Apontamento de Geologia Geral MAQUINE

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

INDICE
Pág.
TEMA 1: CONCEITO GE GEOLOGIA (sua relação com outras Ciências) 1
1. Introdução 1
2. O que é a Geologia? 2
3. Porquê estudar Geologia? 3
4. A Abrangência da Geologia e ciências afins 3
5. Um pouco sobre a história da Geologia 4
6. A Terra no Espaço 6
TEMA 2: ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA TERRA 10
1. Introdução 10
2. Forma e dimensões da Terra 10
3. Estrutura da Terra 12
4. Composição da Crusta 13
5. Tectónica de Placas 14
TEMA 3: CONCEITO DE MINERAL E CRISTAL 17
1. Introdução 17
2. Definição de Mineral 17
3. Cristais 18
4. Os Sistemas Cristalinos 19
5. Propriedades Físicas dos Minerais 20
5.1. Hábito e Agregados de Minerais 20
5.2. Clivagem e Fractura 21
5.3. Dureza 22
5.4. Tenacidade 22
5.5. Densidade 22
5.6. Cor 23
5.7. Risca ou Traço 23
5.8. Brilho ou Lustre 23
5.9. Diafaneidade (Transparência) 23
5.10. Reflexão e Refracção 23
5.11. Fluorescência, Fosforescência e Luminescência 23
5.12. Propriedades Eléctricas e Magnéticas 24
5.13. Propriedades Radioactivas 24
5.14. Isomorfismo, Polimorfismo e Pseudomorfismo 24
6. Classificação dos Minerais 25
6.1. Elementos Nativos 25
6.2. Sulfuretos/Sulfossais 26
6.3. Óxidos e Hidróxidos 30
6.4. Halogenetos 34
6.5. Carbonatos 35
6.6. Nitratos e Boratos 37
6.7. Sulfatos e Cromatos 37
6.8. Tungstatos e Molibdatos 38
6.9. Fosfatos, Arsenatos e Vanadatos 39
6.10. Silicatos 41
TEMA 4: GEODINÂMICA INTERNA (rochas ígneas e metamórficas) 54
1. Introdução 54
2. O Ciclo das Rochas 54
3. Geodinâmica Interna 56
3.1. Magmatism o 56
3.2. Metamorfismo 61
3.3. Sismologia 64
3.4. Geologia Estrutural 64
4. Rochas Ígneas 69
4.1. Tipos de Intrusões e Extrusões 69
4.2. Textura e Estrutura das Rochas Ígneas 70
4.3. Cor das Rochas Ígneas 71
4.4. Classificação das Rochas Ígneas 71
5. Rochas Metamórficas 76
5.1. Introdução 76
5.2. Texturas e Estruturas das Rochas Metamórficas 77
5.3. Classificação das Rochas Metamórficas 78
5.4. Principais Rochas Metamórficas 78
5.5. Ocorrência de Rochas Metamórficas em Moçambique 82
TEMA 5: GEODINÂMICA EXTERNA 83
1. Introdução 83
2. Agentes da Geodinâmica Externa 83
2.1. Gravidade 83
2.2. Agentes Atmosféricos 84
2.3. Água 87
2.4. Os Seres Vivos 94

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TEMA 6: METEORIZAÇÃO-SOLOS-MOVIMENTOS DE TERRAS-ROCHAS SEDIMENTARES 96


1. Introdução 96
2. Meteorização 96
2.1. Processos de Meteorização 97
2.2. Factores que Influenciam a Meteorização 101
3. Solos 103
3.1. Origem 103
3.2. Perfil Pedológico 104
3.3. Factores Formadores de Solos 104
4. Movimentos de Terras 104
5. Rochas Sedimentares 106
5.1. Classificação das Rochas Sedimentares 106
5.2. Rochas Clásticas 106
5.3. Rochas de Precipitação Química 109
5.4. Rochas Biogénicas 110
TEMA 7: PROCESSOS EÓLICOS 113
1. Introdução 113
2. Movimentos do Mar 113
3. Fontes do Material Transportado pelo Vento 114
4. Movimento de Materiais pelo Vento 114
5. Sedimentos Transportados pelo Vento 116
5.1. Dunas 116
5.2. Mares de Areia 118
5.3. Loess 118
TEMA 8: RIOS E PROCESSOS FLUVIAIS 119
1. Introdução 119
2. Formação dos Rios 119
3. Princípios que Governam a Acção dos Rios 119
3.1. O Rio e o seu Canal 119
3.2. Carga dum Rio 122
3.3. Erosão dum Rio 123
3.4. Deposição (Sedimentação) dum Rio 124
4. Desenho de Drenagem 125
TEMA 9: OCEANOS E OS PROCESSOS MARINHOS 127
1. Introdução 127
2. Composição 127
3. Topografia dos Fundos Oceânicos 127
3.1. Plataforma Continental 127
3.2. Talude Continental 128
3.3. Crista Médio-Oceânica 129
4. Processos Modeladores das Costas 129
4.1. Marés 129
4.2. Ondas 130
4.3. Aspectos Formados pela Erosão das Ondas 131
4.4. Movimento de Sedimentos em Águas Pouco Profundas 133
5. Depósitos Marinhos 131
5.1. Praias 133
5.2. Pântanos Costeiros 135
5.3. Recifes de Coral 135
TEMA 10: ÁGUA SUBTERRÂNEA 137
1. Introdução 137
2. Água Subterrânea 137
2.1. Origem da Água Subterrânea 137
2.2. Armazenamento Subterrâneo de Água 137
2.3. Infiltração de Água no Solo 138
3. Configuração das Zonas Saturadas 139
3.1. Água Nãop Confinada 139
3.2. Água Confinada> Condições Artesianas 139
4. Surgimentos das Águas Subterrâneas à Superfície 140
4.1. Nascentes 140
4.2. Geysers 140
5. Paisagens Moduladas por Solução de Águas Subterrâneas 141
5.1. Solução 141
5.2. Paisagens 141
5.3. Desvio de Drenagem Superficial 142
5.4. Grutas 142
TEMA 11: GEOCRONOLOGIA 143
1. Fósseis 143
2. Condições de Fossilização 143
3. Importância Geológica dos Fósseis 144
4. Fóssil-Guia e Fóssil de Fácies 144
5. A Escala do Tempo Geológico 145

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TEMA 1: CONCEITO DE GEOLOGIA (sua relação com outras Ciências)

1. INTRODUÇÃO
O nosso conhecimento sobre a Terra (Fig. 1.1) baseia-se em
séculos de observações, movidas pela curiosidade nata do Homem em saber
sempre mais e de ir mais além. Esta curiosidade e ânsia de saber, levaram o
Homem a enfrentar mares desconhecidos séculos e milénios atrás, levaram
ainda, mais recentemente, a aventurar-se pelo espaço cósmico. A atracção
pelo desconhecido é a característica da espécie humana, que a distingue de
todas as outras espécies animais. E é esta característica que tem levado ao
avanço das ciências e da tecnologia, que nos últimos anos tem dado passos
gigantescos. A Geologia, como ciência, tem obviamente beneficiado destes
avanços.
A Geologia é um tipo especial de ciência, já que o seu laboratório
é o Mundo em que vivemos. Por vezes, é possível tirar conclusões de
caracter geológico através de ensaios laboratoriais controlados, mas a maioria

Fig. 1.1. A Terra vista do Espaço

das vezes isso não é possível, pois as dimensões de escala e de tempo que envolvem os fenómenos
geológicos são demasiado grandes para lidarmos laboratorialmente com elas. Temos por isso de fazer
observações sistemáticas e cuidadosas da Terra, e depois tirar as nossas conclusões acerca dos
fenómenos a partir do conjunto destas observações.
Como se sabe, o Homem só tem acesso a uma ínfima parte do
planeta, que é a superfície terrestre. Tudo o resto está fora do alcance da
vista directa. Só se pode estudar por via indirecta, por meio de vários
métodos de análise e observação: as lavas (Fig. 1.2) que vêm à superfície,
as ondas sísmicas que se comportam de modo diferente consoante as
rochas que atravessam, etc. Assim, a Geologia é uma ciência com uma
dose bastante grande de especulação, mas é uma especulação lógica e sã,
baseada em princípios e conceitos científicos. E como em todas as outras
ciências, as teorias evoluem, são comprovadas ou negadas, e aparecem
outras teorias.
Em que medida o ser humano altera incessantemente a face da
Terra? Se bem que as nossas contribuições individuais sejam pequenas, o
somatório dos milhões de seres humanos que somos é enorme.
Influenciamos a atmosfera, os rios, os lagos e os oceanos;
afectamos as taxas de erosão dos solos e o modo como os desertos se
expandem ou reduzem; cobrimos a superfície da Terra com estradas e
cidades; redistribuímos os materiais terrestres cavando-os e transportando-os
para onde os queremos usar; criamos lagos artificiais com a construção de
diques e barragens; em suma, estamos constantemente a alterar as
Fig. 1.2. Vulcão Kilauea, Hawaii
condições ambientais. Nós, Humanos, tornámo-nos uma força vital na
modelação do nosso ambiente.
Há muitas questões que se podem levantar sobre as interacções humanas com o ambiente, para
as quais ainda não há respostas definitivas. Por exemplo:

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 ainda não há certeza até que grau a contínua queima de combustíveis fósseis (carvão, gás,
petróleo) e a respectiva emissão de CO2 afecta o clima global hoje e afectará amanhã;
 Como é que a mudança climática pode influenciar a produtividade agrícola do mundo, a
distribuição dos gelos polares, ou a posição do nível do mar.
Nos últimos 50 anos ocorreram avanços revolucionários no conhecimento que temos da nossa Terra.
Nunca na história humana ocorreram avanços tão grandes e dramáticos em tão curto espaço de tempo. A
Geologia é um campo em ebulição, cheio de desafios, com novas descobertas e novas teorias a aparecer todos
os dias.

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Há alguns anos atrás, a ideia de que a camada superficial da Terra se movia a uma velocidade anual
de 10 cm/ano, defendida pela teoria da tectónica de placas, não era senão uma teoria. Hoje essa teoria já não
pertence ao campo da especulação; é uma realidade, comprovada por evidências das rochas dos fundos
marinhos.
Em 1986, medições feitas através de satélites e de lasers, demonstraram que de facto os
continentes se estão a mover.
Podemos agrupar os avanços nas ciências geológicas em 3 grupos:
 O primeiro refere-se à nossa compreensão sobre o modo como a Terra funciona; a tectónica de
placas é um produto dessa compreensão. Os avanços aconteceram com o contributo de outros
estudos (aparentemente não inter-relacionados), como a exploração dos fundos oceânicos, os
estudos sísmicos do núcleo da Terra, e medições a longo prazo da intensidade do campo
magnético terrestre.

De facto, estes estudos estão todos correlacionados entre si. Assim, o campo magnético
terrestre surge do núcleo, e as rochas dos fundos oceânicos são influenciadas pelo campo
magnético de formas diversas.

A constatação do facto de que todos os processos terrestres, grandes ou pequenos, interagem


das formas mais diversas, forçou os geólogos a reexaminar todas as evidências e a repensar
as suas conclusões.
 O segundo avanço vem da exploração espacial, em particular das pesquisas sistemáticas da
Lua, Marte, Mercúrio, Vénus e dos satélites rochosos dos planetas gigantes (Júpiter e Saturno).
Todos os planetas, luas, asteróides e cometas do Sistema Solar têm uma origem comum, e se
bem que cada um destes corpos celestes tenha evoluído à sua maneira, eles têm aspectos
comuns ao longo das suas histórias.

O estudo destes aspectos comuns levou à criação duma nova disciplina – a Planetologia
Comparativa – a qual ajuda a encontrar respostas a várias questões: porque é que a Terra existe?
Porque é que ela é como é? Porque é que os outros corpos do Sistema Solar não são adequados
à vida humana? Haverá corpos no Universo que sejam adequados a esta vida? Etc., etc., etc.
 O terceiro avanço consiste no crescer da consciência do efeito da actividade humana no meio
ambiente à superfície terrestre.

Essa consciência mostrou que a análise desses efeitos se torna complexa porque os múltiplos
processos naturais actuantes à superfície da Terra interagem de maneira muito complexa e
variada.

Chegámos finalmente à conclusão de que as pessoas não são só uma das forças menores da
natureza, antes porém uma força maior. O que a Terra vai ser no futuro depende muito de
como agirmos hoje.

2. O QUE É GEOLOGIA?
O termo Geologia deriva da junção das palavras gregas -  (geo - Terra) e (lógos -
Ciência) - e significa literalmente Ciência da Terra.
Segundo Lapidus (1987), Geologia é o estudo da Terra em termos do seu desenvolvimento como
planeta desde a sua origem. Isto inclui a história das formas de vida, os materiais de que é feita, os
processos que afectam estes materiais e os produtos que deles resultam.
Em várias obras se podem encontrar várias definições de Geologia mas, basicamente, a definição
anterior congrega todos os conceitos que devem constar da definição deste termo.
A palavra Geologia foi utilizada pela primeira vez por Jean André de Luc, cientista de origem suíça
e conselheiro da Rainha Carlota de Inglaterra, e pelo químico suíço S.B. de Saussure em 1778 (Whitten &
Brooks, 1972).

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3. PORQUÊ ESTUDAR GEOLOGIA?


O facto de vivermos na Terra já é razão mais do que suficiente para a estudar. Quanto mais
soubermos acerca do nosso planeta, especialmente do seu ambiente e recursos, melhor poderemos
compreendê-la, usá-la e apreciá-la. Para o Homem, a Terra é o corpo mais importante do Universo.
Num senso lato, a importância da Terra como corpo celeste não é assim tão grande, já que ela é um
planeta de tamanho médio, orbitando à volta duma estrela de tamanho médio também.
Contudo, e pelo menos no Sistema Solar, a Terra é o único planeta com água abundante e uma
atmosfera onde pode crescer a vida. A temperatura da superfície da Terra é controlada pela sua distância ao
Sol, tornando possível a atmosfera e os oceanos que, por seu lado, tornaram possível o aparecimento da Vida.
Os programas espaciais também revelaram que a Terra é única entre os planetas estudados até
agora pelo facto de ter um campo magnético, que é provocado pelo seu núcleo de ferro líquido e que pode
acumular energia, dando origem à formação de aspectos como cadeias de montanhas.
O princípio fundamental que sustenta toda a Geologia é que "os processos geológicos actuais
ocorreram ao longo do tempo geológico". É o chamado Princípio das Causas Actuais. Quer isto dizer que
as rochas antigas podem ser interpretadas com base nos processos que ocorrem actualmente.

4. A ABRANGÊNCIA DA GEOLOGIA E CIÊNCIAS AFINS


A Geologia moderna tem como objectivo decifrar toda a evolução terrestre e dos seus habitantes,
desde o momento dos primeiros registos que se encontram nas rochas mais antigas até aos nossos dias.
Dada a enorme abrangência e ambição deste objectivo, exige-se muito esforço e, na prática, é
conveniente subdividir em vários campos, como se mostra na Fig. 1.3. Assim, a Geologia está subdividida
numa série de ciências - as Ciências Geológicas - cada uma das quais trata de aspectos específicos, com
interligações entre elas, apesar de tudo. É de referir que todas estas ciências têm, por seu lado, várias
subdivisões, que aqui não se indicam, mas que resultam do rapidíssimo avanço científico e tecnológico dos
nossos dias, que obriga a uma especialização cada vez maior e, consequentemente, ao aparecimento de
novas áreas. A Fig. 1.3 não refere todas elas, por impraticabilidade gráfica, mas referimos, por exemplo, a
Geomatemática, Geostatística e Geologia Mineira, entre outras.
 A Cristalografia trata do estudo
dos cristais;
 A Mineralogia trata do estudo dos
minerais, sua génese e ocorrência;
 A Petrologia estuda as rochas, os
seus minerais constituintes, a sua
génese e o seu modo de
ocorrência;
 A Paleontologia estuda a
evolução das formas de vida
através dos fósseis ou vestígios da
sua existência;
 A Estratigrafia estuda as rochas
em camadas (estratos), em
especial a sua sequência no
tempo e a correlação de camadas
de locais diferentes;
 A Geohistória debruça-se sobre
a história da evolução do planeta;
 A Geologia Estrutural e a
Tectónica estudam as estruturas
que ocorrem na crusta - dobras,
falhas, etc - respectivamente
numa escala mesoscópica e
Fig. 1.3. A Geologia e suas ciências afins megascópica;
 A Geologia Física estuda os processos e as forças associadas com a evolução e a morfologia da Terra;

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 A Sedimentologia estuda as rochas sedimentares e os processos responsáveis pela sua origem e pelos
movimentos de sedimentos;
 A Geofísica aplica os métodos físicos ao estudo da estrutura e composição da Terra;
 A Geoquímica refere-se ao estudo das quantidades, distribuição e circulação de elementos químicos no
solo, água e atmosfera terrestre;
 A Cartografia dedica-se aos métodos de campo e de laboratório que levam à produção de mapas de vários
tipos;
 A Fotogeologia utiliza fotografias aéreas para a interpretação da geologia duma região na programação
de trabalhos de campo;
 A Hidrogeologia dedica-se ao estudo das águas subterrâneas;
 A Geomorfologia dedica-se às características superficiais da Terra, incluindo formas de relevo terrestre
e oceânico e factores químicos, físicos e biológicos que agem sobre elas;
 Nos Jazigos Minerais estuda-se a forma como os recursos minerais ocorrem na crusta, sua
concentração e distribuição;
 A Geocronologia mede os intervalos de tempo do passado geológico, as idades dos acontecimentos
geológicos;
 A Pedologia estuda a formação dos solos, sua morfologia, origem e classificação;
 A Geologia Aplicada utiliza os métodos e a pesquisa geológica à solução de problemas da sociedade;
 A Geologia de Engenharia é um aspecto particular da Geologia Aplicada, e relaciona-se com a
aplicação da Geologia à construção de obras de engenharia;
 A Geologia Económica, muito ligada aos Jazigos Minerais, estuda as implicações económicas da
exploração dos jazigos e as suas reservas;
 A Geologia Urbana e Ambiental têm a ver com a aplicação dos conceitos geológicos aos problemas
criados pela actividade humana, e seus efeitos no ambiente, quer a nível geral, quer urbano;
 A Geologia Marinha (e costeira) estuda os fundos oceânicos, sua topografia, petrologia, geoquímica e o
efeito das ondas e da água do mar;
 A Cosmologia estuda a posição da Terra no Sistema Solar e no Universo.
Como se pode ver da listagem anterior, as ciências geológicas estão intimamente ligadas a várias
outras ciências: Química, Física, Matemática, Biologia, Astronomia, Economia e Engenharia. Mas as ligações
não param por aqui. Por exemplo, as ligações com a Agronomia são evidentes, através da Pedologia. A
Geografia é, muitas vezes considerada uma ramo da Geologia, havendo muitas universidades no mundo em
que estes dois cursos estão sob a alçada dum departamento (ou faculdade) de ciências da Terra. A
Metalurgia utiliza os conhecimento da cristalografia e os métodos de estudo dos minerais. A Medicina criou
um novo campo - a Geomedicina - que se dedica ao estudo das doenças humanas provocadas pela
actividade geológica e mineira. Este tipo de actividades também afecta a vida animal que vive por perto e,
assim, a ligação com a Veterinária também é evidente. A Engenharia de Minas utiliza os conhecimentos
geológicos e de engenharia para a abertura de minas para exploração de recursos minerais. Muitos outros
exemplos se poderiam dar para ilustrar a ligação da Geologia com outras ciências não geológicas.

5. UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DA GEOLOGIA

Nos primórdios da Humanidade, o Homem interessava-se


somente pelas "pedras" que lhe fossem úteis. Utilizava-as para fazer
os seus instrumentos de caça e ferramentas de trabalho,
conhecidas da Idade da Pedra (Fig. 1.4). Ainda na Idade da Pedra,
o Homem começou a utilizar rochas e minerais para fazer objectos
ornamentais. Desta época, conhecem-se hoje minas de sílex.
Mais tarde, com o início da Idade do Bronze, o Homem
começou a utilizar os metais, tanto para armas como para objectos
ornamentais. Fig. 1.4. Exemplar dum instrumento pré-
histórico de Massingir

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Os antigos Egípcios (1.500 AC) já conheciam os efeitos medicinais de alguns minerais, como a
antimonite (Sb2S3), o enxofre (S), a hematite (Fe2O3), a halite (sal), a soda (NaNO3), o petróleo bruto, etc.
Os primeiros registos geológicos de que há memória vêm do tempo dos Gregos antigos. Cite-se
por exemplo Heródoto (484-425 AC) que escreveu que "…o mar apagou-se onde hoje a terra se
solidifica…", após observar fósseis de conchas marinhas em terra firme. Nessa altura, a idade da Terra foi
calculada em 399.000 anos!!! Também Heródoto reparou que o Rio Nilo depositava sedimentos durante as
cheias, tendo reconhecido o processo lento mas contínuo que modifica a superfície da Terra.
Teofrastus (374-287 AC), escreveu o primeiro tratado de Mineralogia - A Respeito das Pedras -
que foi a base da maioria dos mineralogistas da Idade Média.
Com a queda de Roma em 500 DC pouco ou nada se ouve na Europa acerca de ciência até à
Renascença (séc. XV-XVI). Contudo, nas países árabes, Ibn Sida (980-1037) escreve uma sistemática dos
minerais e reconhece que as montanhas se formam por acção de forças internas e que a água tem um
papel importante na erosão e na formação de sedimentos.
A Idade Média (séc. XI-XIV) foi assim um período de estagnação de conhecimentos, de crenças em
poderes sobrenaturais e em superstições. Nessa época, o primeiro livro do Antigo Testamento - Génesis - sobre
a origem do mundo e da vida, era aceite como verdade acabada, não contestável, pois se o fosse seria
considerado sacrilégio. Assim, no geral, os Homens não procuravam mais esclarecimentos sobre os fenómenos
naturais.
Com o aparecimento da Renascença, a situação no que toca ao avanço das ciências muda de
figura. O Génesis começa a ser contestado, surgindo várias pessoas decididas a mudar o estado das
coisas. Leonardo da Vinci (1452-1519) foi um deles.
Ao descobrir conchas numa zona montanhosa de Itália, da Vinci concluiu que aqueles animais só
podiam ter vivido ali quando aquelas terras estavam cobertas de água. Foi um escândalo na época, mas
como ele era reconhecido por todos como artista, escultor, arquitecto, engenheiro e inventor, então ele teria
alguma razão para afrontar as Sagradas Escrituras. Mas os defensores destas encontraram uma resposta
para o aparecimento de conchas nas montanhas: Deus tinha-as posto lá para pôr à prova a fé do Homem.
Apesar dos seus trabalhos, da Vinci não trouxe nada de novo em termos de conhecimentos
geológicos. Ele mais não fez do que reafirmar o que Gregos e Árabes já tinham afirmado.
O grande avanço das ciências geológicas ocorre cerca de 150 anos mais tarde, com o dinamarquês
Nicolaus Steno (Séc. XVII) que é conhecido como o pioneiro da Geologia. Como outros cientistas, ele observou
conchas nas montanhas da Itália e concluiu que o mar tinha coberto aquela região. Mas ele foi mais longe, pois
observou que as conchas estavam encravadas em vários tipos de rochas, de camadas ou estratos. Verificou
que algumas camadas eram espessas, outras delgadas; umas eram uniformes, outras irregulares; umas
continham conchas de animais marinhos, outras de animais de água doce. Concluiu que as rochas que
continham essas conchas só podiam ter sido depositadas como sedimento em zonas cobertas por água
salgada ou doce. Com o recuo das águas, os sedimentos transformaram-se em rochas sólidas. Por isso,
concluiu ele ainda, as camadas do fundo deviam ser mais antigas do que as que estavam mais acima. Nasceu
assim o princípio da sobreposição, base da Geocronologia actual.
Abraham Werner (1749-1817), de nacionalidade alemã, aos 25 anos, publica um livro sobre as
características externas dos minerais, pondo fim a uma época de observações caóticas e disparatadas. Ele
é considerado o pai da Geologia e da Mineralogia alemãs. Werner também é considerado o pai da Geologia
de Campo, por ter sido o primeiro a levar os seus alunos ao terreno para terem o quadro geral do que
ensinava nas aulas. A Teoria Neptunista é da sua autoria, em que considerava a Terra constituída por
águas muito profundas a partir das quais se formava a crusta.
O seu discípulo Leopold von Buch (1774-1853), depois de observar alguns vulcões europeus,
coisa que Werner nunca tinha feito, contrariou essa teoria, criando a Teoria Vulcanista, em que no interior
da Terra existia um imenso calor que fundia as rochas.
William Smith (1769-1839) foi o pai da Paleontologia e, de certo modo, da Estratigrafia. Ele notou
que certos fósseis só ocorriam em determinadas camadas e que estas podiam ser correlacionadas, mesmo
que distantes entre si. O esquema da Fig. 1.5 mostra como ele fez essa correlação, considerando as
sequências de camadas e respectivos fósseis em 3 lugares distintos (esquemas A a C) e construindo uma
coluna estratigráfica completa (D) da região.
Outros paleontólogos de renome do tempo de W. Smith foram Georges Cuvier (1769-1832), Ernst
von Schlotheim (1765-1832).

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No séc. XIX, o inglês Charles Darwin (1809-1882),


observando os vários fósseis e as diferentes formas de vida
que encontrou pelo mundo fora durante as suas viagens,
formulou a teoria da evolução da vida, expressa no seu livro
(1859) A Origem das Espécies pela Selecção Natural, ou A
Preservação das Raças Favorecidas na Luta pela Vida. Ainda
nesse tempo esse livro foi considerado uma afronta aos
ensinamentos bíblicos sobre a criação. Mais tarde (1871),
com o seu livro A Origem do Homem, essa polémica
renasceu.
Os séculos XVIII e XIX caracterizaram-se por
grandes avanços e actividades nas ciências geológicas e
Fig. 1.5. Correlações estabelecidas por W.Smith por uma cooperação extensa entre geocientistas de vários
países.
Também se caracterizou pelo aparecimento de várias associações de geólogos, como o
Geological Survey of England (1835), Association Géologique Française (1855) e a Preuische Geologische
Landesamtstalt (1873), entre outras.No início do Séc XX (1915), o alemão Alfred Wegener (1880-1930)
escreveu o livro A Origem dos Continentes em que formula a Teoria da Deriva dos Continentes, percursora
da actualíssima Teoria da Tectónica de Placas (já referida anteriormente).
No que toca ao nosso continente, Alex du Toit é considerado o pai da Geologia Africana.

6. A TERRA NO ESPAÇO
O estudo da Terra deveria começar talvez com um exame das suas relações com o resto do
Universo. Estamos habituados a pensar que Terra é o centro do universo, o que não é de todo verdade. A
Terra é um pequeno planeta que gira à volta duma estrela - o Sol. O Sol e os seus planetas são uma ínfima
parte da galáxia Via Láctea, que, por seu lado, é uma dos milhares de galáxias do nosso universo.
Muitos dos fenómenos físicos que ocorrem na Terra são
afectados pela interacção do Sol, Lua e Terra.
A VIA LÁCTEA
O Sol e os seus planetas, cometas, satélites e asteróides, é um
dos biliões de estrelas da nossa galáxia - A Via Láctea. Este sistema de
estrelas tem uma forma de lente/disco achatado, com as estrelas
dispostas em braços de espiral, com um núcleo constituído por uma
grande densidade de estrelas. A Via Láctea tem um diâmetro de 70.000
12
anos luz (cerca de 9.5 x 10 km, ou seja, 9 biliões e meio de quilómetros).
Como não é possível fotografar a Via Láctea, as únicas imagens que
dispomos são as de galáxias semelhantes, como a ilustrada pela foto da
Fig. 1.6, da Galáxia M100, tirada pelo telescópio Hubble.
Na Via Láctea, o Sistema Solar ocupa uma posição afastada do
centro. Na Fig. 1.6 está mostrada essa posição se a galáxia fosse a Via Láctea.
Fig. 1.6. Imagem da Galáxia M100, tirada pelo
telescópio Hubble

O SISTEMA SOLAR
O Sistema Solar (Fig. 1.7) é uma pequeníssima parte da nossa galáxia e consiste do Sol, de 9
Planetas e seus Satélites, Asteróides, Cometas e Meteoritos.
Se bem que o Sol (Fig. 1.8) seja extremamente importante para nós, ele é insignificante no meio
dos biliões de estrelas da galáxia, quer em tamanho quer em brilho, apesar de ele conter 99.8% da massa
de todo o Sistema Solar. A Fig. 1.8 mostra também imagens dos planetas do Sistema Solar (excepto da
Terra, que pode ser vista na Fig. 1.1, bem como da Lua, de um asteróide e de um cometa). A Tabela 1.1
mostra as dimensões do Sol e dos planetas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 1.7. O Sistema Solar e seus planetas interiores (terrestres) e exteriores

Tabela 1.1. Dimensões do Sol e dos Planetas do Sistema Solar


Planetas Interiores Planetas Exteriores
Sol e Planetas Sol Mercúrio Vénus Terra Marte Júpiter Saturno Urano Neptuno Plutão
Distância média ao
Sol (milhões de km) - 58 108 150 228 778 1.427 2.870 4.497 5.900
Tempo que a luz do
Sol leva a chegar - 3m 13s 6m 1s 8m 19s 12m 40s 43m 14s 1h 19m 17s 2h 39m 23s 4h 9m 47s 5h 27m 40s
dias - 88 224,7 365,26 687 4.332 10.760,6 30.685,5 23.668,8 90.474,9
Revolução anos - 0,24 0,62 1 1,88 11,86 29,46 84,01 64,8 247,7
horas 600-696 1.416 5.832 23,93 24,6 9,8 10,2 15 22 153
Rotação dias 25-29 59 -243* 1 1,03 0,4 0,43 -0,63* 0,92 6,4
Diâmetro (km) 1.384.000 4.880 12.104 12.756 6.787 142.800 120.000 51.800 48.500 6.000?
Massa (Terra = 1) 330.000 0,06 0,81 1 0,11 317,9 95,2 14,6 17,2 0,1?
Volume (Terra = 1) 0,06 0,88 1 0,15 1,316 755 67 57 0,1?
Densidade (água = 1) 1,41 5,4 5,2 5,5 3,9 1,3 0,7 1,2 1,7 ?
Número de Satélites - 0 0 1 2 15+aneis 17+aneis 5+aneis 2 1
Atmosfera H, He - CO2 N, O CO2 He, H H, He H, He, CH4 H, He, CH4 ?
* Vénus e Urano têm movimentos de rotação contrários ao de todos os outros planetas.

Mercúrio
O Sol Vénus Marte

Saturno Neptuno
Júpiter Urano

Cometa Halley

Plutão Asteróide Eros


A Lua
Fig. 1.8. Imagnes dos constituintes do Sistema Solar (as imagens não estão à escala)

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

O Sol é uma estrela de tamanho médio, com uma temperatura de 6.000ºC à superfície e de
5.000.000ºC em profundidade, onde a matéria está sujeita a pressões gigantescas. Ele desloca-se a uma
velocidade de 70.000 km/s em direcção à estrela Vega, situada na constelação de Lira a 27 anos-luz de
distância (10,65 x 1012 km).

A ORIGEM DO SISTEMA SOLAR


Como se formou o Sistema Solar é uma pergunta para a qual uma resposta exacta possivelmente
nunca será dada. Mas o esquema geral do processo pode ser visualizado através das evidências obtidas
pelos astrónomos, dos nossos conhecimentos sobre o Sistema Solar e sobre as leis da Física e Química.
Há várias teorias sobre a origem do Sistema Solar.

a) Hipótese Nebular (Laplace 1820) (Fig.


1.9): de início haveria uma enorme nuvem esférica de
gases quentes que rodava sobre si própria (a). Com o
aumento da rotação, essa nuvem foi achatando,
mantendo um centro mais espesso (b). Ainda o
aumento da rotação provocou um aumento da força
centrífuga nas partes mais externas do disco,
provocando a separação deste em vários anéis (tantos
quantos os planetas existentes) que giravam à volta da
nuvem central (c). Posteriormente, o material dos anéis
foi-se concentrando por acção da gravidade, dando Fig. 1.9. Esquema elucidativo fa Hipótese Nebular de Laplace,
origem aos planetas e a nuvem central teria dado sobre a origem do Sistema Solar
origem ao sol (d).
b) Hipótese da Colisão (Chamberlin &
Multon 1900) (Fig. 1.10): considera que uma estrela
terá passado perto do sol, tendo provocado a libertação
de gases em espiral a partir do sol (a, b). Estes gases
teriam depois girado à volta do sol (c), e posteriormente
Fig. 1.10. Hipótese da Colisão sobre a origem do Sistema Solar se concentrado para originar os planetas, devido à
força de atracção entre as duas estrelas (d).
c) Teoria Moderna
O início do Sistema Solar deu-se numa altura em que aparentemente o espaço estava vazio. Mas
só aparentemente, pois o espaço estava cheio de átomos dispersos que formavam uma nuvem ténue,
turbulenta e em redemoinho. (fig. 1.11 a).

Fig. 1.11. Hipótese Moderna sobre a origem do Sistema Solar.

Com o tempo, e devido à atracção entre os átomos, a nuvem começou a tornar-se mais espessa
pela progressiva concentração dos átomos. A energia desses redemoinhos deu eventualmente origem à
rotação da nuvem que originou mais tarde o sol e os planetas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

À medida que os átomos eram atraídos entre si, e se aproximavam uns dos outros, a nuvem
tornou-se mais densa e mais quente. Como resultado deste processo de concentração, formou-se a Terra e
os outros planetas.
Mais de 99% dos átomos do espaço são átomos de hidrogénio (H) e hélio (He), os dois átomos
mais pequenos, o que pode ser visto nas atmosferas de alguns planetas maiores.
Perto do centro da concentração da nuvem de gás, os átomos ficaram tão comprimidos e tão
aquecidos que os átomos de H e He começaram a fundir-se para originar elementos mais pesados. Esta
fusão provocou libertação de enormes quantidades de energia térmica, o que levou a uma combustão
nuclear dos átomos de H e He.
Quando começaram estas reacções nucleares, deu-se o nascimento do Sol, o que deve ter
acontecido há 6 mil milhões de anos. Porém, os processos nucleares estavam confinados ao centro da
nuvem. À sua volta rodava uma nuvem de gás menos quente e menos denso.
Como se sabe, a rotação provoca uma força centrífuga que tende a puxar os corpos para fora, ao
passo que a gravidade é uma força centrípeta, que puxa os objectos uns para os outros. Como resultante
destas duas forças, a nuvem de gás tornou-se gradualmente um disco rotativo achatado, girando à volta do
Sol. A tal disco chama-se nebulosa planetária (Fig. 1.11.b).
A dado momento, as porções externas mais frias da nebulosa planetária tornaram-se
suficientemente compactadas para originar matéria sólida, do mesmo modo que o gelo se condensa a partir
do vapor de água para originar neve. Progressivamente, esta matéria sólida condensada transformou-se em
planetas.

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TEMA 2: ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA TERRA

1. INTRODUÇÃO

A forma esférica da Terra foi reconhecida por Eratóstenes (230


AC) e a posição da Terra no Sistema Solar foi definida por Copérnico no
séc. XVI. Mas só em tempos recentes, quando houve a possibilidade de
observar a Terra a partir do espaço em imagens como a da Fig. 2.1, é que
foi possível visualizar a Terra como um planeta isolado e apreciar as suas
características distintas.
A primeira viagem à volta do mundo começou com Fernão de
Magalhães, que partiu de Sevilha (Espanha) em 1519 e foi completada em
1522 por Sebastián del Cano, definindo sem margens de dúvidas que a
Terra é um globo. Enquanto que os navegadores ao serviço dos reis de
Espanha levaram 3 anos a dar a volta ao mundo, hoje é possível fazê-lo
em meros 40 minutos e fotografá-lo de altitudes em que é possível ver a Fig. 2.1. Terra e Lua vistas do
sua forma esférica (Fig. 2.1). espaço

Pitágoras (530 AC) foi o primeiro a considerar a hipótese de a Terra ser redonda. Observando a
aproximação de navios vindos de longe, reparou que primeiro se viam os mastros, e só depois o casco,
chegando à conclusão que a superfície do mar não era plana, mas sim curva.
No tempo de Erastótenes (Bibliotecário Chefe de
Alexandira, Egipto) já se sabia que a distância do Sol
era tão grande que os seus raios podiam ser
considerados paralelos. Assim, ele imaginou um
sistema simples para estimar o tamanho da Terra.
Ele tinha ouvido dizer que em Syene (hoje Aswan)
no Rio Nilo, ao meio dia no Verão o sol estava tão a
pique que não provocava sombra dos objectos.
Observou, contudo, que em Alexandria, cerca de
800 km a norte de Syene, à mesma hora havia
sombra de objectos. A Fig. 2.2. ilustra as condições
da experiência (em escala exagerada de ângulos e
Fig. 2.2. Método usado por Erastótenes para medir a circunferência
da Terra comprimentos).

Em Alexandria, uma estaca de dimensão AB provocaria uma sombra de dimensão AC. Estes dois
comprimentos determinam o ângulo ABC que iguala o ângulo SOA. Erastótenes fez os cálculos e verificou
que este ângulo é de um pouco mais de 7º (7º 12"), ou seja, quase exactamente 1/5 que 360º. O comprimento
da circunferência terrestre seria assim 50 vezes a distância de Alexandria a Syene, ou seja:
50 x 800km = 40.000 km.

2. FORMA E DIMENSÕES DA TERRA


A Terra é um corpo esférico, com um diâmetro de 12.756 km, que roda à volta do seu eixo uma
vez ao dia, estando o eixo inclinado de 23.5º em relação ao seu plano de órbita à volta do Sol.
Todos sabemos que um objecto colocado num disco giratório é expelido, a não ser que preso ao
seu lugar. A força que expele o objecto giratório é chamada força centrífuga. Quanto mais rápida a
velocidade de rotação e a distância ao centro de rotação, maior é esta força centrífuga. Em 1666, Isaac
Newton afirmou que os objectos colocados na Terra giratória seria expelidos para o espaço, a não ser se
contrariados por uma força oposta maior. Isto foi a base de partida para a formulação da Lei da Atracção
Gravitacional, que tem a seguinte expressão:
M1  M 2
F  G (1)
d2

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em que M1 e M2 são as massas de 2 objectos, d a distância entre eles e G a constante de gravitação


-8
(=6,754x10 ). Desta equação fica claro que quanto maiores os objectos e menor a distância entre eles,
maior a força de atracção. Quando um corpo é muito grande, como a Terra, a atracção torna-se também
muito grande. Se não fosse isso, o ar que envolve a Terra seria expelido para o espaço e não haveria vida.
A gravidade da Terra é uma força que actua de fora para dentro
(Fig. 2.3) e que tende a puxar os objectos para o centro do planeta. Assim, a
força da gravidade é radial, quer dizer, em qualquer ponto da Terra os
objectos são puxados ao longo duma linha que liga o objecto ao centro de
gravidade (centro da Terra). Quando todas as partículas dum objecto
deformável são puxadas de igual modo para o centro, o corpo torna-se
esférico. Assim, a gravidade e o facto de a Terra ser deformável, são as
razões para que ela seja redonda.
Newton também imaginou que o balanço entre a força centrífuga
(resultante do movimento de rotação) e a da gravidade deformaria a forma da
Terra, passando duma esfera para um elipsóide. De facto, é isso que
acontece pois, enquanto que a gravidade é uma força radial, a força
centrífuga actua perpendicularmente ao eixo de rotação (Fig. 2.3). Esta força
é tanto maior quanto mais afastado um objecto estiver do eixo de rotação, ou Fig. 2.3. Força da gravidade (setas
negras) e força centrífuga (setas
seja, no Equador essa força é máxima (Cmax) e quase nula nos pólos. brancas)

A interacção destas duas forças (centrífuga e gravidade) dá origem a uma Terra ligeiramente
achatada nos pólos e "inchada" no equador. Como resultado disto, o diâmetro equatorial da Terra é de 12.756
km, ao passo que o diâmetro polar é de 12.714 km, ou seja, uma diferença de 42 km, diferença tão pequena
para a dimensão do globo, que se pode considerar a Terra como uma esfera perfeita. A Fig. 2.4 ilustra estas
diferenças. Este afastamento da forma esférica perfeita tem como resultado que uma pessoa que pese 90 kg
no equador, pesa 90.5 kg no polo. A Tabela 2.1 dá uma ideia geral das dimensões da Terra.
Tabela 2.1. Alguns factos numéricos sobre a Terra
TERRA OCEANOS E MARES
Maior altitude conhecida Metros Maior profundidade conhecida Metros
Monte Everest (Nepal) 8.863 Fossa das Marianas (Filipinas) 11.035
Altitude média 840 Profundidade média 3.808
2
TAMANHO E FORMA km ÁREA Milhões de km
Raio equatorial (a) 6.378,2 Terra (29,22%) 149
Raio polar (b) 6.356,8 Calotes Polares e Glaciares 15,6
Raio médio 6.371,0 Mares e Oceanos (70,78%) 361
Circunferência equatorial 40.076 Terra + plataforma continental 177,4
Circunferência polar (meridiano) 40.009 Mares/Oceanos - plataforma continental 332,6
Elipticidade (a-b)/a 1/298 Área total da Terra 510,0
Espessura/raio Volume Densidade Massa
VOLUME, DENSIDADE, MASSA 6 3 3 24
médio (km) (x 10 km ) média (g/cm ) (x 10 g)
Atmosfera - - - 0,005
Mares e Oceanos 3,8 1.370 1,03 1,41
Calotes Polares e Glaciares 1,6 25 0,30 0,023
Crusta Continental + plataforma continental 35 6.210 2,8 17,39
Crusta Oceânica - plataforma continental 8 2.660 2,9 7,71
Manto 2.881 898.000 4,53 4.068
Núcleo 3.473 175.500 10,72 1.881
A TERRA INTEIRA 6.371 1.083.230 5,517 5.976

A lei de atracção gravitacional de Newton constitui a base para o cálculo da massa e da densidade da
Terra. De acordo com essa lei, a força de atracção exercida pela Terra sobre um objecto colocado na sua
superfície, pode ser calculada se soubermos a massa do objecto, a constante G e a distância do objecto ao
centro de massa da Terra. Para um objecto à superfície, essa distância é o raio da Terra. A força de atracção
gravitacional é o que chamamos peso do objecto. De acordo com as leis que Newton desenvolveu, este
peso deverá ser igual ao produto da massa do objecto (M1) e a aceleração da gravidade (g):
F  M1  g (2)
Considerando a equação (1), pode estabelecer-se a seguinte igualdade

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M1  M 2 (3)
F  G  M1  g
d2

Como M1 aparece nos dois termos da igualdade, simplificando, fica:


GM2 d2  g (4)
 g  M2 
d2 G

Sendo:
d = 6.380 km
2
g = 980 cm/s
-8
G = 6,754 x 10 ,
a massa da Terra (M2) é igual a 5,98 x 1027 gramas.
10
O Volume da esfera V  4   R 3 terrestre pode agora ser calculado, sendo igual a 108,78 x 10
3
km3. A partir da massa e do volume, pode calcular-se a densidade (massa/volume), que é de 5,5 g/cm3.

3. ESTRUTURA DA TERRA
A maior parte do que se sabe sobre a estrutura interna da Terra provém de interpretações e de
dados de observação indirecta.
Mesmo as rochas e as lavas que se
originam abaixo da superfície provêm de
profundidades que são relativamente pequenas
comparadas com o raio da Terra.
As principais ferramentas que se usam para o
estudo das partes mais profundas da Terra, são as
análises da gravidade, dos campos magnéticos e das
ondas de choque geradas por terramotos, que dão
indicações da variação da densidade dos materiais com
a profundidade.
Os resultados deste estudo estão ilustrados
na Fig. 2.5. Daqui se pode ver que a Terra não é
constituída dum único material, mas de várias
Fig. 2.5. Camadas constituintes da Terra camadas esféricas concêntricas. Há, assim, três
camadas composicionais (Fig. 2.5, metade direita):
 Núcleo: no centro, massa esférica constituída principalmente de ferro, com misturas de níquel,
enxofre, silício e outros elementos;
 Manto: intermédio, matéria rochosa que envolve o núcleo; menos denso que o núcleo, mas
mais denso que a camada superficial;
 Crusta: superficial, camada mais fina, composta de matéria rochosa menos densa que a do
manto.
O núcleo e o manto têm uma espessura relativamente constante. A crusta, por seu lado, tem uma
espessura variável (Fig. 2.6). Por baixo dos oceanos - crusta oceânica - a crusta tem uma espessura
média de 8 km, enquanto que nos continentes - crusta continental - essa espessura varia entre 20 - 70 km.
O manto e o núcleo têm composições diferentes e estão separados por um limite bem definido.
Provavelmente haverá variações composicionais dentro de cada um deles, mas pouco se sabe sobre isto.
Por seu lado, a crusta, de observação mais directa, tem uma composição muito variada e, em alguns locais,
muito semelhante à parte superior do manto. Mesmo assim, o limite crusta/manto é bem definido.
Além das camadas composicionais, há uma acamação em termos de propriedades físicas (Fig.
2.5, lado esquerdo), como no caso do gelo (água sólida) sobre água (líquida). Do mesmo modo que a água
pode ocorrer em três estados físicos diferentes (sólido, líquido e gasoso), também os materiais da Terra
variam o seu estado físico em função da pressão e temperatura (P,T).

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As regiões em que as propriedades físicas mudam, não coincidem com os limites composicionais
do núcleo, manto e crusta (Fig. 2.5, lado esquerdo).

Fig. 2.6. Secção da crusta e da parte superior do manto

Dentro do núcleo há a região mais interna, onde as pressões são tão altas que o material se
encontra no estado sólido - núcleo interior. À volta do núcleo interior ocorre o núcleo exterior, onde a P,T
estão de tal modo balanceadas, que os metais fundem e ficam no estado líquido.
Variações análogas de estado físico ocorrem também na parte superior do manto. A cerca de 100 km
da superfície, as rochas do manto atingem temperaturas tais que perdem a sua resistência, tornando-se
plásticas e facilmente deformáveis. É a astenosfera (do Grego asthenos = fraco), que se prolonga até aos 350
km de profundidade, ponto em que as rochas perdem a sua plasticidade e se tornam rígidas e não plásticas.
Dos 350 km de profundidade até ao limite com o núcleo exterior, o manto ganha o nome de mesosfera.
Por cima da astenosfera até à superfície (espessura de 100 km), as rochas são duras e mais
rígidas que as da astenosfera - é a litosfera (do grego lithos = rocha).
O limite entre a astenosfera e a litosfera é claro, mas não corresponde a uma mudança de
composição, mas de estado físico.
Os limites de separação entre as várias camadas da Terra têm o nome de descontinuidades.
Assim, existem as seguintes descontinuidades:
 Descontinuidade de Konrad: separa a crusta continental da crusta oceânica;
 Descontinuidade de Mohorovičic: separa a crusta do manto;
 Descontinuidade de Gutenberg: separa o manto do núcleo.

4. COMPOSIÇÃO DA CRUSTA
A Tabela 2.2 mostra a concentração dos principais elementos químicos na crusta continental. Pode
ver-se que o oxigénio (O) é o elemento mais abundante, quer em peso quer em volume. O segundo elemento
em abundância é o silício (Si), tanto em peso como em volume, seguindo-se o Alumínio (Al). Por seu lado, a
Tabela 2.3 refere-se à composição química das várias camadas da Terra. O constituinte mais abundante de
ambas as crustas continental e oceânica é o óxido de silício (SiO2), seguindo-se o óxido de alumínio (Al2O3),
o que não é de estranhar, pois o O, Si e Al são os três elementos mais abundantes na crusta.
No caso do Manto, o constituinte mais abundante é também o óxido de silício, mas em menor
abundância que na crusta. Ao contrário da crusta, o segundo constituinte mais abundante é o óxido de
magnésio (MgO), seguindo-se o óxido de ferro ferroso (FeO). A composição do Núcleo difere das outras
camadas na medida em que abundam os elementos metálicos, em especial o ferro (Fe).
Tabela 2.2. Abundância de elementos maiores na crusta continental
Elemento % Peso % Volume
Oxigénio (O) 47.2 93.8
Silício (Si) 28.2 0.9
Alumínio (Al) 8.2 0.5
Ferro (Fe) 5.1 0.4
Cálcio (Ca) 3.7 1.0
Sódio (Na) 2.9 1.3
Potássio (K) 2.6 1.8

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Magnésio (Mg) 2.1 0.3


Hidrogénio (H) 0.0

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Tabela 2.3. Composição química das camadas da Terra


Constituinte C. Continental C. Oceânica Manto Núcleo
SiO2 60.1 49.9 38.3
Al2O3 15.6 17.3 2.5
CaO 5.2 11.9 2
FeO 3.9 6.9 12.5
Na2O 3.9 2.8 1
MgO 3.6 7.3 24
K2O 3.2 0.2 0.2
Fe2 O3 3.1 2
TiO2 1.1 1.5 0.1
P2O5 0.3 0.2 0.2
FeS 5.8
Fe 11.9 90.8
Ni 1.4 8.6
Co 0.1 0.6

5. TECTÓNICA DE PLACAS
Como atrás se disse, a parte superior do Manto (Astenosfera) encontra-se no estado plástico, em
que o material rochoso se encontra fundido. A Crusta (continental e oceânica) encontra-se no estado sólido
"flutuando" sobre a Astenosfera, como o gelo flutua na água.
Devido ao seu estado físico (plástico), a Astenosfera está sujeita a
correntes de convexão, devido às diferenças de temperatura no seu seio: mais
quentes em maiores profundidades, menos quentes em menores profundidades. É
o mesmo processo que ocorre quando aquecemos água numa panela (Fig. 2.7).
Se houverem objectos a flutuar na água, eles são puxados para os bordos da
panela por acção dessas correntes. Assim, o objecto A é puxado para a esquerda,
enquanto que o C é puxado para a direita. Quanto ao objecto B, ele é puxado tanto
para a direita como para esquerda e tem tendência a manter-se no centro. Se o
objecto for feito de material quebradiço, e as correntes forem muito fortes, o objecto
eventualmente parte-se e cada metade vai para seu lado. Este é o mecanismo
básico do que acontece na Terra entre a crusta e a astenosfera. Fig. 2.7. Correntes de convexão

Como se pode ver da Fig. 2.8, a crusta é constituída por uma série de placas tectónicas (do grego
tecktonos - construir)que flutuam sobre a Astenosfera, umas maiores que as outras. Assim, a Crusta é
constituída pelas seguintes placas:
a) Maiores: Africana, Australiana-Indiana, Antártica, Eurasiana, Pacífica, Norte- e Sul-Americana;
b) Menores: Filipinas, Juan de Fuca, Nazca, Cocos e Caraíbas.
A Fig. 2.9 mostra um mapa mais realista das placas tectónicas que compõem a crusta. Como se
pode ver ainda das Figs. 2.8 e 2.9, praticamente todas as placas abrangem crusta continental e crusta
oceânica, à excepção das Placas de Nazca e Juan de Fuca, que são constituídas unicamente por crusta
oceânica.

Fig. 2.9. Mapara em relevo do mundo, com as placas tectónicas.


Fig. 2.8. Mapa com os limites das placas tectónicas Comparar com a Fig. 2.8.

34
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Onde as placas estão por baixo dos oceanos, elas são compostas do mesmo material do manto
fluído, ou seja, da astenosfera, mas o material encontra-se no estado sólido, com uma espessura entre 10-16
km. Onde as placas contêm também crusta continental, a sua espessura varia imenso.
Como é que, então, estas placas se movem entre si devido às correntes de convexão da Astenosfera?
Ou seja, como são os limites entre as várias placas? Há três maneiras como as placa se contactam e se movem
entre si, consoante elas desaparecem umas por baixo das outras, ou se afastam entre si, ou deslizam entre si.
1. Dorsais Médio-Oceânicas: Ocorrem nos pontos onde duas placas se
afastam entre si (Fig. 2.10). A força que está por trás do movimento das placas
tectónicas é o calor gerado no interior da Terra pelas reacções nucleares. Este calor
atinge a superfície principalmente nas dorsals médio-oceânicas. Nestes locais, duas
placas afastam-se uma da outra (C) por acção das correntes de convexão do manto
(A), abrindo um espaço entre elas (D) por onde emerge o material rochoso em fusão
(B) - o magma. Este magma, ao chegar à superfície transforma-se em lava e vai
preenchendo continuamente o espaço entre as duas placas à medida que estas se Fig. 2.10. Esquema duma
separam.A lava arrefece e solidifica, agarrando-se aos bordos das duas placas, e for- dorsal médio-oceânica
mando nova crusta oceânica. Assim, quanto mais afastada da dorsal, mais antiga é a rocha. Nas zonas onde este processo ocorre, as placas têm uma
elevação que pode atingir os 4.000 m de altura, daí o nome de dorsal médio-oceânica. As dorsais médio-oceânicas têm, no globo terrestre, um
comprimento total de 64.000 km. A Islândia e os Açores são emergências da Dorsal Médio-Atlântica acima do nível do mar.

