GM 2011 Eric3

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Introdução ao Geomagnetismo

Jorge Miguel Miranda

Introdução ao
Geomagnetismo

J M Miranda

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Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

As notas que se seguem foram preparadas para os alunos da disciplina “Geomagnetismo” do Departamento de Engenharia
Geográfica, Geofísica e Energia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no semestre de Outono de 2009. Esta
disciplina tem por objectivo fornecer uma visão do estudo do Campo Magnético da Terra. A primeira versão preparada em 2009
era essencialmente baseada no “corte e cola” de material existente e possuía enormes lacunas.
Alguns investigadores do Instituto Dom Luiz tiveram a gentileza de rever partes deste manuscrito, nas suas áreas de actividade
científica. Foi esse o caso do Doutor Eric Claude Font que reescreveu uma parte dos capítulos 3 e 4.
Muitos erros existirão ainda nestas notas, para os quais peço a clemência dos leitores, bem como a pronta correcção
([email protected]). Procurei incluir referência a todos os materiais que utilizei ou adaptei de outras fontes e, em todos os casos
em que tal não aconteça, farei tão depressa quanto possível as correspondentes correcções.

Universidade de Lisboa, 3 Jul 2011

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Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

Indice
Cap 1 – O CAMPO MAGNÉTICO DA TERRA 5
1.1 A descoberta do Campo Magnético da Terra 5
1.2 Campo de um dipolo magnético 7
1.3 Medição do CMT 8
1.3.1 Magnetómetros 10
1.3.2 Observatórios Magnéticos 12
1.3.3 Redes de Repetição 15
1.3.4 Levantamentos Magnéticos e Aeromagnéticos 15
1.3.5 Satélites Magnéticos 15
1.4 Campos Magnéticos noutros planetas do Sistema Solar 17
1.5 Problemas de Aplicação 18
1.6 Bibliografia 18
Cap 2 – TEORIA DE GAUSS DO CMP 20
2.1 Introdução 20
2.2 As Equações de Maxwell 20
2.2.1 Campos Solenoidais e Campos Conservativos 20
2.2.2 Campos "Magnéticos" H e B 21
2.2.3 As Equações de Maxwell 22
2.3 Filtragem das Equações de Maxwell 23
2.4 Representação do CMP por Análise Harmónica Esférica 24
2.4.1 Solução da Equação de Laplace em Coordenadas Esféricas 24
2.4.2 Interpretação das harmónicas esféricas de superfície 26
2.4.3 Semi-normalização de Schmidt 27
2.4.4 Importância Relativa dos Campos Externo e Interno 27
2.4.5 Interpretação dos termos de baixo grau e ordem de V 27
2.5 Espectro Espacial do CMT 28
2.6 Variação Secular do CMP 29
2.7 Modelos de tipo IGRF 30
2.8 Problemas 32
2.9 Bibliografia 33
Cap 3 – O MAGNETISMO DAS ROCHAS 34
3.1 Introdução 34
3.2 Magnetização das Rochas 35
3.2.1 Tipos Básicos de Comportamento Magnético das Rochas 35
3.2.2 Diamagnetismo 36
3.2.3 Paramagnetismo 37
3.2.4 Ferromagnetismo 38
3.3 Aquisição de Magnetização Remanescente 47
3.3.1 Magnetização Termo-Remanescente (TRM) 47
3.3.2 Magnetização Remanescente Detrítica 48
3.3.1 Magnetização Remanescente Química 49
3.5 Problemas 50
3.6 Bibliografia 50
Cap 4 – PALEOMAGNETISMO E CINEMÁTICA DE PLACAS 51
4.1 Paleomagnetismo Experimental 51
4.1.1 Recolha de amostras 51
4.1.2 Medição da Magnetização das Rochas 53
4.1.3 Procedimentos de desmagnetização 53
4.1.4 Representação da Magnetização 55
4.1.5 Análise em Componentes Principais (ACP) e estatística de Fisher 55
4.1.6 Testes de Consistência 56
4.1.7 Factor de Qualidade Q 57
4.2 A Deriva Aparente do Polo 57
4.2.1 Polos Paleomagnéticos 57
4.2.2 A Hipótese do Dipolo Axial Centrado 59

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4.2.3 Trajectória de Deriva Aparente do Polo 60


4.3 Paleointensidade 61
4.4 Cinemática Magnética 61
4.4.1 Anomalias Magnéticas em Domínio Oceânico 61
4.4.2 Cinemática de Placas 64
4.4.3 Determinação de Polos de Euler 64
4.4.4 Enviezamento Magnético 65
4.5 Problemas de Aplicação 65
4.6 Bibliografia 65
Cap 5 – ANISOTROPIA MAGNÉTICA DAS ROCHAS 67
5.1 Susceptibilidade Magnética de uma Rocha 67
5.2 Anisotropia da Susceptibilidade Magnética 67
5.2.1 Tensor da Susceptibilidade Magnética 67
5.2.2 Magnitude da anisotropia 68
5.2.3 Parâmetro de Forma 69
5.2.4 Representação Estereográfica da ASM 69
5.3 Fábrica Magnética das Rochas 69
5.4 Correlação da magnitude da ASM com a deformação finita 70
5.5 Bibliografia 70
Cap 6 – CAMPO EXTERNO 72
6.1 A Magnetosfera 72
6.2 A Ionosfera 73
6.3 Variações Transientes, Tempestades e Subtempestades 73
6.4 Variação Diurna 75
6.5 Índice de manchas solares 75
6.6 Indices Magnéticos 76
6.6.1 Indices de Actividade Geomagnética Planetária 77
6.6.2 Actividade Planetária Diária Cp 77
6.6.3 Outros Indices Magnéticos 78
6.7 Modelos de Campo Externo 78
6.8 Bibliografia 79
Cap 7 – INTRODUÇÃO À TEORIA DO DÍNAMO 80
7.1 Dínamo Auto-Sustentado 80
7.2 Dínamos de Disco 80
7.2.1 Dinamo de Disco Homopolar 80
7.2.2 Dínamo duplo de Rikitake 82
7.3 Dínamos Cinemáticos 83
7.3.1 Componentes Poloidal e Toroidal do CMP 83
7.3.2 Teorema do fluxo congelado e efeito omega 83
7.3.3 Turbulência e efeito  84
7.4 Aproximação Magnetohidrodinâmica 85
7.4.1 Equações da MHD 85
7.4.2 Decaimento do Campo Magnético 87
7.4.3 Teorema de Proudman-Taylor 87
7.5 Bibliografia 88
Cap 8 – PROSPECÇÃO MAGNÉTICA 89
8.1 Interpretação Qualitativa de Anomalias Magnéticas 89
8.2 Anomalias Magnéticas em Meio Continental 91
8.3 Anomalias do campo total devidas a corpos magnetizados 89

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Cap 1 – O CAMPO MAGNÉTICO DA TERRA


1.1 A descoberta do Campo Magnético da Terra
Alguns efeitos do Campo Magnético da Terra (CMT) são conhecidos pelo menos desde o século XI, na China, e
utilizados para a construção de bússolas rudimentares. Estas foram aplicadas pela primeira vez à navegação pelos
Árabes, tendo sido um instrumento fundamental de orientação na Terra desde então, insubstituível sempre que as
observações astronómicas se revelavam impossíveis. A partir do século XII são utilizadas bússolas pelos
navegadores europeus.

Figura 1.1 - Bússola Portuguesa do Século XV para navegação. Original na Universidade de Cambridge (retirado de Multhauf e Good)

A existência de um ângulo entre a direcção da bússola e o norte geográfico (declinação magnética) é conhecida
desde o século XIV, a partir da comparação entre a direcção do norte dada pela bússola e a direcção obtida a partir
da Estrela Polar. A partir de 1450 este ângulo, então denominado variação já se encontrava indicado nas bússolas.
João de Lisboa, no Tratado da Agulha de Marear, de 1514, procura estabelecer uma relação de proporcionalidade entre
o ângulo de declinação magnética e a longitude, e surge como uma proposta para a resolução do problema das
longitudes, sem sucesso.
A inclinação magnética (e a sua variação local) foi descoberta no século XVI, sendo associada a Robert Norman,
construtor de instrumentos científicos. Francisco Faleiro, segundo o historiador Luis de Albuquerque, foi o primeiro
a referir a inclinação magnética (1535) e a procurar estabelecer uma relação entre o ângulo de inclinação magnética
e a latitude. A primeira carta de isoclinas foi apresentada por J. K. Wilcke em 1768.
D. João de Castro realizou durante a sua viagem à India, em 1538, medições sistemáticas de inclinação e declinação
e verificou pela primeira vez a influência do ambiente geológico (componente crustal) nessas medidas. Em 1600 o
inglês Gilbert interpreta todos estes efeitos como consequência de a própria Terra se comportar também como
uma esfera magnetizada, sendo a orientação das bússolas uma consequência da interacção entre dois corpos
magnéticos: a Terra e a agulha magnetizada.
Apesar dos avanços experimentais, a teoria física e matemática capaz de descrever e justificar o CMT só foi alcançada
por Maxwell, no fim do século XIX e os primeiros modelos “realistas” do mecanismo gerador do campo só no fim

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do século XX começaram a ser construidos. A prova matemática de que o campo magnético observado à superficie
tem por origem essencial o interior da Terra (e não fenómenos externos) foi obtida por Gauss em 1838. Já nessa
altura se tinha concluido que o CMT manifestava uma certa variação secular, e de que as variações rápidas do CMT
tinham correlação com fenómenos atmosféricos como as auroras boreais.
Tal como observado por Gilbert, a utilização da bússola como instrumento de localização sobre a Terra é
possível porque o Campo Magnético da Terra (CMT) se aproxima do campo magnético gerado por um iman
permanente alinhado com o eixo de rotação, onde é possível distinguir um “Polo Magnético norte”, um “Polo
Magnético sul” e um “Equador Magnético”, à semelhança do que ocorre com as referências geográficas. Note
que a designação “polo magnético norte de um iman” é confusa e deveria ser antes a de “polo magnético que
aponta o norte” (north-seeking pole).
Podemos falar de meridiano magnético como a projecção, na superficie da Terra, das linhas de força do Campo
Magnético. A declinação pode ser definida como o ângulo que em cada ponto o meridiano geográfico faz e o
meridiano magnético. A inclinação será o ângulo dessas linhas de força com o plano que é tangente à Terra no
ponto de observação. Uma inclinação de 90o corresponde ao polo magnético norte, da mesma maneira que
uma inclinação de -90o corresponde ao polo magnético sul. O equador magnético é constituido pelo conjunto
dos pontos de inclinação nula.
Note-se que se bem que o CMT se possa considerar como aproximadamente dipolar, o eixo magnético não
coincide em regra com o eixo geográfico e - o que é o mesmo - os polos magnéticos afastam-se sensivelmente
dos polos geográficos.

Figura 1.2 – Carta de Isogónicas e Isoclínicas para a época 2005.0

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1.2 Campo de um dipolo magnético


Sabemos da física elementar que o modelo mais simples que podemos elaborar de um magnete é formado por
um dipolo, que podemos, por exemplo, imaginar gerado por uma espira de corrente. Em primeira análise a
própria Terra pode ser considerada como um dipolo magnético. O campo magnético de um dipolo é
representado de forma simples a partir da consideração do potencial escalar:

Figura 1.3 Representação Esquemática do Campo Magnético de um Dipolo localizado no centro da Terra

(𝑚
⃗⃗ . 𝑟) 1 𝑚𝑥 𝑥 𝑚𝑦 𝑦 𝑚𝑧 𝑧
𝑉𝑑𝑖𝑝 = = [ + + ]
4𝜋𝑟 3 4𝜋𝑟 2 𝑟 𝑟 𝑟
(1.1)

em que m é o momento magnético dipolar e r o vector posição. No sistema internacional de unidades (SI), a
momento magnético é expresso em Am2. O campo magnético pode ser definido como o gradiente daquele
potencial, ou seja:
⃗ =
𝐵
−𝜇0 𝑔𝑟𝑎𝑑𝑉𝑑𝑖𝑝 (1.2)

e exprime-se no SI em Tesla. 𝜇0 tem o valor 4 10-7 Henri/m. As razões físicas que determinam estas relações
só serão apresentadas no capítulo seguinte, quando discutirmos as equações de Maxwell, mas para já aceitemo-
las de boa fé.
Para o geomagnetismo é muito importante a expressão do campo magnético de um dipolo orientado segundo
o eixo da Terra. Neste caso, e como a Terra é aproximadamente esférica, é conveniente a utilização de
coordenadas esféricas. Estas são três: a distância radial (r), a colatitude () e a longitude (). Em coordenadas
esféricas podemos escrever a expressão anterior (1.2) separando as duas componentes do operador gradiente
em coordenadas esféricas:
1 𝜕𝑉𝑑𝑖𝑝 𝜕𝑉𝑑𝑖𝑝 (1.3)
𝐵𝜃 = −𝜇0 ; 𝐵𝑟 = −𝜇0
𝑟 𝜕𝜃 𝜕𝑟

Pelo que teremos no final:


  m (1.4)
B  0 3 3(m ˆ , r  0
ˆ .rˆ)rˆ  m
4 r

em que, como habitualmente, m̂ e r̂ representam os versores das direcções do momento magnético do dipolo
e do vector posição, respectivamente. No equador magnético, este campo tem o valor

0 mdip
Beq  (1.5)
4 a 3

em que a representa o raio médio da Terra (~6371 km).

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Se utilizarmos coordenadas esféricas para representar o campo  magnético de um dipolo temos a seguinte
situação geométrica indicada na figura 1.3: o campo magnético B de um dipolo apresenta uma simetria axial em
torno de um eixo (eixo “norte-sul magnético”) e desde que o sistema de coordenadas seja convenientemente
escolhido, apresenta uma componente longitudinal B nula. O valor das componentes radial e co-latitudinal
pode ser obtido simplesmente a partir da expressão (1.14), desde que se tenha em atenção que o ângulo entre
a direcção do eixo e o raio vector do ponto de observação é a co-latitude tal como se representa na figura
1.3.
De (1.3) ou (1.4) podemos escrever:
2m0 cos m0 sin  (1.6)
Br  ; B 
4r 3 4r 3
É habitual utilizar-se um referencial cartesiano local para cada ponto de observação, em que o eixo dos zz
coincide com a vertical (positivo para cima), o eixo dos xx com o meridiano geográfico (positivo para norte) e
o eixo dos yy com um paralelo (positivo para este). A componente vertical é habitualmente designada por Z, a
componente sul-norte por X e a componente oeste-este por Y.
As componentes X e Y podem ser utilizadas para definir a denominada componente horizontal H do campo magnético.
As relações entre estas grandezas e os ângulos de declinação e inclinação podem ser expressas da seguinte maneira:
H X 2 Y2
D  tan 1 X / Y 
I  tan 1H / Z  (1.7)

Figura 1.4 - Elementos do Campo Magnético da Terra

A relação entre as grandezas clássicas (por vezes designadas por elementos do campo magnético da Terra)
assim definidas no referencial local e as componentes do campo magnético vectorial na aproximação dipolar,
em coordenadas esféricas, é simples de estabelecer:
𝑍 = −𝐵𝑟 ; 𝑋 = −𝐵𝜃 (1.8)
O Campo Magnético da Terra não é exactamente dipolar. Contudo, o dipolo magnético que melhor se aproxima
do CMT, no sentido dos mínimos quadrados, tem de momento m dip = 7.856 1022 Am2. O eixo desse dipolo
afasta-se hoje sensivelmente do eixo de rotação da Terra, sendo o ângulo entre os dois próximo de 11º. Se
retirarmos ao valor do CMT a componente dipolar, obtemos o que se designa por Campo Magnético Não Dipolar.
A separação entre estas duas componentes é melhor alcançada no quadro do tratamento discutido no capítulo 2.

1.3 Medição do CMT


Se bem que a bússola seja o instrumento mais utilizado para a determinação simples da direcção do CMT em
cada local, a determinação rigorosa da direcção e amplitude deste campo foi estudada pela primeira vez pelo
explorador e cientista natural Von Humboldt que, por similaridade com o comportamento de um pêndulo,
utilizou o facto de o período das pequenas oscilações de um iman suspenso de modo a mover-se num plano
horizontal e sob acção da CMT se poderia exprimir por:
(1.9)
𝐼
𝑇 = 2𝜋 √𝜇0
𝑚𝐵
Onde m é o momento magnético o iman, I o seu momento de inércia, e B a intensidade da componente
horizontal do CMT. Se bem que I possa ser determinado a partir da forma e massa do iman m deve ser
determinado de forma independente e, para materiais reais irá variar com o tempo. Este método foi utilizado

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por Humboldt para determinar o CMT em várias partes do mundo, tendo concluído que a intensidade do CMT
diminui com a latitude.

Alexander Van Humboldt (1769-1859) e Karl Friedrich Gauss (1777-1855)

Gauss estendeu o método de Humboldt completando-o com a medição da deflexão  sofrida por uma bússola
horizontal quando ao campo magnético da Terra se adiciona a influência de um iman colocado a uma distância
conhecida de uma agulha, na geometria apresentada na figura seguinte:

Dispositivo experimental denominado Gauss-Lamont. O equilibrio é alcançado quando os momentos aplicados pelo campo magnético da Terra e pelo iman
permanente se igualam

Considerando este último representável por um dipolo magnético, o seu campo em posição axial (=0 na
equação 1.6) tem só componente radial, ao longo do eixo, que pode ser dada por:
2m
B1r  107 ; B1  0 (1.10)
r3
A acção combinada do campo magnético da Terra e do íman permanente vai deslocar a agulha da bússula,
deflectindo-a um determinado ângulo a com a posição inicial. Quando o equilíbrio é obtido teremos:
B 2
 10 7
m r 3tg
(1.11)

Se o íman utilizado nesta experiência for idêntico ao da experiência vibracional então é possível determinar o
campo magnético da Terra B de forma absoluta a partir da medida de T, r e . Gauss apresentou este resultado
em Intensitas vis magneticae terrestris ad mensuram absolutam revocata em 1833, a última memória científica escrita
inteiramente em latim sendo esta a primeira unidade não mecânica definida a partir de medições de massa,
comprimento e tempo. Foi Gauss quem primeiro introduziu o termo magnetómetro.

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1.3.1 Magnetómetros
Os magnetómetros são habitualmente classificados como intrumentos absolutos, relativos ou variógrafos.
Denominam-se aparelhos absolutos os que efectuam a medida da declinação e inclinação, ou que medem o campo
magnético 𝐵⃗ a partir de medidas de massa, comprimento, tempo ou intensidade de corrente eléctrica ou ainda os
que recorrem a fenómenos como a ressonância magnética nuclear.

Figura 1.5 - Variógrafos do Observatório Magnético de Vassouras (Brasil).

Os instrumentos que precisam de calibração (comparação com instrumentos absolutos) são designados relativos e
os mais conhecidos são o QHM (Quartz Horizontal Magnetometer) que equipou durante décadas os Observatórios
Magnéticos para a medida da componente horizontal do campo magnético. Os instrumentos relativos têm que ser
regularmente calibrados por comparação com instrumentos absolutos, para se poderem obter valores absolutos do
CMT.
Alguns instrumentos apenas medem a variação temporal do campo magnético. Esses instrumentos são denominados
variógrafios e o exemplo mais conhecido é constituido pelo magnetómetros de fluxgate que estiveram na base dos
primeiros levantamentos sistemáticos para fins de prospecção e que ainda hoje equipam muitos dos Observatórios
Magnéticos.
1.3.1.1 Magnetómetro de Protões
O Magnetómetros de Protões é um instrumento absoluto cujo funcionamento se baseia na ressonância magnética dos
núcleos dos átomos de hidrogénio ou de césio, quando submetidos a um campo magnético ambiente. Apenas mede
a intensidade do campo magnético. O princípio físico em que se baseia o magnetómetro de protões é o seguinte: a
energia magnética de um núcleo de um átomo de hidrogénio colocado num campo magnético ambiente B só pode
assumir um conjunto discreto de valores múltiplos de:
hB
E 
2
(1.12)

Figura 1.6 - Magnetómetro de Protões produzido pela GEM

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em que B é o módulo de B , h é a constante de Planck e  é a constante giromagnética do protão, cujo valor é


conhecido com muita precisão ( = 0.26753 Hz/nT). A transição entre dois estados de energia é acompanhada da
emissão de energia electromagnética de frequência  - frequência de Larmor - e tal que  = E/h (Lei de Planck). É
assim possível determinar o valor de B a partir da medição da frequência  :
B  2 /  (1.13)
Ou seja,
B  23.4859 (1.14)
Os magnetómetros de protões são os instrumentos mais utilizados nas aplicações geológicas do geomagnetismo,
tendo uma precisão entre 0.1 nT (1 nT = 10-9 T) e 1.0 nT. A sua sensibilidade é cerca de 10 vezes superior.
Uma das limitações práticas da utilização de magnetómetros de protões tem a ver com o período de tempo entre
duas medidas consecutivas. Uma vez que é necessário um ciclo de polarização e um de medição, é necessário impedir
a contaminação entre ambos os ciclos. Por essa razão, foi produzida uma variante do magnetómetro de protões
recorrendo ao efeito de Overhauser, no qual ao líquido rico em protões é adicionado um outro rico em radicais
livres. A combinação dos dois leva ao aumento da polarização de um factor de 500, o que permite a utilização de
um campo magnético polarizador na banda da radio-frequência, o que requer menos energia, permitindo acelerar a
taxa de amostragem.
1.3.1.2 Inclinómetro de Indução
Realizam-se medições da inclinação do CMT desde o século XVI, com a utilização de uma bússola modificada de
forma a poder oscilar num plano vertical. Actualmente essa medição´é feita com um instrumento absoluto
denominado inclinómetro de indução, equipamente que permite medir simultâneamente a declinação e a inclinação, e
cujo princípio físico em que se baseia este equipamento é o seguinte: a corrente induzida pelo CMT numa bobina
cujo eixo é colinear (localmente) com o CMT e que rode transversalmente a esse eixo é nula. Essa bobina é colocada
numa luneta de um teodolito amagnético, o que permite determinar a direcção do vector do campo vectorial no
referêncial geocêntrico. Este instrumento é ainda hoje utilizado nas observações vectoriais do CMT em redes de
repetição (cf. secção 1.3.3).
1.3.1.3 Magnetómetro de Fluxgate
Os magnetómetros de fluxgate foram desenvolvidos durante a II Guerra Mundial para a detecção de submarinos, e
o seu sensor é consituido por dois núcleos paralelos de um material com permeabilidade magnética muito elevada,

em volta dois quais dois enrolamentos – primário e secundário – são feitos com sentidos contrários.

Figura 1.7 - Esquema Simplificado do Magnetómetro de Flugate. A negro representa-se a rede primária e a vermelho a secundária. Os núcleos ferromagnéticos
estão representados a cinza. Tratando-se de um instrumentl vectorial, o sensor tem que ser orientado absolutamente. À direita sensores fluxgate da sonda Venus
Express em sci.esa.int/science-e

Quando uma corrente alterna é aplicada a um dos núcleos, gera-se em ambos um campo magnético induzido, de
igual direcção e sentidos contrários. Na ausência de um campo externo, a corrente aplicada é escolhida de modo
que os núcleos não atinjam a saturação (cf. capítulo 3). Neste caso, o sinal em tensão observado no enrolamento
secundário é nulo.
Quando um campo magnético exterior é aplicado, ele vai reforçar o campo do núcleo desde que este lhe não seja
perpendicular. Neste caso, e se a regulação do magnetómetro for tal que a saturação é atingida, vai-se gerar um

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atraso entre os dois campos induzidos, que se traduz por um sinal em tensão cuja amplitude é proporcional à
componente do campo exterior que é colinear com o núcleo do sensor.
Por esta razão, o magnetómetro de fluxgate é um magnetómetro vectorial, no sentido de que com uma disposição
adequada, pode ser utilizado para medir de forma independente as três componentes do CMT. Um magnetómetro
deste tipo pode ter uma precisão de 1 nT.
1.3.1.4 Magnetómetro de Vapôr de Césio
Outro magnetómetro relativo de utilização corrente em prospecção é o magnetómetro de vapôr de Césio, cujo princípio
físico de funcionamento é semelhante ao do magnetómetro de protões; trata-se de um instrumentor relativo porque
a constante giroscópica não é conhecida com precisão suficiente e porque o módulo do campo B não é estritamente
proporcional à frequência de Larmor.
A sensibilidade dos magnetómetros de vapôr de Césio é a sua principal vantagem, sendo o seu valor de 0.01 nT.
Magnetómetros deste tipo podem ser utilizados com taxas de amostragem de 10 hz.
1.3.1.5 Magnetómetros Criogénicos
Os magnetómetros criogénicos, habitualmente designados por magnetómetros SQUIDs (Superconducting
Quantum Interference Devices), são os instrumentos mais precisos existentes (Figura 1.8). A sua precisão é de
0.01 nT, sendo possivel utilizá-los em gradiometria para precisões da ordem de 10-5 nT/m. O funcionamento
do magnetómetro SQUIDs necessita condições de baixa temperatura usando hélio líquido (4.2 K) ou nitrogénio
líquido (77 K). Eles são particularmente usados para medir os campos magnéticos produzidos pela atividade
cerebral e cardiaca (magnetoencefalografia e magnetocardiografia, respectivamente) ou bem para estudos
geofísicos involvendo as magnetização remanescente das rochas (cf. capitulo 6).
O princípio de funcionamento do magnetómetro SQUID é baseado no efeito Josephson, um efeito físico que
se manifesta pelo aparecimento de uma corrente eléctrica que flui através de dois supercondutores fracamente
interligados, separados apenas por uma barreira isolante muito fina.

Figura 1.8 - Magnetómetro criogénico de marca 2G-entreprises

1.3.2 Observatórios Magnéticos


1.3.2.1 O Observatório Magnético de Coimbra (Portugal)
As primeiras observações sistemáticas do CMT começaram em Londres no século XVI (declinação e inclinação) e
em Paris no século XVII tendo, em Portugal, sido iniciadas a partir de 1860 nos observatórios da Escola Politécnica
(já desaparecido) e de Coimbra (actualmente com funcionamento precário).
A necessidade de ser continuamente monitorizado o campo magnético tem a ver com o facto de o seu valor
apresentar uma importante variação temporal, onde se juntam efeitos de carácter planetário - cujo estudo é crucial
para a compreensão da dinâmica do interior da Terra - e efeitos transientes essencialmente devidos à interacção do
CMT com o espaço exterior. Algumas destas variações temporais são de período tão curto que têm que ser tomadas
em conta quando se efectua um qualquer levantamento magnético e podem ser tão importantes que a prospecção
magnética se torne impossível. As variações lentas associadas com o campo principal são tratadas no capítulo 2. As
restantes são apresentadas no capítulo 6. Um exemplo da variação do campo magnético ao longo de um dia calmo

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é apresentado na figura 1.9.


A observação contínua do CMT é realizada em Observatórios Magnéticos. Em Portugal, o Observatório
Magnético de Coimbra é o unico observatório magnético em funcionamento contínuo.
As observações de I e H começaram em 1866 sendo a declinação D observada a partir do ano seguinte (Pais
& Miranda, 1995). A sua primeira localização foi na Cumeada (40º 12.4’ N, 8º 22.8’W) tendo sido transferido
em 1932 para o Alto da Baleia, onde ainda se encontra actualmente, devido à expansão da zona urbana de
Coimbra e à instalação dos “carros eléctricos” na cidade apartir de 1911. A medição contínua das compo-nentes
do CMT começou em 1873 com variógrafos de Adie. Contudo, ao longo da sua história alternaram os períodos
de funcionamento regular com períodos de operação deficiente. A partir de 1952 toda a instrumentação foi
actualizada e aferida, com a instalação de QHM, para a componente horizontal, BMZ para a componente
vertical e um teodolito magnético Askania, a partir de 1955, para a medição directa da inclinação e declinação
magnéticas. Foram efectuadas comparações de instrumentos em 1953, 1959, 1968 e 1976 pelo International
Committee on International Standards. Apenas a partir de 1982 foi instalado um magnetómetro de protões para a
medição indepen-dente do campo total.
Na figura 1.8 apresentamos a evolução temporal das médias anuais centradas das componentes magnéticas –
ou seja, da média estendida a 12 meses dos valores observados. Estas médias devem em princípio “filtrar” as
variações temporais do CMT de curto período. Apenas as componentes interna e externa de longo período
estão representadas. Por exemplo, a média anual centrada de uma componente magnética X referida à época
1999.5, é determinada por:
12

x
1
X 1999.5  1999
i (1.15)
12 i 1

em que xi é a média mensal, que por sua vez pode ser obtida a partir das médias diárias ou das médias de um
conjunto de dias magneticamente calmos. É de salientar a grande variação da declinação ao longo do período
de ocupação do observatório.

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Jorge Miguel Miranda

Figura 1.9 - Evolução temporal da declinação e componentes horizontal e vertical no Observatório de Coimbra.

1.3.2.2 O Observatório Magnético de Vassouras (Brasil)


O Observatório Magnético de Vassouras foi implantado em 1915 no Rio de Janeiro e realiza a monitorização
das variações do campo magnético em Vassouras desde a fundação, e em Tatuoca, na região do eletrojacto
equatorial, desde 1957.

Fig. 1.10 – Exemplo de magnetograma obtido no OM de Vassouras. Magnetogramas deste tipo podem ser obtidos a partir do site INTERMAGNET
http://www.intermagnet.org/ para um conjunto de observatórios em todo o mundo

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Jorge Miguel Miranda

Este Observatório está integrado na rede Intermagnet, um consórcio científico internacional que agrega
Observatórios Magnéticos que disponibilizam dados em aquisição contínua, de forma automática.
1.3.3 Redes de Repetição
As redes de repetição são utilizadas para a determinação da variação secular do CMT. São constituidas por um
conjunto de estações fixas, sistematicamente reocupadas, e onde são medidas as três componentes do campo
magnético.
Se bem que os períodos de ocupação sejam curtos (~1 dia) os valores médios anuais centrados são calculados
por comparação com os Observatórios. O princípio básico em que assenta essa comparação é o seguinte:
PO An PO An
BRR - BRR = BOb - BOb (1.16)
Em que os indices RR representam a estação da Rede de Repetição, Ob o Observatório onde dispomos de
observações continuas, PO a média estendida ao Período de Observação e An a média annual. Como veremos
mais à frente, podemos considerar que as médias anuais estão livres de efeitos transitórios gerados pelo campo
externo.
1.3.4 Levantamentos Magnéticos e Aeromagnéticos
Os levantamentos magnéticos realizam-se para a determinação das variações de comportamento magnético da
crusta terrestre, o que pode ser interpretado, como veremos, como variações físicas e quimicas dos materiais
geológicos.
Os levantamentos magnéticos são habitualmente realizados com Magnetómetros de Protões ou, mais
raramente, por magnetómetros de vapôr de Césio, pelo que a grandeza medida é a amplitude do “campo total”.
Sendo o Campo Magnético da Terra variável com o tempo e o espaço, e não sendo possível a realização de
medições simultâneas numa área extensa, torna-se necessário estabelecer um modelo de variação temporal (já
que a variação espacial é o objecto do nosso estudo) e utilizar esse modelo para a “redução” das observações.
A forma mais simples de resolver o problema é a utilização de um magnetómetro adicional como “estação fixa”
e admitir que a variação é idêntica em todos os pontos do levantamento. Neste caso, basta utilizar o valor
medido na estação fixa para a diferença entre o campo médio e o campo observado em cada instante e adicioná-
la a todos os valores medidos.
A atribuição de um valor médio à estação fixa faz-se por um princípio similar a (1.16). No caso dos
levantamentos aeromagnéticos os cruzamentos entre as linhas de voo, com a realização de duas medidas
independentes no mesmo ponto, permitem uma segunda correcção.
1.3.5 Satélites Magnéticos
Até ao fim dos anos 70 as descrições sistemáticas do CMP foram obtidas a partir do tratamento matemático dos
valores registados nos Observatórios Magnéticos. Contudo, todas estas descrições sofriam da inexistência de
observatórios nos oceanos - que cobrem 70% da superfície do planeta - e da dificuldade da manutenção de medições
contínuas em áreas extensas de África e da Ásia.
Um número significativo de satélites artificiais colocados em órbita terrestre foi equipado com magnetómetros
escalares e/ou vectoriais. Contudo (cf tabela seguinte) apenas os satélites da série POGO (Polar Orbiting
Geophysical Observatory), o satélite MAGSAT (MAGnetic field SATellite) o o satélite OERSTED permitiram
uma cobertura significativa da globo e uma precisão suficiente para uma descrição das diferentes componentes
do CMT.

