Medicina&Sirurgia Animais Marinhos
Medicina&Sirurgia Animais Marinhos
Medicina&Sirurgia Animais Marinhos
Composição do júri:
Professor Doutor Nuno Francisco Fonte Santa Alegria
Professora Doutora Maria Isabel Ribeiro Dias
Professor Doutor Filipe da Costa Silva
Um eterno obrigado a Deus, por estar sempre presente e escutar as minhas preces.
i
ii
Resumo
Este relatório final de estágio cujo tema é “Medicina e Cirurgia de Animais Exóticos,
Selvagens e Marinhos” constitui o resumo de atividades realizadas durante os estágios
concretizados no âmbito do Mestrado Integrado em Medicina Veterinária ao longo de um
período aproximado de 6 meses.
A área da Medicina Veterinária de animais exóticos, selvagens e marinhos tem vindo a
evoluir recentemente graças ao interesse crescente da população na aquisição de novos
animais de estimação, no caso de algumas espécies exóticas, assim como na preocupação pela
conservação da Natureza e reabilitação de animais selvagens.
Sendo uma área ainda em desenvolvimento, necessita de recorrer por vezes aos
conhecimentos e práticas da Medicina Veterinária utilizados em animais de companhia não
exóticos e em animais de produção. Torna-se assim imprescindível a parceria com outras
organizações associadas ou não diretamente à Medicina Veterinária a nível nacional e
internacional para a troca de informações sobre experiências anteriores de casos clínicos de
interesse e, também para facultar ou requisitar recursos essenciais para a reabilitação dos
animais.
O conteúdo deste trabalho inclui, para além da enumeração das atividades executadas
ao longo dos estágios e respetiva casuística, uma breve revisão da literatura associada a cada
caso clínico descrito, e que se referem a espécies de diferentes classes taxonómicas: o
tratamento da síndrome vestibular num periquito (Melopsittacus undulatus); a resolução
cirúrgica de uma fratura do casco numa tartaruga semiaquática (Trachemys sp.); uma
transfusão sanguínea realizada numa tartaruga-boba (Caretta caretta); o diagnóstico e o
tratamento de uma infeção parasitária gastrointestinal por anisaquídeos numa foca cinzenta
(Halichoerus grypus) e a modificação comportamental em golfinhos-comuns de bico curto
(Delphinus delphis).
iii
iv
Abstract
This internship report which theme is "Medicine and Surgery of Exotic, Wildlife and
Marine Animals” is the summary of activities carried out during the internship implemented
under Master degree in Veterinary Medicine over a period of approximately 6 months.
The area of Veterinary Medicine in exotic pets, wildlife and marine animals has
recently evolved thanks to the growing public interest in acquiring new pets, in the case of
some exotic species, as well as for the concern for nature conservation and rehabilitation of
wild animals.
Being an area still under development, sometimes it is needed to resort to the
knowledge and practice of Veterinary Medicine used in non-exotic pets and farm animals.
Thus, it becomes imperative to partner with other organizations directly related or not to
Veterinary Medicine at a national and international level for the exchange of information on
previous experiences of clinical cases of interest, and also to request or provide essential
resources for the rehabilitation of animals.
The content of this paper includes, in addition to the list of activities realized over the
stages and its study, a brief literature review associated with each clinical case described,
which refer to species of different taxonomic classes: the treatment of vestibular syndrome in
a budgerigar (Melopsittacus undulatus), the surgical resolution of a shell fracture in a
semiaquatic turtle (Trachemys sp.); a blood transfusion performed on a loggerhead sea turtle
(Caretta caretta); the diagnosis and treatment of a gastrointestinal parasitic infection by
anisakid in a gray seal (Halichoerus grypus) and the behavioral modification in short-beaked
common dolphin (Delphinus delphis).
v
vi
Índice geral
Agradecimentos ........................................................................................................................... i
Resumo ...................................................................................................................................... iii
Abstract ...................................................................................................................................... v
Índice geral ............................................................................................................................... vii
Índice de imagens ...................................................................................................................... xi
Índice de gráficos ..................................................................................................................... xv
Índice de tabelas ..................................................................................................................... xvii
Acrónimos, siglas e abreviaturas ............................................................................................. xix
Capítulo 1 - Introdução............................................................................................................ 1
1. Introdução............................................................................................................................. 1
1.1. CVEP: Centro Veterinário de Exóticos do Porto ........................................................ 1
1.2. CRAM-Q: Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios ........................ 2
1.3. LHAP-UTAD: Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro ........................................................................................ 2
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas .................................................................................... 5
2. Atividades desenvolvidas .................................................................................................... 5
2.1. CVEP ........................................................................................................................... 5
2.2. CRAM-Q: Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios ........................ 6
2.3. LHAP-UTAD: Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro ........................................................................................ 8
Capítulo 3 - Casos clínicos ..................................................................................................... 11
3. Casos clínicos ..................................................................................................................... 11
3.1. CVEP .......................................................................................................................... 11
3.1.1. Síndrome vestibular em Melopsittacus undulatus ................................................. 11
3.1.1.1. Relato do caso ................................................................................................... 11
3.1.1.2. Revisão da literatura: Patologia vestibular em aves ............................................ 12
3.1.1.2.1. Anamnese ........................................................................................................ 12
3.1.1.2.2. Exame físico ..................................................................................................... 13
3.1.1.2.3. Exame neurológico ........................................................................................... 14
3.1.1.2.4. Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico ............................................. 18
3.1.1.2.5. Diagnóstico....................................................................................................... 19
3.1.1.2.6. Diagnósticos diferenciais ................................................................................. 20
vii
3.1.1.2.7. Tratamento ....................................................................................................... 20
3.1.1.2.8. Prognóstico ....................................................................................................... 21
3.1.2. Reconstrução cirúrgica de uma fractura do casco em Trachemys sp. .................... 21
3.1.2.1. Relato do caso ..................................................................................................... 21
3.1.2.2. Revisão da literatura: Reconstrução cirúrgica de fraturas do casco em tartarugas
semiaquáticas ......................................................................................................... 24
3.1.2.2.1. Anatomia e fisiologia do casco ....................................................................... 24
3.1.2.2.2. Fratura do casco ............................................................................................... 25
3.1.2.2.3. Prognóstico ....................................................................................................... 25
3.1.2.2.4. Reconstrução cirúrgica do casco ...................................................................... 26
3.1.2.2.4.1. Epóxi e fibra de vidro .................................................................................... 26
3.1.2.2.4.2. Fixação ortopédica externa............................................................................ 27
3.1.2.2.4.3. Abraçadeira de Nylon.................................................................................... 29
3.1.2.2.4.4. Prótese ........................................................................................................... 30
3.1.2.2.4.5. Outros materiais: Orthoplast®, Vet-lite® e VTP™ ...................................... 31
3.1.2.2.5. Fechamento assistido a vácuo - Pressão negativa controlada .......................... 31
3.2. CRAM-Q .................................................................................................................... 33
3.2.1. Transfusão sanguínea em Caretta caretta .............................................................. 33
3.2.1.1. Relato do caso ..................................................................................................... 33
3.2.1.2. Revisão da literatura: Técnica de transfusão sanguínea em tartarugas marinhas
................................................................................................................................ 35
3.2.1.2.1. Indicação para transfusão ................................................................................. 35
3.2.1.2.2. Recetor ............................................................................................................. 36
3.2.1.2.3. Dador ................................................................................................................ 36
3.2.1.2.4. Contenção e captura ......................................................................................... 36
3.2.1.2.5. Acesso para recolha e transfusão de sangue..................................................... 37
3.2.1.2.6. Cross-matching................................................................................................. 38
3.2.1.2.7. Anticoagulantes ............................................................................................... 39
3.2.1.2.8. Manipulação do sangue .................................................................................... 39
3.2.1.2.9. Filtro ................................................................................................................. 39
3.2.1.2.10. Quantidade de sangue a transferir .................................................................... 39
3.2.1.2.11. Evolução ........................................................................................................... 40
3.2.1.2.12. Complicações e a sua prevenção ..................................................................... 40
viii
3.2.2. Infecção parasitária por anisaquídeos em Halichoerus grypus ............................. 41
3.2.2.1. Relato do caso ..................................................................................................... 41
3.2.2.2. Revisão da literatura: Infeção parasitária por anisaquídeos em pinípedes .......... 46
3.2.2.2.1. Ciclo de vida..................................................................................................... 46
3.2.2.2.2. Espécies afectadas ............................................................................................ 46
3.2.2.2.3. Sinais clínicos ................................................................................................... 47
3.2.2.2.4. Diagnóstico definitivo ...................................................................................... 47
3.2.2.2.5. Tratamento ....................................................................................................... 48
3.2.2.2.6. Impacto médico, económico e ecológico ......................................................... 48
3.2.3. Modificação comportamental em Delphinus delphis ............................................ 49
3.2.3.1. Relato do caso ..................................................................................................... 49
3.2.3.2. Revisão da literatura: Comportamento dos golfinhos na Natureza ..................... 57
3.2.3.2.1. Distribuição e habitat ....................................................................................... 57
3.2.3.2.2. Estrutura social ................................................................................................. 58
3.2.3.2.3. Alimentação ..................................................................................................... 59
3.2.3.2.4. Comportamento ................................................................................................ 60
3.2.3.2.5. Reprodução....................................................................................................... 61
3.2.3.2.6. Longevidade .................................................................................................... 62
Capítulo 4 - Conclusão ........................................................................................................... 63
4. Conclusão ............................................................................................................................ 63
