratório de pesquisa, natu­ so já é outra história.
ralmente, compreendido no contexto históri­ Como todos sabem, o homem é um
co da América Latina. Combiriando os resul­ produtor de mitos. O mito é inerente â ima­
tados dessas investigações com o que eu ginação humana. Assim, logo surgiu e difun­
aprendera graças à pesquisa sobre o negro, diu-se o mito da chamada “escola de Socio­
avancei no trabalho teórico e na visão da ta­ logia paulista”. Ele se tornou mais forte nos
refa do sociólogo como investigador. Isso, é Estados Unidos, talvez porque os Estados
claro, me obrigou a fazer novas leituras, a Unidos nos quisessem rebater à Europa, res­
aprofundar a análise da contribuição dos suscitar na América Latina uma tradição eu­
cientistas sociais etc. A Revolução Burguesa ropéia do século XIX. Mas isso não tem sen­
no Brasil situa aonde cheguei por essa via, tido. Eu não sou um sociólogo com capaci­
completando o circuito- que se desenha graças dade teórica para criar uma escola. Não sou
e por meio das descobertas proporcionadas pe­ um Durkheim, não sou um Marx, não sou
lo trabalho em colaboração com Bastide. um Weber. Sou apenas um professor que
Eis aí um esboço da trajetória que conseguiu atingir um certo êxito em um país
percorri. Nós não podíamos suprimir o im­ onde todos são cegos e quem tem um olho é
perialismo. Nós não podíamos criar uma re­ rei. Se eu tivesse de enfrentar uma competi­
volução nacional. O sociólogo, ou qualquer ção mais intensa, é provável que ficasse num
outro cientista social, defronta-se inexoravel­ limiar mais modesto. Não tenho, portanto,
mente com um alcance limitado para realizar nem a envergadura, nem a capacidade inven­
o seu trabalho. Mas nós podíamos fazer um tiva, tampouco a vontade de ser um “chefe
trabalho que alcançasse maior sentido, com de escola”. Ser “chefe de escola” exige um
maior possibilidade de ser original dentro do certo despotismo, um certo egotismo, um
nosso país. E, então, definimos as áreas de certo grau de certeza. O próprio Marx não
trabalho, que por sua vez nos encaminharam alimentava essa ambição, pois dizia: “Quan­
para a América Latina. Havia o projeto, por to a mim, felizmente sei que não sou marxis-

23
ta”. Enfim, não há essa intenção de minha grande da senzala: o fazendeiro vai morar na
parte de ser “chefe de escola”; de outro lado, cidade, uma cidade do interior ou mesmo a
seria inconcebível pensar que um Fernando cidade de São Paulo. Enfim, poderiam existir
Henrique Cardoso ou um Otávio Ianni certas peculiaridades que não seriam apenas
quisessem seguir e obedecer um “chefe de produto da imensa massa de estrangeiros
escola”. Pode ser que no nosso grupo que não se repetia em outras áreas de escra­
houvesse pessoas que aceitassem isso. Eu vidão dominante. Mais tarde eu iria tirar a
acredito que o professor Luis Pereira, por prova, também comparativamente, em um
exemplo, ou o Roberto Cardoso, que traba­ estudo de caráter estatístico que toma como
lhou comigo como estudante, fossem mais tí­ ponto de referência a década de 50.
midos, mas eles também recusariam o que Mas o fato é que eu não sobrecarregava
no passado europeu se convencionou cha­ os assistentes com os meus problemas; o que
mar de “chefe de escola”. Pode ser, se eu eu exigia deles eu também exigia de mim.
tivesse tentado, que eu pudesse imprimir Era decisivo descobrir as matrizes de nossa
uma marca maior do que aquela que real­ formação, até que ponto aquilo que se evi­
mente ficou. Contudo, não havia essa dispo­ denciara em São Paulo era o Brasil mesmo.
sição (em mim e nos outros). Os que pode­ Mas por aí não se define uma “escola”. NSo
riam tentar essa relação pretendiam realizar havia, insisto, na minha intenção a idéia de
trabalhos independentes. Quanto a mim, a fazer uma escola. Não havia na intenção das
minha preocupação era procurar pessoas de pessoas que colaboravam comigo a idéia de
notório valor, que pensassem de acordo com ser meros repetidores ou seguidores. Cada
certos critérios comuns, mas que se realizas­ qual procurou explorar o seu caminho. E se
sem dentro de parâmetros muito variáveis, existem certas atitudes, certas avaliações,
flexíveis e muito amplos. Não havia interes­ certas aspirações comuns, isso nasceu da
se nenhum em moldar “mentes e corações”. nossa convivência. Não se pode pôr o Flo-
O Otávio, num dado momento, ficou restan Fernandes acima dos outros. O traba­
muito preocupado com o fato de haver mui­ lho é um trabalho de grupo, um trabalho de
ta pesquisa sobre relações raciais: “O senhor equipe. Se eu ficasse sozinho, não teria feito
está dando uma orientação muito ruim para nada, ou teria sido somente o professor cate­
nós. O senhor faz uma pesquisa sobre a rela­ drático tradicional.
ção entre negros e brancos em São Paulo e Aliás, sempre fui um anticatedrático.
nós vamos fazer o mesmo no Sul. Quer di­ Muito antes de estar na cátedra eu já com­
zer: nós vamos ter de competir com o se­ batia a cátedra. Essa virtude eu tive. Na
nhor. Isso não é bom. Nós nos concentra­ Congregação, e por escrito, combati a cáte­
mos demais”. Mas o projeto era muito im­ dra com a maior desenvoltura. Assistente ou
portante, por acabar com muitos mitos que professor contratado, combati a cátedra e
existiam a respeito da natureza da sociedade enfrentei pressões violentas dentro da Uni­
brasileira. Era preciso provar até que ponto versidade. Era uma audácia da minha parte.
o que se descobriu em São Paulo não era Não só combati a cátedra como fiz coi­
uma coisa específica de São Paulo. Porque sas ainda mais graves. Durante a crise que
se dizia, no tempo da escravidão, que a es­ ameaçou a Universidade de São Pauío, no
cravidão nunca foi tão dura em outros luga­ governo Jânio Quadros, o Conselho Univer­
res do Brasil, uma vez que São Paulo surge sitário chegou a fazer um levantamento da
num momento tardio, em que não há mais situação da Universidade. Fernando Henri­
capacidade de renovar o braço escravo. Daí que era membro dessa comissão, que abran­
a escravidão em São Paulo ter sido uma es­ gia o professor Monteiro e o professor Zefe-
cravidão mais intensa, em que a exploração é rino Vaz. Um dia, eu estava em casa, na rua
organizada para render mais (especialmente Nebraska, quando o Fernando Henrique,
no Oeste paulista). Aí se separa a casa- que era meu vizinho, jogou uma coisa em ci-

24
ma da minha mesa e disse: “Professor, isso na direção da Europa do passado e não da
aqui é uma vergonha! Não se pode trabalhar América Latina que entrou na era de Cuba
aqui!”. O que havia ocorrido? A comissão do e da revolução socialista. A América Latina
Conselho Universitário tinha elaborado um que fermentava em nossa imaginação era re­
levantamento que demonstrava a situação volucionária. Não tinha sentido pensar em
calamitosa da Universidade e o reitor proi­ escola. Que escola? Isso é um mito, um mito
biu a divulgação dos dados. Eu disse ao Fer­ que precisa ser rejeitado e reposto. Havia
nando: “Esqueça isso e esqueça que você me um projeto de se fazer Sociologia como ciên­
mostrou esse levantamento”. E ele: “Está cia, de se criar autonomia cultural. O que é
muito bem!”. Naquele ano, eu devia fazer lamentável é que hoje essa ambição tenha
um discurso como paraninfo. Embora só fos­ periclitado e não adquira a mesma solidez
se professor contratado, relatei tudo aquilo que teve naquele momento. Porque, real­
em público. O jornal O Estado de S. Paulo mente, é isso que nós precisamos fazer na
publicou o meu discurso na íntegra. O ciência. O cientista não é um imitador. Não
Conselho Universitário então se reuniu. interessa imitar grandes cabeças dos Estados
Queriam me punir. Zeferino Vaz, que não Unidos ou da Europa, ou do Japão, ou da
era trouxa, ponderou: “Não podemos. Por­ União Soviética. Não há interesse nisso. Nós
que o Florestan fez o que nós devíamos ter devemos nos informar; não devemos ser pro­
feito. Se nós fizermos isso vai ser uma vincianos. Devemos ser conscientes do que
vergonha para nós, não para o Florestan. O os outros estâo fazendo, mas devemos prin­
assunto deve ser encerrado”. Aí todos enten­ cipalmente saber o que devemos fazer. De­
deram. vemos almejar o que é produtivo para a in­
Enfim, a minha questão é a seguinte: vestigação científica aqui e agora, o que po­
como e para que criar nesse ambiente, com de ser produtivo para um povo que depende
o nosso grau de desenvolvimento cultural, da pesquisa científica e tecnológica para
sob esse estado de espírito, /üm a escola? avançar na direção da revolução nacional, da
Uma escola seria algo muito pobre. Seria al­ revolução democrática e da transformação
go que nos poria para trás. Nós andaríamos do mundo pela ação humana.
£

25
As Ciências Sociais no Brasil:
 Formação de um Sistema Nacional
de Ensino e Pesquisa*

L u iz Werneck Vianna
Maria A lice Rezende de Carvalho
M anuel Palacios Cunha M elo

A José Murilo de Carvalho, pelo estímulo


à nossa pesquisa sobre as Ciências■Sociais.

Introdução Rio, Universidade do Estado do Rio de Ja­


neiro — UERJ, Universidade Federal do
Este texto foi concebido no âmbito do Rio de Janeiro — UFRJ, Universidade Fe­
Laboratório de Sociologia dos Intelectuais e deral Rural do Rio de Janeiro — UFRRJ,
Institucionalização da Ciência, do luperj, a Instituto Universitário de Pesquisas do Rio
partir de um programa de pesquisas iniciado
de Janeiro — luperj, Fundação Educacional
em 1992 sobre o processo de institucionali­
Unificada Campograndense (RJ) — FEUC,
zação das Ciências Sociais no Brasil e sobre
os efeitos desse processo na formação, na Universidade Federal Fluminense — UFF,
atuação profissional e na forma de inscrição Pontifícia Universidade Católica de São Pau­
pública do cientista social. A pesquisa de lo — PUC-São Paulo, Universidade de São
campo teve curso ao longo dos anos de 1992 Paulo — USP, Universidade Estadual de
e 1993, compreendendo estudantes de'gra­ Campinas — Unicamp, Universidade do Es­
duação, de pós-graduação e professores de tado de São Paulo (Campus Araraquara),
15 instituições de ensino, localizadas em no­ Unesp-Araraquara, Universidade Federal
ve cidades brasileiras — Pontifícia Universi­ de Minas Gerais — UFMG, Universidade de
dade Católica do Rio de Janeiro — PUC- Brasília — UnB, Universidade Federal do

* A elaboração deste artigo não teria sido possível sem a colaboração de inúm eras pessoas que, ocupando posições
de relevo nas agências de fom ento, interrom peram suas atividades para atender às nossas solicitações. A todos os
funcionários e dirigentes da Capes, do C N Pq e da FA PE SP, que atenciosam ente nos receberam, querem os m ani­
festar nosso agradecim ento. Em particular, registram os a inestim ável colaboração da Profa. D elzuita M aria Brito
Lima, chefe da Divisão de O rganização e T ratam ento da Inform ação da Capes, que nos facultou o acesso a todos
os dados disponíveis sobre os cursos de pós-graduação em Ciências Sociais. Também somos gratos à Profa. Tereza
Rocha, chefe da Divisão de Bolsas e A uxílios no Exterior, e à Profa. Zena M artins, chefe da Divisão de A poio Se­
torial, que gentilm ente concederam inform ações sobre os bolsistas da Capes no Brasil e no exterior. P o r fim, C ata ­
rina G lória A. Neves, da A ssessoria de C om unicação e D ocum entação, colocou à nossa disposição todo o material
estatístico relativo à atividade da C apes d urante os últim os anos. No CNPq, fomos carinhosam ente recebidos pela
Profa. M aria Luc-ia V ilhena, coordenadora de C iências Sociais e Educação, que nos forneceu detalhadas inform a­
ções a respeito das atividades da agência em nossa área de trabalho. Na FA PESP, somos gratos a E dgar Alves pela
atenção com que fomos recebidos e a H erm as Franco, coordenador de sistemas, que interrom peu seu atarefado co ­
tidiano para solicitar aos com putadores a expedição, em tem po recorde, dos relatórios de que necessitávamos. O
luperj, p or m eio do seu antigo d iretor, Prof. R enato Boschi, e do seu diretor atual, Prof. R enato Lessa, m uito espe­
cialm ente nas gestões da D ireto ria de Pesquisa dos Profs. Edm undo Campos, Neuma A guiar e da atual diretora
M aria Regina Soares de Lima, tem dado seguro apoio institucional à pesquisa que desenvolvemos sobre as C iên ­
cias Sociais no Brasil. A inda no âm bito do luperj, não podem os deixar de registrar nosso agradecim ento ao Prof.
C harles Pessanha, editor-científico do Boletim Informativo e Bibliográfico de Ciências Sociais - BIB e de D ados -
Revista de Ciências Sociais, q u e sem pre nos anim ou para que convertêssemos relatórios de pesquisa em material
para publicação. Cabe também m encionar o apoio da Finep e do CNPq, que vêm financiando, com aportes de re­
cursos e a concessão d e bolsas a alguns pesquisadores, a investigação em curso, sem o que ela não seria possível.
Desejamos, ainda, expressar nosso débito para com Paulo César Navarro, responsável pela digitação dos dados.

BIB, Rio de Janeiro, n. 40, 2 ° sem estre 1995, pp. 27-63 27


Rio Grande do Sul — UFRGS, Universida­ nas três disciplinas que a compõem — Socio­
de Federal de Pernambuco — UFPe. Os pri­ logia, Ciência Política e Antropologia —,
meiros resultados produzidos dizem respeito além de fornecerem um panorama da titula­
ao perfil do estudante de graduação em ção dos cientistas sociais, da sua atividade
Ciências Sociais e foram publicados em 1994 em pesquisa, das linhas temáticas que lhes
sob o tftulo “Cientistas Sociais e Vida Públi­ são preferenciais, das características regio­
ca — O Estudante de Graduação em Ciên­ nais do sistema e, afinal, dos investimentos
cias Sociais” (Werneck Vianna, Carvalho e públicos destinados às Ciências Sociais brasi­
Melo, 1994). leiras. Optou-se, ademais, pela simples apre­
Na fase atual de desenvolvimento do sentação do material coligido, sem o levanta­
programa, quando estão sendo tabulados os mento da literatura existente no país sobre o
dados relativos aos estudantes de pós-gra­ tema e sem o concurso de uma bibliografia
duação, considerou-se oportuna a divulga­ internacional comparada.1
ção de várias informações concernentes ao A principal conclusão que se pode ex­
sistema nacional de ensino e pesquisa em trair das informações trazidas agora a públi­
Ciências Sociais que não são, em geral, do co refere-se à baixa institucionalização da ati­
conhecimento da maioria dos profissionais vidade de pesquisa na área de Ciências So­
da área. Nesse sentido, o presente texto tra­ ciais, o que torna o sistema fortemente com­
duz a intenção de fornecer à comunidade prometido com a idéia de ensino e marcado
interessada e aos tomadores de decisão algo por uma estratégia de expansão limitada à
próximo a um balanço das Ciências Sociais Universidade. Sem desconhecer os efeitos
no país, tendo como modelo a avaliação em­ contemporâneos das decisões que, no pas­
preendida pelo físico Sérgio Rezende (1993) sado, orientaram a institucionalização das
do seu campo disciplinar. Seu principal obje­ Ciências Sociais no país, e que resultaram na
tivo, portanto, não é o inventário minucioso bem-sucedida implantação nacional dos cur­
das características e dos problemas atuais do sos de graduação e de pós-graduação em um
sistema, mas a produção de um mapa de al­ curto período de tempo, estima-se que, hoje,
ternativas políticas a ser enfrentadas pelos a opção por formar quadros qualificados pa­
cientistas sociais em face dos novos tempos, ra a reprodução do sistema universitário te­
as quais poderão incluir desde alterações nas nha encontrado o seu limite. Serão, breve­
grades curriculares dos cursos de graduação mente, cerca de cem doutores em Ciências
e de pós-graduação, até a fixação de políticas Sociais a se titularem anualmente, buscando
explícitas de recrutamento e de socialização inscrição profissional em um sistema de en­
profissional, num óbvio movimento de auto- sino onde predominam as universidades pú­
avaliação e de redefinição do quadro institu­ blicas federais que já possuem programas de
cional contemporâneo. pós-graduação e que, portanto, poderão in­
As informações referidas neste texto fo­ corporar apenas marginalmente os recém-ti-
ram obtidas em 1994-95, junto à Coordena­ tulados. A oportunidade desta publicação
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível deriva, por isso, de urr.a percepção dos limi­
Superior (Capes), órgão do Ministério de tes estruturais do atual formata institucional
Educação e Cultura (MEC), ao Conselho do sistema nacional de ensino e pesquisa em
Nacional de Desenvolvimento Científico e Ciências Sociais.
Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciên­ As informações que serviram a esse
cia e Tecnologia (MCT), e à Fundação de diagnóstico são as que comparecem aqui,
Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo dispostas em três seções. A primeira seção
(FAPESP), agências onde sabidamente se tem a finalidade de apresentar um breve his­
concentra o principal da pesquisa e do ensi­ tórico das Ciências Sociais no Brasil, desde o
no pós-graduado no país. São informações seu nascimento, às vésperas da ditadura es-
que permitem dimensionar a comunidade tadonovísta, até o momento forte da sua ins­

28
titucionalização, entre as décadas de 1960 e se sabe, foi durante o regime militar que se
1980, em plena vigência da ditadura militar. constituiu um sistema nacional de ensino e
Visa-se, com isso, apresentar as vicissitudes pesquisa na área. Para que se ateste a veraci­
de uma área de conhecimentos que, embora dade dessa afirmação, observe-se, na Tabela
vocacionada para a intervenção social, co­ 1, que, dos 43 cursos de mestrado ainda em
nheceu, no Brasil, uma trajetória distinta, funcionamento entre 1991 e 1993, mais da
construída a partir de estratégias que se de­ metade foi criada entre os anos de 1971 e
monstraram eficazes em um contexto de 1984, segundo dados obtidos junto ã Direto­
supressão das liberdades mas que, hoje, pre­ ria de Avaliação da Capes/MEC em 1994.
cisam ser revistas.
A segunda seção, dedicada ao sistema TABELA 1
nacional de ensino pós-graduado, apresenta Ano de Início dos Cursos de Mestrado
alguns dados referentes ã expansão da rede cm Ciências Sociais'
de instituições responsáveis pela formação
de mestres e doutores em todo o país. Discu­ A no N.° %
te-se, ali, o desempenho atual do sistema e A té 1970 7 16,3
as políticas públicas que o informam.
D e 1971 a 1984 25 58,1
A última seção apresenta uma avaliação
1985 ou posterior 11 25,6
da atividade de pesquisa entre os cientistas
sociais, para o que concorreram os dados ex­
traídos do recente Diretório dos Grupos de Total 43 100,0
Pesquisa no Brasil, elaborado pelo CNPq.
Fonte: Diretoria de Avaliação, Capes/MEC, Resumo da
Os principais aspectos abordados nessa se­ Pós-Graduação Brasileira: Triénio 1991-1993, relatório emitido em
ção referem-se à heterogeneidade dos gru­ 1994.

pos de pesquisa em atividade no país, à au­ * A Tabela 1 refere-se ao ano de início dos programas de
sência de critérios para o investimento em mestrado, perfazendo um total de 43 cursos. Destes, três não
registram ingresso de novos alunos nos últimos anos e por esse
pesquisa na área de Ciências Sociais e ao ca­ motivo foram excluídos das tabelas e quadros seguintes.
ráter efêmero dos programas de investiga­
ção, sugerindo a precariedade da atividade
de pesquisa no quadro institucional das
Ciências Sociais brasileiras. Esse paradoxo — o de uma ciência que
requer como condição para a sua constitui­
Âs C iên cia s S o c ia is no Brasil ção a democracia e que se cria e expande no
Brasil sob a égide de duas ditaduras — pare­
A história das Ciências Sociais no Brasil,
ce indicar o sucesso da estratégia adotada
contrariando a trajetória da reflexão social
pelos intelectuais da área, tanto no que se re­
em países capitalistas centrais — onde mi­
grou da sociedade civil para os bancos uni­ fere à extração de recursos junto às agências
versitários —, teve início na Universidade, governamentais para um tipo de co­
com pouquíssima ou nenhuma atenção para nhecimento que pouco poderia valer para
as vicissitudes da sociedade brasileira e intei­ regimes políticos de exceção, quanto no que
ramente divorciada do tema da reforma so­ diz respeito à capacidade de atrair numerosa
cial, inclusive pela situação de repressão às li­ clientela para os seus cursos universitários, a
berdades imposta pelo Estado Novo (Wer- despeito do desprestígio social da atividade e
neck Vianna, Carvalho e Melo, 1994, pp. da ausência de um mercado profissional
357-403). promissor.
Nascida em um contexto de ditadura, a O êxito extraordinário dessa aventura
hora estratégica de institucionalização uni­ dos cientistas sociais na institucionalização
versitária das Ciências Sociais como discipli­ de uma área de conhecimentos e de um pa­
na científica não seria diferente, pois, como pel para si, num contexto quase indiferente

29
às suas realizações e possibilidades de uso e sobre os quais não se tem estimativa. Sabe-
social, mede-se em números. São, hoje, cerca se, enlretanto, que o ingresso anual de dou­
de 13 mil estudantes de graduação, aproxi­ torandos bolsistas em instituições de ensino
madamente 500 doutores titulados em Ciên­ no exterior aproxima-se de 25, ao passo que
cias Sociais em atividade nos centros de pós- no Brasil registrou-se, em 1993, o ingresso
graduação, e uma média recente em torno de 147 novos alunos em programas de dou»
de 250 novos mestres e 50 novos doutores ti­ torado em Ciências Sociais. Á Tabela 2 for­
tulados a cada ano no Brasil, excluídos, por­ nece elementos para uma comparação com
tanto, os doutores que se titulam no exterior as demais áreas do conhecimento.

TABELA 2
Titulados por Área do Conhecimento — 1991

Áreas do Conhecim ento M estrado D outorado

Ciências Exatas e da T erra 1.011 254


Ciências Biológicas 629 219
Engenharias 1.189 181
Ciências da Saúde 795 300
Ciências Agrárias 928 127
Ciências Sociais A plicadas 701 117
Ciências Hum anas 1.154 200
Lingüística, L etras e A rtes 332 79
Total 6.739 1.477

Ciências Sociais 248 43

Fonte: Dados obtidos junto à Capes/MEC, 1994.

Nota-se que os doutores em Ciências So­ mesmo ano para os doutorandos da área de
ciais correspondem a aproximadamente 1/5 Ciências Sociais, em torno de 500.
dos titulados, em 1991, na área de Ciências É claro que comparações dessa nature­
I lumanas. Além disso, as Ciências Sociais ocu­ za podem encobrir diferenciações importan­
pam o primeiro lugar em dotação de bolsas de tes. É possível que o número maior de bolsas
pesquisa na área de Ciências Humanas e So­ de pesquisa concedidas pelo CNPq aos cien­
ciais do CNPq, bem acima da dotação concedi­ tistas sociais vis-â-vis os economistas, por
da, por exemplo, aos psicólogos, aos economis­ exemplo, seja devido a pressões da demanda,
tas, aos educadores, historiadores ou comuni­ considerando-se que profissões orientadas
cadores sociais (ver Tabela 3). para o mercado tornam os seus titulares me­
Mais significativos, entretanto, são os nos afetos às agências governamentais de estí­
dados sobre a expansão das Ciências Sociais mulo à pesquisa. De forma análoga, a equipa­
quando comparados àqueles de uma área de ração entre o número de matriculados nos cur­
perfil institucional tão definido quanto a de sos de doutorado das áreas de Física e de Ciên­
Física. Em 1992, foram registrados cerca de cias Sociais pode estar associada a uma perma­
700 doutorandos em Física no país, marca nência mais prolongada dos cientistas sociais
que se apresenta próxima â registrada no nos cursos (Rezende, 1993).