Figura 1.11 - Satélite MAGSAT. Foto retirada de http://www.nasm.si.edu/ceps/etp/earth/img/

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Jorge Miguel Miranda

Satélite Datas Perigeu-Apogeu Inclinação Instrumentos Precisão


Sputnik 3 5/58–6/58 226-1881 km 65 Fluxgate 100 nT
Vanguard 3 9/59-12/59 510-3750 33 Protões 10 nT
1963 38C 9/63 –1/74 1100 Polar Fluxgate ?
Cosmos 26 3/64 270-403 49 Protões ?
Cosmos 49 10/64-11/64 261-488 50 Protões 22 nT
1964 83C 12/64-6/65 1040-1089 90 Rubidio 22 nT
OGO 2 10/65-9/67 413-1510 87 Rubidio 6
OGO 4 7/67-1/69 412-908 86 Rubidio 6
OGO 6 6/69-7/71 397-1098 82 Césio 6
Cosmos 321 1/70-3/70 270-403 72 Fluxgate ?
Triad 9/72-1/84 750-832 Polar Fluxgate ~200 nT
S3-2 10/72-5/78 230-900 97 Fluxgate >300 nT
MAGSAT 11/79-5/80 325-550 97 Fluxg/Césio 6/3 nT
DE-2 8/81-2/83 309-1012 89/97 Fluxgate ?
DE-1 8/81-3/91 570-3.6RT 89/91 Fluxgate ?
ICB-1300 10/81-8/83 825-906 81 Fluxgate >75 nT
Aureol-3 9/81-? 408-2012 82.5 Fluxgate >150 nT
Hilat 6/83-7/89 800 82 Fluxgate ~200 nT
DMSP F7 11/83-1/88 835 Polar Fluxgate >1000 nT
PolarBear 11/86 -? 1000 Polar Fluxgate ~200 nT
POGS 7/90 -? 800 Polar Fluxgate ?
OERSTED 4/99-? 643-881 Polar Fluxg/Overh 0.1/0.5 nT
Tabela 1.1 – Principais satélites portadores de magnetómetros (adaptado de Hamoudi, 1996)

Com o desenvolvimento dos satélites de investigação, tornou-se possível a obtenção de uma descrição homogénea
do CMT para todo o globo, obtida num intervalo de tempo suficientemente curto e cobrindo a totalidade da Terra.
O satélite MAGSAT (Magnetic Field Satelite) foi lançado pela NASA em 1979 tendo operado durante cerca de 7
meses a uma altitude entre os 325 e 550 km, com o emprego de dois magnetómetros, um escalar (Césio) e outro
vectorial (fluxgate) com uma precisão de, respectivamente, 1.5 e 3.0 nT. Os resultados alcançados durante este
período permitiram melhorar de forma sensível a precisão das descrições globais do CMT, em particular no que diz
respeito ao estudo do campo principal originado pelo núcleo líquido da Terra, e ao estudo do campo externo da
Terra.

Figura 1.12 - Satélite OERSTED. Foto retirada de http://geomag.gfdi.fsu.edu/Orsted/

Em 23 de Fevereiro de 1999 foi lançado o satélite OERSTED, assim designado em homenagem ao cientista
dinamarquês Hans Christian Oersted (1777-1851), e destinado à cartografia detalhada do CMT. Este satélite tem
62 kg de massa, mede 34 x 45 x 72 cm e é dotado de uma haste com 8 m de comprimento onde se encontram
instalados dois magnetómetros: um instrumento escalar de precessão de protões Overhauser, com a precisão
absoluta de 0.5 nT e a seis metros de distância um magnetómetro vectorial de fluxgate acoplado a um star imager
para orientação absoluta. Se bem que a duração prevista para o satélite fosse de 14 meses (dada a sua baixa altitude
de operação e a consequente interacção com a alta atmosfera) ainda se encontra em operação em 2007.

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1.4 Campos Magnéticos noutros planetas do Sistema Solar


O campo magnético dos planetas do sistema solar tem sido medido pelas sondas de observação e,
aparentemente, a generalidade dos planetas gasosos possui um campo magnético de momento elevado. Entre
os planetas rochosos, a Terra constitui aparentemente um caso particular, já que o momento magnético de
Vénus e de Marte é muito fraco, e a sua origem física pode não ser comparável com a do CMT.
O campo magnético de Mercúrio foi estudado directamente por três passagens da sonda Mariner 10. O valor
pontual mais elevado obtido foi 100 nT a 723 km de altitude na primeira passagem e 400 nT a 327 km de
altitude na terceira passagem. Estimativas do momento magnetico dipolar situam-se entre 2 e 6 1012 Tm3, sendo
a geometria conhecida da magnetosfera (cf capítulo 5) similar à da Terra. A importância relativa da componente
quadrupolar é no essencial desconhecida. As medições do momento magnético de Vénus mais objectivas foram
realizadas pela missão Pioneer Venus Orbiter (1979-1981) que a apenas 150 km de altitude verificou a pequena
magnitude do campo magético no hemisfério não iluminado. Estima-se que este momento é inferior a
aproximadamente 10-5 do momento magnético da Terra. A avaliação mais recente do campo magnético de
Marte foi realizada pelo satélite Phobos em 1989, que realizou medições numa gama de altitudes entre 2.7 e 20
RM (RM – raio médio de Marte). Estes dados mostraram de forma clara que o campo magnético externo de
Marte é determinado actualmente apenas pelo campo interplanetário sendo a estimativa do majorante do
momento magnético dipolar de Marte cerca de 10-4 do da Terra.
A informação mais completa sobre o campo magnético de Júpiter foi obtda pela sonda Pioneer 11. Os seus
dados revelaram que o momento magnetico é cerca de 20000 vezes superior ao da Terra, cerca de 1.55 10 20
Tm3, sendo rico em multiplas harmónicas e tendo a componente dipolar uma inclinação de 10º. Os campos
magnéticos de Saturno e Urano foram essencialmente estudados pelas sondas Voyager I e II. Dentro dos limites
de precisão alcançados, foi verificado que no primeiro caso o eixo de rotação coincide com o eixo do momento
magnético, sendo o seu valor aproximado de cerca de 4.6 1018 Tm3, enquanto que em Urano onde o momento
magnético é de cerca de 3.9 1017 Tm3 mas a inclinação do eixo magnético atinge os 59º. No caso de Neptuno
o valor da inclinação é de 47º e o momento magnético de 2.16 1017 Tm3, com uma componente quadropolar
muito importante.
Na tabela seguinte apresenta-se uma síntese destes valores:

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Planeta Inclinação do Eixo Magnético Momento Magnético


Mercúrio ? 2 e 6 1012 Tm3
Vénus ? <1017 Tm3
Terra 10º 7.86 1022 Tm3
Marte ? <1018 Tm3
Júpiter 10º 1.55 1020 Tm3
Saturno 0º 4.6 1018 Tm3
Urano 59º 3.9 1017 Tm3
Neptuno 47º 2.16 1017 Tm3
Tabela 1.2 : Campo Magnético de planetas do sistema solar.

1.5 Problemas de Aplicação


1. Medições do campo magnético da Terra deram os valores X=23000 nT; Y=-1600 nT; Z=-41050 nT.
a) Em que hemisfério magnético se encontra o ponto onde se realizaram as medições ?
b) Determine o valor das componentes horizontal e vertical.
c) Determine o valor da declinação e inclinação.
m.r
2. Considere a expressão do potencial magnético do dipolo Vdip = m0 . Sabendo que o campo
4p r 3
B = - gradVdip , obtenha a expressão deste campo. Esboce as linhas de força do campo magnético da
Terra admitindo que ele se aproxima de um dipolo e determine a relação entre a inclinação magnética e a
co-latitude.
3. A partir da expressão das componentes do campo magnético de um dipolo
a) Determine a expressão da intensidade do campo dipolar (amplitude do vector 𝐵⃗).
b) Determine a forma analítica do gradiente vertical do campo dipolar e calcule o seu valor para a cidade
onde vive.
4. Considerando o valor m = 7.856 . 1022 Am2 para o momento magnético da Terra, determine o valor das
componentes do CMT num ponto de latitude 40 N. Faça idêntico cálculo para Júpiter e Saturno.
5. Considere o método de Gauss para a determinação absoluta da intensidade do CMT. (a) Estabelece a
expressão de B=B(r,T,); (b) discuta as unidades de B.
6. Determine a frequência que deve ser observada num Magnetómetro de Protões, sabendo que o campo
magnético ambiente é de 43000 nT.
7. Porque razão o magnetómetro de protões convencional não pode ser utilizado como um instrumento de
medição contínua do CMT.
8. A partir da figura 1.8 determine a taxa de variação actual da declinação em Coimbra. Idem para o campo
total.
9. Utilizando os resultados do exercício anterior, determine qual a ordem de grandeza da correcção de
variação secular que é necessário utilizar para corrigir uma medição do CMT realizada na rede magnética
de repetição, para o campo total, admitindo que os valores médios anuais de Coimbra são anuais centrados
e que a medição se realiza no mês de Fevereiro.

1.6 Bibliografia
Hamoudi, M., Prolongement du Champ d’Anomalies Magnétiques MAGSAT sur les Continents et Hétérogénéités de la Lithosphère,
Université de Paris VII, 1996, pp- 1-265.
Lanza, R, Meloni, A, The Earth’s Magnetism, An Introduction for Geologists, Springer.
McElhinny, M. W., Palaeomagnetism and plate tectonics, Cambridge Earth Sciences Series, 1973, pp 1-358.
Multhauf R. P. e Good G. A Brief History of Geomagnetism. Smithsonian Studies in History and Technology. N. 48.
Multhauf RP e Good G, 1987. A Brief History of Geomagnetism and A Catalog of the Collections of the National Museum of
American History. Smithsonian Institution Press. Washington, D.C.
Reynolds, J. M. An Introduction to Applied and Environmental Geophysics, John Wiley & Sons, 1997, pp 1-796.
Ruivo, MC. http://museu.fis.uc.pt/mist.htm

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Jorge Miguel Miranda

Stacey, Frank D, 1992. Physics of the Earth, Brookfield Press, GPO Box 738, Kenmore, Brisbane 4069, Australia, pp 1-513.

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Cap 2 – TEORIA DE GAUSS DO CMP


2.1 Introdução
As representações globais do CMT, como as que são dadas pelo satélite MAGSAT, representam o campo
magnético medido à superfície da Terra (ou à altitude do satélite, conforme o caso) independentemente do
facto de esse campo ter como origem fontes no interior ou no exterior do planeta, e da localização dessas
mesmas fontes.
A generalidade dessas medidas ocorre numa camada electricamente isolante, na qual não existem fontes
significativas de campo magnético, já que a corrente eléctrica na baixa atmosfera é muito reduzida. Podemos
assim, com generalidade, admitir que devemos considerar duas fontes disjuntas para o CMT medido à
superfície, uma de origem interma e outra de origem externa.
Chamamos Campo Magnético Principal (CMP) ao valor médio do campo magnético da Terra calculado para
um certo local num intervalo centrado de 1 ano :

B0m 
 B ( )d
0
T  1ano
T
O campo assim definido não está inteiramente limpo de componentes transientes. Com efeito, não é certo que
o campo transitório tenha média nula no período de 1 ano. Como veremos noutra secção destes apontamentos,
o ciclo de 11.5 anos relacionado com as manchas solares é um caso típico de um sinal externo que não é
completamente filtrado por uma média corrida anual.

2.2 As Equações de Maxwell


Antes de revermos succintamente as denominadas “equações de Maxwell” precisamos de estabelecer um
conjunto de denominações que nos ajudarão a descrever as propriedades do campo electromagnético.
2.2.1 Campos Solenoidais e Campos Conservativos
Um campo solenoidal F é aquele que verifica,
div F = 0 (2.1)
em todos os pontos do seu domínio.
De acordo com o teorema de Gauss da teoria do potencial, o fluxo que “sai" ("entra") em (de) qualquer
superfície fechada contida no domínio de um campo solenoidal é sempre nulo (o campo vectorial não tem
"fontes" nem "sumidouros"), o contrário não é necessariamente verdade, se bem que um campo cujo fluxo seja
nulo para qualquer superfície fechada contida no seu domínio, seja solenoidal.

Qualquer que seja o campo vectorial A ,

div(rotA)  0 (2.2)
como se pode verificar facilmente a partir da expressão destes operadores em coordenadas cartesianas. Também
se pode demonstrar que um campo solenoidal pode sempre ser expresso sob a forma do rotacional de um
campo vectorial.

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Um campo conservativo F é aquele cujo rotacional é nulo em todos os pontos da região onde se encontra
definido:

rot ( F )  0 (2.3)

Nos casos em que o campo vectorial F é definido como o gradiente de uma função escalar:
F = - grad V (2.4)
a expressão (2.3) é sempre válida, já que
rot (grad V)=0 (2.5)
para qualquer campo V.
2.2.2 Campos "Magnéticos" H e B
A interacção entre condutores percorridos por corrente eléctrica foi estudada na primeira metade do século
XIX por Ampère, Oersted, Biot, Savart, e outros, que mostraram a existência de diferenças essenciais entre
estas forças e a força electrostática e estabeleceram um conjunto de relações destinadas a descrever as forças
que se exercem entre cargas em repouso ou entre cargas em movimento.
 
Uma das concluões mais importantes é a de que duas cargas eléctricas q1 e q2 animadas de velocidades v1 e v2

interagem entre si, de tal modo que a força que actua sobre a carga q1 (localizada em r1 ) é dada por:

     r   
F (r1 )  0 q1v1  (q2 v2  3 ); r  r1  r2 (2.6)
4 r
esta força pode ser alternativamente descrita por:
       
F (r1 )  q1v1  B(r1 )  0 q1v1  H (r1 ) (2.7)
desde que aceitemos as definições

   
Br1   0 q2v2  3
r
(2.8)
4 r
  

H r1  
1 r
q2 v2  3 (2.9)
4 r
em que estes campos B e H descrevem a influência que a carga q2 exerce na sua vizinhança. Se considerarmos
um elemento de circuito que transporta uma corrente i, podemos relacionar esta
corrente com uma carga e uma velocidade, da forma:
i2 dr2 = q2v2 (2.10)
então, podemos re-escrever a expressão anterior sob a forma:
 
   0 dr2  r
dB(r1 )  i2 (2.11)
4 r3
   
1 dr2  r
dH (r1 )  i2 (2.12)
4 r3
 
B e H são ambos campos vectoriais definidos em  todos os pontos do espaço e
estão associados à fenomenologia magnética. H é denominado campo magnético
enquanto que B é denominado indução magnética. Contudo, dada a heterogeneidade
da nomenclatura utilizada
 por diferentes autores é mais cómodo utilizarmos as
designações campo H e campo B .
 
No vazio B e H são proporcionais. Neste caso poderíamos apenas utilizar um
destes campos (habitualmente o campo B ) para escrever quer as Equações de
Maxwell (cf secção 1.3) quer as equações constitutivas. É o que se faz por exemplo quando se estuda a
propagação das ondas electromagnéticas no vazio. Contudo, num meio  material, cujo comportamento
magnético
 é descrito pela quantidade  - permeabilidade magnética - B e H possuem
 uma natureza diferente:
H depende da geometria e da magnitude das correntes que o geram enquanto que B depende ainda da natureza
do meio que estamos a considerar. Como veremos adiante, H tem contributos que não provêm apenas das
distribuições de corrente eléctrica e que são atribuidos à magnetização do meio.

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  
Os campos B e H definidos como anteriormente são solenoidais. Como veremos mais à frente o campo H
na sua definição extendida, onde consideramos os contributos provenientes das "correntes" e da
"magnetização" dos materiais, é conservativo.
2.2.3 As Equações de Maxwell
O campo electromagnético é, do ponto de vista da física clássica, descrito por um conjunto de equações
denominadas “Equações de Maxwell”.
 Estas expressões relacionam o campo magnético (que como vimos pode
ser descritos pelos campos B ou H ) e o campo eléctrico, que como se sabe do electromagnetismo elementar,
pode ser descrito pelos campos E ou D .

 B
rot E   (2.13)
t

  E 
rot B  o  J   0  (2.14)
 t 
 
div E  (2.15)
0

div B  0 (2.16)
para o vazio. O campo E é o “campo eléctrico” e exprime-se em Volt/m, no Sistema Internacional. O campo
B designa-se por campo de “indução magnética” e exprime-se em Tesla (T). A densidade de carga eléctrica r
exprime-se em C/m3. A densidade de corrente J em A/m2.  0 é a permitividade eléctrica do vazio (107/4 c2
Farad/m) e  0 é a permeabilidade magnética do vazio (4 10-7 Henri/m).
A equação (2.13) exprime matematicamente a lei da indução electromagnética de Faraday : um campo magnético
variável gera, num circuito eléctrico fechado, uma força electromotriz. A equação (2.14) exprime a geração do
campo magnético por corrente eléctrica (de condução ou de deslocamento). A equação (2.15) exprime o facto de as
cargas eléctricas serem as fontes (sumidouros) do campo eléctrico. Finalmente, a equação (2.16) exprime a
ausência de fontes (sumidouros) do campo magnético B, que é assim solenoidal. As equações anteriores são
complementadas pela Lei de Ohm
 
J  E
(2.17)
em que  é a conductividade eléctrica do meio.
O mecanismo que justifica a existência de ímans permanentes é exterior às equações de Maxwell em sentido
estrito, sendo do domínio da microfísica. Contudo, podemos descrever o que ocorre no interior dos materiais
magnéticos fazendo intervir explicitamente os dois campos magnéticos B e H , sendo a relação entre eles dada
por:
B = m0 ( H + J M ) (2.18)

em que J M representa a parte da excitação magnética que é gerada pela presença da matéria e é, ao mesmo
tempo, a soma dos momentos magnéticos elementares por unidade de volume. Aplicando o operador
divergência à equação (2.18) vemos que:
div H = - div J M (2.19)
ou seja, enquanto que a indução magnética B não possui fontes (em todos os pontos do espaço a sua divergência
é nula), a excitação magnética H possui eventualmente divergência não nula, que pode ser interpretada num
sentido muito lato como “carga magnética”. Se considerarmos um meio material contínuo podemos atribuir-
lhe um “momento magnético total” M , que do ponto de vista macroscópico corresponde à integração da
magnetização volúmica J M , ou seja:
 

M  J M dv
 
(2.17)
Deste modo, sempre que discutirmos o CMT temos que ter presente os dois campos B e H . O primeiro vai
ser considerado sempre que analisarmos as observações experimentais do CMT à superficie, a força sobre os
corpos magnetizados, etc…; o segundo será considerado sempre que analisarmos a interacção com os materiais
terrestres.

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2.3 Filtragem das Equações de Maxwell


As equações de Maxwell aplicam-se a uma generalidade de situações, e delas podem ser obtidas formas mais
simples, desde que condições restritivas adicionais sejam consideradas. Consideremos então o caso do CMT e
a situação na qual os campos E e B sejam gerados por fontes distantes da área de observação, como acontece
quando medimos o CMT à superficie (ou, mais rigorosamente, na baixa troposfera).
 
Se os campos E e B forem estáticos, então podemos desprezar a corrente de deslocamento, caso contrário
observá-los-emos como ondas electro-magnéticas. Em que medida é que podemos utilizar a aproximação
estática?
Podemos estabelecer um a priori sobre o valor dos diferentes termos das Equações de Maxwell (EM), admitindo
que os fenómenos que queremos estudas se caracterizam por uma escala temporal típica T e por uma distância
típica L. No que diz respeito a T podemos imaginar este valor obtido dos registos dos magnetómetros. No que
diz respeito a L podemos considerá-lo como o diâmetro da Terra ou a espessura de uma camada sedimentar,
conforme o problema em análise.
A ordem de grandeza de cada termo das EM será então:
 E
divE ~
L
 E
rotE ~
 L
E E
~
t T (2.21)

B B
~
t T
 B
rotB ~
L

As EM adicionam constrangimentos físicos às expressões (2.21). Temos assim que,


E B
~
L T
E LB
(2.22)
~ 2
t T
teremos então:

E
t ( LT ) 2
 ~ (2.23)
c 2 rotB c2

1
uma vez que c 2  .
02 02
Então a corrente de deslocamento pode ser desprezada desde que L/T<<c: para escalas temporais superiores
ao tempo necessário para a luz percorra a distância típica de um sistema estamos na situação designada por
Backus et al (1996) como “pré-Maxwell”.
No que diz respeito ao CMP as distâncias e os períodos típicos enquadram-se nesta situação (verifique !). No
caso em que as observações são realizadas à superfície da Terra, podemos ainda considerar que a magnetização
 
é praticamente nula ( M ~0) e o mesmo acontece com a polarização elétrica ( P  0 ). A magnitude do campo
magnético B se situa entre 30 e 60 T, pelo que a magnitude do campo H se situa entre 25 e 50 A/m. Se
considerarmos ainda que a magnitude do campo eléctrico E à superficie é de cerca de 100 V/m teremos para
D o valor típico de 10-9 C/m2. Se utilizarmos para distância típica o raio da Terra (6.4 . 106 m) e intervalo típico
de ordem de grandeza T – a determinar – teremos:


D D 109
~ ~
t T T

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 H 25
rotH ~ ~
L 6.4  106

Dividindo as expressões anteriores, teremos:



D
t 2.5  10  4
 ~ (2.24)
rotH T

pelo que, desde que T>>2.5 10-4 s, podemos desprezar a corrente de deslocamento. A condutividade da
atmosfera é conhecida, e da ordem de 10-13 S/m, pelo que, da lei de Ohm, teremos:
J   E ~ 1011 Am2 (2.25)
que, comparada com (2.14) permite concluir que se pode utilizar a aproximação:

rotH  0 (2.26)

na atmosfera. Uma vez que considerámos a magnetização nula, podemos concluir que o campo B respeita
simultaneamente:
rot B = 0
(2.27)
div B = 0
pelo que, pelo Teorema de Helmholtz, podemos considerar a existência de um potencial escalar V, tal que,
B = - mo grad V
lapV  0 (2.28)
O potencial V será uma solução da Equação de Laplace, pelo que podemos procurar representações de V na
família das soluções daquela equação. A forma destas soluções pode ser obtida a partir do método da separação
de variáveis.

2.4 Representação do CMP por Análise Harmónica Esférica


2.4.1 Solução da Equação de Laplace em Coordenadas Esféricas
O potencial V da equação (2.28) é uma solução da Equação de Laplace, pelo que podemos procurar representações
de V na família das soluções daquela equação. A forma destas soluções pode ser obtida a partir do método da
separação devariáveis, onde consideramos que o potencial V se pode representar sob a forma:

V(r, θ, λ) = f(r). g(θ). h(λ) (2.29)

A equação de Laplace pode escrever-se em coordenadas esféricas, sob a forma:

1 ∂ ∂V ∂ ∂V ∂ 1 ∂V
[ (r 2 senθ ) + (senθ ) + ( )] = 0
r 2 senθ ∂r ∂r ∂θ ∂θ ∂λ senθ ∂λ
(2.30)
podemos substituir a expressão (2.29) em (2.30), o que dá origem à expressão :

𝜕𝑌(𝜃,𝜆) 1 𝜕2 𝑌(𝜃,𝜆)
𝑟 2 𝑓"(𝑟)𝑌(𝜃, 𝜆) + 2𝑟𝑓′(𝑟)𝑌(𝜃, 𝜆) + 𝑓(𝑟)𝑐𝑜𝑡𝜃 + 𝑓(𝑟) =0 (2.31)
𝜕𝜃 𝑠𝑒𝑛2 𝜃 𝜕𝜆2

em que Y(,) g().h() . Simplificando a expressão anterior teremos :


1

f (r )

r 2 f "(r )  2rf ' (r ) 
1   2Y ( ,  )

Y ( ,  )   2
 cot 
Y ( ,  )


1  2Y ( ,  ) 
sin 2 
 (2.32)

Visto que o primeiro termo só depende de r e o segundo só depende de ambos serão iguais a uma constante,
que podemos representar por n(n+1), com n inteiro e positivo. Neste caso, a separação do termo radial dá
origem a uma expressão simples:

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r 2 f "(r )  2rf ' (r )  n(n  1) f (r )  0


(2.33)

cujas soluções são dadas por :


f (r ) = r n ; f (r ) = r- ( n+ 1) (2.34)
No segundo termo da expressão (2.32), cujo valor fixámos em n(n+1) podemos ainda explicitar as dependências em
termos de  e de :
1
g"( ) h( )  cot  g ( ) h( )  g ( ) h"( )  n(n  1) g ( ) h( )  0
sin 2  (2.35)

sen 2
que, após multiplicação de ambos os membros por e simplificação, dá:
g ( ) h ( )
sin
sin g"( )  cos g ' ( )  n(n  1) g ( )   h"( ) (2.36)
g ( ) h ( )

em que, mais uma vez, no primeiro membro só existe dependência de  e no segundo membro só existe
dependência de  . À constante é desta vez atribuido o valor m2., o que dá para o segundo membro:
h"( )  m2h( )  0 (2.37)
cujas soluções são
h()  cos(m) ou h()  sin(m) (2.38)
Quanto ao primeiro membro de (2.37), se realizarmos a substituição de variável
p  cos( ) (2.39)
teremos que g()= 𝑔̅ (p) e, para a primeira e segunda derivadas,
g’(𝑔̅ '(p) sen 
g"() =𝑔̅ "(p) sen2 () -g'(p) cos 
o que substituindo na expressão anterior dá origem a:
 m2 
(1  p 2 ) g "( p)  2 pg ' ( p)  n(n  1)   g ( p)  0 (2.41)
 1  p 2 
cujas soluções dependem dos valores de n e m, são representadas por Pnm e se designam por funções associadas
de Légendre. A sua expressão é dada por:
1 d m n
Pnm  sen m ( p 2  1)n (2.42)
2n n! dp m n
ou, em termos dos Polinómios de Légendre,
dm
Pnm  sen m Pn (2.43)
dp m
onde os Polinómios de Légendre têm a forma:
1 dn
Pn  ( p 2  1)n (2.44)
2n n! dp n
Uma vez que a equação de Laplace é linear, uma combinação linear das soluções encontradas é ainda uma solução,
pelo que podemos considerar:
 n 1 n
V ( r , ,  )   n 1
1
 
r
 g
m 0
n cos m  hn sin m
i m i m
Pn (cos  ) 
m

(2.45)

r  
n
 n
g n cos m  ehnm sin m
e m
Pnm (cos  )
n 1 m 0

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A expressão encontrada para um potencial harmónico V, está sujeita à condição de convergência da série
representada. Uma vez que separámos as dependências radial, latitudinal e longitudinal, colocámos em evidência a
existência de dois tipos de dependência de V com a distância radial, que correspondem às duas soluções de (2.34):
V e (r , ,  )  r nYnm ( ,  );V i (r , ,  )  r (n 1)Ynm ( ,  )

onde as funções Ymn() são designadas habitualmente por harmónicas esféricas de superfície, enquanto que os
termos de (2.45) são designados por harmónicas esféricas volúmicas. Os dois termos da expressão anterior
convergem quando r < 1 e quando r > 1, respectivamente. Os dois termos referidos são utilizados para representar
os casos em que calculamos o potencial no interior de uma distribuição de fontes – problema externo – e quando
calculamos esse potencial no exterior da distribuição – problema interno. No caso particular do campo gravítico da
Terra, e do cálculo desse campo no exterior do planeta, a formulação que nos interessa é a segunda; no caso do
campo magnético observado à superfície da Terra, cujo formalismo se pode integrar em grande parte no indicado,
temos que considerar os dois contributos, uma vez que existem fontes internas (núcleo líquido da Terra) e externas
(ionosféricas, por exemplo).
2.4.2 Interpretação das harmónicas esféricas de superfície
As harmónicas esféricas de superfície Ymn() têm uma interpretação intuitiva que pode ser alcançada se
analisarmos os zeros dessas funções numa superfície esférica. Para isso vamos individualizar a expressão das
harmónicas esféricas de superfície a partir de (2.45):
Ynm ( ,  )  ( g nm cos m  hnm sin m ) Pnm ( )
Uma vez que definimos as funções associadas de Légendre com recurso aos polinómios de Légendre,
comecemos por analisar o comportamento destes (cf. Equação 2.44): o termo ( p 2 - 1)n é um polinómio de grau
2n, com 2n raízes, n iguais a 1 e n iguais a -1. A primeira derivada deste termo será um polinómio de grau 2n-1, n-
1 iguais a 1, n-1 iguais a -1 e uma igual a 0., e assim sucessivamente, por aplicações do teorema de Rolle. Finalmente
o polinómio Pn terá n raízes distintas entre -1 e +1.
No que diz respeito à variação longitudinal Yn ( ,  ) terá 2m zeros quando l varia entre 0 e 2. No que diz respeito
m

à variação latitudinal, anulara-se-á quando = 0 ou  =2, e anular-se-á ainda n-m vezes quando  varia entre 0 e
 pelo que vimos dos Polinómios de Légendre.

Representação das harmónicas esféricas de superfície: m=0, n=7 (zonal); m=7, n=7 (sectorial) e m=14, n=7 (tesseral).

Quando m = 0 a harmónica esférica de superfície não apresenta dependência com . No que diz respeito à variação
com q apresenta n raízes e anula-se ainda nos extremos. Designamos esta harmónica - e todas aquelas para as quais
m = 0 - por zonal.
Outro caso particular ocorre quando n = m. Neste caso, se bem que a harmónica se anula nos dois polos, não se
anula entre estes dois valores. Designamos esta harmónica - e todas aquelas para as quais n =m - por sectorial. No
caso mais geral, existem raizes nas duas “direcções” e a harmónica designa-se por tesseral.
As harmónicas esféricas de superfície representam assim, formas sucessivas de variação espacial, de dimensões
horizontais que diminuem com o grau e a ordem consideradas. É importante ser compreendida a relação entre
cada valor do grau n e a dimensão espacial.

