Medicina&Sirurgia Animais Marinhos

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Medicina e Cirurgia de Animais Exóticos, Selvagens


e Marinhos

Relatório Final de Estágio


Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Johana Horta de Oliveira

Orientador: Professor Doutor Filipe da Costa Silva

Vila Real, 2014


Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

Medicina e Cirurgia de Animais Exóticos, Selvagens


e Marinhos

Relatório Final de Estágio


Mestrado Integrado em Medicina Veterinária

Johana Horta de Oliveira

Orientador: Professor Doutor Filipe da Costa Silva

Composição do júri:
Professor Doutor Nuno Francisco Fonte Santa Alegria
Professora Doutora Maria Isabel Ribeiro Dias
Professor Doutor Filipe da Costa Silva

Vila Real, 2014


Relatório submetido à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para
cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Medicina
Veterinária, elaborado sob a orientação do Professor Doutor Filipe da Costa Silva.
Agradecimentos
Ao Professor Doutor Filipe da Costa Silva, pela sua orientação e camaradagem, pelas
opiniões e críticas positivas, pela disponibilidade e paciência demonstrada, e por todos os
conhecimentos transmitidos desde o primeiro dia de aulas até à presente data, indispensáveis
para a concretização deste trabalho.
Ao pessoal do CVEP, em especial ao Doutor Joel Ferraz, à Doutora Francisca
Gonçalves e à Doutora Rute Almeida, assim como ao Enfermeiro Pedro Castro e à
Enfermeira Vanessa Morais, pela amizade e por todos os ensinamentos transmitidos, tanto
teóricos como práticos.
A toda a equipa do CRAM-Q, que me integraram temporariamente na sua família, mas
com destaque para a Bióloga Marisa, a Doutora Sara, a Enfermeira Cátia, a Bióloga Cláudia e
a Enfermeira Tânia, com quem tive oportunidade de trabalhar e aprender sobre muito mais
que a minha arte.
Aos integrantes do LHAP-UTAD, principalmente às professoras Doutora Isabel Pires,
Doutora Adelina Gama e Doutora Anabela Alves, pela simpatia e doutrina transferida não só
durante o estágio, mas ao longo de todos estes anos.
Aos estagiários Mariana Bernardino, Vanda Moura, Virgínia Ferreira e Laura Riem,
por nunca hesitarem em ajudar os outros quando estes mais precisam.
À Doutora Ângela Pereia, por escutar e esclarecer todas as minhas dúvidas, pela
amizade e preocupação nos tempos difíceis, pelo apoio e disponibilidade oferecidos, todos
estes essenciais para alcançar uma nova meta.
A todos os meus amigos, por todos os bons momentos que passámos, pelo apoio nos
momentos de adversidade e pelo espírito de entreajuda.
À toda a minha família, por nunca desistirem de mim e continuamente incentivarem-
me a olhar em frente, por me ampararem nos momentos difíceis, por me darem um lar
acolhedor e pela felicidade que a vossa existência traz à minha vida.

Um eterno obrigado a Deus, por estar sempre presente e escutar as minhas preces.

i
ii
Resumo
Este relatório final de estágio cujo tema é “Medicina e Cirurgia de Animais Exóticos,
Selvagens e Marinhos” constitui o resumo de atividades realizadas durante os estágios
concretizados no âmbito do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária ao longo de um
período aproximado de 6 meses.
A área da Medicina Veterinária de animais exóticos, selvagens e marinhos tem vindo a
evoluir recentemente graças ao interesse crescente da população na aquisição de novos
animais de estimação, no caso de algumas espécies exóticas, assim como na preocupação pela
conservação da Natureza e reabilitação de animais selvagens.
Sendo uma área ainda em desenvolvimento, necessita de recorrer por vezes aos
conhecimentos e práticas da Medicina Veterinária utilizados em animais de companhia não
exóticos e em animais de produção. Torna-se assim imprescindível a parceria com outras
organizações associadas ou não diretamente à Medicina Veterinária a nível nacional e
internacional para a troca de informações sobre experiências anteriores de casos clínicos de
interesse e, também para facultar ou requisitar recursos essenciais para a reabilitação dos
animais.
O conteúdo deste trabalho inclui, para além da enumeração das atividades executadas
ao longo dos estágios e respetiva casuística, uma breve revisão da literatura associada a cada
caso clínico descrito, e que se referem a espécies de diferentes classes taxonómicas: o
tratamento da síndrome vestibular num periquito (Melopsittacus undulatus); a resolução
cirúrgica de uma fratura do casco numa tartaruga semiaquática (Trachemys sp.); uma
transfusão sanguínea realizada numa tartaruga-boba (Caretta caretta); o diagnóstico e o
tratamento de uma infeção parasitária gastrointestinal por anisaquídeos numa foca cinzenta
(Halichoerus grypus) e a modificação comportamental em golfinhos-comuns de bico curto
(Delphinus delphis).

Palavras-chave: síndrome vestibular, fratura do casco, transfusão sanguínea, infeção


parasitária gastrointestinal, modificação comportamental

iii
iv
Abstract
This internship report which theme is "Medicine and Surgery of Exotic, Wildlife and
Marine Animals” is the summary of activities carried out during the internship implemented
under Master degree in Veterinary Medicine over a period of approximately 6 months.
The area of Veterinary Medicine in exotic pets, wildlife and marine animals has
recently evolved thanks to the growing public interest in acquiring new pets, in the case of
some exotic species, as well as for the concern for nature conservation and rehabilitation of
wild animals.
Being an area still under development, sometimes it is needed to resort to the
knowledge and practice of Veterinary Medicine used in non-exotic pets and farm animals.
Thus, it becomes imperative to partner with other organizations directly related or not to
Veterinary Medicine at a national and international level for the exchange of information on
previous experiences of clinical cases of interest, and also to request or provide essential
resources for the rehabilitation of animals.
The content of this paper includes, in addition to the list of activities realized over the
stages and its study, a brief literature review associated with each clinical case described,
which refer to species of different taxonomic classes: the treatment of vestibular syndrome in
a budgerigar (Melopsittacus undulatus), the surgical resolution of a shell fracture in a
semiaquatic turtle (Trachemys sp.); a blood transfusion performed on a loggerhead sea turtle
(Caretta caretta); the diagnosis and treatment of a gastrointestinal parasitic infection by
anisakid in a gray seal (Halichoerus grypus) and the behavioral modification in short-beaked
common dolphin (Delphinus delphis).

Keywords: vestibular syndrome, shell fracture, blood transfusion, gastrointestinal


parasitic infection, behavioral modification

v
vi
Índice geral
Agradecimentos ........................................................................................................................... i
Resumo ...................................................................................................................................... iii
Abstract ...................................................................................................................................... v
Índice geral ............................................................................................................................... vii
Índice de imagens ...................................................................................................................... xi
Índice de gráficos ..................................................................................................................... xv
Índice de tabelas ..................................................................................................................... xvii
Acrónimos, siglas e abreviaturas ............................................................................................. xix
Capítulo 1 - Introdução............................................................................................................ 1
1. Introdução............................................................................................................................. 1
1.1. CVEP: Centro Veterinário de Exóticos do Porto ........................................................ 1
1.2. CRAM-Q: Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios ........................ 2
1.3. LHAP-UTAD: Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro ........................................................................................ 2
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas .................................................................................... 5
2. Atividades desenvolvidas .................................................................................................... 5
2.1. CVEP ........................................................................................................................... 5
2.2. CRAM-Q: Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios ........................ 6
2.3. LHAP-UTAD: Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro ........................................................................................ 8
Capítulo 3 - Casos clínicos ..................................................................................................... 11
3. Casos clínicos ..................................................................................................................... 11
3.1. CVEP .......................................................................................................................... 11
3.1.1. Síndrome vestibular em Melopsittacus undulatus ................................................. 11
3.1.1.1. Relato do caso ................................................................................................... 11
3.1.1.2. Revisão da literatura: Patologia vestibular em aves ............................................ 12
3.1.1.2.1. Anamnese ........................................................................................................ 12
3.1.1.2.2. Exame físico ..................................................................................................... 13
3.1.1.2.3. Exame neurológico ........................................................................................... 14
3.1.1.2.4. Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico ............................................. 18
3.1.1.2.5. Diagnóstico....................................................................................................... 19
3.1.1.2.6. Diagnósticos diferenciais ................................................................................. 20

vii
3.1.1.2.7. Tratamento ....................................................................................................... 20
3.1.1.2.8. Prognóstico ....................................................................................................... 21
3.1.2. Reconstrução cirúrgica de uma fractura do casco em Trachemys sp. .................... 21
3.1.2.1. Relato do caso ..................................................................................................... 21
3.1.2.2. Revisão da literatura: Reconstrução cirúrgica de fraturas do casco em tartarugas
semiaquáticas ......................................................................................................... 24
3.1.2.2.1. Anatomia e fisiologia do casco ....................................................................... 24
3.1.2.2.2. Fratura do casco ............................................................................................... 25
3.1.2.2.3. Prognóstico ....................................................................................................... 25
3.1.2.2.4. Reconstrução cirúrgica do casco ...................................................................... 26
3.1.2.2.4.1. Epóxi e fibra de vidro .................................................................................... 26
3.1.2.2.4.2. Fixação ortopédica externa............................................................................ 27
3.1.2.2.4.3. Abraçadeira de Nylon.................................................................................... 29
3.1.2.2.4.4. Prótese ........................................................................................................... 30
3.1.2.2.4.5. Outros materiais: Orthoplast®, Vet-lite® e VTP™ ...................................... 31
3.1.2.2.5. Fechamento assistido a vácuo - Pressão negativa controlada .......................... 31
3.2. CRAM-Q .................................................................................................................... 33
3.2.1. Transfusão sanguínea em Caretta caretta .............................................................. 33
3.2.1.1. Relato do caso ..................................................................................................... 33
3.2.1.2. Revisão da literatura: Técnica de transfusão sanguínea em tartarugas marinhas
................................................................................................................................ 35
3.2.1.2.1. Indicação para transfusão ................................................................................. 35
3.2.1.2.2. Recetor ............................................................................................................. 36
3.2.1.2.3. Dador ................................................................................................................ 36
3.2.1.2.4. Contenção e captura ......................................................................................... 36
3.2.1.2.5. Acesso para recolha e transfusão de sangue..................................................... 37
3.2.1.2.6. Cross-matching................................................................................................. 38
3.2.1.2.7. Anticoagulantes ............................................................................................... 39
3.2.1.2.8. Manipulação do sangue .................................................................................... 39
3.2.1.2.9. Filtro ................................................................................................................. 39
3.2.1.2.10. Quantidade de sangue a transferir .................................................................... 39
3.2.1.2.11. Evolução ........................................................................................................... 40
3.2.1.2.12. Complicações e a sua prevenção ..................................................................... 40

viii
3.2.2. Infecção parasitária por anisaquídeos em Halichoerus grypus ............................. 41
3.2.2.1. Relato do caso ..................................................................................................... 41
3.2.2.2. Revisão da literatura: Infeção parasitária por anisaquídeos em pinípedes .......... 46
3.2.2.2.1. Ciclo de vida..................................................................................................... 46
3.2.2.2.2. Espécies afectadas ............................................................................................ 46
3.2.2.2.3. Sinais clínicos ................................................................................................... 47
3.2.2.2.4. Diagnóstico definitivo ...................................................................................... 47
3.2.2.2.5. Tratamento ....................................................................................................... 48
3.2.2.2.6. Impacto médico, económico e ecológico ......................................................... 48
3.2.3. Modificação comportamental em Delphinus delphis ............................................ 49
3.2.3.1. Relato do caso ..................................................................................................... 49
3.2.3.2. Revisão da literatura: Comportamento dos golfinhos na Natureza ..................... 57
3.2.3.2.1. Distribuição e habitat ....................................................................................... 57
3.2.3.2.2. Estrutura social ................................................................................................. 58
3.2.3.2.3. Alimentação ..................................................................................................... 59
3.2.3.2.4. Comportamento ................................................................................................ 60
3.2.3.2.5. Reprodução....................................................................................................... 61
3.2.3.2.6. Longevidade .................................................................................................... 62
Capítulo 4 - Conclusão ........................................................................................................... 63
4. Conclusão ............................................................................................................................ 63
Referências bibliográficas ........................................................................................................ 65
Referências bibliográficas consultadas da Internet .................................................................. 69
ANEXO 1 – Casuística: CVEP, CRAM-Q e LHAP-UTAD ................................................... 71
ANEXO 2 – Análises sanguíneas da “Baleal” ......................................................................... 81
ANEXO 3 – Nomenclatura ...................................................................................................... 83

ix
x
Índice de imagens
Imagem 1 - Atividades desenvolvidas no CVEP: A - A remoção cirúrgica de uma massa no
joelho de Iguana iguana; B - A necrópsia a Testudo horsfieldii; C - A lavagem das penas de
Columbia livia. .......................................................................................................................... 5
Imagem 2 - Atividades desenvolvidas no CRAM-Q: A – Alimentação a Delphinus delphis B -
Transfusão sanguínea a Caretta caretta; C - Colonoscopia a Halichoerus grypus ................... 7
Imagem 3 - Atividades desenvolvidas no LH-UTAD: Necrópsias realizadas e respetivas
causas de morte (A) Genetta genetta (traumatismo); (B) Python regius (suspeita de IBD); (C)
Sus scrofa (traumatismo) ............................................................................................................ 8
Imagem 4 - “Gastão” a enrolar-se para o lado direito .............................................................. 11
Imagem 5 - Ração para periquitos da Zupreem® ................................................................... 12
Imagem 6 - Contenção a Melopsittacus undulatus segurando a cabeça com o polegar e o
indicador .................................................................................................................................. 14
Imagem 7 - Contenção a Melopsittacus undulatus segurando a cabeça entre o indicador e o
dedo médio ............................................................................................................................... 14
Imagem 8 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A - Teste de ameaça; B –
Reflexo pupilar à luz; C – Reflexo palpebral .......................................................................... 16
Imagem 9 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A – Reflexo flexor
podal; B – Reflexo patelar; C – Reflexo da retirada da asa ..................................................... 17
Imagem 10 - Manchas brancas no casco do “Frederico” ......................................................... 21
Imagem 11 – Placas ortopédicas: A - Placas ortopédicas posicionadas no plastrão do
“Frederico”; B - Remoção das placas ortopécias ..................................................................... 22
Imagem 12 - Evolução da fratura do “Frederico” .................................................................. 23
Imagem 13 - Lesões resultantes do novo traumatismo do “Frederico”: A – Vista ventral das
lesões na transição dos escudos humerais e peitorais; B – Vista lateral das lesões nos escudos
marginais junto ao membro pélvico esquerdo; C – Vista lateral das lesões nos escudos
marginais do lado direito; D – Vista dorsal das lesões nos escudos marginais da carapaça
(Fonte: Fotos gentilmente cedida pelo CVEP) ......................................................................... 23
Imagem 14 - Identificação dos escudos do casco de um quelónio .......................................... 24
Imagem 15 - Reconstrução da fratura com acrílico num quelónio .......................................... 26
Imagem 16 - Reconstrução cirúrgica com: A – placas ortopédicas a Terrapene carolina
carolina; B - arames cirúrgicos a Pseudemys nelsoni; C – agrafos de cavilhas intramedulares a
Testudo hermanni .................................................................................................................... 28

xi
Imagem 17 - Reconstrução de uma fractura com as abraçadeiras de Nylon a Chelydra
serpentina: A – colagem das selas de montagem; B – Aperto das abraçadeiras de Nylon com
um alicate; C – Resultado final ............................................................................................... 29
Imagem 18 – Reconstrução cirúrgica de uma fratura com ganchos e abraçadeiras de Nylon a
Testudo graeca: duas abraçadeiras de Nylon comuns (pretas) foram utilizadas para reduzir a
fratura dorsoventral, enquanto que para conseguir a redução da fratura craniocaudal foi
necessário recorrer a uma abraçadeira de Nylon mais resistente (branca) .............................. 30
Imagem 19 – Reconstrução cirúrgica da fratura da carapaça a Testudo hermanni: A – Lesão;
B – Molde do defeito; C – Colagem do molde pintado à carapaça ......................................... 30
Imagem 20 – Reconstrução cirúrgica de fraturas recorrendo a: A – Gesso de Ortoplast® em
Sternotherus odoratus; B – Vet-lite® em Trachemys scripta; C – Material termo-moldável em
Trachemys scripta scripta ....................................................................................................... 31
Imagem 21 – Fechamento assistido a vácuo a Caretta caretta ................................................ 32
Imagem 22 - Dador: Tartaruga boba “Pseudo” ........................................................................ 33
Imagem 23 - Transfusão sanguínea na “Storm ....................................................................... 34
Imagem 24 - Tartaruga boba “Storm” em março ..................................................................... 35
Imagem 25 - Contenção de uma tartaruga marinha ................................................................ 37
Imagem 26 - Recolha de sangue do seio cervical dorsal de uma tartaruga marinha ................ 38
Imagem 27 - Prova cruzada negativa do teste rápido com a técnica em lâmina de microscopia
em felídeos .............................................................................................................................. 38
Imagem 28 - Prova cruzada positiva do teste rápido com a técnica em lâmina de microscopia
em felídeos .............................................................................................................................. 38
Imagem 29 - Oxyglobin ® Biopure: hemoglobina bovina purificada ..................................... 40
Imagem 30 - Foca cinzenta “Baleal” ........................................................................................ 41
Imagem 31 - Raio-X do abdómen lateral da “Baleal” ............................................................. 42
Imagem 32 - Acesso venoso para colheita de sangue na Phoca vitulina ................................ 42
Imagem 33 – Intubação endotraqueal da “Baleal” .................................................................. 43
Imagem 34 – Anisaquídeos ................................................................................................... 43
Imagem 35 – Hidratação oral da “Baleal” ............................................................................... 45
Imagem 36 – Suplementos vitamínicos AQUAVITS ............................................................. 45
Imagem 37 - Ciclo de vida de um anisaquídeo: Anisakis simplex .......................................... 46
Imagem 38 - Nematodes (possivelmente) do género Contracaecum aderidos à mucosa
gástrica de Pagophilus groenlandicus...................................................................................... 47

xii
Imagem 39 - Ovo de Anisakis sp .............................................................................................. 47
Imagem 40 - Ovo de Contracaecum ........................................................................................ 47
Imagem 41 – Golfinhos-comuns de bico curto “Barra” e “Martinha” ..................................... 49
Imagem 42 - Posicionamento no tanque (oval) dos participantes durante a alimentação ....... 51
Imagem 43 - Bidão de plástico ................................................................................................. 53
Imagem 44 - Brincadeiras com a mangueira ............................................................................ 53
Imagem 45 - “Bank of fish” .................................................................................................... 54
Imagem 46 - Evolução do esquema “Paralelo” ........................................................................ 55
Imagem 47 - Distribuição mundial de Delphinus delphis ....................................................... 57
Imagem 48 - Delphinus delphis .............................................................................................. 58
Imagem 49 - “Feeding swarm” ................................................................................................ 59
Imagem 50 - Caça cooperativa de cavalas pelos tubarões e golfinhos .................................... 60
Imagem 51 - “Bow-riding” ...................................................................................................... 60

xiii
xiv
Índice de gráficos
Gráfico 1 - Casuística observada no CVEP em percentagem, segundo à classe taxonómica a
que os animais pertencem .......................................................................................................... 6
Gráfico 2 - Casuística observada no CRAM-Q em percentagem, segundo à classe taxonómica
a que os animais pertencem ........................................................................................................ 7
Gráfico 3 - Casuística observada no LHAP-UTAD em percentagem, segundo à classe
taxonómica a que os animais pertencem .................................................................................... 8

xv
xvi
Índice de tabelas
Tabela 1 - Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico nas diferentes doenças ............... 18
Tabela 2 - Tratamento antiparasitário aplicado na “Baleal” .................................................... 44
Tabela 3 - Anti-helmínticos usados em pinípedes ................................................................... 48
Tabela 4 - Número de animais observados: CVEP. ................................................................. 71
Tabela 5 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam os mamíferos .... 72
Tabela 6 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam as aves ............... 74
Tabela 7 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam os répteis ........... 76
Tabela 8 - Descrição da casuística do CVEP segundo os restantes serviços gerais requisitados
.................................................................................................................................................. 77
Tabela 9 - Número de animais observados: CRAM-Q. ........................................................... 78
Tabela 10 - Descrição da casuística segundo o motivo de ingresso, o diagnóstico e o respetivo
destino final .............................................................................................................................. 78
Tabela 11 – Número de animais observados: LHAP-UTAD. .................................................. 80
Tabela 12 - Diagnóstico macroscópico dos animais necropsiados .......................................... 80
Tabela 13 - Resultado das análises sanguíneas da “Baleal” com respetivos valores de
referência para a foca cinzenta ................................................................................................. 81
Tabela 14- Nomes científicos e nomes comuns das diferentes espécies animais descritas ..... 83