2. Zonas de Subducção: pontos onde uma


placa desaparece por baixo de outra (Fig. 2.11). Se
nova crusta oceânica é constantemente formada e as
placas se separam entre si, deverá haver zonas em que
elas desaparecem, para se manter o equilíbrio crustal.
Assim, quando duas placas se movem uma de
encontro a outra, a mais densa é forçada a deslocar-
se para baixo da outra pelo processo da subducção.
Assim, formam-se fossas profundas nos fundos dos
oceanos. Este processo dá origem a tremores de terra
e terramotos e a intensa actividades vulcânica. Fig. 2.11. Esquema duma zona de subducção
A crusta descendente, à medida que atinge profundidades cada vez maiores, é sujeita a temperaturas
crescentes e acaba por fundir, tornando o material menos denso, o qual tem tendência a subir na crusta. Por
seu lado, a outra placa de crusta é sujeita a forças de compressão que a obrigam a dobrar, dando origem a
cadeias de montanhas. O Japão é um local onde ocorre esta intensa actividade vulcânica devido à subducção
da Placa Pacífica sob a Placa Eurasiana (Figs. 2.8 e 2.9). Os Montes Himalaia são o resultado da subducção
da Placa Indiana sob a Placa Eurasiana. Outras cadeias de montanhas foram e estão a ser formadas por este
processo, como os Andes, as Montanhas Rochosas, etc.
3. Falha Transforme: zonas onde as
placas deslizam entre si num movimento lateral (Fig.
2.12).

A Fig. 2.13. mostra um esquema da


associação que existe sempre entre dorsais médio-
oceânicas com falhas transformes, ilustrado na Fig. Fig. 2.12. Esquema duma falha transforme
2.14 na forma de mapa em relevo.

Fig. 2.13. Associação dorsal


Fig. 2.14. Dorsal Médio-Atlântica
médio-oceânica com falhas
com falhas transformes
transformes

35
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

A Fig. 2.15. mostra um corte da Terra entre a África e a América do Sul onde se podem ver todos
estes aspectos da tectónica de placas e da constituição da crusta e manto.

Fig. 2.15. Representação diagramática da tectónica de placas (adaptado de Wyllie, 1995, pg. 24)

Todos estes movimentos de placas, seja de que tipo forem, envolvem imensas quantidades de
energia que, periodicamente, são libertadas, dando origem a sismos de intensidades variadas. Também
como se viu, tanto nas zonas de subducção como nas de dorsal médio-oceânicas, há surgimento à
superfície de lavas provenientes do magma das profundezas da Terra. Na Fig. 2.16 pode ver-se a
localização dos epicentros dos sismos ocorridos no mundo de 1961 a 1967 e, comparando com a Fig. 2.8 e
2.9, pode ver-se que as zonas de epicentros sísmicos coincidem com os limites das placas tectónicas. O
mesmo tipo de distribuição ocorre com as erupções vulcânicas. Assim, há uma relação estreita entre sismos
e vulcões com os limites das placas tectónicas.

Fig. 2.16. Localização dos epicentros sísmicos de 1961 a 1967.

Se as placas se movem hoje, elas também se moveram desde sempre. Assim, surge a pergunta:
Como era a distribuição dos continentes ao longo da história da Terra?. Reconstituições do passado
geológico sugerem uma evolução como a que se apresenta na Fig. 2.17.

170 milhões de anos atrás 100 milhões de anos atrás 50 milhões de anos atrás A Terra hoje
Fig. 2.17. Evolução da distribuição dos continentes da Terra com o tempo geológico.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 3: CONCEITO DE MINERAL E CRISTAL

1. INTRODUÇÃO
Mineralogia é o estudo das substâncias cristalinas que ocorrem naturalmente – os minerais.
Todos temos algum contacto com os minerais, já que eles se encontram à nossa volta nas rochas,
nas areias das praias, rios, lagos, etc.
As gemas são exemplares excepcionalmente belos de minerais.
O conhecimento do que são os minerais, de como se formaram e onde ocorrem é a base para a
compreensão dos materiais largamente aplicados na nossa cultura tecnológica, já que praticamente todos
os produtos inorgânicos comercializados são minerais ou de origem mineral.

2. DEFINIÇÃO DE MINERAL
Se bem que seja difícil formular uma definição sucinta do termo mineral, geralmente a definição
que se segue é geralmente aceite:
Mineral é um sólido homogéneo de ocorrência natural, com propriedades físicas e uma
composição química bem definidas, ou variando dentro de certos limites, um arranjo atómico
altamente ordenado e geralmente formado por processos inorgânicos.
Uma análise desta definição facilita a sua compreensão:
a) O termo de ocorrência natural distingue substâncias formadas a partir de processos naturais
daquelas formadas em laboratório; os laboratórios industriais e de pesquisa produzem
rotineiramente equivalentes de substâncias de ocorrência natural, incluindo gemas como a
esmeralda, o rubi e o diamante. Estas substâncias produzidas em laboratório levam o nome das
suas equivalentes naturais, simplesmente são apelidadas de sintéticas. Muitos dos estudos sobre
minerais fazem-se em minerais sintéticos, dada a sua pureza química.
Face a isto, poderia perguntar-se se a substância CaCO3, geralmente conhecida por calcite,
que se deposita nos tubos das canalizações da cidade é mineral ou não, uma vez que ele é
precipitado a partir da água num sistema produzido pelo Homem. A maioria dos mineralogistas
considera-a como calcite, uma vez que a intervenção humana na sua formação foi casual. Se
não se depositasse nos tubos, depositar-se-ia noutro local.
b) A definição diz ainda que o mineral é um sólido homogéneo. Quer dizer que consiste duma
substância sólida simples que não pode ser subdividida por processos físicos e mecânicos nos
seus componentes químicos. A determinação da homogeneidade depende da escala. Uma
determinada substância pode parecer homogénea a olho-nu, mas ao microscópio ela pode ser
constituída por vários componentes.
A qualificação de sólido excluí, obviamente, líquidos e gases. Assim, o gelo (H2O) dos glaciares
é um mineral, mas já não o é a água líquida (H2O também). Do mesmo modo, o mercúrio que
ocorre na forma de gotas líquidas em jazigos de mercúrio, deve ser excluído da noção de
mineral, pela definição. Contudo, na classificação de substâncias naturais, tais substâncias são
consideradas como mineralóides e como tal estudadas na mineralogia.
c) A afirmação de que um mineral tem uma composição química bem definida implica que ela
pode ser expressa por uma fórmula química simples. Por exemplo, a fórmula química do
quartzo expressa-se por SiO2, uma vez que o quartzo só contém os elementos silício e
oxigénio. Assim o quartzo é considerado uma substância pura.
Outros minerais contudo não têm uma fórmula tão simples. Por exemplo, a dolomite –
CaMg(CO3)2 – nem sempre é um carbonato puro de Ca-Mg. Ele contém muitas vezes Fe e Mn
a substituir átomos de Mg. Porque as quantidades de Fe-Mn podem variar, diz-se que a
composição da dolomite varia dentro de certos limites. Assim, a fórmula da dolomite poderia
escrever-se como Ca(Mg,Fe,Mn)(CO3)2.

37
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

d) Um arranjo atómico altamente ordenado indica uma rede interna de átomos arranjados segundo
um padrão geométrico. Sendo isto um critério de cristalinidade, os minerais são substâncias
cristalinas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Há sólidos, como o vidro, que não têm este arranjo ordenado, e por isso são chamados de
amorfos. Há certas substâncias naturais sem estrutura interna que, como atrás aconteceu com
o mercúrio, são tratados de mineralóides: limonite (hidróxido de ferro), microlite, gadolinite e
allanite (os três são substâncias radioactivas e a sua estrutura cristalina foi destruída pelos
processos radioactivos).
e) De acordo com a definição natural, um mineral é formado por geralmente processos
inorgânicos. Inclui-se a palavra “geralmente” para se incluir no âmbito da mineralogia os
compostos de origem orgânica e que respondem a todos os requisitos dum mineral. É o que
acontece com as conchas dos moluscos e as pérolas, que são compostas duma substância em
tudo idêntica ao mineral aragonite.
Várias outras substâncias podem ser precipitadas por organismos vivos: opala (SiO2 amorfo),
magnetite (Fe3O4), fluorite (CaF2). No caso do ser humano, os ossos e os dentes são
constituídos fundamentalmente por apatite - Ca5(PO4)3(OH). O corpo também produz
concreções de matéria mineral – os cálculos renais e urinários – constituídas essencialmente
por fosfatos de cálcio.
O petróleo e o carvão, frequentemente referidos como combustíveis minerais, são excluídos.
Se bem que ocorram naturalmente, não têm nem composição química definida nem arranjo
atómico ordenado
f) A afirmação de que as propriedades físicas são bem definidas ou variam dentro de certos
limites, resulta do facto de as referidas propriedades serem uma consequência da composição
química e do arranjo atómico interno.

3. CRISTAIS
Os minerais, com poucas excepções, têm
um arranjo interno ordenado característico dos
sólidos cristalinos.
Quando as condições de formação são
favoráveis, os minerais podem estar limitados por
a) Fluorite b) Pirite
superfícies planas lisas e assumir formas
geométricas regulares, a que se dá o nome de
cristal (Fig. 3.1.)
Hoje em dia a maioria dos cientistas usa o
termos cristal para descrever qualquer sólido com
um arranjo interno ordenado, independentemente d) Turmalina
de possuir ou não faces externas, uma vez que c) Quartzo
essas faces são um acidente do crescimento. Fig. 3.1. Algumas formas cristalinas

Assim, uma definição mais lata de cristal será um sólido homogéneo possuindo uma ordem
interna tridimensional.
O estudo dos sólidos cristalinos e os princípios que controlam o seu crescimento, a sua forma
externa e a sua estrutura interna chama-se Cristalografia. Se bem que a Cristalografia tenha aparecido
como um ramo da Mineralogia, hoje é uma ciência separada e que se dedica a todas as substâncias
cristalinas, minerais ou não.
O desenvolvimento e aparecimento de
faces pode ser tal que dê origem a cristais com
faces de desenvolvimento perfeito. Esse
desenvolvimento pode não ser tão bom e as faces
serem imperfeitas, ou não aparecerem sequer
faces. Assim, os sólidos cristalinos designam-se por
euédricos, subédricos eanédricos,
respectivamente (do Grego hedron=face, eu- =bom,
an- =sem e do Latim sub- =algo). A Fig. 3.2 mostra b) Corindo c) Ouro
a) Berilo
um esquema de cada uma destas substâncias Fig. 3.2. Substâncias cristalinas (a) euédrica, (b) subédrica e (c)
cristalinas. anédrica

39
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Atrás referimos ainda


substâncias sem estrutura cristalina –
amorfas (Fig. 3.3.c) – que são
consideradas mineralóides.
As substâncias cristalinas podem
ocorrer em agregados de grãos tão finos
que a sua natureza cristalina só pode ser
a) Actinolite b) Ágata c) Vidro vulcânico
observada ao microscópio. Estamos em
Fig. 3.3. (a) Substância microcristalina; (b) Substância criptocristalina;
presença de substâncias microcristalinas (c) Substância amorfa
(Fig. 3.3.a). Ou pode acontecer que só ao
microscópio electrónico essa natureza seja perceptível. Estamos então em presença de substâncias
criptocristalinas (Fig. 3.3.b).

4. OS SISTEMAS CRISTALINOS
Quando se observam cristais de várias substâncias, verifica-se que eles têm formas muito
variadas. Uns são cúbicos, como a pirite, outros octaédricos, como a fluorite (Fig. 3.1), outros prismáticos,
como o berilo (Fig. 3.2.a), o quartzo (Fig. 3.1) e a turmalina, outros romboédricos, como a calcite, outros
piramidais, como o quartzo também (Fig. 3.1.), etc. Quando se fala em formas prismáticas e piramidais, há a
considerar prismas e pirâmides de base triangular, quadrangular, rectangular e hexagonal. Cada uma
destas formas geométricas tem os seus elementos de simetria próprios: planos, eixos e centro de simetria.
Vejamos por exemplo, um cubo (Fig. 3.4.a). Ele tem 3 eixos de grau 4, 4 eixos de grau 3, 6 eixos
de grau 2, 9 planos de simetria e um centro de simetria. O mesmo se passa com um octaedro (Fig. 3.4.b).
Já por exemplo, um prisma e uma pirâmide de base quadrada só têm 1 eixo de grau 4, 4 eixos de grau 2, 5
planos de simetria e 1 centro (Fig. 3.4.c e Fig. 3.4.d). Outros exemplos poderiam ser dados.

a) b) d)
c)
Fig. 3.4. Elementos de Simetria de:
a) um cubo e b) um octaedro: 3E4, 4E3, 6E2, C, 9P
b) c) um prisma quadrangular e d) uma pirâmide quadrangular: 1E4, 4E2, C, 5P
Como se pode ver, o cubo e o octaedro, tendo os mesmos elementos de simetria, pertencem a um
determinado grupo de cristais, ao passo que o prisma e a pirâmide quadrangular pertencem a outro grupo
de cristais. Estes grupo são chamados Sistemas Cristalinos. E há 7 destes sistemas cristalinos (Fig. 3.5.):
cúbico, hexagonal, tetragonal, trigonal, ortorrômbico, monoclínico e triclínico.
Cada um destes sistemas é caracterizado por um conjunto de eixos imaginários à volta dos quais
os cristais crescem e se desenvolvem. Estes eixos são chamados eixos cristalográficos e o seu conjunto
é a cruz axial. Assim, os sistemas cristalinos são caracterizados pelas seguintes cruzes axiais:
a) Cúbico: três eixos iguais e normais entre si;
b) Hexagonal e Trigonal: três eixos iguais coplanares, fazendo um ângulo de 120º entre si e um
quarto eixo diferente, normal ao plano dos outros três eixos; A diferença entre os sistemas
hexagonal e trigonal está no grau de simetria
c) Tetragonal: três eixos normais entre si, sendo dois iguais entre si;
d) Ortorrômbico: três eixos diferentes e normais entre si;
e) Monoclínico: três eixos diferentes, sendo dois oblíquos e o terceiro normal ao plano definido
pelos outros dois;
f) Triclínico: três eixos diferentes e oblíquos entre si.

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Hexagonal
Cúbico e Trigonal Tetragonal Ortorrômbico Monoclínico Triclínico
Fig. 3.5. As cruzes axiais dos 7 Sistemas Cristalinos.

5. PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINERAIS


As propriedades físicas dos minerais são uma consequência directa da sua composição química e
da sua estrutura cristalina. Neste ponto vamos examinar as seguintes propriedades: hábito e agregados,
clivagem e fractura, dureza, tenacidade, densidade, cor, risca ou traço, brilho ou lustre, diafanidade, reflexão
e refracção, fluorescência, fosforescência e luminescência, eléctricas e magnéticas, radioactivas,
isomorfismo, polimorfismo e pseudomorfismo.
5.1. Hábito e Agregados de Minerais
O hábito dum cristal ou a maneira como os cristais crescem juntos para originar agregados é
de ajuda considerável à identificação dos minerais. Como o hábito depende, entre outras coisas, do
ambiente em que o mineral se forma, este pode ter vários hábitos. Os termos usados para exprimir o hábito
ou os agregados são os seguintes (Fig. 3.6).
a) Acicular: os cristais têm forma de agulhas; h) Globular ou botrióide: os cristais crescem em
b) Capilar ou filiforme: os cristais têm aspecto de forma de glóbulos semelhantes a esférulas ou
cabelo ou de fios; hemisferas;
c) Tabular: cristais alongados e achatados; i) Drúsico: superfície coberta por uma camada de
d) Equigranular: os cristais não têm uma dimensão cristais individuais;
preferencial; j) Geódico: cavidade rochosa coberta por cristais
e) Dendrítico: os cristais crescem duma forma individuais;
arborescente; k) Concêntrico: camadas mais ou menos esféricas
f) Prismático: os cristais têm uma direcção sobrepostas umas sobre as outras à volta dum
preferencial; centro comum;
g) Fibroso: os cristais aparecem em fibras; l) Piramidal: os cristais aparecem sob a forma de
pirâmides.

d) Equigranular: Pirite
a) Acicular: Camerolaíte b) Capilar: Canavesite c) Tabular: Autunite

e) Dendrítico: Ouro f) Prismático: Milarite g) Fibroso: Gesso h) Botrióide: Turquesa

i) Drusa: Calcite j) Geode: Quartzo k) Concêntrico: Malaquite


l) Piramidal: Xenotima
Fig. 3.6. Diversos hábitos de cristais e agregados

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Vários outros hábitos poderiam ser referidos: concreção, maciço, bandado, estalagtítico, etc., etc.

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5.2. Clivagem e Fractura


Estas propriedades representam a resposta da estrutura cristalina a uma força externa.
Quando essa força é aplicada, o mineral é sujeito a um esforço. A resistência do material cristalino a esse
esforço é função do tipo de ligações moleculares e atómicas na rede cristalina.
Muitos minerais têm direcções planares dentro da estrutura que são mais fracas que outras;
noutros minerais, não existem essas direcções. Assim, consoante um mineral quebra segundo superfícies
regulares ou irregulares, ele tem clivagem ou fractura. A Fig. 3.7 mostra duas redes cristalinas, uma dum
mineral com clivagem (a) outra dum mineral sem clivagem, mas com fractura (b).

a) Mica b) Quartzo
Fig. 3.7. Ilustração das redes cristalinas de minerais (a) com clivagem e (b) com fractura
Como se pode ver da figura anterior, a rede cristalina da mica mostra zonas onde os átomos estão
dispostos em planos, sendo estes as zonas de fraqueza onde se formam as superfícies de clivagem. Por seu lado,
a estrutura do quartzo mostra uma distribuição tridimensional regular, sem zonas de fraqueza, daí a fractura.
Consoante as direcções da superfície de clivagem, ela pode ser classificada em (Fig. 3.8):
a) Cúbica – galena; c) Dodecaédrica – fluorite; e) Prismática – piroxena;
b) Octaédrica – fluorite; d) Romboédrica – calcite; f) Basal – mica.

f)
d)
a) b) e)
c)
Fig. 3.8. Diversos tipos de clivagem: (a) Cúbica; (b)
Ocatédrica; (c) Dodecaédrica; (d) Romboédrica; (e)
Prismática; (f) Basal. a) b) c)
Por seu lado, a fractura pode ser um Fig. 3.9. Diversos tipos de fractura: (a) Concoidal; (b)
Fibrosa; (c) Irregular
caracter distintivo de alguns minerais, e podem
ser classificadas em (Fig. 3.9):
a) Concoidal (ou conchoidal) –
superfícies curvas, lisas e brilhantes,
semelhantes ao interior de conchas –
berilo e vidro;
b) Fibrosa – Olho de Tigre;
c) Irregular – superfícies irregulares e
rugosas, às vezes com aspecto
terroso - magnetite.

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5.3. Dureza
A dureza é a resistência que um
mineral oferece à abrasão, determinada pela sua
resistência a ser riscado por um objecto. Todos os
minerais têm uma dureza determinada (ou variando
dentro de limites estreitos) que depende da
estrutura cristalina do mineral. A determinação
prática da dureza faz-se a partir da escala de
Mohs. A escala de Mohs é um conjunto de 10
minerais, de durezas variando de 1 a 10, e que
são:
1. Talco – Mg9Si4O10(OH)2
2. Gesso – CaSO4.2H2O
3. Calcite – CaCO3
4. Fluorite – CaF2
5. Apatite – Ca5(PO4)3(OH,F,Cl)
6. Ortoclase – KAlSi3O8
7. Quartzo – SiO2
8. Topázio – Al 2SiO4(OH,F)2
9. Corindo – Al2O3
10. Diamante - C

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A determinação da dureza dum mineral faz-se riscando


um mineral de dureza conhecida sobre esse mineral. Muitas
vezes a escala de Mohs não está disponível e o geólogo recorre
a objectos vários de dureza conhecida, como o canivete e o vidro
(d = 5.5-6) ou a unha (d = 2-2.5).
As superfícies oxidadas dos minerais apresentam
propriedades físicas diferentes das do mineral fresco, por isso
todos os ensaios se devem fazer em superfícies recentes. Isto é
válido para todas as propriedades físicas.
Ao se dizer que o diamante tem dureza 10 e apatite
tem dureza 5, poder-se-ia pensar que o diamante é duas vezes
mais duro que a apatite, o que não corresponde à verdade, pois
a escala de Mohs não é linear, como se pode ver na Fig. 3.10. A
escala de Mohs dá uma dureza relativa, isto é, se um mineral é
mais duro ou mais mole que outro. A Fig. 3.10 dá a dureza
absoluta. Fig. 3.10. Comparação entre dureza relativa
(Escala de Mohs) e dureza absoluta

5.4. Tenacidade
A tenacidade é a resistência que um mineral oferece à quebra, esmagamento, dobramento
ou rompimento, ou seja, a sua coesão interna. A tenacidade é descrita com os seguintes termos:
a) Quebradiço: mineral que se quebra e reduz facilmente a pó – calcite;
b) Maleável: mineral que pode ser reduzido a folhas – ouro;
c) Séctil: mineral que pode ser cortado com uma faca – galena;
d) Dúctil: mineral que pode ser modelado em arame – cobre;
e) Flexível: mineral que pode ser dobrado, mas que não retoma a sua forma original quando a
pressão é retirada – talco;
f) Elástico: mineral que pode ser dobrado, e que retoma a sua forma original quando a pressão é
retirada – mica;

5.5. Densidade
A densidade é um número que expressa a razão entre o peso duma substância e o peso de
igual volume de água a 4°C. Assim, um mineral de densidade 2 é duas vezes mais pesado que a água.
A densidade dum mineral depende de:
a) tipo de átomos componentes;
b) modo como os átomos estão empacotados
Por exemplo, os minerais quartzo e tridimite, ambos constituídos por SiO2, apesar de terem os
mesmos átomos, têm estruturas diferentes, estando mais empacotados no quartzo do que na tridimite.
Assim, o quartzo tem densidade 2.65 e a tridimite tem densidade 2.26. Por outro lado, a celestite (SrSO4) e
a anglesite (PbSO4) têm a mesma estrutura, mas como o chumbo (Pb) é mais pesado que o estrôncio (Sr),
a anglesite tem densidade 6.32 e a celestite 3.97.

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5.6. Cor
Basicamente a cor dos minerais resulta da absorção selectiva de certos comprimentos de
onda da luz brancapelos átomos da sua estrutura. A luz transmitida ou reflectida representa a parte que
não é absorvida pela estrutura.
A cor raramente é útil na identificação dos minerais, devido às impurezas que os mesmos
possuem e ao estado de cristalinidade e imperfeições estruturais que a estrutura cristalina apresenta. Por
exemplo, a hematite (Fe2O3), quando pulverizada, tem cor vermelha de sangue, mas em massa ou cristais
apresenta uma cor cinzenta, preta ou azulada. O quartzo, quando pulverizado é branco, mas em massa ou
cristal pode ser incolor, branco, amarelo, azul, rosa, negro, etc., em função do tipo de impurezas que
contém.

5.7. Risca ou Traço


A risca ou traço é a cor que o mineral apresenta quando reduzido a pó. Se bem que a cor dum
mineral possa variar, a cor do seu pó é sempre o mesmo. A risca é determinada esfregando o mineral numa
placa de porcelana não vidrada, que tem dureza 7. Por isso este método não pode ser usado para minerais
mais duros que 7.

5.8. Brilho ou Lustre


O brilho é a maneira como um mineral reflecte a luz. É uma propriedade “superficial” do mineral,
por isso deve ser determinada numa superfície fresca, não oxidada. O brilho é independente da cor, e pode
ser caracterizada do seguinte modo:
a) Vítreo: brilho idêntico ao do vidro – quartzo e turmalina;
b) Resinoso: brilho idêntico ao da resina – enxofre;
c) Nacarado/Perlado: brilho iridiscente idêntico ao do nácar (pérola) – talco;
d) Ceroso: brilho que lembra uma superfície coberta de óleo ou cera– quartzo maciço;
e) Sedoso: brilho idêntico ao da seda – malaquite;
f) Adamantino: brilho excepcionalmente intenso como o do diamante;
g) Terroso: brilho lembrando terra.

5.9. Diafanidade (Transparência)


É a capacidade de um mineral se deixar atravessar pela luz. Os minerais são classificados em
transparentes, translúcidos ou opacos, consoante deixam que se veja nitidamente através de si (quartzo),
se veja algo (ágata, às vezes) ou não se veja nada (pirite).

5.10. Reflexão e Refracção


Quando a luz incide sobre um mineral não opaco, parte dela é
reflectida e parte é absorvida, sofrendo um desvio de caminho, a que se
chama refracção. Num mineral opaco, a luz é praticamente toda
reflectida. Muitos dos minerais opacos, quando cortados a espessuras
muito finas, tornam-se translúcidos ou mesmo transparentes.

a)
5.11. Fluorescência, Fosforescência e Luminescência
A fluorescência é a emissão de luz por um mineral quando
irradiados por luz ultravioleta(Fig. 3.11). Se depois de se parar a
irradiação o mineral continuar a emitir essa luz, diz-se que é
fosforescente. A Luminescência é luz própria emitida por certos minerais,
que só se vê no escuro, pois é muito fraca.
As propriedades eléctricas podem ser classificadas em
termoeléctricas, piroeléctricas ou piezoeléctricas, consoante ganham b)
cargas eléctricas por acção de aquecimento por esfrega ou fogo
Fig. 3.11. Fluorescência da
(turmalina), ou quando se exerce pressão sobre eles (quartzo). Andersonite (a) Luz natural; (b) Luz
ultravioleta

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5.12. Propriedades Eléctricas e Magnéticas


Alguns minerais, principalmente a magnetite (Fe3O4) e a pirrotite (FeS), são magnéticos, isto é,
atraem objectos de ferro. São minerais de magnetismo natural. Outros há que, sob a acção dum campo
eléctrico, se tornam magnéticos, magnetismo esse que desaparece quando o campo é anulado.

5.13. Propriedades Radioactivas


Radioactividade é a desagregação espontânea de certos átomos, levando a mudanças
definitivas nesses mesmos átomos, dando origem a átomos de outros elementos, que podem ser
radioactivos, até se chegar a um elemento não radioactivo, estável. Cada desagregação é acompanhada de
emissão de partículas atómicas e de energia térmica.
238 206
A equação seguinte dá um exemplo de desagregação do urânio (U ) em chumbo (Pb ):

A este processo de transformação de átomos dum elemento em átomos doutros elementos por
emissão de partículas atómicas/energia chama-se desintegração radioactiva.

5.14. Isomorfismo, Polimorfismo e Pseudomorfismo


Chama-se substâncias isomórficas (do Grego isos = igual + morphos = forma) aquelas que,
tendo uma composição química totalmente diferente, têm a mesma estrutura cristalina. É o que se
passa com a uraninite (UO2) e a fluorite (CaF2). Ambas têm uma rede cúbica, em que os átomos de U e Ca
ocupam os mesmos lugares e ambos estão ligados a 8 átomos de O.
As substâncias polimórficas (do Grego poli = muito + morphos
= forma) são aquelas que têm a mesma composição química, mas
estruturas cristalinas totalmente diferentes. É o caso do quartzo e
coesite, ambos compostos de SiO2, mas o primeiro é hexagonal e o
segundo é monoclínico. O mesmo se passa com a calcite e aragonite
(ambos CaCO3), em que o primeiro é trigonal e o segundo é
ortorrômbico.
Por seu lado, as substâncias pseudomórficas (do Grego
pseudos = falso + morphos = forma) são substâncias que apresentam
formas cristalinas típicas doutros minerais. Isto surge porque os
átomos do mineral (cristal) original vão sendo progressivamente
substituídos por átomos doutro mineral, mantendo a forma original. Um Fig. 3.12. Pseudomorfose de
exemplo muito típico dos pegmatitos da Zambézia (e aparentemente Lepidolite depois de Fldspato (Muiane,
único no mundo) é a ocorrência de micas de lítio (lepidolite, rosa-lilás) Alto Ligonha)
com a forma de cristais de feldspato (Fig. 3.12).

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6. CLASSIFICAÇÃO DOS MINERAIS


A composição química tem sido a base da classificação dos minerais desde o século XIX. De
acordo com este esquema, os minerais são divididos em classes dependendo do anião ou grupo aniónico
dominante (óxidos, halogenetos, sulfuretos, silicatos, etc.)
Há várias razões para que este critério seja uma base válida para a classificação dos minerais.
Primeiro, os minerais tendo o mesmo anião ou grupo aniónico dominante na sua composição química têm
muito mais semelhanças entre si do que os minerais que tenham o mesmo catião ou grupo catiónico. Assim,
2-
os carbonatos (grupo aniónico CO3 ) têm muito mais semelhanças entre si do que os minerais de cobre têm
entre si. Segundo, os minerais com o mesmo anião/grupo aniónico têm tendência a ocorrerem juntos ou no
mesmo ambiente geológico. Terceiro, o esquema usado está de acordo com a prática química corrente de
classificação de compostos inorgânicos.
Contudo, a composição química não é suficiente para caracterizar um mineral. É importante
considerar a sua estrutura interna, porque são estas duas características que determinam as propriedades
físicas dos minerais. No caso dos silicatos (veremos mais à frente), estes foram subdivididos em função da
sua estrutura interna.
As classes de minerais são:
a) Elementos nativos g) Nitratos
b) Sulfuretos h) Boratos
c) Sulfossais i) Fosfatos
d) Óxidos e Hidróxidos j) Sulfatos
e) Halogenetos k) Tungstatos
f) Carbonatos l) Silicatos
Evidentemente que a classificação não pára por aqui. As classes são subdivididas em famílias,
estas em grupos, estes em espécies (que podem formar séries) e as espécies podem ainda ser subdivididas
em variedades. Não entraremos em detalhes sobre este assunto, uma vez que não cabe no âmbito deste
programa. Mas fica a informação!
Seguidamente iremos estudar estes grupos de minerais, com especial ênfase para aqueles que
ocorrem com maior frequência na crusta terrestre.

6.1. ELEMENTOS NATIVOS


À excepção dos gases livres da atmosfera, só cerca de 20 elementos são encontrados no estado
nativo. Estes elementos nativos podem ser divididos em: Metais, Semi-metais e Não-metais.
Os metais nativos mais comuns pertencem a três grupos: o grupo do Ouro (Au, Ag, Cu e Pb); o
grupo da Platina (Pt, Pd, Ir, Os); e o grupo do Ferro (Fe, Fe-Ni), todos os grupos cristalizando no sistema
cúbico. Os semi-metais mais comuns são o Ar, Sb, Bi, Se e Te. Os não-metais nativos são o S e C (este
nas formas de grafite e diamante).

6.1.1. OURO

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Au; normalmente ocorrem outros metais
misturados com o ouro, como Ag, Cu e Fe, entre outros.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente maciço; aparece na forma granular (fig. 3.2.c),
dendrítica (Fig. 3.6.e) e raramente cristalizado (Fig. 3.13.a). Frequente na
forma de pepitas (Fig. 3.13.b);
a) b)
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é em tipo esquírola; Fig. 3.13. Cristal (a) e pepita (b) de

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Tenacidade: metal maleável, dúctil e séctil; Ouro

Dureza: baixa a muito baixa – 2.5-3;


Densidade: muito denso – 19.3;

29
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Cor: amarelo-ouro, quando puro; quando misturado com prata, torna-se mais claro;
Risca: amarelo-ouro metálico;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco.
d) Utilização: a maior utilização é na joalharia; metal que garante as reservas financeiras dum país. Muito
utilizado na numismática, para medalhas e moedas comemorativas. Nos tempos modernos, o ouro é
cada vez mais utilizado em instrumentos científicos e em aplicações dentárias.
e) Ocorrência: em Moçambique, o ouro ocorre nas Províncias de Manica, Tete e Niassa. A nível
internacional, os principais jazigos de ouro estão na África do Sul, Rússia, China, Canadá, EUA e Brasil.
f) Origem do nome: do Latim Aurum = ouro.

6.1.2. COBRE

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Cu; normalmente ocorrem outros metais
misturados com o cobre, como Ag, Bi, Hg e As, entre outros.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente maciço (fig. 3.14.a), dendrítica (Fig. 3.14.b) e a
raramente cristalizado;
Clivagem, Fractura, Tenacidade e Dureza: comporta-se como o ouro;
Densidade: muito denso – 8.94;
Cor: vermelha-rosa claro, escurecendo com o tempo até castanho;
Risca: vermelho-metálico;
Brilho: metálico em superfície fresca, embaciando com a oxidação;
Diafanidade: opaco. b

d) Utilização: é utilizado principalmente na indústria eléctrica, no fabrico de


cabos eléctricos e condutores. Também se utiliza no fabrico de ligas
metálicas (bronze e latão) e na indústria química.
e) Ocorrência: em Moçambique, o cobre nativo não ocorre. A nível
internacional, os principais jazigos de cobre estão nos EUA, na Zâmbia,
Namíbia, RD Congo, Índia e Rússia.
c
f) Origem do nome: do Latim Cuprum, nome dado a este metal Fig. 3.14. Cobre (a) maciço, (b)
encontrado na Ilha de Chipre. dendrítico; (c) cristalino

6.1.3. DIAMANTE

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: C puro.
c) Propriedades físicas:
Hábito: cristais isolados, normalmente octaédricos (Fig. 3.15) e
dodecaédricos, além doutras formas;
Clivagem e Fractura: clivagem octaédrica perfeita; fractura conchoidal; Fig. 3.15. Diamantes octaédricos
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito alta – é o último termo da Escala de Mohs - 10; é a substância mais dura que se conhece;
Densidade: pequena – 3.05;
Cor: incolor ou variada, desde amarelada, a rosa, azulada e acinzentada; há ainda a variedade negra;
Risca: branca;
Brilho: adamantino;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas em joalharia; as variedades negra e cinzenta são
utilizadas como diamantes industriais como abrasivos e instrumentos de corte.
e) Ocorrência: em Moçambique, o diamante é muitíssimo raro, tendo sido encontrados alguns nos aluviões do
Rio dos Elefantes (Gaza) e no Niassa. A nível internacional, os principais jazigos de diamantes estão na
RSA, nos EUA, na Namíbia, Botswana, Angola, Gana, Serra Leoa, RD Congo, China, Venezuela, Brasil.
f) Origem do nome: do Grego adams = invencível.
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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.1.4. GRAFITE
a) Sistema Cristalino: sistema hexagonal.
b) Composição química: Carbono puro – C.
c) Propriedades físicas:
Hábito: cristais tabulares, vulgarmente em massas foliadas, radiais
(Fig. 3.16), terrosas;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita; não tem fractura;
Tenacidade: as lâminas de grafite são flexíveis (não elásticas);
Dureza: muito baixa – 1-2; Fig. 3.16. Grafite
Densidade: pequena – 2.09-2.23;
Cor: negra a cinzenta escura;
Risca: negro brilhante;
Brilho: metálico a baço;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: untuoso ao tacto, condutor de calor e electricidade,
termoeléctrico; escreve no papel.
a)
A Fig. 3.17 mostra as redes cristalinas do diamante e da grafite, exemplo
claro de polimorfismo do Carbono.
d) Utilização: usada na indústria eléctrica, para fabrico de escovas
colectoras e eléctrodos, na indústria química (lubrificantes, tintas), lápis,
moderador de reacções atómicas.
e) Ocorrência: em Moçambique, a grafite ocorre em Montepuez, Monapo, b)
Angónia e Lúrio. Os principais jazigos de grafite estão no Canadá, Fig. 3.17. Redes cristalinos (a) do
Madagáscar, Áustria, Finlândia, Rússia e México. diamante e (b) da grafite
f) Origem do nome: do Grego graphein = escrever.

6.1.5. FERRO-NÍQUEL (Meteoritos férricos)

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Fe, com percentagens variáveis de Ni. Na
Fig. 3.18A, as lamelas mais claras têm pequenas percentagens de
Ni (+5.5%), ao passo que nas mais escuras há de 27-65% Ni.
c) Propriedades físicas:
Hábito: maciço; raramente em cristais;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita; a fractura é irregular,
de bordos cortantes; a)
Tenacidade: maleável;
Dureza: média – 4.5;
Densidade: relativamente alta – 7.3-7.9;
Cor: cinzenta de aço a negra;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: fortemente magnético.
d) Utilização: não tem utilização prática, a não ser para estudos b)
científicos sobre a Terra e o Universo. Fig. 18. (a) Meteorito de Edmonton
g) Ocorrência: o ferro nativo é muito raro na Terra (Fig. 3.18B), pois (Kentucky, EUA); (b) Grânulos negros de
é extremamente oxidável em óxidos de ferro. Ocorre na ferro dispersos em roch
Gronelândia e no Oregon (EUA). Contudo, é muito comum em
meteoritos que caíram em vários pontos do planeta.

31
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.1.6. ENXOFRE

a) Sistema Cristalino: sistema ortorrômbico (Fig. 3.19).


b) Composição química: Enxofre puro – S.
c) Propriedades físicas:
Hábito: maciço; raramente em cristais. Por vezes de aspecto terroso e
estalagtítico;
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal a irregular;
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito baixa - 1.5-2.5;
Densidade: baixa – 2.05-2.09;
Cor: amarelo;
Brilho: resinoso; Fig. 3.19. Agregado de
Diafanidade: opaco; cristais de enxofre

Outras propriedades: mau condutor de calor; quando um pedaço de enxofre é agarrado com a mão e
colocado junto ao ouvido, ouvem-se estalidos porque a zona superficial aquecida pela mão estala.
d) Utilização: utilizado para o fabrico de compostos de enxofre, como o ácido sulfúrico (H2SO4). Usado
também em insecticidas, fertilizantes e vulcanização da borracha.
e) Ocorrência: em Moçambique não se conhecem ocorrências de enxofre. Os depósitos mais importantes
situam-se na Sicília (Itália) e outras regiões vulcânicas, como Chile, México, EUA, Hawaii, Japão e Argentina.
f) Origem do nome: do Latim sulphur.

6.2. SULFURETOS/SULFOSSAIS
Os sulfuretos e sulfossais constituem uma importante e numerosa classe de minerais que incluem
a maioria dos minerais de minério. A maioria dos sulfuretos é opaca com cores e riscas características. Os
não opacos têm índices de refracção extremamente altos e só não são opacos em secções muito finas.
A fórmula geral dos sulfuretos é XmYnZp, em que X e Y representam elementos metálicos e Z os
não metálicos. Neste capítulo trataremos só de alguns deles, e que são os mais frequentes.

6.2.1. GALENA

a) Sistema cristalográfico: cúbico.


b) Composição química: Sulfureto de Chumbo – PbS; normalmente tem
prata associada.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cúbico ou cúbico+octaédrico (equigranular) (Fig. 3.19), em massas
compactas granulares grosseiras ou finas;
Clivagem e Fractura: a clivagem é cúbica perfeita;
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: muito baixa – 2.5; a)

Densidade: alta – 7.4-7.6;


Cor: cinzenta de chumbo;
Risca: cinzenta de chumbo;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco.
d) Utilidade: principal minério de chumbo e importante fonte de prata. O
Chumbo é fundamentalmente utilizado em baterias, na indústria química e b)
ligas metálicas.
Fig. 3.20. (a) Galena maciça
e) Ocorrência: em Moçambique, a galena ocorre em pequenas quantidades com clivagem cúbica; (b) Cristal
em Manica e Tete. Os grandes jazigos mundiais de galena encontram-se na ocatédrico.
Alemanha, República Checa, Inglaterra, Austrália e Canadá.
f) Origem do nome: do Latim galena, nome dado à escória.

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6.2.2. CALCOPIRITE

a) Sistema cristalográfico: tetragonal.


b) Composição química: Sulfureto de Cobre e Ferro – CuFeS2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente maciço, podendo ser tetraédrico (Fig. 3.21.A);
Clivagem e Fractura: a clivagem é muito imperfeita; a fractura vai de a)
conchoidal a irregular;
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: baixa – 3.5-4;
Densidade: média – 4.2-4.3;
Cor: amarelo-latão, passando a iridiscente com a oxidação (Fig. 3.21.B);
Risca: negra-esverdeada;
Brilho: metálico;
b)
Diafanidade: opaco. Fig. 3.21. (a) Calcopirite
g) Utilidade: principal minério de cobre. tetraédrica; (b) Calcopirite
iridescente
e) Ocorrência: em Moçambique, a calcopirite ocorre em grandes quantidades em Manica. Os grandes
jazigos mundiais de calcopirite encontram-se na Inglaterra, Suécia, República Checa, Espanha, África do
Sul, Zâmbia e Chile.
f) Origem do nome: do Grego chalcos = cobre + pyros = fogo (ver pirite adiante).

6.2.3. PIRITE

a) Sistema cristalográfico: cúbico.


b) Composição química: Sulfureto de Ferro – FeS2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: frequentemente em cristais cúbicos , octaédricos e doutras
formas (Fig. 3.1.b, Fig. 3.6.d, Fig. 3.22.a); comum na forma maciça;
Clivagem e Fractura: sem clivagem; a fractura é conchoidal;
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: média – 6-6.5;
Fig. 3.22 Cubos de pirite
Densidade: média – 5.02;
Cor: amarelo-latão pálido;
Risca: negra-esverdeada;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: cristais de faces estriadas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

d) Utilidade: a pirite é muitas vezes minerada para a extracção de ouro e cobre com ela associados; é
uma fonte de enxofre para o fabrico de ácido sulfúrico; em situações muito particulares, a pirite pode
ser considerada como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique, a pirite não ocorre como jazigo, mas está presente em grande número de
rochas nas regiões centro e norte do país. É o Sulfureto mais frequente na crusta terrestre Os grandes
jazigos mundiais de pirite encontram-se em Portugal, Espanha.
Origem do nome: do Grego pyros = fogo, por causa das faíscas que lança quando percutido por ferro.

6.2.4. OUTROS SULFURETOS IMPORTANTES (Fig.3.23)

Esfalerite (ZnS), Pirrotite (Fe1-xS), Covelite (CuS), Cinábrio (HgS), Realgar (AsS), Marcassite (FeS2 -
polimorfo da pirite), Molibdenite (MoS2), Cobaltite (Co,Fe)AsS e Arsenopirite (FeAsS).

Cinábrio Marcassite
Pirrotite Covelite Molibdenite Arsenopirite
Fig. 3.23. Exemplos doutors tipos de sulfuretos.

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6.3. ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS


Os Óxidos são um grupo de minerais que tendem a ser duros, densos e refractários, e ocorrem
como minerais primários acessórios de vários tipos de rochas ou como grãos resistentes em sedimentos.
Os óxidos têm como anião o Oxigénio. Este encontra-se unido a um ou vários catiões, dando origem aos
óxidos simples e óxidos múltiplos.
Por seu lado, os Hidróxidos são menos duros e densos, e ocorrem como minerais secundários
resultantes da alteração ou meteorização das rochas. Caracterizam-se pela presença do grupo hidroxilo
-
(OH) ou de moléculas de água (H2O).
Na Natureza existem inúmeros óxidos e hidróxidos, mas só referiremos os mais importantes. De
referir que o gelo, forma sólida de água (H2O) é um óxido. O quartzo é constituído pelo óxido mais
abundante na Natureza – SiO2 – mas ele será tratado na classe dos silicatos, por ter uma estrutura mais
próxima destes.

6.3.1. GELO
h) Sistema cristalográfico: hexagonal.
i) Composição química: Óxido de hidrogénio – H2O.
j) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente aparece em formas maciças nas calotes polares e
icebergs, mantos de neve. A condensação do vapor de água em gelo dá
bonitos cristais estrelados como os da Fig. 3.24. Aparece também em
agregados estalactíticos e granulares;
Clivagem e Fractura: fractura conchoidal; a)
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito baixa – 1.5;
Densidade: muitíssimo baixa – 0.92;
Cor: incolor, ou branca quanto contém inclusões gasosas;
Risca: branca;
Brilho: aquoso;
Diafanidade: transparente a translúcido.
k) Utilidade: utilidade da água; os gelos dos polos dão indicações preciosas sobre b)
Fig. 3.24. Cristais de neve
a história climática da Terra.
l) Ocorrência: em Moçambique não há depósitos permanentes de gelo. As grandes massas de gelo ocorrem
nos pólos e nos glaciares.

6.3.2. MAGNETITE
d) Sistema cristalográfico: Cúbico.
e) Composição química: Óxido de Ferro férrico – Fe3O4.
f) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente maciço, podendo ocorrer em hábito octaédrico (Fig. 3.25);
Clivagem e Fractura: a clivagem é imperfeita octaédrica; fractura irregular;
a)
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: média – 6;
Densidade: média – 5.18;
Cor: negra de ferro;
Risca: negra;
Brilho: metálico; b)
Fig. 3.25. (a) Cristal de
Diafanidade: opaco; magnetite; b) Magnetite da
Outras propriedades: fortemente magnética. Lupata.
d) Utilidade: principal minério de ferro.
e) Ocorrência: em Moçambique, a magnetite ocorre em grandes quantidades na Lupata e em Tete. Os
grandes jazigos mundiais de magnetite encontram-se na Suécia, Noruega, Roménia e Ucrânia.
f) Origem do nome: possivelmente da localidade de Magnesia, na Macedónia.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.1.3. HEMATITE
f) Sistema cristalográfico: trigonal.
g) Composição química: Óxido de Ferro ferroso – Fe2O3.
h) Propriedades Físicas:
Hábito: raramente em cristais achatados; normalmente aparece em
agregados botrióides (Fig. 3.26); Fig. 3.26. Hematite botrióide
Clivagem e Fractura: clivagem prismática fraca; a fractura é irregular, por vezes fibrosa;
Tenacidade: variada;
Dureza: média – 5.5-6.5;
Densidade: média – 5.26;
Cor: castanho avermelhado a negro;
Risca: vermelho de sangue claro a escuro;
Brilho: metálico em cristais e baço em agregados maciços;
Diafanidade: opaco quando maciça; translúcido em grão de pequenas dimensões ou em cristais
pequenos.
i) Utilidade: importante minério de ferro; também usada para pigmentos.
j) Ocorrência: em Moçambique, a hematite não ocorre como jazigo, mas está presente em grande número
de rochas nas regiões centro e norte do país. Os grandes jazigos mundiais de hematite encontram-se na
Alemanha, Suíça, Áustria, Itália, Canadá, Austrália, Libéria e Brasil.
k) Origem do nome: do Grego haematos = sangue, por causa da cor de sangue da sua risca.

6.1.4. CASSITERITE
a) Sistema cristalográfico: tetragonal.
b) Composição química: Óxido de Estanho – SnO2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: tem hábito prismático associado a piramidal; são frequentes cristais
geminados em forma de joelho a que se dá o nome de Joelho de Estanho
(Fig. 3.27); normalmente é maciça;
Clivagem e Fractura: clivagem imperfeita;
Fig. 3.27. Cassiterite – Joelho
Dureza: média – 6-7; de Estanho
Densidade: média – 6.8-7.1;
Cor: castanha a negra, porvezes amarela a branca;
Risca: branca;
Brilho: adamantino;
Diafanidade: translúcido, raramente transparente.
d) Utilidade: importante minério de estanho.
e) Ocorrência: em Moçambique, a cassiterite ocorre principalmente no Inchope (Sofala). Os grandes jazigos
mundiais de cassiterite encontram-se na Malásia, Indonésia e Tailândia.
f) Origem do nome: do Grego kassiteros = estanho.

6.1.5. RÚTILO
a) Sistema cristalográfico: tetragonal.
b) Composição química: Óxido de Titânio – TiO2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: hábito acicular; ocorre muitas vezes dentro de cristais de quartzo (Fig.
3.28); muitas vezes maciça;
Clivagem e Fractura: clivagem prismática perfeita; fractura irregular a
conchoidal;
Fig. 3.28. Rútilo
Dureza: média – 6-6.5;
Densidade: baixa média – 4.18-4.25;
Cor: vermelha, castanha avermelhada ou negra;
Risca: castanha clara;
Brilho: adamantino a sub-metálico;

xxxvi
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Diafanidade: translúcido, raramente transparente.


d) Utilidade: importante minério de titânio.
e) Ocorrência: em Moçambique, o rútilo ocorre em areais pesadas, como as do Chibuto, Moma, Pebane e
outras localidades ao longo da costa. Os grandes jazigos mundiais de cassiterite encontram-se na Austrália.
f) Origem do nome: do Latim rutilus = vermelho, por causa da sua cor.

6.1.6. ILMENITE
a) Sistema cristalográfico: trigonal.
b) Composição química: Óxido de Ferro e Titânio – FeTiO3; óxido múltiplo
c) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente maciço, por vezes em cristais tabulares (Fig. 3.29);
muitas vezes aparece com areia;
Clivagem e Fractura: sem clivagem; fractura conchoidal;
Dureza: média – 5.5-6;
Fig. 3.29. Ilmenite
Densidade: baixa média – 4.7;
Cor: negra de ferro;
Risca: castanha avermelhada a negra;
Brilho: metálico a sub-metálico;
Diafanidade: opaco.
d) Utilidade: o mais importante minério de titânio.
e) Ocorrência: em Moçambique, a ilmenite ocorre em areias pesadas, como as do Chibuto, Moma, Pebane e
outras localidades ao longo da costa. Os grandes jazigos mundiais de ilmenite encontram-se na Noruega,
Rússia, Austrália, África do Sul e Brasil.
f) Origem do nome: das Montanhas Ilmen, na Rússia.

6.1.7. COLUMBO-TANTALITE
a) Sistema cristalográfico: ortorrômbico.
b) Composição química: Solução sólida entre Óxido de Nióbio
e Óxido de Tântalo – (Fe,Mn)Nb2O6-(Fe,Mn)Ta2O6; óxido
múltiplo
c) Propriedades Físicas:
Hábito: frequentemente em cristais de hábito prismático (Fig.
3.30);
Clivagem e Fractura: clivagem prismática fácil; fractura
conchoidal irregular; a) b)
Fig. 3.30. Columbite (a) e Tantalite (b)
Dureza: média – 6;
Densidade: média – 5.2-7.9, dependendo das percentagens de Ta e Nb presentes;
Cor: negra de ferro;
Risca: castanha avermelhada a negra;
Brilho: metálico a sub-metálico;
Diafanidade: opaco quando maciço; semi-translúcido em grãos e cristais pequenos.
d) Utilidade: importante minério de tântalo e nióbio, para o fabrico de ligas metálicas anti-corrosivas e
resistentes a altas temperaturas (indústria espacial e aeronáutica, turbinas, etc.).
e) Ocorrência: em Moçambique, a columbo-tantalite ocorre em grandes quantidades nos pegmatitos da
Zambézia e Nampula. Outros jazigos mundiais de importância mundial encontram-se no Canadá, Nigéria,
RD Congo, Madagáscar e Austrália.
f) Origem do nome: o nome columbite vem de Colúmbia (América) onde foi encontrado pela primeira vez;
tantalite vem do deus Tantalus, pela dificuldade em ser atacado pelos ácidos.

6.1.8. OUTROS ÓXIDOS IMPORTANTES

Cuprite (Cu2O), Zincite (ZnO), Corindo (Al2O3), Espinela (MgAl2O4), Cromite (FeCr2O4), Pirolusite (MnO2),
Uraninite (UO2)

xxxvii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Zincite Espinela Uraninite


Cuprite Cromite Pirolusite
Fig. 3.31. Exemplos doutors tipos de óxidos.

6.1.9. LIMONITE
a) Sistema cristalográfico: substância amorfa.
b) Composição química: hidróxido de ferro hidratado – FeO.OH.nH2O; A limonite não é propriamente um
mineral, mas uma mistura complexa de óxidos e hidróxidos de ferro, entre eles a goethite (-FeOOH) e
a lepidocrocite (-FeOOH), ambos ortorrômbicos.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: agregados terrosos, em estalactites, oolíticos (Fig. 3.32);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; fractura irregular;
Dureza: média – 5-5.5;
Densidade: baixa – 3.6-3.7;
Cor: amarelo, castanho a negro;
Risca: castanha, castanha-amareladas;
Brilho: variável, consoante o tipo de agregado;
Diafanidade: opaco.
Fig. 3.32. Limonite
d) Utilidade: minério de ferro;
e) Ocorrência: em Moçambique, a limonite é um mineral comum como resultado de alteração de rochas ricas
em ferro, não se conhecendo, contudo, jazigos importantes.
f) Origem do nome: do Latim limus = lama, lodo.

6.1.10. BAUXITE
a) Sistema cristalográfico: substância amorfa.
b) Composição química: hidróxido de ferro e alumínio; a bauxite é
uma mistura complexa de hidróxidos de ferro (goethite - -FeOOH) e
alumínio (diáspora - -AlOOH, gibbsite - Al(OH)3).
c) Propriedades Físicas:
Hábito: agregados maciços e terrosos, ou em concreções (Fig. 3.33);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; fractura irregular;
Fig. 3.33. Bauxite
Dureza: muito baixa – 1-3;
Densidade: baixa – 2-2.55;
Cor: branca, cinzenta, amarela ou vermelha;
Diafanidade: translúcido.
d) Utilidade: principal minério de alumínio.
e) Ocorrência: Em Moçambique, a bauxite é um mineral comum como resultado de alteração de rochas ricas
em alumínio. Ocorre na Zambézia, junto da fronteira com o Malawi, e em Manica, junto à fronteira com o
Zimbabwe. Os principais produtores de bauxite são o Suriname, Jamaica, Guiana. Na Guiné e Austrália
também ocorrem importantes jazigos.
f) Origem do nome: da localidade francesa de Baux.

