01 - Noções Preliminares de Direito Empresarial
01 - Noções Preliminares de Direito Empresarial
01 - Noções Preliminares de Direito Empresarial
A troca de produtos entre os seres humanos ocorre desde os tempos mais remotos da
nossa história. No entanto, a necessidade de constituir uma legislação que disciplinasse esse
instituto tornou-se cada vez mais evidente ao longo dos anos. Inicialmente, o Código
Comercial de 1850 foi estabelecido para disciplinar as relações mercantis entre os cidadãos.
Mais tarde, já em 2002, o Código Civil apresentou um livro que disciplina os atos empresarial
e empresário.
Fase subjetivista
O Código Comercial do Brasil de 1850 adotou um sistema misto a esses dois sistemas
mencionados, pois, consoante o que dispunha o art. 4º do Código Comercial, era reputado
comerciante, para fins de sujeitar-se ao regime jurídico comercial, aquele que fosse
matriculado no Tribunal de Comércio e fizesse da mercancia sua profissão habitual.
Logo, exigia-se a matrícula (teoria subjetivista) e atividade característica de comércio,
isto é, a mercancia (teoria objetivista).
Como o Código Comercial não previu que atividades se caracterizavam como de
mercancia, logo em seguida à promulgação do Código Comercial, em 25 de julho de 1850
(Lei 556/1850), surgiu no mesmo ano, em 1850, o Regulamento 737, que disciplinou em seu
art. 19 quais eram os atos de comércio.
Segundo o dispositivo legal, eram reputados comerciantes todas as pessoas registradas
nos Tribunais do Comércio que, com habitualidade e com fito de lucro, praticassem os
seguintes atos: compra e venda ou troca de bem móvel ou semovente, para sua revenda, por
atacado ou varejo, industrializado ou não, ou para alugar o seu uso; as operações de câmbio,
banco e corretagem; as empresas de fábricas, de comissões, de depósito, de expedição,
consignação e transporte de mercadorias, de espetáculos públicos; os seguros, fretamentos,
riscos; quaisquer contratos relativos ao comércio marítimo e à armação e expedição de navios.
Posteriormente, com superveniente legislação, ainda se reputou ato de comércio:
quaisquer atividades desenvolvidas por sociedades por ações (Lei 6.404/1976, art. 2º, § 1º);
empresas de construção de imóveis (Lei 4.068/1962). Nessas duas hipóteses, a doutrina chama
de “atos de comércio por força de lei”, porque, em tese, nada havia de comercialidade em tais
atividades.
Por outro lado, ainda que pratiquem atividade comercial, estavam excluídas do regime
jurídico comercial as cooperativas (Lei 5.764/1971, art. 4º).
Enfim, até o advento do novo Código Civil de 2002, comerciante era toda pessoa
matriculada no Tribunal de Comércio (posteriormente, Junta Comercial), que praticasse atos
de comércio, com habitualidade e com fito de lucro. No entanto, é bom ressaltar que o registro
na Junta Comercial não tinha natureza constitutiva para a aquisição da qualidade de
comerciante, pois o art. 4º do Código Comercial mencionava que o registro no Tribunal de
Comércio era necessário para fins de sujeitar o comerciante ao regime jurídico comercial,
portanto, aquele que não fosse registrado era tido como “comerciante irregular”, sujeitando-
se às sanções de natureza administrativa, civil e penal que a lei estabelecia. Assim, aproximou-
se o Código Comercial do sistema francês, porquanto o comerciante era aquele que praticava
a mercancia com profissionalidade, isto é, praticava atos de comércio com habitualidade e
com o fito de lucro.
O novo Código Civil de 2002, ao dispor em seu art. 966 que “considera-se empresário
quem exerce profissionalmente a atividade econômica organizada para a produção ou a
circulação de bens e serviços”, implantou no direito brasileiro a chamada teoria da empresa.
Este sistema é denominado de “sistema italiano”, porquanto fora na Itália, com o
advento do Código Civil Italiano de 1942, que se adotou tal teoria. O Código Civil Italiano
dispõe em seu art. 2.082 que o empresário é “aquele que exercita profissionalmente uma
atividade econômica organizada, com o fim da produção ou da troca de bens e serviços”.
Com a adoção da teoria da empresa, ampliou-se o campo de incidência do direito
comercial, alcançando aqueles que exploram atividade econômica por meio da produção ou
circulação de serviços, e não somente de bens.