xvii
xviii
Acrónimos, siglas e abreviaturas
% Percentagem
µ Micro
ACD Ácido-citrato-dextrose
ALP Fosfatase alcalina
ALT Alanina aminotransferase
AST Aspartato transaminase
BID “bis in die” (duas vezes por dia)
BUN Nitrogénio ureico no sangue
CHGM Concentração de Hemoglobina Globular Média
CPK Creatina fosfotransferase
CRAM-Q Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios
CVEP Centro Veterinário de Exóticos do Porto
EDTA Ácido etilenodiaminotetracético
FA Frequência absoluta
FR Frequência relativa
ga Gauge
GGT Gamaglutamiltransferase
GMS “Global System for Mobile communications”(Sistema global de
comunicações móveis)
GPS “Global Positioning System” (Sistema de posicionamento global)
Ht Hematócrito
IM Intramuscular
IRM Imagem por Ressonância Magnética
IV Intravenoso
L3 Vertebra lombar 3
L4 Vertebra lombar 4
LDH Lactato desidrogenase
LHAP-UTAD Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro
NCI Nervo cranial olfatório
NCII Nervo cranial ótico
NCIII Nervo cranial oculomotor

xix
NCIV Nervo cranial troclear
NCV Nervo cranial trigémio
NCVI Nervo cranial abducente
NCVII Nervo cranial facial
NCVIII Nervo cranial vestibulococlear
NCIX Nervo cranial glossofaríngeo
NCX Nervo cranial vago
NCXI Nervo cranial acessório
NCXII Nervo cranial hipoglosso
NMI Neurónio Motor Inferior
NMS Neurónio Motor Superior
PDW “Platelet Distribution Width” (Índice de distribuição plaquetária)
PO “per os”(por via oral)
PT Proteínas Totais
QUID “quarter in die” (quarto vezes por dia)
RDW “Red cell Distribution Width” (índice de distribuição dos eritrócitos)
SC Subcutânea
SID “semel in die” (uma vez por dia)
TC Tomografia Computorizada
TSH Tirotropina
TID “ter in die” (três vezes por dia)
UI Unidades Internacionais
VAC “Vaccum Assisted Closure” (fechamento assistido a vácuo)
VGM Volume Globular Médio
VPM Volume Plaquetar Médio

xx
Capítulo 1 - Introdução

1. Introdução
Os estágios curriculares efetuados ao longo destes 6 meses permitiram a
complementação e a implementação de conhecimentos teóricos e práticos de Medicina
Veterinária com consequente preparação para a vida profissional através do contacto com o
ambiente de trabalho. A duração de cada um foi de 3 meses no Centro Veterinário de
Exóticos do Porto, de 2 meses no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios e
aproximadamente de 1 mês no serviço de necrópsias do Laboratório de Histologia e Anatomia
Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
A concretização de estágios em diferentes áreas permitiu a aprendizagem de
metodologias únicas dedicadas a cada uma, assim como da sua importância como contributo
para a sociedade.
O principal objetivo deste trabalho é o de mostrar 3 realidades diferentes a nível
nacional no âmbito dos animais exóticos e selvagens, descrevendo as diferentes metodologias,
limitações e especificações, que serão demonstradas através da descrição de abordagens
clínicas de casos exemplares de cada realidade. O relato destes casos clínicos permite
exemplificar a versatilidade do médico veterinário nas diversas áreas de atuação do médico
veterinário, principalmente na clínica de animais exóticos e na reabilitação de animais
marinhos. Outro objetivo deste relatório é o de descrever os conhecimentos e as técnicas
aprendidas no decorrer dos estágios curriculares que serão úteis na prática da Medicina
Veterinária no futuro.

1.1. CVEP: Centro Veterinário de Exóticos do Porto


O Centro Veterinário de Exóticos do Porto é uma clínica de animais exóticos de
companhia localizada no concelho do Porto e teve a sua inauguração em março de 2009.
Como o próprio nome indica, destina-se à prática clínica de animais de estimação
exóticos como aves, répteis e mamíferos que não sejam o cão e o gato. Outras espécies de
animais incluem aracnídeos, anfíbios, moluscos, peixes, entre outros.
Há alguns anos atrás, o conhecimento dos animais exóticos era escasso, pois muitos
veterinários consideravam que estes animais não seriam capazes de usufruir da mesma
atenção por parte dos proprietários e, como tal, estes últimos não estariam dispostos a
dispensar dinheiro para providenciar os cuidados de saúde adequados (Brown, 2005). No
entanto, o interesse pelos animais exóticos como animais de companhia tem vindo a aumentar
cada vez mais nestas últimas décadas (Orti et al, 2004).

1
Capítulo 1 - Introdução

Assim, torna-se imprescindível a evolução dos conhecimentos sobre os novos animais


de estimação para o fornecimento de cuidados médico-veterinários adequados a cada espécie
(Brown, 2005).

1.2. CRAM-Q: Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios


O Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios é um centro de
recuperação para a fauna salvagem, sendo um dos dois centros de animais marinhos em
Portugal. Está localizado no concelho da Figueira da Foz, tendo a sua sede numa Casa
Florestal que fazia parte dos antigos Serviços Florestais na Mata Nacional de Quiaios. Este
centro pertence à Sociedade Portuguesa da Vida Selvagem, tratando-se de uma associação
científica não lucrativa desde que foi criada em 2006.
O principal objetivo do CRAM-Q é a reabilitação e a consequente reintrodução de
animais marinhos ao seu habitat natural, particularmente aves, mamíferos e répteis. Também
recebe outras espécies de animais que podem permanecer no CRAM-Q ou serem transferidos
para outros centros.
Os animais selvagens são constituídos por mamíferos, aves, anfíbios, répteis, peixes e
outros animais invertebrados. Apesar de pertencerem às mesmas classes dos animais
observados nas diversas práticas clínicas e, apresentarem semelhanças estruturais nas afeções
que os atingem, exigem um maneio e uma abordagem terapêutica totalmente diferentes
(Stoker, 2005).

1.3. LHAP-UTAD: Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da


Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
O Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de Trás-os-
Montes e Alto Douro começou oficialmente a sua atividade em setembro de 1988 e está
localizado no edifício das Ciências Agrárias da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
do concelho de Vila Real.
Neste laboratório, é prestado o serviço médico-veterinário de diagnóstico em
Anatomia Patológica Veterinária, que detém as valências de citologia, de necrópsia e de
diagnóstico histológico (Anónimo, 2013). As suas principais funções constituem a prevenção,
o rastreio, o diagnóstico e o prognóstico de doenças em animais pertencentes a diferentes
categorias taxonómicas (Anónimo, 2014). Para tal, recorre à avaliação, ao planeamento e ao
processamento de amostras de tecidos e de células colhidas de organismos vivos ou mortos

2
Capítulo 1 - Introdução

(Lima, 2007). São diversos os métodos e as técnicas aplicadas para a sua observação
macroscópica, microscópica e ultra-estrutural com vista ao diagnóstico anátomo-patológico,
ao ensino e à investigação (Anónimo, 2014). As investigações desenvolvidas no LHAP
pertencem às áreas de oncologia e de patologia animal (Anónimo, 2013).
As necrópsias são realizadas em instalações próprias no Hospital Veterinário da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
A necrópsia é um exame realizado com as seguintes finalidades: determinar a causa
que originou a morte ou doença; diagnosticar morfologicamente e etiologicamente a
patologia; auxiliar o diagnóstico clínico criando uma conexão entre dados clínicos e a doença
manifestada; identificar anomalias congénitas; acompanhar a evolução da terapêutica com o
intuito de melhorar o seu emprego; participar ao clínico sobre a necessidade de
implementação de medidas sanitárias ou saúde pública; e recolher dados para análise
estatística ou epidemiológica (Oliveira et al, 2004).

3
4
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

2. Atividades desenvolvidas

Foram desenvolvidas diferentes atividades nos 3 estágios curriculares realizados no


âmbito do Mestrado Integrado da Medicina Veterinária, graças à casuística diversificada
assistida em cada estágio.

2.1. CVEP
No Centro Veterinário de Exóticos do Porto destacam-se como ações desempenhadas:
 O acompanhamento de consultas; a contenção, a pesagem e a realização de exames
físicos nos animais; a medição de sinais vitais como a frequência cardíaca, a
frequência respiratória e a temperatura; a administração de medicamentos por via
intramuscular e subcutânea a pequenos mamíferos, a aves e a répteis; a alimentação
forçada por entubação gástrica com sonda a aves e a quelónios e, através de seringa, a
pequenos mamíferos; a realização de análises de urina recorrendo a tiras urinárias; a
execução e posterior visualização de esfregaços de fezes, de sangue, e de pelos ao
microscópico;
 A observação e a assistência em procedimentos veterinários como as desparasitações,
as vacinas, as administrações de fármacos por via intravenosa e intraóssea, a
reanimação de animais, as cirurgias (Imagem 1A), as necrópsias (Imagem 1B) e os
exames complementares de diagnóstico como as análises sanguíneas, as radiografias e
as ecografias;
 A visualização e a participação em outras atividades como a tosquia de coelhos, os
banhos (Imagem 1C), o corte de unhas, de penas e do bico em aves e o corte de unhas
em pequenos mamíferos;
 O auxílio na manutenção da higiene e bem-estar dos animais com limpeza das
instalações e das respetivas jaulas, o fornecimento de água e de alimentos frescos.

Imagem 1 - Atividades desenvolvidas no CVEP: A - A remoção cirúrgica de uma massa no joelho de


Iguana iguana; B - A necrópsia a Testudo horsfieldii; C - A lavagem das penas de Columbia livia. (Fotos
gentilmente cedidas pelo CVEP).

5
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

Relativamente à casuística observada (251 casos), os pequenos mamíferos (143 casos)


foram os animais que mais visitaram as instalações do CVEP, seguidos pelas aves (81 casos)
e finalizando nos répteis (28 casos) (Gráfico 1).

11%
32%

Aves
Mamíferos
Répteis
57%

Gráfico 1 - Casuística observada no CVEP em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os animais
pertencem.

No total foram avaliados 242 animais (Anexo 1, Tabela 4). Quanto ao motivo da
requisição dos serviços do CVEP, estes variavam desde o serviço de hotelaria, a diagnóstico e
tratamento de patologias diversas (Anexo 1, Tabelas 5-8).

2.2. CRAM-Q
Os trabalhos desenvolvidos durante o estágio no Centro de Reabilitação de Animais
Marinhos de Quiaios incluíram:
 A admissão de animais; a contenção, a pesagem e a realização de exames físicos;
 A preparação e a alimentação de aves, de tartarugas marinhas, de focas e de golfinhos
(Imagem 2A); a alimentação forçada por entubação gástrica com sonda a uma
tartaruga marinha e a aves;
 A hidratação oral por sonda gástrica a aves e a hidratação intracelómica a tartarugas
marinhas;
 A administração de fármacos por via intramuscular a aves, a tartarugas marinhas e a
focas;
 A colheita de sangue a aves;
 A libertação de aves;

6
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

 A biometria de tartarugas marinhas;


 A limpeza e a manutenção das instalações, das jaulas dos animais e dos tanques de
reabilitação com medição dos parâmetros físicos da água;
 A visualização de procedimentos médico-veterinários como as necrópsias, a
transfusão sanguínea a uma tartaruga marinha (Imagem 2B), as endoscopias com
anestesia a uma foca (Imagem 2C) e os exames complementares de diagnóstico como
as colheitas de sangue, as radiografias e as ecografias.

Imagem 2 - Atividades desenvolvidas no CRAM-Q: A – Alimentação a Delphinus delphis B - Transfusão


sanguínea a Caretta caretta; C - Colonoscopia a Halichoerus grypus (Fonte Fotos gentilmente cedidas pelo
CRAM-Q).

A maioria da casuística observada (39 casos) pertence à classe das aves (32 casos),
seguido dos mamíferos (4 casos) e, finalmente, dos répteis (3 casos) (Gráfico 2).

8%
12%

Aves
Mamíferos
Répteis
80%

Gráfico 2 - Casuística observada no CRAM-Q em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os


animais pertencem.

7
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

Na totalidade foram observados 39 animais (Anexo 1, Tabela 9). Os motivos de


ingresso nos répteis e nos mamíferos foram variados, já nas aves estes eram frequentemente
associados a traumatismo ou à presença de penas danificadas (Anexo 1, Tabela 10).

2.3. LHAP-UTAD
No estágio decorrido no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, as atividades desenvolvidas envolveram
predominantemente a realização de necrópsias e, sempre que possível, a determinação da
causa de morte através do diagnóstico macroscópico das lesões examinadas (Imagens 3A, 3B
e 3C).

Imagem 3 - Atividades desenvolvidas no LH-UTAD: Necrópsias realizadas e respetivas causas de morte (A)
Genetta genetta (traumatismo); (B) Python regius (suspeita de IBD); (C) Sus scrofa (traumatismo) (Fotos
gentilmente cedidas pelo LH-UTAD).

Durante o estágio curricular no LHAP-UTAD, da casuística total observada (18 casos)


o maior número de casos clínicos pertence à classe dos mamíferos (11 casos), seguido dos
répteis (6 casos) e, finalmente, as aves (1 caso) (Gráfico 3).

6%
33%

Aves
Mamíferos
61% Répteis

Gráfico 3 - Casuística observada no LHAP-UTAD em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os


animais pertencem.
8
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas

Foram examinados 18 animais (Anexo 1, Tabela 11). O traumatismo constituiu a


causa de morte obtida pelo diagnóstico macroscópico num grande número de mamíferos
selvagens (Anexo 1, Tabela 12).

9
10
Capítulo 3 - Casos clínicos

3. Casos clínicos
Os casos clínicos descritos pertencem à casuística observada nos estágios executados
no CVEP e no CRAM-Q.
A síndrome vestibular num periquito (Melopsittacus undulatus) e a fratura do casco
numa tartaruga semiaquática (Trachemys sp.) foram os casos clínicos escolhidos do Centro
Veterinário de Exóticos do Porto; já a transfusão sanguínea numa tartaruga-boba (Caretta
caretta), a infeção parasitária por anisaquídeos numa foca cinzenta (Halichoerus grypus) e a
modificação comportamental dos golfinhos-comuns de bico curto (Delphinus delphis) foram
os eleitos do CRAM-Q.

3.1. CVEP
3.1.1. Síndrome vestibular em Melopsittacus undulatus
3.1.1.1. Relato do caso
No dia 6 de setembro de 2013, o “Gastão”, um periquito macho de idade desconhecida
com 33 gramas de peso, surgiu no CVEP com sinais neurológicos que teriam surgido há
aproximadamente 3 horas. A ave apresentava-se alerta mas demostrava a presença de
tiques/espasmos evidentes contínuos. O corpo do
animal enrolava-se parcialmente para o lado direito,
regressando a uma posição inicial normal (Imagem
4). Também apresentava ataxia em marcha e em
estação.
O animal fora adquirido pelo proprietário há
aproximadamente 3 meses. A sua alimentação era à Imagem 4 - “Gastão” a enrolar-se para o
lado direito (Foto gentilmente cedida pelo
base de sementes, estando a sua gaiola localizada CVEP).
durante o dia na varanda, e à noite na cozinha. Dado o posicionamento habitual do alojamento
do animal, existia uma forte suspeita de que o animal pudesse ter estado em contacto com
fumos de grelhadores.
Não foi possível realizar um exame físico completo ao “Gastão” devido à presença de
uma incoordenação motora grave e, do seu estado geral não o aconselhar. Como tal, o animal
fora imediatamente internado e colocado numa câmara de oxigénio.
Durante o internamento, foi administrado tratamento de suporte com fluidoterapia
recorrendo a Lactato Ringer e Duphalyte® SC BID para hidratar e cobrir possíveis

11
Capítulo 3 - Casos clínicos

deficiências nutricionais, não tendo sido necessário proceder a alimentação forçada dado que
a ave conseguia consumir alimento por si própria.
Também foi iniciado antibioterapia com 10
mg/Kg IM BID de enrofloxacina, pois outro
diagnóstico diferencial para a sintomatologia
vestibular seria a de uma infecção; e terapia anti-
inflamatória com 0,5 mg/Kg IM SID de
meloxicam (Loxicom 5mg/mL) para reduzir a
inflamação a nível intracraniano.
O “Gastão” melhorou no dia seguinte,
estando ausente o comportamento de enrolamento
que apresentava no dia anterior. Assim, teve alta,
com indicações para continuar com Imagem 5 - Ração para periquitos da Zupreem®
(Fonte:
enrofloxacina por mais 10 dias PO e
http://www.drsfostersmith.com/product/prod_display.c
0,3 mg/Kg PO SID de meloxicam fm?c=5059+5911+5913+6205&pcatid=6205).

(Meloxivet® 1,5 mg/mL) por 5 dias. Também foi recomendado a mudança da dieta com uma
ração específica para periquitos (Imagem 5).
No dia 20 de novembro, o CVEP contatou novamente o proprietário do “Gastão”. Este
referiu que a ave estava totalmente recuperada e já não apresentava quaisquer dos sinais
neurológicos que a afligiram.

3.1.1.2. Revisão da literatura: Patologia vestibular em aves


3.1.1.2.1. Anamnese
A anamnese é importante para a recolha de informações sobre o animal. Esta permite
ao veterinário planificar o exame físico e decidir quais os exames complementares de
diagnóstico a serem efetuados para alcançar um diagnóstico definitivo, e consequentemente
estabelecer a terapêutica a realizar (Tully Jr., 2009).
O veterinário também deve possuir conhecimentos sobre a taxonomia da ave, o
dimorfismo sexual e os comportamentos específicos de cada espécie (Doneley et al, 2006).
Uma questão importante é saber se o proprietário apresenta conhecimentos gerais sobre o
animal que possui e se estes estão a ser aplicados na prática, tanto a nível ambiental como
nutricional (Tully Jr., 2009).

12
Capítulo 3 - Casos clínicos

Entre os dados a recolher, para além do motivo da consulta, estão: a identificação


completa do animal (se possível) com determinação da origem e a data de aquisição do
animal; o meio ambiente em que a ave habita, nomeadamente o tipo e a localização do
alojamento; a presença de outras aves ou de outros animais; a possibilidade de descanso
durante a noite e o acesso à luz solar durante o dia; a probabilidade de contactar com
substâncias tóxicas; o maneio alimentar com descrição do tipo de alimentos, suplementos e
minerais fornecidos, assim como a disponibilidade de água potável; e ainda a história médica
prévia do animal, nomeadamente quais as afeções a que o animal já foi sujeito, o tratamento
efetuado e a respetiva resposta (Donneley et al, 2006).

3.1.1.2.2. Exame físico


A não ser que seja necessário providenciar assistência médica de emergência, o exame
físico começará com a observação externa do animal, tendo em especial atenção à respiração,
ao comportamento, à aparência geral e a qualquer outra alteração mencionada pelo
proprietário. Esta observação inicial determinará se o estado hígido do animal possibilita a sua
manipulação para um exame físico mais completo (Tully Jr., 2009).
Para se proceder à captura e contenção da ave, as janelas e as portas devem ser
fechadas e as ventoinhas desligadas. Geralmente, as aves diurnas ficam desorientadas com a
redução da luz solar disponível, que pode ser conseguida ao cobrir a jaula do animal com um
pano opaco (Malley, 1996). Outra hipótese é utilizar uma fonte de luz mais fraca ou de cor
azul ou vermelha para acalmar o animal. Estas ações permitirão uma contenção com a mínima
resistência por parte da ave (Girling, 2003).
Antes de remover o animal da jaula, recomenda-se a retirada de todos os poleiros,
brinquedos, comedouros e bebedouros para evitar que aquele se lesione (Malley, 1996). A
cabeça dos psitacídeos deve ser devidamente segurada, dado que a principal arma de um
psitaciforme é o bico e consequente a sua poderosa mordedura (Malley, 1996; Girling 2003).
As espécies de aves mais pequenas podem ser envolvidas em toalhas de papel
(Girling, 2003).
Idealmente, a captura da ave deve ser feita quando esta estiver voltada para uma das
paredes da jaula, dando um bom acesso à parte de trás da cabeça (Harrison e Ritchie, 1994).
A ave é contida imobilizando a cabeça com o indicador e o polegar. Os restantes dedos
são colocados em redor do corpo do animal, mas com o cuidado para não interferir com os
movimentos respiratórios do esterno (Imagem 6) (Malley, 1996).

13
Capítulo 3 - Casos clínicos

Como as aves não possuem diafragma e dependem do movimento do esterno para


respirar, podem sufocar se for exercida força excessiva na caixa
torácica (Girling, 2003; Harrison e Ritchie, 1994). A ave deve ser
mantida na vertical ou num plano paralelo ao chão, já que a
contenção de uma ave doente numa posição contrária poderá
comprometer a sua função respiratória (Harrison e Ritchie, 1994).
A manipulação das aves com o papo cheio deve ser
cuidada, dado que o animal pode regurgitar e aspirar o alimento
para o sistema respiratório (Tully Jr, 2009).
Imagem 6 - Contenção a
Outra técnica para a contenção de aves pequenas Melopsittacus undulatus
segurando a cabeça com o
descrita, indica que o pescoço da ave deve ser segura entre o polegar e o indicador (Fonte:
indicador e o dedo médio. Os outros dedos são posicionados Malley, 1996).

de forma a envolver gentilmente o corpo. O polegar e o anelar podem ser utilizados para
manipular as asas ou os membros pélvicos (Imagem 7). No entanto, o uso de força excessiva
nesta abordagem pode causar danos físicos no animal (Girling, 2003).
O exame físico das aves não varia muito do exame realizado nos restantes animais,
começando na cabeça e terminando a nível da cloaca e/ou da
glândula uropigial (Tully Jr., 2009). O uso de um estetoscópio
pediátrico permite uma melhor avaliação do coração e dos
pulmões. A auscultação cardíaca e a auscultação respiratória
são realizadas com o estetoscópio colocado na parede lateral e
na parede craniodorsal do corpo da ave, respetivamente (Tully
Jr. 2009).
A avaliação da condição corporal é feita pela
combinação da palpação dos músculos peitorais, da Imagem 7 - Contenção a
Melopsittacus undulatus
examinação da gordura subcutânea e da medição do peso periquito segurando a cabeça
entre o indicador e o dedo
recorrendo a uma balança (Donneley et al, 2006). médio (Fonte: Girling, 2003).