6.1.11. OUTROS HIDRÓXIDOS IMPORTANTES


Brucite (Mg(OH)2)e Manganite (MnO(OH)).(Fig.
3.34)

Brucite Manganite
Fig. 3.34. Outros tipos de hidróxidos.

xxxviii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.4. HALOGENETOS
- - - -
Os Halogenetos caracterizam-se pela dominância dos aniões halogéneos Cl , Br , F e I ,
praticamente todos eles do sistema cúbico. Apesar de vários, iremos abordar só dois: a Halite e a Fluorite.

6.4.1. HALITE, SAL-GEMA ou SAL DE ROCHA


a) Sistema cristalográfico: cúbico.
b) Composição química: Cloreto de Sódio – NaCl.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cúbico (Fig. 3.35), sendo muito raras outras formas;
Clivagem e Fractura: clivagem cúbica perfeita;
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito baixa – 2.5;
Densidade: baixa – 2.16; Fig. 3.35. Halite
Cor: incolor; branca, azulada, rósea e amarelada consoante as impurezas que contém;
Risca: branca;
Brilho: sedoso;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras Propriedades: sabor salgado.
d) Utilidade: na cozinha; na indústria química como fonte de sódio e cloro; utilizado para espalhar sobre
estradas cobertas de neve.
e) Ocorrência: Em Moçambique não há depósitos de halite. Os grandes depósitos de halite ocorrem na
China, ex-URSS, Reino Unido, Alemanha e Canadá.
f) Origem do nome: do Grego halos = sal.

6.4.2. FLUORITE
a) Sistema cristalográfico: cúbico.
b) Composição química: Fluoreto de Cálcio – CaF2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cúbico (Fig. 3.36), octaédrico (Fig. 3.1.a); aparece também em
formas maciças e granulares;
Clivagem e Fractura: clivagem octaédrica perfeita;
Tenacidade: quebradiço; Fig. 3.36. Fluorite
Dureza: média – termo 4 da escala de Mohs;
Densidade: baixa – 3.18;
Cor: incolor; branca, azulada, rósea, verde, amarelada, lilás e castanha; por vezes aparece com
zonamento de cores;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras Propriedades: é fluorescente quando irradiada com luz ultra-violeta.
d) Utilidade: a maioria da fluorite é usada na indústria química, no fabrico de ácido hidroflórico; também se usa
no fabrico do vidro, fibra-de-vidro, cerâmica.
e) Ocorrência: em Moçambique há depósitos de fluorite em Canxixe e Marínguè. Os grandes depósitos de
fluorite ocorrem no Reino Unido, Mongólia, África do Sul, China, Espanha e Tailândia.
f) Origem do nome: do Latim fluere = fluir, por fundir facilmente.

6.4.3. OUTROS HALOGENETOS


IMPORTANTES (Fig. 3.37)
Silvite (KCl), Atacamite (Cu2Cl(OH)3).

Atacamite
Silvite
Fig. 3.37. Outros tipos de halogenetos

xxxix
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6.5. CARBONATOS
Os carbonatos são um grupo de minerais em que o grupo aniónico é ocupado pelo complexo CO3.
Típico dos carbonatos é a reacção que fazem com os ácidos, provocando uma espécie de efervescência,
segundo a equação:

2H  CO23  H2O  CO2


6.5.1. CALCITE
m) Sistema cristalográfico: trigonal.
n) Composição química: Carbonato de Cálcio - CaCO3.
o) Propriedades Físicas:
Hábito: muito variado e por vezes complexo; há três hábitos mais comuns:
prismático, romboédrico e escalenoédrico (Fig. 3.38.a,b,c);
Clivagem e Fractura: clivagem perfeita; a) b)
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: baixa - termo 3 da escala de Mohs;
Densidade: 2.5;
Cor: variada; normalmente branca, mas pode ser incolor, cinzenta,
vermelha, amarela, verde, azul, castanha, negra (Fig. 3.38);
Risca: branca;
Brilho: vítreo a terroso;
c)
Diafanidade: transparente a translúcido. A variedade incolor chama-se
Espato da Islândia, e tem a propriedade da dupla refracção (Fig.
3.38.e);
Outras Propriedades: faz efervescência a frio com HCl; é luminescente.
p) Utilidade: o principal uso é no fabrico de cimento; também se usa no
d) e)
fabrico de pastas de dentes. Fig. 3.38. Cristais de calcite
q) Ocorrência: é um dos minerais mais comuns e espalhados na natureza,
como constituinte principal duma série de rochas.
r) Origem do nome: do Latim Calx = cal.

Outros carbonatos do tipo da Calcite são: Magnesite (MgCO3), Siderite (FeCO3), Rodocrosite (MnCO3) e
Smithsonite (ZnCO3). (Fig. 3.39).

Rodocrosite Smithsonite
Magnesite Siderite
Fig. 3.39. Carbonatos do grupo da calcite

6.5.2. ARAGONITE
a) Sistema cristalográfico: ortorrômbico.
b) Composição química: Carbonato de Cálcio - CaCO3; é um polimorfo
da calcite.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: acicular, tabular, e em cristais geminados em forma de prisma
hexagonal (Fig. 3.40); também ocorre em agregados colunares e
estalagtíticos;
Fig. 3.40. Aragonite
Clivagem e Fractura: clivagem prismática distinta; fractura conchoidal;

xl
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Dureza: baixa 3.5-4;


Densidade: baixa - 2.94;
Cor: incolor, branca, amarela, rosa, etc.;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: é luminescente; faz efervescência com os
ácidos.
d) Utilidade: como pedra decorativa.
e) Ocorrência: Alemanha, Áustria, Espanha, Namíbia, EUA. É o principal
constituinte das pérolas e da camada brilhante das conchas dos
moluscos. Em Moçambique não há jazigos de aragonite.
f) Origem do nome: da província espanhola de Aragão, onde foi
descoberta.

Outros carbonatos do tipo da Aragonite são: Estroncianite (BaCO3) e


Cerussite (PbCO3) (Fig. 3.41). Fig. 3.41. Cerussite

6.5.3. DOLOMITE
a) Sistema cristalográfico: trigonal
b) Composição química: Carbonato de Cálcio e Magnésio -
CaMg(CO3)2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente romboédrico (Fig. 3.42.A), de faces muitas vezes a)
curvas em forma de sela de cavalo (Fig. 42.B);
Clivagem e Fractura: clivagem romboédrica perfeita; fractura
conchoidal;
Dureza: baixa 3.5-4;
Densidade: baixa - 2.85;
Cor: normalmente rosa claro; incolor, branca, cinzenta, verde,
castanha ou negra;
Risca: branca; b)
Brilho: vítreo, por vezes nacarado; Fig. 3.42. Dolomite (a) romboédrica e
(b) em sela
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: faz efervescência com os ácidos a quente; é
luminescente;
d) Utilidade: como pedra decorativa ou material de construção.
e) Ocorrência: região do Tirol (entre a Itália e Suíça), Reino Unido e
México. Em Moçambique não há jazigos de dolomite.
g) Origem do nome: em honra do químico francês Dolomieu (1750-1801).

Outro carbonato do tipo da Dolomite é: Ankerite (CaFe(CO3)2) (Fig. 3.43).


Fig. 3.43. Ankerite

6.5.4. MALAQUITE e AZURITE


a) Sistema cristalográfico: monoclínico.
b) Composição química: Carbonatos Hidratados de Cobre - Malaquite:
Cu2CO3(OH)2; Azurite: Cu3(CO3)2(OH)2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: a Malaquite aparece normalmente em massas botrióides (Fig.
3.6.k), maciças ou granulares; a Azutrite aparece em cristais mal
formados (Fig. 3.44);
Clivagem e Fractura: clivagem prismática perfeita; fractura conchoidal
(ambos); Fig. 3.44. Azurite
Dureza: baixa 3.5-4 (ambos);

xli
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Densidade: média; malaquite: 3.9-4.03; azurite: 3.77;


Cor: malaquite: em tons de verde; azurite: em tons de azul escuro;
Risca: malaquite: em tons de verde; azurite: em tons de azul escuro;
Brilho: malaquite: adamantino a vítreo; azurite: vítreo;
Diafanidade: translúcido a opaco; por vezes são transparentes.
d) Utilidade: como pedra ornamental; ambos por vezes são utilizados para a extracção do cobre.
e) Ocorrência: Montes Urais (Rússia), Zâmbia, RD Congo, Namíbia. Em Moçambique ocorrem em pequenas
quantidades no jazigo de cobre de Mundongwara (Manica).
f) Origem do nome: o nome Malaquite vem o Grego malache = malva (planta); o nome Azurite vem da sua
cor azul.

6.6. NITRATOS e BORATOS


São minerais pouco comuns, pelo que não nos vamos debruçar muito
sobre eles. Os Nitratos são minerais que têm o grupo aniónico NO3, e
os Boratos o grupo BO3. Dos primeiros faz-se só referência ao Nitro
(KNO3 - Fig. 3.45.a) e dos segundos ao Bórax (Na2B4O5(OH)4.8H2O -
Fig. 3.45.b).
a)

6.7. SULFATOS e CROMATOS


São minerais em que o grupo aniónico está ocupado por SO4 e
CrO4. Ambos os grupos de minerais podem conter ou não água ou o grupo
OH na sua estrutura, e assim são classificados de hidratados ou anídricos.
Os sulfatos são minerais mais frequentes na Natureza que os cromatos. b)
Vejamos os mais importantes. Fig. 3.45. (a) Nitro; (b) Bórax.

6.7.1. GESSO
a) Sistema cristalográfico: monoclínico.
b) Composição química: Sulfato Hidratado de Cálcio - CaSO4.2H2O.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais tabulares (Fig. 3.46), às vezes geminados em forma de cauda de andorinha;
por vezes fibroso (Fig. 3.6.g);
Clivagem e Fractura: clivagem prismática perfeita, dando lâminas muito finas; fractura
conchoidal ou fibrosa;
Dureza: baixa - termo 2 da Escala de Mohs;
Densidade: baixa - 2.32;
Cor: incolor, podendo ser branca, cinzenta, amarela ou vermelha, consoante as impurezas;
Risca: branca;
Brilho: usualmente vítreo, podendo ser nacarado ou sedoso; Fig. 3.46. Gesso
Diafanidade: translúcido a transparente.
d) Utilidade: utilizado em fabrico do gesso de moldagem, ortopedia.
e) Ocorrência: EUA, Canadá, França, Japão e Irão. Em Moçambique ocorrem em pequenas quantidades em
várias zonas sedimentares do País.
f) Origem dos nome: do Grego Gypsos = gesso.

6.7.2. ANIDRITE
a) Sistema cristalográfico: ortorrômbico.
b) Composição química: Sulfato de Cálcio Anidro - CaSO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais raros; normalmente maciça, podendo ser fibrosa ou granular
(Fig. 3.47);
Clivagem e Fractura: clivagem prismática perfeita; Fig. 3.47. Anidrite
Dureza: baixa - 3-3.5;

xlii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Densidade: baixa - 2.89-2.98;


Cor: incolor, podendo ser azulado ou violeta;
Risca: branca;
Brilho: usualmente vítreo, podendo ser nacarado;
Diafanidade: translúcido.
d) Utilidade: utilizado condicionador de solos.
e) Ocorrência: Polónia, Áustria, Suiça. Em Moçambique ocorrem em pequenas quantidades em várias zonas
sedimentares do País.
f) Origem dos nome: do Grego Anhudros = sem água.

6.7.3. BARITE
a) Sistema cristalográfico: ortorrômbico.
b) Composição química: Sulfato de Bário Anidro - BaSO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais tabulares; (Fig. 3.48); Fig. 3.48. Barite
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita e prismática imperfeita;
fractura conchoidal;
Dureza: baixa - 3-3.5;
Densidade: média - 4.5;
Cor: incolor, podendo ser azulado, amarelado ou avermelhado;
Risca: branca; a
Brilho: usualmente vítreo, podendo ser nacarado;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilidade: a maior parte da barite é usada como lama lubrificante nas
perfurações para hidrocarbonetos; principal fonte de bário.
e) Ocorrência: Inglaterra, Roménia e Alemanha. b
f) Origem dos nome: do Grego barys = pesado, em alusão à sua alta
densidade.

6.7.4. OUTROS SULFATOS IMPORTANTES E CROMATO


c
Referimo-nos à Celestite (SrSO4), Anglesite (PbSO4) a Crocoíte Fig. 3.49. (a) Anglesite, (b) Celestite;
(PbCrO4) (Fig. 3.49). (c) Crocoíte

6.8. TUNGSTATOS (ou Volframatos) e MOLIBDATOS


São minerais em que o grupo aniónico está ocupado por WO4 e MoO4.

6.8.1. WOLFRAMITE
a) Sistema cristalográfico: monoclínico.
b) Composição química: Volframato de Ferro e Manganês - (Fe,Mn)WO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais em geral tabulares (Fig. 3.50);
Clivagem e Fractura: clivagem perfeita; fractura irregular;
Dureza: baixa - 4-4.5;
Densidade: alta - 7-7.5;
Cor: negra a castanha;
Risca: negra a castanha-escura; Fig. 4.50. Volframite

Brilho: sub-metálico a resinoso;


Diafanidade: translúcido a opaco.
d) Utilidade: principal minério de tungsténio (volfrâmio).

xliii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

e) Ocorrência: China, Rússia, Coreia, Tailândia e Austrália. Em Moçambique ocorre nos pegmatitos da
Zambézia.
f) Origem do nome: do Alemão Wolf = lobo + rahm = espuma. Pela formação de espuma durante a fusão
de minério de estanho com volfrâmio; wolf era o nome do estanho entre os alquimistas.

6.8.2. SCHEELITE
a) Sistema cristalográfico: tetragonal.
b) Composição química: Volframato de Cálcio - CaWO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais bipiramidais ou em massas granulares (Fig. 3.51);
Clivagem e Fractura: clivagem distinta;
Dureza: baixa - 4.5-5;
Densidade: alta - 5.9-6.1;
Cor: branca, amarela, verde, castanha;
Brilho: vítreo a adamantino; Fig. 3.51. Scheelite
Diafanidade: translúcido a transparente;
Outras propriedades: fluorescente em luz ultravioleta.
d) Utilidade: minério de tungsténio (volfrâmio).
e) Ocorrência: R. Checa, Alemanha, Reino Unido e Austrália. Em
Moçambique ocorre nos pegmatitos da Zambézia.
f) Origem do nome: do seu descobridor (alemão) K.W. Scheele.

Como exemplo de Molibdato, temos a Wulfenite (PbMoO4) (Fig. 3.52). Fig. 3.52. Wulfenite

6.9. FOSFATOS, ARSENATOS e VANADATOS


São minerais em que o grupo aniónico está ocupado por PO4, AsO4 e VO4. São numerosos os
minerais destes grupos, mas a sua ocorrência é limitada. Referiremos só a Apatite e a Monazite.

6.9.1. APATITE
a) Sistema cristalográfico: hexagonal.
b) Composição química: Fosfato Hidratado de Cálcio - Ca5(PO4)3(F,Cl,OH).
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais prismáticos (Fig. 3.53);
Clivagem e Fractura: clivagem pobre; fractura conchoidal;
Dureza: baixa - termo 5 da escala de Mohs;
Densidade: baixa - 3.15-3.2;
Cor: geralmente verde ou acastanhada, podendo ter outras cores;
Risca: branca;
Brilho: vítreo a sub-resinoso;
Diafanidade: translúcido a transparente.
d) Utilidade: usado para fertilizante; variedades transparentes usadas em joalharia.
Fig. 3.53. Apatite
e) Ocorrência: Noruega, Suécia, EUA, Canadá e África do Sul. Em Moçambique ocorre
no jazigo de Evate, Nampula.
f) Origem do nome: do Grego apate = desilusão. Pela confusão com várias pedras
preciosas.

xliv
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.2. MONAZITE
a) Sistema cristalográfico: monoclínico.
b) Composição química: Fosfato de Terras Raras - (Ce,La,Y,Th)PO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais raros; normalmente em massas irregulares (Fig. 3.54);
Clivagem e Fractura: clivagem pobre; fractura conchoidal;
Dureza: média - 5-5.5;
Fig. 3.54. Monazite
Densidade: média - 4.6-5.4;
Cor: geralmente verde ou acastanhada, podendo ter outras cores;
Risca: castanha amarelada a avermelhada;
Brilho: resinoso;
Diafanidade: translúcido;
Outras propriedades: radioactivo.
d) Utilidade: principal fonte de tório, para a energia nuclear
e) Ocorrência: Brasil, Índia e Austrália. Em Moçambique ocorre nos pegmatitos da Zambézia.
f) Origem do nome: do Grego monachos = isolado. Pela sua raridade.

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6.9. SILICATOS
A classe dos silicatos é de maior importância que
qualquer das outras classes de minerais, uma vez que 25% dos
minerais conhecidos e 40% dos mais comuns são silicatos. Como
se pode ver na Fig. 3.55, os silicatos constituem mais de 90% da
composição mineral média global da crusta oceânica e continental,
estando os óxidos e carbonatos em ordem subordinada.
O solo é constituído maioritariamente por silicatos; os
tijolos, a pedra, o cimento e o vidro usados na indústria de
construção ou são silicatos ou derivados deles. Até as amostras
colhidas nos solos lunar e marciano, bem com os meteoritos caídos
na Terra vindos do espaço mostram serem constituídos
maioritariamente por silicatos.
A unidade fundamental em que se baseia toda a estrutura
cristalina dos silicatos é o chamado tetraedro SiO4, em que quatro
2- 4+
iões O estão ligados a um Si , estando este no centro do tetraedro
e os oxigénios nos seus vértices (Fig. 3.56). Em muitas situações,
Fig. 3.55. Distribuição dos silicatos na crusta
um ião de oxigénio pertence a mais do que um tetraedro terrestre

Cada oxigénio do tetraedro (do Grego tetra = 4 +


hedros = face) pode ser compartilhado por um outro tetraedro,
dando origem a uma diversidade de configurações de redes
cristalinas. A Fig. 3.57. ilustra as maneiras como os tetraedros
Fig. 3.56. Representações esquemáticas do podem combinar-se entre si:
+
tetraedro SiO4
 Silicatos em que os tetraedros estão isolados na estrutura, e ligados entre si por catiões –
Nesossilicatos (do Grego nesos = ilha) (Fig. 3.57.a); unidade catiónica básica – SiO44-;
 Silicatos em que 2 tetraedros estão ligados entre si por um oxigénio, formando um par, e os pares
ligados entre si por catiões – Sorossilicatos (do Grego soro = juntar) (Fig. 3.57.b); unidade catiónica
básica – Si2O76-;Silicatos em que mais do que 2 tetraedros estão ligados em anel de 3, 4 ou 6 tetraedros
2x-
– Ciclossilicatos (do Grego Kyklos = círculo) (Fig. 3.57.c-e); unidade catiónica básica – Si xO3x ; anéis
6- 8- 12-
de 3 – Si 3O9 ; anéis de 4 – Si4O12 ; anéis de 6 – Si6O18 ;
 Silicatos em que os tetraedros se encontram dispostos em cadeias infinitas simples ou duplas –
4-
Inossilicatos(do Grego Inos = cordel) (Fig. 3.57.f-g); unidade catiónica básica – Si2O6 para as cadeias
6-
simples e Si 4O11 para as cadeias duplas;
 Silicatos em que 3 dos oxigénios dos tetraedros estão ligados entre si formando folhas planares –
2-
Filossilicatos (do Grego Phyllon = folha) (Fig. 3.57.h); unidade catiónica básica – Si2O5 ;
 Silicatos em que os 4 oxigénios são compartilhados por dois tetraedros, formando uma rede tridimensional –
0
Tectossilicatos (do Grego tecton = construção) (Fig. 3.57.i); unidade catiónica básica – SiO2 ;

a) b) c) d) e)

f)

i)
h)
g)

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Fig. 3.57. Estruturas dos diversos silicatos: a) Nesossilicato; b) Sorossilicato; c) Ciclossilicato (anel 3); d) idem (anel 4);

e) idem (anel 6); f) Inossilicato (cadeia simples); g) idem cadeia dupla; h) Filossilicato; i) Tectossilicato.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

De seguida passaremos a referir cada um destes grupos, com destaque para os principais minerais
constituintes da crusta.

6.9.1. NESOSSILICATOS

6.9.1.1. OLIVINA
a) Sistema cristalino: ortorrômbico.
b) Composição química: Silicato de Magnésio e Ferro – (Mg,Fe)2SiO4; a olivina é
geralmente uma solução sólida em que o Fe e o Mg se intersubstituem em proporções
que vão do componente ferroso puro (Fe2SiO4 – Faialie) ao magnesiano puro (Mg2SiO4
– Forsterite).
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente aparece em massas granulares de cristais minúsculos (Fig. 3.58); Fig. 3.58. Olivina
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal;
Cor: geralmente verde-azeitona, podendo tornar-se mais acastanhada com o aumento do teor em ferro;
Brilho: vítreo;
Dureza: alta – 6.5-7;
Densidade: baixa: 3.27-4.37;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilização: fabrico de tijolos e materiais refractários; as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique não há jazigos de olivina; ocorre numa série de rochas como mineral essencial.
f) Origem do nome: da sua cor verde-azeitona, também chamado verde-oliva.

6.9.1.2. GRANADAS
a) Sistema cristalino: cúbico.
b) Composição química: Silicatos de vários catiões; a fórmula química geral pode ser expressa por
A3B2(SiO4)3, em que A aloja Ca, Mg, Fe2+ ou Mn2+ e B aloja Al, Fe3+ e Cr3+. A Tabela 3.1 dá uma ideia
das variedades de granadas que existem e a respectiva composição química:
Tab. 3.1. Espécies de Granadas
Espécie Composição química Cor
Piropo Mg3Al2Si3O12 Vermelho escuro a negro
Almandina Fe3Al2Si3O12 Vermelho escuro a acastanhado
Espessartina Mn3Al2Si3O12 Castanho a vermelho
Grossulária Ca3Al2Si3O12 Branco, verde, amarelo, castanho ou vermelho pálido
Andradite Ca3Fe2Si3O12 Amarelo, verde, castanho a negro
Uvarovite Ca3Cr2Si3O 12 Verde esmeralda
Algumas destas espécies ainda têm variedades em função da cor e da transparência.
c) Propriedades físicas:
Como se pode concluir da tabela anterior, as propriedades físicas
das granadas não são fixas para o grupo, mas para cada um dos seus
membros; contudo, algumas coisas de comum existem nessas propriedades. a)
Hábito: normalmente aparece em cristais octaédricos e/ou dodecaédricos; também em
massas granulares de cristais pequenos (Fig. 3.59);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal;
Cor: ver tabela anterior;
Risca: branca;
Brilho: vítreo a resinoso;
b)
Dureza: alta – 6.5-7.5; Fig. 3.59. a)
Densidade: baixa: 3.5-4.3; Almandina; b)
Diafanidade: transparente a translúcido. Grossulária
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema; devido à sua dureza utilizada como abrasivo.
e) Ocorrência: em Moçambique há importantes jazigos de granada em Cuamba, Niassa. A nível mundial, são
inúmeras as localidades onde a granada-gema ocorre: Arizona (EUA), R. Checa, Sri Lanka, Brasil e Rússia.
f) Origem do nome: do Latim Granatus = parecido com grão.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.1.3. OUTROS NESOSSILICATOS IMPORTANTES


Zircão (ZrSiO4), Distena-Silimanite-Andalusite (polimorfos de Al 2SiO5), Topázio (Al 2SiO4(F,OH)2) – Fig. 3.60.

a)

b) c)
Fig. 3.60. Outros Nesossilicatos importantes: a) Distena; b) Andaluzite; c) Topázio.

6.9.2. SOROSSILICATOS

6.9.2.1. EPÍDOTO
a) Sistema cristalino: monoclínico.
b) Composição química: Alumossilicato Hidratado de Cálcio –
Ca2(Al,Fe)Al2O(SiO4)(Si2O7)(OH).
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático; normalmente aparece em massas granulares (Fig. 3.61);
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita; a fractura é conchoidal;
Cor: verde, verde-amarelado a negro; Fig. 3.61. Epídoto
Risca: cinzenta;
Brilho: vítreo;
Dureza: alta – 6-7;
Densidade: baixa: 3.25-3.45;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique não há jazigos de epídoto, mas ela ocorre numa série de rochas como
mineral essencial. As zonas onde ocorre como gema são Áustria, Franca, Itália e EUA.
f) Origem do nome: do Grego Epidosis = aumento, por uma das faces do prisma ser maior que as outras.

6.9.3. CICLOSSILICATOS

6.9.3.1. TURMALINA
a) Sistema cristalino: trigonal.
b) Composição química: Borossilicato Hidratado de catiões vários; fórmula química muito complexa –
(Na,Ca)(Li,Mg,Al)3(Al,Fe,Mn)6(BO3)3(Si6O18)(OH)4.
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático nítido, muitas vezes alongado; cristais bem visíveis (Fig. 3.62), de faces estriadas;

Fig. 3.62. Várias turmalinas de Moçambique

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Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal;


Cor: variada, consoante a composição; várias cores no mesmo cristal; a Tab. 3.2. mostra as variedades
de turmalina em função da sua cor:
Tab. 3.2. Espécies de Turmalinas
Cor Nome Cor Nome
Negra Schorlite Vermelho/rosa Rubelite
Castanha Dravite Azul Indicolite
Verde Verdelite Branca/incolor Acroíte
Verde claro Elbaíte Zonada verde/vermelho Melancia
Risca: branca;
Brilho: vítreo a resinoso;
Dureza: alta – 7-7.5;
Densidade: baixa: 3-3.25;
Diafanidade: transparente a translúcido ou mesmo opaco;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique a turmalina ocorre em numerosos jazigos nas províncias da Zambézia e
Nampula. Os jazigos mais importantes são: Muiane, Namacotche, Niane, Naípa, etc. Outros países com
jazigos de turmalina são Itália, Brasil, Rússia e Madagáscar.
f) Origem do nome: do Cingalês turamali, nome dado a este mineral no Sri Lanka.

6.9.3.2. BERILO
a) Sistema cristalino: hexagonal.
b) Composição química: Silicato de Berílio – Be3Al2 (Si6O18).
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático nítido (Fig. 3.63);
Clivagem e Fractura: clivagem basal imperfeita; a fractura conchoidal;
Cor: variada, consoante as impurezas; a Tab. 3.3 mostra as variedades de berilo em função da cor:
Tab. 3.3. Espécies de Berilos
Cor Nome Cor Nome Cor Nome
Azul Água-marinha Rosa Morganite Negro Berilo Negro
Verde Esmeralda Amarelo Heliodoro Incolor Goshenite
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Dureza: alta – 7.5-8;
Densidade: baixa: 2.65-2.8;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como
gema; é a maior fonte de berílio, usado para ligas de
cobre.
e) Ocorrência: em Moçambique o berilo ocorre em
numerosos jazigos nas províncias da Zambézia e
Água-marinha
Nampula. Os jazigos mais importantes são: Muiane,
Namacotche, Niane, Naípa, etc. Outros países com jazigos
de berilo são Brasil, Rússia, Madagáscar e Namíbia. Morganite
f) Origem do nome: do Latim Beryllus = berilo. Esmeralda
Fig. 3.63. Vários Berilos

l
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.4. INOSSILICATOS

6.9.4.1. PIROXENAS
É um conjunto de inossilicatos de cadeia simples, de fórmula geral XYZ2O6, em que:
2+ 2+ +
- X = Na+, Ca2+, Mn , Fe e Li
2+ 2+ 2+ 3+ 3+ 3+ 4+
- Y = Mn , Fe , Mg , Fe , Al , Cr e Ti
4+ 3+
- Z = Si e Al
Como se pode ver, a composição química é extremamente variada e, consequentemente,
a estrutura cristalina também varia, levando a que as piroxenas pertençam a dois
sistemas cristalinos – ortorrômbico e monoclínico. São minerais muito comuns em muitas
das rochas da crusta terrestre.
a) Sistema cristalino: ortorrômbico ou monoclínico.
b) Composição química: Silicatos de catiões vários; fórmula química muito complexa (ver acima).
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático nítido (Fig. 3.64);
Clivagem e Fractura: dois planos de clivagem prismática quase perpendiculares entre si (Fig. 3.65);
Cor: variada, consoante a composição; a Tab. 3.4. mostra as variedades de piroxena em função da sua
cor e sistema cristalino:
Tab. 3.4. Espécies de Piroxenas
Nome Cor Composição S. Cristalino
Enstatite Castanho a MgSiO3 Ortorrômbico
Ferrossilite verde-oliva FeSiO 3 Ortorrômbico
Pigeonite Castanho a negro Ca0.25(Mg,Fe)1.75Si2O6 Monoclínico
Diópside Verde CaMgSi2O 6 Monoclínico
Hedenbergite Branco CaFeSi2O6 Monoclínico
Augite Negro XY(Z2O6) Monoclínico
Jadeíte Verde a branca NaAlSi2O6 Monoclínico
3+
Aegirina Castanho a verde Nae Si2O 6 Monoclínico
Espodumena Branco, cinzento, rosa, amarelo, verde LiAlSi2O6 Monoclínico

Aegirina Augite Diópside Hedenbergite


Fig. 3.65. Clivagem das
Fig. 3.64. Tipos de Piroxenas piroxenas em secção basal
Risca: branca;
Brilho: vítreo a resinoso;
Dureza: alta – 7-7.5;
Densidade: baixa: 3-3.25;
Diafanidade: transparente a translúcido ou mesmo opaco;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique as piroxenas estão espalhadas por uma série de rochas. Nos pegmatitos
da Zambézia ocorrem espodumenas rosas e verdes que são usadas como gemas.
f) Origem do nome: do Grego Pyros = fogo + Xenos = estranho, por se pensar que só raramente aparecia
nas rochas ígneas.

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6.9.4.2. ANFÍBOLAS
É um conjunto de inossilicatos de cadeia dupla de fórmula geral W0-1X2Y5Z8O22(OH,F)2, em que:
- W = Na+ e K+
2+ 2+ 2+ +
- X = Na+, Ca2+, Mn , Fe , Mg e Li
2+ 2+ 2+ 3+ 3+ 4+
- Y = Mn , Fe , Mg , Fe , Al e Ti
4+ 3+
- Z = Si e Al
Como se pode ver, do mesmo modo que as piroxenas, a composição química é extremamente variada e,
consequentemente, a estrutura cristalina também varia, levando a que as anfíbolas pertençam a dois sistemas
cristalinos – ortorrômbico e monoclínico. São minerais muito comuns em muitas das rochas da crusta terrestre.
a) Sistema cristalino: ortorrômbico ou monoclínico.
b) Composição química: Silicatos de catiões vários; fórmula química muito complexa (ver acima).
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático nítido (Fig. 3.66);
Clivagem e Fractura: dois planos de clivagem prismática com ângulos de quase 60° entre si (Fig. 3.67);
Cor: variada, consoante a composição; a Tab. 3.5. mostra algumas das variedades de anfíbola em
função da sua cor e sistema cristalino.
Tab. 3.5. Espécies de Anfíbolas
Nome Cor Composição S. Cristalino
Antofilite Cinzento a esverdeado (Mg,Fe)7SiO8O22(OH)2 Ortorrômbico
Tremolite Branco Ca2Mg5SiO8O22(OH)2 Monoclínico
Actinolite Verde Ca2(Mg,Fe) 5SiO8O22(OH)2 Monoclínico
Hornblenda Verde escuro a negro (Ca,Na)2-3(Mg,Fe,Al)5Si6(Si,Al)2O22(OH)2 Monoclínico
Riebeckite Azul Na2Fe2+3 Fe3+ 2Si8O22(OH) 2 Monoclínico

Actinolite Hornblendas
Fig. 3.66. Tipos de Anfíbolas Fig. 3.67. Clivagem basal das anfíbolas
Risca: branca;
Brilho: vítreo a resinoso;
Dureza: alta – 7-7.5;
Densidade: baixa: 3-3.25;
Diafanidade: transparente a translúcido ou mesmo opaco;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique as anfíbolass estão espalhadas por uma série de rochas.
f) Origem do nome: do Grego Anphibolos = ambíguo, por se assemelharem a outros minerais.

6.9.5. FILOSSILICATOS
Os Filossilicatos são um grupo de minerais em que a maioria dos seus membros têm um aspecto
achatado com uma clivagem dominante (basal). São geralmente moles, de baixa densidade e podem
apresentar flexibilidade ou elasticidade das lâminas resultantes da clivagem. Os Filossilicatos constituem
uma grupo importante de minerais que ocorrem na crusta, e podem ser divididos em vários grupos, a saber:
a) Grupo da Serpentina
b) Grupo das Argilas
c) Grupo das Micas
d) Grupo da Clorite
Destes grupos vamos referir só alguns minerais que estão presentes em enorme número de
rochas: micas e argilas.

lii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.5.1. MICAS
As micas cristalizam no sistema monoclínico. Os cristais são usualmente tabulares e geralmente
têm forma hexagonal, com uma clivagem basal nítida e perfeita.

6.9.5.1.1. MOSCOVITE
a) Sistema cristalino: monoclínico.
b) Composição química: Alumossilicato Hidratado de Potássio e Alumínio –
KAl2(AlSi3O10)(OH)2.
c) Propriedades físicas:
Hábito: tabular (Fig. 3.68); também aparece criptocristalina e maciça;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeitíssima; Fig. 3.68. Moscovite
Cor: incolor, a amarela, castanha, verde ou avermelhada;
Risca: branca;
Brilho: vítreo a sedoso ou nacarado;
Dureza: baixa – 2-2.5;
Densidade: baixa: 2.76-2.88;
Diafanidade: translúcido a transparente;
Outras propriedades: flexível e elástica.
d) Utilização: material isolador em aparelhos eléctricos; lubrificante misturada com óleos; material antipirético.
e) Ocorrência: em Moçambique a moscovite ocorre em numerosas rochas e em jazigos nos pegmatitos do
norte de Moçambique. As zonas onde ocorre são Rússia e Índia.
f) Origem do nome: da sua utilização como vidro na Rússia antiga (Muscovy).

6.9.5.1.2. BIOTITE
a) Sistema cristalino: monoclínico.
b) Composição química: Alumossilicato Hidratado de Potássio e Ferro e
Magnésio– K(Mg,Fe)3(AlSi3O10)(OH)2.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente em massas irregulares foliadas (Fig. 3.69);
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeitíssima;
Cor: geralmente verde escura, castanha ou negra;
Risca: branca; Fig. 3.69. Biotite
Brilho: vítreo;
Dureza: baixa –2.5-3;
Densidade: baixa: 2.8-3.2;
Diafanidade: translúcido a transparente;
Outras propriedades: flexível e elástica.
d) Utilização: material isolador no fabrico de aparelhos eléctricos; como lubrificante misturada com óleos;
material antipirético.
e) Ocorrência: em Moçambique a biotite ocorre em numerosas rochas e em jazigos nos pegmatitos do
norte de Moçambique.
f) Origem do nome: em honra do físico francês J.B. Biot.

6.9.5.1.3. OUTRAS MICAS IMPORTANTES


Flogopite [KMg3(AlSi3O10)(OH)2],
Lepidolite [K(Li,Al)2-3(AlSi3O10)(O,OH,F)2] e
Margarite [(CaAl2(Al2Si2O10)(OH)2] (Fig. 70). Flogopite
Lepidolite
Fig. 3.70. Outras micas importantes

liii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.5.2. ARGILAS
O termo argilas envolve um grupo de minerais compostos principalmente de grãos muito finos, e
que são geralmente plásticos com um determinado conteúdo de água e que endurecem quando secados ou
aquecidos. Em termos químicos são alumossilicatos hidratados. Aparecem normalmente misturados com
quartzo, feldspato, micas e carbonatos.

6.9.5.2.1. CAULINITE ou CAULINO


a) Sistema cristalino: triclínico.
b) Composição química: Silicato Hidratado de Alumínio – Al2Si2O5(OH)4.
c) Propriedades físicas:
Hábito: geralmente em massas compactas ou friáveis (Fig. 3.71); material
criptocristalino;
a)
Clivagem e Fractura: fractura terrosa; clivagem basal só visível ao microscópio;
Cor: branca;
Risca: branca;
Brilho: terroso;
Dureza: baixa – 2;
b)
Densidade: baixa: 2.6;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: plástico e untuoso ao tecto.
d) Utilização: material de construção, cerâmica; branqueador do papel, etc.
e) Ocorrência: em Moçambique o caulino ocorre em numerosas rochas e em
jazigos nos pegmatitos do norte de Moçambique. Ocorrem em
praticamente todos os países do mundo.
c)
f) Origem do nome: do Chinês kau-ling = crista alta, e nome duma colina Fig. 3.71. Caulino (a) puro e (b)
onde o material é colhido. impuro; (c) Microscristais

6.9.5.2.2. OUTROS MINERAIS DE ARGILAS


Dickite, Halloysite, Smectite, Montmorilonite, Vermiculite e
Illite (todos do grupo do Caulino), Talco (Fig. 3.72).

6.9.5.3. OUTROS FILOSSILICATOS COMUNS


Há a referir a Serpentina [Mg3Si2O5(OH)4] (Fig. 3.73) e a Fig. 3.73. Serpentina
Fig. 3.72. Talco
Clorite [(Mg,Fe)3(SiAl4)O10(OH)2(Mg,Fe)3(OH)6].

6.9.6. TECTOSSILICATOS
Cerca de 64% da crusta da Terra são constituídos por Tectossilicatos, em que todos os Oxigénios
dos tetraedros SiO4 estão compartilhados com os tetraedros adjacentes, resultando numa estrutura muito
estável. Há muitos tipos de tectossilicatos consoante o arranjo estrutural. Referiremos apenas os grupos da
Sílica (SiO2) e dos Feldspatos. Faremos depois breve referência a outros tipos de tectossilicatos.

6.9.6.1. GRUPO DA SÍLICA


O grupo da sílica é um conjunto de minerais compostos única e exclusivamente por óxido de silício
(SiO2), havendo, contudo, alguns que têm moléculas de água na sua estrutura (SiO2.nH2O). São, portanto,
minerais polimorfos da sílica. A título de curiosidade, a Tab. 3.6 mostra os vários polimorfos da SiO2 e
respectivos sistemas cristalinos.
Tabela 3.6. Polimorfos da Sílica
Espécie Sistema Densidade Espécie Sistema Densidade
Quartzo  Trigonal 2.65 Tridimite  Monoclínico 2.26
Quartzo  Hexagonal 2.53 Tridimite  Hexagonal 2.22
Stishovite Tetragonal 4.35 Cristoblaite  Tetragonal 2.32
Coesite Monoclínico 3.01 Cristobalite  Cúbico 2.20
2
Keatite (sintético) Tetragonal 2.50 Opala Amorfo 2.0-2.25
1 2
Polimorfo mais frequente Variedade hidratada

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6.9.6.1.1. QUARTZO
a) Sistema cristalino: tetragonal (variedade ) e hexagonal (variedade ).
b) Composição química: Óxido de Silício – SiO2.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente prismático de faces estriadas, terminando com pirâmides em ambas as
extremidades do prisma (Fig. 3.1.c); ocorre em cristais isolados ou em agregados de vários cristais;
muitas vezes em drusas e geodes ou em agregados micro- e criptocristalinos;
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; fractura conchoidal nítida, semelhante à do vidro;
Cor: geralmente incolor ou branca; frequentemente colorido devido a impurezas, podendo ter qualquer cor;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Dureza: alta – termo 7 da Escala de Mohs;
Densidade: baixa: 2.65;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Variedades:
O quartzo ocorre em inúmeras variedades, desde as cristalinas às microcristalinas.
i) Variedades Cristalinas
Cristal de Rocha: incolor (Fig. 3.74);
Ametista: roxo-violeta (Fig. 3.75);
Quartzo Róseo: geralmente não aparece em cristal, mas em massas de cor rosa (Fig. 3.76);
Quartzo Vermelho: de cor vermelha (Fig. 3.77);
Quartzo Fumado: de cor castanha a negra (Fig. 3.78);
Quartzo Citrino: de cor amarela;
Quartzo Azul: de cor azul (Fig. 3.79);
Quartzo Leitoso: de cor branca de leite;
Quartzo com inclusões: cristais de quartzo com inclusões de vários minerais (Fig. 3.80);
Olho de Tigre: pseudomorfose de quartzo depois de anfíbola (Fig. 3.81);

Fig. 3.74. Cristal de Rocha Fig. 3.75. Quartzo Ametista Fig. 3.76. Quartzo Róseo Fig. 3.77. Quartzo Vermelho

Fig. 3.78. Quartzo Fumado Fig. 3.79. Quartzo Azul Fig. 3.80. Quartzo c/ Inclusões Fig. 3.81. Olho de Tigre

ii) Variedades criptocristalinas


Calcedónia: geralmente castanha, cinzenta, ou avermelhada (Fig. 3.82);
Ágata: calcedónia mostrando camadas concêntricas de várias cores, geralmente encurvadas (Fig. 3.83);
Ónix: ágata com camadas em planos paralelos (Fig. 3.84);
Jaspe: de cor vermelha, devido a inclusões de hematite (Fig. 3.85);
Aventurina: calcedónia verde (Fig. 3.86).

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 3.82. Calcedónia Fig. 3.83. Ágatas

Fig. 3.87. Tridimite


Fig. 3.84. Ónix Fig. 3.85. Jaspe Fig. 3.86. Aventurina

e) Utilização: usado como gema; como constituinte fundamental de muitas areias, é usado na construção
(betão, cimento), no fabrico do vidro, de lixas; rochas constituídas só por quartzo são usadas como pedra
de construção; devido à sua pureza é usado em muitos instrumentos ópticos (lentes); a propriedade
piezoeléctrica tem aplicação em instrumentos de alta precisão: rádio-osciladores, relógios, etc.
f) Ocorrência: em Moçambique o quartzo ocorre em numerosas rochas e em jazigos nos pegmatitos do
norte de Moçambique. Ocorre em todos os países do mundo.
g) Origem do nome: do Alemão quartz.
h) Polimorfos de SiO2: Cristobalite, Tridimite (Fig. 3.87), Stishovite, etc. (Tab. 3.6).

6.9.6.1.1. OPALA
a) Sistema cristalino: amorfa.
b) Composição química: Óxido Hidratado de Silício – SiO2. nH2O.
c) Propriedades físicas:
Hábito: geralmente maciça, botrióide (Fig. 3.88);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; fractura conchoidal nítida;
Cor: incolor, branca; frequentemente colorido devido a impurezas,
podendo ter qualquer cor;
Risca: branca;
Brilho: vítreo; Fig. 3.88. Opala
Dureza: média – 5-6;
Densidade: baixa: 2.0-2.25;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: por vezes fluorescente.
d) Utilização: usado como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique não há jazigos de opala. Ocorre em: Hungria, México, Austrália, Brasil e EUA.
f) Origem do nome: do Sânscrito upala = pedra preciosa.

6.9.6.2. GRUPO DOS FELDSPATOS


O grupo dos feldspatos é um conjunto de minerais cuja composição química é de alumossilicatos
dos elementos sódio (Na), potássio (K) ou cálcio (Ca), elementos estes que se intersubstituem entre si
dando minerais de composição mista. A intersubstitução pode ser de 0-100% entre o feldspato de Na e o de
K, constituindo os feldspatos alcalinos, o mesmo acontece entre o feldspato de Na e Ca, dando origem ao
grupo das plagioclases. O mesmo não acontece entre o K e o Ca. Assim, os termos extremos são:
a) feldspato de potássio: Ortoclase - KAlSi 3O8;
b) feldspato de sódio: Albite - NaAlSi 3O8;
c) feldspato de cálcio: Anortite - CaAl2Si2O8;
Os feldspatos são minerais que ocorrem em quase todas as rochas em todo o mundo.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.6.2.1. ORTOCLASE
a) Sistema cristalino: monoclínico.
b) Composição química: Alumossilicato de Potássio – KAlSi3O8.
c) Propriedades físicas:
Hábito: geralmente prismático; maciça (Fig. 3.89);
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita e prismática imperfeita;
Cor: incolor, branca, cinzenta, raramente verde ou amarela;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Dureza: média – termo 6 da Escala de Mohs;
Densidade: baixa: 2.57; Fig. 3.89. Ortoclase
Diafanidade: opaco a translúcido;
d) Variedades: Adulária (incolor).
e) Utilização: por vezes usado como gema; normalmente usado na indústria da cerâmica e do vidro.
f) Ocorrência: em Moçambique há grandes ocorrências de feldspatos nos pegmatitos do norte de
Moçambique, em especial Zambézia e Nampula.
g) Origem do nome: do Grego orthos = direito + klasis = fractura, por terem clivagens em ângulo recto.

6.9.6.2.2. MICROCLINA
a) Sistema cristalino: triclínico; polimorfo da ortoclase.
b) Composição química: Alumossilicato de Potássio – KAlSi3O8.
c) Propriedades físicas:
Hábito: idêntico ao da ortoclase;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita e prismática imperfeita;
Cor: branca a amarela clara; raramente verde;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Dureza: média – 6;
Densidade: baixa: 2.54-2.57;
Diafanidade: opaco a translúcido.
d) Variedades: Amazonite (verde) - Fig. 3.90.
e) Utilização: por vezes usado como gema; normalmente usado na indústria da
cerâmica e do vidro. Fig. 3.90. Amazonite

f) Ocorrência: em Moçambique há grandes ocorrências de feldspatos nos pegmatitos do norte de


Moçambique, em especial Zambézia e Nampula.
g) Origem do nome: do Grego micro = direito + clino = inclinação, por terem clivagens em ângulo próximo
de recto.

6.9.6.2.3. ALBITE-ANORTITE
a) Sistema cristalino: triclínico.
b) Composição química: Alumossilicatos de Sódio e Cálcio – NaAlSi3O8 (albite)
(Fig. 3.91) e CaAl2Si2O8 (anortite) (Fig. 3.92).
c) Propriedades físicas:
Hábito: geralmente tabular, por vezes prismáticos; Fig. 3.91. Albite
Clivagem e Fractura: clivagem basal imperfeita perfeita e prismática perfeita;
Cor: geralmente branca; pode ser amarela clara ou cinzenta verde; a Anortite é
mais escura que a Albite;
Risca: branca; Brilho: vítreo; Dureza: média – 6;
Densidade: baixa: 2.62; Diafanidade: opaco a translúcido.
d) Variedades: consoante a percentagem de Na e Ca, as variedades são (das mais
ricas em Na para as mais ricas em Ca): Oligoclase, Andesina, Labradorite (Fig.
3.93), Bytownite. Fig. 3.92. Anortite

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

e) Utilização: por vezes usado na indústria do vidro.


f) Ocorrência: em Moçambique há grandes ocorrências de feldspatos nos
pegmatitos do norte de Moçambique, em especial Zambézia e Nampula.
g) Origem do nome: Albite: do Latim albus = branco; Anortite: do Grego
anorthos = oblíquo.
Fig. 3.93. Labradorite

6.9.6.3. OUTROS TECTOSSILICATOS


Há outros 3 grupos de tectossilicatos, os mais importantes dos quais são: Feldspatóides e Zeólitos.
Os Feldspatóides derivam o seu nome por serem muito parecidos com os feldspatos, sendo a
diferença no conteúdo de SiO2 (cerca de 27% do conteúdo dos feldspatos). Como exemplos citamos a
Leucite (KAlSi2O6) (Fig. 3.94), Nefelina ((Na,K)AlSiO4), Sodalite (Na8(AlSiO4)6Cl 2) (Fig. 3.95).
Os Zeólitos constituem um grupo de silicatos hidratados e têm a característica de fundir facilmente
(daí o seu nome: do Grego zeo = ferver + lithos = pedra). Alguns exemplos são: Cabazite
(Ca2Al 2Si 4O12.6H2O) (Fig. 3.96) e Estilbite (NaCa2Al 5Si 13O36.14H2O) (Fig. 3.97).
Há ainda outro grupo de tectossilicatos, menos importante, o Grupo da Escapolite, de que o mais
importante é a Analcima (NaAlSi 2O6.H2O) (Fig. 3.98).

Fig. 3.94. Leucite Fig. 3.95. Sodalite Fig. 3.96. Cabazite

Fig. 3.97. Estilbite Fig. 3.98. Analcima

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Grafite
Ilmenite
Cassiterite
Cobre Galena Pirite
Magnetite

Enxofre

Ouro Hematite Columbo-Tantalite


Diamante Calcopirite Pirite
Rútilo
ELEMENTOS NATIVOS SULFURETOS ÓXIDOS

Aragonite
Calcite
Halite
Volframite

Borax Apatite
Dolomite

Fluorite Gesso
Anidrite
Azurite
Malaquite Barite Monazite
Scheelite
HALOGENETOS CARBONATOS BORATOS e SULFATOS TUNGSTATOS FOSFATOS

Moscovite

Biotite
Granada
Piroxena
Berilo
Olivina
Caulino
Epídoto Turmalina
Anfíbola
NESO- e SOROSSILICATOS CICLOSSILICATOS INOSSILICATOS FILOSSILICATOS

Feldspatos
Quartzo
TECTOSSILICATOS
Fig. 3.99. Alguns exemplos de formas de cristais dos vários minerais estudados

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 4: GEODINÂMICA INTERNA. ROCHAS ÍGNEAS E


METAMÓRFICAS

2. INTRODUÇÃO
No capítulo anterior estudámos os minerais e vimos que eles têm uma composição química bem
definida ou variando dentro de certos limites.
Para os geólogos, uma Rocha é qualquer massa de matéria mineral, consolidada ou não, que
forma parte da crusta, podendo ser constituída por uma espécie mineral (monominerálica) ou por um
agregado de várias espécies minerais (poliminerálica). O conceito de rocha dos engenheiros é de algo duro,
consolidado, que tem de ser removido por explosões. Este conceito também é o conceito que o vulgar
cidadão tem de rocha.
Se olharmos para as rochas, vemos que elas são constituídas por uma série de
partículas de cor, granulometria, forma, brilho diferentes, constituídas pelos diversos
minerais que a compõem. Se olharmos para uma imagem aumentada de areia (Fig. 4.1)
vemos a existência de inúmeros grãos soltos de cor e tamanhos diferentes. Estamos em
presença duma rocha não consolidada. Mas se olharmos para as várias imagens da Fig.
4.2, de várias rochas consolidadas, vemos que elas podem ter cores diferentes, estruturas
diferentes, composições diferentes, etc., etc. Assim, a Fig. 4.2.a mostra uma rocha
granular, praticamente monominerálica (quartzo); a Fig. 4.2.b. mostra uma rocha que
aparenta ter estado sujeita a forças compressivas, apresentando pedaços partidos. Por
seu lado, a Fig. 4.2.c, mostra uma rocha com pedaços de conchas. Estes são só 3
exemplos, de rochas consolidadas.

a) b) c)

Fig. 4.1. Areia: Rocha não


Fig. 4.2. Rochas consolidadas
consolidada

Muitos dos registos do passado da Terra e dos


processos por que ela passou estão nas rochas; por
isso, é útil estar-se familiarizado com alguns dos tipos
mais abundantes de rochas e compreender, no geral,
como as rochas são classificadas.
Duas características - composição e textura - são usadas
Fig. 4.3. Rocha vista ao microscópio
para a identificação das rochas e para a sua classificação. A
composição determina-se avaliando quais os minerais mais
abundantes que ela tem e em que proporções. A textura refere-se ao
aspecto geométrico dos componente minerais, seu tamanho, forma e
arranjo espacial. Por vezes a textura é tão fina que essa identificação
é impossível à vista desarmada, sendo necessário observar ao
microscópio. A Fig. 4.3 dá exemplo duma rocha vista ao microscópio.

3. O CICLO DAS ROCHAS


Se bem que possam parecer de carácter permanente, as rochas que constituem a crusta terrestre
estão constantemente a ser alteradas. O sistema complexo dos processos naturais através dos quais as
rochas passam chama-se ciclo das rochas (Fig. 4.4).

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Como se sabe, por cima da crusta assentam os oceanos, os lagos, os rios e outros corpos de
água, e, por cima ainda, a atmosfera. A zona de contacto entre a crusta e água+ar é uma região de intensa
actividade, onde ocorre a erosão, processos de alteração das rochas superficiais por acção do ar+água.
A erosão continuamente desagrega as rochas e faz movimentar as partículas resultantes dum
lugar para o outro. Como resultado, a crusta está coberta por uma camada de material solto. A maioria dos
animais e plantas vivem nesta camada ou perto da zona do interface água+ar.

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Por uma questão


prática, é conveniente
considerar a água, o ar, a
matéria viva e a cobertura
de material solto como
camadas, análogas às
camadas internas. Estas
camadas são a hidrosfera
(água),a atmosfera (ar), a
biosfera (seres vivos) e o
rególito (camada de
Fig. 4.4. O Ciclo das Rochas
material solto).
As rochas que
constituem a crusta
terrestre podem ser
divididas em três grandes
grupos:
a) Rochas Ígneas,
b) Rochas Sedimentares
c) Rochas Metamórficas.