Referências bibliográficas ........................................................................................................ 65
Referências bibliográficas consultadas da Internet .................................................................. 69
ANEXO 1 – Casuística: CVEP, CRAM-Q e LHAP-UTAD ................................................... 71
ANEXO 2 – Análises sanguíneas da “Baleal” ......................................................................... 81
ANEXO 3 – Nomenclatura ...................................................................................................... 83
ix
x
Índice de imagens
Imagem 1 - Atividades desenvolvidas no CVEP: A - A remoção cirúrgica de uma massa no
joelho de Iguana iguana; B - A necrópsia a Testudo horsfieldii; C - A lavagem das penas de
Columbia livia. .......................................................................................................................... 5
Imagem 2 - Atividades desenvolvidas no CRAM-Q: A – Alimentação a Delphinus delphis B -
Transfusão sanguínea a Caretta caretta; C - Colonoscopia a Halichoerus grypus ................... 7
Imagem 3 - Atividades desenvolvidas no LH-UTAD: Necrópsias realizadas e respetivas
causas de morte (A) Genetta genetta (traumatismo); (B) Python regius (suspeita de IBD); (C)
Sus scrofa (traumatismo) ............................................................................................................ 8
Imagem 4 - “Gastão” a enrolar-se para o lado direito .............................................................. 11
Imagem 5 - Ração para periquitos da Zupreem® ................................................................... 12
Imagem 6 - Contenção a Melopsittacus undulatus segurando a cabeça com o polegar e o
indicador .................................................................................................................................. 14
Imagem 7 - Contenção a Melopsittacus undulatus segurando a cabeça entre o indicador e o
dedo médio ............................................................................................................................... 14
Imagem 8 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A - Teste de ameaça; B –
Reflexo pupilar à luz; C – Reflexo palpebral .......................................................................... 16
Imagem 9 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A – Reflexo flexor
podal; B – Reflexo patelar; C – Reflexo da retirada da asa ..................................................... 17
Imagem 10 - Manchas brancas no casco do “Frederico” ......................................................... 21
Imagem 11 – Placas ortopédicas: A - Placas ortopédicas posicionadas no plastrão do
“Frederico”; B - Remoção das placas ortopécias ..................................................................... 22
Imagem 12 - Evolução da fratura do “Frederico” .................................................................. 23
Imagem 13 - Lesões resultantes do novo traumatismo do “Frederico”: A – Vista ventral das
lesões na transição dos escudos humerais e peitorais; B – Vista lateral das lesões nos escudos
marginais junto ao membro pélvico esquerdo; C – Vista lateral das lesões nos escudos
marginais do lado direito; D – Vista dorsal das lesões nos escudos marginais da carapaça
(Fonte: Fotos gentilmente cedida pelo CVEP) ......................................................................... 23
Imagem 14 - Identificação dos escudos do casco de um quelónio .......................................... 24
Imagem 15 - Reconstrução da fratura com acrílico num quelónio .......................................... 26
Imagem 16 - Reconstrução cirúrgica com: A – placas ortopédicas a Terrapene carolina
carolina; B - arames cirúrgicos a Pseudemys nelsoni; C – agrafos de cavilhas intramedulares a
Testudo hermanni .................................................................................................................... 28
xi
Imagem 17 - Reconstrução de uma fractura com as abraçadeiras de Nylon a Chelydra
serpentina: A – colagem das selas de montagem; B – Aperto das abraçadeiras de Nylon com
um alicate; C – Resultado final ............................................................................................... 29
Imagem 18 – Reconstrução cirúrgica de uma fratura com ganchos e abraçadeiras de Nylon a
Testudo graeca: duas abraçadeiras de Nylon comuns (pretas) foram utilizadas para reduzir a
fratura dorsoventral, enquanto que para conseguir a redução da fratura craniocaudal foi
necessário recorrer a uma abraçadeira de Nylon mais resistente (branca) .............................. 30
Imagem 19 – Reconstrução cirúrgica da fratura da carapaça a Testudo hermanni: A – Lesão;
B – Molde do defeito; C – Colagem do molde pintado à carapaça ......................................... 30
Imagem 20 – Reconstrução cirúrgica de fraturas recorrendo a: A – Gesso de Ortoplast® em
Sternotherus odoratus; B – Vet-lite® em Trachemys scripta; C – Material termo-moldável em
Trachemys scripta scripta ....................................................................................................... 31
Imagem 21 – Fechamento assistido a vácuo a Caretta caretta ................................................ 32
Imagem 22 - Dador: Tartaruga boba “Pseudo” ........................................................................ 33
Imagem 23 - Transfusão sanguínea na “Storm ....................................................................... 34
Imagem 24 - Tartaruga boba “Storm” em março ..................................................................... 35
Imagem 25 - Contenção de uma tartaruga marinha ................................................................ 37
Imagem 26 - Recolha de sangue do seio cervical dorsal de uma tartaruga marinha ................ 38
Imagem 27 - Prova cruzada negativa do teste rápido com a técnica em lâmina de microscopia
em felídeos .............................................................................................................................. 38
Imagem 28 - Prova cruzada positiva do teste rápido com a técnica em lâmina de microscopia
em felídeos .............................................................................................................................. 38
Imagem 29 - Oxyglobin ® Biopure: hemoglobina bovina purificada ..................................... 40
Imagem 30 - Foca cinzenta “Baleal” ........................................................................................ 41
Imagem 31 - Raio-X do abdómen lateral da “Baleal” ............................................................. 42
Imagem 32 - Acesso venoso para colheita de sangue na Phoca vitulina ................................ 42
Imagem 33 – Intubação endotraqueal da “Baleal” .................................................................. 43
Imagem 34 – Anisaquídeos ................................................................................................... 43
Imagem 35 – Hidratação oral da “Baleal” ............................................................................... 45
Imagem 36 – Suplementos vitamínicos AQUAVITS ............................................................. 45
Imagem 37 - Ciclo de vida de um anisaquídeo: Anisakis simplex .......................................... 46
Imagem 38 - Nematodes (possivelmente) do género Contracaecum aderidos à mucosa
gástrica de Pagophilus groenlandicus...................................................................................... 47
xii
Imagem 39 - Ovo de Anisakis sp .............................................................................................. 47
Imagem 40 - Ovo de Contracaecum ........................................................................................ 47
Imagem 41 – Golfinhos-comuns de bico curto “Barra” e “Martinha” ..................................... 49
Imagem 42 - Posicionamento no tanque (oval) dos participantes durante a alimentação ....... 51
Imagem 43 - Bidão de plástico ................................................................................................. 53
Imagem 44 - Brincadeiras com a mangueira ............................................................................ 53
Imagem 45 - “Bank of fish” .................................................................................................... 54
Imagem 46 - Evolução do esquema “Paralelo” ........................................................................ 55
Imagem 47 - Distribuição mundial de Delphinus delphis ....................................................... 57
Imagem 48 - Delphinus delphis .............................................................................................. 58
Imagem 49 - “Feeding swarm” ................................................................................................ 59
Imagem 50 - Caça cooperativa de cavalas pelos tubarões e golfinhos .................................... 60
Imagem 51 - “Bow-riding” ...................................................................................................... 60
xiii
xiv
Índice de gráficos
Gráfico 1 - Casuística observada no CVEP em percentagem, segundo à classe taxonómica a
que os animais pertencem .......................................................................................................... 6
Gráfico 2 - Casuística observada no CRAM-Q em percentagem, segundo à classe taxonómica
a que os animais pertencem ........................................................................................................ 7
Gráfico 3 - Casuística observada no LHAP-UTAD em percentagem, segundo à classe
taxonómica a que os animais pertencem .................................................................................... 8
xv
xvi
Índice de tabelas
Tabela 1 - Sinais clínicos e resposta ao exame neurológico nas diferentes doenças ............... 18
Tabela 2 - Tratamento antiparasitário aplicado na “Baleal” .................................................... 44
Tabela 3 - Anti-helmínticos usados em pinípedes ................................................................... 48
Tabela 4 - Número de animais observados: CVEP. ................................................................. 71
Tabela 5 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam os mamíferos .... 72
Tabela 6 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam as aves ............... 74
Tabela 7 - Descrição da casuística do CVEP segundo as lesões que afetam os répteis ........... 76
Tabela 8 - Descrição da casuística do CVEP segundo os restantes serviços gerais requisitados
.................................................................................................................................................. 77
Tabela 9 - Número de animais observados: CRAM-Q. ........................................................... 78
Tabela 10 - Descrição da casuística segundo o motivo de ingresso, o diagnóstico e o respetivo
destino final .............................................................................................................................. 78
Tabela 11 – Número de animais observados: LHAP-UTAD. .................................................. 80
Tabela 12 - Diagnóstico macroscópico dos animais necropsiados .......................................... 80
Tabela 13 - Resultado das análises sanguíneas da “Baleal” com respetivos valores de
referência para a foca cinzenta ................................................................................................. 81
Tabela 14- Nomes científicos e nomes comuns das diferentes espécies animais descritas ..... 83
xvii
xviii
Acrónimos, siglas e abreviaturas
% Percentagem
µ Micro
ACD Ácido-citrato-dextrose
ALP Fosfatase alcalina
ALT Alanina aminotransferase
AST Aspartato transaminase
BID “bis in die” (duas vezes por dia)
BUN Nitrogénio ureico no sangue
CHGM Concentração de Hemoglobina Globular Média
CPK Creatina fosfotransferase
CRAM-Q Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios
CVEP Centro Veterinário de Exóticos do Porto
EDTA Ácido etilenodiaminotetracético
FA Frequência absoluta
FR Frequência relativa
ga Gauge
GGT Gamaglutamiltransferase
GMS “Global System for Mobile communications”(Sistema global de
comunicações móveis)
GPS “Global Positioning System” (Sistema de posicionamento global)
Ht Hematócrito
IM Intramuscular
IRM Imagem por Ressonância Magnética
IV Intravenoso
L3 Vertebra lombar 3
L4 Vertebra lombar 4
LDH Lactato desidrogenase
LHAP-UTAD Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro
NCI Nervo cranial olfatório
NCII Nervo cranial ótico
NCIII Nervo cranial oculomotor
xix
NCIV Nervo cranial troclear
NCV Nervo cranial trigémio
NCVI Nervo cranial abducente
NCVII Nervo cranial facial
NCVIII Nervo cranial vestibulococlear
NCIX Nervo cranial glossofaríngeo
NCX Nervo cranial vago
NCXI Nervo cranial acessório
NCXII Nervo cranial hipoglosso
NMI Neurónio Motor Inferior
NMS Neurónio Motor Superior
PDW “Platelet Distribution Width” (Índice de distribuição plaquetária)
PO “per os”(por via oral)
PT Proteínas Totais
QUID “quarter in die” (quarto vezes por dia)
RDW “Red cell Distribution Width” (índice de distribuição dos eritrócitos)
SC Subcutânea
SID “semel in die” (uma vez por dia)
TC Tomografia Computorizada
TSH Tirotropina
TID “ter in die” (três vezes por dia)
UI Unidades Internacionais
VAC “Vaccum Assisted Closure” (fechamento assistido a vácuo)
VGM Volume Globular Médio
VPM Volume Plaquetar Médio
xx
Capítulo 1 - Introdução
1. Introdução
Os estágios curriculares efetuados ao longo destes 6 meses permitiram a
complementação e a implementação de conhecimentos teóricos e práticos de Medicina
Veterinária com consequente preparação para a vida profissional através do contacto com o
ambiente de trabalho. A duração de cada um foi de 3 meses no Centro Veterinário de
Exóticos do Porto, de 2 meses no Centro de Reabilitação de Animais Marinhos de Quiaios e
aproximadamente de 1 mês no serviço de necrópsias do Laboratório de Histologia e Anatomia
Patológica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
A concretização de estágios em diferentes áreas permitiu a aprendizagem de
metodologias únicas dedicadas a cada uma, assim como da sua importância como contributo
para a sociedade.