3.1.1.2.3. Exame neurológico


O exame neurológico deve ser realizado num exame físico de rotina, sendo
imprescindível nos casos em que a ave apresenta alterações neurológicas como a postura ou
conformação anormal, a fratura de membros, fraqueza ou a inabilidade para agarrar com um

14
Capítulo 3 - Casos clínicos

ou ambas as extremidades pélvicas, “head tilt”, opistótonos, torcicolo, a alteração do estado


mental e a diminuição da acuidade visual (Donneley et al, 2006).
Os principais objetivos do exame neurológico são a determinação do tipo de doença
neurológica, ou seja, se esta é focal ou difusa e, no caso das lesões focais, a descoberta da sua
localização (Benett, 1994).
A observação do animal é essencial para determinar o nível e o grau de consciência do
animal, assim como para avaliar a postura, a atitude e a marcha (Platt, 2006). As mudanças na
personalidade da ave que tenham sido detetadas pelo proprietário devem ser investigadas
(Benett, 1994).
O sistema músculo-esquelético deve ser palpado para a avaliação do tónus, da
consistência e dos contornos, assim como para a deteção da presença de dor, de assimetrias ou
de massas estranhas (Platt, 2006). Como a apreciação dos reflexos segmentares pode ser
difícil nas aves, torna-se imprescindível a avaliação do tónus muscular, da força e da presença
de atrofia durante o exame neurológico (Benett, 1994).
A avaliação dos nervos craniais deve seguir a observação e a palpação completa do
animal, sendo particularmente importante a apreciação do movimento do globo ocular e da
cabeça, o pestanejar, o movimento da língua e da mandíbula, e a simetria geral da cabeça
(Platt, 2006). Tanto as alterações subtis na função dos nervos craniais como os reflexos
anormais são difíceis de avaliar e de interpretar nas aves (Benett, 1994).
Os testes para avaliação da função dos nervos craniais (NC) devem ser feitos após a
realização de um exame oftálmico (Platt, 2006):
 Teste de ameaça (NCII e NCV): consiste em efetuar um movimento de ameaça
suavemente em direção a um dos olhos do animal, tapando simultaneamente o olho
contralateral (Imagem 8A);
 Reflexo pupilar à luz (NCII e NCIII): uma luz é projetada em cada olho
alternadamente para avaliar a resposta da pupila (Imagem 8B). Não há uma resposta
consensual em aves devido a interseção dos nervos óticos no quiasma ótico. A
resposta do olho avaliado é menos marcada comparativamente à dos mamíferos, já
que as aves possuem músculo estriado na íris, permitindo-lhes algum controlo
voluntário da pupila;
 Avaliação do estrabismo (NCIII, NCIV e NCVI): é observada a posição dos globos
oculares com a cabeça da ave numa disposição normal;

15
Capítulo 3 - Casos clínicos

 Reflexo palpebral (NCV): compreende a avaliação da resposta do animal quando se


estimula o canto medial da pálpebra ao toque (Imagem 8C);
 Avaliação do tónus do bico/mandíbula (NCV): consiste na deteção de alterações no
bico e/ou a inabilidade para consumir alimento, assim como a apreciação da força e da
resistência do bico à abertura manual do mesmo;
 Reflexo oculocefálico (NCVIII): consta na observação do movimento ocular enquanto
se movimenta lateralmente a cabeça num plano horizontal.

Imagem 8 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A - Teste de ameaça; B –
Reflexo pupilar à luz; C – Reflexo palpebral (Fonte: Platt, 2006).

A apreciação dos nervos craniais pode auxiliar na deteção de lesões neurológicas


focais (lesão de um nervo individual) ou de uma encefalopatia generalizada (afeção de vários
nervos). Não existem testes aplicáveis para avaliar diretamente a função dos nervos craniais
NCI, NCVII e NCXI. No entanto, uma ave saudável irá reagir negativamente a odores
nocivos, o que permite de certa forma apreciar a funcionalidade do NCI (Benett, 1994). Os
nervos craniais NCIX e NCX são avaliados pelo reflexo de vómito; já o nervo cranial NCXII
é examinado pela inspeção e palpação da língua (Platt, 2006).
Para a avaliação das reações posturais, uma asa ou uma perna é colocada numa
posição anormal, sendo apreciada o tempo de resposta de correção postural do animal. Os
défices posturais são visualizados no local da lesão ou caudalmente a esta (Platt, 2006).
Nem todos os exames neurológicos aplicáveis nos mamíferos podem ser usados nas
aves devido às diferenças anatómicas. Os testes úteis incluem (Platt, 2006):
 Posicionamento propriocetivo: a face dorsal do pé da ave é colocada contra o poleiro;
 Teste da folha de papel: uma folha de papel é colocada por baixo de cada pé, sendo
posteriormente movidas lateralmente;

16
Capítulo 3 - Casos clínicos

 Reação de colocação dos membros: é dado um poleiro para a ave subir; o teste
também pode ser efetuado com os olhos da ave vendados, em que o animal é
estimulado a agarrar o poleiro ao sentir o toque deste na face dorsal do seu pé.
Os reflexos espinhais permitem determinar se uma lesão é central (neurónio motor
superior) ou periférica (neurónio motor inferior) (Benett, 1994).
As lesões do neurónio motor inferior (NMI) podem originar uma diminuição ou
ausência de um determinado reflexo, enquanto as lesões do neurónio motor superior (NMS)
geralmente resultam num reflexo exagerado (Platt, 2006).
Para a avaliação dos reflexos espinhais, podem ser efetuados os seguintes testes (Platt,
2006):
 Reflexo esfíncter cloacal: deve ser observada uma contração dos músculos do esfíncter
externo e um “tail bob” (sacudidela da cauda) quando a cloaca é beliscada;
 Reflexo flexor podal (Imagem 9A): consiste em aplicar um estímulo doloroso através
de um beliscão em cada pé e a consequente avaliação da resposta de ambos os
membros em simultâneo;
 Reflexo patelar: uma pancada leve é desferida diretamente no tendão patelar (Imagem
9B);
 Reflexo da retirada da asa: consiste em beliscar a área correspondente à inserção das
penas primárias do dedo maior (Imagem 9C).

Imagem 9 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A – Reflexo flexor podal; B –
Reflexo patelar; C – Reflexo da retirada da asa (Fonte: Platt, 2006).

Como as aves não possuem o músculo do tronco cutâneo, o teste do reflexo do tronco
cutâneo não pode ser utilizado para localizar uma lesão da medula espinhal nesta área. Não
obstante, os folículos das penas possuem fibras nervosas sensitivas (Platt, 2006).
Os reflexos nociceptivos são reservados para os animais que demonstram a presença
de doenças da medula espinhal (com base na marcha alterada) e para os que apresentam

17
Capítulo 3 - Casos clínicos

resultados anormais nos reflexos propriocetivos e espinhais (Platt, 2006). Se for necessário
realizar os testes para a avaliação dos reflexos nociceptivos, estes deverão ser feitos no final,
para que os estímulos dolorosos não influenciem a resposta do animal nos restantes
parâmetros da avaliação neurológica (Benett, 1994).

3.1.1.2.4. Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico


A doença vestibular periférica é mais comum do que a patologia central. Já a doença
vestibular paroxística é devida a lesões do pedúnculo cerebelar caudal e/ou do lobo floculo-
nodular do cerebelo (Tabela 1) (Clippinger e Platt, 2000).

Tabela 1 - Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico nas diferentes doenças.

Doença Sinais clínicos/Resposta ao exame neurológico


 Possível tónus extensor exagerado dos membros
contralaterais acompanhado da redução do tónus extensor
dos membros ipsilaterais
 “Head tilt” ipsilateral
 Queda ou enrolamento
 Nistagmo horizontal com a fase rápida contrária ao lado da
Doença vestibular periférica lesão, possível depressão ou ausência de nistagmo
fisiológico ou nistagmo rotatório
 Voo ou marcha em círculos apertados
 Estrabismo ipsilateral com possível direção ventrolateral se
o pescoço for estendido
 Preservação da força
 Perda das reações de correção
 Estado mental alterado com depressão, estupor ou coma
 Nistagmo vertical, horizontal ou rotatório; este último pode
ser posicional, ou mudar de direcção com as diferentes
Doença vestibular central posições da cabeça
 Hemiparésis ipsilateral
 Disfunção de outros nervos craniais
 Défice da reação postural ipsilateral
 “Head tilt” contralateral à lesão
 Estrabismo contralateral
Doença vestibular paroxística
 Défices propriocetivos e da reação postural ipsilateral se a
lesão for caudal ao pedúnculo cerebelar

18
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.1.1.2.5. Diagnóstico
Os exames físico e neurológico permitem localizar uma lesão numa determinada
região do sistema nervoso (Clippinger e Platt, 2000). Estes servem como um indício a quais
os exames complementares de diagnóstico a realizar (Benett, 1994).
No caso de suspeita de uma neuropatia metabólica ou de uma doença infeciosa estão
indicados a realização de hemograma e de bioquímica sérica. A serologia é útil para a deteção
de agentes infeciosos como os vírus ou a clamidiose. Também pode ser necessário a medição
dos níveis de metais pesados no sangue, no caso de suspeita de toxicidade. A estimulação da
tirotropina (TSH) pode ser útil no despiste do hipotiroidismo (Benett, 1994).
A laparoscopia e a biópsia de órgãos servem de complemento no diagnóstico de
doenças metabólicas (Benett, 1994). A biópsia de um músculo é indicado para auxiliar na
confirmação do diagnóstico de uma doença da unidade motora (Platt, 2006).
A realização do raio-X está indicada tanto em casos de suspeita de trauma medular
como de intoxicação por metais pesados (Benett, 1994). A mielografia é usada para
identificar, caracterizar e localizar as lesões da medula espinhal nos compartimentos
extramedular e intramedular (Platt, 2006).
A análise do líquido cefalorraquidiano permite caracterizar as doenças infeciosas,
neoplásicas ou inflamatórias no cérebro ou na medula espinhal (Platt, 2006).
As técnicas de eletrodiagnóstico ajudam a distinguir entre uma neuropatia e uma
miopatia, a localizar lesões neurológicas e a determinar o prognóstico para o retorno da
função normal (Benett, 1994).
Já a cintigrafia permite avaliar os tecidos moles e as estruturas ósseas associadas com
o sistema nervoso (Platt, 2006).
A tomografia computorizada (TC) facilita a avaliação da coluna vertebral e do crânio
para a deteção de alterações no tecido mole do sistema nervoso central e do esqueleto
envolvente (Platt, 2006).
Finalmente, a imagem por ressonância magnética (IRM) possibilita a obtenção de um
contraste do tecido mole do sistema nervoso central com orientação espacial das estruturas
anatómicas. Também permite distinguir a matéria nervosa central cinzenta, da branca (Platt,
2006).
Nas aves em geral, o diagnóstico da síndrome vestibular é conseguido recorrendo a um
completo exame físico e exame neurológico, acompanhado de exames complementares como
análises sanguíneas, raio-X, TC e IRM (Clippinger e Platt, 2000).

19
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.1.1.2.6. Diagnósticos diferenciais


Os diagnósticos diferenciais para as doenças intracraniais no qual se integra a doença
vestibular incluem: as doenças degenerativas como a doença de armazenamento lisossomal, a
mielinopatia vacuolar aviária e outras anomalias (como o hidrocéfalo e a dilatação dos
ventrículos); as doenças metabólicas como a encefalopatia hepática, a hipoglicemia e a
hipocalcemia; as doenças neoplásicas como o tumor glial, o ependimoma, os adenomas, os
adenocarcinomas, os linfossarcomas, os lipomas e os papilomas do plexo coroide; as doenças
nutricionais como a deficiência em piridoxina e a deficiência em vitamina E; as doenças
inflamatórias como a encefalite vírica, bacteriana, verminosa, tricomoníase/protozoária,
fúngica ou priónica; as doenças idiopáticas; a toxicidade por zinco, chumbo, carbamatos e
organosfosforados; o trauma cranial; e as doenças vasculares como a aterosclerose (Platt,
2006).
Mais especificamente do síndrome vestibular, as causas mais frequentes incluem o
trauma cranial, a doença infeciosa que afeta principalmente os ouvido médio e interno, a
toxicidade, as doenças nutricionais e a neoplasia (Clippinger e Platt, 2000).

3.1.1.2.7. Tratamento
Com a terapia, pretende-se a manutenção da função neurológica e a reparação das
estruturas danificadas (Clippinger e Platt, 2000).
O primeiro passo é tratar a causa subjacente, personalizando a terapêutica à etiologia
específica (Clippinger e Platt, 2000; Platt, 2006). Para o sucesso do tratamento pode ser
necessário recorrer à administração de eletrólitos, minerais e/ou vitaminas, a antídotos, a
antibióticos, a antifúngicos, a vacinação de pré-exposição, a antiparasitários e a anti-
inflamatórios (Clippinger e Platt, 2000).
As causas responsáveis pela presença de alterações neurológicas devem ser removidas
fisicamente com banhos, lavagens, cirurgia ou endoscopia; ou quimicamente com protetores e
ligantes para diminuir a absorção, e para aumentar a eliminação deve-se recorrer à catarse e à
diurese (Clippinger e Platt, 2000). Os sinais neurológicos são controlados pela terapia
anticonvulsiva e pela terapia anti-inflamatória (incluindo glucocorticóides) (Clippinger e
Platt, 2000; Platt, 2006).
O uso de corticosteróides é bastante controverso devido aos potenciais efeitos
secundários que o seu uso acarreta, não sendo recomendado em animais com história prévia
de imunossupressão ou de patologia fúngica. Tais complicações incluem a imunossupressão,

20
Capítulo 3 - Casos clínicos

a supressão adrenal, o atraso na cicatrização de feridas e a ulceração gastrointestinal, mas


geralmente estão associadas ao uso prolongado destes. No entanto, as doses únicas de
corticosteróides têm melhorado o prognóstico em casos de choque, de trauma e de toxicidade
(Harrison et al, 2006).
Finalmente, não deve ser esquecida a disponibilização de tratamento de suporte ao
animal para manutenção das necessidades nutricionais e de hidratação. Se necessário, também
deve ser fornecida oxigenoterapia (Platt, 2006).

3.1.1.2.8. Prognóstico
O prognóstico está dependente do processo patológico e da localização da doença
(Clippinger e Platt, 2000).
No entanto, quando os periquitos apresentam casos agudos combinando vários sinais
clínicos neurológicos como a ataxia, a realização de círculos, paralisia, torcicolos, opistótonos
e a presença de convulsões ou espasmos, o diagnóstico torna-se difícil e como tal, o
prognóstico mau (Coles, 2007).

3.1.2. Reconstrução cirúrgica de uma fractura do casco em Trachemys sp.


3.1.2.1. Relato do caso
O “Frederico” era uma tartaruga da espécie Trachemys sp., idade desconhecida, sexo
masculino, com 355 gramas de peso, que apareceu para uma consulta no CVEP no dia 3 de
outubro de 2013 devido a um novo traumatismo do casco provocado pela mordedura de um
cão.
Este animal já era cliente habitual, tendo
sido consultado pela primeira vez no dia 16 de
setembro de 2012 pelo mesmo motivo. O animal
tinha sido atacado por um cão há 5 dias atrás,
apresentando uma fratura linear do plastrão
cranial na transição dos escudos humerais e
peitorais. Ostentava também algumas zonas
Imagem 10 - Manchas brancas no casco do
roídas da carapaça, sem penetração da cavidade “Frederico” (Fonte: Foto gentilmente cedida
pelo CVEP).
celómica. Após examinação do quelónio, este foi
para casa com indicações para realizar lavagens das lesões com Betadine® diluída em água

21
Capítulo 3 - Casos clínicos

(1:1) BID/TID e antibioterapia com penicilina 10.000 UI/Kg Q72h, regressando


posteriormente para cirurgia.
No dia 21 de setembro de 2012 foi efetuada a reconstrução cirúrgica do plastrão
recorrendo a placas ortopédicas e a cianocrilato. Após alinhamento da fratura, duas placas
ortopédicas foram coladas com cianocrilato ao plastrão paralelamente ao eixo craniocaudal,
desde os escudos gulares até aos escudos anais.
Nas reavaliações seguintes, o “Frederico” apresentou uma evolução positiva, no
entanto, no dia 26 de setembro de 2012, o proprietário notou que algumas das zonas roídas no
bordo do casco apresentavam uma coloração branca e pareciam estar a desfazer-se (Imagem
10). Foi aconselhado a continuação da desinfeção das lesões com Betadine® diluída em água,
recorrendo a uma escova de dentes para uma limpeza mais eficaz. Dependendo do estado de
saúde do animal e da evolução das feridas, discutiu-se ainda a possibilidade de adicionar um
novo antibiótico (ceftazidima 20-40mg/Kg IM SID), já que a principal suspeita era a de uma
possível osteomieltie não controlada pela penicilina.
O animal continuou a ser vigiado regularmente, tendo sido necessário reforçar a
fratura ao colocar cola no fragmento para maior estabilidade.
No dia 29 de janeiro de 2013 as placas foram retiradas com o intuito de serem
substituídas por umas novas. No entanto, apesar de não ter ocorrido união total entre o
fragmento e o plastrão, a fratura encontrava-se estável e como tal, optou-se pela remoção
definitiva das placas com o auxílio de uma espátula (Imagem 11A e 11B).

Imagem 11 – Placas ortopédicas: A - Placas ortopédicas posicionadas no plastrão do


“Frederico”; B - Remoção das placas ortopédicas (Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo CVEP).

A antibioterapia também foi interrompida e foi administrado 10 mg/Kg de cálcio SC


juntamente com um suplemento vitamínico (0,3 mL/Kg IM Duphafral®Multi) para fortalecer
o casco e ajudar na cicatrização das lesões. As manchas brancas encontravam-se ainda
presentes, mas como o casco estava a regenerar bem, optou-se por aguardar.

22
Capítulo 3 - Casos clínicos

O “Frederico” continuou a frequentar o CVEP, tendo sido a sua última consulta no dia
11 de junho de 2013. A fratura já se apresentava quase totalmente consolidada (Imagem 12).
Como já fora referido, no dia 3 de outubro, o “Frederico” fora novamente
traumatizado por um canídeo, apresentando
lesões mais evidentes no plastrão cranial (no
mesmo local da fratura antiga (Imagem 13A)) e
nos escudos marginais junto aos membros
pélvicos, sem penetração da cavidade celómica
(Imagem 13B, 13 C e 13D).
Mais uma vez, foram aconselhadas as
lavagens das lesões com Betadine® e água, e
Imagem 12 - Evolução da fratura do
receitada antibioterapia com enrofloxacina “Frederico” (Fonte: Foto gentilmente cedida
pelo CVEP).
10mg/Kg IM SID. A próxima reavaliação ficara
marcada após 2 semanas.

Imagem 13 - Lesões resultantes do novo traumatismo do “Frederico”: A – Vista ventral das lesões
na transição dos escudos humerais e peitorais; B – Vista lateral das lesões nos escudos marginais
junto ao membro pélvico esquerdo; C – Vista lateral das lesões nos escudos marginais do lado
direito; D – Vista dorsal das lesões nos escudos marginais da carapaça (Fonte: Fotos gentilmente
cedida pelo CVEP).

23
Capítulo 3 - Casos clínicos

Não obstante, o “Frederico” nunca mais voltou a comparecer no CVEP,


desconhecendo-se o motivo. No entanto, o tratamento e a reparação de fraturas de casco em
quelónios pode ser um processo moroso e dispendioso para o proprietário e o animal. Sem o
acompanhamento veterinário necessário, o prognóstico pode ser bastante variável.
A osteomielite é comum em répteis podendo ser uma sequela de feridas contaminadas
por bactérias aeróbias/anaeróbias e/ou fungos (Raftery, 2011).

3.1.2.2. Revisão da literatura: Reconstrução cirúrgica de fraturas do casco em


tartarugas semiaquáticas
3.1.2.2.1. Anatomia e fisiologia do casco
O casco dos quelónios é composto por osso dérmico vivo fusionado e coberto por
epiderme queratinizada. Como tal, trata-se de uma estrutura suscetível a sensações e a dor.
Apresenta duas secções: uma superior dorsal denominada de carapaça e outra inferior ventral
mais achatada denominada de plastrão (Girling, 2003). Tanto a carapaça como o plastrão são
constituídos por placas denominadas por escudos (Imagem 14) (McArthur et al, 2004).