As rochas ígneas provêm da solidificação do material rochoso em fusão (magma) que se formou
no interior da terra.
As rochas sedimentares provêm da consolidação de sedimentos transportados pelas águas, gelo
ou ar e que se acumularam à superfície da terra, tanto em terra seca como em meio aquático.
As rochas metamórficas são rochas que se originam a partir doutras rochas
(ígneas, sedimentares ou mesmo metamórficas) por acção da pressão e temperatura.
Voltando à Fig. 4.4. As rochas ígneas formam-se a partir do arrefecimento e cristalização do
magma à medida que este migra em direcção à superfície da Terra. Se o processo de cristalização ocorre
perto da ou à superfície, as rochas que se formam chamam-se rochas ígneas extrusivas (a expressão
mais clara deste processo são as erupções vulcânicas). As rochas ígneas intrusivas são rochas que se
formam no interior da Litosfera. As rochas ígneas intrusivas podem ser trazidas à superfície por processos
de desnudação (erosão) ou tectónicos (movimentos no interior da crusta), ambos os processos acabando
numa subida das rochas e sua exposição à superfície.
Todas as rochas podem ser física e quimicamente decompostas, degradadas e alteradas por uma
série de processos (físicos e químicos) chamados de meteorização. Os detritos resultantes desta meteorização
podem ser transportados através da superfície pelos processos erosivos através dos rios, glaciares, vento e
gravidade. Quando estes detritos são depositados como sedimentos permanentes, os processos de
soterramento, compressão e alteração química podem modificar estes materiais, transformando-os de material
solto em material consolidado (litificação) dando origem às rochas sedimentares.
À medida que o soterramento progride, estas rochas vão atingindo zonas cada vez mais quentes e
sujeitas a pressões cada vez maiores, dando origem a alterações químicas e físicas profundas. As rochas
assim originadas são as rochas metamórficas.
O contínuo aumento da temperatura e da pressão pode afectar tanto as rochas sedimentares
como as ígneas. Por outro lado, rochas metamórficas podem ser sujeitas a temperaturas e pressões ainda
maiores, dando origem a outras rochas metamórficas. Ou sejam, as rochas que se encontram à superfície
da Terra (ígneas, sedimentares e metamórficas) podem voltar ao interior da Terra através das chamadas
zonas de subducção. Sabemos que nestas zonas (Tema 2, Fig. 2.1) as rochas tornam a fundir, dando
origem a novo magma que, por seu lado, pode consolidar em profundidade ou ascender à superfície.

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4. GEODINÂMICA INTERNA
A Geodinâmica é o estudo da composição, estrutura e fenómenos genéticos formadores da crusta
terrestre, bem como o conjunto de fenómenos que actuam não só à superfície como no interior do globo. Há
duas formas de energia que actuam sobre o globo, agindo independentemente, mas havendo efeitos
recíprocos entre ambas:
a) energia solar que age directa ou indirectamente esculpindo a superfície, a qual é
constantemente modificada pela acção do ar e da água - é a Geodinâmica Externa;
b) energia do interior da terra, provocando modificações químicas, físicas e estruturais dos
constituintes rochosos - é a Geodinâmica Interna; refere-se, portanto, aos processos que
ocorrem na crusta por acção da energia proveniente do interior do planeta.
Vários fenómenos estão relacionados com a Geodinâmica Interna: magmatismo/vulcanismo,
metamorfismo e sismos, deformação das rochas (Geologia Estrutural).

3.1. MAGMATISMO
Entende-se por magmatismo o desenvolvimento e o movimento do magma, e a sua solidificação
em rochas ígneas. O magmatismo pode manifestar-se à superfície através das erupções vulcânicas.

3.1.1. O Magma
O Magma é o material original das rochas ígneas. É um fluido natural muito quente, formado em
profundidade e constituído por material fundido de composição silicatada com alguns óxidos e sulfuretos e
algum vapor e outros gases mantidos em solução devido às altas pressões a que esta fusão está sujeita.
Quando o magma solidifica para originar as rochas ígneas, os constituintes voláteis escapam-se,
mas eles são importantes por condicionarem os processos de cristalização do magma.
Na realidade, o magma tal qual ele é na Natureza, nunca foi amostrado, pois ele só existe em
profundidade. A matéria em fusão que ascende à superfície chama-se lava, que difere do magma, entre
outros aspectos, por não conter ou conter muito poucos voláteis.
O magma caracteriza-se por uma composição predominantemente silicatada, por temperaturas
variando entre 500º - 1200ºC, e por uma mobilidade que lhe permite fluir.
O magma pode formar-se em qualquer parte da crusta onde a temperatura se
torne suficientemente alta para fundir as rochas. Contudo, nem todas as rochas fundem à
mesma temperatura e, dentro da mesma rocha, nem todos os minerais fundem à mesma
temperatura, havendo muitos factores que condicionam esta transformação.
Quando o magma se forma, ele torna-se mais leve que as rochas adjacentes, e os gases (voláteis)
dissolvidos tornam-no ainda mais leve. Assim, o magma é forçado a ascender, mas está sujeito a enormes
pressões por parte das rochas envolventes e sobrejacentes mais pesadas. Este movimento ascendente é
ajudado pela sua mobilidade e pelas forças expansivas e fluidibilidade dos gases nele dissolvidos. Contudo,
esta ascensão é contrariada pela resistência oferecida pelas rochas sobrejacentes.
Algum magma pode eventualmente atingir a parte mais superficial da crusta, onde as rochas estão
partidas e fracturadas, abrindo o seu caminho por estas fracturas até à superfície. Aqui, os materiais
fundidos são derramados como fluxos de lava duma forma relativamente calma, ou então duma forma
explosiva, levantando na atmosfera enormes quantidades de material rochoso que mais tarde se deposita
no solo. Tanto a acumulação destes materiais como do material resultante das explosões origina elevações
topográficas a que se dá nome de vulcões (Fig. 1.2).

3.1.2. Tipos de magma


As zonas de vulcanismo actual são as melhores indicações dos lugares onde os magmas se
formam na litosfera em tempos geológicos recentes.
Estas zonas podem ser agrupadas em três zonas próprias:
a) ao longo de dorsais oceânicas, onde os fundos marinhos se estão a formar; exemplos: vulcões
dos Açores e da Islândia;
b) ao longo das zonas de subducção; exemplo: vulcões do Japão; e

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c) no interior de placas tectónicas, (fora dos limites das placas, como acontece nos dois casos
anteriores); exemplo: vulcões das Ilhas Hawaii (meio oceânico) e das rochas ígneas de Sierra
Nevada (meio continental).
Uma maneira simples de ver as diferenças entre os tipos de magmas destas três zonas é
comparar a composição química geral dos principais tipos de rochas ígneas formadas a partir das lavas
provenientes destes magmas. A Tab. 4.1. mostra as análises químicas das rochas representativas
dalgumas zonas ígneas pertencentes a estes três tipos.
Tab. 4.1. Análises químicas das rochas representativas dalgumas zonas ígneas
Tipo a) Tipo b) Tipo c)
Hawaii Sierra Nevada
Componente Dorsal Oceânica Zonas de Subducção (meio oceânico) (meio continental)
SiO2 49.0 55.4 50.0 67.0
Al2O3 16.0 15.6 13.9 15.0
Fe2 O3 2.7 3.3 1.0 1.5
FeO 7.8 10.5 7.2 10.5 9.8 10.8 2.5 4.0
MgO 6.4 4.8 7.1 1.7
CaO 10.5 9.8 11.3 3.8
Na2O 3.0 1.8 1.5 3.2
K2 O 0.1 0.4 0.5 3.8

Por seu lado, a Fig. 4.5


representa um esquema da
localização destes magmas e das
quantidades anuais de rochas ígneas
que se formam a partir deles, sejam
intrusivas ou vulcânicas.
Desta tabela pode ver-se o contraste entre a Fig. 4.5. Zonas de formação dos magmas e respectivas quantidades
composição das rochas de Sierra Nevada e as
restantes, pois o primeiro tem um teor de sílica
muito maior, e teores de Fe, Mg, Ca e K muito
menores. Claramente se conclui que as fontes
dos magmas são diferentes. As rochas das
zonas de subducção, de dorsal oceânica e de
ilhas tipo Hawaii devem ter derivado da fusão da
parte inferior da crusta ou da parte superior do manto, mais ricas em Fe-Mg; por seu lado, as rochas formadas no
interior dos continentes (Sierra Nevada) são muito ricas em sílica e derivaram possivelmente da fusão da crusta
continental antiga, já de si muito rica em sílica.
Assim, em função do teor em SiO2, os magmas podem ser classificados em:

A classificação dos magmas é feita em função do teor de SiO2 que ele contém. As rochas ígneas
que derivam destes magmas também são classificadas em félsicas (SiO2>65%), intermédias
(52%<SiO2<65%), máficas (45%<SiO2<52%) e ultramáficas (SiO2<45%).

3.1.3. Diferenciação magmática


Entende-se por cristalização
magmática o processo que leva à separação
e, usualmente, à concentração dalguns
minerais num magma em cristalização
(solidificação), significando que, a partir dum
mesmo magma, se podem formar vários tipos Fig. 4.6. Série de Bowen
de rochas ígneas.
A sequência de cristalização dos
minerais a partir dos magmas foi estudada
por N.L. Bowen, que fez várias experiência
fundindo e solidificando rochas, tendo chegado

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à sequência de cristalização esquematizada na Fig. 4.6, e que se chama Série de Bowen.Como se pode
ver da figura, há duas linhas de cristalização principais, uma que é a linha da olivina-piroxena-anfíbola-
micas-quartzo, e a outra a linha plagioclase-feldspatos-mica-quartzo.
Quando um mineral cristaliza a partir dum magma, ele pode ser retirado por acção da gravidade, ou
deixado para trás quando o resto da fusão migra. A este processo chama-se fraccionação, ou seja, há uma
fracção dos minerais que se separa. Suponhamos que esta fraccionação se dá depois da olivina e da piroxena

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se terem formado, ou seja, estes dois minerais depositam-se no fundo da câmara magmática. Destes dois
minerais vai originar-se uma rocha chamada de peridotito. Do resto da fusão começam a formar-se as anfíbolas
e as plagioclases intermédias (Ca-Na e Na-Ca). Da fraccionação destes dois minerais poderá originar-se outra
rocha, com outra composição mineralógica, a que se chama gabro. Progressivamente, à medida que estes
minerais se formam, o resto da fusão vai enriquecendo progressivamente em Si, Al e K, porque a maioria do Ca,
Fe e Mg foi usada para formar as olivinas, piroxenas, anfíbolas e plagioclases. Como consequência, resulta uma
fusão da qual se pode formar uma rocha constituída por feldspato e quartzo, a que se chama granito.

3.1.4. Vulcanismo e Vulcões


Entende-se por vulcanismo os
processos associados com a descarga
superficial de magma, dando origem a
vulcões, que são aberturas na crusta por
onde sai matéria rochosa em fusão,
detritos rochosos sólidos e gases.
Estas aberturas estão normalmente
rodeadas por rochas vulcânicas acumuladas
em elevação geralmente em forma de cone. Há
vários tipos de vulcões em função do tipo de
lava que os constrói (ácida, básica, etc.) e dos Fig. 4.7. Esquema dum vulcão. 1: cone vulcânico; 2: chaminé vulcânica;
voláteis que contém. O volátil dominante é o 3: cratera; 4: câmara magmática: 5: auréola de metamorfismo.
vapor de água, seguido do anidrido carbónico (CO2). Contudo, os gases sulfurosos (H2S, SO2, SO3) são os
mais notados pelo cheiro nauseabundo que exalam. A Tab. 4.2 mostra a composição média dos gases dos
vulcões das Ilhas do Hawaii.
À medida que a erupção vulcânica continua, a rocha ígnea acumulada tende a formar uma
massas montanhosa de forma mais ou menos cónica, chamada de cone vulcânico. Este cone circunda a
conduta de saída da lava - a chaminé vulcânica - que termina numa abertura - a cratera vulcânica que
está ligada à câmara magmática onde se situa o magma. (Fig. 4.7).
Tabela 4.2. Composição média dos gases dos vulcões do Hawaii.
Gás % Gás %
H2O 70.75 H2 0.33
CO2 14.07 Ar 0.18
SO2 6.40 S2 0.10
N2 5.45 Cl2 0.05
SO3 1.92 Outros 0.35

3.1.4.1. Forma e constituição dos vulcões


Referimos atrás que os vulcões podem ser de vários tipos, em função da constituição das lavas
que os originam. Assim, os vulcões podem ser classificados nos seguintes tipos:
a) Vulcão em Escudo (Tipo Hawaiiano) (Fig. 4.8.a). Cratera muito aberta, com saída calma de
lava muito fluída (básica), sem actividade explosiva; as lavas arrefecem muito lentamente e
estendem-se por longas superfícies, originando cones de lava de pouca altura e de base muito
extensa. Exemplo: vulcões das Ilhas Galápagos.
b) Stratovulcão (Tipo Estromboliano) (Fig. 4.8.b). Lavas menos fluidas, com arrefecimento mais
rápido à superfície e lento no interior da chaminé; os gases têm por isso dificuldade em se
escapar e só o conseguem depois de atingirem uma certa pressão, escapando-se com alguma
violência e projectando detritos sólidos e lavas. Exemplo: vulcão Stromboli (Itália) e Monte
Adams (EUA-Washington).

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Fig. 4.8.a. Esquerda: Esquema de vulcão tipo hawaiiano; Direita: Ilhas Galápagos, Oceano Pacífico

Fig. 4.8.b. Esquerda: Esquema de vulcão tipo stromboliano; Direita: Monte Adams, Washington, EUA
c) Cone de Cinzas (Tipo Vulcaniano) (Fig. 4.8.c). Semelhante ao anterior, mas com erupções
muito mais violentas e espaçadas. Exemplo: vulcão Vesúvio de Nápoles (Itália)
d) Domo (Tipo Peléano) (Fig. 4.8.d). Lavas quase sólidas (muito viscosas) que arrefecem
rapidamente, consolidando no topo e interior da chaminé, formando uma rolha com o nome de
cúpula ou domo. Os gases adquirem uma pressão enorme e as explosões são violentas, as
cinzas projectadas ficam incandescentes e rolam encosta abaixo destruindo tudo à sua
passagem. A lava consolidada no interior da chaminé pode posteriormente ser empurrada para
fora formando uma agulha vulcânica. Exemplo: vulcão do Monte Pelée, Ilha da Martinica,
Caraíbas, que em 1902 destruiu a cidade de St. Pierre e um mês depois começou a erguer-se
uma agulha com 100 m de diâmetro e 500 m de altura.

Fig. 4.8.c. Esquerda: Esquema de vulcão tipo vulcaniano; Direita: Cratera Sunset, Norte do Arizona, EUA.

Fig. 4.8.b. Esquerda: Esquema de vulcão tipo peléeano; Direita: Torre do Diabo, Wyoming, EUA

Estes quatro tipos de erupções vulcânica são chamadas de erupções centrais, porque a lava sai
dum orifício na crusta. Há outros tipos de erupção, em que não há formação de cones vulcânicos, e a lava
sai ao longo de extensas fissuras na crusta. São as erupções fissurais. Este tipo de erupções só
acontecem com lavas muito fluídas (básicas) que se estendem por áreas enormes. É o caso dos basaltos

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dos Montes Libombos, que foram extruídos ao longo duma fissura N-S numa extensão que vai da
Drakensberg (KwaZulu-Natal) até ao Pafúri, bifurcando para oeste ao longo do Limpopo e para norte em
direcção a Tete (Fig. 4.9).

Fig. 4.9. Cima: Basaltos da Namaacha, representatitvos da erupção fissural


do esquema ao lado, que mostra a extensão das emissões lávicas fissurais
desta zona de África

3.1.4.2. Crateras e Caldeiras


As crateras são os orifícios por onde sai a lava. Têm uma forma de funil que liga a câmara
magmática, em profundidade, à superfície. As crateras estão alargadas no topo devido às explosões e ao
desabamento do material da cratera para o seu interior (Fig. 4.7).
As caldeiras são cratera enormes formadas quando um vulcão colapsa para o interior da câmara
magmática vazia que se situa por baixo do vulcão. As caldeiras têm geralmente algumas dezenas de
quilómetros de diâmetro. A Fig. 4.10 mostra um esquema sobre a evolução dum vulcão para caldeira.

Fig. 4.10. Esquema ilustrativo da evolução duma caldeira

3.1.4.3. Outras Manifestações Vulcânicas


Além das manifestações marcadas pela emissão de lavas, há
também manifestações vulcânicas que se caracterizam pela emissão de gases
e/ou água. As mais importantes são os geysers, dos quais o mais conhecido é
o Old Faithful (o Velho Fiel), no Yellowstone National Park dos EUA (Fig.
4.11).

3.1.4.4. Distribuição Mundial dos Vulcões


A Fig. 4.12 mostra a distribuição dos vulcões activos actuais no Mundo.
Podem considerar-se 4 zonas:
Fig. 4.11. Old Faithful,
Yellowstone National Park, EUA

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a) Anel de Fogo do Pacífico: os vulcões encontram-se distribuídos à volta do Oceano Pacífico;


b) Dorsal Atlântica: vai desde os vulcões da Islândia no Atlântico Norte até à Ilha de Sta. Helena, no
Atlântico Sul;
c) Grande Zona Transversal: vai desde os vulcões do Hawaii, passando pelas Caraíbas,
Mediterrâneo a terminando no Mar Cáspio;
d) Zona do Índico: Ocidental (vulcões africanos, Comores, Madagáscar) e Oriental (Indonésia).

Fig. 4.12. Distribuição dos vulcões activos actuais

3.2. METAMORFISMO
Como se viu em capítulos anteriores, a crusta não está estática, mas sim em constante
movimento. As placas tectónicas chocam entre si, mergulham umas sob as outras, ou ainda se deslocam
tangencialmente entre si. Todos estes movimentos provocam compressões, distensões, atritos, sujeição das
rochas a temperaturas mais altas, etc. Por outro lado, vimos nos pontos anteriores que o magma ascende à
superfície, sujeitando as rochas a temperaturas altas. Assim, com a dinâmica da crusta e da litosfera, as
rochas estão constantemente a ser sujeitas a diferentes condições de pressão e temperatura.
Metamorfismo é o processo pelo qual as rochas no interior da crusta são modificadas por acção
do calor, pressão e agentes químicos. Estes factores são chamados agentes do metamorfismo. Durante
os processos de metamorfismo, as rochas mantêm essencialmente o seu carácter sólido, e por isso retêm
algumas das características primárias herdadas da rocha original. As estruturas, texturas e composição
mineralógica (e química) finais dependem, por um lado, das características da rocha-mãe e, por outro, das
condições do metamorfismo, isto é, da maneira e tempo como os agentes de metamorfismo actuam.
As mudanças que ocorrem durante o metamorfismo estão sempre relacionadas com a tendência
de restauração do equilíbrio das rochas sujeitas a novos ambientes de P,T,química. As rochas-mãe a partir
das quais se formam as rochas metamórficas são das mais variadas, podendo ser sedimentares, ígneas ou
mesmo metamórficas.

3.2.1. Agentes de Metamorfismo


Vimos que os agentes de metamorfismo são os factores que vão provocar as alterações das
rochas em profundidade.

3.2.1.1. Temperatura
A temperatura é talvez o agente mais importante e variável. Os processos metamórficos que
ocorrem por acção pura e simples da temperatura é chamado de metamorfismo térmico.
A temperaturas abaixo de 100º-200ºC, os minerais das rochas-mãe podem ficar em equilíbrio
durante milhões de anos, porque as reacções a estas temperaturas são demasiado lentas para que tenham
qualquer efeito apreciável. Com o aumento da temperatura, as reacções tornam-se mais rápidas, levando
ao aparecimento de novas associações minerais.

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Acima de 700ºC, os minerais mais fusíveis começam a fundir e o metamorfismo


transita gradualmente para processos de magmatismo.
A temperatura pode ter várias origens, desde a presença de corpos magmáticas, ao atrito
provocado pela fricção de placas e aos fenómenos de radioactividade.

3.2.1.2. Pressão
A pressão litostática (pressão resultante do peso das rochas sobrejacentes) na crusta aumenta
com a profundidade. Assim, a cerca de 20 km de profundidade, a pressão é da ordem das 6.000 atmosferas
(= 6.202 kg/cm2). Estas altas pressões mudam as características físicas das rochas, tornando-as dúcteis
(plásticas) e capazes de fluir.
Por outro lado, as altas pressões tendem a contrariar a ocorrência de reacções que provoquem
aumento de volume por libertação de gases.
No caso inverso, as pressões altas tendem a favorecer reacções que dêem origem a minerais
mais densos.
Além da pressão litostática, as rochas em profundidade estão sujeitas a outras pressões
resultantes dos movimentos crustais. Quando estas pressões actuam em ambiente de baixa temperatura,
provoca a desagregação mecânica das rochas - cataclase. A altas temperaturas e na presença de fluídos,
tendem a acelerar o crescimento dos cristais.

3.2.1.3. Fluídos
Se bem que o grosso de cada rochas se mantenha sólido durante o metamorfismo, os interstícios
entre os minerais estão ocupados por variadíssimos fluídos aquosos com diversos componentes químicos
em solução. Estes fluídos interagem com os minerais com que estão em contacto, provocando alterações
químicas constantes, dando origem a novos minerais, e provocando o desaparecimento dos iniciais.
Os fluídos podem provir da própria rocha ou de fora. Neste caso, eles trazem para a rocha novos
materiais, alterando assim a composição química inicial. Por outro lado, ao serem mais tarde expulsos da
rocha, eles levam consigo em solução outros componentes. Em qualquer dos casos, há alteração da
composição química inicial. A estas alterações da composição química inicial chama-se metassomatismo.

3.2.2. Tipos de Metamorfismo


Em face do exposto, e tendo em conta a existência de:
 diferentes agentes de metamorfismo (P,T,Fluídos),
 tempo de actuação destes agentes,
 dominância de actuação de um ou outro agente, e
 origem destes agentes
podem haver vários tipos de metamorfismo.

3.2.2.1. Metamorfismo de Contacto


Chama-se metamorfismo de contacto aos
processos metamórficos que ocorrem por acção dos
magmas/lavas sobre as rochas que eles atravessam. Ou
seja, as rochas são como que "cozinhadas" pelo calor do
magma/lava, provocando alterações profundas nas rochas
atravessadas. Esta zona de alteração chama-se auréola
de metamorfismo (Fig. 4.7 e Fig. 4.13). A espessura da
auréola de metamorfismo varia com:
 dimensão do corpo magmático;
 temperatura do corpo magmático;
 tipo de rocha afectada;
Fig. 4.13. Esquema duma auréola de metamorfismo
 temperatura a que se encontra a rocha
afectada;
 conteúdo em voláteis do corpo magmático.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

As alterações provocadas nas rochas encaixantes são mais marcadas perto do corpo ígneo do
que a maiores distâncias.
Como se pode bem entender, o metamorfismo de contacto é fundamentalmente um
metamotrfismo térmico, mas pode ser afectado ainda pela pressão provocada pela ascensão magmática e
pelos efeitos metassomáticos dos voláteis que se escapam do magma para as rochas encaixantes.

3.2.2.2. Metamorfismo Regional


O metamorfismo regional ocorre em larga escala (áreas geográficas grandes) e deve-se a
enormes pressões e temperaturas, não relacionadas com causas locais. Tanto a pressão como a
temperatura jogam papeis idênticos neste tipo de metamorfismo. Ele tem normalmente origem no
soterramento progressivo das rochas para profundidades cada vez maiores, estando progressivamente
sujeitas pressões e temperaturas crescentes.
Numa área extensa de metamorfismo regional haverá rochas mais metamorfisadas que outras, ou
seja, têm graus de metamorfismo maiores que outras. Quanto mais profundas estiverem as rochas, maior
o seu grau de metamorfismo.

3.2.2.3. Metamorfismo Dinâmico


O metamorfismo dinâmico está relacionado com movimentos crustais, em áreas
de T regional baixa, dando origem fundamentalmente à desagregação mecânica das
rochas.
3.2.2.4. Metamorfismo de Impacto
Forma muito rara, relaciona-se com as
alterações que o impacto de meteoritos provoca no
solo, por acção de enormes pressões e das
temperaturas que daí surgem.
3.3. SISMOLOGIA
Fig. 4.14. Epicentro e hipocentro dum sismo
Um sismo (tremor de terra ou abalo sísmico) é uma
perturbação violenta na crusta causada por um movimento
brusco em profundidade, resultando na libertação instantânea de
energia lentamente acumulada ao longo do tempo.
O ponto onde se dá essa perturbação chama-se foco
ou hipocentro, e o ponto à superfície na vertical do foco chama-
se epicentro (Fig. 4.14).Todos os anos a Terra sofre várias
centenas de milhar de sismos, mas felizmente só muito poucos são
suficientemente fortes (ou próximos de agregados populacionais)
para provocar mortes. Algumas áreas são propícias a sismos,
sendo as construções feitas de modo a resistirem a eles. Noutras
áreas esta preocupação de construção não existe, dando origem a
desastres enormes, como o sismo da Cidade do México em 1985.
Não há, contudo, nenhuma localidade do mundo que não tenha
sismos, mas em algumas regiões eles são tão fracos que só
podem ser detectados por aparelhos especiais - os sismógrafos
(Fig. 4.15).
Conhecem-se ao longo da História dezasseis desastres
Fig. 4.15. Esquema dum sismógrafo
sísmicos que causaram mais de 50.000 mortos (Tab. 4.3).

Tabela 4.3. Sismos nos últimos 800 anos com mais de 50.000 mortos
Local Ano N.º Mortos Local Ano N.º Mortos
Shen-Shu, China 1556 830.000 Nápoles, Itália 1693 93.000
T'ang-shan, China 1976 700.000 Shemka, Rússia 1667 80.000
Calcutá, Índia 1737 300.000 Kansu, China 1932 70.000
Kansu, China 1920 180.000 Silícia, Turquia 1268 60.000

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Messina, Itália 1908 160.000 Catânia, Itália 1693 60.000


Tóquio/Yokohama, Japão 1923 143.000 Lisboa, Portugal 1755 60.000
Chihli, China 1290 100.000 Quetta, Paquistão 1935 60.000
Beijing, China 1731 100.000 Calábria, Itália 1783 50.000
3.3.1. Origem dos Sismos
Os sismos ocorrem em profundidades
várias, desde perto da superfície até 700 km de
profundidade. Podemos fazer observações directas
de sismos que afectam a superfície. A maioria dos
sismos originados perto da superfície são
associados/causados por movimentos abruptos ao
longo de fracturas na crusta (falhas). As outras
causas estão relacionadas com actividade vulcânica,
com grandes movimentos de terras (deslizamentos) e,
desde o século passado, a experiências nucleares Fig. 4.16. Experiência demonstrando a origem dos sismos
subterrâneas. Os sismos de profundidade não podem
ser observados e os processos são inferidos a partir
de observações indirectas.
Todas as rochas têm um certo grau de
elasticidade e plasticidade como resposta às grandes
pressões que sobre elas se exercem devidas aos
movimentos crustais. Sob tais pressões, as rochas
tendem a dobrar. Quando o limite de elasticidade é
atingido, a rocha quebra e, nesse momento, há uma
enorme libertação de energia que se transmite pela
crusta sob a forma de ondas sísmicas. Um modelo
simples do mecanismo está representado na Fig. 4.16.
No esquema temos uma lâmina de aço presa a dois
blocos de madeira (A). Se os blocos forem movidos
paralelamente um ao outro (em sentidos opostos), a
lâmina faz um "S", cada vez mais dobrado quanto maior
for esse deslocamento (B), até que atinge o seu limite e
quebra. Quando isso acontece, as duas metades das
lâminas voltam à posição horizontal e as duas Fig. 4.17. Falha provocada pelo sismo de 1946 no Peru
extremidades ficam afastadas (C). A Fig. 4.17 mostra
um exemplo de ruptura em rochas por acção de sismos.

3.3.2. Distribuição Geográfica dos Sismos


A Fig. 2.16 mostra a distribuição geográfica dos sismos ocorridos entre 1961 e 1967. Se
compararmos com a Fig. 2.8 (limites das placas tectónicas) e Fig. 4.12 (distribuição dos vulcões), verifica-se
que há uma coincidência entre os limites das placas tectónicas, as erupções vulcânicas e os epicentros dos
sismos.
Da Fig. 2.16, podemos ver quatro zonas de distribuição de sismos:
a) Cinturão Circum-Pacífico, que segue as costas ocidentais das Américas, passa pelas Ilhas
Aleutas, Japão, China, Indonésia e Nova Zelândia; coincide com o Anel de Fogo do Pacífico
dos vulcões;
b) Crista Médio-Atlântica, que coincide com a Dorsal Atlântica dos vulcões;
c) Cinturão Mediterrâneo-Himalaias, que vai de Portugal e Marrocos, passando pelos Alpes,
Atlas, Balcãs, Ásia Menor e Himalaias, continuando-se para leste e ligando ao Cinturão Circum-
Pacífico;
d) África Oriental, coincidindo com a Zona do Índico.

3.4. GEOLOGIA ESTRUTURAL (deformação das rochas e formação de montanhas).


Se bem que estejamos habituados a pensar na superfície da Terra como forte e estável, isto está
longe de ser verdade. Na verdade, a crusta está em constante movimento, variando este de alguns
centímetros a centenas de metros, o que é responsável pelas características topográficas actuais, incluindo

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as grandes cadeias de montanhas. A maior parte das alterações da superfície da Terra ocorrem muito
lentamente durante longos períodos de tempo, mas em certas circunstâncias têm-se observado movimentos
de larga escala que ocorrem em poucos minutos (sismos).

3.4.1. Movimentos de deformação

3.4.1.1. Princípios mecânicos (elasticidade e plasticidade)


Devido à acção da gravidade, as rochas estão constantemente sujeitas a forças de magnitude
variável. Estas forças sujeitam as rochas a tensões que tendem a deslocá-las e a deformá-las. Tais
deformações são opostas pela rigidez e resistência da formação rochosa. Entende-se por rigidez dum
sólido a sua resistência inicial à mudança de forma e por resistência dum sólido a sua capacidade de resistir
às forças deformadoras por longos períodos.
A capacidade de um objecto de resistir à deformação é medida em termos de força compressiva
e força de tracção. A força compressiva é a pressão ou força por unidade de área, necessária para
deformar ou esmagar permanentemente um objecto. A força do tracção é a força necessária para dividir um
2
objecto. Os granitos têm uma resistência à compressão de 1.600-2.400 kg/cm , mas a sua resistência à
2
tracção é baixa, cerca de 50-80 kg/cm .
Um líquido viscoso, como o alcatrão, não tem resistência; um bloco pesado de metal afunda-se
nele. A principal diferença entre um fluido e um sólido é que o fluido sujeita-se continuamente sob a acção
da mais pequena carga ou pressão. Um sólido, por outro lado, deve ser sujeito a uma pressão ou carga
definidas antes que as suas forças coesivas sejam ultrapassadas e ceda por fluxão ou fractura.
As propriedades de fluxão ou fractura dum sólido dependem da pressão e temperatura ambientais.
Todos os sólidos são mais fracos a altas temperaturas do que a baixas. As altas temperaturas nas
profundezas do globo permitem que as rochas possam ser mais facilmente deformadas por fluxão plástica
sob a acção das variadas pressões que aí se fazem sentir. Além disso, a plasticidade de muitos sólidos
aumenta com a pressão confinante e eles podem ser muito deformados sem se partir. Sob uma pressão de
20.000 atmosferas uma peça de aço pode ser esticada a 300 vezes o seu comprimento inicial sem se partir.
Sem dúvida que os efeitos da temperatura e da pressão nas propriedades de fluxão das rochas jogaram um
papel preponderante na modificação da resistência da crusta.
Elasticidade - é a propriedade que uma substância tem de resistir à deformação permanente. Ela
pode ser ilustrada ao se pressionar com um dedo um balão cheio. Quando se tira o dedo a superfície
assume de imediato a sua forma original. Uma bola de aço responde de maneira semelhante a uma pressão
temporária na sua superfície. Mesmo que a bola tenha grande rigidez, ela cede um pouco sem se partir.
Quando a pressão alivia, a bola assume de imediato a sua forma original, o que a faz saltar. O mesmo
acontece com um seixo, que também é elástico.
Plasticidade - sob a acção duma pressão grande e prolongada, as ligações entre o átomos no
aço ou rocha são partidas, os átomos deslizam entre si e o material flui, se bem que a velocidade do
movimento seja muito lenta. Estes deslocamentos internos são permanentes. Este tipo de deformação não
é elástico mas sim plástico e necessita de um grande período de tempo. Uma vez que as rochas têm
elasticidade e plasticidade,dois tipos de deformação são possíveis.

3.4.1.2. Movimento crustal


Durante a história geológica até à actualidade, a crusta tem sido dobrada, inclinada, levantada,
afundada, resultando nas mudanças relativas de posição das formações rochosas. Os movimentos podem
ser em qualquer direcção - para cima, para baixo, na horizontal, inclinados - e podem ser extremamente
lentos e graduais ou rápidos e violentos.

3.4.2. Estruturas de deformação ruptural

3.4.2.1. Falhas
As falhas são fracturas na crusta ao longo das quais ocorre deslizamento paralelo à superfície da
fractura (Fig. 4.18). Elas ocorrem em qualquer tipo de rocha,mas são mais facilmente detectadas em rochas
sedimentares. A quantidade de deslocamento pode ser de fracções de .centímetros ou de centenas de
metros. Em qualquer dos casos não é possível dizer qual dos lados se manteve parado e qual se moveu ou
se ambos se moveram. Tudo o que se pode dizer é que houve um movimento relativo entre os dois.
Asuperfície da fractura, ao longo da qual se deu o movimento, chama-se plano de falha(Fig.
4.18). Este "plano", contudo, raramente éplano por longas distâncias e, consequentemente, o termo

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superfície de falha seria mais apropriado. Se uma falha puder ser seguida em todo e seu comprimento
verificar-se-ia que o deslocamento é zero nos seus extremos. Quer dizer, o deslocamento é máximo no

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ponto médio e diminui até anular nos extremos. Em


algumas regiões as falhas tendem a ocorrer em grupos ou
zonas, em que o movimento ocorre ao longo dum certo
número de fracturas separadas por pequenos intervalos
(Fig. 4.19).

B
Fig. 4.18. Falha Normal (A) e Inversa (B)
BA – Bloco ascendente; BD – Bloco
Fig. 4.19. Esquema tectónico da área de Cahora Bassa, com alguns dos
descendente; T – Teto; M – Muro; Pf – Plano
traços de falhas existentes na região.
de Falha
Onde as massas de rochas envolvidas no falhamento são de grande tamanho e peso, a enorme
pressão mantém as faces dos dois blocos de falha em contacto compressivo. Como resultado da fricção
entre os blocos, o plano de falha dá uma superfície brilhante, chamada espelho de falha. Se o plano de
falha for muito irregular, o movimento entre blocos esmaga o material, originando uma brecha de falha.
Se bem que alguns planos de falha sejam verticais, a maioria é inclinada de modo que um dos
blocos fica por cima do outro. O bloco que fica por cima do plano de falha chama-se teto e o outro chama-
se muro (Fig. 4.18). O bloco que sobe em relação ao outro chama-se bloco ascendente e o que desce
chama-se bloco descendente (Fig. 4.18).

3.4.2.2. Escarpas de falha


Muitas falhas atingem a superfície. O movimento descendente dum dos blocos origina um declive
(correspondendo ao plano de falha) chamado escarpa de falha (Fig. 4.17). A altura desta escarpa depende
de dois factores:
 quantidade de deslocamento
 idade da falha,
pois que em muitos lugares a erosão reduziu o bloco ascendente, levando-o a atingir o nível do descendente.

3.4.2.3. Tipos de falha


Se o teto duma falha parece ter-se movido para
baixo em relação ao muro, a falha é chamada de falha
normal (Fig. 4.18.A); se parece ter subido, a falha é chamada
falha inversa (Fig. 4.18.B). Uma falha de cavalgamentoé
uma falha inversa em que o plano de falha é subhorizontal e o
teto se moveu muitos quilómetros (Fig. 4.20). Há falhas que
não são nem normais nem inversas; são falhas em que o
movimento se deu horizontalmente (Fig. 4.21.A),
verticalmente (Fig. 4.21.B) ou rotativamente (Fig. 4.21.C).
Um bloco que se afunda entre duas falhas normais
chama-se graben (Fig. 4.22.A) e o que sobe entre duas
falhas normais chama-se horst (Fig. 4.22.B). Um exemplo
concreto de graben em Moçambique é a depressão ocupada
pelos Lagos Niassa e Chirua.
A Fig. 4.23 mostra uma falha real, da Praia do
Castelejo, Alentejo, Portugal. Fig. 4.20. Evolução duma falha de cavalgamento.

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A B C
Fig. 4.21. Outros tipos de falhas: A – Horizontal; B – Vertical; C – Rotativa

A B
Fig. 4.22. Graben (A) e Horst (B)

3.4.2.4. Diaclases ou Juntas


Diaclases ou juntas são um outro tipo de fractura que ocorre nas rochasem que não há movimento
dos blocos paralelamente à superfície de fractura.
As juntas não ocorrem isoladas mas em grupos de várias direcções, sendo a direcção a mesma
para juntas do mesmo grupo (Fig. 4.24 - Leça da Palmeira, Portugal)).
Teoricamente, as juntas podem ser classificadas em função de terem sido originadas por
compressão, tensão ou torção (estas últimas envolvem compressão e tensão).
Todas as rochas são mais sensíveis a forças de tensão do que de compressão, pelo que as juntas
de tensão são mais abundantes que as de compressão. Nem sempre é possível dizer se um determinado
grupo de juntas tem uma origem compressiva ou de tensão.

Fig. 4.23. Exemplo duma falha inversa Fig. 4.24. Exemplo de diaclases

3.4.3. Estruturas de deformação não ruptural (dobras)


Já vimos anteriormente a importância dos factores pressão,
temperatura e tempo de actuação de forças na deformação elástica ou
plástica das rochas. Vimos também anteriormente que existem dois
tipos de pressão: hidrostática (compressão) e dirigida (tensão).
Uma pressão aplicada tangencialmente (pressão dirigida)
sobre uma rocha, seja esta pressão originada duma intrusão
magmática ou por forças tectónicas, pode originar a formação duma
dobra (curvatura numa camada rochosa).
A forma das dobras varia muito, dependendo da intensidade,
duração e ângulo de incidência da direcção do esforço em relação ao
plano que sofreu o dobramento. Quanto ao tamanho, variam desde
milimétricas até centenas de metros de amplitude. A posição das
dobras no espaço pode ser muito variada. As partes constituintes duma
dobra são (Fig. 4.25): Fig. 4.25. Partes constituintes duma dobra

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 Flancos - são os dois lados da dobra;


 Eixo ou charneira - linha ao redor da qual se dá o dobramento, a qual pode ser horizontal,
inclinada ou vertical; nos últimos casos, a dobra é mergulhante;
 Plano axial - superfície que divide a dobra em duas partes similares, que podem ser ou não
simétricas, dependendo da simetria da dobra;
 Crista - linha que resulta da ligação dos pontos mais altos da dobra, que pode coincidir ou não
com o eixo.
Quanto à sua morfologia, as dobras classificam-se em (Fig. 4.26):
 Anticlinal - dobra na qual os flancos se abrem para baixo, tendo por cima o eixo;
 Sinclinal - dobra na qual os flancos se abrem para cima, ao contrário do anticlinal;
 Isoclinal - dobra na qual os dois flancos mergulham na mesma direcção e com o mesmo
ângulo de mergulho;
 Monoclinal - dá-se o encurvamento de apenas uma parte;
 Dobra Simétrica - quando o plano axial faz ângulos iguais com ambos os flancos;
 Dobra Assimétrica - quando o plano axial faz ângulos diferentes com cada um dos flancos;
 Dobra Deitada - quando o plano axial é horizontal a subhorizontal;
 Dobra em leque - quando os flancos da dobra se aproximam mais intensamente na parte
mediana.

Monoclinal
Sinclinal Isoclinal Assimétrica Deitada em Leque
Anticilinal
Fig. 4.26. Diversos tipos de dobra

A Fig. 4.27 mostra algumas fotografias de dobras em afloramentos de Moçambique e Portugal.

Arrifana, Algarve, Portugal Castelejo, Alentejo, Portugal

Mina de Amianto, Mavita, Manica Muaguide, Cabo Delgado, Moçambique

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Fig. 4.27. Alguns exemplos de dobras.


5. ROCHAS ÍGNEAS

4.1. TIPOS DE INTRUSÕES E EXTRUSÕES


Já vimos em capítulo anterior que as rochas ígneas se formam a partir da consolidação/cristalização
do magma, que tanto pode ocorrer no interior como no exterior da crusta terrestre, dando origem,
respectivamente, às rochas intrusivas (plutónicas) e extrusivas (vulcânicas ou efusivas).
Sobre o modo como as rochas vulcânicas ocorrem, também já nos referimos atrás, quando
falámos sobre os tipos de vulcões. Resta-nos agora ver como é que as rochas intrusivas ocorrem, ou seja,
como são os corpos rochosos de origem ígnea resultantes da solidificação do magma em profundidade. A
estes corpos dá-se o nome de plutões.
Muitos destes plutões estão hoje expostos à superfície em cadeias de montanhas ou no interior de
continentes. A erosão ao longo de milhões de anos removeu as camadas superficiais e os vulcões, pondo a
descoberto os canais de alimentação entre a câmara magmática e os vulcões. E porque o grau de erosão
varia enormemente, é possível em alguns lugares observar à superfície não só as partes superiores desses
plutões como, em muitos casos, o seu próprio interior.
As intrusões ígneas podem assumir várias formas como se pode ver no esquema da Fig. 4.28:
2
a) Batólitos: é o tipo de intrusão de maiores proporções, com uma superfície mínima de 100 km ,
embora geralmente sejam muito maiores;
b) Stocks: são corpos de dimensões menores, e geralmente ocorrem como protrusões de batólitos;
c) Lacólito: corpo em forma de lente plano-convexa, provocando o arqueamento das camadas por
cima;
1 1
d) Lopólito: corpo em forma de lente côncava, em que a espessura varia ente /10 e /20 do seu
diâmetro;
e) Dique: corpo tabular com paredes paralelas a sub-paralelas e que têm uma posição
discordante em relação às camadas que atravessa;
f) Soleira: corpo tabular com paredes paralelas a sub-paralelas e que têm uma posição
concordante em relação às camadas que atravessa;
g) Chaminé vulcânica: corpo resultante da solidificação da lava no canal de alimentação do vulcão.
Estes corpos intrusivos, em especial os batólitos e os stocks, contêm no seu interior pedaços das
rochas encaixantes, a que se chamamxenólitos (do Grego Xenos = estranho + Lithos = pedra).

Fig. 4.28. Tipos de intrusões ígneas

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4.2. TEXTURA E ESTRUTURA DAS ROCHAS ÍGNEAS


Como bem se pode entender, a velocidade de solidificação dum magma varia consoante ele
arrefece em profundidade ou perto da superfície (ou mesmo à superfície), uma vez que a temperatura é
maior no interior da Terra do que à superfície. Um exemplo ilustrativo deste processo é a velocidade de
arrefecimento da comida no tempo quente ou no tempo frio. No verão, a comida demora a arrefecer, mas no
inverno, em poucos minutos a comida fica fria. Isto porque as diferenças de temperatura entre a comida e o
ambiente são maiores no inverno, e a velocidade de transferência de calor é maior. O mesmo se passa com
o arrefecimento do magma/lava.
Uma vez que um arrefecimento lento tende a formar cristais maiores do que o arrefecimento
rápido, as rochas intrusivas têm grãos maiores que as rochas extrusivas. Assim, diz-se que as rochas
intrusivas têm textura fanerítica e as extrusivas têm textura afanítica. Por textura entende-se o aspecto
geral duma rocha evidenciado pelas relações entre as suas partículas constituintes: tamanho e forma dos
grãos, grau de cristalinidade, e arranjo espacial dos grãos.
A textura fanerítica é aquela em que os constituintes são observados megascopicamente, isto é,
a olho nu. Por seu lado, a texturaafanítica é aquela em que os constituintes dificilmente são observados a
olho nu ou mesmo com uma lente. Normalmente é necessária a observação microscópica.
Por vezes acontece que no seio duma massa afanítica se observam alguns cristais bem formados,
resultantes duma cristalização fraccionada em profundidade, cujos cristais são arrastados à superfície junto
com a lava que arrefece mais depressa. Neste caso, estamos em presença de rochas porfiríticas. Aos
cristais grandes no seio da massa de textura fina chama-se fenocristais (do Grego phenos = grande).
Dentro de cada um destes grupos (faneríticas e afaníticas) há vários tipos de textura, que a seguir
se descrevem, ilustradas nas Fig. 4.29 e Fig. 4.30 (em esquema, e com exemplo real).
a) Texturas afaníticas (Fig. 4.29)
 Vítrea: os grãos não são visíveis, nem ao microscópio. A rocha tem aspecto de vidro;
 Hemicristalina: os grãos são tão pequenos que só são observáveis ao microscópio;
 Porfirítica: quando ocorrem fenocristais no seio duma matriz hemicristalina ou vítrea.

A – Textura Vítrea B – Textura Hemicristalina C – Textura Porfirítica


Fig. 4.29. Exemplos de texturas afaníticas. A – Obsidiana; B –
Basalto; C – Basalto Porfirítico

b) Texturas faneríticas (Fig. 4.30)


 Granular: os grãos apresentam sensivelmente as mesmas dimensões, geralmente não
excedendo o tamanho dum grão de milho;
 Porfiróide: quando ocorrem fenocristais no seio duma matriz granular;

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 Pegmatítica: todos os minerais apresentam grãos de grandes dimensões.


 Aplítica/Sacaróide: é uma variedade de textura granular, em que os grãos são pequenos,
do tamanho de grãos de açúcar.

D – Textura Aplítica
A – Textura Granular B – Textura Porfiróide C – Textura Pegmatítica
Fig. 4.30. Exemplos de texturas faneríticas. A – Granito róseo de 2 micas; B – Pórfiro; C – Granito pegmatítico; D – Aplito.

Há outros tipos de texturas, mas são casos especiais.


Quanto à estrutura, as rochas podem ser classificadas em (Fig. 4.31):
a) Compactas: quando têm um aspecto maciço, sem interstícios;
b) Porosas: quando apresentam muitas vesículas pequenas, permitindo muitas vezes que
flutuem na água (caso da pedra-pomes);
c) Vesicular: quando as vesículas são maiores e em menor quantidade;
d) Amigdalóide: quando uma rocha vesicular tem as vesículas preenchidas por minerais
formados posteriormente à sua solidificação.

B
A D
C

Fig. 4.31. Estruturas das rochas ígneas. A – Compacta (Granito); B – Porosa (Pedra-
pomes);
C – Vesicular (Basalto); D – Amigdalóide (Basalto)
4.3. COR DAS ROCHAS ÍGNEAS
As rochas ígneas podem ser ainda classificadas quanto à cor, pois elas variam desde cores claras
(quase brancas) a cores escuras, com todos os tons intermédios.
A cor das rochas tem a ver com os minerais presentes. Se uma rocha for constituída por minerais
claros, como o quartzo e os feldspatos, a rocha tem uma cor clara. Diz-se que é leucocrata. Se, por outro
lado, for constituída por minerais escuros, como as anfíbolas, plagioclases, piroxenas, olivinas, etc., a rocha
tem cor escura. Diz-se que é melanocrata. Se a rocha tiver proporções variáveis dos dois tipos de minerais,
ela terá cores que variarão entre o claro e o escuro, chamando-se assim mesocrata.

4.4. CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS ÍGNEAS


Como vimos anteriormente, o magma tanto pode consolidar em profundidade, como em superfície.
Também já referimos que os magmas se podem classificar em ácidos, neutros, básicos e ultrabásicos, em
função do seu conteúdo em SiO2. Referimos ainda que se o magma consolidar em profundidade origina

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rochas com textura fanerítica, e se consolidar à superfície (ou perto) origina rochas com textura afanítica.
Assim, é lógico supor que uma rocha intrusiva tem a sua equivalente extrusiva.

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O conteúdo de SiO2 define a acidez da rocha ígnea (ponto 3.1.2), as quais podem ser
classificadas em ácidas, neutras (ou intermédias), básicas e ultrabásicas. Em geral, é possível reconhecer
estes tipos de rochas em amostra de mão pela sua cor, como resultado do conteúdo de minerais escuros
presentes (ricos em Fe, Mg, chamados ferro-magnesianos). Assim, as rochas escuras, ricas em minerais
ferro-magnesianos, são chamadas de máficas (de Magnésio+Ferro), ao passo que as rochas claras, mais
ricas em quartzo e feldspatos são chamadas de félsicas (de Feldspato+Silica).
A Fig. 4.32 mostra a classificação das rochas ígneas em termos de:
a) percentagem em peso de sílica e volumétrica de minerais: ácidas, intermédias, básicas e
ultrabásicas
b) local de solidificação do magma: plutónicas, hipabissais e vulcânicas;
c) cor: leucocratas, mesocratas e melanocratas
d) percentagem de máficos e félsicos.

Fig. 4.32. Tabela classificativa das rochas ígneas

Nesta figura aparece o termo hipabissal para referir rochas que se consolidam a meio caminho
entre grandes profundidades e a superfície, e consequentemente têm uma granulometria entre a das rochas
plutónicas e das rochas vulcânicas.
Na definição duma rocha, existem os chamados minerais essenciais, acessórios e secundários.
Entende-se por mineral essencial aqueles que por definição têm de estar presentes numa rocha. Mineral
acessório é aquele que pode ou não estar presente na rocha, não interferindo na sua classificação.
Finalmente, mineral secundário é aquele que resulta da alteração de outros. Assim, num granito, os
minerais essenciais são o quartzo e o feldspato; as micas são acessórias, e o caulino é secundário,
resultando da alteração de feldspatos.
Vejamos agora a descrição dos principais tipos de rochas ígneas, cuja distribuição (muito geral)
pode ser vista na Fig. 4.34.

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4.4.1. GRANITO e RIOLITO


O Granito é uma rocha plutónica, que
ocorre geralmente como batólitos e stocks,
podendo ocorrer em diques. Tem como minerais
essenciais o quartzo e o feldspato potássico
(normalmente ortoclase), e como acessórios as
plagioclases sódicas, as micas (moscovite e/ou
biotite), anfíbolas, piroxenas, etc.
Geralmente são de cor clara
Granito moscovítico (leucocratas), podendo ser mesocratas e
melanocratas em função dos minerais
máficos que contêm. Quando os feldspatos
têm cor rosa, o granito chama-se granito
róseo (Fig. 4.30)
Quanto à textura, os granitos são
geralmente granulares ou aplíticos, podendo ser
porfiróides ou pegmatíticos. Assim, em função das
Granito biotítico
Fig. 4.33. Tipos de granito texturas, os granitos chamam-se granito (granular),
Fig. 4.34. Localização das rochas
granito porfiróide, granito pegmatítico (Fig. 4.30) ígneas em Moçambique
ou aplito (Fig. 4.30).
Em função dos minerais presentes, os granitos podem chamar-
se: moscovítico (Fig. 4.33), biotítico (Fig. 4.33), de duas micas, anfibólico,
piroxénico, etc. A Fig. 4.35 mostra um granito visto ao microscópio.

Fig. 4.35. Lâmina delgada de granito biotítico

O Riolito é o equivalente vulcânico do granito, sendo também, por isso uma rocha ácida. A textura
varia de hemicristalina (Fig. 4.36.A) a porfirítica (Fig. 4.36.B) e vítrea. Neste último caso chama-se
obsidiana (Fig. 4.29.A). Devido à sua textura, é difícil observar a olho nu os seus minerais essenciais
constituintes, que são os mesmos do granito. A Fig. 4.36.C mostra um riolito visto ao microscópio.
Geralmente são meso-melanocratas, podendo ser cinzentos, castanhos, ou avermelhados, como
os riolitos da Cadeia dos Libombos. Típico destes riolitos dos Libombos são as estruturas de fluxão (Fig.
4.36.D). Além dos Libombos, os riolitos ocorrem na Província de Tete, a SW e a SE da cidade de Tete. A
pedra-pomes é um vidro vulcânico altamente vesicular e poroso (Fig. 4.31.B).
Os equivalentes hipabissais destas rochas são chamadas de Microgranitose geralmente têm
textura aplítica.

A C D
B

Fig. 4.36. Riolitos. A. Textura hemicristalina; B. Textura porfirítica; C. Visto ao


microscópio; D. Estrutura de fluxão.
4.4.2. ROCHAS ÍGNEAS NEUTRAS
As rochas ígneas neutras ou intermédias caracterizam-se por terem como minerais essenciais as
plagioclases (feldspatos de Na e Ca), podendo ter ou não quartzo.