O principal objetivo deste trabalho é o de mostrar 3 realidades diferentes a nível
nacional no âmbito dos animais exóticos e selvagens, descrevendo as diferentes metodologias,
limitações e especificações, que serão demonstradas através da descrição de abordagens
clínicas de casos exemplares de cada realidade. O relato destes casos clínicos permite
exemplificar a versatilidade do médico veterinário nas diversas áreas de atuação do médico
veterinário, principalmente na clínica de animais exóticos e na reabilitação de animais
marinhos. Outro objetivo deste relatório é o de descrever os conhecimentos e as técnicas
aprendidas no decorrer dos estágios curriculares que serão úteis na prática da Medicina
Veterinária no futuro.
1
Capítulo 1 - Introdução
2
Capítulo 1 - Introdução
(Lima, 2007). São diversos os métodos e as técnicas aplicadas para a sua observação
macroscópica, microscópica e ultra-estrutural com vista ao diagnóstico anátomo-patológico,
ao ensino e à investigação (Anónimo, 2014). As investigações desenvolvidas no LHAP
pertencem às áreas de oncologia e de patologia animal (Anónimo, 2013).
As necrópsias são realizadas em instalações próprias no Hospital Veterinário da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
A necrópsia é um exame realizado com as seguintes finalidades: determinar a causa
que originou a morte ou doença; diagnosticar morfologicamente e etiologicamente a
patologia; auxiliar o diagnóstico clínico criando uma conexão entre dados clínicos e a doença
manifestada; identificar anomalias congénitas; acompanhar a evolução da terapêutica com o
intuito de melhorar o seu emprego; participar ao clínico sobre a necessidade de
implementação de medidas sanitárias ou saúde pública; e recolher dados para análise
estatística ou epidemiológica (Oliveira et al, 2004).
3
4
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas
2. Atividades desenvolvidas
2.1. CVEP
No Centro Veterinário de Exóticos do Porto destacam-se como ações desempenhadas:
O acompanhamento de consultas; a contenção, a pesagem e a realização de exames
físicos nos animais; a medição de sinais vitais como a frequência cardíaca, a
frequência respiratória e a temperatura; a administração de medicamentos por via
intramuscular e subcutânea a pequenos mamíferos, a aves e a répteis; a alimentação
forçada por entubação gástrica com sonda a aves e a quelónios e, através de seringa, a
pequenos mamíferos; a realização de análises de urina recorrendo a tiras urinárias; a
execução e posterior visualização de esfregaços de fezes, de sangue, e de pelos ao
microscópico;
A observação e a assistência em procedimentos veterinários como as desparasitações,
as vacinas, as administrações de fármacos por via intravenosa e intraóssea, a
reanimação de animais, as cirurgias (Imagem 1A), as necrópsias (Imagem 1B) e os
exames complementares de diagnóstico como as análises sanguíneas, as radiografias e
as ecografias;
A visualização e a participação em outras atividades como a tosquia de coelhos, os
banhos (Imagem 1C), o corte de unhas, de penas e do bico em aves e o corte de unhas
em pequenos mamíferos;
O auxílio na manutenção da higiene e bem-estar dos animais com limpeza das
instalações e das respetivas jaulas, o fornecimento de água e de alimentos frescos.
5
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas
11%
32%
Aves
Mamíferos
Répteis
57%
Gráfico 1 - Casuística observada no CVEP em percentagem, segundo à classe taxonómica a que os animais
pertencem.
No total foram avaliados 242 animais (Anexo 1, Tabela 4). Quanto ao motivo da
requisição dos serviços do CVEP, estes variavam desde o serviço de hotelaria, a diagnóstico e
tratamento de patologias diversas (Anexo 1, Tabelas 5-8).
2.2. CRAM-Q
Os trabalhos desenvolvidos durante o estágio no Centro de Reabilitação de Animais
Marinhos de Quiaios incluíram:
A admissão de animais; a contenção, a pesagem e a realização de exames físicos;
A preparação e a alimentação de aves, de tartarugas marinhas, de focas e de golfinhos
(Imagem 2A); a alimentação forçada por entubação gástrica com sonda a uma
tartaruga marinha e a aves;
A hidratação oral por sonda gástrica a aves e a hidratação intracelómica a tartarugas
marinhas;
A administração de fármacos por via intramuscular a aves, a tartarugas marinhas e a
focas;
A colheita de sangue a aves;
A libertação de aves;
6
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas
A maioria da casuística observada (39 casos) pertence à classe das aves (32 casos),
seguido dos mamíferos (4 casos) e, finalmente, dos répteis (3 casos) (Gráfico 2).
8%
12%
Aves
Mamíferos
Répteis
80%
7
Capítulo 2 - Atividades desenvolvidas
2.3. LHAP-UTAD
No estágio decorrido no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, as atividades desenvolvidas envolveram
predominantemente a realização de necrópsias e, sempre que possível, a determinação da
causa de morte através do diagnóstico macroscópico das lesões examinadas (Imagens 3A, 3B
e 3C).
Imagem 3 - Atividades desenvolvidas no LH-UTAD: Necrópsias realizadas e respetivas causas de morte (A)
Genetta genetta (traumatismo); (B) Python regius (suspeita de IBD); (C) Sus scrofa (traumatismo) (Fotos
gentilmente cedidas pelo LH-UTAD).
6%
33%
Aves
Mamíferos
61% Répteis
9
10
Capítulo 3 - Casos clínicos
3. Casos clínicos
Os casos clínicos descritos pertencem à casuística observada nos estágios executados
no CVEP e no CRAM-Q.
A síndrome vestibular num periquito (Melopsittacus undulatus) e a fratura do casco
numa tartaruga semiaquática (Trachemys sp.) foram os casos clínicos escolhidos do Centro
Veterinário de Exóticos do Porto; já a transfusão sanguínea numa tartaruga-boba (Caretta
caretta), a infeção parasitária por anisaquídeos numa foca cinzenta (Halichoerus grypus) e a
modificação comportamental dos golfinhos-comuns de bico curto (Delphinus delphis) foram
os eleitos do CRAM-Q.
3.1. CVEP
3.1.1. Síndrome vestibular em Melopsittacus undulatus
3.1.1.1. Relato do caso
No dia 6 de setembro de 2013, o “Gastão”, um periquito macho de idade desconhecida
com 33 gramas de peso, surgiu no CVEP com sinais neurológicos que teriam surgido há
aproximadamente 3 horas. A ave apresentava-se alerta mas demostrava a presença de
tiques/espasmos evidentes contínuos. O corpo do
animal enrolava-se parcialmente para o lado direito,
regressando a uma posição inicial normal (Imagem
4). Também apresentava ataxia em marcha e em
estação.
O animal fora adquirido pelo proprietário há
aproximadamente 3 meses. A sua alimentação era à Imagem 4 - “Gastão” a enrolar-se para o
lado direito (Foto gentilmente cedida pelo
base de sementes, estando a sua gaiola localizada CVEP).
durante o dia na varanda, e à noite na cozinha. Dado o posicionamento habitual do alojamento
do animal, existia uma forte suspeita de que o animal pudesse ter estado em contacto com
fumos de grelhadores.
Não foi possível realizar um exame físico completo ao “Gastão” devido à presença de
uma incoordenação motora grave e, do seu estado geral não o aconselhar. Como tal, o animal
fora imediatamente internado e colocado numa câmara de oxigénio.
Durante o internamento, foi administrado tratamento de suporte com fluidoterapia
recorrendo a Lactato Ringer e Duphalyte® SC BID para hidratar e cobrir possíveis
11
Capítulo 3 - Casos clínicos
deficiências nutricionais, não tendo sido necessário proceder a alimentação forçada dado que
a ave conseguia consumir alimento por si própria.
Também foi iniciado antibioterapia com 10
mg/Kg IM BID de enrofloxacina, pois outro
diagnóstico diferencial para a sintomatologia
vestibular seria a de uma infecção; e terapia anti-
inflamatória com 0,5 mg/Kg IM SID de
meloxicam (Loxicom 5mg/mL) para reduzir a
inflamação a nível intracraniano.
O “Gastão” melhorou no dia seguinte,
estando ausente o comportamento de enrolamento
que apresentava no dia anterior. Assim, teve alta,
com indicações para continuar com Imagem 5 - Ração para periquitos da Zupreem®
(Fonte:
enrofloxacina por mais 10 dias PO e
http://www.drsfostersmith.com/product/prod_display.c
0,3 mg/Kg PO SID de meloxicam fm?c=5059+5911+5913+6205&pcatid=6205).
(Meloxivet® 1,5 mg/mL) por 5 dias. Também foi recomendado a mudança da dieta com uma
ração específica para periquitos (Imagem 5).
No dia 20 de novembro, o CVEP contatou novamente o proprietário do “Gastão”. Este
referiu que a ave estava totalmente recuperada e já não apresentava quaisquer dos sinais
neurológicos que a afligiram.
12
Capítulo 3 - Casos clínicos
13
Capítulo 3 - Casos clínicos
de forma a envolver gentilmente o corpo. O polegar e o anelar podem ser utilizados para
manipular as asas ou os membros pélvicos (Imagem 7). No entanto, o uso de força excessiva
nesta abordagem pode causar danos físicos no animal (Girling, 2003).
O exame físico das aves não varia muito do exame realizado nos restantes animais,
começando na cabeça e terminando a nível da cloaca e/ou da
glândula uropigial (Tully Jr., 2009). O uso de um estetoscópio
pediátrico permite uma melhor avaliação do coração e dos
pulmões. A auscultação cardíaca e a auscultação respiratória
são realizadas com o estetoscópio colocado na parede lateral e
na parede craniodorsal do corpo da ave, respetivamente (Tully
Jr. 2009).
A avaliação da condição corporal é feita pela
combinação da palpação dos músculos peitorais, da Imagem 7 - Contenção a
Melopsittacus undulatus
examinação da gordura subcutânea e da medição do peso periquito segurando a cabeça
entre o indicador e o dedo
recorrendo a uma balança (Donneley et al, 2006). médio (Fonte: Girling, 2003).
14
Capítulo 3 - Casos clínicos
15
Capítulo 3 - Casos clínicos
Imagem 8 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A - Teste de ameaça; B –
Reflexo pupilar à luz; C – Reflexo palpebral (Fonte: Platt, 2006).
16
Capítulo 3 - Casos clínicos
Reação de colocação dos membros: é dado um poleiro para a ave subir; o teste
também pode ser efetuado com os olhos da ave vendados, em que o animal é
estimulado a agarrar o poleiro ao sentir o toque deste na face dorsal do seu pé.
Os reflexos espinhais permitem determinar se uma lesão é central (neurónio motor
superior) ou periférica (neurónio motor inferior) (Benett, 1994).
