Geologia editado 2017

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GEOLOGIA GERAL

Faculdade de Agronomia e Engenharia e Florestal


Manual de geologia geral
Para o curso de Engenharia agronómica
Editor: Chico, Júlio Augusto
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

INDICE
Pág.
TEMA 1: CONCEITO GE GEOLOGIA (sua relação com outras Ciências) 1
1. Introdução 1
2. O que é a Geologia? 2
3. Porquê estudar Geologia? 3
4. A Abrangência da Geologia e ciências afins 3
5. Um pouco sobre a história da Geologia 4
6. A Terra no Espaço 6
TEMA 2: ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA TERRA 10
1. Introdução 10
2. Forma e dimensões da Terra 10
3. Estrutura da Terra 12
4. Composição da Crusta 13
5. Tectónica de Placas 14
TEMA 3: CONCEITO DE MINERAL E CRISTAL 17
1. Introdução 17
2. Definição de Mineral 17
3. Cristais 18
4. Os Sistemas Cristalinos 19
5. Propriedades Físicas dos Minerais 20
5.1. Hábito e Agregados de Minerais 20
5.2. Clivagem e Fractura 21
5.3. Dureza 22
5.4. Tenacidade 22
5.5. Densidade 22
5.6. Cor 23
5.7. Risca ou Traço 23
5.8. Brilho ou Lustre 23
5.9. Diafaneidade (Transparência) 23
5.10. Reflexão e Refracção 23
5.11. Fluorescência, Fosforescência e Luminescência 23
5.12. Propriedades Eléctricas e Magnéticas 24
5.13. Propriedades Radioactivas 24
5.14. Isomorfismo, Polimorfismo e Pseudomorfismo 24
6. Classificação dos Minerais 25
6.1. Elementos Nativos 25
6.2. Sulfuretos/Sulfossais 26
6.3. Óxidos e Hidróxidos 30
6.4. Halogenetos 34
6.5. Carbonatos 35
6.6. Nitratos e Boratos 37
6.7. Sulfatos e Cromatos 37
6.8. Tungstatos e Molibdatos 38
6.9. Fosfatos, Arsenatos e Vanadatos 39
6.10. Silicatos 41
TEMA 4: GEODINÂMICA INTERNA (rochas ígneas e metamórficas) 54
1. Introdução 54
2. O Ciclo das Rochas 54
3. Geodinâmica Interna 56
3.1. Magmatismo 56
3.2. Metamorfismo 61
3.3. Sismologia 64
3.4. Geologia Estrutural 64
4. Rochas Ígneas 69
4.1. Tipos de Intrusões e Extrusões 69
4.2. Textura e Estrutura das Rochas Ígneas 70
4.3. Cor das Rochas Ígneas 71
4.4. Classificação das Rochas Ígneas 71
5. Rochas Metamórficas 76
5.1. Introdução 76
5.2. Texturas e Estruturas das Rochas Metamórficas 77
5.3. Classificação das Rochas Metamórficas 78
5.4. Principais Rochas Metamórficas 78
5.5. Ocorrência de Rochas Metamórficas em Moçambique 82
TEMA 5: GEODINÂMICA EXTERNA 83
1. Introdução 83
2. Agentes da Geodinâmica Externa 83
2.1. Gravidade 83
2.2. Agentes Atmosféricos 84
2.3. Água 87
2.4. Os Seres Vivos 94

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TEMA 6: METEORIZAÇÃO-SOLOS-MOVIMENTOS DE TERRAS-ROCHAS SEDIMENTARES 96


1. Introdução 96
2. Meteorização 96
2.1. Processos de Meteorização 97
2.2. Factores que Influenciam a Meteorização 101
3. Solos 103
3.1. Origem 103
3.2. Perfil Pedológico 104
3.3. Factores Formadores de Solos 104
4. Movimentos de Terras 104
5. Rochas Sedimentares 106
5.1. Classificação das Rochas Sedimentares 106
5.2. Rochas Clásticas 106
5.3. Rochas de Precipitação Química 109
5.4. Rochas Biogénicas 110
TEMA 7: PROCESSOS EÓLICOS 113
1. Introdução 113
2. Movimentos do Mar 113
3. Fontes do Material Transportado pelo Vento 114
4. Movimento de Materiais pelo Vento 114
5. Sedimentos Transportados pelo Vento 116
5.1. Dunas 116
5.2. Mares de Areia 118
5.3. Loess 118
TEMA 8: RIOS E PROCESSOS FLUVIAIS 119
1. Introdução 119
2. Formação dos Rios 119
3. Princípios que Governam a Acção dos Rios 119
3.1. O Rio e o seu Canal 119
3.2. Carga dum Rio 122
3.3. Erosão dum Rio 123
3.4. Deposição (Sedimentação) dum Rio 124
4. Desenho de Drenagem 125
TEMA 9: OCEANOS E OS PROCESSOS MARINHOS 127
1. Introdução 127
2. Composição 127
3. Topografia dos Fundos Oceânicos 127
3.1. Plataforma Continental 127
3.2. Talude Continental 128
3.3. Crista Médio-Oceânica 129
4. Processos Modeladores das Costas 129
4.1. Marés 129
4.2. Ondas 130
4.3. Aspectos Formados pela Erosão das Ondas 131
4.4. Movimento de Sedimentos em Águas Pouco Profundas 133
5. Depósitos Marinhos 131
5.1. Praias 133
5.2. Pântanos Costeiros 135
5.3. Recifes de Coral 135
TEMA 10: ÁGUA SUBTERRÂNEA 137
1. Introdução 137
2. Água Subterrânea 137
2.1. Origem da Água Subterrânea 137
2.2. Armazenamento Subterrâneo de Água 137
2.3. Infiltração de Água no Solo 138
3. Configuração das Zonas Saturadas 139
3.1. Água Nãop Confinada 139
3.2. Água Confinada> Condições Artesianas 139
4. Surgimentos das Águas Subterrâneas à Superfície 140
4.1. Nascentes 140
4.2. Geysers 140
5. Paisagens Moduladas por Solução de Águas Subterrâneas 141
5.1. Solução 141
5.2. Paisagens 141
5.3. Desvio de Drenagem Superficial 142
5.4. Grutas 142
TEMA 11: GEOCRONOLOGIA 143
1. Fósseis 143
2. Condições de Fossilização 143
3. Importância Geológica dos Fósseis 144
4. Fóssil-Guia e Fóssil de Fácies 144
5. A Escala do Tempo Geológico 145

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TEMA 1: CONCEITO DE GEOLOGIA (sua relação com outras Ciências)

1. INTRODUÇÃO
O nosso conhecimento sobre a Terra (Fig. 1.1) baseia-se em séculos de
observações, movidas pela curiosidade nata do Homem em saber sempre mais e de ir
mais além. Esta curiosidade e ânsia de saber, levaram o Homem a enfrentar mares
desconhecidos séculos e milénios atrás, levaram ainda, mais recentemente, a aventurar-
se pelo espaço cósmico. A atracção pelo desconhecido é a característica da espécie
humana, que a distingue de todas as outras espécies animais. E é esta característica que
tem levado ao avanço das ciências e da tecnologia, que nos últimos anos tem dado
passos gigantescos. A Geologia, como ciência, tem obviamente beneficiado destes
avanços.
A Geologia é um tipo especial de ciência, já que o seu laboratório é o
Mundo em que vivemos. Por vezes, é possível tirar conclusões de caracter geológico
através de ensaios laboratoriais controlados, mas a maioria Fig. 1.1. A Terra vista do Espaço
das vezes isso não é possível, pois as dimensões de escala e de tempo que envolvem os fenómenos geológicos são
demasiado grandes para lidarmos laboratorialmente com elas. Temos por isso de fazer observações sistemáticas e
cuidadosas da Terra, e depois tirar as nossas conclusões acerca dos fenómenos a partir do conjunto destas observações.
Como se sabe, o Homem só tem acesso a uma ínfima parte do planeta, que
é a superfície terrestre. Tudo o resto está fora do alcance da vista directa. Só se pode
estudar por via indirecta, por meio de vários métodos de análise e observação: as lavas
(Fig. 1.2) que vêm à superfície, as ondas sísmicas que se comportam de modo
diferente consoante as rochas que atravessam, etc. Assim, a Geologia é uma ciência
com uma dose bastante grande de especulação, mas é uma especulação lógica e sã,
baseada em princípios e conceitos científicos. E como em todas as outras ciências, as
teorias evoluem, são comprovadas ou negadas, e aparecem outras teorias.
Em que medida o ser humano altera incessantemente a face da Terra? Se bem
que as nossas contribuições individuais sejam pequenas, o somatório dos milhões de
seres humanos que somos é enorme.
Influenciamos a atmosfera, os rios, os lagos e os oceanos; afectamos as taxas
de erosão dos solos e o modo como os desertos se expandem ou reduzem; cobrimos a
superfície da Terra com estradas e cidades; redistribuímos os materiais terrestres
cavando-os e transportando-os para onde os queremos usar; criamos lagos artificiais com
a construção de diques e barragens; em suma, estamos constantemente a alterar as
condições ambientais. Nós, Humanos, tornámo-nos uma força vital na modelação do
Fig. 1.2. Vulcão Kilauea, Hawaii nosso ambiente.
Há muitas questões que se podem levantar sobre as interacções humanas com o ambiente, para as quais ainda
não há respostas definitivas. Por exemplo:
 ainda não há certeza até que grau a contínua queima de combustíveis fósseis (carvão, gás, petróleo) e a
respectiva emissão de CO2 afecta o clima global hoje e afectará amanhã;
 Como é que a mudança climática pode influenciar a produtividade agrícola do mundo, a distribuição dos
gelos polares, ou a posição do nível do mar.
Nos últimos 50 anos ocorreram avanços revolucionários no conhecimento que temos da nossa Terra. Nunca na
história humana ocorreram avanços tão grandes e dramáticos em tão curto espaço de tempo. A Geologia é um campo em
ebulição, cheio de desafios, com novas descobertas e novas teorias a aparecer todos os dias.

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Há alguns anos atrás, a ideia de que a camada superficial da Terra se movia a uma velocidade anual de 10 cm/ano,
defendida pela teoria da tectónica de placas, não era senão uma teoria. Hoje essa teoria já não pertence ao campo da especulação;
é uma realidade, comprovada por evidências das rochas dos fundos marinhos.
Em 1986, medições feitas através de satélites e de lasers, demonstraram que de facto os continentes se estão a
mover.
Podemos agrupar os avanços nas ciências geológicas em 3 grupos:
 O primeiro refere-se à nossa compreensão sobre o modo como a Terra funciona; a tectónica de placas é um
produto dessa compreensão. Os avanços aconteceram com o contributo de outros estudos (aparentemente
não inter-relacionados), como a exploração dos fundos oceânicos, os estudos sísmicos do núcleo da Terra,
e medições a longo prazo da intensidade do campo magnético terrestre.

De facto, estes estudos estão todos correlacionados entre si. Assim, o campo magnético terrestre surge do
núcleo, e as rochas dos fundos oceânicos são influenciadas pelo campo magnético de formas diversas.

A constatação do facto de que todos os processos terrestres, grandes ou pequenos, interagem das formas
mais diversas, forçou os geólogos a reexaminar todas as evidências e a repensar as suas conclusões.
 O segundo avanço vem da exploração espacial, em particular das pesquisas sistemáticas da Lua, Marte,
Mercúrio, Vénus e dos satélites rochosos dos planetas gigantes (Júpiter e Saturno). Todos os planetas, luas,
asteróides e cometas do Sistema Solar têm uma origem comum, e se bem que cada um destes corpos celestes
tenha evoluído à sua maneira, eles têm aspectos comuns ao longo das suas histórias.

O estudo destes aspectos comuns levou à criação duma nova disciplina – a Planetologia Comparativa – a qual
ajuda a encontrar respostas a várias questões: porque é que a Terra existe? Porque é que ela é como é? Porque
é que os outros corpos do Sistema Solar não são adequados à vida humana? Haverá corpos no Universo que
sejam adequados a esta vida? Etc., etc., etc.
 O terceiro avanço consiste no crescer da consciência do efeito da actividade humana no meio ambiente à
superfície terrestre.

Essa consciência mostrou que a análise desses efeitos se torna complexa porque os múltiplos processos naturais
actuantes à superfície da Terra interagem de maneira muito complexa e variada.

Chegámos finalmente à conclusão de que as pessoas não são só uma das forças menores da natureza, antes
porém uma força maior. O que a Terra vai ser no futuro depende muito de como agirmos hoje.

2. O QUE É GEOLOGIA?
O termo Geologia deriva da junção das palavras gregas - (geo - Terra) e (lógos - Ciência) -
e significa literalmente Ciência da Terra.
Segundo Lapidus (1987), Geologia é o estudo da Terra em termos do seu desenvolvimento como planeta desde
a sua origem. Isto inclui a história das formas de vida, os materiais de que é feita, os processos que afectam estes
materiais e os produtos que deles resultam.
Em várias obras se podem encontrar várias definições de Geologia mas, basicamente, a definição anterior
congrega todos os conceitos que devem constar da definição deste termo.
A palavra Geologia foi utilizada pela primeira vez por Jean André de Luc, cientista de origem suíça e
conselheiro da Rainha Carlota de Inglaterra, e pelo químico suíço S.B. de Saussure em 1778 (Whitten & Brooks, 1972).

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3. PORQUÊ ESTUDAR GEOLOGIA?


O facto de vivermos na Terra já é razão mais do que suficiente para a estudar. Quanto mais soubermos acerca do
nosso planeta, especialmente do seu ambiente e recursos, melhor poderemos compreendê-la, usá-la e apreciá-la. Para o
Homem, a Terra é o corpo mais importante do Universo.
Num senso lato, a importância da Terra como corpo celeste não é assim tão grande, já que ela é um planeta de
tamanho médio, orbitando à volta duma estrela de tamanho médio também.
Contudo, e pelo menos no Sistema Solar, a Terra é o único planeta com água abundante e uma atmosfera onde
pode crescer a vida. A temperatura da superfície da Terra é controlada pela sua distância ao Sol, tornando possível a atmosfera
e os oceanos que, por seu lado, tornaram possível o aparecimento da Vida.
Os programas espaciais também revelaram que a Terra é única entre os planetas estudados até agora pelo facto
de ter um campo magnético, que é provocado pelo seu núcleo de ferro líquido e que pode acumular energia, dando origem
à formação de aspectos como cadeias de montanhas.
O princípio fundamental que sustenta toda a Geologia é que "os processos geológicos actuais ocorreram ao
longo do tempo geológico". É o chamado Princípio das Causas Actuais. Quer isto dizer que as rochas antigas podem
ser interpretadas com base nos processos que ocorrem actualmente.

4. A ABRANGÊNCIA DA GEOLOGIA E CIÊNCIAS AFINS


A Geologia moderna tem como objectivo decifrar toda a evolução terrestre e dos seus habitantes, desde o
momento dos primeiros registos que se encontram nas rochas mais antigas até aos nossos dias.
Dada a enorme abrangência e ambição deste objectivo, exige-se muito esforço e, na prática, é conveniente
subdividir em vários campos, como se mostra na Fig. 1.3. Assim, a Geologia está subdividida numa série de ciências - as
Ciências Geológicas - cada uma das quais trata de aspectos específicos, com interligações entre elas, apesar de tudo. É
de referir que todas estas ciências têm, por seu lado, várias subdivisões, que aqui não se indicam, mas que resultam do
rapidíssimo avanço científico e tecnológico dos nossos dias, que obriga a uma especialização cada vez maior e,
consequentemente, ao aparecimento de novas áreas. A Fig. 1.3 não refere todas elas, por impraticabilidade gráfica, mas
referimos, por exemplo, a Geomatemática, Geostatística e Geologia Mineira, entre outras.

 A Cristalografia trata do estudo dos


cristais;
 A Mineralogia trata do estudo dos
minerais, sua génese e ocorrência;
 A Petrologia estuda as rochas, os seus
minerais constituintes, a sua génese e o
seu modo de ocorrência;
 A Paleontologia estuda a evolução das
formas de vida através dos fósseis ou
vestígios da sua existência;
 A Estratigrafia estuda as rochas em
camadas (estratos), em especial a sua
sequência no tempo e a correlação de
camadas de locais diferentes;
 A Geohistória debruça-se sobre a
história da evolução do planeta;
 A Geologia Estrutural e a Tectónica
estudam as estruturas que ocorrem na
crusta - dobras, falhas, etc -
respectivamente numa escala
mesoscópica e megascópica;

Fig. 1.3. A Geologia e suas ciências afins


 A Geologia Física estuda os processos e as forças associadas com a evolução e a morfologia da Terra;
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 A Sedimentologia estuda as rochas sedimentares e os processos responsáveis pela sua origem e pelos movimentos de
sedimentos;
 A Geofísica aplica os métodos físicos ao estudo da estrutura e composição da Terra;
 A Geoquímica refere-se ao estudo das quantidades, distribuição e circulação de elementos químicos no solo, água e
atmosfera terrestre;
 A Cartografia dedica-se aos métodos de campo e de laboratório que levam à produção de mapas de vários tipos;
 A Fotogeologia utiliza fotografias aéreas para a interpretação da geologia duma região na programação de trabalhos
de campo;
 A Hidrogeologia dedica-se ao estudo das águas subterrâneas;
 A Geomorfologia dedica-se às características superficiais da Terra, incluindo formas de relevo terrestre e oceânico e
factores químicos, físicos e biológicos que agem sobre elas;
 Nos Jazigos Minerais estuda-se a forma como os recursos minerais ocorrem na crusta, sua concentração e
distribuição;
 A Geocronologia mede os intervalos de tempo do passado geológico, as idades dos acontecimentos geológicos;
 A Pedologia estuda a formação dos solos, sua morfologia, origem e classificação;
 A Geologia Aplicada utiliza os métodos e a pesquisa geológica à solução de problemas da sociedade;
 A Geologia de Engenharia é um aspecto particular da Geologia Aplicada, e relaciona-se com a aplicação da Geologia
à construção de obras de engenharia;
 A Geologia Económica, muito ligada aos Jazigos Minerais, estuda as implicações económicas da exploração dos
jazigos e as suas reservas;
 A Geologia Urbana e Ambiental têm a ver com a aplicação dos conceitos geológicos aos problemas criados pela
actividade humana, e seus efeitos no ambiente, quer a nível geral, quer urbano;
 A Geologia Marinha (e costeira) estuda os fundos oceânicos, sua topografia, petrologia, geoquímica e o efeito das
ondas e da água do mar;
 A Cosmologia estuda a posição da Terra no Sistema Solar e no Universo.
Como se pode ver da listagem anterior, as ciências geológicas estão intimamente ligadas a várias outras ciências:
Química, Física, Matemática, Biologia, Astronomia, Economia e Engenharia. Mas as ligações não param por aqui. Por
exemplo, as ligações com a Agronomia são evidentes, através da Pedologia. A Geografia é, muitas vezes considerada uma
ramo da Geologia, havendo muitas universidades no mundo em que estes dois cursos estão sob a alçada dum departamento
(ou faculdade) de ciências da Terra. A Metalurgia utiliza os conhecimento da cristalografia e os métodos de estudo dos
minerais. A Medicina criou um novo campo - a Geomedicina - que se dedica ao estudo das doenças humanas provocadas
pela actividade geológica e mineira. Este tipo de actividades também afecta a vida animal que vive por perto e, assim, a
ligação com a Veterinária também é evidente. A Engenharia de Minas utiliza os conhecimentos geológicos e de
engenharia para a abertura de minas para exploração de recursos minerais. Muitos outros exemplos se poderiam dar para
ilustrar a ligação da Geologia com outras ciências não geológicas.

5. UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DA GEOLOGIA

Nos primórdios da Humanidade, o Homem interessava-se


somente pelas "pedras" que lhe fossem úteis. Utilizava-as para fazer os seus
instrumentos de caça e ferramentas de trabalho, conhecidas da Idade da Pedra
(Fig. 1.4). Ainda na Idade da Pedra, o Homem começou a utilizar rochas e
minerais para fazer objectos ornamentais. Desta época, conhecem-se hoje
minas de sílex.
Mais tarde, com o início da Idade do Bronze, o Homem começou
a utilizar os metais, tanto para armas como para objectos ornamentais. Fig. 1.4. Exemplar dum instrumento pré-histórico
de Massingir

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Os antigos Egípcios (1.500 AC) já conheciam os efeitos medicinais de alguns minerais, como a antimonite
(Sb2S3), o enxofre (S), a hematite (Fe2O3), a halite (sal), a soda (NaNO3), o petróleo bruto, etc.
Os primeiros registos geológicos de que há memória vêm do tempo dos Gregos antigos. Cite-se por exemplo
Heródoto (484-425 AC) que escreveu que "…o mar apagou-se onde hoje a terra se solidifica…", após observar fósseis
de conchas marinhas em terra firme. Nessa altura, a idade da Terra foi calculada em 399.000 anos!!! Também Heródoto
reparou que o Rio Nilo depositava sedimentos durante as cheias, tendo reconhecido o processo lento mas contínuo que
modifica a superfície da Terra.
Teofrastus (374-287 AC), escreveu o primeiro tratado de Mineralogia - A Respeito das Pedras - que foi a base
da maioria dos mineralogistas da Idade Média.
Com a queda de Roma em 500 DC pouco ou nada se ouve na Europa acerca de ciência até à Renascença (séc.
XV-XVI). Contudo, nas países árabes, Ibn Sida (980-1037) escreve uma sistemática dos minerais e reconhece que as
montanhas se formam por acção de forças internas e que a água tem um papel importante na erosão e na formação de
sedimentos.
A Idade Média (séc. XI-XIV) foi assim um período de estagnação de conhecimentos, de crenças em poderes
sobrenaturais e em superstições. Nessa época, o primeiro livro do Antigo Testamento - Génesis - sobre a origem do mundo e
da vida, era aceite como verdade acabada, não contestável, pois se o fosse seria considerado sacrilégio. Assim, no geral, os
Homens não procuravam mais esclarecimentos sobre os fenómenos naturais.
Com o aparecimento da Renascença, a situação no que toca ao avanço das ciências muda de figura. O Génesis
começa a ser contestado, surgindo várias pessoas decididas a mudar o estado das coisas. Leonardo da Vinci (1452-1519)
foi um deles.
Ao descobrir conchas numa zona montanhosa de Itália, da Vinci concluiu que aqueles animais só podiam ter
vivido ali quando aquelas terras estavam cobertas de água. Foi um escândalo na época, mas como ele era reconhecido por
todos como artista, escultor, arquitecto, engenheiro e inventor, então ele teria alguma razão para afrontar as Sagradas
Escrituras. Mas os defensores destas encontraram uma resposta para o aparecimento de conchas nas montanhas: Deus
tinha-as posto lá para pôr à prova a fé do Homem.
Apesar dos seus trabalhos, da Vinci não trouxe nada de novo em termos de conhecimentos geológicos. Ele
mais não fez do que reafirmar o que Gregos e Árabes já tinham afirmado.
O grande avanço das ciências geológicas ocorre cerca de 150 anos mais tarde, com o dinamarquês Nicolaus Steno
(Séc. XVII) que é conhecido como o pioneiro da Geologia. Como outros cientistas, ele observou conchas nas montanhas da
Itália e concluiu que o mar tinha coberto aquela região. Mas ele foi mais longe, pois observou que as conchas estavam
encravadas em vários tipos de rochas, de camadas ou estratos. Verificou que algumas camadas eram espessas, outras delgadas;
umas eram uniformes, outras irregulares; umas continham conchas de animais marinhos, outras de animais de água doce.
Concluiu que as rochas que continham essas conchas só podiam ter sido depositadas como sedimento em zonas cobertas por
água salgada ou doce. Com o recuo das águas, os sedimentos transformaram-se em rochas sólidas. Por isso, concluiu ele ainda,
as camadas do fundo deviam ser mais antigas do que as que estavam mais acima. Nasceu assim o princípio da sobreposição,
base da Geocronologia actual.
Abraham Werner (1749-1817), de nacionalidade alemã, aos 25 anos, publica um livro sobre as características
externas dos minerais, pondo fim a uma época de observações caóticas e disparatadas. Ele é considerado o pai da Geologia
e da Mineralogia alemãs. Werner também é considerado o pai da Geologia de Campo, por ter sido o primeiro a levar os
seus alunos ao terreno para terem o quadro geral do que ensinava nas aulas. A Teoria Neptunista é da sua autoria, em
que considerava a Terra constituída por águas muito profundas a partir das quais se formava a crusta.
O seu discípulo Leopold von Buch (1774-1853), depois de observar alguns vulcões europeus, coisa que Werner
nunca tinha feito, contrariou essa teoria, criando a Teoria Vulcanista, em que no interior da Terra existia um imenso calor
que fundia as rochas.
William Smith (1769-1839) foi o pai da Paleontologia e, de certo modo, da Estratigrafia. Ele notou que certos
fósseis só ocorriam em determinadas camadas e que estas podiam ser correlacionadas, mesmo que distantes entre si. O
esquema da Fig. 1.5 mostra como ele fez essa correlação, considerando as sequências de camadas e respectivos fósseis
em 3 lugares distintos (esquemas A a C) e construindo uma coluna estratigráfica completa (D) da região.
Outros paleontólogos de renome do tempo de W. Smith foram Georges Cuvier (1769-1832), Ernst von
Schlotheim (1765-1832).

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No séc. XIX, o inglês Charles Darwin (1809-1882),


observando os vários fósseis e as diferentes formas de vida que
encontrou pelo mundo fora durante as suas viagens, formulou a teoria
da evolução da vida, expressa no seu livro (1859) A Origem das
Espécies pela Selecção Natural, ou A Preservação das Raças
Favorecidas na Luta pela Vida. Ainda nesse tempo esse livro foi
considerado uma afronta aos ensinamentos bíblicos sobre a criação.
Mais tarde (1871), com o seu livro A Origem do Homem, essa
polémica renasceu.
Os séculos XVIII e XIX caracterizaram-se por grandes
avanços e actividades nas ciências geológicas e por uma cooperação
extensa entre geocientistas de vários países.
Fig. 1.5. Correlações estabelecidas por W.Smith

Também se caracterizou pelo aparecimento de várias associações de geólogos, como o Geological Survey of
England (1835), Association Géologique Française (1855) e a Preu ische Geologische Landesamtstalt (1873), entre
outras.No início do Séc XX (1915), o alemão Alfred Wegener (1880-1930) escreveu o livro A Origem dos Continentes
em que formula a Teoria da Deriva dos Continentes, percursora da actualíssima Teoria da Tectónica de Placas (já referida
anteriormente).
No que toca ao nosso continente, Alex du Toit é considerado o pai da Geologia Africana.

6. A TERRA NO ESPAÇO
O estudo da Terra deveria começar talvez com um exame das suas relações com o resto do Universo. Estamos
habituados a pensar que Terra é o centro do universo, o que não é de todo verdade. A Terra é um pequeno planeta que
gira à volta duma estrela - o Sol. O Sol e os seus planetas são uma ínfima parte da galáxia Via Láctea, que, por seu lado,
é uma dos milhares de galáxias do nosso universo.
Muitos dos fenómenos físicos que ocorrem na Terra são afectados pela
interacção do Sol, Lua e Terra.
A VIA LÁCTEA
O Sol e os seus planetas, cometas, satélites e asteróides, é um dos biliões
de estrelas da nossa galáxia - A Via Láctea. Este sistema de estrelas tem uma forma
de lente/disco achatado, com as estrelas dispostas em braços de espiral, com um
núcleo constituído por uma grande densidade de estrelas. A Via Láctea tem um
diâmetro de 70.000 anos luz (cerca de 9.5 x 1012 km, ou seja, 9 biliões e meio de
quilómetros). Como não é possível fotografar a Via Láctea, as únicas imagens que
dispomos são as de galáxias semelhantes, como a ilustrada pela foto da Fig. 1.6, da
Galáxia M100, tirada pelo telescópio Hubble.
Na Via Láctea, o Sistema Solar ocupa uma posição afastada do centro.
Na Fig. 1.6 está mostrada essa posição se a galáxia fosse a Via Láctea.
Fig. 1.6. Imagem da Galáxia M100, tirada pelo
telescópio Hubble

O SISTEMA SOLAR
O Sistema Solar (Fig. 1.7) é uma pequeníssima parte da nossa galáxia e consiste do Sol, de 9 Planetas e seus
Satélites, Asteróides, Cometas e Meteoritos.
Se bem que o Sol (Fig. 1.8) seja extremamente importante para nós, ele é insignificante no meio dos biliões de
estrelas da galáxia, quer em tamanho quer em brilho, apesar de ele conter 99.8% da massa de todo o Sistema Solar. A
Fig. 1.8 mostra também imagens dos planetas do Sistema Solar (excepto da Terra, que pode ser vista na Fig. 1.1, bem
como da Lua, de um asteróide e de um cometa). A Tabela 1.1 mostra as dimensões do Sol e dos planetas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 1.7. O Sistema Solar e seus planetas interiores (terrestres) e exteriores

Tabela 1.1. Dimensões do Sol e dos Planetas do Sistema Solar


Planetas Interiores Planetas Exteriores
Sol e Planetas Sol Mercúrio Vénus Terra Marte Júpiter Saturno Urano Neptuno Plutão
Distância média ao Sol
(milhões de km) - 58 108 150 228 778 1.427 2.870 4.497 5.900
Tempo que a luz do Sol
leva a chegar - 3m 13s 6m 1s 8m 19s 12m 40s 43m 14s 1h 19m 17s 2h 39m 23s 4h 9m 47s 5h 27m 40s
Dias - 88 224,7 365,26 687 4.332 10.760,6 30.685,5 23.668,8 90.474,9
Revolução Anos - 0,24 0,62 1 1,88 11,86 29,46 84,01 64,8 247,7
Horas 600-696 1.416 5.832 23,93 24,6 9,8 10,2 15 22 153
Rotação Dias 25-29 59 -243* 1 1,03 0,4 0,43 -0,63* 0,92 6,4
Diâmetro (km) 1.384.000 4.880 12.104 12.756 6.787 142.800 120.000 51.800 48.500 6.000?
Massa (Terra = 1) 330.000 0,06 0,81 1 0,11 317,9 95,2 14,6 17,2 0,1?
Volume (Terra = 1) 0,06 0,88 1 0,15 1,316 755 67 57 0,1?
Densidade (água = 1) 1,41 5,4 5,2 5,5 3,9 1,3 0,7 1,2 1,7 ?
Número de Satélites - 0 0 1 2 15+aneis 17+aneis 5+aneis 2 1
Atmosfera H, He - CO2 N, O CO2 He, H H, He H, He, CH4 H, He, CH4 ?
* Vénus e Urano têm movimentos de rotação contrários ao de todos os outros planetas.

Mercúrio
O Sol Vénus Marte

Saturno Neptuno
Júpiter Urano

Cometa Halley

Plutão Asteróide Eros


A Lua
Fig. 1.8. Imagnes dos constituintes do Sistema Solar (as imagens não estão à escala)

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

O Sol é uma estrela de tamanho médio, com uma temperatura de 6.000ºC à superfície e de 5.000.000ºC em
profundidade, onde a matéria está sujeita a pressões gigantescas. Ele desloca-se a uma velocidade de 70.000 km/s em
direcção à estrela Vega, situada na constelação de Lira a 27 anos-luz de distância (10,65 x 1012 km).

A ORIGEM DO SISTEMA SOLAR


Como se formou o Sistema Solar é uma pergunta para a qual uma resposta exacta possivelmente nunca será
dada. Mas o esquema geral do processo pode ser visualizado através das evidências obtidas pelos astrónomos, dos nossos
conhecimentos sobre o Sistema Solar e sobre as leis da Física e Química. Há várias teorias sobre a origem do Sistema
Solar.

a) Hipótese Nebular (Laplace 1820) (Fig. 1.9): de


início haveria uma enorme nuvem esférica de gases quentes
que rodava sobre si própria (a). Com o aumento da rotação, essa
nuvem foi achatando, mantendo um centro mais espesso (b).
Ainda o aumento da rotação provocou um aumento da força
centrífuga nas partes mais externas do disco, provocando a
separação deste em vários anéis (tantos quantos os planetas
existentes) que giravam à volta da nuvem central (c).
Posteriormente, o material dos anéis foi-se concentrando por
acção da gravidade, dando origem aos planetas e a nuvem Fig. 1.9. Esquema elucidativo fa Hipótese Nebular de Laplace, sobre a
central teria dado origem ao sol (d). origem do Sistema Solar

b) Hipótese da Colisão (Chamberlin & Multon


1900) (Fig. 1.10): considera que uma estrela terá passado perto
do sol, tendo provocado a libertação de gases em espiral a partir
do sol (a, b). Estes gases teriam depois girado à volta do sol (c),
Fig. 1.10. Hipótese da Colisão sobre a origem do Sistema Solar
e posteriormente se concentrado para originar os planetas,
devido à força de atracção entre as duas estrelas (d).
c) Teoria Moderna
O início do Sistema Solar deu-se numa altura em que aparentemente o espaço estava vazio. Mas só
aparentemente, pois o espaço estava cheio de átomos dispersos que formavam uma nuvem ténue, turbulenta e em
redemoinho. (fig. 1.11 a).

Fig. 1.11. Hipótese Moderna sobre a origem do Sistema Solar.

Com o tempo, e devido à atracção entre os átomos, a nuvem começou a tornar-se mais espessa pela progressiva
concentração dos átomos. A energia desses redemoinhos deu eventualmente origem à rotação da nuvem que originou
mais tarde o sol e os planetas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

À medida que os átomos eram atraídos entre si, e se aproximavam uns dos outros, a nuvem tornou-se mais
densa e mais quente. Como resultado deste processo de concentração, formou-se a Terra e os outros planetas.
Mais de 99% dos átomos do espaço são átomos de hidrogénio (H) e hélio (He), os dois átomos mais pequenos,
o que pode ser visto nas atmosferas de alguns planetas maiores.
Perto do centro da concentração da nuvem de gás, os átomos ficaram tão comprimidos e tão aquecidos que os
átomos de H e He começaram a fundir-se para originar elementos mais pesados. Esta fusão provocou libertação de
enormes quantidades de energia térmica, o que levou a uma combustão nuclear dos átomos de H e He.
Quando começaram estas reacções nucleares, deu-se o nascimento do Sol, o que deve ter acontecido há 6 mil
milhões de anos. Porém, os processos nucleares estavam confinados ao centro da nuvem. À sua volta rodava uma nuvem
de gás menos quente e menos denso.
Como se sabe, a rotação provoca uma força centrífuga que tende a puxar os corpos para fora, ao passo que a
gravidade é uma força centrípeta, que puxa os objectos uns para os outros. Como resultante destas duas forças, a nuvem
de gás tornou-se gradualmente um disco rotativo achatado, girando à volta do Sol. A tal disco chama-se nebulosa
planetária (Fig. 1.11.b).
A dado momento, as porções externas mais frias da nebulosa planetária tornaram-se suficientemente
compactadas para originar matéria sólida, do mesmo modo que o gelo se condensa a partir do vapor de água para originar
neve. Progressivamente, esta matéria sólida condensada transformou-se em planetas.

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TEMA 2: ESTRUTURA E COMPOSIÇÃO DA TERRA

1. INTRODUÇÃO

A forma esférica da Terra foi reconhecida por Eratóstenes (230 AC) e a


posição da Terra no Sistema Solar foi definida por Copérnico no séc. XVI. Mas só
em tempos recentes, quando houve a possibilidade de observar a Terra a partir do
espaço em imagens como a da Fig. 2.1, é que foi possível visualizar a Terra como
um planeta isolado e apreciar as suas características distintas.
A primeira viagem à volta do mundo começou com Fernão de Magalhães,
que partiu de Sevilha (Espanha) em 1519 e foi completada em 1522 por Sebastián
del Cano, definindo sem margens de dúvidas que a Terra é um globo. Enquanto que
os navegadores ao serviço dos reis de Espanha levaram 3 anos a dar a volta ao
mundo, hoje é possível fazê-lo em meros 40 minutos e fotografá-lo de altitudes em
que é possível ver a sua forma esférica (Fig. 2.1). Fig. 2.1. Terra e Lua vistas do espaço

Pitágoras (530 AC) foi o primeiro a considerar a hipótese de a Terra ser redonda. Observando a aproximação
de navios vindos de longe, reparou que primeiro se viam os mastros, e só depois o casco, chegando à conclusão que a
superfície do mar não era plana, mas sim curva.
No tempo de Erastótenes (Bibliotecário Chefe de
Alexandira, Egipto) já se sabia que a distância do Sol era
tão grande que os seus raios podiam ser considerados
paralelos. Assim, ele imaginou um sistema simples para
estimar o tamanho da Terra. Ele tinha ouvido dizer que em
Syene (hoje Aswan) no Rio Nilo, ao meio dia no Verão o
sol estava tão a pique que não provocava sombra dos
objectos. Observou, contudo, que em Alexandria, cerca de
800 km a norte de Syene, à mesma hora havia sombra de
objectos. A Fig. 2.2. ilustra as condições da experiência (em
escala exagerada de ângulos e comprimentos).
Fig. 2.2. Método usado por Erastótenes para medir a circunferência da Terra

Em Alexandria, uma estaca de dimensão AB provocaria uma sombra de dimensão AC. Estes dois comprimentos
determinam o ângulo ABC que iguala o ângulo SOA. Erastótenes fez os cálculos e verificou que este ângulo é de um pouco
mais de 7º (7º 12"), ou seja, quase exactamente 1/5 que 360º. O comprimento da circunferência terrestre seria assim 50 vezes
a distância de Alexandria a Syene, ou seja:
50 x 800km = 40.000 km.

2. FORMA E DIMENSÕES DA TERRA


A Terra é um corpo esférico, com um diâmetro de 12.756 km, que roda à volta do seu eixo uma vez ao dia,
estando o eixo inclinado de 23.5º em relação ao seu plano de órbita à volta do Sol.
Todos sabemos que um objecto colocado num disco giratório é expelido, a não ser que preso ao seu lugar. A
força que expele o objecto giratório é chamada força centrífuga. Quanto mais rápida a velocidade de rotação e a distância
ao centro de rotação, maior é esta força centrífuga. Em 1666, Isaac Newton afirmou que os objectos colocados na Terra
giratória seria expelidos para o espaço, a não ser se contrariados por uma força oposta maior. Isto foi a base de partida
para a formulação da Lei da Atracção Gravitacional, que tem a seguinte expressão:
M1  M 2
F  G (1)
d2

29
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em que M1 e M2 são as massas de 2 objectos, d a distância entre eles e G a constante de gravitação (=6,754x10-8). Desta
equação fica claro que quanto maiores os objectos e menor a distância entre eles, maior a força de atracção. Quando um
corpo é muito grande, como a Terra, a atracção torna-se também muito grande. Se não fosse isso, o ar que envolve a Terra
seria expelido para o espaço e não haveria vida.
A gravidade da Terra é uma força que actua de fora para dentro (Fig. 2.3) e
que tende a puxar os objectos para o centro do planeta. Assim, a força da gravidade é
radial, quer dizer, em qualquer ponto da Terra os objectos são puxados ao longo duma
linha que liga o objecto ao centro de gravidade (centro da Terra). Quando todas as
partículas dum objecto deformável são puxadas de igual modo para o centro, o corpo
torna-se esférico. Assim, a gravidade e o facto de a Terra ser deformável, são as
razões para que ela seja redonda.
Newton também imaginou que o balanço entre a força centrífuga (resultante
do movimento de rotação) e a da gravidade deformaria a forma da Terra, passando
duma esfera para um elipsóide. De facto, é isso que acontece pois, enquanto que a
gravidade é uma força radial, a força centrífuga actua perpendicularmente ao eixo de
rotação (Fig. 2.3). Esta força é tanto maior quanto mais afastado um objecto estiver do
eixo de rotação, ou seja, no Equador essa força é máxima (Cmax) e quase nula nos pólos.
Fig. 2.3. Força da gravidade (setas negras)
e força centrífuga (setas brancas)

A interacção destas duas forças (centrífuga e gravidade) dá origem a uma Terra ligeiramente achatada nos pólos
e "inchada" no equador. Como resultado disto, o diâmetro equatorial da Terra é de 12.756 km, ao passo que o diâmetro polar
é de 12.714 km, ou seja, uma diferença de 42 km, diferença tão pequena para a dimensão do globo, que se pode considerar
a Terra como uma esfera perfeita. A Fig. 2.4 ilustra estas diferenças. Este afastamento da forma esférica perfeita tem como
resultado que uma pessoa que pese 90 kg no equador, pesa 90.5 kg no polo. A Tabela 2.1 dá uma ideia geral das dimensões
da Terra.
Tabela 2.1. Alguns factos numéricos sobre a Terra
TERRA OCEANOS E MARES
Maior altitude conhecida Metros Maior profundidade conhecida Metros
Monte Everest (Nepal) 8.863 Fossa das Marianas (Filipinas) 11.035
Altitude média 840 Profundidade média 3.808
TAMANHO E FORMA km ÁREA Milhões de km2
Raio equatorial (a) 6.378,2 Terra (29,22%) 149
Raio polar (b) 6.356,8 Calotes Polares e Glaciares 15,6
Raio médio 6.371,0 Mares e Oceanos (70,78%) 361
Circunferência equatorial 40.076 Terra + plataforma continental 177,4
Circunferência polar (meridiano) 40.009 Mares/Oceanos - plataforma continental 332,6
Elipticidade (a-b)/a 1/298 Área total da Terra 510,0
Espessura/raio Volume Densidade média Massa
VOLUME, DENSIDADE, MASSA
médio (km) (x 106 km3) (g/cm3) (x 1024 g)
Atmosfera - - - 0,005
Mares e Oceanos 3,8 1.370 1,03 1,41
Calotes Polares e Glaciares 1,6 25 0,30 0,023
Crusta Continental + plataforma continental 35 6.210 2,8 17,39
Crusta Oceânica - plataforma continental 8 2.660 2,9 7,71
Manto 2.881 898.000 4,53 4.068
Núcleo 3.473 175.500 10,72 1.881
A TERRA INTEIRA 6.371 1.083.230 5,517 5.976

A lei de atracção gravitacional de Newton constitui a base para o cálculo da massa e da densidade da Terra. De
acordo com essa lei, a força de atracção exercida pela Terra sobre um objecto colocado na sua superfície, pode ser calculada
se soubermos a massa do objecto, a constante G e a distância do objecto ao centro de massa da Terra. Para um objecto à
superfície, essa distância é o raio da Terra. A força de atracção gravitacional é o que chamamos peso do objecto. De
acordo com as leis que Newton desenvolveu, este peso deverá ser igual ao produto da massa do objecto (M1) e a
aceleração da gravidade (g):
F  M1  g (2)

Considerando a equação (1), pode estabelecer-se a seguinte igualdade

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M1  M 2 (3)
F  G  M1  g
d2

Como M1 aparece nos dois termos da igualdade, simplificando, fica:


GM2
g  M2 
d2 g (4)
d2 G

Sendo:
d = 6.380 km
g = 980 cm/s2
G = 6,754 x 10-8,
a massa da Terra (M2) é igual a 5,98 x 1027 gramas.
O Volume da esfera V  4   R 3 terrestre pode agora ser calculado, sendo igual a 108,78 x 10 10 km3. A partir
3
da massa e do volume, pode calcular-se a densidade (massa/volume), que é de 5,5 g/cm3.

3. ESTRUTURA DA TERRA
A maior parte do que se sabe sobre a estrutura interna da Terra provém de interpretações e de dados de
observação indirecta.
Mesmo as rochas e as lavas que se originam
abaixo da superfície provêm de profundidades que são
relativamente pequenas comparadas com o raio da Terra.
As principais ferramentas que se usam para o estudo
das partes mais profundas da Terra, são as análises da
gravidade, dos campos magnéticos e das ondas de choque
geradas por terramotos, que dão indicações da variação da
densidade dos materiais com a profundidade.
Os resultados deste estudo estão ilustrados na Fig.
2.5. Daqui se pode ver que a Terra não é constituída dum
único material, mas de várias camadas esféricas
concêntricas. Há, assim, três camadas composicionais (Fig.
Fig. 2.5. Camadas constituintes da Terra 2.5, metade direita):
 Núcleo: no centro, massa esférica constituída principalmente de ferro, com misturas de níquel, enxofre,
silício e outros elementos;
 Manto: intermédio, matéria rochosa que envolve o núcleo; menos denso que o núcleo, mas mais denso que
a camada superficial;
 Crusta: superficial, camada mais fina, composta de matéria rochosa menos densa que a do manto.
O núcleo e o manto têm uma espessura relativamente constante. A crusta, por seu lado, tem uma espessura
variável (Fig. 2.6). Por baixo dos oceanos - crusta oceânica - a crusta tem uma espessura média de 8 km, enquanto que
nos continentes - crusta continental - essa espessura varia entre 20 - 70 km.
O manto e o núcleo têm composições diferentes e estão separados por um limite bem definido. Provavelmente
haverá variações composicionais dentro de cada um deles, mas pouco se sabe sobre isto. Por seu lado, a crusta, de
observação mais directa, tem uma composição muito variada e, em alguns locais, muito semelhante à parte superior do
manto. Mesmo assim, o limite crusta/manto é bem definido.
Além das camadas composicionais, há uma acamação em termos de propriedades físicas (Fig. 2.5, lado
esquerdo), como no caso do gelo (água sólida) sobre água (líquida). Do mesmo modo que a água pode ocorrer em três
estados físicos diferentes (sólido, líquido e gasoso), também os materiais da Terra variam o seu estado físico em função
da pressão e temperatura (P,T).
As regiões em que as propriedades físicas mudam, não coincidem com os limites composicionais do núcleo,
manto e crusta (Fig. 2.5, lado esquerdo).

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Fig. 2.6. Secção da crusta e da parte superior do manto

Dentro do núcleo há a região mais interna, onde as pressões são tão altas que o material se encontra no estado
sólido - núcleo interior. À volta do núcleo interior ocorre o núcleo exterior, onde a P,T estão de tal modo balanceadas,
que os metais fundem e ficam no estado líquido.
Variações análogas de estado físico ocorrem também na parte superior do manto. A cerca de 100 km da superfície,
as rochas do manto atingem temperaturas tais que perdem a sua resistência, tornando-se plásticas e facilmente deformáveis. É
a astenosfera (do Grego asthenos = fraco), que se prolonga até aos 350 km de profundidade, ponto em que as rochas perdem
a sua plasticidade e se tornam rígidas e não plásticas. Dos 350 km de profundidade até ao limite com o núcleo exterior, o
manto ganha o nome de mesosfera.
Por cima da astenosfera até à superfície (espessura de 100 km), as rochas são duras e mais rígidas que as da
astenosfera - é a litosfera (do grego lithos = rocha).
O limite entre a astenosfera e a litosfera é claro, mas não corresponde a uma mudança de composição, mas de
estado físico.
Os limites de separação entre as várias camadas da Terra têm o nome de descontinuidades. Assim, existem as
seguintes descontinuidades:
 Descontinuidade de Konrad: separa a crusta continental da crusta oceânica;
 Descontinuidade de Mohorovičic: separa a crusta do manto;
 Descontinuidade de Gutenberg: separa o manto do núcleo.

4. COMPOSIÇÃO DA CRUSTA
A Tabela 2.2 mostra a concentração dos principais elementos químicos na crusta continental. Pode ver-se que o
oxigénio (O) é o elemento mais abundante, quer em peso quer em volume. O segundo elemento em abundância é o silício
(Si), tanto em peso como em volume, seguindo-se o Alumínio (Al). Por seu lado, a Tabela 2.3 refere-se à composição química
das várias camadas da Terra. O constituinte mais abundante de ambas as crustas continental e oceânica é o óxido de silício
(SiO2), seguindo-se o óxido de alumínio (Al2O3), o que não é de estranhar, pois o O, Si e Al são os três elementos mais
abundantes na crusta.
No caso do Manto, o constituinte mais abundante é também o óxido de silício, mas em menor abundância que na
crusta. Ao contrário da crusta, o segundo constituinte mais abundante é o óxido de magnésio (MgO), seguindo-se o óxido de
ferro ferroso (FeO). A composição do Núcleo difere das outras camadas na medida em que abundam os elementos
metálicos, em especial o ferro (Fe).
Tabela 2.2. Abundância de elementos maiores na crusta continental
Elemento % Peso % Volume
Oxigénio (O) 47.2 93.8
Silício (Si) 28.2 0.9
Alumínio (Al) 8.2 0.5
Ferro (Fe) 5.1 0.4
Cálcio (Ca) 3.7 1.0
Sódio (Na) 2.9 1.3
Potássio (K) 2.6 1.8
Magnésio (Mg) 2.1 0.3

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Hidrogénio (H) 0.0

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Tabela 2.3. Composição química das camadas da Terra


Constituinte C. Continental C. Oceânica Manto Núcleo
SiO2 60.1 49.9 38.3
Al2O3 15.6 17.3 2.5
CaO 5.2 11.9 2
FeO 3.9 6.9 12.5
Na2O 3.9 2.8 1
MgO 3.6 7.3 24
K2O 3.2 0.2 0.2
Fe2O3 3.1 2
TiO2 1.1 1.5 0.1
P2O5 0.3 0.2 0.2
FeS 5.8
Fe 11.9 90.8
Ni 1.4 8.6
Co 0.1 0.6

5. TECTÓNICA DE PLACAS
Como atrás se disse, a parte superior do Manto (Astenosfera) encontra-se no estado plástico, em que o material
rochoso se encontra fundido. A Crusta (continental e oceânica) encontra-se no estado sólido "flutuando" sobre a
Astenosfera, como o gelo flutua na água.
Devido ao seu estado físico (plástico), a Astenosfera está sujeita a correntes de
convexão, devido às diferenças de temperatura no seu seio: mais quentes em maiores
profundidades, menos quentes em menores profundidades. É o mesmo processo que ocorre
quando aquecemos água numa panela (Fig. 2.7). Se houverem objectos a flutuar na água, eles
são puxados para os bordos da panela por acção dessas correntes. Assim, o objecto A é puxado
para a esquerda, enquanto que o C é puxado para a direita. Quanto ao objecto B, ele é puxado
tanto para a direita como para esquerda e tem tendência a manter-se no centro. Se o objecto
for feito de material quebradiço, e as correntes forem muito fortes, o objecto eventualmente
parte-se e cada metade vai para seu lado. Este é o mecanismo básico do que acontece na Terra
entre a crusta e a astenosfera.
Fig. 2.7. Correntes de convexão

Como se pode ver da Fig. 2.8, a crusta é constituída por uma série de placas tectónicas (do grego tecktonos -
construir) que flutuam sobre a Astenosfera, umas maiores que as outras. Assim, a Crusta é constituída pelas seguintes placas:
a) Maiores: Africana, Australiana-Indiana, Antártica, Eurasiana, Pacífica, Norte- e Sul-Americana;
b) Menores: Filipinas, Juan de Fuca, Nazca, Cocos e Caraíbas.
A Fig. 2.9 mostra um mapa mais realista das placas tectónicas que compõem a crusta. Como se pode ver ainda das
Figs. 2.8 e 2.9, praticamente todas as placas abrangem crusta continental e crusta oceânica, à excepção das Placas de Nazca e
Juan de Fuca, que são constituídas unicamente por crusta oceânica.

Fig. 2.9. Mapara em relevo do mundo, com as placas tectónicas.


Fig. 2.8. Mapa com os limites das placas tectónicas Comparar com a Fig. 2.8.

34
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Onde as placas estão por baixo dos oceanos, elas são compostas do mesmo material do manto fluído, ou seja, da
astenosfera, mas o material encontra-se no estado sólido, com uma espessura entre 10-16 km. Onde as placas contêm também
crusta continental, a sua espessura varia imenso.
Como é que, então, estas placas se movem entre si devido às correntes de convexão da Astenosfera? Ou seja, como
são os limites entre as várias placas? Há três maneiras como as placa se contactam e se movem entre si, consoante elas
desaparecem umas por baixo das outras, ou se afastam entre si, ou deslizam entre si.
1. Dorsais Médio-Oceânicas: Ocorrem nos pontos onde duas placas se afastam entre
si (Fig. 2.10). A força que está por trás do movimento das placas tectónicas é o calor gerado no
interior da Terra pelas reacções nucleares. Este calor atinge a superfície principalmente nas dorsals
médio-oceânicas. Nestes locais, duas placas afastam-se uma da outra (C) por acção das correntes
de convexão do manto (A), abrindo um espaço entre elas (D) por onde emerge o material rochoso
em fusão (B) - o magma. Este magma, ao chegar à superfície transforma-se em lava e vai
preenchendo continuamente o espaço entre as duas placas à medida que estas se separam. A lava
arrefece e solidifica, agarrando-se aos bordos das duas placas, e for- Fig. 2.10. Esquema duma dorsal
médio-oceânica
mando nova crusta oceânica. Assim, quanto mais afastada da dorsal, mais antiga é a rocha. Nas zonas onde este processo ocorre, as placas têm uma
elevação que pode atingir os 4.000 m de altura, daí o nome de dorsal médio-oceânica. As dorsais médio-oceânicas têm, no globo terrestre, um
comprimento total de 64.000 km. A Islândia e os Açores são emergências da Dorsal Médio-Atlântica acima do nível do mar.

