Marcadores Osseos - Hermes Pardini
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MARCADORES DE REABSORÇ‹O ŁSSEA Durante o processo de reabsorção, piridinolina e
deoxipiridinolina podem ser liberadas de forma livre
Incluem uma enzima, a fosfatase ácida tartrato-
ou acopladas aos fragmentos do colágeno (14).
resistente (TRACP) e produtos de degradação da
matriz óssea como hidroxiprolina, piridinolina,
deoxipiridinolina e telopeptídeos. O cálcio urinário é 2.1. HIDROXIPROLINA (Hyp): o colágeno possui grande
afetado pela dieta e função renal, não sendo quantidade de prolina, que sofre hidroxilação à
suficientemente sensível, nem específico para a hidroxiprolina, que representa 13% do conteúdo da
avaliação da remodelação óssea (8). molécula de colágeno. Maior parte da Hyp liberada
do osso é catabolizada no fígado, sendo que cerca de
1. FOSFATASE ˘CIDA TARTRATO-RESISTENTE (TRACP): a 10% está disposta em pequenas cadeias de
polipeptídios que são excretadas na urina. A Hyp
fosfatase ácida é uma enzima lisossomal encontrada
também reflete a quebra do colágeno não
nos ossos, próstata, plaquetas, eritrócitos e baço. Das
esquelético (músculo, pele e dieta).
suas cinco isoenzimas, a isoforma óssea é tartrato
Aproximadamente 50% da Hyp urinária é derivada
resistente. Existem ensaios para sua determinação no
da quebra óssea do colágeno. É usualmente
plasma e soro, sendo os níveis séricos usualmente
mensurada na urina por método colorimétrico ou
mais altos que os plasmáticos devido à liberação da
HPLC após hidrólise para converter peptídeos e
fosfatase ácida dos eritrócitos durante a coagulação.
polipeptídios à forma livre. Níveis elevados são
Reflete mais o número do que a atividade dos
encontrados em crianças, na Doença de Paget, após
osteoclastos (13).
fraturas e no hiperparatireoidismo. Esse teste possui
menor especificidade que as dosagens de
2. PRODUTOS DA DEGRADAÇ‹O DO COL˘GENO: o piridinolinas e do N-Telopeptídeo (4,15).
colágeno tipo I é sintetizado a partir de seu precursor
(pró-colágeno tipo I) que contém extensões N e C-
2.2. PIRIDINOLINA (PYD) E DEOXIPIRIDINOLINA (DPD): a
terminais. Após um processo complexo, o pró-
modificação pós-translacional da lisina e
colágeno é convertido a colágeno pela remoção
hidroxilisina produz as ligações cruzadas PYD e
enzimática dos N- e C- pró-peptídeos. O colágeno
DPD, que estabilizam o colágeno maduro. Durante a
tipo I tem estrutura helicoidal de tripla hélice, com
reabsorção óssea, por ação das proteases, a PYD e
cadeias conectadas por ligações cruzadas (cross-
DPD são liberadas do osso na razão aproximada de
links), que juntam os finais amino e carboxi-
3:1. A DPD é mais específica para o tecido ósseo,
terminais não helicoidais à porção helicoidal da
uma vez que a PYD, que difere apenas por um grupo
molécula adjacente (vide figura 1). Essas ligações
hidroxila, também pode ser derivada da cartilagem
cruzadas são a Piridinolina e Deoxipiridinolina.
articular e dos tecidos moles.
Figura 1.
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2. FOSFATASE ALCALINA ŁSSEA (ALP óssea): a isoforma
Cerca de 60% das ligações cruzadas liberadas óssea se localiza na membrana plasmática dos
durante a reabsorção estão ligadas às proteínas. osteoblastos, estando envolvida no processo de
Podem ser mensuradas na urina por HPLC ou por formação e mineralização dos ossos. Apesar da
imunoensaio. Dieta parece não influenciar nos níveis grande semelhança estrutural entre as isoformas,
de PYD e DPD. Níveis elevados são encontrados na imunoensaios específicos foram desenvolvidos para
osteoporose, Doença de Paget, metástases ósseas, a isoforma óssea, o que diminui, mas não elimina a
hiperparatireoidismo e hipertireoidismo. No reação cruzada com a isoforma hepática (15-20%).