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2.4.3 Semi-normalização de Schmidt


As HES não são normalizadas. Deste modo, a norma de cada termo de (2.46) varia com m e n, pelo que o valor
relativo dos coeficientes g e h não pode ser tomado como uma medida da importância de cada um dos termos
na série. Em Geomagnetismo utiliza-se uma normalização parcial: as harmónicas zonais não são normalizadas,
mas as tesserais e as sectoriais são-no, utilizando-se o factor de normalização:
(n  m)!
(2   m,0 )
(n  m)!
Deste modo, a expressão das funções associadas de Légendre quasi-normalizadas é a seguinte:
1 dn
Pnm = ( p 2 - 1) n ;m = 0
2 n ! dp n
n

(2.46)
m 2(n - m)! 1 dn
P =
n (1- p 2 ) m n ( p 2 - 1) n ;m > 0
(n + m)! 2 n ! dp n
Esta semi-normalização tem a vantagem de tornar a quantidade

( g 
n
R ( n)  m 2
n )  (hnm )2
m 0

invariante a uma rotação do sistema de coordenadas. A semi-normalização da expressão das tesserais e sectoriais
assegura que tenham o mesmo rms que as zonais do mesmo grau. Deste modo, o valor relativo do coeficiente
respectivo informa-nos imediatamente da importância relativa de cada termo da expressão (2.45).
A expressão (2.45) deve ainda ser escrita de modo a separar explicitamente as fontes internas (r<a) e as fontes
externas (r>a) sendo a o raio médio da Terra (6371 km):
n 1 n

 g  a ar   g 
10 10 n n
V a n 1
a
 
r m 0
n cos m  hn sin m
i m i m

n 1 m 0
n cos m  hn sin m
e m e m
(2.47)

Na expressão anterior o primeiro termo refere-se à componente interna do potencial magnético e o segundo termo
à componente externa.
2.4.4 Importância Relativa dos Campos Externo e Interno
A demonstração matemática de que o campo magnético da Terra é essencialmente de origem interna foi obtida
por C. F. Gauss em 1838. Para isso comparou os valores obtidos para os 4 conjuntos de coeficientes
representados em (2.47) para concluir que os que correspondiam ao campo interno eram dominantes sobre os
outros.
Como veremos mais à frente a influência das fontes do CMT exteriores ao planeta traduz-se por variações
temporais de pequena amplitude, quando comparadas com a amplitude do campo de origem interna, e que
podem ser eliminadas dos dados a partir de “médias” corridas sobre as observações, ou por comparação com
dados recolhidos continuamente em Observatórios. Por esse facto, as representações globais do CMT, referem-
se a valores médios do CMT, considerados livres das variações temporais de período inferior a 1 ano e que, por
isso, são representativos do campo de origem interna.
2.4.5 Interpretação dos termos de baixo grau e ordem de V
Consideremos, por exemplo, os termos de ordem mais baixo (n = 1) da expressão anterior. Neste caso :

g  g P ( )  g P ( )  h sin  P (cos  )


1
a3 a3
V 1 ( r , ,  )  1 cos m
m
 h1m sin m P1m (cos  )  0 0
1 1
1 1
1 1
1
1 1
1
r2 m 0
r2
(2.48)

mas P10 ( ) = cos  e P11 ( ) = sin  pelo que a expressão anterior se pode escrever simplesmente:

V1 
a3
r2
g 1 cos 
0
 g11 cos  cos   h11 sin  sin   (2.49)

Se escrevermos esta expressão em coordenadas cartesianas utilizando a transformação:

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x  r sin cos 
y  r sin sin 
z  r cos 
teremos :
a3  0 z x y
V1  g
2  1 r
 g11  h11 (2.50)
r  r r 
Se compararmos a expressão anterior com a expressão (1.1) podemos concluir que os coeficientes de ordem 1
representam o campo magnético de um dipolo centrado na Terra, cujo momento é dado por:
4𝜋 3 1
𝑚𝑥 = 𝑎 𝑔1
𝜇0
4𝜋 3 1
𝑚𝑦 = 𝑎 ℎ1
𝜇0
4𝜋 3 0
𝑚𝑧 = 𝑎 𝑔1
𝜇0
O campo dipolar tem por magnitude, no equador magnético
(2.51)
𝐵0 = √(𝑔10)2 + (𝑔11 )2 + (ℎ11 )2

O ângulo entre os eixos geográfico e magnético, ou seja, a co-latitude do polo centrado será:
√(𝑔11)2 + (ℎ11 )2 (2.52a)
𝑡𝑎𝑛𝜆 =
|𝑔10 |

Enquanto que a sua longitude terá o valor:


ℎ11 (2.52b)
𝑡𝑎𝑛𝜙 =
𝑔11
Os termos de ordem mais alta do desenvolvimento em AHE correspondem às componentes multipolares do
CMP. Subtraindo-se ao CMT o campo do dipolo que melhor o aproxima, obtemos o que se designa por
componente não-dipolar do CMP. A amplitude rms do campo não dipolar (1.06 x 10-5 T) é de cerca de um
quarto do campo dipolar (4.275 x 10-5 T).

2.5 Espectro Espacial do CMT


A normalização de Schimdt utilizada em Geomagnetismo assegura que a magnitude RMS do campo à superficie da
Terra gerado por cada harmónica g nm ou hnm é dada por:

Bnm
RMS

 n  1 gnm , hnm 
então, para cada grau n, do desenvolvimento em AHE teremos,

( g 
n
Rn  (n  1) m 2
n )  (hnm )2 (2.53)
m 0

uma vez que os diferentes termos do desenvolvimento são ortogonais entre si. O cálculo deste “espectro” para a
descrição do CMT em harmónicas esféricas feita por Langel e Estes (1982) para o MAGSAT permitiu obter a
representação indicada na figura seguinte:

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Figura 2.2: Espectro (de Mauersberger-Lowes) do CMT à superfície da Terra. Em abcissas indica-se o grau n do desenvolvimento do campo em harmónicas
esféricas. Em ordenadas indica-se o logaritmo da energia associada. Alterado de Langel e Estes(1982).

A existência de uma descontinuidade entre 2n12 e 16n23 é uma prova da existência de dois domínios disjuntos
que são fonte do CMT. A partir do declive de cada uma dos troços do espectro representado na figura 2.2 é possível
deduzir-se a profundidade média da fonte. O valor que se obtém para a componente profunda é de 3310 km (Backus
et al, 1996). Quanto à componente superficial, a sua origem é seguramente litosférica, se bem a importância do
manto superior seja debatida.
Uma das conclusões mais importates que se pode tirar da figura anterior é a de que a representação matemática do
campo de origem profunda pode ser conseguida com um desenvolvimento em harmónicas esféricas de grau baixo,
como veremos na próxima secção.
Independentemente dos constrangimentos gerados pelo estudo dos mecanismos de aquisição de magnetização é
possível saber que o CMT é gerado por duas fontes espacialmente dijuntas, uma localizada perto da superfície da
Terra - e assimilada à crusta - e outra de maior profundidade - associada ao núcleo líquido - e entre as quais existe
um material de magnetização muito baixa.

2.6 Variação Secular do CMP


Se bem que a eistência de variações lentas do CMP é conhecida pelo menos dois séculos antes do Gauss [Stacey,
1992]. Contudo, a sua interpretação chocou desde sempre com a dificuldade de atribuir à terra sólida campos
de velocidades compativeis com as alterações observadas. Edmund Haley, no fim do século XVII [idem]
considerou a possibilidade de a Terra ser constituida por um conjunto de cascas esféricas magnéticas, rodando
com velocidades diferentes, como mecanismo gerador da variação secular.

Figura 2.3Variação do Momento do Dipolo Geomagnético entre 1820 e 1965 (dados extraidos de McHelinny, 1973)

A realização de observações contímuas do campo magnético da Terra permite concluir que, para além das variações

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transitórias atribuíveis a fontes externas, as próprias médias anuais das componentes do campo apresentam uma
variação lenta muito significativa, que espelha a escala temporal dos fenómenos físicos que ocorrem no núcleo
liquido da Terra. Este fenómeno, que é conhecido pela designação de “variação secular” tem como uma das suas
consequências a variação da declinação magnética ao longo dos anos. O valor da variação secular apresenta uma
grande coerência espacial, ou seja: locais contíguos mostram valores próximos de vs, o que põe em evidência o
carácter profundo dos fenómenos que a geram.
A magnitude da variação secular leva a que os modelos de IGRF (cf secção 2.8 deste capítulo) incluam nos graus
mais baixos termos que representam “taxas de variação” de cada componente com o tempo. A determinação do
valor do campo de referência, para um local e uma época determinados, passa assim pela “reconstituição” do valor
dos coeficientes do modelo, a partir do valor relativo ao ano base do modelo e da taxa de variação temporal
respectiva.
Já no século XVII E Halley notou que o padrão do CMT à superficie apresentada uma deriva lenta para oeste e
sugerir, para explicar este fenómeno a possibilidade de movimento diferencial de uma camada interna magnetizada
da Terra. Bullard, em 1950, confirmou a existência de “deriva para oeste” da componente não dipolar do campo, e
atribuiu-a à existência de uma velocidade de rotação do núcleo externo ligeiramente inferior à do manto, com o
valor de 0.2 o/ano. Uma explicação alternativa foi dada por Hide (1966) segunda a qual este fenómeno é ondulatório,
e gerado pela importância da componente toroidal no núcleo, que previlegia a propagação para oeste das ondas
electromagnéticas.
A persistência no tempo da deriva para oeste da componente não dipolar do CMT, é questionável e, se bem que
estabelecida para todo o período para o qual possuimos observações – os ultimos 4 séculos – não parece manter-
se para épocas mais recuadas, de acordo com os estudos de arqueomagnetismo.

2.7 Modelos de tipo IGRF


O IGRF é uma designação genérica atribuida pela IAGA a um conjunto de coeficientes de uma expansão em
harmónicas esféricas quase normalizadas de Schmidt.
A partir das conclusões da secção anterior é natural procurar uma representação matemática do campo de origem
profunda - Campo Magnético Principal, CMP - de modo a que, conhecidas as coordenadas geográfica de um ponto
qualquer sobre a Terra seja possível calcular a magnitude do CMP e, por subtracção, a componente devida à
influência crustal.

Figura 2.4 - Valor do Campo Total dado pelo modelo IGRF para Portugal e para a época 2008

O modelo matemático do CMP mais utilizado é designado por IGRF (International Geomagnetic Reference Field) e é
aprovado quinquenalmente pela IAGA - International Association for Geomagnetism and Aeronomy - inicialmente sob uma
forma provisória (PGRF), posteriormente revista (IGRF) e defintiva (DGRF). A necessidade de proceder a estas
revisões prende-se, como veremos, pela existência de uma variação secular do CMP importante, que só pode ser
correctamente contabilizada à posteriori.
A forma matemática escolhida para a representação do IGRF é a de un conjunto de coeficientes de um
desenvolvimento em harmónicas esféricas, semi-normalizado, de ordem e grau 10. Este modelo tem a forma
seguinte:

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n 1 n

 r   g 
10
a
V a n cos m  hnm sin m Pnm (cos  )
m
(2.54)
n 1 m 0

Na tabela seguinte apresentamos o valor dos coeficientes do modelo IGRF00.

gnm m
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 -29615 -1728 - - - - - - - - -
2 -2267 3072 1672 - - - - - - - -
3 1341 -2290 1253 715 - - - - - - -
4 935 787 251 -405 110 - - - - - -
n 5 -217 351 222 -131 -169 -12 - - - - -
6 72 68 74 -161 -5 17 -91 - - - -
7 79 -74 0 33 9 7 8 -2 - - -
8 25 6 -9 -8 -17 9 7 -8 -7 - -
9 5 9 3 -8 6 -9 -2 9 -4 -8 -
10 -2 -6 2 -3 0 4 1 2 4 0 -1

hn m m
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 - 5186 - - - - - - - - -

2 - -2478 -458 - - - - - - - -

3 - -227 296 -492 - - - - - - -

4 - 272 -232 119 -304 - - - - - -

n 5 - 44 172 -134 -40 107 - - - - -

6 - -17 64 65 -61 1 44 - - - -

7 - -65 -24 6 24 15 -25 -6 - - -

8 - 12 -22 8 -21 15 9 -16 -3 - -

9 - -20 13 12 -6 -8 9 4 -8 5 -

10 - 1 0 4 5 -6 -1 -3 0 -2 -8

Tabela 2.I - Coeficientes do Modelo IGRF00

É importante ser compreendida a relação entre cada valor do grau n e a dimensão espacial das anomalias magnéticas
à superfície da Terra que lhe deverão corresponden. Segundo Backus et al. (1986) podemos considerar como
comprimento de onda, o valor dado por:
2 r
c  (2.53)
1
n
2
pode assim concluir-se facilmente que o maior grau (n = 10) englobado no IGRF corresponde a uma dimensão
característica de 40.000/10.5 = 3810 km, o que é muito superior às dimensões típicas de uma fonte crustal.
Tendo em atenção os coeficientes indicados na tabela 1 para o IGRF90 teremos para o dipolo centrado (cf Secção
2.5):

- Pag 31 -
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m  (0.479;1.399;  7.700) 1022 Am2 (2.54)
A magnitude do momento do dipolo centrado será então de 7.840 . 1022 Am2 podendo
a sua posição no espaço ser
calculado de modo simples a partir das respectivas componentes.
O campo magnético medido à superficie da Terra é próximo do que corresponde a um dipolo centrado, ou seja,
assemelha-se largamente ao campo representado no capítulo 1. A componente não dipolar é responsável por menos
de 10 % do CMP. O ângulo entre os eixos magnético e geográfico deduzido do IGRF90 é de 10.9 graus.

2.8 Problemas
2.1: Escreva a expressão geral da Equação de Laplace em coordenadas curvilineas e especificque para o caso
das corrdenas esféricas e das coordenadas cilíndricas.
2.2: Determine a condição para que uma função representável por um polinómio de segundo grau (em
coordenadas cartesianas) seja harmónico.
2.3: Verifique se as funções x/r3, x2-y2, 2z2-x2-y2 e ztg-1(y/x) são funções harmónicas.
𝜕𝑓
2.4: Verifique que se uma função f(x,y,z) é harmónica então 𝜕𝑥 também o é.
2.5: A partir da expressão

Pn 
1
n
dn
2 n! dp n
p  1
2 n

determine a expressão dos quatro primeiros polinómios de Légendre. Verifique o acordo com a expressão
1  r '  ei  e i   r '   3 2i
 
2
1
1     e  e  2 i   
  
r r  2    
r 8 4
 
1

   
l 3
 r '   5 3i 3 i 
   e  e 3i  e  e i   ...
 r  16 16  

utilizando a fórmula de Euler.


2.5: Verifique que os polinómios de Légendre verificam a relação:
n
P'n 1  P'n  2k  1P
k 0
k

2.6: A partir das expressões dos polinómios de Légendre e da relação


dm
Pnm  sen m Pn
dp m
verifique que obém a expressão
1 d m n
Pnm  sen m ( p 2  1)n
2 n! dp m n
n

2.7: Escreva a forma explícita de P20, P21 e P22.


2.8: Indique a expressão que se pode obter para a representação em HES de um campo com simetria rotacional
em torno de OZ.
2.9: Escreva a forma explícita das tesserais R11, R12, S11 e S12.
2.10: A partir da expressão (2.49) determine o valor da componente dipolar do CMP para um ponto situado na
latitude 45º.
2.11: Utilizando os coeficientes do IGRF2000 listados na tabela 2.1 determine as coordenadas do polo na
aproximação do dipolo axial centrado (equações 2.52)
Resposta:  = 10.5º;  = 288.4º
2.12: Supondo que a aproximação do dipole axial centrado, e considerando os coeficientes do IGRF2005 g 10=
-29 557 nT, g11 = -1 672 nT, h11 = 5 080 nT, (a) determine a expressão das componentes X, Y e Z do
campo num observatório localizado em Lisboa (lat= 39N, long=9W) (b) Calcule o momento do dipolo
correspondente. (c) calcule o anguleo entre o eixo do dipolo e o eixo da Terra. Considere R T=6371km.

- Pag 32 -
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2.13: A tabela seguinte apresenta os valores do momento dipolar e da localização do polo na aproximação do
dipolo axial centrado:

Momento
Co- Longitude
Época Dipolar
latitude Este
Tm3
1990 7.84 10.8 289.0
1980 7.91 11.2 289.2
1970 7.97 11.4 289.8
1960 8.02 11.5 290.5
1950 8.07 11.5 291.1
1900 8.27 11.5 292.0
1850 8.47 11.5 295.6
1800 8.61 10.8 301.0
1750 8.84 10.1 305.4
1700 9.00 8.3 314.6
1650 9.18 7.0 322.3
1600 9.36 5.4 330.3
1550 9.54 3.1 334.1
Represente graficamente a variação do momento dipolar ao longo dos últimos 400 anos. Represente a
variação da localização do polo. Critique os resultados.
2.14: Utilize a fórmula de Backus para estabelecer qual o comprimento de onda caracteristico de uma expansão
em HES até à ordem 10.

2.9 Bibliografia
Backus G., R. Parker, C Constable, (1996) Foundations of Geomagnetism, Cambridge University Press, pp 369.
Langel, RA, Estes, RH, (1982). A geomagnetic field spectrum. Geophys. Res. Lett. 9, 250-253.
McElhinny, M W, (1972) Palaeomagnetism and Plate Tectonics, Cambridge University Press, pp 358.
Sommerfeld, A., (1952) Electrodynamics, Lectures on Theoretical Physics, Vol III, Academic Press.
Stacey, Frank D, (1992) Physics of the Earth, Brookfield Press, GPO Box 738, Kenmore, Brisbane 4069, Australia. P 1-513.

- Pag 33 -
Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

Cap 3 – O MAGNETISMO DAS ROCHAS


3.1 Introdução
Como se discutiu anteriormente, o CMT medido à superficie corresponde à sobreposição de três componentes
distintas: a primeira tem por origem o núcleo externo e designa-se por campo magnético principal – CMP –
a segunda tem por origem os fenómenos físicos que ocorrem na ionosfera e no exterior da Terra e designa-se
por campo externo – CE – e a terceira tem por fonte a interacção com as formações geológicas que constituem
no essencial a crusta (e eventualmente parte do manto superior) e designa-se por campo crustal.
Podemos retirar o CMP aos valores medidos do CMT, utilizando para tal um modelo matemático do tipo
IGRF. Podemos retirar o CE realizando médias temporais sobre os dados observados. Ao valor residual assim
obtido, que supomos integrar a influência crustal damos habitualmente o nome de “Anomalia Magnética”. Na
figura seguinte apresenta-se uma compilação recente das anomalias magnéticas crustais (Purucker, M. E., 2007).

.
Figura 3.1 – Campo Magnético da Terra de origem crustal

Estas anomalias são atribuidas essencialmente a variações laterais da magnetização das rochas e podem atingir
alguns milhares de nT em casos excepcionais de formações com teores elevados de magnetite. De um modo
geral estas anomalias caracterizam-se por um número-de-ondas reduzido e inferior à centena de quilómetros,
se bem que existem casos, como o da anomalia de Bangui, na África Central, onde a extensão lateral ultrapassa
os 250 km por 700 km, para uma amplitude de cerca de 500 nT.

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Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

3.2 Magnetização das Rochas


3.2.1 Tipos Básicos de Comportamento Magnético das Rochas

O campo magnético gerado por uma formação geológica, num ponto P de coordenadas r pode ser determinado
matemáticamente por uma expressão do tipo :

      1 
Fa (r )   0 grad P
4  M (r ')  grad Q
  
 r  r'
dv


(3.1)


desde que conheçamos o valor que a magnetização volúmica M assume para cada elemento de volume (dv) dessa

rocha, sendo Q (  r ' ) o ponto corrente sobre a formação.
A magnetização volúmica é função da história magnética da rocha, que determina a magnetização remanescente do
material, e do campo magnético ambiente, que determina a magnetização induzida. De uma forma mais ou menos
complexa, a magnetização volúmica é gerada pelo CMP, pelo que se torna necessário conhecer de que maneira e
por que processos essa influência é realizada. De uma forma simplificada, podemos partir de uma expressão do tipo
:
  
M  H  M R (3.2)

em que o termo H corresponde à componente induzida - que existe apenas na presença de um campo magnético
ambiente - e o termo M R à componente remanescente da magnetização, que corresponde à componente permanente
da magnetização. Ao parâmetro  chamamos susceptibilidade magnética, que no SI é adimensional.
A medida da importância relativa da magnetização remanescente em relação à magnetização induzida é dada pela
razão de Koenigsberger :

MR
Q  (3.3)
H

O valor de  não é necessariamente constante para uma dada substância, podendo ser função do valor do campo
H. Assim apresentam-se nas tabelas uma gama de valores de , para cada rocha ou mineral, assim como o seu valor
"médio", que corresponde a uma média pesada de observações laboratoriais.
Nas tabelas seguintes apresentam-se os valores das susceptibilidades magnéticas de várias rochas e minerais.

Tipo (SI)
Dolomite -12.5 a 44
Calcário 10 a 25000
Arenito 0 a 21000
Xisto 315 a 3000
Gneisse 125 a 25000
Serpentinite 3100 a 75000
Granito 10 a 65
Riolite 250 a 37700
Gabro 800 a 76000
Basaltos 500 a 182000
Peridotite 95500 a 196000

Tabela 3.1 - Susceptibilidades Magnéticas de Algumas Rochas (unidades 10-6SI)

Tipo  (SI)
Grafite -80 a –200
Quartzo -15
Sal Gema -10
Calcopirite 400

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Tipo  (SI)
Pirite 50 a 500
Hematite 420 a 38000
Pirrotite 1250 a 6.3 x 106
Ilmenite 314000 a 3.8 x 106
Magnetite 70000 a 2 x 107
Tabela 3.2 - Susceptibilidades Magnéticas de Alguns Minerais (unidades 10-6SI)

Apesar de haver uma grande variedade nos valores apresentados, é possível dizer que as rochas sedimentares
apresentam os valores mais baixos de susceptibilidade média e as rochas ígneas (ou básicas) os mais altos. De uma
forma geral as rochas máficas são mais magnéticas que as siliciosas : os basaltos são mais magnéticos que os riolitos
e os gabros mais magnéticos que os granitos. Para a mesma composição química as rochas extrusivas têm
magnetização remanescente mais alta e susceptibilidade mais baixa que as intrusivas - têm razões de Koenigsberger
superiores. Nas rochas sedimentares e metamórficas os valores da magnetização são muito baixos.
Em todos os casos, o valor da susceptibilidade depende da quantidade de minerais ferrimagnéticos presentes, em
especial a magnetite (por vezes a ilmenite ou a pirrotite).
Se bem que a mecânica quântica enquadre o estudo do comportamento magnético dos materiais, podemos adoptar
aqui uma aproximação essencialmente fenomenológica que é suficiente para a Geofísica.
O modelo simples da estrutura atómica considera um núcleo central de carga eléctrica positiva, à volta do qual orbita
um cortejo de electrões que giram igualmente em torno dos respectivos eixos. Sabemos do electromagnetismo
clássico que uma carga eléctrica em movimento gera um campo magnético, contudo, em muitas substâncias os
dipolos atómicos magnéticos dispõem-se aleatóriamente pelo que o momento magnético total é nulo. Os átomos
possuem momento dipolar magnético devido ao movimento orbital do cortejo electrónico e devido ao momento
dipolar intrinseco dos electrões, que se designa por spin. Há ainda uma contribuição, mais reduzida, do núcleo.
Consideram-se habitualmente alguns tipos básicos de comportamento magnético dos materiais: diamagnetismo,
paramagnetismo, ferromagnetismo, ferrimagnetismo e antiferromagnetismo. Estes comportamentos assentam em
mecanismos físicos distintos, e por isso não podem ser interpretados como alternativos. As rochas (e/ou os
minerais) são também classificados desta maneira, de acordo com o comportamento dominante que por nós é
observado.
3.2.2 Diamagnetismo
Do ponto de vista heurístico, uma substância diz-se diamagnética quando
 tem uma susceptibilidade magnética ()
negativa, isto é, a magnetização induzida na substância pelo campo H tem uma direcção contrária à do campo. Se
bem que o comportamento diamagnético apenas domine num conjunto de materiais, o diamagnetismo em si é uma
propriedade
 geral de todos os materiais pois o movimento orbital dos seus electrões, na presença de um campo
externo H é tal que se opõe ao campo.

Consideremos uma carga eléctrica e animada de velocidade  v (e.g. um electrão em órbita, num modelo clássico de
tipo “planetário”) sob a acção de um campo magnético B sofre uma força de Lorentz dada por:
  
F evB
(3.3)
De acordo com
 o Teorema de Larmor o movimento dos electrões à volta do núcleo central sob a acção de um campo
magnético Bcorresponde, numa primeira aproximação, à sobreposição do movimento que seria observado na
ausência de B com uma precessão, cuja frequência angular L é dada por:
eB
L 
2me
(3.5)

A precessão de Z electrões (Z, número atómico), corresponderá a uma corrente eléctrica dada por:
 Ze  Ze2
I  (3.6)
fL 4 me

em que fL=2L. O momento magnético (que se opõe a B ) pode ser calculado multiplicando a intensidade de
corrente pela área da espira:

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Ze2  2
d   B (3.7)
4me

sendo r 2 a distância média dos electrões ao eixo dos zz, que supomos coincidir com a direcção do campo B , e
Z o número atómico. A susceptibilidade diamagnética é então dada por:

M n d 0 0 nZe2 r 2
d    (3.8)
H B 6me

uma vez que, para uma distribuição simétrica de carga, <x2>=<y2>=<z2>, pelo que  2  2
3
r2 e onde n é o
número de átomos por unidade de volume. Este é o modelo de diamagnetismo de Langevin.
A determinação da susceptibilidade diamagnética reduz-se assim à determinação de <r2> correspondente à
distribuição electrónica do átomo em questão. Esta distribuição pode ser calculada pela Mecânica Quântica.
O efeito diamagnético é reduzido, quando comparado com outras formas de comportamento magnético que
descrevemos seguidamente, pelo que muitas vezes não prevalece (isto é, as outras formas de magnetismo
sobrepõem-se ao diamagnetismo). Muitos compostos e elementos simples exibem diamagnetismo. Os materiais
diamagnéticos mais comuns existentes na crusta terrestre são a grafite, o mármore, o quartzo, os feldspatos e os
evaporitos.
3.2.3 Paramagnetismo
Do ponto de vista heurístico, uma rocha (ou um mineral) diz-se paramagnética quando apresenta uma

susceptibilidade magnética () macroscópica positiva, isto é, a magnetização induzida na substância pelo campo H tem a
mesma direcção que o campo aplicado.
Esta situação ocorre quando o comportamento paramagnético é dominante. O paramagnetismo é dominante nas
substâncias cujos átomos possuem sub-camadas não completamente preenchidas. São exemplos deste
comporrtamento as séries de elementos Ca20 - Ni28, Nb41-Rh45, La57-Pt78, Th90-U92 e os seguintes minerais: piroxena,
olivina, biotite e anfibolite. Este efeito decresce com a temperatura.
Qual a origem do comportamento paramagnético? Um modelo físico explicativo do paramagnetismo pode ser
realizado com o recurso à física clássica: consideremos um modelo simplificado de um material, assimilando-o
a um conjunto de dipolos magnéticos elementares sem interacções. A resposta de um sistema deste tipo, medida
pela magnetização volúmica induzida, será dada por:
 
M v1   .B  N cos 
i
(3.9)
V B

em que  é o ângulo entre o campo aplicado de intensidade B e o momento elementar e N o número de dipolos

de momento i por unidade de volume. Se considerarmos que existe uma pequena interacção entre os dipolos
elementares, e sabendo que os dipolos correspondentes a pequenos valores de  serão favorecidos, podemos
determinar o valor médio <cos> utilizando a estatística de Boltzmann:
Ej

j
cos  j e kT

cos   Ej
(3.10)

e j
kT

em que o termo energia tem o valor:


E j  mB cos  j (3.11)
se o número de dipolos for muito grande, podemos considerar uma distribuição contínua e re-arranjar a
expressão (3.10) sob a forma:

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1 mB
cos

1
cos  e kT
B kT
cos    coth  (3.12)
1 mB
cos kT B

1
e kT

pelo que a magnetização volúmica Mv assume, para N dipolos por unidade de volume, o valor:
 B kT 
M v  N coth   (3.13)
 kT B 
Em que o termo entre parenteses se designa por função de Langevin. Quando B tende para zero ou T tende
para infinito coth (x) tende para 1/x, pelo que M tende para zero. Quando B tende para infinito o termo em
coth tende para 1 (verifique a partir da definição) e o segundo termo de (3.8) tende para zero, pelo que a
magnetização tende para N, ou seja, a saturação.
Se expandirmos a coth até ao segundo grau do argumento:
1 a
coth a   (3.14)
a 3
teremos:
Nm2 B M v m0 Nm2
Mv     0  (3.15)
3kT B 3kT
que mostra que a susceptibilidade quando o argumento da função de Langevin é menor que 1 (o que se verifica
nas situações geologicamente razoáveis) é inversamente proporcional à temperatura absoluta. Esta é a Lei de
Curie da susceptibilidade paramagnética que se aplica às situações típicas do magnetismo das rochas.
Figura 3.2 – Função de Langevin. Para valores do argumento  menores que a unidade esta função iguala /3

1.0

0.8

f()=/3
0.6 função de Langevin
L()

0.4

0.2

0.0
0 1 2 3 4 5

Este modelo clássico descreve o que se designa por paramagnetismo de Langevin. Aplica-se a todos os
conjuntos de partículas com momentos suficientemente grandes para que o tratamento quântico seja
significativo (superparamagnetismo) ou pode ser visto como o caso limite do tratamento quântico, para
situações em que os números quânticos são muito grandes.
3.2.4 Ferromagnetismo
3.2.4.1 Interacção de Troca e Temperatura de Curie
As substâncias dia e paramagnéticas apresentam sempre magnetizações muito reduzidas, quando comparadas
com substâncias como o ferro, o cobalto e o níquel, que exibem magnetizações elevadas, sendo as suas
propriedades conhecidas como ferromagnetismo. Note que no modelo de paramagnetismo que apresentámos

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os dipolos magnéticos elementares foram considerados como independentes. Nos materiais ferromagnéticos
existe uma interacção entre eles, capaz de gerar uma magnetização elevada.
No quadro da física clássica não é possível descrever o comportamento ferromagnético, uma vez que este é
condicionado essencialmente pelo momento magnético associado ao spin dos electrões, que não tem análogo
clássico.
Se se aplicarem as regras definidas anteriormente para determinar a distribuição electrónica da primeira série
dos elementos de transição da tabela periódica, veremos que os elementos sucessivos correspondem ao
preenchimento da subcamada 3d (n=3, l=2). O momento total de spin atinge um máximo quando a subcamada
3d está semi-preenchida, com 5 electrões desemparelhados, reduzindo-se de novo à medida que os orbitais vão
sendo ocupados com dois electrões anti-paralelos. O número quântico de spin máximo é assim de 5/2 uma vez
que as primeiras três camadas (1s2 2s2 2p6 3s2 3p6) similares ao Argon correspondem a orbitais completamente
preenchidos.
Vejamos o que ocorre no caso dos óxidos de ferro, de particular interesse para a geofísica. No processo de
ionização dos iões Fe2+ e Fe3+ os primeiros electrões a ser removidos são os que pertencem à sub-camada 4s.
Os iões formados Fe2+=(Ar)3d6 e Fe3+=(Ar)3d5 podem ser encarados como dipolos magnéticos microscópicos
(paramagnéticos), com spin 4 e 5, respectivamente. O Oxigénio, que participa nos óxidos de ferro, tem a
estrutura electrónica 1s2 2s2 2p4, e com a captura de 2 electrões, transforma-se num anião com estrutura
electrónica semelhante à do Ne.
Quando o comportamento dos momentos magnéticos elementares se pode considerar como independente,
estamos, como vimos já, na situação descrita como paramagnetismo. Contudo, alguns materiais demonstram a
propriedade de gerar a cooperação entre os momentos magnéticos elementares, abrangendo uma região
significativa da rede cristalina. O mecanismo responsável por esta cooperação denomina-se interacção de troca, e
tem como origem a sobreposição dos orbitais entre iões vizinhos da rede cristalina. No caso dos óxidos de
ferro essa sobreposição envolve os orbitais 3d, e utiliza como intermediário o anião O2-.

