2020-10-27-12-47-58dissertação - Diego César Veloso Rezende
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2020-10-27-12-47-58dissertação - Diego César Veloso Rezende
TANQUE DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO NO
TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO
EM COMUNIDADES RURAIS
Urutaí, GO
2019
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano
Reitor
Prof. Dr. Vicente Pereira Almeida
Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação e Inovação
Prof. Dr. Fabiano Guimarães Silva
Campus Urutaí
Diretor Geral
Prof. Dr. Gilson Dourado da Silva
Diretor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação
Prof. Dr. André Luís da Silva Castro
ii
DIEGO CÉSAR VELOSO REZENDE
Orientadora
Profª. Dra. Débora Astoni Moreira
Urutaí, GO
2019
iii
Os direitos de tradução e reprodução reservados.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser gravada, armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada
ou reproduzida por meios mecânicos ou eletrônicos ou utilizada sem a observância das normas de direito
autoral.
iv
“A menos que modifiquemos à nossa
maneira de pensar, não seremos capazes de
resolver os problemas causados pela forma
como nos acostumamos a ver o mundo”.
(Albert Einstein)
vi
AGRADECIMENTOS
Trilhar este caminho só foi possível com o apoio, energia e força de várias pessoas, a
quem dedico especialmente este projeto de vida.
Agradeço primeiramente a Deus pela benção da vida. Por ter sido a luz, a serenidade e
a força que me guiaram ao longo desta trajetória.
Aos meus pais, Valdeir e Marlene, eu agradeço pelos ensinamentos e valores, que foram
os pilares para a formação de quem hoje sou. Obrigado pelo esforço contínuo para que tudo
pudesse dar certo, pelo incentivo, amor e palavras amigas.
E claro, ao meu querido filho, Pedro, que amo incondicionalmente e que veio dar um
novo colorido à minha vida, espero de agora em diante compensá-lo das horas de atenção e
brincadeiras que lhe devo. Você foi meu grande estímulo nesta caminhada.
Ao Professor Doutor José Antônio Rodrigues de Souza, porque me quis honrar com o
seu apoio, agradeço a confiança que em mim depositou. A você devo o meu crescimento como
estudante, extensionista e pesquisador.
Aos meus colegas do mestrado e equipe do Lapaq, especialmente à Ellem, cujo apoio e
amizade estiveram presentes em todos os momentos.
vii
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS ix
LISTA DE FIGURAS x
LISTA DE TABELAS xi
RESUMO xii
ABSTRACT xiii
1. INTRODUÇÃO 14
2. MATERIAL E MÉTODOS 16
2.1 Caracterização da área experimental 16
2.2 Construção e implantação do Sistema TEvap 17
2.3 Custo do projeto 18
2.4 Delineamento dos experimentos 19
2.4.1 Irrigação 20
2.4.1.1 Análise da água de irrigação 20
2.5 Delineamento das hortaliças 20
2.5.1 Análises agronômicas 20
2.5.2 Análises químicas 21
2.5.3 Análises microbiológicas 21
2.6 Análises estatísticas 21
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 23
3.1 Avaliação agronômica 25
3.2 Composição química das hortaliças 28
3.3 Avaliação microbiológica 31
4. CONSIDERANÇÕES FINAIS 33
5. REFERÊNCIAS 34
viii
LISTA DE SIGLAS
ix
LISTA DE FIGURAS
x
LISTA DE TABELAS
xi
TANQUE DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO NO TRATAMENTO
DE ESGOTO SANITÁRIO EM COMUNIDADES RURAIS
RESUMO
O Brasil tem mais de 19 milhões de moradores rurais sem coleta ou tratamento de esgoto, o que
corresponde a 62% da população rural. A inexistência de redes coletoras de esgotos acarreta o
emprego extensivo de fossas negras, resultando em contaminação do solo e dos recursos
hídricos. Diante disso, a busca por tecnologias de baixo custo, de fácil implantação e manejo
torna-se imprescindível. Uma tecnologia alternativa aos métodos convencionais e que tem se
mostrado bastante eficaz é o tanque de evapotranspiração (TEvap). O sistema é composto por
tanque impermeabilizado, preenchido com diferentes camadas de substrato e plantas. Há