hipotireoidismo níveis mais baixos podem ser Níveis aumentados são encontrados na Doença de
encontrados (8,15). Paget, tumores ósseos primários ou metastáticos,
hiperparatireoidismo, Doença de Recklinghausen,
2.3. TELOPEPTíDEOS: no processo de reabsorção, osteomalácia, raquitismo, fraturas, gravidez,
fragmentos amino e carboxi-terminais do colágeno crescimento ósseo fisiológico da criança,
são liberados com ligações cruzadas acopladas. desnutrição, síndrome de má-absorção, Doença de
Esses fragmentos são denominados telopeptídeos. A Gaucher, Doença de Niemann-Pick,
determinação em soro do telopeptídeo C terminal hipertireoidismo e hepatopatias. Níveis diminuídos
(CTX-I) pode ser utilizado na monitorização e podem ser encontrados na hipofosfatesemia
diagnóstico de doenças ósseas. É um marcador hereditária. Sua determinação apresenta vantagens
específico da reabsorção óssea, sendo útil para sobre a osteocalcina por ter meia-vida maior (1 a 2
monitorização da resposta ao tratamento. Terapia dias), não ser afetada por variações diurnas e ter
inibidora da reabsorção reduzem em 3 meses os menos interferentes pré-analíticos. É o melhor
níveis de CTX. Níveis elevados são encontrados em marcador de formação em pacientes com
crianças, osteoporose, osteomalácia, osteodistrofia insuficiência renal, pois não é influenciada pela
renal, uso de corticóide, Doença de Paget, filtração glomerular. Juntamente com ALP total são
hiperparatireoidismo e hipertireoidismo. Níveis os marcadores de escolha nos casos de Doença de
estão diminuídos em indivíduos com Paget. Níveis são mais elevados em homens e
hipoparatireoidismo (15,18). A coleta da amostra aumentam com a idade em ambos os sexos. Crianças
deve ser padronizada porque telopeptídeos e apresentam níveis mais elevados que adultos (vide
piridinolinas apresentam significativas variações tabela 2) (18,19).
diurnas (20 a 50%). (4,5,6,7,17,). Okabe e
colaboradores avaliando ensaio para dosagem sérica Tabela 2 – Valores de ALP óssea em população pediátrica
do CTX encontraram baixas variações inter-ensaio e utilizando imunoensaio enzimático.
intra-ensaio, boa estabilidade das amostras e Idade Meninas Meninos
excelente correlação com níveis de PTH e (anos) Níveis Número Níveis( Número
osteocalcina. O CTX-I apresenta em relação aos (U/l) (U/l)
ensaios de telopeptídeo N terminal (NTX-I) a maior 5 a 9 anos 95 + 26 23 95 + 26 23
10 a 14 anos 87 + 36 31 124 + 38 16
facilidade para coleta das amostras (72).
15 a 19 anos 23 + 11 33 22 + 5,6 5
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liberação tem ritmo circadiano, sendo que entre o 4. FRAGMENTOS DO PRŁ-COL˘GENO: osteoblastos
pico (04h) e o nadir (17h) a diferença pode chegar a secretam grandes moléculas de pró-colágeno que são
30%. Deve-se ainda considerar variações no período submetidas a clivagem amino e carboxi-terminais na
menstrual (mais alta na fase lútea) e genéticas (até síntese do colágeno tipo I. Formam-se, assim,
40%). Na osteoporose pós-menopausa encontramos fragmentos amino-terminais (PINP) e carboxi-
valores iguais, elevados ou reduzidos em relação aos terminais (PICP) cujas eliminações são realizadas
controles normais. Níveis de OC estão elevados na pelo fígado. Uma vez que o pró-colágeno tipo I está
Doença de Paget, hiperparatireoidismo primário e amplamente distribuído, esses não são tão
insuficiência renal. Níveis são mais altos em específicos ou sensíveis como os demais marcadores
crianças, e homens apresentam valores mais (15).
elevados do que as mulheres. Diminuição dos níveis
ocorre no hipoparatireoidismo e no hipotireoidismo
(14,20).