2. Zonas de Subducção: pontos onde uma placa


desaparece por baixo de outra (Fig. 2.11). Se nova crusta
oceânica é constantemente formada e as placas se separam entre
si, deverá haver zonas em que elas desaparecem, para se manter
o equilíbrio crustal. Assim, quando duas placas se movem
uma de encontro a outra, a mais densa é forçada a deslocar-
se para baixo da outra pelo processo da subducção. Assim,
formam-se fossas profundas nos fundos dos oceanos. Este
processo dá origem a tremores de terra e terramotos e a intensa
actividades vulcânica.
Fig. 2.11. Esquema duma zona de subducção
A crusta descendente, à medida que atinge profundidades cada vez maiores, é sujeita a temperaturas crescentes e acaba por
fundir, tornando o material menos denso, o qual tem tendência a subir na crusta. Por seu lado, a outra placa de crusta é
sujeita a forças de compressão que a obrigam a dobrar, dando origem a cadeias de montanhas. O Japão é um local onde
ocorre esta intensa actividade vulcânica devido à subducção da Placa Pacífica sob a Placa Eurasiana (Figs. 2.8 e 2.9). Os
Montes Himalaia são o resultado da subducção da Placa Indiana sob a Placa Eurasiana. Outras cadeias de montanhas foram
e estão a ser formadas por este processo, como os Andes, as Montanhas Rochosas, etc.
3. Falha Transforme: zonas onde as placas
deslizam entre si num movimento lateral (Fig. 2.12).

A Fig. 2.13. mostra um esquema da associação


que existe sempre entre dorsais médio-oceânicas com falhas
transformes, ilustrado na Fig. 2.14 na forma de mapa em
relevo. Fig. 2.12. Esquema duma falha transforme

Fig. 2.13. Associação dorsal médio- Fig. 2.14. Dorsal Médio-Atlântica


oceânica com falhas transformes com falhas transformes

A Fig. 2.15. mostra um corte da Terra entre a África e a América do Sul onde se podem ver todos estes aspectos
da tectónica de placas e da constituição da crusta e manto.
35
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 2.15. Representação diagramática da tectónica de placas (adaptado de Wyllie, 1995, pg. 24)

Todos estes movimentos de placas, seja de que tipo forem, envolvem imensas quantidades de energia que,
periodicamente, são libertadas, dando origem a sismos de intensidades variadas. Também como se viu, tanto nas zonas
de subducção como nas de dorsal médio-oceânicas, há surgimento à superfície de lavas provenientes do magma das
profundezas da Terra. Na Fig. 2.16 pode ver-se a localização dos epicentros dos sismos ocorridos no mundo de 1961 a
1967 e, comparando com a Fig. 2.8 e 2.9, pode ver-se que as zonas de epicentros sísmicos coincidem com os limites das
placas tectónicas. O mesmo tipo de distribuição ocorre com as erupções vulcânicas. Assim, há uma relação estreita entre
sismos e vulcões com os limites das placas tectónicas.

Fig. 2.16. Localização dos epicentros sísmicos de 1961 a 1967.

Se as placas se movem hoje, elas também se moveram desde sempre. Assim, surge a pergunta: Como era a
distribuição dos continentes ao longo da história da Terra?. Reconstituições do passado geológico sugerem uma evolução
como a que se apresenta na Fig. 2.17.

170 milhões de anos atrás 100 milhões de anos atrás 50 milhões de anos atrás A Terra hoje
Fig. 2.17. Evolução da distribuição dos continentes da Terra com o tempo geológico.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 3: CONCEITO DE MINERAL E CRISTAL

1. INTRODUÇÃO
Mineralogia é o estudo das substâncias cristalinas que ocorrem naturalmente – os minerais.
Todos temos algum contacto com os minerais, já que eles se encontram à nossa volta nas rochas, nas areias das
praias, rios, lagos, etc.
As gemas são exemplares excepcionalmente belos de minerais.
O conhecimento do que são os minerais, de como se formaram e onde ocorrem é a base para a compreensão
dos materiais largamente aplicados na nossa cultura tecnológica, já que praticamente todos os produtos inorgânicos
comercializados são minerais ou de origem mineral.

2. DEFINIÇÃO DE MINERAL
Se bem que seja difícil formular uma definição sucinta do termo mineral, geralmente a definição que se segue
é geralmente aceite:
Mineral é um sólido homogéneo de ocorrência natural, com propriedades físicas e uma composição química bem
definidas, ou variando dentro de certos limites, um arranjo atómico altamente ordenado e geralmente formado por processos
inorgânicos.
Uma análise desta definição facilita a sua compreensão:
a) O termo de ocorrência natural distingue substâncias formadas a partir de processos naturais daquelas formadas
em laboratório; os laboratórios industriais e de pesquisa produzem rotineiramente equivalentes de substâncias
de ocorrência natural, incluindo gemas como a esmeralda, o rubi e o diamante. Estas substâncias produzidas
em laboratório levam o nome das suas equivalentes naturais, simplesmente são apelidadas de sintéticas. Muitos
dos estudos sobre minerais fazem-se em minerais sintéticos, dada a sua pureza química.
Face a isto, poderia perguntar-se se a substância CaCO3, geralmente conhecida por calcite, que se deposita
nos tubos das canalizações da cidade é mineral ou não, uma vez que ele é precipitado a partir da água num
sistema produzido pelo Homem. A maioria dos mineralogistas considera-a como calcite, uma vez que a
intervenção humana na sua formação foi casual. Se não se depositasse nos tubos, depositar-se-ia noutro
local.
b) A definição diz ainda que o mineral é um sólido homogéneo. Quer dizer que consiste duma substância
sólida simples que não pode ser subdividida por processos físicos e mecânicos nos seus componentes
químicos. A determinação da homogeneidade depende da escala. Uma determinada substância pode parecer
homogénea a olho-nu, mas ao microscópio ela pode ser constituída por vários componentes.
A qualificação de sólido excluí, obviamente, líquidos e gases. Assim, o gelo (H 2O) dos glaciares é um
mineral, mas já não o é a água líquida (H2O também). Do mesmo modo, o mercúrio que ocorre na forma
de gotas líquidas em jazigos de mercúrio, deve ser excluído da noção de mineral, pela definição. Contudo,
na classificação de substâncias naturais, tais substâncias são consideradas como mineralóides e como tal
estudadas na mineralogia.
c) A afirmação de que um mineral tem uma composição química bem definida implica que ela pode ser
expressa por uma fórmula química simples. Por exemplo, a fórmula química do quartzo expressa-se por
SiO2, uma vez que o quartzo só contém os elementos silício e oxigénio. Assim o quartzo é considerado uma
substância pura.
Outros minerais contudo não têm uma fórmula tão simples. Por exemplo, a dolomite – CaMg(CO3)2 – nem
sempre é um carbonato puro de Ca-Mg. Ele contém muitas vezes Fe e Mn a substituir átomos de Mg.
Porque as quantidades de Fe-Mn podem variar, diz-se que a composição da dolomite varia dentro de certos
limites. Assim, a fórmula da dolomite poderia escrever-se como Ca(Mg,Fe,Mn)(CO3)2.
d) Um arranjo atómico altamente ordenado indica uma rede interna de átomos arranjados segundo um padrão
geométrico. Sendo isto um critério de cristalinidade, os minerais são substâncias cristalinas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Há sólidos, como o vidro, que não têm este arranjo ordenado, e por isso são chamados de amorfos. Há
certas substâncias naturais sem estrutura interna que, como atrás aconteceu com o mercúrio, são tratados
de mineralóides: limonite (hidróxido de ferro), microlite, gadolinite e allanite (os três são substâncias
radioactivas e a sua estrutura cristalina foi destruída pelos processos radioactivos).
e) De acordo com a definição natural, um mineral é formado por geralmente processos inorgânicos. Inclui-se
a palavra “geralmente” para se incluir no âmbito da mineralogia os compostos de origem orgânica e que
respondem a todos os requisitos dum mineral. É o que acontece com as conchas dos moluscos e as pérolas,
que são compostas duma substância em tudo idêntica ao mineral aragonite.
Várias outras substâncias podem ser precipitadas por organismos vivos: opala (SiO2 amorfo), magnetite
(Fe3O4), fluorite (CaF2). No caso do ser humano, os ossos e os dentes são constituídos fundamentalmente
por apatite - Ca5(PO4)3(OH). O corpo também produz concreções de matéria mineral – os cálculos renais e
urinários – constituídas essencialmente por fosfatos de cálcio.
O petróleo e o carvão, frequentemente referidos como combustíveis minerais, são excluídos. Se bem que
ocorram naturalmente, não têm nem composição química definida nem arranjo atómico ordenado
f) A afirmação de que as propriedades físicas são bem definidas ou variam dentro de certos limites, resulta
do facto de as referidas propriedades serem uma consequência da composição química e do arranjo atómico
interno.

3. CRISTAIS
Os minerais, com poucas excepções, têm um
arranjo interno ordenado característico dos sólidos
cristalinos.
Quando as condições de formação são
favoráveis, os minerais podem estar limitados por
a) Fluorite b) Pirite
superfícies planas lisas e assumir formas geométricas
regulares, a que se dá o nome de cristal (Fig. 3.1.)
Hoje em dia a maioria dos cientistas usa o
termos cristal para descrever qualquer sólido com um
arranjo interno ordenado, independentemente de possuir ou
não faces externas, uma vez que essas faces são um d) Turmalina
acidente do crescimento. c) Quartzo
Fig. 3.1. Algumas formas cristalinas
Assim, uma definição mais lata de cristal será um sólido homogéneo possuindo uma ordem interna tridimensional.
O estudo dos sólidos cristalinos e os princípios que controlam o seu crescimento, a sua forma externa e a sua
estrutura interna chama-se Cristalografia. Se bem que a Cristalografia tenha aparecido como um ramo da Mineralogia,
hoje é uma ciência separada e que se dedica a todas as substâncias cristalinas, minerais ou não.
O desenvolvimento e aparecimento de faces
pode ser tal que dê origem a cristais com faces de
desenvolvimento perfeito. Esse desenvolvimento pode não
ser tão bom e as faces serem imperfeitas, ou não
aparecerem sequer faces. Assim, os sólidos cristalinos
designam-se por euédricos, subédricos e anédricos,
respectivamente (do Grego hedron=face, eu- =bom, an-
=sem e do Latim sub- =algo). A Fig. 3.2 mostra um
esquema de cada uma destas substâncias cristalinas. b) Corindo c) Ouro
a) Berilo
Fig. 3.2. Substâncias cristalinas (a) euédrica, (b) subédrica e (c) anédrica

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Atrás referimos ainda substâncias


sem estrutura cristalina – amorfas (Fig. 3.3.c) –
que são consideradas mineralóides.
As substâncias cristalinas podem
ocorrer em agregados de grãos tão finos que a sua
natureza cristalina só pode ser observada ao
microscópio. Estamos em presença de substâncias b) Ágata c) Vidro vulcânico
microcristalinas (Fig. 3.3.a). Ou pode acontecer a) Actinolite
Fig. 3.3. (a) Substância microcristalina; (b) Substância criptocristalina;
que só ao (c) Substância amorfa
microscópio electrónico essa natureza seja perceptível. Estamos então em presença de substâncias criptocristalinas (Fig.
3.3.b).

4. OS SISTEMAS CRISTALINOS
Quando se observam cristais de várias substâncias, verifica-se que eles têm formas muito variadas. Uns são
cúbicos, como a pirite, outros octaédricos, como a fluorite (Fig. 3.1), outros prismáticos, como o berilo (Fig. 3.2.a), o
quartzo (Fig. 3.1) e a turmalina, outros romboédricos, como a calcite, outros piramidais, como o quartzo também (Fig.
3.1.), etc. Quando se fala em formas prismáticas e piramidais, há a considerar prismas e pirâmides de base triangular,
quadrangular, rectangular e hexagonal. Cada uma destas formas geométricas tem os seus elementos de simetria próprios:
planos, eixos e centro de simetria.
Vejamos por exemplo, um cubo (Fig. 3.4.a). Ele tem 3 eixos de grau 4, 4 eixos de grau 3, 6 eixos de grau 2, 9
planos de simetria e um centro de simetria. O mesmo se passa com um octaedro (Fig. 3.4.b). Já por exemplo,
um prisma e uma pirâmide de base quadrada só têm 1 eixo de grau 4, 4 eixos de grau 2, 5 planos de simetria e
1 centro (Fig. 3.4.c e Fig. 3.4.d). Outros exemplos poderiam ser dados.

a) b)
c) d)
Fig. 3.4. Elementos de Simetria de:
a) um cubo e b) um octaedro: 3E4, 4E3, 6E2, C, 9P
b) c) um prisma quadrangular e d) uma pirâmide quadrangular: 1E4, 4E2, C, 5P
Como se pode ver, o cubo e o octaedro, tendo os mesmos elementos de simetria, pertencem a um determinado
grupo de cristais, ao passo que o prisma e a pirâmide quadrangular pertencem a outro grupo de cristais. Estes grupo são
chamados Sistemas Cristalinos. E há 7 destes sistemas cristalinos (Fig. 3.5.): cúbico, hexagonal, tetragonal, trigonal,
ortorrômbico, monoclínico e triclínico.
Cada um destes sistemas é caracterizado por um conjunto de eixos imaginários à volta dos quais os cristais
crescem e se desenvolvem. Estes eixos são chamados eixos cristalográficos e o seu conjunto é a cruz axial. Assim, os
sistemas cristalinos são caracterizados pelas seguintes cruzes axiais:
a) Cúbico: três eixos iguais e normais entre si;
b) Hexagonal e Trigonal: três eixos iguais coplanares, fazendo um ângulo de 120º entre si e um quarto eixo
diferente, normal ao plano dos outros três eixos; A diferença entre os sistemas hexagonal e trigonal está no
grau de simetria
c) Tetragonal: três eixos normais entre si, sendo dois iguais entre si;
d) Ortorrômbico: três eixos diferentes e normais entre si;
e) Monoclínico: três eixos diferentes, sendo dois oblíquos e o terceiro normal ao plano definido pelos outros
dois;
f) Triclínico: três eixos diferentes e oblíquos entre si.

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Hexagonal
Cúbico e Trigonal Tetragonal Ortorrômbico Monoclínico Triclínico
Fig. 3.5. As cruzes axiais dos 7 Sistemas Cristalinos.

5. PROPRIEDADES FÍSICAS DOS MINERAIS


As propriedades físicas dos minerais são uma consequência directa da sua composição química e da sua
estrutura cristalina. Neste ponto vamos examinar as seguintes propriedades: hábito e agregados, clivagem e fractura,
dureza, tenacidade, densidade, cor, risca ou traço, brilho ou lustre, diafanidade, reflexão e refracção, fluorescência,
fosforescência e luminescência, eléctricas e magnéticas, radioactivas, isomorfismo, polimorfismo e pseudomorfismo.
5.1. Hábito e Agregados de Minerais
O hábito dum cristal ou a maneira como os cristais crescem juntos para originar agregados é de ajuda
considerável à identificação dos minerais. Como o hábito depende, entre outras coisas, do ambiente em que o mineral se
forma, este pode ter vários hábitos. Os termos usados para exprimir o hábito ou os agregados são os seguintes (Fig. 3.6).
a) Acicular: os cristais têm forma de agulhas; h) Globular ou botrióide: os cristais crescem em forma de
b) Capilar ou filiforme: os cristais têm aspecto de cabelo ou glóbulos semelhantes a esférulas ou hemisferas;
de fios; i) Drúsico: superfície coberta por uma camada de cristais
c) Tabular: cristais alongados e achatados; individuais;
d) Equigranular: os cristais não têm uma dimensão j) Geódico: cavidade rochosa coberta por cristais individuais;
preferencial; k) Concêntrico: camadas mais ou menos esféricas
e) Dendrítico: os cristais crescem duma forma arborescente; sobrepostas umas sobre as outras à volta dum centro
f) Prismático: os cristais têm uma direcção preferencial; comum;
g) Fibroso: os cristais aparecem em fibras; l) Piramidal: os cristais aparecem sob a forma de pirâmides.

d) Equigranular: Pirite
a) Acicular: Camerolaíte b) Capilar: Canavesite c) Tabular: Autunite

e) Dendrítico: Ouro f) Prismático: Milarite g) Fibroso: Gesso h) Botrióide: Turquesa

i) Drusa: Calcite j) Geode: Quartzo k) Concêntrico: Malaquite l) Piramidal: Xenotima


Fig. 3.6. Diversos hábitos de cristais e agregados
Vários outros hábitos poderiam ser referidos: concreção, maciço, bandado, estalagtítico, etc., etc.

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5.2. Clivagem e Fractura


Estas propriedades representam a resposta da estrutura cristalina a uma força externa. Quando essa força é
aplicada, o mineral é sujeito a um esforço. A resistência do material cristalino a esse esforço é função do tipo de ligações
moleculares e atómicas na rede cristalina.
Muitos minerais têm direcções planares dentro da estrutura que são mais fracas que outras; noutros minerais,
não existem essas direcções. Assim, consoante um mineral quebra segundo superfícies regulares ou irregulares, ele tem
clivagem ou fractura. A Fig. 3.7 mostra duas redes cristalinas, uma dum mineral com clivagem (a) outra dum mineral
sem clivagem, mas com fractura (b).

a) Mica b) Quartzo
Fig. 3.7. Ilustração das redes cristalinas de minerais (a) com clivagem e (b) com fractura
Como se pode ver da figura anterior, a rede cristalina da mica mostra zonas onde os átomos estão dispostos em planos,
sendo estes as zonas de fraqueza onde se formam as superfícies de clivagem. Por seu lado, a estrutura do quartzo mostra uma
distribuição tridimensional regular, sem zonas de fraqueza, daí a fractura.
Consoante as direcções da superfície de clivagem, ela pode ser classificada em (Fig. 3.8):
a) Cúbica – galena; c) Dodecaédrica – fluorite; e) Prismática – piroxena;
b) Octaédrica – fluorite; d) Romboédrica – calcite; f) Basal – mica.

f)
a) d)
b) c) e)
Fig. 3.8. Diversos tipos de clivagem: (a) Cúbica; (b) Ocatédrica; (c) Dodecaédrica; (d) Romboédrica; (e) Prismática; (f) Basal.
Por seu lado, a fractura pode ser um caracter distintivo de alguns minerais, e podem ser classificadas em (Fig.
3.9):
a) Concoidal (ou conchoidal) – superfícies curvas, lisas e brilhantes, semelhantes ao interior de conchas –
berilo e vidro;
b) Fibrosa – Olho de Tigre;
c) Irregular – superfícies irregulares e rugosas, às vezes com aspecto terroso - magnetite.

a) b) c)
Fig. 3.9. Diversos tipos de fractura: (a) Concoidal; (b) Fibrosa; (c) Irregular

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5.3. Dureza
A dureza é a resistência que um mineral oferece à abrasão, determinada pela sua resistência a ser riscado por um
objecto. Todos os minerais têm uma dureza determinada (ou variando dentro de limites estreitos) que depende da estrutura
cristalina do mineral. A determinação prática da dureza faz-se a partir da escala de Mohs. A escala de Mohs é um conjunto
de 10 minerais, de durezas variando de 1 a 10, e que são:
1. Talco – Mg9Si4O10(OH)2
2. Gesso – CaSO4.2H2O
3. Calcite – CaCO3
4. Fluorite – CaF2
5. Apatite – Ca5(PO4)3(OH,F,Cl)
6. Ortoclase – KAlSi3O8
7. Quartzo – SiO2
8. Topázio – Al2SiO4(OH,F)2
9. Corindo – Al2O3
10. Diamante - C

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A determinação da dureza dum mineral faz-se riscando um


mineral de dureza conhecida sobre esse mineral. Muitas vezes a escala de
Mohs não está disponível e o geólogo recorre a objectos vários de dureza
conhecida, como o canivete e o vidro (d = 5.5-6) ou a unha (d = 2-2.5).
As superfícies oxidadas dos minerais apresentam propriedades
físicas diferentes das do mineral fresco, por isso todos os ensaios se
devem fazer em superfícies recentes. Isto é válido para todas as
propriedades físicas.
Ao se dizer que o diamante tem dureza 10 e apatite tem dureza
5, poder-se-ia pensar que o diamante é duas vezes mais duro que a apatite,
o que não corresponde à verdade, pois a escala de Mohs não é linear,
como se pode ver na Fig. 3.10. A escala de Mohs dá uma dureza relativa,
isto é, se um mineral é mais duro ou mais mole que outro. A Fig. 3.10 dá
a dureza absoluta.

Fig. 3.10. Comparação entre dureza relativa (Escala de


Mohs) e dureza absoluta

5.4. Tenacidade
A tenacidade é a resistência que um mineral oferece à quebra, esmagamento, dobramento ou rompimento,
ou seja, a sua coesão interna. A tenacidade é descrita com os seguintes termos:
a) Quebradiço: mineral que se quebra e reduz facilmente a pó – calcite;
b) Maleável: mineral que pode ser reduzido a folhas – ouro;
c) Séctil: mineral que pode ser cortado com uma faca – galena;
d) Dúctil: mineral que pode ser modelado em arame – cobre;
e) Flexível: mineral que pode ser dobrado, mas que não retoma a sua forma original quando a pressão é
retirada – talco;
f) Elástico: mineral que pode ser dobrado, e que retoma a sua forma original quando a pressão é retirada –
mica;

5.5. Densidade
A densidade é um número que expressa a razão entre o peso duma substância e o peso de igual volume de
água a 4°C. Assim, um mineral de densidade 2 é duas vezes mais pesado que a água.
A densidade dum mineral depende de:
a) tipo de átomos componentes;
b) modo como os átomos estão empacotados
Por exemplo, os minerais quartzo e tridimite, ambos constituídos por SiO2, apesar de terem os mesmos átomos,
têm estruturas diferentes, estando mais empacotados no quartzo do que na tridimite. Assim, o quartzo tem densidade 2.65
e a tridimite tem densidade 2.26. Por outro lado, a celestite (SrSO 4) e a anglesite (PbSO4) têm a mesma estrutura, mas
como o chumbo (Pb) é mais pesado que o estrôncio (Sr), a anglesite tem densidade 6.32 e a celestite 3.97.

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5.6. Cor
Basicamente a cor dos minerais resulta da absorção selectiva de certos comprimentos de onda da luz branca
pelos átomos da sua estrutura. A luz transmitida ou reflectida representa a parte que não é absorvida pela estrutura.
A cor raramente é útil na identificação dos minerais, devido às impurezas que os mesmos possuem e ao estado
de cristalinidade e imperfeições estruturais que a estrutura cristalina apresenta. Por exemplo, a hematite (Fe 2O3), quando
pulverizada, tem cor vermelha de sangue, mas em massa ou cristais apresenta uma cor cinzenta, preta ou azulada. O
quartzo, quando pulverizado é branco, mas em massa ou cristal pode ser incolor, branco, amarelo, azul, rosa, negro, etc.,
em função do tipo de impurezas que contém.

5.7. Risca ou Traço


A risca ou traço é a cor que o mineral apresenta quando reduzido a pó. Se bem que a cor dum mineral possa
variar, a cor do seu pó é sempre o mesmo. A risca é determinada esfregando o mineral numa placa de porcelana não
vidrada, que tem dureza 7. Por isso este método não pode ser usado para minerais mais duros que 7.

5.8. Brilho ou Lustre


O brilho é a maneira como um mineral reflecte a luz. É uma propriedade “superficial” do mineral, por isso
deve ser determinada numa superfície fresca, não oxidada. O brilho é independente da cor, e pode ser caracterizada do
seguinte modo:
a) Vítreo: brilho idêntico ao do vidro – quartzo e turmalina;
b) Resinoso: brilho idêntico ao da resina – enxofre;
c) Nacarado/Perlado: brilho iridiscente idêntico ao do nácar (pérola) – talco;
d) Ceroso: brilho que lembra uma superfície coberta de óleo ou cera– quartzo maciço;
e) Sedoso: brilho idêntico ao da seda – malaquite;
f) Adamantino: brilho excepcionalmente intenso como o do diamante;
g) Terroso: brilho lembrando terra.

5.9. Diafanidade (Transparência)


É a capacidade de um mineral se deixar atravessar pela luz. Os minerais são classificados em transparentes,
translúcidos ou opacos, consoante deixam que se veja nitidamente através de si (quartzo), se veja algo (ágata,
às vezes) ou não se veja nada (pirite).

5.10. Reflexão e Refracção


Quando a luz incide sobre um mineral não opaco, parte dela é reflectida
e parte é absorvida, sofrendo um desvio de caminho, a que se chama refracção.
Num mineral opaco, a luz é praticamente toda reflectida. Muitos dos minerais
opacos, quando cortados a espessuras muito finas, tornam-se translúcidos ou
mesmo transparentes.

5.11. Fluorescência, Fosforescência e Luminescência a)

A fluorescência é a emissão de luz por um mineral quando irradiados


por luz ultravioleta (Fig. 3.11). Se depois de se parar a irradiação o mineral
continuar a emitir essa luz, diz-se que é fosforescente. A Luminescência é luz
própria emitida por certos minerais, que só se vê no escuro, pois é muito fraca.
As propriedades eléctricas podem ser classificadas em termoeléctricas,
piroeléctricas ou piezoeléctricas, consoante ganham cargas eléctricas por acção de
aquecimento por esfrega ou fogo (turmalina), ou quando se exerce pressão sobre b)
eles (quartzo). Fig. 3.11. Fluorescência da Andersonite (a)
Luz natural; (b) Luz ultravioleta

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5.12. Propriedades Eléctricas e Magnéticas


Alguns minerais, principalmente a magnetite (Fe3O4) e a pirrotite (FeS), são magnéticos, isto é, atraem objectos
de ferro. São minerais de magnetismo natural. Outros há que, sob a acção dum campo eléctrico, se tornam magnéticos,
magnetismo esse que desaparece quando o campo é anulado.

5.13. Propriedades Radioactivas


Radioactividade é a desagregação espontânea de certos átomos, levando a mudanças definitivas nesses
mesmos átomos, dando origem a átomos de outros elementos, que podem ser radioactivos, até se chegar a um elemento
não radioactivo, estável. Cada desagregação é acompanhada de emissão de partículas atómicas e de energia térmica.
A equação seguinte dá um exemplo de desagregação do urânio (U 238) em chumbo (Pb206):

A este processo de transformação de átomos dum elemento em átomos doutros elementos por emissão de
partículas atómicas/energia chama-se desintegração radioactiva.

5.14. Isomorfismo, Polimorfismo e Pseudomorfismo


Chama-se substâncias isomórficas (do Grego isos = igual + morphos = forma) aquelas que, tendo uma
composição química totalmente diferente, têm a mesma estrutura cristalina. É o que se passa com a uraninite (UO2) e
a fluorite (CaF2). Ambas têm uma rede cúbica, em que os átomos de U e Ca ocupam os mesmos lugares e ambos estão
ligados a 8 átomos de O.
As substâncias polimórficas (do Grego poli = muito + morphos =
forma) são aquelas que têm a mesma composição química, mas estruturas
cristalinas totalmente diferentes. É o caso do quartzo e coesite, ambos compostos
de SiO2, mas o primeiro é hexagonal e o segundo é monoclínico. O mesmo se passa
com a calcite e aragonite (ambos CaCO3), em que o primeiro é trigonal e o segundo
é ortorrômbico.
Por seu lado, as substâncias pseudomórficas (do Grego pseudos = falso
+ morphos = forma) são substâncias que apresentam formas cristalinas típicas
doutros minerais. Isto surge porque os átomos do mineral (cristal) original vão
sendo progressivamente substituídos por átomos doutro mineral, mantendo a
forma original. Um exemplo muito típico dos pegmatitos da Zambézia (e
aparentemente único no mundo) é a ocorrência de micas de lítio (lepidolite, rosa- Fig. 3.12. Pseudomorfose de Lepidolite
depois de Fldspato (Muiane, Alto Ligonha)
lilás) com a forma de cristais de feldspato (Fig. 3.12).

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6. CLASSIFICAÇÃO DOS MINERAIS


A composição química tem sido a base da classificação dos minerais desde o século XIX. De acordo com este
esquema, os minerais são divididos em classes dependendo do anião ou grupo aniónico dominante (óxidos, halogenetos,
sulfuretos, silicatos, etc.)
Há várias razões para que este critério seja uma base válida para a classificação dos minerais. Primeiro, os
minerais tendo o mesmo anião ou grupo aniónico dominante na sua composição química têm muito mais semelhanças
entre si do que os minerais que tenham o mesmo catião ou grupo catiónico. Assim, os carbonatos (grupo aniónico CO32-
) têm muito mais semelhanças entre si do que os minerais de cobre têm entre si. Segundo, os minerais com o mesmo
anião/grupo aniónico têm tendência a ocorrerem juntos ou no mesmo ambiente geológico. Terceiro, o esquema usado está
de acordo com a prática química corrente de classificação de compostos inorgânicos.
Contudo, a composição química não é suficiente para caracterizar um mineral. É importante considerar a sua
estrutura interna, porque são estas duas características que determinam as propriedades físicas dos minerais. No caso dos
silicatos (veremos mais à frente), estes foram subdivididos em função da sua estrutura interna.
As classes de minerais são:
a) Elementos nativos g) Nitratos
b) Sulfuretos h) Boratos
c) Sulfossais i) Fosfatos
d) Óxidos e Hidróxidos j) Sulfatos
e) Halogenetos k) Tungstatos
f) Carbonatos l) Silicatos
Evidentemente que a classificação não pára por aqui. As classes são subdivididas em famílias, estas em grupos,
estes em espécies (que podem formar séries) e as espécies podem ainda ser subdivididas em variedades. Não entraremos
em detalhes sobre este assunto, uma vez que não cabe no âmbito deste programa. Mas fica a informação!
Seguidamente iremos estudar estes grupos de minerais, com especial ênfase para aqueles que ocorrem com
maior frequência na crusta terrestre.

6.1. ELEMENTOS NATIVOS


À excepção dos gases livres da atmosfera, só cerca de 20 elementos são encontrados no estado nativo. Estes
elementos nativos podem ser divididos em: Metais, Semi-metais e Não-metais.
Os metais nativos mais comuns pertencem a três grupos: o grupo do Ouro (Au, Ag, Cu e Pb); o grupo da Platina
(Pt, Pd, Ir, Os); e o grupo do Ferro (Fe, Fe-Ni), todos os grupos cristalizando no sistema cúbico. Os semi-metais mais
comuns são o Ar, Sb, Bi, Se e Te. Os não-metais nativos são o S e C (este nas formas de grafite e diamante).

6.1.1. OURO

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Au; normalmente ocorrem outros metais misturados com
o ouro, como Ag, Cu e Fe, entre outros.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente maciço; aparece na forma granular (fig. 3.2.c), dendrítica
(Fig. 3.6.e) e raramente cristalizado (Fig. 3.13.a). Frequente na forma de pepitas
(Fig. 3.13.b);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é em tipo esquírola;
Tenacidade: metal maleável, dúctil e séctil; a) b)
Fig. 3.13. Cristal (a) e pepita (b) de Ouro
Dureza: baixa a muito baixa – 2.5-3;
Densidade: muito denso – 19.3;

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Cor: amarelo-ouro, quando puro; quando misturado com prata, torna-se mais claro;
Risca: amarelo-ouro metálico;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco.
d) Utilização: a maior utilização é na joalharia; metal que garante as reservas financeiras dum país. Muito utilizado na
numismática, para medalhas e moedas comemorativas. Nos tempos modernos, o ouro é cada vez mais utilizado em
instrumentos científicos e em aplicações dentárias.
e) Ocorrência: em Moçambique, o ouro ocorre nas Províncias de Manica, Tete e Niassa. A nível internacional, os
principais jazigos de ouro estão na África do Sul, Rússia, China, Canadá, EUA e Brasil.
f) Origem do nome: do Latim Aurum = ouro.

6.1.2. COBRE

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Cu; normalmente ocorrem outros metais misturados com
o cobre, como Ag, Bi, Hg e As, entre outros.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente maciço (fig. 3.14.a), dendrítica (Fig. 3.14.b) e raramente a
cristalizado;
Clivagem, Fractura, Tenacidade e Dureza: comporta-se como o ouro;
Densidade: muito denso – 8.94;
Cor: vermelha-rosa claro, escurecendo com o tempo até castanho;
Risca: vermelho-metálico;
Brilho: metálico em superfície fresca, embaciando com a oxidação;
Diafanidade: opaco. b

d) Utilização: é utilizado principalmente na indústria eléctrica, no fabrico de cabos


eléctricos e condutores. Também se utiliza no fabrico de ligas metálicas (bronze e
latão) e na indústria química.
e) Ocorrência: em Moçambique, o cobre nativo não ocorre. A nível internacional,
os principais jazigos de cobre estão nos EUA, na Zâmbia, Namíbia, RD Congo,
Índia e Rússia.
c
f) Origem do nome: do Latim Cuprum, nome dado a este metal encontrado na Ilha Fig. 3.14. Cobre (a) maciço, (b)
de Chipre. dendrítico; (c) cristalino

6.1.3. DIAMANTE

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: C puro.
c) Propriedades físicas:
Hábito: cristais isolados, normalmente octaédricos (Fig. 3.15) e dodecaédricos,
além doutras formas;
Clivagem e Fractura: clivagem octaédrica perfeita; fractura conchoidal; Fig. 3.15. Diamantes octaédricos
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito alta – é o último termo da Escala de Mohs - 10; é a substância mais dura que se conhece;
Densidade: pequena – 3.05;
Cor: incolor ou variada, desde amarelada, a rosa, azulada e acinzentada; há ainda a variedade negra;
Risca: branca;
Brilho: adamantino;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas em joalharia; as variedades negra e cinzenta são utilizadas como
diamantes industriais como abrasivos e instrumentos de corte.
e) Ocorrência: em Moçambique, o diamante é muitíssimo raro, tendo sido encontrados alguns nos aluviões do Rio dos
Elefantes (Gaza) e no Niassa. A nível internacional, os principais jazigos de diamantes estão na RSA, nos EUA, na
Namíbia, Botswana, Angola, Gana, Serra Leoa, RD Congo, China, Venezuela, Brasil.
f) Origem do nome: do Grego adams = invencível.
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6.1.4. GRAFITE
a) Sistema Cristalino: sistema hexagonal.
b) Composição química: Carbono puro – C.
c) Propriedades físicas:
Hábito: cristais tabulares, vulgarmente em massas foliadas, radiais (Fig. 3.16),
terrosas;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita; não tem fractura;
Tenacidade: as lâminas de grafite são flexíveis (não elásticas);
Dureza: muito baixa – 1-2; Fig. 3.16. Grafite
Densidade: pequena – 2.09-2.23;
Cor: negra a cinzenta escura;
Risca: negro brilhante;
Brilho: metálico a baço;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: untuoso ao tacto, condutor de calor e electricidade,
termoeléctrico; escreve no papel.
a)
A Fig. 3.17 mostra as redes cristalinas do diamante e da grafite, exemplo claro de
polimorfismo do Carbono.
d) Utilização: usada na indústria eléctrica, para fabrico de escovas colectoras e
eléctrodos, na indústria química (lubrificantes, tintas), lápis, moderador de
reacções atómicas.
e) Ocorrência: em Moçambique, a grafite ocorre em Montepuez, Monapo, Angónia e b)
Lúrio. Os principais jazigos de grafite estão no Canadá, Madagáscar, Áustria, Fig. 3.17. Redes cristalinos (a) do
Finlândia, Rússia e México. diamante e (b) da grafite
f) Origem do nome: do Grego graphein = escrever.

6.1.5. FERRO-NÍQUEL (Meteoritos férricos)

a) Sistema Cristalino: sistema cúbico.


b) Composição química: Fe, com percentagens variáveis de Ni. Na Fig.
3.18A, as lamelas mais claras têm pequenas percentagens de Ni (+5.5%), ao
passo que nas mais escuras há de 27-65% Ni.
c) Propriedades físicas:
Hábito: maciço; raramente em cristais;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita; a fractura é irregular, de
bordos cortantes; a)
Tenacidade: maleável;
Dureza: média – 4.5;
Densidade: relativamente alta – 7.3-7.9;
Cor: cinzenta de aço a negra;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: fortemente magnético.
d) Utilização: não tem utilização prática, a não ser para estudos científicos b)
sobre a Terra e o Universo. Fig. 18. (a) Meteorito de Edmonton (Kentucky,
g) Ocorrência: o ferro nativo é muito raro na Terra (Fig. 3.18B), pois é EUA); (b) Grânulos negros de ferro dispersos
em roch
extremamente oxidável em óxidos de ferro. Ocorre na Gronelândia e no
Oregon (EUA). Contudo, é muito comum em meteoritos que caíram em
vários pontos do planeta.

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6.1.6. ENXOFRE

a) Sistema Cristalino: sistema ortorrômbico (Fig. 3.19).


b) Composição química: Enxofre puro – S.
c) Propriedades físicas:
Hábito: maciço; raramente em cristais. Por vezes de aspecto terroso e estalagtítico;
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal a irregular;
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito baixa - 1.5-2.5;
Densidade: baixa – 2.05-2.09;
Cor: amarelo;
Brilho: resinoso;
Fig. 3.19. Agregado de cristais
Diafanidade: opaco; de enxofre
Outras propriedades: mau condutor de calor; quando um pedaço de enxofre é agarrado com a mão e colocado junto
ao ouvido, ouvem-se estalidos porque a zona superficial aquecida pela mão estala.
d) Utilização: utilizado para o fabrico de compostos de enxofre, como o ácido sulfúrico (H 2SO4). Usado também em
insecticidas, fertilizantes e vulcanização da borracha.
e) Ocorrência: em Moçambique não se conhecem ocorrências de enxofre. Os depósitos mais importantes situam-se na Sicília
(Itália) e outras regiões vulcânicas, como Chile, México, EUA, Hawaii, Japão e Argentina.
f) Origem do nome: do Latim sulphur.

6.2. SULFURETOS/SULFOSSAIS
Os sulfuretos e sulfossais constituem uma importante e numerosa classe de minerais que incluem a maioria dos
minerais de minério. A maioria dos sulfuretos é opaca com cores e riscas características. Os não opacos têm índices de
refracção extremamente altos e só não são opacos em secções muito finas.
A fórmula geral dos sulfuretos é XmYnZp, em que X e Y representam elementos metálicos e Z os não metálicos.
Neste capítulo trataremos só de alguns deles, e que são os mais frequentes.

6.2.1. GALENA

a) Sistema cristalográfico: cúbico.


b) Composição química: Sulfureto de Chumbo – PbS; normalmente tem prata
associada.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cúbico ou cúbico+octaédrico (equigranular) (Fig. 3.19), em massas compactas
granulares grosseiras ou finas;
Clivagem e Fractura: a clivagem é cúbica perfeita;
Tenacidade: quebradiça; a)
Dureza: muito baixa – 2.5;
Densidade: alta – 7.4-7.6;
Cor: cinzenta de chumbo;
Risca: cinzenta de chumbo;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco.
d) Utilidade: principal minério de chumbo e importante fonte de prata. O Chumbo é
fundamentalmente utilizado em baterias, na indústria química e ligas metálicas. b)
e) Ocorrência: em Moçambique, a galena ocorre em pequenas quantidades em Manica Fig. 3.20. (a) Galena maciça com
e Tete. Os grandes jazigos mundiais de galena encontram-se na Alemanha, República clivagem cúbica; (b) Cristal
Checa, Inglaterra, Austrália e Canadá. ocatédrico.

f) Origem do nome: do Latim galena, nome dado à escória.

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6.2.2. CALCOPIRITE

a) Sistema cristalográfico: tetragonal.


b) Composição química: Sulfureto de Cobre e Ferro – CuFeS2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente maciço, podendo ser tetraédrico (Fig. 3.21.A);
Clivagem e Fractura: a clivagem é muito imperfeita; a fractura vai de conchoidal a a)
irregular;
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: baixa – 3.5-4;
Densidade: média – 4.2-4.3;
Cor: amarelo-latão, passando a iridiscente com a oxidação (Fig. 3.21.B);
Risca: negra-esverdeada;
Brilho: metálico; b)
Diafanidade: opaco. Fig. 3.21. (a) Calcopirite tetraédrica;
(b) Calcopirite iridescente
g) Utilidade: principal minério de cobre.
e) Ocorrência: em Moçambique, a calcopirite ocorre em grandes quantidades em Manica. Os grandes jazigos mundiais de
calcopirite encontram-se na Inglaterra, Suécia, República Checa, Espanha, África do Sul, Zâmbia e Chile.
f) Origem do nome: do Grego chalcos = cobre + pyros = fogo (ver pirite adiante).

6.2.3. PIRITE

a) Sistema cristalográfico: cúbico.


b) Composição química: Sulfureto de Ferro – FeS2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: frequentemente em cristais cúbicos , octaédricos e doutras formas (Fig.
3.1.b, Fig. 3.6.d, Fig. 3.22.a); comum na forma maciça;
Clivagem e Fractura: sem clivagem; a fractura é conchoidal;
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: média – 6-6.5;
Fig. 3.22 Cubos de pirite

Densidade: média – 5.02;


Cor: amarelo-latão pálido;
Risca: negra-esverdeada;
Brilho: metálico;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: cristais de faces estriadas.

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d) Utilidade: a pirite é muitas vezes minerada para a extracção de ouro e cobre com ela associados; é uma fonte de
enxofre para o fabrico de ácido sulfúrico; em situações muito particulares, a pirite pode ser considerada como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique, a pirite não ocorre como jazigo, mas está presente em grande número de rochas nas
regiões centro e norte do país. É o Sulfureto mais frequente na crusta terrestre Os grandes jazigos mundiais de pirite
encontram-se em Portugal, Espanha.
Origem do nome: do Grego pyros = fogo, por causa das faíscas que lança quando percutido por ferro.

6.2.4. OUTROS SULFURETOS IMPORTANTES (Fig.3.23)

Esfalerite (ZnS), Pirrotite (Fe1-xS), Covelite (CuS), Cinábrio (HgS), Realgar (AsS), Marcassite (FeS2 - polimorfo
da pirite), Molibdenite (MoS2), Cobaltite (Co,Fe)AsS e Arsenopirite (FeAsS).

Cinábrio Marcassite
Pirrotite Molibdenite Arsenopirite
Covelite
Fig. 3.23. Exemplos doutors tipos de sulfuretos.

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6.3. ÓXIDOS E HIDRÓXIDOS


Os Óxidos são um grupo de minerais que tendem a ser duros, densos e refractários, e ocorrem como minerais
primários acessórios de vários tipos de rochas ou como grãos resistentes em sedimentos. Os óxidos têm como anião o
Oxigénio. Este encontra-se unido a um ou vários catiões, dando origem aos óxidos simples e óxidos múltiplos.
Por seu lado, os Hidróxidos são menos duros e densos, e ocorrem como minerais secundários resultantes da
alteração ou meteorização das rochas. Caracterizam-se pela presença do grupo hidroxilo (OH) - ou de moléculas de água
(H2O).
Na Natureza existem inúmeros óxidos e hidróxidos, mas só referiremos os mais importantes. De referir que o
gelo, forma sólida de água (H2O) é um óxido. O quartzo é constituído pelo óxido mais abundante na Natureza – SiO2 –
mas ele será tratado na classe dos silicatos, por ter uma estrutura mais próxima destes.

6.3.1. GELO
h) Sistema cristalográfico: hexagonal.
i) Composição química: Óxido de hidrogénio – H2O.
j) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente aparece em formas maciças nas calotes polares e icebergs, mantos
de neve. A condensação do vapor de água em gelo dá bonitos cristais estrelados como
os da Fig. 3.24. Aparece também em agregados estalactíticos e granulares;
Clivagem e Fractura: fractura conchoidal;
a)
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito baixa – 1.5;
Densidade: muitíssimo baixa – 0.92;
Cor: incolor, ou branca quanto contém inclusões gasosas;
Risca: branca;
Brilho: aquoso;
Diafanidade: transparente a translúcido.
k) Utilidade: utilidade da água; os gelos dos polos dão indicações preciosas sobre a história b)
climática da Terra. Fig. 3.24. Cristais de neve
l) Ocorrência: em Moçambique não há depósitos permanentes de gelo. As grandes massas de gelo ocorrem nos pólos e nos
glaciares.

6.3.2. MAGNETITE
d) Sistema cristalográfico: Cúbico.
e) Composição química: Óxido de Ferro férrico – Fe3O4.
f) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente maciço, podendo ocorrer em hábito octaédrico (Fig. 3.25);
Clivagem e Fractura: a clivagem é imperfeita octaédrica; fractura irregular;
a)
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: média – 6;
Densidade: média – 5.18;
Cor: negra de ferro;
Risca: negra;
Brilho: metálico; b)
Fig. 3.25. (a) Cristal de magnetite;
Diafanidade: opaco; b) Magnetite da Lupata.
Outras propriedades: fortemente magnética.
d) Utilidade: principal minério de ferro.
e) Ocorrência: em Moçambique, a magnetite ocorre em grandes quantidades na Lupata e em Tete. Os grandes jazigos
mundiais de magnetite encontram-se na Suécia, Noruega, Roménia e Ucrânia.
f) Origem do nome: possivelmente da localidade de Magnesia, na Macedónia.

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6.1.3. HEMATITE
f) Sistema cristalográfico: trigonal.
g) Composição química: Óxido de Ferro ferroso – Fe2O3.
h) Propriedades Físicas:
Hábito: raramente em cristais achatados; normalmente aparece em agregados botrióides
(Fig. 3.26); Fig. 3.26. Hematite botrióide
Clivagem e Fractura: clivagem prismática fraca; a fractura é irregular, por vezes fibrosa;
Tenacidade: variada;
Dureza: média – 5.5-6.5;
Densidade: média – 5.26;
Cor: castanho avermelhado a negro;
Risca: vermelho de sangue claro a escuro;
Brilho: metálico em cristais e baço em agregados maciços;
Diafanidade: opaco quando maciça; translúcido em grão de pequenas dimensões ou em cristais pequenos.
i) Utilidade: importante minério de ferro; também usada para pigmentos.
j) Ocorrência: em Moçambique, a hematite não ocorre como jazigo, mas está presente em grande número de rochas nas
regiões centro e norte do país. Os grandes jazigos mundiais de hematite encontram-se na Alemanha, Suíça, Áustria,
Itália, Canadá, Austrália, Libéria e Brasil.
k) Origem do nome: do Grego haematos = sangue, por causa da cor de sangue da sua risca.

6.1.4. CASSITERITE
a) Sistema cristalográfico: tetragonal.
b) Composição química: Óxido de Estanho – SnO2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: tem hábito prismático associado a piramidal; são frequentes cristais geminados
em forma de joelho a que se dá o nome de Joelho de Estanho (Fig. 3.27); normalmente
é maciça;
Clivagem e Fractura: clivagem imperfeita;
Fig. 3.27. Cassiterite – Joelho de
Dureza: média – 6-7; Estanho
Densidade: média – 6.8-7.1;
Cor: castanha a negra, porvezes amarela a branca;
Risca: branca;
Brilho: adamantino;
Diafanidade: translúcido, raramente transparente.
d) Utilidade: importante minério de estanho.
e) Ocorrência: em Moçambique, a cassiterite ocorre principalmente no Inchope (Sofala). Os grandes jazigos mundiais de
cassiterite encontram-se na Malásia, Indonésia e Tailândia.
f) Origem do nome: do Grego kassiteros = estanho.

6.1.5. RÚTILO
a) Sistema cristalográfico: tetragonal.
b) Composição química: Óxido de Titânio – TiO2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: hábito acicular; ocorre muitas vezes dentro de cristais de quartzo (Fig. 3.28);
muitas vezes maciça;
Clivagem e Fractura: clivagem prismática perfeita; fractura irregular a conchoidal;
Dureza: média – 6-6.5; Fig. 3.28. Rútilo
Densidade: baixa média – 4.18-4.25;
Cor: vermelha, castanha avermelhada ou negra;
Risca: castanha clara;
Brilho: adamantino a sub-metálico;
Diafanidade: translúcido, raramente transparente.
d) Utilidade: importante minério de titânio.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

e) Ocorrência: em Moçambique, o rútilo ocorre em areais pesadas, como as do Chibuto, Moma, Pebane e outras localidades
ao longo da costa. Os grandes jazigos mundiais de cassiterite encontram-se na Austrália.
f) Origem do nome: do Latim rutilus = vermelho, por causa da sua cor.

6.1.6. ILMENITE
a) Sistema cristalográfico: trigonal.
b) Composição química: Óxido de Ferro e Titânio – FeTiO3; óxido múltiplo
c) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente maciço, por vezes em cristais tabulares (Fig. 3.29); muitas vezes
aparece com areia;
Clivagem e Fractura: sem clivagem; fractura conchoidal;
Dureza: média – 5.5-6;
Fig. 3.29. Ilmenite
Densidade: baixa média – 4.7;
Cor: negra de ferro;
Risca: castanha avermelhada a negra;
Brilho: metálico a sub-metálico;
Diafanidade: opaco.
d) Utilidade: o mais importante minério de titânio.
e) Ocorrência: em Moçambique, a ilmenite ocorre em areias pesadas, como as do Chibuto, Moma, Pebane e outras
localidades ao longo da costa. Os grandes jazigos mundiais de ilmenite encontram-se na Noruega, Rússia, Austrália, África
do Sul e Brasil.
f) Origem do nome: das Montanhas Ilmen, na Rússia.

6.1.7. COLUMBO-TANTALITE
a) Sistema cristalográfico: ortorrômbico.
b) Composição química: Solução sólida entre Óxido de Nióbio e Óxido
de Tântalo – (Fe,Mn)Nb2O6-(Fe,Mn)Ta2O6; óxido múltiplo
c) Propriedades Físicas:
Hábito: frequentemente em cristais de hábito prismático (Fig. 3.30);
Clivagem e Fractura: clivagem prismática fácil; fractura conchoidal
irregular;
Dureza: média – 6; a) b)
Fig. 3.30. Columbite (a) e Tantalite (b)
Densidade: média – 5.2-7.9, dependendo das percentagens de Ta e Nb presentes;
Cor: negra de ferro;
Risca: castanha avermelhada a negra;
Brilho: metálico a sub-metálico;
Diafanidade: opaco quando maciço; semi-translúcido em grãos e cristais pequenos.
d) Utilidade: importante minério de tântalo e nióbio, para o fabrico de ligas metálicas anti-corrosivas e resistentes a
altas temperaturas (indústria espacial e aeronáutica, turbinas, etc.).
e) Ocorrência: em Moçambique, a columbo-tantalite ocorre em grandes quantidades nos pegmatitos da Zambézia e
Nampula. Outros jazigos mundiais de importância mundial encontram-se no Canadá, Nigéria, RD Congo, Madagáscar e
Austrália.
f) Origem do nome: o nome columbite vem de Colúmbia (América) onde foi encontrado pela primeira vez; tantalite vem
do deus Tantalus, pela dificuldade em ser atacado pelos ácidos.

6.1.8. OUTROS ÓXIDOS IMPORTANTES

Cuprite (Cu2O), Zincite (ZnO), Corindo (Al2O3), Espinela (MgAl2O4), Cromite (FeCr2O4), Pirolusite (MnO2), Uraninite
(UO2)

xxxvi
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Zincite Espinela Uraninite


Cuprite Cromite Pirolusite
Fig. 3.31. Exemplos doutors tipos de óxidos.

6.1.9. LIMONITE
a) Sistema cristalográfico: substância amorfa.
b) Composição química: hidróxido de ferro hidratado – FeO.OH.nH2O; A limonite não é propriamente um mineral,
mas uma mistura complexa de óxidos e hidróxidos de ferro, entre eles a goethite ( -FeOOH) e a lepidocrocite ( -
FeOOH), ambos ortorrômbicos.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: agregados terrosos, em estalactites, oolíticos (Fig. 3.32);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; fractura irregular;
Dureza: média – 5-5.5;
Densidade: baixa – 3.6-3.7;
Cor: amarelo, castanho a negro;
Risca: castanha, castanha-amareladas;
Brilho: variável, consoante o tipo de agregado;
Diafanidade: opaco.
Fig. 3.32. Limonite
d) Utilidade: minério de ferro;
e) Ocorrência: em Moçambique, a limonite é um mineral comum como resultado de alteração de rochas ricas em ferro, não
se conhecendo, contudo, jazigos importantes.
f) Origem do nome: do Latim limus = lama, lodo.

6.1.10. BAUXITE
a) Sistema cristalográfico: substância amorfa.
b) Composição química: hidróxido de ferro e alumínio; a bauxite é uma mistura
complexa de hidróxidos de ferro (goethite - -FeOOH) e alumínio (diáspora
- -AlOOH, gibbsite - Al(OH)3).
c) Propriedades Físicas:
Hábito: agregados maciços e terrosos, ou em concreções (Fig. 3.33);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; fractura irregular;
Fig. 3.33. Bauxite
Dureza: muito baixa – 1-3;
Densidade: baixa – 2-2.55;
Cor: branca, cinzenta, amarela ou vermelha;
Diafanidade: translúcido.
d) Utilidade: principal minério de alumínio.
e) Ocorrência: Em Moçambique, a bauxite é um mineral comum como resultado de alteração de rochas ricas em alumínio.
Ocorre na Zambézia, junto da fronteira com o Malawi, e em Manica, junto à fronteira com o Zimbabwe. Os principais
produtores de bauxite são o Suriname, Jamaica, Guiana. Na Guiné e Austrália também ocorrem importantes jazigos.
f) Origem do nome: da localidade francesa de Baux.