30
TABELA 3 do desenvolvimento do país, encontraram no
Bolsas de Pesquisa Norm al por Área Estado e nas suas preocupações com a “so­
do Conhecimento/CNPq * berania nacional” e com a “autonomia cien­
tífica” um interlocutor e parceiro ativo da
institucionalização da sua atividade. Em sen­
Área do Conhecim ento N.°
tido oposto, a institucionalização das Ciên­
Antropologia 58
cias Sociais não pôde contar com as facilida­
Arqueologia 10 des que poderiam advir de uma identidade
C. Política 34 do Estado com a problemática social. A in­
Sociologia 95 gerência estatal na trajetória de instituciona­
lização dessa área deve-se mais à tentativa de
Total C. Sociais 197 intervir na vida intelectual do país do que,
propriamente, de definir uma agenda social
Psicologia 140 com o concurso da ciência vocacionada para
Educação
isso. Mais grave, entretanto, é que nem mes­
122
mo a sociedade contribuiu para a institucio­
Letras 119
nalização da reflexão sobre si — ainda hoje
Economia 109 os atores sociais não reconhecem nas Ciên­
Lingüística 105 cias Sociais uma necessidade ou uma aliada
História 103 para os seus propósitos. Portanto, a já longa
Filosofia 78 história de afirmação das Ciências Sociais
Comunicação 61 brasileiras como disciplina atesta a vitória de
Geografia 50 uma estratégia possível num quadro mental,
Administração 49 social e político adverso. Recursos públicos
Artes 45
para circunscrevê-la no espaço acadêmico,
entretanto, não faltaram, e os novos cientis­
Serviço Social 28
tas sociais formam-se em massa.
Direito 27 O fato é que o sucesso dessa estratégia
Planej. Urb. e Reg. 26 de reprodução das Ciências Sociais no país
C. da Informação 23 produziu também, em contrapartida, algu­
A rquitetura e Urb. 22 mas das suas marcas negativas, do que é
Demografia 13 exemplo a sua contenção intramuros da Uni­
Teologia 1 versidade. Assim, como se demonstrará na
próxima seção, os limites à expansão das
Ciências Sociais no âmbito do ensino univer­
Total 1.318
sitário estão dados.
Fonte: Dados obtidos junto à Superintendência de Ciências
Humanas e Sociais do CNPq/MCT, 1994.
A Formação de um Sistema
* Pagamentos realizados em maio de 1994.
de Ensino Pós-Graduado

Esta seção trata da formação de um sis­


tema nacional de ensino e pesquisa em Ciên­
De qualquer modo, dados numéricos cias Sociais e tem como sugestão a de que
comparados são expressivos, exatamente políticas de atendimento ao mercado univer­
porque as facilidades para a institucionaliza­ sitário foram as principais causas da extraor­
ção das profissões intelectuais no Brasil fo­ dinária expansão dos cursos de mestrado e
ram muito desiguais. Assim, por exemplo, os de doutorado na área. Em resumo, foram as
físicos, como intelligentzia, ao se anteciparem políticas públicas orientadas para a formação
à sociedade, postulando uma ciência em prol de docentes — em particular das universidades

31
públicas — que levaram a que os programas tos para a avaliação dos seus resultados po­
de pós-graduação em Ciências Sociais derá deslocar o tema da capacitação docente
alcançassem, em pouco mais de duas déca­ do núcleo de prioridades definidas pelas polí­
das, todas as regiões do pais, distribuindo-se, ticas públicas setoriais.
atualmente, em instituições de ensino de 13
estados da Federação, além do Distrito Fe­
deral
As Instituições de Ensino e a
Sabe-se que a política de formação de
Expansão da Pós-Graduação
docentes — atribuição específica do Ministé­
rio da Educação — desenvolve-se em duas
frentes: (a) concedendo bolsas de estudo pa­ Segundo a classificação da Capes, o que
ra os cursos de mestrado e de doutorado no aqui se designa como Ciências Sociais — os
país e no exterior; e (b) implantando um re­ cursos de Sociologia, Ciência Política e An­
gime de carreira para os professores das uni­ tropologia — insere-se na área de Ciências
versidades federais, cujos critérios de titula­ Humanas. Ademais, todos os cursos não-es-
ção têm incentivado a chegada de novos con­ pecializados, como, por exemplo, o doutora­
tingentes de profissionais aos programas de do em Ciências Sociais da Unicamp, além de
pds-graduação e gerado, em conseqüência, a outros tantos orientados para estudos regio­
multiplicação desses cursos. nais brasileiros e latino-americanos, são clas­
Embora seja óbvio o extraordinário êxi­ sificados pela Capes sob a rubrica de Socio­
to da implantação do sistema nacional de en­ logia. O curso de Arqueologia, oferecido ex­
sino e pesquisa em Ciências Sociais, atenta- clusivamente pela USP, fica compreendido
se aqui para o fato de que o móvel original na rubrica de Antropologia.
do sistema — a formação de docentes — Com essas ressalvas, registre-se que, em
não parece facultar mais o mesmo movimen­ 1994, segundo a Diretoria de Avaliação da
to expansivo para a área. Afinal, os pós-gra­ Capes, eram oferecidos 54 cursos de Ciên­
duados deveriam atender a um mercado uni­ cias Sociais no país. Desses 54 cursos, são 27
versitário que, para os cientistas sociais, se os de Sociologia (20 programas de mestrado
restringe âs universidades federais e esta­ e 7 de doutorado), 13 os de Ciência Política
duais, além de algumas poucas instituições (11 programas de mestrado e 2 de doutora­
de ensino comunitárias — do que são um do) e 14 os de Antropologia (9 programas de
exemplo as universidades católicas —, cujas mestrado e 5 de doutorado). A Tabela 4 lista
situações funcionais parecem se aproximar os cursos em funcionamento com as respec­
do equilíbrio. O problema da exiguidade do tivas instituições e níveis.
mercado só não é mais dramático porque, São 22 as instituições de ensino supe­
rior a abrigar esses cursos de pós-graduação
em virtude de razões conjunturais que logo
em Ciências Sociais. Excetuando-se o luperj,
serão dissipadas, há uma acentuada renova­
no Rio de Janeiro, os cursos são oferecidos
ção dos quadros universitários.
exclusivamente por universidades públicas e
Questões relativas à atividade de pes­
comunitárias — como é o caso das universi­
quisa entre os cientistas sociais serão trata­
dades católicas de São Paulo e do Rio de Ja­
das mais adiante. Por ora, destaca-se apenas
neiro —, distribuídas regionalmente segando
que o crescimento do número de doutores e
a Tabela 5.
o acirramento da competição por recursos
públicos deverão produzir novos critérios pa­
ra a avaliação dos grupos de pesquisa, dis­
sociando o fomento ü pesquisa da excelência
formativa dos centros de pós-graduação. Isto
significa que a redefinição do papel da inves­
tigação científica no país e dos procedimen­

32
TABELA4
Relação de Cursos de Pós-Graduação por Subárea no Triénio 1991-93*

Sociologia**
Instituição Curso Nível
UFPA Planejamento do Desenvolvimento ME
UFCE Sociologia ME
UFRN C. Sociais ME
UFPB C. Sociais ME
UFPB Sociologia Rural ME
UFPE Sociologia ME
UFBA Sociologia ME
UFRJ Sociologia ME
UFRRJ Desenvolvimento Agrícola ME
IUPERJ Sociologia ME/DO
UFMG Sociologia ME
UFSCAR C. Sociais ME
USP Sociologia ME/DO
USP Integração da América Latina ME
UNICAMP Sociologia ME
UNICAMP C. Sociais DO
UNESP Sociologia ME/DO
PUC-SP C. Sociais ME/DO
UFSC Sociologia Política ME
UFRGS Sociologia ME
UNB Sociologia ME/DO
UNB Estudos Comparados América Latina e Caribe DO
CURSOS: 27

2 Ciência Política
Instituição Cuiso Nível
UFMA Políticas Públicas ME
UFPE Ciência Política ME
PUC-RJ Relações Internacionais ME
IUPERJ Ciência Política k ME/DO
UFMG Ciência Política ME
USP Ciência Política ME/DO
UNICAMP Ciência Política ME
UFRGS Ciência Política ME
UFSM Ciência Política ME
UNB Relações Internacionais ME
UNB Ciência Política ME
CURSOS: 13

3. Antropologia
Instituição Curso Nível
UFPE Antropologia ME
UFRJ Antropologia Social ME/DO
USP Antropologia Social ME/DO
USP Arqueologia ME/DO
UNICAMP Antropologia Social ME
UFPR Antropologia Social ME
UFSC Antropologia Social ME
UFRGS Antropologia Social ME/DO
UNB Antropologia ME/DO
CURSOS: 14

Fonte: Diretoria de Avaliação da Capes/MEC, Resumo da Pós-Graduação Brasileira: Triénio 1991-93, relatório emitido em 1994.
* Em Werneck. Vianna, Carvalho e Melo (1994, p. 529) foi publicado um quadro dos cursos de pós-graduação em Ciências Sociais, com
dados extraídos de relatório da Capes editado em 1991. Não constavam desse relatório os cursos de mestrado de Re/ações internacionais
da PUC-Rio, de Políticas Públicas da UFMA, de Ciência Política da UFSM, de Antropologia da UFPR e os programas de doutorado da
UFRGS, em Antropologia, e da UNESP, em Sociologia. Com a exceção do curso da PUC-Rio, todos os outros iniciaram suas atividades a
partir de 1991. Constatou-se também que os dados obtidos junto à Diretoria de Avaliação da Capes, relativos aos anos 1991-1993, não
mencionam o curso de mestrado da Universidade Federal de Viçosa — UFV, em Sociologia Rural, e o da PUC-RS, em Sociologia, citados
na publicação anterior da Capes.
** Os dados computados pela Diretoria de Avaliação da Capes sugerem o encerramento das atividades de três cursos de mestrado da
subárea de Sociologia, os quais não foram incluídos na tabela acima. São eles: o curso de mestrado em Sociologia Rural da UFRGS, que
não registrou o ingresso de novos alunos em 1992 e 1993 e para o qual também não constava a existência de alunos matriculados em
dezembro de 1992 e 1993; o curso de mestrado em Sociologia e Política da PUC-Rio, e o de Estudos de Problemas Brasileiros da UERJ,
que não registraram o ingresso de novos alunos entre 1991 e 1993, sendo que o curso da UERJ não contava com alunos matriculados em
1993 e o da PUC-Rio, desde 1992.

33
TABELA 5 constitui um exercício de prognóstico ar­
Distribuição Regional das Instituições de riscado apontar que se avizinha o fim do
Ensino Pós-Graduado de Ciências Sociais contexto em que proliferaram os centros de
pós-graduação, cabendo, no máximo, a cria­
ção de novos cursos em programas de cen­
Região N úm ero de
tros já estabelecidos. Exemplo disso são, en­
Instituições
tre outros, o doutorado de Ciência Política
N orte 1 da UFMG e o de Desenvolvimento Agrícola
Nordeste 6 do CPDA da UFRRJ, criados a partir de
Sudeste 10 1993, como resultado da consolidação dos
Sul 4 cursos de mestrado.
Centro-O este 1 As Tabelas 6 e 7 apresentam a dimen­
são regional da expansão das Ciências Sociais
Total 22 no país e a velocidade com que esse processo
se deu. Pois, como se verá, dos 54 cursos de
pós-graduação atualmente existentes, apenas
Fonte: Diretoria de Avaliação da Capes/MEC, Resumo da 17 cursos de mestrado e 3 de doutorado ha­
Pós-Graduação Brasileira: Triénio I99l-93y relatório emitido em
1994. viam iniciado as suas atividades em 1975.
Uma análise um pouco mais detida
das características regionais do sistema na­
cional de centros de pós-graduação em
Em pesquisa anterior, sobre o ensino de Ciências Sociais permite projetar sua con­
graduação em Ciências Sociais, observou-se figuração futura.
que, com exceção dos antigos territórios fe­ Até 1975, o Nordeste dispunha de ape­
derais do Norte — Rondônia, Roraima, nas um curso de mestrado: o da Universida­
Amapá — e dos estados de Tocantins, Ala­ de Federal de Pernambuco, criado em 1967.
goas, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Na década de 70, sucederam-se os progra­
todos as demais unidades da Federação ofe­ mas das universidades federais do Ceará
recem cursos de bacharelado na área, em ge­ (1976), da Paraíba (1977) e do Rio Grande
ral em instituições públicas de ensino. O estí­ do Norte (1979). Bahia e Maranhão inscre­
mulo â qualificação do corpo docente das vem-se tardiamente no sistema, com cursos
universidades públicas — derivado do víncu­ que datam de 1990 e 1993, respectivamente.
lo que se estabeleceu entre a progressão fun­ Dos estados da região, apenas Piauí, Alagoas
cional do professor e a sua titulação em cur­ e Sergipe não contam com cursos de mestra­
sos de pós-graduação — parece estar na ori­ do na área de Ciências Sociais. E desses, ape­
gem da expansão, por todo o país, do ensino nas o de Alagoas não possui um curso de
pós-graduado em Ciências Sociais. É pos­ graduação em Ciências Sociais no âmbito de
sível, ainda, que esse mesmo motivo siga sua universidade federal.
proporcionando, por mais algum tempo, as Excetuando-se Pernambuco, que dis­
condições para que os departamentos de põe de cursos de mestrado nas três discipli­
Ciências Sociais retardatários postulem a nas consideradas — Sociologia, Ciência Polí­
criação de novos programas. Entretanto, sal­ tica e Antropologia —, os demais programas,
vo mudanças muito expressivas — de resto, sobretudo os mais recentes, tendem a as­
pouco prováveis —, uma eventual expansão sumir, desde a origem, uma orientação para
das Ciências Sociais, se referida exclusiva­ estudos regionais ou especializados. São
mente ao ensino, contará com poucas uni­ exemplos o mestrado em Desenvolvimento
versidades públicas e alguns poucos centros Regional da UFCE, o de Políticas Públicas
de ensino superior particulares tradicionais da UFMA, e o de Sociologia Rural da
por onde se desenvolver. Nesse sentido, não UFPB.

34
TABELA6
Ano de Início do Mestrado

Região CO NE NO SE SU Total
Ano

até 1975 2 1 11 2 16
de 1976 a 1980 5 1 2 1 9
de 1981 a 1985 2 1 2 2 7
de 1986 a 1990 1 4 5
1991 ou posterior 1 2 3
Total 4 9 1 ' 19 7 40

Fonte: Diretona de Avaliação da Capes/MEC, Resumo da Pós-Graduação Brasileira: Triénio 1991-93, relatório emitido em 1994.

TABELA 7
Ano de Início do Doutorado

Região CO * SE SU Total
Ano

até 1975 3 3
de 1976 a 1980 3 3
de 1981 a 1985 3 2 5
de 1986 a 1990 1 1
1991 ou posterior 1 1 2
Total 3 10 1 14

Fonte: Diretona de Avaliação da Capes/MEC, Resumo da Pós-Graduação Brasileira: Triénio 1991-93, relatório emitido em 1994.

No Nordeste, caso venham a ser criados geral, como é o caso do pioneiro mestrado
novos programas de pós-graduação, 6 muito da UFPe, quanto os de especialização mais
provável que, acompanhando a recente ten­ evidente, segundo se constata contempora­
dência regional, assumam um formato orien­ neamente.
tado para pesquisas locais e se beneficiem de Na região Norte, dados da Capes infor­
formas de intercâmbio e linhas de colabora­ mam que apenas a UFPA oferece um curso
ção estreitas com outros centros já consoli­ de mestrado na área de Ciências Sociais, em­
dados. De qualquer modo, a criação de cur­ bora conste do último relatório de avaliação
sos de pós-graduação nos estados do Piauf, do CNPq a implantação de um programa de
de Alagoas e Sergipe não deverá alterar a pós-graduação em Antropologia na mesma
atual configuração institucional das Ciências universidade.
Sociais na região, onde estão presentes tanto As universidades federais do Amazonas
os programas vocacionados para a formação c do Acre, que jâ oferecem cursos de bacha-

35
relado em Ciências Sociais, têm, em princí­ constitui um caso único no país: um centro
pio, todas as condições para desenvolver pro­ de pós-graduação isolado, vinculado a uma
gramas de formação e pesquisa orientados instituição de ensino superior privada. De fa­
para as singularidades locais, para não men­ to, trata-se de uma trajetória muito singular,
cionar o potencial de desenvolvimento dos que dificilmente poderá ser repetida.«-A
estudos antropológicos. O Norte é, portanto, UFRJ oferece cursos de mestrado em Socio­
a região do país onde se podem vislumbrar logia e Antropologia e a UFRRJ, cursos de
maiores possibilidades de expansão institu­ mestrado e de doutorado em Desenvolvi­
cional das Ciências Sociais. mento Agrícola — este último a partir de
No Centro-Oeste, a UnB oferece os 1994, e, portanto, fora dos registros da Ca­
únicos cursos de pós-graduação na área de pes ã época da pesquisa.
Ciências Sociais. Ainda que muitos dos seus Na cidade de Niterói, o programa de
programas sejam orientados para atender a pós-graduação em Ciências Sociais da UFF
uma demanda típica da administração fede­ encontra-se em funcionamento desde 1993,
ral — como é o caso dos cursos de Relações embora também não tenha constado do rela­
Internacionais e de Estudos Latino-America­ tório da Capes. O mesmo pode ser dito do
nos —, a atratividade exercida pela UnB na recente mestrado da universidade estadual
região é notória. Além dela, apenas a UFGO — a UERJ —, na cidade do Rio de Janeiro.
oferece curso de graduação na área. A PUC-Rio encerrou as atividades do mes­
Na região Sul, todos os estados pos­ trado de Sociologia, mantendo apenas o cur­
suem cursos de pós-graduação em Ciências so de mestrado em Relações Internacionais.
Sociais. No Rio Grande do Sul, a UFRGS Finalmente, Minas Gerais sedia seis uni­
oferece cursos nas três disciplinas que com­ versidades federais, das quais apenas a
põem a área e a Universidade Federal de UFMG, em Belo Horizonte, oferece cursos
Santa Maria (UFSM) implantou, em 1991, de pós-graduação em Ciências Sociais (o
um curso de mestrado em Ciência Política. doutorado de Ciência Política foi criado em
A cidade de Pelotas conta também com uma 1994).
universidade federal — a UFPel — em que O caso de Minas Gerais é singular, uma
é oferecido apenas o curso de graduação em vez que a facilidade de acesso dos seus estu­
Ciências Sociais. dantes aos centros do Rio de Janeiro e de
Santa Catarina e Paraná também já São Paulo expõe o programa local a uma
inauguraram, nas suas respectivas universi­ forte competição.
dades federais, as atividades' de pós-gradua­ Observando-se, então, cada região e as
ção em Ciências Sociais, a primeira em 1985 suas particularidades, constata-se que, com
e a segunda, em 1991. exceção do Norte do país, todas as demais
Por fim, o Sudeste é a região onde se regiões encontram-se em uma situação de
concentra o maior universo de ensino pós- restrição severa quanto às possibilidades de
graduado na área de Ciências Sociais do país. expansão do sistema de ensino pós-graduado
À exceção do Espírito Santo, todos os de­ em Ciências Sociais. Desse modo, a intensifi­
mais estados da região possuem centros de cação da competição entre os centros univer­
pós-graduação na área. sitários por recursos públicos deverá confir­
Em São Paulo, as três universidades esta­ mar a seguinte tendência: os centros mais
duais e a PUC-SP oferecem cursos de mestra­ antigos e de grande expressão regional — a
do e doutorado. O mais recente é o doutorado UFPe é o exemplo mais evidente — procu­
em Sociologia da UNESP, localizado na cidade rarão consolidar a sua posição como núcleos
de Araraquara. A Universidade Federal de de excelência acadêmica, ampliando a oferta
São Carlos (UFSCar) também dispõe de um de programas de formação geral, em parti­
mestrado em Ciências Sociais. cular os de doutorado; centros mais recen­
No Estado do Rio de Janeiro, o luperj tes, que se desenvolvem em contextos eni

36
que a procura por títulos universitários é pe­ tros ao sistema nacional de ensino e pesquisa
quena, implementarão uma outra estratégia, de Ciências Sociais.
apostando na especialização dos cursos e na Em que medida, entretanto, o esgota­
sua articulação com a realidade local, a fim mento da estratégia clássica de reprodução
de fugir dos prováveis limites à posterior institucional das Ciências Sociais pode ser
profissionalização dos titulados. Evidente­ comprovado? Em outras palavras, sob que
mente, essa última perspectiva não se res­ critérios pode-se falar em uma severa res­
tringe a centros periféricos — ainda que para trição das possibilidades de expansão das
eles seja uma questão de sobrevivência —, Ciências Sociais no país, caso persista a sua
pois a possibilidade de reprodução dos pro­ vinculaçâo exclusiva com o mundo acadê­
gramas baseada apenas nas necessidades do mico?
sistema universitário tenderá a favorecer so­
Os dados relativos à população estudan­
mente alguns poucos centros de excelência.
til dos centros de pós-graduação e à popula­
Importa observar que, combinadas, as duas
ção de titulados nos últimos anos revelam as
estratégias — a da formação geral e a da es­
dimensões da clientela atendida pelos pro­
pecialização — atuam no sentido de compor
um sistema com atribuição desigual de fun­ gramas de mestrado e de doutorado, bem
ções aos diferentes centros, cujo formato como prenunciam o principal desafio a ser
pode ser entrevisto com base na atual confi­ enfrentado pelos tomadores de decisão da
guração. área — a abertura das Ciências Sociais à so­
ciedade.
As atuais políticas públicas de fomento
à pesquisa e à formação docente tendem a Em dezembro de 1993, o número de es­
reforçar este cenário. O sistema de avaliação tudantes matriculados nos 54 cursos de pós-
dos cursos implantado pela Capes favorece, graduação totalizava 2.236 alunos (Tabela
como é natural, os programas já estabeleci­ 8). Considerando-se o período compreendi­
dos e com produção reconhecida. Em conse­ do entre 1991 e 1993, titularam-se, em mé­
qüência, os cursos mais bem avaliados, e dia, 278 mestres e 52 doutores por ano (Ta­
que, por isso, oferecem bolsas de estudo pa­ bela 10). Estima-se, entretanto, que a média
ra a integralidade da sua clientela, dispõem anual deve elevar-se, tendo-se em conta que
de condições de seletividade maiores que os muitos programas iniciaram as suas ativida­
demais, vindo a formar, provavelmente, des em período recente. Ilustra essa pos­
profissionais mais bem qualificados para a sibilidade o fato de o número de alunos ad­
disputa por posições no mercado universitá­ mitidos por ano nesses programas perfazer a
rio. Um centro periférico poderá, evidente­ média de 435 para os cursos de mestrado e
mente, optar por uma estratégia de forma­ de 128 para os de doutorado (Tabela 9). As
ção de professores, oferecendo titulação a tabelas a seguir distribuem a população estu­
um custo mais baixo. No entanto, diante de dantil, nos últimos três anos, segundo as pre­
um cenário cada vez mais competitivo, essa ferências disciplinares e o grau de titulação
será, provavelmente, uma estratégia com re­ alcançado.
sultados frustrantes. Considerando-se as linhas prováveis de
A orientação dos programas mais “jo­ expansão do ensino pós-graduado, o número
vens” para a pesquisa da realidade local pa­ de candidatos a mestre em Ciências Sociais
rece oferecer, em contrapartida, resultados não deverá sofrer alterações expressivas em
mais promissores. Linhas de investigação futuro próximo. Ainda que novos cursos de
com esse caráter podem permitir o acesso a mestrado sejam criados, ou que haja uma di­
outras fontes de financiamento e a incorpo­ versificação das especialidades contempladas
ração dos profissionais formados localmente, nos mestrados já existentes, o ingresso anual
condições que, no limite, poderão viabilizar de estudantes não deverá ultrapassar a mar­
uma integração não subordinada desses cen­ ca dos 500.

37
TABELA8
Alunos Matriculados no Triênío 1991-93*

1991 1992 1993

Mest. Dout. Mest. Dout. Mest. Dout.

Sociologia 1.067 318 1.012 336 993 353

Ciência Política 297 52 343 48 386 58

Antropologia 353 113 330 118 329 117

Total 1.717 483 1.685 502 1.708 528

Fonte: Diretoria de Avaliação da CapesIMEC, Resumo da Pós-Graduação Brasileira: Triénio 1991-93, relatório emitido em 1994.

* Foram tomados por base os alunos matriculados em dezembro de cada ano.

TABELA9
Novos Alunos no Triénio 1991-93

1991 1992 1993

Mest. Dout. Mest. Dout. Mest. Dout.

Sociologia 221 66 277 90 233 91

Ciência Política 83 25 111 8 130 31

Antropologia 89 24 83 24 78 25

Total 393 115 471 122 441 147

Fonte: Diretoria de Avaliação da CapesIMEC, Resumo da Pós-Graduação Brasileira: Triénio 1991-93, relatório emitido em 1994.