Figura 3.3 – Interacão de troca indirecta entre dois catiões Ferro e um anião Oxigénio. Os dois catiões adquirem uma orientação de spin coerente antiparalela.
Quando um dos catiões que participa na interacção tem a sub-camada 3d menos que meia preenchida e o outro
catião mais que meia preenchida, os dois catiões aquirem uma orientação de spin coerente paralela
(acoplamento paralelo); em todos os outros casos o acoplamento é anti-paralelo.
A eficácia da interacção depende da fracção de sobreposição dos orbitais, que por sua vez depende das distância
interatómicas na rede cristalina, e do ângulo da ligação metal-oxigénio-metal, que deve ser próximo de 180º.
A interacção de troca entre um átomo i e os átomos vizinhos j pode ser quantificada por um termo energia,
com a forma:
Etr = -2 Jij Si Sj (3.16)
em que Jij é a constante de energia de troca, e pode ser positiva (acoplamento paralelo) ou negativa
(acoplamento anti-paralelo). Note que o alinhamento entre os spins, mesmo no caso mais simples de um par
de átomos idênticos (Etr=-2JS2 cos), apenas será perfietamente alinhado quando a temperatura é de zero
absoluto; a temperaturas finitas, a agitação térmica perturba o alinhamento entre spins e, existe um valor da
temperatura para a qual a agitação térmica fornece a energia necessária (kT c ~4JS2) para destruir o acoplamento
entre os spins. Esta é a Temperatura de Curie.
Uma interacção onde J seja positivo é denominada ferromagnética. No caso em que J é negativo é denominada
antiferromagnética.

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Jorge Miguel Miranda

Nos materiais antiferromagnéticos, o acoplamento anti-paralelo conduz a que haja um cancelamento entre os
momentos magnéticos. Neste caso, a temperatura para a qual a ordem antiferromagnética é destruida designa-se
por Temperatura de Neel, e acima dela o material recupera o comportamento paramagnético. Substâncias
antiferromagnéticas são, por exemplo, MnO, FeO, CoO, NiO.

Figura 3.4 – Representação esquemática da diferença entre a ordem antiferromagnética (a) e ferrimagnética (b).

Na Magnetite Fe3O4 a ordem é essencialmente semelhante ao antiferromagnetismo, mas as sub-redes cristalinas


acopladas anti-paralelamente não se cancelam totalmente, sendo o momento magnético global diferente de zero,
situação esta que se designa por ferrimagnetismo. Tal pressupõe que um dos conjuntos de domínios tem um
alinhamento magnético mais forte ou, então, que existem mais domínios numa direcção do que na outra. Outros
exemplos são a magnetite, a titanomagnetite e a ilmenite, os óxidos de ferro ou ferro e titânio; a pirrotite é um
mineral magnético do segundo tipo. Praticamente todos os minerais magnéticos são ferrimagnéticos.
A susceptibilidade dos minerais antiferromagnéticos, se bem que baixa, é muito estável. Na hematite, por exemplo,
os dois conjuntos de domínios estão ligeiramente “desalinhados” pelo que uma amostra de hematite possui sempre
uma magnetização permanente não nula (antiferromagnetismo direccional). Uma situação semelhante pode ocorrer
nos casos em que a magnetização permanente não nula é gerada por defeitos cristalinos.
3.2.4.2 A série ternária FeO, TiO2, Fe2O3
Os minerais que contribuem de forma mais decisiva para a magnetização das rochas pertencem à série ternária FeO-
TiO2-Fe2O3, representada na figura 3.5.

Figura 3.5 – Sistema ternário FeO-TiO2-Fe3O4, onde se mostram as soluções sólidas mais importantes para as magnetização das rochas terrestres. As linhas a
tracejado indicam séries de idêntica razão Ti:Fe.

No sistema ternário representado na figura 3.5, devem-se distinguir, pela sua importância, os óxidos cúbicos
Magnetite (Fe3O4), Maghemite (-Fe2O3) e as soluções sólidas de Magnetite em Ulvospinel (Fe2TiO4),
denominas titanomagnetites. Para além destas temos ainda os minerais romboédricos como a Hematite ( –
Fe2O3) e as suas soluções sólidas com a Ilmenite (FeTiO3), designadas por titano-hematites.

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Introdução ao Geomagnetismo
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A Pirrotite (FeS1+x, 0 < x < 0.14) é o único sulfureto de ferro que é ferrimagnético. A sua temperatura de Néel,
de transição para o estado paramagnético é de 300ºC. Para baixo desta temperatura, é antiferromagnético
quando 0 < x < 0.09 e ferrimagnético se 0.09 < x < 0.14.
3.2.4.3 Ciclo de Histerese
Quando uma substância ferromagnética, inicialmente desmagnetizada, é colocada sob a influência de um campo

magnético aplicado H , ela irá manifestar uma certa magnetização. Se aumentarmos gradualmente a intensidade
do campo aplicado, obteremos uma curva semelhante à representada na figura 3.6.

Figura 3.6 – Curva de Histerese para um material ferromagnético


À medida que o campo aplicado H cresce, a susceptibilidade magnética – que corresponde simplesmente ao
  
declive da curva J vs H , vai crescendo, descrevendo o ramo a da curva, para valores reduzidos de H , podemos
observar reversibilidade, ou seja, se diminuirmos o campo aplicado a magnetização induzida reduzir-se-á

também, anulando-se quando H se anular também.
Se aumentarmos o campo aplicado até atingirmos o ramo b, deixaremos de observar reversibilidade na curva:
ao diminuirmos o campo aplicado, a magnetização induzida percorrerá o ramo c, obtendo-se assim uma

magnetização remanescente isotérmica – IRM - Jt. Quanto maior for o valor de H atingido, maior será o
valor da IRM. Existe contudo um valor de campo aplicado, denominado campo de saturação (Hsat na figura) a
partir do qual não se observa crescimento na IRM. Designa-se igualmente por IRM de saturação (Js) este valor
máximo da magnetização assim obtido.
Para cada material ferromagnético e cada temperatura, existe um valor de magnetização de saturação. A
magnetização de saturação diminui quando a temperatura absoluta aumenta, anulando-se na temperatura de
Curie característico de material ferromagnético.

Se se inverter o sentido do campo H aplicado a IRM pode ser anulada. Ao valor do campo aplicado necessário
para o fazer designa-se por Hc, força coerciva.
3.2.4.4 Energia Magnetostática e Factor de Desmagnetização
Quando a magnetização adquirida por um corpo gera um campo “externo” ele irá possuir uma determinada
energia magnetostática, ou energia de auto-desmagnetização. Esta vai depender essencialmente da forma do
corpo magnetizado.
Consideremos o caso (apresentado na figura 3.6) de um corpo de forma elipsoidal, que se encontra
magnetizado. A distribuição interna da polarização magnética gera um campo exterior que é semelhante ao
gerado por uma distribuição teórica de monopolos Norte e Sul distribuidos à superficie do corpo, da forma
indicada na figura.

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Figura 3.7 – O campo “externo” gerado por um elipsóide dotado de uma determinada magnetização volúmica (à esquerda) pressupõe a existência de um campo
“interno” que lhe está indissociavelmente ligado e cuja direcção é contrária à da magnetização.

Esta distribuição de “polos magnéticos” é compatível com a existência de um campo interno, que se denomina
campo desmagnetizador cuja direcção é contrária à da magnetização do corpo. Os campos “externo” e
“interno” são inseparáveis, interdependentes e complementares. A designação desmagnetizador provém apenas
do facto de a direcção do campo interno ser contrária à da magnetização mas este campo não gera qualquer
desmsagnetização.
O campo interno é uniforme quando a magnetização é uniforme e é dado por:
H d = - NM (3.17)
em que N se designa factor de desmagnetização. N depende da forma do corpo, e os seus valores foram
tabulados para os elipsóides por Stoner e Osborne em 1945, variando os valores obtidos entre 0 e 1 (SI). Uma
esfera, por exemplo, tem factores de desmagnetização de 1/3, 1/3 e 1/3, respectivamente.

a/b Na Nb
0 0.1 0.4500
0.01 0.9845 0.0077
0.1 0.8608 0.0696
0.5 0.5272 0.2364
1.0 0.3333 0.3334
2.0 0.1736 0.4132
5.0 0.0558 0.4721
10.0 0.0203 0.4899
50.0 0.0014 0.4993
100.0 0.0004 0.4998

Tabela 3.3 – Factores de Desmagnetização para elipsoides de revolução, com eixo polar a e eixo equatorial b.

A energia magnetostática associada por unidade de volume terá o valor


1
Em = NJ 2 (3.18)
2
em que J é a magnetização volúmica e N é o factor de desmagnetização segundo a direcção de magnetização.
3.2.4.5 Domínios Magnéticos
Quando um grão ferromagnético s.l. é magnetizado, verifica-se que a distribuição dos dipolos magnéticos
elementares no seu interior tem tendência a se re-arramjar de modo a ser alcançado uma situação de energia
magnetostática mínima. Tal é alcançado através da criação de domínios magnéticos dentro dos quais a direcção
da magnetização apresenta uma direcção consistente, e que estão separados uns dos outros por paredes, que se
podem re-arranjar, com algumas limitações, em função da sua magnetização.

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Figura 3.8 – Esquema de subdivisão de um grão ferromagnético em domínios.

A subdivisão em domínios termina quando a energia necessária para formar uma parede suplementar fôr
superior ao ganho de energia magnetostática com a nova configuração.
A magnetização permanente da maioria das rochas é gerada por grãos que contêm um número pequeno de
domínios magnéticos. As rochas caracterizadas por grãos de grande dimensão apresentam um número elevado
de domínios por grão, de tal forma que a magnetização total pode ser nula. Sob a acção de um campo externo
ocorre remagnetização, que se traduz pelo crescimento de uns domínios à custa dos outros, pelo que a
magnetização deste tipo de rochas é habitualmente fraca e instável.
A transição entre as direcções de magnetização de dois domínios adjacentes não varia de forma abrupta. A
“largura” das paredes varia entre 100 e 1000 A, sendo a energia correspondente proporcional à área A da parede:
Ew = Aw; (3.19)

em que a constante w tem o valor w  0.5  103 Jm 2 . No domínio interior a estas paredes os dipólos vão sendo
gradualmente impossibilitados de mudar a sua direcção preferencial.

Figura 3.9 – Variação de Energia Magnetostática através de uma parede entre domínios

Na ausência de qualquer campo externo os domínios auto acomodam-se reduzindo a energia magnetostática.
Quando da aplicação de um campo magnético fraco a um sistema de domínios encerrados, os que estão
paralelos ao campo aplicado crescem por extensão das suas paredes de bloqueio, em detrimento dos domínios
não alinhados.
Seguindo a figura 3.9, quando é aplicado um campo externo, a parede de bloqueio estende-se de (i) a (ii)
atravessando pequenas barreiras de energia inerentes aos cristais e ainda têm a hipótese de voltar à posição
inicial quando retirado o campo. Quando o campo aplicado é muito forte, a parede estende-se até à posição
(iii), passando a maior barreira de energia, já não podendo assim, voltar à sua posição inicial. Então o material
reterá, como vimos, uma magnetização remanescente isotérmica IRM associada aos domínios que permanecem
dilatados. Se for aplicado um campo magnético ainda mais forte, então perante um determinado valor H s

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(campo aplicado de saturação) todos os possíveis movimentos das paredes dos domínios ultrapassaram as
barreiras de energia, de tal modo que o material se torna magneticamente saturado (M s).
No entanto, se considerarmos períodos extensos de tempo, a activação térmica permite que individualmente
os átomos passem sobre a barreira de energia e se reponha a configuração inicial.
Mesmo em campos fortes o spin interno dos electrões individuais força-os a alinharem-se com o campo
aplicado. A energia necessária para a rotação destes dipólos é muito maior do que a que seria necessária para
mover as paredes de bloqueio dos domínios e, na remoção do campo aplicado, a amostra retoma o seu valor
saturado.
Nos materiais com grãos muito pequenos não há lugar à formação de paredes. Os grãos resultantes
denominam-se de domínio singular (SD), e apenas campos fortes possibilitam a rotação dipolar individual. A
aplicação de um campo forte segundo um determinado ângulo com a direcção cristalográfica ‘fácil’ de uma
partícula SD, faz com que os dipólos rodem, alinhando-se com o campo aplicado, no entanto, os dipólos
relaxarão para as suas direcção ‘fáceis’ depois de removido o campo aplicado. Este comportamento SD é
particularmente importante em rochas que contenham frequentemente material de grão fino, sobre o qual um
campo magnético fraco (comparável ao da Terra) não tem efeito. Assim a magnetização pode permanecer
estável para prolongados períodos de tempo.
Os grãos mono-domínio são em princípio muito difíceis de re-magnetizar uma vez que é necessário realinhar
a posição de todos os átomos em simultâneo. Esta situação é particularmente importante nos grãos mono-
domínio de maiores dimensões de magnetite (~1 micron). No caso dos grãos mono-domínio de muito pequena
dimensão (~ 0.05 micra) a magnetização permanente persiste apenas uma fracção de segundo. Entre estes dois
extremos a magnetização permanente pode persistir por períodos comparáveis à idade da Terra. Os grãos mais
pequenos que o limite crítico (0.05 micra) são denominados superparamagnéticos uma vez que o seu
comportamente os aproxima dos materiais paramagnéticos.
No caso dos grãos multi-domínio de pequenas dimensões (entre 1 e 20 micra para a magnetite), não é possível
obter-se arranjos dos dominios magnéticos que gerem magnetização global nula. Estes grãos, denominados
“pseudo mono-domínio” são muito importantes para o paleomagnetismo, mas a sua física é ainda pouco
conhecida (Sleep e Fujita, 1997).
Figura 3.10– Estruturas possíveis de domínios magnéticos em grãos de magnetite.

Em que condições é que há lugar à formação de grãos SD, MD ou PSD ? Kittel (1949, em McElhinny, 1976)
apresenta o seguinte cálculo simplificado:
A energia magnetostática de um grão esférico de diâmetro d, e magnetização de saturação Js, no caso do SD
tem, de acordo com a equação (3.18) o valor:
1 p 1
E1 = NJ S2 .v = NJ S2 d 3 = J S2 d 3 (3.20)
2 12 9
em que v é o volume do grão e o factor de desmagnetização tem para a esfera o valor de 4/3. Este valor é
aproximadamente metade do que corresponde a um estado com dois domínios (cf figura 3.7). O diâmetro
crítico d será aquele em que esta energia magnetostática iguala a energia associada à parede do domínio, dada
pela equação (3.19):
1
𝐸𝑤 = 𝜋𝑑2 𝑤
4
(3.21)
onde supomos a parede circular, de diâmetro d. Sendo assim, o valor crítico do diâmetro d0, será dado por:
9 w
d0 = (3.22)
2p J S2
Para a magnetite (Js=480 emu/cm3) pelo que d0=0.03. Para a hematite (Js=2.2 emu/cm3) pelo que d0=0.15cm.
Uma vez que a dimensão dos grãos de hematite muito raramente ultrapassam esta dimensão, podemos
considerar que a situação SD é a situação comum. Contudo, grãos de magnetite da ordem de grandeza de 0.03
são, como vimos, superparamagnéticos, pelo que é necessário considerar as teorias de PSD e MD para descrever
as propriedades das rochas que contêm magnetite ou titanomagnetites.

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3.2.4.6 Teoria dos Grãos Mono-domínio


A magnetização de um conjunto de grãos monodomínio foi estudada por Néel, assumindo que as interacções
entre grãos são desprezáveis. Esta teoria é muito util porque permite descrever alguma da fenomenologia mais
importante das substâncias ferromagnéticas s.l.
Considere-se um material composto por um conjunto de grãos idênticos, com simetria uniaxial, cujos
momentos magnéticos podem ser orientados segundo uma direcção, nos dois sentidos opostos. Os eixos destes
grãos estão orientados de forma aleatória no espaço, pelo que a magnetização deste material pode ser nula. As
propriedades magnéticas de cada grão deste material dependem da relação geométrica entre o eixo desse grão
e o campo aplicado. No caso de terem a mesma direcção, a relação entre o campo aplicado e a magnetização,
segue uma curva de histerese do tipo:

Figura 3.11 – Ciclo de histerese de uma particula mono-dominio, em que o angulo () entre o campo aplicado e o eixo da partícula é nulo

Neste caso, a magnetização da partícula é nula até que o campo aplicado ultrapasse o valor da coercividade do
grão. Quando se inverte o campo aplicado a magnetização (de saturação) permanece até que a intensidade do
campo aplicado se torna simétrica da coercividade. A situação oposta ocorre quando o ângulo entre o campo
aplicado e o eixo da partícula é de 90º. Neste caso o ciclo de histerese tem a forma:

Figura 3.12 – Ciclo de histerese de uma particula mono-dominio, em que o angulo () entre o campo aplicado e o eixo da partícula é de 90º.

A magnetização do grão é igual à magnetização de saturação J s sempre que magnitude do campo aplicado
ultrapassa o valor da coercividade Hc (cf –Hc). Para valores inferiores, a relação é linear e não há histerese, em
sentido estrito.
Uma vez que a orientação dos grãos é suposta aleatória, a curva de histerese resultante será semelhante à
apresentada anteriormente (Figura 3.6).
A energia interna de magnetização de um grão monodomínio depende apenas da orientação do campo
aplicado em relação ao seu eixo. No caso mais simples de um grão uniaxial, essa energia tem o valor:
E  Kv sin2  (3.23)
em que K é a constante de anisotropia, v o volume do grão e  o ângulo entre o campo aplicado e o eixo do
grão.
São três os factores que contribuem para a anisotropia magnética, a anisotropia magnetocristalina, a
anisotropia de forma, e a anisotropia gerada pelo tensão mecânica. A coercividade está relacionada com
a anisotropia através da relação:

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2K
Hc  (3.24)
0 J S
A anisotropia magnetocristalina é descrita por um parâmetro denominado constante de anisotropia magnetocristalina.
A anisotropia de forma pode relacionar-se com os factores de desmagnetização:
1
𝐾 = 2 (𝑁𝑏 − 𝑁𝑎 )𝐽𝑠2 (3.25)
A anisotropia relacionada com a tensão é dada por:
3
K  (3.26)
2
onde  é o coeficiente médio de magnetostrição e  é a amplitude da tensão interna. A susceptibilidade “inicial”
de um conjunto aleatório de grãos monodomínio é dada por:
J S2
s  (3.27)
3K
que, para a magnetite varia entre 0.1 e 1.0 e para a hematite é cerca de 10-5 a 10-4, devido ao valor muito inferior
da magnetização de saturação. Para grãos multidomínio a susceptibilidade depende apenas do factor de
desmagnetização, e não é uma propriedade do material magnético.
3.2.4.7 Viscosidade Magnética
Na ausência de um campo aplicado a energia interna de magnetização para um grão monodomínio uniaxial
pode tomar dois valores nulos, correspondentes a  = 0 e  = 180 (cf eq. 3.23), cuja transição obriga a passar
pela barreira de potencial:
E  Kv (3.28)
correspondente a  = 90º. A agitação térmica faz com que, qualquer que seja a temperatura absoluta T, exista
uma fracção de grãos cuja energia térmica E t  kT ultrapassa aquela barreira de potencial. Um conjunto de
grãos deste tipo, com um momento magnético M 0 irá convergir exponencialmente para um momento
magnético nulo, de acordo com a relação:
t
M T  M 0 exp ( ) (3.29)

em que t representa o tempo e  o tempo de relaxação. Este pode exprimir-se por:
1  vK 
 exp   (3.30)
C  kT 
em que C tem o valor aproximado de 1010 s-1. Podemos substituir na expressão anterior o coeficiente de
anisotropia K pela coercividade e magnetização de saturação, utilizando a expressão (3.24):
1  vH  J 
 exp  c 0 s  (3.31)
C  2kT 
Quando o tempo de relaxação é muito pequeno (e.g. < 103 s) a magnetização uma vez adquirida é perdida
“expontaneamente”pela agitação térmica. Grãos com estas características são denominados superparamagnéticos.
Da expressão deduz-se que esta situação existe quando T é muito elevado ou quando v é muito pequeno.
Sendo assim, dado um valor de v, podemos determinar uma temperatura acima da qual o momento magnético
tende rapidamente para zero. Esta temperatura, denominada temperatura de bloqueamento. De modo idêntico, dado
um valor de temperatura podemos determinar uma dimensão crítica a partir da qual o tempo de relaxação fica
muito pequeno.
Se desprezarmos a dependência da anisotropia K com a temperatura absoluta T, podemos deduzir de (3.31)
uma relação entre tempos de relaxação e temperaturas correspondentes, da forma:
T1 ln(C1)  T2 (ln C 2 ) (3.32)
3.2.4.8 Temperaturas de Curie e de Néel
Como vimos já, a magnetização permanente desaparece a temperaturas elevadas, pela influência dos
movimentos moleculares. Os minerais magnéticos perdem a sua magnetização permanente a sua temperatura,
denominada Temperatura de Curie, e quando arrefecem, remagnetizam-se sob a influência do campo
magnético ambiente.

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A temperatura de Curie da magnetite pura é de 578º C, mas o teor em titânio faz baixar este valor, de modo
que no extremo da série (Fe2TiO4 - ulvospinel) essa temperatura é inferior à temperatura média do laboratório.
Para temperaturas inferiores à temperatura de Curie os grãos magnéticos são continuamente remagnetizados
pelo campo ambiente, em partticular os grãos multi-domínio de grandes dimensões e os grãos monodimínio
inferiores à dimensão crítica. A remagnetização destes grãos à escala da crusta produz uma componente de
magnetização com a mesma direcção do campo magnético actual da Terra, que se designa por magnetização
viscosa remanescente.
A relação que existe entre a dimensão dos grãos e o número de domínios, faz com que cada grão seja
caracterizado por uma temperatura de bloqueamento TB, acima da qual se verifica a sua remagnetização pelo
campo exterior. Esta propriedade que é do grão e não do mineral de que faz parte, leva a que seja necessário
considerar dentro de uma mesma amostra a existência de uma gama de temperaturas de bloqueamento.
Se bem que os conceitos anteriores se apliquem directamente à magnetite, podemos estendê-los à hematite,
chamando temperatura de Curie à temperatura a partir da qual desaparece o comportamente
antiferromagnético da hematite: 680º C. Também aqui, o aumento do teor em titânio (titanohematite) se
traduz no abaixamento gradual desta temperatura.
O antiferromagnetismo gerado pelos defeitos cristalinos desaparece a uma temperatura denominada
temperatura de Néel, que para a hematite é de 725º C. O antiferromagnetismo (direccional ?) canted da
magnetite pura desaparece abaixo dos –20º C (transição de Morin).

Figura 3.13 – Relação entre a dimensão de grãos de magnetite elipsoidais e os domínios magnéticos correspondentes. Em abcissas indica-se a relação entre a
coercividade e a anisotropia de forma.

Tanto no caso da magnetite como no da hematite, a forma dos grãos influencia a aquisição e a manutenção da
magnetização permanente, sendo que os grãos alongados magnetizados na direcção do seu alongamento são
mais estáveis que os grãos equidimensionais.

3.3 Aquisição de Magnetização Remanescente


O estudo da magnetização das rochas permite identificar os mecanismos típicos de aquisição da magnetização
remanescente natural (NRM). Distinguem-se componentes ditas “primárias”, i.e. correspondendo ao momento da
formação da rocha, como no caso da TRM e DRM, das “secundárias” ligadas a processos fisicos-quimicos
posteriores (VRM, CRM).
3.3.1 Magnetização Termo-Remanescente (TRM)
A TRM dá-se quando um material magnético é arrefecido, de valores superiores à sua Temperatura de Curie (TC) a
valores inferiores, na presença de um campo externo. O campo remanescente assim adquirido é bastante estável e
em alguns casos pode ser de sinal contrário ao do campo magnetizador. Este é o mecanismo principal na
magnetização de rochas ígneas.
De equação (3.31) podemos deduzir que um grão com um tempo de relaxação de 103 s para uma temperatura de
bloqueamento TB de 800 K, terá um tempo de relaxação de 1018 anos se colocado à temperatura de laboratório.
Esta a razão pela qual o paleomagnetismo é possível.

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De acordo com a equação (3.31) rochas com grãos com volumes variáveis, são caracterizadas por um conjunto de
Temperaturas de Bloqueamento (TB). Quando a temperatura decresce para valores inferiores ao de Tc ela irá passar
pelos sucessivos TB. Deste modo. A TRM não é adquirida simultâneamente para toda a rocha a Tc, mas serão
adquiridas TRM parciais, correspondentes a intervalos sucessivos de temperaturas de bloqueamento. Thellier
enunciou o denominado lei da aditividade das TRMs parciais segundo a qual a TRM total é a soma das TRMs parciais,
adquiridas entre a Temperatura de Curie e a Temperatura de Laboratório.
n
TRM   pTRM (T
1
bi ) (3.33)

O valor da magnetização TRM para o caso de um volume v de grãos uniaxiais, alinhados segundo a direcção do
⃗ , foi determinado por Néel como sendo dado por:
campo aplicado 𝐵
 vJ B 
J TRM  J S tanh  sB  (3.34)
 kT B 
onde Js é a magnetização de saturação à temperatura do laboratório, JsB é a magnetização de saturação para a
temperatura de bloqueamento TB.
3.3.2 Magnetização Remanescente Detrítica
A magnetização remanescente deposicional ou detrítica (DRM) é adquirida durante a deposição e litificação das
rochas sedimentares. Ela resulta do processo de alinhamento, na presença de um campo magnético externo,
das partículas magnéticas em suspensão a medida que caem na coluna de água ou pela rotação das partículas
nos interstícios de um sedimento preenchidos com água. Em ambos casos, as partículas giram alinhando o eixo
de mais fácil magnetização do cristal de acordo com o campo externo.
O estudo da DRM é relativamepnte complicado pelo facto de que vários processos complexos podem ser
envolvidos na formação de uma rocha sedimentar. A mesma é constituída por uma grande variedade de
mineralogia magnética cujos minerais não são necessariamente em equilibro químico com o ambiente de
deposição. Adicionalmente, processos físico-quimico pos-deposicionais, como compactação ou bioturbação
por exemplo, podem alterar significativamente a magnetização.
O modelo clássico para aquisição de DRM (Nagata, 1961) considera este processo como o resultado da
deposição de partículas magnéticas individuais que descem na coluna de água, sujeitas ao momento da força
magnética gerada pela interacção do campo magnético da Terra com o dipolo magnético da partícula.
Consideramos assim uma partícula ferromagnética esférica com momento magnético m, imersa num fluido de
viscosidade , e na presença de um campo magnético externo B. Ao ângulo entre o momento dipolar da
particula e o campo magnético da Terra chamemos . A equação de Newton para a rotação escreve-se:

d 2 d
I 2
  mB sin   
dt dt
(3.35)

O primeiro membro é o produto da aceleração angular pelo momento de inércia I da partícula. O segundo
membro contém os dois momentos: o momento aplicado pelo campo magnético sobre a partícula (produto
externo entre os dois vectores), e da reacção viscosa do meio (produto da viscosidade pela velocidade de
rotação).
Considerando apenas as pequenas acelerações podemos reescrever a equação anterior da forma:

d mB
 sin 
dt 
(3.36)

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cuja solução é dada por:


mBt
 0 

tan  tan e (3.37)
2 2
onde 𝜃0 é o ângulo inicial entre o momento magnético da partícula e o CMT. A viscosidade rotacional  pode
ser expressa em função da viscosidade da água ( ~10-3 kg m-1 s-1) sob a forma:

  8  r 3

e podemos então calcular o tempo necessário para reduzir o ângulo inicial a 1/e do seu valor:

 8r 3 6
   (3.38)
mB mB MB

onde designamos agora por M a magnetização volúmica média da partícula esférica (lembre-se da expressão do
volume da esfera). Este resultado indica que τ é independente do tamanho da partícula. Para ter uma idea da
ordem de grandeza de τ, podemos substituir os valores típicos de η, B e M) obtêm-se para τ valores na casa
dos microsegundos [ver exercício no final do capítulo], pelo que a DRM deveria atimgir a saturação e não ser
modificada por variações posteriores do campo magnético da Terra. A observação mostra que tal não acontece.
Têm sido propostos mecanismos capazes de afectar o alinhamento, como o movimento browniano que afecta
as partículas inferiores a 100 nm, tem sido questionado o realismo de se considerarem as partículas como
independentes, ou a importância relativa da floculação no processo deposicional.
3.3.1 Magnetização Remanescente Química
A magnetização remanescente química ou de cristalização (Crystallization Remanent Magnetization = CRM) resulta
da formação de novos minerais magnéticos na presença de um campo magnético, ou por nucleação e aumento
de volume ou através da alteração dos minerais magnéticos preexistentes. Esses fenómenos ocorrem a
temperatura moderada, isto é, abaixo da temperatura de Curie dos minerais magnéticos contidos na rocha. A
CRM é uma magnetização dita “secundária” e geralmente considerada pelos paleomagnetistos como um sinal
contaminante pelo facto do momento de formação dos minerais secundários ser difícil de datar.
Diferentes processos podem gerar uma CRM a baixa temperatura nos ambientes sedimentares: precipitação de
cimento de hematite a partir de soluções ricas em ferro em arenitos, produção de magnetite autigénica via
actividade microbiana em sedimentos marinhos, produção de magnetite biogénica em calcários, produção
inorgânica de magnetite autigénica em solos. Em rochas ígneas, a magnetite secundária pode formar-se durante
a fase de arrefecimento (deuteric alteration), a partir da recristalização das titanomagnetites preexistentes ou pela
precipitação de nova magnetite a partir das olivinas e outros silicatos ricos em ferro. Em lavas, diques e plutões,
a magnetite secundária pode formar-se a temperatura baixas através da alteração hidrotermal das
titanomagnetites e dos silicatos.
A expressão do tempo de relaxação em função do coeficiente de anisotropia (3.30)
1  vK 
 exp  
C  kT 
mostra que existe uma grande dependência com o volume do grão. Podemos assim estudar o que acontece
quando esse volume varia. Consideremos o caso da deposição de grãos superparamagnéticos de magnetite
numa matriz não magnética (e.g. calcário). À medida que o volume dos grãos aumenta a ansotropia magnética
irá dominar a energia térmica e o grão será “bloqueado” e pode ficar fora de equilíbrio durante períodos de
escala geológica. Admitindo que a temperatura se mantém constante neste processo, podemos determinar o
volume de bloqueamento a partir da expressão anterior:
v K  kT ln(C )
C  exp  b   vb  (3.39)
 kT  K
A magnetização adquirida pela rocha depende da direcção do campo magnético na altura do crescimento dos
grãos. De acordo com os resultados experimentais este modelo simples prevê razoavelmente bem as
observações, se bem que os grãos não se podem considerar como independentes, e a aquisição de CRM parcial
influencia de forma importante o alinhamento global.

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3.5 Problemas
1. Da equação T1 ln(C1 )  T2 ln(C 2 ) demonstre que um grão com um tempo de relaxação de 103 s para uma
temperatura de bloqueamento TB de 800 K, terá um tempo de relaxação de 1018 anos se colocado à temperatura
de laboratório.
T1 ln(C 1 )  T2 (ln C 2 )
T1 (ln C  ln  1 )  T2 (ln C  ln  2 )
T1 ln C  T1 ln  1  T2 ln C 800 * 25.32  800 * 6.9  300 * 25.32
ln  2   ~ 61
T2 300
 2  e 61s  1018 anos
2. O tempo de relaxação depende da magnetização de saturação, da coercividade, do volume e da temperature
(cf. eq. 3.31). Escreva um programa em MATLAB que para cada valor do tempo de relaxação,
representando a coercividade em abcissas e o volume do grão em ordenadas. Desenhe curvas para 100
segundos, 1 Ma and 1 Ga para a magnetite e a hematite. Considere coercividades entre 1 mT e 1 T.
3. A viscosidade da água à temperatura de laboratório tem o valor η ~ 10-3 m-1 kg s-1. Determine a constante
de tempo do alinhamento da magnetização num processo deposicional, admitindo o modelo de Nagata
1961, e considerando o valor da magnetização de saturação da magnetite 92 Am 2kg-1 e uma densidade de
5197 kg m-3.