6.1.11. OUTROS HIDRÓXIDOS IMPORTANTES


Brucite (Mg(OH)2) e Manganite (MnO(OH)). (Fig. 3.34)

Brucite Manganite
Fig. 3.34. Outros tipos de hidróxidos.

xxxvii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.4. HALOGENETOS
Os Halogenetos caracterizam-se pela dominância dos aniões halogéneos Cl -, Br-, F- e I-, praticamente todos
eles do sistema cúbico. Apesar de vários, iremos abordar só dois: a Halite e a Fluorite.

6.4.1. HALITE, SAL-GEMA ou SAL DE ROCHA


a) Sistema cristalográfico: cúbico.
b) Composição química: Cloreto de Sódio – NaCl.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cúbico (Fig. 3.35), sendo muito raras outras formas;
Clivagem e Fractura: clivagem cúbica perfeita;
Tenacidade: quebradiço;
Dureza: muito baixa – 2.5;
Densidade: baixa – 2.16; Fig. 3.35. Halite
Cor: incolor; branca, azulada, rósea e amarelada consoante as impurezas que contém;
Risca: branca;
Brilho: sedoso;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras Propriedades: sabor salgado.
d) Utilidade: na cozinha; na indústria química como fonte de sódio e cloro; utilizado para espalhar sobre estradas cobertas
de neve.
e) Ocorrência: Em Moçambique não há depósitos de halite. Os grandes depósitos de halite ocorrem na China, ex-URSS,
Reino Unido, Alemanha e Canadá.
f) Origem do nome: do Grego halos = sal.

6.4.2. FLUORITE
a) Sistema cristalográfico: cúbico.
b) Composição química: Fluoreto de Cálcio – CaF2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cúbico (Fig. 3.36), octaédrico (Fig. 3.1.a); aparece também em formas
maciças e granulares;
Clivagem e Fractura: clivagem octaédrica perfeita;
Tenacidade: quebradiço; Fig. 3.36. Fluorite
Dureza: média – termo 4 da escala de Mohs;
Densidade: baixa – 3.18;
Cor: incolor; branca, azulada, rósea, verde, amarelada, lilás e castanha; por vezes aparece com zonamento de cores;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras Propriedades: é fluorescente quando irradiada com luz ultra-violeta.
d) Utilidade: a maioria da fluorite é usada na indústria química, no fabrico de ácido hidroflórico; também se usa no fabrico
do vidro, fibra-de-vidro, cerâmica.
e) Ocorrência: em Moçambique há depósitos de fluorite em Canxixe e Marínguè. Os grandes depósitos de fluorite ocorrem
no Reino Unido, Mongólia, África do Sul, China, Espanha e Tailândia.
f) Origem do nome: do Latim fluere = fluir, por fundir facilmente.

6.4.3. OUTROS HALOGENETOS IMPORTANTES


(Fig. 3.37)
Silvite (KCl), Atacamite (Cu2Cl(OH)3).

Atacamite
Silvite
Fig. 3.37. Outros tipos de halogenetos

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6.5. CARBONATOS
Os carbonatos são um grupo de minerais em que o grupo aniónico é ocupado pelo complexo CO 3. Típico dos
carbonatos é a reacção que fazem com os ácidos, provocando uma espécie de efervescência, segundo a equação:

2H  CO 32  H 2 O  CO 2

6.5.1. CALCITE
m) Sistema cristalográfico: trigonal.
n) Composição química: Carbonato de Cálcio - CaCO3.
o) Propriedades Físicas:
Hábito: muito variado e por vezes complexo; há três hábitos mais comuns:
prismático, romboédrico e escalenoédrico (Fig. 3.38.a,b,c);
a) b)
Clivagem e Fractura: clivagem perfeita;
Tenacidade: quebradiça;
Dureza: baixa - termo 3 da escala de Mohs;
Densidade: 2.5;
Cor: variada; normalmente branca, mas pode ser incolor, cinzenta, vermelha,
amarela, verde, azul, castanha, negra (Fig. 3.38);
Risca: branca;
Brilho: vítreo a terroso; c)
Diafanidade: transparente a translúcido. A variedade incolor chama-se Espato da
Islândia, e tem a propriedade da dupla refracção (Fig. 3.38.e);
Outras Propriedades: faz efervescência a frio com HCl; é luminescente.
p) Utilidade: o principal uso é no fabrico de cimento; também se usa no fabrico de
pastas de dentes. d) e)
Fig. 3.38. Cristais de calcite
q) Ocorrência: é um dos minerais mais comuns e espalhados na natureza, como
constituinte principal duma série de rochas.
r) Origem do nome: do Latim Calx = cal.

Outros carbonatos do tipo da Calcite são: Magnesite (MgCO3), Siderite (FeCO3), Rodocrosite (MnCO3) e Smithsonite
(ZnCO3). (Fig. 3.39).

Rodocrosite Smithsonite
Magnesite Siderite
Fig. 3.39. Carbonatos do grupo da calcite

6.5.2. ARAGONITE
a) Sistema cristalográfico: ortorrômbico.
b) Composição química: Carbonato de Cálcio - CaCO3; é um polimorfo da
calcite.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: acicular, tabular, e em cristais geminados em forma de prisma hexagonal
(Fig. 3.40); também ocorre em agregados colunares e estalagtíticos;
Clivagem e Fractura: clivagem prismática distinta; fractura conchoidal;
Fig. 3.40. Aragonite
Dureza: baixa 3.5-4;

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Densidade: baixa - 2.94;


Cor: incolor, branca, amarela, rosa, etc.;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: é luminescente; faz efervescência com os ácidos.
d) Utilidade: como pedra decorativa.
e) Ocorrência: Alemanha, Áustria, Espanha, Namíbia, EUA. É o principal
constituinte das pérolas e da camada brilhante das conchas dos moluscos. Em
Moçambique não há jazigos de aragonite.
f) Origem do nome: da província espanhola de Aragão, onde foi descoberta.

Outros carbonatos do tipo da Aragonite são: Estroncianite (BaCO3) e Cerussite


(PbCO3) (Fig. 3.41). Fig. 3.41. Cerussite

6.5.3. DOLOMITE
a) Sistema cristalográfico: trigonal
b) Composição química: Carbonato de Cálcio e Magnésio - CaMg(CO3)2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: normalmente romboédrico (Fig. 3.42.A), de faces muitas vezes curvas em
forma de sela de cavalo (Fig. 42.B); a)
Clivagem e Fractura: clivagem romboédrica perfeita; fractura conchoidal;
Dureza: baixa 3.5-4;
Densidade: baixa - 2.85;
Cor: normalmente rosa claro; incolor, branca, cinzenta, verde, castanha ou
negra;
Risca: branca;
Brilho: vítreo, por vezes nacarado;
Diafanidade: transparente a translúcido; b)
Fig. 3.42. Dolomite (a) romboédrica e (b)
Outras propriedades: faz efervescência com os ácidos a quente; é luminescente; em sela
d) Utilidade: como pedra decorativa ou material de construção.
e) Ocorrência: região do Tirol (entre a Itália e Suíça), Reino Unido e México. Em
Moçambique não há jazigos de dolomite.
g) Origem do nome: em honra do químico francês Dolomieu (1750-1801).

Outro carbonato do tipo da Dolomite é: Ankerite (CaFe(CO3)2) (Fig. 3.43).

Fig. 3.43. Ankerite

6.5.4. MALAQUITE e AZURITE


a) Sistema cristalográfico: monoclínico.
b) Composição química: Carbonatos Hidratados de Cobre - Malaquite:
Cu2CO3(OH)2; Azurite: Cu3(CO3)2(OH)2.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: a Malaquite aparece normalmente em massas botrióides (Fig. 3.6.k),
maciças ou granulares; a Azutrite aparece em cristais mal formados (Fig. 3.44);
Clivagem e Fractura: clivagem prismática perfeita; fractura conchoidal
(ambos); Fig. 3.44. Azurite
Dureza: baixa 3.5-4 (ambos);
Densidade: média; malaquite: 3.9-4.03; azurite: 3.77;
Cor: malaquite: em tons de verde; azurite: em tons de azul escuro;
Risca: malaquite: em tons de verde; azurite: em tons de azul escuro;

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Brilho: malaquite: adamantino a vítreo; azurite: vítreo;


Diafanidade: translúcido a opaco; por vezes são transparentes.
d) Utilidade: como pedra ornamental; ambos por vezes são utilizados para a extracção do cobre.
e) Ocorrência: Montes Urais (Rússia), Zâmbia, RD Congo, Namíbia. Em Moçambique ocorrem em pequenas quantidades
no jazigo de cobre de Mundongwara (Manica).
f) Origem do nome: o nome Malaquite vem o Grego malache = malva (planta); o nome Azurite vem da sua cor azul.

6.6. NITRATOS e BORATOS


São minerais pouco comuns, pelo que não nos vamos debruçar muito sobre
eles. Os Nitratos são minerais que têm o grupo aniónico NO 3, e os Boratos o
grupo BO3. Dos primeiros faz-se só referência ao Nitro (KNO3 - Fig. 3.45.a) e
dos segundos ao Bórax (Na2B4O5(OH)4.8H2O - Fig. 3.45.b).

a)
6.7. SULFATOS e CROMATOS
São minerais em que o grupo aniónico está ocupado por SO4 e CrO4. Ambos
os grupos de minerais podem conter ou não água ou o grupo OH na sua estrutura, e
assim são classificados de hidratados ou anídricos. Os sulfatos são minerais mais
frequentes na Natureza que os cromatos. Vejamos os mais importantes.
b)
Fig. 3.45. (a) Nitro; (b) Bórax.

6.7.1. GESSO
a) Sistema cristalográfico: monoclínico.
b) Composição química: Sulfato Hidratado de Cálcio - CaSO4.2H2O.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais tabulares (Fig. 3.46), às vezes geminados em forma de cauda de andorinha; por vezes
fibroso (Fig. 3.6.g);
Clivagem e Fractura: clivagem prismática perfeita, dando lâminas muito finas; fractura conchoidal ou
fibrosa;
Dureza: baixa - termo 2 da Escala de Mohs;
Densidade: baixa - 2.32;
Cor: incolor, podendo ser branca, cinzenta, amarela ou vermelha, consoante as impurezas;
Risca: branca;
Brilho: usualmente vítreo, podendo ser nacarado ou sedoso; Fig. 3.46. Gesso
Diafanidade: translúcido a transparente.
d) Utilidade: utilizado em fabrico do gesso de moldagem, ortopedia.
e) Ocorrência: EUA, Canadá, França, Japão e Irão. Em Moçambique ocorrem em pequenas quantidades em várias zonas
sedimentares do País.
f) Origem dos nome: do Grego Gypsos = gesso.

6.7.2. ANIDRITE
a) Sistema cristalográfico: ortorrômbico.
b) Composição química: Sulfato de Cálcio Anidro - CaSO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais raros; normalmente maciça, podendo ser fibrosa ou granular (Fig.
3.47);
Clivagem e Fractura: clivagem prismática perfeita; Fig. 3.47. Anidrite
Dureza: baixa - 3-3.5;
Densidade: baixa - 2.89-2.98;
Cor: incolor, podendo ser azulado ou violeta;
Risca: branca;
Brilho: usualmente vítreo, podendo ser nacarado;
Diafanidade: translúcido.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

d) Utilidade: utilizado condicionador de solos.


e) Ocorrência: Polónia, Áustria, Suiça. Em Moçambique ocorrem em pequenas quantidades em várias zonas sedimentares
do País.
f) Origem dos nome: do Grego Anhudros = sem água.

6.7.3. BARITE
a) Sistema cristalográfico: ortorrômbico.
b) Composição química: Sulfato de Bário Anidro - BaSO4.
c) Propriedades Físicas:
Fig. 3.48. Barite
Hábito: cristais tabulares; (Fig. 3.48);
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita e prismática imperfeita; fractura
conchoidal;
Dureza: baixa - 3-3.5;
Densidade: média - 4.5;
Cor: incolor, podendo ser azulado, amarelado ou avermelhado;
a
Risca: branca;
Brilho: usualmente vítreo, podendo ser nacarado;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilidade: a maior parte da barite é usada como lama lubrificante nas perfurações
para hidrocarbonetos; principal fonte de bário.
e) Ocorrência: Inglaterra, Roménia e Alemanha. b
f) Origem dos nome: do Grego barys = pesado, em alusão à sua alta densidade.

6.7.4. OUTROS SULFATOS IMPORTANTES E CROMATO


Referimo-nos à Celestite (SrSO4), Anglesite (PbSO4) a Crocoíte (PbCrO4) (Fig. c
3.49). Fig. 3.49. (a) Anglesite, (b) Celestite; (c)
Crocoíte

6.8. TUNGSTATOS (ou Volframatos) e MOLIBDATOS


São minerais em que o grupo aniónico está ocupado por WO4 e MoO4.

6.8.1. WOLFRAMITE
a) Sistema cristalográfico: monoclínico.
b) Composição química: Volframato de Ferro e Manganês - (Fe,Mn)WO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais em geral tabulares (Fig. 3.50);
Clivagem e Fractura: clivagem perfeita; fractura irregular;
Dureza: baixa - 4-4.5;
Densidade: alta - 7-7.5;
Cor: negra a castanha;
Risca: negra a castanha-escura; Fig. 4.50. Volframite

Brilho: sub-metálico a resinoso;


Diafanidade: translúcido a opaco.
d) Utilidade: principal minério de tungsténio (volfrâmio).
e) Ocorrência: China, Rússia, Coreia, Tailândia e Austrália. Em Moçambique ocorre nos pegmatitos da Zambézia.
f) Origem do nome: do Alemão Wolf = lobo + rahm = espuma. Pela formação de espuma durante a fusão de minério de
estanho com volfrâmio; wolf era o nome do estanho entre os alquimistas.

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6.8.2. SCHEELITE
a) Sistema cristalográfico: tetragonal.
b) Composição química: Volframato de Cálcio - CaWO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais bipiramidais ou em massas granulares (Fig. 3.51);
Clivagem e Fractura: clivagem distinta;
Dureza: baixa - 4.5-5;
Densidade: alta - 5.9-6.1;
Cor: branca, amarela, verde, castanha;
Brilho: vítreo a adamantino; Fig. 3.51. Scheelite
Diafanidade: translúcido a transparente;
Outras propriedades: fluorescente em luz ultravioleta.
d) Utilidade: minério de tungsténio (volfrâmio).
e) Ocorrência: R. Checa, Alemanha, Reino Unido e Austrália. Em Moçambique
ocorre nos pegmatitos da Zambézia.
f) Origem do nome: do seu descobridor (alemão) K.W. Scheele.

Como exemplo de Molibdato, temos a Wulfenite (PbMoO4) (Fig. 3.52). Fig. 3.52. Wulfenite

6.9. FOSFATOS, ARSENATOS e VANADATOS


São minerais em que o grupo aniónico está ocupado por PO4, AsO4 e VO4. São numerosos os minerais destes
grupos, mas a sua ocorrência é limitada. Referiremos só a Apatite e a Monazite.

6.9.1. APATITE
a) Sistema cristalográfico: hexagonal.
b) Composição química: Fosfato Hidratado de Cálcio - Ca5(PO4)3(F,Cl,OH).
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais prismáticos (Fig. 3.53);
Clivagem e Fractura: clivagem pobre; fractura conchoidal;
Dureza: baixa - termo 5 da escala de Mohs;
Densidade: baixa - 3.15-3.2;
Cor: geralmente verde ou acastanhada, podendo ter outras cores;
Risca: branca;
Brilho: vítreo a sub-resinoso;
Diafanidade: translúcido a transparente.
d) Utilidade: usado para fertilizante; variedades transparentes usadas em joalharia. Fig. 3.53. Apatite
e) Ocorrência: Noruega, Suécia, EUA, Canadá e África do Sul. Em Moçambique ocorre no jazigo
de Evate, Nampula.
f) Origem do nome: do Grego apate = desilusão. Pela confusão com várias pedras preciosas.

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6.9.2. MONAZITE
a) Sistema cristalográfico: monoclínico.
b) Composição química: Fosfato de Terras Raras - (Ce,La,Y,Th)PO4.
c) Propriedades Físicas:
Hábito: cristais raros; normalmente em massas irregulares (Fig. 3.54);
Clivagem e Fractura: clivagem pobre; fractura conchoidal;
Dureza: média - 5-5.5; Fig. 3.54. Monazite
Densidade: média - 4.6-5.4;
Cor: geralmente verde ou acastanhada, podendo ter outras cores;
Risca: castanha amarelada a avermelhada;
Brilho: resinoso;
Diafanidade: translúcido;
Outras propriedades: radioactivo.
d) Utilidade: principal fonte de tório, para a energia nuclear
e) Ocorrência: Brasil, Índia e Austrália. Em Moçambique ocorre nos pegmatitos da Zambézia.
f) Origem do nome: do Grego monachos = isolado. Pela sua raridade.

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6.9. SILICATOS
A classe dos silicatos é de maior importância que qualquer das
outras classes de minerais, uma vez que 25% dos minerais conhecidos e 40%
dos mais comuns são silicatos. Como se pode ver na Fig. 3.55, os silicatos
constituem mais de 90% da composição mineral média global da crusta
oceânica e continental, estando os óxidos e carbonatos em ordem
subordinada.
O solo é constituído maioritariamente por silicatos; os tijolos, a
pedra, o cimento e o vidro usados na indústria de construção ou são silicatos
ou derivados deles. Até as amostras colhidas nos solos lunar e marciano, bem
com os meteoritos caídos na Terra vindos do espaço mostram serem
constituídos maioritariamente por silicatos.
A unidade fundamental em que se baseia toda a estrutura cristalina
dos silicatos é o chamado tetraedro SiO4, em que quatro iões O2- estão ligados
a um Si4+, estando este no centro do tetraedro e os oxigénios nos seus vértices
(Fig. 3.56). Em muitas situações, um ião de oxigénio pertence a mais do que
um tetraedro
Fig. 3.55. Distribuição dos silicatos na crusta terrestre

Cada oxigénio do tetraedro (do Grego tetra = 4 + hedros =


face) pode ser compartilhado por um outro tetraedro, dando origem a uma
diversidade de configurações de redes cristalinas. A Fig. 3.57. ilustra as
maneiras como os tetraedros podem combinar-se entre si:
Fig. 3.56. Representações esquemáticas do tetraedro
SiO4+
 Silicatos em que os tetraedros estão isolados na estrutura, e ligados entre si por catiões – Nesossilicatos (do Grego
nesos = ilha) (Fig. 3.57.a); unidade catiónica básica – SiO44-;
 Silicatos em que 2 tetraedros estão ligados entre si por um oxigénio, formando um par, e os pares ligados entre si por
catiões – Sorossilicatos (do Grego soro = juntar) (Fig. 3.57.b); unidade catiónica básica – Si2O76-;Silicatos em que
mais do que 2 tetraedros estão ligados em anel de 3, 4 ou 6 tetraedros – Ciclossilicatos (do Grego Kyklos = círculo)
(Fig. 3.57.c-e); unidade catiónica básica – SixO3x2x-; anéis de 3 – Si3O96-; anéis de 4 – Si4O128-; anéis de 6 – Si6O1812-;
 Silicatos em que os tetraedros se encontram dispostos em cadeias infinitas simples ou duplas – Inossilicatos (do Grego
Inos = cordel) (Fig. 3.57.f-g); unidade catiónica básica – Si2O64- para as cadeias simples e Si4O116- para as cadeias
duplas;
 Silicatos em que 3 dos oxigénios dos tetraedros estão ligados entre si formando folhas planares – Filossilicatos (do Grego
Phyllon = folha) (Fig. 3.57.h); unidade catiónica básica – Si2O52-;
 Silicatos em que os 4 oxigénios são compartilhados por dois tetraedros, formando uma rede tridimensional – Tectossilicatos
(do Grego tecton = construção) (Fig. 3.57.i); unidade catiónica básica – SiO20;

a) b) c) d) e)

f)

i)
h)
g)
Fig. 3.57. Estruturas dos diversos silicatos: a) Nesossilicato; b) Sorossilicato; c) Ciclossilicato (anel 3); d) idem (anel 4);

e) idem (anel 6); f) Inossilicato (cadeia simples); g) idem cadeia dupla; h) Filossilicato; i) Tectossilicato.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

De seguida passaremos a referir cada um destes grupos, com destaque para os principais minerais constituintes da
crusta.

6.9.1. NESOSSILICATOS

6.9.1.1. OLIVINA
a) Sistema cristalino: ortorrômbico.
b) Composição química: Silicato de Magnésio e Ferro – (Mg,Fe)2SiO4; a olivina é geralmente uma
solução sólida em que o Fe e o Mg se intersubstituem em proporções que vão do componente
ferroso puro (Fe2SiO4 – Faialie) ao magnesiano puro (Mg2SiO4 – Forsterite).
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente aparece em massas granulares de cristais minúsculos (Fig. 3.58);
Fig. 3.58. Olivina
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal;
Cor: geralmente verde-azeitona, podendo tornar-se mais acastanhada com o aumento do teor em ferro;
Brilho: vítreo;
Dureza: alta – 6.5-7;
Densidade: baixa: 3.27-4.37;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilização: fabrico de tijolos e materiais refractários; as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique não há jazigos de olivina; ocorre numa série de rochas como mineral essencial.
f) Origem do nome: da sua cor verde-azeitona, também chamado verde-oliva.

6.9.1.2. GRANADAS
a) Sistema cristalino: cúbico.
b) Composição química: Silicatos de vários catiões; a fórmula química geral pode ser expressa por A3B2(SiO4)3, em
que A aloja Ca, Mg, Fe2+ ou Mn2+ e B aloja Al, Fe3+ e Cr3+. A Tabela 3.1 dá uma ideia das variedades de granadas
que existem e a respectiva composição química:
Tab. 3.1. Espécies de Granadas
Espécie Composição química Cor
Piropo Mg3Al2Si3O12 Vermelho escuro a negro
Almandina Fe3Al2Si3O12 Vermelho escuro a acastanhado
Espessartina Mn3Al2Si3O12 Castanho a vermelho
Grossulária Ca3Al2Si3O12 Branco, verde, amarelo, castanho ou vermelho pálido
Andradite Ca3Fe2Si3O12 Amarelo, verde, castanho a negro
Uvarovite Ca3Cr2Si3O12 Verde esmeralda
Algumas destas espécies ainda têm variedades em função da cor e da transparência.
c) Propriedades físicas:
Como se pode concluir da tabela anterior, as propriedades físicas das granadas
não são fixas para o grupo, mas para cada um dos seus membros; contudo, algumas
coisas de comum existem nessas propriedades. a)
Hábito: normalmente aparece em cristais octaédricos e/ou dodecaédricos; também em massas
granulares de cristais pequenos (Fig. 3.59);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal;
Cor: ver tabela anterior;
Risca: branca;
Brilho: vítreo a resinoso;
b)
Dureza: alta – 6.5-7.5; Fig. 3.59. a)
Densidade: baixa: 3.5-4.3; Almandina; b)
Diafanidade: transparente a translúcido. Grossulária
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema; devido à sua dureza utilizada como abrasivo.
e) Ocorrência: em Moçambique há importantes jazigos de granada em Cuamba, Niassa. A nível mundial, são inúmeras as
localidades onde a granada-gema ocorre: Arizona (EUA), R. Checa, Sri Lanka, Brasil e Rússia.
f) Origem do nome: do Latim Granatus = parecido com grão.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.1.3. OUTROS NESOSSILICATOS IMPORTANTES


Zircão (ZrSiO4), Distena-Silimanite-Andalusite (polimorfos de Al2SiO5), Topázio (Al2SiO4(F,OH)2) – Fig. 3.60.

a)

b) c)
Fig. 3.60. Outros Nesossilicatos importantes: a) Distena; b) Andaluzite; c) Topázio.

6.9.2. SOROSSILICATOS

6.9.2.1. EPÍDOTO
a) Sistema cristalino: monoclínico.
b) Composição química: Alumossilicato Hidratado de Cálcio –
Ca2(Al,Fe)Al2O(SiO4)(Si2O7)(OH).
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático; normalmente aparece em massas granulares (Fig. 3.61);
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita; a fractura é conchoidal;
Cor: verde, verde-amarelado a negro; Fig. 3.61. Epídoto
Risca: cinzenta;
Brilho: vítreo;
Dureza: alta – 6-7;
Densidade: baixa: 3.25-3.45;
Diafanidade: transparente a translúcido.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique não há jazigos de epídoto, mas ela ocorre numa série de rochas como mineral essencial.
As zonas onde ocorre como gema são Áustria, Franca, Itália e EUA.
f) Origem do nome: do Grego Epidosis = aumento, por uma das faces do prisma ser maior que as outras.

6.9.3. CICLOSSILICATOS

6.9.3.1. TURMALINA
a) Sistema cristalino: trigonal.
b) Composição química: Borossilicato Hidratado de catiões vários; fórmula química muito complexa –
(Na,Ca)(Li,Mg,Al)3(Al,Fe,Mn)6(BO3)3(Si6O18)(OH)4.
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático nítido, muitas vezes alongado; cristais bem visíveis (Fig. 3.62), de faces estriadas;

Fig. 3.62. Várias turmalinas de Moçambique

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Clivagem e Fractura: não tem clivagem; a fractura é conchoidal;


Cor: variada, consoante a composição; várias cores no mesmo cristal; a Tab. 3.2. mostra as variedades de turmalina
em função da sua cor:
Tab. 3.2. Espécies de Turmalinas
Cor Nome Cor Nome
Negra Schorlite Vermelho/rosa Rubelite
Castanha Dravite Azul Indicolite
Verde Verdelite Branca/incolor Acroíte
Verde claro Elbaíte Zonada verde/vermelho Melancia
Risca: branca;
Brilho: vítreo a resinoso;
Dureza: alta – 7-7.5;
Densidade: baixa: 3-3.25;
Diafanidade: transparente a translúcido ou mesmo opaco;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique a turmalina ocorre em numerosos jazigos nas províncias da Zambézia e Nampula. Os
jazigos mais importantes são: Muiane, Namacotche, Niane, Naípa, etc. Outros países com jazigos de turmalina são
Itália, Brasil, Rússia e Madagáscar.
f) Origem do nome: do Cingalês turamali, nome dado a este mineral no Sri Lanka.

6.9.3.2. BERILO
a) Sistema cristalino: hexagonal.
b) Composição química: Silicato de Berílio – Be3Al2 (Si6O18).
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático nítido (Fig. 3.63);
Clivagem e Fractura: clivagem basal imperfeita; a fractura conchoidal;
Cor: variada, consoante as impurezas; a Tab. 3.3 mostra as variedades de berilo em função da cor:
Tab. 3.3. Espécies de Berilos
Cor Nome Cor Nome Cor Nome
Azul Água-marinha Rosa Morganite Negro Berilo Negro
Verde Esmeralda Amarelo Heliodoro Incolor Goshenite
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Dureza: alta – 7.5-8;
Densidade: baixa: 2.65-2.8;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema; é
a maior fonte de berílio, usado para ligas de cobre.
e) Ocorrência: em Moçambique o berilo ocorre em numerosos
jazigos nas províncias da Zambézia e Nampula. Os jazigos mais
importantes são: Muiane, Namacotche, Niane, Naípa, etc. Outros
Água-marinha
países com jazigos de berilo são Brasil, Rússia, Madagáscar e
Namíbia.
f) Origem do nome: do Latim Beryllus = berilo. Morganite
Esmeralda
Fig. 3.63. Vários Berilos

xlviii
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6.9.4. INOSSILICATOS

6.9.4.1. PIROXENAS
É um conjunto de inossilicatos de cadeia simples, de fórmula geral XYZ2O6, em que:
- X = Na+, Ca2+, Mn2+, Fe2+ e Li+
- Y = Mn2+, Fe2+, Mg2+, Fe3+, Al3+, Cr3+ e Ti4+
- Z = Si4+ e Al3+
Como se pode ver, a composição química é extremamente variada e, consequentemente, a estrutura
cristalina também varia, levando a que as piroxenas pertençam a dois sistemas cristalinos –
ortorrômbico e monoclínico. São minerais muito comuns em muitas das rochas da crusta terrestre.
a) Sistema cristalino: ortorrômbico ou monoclínico.
b) Composição química: Silicatos de catiões vários; fórmula química muito complexa (ver acima).
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático nítido (Fig. 3.64);
Clivagem e Fractura: dois planos de clivagem prismática quase perpendiculares entre si (Fig. 3.65);
Cor: variada, consoante a composição; a Tab. 3.4. mostra as variedades de piroxena em função da sua cor e sistema
cristalino:
Tab. 3.4. Espécies de Piroxenas
Nome Cor Composição S. Cristalino
Enstatite Castanho a MgSiO3 Ortorrômbico
Ferrossilite verde-oliva FeSiO3 Ortorrômbico
Pigeonite Castanho a negro Ca0.25(Mg,Fe)1.75Si2O6 Monoclínico
Diópside Verde CaMgSi2O6 Monoclínico
Hedenbergite Branco CaFeSi2O6 Monoclínico
Augite Negro XY(Z2O6) Monoclínico
Jadeíte Verde a branca NaAlSi2O6 Monoclínico
Aegirina Castanho a verde Nae3+Si2O6 Monoclínico
Espodumena Branco, cinzento, rosa, amarelo, verde LiAlSi2O6 Monoclínico

Aegirina Augite Diópside Hedenbergite


Fig. 3.65. Clivagem das
Fig. 3.64. Tipos de Piroxenas piroxenas em secção basal
Risca: branca;
Brilho: vítreo a resinoso;
Dureza: alta – 7-7.5;
Densidade: baixa: 3-3.25;
Diafanidade: transparente a translúcido ou mesmo opaco;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique as piroxenas estão espalhadas por uma série de rochas. Nos pegmatitos da Zambézia
ocorrem espodumenas rosas e verdes que são usadas como gemas.
f) Origem do nome: do Grego Pyros = fogo + Xenos = estranho, por se pensar que só raramente aparecia nas rochas
ígneas.

xlix
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.4.2. ANFÍBOLAS
É um conjunto de inossilicatos de cadeia dupla de fórmula geral W0-1X2Y5Z8O22(OH,F)2, em que:
- W = Na+ e K+
- X = Na+, Ca2+, Mn2+, Fe2+, Mg2+ e Li+
- Y = Mn2+, Fe2+, Mg2+, Fe3+, Al3+ e Ti4+
- Z = Si4+ e Al3+
Como se pode ver, do mesmo modo que as piroxenas, a composição química é extremamente variada e, consequentemente, a
estrutura cristalina também varia, levando a que as anfíbolas pertençam a dois sistemas cristalinos – ortorrômbico e
monoclínico. São minerais muito comuns em muitas das rochas da crusta terrestre.
a) Sistema cristalino: ortorrômbico ou monoclínico.
b) Composição química: Silicatos de catiões vários; fórmula química muito complexa (ver acima).
c) Propriedades físicas:
Hábito: prismático nítido (Fig. 3.66);
Clivagem e Fractura: dois planos de clivagem prismática com ângulos de quase 60° entre si (Fig. 3.67);
Cor: variada, consoante a composição; a Tab. 3.5. mostra algumas das variedades de anfíbola em função da sua cor e
sistema cristalino.
Tab. 3.5. Espécies de Anfíbolas
Nome Cor Composição S. Cristalino
Antofilite Cinzento a esverdeado (Mg,Fe)7SiO8O22(OH)2 Ortorrômbico
Tremolite Branco Ca2Mg5SiO8O22(OH)2 Monoclínico
Actinolite Verde Ca2(Mg,Fe)5SiO8O22(OH)2 Monoclínico
Hornblenda Verde escuro a negro (Ca,Na)2-3(Mg,Fe,Al)5Si6(Si,Al)2O22(OH)2 Monoclínico
Riebeckite Azul Na2Fe2+3 Fe3+2Si8O22(OH)2 Monoclínico

Actinolite Hornblendas
Fig. 3.66. Tipos de Anfíbolas Fig. 3.67. Clivagem basal das anfíbolas
Risca: branca;
Brilho: vítreo a resinoso;
Dureza: alta – 7-7.5;
Densidade: baixa: 3-3.25;
Diafanidade: transparente a translúcido ou mesmo opaco;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Utilização: as variedades transparentes são usadas como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique as anfíbolass estão espalhadas por uma série de rochas.
f) Origem do nome: do Grego Anphibolos = ambíguo, por se assemelharem a outros minerais.

6.9.5. FILOSSILICATOS
Os Filossilicatos são um grupo de minerais em que a maioria dos seus membros têm um aspecto achatado com
uma clivagem dominante (basal). São geralmente moles, de baixa densidade e podem apresentar flexibilidade ou
elasticidade das lâminas resultantes da clivagem. Os Filossilicatos constituem uma grupo importante de minerais que
ocorrem na crusta, e podem ser divididos em vários grupos, a saber:
a) Grupo da Serpentina
b) Grupo das Argilas
c) Grupo das Micas
d) Grupo da Clorite
Destes grupos vamos referir só alguns minerais que estão presentes em enorme número de rochas: micas e
argilas.

l
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

6.9.5.1. MICAS
As micas cristalizam no sistema monoclínico. Os cristais são usualmente tabulares e geralmente têm forma
hexagonal, com uma clivagem basal nítida e perfeita.

6.9.5.1.1. MOSCOVITE
a) Sistema cristalino: monoclínico.
b) Composição química: Alumossilicato Hidratado de Potássio e Alumínio –
KAl2(AlSi3O10)(OH)2.
c) Propriedades físicas:
Hábito: tabular (Fig. 3.68); também aparece criptocristalina e maciça;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeitíssima; Fig. 3.68. Moscovite
Cor: incolor, a amarela, castanha, verde ou avermelhada;
Risca: branca;
Brilho: vítreo a sedoso ou nacarado;
Dureza: baixa – 2-2.5;
Densidade: baixa: 2.76-2.88;
Diafanidade: translúcido a transparente;
Outras propriedades: flexível e elástica.
d) Utilização: material isolador em aparelhos eléctricos; lubrificante misturada com óleos; material antipirético.
e) Ocorrência: em Moçambique a moscovite ocorre em numerosas rochas e em jazigos nos pegmatitos do norte de
Moçambique. As zonas onde ocorre são Rússia e Índia.
f) Origem do nome: da sua utilização como vidro na Rússia antiga (Muscovy).

6.9.5.1.2. BIOTITE
a) Sistema cristalino: monoclínico.
b) Composição química: Alumossilicato Hidratado de Potássio e Ferro e Magnésio–
K(Mg,Fe)3(AlSi3O10)(OH)2.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente em massas irregulares foliadas (Fig. 3.69);
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeitíssima;
Cor: geralmente verde escura, castanha ou negra;
Risca: branca; Fig. 3.69. Biotite

Brilho: vítreo;
Dureza: baixa –2.5-3;
Densidade: baixa: 2.8-3.2;
Diafanidade: translúcido a transparente;
Outras propriedades: flexível e elástica.
d) Utilização: material isolador no fabrico de aparelhos eléctricos; como lubrificante misturada com óleos; material
antipirético.
e) Ocorrência: em Moçambique a biotite ocorre em numerosas rochas e em jazigos nos pegmatitos do norte de
Moçambique.
f) Origem do nome: em honra do físico francês J.B. Biot.

6.9.5.1.3. OUTRAS MICAS IMPORTANTES


Flogopite [KMg3(AlSi3O10)(OH)2],
Lepidolite [K(Li,Al)2-3(AlSi3O10)(O,OH,F)2] e
Margarite [(CaAl2(Al2Si2O10)(OH)2] (Fig. 70). Flogopite
Lepidolite
Fig. 3.70. Outras micas importantes

li
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6.9.5.2. ARGILAS
O termo argilas envolve um grupo de minerais compostos principalmente de grãos muito finos, e que são
geralmente plásticos com um determinado conteúdo de água e que endurecem quando secados ou aquecidos. Em termos
químicos são alumossilicatos hidratados. Aparecem normalmente misturados com quartzo, feldspato, micas e carbonatos.

6.9.5.2.1. CAULINITE ou CAULINO


a) Sistema cristalino: triclínico.
b) Composição química: Silicato Hidratado de Alumínio – Al2Si2O5(OH)4.
c) Propriedades físicas:
Hábito: geralmente em massas compactas ou friáveis (Fig. 3.71); material
criptocristalino;
a)
Clivagem e Fractura: fractura terrosa; clivagem basal só visível ao microscópio;
Cor: branca;
Risca: branca;
Brilho: terroso;
Dureza: baixa – 2;
b)
Densidade: baixa: 2.6;
Diafanidade: opaco;
Outras propriedades: plástico e untuoso ao tecto.
d) Utilização: material de construção, cerâmica; branqueador do papel, etc.
e) Ocorrência: em Moçambique o caulino ocorre em numerosas rochas e em jazigos
nos pegmatitos do norte de Moçambique. Ocorrem em praticamente todos os países
do mundo.
c)
f) Origem do nome: do Chinês kau-ling = crista alta, e nome duma colina onde o Fig. 3.71. Caulino (a) puro e (b) impuro;
material é colhido. (c) Microscristais

6.9.5.2.2. OUTROS MINERAIS DE ARGILAS


Dickite, Halloysite, Smectite, Montmorilonite, Vermiculite e Illite
(todos do grupo do Caulino), Talco (Fig. 3.72).

6.9.5.3. OUTROS FILOSSILICATOS COMUNS


Há a referir a Serpentina [Mg3Si2O5(OH)4] (Fig. 3.73) e a Clorite Fig. 3.73. Serpentina
Fig. 3.72. Talco
[(Mg,Fe)3(SiAl4)O10(OH)2(Mg,Fe)3(OH)6].

6.9.6. TECTOSSILICATOS
Cerca de 64% da crusta da Terra são constituídos por Tectossilicatos, em que todos os Oxigénios dos tetraedros
SiO4 estão compartilhados com os tetraedros adjacentes, resultando numa estrutura muito estável. Há muitos tipos de
tectossilicatos consoante o arranjo estrutural. Referiremos apenas os grupos da Sílica (SiO 2) e dos Feldspatos. Faremos
depois breve referência a outros tipos de tectossilicatos.

6.9.6.1. GRUPO DA SÍLICA


O grupo da sílica é um conjunto de minerais compostos única e exclusivamente por óxido de silício (SiO 2),
havendo, contudo, alguns que têm moléculas de água na sua estrutura (SiO 2.nH2O). São, portanto, minerais polimorfos
da sílica. A título de curiosidade, a Tab. 3.6 mostra os vários polimorfos da SiO2 e respectivos sistemas cristalinos.
Tabela 3.6. Polimorfos da Sílica
Espécie Sistema Densidade Espécie Sistema Densidade
Quartzo Trigonal 2.65 Monoclínico 2.26
Hexagonal 2.53 Hexagonal 2.22
Stishovite Tetragonal 4.35 Tetragonal 2.32
Coesite Monoclínico 3.01 Cúbico 2.20
Keatite (sintético) Tetragonal 2.50 Opala 2 Amorfo 2.0-2.25
1 2
Polimorfo mais frequente Variedade hidratada

lii
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6.9.6.1.1. QUARTZO
a) Sistema cristalino: tetragonal (variedade ) e hexagonal (variedade ).
b) Composição química: Óxido de Silício – SiO2.
c) Propriedades físicas:
Hábito: normalmente prismático de faces estriadas, terminando com pirâmides em ambas as extremidades do prisma
(Fig. 3.1.c); ocorre em cristais isolados ou em agregados de vários cristais; muitas vezes em drusas e geodes ou em
agregados micro- e criptocristalinos;
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; fractura conchoidal nítida, semelhante à do vidro;
Cor: geralmente incolor ou branca; frequentemente colorido devido a impurezas, podendo ter qualquer cor;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Dureza: alta – termo 7 da Escala de Mohs;
Densidade: baixa: 2.65;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: piezoeléctrico e piroeléctrico.
d) Variedades:
O quartzo ocorre em inúmeras variedades, desde as cristalinas às microcristalinas.
i) Variedades Cristalinas
Cristal de Rocha: incolor (Fig. 3.74);
Ametista: roxo-violeta (Fig. 3.75);
Quartzo Róseo: geralmente não aparece em cristal, mas em massas de cor rosa (Fig. 3.76);
Quartzo Vermelho: de cor vermelha (Fig. 3.77);
Quartzo Fumado: de cor castanha a negra (Fig. 3.78);
Quartzo Citrino: de cor amarela;
Quartzo Azul: de cor azul (Fig. 3.79);
Quartzo Leitoso: de cor branca de leite;
Quartzo com inclusões: cristais de quartzo com inclusões de vários minerais (Fig. 3.80);
Olho de Tigre: pseudomorfose de quartzo depois de anfíbola (Fig. 3.81);

Fig. 3.74. Cristal de Rocha Fig. 3.75. Quartzo Ametista Fig. 3.76. Quartzo Róseo Fig. 3.77. Quartzo Vermelho

Fig. 3.78. Quartzo Fumado Fig. 3.79. Quartzo Azul Fig. 3.80. Quartzo c/ Inclusões Fig. 3.81. Olho de Tigre

ii) Variedades criptocristalinas


Calcedónia: geralmente castanha, cinzenta, ou avermelhada (Fig. 3.82);
Ágata: calcedónia mostrando camadas concêntricas de várias cores, geralmente encurvadas (Fig. 3.83);
Ónix: ágata com camadas em planos paralelos (Fig. 3.84);
Jaspe: de cor vermelha, devido a inclusões de hematite (Fig. 3.85);
Aventurina: calcedónia verde (Fig. 3.86).

liii
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Fig. 3.82. Calcedónia Fig. 3.83. Ágatas

Fig. 3.87. Tridimite


Fig. 3.84. Ónix Fig. 3.85. Jaspe Fig. 3.86. Aventurina

e) Utilização: usado como gema; como constituinte fundamental de muitas areias, é usado na construção (betão,
cimento), no fabrico do vidro, de lixas; rochas constituídas só por quartzo são usadas como pedra de construção;
devido à sua pureza é usado em muitos instrumentos ópticos (lentes); a propriedade piezoeléctrica tem aplicação em
instrumentos de alta precisão: rádio-osciladores, relógios, etc.
f) Ocorrência: em Moçambique o quartzo ocorre em numerosas rochas e em jazigos nos pegmatitos do norte de
Moçambique. Ocorre em todos os países do mundo.
g) Origem do nome: do Alemão quartz.
h) Polimorfos de SiO2: Cristobalite, Tridimite (Fig. 3.87), Stishovite, etc. (Tab. 3.6).

6.9.6.1.1. OPALA
a) Sistema cristalino: amorfa.
b) Composição química: Óxido Hidratado de Silício – SiO2. nH2O.
c) Propriedades físicas:
Hábito: geralmente maciça, botrióide (Fig. 3.88);
Clivagem e Fractura: não tem clivagem; fractura conchoidal nítida;
Cor: incolor, branca; frequentemente colorido devido a impurezas, podendo ter
qualquer cor;
Risca: branca;
Brilho: vítreo; Fig. 3.88. Opala
Dureza: média – 5-6;
Densidade: baixa: 2.0-2.25;
Diafanidade: transparente a translúcido;
Outras propriedades: por vezes fluorescente.
d) Utilização: usado como gema.
e) Ocorrência: em Moçambique não há jazigos de opala. Ocorre em: Hungria, México, Austrália, Brasil e EUA.
f) Origem do nome: do Sânscrito upala = pedra preciosa.

6.9.6.2. GRUPO DOS FELDSPATOS


O grupo dos feldspatos é um conjunto de minerais cuja composição química é de alumossilicatos dos elementos
sódio (Na), potássio (K) ou cálcio (Ca), elementos estes que se intersubstituem entre si dando minerais de composição
mista. A intersubstitução pode ser de 0-100% entre o feldspato de Na e o de K, constituindo os feldspatos alcalinos, o
mesmo acontece entre o feldspato de Na e Ca, dando origem ao grupo das plagioclases. O mesmo não acontece entre o
K e o Ca. Assim, os termos extremos são:
a) feldspato de potássio: Ortoclase - KAlSi3O8;
b) feldspato de sódio: Albite - NaAlSi3O8;
c) feldspato de cálcio: Anortite - CaAl2Si2O8;
Os feldspatos são minerais que ocorrem em quase todas as rochas em todo o mundo.

liv
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6.9.6.2.1. ORTOCLASE
a) Sistema cristalino: monoclínico.
b) Composição química: Alumossilicato de Potássio – KAlSi3O8.
c) Propriedades físicas:
Hábito: geralmente prismático; maciça (Fig. 3.89);
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita e prismática imperfeita;
Cor: incolor, branca, cinzenta, raramente verde ou amarela;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Dureza: média – termo 6 da Escala de Mohs;
Densidade: baixa: 2.57; Fig. 3.89. Ortoclase
Diafanidade: opaco a translúcido;
d) Variedades: Adulária (incolor).
e) Utilização: por vezes usado como gema; normalmente usado na indústria da cerâmica e do vidro.
f) Ocorrência: em Moçambique há grandes ocorrências de feldspatos nos pegmatitos do norte de Moçambique, em especial
Zambézia e Nampula.
g) Origem do nome: do Grego orthos = direito + klasis = fractura, por terem clivagens em ângulo recto.

6.9.6.2.2. MICROCLINA
a) Sistema cristalino: triclínico; polimorfo da ortoclase.
b) Composição química: Alumossilicato de Potássio – KAlSi3O8.
c) Propriedades físicas:
Hábito: idêntico ao da ortoclase;
Clivagem e Fractura: clivagem basal perfeita e prismática imperfeita;
Cor: branca a amarela clara; raramente verde;
Risca: branca;
Brilho: vítreo;
Dureza: média – 6;
Densidade: baixa: 2.54-2.57;
Diafanidade: opaco a translúcido.
d) Variedades: Amazonite (verde) - Fig. 3.90.
e) Utilização: por vezes usado como gema; normalmente usado na indústria da cerâmica e do
vidro. Fig. 3.90. Amazonite

f) Ocorrência: em Moçambique há grandes ocorrências de feldspatos nos pegmatitos do norte de Moçambique, em especial
Zambézia e Nampula.
g) Origem do nome: do Grego micro = direito + clino = inclinação, por terem clivagens em ângulo próximo de recto.

6.9.6.2.3. ALBITE-ANORTITE
a) Sistema cristalino: triclínico.
b) Composição química: Alumossilicatos de Sódio e Cálcio – NaAlSi3O8 (albite) (Fig. 3.91)
e CaAl2Si2O8 (anortite) (Fig. 3.92).
c) Propriedades físicas:
Hábito: geralmente tabular, por vezes prismáticos; Fig. 3.91. Albite
Clivagem e Fractura: clivagem basal imperfeita perfeita e prismática perfeita;
Cor: geralmente branca; pode ser amarela clara ou cinzenta verde; a Anortite é mais escura
que a Albite;
Risca: branca; Brilho: vítreo; Dureza: média – 6;
Densidade: baixa: 2.62; Diafanidade: opaco a translúcido.
d) Variedades: consoante a percentagem de Na e Ca, as variedades são (das mais ricas em Na
para as mais ricas em Ca): Oligoclase, Andesina, Labradorite (Fig. 3.93), Bytownite.
Fig. 3.92. Anortite

lv
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

e) Utilização: por vezes usado na indústria do vidro.


f) Ocorrência: em Moçambique há grandes ocorrências de feldspatos nos pegmatitos do
norte de Moçambique, em especial Zambézia e Nampula.
g) Origem do nome: Albite: do Latim albus = branco; Anortite: do Grego anorthos =
oblíquo.
Fig. 3.93. Labradorite

6.9.6.3. OUTROS TECTOSSILICATOS


Há outros 3 grupos de tectossilicatos, os mais importantes dos quais são: Feldspatóides e Zeólitos.
Os Feldspatóides derivam o seu nome por serem muito parecidos com os feldspatos, sendo a diferença no
conteúdo de SiO2 (cerca de 27% do conteúdo dos feldspatos). Como exemplos citamos a Leucite (KAlSi2O6) (Fig. 3.94),
Nefelina ((Na,K)AlSiO4), Sodalite (Na8(AlSiO4)6Cl2) (Fig. 3.95).
Os Zeólitos constituem um grupo de silicatos hidratados e têm a característica de fundir facilmente (daí o seu
nome: do Grego zeo = ferver + lithos = pedra). Alguns exemplos são: Cabazite (Ca2Al2Si4O12.6H2O) (Fig. 3.96) e Estilbite
(NaCa2Al5Si13O36.14H2O) (Fig. 3.97).
Há ainda outro grupo de tectossilicatos, menos importante, o Grupo da Escapolite, de que o mais importante é
a Analcima (NaAlSi2O6.H2O) (Fig. 3.98).

Fig. 3.94. Leucite Fig. 3.95. Sodalite Fig. 3.96. Cabazite

Fig. 3.97. Estilbite Fig. 3.98. Analcima

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Grafite
Ilmenite
Cassiterite

Cobre Galena Pirite


Magnetite
Enxofre

Ouro Hematite Columbo-Tantalite


Diamante Calcopirite Pirite
Rútilo
ELEMENTOS NATIVOS SULFURETOS ÓXIDOS

Aragonite
Calcite

Halite
Volframite
Apatite
Borax

Dolomite

Fluorite Gesso
Anidrite
Azurite Monazite
Malaquite Barite
Scheelite
HALOGENETOS CARBONATOS BORATOS e SULFATOS TUNGSTATOS FOSFATOS

Moscovite

Biotite
Granada
Piroxena
Berilo
Olivina
Caulino
Epídoto Turmalina
Anfíbola
NESO- e SOROSSILICATOS CICLOSSILICATOS INOSSILICATOS FILOSSILICATOS

Feldspatos
Quartzo
TECTOSSILICATOS
Fig. 3.99. Alguns exemplos de formas de cristais dos vários minerais estudados

lvii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 4: GEODINÂMICA INTERNA. ROCHAS ÍGNEAS E


METAMÓRFICAS

2. INTRODUÇÃO
No capítulo anterior estudámos os minerais e vimos que eles têm uma composição química bem definida ou
variando dentro de certos limites.
Para os geólogos, uma Rocha é qualquer massa de matéria mineral, consolidada ou não, que forma parte da
crusta, podendo ser constituída por uma espécie mineral (monominerálica) ou por um agregado de várias espécies
minerais (poliminerálica). O conceito de rocha dos engenheiros é de algo duro, consolidado, que tem de ser removido
por explosões. Este conceito também é o conceito que o vulgar cidadão tem de rocha.
Se olharmos para as rochas, vemos que elas são constituídas por uma série de partículas de
cor, granulometria, forma, brilho diferentes, constituídas pelos diversos minerais que a compõem. Se
olharmos para uma imagem aumentada de areia (Fig. 4.1) vemos a existência de inúmeros grãos
soltos de cor e tamanhos diferentes. Estamos em presença duma rocha não consolidada. Mas se
olharmos para as várias imagens da Fig. 4.2, de várias rochas consolidadas, vemos que elas podem
ter cores diferentes, estruturas diferentes, composições diferentes, etc., etc. Assim, a Fig. 4.2.a mostra
uma rocha granular, praticamente monominerálica (quartzo); a Fig. 4.2.b. mostra uma rocha que
aparenta ter estado sujeita a forças compressivas, apresentando pedaços partidos. Por seu lado, a Fig.
4.2.c, mostra uma rocha com pedaços de conchas. Estes são só 3 exemplos, de rochas consolidadas.

a) b) c)

Fig. 4.1. Areia: Rocha não


Fig. 4.2. Rochas consolidadas
consolidada

Muitos dos registos do passado da Terra e dos


processos por que ela passou estão nas rochas; por isso, é útil
estar-se familiarizado com alguns dos tipos mais abundantes de
rochas e compreender, no geral, como as rochas são
classificadas.
Duas características - composição e textura - são usadas para a Fig. 4.3. Rocha vista ao microscópio
identificação das rochas e para a sua classificação. A composição determina-se
avaliando quais os minerais mais abundantes que ela tem e em que proporções.
A textura refere-se ao aspecto geométrico dos componente minerais, seu
tamanho, forma e arranjo espacial. Por vezes a textura é tão fina que essa
identificação é impossível à vista desarmada, sendo necessário observar ao
microscópio. A Fig. 4.3 dá exemplo duma rocha vista ao microscópio.

3. O CICLO DAS ROCHAS


Se bem que possam parecer de carácter permanente, as rochas que constituem a crusta terrestre estão
constantemente a ser alteradas. O sistema complexo dos processos naturais através dos quais as rochas passam chama-se
ciclo das rochas (Fig. 4.4).
Como se sabe, por cima da crusta assentam os oceanos, os lagos, os rios e outros corpos de água, e, por cima
ainda, a atmosfera. A zona de contacto entre a crusta e água+ar é uma região de intensa actividade, onde ocorre a erosão,
processos de alteração das rochas superficiais por acção do ar+água.
A erosão continuamente desagrega as rochas e faz movimentar as partículas resultantes dum lugar para o outro.
Como resultado, a crusta está coberta por uma camada de material solto. A maioria dos animais e plantas vivem nesta
camada ou perto da zona do interface água+ar.

lviii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Por uma questão


prática, é conveniente
considerar a água, o ar, a
matéria viva e a cobertura de
material solto como camadas,
análogas às camadas internas.
Estas camadas são a hidrosfera
(água),a atmosfera (ar), a
biosfera (seres vivos) e o
rególito (camada de material
Fig. 4.4. O Ciclo das Rochas
solto).
As rochas que
constituem a crusta terrestre
podem ser divididas em três
grandes grupos:
a) Rochas Ígneas,
b) Rochas Sedimentares
c) Rochas Metamórficas.