O direito brasileiro, ao adotar a teoria da empresa, abandonou a figura restritiva do
antigo comerciante, considerando hoje como tal, na verdade, como empresário, a pessoa que
exerce profissionalmente atividade econômica organizada, articulando trabalho, matéria-
prima e capital, com escopo de produzir ou circular mercadorias ou prestar serviços para o
mercado.
Função social da empresa (Art. 170, III, CF): a empresa não deve apenas atender aos
interesses individuais do titular, mas de todos aqueles que são por ela afetados (empregados,
vizinhos, concorrentes, consumidores, etc). As relações jurídicas empresariais permitem a
circulação de riqueza entre os agentes e permitem a celebração de diversas outras relações dela
decorrentes. Diante da previsibilidade e segurança jurídica imprescindíveis para que as relações
jurídicas empresariais se desenvolvam e beneficiem todo o conjunto de cidadãos, a função
social da empresa, que deve nortear a interpretação de todas as regras e institutos do direito
empresarial, deve ser identificada como o melhor funcionamento possível desse mercado.
Livre-iniciativa (Art. 5º, XIII, e Art. 170, parágrafo único, da CF): A livre-iniciativa é
entendida como um desdobramento necessário do direito de liberdade, significando a ampla
possibilidade de realização de condutas diversas, podendo somente esse âmbito de atuação ser
restrito por lei.
Livre concorrência (Art. 170, IV, CF): coibição de concorrência desleal (contrafação
de marca) e repressão ao abuso do poder econômico (formação de cartel).
Fontes formais do Direito empresarial são os elementos dos quais as normas jurídicas
de natureza comercial podem ser extraídas. Podem ser divididas em primárias e secundárias.
As primeiras são de aplicação primordial a determinada situação e possuem preferência em
face das demais. As fontes secundárias, por seu turno, somente são aplicáveis na hipótese de
lacunas das fontes primárias.
A fonte primária é constituída pelas leis. O Código Civil é regulamento básico do
direito empresarial ao estabelecer a regulação da empresa, em sua Parte Especial, Livro II, e
dos títulos de crédito, em sua Parte Especial, Livro I. Sua regulamentação, contudo, não esgota
as referidas fontes. Há diversas legislações esparsas, dentre as quais o Código Comercial de
1850, em sua Segunda Parte, ao regular o comércio marítimo; a Lei n. 6.404/76, que disciplina
as Sociedades por Ações; a Lei de Falência e Recuperações, Lei n. 11.101/2005; a Lei do
Cheque, Lei n. 7.357/85, dentre diversas outras.
Na omissão legislativa sobre a matéria, o intérprete e o aplicador podem se valer da
analogia, dos usos e costumes comerciais e dos princípios gerais de direito (art. 4º, da LINDB).
A aplicação das fontes secundárias, contudo, somente pode ser realizada depois de esgotadas
as fontes primárias e conforme a ordem de preferência estabelecida na própria lei.
A analogia, primeira das fontes secundárias, é a aplicação de uma norma a um caso
concreto semelhante. Aplica-se a disposição a uma hipótese similar, mas não prevista na lei.
Os usos e costumes sempre se destacaram, desde a origem do direito empresarial.
Historicamente, o direito empresarial surgiu com a aplicação pelos cônsules das práticas
consagradas nas relações comerciais. Sua importância decorre da prática reiterada e uniforme
de determinados comportamentos a ponto de serem entendidos como vinculantes. Para tanto,
devem ser assentados no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins,
conforme art. 8º da Lei n. 8.934/94. Tais costumes não podem ser, entretanto, contrários à lei.
Os usos e costumes são fontes secundárias que, subsidiariamente, integram a norma. Não
podem, portanto, contrariar o seu preceito normativo.
Por fim, os princípios gerais de direito são os fundamentos do próprio sistema vigente,
que mantém a coesão entre as diversas normas jurídicas.
***************************************************************************
FINKELSTEIN, Maria Eugênia. Manual de direito empresarial. 8. ed. São Paulo: Atlas,
2016.
MAGALHÃES, Giovani. Direito empresarial facilitado. 2. ed. Rio de Janeiro: Método, 2022.
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de direito empresarial: o novo regime jurídico
empresarial brasileiro. 3. ed. Salvador: JusPodivm, 2009.