Método IRAC de Acordão A

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Tribunal Tribunal de Justiça

Nº de processo 26/62
Data do Julgamento 05/02/1963

Factos Uma empresa importou da Alemanha para a Holanda determinada


mercadoria, corantes, e foi cobrado um direito aduaneiro pela
Holanda que a empresa considera que viola o artigo 12º do Tratado
CEE e por isso pede o reembolso do que pagou a mais
Questão 1) O artigo 12.° do Tratado CEE tem efeito interno, isto é, os
particulares podem, com base neste artigo, fazer valer
direitos individuais que o juiz deva tutelar?
2) Em caso afirmativo, a aplicação de um direito aduaneiro de
8% à importação nos Países Baixos, pela recorrente no
processo principal, de ureia formaldeído proveniente da
República Federal da Alemanha representou um aumento
ilegal na acepção do artigo 12.° do Tratado CEE, ou constitui
uma modificação razo ável do direito de importação em vigor
antes de 1 de Março de 1960 que, apesar de constituir um
aumento aritmético, não deve considerar-se proibida pelo
artigo 12.°?

Regra A Tariefcommissie coloca, em primeiro lugar, a questão de saber se


o artigo 12.° do Tratado produz efeitos imediatos no direito interno,
no sentido de os nacionais dos Estados-membros poderem, com
base neste artigo, fazer valer direitos que o juiz nacional deva
tutelar.
Aplicação Para saber se as disposições de um tratado internacional têm tal
alcance, é neces sário ter em conta o seu espírito, economia e
conteúdo.

O objectivo do Tratado CEE, que consiste em instituir um mercado


comum cujo funcionamento diz directamente respeito aos nacionais
da Comunidade, implica que este Tratado seja mais do que um
acordo meramente gerador de obrigações recí procas entre os
Estados contratantes.

Esta concepção é confirmada pelo preâmbulo do Tratado, que, além


dos Governos, faz referência aos povos e, mais concretamente, pela
criação de órgãos investidos de poderes soberanos cujo exercício
afecta quer os Estados-membros, quer os seus nacionais.

Aliás, é preciso notar que os nacionais dos Estados reunidos na


Comunidade são chamados a colaborar no seu funcionamento por
intermédio do Parlamento Euro peu e do Comité Económico e
Social.

Além disso, a função do Tribunal de Justiça no âmbito do artigo


177.°, cujo objec tivo consiste em assegurar a uniformidade de
interpretação do Tratado pelos órgãos jurisdicionais nacionais,
confirma que os Estados reconheceram ao direito comuni tário uma
autoridade susceptível de ser invocada pelos seus nacionais perante
aqueles órgãos.

Daqui deve concluir-se que a Comunidade constitui uma nova


ordem jurídica de

direito internacional, a favor da qual os Estados limitaram, ainda que


em domínios

restritos, os seus direitos soberanos, e cujos sujeitos são não só os


Estados-membros, mas também os seus nacionais.

Por conseguinte, o direito comunitário, independente da legislação


dos Estados-membros, tal como impõe obrigações aos particulares,
também lhes atribui direitos que entram na sua esfera jurídica.

Tais direitos nascem não só quando é feita uma atribuição expressa
pelo Tratado, mas também como contrapartida de obrigações
impostas pelo Tratado de forma bem definida, quer aos particulares
quer aos Estados-membros quer às instituições comunitárias.

Tendo em conta a economia do Tratado em matéria de direitos


aduaneiros e de

encargos de efeito equivalente, convém assinalar que o artigo 9. °,


para o qual a base da Comunidade é uma união aduaneira, contém,
como norma fundamental, a proibição deste tipo de direitos e
encargos.

Esta disposição figura no início da parte II do Tratado, que define


«Os Fundamen tos da Comunidade», e encontra-se consagrada e
enunciada no artigo 12.°

O artigo 12.° contém uma proibição clara e incondicional,


concretizada numa obri gação não de acção mas de abstenção de
acção.

Além do mais, esta obrigação não é objecto de qualquer reserva por


parte dos Estados no sentido de sujeitarem a sua execução a um
acto positivo de direito interno.

A proibição contida no artigo 12.° é, pela sua natureza,


perfeitamente susceptível de produzir efeitos directos nas relações
jurídicas entre os Estados-membros e os seus sujeitos.

A eficácia do artigo 12.° não necessita de intervenção legislativa dos


Estados.

O facto de este artigo designar os Estados-membros como sujeitos


da obrigação de abstenção não implica que os seus nacionais não
possam ser dele beneficiários.

De resto, o argumento extraído dos artigos 169.° e 170.° do Tratado,


invocado pelos três Governos que apresentaram observações ao
Tribunal, aponta numa direcção falsa.
Conclusão Com efeito, o facto de os citados artigos do Tratado permitirem que
a Comissão e os Estados-membros accionem perante o Tribunal um
Estado que não cumpriu as suas obrigações não priva os
particulares da possibilidade de, sendo caso disso, invocarem essas
obrigações perante o tribunal nacional; do mesmo modo, o factode o
Tratado colocar à disposição da Comissão meios destinados a
assegurar o respeito pelas obrigações impostas aos sujeitos não
preclude a possibilidade de, em litígios entre particulares pendentes
no tribunal nacional, se invocar a violação dessas obrigações.

Das considerações que precedem resulta que, segundo o espírito, a


economia e o texto do Tratado, o artigo 12.° deve ser interpretado
no sentido de que produz efeitos imediatos e atribui direitos
individuais que os órgãos jurisdicionais nacionais devem
tutelar.

Precedente em negrito nosso

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