Oficina - Ficha 04-1C
Oficina - Ficha 04-1C
Oficina - Ficha 04-1C
O ciclista
Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se
perturba – levanta voo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte
com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio.
É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio
acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de
fininho o poste, o caminhão; o ciclista por muito derrubou o boné.
Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão.
Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não se estrebucha ali
mesmo, bate o pó da roupa e – uma perna mais curta – foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro.
Opõe o peito magro ao para-choque do ônibus. Salta a poça d`água no asfalto. Num só
corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão.
Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono
trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim.
DALTON TREVISAN. In: Alfredo Bosi, org. O conto brasileiro contemporâneo. 14. ed.
São Paulo: Cultrix, 1997. p. 189.
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b) Explique o sentido das imagens metafóricas “lâmpada de Aladino” e “touro e toureiro, golpeia
ferido o ar nos cornos do guidão”.
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Era um abutre que bicava meus pés. Ele já havia estraçalhado botas e meias e agora
bicava os pés propriamente. Toda vez que atacava, voava várias vezes ao meu redor, inquieto, e
depois prosseguia o trabalho. Passou por ali um senhor, olhou um pouquinho e perguntou então
por que eu tolerava o abutre.
– Estou indefeso – eu disse. – Ele chegou e começou a bicar, naturalmente eu quis
enxotá-lo, tentei até enforcá-lo, mas um animal desses tem muita força, ele também queria saltar
no meu rosto, aí eu preferi sacrificar-lhe os pés. Agora eles estão quase despedaçados.
– Imagine, deixar-se torturar dessa maneira! – disse o senhor. – Um tiro e o abutre está
liquidado.
– É mesmo? – perguntei. – E o senhor pode cuidar disso?
– Com prazer – disse ele -, só preciso ir para casa pegar minha espingarda. O senhor pode
esperar mais uma meia hora?
– Isso eu não sei – disse e fiquei em pé um momento, paralisado de dor.
Depois falei:
– De qualquer modo tente, por favor.
– Muito bem – disse o senhor. – Vou me apressar.
Durante a conversa o abutre escutou calmamente, deixando o olhar perambular entre mim e
aquele senhor. Agora eu via que ele tinha entendido tudo: levantou voo, fez a curva da volta bem
longe para ganhar ímpeto suficiente e depois, como um lançador de dardos, arremessou até o
fundo de mim o bico pela minha boca. Ao cair para trás senti, liberto, como ele se afogava sem
salvação no meu sangue, que enchia todas as profundezas e inundava todas as margens.
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b) Sabendo que uma narrativa fantástica é aquela na qual os personagens e acontecimentos
relatados são inexplicáveis e extrapolam os limites da realidade, identifique os elementos
fantásticos no conto de Kafka.
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d) O acontecimento inicial do conto estabelece uma relação uma relação de intertextualidade com
o acontecimento final da tragédia “Prometeu acorrentado”. Identifique esse acontecimento e
explique a intertextualidade, apontando semelhanças e diferenças entre as histórias.
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