As rochas ígneas provêm da solidificação do material rochoso em fusão (magma) que se formou no interior
da terra.
As rochas sedimentares provêm da consolidação de sedimentos transportados pelas águas, gelo ou ar e que se
acumularam à superfície da terra, tanto em terra seca como em meio aquático.
As rochas metamórficas são rochas que se originam a partir doutras rochas (ígneas,
sedimentares ou mesmo metamórficas) por acção da pressão e temperatura.
Voltando à Fig. 4.4. As rochas ígneas formam-se a partir do arrefecimento e cristalização do magma à medida
que este migra em direcção à superfície da Terra. Se o processo de cristalização ocorre perto da ou à superfície, as rochas
que se formam chamam-se rochas ígneas extrusivas (a expressão mais clara deste processo são as erupções vulcânicas).
As rochas ígneas intrusivas são rochas que se formam no interior da Litosfera. As rochas ígneas intrusivas podem ser
trazidas à superfície por processos de desnudação (erosão) ou tectónicos (movimentos no interior da crusta), ambos os
processos acabando numa subida das rochas e sua exposição à superfície.
Todas as rochas podem ser física e quimicamente decompostas, degradadas e alteradas por uma série de processos
(físicos e químicos) chamados de meteorização. Os detritos resultantes desta meteorização podem ser transportados através
da superfície pelos processos erosivos através dos rios, glaciares, vento e gravidade. Quando estes detritos são depositados
como sedimentos permanentes, os processos de soterramento, compressão e alteração química podem modificar estes
materiais, transformando-os de material solto em material consolidado (litificação) dando origem às rochas sedimentares.
À medida que o soterramento progride, estas rochas vão atingindo zonas cada vez mais quentes e sujeitas a
pressões cada vez maiores, dando origem a alterações químicas e físicas profundas. As rochas assim originadas são as
rochas metamórficas.
O contínuo aumento da temperatura e da pressão pode afectar tanto as rochas sedimentares como as ígneas.
Por outro lado, rochas metamórficas podem ser sujeitas a temperaturas e pressões ainda maiores, dando origem a outras
rochas metamórficas. Ou sejam, as rochas que se encontram à superfície da Terra (ígneas, sedimentares e metamórficas)
podem voltar ao interior da Terra através das chamadas zonas de subducção. Sabemos que nestas zonas (Tema 2, Fig.
2.1) as rochas tornam a fundir, dando origem a novo magma que, por seu lado, pode consolidar em profundidade ou
ascender à superfície.

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4. GEODINÂMICA INTERNA
A Geodinâmica é o estudo da composição, estrutura e fenómenos genéticos formadores da crusta terrestre, bem
como o conjunto de fenómenos que actuam não só à superfície como no interior do globo. Há duas formas de energia que
actuam sobre o globo, agindo independentemente, mas havendo efeitos recíprocos entre ambas:
a) energia solar que age directa ou indirectamente esculpindo a superfície, a qual é constantemente modificada
pela acção do ar e da água - é a Geodinâmica Externa;
b) energia do interior da terra, provocando modificações químicas, físicas e estruturais dos constituintes
rochosos - é a Geodinâmica Interna; refere-se, portanto, aos processos que ocorrem na crusta por acção
da energia proveniente do interior do planeta.
Vários fenómenos estão relacionados com a Geodinâmica Interna: magmatismo/vulcanismo, metamorfismo e
sismos, deformação das rochas (Geologia Estrutural).

3.1. MAGMATISMO
Entende-se por magmatismo o desenvolvimento e o movimento do magma, e a sua solidificação em rochas
ígneas. O magmatismo pode manifestar-se à superfície através das erupções vulcânicas.

3.1.1. O Magma
O Magma é o material original das rochas ígneas. É um fluido natural muito quente, formado em profundidade
e constituído por material fundido de composição silicatada com alguns óxidos e sulfuretos e algum vapor e outros gases
mantidos em solução devido às altas pressões a que esta fusão está sujeita.
Quando o magma solidifica para originar as rochas ígneas, os constituintes voláteis escapam-se, mas eles são
importantes por condicionarem os processos de cristalização do magma.
Na realidade, o magma tal qual ele é na Natureza, nunca foi amostrado, pois ele só existe em profundidade. A
matéria em fusão que ascende à superfície chama-se lava, que difere do magma, entre outros aspectos, por não conter ou
conter muito poucos voláteis.
O magma caracteriza-se por uma composição predominantemente silicatada, por temperaturas variando entre
500º - 1200ºC, e por uma mobilidade que lhe permite fluir.
O magma pode formar-se em qualquer parte da crusta onde a temperatura se torne
suficientemente alta para fundir as rochas. Contudo, nem todas as rochas fundem à mesma
temperatura e, dentro da mesma rocha, nem todos os minerais fundem à mesma temperatura, havendo
muitos factores que condicionam esta transformação.
Quando o magma se forma, ele torna-se mais leve que as rochas adjacentes, e os gases (voláteis) dissolvidos
tornam-no ainda mais leve. Assim, o magma é forçado a ascender, mas está sujeito a enormes pressões por parte das
rochas envolventes e sobrejacentes mais pesadas. Este movimento ascendente é ajudado pela sua mobilidade e pelas
forças expansivas e fluidibilidade dos gases nele dissolvidos. Contudo, esta ascensão é contrariada pela resistência
oferecida pelas rochas sobrejacentes.
Algum magma pode eventualmente atingir a parte mais superficial da crusta, onde as rochas estão partidas e
fracturadas, abrindo o seu caminho por estas fracturas até à superfície. Aqui, os materiais fundidos são derramados como
fluxos de lava duma forma relativamente calma, ou então duma forma explosiva, levantando na atmosfera enormes
quantidades de material rochoso que mais tarde se deposita no solo. Tanto a acumulação destes materiais como do material
resultante das explosões origina elevações topográficas a que se dá nome de vulcões (Fig. 1.2).

3.1.2. Tipos de magma


As zonas de vulcanismo actual são as melhores indicações dos lugares onde os magmas se formam na litosfera
em tempos geológicos recentes.
Estas zonas podem ser agrupadas em três zonas próprias:
a) ao longo de dorsais oceânicas, onde os fundos marinhos se estão a formar; exemplos: vulcões dos Açores
e da Islândia;
b) ao longo das zonas de subducção; exemplo: vulcões do Japão; e

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c) no interior de placas tectónicas, (fora dos limites das placas, como acontece nos dois casos anteriores);
exemplo: vulcões das Ilhas Hawaii (meio oceânico) e das rochas ígneas de Sierra Nevada (meio
continental).
Uma maneira simples de ver as diferenças entre os tipos de magmas destas três zonas é comparar a composição
química geral dos principais tipos de rochas ígneas formadas a partir das lavas provenientes destes magmas. A Tab. 4.1.
mostra as análises químicas das rochas representativas dalgumas zonas ígneas pertencentes a estes três tipos.
Tab. 4.1. Análises químicas das rochas representativas dalgumas zonas ígneas
Tipo a) Tipo b) Tipo c)
Hawaii Sierra Nevada
Componente Dorsal Oceânica Zonas de Subducção (meio oceânico) (meio continental)
SiO2 49.0 55.4 50.0 67.0
Al2O3 16.0 15.6 13.9 15.0
Fe2O3 2.7 3.3 1.0 1.5
FeO 7.8 10.5 7.2 10.5 9.8 10.8 2.5 4.0
MgO 6.4 4.8 7.1 1.7
CaO 10.5 9.8 11.3 3.8
Na2O 3.0 1.8 1.5 3.2
K2O 0.1 0.4 0.5 3.8

Por seu lado, a Fig. 4.5 representa


um esquema da localização destes magmas
e das quantidades anuais de rochas ígneas
que se formam a partir deles, sejam
intrusivas ou vulcânicas.
Desta tabela pode ver-se o contraste entre a Fig. 4.5. Zonas de formação dos magmas e respectivas quantidades
composição das rochas de Sierra Nevada e as restantes,
pois o primeiro tem um teor de sílica muito maior, e
teores de Fe, Mg, Ca e K muito menores. Claramente
se conclui que as fontes dos magmas são diferentes. As
rochas das zonas de subducção, de dorsal oceânica e de
ilhas tipo Hawaii devem ter derivado da fusão da
parte inferior da crusta ou da parte superior do manto, mais ricas em Fe-Mg; por seu lado, as rochas formadas no interior dos
continentes (Sierra Nevada) são muito ricas em sílica e derivaram possivelmente da fusão da crusta continental antiga, já de si
muito rica em sílica.
Assim, em função do teor em SiO2, os magmas podem ser classificados em:

A classificação dos magmas é feita em função do teor de SiO2 que ele contém. As rochas ígneas que derivam
destes magmas também são classificadas em félsicas (SiO2>65%), intermédias (52%<SiO2<65%), máficas
(45%<SiO2<52%) e ultramáficas (SiO2<45%).

3.1.3. Diferenciação magmática


Entende-se por cristalização magmática
o processo que leva à separação e, usualmente, à
concentração dalguns minerais num magma em
cristalização (solidificação), significando que, a
partir dum mesmo magma, se podem formar vários Fig. 4.6. Série de Bowen
tipos de rochas ígneas.
A sequência de cristalização dos
minerais a partir dos magmas foi estudada por N.L.
Bowen, que fez várias experiência fundindo e
solidificando rochas, tendo chegado

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à sequência de cristalização esquematizada na Fig. 4.6, e que se chama Série de Bowen.Como se pode ver da figura, há
duas linhas de cristalização principais, uma que é a linha da olivina-piroxena-anfíbola-micas-quartzo, e a outra a linha
plagioclase-feldspatos-mica-quartzo.
Quando um mineral cristaliza a partir dum magma, ele pode ser retirado por acção da gravidade, ou deixado para
trás quando o resto da fusão migra. A este processo chama-se fraccionação, ou seja, há uma fracção dos minerais que se separa.
Suponhamos que esta fraccionação se dá depois da olivina e da piroxena se terem formado, ou seja, estes dois minerais
depositam-se no fundo da câmara magmática. Destes dois minerais vai originar-se uma rocha chamada de peridotito. Do resto
da fusão começam a formar-se as anfíbolas e as plagioclases intermédias (Ca-Na e Na-Ca). Da fraccionação destes dois minerais
poderá originar-se outra rocha, com outra composição mineralógica, a que se chama gabro. Progressivamente, à medida que
estes minerais se formam, o resto da fusão vai enriquecendo progressivamente em Si, Al e K, porque a maioria do Ca, Fe e Mg
foi usada para formar as olivinas, piroxenas, anfíbolas e plagioclases. Como consequência, resulta uma fusão da qual se pode
formar uma rocha constituída por feldspato e quartzo, a que se chama granito.

3.1.4. Vulcanismo e Vulcões


Entende-se por vulcanismo os processos
associados com a descarga superficial de magma,
dando origem a vulcões, que são aberturas na
crusta por onde sai matéria rochosa em fusão,
detritos rochosos sólidos e gases.
Estas aberturas estão normalmente
rodeadas por rochas vulcânicas acumuladas em
elevação geralmente em forma de cone. Há vários
tipos de vulcões em função do tipo de lava que os
constrói (ácida, básica, etc.) e dos voláteis que
Fig. 4.7. Esquema dum vulcão. 1: cone vulcânico; 2: chaminé vulcânica; 3:
contém. O volátil dominante é o cratera; 4: câmara magmática: 5: auréola de metamorfismo.
vapor de água, seguido do anidrido carbónico (CO2). Contudo, os gases sulfurosos (H2S, SO2, SO3) são os mais notados pelo
cheiro nauseabundo que exalam. A Tab. 4.2 mostra a composição média dos gases dos vulcões das Ilhas do Hawaii.
À medida que a erupção vulcânica continua, a rocha ígnea acumulada tende a formar uma massas montanhosa
de forma mais ou menos cónica, chamada de cone vulcânico. Este cone circunda a conduta de saída da lava - a chaminé
vulcânica - que termina numa abertura - a cratera vulcânica que está ligada à câmara magmática onde se situa o
magma. (Fig. 4.7).
Tabela 4.2. Composição média dos gases dos vulcões do Hawaii.
Gás % Gás %
H2O 70.75 H2 0.33
CO2 14.07 Ar 0.18
SO2 6.40 S2 0.10
N2 5.45 Cl2 0.05
SO3 1.92 Outros 0.35

3.1.4.1. Forma e constituição dos vulcões


Referimos atrás que os vulcões podem ser de vários tipos, em função da constituição das lavas que os originam.
Assim, os vulcões podem ser classificados nos seguintes tipos:
a) Vulcão em Escudo (Tipo Hawaiiano) (Fig. 4.8.a). Cratera muito aberta, com saída calma de lava muito
fluída (básica), sem actividade explosiva; as lavas arrefecem muito lentamente e estendem-se por longas
superfícies, originando cones de lava de pouca altura e de base muito extensa. Exemplo: vulcões das Ilhas
Galápagos.
b) Stratovulcão (Tipo Estromboliano) (Fig. 4.8.b). Lavas menos fluidas, com arrefecimento mais rápido à
superfície e lento no interior da chaminé; os gases têm por isso dificuldade em se escapar e só o conseguem
depois de atingirem uma certa pressão, escapando-se com alguma violência e projectando detritos sólidos
e lavas. Exemplo: vulcão Stromboli (Itália) e Monte Adams (EUA-Washington).

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Fig. 4.8.a. Esquerda: Esquema de vulcão tipo hawaiiano; Direita: Ilhas Galápagos, Oceano Pacífico

Fig. 4.8.b. Esquerda: Esquema de vulcão tipo stromboliano; Direita: Monte Adams, Washington, EUA
c) Cone de Cinzas (Tipo Vulcaniano) (Fig. 4.8.c). Semelhante ao anterior, mas com erupções muito mais
violentas e espaçadas. Exemplo: vulcão Vesúvio de Nápoles (Itália)
d) Domo (Tipo Peléano) (Fig. 4.8.d). Lavas quase sólidas (muito viscosas) que arrefecem rapidamente,
consolidando no topo e interior da chaminé, formando uma rolha com o nome de cúpula ou domo. Os gases
adquirem uma pressão enorme e as explosões são violentas, as cinzas projectadas ficam incandescentes e
rolam encosta abaixo destruindo tudo à sua passagem. A lava consolidada no interior da chaminé pode
posteriormente ser empurrada para fora formando uma agulha vulcânica. Exemplo: vulcão do Monte Pelée,
Ilha da Martinica, Caraíbas, que em 1902 destruiu a cidade de St. Pierre e um mês depois começou a erguer-
se uma agulha com 100 m de diâmetro e 500 m de altura.

Fig. 4.8.c. Esquerda: Esquema de vulcão tipo vulcaniano; Direita: Cratera Sunset, Norte do Arizona, EUA.

Fig. 4.8.b. Esquerda: Esquema de vulcão tipo peléeano; Direita: Torre do Diabo, Wyoming, EUA

Estes quatro tipos de erupções vulcânica são chamadas de erupções centrais, porque a lava sai dum orifício
na crusta. Há outros tipos de erupção, em que não há formação de cones vulcânicos, e a lava sai ao longo de extensas
fissuras na crusta. São as erupções fissurais. Este tipo de erupções só acontecem com lavas muito fluídas (básicas) que
se estendem por áreas enormes. É o caso dos basaltos

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dos Montes Libombos, que foram extruídos ao longo duma fissura N-S numa extensão que vai da Drakensberg (KwaZulu-
Natal) até ao Pafúri, bifurcando para oeste ao longo do Limpopo e para norte em direcção a Tete (Fig. 4.9).

Fig. 4.9. Cima: Basaltos da Namaacha, representatitvos da erupção fissural do esquema


ao lado, que mostra a extensão das emissões lávicas fissurais desta zona de África

3.1.4.2. Crateras e Caldeiras


As crateras são os orifícios por onde sai a lava. Têm uma forma de funil que liga a câmara magmática, em
profundidade, à superfície. As crateras estão alargadas no topo devido às explosões e ao desabamento do material da
cratera para o seu interior (Fig. 4.7).
As caldeiras são cratera enormes formadas quando um vulcão colapsa para o interior da câmara magmática
vazia que se situa por baixo do vulcão. As caldeiras têm geralmente algumas dezenas de quilómetros de diâmetro. A Fig.
4.10 mostra um esquema sobre a evolução dum vulcão para caldeira.

Fig. 4.10. Esquema ilustrativo da evolução duma caldeira

3.1.4.3. Outras Manifestações Vulcânicas


Além das manifestações marcadas pela emissão de lavas, há também
manifestações vulcânicas que se caracterizam pela emissão de gases e/ou água. As mais
importantes são os geysers, dos quais o mais conhecido é o Old Faithful (o Velho Fiel),
no Yellowstone National Park dos EUA (Fig. 4.11).

3.1.4.4. Distribuição Mundial dos Vulcões


A Fig. 4.12 mostra a distribuição dos vulcões activos actuais no Mundo. Podem
considerar-se 4 zonas:

Fig. 4.11. Old Faithful, Yellowstone


National Park, EUA

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a) Anel de Fogo do Pacífico: os vulcões encontram-se distribuídos à volta do Oceano Pacífico;


b) Dorsal Atlântica: vai desde os vulcões da Islândia no Atlântico Norte até à Ilha de Sta. Helena, no Atlântico
Sul;
c) Grande Zona Transversal: vai desde os vulcões do Hawaii, passando pelas Caraíbas, Mediterrâneo a
terminando no Mar Cáspio;
d) Zona do Índico: Ocidental (vulcões africanos, Comores, Madagáscar) e Oriental (Indonésia).

Fig. 4.12. Distribuição dos vulcões activos actuais

3.2. METAMORFISMO
Como se viu em capítulos anteriores, a crusta não está estática, mas sim em constante movimento. As placas
tectónicas chocam entre si, mergulham umas sob as outras, ou ainda se deslocam tangencialmente entre si. Todos estes
movimentos provocam compressões, distensões, atritos, sujeição das rochas a temperaturas mais altas, etc. Por outro lado,
vimos nos pontos anteriores que o magma ascende à superfície, sujeitando as rochas a temperaturas altas. Assim, com a
dinâmica da crusta e da litosfera, as rochas estão constantemente a ser sujeitas a diferentes condições de pressão e
temperatura.
Metamorfismo é o processo pelo qual as rochas no interior da crusta são modificadas por acção do calor,
pressão e agentes químicos. Estes factores são chamados agentes do metamorfismo. Durante os processos de
metamorfismo, as rochas mantêm essencialmente o seu carácter sólido, e por isso retêm algumas das características
primárias herdadas da rocha original. As estruturas, texturas e composição mineralógica (e química) finais dependem, por
um lado, das características da rocha-mãe e, por outro, das condições do metamorfismo, isto é, da maneira e tempo como
os agentes de metamorfismo actuam.
As mudanças que ocorrem durante o metamorfismo estão sempre relacionadas com a tendência de restauração
do equilíbrio das rochas sujeitas a novos ambientes de P,T,química. As rochas-mãe a partir das quais se formam as rochas
metamórficas são das mais variadas, podendo ser sedimentares, ígneas ou mesmo metamórficas.

3.2.1. Agentes de Metamorfismo


Vimos que os agentes de metamorfismo são os factores que vão provocar as alterações das rochas em
profundidade.

3.2.1.1. Temperatura
A temperatura é talvez o agente mais importante e variável. Os processos metamórficos que ocorrem por acção
pura e simples da temperatura é chamado de metamorfismo térmico.
A temperaturas abaixo de 100º-200ºC, os minerais das rochas-mãe podem ficar em equilíbrio durante milhões
de anos, porque as reacções a estas temperaturas são demasiado lentas para que tenham qualquer efeito apreciável. Com
o aumento da temperatura, as reacções tornam-se mais rápidas, levando ao aparecimento de novas associações minerais.

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Acima de 700ºC, os minerais mais fusíveis começam a fundir e o metamorfismo transita


gradualmente para processos de magmatismo.
A temperatura pode ter várias origens, desde a presença de corpos magmáticas, ao atrito provocado pela fricção
de placas e aos fenómenos de radioactividade.

3.2.1.2. Pressão
A pressão litostática (pressão resultante do peso das rochas sobrejacentes) na crusta aumenta com a
profundidade. Assim, a cerca de 20 km de profundidade, a pressão é da ordem das 6.000 atmosferas (= 6.202 kg/cm2).
Estas altas pressões mudam as características físicas das rochas, tornando-as dúcteis (plásticas) e capazes de fluir.
Por outro lado, as altas pressões tendem a contrariar a ocorrência de reacções que provoquem aumento de
volume por libertação de gases.
No caso inverso, as pressões altas tendem a favorecer reacções que dêem origem a minerais mais densos.
Além da pressão litostática, as rochas em profundidade estão sujeitas a outras pressões resultantes dos
movimentos crustais. Quando estas pressões actuam em ambiente de baixa temperatura, provoca a desagregação mecânica
das rochas - cataclase. A altas temperaturas e na presença de fluídos, tendem a acelerar o crescimento dos cristais.

3.2.1.3. Fluídos
Se bem que o grosso de cada rochas se mantenha sólido durante o metamorfismo, os interstícios entre os
minerais estão ocupados por variadíssimos fluídos aquosos com diversos componentes químicos em solução. Estes fluídos
interagem com os minerais com que estão em contacto, provocando alterações químicas constantes, dando origem a novos
minerais, e provocando o desaparecimento dos iniciais.
Os fluídos podem provir da própria rocha ou de fora. Neste caso, eles trazem para a rocha novos materiais,
alterando assim a composição química inicial. Por outro lado, ao serem mais tarde expulsos da rocha, eles levam consigo
em solução outros componentes. Em qualquer dos casos, há alteração da composição química inicial. A estas alterações
da composição química inicial chama-se metassomatismo.

3.2.2. Tipos de Metamorfismo


Em face do exposto, e tendo em conta a existência de:
 diferentes agentes de metamorfismo (P,T,Fluídos),
 tempo de actuação destes agentes,
 dominância de actuação de um ou outro agente, e
 origem destes agentes
podem haver vários tipos de metamorfismo.

3.2.2.1. Metamorfismo de Contacto


Chama-se metamorfismo de contacto aos processos
metamórficos que ocorrem por acção dos magmas/lavas sobre as
rochas que eles atravessam. Ou seja, as rochas são como que
"cozinhadas" pelo calor do magma/lava, provocando alterações
profundas nas rochas atravessadas. Esta zona de alteração chama-
se auréola de metamorfismo (Fig. 4.7 e Fig. 4.13). A espessura
da auréola de metamorfismo varia com:
 dimensão do corpo magmático;
 temperatura do corpo magmático;
 tipo de rocha afectada;
Fig. 4.13. Esquema duma auréola de metamorfismo
 temperatura a que se encontra a rocha afectada;
 conteúdo em voláteis do corpo magmático.

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As alterações provocadas nas rochas encaixantes são mais marcadas perto do corpo ígneo do que a maiores
distâncias.
Como se pode bem entender, o metamorfismo de contacto é fundamentalmente um metamotrfismo térmico,
mas pode ser afectado ainda pela pressão provocada pela ascensão magmática e pelos efeitos metassomáticos dos voláteis
que se escapam do magma para as rochas encaixantes.

3.2.2.2. Metamorfismo Regional


O metamorfismo regional ocorre em larga escala (áreas geográficas grandes) e deve-se a enormes pressões e
temperaturas, não relacionadas com causas locais. Tanto a pressão como a temperatura jogam papeis idênticos neste tipo
de metamorfismo. Ele tem normalmente origem no soterramento progressivo das rochas para profundidades cada vez
maiores, estando progressivamente sujeitas pressões e temperaturas crescentes.
Numa área extensa de metamorfismo regional haverá rochas mais metamorfisadas que outras, ou seja, têm
graus de metamorfismo maiores que outras. Quanto mais profundas estiverem as rochas, maior o seu grau de
metamorfismo.

3.2.2.3. Metamorfismo Dinâmico


O metamorfismo dinâmico está relacionado com movimentos crustais, em áreas de T
regional baixa, dando origem fundamentalmente à desagregação mecânica das rochas.
3.2.2.4. Metamorfismo de Impacto
Forma muito rara, relaciona-se com as alterações
que o impacto de meteoritos provoca no solo, por acção de
enormes pressões e das temperaturas que daí surgem.
3.3. SISMOLOGIA Fig. 4.14. Epicentro e hipocentro dum sismo
Um sismo (tremor de terra ou abalo sísmico) é uma
perturbação violenta na crusta causada por um movimento brusco em
profundidade, resultando na libertação instantânea de energia lentamente
acumulada ao longo do tempo.
O ponto onde se dá essa perturbação chama-se foco ou
hipocentro, e o ponto à superfície na vertical do foco chama-se epicentro
(Fig. 4.14).Todos os anos a Terra sofre várias centenas de milhar de sismos,
mas felizmente só muito poucos são suficientemente fortes (ou próximos de
agregados populacionais) para provocar mortes. Algumas áreas são
propícias a sismos, sendo as construções feitas de modo a resistirem a eles.
Noutras áreas esta preocupação de construção não existe, dando origem a
desastres enormes, como o sismo da Cidade do México em 1985. Não há,
contudo, nenhuma localidade do mundo que não tenha sismos, mas em
algumas regiões eles são tão fracos que só podem ser detectados por
aparelhos especiais - os sismógrafos (Fig. 4.15).
Conhecem-se ao longo da História dezasseis desastres
sísmicos que causaram mais de 50.000 mortos (Tab. 4.3).
Fig. 4.15. Esquema dum sismógrafo

Tabela 4.3. Sismos nos últimos 800 anos com mais de 50.000 mortos
Local Ano N.º Mortos Local Ano N.º Mortos
Shen-Shu, China 1556 830.000 Nápoles, Itália 1693 93.000
T'ang-shan, China 1976 700.000 Shemka, Rússia 1667 80.000
Calcutá, Índia 1737 300.000 Kansu, China 1932 70.000
Kansu, China 1920 180.000 Silícia, Turquia 1268 60.000
Messina, Itália 1908 160.000 Catânia, Itália 1693 60.000
Tóquio/Yokohama, Japão 1923 143.000 Lisboa, Portugal 1755 60.000
Chihli, China 1290 100.000 Quetta, Paquistão 1935 60.000
Beijing, China 1731 100.000 Calábria, Itália 1783 50.000
3.3.1. Origem dos Sismos

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Os sismos ocorrem em profundidades várias,


desde perto da superfície até 700 km de profundidade.
Podemos fazer observações directas de sismos que afectam a
superfície. A maioria dos sismos originados perto da
superfície são associados/causados por movimentos abruptos
ao longo de fracturas na crusta (falhas). As outras causas
estão relacionadas com actividade vulcânica, com grandes
movimentos de terras (deslizamentos) e, desde o século Fig. 4.16. Experiência demonstrando a origem dos sismos
passado, a experiências nucleares subterrâneas. Os sismos de
profundidade não podem ser observados e os processos são
inferidos a partir de observações indirectas.
Todas as rochas têm um certo grau de elasticidade e
plasticidade como resposta às grandes pressões que sobre elas
se exercem devidas aos movimentos crustais. Sob tais pressões,
as rochas tendem a dobrar. Quando o limite de elasticidade é
atingido, a rocha quebra e, nesse momento, há uma enorme
libertação de energia que se transmite pela crusta sob a forma de
ondas sísmicas. Um modelo simples do mecanismo está
representado na Fig. 4.16. No esquema temos uma lâmina de
aço presa a dois blocos de madeira (A). Se os blocos forem
movidos paralelamente um ao outro (em sentidos opostos), a
lâmina faz um "S", cada vez mais dobrado quanto maior for esse
deslocamento (B), até que atinge o seu limite e quebra. Quando
isso acontece, as duas metades das lâminas voltam à posição
horizontal e as duas extremidades ficam afastadas (C). A Fig.
4.17 mostra um exemplo de ruptura em rochas por acção de
sismos. Fig. 4.17. Falha provocada pelo sismo de 1946 no Peru

3.3.2. Distribuição Geográfica dos Sismos


A Fig. 2.16 mostra a distribuição geográfica dos sismos ocorridos entre 1961 e 1967. Se compararmos com a Fig.
2.8 (limites das placas tectónicas) e Fig. 4.12 (distribuição dos vulcões), verifica-se que há uma coincidência entre os limites
das placas tectónicas, as erupções vulcânicas e os epicentros dos sismos.
Da Fig. 2.16, podemos ver quatro zonas de distribuição de sismos:
a) Cinturão Circum-Pacífico, que segue as costas ocidentais das Américas, passa pelas Ilhas Aleutas, Japão,
China, Indonésia e Nova Zelândia; coincide com o Anel de Fogo do Pacífico dos vulcões;
b) Crista Médio-Atlântica, que coincide com a Dorsal Atlântica dos vulcões;
c) Cinturão Mediterrâneo-Himalaias, que vai de Portugal e Marrocos, passando pelos Alpes, Atlas, Balcãs,
Ásia Menor e Himalaias, continuando-se para leste e ligando ao Cinturão Circum-Pacífico;
d) África Oriental, coincidindo com a Zona do Índico.

3.4. GEOLOGIA ESTRUTURAL (deformação das rochas e formação de montanhas).


Se bem que estejamos habituados a pensar na superfície da Terra como forte e estável, isto está longe de ser
verdade. Na verdade, a crusta está em constante movimento, variando este de alguns centímetros a centenas de metros, o
que é responsável pelas características topográficas actuais, incluindo as grandes cadeias de montanhas. A maior parte
das alterações da superfície da Terra ocorrem muito lentamente durante longos períodos de tempo, mas em certas
circunstâncias têm-se observado movimentos de larga escala que ocorrem em poucos minutos (sismos).

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3.4.1. Movimentos de deformação

3.4.1.1. Princípios mecânicos (elasticidade e plasticidade)


Devido à acção da gravidade, as rochas estão constantemente sujeitas a forças de magnitude variável. Estas
forças sujeitam as rochas a tensões que tendem a deslocá-las e a deformá-las. Tais deformações são opostas pela rigidez
e resistência da formação rochosa. Entende-se por rigidez dum sólido a sua resistência inicial à mudança de forma e por
resistência dum sólido a sua capacidade de resistir às forças deformadoras por longos períodos.
A capacidade de um objecto de resistir à deformação é medida em termos de força compressiva e força de
tracção. A força compressiva é a pressão ou força por unidade de área, necessária para deformar ou esmagar
permanentemente um objecto. A força do tracção é a força necessária para dividir um objecto. Os granitos têm uma
resistência à compressão de 1.600-2.400 kg/cm2, mas a sua resistência à tracção é baixa, cerca de 50-80 kg/cm2.
Um líquido viscoso, como o alcatrão, não tem resistência; um bloco pesado de metal afunda-se nele. A principal
diferença entre um fluido e um sólido é que o fluido sujeita-se continuamente sob a acção da mais pequena carga ou
pressão. Um sólido, por outro lado, deve ser sujeito a uma pressão ou carga definidas antes que as suas forças coesivas
sejam ultrapassadas e ceda por fluxão ou fractura.
As propriedades de fluxão ou fractura dum sólido dependem da pressão e temperatura ambientais. Todos os
sólidos são mais fracos a altas temperaturas do que a baixas. As altas temperaturas nas profundezas do globo permitem
que as rochas possam ser mais facilmente deformadas por fluxão plástica sob a acção das variadas pressões que aí se
fazem sentir. Além disso, a plasticidade de muitos sólidos aumenta com a pressão confinante e eles podem ser muito
deformados sem se partir. Sob uma pressão de 20.000 atmosferas uma peça de aço pode ser esticada a 300 vezes o seu
comprimento inicial sem se partir. Sem dúvida que os efeitos da temperatura e da pressão nas propriedades de fluxão das
rochas jogaram um papel preponderante na modificação da resistência da crusta.
Elasticidade - é a propriedade que uma substância tem de resistir à deformação permanente. Ela pode ser
ilustrada ao se pressionar com um dedo um balão cheio. Quando se tira o dedo a superfície assume de imediato a sua
forma original. Uma bola de aço responde de maneira semelhante a uma pressão temporária na sua superfície. Mesmo
que a bola tenha grande rigidez, ela cede um pouco sem se partir. Quando a pressão alivia, a bola assume de imediato a
sua forma original, o que a faz saltar. O mesmo acontece com um seixo, que também é elástico.
Plasticidade - sob a acção duma pressão grande e prolongada, as ligações entre o átomos no aço ou rocha são
partidas, os átomos deslizam entre si e o material flui, se bem que a velocidade do movimento seja muito lenta. Estes
deslocamentos internos são permanentes. Este tipo de deformação não é elástico mas sim plástico e necessita de um
grande período de tempo. Uma vez que as rochas têm elasticidade e plasticidade, dois tipos de deformação são possíveis.

3.4.1.2. Movimento crustal


Durante a história geológica até à actualidade, a crusta tem sido dobrada, inclinada, levantada, afundada,
resultando nas mudanças relativas de posição das formações rochosas. Os movimentos podem ser em qualquer direcção
- para cima, para baixo, na horizontal, inclinados - e podem ser extremamente lentos e graduais ou rápidos e violentos.

3.4.2. Estruturas de deformação ruptural

3.4.2.1. Falhas
As falhas são fracturas na crusta ao longo das quais ocorre deslizamento paralelo à superfície da fractura (Fig.
4.18). Elas ocorrem em qualquer tipo de rocha, mas são mais facilmente detectadas em rochas sedimentares. A quantidade
de deslocamento pode ser de fracções de .centímetros ou de centenas de metros. Em qualquer dos casos não é possível
dizer qual dos lados se manteve parado e qual se moveu ou se ambos se moveram. Tudo o que se pode dizer é que houve
um movimento relativo entre os dois.
A superfície da fractura, ao longo da qual se deu o movimento, chama-se plano de falha (Fig. 4.18). Este
"plano", contudo, raramente é plano por longas distâncias e, consequentemente, o termo superfície de falha seria mais
apropriado. Se uma falha puder ser seguida em todo e seu comprimento verificar-se-ia que o deslocamento é zero nos
seus extremos. Quer dizer, o deslocamento é máximo no

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ponto médio e diminui até anular nos extremos. Em algumas


regiões as falhas tendem a ocorrer em grupos ou zonas, em que o
movimento ocorre ao longo dum certo número de fracturas
separadas por pequenos intervalos (Fig. 4.19).

B
Fig. 4.18. Falha Normal (A) e Inversa (B) Fig. 4.19. Esquema tectónico da área de Cahora Bassa, com alguns dos traços de
BA – Bloco ascendente; BD – Bloco descendente; falhas existentes na região.
T – Teto; M – Muro; Pf – Plano de Falha
Onde as massas de rochas envolvidas no falhamento são de grande tamanho e peso, a enorme pressão mantém
as faces dos dois blocos de falha em contacto compressivo. Como resultado da fricção entre os blocos, o plano de falha
dá uma superfície brilhante, chamada espelho de falha. Se o plano de falha for muito irregular, o movimento entre blocos
esmaga o material, originando uma brecha de falha.
Se bem que alguns planos de falha sejam verticais, a maioria é inclinada de modo que um dos blocos fica por
cima do outro. O bloco que fica por cima do plano de falha chama-se teto e o outro chama-se muro (Fig. 4.18). O bloco
que sobe em relação ao outro chama-se bloco ascendente e o que desce chama-se bloco descendente (Fig. 4.18).

3.4.2.2. Escarpas de falha


Muitas falhas atingem a superfície. O movimento descendente dum dos blocos origina um declive
(correspondendo ao plano de falha) chamado escarpa de falha (Fig. 4.17). A altura desta escarpa depende de dois factores:
 quantidade de deslocamento
 idade da falha,
pois que em muitos lugares a erosão reduziu o bloco ascendente, levando-o a atingir o nível do descendente.

3.4.2.3. Tipos de falha


Se o teto duma falha parece ter-se movido para baixo em
relação ao muro, a falha é chamada de falha normal (Fig. 4.18.A); se
parece ter subido, a falha é chamada falha inversa (Fig. 4.18.B). Uma
falha de cavalgamento é uma falha inversa em que o plano de falha
é subhorizontal e o teto se moveu muitos quilómetros (Fig. 4.20). Há
falhas que não são nem normais nem inversas; são falhas em que o
movimento se deu horizontalmente (Fig. 4.21.A), verticalmente (Fig.
4.21.B) ou rotativamente (Fig. 4.21.C).
Um bloco que se afunda entre duas falhas normais chama-
se graben (Fig. 4.22.A) e o que sobe entre duas falhas normais chama-
se horst (Fig. 4.22.B). Um exemplo concreto de graben em
Moçambique é a depressão ocupada pelos Lagos Niassa e Chirua.
A Fig. 4.23 mostra uma falha real, da Praia do Castelejo,
Alentejo, Portugal.
Fig. 4.20. Evolução duma falha de cavalgamento.

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A B C
Fig. 4.21. Outros tipos de falhas: A – Horizontal; B – Vertical; C – Rotativa

A B
Fig. 4.22. Graben (A) e Horst (B)

3.4.2.4. Diaclases ou Juntas


Diaclases ou juntas são um outro tipo de fractura que ocorre nas rochas em que não há movimento dos blocos
paralelamente à superfície de fractura.
As juntas não ocorrem isoladas mas em grupos de várias direcções, sendo a direcção a mesma para juntas do
mesmo grupo (Fig. 4.24 - Leça da Palmeira, Portugal)).
Teoricamente, as juntas podem ser classificadas em função de terem sido originadas por compressão, tensão
ou torção (estas últimas envolvem compressão e tensão).
Todas as rochas são mais sensíveis a forças de tensão do que de compressão, pelo que as juntas de tensão são
mais abundantes que as de compressão. Nem sempre é possível dizer se um determinado grupo de juntas tem uma origem
compressiva ou de tensão.

Fig. 4.23. Exemplo duma falha inversa Fig. 4.24. Exemplo de diaclases

3.4.3. Estruturas de deformação não ruptural (dobras)

Já vimos anteriormente a importância dos factores pressão,


temperatura e tempo de actuação de forças na deformação elástica ou plástica
das rochas. Vimos também anteriormente que existem dois tipos de pressão:
hidrostática (compressão) e dirigida (tensão).
Uma pressão aplicada tangencialmente (pressão dirigida) sobre uma
rocha, seja esta pressão originada duma intrusão magmática ou por forças
tectónicas, pode originar a formação duma dobra (curvatura numa camada
rochosa).
A forma das dobras varia muito, dependendo da intensidade, duração
e ângulo de incidência da direcção do esforço em relação ao plano que sofreu o
dobramento. Quanto ao tamanho, variam desde milimétricas até centenas de
metros de amplitude. A posição das dobras no espaço pode ser muito variada.
As partes constituintes duma dobra são (Fig. 4.25):
Fig. 4.25. Partes constituintes duma dobra

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 Flancos - são os dois lados da dobra;


 Eixo ou charneira - linha ao redor da qual se dá o dobramento, a qual pode ser horizontal, inclinada ou
vertical; nos últimos casos, a dobra é mergulhante;
 Plano axial - superfície que divide a dobra em duas partes similares, que podem ser ou não simétricas,
dependendo da simetria da dobra;
 Crista - linha que resulta da ligação dos pontos mais altos da dobra, que pode coincidir ou não com o eixo.
Quanto à sua morfologia, as dobras classificam-se em (Fig. 4.26):
 Anticlinal - dobra na qual os flancos se abrem para baixo, tendo por cima o eixo;
 Sinclinal - dobra na qual os flancos se abrem para cima, ao contrário do anticlinal;
 Isoclinal - dobra na qual os dois flancos mergulham na mesma direcção e com o mesmo ângulo de
mergulho;
 Monoclinal - dá-se o encurvamento de apenas uma parte;
 Dobra Simétrica - quando o plano axial faz ângulos iguais com ambos os flancos;
 Dobra Assimétrica - quando o plano axial faz ângulos diferentes com cada um dos flancos;
 Dobra Deitada - quando o plano axial é horizontal a subhorizontal;
 Dobra em leque - quando os flancos da dobra se aproximam mais intensamente na parte mediana.

Monoclinal
Anticilinal Sinclinal Isoclinal Assimétrica Deitada em Leque
Fig. 4.26. Diversos tipos de dobra

A Fig. 4.27 mostra algumas fotografias de dobras em afloramentos de Moçambique e Portugal.

Arrifana, Algarve, Portugal Castelejo, Alentejo, Portugal

Mina de Amianto, Mavita, Manica Muaguide, Cabo Delgado, Moçambique


Fig. 4.27. Alguns exemplos de dobras.
5. ROCHAS ÍGNEAS

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4.1. TIPOS DE INTRUSÕES E EXTRUSÕES


Já vimos em capítulo anterior que as rochas ígneas se formam a partir da consolidação/cristalização do magma,
que tanto pode ocorrer no interior como no exterior da crusta terrestre, dando origem, respectivamente, às rochas intrusivas
(plutónicas) e extrusivas (vulcânicas ou efusivas).
Sobre o modo como as rochas vulcânicas ocorrem, também já nos referimos atrás, quando falámos sobre os
tipos de vulcões. Resta-nos agora ver como é que as rochas intrusivas ocorrem, ou seja, como são os corpos rochosos de
origem ígnea resultantes da solidificação do magma em profundidade. A estes corpos dá-se o nome de plutões.
Muitos destes plutões estão hoje expostos à superfície em cadeias de montanhas ou no interior de continentes.
A erosão ao longo de milhões de anos removeu as camadas superficiais e os vulcões, pondo a descoberto os canais de
alimentação entre a câmara magmática e os vulcões. E porque o grau de erosão varia enormemente, é possível em alguns
lugares observar à superfície não só as partes superiores desses plutões como, em muitos casos, o seu próprio interior.
As intrusões ígneas podem assumir várias formas como se pode ver no esquema da Fig. 4.28:
a) Batólitos: é o tipo de intrusão de maiores proporções, com uma superfície mínima de 100 km 2, embora
geralmente sejam muito maiores;
b) Stocks: são corpos de dimensões menores, e geralmente ocorrem como protrusões de batólitos;
c) Lacólito: corpo em forma de lente plano-convexa, provocando o arqueamento das camadas por cima;
d) Lopólito: corpo em forma de lente côncava, em que a espessura varia ente 1/10 e 1/20 do seu diâmetro;
e) Dique: corpo tabular com paredes paralelas a sub-paralelas e que têm uma posição discordante em relação
às camadas que atravessa;
f) Soleira: corpo tabular com paredes paralelas a sub-paralelas e que têm uma posição concordante em relação
às camadas que atravessa;
g) Chaminé vulcânica: corpo resultante da solidificação da lava no canal de alimentação do vulcão.
Estes corpos intrusivos, em especial os batólitos e os stocks, contêm no seu interior pedaços das rochas
encaixantes, a que se chamam xenólitos (do Grego Xenos = estranho + Lithos = pedra).

Fig. 4.28. Tipos de intrusões ígneas

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4.2. TEXTURA E ESTRUTURA DAS ROCHAS ÍGNEAS


Como bem se pode entender, a velocidade de solidificação dum magma varia consoante ele arrefece em
profundidade ou perto da superfície (ou mesmo à superfície), uma vez que a temperatura é maior no interior da Terra do
que à superfície. Um exemplo ilustrativo deste processo é a velocidade de arrefecimento da comida no tempo quente ou
no tempo frio. No verão, a comida demora a arrefecer, mas no inverno, em poucos minutos a comida fica fria. Isto porque
as diferenças de temperatura entre a comida e o~ ambiente são maiores no inverno, e a velocidade de transferência de
calor é maior. O mesmo se passa com o arrefecimento do magma/lava.
Uma vez que um arrefecimento lento tende a formar cristais maiores do que o arrefecimento rápido, as rochas
intrusivas têm grãos maiores que as rochas extrusivas. Assim, diz-se que as rochas intrusivas têm textura fanerítica e as
extrusivas têm textura afanítica. Por textura entende-se o aspecto geral duma rocha evidenciado pelas relações entre as
suas partículas constituintes: tamanho e forma dos grãos, grau de cristalinidade, e arranjo espacial dos grãos.
A textura fanerítica é aquela em que os constituintes são observados megascopicamente, isto é, a olho nu. Por
seu lado, a textura afanítica é aquela em que os constituintes dificilmente são observados a olho nu ou mesmo com uma
lente. Normalmente é necessária a observação microscópica.
Por vezes acontece que no seio duma massa afanítica se observam alguns cristais bem formados, resultantes
duma cristalização fraccionada em profundidade, cujos cristais são arrastados à superfície junto com a lava que arrefece
mais depressa. Neste caso, estamos em presença de rochas porfiríticas. Aos cristais grandes no seio da massa de textura
fina chama-se fenocristais (do Grego phenos = grande).
Dentro de cada um destes grupos (faneríticas e afaníticas) há vários tipos de textura, que a seguir se descrevem,
ilustradas nas Fig. 4.29 e Fig. 4.30 (em esquema, e com exemplo real).
a) Texturas afaníticas (Fig. 4.29)
 Vítrea: os grãos não são visíveis, nem ao microscópio. A rocha tem aspecto de vidro;
 Hemicristalina: os grãos são tão pequenos que só são observáveis ao microscópio;
 Porfirítica: quando ocorrem fenocristais no seio duma matriz hemicristalina ou vítrea.

A – Textura Vítrea B – Textura Hemicristalina C – Textura Porfirítica


Fig. 4.29. Exemplos de texturas afaníticas. A – Obsidiana; B – Basalto; C – Basalto Porfirítico

b) Texturas faneríticas (Fig. 4.30)


 Granular: os grãos apresentam sensivelmente as mesmas dimensões, geralmente não excedendo o
tamanho dum grão de milho;
 Porfiróide: quando ocorrem fenocristais no seio duma matriz granular;

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 Pegmatítica: todos os minerais apresentam grãos de grandes dimensões.


 Aplítica/Sacaróide: é uma variedade de textura granular, em que os grãos são pequenos, do tamanho
de grãos de açúcar.

D – Textura Aplítica
A – Textura Granular B – Textura Porfiróide C – Textura Pegmatítica
Fig. 4.30. Exemplos de texturas faneríticas. A – Granito róseo de 2 micas; B – Pórfiro; C – Granito pegmatítico; D – Aplito.

Há outros tipos de texturas, mas são casos especiais.


Quanto à estrutura, as rochas podem ser classificadas em (Fig. 4.31):
a) Compactas: quando têm um aspecto maciço, sem interstícios;
b) Porosas: quando apresentam muitas vesículas pequenas, permitindo muitas vezes que flutuem na água
(caso da pedra-pomes);
c) Vesicular: quando as vesículas são maiores e em menor quantidade;
d) Amigdalóide: quando uma rocha vesicular tem as vesículas preenchidas por minerais formados
posteriormente à sua solidificação.

B
A
C D

Fig. 4.31. Estruturas das rochas ígneas. A – Compacta (Granito); B – Porosa (Pedra-pomes);
C – Vesicular (Basalto); D – Amigdalóide (Basalto)
4.3. COR DAS ROCHAS ÍGNEAS
As rochas ígneas podem ser ainda classificadas quanto à cor, pois elas variam desde cores claras (quase
brancas) a cores escuras, com todos os tons intermédios.
A cor das rochas tem a ver com os minerais presentes. Se uma rocha for constituída por minerais claros, como
o quartzo e os feldspatos, a rocha tem uma cor clara. Diz-se que é leucocrata. Se, por outro lado, for constituída por
minerais escuros, como as anfíbolas, plagioclases, piroxenas, olivinas, etc., a rocha tem cor escura. Diz-se que é
melanocrata. Se a rocha tiver proporções variáveis dos dois tipos de minerais, ela terá cores que variarão entre o claro e
o escuro, chamando-se assim mesocrata.

4.4. CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS ÍGNEAS


Como vimos anteriormente, o magma tanto pode consolidar em profundidade, como em superfície. Também
já referimos que os magmas se podem classificar em ácidos, neutros, básicos e ultrabásicos, em função do seu conteúdo
em SiO2. Referimos ainda que se o magma consolidar em profundidade origina rochas com textura fanerítica, e se
consolidar à superfície (ou perto) origina rochas com textura afanítica. Assim, é lógico supor que uma rocha intrusiva tem
a sua equivalente extrusiva.

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O conteúdo de SiO2 define a acidez da rocha ígnea (ponto 3.1.2), as quais podem ser classificadas em ácidas,
neutras (ou intermédias), básicas e ultrabásicas. Em geral, é possível reconhecer estes tipos de rochas em amostra de mão
pela sua cor, como resultado do conteúdo de minerais escuros presentes (ricos em Fe, Mg, chamados ferro-magnesianos).
Assim, as rochas escuras, ricas em minerais ferro-magnesianos, são chamadas de máficas (de Magnésio+Ferro), ao passo
que as rochas claras, mais ricas em quartzo e feldspatos são chamadas de félsicas (de Feldspato+Silica).
A Fig. 4.32 mostra a classificação das rochas ígneas em termos de:
a) percentagem em peso de sílica e volumétrica de minerais: ácidas, intermédias, básicas e ultrabásicas
b) local de solidificação do magma: plutónicas, hipabissais e vulcânicas;
c) cor: leucocratas, mesocratas e melanocratas
d) percentagem de máficos e félsicos.

Fig. 4.32. Tabela classificativa das rochas ígneas

Nesta figura aparece o termo hipabissal para referir rochas que se consolidam a meio caminho entre grandes
profundidades e a superfície, e consequentemente têm uma granulometria entre a das rochas plutónicas e das rochas
vulcânicas.
Na definição duma rocha, existem os chamados minerais essenciais, acessórios e secundários. Entende-se por
mineral essencial aqueles que por definição têm de estar presentes numa rocha. Mineral acessório é aquele que pode ou
não estar presente na rocha, não interferindo na sua classificação. Finalmente, mineral secundário é aquele que resulta
da alteração de outros. Assim, num granito, os minerais essenciais são o quartzo e o feldspato; as micas são acessórias, e
o caulino é secundário, resultando da alteração de feldspatos.
Vejamos agora a descrição dos principais tipos de rochas ígneas, cuja distribuição (muito geral) pode ser vista
na Fig. 4.34.

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4.4.1. GRANITO e RIOLITO


O Granito é uma rocha plutónica, que ocorre
geralmente como batólitos e stocks, podendo ocorrer em
diques. Tem como minerais essenciais o quartzo e o
feldspato potássico (normalmente ortoclase), e como
acessórios as plagioclases sódicas, as micas (moscovite
e/ou biotite), anfíbolas, piroxenas, etc.
Geralmente são de cor clara
Granito moscovítico (leucocratas), podendo ser mesocratas e
melanocratas em função dos minerais máficos
que contêm. Quando os feldspatos têm cor rosa,
o granito chama-se granito róseo (Fig. 4.30)
Quanto à textura, os granitos são geralmente
granulares ou aplíticos, podendo ser porfiróides ou
pegmatíticos. Assim, em função das texturas, os granitos
chamam-se granito (granular), granito porfiróide, granito
Granito biotítico pegmatítico (Fig. 4.30) ou aplito (Fig. 4.30).
Fig. 4.33. Tipos de granito Fig. 4.34. Localização das rochas ígneas em
Moçambique

Em função dos minerais presentes, os granitos podem chamar-se:


moscovítico (Fig. 4.33), biotítico (Fig. 4.33), de duas micas, anfibólico, piroxénico,
etc. A Fig. 4.35 mostra um granito visto ao microscópio.

Fig. 4.35. Lâmina delgada de granito biotítico

O Riolito é o equivalente vulcânico do granito, sendo também, por isso uma rocha ácida. A textura varia de
hemicristalina (Fig. 4.36.A) a porfirítica (Fig. 4.36.B) e vítrea. Neste último caso chama-se obsidiana (Fig. 4.29.A).
Devido à sua textura, é difícil observar a olho nu os seus minerais essenciais constituintes, que são os mesmos do granito.
A Fig. 4.36.C mostra um riolito visto ao microscópio.
Geralmente são meso-melanocratas, podendo ser cinzentos, castanhos, ou avermelhados, como os riolitos da
Cadeia dos Libombos. Típico destes riolitos dos Libombos são as estruturas de fluxão (Fig. 4.36.D). Além dos Libombos,
os riolitos ocorrem na Província de Tete, a SW e a SE da cidade de Tete. A pedra-pomes é um vidro vulcânico altamente
vesicular e poroso (Fig. 4.31.B).
Os equivalentes hipabissais destas rochas são chamadas de Microgranitos e geralmente têm textura aplítica.

A C D
B

Fig. 4.36. Riolitos. A. Textura hemicristalina; B. Textura porfirítica; C. Visto ao microscópio; D.