3.6 Bibliografia
Blakely, R., Potential Theory in Gravity and Magnetic Applications, Cambridge University Press, USA, 1995.
Cox, A. and R.B. Hart, Plate Tectonics - How it Works, Blackwell Scientific Publications, Palo Alto, California, USA, 1986.
Gass, I.G., P.J. Smith e R.C.L. Wilson, Vamos compreender a Terra. Ed., Livraria Almedina, Coimbra.
Lliboutry, L., Tectonophysique et Géodyamique. Masson, 1982.
McElhinny, M.W., Palaeomagnetism and Plate Tectonics, Cambridge University Press, pp 1-358, 1973.
Purucker, M.E. (2007), Magnetic Anomaly Map of the World, Eos Trans. AGU, 88(25), 263.
Reynolds, J.M., An introduction to Applied and Environmental Geophysics, John Wiley & Sons, pp 1-796, 1997

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Cap 4 – PALEOMAGNETISMO E CINEMÁTICA DE


PLACAS
Alfredo Wegener (1880-1930), meteorologista austríaco, publicou em 1910 a obra “As origens dos continentes
e dos oceanos”, na qual propunha a ideia de que os diversos continentes que hoje conhecemos, estiveram no
passado unidos num único. A partir deste único continente, primeiro por partição logo seguida de separação,
formaram-se os continentes actuais. Esta teoria é conhecida pelo nome de deriva dos continentes. Ao
continente original chamou Pangea e, baseando-se numa grande variedade de dados geológicos, propôs que a
sua partição começou há cerca de 200 Ma. Uma das razões sobre a qual se apoia esta teoria, é que na realidade
os continentes se encaixam uns nos outros como as peças de um "puzzle" e podemos juntá-los todos num
único bloco.
No entanto isto não basta, temos de explicar como se podem mover os continentes ao longo de tantos
quilómetros. Este era o ponto fraco da teoria de Wegener, já que não se dispunha de um mecanismo adequado,
que explicasse o afastamento dos continentes. Este ponto fraco da teoria foi aproveitado por geofísicos como
Harold Jeffreys, da Universidade de Cambridge, que a criticaram severamente. Estes ataques e o facto de se
não encontrar um mecanismo que justificasse o movimento de translacção das massas continentais, foram os
responsáveis pelo facto de durante anos, especialmente entre 1930 e 1960, se olhasse esta teoria com algum
cepticismo, tendo sido praticamente abandonada. As primeiras evidências científicas da teoria da deriva
continental foram obtidas graça ao trabalho de Patrick Blackett, geofisico britanico, que introduz em 1947 as
bases do paleomagnetismo e que desenvolveu o primeiro equipamento capaz de medir a magnetizaçaõ
remanescente das rochas. Em 1948, Edward Irving usou o magnetômetro de Patrick Blackett para analisar as
direções magnéticas gravadas nas rochas e, posteriormente, estabeleceu as primeiras curvas de deriva aparente
do polo geomagnetico da Europa e America do Norte. Ambos curvas apresentam um caminho similar mas que
divergem quando consideramos a posiçao actual dos continentes. Ao contrario, as curvas superpostam-se se
assumimos que os dois continentes estavam juntos 200 millions de anos atras, i.e. a idade da abertura do oceano
atlantico. Isso foi a primeira evidencia geofísica que confirmou a teoria da Tectônica de Placa de Wegener. Mais
tarde, em 1963, o geofísico Frederick John Vine e o geologo Lawrence Morley comprovaram
independentemente a teoria da expansao oceanica pelo registo simetrico das inversoes geomagneticas registadas
nas rochas bordando os riftes oceanicos.

4.1 Paleomagnetismo Experimental


4.1.1 Recolha de amostras
Uma vez que a magnetização das rochas reproduz de uma forma complexa o campo magnético da Terra na
altura da sua formação ou transformação posterior, podemos estudar esse campo medindo com rigôr a
magnetização das diferentes formações geológicas. Habitualmente a recolha de amostras de rocha é feita usando
uma carotadora (motoserra adaptada) mecânica cuja broca diamantada é refrigerada por um sistema de
circulação de água. Cada cilindro de amostra tem em regra 2.5cm de diâmetro e 10/15cm de comprimento.
Dado que o nosso objectivo é a determinação dos ângulos Declinação e Inclinação, é necessário recolher
amostras orientadas no campo, de modo a ser possível relacionar os com o referencial Terra. Para isso utiliza-
se um sistema de orientação dotado de um nível e uma bússola, a partir dos quais se obtem o azimute magnético

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(angulo entre o norte geográfico e o plano horizontal do cilindro), D, e o ângulo de mergulho (ângulo entre o
eixo vertical e o eixo do cilindro), I, que são designados habitualmente por “strike” e “dip” (Fig. 4.1.). Na
presença de rochas extremamente magnéticas, como é o caso de algumas rochas magmáticas, a orientação do
cilindro de rocha pela bússola magnética pode ser complementada pelo uso de uma bússola solar (somente para
a declinação). Essa é feita anotando o valor da projecção da sombra do eixo colocado no centro da bússola
magnética, da hora e das coordenadas geográficas (Fig. 4.1.). Uma ves os valores de D e I anotados num caderno
de campo, marca-se a posição do eixo z directamente na amostra antes de ser extraída. Por convenção, a
orientação da amostra respeita a regla dita da “mão direita” ou seja o valor da declinação escolhido é o cuja
inclinação mergulha à direita. Por exemplo, uma amostra orientada N155ºE (ou N205ºW) com mergulho de
30ºSE anota-se N25º/30º (cf. Fig. 4.1.).

Figura 4.1: Amostragem, orientação e preparação das amostras recolhidas no campo para medidas subsequentes em laboratório.

Posteriormente, as amostras são cortadas no laboratório em cilindro de 2.5cmx2.2cm, sendo essa razão de
altura/diametro a que aproxima-se mais de uma esfera. A marcação da amostra é feita usando canetas de tinta
indelével, evitando de preferência as tintas de cor vermelha (compostas por pigmentos de hematite). Para o
tratamento térmico, uma mistura de tinta yin-kin ou guache com corrector revela-se ser a mais resistante a
temperatura superior a 700ºC.
As bússolas magnéticas usadas no campo são ditas “não declinadas”, isto quer dizer que o norte geográfico
corresponde ao eixo de N=0º na hipotesis de um Dipolo Geocentrico Axial. Porem, sabe-se que o polo
magnético e o polo geográfico diferem levemente sendo que existe um ângulo (D” na Fig. 4.1.) característico
entre eles cujo valor depende da idade e da posição geográfica do local:

D ref. geográfico = D amostra ± D magnética local

Os valores da declinação magnética podem ser obtidos no banco de dado do IGRF (International Geomagnetic
Reference Field) ou no site da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration).

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Jorge Miguel Miranda

No caso de rochas que sofreram basculamento, que resultam geralmente de processos tectónicos, uma segunda
correcção é necessária: a correcção de acamamento (“tilt” or “bedding correction”). Isto consiste em medir a
orientação do plano de stratificação (no caso de sedimentos) ou de escoamento (no caso de rochas vulcânicas)
de modo a re-horizontalizar a camada sedimentar/derrame para repor o vector magnético gravado na rocha na
sua posição inicial (quando a rocha formou-se).
A maioria dos programas de tratamento de dados paleomagneticos (super-IAPD. Remasoft, etc…) permite
geralmente representar o vector magnetização nos diferentes referenciais: referencial da amostra (“specimen”),
referencial terrestre (em relação ao norte geográfico) e após correcção de acamamento.

4.1.2 Medição da Magnetização das Rochas


A magnetização volúmica das amostras recolhidas no terreno (ou preparadas em laboratório) pode ser feita por
um conjunto de dispositivos que recebem o nome colectivo de magnetómetros, se bem que sejam
equipamentos algo diferentes dos mencionados no primeiro capítulo. Todos eles medem a magnetização -
habitualmente declinação e inclinação magnéticas - no referencial da amostra.
4.1.2.1 Magnetómetro Rotativo
O principio físico de funcionamento do magnetómetro rotativo (spinner magnetometer) é de que um corpo
dotado de momento magnético que rode no interior de um solenóide, no plano deste, gera uma força
electromotriz no solenóide, que pode ser medida em amplitude e fase.

Figura 4.2: Esquema Simplificado de Funcionamento do Magnetómetro Rotativo

Se se produzir um sinal de referência emitido por uma fonte luminosa sincronizada com a rotação da amostra,
é possível medir com muita precisão a diferença de fase gerada pelo momento magnético da amostra e a partir
dessa diferença de fase determinar o valor da componente do momento segundo o plano perpendicular ao eixo
do solenóide. Se fizermos essa medição segundo três direcções mutuamente ortogonais podemos reconstruir o
valor vectorial do momento magnético da amostra.
A precisão de medição do magnetómetro rotativo é de cerca de 10-7 Gcm-3 (ou 10-10 Am2), para uma duração
de medição que pode atingir os 30 minutos, uma vez que a precisão da medição aumenta com o número de
rotações utilizado.
4.1.2.2 Magnetómetro Criogénico
Os magnetómetros criogénicos, habitualmente designados por SQUIDs (Superconducting Quantum
Interference Devices), são os instrumentos mais precisos existentes. A necessidade de operar à temperatura de
4.2 K, no interior de um Dewar contendoo hélio líquido, faz com que sejam utilizados essencialmente em
laboratório para paleomagnetismo para a medição de magnetizações de rochas sedimentares, sendo a sua
precisão superior à dos magnetómetros rotativos e o tempo de medição próximo de 1 minuto.
4.1.3 Procedimentos de desmagnetização
Ao medirmos num laboratório a magnetização das amostras de rocha podemos estar a integrar várias
componentes da sua “história magnética”: a magnetização primária, que é a MRN adquirida no processo de

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formação da rocha, e as magnetizações secundárias adquiridas subsequentemente. Uma das tarefas


fundamentais do paleomagnetismo é a separação adequada destas componentes. Entre a obtenção da amostra
e a sua medição laboratorial pode ainda ser adqurida por esta uma magnetização temporária.
Um dos processos de eliminação das magnetizações secundárias consiste na aplicação de campos magnéticos
alternados. O princípio físico desta “limpeza” é o seguinte: quando colocamos uma amostra num campo
magnético alternado gerado em laboratório, de amplitude H, todos os domínios com força coerciva inferior a
Hcos - em que  é o ângulo entre H e a força coerciva - seguirão a direcção do campo indutor. Se diminuirmos
progressivamente a amplitude de 𝐻 ⃗ os domínios de força coerciva progresivamente menor ficarão
(aleatoriamente!) orientados.
Como vimos no capítulo 3, o tempo de relaxação para o caso dos grãos monodomínio de uma material
ferromagnético está relacionado com a força coerciva pela expressão (eq. 3.31):
1  vH J 
 exp  c s 
C  2kT 
Podemos então concluir que a desmagnetização AC de uma rocha se traduz na “aleatorização” dos grãos que
possuem menor Hc, que, para um dado volume de grão são aqueles que possuem menores tempos de relaxação.
Os grãos que não forem reorientados por este procedimento deverão corresponder àqueles cujos tempos de
relaxação são superiores, ou seja, aos que mantêm a magnetização desde a época de formação (ou
rejuvenescimento) da rocha.

Figura 4.3: Esquema de desmagnetização de uma amostra, onde se evidenciam uma componente secundária (0-3) e uma componente primária (3-5). O
comportamento linear é considerado uma “chave” para a identificação de estabilidade.

Os grãos multidomínio são facilmente desmagnetizados desta forma, sendo a sua força coerciva inferior a 900
Oersted (McElhinny, 1973). A coercividade máxima para grãos monodimínio de magnetite (grãos infinitamente
compridos num dos eixos) é de 3000 Oe, sendo ainda superior no que diz respeito à hematite. Este
procedimento foi rotinado por Zijderveld. No equipamento de desmagnetização AC idealizado por Zijderveld
a desmagnetização AC é realizada segundo os três eixos com amplitudes sucessivamente crescentes do campo
alterno.
Quando a desmagnetização AC é realizada num ambiente onde o campo magnético “externo” não é nulo, a
amostra adquire uma magnetização anisterética. Deste modo, é necessário cancelar o CMT na região onde se
colocam as amostras a desmagnetizar.
Um outro processo de eliminação das magnetizações secundárias é a partir da desmagnetização térmica. O
princípio físico baseia-se de novo na interpretação da equação (3.31): o logaritmo do tempo de relaxação é
inversamente proporcional à temperatura absoluta. O procedimento experimental de desmagnetização térmica
consiste em aquecer a amostra, em passos sucessivos, até atingir a temperatura de bloqueamento dos portadores
magnéticos. Após cada passo de temperatura, a MRN é medida no magnetômetro (JR-6, no laboratório do
IDL) bem como a susceptibilidade magnética (KappaBridge, no laboratório do IDL) de modo a controlar
eventuais transformações mineralógicas. A amostra é posteriormente resfriada até a temperatura ambiente em
campo nulo dentro de um forno magneticamente blindado. Deste modo, todos os grãos cuja temperatura de
bloqueio é inferior à temperatura de desmagnetização vão adquirir uma MRT em campo nulo e cancelar a MRN
original. Aplicando passos sucessivos de Tdemag, reconstituamos a história magnética da amostra. Um método

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que pode ser utilizado para obter este espectro é o de, em fases sucessivas, aquecer a amostra até temperaturas
monotonamente crescentes, arrefecendo em cada fase a amostra em ambiente de campo nulo e medindo-se a
magnetização com um magnetómetro rotativo.

Figura 4.4: Forno magneticamente blindado do IDL

4.1.4 Representação da Magnetização


Em paleomagnetismo é habitual representar a direcção da magnetização (declinação e inclinação medidos no
referencial geográfico local), utilizando-se a projecção estereográfica, na versão que conserva os ângulos
(Projecção de Wulf) ou que conserva as áreas (Projecção de Schmidt). Uma vez que a dispersão dos valores
medidos em torno de um valor médio é uma das principais preocupações, a projecção de Schmidt é
habitualmente preferida. Uma vez que nesta projecção os dois hemisférios, superior e inferior, se sobrepõe, é
habitual representar símbolos “a cheio” para o hemisfério inferior e símbolos “abertos” para o hemisfério
superior.

Figura 4.5: Projecções estereograficas, ortogonais (Zijderveld) e curva da intensidade vs. campo aplicado/temperatura.

A projecção ortogonal, chamada também diagrama de Zijderveld, corresponde a projecção dos vectores
magnéticos no plano horizontal (preto) e no plano vertical (branco) (Fig. 4.5). Cada ponto representa o vector
magnético apos cada passo de desmagnetização (campo aplicado ou temperatura). Esta representação é
particularmente útil para evidenciar as magnetizações multicomponentes. Finalmente, representamos a curva
da intensidade da magnetização em função do campo aplicado/temperatura os espectros de
coercividade/temperatura de bloqueamento.
4.1.5 Análise em Componentes Principais (ACP) e estatística de Fisher
Os dados obtidos após tratamento térmico ou em campo alternado são tratados de modo a isolar as diferentes
componentes magnéticas presentes na amostra. O tratamento é baseado no método de Analise em
Componente Principais (ACP; Kirschvink, 1980) usando estatística de Fisher (Fisher, 1953). Os principais
softwares são o REMASOFT ou o IAPD disponíveis na Internet. A cada passo de desmagnetização, a

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declinação (D) e a inclinação (I) da componente magnética é medida e associada a um valor máximo de desvio
angular (MAD=Maximum Angular Deviation) de modo a controlar a qualidade estatística da medida. Os dados
direcionais podem ser representados na forma de diagramas estereográficos ou na forma de projeções
ortogonais (diagrama de Zijderveld). Uma curva da desmagnetização da intensidade da remanência em função
da temperatura ou do campo AF desmagnetizante é geralmente associada. Após desmagnetização completa, a
componente magnética média é calculada para cada grupo de ponto que se alinham num mesmo vetor. A
estatística da média obtida é controlada pelos parâmetros alpha 95, N e k. 95 corresponde ao intervalo de
confiança da média; N é o numero de pontos e k o parâmetro de dispersão. Deste modo podemos isolar várias
componentes magnéticas distintas como, por exemplo, uma componente viscosa (VRM), em baixas
temperaturas e baixas coercividades, e uma componente mais estável em altas temperaturas e altas coercividades
de tipo TRM ou DRM.
A partir das médias por amostras podemos calcular as médias por sítio. Por definição um sítio paleomagnético
corresponde a um conjunto de amostras coletadas numa mesma área geográfica e que corresponde a um mesmo
intervalo de tempo. No caso de amostragem em sedimento, o sitio se refere às amostras coletadas na mesma
camada sedimentar (unidade de tempo) enquanto no caso de rochas plutônicas o sítio corresponde a uma área
geográfica local. Os programas IAPD e REMASOFT permitem calcular as coordenadas do Pólo
Paleomagnético Virtual (PGV) a partir da componente magnética média obtida, bem como a paleolatitude onde
as rochas adquiriram a magnetização. A partir de um conjunto de PGV podemos reconstituir a curva de deriva
polar aparente (CDPA) do continente correspondendo para o intervalo de tempo considerado.
4.1.6 Testes de Consistência
Quando uma região extensa pode ser amostrada numa grande variedade de litótipos e os VGP obtidos
apresentam consistência (no espaço e no tempo), a determinação dos PP é robusta e significativa do ponto de
vista da geodinâmica. Contudo, a deformação e o metamorfismo afectam de forma significativa as rochas
sedimentares, e no caso das rochas ígneas, muitas são as situações onde mesmo sendo possível a determinação
da declinação e inclinação paleomagnéticas, estas não podem ser intercomparadas, pela impossibilidade de
reconstruir uma paleohorizontal.
Os testes de consistência mais utilizados são os o “teste da dobra”, o “teste do conglomerado” e o “teste
do contacto”. O “teste da dobra” utiliza a geometria dada pela análise estrutural para aplicar aos valores da
declinação e inclinação paleomagnéticos a rotação no espaço necessária para reposicionar a dobra na sua
posição primitiva horizontal. Desde que a amostragem realizada seja representativa das diversas posições
estruturais de uma mesma flexura, o reposicionamento deve traduzir-se pela agregação dos valores
reposicionados em torno de um valor único para todas as amostras (Fig. 4.12). Se apos o reposicionamento
horizontal os vectores magnéticos de cada sitio segue uma mesma direção, a magnetização é anterior à
deformação o teste é dito positivo. No caso contrário, a magnetização é segundaria, pós ou syn- dobramento,
e o teste é dito negativo.

Figura 4.6: Teste da dobra e teste de conglomerado

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A figura acima ilustra uma magnetização pós-dobramento (teste negativo). Cada ponto no estereograma da
esquerda representa o vector magnético médio de cada amostra. Após desdobramento, os vectores magnéticos
se afastam significativamente; k sendo o paramtro de dispersão e CR o “critical ratio” acima do qual os valores
de kappa começam a ser significativas a 95%.
O teste de conglomerado é baseado na comparação das direcções magnéticas dos elementos grosseiros (clastos,
pedras) constituindos a rocha (Fig. 4.6). Se esse elementos apresentam direções de magnetizações differentes,
essas mesmas correspondem ao momento da formação da rocha e o este é dito positivo. Ao contrário, se todos
os elementos apresentam similaridade nas direções magnéticas, a magnetização é secundária e o teste é dito
negativo.

Figura 4.7: Diagrama do teste de contacto.

O teste do contacto consiste na medição da magnetização numa rocha ígnea, e na região da formação sedimentar
intruida por aquela (encaixante) (Fig. 4.7). Se as direcções obtidas forem similares, a magnetização do encaixante
é secundária e o teste é dito negativo. Se à medida que nos afastamos do contacto, as direcções variam
siginificativamente, a magnetização do encaixante e da rocha ígnea é primária e o teste é dito positivo. Em
situações favoráveis é possível observar a variação da magnetização com a distância ao contacto.
4.1.7 Factor de Qualidade Q
Em 1990, Van der Voo estabeleceu um parametro, o factor Q, que permite avaliar a qualidade, i.e. o carácter
primário, de um polo paleomagnético. Este factor Q é baseado em 7 criterios:
1. Idade bem definida da rocha e presunção de que a magnetização é da mesma idade
2. Quantidade suficiente de amostras: N>24, k≥10 e 95≤16
3. Desmagnetização adequada incluindo a análise em componentes principais (ACP)
4. Testes de consistência que constringem a idade da magnetização
5. Controlo estructural e coerência tectónica com o craton ou os blocos envolvidos
6. Presença de inversões
7. Não ter similaridades com pólos de idade mais recentes

4.2 A Deriva Aparente do Polo


4.2.1 Polos Paleomagnéticos
Se bem que uma parte importante dos minerais que compõem as rochas seja dia – e paramagnético - como
vimos no capítulo 3 – as rochas possuem na generalidade uma pequena fracção de minerais ferromagnéticos sl
que são capazes de conservar como magnetização fóssil um registo indirecto do campo magnético da Terra. O
objecto fundamental do Paleomagnetismo é o estudo dessa magnetização fóssil e a inferência a partir dela, das
características do CMT que gerou essa magnetização.
Chamam-se pólos virtuais geomagnéticos às coordenadas geográficas onde, em média, se deverão ter localizado
os polos magnéticos da Terra, na altura de aquisição de magnetização remanescente por uma determinada
rocha, e em que admitimos que o CMP pode em média ser representado pelo modelo do dipolo axial
geocêntrico.
Note-se que os PVG não se confundem com os polos paleomagnéticos, uma vez que estes implicam a noção
de uma média que cobre um período suficientemente longo para que a estimativa corresponda à localização do
polo geográfico da Terra. À semelhança de McElhinny (1973) podemos sistematizar numa tabela as diferentes
designações de polos utilizadas em geomagnetismo e paleomagnetismo:

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Polo Magnético Região da Superfície da Terra onde a inclinação do CMT é de 90º (PM
Norte) ou –90º (PM Sul).
Polo Geomagnético Pontos onde o Eixo do Dipolo que melhor aproxima o CMT intersecta
a Superfície da Terra.
Polo Virtual Geomagnético Ponto sobre a Superficie da Terra que melhor aproxima a localização do
Polo Geomagnético da altura da aquisição da magnetização
remanescente por uma dada formação.
Polo Paleomagnético Ponto sobre a Superfície da Terra correspondente a uma média de VGP
para um período de 104 a 105 anos, que supomos representar a posição
relativa do Polo Geográfico.

Suponhamos uma amostra de rocha recolhida no ponto A de coordenadas 𝜑𝐴 , 𝜆𝐴 formada na época 𝑡𝐴 que adquiriu
uma intensidade de magnetização M, com ângulos de inclinação e declinação I e D, respectivamente.
Se partirmos da equação (1.12) do capítulo 1, e admitirmos que o CMT se pode assimilar ao campo de um dipolo
cujo eixo coincide com o eixo de rotação da Terra, e localizado no sen centro, podemos estabelecer uma relação
entre a inclinação do campo num ponto e a sua latitude magnética.

1
cot   tgI (4.1)
2

onde  é a distância angular entre o ponto S, onde se realiza a amostra, e o pólo do dipolo que consideramos
responsável pela sua magnetização. A declinação magnética medida na amostra corresponde ao ângulo que o
meridiano magnético faz com o meridiano geográfico, e que representamos por D. Se considerarmos ao longo do
círculo máximo nessa direcção um arco de dimensão , o ponto de coordenadas p,p, é o pólo virtual
paleomagnético, que corresponde à magnetização da rocha, no tempo 𝑡𝐴 .

Figura 4.8: Determinação das coordenadas do paleopolo. Nesta representação  representa a co-latitude e a longitude.

Considerando o triângulo esférico indicado a azul na figura da esquerda, podemos utilizar a lei dos cosenos:
cos( / 2   p )  cos( / 2  S ) cos   sin( / 2  S ) sin cos D
pelo que teremos para a latitude do polo:
sin  p  sin S cos   cos S sin cos D (4.2)
O próximo passo consiste em determinar o ângulo  correspondendo a diferença de longitude entre o pólo
magnético e o local de amostragem. Aplicando a lei dos senos no triângulo esférico, obtemos:

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𝜋
sin 𝜃 sin(2 − 𝜆𝑝 )
=
sin 𝛽 sin 𝐷

sin 𝐷
sin 𝛽 = 𝜋 sin 𝜃
sin( − 𝜆𝑝 )
2

sin 𝐷
sin 𝛽 = sin 𝜃
cos 𝜆𝑃

sin D
β = sin−1( sin θ)
cos λP
(4.3)

Existe contudo uma ambiguidade na determinação da longitude do pólo magnético pelo facto de que tanto  que
- satisfazem a equação (4.3). A longitude do pólo pode ser então ou p=s+ ou p=s+(-Para resolver
esta ambiguidade, aplicamos a lei dos cosenos aos dois triângulos esféricos da Figura anterior.
Para o triângulo “pequeno” teremos:
𝜋 𝜋 𝜋 𝜋
cos 𝜃 = cos( − 𝜆𝑝 ) cos( − 𝜆𝑆 ) + sin( − 𝜆𝑝 ) sin( − 𝜆𝑆 ) cos 𝛽
2 2 2 2
(4.4)
Para o triângulo grande:
π π
cos θ = cos( − λp ) cos ps + sin( − λp ) sin ps cos(π − β)
2 2
(4.5)
Substituimos nas equações precedentes cos(𝜋 − 𝛽 ) = − cos 𝛽, teremos
Para o triângulo pequeno:
cos θ = sin λP sin λs + cos λP cos λs cos β (4.6)
Para o triângulo grande:
cos θ = sin λP sin λs − cos λP cos λs cos β (4.7)
Sabendo que os valores de psesão incluídas entre –/2 e /2, o producto cos 𝜆𝑃 cos 𝜆𝑠 cos 𝛽 sempre é
positivo. Desta maneira:
Se cos 𝜃 ≥ sin 𝜆𝑃 sin 𝜆𝑠 , lidamos com o triângulo pequeno é a longitude do pólo é p=s+
Se cos 𝜃 ≤ sin 𝜆𝑃 sin 𝜆𝑠 , lidamos com o triângulo grande é a longitude do pólo é p=s+(-
Estas expressões representam as fórmulas fundamentais do paleomagnetismo pois permitem determinar as
coordenadas do paleopolo, a partir do conhecimento das coordenadas do ponto de recolha da amostra, e da
inclinação e declinação medidas na amostra.
4.2.2 A Hipótese do Dipolo Axial Centrado
Os resultados deduzidos dos polos virtuais para as principais massas continentais foram essenciais para se
estabelecer definitivamente a Teoria da Tectónica de Placas. Contudo, a possibilidade de interpretação dos
movimentos aparentes dos polos paleomagnéticos como traduzindo o movimento das placas litosféricas ao longo
da história geológica foi muito facilitada pela denominada “hipótese do dipolo axial centrado”, que admite que o
processo de aquisição da magnetização é suficientemente lento para integrar a precessão do polo geomagnético em
torno do polo geográfico, pelo que, em média, os polos determinados pelo paleomagnetismo reproduzem
essencialmente os paleopolos geográficos da Terra.
Em que medida é que a hipótese do “dipolo axial” se aproxima da realidade? Na figura seguinte apresentam-se os
polos virtuais correspondentes a rochas de idades até 20 milhões de anos, onde se pode observar-se que a dispersão
encontrada se distribui de forma mais ou menos homogénea em torno do polo geográfico da Terra.
A análise de amostras de uma mesma época recolhidas em diferentes regiões de um mesmo continente, mostra
idêntico agrupamento de todos os polos virtuais em redor de um determinado ponto - PPV - sublinhando o caracter
dipolar do campo.

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Figura 4.9: Teste da Hipótese do Dipolo Axial. Polos para o Cenozóico tardio determinados nos anos 50. (i) lavas da Islândia ≈10 Ma; 2 Ma; 5 ka; (ii) lavas
do Etna 2.4ka; (iii) Vulcânicas recentes de Victoria, Australia <4 Ma (iv) lavas de Neuquen, Argentina ≈5 Ma; and (v) basaltos do Rio Columbia USA,
~10 Ma. O valor médio é 89°N, longitude 118°E, erro = 3°. Fonte: Irving, E, PNAS February 8, 2005 vol. 102 no. 6 1821-1828

Se o campo é dipolar deve existir um único pólo magnético para a mesma época, e a divergência é devida à
posição relativa dos continentes, que actualmente é diferente da que existia nos tempos passados. Por exemplo:
as divergências nos polos anteriores ao periodo Jurássico entre a Europa e a América do Norte podem eliminar-
se se movermos estes continentes fechando o Oceano Atlântico. Desta forma, os dados paleomagnéticos
permitem reconstituir a posição dos continentes no passado.
Uma vez que a variação secular do CMP induz uma precessão do eixo magnético em torno do eixo geográfico
com periodicidades da ordem de 105 anos, é necessário que o plano de amostragem assegure que a
representatividade de um período superior a este.
Uma vez calculadas as coordenadas geográficas do pólo paleomagnético de uma determinada plca rígica, e
admitindo-se a validade da hipótese do Dipolo Axial Centrado, apenas podemos determinar a paleo-latitude
dessa placa. A paleo-longitude é indeterminada.
4.2.3 Trajectória de Deriva Aparente do Polo
Para rochas de períodos cada vez mais modernos, de um mesmo continente, os pólos virtuais seguem uma
trajectória desde uma posição mais afastada até ao polo actual da Terra. Considerando dois continentes
diferentes, por exemplo a Europa e a América do Norte, as trajectórias dos respectivos pólos são diferentes,
mas tendem ambas para o mesmo ponto, à medida que nos aproximamos da época actual, que se localiza junto
ao polo geomagnético actual. Chama-se a esta curva contínua “Trajectória de Deriva Aparente do Polo” e,
dada a indetereminação na paleolongitude, constitui uma ferramenta importante para o estudo da geodinâmica.
Podemos definir simplesmente a Trajectória de Deriva Aparente do Polo como sendo o percurso percorrido
pelo eixo de rotação da Terra, relativamente a uma placa litosférica suposta fixa. A localização do eixo
é habitualmente definida pelo pólo Norte.
Na tabela seguinte apresentamos as coordenadas dos pólos paleomagnéticos da Eurásia e da América do Norte,
retirados de Gordon e Van der Voo (1995) para os últimos 300 Ma.

America do Norte Europa Estável


Intervalo (Ma)
lat lon A95 Intervalo (Ma) A95
37 66 82 168 5 78 177 4
67 97 68 192 5 72 154 6
98 144 69 194 5 70 193 15
145 176 67 133 9 66 191 15
177 195 68 93 10 70 126 10
196 215 61 81 5 - - -
216 232 52 96 5 52 133 14
233 245 52 110 3 52 150 4
246 266 52 120 4 50 160 7
267 281 45 123 3 47 164 3
282 308 40 128 2 41 169 3

Tabela 4.1: Coordenadas de Polos Paleomagnéticos médios para a América do Norte e a Europa, referidos às respectivas placas.

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A TDAP (trajectória de deriva aparente do pólo) representa-se habitualmente num referencial estereográfico
polar, tal como representado na figura seguinte:

Figura 4.10: Comparação entre as APWP da América do Norte e da Europa estável durante os últimos 300 Ma. Projecção esterográfica polar centrada no pólo
norte. Equidistância entre círculos menores 5º.