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No que toca às rochas intrusivas, consoante o conteúdo decrescente de SiO2 e das plagioclases
sódicas para as plagioclases cálcicas, os tipos são: granodiorito, diorito e sienito (este sem quartzo). Os

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equivalentes vulcânicos destas rochas são, respectivamente: dacito, andesito e traquito. Dado o conteúdo
decrescente de SiO2 e o conteúdo crescente de plagioclase cálcica, as rochas vão sendo cada vez mais
escuras, passando de rochas leuco-mesocratas a rochas meso-melanocratas. A Fig. 4.37 mostra estas rochas
vistas ao microscópio.

rochas plutónicas

A. Granodiorito B. Diorito C. Sienito

Rochas vulcânicas

D. Dacito E. Andesito F. Traquito


Fig. 4.37. Rochas intermédias vistas ao microscópio

4.4.3. GABRO, BASALTO e DOLERITO


O Gabro é uma rocha plutónica, que ocorre geralmente como stocks
e diques/soleiras. Por vezes ocorrem em lopólitos de enormes dimensões,
como é o caso do Complexo de Tete. Tem como minerais essenciais as
plagioclases cálcicas e as piroxenas, e como acessórios as anfíbolas, as micas
(biotite), a magnetite, etc.
Geralmente são negros (melanocratas - Fig. 4.38.A), podendo ser
cinzentos escuros (mesocratas - Fig. 4.38.B) em função dos minerais A
acessórios que contêm. São rochas pobres em SiO2, por isso são rochas
básicas.
Quanto à textura, os gabros são geralmente granulares, podendo ser
pegmatíticos e, raramente, porfiróides. A Fig. 4.38.C mostra um gabro visto ao
microscópio
B
C
O Basalto é o equivalente vulcânico do gabro, sendo também, por
isso uma rocha básica. A textura varia de hemicristalina (Fig. 4.29.B) a
porfirítica (Fig. 4.29.C). Devido à sua textura, é difícil observar a olho nu os
seus minerais essenciais constituintes, que são os mesmos do gabro. A Fig.
4.29.C mostra um basalto visto ao microscópio. Fig. 4.38. A. Gabro melanocrata
de textura granular; B. Gabro
Geralmente são melanocratas, podendo ser negros e cinzentos, por mesocrata de textura porfiróide;
vezes com tons avermelhados ou esverdeados (Fig. 4.29.B). Típico dos C. Gabro visto ao microscópio
basaltos são as estruturas amigdalóides (Fig. 4.31.D) e vesicular (Fig. 4.31.C).
Em Moçambique os basaltos ocorrem nos Libombos, na Faixa do Búzi, na
Província de Tete e em Angoche. A escória é um vidro vulcânico básico
altamente vesicular (Fig. 4.31.B).
Os equivalentes hipabissais destas rochas são chamados de Doleritose geralmente têm textura
aplítica. A Fig. 4.39 mostra dois diques doleríticos cortando os riolitos dos Libombos, na auto-estrada entre a
Moamba e Ressano Garcia.

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Fig. 4.39. Dois diques doleríticos a cortar os riolitos dos Libombos,


na estrada Moamba-Ressano Garcia.

4.4.4. PERIDOTITO
O Peridotito é uma rocha intrusiva constituída fundamentalmente por Fig. 4.40. Peridotito visto ao
olivina, contendo alguma piroxena, como minerais essenciais. A Fig. 4.40 microscópio
mostra um peridotito ao microscópio.

4.4.5. OUTRAS ROCHAS ÍGNEAS


Como se viu atrás, há vários tipos de erupções vulcânicas,
umas calmas, outras mais explosivas. Neste caso, a erupção lança
para a atmosfera toneladas de partículas de dimensões várias,
incandescentes ou não. As mais pesadas caiem imediatamente nas
imediações do vulcão, mas as mais finas podem ser transportadas pelo
vento a distâncias várias, depositando-se em seguida. São as rochas Fig. 4.41. Caixa feita de Tufo vulcânico
(rocha piroclástica, Mpumalanga, RSA)
piroclásticas (do Grego pyros = fogo + klastos = fragmento). A Fig.
4.41 mostra uma caixa feita dum tipo destas rochas - tufo vulcânico -
podendo notar-se uma estrutura em camadas, típicas das rochas
sedimentares. De facto, as rochas piroclásticas estão na transição
entre as rochas ígneas e as rochas sedimentares.

6. ROCHAS METAMÓRFICAS

5.1. INTRODUÇÃO

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Já referimos em capítulos anteriores que a Terra é um sistema


activo e dinâmico. As rochas, uma vez soterradas a grandes
profundidades, podem ser deformadas e as temperaturas podem ser
alteradas por esse soterramento ou pela proximidade de corpos
magmáticos. Em resposta a estas mudanças das condições ambientais,
as características das rochas podem alterar, ou seja, sofrem
metamorfismo tornando-se rochas metamórficas.
As alterações metamórficas podem ser de dois tipos principais:
a) as que afectam as espécies minerais (composição
mineralógica);
b) as que afectam a forma e o arranjo dos grãos minerais
(estrutura e textura).
A diferença entre os dois tipos de alterações podem ser
observadas em fenómenos e processos actuais (naturais ou industriais):
A neve, formada por cristais soltos como os da Fig.
4.42.a, é transformada em gelo compacto com o
soterramento dessa neve por novas camadas de neve. Esta
transformação não envolve mudança nos constituintes
minerais (gelo) e pode ocorrer sem fusão. Esta modificação Fig. 4.42. Formas dos grãos de neve e
de gelo compacto
de cristais complexos (Fig. 4.42.a) em formas mais simples,
granulares (Fig. 4.42.b) torna os contactos entre os grãos
muito mais fechados, tornando o gelo mais compacto que a
neve.
As mudanças na composição mineralógica em rochas são artificialmente causadas em fornos. Por
exemplo, no fabrico do cimento, o calcário, constituído por calcite (CaCO3), é transformado pelas altas
temperaturas em cal (CaO), com libertação de CO2. Do mesmo modo, rochas contendo minerais de metais
(como óxidos e sulfuretos) sofrem alterações para produzir metais nativos.
As variações de temperatura e pressão são as causas óbvias do metamorfismo das rochas, mas
não são os únicos. As alterações podem ser induzidas como resultado de mudanças na composição
química. Em tais casos, as mudanças estão geralmente associadas com o movimento de fluídos (sejam
gases, sejam fusões magmáticas).
A variedade de mudanças que podem afectar as rochas é enorme, e por isso o âmbito do
metamorfismo é limitado, por conveniência, aos processos em que a rocha se mantém fundamentalmente
sólida durante as alterações. Os processos de meteorização das rochas à superfície da Terra envolvem
alterações das rochas como resultado das reacções com o oxigénio do ar e com as águas superficiais e
subterrâneas. Estes processos, em conjunto com a erosão e a deposição leva à formação de rochas
sedimentares e não são, por isso, considerados como parte do metamorfismo. Considera-se, por isso, que os
processos metamórficos envolvem temperaturas e pressões muito maiores do que as que se encontram à
superfície da Terra.
A fronteira exacta para distinguir os processos de formação de rochas sedimentares dos
processos metamórficos é arbitrária. Com o aumento da profundidade de soterramento, as condições que
dão origem à consolidação dos sedimentos em rochas sedimentares não têm fronteira nítida com as
condições que transformam estas rochas sedimentares em rochas metamórficas. Falamos aqui na pressão.
No outro lado das condições metamórficas, há a considerar a temperatura. Às mais altas
temperaturas, as rochas não sofrem só mudanças mineralógicas, mas podem também sofrer fusão,
originando os magmas, e aqui os processos deixam de ser metamórficos para serem magmáticos.
Com estas condições em mente, a definição de metamorfismo não envolve todas as condições de
alterações de rochas. Assim, uma definição largamente aceite é:
"Metamorfismo é o ajustamento mineralógico e estrutural das rochas sólidas às condições físicas e
químicas que surgem em profundidade, abaixo da zona de metamorfismo e cimentação, e que
diferem das condições em que as rochas se originaram".
(F.J. Turner & J. Verhoogen, 1960, Igneous and Metamorphic Petrology, McGraw-Hill).

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É de referir que, dado que a passagem dos processos sedimentares aos metamórficos e destes
aos magmáticos é gradual, desde zonas de temperaturas e pressões baixas a temperaturas e pressões
altas, podemos considerar que há vários graus de metamorfismo, desde o metamorfismo de baixo grau ao
metamorfismo de alto grau. A Fig. 4.43 mostra um diagrama das várias condições de metamorfismo em
função da pressão (profundidade) e temperatura.

Fig. 4.43. Graus de metamorfismo em função da pressão e da temperatura

5.2. TEXTURAS E ESTRUTURAS DAS ROCHAS METAMÓRFICAS


Vimos anteriormente que a acção dos agentes de metamorfismo provocam
alterações nas rochas preexistentes, alterando-lhes a composição mineralógica e química e
o seu aspecto macroscópico (estrutura e textura). Isto leva a que as texturas e estruturas
que estudámos nas rochas ígneas (e mais à frente nas sedimentares) sejam modificadas,
aparecendo novas texturas e estruturas nas rochas metamórficas.
Os novos grãos de minerais que se formam durante os processos de metamorfismo são
chamados cristais deneoformação ou neoblastos (do Grego Neo = novo + Blastein = germinar), ou seja,
durante o metamorfismo há uma recristalização, que pode ser total ou parcial.
A textura das rochas metamórficas é sempre cristalina, podendo ser de grão mais ou menos fino
ou grosseiro, e sobrepõe-se sempre à textura preexistente na rocha de origem, como consequência dos
fenómenos de recristalização. Assim, as texturas mais frequentes nas rochas metamórficas são:
a) Granoblástica: os neoblastos são grãos sensivelmente do mesmo tamanho (Fig. 4.44.A);
b) Porfiroblástica: notam-se fenoblastos no seio duma massa granoblástica (Fig. 4.44.B);
c) Lepidoblástica: neoblastos em forma de lamelas ou escamas, como as micas (Fig. 4.44.C);
d) Nematoblástica: os neoblastos são fibrosos ou aciculares, como as anfíbolas (Fig. 4.44.D).
A B C D

Fig. 4.44. Texturas de rochas metamórficas. A. Granoblástica; B. Porfiroblástica; C. Lepidoblástica; D. Nematoblástica.


Em baixo: A. Mármore; B. Micaxisto com granada; C. Micaxisto; D. Anfibolito

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No que toca à estrutura, é comum as rochas metamórficas apresentarem orientação dos


neoblastos, como resposta às altas pressões exercidas durante a sua formação. As rochas que não
apresentam orientação dos neoblastos diz-se que têm estrutura maciça (Fig. 4.45.A), como é o caso do
mármore. Quando há orientação dos neoblastos, as estruturas são:
a) Xistosidade: quando há orientação dos neoblastos em planos que permitem a partição da rocha
em placas; esta estrutura é frequente em rochas com muita mica, caso dos micaxistos (Fig. 4.45.B);
b) Foliação: é um estágio mais avançado da xistosidade e pressupõe a existência de fenómenos
de recristalização; ocorre em rochas com bastante mica, mas com maior proporção de minerais
equigranulares, como o quartzo e o feldspato, como é o caso dos gneisses (Fig. 4.45.C);
c) Lineação: quando ocorrem fundamentalmente minerais de hábito acicular ou prismático, que
dão a ideia de haver "linhas" na rocha, como é o caso dos anfibolitos (Fig. 4.45.D);
d) Cataclástica: ocorre em rochas que sofreram essencialmente efeitos de altas pressões a
baixas temperaturas, caso do metamorfismo dinâmico (Fig. 4.45.E).
A B C

D
E

Fig. 4.45. Estruturas das rochas metamórficas. A. Maciça; B. Xistosidade;


C. Foliação; D. Lineação; E. Cataclástica

5.3. CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS METAMÓRFICAS


A classificação das rochas metamórficas não é tão simples como no caso das rochas ígneas,
dadas as variedades de efeitos que os agentes de metamorfismo provocam nas rochas de origem. Contudo,
alguma sistematização é possível, no que toca à estrutura e à rocha de origem. Assim:
a) Quanto à estrutura: rochas foliadas e não-foliadas, sendo as últimas as que têm uma
estrutura maciça, e as outras uma estrutura não maciça;
b) Quanto à rocha de origem: se provêm de rochas ígneas, levam o prefixo orto- (ex.
ortogneisse); se provêm de rochas sedimentares, levam o prefixo para- (ex. paragneisse);

5.4. PRINCIPAIS ROCHAS METAMÓRFICAS


5.4.1. Rochas Foliadas
5.4.1.1. Rochas de Baixo Grau de Metamorfismo
ARDÓSIA e FILITO
A rocha metamórfica foliada de baixo grau de metamorfismo mais conhecida é a ardósia, usada há
séculos como cobertura de casas e como quadros-negros das escolas. Duas propriedades contribuem para isto:
a) é densa, de textura muito fina uniforme; e
b) pode ser clivada em placas de superfícies paralelas lisas (Fig. 4.46.A) (esta propriedade
chama-se clivagem de rocha para a distinguir da clivagem dos minerais).
Esta clivagem da ardósia é devida a uma foliação muito fina desenvolvida durante o metamorfismo
e resulta das placas de mica muito finas dispostas paralelamente entre si (Fig. 4.46.B).
A ardósia é geralmente negra, podendo ser azulada, esverdeada ou acinzentada. A sua
composição mineral não é possível ser vista a olho nu, mas a maioria dos minerais são filossilicatos do
grupo das micas, podendo conter grãos de quartzo, pirite e outros.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

B
A
Fig. 4.46. A. Placa de ardósia, vendo-se a superfísice de clivagem lisa;
B. Ardósia vista ao microscópio (notar a disposição paralela dos
grãos.

A ardósia provém do metamorfismo de rochas sedimentares tipo argilito e siltito (ver Tema V) e de
rochas piroclásticas do tipo tufo vulcânico.
Muitas vezes é possível observar na ardósia estruturas das rochas originais.

O Filito é uma rocha semelhante à ardósia, mas com uma granulometria mais grosseira, na
transição entre a ardósia e o xisto (descrito a seguir). Tem a mesma origem da ardósia, mas representa um
grau de metamorfismo um pouco mais elevado.

5.4.1.2. Rochas de Grau de Metamorfismo Intermédio


XISTO
A rocha mais conhecida deste grupo é o xisto. Enquanto que na ardósia (e filito) os minerais não
são observáveis a olho nu, no xisto isto já não acontece. Todos os xistos contêm minerais achatados,
tabulares (micas) ou fibrosos, e o grau em que estes minerais se desenvolveram em orientações paralelas
determina o grau de xistosidade que estas rochas apresentam, o que faz com que os xistos se clivem em
blocos tabulares. Geralmente os xistos apresentam zonas alternadas de composição mineralógica diferente:
uma banda pode conter principalmente minerais em folha (filossilicatos - moscovite, biotite, etc.), e a banda
adjacente pode conter essencialmente quartzo e feldspato.
No caso dos xistos, as estruturas das rochas originais já não são visíveis, tendo sido
completamente adulteradas pelo metamorfismo.
A presença de vários minerais origina a que os xistos
possam ser adjectivados de várias maneiras: xisto moscovítico (ou
micaxisto moscovítico), x. biotítico (ou micaxisto biotítico), micaxisto
granatífero (Fig. 4.44.B), etc., etc.
5.4.1.3. Rochas de Alto Grau de Metamorfismo
GNEISSES A

Rocha de alto grau de metamorfismo (metamorfismo regional), de


aspecto bandado (Fig. 4.47.A), usualmente com bandas claras alternando com
bandas escuras. As bandas claras são constituídas por quartzo e feldspatos,
enquanto que as escuras podem ser constituídas de micas, anfíbolas, piroxenas, e
outros minerais máficos. Assim, em função dos minerais presentes, os gneisses
podem ser moscovíticos, biotíticos, de duas micas, anfibólicos, etc. Muitas vezes
os feldspatos e outros minerais, concentram-se em corpos arredondados ou B
elípticos, dando origem ao gneisse olhado (Fig. 4.47.B).
A textura é geralmente granoblástica, em que o tamanho
dos grãos de quartzo e feldspato são mais ou menos do mesmo
tamanho que os seus equivalentes graníticos. Contudo, podem
aparecer fenoblastos, conferindo-lhe uma textura porfiroblástica. C
Durante a recristalização da rocha sob a acção directa de altas Fig. 4.47. A Gneisse normal; B.
pressões e temperaturas, os minerais foram rearranjados de modo a que a Gneissefoliação
olhado; C. Gneisse de
dobrada
maioria dos minerais claros se agruparam em bandas diferentes das dos
minerais escuros, dando origem à estrutura de foliação, que se apresenta muitas

xc
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vezes de aspecto dobrado e contorcido (Fig. 4.47.C).

Provavelmente esta deformação deu-se no estado plástico, isto é, se bem que a


rocha estivesse ainda no estado sólido, ela foi capaz de fluir, do mesmo modo que a
manteiga pode fluir sem derreter. A ocorrência destas deformações plásticas é um
argumento a favor de altas temperaturas durante a sua formação, suficientemente altas
para amolecê-la e originar fluxão plástica.
No caso de os gneisses não conterem micas mas sim minerais do tipo anfíbola ou piroxena, o
gneisse deixa de ter foliação para passar a ter lineação.
As rochas de origem dos gneisses podem ser ígneas (granitos) ou sedimentares (arenitos), dando
assim origem a ortogneisses e a paragneisses.

5.4.2. Rochas Não Foliadas


As rochas não foliadas são originadas pelos mesmos processos que originam as rochas foliadas,
mas como consequência da sua composição mineralógica, não apresentam bandamento. Os exemplos
mais comuns são o mármore e o quartzito. Ambos os tipos de rochas apresentam textura granoblástica.
MÁRMORE
O mármore é uma rocha cristalina de grão fino a grosso, e resulta do metamorfismo de rochas
sedimentares calcárias. Consistem, por isso, quase só de calcite. Na transformação do calcário em mármore a
temperaturas e pressões relativamente altas (metamorfismo regional), as estruturas sedimentares originais bem
como os fósseis que os calcários continham, desaparecem e, como resultado, surge uma rocha composta de
grãos de calcite equigranulares, pelo que não há possibilidade de haver foliação (Fig. 4.44.A).
Deve referir-se que nem todos os mármores provêm de metamorfismo regional. O metamorfismo
de contacto também pode originar mármore.
O mármore puro (isto é, só calcite) é branco de neve, caso do famoso mármore de Carrara (Itália).
Moçambique também tem deste tipo de mármore, na zona de Montepuez (Cabo Delgado). Contudo,
geralmente o mármore não é de cor branca pura, como já toda a gente tem observado esta rocha em vários
edifícios, interiores, etc.
Ele apresenta muitas vezes zonas cinzentas/negras, coloridas pela presença de matéria
carbonosa, castanhas ou avermelhadas, devido a óxidos de ferro, e verdes, devido a silicatos de Fe,Mg.

QUARTZITO
Resulta do metamorfismo de arenitos quartzosos (ver Tema V),
em que os espaços entre os grãos de quartzo da rocha original são
preenchidos por quartzo de cristalização mais tardia. Acontece
normalmente que a sílica cristalizada entre os grãos de quartzo é mais
resistente que a sílica dos grãos de quartzo, e o quartzo tende assim a
quebrar pelos grãos e não pela sílica intersticial, o que os distingue dos
arenitos quartzosos sedimentares. Este tipo de rochas forma-se em
graus de metamorfismo de temperaturas intermédias a altas.
São rochas geralmente de cores claras, branco se o quartzo
predominar, mas podendo ter várias cores em função das impurezas que Fig. 4.48. Quartzito de Manica
contém (Fig. 4.48).

CORNEANA
Grandes intrusões (batólitos, p.ex.), que levam muitos milhares a milhões de anos a arrefecer,
podem influenciar zonas muito extensas. Nestes casos, as rochas originais convertem-se em rochas
maciças, densas e muito duras, chamadas corneanas.

5.4.3. Rochas Mistas Metamórficas/Magmáticas


A grandes profundidades as temperaturas podem ser tão altas (entre 600º-800ºC) que os minerais
podem fundir (se nos recordarmos da Série de Bowen (ponto 3.1.3), vimos que os minerais cristalizam do
magma a temperaturas diferentes, começando nas olivinas e terminando no quartzo. Do mesmo modo, as
temperaturas de fusão são dispostas na ordem inversa das temperaturas de cristalização).

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Se um gneisse, consistindo de bandas claras de quartzo e feldspato alcalino alternando com


bandas escuras de minerais ferro-magnesianos, for sujeito a essas altas temperaturas, os minerais não
ferro-magnesianos, que têm um ponto de fusão menor que os ferro-magnesianos, são os primeiros a fundir.
As bandas de minerais ferro-magnesianos, com temperaturas de
fusão mais altas, podem tornar-se algo plásticas, mas mantêm-se sólidas. Se a
temperatura estabilizar a esse ponto e depois baixar, a rocha resultante seria
constituída de bandas de rocha metamórfica (constituída de minerais ferro-
magnesianos) alternando com rocha plutónica granítica de cor clara. A este
tipo de rochas mistas plutónicas/metamórficas de alto grau chama-se
migmatitos (Fig. 4.49)
No exemplo acima, se a temperatura não tivesse estabilizado, antes
porém continuasse a subir, os minerais ferro-magnesianos acabariam também Fig. 4.49. Migmatito
por fundir, originam-se assim um magma.

5.4.4. Rochas Cataclásticas


Como vimos anteriormente, as rochas cataclásticas formam-se em zonas de baixa temperatura
mas de altas pressões (metamorfismo dinâmico) que provocam a fragmentação da rocha original,
originando uma rocha com total falta de coesão. Como consequência, estas rochas são quebradiças e
facilmente fragmentáveis. O exemplo mais comum é o milonito (do Grego Mylos = moinho).

5.4.5. Outras Rochas Metamórficas


Evidentemente que os tipos de rochas metamórficas descritos anteriormente não
são os únicos, mas são os mais frequentes.
A Fig. 4.50 mostra a origem das rochas metamórficas mais comuns e a Fig. 4.51 mostra a
composição mineralógica média das mesmas. Nestas figuras podemos ver nomes como anfibolito e xisto
verde e serpentinito.

Fig. 4.50. Estrutura e mineralogia das rochas metamórficas mais comuns.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 4.51. Origem das rochas metamórficas comuns.

5.5. OCORRÊNCIA DE ROCHAS METAMÓRFICAS EM MOÇAMBIQUE


Moçambique é rico em rochas metamórficas nas províncias centrais e
nortenhas do País. As províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula,
Zambézia, Tete e Manica são constituídas praticamente só por rochas
metamórficas (Fig. 4.52).

Fig. 4.52. Ocorrência de rochas metamórficas em Moçambique

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 5: GEODINÂMICA EXTERNA

7. INTRODUÇÃO
Entende-se por Geodinâmica Externa o conjunto de fenómenos geológicos que ocorrem à
superfície da Terra (ou perto dela) e dos agentes que neles tomam parte, e que são responsáveis pelas
constantes mudanças que se verificam nessa superfície. Esses agentes são de quatro tipos: gravidade,
agentes atmosféricos, água (mares, lagos, rios, etc.) e seres vivos
A superfície da Terra (marinha e continental) está coberta por uma camada de sedimentos que,
por processos de actuação lenta, acabam por consolidar e dar origem a rochas sedimentares.
As rochas sedimentares formam-se tanto em terra como no mar, em ambientes que nos são muito
mais familiares do que os ambientes profundos da crusta onde se formam as rochas ígneas e metamórficas.
São ambientes que estão ao acesso directo dos nossos olhos. As rochas sedimentares constituem 66% da
área dos continentes e, considerando os continentes e oceanos, a sua espessura média é de 2 km.
A história da Terra caracteriza-se por mudanças constantes. Muitas dessas mudanças são muito
lentas ou mesmo imperceptíveis, mas ao fim de milhares e milhões de anos, os efeitos são dramáticos.
As rochas da Terra registaram essas mudanças e elas podem contar-nos histórias
fascinantes sobre o seu contínuo desenvolvimento.
No capítulo anterior falámos dos processos internos da Terra - magmáticos e metamórficos. As
rochas produzidas por estes processos acabam por entrar em contacto com o ar e a água à superfície da
Terra. Aqui entra em jogo um conjunto completamente diferente de processos - os processos externos.
Estes processos externos atacam as rochas ígneas e metamórficas, alterando os minerais
silicatos (e não só) e libertando os seus constituintes para as águas superficiais. Os processos externos
originam os solos de que as plantas dependem como modo de vida.
No capítulo II falámos da composição da Terra. Além da litosfera, há 3 outras "esferas" de enorme
importância para o Homem. Uma é a atmosfera, ou envelope gasoso do planeta; outra é a hidrosfera,
constituída pela água líquida dos mares, lagos, rios e oceanos; e finalmente a última é a biosfera,
constituída pelo conjunto de seres vivos que vivem à superfície da Terra. Todas estas três esferas são
importantes para os processos geológicos, incluindo a formação de rochas e minerais.
De referir que as superfícies dos continentes são lugares onde estas três "esferas" interagem
entre si e com a litosfera, sendo por isso lugares de intensa actividade química e física. Nos fundos
oceânicos a atmosfera não tem acção directa, mas também é intensa a actividade físico-química.
Durante estes processos a energia é gasta e transformada, enquanto que os materiais orgânicos e
inorgânicos são constantemente sintetizados e decompostos. A principal fonte de energia vem do Sol.
O objectivo fundamental deste capítulo é entender os processos (físicos, químicos e biológicos)
que levam à formação das rochas sedimentares

8. AGENTES DA GEODINÂMICA EXTERNA


Como vimos atrás, os agentes da geodinâmica externa são os responsáveis pelas
transformações que se verificam à superfície da Terra. Os processos naturais envolvidos
estão relacionados com a acção dos rios, vento, ondas, correntes, glaciares, água
subterrânea, seres vivos e a atracção da gravidade exercida sobre todos os materiais à
superfície. A acção global destes agentes tem como efeito a tendência de alisamento da
superfície extremamente irregular da Terra. Poder-se-á então perguntar porque é que a
Terra não tem a superfície lisa? Porque precisamente os agentes da geodinâmica interna -
tectónica de placas, magmatismo, vulcanismo e metamorfismo - têm tendência a contrariar
esta acção, provocando continuamente a formação de cadeias de montanhas e de
depressões.

2.1. GRAVIDADE

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Este é o agente mais espalhado, e que dá origem aos movimentos de terras. É um


processo que ocorre em todos os tipos de climas e joga um papel importantíssimo em
conjunto com todos os outros agentes.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

A gravidade tem um papel


importante no movimento dos
materiais encostas abaixo até
pontos de cotas mais baixas,
incluindo os rios, onde as
correntes os carregam para
longas distâncias; origina colapso
de cavernas erodidas pela água
subterrânea; actua com o vento
para originar as dunas; opera
tanto nos oceanos como em terra.
Fig. 5.1. Vala aberta no Bairro do Um exemplo nítido da acção da
Trevo. Março de 2000 gravidade é o buraco criado na
Av. Julius Nyerere, junto à
entrada do Campus Universitário,
aquando das chuvas torrenciais
de Janeiro de 2000. A Fig. 5.1
mostra um fenómeno idêntico
que ocorreu no Bairro do Trevo
Fig. 5.2. Deslizamento de terras na
ponte da Vulcano sobre a Rua dana mesma altura. Pode-se ver a
Vala. Março de 2000 dimensão enorme do buraco
criado pelo deslizamento de
terras terreno abaixo. A Fig. 5.2
mostra os deslizamentos que
ocorreram na ponte da Vulcano
sobre a Rua da Vala na mesma
altura.

2.2. AGENTES ATMOSFÉRICOS

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 5.3. Estrutura da atmosfera


Os agentes atmosféricos que agem sobre a superfície da
Terra são quatro: vento, calor, fenómenos eléctricos e precipitação
atmosférica. Mas antes deveremos falar um pouco sobre a atmosfera,
que é a camada de gases que envolve o globo terrestre. A Fig. 5.3
mostra em esquema a estrutura da atmosfera em camadas.
A parte inferior da atmosfera, que vai até uma altitude de
cerca de 10 km (Troposfera), é constituída essencialmente de oxigénio
e azoto, com quantidades menores de vapor de água, anidrido
carbónico (CO2) e outros gases (Tab. 5.1). Apesar das pequenas
quantidades, o CO2 é a principal causa do chamado efeito de estufa,
uma vez que este gás age do mesmo modo que o vidro duma estufa
que permite a entrada dos raios solares, mas impede que parte da luz
reflectida se escape, fazendo com que a energia seja retida e aqueça a
estufa. A energia retida na atmosfera é determinada principalmente pela
quantidade de CO2. Assim, o gás exerce um controle crítico da
temperatura e, consequentemente, do clima, do tamanho das calotes
polares e do nível do mar.
Entre os 40-80 km acima da superfície, o oxigénio (O2) é
convertido em ozono (O3), que absorve a luz ultravioleta e serve de
escudo protector à vida na Terra. Sabe-se que, no início, a vida
desenvolveu-se nos mares onde estava protegida desta radiação
mortal. Só quando a camada de ozono se começou a formar na
atmosfera é que a vida se aventurou em terra.
O limite inferior da atmosfera é a superfície dos oceanos e
continentes, mas não há uma fronteira superior nítida. Perto da
superfície da Terra, o ar está comprimido pelo peso do ar que lhe fica
por cima e por isso é muito mais denso. Praticamente todo o ar está até
aos 96 km acima da superfície. Acima dos 960 km a atmosfera consiste
de hélio e hidrogénio e acima dos 2400 km só existem partículas de
hidrogénio.

xcvii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Tab. 5.1. Composição da Troposfera.


%. Vol.
Constituintes Azoto (N2) 78.1
praticamente constantes Oxigénio (O2 ) 20.9
em abundância relativa
Árgon (Ar) 0.9
Anidrido Carbónico (CO 2) 0.03
Constituintes que Vapor de água (H2O)
variam em Ozono (O3)
abundância Dióxido de Enxofre (SO 2)
Dióxido de Azoto (NO 2)
Monóxido de Carbono (CO)
Constituintes que Néon (Ne)
ocorrem em quantidades Hélio (He)
vestigiais Crípton (Kr)
Xénon (Xe)
Hidrogénio (H2)
Metano (CH4)
Óxido Nitroso (NO 3)
Rádon (Rd)

Se bem que a atmosfera junto à superfície da Terra seja constituída maioritariamente por azoto, é
a presença do oxigénio, CO2 e vapor de água que mais interessa aos geólogos. A grande maioria dos
organismos não pode sobreviver sem oxigénio, e o CO2 é vital para as plantas (fotossíntese). A água, que
ocorre como vapor em quantidades relativamente pequenas, desempenha vários papeis vitais: é essencial à
grande maioria dos seres vivos, é o principal agente de absorção do calor na atmosfera e é a principal
substância envolvida nos processos de erosão e meteorização.
A atmosfera está em constante agitação e movimento, como se pode ver pelos padrões climáticos
mundiais, agitação e movimento esses que têm como causa principal a energia solar. As deslocações de ar
têm o nome de ventos.
Devido à forma esférica da Terra, o calor do sol é
mais concentrado nas regiões equatoriais do que nas
regiões polares (Fig. 5.4). Assim, por cima do Equador a
atmosfera é mais quente do que sobre os pólos. Devido a
estas mudanças de temperatura, a atmosfera é palco de
correntes de convexão (Fig. 5.5), como acontece no manto
(ver Capítulo II). Assim, o ar quente do equador circula para
os pólos e o ar frio dos pólos circula para o equador, num Fig. 5.4. Irradiação diferente no equador
e nos pólos por parte da luz solar
processo contínuo. É evidente que o esquema da Fig. 5.5 é
extremamente simplificado, pois considera a Terra uma
superfície lisa, o que não é verdade. A Terra tem enormes
acidentes geográficos que alteram por completo este modelo
simplista, dando origem a variações locais a que se dá o
nome de microclimas. Vejamos então quais são as acções
dos agentes atmosféricos.
a) Acções Térmicas: as acções térmicas fazem-se sobretudo Fig. 5.5. Correntes de convexão
atmosférica
sentir nas regiões com diferenças térmicas diárias ou anuais
muito grandes. Um caso típico é o dos desertos, onde durante o
dia o calor é imenso, e à noite a temperatura baixa, por vezes
abaixo de 0ºC. Quando a temperatura sobe durante o dia, os
corpos dilatam e à noite, contraem por abaixamento de
temperatura, por vezes bruscamente. Só o facto de os materiais
dilatarem e contraírem alternada e constantemente já é razão
suficiente para que os grãos se comecem a separar uns dos
outros e a rocha se desagregue, por um lado, e vá criandoFig. 5.6. Acção térmica do gelo-degelo
fracturas (diaclases) por outro. Ainda, sendo as rochasda água. A. Água congelada,
aumentando os espaços das fracturas;
constituídas por grãos de diversos minerais, cada um com o seuB. Detritos depositados no sopé do
coeficiente de dilatação próprio, a resposta de cada mineral àsdeclive por acção da gravidade
variações de temperatura vai ser diferente, o que ajuda à
desagregação e fracturação.Obviamente que estas variações

xcviii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

são mais fortes à superfície do que em profundidade, o que faz


com que a desagregação seja mais forte à superfície do que em
profundidade.Esta é uma razão para a origem dos solos.
As fracturas e espaços criados pela desagregação das rochas são espaços por onde a água se infiltra.
Se as temperaturas forem muito baixas, a pontos de a água congelar, há um aumento de volume da
água. Este aumento de volume vai exercer pressões enormes nas rochas, ajudando à fracturação. Por
exemplo, a água contida em fracturas congela e o gelo funciona como uma espécie de cunha que vai
alargando as fracturas (Fig. 5.6).
b) Acções eléctricas: são exercidas pelo raios e faíscas que
podem fragmentar ou fundir as rochas onde caem. Quando um
raio cai num terreno, ele descarrega milhões de volts em
fracções de segundo. Este enorme fluxo de energia pode fundir o
material que encontra, em especial se for solto como a areia,
devido às enormes temperaturas criadas. O arrefecimento
seguinte é muito rápido, deixando no terreno a verdadeira e a
própria forma do raio como uma marca deixada em barro (Fig.
5.7). A estes corpos de aspecto vítreo provocados por descargas
Fig. 5.7. Exemplo dum fulgorito
eléctricas dá-se o nome de fulgoritos.
c) Acções mecânicas: são produzidas pela precipitação atmosférica
(chuva) e pelos ventos. Se observarmos uma imagem do impacto
duma gota de água sobre a areia, pode ver-se que esta é
deslocada por acção do impacto (Fig. 5.8). Se agora milhões
destas gotas embaterem em simultâneo sobre uma superfície,
podemos imaginar o efeito global durante uma chuvada. A acção
também é efectiva sobre rochas duras, mas o seu efeito é
imperceptível, e só ao fim de muitos anos é que o efeito é visível.
Daí o ditado: água mole em pedra dura tanto bate até que fura! Fig. 5.8. Impacto duma gota de chuva
Quando a chuva cai, o impacto de cada gota de chuva tem um efeito profundo na taxa de erosão dum
determinado sítio. O impacto pode separar agregados de solo e levantar as partículas até cerca de 1/2
metro de altura e afastá-las a cerca de 1.5 metros de distância. Estes valores variam com o tamanho e
velocidade de queda da gota, e das características do solo e da vegetação.
O vento resulta de deslocações de ar provocadas por variações de pressão atmosférica e de
temperatura. Tem efeitos vários, desde a destruição ao transporte.
As acções mecânicas são de vários tipos: destruição, transporte e sedimentação.
 Acções de destruição e transporte: o vento desnuda as
rochas, arrancando-lhes todas as partículas soltas que se
encontram à superfície - deflação. A deflação é tanto mais
facilitada quanto menos vegetada for a área. São exemplos
destes locais as zonas desérticas e semi-desérticas, as zonas
de leitos secos de rios e lagos, etc. As partículas arrancadas
são depois transportadas para outros locais, mais ou menos Fig. 5.9. Grãos polidos e facetados
longe do local de origem, em função da força e da duração do por acção do vento
vento. As partículas, ao serem transportadas pelo vento, batem
umas nas outras e nas rochas, desgastando-se mais ainda,
através do processo de abrasão (Fig. 5.9) Todos temos a ideia
deste fenómeno quando estamos na praia em dias ventosos e
sentimos as picadelas da areia na pele.
Nas regiões desérticas são frequentes as tempestades de areia
(Fig. 5.10), provocadas por fortes ventos soprando sobre as
Fig. 5.10. Tempestade de areia em
dunas. Nestes casos o desgaste é particularmente intenso, e as Porto Sudão, junto ao Mar Vermelho
partículas tornam-se polidas e facetadas.
Não só o vento é responsável pela destruição e pelo transporte.
A água e o gelo também. Na Fig. 5.1 pode ver-se a acção de
desgaste das águas da chuva sobre o solo. O mesmo se passa
com os glaciares ao se moverem sobre as rochas: desgastam e
transportam. A Fig. 5.11 mostra um bloco balançante produzido
pelo desgaste das rochas pelas partículas transportadas pelo
vento. As acções mecânicas da água como agente atmosférico
Fig. 5.11. Rocha balançante como

xcix
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resume-se à destruição pelo impacto da queda das gotas de resultado da acção do vento. Jardim
chuva no solo. dos Deuses, Colorado, EUA

 Acções de sedimentação: a sedimentação dá-se quando a


velocidade e a força dos agentes transportadores diminui a ponto
de ser inferior à atracção da força da gravidade, ou quando estes
agentes encontram no seu caminho obstáculos que impeçam o
transporte (Fig. 5.12).
Fig. 5.12. Acumulação de areia atrás
dum obstáculo

d) Acções químicas: são variadas as acções químicas provocadas pelos agentes atmosféricos
principalmente a água (H2O) e gases atmosféricos (O2, CO2 e H2O). As rochas mais facilmente
atacáveis são os calcários, através das águas gaso-carbónicas, isto é, com CO2 dissolvido, em que
estas atacam o carbonato de cálcio (insolúvel) em bicarbonato de cálcio (solúvel), segundo a reacção:

CaCO3  H2O CO2 Ca(HCO


3 )2

carbonato bicarbonato…

O bicarbonato de cálcio é depois levado em solução pela água. As


rochas calcárias são assim corroídas, abrindo-se buracos e
cavidades que, com o tempo, se vão alargando, chegando a tornar-
se verdadeiras grutas, como as da Fig. 5.13.
Sabe-se também que o CO2 na presença da água ataca os silicatos
aluminosos (feldspatos, micas, etc.), transformando-os em minerais
de argila, em sílica e carbonatos solúveis.
Nas rochas com ferro, este é oxidado pelo oxigénio do ar, formando-
Fig. 5.13. Grutas calcárias de Mira
se óxidos de ferro de aspecto terroso, sendo as rochas como que D’Aire, Portugal
pulverizadas à superfície, com um aspecto avermelhado-acastanhado.

2.3. ÁGUA
A água, como agente da geodinâmica externa já foi referida anteriormente, ao se falar da sua
acção como agente atmosférico: água e vapor de água, participante em acções de desgaste e química.
Veremos agora a acção da água no seu sentido mais completo, isto é, como água continental, oceanos e
água na forma sólida (gelo).
2.3.1. Águas Continentais
Engloba-se neste grupo as águas dos cursos de água (rios, riachos, ribeiros), das bacias interiores
(lagos, lagoas, mares) e subterrâneas. Todos estes tipos de água têm efeitos mais ou menos profundos na
alteração da crusta, quer através de acções construtivas quer destrutivas.
2.3.1.1. Rios, Riachos, Ribeiros
Os rios são agentes de erosão, transporte e sedimentação. Quer dizer, arrancam os materiais sobre
os quais correm (erosão), transportam esse material a distâncias mais ou menos longas corrente abaixo
(transporte), depositando mais tarde esse material (sedimentação), ou no fundo do seu leito, ou nas suas
margens, ou descarregando-o ainda em lagos, mares e oceanos.
A Fig. 5.1 mostra uma vala cavada pelas águas das chuvas que, devido à sua força e quantidade,
se transformaram provisoriamente num rio caudaloso que erodiu todo aquele material, transportou-o
encosta abaixo e descarregou-o nas águas da baía de Maputo. Se hoje formos à praia junto ao Miramar,
vemos que a areia da praia tem uma cor avermelhada e não branca, como era antes, resultado de
fenómenos idênticos que se verificaram nas barreiras ao longo da Av. Julius Nyerere, em frente ao Campus
Universitário da UEM. A Fig. 5.14 mostra uma fotografia aérea da Baía de Maputo, onde estão assinalados
os rios Umbelúzi, Maputo e Incomáti, podendo ver-se nas zonas marcadas por A, B e C, as manchas de
material trazidos para as águas da Baía por estes rios.
Os rios transportam não só os materiais que eles próprios arrancam dos locais por onde passam,
mas também aqueles materiais que lhes são fornecidos pelas águas das chuvas e pelos deslizamentos de
terras ao longo dos seus cursos.

c
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

A principal origem das águas fluviais é a água das


chuvas e doutros tipos de precipitação, como a neve.
Contudo, só uma pequena parte destas precipitações vai
para os rios, sendo, apesar de tudo, uma grande quantidade
de água.
A energia dos rios provém da atracção que a força
da gravidade exerce sobre as suas águas. Essa energia,
chamada de energia potencial, é calculada pela fórmula:

Ep  m  g  h
em que:
m = massa,
g = aceleração da gravidade, e
h = altitude a que está a água.
Assim, quanto mais alto estiver um leito dum rio,
maior será a sua energia potencial. Esta energia é que é
responsável pela capacidade destrutiva dum rio e da sua Fig. 5.14. Imagem satélite da Baía de Maputo, podendo
ver-se am A, B e C os sedimentos trazidos pelos rios
capacidade de transporte de sedimentos. Incomáti, Umbelúzi e Maputo.

Entende-se por Caudal dum rio a quantidade de água que passa numa secção desse rio na
3
unidade de tempo (m /s). Quanto maior o caudal, maior a velocidade das águas do rio, e maior a sua força
destrutiva.
A velocidade é determinada por vários factores:
 Rugosidade de fundo (do leito);
 Forma do canal;
 Curvatura do leito;
 Inclinação do rio;
 Quantidade de água disponível.
A quantidade de água é função de factores climáticos (precipitação, evaporação), vegetação e
permeabilidade dos solos. Quanto maior a inclinação dum leito do rio, maior a velocidade de escoamento da
água. A curvatura dum rio tem tendência a abrandar a velocidade da água, bem como os fundos rugosos
(estes têm tendência a tornar o fluxo da água turbulento). Assim, dentro dum mesmo rio, a velocidade varia
de local para local.
Vejamos a Fig. 5.15 que mostra o leito dum rio com curvaturas
e três secções desse mesmo leito em sítios diferentes (A, B e C). Se
compararmos as secções A e C, vemos que elas são idênticas na
forma, mas inversas no espaço. Há uma zona mais profunda e
inclinada numa das partes laterais, sendo a outra mais suave.
Acontece que, nestes dois casos, a velocidade é máxima na zona mais
profunda e menor na zona menos profunda. O que acontece então é Fig. 5.15. Esquema do leito dum rio e de
que na zona mais profunda, por a velocidade ser máxima, a força três secções em sítios diferentes
erosiva é maior, ao passo que na zona menos profunda, a força é menor, havendo então deposição de
sedimentos (sedimentação). Na zona B, a velocidade é máxima na zona central do leito, não havendo
erosão/sedimentação apreciáveis.
Em períodos de cheia, a altura da água é maior do que a do canal, e a água transborda, fazendo
aumentar a zona "molhada" (zona alagada). Assim, as águas espraiam-se pelas margens dos rios, fazendo
com que a velocidade diminua. Esta diminuição de velocidade faz com que os sedimentos transportados
pelas águas se depositem e esta a razão porque os terrenos que sofreram cheias são normalmente
extremamente ricos para a agricultura.

2.3.1.2. Águas Subterrâneas


Como o próprio nome indica, água subterrânea é água que se encontra no subsolo, preenchendo
aberturas, cavidades, fracturas e outros espaços, esteja parada ou em movimento.
As águas subterrâneas têm duas origens:

ci
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a) Águas provenientes duma fonte magmática profunda - águas juvenis;


b) Águas provenientes das chuvas e águas superficiais que se infiltram no solo - águas meteóricas.
A importância geológica das águas subterrâneas pode ser vista pelos seguintes aspectos:
i) é uma parte importante do ciclo hidrológico (ver adiante ponto 2.3.4);
ii) provoca trabalho geológico dissolvendo e depositando substâncias no subsolo;
iii) fornece aos seres vivos (incluindo o Homem) parte importante das suas necessidades em água;
iv) é um factor importante no controlo da distribuição da vegetação.
O papel geológico da água subterrânea é enorme. Todos já ouvimos falar em grutas e cavernas
subterrâneas, que ocorrem normalmente em formações calcárias. Em Moçambique, na Província de
Inhambane, região de Jofene, há inúmeras cavernas calcárias. Na África do Sul, as famosas grutas de
Sudwala (Nelspruit-Mpumalanga) e de Kango (Outdshorn - Cape Province) são exemplos majestosos de
cavernas calcárias, que atraem milhares de turistas anualmente. A Fig. 5.13 mostra as Grutas de Mira
d'Aire, em Portugal.
Como se pode bem entender, o trabalho principal das águas subterrâneas na formação das grutas
é um trabalho de dissolução/corrosão, ou seja, de remoção de material e transporte do mesmo em
solução para outros locais, onde se deposita por precipitação. Este material precipitado pode dar origem às
famosas estalactites e estalagmites, bem como pode ser depositado entre grãos soltos de sedimentos,
servindo assim de cimento para os consolidar, transformando-os em rochas sedimentares consolidadas.
As águas subterrâneas também originam fenómenos de substituição química/mineral, dando
origem às pseudomorfoses de que falámos no Capítulo III. As famosas madeiras petrificadas resultam dum
processos destes, em que a matéria lenhosa é progressivamente substituída por sílica. Um exemplo é o
tronco fossilizado à entrada do Departamento de Geologia da UEM proveniente duma floresta petrificada do
Mágoè (Província de Tete), hoje em grande parte submersa pelas águas de Cahora Bassa.

2.3.1.3. Águas de Lagos e Lagoas


Vejamos a Fig. 5.15 que mostra o leito dum rio com
curvaturas e três secções desse mesmo leito em sítios diferentes (A, B
e C). Se compararmos as secções A e C, vemos que elas são idênticas
na forma, mas inversas no espaço. Há uma zona mais profunda e
inclinada numa das partes laterais, sendo a outra mais suave.
Acontece que, nestes dois casos, a velocidade é máxima na zona mais
profunda e menor na zona menos profunda. O que acontece então é
que na zona mais profunda, por a velocidade ser máxima, a força
Lagos, lagoas e outras águas interiores são massas de águas
continentais resultantes da acumulação de água em depressões
topográficas, por existência de obstáculos à sua fluxão.
A água dos lagos provém essencialmente dos rios
que neles desaguam e, em parte, das águas das chuvas eFig. 5.16. Evolução dum lago. A. Lago
neve (quando derrete). inicial; B. Lago parcialmente coberto por
sedimentos; C. Lago completamente
Sendo regiões de topografia baixa onde desaguam os rios,preenchido por sedimentos onde um rio
são também locais onde os sedimentos se vão depositando, chegandocavou o seu vale.
mesmo a encher completamente o lago, a ponto de a água ser expulsa
(Fig. 5.16).
Os lagos podem ter várias origens, e assim serem classificados de:
a) Lagos tectónicos: ocupam depressões produzidas por movimentos crustais (dobramentos,
falhamentos). É o caso do Lago Niassa (Fig. 5.17);
b) Lagos de erosão: quando preenchem depressões resultantes da erosão;
c) Lagos costeiros: resultam dum recuo do nível do mar ou por deposição de bancos de areia ao
longo da costa. É o caso das lagoas do Bilene, Quissico, Nhamavale (Chidenguele), Poolela
(Inharrime), etc. (Fig. 5.18);

cii
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d) Lagos de barragem: formam-se por acção de um


acidente natural - intersecção dum vale de rio por uma
torrente de lava ou por materiais resultantes dum
deslizamento de terras;
e) Lagos vulcânicos: quando ocupam crateras de
vulcões ou caldeiras. É o caso da Lagoa das Sete Fig. 5.17. À esquerda, mapa
Cidades, nos Açores ou a Crater Lake, no Oregon-EUA com a localização do lago
(Fig. 5.19); Niassa e do Rio Chire,
ligando o Lago ao Rio
f) Lagos artificiais: resultantes da construção de diques Zambeze. Em baixo, imagem
e barragens. Como exemplos de Moçambique, citemos do Lago Niassa entre
Metangula e Cóbuè.
os Lagos de Cahora Bassa (Fig. 5.20), de Massingir,
dos Pequenos Libombos, da Chicamba Real. No Rio
Zambeze há ainda a referir o Lago Karibe.
As águas dos lagos podem alimentar rios (Lago Niassa
que alimenta o Rio Chire, que desagua no Rio Zambeze), estar no
percurso dum rio (Lago Malombe no Rio Chire) ou ser receptores de
águas de rios (quase todos; Lago Chilua, Malawi).
A principal acção geológica dos lagos é de deposição
(Fig. 5.16). As acções de erosão e transporte, especialmente nos
pequenos lagos, são insignificantes.

Fig. 5.19. Crater Lake (Oregon, EUA), lago


Fig. 5.18. Lagoas costeiras do sul de formado no interior duma caldeira. No
Moçambique centro pode ver-se novo cone vulcânico
B
Fig. 5.20. A. Mapa com a localização do
Lago de Cahora Bassa; B. Foto do lago
junto à barragem

2.3.2. Água dos Oceanos


O mar é o local onde se depositam os sedimentos gerados nos continentes e terras firmes,
constantemente drenados pelos rios para as bacias oceânicas. Só cerca de 10% dos sedimentos
depositados no mar são originados pelo próprio mar.
As linhas de costa são zonas onde existe sempre uma interacção entre forças destrutivas,
resultando na erosão, e construtivas, por acumulação de detritos, estabelecendo-se a transição entre os
ambientes continentais e os ambientes marinhos.
A acção do mar sobre as costas é essencialmente mecânica e chama-se abrasão. Esta acção
mecânica é devida fundamentalmente às marés, correntes e ondas.
Maré é a subida e descida rítmica do nível do mar, que são devidas às forças de atracção que
existem entre a Terra e a Lua e, em menor escala, o Sol (Lei de Newton). As marés vivas ocorrem quando o
Sol e a Lua se encontram do mesmo lado, isto é, em fase de Lua Nova. Em fases de Quarto Crescente e
Decrescente, ocorrem as marés mortas.

ciii
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O principal interesse geológico das marés é o seu poder erosivo. A diferença de


nível entre marés pode atingir 20 metros (Baía de Fundy, Canadá, entre a Nova Escócia e
a Nova Inglaterra), 12 metros (Baía de Malo, na Bretanha em França), ou, como é
habitual, entre 2 e 3 metros. A velocidade das águas durante as marés podem atingir os
28 km/h.
Em locais planos junto ao mar, onde há grandes diferenças de nível entre marés, pode acontecer
que o fluxo dos rios inverta e a água dos rios comece a subir para montante em vez de descer a jusante.
A acção transportadora dos rios é grande. Algumas experiências mostram que água a uma
velocidade de 1 km/h pode transportar areia de grão médio, enquanto que a 5 km/h, já transporta cascalho
com 2 cm de diâmetro.
As ondas são movimentos da água provocados pela acção dos ventos. Ao se aproximarem das
costas, as ondas quebram e batem com toda a força. A Fig. 5.21 mostra como a forma das ondas evolui
desde o mar aberto até à costa.
As ondas geram uma acção de limpeza em todas as costas onde batem. Todos nós percebemos a
capacidade que o mar tem de modificar permanentemente as costas. Vejamos a erosão que o mar estava a
fazer junto ao Clube Naval em Maputo, em que foi necessária a intervenção humana para conter o avanço
do mar (Fig. 5.22). O mesmo aconteceu na Costa do Sol em frente ao restaurante.

Fig. 5.21. Esquema elucidativo da formação de ondas


Fig. 5.22. Obras de protecção da costa
junto ao Clube Naval, Maputo

As ondas carregam consigo calhaus, seixos e areia, e


ao embaterem na costa, desgastam-na, erodem falésias na
base e talham qualquer rocha exposta ao seu nível (Fig. 5.23).
Em zonas onde as costas são constituídas por materiais
brandos ou pouco consolidados, essa acção de desgaste é
maior e mais rápida.
Sob a acção de ventos permanentes, as ondas crescem em Fig. 5.23. Erosão costeira no Mar do
tamanho e velocidade, até um valor máximo imposto pela fricção. O valorNorte, Reino Unido, mostrando os
efeitos desastrosos do rápido recuo das
máximo que se mediu até hoje é de 35 metros, mas raramente excedem osfalédias devido à erosão de fortes ondas
15 metros (Fig. 5.24).