Estrutura de fluxão.
4.4.2. ROCHAS ÍGNEAS NEUTRAS
As rochas ígneas neutras ou intermédias caracterizam-se por terem como minerais essenciais as plagioclases
(feldspatos de Na e Ca), podendo ter ou não quartzo.
No que toca às rochas intrusivas, consoante o conteúdo decrescente de SiO2 e das plagioclases sódicas para as
plagioclases cálcicas, os tipos são: granodiorito, diorito e sienito (este sem quartzo). Os

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equivalentes vulcânicos destas rochas são, respectivamente: dacito, andesito e traquito. Dado o conteúdo decrescente de SiO2
e o conteúdo crescente de plagioclase cálcica, as rochas vão sendo cada vez mais escuras, passando de rochas leuco-mesocratas
a rochas meso-melanocratas. A Fig. 4.37 mostra estas rochas vistas ao microscópio.

rochas plutónicas

A. Granodiorito B. Diorito C. Sienito

Rochas vulcânicas

D. Dacito E. Andesito F. Traquito


Fig. 4.37. Rochas intermédias vistas ao microscópio

4.4.3. GABRO, BASALTO e DOLERITO


O Gabro é uma rocha plutónica, que ocorre geralmente como stocks e
diques/soleiras. Por vezes ocorrem em lopólitos de enormes dimensões, como é o caso do
Complexo de Tete. Tem como minerais essenciais as plagioclases cálcicas e as piroxenas,
e como acessórios as anfíbolas, as micas (biotite), a magnetite, etc.
Geralmente são negros (melanocratas - Fig. 4.38.A), podendo ser cinzentos
escuros (mesocratas - Fig. 4.38.B) em função dos minerais acessórios que contêm. São
rochas pobres em SiO2, por isso são rochas básicas. A

Quanto à textura, os gabros são geralmente granulares, podendo ser


pegmatíticos e, raramente, porfiróides. A Fig. 4.38.C mostra um gabro visto ao
microscópio

O Basalto é o equivalente vulcânico do gabro, sendo também, por isso uma


B
rocha básica. A textura varia de hemicristalina (Fig. 4.29.B) a porfirítica (Fig. 4.29.C). C
Devido à sua textura, é difícil observar a olho nu os seus minerais essenciais constituintes,
que são os mesmos do gabro. A Fig. 4.29.C mostra um basalto visto ao microscópio.
Geralmente são melanocratas, podendo ser negros e cinzentos, por vezes com Fig. 4.38. A. Gabro melanocrata de
textura granular; B. Gabro
tons avermelhados ou esverdeados (Fig. 4.29.B). Típico dos basaltos são as estruturas mesocrata de textura porfiróide; C.
amigdalóides (Fig. 4.31.D) e vesicular (Fig. 4.31.C). Em Moçambique os basaltos Gabro visto ao microscópio
ocorrem nos Libombos, na Faixa do Búzi, na Província de Tete e em Angoche. A escória
é um vidro vulcânico básico altamente vesicular (Fig. 4.31.B).
Os equivalentes hipabissais destas rochas são chamados de Doleritos e geralmente têm textura aplítica. A Fig.
4.39 mostra dois diques doleríticos cortando os riolitos dos Libombos, na auto-estrada entre a Moamba e Ressano Garcia.

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Fig. 4.39. Dois diques doleríticos a cortar os riolitos dos Libombos,


na estrada Moamba-Ressano Garcia.

4.4.4. PERIDOTITO
O Peridotito é uma rocha intrusiva constituída fundamentalmente por olivina, Fig. 4.40. Peridotito visto ao
contendo alguma piroxena, como minerais essenciais. A Fig. 4.40 mostra um peridotito microscópio
ao microscópio.

4.4.5. OUTRAS ROCHAS ÍGNEAS


Como se viu atrás, há vários tipos de erupções vulcânicas, umas
calmas, outras mais explosivas. Neste caso, a erupção lança para a atmosfera
toneladas de partículas de dimensões várias, incandescentes ou não. As mais
pesadas caiem imediatamente nas imediações do vulcão, mas as mais finas
podem ser transportadas pelo vento a distâncias várias, depositando-se em Fig. 4.41. Caixa feita de Tufo vulcânico (rocha
seguida. São as rochas piroclásticas (do Grego pyros = fogo + klastos = piroclástica, Mpumalanga, RSA)
fragmento). A Fig. 4.41 mostra uma caixa feita dum tipo destas rochas - tufo
vulcânico - podendo notar-se uma estrutura em camadas, típicas das rochas
sedimentares. De facto, as rochas piroclásticas estão na transição entre as rochas
ígneas e as rochas sedimentares.

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6. ROCHAS METAMÓRFICAS

5.1. INTRODUÇÃO
Já referimos em capítulos anteriores que a Terra é um sistema activo e
dinâmico. As rochas, uma vez soterradas a grandes profundidades, podem ser
deformadas e as temperaturas podem ser alteradas por esse soterramento ou pela
proximidade de corpos magmáticos. Em resposta a estas mudanças das condições
ambientais, as características das rochas podem alterar, ou seja, sofrem
metamorfismo tornando-se rochas metamórficas.
As alterações metamórficas podem ser de dois tipos principais:
a) as que afectam as espécies minerais (composição mineralógica);
b) as que afectam a forma e o arranjo dos grãos minerais (estrutura e
textura).
A diferença entre os dois tipos de alterações podem ser observadas em
fenómenos e processos actuais (naturais ou industriais):
A neve, formada por cristais soltos como os da Fig. 4.42.a,
é transformada em gelo compacto com o soterramento dessa neve
por novas camadas de neve. Esta transformação não envolve
mudança nos constituintes minerais (gelo) e pode ocorrer sem fusão.
Esta modificação de cristais complexos (Fig. 4.42.a) em formas mais Fig. 4.42. Formas dos grãos de neve e de gelo
compacto
simples, granulares (Fig. 4.42.b) torna os contactos entre os grãos
muito mais fechados, tornando o gelo mais compacto que a neve.
As mudanças na composição mineralógica em rochas são artificialmente causadas em fornos. Por exemplo, no
fabrico do cimento, o calcário, constituído por calcite (CaCO3), é transformado pelas altas temperaturas em cal (CaO),
com libertação de CO2. Do mesmo modo, rochas contendo minerais de metais (como óxidos e sulfuretos) sofrem
alterações para produzir metais nativos.
As variações de temperatura e pressão são as causas óbvias do metamorfismo das rochas, mas não são os
únicos. As alterações podem ser induzidas como resultado de mudanças na composição química. Em tais casos, as
mudanças estão geralmente associadas com o movimento de fluídos (sejam gases, sejam fusões magmáticas).
A variedade de mudanças que podem afectar as rochas é enorme, e por isso o âmbito do metamorfismo é limitado,
por conveniência, aos processos em que a rocha se mantém fundamentalmente sólida durante as alterações. Os processos de
meteorização das rochas à superfície da Terra envolvem alterações das rochas como resultado das reacções com o oxigénio
do ar e com as águas superficiais e subterrâneas. Estes processos, em conjunto com a erosão e a deposição leva à formação de
rochas sedimentares e não são, por isso, considerados como parte do metamorfismo. Considera-se, por isso, que os processos
metamórficos envolvem temperaturas e pressões muito maiores do que as que se encontram à superfície da Terra.
A fronteira exacta para distinguir os processos de formação de rochas sedimentares dos processos
metamórficos é arbitrária. Com o aumento da profundidade de soterramento, as condições que dão origem à consolidação
dos sedimentos em rochas sedimentares não têm fronteira nítida com as condições que transformam estas rochas
sedimentares em rochas metamórficas. Falamos aqui na pressão.
No outro lado das condições metamórficas, há a considerar a temperatura. Às mais altas temperaturas, as rochas
não sofrem só mudanças mineralógicas, mas podem também sofrer fusão, originando os magmas, e aqui os processos
deixam de ser metamórficos para serem magmáticos.
Com estas condições em mente, a definição de metamorfismo não envolve todas as condições de alterações de
rochas. Assim, uma definição largamente aceite é:
"Metamorfismo é o ajustamento mineralógico e estrutural das rochas sólidas às condições físicas e químicas
que surgem em profundidade, abaixo da zona de metamorfismo e cimentação, e que diferem das condições em
que as rochas se originaram".
(F.J. Turner & J. Verhoogen, 1960, Igneous and Metamorphic Petrology, McGraw-Hill).
É de referir que, dado que a passagem dos processos sedimentares aos metamórficos e destes aos magmáticos
é gradual, desde zonas de temperaturas e pressões baixas a temperaturas e pressões altas, podemos considerar que há
vários graus de metamorfismo, desde o metamorfismo de baixo grau ao metamorfismo de alto grau. A Fig. 4.43 mostra
um diagrama das várias condições de metamorfismo em função da pressão (profundidade) e temperatura.

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Fig. 4.43. Graus de metamorfismo em função da pressão e da temperatura

5.2. TEXTURAS E ESTRUTURAS DAS ROCHAS METAMÓRFICAS


Vimos anteriormente que a acção dos agentes de metamorfismo provocam alterações nas
rochas preexistentes, alterando-lhes a composição mineralógica e química e o seu aspecto macroscópico
(estrutura e textura). Isto leva a que as texturas e estruturas que estudámos nas rochas ígneas (e mais à
frente nas sedimentares) sejam modificadas, aparecendo novas texturas e estruturas nas rochas
metamórficas.
Os novos grãos de minerais que se formam durante os processos de metamorfismo são chamados cristais de
neoformação ou neoblastos (do Grego Neo = novo + Blastein = germinar), ou seja, durante o metamorfismo há uma
recristalização, que pode ser total ou parcial.
A textura das rochas metamórficas é sempre cristalina, podendo ser de grão mais ou menos fino ou grosseiro,
e sobrepõe-se sempre à textura preexistente na rocha de origem, como consequência dos fenómenos de recristalização.
Assim, as texturas mais frequentes nas rochas metamórficas são:
a) Granoblástica: os neoblastos são grãos sensivelmente do mesmo tamanho (Fig. 4.44.A);
b) Porfiroblástica: notam-se fenoblastos no seio duma massa granoblástica (Fig. 4.44.B);
c) Lepidoblástica: neoblastos em forma de lamelas ou escamas, como as micas (Fig. 4.44.C);
d) Nematoblástica: os neoblastos são fibrosos ou aciculares, como as anfíbolas (Fig. 4.44.D).
A B C D

Fig. 4.44. Texturas de rochas metamórficas. A. Granoblástica; B. Porfiroblástica; C. Lepidoblástica; D. Nematoblástica.


Em baixo: A. Mármore; B. Micaxisto com granada; C. Micaxisto; D. Anfibolito

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No que toca à estrutura, é comum as rochas metamórficas apresentarem orientação dos neoblastos, como
resposta às altas pressões exercidas durante a sua formação. As rochas que não apresentam orientação dos neoblastos diz-
se que têm estrutura maciça (Fig. 4.45.A), como é o caso do mármore. Quando há orientação dos neoblastos, as estruturas
são:
a) Xistosidade: quando há orientação dos neoblastos em planos que permitem a partição da rocha em placas; esta
estrutura é frequente em rochas com muita mica, caso dos micaxistos (Fig. 4.45.B);
b) Foliação: é um estágio mais avançado da xistosidade e pressupõe a existência de fenómenos de
recristalização; ocorre em rochas com bastante mica, mas com maior proporção de minerais equigranulares,
como o quartzo e o feldspato, como é o caso dos gneisses (Fig. 4.45.C);
c) Lineação: quando ocorrem fundamentalmente minerais de hábito acicular ou prismático, que dão a ideia
de haver "linhas" na rocha, como é o caso dos anfibolitos (Fig. 4.45.D);
d) Cataclástica: ocorre em rochas que sofreram essencialmente efeitos de altas pressões a baixas
temperaturas, caso do metamorfismo dinâmico (Fig. 4.45.E).
A B C

D
E

Fig. 4.45. Estruturas das rochas metamórficas. A. Maciça; B. Xistosidade;


C. Foliação; D. Lineação; E. Cataclástica

5.3. CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS METAMÓRFICAS


A classificação das rochas metamórficas não é tão simples como no caso das rochas ígneas, dadas as variedades
de efeitos que os agentes de metamorfismo provocam nas rochas de origem. Contudo, alguma sistematização é possível,
no que toca à estrutura e à rocha de origem. Assim:
a) Quanto à estrutura: rochas foliadas e não-foliadas, sendo as últimas as que têm uma estrutura maciça, e as
outras uma estrutura não maciça;
b) Quanto à rocha de origem: se provêm de rochas ígneas, levam o prefixo orto- (ex. ortogneisse); se provêm
de rochas sedimentares, levam o prefixo para- (ex. paragneisse);

5.4. PRINCIPAIS ROCHAS METAMÓRFICAS


5.4.1. Rochas Foliadas
5.4.1.1. Rochas de Baixo Grau de Metamorfismo
ARDÓSIA e FILITO
A rocha metamórfica foliada de baixo grau de metamorfismo mais conhecida é a ardósia, usada há séculos como
cobertura de casas e como quadros-negros das escolas. Duas propriedades contribuem para isto:
a) é densa, de textura muito fina uniforme; e
b) pode ser clivada em placas de superfícies paralelas lisas (Fig. 4.46.A) (esta propriedade chama-se clivagem
de rocha para a distinguir da clivagem dos minerais).
Esta clivagem da ardósia é devida a uma foliação muito fina desenvolvida durante o metamorfismo e resulta
das placas de mica muito finas dispostas paralelamente entre si (Fig. 4.46.B).
A ardósia é geralmente negra, podendo ser azulada, esverdeada ou acinzentada. A sua composição mineral não
é possível ser vista a olho nu, mas a maioria dos minerais são filossilicatos do grupo das micas, podendo conter grãos de
quartzo, pirite e outros.

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B
A
Fig. 4.46. A. Placa de ardósia, vendo-se a superfísice de clivagem lisa; B. Ardósia
vista ao microscópio (notar a disposição paralela dos grãos.

A ardósia provém do metamorfismo de rochas sedimentares tipo argilito e siltito (ver Tema V) e de rochas
piroclásticas do tipo tufo vulcânico.
Muitas vezes é possível observar na ardósia estruturas das rochas originais.

O Filito é uma rocha semelhante à ardósia, mas com uma granulometria mais grosseira, na transição entre a
ardósia e o xisto (descrito a seguir). Tem a mesma origem da ardósia, mas representa um grau de metamorfismo um pouco
mais elevado.

5.4.1.2. Rochas de Grau de Metamorfismo Intermédio


XISTO
A rocha mais conhecida deste grupo é o xisto. Enquanto que na ardósia (e filito) os minerais não são
observáveis a olho nu, no xisto isto já não acontece. Todos os xistos contêm minerais achatados, tabulares (micas) ou
fibrosos, e o grau em que estes minerais se desenvolveram em orientações paralelas determina o grau de xistosidade que
estas rochas apresentam, o que faz com que os xistos se clivem em blocos tabulares. Geralmente os xistos apresentam
zonas alternadas de composição mineralógica diferente: uma banda pode conter principalmente minerais em folha
(filossilicatos - moscovite, biotite, etc.), e a banda adjacente pode conter essencialmente quartzo e feldspato.
No caso dos xistos, as estruturas das rochas originais já não são visíveis, tendo sido completamente adulteradas
pelo metamorfismo.
A presença de vários minerais origina a que os xistos possam ser
adjectivados de várias maneiras: xisto moscovítico (ou micaxisto
moscovítico), x. biotítico (ou micaxisto biotítico), micaxisto granatífero
(Fig. 4.44.B), etc., etc.
5.4.1.3. Rochas de Alto Grau de Metamorfismo
A
GNEISSES
Rocha de alto grau de metamorfismo (metamorfismo regional), de aspecto
bandado (Fig. 4.47.A), usualmente com bandas claras alternando com bandas escuras. As
bandas claras são constituídas por quartzo e feldspatos, enquanto que as escuras podem ser
constituídas de micas, anfíbolas, piroxenas, e outros minerais máficos. Assim, em função dos
minerais presentes, os gneisses podem ser moscovíticos, biotíticos, de duas micas,
anfibólicos, etc. Muitas vezes os feldspatos e outros minerais, concentram-se em corpos B
arredondados ou elípticos, dando origem ao gneisse olhado (Fig. 4.47.B).
A textura é geralmente granoblástica, em que o tamanho dos grãos
de quartzo e feldspato são mais ou menos do mesmo tamanho que os seus
equivalentes graníticos. Contudo, podem aparecer fenoblastos, conferindo-
lhe uma textura porfiroblástica.
C
Durante a recristalização da rocha sob a acção directa de altas pressões e Fig. 4.47. A Gneisse normal; B.
temperaturas, os minerais foram rearranjados de modo a que a maioria dos minerais claros Gneisse olhado; C. Gneisse de
se agruparam em bandas diferentes das dos minerais escuros, dando origem à estrutura de foliação dobrada
foliação, que se apresenta muitas vezes de aspecto dobrado e contorcido (Fig. 4.47.C).

Provavelmente esta deformação deu-se no estado plástico, isto é, se bem que a rocha
estivesse ainda no estado sólido, ela foi capaz de fluir, do mesmo modo que a manteiga pode fluir
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sem derreter. A ocorrência destas deformações plásticas é um argumento a favor de altas temperaturas
durante a sua formação, suficientemente altas para amolecê-la e originar fluxão plástica.
No caso de os gneisses não conterem micas mas sim minerais do tipo anfíbola ou piroxena, o gneisse deixa de
ter foliação para passar a ter lineação.
As rochas de origem dos gneisses podem ser ígneas (granitos) ou sedimentares (arenitos), dando assim origem
a ortogneisses e a paragneisses.

5.4.2. Rochas Não Foliadas


As rochas não foliadas são originadas pelos mesmos processos que originam as rochas foliadas, mas como
consequência da sua composição mineralógica, não apresentam bandamento. Os exemplos mais comuns são o mármore
e o quartzito. Ambos os tipos de rochas apresentam textura granoblástica.
MÁRMORE
O mármore é uma rocha cristalina de grão fino a grosso, e resulta do metamorfismo de rochas sedimentares
calcárias. Consistem, por isso, quase só de calcite. Na transformação do calcário em mármore a temperaturas e pressões
relativamente altas (metamorfismo regional), as estruturas sedimentares originais bem como os fósseis que os calcários
continham, desaparecem e, como resultado, surge uma rocha composta de grãos de calcite equigranulares, pelo que não há
possibilidade de haver foliação (Fig. 4.44.A).
Deve referir-se que nem todos os mármores provêm de metamorfismo regional. O metamorfismo de contacto
também pode originar mármore.
O mármore puro (isto é, só calcite) é branco de neve, caso do famoso mármore de Carrara (Itália). Moçambique
também tem deste tipo de mármore, na zona de Montepuez (Cabo Delgado). Contudo, geralmente o mármore não é de
cor branca pura, como já toda a gente tem observado esta rocha em vários edifícios, interiores, etc.
Ele apresenta muitas vezes zonas cinzentas/negras, coloridas pela presença de matéria carbonosa, castanhas ou
avermelhadas, devido a óxidos de ferro, e verdes, devido a silicatos de Fe,Mg.

QUARTZITO
Resulta do metamorfismo de arenitos quartzosos (ver Tema V), em que
os espaços entre os grãos de quartzo da rocha original são preenchidos por quartzo
de cristalização mais tardia. Acontece normalmente que a sílica cristalizada entre
os grãos de quartzo é mais resistente que a sílica dos grãos de quartzo, e o quartzo
tende assim a quebrar pelos grãos e não pela sílica intersticial, o que os distingue
dos arenitos quartzosos sedimentares. Este tipo de rochas forma-se em graus de
metamorfismo de temperaturas intermédias a altas.
São rochas geralmente de cores claras, branco se o quartzo predominar,
mas podendo ter várias cores em função das impurezas que contém (Fig. 4.48). Fig. 4.48. Quartzito de Manica

CORNEANA
Grandes intrusões (batólitos, p.ex.), que levam muitos milhares a milhões de anos a arrefecer, podem
influenciar zonas muito extensas. Nestes casos, as rochas originais convertem-se em rochas maciças, densas e muito
duras, chamadas corneanas.

5.4.3. Rochas Mistas Metamórficas/Magmáticas


A grandes profundidades as temperaturas podem ser tão altas (entre 600º-800ºC) que os minerais podem fundir
(se nos recordarmos da Série de Bowen (ponto 3.1.3), vimos que os minerais cristalizam do magma a temperaturas
diferentes, começando nas olivinas e terminando no quartzo. Do mesmo modo, as temperaturas de fusão são dispostas na
ordem inversa das temperaturas de cristalização).
Se um gneisse, consistindo de bandas claras de quartzo e feldspato alcalino alternando com bandas escuras de
minerais ferro-magnesianos, for sujeito a essas altas temperaturas, os minerais não ferro-magnesianos, que têm um ponto
de fusão menor que os ferro-magnesianos, são os primeiros a fundir.

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As bandas de minerais ferro-magnesianos, com temperaturas de fusão mais


altas, podem tornar-se algo plásticas, mas mantêm-se sólidas. Se a temperatura estabilizar
a esse ponto e depois baixar, a rocha resultante seria constituída de bandas de rocha
metamórfica (constituída de minerais ferro-magnesianos) alternando com rocha
plutónica granítica de cor clara. A este tipo de rochas mistas plutónicas/metamórficas de
alto grau chama-se migmatitos (Fig. 4.49)
No exemplo acima, se a temperatura não tivesse estabilizado, antes porém
continuasse a subir, os minerais ferro-magnesianos acabariam também por fundir,
Fig. 4.49. Migmatito
originam-se assim um magma.

5.4.4. Rochas Cataclásticas


Como vimos anteriormente, as rochas cataclásticas formam-se em zonas de baixa temperatura mas de altas
pressões (metamorfismo dinâmico) que provocam a fragmentação da rocha original, originando uma rocha com total falta
de coesão. Como consequência, estas rochas são quebradiças e facilmente fragmentáveis. O exemplo mais comum é o
milonito (do Grego Mylos = moinho).

5.4.5. Outras Rochas Metamórficas


Evidentemente que os tipos de rochas metamórficas descritos anteriormente não são os
únicos, mas são os mais frequentes.
A Fig. 4.50 mostra a origem das rochas metamórficas mais comuns e a Fig. 4.51 mostra a composição
mineralógica média das mesmas. Nestas figuras podemos ver nomes como anfibolito e xisto verde e serpentinito.

Fig. 4.50. Estrutura e mineralogia das rochas metamórficas mais comuns.

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Fig. 4.51. Origem das rochas metamórficas comuns.

5.5. OCORRÊNCIA DE ROCHAS METAMÓRFICAS EM MOÇAMBIQUE


Moçambique é rico em rochas metamórficas nas províncias centrais e
nortenhas do País. As províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Zambézia, Tete e
Manica são constituídas praticamente só por rochas metamórficas (Fig. 4.52).

Fig. 4.52. Ocorrência de rochas metamórficas em Moçambique

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TEMA 5: GEODINÂMICA EXTERNA

7. INTRODUÇÃO
Entende-se por Geodinâmica Externa o conjunto de fenómenos geológicos que ocorrem à superfície da Terra
(ou perto dela) e dos agentes que neles tomam parte, e que são responsáveis pelas constantes mudanças que se verificam
nessa superfície. Esses agentes são de quatro tipos: gravidade, agentes atmosféricos, água (mares, lagos, rios, etc.) e
seres vivos
A superfície da Terra (marinha e continental) está coberta por uma camada de sedimentos que, por processos
de actuação lenta, acabam por consolidar e dar origem a rochas sedimentares.
As rochas sedimentares formam-se tanto em terra como no mar, em ambientes que nos são muito mais
familiares do que os ambientes profundos da crusta onde se formam as rochas ígneas e metamórficas. São ambientes que
estão ao acesso directo dos nossos olhos. As rochas sedimentares constituem 66% da área dos continentes e, considerando
os continentes e oceanos, a sua espessura média é de 2 km.
A história da Terra caracteriza-se por mudanças constantes. Muitas dessas mudanças são muito lentas ou
mesmo imperceptíveis, mas ao fim de milhares e milhões de anos, os efeitos são dramáticos.
As rochas da Terra registaram essas mudanças e elas podem contar-nos histórias fascinantes
sobre o seu contínuo desenvolvimento.
No capítulo anterior falámos dos processos internos da Terra - magmáticos e metamórficos. As rochas
produzidas por estes processos acabam por entrar em contacto com o ar e a água à superfície da Terra. Aqui entra em
jogo um conjunto completamente diferente de processos - os processos externos.
Estes processos externos atacam as rochas ígneas e metamórficas, alterando os minerais silicatos (e não só) e
libertando os seus constituintes para as águas superficiais. Os processos externos originam os solos de que as plantas
dependem como modo de vida.
No capítulo II falámos da composição da Terra. Além da litosfera, há 3 outras "esferas" de enorme importância
para o Homem. Uma é a atmosfera, ou envelope gasoso do planeta; outra é a hidrosfera, constituída pela água líquida
dos mares, lagos, rios e oceanos; e finalmente a última é a biosfera, constituída pelo conjunto de seres vivos que vivem
à superfície da Terra. Todas estas três esferas são importantes para os processos geológicos, incluindo a formação de
rochas e minerais.
De referir que as superfícies dos continentes são lugares onde estas três "esferas" interagem entre si e com a
litosfera, sendo por isso lugares de intensa actividade química e física. Nos fundos oceânicos a atmosfera não tem acção
directa, mas também é intensa a actividade físico-química.
Durante estes processos a energia é gasta e transformada, enquanto que os materiais orgânicos e inorgânicos
são constantemente sintetizados e decompostos. A principal fonte de energia vem do Sol.
O objectivo fundamental deste capítulo é entender os processos (físicos, químicos e biológicos) que levam à
formação das rochas sedimentares

8. AGENTES DA GEODINÂMICA EXTERNA


Como vimos atrás, os agentes da geodinâmica externa são os responsáveis pelas transformações
que se verificam à superfície da Terra. Os processos naturais envolvidos estão relacionados com a acção
dos rios, vento, ondas, correntes, glaciares, água subterrânea, seres vivos e a atracção da gravidade
exercida sobre todos os materiais à superfície. A acção global destes agentes tem como efeito a tendência
de alisamento da superfície extremamente irregular da Terra. Poder-se-á então perguntar porque é que a
Terra não tem a superfície lisa? Porque precisamente os agentes da geodinâmica interna - tectónica de
placas, magmatismo, vulcanismo e metamorfismo - têm tendência a contrariar esta acção, provocando
continuamente a formação de cadeias de montanhas e de depressões.

2.1. GRAVIDADE

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Este é o agente mais espalhado, e que dá origem aos movimentos de terras. É um processo que
ocorre em todos os tipos de climas e joga um papel importantíssimo em conjunto com todos os outros
agentes.

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A gravidade tem um papel


importante no movimento dos
materiais encostas abaixo até pontos
de cotas mais baixas, incluindo os rios,
onde as correntes os carregam para
longas distâncias; origina colapso de
cavernas erodidas pela água
subterrânea; actua com o vento para
originar as dunas; opera tanto nos
oceanos como em terra.
Um exemplo nítido da acção da
Fig. 5.1. Vala aberta no Bairro do Trevo. gravidade é o buraco criado na Av.
Março de 2000
Julius Nyerere, junto à entrada do
Campus Universitário, aquando das
chuvas torrenciais de Janeiro de
2000. A Fig. 5.1 mostra um
fenómeno idêntico que ocorreu no
Bairro do Trevo na mesma altura.
Pode-se ver a dimensão enorme do
Fig. 5.2. Deslizamento de terras na ponte
da Vulcano sobre a Rua da Vala. Marçoburaco criado pelo deslizamento de
de 2000 terras terreno abaixo. A Fig. 5.2
mostra os deslizamentos que
ocorreram na ponte da Vulcano sobre
a Rua da Vala na mesma altura.

2.2. AGENTES ATMOSFÉRICOS


Os agentes atmosféricos que agem sobre a superfície da Terra são
quatro: vento, calor, fenómenos eléctricos e precipitação atmosférica. Mas antes
deveremos falar um pouco sobre a atmosfera, que é a camada de gases que
envolve o globo terrestre. A Fig. 5.3 mostra em esquema a estrutura da atmosfera
em camadas.
A parte inferior da atmosfera, que vai até uma altitude de cerca de 10
km (Troposfera), é constituída essencialmente de oxigénio e azoto, com
quantidades menores de vapor de água, anidrido carbónico (CO 2) e outros gases
(Tab. 5.1). Apesar das pequenas quantidades, o CO2 é a principal causa do
chamado efeito de estufa, uma vez que este gás age do mesmo modo que o vidro
duma estufa que permite a entrada dos raios solares, mas impede que parte da luz
reflectida se escape, fazendo com que a energia seja retida e aqueça a estufa. A
energia retida na atmosfera é determinada principalmente pela quantidade de
CO2. Assim, o gás exerce um controle crítico da temperatura e,
consequentemente, do clima, do tamanho das calotes polares e do nível do mar.
Entre os 40-80 km acima da superfície, o oxigénio (O2) é convertido
em ozono (O3), que absorve a luz ultravioleta e serve de escudo protector à vida
na Terra. Sabe-se que, no início, a vida desenvolveu-se nos mares onde estava
protegida desta radiação mortal. Só quando a camada de ozono se começou a
formar na atmosfera é que a vida se aventurou em terra.
O limite inferior da atmosfera é a superfície dos oceanos e continentes,
mas não há uma fronteira superior nítida. Perto da superfície da Terra, o ar está
Fig. 5.3. Estrutura da atmosfera
comprimido pelo peso do ar que lhe fica por cima e por isso é muito mais denso.
Praticamente todo o ar está até aos 96 km acima da superfície. Acima dos 960
km a atmosfera consiste de hélio e hidrogénio e acima dos 2400 km só existem
partículas de hidrogénio.

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Tab. 5.1. Composição da Troposfera.


%. Vol.
Constituintes praticamente Azoto (N2) 78.1
constantes em abundância Oxigénio (O2) 20.9
relativa Árgon (Ar) 0.9
Anidrido Carbónico (CO2) 0.03
Constituintes que Vapor de água (H2O)
variam em Ozono (O3)
abundância Dióxido de Enxofre (SO2)
Dióxido de Azoto (NO2)
Monóxido de Carbono (CO)
Constituintes que ocorrem Néon (Ne)
em quantidades Hélio (He)
vestigiais Crípton (Kr)
Xénon (Xe)
Hidrogénio (H2)
Metano (CH4)
Óxido Nitroso (NO3)
Rádon (Rd)

Se bem que a atmosfera junto à superfície da Terra seja constituída maioritariamente por azoto, é a presença
do oxigénio, CO2 e vapor de água que mais interessa aos geólogos. A grande maioria dos organismos não pode sobreviver
sem oxigénio, e o CO2 é vital para as plantas (fotossíntese). A água, que ocorre como vapor em quantidades relativamente
pequenas, desempenha vários papeis vitais: é essencial à grande maioria dos seres vivos, é o principal agente de absorção
do calor na atmosfera e é a principal substância envolvida nos processos de erosão e meteorização.
A atmosfera está em constante agitação e movimento, como se pode ver pelos padrões climáticos mundiais,
agitação e movimento esses que têm como causa principal a energia solar. As deslocações de ar têm o nome de ventos.
Devido à forma esférica da Terra, o calor do sol é mais
concentrado nas regiões equatoriais do que nas regiões polares (Fig.
5.4). Assim, por cima do Equador a atmosfera é mais quente do que
sobre os pólos. Devido a estas mudanças de temperatura, a atmosfera
é palco de correntes de convexão (Fig. 5.5), como acontece no manto
(ver Capítulo II). Assim, o ar quente do equador circula para os pólos
e o ar frio dos pólos circula para o equador, num processo contínuo.
É evidente que o esquema da Fig. 5.5 é extremamente simplificado, Fig. 5.4. Irradiação diferente no equador e
nos pólos por parte da luz solar
pois considera a Terra uma superfície lisa, o que não é verdade. A
Terra tem enormes acidentes geográficos que alteram por completo
este modelo simplista, dando origem a variações locais a que se dá o
nome de microclimas. Vejamos então quais são as acções dos
agentes atmosféricos.
a) Acções Térmicas: as acções térmicas fazem-se sobretudo sentir nas
regiões com diferenças térmicas diárias ou anuais muito grandes. Um
caso típico é o dos desertos, onde durante o dia o calor é imenso, e à noite Fig. 5.5. Correntes de convexão atmosférica
a temperatura baixa, por vezes abaixo de 0ºC. Quando a temperatura sobe
durante o dia, os corpos dilatam e à noite, contraem por abaixamento de
temperatura, por vezes bruscamente. Só o facto de os materiais dilatarem
e contraírem alternada e constantemente já é razão suficiente para que os
grãos se comecem a separar uns dos outros e a rocha se desagregue, por
um lado, e vá criando fracturas (diaclases) por outro. Ainda, sendo as
rochas constituídas por grãos de diversos minerais, cada um com o seu
coeficiente de dilatação próprio, a resposta de cada mineral às variações Fig. 5.6. Acção térmica do gelo-degelo da
de temperatura vai ser diferente, o que ajuda à desagregação e água. A. Água congelada, aumentando os
fracturação. Obviamente que estas variações são mais fortes à superfície espaços das fracturas; B. Detritos depositados
do que em profundidade, o que faz com que a desagregação seja mais no sopé do declive por acção da gravidade
forte à superfície do que em profundidade. Esta é uma razão para a origem
dos solos.
As fracturas e espaços criados pela desagregação das rochas são espaços por onde a água se infiltra. Se as
temperaturas forem muito baixas, a pontos de a água congelar, há um aumento de volume da água. Este aumento de

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volume vai exercer pressões enormes nas rochas, ajudando à fracturação. Por exemplo, a água contida em fracturas
congela e o gelo funciona como uma espécie de cunha que vai alargando as fracturas (Fig. 5.6).
b) Acções eléctricas: são exercidas pelo raios e faíscas que podem
fragmentar ou fundir as rochas onde caem. Quando um raio cai num
terreno, ele descarrega milhões de volts em fracções de segundo. Este
enorme fluxo de energia pode fundir o material que encontra, em especial
se for solto como a areia, devido às enormes temperaturas criadas. O
arrefecimento seguinte é muito rápido, deixando no terreno a verdadeira
e a própria forma do raio como uma marca deixada em barro (Fig. 5.7).
A estes corpos de aspecto vítreo provocados por descargas eléctricas dá-
se o nome de fulgoritos. Fig. 5.7. Exemplo dum fulgorito

c) Acções mecânicas: são produzidas pela precipitação atmosférica (chuva) e


pelos ventos. Se observarmos uma imagem do impacto duma gota de água
sobre a areia, pode ver-se que esta é deslocada por acção do impacto (Fig.
5.8). Se agora milhões destas gotas embaterem em simultâneo sobre uma
superfície, podemos imaginar o efeito global durante uma chuvada. A acção
também é efectiva sobre rochas duras, mas o seu efeito é imperceptível, e só
ao fim de muitos anos é que o efeito é visível. Daí o ditado: água mole em
pedra dura tanto bate até que fura!
Fig. 5.8. Impacto duma gota de chuva
Quando a chuva cai, o impacto de cada gota de chuva tem um efeito profundo na taxa de erosão dum determinado
sítio. O impacto pode separar agregados de solo e levantar as partículas até cerca de 1/2 metro de altura e afastá-las
a cerca de 1.5 metros de distância. Estes valores variam com o tamanho e velocidade de queda da gota, e das
características do solo e da vegetação.
O vento resulta de deslocações de ar provocadas por variações de pressão atmosférica e de temperatura. Tem
efeitos vários, desde a destruição ao transporte.
As acções mecânicas são de vários tipos: destruição, transporte e sedimentação.
 Acções de destruição e transporte: o vento desnuda as rochas,
arrancando-lhes todas as partículas soltas que se encontram à superfície
- deflação. A deflação é tanto mais facilitada quanto menos vegetada for
a área. São exemplos destes locais as zonas desérticas e semi-desérticas,
as zonas de leitos secos de rios e lagos, etc. As partículas arrancadas são
depois transportadas para outros locais, mais ou menos longe do local de
origem, em função da força e da duração do vento. As partículas, ao Fig. 5.9. Grãos polidos e facetados por
serem transportadas pelo vento, batem umas nas outras e nas rochas, acção do vento
desgastando-se mais ainda, através do processo de abrasão (Fig. 5.9)
Todos temos a ideia deste fenómeno quando estamos na praia em dias
ventosos e sentimos as picadelas da areia na pele.
Nas regiões desérticas são frequentes as tempestades de areia (Fig. 5.10),
provocadas por fortes ventos soprando sobre as dunas. Nestes casos o
desgaste é particularmente intenso, e as partículas tornam-se polidas e
facetadas.
Fig. 5.10. Tempestade de areia em Porto
Não só o vento é responsável pela destruição e pelo transporte. A água Sudão, junto ao Mar Vermelho
e o gelo também. Na Fig. 5.1 pode ver-se a acção de desgaste das águas
da chuva sobre o solo. O mesmo se passa com os glaciares ao se
moverem sobre as rochas: desgastam e transportam. A Fig. 5.11 mostra
um bloco balançante produzido pelo desgaste das rochas pelas partículas
transportadas pelo vento. As acções mecânicas da água como agente
atmosférico resume-se à destruição pelo impacto da queda das gotas de
chuva no solo.
Fig. 5.11. Rocha balançante como
resultado da acção do vento. Jardim dos
Deuses, Colorado, EUA

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 Acções de sedimentação: a sedimentação dá-se quando a velocidade e a


força dos agentes transportadores diminui a ponto de ser inferior à atracção
da força da gravidade, ou quando estes agentes encontram no seu caminho
obstáculos que impeçam o transporte (Fig. 5.12).

Fig. 5.12. Acumulação de areia atrás dum


obstáculo

d) Acções químicas: são variadas as acções químicas provocadas pelos agentes atmosféricos principalmente a água
(H2O) e gases atmosféricos (O2, CO2 e H2O). As rochas mais facilmente atacáveis são os calcários, através das águas
gaso-carbónicas, isto é, com CO2 dissolvido, em que estas atacam o carbonato de cálcio (insolúvel) em bicarbonato
de cálcio (solúvel), segundo a reacção:

CaCO 3  H2 O  CO 2  Ca(HCO 3 ) 2
carbonato bicarbonato…

O bicarbonato de cálcio é depois levado em solução pela água. As rochas


calcárias são assim corroídas, abrindo-se buracos e cavidades que, com o
tempo, se vão alargando, chegando a tornar-se verdadeiras grutas, como as
da Fig. 5.13.
Sabe-se também que o CO2 na presença da água ataca os silicatos
aluminosos (feldspatos, micas, etc.), transformando-os em minerais de
argila, em sílica e carbonatos solúveis.
Nas rochas com ferro, este é oxidado pelo oxigénio do ar, formando-se óxidos
Fig. 5.13. Grutas calcárias de Mira
de ferro de aspecto terroso, sendo as rochas como que pulverizadas à superfície, D’Aire, Portugal
com um aspecto avermelhado-acastanhado.

2.3. ÁGUA
A água, como agente da geodinâmica externa já foi referida anteriormente, ao se falar da sua acção como agente
atmosférico: água e vapor de água, participante em acções de desgaste e química. Veremos agora a acção da água no seu
sentido mais completo, isto é, como água continental, oceanos e água na forma sólida (gelo).
2.3.1. Águas Continentais
Engloba-se neste grupo as águas dos cursos de água (rios, riachos, ribeiros), das bacias interiores (lagos, lagoas,
mares) e subterrâneas. Todos estes tipos de água têm efeitos mais ou menos profundos na alteração da crusta, quer através
de acções construtivas quer destrutivas.
2.3.1.1. Rios, Riachos, Ribeiros
Os rios são agentes de erosão, transporte e sedimentação. Quer dizer, arrancam os materiais sobre os quais correm
(erosão), transportam esse material a distâncias mais ou menos longas corrente abaixo (transporte), depositando mais
tarde esse material (sedimentação), ou no fundo do seu leito, ou nas suas margens, ou descarregando-o ainda em lagos,
mares e oceanos.
A Fig. 5.1 mostra uma vala cavada pelas águas das chuvas que, devido à sua força e quantidade, se
transformaram provisoriamente num rio caudaloso que erodiu todo aquele material, transportou-o encosta abaixo e
descarregou-o nas águas da baía de Maputo. Se hoje formos à praia junto ao Miramar, vemos que a areia da praia tem
uma cor avermelhada e não branca, como era antes, resultado de fenómenos idênticos que se verificaram nas barreiras ao
longo da Av. Julius Nyerere, em frente ao Campus Universitário da UEM. A Fig. 5.14 mostra uma fotografia aérea da
Baía de Maputo, onde estão assinalados os rios Umbelúzi, Maputo e Incomáti, podendo ver-se nas zonas marcadas por
A, B e C, as manchas de material trazidos para as águas da Baía por estes rios.
Os rios transportam não só os materiais que eles próprios arrancam dos locais por onde passam, mas também
aqueles materiais que lhes são fornecidos pelas águas das chuvas e pelos deslizamentos de terras ao longo dos seus cursos.

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A principal origem das águas fluviais é a água das chuvas


e doutros tipos de precipitação, como a neve. Contudo, só uma
pequena parte destas precipitações vai para os rios, sendo, apesar de
tudo, uma grande quantidade de água.
A energia dos rios provém da atracção que a força da
gravidade exerce sobre as suas águas. Essa energia, chamada de
energia potencial, é calculada pela fórmula:

Ep  m  g  h
em que:
m = massa,
g = aceleração da gravidade, e
h = altitude a que está a água.
Assim, quanto mais alto estiver um leito dum rio, maior
será a sua energia potencial. Esta energia é que é responsável pela
capacidade destrutiva dum rio e da sua capacidade de transporte de
sedimentos. Fig. 5.14. Imagem satélite da Baía de Maputo, podendo ver-se
am A, B e C os sedimentos trazidos pelos rios Incomáti,
Umbelúzi e Maputo.

Entende-se por Caudal dum rio a quantidade de água que passa numa secção desse rio na unidade de tempo
(m3/s). Quanto maior o caudal, maior a velocidade das águas do rio, e maior a sua força destrutiva.
A velocidade é determinada por vários factores:
 Rugosidade de fundo (do leito);
 Forma do canal;
 Curvatura do leito;
 Inclinação do rio;
 Quantidade de água disponível.
A quantidade de água é função de factores climáticos (precipitação, evaporação), vegetação e permeabilidade
dos solos. Quanto maior a inclinação dum leito do rio, maior a velocidade de escoamento da água. A curvatura dum rio
tem tendência a abrandar a velocidade da água, bem como os fundos rugosos (estes têm tendência a tornar o fluxo da água
turbulento). Assim, dentro dum mesmo rio, a velocidade varia de local para local.
Vejamos a Fig. 5.15 que mostra o leito dum rio com curvaturas e três
secções desse mesmo leito em sítios diferentes (A, B e C). Se compararmos as
secções A e C, vemos que elas são idênticas na forma, mas inversas no espaço.
Há uma zona mais profunda e inclinada numa das partes laterais, sendo a outra
mais suave. Acontece que, nestes dois casos, a velocidade é máxima na zona
mais profunda e menor na zona menos profunda. O que acontece então é que na
zona mais profunda, por a velocidade ser máxima, a força Fig. 5.15. Esquema do leito dum rio e de três
secções em sítios diferentes
erosiva é maior, ao passo que na zona menos profunda, a força é menor, havendo então deposição de sedimentos
(sedimentação). Na zona B, a velocidade é máxima na zona central do leito, não havendo erosão/sedimentação
apreciáveis.
Em períodos de cheia, a altura da água é maior do que a do canal, e a água transborda, fazendo aumentar a zona
"molhada" (zona alagada). Assim, as águas espraiam-se pelas margens dos rios, fazendo com que a velocidade diminua.
Esta diminuição de velocidade faz com que os sedimentos transportados pelas águas se depositem e esta a razão porque
os terrenos que sofreram cheias são normalmente extremamente ricos para a agricultura.

2.3.1.2. Águas Subterrâneas


Como o próprio nome indica, água subterrânea é água que se encontra no subsolo, preenchendo aberturas,
cavidades, fracturas e outros espaços, esteja parada ou em movimento.
As águas subterrâneas têm duas origens:
a) Águas provenientes duma fonte magmática profunda - águas juvenis;
b) Águas provenientes das chuvas e águas superficiais que se infiltram no solo - águas meteóricas.

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A importância geológica das águas subterrâneas pode ser vista pelos seguintes aspectos:
i) é uma parte importante do ciclo hidrológico (ver adiante ponto 2.3.4);
ii) provoca trabalho geológico dissolvendo e depositando substâncias no subsolo;
iii) fornece aos seres vivos (incluindo o Homem) parte importante das suas necessidades em água;
iv) é um factor importante no controlo da distribuição da vegetação.
O papel geológico da água subterrânea é enorme. Todos já ouvimos falar em grutas e cavernas subterrâneas,
que ocorrem normalmente em formações calcárias. Em Moçambique, na Província de Inhambane, região de Jofene, há
inúmeras cavernas calcárias. Na África do Sul, as famosas grutas de Sudwala (Nelspruit-Mpumalanga) e de Kango
(Outdshorn - Cape Province) são exemplos majestosos de cavernas calcárias, que atraem milhares de turistas anualmente.
A Fig. 5.13 mostra as Grutas de Mira d'Aire, em Portugal.
Como se pode bem entender, o trabalho principal das águas subterrâneas na formação das grutas é um trabalho
de dissolução/corrosão, ou seja, de remoção de material e transporte do mesmo em solução para outros locais, onde se
deposita por precipitação. Este material precipitado pode dar origem às famosas estalactites e estalagmites, bem como
pode ser depositado entre grãos soltos de sedimentos, servindo assim de cimento para os consolidar, transformando-os
em rochas sedimentares consolidadas.
As águas subterrâneas também originam fenómenos de substituição química/mineral, dando origem às
pseudomorfoses de que falámos no Capítulo III. As famosas madeiras petrificadas resultam dum processos destes, em
que a matéria lenhosa é progressivamente substituída por sílica. Um exemplo é o tronco fossilizado à entrada do
Departamento de Geologia da UEM proveniente duma floresta petrificada do Mágoè (Província de Tete), hoje em grande
parte submersa pelas águas de Cahora Bassa.

2.3.1.3. Águas de Lagos e Lagoas


Vejamos a Fig. 5.15 que mostra o leito dum rio com curvaturas e três
secções desse mesmo leito em sítios diferentes (A, B e C). Se compararmos as
secções A e C, vemos que elas são idênticas na forma, mas inversas no espaço.
Há uma zona mais profunda e inclinada numa das partes laterais, sendo a outra
mais suave. Acontece que, nestes dois casos, a velocidade é máxima na zona
mais profunda e menor na zona menos profunda. O que acontece então é que na
zona mais profunda, por a velocidade ser máxima, a força
Lagos, lagoas e outras águas interiores são massas de águas
continentais resultantes da acumulação de água em depressões topográficas, por
existência de obstáculos à sua fluxão.
A água dos lagos provém essencialmente dos rios que
neles desaguam e, em parte, das águas das chuvas e neve (quando
Fig. 5.16. Evolução dum lago. A. Lago inicial; B.
derrete). Lago parcialmente coberto por sedimentos; C.
Lago completamente preenchido por
Sendo regiões de topografia baixa onde desaguam os rios, são tambémsedimentos onde um rio cavou o seu vale.
locais onde os sedimentos se vão depositando, chegando mesmo a encher
completamente o lago, a ponto de a água ser expulsa (Fig. 5.16).
Os lagos podem ter várias origens, e assim serem classificados de:
a) Lagos tectónicos: ocupam depressões produzidas por movimentos crustais (dobramentos, falhamentos). É
o caso do Lago Niassa (Fig. 5.17);
b) Lagos de erosão: quando preenchem depressões resultantes da erosão;
c) Lagos costeiros: resultam dum recuo do nível do mar ou por deposição de bancos de areia ao longo da
costa. É o caso das lagoas do Bilene, Quissico, Nhamavale (Chidenguele), Poolela (Inharrime), etc. (Fig.
5.18);

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d) Lagos de barragem: formam-se por acção de um acidente


natural - intersecção dum vale de rio por uma torrente de lava
ou por materiais resultantes dum deslizamento de terras;
e) Lagos vulcânicos: quando ocupam crateras de vulcões ou
caldeiras. É o caso da Lagoa das Sete Cidades, nos Açores ou
a Crater Lake, no Oregon-EUA (Fig. 5.19);
Fig. 5.17. À esquerda, mapa com
f) Lagos artificiais: resultantes da construção de diques e a localização do lago Niassa e do
barragens. Como exemplos de Moçambique, citemos os Lagos Rio Chire, ligando o Lago ao Rio
Zambeze. Em baixo, imagem do
de Cahora Bassa (Fig. 5.20), de Massingir, dos Pequenos Lago Niassa entre Metangula e
Libombos, da Chicamba Real. No Rio Zambeze há ainda a Cóbuè.
referir o Lago Karibe.
As águas dos lagos podem alimentar rios (Lago Niassa que
alimenta o Rio Chire, que desagua no Rio Zambeze), estar no percurso dum
rio (Lago Malombe no Rio Chire) ou ser receptores de águas de rios (quase
todos; Lago Chilua, Malawi).
A principal acção geológica dos lagos é de deposição (Fig. 5.16).
As acções de erosão e transporte, especialmente nos pequenos lagos, são
insignificantes.

Fig. 5.19. Crater Lake (Oregon, EUA), lago


formado no interior duma caldeira. No centro
Fig. 5.18. Lagoas costeiras do sul de
pode ver-se novo cone vulcânico
Moçambique
B
Fig. 5.20. A. Mapa com a localização do Lago de
Cahora Bassa; B. Foto do lago junto à
barragem

2.3.2. Água dos Oceanos


O mar é o local onde se depositam os sedimentos gerados nos continentes e terras firmes, constantemente
drenados pelos rios para as bacias oceânicas. Só cerca de 10% dos sedimentos depositados no mar são originados pelo
próprio mar.
As linhas de costa são zonas onde existe sempre uma interacção entre forças destrutivas, resultando na erosão,
e construtivas, por acumulação de detritos, estabelecendo-se a transição entre os ambientes continentais e os ambientes
marinhos.
A acção do mar sobre as costas é essencialmente mecânica e chama-se abrasão. Esta acção mecânica é devida
fundamentalmente às marés, correntes e ondas.
Maré é a subida e descida rítmica do nível do mar, que são devidas às forças de atracção que existem entre a
Terra e a Lua e, em menor escala, o Sol (Lei de Newton). As marés vivas ocorrem quando o Sol e a Lua se encontram do
mesmo lado, isto é, em fase de Lua Nova. Em fases de Quarto Crescente e Decrescente, ocorrem as marés mortas.

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O principal interesse geológico das marés é o seu poder erosivo. A diferença de nível entre
marés pode atingir 20 metros (Baía de Fundy, Canadá, entre a Nova Escócia e a Nova Inglaterra), 12
metros (Baía de Malo, na Bretanha em França), ou, como é habitual, entre 2 e 3 metros. A velocidade
das águas durante as marés podem atingir os 28 km/h.
Em locais planos junto ao mar, onde há grandes diferenças de nível entre marés, pode acontecer que o fluxo
dos rios inverta e a água dos rios comece a subir para montante em vez de descer a jusante.
A acção transportadora dos rios é grande. Algumas experiências mostram que água a uma velocidade de 1
km/h pode transportar areia de grão médio, enquanto que a 5 km/h, já transporta cascalho com 2 cm de diâmetro.
As ondas são movimentos da água provocados pela acção dos ventos. Ao se aproximarem das costas, as ondas
quebram e batem com toda a força. A Fig. 5.21 mostra como a forma das ondas evolui desde o mar aberto até à costa.
As ondas geram uma acção de limpeza em todas as costas onde batem. Todos nós percebemos a capacidade
que o mar tem de modificar permanentemente as costas. Vejamos a erosão que o mar estava a fazer junto ao Clube Naval
em Maputo, em que foi necessária a intervenção humana para conter o avanço do mar (Fig. 5.22). O mesmo aconteceu
na Costa do Sol em frente ao restaurante.