A TDAP corresponde à soma de duas componentes: o movimento relativo entre a placa e um referencial fixo
em relação ao manto e o movimento da Terra como um todo em torno do seu eixo, a denominada Deriva
Verdadeira do Polo.

4.3 Paleointensidade
As técnicas paleomagnéticas podem revelar-nos a posição relativa de uma formação geológica em relação ao
referencial geomagnético e terrestre, mas podem também dar-nos informação sobre a magnitude desse mesmo
campo, uma vez que a magnetização remanescente se pode considerar num grande número de situações como
variando de forma aproximadamente linear com a intensidade do campo exterior aplicado. É esse o caso da
aquisição de magnetização remanescente térmica, química ou deposicional.
A determinação do coeficiente de proporcionalidade entre a intensidade do campo magnético aplicado e a
intensidade da magnetização adquirida pode ser realizada em laboratório, a partir da aplicação de campos de
intensidade variável, e medição da magnetização adquirida.

4.4 Cinemática Magnética


4.4.1 Anomalias Magnéticas em Domínio Oceânico
As anomalias magnéticas oceânicas tiveram um papel central no estabelecimento da teoria da tectónica de
placas.
A existência de polaridades magnéticas invertidas é conhecida desde o principio do século XX. Em 1905, B. Brunhes
ao estudar o magnetismo remanescente de lavas existentes perto de Clermont-Ferrand (França), detectou que
algumas escoadas tinham a polaridade invertida em relação ao campo geomagnético actual, enquanto que outras
tinham a mesma polaridade. Em ambos os casos a direcção de magnetização coincidia, aproximadamente, com a
do campo actual. Estas lavas pertenciam ao Quaternário superior, com idades compreendidas entre 600 mil anos e
2.5 Ma. Outros autores, entre os quais convem destacar Matuyama que, em 1929 estudou as lavas de vulcões do
Japão, constataram que este fenómeno não era local mas que se observava à escala global.
Na década de sessenta, os estudos da magnetização termo-remanescente de lavas vulcânicas permitiram concluir
que, para um mesmo local a variação da direcção do CMP é pequena - inferior a 50o e habitualmente inferior a 25o
- se bem que o sentido desse campo apresenta períodos de direcção oposta à actual.
Estabeleceu-se assim que, conforme as épocas, as rochas apresentam polaridade normal (idêntica à direcção do
campo actual) ou inversa (oposta à direcção do campo actual). A mudança de polaridade de umas épocas para as
outras não pode explicar-se por um fenómeno de inversão da própria rocha (pois ter-se-ia de considerar a inversão
de todas as rochas de uma mesma época localizadas em diferentes continentes). Só é possível explicar este fenómeno
admitindo que o campo magnético terrestre sofreu inversões de polaridade ao longo do tempo. Os mecanismos de

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inversão de polaridade são ainda hoje desconhecidos no essencial, se bem que os intervalos de tempo envolvidos
num processo de inversão sejam curtos à escala geológica - inferiores a milhares de anos - e que o carácter destas
inversões seja essencialmente não periódico.
Estas inversões tambem se detectaram em amostras de sedimentos marinhos recolhidas em sondagens. A
polaridade magnéticas destes sedimentos mostrou-se largamente coincidente com as épocas de polaridade normal
e inversa obtidas no estudo das lavas, o que confirma o caracter global das inversões. A correlação dos dados
obtidos, tanto em lavas como nos sedimentos marinhos, resultou no estabelecimento de uma cronologia das épocas
em que o campo magnético terrestre é normal ou inverso.

Figura 4.11 Modelo Simplificado de formação de isócronas magnéticas no fundo oceânico. As zonas representadas a vermelho e azul representam as áreas
neoformadas durante um periodo de polaridade normal ou inversa, respectivamente.

Em teoria, se o campo magnético terrestre tiver mantido, ao longo das épocas geológicas, o seu caracter dipolar e
se os continentes não tiverem variado a sua posição, então, para uma determinada época, todas as rochas devem de
ter os pólos virtuais na mesma posição. A variação destes pólos no tempo representaria a migração dos polos
geomagnéticos. Obter-se-ia sem dúvida o mesmo efeito mantendo os polos fixos e fazendo migrar os continentes.
A interpretação destas bandas como o resultado da existência de material crustal polarizado directa e inversamente
(e não como resultado, por exemplo, de variações laterais da intensidade de magnetização) foi possível pelo trabalho
gigantesco conduzido pelo navio de sondagens profundas Glomar Challenger que realizou mais de 600 furos na
litosfera oceânica. A análise das amostras recolhidas permitiu concluir. sem a menor dúvida, que a crusta oceânica
é formada por um processo de alastramento a partir das dorsais, em que a idade da crusta é uma função directa da
sua distância ao eixo da dorsal.
O facto de as anomalias magnéticas medidas à superfície (ou em profundidade por magnetómetros rebocados junto
ao fundo) reflectirem a existência de bandas de polaridade alternada é muito importante para a geofísica. Por uma
lado, isso permite tratar as anomalias magnéticas (uma vez descontados os efeitos que têm a ver com o carácter
dipolar do campo e a topografia) como isócronas - e neste sentido o estudo das anomalias magnéticas oceânicas
transformou-se na ferramenta mais utilizada para os estudos de cinemática. Por outro lado, um perfil perpendicular
à dorsal fornece uma amostra exaustiva do comportamento do CMP desde a época de formação do oceano.
Como exemplo de anomalias magnéticas oceânicas apresenta-se na figura seguinte um extracto da compilação
magnética do Atlântico Norte:

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Figura 4.12 Anomalias Magnéticas da Crista Média Atlântica, a norte dos Açores. Em cima: scala de Inversões Magnéticas para os últimos 10 Ma.
Sabendo que as anomalias a 31W e 28W correspondem à isócrona 5, identifique aproximadamente as restantes.

Ao contrário do observado nas anomalias magnéticas em regiões continentais, no ambiente oceânico, e em


particular nas regiões mais novas - quer dizer, mais perto da dorsal - a interpretação qualitativa destas “bandas” é
particularmente simples : de um modo simples pode dizer-se que o material do manto surge no eixo das dorsais e
vai "migrando" para ambos os lados da dorsal, ao surgir novo material. No momento da sua ascensão, ao arrefecer,
o material adquire magnetização remanescente, sob influência do CMP da época correspondente ao arrefecimento
abaixo da temperatura de Curie, e preserva a respectiva polaridade mesmo que o CMP sofra um processo de
inversão. Ao continuar o processo de extensão dos solos oceânicos, vão sucedendo-se bandas paralelas de material
com polaridade alternadamente normal e inversa.
Desde que se possua uma escala - independente - de datação das anomalias magnéticas oceânicas, podemos utilizar
os perfis efectuados perpendicularmente o eixo das dorsais oceânicas, para determinar a taxa de abertura do oceano.
A primeira escala temporal de inversões foi estabelecida por Cox et al. (1963a, 1963b) que utilizaram o método
de datação Potássio-Argon. Para os últimos 4 Ma estabeleceram-se 4 épocas que se chamam de Brunhes (normal),
Matuyama (inversa), Gauss (normal) e Gilbert (inversa), tendo-se adoptado nomes de alguns dos pioneiros do
geomagnetismo. Contudo, em cada uma destas épocas de duração aproximada 106 anos houve períodos mais ou
menos curtos, de duração aproximada 105 anos, onde a polaridade foi diferente da polaridade da época.
Denominam-se estes intervalos por acontecimentos e os nomes que recebem têm a ver com as localidades onde
foram recolhidas as amostras respectivas. Um excerto de uma destas escalas é apresentada na figura 4.9.
As isócronas magnéticas reconhecidas nos oceanos receberam uma outra denominação, que esencialmente espelha
a sua identificação nos perfis magnéticos marinhos. Essas designações das isócronas magnéticas estão igualmente
representadas na figura.
Um modelo muito simples para as anomalias magnéticas oceânicas é aquele que admite que (i) a camada da
litosfera oceânica que contribui essencialmente para a magnetização total corresponde aos primeiros 500m, (ii)
em cada período de igual polaridade a magnetização é constante, tendo o mesmo sentido que o CMP nos
períodos “normais” e sentido contrário nos períodos “inversos”; (iii) as interfaces entre os períodos de igual
polaridade são verticais. Este modelo corresponde a considerar uma distribuição de magnetização semelhante
à representada na figura 4.11. Os dados previstos pelo modelo podem então ser comparados com os dados
realmente medidos com magnetómetros rebocados por navios.
A largura de cada um dos blocos de igual polaridade depende, obviamente, da velocidade de alastramento respectiva.
De modo idêntico, se formos capazes de identificar a localização das diferentes épocas magnéticas e possuirmos
evidência independente sobre a direcção de alastramento, podemos avaliar a velocidade de alastramento da litosfera
oceânica. O procedimento a seguir para determinar a velocidade de alastramento passa assim por analisar o perfil
magnético identificando-se as bandas de anomalias magnéticas de polaridade normal e inversa. Seguidamente,
recorrendo à escala cronológica, datar a idade das formações que apresentam polaridades diferentes. Tendo em
conta a extensão do perfil, podemos estabelecer um gráfico da distância em função da idade. A partir do declive da
recta é possível determinar a taxa de abertura do oceano para cada intervalo ou determinar uma velocidade média
por um método do tipo “minimos quadrados”.

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4.4.2 Cinemática de Placas


Nos anos 60, inicia-se um renascimento destas ideias, transformadas agora numa nova teoria baptizada com o
nome de "tectónica de placas". Uma das bases sobre a qual se apoia esta nova teoria é o Paleomagnetismo. Já
vimos que estudando o magnetismo das rochas, podemos deduzir a posição relativa das rochas relativamente
aos polos magnéticos para as distintas épocas geológicas. Estudando rochas de continentes distintos, para uma
mesma época, observou-se que os polos deduzidos das rochas de um continente não estavam de acordo com
os polos deduzidos de rochas do outro. A conclusão é clara: os continentes naquela época não estavam na
mesma posição de agora. Esta descoberta abria o caminho para poder reconstruir a posição relativa dos
continentes, relativamente aos polos magnéticos, em cada uma das épocas geológicas.
Como se produz este movimento dos continentes? É preciso compreender que um dos obstáculos mais
importantes ao desenvolvimento da Teoria da Tectónica das Placas foi exactamente a dificuldade de se
estabelecer um modelo reológico compatível com a Terra e onde movimentos horizontais de milhares de
quilómetros fossem aceitáveis.
Sabemos hoje que os movimentos horizontais das placas envolvem a litosfera, isto é os primeiros 100 km e que
o seu movimento é possível devido à existência das camadas viscosas da astenosfera. Em segundo lugar, a
separação dos continentes leva necessariamente à criação de nova crusta oceânica que vai ocupando o espaço
que fica entre os continentes que se separam. O processo está representado na figura 4.8, devido ao facto de
nesta teoria se formar nova crusta oceânica, na separação dos continentes, de início denominou-se esta teoria
por alastramento oceânico. Como vimos no capítulo 3, a aquisição de magnetização remanescente pelos
basaltos oceânicos permite a sua manutenção por períodos geológicos da ordem de grandeza da idade dos
oceanos mais antigos da Terra, permitindo a definição de “isócronas magnéticas” que podemos correlacionar
de ambos os lados de uma dorsal oceânica.
O princípio básico dos cálculos utilizados em cinemática de placas é o de que movimento relativo de duas
listosféricas rígidas, consideradas com forma invariante e obrigadas a permanecer na superfície da Terra, se
pode sempre descrever matematicamente como uma rotação angular finita em trono de um ponto (pólo de
Euler) igualmente situado na superfíceie da Terra. Se considerarmos um ponto 𝑟 localizado na fronteira entre
duas placas (i e j) a velocidade relativa entre as duas placas nesse ponto pode ser dada por:
⃗ ×𝑟
𝑣=𝜔 (4.3)

⃗ e 𝑟 são referidos ao centro da Terra. A direcção do movimento relativo corresponde assim


Onde os vectores 𝜔
a um círculo menor do pólo de Euler. Deste modo, o movimento relativo aumenta com a distância angular ao
pólo:
|𝑣 | =
|𝜔
⃗ |. |𝑟| 𝑠𝑖𝑛 𝛾 (4.4)

⃗ explicitando as
Em que 𝛾 é o ângulo entre o pólo de Euler e o ponto 𝑟. Podemos escrever os vectores 𝑟 e 𝜔
suas componentes em coordenadas esféricas:
𝑟 ≡ (𝑎 𝑐𝑜𝑠𝜆 𝑐𝑜𝑠𝜇. 𝑎 𝑐𝑜𝑠𝜆 𝑠𝑖𝑛𝜇, 𝑎 𝑠𝑖𝑛𝜆)
⃗ | cos 𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜑, |𝜔
⃗ ≡ (|𝜔
𝜔 ⃗ | cos 𝜃 𝑠𝑖𝑛𝜑, |𝜔
⃗ |𝑠𝑖𝑛𝜑) (4.5)
em que 𝑎 representa o raio médio da Terra, (𝜆, 𝜇) são as coordenadas do ponto em consideração e (𝜃, 𝜑) as
coordenadas do pólo de Euler. No referencial cartesiano geocêntrico a velocidade pode ser obtida substituindo
(4.5) em (4.4):
𝑣𝑥 = 𝑎 |𝜔
⃗ | (𝑐𝑜𝑠 𝜃 𝑠𝑖𝑛𝜑 𝑠𝑖𝑛𝜆 − 𝑠𝑖𝑛𝜃 𝑐𝑜𝑠 𝜆 𝑠𝑖𝑛𝜇)
𝑣𝑦 = 𝑎 |𝜔
⃗ | (𝑠𝑖𝑛 𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜑 𝑐𝑜𝑠𝜆 − 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑐𝑜𝑠 𝜆 𝑠𝑖𝑛𝜇) (4.6)
𝑣𝑧 = 𝑎 |𝜔⃗ | 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑐𝑜𝑠 𝜆 𝑠𝑖𝑛 (𝜇 − 𝜑)
Uma vez que o campo magnético anómalo nos permite definir isócronas, a determinação matemática do
movimento relativo entre duas placas litosféricas pode ser reduzida à determinação dos pólos de Euler
respectivos (latitude, longitude e ângulo) que relacionam geometricamente ambas as isócronas.
4.4.3 Determinação de Polos de Euler
Existe um número considerável de estratégias para a determinação da rotação de Euler que melhor relaciona
duas isócronas magnéticas.

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A análise qualitativa das curvas de TDAP da Europa estável e da América do norte representadas na figura 4.3
põe em evidência que uma rotação de Euler com pólo perto do pólo geográfico norte faz coincidir as duas
trajectórias para o período anterior à abertura do Atlântico Norte. Deste modo, o pólo de Euler que descreve
a abertura do Atlântico pode ser relacionado com os pólos paleomagnéticos de cada uma das duas placas
litosféricas.
4.4.4 Enviezamento Magnético
Para além dos efeitos topográficos. As anomalias magnéticas marinhas são o resultado combinado da
magnetização remanescente (cf. eq. 3.2) adquirida pela crusta aquando da sua formação, e da direcção actual do
CMP (cf. eq. 3.1). Por outro lado, o facto de a transição de polaridade ser abrupta, conduz à existência de efeitos
de fronteira que se traduzem por anomalias magnéticas localizadas. A combinação destes dois efeitos dá origem
a um fenómeno conhecido na literatura por “enviezamento magnético” (magnetic skewness). Este efeito pode
ser utilizado para a determinação da relação angular entre a magnetização remanescente e a induzida e, como
tal, da distância angular ao pólo geomagnético virtual.

4.5 Problemas de Aplicação


1. Um cilindro de rocha foi recolhido o dia 31 de Dezembro de 2000 num local de coordenadas geográficas
Long.=-43º35’22”; Lat=-26º33’23”. A orientação do cilindro no campo usando a bússola magnética (não
declinada) tem valor de declinação (strike) e inclinação (dip) de 262º e 52º respectivamente. Quais são os
valores de D e I do cilindro após a correcção da declinação magnética do local?
Resposta: D=243º: I=52º.

2. Considere a amostra descrita pelos dois ângulos: azimute=25º e hade=37º. Sabendo que as três
componentes da magnetização volúmica têm no referencial da amostra os valores: (2.3; -1.2; 2.7) 10-6
Am2, determine a declinação e inclinação (a) no referencial da amostra; (b) no referencial geográfico local.
Resp: Is =46º, Ds=332º, Ig=11º, Dg=6º (Retirado de Butler, 1998).
2. Utilizando a lei dos cosenos determine a distância entre Lisboa e Madrid, sabendo que as coordenadas
respectivas são: Lisboa (38º42’N, 9º8W) e Madrid (41º16’N, 2º4’W). Determine as distâncias em radianos,
graus e km. Atribua ao raio da Terra o valor 6371km.
3. A partir da análise de uma amostra do Triássico Superior obtida no ponto de coordenadas 41.4 N, 72.7 W
obteve-se para a declinação e inclinação da magnetização de uma amostra os valores 18º e 12º,
respectivamente. Determine as coordenadas do paleopolo.
4. Considere uma lava que arrefece rapidamente (semanas a meses) e que desta forma regista um polo virtual
geomagnético (VGP). Supondo que obtemos o valor latitude 72ºN, longitude 62.5ºW para o VGP
determine quais os valores de declinação e inclinação magnética que foram medidos numa amostra
recolhida no ponto de latitude 39ºN, longitude 6ºW.
5. Uma estimativa para a posição do polo aparente da fronteira Eoceno-Oligoceno (~40 Ma) da America do
Norte é 84N/168W. A formação vulcânica do Goble no estado de Washington 46N/237.5E, tem uma
idade similar.
a) Determine a inclinação e declinação magnética que deveriamos observar.
b) Beck e Burr (1979, Geology, 7, 175-179) determinaram experimentalmente os valores dec=18.5;
inc=57.5; interprete as diferenças com o valor esperado em termos de rotação e transporte do terreno
amostrado por estes autores [adaptado de www.umt.edu].
6. Considere as seguintes medidas de velocidade relativa entre duas placas litosféricas:
Latitude Longitude Velocidade
50N 55W 2.1 cm/s
40N 55W 3.4 cm/s
30N 55W 4.4 cm/s
20N 55W 8.0 cm/s
Determine a localização aproximada do polo euleriano de rotação e o valor do ângulo finito respectivo.

4.6 Bibliografia
Butler, R.F. Paleomagnetism: Magnetic Domains to Geologic Terranes, Electronic Edition, pp 1-238, Maio 1998.
Cox, A. and Hart R.B., Plate Tectonics - How it Works, Blackwell Scientific Publications, Palo Alto, California, USA, 1986.
Craik, D., Magnetism. Principles and Applications, John Wiley and Sons, pp 1-459. 1995.

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Fisher, R.A., 1953. Dispersion on a sphere. Proceedings of the Royal Society of London, Series A, 217: 295–305
Gordon R.G. and Van der Voo, R. Mean Paleomagnetic Poles for the Major Continents and the Pacific Plate. Global Earth
Physics a handbook of physical constants. Edited by Thomas J. Ahrens. AGU reference shelf Series, vol no 1: ISBN 0-
87590-851-9; QC808.8.G56 1995 550-dc20. Publisher: Washington, DC American Geophysical Union, 1995, p.225
Irving, E, Proceed. Nat. Acad. Sciences, February 8, 2005, vol. 102 no. 6 1821-1828
Kirschvink, J.L., " The least-squares line and plane and the analysis of paleomagnetic data: examples from Siberia and
Morocco ," Geoph. J. Royal Astr. Soc. 62, 699-718.
McElhinny, M W, Palaeomagnetism and Plate Tectonics, Cambridge University Press, pp 1-358, 1973.
O’Reilly, W, Rock and Mineral Magnetism, Blackie, Chapman and Hall, New Your, USA, pp 1-219, 1984.

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Cap 5 – ANISOTROPIA MAGNÉTICA DAS ROCHAS


5.1 Susceptibilidade Magnética de uma Rocha
As rochas tal como existem na natureza possuem um grau variável de heterogeneidade. Para estabelecermos
um modelo físico descritivo do seu comportamento temos, como habitualmente, que fazer algumas
simplificações sendo a mais importante a de considerar que as amostras que utilizamos para medir as suas
propriedades magnéticas são suficientemente grandes para que as rochas se possam considerar nessa escala
como homogéneas. Uma amostra típica é, como vimos no capítulo 4, um pequeno cilindro com 25 mm de
diâmetro e 20 cm de altura.
As rochas são constituidas por minerais, cujo comportamente magnético é variável. Sendo assim a
susceptibilidade magnética da rocha vai incorporar componentes dia, para e ferromagnéticas sl. Do ponto de
vista experimental, desde que os minerais ferromagnéticos estejam presentes numa proporção superior a 0.1%
em volume, eles irão dominar a susceptibilidade magnética da rocha; caso contrário, a rocha será paramagnética,
desde que a proporção dos minerais paramagnéticos seja superior a 1% em volume ou, se nenhuma destas
condições se verificar, será diamagnética.
Podemos, como vimos na equação (3.2) definir a susceptibilidade magnética volúmica por:
 
M  H (5.1)
que pomos em evidência a dependência de 𝜒 com H e só consideramos a magnetização induzida. Vimos
no capítulo 4 os três comportamentos fundamentais (expressos pelas equações 3.8 para o diamagnetismo, 3.15
para o paramagnetismo e pela curva de histerese para o ferromagnetismo sl). Uma vez que a susceptibilidade
depende da temperatura e do campo aplicado, quando comparamos a susceptibilidade de várias substâncias
referimo-nos a susceptibilidades medidas a 20º C, e com a aplicação de um campo indutor inferior a 1 mT
(denominado habitualmente “campo fraco”). Nesta situação podemos considerar a relação (5.1) linear e
podemos ainda considerar que estamos a medir a “susceptibilidade inicial” no sentido definido por:
M
  lim (5.2)
H 0 H
onde se consideram apenas os módulos dos dois campos, já que os consideramos colineares.

5.2 Anisotropia da Susceptibilidade Magnética


5.2.1 Tensor da Susceptibilidade Magnética
Em poucas rochas, a magnetização induzida tem a mesma intensidade qualquer que seja direcção do campo
aplicado. Essas amostras denominam-se isotrópicas. O caso mais comum revela uma dependência da
magnetização induzida perante a direcção ao longo da qual é aplicado o campo indutor. Tais rochas são
denominadas anisotrópicas.
A variação da susceptibilidade magnética com a orientação do campo aplicado é descrita através de um tensor
cartesiano simétrico de segunda ordem,
M i   ij H j (5.3)

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que é uma forma contraida da expressão:


𝑀1 = 11 𝐻1 + 12 𝐻2 + 13 𝐻3
𝑀2 = 21 𝐻1 + 22 𝐻2 + 23 𝐻3 (5.4)
𝑀3 = 31 𝐻1 + 32 𝐻2 + 33 𝐻3
Em que 1, 2 e 3 representam os indices das direcções coordenadas. A magnitude desta anisotropia, esteja ela
associada a minerais ferromagnéticos, paramagnéticos ou diamagnéticos, depende de dois factores: a anisotropia
das próprias partículas e o grau do seu alinhamento.

Figura 5.1: Diagrama P'(T) para um conjunto de amostras de Bragança (Silva et al., 2001).

A anisotropia das próprias partículas compreende duas componentes – anisotropia cristalina e de forma. A
anisotropia cristalina, surge da acção da rede cristalina na orientação dos spins dos electrões, conduzindo a uma
orientação preferencial segundo determinadas direcções, denominadas por eixo ou plano ‘fácil’. A anisotropia de
forma, surge pelo facto de ao aplicarmos um campo externo geramos pólos magnéticos “norte” e “sul” nas
extremidades dos grãos da rocha. Em grãos com forma assimétrica, as forças magnetostáticas geradas são mínimas
quando os pólos superficiais estão mais distantes (cf discussão no ponto 3.2.4.6), pelo que a magnetização se realiza
preferencialmente ao longo do eixo maior do grão.
No caso da magnetite, a anisotropia cristalina é muito reduzida pelo que a anisotropia de forma domina. Noutros
casos, como na hematite, a anisotropia cristalina é dominante. Existem no entanto, maiores diferenças entre a
resposta anisotropica destes minerais, que são determinadas pelo tamanho do grão.
A magnitude da anisotropia de uma rocha será máxima quando o eixo cristalino ‘fácil’ dos grãos e os seus eixos
longos (forma) possuem a mesma orientação. Saliente-se que não existe nenhum método que possibilite descortinar
a contribuição dos dois factores. Por exemplo, uma rocha que contenha um fraco alinhamento mas tenha partículas
fortemente anisotropicas, poderá exibir uma anisotropia similar à que derive de um bom alinhamento de grãos, mas
com partículas fracamente anisotrópicas.
Uma vez que a susceptibilidade se representa por um tensor cartesiano simétrico de segunda ordem, podemos
determinar um sistema de eixos particular no qual o tensor da susceptibilidade se reduz aos termos diagonais. Neste
sistema de eixos, designado por Sistema de Eixos Principais, a susceptibilidade será dada por:
 1 0 0
ij   0  2 0

(5.5)
 0 0 3 
Uma representação gráfica muito intuitiva é aquela na qual a susceptibilidade é representada por um elipsóide,
orientado segundo o sistema de eixos principais, e onde cada eixo do elipsóide iguala cada uma das susceptibilidades
principais.
5.2.2 Magnitude da anisotropia
A quantificação do grau de anisotropia da susceptibilidade magnética de uma dada rocha pode ser alcançada a partir
da determinação do grau de anisotropia corrigido de Jelinek, designado habitualmente por P’, e definido por:

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P'  exp 2 (1  1m ) 2  ( 2  1m ) 2  (3  1m ) 2  (5.6)
Onde 1=ln(1), 2=ln(2), 3=ln(3) são os logaritmos naturais das susceptibilidades principais e m=<1, 2,
3> é a respectiva média logarítmica. Este parâmetro é utilizado de forma generalizada, já que incorpora a
utilização da média logarítmica e utiliza as três susceptibilidades principais.
5.2.3 Parâmetro de Forma
A excentricidade do elipsóide magnético pode ser quantificada de formas diversas. É recomendada por Tarling
e Hrouda (1993) a utilização do parâmetro de forma T, definido por:
   3 
T  2 2  1 (5.7)
 1   2 
Elispóides oblatos correspondem a valores de 0<T≤1, enquanto que os elipsóides prolatos correspondem a valores
de –1≤T<0. Elipsóides neutros correspondem a valores nulos de T. É habitual a representação de P’(T)
habitualmente designada por diagrama de Jelinek. Este diagrama, representado na figura 5.1, separa as diferentes
geometrias e magnitudes da ASM.
5.2.4 Representação Estereográfica da ASM
Quando possuimos um conjunto de medições da ASM representativo de uma mesma formação geológica,
podemos representar os diversos valores das direcções das susceptibilidades principais num diagrama
estereográfico polar, onde habitualmente o hemisfério inferior é o representado e a projecção é do tipo “áreas
iguais”. Por convenção a susceptibilidade máxima é representada por “quadrados”, a susceptibilidade
intermédia por “triângulos” e a susceptibilidade mínima por “círculos”. Um exemplo dessa representação é
dado na figura 5.2.

Figura 5.2 Representação estereográfica da ASM referente a amostras do Dique da Messejana (Silva, com. Pess.)

5.3 Fábrica Magnética das Rochas


A fábrica primária dos sedimentos é influenciada pelos processos deposicionais e pós-deposicionais e pelo

desenvolvimento inicial do metamorfismo de baixo grau. A forma do elispóide da ASM vai depender essencialmente
do regime deposicional, sendo possível estabelecer as seguintes relações empíricas, essencialmente baseadas em
modelos físicos (Tarling e Hrouda, 1993):
Quando a deposição se verifica sob a acção de uma corrente muito fraca ou moderada, de velocidade inferior a 1
cm/s, os grãos longos (prolatos) são alinhados paralelamente à direcção do transporte, com uma imbrincação
inferior a 10º, de tal forma que a fábrica oblata fica confinada ao plano de deposição.
Quando a deposição se verifica sob a acção de uma corrente com velocidade superior a 1 cm/s o ângulo de
imbrincação aumenta, de tal forma que a fábrica oblata se pode inclinar de 5 a 20º do plano de deposição. Os grãos
muito prolatos possuem maior estabilidade quando perpendicula res à direcção da corrente.
No caso da deposição numa vertente, os componentes linear e plano da fábrica magnética tendem a alinhar-se
simultanemente em torno da direcção de fluxo e da vertente.
A fábrica magnética das rochas ígneas é fundamentalmente influenciada pelo papel das titanomagnetites e das
ilmeno-hematites. Estas, por sua vez, possuem um ponto de fusão elevado, de tal forma que no decorrer do
processo de arrefecimento, se comportam como “sólidos” que são influenciados pelo fluxo magmático.

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Situação idêntica ocorre com outros cristais para e diamagnéticos como as olivinas, as piroxenas ou os
feldspatos.
Uma vez que a viscosidade do magma é muito superior à viscosidade da água (que determina a fábrica magnética
das rochas sedimentares, e que a temperatura a que cessa o fluxo viscoso é de cerca de 800º C, muito acima da
temperatura de Curie dos materiais ferromagnéticos sl, podemos concluir que (i) o efeito do campo gravítico é
insignificante no que diz respeito ao alinhamento dos cristais individuais, (ii) o campo geomagnético não
influencia significativa o alinhamento dos cristais, (iii) a fábrica magnética associada com os materiais
ferromagnéticos mimetiza a fábrica dos minerais paramagnéticos, dos quais se formaram por alteração
deutérica, química ou física.