recomendação de se evitar hortaliças que tenham raízes consumidas cruas e hortaliças rasteiras
para cultivo nesse sistema. Não há estudos sobre o desenvolvimento e segurança microbiológica
de espécies olerícolas como, alface, rúcula e rabanete, no TEvap. Diante disso, objetivou-se
avaliar o desenvolvimento, composição química e microbiológica de hortaliças produzidas em
diferentes posições do sistema TEvap para tratamento de águas negras. O sistema foi
implantado na área rural do município de Monte Carmelo/MG, com capacidade para atender
quatro moradores fixos. Foram avaliados parâmetros agronômicos (altura, diâmetro,
produtividade), químicos (% de massa seca; pH; condutividade elétrica; fósforo e nitrogênio
total) e microbiológicos (coliformes termotolerantes e totais) de alface e rúcula na parte inicial,
final e fora do TEvap (testemunha). O custo previsto para o TEvap é de aproximadamente R$
1150,00 para a região de Monte Carmelo, valor menor ao estimado para os sistemas de fossa
séptica convencional e fossa séptica biodigestora. Houve efeito linear significativo no diâmetro
da alface e na altura da rúcula em função do tempo. A alface apresentou maiores diâmetros
quando cultivada no TEvap, independente da sua posição. Já a rúcula teve alturas maiores na
parte inicial do TEvap em relação a parte final e a testemunha. A produtividade e a composição
química da alface e rúcula não diferenciaram entre os cultivos nas diferentes posições do TEvap
e a testemunha. Todos os coliformes encontrados nas amostras são termotolerantes. No início
do TEvap a alface apresentou maior concentração de coliformes. As amostras de alface e rúcula
das diferentes posições do TEvap, apresentaram-se adequadas para o consumo humano apenas
50% das alfaces no final do sistema, entretanto a água de irrigação foi possivelmente o principal
veículo de contaminação das olerícolas. Com isso, apesar do sistema demonstrar eficiência no
tratamento de águas negras, deve-se preocupar também com a qualidade da água de irrigação
para a produção de alimentos seguros.
xii
EVAPOTRANSPIRATION TANK IN HEALTH WASTE
TREATMENT IN RURAL COMMUNITIES
ABSTRACT
Brazil has more than 19 million rural residents without sewage collection or treatment, which
corresponds to 62% of the rural population. The lack of sewage collection networks leads to the
extensive use of black sumps, and the consequent contamination of soil and water resources. Given this,
the search for low cost technologies, easy to implement and management is essential. An alternative
technology to conventional methods that has been shown to be quite effective is the evapotranspiration
tank (TEvap). The system consists of a waterproofed tank, filled with different layers of substrate and
plants. However, it is recommended to avoid vegetables that have eaten raw roots and creeping
vegetables. However, there are no studies on the development and microbiological safety of species
such as lettuce, arugula and radish in TEvap. Therefore, this study aimed to evaluate the development,
chemical and microbiological composition of vegetables produced in different positions of the TEvap
system for black water treatment. The system was implemented in the rural area of Monte Carmelo /
MG, with capacity to serve four permanent residents. Agronomic (height, diameter, yield), chemical (%
dry mass; pH; electrical conductivity; phosphorus and total nitrogen) and microbiological
(thermotolerant and total coliforms) parameters of lettuce and arugula were evaluated at the beginning,
end and outside of TEvap. (witness). The estimated cost for TEvap is approximately R$ 1.150,00 for
the Monte Carmelo region. Lower than estimated value for conventional septic tank and biodigester
septic tank systems. There was a significant linear effect on lettuce diameter and arugula height as a
function of time. Lettuce presented larger diameters when cultivated in TEvap, regardless of its position.