Fig. 5.22. Obras de protecção da costa


Fig. 5.21. Esquema elucidativo da formação de ondas junto ao Clube Naval, Maputo

As ondas carregam consigo calhaus, seixos e areia, e ao


embaterem na costa, desgastam-na, erodem falésias na base e talham
qualquer rocha exposta ao seu nível (Fig. 5.23). Em zonas onde as
costas são constituídas por materiais brandos ou pouco consolidados,
essa acção de desgaste é maior e mais rápida.
Sob a acção de ventos permanentes, as ondas crescem em tamanho e Fig. 5.23. Erosão costeira no Mar do Norte,
velocidade, até um valor máximo imposto pela fricção. O valor máximo que se mediu Reino Unido, mostrando os efeitos desastrosos
do rápido recuo das falédias devido à erosão de
até hoje é de 35 metros, mas raramente excedem os 15 metros (Fig. 5.24). fortes ondas

Fig. 5.24. Onda assimétrica provocada por ventos fortes

2.3.3. Glaciares e Neve


Entende-se por Glaciar enormes massas de gelo em movimento (Fig. 5.25) e Neve é precipiração de água no
estado sólido.
A neve e o gelo cobre cerca de 10% das terras emersas e 15.6% da superfície terrestre, em zonas onde
predominam temperaturas inferiores a 10°C, ou seja, regiões polares e zonas de grande altitude –

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zona da neve eterna. O limite inferior da zona da neve eterna é variável, em


função da latitude. Assim, nos polos, o limite inferior coincide com o nível do
mar (0 metros), enquanto que nas zonas tropicais/equatorial, esse limite
encontra-se aos 5000 metros (por exemplo, Monte Kilimanjaro, no Quénia).
Já nos Alpes (zona temperada) esse limite está aos 2600-3100 metros.
Esses limites, além de variarem com a latitude, variam com as estações do
ano. Assim, no verão esse limite sobe, enquanto que no inverno desce.
Para a formação dos glaciares, há dois requisitos fundamentais,
que existem, como se viu, nas regiões polares e em grandes altitudes:
a) precipitação atmosférica (em forma de neve); Fig. 5.25. Imagem dum glaciar, na Ilha
Ellesmer, Canadá
b) temperaturas suficientemente baixas para permitir a
acumulação de neve.
Quando a temperatura desce abaixo de 0°C, algum vapor
atmosférico solidifica, originando cristais de neve (sistema hexagonal, Fig.
3.26). A acumulação destes cristais origina os campos de neve, de textura
porosa e fofa, de densidade igual a 0.05, estando os poros cheios de ar.
À medida que o tempo passa, a neve vai-se acumulando, e nas
zonas mais profundas a neve começa a adiminuir a sua porosidade e a
compactar, originando gelo granular (Fig. 5.26). Ou seja, passamos duma
situação em que um sedimento solto (neve) passa a uma rocha sedimentar
consolidada (gelo). O ar vai sendo expulso dos poros, e a densidade vai
aumentando. Quando esta densidade atinge 0.8, passamos a ter uma rocha
Fig. 5.26. Transformação da neve em
metamórfica. gelo

É interessante notar que a dureza do gelo é muito variável, consoante a temperatura a que se
encontra. Assim, a 0°C, a dureza é de 1-2 (talco-gesso), mas a –50°C a dureza é 6 (ortoclase).
O gelo é muito pouco resistente às tensões e por isso move-se e deforma-se facilmente. O
movimento dá-se por acção da gravidade e acontece quando as camadas mais inferiores do gelo sobre o
substrato rochoso fundem. Neste caso, os movimentos são lentos. Há, contudo, movimentos rápidos, a que
se dá o nome de avalanches (Fig. 5.27).
Como resultado do seu movimento, os glaciares apresentam à sua superfície inúmeras fendas,
algumas das quais chegam a atingir 100 metros de profundidades. O movimento dos glaciares pode ser posto
em evidência através dum método simples, como ilustra a Fig. 5.28. Também a mesma figura mostra que a
velocidade do movimento do glaciar varia:
a) é maior na parte média (100 m/ano) do que nos flancos;
b) é maior à superfície que no fundo;
c) aumenta com o declive.

Fig. 5.28. Movimento de glaciar

Fig. 5.27. Imagem duma avalanche

Apesar de serem enormes massas de gelo, os glaciares podem apresentar


fenómenos de fusão, quer à superfície, quer nos flancos, quer ainda no seu fundo. A fusão
superficial é geralmente causada por variações sazonais do clima, ao passo que a fusão
nos flancos é causada por contacto com rochas mais quentes. Por seu lado, a fusão de
fundo é causada pela pressão das camadas superiores de gelo sobre as inferiores.

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Todos estes fenómenos de fusão levam a que as águas resultantes desçam até ao
fundo, constituindo a torrente subglaciar.
Os glaciares e acumulações de gelo atingem o seu máximo sobre a Antártida e
sobre a Gronelândia. Assim, no continente austral a espessura ultrapassa os 4000 metros
e na Gronelândia ultrapassa os 3000 metros.
A acção geológica dos glaciares é imensa, desde a erosão, ao
transporte e à sedimentação. Como se pode bem imaginar, o
deslocamento de milhões de toneladas de gelo sobre um substrato
rochoso provoca um desgaste imenso (erosão), levando ao arranque
de enormes quantidades de rochas e polindo o substrato onde o gelo
se desloca. Também o substrato fica riscado pelo arrasto dos blocos
de rocha. Assim, o aparecimento de superfícies rochosas polidas e
estriadas são indicativas de antigos leitos de glaciares. Por outro lado,
os vales onde em tempos fluiram glaciares têm a forma de um U (Fig.
5.29), em contrapartida aos vales dos rios, que têm a forma de um V.
O transporte de sedimentos pelos glaciares dá-se tando à superfície, nos Fig. 5.29. Vale glaciar em U
bordos e no fundo, sendo nestes últimos dois locais onde o transporte é maior, por
ser aí que se dá o contacto gelo/rocha. A carga aqui transportada é geralmente da
dimensão de areia e de silt. Por seu lado, a carga de superfície tem origem na queda
de material das encontas dos pontos mais altos do vale, e aí as
dimensões dos sedimentos podem ser enormes (algumas toneladas),
chamando-se blocos erráticos (Fig. 5.30).
A deposição dá-se quando o gelo derrete. Assim, a maior
parte dos depósitos glaciares concentra-se na foz dos glaciares, isto é,
na sua parte terminal. A acumulação de depósitos glaciares tem o nome
de moreias, e podem ser moreias terminais ou moreias laterais.

Fig. 5.30.Enorme bloco assente sobre gelo


glaciar. Comparar com o tamanho do
helicóptero. Ilha de Baffin, Canadá.

2.3.4. O Ciclo Hidrológico


Depois de termos falado da água como agente da Geodinâmica Externa, tanto na forma gasosa,
como líquida e sólida, convém agora fazermos referência ao Ciclo Hidrológico, definido como o processo de
transferência da água de reservatório para reservatório, ou seja, como ela se move de lugar para lugar. A Fig.
5.31 mostra um esquema representativo do ciclo hidrológico.

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Fig. 5.31. Ciclo hidrológico

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Na Terra há vários reservatórios de água: oceanos, rios, lagos, glaciares, espaços no subsolo, a
atmosfera e a biomassa (seres vivos), dos quais os oceanos contêm a maior parte da água (1350x10 6 km3).
A água é anualmente transferida de reservatório para reservatório, mas a quantidade total de água
mantém-se constante e em equilíbrio
A água que se evapora anualmente dos oceanos, 361x103 km3/ano (equivalente a uma camada de
água de 1 metro de espessura), é superior à quantidade de precipitação anual sobre os oceanos (324x10 3
km3/ano). O excesso (37x103 km3/ano) é levado para cima dos continentes pela atmosfera.
Sobre os continentes, ocorre o oposto: mais água cai (99x103 km3/ano) do que sai pela
evapotranspiração (62x103 km3/ano). A evapotranspiração engloba as perdas de água por evaporação e por
transpiração dos seres vivos.
O ciclo fecha-se e equilibra quando os rios removem o excesso de água (37x10 3 km3/ano) para os
mares e oceanos. Por seu lado, os glaciares, ao derreterem, contribuem com água líquida que tende a ir
também para os oceanos.
Os processos vulcânicos, contudo, adicionam continuamente ao ciclo quantidades de vapor de água
de que não se sabem os valores.

2.4. OS SERES VIVOS


Os seres vivos, tanto animais como plantas, têm um papel extremamente activo na modelação da
crusta terrestre. A actuação dos seres vivos sobre a crusta tanto pode ser construtiva como destrutiva
(demolidora).

2.4.1. Seres demolidores


a) Animais: entre os animais demolidores, temos a referir os fóladas
(teredos), que são moluscos lamelibrânquios que furam as
rochas e por isso são chamados de litófagos (Fig. 5.32). Há
ainda animais escavadores, como as minhocas, as formigas, as
térmites, as toupeiras, os ratos, os coelhos, etc., que revolvem a
terra, facilitando uma maior acção dos agentes atmosféricos. Fig. 5.32. Molusco litófago responsável
pela destruição de rochas
b) Plantas: as plantas superiores, por intermédio das suas raízes,
colaboram activamente na destruição da crusta (Fig. 5.33). Por
um lado, estas raízes, crescendo em fendas das rochas, actuam
como verdadeiras cunhas, fazendo desconjuntar as rochas mais
resistentes. Por outro lado, as raízes corroem as rochas através
das trocas químicas resultantes do seu metabolismo. Aqui
intervêm também bactérias, algas, fungos, líquenes e musgos.
Se, por um lado, estes seres têm estas acções destrutivas, eles
estão por outro lado a contribuir para a formação de solos,
essenciais para a agricultura.
Fig. 5.33. Acção das raízes duma
árvore

2.4.2. Seres construtores


a) Animais: entre os animais construtores, os mais activos são os corais, criando enormes recifes
de coral. A Grande Barreira de Coral da costa oriental da Austrália (Fig. 5.34) é o exemplo mais
espectacular, com mais de 4000 km de extensão. A maior parte dos organismos com conchas
calcárias ou siliciosas – foraminíferos, gasterópodes, lamelibrânquios, etc – ao morrerem, as
conchas depositam-se no fundo das águas dos mares e lagos. Ao longo do tempo, essa
acumulação pode ser tão grande, que as conchas acabam por consolidar, dando origem a rochas
sedimentares calcárias constituídas quase só por restos de conchas.
b) Plantas: as algas calcárias e as diatomácias (carapaça siliciosa) formam bancos calcários e
siliciosos com vários metros de espessura e largas áreas. No sul de Moçambique existem
depósitos de diatomitos enormes, resultantes da acumulação de carapaças de diatomácias.
Outras rochas têm origem em plantas, como o caso dos carvões.

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Fig. 5.34. Imagem de coral e localização geográfica da Grande Barreira de Coral na Austrália

2.4.3. O Homem
A acção humana tanto pode ser demolidora como construtora, e de impedimento da actuação dos
agentes da Geodinâmica Externa.
Como acção demolidora, falamos da abertura de túneis, de minas, de canais, de estradas, etc. A
construção de barragens cria lagos artificiais a montante e diminuição de caudais a jusante, com
consequências graves para o ambiente. As desflorestações, quer para o fabrico de carvão de lenha, quer
para a abertura de machambas, ou ainda exploração de madeira (Amazónia) contribuem para um aumento
da desertificação do planeta, aumentando a erosão. Também o cultivo irracional e intensivo provoca a
esterilização de terrenos, aumentando também o grau de erosão.
No entanto, o Homem empreende também acções de correcção da Natureza, como seja na
correcção dos leitos dos rios, na luta contra a desertificação através da arborização, na protecção de costas
(Fig. 5.22). A recente obra de engenharia na barreira da Malanga em Maputo, é um exemplo de construção
para deter a erosão por parte dos agentes atmosféricos.

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TEMA 6: METEORIZAÇÃO - SOLOS - MOVIMENTOS DE TERRA -


ROCHAS SEDIMENTARES

9. INTRODUÇÃO
Nos capítulos anteriores olhámos para as características gerais da Terra - a sua superfície sólida,
as camadas líquida, gasosa, de gelo. Examinámos a crusta, composta de minerais e rochas, e os mecanismos
que se processam no seu interior - magmatismo, metamorfismo, tectónica de placas. Fizemos referência aos
agentes da geodinâmica externa, isto é, aqueles que modelam a superfície da Terra.
Vamos agora examinar os processos externos em mais detalhe, ou seja, aqueles que são mais
directamente observáveis pelo Homem. Estes processos formam uma cadeia em que as rochas são partidas,
transportadas como sedimentos que são posteriormente depositados para formar camadas (estratos) que se
transformam em rochas sedimentares.
É por isso lógico começar com os processos de meteorização e erosão, através dos quais as rochas
são desintegradas e decompostas, resultando em fragmentos que iniciam uma viagem encostas abaixo, ou
formando solos. Vamos começar pela meteorização.

10. METEORIZAÇÃO
Entende-se por meteorização o conjunto dos processos de decomposição
química e degradação física que os materiais rochosos sofrem quando expostos ao ar,
humidade e matéria orgânica.
Desde há muito que os povos têm procurado rochas duráveis
para a construção de edifícios, túmulos e outras estruturas, mas o
sucesso tem sido variado. A durabilidade duma rocha varia com o clima,
composição, textura e grau de exposição aos agentes atmosféricos. Se
as pedras tumulares começam a degradar-se ao fim de alguns séculos
(Fig. 6.1), o que se passará com rochas expostas ao longo de milhares
ou milhões de anos?
Duma forma rápida ou lenta, a alteração química e física ocorre em qualquer
ponto em que a litosfera esteja em contacto com a atmosfera. Contudo este contacto
não é nítido, não sendo por isso uma superfície de contacto, mas sim uma zona de Fig. 6.1. Pedra tumular
contacto, com uma determinada espessura/profundidade. Ela estende-se a qualquer (Canadá) de há 180 anos
atrás
profundidade em que o ar e a água possam penetrar. Nesta zona crítica, tanto a
biosfera como a hidrosfera jogam um papel importante.
A zona de alteração físico-química das rochas constituí uma rede porosa, cheia de fracturas,
fissuras, poros e outros tipos de aberturas, algumas delas muito pequenas, mas em que no cômputo global
tornam a rocha vulnerável. Esta rede de espaços abertos é constantemente atacada física e quimicamente
por soluções aquosas. O resultado, ao fim de tempo suficiente, é uma alteração geral da rocha.
Uma vez exposta à atmosfera, nenhuma rocha escapa à meteorização
(seja rocha natural, seja estrutura feita pelo Homem). Isso é visível em cortes
abertos para a construção de estradas. É frequente verem-se situações como as
ilustradas na Fig. 6.2 em que, na parte de baixo se vê rocha fresca, inalterada (1),
que gradua imperceptivelmente para cima para rocha já atacada quimicamente
mas que ainda preserva a sua estrutura (2) e, mais para cima ainda, gradua para
material, normalmente solto - rególito, em que a estrutura da rocha já não é visível
(3) (entende-se por rególito a cobertura de partículas rochosas soltas, não
cimentadas, que geralmente cobre as rochas frescas).
No caso da Fig. 6.2, o rególito foi formado in situ por alteração da rocha
subjacente. Diz-se por isso que o rególito é residual. Em muitos lugares, contudo, o
rególito é tão diferente da rocha subjacente, que não poderá ter resultado da
alteração dessa mesma rocha subjacente. Em seu lugar, o rególito residual original Fig. 6.2. Perfil de meteorização
mostrando a gradação
foi carregado para outro local e em seu lugar depositado um outro rególito. Tanto a ascendente re rocha fresca para
rególito.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

remoção do rególito original, como a deposição do outro podem ter acontecido por
acção do mesmo agente.
2.1. PROCESSOS DE METEORIZAÇÃO
Se pudéssemos olhar de perto para a rocha fresca (1) da Fig. 6.2 (parte basal), veríamos que as
superfícies de clivagem dos feldspatos brilhariam entre os grãos de quartzo. Um pouco mais para cima (2), essas
superfícies de clivagem estariam mais baças e cobertas duma patina. Perto do topo (3), verificar-se-ia que os
grãos de quartzo (ainda visíveis) estariam separados por uma material terroso que de modo nenhum se
assemelha ao feldspato que foi grandemente decomposto. Evidentemente que estas mudanças foram
fundamentalmente de origem química e resultam da meteorização química que é a decomposição das rochas.
Contudo, em alguns lugares, o rególito consiste de fragmentos idênticos à rocha fresca adjacente. Os
grãos dos minerais estão frescos ou só muito ligeiramente alterados. Este tipo de rególito é frequente na base de
falésias, donde os detritos obviamente provêm. Quando comparados com a rocha fresca, os fragmentos mais
grosseiros mostram pouca ou nenhuma alteração química, implicando que a rocha fresca pode ser partida
fisicamente e não só quimicamente alterada. Se bem que se considere a meteorização mecânica (ou física) a
desintegração das rochas, os dois processos ocorrem sempre em simultâneo e os seus efeitos misturados. Pode
acontecer que, em determinadas situações, a alteração química seja mais forte que a alteração física, ou vice-
versa, mas em qualquer das situações, os dois tipos de alteração ocorrem em conjunto.
2.1.1. Meteorização Mecânica
Em muitos locais, o rególito consiste totalmente de detritos rochosos idênticos em tudo à rocha
fresca. A alteração química poderá ser virtualmente não detectada, levando-nos a inferir que os processos de
meteorização responsáveis por tal rególito tenham sido predominantemente mecânicos e não químicos.
A desintegração mecânica é frequente na natureza e pode ocorrer devido aos seguintes fenómenos:
 Remoção da carga sobrejacente;
 Crescimento de gelo e cristais de sal em fracturas;
 Efeitos do calor;
 Actividades dos animais e plantas.
a) Efeitos da remoção da carga sobrejacente
Massas de rocha soterradas em grandes
profundidades abaixo da superfície terrestre, estão sujeitas a
enormes pressões confinantes devido ao peso das rochas
sobrejacentes.
À medida que a erosão vai despindo a superfície, o
peso e a pressão são reduzidos. A rocha pode ajustar-se a esta
descarga expandindo-se para cima. Quando isso acontece,
desenvolvem-se fracturas à superfície como diaclases muito
próximas umas das outras. As diaclases muitíssimo raramente
ocorrem isoladas. Geralmente ocorrem em conjuntos de
diaclases. Fig. 6.3. Diaclases em folha num afloramento de granito
na região do Muiane, Alto Ligonha, Zambézia (1974)
As diaclases que se desenvolvem paralelamente à superfície podem originar enormes
placas de rochas sobrepostas umas por cima das outras (Fig. 6.3). Perto da superfície, estas
placas têm espessura não acima dos 10 cm, mas à medida que se desce em profundidade,
esse valor aumenta, desaparecendo as diaclases normalmente abaixo dos 50 metros de
profundidade.
Quando se estava a escavar os túneis/cavernas para albergar as infra-estruturas da Barragem de
Cahora Bassa, acontecia ouvirem-se enormes estrondos, resultado da abertura de diaclases por alívio repentino
da pressão.
b) Crescimento de Cristais
A água subterrânea, percolando através das fracturas e poros das rochas, contém iões que podem
precipitar da solução aquosa para formar sais.
A força exercida pelo crescimento dos cristais de sal dentro das aberturas das rochas ou ao longo
dos contactos entre os grãos pode ser enorme e resultar na desagregação/ruptura das rochas.

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Estes efeitos são bastante comuns nos desertos, em que a precipitação dos sais se deve à
evaporação da água subterrânea que sobe à superfície.

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A chuva ácida que cai nas cidades industriais também pode atacar
as pedras dos edifícios. Ao precipitarem, os sais cristalizam e podem
desfigurar e enfraquecer edifícios e monumentos culturais importantes (Fig.
6.4).
Em regiões climáticas onde as temperaturas flutuam à volta do
ponto de congelamento durante parte do ano, a água do solo/subsolo é sujeita
a congelamento e degelo periódicos. Quando a água gela para formar gelo, o
seu volume aumenta cerca de 9%. Por outro lado, à medida que o
congelamento da água ocorre nos poros da rocha, a água é fortemente
atraída pelo gelo, aumentando assim as pressões dentro da rocha. Isto leva
a um processo de meteorização mecânica muito efectivo, conhecido por frost
wedging, que é a formação de gelo num espaço confinado numa rocha,
forçando assim a rocha a separar-se em pedaços. As altas pressões Fig. 6.4. Monumento em Florença (Itália)
resultantes do aumento de volume quando o gelo cristaliza resultam em atacado pela chuva ácida.
efeitos disruptivos. Estes efeitos são suficientemente fortes para separar não
só pequenas partículas, como também enormes blocos de rocha, alguns com
algumas toneladas (Fig. 6.5).
c) Efeitos do Calor
Alguns geólogos têm especulado que o aquecimento diário duma
rocha exposta ao sol, seguido dum arrefecimento considerável durante a
noite, contribuiria para um efeito destrutivo, uma vez que os minerais
constituintes das rochas expandem de modo diferentes quando aquecidos
(diferentes coeficientes de dilatação). Nas rochas dos desertos foram
medidas temperaturas superficiais de 80ºC, com variações diárias de Fig. 6.5. Expansão causada pelo
temperatura de mais de 40ºC. As rochas de cor escura, como os basaltos, congelamento da água numa fractura. À
direita, blocos de granito como resultado
e as rochas que não são boas transmissoras de calor, são as que atingem desse processos
maiores temperaturas superficiais, enquanto que o seu interior fica a
temperaturas muito mais baixas.
Contudo, apesar dum certo número de experiências laboratoriais, ninguém demonstrou até agora
que o aquecimento e arrefecimento alternados e contínuos tenham efeitos consideráveis nas rochas. Porém,
as experiência foram conduzidas em intervalos de tempo muito breves. É bem possível que a desintegração
térmica só ocorra após repetidas flutuações extremas de temperatura ao longo de muitas centenas ou
milhares de anos.
No entanto, o fogo pode ser muito efectivo, pois todos conhecemos os estalidos das rochas à volta
duma fogueira quando sobreaquecidas. O calor dos fogos de florestas e das queimadas levam à separação
das rochas em grandes placas. Uma vez que as rochas, em geral, são más condutoras de calor, um fogo
intenso só vai sobreaquecer a camada superficial das rochas, que se expande e se separa. Assim, ao longo
de intervalos do tempo geológico, os fogos podem contribuir significativamente para a desagregação
mecânica das rochas superficiais.
d) Plantas e Animais
As sementes germinam nas fracturas das rochas originando plantas que
expandem as suas raízes dentro dessas fracturas. À medida que as árvores crescem,
as suas raízes vão afastando os blocos separados pelas fracturas. Do mesmo modo
elas destróiem os passeios (Fig. 5.33), muros de jardins e mesmo edifícios (Fig. 6.6).
As grandes árvores balançando ao vento podem alargar as fracturas (efeito
de alavanca) e, se arrancadas, podem inclusivamente levantar as rochas. Se bem
que seja difícil de calcular, a quantidade total de rocha partida por estes processos
deve ser muito grande. O processo é mascarado pela alteração química, que toma
vantagem das novas aberturas e espaços assim que eles são formados.
Alguns animais (roedores e formigas) trazem à superfície partículas
Fig. 6.6. Raízes de árvores
rochosas parcialmente decompostas/desagregadas), expondo-as mais destruindo as ruínas de
intensamente à acção química. Ankor, Camboja

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Há mais de 100 anos atrás, Charles Darwin fez observações cuidadosas no seu jardim e calculou
que anualmente as minhocas trazem à superfície 2.5 kg/m 2 de partículas. O geólogo J.C. Banner, estudando
a bacia do Amazonas, escreveu que "… o solo ali parece ter sido completamente posto de pernas para o ar
pelas formigas e térmites…".
Se bem que estes animais não destruam as rochas (como os descritos no Tema 5, ponto 2.4.1.), a
quantidade de rocha desagregada movimentada por eles ao longo de milhões de anos deve ser enorme, o
que comprova o efeito cumulativo de pequenas forças actuando por longos períodos de tempo geológico.

2.1.2. Meteorização Química


A meteorização implica um enorme ajustamento dos minerais às condições ambientais da superfície
da Terra. Os minerais formados a altas temperaturas e pressões, como componentes das rochas ígneas e
metamórficas, tornam-se instáveis quando expostos à superfície da Terra, onde tanto as temperaturas como as
pressões são muitíssimo mais baixas. Esses minerais, então, decompõem-se e os seus componentes
transformam-se em minerais estáveis às novas condições ambientais. Os agentes activos da decomposição das
rochas consistem de soluções aquosas quimicamente activas (ácidos fracos) e vapor de água. Os efeitos da
meteorização química são assim mais pronunciados nas regiões onde a precipitação e as temperaturas médias
são suficientemente altas para acelerar as reacções químicas.
a) Efeitos nos minerais constituintes das rochas
Quando a chuva cai através da atmosfera, ela dissolve pequenas quantidades de dióxido de carbono
(CO2), dando origem a ácido carbónico fraco (H2CO3):

H2 O  CO 2  H2 CO 3
Ao se movimentar pelo solo, tanto lateralmente como em sentido descendente, estas soluções ácidas
são fortalecidas pela adição de mais CO2 libertado pelos restos vegetais em apodrecimento. O ácido carbónico
ioniza para dar origem a iões bicarbonato (HCO3-1) e iões hidrogénio (H+1), que são muito efectivos na
decomposição de minerais:

H2CO3  H1  HCO 3-1


Estes iões são tão pequenos que eles podem entrar na estrutura dos minerais e substituir outros iões,
mudando assim a composição química original do mineral. A efectividade do ião H+1 pode ser ilustrada pela
maneira como o feldspato potássico (KAlSi3O8) é decomposto pelo hidrogenião dissolvido na água:

4KAlSi 3O8  4H1  2H2O  4K 1  AlSi 4 O10 (OH) 8  8SiO 2


em que AlSi4O10(OH)8 é o mineral caulinite.
Neste caso, o H+1 entra na estrutura do feldspato e substituí os iões de potássio (K+1), que saem da
estrutura e entram na solução aquosa. Por seu lado, a água combina-se com a molécula restante de
alumossilicato para criar caulinite.
Esta reacção química, em que os iões H+1 ou OH-1 da água substituem iões dum mineral chama-se
hidrólise. É um dos processos mais importantes envolvidos na decomposição química das rochas mais comuns.
O mineral caulinite é então um mineral secundário, por não estar presente na rocha inicial.
A caulinite é o mais conspícuo dos três produtos da reacção. É um membro muito comum do grupos
das argilas, minerais extremamente insolúveis, e que, por isso, se acumulam no rególito. Muito do potássio
libertado nesta reacção é absorvido pelas plantas.
A sílica (SiO2), mais solúvel que a caulinite, fica parcialmente no rególito caulinítico ou é carregada em
solução pelas águas. Muitos dos iões de potássio escapam em solução juntamente com a sílica pelos rios em
direcção ao mar. Esta matéria carregada em solução diz-se que foi lixiviada da rocha mãe. A lixiviação é a
contínua remoção de matéria solúvel das rochas e rególito por acção das águas.
A susceptibilidade dos minerais à meteorização química está em ordem inversa à sua cristalização a
partir do magma (Tema IV, ponto 3.1.3.). Por outras palavras, os silicatos que cristalizam a maiores temperaturas
(ou seja, com maiores diferenças em relação à temperatura à superfície da Terra), são os que se alteram em
primeiro lugar. Incluem-se neste grupo as olivinas, os feldspatos cálcicos (plagioclases), as piroxenas e as
anfíbolas. As biotites e os feldspatos sódicos são menos facilmente meteorizáveis porque cristalizam a
temperaturas mais baixas. Por seu lado, o quartzo, cristalizando a temperaturas ainda mais baixas, é o mineral

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constituinte das rochas mais estável e que sofre pouca decomposição durante a meteorização. Contudo, com o
decorrer do tempo, o quartzo vai sendo progressivamente dissolvido.
O ferro é um elemento comum em muitos dos minerais constituintes das rochas: biotite, augite e
hornblenda, por exemplo. Quando ele é libertado durante a meteorização, ele rapidamente passa da forma de
ferro ferroso (Fe+2) a ferro férrico (Fe+3), se houver oxigénio presente. O resultado é o aparecimento dum novo
mineral de ferro - a hematite (Fe2O3):

4FeO  O 2  2Fe 2 O 3
Se a água estiver presente, forma-se um outro mineral pela absorção de água pela estrutura cristalina
- hidratação. O mineral formado é um óxido de ferro hidratado - a goethite:

2Fe 2 O 3  3H 2 O  2Fe 2 O 3 .3H2 O

b) Efeitos nas rochas comuns


O que acontece na meteorização do feldspato potássico é a chave para se entender a meteorização
de rochas silicatadas, como o granito, que contém este mineral.
A Tabela 6.1. compara a meteorização química do granito e do basalto, mostrando os minerais
resistentes que persistem, os minerais secundários que se formam e os iões que são carregados em solução
(lixiviados).

Tab. 6.1. Meteorização química de dois grandes grupos de rochas ígneas: granito e basalto
CONSTITUINTES PRIMÁRIOS PRODUTOS DE METEORIZAÇÃO
Minerais Minerais primários Catiões
Minerais Catiões Colóides
secundários que persistem lixiviados
Feldspatos K+1 Na+1 Sílica, alumina Minerais de argila Na+1
GRANITO

Quartzo Quartzo K+1


Micas K+1 Fe+2 Mg+2 Sílica, alumina Minerais de argila Alguma mica
Minerais ferro- Sílica, alumina Minerais de argila
Mg+2 Fe+2 Mg+2
magnesianos Óxidos de ferro Hematite, goethite

Feldspatos Ca+2 Na+1 Sílica, alumina Minerais de argila


BASALTO

Na+1
Minerais ferro- Sílica, alumina Minerais de argila
Mg+2 Fe+2 Ca+2
magnesianos
Óxidos de ferro Hematite, goethite Mg+2
Magnetite Fe+2

As rochas carbonatadas, como os calcários, são meteorizadas de modo diferente. O calcário consiste
fundamentalmente de carbonato de cálcio (CaCO3), que só é ligeiramente solúvel em água pura, mas que sofre
uma forte reacção em presença de água com ácido carbónico dissolvido:

CaCO3 + H2CO3  Ca2+ + 2(HCO3)-1


Carbonato Ácido Ião Ião
de cálcio carbónico cálcio bicarbonato

Os iões cálcio e bicarbonato são lixiviados, deixando para trás só as impurezas praticamente insolúveis
(principalmente quartzo e argilas) que estão sempre presentes em pequenas quantidades nos calcários. À
medida que o calcário é meteorizado, deixa para trás um rególito constituído por quartzo e argilas.

c) Concentração de minerais estáveis


O quartzo e outros minerais são relativamente estáveis à superfície da Terra, e por isso resistem à
meteorização química. Minerais como o ouro, platina e diamante persistem no rególito, são erodidos e tornam-se
sedimento. Porque alguns destes minerais são invulgarmente densos, eles sedimentam e concentram-se nos leitos
dos rios, dando origem a um placer - depósito de minerais pesados concentrados mecanicamente. Os minerais
com interesse económico podem ser suficientemente concentrados para originar um jazigo mineral. Exemplo de
placers são as areias pesadas do Chibuto, de Pebane e outros pontos de Moçambique.

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d) Orlas de meteorização
Se se partir um calhau rolado de basalto, o que geralmente se observa
é uma orla descorada envolvendo uma zona interior mais escura de rocha fresca
(não alterada, Fig. 6.7). A observação microscópica revela que a orla consiste de
resíduos resultantes de meteorização química. Este tipo de orla é comum na
maioria dos tipos comuns de rochas. Com o tempo, a orla aumenta de espessura
em direcção ao interior, atacando progressivamente o núcleo de rocha fresca.
Como resultado, os geólogos descobriram que a espessura destas orlas é uma
medida útil da idade relativa dos sedimentos que contêm fragmentos do mesmo Fig. 6.7. Calhau rolado de basalto
com orla de alteração com 2 mm de
tipo de rochas e que ocorrem nos mesmo ambientes climáticos. espessura

e) Exfoliação e meteorização esferoidal


Quando algumas rochas diaclasadas são meteorizadas,
elas sofre exfoliação, que é a separação da rocha em camadas
sucessivas, como a separação de cebolas, à volta dum núcleo central
(Fig. 6.8).
Este fenómeno é causado por forças físicas e químicas
que produzem tensões diferenciais dentro da rocha. A
transformação de feldspatos em caulino pela meteorização química
é acompanhada dum aumento de volume na rocha meteorizada. Isto
obviamente gera tensões dentro da rocha que provoca a separação
das camadas do corpo principal da rocha. Por outro lado, as rochas
podem sofrer uma diminuição da pressão à medida que são trazidas Fig. 6.8. Fenómenos de meteorização esferóidal num
para mais perto da superfície pela erosão. Em basalto do Búzi (1973)

certos caso há uma só camada de exfoliação, mas podem haver até cerca de 10 ou mais. As
camadas mais externas tendem a ser paralelas aos planos de diaclases e relativamente
planas, mas as mais interiores são progressivamente mais esferoidais à medida que os cantos
se tornam cada vez mais arredondados.
O fenómeno de exfoliação tanto pode ocorrer à
superfície como em profundidade, como o provam cortes de
estradas recentemente abertos. O processo não é exclusivo
dum determinado tipo de clima, mas é mais frequente em
climas secos, em que se podem ver paisagens cobertas por
blocos esferoidais (Fig. 6.9), muitas vezes dispostos em fiadas,
uma vez que eles são controlados por diaclases.
Neste ponto, devemos ter em conta dois aspectos
principais:
i. Primeiro, a efectividade das reacções químicas aumenta com
Fig. 6.9. Blocos arredondados de granito,
o aumento da área de rocha disponível para as reacções. Montes Air, Níger
ii. Segundo, este aumento da área resulta simplesmente da
subdivisão de grandes blocos em blocos mais pequenos.
Pela simples subdivisão dum cubo sem aumento de volume (Fig. 6.10), a área é grandemente
aumentada. Esta subdivisão repetida leva a resultados espantosos. Assim, um centímetro cúbico de rocha partido
em fragmentos da dimensão de grãos de argila origina um agregado com uma superfície de 4000 m 2. A
meteorização, por si, leva a uma subdivisão, a qual por seu lado favorece a meteorização.

2.2. FACTORES QUE INFLUENCIAM A METEORIZAÇÃO


a) Tipo e Estrutura das Rochas
Se é verdade que cada tipo de mineral reage dum modo próprio aos processos de meteorização, então
o tipo de rocha no certo influencia a decomposição. O quartzo é tão resistente ao ataque químico, que as rochas
ricas em quartzo são também resistentes. Em muitos lugares, as colinas e os montes constituídos de granito ou
quartzito ficam num relevo muito mais alto que as rochas envolventes, mais brandas e com menos quartzo.

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A taxa de meteorização duma rocha é influenciada não só pela sua composição mineral, mas também
pela sua textura e estrutura. Mesmo que uma rocha seja constituída inteiramente por quartzo (quartzito, por
exemplo) mas que contenha diaclases e outras fracturas, pode desagregar-se rapidamente, especialmente se
atacada por processos de congelamento de água.

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Fig. 6.10. Subdivisão e meteorização de cubos de rochas

Os contrastes na topografia resultam muitas vezes da meteorização


diferencial, que é meteorização que ocorre a diferentes velocidades como resultado
de variações na composição e estrutura das rochas ou na intensidade da
meteorização (Fig. 6.11). Numa sequência de rochas duras e brandas, é natural que
as brandas meteorizem mais facilmente, deixando as camadas mais duras
proeminentes no relevo.
b) Encostas
Quando um grão mineral fica solto pela meteorização, é muito natural que
ele seja carregado encosta abaixo nas chuvas seguintes. Mas nunca é só um grão
que se solta, mas milhares, e que também são transportados encosta abaixo.
Quando isto acontece, a rocha fresca é continuamente exposta a novos ataques,
de modo que a rocha meteorizada só ocupa uma pequena espessura abaixo da
superfície. Em zonas de encostas suaves, os produtos da meteorização não são
tão facilmente carregados, podendo acumular-se até profundidades de 50 metros
ou mais.
Fig. 6.11. Meteorização diferencial
Se as encostas forem muito inclinadas ou mesmo íngremes, a descida entre um dique quartzoso e um
anfibolito (Alto Ligonha, Zambézia)
dos grãos não necessita de esperar pelas chuvas, pois a gravidade exerce
efectivamente a sua acção sem ajuda da água.
c) Clima
A humidade e o calor aceleram as reacções químicas, como já
vimos atrás. Não é, por isso, de surpreender que a meteorização seja mais
intensa e estendida a maiores profundidades em climas quentes e húmidos,
do que em climas frios e secos (Fig. 6.12).
Rochas como o calcários e o mármore, constituídas
praticamente só por calcite, são muito susceptíveis à
meteorização química num clima húmido e geralmente
constituem o substrato duma paisagem topograficamente
baixa. Num clima seco, contudo, a mesma rocha forma relevos
positivos, porque há pouca água e por isso pouca vegetação,
entrando assim muito pouco em contacto com o ácido Fig. 6.12. Controle climático dos processos
carbónico. de meteorização

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Em climas frios a meteorização química ocorre muito lentamente.


Em tais regiões os efeitos da meteorização mecânica são mais óbvios.

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d) Tempo
Estudos da decomposição de pedra de edifícios antigos mostram que são necessárias centenas ou
milhares de anos para que as rochas duras se decomponham só alguns milímetros.
Os granitos e outras rochas duras da Nova Inglaterra, Escandinávia, Alpes e outros
locais ainda apresentam superfícies polidas causadas por glaciares há 25.000-10.000 anos
atrás. Em climas assim frios, leva muitas dezenas de milhares de anos, no mínimo, para
originar um rególito como o mostrado na Fig. 6.2. Contudo, em regiões que estiveram
continuamente expostas aos processos de meteorização por milhões de anos, a zona de
meteorização atinge maiores profundidades. Em algumas áreas tropicais, as operações de
mineração subterrânea puseram a descoberto zonas de rocha meteorizada a profundidades
de mais de 100 metros.
As velocidades a que as rochas se meteorizam foram determinadas de várias maneiras. Primeiro, foram
realizadas experiências em que a sua duração dá um controle temporal, em que os processos foram acelerados
com o aumento de temperatura, com o aumento do conteúdo de água e com a diminuição do tamanho das
partículas. Segundo, outros estudos sobre o grau de meteorização foram feitos em edifícios dos quais se conhece
a sua idade histórica. Terceiro, também foram feitos estudos de datação radiométrica em rochas e sedimentos
que foram sujeitos à meteorização durante milhares ou milhões de anos, o que fornece uma estimativa das
velocidades médias de meteorização durante intervalos de tempo muito grandes. Tais estudos sugerem que as
velocidades dos processos mais meteorizantes diminuem com o tempo (Fig. 6.13).

Fig. 6.13. Gráfico mostrando a variação das velocidades


de meteorização com o tempo em 3 localidades do NW
dos EUA. A espessura das orlas em calhaus basálticos
(ver Fig. 6.7) é lançada em função da idade estimada ou
conhecida. As diferenças entre as curvas reflectem
provavelmente diferenças no ambiente de meteorização
entre os locais. Todos mostram meteorização inical
rápida, seguida duma diminuição de velocidade.

Os resíduos resultantes da meteorização das rochas tendem a ser quimicamente estáveis, por isso é
muito provável que a sua remoção da zona meteorizada seja mínima. À medida que estes produtos se acumulam,
a velocidade de meteorização tende a diminuir, mas até que a velocidade de meteorização atinja um valor
constante pode durar meio milhão de anos ou mais.

11. SOLOS

3.1. ORIGEM
A degradação física e química das rochas sólidas por processos de meteorização é o passo inicial
para a formação dos solos. Contudo, o solo também contém, pelo menos um pouco mas geralmente bastante
matéria orgânica misturada com os componentes minerais (inorgânicos). Esta fracção orgânica é uma parte
essencial da definição usual de solo: parte do rególito que pode suportar plantas com raízes.
A matéria orgânica dos solos provém da matéria vegetal em decomposição, parcialmente através
da actividade das bactérias.
As plantas vivas alimentam-se de matéria vegetal em decomposição no solo, bem como de matéria
mineral decomposta (formada pela meteorização química), que é trazida para cima pelas soluções aquosas
através das raízes. Assim, as plantas estão envolvidas na produção dos seus próprios fertilizantes. Estas
actividades representam um ciclo contínuo de nutrientes entre o rególito e a biosfera. Com a sua composição
parcialmente orgânica e parcialmente mineral, o solo constitui uma ponte importante entre a litosfera e a biosfera.
Para as pessoas, solo significa comida e, por isso, é um recurso natural fundamental para qualquer país.

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3.2. PERFIL PEDOLÓGICO (DE SOLO)


À medida que a meteorização das rochas e rególito
progride, o solo gradualmente vai-se desenvolvendo.
Normalmente desenvolve horizontes característicos que, em
conjunto, constituem o perfil pedológico (ou perfil de solo),
que se define como uma sucessão de horizontes distintos no
solo, desde a superfície até ao material de origem inalterado
situado mais abaixo (Fig. 6.14).
O horizonte mais superior, chamado horizonte A,
tem uma cor tipicamente acinzentada ou escura (pelo menos
no topo) por causa da adição de húmus, o resíduo da
decomposição de animais e plantas. Este horizonte perdeu
algumas das suas substâncias originais através do transporte
descendente de partículas de argilas e, mais importante, Fig. 6.14. Horizontes dum perfil pedológico. Cada horizonte
através da lixiviação química de minerais solúveis. gradua para o seguinte

O horizonte B é geralmente acastanhado ou avermelhado e enriquecido de argila e óxidos de ferro


produzidos pela meteorização de minerais dentro do horizonte e também trazidos do horizonte A. O horizonte B
é muitas vezes caracterizado por ter uma estrutura em blocos ou prismas que podem estar cobertos de argila.
Se bem que o horizonte B possa ser penetrado por raízes, ele contém geralmente menos matéria orgânica que
o horizonte A.
O horizonte C subjacente não constitui propriamente parte do solo. Ele consiste de rocha original
levemente meteorizada, seja rocha seja rególito, onde a oxidação provocou uma ligeira mudança de cor.
Os solos, jovens ou maduros, podem não conter o horizonte B, dispondo somente do
horizonte A sobre o horizonte C. À medida que os solos evoluem, o horizonte B aparece,
inicialmente distinguível pela sua cor. À medida que as argilas se acumulam, o horizonte B
desenvolve estrutura e o solo assume uma carácter maduro. Com o passar do tempo, o
horizonte B aumenta progressivamente de espessura.
3.3. FACTORES FORMADORES DE SOLOS
As diferenças entre os solos, comummente reflectidas por diferenças nas características dos perfis,
resultam da influência de vários factores: clima, cobertura vegetal, organismos do solo, material de origem,
topografia e tempo.
Os materiais de origem e a topografia influenciam fortemente as características dos
solos, especialmente nas fases iniciais da formação dos solos. O clima, que por seu lado
influencia os organismos dos solos e a vegetação, pode ter uma influência ainda maior que o
tipo de material de origem na determinação do tipo de solo. Em condições climatéricas
semelhantes, os perfis de solos maduros originados de rochas diferentes adquirem aspectos
muito semelhantes.

12. MOVIMENTOS DE TERRAS


Entende-se por movimento de terras ao movimento de rególito encostas abaixo pela gravidade
sem a ajuda dum meio de transporte. Isto exclui rególito transportado por vento, gelo ou água. Contudo, a
água joga um papel importante no movimento de terras, uma vez que o rególito saturado de água reduz a
fricção entre as partículas rochosas, tornando os movimentos mais fáceis. Esta é a razão porque muitos
movimentos de terras são mais frequentes nas zonas onde a precipitação é muito grande. Nem sempre é
fácil separar a meteorização do movimento de terras ou o movimento de terras da erosão, pois eles
constituem um continuum de processos que interagem e se sobrepõem. O resultado final é uma
degradação gradual das rochas e a redistribuição dos seus componentes meteorizados.
Uma encosta suave com vegetação pode aparentar ser estável e mostrar pouca evidência óbvia de
actividade geológica. Contudo, se examinarmos o rególito sob a superfície, o mais certo é encontrarmos partículas
derivadas de rochas que só afloram mais acima na encosta. Podemos deduzir, então, que essas partículas se
moveram encosta abaixo.

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A força que faz as partículas movimentarem-se é a gravidade, que persistentemente puxa os detritos
de rocha à superfície da Terra.

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Numa superfície horizontal (Fig. 6.15.a), a gravidade agarra um objecto no local


puxando-o numa direcção perpendicular à superfície. Numa superfície inclinada (encosta, por
exemplo), o vector da gravidade pode ser decomposto em dois vectores-componentes (Fig.
6.15.b-d):
- a componente perpendicular (gp): age perpendicularmente à superfície e prende o objecto ao solo;
- a componente tangencial (gt): age ao longo e paralelamente à encosta, e tende a puxar o objecto
encosta abaixo.
Quando gt excede gp, os objectos descem, e diz-se que a encosta excedeu o ângulo de repouso, que
é o ângulo mais inclinado em que o material rochoso se mantém estável.
A Fig. 6.16 mostra alguns tipos de movimentos de terras, consoante o movimento se dá em rocha,
em rególito ou com lama.

Fig. 6.15. Efeitos da gravidade numa rocha assente sobre uma encosta

Rocha Rególito Lama

Queda

Avalanche

Deslizamento

Fluxo

Slump

Fig. 6.16. Classificação dos Movimentos de Terras

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13. ROCHAS SEDIMENTARES


Geralmente, os produtos da meteorização são erodidos, transportados a distâncias mais ou menos
longas antes de serem depositados para darem origem a rochas consolidadas – as rochas sedimentares.
Este processo de transformação de sedimentos soltos em rochas consolidadas chama-se litificação.
A litificação ocorre porque há cimentação, ou seja, as partículas soltas de
sedimentos são agregadas entre si por deposição duma substância química proveniente de
precipitação química a partir das águas subterrâneas que circulam entre essas mesmas
partículas. As principais substânicas que podem servir de cimento na litificação são a calcite
(e por vezes dolomite), a sílica e os óxidos de ferro. Os minerais de argila também ocorrem
como cimento.
Além da cimentação, ocorre também a compacção que ocorre devido à pressão originada pelo
soterramento/afundimento sucessivos. Esta compacção provoca a saída da água dos poros intergranulares
e, no cômputo final, a redução de volume pode atingir 50% do volume inicial.
Numa fase mais final da litificação, antes de se entrar no campo do metamorfismo de baixo grau,
pode ocorrer uma recristalização do cimento, dando origem a uma textura interprenetrante.

5.1. CLASSIFICAÇÃO DAS ROCHAS SEDIMENTARES


A classificação das rochas sedimentares é bastante complexa, havendo vários
parâmetros para o fazer, do mesmo modo que acontece para as rochas ígneas e
metamórficas.
Em primeiro lugar, elas podem ser classificadas quanto ao ambiente de deposição e ao agente
transportador dos sedimentos: marinhas – lacustres – glaciares – eólicas – fluviais, etc.
Em segundo lugar, podem classificar-se quanto à origem dos sedimentos, isto é, em clásticas
(sedimentos originados por fragmentação de rochas pré-existentes), e não clásticas; por seu lado, estas
podem ser de precipitação química (a partir das águas subterrâneas ou superfíciais) e biogénicas
(intervenção dos seres vivos).
Em terceiro lugar, podem ser classificadas quanto à sua composição química/mineralógica:
calcários (calcite), chert (sílica), arenito (quartzo), etc. Um calcário pode ser de origem química ou biogénica.
Pode ser formado em ambiente marinho ou lacustre.
Do atrás exposto, pode muito bem entender-se que as variações de rochas sedimentares são
enormes. Vamos conhecer então os principais tipos de rochas sedimentares.

5.2. ROCHAS CLÁSTICAS


As rochas clásticas são compostas de fragmentos de rochas pre-existentes ou de grãos minerais
também de rochas pre-existentes, originados por acção principalmente da meteorização mecânica.
Um dos aspectos importantes das rochas sedimentares clásticas é a sua granulometria, isto é, o
tamanho dos grãos que as compõem, dando origem a vários tipos de rochas. Na tabela 6.2 pode observar-
se a classificação dos sedimentos em função da sua granulometria e o nome das rochas que a partir deles
se originam. Geralmente, nas rochas sedimentares há uma mistura de granulometrias.
Tab. 6.2. Granulometria dos sedimentos clásticos e respectivas rochas
Tamanho Nome do sedimento Nome da rocha
> 256 mm Bloco (Boulder)
64 – 256 mm Cobble
Seixo Conglomerado
4 – 64 mm Pebble
2 – 4 mm Cascalho (Gravel)
1 – 2 mm Muito grosseira Muito grosseiro
1 – ½ mm Grosseira Grosseiro
½ – ¼ mm Areia (Sand) Média Arenito Médio
¼ – 1/8 mm Fina Fino
1/ – 1/
8 16 mm Muito fina Muito fino
1/
256 – 1/
16 mm Silte (Silt) Siltito
< 1/256 mm Argila (Clay) Argilito

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A observação de várias
rochas clásticas mostra que os
grãos constituintes podem ser
angulosos, arredondados, sub-
arredondados ou sub-angulosos
(Fig. 6.17). O grau de
arredondamento é indicativo do
grau de transporte que os
sedimentos sofreram antes de
serem depositados. Assim, uma
rochas de grãos arredondados é
formada a partir de sedimentos que
sofreram um longo transporte. Fig. 6.17.Esquema ilustrando a esfericidade e o arredondamento dos grãos

5.2.1. CONGLOMERADOS
Como se pode ver da tabela anterior, os conglomerados são constituídos por partículas com mais
de 2 mm de diâmetro, dispersas no seio duma matriz (cimento) de composição variada: carbonática, siliciosa,
ferruginosa ou mistura destas.
As partículas que compõem os conglomerados podem ser de várias origens:
calcários, xistos, granitos, gneisses, etc. Ou seja, os sedimentos que originam os
conclomerados são fragmentos de rochas e não minerais individuais.
Acontece que as partículas podem ser arredondadas ou angulosas. Assim, os conglomerados
chamam-se pudins ou brechas. Na Fig. 6.18 mostram-se imagens dum pudim, duma brecha e dum calhau
rolado de granito (tamanho dum seixo) que no futuro poderia vir a fazer parte dum pudim.

A B C
Fig. 6.18. Conglomerados. A. Brecha; B. Pudim; C. Seixo de granito

5.2.2. ARENITO (ou GRÉS)


Os arenitos, também chamados de grés, juntamente com os calcários, são talvez as rochas
sedimentares mais familiares, pois são desde há muito das rochas mais utilizadas na construção em muitas
partes do mundo.
Os arenitos são compostos de 5 categorias principais: fragmentos de rocha (grãos líticos), grãos de
quartzo, grãos de feldspato, matriz e cimento.
A Matriz consiste de minerais de argila e de quartzo muito fino (dimensão de silte). O Cimento é
precipitado à volta e entre os grãos.
Os cimentos também podem ter composição química diversa, desde silicioso, a calcário ou ainda
ferruginoso. Assim, há variadíssimos tipos de arenito consoante o tipo de grãos, o tipo de cimento e a
existência ou não de matriz. A Fig 6.19 mostra as possíveis composições dos arenitos.
No primeiro triângulo, a classificação é feita em termos de percentagens de quartzo, feldspato e
fragmentos líticos (rochosos). Aí os arenitos dividem-se em:
a) Arenito Quártzico (ou Quartzito) (com > 95% quartzo): rochas de cores claras, podendo o cimento
ser silicioso ou calcítico, e por vezes de óxidos de Fe, dando-lhes uma cor avermelhada.
b) Arenito Arcósico (ou Arcose): caracterizam-se pela alta presença de feldspatos, mais do que
quartzo ou fragmentos líticos. Devido à presença de feldspatos, por vezes confundem-se com
granitos à vista desarmada. A presença de feldspatos cor-de-rosa e/ou a presença de óxidos de
ferro dá-lhes uma cor rósea.
c) Arenitos líticos: têm uma alta percentagem de fragmentos rochosos, mais do que quartzo e
feldspatos. A composição é muito variável, dependendo da composição dos fragmentos de rochas.

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Como se pode ver na figura também, há outro triângulo atrás, representando um


conjunto de rochas a que se dá o nome de Grauvaques. Os grauvaques são arenitos com
matriz correspondendo até 15% da sua composição. Quando a matriz ultrapassa os 15%,
estamos em presença dum outro tipo de rochas a que se chamam Vaques, e que já não são
considerados arenitos. À semelhança dos arenitos, os grauvaques podem ser grauvaques
feldspáticos, líticos ou quártzicos, consoante o tipo de fragmentos que predomina.
Consoante o cimento, os arenitos podem ser apelidados de arenito calcário
(cimento de calcite), arenito ferruginoso (cimento de óxidos/hidróxidos de ferro), arenito
carbonoso (com matéria orgânica), etc. Na Fig. 6.20 podem ver-se alguns arenitos.

Fig. 6.19. Classificação dos arenitos

A B C
Fig. 6.20. Vários tipos de arenito. A. Arenito carbonoso; B e C. Quartzitos

5.2.3. SILTITOS e ARGILITOS


São rochas detríticas (clásticas) em que as partículas
são de dimensões microscópicas e muitas vezes sub-
microscópicas, não sendo observáveis nem a olho nu nem ao
microcópio (só electrónico).
São rochas de cor cinzenta, por vezes negra (devido ao
conteúdo de matéria orgânica)
Uma diferença clara entre os dois tipos de rocha é que
os argilitos têm uma laminação (partem-se em placas paralelas)
e os siltitos não. Por outro lado, os siltitos contêm muitas vezes
grãos minúsculos de quartzo e outros minerais, o que lhes dá um
tacto rugoso. Os argilitos tornam-se plásticos quando molhados Fig. 6.21. Bancada de argilitos e siltitos nas margens
do Rio Vúzi, Província de Tete, junto às margens da
e, devido à sua ultra-fina granulometria, são as rochas que Albufeira de Cahora Bassa.
melhores fósseis vegetais apresentam
Na Fig. 6.21 mostra-se uma bancada de siltitos e argilitos nas margens do Rio Vúzi, afluente do
Zambeze, na margem norte da Albufeira de Cahora Bassa.