TABELA 10
Titulações no Triénio 1991-93

1991 1992 1993

Mest. Dout. Mest. Dout. Mest. Dout.

Sociologia 124 27 182 35 170 33

Ciência Política 62 1 68 12 32 9

Antropologia 62 15 81 12 52 13

Total 248 43 331 59 254 55

Fonte: Diretoria de Avaliação da CapesIMEC, Resumo da Pós-Graduação Brasileira: Triénio 1991-93, relatório emitido em 1994.

38
São dois os principais argumentos que a entrada em cena desses novos profissionais
permitem prever uma demanda futura por poderá provocar uma retomada do movimento
vagas em cursos de mestrado em Ciências expansivo das Ciências Sociais, não mais moti­
Sociais nos patamares atuais: o primeiro re­ vado pelas urgências do ensino e da qualificação
fere-se ao fato de que o ingresso na pós-gra- docente, mas orientado para a produção de res­
duaçâo não tem implicado padrões de seleti­ postas sociais afinadas aos novos tempos. Inclu­
vidade tão elevados que ocasionem a existên­ sive como forma de fugir ao cerco de um mer­
cia de uma massa significativa de graduados cado universitário inelástico.
não-atendidos; o segundo refere-se à ten­ Concluindo, interessa enfatizar que cir­
dência à diminuição, nos cursos de pós-gra- cunscrever os cientistas sociais àquele que
duação em Ciências Sociais, do número de tem sido o seu papel exclusivo até então — o
estudantes graduados em outras áreas, uma de docente-pesquisador — significará o defi­
vez que se vêm reforçando padrões de recru­ nhamento da obra institucional realizada na
tamento demarcados disciplinarmente. área, pois as dimensões do sistema nacional
Mais significativo deverá ser o cresci­ de ensino e pesquisa em Ciências Sociais não
mento da demanda por vagas nos cursos suportarão o seu confinamento intramuros
de doutorado. Anualmente, titulam-se en­ da Universidade.
tre 250 e 350 mestres. O ano de 1993 re­
gistrou o ingresso de som ente 147 novos O Corpo Docente dos
estudantes nos cursos de doutorado, o que Centros de Pós-Graduação
sugere uma demanda represada por vagas Como se viu, a ciência social brasileira
nesses cursos. tem-se caracterizado pela precedência do en­
Dessa perspectiva, adquirem muita im­ sino em relação à pesquisa, invertendo a tra­
portância as iniciativas, ainda isoladas, de re­ jetória de institucionalização que conheceu
forma dos programas de pós-graduação com na Europa e na América. A implantação tar­
o objetivo de ampliar as possibilidades de dia do doutoramento sugere que ciência não
acesso ao doutoramento, por exemplo, res­ se constitui no fundamento do processo de
tringindo o período de permanência no institucionalização das disciplinas sociais no
mestrado para os dois anos curriculares e país, o que não a impediu de vir sendo bem
substituindo a exigência formal da tese de praticada, conhecendo momentos de alta
mestrado pela produção de uma dissertação expressão. Somente agora, com a expansão
ou memória. dos cursos de doutoramento, começa a exis­
A desejável expansão do doutoramento, tir a massa crítica para a pesquisa científica e
entretanto, implicará novos desafios em prazo a perspectiva de autonomização desta em re­
muito curto. Um prognóstico conservador pro­ lação à atividade de ensino.
jetaria para as próximos anos a titulação anual A principal parcela dos profissionais da
de aproximadamente 100 novos doutores. Em área de Ciências Sociais é composta por
apenas cinco anos serão nada menos que 500 professores dos programas de pós-gradua­
doutores, dos quais uma parcela expressiva se­ ção. Excluem-se desse grupo os docentes
rá composta por jovens ingressando no mer­ em instituições de ensino superior que não
cado de trabalho. O impacto desses números oferecem cursos de pós-graduação na área,
não deve ser subestimado. os cientistas sociais que foram alocados em
Esse contingente de novos profissionais, outras áreas do ensino superior, e ainda
oriundo das diversas regiões do país, co­ aqueles que se profissionalizaram afastados
nhecerá, então, uma mobilidade espacial iné­ da docência, em organizações ou institutos
dita, deslocando os traços remanescentes do que não desenvolvem atividades de ensino.
paroquíalismo universitário e favorecendo a Em síntese, a esmagadora maioria dos
constituição de um mercado nacional de do­ profissionais de Ciências Sociais — principal­
centes e pesquisadores. Ainda mais relevante: mente o grupo mais titulado — é constituída

39
por professores cto sistema nacional de ensi­ Nessa tabela, chama a atenção o fato de
no pós-graduado, ainda que combinando o que um índice acima de 80% do corpo do­
magistério com outras ocupações. cente do sistema nacional das Ciências So­
Não se dispõe de informações que per­ ciais já seja composto por doutores, perfa­
mitam estimar o universo constituído pela zendo um total de 642 professores titulados
soma de cientistas sociais que trabalham em em diferentes áreas. Destes, 487 doutora-
outros departamentos universitários que não ram-se em Ciências Sociais, distribuindo-se
o de Ciências Sociais e de docentes integra­ pelas três disciplinas, como demonstra a Ta­
dos exclusivamente em cursos de graduação. bela 12. Dado o elevado percentual de dou­
Entretanto, é razoável supor que essa popu­ tores e a informação de que cerca de metade
lação mantém-se afastada do mainstream da dos demais docentes cursa, atualmente, o
profissão — inclusive porque não desenvolve doutorado, prevê-se a dramaticidade de que
pesquisa na área —, além do fato de não ser se revestirá a competição por postos de
muito numerosa, pois a sua parcela mais trabalho caso sejam mantidos os padrões
expressiva atende a instituições particulares atuais de profissionalização exclusiva ao âm­
que habilitam apenas licenciados e que não bito universitário.
dispõem, em geral, de uni significativo plan­
tei docente. Pode-se, portanto, tomar o cor­ TABELA 12
po docente dos cursos de pós-graduação em
Resumo da Composição do Corpo Docente
Ciências Sociais como um indicador seguro
da ordem de grandeza do mercado universi­
Nível N.° %
tário para esse tipo de profissional.
N ão-doutores 123 16,1
Os dados relativos ao corpo docente en­
viados pelos diferentes centros de pós-gra­ D outores Sociologia 238 31,1
duação à Capes assinalam a existência de D outores Ciência Política 104 13,6
765 professores em atividade, uma parcela D outores Antropologia 145 19,0
dos quais atuando em mais de um programa D outores O utras Areas 155 20,3
de pós-graduação. Ainda que se considere Total 765 100,0
esse número um indicador subestimado, ele
demonstra a exigüidade do mercado univer­ Fonte: Capes, 1994. Ver nota da Tabela 11.
sitário, sobretudo quando se põe em pers­
pectiva a titulação de cem doutores a cada
ano. A Tabela 11 discrimina a titulação do
corpo docente: Além da caracterização quantitativa do
TABELA 11
universo de docentes dos programas de pós-
graduação vis-à-vis os limites ã expansão do
Titulação do Corpo Docente
sistema nacional das Ciências Sociais, outras
Nível
variáveis relativas ao corpo docente mere­
N.° %
cem ser mencionadas. Foram selecionadas as
D outorado 642 83,9
seguintes: (a) formação universitária; (b) lo­
M estrado 116 15,1
cal e ano de titulação; (c) composição do
Graduação 7 1,0 corpo docente por disciplina; (d) tipo de vín­
Total 765 100,0 culo mantido com as instituições emprega­
doras; (e) atividade de pesquisa; e (f) média
Fonte: Relações nominais de professoresp o r curso de pós-graduação
que constam de relatório obtido junto à Diretoria de Avaliação da da produção científica. Com os limites previ­
Capes em 1994. síveis em um artigo como este, o corpo do­
Não foram excluídos os professores dos cursos que encerraram cente que hoje compõe o sistema nacional
suas atividades nos últimos anos. Casos de dupla ou mesmo tripla
inscrição de um mesmo docente foram eliminados. Todos os dados
de ensino e pesquisa em Ciências Sociais se­
desta seção têm a mesma origem. rá apresentado segundo esse roteiro.

40
(a) Quanto à sua formação, o corpo do­cias Sociais, num total de 579 professores. A
cente dos programas apresenta alguma dife­ Tabela 13 informa sobre a distribuição per­
renciação, embora se estime que 76% te­ centual dos professores e dos doutores de
nham obtido o seu titulo mais elevado — acordo com a área do conhecimento em que
mestrado ou doutorado — na área de Ciên­ obtiveram sua maior titulação:

T A B E IA 13
Titulação — Arca do Conhecimento

Áreas do Conhecim ento Professores Doutores

N % N %
Sociologia 279 36,5 238 37,1
Antropologia 171 22,4 145 22,6
Ciência Política 129 16,9 104 16,2
Economia 44 5,8 37 5,8
História 36 4,7 30 4,7
Filosofia 20 2,6 17 2,6
Geografia 13 1,7 13 2,0
Comunicação 13 1,7 12 1,9
D ireito 10 1,3 7 1,1
Serviço Social 7 0,9 2 0,3
Educação 6 * 0,8 5 0,8
Lingüística, L etras 6 0,8 6 0,9
Psicologia 5 0,7 5 0,8
Artes, Música 4 0,5 4 0,6
Saúde Pública 4 0,5 3 0,5
Arqueologia 3 0.4 3 0,5
Outras 15 2,0 11 1,7

Total 765 100,0 642 100,0

Fonte: Capes, 1994. Ver nota do Quadro 1L

(b) Também no que tange ao local datitulação de 39% dos professores (Tabela
titulação encontram-se trajetórias diversas. 14). Apenas a USP credenciou 28% dos titu­
Observe-se que mais da metade do corpo lados no país, o que indica serem as Ciências
docente titulou-se no Brasil — 56,6%, soma­ Sociais brasileiras de extração basicamente
dos mestres e doutores —, cabendo às insti­ paulista, com impacto na difusão de alguns
tuições de ensino do Estado de São Paulo a esquemas interpretativos concernentes à tra-

41
dição intelectual “uspiana” e com lendCncia professores e as suas habilitações disciplina­
ã generalização de objetos de pesquisa que res específicas.
nem sempre são ajustáveis às demais regiões De acordo com a Tabela 14, o índice de
do pafs. As Tabelas 14 e 15 correlacionam a professores da pós-graduação titulados em
titulação do corpo docente dos programas de São Paulo passa de 39% para 42% quando
pós-graduação, o local de titulação dos considerado apenas o universo de doutores.

TABELA 14
Dados Discrim inados por Área do Conhecimento e Titulação — Titulados no Brasil

Titulação

Unidade Não
da Federação D outores D outores Total

Ciência Antropologia O utras


Sociologia Política Áreas

SP 25 88 45 65 73 296
(20,3% ) (37,0% ) (43,3%) (44,8%) (47,1%) (38,7%)

RJ 23 4 8 20 13 68
(18,7% ) (1,7% ) (7,7%) (13,8% ) (8,4%) (8,9%)

DF 7 10 4 21
(5,7% ) (4,2% ) (2,8%) (2,7%)

MG 9 2 1 12
(7,3% ) (0,8% ) (0,6%) (1,6%)

RS 8 1 2 11
(6,5% ) (0,7%) (1,3%) (1,4%)

PE 8 1 9
(6,5% ) (1,0% ) (1,2% )

PB 7 7
(5,7% ) (0,9% )

Outros 7 1 1 9
Estados (5,7% ) (0,4% ) (0,7% ) (1,2%)

Brasil 94 105 54 91 89 433


(76,4% ) (44,1% ) (51,9% ) (62,8%) (57,4%-) (56,6%)

Total 123 238 104 145 155 765


(16,1% ) (31,1% ) (13,6%) (19,0%) (20,3%) (100,0% )

Fonte: Capes, 1994. Ver nota da Tabela 11.

42
Nesse mesmo universo, entretanto, é expres- se, numericamente, os que o fizeram nos Es-
siva a participação de titulados no exterior: tados Unidos (35%), na França (31%) e na
47% (Tabela 15). Entre os doutores que ob- Grã-Bretanha (14%).
tiveram os seus títulos no exterior destacam- Informações relativas ao ano de titula-

TABELA15
Dados Discrim inados por Área do Conhecim ento e Titulação — Titulados no Exterior

Titulação
Não-
País D outores D outores Total

Sociologia C. Política Antropologia O utras áreas

Estados 19 28 26 27 26 126
Unidos (15,4% ) (11,8% ) (25,0%) (18,6%) (16,8%) (16,4%)

França 1 50 8 15 21 95
(0,8% ) (21,0% ) (7,7%) (10,3%) (13,5%) (12,4%)

Grã- 24 6 8 5 43
Bretanha (10,1% ) (5,8% ) (5,5%) (3,2%) (5,6% )

Alemanha 12 5 1 6 24
(5,0% ) (4,8% ) (0,7%) (3,9%) (3,1%)

México 1 10 1 1 1 14
(0,8% ) (4,2% ) (1,0% ) (0,7%) (0,6%) (1,8% )

Bélgica 3 3 2 8
(2,4% ) (1,3% ) (1,9% ) (1,0% )

Itália 4 1 1 6
(3,3% ) ( 0,4%) (0,6% ) (0,8% )

O utros 1 5 2 2 6 16
Países (0,8% ) (2,1% ) (2,0% ) (1,4% ) (3,9%) (2,1% )

Exterior 29 133 50 54 66 332


(23,6% ) (55,9% ) (48,1% ) (37,2% ) (42,6%) (43,4%)

Total 123 238 104 145 155 765


(16,1% ) (31,1% ) (13,6% ) (19,0% ) (20,3% ) (100,0%)

Fonte: Capes, 1994. Ver nota da Tabela 11.

43
ção (Tabela 16) demonstram que a maioria doutorado da USP, quer pelas teses “livres”
dos doutores em Ciências Sociais em ativida­ defendidas pelos docentes em seus contextos
de foi titulada nos últimos 15 anos (63,2%), acadêmicos. No período 1976-80, eleva-se em
índice que deverá ser ainda maior com a re­ muito a proporção de titulados no exterior, al­
novação acentuada dos quadros docentes cançando um índice de mais de 65%. Com a
das universidades federais verificada nos últi­ montagem do sistema nacional de ensino pós-
mos dois anos. Até 1975, a formação de dou­ graduado, esse índice cai progressivamente até
tores brasileiros deu-se predominantemente a marca de 32%, quando se considera os do­
no país — quer pela via institucionalizada do centes titulados a partir de 1991.

TABELA 16
Doutores em Ciências Sociais — Ano de Titulação e País

até 1975 de 1976 de 1981 de 1986 de 1991 ou Total


País a 1980 a 1985 a 1990 posterior

Brasil 50 30 38 79 53 250
(54,9% ) (34,1% ) (38,8%) (59,8%) (67,9%) (51,3%)

Estados 18 23 11 25 4 81
Unidos (19,8%) (26,1% ) (11,2%) (18,9%) (5,1%) (16,6%)

França 15 15 22 9 12 73
(16,5% ) (17,0%) (22,4%) (6,8% ) (15,4%) (15,0%)

Grã- 3 8 13 8 6 38
Bretanha (3,3% ) (9,1% ) (13,3%) (6,1% ) (7,7% ) (7,8% )

Alemanha 2 6 6 3 1 18
(2,2% ) (6,8% ) (6,1%) (2,3% ) (1,3% ) (3,7% )

México 1 6 3 2 12
(1,1% ) (6,1%) (2,3% ) (2.6%) (2,5% )

O utros 3 5 2 5 15
(3,3% ) (5,7% ) (2,0%) (3,8%) (3,1%)

Total 91 88 98 132 78 487


(18,7%) (18,1% ) (20,1%) (27,1% ) (16,0%) (100,0%)

Fonte: Capes, 1994. Ver nota da Tabela II.

44
(c) Quanto à composição do corpo do­por fim, com o mais baixo índice de não-dou-
cente dos programas de pós-graduação (Ta­ tores, a de Antropologia (12,4%). Além dis­
bela 17), observa-se que a subárea de Ciên­ so, a subárea de Antropologia é a que as­
cia Política é a que registra o maior índice de sinala o mais significativo percentual de dou­
não-doutores (25,8%), seguindo-se, com tores formados na própria disciplina
grande distância, a de Sociologia (13,7%) e, (73,6%).

TABELA17
Formação de D ocentes por Subárea

Subárea Sociologia Ciência Política Antropologia T otal


Titulação

66 42 15 123
Não-doutores (13,7% ) (25,8%) (12,4%) (16,1%)

Doutores
212 21 5 238
Sociologia (44,1% ) (12,9%) (4,1%) (31,1%)

D outores
34 69 1 104
Ciência Política (7,1% ) (42,3%) (0,8%) (13,6%)

Doutores
54 2 89 145
Antropologia (11,2% ) (1,2%) (73,6%) (19,0% )

D outores
115 29 11 155
O utras Á reas (23,9% ) (17,8%) (9,1% ) (20,3% )

Total 481 163 121 765


(62,9% ) (21,3%) (15,8%) (100,0% )

Fonte: Capes, 1994. Ver nota da Tabela 11.

Na verdade, pode-se atribuir essa as­ rio de imagens do Brasil. Esse discurso — es­
simetria entre as subáreas ao modo pelo tratégico ao pensamento social brasileiro —
qual, ao longo do tempo, se vem articulando conhece, a partir dos anos 40, um processo
a reflexão da sociedade sobre si mesma. O de competição, originário, sobretudo, da so­
discurso inaugural dessa reflexão foi o da ciologia paulista, que se centrava na idéia de
Antropologia, centrado no problema racial e classe e no que se convencionou chamar de
na questão da identidade da cultura nacional ordem social competitiva. Mais recentemen­
— nisso que se pode considerar um repertó­ te, com a institucionalização da democracia

45
política, o campo das Ciências Sociais vem cionar pesquisa similar realizada entre os físi­
experimentando um movimento afirmativo cos e relatada no trabalho, já citado, de Sér­
da Ciência Política. A distribuição do índice gio Rezende. Segundo se constata ali, em
de doutores aparenta, pois, obedecer os dife­ 1981 a publicação média foi a de 0,8 arti­
rentes tempos da reflexão social brasileira. go/doutor, índice que se elevou, em 1991,
(d) Sobre o vínculo funcional mantido para 1,18 artigo/doutor. Tal índice, inferior à
entre os professores dos programas de pós- média internacional, é considerado ainda in­
graduação e suas respectivas instituições, al­ satisfatório pelos físicos.
guns dados obtidos junto à Capes merecem No que concerne aos cientistas sociais,
destaque. 80% dos docentes mantêm víncu­ os índices revelam uma baixa produtividade,
lo permanente com pelo menos um centro embora tenha de ser levado em conta o fato
de pós-graduação. Além disso, dos 765 de que as informações compreendem o con­
professores, 123 participam também de um junto do corpo docente — vale dizer, os dou­
outro curso na área de Ciências Sociais, e, tores e os não-doutores —, ao contrário dos
destes, 14 colaboram ainda em um terceiro. físicos, que têm sua produtividade referida
A participação em outros programas de pós- apenas à produção de doutores. Contudo, a
graduação é, assim, expressiva. São 363 do- discrepância entre os termos da comparação
centes, em números absolutos, que declara­ — doutores, no caso dos físicos, e docentes,
ram participar de outros programas. Consi­ no caso dos cientistas sociais — deve ser rela-
derando-se, entretanto, que apenas 123 do­ tivizada, pois, como se observou anteriormen­
centes tiveram registrada a sua dupia ou tri­ te, o corpo docente do sistema nacional das
pla inscrição na área, pode-se concluir que os Ciências Sociais é composto por mais de 80%
demais 240 professores participam de pro­ de doutores. Nesse sentido, vale a anotação de
gramas de pós-graduação em outras áreas que, embora crescente, a produtividade dos
vizinhas ou assemelhadas. cientistas sociais está aquém do desejável.
Por outro lado, os dados relativos ao regi­ A leitura, porém, desses dados não po­
me de trabalho e ao exercício de atividades do­ de ser indiferente â realidade substantiva de
centes na graduação registram uma média ele­ cada uma das áreas. Enquanto a produção
vada de envolvimento dos docentes com as dos físicos está associada a programas per­
suas instituições. Mais de 80% das professores manentes de pesquisa, impondo uma linha
possuem dedicação exclusiva (72,8%) ou de continuidade ao seu trabalho, a baixa ins­
trabalham em tempo integral (11,6%); mais de titucionalização da pesquisa em Ciências So­
60% são também professores da graduação. ciais tem implicado uma produção descontí­
(e) O índice de participação em ativida­ nua, freqüentemente artesanal. Como é no­
des de pesquisa, por sua vez, alcança aproxi­ tório, a pesquisa entre os cientistas sociais
madamente 85% do corpo docente, elevan­ obedece a um padrão de ciclos curtos, não
do-se para mais de 90% quando se considera sendo raros os casos em que há mudanças te­
apenas os doutores em Ciências Sociais. Esse máticas a cada dois anos, refletindo opções in­
índice, que na aparência sugere uma forte dividuais mais do que uma agenda de investi­
presença da atividade de pesquisa, enco­ gação definida institucionalmente. A baixa pro­
bre, a rigor, a sua pequena autonomia vis- dutividade das Ciências Sociais deve, então, ser
à.-vis o ensino, como será discutido na atribuída ao padrão atual de organização e fo­
próxima seção. mento da pesquisa científica na área, não se
(f) Finalmente, quanto à produção cien­ podendo ocultar o fato decisivo de que o tem­
tífica, atesta-se o seu crescimento progres­ po do cientista social é, em grande parte, dedi­
sivo nos últimos anos, alcançando a média cado ao ensino e à administração.
anual de 0,6 artigo/professor, segundo o últi­ É a seguinte a produtividade do corpo
mo relatório da Capes. Para que se avalie a docente dos centros de pós-graduação em
produtividade do cientista social, cabe men­ Ciências Sociais:

46
TABELA 18
Produção Científica por Docente

Art. em Art. em Capítulo Capítulo


Revistas Revistas Livros em Livros em Livros
Nacionais Internacionais Nacionais Estrangeiros

1991 0,57 0,15 0,12 0,16 0,07

1992 0,53 0,16 0,16 0,27 0,08

1993 0,63 0,14 0,15 0,21 0,07

Fonte: Dados obtidos junto à Diretoria de Avaliação da Capes, que informa a produção científica de cada curso de pós-graduação no triénio
considerado. Tomou-se, então, o número de docentes de cada curso, a fim de calcular a sua produtividade média.

Concessão de Bolsas nalmente, o orientado para os estudantes


que se encontram em programas de pós-gra­
As bolsas de estudo e as de pesquisa
duação no exterior. O CNPq concede bolsas
concedidas pelas agencias de fomento cientí­
de formação, no país e no exterior, e bolsas
fico e de capacitação docente conhecem di­
de pesquisa usualmente integradas a proje­
versas modalidades, alcançando desde o es­
tos que demandam recursos adicionais. Aqui
tudante de graduação, através dos progra­
serão apresentados os dados relativos apenas
mas de iniciação cientifica, até o pesquisador
às bolsas. Por último, a FAPESP concede
sênior. Assim, o sistema de bolsas favorece a
condução de um jovem estudante de gra­ tanto bolsas quanto auxílios à pesquisa. Os
duação até o pós-doutoramento, em condi­ dados da FAPESP referem-se exclusiva­
ções de dedicação exclusiva âs atividades mente a bolsas de iniciação científica, aper­
acadêmicas. Tal sistema constitui, por certo, feiçoamento, mestrado, doutorado e pós-
um poderoso instrumento de democratiza­ doutorado.
ção da atividade científica e tem sido um re­
curso fundamental para o recrutamento da
clientela dos centros de pós-graduação. a) Bolsas de Formação no País
Os dados que serão apresentados aqui, Capes/PIDCT
relativos à concessão de bolsas, referem-se à
Capes, ao CNPq e à FAPESP. A Capes, co­ O programa de capacitação docente da
mo se sabe, oferece bolsas de estudo através Capes concede bolsas de mestrado e douto­
de quatro diferentes programas: o Programa rado para professores, por meio das institui­
de Apoio ao Desenvolvimento Científico e ções de ensino a que estão vinculados. O nú­
Tecnológico (PIDCT), o de Demanda Social mero de bolsas de mestrado desse programa
— ambos voltados para a concessão de bol­ vem decrescendo ao longo dos anos, refletin­
sas de mestrado e de doutorado no país — o do a elevação do padrão de titulação docen­
Programa Especial de Treinamento (PET), te. Em contrapartida, tem crescido o número
com bolsas oferecidas aos graduandos, e, fi­ de bolsas de doutorado oferecidas.