As lesões do neurónio motor inferior (NMI) podem originar uma diminuição ou
ausência de um determinado reflexo, enquanto as lesões do neurónio motor superior (NMS)
geralmente resultam num reflexo exagerado (Platt, 2006).
Para a avaliação dos reflexos espinhais, podem ser efetuados os seguintes testes (Platt,
2006):
Reflexo esfíncter cloacal: deve ser observada uma contração dos músculos do esfíncter
externo e um “tail bob” (sacudidela da cauda) quando a cloaca é beliscada;
Reflexo flexor podal (Imagem 9A): consiste em aplicar um estímulo doloroso através
de um beliscão em cada pé e a consequente avaliação da resposta de ambos os
membros em simultâneo;
Reflexo patelar: uma pancada leve é desferida diretamente no tendão patelar (Imagem
9B);
Reflexo da retirada da asa: consiste em beliscar a área correspondente à inserção das
penas primárias do dedo maior (Imagem 9C).
Imagem 9 - Testes de avaliação dos nervos craniais a Ara ararauna: A – Reflexo flexor podal; B –
Reflexo patelar; C – Reflexo da retirada da asa (Fonte: Platt, 2006).
Como as aves não possuem o músculo do tronco cutâneo, o teste do reflexo do tronco
cutâneo não pode ser utilizado para localizar uma lesão da medula espinhal nesta área. Não
obstante, os folículos das penas possuem fibras nervosas sensitivas (Platt, 2006).
Os reflexos nociceptivos são reservados para os animais que demonstram a presença
de doenças da medula espinhal (com base na marcha alterada) e para os que apresentam
17
Capítulo 3 - Casos clínicos
resultados anormais nos reflexos propriocetivos e espinhais (Platt, 2006). Se for necessário
realizar os testes para a avaliação dos reflexos nociceptivos, estes deverão ser feitos no final,
para que os estímulos dolorosos não influenciem a resposta do animal nos restantes
parâmetros da avaliação neurológica (Benett, 1994).
18
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.1.1.2.5. Diagnóstico
Os exames físico e neurológico permitem localizar uma lesão numa determinada
região do sistema nervoso (Clippinger e Platt, 2000). Estes servem como um indício a quais
os exames complementares de diagnóstico a realizar (Benett, 1994).
No caso de suspeita de uma neuropatia metabólica ou de uma doença infeciosa estão
indicados a realização de hemograma e de bioquímica sérica. A serologia é útil para a deteção
de agentes infeciosos como os vírus ou a clamidiose. Também pode ser necessário a medição
dos níveis de metais pesados no sangue, no caso de suspeita de toxicidade. A estimulação da
tirotropina (TSH) pode ser útil no despiste do hipotiroidismo (Benett, 1994).
A laparoscopia e a biópsia de órgãos servem de complemento no diagnóstico de
doenças metabólicas (Benett, 1994). A biópsia de um músculo é indicado para auxiliar na
confirmação do diagnóstico de uma doença da unidade motora (Platt, 2006).
A realização do raio-X está indicada tanto em casos de suspeita de trauma medular
como de intoxicação por metais pesados (Benett, 1994). A mielografia é usada para
identificar, caracterizar e localizar as lesões da medula espinhal nos compartimentos
extramedular e intramedular (Platt, 2006).
A análise do líquido cefalorraquidiano permite caracterizar as doenças infeciosas,
neoplásicas ou inflamatórias no cérebro ou na medula espinhal (Platt, 2006).
As técnicas de eletrodiagnóstico ajudam a distinguir entre uma neuropatia e uma
miopatia, a localizar lesões neurológicas e a determinar o prognóstico para o retorno da
função normal (Benett, 1994).
Já a cintigrafia permite avaliar os tecidos moles e as estruturas ósseas associadas com
o sistema nervoso (Platt, 2006).
A tomografia computorizada (TC) facilita a avaliação da coluna vertebral e do crânio
para a deteção de alterações no tecido mole do sistema nervoso central e do esqueleto
envolvente (Platt, 2006).
Finalmente, a imagem por ressonância magnética (IRM) possibilita a obtenção de um
contraste do tecido mole do sistema nervoso central com orientação espacial das estruturas
anatómicas. Também permite distinguir a matéria nervosa central cinzenta, da branca (Platt,
2006).
Nas aves em geral, o diagnóstico da síndrome vestibular é conseguido recorrendo a um
completo exame físico e exame neurológico, acompanhado de exames complementares como
análises sanguíneas, raio-X, TC e IRM (Clippinger e Platt, 2000).
19
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.1.1.2.7. Tratamento
Com a terapia, pretende-se a manutenção da função neurológica e a reparação das
estruturas danificadas (Clippinger e Platt, 2000).
O primeiro passo é tratar a causa subjacente, personalizando a terapêutica à etiologia
específica (Clippinger e Platt, 2000; Platt, 2006). Para o sucesso do tratamento pode ser
necessário recorrer à administração de eletrólitos, minerais e/ou vitaminas, a antídotos, a
antibióticos, a antifúngicos, a vacinação de pré-exposição, a antiparasitários e a anti-
inflamatórios (Clippinger e Platt, 2000).
As causas responsáveis pela presença de alterações neurológicas devem ser removidas
fisicamente com banhos, lavagens, cirurgia ou endoscopia; ou quimicamente com protetores e
ligantes para diminuir a absorção, e para aumentar a eliminação deve-se recorrer à catarse e à
diurese (Clippinger e Platt, 2000). Os sinais neurológicos são controlados pela terapia
anticonvulsiva e pela terapia anti-inflamatória (incluindo glucocorticóides) (Clippinger e
Platt, 2000; Platt, 2006).
O uso de corticosteróides é bastante controverso devido aos potenciais efeitos
secundários que o seu uso acarreta, não sendo recomendado em animais com história prévia
de imunossupressão ou de patologia fúngica. Tais complicações incluem a imunossupressão,
20
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.1.1.2.8. Prognóstico
O prognóstico está dependente do processo patológico e da localização da doença
(Clippinger e Platt, 2000).
No entanto, quando os periquitos apresentam casos agudos combinando vários sinais
clínicos neurológicos como a ataxia, a realização de círculos, paralisia, torcicolos, opistótonos
e a presença de convulsões ou espasmos, o diagnóstico torna-se difícil e como tal, o
prognóstico mau (Coles, 2007).
21
Capítulo 3 - Casos clínicos
22
Capítulo 3 - Casos clínicos
O “Frederico” continuou a frequentar o CVEP, tendo sido a sua última consulta no dia
11 de junho de 2013. A fratura já se apresentava quase totalmente consolidada (Imagem 12).
Como já fora referido, no dia 3 de outubro, o “Frederico” fora novamente
traumatizado por um canídeo, apresentando
lesões mais evidentes no plastrão cranial (no
mesmo local da fratura antiga (Imagem 13A)) e
nos escudos marginais junto aos membros
pélvicos, sem penetração da cavidade celómica
(Imagem 13B, 13 C e 13D).
Mais uma vez, foram aconselhadas as
lavagens das lesões com Betadine® e água, e
Imagem 12 - Evolução da fratura do
receitada antibioterapia com enrofloxacina “Frederico” (Fonte: Foto gentilmente cedida
pelo CVEP).
10mg/Kg IM SID. A próxima reavaliação ficara
marcada após 2 semanas.
Imagem 13 - Lesões resultantes do novo traumatismo do “Frederico”: A – Vista ventral das lesões
na transição dos escudos humerais e peitorais; B – Vista lateral das lesões nos escudos marginais
junto ao membro pélvico esquerdo; C – Vista lateral das lesões nos escudos marginais do lado
direito; D – Vista dorsal das lesões nos escudos marginais da carapaça (Fonte: Fotos gentilmente
cedida pelo CVEP).
23
Capítulo 3 - Casos clínicos
A carapaça é composta pela fusão do osso dérmico, das costelas e das vértebras
torácicas e lombares (Girling, 2003). Não possuem esterno (McArthur et al, 2004).
24
Capítulo 3 - Casos clínicos
São adicionadas novas camadas de placas epidérmicas à medida que o quelónio vai
crescendo (o escudo cresce a partir da periferia). Estas placas são mudadas com maior
frequência ao longo da vida de espécies de tartarugas semiaquáticas, quando comparadas com
as espécies terrestres (McArthur et al, 2004).
3.1.2.2.3. Prognóstico
Geralmente, os casos que apresentam um excelente prognóstico compreendem as
fraturas estáveis, lineares, simples e fechadas, ou sem envolvimento da medula espinhal.
Também estão incluídos neste grupo as lesões ligeiras resultantes de abrasões ou de
mordeduras de cães (Fleming, 2014).
Um bom prognóstico envolve os casos em que se apresentam as fraturas múltiplas,
instáveis ou abertas. Pode haver perda de fragmentos de grandes dimensões desde que não
haja lesões dos tecidos moles adjacentes (Fleming, 2014).
Nas fraturas em que há a perda de fragmentos de grandes dimensões conjuntamente
com a penetração do celoma, o prognóstico de sobrevida continua a ser bom, no entanto, o
animal poderá ficar com lesões estruturais a nível do casco que poderão condicionar a sua
locomoção, como por exemplo as fraturas múltiplas que destabilizam a zona do ombro ou a
área pélvica (Fleming, 2014).
Nas fraturas em que os órgãos da cavidade celómica são atingidos, o prognóstico passa
a ser reservado. Tais incluem as lesões viscerais, a evisceração do intestino, e a presença de
material estranho na área afetada (Fleming, 2014). Também as lesões pulmonares podem
conduzir a pneumonia necrosante não responsiva ao tratamento (Barten, 2006).
25
Capítulo 3 - Casos clínicos
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Capítulo 3 - Casos clínicos
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Capítulo 3 - Casos clínicos
O arame cirúrgico é enrolado à volta de cada par de parafusos numa figura em oito e o
nó é feito entre os dois. As extremidades livres são dobradas de encontro ao casco (Imagem
16B). Se tal não for possível, pode ser colocada massa epóxi nestas para proteção. Se os
arames forem apertados em excesso, poderão causar necrose por pressão (Fleming, 2014).
As cavilhas ortopédicas podem ser conformadas em
agrafos para o alinhamento de fraturas (Imagem 16C). Após a
redução da fratura, é perfurado um orifício em cada lado da linha
de fratura para inserir o agrafo. Quando todos os agrafos
estiverem posicionados, é colocada uma fita para proteção durante
24 a 48 horas. Posteriormente são recobertos por resina. Os
resíduos da resina são removidos juntamente com os agrafos no
final da recuperação do animal (Valiente, 2007).