Fig. 5.24. Onda assimétrica provocada por ventos fortes

2.3.3. Glaciares e Neve


Entende-se por Glaciar enormes massas de gelo em movimento (Fig. 5.25) e Neve é precipitação
de água no estado sólido.

civ
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A neve e o gelo cobre cerca de 10% das terras emersas e 15.6% da superfície terrestre, em zonas
onde predominam temperaturas inferiores a 10°C, ou seja, regiões polares e zonas de grande altitude –

cv
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Zona da neve eterna. O limite inferior da zona da neve eterna é variável,


em função da latitude. Assim, nos polos, o limite inferior coincide com o
nível do mar (0 metros), enquanto que nas zonas tropicais/equatorial, esse
limite encontra-se aos 5000 metros (por exemplo, Monte Kilimanjaro, no
Quénia). Já nos Alpes (zona temperada) esse limite está aos 2600-3100
metros. Esses limites, além de variarem com a latitude, variam com as
estações do ano. Assim, no verão esse limite sobe, enquanto que no
inverno desce.
Para a formação dos glaciares, há dois requisitos fundamentais,
que existem, como se viu, nas regiões polares e em grandes altitudes:
a) precipitação atmosférica (em forma de neve); Fig. 5.25. Imagem dum glaciar, na Ilha
Ellesmer, Canadá
b) temperaturas suficientemente baixas para permitir a
acumulação de neve.
Quando a temperatura desce abaixo de 0°C, algum vapor
atmosférico solidifica, originando cristais de neve (sistema hexagonal, Fig.
3.26). A acumulação destes cristais origina os campos de neve, de textura
porosa e fofa, de densidade igual a 0.05, estando os poros cheios de ar.
À medida que o tempo passa, a neve vai-se acumulando, e nas
zonas mais profundas a neve começa a adiminuir a sua porosidade e a
compactar, originando gelo granular (Fig. 5.26). Ou seja, passamos duma
situação em que um sedimento solto (neve) passa a uma rocha sedimentar
consolidada (gelo). O ar vai sendo expulso dos poros, e a densidade vai
aumentando. Quando esta densidade atinge 0.8, passamos a ter uma Fig. 5.26. Transformação da neve em
rocha metamórfica. gelo

É interessante notar que a dureza do gelo é muito variável, consoante a temperatura a que se
encontra. Assim, a 0°C, a dureza é de 1-2 (talco-gesso), mas a –50°C a dureza é 6 (ortoclase).
O gelo é muito pouco resistente às tensões e por isso move-se e deforma-se facilmente. O
movimento dá-se por acção da gravidade e acontece quando as camadas mais inferiores do gelo sobre o
substrato rochoso fundem. Neste caso, os movimentos são lentos. Há, contudo, movimentos rápidos, a que
se dá o nome de avalanches (Fig. 5.27).
Como resultado do seu movimento, os glaciares apresentam à sua superfície inúmeras fendas,
algumas das quais chegam a atingir 100 metros de profundidades. O movimento dos glaciares pode ser
posto em evidência através dum método simples, como ilustra a Fig. 5.28. Também a mesma figura mostra
que a velocidade do movimento do glaciar varia:
a) é maior na parte média (100 m/ano) do que nos flancos;
b) é maior à superfície que no fundo;
c) aumenta com o declive.

Fig. 5.28. Movimento de glaciar

Fig. 5.27. Imagem duma avalanche

Apesar de serem enormes massas de gelo, os glaciares podem apresentar


fenómenos de fusão, quer à superfície, quer nos flancos, quer ainda no seu fundo. A
fusão superficial é geralmente causada por variações sazonais do clima, ao passo que a
fusão nos flancos é causada por contacto com rochas mais quentes. Por seu lado, a fusão
de fundo é causada pela pressão das camadas superiores de gelo sobre as inferiores.

cvi
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Todos estes fenómenos de fusão levam a que as águas resultantes desçam até
ao fundo, constituindo a torrente subglaciar.
Os glaciares e acumulações de gelo atingem o seu máximo sobre a Antártida e
sobre a Gronelândia. Assim, no continente austral a espessura ultrapassa os 4000 metros
e na Gronelândia ultrapassa os 3000 metros.
A acção geológica dos glaciares é imensa, desde a erosão,
ao transporte e à sedimentação. Como se pode bem imaginar, o
deslocamento de milhões de toneladas de gelo sobre um substrato
rochoso provoca um desgaste imenso (erosão), levando ao arranque
de enormes quantidades de rochas e polindo o substrato onde o gelo
se desloca. Também o substrato fica riscado pelo arrasto dos blocos
de rocha. Assim, o aparecimento de superfícies rochosas polidas e
estriadas são indicativas de antigos leitos de glaciares. Por outro lado,
os vales onde em tempos fluiram glaciares têm a forma de um U (Fig.
5.29), em contrapartida aos vales dos rios, que têm a forma de um V.
O transporte de sedimentos pelos glaciares dá-se tando à superfície, nos Fig. 5.29. Vale glaciar em U
bordos e no fundo, sendo nestes últimos dois locais onde o transporte é maior, por
ser aí que se dá o contacto gelo/rocha. A carga aqui transportada é geralmente da
dimensão de areia e de silt. Por seu lado, a carga de superfície tem origem na queda
de material das encontas dos pontos mais altos do vale, e aí as
dimensões dos sedimentos podem ser enormes (algumas toneladas),
chamando-se blocos erráticos (Fig. 5.30).
A deposição dá-se quando o gelo derrete. Assim, a maior
parte dos depósitos glaciares concentra-se na foz dos glaciares, isto é,
na sua parte terminal. A acumulação de depósitos glaciares tem o
nome de moreias, e podem ser moreias terminais ou moreias laterais.

Fig. 5.30.Enorme bloco assente sobre gelo


glaciar. Comparar com o tamanho do
helicóptero. Ilha de Baffin, Canadá.

2.3.4. O Ciclo Hidrológico


Depois de termos falado da água como agente da Geodinâmica Externa, tanto na forma gasosa,
como líquida e sólida, convém agora fazermos referência ao Ciclo Hidrológico, definido como o processo de
transferência da água de reservatório para reservatório, ou seja, como ela se move de lugar para lugar. A
Fig. 5.31 mostra um esquema representativo do ciclo hidrológico.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 5.31. Ciclo hidrológico

cviii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Na Terra há vários reservatórios de água: oceanos, rios, lagos, glaciares, espaços no subsolo, a
6 3
atmosfera e a biomassa (seres vivos), dos quais os oceanos contêm a maior parte da água (1350x10 km ).
A água é anualmente transferida de reservatório para reservatório, mas a quantidade total de água
mantém-se constante e em equilíbrio
3 3
A água que se evapora anualmente dos oceanos, 361x10 km /ano (equivalente a uma camada de
água de 1 metro de espessura), é superior à quantidade de precipitação anual sobre os oceanos (324x103
km3/ano). O excesso (37x103 km3/ano) é levado para cima dos continentes pela atmosfera.
3 3
Sobre os continentes, ocorre o oposto: mais água cai (99x10 km /ano) do que sai pela
3 3
evapotranspiração (62x10 km /ano). A evapotranspiração engloba as perdas de água por evaporação e
por transpiração dos seres vivos.
3 3
O ciclo fecha-se e equilibra quando os rios removem o excesso de água (37x10 km /ano) para os
mares e oceanos. Por seu lado, os glaciares, ao derreterem, contribuem com água líquida que tende a ir
também para os oceanos.
Os processos vulcânicos, contudo, adicionam continuamente ao ciclo quantidades de vapor de
água de que não se sabem os valores.

2.4. OS SERES VIVOS


Os seres vivos, tanto animais como plantas, têm um papel extremamente activo na modelação da
crusta terrestre. A actuação dos seres vivos sobre a crusta tanto pode ser construtiva como destrutiva
(demolidora).

2.4.1. Seres demolidores


a) Animais: entre os animais demolidores, temos a referir os
fóladas (teredos), que são moluscos lamelibrânquios que furam
as rochas e por isso são chamados de litófagos (Fig. 5.32). Há
ainda animais escavadores, como as minhocas, as formigas, as
térmites, as toupeiras, os ratos, os coelhos, etc., que revolvem
a terra, facilitando uma maior acção dos agentes atmosféricos. Fig. 5.32. Molusco litófago responsável
pela destruição de rochas
b) Plantas: as plantas superiores, por intermédio das suas raízes,
colaboram activamente na destruição da crusta (Fig. 5.33). Por
um lado, estas raízes, crescendo em fendas das rochas,
actuam como verdadeiras cunhas, fazendo desconjuntar as
rochas mais resistentes. Por outro lado, as raízes corroem as
rochas através das trocas químicas resultantes do seu
metabolismo. Aqui intervêm também bactérias, algas, fungos,
líquenes e musgos.
Se, por um lado, estes seres têm estas acções destrutivas, eles
estão por outro lado a contribuir para a formação de solos,
essenciais para a agricultura. Fig. 5.33. Acção das raízes duma
árvore

2.4.2. Seres construtores


a) Animais: entre os animais construtores, os mais activos são os corais, criando enormes recifes
de coral. A Grande Barreira de Coral da costa oriental da Austrália (Fig. 5.34) é o exemplo mais
espectacular, com mais de 4000 km de extensão. A maior parte dos organismos com conchas
calcárias ou siliciosas – foraminíferos, gasterópodes, lamelibrânquios, etc – ao morrerem, as
conchas depositam-se no fundo das águas dos mares e lagos. Ao longo do tempo, essa
acumulação pode ser tão grande, que as conchas acabam por consolidar, dando origem a
rochas sedimentares calcárias constituídas quase só por restos de conchas.
b) Plantas: as algas calcárias e as diatomácias (carapaça siliciosa) formam bancos calcários e
siliciosos com vários metros de espessura e largas áreas. No sul de Moçambique existem
depósitos de diatomitos enormes, resultantes da acumulação de carapaças de diatomácias.
Outras rochas têm origem em plantas, como o caso dos carvões.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 5.34. Imagem de coral e localização geográfica da Grande Barreira de Coral na Austrália

2.4.3. O Homem
A acção humana tanto pode ser demolidora como construtora, e de impedimento da actuação dos
agentes da Geodinâmica Externa.
Como acção demolidora, falamos da abertura de túneis, de minas, de canais, de estradas, etc. A
construção de barragens cria lagos artificiais a montante e diminuição de caudais a jusante, com
consequências graves para o ambiente. As desflorestações, quer para o fabrico de carvão de lenha, quer
para a abertura de machambas, ou ainda exploração de madeira (Amazónia) contribuem para um aumento
da desertificação do planeta, aumentando a erosão. Também o cultivo irracional e intensivo provoca a
esterilização de terrenos, aumentando também o grau de erosão.
No entanto, o Homem empreende também acções de correcção da Natureza, como seja na
correcção dos leitos dos rios, na luta contra a desertificação através da arborização, na protecção de costas
(Fig. 5.22). A recente obra de engenharia na barreira da Malanga em Maputo, é um exemplo de construção
para deter a erosão por parte dos agentes atmosféricos.

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TEMA 6: METEORIZAÇÃO - SOLOS - MOVIMENTOS DE TERRA -


ROCHAS SEDIMENTARES

9. INTRODUÇÃO
Nos capítulos anteriores olhámos para as características gerais da Terra - a sua superfície sólida,
as camadas líquida, gasosa, de gelo. Examinámos a crusta, composta de minerais e rochas, e os
mecanismos que se processam no seu interior - magmatismo, metamorfismo, tectónica de placas. Fizemos
referência aos agentes da geodinâmica externa, isto é, aqueles que modelam a superfície da Terra.
Vamos agora examinar os processos externos em mais detalhe, ou seja, aqueles que são mais
directamente observáveis pelo Homem. Estes processos formam uma cadeia em que as rochas são
partidas, transportadas como sedimentos que são posteriormente depositados para formar camadas
(estratos) que se transformam em rochas sedimentares.
É por isso lógico começar com os processos de meteorização e erosão, através dos quais as
rochas são desintegradas e decompostas, resultando em fragmentos que iniciam uma viagem encostas
abaixo, ou formando solos. Vamos começar pela meteorização.

10. METEORIZAÇÃO
Entende-se por meteorização o conjunto dos processos de decomposição
química e degradação física que os materiais rochosos sofrem quando expostos ao
ar, humidade e matéria orgânica.
Desde há muito que os povos têm procurado rochas duráveis
para a construção de edifícios, túmulos e outras estruturas, mas o
sucesso tem sido variado. A durabilidade duma rocha varia com o
clima, composição, textura e grau de exposição aos agentes
atmosféricos. Se as pedras tumulares começam a degradar-se ao fim
de alguns séculos (Fig. 6.1), o que se passará com rochas expostas ao
longo de milhares ou milhões de anos?
Duma forma rápida ou lenta, a alteração química e física ocorre em
qualquer ponto em que a litosfera esteja em contacto com a atmosfera. Contudo este
contacto não é nítido, não sendo por isso uma superfície de contacto, mas sim uma Fig. 6.1. Pedra tumular
zona de contacto, com uma determinada espessura/profundidade. Ela estende-se a (Canadá) de há 180 anos
atrás
qualquer profundidade em que o ar e a água possam penetrar. Nesta zona crítica,
tanto a biosfera como a hidrosfera jogam um papel importante.
A zona de alteração físico-química das rochas constituí uma rede porosa, cheia de fracturas,
fissuras, poros e outros tipos de aberturas, algumas delas muito pequenas, mas em que no cômputo global
tornam a rocha vulnerável. Esta rede de espaços abertos é constantemente atacada física e quimicamente
por soluções aquosas. O resultado, ao fim de tempo suficiente, é uma alteração geral da rocha.
Uma vez exposta à atmosfera, nenhuma rocha escapa à meteorização
(seja rocha natural, seja estrutura feita pelo Homem). Isso é visível em cortes
abertos para a construção de estradas. É frequente verem-se situações como as
ilustradas na Fig. 6.2 em que, na parte de baixo se vê rocha fresca, inalterada (1),
que gradua imperceptivelmente para cima para rocha já atacada quimicamente
mas que ainda preserva a sua estrutura (2) e, mais para cima ainda, gradua para
material, normalmente solto - rególito, em que a estrutura da rocha já não é
visível (3) (entende-se por rególito a cobertura de partículas rochosas soltas, não
cimentadas, que geralmente cobre as rochas frescas).
No caso da Fig. 6.2, o rególito foi formado in situ por alteração da rocha
subjacente. Diz-se por isso que o rególito é residual. Em muitos lugares, contudo, o
rególito é tão diferente da rocha subjacente, que não poderá ter resultado da
alteração dessa mesma rocha subjacente. Em seu lugar, o rególito residual original Fig. 6.2. Perfil de meteorização
mostrando a gradação
foi carregado para outro local e em seu lugar depositado um outro rególito. Tanto a ascendente re rocha fresca para
remoção do rególito original, como a deposição do outro podem ter acontecido por rególito.

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acção do mesmo agente.


2.1. PROCESSOS DE METEORIZAÇÃO
Se pudéssemos olhar de perto para a rocha fresca (1) da Fig. 6.2 (parte basal), veríamos que as
superfícies de clivagem dos feldspatos brilhariam entre os grãos de quartzo. Um pouco mais para cima (2),
essas superfícies de clivagem estariam mais baças e cobertas duma patina. Perto do topo (3), verificar-se-ia
que os grãos de quartzo (ainda visíveis) estariam separados por uma material terroso que de modo nenhum se
assemelha ao feldspato que foi grandemente decomposto. Evidentemente que estas mudanças foram
fundamentalmente de origem química e resultam da meteorização química que é a decomposição das rochas.
Contudo, em alguns lugares, o rególito consiste de fragmentos idênticos à rocha fresca adjacente. Os
grãos dos minerais estão frescos ou só muito ligeiramente alterados. Este tipo de rególito é frequente na base
de falésias, donde os detritos obviamente provêm. Quando comparados com a rocha fresca, os fragmentos
mais grosseiros mostram pouca ou nenhuma alteração química, implicando que a rocha fresca pode ser partida
fisicamente e não só quimicamente alterada. Se bem que se considere a meteorização mecânica (ou física) a
desintegração das rochas, os dois processos ocorrem sempre em simultâneo e os seus efeitos misturados.
Pode acontecer que, em determinadas situações, a alteração química seja mais forte que a alteração física, ou
vice-versa, mas em qualquer das situações, os dois tipos de alteração ocorrem em conjunto.
2.1.1. Meteorização Mecânica
Em muitos locais, o rególito consiste totalmente de detritos rochosos idênticos em tudo à rocha
fresca. A alteração química poderá ser virtualmente não detectada, levando-nos a inferir que os processos
de meteorização responsáveis por tal rególito tenham sido predominantemente mecânicos e não químicos.
A desintegração mecânica é frequente na natureza e pode ocorrer devido aos seguintes fenómenos:
 Remoção da carga sobrejacente;
 Crescimento de gelo e cristais de sal em fracturas;
 Efeitos do calor;
 Actividades dos animais e plantas.
a) Efeitos da remoção da carga sobrejacente
Massas de rocha soterradas em grandes
profundidades abaixo da superfície terrestre, estão sujeitas a
enormes pressões confinantes devido ao peso das rochas
sobrejacentes.
À medida que a erosão vai despindo a superfície, o
peso e a pressão são reduzidos. A rocha pode ajustar-se a
esta descarga expandindo-se para cima. Quando isso
acontece, desenvolvem-se fracturas à superfície como
diaclases muito próximas umas das outras. As diaclases
muitíssimo raramente ocorrem isoladas. Geralmente ocorrem
em conjuntos de diaclases. Fig. 6.3. Diaclases em folha num afloramento de granito
na região do Muiane, Alto Ligonha, Zambézia (1974)

As diaclases que se desenvolvem paralelamente à superfície podem originar


enormes placas de rochas sobrepostas umas por cima das outras (Fig. 6.3). Perto da
superfície, estas placas têm espessura não acima dos 10 cm, mas à medida que se desce
em profundidade, esse valor aumenta, desaparecendo as diaclases normalmente abaixo
dos 50 metros de profundidade.
Quando se estava a escavar os túneis/cavernas para albergar as infra-estruturas da Barragem de
Cahora Bassa, acontecia ouvirem-se enormes estrondos, resultado da abertura de diaclases por alívio
repentino da pressão.
b) Crescimento de Cristais
A água subterrânea, percolando através das fracturas e poros das rochas, contém iões que podem
precipitar da solução aquosa para formar sais.
A força exercida pelo crescimento dos cristais de sal dentro das aberturas das rochas ou ao longo
dos contactos entre os grãos pode ser enorme e resultar na desagregação/ruptura das rochas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Estes efeitos são bastante comuns nos desertos, em que a precipitação dos sais se deve à
evaporação da água subterrânea que sobe à superfície.

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A chuva ácida que cai nas cidades industriais também pode


atacar as pedras dos edifícios. Ao precipitarem, os sais cristalizam e
podem desfigurar e enfraquecer edifícios e monumentos culturais
importantes (Fig. 6.4).
Em regiões climáticas onde as temperaturas flutuam à volta do
ponto de congelamento durante parte do ano, a água do solo/subsolo é
sujeita a congelamento e degelo periódicos. Quando a água gela para
formar gelo, o seu volume aumenta cerca de 9%. Por outro lado, à medida
que o congelamento da água ocorre nos poros da rocha, a água é
fortemente atraída pelo gelo, aumentando assim as pressões dentro da
rocha. Isto leva a um processo de meteorização mecânica muito efectivo,
conhecido por frost wedging, que é a formação de gelo num espaço
confinado numa rocha, forçando assim a rocha a separar-se em pedaços. Fig. 6.4. Monumento em Florença (Itália)
As altas pressões resultantes do aumento de volume quando o gelo atacado pela chuva ácida.
cristaliza resultam em efeitos disruptivos. Estes efeitos são suficientemente
fortes para separar não só pequenas partículas, como também enormes
blocos de rocha, alguns com algumas toneladas (Fig. 6.5).
c) Efeitos do Calor
Alguns geólogos têm especulado que o aquecimento diário
duma rocha exposta ao sol, seguido dum arrefecimento considerável
durante a noite, contribuiria para um efeito destrutivo, uma vez que os
minerais constituintes das rochas expandem de modo diferentes quando
aquecidos (diferentes coeficientes de dilatação). Nas rochas dos desertos
foram medidas temperaturas superficiais de 80ºC, com variações diárias Fig. 6.5. Expansão causada pelo
de temperatura de mais de 40ºC. As rochas de cor escura, como os congelamento da água numa fractura. À
basaltos, e as rochas que não são boas transmissoras de calor, são as direita, blocos de granito como resultado
desse processos
que atingem maiores temperaturas superficiais, enquanto que o seu
interior fica a temperaturas muito mais baixas.
Contudo, apesar dum certo número de experiências laboratoriais, ninguém demonstrou até agora
que o aquecimento e arrefecimento alternados e contínuos tenham efeitos consideráveis nas rochas.
Porém, as experiência foram conduzidas em intervalos de tempo muito breves. É bem possível que a
desintegração térmica só ocorra após repetidas flutuações extremas de temperatura ao longo de muitas
centenas ou milhares de anos.
No entanto, o fogo pode ser muito efectivo, pois todos conhecemos os estalidos das rochas à
volta duma fogueira quando sobreaquecidas. O calor dos fogos de florestas e das queimadas levam à
separação das rochas em grandes placas. Uma vez que as rochas, em geral, são más condutoras de calor,
um fogo intenso só vai sobreaquecer a camada superficial das rochas, que se expande e se separa. Assim,
ao longo de intervalos do tempo geológico, os fogos podem contribuir significativamente para a
desagregação mecânica das rochas superficiais.
d) Plantas e Animais
As sementes germinam nas fracturas das rochas originando plantas que
expandem as suas raízes dentro dessas fracturas. À medida que as árvores
crescem, as suas raízes vão afastando os blocos separados pelas fracturas. Do
mesmo modo elas destróiem os passeios (Fig. 5.33), muros de jardins e mesmo
edifícios (Fig. 6.6).
As grandes árvores balançando ao vento podem alargar as fracturas
(efeito de alavanca) e, se arrancadas, podem inclusivamente levantar as rochas. Se
bem que seja difícil de calcular, a quantidade total de rocha partida por estes
processos deve ser muito grande. O processo é mascarado pela alteração química,
que toma vantagem das novas aberturas e espaços assim que eles são formados.
Alguns animais (roedores e formigas) trazem à superfície partículas Fig. 6.6. Raízes de árvores
rochosas parcialmente decompostas/desagregadas), expondo-as mais destruindo as ruínas de
Ankor, Camboja
intensamente à acção química.

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Há mais de 100 anos atrás, Charles Darwin fez observações cuidadosas no seu jardim e calculou
2
que anualmente as minhocas trazem à superfície 2.5 kg/m de partículas. O geólogo J.C. Banner,
estudando a bacia do Amazonas, escreveu que "… o solo ali parece ter sido completamente posto de
pernas para o ar pelas formigas e térmites…".
Se bem que estes animais não destruam as rochas (como os descritos no Tema 5, ponto 2.4.1.), a
quantidade de rocha desagregada movimentada por eles ao longo de milhões de anos deve ser enorme, o
que comprova o efeito cumulativo de pequenas forças actuando por longos períodos de tempo geológico.

2.1.2. Meteorização Química


A meteorização implica um enorme ajustamento dos minerais às condições ambientais da superfície
da Terra. Os minerais formados a altas temperaturas e pressões, como componentes das rochas ígneas e
metamórficas, tornam-se instáveis quando expostos à superfície da Terra, onde tanto as temperaturas como as
pressões são muitíssimo mais baixas. Esses minerais, então, decompõem-se e os seus componentes
transformam-se em minerais estáveis às novas condições ambientais. Os agentes activos da decomposição
das rochas consistem de soluções aquosas quimicamente activas (ácidos fracos) e vapor de água. Os efeitos
da meteorização química são assim mais pronunciados nas regiões onde a precipitação e as temperaturas
médias são suficientemente altas para acelerar as reacções químicas.
a) Efeitos nos minerais constituintes das rochas
Quando a chuva cai através da atmosfera, ela dissolve pequenas quantidades de dióxido de carbono
(CO2), dando origem a ácido carbónico fraco (H2CO3):

H2O CO2 H2CO3


Ao se movimentar pelo solo, tanto lateralmente como em sentido descendente, estas soluções ácidas
são fortalecidas pela adição de mais CO2 libertado pelos restos vegetais em apodrecimento. O ácido carbónico
-1 +1
ioniza para dar origem a iões bicarbonato (HCO3 ) e iões hidrogénio (H ), que são muito efectivos na
decomposição de minerais:

H2CO3  H1  HCO-1


3

Estes iões são tão pequenos que eles podem entrar na estrutura dos minerais e substituir outros iões,
mudando assim a composição química original do mineral. A efectividade do ião H+1 pode ser ilustrada pela
maneira como o feldspato potássico (KAlSi3O8) é decomposto pelo hidrogenião dissolvido na água:

4KAlSi3O8  4H1  2H2O  4K1  AlSi4O10 (OH)8  8SiO2


em que AlSi4O10(OH)8 é o mineral caulinite.
+1 +1
Neste caso, o H entra na estrutura do feldspato e substituí os iões de potássio (K ), que saem da
estrutura e entram na solução aquosa. Por seu lado, a água combina-se com a molécula restante de
alumossilicato para criar caulinite.
+1 -1
Esta reacção química, em que os iões H ou OH da água substituem iões dum mineralchama-se
hidrólise. É um dos processos mais importantes envolvidos na decomposição química das rochas mais
comuns. O mineral caulinite é então um mineral secundário, por não estar presente na rocha inicial.
A caulinite é o mais conspícuo dos três produtos da reacção. É um membro muito comum do grupos
das argilas, minerais extremamente insolúveis, e que, por isso, se acumulam no rególito. Muito do potássio
libertado nesta reacção é absorvido pelas plantas.
A sílica (SiO2), mais solúvel que a caulinite, fica parcialmente no rególito caulinítico ou é carregada em
solução pelas águas. Muitos dos iões de potássio escapam em solução juntamente com a sílica pelos rios em
direcção ao mar. Esta matéria carregada em solução diz-se que foi lixiviada da rocha mãe. A lixiviação é a
contínua remoção de matéria solúvel das rochas e rególito por acção das águas.
A susceptibilidade dos minerais à meteorização química está em ordem inversa à sua cristalização a
partir do magma (Tema IV, ponto 3.1.3.). Por outras palavras, os silicatos que cristalizam a maiores
temperaturas (ou seja, com maiores diferenças em relação à temperatura à superfície da Terra), são os que se
alteram em primeiro lugar. Incluem-se neste grupo as olivinas, os feldspatos cálcicos (plagioclases), as
piroxenas e as anfíbolas. As biotites e os feldspatos sódicos são menos facilmente meteorizáveis porque
cristalizam a temperaturas mais baixas. Por seu lado, o quartzo, cristalizando a temperaturas ainda mais baixas,

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

é o mineral constituinte das rochas mais estável e que sofre pouca decomposição durante a meteorização.
Contudo, com o decorrer do tempo, o quartzo vai sendo progressivamente dissolvido.
O ferro é um elemento comum em muitos dos minerais constituintes das rochas: biotite, augite e
hornblenda, por exemplo. Quando ele é libertado durante a meteorização, ele rapidamente passa da forma de
+2 +3
ferro ferroso (Fe ) a ferro férrico (Fe ), se houver oxigénio presente. O resultado é o aparecimento dum novo
mineral de ferro - a hematite (Fe2O3):

4FeO O2 2Fe2O3
Se a água estiver presente, forma-se um outro mineral pela absorção de água pela estrutura
cristalina- hidratação. O mineral formado é um óxido de ferro hidratado - a goethite:

2Fe2O3  3H2O  2Fe2O3.3H2O

b) Efeitos nas rochas comuns


O que acontece na meteorização do feldspato potássico é a chave para se entender a meteorização
de rochas silicatadas, como o granito, que contém este mineral.
A Tabela 6.1. compara a meteorização química do granito e do basalto, mostrando os minerais
resistentes que persistem, os minerais secundários que se formam e os iões que são carregados em solução
(lixiviados).

Tab. 6.1. Meteorização química de dois grandes grupos de rochas ígneas: granito e basalto
CONSTITUINTES PRIMÁRIOS PRODUTOS DE METEORIZAÇÃO
Minerais Minerais primários Catiões
Minerais Catiões Colóides
secundários que persistem lixiviados
+1 +1 +1
Feldspatos K Na Sílica, alumina Minerais de argila Na
GRANITO

Quartzo Quartzo K+1


+1 +2 +2
Micas K Fe Mg Sílica, alumina Minerais de argila Alguma mica
Minerais ferro- +2 +2 Sílica, alumina Minerais de argila
Mg Fe +2
magnesianos Óxidos de ferro Hematite, goethite Mg
+2 +1
Feldspatos Ca Na Sílica, alumina Minerais de argila
BASALTO

+1
Na
Minerais ferro- +2 +2 Sílica, alumina Minerais de argila +2
Mg Fe Ca
magnesianos
+2 Óxidos de ferro Hematite, goethite Mg+2
Magnetite Fe

As rochas carbonatadas, como os calcários, são meteorizadas de modo diferente. O calcário consiste
fundamentalmente de carbonato de cálcio (CaCO3), que só é ligeiramente solúvel em água pura, mas que sofre
uma forte reacção em presença de água com ácido carbónico dissolvido:

CaCO3 + H2CO3  Ca2+ + 2(HCO3)-1


Carbonato Ácido Ião Ião
de cálcio carbónico cálcio bicarbonato

Os iões cálcio e bicarbonato são lixiviados, deixando para trás só as impurezas praticamente
insolúveis (principalmente quartzo e argilas) que estão sempre presentes em pequenas quantidades nos
calcários. À medida que o calcário é meteorizado, deixa para trás um rególito constituído por quartzo e argilas.

c) Concentração de minerais estáveis


O quartzo e outros minerais são relativamente estáveis à superfície da Terra, e por isso resistem à
meteorização química. Minerais como o ouro, platina e diamante persistem no rególito, são erodidos e tornam-se
sedimento. Porque alguns destes minerais são invulgarmente densos, eles sedimentam e concentram-se nos
leitos dos rios, dando origem a um placer - depósito de minerais pesados concentrados mecanicamente. Os
minerais com interesse económico podem ser suficientemente concentrados para originar um jazigo mineral.
Exemplo de placers são as areias pesadas do Chibuto, de Pebane e outros pontos de Moçambique.

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d) Orlas de meteorização
Se se partir um calhau rolado de basalto, o que geralmente se observa
é uma orla descorada envolvendo uma zona interior mais escura de rocha fresca
(não alterada, Fig. 6.7). A observação microscópica revela que a orla consiste de
resíduos resultantes de meteorização química. Este tipo de orla é comum na
maioria dos tipos comuns de rochas. Com o tempo, a orla aumenta de espessura
em direcção ao interior, atacando progressivamente o núcleo de rocha fresca.
Como resultado, os geólogos descobriram que a espessura destas orlas é uma
medida útil da idade relativa dos sedimentos que contêm fragmentos do mesmo Fig. 6.7. Calhau rolado de basalto
com orla de alteração com 2 mm de
tipo de rochas e que ocorrem nos mesmo ambientes climáticos.
espessura

e) Exfoliação e meteorização esferoidal


Quando algumas rochas diaclasadas são meteorizadas,
elas sofre exfoliação, que é a separação da rocha em camadas
sucessivas, como a separação de cebolas, à volta dum núcleo
central (Fig. 6.8).
Este fenómeno é causado por forças físicas e químicas
que produzem tensões diferenciais dentro da rocha. A
transformação de feldspatos em caulino pela meteorização química
é acompanhada dum aumento de volume na rocha meteorizada.
Isto obviamente gera tensões dentro da rocha que provoca a
separação das camadas do corpo principal da rocha. Por outro
lado, as rochas podem sofrer uma diminuição da pressão à medida Fig. 6.8. Fenómenos de meteorização esferóidal
que são trazidas para mais perto da superfície pela erosão. Em num basalto do Búzi (1973)

certos caso há uma só camada de exfoliação, mas podem haver até cerca de 10 ou mais.
As camadas mais externas tendem a ser paralelas aos planos de diaclases e relativamente
planas, mas as mais interiores são progressivamente mais esferoidais à medida que os
cantos se tornam cada vez mais arredondados.
O fenómeno de exfoliação tanto pode ocorrer à
superfície como em profundidade, como o provam cortes de
estradas recentemente abertos. O processo não é exclusivo
dum determinado tipo de clima, mas é mais frequente em
climas secos, em que se podem ver paisagens cobertas por
blocos esferoidais (Fig. 6.9), muitas vezes dispostos em
fiadas, uma vez que eles são controlados por diaclases.
Neste ponto, devemos ter em conta dois aspectos
principais:
i. Primeiro, a efectividade das reacções químicas aumenta com
Fig. 6.9. Blocos arredondados de granito,
o aumento da área de rocha disponível para as reacções. Montes Air, Níger
ii. Segundo, este aumento da área resulta simplesmente da
subdivisão de grandes blocos em blocos mais pequenos.
Pela simples subdivisão dum cubo sem aumento de volume (Fig. 6.10), a área é grandemente
aumentada. Esta subdivisão repetida leva a resultados espantosos. Assim, um centímetro cúbico de rocha
2
partido em fragmentos da dimensão de grãos de argila origina um agregado com uma superfície de 4000 m . A
meteorização, por si, leva a uma subdivisão, a qual por seu lado favorece a meteorização.

2.2. FACTORES QUE INFLUENCIAM A METEORIZAÇÃO


a) Tipo e Estrutura das Rochas
Se é verdade que cada tipo de mineral reage dum modo próprio aos processos de meteorização, então
o tipo de rocha no certo influencia a decomposição. O quartzo é tão resistente ao ataque químico, que as rochas

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ricas em quartzo são também resistentes. Em muitos lugares, as colinas e os montes constituídos de granito ou
quartzito ficam num relevo muito mais alto que as rochas envolventes, mais brandas e com menos quartzo.
A taxa de meteorização duma rocha é influenciada não só pela sua composição mineral, mas também
pela sua textura e estrutura. Mesmo que uma rocha seja constituída inteiramente por quartzo (quartzito, por
exemplo) mas que contenha diaclases e outras fracturas, pode desagregar-se rapidamente, especialmente se
atacada por processos de congelamento de água.

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Fig. 6.10. Subdivisão e meteorização de cubos de rochas

Os contrastes na topografia resultam muitas vezes da meteorização


diferencial, que é meteorização que ocorre a diferentes velocidades como
resultado de variações na composição e estrutura das rochas ou na intensidade da
meteorização(Fig. 6.11). Numa sequência de rochas duras e brandas, é natural
que as brandas meteorizem mais facilmente, deixando as camadas mais duras
proeminentes no relevo.
b) Encostas
Quando um grão mineral fica solto pela meteorização, é muito natural
que ele seja carregado encosta abaixo nas chuvas seguintes. Mas nunca é só um
grão que se solta, mas milhares, e que também são transportados encosta
abaixo. Quando isto acontece, a rocha fresca é continuamente exposta a novos
ataques, de modo que a rocha meteorizada só ocupa uma pequena espessura
abaixo da superfície. Em zonas de encostas suaves, os produtos da meteorização
não são tão facilmente carregados, podendo acumular-se até profundidades de
50 metros ou mais.
Fig. 6.11. Meteorização diferencial
Se as encostas forem muito inclinadas ou mesmo íngremes, a descida entre um dique quartzoso e um
dos grãos não necessita de esperar pelas chuvas, pois a gravidade exerce anfibolito (Alto Ligonha, Zambézia)
efectivamente a sua acção sem ajuda da água.
c) Clima
A humidade e o calor aceleram as reacções químicas, como já
vimos atrás. Não é, por isso, de surpreender que a meteorização seja mais
intensa e estendida a maiores profundidades em climas quentes e
húmidos, do que em climas frios e secos (Fig. 6.12).
Rochas como o calcários e o mármore, constituídas
praticamente só por calcite, são muito susceptíveis à
meteorização química num clima húmido e geralmente
constituem o substrato duma paisagem topograficamente
baixa. Num clima seco, contudo, a mesma rocha forma
relevos positivos, porque há pouca água e por isso pouca
vegetação, entrando assim muito pouco em contacto com o Fig. 6.12. Controle climático dos processos
ácido carbónico. de meteorização

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Em climas frios a meteorização química ocorre muito


lentamente. Em tais regiões os efeitos da meteorização mecânica são
mais óbvios.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

d) Tempo
Estudos da decomposição de pedra de edifícios antigos mostram que são necessárias centenas ou
milhares de anos para que as rochas duras se decomponham só alguns milímetros.
Os granitos e outras rochas duras da Nova Inglaterra, Escandinávia, Alpes e outros
locais ainda apresentam superfícies polidas causadas por glaciares há 25.000-10.000 anos
atrás. Em climas assim frios, leva muitas dezenas de milhares de anos, no mínimo, para
originar um rególito como o mostrado na Fig. 6.2. Contudo, em regiões que estiveram
continuamente expostas aos processos de meteorização por milhões de anos, a zona de
meteorização atinge maiores profundidades. Em algumas áreas tropicais, as operações de
mineração subterrânea puseram a descoberto zonas de rocha meteorizada a profundidades
de mais de 100 metros.
As velocidades a que as rochas se meteorizam foram determinadas de várias maneiras. Primeiro,
foram realizadas experiências em que a sua duração dá um controle temporal, em que os processos foram
acelerados com o aumento de temperatura, com o aumento do conteúdo de água e com a diminuição do
tamanho das partículas. Segundo, outros estudos sobre o grau de meteorização foram feitos em edifícios dos
quais se conhece a sua idade histórica. Terceiro, também foram feitos estudos de datação radiométrica em
rochas e sedimentos que foram sujeitos à meteorização durante milhares ou milhões de anos, o que fornece
uma estimativa das velocidades médias de meteorização durante intervalos de tempo muito grandes. Tais
estudos sugerem que as velocidades dos processos mais meteorizantes diminuem com o tempo (Fig. 6.13).

Fig. 6.13. Gráfico mostrando a variação das velocidades


de meteorização com o tempo em 3 localidades do NW
dos EUA. A espessura das orlas em calhaus basálticos
(ver Fig. 6.7) é lançada em função da idade estimada ou
conhecida. As diferenças entre as curvas reflectem
provavelmente diferenças no ambiente de meteorização
entre os locais. Todos mostram meteorização inical
rápida, seguida duma diminuição de velocidade.

Os resíduos resultantes da meteorização das rochas tendem a ser quimicamente estáveis, por isso é
muito provável que a sua remoção da zona meteorizada seja mínima. À medida que estes produtos se
acumulam, a velocidade de meteorização tende a diminuir, mas até que a velocidade de meteorização atinja
um valor constante pode durar meio milhão de anos ou mais.

11. SOLOS

3.1. ORIGEM
A degradação física e química das rochas sólidas por processos de meteorização é o passo inicial
para a formação dos solos. Contudo, o solo também contém, pelo menos um pouco mas geralmente
bastante matéria orgânica misturada com os componentes minerais (inorgânicos). Esta fracção orgânica é
uma parte essencial da definição usual de solo: parte do rególito que pode suportar plantas com raízes.
A matéria orgânica dos solos provém da matéria vegetal em decomposição, parcialmente através
da actividade das bactérias.
As plantas vivas alimentam-se de matéria vegetal em decomposição no solo, bem como de matéria
mineral decomposta (formada pela meteorização química), que é trazida para cima pelas soluções aquosas
através das raízes. Assim, as plantas estão envolvidas na produção dos seus próprios fertilizantes. Estas
actividades representam um ciclo contínuo de nutrientes entre o rególito e a biosfera. Com a sua composição
parcialmente orgânica e parcialmente mineral, o solo constitui uma ponte importante entre a litosfera e a
biosfera. Para as pessoas, solo significa comida e, por isso, é um recurso natural fundamental para qualquer
país.

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3.2. PERFIL PEDOLÓGICO (DE SOLO)


À medida que a meteorização das rochas e rególito
progride, o solo gradualmente vai-se desenvolvendo.
Normalmente desenvolve horizontescaracterísticos que, em
conjunto, constituem o perfil pedológico (ou perfil de solo),
que se define como uma sucessão de horizontes distintos no
solo, desde a superfície até ao material de origem inalterado
situado mais abaixo (Fig. 6.14).
O horizonte mais superior, chamado horizonte A,
tem uma cor tipicamente acinzentada ou escura (pelo menos
no topo) por causa da adição de húmus,o resíduo da
decomposição de animais e plantas. Este horizonte perdeu
algumas das suas substâncias originais através do transporte
descendente de partículas de argilas e, mais importante, Fig. 6.14. Horizontes dum perfil pedológico. Cada horizonte
através da lixiviação química de minerais solúveis. gradua para o seguinte

O horizonte B é geralmente acastanhado ou avermelhado e enriquecido de argila e óxidos de ferro


produzidos pela meteorização de minerais dentro do horizonte e também trazidos do horizonte A. O horizonte B
é muitas vezes caracterizado por ter uma estrutura em blocos ou prismas que podem estar cobertos de argila.
Se bem que o horizonte B possa ser penetrado por raízes, ele contém geralmente menos matéria orgânica que
o horizonte A.
O horizonte C subjacente não constitui propriamente parte do solo. Ele consiste de rocha original
levemente meteorizada, seja rocha seja rególito, onde a oxidação provocou uma ligeira mudança de cor.
Os solos, jovens ou maduros, podem não conter o horizonte B, dispondo somente
do horizonte A sobre o horizonte C. À medida que os solos evoluem, o horizonte B aparece,
inicialmente distinguível pela sua cor. À medida que as argilas se acumulam, o horizonte B
desenvolve estrutura e o solo assume uma carácter maduro. Com o passar do tempo, o
horizonte B aumenta progressivamente de espessura.
3.3. FACTORES FORMADORES DE SOLOS
As diferenças entre os solos, comummente reflectidas por diferenças nas características dos perfis,
resultam da influência de vários factores: clima, cobertura vegetal, organismos do solo, material de origem,
topografia e tempo.
Os materiais de origem e a topografia influenciam fortemente as características dos
solos, especialmente nas fases iniciais da formação dos solos. O clima, que por seu lado
influencia os organismos dos solos e a vegetação, pode ter uma influência ainda maior que
o tipo de material de origem na determinação do tipo de solo. Em condições climatéricas
semelhantes, os perfis de solos maduros originados de rochas diferentes adquirem aspectos
muito semelhantes.

12. MOVIMENTOS DE TERRAS


Entende-se por movimento de terras ao movimento de rególito encostas abaixo pela gravidade
sem a ajuda dum meio de transporte. Isto exclui rególito transportado por vento, gelo ou água. Contudo, a
água joga um papel importante no movimento de terras, uma vez que o rególito saturado de água reduz a
fricção entre as partículas rochosas, tornando os movimentos mais fáceis. Esta é a razão porque muitos
movimentos de terras são mais frequentes nas zonas onde a precipitação é muito grande. Nem sempre é
fácil separar a meteorização do movimento de terras ou o movimento de terras da erosão, pois eles
constituem um continuum de processos que interagem e se sobrepõem.O resultado final é uma
degradação gradual das rochas e a redistribuição dos seus componentes meteorizados.
Uma encosta suave com vegetação pode aparentar ser estável e mostrar pouca evidência óbvia de
actividade geológica. Contudo, se examinarmos o rególito sob a superfície, o mais certo é encontrarmos
partículas derivadas de rochas que só afloram mais acima na encosta. Podemos deduzir, então, que essas
partículas se moveram encosta abaixo.

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A força que faz as partículas movimentarem-se é a gravidade, que persistentemente puxa os detritos
de rocha à superfície da Terra.

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Numa superfície horizontal (Fig. 6.15.a), a gravidade agarra um objecto no local


puxando-o numa direcção perpendicular à superfície. Numa superfície inclinada (encosta,
por exemplo), o vector da gravidade pode ser decomposto em dois vectores-componentes
(Fig. 6.15.b-d):
- a componente perpendicular (gp): age perpendicularmente à superfície e prende o objecto ao
solo;
- a componente tangencial (gt): age ao longo e paralelamente à encosta, e tende a puxar o
objecto encosta abaixo.
Quando gtexcede gp, os objectos descem, e diz-se que a encosta excedeu o ângulo de repouso,
que é o ângulo mais inclinado em que o material rochoso se mantém estável.
A Fig. 6.16 mostra alguns tipos de movimentos de terras, consoante o movimento se dá em rocha,
em rególito ou com lama.

Fig. 6.15. Efeitos da gravidade numa rocha assente sobre uma encosta

Rocha Rególito Lama

Queda

Avalanche

Deslizamento

Fluxo

Slump

Fig. 6.16. Classificação dos Movimentos de Terras

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13. ROCHAS SEDIMENTARES


Geralmente, os produtos da meteorização são erodidos, transportados a distâncias mais ou
menos longas antes de serem depositados para darem origem a rochas consolidadas – as rochas
sedimentares. Este processo de transformação de sedimentos soltos em rochas consolidadas chama-se
litificação.
A litificação ocorre porque há cimentação, ou seja, as partículas soltas de
sedimentos são agregadas entre si por deposição duma substância química proveniente
de precipitação química a partir das águas subterrâneas que circulam entre essas
mesmas partículas. As principais substânicas que podem servir de cimento na litificação
são a calcite (e por vezes dolomite), a sílica e os óxidos de ferro. Os minerais de argila
também ocorrem como cimento.
Além da cimentação, ocorre também a compacção que ocorre devido à pressão originada pelo
soterramento/afundimento sucessivos. Esta compacção provoca a saída da água dos poros intergranulares
e, no cômputo final, a redução de volume pode atingir 50% do volume inicial.
Numa fase mais final da litificação, antes de se entrar no campo do metamorfismo de baixo grau,
pode ocorrer uma recristalização do cimento, dando origem a uma textura interprenetrante.

5.1. CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS SEDIMENTARES


A classificação das rochas sedimentares é bastante complexa, havendo vários
parâmetros para o fazer, do mesmo modo que acontece para as rochas ígneas e
metamórficas.
Em primeiro lugar, elas podem ser classificadas quanto ao ambiente de deposição e ao agente
transportador dos sedimentos: marinhas – lacustres – glaciares – eólicas – fluviais, etc.
Em segundo lugar, podem classificar-se quanto à origem dos sedimentos, isto é, em clásticas
(sedimentos originados por fragmentação de rochas pré-existentes), e não clásticas; por seu lado, estas
podem ser de precipitação química (a partir das águas subterrâneas ou superfíciais) e biogénicas
(intervenção dos seres vivos).
Em terceiro lugar, podem ser classificadas quanto à sua composição química/mineralógica:
calcários (calcite), chert (sílica), arenito (quartzo), etc. Um calcário pode ser de origem química ou
biogénica. Pode ser formado em ambiente marinho ou lacustre.
Do atrás exposto, pode muito bem entender-se que as variações de rochas sedimentares são
enormes. Vamos conhecer então os principais tipos de rochas sedimentares.

5.2. ROCHAS CLÁSTICAS


As rochas clásticas são compostas de fragmentos de rochas pre-existentes ou de grãos minerais
também de rochas pre-existentes, originados por acção principalmente da meteorização mecânica.
Um dos aspectos importantes das rochas sedimentares clásticas é a sua granulometria, isto é, o
tamanho dos grãos que as compõem, dando origem a vários tipos de rochas. Na tabela 6.2 pode observar-
se a classificação dos sedimentos em função da sua granulometria e o nome das rochas que a partir deles
se originam. Geralmente, nas rochas sedimentares há uma mistura de granulometrias.
Tab. 6.2. Granulometria dos sedimentos clásticos e respectivas rochas
Tamanho Nome do sedimento Nome da rocha
> 256 mm Bloco (Boulder)
64 – 256 mm Cobble
Seixo Conglomerado
4 – 64 mm Pebble
2 – 4 mm Cascalho (Gravel)
1 – 2 mm Muito grosseira Muito grosseiro
1 – ½ mm Grosseira Grosseiro
½ – ¼ mm Areia (Sand) Média Arenito Médio
1
¼ – /8 mm Fina Fino
1 1
/8 – /16 mm Muito fina Muito fino

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1
/256 – 1/16 mm Silte (Silt) Siltito
<1/256 mm Argila (Clay) Argilito

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A observação de várias
rochas clásticas mostra que os
grãos constituintes podem ser
angulosos, arredondados, sub-
arredondados ou sub-angulosos
(Fig. 6.17). O grau de
arredondamento é indicativo do
grau de transporte que os
sedimentos sofreram antes de
serem depositados. Assim, uma
rochas de grãos arredondados é
formada a partir de sedimentos
que sofreram um longo transporte. Fig. 6.17.Esquema ilustrando a esfericidade e o arredondamento dos grãos

5.2.1. CONGLOMERADOS
Como se pode ver da tabela anterior, os conglomerados são constituídos por partículas com mais
de 2 mm de diâmetro, dispersas no seio duma matriz (cimento) de composição variada: carbonática,
siliciosa, ferruginosa ou mistura destas.
As partículas que compõem os conglomerados podem ser de várias origens:
calcários, xistos, granitos, gneisses, etc. Ou seja, os sedimentos que originam os
conclomerados são fragmentos de rochas e não minerais individuais.
Acontece que as partículas podem ser arredondadas ou angulosas. Assim, os conglomerados
chamam-se pudins ou brechas. Na Fig. 6.18 mostram-se imagens dum pudim, duma brecha e dum calhau
rolado de granito (tamanho dum seixo) que no futuro poderia vir a fazer parte dum pudim.

A B C
Fig. 6.18. Conglomerados. A. Brecha; B. Pudim; C. Seixo de granito

5.2.2. ARENITO (ou GRÉS)


Os arenitos, também chamados de grés, juntamente com os calcários, são talvez as rochas
sedimentares mais familiares, pois são desde há muito das rochas mais utilizadas na construção em muitas
partes do mundo.
Os arenitos são compostos de 5 categorias principais: fragmentos de rocha (grãos líticos), grãos
de quartzo, grãos de feldspato, matriz e cimento.
A Matriz consiste de minerais de argila e de quartzo muito fino (dimensão de silte). O Cimento é
precipitado à volta e entre os grãos.
Os cimentos também podem ter composição química diversa, desde silicioso, a calcário ou ainda
ferruginoso. Assim, há variadíssimos tipos de arenito consoante o tipo de grãos, o tipo de cimento e a
existência ou não de matriz. A Fig 6.19 mostra as possíveis composições dos arenitos.
No primeiro triângulo, a classificação é feita em termos de percentagens de quartzo, feldspato e
fragmentos líticos (rochosos). Aí os arenitos dividem-se em:
a) Arenito Quártzico (ou Quartzito) (com > 95% quartzo): rochas de cores claras, podendo o cimento
ser silicioso ou calcítico, e por vezes de óxidos de Fe, dando-lhes uma cor avermelhada.
b) Arenito Arcósico (ou Arcose): caracterizam-se pela alta presença de feldspatos, mais do que
quartzo ou fragmentos líticos. Devido à presença de feldspatos, por vezes confundem-se com
granitos à vista desarmada. A presença de feldspatos cor-de-rosa e/ou a presença de óxidos
de ferro dá-lhes uma cor rósea.
c) Arenitos líticos: têm uma alta percentagem de fragmentos rochosos, mais do que quartzo e
feldspatos. A composição é muito variável, dependendo da composição dos fragmentos de rochas.

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Como se pode ver na figura também, há outro triângulo atrás, representando um


conjunto de rochas a que se dá o nome de Grauvaques. Os grauvaques são arenitos com
matriz correspondendo até 15% da sua composição. Quando a matriz ultrapassa os 15%,
estamos em presença dum outro tipo de rochas a que se chamam Vaques, e que já não são
considerados arenitos. À semelhança dos arenitos, os grauvaques podem ser grauvaques
feldspáticos, líticos ou quártzicos, consoante o tipo de fragmentos que predomina.
Consoante o cimento, os arenitos podem ser apelidados de arenito calcário
(cimento de calcite), arenito ferruginoso (cimento de óxidos/hidróxidos de ferro), arenito
carbonoso (com matéria orgânica), etc. Na Fig. 6.20 podem ver-se alguns arenitos.

Fig. 6.19. Classificação dos arenitos

A B C
Fig. 6.20. Vários tipos de arenito. A. Arenito carbonoso; B e C. Quartzitos

5.2.3. SILTITOS e ARGILITOS


São rochas detríticas (clásticas) em que as partículas
são de dimensões microscópicas e muitas vezes sub-
microscópicas, não sendo observáveis nem a olho nu nem ao
microcópio (só electrónico).
São rochas de cor cinzenta, por vezes negra (devido
ao conteúdo de matéria orgânica)
Uma diferença clara entre os dois tipos de rocha é
que os argilitos têm uma laminação (partem-se em placas
paralelas) e os siltitos não. Por outro lado, os siltitos contêm
muitas vezes grãos minúsculos de quartzo e outros minerais, o
que lhes dá um tacto rugoso. Os argilitos tornam-se plásticos Fig. 6.21. Bancada de argilitos e siltitos nas margens
do Rio Vúzi, Província de Tete, junto às margens da
quando molhados e, devido à sua ultra-fina granulometria, são Albufeira de Cahora Bassa.
as rochas que melhores fósseis vegetais apresentam
Na Fig. 6.21 mostra-se uma bancada de siltitos e argilitos nas margens do Rio Vúzi, afluente do
Zambeze, na margem norte da Albufeira de Cahora Bassa.