Already the arugula had higher heights in the early part of TEvap compared to the final part and the
witness. Productivity and chemical composition of lettuce and arugula did not differentiate between the
crops at different positions of TEvap and the control. All coliforms found in the samples are
thermotolerant. At the beginning of TEvap the lettuce presented the highest concentration of coliforms.
From the lettuce and arugula samples from the different TEvap positions, only 50% of the lettuces were
adequate for human consumption at the end of the system. However, irrigation water was possibly the
main vehicle of vegetables contamination. Therefore, although the system demonstrates efficiency in
the treatment of black water, it should also be concerned with the quality of irrigation water for safe
food production.
xiii
1. INTRODUÇÃO
14
Este sistema é composto por tanque impermeabilizado, preenchido com diferentes
camadas de materiais e plantio com espécies vegetais de crescimento rápido e elevada demanda
por água. O tratamento de águas negras ocorre por meio da ação microbiana anaeróbia,
promovendo a decomposição da matéria orgânica e mineralização de nutrientes contidos no
esgoto. Por capilaridade a água se move para a superfície e ocorre a absorção e
evapotranspiração pelas plantas, devolvendo a água limpa para o meio ambiente (PAULO e
BERNARDES, 2004; GALBIATI, 2009; OLIVEIRA et al., 2018).
É relatada a diversas espécies vegetais que já foram cultivadas em sistema TEvap, tais
como: bananeiras (Musa cavendishii), taiobas (Xanthosoma sagittifolium) e plantas
ornamentais como copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica); maria-sem-vergonha (Impatiens
walleriana); lírio-do-brejo (Hedychium coronarium); caeté banana (Heliconia spp.) e junco
(Zizanopsis bonariensis) (PAMPLONA e VENTURI, 2004; MANDAI, 2006; GALBIATI,
2009; SOUZA et al., 2018; SOUZA et al., 2019). Segundo Galbiati (2009), hortaliças como
couve e tomateiro também podem ser introduzidas, porém deve se evitar plantas que tenham
raízes consumidas cruas e hortaliças rasteiras.
Diante da necessidade de tratamento do esgoto sanitário das propriedades rurais,
espécies olerícolas como alface (Lactuca sativa L.), rúcula (Eruca sativa L.) e rabanete
(Raphanus sativus), que seriam excluídas do sistema, apresentam alta demanda por água e
desenvolvimento rápido. Possuem grande aceitabilidade pelos brasileiros, são ricas em
conteúdo nutricional, alta produção por área e ciclo curto, permitindo várias safras por ano
(VALERIANO et al., 2016; SANTOS et al., 2018). Porém, ainda não há estudos sobre o
desenvolvimento e segurança microbiológica dessas espécies no TEvap.
Embora a legislação ambiental não preveja a reutilização de águas residuárias na
produção alimentos consumidos in natura, devido ao risco sanitário, a necessidade da
preservação ambiental vem, em âmbito mundial, aumentando e não permite que os resíduos
sólidos, líquidos e semilíquidos das atividades humanas doméstica, industrial e agrícola sejam
lançados no ambiente sem prévio tratamento. Assim, considerando que o sistema de aplicação
de resíduos seja parte fundamental na viabilidade técnica e sanitária, com este trabalho,
objetivou-se associar o tratamento de resíduos e o tanque de evaporação com produção de
hortaliças.
15
2. MATERIAL E MÉTODOS
16
Figura 2. Variação da temperatura média (T méd), mínima (T mín) e máxima (T máx) durante
o período experimental.
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).
17
Para realização dos estudos, procedeu-se a impermeabilização das laterais e do fundo
do TEvap, bem como elevação das laterais, evitando-se tanto a infiltração dos escoamentos
superficiais, subterrâneos e percolações. Ao centro, foram formada uma câmara longitudinal
pela colocação sucessiva e alinhadas pneus usados inteiros. A tubulação de entrada de esgoto
(100mm) foi posicionada de modo a direcionar o esgoto sanitário para o interior dessa câmara.