47
TABELA 19
Bolsas <'oncedidas p or Ano pelo P rogram a PIDCT

M estrado D outorado Especializado Total

1989 59,0 66,0 1,0 126,0


1990 45,5 68,0 113,5
1991 47,0 64,5 111,5
1992 29,5 70,0 99,5
1993 34,0 95,0 114,5
1994 42,0 110,0 136,5

Fonte; Capes, 1994.

* Para os anos de 1993 e 1994 (primeiro semestre), os dados obtidos junto à Capes referiam-se ao número de
bolsistas, tanto integrais quanto parciais. Para computar o total de bolsas concedidas, considerou-se as bolsas
parciais sempre equivalentes a 1/2 bolsa. Nas colunas relativas ao Mestrado e ao Doutorado manteve-se o
número de bolsistas.

TABELA 20
Bolsas por Subáreas Concedidas pelo Programa PIDCT

Sociologia C. Política Antropologia

1989 88,0 13,5 24,5


1990 71,5 17,0 25,0
1991 74,0 15,0 22,5
1992 71,0 14,0 14,5
1993 88,0 19,0 22,0
1994 102,0 24,0 26,0

Fonte: Capes, 1994.

* Para os anos de 1993 e 1994 (primeiro semestre), os dados apresentados referem-se ao


número de bolsistas.

Capes/Demanda Social dio de solicitação dos centros de pós-gradua-


ção, atendendo estudantes sem vínculo do­
O programa Demanda Social concede
cente estabelecido. A obtenção de cotas de
bolsas de mestrado e doutorado aos centros
bolsas de mestrado junto à Capes constitui
de pós-graduação que, por sua vez, repas­
sam os valores recebidos aos seus estudan­ um expressivo aporte para a consolidação
tes. Comparando-se os dados desse progra­ dos novos programas, pois contribui para a
ma com os do programa de capacitação do­ atração de uma clientela dedicada exclusiva­
cente, verifica-se que as bolsas de mestrado mente aos estudos e parece ser resporjsável
são concedidas principalmente por intermé­ pela baixa evasão durante o curso.

48
TABELA 21
Bolsas C oncedidas p o r Ano pelo P rogram a de D em anda Social

M estrado D outorado Total

1991 390 53 443


1992 333 69 402
1993 439 91 530
1994 438 108 546

Fonte: Dados obtidos junto ã Divisão de Apoio Setorial da Capes, 1994.

TABELA 22
Bolsas por Subárea Concedidas pelo Programa de Demanda Social

Sociologia C. Política Antropologia

1991 273 76 94
1992 241 72 89
1993 305 104 121
1994 299 118 129

Fonte: Dados obtidos junto à Divisão de Apoio Setorial da Capes, 1994.

Capes/PET CNPq

O programa atende a grupos de estu­ O CNPq oferece uma variedade maior


dantes de graduação selecionados por um de bolsas. Considera-se, aqui, como bolsas
professor-orientador, que organiza ativida­ de formação apenas as de aperfeiçoamen­
des de estudo com o objetivo de aperfeiçoar to/curso, mestrado, doutorado e pós-douto-
a formação desses alunos. Em 1994,121 bol­ rado. As bolsas de aperfeiçoamento/pesquisa
sistas participaram desse programa. e de iniciação científica serão tratadas no
item relativo às bolsas de pesquisa.

49
TABELA23
Bolsas de Formação no País — CNPq

Aperfeiçoamento Mestrado Doutorado Pós-Doutorado


6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94

Antropologia 0 0 0 78 58 64 32 34 31 1 0 2

Arqueologia 0 0 0 4 4 4 0 0 0 0 0 0

C. Política 8 0 0 105 97 131 23 26 35 1 1 0

Sociologia 0 0 0 193 175 248 79 94 122 0 0 0

Total C. Sociais 8 0 0 380 334 447 134 154 188 2 1 2

Total C. Humanas 61 70 131 3.309 3.003 3.785 893 948 1.157 7 8 17


e Sociais

Fonte: Dados obtidosjunto à Coordenação de Ciências Sociais e Educação do CNPq, 1994, relativos às bolsas de formação no país. Corte na
folha de pagamentos dos meses 6193,10/93 e 5194.

FAPESP 1991 e 1994, do total de 736 auxílios e bolsas


concedidos pela FAPESP, a USP recebeu
A agência atende exclusivamente às ins­ 410 (55,7%), a Unicamp 167 (22,7%), a
tituições paulistas, e no que concerne às U nesp 77 (10,5%), a PUC-SP 33 (4,5% ) e a
Ciências Sociais, são beneficiárias, principal­ Universidade Federal de São Carlos (UFS-
mente, as universidades do estado. E ntre Car) 15 (2,0%).

TABELA 24
Modalidade de Bolsas por Ano — FAPESP

1991 1992 1993 1994 Total

Aperfeiçoa mento 2 2

Doutorado I 6 3 6 4 19

Renovação Doutorado 2 2 4 4 12

Iniciação Científica 39 41 34 42 156

Mestrado I 27 31 28 31 117

Renovação Mestrado 26 15 14 16 71

Pós-Doutorado/Brasil 1 1 2

Total 103 92 87 97 379

Fonte: Dados obtidos junto à Coordenação de Sistemas da FAPESP, 1995.

50
TABELA 25
Modalidade de Bolsas por Área — FAPESP

Sociologia e Antropologia Total


Política
Aperfeiçoamen to 2 2

Doutorado I 10 9 19

Renovação Doutorado 5 7 12

Iniciação Científica 106 50 156

Mestrado I 71 46 117

Renovação Mestrado 44 27 71

Pós-Doutorado/Brasil 2 2

Total 238 141 379

Fonte: Dados obtidos junto à Coordenação de Sistemas da FAPESP, 1995.

TABELA26
Número de Bolsistas de Mestrado e Doutorado — Capes, CNPq e FAPESP

1991 1992 1993 1994

Capes
Mestrado 437 362,5 473 480
Doutorado 117,5 139 186 218

cn pq”
Mestrado 334 447
Doutorado 154 188

FAPESP
Mestrado 53 46 42 47
Doutorado 8 5 10 8

Total
Mestrado 490 408,5 849 974

Total
Doutorado 125,5 144 350 414

Fonte: Dadas obtidos junto à Coordenação de Ciências Sociais e Educação do CNPq, 1994; Coordenação de
Sistemas da FAPESP. 1995; Capes, 1994.

*Os dados da Capes para 1991 e 1992 referem-se ao número de bolsas e, para 1993 e 1994, ao número de
bolsistas.
A Tabela 26 consolida as informações duração do doutorado, tem-se, por ano,
relativas a cada um a das agências que conce­ aproximadamente 12 novos estudantes no
dem bolsas de formação, permitindo um a exterior.
avaliação do índice de estudantes da pós-gra­
duação que têm acesso a esse benefício. Co­ TABELA27
mo se pode observar, foi concedido um total
Número de Bolsas por Tipo (1991-94)
de 849 bolsas de m estrado e 350 bolsas de
doutorado em 1993. Caso se compare esses
números com as informações relativas ao Tipo N.°
ingresso de novos alunos nos cursos de mes­
trado e de doutorado (Tabela 9), comprova- Congressos 5
se que a quase totalidade dos mestrandos foi Mestrado 3
beneficiada com bolsas (93%). Para o douto­ Doutorado 50
rado o índice obtido é um pouco inferior Pós-Doutorado 21
(72%), devendo-se levar em conta, entretan­ Sanduíche 17
to, que um a parte desses estudantes é cons­
Especialização 3
tituída por docentes, impedidos de pleitear o
benefício.
Os índices de concessão de bolsas não Fonte: Divisão de Bolsas e Auxílios no Exterior da Capes/MEC,
foram calculados com base no total de estu­ 1994.

dantes matriculados nos cursos, pois esses


estudantes perm anecem ali, em geral, mais TABELA 28
tempo do que o previsto. Por esta razão, to­ Número de Bolsas por Ano de Início
mou-se como referência o ingresso de novos
alunos durante os anos correspondentes à
Ano N.°
duração das bolsas de m estrado e de douto­
rado — dois e quatro anos, respectivamente.
Assim, 912 estudantes de m estrado estariam 1994 28
em condições de receber bolsas em 1993, to­ 1993 27
tal obtido pela soma de ingressos em 1993 1992 20
(441 alunos) e 1992 (471 alunos), estes últi­ 1991 24
mos, no segundo ano do curso. Para o d o u ­ Total 99
torado, 484 estudantes estariam em condi­
ções de receber bolsas em 1993, resultante
da soma dos ingressos em 1993 (147), em Fonte: Divisão de Bolsas e Auxílios no Exterior da Capes/MEC,
1994.
1992 (122), em 1991 (115) e mais um a esti­
mativa de 100 novos alunos em 1990,
acompanhando a média da década (ver T a­
bela 9).
CNPq

As bolsas de pós-graduação no exterior


b) Bolsas de Form ação no Exterior concedidas pelo CNPq concentram-se nos
Capes cursos de doutorado, alcançando o total de
50 bolsas pagas em maio de 1994. D ada a
A concessão de bolsas de m estrado no permanência de quatro anos no exterior, e
exterior encontra-se reduzida a um padrão mantido o atual patam ar de concessão de
residual, não m erecendo, portanto, desta­ bolsas, calcula-se a admissão anual de apro­
que. Considerando-se ser de quatro anos a ximadamente 12 novos bolsistas.

52
TABELA29
Bolsas de Formação no Exterior

Estágio Aperfei­ Douto Pós- Sanduíche Mestrado


Sênior çoamento rado Doutorado
6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94
5/94
Antropologia 0 0 0 0 0 0 12 15 14 1 1 1 1 3 4 0 0 0

Arqueologia 0 0 0 0 0 0 4 4 3 0 0 0 0 0 1 0 0 0

C. Política 0 0 0 0 0 0 9 10 11 1 2 2 1 2 1 0 0 0

Sociologia 0 0 0 0 0 0 15 18 22 1 1 2 0 0 2 0 0 0

Total 1
C. Sociais 0 0 0 0 0 0 40 47 50 3 4 5 2 5 8 0 0 0

Total
C. Hum. e
Sociais 1 2 3 0 1 3 339427 439 13 29 40 20 45 65 8 8 3

Fonte: Coordenação de Ciências Sociais e Educação do CNPq, 1994.


Corte na folha de pagamentos do CNPq relativo aos tneses 6193, 10/93 e 5194.

FAPESP TABELA 31
Modalidade de Bolsas por Área
A concessão, pela FAPESP, de bolsas
de pós-graduação no exterior é inexpressiva, Soc. e Antropo­ Total
concentrando-se os benefícios no pós-dou- Política logia
toramento. Pós-Douto-

TABELA 30
rado no
Exterior 16 15 31
Modalidade de Bolsas por Ano
Pós-Gra-
1991 1992 1993 1994 Total duação no
Pós- Exterior 1 1 2
Doutorado Fonte: Dados obtidos junto à Coordenação de Sistemas da
no 4 14 13 31 FAPESP, 1995.

Exterior

Pós-
As tabelas relativas às três agências de­
Graduação
monstram que a demanda por doutoram en­
no 1 1 2
to no exterior tem sido bastante inferior
Exterior
àquela verificada para os cursos no país. E n­
Fonte: Dados obtidos junto à Coordenação de Sistemas da
FAPESP, 1995. tre 1991 e 1994 foram 50 as bolsas concedi-

53
das pela Capes aos doutorandos no exterior abrangendo também instituições de pesquisa
(Tabela 27) e 50 as bolsas do CNPq com a nâo-universitárias. No entanto, com a finali­
mesma finalidade (Tabela 29). A FAPESP dade de produzir apenas um a estimativa, va­
tem apresentado um a média anual de um a le considerar que essas bolsas de pesquisa —
única bolsa concedida a doutorandos (Tabe­ 197, em maio de 1994 (Tabela 32) — foram
la 30). Esses dados indicam um a marca pagas aos doutores atuantes nos centros de
anual de cerca de 25 novos bolsistas em cur­ pós-graduação. Assim, alcança-se aproximada­
sos de doutoram ento no exterior. mente um índice de 30% daqueles 642 douto­
Tam bém é surpreendentem ente limita­ res referidos na Tabela 12 (não titulados exclu­
do o núm ero de bolsas-sanduíche concedidas sivamente em Ciências Sociais) recebendo bol­
anualmente — entre 10 e 15 (Tabelas 27 e sas de pesquisa do CNPq em 1994.
29) —, apesar da ênfase com que as agências O total de bolsas de aperfeiçoamen­
de fomento a têm recomendado como comple­ to/pesquisa pagas pelo CNPq também se
mento à formação do doutor. Dada a prefe­ constitui em um indicador do núm ero de
rência do estudante brasileiro pelo doutora­ projetos em andamento, pois tais bolsas re­
mento no país, a bolsa-sanduíche passa a ser, m uneram assistentes de pesquisa. Em maio
então, a única possibilidade de exposição do de 1994 foram percebidos 116 auxílios dessa
doutorando a centros de excelência no exterior. natureza, o que representa 16% do total de
bolsas pagas às Ciências Hum anas e Sociais
(Tabela 33). Chama a atenção, nesse caso, a
c) Bolsas de Pesquisa no Pais natureza artesanal e individual da pesquisa
em Ciências Sociais, uma vez que, dos 197
As bolsas de pesquisa concedidas pelo doutores que desenvolvem projetos de inves­
CNPq não se referem exclusivamente a pro­ tigação, deduz-se que 81 o fazem sem o con­
jetos em andam ento nas universidades, curso de auxiliares de pesquisa.

TABELA32
Bolsas de Pesquisa no País

Pesquisa Desenvolv. Recém- Pesquisador Pesquisador Pesquisador Pesquisador


*
N ormal C ientífico D outor A posentado Associado V isitante Visitante
R egional Nacional Estrangeiro
6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94

A ntropol. 47 59 58 0 2 2 0 2 3 5 6 4 0 0 1 0 0 0 0 0 0

A rqueol. 7 9 10 0 0 0 0 0 0 2 2 1 2 2 3 0 0 0 0 0 0

C. Política 28 37 34 0 0 1 0 0 3 4 4 3 1 1 1 0 0 0 0 0 0

Sociologia 68 94 95 0 0 0 0 0 6 4 4 1 1 1 1 0 1 1 2 3 4

Total C.
Ilum . e
Sociais 1.006 1.306 1.318 13 21 24 13 21 85 59 76 60 6 9 16 6 11 19 5 7 9

Fonte: Coordenação de Ciências Sociais e Educação do CNPq, 1994.


*As bolsas de pesquisador aposentado foram extintas no final do ano de 1993, mantendo-se, entretanto, os bolsistas no sistema até o
término do prazo de validade das suas concessões.

54
TABELA 33
Bolsas de Aperfeiçoamento/Pesquisa e de Iniciação Científica

Aperfeiçoamento/Pesquisa Iniciação Científica*


6/93 10/93 5/94 6/93 10/93 5/94

Antropologia 31 35 35 58 82 83
Arqueologia 18 16 17 21 30 27
C. Política 23 27 24 33 45 44
Sociologia 35 40 40 84 118 112
Total C. Sociais 107 118 116 196 275 266
Total C. Hum. e Sociais 613 796 744 1.440 1.913 1.768

Fonte: Coordenação de Ciências Sociais e Educação do CNPq, 1994.

* Não inclui PIBIC.

Como se pode observar, os dados sobre números que constam desse Diretório estão
bolsas de formação e pesquisa apresentados subestimados — o próprio Laboratório de
não incluem os recursos provenientes das di­ Sociologia dos Intelectuais e Institucionaliza­
ferentes fundações estaduais de am paro â ção da Ciência não consta ali, em bora te­
pesquisa criadas na esteira das alterações in­ nham sido enviadas ao CNPq as informações
troduzidas pela Constituição de 1988 — as solicitadas. Mesmo incompleto, o Diretório é,
FAPs. Decerto, a ação dessas fundações de­ hoje, a melhor fonte sobre a pesquisa cientí­
ve elevar aqueles números, comprovando fica no país.
sua relevância estratégica para a instituciona­ Os dados coligidos pelo CNPq foram
lização da ciência e da pesquisa no pais. Po­ obtidos por intermédio dos dirigentes das
de-se até dizer que, nos centros periféricos instituições de ensino e pesquisa, que envia­
— onde vêm surgindo as pós-graduações de ram informações sobre os grupos de pesqui­
temática especializada — , uma das melhores sa em funcionamento. A responsabilidade
possibilidades de com prom etim ento das pelo fornecimento dos dados coube aos líde­
ciências, em geral, e dos cientistas sociais, em res desses grupos, os quais deveriam indicar
particular, com a agenda da democratização o nome e a titulação dos seus integrantes,
social está relacionada com a criação dessas discriminando as linhas de pesquisa desen­
fundações. Exemplos disso podem ser vistos volvidas e as especialidades do conhecimento
nos programas das secretarias de Ciência e
em que estavam inscritas.
Tecnologia dos estados do Ceará2 e de P er­ As disciplinas que integram as Ciências
nambuco.
Sociais — Arqueologia, Antropologia, Ciên­
cia Política e Sociologia — desdobram-se em
A Pesquisa
diversas rubricas, segundo a Tabela 34. No-
Os dados sobre as atividades de pesqui­ te-se que as especialidades Sociologia da
sa na área de Ciências Sociais foram extraí­ Educação, Antropologia da Educação e So­
dos do Diretório dos G nipos de Pesquisa no ciologia Jurídica não estão incluídas na área
Brasil, publicação recente do CNPq (1994). das Ciências Sociais, e sim, segundo o CNPq,
Como reconhecem seus organizadores, os nas subdivisões da Educação e do Direito.

55
TABELA34
Grupos de Pesquisa
Arqueologia
Arqueologia Histórica
Arqueologia Pré-Histórica
Teoria e Método em Arqueologia

Antropologia
Antropologia das Populações Afro-Brasileiras
Antropologia Rural
Antropologia Urbana
Etnologia Indígena
Teoria Antropológica

Ciência Política
Comportamento Político
Atitudes e Ideologias Políticas
Classes Sociais e Grupos de Interesse
Comportamento Legislativo
Conflitos e Coalizões Políticas
Estudos Eleitorais e Partidos Políticos
Estado e Governo
Estrutura e Transformação do Estado
Estuodos do Poder Local
Instituições Governamentais Específicas
Relações Intergovemamentais
Sistemas Governamentais Comparados
Política Internacional
Integração Internacional, Conflito, Guerra e Paz
Organizações Internacionais
Política Externa do Brasil
Relações Internacionais, Bilaterais e Multilaterais
Políticas Públicas
Análise do Processo Decisório
Análise Institucional
Técnicas de Antecipação
Teoria Política
Teoria Política Clássica
Teoria Política Contemporânea
Teoria Política Medieval
Teoria Política Moderna

Sociologia
Fundamentos da Sociologia
História da Sociologia
Teoria Sociológica
Outras Sociologias Específicas
Sociologia da Saúde
Sociologia do Conhecimento
Sociologia do Desenvolvimento
Sociologia Rural
Sociologia U rbana
Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.

56
Neste artigo, o critério utilizado para a reconhecimento da capacitação de seus pro­
inclusão de um grupo de pesquisa na área de ponentes para realizar o em preendimento. A
Ciências Sociais foi a m era indicação do rigor, inexiste uma política que estabeleça
exercício de atividade em qualquer um a das critérios de prioridade para a alocação dos
especialidades do conhecimento listadas aci­ recursos.
ma. D a leitura dos dados do Diretório de- O sistema de “balcão”, aliado à crônica
preende-se a natureza heterogênea dos gru­ escassez de recursos, contribui para que os
pos de pesquisa referidos ali. Alguns deles, grupos de pesquisa tenham muitas vezes um
além de diminutos, não contam sequer com caráter efêmero. A origem universitária da
a presença de um doutor; outros são tão nu­ esmagadora maioria dos grupos conduz, fre­
merosos que dificilmente devem ser conside­ qüentemente, a contextos de pesquisa mais
rados como um grupo de pesquisa, sugerin­ próximos da lógica do ensino e dos objetivos de
do mais a existência de um departam ento carreira docente do que, propriamente, da pes­
com um propósito geral comum. Os vínculos quisa sistemática. Na verdade, muitos dos gru­
dos grupos com as Ciências Sociais também pos de pesquisa ocultam a atuação de um gru­
variam muito: há grupos efetivamente voca­ po de estudo, em mais uma manifestação da
cionados para investigações na área e outros prevalência do ensino sobre a pesquisa.
que manifestam um interesse marginal pelo São 44 instituições a abrigar os 240 gru­
objeto das Ciências Sociais. pos de pesquisa com atividade na área de
Essa heterogeneidade não deixa de ser Ciências Sociais. Dessas instituições, 32 são
muito expressiva, retratando dois aspectos fun­ universidades ou centros de ensino superior
damentais: a baixa institucionalização da pes­ isolados (73%), abrigando 213 grupos
quisa, quando comparada â do sistema de ensi­ (87%); cinco são centros de pesquisa com
no, e o elevado padrão de interdisciplinaridade inscrição principal na área de Ciências So­
das pesquisas em Ciências Sociais. ciais, reunindo 17 grupos; e sete são centros
de pesquisa com atividade em outras áreas
A Baixa Institucionalização do conhecimento, perfazendo um total de
da Pesquisa
dez grupos (Tabela 35).
Ao contrário do sistema de ensino pós-gra­ A existência de grupos de pesquisadores
duado — que dispõe de mecanismos de avalia­ sociais em instituições científicas de outra
ção dos programas e subordina a essa avaliação natureza deve ser sublinhada. O papel do
o acesso às bolsas de formação e a outros recur­ cientista social como intérprete em geral da
sos destinados ao seu aprimoramento —, a pes­ sociedade brasileira parece ver-se confirma­
quisa em Ciências Sociais ainda não conhece do pela própria comunidade científica, que
mecanismos institucionais semelhantes. No ca­ se tem aberto — como nos casos da Funda­
so, vale ressaltar que a iniciativa do CNPq em ção Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Empresa
produzir o Diretório Nacional dos Grupos de Brasileira de Pesquisa Agrícola (Em brapa) e
Pesquisa pode constituir-se no embrião de do M useu de Astronomia — a pesquisas típi­
uma política de avaliação sistemática da pes­ cas das Ciências Sociais. Assim, a incorpora­
quisa realizada no país. ção, ali, dos profissionais das disciplinas que
O financiamento à pesquisa opera, q ua­ com põem a área — em particular quando
se exclusivamente, segundo o sistema de são mobilizados para estudar a história
“balcão”. Como se sabe, os projetos são desses centros e da constituição científica
apresentados às agências de fomento, avalia­ dos seus objetos — vem atendendo às
dos por consultores e submetidos à aprecia­ necessidades de legitimação da própria
ção final de comitês assessores, especializa­ idéia de ciência no Brasil. A Tabela 35
dos na área de conhecimento do projeto. A ap resen ta a distribuição dos grupos de pes­
aprovação dos projetos está condicionada ao quisa pelas instituições da área de Ciências
exame de suas qualidades acadêmicas c ao Sociais e fora dela.

57
TABELA 35
Instituições que Abrigam Grupos de Pesquisa com Atividade
na Área de Ciências Sociais: Número de Grupos

In stitu iç ã o G ru p o s %
1 .Universidades e Outras
instituições de E nsino Superior
1.1 U niversidades Públicas
(U. Est. Londrina) UEL 1 0,4
(U. Est. R io de Jan eiro ) UERJ 9 3,8
(U. F. Bahia) U FB A 8 3,3
(U. F. C eará) U FC 4 1,7
(U. F. Flum inense) U FF 12 5,0
(U. F. G oiás) U FG 3 1.3
(U. F. M aranhão) U FM A 1 0,4
(U. F. M inas G erais) U FM G 4 1,7
(U. F. M ato G rosso do Sul) U FM S 1 0,4
(U. F. M ato G rosso) U FM T 3 1,3
(U. F. Paraíba) U FPB 8 3,3
(U. F. Pernam buco) U FPe 10 4,2
(U. F. Paraná) U FPR 2 0,8
(U. F. R io G ran d e do Sul) UFRG S 17 7,1
(U. F. R io de Jan eiro ) U FR J 19 7,9
(U. F. R io G ran d e d o Norte) U FR N 2 0,8
(U. F. R ural R io de Janeiro) U FRRJ 1 0,4
(U. F. Santa C atarina) U FSC 11 4,6
(U. F. São Carlos) U FSC ar 1 0,4
(U. F. Santa M aria) U FSM 2 0,8
(U. F. Viçosa) U FV 2 0,8
(U. de B rasília) U nB 14 5,8
(U. Est. de São Paulo) U N ESP 7 2,9
(V. Est. C am pinas) U N IC A M P 17 7,1
(U. de São P aulo) USP 26 10,8
1.2 O utras U niversidades e
Instituições de Ensino
Pont. Univ. Cat. R io PU C -R io 5 2,1
Pont. Univ. Cat. RS PUC.-RS 4 1,7
Pont. Univ. Cat. SP PU C -SP 9 3,8
(U .V ale dos Sinos) UNISINOS 5 2,1
(U. Taubaté) U N ITA U 1 0,4
(Escola Paul. M edicina) EPM 1 0,4
(Inst. Univ. Pesq. R io de Jan eiro ) IU P E R J 3 1,3

2. Centros de Pesquisa
2.1 C entros de Pesquisa da
Á rea de C iências Sociais
(C entro Br. An. e Planej.) C EB R A P 3 1,3
(F. Casa José A m érico/PB) F C JA 1 0,4
(F. G etú lio Vargas/RJ) FG V 6 2,5
(F. Joaquim N abuco) FU N D A J 3 1,3
(M useu Paraense E. G oeldi) M PEG 4 1,7
2.2 C entros de Pesquisa de Ciências
da N atureza e da Saúde
(C entro Tecn, M ineral/R J) C ET EM 1 0,4
(C. Nac. Pesq. Trigo/R S) EM B RA PA 1 0,4
(Fundação O sw aldo Cruz) F IO C R U Z 3 1,3
(F. Seg. M ed. Trabalho/SP) FU N D A C EN 1 0,4
(Inst. Tecn. A lim entos/SP) ITA L 1 0,4
(Lab. Nac. de C om putação C ientífica) LNCC 1 0,4
(M useu A stronom ia) M AST 2 0,8

TOTAL 240 100,0

Fonte: Diretório dos Gmpos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.