OC INTACTA
1 49
FRAGMENTOS
1 43 44 49
N-Terminal Mid C-Terminal
1 19 20 43
N-Terminal Mid
20 49
Mid-C-Terminal
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podem advir do fato do último detectar mudanças Além da baixa densidade óssea, outros fatores de
em todo o esqueleto. Devido à grande variedade de risco devem ser considerados: sexo feminino,
ensaios é essencial que a avaliação longitudinal dos menopausa prematura, idade, amenorréia,
MOB seja feita em um mesmo laboratório (37,38). hipogonadismo, fraturas patológicas prévias, terapia
A figura 3 mostra a evolução dos MOB durante com glicocorticóides, elevada remodelação óssea,
tratamento de mulheres portadoras de osteoporose história familiar de fratura de quadril, diminuição da
pós-menopausa, utilizando 10mg de Alendronato acuidade visual, desordens neuromusculares,
(28). consumo de álcool excessivo, imobilização, baixa
Deve-se ainda ressaltar que os MOB podem ingestão de cálcio e deficiência de vitamina D
apresentar flutuações decorrentes de diversos fatores (42,43,44,45).
(vide tabela 4) (8,18,39,40): Cerca de 90% das fraturas resultam de quedas da
própria altura, sendo que 10 a 20% das mulheres
Tabela 4 – Flutuações dos marcadores ósseos. com fratura de fêmur proximal morrem dentro de 1
• Variações diurnas: DPD é 50 a 70% maior à noite ano após o episódio e 7% se tornam dependentes
quando comparado à dosagem pela manhã. Variações para atividades da vida diária (45,46).
diurnas são menores com a ALP total e OC.
Variações dia a dia podem ser de 10 a 20%. 3. Diagnóstico
• Variações no período menstrual: na fase lútea as
concentrações costumam ser mais altas.
A medida da densidade óssea mineral (DOM) é o
• Variações sazonais de 12%, com valores mais altos componente central da definição de osteoporose,
no inverno. caracterizada como baixa massa óssea e deterioração
• Idade: títulos mais altos na puberdade e após da microarquitetura do tecido ósseo, com
menopausa. Níveis mais baixos na gravidez. conseqüente aumento da fragilidade óssea e
• Metabolismo e depuração: OC, telopeptídeos, PYD e susceptibilidade a fraturas. Densitometria é utilizada
DPD dependem da função renal. Função hepática para avaliar o conteúdo mineral de todo o esqueleto
pode interferir na ALP óssea. ou de locais específicos, incluindo os mais
• Outras condições: aumento de 20 a 60% por até 6 vulneráveis. Sua acurácia no quadril excede a 90%.
meses após fraturas. Permanência prolongada no leito Erros no diagnóstico de osteoporose por
aumenta em 40 a 50%. Outras condições que cursam densitometria podem decorrer da presença das
com elevação dos marcadores ósseos: desnutrição,
seguintes condições: osteomalácia, osteoartrite,
artrite reumatóide, doenças do tecido conjuntivo,
mieloma múltiplo, metástases ósseas, uso de calcificação de tecidos moles, objetos de metal
anticonvulsivantes, corticóides e heparina. sobrepostos, meios de contraste, fraturas prévias,
obesidade extrema, ascite e escoliose severa (47,48).
Devido à distribuição gaussiana da densidade
óssea em indivíduos normais, os valores da
CONSIDERAÇ›ES SOBRE DOENÇAS ŁSSEAS densitometria podem ser expressos nos desvios
padrões (DP) em relação à população normal (T
OSTEOPOROSE score). Para mulheres, foi proposto pela OMS e
modificado pela International Osteoporosis
Foundation as seguintes categorias à densitometria -
1. Introdução vide figura 4 (47):
É a causa mais comum de doença metabólica
óssea. Cerca de 1/3 das mulheres acima de 65 anos
sofrem esmagamento vertebral, com um risco total
de fraturas de 17%. A idade é o maior fator de risco • Normal: densidade óssea do quadril menor que
para osteoporose, pois aproximadamente 1% da 1 DP abaixo dos valores normais para mulheres
massa esquelética é perdida por ano após 35 a 40 adultas jovens. T score > -1.
anos. A menopausa acelera essa perda para 2% ao
• Osteopenia: densidade óssea do quadril maior
ano (41,42).
que 1 DP abaixo dos valores normais para
mulheres adultas jovens, mas menor que 2,5
2. Epidemiologia: DP. T score < -1 e > -2,5.
A freqüência de fraturas osteoporóticas de fêmur • Osteoporose: densidade óssea do quadril maior
proximal tem aumentado em 1 a 3% ao ano em todo que 2,5 DP abaixo dos valores normais para
o mundo, causando elevada morbidade. Tendo em mulheres adultas jovens. T score < -2,5.
vista a maior perda óssea em mulheres, que também • Osteoporose severa: T score < - 2,5 associado à
possuem maior incidência de quedas, o risco de presença de fraturas patológicas.
fratura é duas vezes maior que o dos homens. A
patogênese das fraturas de quadril é multifatorial.