5.4 Correlação da magnitude da ASM com a deformação finita


A correlação entre a forma dos elipsóides da ASM e da deformação finita, obtida pela Geologia Estrutural, é muita
dificil. A forma do elipsóide da ASM representa o comportamento magnético do mineral dominante e está
usualmente pouco relacionado com a deformação finita. Contudo, podem estabelecer-se correlações qualitativas
num conjunto importante de situações.
A intensidade da deformação em zonas de falha e cisalhamentos leva a que a maioria das fábricas existentes
sejam totalmente apagadas. Onde ocorre cataclase, as rochas em questão parece que estiveram a altos níveis crustais
(≤10 - 15 Km) e a temperaturas ambientes menores que 300ºC, uma vez que a altas temperaturas a deformação
plástica é dominante. Contudo, a fracturação frágil pode ocorrer no interior de regimes dúcteis, particularmente se
a tensão for forte e aplicada rapidamente, quando comparada com a taxa de deformação plástica. O efeito geral,
sobre condições de cataclase, é de constrangimento dos grãos minerais, resultando em fábricas foliadas (milonitos
e filonitos) ou em rochas não foliadas em zonas de falha (cataclases, que incluem brechas). A deformação pode estar
associada com aquecimento local intenso, o qual, particularmente na ausência de água ou de outros voláteis, poderá
levar à formação de uma matriz vítrea.
As características magnéticas de tais rochas em zonas de falha têm tido pouco estudo e são geralmente consideradas
como sendo não foliadas. Parece provável, que as técnicas magnéticas possam ser usadas para a distinção entre
certas petrofábricas e datação do arrefecimento da zona de falha (Tarling e Hrouda, 1993).
Os milonitos em geral apresentam foliação, sofrendo principalmente uma intensa deformação plástica. Por vezes a
presença de grandes cristais pode obscurecer a fábrica geral do milonito, embora os próprios cristais transportem a
fábrica magnética que é parcialmente ou totalmente afectada pela deformação associada à zona de falha ou
cisalhamento.
As orientações dos eixos principais da susceptibilidade parecem ser indicadores sensíveis do sentido do
deslocamento de toda a rocha, comportando-se mais como uma nova formação de xistosidade. O equivalente, é
observado na vizinhança de uma falha. O cisalhamento da clorite e da magnetite pode gerar fábricas de
susceptibilidade magnética cuja anisotropia marca claramente o sentido do movimento até uma distância de 5m do
plano de falha.
Sendo a deformação em zonas de cavalgamento e mantos de carreamento muito complexa e variável, a maioria
dos resultados tem sido obtida principalmente através de modelos matemáticos bidimensionais, grosseiramente
simulados, nos quais são aplicados cisalhamentos puros e simples sucessivamente ou em conjunto.
A direcção do cisalhamento simples é tida como interior ao plano de cavalgamento e paralela à direcção do
movimento de cavalgamento. O cisalhamento puro é assumido como sendo do tipo plano - deformação que actua
ao longo do plano decavalgamento e, portanto, está acomodada na direcção perpendicular a ele.
Segundo o modelo de Tarling e Hrouda (1993), sugere-se que:
1) Se a deformação da napa é uma combinação simples de cisalhamento simples e alongamento lateral, com o plano
de cavalgamento perto de dobramento, (i) a foliação magnética permanece perto do plano da estratificação, (ii) a
lineação magnética reordena-se segundo a direcção de cisalhamento e (iii) o grau de anisotropia tende a decrescer
no princípio para um posterior aumento, com a intensificação do deformação.
2) Se a deformação da nappe é resultado da combinação de cisalhamento simples e encurtamento lateral, (i) a
foliação magnética pode-se desviar fortemente do dobramento, tal que, os seus pólos formem uma faixa num plano
vertical que inclui a direcção de cisalhamento, (ii) a lineação magnética reordena-se perpendicularmente a direcção
de cisalhamento se o encurtamento é forte e o cisalhamento fraco, mas na direcção de cisalhamento simples se este
e o encurtamento forem fortes, e (iii) a magnitude da anisotropia tende a decrescer num primeiro estádio e depois
aumenta com a intensificação do deformação.

5.5 Bibliografia
Irving, Eduard, PNAS February 8, 2005 vol. 102 no. 6 1821-1828

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Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

Silva, P.F., FO. Marques, J.M. Miranda, B. Henry, A. Mateus, Anisotropy of magnetic susceptibility constraints on Variscan
obduction processes in the Bragança Massif (NE Portugal), Tectonophysics 341 (2001), 95-119. 2001.
Sleep N., K. Fujita, 1997. Principles of Geophysics, Blakewell Science, p 1-586.
Tarling D. H. e F. Hrouda, 1993. The Magnetic Anisotropy of Rocks, Chapman and Hall, pp 1-217.

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Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

Cap 6 – CAMPO EXTERNO


6.1 A Magnetosfera
No espaço interestelar existe um campo magnético cuja amplitude é de cerca de 1nT, de acordo com observações
feitas de polarização da luz por particulas de poeira magneticamente orientadas cuja direcção, parece alinhada com
a do braço da galaxia (Backus et al, 1996).
No sistema solar o campo magnético do Sol domina o espaço interplanetário. Este é caracterizado pelo fluxo
contínuo de um plasma constituido por átomos de hidrogénio (500 cm-3), iões H+, 4He2+ e electrões (10 cm-3) que
constitui o chamado vento solar. Para uma distância igual à distância média da Terra ao Sol, este fluxo gera um
campo de intensidade próxima de 5 nT, e dirigido “de” e “para” o Sol de acordo com grandes sectores (Backus et
al, 1996).
Uma vez que o vento solar é constituido por particulas electricamente carregadas, ele vai interagir com o campo
magnético da Terra. O vento solar varia consideravelmente a sua velocidade relativa em relação à Terra, com um
período de cerca de 27 dias, que coresponde à rotação do sol “vista” a partir da Terra.
Sendo os valores da velocidade do vento solar compreendidos no intervalo de 270 km/s a 650 km/s, estamos na
presença de um fluxo supermagnetosónico, já que a sua velocidade é de cerca de 10 vezes superior à velocidade de
Alfvén.
O campo magnético da Terra é afectado profundamente poelo vento solar. No lado “iluminado”, as linhas de força
do CMT são “comprimidas” pelo vento solar, definindo uma cavidade na qual a penetração do vento solar é muito
reduzida, e onde o CMT fica confinado. Gold (1959) denominou esta cavidade magnetosfera. Do lado “não
iluminado” a fronteira da magnetosfera, denominada magnetopausa, apresenta uma foma alongada,
geometricamente semelhante à cauda de um cometa.

Figura 6.1: Estrutura da Magnetosfera. Adaptado de McElhinny et al. 1998.

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A magnetosfera possui uma estrutura complexa : na fronteira com o vento solar gera-se continuamente uma onda
de choque, uma vez que a velocidade do vento solar é superior à velocidade do som para o plasma interplanetário;
mais perto da Terra, o movimento em espiral de particular muito energéticas - protões e electrões - em torno das
linhas de campo magnético forma as “cinturas de Van Allen”.
As camadas externas destas cinturas são alimentadas continuamente pelo vento solar e a circulação equatiorial deste
sistema dá origem a uma importante corrente eléctrica, denominada “anel de corrente” formado pelas partículas de
alta energia (protões e electrões) capturadas pelo campo magnético da Terra, que dão origem a corrente eléctrica
com uma geometria aproximadamente circular, a cerca de 10 raios da Terra, no plano do equador magnético, e que
são uma componente muito importante da perturbação externa.
Na região compreendida entre a frente de choque e a magnetopausa, aqui designada por envelope magnético, as
particulas do vento solar desaceleram, até atingirem velocidades sub-magnetosónicas. Próximo dos polos norte e
sul magnéticos verifica-se penetração do vento solar que pode atingir a ionosfera. O estiramento das linhas de força
do CMT na magnetocauda, gera ainda o aparecimento de uma superfície, neutral, do lado obscurecido da Terra,
onde o campo é praticamente nulo.

6.2 A Ionosfera
Com execepção das trovoadas, a região situada entre a superfície da Terra até cerca de 50 km de altitude pode ser
consodirada como “vácuo electromagnético”. O movimento dos cumulonimbus pode, contudo alterar o CMT
medido à superfície, até valores da ordem dos 20 nT. As descargas dos relâmpagos podem conduzir a valores
localizados mais elevados.
Na atmosfera da Terra, entre os 50 km e os 600 km de altitude, existe uma região denominada ionosfera que se
considera ainda subdividida em duas camadas : a camada D - 50 km a 90 km, onde predominam os iões NO+, O2-
e electrões – a camada E - entre 90 km e 120 km, onde predominam os iões NO+, O2+ e electrões - e a camada F -
entre 120 km e 600 km e onde predominam os iões O2+ e electrões. A densidade dos eleectrões aumenta da região
D para a região F, onde pode atingir valores típicos de cerca de 105 a 106 cm-3.
Esta ionização é provocada pela radiação ultravioleta do sol : o hemisfério iluminado da ionosfera é mais condutor
que o hemisfério noturno, gerando fortes corresntes eléctricas no hemisfério iluminado, num sistema de tipo
“dínamo” alimentado pela energia do Sol. Estas correntes geram campos magnéticos de intensidade até 80 nT
(Backus et al, 1996).

6.3 Variações Transientes, Tempestades e Subtempestades


Os diferentes mecanismos descritos para a origem do campo magnético externo geram, à superfície da Terra,
um sinal magnético com uma grande dependência temporal.

Fenómeno Período Amplitude


Micropulsações 1ms – 3 mn ~1 nT
Sub-tempestades Magnéticas 1-2 h ~10 nT
Sq 24 h ~20 nT
Sd 24 h ~5 – 20 nT
L 25 h ~1 nT
Tempestades Magnéticas
Fase Inicial ~4 h ~15 nT
Fase Principal ~8 h ~35 nT
Fase de Recuperação ~0h ~35 nT
Campo Magnético Externo ~<4 ano
Campo Magnético Interno ~>4 ano
Ciclo de Manchas Solares 11-22 ano
Valores Típicos das Variações Transientes do CMT para latitudes intermédias

Se excluirmos as variações do campo magnético produzidos pela radiação solar, uma vez que esta influencia o
campo magnética em períodos da ordem de grandeza de 10-15 s, o que é muito pequeno para os fenómenos
estudados pelo geomagnetismo, a componente de maior frequência (cerca de 1 kHz) corresponde às ondas
induzidas no plasmas iosnosférico por relâmpagos - ao longo de uma mesma linha de força do campo
magnético - a que corresponde um sinal de alguns nT. A dispersão destes sinais (que conduz a que as frequências
mais altas possuam uma velocidade de popagação superior às frequências menos altas) aliada ao facto de a

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banda de frequência envolvida corresponder à gama “audível” o que permite ouvir estes sinais com altifalantes,
conduziu á designação de whistlers (assobios).
Nos períodos entre 1 e 300 s são conhecidas variações do CMT de carácter global e qause periódico,
denominadas micropulsações, que podem manter-se durante algumas horas e cuja amplitude é inferior a alguns
nT. Estas correspondem a fenómenos de ressonância da magnetosfera induzidos pelo vento solar.

Figura 6.2: Aurora observada no Alaska. As estrutura verticais estão alinhadas com o CMT. Retirado de EOS, 80, 17, 1999.

Um fenómeno de maior importância - para as aplicações geológicas do geomagnetismo - diz respeito às


tempestades magnéticas. Estas são caracterizadas do ponto de vista observacional por oscilações muito intensas
do CMT, que podem durar alguns dias, iniciadas por uma elevação brusca da componente X, seguida alguns
minutos depois por uma descida igualmente brusca desta componente (a um nível inferior ao seu valor médio
antes da tempestade). De seguida, assiste-se a uma fase de recuperação da tempestade que pode durar alguns
dias e que é acompanhada por oscilações similares de amplitude tendencialmente inferior.

Figura 6.3: Tempestade Magnética típica. Valores médios para a latitude 40N. No hemisfério Sul a variação da componente vertical seria invertida. Redesenhado
de Chapman e Bartels (1962)

A fase inicial da tempestade magnética pode ser abrupta – designada nesse caso por SSC, Sudden Storm
Commencement – ou gradual. A fase de recuperação das tempestades magnéticas corresponde à modulação em
amplitude do anel de corrente, que corresponde à deriva iões positivos e negativos – em sentidos contrários –
ao longo de uma trajectória fechada, tal como ocorre nas cinturas de Von Allen.
As tempestades magnéticas podem ter amplitudes de alguns nT a alguns milhares de nT (em latitudes
magnéticas elevadas). A geração de tempestades magnéticas prende-se com a emissão de fluxos muito estreitos
de vento solar, em épocas de grande actividade solar, que colidem com a magnetosfera e excitam modos de
ressonância desta. Tempestades Magnéticas elevadas ocorrem cerca de 2 a 3 vezes por ciclo solar.

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O caso mais conhecido de tempestade magnética foi o observado em Março de 1989 no Canadá, que levou ao
“disparo” de uma importante fracção da rede eléctrica deste país.
São ainda definidas sub-tempestades magnéticas, quando um processo transiente é iniciado no lado noturno da
Terra, transportando energia da interacção vento solar / magnetosfera para as auroras, a ionosfera ou a
magnetosfera, e gerando variações do CMT à superfície da ordem dos 40 nT. Um dos exemplos corresponde
à formação das auroras, que ocorrem fundamentalmente nas latitudes geomagnéticas entre 65º e 70º, sendo a
luz verde tipicamente associada às auroras, provocada pelo Oxigénio bombardeado por electrões provenientes
das camadas exteriores. Se bem que a cor verde seja dominante, também podem ser observadas franjas
vermelhas e azuis, associadas ao oxigénio e ao azoto.
As auroras estão associadas a campos elétricos de elevada intensidade, sendo a mais importante designado por
electrojacto, activo entre o pôr e o nascer do sol, com a amplitude máxima cerca da meia -noite.
As alterações dos magnetogramas geradas pelas sub-tempestades assemlham-se a baías num mapa geográfico,
pelo que se conhecem como baías magnéticas.

6.4 Variação Diurna


Mesmo que não existissem perturbações no vento solar, na sua interacção com o CMT existe um efeito de
maré, gerado pelo facto de o eixo do dipolo geomagnético estar inclinado em relação à direcção do vento solar.
A variação assim provocada no CMT à superfície designa-se por variação diurna, já foi abordada na secção
1.3.2., e representada na figura 1.9.
Esta variação pode ser conceptualmente decomposta numa componente solar S, com um período de 24 h,
numa muito menor componente lunar, L, com um período próximo das 25 h, e numa componente
perturbadora D. Se se considerarem apenas os dias muito calmos do ponto de vista magnético, podemos obter
uma descrição da variação devida apenas à variabilidade solar S q. Tanto Sq como L têm origem em fenómenos
de maré. A maré atmosférica solar é essencialmente térmica enquanto a maré lunar é essencialmente
gravitacional.

Figura 6.4: Variação diurna média dos dias calmos da componente horizontal, para várias latitudes. Abcissas em h, ordenadas em nT. Adaptado de Chapman
e Bartels, 1962.

Ao longo do equador magnético, e numa banda de cerca de 2º de largura, verifica-se uma amplificação de Sq de
um factor de dois. Este facto traduz a existência de uma corrente, denominada electrojacto equatorial, que flui
de este para oeste no hemisfério diurno.
Podemos definir o campo perturbado D pela diferença:
D  F  Sq  L (6.1)
Onde Δ𝐹 é a diferença entre o valor medido do campo total em cada instante e o valor médio mensal.

6.5 Índice de manchas solares


O fluxo de energia emitido pelo Sol não é constante, apresentando variações de brilho ao longo do seu ciclo de
actividade entre 0.10% e 0.15%. No que diz respeito aos pequenos comprimentos de onda (radiação X e UV)
essa variação temporal é mais importante, em particular porque associada a uma pequena variação do campo
magnético terrestre, com um ciclo de cerca de 22 anos. Uma das manifestações visíveis da variação da actividade
solar é o número de manchas solares, observadas inicialmente por Galileu em 1610 e monitorizadas continuamente

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desde 1849 por Johann Rudolph Wolf. Quanto maior o número de manchas solares maior a actividade solar e
maior o fluxo de energia irradiada.
A determinação do número de manchas solares é realizada diariamente de modo independente. Cada cluster
de manchas solares pode ser formado por uma ou muitas manchas, cuja dimensão pode variar entre a resolução
da media (~1/25 graus quadrados) até 10 graus quadrados ou mais. O número relativo de manchas solares R é
definido como:
R = K (10g +s) (6.2)
Onde g é o número de clusters e s o número de manchas distintas. O valor de K, inferior à unidade, depende
do observador e procura garantir a continuidade com as observações realizadas pelo astrónomo suiço Johann
Rudolph Wolf.
Os registos de manchas solares apresentam um ciclo de cerca de 11 anos. O período entre 1645 e 1715 mostrou
uma actividade solar inferior ao normal. com quase ausência de manchas solares e sem auroras. Este período,
designa-se por Maunder Sunspot Minimum.

Figura 6.5 – Observaçao de manchas solares. Extraído do site da NASA sohowww.nascom.nasa.gov/hotshots/2003_10_22/

O diagrama representado na figura seguinte mostra que o número de manchas solares pode variar numa
proporção de 1 para 3.

Fig. 6.6: Número de Manchas Solares observadas entre 1750 e 2009. Apresentam-se valores médios mensais compilados pelo “Solar Influences Data Analysis
Center” da Bélgica.

6.6 Indices Magnéticos


A actividade associada com o CME é registada nos Observatórios Magnéticos. A sua caracterização é
habitualmente realizada a partir do cálculo de “indices” que são supostos caracterizar a frequência e amplitude
das componentes externas.
A caracterização da actividade magnética irregular é realizada desde 1884 com os C-numbers. Este indice é
atribuido por cada observatório, atribuindo a cada dia (TUC) um valor 0, 1 ou 2 descrevendo o grau de
perturbação do magnetogramacorrespondente (calmo, moderadamente perturbado ou muito perturbado). A

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partir dos valores atribuídos por cada observatório, é possivel determinar um índice planetário C P definido
como a média dos valores individuais. Este indice foi calculado entre 1884 e 1975 e foi utilizado para a definição
dos cinco dias mais calmos do ano até 1942.
6.6.1 Indices de Actividade Geomagnética Planetária
Para minorar o carácter subjectivo do indice CP, Bartels introduziu em 1939 um novo indice, conhecido como
o indice K (do alemão kennziffer, indice de gama de variação). O indice K é calculado na totalidade dos
Observatórios Magnéticos para intervalos de 3 horas, considerados suficientemente largos para permitir a
consideração de fenómenos como as baías. Os valores possíveis deste índice variam entre 0 e 9, de acordo com
uma escala quase logarítmica.
A partir do indice K, é possível determinar um indice normalizado, independente da hora local e dos efeitos
anuais, sendo este último denominado Ks. À semelhança de CP também é possível determinar um índice
planetário Kp de forma similar, sendo definida uma rede de 13 observatórios, maioritariamente situados na
Europa e na América do Norte e com apenas dois observatórios no hemisfério sul (Camberra na Austrália e
Eyrewell na Nova Zelândia).

Código Observatório Latitude Geomagnética


MEA Meanook 62.5
SIT Sitka 60.0
LER Lerwick 58.9
OTT Ottawa 58.9
LOV Lovö 56.5
ESK Eskdalemuir 54.3
BJE Brorfelde 52.7
FRD Fredericksburg 51.8
WNG Wingst 50.9
HAD Hartland 50.0
NGK Niemegk 48.8
EYR Eyrewell 50.2
CAN Canberra 45.2
Lista dos Observatórios Magnéticos utilizados para a determinação do indice K p. Este indice planetário varia entre 0 e 9 com uma resolução de 1/3 da unidade.

No fim dos anos 50 Mayaud introduziu um novo indice planetário, denominado am, com dois sub-indices para
cada um dos hemisférios an e as, e um indice antipodal, aa, obtido a partir dos observatórios Melbourne e
Greenwich, inicialmente e Camberra e Hartwell, na actualidade. O indice am é baseado num conjunto de 22
observatórios, organizados de acordo com a sua longitude. Os indices K correspondentes (K n, Ks e Km) podem
ser obtidos dos indices a a partir da utilização de tabelas de conversão.

Kp 0o 0+ 1- 1o 1+ 2- 2o 2+ 3- 3o 3+ 4- 4o 4+
ap 0 2 3 4 5 6 7 9 12 15 18 22 27 32
Kp 5- 5o 5+ 6- 6o 6+ 7- 7o 7+ 8- 8o 8+ 9- 9o
ap 39 48 56 67 80 94 111 132 154 179 207 236 300 400

Tabela de conversão entre indices Kp e ap. Nos indices K o codigo 1+ deve ler-se 1+1/3; 1- deve ler-se 1-1/3 e assim sucessivamente.
A utilização do índice ap como uma medida da amplitude da perturbação do campo magnético é considerada
como referida a uma estação normal com o limite inferior de 500 nT para K = 9. Nesta estação. O valor médio
da mais perturbada das componentes horizontais num período de 3 horas será 2a p. Como o indice Ap é
corresponde à média diária dos oito valores de ap, ele pode ser interpretado como correspondendo à amplitude
média diária em unidades de 2 nT.
6.6.2 Actividade Planetária Diária Cp
O nivel de actividade magnética diária é avaliado de forma qualitativa por um parâmetro denominado C p, que
é calculado como a soma dos oito valores diários do indice ap. Cp varia entre 0 (calmo) até 2.5 (muito
perturbado) em passos de 0.1. A conversão entre o indice ap e Cp é dada por:

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Soma dos oito valores de ap Soma dos oito valores de ap


Cp Cp
Minimo Máximo Minimo Máximo
0 22 0.0 228 273 1.3
22 34 0.1 273 320 1.4
34 44 0.2 320 379 1.5
44 55 0.3 379 453 1.6
55 66 0.4 453 561 1.7
66 78 0.5 561 729 1.8
78 90 0.6 729 1119 2.9
90 104 0.7 1119 1399 2.0
104 120 0.8 1399 1699 2.1
120 139 0.9 1699 1999 2.2
139 164 1.0 1999 2399 2.3
164 190 1.1 2399 3199 2.4
190 228 1.2 3199 3200 2.5
Tabela de conversão entre indices ap e o indice de actividade diária planetária Cp.

A partir dos indices de actividade diária determinados por cada observatório é calculado um indice diário global
Ci, dado pela média das determinações. Um dia para o qual Ci seja 0 é classificado como muito calmo, enquanto
que um dia onde Ci seja proximo de 2 é classificado como muito agitado.
6.6.3 Outros Indices Magnéticos
Existe ainda um conjunto de outros indices magnéticos que correspondem a medidas de actividade em
configurações específicas no sistema geomagnético: o indice aa é determinado a partir dos indices K, para
posições antipodais e latitudes magnéticas inferiores às da formação de auroras (presentemente Hartland e
Camberra).
Os indices am são calculados também a partir dos indices K, mas organizando os observatórios em 9 grupos,
que correspondem a valores crescentes de latitude magnética. É calculado um indice para cada hemisfério (an
e as) sendo o valor de am a média dos dois.
Os indices Sym-H, Sym-D, Asy-H e Asy-D quantificam a perturbação magnética de forma longitudinalmente
simétrica (Sym) ou assimétrica (Asy) e foram introduzidos para descrever as perturbações geomagnéticas nas
latitudes intermédias com 1 minuto de resolução temporal.
O indice Dst é calculado a partir dos observatories quase equatoriais, e mede a intensidade da corrente de anel.
O indice é calculado como a média independente da longitude, e de tal forma que é estatisticamente nulo nos
dias muito calmos. Um valor de -50nT corresponde a uma tempestade magnética, e um valor de -200 nT
corresponde à formação de auroras nas latitudes médias.

6.7 Modelos de Campo Externo


Do ponto de vista das medições do CM à superfície, a influência determinante do campo externo é sob a forma
de um campo variável no tempo. A principal componente medida à superfície, é a denominada variação diurna
dos dias calmos cuja amplitude, como vimos atinge cerca de 80 nT e que obriga a efectuar “reduções temporais”
nos levantamentos magnéticos (cf capítulo 4). As tempestades magnéticas, pela sua amplitude obrigam à
suspensão de todos os trabalhos de prospecção magnética. As outras componentes de origem externa são muito
reduzidas quando comparadas com o campo de origem interna.

Fig. 6.7: Esquema dos principais sistemas de correntes da magnetosfera incluidos nos modelos de campo externo

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Podem identificar-se várias componentes do campo magnético externo geradas pela interacção da magnetosfera
terrestre com o vento solar. Três correntes principais são identificadas na magnetosfera: (a) a que percorre a
fronteira da magnetosfera, denominadas magnetopausa; (b) a que percorre a folha neutral da cauda
geomagnética, que separa os seus dois lobos e (c) o anel de corrente que flui ao longo do equador terrestre na
região que corresponde ao mínimo do campo magnético.
Existem um conjunto de modelos matemáticos destas componentes. Todos eles foram determinados a partir
do processamento de dados de satélites e são parameterizados com alguns dos indices magnéticos definidos
acima. O modelo de Fairfield e Mead (1975) foi calculado para quatro níveis de actividade magnética definidos
pelo indice Kp, e corresponde a uma expansão em série de potências no sistema de coordenadas magnéticas
solares, de segundo grau na posição e primeiro grau na inclinação. Os coeficientes do modelo foram obtidos a
partir de 12 616 medições vectoriais do campo magnético externo, realizadas entre 1966 e 1972. Os modelos
de Tsyganenko desenvolvidos de 1997 a 2004 integram uma quantidade muito maior de dados atelitários, e
incluem expressamente as contribuições seguintes: anel de corrente, sistema de correntes da magnetocauda,
sistema de correntes da magnetopausa e sistemas de correntes de larga escala alinhadas com o campo magnético.

6.8 Bibliografia
Backus G., R. Parker, C Constable, (1996) Foundations of Geomagnetism, Cambridge University Press, pp 369.
Bartels, J., N. H. Heck, and H. F. Johnston. The three-hour-range index measuring geomagnetic activity, J. Geophys. Res.,
44, 411-, 1939.
http://modelweb.gsfc.nasa.gov/magnetos/tsygan.html [modelos de Tsyganenko].
http://www.spenvis.oma.be/help/background/indices.html#KpAp [indices magnéticos].
Mayaud, P. N., A hundred year series of geomagnetic data, 1868-1967, indices aa, storm sudden commencements, in IAGA
Bull., 33, Int. Union of Geod. and Geophys., Paris, 1973.

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Introdução ao Geomagnetismo
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Cap 7 – INTRODUÇÃO À TEORIA DO DÍNAMO


7.1 Dínamo Auto-Sustentado
Está actualmente bem estabelecido que o núcleo liquido da Terra é formado fundamentalmente por ferro e por
uma fracção significativa de níquel, no estado liquido, se bem que as determinações da densidade média do
núcleo apontem para anecessidade de considerar a existência de outros elementos menos densos na sua
composição. Dessa forma, e uma vez que a variação da temperatura no interior da Terra impede que se
considere a possibilidade da existência de magnetização permanente, foi-se estabelecendo como único modelo
explicativo do CMP o chamado “Modelo do Dínamo”, que admite que o núcleo líquido da Terra se comporta
como um dínamo auto-excitado. Quer isto dizer que se admite que a corrente eléctrica gerada pelo movimento
do núcleo liquido na presença de um campo magnético pré-existente, gera um campo magnético que por sua
vez reforça esse campo.
Assume-se que o campo de movimento no núcleo é mantido pelas variações de densidade relacionadas com a
produção de calor radioactivo (e.g. 40K dissolvido), a libertação de calor latente ou a libertação de constituintes
menos densos do núcleo primitivo. O principal problema é o de se identificar os mecanismos que mantêm o
CMT ao longo da história da Terra e determinam a sua variação temporal.
Larmor foi o primeiro a sugerir em 1919 um modelo deste tipo para justificar a formação das manchas solares.
Em 1934 Cowling demonstrou um teorema segundo o qual um campo magnético com simetria axial não
poderia ser sustentado por um modelo de dínamo. Este resultado formal foi vista durante muito tempo como
uma objecção importante ao desenvolvimento deste tipo de modelo, tornando-se clara a necessidade de ser
demonstrado como é que um meio essencialmente homogéno, convexo e condutor, pode gerar um dínamo
que se possa considerar auto-sustentado para escalas de tempo similares à idade da Terra.

7.2 Dínamos de Disco


7.2.1 Dinamo de Disco Homopolar
Bullard, tal como Elsasser, procurou responder aos argumentos formais, com a construção de modelos simples
capazes de mostra a viabilidade física de um dínamo auto-sustentado. Este modelo, chamado Dínamo de Disco,
ou Dínamo Homopolar, ou de Hertzenberg, tinha sido sugerido por Larmor no princípio do século XX e foi
formalizado por Bullard em 1955. Do ponto de vista geométrico o modelo encontra-se representado na figura
7.1.

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Figura 7.1 - Diagrama do Dínamo homopolar.

Muitos dos aspectos essenciais dos modelos de Dínamo podem ser resumidos da seguinte forma simples: a
energia magnética é produzida por conversão de energia mecânica - necessária para assegurar o movimento do
dínamo - a partir de um campo magnético inicial. O aumento da energia magnética gerada pelo dínamo obriga
ao aumento do momento necessário para manter a rotação e permite aremoção do campo inicial.
Supomos que o disco roda com a velocidade angular ⃗⃗Ω = Ω𝑒𝑧 e, como tal, cada elemento do disco possui uma
velocidade linear 𝑢⃗ = Ω𝑟𝑒𝜆 - em coordenadas cilíndricas. Se existir uma corrente I no condutor (de C’ para C,
na figura anterior) ela vai gerar um campo magnético 𝐵⃗ no disco. A interacção do disco com o campo magnético
⃗ dá origem a um campo eléctrico, cuja componente radial é dada por:
𝐵

𝐸⃗ = 𝑢 ⃗ = (𝛺𝑟𝑒𝜆 )×(𝐵𝑒𝑧 ) = 𝛺𝑟𝐵𝑧 𝑒𝑟


⃗ ×𝐵 (7.1)
O disco vai assim gerar uma força electromotriz - que irá ser aplicada ao fio - e que tem o valor:
𝑟2 𝑟2
𝑟22 − 𝑟12 𝛺𝜙
𝜖 = ∫ 𝐸𝑟 𝑑𝑟 = ∫ 𝛺𝑟𝐵𝑧 = 𝛺 𝐵𝑧 = (7.2)
𝑟1 𝑟1 2 2𝜋

em que  é o fluxo do campo magnético através da superfície do disco, positivo para cima. Se considerarmos
M como sendo a indução mútua entre o fio e as duas faces do disco, sabemos que:

=MI (7.3)

A força electromotriz aplicada no fio gera uma corrente eléctrica neste dada por :
dI
 L  RI (7.4)
dt
em que R é a resistência e L a indutância. Temos assim:
 MI dI
  L  RI (7.5)
2 2 dt
ou seja :
dI M
L (  R) I (7.6)
dt 2
cuja solução, quando  é constante é dada por:
M
R
I  I 0 exp 2 t (7.7)
L
em que a corrente que flui no fio cresce exponencialmente com t, desde que M/R>2, e decresce
exponencialmente caso contrário. A equação (7.7) é denominada a Equação Cinemática do Dínamo. Claro
que manter a velocidade angular  do disco constante exige recursos em energia crescentes. O que acontece
quando a energia disponível para manter o disco a rodar é finita? Consideremos assim o momento da força

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criado entre o campo 𝐵⃗ e a corrente eléctrica que podemos admitir que circula radialmente no disco (ou seja:
𝐽 = 𝐽 𝑒⃗⃗⃗𝑧 ), que tem que ser compensado pelo momento da força necessária para manter o disco a rodar:
topo 2 r2
T
 dz  d   J B dr
base 0 r1
r z (7.8)

admitindo que Bz é independente de z e de , temos que,


r2


T   rBz dr
r1
(7.9)

O que, fazendo aparecer explicitamente o fluxo do campo B, dá origem a:


I MI 2
T   (7.10)
2 2
pelo que, quando I aumenta, o momento da força necessária para manter o dínamo a rodar aumenta também.
Se chamarmos G ao momento externo aplicado ao dínamo e K ao momento de inércia do conjunto eixo-disco,
a equação que governa a aceleração angular do disco é a seguinte:
G  MI 2 d
K (7.11)
2 dt
A equação anterior designa-se por Equação Dinâmica do Dínamo.
O dínamo de disco possui uma topologia que seguramente não tem comparação com a estrutura do núcleo
líquido da Terra. Em particular, para que seja possível o seu funcionamento, é necessária a existência de
componentes isoladoras e componentes condutoras que não tem paralelo na Terra.
A importância deste modelo reside no facto de ele mostrar a possibilidade de uma geometria simples
demonstrar algumas das propriedades conhecidas do CMP. De entre essas, uma das mais importantes diz
respeito à existência de inversões do campo magnético da Terra : demonstra-se que a equação 7.11 possui
soluções que correspondem a variações periódicas da intensidade de 𝐵⃗ , com intervalos nos quais a amplitude
de 𝐵⃗ é reduzida alternados com intervalos onde a amplitude de 𝐵⃗ cresce rapidamente - se bem que com
amplitude finita; se se juntar ao modelo de Bullard uma pequena indutância entre P e Q, é possível demonstrar
que as oscilações deixam de ser periódicas e se tornam caóticas, mostrando inversões - ou seja, gerando um
campo magnético 𝐵⃗ com sentidos directo e inverso (Backus et al, 1996).
7.2.2 Dínamo duplo de Rikitake

Figura 7.2 – Dínamo Duplo de Rikitake


O Dínamo Duplo de Disco proposto por Rikitake como um modelo analógico do CMP constitui uma
generalização do modelo de Bullard. Aqui a corrente gerada no disco de um dínamo é utilizada para induzir o
campo magnético no outro disco.