58
Os dados relativos ao num ero de d outo­ TABELA 37
res e pesquisadores que compõem os grupos Grupos de Pesquisa Segundo o N." de Pesquisadores
de pesquisa perm item definir o perfil médio Número de Grupos %
desses grupos: um a equipe de dois a cinco Pesquisadores
pesquisadores, com a participação de um ou 1 32 13,3
dois doutores — aproxim adam ente 60% dos 2 29 12,1
grupos têm esse perfil (Tabela 36). U sual­ 3 44 18,3
mente são grupos liderados por pesquisado­ 4 25 10,4
res universitários, que agregam colaborado­ 5 23 9,6
6 17 7,1
res à medida que dispõem de recursos para o
7 18 7,5
desenvolvimento de projetos. Tendo-se pre­
8 5 2,1
sente que o CNPq, em junho de 1994, paga­ 9 15 6,3
va 197 bolsas de pesquisa na área de Ciên­ 1 0 -1 5 20 8,3
cias Sociais, e que são 663 os doutores parti­ 1 6 -2 8 12 5,0
cipantes dos grupos de pesquisa listados no Total 240 100,0
Diretório, é plausível admitir que um a parce­
Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.
la significativa desses pesquisadores conta
com recursos do CNPq.
TABELA 38
TABELA36 Pesquisadores dos Grupos Segundo a Titulação
Grupos de Pesquisa Segundo o Titulação N,°
Número de Doutores Doutores 663
Mestres 442
Número de Grupos %
Graduados 196
Doutores S /informação 12
0 19 7,9 Total 1.313
1 79 32,9 Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.
2 50 20,8
3 36 15,0 TABELA39
4 15 6,3 Distribuição dos Grupos de Pesquisa por Estado
5 14 5,8 Estado Grupos %
6 -1 0 21 8,8 BA 8 3,3
1 1 -2 0 8 3,3 CE 4 1,7
DF 14 5,8
GO 3 1,3
Total 240 100,0 MA 1 0,4
MG 6 2,5
Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994. MS 1 0,4
MT 3 1,3
PA 4 1,7
A distribuição dos grupos de pesquisa PB 9 3,8
pelos estados da Federação (Tabela 39) atri­ PE 13 5,4
bui uma posição singular ao R io de Janeiro e PR 3 1,3
a São Paulo, com 129 grupos estabelecidos RJ 62 25,8
— mais da m etade do total. É digno de nota RN 2 0,8
o fato de existir no Rio de Janeiro pratica­ RS 29 12,1
mente o mesmo núm ero de grupos que em SC 11 4,6
São Paulo, apesar de a institucionalização SP 67 27,9
Total 240 100,0
universitária das Ciências Sociais ser bem
mais recente no Rio. Fonte: Diretório dos Grupos de Pexijnisa no fímsil, CNPq, IW4.

59
Especialidades das Ciências Sociais e TABELA41
Padrão de interdisciptinaridade Especialidades da Sociologia Assinaladas pelos
Das disciplinas que compõem as Ciências Grupos de Pesquisa*
Sociais, a Sociologia participa das atividades de
Especialidades Grupos
pesquisa de 50% dos grupos, a Antropologia,
de 37%, a Ciência Política, de 35%, e a A r­ Sociologia 3
queologia, de 9%. A indicação das áreas do co­ Fundamentos da Sociologia 11
nhecimento em que estão inscritas as linhas de Outras Sociologias Específicas 57
pesquisa foi atribuída aos líderes dos grupos. Sociologia da Saúde 11
Há situações em que o assinalamento de espe­ Sociologia do Conhecimento 16
cialidades classificadas entre as Ciências Sociais Sociologia do Desenvolvimento 27
caracteriza, visivelmente, um interesse secun­ Sociologia Rural 25
dário. Esse é o caso de alguns grupos de pes­ Sociologia Urbana 38
Não Assinalaram Sociologia 119
quisa em ciências da saúde, desenvolvimento
tecnológico e engenharia de meio ambiente, Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.
cujas linhas de pesquisa interagem apenas
Sociologia da Educação e Sociologia Jurídica não participam da
marginalmente com as Ciências Sociais. área de Sociologia.
Descontados esses grupos em que o obje­
TABELA42
to das Ciências Sociais se apresenta como de
interesse secundário, é muito expressivo o pa­ Especialidades da Ciência Política Assinaladas
drão de interdisciplinaridade observado na ação pelos Grupos de Pesquisa*
dos grupos de pesquisa. Tal fato pode ser en­ Especialidades Grupos
tendido como um indicador da atração que a
análise sociológica exerce sobre outras áreas de Ciência Política 1
investigação, no mais das vezes com uma histó­ Comportamento Político (1) 39
ria institucional distante das Ciências Sociais. Estado e Governo (2) 21
As tabelas que se seguem apresentam a Política Internacional (3) 10
distribuição dos grupos de pesquisa pelas di­ Políticas Públicas (4) 40
Teoria Política (5) 9
versas especialidades das Ciências Sociais, de
Não Assinalaram C. Política 155
acordo com a classificação do CNPq. Im por­
ta notar que cada grupo pode se fazer re p ­
resentar, sim ultaneam ente, em diferentes Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.
áreas de especialização e que, por esse cri­ *As subáceas da Ciência Política assinaladas acima incluem as
tério, um pouco mais da m etade dos g ru ­ subdivisões do Tabela 34.
pos assinalou atividade no âm bito da So­
ciologia. TABELA43
Especialidades da Antropologia Assinaladas
TABELA40 pelos Grupos de Pesquisa
Número de Grupos de Pesquisa queAssinalaram
Atividade em Alguma Especialidade Classificada
Especialidades Grupos
pelo CNPq, no âmbito da Sociologia, da
Antropologia, da C. Política e da Arqueologia Antropologia 10
Ant. das Pop. Afro-Brasileiras 9
Grupos % Antropologia Rural 23
Sociologia 121 50,4 Antropologia Urbana 41
Antropologia 88 36,7 Etnologia Indígena 17
C. Política 85 35,4 Teoria Antropológica 30
Arqueologia 21 8,8 Não Assinalaram Antropologia 152

Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994. Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.

60
TABELA44 Com parando-se as disciplinas que inte­
Especialidades da Arqueologia Assinaladas gram as Ciências Sociais, observa-se que a
pelos Grupos de Pesquisa
Sociologia exibe o mais elevado índice de
grupos de pesquisas interdisciplinares, inte­
ragindo com áreas do conhecimento não
Especialidades Grupos pertencentes às Ciências H um anas e Sociais
(27% ) (Tabela 46). Segue-se a ela a Ciência
Arqueologia 2
Arqueologia Histórica 12 Política, com o índice de 21%. A Antropolo­
Arqueologia Pré-Histórica 17 gia e a Arqueologia exibem o menor índice
Teoria e Método em Arqueol. 7 de atividade interdisciplinar (19% e 14%,
Não Assinalaram Arqueologia 219 respectivamente) e assinalam também o
mais elevado percentual de interesse por
Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, pesquisas de caráter teórico, conforme as
CNPq, 1994. Tabelas 43 e 44.

TABELA45
Grupos que Assinalaram Linhas de Pesquisa Também Classificadas
em Outras Especialidades do Conhecimento

Are a de Ciências H um anas e Sociais N.° %

História 48 20,0
Educação e Ciências da Informação 40 16,7
Economia e Administração 38 15,8
Comunicação, Museologia, Artes, Letras, Lingüística 35 14,6
Geografia e Demografia 25 10,4
Psicologia e Serviço Social 20 8,3
Planejamento Urbano e Reg. ou Arquitetura e Urbanismo 19 7,9
Filosofia e Teologia 18 7,5
Direito 6 2,5

Outras Áreas 50 20,8

Fonte: Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.

TABELA 46
Padrão de Interdisciplinaridade das Disciplinas de Ciências Sociais com
Especialidades do Conhecimento não Pertencentes às Ciências Humanas e Sociais

Grupos não- Total de %


Interdisciplinares Grupos

Sociologia 88 121 73
Ciência Política 67 85 79
Antropologia 71 88 81
Arqueologia 18 21 86
Fonte: Dimlória fios (»'/?//>. h tia Pesquisa no Brasil, CNPq, 1994.

61
Os dados do Diretório permitem uma constituídos. A acumulação ainda insuficien­
reflexão sobre a pesquisa em Ciências Sociais te da prática da pesquisa científica está a in­
no Brasil e suas possibilidades de desenvolvi­ dicar que se deve optar por um cenário aber­
mento. to à competição entre grupos de pesquisa.
Ao longo deste texto foi enfatizado o Com o tempo, e a partir das informações
elevado grau de institucionalização do ensino que serão anualmente inventariadas pelo Di­
de Ciências Sociais no país, visando-se de­ retório dos Gmpos de Pesquisa no Brasil, po­
monstrar que a continuada expansão desse derão vir a ser identificados os grupos com
sistema encontra, hoje, barreiras no âmbito efetiva vocação para a pesquisa e seleciona­
da docência universitária. Assim, o impulso das aquelas orientações temáticas que en­
afirmativo que levou as Ciências Sociais no contrarem maior sustentação na comunida­
Brasil a ocupar o lugar relevante que têm de científica e na sociedade.
não poderá ser reproduzido à base da dinâ­ Um outro tipo de estratégia — não al­
mica originária que as trouxe até aqui. A ternativa, mas complementar — poderá ser a
confirmação dos cientistas sociais como um da reunião de centros de pesquisa, sob a ini­
novo personagem da vida intelectual e cientí­ ciativa das agências de fomento científico,
fica depende de iniciativas capazes de estabe­ em torno de objetos tidos como relevantes.
lecer um — também novo — padrão de inte­ Um exemplo nessa direção foi dado recente­
ração entre eles e os interesses e atores mente pela Finep, que convocou cientistas
emergentes na sociedade brasileira. Suma­ sociais especialistas na questão urbana para
riamente: depende da formulação de políti­ a elaboração de uma agenda de pesquisas
cas públicas de fomento à investigação cien­ orientada para a consecução de políticas so­
tífica que associem as linhas de pesquisa à ciais reparadoras. Como foi mencionado an­
agenda da democratização social. teriormente, as agências estaduais de finan­
O sistema de financiamento à pesquisa ciamento à pesquisa — as FAPs — são parti­
atualmente em vigor tem a vantagem de evi­ cularmente adequadas para o desenvolvi­
tar o controle oligârquico dos recursos dispo­ mento de iniciativas dessa natureza.
níveis. O seu lado negativo, porém, está no A combinação dessa estratégia com o
padrão errático que preside a distribuição estabelecimento de um sistema de avaliação
desses recursos entre os grupos de pesquisa­ e financiamento da pesquisa entrevisto pela
dores. O financiamento descontinuado e recente elaboração do Diretório pode se
pouco previsível vem transform ando a ativi­ constituir em incentivo para uma efetiva ins­
dade de pesquisa em um m ero complemento titucionalização da pesquisa, oferecendo
à prática docente, o que não favorece a insti­ condições para a estabilização dos grupos, a
tucionalização científica. diversificação das fontes de financiamento e
Seria incorreto, entretanto, concluir es­ a necessária associação entre as Ciências So­
se argum ento com a proposta de imposição, ciais e os interesses da sociedade.
“por cima” e arbitrariamente, de uma agen­
da de pesquisas ao conjunto dos cientistas
sociais e, tão grave quanto isso, de restringir (Recebido para publicação
o acesso a recursos aos grupos atualm ente em julho de 1995)

Notas

1 Cabe mencionar, entretanto, alguns títulos da produção mais recente que contribuíram
para a formulação da pesquisa: Figueiredo (1988); Miceli (1989), Schwartzman (1991);
Bomcny e Birman (1991); Lahuerta (1992); Tavares de Almeida (1992); Villas Bôas
(1992) e Aguiar (1995).
2 Ver, a propósito, Holanda (1994).

62
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63
A Sociologia do Trabalho na América Latina:
Paradigmas Teóricos e Paradigmas Produtivos

Laís Abramo e
Cecilia Montero

Introdução são produtiva e modernização tecnológica,


associados à globalização da economia m un­
O nascimento da Sociologia do T raba­
dial e à crise do modelo taylorista-fordista de
lho como campo disciplinar específico na
América Latina é um fenôm eno recente. organização do trabalho.
R upturas importantes que ecoaram no
Data dos anos 50/60. Mas, a despeito disso, a
pensamento social. Evidência de que a pro­
Sociologia do Trabalho se caracteriza atual­
dução do conhecimento não se faz inde­
mente por um amplo e diversificado campo
de pesquisa, com um im portante acúmulo de pendente da evolução do contexto histórico
trabalho empírico e reflexão teórica. No mo­ nacional e internacional. Assim o demostra a
mento em que assistimos ao duplo processo análise sociológica da produção científica
de reorganização social do trabalho e de glo­ que se vem realizando há alguns anos na
balização das formas capitalistas de produ­ França, Estados Unidos e em vários países
ção, é pertinente refletir sobre a direção teó­ latino-americanos.
rica e empírica que têm tom ado os estudos O enfoque que adotamos aqui propõe
do trabalho na região. A conjuntura atual é uma leitura dos estudos do trabalho em dois
propícia, jâ que nos últimos anos se vem re ­ níveis: (a) a origem das influências estrangei­
alizando um esforço coletivo de sistematiza­ ras e a maneira pela qual, ao serem aplicados
ção dos principais avanços e orientações dos à nossa realidade, os conceitos e teorias forâ-
estudos do trabalho.1 neas foram adaptados e/ou reformulados;
De maneira geral, observam-se m udan­ (b) a mudança nos paradigmas produtivos e
ças na temática, nos m étodos de estudo e nas formas de inserção dos atores sociais no'
nas formulações teóricas da Sociologia do processo de desenvolvimento, e a maneira pela
Trabalho latino-americana. Estas mudanças qual as Ciências Sociais têm dado conta disso.
traduzem a maneira pela qual as Ciências Nas duas primeiras seções deste artigo
Sociais deram conta das duas grandes ruptu­ recordamos o contexto em que os estudos
ras ocorridas nas últimas três décadas. Por do trabalho surgem como disciplina acadê­
um lado, a crise do modelo de industrializa­ mica nos Estados Unidos e na França. Con­
ção por substituição de importações e dos sideramos que a Sociologia não é uma disci­
regimes reformistas e populistas que servi­ plina auto-referente, mas que trabalha com
ram de base à formação dos atores sociais na critérios de pertinência e de legitimidade
região. Crise que culmina, em alguns casos, proporcionados externamente pelos atores e
com a instauração de regimes autoritários, movimentos sociais. De particular interesse
que redefiniram a relação capital-trabalho e será, então, contrastar os vínculos da prática
o papel do movimento operário no processo sociológica com as hegemonias econômicas e
de desenvolvimento. Por outro lado, os político-culturais que se constituíram nesses
processos mais recentes de ajuste, reconver­ países na fase de industrialização.

BIB. Rio de Janeiro, n. 40,2.° semestre 1995, pp. 65-83 65


Nas seções seguintes, que com põem a seguida, vemos se as mesmas preocupações
segunda parte do trabalho, analisamos a for­ estiveram presentes no contexto latino-ame-
ma como a pesquisa traduziu e interpretou ricano.2
as principais rupturas ocorridas na organiza­
ção social do trabalho na América Latina. O O Enfoque Adaptativo
fato de haver maior referência a certos paí­
ses, em detrim ento de outros, reflete a traje­ H á consenso em reconhecer como
tória das autoras e a facilidade de acesso a evento fundador da Sociologia Industrial as
material bibliográfico. Reconhecem os os va­ investigações da equipe de Elton Mayo na
zios que isso implica. planta Hawthorne da empresa Western
Electric, entre 1927 e 1939.3 Elas “desco­
brem ” a importância da dimensão coletiva e
Sociologia Industrial, Sociologia do
Trabalho: Os Fatos Fundadores a presença de grupos e de relações informais
nas situações de trabalho. Estudos recentes
Na América Latina, as Ciências Sociais de história econômica dos Estados Unidos
surgem em estreita relação com a evolução permitem situar muito antes, entre 1900 e
do contexto social e político. D aí sua impor­ 1920, a entrada das Ciências Sociais na em ­
tância enquanto esteve vigente o modelo de presa, como parte do processo de racionali­
sociedades Estado-cêntricas e o predomínio zação do trabalho empreendido por enge­
da matriz sociopolítica (G arretón, 1983). Es­ nheiros das grandes companhias (Noble,
ta orientação inicial tam bém contribuiu para 1977; Montgomery, 1979).
perpetuar uma certa debilidade empírica. O primeiro quarto de século repre­
Georges Friedmann, o criador da Sociologia sentou uma etapa decisiva para o desenvolvi­
do Trabalho francesa, via nisso um risco: o mento do capitalismo, durante a qual se as­
de uma sociedade em penhada em se co­ sentaram as bases sociológicas, tecnológicas
nhecer mas que, não tendo os m étodos para e organizacionais da produção de massas e
fazê-lo, terminasse adotando noções e m éto­ das funções de administração e gestão dos
dos estrangeiros à própria realidade (Fried­ recursos humanos (Montero-Casassus e
mann, 1966). Desmarez, 1985). Segundo Montgomery
Trinta anos mais tarde, quando os paí­ (1979), “é graças aos engenheiros que a dia­
ses latino-americanos lutam por m anter sua lética da produção social, entre forças produ­
inserção no mercado mundial, cabe exami­ tivas e relações sociais, desaparece por trás
nar a trajetória seguida pelos paradigmas do que se chamou o management”.
teóricos adotados pela Sociologia no esforço D e fato, a Sociologia Industrial e a E s­
de com preender a realidade do trabalho e da cola de Relações Humanas surgem como
empresa. Qual foi a influência dos sistemas resposta à demanda social gerada pelos
teóricos estrangeiros? Os conceitos forâneos engenheiros. Esta buscava soluções para os
foram adaptados e renovados ao serem con­ problemas gerados pela concentração da
frontados com a realidade local? Surgiram produção em grandes fábricas, pela crescen­
novos conceitos? Surgiram novas soluções te mecanização do trabalho e, sobretudo, pe­
para problemas já experimentados em ou­ la chamada “crise de controle” da força de
tros lugares? trabalho (Edwards, 1979). Nesses anos se
Nesta seção procederem os a um a pri­ desenharam formas de enfrentar o conflito
meira reconstrução, seletiva e parcial, de al­ trabalhista, de obter a disciplina industrial da
gumas teorias e conceitos que influenciaram grande massa de trabalhadores imigrantes,
o debate latino-americano. Com tal objetivo, de adaptá-los ao american way o f life. A or­
recordamos a origem histórica da Sociologia ganização científica do trabalho (O.C.T.)
Industrial e da Sociologia do Trabalho nos buscou recuperar o controle gerencial do
Estados Unidos e na França, os problem as e processo de trabalho e aum entar o rendi­
as perguntas que buscavam responder. Em mento laborai.

66
Desta aproximação entre as Ciências delo de desenvolvimento industrial.4 As pri­
Sociais e os problemas da indústria surge o meiras pesquisas empíricas tiveram por obje­
enfoque da empresa com o sistema social, tivo analisar aquelas dimensões da sociedade
que, posteriormente, será generalizado por tradicional que podiam representar um freio
Parsons para toda a sociedade. A empresa é ao processo de desenvolvimento. N um ero­
um dado, não interessa seu entorno ou as in­ sos são os autores que se aproximam do te­
fluências externas. A fábrica é o microcosmo ma da sociedade industrial (Whyte, 1946;
da intervenção social. As Ciências Sociais fa­ Moore, 1946; W arner, 1947; Kerr, 1960).5
zem parte da engenharia social própria da Ao contrário dos sociólogos industriais, os
época, cujo objetivo era a adaptação aos requi­ teóricos do crescimento não se limitaram à
sitos funcionais do sistema. empresa, mas prestaram atenção ao conjun­
Essa problemática, e em especial os te­ to de relações sociais próprias da economia
mas da racionalização e seu corolário, as re­ capitalista e suas regras de funcionamento.
lações humanas, não figuram senão muito O enfoque da modernização foi reforça­
mais tarde entre as preocupações dos cientis­ do graças à contribuição do funcionalismo
tas sociais latino-americanos que, em sua parsoniano, como teoria abstrata do sistema
grande maioria, nfo optaram pela orientação social em constante adaptação. A influência
adaptativa que considera o social como o su­ teórica do estrutural-funcionalismo é visível
porte do one best way. Essa postura deve-se, em muitos estudos dos anos 60: W.F. Whyte
provavelmente, a que na América Latina a realiza uma investigação no Peru sobre a
orientação dos cientistas sociais foi mais polí­ orientação valorativa dos jovens a respeito
tica, de compromisso com os atores sindicais do progresso econômico (Sulmont, 1993); J.
e de critica às posições patronais. A ausência Kahl (1976) dirige vários estudos sobre o
de financiamento privado para a pesquisa com portam ento político dos trabalhadores
contribuiu também para que os sociólogos e no México, Brasil e Chile; M. Barrera
outros cientistas sociais se mantivessem alija­ (1973) se inspira no enfoque do conflito in­
dos das atividades de consultoria e de asses- dustrial de C. Kerr para estudar o caso das
soria a empresas.
grandes em presas chilenas de mineração do
A influência tJa Escola de Relações H u ­ cobre. A perspectiva funcionalista esteve
manas tampouco se fez sentir na administra­
também presente nos estudos sobre os em ­
ção de recursos hum anos na empresa. Al­
presários. Sob a influência de D. McClelland,
guns autores atribuem esta carência ao fato
o sociólogo chileno F. Galofré (1970) reali­
de que “as próprias organizações sindicais
zou uma pesquisa sobre o need o f achieve-
viam nela um a corrente a serviço dos explo­
m ent (motivação para o lucro) de mèmbros
radores” (Ram a e Silveira, 1991). Em todo
da elite dos setores público e privado. Um
caso, o sociólogo esteve mais próximo do
enfoque similar teve a pesquisa sobre em ­
ator sindical que do em presário até fins dos
presários industriais no Peru, Chile e Argen­
anos 80, quando, no marco do processo de
tina dirigida por Guillermo Briones (1963).
reconversão exportadora, as novas teorias da
Em certa medida, o enfoque evolucio-
organização e do management permitiram
nista distanciou os cientistas sociais do estu­
uma aproximação dos cientistas sociais às
do concreto da produção industrial e das re­
empresas, na qualidade de consultores.
lações de trabalho, voltando-os para os pro­
O Paradigma da Modernização blemas macrossociais do desenvolvimento. O
que se buscou foi situar grupos, comunida­
Mais im portante foi a difusão do para­ des e atores nos eixos tradicional-moderno,
digma “industrializa” ligado às teorias do rural-urbano, agrícola-industrial. As socieda­
crescimento econômico. Term inada a Se­ des latino-americanas foram investigadas e
gunda G uerra M undial, os Estados Unidos classificadas segundo a matriz dualista. A
projetaram para o resto do m undo seu m o­ cultura nacional, as relações primárias, as
práticas clientelistas, o populismo etc. apare­ do Trabalho privilegiou o método empírico
ceram como entraves ao processo de racio­ de observação e estudo do ato de trabalho.7
nalização e â introdução da ciência e da tec­ Também lhe deu uma prioridade epistemo-
nologia na produção. A Sociologia do D e­ lógica, dado que, para esse autor, toda infor­
senvolvimento, com G. G erm ani e outros, se mação recolhida deveria ser reinterpretada
constitui na versão latino-americana do para­ em função do que se sabe sobre o trabalho
digma da modernização. (Tripier, 1991). Em outras palavras, todos os
comportamentos têm sentido se são inter­
O Enfoque Humanista: pretados em função das condições materiais
O Tipo Ideal do Homo Faber e sociais que definem a situação de trabalho.
Esta é a matriz teórica dos trabalhos dos
A tradição sociológica francesa é radi­
fundadores da disciplina (G. Friedmann, P.
calmente diferente da americana, dado que
Naville, P. Rolle, A. Touraine, C. Durand,
assume a questão da modernidade e, portan­
J.D. Reymaud) e também da geração neo-
to, a historicidade como seu foco central. A
marxista (S. Mallet, A. Gorz, R. Linhart, B.
Sociologia do Trabalho herdou de Proudhon
Coriat, M. Freyssenet).
a visão da centralidade do trabalho (simboli­
Uma expressão típica do paradigma
zado pelo trabalhador qualificado) na dinâ­
proudhoniano é o conceito de qualificação,
mica social. O trabalho era visto como o ato
entendido como o sistema de classificações
básico, o ato livre e criador por excelência.
utilizado por empregadores e sindicatos para
Os intelectuais franceses do pós-guerra eram
portadores dessa cultura, que punha o traba­ estabelecer uma equivalência entre as opera­
lhador de ofício no centro do processo de ções técnicas realizadas por um trabalhador
produção de riquezas e de valores. e seu valor e reconhecimento social. O con­
Os primeiros estudos sobre o trabalho ceito adquire todo o seu sentido pela refe­
operário se inserem nessa tradição humanis­ rência paradigmática ao hom o faber, ao
ta. Por isto Georges Friedmann insiste que não trabalhador que se realiza na transformação
devemos nos limitar a estudar a indústria, co­ da natureza. A importância do tem a na
mo os sociólogos americanos, mas sim abarcar França se deveu ã defesa corporativista dos
todas as coletividades de trabalho. Apesar dis­ sindicatos em face dos novos ofícios e da fal­
so, a figura paradigmática da Sociologia france­ ta de correspondência entre educação e em ­
sa foi o operário qualificado da indústria. Os prego (Tanguy, 1986; Tripier, 1991).
estudos clássicos limitaram-se â empresa indus­ O enfoque francês do trabalho operário
trial, âmbito em que se estuda a relação do pôde se desenvolver graças â existência de fi­
operário com a máquina, a divisão do trabalho nanciamento público para a investigação
e o comportamento coletivo. Não foram estu­ científica. Segundo M. Rose (1979), os soció­
dadas outras atividades como o comércio e os logos do trabalho responderam à demanda
serviços, nem outras categorias de traba­ proveniente do sistema centralizado de pla­
lhadores, menos ainda as mulheres (Colloque nificação, foram os Servants o f Post Indus­
deDourdan, 1978). trial Power. Isto não impediu um vínculo
A esta perspectiva, que se poderia qua­ com a prática social, já que os sociólogos se
lificar de “obreirista”, se soma a crença de ligaram estreitamente às diferentes correntes
que o progresso técnico levaria ao progresso do movimento sindical (CFDT e CGT). Em
social. A Sociologia do T rabalho oscila, as­ todos os casos, a pesquisa foi mantida dentro
sim, entre o determinismo tecnológico e o dos limites da empresa e da fábrica. Não se
paradigma da m odernidade (Touraine, considerava senão marginalmente o contexto
1992). econômico e social da empresa e da classe
O conceito de trabalho como ato funda­ trabalhadora.
dor se traduziu no âm bito metodológico e Alguns pesquisadores se propuseram a
teórico. Segundo Pierre Tripier, a Sociologia antecipar tendências referentes à evolução