Uma técnica barata e de fácil execução consiste na
combinação de um fio metálico (16 a 30 gauge de alumínio, latão
ou aço) com cola epóxi para construir pontes de metal que
atravessem a linha de fratura. Estes fios de metal são cortados em
tiras de 0,5 a 3 cm e coladas ao casco. As tiras são moldadas à
carapaça em forma de um arco para facilitar o tratamento da ferida
por baixo do fixador externo. Já no plastrão, as pontes devem ser
construídas de forma a não interferir com a locomoção normal do
animal (Barten, 2006).
Apesar das articulações não poderem ser imobilizadas na
sua totalidade, estas devem ser suficientemente estabilizadas, de
modo a que a musculatura potente não provoque o deslocamento
Imagem 16 - Reconstrução
dos fragmentos (McArthur e Hernandez-Divers, 2004). cirúrgica com: A – placas
O local da fratura deve ser inspecionado com frequência ortopédicas a Terrapene
carolina carolina; B -
para evitar a acumulação de material estranho e detetar o arames cirúrgicos a
Pseudemys nelsoni; C –
aparecimento de infeções (McArthur e Hernandez-Divers, 2004). agrafos de cavilhas
intramedulares a Testudo
O material cirúrgico também necessita de manutenção: os arames hermanni (Fonte: A -
Kishimori et al, 2001; B -
podem precisar de ser apertados e os parafusos soltos devem ser Fleming, 2008; C –
substituídos (Fleming, 2014). Valiente, 2007).
Após a remoção definitiva do material de fixação externo, os orifícios são lavados com
solução salina. Posteriormente, estes orifícios são preenchidos com sulfadiazina de prata para
28
Capítulo 3 - Casos clínicos
Após cicatrização, as selas são removidas com uma ferramenta plana, como uma
espátula ou uma faca (Forrester e Satta, 2005).
Esta técnica é menos invasiva para o animal mas, geralmente não promove tanta
estabilização quando comparada com a utilização combinada de parafusos e arames (Fleming,
2014).
29
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.1.2.2.4.4. Prótese
Uma prótese pode ser construída para cobrir os defeitos de grandes dimensões em
fraturas de casco. Para além de proteger os tecidos adjacentes, permite também o crescimento
de osso novo.
Em primeiro lugar, é necessário escolher um molde que se adapte ao tamanho do
animal. Estes moldes são previamente construídos com fibra de vidro poliéster a partir do
casco de outros quelónios.
De seguida, uma nova camada é fabricada com o mesmo material através da impressão
negativa do defeito (Imagem 19A e 19B). Este procedimento garante uma melhor adesão da
prótese ao casco.
Finalmente, a prótese é desinfetada e colada ao casco (Imagem 19C).
30
Capítulo 3 - Casos clínicos
31
Capítulo 3 - Casos clínicos
32
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.2. CRAM-Q
3.2.1. Transfusão sanguínea em Caretta caretta
3.2.1.1. Relato do caso
A “Storm” é uma tartaruga marinha juvenil da espécie Caretta caretta que estava em
processo de reabilitação desde o dia 21 de janeiro de 2013, devido à presença de uma úlcera
na carapaça.
Em novembro de 2013, o estado geral do animal piorou, tendo sido a principal
suspeita uma possível septicemia. Ostentava uma atitude apática, anorexia (com regurgitação
após alimentação forçada), as mucosas pálidas e os olhos encovados.
Nas análises sanguíneas realizadas a dia 18 de novembro detetou-se ainda a presença
de anemia com o hematócrito de 11,86% e as proteínas totais de 3,4 g/dL.
Após a avaliação exaustiva do caso e, como complemento aos tratamentos efetuados
na “Storm”, optou-se por realizar uma transfusão
sanguínea com sangue inteiro. Este sangue foi colhido da
“Pseudo” (Imagem 22), uma tartaruga marinha da mesma
espécie da “Storm”.
A “Pseudo” fora transferida do oceanário para o
CRAM-Q no dia 29 de julho de 2013, para o tratamento
de uma infeção ocular bilateral causada por Pseudomonas Imagem 22 - Dador: Tartaruga-
boba “Pseudo” (Fonte: Foto
sp.. gentilmente cedida pelo CRAM-
Q).
Apesar de ter tido história de infeção recente, o
animal apresentava-se saudável e, como não havia mais nenhum candidato disponível, foi o
escolhido para dador. As análises sanguíneas realizadas na “Pseudo” indicaram os valores de
hematócrito de 33% e de proteínas totais de 5 g/dL.
Realizou-se a prova cruzada pelo método rápido da técnica em lâmina de microscopia
entre o dador e recetor. O protocolo utilizado foi o mesmo do rotineiramente usado em cães e
33
Capítulo 3 - Casos clínicos
gatos, com a exceção de que o anticoagulante utilizado foi a heparina. O resultado do teste
deu negativo com ausência de aglutinação.
Os cálculos efetuados para a transfusão sanguínea foram os seguintes:
Arredondou-se o volume de sangue inteiro a ser transferido para os 10 mL, uma vez
que se optou por utilizar um índice inferior ao correspondente dos répteis (o fator de espécie
para tartarugas marinhas é desconhecido).
Foi colhido 10 mL de sangue do
dador (ter-se-ia podido recolher até 172
mL (0,01 × 17200 g ÷ 1 = 172 mL) já que
a “Pseudo” pesava 17,2 Kg).
O anticoagulante utilizado foi a
heparina, optando-se por usar a razão de
7,5 UI de heparina para cada mL de
sangue inteiro, ou seja, 75 UI para os 10
Imagem 23 - Transfusão sanguínea na “Storm” (Fonte:
mL de sangue. Como a solução injetável Foto gentilmente cedida pelo CRAM-Q).
de heparina sódica continha 25000UI/5mL e a quantidade necessária era muito pequena (75
UI × 5mL ÷ 25000 UI = 0,015 mL), fez-se uma diluição com NaCl 0,9%. Com uma diluição
de 0,5 mL de heparina em 20 mL de NaCl, a nova solução passou a conter 2500 UI de
heparina (25000 UI × 0,5mL ÷ 5 mL = 2500 UI). O volume utilizado desta nova solução foi
de 0,6 mL (75 UI × 20mL ÷ 2500 = 0,6 mL) que foi misturado com o sangue inteiro
recolhido, até perfazer os 10 mL.
Antes do procedimento, administrou-se 0,1 mg/Kg IM de dexametasona na “Storm”,
como forma de prevenção a uma possível reação adversa à transfusão.
A zona dorsal da cabeça foi desinfetada com Betadine® topicamente, e o seio cervical
dorsal foi puncionado com uma agulha do tipo “butterfly” 21 G. Exerceu-se sucção com a
seringa até o sangue da “Storm” presente no tubo do tipo “butterfly” se misturar com o sangue
da seringa, removendo assim as bolhas de ar presentes. O sangue presente na seringa foi
administrado manualmente de forma lenta (Imagem 23). O animal ficou ainda sob observação
atenta ao longo do dia, sem sofrer complicações.
34
Capítulo 3 - Casos clínicos
Uma nova colheita de sangue foi realizada à “Storm” no dia 21 de novembro de 2013.
Os resultados das análises mostraram os valores
de Ht 15,95 % e PT 3,8 g/dL.
Dado que a transfusão sanguínea fora
bem-sucedida, esta foi repetida novamente após
10 dias com sucesso.
A “Storm” continuou em reabilitação e
em março de 2014 estava mais ativa, aumentara
de peso, as mucosas apresentavam-se mais
rosadas e os olhos já não tinham uma aparência Imagem 24 - Tartaruga boba “Storm” em
março (Fonte: Foto gentilmente cedida pelo
tão encovada (Imagem 24). Também já se CRAM-Q).
35
Capítulo 3 - Casos clínicos
Mais especificamente nos quelónios, não é comum ser necessário realizar uma
transfusão sanguínea. No entanto, as razões para o fazer podem incluir hemorragia aguda ou
anemia com risco de vida para o animal de outra origem (Wilkinson, 2004).
Uma vez que os eritrócitos dos répteis são nucleados, a avaliação laboratorial de
anemia é limitada. Como tal, só pode ser analisada por métodos manuais, o que consegue ser
considerado um obstáculo (Nelson et al, 2014). Suspeita-se que a anemia tenha uma origem
multi-fatorial nas tartarugas marinhas (Nelson et al, 2014).
3.2.1.2.2. Recetor
Antes de se efetuar uma transfusão sanguínea, o animal deve ser sujeito a um exame
do estado geral com identificação da doença em causa. A determinação do tipo de anemia
presente é feita através da colheita de sangue venoso para a hematologia e a bioquímica. No
mínimo, devem ser avaliados os parâmetros correspondentes ao hematócrito e às proteínas
totais do recetor (Schumacher, 2008).
3.2.1.2.3. Dador
O dador deve ser saudável, livre de doenças e, pertencer à mesma espécie. O estado
hígido do animal é determinado por um exame físico completo, umas análises sanguíneas
(hematologia e bioquímica sérica) e um exame fecal (esfregaço de fezes) (Schumacher, 2008).
Até 1% do peso corporal pode ser recolhido de uma tartaruga marinha saudável. A colheita de
uma quantidade superior pode conduzir à hipovolemia iatrogénica (Moon e Foerster, 2001;
Mader e Rudloff, 2006).
36
Capítulo 3 - Casos clínicos
25) (Hulst, 2000). Esta técnica é utilizada no CRAM-Q para contenção e transporte, sendo
este último utilizado exclusivamente nos
animais leves e de pequeno porte.
Pode ser necessário até quatro
indivíduos para elevar os animais de maiores
dimensões. Um par segura de cada lado nas
barbatanas dianteiras o mais proximal possível
acima do carpo, enquanto o outro par segura
na carapaça a nível da fossa inguinal. As
tartarugas pequenas geralmente são contidas Imagem 25 - Contenção de uma tartaruga marinha
(Fonte:
por uma única pessoa sem grandes http://www.institutobotocinza.org/2011_02_01_arc
dificuldades (Hulst, 2000). hive.html).
37
Capítulo 3 - Casos clínicos
distância de 1/3 a ½ desde a borda da carapaça até à porção posterior da cabeça (Imagem 26)
(Owens, 1999; Hulst, 2000). Se o procedimento a realizar for de curta duração, pode ser
utilizado um cateter do tipo “butterfly” (Schumacher, 2008).
Após a punção da pele, aplica-se sucção e movimenta-se a agulha lentamente para
cima e para baixo até localizar o seio
(Owens, 1999).