Imagem 14 - Identificação dos escudos do casco de um quelónio (Fonte: Girling, 2003).

A carapaça é composta pela fusão do osso dérmico, das costelas e das vértebras
torácicas e lombares (Girling, 2003). Não possuem esterno (McArthur et al, 2004).

24
Capítulo 3 - Casos clínicos

São adicionadas novas camadas de placas epidérmicas à medida que o quelónio vai
crescendo (o escudo cresce a partir da periferia). Estas placas são mudadas com maior
frequência ao longo da vida de espécies de tartarugas semiaquáticas, quando comparadas com
as espécies terrestres (McArthur et al, 2004).

3.1.2.2.2. Fratura do casco


As fraturas nos cascos das tartarugas são o resultado de um trauma, que pode ter
diferentes origens (Barten, 2006). As tartarugas semiaquáticas e terrestres são comumente
atropeladas por veículos automóveis ao atravessarem a estrada. Também os predadores,
principalmente os carnívoros, provocam danos ao atacar estes animais (Norton, 2005). Outras
causas de trauma incluem quedas, pisoteio, ou acidentes com máquinas de cortar a relva
(Barten,2006).
O casco das tartarugas tem uma grande capacidade de recuperação, tendo já sido
encontradas tartarugas selvagens na natureza com fraturas completamente cicatrizadas
(Barten, 2006).

3.1.2.2.3. Prognóstico
Geralmente, os casos que apresentam um excelente prognóstico compreendem as
fraturas estáveis, lineares, simples e fechadas, ou sem envolvimento da medula espinhal.
Também estão incluídos neste grupo as lesões ligeiras resultantes de abrasões ou de
mordeduras de cães (Fleming, 2014).
Um bom prognóstico envolve os casos em que se apresentam as fraturas múltiplas,
instáveis ou abertas. Pode haver perda de fragmentos de grandes dimensões desde que não
haja lesões dos tecidos moles adjacentes (Fleming, 2014).
Nas fraturas em que há a perda de fragmentos de grandes dimensões conjuntamente
com a penetração do celoma, o prognóstico de sobrevida continua a ser bom, no entanto, o
animal poderá ficar com lesões estruturais a nível do casco que poderão condicionar a sua
locomoção, como por exemplo as fraturas múltiplas que destabilizam a zona do ombro ou a
área pélvica (Fleming, 2014).
Nas fraturas em que os órgãos da cavidade celómica são atingidos, o prognóstico passa
a ser reservado. Tais incluem as lesões viscerais, a evisceração do intestino, e a presença de
material estranho na área afetada (Fleming, 2014). Também as lesões pulmonares podem
conduzir a pneumonia necrosante não responsiva ao tratamento (Barten, 2006).

25
Capítulo 3 - Casos clínicos

Finalmente, os casos classificados com um prognóstico mau abarcam as fraturas


múltiplas cominutivas, principalmente se mais de 30% dos fragmentos do casco estiverem
ausentes ou se não for possível estabilizar a fratura sem os mesmos (Fleming, 2008). As
lesões internas, da cabeça, ou da coluna vertebral que afetem a medula espinhal também
apresentam um mau prognóstico (Fleming, 2014). As lesões a nível da linha média dorsal da
carapaça podem provocar danos na medula espinhal com parésia e paralisia (Barten, 2006).
Outras complicações abrangem a desenervação da bexiga e do trato intestinal inferior,
dependendo do local da fratura (Fleming, 2014).

3.1.2.2.4. Reconstrução cirúrgica do casco


3.1.2.2.4.1. Epóxi e fibra de vidro
Na plastronotomia eletiva e em fraturas alinhadas, utiliza-se a combinação de resina
epóxi com a fibra de vidro para o encerramento da linha de fratura (Fleming, 2014).
A fibra de vidro ou a malha de alumínio usados na reparação de carros depois de
autoclavados, podem ser utilizados em fraturas para cobrir grandes defeitos. Pode ser
colocado antibiótico estéril no interior de pequenas fendas
(desde que não contacte com o celoma), evitando assim a
entrada do material para dentro do casco. Por outro lado,
pode ser usada a fita adesiva para proteger as áreas
adjacentes. (Hernandez-Divers, 2004).
A resina epóxi e o acrílico (Imagem 15) podem ser
Imagem 15 - Reconstrução da
aplicados em fraturas simples alinhadas, sem a fratura com acrílico num quelónio
(Fonte: Hernandez-Divers, 2004).
necessidade de conjugar com implantes metálicos
(Hernandez-Divers, 2004).
Deve evitar-se o contacto dos materiais de reparação com os tecidos moles ou o osso
vivo pois, apesar de se desconhecer o efeito sistémico da resina epóxi e da fibra de vidro,
suspeita-se que possam prejudicar o processo de cicatrização (Fleming, 2014).
Estes materiais promovem a imobilização e a impermeabilidade da fratura à água mas
também comprometem o crescimento normal do casco em juvenis, já que funcionam como
talas. Como tal, devem ser removidos logo que possível (Hernandez-Divers, 2004).
A resina epóxi e a fibra de vidro foram muito utilizados para a reparação de fraturas do
casco em quelónios (Barten, 2006; Wellehan, 2005). Não obstante, a utilização destes
materiais podem conduzir à infeção com consequente septicemia, se a ferida selada estiver

26
Capítulo 3 - Casos clínicos

contaminada (Wellehan, 2005; Fleming 2014). Os animais também podem desenvolver


osteomielite ou celulite devido à falta de drenagem dos exsudados e dos tecidos necróticos
(Barten, 2006). A remoção da resina também pode ser problemática ao exigir a utilização de
solventes possivelmente tóxicos, ou o recorte manual do material aderido intimamente ao
casco (Kishimori et al, 2001).
Como a sua utilização impede o correto maneio da lesão, têm sido selecionados outros
métodos de reconstrução cirúrgica como parafusos e arames cirúrgicos (Wellehan, 2005;
Fleming 2014).
Por outro lado, a massa epóxi, a cola de cianocrilato e a resina epóxi de dois
componentes têm sido utilizadas com sucesso em combinação com placas ósseas, pedaços de
metal planos, e abraçadeiras de Nylon para estabilizar fraturas do plastrão (Fleming, 2014).

3.1.2.2.4.2. Fixação ortopédica externa


A reconstrução cirúrgica recorrendo a material ortopédico como os parafusos, as
placas de ortopedia e os arames cirúrgicos podem ser utilizados em fraturas que necessitem de
estabilização, desde que a contaminação seja mínima e os defeitos não sejam significativos
(Barten, 2006; McArthur e Hernandez-Divers, 2004). Estes materiais permitem a fixação
rígida dos fragmentos e a drenagem adequada do local da fratura (Barten, 2006).
As fraturas do plastrão são melhores estabilizadas com placas ortopédicas (Imagem
16A), dado que em muitos casos o plastrão é liso (Fleming, 2008).
Os parafusos de aço são preferidos aos galvanizados já que estes últimos libertam
zinco a nível sistémico (Fleming, 2014).
A perfuração do casco deve ser realizada de modo a evitar o traumatismo dos órgãos
(McArthur e Hernandez-Divers, 2004). Demasiada pressão com o berbequim pode conduzir à
perfuração do celoma com consequente dano das estruturas internas. A colocação de fita-cola
na broca permite controlar a profundidade da mesma durante o procedimento. Para evitar a
necrose do tecido causada pelo aquecimento, pode ser utilizada uma solução salina estéril
para arrefecimento da broca (Fleming, 2014).

27
Capítulo 3 - Casos clínicos

O arame cirúrgico é enrolado à volta de cada par de parafusos numa figura em oito e o
nó é feito entre os dois. As extremidades livres são dobradas de encontro ao casco (Imagem
16B). Se tal não for possível, pode ser colocada massa epóxi nestas para proteção. Se os
arames forem apertados em excesso, poderão causar necrose por pressão (Fleming, 2014).
As cavilhas ortopédicas podem ser conformadas em
agrafos para o alinhamento de fraturas (Imagem 16C). Após a
redução da fratura, é perfurado um orifício em cada lado da linha
de fratura para inserir o agrafo. Quando todos os agrafos
estiverem posicionados, é colocada uma fita para proteção durante
24 a 48 horas. Posteriormente são recobertos por resina. Os
resíduos da resina são removidos juntamente com os agrafos no
final da recuperação do animal (Valiente, 2007).
Uma técnica barata e de fácil execução consiste na
combinação de um fio metálico (16 a 30 gauge de alumínio, latão
ou aço) com cola epóxi para construir pontes de metal que
atravessem a linha de fratura. Estes fios de metal são cortados em
tiras de 0,5 a 3 cm e coladas ao casco. As tiras são moldadas à
carapaça em forma de um arco para facilitar o tratamento da ferida
por baixo do fixador externo. Já no plastrão, as pontes devem ser
construídas de forma a não interferir com a locomoção normal do
animal (Barten, 2006).
Apesar das articulações não poderem ser imobilizadas na
sua totalidade, estas devem ser suficientemente estabilizadas, de
modo a que a musculatura potente não provoque o deslocamento
Imagem 16 - Reconstrução
dos fragmentos (McArthur e Hernandez-Divers, 2004). cirúrgica com: A – placas
O local da fratura deve ser inspecionado com frequência ortopédicas a Terrapene
carolina carolina; B -
para evitar a acumulação de material estranho e detetar o arames cirúrgicos a
Pseudemys nelsoni; C –
aparecimento de infeções (McArthur e Hernandez-Divers, 2004). agrafos de cavilhas
intramedulares a Testudo
O material cirúrgico também necessita de manutenção: os arames hermanni (Fonte: A -
Kishimori et al, 2001; B -
podem precisar de ser apertados e os parafusos soltos devem ser Fleming, 2008; C –
substituídos (Fleming, 2014). Valiente, 2007).

Após a remoção definitiva do material de fixação externo, os orifícios são lavados com
solução salina. Posteriormente, estes orifícios são preenchidos com sulfadiazina de prata para

28
Capítulo 3 - Casos clínicos

evitar a contaminação patogénica da cavidade celómica (Fleming, 2014), ou protegidos com


uma fita protetora, como por exemplo o Durapore®, 3M (McArthur e Hernandez-Divers,
2004).

3.1.2.2.4.3. Abraçadeira de Nylon


Alguns tipos de fraturas podem ser reparadas recorrendo a uma nova técnica que não
danifica o casco e, permite a monitorização e limpeza da lesão (Forrester e Satta, 2005).
O procedimento é rápido e pouco stressante para o animal. Outra vantagem da
utilização deste método prende-se na facilidade de aquisição dos materiais necessários e no
seu baixo preço (Forrester e Satta, 2005).
Após o alinhamento da fratura, as abraçadeiras de Nylon são usadas para estabilizar os
fragmentos e prevenir o seu movimento (Barten, 2005).
As selas de montagem são coladas com supercola, epóxi ou ambas a cada lado da
fratura (Imagem 17A) (Barten, 2006; Forrester e Satta, 2005). Ambas as selas são
atravessadas por uma abraçadeira de Nylon (Barten, 2006). Uma segunda abraçadeira é
inserida na extremidade da primeira (Forrester e Satta, 2005). De seguida, as abraçadeiras são
apertadas manualmente ou recorrendo a um alicate para corte e fixação de abraçadeiras de
Nylon, até obter uma boa compressão no local da fratura (Imagem 17B) (Barten, 2005). O
excesso é cortado (Imagem 17 C).

Imagem 17 - Reconstrução de uma fractura com as abraçadeiras de Nylon a Chelydra serpentina: A –


colagem das selas de montagem; B – Aperto das abraçadeiras de Nylon com um alicate; C –
Resultado final (Fonte: Forrester e Satta, 2005).

Após cicatrização, as selas são removidas com uma ferramenta plana, como uma
espátula ou uma faca (Forrester e Satta, 2005).
Esta técnica é menos invasiva para o animal mas, geralmente não promove tanta
estabilização quando comparada com a utilização combinada de parafusos e arames (Fleming,
2014).

29
Capítulo 3 - Casos clínicos

Na ausência das selas de montagem ou dum alicate para corte e fixação de


abraçadeiras, podem ser combinados uns ganchos de alumínio com uma pistola de cola
(Imagem 18) (Lloyd, 2007).

Imagem 18 – Reconstrução cirúrgica de uma


fratura com ganchos e abraçadeiras de Nylon
a Testudo graeca: duas abraçadeiras de
Nylon comuns (pretas) foram utilizadas para
reduzir a fratura dorsoventral, enquanto que
para conseguir a redução da fratura
craniocaudal foi necessário recorrer a uma
abraçadeira de Nylon mais resistente (branca)
(Fonte: Lloyd, 2007).

3.1.2.2.4.4. Prótese
Uma prótese pode ser construída para cobrir os defeitos de grandes dimensões em
fraturas de casco. Para além de proteger os tecidos adjacentes, permite também o crescimento
de osso novo.
Em primeiro lugar, é necessário escolher um molde que se adapte ao tamanho do
animal. Estes moldes são previamente construídos com fibra de vidro poliéster a partir do
casco de outros quelónios.
De seguida, uma nova camada é fabricada com o mesmo material através da impressão
negativa do defeito (Imagem 19A e 19B). Este procedimento garante uma melhor adesão da
prótese ao casco.
Finalmente, a prótese é desinfetada e colada ao casco (Imagem 19C).

Imagem 19 – Reconstrução cirúrgica da fratura da carapaça a Testudo hermanni: A – Lesão; B – Molde do


defeito; C – Colagem do molde pintado à carapaça (Fonte: A,B,C - Valiente, 2007).

30
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.1.2.2.4.5. Outros materiais: Orthoplast®, Vet-lite® e VTP™


Foi descrita a utilização de um gesso concebido a partir de Orthoplast® para a
reconstrução cirúrgica do casco de uma tartaruga de pequenas dimensões que apresentava
lesões extensivas no mesmo (Imagem 20A).
Já num animal que apresentava fraturas múltiplas entre a carapaça e a ponte, optou-se
pela combinação de um único arame cirúrgico entre os escudos marginais e a aplicação de um
material termoplástico (Vet-lite®) (Imagem 20B). Este material foi aquecido previamente
com um secador, para conseguir o efeito maleável e adesivo desejado.
Finalmente também está descrito a utilização de um “capacete” propositadamente
desenhado para proteger um defeito de grandes dimensões na carapaça. Neste caso, o animal
apresentava uma fratura cominutiva a nível da coluna vertebral. Em primeiro lugar, foram
colados quatro parafusos de plástico no casco perfazendo um quadrado. De seguida, foi criada
uma “tenda” com material termo-moldável (VTP™). Finalmente, a “tenda” foi perfurada para
encaixar nos parafusos, e segura com as respetivas porcas (Imagem 20C).

Imagem 20 – Reconstrução cirúrgica de fraturas recorrendo a: A – Gesso de Ortoplast® em Sternotherus


odoratus ; B – Vet-lite® em Trachemys scripta; C – Material termo-moldável em Trachemys scripta scripta
(Fonte: A,B,C - Kishimori, 2001).

3.1.2.2.5. Fechamento assistido a vácuo - Pressão negativa controlada


A VAC ou “vacum assisted closure” é uma técnica que tem sido aplicada com sucesso
em quelónios para acelerar o processo de cicatrização (Barten, 2006).
Foi desenvolvida em medicina humana e recentemente tem sido aplicada em outros
mamíferos. O uso da pressão negativa controlada apresenta uma redução do tempo de
cicatrização quando comparada com a utilização dos pensos “wet-to-dry” (Wellehan, 2005).
Particularmente nos quelónios, esta técnica torna-se atrativa, pois previne a separação
entre os tecidos moles e o casco. Como são animais calmos, não costumam provocar o
enrolamento e a formação de nós na mangueira. A rigidez do casco também facilita o
posicionamento do penso. (Wellehan, 2005).

31
Capítulo 3 - Casos clínicos

Esta terapia pode ser aplicada quando há ausência de fragmentos ou em combinação


com a reconstrução cirúrgica, sendo ideal em fraturas traumáticas de grandes dimensões ou
em casos que tenha sido diagnosticado osteomielite (Fleming, 2008).
O sistema de fechamento assistido a vácuo favorece a cicatrização da lesão através: da
drenagem de fluídos, bactérias e outros fatores que inibem a formação do tecido de
granulação; da estimulação do
suprimento sanguíneo; da regressão
do edema; e da prevenção da
contaminação da ferida (Barten,
2006; Fleming, 2008).
Tratando-se de uma técnica
que funciona como coadjuvante no
tratamento de feridas, não dispensa a
implementação de um plano de
tratamento adequado a cada caso.
Imagem 21 – Fechamento assistido a vácuo a Caretta caretta
Após o desbridamento da (Fonte:
http://www.mysanantonio.com/news/local_news/article/KCI-
lesão, uma esponja de células helps-save-endangered-sea-turtle-1615760.php).
abertas estéril é cortada e moldada ao defeito (Barten, 2006; Wellehan 2005). Na esponja é
inserido um tubo de plástico flexível também estéril, que será posteriormente ligado a uma
bomba de sucção. Esta bomba estará programada para aplicar uma pressão negativa constante
de 100 a 125 mm Hg (Barten, 2006; Fleming, 2008; Wellehan, 2005). Posteriormente é
colocado um penso transparente adesivo de forma a cobrir e selar a esponja, a cânula de
aspiração e as margens da ferida, do exterior (Imagem 21) (Wellehan, 2005).
Durante o funcionamento do sistema, a esponja e o filme adesivo deverão contrair,
sendo imprescindível que a sucção se mantenha contínua. Se esta for interrompida ou se não
for possível selar a lesão na sua totalidade, o penso deverá ser removido para evitar a
proliferação de microrganismos (Wellehan, 2005).
O material que constitui o penso deve ser renovado diariamente numa fase inicial, e
consoante a evolução da lesão, a sua substituição pode ser espaçada para cada 2-5 dias
(Wellehan, 2005).
A duração do tratamento varia consoante cada caso, desde 5 dias a poucas semanas,
podendo prolongar-se por mais de 1 mês (Barten, 2006; Wellehan, 2005).

32
Capítulo 3 - Casos clínicos

As vantagens da utilização do sistema VAC incluem a redução do tempo de


cicatrização e o melhor aspeto cosmético da fratura. O custo inicial elevado para a aquisição
do equipamento e a necessidade de experiência por parte utilizador constituem as
desvantagens (Fleming, 2008).

3.2. CRAM-Q
3.2.1. Transfusão sanguínea em Caretta caretta
3.2.1.1. Relato do caso
A “Storm” é uma tartaruga marinha juvenil da espécie Caretta caretta que estava em
processo de reabilitação desde o dia 21 de janeiro de 2013, devido à presença de uma úlcera
na carapaça.
Em novembro de 2013, o estado geral do animal piorou, tendo sido a principal
suspeita uma possível septicemia. Ostentava uma atitude apática, anorexia (com regurgitação
após alimentação forçada), as mucosas pálidas e os olhos encovados.
Nas análises sanguíneas realizadas a dia 18 de novembro detetou-se ainda a presença
de anemia com o hematócrito de 11,86% e as proteínas totais de 3,4 g/dL.
Após a avaliação exaustiva do caso e, como complemento aos tratamentos efetuados
na “Storm”, optou-se por realizar uma transfusão
sanguínea com sangue inteiro. Este sangue foi colhido da
“Pseudo” (Imagem 22), uma tartaruga marinha da mesma
espécie da “Storm”.
A “Pseudo” fora transferida do oceanário para o
CRAM-Q no dia 29 de julho de 2013, para o tratamento
de uma infeção ocular bilateral causada por Pseudomonas Imagem 22 - Dador: Tartaruga-
boba “Pseudo” (Fonte: Foto
sp.. gentilmente cedida pelo CRAM-
Q).
Apesar de ter tido história de infeção recente, o
animal apresentava-se saudável e, como não havia mais nenhum candidato disponível, foi o
escolhido para dador. As análises sanguíneas realizadas na “Pseudo” indicaram os valores de
hematócrito de 33% e de proteínas totais de 5 g/dL.
Realizou-se a prova cruzada pelo método rápido da técnica em lâmina de microscopia
entre o dador e recetor. O protocolo utilizado foi o mesmo do rotineiramente usado em cães e

33
Capítulo 3 - Casos clínicos

gatos, com a exceção de que o anticoagulante utilizado foi a heparina. O resultado do teste
deu negativo com ausência de aglutinação.
Os cálculos efetuados para a transfusão sanguínea foram os seguintes:

 Volume de transfusão = 1,310 (Kg) × 10 × (30% –11,86%) ÷ 33% = 7,20 mL

Arredondou-se o volume de sangue inteiro a ser transferido para os 10 mL, uma vez
que se optou por utilizar um índice inferior ao correspondente dos répteis (o fator de espécie
para tartarugas marinhas é desconhecido).
Foi colhido 10 mL de sangue do
dador (ter-se-ia podido recolher até 172
mL (0,01 × 17200 g ÷ 1 = 172 mL) já que
a “Pseudo” pesava 17,2 Kg).
O anticoagulante utilizado foi a
heparina, optando-se por usar a razão de
7,5 UI de heparina para cada mL de
sangue inteiro, ou seja, 75 UI para os 10
Imagem 23 - Transfusão sanguínea na “Storm” (Fonte:
mL de sangue. Como a solução injetável Foto gentilmente cedida pelo CRAM-Q).

de heparina sódica continha 25000UI/5mL e a quantidade necessária era muito pequena (75
UI × 5mL ÷ 25000 UI = 0,015 mL), fez-se uma diluição com NaCl 0,9%. Com uma diluição
de 0,5 mL de heparina em 20 mL de NaCl, a nova solução passou a conter 2500 UI de
heparina (25000 UI × 0,5mL ÷ 5 mL = 2500 UI). O volume utilizado desta nova solução foi
de 0,6 mL (75 UI × 20mL ÷ 2500 = 0,6 mL) que foi misturado com o sangue inteiro
recolhido, até perfazer os 10 mL.
Antes do procedimento, administrou-se 0,1 mg/Kg IM de dexametasona na “Storm”,
como forma de prevenção a uma possível reação adversa à transfusão.
A zona dorsal da cabeça foi desinfetada com Betadine® topicamente, e o seio cervical
dorsal foi puncionado com uma agulha do tipo “butterfly” 21 G. Exerceu-se sucção com a
seringa até o sangue da “Storm” presente no tubo do tipo “butterfly” se misturar com o sangue
da seringa, removendo assim as bolhas de ar presentes. O sangue presente na seringa foi
administrado manualmente de forma lenta (Imagem 23). O animal ficou ainda sob observação
atenta ao longo do dia, sem sofrer complicações.