O preenchimento da escavação foi realizado colocando-se camadas sucessivas de entulho
cerâmico (aproximadamente 0,45m), brita 0 (aproximadamente 0,10 m), areia lavada
(aproximadamente 0,10m) e o restante, com o solo do horizonte escavado. Na saída do tanque,
0,10 m abaixo do nível do solo, colocou-se uma tubulação de 50 mm para funcionar com tubo
extravasor (Figura 3).
Após a construção do tanque, na superfície, foram transplantadas mudas de três espécies
de hortaliças: alface, rabanete e rúcula.
18
2.4. Delineamento dos experimentos
19
2.4.1 Irrigação
20
2.5.2. Análises químicas
Para avaliar a relação do sistema TEvap com a composição química das hortaliças,
foram coletadas amostras da alface (46 DAT) e rúcula (39 DAT) no dia 05/11/2018 e
determinada: % de massa seca; pH; condutividade elétrica (CE); fósforo e nitrogênio total, de
acordo com as metodologias de APHA(2012).
21
elétrica; fósforo, nitrogênio total), e tiveram suas médias comparadas pelo teste de Tukey (5%
de significância) para cada espécie olerícola.
Cada 1 m² do TEvap constituiu uma parcela, foram descartados 2 m² centrais do sistema.
Fora do sistema, foram instaladas as parcelas testemunhas. Cada parcela foi subdivida em 3
subparcelas (alface, rúcula e rabanete). Entretanto, as subparcelas de rabanete foram perdidas.
Assim, foram considerados, para fins estatísticos, apenas 24 subparcelas (3 posições no TEvap
x 2 espécies x 4 blocos) (Figura 4).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (ANOVA), teste F, teste de
Tukey e análise de regressão, através do programa SISVAR 5.0 (DEX/UFLA) (FERREIRA,
2010).
Quando o quadrado médio de tratamentos foi significativo pelo teste F (5% de
probabilidade), realizou-se a análise de regressão em função do tempo após de transplantio,
definindo o melhor ajuste segundo a combinação de significância e maior coeficiente de
determinação. Quando houve efeito da espécie, foi aplicado o teste de Tukey (5% de
significância) para comparação de médias.
As médias do número mais provável (NMP) de coliformes termotolerantes e coliformes
totais utilizou-se o Delineamento Inteiramente Casualizado (DIC) em esquema de parcelas
subdivididas com duas repetições (alface e rúcula), amostrando-se 68 plantas por parcela, com
um tratamento (testemunha) também com parcelas, sendo eles: T1 – início do tanque; T2 – final
do tanque e T3 – testemunha (Figura 4).
As análises estatísticas também foram submetidas ao teste de médias e à análise de
variância empregando o teste Tukey ao nível de 5 % de probabilidade com o auxílio de software
estatístico SISVAR 5.0 (DEX/UFLA) (FERREIRA, 2010).
22
Figura 4. Delineamento experimental utilizado no TEvap, contendo as parcelas e
subparcelas dos três cultivares transplantados.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
23
O custo previsto para o TEvap é de aproximadamente R$ 1.150,00 para a região de
Monte Carmelo (Tabela 1). Entretanto, a construção participativa, a utilização de materiais
obtidos in loco e o apoio de entidades públicas minimizaram esse custo em 72%. Para a
construção do sistema, foram gastos menos de trezentos e vinte reais. Assim, o sistema se
demonstra viável economicamente até mesmo para comunidades rurais de baixa renda.
Na Tabela 4 pode ser analisado o custo de diferentes sistemas de tratamento de águas
negras, como base os preços do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da
Construção Civil (SINAPI), data base outubro de 2019, desonerado, para o estado de Minas
Gerais (CAIXA, 2019).