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Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

O Dínamo de Rikitake mostra um comportamento caótico e apresenta inversões, o que se aproxima de forma
qualitativa de uma das características já referidas do CMP: a troca de polaridade de forma aparentemente caótica
ao longo da história geológica.

7.3 Dínamos Cinemáticos


7.3.1 Componentes Poloidal e Toroidal do CMP
As equações fundamentais do electromagnetismo, reproduzidas no capítulo 2 como (2.13) a (2.16), são válidas.
Comecemos então por lembrar que, sendo campo magnético 𝐵 ⃗ um campo solenoidal pode sempre ser escrito
sob a forma do rotacional de um potencial vector:
⃗ = 𝑟𝑜𝑡𝐴
𝐵 (7.21)
Onde o potencial vector se pode decompôr sob a forma:
𝐴 = 𝑇𝑟 + (𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑆)×𝑟 (7.22)
Onde T e S são duas funções escalares e 𝑟 é o vector posição. Então B pode ser expresso como:
⃗ = 𝑟𝑜𝑡 (𝑇 𝑟) + 𝑟𝑜𝑡(𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑆×𝑟)
𝐵 (7.23)
uma vez que o operador rot é linear. O primeiro termo pode expandir-se da forma:
𝑟𝑜𝑡(𝑇𝑟) = 𝑇(𝑟𝑜𝑡 𝑟) + 𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑇×𝑟 = 𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑇×𝑟
já que 𝑟𝑜𝑡⃗⃗𝑟 é nulo. O segundo termo de (7.3) pode ser simplificado, sabendo-se que para qualquer função
escalar S, 𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑆×𝑟 = 𝑟𝑜𝑡(𝑆 𝑟 ). Teremos assim:
⃗ = 𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑇×𝑟 + 𝑟𝑜𝑡[𝑟𝑜𝑡(𝑆 𝑟 )]
𝐵 (7.24)
O primeiro termo da expressão anterior é sempre perpendicular ao raio vector e denomina-se componente
toroidal, o segundo termo tem componente radial e denomina-se componente poloidal do campo magnético.
Este resultado que se aplica a qualquer campo solenoidal é importante para o campo magnético da Terra porque
põe em evidência uma conclusão importante: sendo o campo magnético principal gerado pela movimento do
fluido condutor que integra o núcleo líquido, apenas as linhas de força da componente poloidal intersectam a
superfície da Terra.

Figura 7.3 – Representação esquemática da diferença entre componentes poloidais e toroidais

A representação (7.24) substitui para o caso dos campos solenoidais o papel da representação em harmónicas
esféricas utilizada par a representação dos campos conservativos.
7.3.2 Teorema do fluxo congelado e efeito omega
Partindo da equação da indução magnética e considerando a condutividade infinita, sendo desprezável o termo
difusivo,

𝜕𝐵
⃗)
= 𝑟𝑜𝑡(𝑣 ×𝐵
𝜕𝑡

Se considerarmos uma uma área S limitada por um contorno L movendo-se no fluido, e sendo 𝑛⃗ a normal
exterior ao contorno, teremos:

𝜕𝐵
∫ . 𝑛⃗ = ∫ 𝑟𝑜𝑡(𝑣 ×𝐵 ⃗ . ⃗⃗⃗⃗
⃗ ). 𝑛⃗ = ∫ 𝑣 ×𝐵 𝑑𝐿 = − ∫ 𝐵 ⃗⃗⃗⃗ )
⃗ . (𝑣×𝑑𝐿 (7.25)
𝑆 𝜕𝑡 𝑆 𝐿 𝐿

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Introdução ao Geomagnetismo
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onde utilizámos o teorema de Stokes e tendo em atenção que 𝑣 ×𝑑𝐿⃗ é a área varrida no intervalo dt, teremos:


𝜕𝐵 𝑑
∫ . 𝑛⃗ + ∫ 𝐵 ⃗⃗⃗⃗ ) = ∫ 𝐵
⃗ . (𝑣 ×𝑑𝐿 ⃗ . 𝑛⃗ 𝑑𝑆 = 0 (7.26)
𝑆 𝜕𝑡 𝐿 𝑑𝑡 𝑆

ou seja, o fluxo do campo magnético através de S é constante, pelo que se pode concluir que o campo magnético
está “congelado” no interior de um condutor perfeito. Quando um condutor se move do espaço exterior (ao
campo magnético) para o interior, as linhas de força do campo serão “comprimidas” pelo que a intensidade do
campo será aumentada.

Figura 7.4 – Ilustração do teorema do fluxo congelado: supondo duas fracções de um mesmo condutor movendo-se uma em relação à outra. Cada bloco transporta
consigo as linhas de força do campo magnético.

Podemos ilustrar a ideia essencial do teorema de Cowling para o caso particular em que o campo magnético e
o campo da velocidade são ambos axisimétricos, que consideraremos compostos de uma componente zonal e
uma componente meridional: quando existe um contraste radial da velocidade, o movimento zonal transporta
as linhas de força meridionais do campo magnético (“fluxo congelado”) criando um campo com geometria
zonal (efeito 𝜔). Para que o dínamo fosse estável, seria necessário um processo inverso, que criasse uma
componente meridional a partir da componente zonal, mas esse processo não poderia ter simetria axial.
7.3.3 Turbulência e efeito 
A complexidade do campo de movimento do núcleo líquido da Terra é muito elevada. Deste modo a correlação
espacial do campo da velocidade deve decair rapidamente com a distância. Neste caso, se as distâncias de
correlação são muito reduzidas o fluxo diz-se turbulento, e a mesma designação se aplica aos modelos de
dínamo que reproduzem esta situação.
Uma das características dos dínamos turbulentos é a consideração do efeito  como mecanismo de amplificação
do campo magnético.
Consideremos assim a lei de Ohm,
𝐽 = 𝜎𝐸⃗ + 𝜎𝑣 ×𝐵

se considerarmos 𝐸⃗ um campo externo aplicado, podemos considerar o termo 𝑣×𝐵 ⃗ como um campo eléctrico
“interno” 𝐸⃗ i. Suponhamos ainda que os campos magnético e da velocidade se podem decompor num termo
“médio” e numa “perturbação” em relação ao valor médio:
v = v0 + v '
B = B0 + B '
(7.27)

O valor médio do campo eléctriuco interno será:

〈𝐸⃗𝑖 〉 = 𝑣0 ×𝐵
⃗ 0 + 〈𝑣 ′×𝐵
⃗ ′〉 (7.28)

uma vez que os valores médios das perturbações são nulos. Temos assim a possibilidade da criação de uma
f.e.m. suplementar quando as perturbações da velocidade e do campo magnético estão correlacionadas. Krause
demonstrou que esta força electromotriz 𝜖 pode ser escrito da forma:

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⃗0
〈𝜖〉 = 𝛼𝐵 (7.29)

em que  pode ser um escalar ou um tensor de segunda ordem. A existência do efeito  foi determinada
experimentalmente por Steenbeck utilizando sódio líquido. Caso a corrente méda gerada pelo efeito  possua
a geometria adequada, ela poderá reforçar o campo magnético médio existente. Uma das condições necessárias
para que o efeito exista é a de que a velocidade do fluido e a sua vorticidade estejam correlacionadas. Diz-se
neste caso que o movimento do fluido possui helicidade.
Deste modo, o campo magnético pode ser criado não só pela força electromotriz expressa pelo termo 𝑣×𝐵⃗
mas ainda pelo efeito que é capaz de produzir um campo meridional de grande escala a partir de um campo
zonal, pelo que a validade do teorema de Cowling deixa de ter lugar. Diz-se nesse caso que estamos na presença
de um modelo de tipo 𝛼𝜔. Uma vez que a equação (7.29) também permite a possibilidade de criação de
componentes zonas a partir de componentes meridionais, podem igualmente existir dínamos de tipo 𝛼 2 .

Figura 7.5 – transformação de componentes poloidais em toroidais como resultado do movimento de rotação diferencial do núcleo, e contribuição do “efeito ”.
Esquema retirado de Inglis, 1981.

7.4 Aproximação Magnetohidrodinâmica


O Geodínamo tem que ser explicado do ponto de vista fisico-matemático pela magnetohidrodinâmica, que
reúne as equações da hidrodinâmica (Equações de Navier-Stokes e de Estado), e do electromagnetismo
(Equações de Maxwell para um fluido condutor). No início da década de setenta do século XX foram
alcançados os primeiros resultados encorajadores para campos de velocidade capazes de manter um dínamo
auto-sustentado, e foi demonstrado por G. O. Roberts que o teorema de Cowling não proibia dinamos
cinemáticos com movimentos axi-simétricos e que estes podem manter campos magnéticos sem simetria axial
(Kono e Roberts, 2002).
7.4.1 Equações da MHD
Considerando o fluido como incompressível, a equação da conservação da massa escreve-se como
habitualmente:

⃗ =0
𝑑𝑖𝑣 𝑉 (7.12)

A equação de conservação do momento, por sua vez é semelhante à equação habitual de Navier-Stokes a que
se adicionam os termos necessários para representar o efeito da rotação da Terra e o campo magnético:
𝜕
𝜌( ⃗ ×𝑣) + 𝐽×𝐵
+ 𝑣 . 𝑔𝑟𝑎𝑑) 𝑣 = −𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑃 + 𝜌0 𝜂 𝑙𝑎𝑝𝑣 − 𝜌 𝑔𝑟𝑎𝑑𝛷 − 2 𝜌( 𝛺 ⃗ (7.13)
𝜕𝑡

Onde os termos têm os significados usuais, p representa a pressão, 𝜂 é o coeficiente de viscosidade cinemática,
⃗ o campo magnético, 𝑣 a velocidade, ⃗⃗Ω a velocidade angular
𝐽 é a densidade de corrente, Φ o geopotencial, 𝐵
da Terra e t o tempo. O membro direito da equação anterior identifica as diferentes forças externas que geram

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Introdução ao Geomagnetismo
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variações de momento: o gradiente de pressão, a viscosidade, a gravidade, a força de Coriolis e a força de


Lorenz.
A conservação da energia pode ser traduzida pela equação da condução do calor:
𝜕𝑇
+ 𝑣 . 𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑇 = 𝜅 𝑙𝑎𝑝 𝑇 + 𝜖 (7.14)
𝜕𝑡

Onde T é a temperatura, 𝜅 = 𝑘/𝜌𝑐𝑝 é a difusividade térmica, k é a condutividade térmica, 𝑐𝑝 é o calor específico


do meio a pressão constante e 𝜖 é a produção de calor por unidade de massa criada por fontes (e.g. readioactivas)
existentes no fluido.
O campo magnético, por sua vez, é solenoidal:
⃗ =0
𝑑𝑖𝑣 𝐵 (7.15)

Podemos partir da equação (2.14), desprezando a corrente de deslocamento, dada a grande condutividade do
núcleo:
 
rot B   J
Relacionar a densidade de corrente com o campo eléctrico utilizando a equação de Ohm para um meio
contínuo:

𝐽 = 𝜎𝐸⃗ + 𝜎𝑣 ×𝐵

Combinando as duas expressões anteriores obtemos:


⃗ = 𝜇(𝜎𝐸⃗ + 𝜎𝑣 ×𝐵
𝑟𝑜𝑡 𝐵 ⃗)

Aplicando o operador rotacional aos dois membros da equação anterior,


⃗ ) = 𝜇 𝜎 𝑟𝑜𝑡 𝐸⃗ + 𝜇 𝜎 𝑟𝑜𝑡(𝑣 ×𝐵
𝑟𝑜𝑡(𝑟𝑜𝑡 𝐵 ⃗)

Combinando com a equação de Maxwell (2.13) que exprime a lei de Faraday



 B
rot E  
t
e conhecendo-se a igualdade vectorial
⃗ ) = 𝑔𝑟𝑎𝑑(𝑑𝑖𝑣𝐵
𝑟𝑜𝑡(𝑟𝑜𝑡𝐵 ⃗ ) − 𝑙𝑎𝑝𝐵

[lembre-se que 𝑑𝑖𝑣 𝐵⃗ = 0] obtemos a denominada Equação da Indução Magnética:



𝜕𝐵
⃗ ) + 𝜂 𝑙𝑎𝑝 𝐵
= 𝑟𝑜𝑡(𝑣 ×𝐵 ⃗ (7.16)
𝜕𝑡
1
onde se considerou que 𝜇 é a permeabilidade magnética do núcleo, 𝜎 é a sua condutividade eléctrica, 𝑒 𝜂 = 𝜇𝜎
é a difusividade magnética.
O geopotencial está relacionado com o campo da densidade através da equação de Poisson:
𝑙𝑎𝑝 𝛷 = −4𝜋𝐺𝜌 (7.17)
Este sistema de equações é completado por uma equação de estado para a densidade. Na aproximação de
Boussinesq consideramos a densidade independente da pressão e linearmente dependente da temperatura:
𝜌 = 𝜌0 (1 − 𝛼(𝑇 − 𝑇0 )) (7.18)
Onde 𝛼 é o coeficiente de expansão térmica 𝑇0 é a temperatura de referências, correspondente a 𝑟 = 𝑅0 ,
quando a densidade é 𝜌 = 𝜌0 .
As equações (7.12), (7.13), (7.14), (7.15), (7.16), (7.17) e (7.18) definem o problema do Geodínamo na
aproximação de Boussinesq.

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7.4.2 Decaimento do Campo Magnético


A interpretação da Equação da Indução Magnética (7.16) é simples: na ausência de um campo de velocidades
recuperamos uma equação de difusão do campo magnético, que este decairá com o tempo.

𝜕𝐵

= 𝜂 𝑙𝑎𝑝 𝐵 (7.19)
𝜕𝑡

Podemos obter uma estimativa grosseira do tempo de relaxação  (intervalo necessário para que B decaia para
1/e do seu valor inicial), da forma:

𝐿2
𝜏= (7.19)
(𝜇0 𝜎)−1

admitindo que a ordem de grandeza de 𝑙𝑎𝑝 ~𝐿−2 sendo L o raio do núcleo líquido (~3 106 m), que dada a
temperatura do nucleo a permeabilidade magnética é proxima de 𝜇0 e que a condutividade eléctrica do núcleo
é de 4 . 105 Sm-1, obtemos:

9 ×1012 9 ×1012
𝜏= = = 4.5 ×1012 𝑠~140000 𝑎𝑛𝑜𝑠 (7.20)
(4𝜋10−7 ×4×105 )−1 (0.5024)−1

Determinações mais rigorosas, envolvendo em particular a geometria esférica da Terra conduzem a valores 1
ordem de grandeza inferiores. Verifica-se assim que é necessária a existência do termo 𝑟𝑜𝑡(𝑣 ×𝐵⃗) na equação
da indução magnética para assegurar que o campo se mantém em períodos da ordem de grandeza da idade da
Terra.
7.4.3 Teorema de Proudman-Taylor
Um resultado importante da física dos sistemas em rotação é o chamado teorema de Proudman-Taylor segundo
o qual num fluido não viscoso, homogéneo, em rotação rápida e fora de efeitos de fronteira o
movimento estacionário é essencialmente bidimensional, idêntico em todos os planos
perpendiculares ao eixo de rotação. Nestas condições, desprezando a componente transitória e a advecção,
os únicos termos da equação de Navier Stokes que devemos considerar são o gradiente de pressão e a força de
Coriolis:
⃗ ×𝑣 ) = 0
𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑃 + 2 𝜌( 𝛺

Aplicando o operador rotacional aos dois termos da equação teremos:

⃗ ×𝑣) = 0
𝑟𝑜𝑡(𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑃) + 2 𝜌 𝑟𝑜𝑡( 𝛺

Recorrendo à igualdade vectorial 𝑟𝑜𝑡(𝐴×𝐵⃗ ) = A


⃗ 𝑑𝑖𝑣𝐵
⃗ − (𝐴. 𝑔𝑟𝑎𝑑)𝐵
⃗ + (𝐵
⃗ . 𝑔𝑟𝑎𝑑)𝐴 − 𝐵
⃗ 𝑑𝑖𝑣𝐴 teremos:

⃗ 𝑑𝑖𝑣 𝑣 − (𝛺
𝑟𝑜𝑡(𝑔𝑟𝑎𝑑 𝑃) + 2 𝜌 [𝛺 ⃗ . 𝑔𝑟𝑎𝑑)𝑣 + (𝑣. 𝑔𝑟𝑎𝑑)𝛺
⃗ − 𝑣 𝑑𝑖𝑣 𝛺
⃗ ]=0

O primeiro termo é nulo, já que um campo que deriva de um potencial é irrotacional, a divergência da
velocidade é nula, bem como a divergência da velocidade angular da Terra, pelo que podemos simplificar:
⃗ . 𝑔𝑟𝑎𝑑)𝑣 + (𝑣 . 𝑔𝑟𝑎𝑑)𝛺
2 𝜌 [−(𝛺 ⃗ ]=0

𝜕𝛺𝑥 𝜕𝛺𝑦 𝜕𝛺𝑧 𝜕𝑣𝑥 𝜕𝑣𝑦 𝜕𝑣𝑧


𝑣𝑥 + 𝑣𝑦 + 𝑣𝑧 − 𝛺𝑥 − 𝛺𝑦 − 𝛺𝑧 =0
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑧

Mas como a velocidade angular da Terra só tem componente vertical e é uniforme:


𝜕𝑣𝑧 (7.21)
𝛺𝑧 =0
𝜕𝑧
Pelo que o campo da velocidade não depende da coordenada vertical. Num fluido deste tipo em rotação rápida
a vorticidade existe sob a forma da rotação de longas colunas de fluido paralelas ao eixo. A importância deste
comportamente deverá variar nas diferentes regiões do núcleo: como o núcleo líquido é muito grande, no seu
interior a taxa de cisalhamento é reduzida pelo que o termo viscoso deve ser desprezadao quando comparado

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com o gradiente de pressão e a força de Coriolis. Perto das fronteiras inferior e superior a situação deve ser
diferente, e aqui os termos viscosos podem determinar o campo da velocidade.
Devemos também distinguir duas regiões determinadas pelo cilindro que contém o núcleo sólido interno: uma
região interna a esse cilindro, próxima das regiões polares e outra, externa a esse cilindro. Se admitirmos que a
convecção é essencialmente determinada pelo transporte de calor do núcleo interno para a base do manto, a
importância relativa da força de Coriolis deverá ser menor na região interna que na interna. Na região interna,
próxima das regiões polares deveremos ter uma geometria do campo da velocidade que se assemelha e uma
célula de convecção, eventualmente toroidal, já que nos afastamos das condições do teorema de Proudman-
Taylor, dada a menor importância relativa da força de Coriolis quando comparada com as forças viscosas. Na
região externa deveremos ter um campo de movimento onde deverão dominar no campo médio as forças de
gradiente de pressão e de Coriolis.

7.5 Bibliografia
Backus G., R. Parker, C Constable, (1996) Foundations of Geomagnetism, Cambridge University Press, pp 369.
Chapman, S. and J. Bartels, Geomagnetism Vol. II, Clarendon Press, London, 1962.
Inglis DR, 1981. Dynamo theory of the earth's varying magnetic field. Reviews of Modern Physics, Vol. 53, No. 3 July 1981.
Kono M e Roberts PH, 2002. Recent Geodynamo Simulations and Observations Of The Geomagnetic Field.
McElhinny, M W, Palaeomagnetism and Plate Tectonics, Cambridge University Press, pp 1-358, 1973.

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Cap 8 – PROSPECÇÃO MAGNÉTICA


8.1 Interpretação Qualitativa de Anomalias Magnéticas
Na maioria dos casos, as rochas contêm uma variedade de minerais com propriedades magnéticas distintas.
Como foi referenciado anteriormente, a classificação resume-se a três classes de minerais magnéticos, ou seja,
diamagnéticos, paramagnéticos e ferromagnéticos (s.l.), onde cada grão destes minerais dá a sua contribuição
para a susceptibilidade volúmica assim como para a anisotropia da susceptibilidade magnética. Assim conclui-
se que a susceptibilidade volúmica e a anisotropia de uma rocha resultam da soma ponderada de todos os tipos
de magnetismo presente nos mais variados minerais.
Se os minerais ferromagnéticos (s.l.) estão presentes, estes dominam as propriedades magnéticas das rochas,
desde que se encontrem a uma temperatura inferior à de Curie. Os minerais ferromagnéticos mais comuns são
os óxidos de ferro, magnetite e hematite (cf. tabela 3.1), os quais estão presentes em quantidades de pelo menos
5l % em volume do total de rochas ígneas e metamórficas participando com quantidades mais baixas para as
rochas sedimentares.
A magnetite é um mineral ferromagnético particularmente importante devido à sua alta susceptibilidade
magnética. No entanto a sua anisotropia magnética é relativamente baixa, quando comparada com outros
minerais. A anisotropia magnética de um outro óxido de ferro, a hematite, é elevada, mas a sua susceptibilidade
é mais fraca 1% do que a magnetite, se bem que seja mais alta que a maioria dos outros minerais. Assim se
tanto a magnetite como a haematite estão presentes, as propriedades magnéticas das rochas tenderão a ser
dominadas pela magnetite quando presente em concentrações superiores ou iguais a 0.5% da fracção de óxidos
de ferro.
Na ausência (ou para muito baixas concentrações) destes dois minerais, outros minerais ferromagnéticos (s.l.)
tenderão a dominar as propriedades magnéticas, tais como óxidos de ferro (ex. Maghaemite), hidróxidos de
ferros (ex. Goetite), e sulfatos de ferro, (ex. Pirrotite). Todos estes minerais são importantes porque assinam
propriedades da fábrica magnética assim como da remanescência magnética, no entanto, condicionadas pela
distribuição de tamanhos destes minerais.
As anomalias magnéticas são um instrumento para estudar a composição do interior da Terra, mas as fontes
cuja descrição procuramos devem estar próximas da superfície, já que a Temperatura de Curie dos materiais
ferrimagnéticos é atingido a menos de 100 km de profundidade, e uma vez que as propriedades dia- e
paramagnéticas, se bem que não desapareçam com a Temperatura de Curie, têm uma contribuição muito
reduzida para a magnetização global das rochas.
As anomalias podem classicar-se no que diz respeito à seu número-de-ondas, em locais e regionais. A separação
entre estes dois tipos tem a ver necessariamente com o objecto do estudo e as dimensões da área onde
possuimos dados magnéticos. No caso dos estudos tectónicos ou mineiros as anomalias de interesse têm n-d-
o hectométricos ou quilométricos, e todas as outras fontes, mais profundas ou de dimensão lateral superior,
são por nós englobadas na categoria “regional”.

8.2 Anomalias do campo total devidas a corpos magnetizados


Como vimos no ponto 3.1, considerando valores do CMT livres de influência do campo externo, podemos
definir a anomalia magnética por:

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  
B A  B  BN (8.1)

Figura 8.1: anomalia magnética medida com um magnetómetro escalar e determinado da forma |B|-|BN| é aproximadamente igual à projecção
do vector campo anómalo na direcção do campo normal.

As anomalias são quantidades vectoriais, pelo que só são completamente descritas quando conhecemos as três
componentes X, Y, Z, correspondentes às três direcções (Sul-Norte, Oeste-Este e Vertical). Contudo, a
utilização de magnetómetros de três componentes em prospecção é pouco frequente, pela necessidade de
orientação geográfica absoluta em todos os pontos de medição. Geralmente os magnetómetros utilizados são
instrumentos escalares, como os magnetómetros de protões, pelo que, ao subtrairmos à intensidade observada
a intensidade do campo normal, obtemos não a intensidade da anomalia magnética, mas sim a sua projecção
segundo da direcção do campo normal:

 A BN
F  B   (8.2)
BN

como pode ser deduzido facilmente do diagrama da figura 8.2.


Para determinarmos a anomalias magnética produzida por um corpo magnetizado temos que integrar a equação
(3.1) para uma geometria específica, e estabelecer (ou medir a partir de um conjunto de amostras recolhidas) o
valor a atribuir à sua Magnetização Volúmica.
Um caso muito simples é o que acontece quando o objecto do nosso estudo é um dique, que podemos
representar por um modelo do tipo “degrau inclinado”, tal como apresentamos na figura 8.3.

Figura 8.2: Modelo de um “degrau inclinado”

A anomalia do campo total, obtida por integração de (3.1) e tendo em atenção a definição (8.2) é dada por:
𝜇0 𝐶(𝑥 − 𝑥0 ) + 𝐷𝑧𝑡
𝛥𝐹(𝑥) = 𝑀𝑡 (8.3)
4𝜋 (𝑥 − 𝑥0 )2 + 𝑧𝑡2

em que os parâmetros geométricos podem ser retirados da figura 8.3, e as constantes C, D têm os valores:
C = 2(lL - nN ) cos d - 2(lN - Ln) sin d
(8.4)
D = - 2(lL - nN ) sin d - 2(lL + Ln) cos d
sendo (l, m, n) os cosenos directores do CMP e (L, M, N) os cosenos directores do campo anómalo. A partir
deste modelo elementar podem-se construir modelos mais complexos, um dos quais simula um “dique”, obtido
simplesmente pela adição de dois “degraus” desfasados, com magnetizações de igual intensidade e sinais
contrários.

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Figura 8.3 – Anomalia Magnética gerada por um dique com 10 m de espessura projectada na horizontal. A inclinação do CMP e da magnetização é de 60º, o
perfil está orientado segundo o meridiano magnético e a magnetização é de 1A/m.

Um modelo tridimensional muito simples, e que exemplifica bem a anomalia magnética do campo total gerada
por um corpo cuja magnetização é superior à do encaixante corresponde ao “prisma semi-infinito” cujas
expressões foram deduzidas por Bathacharyya (1964).

Figure 8.4: Anomalia Magnética gerada por prisma semi-infinito, cujo topo está a 100 m de profundidade, cujo contraste de magnetização é de
1 A/m. A inclinação do CMP e da magnetização é de 50º, e as declinações respectivas de 10ºE.

Na figura 8.4 apresentamos a anomalia gerada por um prisma (contornos identificados na figura) cuja
profundidade de topo é de 100 m, e cujo contraste de magnetização é de 1 A/m. Admitimos que a inclinação
da magnetização e do CMP é de 50º e que a declinação de ambos é de 10º.
Repare que a forma da anomalia depende das coordenadas geomagnéticas e, portanto, da posição geográfica
que estamos a considerar. Caso realizassemos idêntico cálculo para o hemisfério sul, as posições relativas da
anomalia e do corpo seriam diferentes (quais ?).

8.3 Anomalias Magnéticas em Meio Continental


Num dos capítulos anterior discutimos já as características particulares das anomalias magnéticas oceânicas e a
forma como são utilizadas para a dedução da cinemática litosférica: elas são essencialmente bi-dimensionais,
com uma direcção preferencial (“stripes”) e traduzem directamente a influência das inversões de polaridade do
CMP, já que a magnetização remanescente térmica dominante. No caso das regiões continentais as anomalias
magnéticas são em geral de amplitude mais baixa e de número de ondas mais elevado. Os processes de
geodinâmica interna e externa que caracterizam os continentes conduzem a padrões mais complexos e
essencialmente tri-dimensionais.
A interpretação qualitativa das anomalias magnéticas tem por objectivo a identificação expedita das
diferenciações laterais de petrologia, que geram contrastes de magnetização, e da tectónica, não só porque põe

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em contacto formações com contrastes de magnetização, como também pelo facto de ser possível identificar
fenómenos associados à fracturação, gerados essencialmente quer pela acção da circulação de água.
A interpretação quantitativa procura relacionar anomalias magnéticas individualizadas com modelos
simplificados de corpos, cujo contraste de magnetização é suposto gerar a anomalia. Os manuais de Prospecção
Magnética descrevem diversos métodos de modelação.
Na figura 8.5 apresentam-se as anomalias magnéticas do continente, obtidas a artir de um levantamento
aeromagnético realizado à altitude de 3000m, e com linhas de voo orientadas segundo os meridianos magnéticos
e espaçadas entre si 10 km. A carta apresentada corresponde à anomalia do “campo total”, sendo as linhas de
isoanómala representadas de 10 nT em 10 nT.
Se sobrepusermos à carta magnética as grandes unidades estruturais do soco hercínico do continente, verifica-
se a existência de uma correlação elevada entre os limites dessas unidades e as anomalias magnéticas.
Esta correlação é particularmente clara na região de transição entre a Zona de Ossa Morena (ZOM) e a Zona
Sul Portuguesa (ZSP) ao longo do Cavalgamento de Ferreira Ficalho, que separa uma região (ZOM) de elevado
metamorfismo de outra (ZSP) onde o metamorfirsmo é menos elevado, sem inclusões granitóides, o que do
ponto de vista magnético, se traduz por anomalias de maior n-d-o, de baixa amplitude, negativas, indicando
que a susceptibilidade magnética destas formações é reduzida, e inferior à média do continente.
A ZOM apresenta uma profusão de anomalias de amplitude intermédia, polarizadas directamente, relacionadas
com o Maciço de Beja e as formações gabro-dioríticas de Sousel, Alter do Chão, Campo Maior, Elvas,
Monforte, etc…
A separação entre a Zona Centro Ibérica (ZCI) e a Sub-Zona de Galiza e Trás-os-Montes (SZGT) segue quase
perfeitamente a “linha de zero” da anomalia magnética: a SZGT é uma região onde as formações apresentam
susceptibilidades baixas, sobre as quais poontuam as anomalias associadas aos Maciços alóctonos de Morais e
Bragança. A fronteira SE da SZGT é ainda marcada pela anomalia de Moncorvo, provavelmente devida ao alto
teor em ferro dos seus quartzitos.
As bacias meso-cenozóicas do Tejo e do Sado são caracterizadas por valores muito baixos da susceptibilidade
magnética, o que está deacordo com os valores médios típicos das formações sedimentares. Contudo, os
Maciços vulcânicos de Sintra e Sines “mascaram” com as fortes anomalias associadas, este comportamento
regional.

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Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

42
ZONA DE GALIZA E TRÁS-OS-MONTES

41.5

41

40.5
ZONA CENTRO-IBÉRICA

40

39.5

39

ZONA DE OSSA MORENA


38.5

38

ZONA SUL-PORTUGUESA
37.5

37

-10 -9.5 -9 -8.5 -8 -7.5 -7 -6.5 -6 -5.5

Figura 8.5 Levantamento Aeromagnético de Portugal Continental. Sobreposição entre as anomalias magnéticas e as unidades estruturais do Maciço Hespérico.

A correlação entre as anomalias magnéticas e os grandes acidentes tectónicos também é facilmente observável
na figura 8.5: A falha da Nazaré, que afecta significativamente a magnetização do material litológico e se
“prolonga” aparentemente pela falha de S Pedro do Sul – Chaves afecta as anomalias magnéticas regionais de
foma expressiva. As falhas Régua-Verin e Covilhã-Bragança, apresentam assinaturas semelhantes.

8.4 Exercícios de Aplicação


In an aeromagnetic survey over land and at a flight altitude of 2000 m above sea-level, the
maximum total field anomaly over an ore body is 30 nT. In a repeat measurement at 2500 m
altitude, the maximum amplitude of the anomaly is 20 nT. Calculate the depth of the ore
body (below sea-level) assuming that the ore body is a simple dipole. For simplicity, assume

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Introdução ao Geomagnetismo
Jorge Miguel Miranda

that the ore-body is magnetized with the Earth’s field and located on the magnetic equator.

8.5 Bibliografia
Bathacharyya (1964).

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