34
Capítulo 3 - Casos clínicos

Uma nova colheita de sangue foi realizada à “Storm” no dia 21 de novembro de 2013.
Os resultados das análises mostraram os valores
de Ht 15,95 % e PT 3,8 g/dL.
Dado que a transfusão sanguínea fora
bem-sucedida, esta foi repetida novamente após
10 dias com sucesso.
A “Storm” continuou em reabilitação e
em março de 2014 estava mais ativa, aumentara
de peso, as mucosas apresentavam-se mais
rosadas e os olhos já não tinham uma aparência Imagem 24 - Tartaruga boba “Storm” em
março (Fonte: Foto gentilmente cedida pelo
tão encovada (Imagem 24). Também já se CRAM-Q).

alimentava sozinha e, a úlcera presente na carapaça, estava a evoluir positivamente.


No dia 4 de setembro de 2014, as tartarugas-bobas “Storm” e “Pseudo” foram
devolvidas à Natureza, após conclusão positiva do seu processo de reabilitação.

3.2.1.2. Revisão da literatura: Técnica de transfusão sanguínea em tartarugas


marinhas
3.2.1.2.1. Indicação para transfusão
Embora seja praticável e de fácil execução, há pouca informação relativa às
transfusões sanguíneas de sangue inteiro em répteis para que seja possível definir um
protocolo definitivo (Mader e Rudloff, 2006).
A indicação para a transfusão de sangue é determinada pelo estado clínico do animal e
pela presença de anemia. Os sinais clínicos que corroboram a necessidade de realizar uma
transfusão sanguínea incluem a taquipneia, a taquicardia, a hipoxia e a hipovolémia. Os
animais que apresentam uma anemia aguda têm prioridade na receção de sangue
comparativamente com aqueles que apresentem uma anemia crónica (Schumacher, 2008).
Os valores normais são variáveis em répteis com hematócrito de 20 a 40% e proteínas
totais entre 3 a 8 g/dL. Nas tartarugas marinhas Caretta caretta estes variam entre Ht 22 ±
5,33 % e PT 2 ± 0,8 g/dL (Wyneken et al, 2006). Considera-se que uma tartaruga marinha
tenha anemia quando o valor do hematócrito é inferior a 25% (Nelson, 2014).
Regra geral, quando o hematócrito de um animal se encontra entre os 15% e 20%, é
considerada a possibilidade de se realizar uma transfusão sanguínea (Schumacher, 2008).

35
Capítulo 3 - Casos clínicos

Mais especificamente nos quelónios, não é comum ser necessário realizar uma
transfusão sanguínea. No entanto, as razões para o fazer podem incluir hemorragia aguda ou
anemia com risco de vida para o animal de outra origem (Wilkinson, 2004).
Uma vez que os eritrócitos dos répteis são nucleados, a avaliação laboratorial de
anemia é limitada. Como tal, só pode ser analisada por métodos manuais, o que consegue ser
considerado um obstáculo (Nelson et al, 2014). Suspeita-se que a anemia tenha uma origem
multi-fatorial nas tartarugas marinhas (Nelson et al, 2014).

3.2.1.2.2. Recetor
Antes de se efetuar uma transfusão sanguínea, o animal deve ser sujeito a um exame
do estado geral com identificação da doença em causa. A determinação do tipo de anemia
presente é feita através da colheita de sangue venoso para a hematologia e a bioquímica. No
mínimo, devem ser avaliados os parâmetros correspondentes ao hematócrito e às proteínas
totais do recetor (Schumacher, 2008).

3.2.1.2.3. Dador
O dador deve ser saudável, livre de doenças e, pertencer à mesma espécie. O estado
hígido do animal é determinado por um exame físico completo, umas análises sanguíneas
(hematologia e bioquímica sérica) e um exame fecal (esfregaço de fezes) (Schumacher, 2008).
Até 1% do peso corporal pode ser recolhido de uma tartaruga marinha saudável. A colheita de
uma quantidade superior pode conduzir à hipovolemia iatrogénica (Moon e Foerster, 2001;
Mader e Rudloff, 2006).

3.2.1.2.4. Contenção e captura


As luzes brilhantes, os ruídos, e os movimentos bruscos devem ser evitados para
minimizar o stress na manipulação de tartarugas marinhas. Pode ser colocada uma toalha
húmida sobre os olhos para obscurecer o campo de visão, tendo em atenção para não cobrir as
narinas ou a boca (Hulst, 2000).
As tartarugas marinhas podem provocar lesões através da mordedura ou do
movimento brusco das barbatanas, sendo necessária precaução por parte do manipulador
durante a contenção (Wyneken et al, 2006). Há uma pequena zona de pele elástica na borda
cranial da carapaça atrás do pescoço que permite ao manipulador segurar a carapaça com uma
mão, enquanto a outra mão se posiciona na zona caudal da carapaça acima da cauda (Imagem

36
Capítulo 3 - Casos clínicos

25) (Hulst, 2000). Esta técnica é utilizada no CRAM-Q para contenção e transporte, sendo
este último utilizado exclusivamente nos
animais leves e de pequeno porte.
Pode ser necessário até quatro
indivíduos para elevar os animais de maiores
dimensões. Um par segura de cada lado nas
barbatanas dianteiras o mais proximal possível
acima do carpo, enquanto o outro par segura
na carapaça a nível da fossa inguinal. As
tartarugas pequenas geralmente são contidas Imagem 25 - Contenção de uma tartaruga marinha
(Fonte:
por uma única pessoa sem grandes http://www.institutobotocinza.org/2011_02_01_arc
dificuldades (Hulst, 2000). hive.html).

Para as tartarugas marinhas que se encontrem dentro de água, a abordagem é feita


lateralmente ou caudalmente ao animal, sendo a sua captura concretizada ao agarrar a
carapaça atrás de ambas as barbatanas posteriores (Moon e Foerster, 2001). O manipulador
pode utilizar uma vara para desviar a cabeça do animal. Outra hipótese será a utilização de
uma rede para a captura, no entanto, é necessário tomar as devidas precauções para evitar o
afogamento ou o dano nas barbatanas do quelónio (Hulst, 2000).

3.2.1.2.5. Acesso para recolha e transfusão de sangue


O acesso venoso mais utilizado nas tartarugas marinhas é o seio cervical dorsal, sendo
ideal para todo o tipo de espécies e tamanhos. Este par de seios paralelos atravessam o
pescoço dorsalmente desde a borda cranial da carapaça até à porção posterior da cabeça
(Owens, 1999; Hulst, 2000). Dependendo do tamanho do animal, estes vasos estarão
posicionados a uma distância de 0,5 a 3 cm lateralmente à linha média, ou seja,
aproximadamente a 1/3 de distância a partir da linha média até ao limite lateral do pescoço. A
profundidade do vaso também varia consoante as espécies (Hulst, 2000).
A tartaruga é posicionada numa superfície inclinada com a cabeça ligeiramente abaixo
do corpo, de modo a ingurgitar os seios (FitzSimmons et al, 1999). Posteriormente, a cabeça e
o pescoço são extendidos cranialmente e fletidos ventralmente (Hulst, 2000).
A pele é desinfetada com álcool ou outro antiséptico (Owens, 1999). Geralmente é
utilizada uma agulha de 20 a 22 G e de 1 a 1,5 polegadas (Wyneken et al, 2006). Esta é
inserida perpendicularmente à pele num ângulo de 90º, lateralmente à da linha média a uma

37
Capítulo 3 - Casos clínicos

distância de 1/3 a ½ desde a borda da carapaça até à porção posterior da cabeça (Imagem 26)
(Owens, 1999; Hulst, 2000). Se o procedimento a realizar for de curta duração, pode ser
utilizado um cateter do tipo “butterfly” (Schumacher, 2008).
Após a punção da pele, aplica-se sucção e movimenta-se a agulha lentamente para
cima e para baixo até localizar o seio
(Owens, 1999).
Outros acessos comuns incluem:
o seio supravertebral na linha média do
pescoço dorsal, caudalmente ao processo
supraoccipital; a veia dorsal da cauda na
linha média dorsal da cauda, em
tartarugas de maiores dimensões; e a veia
jugular que se localiza
paravertebralmente numa posição que Imagem 26 - Recolha de sangue do seio cervical dorsal
de uma tartaruga marinha (Fonte: Wyneken et al,
corresponde à 1 ou às 11 horas no 2006).

pescoço (sendo as 12 horas dorsal e as 6 horas ventral), entre o par de músculos suspensores
(Hulst, 2000; Wyneken et al, 2006).
Os acessos intravenosos utilizados para a recolha de sangue também podem ser usados
para a realização de uma transfusão sanguínea. Outra via para a administração será a
intraóssea (Schumacher, 2008).

3.2.1.2.6. Cross-matching
O cross-matching não é realizado rotineiramente (Schumacher, 2008), mas pode ser
feito um teste rápido recorrendo à técnica em lâmina de microscopia (Imagem 27 e 28),
principalmente se já existir uma história prévia de transfusões sanguíneas (Mader e Rudloff,
2006).

Imagem 27 - Prova cruzada negativa do Imagem 28 - Prova cruzada positiva do


teste rápido com a técnica em lâmina de teste rápido com a técnica em lâmina de
microscopia em felídeos (Fonte: Abrams- microscopia em felídeos (Fonte: Abrams-
Ogg, 2000). Ogg, 2000). 38
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.2.1.2.7. Anticoagulantes
O anticoagulante mais empregado para a recolha de sangue do dador é a heparina
sendo recomendado 5 a 10 UI/mL de sangue. A solução de citrato contendo ácido-citrato-
dextrose (ACD) e sangue num rácio 1:9 também pode ser utilizada (Schumacher, 2008).
O ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) provoca a lise das células sanguíneas em
quelónios e, como tal, não deve ser usado (Owens, 1999; Wyneken et al, 2006).

3.2.1.2.8. Manipulação do sangue


Apesar da viabilidade dos eritrócitos dos répteis ser desconhecida no sangue
armazenado, aconselha-se a utilização do sangue colhido do dador num período de tempo
inferior a 6 horas. A viabilidade decresce com o prolongamento do armazenamento, e a
heparina não possui propriedades conservantes como anticoagulante. O sangue é refrigerado
durante o armazenamento, sendo posteriormente aquecido lentamente até os 25ºC a 30º C
antes da administração (Schumacher, 2008).

3.2.1.2.9. Filtro
Como um grande número das transfusões sanguíneas nos répteis são administradas
através do uso de uma seringa, é recomendado a utilização de um filtro “in line” com
dimensão dos poros a 80µm. O objetivo é prevenir a inserção de coágulos de sangue e detritos
celulares no recetor (Schumacher, 2008). Já o filtro standard “MILLIPORE”, pode impedir a
passagem dos eritrócitos de grandes dimensões dos répteis (Mader e Rudloff, 2006).
O sangue inteiro deve ser administrado através de um cateter IV largo de modo a
prevenir a hemólise dos eritrócitos e a agregação plaquetária (Schumacher, 2008).

3.2.1.2.10. Quantidade de sangue a transferir


Os princípios utilizados em animais de companhia também podem ser aplicados nos
répteis (Schumacher, 2008).
O volume de sangue a transferir pode ser calculado pela seguinte fórmula (Abrams-Ogg,
2000):

 Volume de sangue a transferir = Peso corporal (Kg) × fator da espécie × (ht (%)
desejado – ht (%) do recetor) ÷ ht (%) do dador com anticoagulante

39
Capítulo 3 - Casos clínicos

O volume de sangue total nos répteis é aproximadamente de 8% do seu peso corporal


e como tal, o fator da espécie que é representado pelo volume de sangue médio, será de 80
mL de sangue/Kg de peso corporal (Schumacher, 2008).
Em caso de choque, o fluxo de fluídos recebidos pode atingir os 20 mL/Kg/hora. No
entanto, é recomendado uma infusão de 5 a 10 mL/Kg/hora nos restantes animais
(Schumacher, 2008).

3.2.1.2.11. Evolução
Se a transfusão for bem-sucedida, o animal apresentará uma melhoria da força em
geral, da qualidade do pulso, da cor das membranas mucosas e do hematócrito duas horas
após a administração. Nas situações em que tal não se verifique, como por exemplo em perdas
de sangue contínua, na hematopoiese diminuída ou na presença de hemólise, devem ser
continuadas as medidas de diagnóstico para a determinação da causa do problema
(Schumacher, 2008).

3.2.1.2.12. Complicações e a sua prevenção


As complicações nas transfusões sanguíneas estão geralmente associadas ao maneio, à
colheita e ao armazenamento inadequado do sangue (Schumacher, 2008).
Os animais podem apresentar reações adversas pouco tempo após a transfusão, sendo
mais comum nos que já foram sensibilizados a este tipo de
procedimento. Os sinais clínicos incluem edema, hipotensão
e hemólise intravascular ou extravascular. Nesta situação a
transfusão deve ser imediatamente interrompida, seguida da
administração de uma dose imunossupressora de
corticosteróides de curta duração. Em casos agudos,
independentemente do animal apresentar uma reação
imunológica ou não imunológica, os sinais clínicos podem
apresentar-se como tremores, choque, e colapso.
Estes surgirão pouco tempo após o início da Imagem 29 - Oxyglobin ® Biopure:
hemoglobina bovina purificada (Fonte:
transfusão (Schumacher, 2008). Contudo, os répteis http://www.veterinarypracticenews.com/w
eb-exclusives/oxyglobin-buys-time-while-
não parecem ser propensos a reações anafiláticas awaiting-blood.aspx).
(Wilkinson, 2004).

40
Capítulo 3 - Casos clínicos

A administração de um grande volume de fluidos nos répteis de pequenas dimensões


pode provocar uma sobrecarga circulatória conduzindo à dispneia, à taquicardia ou mesmo à
morte do animal (Schumacher, 2008). Estes sinais são de difícil deteção em quelónios
(Wilkinson, 2004).
As doenças víricas são comuns e potencialmente fatais, no entanto ainda não existe
tecnologia fiável para testar os dadores (Wilkinson, 2004).
Em alternativa ao sangue inteiro, já se discute a possibilidade de se usar a
hemoglobina bovina purificada (Imagem 29), um potente colóide com capacidade de
transportar oxigénio (Wilkinson, 2004).

3.2.2. Infeção parasitária por anisaquídeos em Halichoerus grypus


3.2.2.1. Relato do caso
No dia 19 de janeiro de 2014, o CRAM-Q foi recolher uma foca cinzenta (Imagem 30)
que arrojara na praia do Baleal em
Peniche.
Um pinípede saudável afastar-
se-á ou entrará dentro de água se
alguém tentar aproximar-se. Se tal não
ocorrer, o animal: está habituado a
lidar com o ser humano; é uma cria
ainda ingénua; ou está encalhado e
necessita de ser socorrido (Geraci,
2000). Imagem 30 - Foca cinzenta “Baleal” (Fonte: Foto
gentilmente cedida pelo CRAM-Q).
Após avaliação da situação,
chegou-se à conclusão de que o estado hígido do animal se apresentava deteriorado e como
tal, necessitava de ser devidamente observado numa instituição própria para a reabilitação de
animais marinhos. Para a captura do animal recorreu-se à utilização de uma rede caça focas e,
para o transporte, a uma caixa de contenção constituída por verga adequada à dimensão do
animal.
Já no CRAM-Q, um exame físico mais pormenorizado permitiu identificar o animal
como sendo uma foca fêmea juvenil, ligeiramente magra e com um peso corporal de 24 Kg.

41
Capítulo 3 - Casos clínicos

Apresentava pequenas lesões no focinho e no dorso. Da boca do animal emanava um odor


pútrido. Apesar de alerta, mostrava-se relutante ao movimento.
Procedeu-se à alimentação forçada com peixe inteiro devido à anorexia e à má
nutrição. Logo nos primeiros dias foi
evidente a presença de obstipação com
tenesmo e dor.
Nos exames complementares
realizados no dia 20 de janeiro, o raio-X
mostrou apenas a presença de uma grande
quantidade de fezes e gases no intestino
(Imagem 31), e as análises sanguíneas
indicaram a presença de leucocitose (21,5
× 10^3 µ/L) como a alteração mais
Imagem 31 - Raio-X do abdómen lateral da “Baleal”
evidente, sendo sugestivo de infeção e/ou (Fonte: Raio-X gentilmente cedido pelo CRAM-Q).

inflamação. Outras alterações ligeiras incluíram a diminuição da hemoglobina (16,7 g/dL), a


trombocitose (879 × 10^3 µ/L) e a hiponatremia (144 mEQ/L) (Anexo 2, Tabela 13).
A recolha de sangue nestes animais é feita na veia epidural caudal ou nas veias
interdigitais da barbatana caudal (Imagem 32) (Bossart et al, 2001).

Imagem 32 - Acesso venoso para colheita de sangue na Phoca vitulina (Fonte: Bossart et al, 2001).
Para colher sangue a partir da veia epidural, a agulha é inserida perpendicularmente à
linha média do animal, entre as vértebras lombares L3-L4 (as vértebras são contadas no
sentido caudo-cranial a partir da crista ilíaca). As veias interdigitais plantares são puncionadas
num ângulo de 10º-20º à pele, diretamente sobre o 2º dedo ou medialmente ao 4º dedo na
origem da membrana interdigital (Guland et al, 2001).

42
Capítulo 3 - Casos clínicos

No dia 21 de janeiro começaram a ser feitas hidratações orais à “Baleal” com


Duphalyte®, parafina (1 ml/Kg PO SID) e água (podem ser administrados entre 0,5-1 L de
fluídos orais BID-QUID (Walsh e Gearhart, 2001)), e enemas de parafina misturada ora com
NaCl 0,9 %, ora com Betadine® e água. Iniciou-se a terapêutica com 5 mg/Kg IM SID de
enrofloxacina durante 7 dias e 0,4 mg/Kg IM TID de metoclopramida durante 7 dias (como
não há dose descrita de metoclopramida na literatura, optou-se por fazer uma extrapolação das
doses utilizadas em canídeos). Também foi administrado uma dose única de 4 mg/Kg IM SID
de carprofeno.
As administrações intramusculares podem ser dadas nos músculos da pélvis, do lombo
e da tíbia, sendo importante a utilização de agulhas compridas que consigam atravessar a
grossa camada de gordura presente nos
focídeos (Gulland et al, 2001).
Como o animal não mostrou
melhorias, procedeu-se à execução de
uma endoscopia digestiva alta e de
uma colonoscopia no dia 22 de janeiro.
Foi administrado como pré-medicação
0,5 mg/Kg de midazolam e 0,05 mg/Kg Imagem 33 – Intubação endotraqueal da “Baleal” (Fonte:
Foto gentilmente cedida pelo CRAM-Q).
de butorfanol, ambas IM, sendo a
indução e manutenção da anestesia feita com isoflurano (Imagem 33). Os exames permitiram
visualizar a presença de uma grande quantidade de parasitas da família Anisakidae, assim
como de pequenas úlceras a nível do esófago e do
estômago. Alguns destes parasitas foram removidos
com uma pinça de corpos estranhos (Imagem 34).
Foi efetuada uma numa nova colheita de
sangue, em que os resultado das análises sanguíneas
demostraram ainda a presença de trombocitose (876
× 10^3 µ/L), de hiponatremia (140 mEQ/L) e da
diminuição da hemoglobina (16,8 g/dL). Já a Imagem 34 – Anisaquídeos (Fonte: Foto
3 gentilmente cedida pelo CRAM-Q).
contagem leucocitária (14,37 × 10^ µ/L)
encontrava-se dentro dos parâmetros normais (Anexo 2, Tabela 13).
A infeção parasitária permite justificar as alterações sanguíneas observadas: a
trombocitose pode estar associada ao processo inflamatório adjacente; a destruição tecidular

43
Capítulo 3 - Casos clínicos

provocada pelos parasitas no sistema digestivo com consequente perda de sangue provocou a
diminuição da hemoglobina; a leucocitose resulta do processo inflamatório/infecioso
parasitário; e a hiponatremia pode ser justificada por um menor consumo de sódio na dieta.
Após recobro do animal, iniciou-se um protocolo de desparasitação com febendazol
PO SID (Tabela 2).