68
da estrutura social e para isto se basearam tismo (Pensar a l Revés) foram traduzidos e
nas figuras operárias da fábrica. Tornaram - tiveram ampla difusão na América Latina.10
se conhecidos os trabalhos de Serge Mallet Coriat contribuiu, assim como Carlota Pé-
(1963) sobre a nova classe operária. A socio­ rez, para definir os parâm etros centrais dos
logia da classe operária se fazia partindo do novos paradigmas produtivos e para o estu­
lugar que o trabalhador ocupava na divisão do comparativo da economia de tempo im­
do trabalho interna à em presa, orientação plícita no taylorismo, na cadeia de montagem
que se manteve nos estudos posteriores so­ e na automatização flexível. Este último as­
bre os trabalhadores da fase da automatização pecto foi de grande utilidade para com preen­
(Gorz, Linhart, Coriat). A tualm ente, depois der as estratégias empresariais de reestrutu­
de vários anos de convivência com altas taxas ração e contribuiu para a elaboração da críti­
de desemprego, admite-se a perda de im por­ ca sindical a esses modelos de organização
tância da noção de trabalho.8 do trabalho.
Assim como os sociólogos humanistas
Do Processo de Trabalho do pós-guerra, os teóricos do processo de
à Especialização Flexível trabalho não conseguiram se desfazer com­
pletam ente do paradigma do determinismo
Processo de Trabalho tecnológico. O mérito da corrente neomar-
e Figura Operária xista do processo de trabalho foi permitir
passar das análises estruturais globais para a
Buscando explicar as razões estruturais
fábrica como terreno de poder.
do desemprego e das disparidades nas ren­
das, uma geração de economistas norte-
Mercados Segmentados,
americanos (os radicais9) propõe novos con­ Mercados Duais
ceitos que se m ostraram mais adequados pa­
ra entender a forma pela qual se vivia politi­ Um segundo grupo de economistas do
camente a relação capital-trabalho na A m é­ trabalho, voltado para o tema em prego e sa­
rica Latina. lários, desenvolveu um modelo não compe­
U m primeiro grupo de estudos se con­ titivo do mercado de trabalho, no qual se in­
centra no espaço da fábrica. Os antecedentes troduzem conceitos como a dualização, a
deste enfoque encontram -se na releitura de segmentação e a polarização (M. Piore, D.
Marx feita por H arry Braverman. O foco Gordon, R. Edwards, S. Bowles e H. Gintis).
aqui é, novamente, o tem a do controle ope­ Baseando-se no estudo de barreiras à mobi­
rário, mas agora não mais do ponto de vista lidade dos trabalhadores e em casos de paí­
dos memagers e sim do trabalhador. A tese ses com regiões subdesenvolvidas, como a
central de Braverman (1975) 6 que o capita­ Itália, estabeleceram um enfoque alternativo
lismo monopolista introduz um a polarização à teoria do capital humano que respondia
nas qualificações operárias, com a conse­ melhor à questão da discriminação na con­
qüente perda progressiva da qualificação tratação e na fixação de salários. A idéia bá­
profissional. Essa análise foi pioneira ao re­ sica deste modelo é que o mercado de traba­
colocar a oposição entre capital e trabalho lho não funciona segundo o modelo da
no âmbito da produção. Com ela se inicia concorrência perfeita, que existem fatores
uma linha teórica cuja expressão mais co­ institucionais que nele interferem e que são
nhecida foram as posturas obreiristas euro­ as próprias políticas de emprego internas âs
péias de A ndré G orz e Toni Negri. empresas que configuram a diferenciação de
U m a figura im portante desta corrente é empregos e salários.
o economista francês Benjamin Coriat. Seus Este novo enfoque do m ercado de
livros sobre o taylorismo (El Tallery el Cro­ trabalho foi rapidamente adotado pelos pes­
nómetro), sobre a autom atização microcle- quisadores latino-americanos, que, sem
trônica (El Taíler y el Robot) e sobre o toyo- abandonar a perspectiva dos movimentos so-
ciais, se voltam para o estudo da exclusão, da tivo de trabalho para alcançar os aum entos
precariedade e da informalidade nos m erca­ de produtividade e a flexibilidade sistêmica
dos de trabalho urbanos (PR EA LC, 1981). que exigem as novas condições da concor­
Com isso se produz um deslocamento da So­ rência global.
ciologia do Trabalho para a Sociologia do O novo paradigma de especialização fle­
Emprego,11 e as investigações passam a es­ xível exige que se volte a atenção para fora
tar fundadas em uma problemática mais da fábrica a fim de com preender o que
econômica que sociológica ou política (Iran- ocorre no seu interior. Michael Buroway
zo, 1993; Catalano e Novick, 1992). Deve-se (1985) chama a atenção para as formas de
assinalar, aqui, duas orientações. Por um la­ regulação (politics o f production) e para os
do, os estudos de tipo estatístico, que perm i­ regimes de fábrica. O sistema de relações in­
tiram a acumulação de informação e foram o dustriais, a relação empresários-Estado, a
substrato que serviu de base, entre outras qualificação da mão-de-obra, as pressões
coisas, para a formulação de programas so­ competitivas que pesam sobre a produção
ciais focalizados, muito em voga hoje em dia. local etc. são fatores que passam a ser cres­
Por outro lado, toda um a corrente de pes­ centemente considerados.
quisa sobre as formas de inserção no m erca­ Uma linha de trabalho similar, mais di­
do de trabalho dos setores sociais mais vul­ fundida nos ambientes empresariais, é a que
neráveis, em particular m ulheres e jovens dá ênfase ã competitividade sistêmica, enfo­
(M ontero, 1993). que inaugurado por Michael Porter, nos
anos 80, na Harvard Business School. Os es­
Pós-Fordismo e Produção Flexível tudos do processo de trabalho se inserem,
assim, em uma reflexão que deixa de ser pu­
Im ediatam ente depois do choque do ramente acadêmica. A literatura sobre esses
petróleo que sacudiu o m undo industrializa­ temas é muito vasta, variada e de qualidade
do em 1974-75 se evidencia a crise do m ode­
irregular.
lo fordista. A preocupação com o tema da
competitividade aum entou o interesse pelo
estudo empírico do processo de trabalho. De Vigência e Resistência ao Paradigma
forma ininterrupta até o presente, enge­ Evclucionista na América Latina
nheiros, economistas, sociólogos e adminis­
tradores de em presas pesquisam e compa­ A retrospectiva histórica que fizemos
ram sistemas alternativos de produção indus­ até aqui nos permite agora situar a evolução
trial. A atenção se concentra, num primeiro da temática do trabalho na região. A Socio­
momento, nos casos do Japão, Itália e Su­ logia do Trabalho latino-americana nasce
deste Asiático e, mais recentem ente, na muito vinculada ã Sociologia do Desenvolvi­
América Latina (México e Brasil). mento e, de certa forma, a ela subordinada.
No início dos anos 80, o trabalho de Subordinada em parte pelos temas, mas
Piore e Sabei, The Second Industrial Divide principalmente pelo tipo de construção con­
(1984), teve uma influência decisiva ao pos­ ceituai que termina produzindo a respeito da
tular uma ruptura entre o modelo taylorista- classe trabalhadora. A temática básica da So­
fordista e as novas formas de organização da ciologia do pós-guerra pode ser caracteriza­
produção que colocavam o trabalho hum ano da como a da transição de uma sociedade
como aporte central para a eficiência do sis­ agrária e tradicional para uma sociedade ur­
tema. Ainda que ambos os autores tenham bana e industrial.12 É através desta questão
repensado criticamente a idéia original de que a Sociologia do Trabalho latino-america-
uma volta ao trabalho artesanal como fonte na entra no espaço da academia e realiza os
de competitividade, suas análises apontaram primeiros estudos sobre a classe traba­
corretamente a importância do envolvimen­ lhadora e seus movimentos, com o objetivo
to do trabalhador e do compromisso do cole­ de combinar um a reflexão teórica e melo-

70
dológica com um a base empírica de explica­ na transição de uma sociedade fechada para
ção. uma sociedade aberta e de um a gestão em ­
Nos anos 50 e 60, quando ocorre o con­ presarial tradicional para uma administração
tato mais intenso com as Ciências Sociais moderna.
norte-americanas, o problem a do controle O que chama a atenção é que, apesar
da força de trabalho não era relevante na da diversidade de temas e níveis de análise,
América Latina. Os problemas da industriali­ os estudos típicos dessa primeira etapa se de­
zação tardia, impulsionada pelo Estado, em senvolvem em um marco interpretativo e
países sem tradição fabril eram de outra na­ analítico relativamente comum, centrado ba­
tureza, entre eles, como obter o capital, a sicamente em dois aspectos. Em primeiro
maquinaria e o conhecimento técnico neces­ lugar, as características estruturais do
sários à produção industrial. processo de industrialização: seu caráter dé­
Por sua vez, os problem as sociais eram bil, pouco integrado e tardio, e sua incapaci­
concebidos como parte do processo de m u­ dade de produzir os sujeitos sociais conside­
dança social, de migração e urbanização ace­ rados típicos das sociedades modernas. A
leradas, com seu corolário, a marginalidade classe trabalhadora “produzida” pela indus­
urbana. A questão da classe operária deriva­ trialização latino-americana era relativamen­
va basicamente de um a análise de tipo glo­ te pequena, fortem ente condicionada por
bal, de uma questão externa à sua própria sua origem rural recente, muito apegada aos
constituição e prática: a natureza da socieda­ valores tradicionais do campo, com grande
de e, particularmente, de seu processo de dificuldade de inserção na sociedade indus­
transição do “atrasado” para o “m oderno”. trial. Isto dificultava e quase impossibilitava a
Marcados por esta preocupação, alguns estruturação de formas de ação coletiva mi­
estudos se dirigem às fábricas com o objetivo nimamente eficazes, assim como formas
de investigar as atitudes e com portam entos “adequadas” de consciência de classe.
políticos dos trabalhadores, sua relação com Em segundo lugar, o peso atribuído ao
o sindicato, seu nível de consciência (Lopes, Estado, em particular à sua capacidade regu­
1964; Touraine e Di Telia, 1967; Rodrigues, ladora sobre os trabalhadores e sindicatos
19701'1); outros se dirigem aos sindicatos, pri­ (baseada no binômio controle/paternalismo),
vilegiando a análise de sua relação com o E s­ na definição do “campo possível” de ação da
tado e os partidos (Rodrigues, 1966; Simão, classe operária. Estes fatores, devido â força
1966; Rodrigues, 1967). de sua presença na sociedade e à sua perm a­
Em Huachipato y Lota (Touraine e Di nência histórica, terminaram também por
Telia, 1967), por exemplo, estudo de caso de adquirir, nesta matriz explicativa, uma natu­
duas empresas chilenas que se tornou um reza quase estrutural.
clássico da Sociologia do Trabalho latino- O problema da classe operária e do
americana, a situação social é o conceito que trabalho aparecia, assim, subordinado e de­
permite analisar o impacto de variáveis es­ terminado pela dinâmica objetiva da socieda­
truturais sobre o tipo de consciência operária de global (Paoli, Sader e Telles, 1984). Isto
(origem rural ou urbana, a posição na estra­ terá duas conseqüências. A primeira, uma
tificação social, nível educacional, salário). maior politização da Sociologia do Trabalho
Os autores incluíram outras variáveis subjeti­ latino-americana que, desde suas origens,
vas (tais como a identidade profissional e a aparece vinculada aos temas da mudança so­
satisfação no trabalho) mas sem conferir- cial, da dependência, do subdesenvolvimento
lhes importância na análise. As diferenças etc., configurando uma trajetória muito dis­
observadas no com portam ento operário em tinta daquela seguida pela Sociologia Indus­
ambas as empresas foram atribuídas ao fato trial norte-americana. Por outro lado, essa
de estas se encontrarem em dois momentos característica dificultou a visibilidade e a
sucessivos da evolução da industrialização, compreensão de um a série de processos con-

71
eretos de constituição da classe trabalhadora, projetos populistas e reformistas, em que o
terminando por privilegiar a construção de Estado era visto como um ator central, e, em
uma imagem da classe definida basicamente segundo lugar, a derrota do otimismo nacio-
pelo negativo: suas ausências, o que lhe falta, nal-desenvolvimentista.
o que ela não é. Essa visão da classe definida Esta primeira “crise da modernidade”
pelo negativo no fundo tinha como parâme­ esteve vinculada às mudanças de modelo
tro de referência as formas “clássicas” de or­ econômico derivadas dos golpes militares,
ganização e ação da classe trabalhadora ca­ mas também à evidência dos limites do
racterística dos países centrais.15 processo de industrialização “realmente exis­
Nesta matriz explicativa, diante da debi­ tente” no período democrático quanto à sua
lidade dos sujeitos sociais, a centralidade do capacidade de reduzir a pobreza e integrar
Estado se afirma por duas vias. Em primeiro as massas populares. Nesse contexto, a in­
lugar, aparece como o sujeito desenvolvi- dustrialização deixa de ser vista como o gran­
mentista e modernizador por excelência de processo redentor das sociedades latino-
(Kay, 1991). Em segundo lugar, como o americanas.16
agente que define os parâmetros da ação da Um elemento central desta ruptura é a
classe trabalhadora e suas formas de organi­ crítica ao paradigma que postulava ser o Es­
zação, configurando limites “objetivos” qua­ tado (e a institucionalidade dele derivada) o
se impossíveis de serem transpostos por uma campo fundamental de constituição das clas­
classe operária que deveria ser (em teoria) a ses sociais (positiva e/ou negativamente). Es­
protagonista da mudança social e, não obs­ sa crítica está relacionada ao fato histórico
tante, era débil, devido â natureza mesma do do “fechamento do Estado ã experiência so­
processo de industrialização descrito. A ar­ cial” a partir da instauração das ditaduras
gumentação, assim, volta a seu ponto de par­ militares (Paoli, Sader e Telles, 1984).
tida, numa espécie de circularidade do mo­ Em contraposição, enfatiza-se a autono­
delo analítico. mia da dinâmica social (e em especial dos
atores sociais) como fator dotado de poder
Primeira Ruptura: A Recuperação explicativo. G anha força a idéia de que o ca­
da Perspectiva do Ator ráter desses atores não provém diretamente
Em meados dos anos 70, muda a ques- do caráter da sociedade e/ou do Estado. Sur­
tão-chave que marca a Sociologia latino- gem interpretações que atribuem as caracte­
americana. A polarização central deixa de rísticas do movimento operário latino-ameri­
ser aquela entre um a sociedade atrasada (ru- cano menos aos “limites objetivos” postos
ral-tradicional) e um a sociedade moderna pela natureza da sociedade e do processo de
(urbano-industrial) e se define agora pela industrialização, e mais a fatores políticos,
oposição entre democracia e ditadura. A tais como as orientações dos sindicatos e/ou
preocupação central do pensamento socioló­ partidos e as opções históricas feitas pelos
gico passa a ser a natureza do regime político sujeitos sociais em determinadas conjunturas.
e as possibilidades de mudança a esse nível. Recupera-se, assim, uma noção menos deter­
A experiência societal e histórica que está na minista da história, em que se afirma o peso da
base desta mudança na trajetória do pensa­ contingência e se estende o campo de ação
mento é, certam ente, a instauração de dita­ possível dos sujeitos (e a sua responsabilidade
duras militares em vários países da região. no desenrolar dos acontecimentos).
A ruptura com o paradigma estrutural- E ntre os autores característicos desta
determinista nasce, basicamente, da neces­ etapa destacam-se F. Weffort (1972a e
sidade de repensar a elaboração anterior so­ 1972b), F. Delich (1970), M. Murmis e J.C.
bre a classe trabalhadora a partir das duas Portantiero (1971), J.C. Torre (1974), M.
grandes derrotas que marcam a região neste Barrera (1973), J.A. Moisés (1978), G. Cam-
momento. Em primeiro lugar, a derrota dos pero e J. Valenzuela (1985). Além dos estu­

72
dos de caráter sociopolítico que buscavam trabalho, é a crise do modelo de industriali­
analisar a relação do movimento sindical zação por substituição de importações, o im­
com determinadas conjunturas ou movimen­ pacto social do ajuste e da reconversão ex­
tos políticos (tais como o varguismo e a d e­ portadora, assim como, do ponto de vista mi­
mocratização de 1946 no Brasil, a relação cro, a crise do taylorismo-fordismo e sua m a­
com o peronismo na Argentina), surge um a nifestação nas situações de trabalho.
série de estudos de caso de conflitos e greves A economia volta a ganhar supremacia
operárias — entre elas as grandes greves de sobre a política, só que, agora, num a visão
1953 em São Paulo (J.A. Moisés), o Cordo- muito menos otimista e mais tecnocrática do
bazo argentino (F. Delich, E. Jelín) e as gre­ que aquela que havia predominado na pri­
ves de Contagem e Osasco no Brasil (F. meira fase. A questão passa a ser como se
Weffort) — que tratavam de destacar o pa­ ajustar aos novos padrões de competitivida­
pel dos trabalhadores como sujeitos coletivos de dominantes internacionalmente, como re­
e a sua possível autonomia. cuperar alguma forma de inserção na ordem
Sob a influência da Sociologia dos M o­ econômica mundial. Neste sentido, perde vi­
vimentos Sociais, floresce toda um a vertente gência a economia política característica da
de estudos que privilegia a dim ensão política, primeira etapa, na qual, como vimos, a
o diagnóstico sobre o sistema de dominação, discussão sobre a industrialização e o desen­
o estudo dos sindicatos em sua relação com volvimento aparecia fortemente marcada
o Estado e os partidos (Zapata, 1985; Clac- por um a idéia de mudança social.
so, 1985; Cam pero e Cuevas, 1991; Barrera Os novos desafios impostos por esses
e Falabella, 1990). D esta maneira, a Socio­ processos aprofundam a inflexão temática e
logia do Trabalho se converte quase que em conceituai da Sociologia do Trabalho que
uma “Sociologia do Sindicalismo”. havia sido iniciada na fase anterior. Am­
Contudo, essa ruptura teórica favore­ pliam-se os tem as e ganham importância os
ceu, em alguns países, um retorno da Socio­ estudos sobre a empresa e os processos de
logia às fábricas. Na derrota, intelectuais (e trabalho.
atores sociais) “passam a buscar novos pon­ O regresso da Sociologia ãs fábricas, no
tos de apoio para a oposição à ordem vigente entanto, se faz, em dois momentos. O pri­
[...] atribuindo novos significados ãs práticas meiro deles, em meados dos anos 70, está
sociais que antes haviam estado ocultas pela basicamente vinculado à questão da dem o­
lógica institucional” (Sader e Paoli, 1986). cracia e da reconstrução do movimento ope­
O curioso é que, em um a situação so- rário e sindical nas situações autoritárias.
ciopolítica mais negativa que a do período No Brasil, redescobre-se a fábrica em
anterior (do ponto de vista das possibilidades
meio à ditadura, quando a questão central
da ação sindical), começa a produzir-se uma
não era a do processo de trabalho propria­
imagem mais positiva da classe operária; em
m ente tal. Tratava-se de indagar sobre as
outras palavras, um a imagem que lhe reco­
manifestações possíveis da subjetividade
nhece uma maior possibilidade de afirmação
operária em condições tão adversas. A ques­
como sujeito coletivo.
tão central era (re)descobrir, na experiência
dos trabalhadores, na vivência de suas condi­
Segunda Ruptura: Reconversão ções de trabalho, sua capacidade de resistir
Produtiva e Processo de Trabalho
aos intentos de destruí-los como sujeito cole­
A crise da dívida externa, a globalização tivo. Em segundo lugar, examinar suas pos­
da economia e as mudanças nos padrões in­ sibilidades de promover mudanças nas con­
ternacionais de competitividade colocam um dições de trabalho e de recuperar suas for­
fim no modelo de desenvolvimento do pós- mas próprias de organização e luta, tais co­
guerra. A questão-chave, que passa a sobre- mo o sindicato, a greve, as negociações cole­
determinar a reflexão dos sociólogos do tivas. E m terceiro lugar, disculir as condi­