Tabela 4. Valores das composições para tratamento de efluentes para quatro moradores -
SINAP, out/2019
Código
Descrição da composição Valor (R$)
SINAPI*
Tanque séptico circular, em concreto pré-moldado, diâmetro
98052 984,17
interno = 1,10 m, altura interna = 2,50 m, volume útil: 2138,2 l
24
adicionados para obtenção do valor final de implementação do Tanque, esses valores poderão
subir notadamente fortificando ainda mais a ideia de o TEvap ser econômico.
Todos os sistemas citados apresentam um benefício em relação ao TEvap, devido a estes
poderem receber águas cinzas (originadas de pias, tanques e chuveiros), desde que seja
instalado uma caixa de gordura ao sistema, pois o TEvap é indicado apenas para águas negras,
oriundas de vasos sanitários.
Para o desenvolvimento das hortaliças, não houve interação significativa entre a posição
no TEvap e o número de dias após o transplantio (p = 0,814 e p = 0,372, respectivamente). Foi
observado efeito linear significativo no diâmetro da alface (Figura 5-A) e na altura da rúcula
(Figura 5-B) em função do tempo (p = 0,000, para ambas as culturas).
Figura 3. A- Diâmetro médio da alface e B- altura média da rúcula em função dos dias após o
transplantio (DAT).
Fonte: Dados do autor (2018).
25
apresentavam apenas 29,2 cm. Já Oliveira et al. (2010) relataram, em sistema orgânico, alface
(46 DAT) com diâmetro de 25,7 cm e a rúcula (55 DAE) com 23,9 cm de altura. Silva et al.
(2016b) observaram para o mesmo cultivar de rúcula, Selecta, 12,51 cm de altura aos 35 DAT
em sistema hidropônico.
No trabalho foram medidos o diâmetro de uma folha a outra, sendo assim como
resultado observou-se um tamanho bem acima do considerável para os padrões comerciais.
Explica-se isso já que nesse caso são descartadas as folhas nas partes mais periféricas, assim
podemos considerar as alfaces do experimento numa média de 30 cm o diâmetro da alface.
De acordo com a Importadora de Sementes para Lavoura - ISLA (2001) o tamanho
comercial das plantas de rúcula é em torno de 12-16 cm de altura. Assim, os resultados
apresentados na Figura 6-B demonstram que a rúcula esteve no tamanho comercial dos 16 cm
aos 24 DAT.
As diferentes posições no TEvap promoveram efeito estatístico significativo (p = 0,005
e p = 0,000, respectivamente) no diâmetro da alface e na altura da rúcula (Tabela 5).
Tabela 5. Diâmetro médio de alface e altura média de rúcula (cm) cultivadas nas posições
inicial, final e fora do TEvap.
Diâmetro Altura
Tratamento
Alface Rúcula
Início TEvap 27,7 a 14,4 a
Final TEvap 27,6 a 13,2 b
Testemunha 25,2 b 12,2 b
CV 11,9 11,5
DP 1,155 0,899
Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna, não diferem significativamente entre si, a 5%
de probabilidade, pelo teste de Tukey.
Fonte: Dados do autor (2018).
26
Tabela 6. Produtividade de alface e rúcula (Kg.m-²) cultivadas nas posições inicial, final e fora
do TEvap.
Tratamento Alface Rúcula
Início TEvap 3,5 4,3
Final TEvap 3,5 4,3
Testemunha 2,8 4,5
CV 13,8 5,3
DP 0,33 0,094
As médias não diferem significativamente entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.
Fonte: Dados do autor (2018).
Apesar das produtividades na parte inicial do TEvap, final e fora dele serem
estaticamente iguais. Contudo matematicamente, observa-se um ganho médio de produtividade
da alface em 20% nos cultivos no TEvap em relação à testemunha. Já para rúcula, os ganhos
foram mínimos, menos de 5%.
Assim, a produtividade no sistema TEvap é equivalente ou até maior quando comparado
ao sistema convencional de cultivo. Portanto, os resultados mostram a viabilidade do cultivo de
alface e rúcula no sistema.