Outros acessos comuns incluem:
o seio supravertebral na linha média do
pescoço dorsal, caudalmente ao processo
supraoccipital; a veia dorsal da cauda na
linha média dorsal da cauda, em
tartarugas de maiores dimensões; e a veia
jugular que se localiza
paravertebralmente numa posição que Imagem 26 - Recolha de sangue do seio cervical dorsal
de uma tartaruga marinha (Fonte: Wyneken et al,
corresponde à 1 ou às 11 horas no 2006).
pescoço (sendo as 12 horas dorsal e as 6 horas ventral), entre o par de músculos suspensores
(Hulst, 2000; Wyneken et al, 2006).
Os acessos intravenosos utilizados para a recolha de sangue também podem ser usados
para a realização de uma transfusão sanguínea. Outra via para a administração será a
intraóssea (Schumacher, 2008).
3.2.1.2.6. Cross-matching
O cross-matching não é realizado rotineiramente (Schumacher, 2008), mas pode ser
feito um teste rápido recorrendo à técnica em lâmina de microscopia (Imagem 27 e 28),
principalmente se já existir uma história prévia de transfusões sanguíneas (Mader e Rudloff,
2006).
3.2.1.2.7. Anticoagulantes
O anticoagulante mais empregado para a recolha de sangue do dador é a heparina
sendo recomendado 5 a 10 UI/mL de sangue. A solução de citrato contendo ácido-citrato-
dextrose (ACD) e sangue num rácio 1:9 também pode ser utilizada (Schumacher, 2008).
O ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) provoca a lise das células sanguíneas em
quelónios e, como tal, não deve ser usado (Owens, 1999; Wyneken et al, 2006).
3.2.1.2.9. Filtro
Como um grande número das transfusões sanguíneas nos répteis são administradas
através do uso de uma seringa, é recomendado a utilização de um filtro “in line” com
dimensão dos poros a 80µm. O objetivo é prevenir a inserção de coágulos de sangue e detritos
celulares no recetor (Schumacher, 2008). Já o filtro standard “MILLIPORE”, pode impedir a
passagem dos eritrócitos de grandes dimensões dos répteis (Mader e Rudloff, 2006).
O sangue inteiro deve ser administrado através de um cateter IV largo de modo a
prevenir a hemólise dos eritrócitos e a agregação plaquetária (Schumacher, 2008).
Volume de sangue a transferir = Peso corporal (Kg) × fator da espécie × (ht (%)
desejado – ht (%) do recetor) ÷ ht (%) do dador com anticoagulante
39
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.2.1.2.11. Evolução
Se a transfusão for bem-sucedida, o animal apresentará uma melhoria da força em
geral, da qualidade do pulso, da cor das membranas mucosas e do hematócrito duas horas
após a administração. Nas situações em que tal não se verifique, como por exemplo em perdas
de sangue contínua, na hematopoiese diminuída ou na presença de hemólise, devem ser
continuadas as medidas de diagnóstico para a determinação da causa do problema
(Schumacher, 2008).
40
Capítulo 3 - Casos clínicos
41
Capítulo 3 - Casos clínicos
Imagem 32 - Acesso venoso para colheita de sangue na Phoca vitulina (Fonte: Bossart et al, 2001).
Para colher sangue a partir da veia epidural, a agulha é inserida perpendicularmente à
linha média do animal, entre as vértebras lombares L3-L4 (as vértebras são contadas no
sentido caudo-cranial a partir da crista ilíaca). As veias interdigitais plantares são puncionadas
num ângulo de 10º-20º à pele, diretamente sobre o 2º dedo ou medialmente ao 4º dedo na
origem da membrana interdigital (Guland et al, 2001).
42
Capítulo 3 - Casos clínicos
43
Capítulo 3 - Casos clínicos
provocada pelos parasitas no sistema digestivo com consequente perda de sangue provocou a
diminuição da hemoglobina; a leucocitose resulta do processo inflamatório/infecioso
parasitário; e a hiponatremia pode ser justificada por um menor consumo de sódio na dieta.
Após recobro do animal, iniciou-se um protocolo de desparasitação com febendazol
PO SID (Tabela 2).
44
Capítulo 3 - Casos clínicos
Para que a administração seja rápida e assim, menos stressante para o animal, outros
membros da equipa são encarregues
por voltar a encher e passar as
seringas com os fluídos
previamente aquecidos (Imagem
35).
Após a administração, a
extremidade livre da sonda é
dobrada antes da remoção para
evitar que algum líquido ainda
presente no seu interior escorra
para a traqueia/pulmões, aquando Imagem 35 – Hidratação oral da “Baleal” (Fonte: Foto
gentilmente cedida pelo CRAM-Q).
da remoção do tubo.
Uma vez que a foca começara a alimentar-se sozinha, passou a administrar-se a
enrofloxacina e a metoclopramida por via oral. Os comprimidos eram colocados no peixe
juntamente com complexos vitamínicos (1
comprimido de AQUAVITS PO SID (Imagem
36)) e sal (1 grama de sal por cada kg de peixe).
Inicialmente, apenas era dado uma pequena
quantidade de alimento para a restauração do
equilíbrio gastrointestinal, aumentando
progressivamente à medida que o animal ia
Imagem 36 – Suplementos vitamínicos
melhorando (os pinípedes jovens podem consumir AQUAVITS (Fonte:
http://www.izvg.co.uk/productrange.html).
desde 8% a 15 % do seu peso corporal por dia
(Gulland et al, 2001)).
O animal continuou em processo de reabilitação no CRAM-Q atingindo 43 Kg de peso
vivo, tendo sido libertado no dia 15 de março de 2014 no norte da Europa.
45
Capítulo 3 - Casos clínicos
46
Capítulo 3 - Casos clínicos
No que toca aos pinípedes, o nematode mais frequente pertence à família Anisakidae,
parasitando o estômago e duodeno destes animais (Raga et al, 2005).
Os pinípedes são os hospedeiros definitivos de parasitas dos géneros como
Pseudoterranova e Phocascaris. O género Contracaecum surge nos otariídeos e nos focídeos;
já o Anisakis simplex pode amadurecer nos focídeos, particularmente na foca cinzenta (Raga
et al, 2005).
47
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.2.2.2.5. Tratamento
Os desparasitantes utilizados no Homem também poderão muito provavelmente ser
aplicados nos mamíferos marinhos. No entanto, o efeito nestes animais poderá divergir
quando comparada com a do ser humano. Apesar de já terem sido usados vários anti-
helmínticos em mamíferos marinhos, poucos foram testados para determinar a sua eficácia na
remoção de parasitas. Alguns fármacos têm efeitos secundários graves que podem causar a
morte. Além disso, como a resposta inflamatória do hospedeiro à presença de parasitas mortos
pode ser superior à reação aos parasitas vivos, o tratamento pode agravar os sinais clínicos
(Dailey, 2001).
O febendazol e a ivermectina têm sido utilizados com sucesso contra os nematodes
(Dailey, 2001). Outros anti-helmínticos utilizados para o tratamento de nematodes
gastrointestinais incluem os diclorvos orais (30mg/Kg) e o mebendazol (Stoskpoft, 2012).
Contudo, há referências de que os organofosforados diclorvos são responsáveis por sinais
neurológicos em mamíferos marinhos (Tabela 3) (Stoskpoft et al, 2001).
Anti-helmíntico Posologia
Febendazol 50 mg/Kg PO
Ivermectina 0,2 mg/Kg PO
Mebendazol 15 mg/Kg PO q 24h × 2
Levamisol 10 mg/Kg PO
48
Capítulo 3 - Casos clínicos
49
Capítulo 3 - Casos clínicos
50
Capítulo 3 - Casos clínicos
mais pesada. Os animais jovens devem consumir entre 9% a 15% do seu peso vivo e os
adultos entre 4% a 9% (Marigo, 2006).
Os suplementos vitamínicos e as outras medicações eram colocados nas guelras dos
peixes conforme necessário. Como era colocado sal directamente na água, não era necessário
suplementar os animais com cloreto de sódio no peixe.
Antes da aplicação das novas metodologias sugeridas pela consultora externa, a
alimentação era organizada de modo a que cada golfinho se encontrasse num dos lados do
tanque. O responsável pela alimentação colocava-se a meio de uma das paredes laterais do
tanque e atirava o peixe para ambas as extremidades do tanque (cada golfinho comia sempre
no mesmo lugar). O reabilitador aguardava pacientemente que ingerissem o alimento antes de
atirar o seguinte. No caso de serem duas pessoas a efetuarem a alimentação, estas
localizavam-se cada uma num dos lados do tanque, sendo responsáveis por alimentar um dos
animais (Imagem 42).
Imagem 42 - Posicionamento
no tanque (oval) dos
participantes durante a
alimentação:
X - Técnico
M – “Martinha”
B – “Barra”
□ - Peixe
51
Capítulo 3 - Casos clínicos
52
Capítulo 3 - Casos clínicos
peixe congelados também têm como objetivo auxiliar na criação de uma ação cooperativa
entre os golfinhos que esteja relacionada com a
comida.
Todos estes materiais podem ser utilizados a
qualquer hora do dia como um reforço positivo
quando são observados comportamentos desejáveis
nos animais, que serão úteis no seu habitat natural.
Para extinguir os comportamentos aprendidos em
cativeiro que são prejudiciais para o animal, basta
deixar de dar um reforço positivo ao animal quando
este os exerce e, com o tempo ele deixará de os fazer
(O’Barry, 2005).
O enriquecimento ambiental pode ser
conseguido: pela introdução de novos objetos como Imagem 44 - Brincadeiras com a
mangueira (Fonte: Foto gentilmente
brinquedos, cordas, aparelhos acústicos e máquinas cedida pelo CRAM-Q).
capazes de criar correntes e sprays de água; pela variação do padrão alimentar; pela presença
do Homem e outros cetáceos na piscina; e pelos fenómenos naturais como a chuva e o vento.
Com estes mecanismos pretende-se estimular os animais evitando assim que se aborreçam e,
promover um bom tónus muscular e fitness pelo exercício físico (Barnett, 2005).
53
Capítulo 3 - Casos clínicos
Com o esquema “Paralelo” pretende-se que os animais aprendam a comer lado a lado
ao mesmo tempo que nadam à volta da piscina. Numa fase inicial, aproveitou-se o hábito de
cada animal se posicionar numa das extremidades do tanque para os ensinar a nadar em
círculos. Posteriormente foi-se diminuindo a distância, até conseguir que um dos animais
comesse imediatamente atrás do outro. Com tempo e persistência, a “Martinha” e a Barra”
aprenderam a comer paralelamente, embora ainda fosse comum o furto de peixes (Imagem
46).
54
Capítulo 3 - Casos clínicos
Imagem 46 - Evolução do
esquema “Paralelo”
X - Técnico
M – “Martinha”
B – “Barra”
□ - Peixe
- Direção do movimento
55
Capítulo 3 - Casos clínicos
O esquema “Paralelo” passou a ser utilizado para administrar as medicações dado que
os golfinhos perderam o hábito de roubar o alimento.