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5.2.4. ROCHAS PIROCLÁSTICAS


Já falámos deste tipo de rochas quando nos referimos às rochas ígneas, mas
fazemos aqui uma breve referência, já que elas estão na transição das rochas ígneas
(vulcânicas) para as sedimentares clásticas. Elas podem ser classificadas em termos das
granulometrias das suas partículas (Tabela 6.3.).
Tab. 6.3. Classificação granulométrica das rochas piroclásticas
GranulometriaRochas soltas Rochas consolidadas
> 30 mm Blocos Brechas (vulcânicas)
2 – 30 mm Lápilis Tufos (vulcânicos)
< 2 mm Cinzas Cineritos

5.3. ROCHAS DE PRECIPITAÇÃO QUÍMICA


São formadas por precipitação química e/ou biológica, através de processos de
extracção das substâncias dissolvidas nas águas dos mares, rios, lagos, subterrâneas,
etc, que se precipitam originando rochas, geralmente maciças. Elas são geralmente
classificadas em função da sua composição química e geralmente encontram-se
misturadas com sedimentos clásticos, assim como estas se encontram misturadas com
material de precipitação química.
Podem considerar-se três origens principais para este tipo de rochas:
a) residuos sólidos de alteração química que ficam in situ - engloba argilas, bauxites e laterites;
b) precipitação de sais dissolvidos e floculação de coloides – calcários, dolomitos, fosfatos,
rochas siliciosas e ferruginosas; e
c) evaporação – rochas salinas.

5.3.1. BAUXITES E LATERITES


As bauxites e as laterites são rochas constituídas fundamentalmente por hidróxidos de aluminio
(bauxites) e de ferro (laterites). Geralmente têm um aspecto terroso ou maciço, de cor variando
desde o cinzento claro ao ocre, castanho e vermelho (esta cor mais para as laterites).
São rochas que se formam nas regiões tropicais devido à meteorização química e à
lixiviação prolongada das rochas que contêm silicatos de alumínio e ferro. A lixiviação
remove a sílica, deixando atrás os hidróxidos de alumínio e ferro. A Fig. 6.22 apresenta duas
bauxites (A – cinzenta; B – vermelha) e uma laterite.

A B C
Fig. 6.22. Exemplos de bauxites (A e B) e de Laterite (C)

5.3.2. CALCÁRIOS e DOLOMITOS


Os calcários são rochas sedimentares constituídas quase unicamente por carbonato de cálcio –
calcite (CaCO3). A identificação dum calcário é muito fácil, pela efervescência que faz com o ácido, em
especial o clorídrico (HCl), através da seguinte reacção química:

CaCO3 + 2HCl  CaCl2 + H2O + CO2CaCO3 + H2SO4 CaSO4 + H2O + CO2


com formação de sais de cálcio, água e anidrido carbónico.
No geral, os calcários são rochas brandas e de densidade baixa. A cor é branca, mas devido às
impurezas podem ser de várias cores, incluíndo a negra.

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Os calcários são facilmente dissolvidos pelas águas gasocarbónicas (com anidrido carbónico
dissolvido), formando bicarbonato de cálcio (solúvel):

CaCO3 + CO2+ H2O  Ca(HCO3)2

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Ao serem aquecidos a seco, os calcários decompõem-se libertando anidrido


carbónico e originando cal viva:
CaCO3 CaO + CO2 
Há vários tipos de calcários originados por percipitação química, que se referem a seguir:
a) Estalagtites e estalagmites: São formações calcárias que
se formam em grutas, resultantes da precipitação de
carbonato de cálcio dissolvido nas águas que gotejam dos
tetos da gruta. São formaçõe de aspecto cónico, que
pendem do teto (estalagtites) ou que sobem do chão
(estalagmites), que se podem juntar para formar verdadeiras
colunas. A Fig. 6.23 mostra as grutas calcárias de Mira
d’Aire, em Portugal. Fig. 6.23. Estalagtites e estalagmites,
b) Calcários oolíticos e pisolíticos: são calcários constituídosGrutas de Mira d’Aire, Portugal
por pequenas concreções calcáreas depositadas à volta dum
núcleo, que pode ser um grão de areia ou um fragmento de
concha. As dimensões podem ser do tamanho de ovos de
peixe (oolíticos Fig. 6.24) ou de grãos de ervilha (pisolítico –
Fig. 6.25).
c) Calcários margosos: são calcários com argila misturada até
percentagens de <50% (se as percentagens são superiores a
50% a rocha passa a chamar-se marga).
Os dolomitos são rochas semelhantes aos calcários, só que em
vez de terem só calcite têm percentagens de dolomite superiores a 35%. Fig. 6.24. Oolitos ao microscópio e em
Têm propriedades muito semelhantes aos calcários, muitas vezes só se secção.
distinguindo por análise química. Contudo, há uma diferença: é que não
reagem a frio e em massa com o HCl, só a quente e em pó.

Fig. 6.25. Calcário pisolítico

5.3.3. EVAPORITOS
Como o próprio nome indica, evaporitos são rochas que resultam da precipitação de substâncias
dissolvidas na água por evaporação desta. Ocorrem fundamentalmente em climas secos e quentes. São
constituídos principalmente por gesso, anidrite ou sal-gema.

5.4. ROCHAS BIOGÉNICAS


Estas rochas resultam da acumulação directa de detritos orgânicos, animais ou vegetais, podendo
ser consolidadas ou não. A sua composição química pode ser calcária, siliciosa, fosfatada ou carbonosa. A
Tab. 6.4 mostra a classificação das rochas biogénicas.
Tab. 6.4. Rochas sedimentares de origem orgânica.
Tipo Não consolidada Consolidada
Calcário Conchas, fragmentos de concha, ooze Calcário conquífero; Calcário coralino; Cré
Carbonoso Turfa; hidrocarbonetos Carvão
Silicioso Terra de diatomáceas Diatomito
Fosfatado Guano Fosforito

5.4.1. CALCÁRIOS
Os calcários de origem biogénica são constituídos por conchas ou fragmentos de
conchas de gasterópodes, lamelibrânquios, foraminíferos, por fragmentos de pólipos de
corais e por espículas de espongiários (calcários zoogénicos) e por acumulações de algas

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calcárias (calcários fitogénicos). Em termos de propriedades, são idênticas às dos


calcários descritos nas rochas clásticas.
Algumas variedades destes calcários são:
a) Calcário conquífero e calcário
coralino: como o nome diz, são
formados por cimentação de
restos/fragmentos de conchas de
gasterópodes e lamelibrânquios;
b) Cré: é um calcário muito branco,
pulverolento, constituído
predominantemente por conchas de
foraminíferos e de espículas de
Fig. 6.26. Exemplos de calcários fossilíferos
esponjas calcárias.
A Fig. 6.26 mostra calcários fossilíferos.

5.4.2. CARVÕES
Os carvões são rochas que derivam da acumulação de restos
de matéria vegetal morta, que, por soterramento, se vão
progressivamente alterando por acção da temperatura e pressão.
Ao conjunto das alterações que a matéria vegetal sofre para
dar carvão chama-se incarbonização.
Quando a matéria vegetal morre dá origem à turfa, que é a
acumulação dessa matéria morta. A incarbonização provoca um
enriquecimento progressivo em carbono e uma diminuição do conteúdo
de voláteis, até que, na fase final, se origina grafite. Fig. 6.27. Carvão visto ao microscópio

Ao se observar um carvão ao microcópio (Fig. 6.27), verifica-se


que eles são constituídos por numerosos detritos vegetais. Estes
constituintes vegetais têm o nome de macerais.
Como atrás se disse, a matéria de partida para a formação do
carvão é a turfa. À medida que a turfa vai sendo soterrada, começa
imediatamente o enriquecimento em carbono e o empobrecimento em
voláteis, bem como a compacção aumenta. Assim, a turfa deixa de ser
turfa e passa a lignite. Os estágios seguintes são os de carvão
betuminoso e antracite (Fig. 6.28), terminando na grafite.
No carvão, além dos constituintes orgânicos (macerais) é
comum encontrarem-se percentagens variáveis de minerais, os mais
comuns dos quais são as argilas, o quartzo, os carbonatos, os Fig. 6.28. Antracite
sulfuretos, etc.

5.4.3. HIDROCARBONETOS
Os hidrocarbonetos são compostos orgânicos de
estruturas moleculares de complexidade variada, e que podem
ocorrer no estado sólido (betumes), líquido (petróleo) ou
gasoso (gás natural). Muitas vezes estes três tipos de
hidrocarbonetos aparecem associados entre si, juntamente com
água salgada.
Os hidrocarbonetos são gerados por decomposição
anaeróbica de restos vegetais e animais. Fig. 6.29. Exemplo dum jazigo de hidrocarbonetos

Geralmente os hidrocarbonetos não se encontram no local em que se formam (rocha-mãe)


porque, sendo fluídos/plásticos e de densidade baixa, têm tendência a migrar através de fracturas e dos
poros das rochas para outros locais até atingirem zonas impermeáveis que os param (rochas-armadilha),
acumulando-se por baixo destas em rochas que os armazenam (rochas-armazém).
A Fig. 6.29 mostra um esquema dum jazigo de hidrocarbonetos.

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5.4.4. DIATOMITOS E FOSFORITOS


Os diatomitos são constituídos por acumulação de biliões de minúsculas carapaças siliciosas de
diatomáceas. São de grão muito fino, friáveis e altamente absorventes.
Os fosforitos são rochas provenientes da litificação do guano. O guano é a acumulação de
excrementos de animais, principalmente aves e morcegos, e compostos fundamentalmente de fosfatos,
utilizados como fertilizantes.

As rochas sedimentares são muito frequentes em Moçambique (Fig. 6.30), ocupando praticamente
todo o sul do Save, a zona centro-costeira, a costa das províncias nortenhas e ainda manchas no interior do
País: Tete e Niassa.

Fig. 6.30. Ocorrência de rochas sedimentares em Moçambique.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 7: PROCESSOS EÓLICOS – DESERTOS E ACÇÃO DO VENTO

14. INTRODUÇÃO
Nas vastas áreas cobertas de areia dos desertos (Fig. 7.1), o vento é o agente da geodinâmica
externa mais importante.
Os desertos da Terra ocorrem num cinturão localizado entre as latitudes 20º e 40º a norte e sul do
Equador. No hemisfério sul os desertos maiores encontram-se na África Austral e Austrália, ao passo que
no hemisfério norte eles encontram-se no oeste dos EUA, na África do Norte, Península Arábica, Irão e
China. Elas representam cerca de 25% do total de terras emersas (sem falar nas regiões polares).

Fig. 7.1. Áreas de distribuição de desertos e regiões semi-áridas

Apesar de a palavra deserto significar literalmente uma área desocupada e não cultivada, os
desesenvolvimentos tecnológicos actuais têm permitido abastecer artificialmente de água algumas regiões,
tornando-as habitáveis. Assim, deserto passou a definir-se como uma terra árida, “deserta” ou não, em que
a precipitação anual é < 250 mm ou em que a evaporação é superior à precipitação, ou seja, a aridez é a
característica típica dos desertos.
Além dos desertos, há várias regiões do mundo em que a precipitação anual varia entre 250 e 500
mm, que são zonas semi-áridas, normalmente à volta dos desertos, como se pode ver na Fig. 7.1.
O vento só tem efeito como agente da geodinâmica externa se houver à disposição material que
possa ser transportado. Por isso, a acção do vento é importante ao longo das costas, vulcões e desertos.

15. MOVIMENTOS DO AR
O ar move-se principalmente como resposta a variações de pressão na atmosfera e aos efeitos de
arrasto entre o movimento de rotação da Terra e a atmosfera.
Uma vez que a Terra roda de W  E, as principais correntes de ar a grandes altitudes também fluem
nesse sentido. A altitudes mais baixas, as direcções do vento são infuenciadas por células de baixas e altas
pressões sobre os continente e oceanos. As baixas pressões formam-se sobre terra e mares quentes (equador e
zonas tropicais). À medida que o calor é transferido para o ar, este torna-se mais quente e por isso menos denso,
tendo tendência a subir. Quando sobe, o ar das regiões vizinhas é puxado para essa zona devido à diminuição
de pressão. Esse ar vem das regiões mais frescas (zonas temperadas e polares) que, por estar mais frio, é mais
denso e se encontra a altitudes menores.
A rotação da Terra interfere com estes movimentos. O efeito de Coriolis faz com que qualquer corpo
que se mova livremente em relação à Terra em rotação, inflecte para a direita no hemisfério norte e para a
esquerda no hemisfério sul, independentemente da direcção em que esse corpo se mova.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

O efeito de Coriolis vai quebrar este


padrão simples de circulação entre o equador e os
pólos, dando origem a zonas próprias de
circulação de ar (Fig. 7.2). Por exemplo, às
latitudes de 30º, algum ar equatorial (de grande
altitude) fluindo para os pólos desce em direcção à
superfície da Terra. Quando desce, este ar torna-
se mais quente. Isso significa-se que a essas
latitudes, à volta do mundo, os climas são mais
quentes e secos, o ar é limpo e a chuva é pouca.
O ar descendente espalha-se para norte e sul
dessas latitudes. No hemisferio sul, o ar que foi
para norte dessa latitude inflecte para oeste, em
sentido contrário aos ponteiros do relógio. A parte
do ar que vai para sul dessa latitude também Fig. 7.2. Regime de ventos
inflecte para oeste, mas flui no sentido dos
ponteiros do relógio.
A velocidade do vento muda e geralmente varia
com as estações do ano. Os ventos locais são muito
afectados pela topografia e ao longo das costas pelo
movimento do ar do e para o mar.
Os movimentos do ar em atmosfera limpa são difíceis de ver, mas se houver algum fumo ou poeira, o
padrão de fluxo torna-se visível.
A quantidade de areia que um vento transporta depende da sua velocidade, da granulometria da areia,
da rugosidade do terreno, da cobertura vegetal e da humidade da areia. Como se pode imaginar, ventos de alta
velocidade, partículas pequenas de areia, superfície lisas e pouca vegetação favorecem o transporte pelo vento.

16. FONTES DO MATERIAL TRANSPORTADO PELO VENTO


As fontes potenciais de material transportado pelo vento existem em qualquer
sítio em que existam pequenas partículas de solo ou sedimento expostas ao ar. A maioria
das praias actuais e muitos rios apresentam um bom fornecimento de sedimentos finos.
Também os depósitos fluviais e os arenitos podem vir a ser fontes de material
transportado pelo vento se expostos em regiões áridas e semi-áridas.
As plantas e a cobertura vegetal tendem a impedir a remoção do material pelo vento, o mesmo
acontecendo à humidade do solo, que age como adesivo. Mas em áreas secas a humidade do solo é baixa
e poucas plantas agarram os sedimentos no lugar.
Outra fonte propícia de material a ser transportado pelo vento é aquele resultante das
glaciações. Os glaciares moem grandes quantidades de rocha a dimensões que podem ser transportadas
pelo vento. Os materiais finos resultantes são transportados pelas águas fundidas a partir do gelo e
depositadas mais a jusante para formar grandes planícies de sedimentos. Quando o glaciar desaparece,
formam-se lagos que, com o tempo, evaporam, secando os sedimentos que ficam expostos ao vento.
Os vulcões são também importantes fontes de
material. As poeiras e cinzas lançadas pelas erupções podem
ser levadas a altitudes muito maiores do que é usual noutros
casos (Fig. 7.3).
A actividade humana tem muitas vezes jogado um
papel importante ao expor à superficie muitos materiais do
subsolo. O problema é severo em regiões recebendo pouca
precipitação para a agricultura e que são cultivados. Tais zonas Fig. 7.3. Núvem vulcânica a ser transportada por
são propícias a períodos secos, por vezes de longa duração. ventos

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

17. MOVIMENTOS DE MATERIAIS PELO VENTO


Sob as condições extremas que caracterizam os tufões e ciclones, em que os ventos sopram
acima de 100 km/h, grandes objectos podem ser transportados pelo vento.
Os centros dos tornados são colunas de pressões muito baixas de ar rapidamente ascendente
(Fig. 7.4). Os ventos rodam à volta desta coluna a altas velocidades e o ar flui em espiral à volta desta

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

coluna. Estes ventos são responsáveis pelo


descarrilamento de comboios, arranque de
casas, carregando-os a dezenas de quilómetros,
e ainda pelo desflorestamento de várias áreas.
Os ciclones têm um padrão de
movimento semelhante aos tornados, mas
cobrindo áreas muitíssimo mais extensas (Fig.
7.5). Ambos os fenómenos são capazes de
mover objectos grandes e são geralmente
acompanhados de grandes prejuízos devido a Fig. 7.4. Exemplo dum tornado com a coluna ascendente
movimentos dos materiais pelo vento. A diferença
é que enquando os tornados afectam uma faixa
estreita e ocorrem onde a superfície está coberta
por vegetação (não sendo por isso agentes
geomórficos importantes), os ciclones dão origem
a grandes inundações, e geralmente afectam
zonas costeiras, sendo por isso importantes
agentes geomórficos destas zonas.
Os ventos fortes são capazes de movimentar
seixos (4-64 mm) em que raramente são levantados do
chão. São movidos por arrasto, por rolamento e, por Fig. 7.5. Ciclone visto do espaço
vezes, saltitando. Os blocos (> 256 mm) raramente rolam,
mas porque os sedimentos em que estão assentes são
deslocados. As partículas mais pequenas (ver Tab. 6.2)
constituem o grosso da carga de partículas transportadas
pelo vento.
1 1 1
O movimento do cascalho (2-4 mm), areia ( /16-2 mm) e silte ( /256- /16 mm) ocorre pelos mesmos
mecanismos. Os fragmentos começam a mover-se quando a velocidade do vento atringe o nível crítico para o
tamanho dos sedimentos. Primeiro, a partícula rola no chão e salta quando batida por outra. Uma vez começado
o saltitar de partículas, o processo acelera, porque os grãos, ao saltarem, são impelidos para a frente pelo vento,
ganhando assim mais energia. Quando eles batem de novo na superfície, fazem com que outras partículas
também saltem, originando uma reacção em cadeia. Em breve ocorre uma zona com alguns centímetros a um
metro de espessura cheia de sedimentos saltitantes, isto é, envolvidos em saltação (Fig. 7.6.a) Tanto o tamanho
das partículas como a altura da zona de saltação aumentam com o aumento da velocidade do vento.
A superfíce da maioria dos depósitos de areia está coberta por uma série de ondulações (ripples
– Fig. 7.6.b), causadas pelo rolamento e saltação da areia. A instabilidade desta superfície ondulada é
mostrada pela facilidade com que as ripples mudam em função da direcção do vento, uma vez que as
cristas dos ripples dispõem-se perpendicularmente à direcção do vento. Na Fig. 7.6.c mostra-se um aspecto
de ripples em areias. Os sucessivos impactos que os grãos sofrem neste processo tendem a arredondá-los
e a dar-lhes superfícies picotadas (Fig. 7.7; o picotado pode ser tambem originado por alteração química).

C
Fig. 7.6. A e B. Movimentos de grãos por acção dos
ventos. C. Superfície de areia com ripples.

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B
As partículas mais finas no ar – poeiras e fumo –
são levadas a muito maiores altitudes e duma maneira
diferente que o normal das partículas. As poeiras e fumos
são muitas vezes compostas de partículas finas e
achatadas, com uma área de superfície muito grande em
relação ao seu peso. Isto torna possível as correntes
ascendentes carreguem-nas também para cima,
facilmente contrariando a força da gravidade. Quando há
erupçõs vulcânicas, as poeiras e cinzas vulcânicas expelidas Fig. 7.7. Grãos polidos e picotados por acção do vento
pela força da explosão são levadas para cima e podem manter-se nos níveis superiores da atmosfera por muitos anos e

ser levadas várias vezes à volta da Terra.

18. SEDIMENTOS TRANSPORTADOS PELOS VENTOS

5.1. DUNAS
As dunas são elevações ou ripples de areia depositados pelo vento. Geralmente uma duna
forma-se onde um obstáculo impede o fluxo normal de ar. A velocidade do vento a um ou dois metros do
chão é largamente influenciada por qualquer irregularidade que este chão tenha. Ao encontrar um
obstáculo, o vento rodeia-o pelos lados e por cima, deixando atrás do obstáculo uma bolsada de ar de
movimento mais lento. Nestas bolsadas de velocidade mais baixa, os grãos de areia caiem e formam
montículos. Os montículos em crescimento, por seu lado, influenciam o fluxo do ar. À medida que mais areia
se acumula, os montículos juntam-se para formar uma duna.
As dunas são assimétricas. Elas têm
uma encosta inclinada no lado do sentido do
vento, e uma mais suave, do lado de onde o
vento vem (Fig. 7.8). Os grãos de areia movem-
se por saltação pela encosta suave acima até
atingirem a crista da duna. Como a distância
que um grão salta é geralmente inferior ao
Fig. 7.8. Geometria duma duna
comprimento da encosta mais íngreme, os grãos
que passam a crista da duna acumulam-se no topo da encosta íngreme, formando-se aqui um bojo que, a certa altura,

atinge o ângulo crítico de repouso, e a areia desliza pela encosta abiaxo. Este deslizamento leva a que a encosta íngreme

atinja de novo o ângulo de repouso, que é de 30º - 34º.

O ângulo de repouso da encosta mais suave varia com a


velocidade do vento e com a granulometria do material, mas é sempre
menor que o ângulo de repouso da encosta mais íngreme. A assimetria
da duna dá indicações da direcção e sentido dos ventos, uma vez que a
encosta íngreme está sempre do lado contrário de onde o vento vem.
Muitas dunas atingem alturas de 30-100 m; na Planície de
Alashan na China referiram-se dunas com 500 m de altura (Fig. 7.9).
A contínua transferência da areia da encosta suave para a
encosta íngreme leva a que a duna migre na direcção do vento, às Fig. 7.9. Duna de Alashan, China
vezes com velocidades de 25 m/ano, podendo inclusivamente soterrar

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

casas e outras obras, entupir canais de irrigação e mesmo ameaçar


cidades (Fig. 7.10). Em tais lugares, o avanço das dunas pode ser
evitado pela plantação de vegetação que sobreviva em solos secos
como os que constituem as dunas.
A Fig. 7.11 mostra os vários tipos de duna e em que ambientes
eles ocorrem. O tipo de duna é controlado pelo grau de cobertura vegetal,
pela força do vento, e pela quantidade de areia disponível (Fig. 7.12). Onde
há muita areia e a falta de humidade impede o crescimento de vegetação,
os ventos tendem a criar barcanas e dunas transversais; se houver menos Fig. 7.10. Ruínas soterradas por dunas
areia, tendem a formar-se dunas longitudinais. Com um aumento de costeiras em Pachacamac, Peu.
humidade a vegetação começa a aparecer e aí predominam as dunas
parabólicas. Com um aumento ainda maior de vegetação e um declínio da
velocidade dos ventos, a formação de dunas cessa.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Uma duna coberta de capim pode ser


reactivada se o capim morrer permitindo que a
deflacção comece. Isto pode resultar de
períodos de seca, ou pela destruição da
vegetação por animais e pelo Homem.
Onde existir uma duna, é possível dizer
donde soprou o vento que a criou. Mesmo que
uma duna tenha sido erodida e o que restou
transformado em arenito, é possível determinar
a direcção do vento que criou essa duna (Fig.
7.13).
A Fig. 7.14 mostra uma região do
Fig. 7.11. Relação tipo de duna, vegetação, areia e vento deserto do Sahara, na Argélia, com dunas em
estrela.

TIPO DE DUNA DEFINIÇÃO E OCORRÊNCIA ESQUEMA


Duna em forma de crescente, com as pontas
apontando no mesmo sentido do vento. Ocorre
Barcana chãos duros e planos dos desertos. Vento constante
e fornecimento limitado de areia; Alturas de 1 a mais
de 30 m

Fiada de dunas em forma de crescente


Crista Barcanóide conectadas, orientadas perpendicularmente à
direcção do vento

Duna formando uma crista assimétrica


perpendicularmente à direcção do vento. Ocorre
Duna Transversal em áreas com abundância de areia e pouca
vegetação; Em alguns lugares passa gradualmente
para barcanas

Duna em forma de U, com a concavidade virada


Duna Parabólica
para o vento.

Duna em crista longa e rectilínea paralela à


direcção do vento. Atingem 100m de altura a 100
Duna Linear km de comprido. Ocorrem em desertos com pouco
fornecimento de areia e fortes ventos soprando
duma só direcção

Colina isolada de areia tendo uma base que se


assemelha a uma estrela em plano. As cristas
Duna em Estrela convergem num pico central, que pode atingir 100 m
de altura. Tende a manter-se fixa no lugar em áreas
onde o vento sopra de todas as direcções

cxl
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Crista assimétria intermédia entre uma duna


transversal e uma duna em estrela. Forma-se
Duna Inversa
onde a força e a duração do vento de duas direcções
opostas estão em equilíbrio.

Fig. 12. Principais tipos de dunas baseados na forma.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 7.13.Estratificação cruzada em arenito originado de dunas


antigas convertidas em rocha sedimentar consolidada Fig. 7.14. Dunas em estrela de Tifernine, Argélia

5.2. MARES DE AREIA


Alguns desertos maiores contêm extensos depósitos de
areia em movimento a que se chamam mares de areia ou ergs.
Alguns dos melhores exemplos encontram-se no N, W e SW de
África (Fig. 7.15) e na Península Arábica. Eles contêm uma
variedade de formas dunares, desde pequenas colinas de areia e
barcanas a grandes complexos dunares que formam uma
paisagem infindável e monótona.

5.3. LOESSES
Em algumas extensas áreas, os sedimentos depositados Fig. 7.15. Mar de areia do deserto
de Namib
pelo vento são tão espessos e uniformes que constituem um
depósito distinto e controlam as características da paisagem.
Estes depósitos são conhecidos por loess (do Alemão lös =
solto) que se define como silte depositado pelo vento, geralmente
acompanhado de alguma areia e argila finas.
Geralmente o loess é maciço e sem estratificação. As raízes das
plantas, os vermes e outros organismos removeram o sedimento vezes sem
conta durante e desde a sua deposição. Onde exposto, o loess geralmente
apresenta barrancos muito íngremes (Fig. 7.16), como se fosse uma rocha
consolidada. Isto é resultado do grão finíssimo do loess em que a atracção
Fig. 7.16. Loess exposto em Xian,
molecular é muito forte, tornando as partículas muito coesas. A porosidade é China
muito alta, normalmente >50%. Assim, o loess absorve muita água, tornando-
se solos muito produtivos.
Os minerais constituintes do loess são o quartzo, feldspatos, micas e calcite. As
partículas são geralmente frescas e mostram pouca evidência de meteorização química, a
não ser leve oxidação de minerais com ferro que dá ao depósito uma cor amarelada-
acastanhada.
Os loesses apresentam duas características que indicam a sua origem eólica:
a) forma coberturas extensas e uniformes, cobrindo colinas e vales da mesma
maneira e a diferentes altitudes;
b) contém fósseis de plantas e animais terrestres, principalmente determinados
tipos de caracóis terrestres, bem como grandes mamíferos.

cxlii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

A distribuição dos loesses mostra que a sua principal fonte foram os desertos e
planícies de inundação resultantes da fusão dos gelos glaciares.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 8: RIOS E PROCESSOS FLUVIAIS

19. INTRODUÇÃO
A Terra é muitas vezes chamada de Planeta da Água, por ser o único planeta do Sistema Solar
em que a água ocorre nos três estados: sólido, líquido e gasoso. Além disso, cerca de 60% da superfície da
Terra é coberta de água. Se bem que hoje não haja rios em Marte, muitas das formas de terreno sugerem a
existência desses rios em tempos idos. Mas em nenhuma parte do Sistema Solar a influência dos rios na
modelação da paisagem é tão importante como na Terra

20. FORMAÇÃO DOS RIOS


Como é que a água vai para os rios, não é tão claro como parece. A água corrente – água que não é
absorvida pelo solo mas que flui à superfície – contribui para a maior parte da água dos rios, mas mesmo alguns
pequenos rios continuam a fluir mesmo quando esta água corrente superficial se esgotou. Alguma da água que
alimenta os rios provém do subsolo – água subterrânea. A maior parte desta água subterrânea flui no subsolo,
mas parte aparece à superfície ou como nascentes ou ainda debaixo do próprio leito dos rios. Mas a principal
fonte dos rio é a água corrente superficial – runoff.
Uma série de factores controla a quantidade de runoff e quanta
água evapora, transpira ou vai para o subsolo (ver ciclo hidrológico).
Uma grande percentagem da chuva torna-se runoff em área em que:
a) têm encostas íngremes;
b) têm taxas baixas de evapotranspiração.
O runoff começa como uma fina lâmina de água à superfície do
solo. Esta toalha de água flui encostas abaixo em pequenos canais que
coalescem para formar fluxos de água maiores (Fig. 8.1). Na maioria dos
casos, a superfície do chão é composta por uma rede de pequenos
canaias (por vezes não visíveis) que se encontram secos. Só os canais
maiores parecem ter vales visíveis e mesmo estes, só alguns têm água o Fig. 8.1. Rede de drenagem
ano todo.
Assim, os rios permanentes são só uma parte duma extensa rede de
canais que drenam a superfície da Terra. A área drenada por um rio (e seus
afluentes) chama-se bacia hidrográfica, e o perímetro desta bacia é definido por
uma linha imaginária chamada interflúvio ou linha divisória de água, porque
separa uma bacia hidrográfica doutra bacia hidrográfica. A Fig. 8.2 mostra as
bacias hidrográficas dos principais rios de Moçambique. Esta linha, se bem que
imaginária, tem um sentido real, uma vez que em ambos os lados desta linha as
águas do runoff fluem em direcções opostas.

21. PRINCÍPIOS QUE GOVERNAM A ACÇÃO DOS


RIOS
Uma observação da natureza mostra uma diversidade grande de
rios e de paisagens que eles atravessam. Estas diferenças incluem a
quantidade de água, a largura e profundidade do rio, a sua velocidade e a
forma do canal.

3.1. O RIO E O SEU CANAL Fig. 8.2. Bacia hidrográficas de


Moçambique
Forma do Canal
A maioria dos rios permanentes correm em canais bem definidos que podem ser descritos
medindo a sua largura e a sua profundidade, de modo a desenhar-se uma secção do rio. Assim é possível
calcular-se a área da secção dum rio em vários locais. Se se determinar a velocidade média, é possível
calcular o seu caudal – quantidade de água que passa na secção por unidade de tempo, empressa em
volume/unidade de tempo.

cxliv
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

As formas dos canais e os caudais diferem muito de rio para rio e dentro do mesmo rio. A Fig. 8.3
mostra que os canais também diferem muito na mesma secção de tempos em tempos, especialmente quando o
caudal muda devido a muita ou pouca precipitação ou a mudanças sazonais. Em parte, a mudança na secção é
devida ao facto de que o nível do rio sobe quando o caudal aumenta, mas em muitos canais a forma e
profundidade do canal também muda. Estas mudanças são resultado de erosão e deposição de material no leito
do rio (canal). Os sedimentos soltos e não consolidados consistem muitas vezes de silte, areia e misturas de
cascalho, a que se chama aluvião. A maioria dos rios corre em canais cortados em aluviões que enchem o
fundo dos vales dos rios.

Fig. 8.3. Mudança na forma do canal durante as cheias do Rio San Juan (Utah, EUA), entre Setembro e Outubro de 1941.

A forma do canal pode ser um semi-círculo quase


perfeito em secção, mas geralmente é assimétrico e, em
algumas condições, o rio corre não num, mas em vários canais
que mudam rapidamente, de pouca profundidade e
intercruzados, chamando-se rios anastomosados (Fig. 8.4).
Outros rios, ainda, correm sobre rochas dura em que não se vê
aluvião (Fig. 8.5).
Uma vez que o caudal muda, os aluviões não estão confinados ao
canal. Durante as cheias, o caudal é excepcionalmente alto e, nessa altura,
o rio tanto erode o vale para além do canal habitual, como deposita
sedimentos nesse mesmo vale quando o canal diminui. Assim, é formada
uma superfície quase plana ao longo de muitos rios – as chamadas
planícies de inundação. Quando se vai de estrada para o Xai-Xai e se
passa Chicumbane, a estada desce a uma dessas planícies de inundação Fig. 8.4. Rio anastomosado
até se chegar à ponte sobre o Rio Limpopo, onde ocorreram as dramáticas
cheias de 2000. A Fig. 8.6 mostra uma fotografia aérea do Rio Limpopo
tirada na altura das cheias, mostrando a planície de inundação afectada
pelas águas. Se bem que quase todos os rios tenham cheias, nem todos
têm planície de inundação. É o que acontece quando os rios correm em
leitos como os da Fig. 8.5. Os canais variam claramente desde onde o rio
começa em altitudes maiores – nascente – até a altitudes mais baixas
onde desagua num rio, lago ou mar – a foz.
Os rios fluem porque a se água move encosta abaixo. Além
Fig. 8.5. Leito rochoso do Rio Vúzi,
disso, a velocidade da água aumenta com a inclinação da encosta. afluente do R. Zambeze, na Albufeira de
Assim, a inclinação (declive) da encosta é uma característica importante Cahora Bassa
de qualquer rio. O declive dum rio – o gradiente do rio – é determinado
medindo a difereça de altitudes entre dois pontos e a distência entre os
mesmos. Normalmente mede-se em metros/quilómetros. A Fig. 8.7
mostra o perfil longitudinal do Rio Yellowstone, nos EUA.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 8.6. Planícies aluviais. Esquerda: Fotografia aérea


do Rio Limpopo durante as cheias de 2000. Cima:
Imagem de Caia durante as cheias do Rio Zambeze
em 2001.

Fig. 8.7. Perfil longitudinal do Rio Yellowstone; escala vertical exagerada

Fluxo de água

A natureza do fluxo da água dos rios sofre


muitas alterações no decurso do seu caminho desde
a nascente até à foz. Nas montanhas, onde a água
está confinada a leitos estreitos em forma de V,
cheios de cascalheira e detritos rochosos, a água A B
literalmente salta, borbulha e espuma durante a sua
descida. Na base das montanhas a água segue um
curso sinuoso. A água torna-se menos turbulenta,
excepto durante as cheias. À medida que o rio se
aproxima do nível do mar, ele segue um caminho C
meandrante numa paisagem plana. A água fluiFig. 8.8. Diversos tipos de fluxo das águas dos rios. A.
Laminar; B. Turbulento; C. de Queda
suavemente só com algumas perturbações
superficiais.
O fluxo da água do rio pode ser calmo ou turbulento.
No primeiro caso, diz-se que o rio tem um fuxo laminar (Fig.
8.8.a) e no segundo que tem um fluxo turbulento (Fig.
8.8.b). Quando o fluxo muda o declive muito rápidamente, a
espessura de água diminui, passando a ter um fluxo de
queda (Fig. 8.8.c). Um exemplo deste tipo de fluxo é uma
cascata (Fig. 8.9).
Fig. 8.9. Quedas de água de Victoria Fall, do lado
Zambiano (1977), também chamadas de Mosi-wa-
Tunya (a água de troveja)

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

3.2. CARGA DUM RIO


Fontes da carga dum rio
À excepção das grandes altitudes em que os glaciares transportam grandes quantidades de carga, os
rios são praticamente os únicos responsáveis pela remoção do solo e rochas dos continentes. A carga dum rio
é o material transportado pelo rio. As margens dos rios são a fonte mais imediata da carga. À medida que o rio
remove aluvião do seu canal, as margens tornam-se super-íngremes, ocorrendo então slumping, deslizamento
e outras formas de destruição de margens, cujo material entra na corrente de água. Este processo é
particularmente importante nas zonas em que o rio atravessa sedimentos não consolidados.
A carga pode também provir de fora da área da bacia hidrográfica. Junto a glaciares actuais as
águas fundidas carregam sedimentos suspensos para os rios.
A areia e silte soprados pelos ventos constituem grande parte da carga dos rios que correm perto
de desertos, lagos ou costas onde predominam ventos fortes e sedimentos soltos.
As cinzas vulcânicas também são importantes fontes durante as erupções.

Movimentos da carga com a água corrente


Quando o runoff superficial é forte e varre grandes quantidades de solo e produtos de
meteorização para os rios, a água aparece barrenta porque parte da sua carga está a ser transportada em
suspensão, constituída principalmente pelas partículas mais leves e mais pequenas, do tamanho de argilas
e siltes. Se a água for muito turbulenta, também pode carregar em suspensão partículas maiores.
Alguns produtos de meteorização podem ser carregados em solução,
especialmente em rios fluindo sobre determinados tipos de rochas (calcários,
dolomitos, depósitos salinos). Em climas húmidos, a maioria do material
dissolvido é trazido pelas água subterrâneas que ascendem à superfície.
Também os produtos solúveis dos processos de meteorização química vão ter
aos rios e juntar-se à carga em solução.
O resto da carga dum rio move-se ao longo do fundo do canal e
chama-se carga de fundo. Quando a velocidade da água é suficientemente
grande, a areia, seixos, cascalho e mesmo blocos, podem saltitar ao longo do
fundo ao baterem em irregularidades deste e, por algum tempo e curtas
distâncias, serem transportados como carga em suspensão, até serem
puxados para o fundo pela gravidade. Outra maneira de movimento é por
arrasto e rolamento ao longo do fundo.
Experiências têm mostrado que a quantidade de partículas maiores
que rolam ao longo duma enconsta suave, aumenta enormemente com o
aumento da velocidade da água. Assim, um rio em que a água se move a uma
velocidade de 100 cm/seg consigue mover um calhau de 2 kg, mas se essa
velocidade for de 200 cm/seg, já consegue mover calhaus de 64 kg. A fig. 8.10
mostra um calhau de granito de 8 toneladas rolado e polido como carga de
fundo do Rio Big Thompson (EUA). Fig. 8.10. Bloco rolado de granito
de 8 toneladas

Todos os rios carregam normalmente os três tipos de carga, mas pode acontecer
que predomine um deles sobre os outros. Por exemplo, os rios do sul de Moçambique,
que correm em planícies e em velocidades relativamente lentas, carregam
fundamentalmente carga em suspensão e em solução, e só muito pouco em carga de
fundo. Pelo contrário, os rios de montanha carregam normalmente carga de fundo.
cxlvii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

A quantidade de material transportado depende não só da velocidade da água, mas também da


disponibilidade de material. Geralmente os rios não carregam todos os detritos possíveis para as suas
condições, ou seja, para a sua capacidade – quantidade de material que eles podem transportar nas
condições prevalecentes. Por outro lado, a capacidade não é preenchida por que a força da água não é
suficiente para transportar os detritos.

cxlviii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

3.3. EROSÃO DUM RIO


Uma bacia hidrográfica é erodida pelo
runoff, por movimentos de massa e por processos
que acontecem no próprio rio.
A pressão da água corrente contra os
blocos de rocha causa o seu rolamento e, se a
velocidade for alta, podem saltar ao bater em
obstáculos. Uma vez em processo de saltação, estes
caulhaus deslocam outros sedimentos no fundo. Se o
fundo for de rocha dura, o impacto dos calhaus em
Fig. 8.11. Lago de Cahora Bassa. Notar a forma em V do vale.
saltação pode partir e fracturar esta rocha.
As cargas em suspensão e saltação são
afectadas pela turbulência da água. Muita da carga
de fundo é mantida em suspensão em águas
turbulentas, mas as partes mais pesadas estão
continuamente a bater no fundo. Nestas condições é
natural que a erosão se concentre no fundo, fazendo
com que o rio cave ainda mais o seu leito.
Como consequência, alguns rios correm em
gargantas estreitas, como o Rio Zambeze (Fig. 8.11),
ou o rio Colorado no Arizona (Fig. 8.12).
A erosão lateral ocorre fundamentalmente em
rios que correm em encostas muito suaves. Em cada
curva, a água é empurrada para a parte de fora da
curva, onde a erosão e a turbulência se concentram. O
resultado é um aprofundamento do canal e um declive
maior da margem do lado de fora da curva. Isto torna
esta margem instável, fazendo com que deslize para
Fig. 8.12. Garganta do Rio Colorado, Arizona, EUA.
dentro do rio (Fig. 8.13 e Fig. 8.14).

Fig. 8.14. O rio desloca o seu canal erodindo a margem na parte


Fig. 8.13. Sucessivos perfis dum rio mostrando a deslocação
de fora da curva
progressiva do canal para a esquerda

Quando o rio corre por cima de rocha dura,


o canal mostra muitas vezes depressões
arredondadas, chamadas marmitas de gigante (Fig.
8.15), as quais têm sempre no seu fundo cascalheira
e sedimentos grosseiros. Quando a velocidade da
água é grande, estes detritos grosseiros rodam dentro
do buraco desgastando-o cada vez mais. Os
materiais resultantes deste desgaste são levados em
suspensão para fora do buraco e rio abaixo. A maioria
das marmitas de gigante são pequenas, mas por
vezes podem atingir 6 metros de profundidade.
Fig. 8.15. Marmita de gigante

Uma outra causa da erosão dos rios são as bolhas de ar que aparecem nas zonas de regime
muito turbulento, como na zona de rápidos e na base de quedas de água e de barragens. As bolhas
submersas sujeitas às grandes pressões da água colapsam e este colapso provoca ondas de choque que
podem causar rápida erosão, mesmo em rochas duras.

cxlix
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3.4. DEPOSIÇÃO (SEDIMENTAÇÃO) DUM RIO


A quantidade exacta de areia, silte e rocha transportada por um rio depende de
quanta carga está potencialmente disponível e da capacidade do rio. A capacidade dum
rio é determinada principalmente pela quantidade de água que corre, pelo caudal e pela
velocidade da água, caracteristicas muito dependentes do gradiente do leito.
A deposição ocorre sempre que a capacidade dum rio for inferior à quantidade de
carga que o rio transporta. Assim, ela ocorre quando a velocidade diminui, ou quando a
carga fornecida pelo runoff, vento ou deslizamentos de terra ultrapasam a capacidade de
o rio os tranportar.
Em regiões secas os rios estão normalmente carregados para além da sua
capacidade por sedimentos finos trazidos ou soprados para o seu canal. Neste caso, o
canal começa a encher-se destes sedimentos e a água do rio, incapaz de os movimentar,
começa a procurar caminhos, passando a ter um percurso em rede – rio anastomosado
(Fig. 8.4).
A diminuição da capacidade acontece também como resultado da infiltração da
água dos rios nos aluviões porosos das suas margens e fundo, ou quando a evaporação
se torna muito forte.
A diminuição da velocidade dos rios deve-se a vários factores, especialmente a
redução do gradiente. Isto acontece quando o rio desemboca num lago ou no mar, ainda
quando conflui com outro rio ou quando a quantidade de água fornecida diminui.
Depósitos Fluviais

Dependendo das condições que originam a deposições, esta ocorre nos canais,
nas planícies de inundação e nos corpos de água em que os rios desaguam.
Os depósitos de canal nos rios que erodem activamente a rocha por onde
correm, tendem a consistir de barras finas de sedimentos pequenos, que se movem no
período seguinte de alto caudal. O preenchimento da maioria dos canais geralmente
flutua em espessura com a variação de caudal e velocidade das águas do rio.
Depósitos de planície de inundação - as águas das
cheias estão muito carregadas de sedimentos devido ao
aumento do seu caudal e velocidade, aumentando assim a sua
capacidade. Quando as água se espraiam sobre as planícies
de inundação, elas passam a movimentar-se mais lentamente.
Por seu lado, encontram no seu caminho uma série de
obstáculos, como árvores, por exemplo, aumentando assim o Fig. 8.16. Secção dum rio mostrando a formação dum
atrito ao movimento. Com a diminuição da velocidade devido a levée natural
estes factores, ou devido ao fim das cheias, os sedimentos
suspensos assentam, formando uma nova camada de
sedimentos na planície de inundação, importante para a
agricultura. Por vezes acontece que junto às bordas do canal
se deposita uma camada de sedimentos mais grosseiros, a que
se chama um levée natural (Fig. 8.16).
Os depósitos em outros corpos de água são
chamados de deltas, como os do Rio Zambeze e Rio Yukon (Fig.
8.17). Neste caso o canal principal subdivide-se numa série de
canais menores e dispostos dendríticamente que transportam a
água e a carga em suspensão para a superfície do delta, que
geralmente é uma área plana, extensa e pantanosa.
As camadas de sedimentos depositadas no topo do Fig. 8.17. Delta do Rio Yukon, Alaska
delta (Fig. 8.18) são chamadas de top-set beds. Na frente do
delta, os sedimentos são depositados na encosta (subaquática)

cl
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formada em águas calmas – são os fore-set beds. Os


sedimentos muito finos que ficam em suspensão tempo suficiente
para serem carregados para águas mais profundas formam os
bottom-set beds. À medida que o delta cresce e avança água
adentro, depositam-se fore-set beds em cima dos bottom-set
beds. Forma-se assim estratificação cruzada deltaica.

Fig. 8.18. Secção deltaica ideal

cli
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1. DESENHO DE DRENAGEM
Se bem que duas bacias hidrográficas nunca sejam iguais, é possível observar os
mesmos desenhos de drenagem em várias delas. Entende-se por desenho de drenagem
a disposição espacial que a rede de drenagem tem.
O mais comum destes desenhos de drenagem é o desenho dendrítico (Fig. 8.19.a e Fig. 8.1),
comum nas rochas que apresentam resistência uniforme à erosão. Muitas vezes, contudo, um exame atento
dos padrões de drenagem mostra que os rios se ajustam a tendências estruturais tanto à escala local como
à regional. Isto reflecte a tendência dos rios seguirem linhas de fraqueza representadas por diaclases,
flhaas e camadas de rochas brandas. O desenho radial (Fig. 8.19.b) ocorre em vulcões e domos, ou seja,
as nascentes de água do topo do alto topográfico correm em todas as direcções a partir deste topo. O
desenho anelar (Fig. 8.19.c) também ocorre em domos, quando as camadas sedimentares afloram à
superfície. O desenho paralelo (Fig. 8.19.d e Fig. 8.20) ocorre em encostas íngremes pobres em
vegetação. Os desenhos rectangular (Fig. 8.19.e) e angular (Fig. 8.19.f) são controlados por diaclases. O
desenho meandrante (Fig. 8.19.g e Fig. 8.21) encontra-se em rios de gradientes muito baixos. O desenho
anastomosado (Fig. 8.19.h e Fig. 8.4) também ocorre em rios de gradientes muito baixos e que carregam
mais carga do que conseguem. Contudo, muitas vezes a drenagem é complexa quando apresenta misturas
dos vários tipos de drenagem (Fig. 8.19.i).

a) Drenagem dendrítica b) Drenagem radial c) Drenagem anelar

d) Drenagem paralela e) Drenagem rectangular f) Drenagem angular

g) Drenagem meandrante h) Drenagem anastomosada i) Drenagem complexa

Fig. 8.19 – Diversos tipos de desenho de drenagem

Nas Figs. 8.22 a 8.27 podem ver-se algumas imagens de satélite tiradas pelos astronautas da
Challenger.
A Fig. 8.22 mostra a foz do Rio Púngoè, na Cidade da Beira, sendo possível
observar-se os sedimentos carregados pelas suas águas para as águas do mar.

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Por seu lado, a Fig. 8.23, mostra o Rio Zaire algures no seu percurso, com um
leito nítidamente anastomosado, bem como o seu afluente. Na margem de cima, um
afluente saído dom lago, tem um curso meandrante junto à confluência com o Rio Zaire.
A Fig. 8.24 mostra alguns vulcões em actividade na Etiópia (vê-se o fumo) e a
rede de drenagem radial que parte do topo dos vulcões.
A Fig. 8.25 mostra o Rio Nilo no Vale dos Reis no Egipto, junto a Luxor, com um
traçado meandrante, com afluentes mostrando uma drenagem dendrítica.
A Fig. 8.26 mostra a zona de fronteira entre o Senegal (esquerda) e a Guiné
Bissau (direita), com os Rios Senegal e Cacheu, com traçado meandrante.

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Finalmente a Fig. 8.27 mostra o traçado algo anastomosado do Rio Níger no Mali,
bem como um rio menor de drenagem meandrante.

Fig. 8.21. Rio meandrante Fig 8.22. Imagem da foz do Rio Púngoè,
na Beira, e, à esquerda, parte da foz do
Rio Búzi.
Fig. 8.20. Rio rectilíneo em fractura

Fig. 8.24. Montanhas vulcânicas na Etiópia. Fig. 8.25. Vale dos Reis, Egipto. Notar o
Fig. 8.23. Rio Zaire, com drenagem Notar os fumos dos vulcões e a drenagem traçado meandrante do Rio Nilo e
anastomosada radial a partir do topo dos montes. adrenagem dendrítica dos seus
afluentes.

Fig. 8.26. Rio Senegal (esquerda,


República do Senegal) e Rio Cacheu Fig. 8.27. Rio Níger, Mali, com traçado algo
(direita, Guiné Bissau) de traçado anastomosado; à direita, um rio menor com
meandrante. meandros.

cliv
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TEMA 9: OS OCEANOS E OS PROCESSOS MARINHOS

22. INTRODUÇÃO
A água do mar cobre 71% da superfície da Terra. Cerca de 40% do Hemisfério Norte é terra,
enquanto que no Hemisfério Sul só há 20% de terra. Este distribuição irregular da terra e das água joga um
papel importante na definição dos caminhos que as águas percorrem nos oceanos.
A profundidade maior medida até hoje é de cerca de 11 km, perto da Ilha de Guam no Oceano
Pacífico Ocidental, sendo a profundidade média do mar de cerca de 3.8 km. Sabendo a área dos oceanos e
3
a profundidade média, é possível calcular o volume de água do mar, que é cerca de 1,35 biliões de km .

23. COMPOSIÇÃO
Cerca de 3.5% em peso da água do
mar são constituídos por sais dissolvidos, o
suficiente para a tornar imbebível (Fig. 9.1).
Também é quantidade suficiente para, se a
água do mar evaporasse toda, formar uma
cama de sais de 56 m cobrindo todo o fundo
marinho.
A quantidade de sal dissolvido na água de
mar tem o nome de salinidade, e é geralmente
o
expressa por partes por mil( /oo) em vez de percentagem
(%). Assim, a salinidade média da água do mar é de 35
o
/oo. Os principais elementos que se encontram
dissolvidos na água do mar são o Cloro e o Sódio. Fig. 9.1. Principais constituintes da água do mar
Quando a água do mar evapora, mais de ¾ dos sais
que se precipitam são de cloreto de sódio (NaCl).
Donde provêm os iões dissolvidos na água do mar?
Anualmente, os rios carregam para o mar 2.5 biliões de toneladas de substâncias dissolvidas nas suas
águas. Estas substâncias são lixiviadas das rochas durante a meteorização química, à mistura duma pequena
parte de material solúvel trazido do manto e libertado na forma de gases durante as erupções vulcânicas. A
quantidade de iões dissolvidos ao longo dos milhões de anos da história da Terra excede em muito a quantidade
dissolvida hoje. Isto significa que, se por um lado há um acréscimo constante de material, por outro há uma
remoção constante de material para se manter um equilíbrio.
a) Acontece que a vida marinha retira constantemente da água do mar quantidades de Si, Ca e P para
construir as suas carapaças e conchas.
b) O K e o Na são constantemente absorvidos pelas partículas de argila e outros minerais quando
sedimentam lentamente nos fundos marinhos.
c) Outros, como o Pb e o Cu são precipitados como sulfuretos

24. TOPOGRAFIA DOS FUNDOS OCEÂNICOS


A topografia dos fundos oceânicos é muito variada e irregular. Os fundos
oceânicos têm cadeias de montanhas e vales, planícies, grandes escarpas e vulcões,
exactamente como sucede à superfície da Terra, como se pode ver na Fig. 9.2 que
compara os perfis através do Oceano Atlântico Sul e através da América do Norte. O
mapa da Fig. 9.3 mostra a topografia do fundo de parte do Oceano Índico se este fosse
esvaziado de água. Nele se podem ver elevações e zonas baixas.

3.1. PLATAFORMA CONTINENTAL

clv
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Plataformas continentais formam as orlas das grandes e vastas bacias oceânicas e


estão cobertas de água (Fig. 9.4). As plataformas continentais são zonas de superfície plana
que representam cerca de 10% da superfície dos continentes, podendo ter larguras variadas,
desde 1.300 km na Sibéria a quase 0 km (Chile).

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Fig. 9.2. Perfil topográfico da América do Norte (cima) e do Atlântico Sul (baixo) Fig. 9.3. Fundo do Oceano Índico

O limite duma plataforma continental náo é definido pela profundidade da água,


mas por uma mudança brusca no seu declive. Assim há locais em que esse limite pode
estar a 100 m de profundidade, mas há outros em que pode ir até 600 m. Na sua maioria,
as plataformas resultam da acumulação de sedimentos em camadas, principalmente
provenientes dos continentes.
Assim, antes de se poder formar uma plataforma, é necessário que se forme uma
bacia oceânica. No caso das costas de Moçambique, que têm a maior plataforma continental
da África Oriental, a abertura do Oceano Índico e do Canal de Moçambique deu-se há cerca
de 200 milhões de anos atrás, quando a Antártida e Madagáscar começaram a separar-se
da África. Quando a fracturação ocorreu, as margens continentais neo-formadas foram
adelgaçadas e ligeiramente dobradas para baixo para formar uma bacia longa e estreita. A
água do mar fluiu então para esta bacia e no novo oceano os rios trouxeram os sedimentos
que começaram a formar as plataformas continentais. A Fig. 9.5 mostra as zonas de
plataforma continental de Moçambique.