ções de sua participação na luta democrática trabalho. I!l Na segunda metade dos anos 80,
desenvolvida mais am plam ente pela socieda­ “o olhar dirigido para o interior da unidade
de.17 produtiva vai focalizar o processo de trabalho
Essa mudança temática, por sua vez, su­ como unidade de análise, tanto das condi­
põe uma mudança conceituai: a análise das ções de trabalho como dos efeitos da m u­
práticas dos trabalhadores (sua experiência, dança tecnológica sobre as mesmas” (Catala-
segundo E.P. Thom pson) ganha um novo no e Novick, 1992, p. 41).19
estatuto teórico, substituindo as razões de O segundo momento situa-se em m ea­
natureza estrutural na explicação da form a­ dos dos anos 80, quando se configura a crise
ção e da atuação da classe trabalhadora. do taylorismo-fordismo. O que se busca na
O olhar sociológico se volta para a vida fábrica agora é, muito mais claramente, a
cotidiana dos trabalhadores na fábrica, recu­ análise da natureza do processo de trabalho
perando e ampliando a vigência de um nível e das relações de trabalho que surgem ou se
de análise presente em alguns estudos da fa­ transformam nas novas condições. Este tipo
se anterior. Mas a fábrica será agora ilumina­ de estudo passa a ser significativo em um
da por outra problemática, interpelada por conjunto mais amplo de países, entre eles
outras questões. A análise não estará mais Argentina, Brasil, Chile, México, Uruguai,
centrada nas possibilidades de modernização Venezuela (D e la Garza, 1993; Humphrey,
da sociedade ou na adequação das atitudes e 1994; Castro e Leite, 1993). Em alguns, co­
orientações dos trabalhadores à vida urbano- mo a Venezuela, é a primeira vez que a So­
industrial, mas sim no binômio dominação- ciologia do Trabalho se dirige significativa­
resistência. Alguns estudos cham am a aten­ m ente às fábricas (Iranzo, 1993). Em outros,
ção para a forma pela qual a organização ca­ como o Chile, se retom a uma trajetória
pitalista do processo de trabalho se constitui interrompida por m uito tempo.
em um fator de individualização e controle Em alguns destes estudos, o universo da
dos trabalhadores, dificultando a comunica­ produção continua sendo visto como um es­
ção entre eles e suas possibilidades de ação paço de conflito (Carvalho, 1987; Leite e Sil­
coletiva (Leite Lopes, 1976; Pereira, 1979; va, 1991, entre outros). Em outros, encon­
Maroni, 1982; D urand, 1987). O utros traba­ tramos o predomínio de um determinado ti­
lhos analisam de que maneira o co­ po de pensamento econômico, despolitizado
em relação às grandes questões da mudança
nhecimento que os trabalhadores, em espe­
cial os mais qualificados, logram preservar social e do desenvolvimento nacional dos
anos 50/60, assim como em relação aos estu­
do processo de trabalho pode transformar-se
dos de fábrica realizados em fins dos anos
em um elem ento im portante de resistência
70. Ressurge o tema da modernização, iden­
cotidiana (Frederico, 1978) e, inclusive, de
tificada agora não com a mudança social,
configuração dos primeiros movimentos co­
mas sim com a adequação necessária a um
letivos sob a ditadura (Frederico, 1979; M a­
novo padrão, um novo one best way. o para­
roni, 1982).
digma pós-fordista, que supõe um “modelo
O espaço da produção se configura, as­
integrativo de empresa, que tende a apagar as
sim, como um espaço politizado. Rom pe-se
oposições entre os interesses do capital e do
a dicotomia entre economia (produção) por
trabalho” (Catalano e Novick, 1992, p. 48), e
um lado e política (partidos e sindicatos) por
no qual, em geral, o sindicato está ausente.
outro, dissociação que havia sido característi­
ca dos estudos da primeira etapa (Castro e
O Debate Atual: Fordismo Periférico
Leite, 1993). ou Flexibilidade Perversa?
Na Argentina, por sua vez, tam bém se
produz, sob a ditadura, um a “volta ã fábrica” Os sociólogos do trabalho latino-ameri­
por meio da temática das condições de traba­ canos rapidamente absorvem e se inserem
lho, analisada com referência aos postos de na discussão sobre a emergência de novos
paradigmas produtivos surgida a partir da precariedade da política de recursos hum a­
crise do taylorismo-fordismo. nos, à reprodução de relações de trabalho
Vale assinalar, como bem observou De autoritárias e pouco participativas.
la Garza (1993, p. 48), que o conceito de tay­ A segunda vertente é mais relativista e
lorismo-fordismo tem sido utilizado pelos não aceita a inexorabilidade de um novo one
pesquisadores latino-americanos para des­ best way que, sendo discutível nos países d e­
crever muito mais um tipo de processo de senvolvidos, muito mais o seria na América
trabalho que um modelo articulado de pro­ Latina. Sua preocupação tem sido funda­
dução em massa-consumo de massas. mentalmente buscar a singularidade das expe­
Além de se posicionar no debate inter­ riências observadas, enfatizando as diferenças e
nacional (a respeito do significado das trans­ as particularidades (entre empresas, setores e
formações ocorridas no Japão, E uropa e Es­ países) dos processos de modernização pro­
tados Unidos), a discussão se desenvolve no dutiva em curso, pensadas não como etapas
sentido de analisar as relações entre esses distintas de um mesmo processo cujo sentido
processos e a realidade latino-americana: já está dado, mas sim como distintos estilos
aprofundam ento/superação de formas taylo- de modernização tecnológica.
ristas de produção; necessidade/factibilidade Essa segunda tendência tem sido até
de aplicação das “técnicas japonesas”; viabili­ agora bastante fértil, produzindo material
dade/caminhos de constituição dos modelos empírico de boa qualidade, que tem ajudado
de especialização flexível ou lean production. a avançar muito o conhecimento da realida­
Configuram-se duas vertentes básicas.
de do trabalho na região. Um conjunto de
A primeira delas tom a as tendências presen­
estudos recentes sobre os novos paradigmas
tes no debate internacional como um m ode­
produtivos, por exemplo, tem procurado de­
lo, posicionando-se com o se já estivesse defi­
monstrar que o taylorismo-fordismo não está
nido um novo one best way, radicalmente dis­
sendo substituído pela “utopia pós-fordista”
tinto do fordismo, cuja difusão é inexorável
(D e la Garza, 1993, p. 45) e que, longe de
nos países desenvolvidos e que terá de ser
implantar-se o paradigma da especialização
inevitavelmente seguida pelo resto. As em ­
flexível, o que se difunde são práticas de pre-
presas (ou países) que não o fizerem perde­
carização do emprego, das condições de
rão a última possibilidade de (re)inserção na
trabalho e dos salários. Afirmam que pouco
economia internacional.
A pesquisa conduzida sob essa orienta­ se avançou em termos de uma nova relação
ção tem se voltado para o exame de até que capital-trabalho (Carrillo, 1993), configuran­
ponto este modelo está-se implantando na do uma espécie de flexibilidade espúria que,
América Latina e o que falta para alcançá-lo. a longo prazo, pode ser mais perversa que
O discurso analítico se confunde muitas ve­ virtuosa em termos da sustentabilidade do
zes com o discurso propositivo, ou “a tentati­ desenvolvimento.
va de apreender a realidade se confunde No entanto, passada essa primeira fase
com a tentativa de formular um novo proje­ de acúmulo, esta segunda vertente corre o
to, que seria superior ao que entrou em cri­ risco de perder-se na singularidade (risco
se” (Díaz, 1993). que muitas vezes se reflete, metodologica­
A conclusão destes estudos, em geral, é mente, na utilização reiterada e quase exclu­
observar, em alguns poucos casos, a proximi­ siva de estudos de caso ao nível de em pre­
dade. da realidade com o modelo (quando se sas) e na afirmação (ou reiteração) do parti­
analisam algumas em presas “de ponta” dos cular, contribuindo pouco, dessa forma, para
setores “de ponta” — as best practices lo­ a “elaboração de uma ou várias teorias de ní­
cais), ou, na grande maioria dos casos, sua vel intermediário” (Díaz, 1993) que permi­
distância, principalmente no que se refere às tam superar a incapacidade de generalizar e,
novas formas de organização do trabalho, ã portanto, de chegar a conclusões (ainda que

75
provisórias) sobre os grandes temas em de­ nas sociedades latino-americanas seguiu p a­
bate. drões muito diferentes, caracterizando-se pe­
Conforme observado por vários autores la distância entre a prática científica e o
(De la Garza, 1993; Díaz, 1993; Castro e mundo da empresa, o compromisso social e
Leite, 1993; H um phrey, 1994), esses proble­ político dos intelectuais, a restrição à investi­
mas podem fazer com que essa vertente en­ gação social durante os anos de autoritaris­
contre seu limite, o que evidenciaria a neces­ mo e o recuo da reflexão crítica na fase de li­
sidade de um novo salto dentro da trajetória beralização.
iniciada nos anos 80. Nesse contexto, não são de estranhar al­
guns dos traços dos estudos do trabalho que
Conclusões foram ressaltados neste ensaio. D e forma su­
cinta, recordemos alguns deles: (a) a chega­
As Ciências Sociais da região não têm
da relativamente tardia da Sociologia ãs fá­
estado alheias à evolução dos paradigmas
bricas; (b) o predomínio do enfoque da m u­
produtivos nos países industrializados, nem
dança social; (c) o interesse pelo ator sindical
aos enfoques teóricos que têm dado conta
e pelo sujeito operário coletivo; (d) a centra-
desse processo. A trajetória interpretativa
lidade do tema do poder (do político) em re­
que se observa nos estudos do trabalho per­
lação ã análise da tecnologia e da situação de
mite visualizar um duplo movimento intelec­
tual, tanto na fase da industrialização substi­ trabalho; (e) os paradoxos dos processos de
industrialização truncada, modernização sel­
tutiva como na fase da globalização. Uma
parte significativa da produção sociológica vagem e. flexibilidade perversa.
latino-americana, com o se viu, tom a a expe­ A principal contribuição dos estudos do
riência dos países industrializados como um trabalho na América Latina não se situa,
modelo paradigmático, diante do qual não portanto, no mesmo plano que a da Sociolo­
resta outra alternativa senão identificar os gia Industrial americana e da Sociologia do
vazios e carências de um a realidade “atrasa­ Trabalho francesa, na medida em que nem a
da”. A outra, apesar de ter tam bém o debate indústria, nem as situações específicas de
internacional com o referência, não abdica do trabalho foram, durante um longo período,
propósito de identificar e analisar as fornias seu centro de interesse. Como procuramos
e caminhos próprios de organização da pro­ dem onstrar neste artigo, as Ciências Sociais
dução e do trabalho existentes na região e na região estiveram, numa primeira etapa,
em cada país em particular, reconhecendo a muito vinculadas aos problemas do desen­
presença dos atores e de suas estratégias, e, volvimento e foram permeáveis a um a estra­
portanto, o conflito social como parte consti­ tégia de modernização social controlada pelo
tutiva do processo de definição dos novos Estado. Os problemas centrais eram a tom a­
modelos. da de consciência, a articulação de sujeitos
A especificidade da trajetória da Socio­ sociais e sua integração ao processo de in­
logia do Trabalho latino-americana em face dustrialização/urbanização.
dos paradigmas teóricos estrangeiros pode Os regimes autoritários e as políticas
ser explicada por muitas razões. Em parte neoliberais significaram uma ruptura radical
porque a realidade da industrialização tardia nessa trajetória. Se, na primeira fase, os ato­
não se ajustava ao ritm o e extensão desse res se constituíam com referência ao Estado,
mesmo processo nos países centrais. Por ou­ sob as ditaduras (re)descobre-se o social co­
tro lado, porque os modelos não podiam ser mo campo de configuração dos sujeitos e de
aplicados de forma simples a um contexto sua possível autonomia. Na etapa do ajuste,
produtivo caracterizado pela heterogeneida­ os temas da competitividade e da eficiência
de estrutural e pela precária participação dos passam a sobredeterminar a reflexão, levan­
sujeitos sociais no sistema político. Mas tam ­ do novamente a um segundo plano o tema
bém porque a inserção das Ciências Sociais dos sujeitos coletivos. Poder-se-ia dizer, as-

76
sim, que se passou do predomínio do político blicos e consultores privados, ainda que isto
ao predomínio do econômico. Surge então a nem sempre se traduza em maiores recursos
pergunta: estamos diante de uma “perda de para a pesquisa. Q uando a formulação de
objeto” das Ciências Sociais? políticas públicas deixar de ser vista exclusi­
Parece-nos que não, já que neste artigo vam ente como um problema econômico,
constatamos um a grande vitalidade da pes­ não se poderá postergar por muito tempo a
quisa sobre o em prego e o trabalho na re­ reflexão teórica sobre as bases sociais do no­
gião. As mudanças nas situações de trabalho vo modelo de desenvolvimento. É aí que
e na configuração da classe trabalhadora, as­ aparece a riqueza e complexidade da realida­
sociadas aos processos de reconversão ex­ de do trabalho e a importância da investiga­
portadora, privatização e introdução de no­ ção nesse terreno.
vas tecnologias, abriram um campo im por­
tante para a investigação. O trabalho e a em ­
presa são, como nunca antes, um espaço de (Recebido para publicação
interesse para acadêmicos, funcionários pú­ em julho de 1995)

Notas

1. Este esforço foi fortem ente estimulado pela realização do Primeiro Congresso Latino-
Americano de Sociologia do Trabalho (México, novembro de 1993) e do Primeiro E n­
contro Latino-Americano de Estudos do Trabalho (Porto Rico, maio de 1994).
2. Para isso tom am os com o referência as publicações de que dispomos e as resenhas apre­
sentadas no Prim eiro Congresso Latino-Americano de Sociologia do Trabalho. Este m a­
terial se refere principalmente a Argentina, Brasil, Chile, México, Peru e Venezuela.
3. Apesar de a criação de um a seção de Sociologia Industrial no Congresso Anual da Am e­
rican Sociological Society ocorrer apenas em 1946.
4. Exemplo disso foi a reunião em Nova Iorque, em 1951, de um grupo de líderes em presa­
riais e de personalidades acadêmicas para discutir o tema “Criando uma civilização in­
dustrial”.
5. O livro de C. Kerr et al., Industrialism and Industrial Man (1960), ilustra muito bem qual
foi a base teórica desta estratégia.
6. Em sua edição do 20.° aniversário, a revista Sociologie du Travail reconhece o predomí­
nio do paradigma tecnológico, apesar de que alguns investigadores, como J. D. Reynaud,
P. Dubois e C. D urand, insistissem na autonomia da consciência operária em relação â
divisão do trabalho.
7. A investigação realizada por A. Touraine, C. Durand e outros em Les Ouvriers et le Pro-
grès Technique, em meados dos anos 60, é um típico exemplo dessa perspectiva.
8. V er a reflexão publicada na revista A ctual Marx, 1992 e 1993.
9. Qualificados assim por suas posições progressistas, de corte neomarxista.
10. Chama a atenção a sua participação no primeiro seminário Revolución Tecnológica y
Empleo, realizado no México em 1985. Seus trabalhos foram divulgados antecipadamen­
te por J.C. Neffa no Cone Sul.
11. Para uma resenha desta evolução ver C. Montero-Casassus (1980).
12. Esta questão teórica correspondia à “sensação coletiva” existente em vários grupos so­
ciais de que esta era a experiência fundamental vivenciada no período (Sader e Paoli,
1986, p. 47).

77
13 Antes disso, as principais fontes de informação disponíveis sobre a classe trabalhadora
eram: (a) docum entos políticos-programáticos de partidos; (b) testemunhos de militantes
sindicais e políticos (principalmente anarquistas e comunistas). Essa foi uma característi­
ca comum a vários países latino-americanos, entre eles o Brasil (Sader e Paoli, 1986; Cas­
tro e Leite, 1993), o México (D e la Garza, 1993) e a Venezuela (Iranzo, 1993).
14. A pesquisa é de 1963.
15. Em dois ensaios sobre os caminhos de constituição da Sociologia do Trabalho no Brasil,
Sader e Paoli (1986) e Paoli, Sader e Telles (1984) mostram como se termina construin­
do um a imagem da classe trabalhadora que subsiste e se superpõe aos próprios conceitos
elaborados para descrever e interpretar seu movimento. Esta imagem é basicamente a de
sua incapacidade de ação coletiva e autônom a e de sua subordinação ao Estado, dadas
pelas determ inações estruturais da sociedade brasileira.
16. Segundo Kay (1991, p. 103), já no início dos anos 60 os teóricos da Cepal, principais for-
muladores do paradigma da industrialização por substituição de importações, começa­
ram a publicar um a série de críticas às características do processo de industrialização lati-
no-americano enfatizando estes dois aspectos.
17. Do conjunto de trabalhos produzidos com esta preocupação podemos assinalar os de C.
Frederico (1978 e 1979), J. H um phrey (1979 e 1982), A. Maroni (1982), V.M. Durand
(1987), L. A bram o (1986) e H . Faria (1986).
18. Destaca-se o trabalho realizado pelo CEIL-CONICET e pelo Grupo de Condições e
Meio A m biente de Trabalho do Clacso. D entre as principais publicações podemos citar
Neffa et al. (1986) e Novick et al. (1987).
19. Entre os trabalhos característicos desta etapa destacamos: Walter (1985); Walter, Tes­
ta e Ruffier (1987); Gáldiz (1988); Neffa (1989); Casalet (1989); Novick e Lavigne
(1990); Novick (1991).

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Teses e Dissertações

Abreu, Lucimar Santiago de


Transformações Tecnológicas na Agricultura: Processo de Trabalho e Relações Sociais em
Guaíra (SP). M estrado em Sociologia, Unicamp, 1994, 187 pp. Orientadora: Maria de Naza-
reth B. Wanderley.

Avalia o impacto causado pelo processo de transformação tecnológica no trabalho agrí­


cola e nas relações sociais do meio rural de Guaíra (SP). A questão foi tratada a partir da re­
constituição do processo de desenvolvimento econômico e social de Guaíra e a investigação
foi orientada no sentido de acom panhar a evolução do setor rural. Para execução da pesquisa
adota os seguintes procedimentos: informações mediante questionários e entrevistas orais
com antigos produtores e que atualm ente são produtores irrigantes. Aponta para a im portân­
cia da produção familiar dentro do conjunto de explorações agrícolas de Guaíra. Com a tecni-
ficação, a produção familiar passa a funcionar a partir de uma racionalidade econômica e o
trabalho assalariado passa a ser fundamental; no entanto, não exclui a família do produtor ir-
rigante da participação direta do processo produtivo. Procura dem onstrar que ao ser adotada
em larga escala no município, a irrigação ajudou a contornar o problema da sazonalidade do
trabalho rural, devido principalmente às características da produção irrigada de Guaíra.

Almeida, Carla Cristina Lima de


Formação e Estratégia de Discursos sobre Sexualidade nas Escolas Públicas do Rio de Janeiro.
Mestrado em Sociologia, IFC S/U FRJ, 1994, 100 pp. Orientadora: Bila Sorj.

Analisa a formação do discurso sobre sexualidade no Rio de Janeiro por meio das pro­
postas formuladas pelo poder público sobre educação sexual nas escolas. Considerando o fe­
nômeno de publicizaçâo e especialização que vem marcando este debate, são enfocados os
agentes discursivos e suas posições relativas na dinâmica do “campo”. Destacam-se, entre es­
ses agentes, os especialistas de saúde (sanitaristas), a educação, as feministas e os “moralistas”
sociais. Os especialistas da área da educação expressavam, notadam ente na década de 60,
uma maior preocupação com o tem a da educação sexual nas escolas. Contudo, nesta pesquisa
demonstra-se que esta posição foi gradativamente suplantada pela perspectiva sanitarista. Es­
ta, articulada à ideologia do desenvolvimento, tem sido referência de negociação para as pro­
postas de educação sexual nas escolas envolvendo temas como, gravidez na adolescência,
doenças sexualmente transmissíveis e AIDS. A realização de um estudo de caso de um a pro­
posta governamental no Rio de Janeiro (projeto AIDS e a escola) permitiu abordar o campo
discursivo sobre sexualidade de um a maneira mais dinâmica. Isto se faz necessário porque o

BIB, Rio de Janeiro, n. 40, 2.° semestre 1995, pp. 85-94 85


“campo” é uma estrutura instável, pois está submetido a diferentes contextos sociais e repre­
sentações especialistas.

Andrade, Edinara Terezinha de


A Experiência de Participação Popular no Município de Lages (Gestão 1977-82): Transição a
um Clientelismo de Massas. M estrado em Sociologia Polftica, Universidade Federai de Santa
Catarina, 1994,219 pp. Orientador: Paulo José Krischke.

Estudo dos microfundamentos que possibilitaram a institucionalização do clientelismo de


massas enquanto mecanismo principal de intermediação entre a população e o poder locai no
município de Lages (SC) — a partir da experiência de participação popular realizada durante
a gestão do prefeito Dirceu Carneiro (1977/82) — destacando a influência desse novo tipo de
interação na produção de valores democráticos entre o público de massas. O estudo foi dividi­
do em três partes, sendo a primeira um a análise dos antecedentes que propiciaram a em er­
gência do discurso de participação popular, entre alguns setores da oposição democrática, na
década de 70; a segunda parte constitui-se de um estudo das relações historicamente produzi­
das no município, em que são percebidos três tipos predominantes de intermediação entre a
população e o poder local: clientelismo diádico, clientelismo de quadros e clientelismo de massas; a
terceira parte apresenta os resultados de uma pesquisa realizada no bairro Habitação de Lages. O
estudo evidencia a necessidade de aprofundamento teórico do conceito de clientelismo.

Buenos Ayres, Carlos Antônio Mendes de Carvalho


Breus, Serra onde Deus Habita, Berço de uma Nova Civilização: Um M ovimento Messiânico-
Milenarista em Gestação no Nordeste, Buique (PE). M estrado em Sociologia, Universidade
Federal de Pernambuco, 1994,187 pp. Orientador: R oberto M auro Cortez Motta.
O problema em estudo refere-se ã longa gestação de um movimento messiânico de cu­
nho milenarista, em pleno sertão pernambucano, cujo líder carismático, Cícero José de Faria,
mais conhecido como “Israel”, de presumidos 112 anos de idade, congrega um total de 33 fa­
mílias cm torno de um projeto de construção de um “paraíso” terrestre — segundo ele, sob
inspiração divina — que sobreviverá a um hipotético apocalipse. Procurando compreender,
interpretar e explicar o caráter essencial dessa manifestação coletiva de natureza mística, por
meio de sua estrutura, funcionamento e evolução, nos moldes de um estudo de caso, este es­
tudo preocupa-se também em situar o fenômeno em apreço no quadro dos eventos es­
sencialmente religiosos, captado em toda a sua extensão fenomenológica, sem perder de vista
o seu vínculo dialético com as condições sociais objetivas que por sua vez fornecem os ele­
mentos explicativos que dão conta de seu aparecimento. Desse modo, não se procura apenas
descrever de forma compreensiva e/ou interpretativa o fenômeno considerado, procura-se
também explicá-lo a partir tanto das condições sócio-histórico-estruturais quanto do conjunto
de significados engendrados pelos próprios sujeitos da pesquisa.

Barreto, Paulo Sérgio


O Caracol e o Caramujo: Artistas & Cia. na Cidade. M estrado em Sociologia, Unicamp, 1994,
157 pp. Orientador: Renato Ortiz.
Da virada do século até os anos 70, foi engendrado na produção artística um discurso so­
bre a arte e a cultura como referência de e para Campinas. Tal discurso impossibilita a atua­
ção na formação e na consolidação do mercado cultural, de sua profissionalização de diversas
fontes, possibilitou-se estabelecer duas bases de interpretação sobre a produção artística da ci­
dade. A primeira, faz referência à atuação e apropriação da atividade por determinados gru-

86
pos sociais como processo de exclusão e distinção social. A segunda marca a atuação, nos anos 80,
de uma prática artística em busca da democratização cultural. Constatou-se que a autonomia no
campo artístico decorre da profissionalização e da feitura de uma política cultural estimuladora da
reflexão, da universalização e do acesso da arte e da cultura a distintos grupos sociais.

Castro, Marco Luiz Valdetaro de


Entre o Japão e o Brasil: A Construção da Nacionalidade na Trajetória de Vida de Hiroshi Sai-
to. M estrado em Antropologia Social, IFCH/Unicam p, 1994, 240 pp. Orientador: Guillermo
Raul Ruben.
O objetivo da dissertação é reconstituir a trajetória de vida de Hiroshi Saito por ter ele vi­
vido, entre o Japão e o Brasil, o drama do imigrante, tornando-se, por suas ações e obras, um
“modelo de aproximação” para se com preender o dilema da própria imigração japonesa e das
identidades resultantes. A conclusão do trabalho aponta que a configuração da identidade de
Saito, e, mais am plam ente, dos nikkei, é fruto de uma articulação entre elemcnlos culturais e
prâtico-formais (jurídicos) do Brasil e do Japão. Assim, o caráter nacional dos nikkei é visto
como portador de conteúdos semânticos superpostos que incluem uma nacionalidade em sen­
tido estrito e um a transnacionalidade, elementos que variam no tempo de acordo com o con­
texto social, político e econômico brasileiro e japonês.

Coelho, Maria Beatriz Ramos de Vasconcellos


Escola Sindical 7 de Outubro: Construção de um a Identidade — Reconstrução Simbi 'Uca do
Mundo. M estrado em Sociologia, Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, ,’44 pp.
Orientadora: Maria Ligia de Oliveira Barbosa.