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5.2.4. ROCHAS PIROCLÁSTICAS


Já falámos deste tipo de rochas quando nos referimos às rochas ígneas, mas
fazemos aqui uma breve referência, já que elas estão na transição das rochas ígneas
(vulcânicas) para as sedimentares clásticas. Elas podem ser classificadas em termos das
granulometrias das suas partículas (Tabela 6.3.).
Tab. 6.3. Classificação granulométrica das rochas piroclásticas
Granulometria Rochas soltas Rochas consolidadas
> 30 mm Blocos Brechas (vulcânicas)
2 – 30 mm Lápilis Tufos (vulcânicos)
< 2 mm Cinzas Cineritos

5.3. ROCHAS DE PRECIPITAÇÃO QUÍMICA


São formadas por precipitação química e/ou biológica, através de processos de
extracção das substâncias dissolvidas nas águas dos mares, rios, lagos, subterrâneas, etc,
que se precipitam originando rochas, geralmente maciças. Elas são geralmente
classificadas em função da sua composição química e geralmente encontram-se
misturadas com sedimentos clásticos, assim como estas se encontram misturadas com
material de precipitação química.
Podem considerar-se três origens principais para este tipo de rochas:
a) residuos sólidos de alteração química que ficam in situ - engloba argilas, bauxites e laterites;
b) precipitação de sais dissolvidos e floculação de coloides – calcários, dolomitos, fosfatos, rochas
siliciosas e ferruginosas; e
c) evaporação – rochas salinas.

5.3.1. BAUXITES E LATERITES


As bauxites e as laterites são rochas constituídas fundamentalmente por hidróxidos de aluminio
(bauxites) e de ferro (laterites). Geralmente têm um aspecto terroso ou maciço, de cor variando
desde o cinzento claro ao ocre, castanho e vermelho (esta cor mais para as laterites).
São rochas que se formam nas regiões tropicais devido à meteorização química e à
lixiviação prolongada das rochas que contêm silicatos de alumínio e ferro. A lixiviação remove
a sílica, deixando atrás os hidróxidos de alumínio e ferro. A Fig. 6.22 apresenta duas bauxites
(A – cinzenta; B – vermelha) e uma laterite.

A B C
Fig. 6.22. Exemplos de bauxites (A e B) e de Laterite (C)

5.3.2. CALCÁRIOS e DOLOMITOS


Os calcários são rochas sedimentares constituídas quase unicamente por carbonato de cálcio –
calcite (CaCO3). A identificação dum calcário é muito fácil, pela efervescência que faz com o ácido, em
especial o clorídrico (HCl), através da seguinte reacção química:

CaCO3 + 2HCl  CaCl2 + H2O + CO2 CaCO3 + H2SO4  CaSO4 + H2O + CO2
com formação de sais de cálcio, água e anidrido carbónico.
No geral, os calcários são rochas brandas e de densidade baixa. A cor é branca, mas devido às
impurezas podem ser de várias cores, incluíndo a negra.

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Os calcários são facilmente dissolvidos pelas águas gasocarbónicas (com anidrido carbónico
dissolvido), formando bicarbonato de cálcio (solúvel):

CaCO3 + CO2+ H2O  Ca(HCO3)2

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Ao serem aquecidos a seco, os calcários decompõem-se libertando anidrido


carbónico e originando cal viva:
CaCO3  CaO + CO2
Há vários tipos de calcários originados por percipitação química, que se referem a seguir:
a) Estalagtites e estalagmites: São formações calcárias que se
formam em grutas, resultantes da precipitação de carbonato
de cálcio dissolvido nas águas que gotejam dos tetos da gruta.
São formaçõe de aspecto cónico, que pendem do teto
(estalagtites) ou que sobem do chão (estalagmites), que se
podem juntar para formar verdadeiras colunas. A Fig. 6.23
mostra as grutas calcárias de Mira d’Aire, em Portugal.
b) Calcários oolíticos e pisolíticos: são calcários constituídosFig. 6.23. Estalagtites e estalagmites,
Grutas de Mira d’Aire, Portugal
por pequenas concreções calcáreas depositadas à volta dum
núcleo, que pode ser um grão de areia ou um fragmento de
concha. As dimensões podem ser do tamanho de ovos de
peixe (oolíticos Fig. 6.24) ou de grãos de ervilha (pisolítico –
Fig. 6.25).
c) Calcários margosos: são calcários com argila misturada atéFig. 6.24. Oolitos ao microscópio e em
percentagens de <50% (se as percentagens são superiores a secção.
50% a rocha passa a chamar-se marga).
Os dolomitos são rochas semelhantes aos calcários, só que em
vez de terem só calcite têm percentagens de dolomite superiores a 35%.
Têm propriedades muito semelhantes aos calcários, muitas vezes só se
distinguindo por análise química. Contudo, há uma diferença: é que não
reagem a frio e em massa com o HCl, só a quente e em pó.
Fig. 6.25. Calcário pisolítico

5.3.3. EVAPORITOS
Como o próprio nome indica, evaporitos são rochas que resultam da precipitação de substâncias
dissolvidas na água por evaporação desta. Ocorrem fundamentalmente em climas secos e quentes. São
constituídos principalmente por gesso, anidrite ou sal-gema.

5.4. ROCHAS BIOGÉNICAS


Estas rochas resultam da acumulação directa de detritos orgânicos, animais ou vegetais, podendo
ser consolidadas ou não. A sua composição química pode ser calcária, siliciosa, fosfatada ou carbonosa. A
Tab. 6.4 mostra a classificação das rochas biogénicas.
Tab. 6.4. Rochas sedimentares de origem orgânica.
Tipo Não consolidada Consolidada
Calcário Conchas, fragmentos de concha, ooze Calcário conquífero; Calcário coralino; Cré
Carbonoso Turfa; hidrocarbonetos Carvão
Silicioso Terra de diatomáceas Diatomito
Fosfatado Guano Fosforito

5.4.1. CALCÁRIOS
Os calcários de origem biogénica são constituídos por conchas ou fragmentos de
conchas de gasterópodes, lamelibrânquios, foraminíferos, por fragmentos de pólipos de
corais e por espículas de espongiários (calcários zoogénicos) e por acumulações de algas
calcárias (calcários fitogénicos). Em termos de propriedades, são idênticas às dos calcários
descritos nas rochas clásticas.
Algumas variedades destes calcários são:

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a) Calcário conquífero e calcário


coralino: como o nome diz, são
formados por cimentação de
restos/fragmentos de conchas de
gasterópodes e lamelibrânquios;
b) Cré: é um calcário muito branco,
pulverolento, constituído
predominantemente por conchas de
foraminíferos e de espículas de
Fig. 6.26. Exemplos de calcários fossilíferos
esponjas calcárias.
A Fig. 6.26 mostra calcários fossilíferos.

5.4.2. CARVÕES
Os carvões são rochas que derivam da acumulação de restos de
matéria vegetal morta, que, por soterramento, se vão progressivamente
alterando por acção da temperatura e pressão.
Ao conjunto das alterações que a matéria vegetal sofre para dar
carvão chama-se incarbonização.
Quando a matéria vegetal morre dá origem à turfa, que é a
acumulação dessa matéria morta. A incarbonização provoca um
enriquecimento progressivo em carbono e uma diminuição do conteúdo de
Fig. 6.27. Carvão visto ao microscópio
voláteis, até que, na fase final, se origina grafite.
Ao se observar um carvão ao microcópio (Fig. 6.27), verifica-se
que eles são constituídos por numerosos detritos vegetais. Estes
constituintes vegetais têm o nome de macerais.
Como atrás se disse, a matéria de partida para a formação do
carvão é a turfa. À medida que a turfa vai sendo soterrada, começa
imediatamente o enriquecimento em carbono e o empobrecimento em
voláteis, bem como a compacção aumenta. Assim, a turfa deixa de ser
turfa e passa a lignite. Os estágios seguintes são os de carvão
betuminoso e antracite (Fig. 6.28), terminando na grafite.
No carvão, além dos constituintes orgânicos (macerais) é
comum encontrarem-se percentagens variáveis de minerais, os mais
comuns dos quais são as argilas, o quartzo, os carbonatos, os sulfuretos, Fig. 6.28. Antracite
etc.

5.4.3. HIDROCARBONETOS
Os hidrocarbonetos são compostos orgânicos de
estruturas moleculares de complexidade variada, e que podem
ocorrer no estado sólido (betumes), líquido (petróleo) ou gasoso
(gás natural). Muitas vezes estes três tipos de hidrocarbonetos
aparecem associados entre si, juntamente com água salgada.
Os hidrocarbonetos são gerados por decomposição
anaeróbica de restos vegetais e animais.
Fig. 6.29. Exemplo dum jazigo de hidrocarbonetos

Geralmente os hidrocarbonetos não se encontram no local em que se formam (rocha-mãe) porque,


sendo fluídos/plásticos e de densidade baixa, têm tendência a migrar através de fracturas e dos poros das
rochas para outros locais até atingirem zonas impermeáveis que os param (rochas-armadilha), acumulando-
se por baixo destas em rochas que os armazenam (rochas-armazém).
A Fig. 6.29 mostra um esquema dum jazigo de hidrocarbonetos.

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5.4.4. DIATOMITOS E FOSFORITOS


Os diatomitos são constituídos por acumulação de biliões de minúsculas carapaças siliciosas de
diatomáceas. São de grão muito fino, friáveis e altamente absorventes.
Os fosforitos são rochas provenientes da litificação do guano. O guano é a acumulação de
excrementos de animais, principalmente aves e morcegos, e compostos fundamentalmente de fosfatos,
utilizados como fertilizantes.

As rochas sedimentares são muito frequentes em Moçambique (Fig. 6.30), ocupando praticamente
todo o sul do Save, a zona centro-costeira, a costa das províncias nortenhas e ainda manchas no interior do
País: Tete e Niassa.

Fig. 6.30. Ocorrência de rochas sedimentares em Moçambique.

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TEMA 7: PROCESSOS EÓLICOS – DESERTOS E ACÇÃO DO VENTO

14. INTRODUÇÃO
Nas vastas áreas cobertas de areia dos desertos (Fig. 7.1), o vento é o agente da geodinâmica
externa mais importante.
Os desertos da Terra ocorrem num cinturão localizado entre as latitudes 20º e 40º a norte e sul do
Equador. No hemisfério sul os desertos maiores encontram-se na África Austral e Austrália, ao passo que no
hemisfério norte eles encontram-se no oeste dos EUA, na África do Norte, Península Arábica, Irão e China.
Elas representam cerca de 25% do total de terras emersas (sem falar nas regiões polares).

Fig. 7.1. Áreas de distribuição de desertos e regiões semi-áridas

Apesar de a palavra deserto significar literalmente uma área desocupada e não cultivada, os
desesenvolvimentos tecnológicos actuais têm permitido abastecer artificialmente de água algumas regiões,
tornando-as habitáveis. Assim, deserto passou a definir-se como uma terra árida, “deserta” ou não, em que
a precipitação anual é < 250 mm ou em que a evaporação é superior à precipitação, ou seja, a aridez é a
característica típica dos desertos.
Além dos desertos, há várias regiões do mundo em que a precipitação anual varia entre 250 e 500
mm, que são zonas semi-áridas, normalmente à volta dos desertos, como se pode ver na Fig. 7.1.
O vento só tem efeito como agente da geodinâmica externa se houver à disposição material que
possa ser transportado. Por isso, a acção do vento é importante ao longo das costas, vulcões e desertos.

15. MOVIMENTOS DO AR
O ar move-se principalmente como resposta a variações de pressão na atmosfera e aos efeitos de
arrasto entre o movimento de rotação da Terra e a atmosfera.
Uma vez que a Terra roda de W  E, as principais correntes de ar a grandes altitudes também fluem
nesse sentido. A altitudes mais baixas, as direcções do vento são infuenciadas por células de baixas e altas
pressões sobre os continente e oceanos. As baixas pressões formam-se sobre terra e mares quentes (equador e
zonas tropicais). À medida que o calor é transferido para o ar, este torna-se mais quente e por isso menos denso,
tendo tendência a subir. Quando sobe, o ar das regiões vizinhas é puxado para essa zona devido à diminuição de
pressão. Esse ar vem das regiões mais frescas (zonas temperadas e polares) que, por estar mais frio, é mais
denso e se encontra a altitudes menores.
A rotação da Terra interfere com estes movimentos. O efeito de Coriolis faz com que qualquer corpo
que se mova livremente em relação à Terra em rotação, inflecte para a direita no hemisfério norte e para a esquerda
no hemisfério sul, independentemente da direcção em que esse corpo se mova.

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O efeito de Coriolis vai quebrar este padrão


simples de circulação entre o equador e os pólos,
dando origem a zonas próprias de circulação de ar
(Fig. 7.2). Por exemplo, às latitudes de 30º, algum
ar equatorial (de grande altitude) fluindo para os
pólos desce em direcção à superfície da Terra.
Quando desce, este ar torna-se mais quente. Isso
significa-se que a essas latitudes, à volta do mundo,
os climas são mais quentes e secos, o ar é limpo e
a chuva é pouca. O ar descendente espalha-se
para norte e sul dessas latitudes. No hemisferio sul,
o ar que foi para norte dessa latitude inflecte para
oeste, em sentido contrário aos ponteiros do
relógio. A parte do ar que vai para sul dessa latitude
também inflecte para oeste, mas flui no sentido dos Fig. 7.2. Regime de ventos
ponteiros do relógio.
A velocidade do vento muda e geralmente varia com
as estações do ano. Os ventos locais são muito afectados pela
topografia e ao longo das costas pelo movimento do ar do e
para o mar.
Os movimentos do ar em atmosfera limpa são difíceis de ver, mas se houver algum fumo ou poeira, o
padrão de fluxo torna-se visível.
A quantidade de areia que um vento transporta depende da sua velocidade, da granulometria da areia,
da rugosidade do terreno, da cobertura vegetal e da humidade da areia. Como se pode imaginar, ventos de alta
velocidade, partículas pequenas de areia, superfície lisas e pouca vegetação favorecem o transporte pelo vento.

16. FONTES DO MATERIAL TRANSPORTADO PELO VENTO


As fontes potenciais de material transportado pelo vento existem em qualquer sítio
em que existam pequenas partículas de solo ou sedimento expostas ao ar. A maioria das
praias actuais e muitos rios apresentam um bom fornecimento de sedimentos finos.
Também os depósitos fluviais e os arenitos podem vir a ser fontes de material transportado
pelo vento se expostos em regiões áridas e semi-áridas.
As plantas e a cobertura vegetal tendem a impedir a remoção do material pelo vento, o mesmo
acontecendo à humidade do solo, que age como adesivo. Mas em áreas secas a humidade do solo é baixa e
poucas plantas agarram os sedimentos no lugar.
Outra fonte propícia de material a ser transportado pelo vento é aquele resultante das glaciações.
Os glaciares moem grandes quantidades de rocha a dimensões que podem ser transportadas pelo vento. Os
materiais finos resultantes são transportados pelas águas fundidas a partir do gelo e depositadas mais a
jusante para formar grandes planícies de sedimentos. Quando o glaciar desaparece, formam-se lagos que,
com o tempo, evaporam, secando os sedimentos que ficam expostos ao vento.
Os vulcões são também importantes fontes de material.
As poeiras e cinzas lançadas pelas erupções podem ser levadas
a altitudes muito maiores do que é usual noutros casos (Fig. 7.3).
A actividade humana tem muitas vezes jogado um
papel importante ao expor à superficie muitos materiais do
subsolo. O problema é severo em regiões recebendo pouca
precipitação para a agricultura e que são cultivados. Tais zonas
são propícias a períodos secos, por vezes de longa duração. Fig. 7.3. Núvem vulcânica a ser transportada por
ventos

17. MOVIMENTOS DE MATERIAIS PELO VENTO

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Sob as condições extremas que caracterizam os tufões e ciclones, em que os ventos sopram acima
de 100 km/h, grandes objectos podem ser transportados pelo vento.
Os centros dos tornados são colunas de pressões muito baixas de ar rapidamente ascendente (Fig.
7.4). Os ventos rodam à volta desta coluna a altas velocidades e o ar flui em espiral à volta desta

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

coluna. Estes ventos são responsáveis pelo


descarrilamento de comboios, arranque de casas,
carregando-os a dezenas de quilómetros, e ainda
pelo desflorestamento de várias áreas.
Os ciclones têm um padrão de movimento
semelhante aos tornados, mas cobrindo áreas
muitíssimo mais extensas (Fig. 7.5). Ambos os
fenómenos são capazes de mover objectos
grandes e são geralmente acompanhados de
grandes prejuízos devido a movimentos dos Fig. 7.4. Exemplo dum tornado com a coluna ascendente
materiais pelo vento. A diferença é que enquando
os tornados afectam uma faixa estreita e ocorrem
onde a superfície está coberta por vegetação (não
sendo por isso agentes geomórficos importantes),
os ciclones dão origem a grandes inundações, e
geralmente afectam zonas costeiras, sendo por
isso importantes agentes geomórficos destas
zonas.
Os ventos fortes são capazes de movimentar
seixos (4-64 mm) em que raramente são levantados do
chão. São movidos por arrasto, por rolamento e, por vezes, Fig. 7.5. Ciclone visto do espaço
saltitando. Os blocos (> 256 mm) raramente rolam, mas
porque os sedimentos em que estão assentes são
deslocados. As partículas mais pequenas (ver Tab. 6.2)
constituem o grosso da carga de partículas transportadas
pelo vento.
O movimento do cascalho (2-4 mm), areia (1/16-2 mm) e silte (1/256-1/16 mm) ocorre pelos mesmos
mecanismos. Os fragmentos começam a mover-se quando a velocidade do vento atringe o nível crítico para o
tamanho dos sedimentos. Primeiro, a partícula rola no chão e salta quando batida por outra. Uma vez começado
o saltitar de partículas, o processo acelera, porque os grãos, ao saltarem, são impelidos para a frente pelo vento,
ganhando assim mais energia. Quando eles batem de novo na superfície, fazem com que outras partículas
também saltem, originando uma reacção em cadeia. Em breve ocorre uma zona com alguns centímetros a um
metro de espessura cheia de sedimentos saltitantes, isto é, envolvidos em saltação (Fig. 7.6.a) Tanto o tamanho
das partículas como a altura da zona de saltação aumentam com o aumento da velocidade do vento.
A superfíce da maioria dos depósitos de areia está coberta por uma série de ondulações (ripples –
Fig. 7.6.b), causadas pelo rolamento e saltação da areia. A instabilidade desta superfície ondulada é mostrada
pela facilidade com que as ripples mudam em função da direcção do vento, uma vez que as cristas dos ripples
dispõem-se perpendicularmente à direcção do vento. Na Fig. 7.6.c mostra-se um aspecto de ripples em
areias. Os sucessivos impactos que os grãos sofrem neste processo tendem a arredondá-los e a dar-lhes
superfícies picotadas (Fig. 7.7; o picotado pode ser tambem originado por alteração química).

C
Fig. 7.6. A e B. Movimentos de grãos por acção dos
ventos. C. Superfície de areia com ripples.

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B
As partículas mais finas no ar – poeiras e fumo –
são levadas a muito maiores altitudes e duma maneira
diferente que o normal das partículas. As poeiras e fumos
são muitas vezes compostas de partículas finas e
achatadas, com uma área de superfície muito grande em
relação ao seu peso. Isto torna possível as correntes
ascendentes carreguem-nas também para cima, facilmente
contrariando a força da gravidade. Quando há erupçõs
vulcânicas, as poeiras e cinzas vulcânicas expelidas Fig. 7.7. Grãos polidos e picotados por acção do vento
pela força da explosão são levadas para cima e podem manter-se nos níveis superiores da atmosfera por muitos anos e

ser levadas várias vezes à volta da Terra.

18. SEDIMENTOS TRANSPORTADOS PELOS VENTOS

5.1. DUNAS
As dunas são elevações ou ripples de areia depositados pelo vento. Geralmente uma duna
forma-se onde um obstáculo impede o fluxo normal de ar. A velocidade do vento a um ou dois metros do chão
é largamente influenciada por qualquer irregularidade que este chão tenha. Ao encontrar um obstáculo, o
vento rodeia-o pelos lados e por cima, deixando atrás do obstáculo uma bolsada de ar de movimento mais
lento. Nestas bolsadas de velocidade mais baixa, os grãos de areia caiem e formam montículos. Os
montículos em crescimento, por seu lado, influenciam o fluxo do ar. À medida que mais areia se acumula, os
montículos juntam-se para formar uma duna.
As dunas são assimétricas. Elas têm
uma encosta inclinada no lado do sentido do
vento, e uma mais suave, do lado de onde o
vento vem (Fig. 7.8). Os grãos de areia movem-
se por saltação pela encosta suave acima até
atingirem a crista da duna. Como a distância que
um grão salta é geralmente inferior ao
Fig. 7.8. Geometria duma duna
comprimento da encosta mais íngreme, os grãos
que passam a crista da duna acumulam-se no topo da encosta íngreme, formando-se aqui um bojo que, a certa altura,

atinge o ângulo crítico de repouso, e a areia desliza pela encosta abiaxo. Este deslizamento leva a que a encosta íngreme

atinja de novo o ângulo de repouso, que é de 30º - 34º.

O ângulo de repouso da encosta mais suave varia com a


velocidade do vento e com a granulometria do material, mas é sempre
menor que o ângulo de repouso da encosta mais íngreme. A assimetria
da duna dá indicações da direcção e sentido dos ventos, uma vez que a
encosta íngreme está sempre do lado contrário de onde o vento vem.
Muitas dunas atingem alturas de 30-100 m; na Planície de
Alashan na China referiram-se dunas com 500 m de altura (Fig. 7.9).
A contínua transferência da areia da encosta suave para a
encosta íngreme leva a que a duna migre na direcção do vento, às vezes Fig. 7.9. Duna de Alashan, China
com velocidades de 25 m/ano, podendo inclusivamente soterrar casas e

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outras obras, entupir canais de irrigação e mesmo ameaçar cidades (Fig.


7.10). Em tais lugares, o avanço das dunas pode ser evitado pela
plantação de vegetação que sobreviva em solos secos como os que
constituem as dunas.
A Fig. 7.11 mostra os vários tipos de duna e em que ambientes
eles ocorrem. O tipo de duna é controlado pelo grau de cobertura vegetal,
pela força do vento, e pela quantidade de areia disponível (Fig. 7.12). Onde
há muita areia e a falta de humidade impede o crescimento de vegetação,
os ventos tendem a criar barcanas e dunas transversais; se houver menos Fig. 7.10. Ruínas soterradas por dunas
areia, tendem a formar-se dunas longitudinais. Com um aumento de costeiras em Pachacamac, Peu.
humidade a vegetação começa a aparecer e aí predominam as dunas
parabólicas. Com um aumento ainda maior de vegetação e um declínio da
velocidade dos ventos, a formação de dunas cessa.

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Uma duna coberta de capim pode ser


reactivada se o capim morrer permitindo que a
deflacção comece. Isto pode resultar de
períodos de seca, ou pela destruição da
vegetação por animais e pelo Homem.
Onde existir uma duna, é possível dizer
donde soprou o vento que a criou. Mesmo que
uma duna tenha sido erodida e o que restou
transformado em arenito, é possível determinar
a direcção do vento que criou essa duna (Fig.
7.13).
A Fig. 7.14 mostra uma região do
Fig. 7.11. Relação tipo de duna, vegetação, areia e vento deserto do Sahara, na Argélia, com dunas em
estrela.

TIPO DE DUNA DEFINIÇÃO E OCORRÊNCIA ESQUEMA


Duna em forma de crescente, com as pontas
apontando no mesmo sentido do vento. Ocorre
Barcana chãos duros e planos dos desertos. Vento constante
e fornecimento limitado de areia; Alturas de 1 a mais
de 30 m

Fiada de dunas em forma de crescente


Crista Barcanóide conectadas, orientadas perpendicularmente à
direcção do vento

Duna formando uma crista assimétrica


perpendicularmente à direcção do vento. Ocorre
Duna Transversal em áreas com abundância de areia e pouca
vegetação; Em alguns lugares passa gradualmente
para barcanas

Duna em forma de U, com a concavidade virada


Duna Parabólica
para o vento.

Duna em crista longa e rectilínea paralela à


direcção do vento. Atingem 100m de altura a 100 km
Duna Linear de comprido. Ocorrem em desertos com pouco
fornecimento de areia e fortes ventos soprando duma
só direcção

Colina isolada de areia tendo uma base que se


assemelha a uma estrela em plano. As cristas
Duna em Estrela convergem num pico central, que pode atingir 100 m
de altura. Tende a manter-se fixa no lugar em áreas
onde o vento sopra de todas as direcções

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Crista assimétria intermédia entre uma duna


transversal e uma duna em estrela. Forma-se onde
Duna Inversa
a força e a duração do vento de duas direcções
opostas estão em equilíbrio.

Fig. 12. Principais tipos de dunas baseados na forma.

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Fig. 7.13.Estratificação cruzada em arenito originado de dunas


antigas convertidas em rocha sedimentar consolidada Fig. 7.14. Dunas em estrela de Tifernine, Argélia

5.2. MARES DE AREIA


Alguns desertos maiores contêm extensos depósitos de
areia em movimento a que se chamam mares de areia ou ergs.
Alguns dos melhores exemplos encontram-se no N, W e SW de
África (Fig. 7.15) e na Península Arábica. Eles contêm uma
variedade de formas dunares, desde pequenas colinas de areia e
barcanas a grandes complexos dunares que formam uma
paisagem infindável e monótona.

5.3. LOESSES
Em algumas extensas áreas, os sedimentos depositados Fig. 7.15. Mar de areia do deserto
de Namib
pelo vento são tão espessos e uniformes que constituem um
depósito distinto e controlam as características da paisagem. Estes
depósitos são conhecidos por loess (do Alemão lös = solto) que
se define como silte depositado pelo vento, geralmente
acompanhado de alguma areia e argila finas.
Geralmente o loess é maciço e sem estratificação. As raízes das
plantas, os vermes e outros organismos removeram o sedimento vezes sem
conta durante e desde a sua deposição. Onde exposto, o loess geralmente
apresenta barrancos muito íngremes (Fig. 7.16), como se fosse uma rocha
consolidada. Isto é resultado do grão finíssimo do loess em que a atracção
Fig. 7.16. Loess exposto em Xian,
molecular é muito forte, tornando as partículas muito coesas. A porosidade é China
muito alta, normalmente >50%. Assim, o loess absorve muita água, tornando-
se solos muito produtivos.
Os minerais constituintes do loess são o quartzo, feldspatos, micas e calcite. As
partículas são geralmente frescas e mostram pouca evidência de meteorização química, a
não ser leve oxidação de minerais com ferro que dá ao depósito uma cor amarelada-
acastanhada.
Os loesses apresentam duas características que indicam a sua origem eólica:
a) forma coberturas extensas e uniformes, cobrindo colinas e vales da mesma
maneira e a diferentes altitudes;
b) contém fósseis de plantas e animais terrestres, principalmente determinados
tipos de caracóis terrestres, bem como grandes mamíferos.

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A distribuição dos loesses mostra que a sua principal fonte foram os desertos e
planícies de inundação resultantes da fusão dos gelos glaciares.

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TEMA 8: RIOS E PROCESSOS FLUVIAIS

19. INTRODUÇÃO
A Terra é muitas vezes chamada de Planeta da Água, por ser o único planeta do Sistema Solar em
que a água ocorre nos três estados: sólido, líquido e gasoso. Além disso, cerca de 60% da superfície da Terra
é coberta de água. Se bem que hoje não haja rios em Marte, muitas das formas de terreno sugerem a
existência desses rios em tempos idos. Mas em nenhuma parte do Sistema Solar a influência dos rios na
modelação da paisagem é tão importante como na Terra

20. FORMAÇÃO DOS RIOS


Como é que a água vai para os rios, não é tão claro como parece. A água corrente – água que não é
absorvida pelo solo mas que flui à superfície – contribui para a maior parte da água dos rios, mas mesmo alguns
pequenos rios continuam a fluir mesmo quando esta água corrente superficial se esgotou. Alguma da água que
alimenta os rios provém do subsolo – água subterrânea. A maior parte desta água subterrânea flui no subsolo,
mas parte aparece à superfície ou como nascentes ou ainda debaixo do próprio leito dos rios. Mas a principal fonte
dos rio é a água corrente superficial – runoff.
Uma série de factores controla a quantidade de runoff e quanta
água evapora, transpira ou vai para o subsolo (ver ciclo hidrológico). Uma
grande percentagem da chuva torna-se runoff em área em que:
a) têm encostas íngremes;
b) têm taxas baixas de evapotranspiração.
O runoff começa como uma fina lâmina de água à superfície do
solo. Esta toalha de água flui encostas abaixo em pequenos canais que
coalescem para formar fluxos de água maiores (Fig. 8.1). Na maioria dos
casos, a superfície do chão é composta por uma rede de pequenos canaias
(por vezes não visíveis) que se encontram secos. Só os canais maiores Fig. 8.1. Rede de drenagem
parecem ter vales visíveis e mesmo estes, só alguns têm água o ano todo.
Assim, os rios permanentes são só uma parte duma extensa rede de
canais que drenam a superfície da Terra. A área drenada por um rio (e seus
afluentes) chama-se bacia hidrográfica, e o perímetro desta bacia é definido por
uma linha imaginária chamada interflúvio ou linha divisória de água, porque
separa uma bacia hidrográfica doutra bacia hidrográfica. A Fig. 8.2 mostra as
bacias hidrográficas dos principais rios de Moçambique. Esta linha, se bem que
imaginária, tem um sentido real, uma vez que em ambos os lados desta linha as
águas do runoff fluem em direcções opostas.

21. PRINCÍPIOS QUE GOVERNAM A ACÇÃO DOS


RIOS
Uma observação da natureza mostra uma diversidade grande de rios
e de paisagens que eles atravessam. Estas diferenças incluem a quantidade
de água, a largura e profundidade do rio, a sua velocidade e a forma do canal.

3.1. O RIO E O SEU CANAL Fig. 8.2. Bacia hidrográficas de


Forma do Canal Moçambique

A maioria dos rios permanentes correm em canais bem definidos que podem ser descritos medindo
a sua largura e a sua profundidade, de modo a desenhar-se uma secção do rio. Assim é possível calcular-se
a área da secção dum rio em vários locais. Se se determinar a velocidade média, é possível calcular o seu
caudal – quantidade de água que passa na secção por unidade de tempo, empressa em volume/unidade de
tempo.

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As formas dos canais e os caudais diferem muito de rio para rio e dentro do mesmo rio. A Fig. 8.3 mostra
que os canais também diferem muito na mesma secção de tempos em tempos, especialmente quando o caudal
muda devido a muita ou pouca precipitação ou a mudanças sazonais. Em parte, a mudança na secção é devida
ao facto de que o nível do rio sobe quando o caudal aumenta, mas em muitos canais a forma e profundidade do
canal também muda. Estas mudanças são resultado de erosão e deposição de material no leito do rio (canal). Os
sedimentos soltos e não consolidados consistem muitas vezes de silte, areia e misturas de cascalho, a que se
chama aluvião. A maioria dos rios corre em canais cortados em aluviões que enchem o fundo dos vales dos rios.

Fig. 8.3. Mudança na forma do canal durante as cheias do Rio San Juan (Utah, EUA), entre Setembro e Outubro de 1941.

A forma do canal pode ser um semi-círculo quase


perfeito em secção, mas geralmente é assimétrico e, em
algumas condições, o rio corre não num, mas em vários canais
que mudam rapidamente, de pouca profundidade e
intercruzados, chamando-se rios anastomosados (Fig. 8.4).
Outros rios, ainda, correm sobre rochas dura em que não se vê
aluvião (Fig. 8.5).
Uma vez que o caudal muda, os aluviões não estão confinados ao
canal. Durante as cheias, o caudal é excepcionalmente alto e, nessa altura, o
rio tanto erode o vale para além do canal habitual, como deposita sedimentos
nesse mesmo vale quando o canal diminui. Assim, é formada uma superfície
quase plana ao longo de muitos rios – as chamadas planícies de inundação.
Quando se vai de estrada para o Xai-Xai e se passa Chicumbane, a estada
desce a uma dessas planícies de inundação até se chegar à ponte sobre o Fig. 8.4. Rio anastomosado
Rio Limpopo, onde ocorreram as dramáticas cheias de 2000. A Fig. 8.6
mostra uma fotografia aérea do Rio Limpopo tirada na altura das cheias,
mostrando a planície de inundação afectada pelas águas. Se bem que quase
todos os rios tenham cheias, nem todos têm planície de inundação. É o que
acontece quando os rios correm em leitos como os da Fig. 8.5. Os canais
variam claramente desde onde o rio começa em altitudes maiores –
nascente – até a altitudes mais baixas onde desagua num rio, lago ou mar
– a foz.
Os rios fluem porque a se água move encosta abaixo. Além Fig. 8.5. Leito rochoso do Rio Vúzi,
disso, a velocidade da água aumenta com a inclinação da encosta. Assim, afluente do R. Zambeze, na Albufeira de
a inclinação (declive) da encosta é uma característica importante de Cahora Bassa
qualquer rio. O declive dum rio – o gradiente do rio – é determinado
medindo a difereça de altitudes entre dois pontos e a distência entre os
mesmos. Normalmente mede-se em metros/quilómetros. A Fig. 8.7
mostra o perfil longitudinal do Rio Yellowstone, nos EUA.

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Fig. 8.6. Planícies aluviais. Esquerda: Fotografia aérea


do Rio Limpopo durante as cheias de 2000. Cima:
Imagem de Caia durante as cheias do Rio Zambeze
em 2001.

Fig. 8.7. Perfil longitudinal do Rio Yellowstone; escala vertical exagerada

Fluxo de água
A natureza do fluxo da água dos rios sofre
muitas alterações no decurso do seu caminho desde
a nascente até à foz. Nas montanhas, onde a água
está confinada a leitos estreitos em forma de V, cheios
de cascalheira e detritos rochosos, a água A B
literalmente salta, borbulha e espuma durante a sua
descida. Na base das montanhas a água segue um
curso sinuoso. A água torna-se menos turbulenta,
excepto durante as cheias. À medida que o rio se
aproxima do nível do mar, ele segue um caminho C
meandrante numa paisagem plana. A água fluiFig. 8.8. Diversos tipos de fluxo das águas dos rios. A.
Laminar; B. Turbulento; C. de Queda
suavemente só com algumas perturbações
superficiais.
O fluxo da água do rio pode ser calmo ou turbulento.
No primeiro caso, diz-se que o rio tem um fuxo laminar (Fig.
8.8.a) e no segundo que tem um fluxo turbulento (Fig. 8.8.b).
Quando o fluxo muda o declive muito rápidamente, a
espessura de água diminui, passando a ter um fluxo de queda
(Fig. 8.8.c). Um exemplo deste tipo de fluxo é uma cascata (Fig.
8.9).
Fig. 8.9. Quedas de água de Victoria Fall, do lado
Zambiano (1977), também chamadas de Mosi-wa-
Tunya (a água de troveja)

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3.2. CARGA DUM RIO


Fontes da carga dum rio
À excepção das grandes altitudes em que os glaciares transportam grandes quantidades de carga, os
rios são praticamente os únicos responsáveis pela remoção do solo e rochas dos continentes. A carga dum rio
é o material transportado pelo rio. As margens dos rios são a fonte mais imediata da carga. À medida que o rio
remove aluvião do seu canal, as margens tornam-se super-íngremes, ocorrendo então slumping, deslizamento e
outras formas de destruição de margens, cujo material entra na corrente de água. Este processo é particularmente
importante nas zonas em que o rio atravessa sedimentos não consolidados.
A carga pode também provir de fora da área da bacia hidrográfica. Junto a glaciares actuais as
águas fundidas carregam sedimentos suspensos para os rios.
A areia e silte soprados pelos ventos constituem grande parte da carga dos rios que correm perto
de desertos, lagos ou costas onde predominam ventos fortes e sedimentos soltos.
As cinzas vulcânicas também são importantes fontes durante as erupções.

Movimentos da carga com a água corrente


Quando o runoff superficial é forte e varre grandes quantidades de solo e produtos de meteorização
para os rios, a água aparece barrenta porque parte da sua carga está a ser transportada em suspensão,
constituída principalmente pelas partículas mais leves e mais pequenas, do tamanho de argilas e siltes. Se a
água for muito turbulenta, também pode carregar em suspensão partículas maiores.
Alguns produtos de meteorização podem ser carregados em solução,
especialmente em rios fluindo sobre determinados tipos de rochas (calcários,
dolomitos, depósitos salinos). Em climas húmidos, a maioria do material
dissolvido é trazido pelas água subterrâneas que ascendem à superfície.
Também os produtos solúveis dos processos de meteorização química vão ter
aos rios e juntar-se à carga em solução.
O resto da carga dum rio move-se ao longo do fundo do canal e chama-
se carga de fundo. Quando a velocidade da água é suficientemente grande, a
areia, seixos, cascalho e mesmo blocos, podem saltitar ao longo do fundo ao
baterem em irregularidades deste e, por algum tempo e curtas distâncias, serem
transportados como carga em suspensão, até serem puxados para o fundo pela
gravidade. Outra maneira de movimento é por arrasto e rolamento ao longo do
fundo.
Experiências têm mostrado que a quantidade de partículas maiores
que rolam ao longo duma enconsta suave, aumenta enormemente com o
aumento da velocidade da água. Assim, um rio em que a água se move a uma
velocidade de 100 cm/seg consigue mover um calhau de 2 kg, mas se essa
velocidade for de 200 cm/seg, já consegue mover calhaus de 64 kg. A fig. 8.10
mostra um calhau de granito de 8 toneladas rolado e polido como carga de fundo
do Rio Big Thompson (EUA). Fig. 8.10. Bloco rolado de granito
de 8 toneladas

Todos os rios carregam normalmente os três tipos de carga, mas pode acontecer
que predomine um deles sobre os outros. Por exemplo, os rios do sul de Moçambique, que
correm em planícies e em velocidades relativamente lentas, carregam fundamentalmente
carga em suspensão e em solução, e só muito pouco em carga de fundo. Pelo contrário,
os rios de montanha carregam normalmente carga de fundo.
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A quantidade de material transportado depende não só da velocidade da água, mas também da


disponibilidade de material. Geralmente os rios não carregam todos os detritos possíveis para as suas
condições, ou seja, para a sua capacidade – quantidade de material que eles podem transportar nas
condições prevalecentes. Por outro lado, a capacidade não é preenchida por que a força da água não é
suficiente para transportar os detritos.

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3.3. EROSÃO DUM RIO


Uma bacia hidrográfica é erodida pelo runoff,
por movimentos de massa e por processos que
acontecem no próprio rio.
A pressão da água corrente contra os blocos
de rocha causam o seu rolamento e, se a velocidade
for alta, podem saltar ao bater em obstáculos. Uma vez
em processo de saltação, estes caulhaus deslocam
outros sedimentos no fundo. Se o fundo for de rocha
dura, o impacto dos calhaus em saltação pode partir e Fig. 8.11. Lago de Cahora Bassa. Notar a forma em V do vale.
fracturar esta rocha.
As cargas em suspensão e saltação são
afectadas pela turbulência da água. Muita da carga de
fundo é mantida em suspensão em águas turbulentas,
mas as partes mais pesadas estão continuamente a
bater no fundo. Nestas condições é natural que a
erosão se concentre no fundo, fazendo com que o rio
cave ainda mais o seu leito.
Como consequência, alguns rios correm em
gargantas estreitas, como o Rio Zambeze (Fig. 8.11),
ou o rio Colorado no Arizona (Fig. 8.12).
A erosão lateral ocorre fundamentalmente em
rios que correm em encostas muito suaves. Em cada
curva, a água é empurrada para a parte de fora da curva,
onde a erosão e a turbulência se concentram. O
resultado é um aprofundamento do canal e um declive
maior da margem do lado de fora da curva. Isto torna
esta margem instável, fazendo com que deslize para
Fig. 8.12. Garganta do Rio Colorado, Arizona, EUA.
dentro do rio (Fig. 8.13 e Fig. 8.14).

Fig. 8.14. O rio desloca o seu canal erodindo a margem na parte


Fig. 8.13. Sucessivos perfis dum rio mostrando a deslocação
de fora da curva
progressiva do canal para a esquerda

Quando o rio corre por cima de rocha dura, o


canal mostra muitas vezes depressões arredondadas,
chamadas marmitas de gigante (Fig. 8.15), as quais
têm sempre no seu fundo cascalheira e sedimentos
grosseiros. Quando a velocidade da água é grande,
estes detritos grosseiros rodam dentro do buraco
desgastando-o cada vez mais. Os materiais
resultantes deste desgaste são levados em suspensão
para fora do buraco e rio abaixo. A maioria das
marmitas de gigante são pequenas, mas por vezes
podem atingir 6 metros de profundidade. Fig. 8.15. Marmita de gigante

Uma outra causa da erosão dos rios são as bolhas de ar que aparecem nas zonas de regime muito
turbulento, como na zona de rápidos e na base de quedas de água e de barragens. As bolhas submersas
sujeitas às grandes pressões da água colapsam e este colapso provoca ondas de choque que podem causar
rápida erosão, mesmo em rochas duras.

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3.4. DEPOSIÇÃO (SEDIMENTAÇÃO) DUM RIO


A quantidade exacta de areia, silte e rocha transportada por um rio depende de
quanta carga está potencialmente disponível e da capacidade do rio. A capacidade dum rio
é determinada principalmente pela quantidade de água que corre, pelo caudal e pela
velocidade da água, caracteristicas muito dependentes do gradiente do leito.
A deposição ocorre sempre que a capacidade dum rio for inferior à quantidade de
carga que o rio transporta. Assim, ela ocorre quando a velocidade diminui, ou quando a
carga fornecida pelo runoff, vento ou deslizamentos de terra ultrapasam a capacidade de o
rio os tranportar.
Em regiões secas os rios estão normalmente carregados para além da sua
capacidade por sedimentos finos trazidos ou soprados para o seu canal. Neste caso, o
canal começa a encher-se destes sedimentos e a água do rio, incapaz de os movimentar,
começa a procurar caminhos, passando a ter um percurso em rede – rio anastomosado
(Fig. 8.4).
A diminuição da capacidade acontece também como resultado da infiltração da
água dos rios nos aluviões porosos das suas margens e fundo, ou quando a evaporação
se torna muito forte.
A diminuição da velocidade dos rios deve-se a vários factores, especialmente a
redução do gradiente. Isto acontece quando o rio desemboca num lago ou no mar, ainda
quando conflui com outro rio ou quando a quantidade de água fornecida diminui.

Depósitos Fluviais
Dependendo das condições que originam a deposições, esta ocorre nos canais,
nas planícies de inundação e nos corpos de água em que os rios desaguam.
Os depósitos de canal nos rios que erodem activamente a rocha por onde correm,
tendem a consistir de barras finas de sedimentos pequenos, que se movem no período
seguinte de alto caudal. O preenchimento da maioria dos canais geralmente flutua em
espessura com a variação de caudal e velocidade das águas do rio.
Depósitos de planície de inundação - as águas das
cheias estão muito carregadas de sedimentos devido ao
aumento do seu caudal e velocidade, aumentando assim a sua
capacidade. Quando as água se espraiam sobre as planícies de
inundação, elas passam a movimentar-se mais lentamente. Por
seu lado, encontram no seu caminho uma série de obstáculos,
como árvores, por exemplo, aumentando assim o atrito ao
movimento. Com a diminuição da velocidade devido a estes Fig. 8.16. Secção dum rio mostrando a formação dum
levée natural
factores, ou devido ao fim das cheias, os sedimentos suspensos
assentam, formando uma nova camada de sedimentos na
planície de inundação, importante para a agricultura. Por vezes
acontece que junto às bordas do canal se deposita uma camada
de sedimentos mais grosseiros, a que se chama um levée
natural (Fig. 8.16).
Os depósitos em outros corpos de água são
chamados de deltas, como os do Rio Zambeze e Rio Yukon (Fig.
8.17). Neste caso o canal principal subdivide-se numa série de
canais menores e dispostos dendríticamente que transportam a
água e a carga em suspensão para a superfície do delta, que
geralmente é uma área plana, extensa e pantanosa.
Fig. 8.17. Delta do Rio Yukon, Alaska
As camadas de sedimentos depositadas no topo do delta
(Fig. 8.18) são chamadas de top-set beds. Na frente do delta, os
sedimentos são depositados na encosta (subaquática) formada

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em águas calmas – são os fore-set beds. Os sedimentos muito


finos que ficam em suspensão tempo suficiente para serem
carregados para águas mais profundas formam os bottom-set
beds. À medida que o delta cresce e avança água adentro,
depositam-se fore-set beds em cima dos bottom-set beds.
Forma-se assim estratificação cruzada deltaica.

Fig. 8.18. Secção deltaica ideal

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1. DESENHO DE DRENAGEM
Se bem que duas bacias hidrográficas nunca sejam iguais, é possível observar os
mesmos desenhos de drenagem em várias delas. Entende-se por desenho de drenagem
a disposição espacial que a rede de drenagem tem.
O mais comum destes desenhos de drenagem é o desenho dendrítico (Fig. 8.19.a e Fig. 8.1),
comum nas rochas que apresentam resistência uniforme à erosão. Muitas vezes, contudo, um exame atento
dos padrões de drenagem mostra que os rios se ajustam a tendências estruturais tanto à escala local como
à regional. Isto reflecte a tendência dos rios seguirem linhas de fraqueza representadas por diaclases, flhaas
e camadas de rochas brandas. O desenho radial (Fig. 8.19.b) ocorre em vulcões e domos, ou seja, as
nascentes de água do topo do alto topográfico correm em todas as direcções a partir deste topo. O desenho
anelar (Fig. 8.19.c) também ocorre em domos, quando as camadas sedimentares afloram à superfície. O
desenho paralelo (Fig. 8.19.d e Fig. 8.20) ocorre em encostas íngremes pobres em vegetação. Os desenhos
rectangular (Fig. 8.19.e) e angular (Fig. 8.19.f) são controlados por diaclases. O desenho meandrante (Fig.
8.19.g e Fig. 8.21) encontra-se em rios de gradientes muito baixos. O desenho anastomosado (Fig. 8.19.h
e Fig. 8.4) também ocorre em rios de gradientes muito baixos e que carregam mais carga do que conseguem.
Contudo, muitas vezes a drenagem é complexa quando apresenta misturas dos vários tipos de drenagem
(Fig. 8.19.i).

a) Drenagem dendrítica b) Drenagem radial c) Drenagem anelar

d) Drenagem paralela e) Drenagem rectangular f) Drenagem angular

g) Drenagem meandrante h) Drenagem anastomosada i) Drenagem complexa

Fig. 8.19 – Diversos tipos de desenho de drenagem

Nas Figs. 8.22 a 8.27 podem ver-se algumas imagens de satélite tiradas pelos astronautas da
Challenger.
A Fig. 8.22 mostra a foz do Rio Púngoè, na Cidade da Beira, sendo possível
observar-se os sedimentos carregados pelas suas águas para as águas do mar.

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Por seu lado, a Fig. 8.23, mostra o Rio Zaire algures no seu percurso, com um leito
nítidamente anastomosado, bem como o seu afluente. Na margem de cima, um afluente
saído dom lago, tem um curso meandrante junto à confluência com o Rio Zaire.
A Fig. 8.24 mostra alguns vulcões em actividade na Etiópia (vê-se o fumo) e a rede
de drenagem radial que parte do topo dos vulcões.
A Fig. 8.25 mostra o Rio Nilo no Vale dos Reis no Egipto, junto a Luxor, com um
traçado meandrante, com afluentes mostrando uma drenagem dendrítica.
A Fig. 8.26 mostra a zona de fronteira entre o Senegal (esquerda) e a Guiné Bissau
(direita), com os Rios Senegal e Cacheu, com traçado meandrante.

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Finalmente a Fig. 8.27 mostra o traçado algo anastomosado do Rio Níger no Mali,
bem como um rio menor de drenagem meandrante.

Fig. 8.21. Rio meandrante Fig 8.22. Imagem da foz do Rio Púngoè,
na Beira, e, à esquerda, parte da foz do
Fig. 8.20. Rio rectilíneo em fractura Rio Búzi.

Fig. 8.24. Montanhas vulcânicas na Etiópia. Fig. 8.25. Vale dos Reis, Egipto. Notar o
Fig. 8.23. Rio Zaire, com drenagem Notar os fumos dos vulcões e a drenagem traçado meandrante do Rio Nilo e
anastomosada radial a partir do topo dos montes. adrenagem dendrítica dos seus
afluentes.

Fig. 8.26. Rio Senegal (esquerda,


República do Senegal) e Rio Cacheu Fig. 8.27. Rio Níger, Mali, com traçado algo
(direita, Guiné Bissau) de traçado anastomosado; à direita, um rio menor com
meandrante. meandros.

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TEMA 9: OS OCEANOS E OS PROCESSOS MARINHOS

22. INTRODUÇÃO
A água do mar cobre 71% da superfície da Terra. Cerca de 40% do Hemisfério Norte é terra,
enquanto que no Hemisfério Sul só há 20% de terra. Este distribuição irregular da terra e das água joga um
papel importante na definição dos caminhos que as águas percorrem nos oceanos.
A profundidade maior medida até hoje é de cerca de 11 km, perto da Ilha de Guam no Oceano
Pacífico Ocidental, sendo a profundidade média do mar de cerca de 3.8 km. Sabendo a área dos oceanos e
a profundidade média, é possível calcular o volume de água do mar, que é cerca de 1,35 biliões de km 3.

23. COMPOSIÇÃO
Cerca de 3.5% em peso da água do
mar são constituídos por sais dissolvidos, o
suficiente para a tornar imbebível (Fig. 9.1).
Também é quantidade suficiente para, se a
água do mar evaporasse toda, formar uma
cama de sais de 56 m cobrindo todo o fundo
marinho.
A quantidade de sal dissolvido na água de mar
tem o nome de salinidade, e é geralmente expressa por
partes por mil (o/oo) em vez de percentagem (%). Assim,
a salinidade média da água do mar é de 35 o/oo. Os
principais elementos que se encontram dissolvidos na
água do mar são o Cloro e o Sódio. Quando a água do Fig. 9.1. Principais constituintes da água do mar
mar evapora, mais de ¾ dos sais que se precipitam são
de cloreto de sódio (NaCl).
Donde provêm os iões dissolvidos na água do mar?
Anualmente, os rios carregam para o mar 2.5 biliões de toneladas de substâncias dissolvidas nas suas
águas. Estas substâncias são lixiviadas das rochas durante a meteorização química, à mistura duma pequena
parte de material solúvel trazido do manto e libertado na forma de gases durante as erupções vulcânicas. A
quantidade de iões dissolvidos ao longo dos milhões de anos da história da Terra excede em muito a quantidade
dissolvida hoje. Isto significa que, se por um lado há um acréscimo constante de material, por outro há uma
remoção constante de material para se manter um equilíbrio.
a) Acontece que a vida marinha retira constantemente da água do mar quantidades de Si, Ca e P para
construir as suas carapaças e conchas.
b) O K e o Na são constantemente absorvidos pelas partículas de argila e outros minerais quando
sedimentam lentamente nos fundos marinhos.
c) Outros, como o Pb e o Cu são precipitados como sulfuretos

24. TOPOGRAFIA DOS FUNDOS OCEÂNICOS


A topografia dos fundos oceânicos é muito variada e irregular. Os fundos oceânicos
têm cadeias de montanhas e vales, planícies, grandes escarpas e vulcões, exactamente
como sucede à superfície da Terra, como se pode ver na Fig. 9.2 que compara os perfis
através do Oceano Atlântico Sul e através da América do Norte. O mapa da Fig. 9.3 mostra
a topografia do fundo de parte do Oceano Índico se este fosse esvaziado de água. Nele se
podem ver elevações e zonas baixas.

3.1. PLATAFORMA CONTINENTAL

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Plataformas continentais formam as orlas das grandes e vastas bacias oceânicas e


estão cobertas de água (Fig. 9.4). As plataformas continentais são zonas de superfície plana
que representam cerca de 10% da superfície dos continentes, podendo ter larguras variadas,
desde 1.300 km na Sibéria a quase 0 km (Chile).

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Fig. 9.2. Perfil topográfico da América do Norte (cima) e do Atlântico Sul (baixo) Fig. 9.3. Fundo do Oceano Índico

O limite duma plataforma continental náo é definido pela profundidade da água,


mas por uma mudança brusca no seu declive. Assim há locais em que esse limite pode
estar a 100 m de profundidade, mas há outros em que pode ir até 600 m. Na sua maioria,
as plataformas resultam da acumulação de sedimentos em camadas, principalmente
provenientes dos continentes.
Assim, antes de se poder formar uma plataforma, é necessário que se forme uma
bacia oceânica. No caso das costas de Moçambique, que têm a maior plataforma continental
da África Oriental, a abertura do Oceano Índico e do Canal de Moçambique deu-se há cerca
de 200 milhões de anos atrás, quando a Antártida e Madagáscar começaram a separar-se da
África. Quando a fracturação ocorreu, as margens continentais neo-formadas foram
adelgaçadas e ligeiramente dobradas para baixo para formar uma bacia longa e estreita. A
água do mar fluiu então para esta bacia e no novo oceano os rios trouxeram os sedimentos
que começaram a formar as plataformas continentais. A Fig. 9.5 mostra as zonas de
plataforma continental de Moçambique.