Tabela 2 - Tratamento antiparasitário aplicado na “Baleal”

Duração Dose princípio activo - Febendazol


1º dia 5 mg/Kg
2º dia 12,5 mg/Kg
3ºdia 25 mg/Kg
4º - 7º dia 50 mg/Kg

Devido à elevada carga parasitária tornou-se necessário proceder a uma desparasitação


gradual, para que a morte e a eliminação dos parasitas seja lenta, evitando assim o risco de
ocorrer uma obstrução ou mesmo uma reação anafilática.
As hidratações por via oral continuaram ainda no dia 23 de janeiro com água e
Redrate® e, no final do dia, o animal fez fezes e começou a comer por iniciativa própria.
As hidratações orais na foca foram realizadas por toda uma equipa experiente e
devidamente coordenada. Para intubar um focídeo segue-se a seguinte metodologia: o animal
é contido com uma a duas pessoas sobre o animal; a cabeça é segura com ambas as mãos em
redor do pescoço, esticando-os ligeiramente para cima. Para a abertura da boca, a pessoa
responsável por conter a cabeça do animal exerce pressão na articulação temporo-mandibular
com os dedos indicadores. Um pequeno tubo de plástico resistente é revestido por Vetrap e
colocado na boca do pinípede de forma a evitar que este morda a sonda. De seguida, uma
sonda transparente flexível (marcada com a distância desde o focinho até à última costela) é
inserida pelo tubo na boca do animal até atingir a marca presente na sonda, indicando que esta
se encontra no estômago. Para confirmar que a sonda não se encontra na traqueia, coloca-se o
ouvido na extremidade livre da sonda (não deverá sentir-se o ar expirado). Devido à grande
camada de gordura tipicamente presente nestes animais, não é possível sentir a sonda no
esófago por palpação externa.

44
Capítulo 3 - Casos clínicos

Para que a administração seja rápida e assim, menos stressante para o animal, outros
membros da equipa são encarregues
por voltar a encher e passar as
seringas com os fluídos
previamente aquecidos (Imagem
35).
Após a administração, a
extremidade livre da sonda é
dobrada antes da remoção para
evitar que algum líquido ainda
presente no seu interior escorra
para a traqueia/pulmões, aquando Imagem 35 – Hidratação oral da “Baleal” (Fonte: Foto
gentilmente cedida pelo CRAM-Q).
da remoção do tubo.
Uma vez que a foca começara a alimentar-se sozinha, passou a administrar-se a
enrofloxacina e a metoclopramida por via oral. Os comprimidos eram colocados no peixe
juntamente com complexos vitamínicos (1
comprimido de AQUAVITS PO SID (Imagem
36)) e sal (1 grama de sal por cada kg de peixe).
Inicialmente, apenas era dado uma pequena
quantidade de alimento para a restauração do
equilíbrio gastrointestinal, aumentando
progressivamente à medida que o animal ia
Imagem 36 – Suplementos vitamínicos
melhorando (os pinípedes jovens podem consumir AQUAVITS (Fonte:
http://www.izvg.co.uk/productrange.html).
desde 8% a 15 % do seu peso corporal por dia
(Gulland et al, 2001)).
O animal continuou em processo de reabilitação no CRAM-Q atingindo 43 Kg de peso
vivo, tendo sido libertado no dia 15 de março de 2014 no norte da Europa.

45
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.2.2.2. Revisão da literatura: Infeção parasitária por anisaquídeos em pinípedes


3.2.2.2.1. Ciclo de vida
Os parasitas pertencentes à família Anisakidae apresentam um ciclo de vida
semelhante, sendo apenas variável o número de hospedeiros que parasitam (Nieuwenhuizen e
Lopata, 2013).
O hospedeiro definitivo liberta os ovos viáveis para o ambiente aquático através das
fezes (Bier, 1988). Os ovos tornam-se embrionados dentro de água, e a larva eclodida
continua o seu desenvolvimento ao ser ingerida por um ou vários hospedeiros intermediários
e/ou paraténicos. Finalmente, os hospedeiros definitivos são infetados ao ingerirem os
animais portadores da forma larvar infetante (McClelland, 2005). As larvas crescem e
maduram para adultos no trato gastrointestinal, com posterior produção de ovos pela fêmea
(Bier, 1988). A infeção no Homem é acidental, ocorrendo rutura do ciclo de vida do parasita
(Imagem 37) (Nieuwenhuizen e Lopata, 2013).

Imagem 37 - Ciclo de vida de um


anisaquídeo: Anisakis simplex
(Fonte: Nieuwenhuizen e Lopata,
2013).

3.2.2.2.2. Espécies afectadas


A família Anisakidae está associada principalmente a organismos aquáticos e a aves
piscívoras (Andersen, 2000). Assim, parasitam os mamíferos marinhos, os peixes, os
invertebrados aquáticos, as aves, os répteis e acidentalmente o ser humano (Gosling, 2005).

46
Capítulo 3 - Casos clínicos

No que toca aos pinípedes, o nematode mais frequente pertence à família Anisakidae,
parasitando o estômago e duodeno destes animais (Raga et al, 2005).
Os pinípedes são os hospedeiros definitivos de parasitas dos géneros como
Pseudoterranova e Phocascaris. O género Contracaecum surge nos otariídeos e nos focídeos;
já o Anisakis simplex pode amadurecer nos focídeos, particularmente na foca cinzenta (Raga
et al, 2005).

3.2.2.2.3. Sinais clínicos


A carga parasitária de anisaquídeos presente no trato gastrointestinal dos pinípedes
pode ser elevada e mesmo assim não apresentar
efeitos nocivos para o ser vivo. Não obstante, estes
parasitas podem formar granulomas no local de
fixação (Imagem 38) causando irritação local,
desidratação, anemia, gastrite, ulceração gástrica,
enterite e diarreia (Dailey, 2001). Pode ocorrer
Imagem 38 - Nematodes (possivelmente)
também perfuração intestinal com consequente do género Contracaecum aderidos à
mucosa gástrica de Pagophilus
peritonite e morte (McClelland, 2005). groenlandicus (Fonte: Vlasman e
As lesões gástricas estão possivelmente Campbell 2003).

associadas à ação mecânica do parasita e, à secreção de alérgenos por parte do próprio


organismo (Dailey, 2001).

3.2.2.2.4. Diagnóstico definitivo


O diagnóstico definitivo é feito pela visualização de ovos de anisaquídeos (Imagem 39
e 40) nas fezes (Dailey, 2001).

Imagem 39 - Ovo de Anisakis sp. (Fonte: Imagem 40 - Ovo de Contracaecum (Fonte:


Dailey, 2001). Dailey, 2001).

47
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.2.2.2.5. Tratamento
Os desparasitantes utilizados no Homem também poderão muito provavelmente ser
aplicados nos mamíferos marinhos. No entanto, o efeito nestes animais poderá divergir
quando comparada com a do ser humano. Apesar de já terem sido usados vários anti-
helmínticos em mamíferos marinhos, poucos foram testados para determinar a sua eficácia na
remoção de parasitas. Alguns fármacos têm efeitos secundários graves que podem causar a
morte. Além disso, como a resposta inflamatória do hospedeiro à presença de parasitas mortos
pode ser superior à reação aos parasitas vivos, o tratamento pode agravar os sinais clínicos
(Dailey, 2001).
O febendazol e a ivermectina têm sido utilizados com sucesso contra os nematodes
(Dailey, 2001). Outros anti-helmínticos utilizados para o tratamento de nematodes
gastrointestinais incluem os diclorvos orais (30mg/Kg) e o mebendazol (Stoskpoft, 2012).
Contudo, há referências de que os organofosforados diclorvos são responsáveis por sinais
neurológicos em mamíferos marinhos (Tabela 3) (Stoskpoft et al, 2001).

Tabela 3 - Anti-helmínticos usados em pinípedes (Fonte: Foryet, 2001)

Anti-helmíntico Posologia
Febendazol 50 mg/Kg PO
Ivermectina 0,2 mg/Kg PO
Mebendazol 15 mg/Kg PO q 24h × 2
Levamisol 10 mg/Kg PO

3.2.2.2.6. Impacto médico, económico e ecológico


Os parasitas dos mamíferos marinhos podem conduzir a zoonoses, sendo a família
Anisakidae responsável por quadros clínicos graves e perdas económicas importantes. Os
anisaquídeos usam os peixes e os cefalópodes como hospedeiros intermediários e/ou
paraténicos para as mudas larvares, implicando a rejeição destes para consumo se for detetada
a presença do parasita (Raga, 2000).
O Homem é infetado ao ingerir peixes, cefalópodes ou outros frutos do mar crús, mal
cozinhados ou levemente marinados (McClelland, 2005). A anisaquíase é o termo utilizado
para designar a doença causada pela presença de parasitas da família Anisakidae no ser
humano (Bier, 1988). Os sinais clínicos podem variar desde vómitos, dor epigástrica, diarreia
ou obstipação; até reações alérgicas como a urticária ou a anafilaxia (Yasunaga et al, 2010).

48
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.2.3. Modificação comportamental em Delphinus delphis


3.2.3.1. Relato do caso
A “Martinha” e a “Barra” são dois golfinhos da espécie Delphinus delphis que se
encontram em reabilitação no CRAM-Q.
A “Martinha” era juvenil lactante quando foi encontrada na Baía de São Martinho do
Porto no dia 6 de setembro de 2007, com
suspeita de captura acidental em redes de
emalhar. Foi transportada para o CRAM-Q
apresentando problemas pulmonares
possivelmente associados à captura, para os
quais foi aplicado um plano terapêutico
adequado. A sua dieta era à base de uma
fórmula semelhante ao leite materno
administrada por sonda gástrica. O peixe foi
introduzido gradualmente, sendo forçado
numa fase inicial até a “Martinha” adquirir Imagem 41 – Golfinhos-comuns de bico curto
“Barra” e “Martinha” (Fonte: Fotos gentilmente
a capacidade de agarrar e deglutir o peixe cedidas pelo CRAM-Q).
morto autonomamente. Posteriormente foi
oferecido peixe vivo em diversas ocasiões para avaliar o comportamento predatório da
“Martinha”. No entanto, apenas numa situação pontual é que o animal ingeriu um único peixe
vivo.
A “Barra” é uma fêmea adulta que arrojara na Praia da Barra em Ílhavo no dia 10 de
dezembro de 2012, com suspeita de captura acidental em arte de cerco. Após a realização de
exames complementares, foi diagnosticada uma infeção pulmonar. Também foi diagnosticada
gravidez no animal, mas acabou por abortar dias depois. Nas primeiras semanas de
tratamento, a “Barra” teve de ser suportada com o auxílio de flutuadores e/ou de técnicos para
estimular os movimentos natatórios e para auxiliar a permanência à superfície. Após a sua
recuperação, foi transferida para um tanque de maiores dimensões onde já se encontrava a
“Martinha” (Imagem 41).
Como recentemente o estado hígido dos animais apresenta-se estável, o CRAM-Q
procurava cumprir os requisitos necessários para a devolução simultânea dos golfinhos na
Natureza.

49
Capítulo 3 - Casos clínicos

Existem critérios gerais para a reabilitação e libertação de golfinhos em cativeiro na


Natureza, no entanto ainda não existe um guia completo predefinido. Cada caso é diferente,
necessitando de um protocolo próprio (O’Barry, 2005).
Em janeiro de 2014, o CRAM-Q recebeu um auxiliar veterinário que já tinha
adquirido experiência profissional ao trabalhar com várias espécies de animais selvagens,
incluindo golfinhos. Este encontrava-se em viagem por diversos centros de recuperação a
nível internacional, com o objetivo de adquirir e transmitir novos conhecimentos e técnicas
que auxiliassem no processo de reabilitação dos animais. Ao longo da sua estadia, e após a
observação do funcionamento global do CRAM-Q e dos animais em questão, foi facultando
alguns conselhos com vista a moldar os comportamentos da “Martinha” e da “Barra”, de
modo a que estes se aproximassem ao comportamento tipicamente observado nos golfinhos
selvagens na Natureza.
No dia a dia, eram realizadas atividades que envolviam diretamente ou indiretamente a
interação entre o técnico responsável e os animais como: a limpeza da piscina; a alimentação;
a realização de etogramas; a contagem de respirações; e o controlo e correção dos parâmetros
físico-químicos da água (sal, cloro e pH).
Um dos principais objetivos na reabilitação dos animais é que haja o mínimo contato
(visual, auditivo, tátil…) possível entre estes e o Homem, de modo a evitar que os animais a
libertar se habituem à presença do ser humano. No entanto, alguns dos procedimentos
referidos são imprescindíveis para a manutenção do estado hígido do animal e como tal, não
podem ser descartados.
Como solução, sempre que possível, alguns destes procedimentos passaram a ser
realizados de modo a que o técnico não permanecesse no campo visual dos golfinhos,
recorrendo a uma barreira física para o ocultar. Já a alimentação, por outro lado, passou a ser
utilizada como forma de moldar o comportamento dos animais, obtendo assim os resultados
pretendidos.
Até janeiro de 2014, os golfinhos realizavam oito refeições por dia com vários tipos de
peixe inteiro (há perda de valor nutricional com a evisceração) como o arenque, a sardinha, a
cavala e o capelim; e cefalópodes como as lulas. Estas iniciavam-se às 9h00 e eram repetidas
a cada 2 horas até às 23h00. A quantidade de alimento em cada refeição era aproximadamente
a mesma (750-800 gramas para a “Martinha” perfazendo um total de 6 Kg e 550-600 gramas
para a “Barra” perfazendo 4,5 Kg devido a excesso de peso), sendo a última refeição do dia

50
Capítulo 3 - Casos clínicos

mais pesada. Os animais jovens devem consumir entre 9% a 15% do seu peso vivo e os
adultos entre 4% a 9% (Marigo, 2006).
Os suplementos vitamínicos e as outras medicações eram colocados nas guelras dos
peixes conforme necessário. Como era colocado sal directamente na água, não era necessário
suplementar os animais com cloreto de sódio no peixe.
Antes da aplicação das novas metodologias sugeridas pela consultora externa, a
alimentação era organizada de modo a que cada golfinho se encontrasse num dos lados do
tanque. O responsável pela alimentação colocava-se a meio de uma das paredes laterais do
tanque e atirava o peixe para ambas as extremidades do tanque (cada golfinho comia sempre
no mesmo lugar). O reabilitador aguardava pacientemente que ingerissem o alimento antes de
atirar o seguinte. No caso de serem duas pessoas a efetuarem a alimentação, estas
localizavam-se cada uma num dos lados do tanque, sendo responsáveis por alimentar um dos
animais (Imagem 42).

Imagem 42 - Posicionamento
no tanque (oval) dos
participantes durante a
alimentação:
X - Técnico
M – “Martinha”
B – “Barra”
□ - Peixe

A principal vantagem desta metodologia era o controlo da quantidade de comida e da


respetiva medicação consumidos por cada golfinho.
Quando a “Martinha” e a “Barra” estavam doentes e se tornava fundamental que a
terapêutica fosse realizada sem falhas, este método era o mais adequado. No entanto, como
presentemente ambas se encontram sadias, outros planos de alimentação poderiam ser
aplicados para corresponder aos objectivos pretendidos.
Relativamente ao comportamento durante as refeições, o consumo dos alimentos por
parte dos animais era lento; existia competição pela comida – por vezes roubavam o peixe que
não lhes era destinado; a colaboração entre os golfinhos era ausente (podendo ser justificado
pelo plano de alimentação efetuado); não demonstravam qualquer alteração comportamental
e/ou excitação pelas refeições; a “Martinha” mostrava mais interesse pelo pessoal do que pela
comida e tinha o hábito de regurgitar o peixe como forma de chamar a atenção; e a “Barra”
nadava lentamente aguardando que lhe fosse lançado o alimento e terminava a refeição
sempre em primeiro lugar.

51
Capítulo 3 - Casos clínicos

Após avaliação do esquema utilizado para a alimentação e da resposta dos respetivos


delfinídeos, foram definidos os seguintes objetivos para os animais:
 Estimular o interesse pela comida;
 Conseguir o consumo de presas vivas;
 Desenvolver uma ligação entre ambas durante a refeição, já que na Natureza terão de
colaborar para a caça de alimentos;
 Incentivar a dissociação do ser humano como o fornecedor dos alimentos;
 Reduzir o hábito da “Martinha” regurgitar após a refeição.
Com estes objetivos em mente, um novo plano alimentar foi criado para a “Martinha”
e para a “Barra”:
 Iniciar e terminar as refeições em simultâneo;
 Começar a atirar os peixes quando a “Martinha” e a “Barra” estão próximas uma da
outra ou no meio do tanque;
 Não dar peixe quando a “Martinha” está a observar o alimentador;
 Estar em constante movimento à volta da piscina e atirar os peixes com rapidez para
evitar o comportamento estático da “Martinha” (come devagar e posiciona-se
lateralmente junto às paredes do tanque para observar o técnico);
 Variar as horas das refeições e as quantidades de alimento tornando-os imprevisíveis;
 Se a alimentação for feita por duas pessoas, esta deve ser sincronizada através do
diálogo e da linguagem corporal. Pretende-se desta forma incentivar a ideia de
interação e comunicação entre os golfinhos pois, como animais inteligentes, estes têm
alguma tendência a mimetizar o comportamento das pessoas que observam;
 Reforçar positivamente o comportamento dos animais atirando um peixe sempre que
os animais nadem lado a lado ou em círculos no meio do tanque;
 Reforçar negativamente o comportamento dos animais com afastamento visual dos
técnicos durante alguns segundos sempre que um dos animais roubar um peixe;
 Remover os peixes imediatamente após o final da refeição;
 Alimentar os animais com os seguintes esquemas:
o “Paralelo”: atirar os peixes em duas linhas paralelas em redor do tanque de
modo a que ambos os golfinhos nadem paralelamente uma à outra;
o “Bank of fish”: atirar os peixes para o centro da piscina;

52
Capítulo 3 - Casos clínicos

o Método antigo (em que cada golfinho se encontra posicionado em lados


opostos do tanque): apenas utilizado para a administração de medicamentos.
 Promover o enriquecimento ambiental após as
refeições (apenas durante 20 minutos para evitar a
habituação):
o Bidão com orifícios para colocar peixe no
interior (Imagem 43)
o Mangueira (Imagem 44)
o Bolos de peixe congelados
o Máquinas de bolhas
o Vocalizadores debaixo de água
Estes utensílios são utilizados após as refeições para
evitar que a “Martinha” regurgite o peixe ao focar a sua Imagem 43 - Bidão de plástico
(Fonte: Foto gentilmente cedida
atenção noutro estímulo ambiental. O bidão e os bolos de pelo CRAM-Q).

peixe congelados também têm como objetivo auxiliar na criação de uma ação cooperativa
entre os golfinhos que esteja relacionada com a
comida.
Todos estes materiais podem ser utilizados a
qualquer hora do dia como um reforço positivo
quando são observados comportamentos desejáveis
nos animais, que serão úteis no seu habitat natural.
Para extinguir os comportamentos aprendidos em
cativeiro que são prejudiciais para o animal, basta
deixar de dar um reforço positivo ao animal quando
este os exerce e, com o tempo ele deixará de os fazer
(O’Barry, 2005).
O enriquecimento ambiental pode ser
conseguido: pela introdução de novos objetos como Imagem 44 - Brincadeiras com a
mangueira (Fonte: Foto gentilmente
brinquedos, cordas, aparelhos acústicos e máquinas cedida pelo CRAM-Q).

capazes de criar correntes e sprays de água; pela variação do padrão alimentar; pela presença
do Homem e outros cetáceos na piscina; e pelos fenómenos naturais como a chuva e o vento.
Com estes mecanismos pretende-se estimular os animais evitando assim que se aborreçam e,
promover um bom tónus muscular e fitness pelo exercício físico (Barnett, 2005).

53
Capítulo 3 - Casos clínicos

As alterações no maneio dos golfinhos tiveram início na semana do 13 a 17 de janeiro.


Numa fase inicial, os animais mostraram-se relutantes e confusos com a nova estrutura, sendo
estas manifestações mais exuberantes na “Martinha”. Tal situação era considerada normal
pois, ambos os animais estavam habituados a uma rotina (principalmente a “Martinha” que é
a residente mais antiga).
A refeição decorria da seguinte forma: tanto a “Martinha” como a “Barra”
posicionavam-se no seu “território” imediatamente antes da refeição. Também era frequente
roubarem o peixe, embora a “Martinha” fosse de uma forma mais agressiva e a Barra
oportunista (se a “Martinha” recusasse o peixe). A “Martinha”, ora pegava no seu peixe e
nadava para o seu canto, ora aguardava por alimento/atenção junto ao técnico, ora conservava
o peixe na boca durante algum tempo, ora recusava a comida deixando-a ir para o fundo da
piscina. A “Barra” por seu lado já não mostrava tanto interesse nas pessoas e ingeria os
alimentos continuamente.
No modo “Bank of Fish”, tal como pretendido, ambos os animais nadavam em
círculos à volta dos peixes, mas grande parte dos alimentos iam para o fundo do tanque
(Imagem 45). Como tal, foi necessário dividir a quantidade de peixes a atirar em três partes,
para que os animais conseguissem consumir um maior número de peixes antes de afundarem.