Futuramente, a próxima etapa será o fornecimento de presas viva.
Quando todos os requisitos necessários forem cumpridos, o CRAM-Q pretende
transferir ambos os animais para um sistema semi-natural de modo a avaliar a sua integração
no meio natural.
Muitos dos golfinhos que nasceram no seu habitat natural são considerados como
potenciais candidatos a devolver à Natureza. No entanto, não devem ser libertados os animais
que em cativeiro receberam um elevado grau de “imprinting” humano ou que tenham perdido
as capacidades essenciais à sua sobrevivência (O’Barry, 2005).
Todos os animais podem ser readaptados a um ambiente mais natural (como por
exemplo a uma espécie de “lagoa” no mar). Esta alteração tem um efeito terapêutico benéfico
na qualidade de vida do animal ao permitir que este seja exposto aos ritmos naturais do mar,
às correntes e a presas vivas. Esta readaptação também é fundamental no processo de
reabilitação para determinar se um golfinho reúne os requisitos necessários para ser libertado
(O’Barry, 2005). A decisão deve ser feita tendo em conta o estado de saúde do animal e a
probabilidade de sobrevivência na Natureza (Norberto et al, 2005).
A condição física e o estado hígido, o uso de sonar (ecolocalização), a capacidade para
capturar presas vivas e, a defesa contra os predadores são alguns dos critérios em ter em
atenção na avaliação de um possível candidato a ser devolvido ao seu habitat natural
(O’Barry, 2005).
A escolha do local e do momento para libertar um determinado animal depende da
espécie em causa, nomeadamente da hora do dia e da localização onde este se alimenta (costa
ou mar aberto), e ainda da possibilidade de encontrar outros indivíduos da sua espécie (no
caso de animais gregários). As condições meteorológicas e a presença de artes de pesca
também influenciam na sua liberação (Farré, 2001).
Os animais devem ser marcados antes da sua libertação. Tal permitirá a sua
identificação na eventualidade de voltarem a encalhar ou de serem avistados (Norberto et al,
2005). No CRAM-Q os animais são marcados com um sistema que permite o
acompanhamento permanente por satélite ou GPS/GMS. A “Barra” e a “Martinha” serão os
primeiros cetáceos a serem libertados pelo CRAM-Q e muito provavelmente também serão
marcados com um dispositivo próprio para a espécie.
56
Capítulo 3 - Casos clínicos
57
Capítulo 3 - Casos clínicos
Pacífico Oeste desde o Japão até à Tailândia; e circundando a Nova Caledónia, a Nova
Zelândia e a Tasmânia (Imagem 47) (Perrin, 2008).
Foram relatadas migrações sazonais no Mar Negro, na Nova Zelândia e a leste do
Pacífico Tropical (Perrin, 2008).
58
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.2.3.2.3. Alimentação
Os golfinhos alimentam-se principalmente de peixes, de lulas e de outros
invertebrados (Le Duc, 2008). A análise do conteúdo estomacal de golfinhos-comuns de
várias localizações indica que estes se alimentam: de pequenos cardumes de peixes, como por
exemplo as anchovas e as cavalas; de peixes de mares profundos como o peixe lanterna e o
eperlano; e de diversas espécies de lulas (Neumann e Orams, 2005).
Estes animais alimentam-se
principalmente durante a noite (Stefanelli e
Montanha, 2011).
As estratégias para a obtenção de
alimento são variadas e dependem do habitat,
da espécie a capturar, e da aprendizagem de
técnicas especializadas para a caça (Neumann
e Orams, 2005).
A coordenação de comportamentos de
forrageamento é frequente nos golfinhos e
pode ajudar na localização, na contenção ou
na captura de presas. Os golfinhos conseguem
coordenar a procura de presas ao permanecer
em contacto acústico, como a ecolocalização.
Para a contenção da presa, procedem ao
encurralando da presa entre os subgrupos, ou
Imagem 49 - “Feeding swarm” (Fonte: Reynoso,
espalham-se de modo a conduzir a presa em 1991).
59
Capítulo 3 - Casos clínicos
oportunista. É impossível saber qual destes grupos é o responsável pela formação destes
agrupamentos, uma vez que qualquer um deles pode chamar a atenção do outro. Outros
predadores também são alertados debaixo de água, como por exemplo os escombrídeos, os
carangídeos e os tubarões (Reynoso, 1991).
3.2.3.2.4. Comportamento
A observação dos golfinhos na Natureza pode ser complicada já que algumas espécies
são estritamente oceânicas, extremamente rápidas ou muito tímidas. É quase impossível
reconhecer o mesmo indivíduo repetidamente. O reduzido dimorfismo sexual também
dificulta a distinção entre os sexos (Santos, 1994). Assim, os conhecimentos sobre o
comportamento e a cognição são obtidos maioritariamente através da análise de animais
mantidos em cativeiro. A partir de experiências controladas, os golfinhos mostraram ser
capazes: de auto-reconhecimento, de incorporar conceitos abstratos e variações de sintaxe, e
de desenvolver novos comportamentos por iniciativa própria (Le Duc, 2008).
Na Natureza, os comportamentos mais observados incluem a caça cooperativa
(Imagem 50), o uso de ferramentas, o “bow-riding” (consiste no surf em ondas criadas por
barcos (Imagem 51) e baleias), diversas formas de brincadeiras, e as manobras acrobáticas.
3.2.3.2.5. Reprodução
Os delfinídeos são polígamos, em que as fêmeas têm crias de diferentes progenitores
ao longo da sua vida. Ainda de salientar que as crias dum mesmo grupo de fêmeas num
determinado ano podem ter pais diferentes (Santos, 1994).
Estes animais atingem a maturidade sexual tardiamente (Möeller, 2011), sendo as
fêmeas mais precoces do que os machos (Le Duc, 2008). No golfinho-comum esta varia
consoante a região: entre os 2-4 anos nas fêmeas e aos 3 anos nos machos do Mar Negro; e
entre os 6-8 anos nas fêmeas e os 7-12 anos nos machos do Pacífico Este e Atlântico Oeste
(Perrin, 2008).
A taxa de reprodução é baixa (Möeller, 2011), já que normalmente nasce apenas uma
cria em cada gestação e necessita de um investimento maternal elevado (Le Duc, 2008). Após
o nascimento, a mãe transporta a cria até à superfície para que respire pela primeira vez
(Stefanelli e Montanha, 2011).
Uma estimativa do tempo de gestação em Delphinus delphis varia entre os 10 meses e
os 11,7 meses, com intervalos entre gestações de 1 e 3 anos, no Mar Negro e no Pacífico Este,
respetivamente (Perrin, 2008). Os estudos indicam que o desmame das crias ocorre aos 5-6
meses no Mar Negro, embora possa durar até 10 meses noutras localizações geográficas
(Neumann e Orams, 2005). O pico de reprodução ocorre principalmente no verão (Neumann e
Orams, 2005).
Ocorrem frequentemente interações sexuais fora de contextos reprodutivos. Estas
sucedem-se entre as mães e as crias do sexo masculino e, entre os animais do mesmo sexo. A
cópula também parece ter um papel importante na manutenção dos laços sociais e das
estruturas hierárquicas (Santos, 1994).
61
Capítulo 3 - Casos clínicos
3.2.3.2.6. Longevidade
Os membros da família Delphinidae possuem uma grande longevidade, variando
desde os 20 anos para os delfinídeos de pequeno porte, até aos 60 anos de idade para os de
médio a grande porte (Möeller, 2011). No golfinho-comum há relatos de longevidade máxima
de 30 anos para ambos os sexos a oeste do Atlântico Norte (Perrin, 2008).
As causas de morte estão associadas a agentes patogénicos, a parasitas ou à predação
por tubarões ou orcas (Orcinus orca) (Le Duc, 2008).
62
Capítulo 4 - Conclusão
4. Conclusão
A realização dos diferentes estágios finalizada com a concretização deste relatório,
proporcionou a aquisição de novos conhecimentos teóricos e práticos que complementam os
já adquiridos durante os anos de estudo no curso da Medicina Veterinária. Também facultou a
oportunidade de exercitar técnicas empregadas na prática clínica exótica, na reabilitação da
vida selvagem e marinha, e na realização de necrópsias.
O estágio no CVEP mostrou a importância da interação do médico veterinário com o
proprietário e o seu animal para melhor abordagem do caso clínico em questão.
Já o estágio no CRAM-Q demonstrou que para a reabilitação dos animais selvagens e
marinhos se torna necessário a colaboração da equipa responsável com outras entidades cujas
áreas de ação podem não estar relacionadas diretamente com a Medicina Veterinária. O que
importa é que todos eles têm como objetivo comum o de resgatar e devolver a fauna selvagem
na Natureza após a sua reabilitação.
Por fim, o estágio no serviço de necrópsias LHAP-UTAD possibilitou a compreensão
da importância da Histologia e Anatomia Patológica como um meio de diagnóstico com
impacto nas diversas áreas da Medicina Veterinária. Providenciou a aquisição de experiência
na identificação de lesões macroscópicas presentes no cadáver e a consequente formulação do
diagnóstico presuntivo da causa de morte quando desconhecida.
Relativamente aos casos clínicos descritos, desconhece-se a causa certa da síndrome
vestibular no periquito, embora a principal suspeita seja a de uma possível infeção já que o
animal respondeu positivamente à antibioterapia.
O futuro da tartaruga semiaquática também é desconhecido pois, nunca mais voltou a
comparecer na clinica. Apesar de tratar-se de um caso delicado, uma vez que já fora atacada
anteriormente por um canídeo e necessitara de realizar uma reconstrução cirúrgica no casco, o
seu prognóstico seria provavelmente bom. As lesões anteriores estavam praticamente
consolidadas e as novas eram relativamente superficiais. Com o tratamento adequado e uma
vigilância apertada para evitar um novo ataque pelo cão, a tartaruga poderia recuperar sem
muitas dificuldades.