Os resultados da produtividade de alface e rúcula na presente pesquisa foram superiores
aos encontrados por Oliveira et al. (2010) e Nunes et al. (2017). Foram similares a diversas
pesquisas já realizadas (RESENDE et al., 2005; SANTANA et al., 2012; MELO et al., 2018;
PEREIRA et al. 2019).
Não houve diferença significativa, pelo teste F, para os parâmetros químicos avaliados
(Tabela 7).
27
3.2. Composição químicas das hortaliças
Tabela 7. Composição química de alface e rúcula cultivadas nas posições inicial, final e fora do TEvap.
CV 15,7 23,3 3,4 2,9 25,2 24,5 56,8 44,1 17,2 15,7
DP 0,47 0,91 0,09 0,08 68,58 279,7 0,007 0,001 0,70 0,87
As médias não diferem significativamente entre si, a 5% de probabilidade, pelo teste de Tukey.
Fonte: Dados do autor (2018).
28
No período de funcionamento do TEvap, o sistema não proporcionou alteração no teor
de matéria seca, pH, condutividade elétrica (CE), e no teor nutricional (fósforo e nitrogênio
total) da alface e rúcula. Sendo que da alface o valor de fósforo recomendado é de 19 mg/100g
e da rúcula 25 mg/100g (TACO, 2014). Portanto, nessa fase de funcionamento, o cultivo no
TEvap, independentemente da posição no sistema, manteve as características químicas do
alimento, o que permite a produção das hortaliças cultivadas sem prejuízos na qualidade
sensorial e nutricional.
A composição química das plantas pode ser alterada com a utilização de matéria
orgânica, dependendo entre outros fatores, da fertilidade do solo, das características do material
orgânico e da quantidade (OLIVEIRA et al., 2018). De acordo com este autor supracitado, os
esgotos sanitários domésticos apresentam alta concentração de minerais (5-25 mg L-¹ de fósforo
e 35-70 mg-¹ L de nitrogênio total) e pH próximo ao neutro (6,7-7,5).
Não foi possível localizar na literatura recomendação de teores adequados para as folhas
de rúcula. Por esse motivo, fez-se uso de dados fornecidos por Fonseca (2013) para rabanete,
pelo fato de ser uma cultura da mesma família botânica e também por esta olerícola ter sido
utilizada no experimento. Neste caso, os teores adequados são: nitrogênio 30 a 60 g kg-1 e
fósforo 3 a 7 g kg-1.
Também não foi encontrado nenhuma análise quanto a condutividade elétrica na parte
vegetal das hortaliças, porém afirma-se que a condutividade elétrica mede a concentração de
sais dissolvidos tanto na água, no solo e nas plantas. Quando os nutrientes são consumidos pelas
plantas, o valor da condutividade elétrica fica baixo. Ocorre perda de água por
evapotranspiração, a concentração de sais aumenta e, consequentemente, a condutividade
elétrica se eleva. Os principais sais que contribuem para a condutividade sobretudo na água são
os sais de potássio, sódio, cálcio, magnésio na forma de sulfatos, cloretos, carbonatos e
bicarbonatos (CPT, 2019).
Para Eucalyptus grandis, Silva et al. (2008) observaram que as concentrações foliares
de todos os nutrientes de plantas tratadas com lodo de esgoto granulado mantiveram-se dentro
dos limites observados usualmente nas plantações comerciais, não havendo sinais de
desequilíbrio nutricional. Houve ainda incremento na concentração de fósforo. Entretanto,
fazem necessários estudos da composição química de hortaliças em sistemas TEvap.
29
amostras são termotolerantes. Houve interação significativa pelo teste F (p = 0,040) entre as
posições no TEvap e as espécies cultivadas para todos os teores de coliformes termotolerantes
(Tabela 8).
Para ambas as espécies estudadas o teor de contaminação foi maior no início do TEvap.