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PROPORÇÃO POPULACIONAL (%)
0,6 15 50 85 >99
-4 -3 -2 -1 0
DENSIDADE MINERAL DO OSSO (T SCORE)
Valores de corte para população masculina são A terapia de reposição hormonal (TRH) é uma
menos definidos, entretanto, sugerem-se os mesmos opção efetiva para a prevenção da osteoporose em
limites. Como abordado anteriormente, os MOB mulheres pós-menopausa. Estudo recente traz alerta
podem predizer fraturas de forma independente da na TRH em mulheres pós-menopausa com estrógeno
densitometria, sendo que a combinação dessas e progesterona. Nesse, houve redução do câncer
ferramentas aumenta o poder preditivo do risco de coloretal em 37%, câncer de endométrio em 17% e
fraturas (49). fraturas de quadril em 44%. Entretanto, houve
aumento dos casos de acidente vascular cerebral
4. Tratamento (41%), câncer de mama (26%) e tromboembolismo
pulmonar em 113%. Esses estudos mantêm a
O objetivo do tratamento da osteoporose pós-
discussão na avaliação dos riscos benefícios da TRH
menopausa é reduzir a freqüência de fraturas
(51).
vertebrais e não-vertebrais. Resultados de grandes
estudos controlados têm mostrado que Alendronato,
Raloxifeno, Risedronato, o fragmento 1-34 do PTH
e calcitonina nasal reduzem o risco de fraturas OUTRAS DOENÇAS ŁSSEAS:
vertebrais (vide tabela 5). A suplementação de
Cálcio e a Vitamina D não são eficazes, de forma Osteomalácia: decorre de defeito na mineralização
isolada, como tratamento, mas devem ser
dos ossos em adultos. É causada por desordens que
considerados na prevenção. Intervenções não
afetam a mineralização do osso, usualmente a
farmacológicas incluem ingestão adequada de
deficiência de Vitamina D. A tabela 6 mostra as
cálcio, exercícios e redução do risco de queda em
causas de osteomalácia. Manifesta-se clinicamente
idosos (50-63).
com dor óssea, fraqueza muscular e fraturas a
pequenos traumas. Achados laboratoriais revelam
Tabela 5: Eficácia na redução de fraturas (50). elevação da ALP, cálcio e fósforo diminuídos.
Droga Fraturas Fraturas não- Níveis de 1,25(OH)2D3 podem estar diminuídos
Vertebrais vertebrais
Alendronato +++ ++
(64, 65).
Calcitonina nasal + 0
Etidronato + 0 Doença de Paget: é uma doença óssea localizada,
Fluoride + -
PTH +++ ++ onde a reabsorção óssea pelos osteoclastos é seguida
Raloxifeno +++ 0 de reconstituição com arquitetura óssea caótica.
Risedronato +++ ++ Pode afetar um ou mais ossos, sendo o crânio, fêmur
Vitamina D + 0
e vértebras os locais mais acometidos. Somente 27%
+++ = evidência forte; ++ = boa evidência; + = alguma evidência;
+ = duvidoso; 0 = sem efeito. dos acometidos são sintomáticos ao diagnóstico.
Além da alteração ao RX, é observado aumento dos
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MOB, com cálcio e fósforo usualmente normais 5. Endres DB, Rude RK. Mineral and bone metabolism. In:
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(68%) e pulmão (36%). As conseqüências clínicas deoxypyridinoline and hydroxylisine glycosides: pediatric
das metástases ósseas são hipercalcemia, dor óssea, reference data and use for growth prediction in Growth
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total alkaline phosphatase and three assays for bone-specific
implicar a elevação desses marcadores como alkaline phosphatase in childhood and adolescence. Acta
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são necessários para que se defina a importância 20. Fassbender WJ, Steinhauer B, Stracke H, et al. Validation of
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