Busca, mediante análise de depoimentos e textos produzidos pelos membros dn I isco la


Sindical 7 de O utubro (um a das cinco escolas sindicais vinculadas à Central Única dos Traba­
lhadores — CUT), observar o que ela tem de original em relação ã formação de dirigentes e
lideranças sindicais e em que medida participa da construção da difusão de representações e
práticas coletivas que buscam a edificação de um a nova ordem política, econômica, social e
cultural para o País. Essas representações e práticas são inovadoras não só em relação ás he­
gemonias, mas tam bém à da própria esquerda, ainda que dentro do campo da esquerda.

Cruz, Dulce Márcia


A RBS em Santa Catarina: Estratégias Políticas, Econômicas e Culturais na Conquista do Mer­
cado Televisivo Regional. M estrado em Sociologia Política, Universidade Federal de Santa
Catarina, 1994,166 pp. O rientadora: Tam ara Benakouche.

Analisa as estratégias políticas, econômicas e culturais que levaram a Rede Brasil Sul de
Comunicações — RBS, da família gaúcha Sirotsky, a conquistar a liderança entre as emissoras
de televisão catarinenses, entre 1979 e 1992. Como estratégia de implantação, a RBS articu­
lou-se politicamente com as elites dominantes do estado e de Brasília para conquistar a
concessão da TV Catarinense de Florianópolis. Na fase de consolidação do grupo, as estraté­
gias políticas tom aram a forma da atuação organizativa, enquanto as estratégias econômico-
tecnológicas consistiram na implantação de um a rede própria de microondas acompanhada
de um sistema local de captação de anúncios publicitários. D entre as estratégias culturais, des­
tacou-se a prioridade ã produção local (principalmente jornalística) como espaço de difusão
de cultura regional, apoiada ao mesmo tempo na programação da Rede Globo. A pesquisa
foi feita mediante entrevistas e levantamento documental e hemerográfico em arquivos e ór­
gãos públicos, associações patronais de classe, e dentro da própria RBS.

87
Cunha, José Marcos Pinto da
Mobilidade Populacional e Expansão Urbana: O Caso da Região Metropolitana de São Paulo.
D outorado em Ciências Sociais, Unicamp, 1994,311 pp. Orientador: Juarez Brandão Lopes.
A partir dos dados censitários de 1980, elabora um estudo dos movimentos migratórios
internos na Região M etropolitana de São Paulo na década de 70, tanto do ponto de vista
quantitativo como qualitativo. No primeiro caso é feito um diagnóstico detalhado do fenôme­
no, sendo abordados aspectos relativos aos fluxos migratórios estabelecidos, seus volumes e
direções, e as principais áreas de origem e destino dos movimentos. A análise qualitativa visa
não apenas caracterizar os migrantes intrametropolitanos segundo o fluxo a que pertencem,
em term os de seus atributos demográficos (idade, sexo, estrutura familiar) e socioeconômicos
(ocupação, renda e situação habitacional), mas também procura dem onstrar a estreita relação
existente entre tais características e os condicionantes mais próximos dos movimentos, ou seja,
aqueles ligados ao m ercado de terra e de trabalho. Considera-se que tais condicionantes criam
uma estrutura de incentivos e/ou constrangimentos que, por sua vez, influenciam na decisão
de migrar das famílias ou indivíduos. Portanto, as características dos migrantes dependeriam
da forma e intensidade como cada um destes fatores se expressaria nas diversas áreas de des­
tino dos fluxos migratórios. Em concordância com este pressuposto, demonstra-se a existência
de nítidas diferenças entre os migrantes cujos municípios de destino apresentavam distintos
níveis de desenvolvimento urbano-industrial.

Figueiredo, Adriana Maria de


A Constituição Profissional da Medicina Homeopática na Interação com a Medicina Alopáti-
ca. M estrado em Sociologia, Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, 200 pp. Orientado­
ra: Maria das Mercês Gomes.

A medicina homeopática surge como saber concorrente ao da medicina ocidental moder­


na e, portanto, em luta pela conquista do monopólio de exercer as funções médicas na socie­
dade. O tem a central da dissertação é a interação que se estabelece entre as duas medicinas
em seu processo de consolidação profissional, sob a perspectiva da sociologia das profissões. A
análise enfatiza a organização do saber e da prática médica homeopática em Belo Horizonte e
procura com preender as estratégias dos médicos homeopatas para se estabelecerem como
profissionais em face do modelo instituído pela medicina alopática e as conseqüências desse
processo para a prática homeopática.

Follmann, José Ivo


Religion, Politique et Identité. Christianisme de la Libération an sein du Parti des Travailleurs
au Brésil (1979-89). Recherche Sociologique sur Vldentité des Catholiques Engagés dans ce
Parti et sa Signification au Niveau du Parti et de 1’Eclipse. D outorado em Sociologia, D eparta­
mento de Ciências Políticas e Sociais, Université Catholique de Lourain, Bélgica, 1994, 441
pp. Orientador: Jean Remy.
Tom ando com o ponto de partida um a ampla observação — empírica e cuidadosa delimi­
tação da problemática, antecedentes históricos, estrutura e conjuntura da sociedade brasileira,
o “acontecim ento” PT, o debate concreto sobre a relação “religião e política” — , a questão
“qual é a identidade dos católicos no P T (1979-1989)?” foi referida também a um pres­
suposto fundamental m arcando todo o processo da pesquisa: “o ser humano é um ser de pro­
jeto”. Este pressuposto está presente sobretudo na conceituação de identidade. O conceito foi ela­
borado a partir de um diálogo fecundo entre a constatação empírica (observações iniciais, 54 en­
trevistas, 143 questionários respondidos: análises qualitativas e quantitativas) e a discussão teórica

88
(lançando mão de paradigmas teóricos diferentes: movimentos sociais, campos de atividade,
sujeito individual). A questão da identidade foi colocada como sendo sempre o resultado de uma
construção ao mesmo tempo social e pessoal (em uma complexa interação manifesta por meio dos
projetos, das estratégias e das trajetórias vividas). Ao lado de outros resultados e de boas perspecti­
vas para a continuação da pesquisa, a constatação fundamental feita é a existência de um cerne de
identidade comum que se subdivide em diferentes tipos (tendências), dos quais destacamos: um ti­
po “popular”, um tipo “político”, um tipo “religioso” e um tipo “independente”.

Grynszpan, Mario
A s Elites da Teoria: Mosca, Pareto e a Teoria das Elites. D outorado em Antropologia Social,
Museu Nacional/UFRJ, 1994,376 pp. Orientador: Afrânio Raul Garcia Jr.
História social da teoria das elites, centrando-se em suas origens. D e modo mais preciso,
procura relacionar as formulações daqueles que são considerados os dois pais fundadores d a­
quela teoria, G aetano Mosca e Vilfredo Pareto, às suas trajetórias sociais e às diferentes posi­
ções por eles ocupadas no espaço italiano da virada do século X IX para o XX. Atenção espe­
cial é dirigida à disputa entre Mosca e Pareto pela primazia na formulação da tese elitista.
Busca dem onstrar, ainda, como se constituiu um a genealogia consagrada da teoria das elites
por meio não apenas dos autores, mas também do trabalho de inúmeros comentadores, resul­
tando na imposição de determ inados textos como leitura obrigatória e, mais do que isto, de
uma maneira específica de lê-los. Dessa forma, vai-se além das origens mesmo da teoria, indi­
cando e problematizando, mesmo que não se desenvolva de forma sistemática, seus desdobra­
mentos e apropriações, em particular nos Estados Unidos.

Knox, Winifred
Representação, Participação e Poder Local. Um Estudo das Relações de Poder de um a Favela
através de suas Lideranças. M estrado em Sociologia, IFCS/U FRJ, 1994, 137 pp. Orientador:
Luiz Antonio M achado da Silva.

Pretende analisar as relações de poder em um a favela por meio de suas lideranças. Para
tanto, foi escolhido com o universo de análise os depoimentos e as histórias de vida de dez lide­
ranças selecionadas por terem exercido ou estarem exercendo cargos em órgãos associativos
locais há alguns anos e terem conquistado o reconhecimento de seus representados. Com ba­
se na reconstrução de trajetórias de vida dos entrevistados e da reconstrução do campo políti­
co por elas representados, vividos e construídos, tenta examinar certas avaliações em trono de
relações de poder com características de um sistema de patronagem como o clientelismo político
na prática política da comunidade estudada. Conclui que, com base na literatura clássica da patro­
nagem, a realidade observada — as relações de poder no âmbito de uma favela urbana — não po­
de ser considerada como um sistema de patronagem devido a um processo de modificação das re­
lações sociais e de poder na sociedade brasileira nos últimos anos, principalmente nas áreas urba­
nas. Alguns traços da patronagem podem ser percebidos, como o clientelismo político.

Kuhnen, Ariane
Reciclando o Cotidiano: O Lixo com o Política Pública e com o Representação Social. M estra­
do em Sociologia Política, Universidade Federal de Santa Catarina, 1994, 144 pp. Orientado­
ra: lise Scherer-W arren.

Visa avaliar, no âm bito da população, os resultados de um a política pública de valori­


zação e tratam ento de resíduos sólidos-lixo em Florianópolis. Analisa, assim, a situação
dos resíduos no m unicípio e o surgim ento, em 1986, de um a proposta de envolvimento da

89
população a partir de um a política pública de recuperação dos mesmos. Verificando como os
valores ecológicos dessa proposta foram incorporados nos bairros onde foi im plantada es­
sa nova política, a análise teve por referência as representações sociais de atores, conside­
rando a form a com o novos valores são incorporados no cotidiano, em face dos valores já
existentes. As conclusões dem onstram aspectos positivos da m etodologia de educação
am biental em pregada.

Lahtermaher, Mareia
Arte e Educação: Um Esftido de Antropologia Social na Escola de Artes Visuais do Parque La-
ge. M estrado em Antropologia, Museu Nacional/UFRJ, 1994, 225 pp. Orientador: Gilberto
Velho.

Busca em preender, a partir do m undo das artes plásticas no Rio de Janeiro, um estudo
de caso na Escola de A rtes Visuais do Parque Lage, acreditando que uma interação com os
seus participantes, por meio do trabalho de campo e da observação participante, permitissem
contextualizar o perfil e os propósitos dessa instituição cultural, situando a sua forma particu­
lar de atuação como elem ento que integra o mundo artístico do Rio de Janeiro. A partir de
uma pequena história das artes plásticas no Brasil, pretende alcançar o momento de criação
dessa Escola, focalizando seus aspectos organizativos e a marca simbólica que passou a lhe ser
conferida. Por meio da metodologia utilizada, procura mapear os aspectos mais marcantes do
ethos vigente, neste espaço cultural e artístico, caracterizando o seu dinamismo. Mediante
suas interações cotidianas, procura situar os diferentes projetos existentes que se modificam
em meio a uma sociabilidade particular que confere especificidades ã Escola.

Leite, Izildo Corrêa


O Imposto da Ilusão: Um Estudo Sociológico dos Jogos no Brasil, com Destaque para o
(O)Caso da Loteria Esportiva. M estrado em Sociologia, Unicamp, 1994, 290 pp. Orientador:
André Maria Pom peu Villalobos.

Estudo sociológico dos jogos que pagam prêmios em dinheiro e são promovidos pelo Es­
tado, no Brasil, no período 1970-90. Objetiva explicar a grande aceitação popular apresentada
por tais jogos, conhecer as principais aspirações presentes no ato de aposta e mostrar os vín­
culos das mesmas com as posições sociais dos jogadores. Foram utilizados dados primários
(obtidos em entrevistas com apostadores) e várias ordens de dados secundários. As conclu­
sões mais importantes foram: as causas principais da apontada popularidade são a valorização
da posse de grandes fortunas m onetárias no capitalismo, a ampla gam a de aspirações que po­
dem ser concretizadas por interm édio do dinheiro em « n a sociedade essencialmente mercan­
til e as precárias condições de vida da maioria da população.

Leite, Kátia Kamark


Políticas Urbanas e Interesses Sociais. A Trajetória da L ei de Uso e Ocupação do Solo de Belo
Horizonte. M estrado em Sociologia, Universidade Federal de Minas Gerais, 1994, 119 pp.
Orientadora: Maria Celina Pinto Albano.

Estudo da trajetória da Lei de U so e Ocupação do Solo de Belo Horizonte desde a fase


de sua concepção, passando pelo período de tram itação na Câmara Municipal, até seus im­
pactos mais significativos. O foco de análise é o significado da intervenção do poder público na
produção do espaço urbano e a dinâmica estabelecida entre os diversos agentes envolvidos
com a questão.

90
Lins, Cynthia de Carvalho
Compreensão e Explicação no Individualismo Metodológico de Raym und Boudon. M estrado
em Sociologia, Universidade Federal de Pernambuco, 1994, 121 pp. Orientador: H eraldo
Pessoa Souto Maior.

Investiga a relação compreensão-explicação no individualismo metodológico de Ray­


mund Boudon. Utilizando a relação estabelecida por Max W eber entre com preender e expli­
car, Boudon fornece o contorno específico de sua abordagem através da noção de hom o so-
ciologicus. Este ator social apresenta como características principais: ser estabelecido a priori,
isto é, de ser um recurso heurístico, e não um tipo concreto; ser composto a partir de efeitos
de socialização, de possuir um a racionalidade limitada e de agir em função da adaptação a
uma determ inada situação. O hom o sociologicus permitiria, assim, estabelecer um elo de liga­
ção entre os níveis micro e macro da realidade social através do qual os fenômenos sociais se­
riam explicados a partir da agregação das ações individuais que estão em sua origem. Neste
sentido, apenas um a abordagem compreensiva permitiria a análise das ações individuais, dado
que as noções de racionalidade limitada e de situação implicam uma apreensão da subjetivida­
de do ator.

Machado, Maria Fátima Roberto


índios de Rondon. R ondon e as Linhas Telegráficas na Visão dos Sobreviventes Wáimare e Ka-
xíniti, Grupos Paresí. D outorado em Antropologia, Museu Nacional/UFRJ, 1994, 426 pp.
Orientador: João Pacheco de Oliveira Filho.

Estudo das representações dos sobreviventes W áimare e Kaxíniti, índios Paresí, sobre a
figura mítica de Rondon e as linhas telegráficas em Mato Grosso, no início do século. As repre­
sentações são tom adas no sentido que é dado por Goffman, apontando como um dos eixos
teóricos a relação entre m em ória e identidade, na medida em que ao construírem, hoje, a sua
memória do tem po das linhas quando trabalharam como tropeiros, balseiros, guarda-fios e te­
legrafistas operam com sua identidade coletiva de índios de Rondon. O utro eixo principal do
trabalho é a relação entre cultura e história, com o objetivo de indagar sobre as circunstâncias
específicas que envolveram aquelas relações entendidas em um contexto de instituição total, e
as conseqüências para a vida dos índios e dos seus descendentes.

Menezes, Claudino Luiz G. de


A Política Am biental em Curitiba: Um Estudo sobre suas Condições de Emergência e Evolu­
ção. M estrado em Sociologia Política, IJ niversidade'®*ectecal de Santa Catarina, 19f4, 206 pp.
Orientador: E duardo José Viola.

Examina as condições culturais, políticas e socioeconômicas que permitiram a em ergên­


cia e evolução da política ambiental em Curitiba. Nele são identificados os vários estágios que
marcaram o desenvolvimento urbano da cidade, desde sua origem no século XV II até o início
da década de 1990, desvendando as principais ações governamentais que contribuíram para o
equacionamento entre a prom oção do desenvolvimento urbano e o seu controle ambiental.
Elementos conclusivos indicam a presença de três aspectos fundamentais nesse processo: (a)
a existência de um a tradição histórica no controle do meio am biente — marcada por um equi­
líbrio entre o rigor punitivo das leis e o incentivo às atitudes conservacionistas espontâneas da
população; (b) a existência, já consolidada, de um a cultura administrativa local voltada à con­
servação de um a consciência de cidadania entre os habitantes — traduzida no sentimento de
orgulho e apego aos valores e tradições culturais da cidade.
Nobre, Renarde Freire
Organizações Sindicais: M áquina e Militância (O Estado da Experiência da Militância Cutista
junto ao Sindicato dos Bancários). Mestrado em Sociologia, Universidade Federal de Minas
Gerais, 1994, 160 pp. Orientador: Edgar Pontes de Magalhães.

Reflexão crítica a respeito da relação entre idéias políticas e imperativos organizacionais


no interior de organizações sindicais institucionalizadas. A análise baseou-se em um estudo de
caso a respeito da experiência da militância cutista junto ao sindicato dos bancários de Belo
Horizonte. Nesse âmbito, o atrativo maior do estudo está no fato de lidar com sujeitos que
procuram efetivar princípios de um a ideologia do tipo socialista no contexto de uma organiza­
ção marcada por rotinas político-admínistrativas pragmáticas.

Raitz, Tânia Regina


Discursos Plurais Assessorando um Movimento Popular em Florianópolis: Estudo de Caso de
uma Organização Não-Governamental. Mestrado em Sociologia Política, Universidade Fede­
ral de Santa Catarina, 1994,137 pp. Orientadora: Ilse Scherer-Warren.

Esse estudo busca investigar a problemática das Organizações Não-Governamentais ou


Centros de Educação e Prom oção Popular, a partir da análise de suas assessorias, num caso
particular — o do C entro de Apoio e Promoção ao Migrante (Caprom) —, situado em Floria­
nópolis (SC), no período com preendido entre 1990 e 1992. Nesse sentido, considera a trajetó­
ria institucional e surgimento do Caprom, destacando os discursos ou orientações ideológicas
e metodológicas elaboradas pelos assessores que compõem o Centro, vistos de uma perspecti­
va de mudança social. Essas “orientações valorativas” são analisadas através de “matrizes dis­
cursivas”, que direcionam seus valores e ações abordadas por meio da pluralidade e diversida­
de dos sujeitos sociais. Estes aparecem como plurais no interior de várias estruturas discursi­
vas, definindo, deste modo, a identidade e atuação do Caprom.

Santos, Rosângela Verônica dos


A Fadiga Psíquica na Indústiia. M estrado em Sociologia Política, Universidade Federal de
Santa Catarina, 1994,662 pp. O rientadora: Luzinete Simões Minella.

Analisa a problemática da “fadiga psíquica” na indústria, com base na contribuição teóri­


ca de vários autores que trataram do tema. Com o intuito de estudar empiricamente essa
questão foi realizado um estudo de caso, analisando a evidência do fenômeno “fadiga psíqui­
ca” no processo de trabalho industrial, selecionando a Empresa W EG M otores Elétricos S.A.,
situada em Jaraguá do Sul (SC). Constatou que na mencionada empresa esse fenômeno se
desenvolve com o conseqüência do processo organizacional do trabalho, sob forma bastante
acentuada, corroborando as hipóteses levantadas no transcurso do estudo.

Schneider, Sergio
Os Colonos da Indústria Calçadista: Expansão Industrial e as Transformações da Agricultura
Familiar no Rio Grande do Sul. M estrado em Sociologia, Unicamp, 1994, 363 pp. Orientado­
ra: Maria de N azareth B. Wanderley.

Analisa as novas relações de trabalho que emergem de dois processos sociais distintos
que levaram à desarticulação do “m odo de vida” e do tradicional sistema produtivo camponês
dos colonos de origem teuto-brasileira das microrregiões do Vale dos Sinos, Encosta da Serra,
Vale do Caí e Vale do Taquari, no Estado do Rio Grande do Sul. A partir do final dos anos
70, ao mesmo tem po em que a agricultura familiar dos colonos sofre significativas alterações

92
no processo produtivo e na organização do trabalho, o processo de industrialização difusa do
setor coureiro-calçadista passa a atrair de forma crescente a força de trabalho ligada à agricul­
tura. Surge daí uma articulação social e econômica entre a industrialização difusa e as trans­
formações da agricultura familiar, da qual emergem novas formas de trabalho e novas formas
de produção.

Rifiotis, Theophilos
Aldeias de Jovens: A Passagem do M undo do Parentesco ao Universo da Política. Abordagem
Sócio-Antropológica da D inâmica dos Grupos Etários. D outorado em Sociologia, Universida­
de Federal da Paraíba, 1994, 348 pp. Orientador: Fernando A. A. Mourão.
Estudo sócio-antropológico da dinâmica dos grupos etários em sociedades banto-falan-
tes, através da análise comparativa de narrativas “tipo 981” na classificação de “Aarne-
Thompson”. A partir de um estudo etnolingüístico de um a narrativa Makonde (Moçambi­
que), procede a um estudo comparativo em um corpus de seis “variantes” da área cultural
“Banta”. Em um a outra etapa, este material é contrastado com um corpus não-negro-africa-
no (grupo externo) permitindo um a definição mais precisa da especificidade “Banta”. A análi­
se procura identificar no imaginário negro-africano as categorias fundamentais relativas aos
grupos etários.

Scotto, Maria Gabriela


Representação e Apresentação. Uma Análise da Campanha de Benedita da Silva para a Prefei­
tura do Rio de Janeiro. M estrado em Antropologia, M useu Nacional/UFRJ, 1994, 202 pp.
Orientador: Moacir G. Palmeira.

Apresenta uma etnografia da campanha eleitoral à prefeitura de Benedita da Silva, can­


didata do PT, durante as eleições municipais na cidade do Rio de Janeiro em 1992. Analisa al­
gumas das dimensões que atravessaram a campanha centrando a atenção, fundamentalmen­
te, no trabalho político de representação realizado sobre sua figura. Durante a campanha elei­
toral no Rio de Janeiro, a política se oferece como um campo cruzado por relações personali­
zadas e no qual os candidatos devem não apenas oferecer programas, mas também oferecer a
si mesmos com o “pessoas” com um passado reconhecido e com uma “biografia” que permita
situá-los socialmente; a construção da imagem do candidato e de sua trajetória ocupam um
lugar central dentro da estratégia geral de campanha. N o caso de Benedita da Silva, cia chega
como candidata à prefeitura com um passado de “mulher, negra e favelada”. Em bora essas
identidades não tenham sido usadas com o slogan nem “oficialmente” acionadas para apresen­
tá-la, elas continuaram definindo seu perfil. O forte conteúdo simbólico de sua candidatura
construiu-se precisam ente sobre a capacidade que sua figura teve de dar “corpo” e unificar
uma grande diversidade de significados e idéias diferentes.

Veiga, Juracilda
Organização Social e Cosmovisão Kaingang: Uma Introdução ao Parentesco, Casamento e
Nominação em uma Sociedade Jê Meridional. M estrado em Antropologia Social, Unicamp,
1994,221 pp. O rientadora: Vanessa R. Lea.

Busca realizar um a prim eira apresentação sistemática da principal sociedade Jê do Brasil


Meridional. Baseia-se em pesquisas de campo realizadas nos anos de 1991 e 1993, e na expe­
riência acum ulada da a u to ra com o indigenista ju n to aos Kaingang, entre 1979 e 1987. T o­
m ando por base os K aingang do P.I. X apecó (SC) e tendo presente exaustiva pesquisa
bibliográfica, o trabalho preocupa-se em dar, primeiramente, um quadro de referência geral,

93
situando os Kaingang entre as sociedades Jê (cap. II), localizando-os geográfica, históriqasar-w
queológica e lingüisticamente e apresentando os traços fundamentais de sua economia (iipt.ps..
III e IV). Estabelecidos estes marcos, o tem a central da pesquisa é a organização social liítiiiK
gang, buscando esclarecer o caráter das metades e seções (cap. V), o sistema de parente» me*
de casamento (cap. V I) e o processo de nominação (cap. V II). Finalmente, o trabalho dtdidücai
particular atenção a aspectos tam bém pouco conhecidos, até o presente, da religião Kafopnuigg
(caps. V III e IX). O trabalho conclui que a sociedade Kaingang, permeada pelo dualíirwno.,
possui m etades exogâmicas, Kam é e Kaini, e quatro seções hierarquicamente dispostas: hir-mí;
e Kairii, que são principais; e Wonhétky e Votor, numericam ente menores, e tam bém lijalasasàj
esfera ritual. O sistema de nominação está relacionado e é dependente da descendência ptnltrk
linear, porque os nom es são propriedades das seções. A terminologia de parentesco enitiaizaj
uma divisão binária entre consanguíneos e afins, tendo um perfil nitidamente Kariera, aiaiak
mente tendendo — no X apecó — a um a havaianização. A análise coloca em evidência íirainK
portância das categorias de descendência e de aliança para a interpretação da organizaçãsciso-v
ciai Kaingang.

94
RESENHAS BIBLIOGRÁFICAS PUBLICADAS PELO B I B

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BIB
BOLETIM INFORMATIVO E BIBLIOGRÁFICO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

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