Imagem 45 - “Bank of fish”


X - Técnico
M – “Martinha”
B – “Barra”
□ – Peixes
- Direção do movimento

Com o esquema “Paralelo” pretende-se que os animais aprendam a comer lado a lado
ao mesmo tempo que nadam à volta da piscina. Numa fase inicial, aproveitou-se o hábito de
cada animal se posicionar numa das extremidades do tanque para os ensinar a nadar em
círculos. Posteriormente foi-se diminuindo a distância, até conseguir que um dos animais
comesse imediatamente atrás do outro. Com tempo e persistência, a “Martinha” e a Barra”
aprenderam a comer paralelamente, embora ainda fosse comum o furto de peixes (Imagem
46).

54
Capítulo 3 - Casos clínicos

Imagem 46 - Evolução do
esquema “Paralelo”
X - Técnico
M – “Martinha”
B – “Barra”
□ - Peixe
- Direção do movimento

Relativamente aos estímulos ambientais, ambas mostraram interesse nos objetos


colocados, cumprindo assim os objetivos pretendidos. No entanto, como a “Martinha”
começou a apresentar lesões no bico, o bidão teve de ser removido. Também foi retirada a
máquina de fazer bolhas porque assustava também a “Martinha”. Foram recolhidos outros
brinquedos que eram utilizados previamente à implementação deste programa e exigiam a
interação com o ser humano.
O comportamento de regurgitação da “Martinha” tem vindo a diminuir, mas
possivelmente nunca será eliminado (pela experiência de outros casos). Este tipo de
comportamento surge nos animais ou porque tem fome e regurgita o alimento para voltar a
comer (o que não é o caso da “Martinha”), ou porque se sente aborrecido e utiliza o peixe
como forma de entretenimento.
Dada a evolução positiva, uma nova estratégia alimentar foi implementada: consiste
em atirar peixe à distância com o técnico ocultado atrás de uma barreira. Como os animais
não o conseguem ver, é reforçada a dissociação entre o alimento e o alimentador. Esta
estratégia também é utilizada como reforço positivo, sendo fornecido um peixe sempre que a
“Martinha” e a “Barra” apresentem comportamentos desejáveis.

55
Capítulo 3 - Casos clínicos

O esquema “Paralelo” passou a ser utilizado para administrar as medicações dado que
os golfinhos perderam o hábito de roubar o alimento.
Futuramente, a próxima etapa será o fornecimento de presas viva.
Quando todos os requisitos necessários forem cumpridos, o CRAM-Q pretende
transferir ambos os animais para um sistema semi-natural de modo a avaliar a sua integração
no meio natural.
Muitos dos golfinhos que nasceram no seu habitat natural são considerados como
potenciais candidatos a devolver à Natureza. No entanto, não devem ser libertados os animais
que em cativeiro receberam um elevado grau de “imprinting” humano ou que tenham perdido
as capacidades essenciais à sua sobrevivência (O’Barry, 2005).
Todos os animais podem ser readaptados a um ambiente mais natural (como por
exemplo a uma espécie de “lagoa” no mar). Esta alteração tem um efeito terapêutico benéfico
na qualidade de vida do animal ao permitir que este seja exposto aos ritmos naturais do mar,
às correntes e a presas vivas. Esta readaptação também é fundamental no processo de
reabilitação para determinar se um golfinho reúne os requisitos necessários para ser libertado
(O’Barry, 2005). A decisão deve ser feita tendo em conta o estado de saúde do animal e a
probabilidade de sobrevivência na Natureza (Norberto et al, 2005).
A condição física e o estado hígido, o uso de sonar (ecolocalização), a capacidade para
capturar presas vivas e, a defesa contra os predadores são alguns dos critérios em ter em
atenção na avaliação de um possível candidato a ser devolvido ao seu habitat natural
(O’Barry, 2005).
A escolha do local e do momento para libertar um determinado animal depende da
espécie em causa, nomeadamente da hora do dia e da localização onde este se alimenta (costa
ou mar aberto), e ainda da possibilidade de encontrar outros indivíduos da sua espécie (no
caso de animais gregários). As condições meteorológicas e a presença de artes de pesca
também influenciam na sua liberação (Farré, 2001).
Os animais devem ser marcados antes da sua libertação. Tal permitirá a sua
identificação na eventualidade de voltarem a encalhar ou de serem avistados (Norberto et al,
2005). No CRAM-Q os animais são marcados com um sistema que permite o
acompanhamento permanente por satélite ou GPS/GMS. A “Barra” e a “Martinha” serão os
primeiros cetáceos a serem libertados pelo CRAM-Q e muito provavelmente também serão
marcados com um dispositivo próprio para a espécie.

56
Capítulo 3 - Casos clínicos

Relativamente à evolução do processo de reabilitação dos dois golfinhos presentes no


CRAM-Q, a “Barra” tem uma maior probabilidade de ser bem-sucedida dado que ela já era
adulta quando deu entrada no CRAM-Q e como tal, assume-se que não tenha dificuldade em
caçar. Já a “Martinha” desconhece-se se teve ou não a oportunidade de aprender certas
técnicas de caça e de outros comportamentos básicos (ecolocalização, comunicação…) que
são imprescindíveis para sobreviver na Natureza. Também adquiriu alguns comportamentos
indesejáveis em cativeiro que necessitam de ser exterminados. No entanto, espera-se que a
“Martinha” transite a sua atenção para a “Barra” e que esta última lhe transmita os
conhecimentos necessários à sua sobrevivência.

3.2.3.2. Revisão da literatura: Comportamento dos golfinhos na Natureza


3.2.3.2.1. Distribuição e habitat
Os delfinídeos apresentam uma maior diversidade nas latitudes tropicais ou
temperadas quentes. Há muitas espécies que podem ter uma distribuição pantropical e outros
que se encontram limitados às águas tropicais de uma ou duas bacias oceânicas (LeDuc,
2008). Também há espécies que habitam nos estuários e nos rios (Stefanelli e Montanha,
2011).
A distribuição das fêmeas é
influenciada principalmente pela
abundância de alimento. Já nos machos é
afetada tanto pelo número e localização
das fêmeas, assim como pela presença e
comportamento de outros machos
(Möeller, 2011).
Os golfinhos-comuns (Delphinus
sp.) são considerados uma espécie
pelágica que habita os mares tropicais,
Imagem 47 - Distribuição mundial de Delphinus
subtropicais e temperados (Neumann e delphis (Fonte: Perrin, 2008).
Orams, 2005).
Os golfinhos da espécie Delphinus delphis surgem: no Atlântico Este desde o sul da
Noruega até África Ocidental e ainda no Mediterrâneo e no Mar negro; no Atlântico Oeste
desde a Terra Nova até à Florida; no Pacífico Este ao longo das costas e zonas pelágicas do
Pacifico Este desde o sul do Canadá até ao Chile; na região central do Pacífico Norte; no

57
Capítulo 3 - Casos clínicos

Pacífico Oeste desde o Japão até à Tailândia; e circundando a Nova Caledónia, a Nova
Zelândia e a Tasmânia (Imagem 47) (Perrin, 2008).
Foram relatadas migrações sazonais no Mar Negro, na Nova Zelândia e a leste do
Pacífico Tropical (Perrin, 2008).

3.2.3.2.2. Estrutura social


Os delfinídeos são animais sociais que vivem em grupos de poucos indivíduos a
milhares de animais (Le Duc, 2008; Möeller, 2011).
A hierarquia de dominância é formada principalmente com base no tamanho dos
animais, ocorrendo frequentemente confrontos e comportamentos de ameaça. No entanto,
estas hierarquias não determinam a ordem de acesso ao alimento pois, a captura de alimento
na Natureza é frequentemente cooperativa e rotativa. Também de salientar que os machos de
posição inferior conseguem copular com as fêmeas, sem que haja interferência por parte do
macho dominante. Uma hipótese indica que a principal função desta estrutura hierárquica é a
de facilitar a organização do grupo para proteger as fêmeas mais jovens e os juvenis numa
situação de perigo (Santos, 1994).
Enquanto as fêmeas geralmente se mantêm no mesmo grupo ou nas áreas em que
nasceram, os machos dispersam-se antes de começarem a acasalar (Möeller, 2011). Estes
últimos poderão formar associações de longa duração entre si ou viajar solitariamente,
juntando-se temporariamente a grupos de fêmeas recetivas na tentativa de acasalar (Santos,
1994).
O golfinho-comum de bico curto (Imagem
48) é considerado uma espécie social uma vez que
viaja em grupos de cem a milhares de indivíduos,
compostos por subunidades mais pequenas de 20-
30 indivíduos relacionados intimamente entre si
(Viricel et al, 2008; Perrin, 2008). Pode haver
Imagem 48 - Delphinus delphis (Fonte:
segregação dos grupos por idade e por sexo, Perrin, 2008).

sendo ainda possível a existência da associação


com grupos de golfinhos de outras espécies ou mesmo baleias piloto (Globicephala
macrorhynchus) (Perrin, 2008).

58
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.2.3.2.3. Alimentação
Os golfinhos alimentam-se principalmente de peixes, de lulas e de outros
invertebrados (Le Duc, 2008). A análise do conteúdo estomacal de golfinhos-comuns de
várias localizações indica que estes se alimentam: de pequenos cardumes de peixes, como por
exemplo as anchovas e as cavalas; de peixes de mares profundos como o peixe lanterna e o
eperlano; e de diversas espécies de lulas (Neumann e Orams, 2005).
Estes animais alimentam-se
principalmente durante a noite (Stefanelli e
Montanha, 2011).
As estratégias para a obtenção de
alimento são variadas e dependem do habitat,
da espécie a capturar, e da aprendizagem de
técnicas especializadas para a caça (Neumann
e Orams, 2005).
A coordenação de comportamentos de
forrageamento é frequente nos golfinhos e
pode ajudar na localização, na contenção ou
na captura de presas. Os golfinhos conseguem
coordenar a procura de presas ao permanecer
em contacto acústico, como a ecolocalização.
Para a contenção da presa, procedem ao
encurralando da presa entre os subgrupos, ou
Imagem 49 - “Feeding swarm” (Fonte: Reynoso,
espalham-se de modo a conduzir a presa em 1991).

direção a uma barreira. A captura da presa


resulta do “efeito confusão” criado para isolar um peixe ou um pequeno grupo de peixes do
cardume inicial (Vaughn-Hirshorn et al, 2013).
O golfinho-comum recorre à técnica de captura em “carrossel”. Nesta estratégia,
alguns dos indivíduos conduzem o cardume de peixes à superfície e mantêm-nos aprisionados
numa bola apertada, nadando à volta e abaixo deste. Os restantes animais alimentam-se
atacando de várias direções (Neumann e Orams, 2005; Heithaus e Dill, 2000).
Na Natureza também ocorre a associação entre as aves marinhas e os mamíferos
marinhos na captura de presas, chamada de “feeding swarm” (Imagem 49). Esta parece ser
benéfica para ambos, apesar das gaivotas e dos leões-marinhos obterem o alimento de forma

59
Capítulo 3 - Casos clínicos

oportunista. É impossível saber qual destes grupos é o responsável pela formação destes
agrupamentos, uma vez que qualquer um deles pode chamar a atenção do outro. Outros
predadores também são alertados debaixo de água, como por exemplo os escombrídeos, os
carangídeos e os tubarões (Reynoso, 1991).

3.2.3.2.4. Comportamento
A observação dos golfinhos na Natureza pode ser complicada já que algumas espécies
são estritamente oceânicas, extremamente rápidas ou muito tímidas. É quase impossível
reconhecer o mesmo indivíduo repetidamente. O reduzido dimorfismo sexual também
dificulta a distinção entre os sexos (Santos, 1994). Assim, os conhecimentos sobre o
comportamento e a cognição são obtidos maioritariamente através da análise de animais
mantidos em cativeiro. A partir de experiências controladas, os golfinhos mostraram ser
capazes: de auto-reconhecimento, de incorporar conceitos abstratos e variações de sintaxe, e
de desenvolver novos comportamentos por iniciativa própria (Le Duc, 2008).
Na Natureza, os comportamentos mais observados incluem a caça cooperativa
(Imagem 50), o uso de ferramentas, o “bow-riding” (consiste no surf em ondas criadas por
barcos (Imagem 51) e baleias), diversas formas de brincadeiras, e as manobras acrobáticas.

Imagem 50 - Caça cooperativa de cavala pelos Imagem 51 - “Bow-riding” (Fonte:


tubarões e golfinhos (Fonte:
http://deepbluehome.blogspot.pt/2012/01).
http://www.telegraph.co.uk/earth/earthpicturegall
eries/9831761/Dolphins-and-sharks-prey-on-a-
school-of-mackerel-off-the-Azores.html).

Os cliques, os assobios e os guinchos são utilizados na ecolocalização e na


comunicação (Le Duc, 2008).
A ecolocalização é uma caraterística comum a todos os odontocetes (Stefanelli e
Montanha, 2011) sendo utilizada para a procura de alimento, para a navegação e para evitar os
predadores (Au, 2008).
60
Capítulo 3 - Casos clínicos

Nos comportamentos tipicamente observados em golfinhos-comuns constam o “bow-


riding”, o “pitch poling” (em que o golfinho salta a uma grande altura verticalmente e cai
longitudinalmente para criar salpicos na água), e o transporte de atum amarelo (Thunnus
albacares) (Perrin, 2008). Também há relatos de cooperação entre as fêmeas e de
comportamento epimelético no género Delphinus (Viricele et al, 2008).
Atualmente, a origem e a funcionalidade de muitos destes comportamentos apenas
pode ser especulada (Le Duc, 2008).

3.2.3.2.5. Reprodução
Os delfinídeos são polígamos, em que as fêmeas têm crias de diferentes progenitores
ao longo da sua vida. Ainda de salientar que as crias dum mesmo grupo de fêmeas num
determinado ano podem ter pais diferentes (Santos, 1994).
Estes animais atingem a maturidade sexual tardiamente (Möeller, 2011), sendo as
fêmeas mais precoces do que os machos (Le Duc, 2008). No golfinho-comum esta varia
consoante a região: entre os 2-4 anos nas fêmeas e aos 3 anos nos machos do Mar Negro; e
entre os 6-8 anos nas fêmeas e os 7-12 anos nos machos do Pacífico Este e Atlântico Oeste
(Perrin, 2008).
A taxa de reprodução é baixa (Möeller, 2011), já que normalmente nasce apenas uma
cria em cada gestação e necessita de um investimento maternal elevado (Le Duc, 2008). Após
o nascimento, a mãe transporta a cria até à superfície para que respire pela primeira vez
(Stefanelli e Montanha, 2011).
Uma estimativa do tempo de gestação em Delphinus delphis varia entre os 10 meses e
os 11,7 meses, com intervalos entre gestações de 1 e 3 anos, no Mar Negro e no Pacífico Este,
respetivamente (Perrin, 2008). Os estudos indicam que o desmame das crias ocorre aos 5-6
meses no Mar Negro, embora possa durar até 10 meses noutras localizações geográficas
(Neumann e Orams, 2005). O pico de reprodução ocorre principalmente no verão (Neumann e
Orams, 2005).
Ocorrem frequentemente interações sexuais fora de contextos reprodutivos. Estas
sucedem-se entre as mães e as crias do sexo masculino e, entre os animais do mesmo sexo. A
cópula também parece ter um papel importante na manutenção dos laços sociais e das
estruturas hierárquicas (Santos, 1994).

61
Capítulo 3 - Casos clínicos

3.2.3.2.6. Longevidade
Os membros da família Delphinidae possuem uma grande longevidade, variando
desde os 20 anos para os delfinídeos de pequeno porte, até aos 60 anos de idade para os de
médio a grande porte (Möeller, 2011). No golfinho-comum há relatos de longevidade máxima
de 30 anos para ambos os sexos a oeste do Atlântico Norte (Perrin, 2008).
As causas de morte estão associadas a agentes patogénicos, a parasitas ou à predação
por tubarões ou orcas (Orcinus orca) (Le Duc, 2008).

62
Capítulo 4 - Conclusão

4. Conclusão
A realização dos diferentes estágios finalizada com a concretização deste relatório,
proporcionou a aquisição de novos conhecimentos teóricos e práticos que complementam os
já adquiridos durante os anos de estudo no curso da Medicina Veterinária. Também facultou a
oportunidade de exercitar técnicas empregadas na prática clínica exótica, na reabilitação da
vida selvagem e marinha, e na realização de necrópsias.
O estágio no CVEP mostrou a importância da interação do médico veterinário com o
proprietário e o seu animal para melhor abordagem do caso clínico em questão.
Já o estágio no CRAM-Q demonstrou que para a reabilitação dos animais selvagens e
marinhos se torna necessário a colaboração da equipa responsável com outras entidades cujas
áreas de ação podem não estar relacionadas diretamente com a Medicina Veterinária. O que
importa é que todos eles têm como objetivo comum o de resgatar e devolver a fauna selvagem
na Natureza após a sua reabilitação.
Por fim, o estágio no serviço de necrópsias LHAP-UTAD possibilitou a compreensão
da importância da Histologia e Anatomia Patológica como um meio de diagnóstico com
impacto nas diversas áreas da Medicina Veterinária. Providenciou a aquisição de experiência
na identificação de lesões macroscópicas presentes no cadáver e a consequente formulação do
diagnóstico presuntivo da causa de morte quando desconhecida.
Relativamente aos casos clínicos descritos, desconhece-se a causa certa da síndrome
vestibular no periquito, embora a principal suspeita seja a de uma possível infeção já que o
animal respondeu positivamente à antibioterapia.
O futuro da tartaruga semiaquática também é desconhecido pois, nunca mais voltou a
comparecer na clinica. Apesar de tratar-se de um caso delicado, uma vez que já fora atacada
anteriormente por um canídeo e necessitara de realizar uma reconstrução cirúrgica no casco, o
seu prognóstico seria provavelmente bom. As lesões anteriores estavam praticamente
consolidadas e as novas eram relativamente superficiais. Com o tratamento adequado e uma
vigilância apertada para evitar um novo ataque pelo cão, a tartaruga poderia recuperar sem
muitas dificuldades.
A técnica de transfusão sanguínea não é frequentemente efetuada em répteis, sendo a
bibliografia escassa para esta classe, onde estão integrados os quelónios. Como tal, a
metodologia utilizada teve como base os conhecimentos teórico-práticos aplicados na
medicina da transfusão em cães e gatos. O procedimento decorreu sem complicações,
fortalecendo o estado de saúde da tartaruga marinha e permitindo uma melhor resposta à

63
Capítulo 4 - Conclusão

restante terapêutica aplicada no animal. A tartaruga-boba continuou em reabilitação até ao dia


4 de setembro de 2014, após o qual foi libertada.
A presença de parasitas é comum nos mamíferos marinhos selvagens saudáveis. Não
obstante, em grande quantidade são capazes de provocar doença num animal. Após
diagnóstico da infeção parasitária e respetivo tratamento, a foca cinzenta resgatada recuperou
da patologia sem repercussões, tendo sido libertada sensivelmente 2 meses após a sua
ingressão no CRAM-Q.
O cativeiro dos animais selvagens e consequente contacto com o ser humano são
inevitáveis para a sua reabilitação, no entanto podem provocar alterações comportamentais
nestes seres vivos que comprometerão a sua futura reintrodução na Natureza. Ainda está a ser
estudada a possibilidade de libertar os golfinhos-comuns no seu habitat natural, e para tal,
tornou-se necessário a modificação comportamental destes animais. Esta modificação está a
ser feita através do reforço positivo para a aprendizagem de comportamentos essenciais à sua
sobrevivência na Natureza, e do reforço negativo para a extinção de comportamentos
prejudiciais ou desnecessários. Dada a boa resposta e evolução, espera-se um desfecho
positivo para ambos animais.

64
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69
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ANEXO 1 – Casuística: CVEP, CRAM-Q e LHAP-UTAD
Tabela 4 - Número de animais observados: CVEP. (F.A.: frequência absoluta; F.R.: frequência relativa)

Nome científico Nome comum F.A. F.R.