Fig. 9.4. Zonas de plataforma continental, bordejando as bacias Fig. 9.5. Zonas de plataforma continental (PC) e de talude
oceânicas. A linha branca refere-se ao perfil do Atlântico da Fig. 9.2. continental (TC) em Moçambique

Noutros locais em que as plataformas são muito mais estreitas, estas parecem
terem resultado do movimento descendente de blocos de falhas que submergiram a
rocha, que passou a estar sujeita à intensa erosão marinha. É o caso das plataformas da
margem oeste da América do Norte.

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3.2. TALUDE CONTINENTAL


Os taludes (declives) continentais são zonas de
grande declive que vão desde a borda das plataformas
continentais até aos fundos oceânicos, de encontro à crusta
oceânica. Dum modo geral, o talude continental passa
gradualmente para inclinações mais suaves em direcção a
extensas planícies abissais (Fig. 9.2). Noutros locais, o
talude termina abruptamente contra sedimentos horizontais
dos fundos oceânicos, como a oeste da Florida, em que a
base do talude foi soterrado por sedimentos trazidos pelo Fig. 9.6. Plataforma continental e talude continental na costa
Rio Mississipi (Fig. 9.6). leste da Flórida

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3.3. CRISTA MÉDIO-OCEÂNICA


Na Fig. 9.2 a característica mais
importante no perfil submarino é a Crista
Médio-Atlântica, que faz parte do sistema
de cristas no fundos dos oceanos, e que
atinge uma extensão de 84.0000 km de
comprimento, marcando os limites das
zonas de separação de placas. Essa
crista domina a vista apresentada na Fig.
9.7, onde ela apresenta uma largura de
1500 km. A crista eleva-se entre 1000-
3000 metros acima do fundo oceânico e
está a uma profundidade média de 2500
metros. Ela tem maior altitude ao longo do
seu eixo, diminuido simetricamente de
altitude para ambos os lados.
Em vários pontos à volta do mundo, a
crista oceânica atinge a superfície do mar,
Fig. 9.7. Reconstituição do fundo do Oceano Atlântico Norte, se a originando ilhas oceânicas, a maior das quais é a
água fosse toda removida Islândia (Fig 9.7), o que permite uma observação
directa duma zona de separação de placas, já que
estas se encontram quase todas a grandes
profundidades.

25. PROCESSOS MODELADORES DAS COSTAS

4.1. MARÉS
O termo maré aplica-se à descida e subida periódica do nível do mar. Já nos tempos
antigos foi verificada a relação entre o movimento das marés e as fases da Lua. À medida
que o Homem aprendeu a medir o período (tempo entre duas marés altas sucessivas) e a
amplitude (variação do nível da superfície da água), bem como a variabilidade das marés,
entendeu que as marés são um processo extremamente complicado.
Os dois factores dominantes que controlam as marés são:
a) atracção gravitacional que o Sol e a Lua exercem na água do mar; e
b) efeito da forma das bacias oceânicas na água em movimento.
As marés não podem ser só explicadas pela atracção gravitacional. Se
observarmos a Fig. 9.8, com gráficos de marés de 3 locais diferentes na Nova Zelândia,
verificamos que os padrões são diferentes no que toca ao período, amplitude, número de
marés por dia e padrão de variação com o tempo.

clix
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Fig. 9.8. Registos de marés em 3 localidades da Nova Zelânida. Notar a relação entre as fases da Lua e as amplitudes

As marés têm menor amplitude quando a Terra, o Sol e a Lua estão em


quadratura, isto é, os centros dos 3 planetas formam um ângulo recto. Quando os três
planetas estão alinhados, as marés têm maior amplitude, ocorrendo então as marés-
vivas.

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Efeitos Geológicos das Marés


A maioria das zonas costeiras do mundo são afectadas por movimentos de maré.
As amplitudes de maré em Moçambique variam entre 2 e 3 metros. Nas costas dos EUA,
essas amplitudes variam entre 2 e 7 metros. Em certos locais, como na Baía de Fundy na
Nova Scotia (Canada), conhecem-se marés ainda maiores, às vezes com 12 ou mais
metros.
Quando a maré se aproxima da costa, cria uma corrente horizontal, maré de
cheia, que se move para dentro de baías e rios e, em alguns casos, continuam para
montante desses rios. Por exemplo, o Rio Hudson é afectado pelas marés até 208 km a
montante, onde o nível do rio pode variar até 1.5 metros.
Em alguns rios, em que as amplitudes de marés é muito alta, o movimento da
água toma a forma duma onda turbulenta – maré de arrasto – que se move a alta
velocidade. No caso do Rio Amazonas, esta maré pode atingir 4.8 metros e mover-se a
22 km/h. As correntes que resultam destes movimentos são agentes de erosão marinha
efectivos, impedindo os sedimentos finos em suspensão de se depositarem. Por esta
razão as marés de arrasto ajudam a limpar e a modelar os leitos dos rios em que
ocorrem.
A força de atracção não está confinada à superfície dos oceanos. A água de
todas as profundidades sofre essa atracção, e por isso ocorrem correntes de maré de
profundidade. Os principais efeitos parecem ocorrer quando as águas que estão para lá
dos taludes continentais são puxadas em direcção a terra para sobre a plataforma
continental. Estas correntes são as responsáveis pela movimentação dos sedimentos
perto das margens das plataformas.

4.2. ONDAS
As Ondas são movimentos ascendentes e
descendentes da superfície dum corpo de água (Fig. 5.24). Neste
sentido, as marés podem olhadas como um tipo especial de ondas
muito longas. Contudo, a maioria das ondas que vemos no mar
aberto são formadas por pequenos altos alongados (cristas)
separados por pequenas depressões - cavados. Muitas vezes
vêem-se ondas de diferentes tamanhos juntas. A Fig. 9.9 mosta
um modelo de perfil duma onda teoricamente perfeita. A onda
Fig. 9.9. Forma teórica duma onda.
move-se através da superfície do mar, mas a água não viaja com
a onda. Se isso acontecesse, a maioria dos barcos não poderiam
navegar. O que acontece é que a água se move num trajecto
quase circular, o que pode ser visto pelo movimento duma rolha
quando a onda passa.
O tamanho da órbita circular diminui com a
profundidade (Fig. 9.10.A), até uma profundidade
igual a metade do comprimento de onda (distância
A
entre cristas consecutivas). Abaixo desta
profundidade o movimento das ondas não tem efeito
nem na água nem no fundo do mar.
Quando estas ondas se propagam em águas
tão profundas que o movimento da água não cause
efeito no fundo, a velocidade da onda é dada pela
expressão B
Fig. 9.10. Movimento da água em águas profundas (A)
gT e de pouca profundidade (B)
v
2

clxi
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em que T é o período (tempo necessário para a passagem de duas cristas sucessivas) e


g é a força da gravidade. Porém, quando as ondas se aproximam de zonas em que a
profundidade é inferior ao comprimento de onda, a velocidade é dada pela expressão

v  gd
em que d é a profundidade da água. Quando essa profundidade diminui, a velocidade
também diminui.
A rebentação dá-se quando as ondas entram em zonas cada vez menos
profundas, o que obriga a uma restrição do movimento. Os trajectos circulares do
movimento da água (Fig. 9.10.A) são forçados a tornarem-se em movimentos elípticos
(Fig. 9.10.B) e o movimento é reduzido por arrasto no fundo. Esta

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restrição provoca um aumento da altura da onda e uma


diminuição da velocidade. Esta variação geralmente ocorre
rapidamente. Acontece que o topo da onda vai a uma
velocidade superior que a base da onda, fazendo com que
avance mais depressa rebentando, originando uma zona em
que se mistura com o ar, criando espuma (Fig. 9.11). A onda
perde a sua forma e a água é atirada contra a costa, muitas
vezes com grande força, como uma massa de água turbulenta.
No local onde as ondas rebentam, os sedimentos do fundo do
mar são perturbados e trazidos para carga em suspensão;
mesmo sedimentos mais grosseiros ficam temporariamente em
suspensão. Como consequência, devido aos sedimentos que Fig. 9.11. Rebentação na Praia do Tofo, Inhambane
são levantados e empilhados no lado de terra originando uma
praia, cria-se uma depressão no fundo.
Mecânica da erosão das ondas
Onde a água é suficientemente funda para as ondas atingirem a costa antes de
rebentarem, as rochas e os sedimentos expostos ao longo da costa sofrem um constatnte
ataque pelas ondas.
A eficácia da acção das ondas como procresso de erosão é particularmente
evidente se se acompanhar a destruição da costa. Um exemplo foi a erupção do vulcão dos
Capelinhos nos Açores em 1957, aumentando a área da Ilha do Faial. Este cone vulcânico,
de cinzas, cresceu várias centenas de metros, mas foi muito erodido pelas ondas dentro de
poucas semanas depois de a erupção terminar. A erosão das ondas foi especialmente forte
neste caso, pois o cone vulcânico era constituído por detritos soltos.
Muita da erosão das ondas acontece na zona de rebentação. Quando as ondas
rebentam numa praia arenosa, a água cava vários centímetros no sedimento do chão à
medida que a água avança. A areia é remexida e facilmente movida pelas correntes. Já
vimos que a água do topo das ondas é atirada contra a costa. Quando as ondas rebentam
contra uma falésia, a erosão resulta da pressão hidráulica exercida nas fracturas da rocha
e do embate dos sedimentos trazidos em turbilhão.
A força da água, por si só, pode deslocar blocos fracturados. A água força o seu
caminho por entre as fracturas, onde se torna comprimida pela força da água que vem por
trás. O valor desta pressão é maior do que se pensa. Uma onda de tamanho modesto –
1.5-3 metros de altura – pode exercer pressões de 24-48 ton/m2 sobre as rochas expostas
em que embate. Esta pressão é suficiente para expandir e alargar fracturas pré-existentes
e desalojar blocos soltos.
Outros processos estão envolvidos junto com os fenómenos de impacto. Os
efeitos da meteorização, da dissolução das rochas e dos cimentos, e do
humedecimento/secagem alternados por acção dos salpicos das ondas, estão
indirectamente ligados à acção das ondas, bem como ajudam a soltar/fragmentar a rocha
e torná-la mais aberta à erosão.
Ao transportar areia, seixos, cascalho e blocos das costas rochosas, as ondas
facilmente fragmentam rochas meteorizadas e/ou fracamente litificadas/consolidadas, e
muitas vezes erodindo também camadas mais resistentes. Contudo, o impacto de
grandes blocos transportados por ondas de tempestade podem fracturar as rochas mais
resistentes, como os granitos.
A eficácia da erosão das ondas é determinada pelo tamanho das ondas, onde
elas rebentam, e tipo de rocha/sedimento presente ao longo da costa. As ondas maiores
têm mais energia, sendo por isso capazes de transportar partículas maiores e causar
mais erosão.
clxiii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Porque o local onde uma onda rebente depende da profundidade da água e do


seu comprimento de onda, a erosão é geralmente maior onde águas profundas se
aproximam mais das costas, de modo que as grandes ondas rebentam directamente
sobre as rochas expostas.

4.3. ASPECTOS FORMADOS PELA EROSÃO DAS ONDAS


A acção das ondas é contínua, e continua a cavar falésias, causando
deslizamentos de terras, destruindo casas e estradas (Fig. 9.12) ou a abrir brechas em
praias, como as da Fig. 9.13, na Ilha de Monomy (Mass., EUA), que mostra uma lingua de
terra aberta por ondas durante um furacão em 1978.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 9.13. Ilha de Monomy (Mass., EUA), cortada pela erosão das
Fig. 9.12. Estrada cortada pela erosão das ondas (EUA)
ondas ne sequência dum furacão em 1978.

Falésias e Terraços
A maioria das falésias são
íngremes e algumas com várias
centenas de metros de altura.
Geralmente ocorre uma quebra súbita na
base da falésia, aparecendo na base
desta uma plataforma rochosa
ligeiramente inclinada em direcção ao
mar (Fig. 9.14). Esta plataforma (terraço)
pode estar parcialmente coberta por
fragmentos de rocha provenientes do
desabamento, ou pode estar coberta por
areia trazida pelas ondas. O mar usa o
material erodido para continuar a erodir a
falésia na sua base, fazendo com que Fig. 9.14. Terraço e falésia nos crés de Dover, Reino Unido. Em primeiro
plano pode ver-se alguma areia cobrindo o terraço
esta recue (Fig. 9.15) ocasionando
fenómenos como os da Fig. 9.12.
O efeito do rebentamento das ondas é
negligível alguns metros abaixo da superfície do
mar. Por isso, a falésia pára abruptamente
mesmo abaixo do nível da água, originando um
terraço plano. A largura do terraço é limitada pelo
facto de a água ser pouco profunda. À medida
que o terraço alarga, cada vez mais energia se Fig. 9.15. Esquema de recuo da falésia por acção das ondas do mar
dissipa antes da onda atingir a base da falésia,
diminuindo a sua capacidade erosiva

Pináculos, Arcos, Caves e Nichos


Vários tipos de irregularides desenvolvem-
se ao longo da costa à medida que uma falésia
retrocede. Algumas destas irregularidades estão
esquematizadas na Fig. 9.16. O desenvolvimento
destas características pode ser devido a diferenças
em onde a energia das ondas se concentra, ou a
diferenças na dureza das rochas, ou ainda à estrutura
das rochas. Muitas vezes as falésias em recuo
deixam colunas de rocha isoladas como ilhas junto à
costa, chamadas pináculos (Fig. 9.16 e Fig. 9.17). Fig. 9.16. Características típicas de costas rochosas

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

As caves e arcos (Fig. 9.18) ocorrem quando as rochas da falésia são


sedimentos estratificados com durezas várias. As rochas mais brandas são mais
fácilmente erodidas. Os nichos (Fig. 9.19) ocorrem na base das falésias e são o primeiro
passo para o recuo das falésia. Constituem reentrâncias na base da falésia, como no
primeiro diagrama da Fig. 9.15.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 9.17. Pináculo Fig. 9.19. Nicho


Fig. 9.18. Arco

Praias de areia, seixo e cascalho são muitas vezes encontradas ao longo de


costas de falésia, pináculos, etc. Tais praias são muitas vezes características temporárias,
em função da estação do ano.

4.4. MOVIMENTOS DE SEDIMENTOS EM ÁGUAS POUCO PROFUNDAS


A rebentação das ondas e as
correntes ao longo da costa são
responsáveis pela transporte da maioria dos
sedimentos.
As ondas normalmente batem na costa com
um certo ângulo. Os calhaus e grãos de areia são
rolados ou atirados pela rebentação praia acima num
trajecto oblíquo (Fig. 9.20). Quando a onda recua, a
areia e os calhaus descem directamente na
perpendicular. Assim, com cada nova onda, os
sedimentos movem-se ao longo da costa num trajecto Fig. 9.20. Trajecto em zig-zag dos sedimentos ao longo da praia
em zig-zag. Este movimento é o principal mecanismo
pelo qual os sedimentos, especialmente os
grosseiros, se movem ao longo da costa.
Este deslocamento pode ocorrer num longo período de tempo, como se pode ver
na sequência de fotografias da Fig. 9.21 (Nova Jersey).

A B C
Fig. 9.21. Fotografias aéreas tirades em Little Egg Harbor, Nova Jersey, em 1940, 1957 e 1963

26. DEPÓSITOS MARINHOS

5.1. PRAIAS
As praias são características transitórias. As
praias de areia que nos parecem permanentes, podem ser
reduzidas a estreitas faixas de calhaus (ou mesmo
desaparecer) durante a estação do ano em que há muito
vento e tempestades. Em alguns lugares os sedimentos
são todos removidos, deixando a descoberto a rocha
subjacente.
A maioria das praias é constituída por sedimentos de Fig. 9.22. Praia de cascalheira em Metangula,

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

dimensões de areia facilmente removidos até por correntes Lago Niassa


moderadas. Mesmo as praias de calhaus e seixos, como a da Fig.
9.22, em Metangula, Lago Niassa, podem ser levadas por ondas de
tempestade.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

As tempestades não são o único mecanismo


responsável pelo movimento e destruição de praias.
Qualquer alteração no fornecimento de areia à praia ou às
correntes ao longo da praia influi no crescimento ou
destruição da praia. Várias tentativas são feitas para suster
a erosão marinha e a deposição ao longo da praia
construindo quebra-mares, pontões (como os do Miramar
Fig. 9.23. O contacto entre a água e a terra é
em Maputo), etc. Há contudo que ter imenso cuidado na chamada linha de costa
planificação destas construções, pois elas podem ter
efeitos colaterais muito diferentes do que se espera. Estas
construções podem, por um lado, proteger uma parte da
praia, e, por outro, destruir outra parte.
As regiões costeiras podem ser divididas em 3
partes (Fig. 9.23):
a) o Offshore, é a parte que vai desde o nível da
baixa-mar em direcção ao mar;
b) o Foreshore, é a zona entre a maré baixa e o
ponto onde a praia se torna horizontal ou
inclina para terra,
c) o Backshore, é a parte que vai do foreshore
para o interior da terra.
Os perfis das praias podem variar de hora a hora e,
particularmente, de estação para estação. As variações sazonais
podem ser observadas no esquema da Fig. 9.24, que mostra os Fig. 9.24. Variação do perfil de Camel Beach,
Califórnia, durante o Verão
perfis da Praia de Carmel, na Califórnia. Durante o Verão, a areia é
depositada na praia, tornando-a mais larga. No Inverno, as ondas
mais forte varrem a areia para zonas mais profundas.
Formação de Praias
As praias são características de costas em que domina a deposição, mas mesmo
nas zonas mais acidentadas ocorrem manchas de areia.
O aspecto de maior importância é a fonte do fornecimento de sedimentos. A
maioria dos sedimentos provém dos rios que desaguam nos oceanos ou da erosão das
ondas e da sua rebentação sobre as formações rochosas expostas nas zonas costeiras.
Para além disso, durante as tempestades, as ondas podem trazer sedimentos dos fundos
oceânicos, mas é sempre em quantidade pequena. Localmente, os sedimentos podem
provir de vulcões ou glaciares em fusão, ou ainda serem soprados pelos ventos.
Para que uma praia persista, é necessário que o
fornecimento de sedimentos seja igual ou superior que a sua
remoção, tanto pelas ondas de tempestade como pelas
correntes costeiras. Se os sedimentos forem abundantes, as
praias podem estender-se por muitos quilómetros ao longo
da costa. Se a quantidade de sedimentos for pequena, ou se
as correntes costeiras forem fortes, as praias só se formarão
em zonas protegidas da costa.
Nas zonas de falésias e de pináculos, muitas vezes a terra
entra pelo mar adentro (Fig. 9.25), protegendo da rápida remoção dos Fig. 9.25. Praias protegidas por falésias, Nova
materiais pelas correntes costeira, formando pequenas praias no interior Zelândia
de pequenas baías.
As praias também se podem formar perpendicularmente

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

através da entrada das baías (Fig. 9.21). Primeiro, uma língua de terra
submersa forma-se na direcção das correntes costeiras. Com o acumular
de mais areia, esta língua pode emergir e cresce na mesma direcção, até
que atravessa toda a baía, originando uma língua de terra que impede a
passagem da água do mar para a baía e vice-versa (Fig. 9.26).
Fig. 9.26. Praia formada na entrada duma baía

Muitas vezes aparece uma praia entre a costa e um pináculo, a que se chama um
tômbolo (Fig. 9.16). Estes pináculos protegem a área por trás deles da erosão das
ondas, sendo por isso zonas propícias à acumulação de areia no fundo, que pode
emergir, originando uma praia.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Plataforma de Maré
Terras baixas perto do nível do mar, e protegidas da acção da
erosão das ondas e das fortes correntes, podem originar plataformas de
maré como as da Fig. 9.27, na Bretanha. Estas plataformas estão
geralmente perto de fontes abundantes de sedimentos, como o caso da
foz dos rios. Uma vez que muitos animais vivem nestas plataformas
(moluscos, gasterópodes, lamelibrânquios, crustácios, etc), os seus restos
são um componente importante destes sedimentos. A argila e o silte
muito finos, e alguma areia misturada com quantidades variadas de
fragmentos de conchas, espinhas de ouriços e matéria vegetal muito fina
em decomposição produzem uma lama muito mole típica destas zonas. Fig. 9.27. Plataforma de maré, no Monte Saint
Estes aspectos podem ser vistos na maré vazia na zona da Costa do Sol Michel, França
em Maputo, que é uma plataforma de maré.

5.2. PÂNTANOS MARINHOS (COSTEIROS)


Os termos pântano, lodaçal e lameiro aplicam-se a terras baixas, esponjosas e
geralmente saturadas de água. As condições para que isto aconteça é abundante chuva
ou outra fonte de água e um substrato impermeável que impeça a drenagem de sair. Se
bem que nem sempre, estas terras estão geralmente ao nível do mar e são baixas.
Calcula-se que cerca de 2.6 milhões de km2 de terra estejam cobertos por pântanos.
Os pântanos marinhos ocorrem onde línguas
de terra formadas no offshore originam lagoas que se
enchem de sedimentos do continente e de restos
vegetais, sendo a vida vegetal mais abundante onde as
águas são calmas – fracas correntes de maré e baixa
amplitude de maré.
Alguns pântanos marinhos são parcial ou totalmente
cobertos pela água do mar durante a maré cheia. Num pântano
marinho, a vegetação é completamente diferente daquela que
cresce em zonas de água fresca, já que esta é morta pelo sal. Em
climas tropicais, como em Moçambique, os pântanos marinhos Fig. 9.28. Vegetação típica de manga
contêm uma vegetação própria – o mangal (Fig. 9.28). Na Ilha da
Inhaca há imensas extensões de mangal, circundando o famoso
Saco da Inhaca (Fig. 9.29).

Fig. 9.29. Fotografia do Saco da Ilnhaca, bordejado por vegetação de mangal

À medida que as plantas morrem, elas caiem na água e começam a decompor-


se. Se elas forem soterradas rápidamente por sedimentos marinhos ou por outras plantas,
há grandes hipóteses que esses restos sejam preservados e transformados em carvão.
Se o soterramento for lento, os restos são rapidamente alterados por oxidação e por
acção dos microorganismos.

5.3. RECIFES DE CORAL

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Como o nome o indica, os recifes de coral são constituídos fundamentalmente por


coral, se bem que outros organismos contribuam para a sua formação. Ele ocorrem nas
partes do globo em que as águas são mornas.
A maioria dos recifes de coral está situada mesmo junto à costa, ou podem estar
mais separados, já na plataforma continental.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

O recife geralmente consiste duma zona estreita de coral vivo, cujo topo é plano e
situado perto do nível médio do mar. Esta superfície pode ser exposta acima do nível do
mar, mas o coral tem de se manter molhado para viver.
A profundidade da água aumenta rapidamente em direcção ao mar aberto.
Durante as tempestades, o topo do recife pode ser quebrado, e os materiais soltos
deslizam pelo lado íngreme, acumulando-se na base do recife de coral.
O lado virado a terra é geralmente ocupado por uma lagoa onde corais mais
frágeis e outros organismos delicados estão protegidos dos efeitos da rebentação das
ondas. Estas lagoas são pouco profundas, e com águas limpas e livres de sedimentos em
suspensão, condições essenciais para o crescimento dos corais. Nos locais em que rios
desaguam junto a corais, em que as águas têm matéria em suspensão, nota-se uma
quebra no recife, abrindo passagem para o mar aberto.
Um Atol é um recife de coral em forma de anel à volta duma lagoa central (Fig.
9.30). Pensa-se que estes atois se formam quando uma ilha envolvida por recife (Fig.
9.31) é totalmente submersa. O recife continua a crescer para manter os organismos
vivos à necessária profundidade de água.
Moçambique é um país rico em recifes de coral, sendo os da Ilha da Inhaca
considerados os mais austrais do Oceano Índico.

Fig. 9.31. Ilha de Bora-Bora, rodeada por recifes de coral


Fig. 9.30. Atol de Namorik, nas Ilhas Marshall, no
Oceano Pacífico

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 10:ÁGUA SUBTERRÂNEA

27. INTRODUÇÃO
Muitas comunidades à volta do mundo – e não só as que vivem em regiões áridas e semi-áridas,
em que a água superficial é inconstante – dependem das águas subterrâneas para o seu fornecimento de
água. Sem as condições que tornam possível à água ser armazenada, não seria possível essas regiões
desenvolverem-se economicamente.
Noutras áreas, especialmente naquelas em que há muita chuva e em que a rocha é solúvel
(calcário, por exemplo), a água subterrânea é o principal agente modelador da paisagem.

28. ÁGUA SUBTERRÂNEA

2.1. ORIGEM DA ÁGUA SUBTERRÂNEA


A água subterrânea origina-se a partir de três fontes diferentes:
a) Infiltrações de água no subsolo, proveniente das águas das chuvas e do runoff;
b) A maiores profundidades, a água armadilhada durante a sedimentação pode
ainda estar presente;
c) Alguma água proveniente de maiores profundidades durante a actividade ígnea e
vulcânica.
A água subterrânea proveniente das infiltrações da água das precipitações (chuva,
orvalho, neve, granizo e saraivada) e do runoff chama-se água meteórica. Em média, a
precipitação sobre os continentes atinge 74 mm/ano. A água meteórica é geralmente
encontrada nos furos relativamente pouco profundos feitos para a procura de água.
A água fóssil é aprisionada pelas sedimentos quando eles se depositam. Muitos
sedimentos depositam-se em ambientes marinhos, e por isso a água fóssil é muitas vezes
salgada, sendo um problema quando se mistura com a água potável. A água fóssil encontra-
se muitas vezes em camadas muito profundas, muitas vezes também associada com
petróleo.
A água resultante da actividade ígnea/vulcânica – água magmática ou hidrotermal
– tem uma composição muito variada, pois tem dissolvidos compostos que nunca ou
raramente se encontram nas águas meteóricas e fósseis. Uma vez que muitos vulcões são
submarinos, muita desta água é rapidamente misturada e diluída na água do mar.

2.2. ARMAZENAMENTO SUBTERRÂNEO DE ÁGUA


A água é armazenada de muitas maneiras nas rochas e no solo. Existem alguns
rios subterrâneos, mas a maioria da água é armazenada em poros, fracturas abertas e
cavidades de dissolução.
Todos os tipos de rochas têm fracturas, e que podem ser uma fonte importante de
água subterrânea. Muitas vezes estas fracturas são abertas, principalmente as de origem em
forças distensivas. As falhas e as brechas de falhas também são excelentes locais de
armazenamento, sendo os principais reservatórios de água subterrânea em rochas ígneas e
metamórficas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

O volume do espaço de poros duma rocha


chama-se porosidade (Fig. 10.1), e é expressa em
percentagem do volume total. A quantidade de
espaço de poros depende da forma, tamanho e
homogeneidade dos grãos e seu grau de
empacotamento. Podia-se pensar que um Fig. 10.1. Vários tipos de porosidade e valores
conglomerado de calhaus grandes teria uma representativos em termos de volume de rocha

porosidade muito grande, mas geralmente o oposto


é o que acontece, pois os espaços entre os calhaus
são ocupados por partículas mais pequenas.
Assim, uma grande variedade de dimensões dos grãos não favorece uma alta
porosidade. A forma de empacotamento também influi na porosidade. Se imaginarmos um
sedimento composto por partículas esféricas do mesmo tamanho, a porosidade é máxima
quando os centros das esferas estiverem alinhados directamente uns por cima dos outros
(Fig. 10.2.A). A porosidade é mínima quando os centros estiverem deslocados (Fig. 10.2.B).
A Tabela 10.1 mostra a porosidade de algumas rochas clásticas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Os poros podem estar vazios ou ser


preenchidos por processos naturais. A água
subterrânea geralmente dissolve substâncias que
podem ser depositadas, cimentando cavidades, poros e
fracturas, impedindo o armazenamento e/ou passagem
da água. A actividade humana também pode contribuir
para uma diminuição da porosidade. Se a água for
Fig. 10.2.Porosidade em função do tipo de removida muito rapidamente, os sedimentos,
empacotamento dos grãos
especialmente os mais finos, tornam-se mais
consolidados e compactados. Geralmente este
processo não é reversível.

Tabela 10.1. Porosidade e Permeabilidade de alguns sedimentos/rochas clásticas


Sedimento/Rocha Porosidade (%) Permeabilidade
Solos 50-60 Boa
Argilas 45-55 Pobre
Siltes 40-50 Excelente
Areias 30-40 Excelente
Cascalho 20-40 Boa
Arenito 10-20 Boa a pobre
Argilito 1-10 Pobre
Calcário 1-10 Boa a pobre
Se bem que a argila tenha grande porosidade, a água aprisionada é absorvida e não
pode ser drenada facilmente. Assim, a porosidade nem sempre é um guia fiável da
quantidade de água que pode ser extraída.

2.3. INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NO SOLO


Se os poros duma rocha não estão interconectados entre si, a rocha pode ser
porosa, mas não permite o movimento da água através dela. Em casos extremos, os
poros estão tão isolados que a rocha flutua na água – caso da pedra-pomes. A
porosidade desta rocha é enorme, mas a circulação de fluídos entre os poros é quase
nula. Assim, define-se permeabilidade a capacidade duma rocha permitir a circulação de
fluídos através de si. A Tabela 10.1 mostra também a permeabilidade dalgumas rochas.
O fluxo de água dentro duma rocha é geralmente mais fácil quando os poros são
grandes e interconectados. As rochas bem calibradas (partículas de tamanho semelhante)
têm alta porosidade e alta permeabilidade. Rochas parcialmente cimentadas, ou
compostas de partículas de argila, ou ainda rochas ígneas e metamórficas maciças
tendem a ser menos permeáveis, a não ser que estejam fracturadas.
Praticamente toda a água subterrânea
perto da superfície vem da precipitação, e que se
infiltra nas rochas permeáveis (Fig. 10.3). A água é
puxada para baixo pela força da gravidade e pelo
peso da água que está mais acima.
No seu movimento descendente, a água
é retardada no solo pela tensão superficial, à
medida que se agarra às partículas de solo que
atravessa. Mas gradualmente a água infiltra-se
Fig. 10.3. A água percula para o e através do solo para os
no e através do solo. Nesta zona (mais poros e fracturas na rocha

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

superficial), a água encontra-se misturada com o


ar e, os dois em conjunto são responsáveis pela
decomposição do solo e dos fragmentos
rochosos. É a chamada zona de aeração.
Depois de passar através do solo, a água encontra a zona de separação entre solo e
rocha inalterada. Se esta rocha for porosa e permeável, a água continua o seu caminho
descendente. Esta rocha tem o nome de aquífero, que se define como um estrato ou corpo
rochoso que contém água. Se a rocha for impermeável, ela acumula-se acima da rocha ou
move-se lateralmente até encontrar uma zona mais permeável.
O termo toalha de água (ou toalha freática) aplica-se para definir a superfície
que separa a zona de aeração da zona abaixo dela, em que os poros estão preenchidos
por água. A água que satura a rocha/solo abixo da toalha de água chama-se água
subterrânea.
Os factores que influenciam a quantidade de água que se infiltra no solo após
uma chuvada são:

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

a) a taxa de precipitação ser suficientemente lenta para permitir que a água se


infiltre, em vez de escapar como runoff;
b) o solo e a rocha onde a água cai ser permeável;
c) a taxa de evaporação e transpiração (evapotranspiração) ser baixa.

29. CONFIGURAÇÃO DAS ZONAS SATURADAS

3.1. ÁGUA NÃO CONFINADA


A distribuição das zonas saturadas no
solo é determinada pela porosidade e
permeabilidade do corpo rochoso e pela sua
forma. Quando a estrutura e litologia constituem
um sistema hidráulico mais ou menos contínuo e
uniforme em que a água pode fluir livremente, a
água diz-se não confinada (Fig. 10.4). Quando a
A
distribuição da permeabilidade é tal que a água se
move em camadas ou zonas parcialmente
envolvidas por barreiras ao movimento livre, a
água é confinada.
A forma do nível (toalha) freático
geralmente acompanha mais ou menos a
topografia (Fig. 10.4.B), mas debaixo dos altos B
Fig. 10.4. Água subterrânea não confinada. A. Situação
topográficos ela está algo abaixada, aproximando- influente; B. Situação efluente
se da superfície nas zonas topográficamente
baixas, onde muitas vezes ocorrem rios e lagos. O
nível da toalha freática sobe e desce consoante o
fornecimento de água que se move na zona de
saturação. No caso de Moçambique, as toalhas
freáticas estão mais altas no período das chuvas
(Verão) do que no período seco (Inverno).
Normalmente, em regiões de precipitação abundante, a água move-se da toalha
freática para lagos e rios (Fig. 10.4.A). Quando isto acontece, está-se em presença de uma
condição efluente. Contudo, durante os períodos de pouca chuva, ou quando o
bombeamento de água de furos é excessivo, há um abaixamento do nível freático para níveis
inferiores aos dos fundos dos lagos/rios (Fig. 10.4.B). Acontece então que a água dos
rios/lagos se infiltra alimentando a toalha freática, estando-se, então, em condição influente.
Quando uma barreira impermeável
impede a água de se mover no sentido
descendente para o nível regional da toalha
freática, ela cria uma zona de saturação mais
perto da superfície, a que se chama toalha
suspensa (Fig. 10.5). Nestes casos, a água
geralmente perde-se através de nascentes nas
Fig. 10.5. Possível situação de toalha freática suspensa
zonas onde a camada impermeável atinge a
superfície (Fig. 10.5).
3.2. ÁGUA CONFINADA: CONDIÇÕES ARTESIANAS

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

As condições artesianas ocorrem


quando a água subterrânea está confinada de tal
modo que a pressão hidrostática* faz com que a
água confinada ascenda acima da zona de
saturação. Quando a água é armadilhada numa
camada porosa e permeável entre duas camadas
impermeáveis, podem ocorrer condições
artesianas (Fig. 10.6). A água entra nessa Fig. 10.6. Condições artesianas
camada onde ela aflora à superfície ou onde ela
está ligada com outras camadas com água e em
que a água tem movimento livre – é a chamada
zona de recarga. A água move-se
descendentemente pelo

*
Pressão hidrostática: pressão exercida num determinado ponto dum corpo de água em repouso, pelo peso da água
sobrejacente desse corpo de água.

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aquífero, os poros são ocupados por água e a pressão hidrostática vai aumentar. Se o
aquífero for atingido por um furo num ponto abaixo do nível de saturação, a água sai em
pressão pelo furo devido à pressão hidrostática (pelo princípio dos vasos comunicantes).
A altura a que a água subiria chama-se nível piezométrico (Fig. 10.6).

1. SURGIMENTO DAS ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS À SUPERFÍCIE

4.1. NASCENTES
A água subterrânea aparece à superfície A
nos pontos em que a toalha freática intersecta a
superfície, ou quando a água em condições
artesianas encontra o seu caminho para a
superfície. Diz-se então que há uma nascente de
água. Por esta razão as nascentes estão
geralmente colocadas em zonas baixas, mas a B
estrutura da rocha e o modo como a
porosidade/permeabilidade variam são também
factores que controlam o local de aparecimento de
nascentes.
Há muitas condições que podem originar
nascentes, mas alguns exemplos dão uma ideia C
da possível variedade de situações (Fig. 10.7). As
nascentes ocorrem muitas vezes em encostas de
vales onde zonas especialmente permeáveis
atingem a superfície. As situações mais comuns
são zonas onde superfícies de acamação, zonas
de fractura/falha afloram nas encostas. D

No caso de superfícies de acamação,


camadas impermeáveis podem impedir o
movimento descendente da água, obrigando-as a
deslocar-se lateralmente (Fig. 10.7.A e B). No caso
da Fig. 10.7.B, ocorre uma situação de calcários
(impermeáveis) que foram lentamente sendo
dissolvidos pelas águas gaso-carbónica, originando E
Fig. 10.7. Alguns processos que originam nascentes
cavidades por dissolução, que se ligam entre si e
que são bons caminhos para a água fluir. Situações
semelhantes ocorrem em fluxos de lava (Fig.
10.7.C). A Fig. 10.7.D mostra uma situação de
nascente caracterizada por condições não
confinadas com uma toalha freática muito alta. As
nascentes artesianas (Fig. 10.7.E) não são muito
frequentes, mas ocorrem quando uma fractura
natural aparece num aquífero confinado.
Depósitos de rocha
Quando as nascentes são alimentadas
por águas que percolaram através de calcários,

clxxx
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por exemplo, elas con-


têm muitas vezes depósitos de carbonato de
cálcio, a que se chamam tufos se forem porosos
e travertinos se forem compactos (Fig. 10.8).
Estes depósitos formam-se porque as águas
estão saturadas de carbonato de cálcio e a
evaporação provoca a sua precipitação.

4.2. GEYSERS
A ejecção em força de água quente ou em Fig. 10.8. Depósitos em nascente
vapor a partir do solo – os geysers (ponto 3.4.3.1) -
só é encontrada em poucos lugares na Terra, mas o
fenómeno é sempre impressionante e constituí um
aspecto interessante do compor-
tamento dalgumas águas subterrâneas. O geyser mais conhecido a nível mundial é o Old
Faithful(o Velho Fiel) no Parque Nacional de Yellowstone (EUA) – Fig. 10.9). Desde a sua
descoberta em 1870, este geyser lança cerca de 1-1.5 m3 de água a 40 metros de altura uma
vez em cada hora. Poucos geysers têm esta regularidade, mas há mais em Yellowstone, na
Nova Zelândia e na Islândia, cujo comportamento é semelhante ao Old Faithful.

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Os geysers estão muitas vezes associados a fenómenos vulcânicos e alguma da


sua água provém das lavas/magmas, misturada com a água meteórica, que constituem o
grosso da água dos geysers. Esta água infiltra-se no solo e atinge profundidades em que
a temperatura é suficientemente alta para a transformar em vapor. Este atinge altas
pressões que a levam a subir com força na crusta até à superfície. Do mesmo modo que
nas nascentes, também à volta dos geysers se formam depósitos de minerais, a que se
dá o nome de geyseritos (Fig. 10.10).

Fig. 10.10. Geyserito


Fig. 10.9. Geyser Old Faithful

2. PAISAGENS MODULADAS POR SOLUÇÃO DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS
A dissolução de rochas pela água subterrânea e de rios que se infiltram é um
processo importante na modulação da paisagem em muitas zonas do globo onde as
rochas solúveis se encontram à superfície ou perto. A maioria das rochas é pouco solúvel,
mas o sal, o gesso e as rochas carbonáticas são-no.
As rochas carbonáticas (calcários e dolomitos), originariamente depositadas em
ambientes aquáticos de plataformas continentais, são muito comuns em todos os
continentes. A paisagem que resulta dos fenómenos de dissolução do calcário é muito
variada, sendo caracterizada por caves, depressões confinadas, vales de rios que
acabam abruptamente terra adentro, pontes naturais e túneis. O nome topografia
cárstica, tirado duma região da Jugoslávia, aplica-se a áreas que apresentam esta
paisagem. Assim, topografia cárstica definie-se como topografia modelada em parte pela
dissolução e desvio de águas superfíciais em profundidade, em zonas de calcário e
dolomite.

5.1. SOLUÇÃO
Vimos anteriormente que o calcário é dissolvido pelas águas gasocarbónicas
(água da chuva que dissolveu CO2 na sua queda através da atmosfera). A dissolução do
CaCO3 por estas águas não é suficiente para originar a paisagem cárstica. O calcário
cessa de ser dissolvido assim que a água estiver saturada de iões Ca2+ ou CO 32-. Para
que o processo continue, a água saturada tem de ser removida e substituída por água
não saturada. Portante, a circulação da água é condição essencial para que a dissolução
continue. E porque a circulação da água é uma condição crítica, os efeitos de dissolução
são maiores onde a porosidade/permeabilidade do calcário permitem a água circular.
Alguns calcários, especialmente os mais recentes, podem ser porosos e permitir a
passagem de água através deles. É o que acontece, por exemplo, com os calcários
conquíferos ou de origem biogénica. Os calcário mais antigos são geralmente mais

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compactos e de grão fino, com pouca ou nenhuma porosidade. A circulação da água


através deles faz-se geralmente através de fracturas, diaclases ou falhas.

5.2. PAISAGENS
A topografia duma região cárstica nunca é modelada somente pela dissolução.
Ocorre também meteorização, movimentos de encosta abaixo por acção da gravidade,
erosão fluvial, etc., em conjunto com as acções das águas subterrâneas.
As características mais importantes das regiões cársticas são depressões
confinadas, a que se chamam dolinas. Estas podem ser de vários tamanhos e ocorrer de
várias maneiras. Na Fig. 10.11 podem ver-se dolinas formadas por vários processos,
todos eles associados com fenómenos de dissolução. No primeiro caso (A), a dolina
formou-se por remoção de rocha à superfície. No segundo caso (B), a dolina

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Fig. 10.11. Vários tipos de dolinas

formou-se por colapso para dentro duma cavidade criada abaixo da superfície, e no
terceiro caso (C) ocorre alguma subsidência, associada com algum colapso. Na Fig.
10.11.D mostra-se uma dolina aparecida por colapso repentino, em Winter Park (Florida,
EUA) em 1981.

5.3. DESVIO DE DRENAGEM SUPERFICIAL


À medida que as dolinas se formam, cada vez
mais água superficial é desviada para o subsolo. Se a
dolina se forma num canal de rio, ela pode desviar o rio
inteiro para o subsolo, se houverem passagens
subterrâneas por onde o rio possa circular. Quando isto
ocorre, o processo de erosão fluvial, bem como a
dissolução, jogam um papel na modelação da
passagem subterrânea. Nestas zonas, a paisagem
toma aspectos estranhos. O vale abandonado quando
o rio é “engolido” deixa de ser erodido e,
consequentemente, acumulam-se detritos de origem
vária (movimentos de encosta, etc.). O vale não é Fig. 10.12. Dolinanaformada abruptamente em 1981
Flórida (EUA)
erodido e parece acabar onde o rio é erodido – vale
cego (Fig. 10.12). Alguns destes rios fluiem em túneis
naturais ou, se só ficou um resto deste túnel, através
de pontes naturais (como na Fig. 10.13).
5.4. GRUTAS
As grutas são cavidades ou vazios
subterrâneos formados naturalmente. A maioria é
formada por acção da dissolução de carbonatos (Fig.
6.23) e outras rochas solúveis, mas também ocorrem
em zonas de rochas extrusivas resultantes de magma
muito fluído que escorreu dentro dum túnel originado
pela consolidação da lava em contacto com a
atmosfera (Fig. 10.14). As grutas também podem
ocorrer em formações de sal-gema ou de gesso.
Em muitas grutas, especialmente as calcárias,
Fig. 10.13. Vale cego. O leito acaba abruptamente é frequente encontrarem-se formações de estalagtites
contra as rochas e estalagmites, de que já se fez referência
anteriormente (Fig. 6.23).

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Fig. 10.15. Cave na lava


Fig. 10.14. Ponte natural, Virgínia (EUA)

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TEMA 11:GEOCRONOLOGIA
Entende-se por Geocronologia a medição dos intervalos de tempo do passado geológico, em
termos de datação da idade absoluta por processos radiométricos, ou da idade relativa, por estudo de
sequências de rochas estratificadas.
Os processos radiométricos entram em conta com o decaimento radioactivo. Para a datação
relativa, um dos instrumentos mais utilizados são os fósseis.

1. FÓSSEIS
Os fósseissão restos de seres vivos (animais ou plantas), soterrados e preservados por
processos naturais (Fig. 11.1), ou marcas e vestígios da sua existência (Fig. 11.2).

Fig. 11.1. Exemplo dum fóssil de gasterópode Fig. 11.2. Exemplo dum vestígio de
ser vivo: molde de concha

São raros os casos em que os seres vivos são preservados na sua totalidade. No caso dos
animais, só as partes duras são geralmente preservadas: conchas, esqueletos internos e externos,
carapaças, espículas, dentes, unhas/garras, etc. No caso dos vegetais, normalmente encontram-se
impressões de folhas, caules, raízes, frutos e sementes.
Os vestígios da actividade/passagem dos
seres vivos são: excrementos, pegadas, rastos, buracos
escavados, etc.
Casos de seres vivos preservados na sua
totalidade incluem os pequenos animais preservados
em resinas fósseis (Fig. 11.3) ou os mamutes
congelados nos gelos da Sibéria. Na Antártida foram
encontrados líquenes com alguns milhares de anos,
muito bem conservados. Fig. 11.3. Fóssil de insecto aprisionado em resina fóssil (âmbar)

A ciência que estuda os fósseis é a Paleontologia: ciência que estuda os seres vivos que viveram
em épocas anteriores à actual, e que só são conhecidos através dos seus vestígios que deixaram nos
terrenos, principalmente sedimentares. Em termos correntes, é a Zoologia e a Botânica dos tempos idos,
daí a sua subdivisão em Paleozoologia e Paleobotânica.
No início do séc. XVIII a Paleontologia entra numa fase decisiva, ao se verificar que os fósseis
diferiam de camada para camada, tendo surgido a ideia de os utilizar para datar essas camadas e para uma
classificação cronológica. Nasceu assim a Paleontologia Estratigráfica.

2. CONDIÇÕES DE FOSSILIZAÇÃO
Entende-se por fossilização o conjunto dos processos físicos, químicos e biológicos que
permitem a formação dos fósseis.
As condições de fossilização agrupam-se em dois tipos:
a) Inerentes ao meio:
1. Para que a fossilização seja possível, é necessário que, após a morte do ser, sobre ele se forme
um depósito que o isole do meio ambiente e impeça a sua destruição; por isso, os fósseis
terrestres são mais raros que os marinhos;
2. Quanto mais fino e impermeável for o depósito que cobre o fóssil, mais fácil a fossilização;

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3. As temperaturas e a humidade facilitam as acções de putrefacção, dificultando a fossilização; as


temperaturas mais baixas favorecem a fossilização.
b) Inerentes ao ser:
1. A fossilização é tanto mais fácil quanto mais rico for o ser em substâncias minerais: sílica, cálcio, etc.

3. IMPORTÂNCIA GEOLÓGICA DOS FÓSSEIS


O estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que eles vivem tem o nome de
Ecologia; quando esse estudo trata de formas de vida fósseis, chama-se Paleoecologia. Assim, os fósseis
dão-nos indicações sobre os antigos ambientes, geografia e a evolução das espécies.
3.1. Fósseis como documentos de antigos ambientes
Sabemos que há uma grande variedade de ambientes físicos para todos os tipos de vida que se
encontram em terra ou no mar, e sabemos que as condições ambientais existentes hoje terão tido os seus
equivalentes em todos os tempos geológicos. Isto é, aplicamos os conhecimentos da Ecologia à Paleoecologia.
O estudo comparativo das formas de vida actual (e dos ambientes em que se encontram) com as
formas dos fósseis semelhantes de tempos idos, dá-nos indicações sobre os ambientes em que esses seres
vivos viveram. Quanto mais se recua no tempo, mais difícil a interpretação.
3.2. Fósseis como documentos da antiga geografia
A distribuição geográfica dos organismos actuais está fortemente controlada pelas limitações
ambientais. Cada espécie tem, geralmente, um tipo climático e ambiental definido onde vive e se reproduz,
não se encontrando fora dessas condições.
Intimamente ligada à Paleoecologia, a
Paleogeografia estuda a vida antiga em relação com os
estratos em que se encontra, tendo como base as
relações actuais.
3.3. Fósseis como documentos da evolução
O estudo dos fósseis das formas de vida que
se sucederam na Terra ao longo dos tempos permitiu
estabelecer a Teoria da Evolução das Espécies.
Ao se estudarem os diversos fósseis de um
determinado tipo de animais, mas de épocas diferentes
(Fig. 11.4), verifica-se que eles vão apresentando, com
o andar do tempo, algumas características diferentes,
características estas que são a adaptação dessas
formas de vida às novas condições ambientais e
geográficas que foram surgindo. Contudo, algumas Fig. 11.4. Esquema evolutivo dos Proboscídeos (elefantes)
formas não conseguiram ambientar-se e
desapareceram como foi o caso dos dinossáurios.

4. FÓSSIL-GUIA E FÓSSIL DE FÁCIES


Sabemos que os fósseis têm um valor cronológico, isto é, permitem datar as formações em que se
encontram. Quer isto dizer que, sendo os seres a que dizem respeito os fósseis contemporâneos da formação
desses formações, pode-se concluir que são da mesma idade as formações que têm os mesmos fósseis.
Nem todos os fósseis servem para fazer estas datações. Só os fósseis de seres vivos que tiveram uma
existência curta ao longo da história da Terra, e que tiveram uma grande dispersão geográfica é que se podem
utilizar para estas datações. Há terrenos da África Austral que têm um fóssil vegetal chamado Glossopteris e que
viveram entre os 360 e 250 milhões de anos. Este mesmo fóssil vai ocorrer também em formações da América
do Sul, da Austrália, da Índia, de Madagáscar e da Antártida. Significa, então, que todos esses terrenos, apesar
da distância actual que os separa, são da mesma idade geológica. Estes fósseis que permitem datar os terrenos
são chamados fósseis-guia, fósseis característicos ou fósseis estratigráficos.
O conceito de fácies refere-se ao conjunto das características litológicas e paleontológicas duma
determinada formação, e que revelam as condições em que a mesma se formou. Assim, há dois grandes grupos
de fácies:

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a) Marinhos: litoral, nerítico, batial e abissal;


b) Terrestres: vulcânico, eólico, glaciar, fluvial e lacustre.
c) Há ainda os fácies de transição: estuarino e lagunar
Os fácies vulcânico, eólico e glaciar são fáceis de caracterizar litologicamente, mas são pobres em
fósseis. Nos fácies lacustres predominam fósseis de seres de água doce e anfíbios. Os estuarinos e
lagunares têm faunas mistas. Nos fáceis de litoral, abundam as conchas, etc.
Assim, entende-se por fóssil de fácies aqueles que correspondem a seres que viveram em
ambientes bem determinados.
GEOLÓGICO
W. Smith (1769-18
5. A ESCALA DE TEMPO 39) mostrou que as unidades de rochas sedimentares podem
ser identificadas através dos seus fósseis.
Cuvier (1769-1832) mostrou as mudanças de formas de fósseis nas sequências sedimentareas e
definiu que cada uma representa uma idade particular, estabelecendo o conceito de extinção das espécies.
Assim, rochas de locais muito distantes puderam ser datadas com a mesma idade,
por terem os mesmos fósseis. Foi assim possível distinguir unidades de rochas sedimentares
e, através dos fósseis-guia, encontrar os seus correspondentes temporais em lados opostos
dos oceanos, mesmo se os tipos litológicos diferissem. Foi possível subdividir o tempo
geológico em várias unidades cronológicas, com base em vários critérios:
a) acontecimentos biológicos, e/ou
b) acontecimentos geológicos
Assim, o tempo geológico está subdividido em 4 Eras, cada uma delas divididas
em Períodos, Sistemas, e outras subdivisões menores, que não vêm na Tab. 11.1.
Das Eras, Períodos e Sistemas referidos na Tab. 11.1, todos eles estão
representados em Moçambique, excepto os sistemas do Paleozoico Inferior.
Tabela 11.1. Escala do Tempo Geológico
IDADE
ERAS PERÍODOS SISTEMAS PRINCIPAIS EVENTOS BIOLÓGICOS
(M.a)
Recente ou Holoceno Homem moderno
QUATERNÁRIO
Glacial ou Pleistoceno Hominídios
-2
Plioceno Grande variedade de mamíferos; apogeu dos elefantes
CENOZOICO Mioceno Apogeu das plantas com flor; antepassados dos cães e ursos
TERCIÁRIO Oligoceno Antepassados dos porcos e macacos
Eoceno
Antepassados dos cavalos; aparecem os bovinos e elefantes
Paleoceno
-66
Extinção dos dinossáurios e amonites; aparecem as primeiras
CRETÁCICO
flores
-144
Abundantes dinossáurios e amonites; aparecem os primeiros
MESOZÓICO JURÁSSICO
mamíferos e aves
-208
TRIÁSSICO Aparecem os répteis voadores; primeiros corais modernos
-245
Pérmico Desenvolvimento dos répteis; coníferas e escaravelhos
-286
PALEOZÓICO Desenvolvimento de grandes florestas; primeiros e répteis e
Carbonífero
SUPERIOR insectos voadores
-360
Primeiros anfíbios e amonites; desenvolvimento dos peixes;
Devónico
primeiras árvores e aranhas
PALEOZÓICO -408
Silúrico Primeiras plantas terrestres; primeiros corais
-438
PALEOZÓICO Primeiros vertebrados pisciformes; abundantes trilobites e
Ordovícico
INFERIOR graptolites
-505
Trilobites, graptolites, braquiópodes, moluscos, crinóides,
Câmbrico
radiolários, foraminíferos
-570
Restos escassos de investebrados primitivos, esponjas,
PROTEROZÓICO
PRECÂMBRICO verm es, algas e bactérias
-2500
ARCÁICO ou ARQUEOZÓICO Algas e bactérias raras com mais de 3000 M.a.

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