Não houve diferença significativa na contaminação entre os cultivos no final do TEvap e a
testemunha, demonstrando a eficiência do sistema no tratamento do esgoto doméstico e redução
na contaminação de vegetais. Tal redução total de coliformes era esperada, uma vez ao longo
do sistema ocorre a redução do nível de material orgânico. Vilar et al. (2019) comprovaram a
eficácia do que o sistema de tratamento TEvap na redução de coliformes. Eles observaram a
redução de 99,993% dos coliformes no efluente final (150 no efluente bruto da suinocultura
para 11 x 10-³ coliformes fecais/100 mL).
As duas culturas diferenciaram quanto a contaminação por coliformes apenas no início
do TEvap, onde a alface apresentou maior NMP de coliformes. Portanto, se for cultivar as
hortaliças deve-se dar preferência a parte final do sistema, onde a alface apresentou menor nível
de contaminação em relação a rúcula.
A Resolução RDC nº 12 de 2001, prevê o limite de tolerância de coliformes a
termotolerantes de 10² NMPg-¹ por amostra (BRASIL, 2001). A Tabela 9 apresenta a condição
de contaminação das amostras avaliadas.
30
Tabela 9. Contaminação da alface e rúcula coliformes termotolerantes em função da posição
no TEvap.
Intervalo de confiança
Combinação Condição
Espécie Tratamento NMP.g -¹ (95%)
de tubos
Mínimo Máximo
Alface Início TEvap 3-3-3 >1100 420 - Inadequado
Alface Início TEvap 3-3-3 >1100 420 - Inadequado
Alface Início TEvap 3-3-3 >1100 420 - Inadequado
Alface Início TEvap 3-3-3 >1100 420 - Inadequado
Alface Final TEvap 3-2-2 210 40 430 Inadequado
Alface Final TEvap 2-2-0 21 4,5 42 Adequado
Alface Final TEvap 3-2-2 210 40 430 Inadequado
Alface Final TEvap 2-2-0 21 4,5 42 Adequado
Alface Testemunha 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Alface Testemunha 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Alface Testemunha 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Alface Testemunha 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Rúcula Início TEvap 3-3-2 1100 180 4100 Inadequado
Rúcula Início TEvap 3-3-1 460 90 2000 Inadequado
Rúcula Início TEvap 3-3-2 1100 180 4100 Inadequado
Rúcula Início TEvap 3-3-1 460 90 2000 Inadequado
Rúcula Final TEvap 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Rúcula Final TEvap 3-3-1 460 90 2000 Inadequado
Rúcula Final TEvap 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Rúcula Final TEvap 3-3-1 460 90 2000 Inadequado
Rúcula Testemunha 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Rúcula Testemunha 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Rúcula Testemunha 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Rúcula Testemunha 3-2-1 150 37 420 Inadequado
Fonte: Dados do autor (2018).
Observou-se que 100% das hortaliças cultivadas na parte inicial do TEvap apresentaram
níveis de contaminação de coliformes termotolerantes inadequados para o consumo humano
(Tabela 09). Na parte final do TEvap, 50% das amostras de alface estavam adequadas para o
consumo, enquanto todas as amostras de rúcula estavam inadequadas.
Tonetti et al (2018) relata estudos, que mostram alguns alimentos e folhas que crescem
no TEvap, destaque para bananas e taiobas, estes não sofreram nenhum tipo de contaminação
por bactérias e outros micro-organismos e, portanto, são seguros para o consumo humano. No
entanto alerta que não é recomendado o consumo de raízes (ex: inhame ou gengibre) ou frutos
colhidos do chão do TEvap.
31
Entretanto as duas espécies cultivadas fora do TEvap, testemunha, apresentaram 100%
das amostras inadequadas ao consumo humano. Assim, a fonte de contaminação encontrada
nos tratamentos cultivados no TEvap não foi exclusivamente a água residuária presente nele.