Agapornis sp. Agapornis 5 2,1%
Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro 4 1,7%
Amazona amazonica Papagaio-do-mangue 1 0,4%
Amazona autumnalis Papagaio-diadema 1 0,4%
Amazona sp. Papagaio 2 0,8%
Amazonas barbadensis Papagaio barbadensis 1 0,4%
Amazonas ochrocephala Papagaio-campeiro 2 0,8%
Ara ararauna Arara canindé 3 1,2%
Cacatua alba Cacatua branca 2 0,8%
Capra aegagrus hircus Cabra anã 1 0,4%
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 35 14,5%
Chamaeleo calyptratus Camaleão velado 1 0,4%
Chinchila laniger Chinchila 11 4,5%
Chlobeia gouldiae Diamante de Gould 3 1,2%
Columba livia Pombo doméstico 7 2,9%
Cynomys sp. Cão-da-pradaria 2 0,8%
Estrilda astrild Bico-de-lacre 1 0,4%
Eublepharis macularius Gecko leopardo 2 0,8%
Graptemys pseudogeografica Tartaruga corcunda pseudogeográfica 2 0,8%
Graptemys sp. Tartaruga mapa 3 1,2%
Iguana iguana Iguana-verde 2 0,8%
Larus sp. Gaivota 1 0,4%
Mauremys leprosa Cágado-mediterrânico 1 0,4%
Melopsittacus undulatus Periquito 8 3,3%
Meriones unguiculatus Gerbilo 3 1,2%
Mesocricetus auratus Hamster-sírio 2 0,8%
Mustela putorius furo Furão 4 1,7%
Nymphicus hollandicus Caturra 3 1,2%
Oryctolagus cuniculus Coelho 77 31,8%
Parabuteo unicinctus Gavião-asa-de-telha 1 0,4%
Pavo cristatus Pavão-indiano 2 0,8%
Phasianus colchius Faisão 1 0,4%
Phodopus sp. Hamster 2 0,8%

71
Pogona vitticeps Dragão-barbudo 2 0,8%
Pseudemys sp. Tartaruga - “Cooter” 4 1,7%
Psittacus erithacus Papagaio cinzento 16 6,6%
Python regius Piton bola 2 0,8%
Serinus canaria Canário 12 5,0%
Spermophilus richardsonii Esquilo terrestre Richardson 2 0,8%
Streptopelia sp. Rola 1 0,4%
Testudo horsfieldi Tartaruga russa 1 0,4%
Trachemys scripta elegans Tartaruga-de-orelhas-vermelhas 4 1,7%
Trachemys sp. Tartaruga - “Slider” 2 0,8%
Total 242 100,0%

Tabela 5 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam os mamíferos.

Sistema/aparelho Sinal clínico/Patologia Nome científico Nome comum Número


Auditivo Otite Oryctolagus cuniculus Coelho 2
Cardiomiopatia dilatada
Cardíaco Oryctolagus cuniculus Coelho 1
direita
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Alopécia
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Dermatite períneo Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Massa/Tumefação
Phodopus sp. Hamster 2
Cutâneo e
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
anexos Pododermatite
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Nódulo escapular por
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
reação vacinal
Queilite Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Sarna Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 3
Anorexia Chinchila laniger Chinchila 1
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Digestivo e
Distensão abdominal Oryctolagus cuniculus Coelho 1
anexos
Estase cecal Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Fezes brancas Mustela putorius furo Furão 1
Hipomotilidade Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1

72
gastrointestinal Oryctolagus cuniculus Coelho 9
Impactação intestinal Chinchila laniger Chinchila 1
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Melena
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Obstrução intestinal Oryctolagus cuniculus Coelho 5
Vómito Mustela putorius furo Furão 1
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 3
Abcesso dentário
Oryctolagus cuniculus Coelho 4
Corpo estranho nos
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
dentes
Fratura da bacia Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Fratura da escápula Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Fratura incisivo
Cynomys sp. Cão-da-pradaria 1
Músculo- Luxação membro
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
esquelético torácico esquerdo
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Maloclusão dentária Chinchila laniger Chinchila 1
Oryctolagus cuniculus Coelho 3
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 5
Sobrecrescimento
Chinchila laniger Chinchila 2
dentário
Oryctolagus cuniculus Coelho 8
Capra aegagrus hircus Cabra anã 1
Traumatismo
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Convulsões Mustela putorius furo Furão 1
Parésia dos membros
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Nervoso pélvicos
Síndrome vestibular Oryctolagus cuniculus Coelho 2
Tremores Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Massa mamária Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Priapismo Chinchila laniger Chinchila 1
Reprodutor
Secreção sanguinolenta
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
mamária
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Dispneia Cynomys sp. Cão-da-pradaria 1
Respiratório
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Infeção respiratória Oryctolagus cuniculus Coelho 5

73
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Pneumonia
Mesocricetus auratus Hamster-sírio 1
Cálculo urinário Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Urinário Insuficiência renal Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Urina fora de sítio Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Blefarite Mesocricetus auratus Hamster-sírio 1
Visual Dacriocistite Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Protusão ocular Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Golpe de calor Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Hipovitaminose B Chinchila laniger Chinchila 1
Outro
Infeção generalizada Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Mixomatose Oryctolagus cuniculus Coelho 3

Tabela 6 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam as aves.

Sistema/aparelho Sinal clínico/ Patologia Nome científico Nome comum Número


Auditivo Otite Amazona autumnalis Papagaio-diadema 1
Dermatite Ara ararauna Arara canindé 1
Descamação pele Serinus canaria Canário 1
Cutâneo e Serinus canaria Canário 2
Distrofia das penas
anexos Nymphicus hollandicus Caturra 1
Quistos foliculares Serinus canaria Canário 2
Sarna knemidocóptica Melopsittacus undulatus Periquito 1
Ara ararauna Arara canindé 1
Melopsittacus undulatus Periquito 1
Anorexia
Nymphicus hollandicus Caturra 1
Streptopelia sp. Rola 1
Digestivo e
Abcesso palatino Amazonas barbadensis Papagaio barbadensis 1
anexos
Diarreia Streptopelia sp. Rola 1
Ingestão corpo estranho Amazona amazónica Papagaio-do-mangue 1
Hepatite infecciosa Columba livia Pombo doméstico 1
Massa oral Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro 1
Amazona sp. Papagaio 1
Abcesso submandibular
Músculo- Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
esquelético Claudicação Serinus canaria Canário 1
Fratura membro torácico Larus sp. Gaivota 1

74
Columba livia Pombo doméstico 1
Fratura membro pélvico
Serinus canaria Canário 2
“Splay-leg” Melopsittacus undulatus Periquito 1
Trauma do bico Melopsittacus undulatus Periquito 1
Trauma da cabeça Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
Trama do dorso Nymphicus hollandicus Caturra 1
Trauma do pescoço Agapornis sp. Agapornis 1
Cacatua alba Cacatua branca 1
Trauma por constrição
Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
de anilha
Serinus canaria Canário 1
Tumefação membro
Parabuteo unicinctus Gavião-asa-de-telha 1
pélvico
Amazonas ochrocephala Papagaio-campeiro 1
Ataxia Melopsittacus undulatus Periquito 1
Serinus canaria Canário 1
Nervoso Convulsões Amazonas ochrocephala Papagaio-campeiro 1
Parésia Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro 1
Agapornis sp. Agapornis 1
Síndrome vestibular
Melopsittacus undulatus Periquito 1
Hiperinsuflação sacos
Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro 1
aéreos
Ara ararauna Arara canindé 1
Infeção respiratória Psittacus erithacus Papagaio cinzento 3
Respiratório
Streptopelia sp. Rola 1
Amazona sp. Papagaio 1
Sinusite Pavo cristatus Pavão-indiano 2
Phasianus colchius Faisão 1
Amazonas ochrocephala Papagaio-campeiro 1
Infeção ocular
Visual Columba livia Pombo doméstico 1
Olho fechado Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
Automutilação Cacatua alba Cacatua branca 1
Estrilda astrild Bico-de-lacre 1
Apatia Psittacus erithacus Papagaio cinzento 2
Outro Serinus canaria Canário 1
Avulsão do bico Melopsittacus undulatus Periquito 1
Candidíase Columba livia Pombo doméstico 3
Clamidíase Columba livia Pombo doméstico 1

75
Criptosporidiose Chlobeia gouldiae Diamante de Gould 3
Cacatua alba Cacatua-branca 1
Picacismo
Psittacus erithacus Papagaio cinzento 2
Prolapso cloaca Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
“Rosnar” agressivo Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
“Splay-leg” Melopsittacus undulatus Periquito 1

Tabela 7 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam os répteis.

Sistema/aparelho Sinal clínico/ Patologia Nome científico Nome comum Número


Graptemys Tartaruga corcunda
1
pseudogeografica pseudogeográfica
Cágado-
Abcesso timpânico Mauremys leprosa 1
Auditivo mediterrânico
Trachemys scripta Tartaruga-de-orelhas-
1
elegans vermelhas
Otite Trachemys sp. Tartaruga - “Slider” 1
Dermatite casco Pseudemys sp. Tartaruga - “Cooter” 1
Graptemys Tartaruga corcunda
Sequestro subcutâneo 1
pseudogeografica pseudogeográfica
Graptemys sp. Tartaruga mapa 1
Cutâneo e anexos
Traumatismo casco Testudo horsefieldii Tartaruga russa 1
Trachemys sp. Tartaruga - “Slider” 1
Tumefação joelho Iguana iguana Iguana verde 1
Úlcera ranfoteca Graptemys sp. Tartaruga mapa 1
Iguana iguana Iguana verde 1
Python regius Piton bola 1
Anorexia Pogona vitticeps Dragão-barbudo 1
Digestivo e anexos
Trachemys scripta Tartaruga-de-orelhas-
1
elegans vermelhas
Estomatite Eublepharis macularius Gecko leopardo 1
Nervoso Ataxia Python regius Piton bola 1
Reprodutor Estase pré-ovulatória Pogona vitticeps Dragão-barbudo 1
Respiratório Pneumonia Iguana iguana Iguana-verde 1
Cágado-
Visual Macroftalmia Mauremys leprosa 1
mediterrânico

76
Trachemys scripta Tartaruga-de-orelhas-
Apatia pré-hibernação 1
elegans vermelhas
Candidíase Eublepharis macularius Gecko leopardo 1
Outro
Trachemys scripta Tartaruga-de-orelhas-
Hipovitaminose A 1
elegans vermelhas
Intoxicação por leituga Iguana iguana Iguana-verde 1

Tabela 8 - Descrição da casuística do CVEP segundo os restantes serviços gerais requisitados.

Serviços/consultas gerais Nome científico Nome comum Número


Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Cynomys sp. Cão-da-pradaria 1
Meriones unguiculatus Gerbilo 2
Mustela putorius furo Furão 1
Hotel
Oryctolagus cuniculus Coelho 6
Pseudemys sp. Tartaruga - “Cooter” 1
Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
Spermophilus richardsonii Esquilo terrestre Richardson 1
Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro 1
Agapornis sp. Agapornis 3
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 3
Melopsittacus undulatus Periquito 1
Profilaxia Meriones unguiculatus Gerbilo 2
Mustela putorius furo Furão 1
Oryctolagus cuniculus Coelho 6
Pseudemys sp. Tartaruga - “Cooter” 2
Psittacus erithacus Papagaio cinzento 2
Chamaeleo calyptratus Camaleão velado 1
Rotina Oryctolagus cuniculus Coelho 3
Serinus canaria Canário 1
Tosquia Oryctolagus cuniculus Coelho 2

77
Tabela 9 - Número de animais observados: CRAM-Q. (F.A.: frequência absoluta; F.R.: frequência relativa)

Nome científico Nome comum F.A. F.R.


Alca torda Torda-mergulheira 1 2,6%
Calonectris diomedea Cagarra 2 5,1%
Caretta caretta Tartaruga boba 3 7,7%
Delphinus delphis Golfinho-comum de bico curto 2 5,1%
Halichoerus grypus Foca cinzenta 2 5,1%
Larus fuscus Gaivota-de-asa-escura 7 17,9%
Larus michahellis Gaivota-de-patas-amarelas 4 10,3%
Larus sp. Gaivota 1 2,6%
Limosa limosa Maçarico-de-bico-direito 1 2,6%
Melanitta nigra Pato preto 3 7,7%
Morus bassanus Ganso-patola 12 30,8%
Puffinus mauretanicus Pardela-do-mediterrâneo 1 2,6%
Total 39 100,0%

Tabela 10 - Descrição da casuística segundo o motivo de ingresso, o diagnóstico e o respetivo destino final.

Nome científico Nome comum Motivo de ingresso e Diagnóstico Destino


Torda- Plumagem danificada/Falta de
Alca torda Reabilitação
mergulheira impermeabilidade/Desidratação
Calonectris Incapacidade de voar e de sustentação/Parésia Reabilitação
Cagarra
diomedea Plumagem danificada/Falta de impermeabilidade Reabilitação
Arrojamento vivo/Infeção ocular bilateral Libertado
Caretta caretta Tartaruga boba Arrojamento vivo/ Infeção ulcerativa da carapaça Libertado
Captura acidental Libertado
Evidência de lesões por captura acidental em rede de
emalhar Reabilitação
Golfinho-
Complicações pulmonares
Delphinus delphis comum de bico
Evidência de lesões por captura acidental em arte de
curto
cerco Reabilitação
Infeção respiratória
Arrojamento vivo deslocado do habitat
Halichoerus Libertado
Traumatismo com lesão no pescoço
grypus Foca cinzenta
Arrojamento vivo deslocado do habitat
Libertado
Infeção parasitária por anisaquídeos

78
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Plumagem danificada/Falta de impermeabilidade Libertado
Gaivota-de-asa-
Larus fuscus Desidratação/Dispneia/Subnutrição Morte
escura
Traumatismo Eutanásia
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Traumatismo com fractura exposta da asa Eutanásia
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Gaivota-de-
Larus michaelis Traumatismo com fratura exposta da asa Eutanásia
patas-amarelas
Traumatismo com escoriações nos membros pélvicos e
Reabilitação
asa
Traumatismo com luxação da articulação escapulo-
Larus sp. Gaivota Reabilitação
umeral
Maçarico-de-
Limosa limosa Traumatismo com fratura do rádio e ulna Eutanásia
bico-direito
Subnutrição/Escoriação na cabeça Morte
Melanitta negra Pato-preto Plumagem danificada/Falta de impermeabilidade Morte
Debilidade Libertado
Traumatismo com lesão na face ventral da asa e
Libertado
comissura labial
Traumatismo com lesão no membro pélvico Libertado
Subnutrição/Desidratação/Plumagem
danificada/Traumatismo com lesão no membro pélvico Libertado

Captura acidental/Traumatismo com escoriações em


ambas as asas e no membro pélvico Libertado

Morus bassanus Ganso-patola Subnutrição Libertado


Subnutrição/Abrasões de ambos os membros pélvicos/
Inflamação da articulação tarso-metatarso
Libertado
Ausência de penas e lesão cicatrizada junto à articulação
úmero-rádio-ulnar
Traumatismo Eutanásia
Subnutrição Morte
Transferido de outro centro/Traumatismo com lesão na
Libertado
asa
Plumagem danificada/Falta impermeabilidade Libertado

79
Plumagem danificada/Falta impermeabilidade/
Libertado
Escoriações no membro pélvico
Plumagem deteriorada por petróleo/Emaciação Morte
Puffinus Pardela-do-
Plumagem deteriorada/Falta de impermeabilidade Reabilitação
mauretanicus mediterrâneo

Tabela 11 - Número de animais observados: LHAP-UTAD. F.A.: frequência absoluta; F.R.: frequência relativa.

Nome científico Nome comum F.A. F.R.


Amazonas sp. Papagaio 1 5,6%
Boa constrictor Piton bola 4 22,2%
Chamaeleo calyptratus Camaleão velado 1 5,6%
Genetta genetta Gineta 2 11,1%
Martes martes Marta 1 5,6%
Mauremys leprosa Cágado-mediterrânico 1 5,6%
Meles meles Texugo-europeu 2 11,1%
Sus scrofa Javali 4 22,2%
Vulpes vulpes Raposa-vermelha 2 11,1%
Total 18 100,0%

Tabela 12 - Diagnóstico macroscópico dos animais necropsiados.

Diagnóstico macroscópico Nome científico Nome comum Número


Gota renal e Nefrite intersticial Mauremys leprosa Cágado-mediterrânico 1
Gota visceral e Dermatite necrótica
Chamaeleo calyptratus Camaleão velado 1
e bacteriana
Neoplasia metastizada Amazonas sp. Papagaio 1
Genettta genetta Gineta 2
Martes martes Marta 1
Traumatismo Meles meles Texugo-europeu 2
Sus scrofa Javali 4
Vulpes vulpes Raposa-vermelha 2
Suspeita IBD Boa constrictor Piton bola 4

80
ANEXO 2 – Análises sanguíneas da “Baleal”
Tabela 13 - Resultado das análises sanguíneas da “Baleal” com respetivos valores de referência para a foca
cinzenta (Fonte: Barnett e Robinson, 2003).

Valores de
Parâmetros Unidades 20/01/2014 21/01/2014
referência
Hemograma
Eritrócitos x 10^6/uL 4-7 4,19 4,32
Hemoglobina g/dL 17-24 16,7 16,8
Hematócrito % 45-70 50 52
VGM fL 90-130 118,5 119,5
HGM Pg 30-50 39,9 38,8
CHGM g/dL 30-40 32,7 32,2
RDW % 16,1 16
Neutrófilos % 77 75
x 10^3/µL 2-12 16,8 10,78
Linfócitos % 14 10
x 10^3/µL 0-6 3,1 1,44
Monócitos % 5 9
x 10^3/µL 0-3 1,1 1,29
Eosinófilos % 4 6
x 10^3/µL 0-2 0,87 0,86
Plaquetas x 10^3/µL 180-780 879 876
VPM fl 10 10
PDW fl 38,9 38,6
Bioquímica sérica
Glucose mg/dL 161,2
BUN mg/dL 19,3
Creatinina mg/dL 0-100 1,05
PT g/dL 5-9 7,12
Albumina g/dL 2,9-5 2,95
Globulinas g/dL 4,17
ALP UI/L 0-600 71,5
AST UI/L 150,9
ALT UI/L 78,4
GGT UI/L 0-100 42,3
Ferro µg/dL 124,4
LDH UI/L 1343,6

81
CPK UI/L 161,4
Colesterol mg/dL 336,8
Na mEq/L 145-155 144 140
K mEq/L 3.5-5.5 3,9 3,5
Cl mEq/L 111 111
P mg/dL 6,19
Ca mg/dL 8,8
Mg mg/dL 2,17

82
ANEXO 3 – Nomenclatura
Tabela 14- Nomes científicos e nomes comuns das diferentes espécies animais descritas

Nome científico Nome comum


Agapornis sp. Agapornis
Alca torda Torda-mergulheira
Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro
Amazona amazonica Papagaio-do-mangue
Amazona autumnalis Papagaio-diadema
Amazonas barbadensis Papagaio barbadensis
Amazonas ochrocephala Papagaio-campeiro
Amazonas sp. Papagaio
Ara ararauna Arara canindé
Boa constrictor Jiboia-constritora
Cacatua alba Cacatua-branca
Calonectris diomedea Cagarra
Capra aegagrus hircus Cabra anã
Caretta caretta Tartaruga boba
Cavia porcellus Porquinho-da-índia
Chamaeleo calyptratus Camaleão velado
Chelydra serpentina Tartaruga-mordedora
Chinchila laniger Chinchila
Chlobeia gouldiae Diamante de Gould
Columba livia Pombo doméstico
Cynomys sp. Cão-da-pradaria
Delphinus delphis Golfinho-comum de bico curto
Delphinus sp. Golfinho-comum
Estrilda astrild Bico-de-lacre
Eublepharis macularius Gecko leopardo
Genetta genetta Gineta
Globicephala macrorhynchus Baleia piloto
Graptemys pseudogeografica Tartaruga corcunda pseudogeográfica
Graptemys sp. Tartaruga mapa
Halichoerus grypus Foca cinzenta
Iguana iguana Iguana-verde
Larus fuscus Gaivota-de-asa-escura
Larus michahellis Gaivota-de-patas-amarelas

83
Larus sp. Gaivota
Limosa limosa Maçarico-de-bico-direito
Martes martes Marta
Mauremys leprosa Cágado- mediterrânico
Melanitta nigra Pato-preto
Meles meles Texugo-europeu
Melopsittacus undulatus Periquito
Meriones unguiculatus Gerbilo
Mesocricetus auratus Hamster-sírio
Morus bassanus Ganso-patola
Mustela putorius furo Furão
Nymphicus hollandicus Caturra
Orcinus orca Orca
Oryctolagus cuniculus Coelho
Pagophilus groenlandicus Foca-da-Groenlândia
Parabuteo unicinctus Gavião-asa-de-telha
Pavo cristatus Pavão-indiano
Phasianus colchicus Faisão
Phoca vitulina Foca comum
Phodopus sp. Hamster
Pogona vitticeps Dragão-barbudo
Pseudemys nelsoni Tartaruga de barriga vermelha da Florida
Pseudemys sp. Tartaruga - “Cooter”
Psittacus erithacus Papagaio cinzento
Puffinus mauretanicus Pardela-do-mediterrâneo
Python regius Piton bola
Serinus canaria Canário
Spermophilus richardsonii Esquilo terrestre Richardson
Sternotherus odoratus Tartaruga almiscarada
Streptopelia sp. Rola
Sus scrofa Javali
Terrapene carolina carolina Tartaruga de caixa oriental
Testudo graeca Tartaruga árabe
Testudo hermanni Tartaruga grega
Testudo horsfieldi Tartaruga russa
Thunnus albacares Atum amarelo
Trachemys scripta elegans Tartaruga-de-orelhas-vermelhas

84
Trachemys scripta scripta Tartaruga-de-orelhas-amarelas
Trachemys sp. Tartaruga - “Slider”
Vulpes vulpes Raposa-vermelha

85

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