A técnica de transfusão sanguínea não é frequentemente efetuada em répteis, sendo a
bibliografia escassa para esta classe, onde estão integrados os quelónios. Como tal, a
metodologia utilizada teve como base os conhecimentos teórico-práticos aplicados na
medicina da transfusão em cães e gatos. O procedimento decorreu sem complicações,
fortalecendo o estado de saúde da tartaruga marinha e permitindo uma melhor resposta à
63
Capítulo 4 - Conclusão
64
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69
70
ANEXO 1 – Casuística: CVEP, CRAM-Q e LHAP-UTAD
Tabela 4 - Número de animais observados: CVEP. (F.A.: frequência absoluta; F.R.: frequência relativa)
71
Pogona vitticeps Dragão-barbudo 2 0,8%
Pseudemys sp. Tartaruga - “Cooter” 4 1,7%
Psittacus erithacus Papagaio cinzento 16 6,6%
Python regius Piton bola 2 0,8%
Serinus canaria Canário 12 5,0%
Spermophilus richardsonii Esquilo terrestre Richardson 2 0,8%
Streptopelia sp. Rola 1 0,4%
Testudo horsfieldi Tartaruga russa 1 0,4%
Trachemys scripta elegans Tartaruga-de-orelhas-vermelhas 4 1,7%
Trachemys sp. Tartaruga - “Slider” 2 0,8%
Total 242 100,0%
72
gastrointestinal Oryctolagus cuniculus Coelho 9
Impactação intestinal Chinchila laniger Chinchila 1
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Melena
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Obstrução intestinal Oryctolagus cuniculus Coelho 5
Vómito Mustela putorius furo Furão 1
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 3
Abcesso dentário
Oryctolagus cuniculus Coelho 4
Corpo estranho nos
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
dentes
Fratura da bacia Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Fratura da escápula Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Fratura incisivo
Cynomys sp. Cão-da-pradaria 1
Músculo- Luxação membro
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
esquelético torácico esquerdo
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Maloclusão dentária Chinchila laniger Chinchila 1
Oryctolagus cuniculus Coelho 3
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 5
Sobrecrescimento
Chinchila laniger Chinchila 2
dentário
Oryctolagus cuniculus Coelho 8
Capra aegagrus hircus Cabra anã 1
Traumatismo
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Convulsões Mustela putorius furo Furão 1
Parésia dos membros
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Nervoso pélvicos
Síndrome vestibular Oryctolagus cuniculus Coelho 2
Tremores Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Massa mamária Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Priapismo Chinchila laniger Chinchila 1
Reprodutor
Secreção sanguinolenta
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
mamária
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Dispneia Cynomys sp. Cão-da-pradaria 1
Respiratório
Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Infeção respiratória Oryctolagus cuniculus Coelho 5
73
Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Pneumonia
Mesocricetus auratus Hamster-sírio 1
Cálculo urinário Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Urinário Insuficiência renal Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Urina fora de sítio Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Blefarite Mesocricetus auratus Hamster-sírio 1
Visual Dacriocistite Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Protusão ocular Cavia porcellus Porquinho-da-índia 1
Golpe de calor Cavia porcellus Porquinho-da-índia 2
Hipovitaminose B Chinchila laniger Chinchila 1
Outro
Infeção generalizada Oryctolagus cuniculus Coelho 1
Mixomatose Oryctolagus cuniculus Coelho 3
74
Columba livia Pombo doméstico 1
Fratura membro pélvico
Serinus canaria Canário 2
“Splay-leg” Melopsittacus undulatus Periquito 1
Trauma do bico Melopsittacus undulatus Periquito 1
Trauma da cabeça Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
Trama do dorso Nymphicus hollandicus Caturra 1
Trauma do pescoço Agapornis sp. Agapornis 1
Cacatua alba Cacatua branca 1
Trauma por constrição
Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
de anilha
Serinus canaria Canário 1
Tumefação membro
Parabuteo unicinctus Gavião-asa-de-telha 1
pélvico
Amazonas ochrocephala Papagaio-campeiro 1
Ataxia Melopsittacus undulatus Periquito 1
Serinus canaria Canário 1
Nervoso Convulsões Amazonas ochrocephala Papagaio-campeiro 1
Parésia Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro 1
Agapornis sp. Agapornis 1
Síndrome vestibular
Melopsittacus undulatus Periquito 1
Hiperinsuflação sacos
Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro 1
aéreos
Ara ararauna Arara canindé 1
Infeção respiratória Psittacus erithacus Papagaio cinzento 3
Respiratório
Streptopelia sp. Rola 1
Amazona sp. Papagaio 1
Sinusite Pavo cristatus Pavão-indiano 2
Phasianus colchius Faisão 1
Amazonas ochrocephala Papagaio-campeiro 1
Infeção ocular
Visual Columba livia Pombo doméstico 1
Olho fechado Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
Automutilação Cacatua alba Cacatua branca 1
Estrilda astrild Bico-de-lacre 1
Apatia Psittacus erithacus Papagaio cinzento 2
Outro Serinus canaria Canário 1
Avulsão do bico Melopsittacus undulatus Periquito 1
Candidíase Columba livia Pombo doméstico 3
Clamidíase Columba livia Pombo doméstico 1
75
Criptosporidiose Chlobeia gouldiae Diamante de Gould 3
Cacatua alba Cacatua-branca 1
Picacismo
Psittacus erithacus Papagaio cinzento 2
Prolapso cloaca Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
“Rosnar” agressivo Psittacus erithacus Papagaio cinzento 1
“Splay-leg” Melopsittacus undulatus Periquito 1
76
Trachemys scripta Tartaruga-de-orelhas-
Apatia pré-hibernação 1
elegans vermelhas
Candidíase Eublepharis macularius Gecko leopardo 1
Outro
Trachemys scripta Tartaruga-de-orelhas-
Hipovitaminose A 1
elegans vermelhas
Intoxicação por leituga Iguana iguana Iguana-verde 1
77
Tabela 9 - Número de animais observados: CRAM-Q. (F.A.: frequência absoluta; F.R.: frequência relativa)
Tabela 10 - Descrição da casuística segundo o motivo de ingresso, o diagnóstico e o respetivo destino final.
78
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Plumagem danificada/Falta de impermeabilidade Libertado
Gaivota-de-asa-
Larus fuscus Desidratação/Dispneia/Subnutrição Morte
escura
Traumatismo Eutanásia
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Traumatismo com fractura exposta da asa Eutanásia
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Suspeita de intoxicação por biotoxinas Libertado
Gaivota-de-
Larus michaelis Traumatismo com fratura exposta da asa Eutanásia
patas-amarelas
Traumatismo com escoriações nos membros pélvicos e
Reabilitação
asa
Traumatismo com luxação da articulação escapulo-
Larus sp. Gaivota Reabilitação
umeral
Maçarico-de-
Limosa limosa Traumatismo com fratura do rádio e ulna Eutanásia
bico-direito
Subnutrição/Escoriação na cabeça Morte
Melanitta negra Pato-preto Plumagem danificada/Falta de impermeabilidade Morte
Debilidade Libertado
Traumatismo com lesão na face ventral da asa e
Libertado
comissura labial
Traumatismo com lesão no membro pélvico Libertado
Subnutrição/Desidratação/Plumagem
danificada/Traumatismo com lesão no membro pélvico Libertado
79
Plumagem danificada/Falta impermeabilidade/
Libertado
Escoriações no membro pélvico
Plumagem deteriorada por petróleo/Emaciação Morte
Puffinus Pardela-do-
Plumagem deteriorada/Falta de impermeabilidade Reabilitação
mauretanicus mediterrâneo
Tabela 11 - Número de animais observados: LHAP-UTAD. F.A.: frequência absoluta; F.R.: frequência relativa.
80
ANEXO 2 – Análises sanguíneas da “Baleal”
Tabela 13 - Resultado das análises sanguíneas da “Baleal” com respetivos valores de referência para a foca
cinzenta (Fonte: Barnett e Robinson, 2003).
Valores de
Parâmetros Unidades 20/01/2014 21/01/2014
referência
Hemograma
Eritrócitos x 10^6/uL 4-7 4,19 4,32
Hemoglobina g/dL 17-24 16,7 16,8
Hematócrito % 45-70 50 52
VGM fL 90-130 118,5 119,5
HGM Pg 30-50 39,9 38,8
CHGM g/dL 30-40 32,7 32,2
RDW % 16,1 16
Neutrófilos % 77 75
x 10^3/µL 2-12 16,8 10,78
Linfócitos % 14 10
x 10^3/µL 0-6 3,1 1,44
Monócitos % 5 9
x 10^3/µL 0-3 1,1 1,29
Eosinófilos % 4 6
x 10^3/µL 0-2 0,87 0,86
Plaquetas x 10^3/µL 180-780 879 876
VPM fl 10 10
PDW fl 38,9 38,6
Bioquímica sérica
Glucose mg/dL 161,2
BUN mg/dL 19,3
Creatinina mg/dL 0-100 1,05
PT g/dL 5-9 7,12
Albumina g/dL 2,9-5 2,95
Globulinas g/dL 4,17
ALP UI/L 0-600 71,5
AST UI/L 150,9
ALT UI/L 78,4
GGT UI/L 0-100 42,3
Ferro µg/dL 124,4
LDH UI/L 1343,6
81
CPK UI/L 161,4
Colesterol mg/dL 336,8
Na mEq/L 145-155 144 140
K mEq/L 3.5-5.5 3,9 3,5
Cl mEq/L 111 111
P mg/dL 6,19
Ca mg/dL 8,8
Mg mg/dL 2,17
82
ANEXO 3 – Nomenclatura
Tabela 14- Nomes científicos e nomes comuns das diferentes espécies animais descritas
83
Larus sp. Gaivota
Limosa limosa Maçarico-de-bico-direito
Martes martes Marta
Mauremys leprosa Cágado- mediterrânico
Melanitta nigra Pato-preto
Meles meles Texugo-europeu
Melopsittacus undulatus Periquito
Meriones unguiculatus Gerbilo
Mesocricetus auratus Hamster-sírio
Morus bassanus Ganso-patola
Mustela putorius furo Furão
Nymphicus hollandicus Caturra
Orcinus orca Orca
Oryctolagus cuniculus Coelho
Pagophilus groenlandicus Foca-da-Groenlândia
Parabuteo unicinctus Gavião-asa-de-telha
Pavo cristatus Pavão-indiano
Phasianus colchicus Faisão
Phoca vitulina Foca comum
Phodopus sp. Hamster
Pogona vitticeps Dragão-barbudo
Pseudemys nelsoni Tartaruga de barriga vermelha da Florida
Pseudemys sp. Tartaruga - “Cooter”
Psittacus erithacus Papagaio cinzento
Puffinus mauretanicus Pardela-do-mediterrâneo
Python regius Piton bola
Serinus canaria Canário
Spermophilus richardsonii Esquilo terrestre Richardson
Sternotherus odoratus Tartaruga almiscarada
Streptopelia sp. Rola
Sus scrofa Javali
Terrapene carolina carolina Tartaruga de caixa oriental
Testudo graeca Tartaruga árabe
Testudo hermanni Tartaruga grega
Testudo horsfieldi Tartaruga russa
Thunnus albacares Atum amarelo
Trachemys scripta elegans Tartaruga-de-orelhas-vermelhas
84
Trachemys scripta scripta Tartaruga-de-orelhas-amarelas
Trachemys sp. Tartaruga - “Slider”
Vulpes vulpes Raposa-vermelha
85