Constatou-se que água de irrigação utilizadas no experimento estavam contaminadas
por coliformes termotolerantes, apresentando 261,3 e 275,5 NMP 100 mL-¹ de coliformes
termotolerantes e totais, respectivamente (Tabela 3). Assim apresenta-se em desacordo com a
legislação, pois a norma do CONAMA nº 357 (2005) estabelece o limite de tolerância 200 NMP
100 mL-¹ para coliformes fecais em água de irrigação de hortaliças consumidas cruas.
Observa-se no trabalho que a amostra de nitrato se apresentou acima do estabelecido
pelo CONAMA, o mesmo é tóxico aos seres humanos. O nitrato juntamente com o fósforo na
água torna-se um contaminante. Entre as fontes de fósforo destacam-se os esgotos domésticos,
da própria matéria fecal. Estes dois nutrientes em excesso causam um crescimento excessivo
das algas, processo conhecido como eutrofização, o que pode prejudicar o abastecimento
público, a recreação e a preservação da vida aquática (ANA,2008).
A água de irrigação foi possivelmente o principal veículo de contaminação das
hortaliças. Vários estudos no Brasil têm identificado hortaliças com elevado grau de
contaminação por coliformes transmitidos pela água de irrigação. Souto (2005), Abreu et al.
(2010), Araújo et al. (2015) e Silva et al. (2016a), demonstraram que a água de irrigação foi o
foco de contaminação das hortaliças avaliadas. Esses estudos também observaram elevado
percentual de contaminação microbiológica, com índices de coliformes fecais inaceitáveis pela
legislação vigente para coliformes totais quanto para coliformes termotolerantes.
Em circunstâncias ideais, a água potável não deve conter microrganismos patogênicos
e nem bactérias indicadoras de contaminação fecal. Normalmente a qualidade microbiológica
da água potável é avaliada de forma indireta por meio de indicadores de contaminação por
coliformes. A quantidade destes microrganismos indica o grau de contaminação, e
consequentemente o risco potencial quanto à presença de patógenos. Logo deve atentar que
durante a irrigação nas lavouras e hortas, principalmente por aspersão, onde molha a planta
toda, estes organismos são depositados nos frutos, folhas e caules das plantas (MAROUELLI
et al., 2014).
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a execução do trabalho observou-se que a cartilha ofertada aos produtores rurais
pela EMATER, mostrou-se bastante eficiente, porém, recomenda-se a todos os interessados em
instalar o sistema TEvap em suas propriedades, que solicitem o auxílio de um técnico da
EMATER para que este possa dar orientações durante a sua construção, para que o projeto seja
executado com sucesso.
As hortaliças cultivadas ao longo do Tanque de Evapotranspiração (TEvap), no primeiro
ano de funcionamento, tiveram bom desenvolvimento e mantiveram a composição química e
produtividade das cultivadas fora do sistema (testemunha). Contudo são escassos os trabalhos
com a associação do TEvap e a produção de alimentos, sobretudo as olerícolas.
A parte final do TEvap proporcionou menor contaminação por coliformes
termotolerantes que a parte inicial e não diferiu do cultivo fora do sistema. Assim, o sistema
TEvap é eficiente para tratamento de esgoto doméstico, porém obter alimentos seguros nele,
deve ser observada a qualidade dos demais agentes passíveis de contaminação, como a água de
irrigação.
O TEvap se mostra como uma metodologia de desenvolvimento sustentável para a
promoção da inclusão da promoção socio-produtiva. Ele está focado na resolução de problemas
como o da preservação do meio ambiente e a manutenção do solo e de recursos hídricos.
Recomenda-se na construção do TEvap sua completa impermeabilização, como foi
demonstrado neste trabalho. A construção do TEvap de forma participativa, com envolvimento
de vários atores sociais, se torna fundamental para o baixo custo de implantação.
Novas pesquisas devem ser realizadas, uma vez que o TEvap é um sistema recente
implantado no Brasil, deve se adequar à realidade local onde a tecnologia social será
implementada para que se tenha uma solução efetiva dos problemas citados ao longo dessa
pesquisa.
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5. REFERÊNCIAS
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