Fig. 9.4. Zonas de plataforma continental, bordejando as bacias Fig. 9.5. Zonas de plataforma continental (PC) e de talude
oceânicas. A linha branca refere-se ao perfil do Atlântico da Fig. 9.2. continental (TC) em Moçambique

Noutros locais em que as plataformas são muito mais estreitas, estas parecem
terem resultado do movimento descendente de blocos de falhas que submergiram a rocha,
que passou a estar sujeita à intensa erosão marinha. É o caso das plataformas da margem
oeste da América do Norte.

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3.2. TALUDE CONTINENTAL


Os taludes (declives) continentais são zonas de
grande declive que vão desde a borda das plataformas
continentais até aos fundos oceânicos, de encontro à crusta
oceânica. Dum modo geral, o talude continental passa
gradualmente para inclinações mais suaves em direcção a
extensas planícies abissais (Fig. 9.2). Noutros locais, o talude
termina abruptamente contra sedimentos horizontais dos
fundos oceânicos, como a oeste da Florida, em que a base
do talude foi soterrado por sedimentos trazidos pelo Rio Fig. 9.6. Plataforma continental e talude continental na costa
leste da Flórida
Mississipi (Fig. 9.6).

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3.3. CRISTA MÉDIO-OCEÂNICA


Na Fig. 9.2 a característica mais
importante no perfil submarino é a Crista
Médio-Atlântica, que faz parte do sistema
de cristas no fundos dos oceanos, e que
atinge uma extensão de 84.0000 km de
comprimento, marcando os limites das
zonas de separação de placas. Essa crista
domina a vista apresentada na Fig. 9.7,
onde ela apresenta uma largura de 1500
km. A crista eleva-se entre 1000-3000
metros acima do fundo oceânico e está a
uma profundidade média de 2500 metros.
Ela tem maior altitude ao longo do seu
eixo, diminuido simetricamente de altitude
para ambos os lados.
Em vários pontos à volta do mundo, a crista
oceânica atinge a superfície do mar, originando ilhas
Fig. 9.7. Reconstituição do fundo do Oceano Atlântico Norte, se a
água fosse toda removida oceânicas, a maior das quais é a Islândia (Fig 9.7), o
que permite uma observação directa duma zona de
separação de placas, já que estas se encontram
quase todas a grandes profundidades.

25. PROCESSOS MODELADORES DAS COSTAS

4.1. MARÉS
O termo maré aplica-se à descida e subida periódica do nível do mar. Já nos tempos
antigos foi verificada a relação entre o movimento das marés e as fases da Lua. À medida que
o Homem aprendeu a medir o período (tempo entre duas marés altas sucessivas) e a
amplitude (variação do nível da superfície da água), bem como a variabilidade das marés,
entendeu que as marés são um processo extremamente complicado.
Os dois factores dominantes que controlam as marés são:
a) atracção gravitacional que o Sol e a Lua exercem na água do mar; e
b) efeito da forma das bacias oceânicas na água em movimento.
As marés não podem ser só explicadas pela atracção gravitacional. Se
observarmos a Fig. 9.8, com gráficos de marés de 3 locais diferentes na Nova Zelândia,
verificamos que os padrões são diferentes no que toca ao período, amplitude, número de
marés por dia e padrão de variação com o tempo.

cxlix
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Fig. 9.8. Registos de marés em 3 localidades da Nova Zelânida. Notar a relação entre as fases da Lua e as amplitudes

As marés têm menor amplitude quando a Terra, o Sol e a Lua estão em quadratura,
isto é, os centros dos 3 planetas formam um ângulo recto. Quando os três planetas estão
alinhados, as marés têm maior amplitude, ocorrendo então as marés-vivas.

cl
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Efeitos Geológicos das Marés


A maioria das zonas costeiras do mundo são afectadas por movimentos de maré.
As amplitudes de maré em Moçambique variam entre 2 e 3 metros. Nas costas dos EUA,
essas amplitudes variam entre 2 e 7 metros. Em certos locais, como na Baía de Fundy na
Nova Scotia (Canada), conhecem-se marés ainda maiores, às vezes com 12 ou mais
metros.
Quando a maré se aproxima da costa, cria uma corrente horizontal, maré de cheia,
que se move para dentro de baías e rios e, em alguns casos, continuam para montante
desses rios. Por exemplo, o Rio Hudson é afectado pelas marés até 208 km a montante,
onde o nível do rio pode variar até 1.5 metros.
Em alguns rios, em que as amplitudes de marés é muito alta, o movimento da água
toma a forma duma onda turbulenta – maré de arrasto – que se move a alta velocidade.
No caso do Rio Amazonas, esta maré pode atingir 4.8 metros e mover-se a 22 km/h. As
correntes que resultam destes movimentos são agentes de erosão marinha efectivos,
impedindo os sedimentos finos em suspensão de se depositarem. Por esta razão as marés
de arrasto ajudam a limpar e a modelar os leitos dos rios em que ocorrem.
A força de atracção não está confinada à superfície dos oceanos. A água de todas
as profundidades sofre essa atracção, e por isso ocorrem correntes de maré de
profundidade. Os principais efeitos parecem ocorrer quando as águas que estão para lá
dos taludes continentais são puxadas em direcção a terra para sobre a plataforma
continental. Estas correntes são as responsáveis pela movimentação dos sedimentos perto
das margens das plataformas.

4.2. ONDAS
As Ondas são movimentos ascendentes e descendentes
da superfície dum corpo de água (Fig. 5.24). Neste sentido, as
marés podem olhadas como um tipo especial de ondas muito
longas. Contudo, a maioria das ondas que vemos no mar aberto
são formadas por pequenos altos alongados (cristas) separados
por pequenas depressões - cavados. Muitas vezes vêem-se ondas
de diferentes tamanhos juntas. A Fig. 9.9 mosta um modelo de perfil
duma onda teoricamente perfeita. A onda move-se através da Fig. 9.9. Forma teórica duma onda.
superfície do mar, mas a água não viaja com a onda. Se isso
acontecesse, a maioria dos barcos não poderiam navegar. O que
acontece é que a água se move num trajecto quase circular, o que
pode ser visto pelo movimento duma rolha quando a onda passa.
O tamanho da órbita circular diminui com a
profundidade (Fig. 9.10.A), até uma profundidade
igual a metade do comprimento de onda (distância
entre cristas consecutivas). Abaixo desta A
profundidade o movimento das ondas não tem efeito
nem na água nem no fundo do mar.
Quando estas ondas se propagam em águas
tão profundas que o movimento da água não cause
efeito no fundo, a velocidade da onda é dada pela
expressão
B
gT Fig. 9.10. Movimento da água em águas profundas (A)
v e de pouca profundidade (B)
2

cli
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em que T é o período (tempo necessário para a passagem de duas cristas sucessivas) e g


é a força da gravidade. Porém, quando as ondas se aproximam de zonas em que a
profundidade é inferior ao comprimento de onda, a velocidade é dada pela expressão
v  gd
em que d é a profundidade da água. Quando essa profundidade diminui, a velocidade
também diminui.
A rebentação dá-se quando as ondas entram em zonas cada vez menos
profundas, o que obriga a uma restrição do movimento. Os trajectos circulares do
movimento da água (Fig. 9.10.A) são forçados a tornarem-se em movimentos elípticos (Fig.
9.10.B) e o movimento é reduzido por arrasto no fundo. Esta

clii
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restrição provoca um aumento da altura da onda e uma


diminuição da velocidade. Esta variação geralmente ocorre
rapidamente. Acontece que o topo da onda vai a uma velocidade
superior que a base da onda, fazendo com que avance mais
depressa rebentando, originando uma zona em que se mistura
com o ar, criando espuma (Fig. 9.11). A onda perde a sua forma
e a água é atirada contra a costa, muitas vezes com grande
força, como uma massa de água turbulenta. No local onde as
ondas rebentam, os sedimentos do fundo do mar são
perturbados e trazidos para carga em suspensão; mesmo
sedimentos mais grosseiros ficam temporariamente em
suspensão. Como consequência, devido aos sedimentos que Fig. 9.11. Rebentação na Praia do Tofo, Inhambane
são levantados e empilhados no lado de terra originando uma
praia, cria-se uma depressão no fundo.
Mecânica da erosão das ondas
Onde a água é suficientemente funda para as ondas atingirem a costa antes de
rebentarem, as rochas e os sedimentos expostos ao longo da costa sofrem um constatnte
ataque pelas ondas.
A eficácia da acção das ondas como procresso de erosão é particularmente evidente
se se acompanhar a destruição da costa. Um exemplo foi a erupção do vulcão dos
Capelinhos nos Açores em 1957, aumentando a área da Ilha do Faial. Este cone vulcânico,
de cinzas, cresceu várias centenas de metros, mas foi muito erodido pelas ondas dentro de
poucas semanas depois de a erupção terminar. A erosão das ondas foi especialmente forte
neste caso, pois o cone vulcânico era constituído por detritos soltos.
Muita da erosão das ondas acontece na zona de rebentação. Quando as ondas
rebentam numa praia arenosa, a água cava vários centímetros no sedimento do chão à
medida que a água avança. A areia é remexida e facilmente movida pelas correntes. Já
vimos que a água do topo das ondas é atirada contra a costa. Quando as ondas rebentam
contra uma falésia, a erosão resulta da pressão hidráulica exercida nas fracturas da rocha
e do embate dos sedimentos trazidos em turbilhão.
A força da água, por si só, pode deslocar blocos fracturados. A água força o seu
caminho por entre as fracturas, onde se torna comprimida pela força da água que vem por
trás. O valor desta pressão é maior do que se pensa. Uma onda de tamanho modesto –
1.5-3 metros de altura – pode exercer pressões de 24-48 ton/m2 sobre as rochas expostas
em que embate. Esta pressão é suficiente para expandir e alargar fracturas pré-existentes
e desalojar blocos soltos.
Outros processos estão envolvidos junto com os fenómenos de impacto. Os efeitos
da meteorização, da dissolução das rochas e dos cimentos, e do humedecimento/secagem
alternados por acção dos salpicos das ondas, estão indirectamente ligados à acção das
ondas, bem como ajudam a soltar/fragmentar a rocha e torná-la mais aberta à erosão.
Ao transportar areia, seixos, cascalho e blocos das costas rochosas, as ondas
facilmente fragmentam rochas meteorizadas e/ou fracamente litificadas/consolidadas, e
muitas vezes erodindo também camadas mais resistentes. Contudo, o impacto de grandes
blocos transportados por ondas de tempestade podem fracturar as rochas mais resistentes,
como os granitos.
A eficácia da erosão das ondas é determinada pelo tamanho das ondas, onde elas
rebentam, e tipo de rocha/sedimento presente ao longo da costa. As ondas maiores têm
mais energia, sendo por isso capazes de transportar partículas maiores e causar mais
erosão.

cliii
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Porque o local onde uma onda rebente depende da profundidade da água e do seu
comprimento de onda, a erosão é geralmente maior onde águas profundas se aproximam
mais das costas, de modo que as grandes ondas rebentam directamente sobre as rochas
expostas.

4.3. ASPECTOS FORMADOS PELA EROSÃO DAS ONDAS


A acção das ondas é contínua, e continua a cavar falésias, causando deslizamentos
de terras, destruindo casas e estradas (Fig. 9.12) ou a abrir brechas em praias, como as da
Fig. 9.13, na Ilha de Monomy (Mass., EUA), que mostra uma lingua de terra aberta por
ondas durante um furacão em 1978.

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Fig. 9.13. Ilha de Monomy (Mass., EUA), cortada pela erosão das
Fig. 9.12. Estrada cortada pela erosão das ondas (EUA)
ondas ne sequência dum furacão em 1978.

Falésias e Terraços
A maioria das falésias são
íngremes e algumas com várias centenas
de metros de altura. Geralmente ocorre
uma quebra súbita na base da falésia,
aparecendo na base desta uma
plataforma rochosa ligeiramente inclinada
em direcção ao mar (Fig. 9.14). Esta
plataforma (terraço) pode estar
parcialmente coberta por fragmentos de
rocha provenientes do desabamento, ou
pode estar coberta por areia trazida pelas
ondas. O mar usa o material erodido para
continuar a erodir a falésia na sua base,
fazendo com que esta recue (Fig. 9.15) Fig. 9.14. Terraço e falésia nos crés de Dover, Reino Unido. Em primeiro
plano pode ver-se alguma areia cobrindo o terraço
ocasionando fenómenos como os da Fig.
9.12.
O efeito do rebentamento das ondas é
negligível alguns metros abaixo da superfície do
mar. Por isso, a falésia pára abruptamente mesmo
abaixo do nível da água, originando um terraço
plano. A largura do terraço é limitada pelo facto de
a água ser pouco profunda. À medida que o
terraço alarga, cada vez mais energia se dissipa Fig. 9.15. Esquema de recuo da falésia por acção das ondas do mar
antes da onda atingir a base da falésia, diminuindo
a sua capacidade erosiva

Pináculos, Arcos, Caves e Nichos


Vários tipos de irregularides desenvolvem-se
ao longo da costa à medida que uma falésia retrocede.
Algumas destas irregularidades estão esquematizadas
na Fig. 9.16. O desenvolvimento destas características
pode ser devido a diferenças em onde a energia das
ondas se concentra, ou a diferenças na dureza das
rochas, ou ainda à estrutura das rochas. Muitas vezes
as falésias em recuo deixam colunas de rocha isoladas
como ilhas junto à costa, chamadas pináculos (Fig.
9.16 e Fig. 9.17). Fig. 9.16. Características típicas de costas rochosas

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As caves e arcos (Fig. 9.18) ocorrem quando as rochas da falésia são sedimentos
estratificados com durezas várias. As rochas mais brandas são mais fácilmente erodidas.
Os nichos (Fig. 9.19) ocorrem na base das falésias e são o primeiro passo para o recuo
das falésia. Constituem reentrâncias na base da falésia, como no primeiro diagrama da Fig.
9.15.

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Fig. 9.17. Pináculo Fig. 9.19. Nicho


Fig. 9.18. Arco

Praias de areia, seixo e cascalho são muitas vezes encontradas ao longo de costas
de falésia, pináculos, etc. Tais praias são muitas vezes características temporárias, em
função da estação do ano.

4.4. MOVIMENTOS DE SEDIMENTOS EM ÁGUAS POUCO PROFUNDAS


A rebentação das ondas e as
correntes ao longo da costa são responsáveis
pela transporte da maioria dos sedimentos.
As ondas normalmente batem na costa com
um certo ângulo. Os calhaus e grãos de areia são
rolados ou atirados pela rebentação praia acima num
trajecto oblíquo (Fig. 9.20). Quando a onda recua, a
areia e os calhaus descem directamente na
perpendicular. Assim, com cada nova onda, os
sedimentos movem-se ao longo da costa num trajecto
em zig-zag. Este movimento é o principal mecanismo Fig. 9.20. Trajecto em zig-zag dos sedimentos ao longo da praia
pelo qual os sedimentos, especialmente os grosseiros,
se movem ao longo da costa.
Este deslocamento pode ocorrer num longo período de tempo, como se pode ver
na sequência de fotografias da Fig. 9.21 (Nova Jersey).

A B C
Fig. 9.21. Fotografias aéreas tirades em Little Egg Harbor, Nova Jersey, em 1940, 1957 e 1963

26. DEPÓSITOS MARINHOS

5.1. PRAIAS
As praias são características transitórias. As praias
de areia que nos parecem permanentes, podem ser
reduzidas a estreitas faixas de calhaus (ou mesmo
desaparecer) durante a estação do ano em que há muito
vento e tempestades. Em alguns lugares os sedimentos
são todos removidos, deixando a descoberto a rocha
subjacente.
A maioria das praias é constituída por sedimentos de Fig. 9.22. Praia de cascalheira em Metangula,
dimensões de areia facilmente removidos até por correntes Lago Niassa

clvii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

moderadas. Mesmo as praias de calhaus e seixos, como a da Fig. 9.22,


em Metangula, Lago Niassa, podem ser levadas por ondas de
tempestade.

clviii
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

As tempestades não são o único mecanismo


responsável pelo movimento e destruição de praias.
Qualquer alteração no fornecimento de areia à praia ou às
correntes ao longo da praia influi no crescimento ou
destruição da praia. Várias tentativas são feitas para suster
a erosão marinha e a deposição ao longo da praia
construindo quebra-mares, pontões (como os do Miramar
Fig. 9.23. O contacto entre a água e a terra é
em Maputo), etc. Há contudo que ter imenso cuidado na chamada linha de costa
planificação destas construções, pois elas podem ter efeitos
colaterais muito diferentes do que se espera. Estas
construções podem, por um lado, proteger uma parte da
praia, e, por outro, destruir outra parte.
As regiões costeiras podem ser divididas em 3
partes (Fig. 9.23):
a) o Offshore, é a parte que vai desde o nível da
baixa-mar em direcção ao mar;
b) o Foreshore, é a zona entre a maré baixa e o
ponto onde a praia se torna horizontal ou
inclina para terra,
c) o Backshore, é a parte que vai do foreshore
para o interior da terra.
Os perfis das praias podem variar de hora a hora e,
particularmente, de estação para estação. As variações sazonais
podem ser observadas no esquema da Fig. 9.24, que mostra os perfis Fig. 9.24. Variação do perfil de Camel Beach,
Califórnia, durante o Verão
da Praia de Carmel, na Califórnia. Durante o Verão, a areia é
depositada na praia, tornando-a mais larga. No Inverno, as ondas
mais forte varrem a areia para zonas mais profundas.
Formação de Praias
As praias são características de costas em que domina a deposição, mas mesmo
nas zonas mais acidentadas ocorrem manchas de areia.
O aspecto de maior importância é a fonte do fornecimento de sedimentos. A maioria
dos sedimentos provém dos rios que desaguam nos oceanos ou da erosão das ondas e da
sua rebentação sobre as formações rochosas expostas nas zonas costeiras. Para além disso,
durante as tempestades, as ondas podem trazer sedimentos dos fundos oceânicos, mas é
sempre em quantidade pequena. Localmente, os sedimentos podem provir de vulcões ou
glaciares em fusão, ou ainda serem soprados pelos ventos.
Para que uma praia persista, é necessário que o
fornecimento de sedimentos seja igual ou superior que a sua
remoção, tanto pelas ondas de tempestade como pelas
correntes costeiras. Se os sedimentos forem abundantes, as
praias podem estender-se por muitos quilómetros ao longo da
costa. Se a quantidade de sedimentos for pequena, ou se as
correntes costeiras forem fortes, as praias só se formarão em
zonas protegidas da costa.
Nas zonas de falésias e de pináculos, muitas vezes a terra entra
Fig. 9.25. Praias protegidas por falésias, Nova
pelo mar adentro (Fig. 9.25), protegendo da rápida remoção dos materiais Zelândia
pelas correntes costeira, formando pequenas praias no interior de
pequenas baías.

clix
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

As praias também se podem formar perpendicularmente através


da entrada das baías (Fig. 9.21). Primeiro, uma língua de terra submersa
forma-se na direcção das correntes costeiras. Com o acumular de mais
areia, esta língua pode emergir e cresce na mesma direcção, até que
atravessa toda a baía, originando uma língua de terra que impede a
passagem da água do mar para a baía e vice-versa (Fig. 9.26). Fig. 9.26. Praia formada na entrada duma baía

Muitas vezes aparece uma praia entre a costa e um pináculo, a que se chama um
tômbolo (Fig. 9.16). Estes pináculos protegem a área por trás deles da erosão das ondas,
sendo por isso zonas propícias à acumulação de areia no fundo, que pode emergir,
originando uma praia.

clx
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Plataforma de Maré
Terras baixas perto do nível do mar, e protegidas da acção da
erosão das ondas e das fortes correntes, podem originar plataformas de
maré como as da Fig. 9.27, na Bretanha. Estas plataformas estão
geralmente perto de fontes abundantes de sedimentos, como o caso da foz
dos rios. Uma vez que muitos animais vivem nestas plataformas (moluscos,
gasterópodes, lamelibrânquios, crustácios, etc), os seus restos são um
componente importante destes sedimentos. A argila e o silte muito finos, e
alguma areia misturada com quantidades variadas de fragmentos de
conchas, espinhas de ouriços e matéria vegetal muito fina em
decomposição produzem uma lama muito mole típica destas zonas. Estes Fig. 9.27. Plataforma de maré, no Monte Saint
aspectos podem ser vistos na maré vazia na zona da Costa do Sol em Michel, França
Maputo, que é uma plataforma de maré.

5.2. PÂNTANOS MARINHOS (COSTEIROS)


Os termos pântano, lodaçal e lameiro aplicam-se a terras baixas, esponjosas e
geralmente saturadas de água. As condições para que isto aconteça é abundante chuva ou
outra fonte de água e um substrato impermeável que impeça a drenagem de sair. Se bem
que nem sempre, estas terras estão geralmente ao nível do mar e são baixas. Calcula-se
que cerca de 2.6 milhões de km2 de terra estejam cobertos por pântanos.
Os pântanos marinhos ocorrem onde línguas de
terra formadas no offshore originam lagoas que se
enchem de sedimentos do continente e de restos
vegetais, sendo a vida vegetal mais abundante onde as
águas são calmas – fracas correntes de maré e baixa
amplitude de maré.
Alguns pântanos marinhos são parcial ou totalmente
cobertos pela água do mar durante a maré cheia. Num pântano
marinho, a vegetação é completamente diferente daquela que
cresce em zonas de água fresca, já que esta é morta pelo sal. Em
climas tropicais, como em Moçambique, os pântanos marinhos Fig. 9.28. Vegetação típica de manga
contêm uma vegetação própria – o mangal (Fig. 9.28). Na Ilha da
Inhaca há imensas extensões de mangal, circundando o famoso
Saco da Inhaca (Fig. 9.29).

Fig. 9.29. Fotografia do Saco da Ilnhaca, bordejado por vegetação de mangal

À medida que as plantas morrem, elas caiem na água e começam a decompor-se.


Se elas forem soterradas rápidamente por sedimentos marinhos ou por outras plantas, há
grandes hipóteses que esses restos sejam preservados e transformados em carvão. Se o
soterramento for lento, os restos são rapidamente alterados por oxidação e por acção dos
microorganismos.

5.3. RECIFES DE CORAL

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Como o nome o indica, os recifes de coral são constituídos fundamentalmente por


coral, se bem que outros organismos contribuam para a sua formação. Ele ocorrem nas
partes do globo em que as águas são mornas.
A maioria dos recifes de coral está situada mesmo junto à costa, ou podem estar
mais separados, já na plataforma continental.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

O recife geralmente consiste duma zona estreita de coral vivo, cujo topo é plano e
situado perto do nível médio do mar. Esta superfície pode ser exposta acima do nível do
mar, mas o coral tem de se manter molhado para viver.
A profundidade da água aumenta rapidamente em direcção ao mar aberto. Durante
as tempestades, o topo do recife pode ser quebrado, e os materiais soltos deslizam pelo
lado íngreme, acumulando-se na base do recife de coral.
O lado virado a terra é geralmente ocupado por uma lagoa onde corais mais frágeis
e outros organismos delicados estão protegidos dos efeitos da rebentação das ondas. Estas
lagoas são pouco profundas, e com águas limpas e livres de sedimentos em suspensão,
condições essenciais para o crescimento dos corais. Nos locais em que rios desaguam
junto a corais, em que as águas têm matéria em suspensão, nota-se uma quebra no recife,
abrindo passagem para o mar aberto.
Um Atol é um recife de coral em forma de anel à volta duma lagoa central (Fig.
9.30). Pensa-se que estes atois se formam quando uma ilha envolvida por recife (Fig. 9.31)
é totalmente submersa. O recife continua a crescer para manter os organismos vivos à
necessária profundidade de água.
Moçambique é um país rico em recifes de coral, sendo os da Ilha da Inhaca
considerados os mais austrais do Oceano Índico.

Fig. 9.31. Ilha de Bora-Bora, rodeada por recifes de coral


Fig. 9.30. Atol de Namorik, nas Ilhas Marshall, no
Oceano Pacífico

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TEMA 10:ÁGUA SUBTERRÂNEA

27. INTRODUÇÃO
Muitas comunidades à volta do mundo – e não só as que vivem em regiões áridas e semi-áridas,
em que a água superficial é inconstante – dependem das águas subterrâneas para o seu fornecimento de
água. Sem as condições que tornam possível à água ser armazenada, não seria possível essas regiões
desenvolverem-se economicamente.
Noutras áreas, especialmente naquelas em que há muita chuva e em que a rocha é solúvel (calcário,
por exemplo), a água subterrânea é o principal agente modelador da paisagem.

28. ÁGUA SUBTERRÂNEA

2.1. ORIGEM DA ÁGUA SUBTERRÂNEA


A água subterrânea origina-se a partir de três fontes diferentes:
a) Infiltrações de água no subsolo, proveniente das águas das chuvas e do runoff;
b) A maiores profundidades, a água armadilhada durante a sedimentação pode ainda
estar presente;
c) Alguma água proveniente de maiores profundidades durante a actividade ígnea e
vulcânica.
A água subterrânea proveniente das infiltrações da água das precipitações (chuva,
orvalho, neve, granizo e saraivada) e do runoff chama-se água meteórica. Em média, a
precipitação sobre os continentes atinge 74 mm/ano. A água meteórica é geralmente
encontrada nos furos relativamente pouco profundos feitos para a procura de água.
A água fóssil é aprisionada pelas sedimentos quando eles se depositam. Muitos
sedimentos depositam-se em ambientes marinhos, e por isso a água fóssil é muitas vezes
salgada, sendo um problema quando se mistura com a água potável. A água fóssil encontra-
se muitas vezes em camadas muito profundas, muitas vezes também associada com petróleo.
A água resultante da actividade ígnea/vulcânica – água magmática ou hidrotermal –
tem uma composição muito variada, pois tem dissolvidos compostos que nunca ou raramente
se encontram nas águas meteóricas e fósseis. Uma vez que muitos vulcões são submarinos,
muita desta água é rapidamente misturada e diluída na água do mar.

2.2. ARMAZENAMENTO SUBTERRÂNEO DE ÁGUA


A água é armazenada de muitas maneiras nas rochas e no solo. Existem alguns rios
subterrâneos, mas a maioria da água é armazenada em poros, fracturas abertas e cavidades
de dissolução.
Todos os tipos de rochas têm fracturas, e que podem ser uma fonte importante de
água subterrânea. Muitas vezes estas fracturas são abertas, principalmente as de origem em
forças distensivas. As falhas e as brechas de falhas também são excelentes locais de
armazenamento, sendo os principais reservatórios de água subterrânea em rochas ígneas e
metamórficas.

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

O volume do espaço de poros duma rocha


chama-se porosidade (Fig. 10.1), e é expressa em
percentagem do volume total. A quantidade de
espaço de poros depende da forma, tamanho e
homogeneidade dos grãos e seu grau de
empacotamento. Podia-se pensar que um Fig. 10.1. Vários tipos de porosidade e valores
conglomerado de calhaus grandes teria uma representativos em termos de volume de rocha
porosidade muito grande, mas geralmente o oposto
é o que acontece, pois os espaços entre os calhaus
são ocupados por partículas mais pequenas.
Assim, uma grande variedade de dimensões dos grãos não favorece uma alta
porosidade. A forma de empacotamento também influi na porosidade. Se imaginarmos um
sedimento composto por partículas esféricas do mesmo tamanho, a porosidade é máxima
quando os centros das esferas estiverem alinhados directamente uns por cima dos outros (Fig.
10.2.A). A porosidade é mínima quando os centros estiverem deslocados (Fig. 10.2.B). A
Tabela 10.1 mostra a porosidade de algumas rochas clásticas.

clxv
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Os poros podem estar vazios ou ser preenchidos


por processos naturais. A água subterrânea geralmente
dissolve substâncias que podem ser depositadas,
cimentando cavidades, poros e fracturas, impedindo o
armazenamento e/ou passagem da água. A actividade
humana também pode contribuir para uma diminuição da
porosidade. Se a água for removida muito rapidamente,
Fig. 10.2.Porosidade em função do tipo de
empacotamento dos grãos os sedimentos, especialmente os mais finos, tornam-se
mais consolidados e compactados. Geralmente este
processo não é reversível.

Tabela 10.1. Porosidade e Permeabilidade de alguns sedimentos/rochas clásticas


Sedimento/Rocha Porosidade (%) Permeabilidade
Solos 50-60 Boa
Argilas 45-55 Pobre
Siltes 40-50 Excelente
Areias 30-40 Excelente
Cascalho 20-40 Boa
Arenito 10-20 Boa a pobre
Argilito 1-10 Pobre
Calcário 1-10 Boa a pobre
Se bem que a argila tenha grande porosidade, a água aprisionada é absorvida e não
pode ser drenada facilmente. Assim, a porosidade nem sempre é um guia fiável da
quantidade de água que pode ser extraída.

2.3. INFILTRAÇÃO DA ÁGUA NO SOLO


Se os poros duma rocha não estão interconectados entre si, a rocha pode ser
porosa, mas não permite o movimento da água através dela. Em casos extremos, os poros
estão tão isolados que a rocha flutua na água – caso da pedra-pomes. A porosidade desta
rocha é enorme, mas a circulação de fluídos entre os poros é quase nula. Assim, define-se
permeabilidade a capacidade duma rocha permitir a circulação de fluídos através de si. A
Tabela 10.1 mostra também a permeabilidade dalgumas rochas.
O fluxo de água dentro duma rocha é geralmente mais fácil quando os poros são
grandes e interconectados. As rochas bem calibradas (partículas de tamanho semelhante)
têm alta porosidade e alta permeabilidade. Rochas parcialmente cimentadas, ou compostas
de partículas de argila, ou ainda rochas ígneas e metamórficas maciças tendem a ser
menos permeáveis, a não ser que estejam fracturadas.
Praticamente toda a água subterrânea
perto da superfície vem da precipitação, e que se
infiltra nas rochas permeáveis (Fig. 10.3). A água é
puxada para baixo pela força da gravidade e pelo
peso da água que está mais acima.
No seu movimento descendente, a água
é retardada no solo pela tensão superficial, à
medida que se agarra às partículas de solo que
atravessa. Mas gradualmente a água infiltra-se no
Fig. 10.3. A água percula para o e através do solo para os
e através do solo. Nesta zona (mais superficial), a poros e fracturas na rocha
água encontra-se misturada com o ar e, os dois

clxvi
Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

em conjunto são responsáveis pela


decomposição do solo e dos fragmentos
rochosos. É a chamada zona de aeração.
Depois de passar através do solo, a água encontra a zona de separação entre solo e
rocha inalterada. Se esta rocha for porosa e permeável, a água continua o seu caminho
descendente. Esta rocha tem o nome de aquífero, que se define como um estrato ou corpo
rochoso que contém água. Se a rocha for impermeável, ela acumula-se acima da rocha ou
move-se lateralmente até encontrar uma zona mais permeável.
O termo toalha de água (ou toalha freática) aplica-se para definir a superfície que
separa a zona de aeração da zona abaixo dela, em que os poros estão preenchidos por
água. A água que satura a rocha/solo abixo da toalha de água chama-se água
subterrânea.
Os factores que influenciam a quantidade de água que se infiltra no solo após uma
chuvada são:
a taxa de precipitação ser suficientemente lenta para permitir que a água se infiltre,
em vez de escapar como runoff;
a) o solo e a rocha onde a água cai ser permeável;
b) a taxa de evaporação e transpiração (evapotranspiração) ser baixa.

29. CONFIGURAÇÃO DAS ZONAS SATURADAS

3.1. ÁGUA NÃO CONFINADA


A distribuição das zonas saturadas no solo
é determinada pela porosidade e permeabilidade
do corpo rochoso e pela sua forma. Quando a
estrutura e litologia constituem um sistema
hidráulico mais ou menos contínuo e uniforme em
que a água pode fluir livremente, a água diz-se não
confinada (Fig. 10.4). Quando a distribuição da
A
permeabilidade é tal que a água se move em
camadas ou zonas parcialmente envolvidas por
barreiras ao movimento livre, a água é confinada.
A forma do nível (toalha) freático geralmente
acompanha mais ou menos a topografia (Fig.
10.4.B), mas debaixo dos altos topográficos ela está
algo abaixada, aproximando-se da superfície nas B
Fig. 10.4. Água subterrânea não confinada. A. Situação
zonas topográficamente baixas, onde muitas vezes influente; B. Situação efluente
ocorrem rios e lagos. O nível da toalha freática sobe
e desce consoante o fornecimento de água que se
move na zona de saturação. No caso de
Moçambique, as toalhas freáticas estão mais altas
no período das chuvas (Verão) do que no período
seco (Inverno).
Normalmente, em regiões de precipitação abundante, a água move-se da toalha
freática para lagos e rios (Fig. 10.4.A). Quando isto acontece, está-se em presença de uma
condição efluente. Contudo, durante os períodos de pouca chuva, ou quando o
bombeamento de água de furos é excessivo, há um abaixamento do nível freático para níveis

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

inferiores aos dos fundos dos lagos/rios (Fig. 10.4.B). Acontece então que a água dos rios/lagos
se infiltra alimentando a toalha freática, estando-se, então, em condição influente.
Quando uma barreira impermeável impede
a água de se mover no sentido descendente para
o nível regional da toalha freática, ela cria uma
zona de saturação mais perto da superfície, a que
se chama toalha suspensa (Fig. 10.5). Nestes
casos, a água geralmente perde-se através de
nascentes nas zonas onde a camada
Fig. 10.5. Possível situação de toalha freática suspensa
impermeável atinge a superfície (Fig. 10.5).
3.2. ÁGUA CONFINADA: CONDIÇÕES ARTESIANAS
As condições artesianas ocorrem
quando a água subterrânea está confinada de tal
modo que a pressão hidrostática* faz com que a
água confinada ascenda acima da zona de
saturação. Quando a água é armadilhada numa
camada porosa e permeável entre duas camadas
impermeáveis, podem ocorrer condições
artesianas (Fig. 10.6). A água entra nessa camada Fig. 10.6. Condições artesianas
onde ela aflora à superfície ou onde ela está ligada
com outras camadas com água e em que a água
tem movimento livre – é a chamada zona de
recarga. A água move-se descendentemente pelo

* Pressão hidrostática: pressão exercida num determinado ponto dum corpo de água em repouso, pelo peso da água
sobrejacente desse corpo de água.

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aquífero, os poros são ocupados por água e a pressão hidrostática vai aumentar. Se o
aquífero for atingido por um furo num ponto abaixo do nível de saturação, a água sai em
pressão pelo furo devido à pressão hidrostática (pelo princípio dos vasos comunicantes). A
altura a que a água subiria chama-se nível piezométrico (Fig. 10.6).

1. SURGIMENTO DAS ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS À SUPERFÍCIE

4.1. NASCENTES
A água subterrânea aparece à superfície A
nos pontos em que a toalha freática intersecta a
superfície, ou quando a água em condições
artesianas encontra o seu caminho para a superfície.
Diz-se então que há uma nascente de água. Por
esta razão as nascentes estão geralmente
colocadas em zonas baixas, mas a estrutura da B
rocha e o modo como a porosidade/permeabilidade
variam são também factores que controlam o local
de aparecimento de nascentes.
Há muitas condições que podem originar
nascentes, mas alguns exemplos dão uma ideia da
possível variedade de situações (Fig. 10.7). As C
nascentes ocorrem muitas vezes em encostas de
vales onde zonas especialmente permeáveis
atingem a superfície. As situações mais comuns
são zonas onde superfícies de acamação, zonas
de fractura/falha afloram nas encostas.
D
No caso de superfícies de acamação,
camadas impermeáveis podem impedir o
movimento descendente da água, obrigando-as a
deslocar-se lateralmente (Fig. 10.7.A e B). No caso
da Fig. 10.7.B, ocorre uma situação de calcários
(impermeáveis) que foram lentamente sendo
dissolvidos pelas águas gaso-carbónica, originando
cavidades por dissolução, que se ligam entre si e E
Fig. 10.7. Alguns processos que originam nascentes
que são bons caminhos para a água fluir. Situações
semelhantes ocorrem em fluxos de lava (Fig.
10.7.C). A Fig. 10.7.D mostra uma situação de
nascente caracterizada por condições não
confinadas com uma toalha freática muito alta. As
nascentes artesianas (Fig. 10.7.E) não são muito
frequentes, mas ocorrem quando uma fractura
natural aparece num aquífero confinado.
Depósitos de rocha
Quando as nascentes são alimentadas por
águas que percolaram através de calcários, por
exemplo, elas con-

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têm muitas vezes depósitos de carbonato de cálcio,


a que se chamam tufos se forem porosos e
travertinos se forem compactos (Fig. 10.8). Estes
depósitos formam-se porque as águas estão
saturadas de carbonato de cálcio e a evaporação
provoca a sua precipitação.

4.2. GEYSERS
A ejecção em força de água quente ou em Fig. 10.8. Depósitos em nascente
vapor a partir do solo – os geysers (ponto 3.4.3.1) -
só é encontrada em poucos lugares na Terra, mas o
fenómeno é sempre impressionante e constituí um
aspecto interessante do compor-
tamento dalgumas águas subterrâneas. O geyser mais conhecido a nível mundial é o Old
Faithful (o Velho Fiel) no Parque Nacional de Yellowstone (EUA) – Fig. 10.9). Desde a sua
descoberta em 1870, este geyser lança cerca de 1-1.5 m3 de água a 40 metros de altura uma
vez em cada hora. Poucos geysers têm esta regularidade, mas há mais em Yellowstone, na
Nova Zelândia e na Islândia, cujo comportamento é semelhante ao Old Faithful.

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Os geysers estão muitas vezes associados a fenómenos vulcânicos e alguma da


sua água provém das lavas/magmas, misturada com a água meteórica, que constituem o
grosso da água dos geysers. Esta água infiltra-se no solo e atinge profundidades em que a
temperatura é suficientemente alta para a transformar em vapor. Este atinge altas pressões
que a levam a subir com força na crusta até à superfície. Do mesmo modo que nas
nascentes, também à volta dos geysers se formam depósitos de minerais, a que se dá o
nome de geyseritos (Fig. 10.10).

Fig. 10.10. Geyserito

Fig. 10.9. Geyser Old Faithful

2. PAISAGENS MODULADAS POR SOLUÇÃO DE ÁGUAS


SUBTERRÂNEAS
A dissolução de rochas pela água subterrânea e de rios que se infiltram é um
processo importante na modulação da paisagem em muitas zonas do globo onde as rochas
solúveis se encontram à superfície ou perto. A maioria das rochas é pouco solúvel, mas o
sal, o gesso e as rochas carbonáticas são-no.
As rochas carbonáticas (calcários e dolomitos), originariamente depositadas em
ambientes aquáticos de plataformas continentais, são muito comuns em todos os
continentes. A paisagem que resulta dos fenómenos de dissolução do calcário é muito
variada, sendo caracterizada por caves, depressões confinadas, vales de rios que acabam
abruptamente terra adentro, pontes naturais e túneis. O nome topografia cárstica, tirado
duma região da Jugoslávia, aplica-se a áreas que apresentam esta paisagem. Assim,
topografia cárstica definie-se como topografia modelada em parte pela dissolução e desvio
de águas superfíciais em profundidade, em zonas de calcário e dolomite.

5.1. SOLUÇÃO
Vimos anteriormente que o calcário é dissolvido pelas águas gasocarbónicas (água
da chuva que dissolveu CO2 na sua queda através da atmosfera). A dissolução do CaCO3
por estas águas não é suficiente para originar a paisagem cárstica. O calcário cessa de ser
dissolvido assim que a água estiver saturada de iões Ca 2+ ou CO32-. Para que o processo
continue, a água saturada tem de ser removida e substituída por água não saturada.
Portante, a circulação da água é condição essencial para que a dissolução continue. E
porque a circulação da água é uma condição crítica, os efeitos de dissolução são maiores
onde a porosidade/permeabilidade do calcário permitem a água circular. Alguns calcários,
especialmente os mais recentes, podem ser porosos e permitir a passagem de água através
deles. É o que acontece, por exemplo, com os calcários conquíferos ou de origem
biogénica. Os calcário mais antigos são geralmente mais compactos e de grão fino, com
pouca ou nenhuma porosidade. A circulação da água através deles faz-se geralmente
através de fracturas, diaclases ou falhas.

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5.2. PAISAGENS
A topografia duma região cárstica nunca é modelada somente pela dissolução.
Ocorre também meteorização, movimentos de encosta abaixo por acção da gravidade,
erosão fluvial, etc., em conjunto com as acções das águas subterrâneas.
As características mais importantes das regiões cársticas são depressões
confinadas, a que se chamam dolinas. Estas podem ser de vários tamanhos e ocorrer de
várias maneiras. Na Fig. 10.11 podem ver-se dolinas formadas por vários processos, todos
eles associados com fenómenos de dissolução. No primeiro caso (A), a dolina formou-se
por remoção de rocha à superfície. No segundo caso (B), a dolina

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Fig. 10.11. Vários tipos de dolinas

formou-se por colapso para dentro duma cavidade criada abaixo da superfície, e no terceiro
caso (C) ocorre alguma subsidência, associada com algum colapso. Na Fig. 10.11.D
mostra-se uma dolina aparecida por colapso repentino, em Winter Park (Florida, EUA) em
1981.

5.3. DESVIO DE DRENAGEM SUPERFICIAL


À medida que as dolinas se formam, cada vez
mais água superficial é desviada para o subsolo. Se a
dolina se forma num canal de rio, ela pode desviar o rio
inteiro para o subsolo, se houverem passagens
subterrâneas por onde o rio possa circular. Quando isto
ocorre, o processo de erosão fluvial, bem como a
dissolução, jogam um papel na modelação da passagem
subterrânea. Nestas zonas, a paisagem toma aspectos
estranhos. O vale abandonado quando o rio é “engolido”
deixa de ser erodido e, consequentemente, acumulam-
se detritos de origem vária (movimentos de encosta, Fig. 10.12. Dolina formada abruptamente em 1981
etc.). O vale não é erodido e parece acabar onde o rio é na Flórida (EUA)
erodido – vale cego (Fig. 10.12). Alguns destes rios
fluiem em túneis naturais ou, se só ficou um resto deste
túnel, através de pontes naturais (como na Fig. 10.13).
5.4. GRUTAS
As grutas são cavidades ou vazios subterrâneos
formados naturalmente. A maioria é formada por acção
da dissolução de carbonatos (Fig. 6.23) e outras rochas
solúveis, mas também ocorrem em zonas de rochas
extrusivas resultantes de magma muito fluído que
escorreu dentro dum túnel originado pela consolidação
da lava em contacto com a atmosfera (Fig. 10.14). As
grutas também podem ocorrer em formações de sal-
gema ou de gesso.
Em muitas grutas, especialmente as calcárias, é
Fig. 10.13. Vale cego. O leito acaba abruptamente frequente encontrarem-se formações de estalagtites e
contra as rochas estalagmites, de que já se fez referência anteriormente
(Fig. 6.23).

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

Fig. 10.15. Cave na lava


Fig. 10.14. Ponte natural, Virgínia (EUA)

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

TEMA 11:GEOCRONOLOGIA
Entende-se por Geocronologia a medição dos intervalos de tempo do passado geológico, em
termos de datação da idade absoluta por processos radiométricos, ou da idade relativa, por estudo de
sequências de rochas estratificadas.
Os processos radiométricos entram em conta com o decaimento radioactivo. Para a datação
relativa, um dos instrumentos mais utilizados são os fósseis.

1. FÓSSEIS
Os fósseis são restos de seres vivos (animais ou plantas), soterrados e preservados por processos
naturais (Fig. 11.1), ou marcas e vestígios da sua existência (Fig. 11.2).

Fig. 11.1. Exemplo dum fóssil de gasterópode Fig. 11.2. Exemplo dum vestígio de
ser vivo: molde de concha

São raros os casos em que os seres vivos são preservados na sua totalidade. No caso dos animais,
só as partes duras são geralmente preservadas: conchas, esqueletos internos e externos, carapaças,
espículas, dentes, unhas/garras, etc. No caso dos vegetais, normalmente encontram-se impressões de folhas,
caules, raízes, frutos e sementes.
Os vestígios da actividade/passagem dos
seres vivos são: excrementos, pegadas, rastos, buracos
escavados, etc.
Casos de seres vivos preservados na sua
totalidade incluem os pequenos animais preservados em
resinas fósseis (Fig. 11.3) ou os mamutes congelados
nos gelos da Sibéria. Na Antártida foram encontrados
líquenes com alguns milhares de anos, muito bem
conservados. Fig. 11.3. Fóssil de insecto aprisionado em resina fóssil (âmbar)

A ciência que estuda os fósseis é a Paleontologia: ciência que estuda os seres vivos que viveram
em épocas anteriores à actual, e que só são conhecidos através dos seus vestígios que deixaram nos
terrenos, principalmente sedimentares. Em termos correntes, é a Zoologia e a Botânica dos tempos idos, daí
a sua subdivisão em Paleozoologia e Paleobotânica.
No início do séc. XVIII a Paleontologia entra numa fase decisiva, ao se verificar que os fósseis
diferiam de camada para camada, tendo surgido a ideia de os utilizar para datar essas camadas e para uma
classificação cronológica. Nasceu assim a Paleontologia Estratigráfica.

2. CONDIÇÕES DE FOSSILIZAÇÃO
Entende-se por fossilização o conjunto dos processos físicos, químicos e biológicos que permitem
a formação dos fósseis.
As condições de fossilização agrupam-se em dois tipos:
a) Inerentes ao meio:
1. Para que a fossilização seja possível, é necessário que, após a morte do ser, sobre ele se forme
um depósito que o isole do meio ambiente e impeça a sua destruição; por isso, os fósseis terrestres
são mais raros que os marinhos;
2. Quanto mais fino e impermeável for o depósito que cobre o fóssil, mais fácil a fossilização;

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Disciplina: GEOLOGIA GERAL; Cursos de : Agronomia e Geografia Tema 3

3. As temperaturas e a humidade facilitam as acções de putrefacção, dificultando a fossilização; as


temperaturas mais baixas favorecem a fossilização.
b) Inerentes ao ser:
1. A fossilização é tanto mais fácil quanto mais rico for o ser em substâncias minerais: sílica, cálcio, etc.

3. IMPORTÂNCIA GEOLÓGICA DOS FÓSSEIS


O estudo das relações entre os seres vivos e o ambiente em que eles vivem tem o nome de
Ecologia; quando esse estudo trata de formas de vida fósseis, chama-se Paleoecologia. Assim, os fósseis
dão-nos indicações sobre os antigos ambientes, geografia e a evolução das espécies.
3.1. Fósseis como documentos de antigos ambientes
Sabemos que há uma grande variedade de ambientes físicos para todos os tipos de vida que se
encontram em terra ou no mar, e sabemos que as condições ambientais existentes hoje terão tido os seus
equivalentes em todos os tempos geológicos. Isto é, aplicamos os conhecimentos da Ecologia à Paleoecologia.
O estudo comparativo das formas de vida actual (e dos ambientes em que se encontram) com as
formas dos fósseis semelhantes de tempos idos, dá-nos indicações sobre os ambientes em que esses seres
vivos viveram. Quanto mais se recua no tempo, mais difícil a interpretação.
3.2. Fósseis como documentos da antiga geografia
A distribuição geográfica dos organismos actuais está fortemente controlada pelas limitações
ambientais. Cada espécie tem, geralmente, um tipo climático e ambiental definido onde vive e se reproduz,
não se encontrando fora dessas condições.
Intimamente ligada à Paleoecologia, a
Paleogeografia estuda a vida antiga em relação com os
estratos em que se encontra, tendo como base as
relações actuais.
3.3. Fósseis como documentos da evolução
O estudo dos fósseis das formas de vida que
se sucederam na Terra ao longo dos tempos permitiu
estabelecer a Teoria da Evolução das Espécies.
Ao se estudarem os diversos fósseis de um
determinado tipo de animais, mas de épocas diferentes
(Fig. 11.4), verifica-se que eles vão apresentando, com o
andar do tempo, algumas características diferentes,
características estas que são a adaptação dessas formas
de vida às novas condições ambientais e geográficas que
foram surgindo. Contudo, algumas formas não Fig. 11.4. Esquema evolutivo dos Proboscídeos (elefantes)
conseguiram ambientar-se e desapareceram como foi o
caso dos dinossáurios.

4. FÓSSIL-GUIA E FÓSSIL DE FÁCIES


Sabemos que os fósseis têm um valor cronológico, isto é, permitem datar as formações em que se
encontram. Quer isto dizer que, sendo os seres a que dizem respeito os fósseis contemporâneos da formação
desses formações, pode-se concluir que são da mesma idade as formações que têm os mesmos fósseis.
Nem todos os fósseis servem para fazer estas datações. Só os fósseis de seres vivos que tiveram uma
existência curta ao longo da história da Terra, e que tiveram uma grande dispersão geográfica é que se podem
utilizar para estas datações. Há terrenos da África Austral que têm um fóssil vegetal chamado Glossopteris e que
viveram entre os 360 e 250 milhões de anos. Este mesmo fóssil vai ocorrer também em formações da América do
Sul, da Austrália, da Índia, de Madagáscar e da Antártida. Significa, então, que todos esses terrenos, apesar da
distância actual que os separa, são da mesma idade geológica. Estes fósseis que permitem datar os terrenos são
chamados fósseis-guia, fósseis característicos ou fósseis estratigráficos.
O conceito de fácies refere-se ao conjunto das características litológicas e paleontológicas duma
determinada formação, e que revelam as condições em que a mesma se formou. Assim, há dois grandes grupos
de fácies:

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a) Marinhos: litoral, nerítico, batial e abissal;


b) Terrestres: vulcânico, eólico, glaciar, fluvial e lacustre.
c) Há ainda os fácies de transição: estuarino e lagunar
Os fácies vulcânico, eólico e glaciar são fáceis de caracterizar litologicamente, mas são pobres em
fósseis. Nos fácies lacustres predominam fósseis de seres de água doce e anfíbios. Os estuarinos e lagunares
têm faunas mistas. Nos fáceis de litoral, abundam as conchas, etc.
Assim, entende-se por fóssil de fácies aqueles que correspondem a seres que viveram em
ambientes bem determinados.

5. A ESCALA DE TEMPO GEOLÓGICO


W. Smith (1769-1839) mostrou que as unidades de rochas sedimentares podem ser identificadas
através dos seus fósseis.
Cuvier (1769-1832) mostrou as mudanças de formas de fósseis nas sequências sedimentareas e definiu
que cada uma representa uma idade particular, estabelecendo o conceito de extinção das espécies.
Assim, rochas de locais muito distantes puderam ser datadas com a mesma idade, por
terem os mesmos fósseis. Foi assim possível distinguir unidades de rochas sedimentares e,
através dos fósseis-guia, encontrar os seus correspondentes temporais em lados opostos dos
oceanos, mesmo se os tipos litológicos diferissem. Foi possível subdividir o tempo geológico
em várias unidades cronológicas, com base em vários critérios:
a) acontecimentos biológicos, e/ou
b) acontecimentos geológicos
Assim, o tempo geológico está subdividido em 4 Eras, cada uma delas divididas
em Períodos, Sistemas, e outras subdivisões menores, que não vêm na Tab. 11.1.
Das Eras, Períodos e Sistemas referidos na Tab. 11.1, todos eles estão
representados em Moçambique, excepto os sistemas do Paleozoico Inferior.
Tabela 11.1. Escala do Tempo Geológico
IDADE
ERAS PERÍODOS SISTEMAS PRINCIPAIS EVENTOS BIOLÓGICOS
(M.a)
Recente ou Holoceno Homem moderno
QUATERNÁRIO
Glacial ou Pleistoceno Hominídios
-2
Plioceno Grande variedade de mamíferos; apogeu dos elefantes
CENOZOICO Mioceno Apogeu das plantas com flor; antepassados dos cães e ursos
TERCIÁRIO Oligoceno Antepassados dos porcos e macacos
Eoceno
Antepassados dos cavalos; aparecem os bovinos e elefantes
Paleoceno
-66
Extinção dos dinossáurios e amonites; aparecem as primeiras
CRETÁCICO flores
-144
Abundantes dinossáurios e amonites; aparecem os primeiros
MESOZÓICO JURÁSSICO mamíferos e aves
-208
TRIÁSSICO Aparecem os répteis voadores; primeiros corais modernos
-245
Pérmico Desenvolvimento dos répteis; coníferas e escaravelhos
-286
PALEOZÓICO Desenvolvimento de grandes florestas; primeiros e répteis e
Carbonífero
SUPERIOR insectos voadores
-360
Primeiros anfíbios e amonites; desenvolvimento dos peixes;
Devónico
primeiras árvores e aranhas
PALEOZÓICO -408
Silúrico Primeiras plantas terrestres; primeiros corais
-438
PALEOZÓICO Primeiros vertebrados pisciformes; abundantes trilobites e
Ordovícico
INFERIOR graptolites
-505
Trilobites, graptolites, braquiópodes, moluscos, crinóides,
Câmbrico
radiolários, foraminíferos
-570
Restos escassos de investebrados primitivos, esponjas,
PROTEROZÓICO vermes, algas e bactérias
PRECÂMBRICO
-2500
ARCÁICO ou ARQUEOZÓICO Algas e bactérias raras com mais de 3000 M.a.

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